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GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2 CULTURA E MULTICULTURALISMO ................................................................ 5
2.1 CULTURA E TRADIÇÃO .................................................................................... 7
3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE ........................................ 9
3.1 SER HUMANO: PRODUTO E PRODUTOR DE CULTURA ............................. 11
3.2 PLURALISMO CULTURAL ............................................................................... 12
3.3 O DIÁLOGO E O RESPEITO ÀS DIFERENTES CULTURAS .......................... 13
4 A CULTURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ............................................... 15
4.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DA
HUMANIDADE 17
4.2 A RELAÇÃO ENTRE AS CULTURAS .............................................................. 19
4.3 UNIVERSALISMO, RELATIVISMO E MULTICULTURALISMO ....................... 20
4.3.1 UNIVERSALISMO ............................................................................................ 20
4.3.2 RELATIVISMO... ............................................................................................... 21
4.3.3 MULTICULTURALISMO ................................................................................... 22
4.4 AS MANIFESTAÇÕES CONCRETAS E OS ASPECTOS PRINCIPAIS DA
CULTURA 22
5 O QUE É IDENTIDADE DE UMA CULTURA? ................................................. 24
5.1 CONCEITUANDO A IDEIA DE IDENTIDADE NACIONAL ............................... 26
5.2 REFLETINDO SOBRE A IDENTIDADE BRASILEIRA ...................................... 28
5.3 DIVERSIDADE CULTURAL .............................................................................. 30
5.4 CULTURA, MONOCULTURA, POLICULTURA E MULTICULTURALISMO NO
BRASIL 33
5.5 O ALARGAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL ............... 35
6 DESIGUALDADE, DIVERSIDADE E DIREITOS NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO ................................................................................................. 38
6.1 A DESIGUALDADE NO ACESSO AOS DIREITOS NO BRASIL DO PONTO DE
VISTA HISTÓRICO ................................................................................................... 38
6.2 A CONQUISTA DE DIREITOS NO BRASIL ..................................................... 41
6.3 CONQUISTAS E RETROCESSOS NOS DIREITOS ........................................ 44
7 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ... 47
7.1 A CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.............................................. 47
2
7.2 DIREITOS HUMANOS ...................................................................................... 50
7.3 DIREITOS HUMANOS E SENSO COMUM ...................................................... 52
8 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................. 55
8.1 PRINCIPAIS GARANTIAS ................................................................................ 55
8.2 A IMPORTÂNCIA DA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ................ 57
8.3 A DECLARAÇÃO E A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA ............... 59
9 DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA ...................................................................... 62
9.1 DIREITOS CULTURAIS .................................................................................... 63
9.2 A TOLERÂNCIA EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS CONECTADO ................ 65
10 CIDADANIA ...................................................................................................... 66
10.1 DIMENSÕES DA CIDADANIA .......................................................................... 66
11 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO ......................................................................... 70
11.1 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ............................................. 73
11.2 DIVERSIDADE NAS LEIS E SECRETARIAS ................................................... 76
11.3 PRÁTICAS DE DIVERSIDADES: ESCOLA, SOCIEDADE E CULTURA .......... 77
11.4 POLÍTICAS DE INCLUSÃO .............................................................................. 78
12 COMO PROMOVER UMA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL? .......................... 81
12.1 PRÁTICAS POSSÍVEIS PARA A SALA DE AULA ........................................... 81
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CULTURA E MULTICULTURALISMO
Nesse sentido, o autor afirma que a cultura distingue o ser humano dos demais
seres, como, por exemplo, os animais. Enquanto sociedade, os animais também
podem conviver e ter sociabilidade, mas a produção cultural, a comunicação, a troca
e o trabalho são especificamente humanos, como citado a seguir:
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O ser humano é cultural, pois há uma comunicação que é cultural, isto é,
produzida pelos homens e entre eles, que transforma a natureza, o seu meio,
aperfeiçoa meios de sobrevivência, desenvolve técnicas, como o direito, a arquitetura,
a tecnologia, a música, a ciência, a arte, entre outros, por meio do uso da razão, do
trabalho e da lógica. O desenvolvimento da cultura e do homem como ser cultural se
dá, eminentemente, por meio da interação, das manifestações culturais, da
linguagem, do processo de ensino e das tradições, que são passados entre gerações
e grupos em um determinado contexto social.
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Fonte: http://www.justificando.com/
2.1 Cultura e tradição
CULTURA TRADIÇÃO
Do latim cultura, culturae, que A palavra tradição é mais dinâmica
significa “ação de tratar”, “cultivar” ou do que parece à primeira vista.
“cultivar a mente e os Traditio, em latim, é a ação de
conhecimentos”. A palavra culturae entregar, de transmitir algo a alguém,
se originou a partir de outro termo de confiar algo valioso a outra
O QUE É
latino: colere, que quer dizer “cultivar pessoa. Uma pessoa tradicional é
as plantas” ou “ato de plantar e aquela que recebeu (e precisar
desenvolver atividades agrícolas”. transmitir depois) um conhecimento,
uma herança ou uma
responsabilidade do passado.
Com o passar do tempo, a palavra A tradição revela um conjunto de
cultura foi colocada de modo análogo costumes, crenças, práticas,
COMO PODE SE
entre o cuidado na construção e doutrinas, leis, que são transmitidos
MANIFESTAR
tratamento do plantio, com o de geração em geração, em dado
desenvolvimento das capacidades grupo social, e que permite a
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intelectuais e educacionais das continuidade de uma cultura ou de
pessoas. Cultura popular, cultura um sistema social. No direito, a
organizacional e antropologia tradição consiste na entrega real de
cultural. uma coisa para efeitos da
transmissão contratual da sua
propriedade ou da sua posse entre
pessoas vivas. A situação jurídica
resulta de uma situação de fato: a
entrega. Entretanto, a tradição
poderá não ser material, mas apenas
simbólica. Tradição religiosa.
Fonte: Carolina Bessa Ferreira de Oliveira, SAGAH – Soluções Educacionais Integradas, 2018.
A relação entre cultura e tradição coloca-se a partir de uma visão de
manifestação humana e comportamento tipicamente do homem, como as lendas, as
crenças e os costumes. Os elementos da tradição — como formas de se vestir, ritos
de passagem, organização de trabalhos, cerimônias e religiões — podem passar a
fazer parte de uma dada cultura. Por isso, a cultura se refere, de modo geral, aos
modos de vida de uma sociedade ou grupo, pois inclui tanto os aspectos materiais e
tangíveis (como símbolos, objetos e tecnologias) quanto imateriais ou intangíveis
(como crenças, valores e ideias).
Além disso, o costume é considerado uma fonte do Direito, ao lado de outras,
como a lei e a jurisprudência, lembrando que o Direito se modifica à medida que a
sociedade e o homem também são modificados. Assim, no campo do Direito, os
fatores culturais e da tradição estão relacionados à evolução do Direito e às suas
fontes.
De acordo com Sergio Cavalieri Filho (2015), ao considerar a concepção
sociológica do Direito como produto de múltiplas influências sociais, vivenciamos
regras sujeitas a constantes modificações, porque se originam dos grupos sociais, que
também se transformam ao longo do tempo. Assim, entre os principais fatores que
concorrem para a evolução do direito, o autor elenca:
fatores econômicos;
fatores políticos;
fatores culturais;
fatores religiosos.
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Em relação aos fatores culturais, o autor afirma que:
Cada povo tem sua peculiaridade, sua tendência ou dom natural. A Grécia,
por exemplo, notabilizou-se pela arte, pela cultura; os hebreus pela religião;
os fenícios pela navegação; Roma pelo direito. Pois o direito de cada um
desses povos reflete o aspecto cultural em que mais se desenvolveram, e
quando a cultura de um é colocada em contato com a do outro, há influências
recíprocas sobre o direito de cada um. A conquista da Grécia, como é sabido
por todos, exerceu influência decisiva, não apenas nas artes e na literatura
romanas, mas também nas suas instituições jurídicas. [...] A maior evidência
de ser o Direito uma manifestação de cultura social, um fenômeno cultural,
está no fato de surgirem novos ramos do Direito à medida que se expande o
mundo cultural do povo. Falamos hoje em Direito Espacial, Nuclear, das
Telecomunicações etc. [...] (CAVALIERI FILHO, 2015, p. 56-57).
3 MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE
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Nesse sentido, o conceito de cultura se torna fundamental tanto para a
Antropologia quanto para a Filosofia, pois nos possibilita compreender melhor os
seres humanos e a sua vida social. Você, provavelmente, está se perguntando: afinal,
qual é o conceito de cultura? Bem, o antropólogo, escritor e ex-ministro da educação,
Darcy Ribeiro (1999), com muita simplicidade, afirma que a cultura é tudo o que resulta
do trabalho humano, tudo o que é feito pelos homens ou resulta do trabalho deles e
dos seus pensamentos.
Temos também a definição amplamente citada de cultura enquanto objeto da
Antropologia, elaborada por Tylor (2000, p. 1, grifo nosso): “A cultura [...] é o todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, regras morais, leis, costumes e
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da
sociedade”. Ou seja, para Tylor (2000), a cultura trata daquilo a que o ser humano
está exposto por crescer em determinada sociedade, ficando exposto a uma tradição
cultural específica. Por exemplo, os indivíduos que nascem no Rio Grande do Sul são
apresentados aos elementos de sua cultura, aquilo que é da tradição gaúcha.
