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HISTÓRIA UNIVERSAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Como há vários antecedentes históricos, o campo de análise será dividido em: história
universal do Direito Processual do Trabalho e a evolução do Direito Processual do Trabalho no
Brasil.

No plano universal, destacam-se as experiências históricas ocorridas nos sistemas jurídicos de


França, Alemanha, Itália, México, Espanha, Grã-Bretanha, Estados Unidos da América e
Argentina.

1.1FRANÇA

A evolução do Direito Processual do Trabalho na França será efetuada em função do tipo do


conflito trabalhista, o qual pode ser individual ou coletivo.

Os dissídios individuais, ou seja, os ocorridos entre empregados e empregadores, vistos de


forma singular, eram decididos pelos Conseils de prud’hommes.

O termo prud’homme denota “homem sisudo, prudente, íntegro, versado em alguma coisa. A
expressão é encontrada no período dos grêmios e corporações de ofício, para designar os
homens que, gozando de especial consideração entre os seus pares, eram eleitos para a
administração desses organismos. Também eram denominados assim juízes dos tribunais
ordinários, funcionários municipais e peritos”.1

As origens dos Conseils de prud’hommes:

a)o Conselho da Cidade de Paris (1426) designou 24 prud’hommes, os quais deveriam


colaborar com o magistrado municipal na solução das questões entre fabricantes e
comerciantes. No reinado de Luís XI, por intermédio de uma ordem assinada em 29/4/1464, os
prud’hommes foram autorizados a solucionar os conflitos existentes entre fabricantes de seda
residentes em Lyon. Posteriormente, tais poderes foram ampliados para os embates entre tais
industriais e seus operários;

b)em 1776, com os ideais do liberalismo econômico, no qual se tinha à exaltação do


individualismo, tais órgãos foram extintos, já que se entendia que toda organização era
prejudicial à livre iniciativa dos homens. Os dissídios individuais trabalhistas passaram a serem
dirimidos pelos tribunais comuns. Pelos protestos de trabalhadores e dos patrões, houve a
edição de uma lei em 1803, a qual determinou ao prefeito de polícia de Paris e aos alcaides,
comissários ou substitutos, em outras cidades, a tarefa da solução das pendências trabalhistas
individuais. Para tanto, tais autoridades deveriam observar as normas do Código Municipal e
as regras de polícia. Como as autoridades policiais não estavam aptas para o desempenho de
tais funções, as críticas tornaram-se mais contundentes, sendo que houve a solicitação da
restauração dos conselhos de prud’hommes;

c)Napoleão Bonaparte, por uma lei assinada em 18/3/1806, “determinou a instituição dos
conselhos, constituídos de empregadores e com atribuições para terminar, por via de
conciliação, as questões trabalhistas e julgar, com força definitiva, as reclamações de valor até
60 francos. O Conselho funcionava diariamente, das 11 às 13 horas; as partes não pagavam
custas e, além das reuniões de conciliação, semanalmente o plenário do Conselho se reunia
para decisões. Conquanto esse órgão fosse constituído apenas em Lyon, a lei previa a
possibilidade da instituição de organismos idênticos em outras cidades, de tal sorte que em
1921 existiam 205 Conselhos. Uma cidade não podia ter mais de um Conselho, porém era
admitida a divisão do Conselho de uma cidade em secções. Em Paris (1908), eram cinco as
seções (bâtiments, métaux, industries diverses, produtis chimiques, commerce). Em Lyon
(1910), três (soieries, bâtimentes et industries diverses, commerce). A maioria dos Conselhos
dividia-se em duas secções, indústrias e comércio. Diversas foram às modificações introduzidas
no sistema. A sua competência estendeu-se, além do comércio e indústria, à agricultura
(1932). Foi instituído o sufrágio universal para a escolha dos conselheiros (1848), bem como a
representação dos trabalhadores foi admitida no órgão que passou, assim, a ser constituído
por patrões e operários (1848). O próprio Conselho passou a eleger o seu presidente e vice-
presidente (1880). Nas decisões em caso de empate, nova sessão seria realizada, sob a
presidência do juiz de paz (1905), que é um magistrado de carreira. As mulheres passaram a
ser admitidas como conselheiras (1907). Institucionalizou-se, portanto, o sistema, na história
da França”.2

Atualmente os Conselhos de prud’hommes possuem a seguinte estrutura:

a)trata-se de um órgão jurisdicional paritário. Em cada município, pode ser constituído um


