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Exclusão da herança por indignidade e deserdação

Exclusão por indignidade:


Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou


tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem


em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança
de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Para que ocorra a indignidade, é essencial que o herdeiro tenha


praticado atos contra a vida, contra a honra e contra a liberdade de testar do
autor da herança. Trata-se, assim, de um instituto de amplo alcance, de
natureza essencialmente punitiva.
É uma norma de medida sancionatória, não se pode fazer uso da
interpretação extensiva para deserdar um herdeiro que não se encaixe
perfeitamente no artigo supracitado.
Nos casos de prática de atos contra a vida do autor da herança
(inciso I, do art. 1814), há uma extensão da parte passiva, sendo que
considerará excluído da sucessão aqueles que não só atentarem contra a vida
direta do autor da herança, mas também de seu cônjuge ou companheiro,
ascendentes ou descendentes. Ainda neste sentido, importante ressaltar
que, em tese, não há a necessidade de sentença penal condenatória para
que o herdeiro seja excluído da herança, visto que a discussão deste tópico é
apenas para efeito no âmbito civil.
No que verse sobre os atos contra a honra do autor da herança
(inciso II, do art. 1814), dizendo respeito, assim, aos crimes de injúria, calúnia e
difamação, esses atos também podem se abranger para além do autor da
herança, limitando-se, porém, à pessoa de seu cônjuge ou companheiro .
Visando assim, proteger os direitos da personalidade do autor da herança,
resguardando o princípio da dignidade da pessoa humana, de forma a garantir
a defesa da honra objetiva, correspondente à reputação da pessoa, bem como
da honra subjetiva, correspondente ao sentimento pessoal de estima que ela
possui de si própria.
Diferentemente da primeira hipótese, no caso dos crimes contra a honra,
deve haver uma prévia condenação no juízo criminal para que o herdeiro
seja excluído da herança, salvo nos casos de calúnia praticados em juízo.
Acerca dos atos de violência ou fraude (inciso III, do art. 1814) para
atentar à liberdade do autor em testamentar, considerando quaisquer atos que
impeçam o exercício regular do autor da herança em manifestar livremente a
sua vontade devem ser rechaçados.
Consoante o artigo 1.815 do Código Civil, a indignidade deve ser
declarada por sentença, sendo, assim, necessário, que seja interposta uma
ação declaratória de indignidade em juízo. Tal ação deve ser interposta no
prazo prescricional de 4 anos a contar da abertura da sucessão. Por se tratar
de uma sanção, são pessoais os efeitos da exclusão por indignidade,
sendo que os descendentes do herdeiro indigno continuam sendo sucessores
do autor da herança, como se o indigno estivesse morto quando da abertura da
sucessão (pré-morto). Assim sendo, os seus herdeiros farão jus à parte da
herança que a ele caberia.
Por fim, conforme disposição do artigo 1.818 do Código Civil, há, ainda,
a possibilidade de perdão do indigno. O perdão é o ato em que o autor da
herança, de forma expressa, mediante declaração no testamento ou por meio
de qualquer outro documento, público ou particular, perdoa o herdeiro indigno,
fazendo, assim, com que ele tenha direito à herança. É admitido ainda, o
perdão tácito, de o autor da herança ter contemplado o indigno em seu
testamento mesmo após a ofensa. O ato do autor da herança por si só causa o
perdão do indigno, sendo que, sendo isento de vícios, como a coação e o dolo,
não pode ser invalidado.

Exclusão por deserdação:


A deserdação é a exclusão do sucessor feita pelo próprio autor da
herança. Neste sentido, a manifestação da vontade se faz imprescindível,
sendo que apenas podem ser deserdados os herdeiros necessários,
mediante manifestação expressa, feita, normalmente, em cédulas
testamentárias, devendo estar explícito o porquê da deserdação.
A deserdação é, assim, uma medida também sancionatória e
excludente da relação sucessória, imposta pelo autor como uma reprovação
ao herdeiro necessário que haja cometido qualquer dos atos de indignidade
capitulados nos artigos 1962 e 1963 do Código Civil, abaixo transcritos:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o


marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.


Por se tratar de situações referidas em um testamento, podemos
concluir que a causa de deserdação precisa, necessariamente, ser referente a
fatos ocorridos antes de sua celebração.
Além das causas próprias de deserdação, também podem ser utilizadas
para esse contexto, as causas de indignidade acima tratadas. Neste sentido,
todas as causas que geram a indignidade geram, também, a deserdação,
sendo que a regra não se aplica necessariamente de modo contrário.
É de suma importância ressaltar que os ascendentes e descendentes
podem ser excluídos da herança tanto pelas causas de indignidade, quanto
pelas causas de deserdação, enquanto que o cônjuge ou companheiro,
apenas são excluídos da herança pelas causas de indignidade.

No que tange aos descendentes, são causas possíveis de deserdação


a prática dos seguintes atos:

a) Ofensa física: trata-se da lesão corporal, não tendo sido tratada


nenhum tipo de diferenciação entre a lesão culposa ou dolosa, sendo, assim,
admitida ambas as hipóteses;

b) Injúria grave: difere-se da causa de indignidade no quanto que não


requer a necessidade de ação penal. Ressalta-se, porém, que tem se der
situação de injúria grave;

c) Relações ilícitas com a madrasta ou o padrasto: seria o caso de


relações sexuais entre as pessoas citadas;

d) Desamparo do ascendente em alienação mental ou em grave


enfermidade.

Por outro lado, nas hipóteses de deserdação dos ascendentes para os


descendentes, temos as seguintes hipóteses:

a) Ofensa física;

b) Injúria grave;

c) Relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou neto, ou


com o marido ou companheiro da filha ou da neta;

d) Desamparo do filho ou do neto com deficiência mental ou grave


enfermidade.

Após a abertura do testamento em que o herdeiro foi declarado


deserdado, abre-se um prazo de quatro anos para que o herdeiro instituído ou
aquele em que se aproveitar da deserdação prove a veracidade da causa
alegada pelo testador.
Quanto aos efeitos da deserdação, há uma divergência na doutrina,
visto que os artigos do Código Civil nada tratam sobre o assunto. Dessa
forma, a doutrina diverge sobre se é ou não possível ao sucessor do deserdado
herdar por representação. Neste sentido, Washington de Barros Monteiro, por
exemplo, admite que os descendentes do deserdado também são excluídos da
herança. Já de modo contrário, Orlando Gomes, admite que há o direito de
representação no caso.
Conclui-se que ambas as formas tratadas de exclusão à sucessão
tratam-se de uma medida sancionatória, que visam reprovar algum
comportamento do herdeiro em relação ao autor da herança que tenha
atentado contra seus direitos essenciais.

Exclusão por Indignidade Exclusão por Deserdação


A indignidade é declarada por sentença A deserdação exige manifestação da
judicial. Pode ser requerida pelo vontade do autor da herança em
Ministério Público, na hipótese do inciso I, testamento
do artigo 1.814
Herdeiros necessários ou legatários Apenas o herdeiro necessário
podem ser declarados indignos pode ser deserdado
Hipóteses previstas no artigo 1.814 Hipóteses previstas nos artigos
1.814, 1.962 e 1.963

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