Portanto, o indivíduo poderá ou não aprender a tomar chimarrão, falar “bah” ou “tchê”,
etc. Ao ser exposto a determinada cultura, ao nascer, o ser humano adquire seus
hábitos e costumes, e, portanto, estes passam a ser seus hábitos e suas culturas.
De acordo com Kottak (2013, p. 44): “Enculturação é o processo pelo qual
uma criança aprende sua cultura”. O processo de enculturação é possibilitado pela
facilidade de aprendizagem das crianças. Acerca disso, Kottak (2013, p. 44) afirma:
“A facilidade com que as crianças absorvem qualquer tradição cultural reside na
capacidade humana singularmente sofisticada de aprender”
Outra definição de cultura bastante conhecida e referenciada é a do
antropólogo Clifford Geertz. Para Geertz (1981), as culturas se caracterizam como um
conjunto de mecanismos de controle — planos, receitas, regras, instruções, aquilo
que os engenheiros de informática chamam de programas para comandar o
comportamento. Logo, a cultura é por ele definida como ideias baseadas na
aprendizagem e nos símbolos culturais. Essas ideias são passadas não apenas às
crianças, embora elas assimilem e aprendam de forma mais fácil; mas nós, adultos,
podemos também receber novos hábitos e costumes — isso se dá a partir dos fatos
sociais. A cultura também é aprendida por meio da observação, segundo Kottak. As
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crianças observam os adultos e acabam repetindo os seus hábitos. Cabe ressaltar
que essa aprendizagem nem sempre se dá de forma consciente.
Fonte: CRStudio/Shutterstock.com.
Como vimos anteriormente, a cultura pode ser definida como tudo aquilo que o
ser humano produz ou que sofre a sua intervenção, de forma que, segundo Ribeiro
(1999), até uma galinha pode ser considerada cultura. Portanto, tudo o que vemos ao
olhar ao nosso redor é cultural e foi produzido pelo ser humano, pois a realidade, como
afirmou Freire, é a realidade humana, produzida pelo ser humano.
Você deve concordar que o trabalho é muito importante para o ser humano,
pois lhe dignifica, o torna útil e capaz de modificar a realidade, desde que não seja um
trabalho em que seja explorado. Logo, não há exagero nenhum em dizer que o ser
humano é produtor de cultura. Além disso, somos seres sociais que vivem em grupo,
dotados de sociabilidade, ou seja, uma necessidade intrínseca de viver em grupo e/ou
comunidades, pois não somos dados ao isolamento. Ainda, nossa educação, ou seja,
as nossas aprendizagens, desenvolvidas ao longo da vida, são fruto dos processos
de socialização que estabelecemos nos diferentes grupos sociais que integramos ao
longo da nossa vida. Há também a enculturação, como vimos, por meio da qual
aprendemos os hábitos da nossa cultura e tradição.
Segundo a professora Aranha (2010), o processo de socialização tem início
pela influência da comunidade sobre os indivíduos. É conhecida a história das
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meninas-lobo encontradas na Índia, em 1920, vivendo em uma matilha. O
comportamento delas em tudo se assemelhava ao dos lobos: andavam de quatro,
comiam carne crua ou podre, uivavam à noite, não sabiam rir nem chorar. Só iniciaram
o processo de humanização quando foram encontradas e passaram a conviver com
pessoas. O mundo cultural é, dessa forma, um sistema de significados já
estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra um mundo de
valores dados, onde ela se situa. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o
jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom de voz nas conversas, as relações sociais,
tudo, enfim, se acha estabelecido em convenções. Até a emoção, que é uma
manifestação espontânea, sujeita-se a regras que dirigem de certa maneira a sua
expressão. A condição humana resulta, pois, da assimilação de modelos sociais: a
humanização se realiza mediada pela cultura.
Se, como afirma Aranha (2010) no excerto acima, a humanização se realiza
mediada pela cultura, não é possível dissociar a sociabilidade e a socialização da
cultura e dos processos de enculturação, pois é por meio delas que nos tornamos
quem somos. É claro que não cabe exclusivamente ao processo de enculturação nos
definir; somos constituídos pelos grupos sociais dos quais fazemos parte, pelas
experiências que vivenciamos e por aquelas culturas com as quais temos contato.
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é do que o intercâmbio cultural entre as sociedades — é quando sociedades com
culturas diferentes interagem, e uma acaba assimilando os hábitos da outra, sem
perder os seus hábitos culturais. Alguns autores trabalham o conceito de
interculturalidade como sinônimo de multiculturalismo. (ARANHA, 2018).
Em uma sociedade globalizada como esta em que vivemos, é comum que
exista o que os antropólogos chamam de assimilação, que nada mais é do que o
processo de mudança que um grupo étnico pode experimentar quando se muda para
um país no qual uma outra cultura é dominante. Porém, essa mudança não é inevitável
e nem necessária, desde que o grupo não se sinta ameaçado ou constrangido por agir
conforme a sua cultura. (ARANHA, 2018).
Em situações em que as pessoas são pressionadas ou questionadas acerca
dos seus hábitos e culturas, é mais comum que exista a assimilação cultural, até como
uma forma de autodefesa. Uma sociedade multicultural não só socializa os indivíduos
na cultura dominante (nacional), mas também cria uma cultura étnica e permite, assim,
a compreensão das semelhanças e diferenças entre as culturas, sem fazer qualquer
julgamento. Contudo, em uma sociedade tão plural culturalmente, é necessário
aumentar a vigilância contra os preconceitos e as intolerâncias. E, para isso, o diálogo
e o respeito são imprescindíveis.
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Encontramo-nos hoje diante de uma situação religiosa bastante diversificada
e mutável: os povos estão em movimento; certas realidades sociais e
religiosas, que, tempos atrás, eram claras e definidas, hoje evoluem em
situações complexas. Basta pensar em fenômenos tais como o urbanismo,
as migrações em massa, a movimentação de refugiados, a descristianização
de países com antiga tradição cristã, a influência crescente do Evangelho e
dos seus valores em países de elevada maioria não cristã, o pulular de
messianismos e de seitas religiosas. É uma alteração tal de situações
religiosas e sociais, que se torna difícil aplicar em concreto certas distinções
e categorias eclesiais, a que estávamos habituados.
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econômico que se originou no passado e que continua a ser construído no seu dia a
dia, por meio da ação dos sujeitos na história.
De acordo com Freire (1999), o homem cria a cultura na medida em que,
integrando-se nas condições de seu contexto de vida, reflete sobre ela e dá respostas
aos desafios que encontra pelo caminho. A construção da Cultura é todo resultado da
atividade humana, do esforço criador e recriador do homem e da mulher, de seu
trabalho por transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens e
mulheres.
Nessa expectativa, cultura é tudo que resulta da criação humana, o sujeito cria,
transforma e é afetado por essas transformações. O sujeito, ao produzir cultura,
produz-se a si mesmo, ou seja, ele se autoproduz. Logo, não há cultura sem o sujeito,
como não há sujeito sem cultura. A cultura, pois, não somente envolve o sujeito, mas
penetra-o, modelando sua identidade, personalidade, maneira de ver, pensar e sentir
o mundo.
Para Brandão (2002), a cultura existe nas diversas maneiras por meio das quais
criamos e recriamos os tecidos sociais de símbolos e de significados que atribuímos
a nós próprios, às nossas vidas e aos nossos mundos. Criamos os mundos sociais
em que vivemos e só sabemos viver nos mundos sociais que criamos ou onde
reaprendemos a viver, para sabermos criarmos com os outros os seus outros mundos
sociais – e isso é a cultura que criamos para viver e conviver.
A cultura não é, pois, algo que existe fora do sujeito; ela faz parte do seu íntimo.
Se somos o que somos é porque temos contato com outros seres humanos, dentro
de uma realidade específica que se torna nossa verdade, mas que se desenvolve
apenas na interação entre os indivíduos. O ser humano não nasce “ser social”, ele se
torna um “ser social” em contato com outras pessoas (DALLARI, 1984).
O grande desafio da escola, hoje, é contribuir para a formação de cidadãos
críticos, conscientes e atuantes (TRINDADE, 2000). Trata-se de uma tarefa complexa
que exige da escola um movimento que ultrapasse temas, conteúdos e programas.
Nessa realização, percebemos o verdadeiro sentido da palavra cidadania.
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Fonte: https://factrem2s.com.br/
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Cultura de massa: é a cultura produzida e /ou transmitida pelos meios de
comunicação a um grande número de pessoas, por meio de intermédios impressos
ou eletrônicos, como jornais, revistas, televisão e internet.
Cultura popular: pode ser compreendida como a soma dos valores
tradicionais de um povo, expressos em forma artística, como danças, ou em crendices
e costumes gerais. A cultura popular é coletiva, marcada pelo anonimato.
O conceito de cultura é amplo, de maneira que é interessante estabelecer
conhecimento entre os conceitos de cultura erudita, de massa e popular. Essa
diferenciação tem objetivos apenas didáticos, até mesmo porque existem articulações
e relações entre os “tipos culturais”, e estabelecemos contato com elas o tempo todo,
pois são mutáveis e dinâmicas, ou seja, as manifestações acompanham as
sociedades onde se expressam, transformando-se, permanecendo ou adaptando-se
a cada realidade.
Outro aspecto importante a destacar é que convivemos com as diferentes
manifestações culturais, pois a cultura é variável no tempo e vai transformando-se na
vivência e no processo de comunicação e transmissão de sua existência. Elementos
como modo de agir, vestir, caminhar, comer se alteram diante das novas
necessidades constituídas entre as gerações, localizadas em um tempo e espaço de
vivência, produzindo bem-estar para alguns e, para outros, uma metamorfose imposta
e, portanto, de grande violência simbólica.