Conselho, o qual pode ser ou não dividido em seções (comércio, agricultura, indústria etc.). A
presidência do Conselho é exercida de forma alternativa por representantes dos
empregadores e dos empregados, sendo que o mandato é de seis anos. Se houver a divisão em
seções, cada uma também poderá ter um presidente;

b)as eleições ocorrem a cada três anos para a metade dos conselheiros. Em cada Conselho, há
dois colégios eleitorais distintos (empregados e empregadores). Para ser eleito como
conselheiro, a pessoa deverá preencher os seguintes requisitos: idade mínima de 25 anos;
alfabetização; o exercício da profissão pelo período mínimo de seis anos; a inscrição na lista
eleitoral. A função de conselheiro não é remunerada. As condições para ser eleitor são: estar
em gozo dos direitos políticos; não ter sofrido condenações; exercer a profissão pelo período
mínimo de três anos;

c)no Conselho, há dois órgãos: o da Conciliação e o relativo ao Julgamento. O primeiro é


integrado por um representante dos empregados e outro, dos empregadores. No segundo, há
pelo menos dois representantes de cada lado;

d)a sistemática de atuação desses órgãos é simplificada: (1) as partes são convocadas por
carta, para uma tentativa de conciliação, não sendo necessária à presença de um advogado;
(2) no caso de ser infrutífera a conciliação, o autor da demanda irá solicitar perante o órgão de
julgamento a citação do réu, a qual será efetuada por carta; (3) as provas são produzidas sob a
direção do Conselho; (4) as decisões são proferidas pela maioria absoluta dos membros
presentes. Nos julgamentos, os debates são orais, sendo que a sentença é prolatada em
audiência. Em caso de empate, haverá novo julgamento, com a presença de um juiz de
carreira, o qual irá presidi-lo; (5) da decisão cabe recurso de oposição em três dias. Também
caberá o recurso de apelação para a Câmara Social da Corte de Apelação, se o valor da
demanda exceder o montante de 13.000 francos; (6) das decisões finais de qualquer órgão,
haverá a possibilidade de recurso extraordinário para a Corte de Cassação. É importante
salientar que os recursos – apelação e extraordinário – são julgados por magistrados de
carreira.

As reformas de 1979 e 1982 não fizeram grandes alterações na sistemática de composição e


funcionamento dos Conselhos. As alterações mais significativas são: (a) o mandato do
integrante do Conselho passou a ser de cinco anos; (b) o candidato deve possuir a
nacionalidade francesa, estar inscrito nas listas eleitorais há pelos três anos e exercer a
atividade pelo menos por dez anos.

Há críticas quanto à atuação dos Conselhos: (a) a ignorância jurídica dos Conselheiros, sendo
que as sentenças são redigidas pelos Secretários dos Conselhos, os quais, geralmente, são
juristas; (b) a parcialidade nos julgamentos do Conselho, o que enseja um elevado número de
recursos.

Nos locais onde não se tinha à instauração de um Conselho, a demanda deveria ser ajuizada
perante o Tribunal de Instância, o qual possuía a competência para o trato das questões
trabalhistas. Contudo, mesmo que houvesse o Conselho na localidade, a sua atuação não era
obrigatória, podendo a parte interessada solicitar a solução do dissídio individual perante o
Tribunal de Instância.

O Conselho de Prud’hommes não tem competência na execução dos seus julgados.

Nos dissídios coletivos, a esfera de competência não pertencia aos Conselhos de


Prud’hommes. Em 1936, uma lei criou os processos obrigatórios de conciliação e arbitragem
para questões coletivas. Os recursos das decisões arbitrais eram analisados por uma Corte
Superior de Arbitragem. Essa forma de solução dos conflitos foi suspensa durante a Segunda
Guerra Mundial.

Em 1950, uma nova lei, ao dispor sobre as convenções coletivas de trabalho, estabeleceu que a
conciliação era obrigatória, porém a arbitragem seria facultativa.

Um Decreto de 1955 instituiu um novo procedimento:

a)a conciliação ocorre perante a comissão paritária ou a autoridade pública, a qual poderá ser:
(1) inspetor de divisão do trabalho (âmbito regional); (2) ministro (nível nacional). Tais pessoas
também atuam como presidentes das Comissões;

b)no caso de não ser possível à conciliação, procede-se à arbitragem por um terceiro escolhido
pelas partes. Na falta de acordo quanto ao árbitro, ocorrerá a nomeação de um ministro, o
qual é escolhido dentre uma lista de pessoas competentes e imparciais. Da sentença arbitral,
caberá recurso para a Corte Superior de Arbitragem, a qual é integrada por cinco magistrados
administrativos e quatro magistrados judiciais.

1.2ALEMANHA

O sistema jurisdicional alemão possui pontos comuns com a estrutura hierárquica da Justiça do
Trabalho no Brasil.

Em 1808, na região do Reno, surgiram os Tribunais Industriais. Em outros locais, também


houve a criação de tribunais de arbitragem, os quais perderam a sua importância em 1890,
quando da instituição dos Tribunais Industriais em diferentes partes da Alemanha.

Os Tribunais Industriais tinham a competência para dirimir os conflitos individuais e coletivos


de trabalho. Dentre os seus elementos característicos, destacavam-se: (a) os cargos de
presidente e do vice-presidente, os quais eram nomeados pela autoridade administrativa do
local; (b) na representação dos grupos, havia a eleição de quatro assessores, de maneira
igualitária, para um mandato de um a seis anos; (c) nos dissídios individuais, as decisões
prolatadas tinham força executória; (d) as partes tinham a faculdade de serem representadas
por qualquer pessoa, inclusive por um parente ou amigo; (e) a conciliação tinha um papel de
relevo na atuação desses órgãos, notadamente quanto aos dissídios coletivos. A princípio, a
atuação desses Tribunais estava vinculada ao ramo industrial das atividades econômicas. Em
1904, a atuação foi estendida para o comércio.

Com a edição da Carta do Trabalho do III Reich (1934), a arbitragem, que era convencional,
passou a sofrer ingerências do Estado. Os árbitros eram funcionários do Estado. Também
foram constituídas comissões de arbitragem de caráter oficial. Em 10/10/1934, os Tribunais do
Trabalho foram criados com a seguinte divisão: Tribunais de Trabalho da Primeira Instância,
Tribunais do Trabalho de Apelação e Tribunais do Trabalho do Reich.

Nos Tribunais de Trabalho da Primeira Instância destacam-se:

a)criação: determinação do Ministério da Justiça com a concordância do Ministro do Trabalho


do Reich;

b)composição: presidente, vice-presidente, juízes de carreira nomeados pelo Ministro da


Justiça e assessores em número igual de empregados e empregadores, nomeados pelo
Ministro do Trabalho. As funções dos assessores não eram remuneradas, havendo, apenas, o
pagamento de uma ajuda de custo para os gastos decorrentes do desempenho da atividade;

c)procedimento: o início ocorre com a tentativa de conciliação. Quando a instrução era


infrutífera, havia a instrução do feito, com a publicação da sentença em audiência. Desta
decisão, cabia recurso para o Tribunal de Apelação, cuja composição observava os mesmos
critérios do Tribunal de Primeira Instância. Em face do valor da causa, as decisões do Tribunal
de Apelação estavam sujeitas ao controle do Tribunal do Reich.

A estrutura atual da Justiça do Trabalho Alemã mantém os mesmos critérios. Os seus órgãos
jurisdicionais são: (a) distritais: Tribunais do Trabalho (Arbeitsgerichte – ARBG); (b) estaduais:
Tribunais Regionais do Trabalho (Landesarbeitsgerichte – LAG); (c) Tribunal Federal do
Trabalho (Bundesarbeitsgerischte – BAG); (d) Superior Tribunal Constitucional.

Com exceção ao Tribunal Superior Constitucional, os demais tribunais adotam uma estrutura
colegiada, onde se tem a presença de juízes de carreira, os quais são assessorados por
membros classistas, representantes de empregados e empregadores.

No primeiro grau – Tribunais do Trabalho –, a atuação jurisdicional compreende os dissídios


individuais e os coletivos. A divisão funcional se faz por câmaras. Nos dissídios individuais, a
câmara é composta de um presidente (juiz togado) e dois juízes classistas (um representante
dos empregados e outro dos empregadores). Nos dissídios coletivos, além do Presidente da
Câmara, também atuam quatro juízes classistas.

Os Tribunais Regionais do Trabalho compreendem a segunda instância de atuação do sistema


jurisdicional alemão. Cada Tribunal possui dez juízes togados e 160 classistas. A Presidência do
Tribunal é exercida por um juiz togado. Também é dividido por câmaras, havendo um juiz
togado (presidente) e dois classistas.

O Tribunal Federal do Trabalho pertence à União e possui uma natureza constitucional. É


composto de um presidente, pelos presidentes das turmas e juízes classistas. Os cargos de
presidência são restritos aos juízes togados.

Em qualquer esfera de atuação, os tribunais do trabalho têm competência para dirimir


conflitos coletivos e individuais. Só atuam quando provocados pelas partes. O procedimento
valoriza a oralidade e a imediatividade; portanto, as provas são produzidas perante o próprio
tribunal.

A Alemanha tem um Código de Processo do Trabalho, mas, quando necessário, adota, de


forma subsidiária, as normas pertinentes ao Código de Processo Civil.

1.3ITÁLIA

É inegável que o corporativismo3 italiano teve uma acentuada influência na formação do


sistema jurídico-trabalhista brasileiro (arts. 138 a 140, Constituição Federal de 1937).