Ribeiro (1987) insiste na ideia de que, embora a cultura seja um produto da
ação humana, ela é regulada pelas instituições de modo que se lapida a ideia a ser
manifestada segundo os interesses ou valores de crenças de determinado grupo
social. A cultura, para Ribeiro (1987), também é uma herança que se resume a um
conjunto de saberes que são passados a partir das gerações, saberes manifestados
e experimentados pelo ancestral.
Quando se trata de cultura e educação, podemos dizer que são esses
fenômenos intrinsecamente ligados, a cultura e a educação, que, juntos, tornam-se
elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e
dos educadores; quando adotamos a cultura como uma aliada no processo de ensino-
aprendizagem, estamos permitindo que cada indivíduo que frequenta o ambiente
escolar se sinta participante do processo educacional, pois ele nota que seu modo de
ser e vestir não é mais visto como “antiético” ou “imoral”, mas sim como uma forma
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de ele socializar com os demais colegas. Alguns autores defendem a ideia de que a
educação não pode sobreviver sem a cultura e nem a cultura sem a educação.
Candau (2003, p. 160) afirma que: “A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural
[...]”
Isso acontece por que somos etnocêntricos, ou seja, entendemos que o nosso
modo de vida é o certo, correto, adequado, já que, para nós, é a nossa cultura e o que
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faz sentido nela é o que está no centro do nosso entendimento. Assim, a referência
do que é certo e errado é dada pela cultura na qual nascemos. Então, podemos dizer
que nascemos etnocêntricos e, com o passar do tempo, podemos aprender a
relativizar o que temos como referência. Nesse sentido, o comportamento etnocêntrico
pode até ser depreciativo em relação aos padrões culturais diferentes dos seus,
julgando-os como imorais, aberrações ou equívocos. (BARROSO, 2018).
Deste modo, temos de cuidar para que não apreendamos atitudes
discriminatórias de diferentes ordens com a cultura do outro. Entendemos que, em um
mundo que possibilita cada vez mais encontros, temos de saber conviver, relativizar
e entender os diferentes modos de vida. Nem todos vão ter o mesmo certo e o mesmo
errado, e, então, para que sejamos respeitados nos nossos pensamentos é preciso
que respeitemos o certo e o errado do outro. Com o tempo e com o convívio cultural,
o que era diferente pode se tornar compreensível quando analisado a partir de outros
modos de vida. O meu certo e meu errado podem ser diferentes do certo e do errado
do outro. Por isso, o nosso contato pode permitir uma negociação de sentidos,
entendimentos e leituras sobre a sociedade que nos possibilite ampliar a formas de
ver o mundo. (BARROSO, 2018).
4.3.1 Universalismo
4.3.2 Relativismo
[...] assim como há diversas culturas, há diversos sistemas morais, pelo que
restaria impossível o estabelecimento de princípios morais de validade
universal que comprometam todas as pessoas de uma mesma forma
(PIOVESAN, 2006, p. 45). Ou seja, os que aderem a esta posição, a cultura
é a única fonte válida do direito e da moral, capaz de produzir seu próprio e
particular entendimento sobre os direitos fundamentais.
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Logo, não haveria como propor um princípio universal entre os povos e
sociedades existentes. A cultura torna-se preponderante para acessar, conhecer e até
questionar práticas culturais consideradas absurdas.
4.3.3 Multiculturalismo
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A linguagem constitui um sistema simbólico, sendo o ser humano o único
animal capaz de produzir símbolos e, por isso, cultura. Desse modo, devido ao amplo
universo da linguagem, o aparato cultural é formado tanto por elementos tangíveis,
que são materiais (caso das máquinas, galpões, automóveis, geladeiras, entre tantos
outros que fazem parte da vida material de uma sociedade), quanto intangíveis, ou
seja, imateriais e abstratos (como o próprio sistema simbólico de uma sociedade, a
arte e os sistemas de valores, entre outros).
Diante de uma gigantesca profusão de aspectos e práticas culturais, elencá-los
seria deveras extensivo, de modo que se optou aqui por reproduzir uma lista enxuta e
muito eficaz elaborada por Reinaldo Dias (2004), em um texto didático e fluente: a
cultura é transmitida pela herança social e compreende a totalidade das criações
humanas; é exclusiva das sociedades humanas e interfere no modo de ver o mundo;
trata-se, portanto, como já dito, de um mecanismo de adaptação.
Dentro de um gigantesco e incontável número de manifestações concretas da
cultura, destacamos alguns, tendo como eixo o mundo da estética, tal qual a arte, a
arquitetura e a moda. A moradia constitui uma manifestação subordinada à
organização da vida material de uma sociedade. Tomemos como exemplo a cozinha
da casa brasileira: se no início do período colonial, em São Paulo, a cozinha
bandeirante em geral se localizava apartada do corpo da casa, no Brasil
contemporâneo, esse cômodo ganhou centralidade, funcionando como lócus de
convívio e integração socioespacial.
A estética, ou seja, os conceitos do belo, corresponde a uma das manifestações
mais fundamentais da cultura. Assim, a fachada de uma edificação, por exemplo, é
diferenciada ao longo do tempo e do espaço, estando associada a variáveis como
economia, natureza e praticidade. O conteúdo estético, porém, que é intangível, faz-
se sempre presente. (DIAS, 2004).
Hábitos alimentares são traços culturais constitutivos e distintivos das
sociedades humanas. Em tempos de globalização, com o aumento e a diversificação
da produção do alimento, em virtude de recursos tecnológicos, surgem cozinhas high-
tech, ocorrendo uma “gourmetização” da prática social de se produzir o alimento.
Além de se tratar de um traço cultural fundamental, a arte é uma manifestação
que, de algum modo, permeia todas as sociedades. Trata-se de uma prática
complexa, carregada de materialidade e imaterialidade, a qual, ao mesmo tempo,
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sofre modulações no tempo e no espaço, sendo uma manifestação estética por
excelência — a despeito de seu conteúdo técnico e tecnológico, a própria arquitetura
contempla a arte em sua constituição.
Outra manifestação cultural muitíssimo significativa é a vestimenta, um hábito
social recorrente na esmagadora maioria das sociedades. A prática é embasada por
diversos fatores, como os julgamentos morais, no caso do sentimento de pudor (no
Brasil, o “atentado ao pudor” é uma atitude desviante socialmente); o fator estético-
mercadológico, no caso da moda, e o psicossocial, no caso de tratar-se de uma forma
de ser externada a individualidade — vale a pena lembrar que, no caso da moda, o
corte de cabelo ou a maquiagem são desdobramentos práticos da manifestação
estética da cultura.
Fonte: https://www.netmundi.org/
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em relação a identificação de outros grupos, podendo modificar-se com o tempo ou
até mesmo como é percebido em relação a outros indivíduos ou grupos.
Assim, podemos dizer que a identidade de uma sociedade se dá justamente na
relação que ela tem com outros grupos sociais a sua volta. Pois, dependendo de quem
está por perto, são escolhidas características culturais para evidenciar como essa
sociedade pode ser localizada, percebida e analisada. Pode-se destacar um prato
típico, uma culinária específica, uma dança tradicional, componentes linguísticos
próprios, as formas de se vestir, entre outros.
Logo, os elementos que definem a identidade podem ser variados e complexos,
de modo que o conjunto deles é que modelam e identificam os grupos e os indivíduos,
como reforça Castells (2008, p. 23):
Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer
feijoada e não hambúrguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros
países, sobretudo costumes e ideias; porque tenho um agudo sentido de
ridículo para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro
e não em Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo
música popular, sei distinguir imediatamente um frevo de um samba; porque
futebol para mim é um jogo que se pratica com os pés e não com as mãos;
porque vou à praia para ver e conversar com os amigos, ver as mulheres e
tomar sol, jamais para praticar um esporte; porque sei que no carnaval trago
à tona minhas fantasias sociais e sexuais; porque sei que não existe jamais
um “não” diante de situações formais e que todas admitem um “jeitinho” pela
relação pessoal e pela amizade; porque entendo que ficar malandramente
“em cima do muro” é algo honesto, necessário e prático no caso do meu
sistema; porque acredito em santos católicos e também nos orixás africanos;
porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no estudo, na instrução
e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada posso negar a
minha família; porque, finalmente, sei que tenho relações pessoais que não
me deixam caminhar sozinho neste mundo, como fazem os meus amigos
americanos, que sempre se veem e existem como indivíduos!
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estimulados a cantar o hino nacional e a ter respeito pela bandeira que nos representa.
Então, de forma consciente e inconsciente, vamos aderindo e adorando a pátria.
A identidade individual é perpassada pela identidade nacional, de modo que,
enquanto construímos a nossa identidade, estamos construindo essa identidade
coletiva também. Assim, quando vamos para outros países, carregamos conosco a
identidade nacional, e mesmo que não sejamos iguais a todos os brasileiros,
reconhecemos elementos culturais comuns entre aqueles que tenham habitado
qualquer parte do Brasil. (BARROSO, 2018).
Fonte: https://baurutv.com/
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A diversidade tem sua origem na colonização do Brasil, com a chegada dos
portugueses, associada à presença do índio e do negro nas terras brasileiras. Holanda
(1995, p. 43) aponta que os portugueses foram os pioneiros na missão de colonizar o
Brasil, sendo os “[...] portadores naturais dessa missão”. Os portugueses que aqui
vieram tentaram impor aos habitantes desta terra seus costumes, sua religião e suas
tradições. No entanto, o autor aponta ainda que “pouca coisa se conservou entre nós
que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio”.
Contudo, manteve-se “[...] a obrigação de irem os ofícios embandeirados, com suas
insígnias, às procissões reais, o que se explica simplesmente pelo gosto do aparato e
dos espetáculos coloridos, tão peculiar à sociedade colonial” (HOLANDA, 1995, p.
43).
Destaca-se, portanto, o fato de que não apenas os portugueses, como também
os holandeses e outros povos deixaram suas marcas no País, fornecendo elementos
constituintes da cultura brasileira. Ainda é necessário considerar que também
permaneceram características próprias, religiões, festividades e costumes específicos
de cada povo. Portanto, essa mistura de raças, etnias e todos os valores e tradições
deram origem à diversidade cultural da sociedade brasileira, que o passar do tempo
só fez intensificar.
A Declaração Universal da Diversidade Cultural, de 2001, em seu art. 1º, aponta
que a cultura “[...] adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa
diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que
caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade” (UNESCO,
2002, p. 2). A referida Declaração foi aprovada por 185 Estados-membros e é o
primeiro documento que busca promover a diversidade cultural dos povos e a
comunicação entre eles. A elaboração do documento deve-se principalmente à
necessidade de se preservarem riquezas culturais, ainda que no contexto da
globalização, que, dadas as suas características, acaba distanciando as culturas ao
aproximar os povos exageradamente.
Alves (2010) aponta que o crescimento dos mercados mundiais trouxe a ampla
sensação de que o mundo estaria vivendo um processo de homogeneização cultural.
Nessa perspectiva, foram feitos apelos no sentido de promover a diversidade e as
identidades locais, marcadas por grande variedade de línguas, crenças, costumes,
tradições. Segundo o autor, na América Latina, o receio de uma unificação de culturas
31
fez com que profissionais se organizassem, juntamente a movimentos sociais, a fim
de pressionar os governos locais para a defesa e a promoção da identidade regional.
Ortiz (1999, p. 83) aponta que “[...] afirmar o sentido histórico da diversidade
cultural é submergi-la na materialidade dos interesses e conflitos sociais (capitalismo,
socialismo, colonialismo, globalização). A diversidade cultural se manifesta em
situações concretas”.
Assim, você pode considerar que a diversidade cultural são os diferentes
aspectos que compõem uma cultura: tradições, costumes, linguagens, formas de
organização familiar, política, religião, culinária, entre outras características próprias
de determinado grupo em determinada época. No entanto, de acordo com Ortiz (1999,
p. 82), é preciso ir além das diferenças:
[...] a diversidade cultural não pode ser vista apenas como uma diferença, isto
é, algo que se define em relação a, que remete a alguma outra coisa. Toda
“diferença” é produzida socialmente, ela é portadora de sentido simbólico e
de sentido histórico. Uma análise tipo hermenêutica que considere
unicamente o sentido corre o risco de isolar-se num relativismo pouco
consequente.
32
aponta que a diversidade presente no mundo antes do século XV era maior do que a
existente hoje. Muitas culturas, línguas, economias e costumes foram desaparecendo
com a expansão do colonialismo, do imperialismo e da industrialização. Não se pode
deixar de mencionar que a diversidade cultural no Brasil é bastante evidente também
entre as diferentes regiões do País. Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste:
cada Estado tem características próprias, que envolvem valores, costumes,
linguagens, diferenças climáticas e nível de desenvolvimento.
Machado (2011, p. 149) afirma que a diversidade deve ser vista “[...] como um
fenômeno dinâmico e multidimensional. O que deve ser preservado, portanto, não é
um dado estado dessa diversidade, mas a possibilidade de direito a ela”. O autor
aponta também que a diversidade deve ser fonte de criatividade e base para
transformações cabíveis. Ainda menciona que não se devem “relativizar direitos
humanos sobre o pretexto do respeito à diversidade”. O autor cita como exemplo que
não se devem “[...] violar direitos das mulheres sob o pretexto de convicções religiosas
ou práticas enraizadas culturalmente” (MACHADO, 2011, p. 149).
Todos esses apontamentos direcionam para um conceito equilibrado de
diversidade, que a define como algo positivo, desde que as atitudes colaborem com o
desenvolvimento de competências e habilidades abertas às diferenças (MACHADO,
2011). Para o autor, não é o caso de reconhecer as pessoas apenas em suas
diferenças, mas de valorizar trocas, reconhecimento, curiosidade e interesse em
conhecer o outro.
O autor reforça essa análise afirmando que a cultura “invadiu” outros setores
da vida em sociedade, o que não representa o fim da cultura como uma área
específica, mas sua definição como uma área transversal, que atravessa muitos
outros campos. Miguez (2011) aponta que a cultura deixou de ser algo específico de
ciências como a sociologia ou a antropologia e passou a fazer parte de pesquisas de
várias áreas do conhecimento. Também comenta que a cultura passou a servir como
um recurso a ser utilizado no desenvolvimento de programas assistenciais que têm
como focos a inclusão social, a transferência de renda, a geração de empregos, etc.
Dessa forma, você pode inferir que “cultura” é um termo que pode assumir
várias definições, sendo a mais conhecida àquela ligada à antropologia e à sociologia,
que envolve conhecimentos, crenças, costumes e hábitos adquiridos ao longo do
tempo. Contudo, esse termo pode assumir significados diversos conforme a área de
interesse. Assim, as palavras “monocultura”, “policultura” e “multiculturalismo” também
assumem significados diversos dependendo da área à qual estão vinculados.
O termo monocultura, por exemplo, está associado à produção de um único
produto. Assim, uma monocultura pode ser considerada como uma unicultura.
Transpondo essa noção para a área das ciências sociais, não se pode afirmar que no
Brasil exista a monocultura, uma vez que o País é bastante rico em diversidade
cultural. Nele, há grande variedade de costumes, hábitos, crenças, enfim,
características que apontam para a existência da diversidade. Países como Japão e
China, por exemplo, adotam o monoculturalismo como forma de preservar a sua
cultura, excluindo influências externas. A adoção dessa estratégia se torna um pouco
mais fácil em sociedades mais homogêneas e com tendências nacionalistas, o que
não é o caso do Brasil.
O termo policultura, por sua vez, relaciona-se ao cultivo de vários tipos de
produtos em um mesmo terreno, técnica muito aceita entre os povos indígenas, que
a utilizavam para diversificar a sua produção. Além dos indígenas, há registros de que
os quilombolas utilizavam essa técnica. Outro conceito que se destaca nesse contexto
é o de multiculturalismo, contrário ao monoculturalismo. Ele pode ser entendido
como a existência de várias culturas em determinada região ou país, no entanto com
uma cultura predominante entre elas. Países como Canadá e Austrália adotam o
34
multiculturalismo. A crítica é que o multiculturalismo pode provocar desprezo e
indiferença por pessoas que não possuem as mesmas características e cultura e que
porventura residam em países que adotam esse sistema. Isso ocorre porque a
diversidade cultural passa a ser considerada uma ameaça para a identidade nacional.
Nas palavras de Santos e Nunes (2003, p. 26), o multiculturalismo representa
a “[...] coexistência de formas culturais ou de grupos caracterizados por culturas
diferentes no seio de sociedades modernas” e está associado a processos
emancipatórios e lutas pela afirmação das diferenças. Taylor (1997), por sua vez,
aponta que as sociedades estão se tornando cada vez mais multiculturais e
permeáveis, o que conduz à imposição de uma cultura sobre as outras. Falar em
multiculturalismo e no predomínio de uma cultura sobre outras implica pensar também
no papel do Estado perante essa questão. Ainda é preciso considerar que o
multiculturalismo exige tolerância, no que se refere a aceitar as diferenças e a aceitar
o outro de forma empática e com respeito. Quanto ao Estado, ele deve considerar a
diversidade cultural existente e lidar com ela a partir dos direitos humanos, do
reconhecimento da dignidade dos indivíduos e do respeito às diferenças.
Fonte: https://www.gestordesi.com.br/
35
No Brasil, onde muito do que se identifica como riqueza da diversidade
cultural são tradições e saberes das populações mais pobres e, em grande
parte, apartadas do processo de crescimento econômico, tal realidade produz
uma dúvida incômoda. O preço da preservação desses bens imateriais seria
perpetuar os desníveis entre ricos e pobres, mantendo as populações
tradicionais protegidas da contaminação da informação ou do acesso ao
mercado de bens e serviços culturais? Além dessa, outra indagação
permanece como alerta para aqueles que formulam políticas de
reconhecimento ou de promoção da diversidade: se, no limite, a menor
unidade da diversidade é o próprio indivíduo, não estariam, assim, sendo
colocadas em risco conquistas históricas, objeto das lutas sociais que
serviram para consolidar o respeito ao interesse comum e ao espaço público
da cidadania? A defesa intransigente da diversidade cultural não estaria
levando mais à separação do que à aproximação entre as pessoas?
36
de como a desigualdade, em sua relação com a diversidade, afeta a vida dos
indivíduos.
Em um primeiro momento, pode-se supor que o contato entre os povos, a
tentativa de homogeneização e tantos outros aspectos favoreceram a diversidade
cultural do Brasil, especialmente no que diz respeito a práticas, costumes e valores.