Por volta de 1878, à semelhança dos conselhos franceses, foram criados na Itália os Conselhos
de Probiviri, os quais eram constituídos de representante dos empregados e empregadores. A
princípio, sua atuação estava restrita às controvérsias havidas na indústria da seda. Em 1893,
houve ampliação da competência, abrangendo outras categorias da economia.

Na estrutura dos Conselhos de Probiviris havia: (a) os cargos de presidente e vice--presidente


eram designados por decreto real, por meio da proposta do Ministro da Agricultura, da
Indústria ou do Comércio; (b) dois órgãos: a Comissão de Conciliação (Presidente e dois
representantes – um dos empregados e outro dos empregadores) e o Tribunal (Presidente,
Vice-Presidente e quatro representantes classistas – dois dos empregados e dois dos
empregadores); (c) das decisões proferidas pelo Tribunal cabiam recursos para o juiz de paz da
cidade e para a Corte de Cassação.

Ao lado dos Conselhos de Probiviri, em 1º/5/1916, houve a instituição de Comissões de


Arbitragens, integradas por cinco membros designados pelo Tribunal do Distrito.
Posteriormente, esses órgãos foram extintos.

Com a Carta del Lavoro (1927), deu-se um passo importante para a adoção da organização
corporativista na solução dos conflitos trabalhistas. Houve a criação da Magistratura do
Trabalho.

A Magistratura do Trabalho era o “órgão com o qual o Estado intervém regulando as


controvérsias do trabalho, sejam as referentes sobre a observância dos acordos ou outras
normas existentes, sejam as que versem sobre a determinação de novas condições de
trabalho” (Carta del Lavoro, inc. V).

Na composição da Magistratura do Trabalho, havia a Corte de Apelação, constituída de peritos


e com a competência de decidir, em um único grau, as controvérsias advindas dos conflitos
coletivos de trabalho. Em segundo grau, a Corte de Apelação tinha a incumbência de
solucionar os dissídios individuais de trabalho. Em 1928, a Magistratura do Trabalho foi abolida
como magistratura especial, passando as suas atribuições para os juízes ordinários.

Amauri Mascaro Nascimento4 acentua que “o aspecto mais importante que resultou foi a
desenvolvida atuação da nova estrutura nos dissídios coletivos e o poder normativo que
exerceu, criando direito novo, através das decisões de caráter judicial. O poder normativo dos
Tribunais Trabalhistas significa a atribuição legal que lhes é conferida para a decisão dos
conflitos coletivos de interesses”.

Atualmente, “os dissídios individuais são submetidos a julgamento por juízes togados, que
aplicam um capítulo do Código de Processo Civil que regula o processo do trabalho. Os
dissídios coletivos são resolvidos por meio de greves, convenções coletivas, arbitragem e
mediações. Hoje, no primeiro grau, há o juiz do trabalho; no segundo, há o Tribunal Comum de
Apelação; e acima a Corte ‘di Cassazione’ e o Tribunal Constitucional”.5

1.4MÉXICO

Pela Lei Aguirre Berlanga, de 7/10/1914, houve a criação das Juntas Municipais, cujo objetivo
era a solução dos conflitos entre trabalhadores e seus patrões (art. 16). As Juntas possuíam a
seguinte divisão: agricultura, pecuária e a industrial. O procedimento era verbal, concentrado
em uma única audiência, na qual havia o recebimento da petição inicial, da contestação e
produção das provas. A decisão era tomada por maioria de votos, sem direito a recurso.

Em 1914, no Estado de Vera Cruz, uma determinada lei previu a criação de Juntas de
Administração Civil, com a competência para ouvir e decidir as questões propostas pelos
empregados.

Em 14/3/1915, no Estado de Yucatán, houve a criação dos Conselhos e do Tribunal de


Arbitragem, os quais eram encarregados de aplicar a legislação trabalhista com liberdade. Essa
organização era um poder independente, em que o trabalho e o capital ajustavam suas
diferenças de forma automática, buscando, sempre, a solução mais justa para ambos, sem o
recurso às greves que sempre são nocivas para os interesses de todos.