Entretanto, é necessário lembrar que a escravidão vivenciada por negros e índios
trouxe consequências importantes para a formação da sociedade. Ela ampliou
distâncias entre as pessoas, divididas por classes sociais, e afastou os negros (em
alguns casos, pobres e marginalizados) do acesso aos bens e serviços, situação de
preconceito e discriminação presente até hoje. Não menos importante, houve o
avanço das desigualdades na sociedade capitalista, em que predominam os
interesses ligados ao capital e aos lucros, diminuindo o acesso da classe trabalhadora
aos bens e serviços produzidos, o que a coloca em situação de desvantagem.
Refletindo sobre a questão das desigualdades e diversidades, você deve notar
que a diferença entre as pessoas é uma das principais responsáveis por gerar
desigualdades (SCOTT; LEWIS; QUADROS, 2009). Se antes a diversidade indicava
apenas uma pluralidade de culturas humanas, hoje tem implicações políticas. Tais
implicações podem ser percebidas nas relações entre grupos cujas desigualdades são
evidentes, especialmente no que se refere a poder e resistência.
Silva, Guimarães e Moretti (2017) apontam que as desigualdades geradas pela
diversidade muitas vezes resultam em atitudes discriminatórias, no geral aparecendo
de forma sutil e velada, tendo como pano de fundo o discurso sobre tratamento
igualitário. Para os autores, quando determinadas características são identificadas e
pessoas ou grupos são rotulados, surgem os comportamentos segregadores. Se
estão em jogo pessoas ou grupos que já vivem em situação de desvantagem social,
é comum que eles também se sintam em condições de inferioridade, assumindo esse
papel. Assim, em vez de reagir a essa situação, acabam se sentindo em situação de
desvantagem.
Hobsbawm (2007, p. 11), por sua vez, considera a desigualdade como
resultado do mundo globalizado:
[...] sabemos que a desigualdade não é um fato natural, mas sim uma
construção social. Ela depende de circunstâncias e é, em grande parte, o
resultado das escolhas políticas feitas ao longo da história de cada
sociedade. Mas também sabemos que todas as sociedades experimentam
desigualdades e que estas se apresentam de diversas formas: como
prestígio, poder, renda, entre outras — e suas origens são tão variadas
quanto suas manifestações. O desafio não é apenas descrever os fatores e
componentes das desigualdades sociais, mas também explicar sua
permanência, e em alguns casos seu aprofundamento, apesar dos valores
igualitários modernos.
Scalon (2011) também diz que, no caso do Brasil, chama a atenção o fato de a
desigualdade resistir ao tempo e ao processo de modernização da sociedade. A
autora ainda esclarece que é preciso considerar a desigualdade como um problema
político que mantém relação direta com a democracia, a justiça social e a igualdade
de oportunidades. Nesse sentido, não haverá democracia se não houver uma atenção
mais focalizada para o problema das desigualdades sociais. Afinal, “[...] a igualdade
39
pode ser considerada um dos atributos básicos da cidadania, considerada em seu
sentido mais amplo como acesso a direitos” (SCALON, 2011, p. 51).
A igualdade está assegurada na Constituição Federal de 1988, entretanto “[...]
a lei só pode ser garantida de maneira eficiente quando sustentada pela igualdade
nas chances de vida, que assegura tanto a possibilidade como a liberdade de escolha
e a utilização plena das capacidades dos atores sociais” (SCALON, 2011). A grande
questão é que isso não acontece de fato, dada a dimensão que as desigualdades
sociais assumem no Brasil, impactando questões essenciais, como a efetivação da
democracia e da justiça social, e transitando por aspectos relacionados à ética e à
moral.
Faleiros (2014) destaca que, na sociedade capitalista, as demandas por
serviços sociais demonstram as desigualdades econômicas, as situações de
inclusões ou exclusões. Para o autor, essas:
[...] são demandas complexas tanto pela efetivação de direitos como por
cuidados específicos que exigem dos profissionais a análise das relações
gerais e particulares dessas condições e do poder de enfrentá-las, o que
implica trabalhar a correlação de forças (FALEIROS, 2014, p. 708)
40
O autor destaca ainda que a desigualdade é um problema recorrente na maior
parte das sociedades. No entanto, ela apresenta características diferenciadas no
conjunto das sociedades capitalistas.
As desigualdades sociais há tempos estão presentes na sociedade brasileira.
Scalon (2011, p. 52) destaca a relação entre a desigualdade e a pobreza. Embora
tenham conceituações distintas, elas são fortemente relacionadas, “[...] na medida em
que as disparidades nas chances da vida acabam por determinar as possibilidades de
escapar de situações de privação e vulnerabilidade”. Scalon (2011) aponta ainda que
é ingenuidade acreditar que pobreza e desigualdade podem ser eliminadas apenas
com “interesse político” ou mediante redistribuição de recursos entre ricos e pobres.
A melhor alternativa, segundo a autora, para enfrentar tais questões, é a educação,
pois somente ela permitiria o acesso a melhores condições de trabalho e melhor
remuneração.
41
surge a segunda geração dos direitos humanos, os chamados direitos sociais e
políticos. É o caso de direito à moradia, ao voto, à participação na vida pública, entre
outros.
Mediante o acirramento da luta de classes, os trabalhadores começaram a lutar
por direitos mais específicos, aqueles das chamadas “minorias sociais”, ou seja,
grupos considerados em situação mais desfavorecida. Como exemplos de minorias,
você pode considerar: mulheres, pessoas com deficiências, grupos LGBT e outros.
Tais grupos necessitavam que suas necessidades fossem, de fato, asseguradas. Os
direitos das minorias são os mais discutidos na atualidade, recebendo uma atenção
mais específica.
Os direitos não são pensados e construídos de uma única vez. Eles ganham
forma conforme a sociedade humana vai se desenvolvendo e suas necessidades,
surgindo. Assim, para compreender o significado que os direitos têm na atualidade, é
essencial verificar como foram observados em épocas passadas.
Isso posto, considere agora a evolução da legislação brasileira, tomando como
ponto de partida a Constituição Federal de 1988, que apresenta os direitos e deveres
dos cidadãos e pauta-se em valores de equidade e direitos universais. Além disso, a
Constituição reafirma conquistas transformadas em direitos sociais nas áreas de
saúde, assistência social, educação, previdência, trabalho, entre outras (PIANA,
2009). Conhecida como Constituição Cidadã, recebeu essa denominação:
Criticada por uns, pelo detalhismo de suas disposições, justifica-se essa sua
característica pela tradição de alto grau de descumprimento da legislação
ordinária no país, a exemplo do que ocorre com a legislação trabalhista criada
nas décadas de 1930 e 1940 e inscrita na Consolidação das Leis do Trabalho
— CLT —, cujo cumprimento ainda é motivo de frequentes demandas
judiciais por parte dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2011, p. 6)
Isso evidencia que o País possui um aparato legal muito completo e detalhado.
No entanto, boa parte das leis ainda não são aplicadas como deveriam e como está
expresso na Carta Magna. Por isso, tem-se verificado, nos últimos tempos, a
42
necessidade de estabelecer leis complementares para garantir direitos já previstos na
Constituição. Os avanços na legislação somente foram possíveis graças à
organização e à mobilização de vários segmentos da sociedade, desde a década de
1970 (OLIVEIRA, 2011).
Vários grupos mereceram atenção na legislação posterior à Constituição
Federal de 1988, mas destaca-se aqui a situação dos trabalhadores. Para esse
grupo, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1988) e outros direitos
sociais assegurados constitucionalmente. É o caso do direito contra a dispensa
injustificada (partindo do princípio de que o empregador possui superioridade em
relação ao trabalhador), do seguro-desemprego, do fundo de garantia por tempo de
serviço e outros. Recentemente, algumas mudanças foram realizadas na legislação
trabalhista, nem todas favoráveis ao trabalhador.
Ao longo do tempo, outros grupos foram tendo seus direitos esmiuçados em
leis complementares, mediante luta e mobilização dos grupos sociais. A Lei nº 8.069,
de 13 de julho de 1990, é um exemplo de lei complementar, que detalha o art. 227 da
Constituição Federal. Essa lei define os direitos das crianças e adolescentes,
indicando quem deve aplicá-los e como são efetivados na prática. Assim, trata-se de
um conjunto de normas que busca assegurar a proteção integral da criança e do
adolescente. Entende-se como criança a pessoa com até 12 anos de idade
incompletos, e adolescente, aquela que tem entre 12 e 18 anos de idade. Em seu art.
3º, o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura que a criança e o adolescente
gozem de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (assegurados
na Constituição Federal), mas sem os prejuízos da proteção integral de que trata essa
lei. Isso implica dizer que crianças e adolescentes devem ser protegidos pelo Estado,
pela família e pela sociedade com absoluta prioridade (BRASIL, 1990).
Ao segmento idoso também foi assegurada atenção especial e houve evolução
dos direitos ao longo do tempo. O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro
de 2003) foi criado para regular os direitos das pessoas com 60 anos ou mais. Além
de estabelecer os direitos e as responsabilidades na efetivação da proteção dos
direitos dos idosos, o Estatuto assegura a prioridade do atendimento em órgãos
públicos e privados, estabelecendo prioridade especial aos maiores de 80 anos. De
forma geral, o Estatuto estabelece que o idoso goze de todos os direitos fundamentais
43
da pessoa humana, sem prejuízo dos demais direitos previstos na lei (BRASIL,
2003a).
O Brasil também avançou na promoção dos direitos das pessoas com
deficiência, por meio de políticas que as valorizam enquanto cidadãs, respeitando
suas características e sua condição. Um desses avanços está materializado no
Estatuto da Pessoa com Deficiência, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6
de julho de 2015). Essa lei se destina “[...] a assegurar e promover, em condições de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015, documento on-
line). Para tanto, se considera pessoa com deficiência:
[...] aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015, documento on-line).
44
cultura nacional a todos os brasileiros (BRASIL, 1988). Algumas legislações
posteriores, especialmente na área da educação, buscam oferecer uma resposta à
demanda da população afrodescendente por meio do desenvolvimento de ações
afirmativas para reparar possíveis prejuízos sofridos ao longo do tempo, reconhecer
e valorizar a sua história, a sua cultura e a sua identidade.
Nessa perspectiva, a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afrodescendente na educação básica
(BRASIL, 2003b). Tal iniciativa se faz necessária para que o Estado e a sociedade
adotem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros dos danos
psicológicos, sociais, materiais, políticos e educacionais vivenciados no regime
escravista. Sem a intervenção do Estado, dificilmente as desigualdades e injustiças
seriam rompidas. Elas permaneceriam fundadas em preconceitos e na manutenção
de privilégios para poucos.
Situação semelhante à vivenciada pela população negra é a da população
indígena, que sofreu com o processo de colonização e até hoje se encontra muito à
margem da sociedade e do acesso aos direitos. A Constituição Federal de 1988
reconhece o respeito às formas de organização próprias dos povos indígenas, além
de suas crenças, costumes, usos e tradições. Além disso, reconhece os direitos
originários dos povos indígenas sobre suas terras. Além da Constituição Federal de
1988, o Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004, da Organização Internacional do
Trabalho, assegura o direito à autonomia dos povos indígenas no sentido de garantir
o respeito às formas diferenciadas de vida, de gestão e de desenvolvimento de seus
territórios (BRASIL, 2004).
Entre homens e mulheres, as diferenças no acesso aos direitos também
existem. Embora o texto constitucional assegure a igualdade entre eles, na prática
não é isso o que acontece. O trabalho é um dos setores em que homens e mulheres
ainda hoje são tratados com diferença. Culturalmente, o trabalho é associado à
identidade do homem, na sua função de garantir o sustento da casa, proteger e cuidar
da família. Assim, muitas vezes, ainda que a mulher exerça a mesma função que o
homem e tenha a mesma qualificação, ela recebe remuneração inferior e ambos nem
sempre possuem a mesma valorização.
Esse cenário trata-se, na verdade, de um dos grandes retrocessos, ou de uma
dificuldade em avançar na conquista do direito das mulheres de serem respeitadas
45
em sua condição, sua dignidade e suas possibilidades de trabalho, em situação de
igualdade com os homens. Você pode considerar ainda que homens e mulheres têm
direito à inviolabilidade da sua integridade e nem sempre mulheres são respeitadas,
sendo alvo de comportamentos inadequados. Haveria muitas situações a serem
descritas em que direitos de homens e mulheres não são igualmente respeitados, mas
o que você deve considerar é que essa condição ainda requer muita luta para que
ambos estejam em condição de igualdade.
Você deve ter em mente também que existem muitas discussões e
mobilizações populares a favor de outros grupos em situação de vulnerabilidade e/ou
desigualdade. Exemplos são as mobilizações a favor da população LGBT, que ainda
luta e discute questões como casamento, adoção e tantos outros assuntos que ainda
aguardam regulamentação legal. Esse ponto é importante, uma vez que há uma série
de projetos a serem votados no Congresso que continuam parados, como
criminalização da LGBTfobia, casamento homoafetivo, alteração de nome, entre
outros. A maioria dos direitos dessa população não possui legislação específica.
Assim, as pessoas interessadas precisam recorrer ao Poder Judiciário para que as
solicitações sejam avaliadas caso a caso. (OLIVEIRA, 2018).
Fonte: https://jornalggn.com.br/
46
7 O PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Para começar, considere o Brasil Colônia. O povo daquela época não possuía
autonomia enquanto nação e sofria uma intensa exploração (VINAGRE; PEREIRA,
2008). Já na época do Império (1822–1889), se registraram violações importantes aos
direitos humanos, especialmente no que se refere ao genocídio a que foram
submetidos os índios e negros. Nesse aspecto, uma primeira conquista ocorreu em
1888, com a abolição da escravatura. Para Vinagre e Pereira (2008, p. 35), “[...] a
escravidão é uma das maiores violações dos direitos humanos, posto que se refere à
apropriação total do produto do trabalho da pessoa a esse regime, sendo, também,
apropriação do seu corpo, da sua vida e do seu destino”. Com o fim da escravidão, os
negros adquiriram direitos civis, pois teoricamente deixaram de ser propriedade do
senhor e de ser considerados mercadorias.
Ao longo da história de violação de direitos, sempre houve resistência e
enfrentamento. Um exemplo de movimento organizado e desenvolvido pela
resistência negra foi a experiência bem-sucedida do Quilombo de Palmares. No
entanto, apesar da resistência, essas vivências não eram favoráveis à efetivação de
direitos, uma vez que muitas pessoas ainda eram forçadas a realizar trabalhos em
grandes propriedades rurais, em que os proprietários determinavam limites ao próprio
Estado. Vinagre e Pereira (2008, p. 36) complementam:
[...] no que se refere aos direitos políticos, estes eram restritos a uma elite; e
dos direitos sociais, ainda não se falava, uma vez que a garantia dos mínimos
sociais ficava a cargo da filantropia privada e da Igreja Católica,
prevalecendo, pois, o caldo cultural clientelista e patrimonialista.
47
No período destacado, além dos negros, outros setores também
desfavorecidos se mobilizaram na busca por direitos. Datam desse período a Revolta
dos Alfaiates, a Revolução Farroupilha, a Guerra de Canudos e outros movimentos.
Na luta por direitos, merece destaque o movimento pelo voto das mulheres, após a
Revolução de 1930. Destaque também para o movimento operário e a sua luta por
direitos civis e políticos, reivindicando o direito ao trabalho, à organização sindical e
aos direitos trabalhistas (VINAGRE; PEREIRA, 2008).
Na Primeira República, Vinagre e Pereira (2008) destacam que os primeiros
avanços em termos de direitos ocorreram após a entrada do Brasil na Organização
Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. Então, houve avanços na área de direitos
relacionados ao trabalho, como previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
de 1943. Os direitos políticos foram sendo efetivados de acordo com cada período
histórico. No período da ditadura, por exemplo, direitos como a liberdade de expressão
e de organização política ficaram bastante restritos. Sobre isso, Vinagre e Pereira
(2008, p. 37) consideram:
48
O Brasil passou a adotar ainda determinações internacionais (declarações,
tratados, cartas) na área de defesa dos direitos humanos, comprometendo-se com o
Sistema Internacional de Direitos Humanos (VINAGRE; PEREIRA, 2008). Em termos
mundiais, os direitos humanos têm como marco a Segunda Guerra Mundial, momento
em que essa questão atinge níveis internacionais. Destaca-se, nesse período, a
criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, e a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Esse documento reuniu valores éticos
universais, mas com sinais dos projetos societários em disputa naquela época
(VINAGRE; PEREIRA, 2008). Veja:
O autor ainda afirma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma
forma de confirmar, na prática, algo que até então não era reconhecido por toda a
sociedade.
Fonte: https://nnadiamarinho87.jusbrasil.com.br/
49
7.2 Direitos humanos
51
revoltam por seu elevado grau de crueldade. A Declaração possui 30 artigos. Entre
eles:
Costa (2017) afirma também que a mídia muitas vezes coloca seus interesses
ligados à audiência e ao capital em primeiro lugar, em detrimento dos interesses
coletivos. Assim, ela deixa de atender à sua responsabilidade com o que é repassado
para a sociedade. São condutas dessa natureza que contribuem para a criação de
estereótipos e preconceitos que acabam sendo disseminados e aceitos na sociedade.
A tentativa da grande mídia ou até mesmo de personalidades ligadas à política
de desqualificar os direitos humanos, assim como aqueles que os defendem,
apresenta como pano de fundo os interesses de determinados grupos. Viola (2008
apud COSTA, 2017) aponta são opositores aos direitos humanos: os governos
militares ditatoriais; o grande capital; os setores dos meios de comunicação de massa
e jornalistas que combatem direitos humanos. Essa perspectiva de análise remonta
53
inicialmente aos anos da ditadura, em que os militares exerciam forte poder na
sociedade. Contudo, atualmente, o que mais tem influenciado é a questão dos
interesses do grande capital, que “[...] proporciona uma verdadeira violência nas
relações sociais, contribuindo para a concentração de renda e para o aumento das
desigualdades na sociedade brasileira” (COSTA, 2017, p. 30).
Você deve considerar, então, que no contexto do capitalismo não é possível
conciliar a lógica da acumulação de riquezas, de capital e da exploração do
trabalhador com as lutas a favor da garantia dos direitos humanos. Isso acontece pois,
de acordo com essa lógica, os interesses pelo capital são individuais ou referem-se a
uma classe específica, o que não ocorre com os direitos humanos, que buscam
atender indistintamente a todos os indivíduos, sem discriminação de nenhum tipo.
Assim, como você viu, a sociedade brasileira vive situações que requerem a
defesa dos direitos humanos há muitos séculos. Sua história é marcada por
exploração, discriminação e violência contra muitos grupos. Nesse sentido, os direitos
humanos surgem para proteger e garantir a igualdade entre todos os indivíduos. No
entanto, a defesa desses direitos nem sempre é vista como algo favorável. É por isso
que a população deve conhecer o verdadeiro valor desses direitos, para que possa
lutar por eles e valoriza-los. A mídia, enquanto importante instrumento de
comunicação de massa, pode contribuir para que isso ocorra. No entanto, são
necessárias instituições de fato comprometidas com a disseminação de informações
corretas e com a sociedade.