Na atuação desses órgãos, destacavam-se:

a)as Juntas de Conciliação, as quais eram compostas por um ou dois representantes de cada
uma das classes, sem a intervenção estatal, tinham a competência de celebrar os contratos
coletivos de trabalho. No caso de não ser possível à conciliação, poderiam impor uma fórmula
de acordo, que teria a vigência por um mês, até que houvesse a solução definitiva pelo
Tribunal de Arbitragem;

b)como órgão supremo, havia o Tribunal de Arbitragem, com sede na Cidade do México. Era
constituído por um representante indicado pelas uniões de trabalhadores e outro nomeado
pelos patrões, além de um juiz-presidente, o qual era escolhido por todas as Juntas de
Conciliação. No caso de não ser possível à escolha por maioria, o juiz-presidente seria indicado
pelo Governador do Estado. Os membros integrantes do Tribunal tinham o mandato de um
ano. O Tribunal, após o exame de livros de contabilidade, da oitiva de testemunhas e de outros
meios de prova, elaborava uma proposta de conciliação. No caso de não ser aceita a proposta,
o Tribunal deveria proferir uma decisão, a qual teria os mesmos efeitos do contrato coletivo de
trabalho.

Na Constituição Mexicana de 1917 (art. 123, XX) houve a criação das Juntas de Conciliação e
Arbitragem, com a incumbência de solucionar os conflitos entre capital e trabalho. Cada Junta
deveria ser formada por igual número de representantes dos empregados e dos empregadores
e um do governo.

Em 8/3/1926, houve a edição do Regulamento das Juntas de Conciliação e Arbitragem do


Distrito Federal.

No ano de 1927, foram criadas as Juntas Federais de Conciliação e Arbitragem, como também
de uma Junta Comercial.
EVOLUÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO NO BRASIL

A evolução do Direito Processual do Trabalho no Brasil será analisada pelo desenvolvimento


dos órgãos jurisdicionais1 responsáveis pela solução dos conflitos trabalhistas – individuais e
coletivos.

Com a Emenda Constitucional 3, de 1926, a competência para legislar sobre trabalho passou a
ser do Congresso Nacional (art. 31, XXVIII, Constituição Federal de 1891).

Antes da reforma constitucional de 1926,2 houve duas experiências de criação de organismos


especializados na solução dos conflitos trabalhistas na área rural no âmbito do Estado de São
Paulo:

a)Lei 1.299-A, de 1911, regulamentada pelo Decreto Legislativo 2.515, de 15/3/1912, criou o
Patronato Agrícola, com o intuito da assistência jurídica ao trabalhador agrícola,
principalmente ao imigrante, para a cobrança de salários, execução de contratos agrícolas e na
defesa contra aliciamento de colonos;

b)Lei 1.869, de 10/10/1922, da lavra do então Presidente do Estado de São Paulo –


Washington Luiz Pereira de Souza (que seria o Presidente do Brasil de 1926 a 1930),
estabeleceu os Tribunais Rurais, os quais deveriam funcionar em cada comarca de São Paulo,
para conhecer e julgar as questões, até o valor de quinhentos mil réis (500$000), decorrentes
da interpretação e execução dos contratos de locação de serviços agrícolas.3

No ano de 1923, por meio do Decreto 16.027, houve a criação do Conselho Nacional do
Trabalho, ligado ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, com as seguintes
finalidades: (a) órgão consultivo do Ministério em matéria trabalhista; (b) instância revisora
nas questões previdenciárias; (c) órgão de homologação das dispensas dos empregados
públicos.4

Com o advento da Revolução de 1930, Getúlio Vargas subiu ao poder. A partir de então,
adotou-se uma política de tutela paternalista ao trabalhador.

O Decreto 19.433, de 26/11/1930, estabeleceu a criação do Ministério do Trabalho. Pelo


Decreto 19.667, de 4/2/1931, surgiu o Departamento Nacional do Trabalho (DNT).

O Decreto 20.886, de 30/12/1931, atribuiu à Procuradoria do DNT, que funcionava junto ao


Conselho Nacional do Trabalho, a competência para opinativa e consultiva em matéria
contenciosa. Em 1934, também passou a ter atribuição para julgar. Quando da sua criação
(1923), o Conselho Nacional do Trabalho tinha doze integrantes. Em 1934, o número foi
elevado para 18 membros, escolhidos livremente pelo Presidente da República: 4
representantes de empregados, 4 de empregadores, 4 do Ministério do Trabalho e 6 técnicos
em seguro social.

Para a solução dos conflitos trabalhistas, o Governo Provisório de Getúlio Vargas criou dois
organismos básicos:
a)Comissões Mistas de Conciliação (Decreto 21.396, de 12/5/1932) para os conflitos coletivos,
sem competência para julgar, atuando como órgãos de conciliação. Com o acordo, era lavrada
uma ata. Em caso contrário, propunha-se a adoção do juízo arbitral. A última alternativa
implicava a remessa do conflito para o Ministro do Trabalho. Houve a instalação de 38
comissões no Brasil, ocorrendo a sua supressão em 1941, com o surgimento da Justiça do
Trabalho.

b)Juntas de Conciliação e Julgamento (Decreto 22.132, de 25/11/1932) para os conflitos


individuais. Tratava-se de órgãos administrativos, sem caráter jurisdicional, porém com a
atribuição de impor a solução do conflito para as partes envolvidas. Não tinham a competência
para executar as próprias decisões. As execuções dos seus julgados competiam aos
Procuradores do Departamento Nacional do Trabalho perante a Justiça Comum. As Juntas
atuavam como instância única, mas havia possibilidade de o Ministério do Trabalho mandar
subir o caso para exame. E sempre era possível, na fase da execução, que a matéria acabasse
sendo rediscutida na Justiça Comum. As Juntas de Conciliação e Julgamento eram constituídas
de um presidente (advogado, magistrado ou funcionário, nomeado pelo Ministro do Trabalho)
e dois classistas (vogais), representando os empregados e os empregadores (a nomeação era
feita pelo Diretor-Geral do Departamento Nacional do Trabalho, dentre os nomes indicados
nas listas formuladas pelos sindicatos). Até o ano de 1937, houve a criação de 79 Juntas.
Somente os empregados sindicalizados detinham o ius postulandi nas Juntas (forma de
estímulo à sindicalização). Os demais trabalhadores deveriam propor as suas demandas na
Justiça Comum. A citada discriminação foi rejeitada por uma decisão do STF, ante o conteúdo
dos arts. 122 e 139, respectivamente, das Constituições Federais de 1934 e 1937.

Do ponto de vista constitucional, a Justiça do Trabalho foi estabelecida, como órgão


administrativo (integrante do Poder Executivo Federal, vinculada ao Ministério do Trabalho),
pela CF/34 (art. 122) nos seguintes termos: “Para dirimir questões entre empregadores e
empregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho, à qual não se
aplica o disposto no Capítulo IV do Título I. A constituição dos Tribunais do Trabalho e das
Comissões de Conciliação obedecerá ao princípio da eleição de membros, metade pelas
associações representativas dos empregados, e metade pelas dos empregadores, sendo o
presidente de livre nomeação do Governo, escolhido entre pessoas de experiência e notória
capacidade moral e intelectual.”

Antes da promulgação da CF/34, o que ocorreu em 16 de julho, pelo Decreto 24.784, de


14/7/1934, os órgãos existentes foram adaptados ao novo modelo constitucional, sendo que o
Conselho Nacional do Trabalho era o órgão deliberativo de cúpula.

Apesar da previsão constitucional da criação da Justiça do Trabalho, não houve a sua


instalação, em face da discussão legislativa havida no Congresso Nacional em relação à
representação classista e ao poder normativo.5

Na CF/37, manteve-se a previsão da Justiça do Trabalho como órgão de natureza


administrativa, “para dirimir os conflitos oriundos das relações entre empregadores e
empregados, reguladas na legislação social, é instituída a Justiça do Trabalho, que será
regulada em lei e à qual não se aplicam as disposições desta Constituição relativas à
competência, ao recrutamento e às prerrogativas da Justiça comum” (art. 139).
Os Dec.-leis 1.237 e 1.346 (1939), estabeleceram a institucionalização da Justiça do Trabalho,
além da reorganização do Conselho Nacional do Trabalho.

Para a instalação da Justiça do Trabalho, houve a criação de uma Comissão, presidida por
Francisco Barbosa de Rezende (quinto presidente do Conselho Nacional do Trabalho).

No dia 1º/5/1941, no campo de futebol do Vasco da Gama, Getúlio Vargas declarou instalada a
Justiça do Trabalho no Brasil.

A estrutura da Justiça do Trabalho era a seguinte:

a)órgãos: Juntas de Conciliação e Julgamento (JCJ/s), Conselhos Regionais do Trabalho (CRT/s)


e o Conselho Nacional do Trabalho (CNT);

b)composição dos órgãos: (1) JCJ – um juiz-presidente (nomeado pelo Presidente da República
por dois anos, dentre juízes de Direito ou bacharéis, podendo ser reconduzido) e dois vogais
(escolhidos pelos Presidentes dos Conselhos Regionais do Trabalho, dentre os nomes
constantes de listas fornecidas pelos sindicatos obreiros e patronais, para mandato de dois
anos, com garantias próprias de jurado); (2) CRT – um juiz-presidente (nomeado pelo
Presidente da República por dois anos, dentre desembargadores ou juristas trabalhistas,
podendo ser reconduzido) e quatro vogais (um representante dos empregados, um
representante dos empregadores e dois especialistas em questões sociais e econômicas,
alheios aos interesses profissionais, todos nomeados pelo Presidente da República, sendo os
dois primeiros dentre os nomes constantes de listas oferecidas pelas federações, para
mandato de dois anos); (3) CNT – composto de 19 membros (4 bacharéis em Direito; 4
representantes dos empregados; 4 representantes dos empregadores; 3 pessoas de
reconhecido saber; 2 funcionários do Ministério do Trabalho e 2 funcionários de Instituições
de Seguro Social), dividido numa Câmara de Justiça do Trabalho e numa Câmara de
Previdência Social (cada uma com 9 membros, presidida por um vice-presidente), havendo o
Pleno como órgão consultivo e de uniformização de jurisprudência (presidido pelo Presidente
do Conselho);