Fonte: http://www.unama.br/
54
8 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
56
e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu protocolo
opcional, que formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (ONU).
Os acordos internacionais e esses documentos apresentados foram criados
para garantir e ampliar a efetivação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Outra forma de se garantir o cumprimento da Declaração é por meio do poder público.
Esse documento serve como guia para muitos países organizarem as suas obrigações
frente a todos os humanos. Os artigos servem como amparo legal, assim como ocorre
com diversos tratados e acordos internacionais sobre essa temática. No Brasil, o dia
12 de agosto é o Dia Nacional dos Direitos Humanos.
Você sabia que a Constituição Federal de 1988, por meio do artigo 4º, concede
a prevalência dos direitos humanos sobre os demais, num contexto de cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade? A ideia é reconhecer e reproduzir
os princípios e direitos estipulados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Assim, na Constituição brasileira, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um
marco regulatório e priorizado.
Talvez no cotidiano brasileiro você observe que alguns artigos do documento
não são efetivados pelo governo. Isso transparece na situação de brasileiros que
vivem na miséria, abaixo da linha da pobreza, sem moradia, sem educação, alguns
em regime de trabalho escravo. Além disso, transparece na situação de pessoas
presas que não recebem o direito de defesa. Como você sabe, há diversos outros
exemplos que são noticiados, infelizmente, com frequência.
Diante dessa realidade, é muito importante refletir e discutir a importância da
Declaração dos Direitos Humanos para a humanidade e para o Brasil.
Além dos valores que a Declaração dos Direitos Humanos propõe, ela é
sistematizada e caracterizada com base na noção de que os direitos humanos são
imprescindíveis e inalienáveis. A grande importância desse documento está no seu
caráter de coletividade. Além disso, ele estabelece as diferenças a partir do relativismo
cultural e universal. Assim, está em jogo uma perspectiva de alteridade, o que
influencia diretamente as relações sociais entre os povos de uma mesma cultura e,
universalmente, de forma intercultural (REALE, 2002).
O documento propõe que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo
sempre em mente a Declaração, se esforce, por meio do ensino e da educação, para
58
promover o respeito aos direitos e liberdades. Por meio da adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, a ideia é assegurar o reconhecimento
e a observância universais e efetivos dos direitos e liberdades, tanto entre os povos
dos próprios países-membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Dada a importância desse documento, você pode analisar seus fundamentos
no contexto da Constituição Federal de 1988. O artigo 5º possui um forte viés social e
determina a garantia de direitos individuais e coletivos, que teoricamente oportunizam
condições de vida digna a todos os brasileiros. Mas você percebe a efetivação de
todos os direitos humanos, inclusive das condições mínimas de dignidade humana?
Infelizmente, isso não é uma realidade no Brasil. Como você pode perceber, o Estado
tem feito pouco para efetivar a legislação.
Então, será que de nada serviram os esforços de todos os documentos
internacionais? O que restou dessa história? Qual é a importância da Declaração
Universal de Direitos Humanos de 1948? O documento apresenta a sua contribuição
histórica, mas, além disso, também contribui para a construção de um conceito de
“comunidade internacional”, na busca por minimizar ou erradicar situações intoleráveis
e inaceitáveis quanto à dignidade humana.
Na atualidade, há uma imensa campanha para que os direitos humanos sejam
respeitados, com base no processo histórico do Brasil, com um amplo acervo de
acertos e erros em diferentes lugares do País. Uma das principais contribuições da
Declaração dos Direitos Humanos foi delimitar direitos inalienáveis e determinar que
há alguns sofrimentos que podem ser diminuídos pela ação coletiva e pela efetivação
desse documento no dia a dia. (REALE, 2002).
59
direitos humanos ou não. Para os direitos humanos, a educação é um fator a ser
desenvolvido a longo prazo; não se tem um retorno imediato, mas se contribui com
estratégias para as gerações futuras.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos revela que seus idealizadores
identificaram que a educação não é neutra — isso pode ser observado no preâmbulo
do documento. O art. 26 destaca que a educação tem objetivos políticos inevitáveis,
mas ignora conceitos ideologicamente rígidos, substituindo-os por diversas metas
positivas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2018).
O texto do art. 26 determina que o direito à educação deve se vincular a três
objetivos específicos:
pleno desenvolvimento da personalidade humana e fortalecimento do
respeito aos direitos do ser humano e às liberdades fundamentais;
promoção da compreensão, da tolerância e da amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais e religiosos;
incentivo às atividades da ONU para a manutenção da paz.
Veja o que afirma o art. 26 da Declaração:
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como
a instrução superior, está baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos
humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos
raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol
da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que
será ministrada a seus filhos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DO
BRASIL, 2009, documento on-line).
Art. 22, inciso XXIV, que trata da competência privativa da União em legislar
sobre as diretrizes e bases da educação nacional.
60
Art. 23, inciso V, que coloca sob competência da União, estados, Distrito
Federal e municípios a tarefa de proporcionar os meios de acesso à cultura,
à educação e à ciência.
Art. 205, que assegura que a educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206, que trata da igualdade de condições para o acesso e a permanência
na escola; da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber; do pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; da
gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; e da gestão
democrática do ensino público.
Art. 208, que determina que o dever do Estado com a educação será
efetivado mediante as seguintes garantias: educação básica obrigatória e
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; progressiva
universalização do ensino médio gratuito; atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino; educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de
até 5 anos de idade; acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; oferta de ensino
noturno regular, adequado às condições do educando.
Art. 214, que trata de uma espécie de pacto nacional pela educação, dando
espaço para a criação do Plano Nacional de Educação e para a articulação
entre os sistemas de ensino, entre outras determinações, visando
especialmente: à erradicação do analfabetismo; à universalização do
atendimento escolar; à melhoria da qualidade do ensino; à formação para o
trabalho; à promoção humanística, científica e tecnológica do País.
9 DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA
Fonte: https://www.ofm.org.br/
62
9.1 Direitos Culturais
Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são
universais, indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma
diversidade criativa exige a plena realização dos direitos culturais, tal como
os define o Artigo 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os
artigos 13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais. Toda pessoa deve, assim, poder expressar-se, criar e difundir suas
obras na língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda
pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que
respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder
participar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas
culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e às
liberdades fundamentais (UNESCO, 2002, documento on-line).
64
9.2 A tolerância em um mundo cada vez mais conectado
10 CIDADANIA
67
Dependem do Poder Executivo e, em sociedades
politicamente organizadas, permitem a redução das
desigualdades produzidas pelo capitalismo e um
mínimo de bem-estar a todos.
Fonte: Adaptado em Carvalho (2008).
O que nós propomos é que não se insista mais sobre uma cidadania
abordada através da educação cívica ou da instrução cívica, mas que se
reinvente, como condição prévia à realização de uma cidadania multicultural,
uma educação popular (por outras palavras, uma educação autenticamente
do povo, pelo povo e para o povo) visando a coabitação cultural.
68
aliviar a pobreza e a desigualdade, a degradação do meio ambiente e a violação aos
direitos humanos [...]”. Existem inúmeras iniciativas de organizações e voluntários
baseadas nesse conceito de cidadania cosmopolita. Tais iniciativas procuram assumir
ações que anteriormente eram vistas como obrigações estatais. Morin (2000), ao
formular os saberes necessários à educação do futuro, enfatiza um conceito que se
assemelha ao de cidadania cosmopolita. Veja:
Fonte: https://pequenosmochileiros.com.br/
69
11 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO
70
Tal compreensão nos leva a incorporar a ideia de que somos uma rede de
subjetividade formada em inúmeros contextos cotidianos [...] (SANTOS, 1995
apud PAULA, 2013, p. 20.).
Vale ressaltar que, assim como aponta a autora, as questões de raça e etnia,
gênero, geração, religião, entre outros marcadores da diferença, são caras ao debate
sobre diversidade e serão aprofundadas posteriormente ao longo dos estudos. O
importante, aqui, é que sejamos capazes de perceber a necessidade dessa ruptura
com uma percepção homogeneizante da sociedade e de enxergar a complexidade e
a multiplicidade dessas relações em nosso contexto.
Paula (2013) também nos aponta um importante documento que marca o
advento da discussão de diversidade no mundo: a Conferência Geral da Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura na sua 31ª sessão, no dia 2
de novembro de 2001, de onde saiu a Declaração Universal sobre a Diversidade
Cultural. Esse documento trata os aspectos da diversidade a partir da cultura, e, nele,
o tema que aqui tratamos é colocado como fundamental, e não só central, em debates
sobre humanidades. Na referida declaração, a entidade afirma que “[...] a difusão da
cultura e a educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são
indispensáveis à dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas as
nações devem cumprir com espírito de assistência mútua [...]” (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA, 2001).
Já no relatório Investindo na diversidade cultural e no diálogo intercultural
(UNESCO, 2009), há uma série de propostas, dividida em capítulos que abordam a
diversidade cultural, como o documento acima, mas também educação, criatividade,
entre outros, trazendo, em especial, a proposta de compreensão de diálogo
intercultural.