c)competência: (1) JCJ – conciliar e julgar os dissídios individuais, as reclamatórias de


reconhecimento de estabilidade e executar suas próprias decisões; (2) CRT – conciliar e julgar
os dissídios coletivos de âmbito regional, apreciar os inquéritos administrativos contra
empregados estáveis e os recursos ordinários em dissídios individuais superiores à alçada geral
e em reclamações sobre estabilidade; (3) CNT: (3.1) CJT – Câmara de Justiça do Trabalho –
conciliar e julgar os dissídios coletivos de âmbito nacional e os recursos ordinários em
inquéritos administrativos e dissídios coletivos regionais; (3.2) Pleno – apreciar os recursos
ordinários em dissídios coletivos nacionais, recursos extraordinários contra decisões dos CRTs,
em dissídios individuais, que contrariem jurisprudência do plenário do CNT, além da função
consultiva do Ministério, sobre Legislação Social e Previdenciária, opinando sobre os projetos
do governo e propondo medidas.

Os princípios norteadores da Justiça do Trabalho, posteriormente absorvidos pela


Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), eram os seguintes: (a) obrigação da tentativa de
conciliação; (b) ampla liberdade dada ao juiz para a direção do processo; (c) reclamação direta
pelo próprio trabalhador (reclamação verbal); (d) citação pelo registrado postal; (e)
predomínio do procedimento oral na única audiência (defesa, instrução e julgamento); (f)
capacidade postulatória aos litigantes; (g) poder normativo dos Tribunais em dissídios
coletivos.

Em 1941, além do Conselho Nacional do Trabalho, havia oito Conselhos Regionais do Trabalho
e 36 Juntas de Conciliação e Julgamento.

Pelo Decreto 5.452, de 1º/5/1943, foi publicada a CLT. Esse diploma legal é originário da
comissão presidida pelo Consultor Jurídico do Ministério do Trabalho, Oscar Saraiva, e
integrada por quatro Procuradores do Trabalho: Arnaldo Süssekind, Rego Monteiro, Segadas
Vianna e Dorval Lacerda.

Do ponto de vista processual, a CLT manteve as regras da legislação de 1939 com algumas
pequenas alterações, das quais se destacam: (a) a competência originária das JCJs para
apreciar os inquéritos administrativos; (b) a criação dos prejulgados do CNT com força
vinculante para as instâncias inferiores.

O Decreto 8.737, de 19/1/1946, excluiu da competência do Conselho Nacional do Trabalho as


questões previdenciárias, com a criação do Conselho Superior da Previdência Social.

Com a redemocratização do Brasil, a CF/46 transformou a Justiça do Trabalho em órgão do


Poder Judiciário, porém com a manutenção da representação classista.

A estrutura da Justiça do Trabalho passou a ter os seguintes órgãos: (a) Tribunal Superior do
Trabalho (TST), com sede na Capital Federal; (b) Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs); (c)
juntas ou juízes de conciliação e julgamento (JCJs). Caberia à legislação infraconstitucional: (a)
fixação do número dos tribunais regionais do trabalho e respectivas sedes; (b) criação das
juntas de conciliação e julgamento, podendo, nas comarcas onde elas não forem instituídas,
atribuir as suas funções aos juízes de Direito; (c) criação de outros órgãos da Justiça do
Trabalho; (d) constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de
exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho, ficando assegurada à paridade de representação
de empregados e empregadores (art. 122, §§ 1º a 5º).

Do ponto de vista material, competia à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios


individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e as demais controvérsias oriundas
de relações do trabalho regidas por legislação especial (art. 123, caput). Os dissídios relativos a
acidentes do trabalho são da competência da Justiça ordinária (art. 123, § 1º). Competia ao
legislador infraconstitucional especificar os casos em que as decisões em dissídios coletivos
poderiam estabelecer normas e condições de trabalho (§ 2º).

O constituinte de 1946 estendeu aos juízes trabalhistas as garantias da magistratura –


vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade dos vencimentos (art. 95).

Com a Lei 2.244/54, o TST foi dividido em turmas, o que foi necessário em face do volume de
processos naquela Corte Trabalhista.

O Dec.-lei 229/67 efetuou uma série de alterações no processo do trabalho, com a inclusão de
novos padrões recursais no processo trabalhista: (a) a extinção do recurso de embargos na
Junta para os processos de alçada; (b) o recurso ordinário para o tribunal regional, no caso de
o dissídio individual exceder a alçada legal; (c) o recurso de revista para a Turma do TST, nas
seguintes hipóteses: (1) violação na interpretação de dispositivo legal, exceto se a decisão
recorrida estivesse em consonância com prejulgado ou jurisprudência pacífica do TST; (2)
violação de norma jurídica (o que incluía todas as fontes de direito, autônomas e
heterônomas); (d) o recurso de embargos para o Pleno do TST, para a uniformização interna
corporis do TST.

Em linhas gerais, a CF/67 e a EC 1/69 mantiveram inalteradas a estrutura da Justiça do


Trabalho, fixando que as decisões do TST eram irrecorríveis, salvo no caso de estarem
contrariando a Constituição, caso em que haveria a possibilidade de recurso extraordinário
para o STF. Houve a previsão da inclusão de membros do Ministério Público e da Advocacia
(quinto constitucional) no TST (art. 141, § 1º) e nos tribunais regionais do trabalho (art. 141, §
5º).

O Dec.-lei 779/69 dispõe sobre a aplicação de normas processuais trabalhistas à União Federal,
aos Estados, Municípios, Distrito Federal e Autarquias ou Fundações de Direito Público que
não explorem atividade econômica: (a) a presunção relativa de validade dos recibos de
quitação ou pedidos de demissão de seus empregados ainda que não homologados nem
submetidos à assistência na forma do art. 477, § 1º ao § 3º; (b) o quádruplo do prazo fixado ao
final do art. 841 da CLT para fins de apresentação da sua resposta; (c) o prazo em dobro para
recurso; (d) a dispensa de depósitos para interposição de recurso; (e) o recurso ordinário ex
officio das decisões que lhe sejam total ou parcialmente contrárias; (f) o pagamento de custas
a final, salvo quanto à União Federal, que não as pagará.

A Lei 5.584/70 trouxe uma série de alterações no processo do trabalho: (a) os processos de
alçada exclusiva das JCJs (valor da causa até dois salários-mínimos); (b) o pedido de revisão do
valor da causa, sem a possibilidade de efeito suspensivo, para o Presidente do Tribunal
Regional do Trabalho; (c) a assistência judiciária no âmbito da Justiça do Trabalho, a cargo da
entidade sindical profissional (art. 14 e segs.).

Em 1982, os prejulgados6 do TST, os quais eram vinculantes para os demais órgãos


jurisdicionais trabalhistas, foram transformados em Súmulas (Enunciados), com a supressão do
seu caráter vinculante.

A CF/88 manteve a estrutura da Justiça do Trabalho (art. 111 e segs.) nos moldes da CF/67,
com a ampliação da competência material.

A Lei 7.701, de 21/12/1988, efetuou uma série de alterações na competência funcional do TST.

Com a EC 20, de 15/12/1998, a Justiça do Trabalho passou a executar, de ofício, as


contribuições previdenciárias previstas nos arts. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir (art. 114, § 3º).

A EC 24, de 9/12/1999, acabou com a representação classista nos órgãos integrantes da Justiça
do Trabalho, sendo que as JCJ/s passaram a ser denominadas de varas do trabalho.

A Lei 9.957/00 instituiu o procedimento sumaríssimo no processo do trabalho (dissídios


individuais cujo valor não exceda a 40 vezes o salário-mínimo vigente na data de ajuizamento
da demanda).

A Lei 9.958/00 estabeleceu as Comissões de Conciliação Prévia, como forma de atenuar o


volume de demandas judiciais individuais nos diversos órgãos da Justiça do Trabalho. Os
termos de conciliação das Comissões de Conciliação Prévia, no caso do não cumprimento, são
títulos extrajudiciais, podendo ser executados na Justiça do Trabalho (art. 876, caput, CLT).

A Lei 10.035, de 25/10/2000, criou uma série de regras processuais no texto da CLT, como
forma de disciplinar o procedimento quanto às contribuições previdenciárias.
A Lei 10.537, de 27/8/2002, alterou a redação dos arts. 789 e 790, bem como acrescentou os
arts. 789-A, 789-B, 790-A e 790-B ao corpo da CLT. Em linhas gerais, a Lei 10.537 denota as
alterações legais impostas quanto à cobrança das custas processuais e dos emolumentos, nas
ações de conhecimento e de execução e das suas isenções legais, como também da
responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais na Justiça do Trabalho.

A EC 45, de 8/12/2004, introduziu sensíveis alterações na estrutura da Justiça do Trabalho,


além da criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP) e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT).

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