Esses dois documentos apresentam uma série de preceitos para se pensar a
diversidade, como a educação justa, a conquista da paz, a diversidade cultural,
elementos fundamentais para a dignidade humana, isto é, para a atuação livre de
indivíduos com suas particularidades, dentro de seus contextos. A UNESCO também
convoca que todos os Estados devem cumprir com esses preceitos da dignidade
humana, ou seja, cada nação soberana deve contribuir para a diversidade dentro do
seu território (UNESCO, 2009).
Dentro dos Estados, além de declarações oficiais que falem sobre diversidade,
temos a atuação de outros grupos e instituições. Com as conquistas de diversos
71
movimentos sociais, antes pouco vistos ou contemplados, legal, discursiva e
institucionalmente, o tema da diversidade passa a ser fundamental para entender e
explicar a sociedade. Com o reforço e o advento dos diversos movimentos sociais,
como o movimento negro, o movimento feminista e os movimentos de direitos
humanos, além de atuações de organizações não- -governamentais, a diversidade
passa a ser uma pauta de combate à discriminação e à exclusão social de diversos
sujeitos.
Dessa forma, a escola, por exemplo, é um dos lugares das disputas simbólicas
de poder e de verdades, assim como espaços médicos, prisionais e religiosos,
espaços onde os temas referentes à diversidade e aos direitos humanos serão
pautados e normatizados, assim como em outros espaços e momentos serão
refletidos, ampliados e considerados. A escola é um espaço que nem sempre
promoveu a diversidade, pois, durante muito tempo, teve seus muros fechados para
uma pequena elite de iguais, produzindo um conteúdo que buscava homogeneizar os
sujeitos, acreditando, assim, que teria um resultado igual para todos. No entanto, essa
homogeneização se mostrava uma impossibilidade, pois, mesmo entre sujeitos
similares, ainda havia particularidades que a escola acabava por suprimir ou rejeitar,
causando uma defasagem nos saberes.
Para complementar essa introdução ao tema da diversidade, Paula (2013) nos
lembra por que são fundamentais uma educação e uma sociedade comprometidas
com a diversidade:
A citação da autora nos traz questões fundamentais para esse ponto de partida,
falar em diversidade é, muitas vezes, complexo, pois precisamos compreender as
formas de exclusão, segregação e violência que grupos marginalizados vivem ou
viveram, ou seja, ao falarmos de diversidade também falamos de exclusão:
72
Sob o manto da diversidade, o reconhecimento das várias identidades e/ou
culturas é atravessado pela questão da tolerância, tão em voga, já que pedir
tolerância ainda significa manter intactas as hierarquias do que é considerado
hegemônico. Além disso, a diversidade é a palavra-chave da possibilidade de
ampliar o campo do capital, que penetra cada vez mais em subjetividades
antes intactas. Vendem-se produtos para as diferenças e, nesse sentido, é
preciso incentivá-las. Ou seja, a diversidade foi entendida como uma forma
de governamento exercido pela política pública no campo da cultura, como
uma estratégia de apaziguamento das desigualdades e de esvaziamento do
campo da diferença, tendo como função borrar as identidades e quebrar as
hegemonias. (RODRIGUES; ABRAMOWICZ, 2013, p. 18).
O sistema escolar, assim como a nossa sociedade, vai avançando para esse
ideal democrático de justiça e igualdade, de garantia dos direitos sociais,
culturais, humanos para todos. Mas ainda há indagações que exigem
respostas e propostas mais firmes para superar tratos desiguais, lógicas e
culturas excludentes. (BRASIL, 2007, p. 14).
[...] é o que significa dizer que devemos pensar as identidades sociais como
construídas no interior da representação, através da cultura, não fora dela.
Elas são o resultado de um processo de identificação que permite que nos
posicionemos no interior das definições que os discursos culturais (exteriores)
fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas
subjetividades são, então, produzidas parcialmente de modo discursivo e
dialógico. Portanto, é fácil perceber porque nossa compreensão de todo este
processo teve que ser completamente reconstruída pelo nosso interesse na
cultura; e por que é cada vez mais difícil manter a tradicional distinção entre
“interior” e “exterior”, entre o social e o psíquico, quando a cultura intervém
(HALL, 1997, p. 9, tradução nossa).
78
altamente aquém ao que encontramos hoje. A LDB de 1961 afirmava que: “A
Educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral
de Educação, a fim de integrá-los na comunidade [...]” (BRASIL, 1961, documento on-
line). É importante ressaltar alguns trechos desta já mencionada legislação, como o
uso de “excepcionais”, termo comum na época, mas que não é mais usado para
categorizar pessoas com deficiências. Também devemos ressaltar que a lei não
obrigava as escolas a tomarem medidas eficazes, deixando em aberto com “no que
for possível”.
É com a Constituição Federal de 1988 que as políticas de inclusão começam a
tomar novo formato, especialmente quando observamos o Art. 205º que rege, dizendo:
“[...] a Educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL, 1988).
A importância desse trecho se destaca com o relato anterior, de 1961, pois não mais
deixa espaços para a obrigação ou não da inclusão e inserção de alguns, passa a ser
imposta constitucionalmente essa condição.
Isso não quer dizer que o ano de 1988 mudou as relações sociais de diferença
há muito colocadas no Brasil, porém foi um primeiro passo para as políticas que se
seguiram, e ainda seguem, em processo de implantação. Pensar a educação para
todos e todas foi uma mudança impactante, sendo que a uma parte significativa da
população o acesso à educação não era garantido ou efetivamente pensado.
É só em 2001, contudo, que o Plano Nacional de Educação implanta uma letra
de lei mais eficaz e inclusiva, que aborda as deficiências como parte da educação
escolar, colocando “[...] a garantia de vagas no ensino regular para os diversos graus
e tipos de deficiência [...]” (BRASIL, 2001). O modelo mais próximo do que
encontramos hoje, em termos de políticas de inclusão. Em 2005, o Ministério da
Educação publicou um documento que pensava as políticas de inclusão, onde dizia:
79
O texto de Paulon (2005) nos deixa algumas pistas para compreender como a
inclusão era trabalhada na perspectiva institucional. A autora está pensando
justamente o papel das diferentes instituições em excluir os cidadãos de seus
processos sociais, como a escola, já relatada, um dos espaços de exclusão por
excelência. Para Paulon (2005), é necessário combater as próprias hierarquias
institucionais feitas para segregar os sujeitos.
As políticas públicas de inclusão visam a pensar o acesso de alunos e alunas,
mas também precisam (re)pensar as educadoras e educadores dentro das redes de
ensino. Trabalhar com as diferenças geracionais entre professoras e alunos e com as
diferenças de sujeitos portadores de deficiência exige compreender como incluí-los. É
necessário descolonizar o ideal de como tratar os sujeitos diferentes, assim como em
todas as outras categorias.
Contudo, embora se reconheça aqui os importantes avanços das políticas de
inclusão, é importante tecer algumas críticas, algumas já feitas em outros momentos
deste texto. As políticas de inclusão não conseguem fazer os embates que as
diferenças implicam e questionar os preconceitos, ficando estagnadas na mesma
perspectiva da tolerância colocada pela diversidade.
Assim, é importantíssimo entendermos a nossa própria relação com o mundo
que nos cerca, mas também entender que cada pessoa terá diferentes relações com
sua realidade. A alteridade, assim como nossa cultura, não deve ser um processo de
expectativa em cima de outros sujeitos e contextos, por isso é tão importante a
compreensão de que a diversidade é conflitiva, e não agregadora.
Fonte: https://www.promoview.com.br/
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12 COMO PROMOVER UMA EDUCAÇÃO MULTICULTURAL?
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Conhecer a comunidade onde a escola está situada e de onde provêm os
alunos é muito importante para se criar um currículo pedagógico que faça sentido para
aqueles estudantes e melhore o entendimento da bagagem étnica e cultural deles.
Santrock (2009) também dá algumas dicas de como os professores podem
atuar de forma a promover uma educação multicultural em suas salas de aula. Ele cita
alguns tópicos relevantes, os quais são apresentados a seguir:
O ensino culturalmente relevante é um aspecto importante da educação
multicultural — ou seja, deve buscar conexões entre os conteúdos de aula e os
cotidianos fora da escola da origem dos alunos.
A abordagem de recursos do conhecimento fala que os professores e
educadores devem fazer visitas às residências dos alunos, no intuito de desenvolver
relacionamentos sociais com seus familiares e aprender mais sobre a origem cultural
e étnica deles — isso ajuda a melhor incorporar esse conhecimento em suas aulas.
A educação centrada em análise de problemas é outra característica
essencial da educação multicultural, pois os alunos são estimulados a problematizar
sistematicamente questões que envolvem equidade e justiça social — isso implica em
maior contato dos estudantes com seus valores, assim como na possibilidade de
análise de alternativas e consequências de suas atitudes.
A sala de aula quebra-cabeça é uma prática educativa que envolve ter
estudantes de diversas origens culturais, socioeconômicas e étnicas, realizando
cooperativamente diferentes partes de determinada atividade acadêmica para
alcançar um objetivo comum.
Contato pessoal positivo com outros alunos de diferentes origens culturais,
projetos curriculares com enfoque em questões étnicas, grupos mistos de trabalho e
educadores e diretores incentivadores e aliados ajudaram a melhorar as relações
entre indivíduos (FOREHAND; RAGOSTA; ROCK, 1976). Ao conversar sobre
questões pessoais, preocupações, interesses, etc., os estudantes tendem a aumentar
o reconhecimento do outro como indivíduo, ao invés de pertencer a um grupo apenas.
Com essa aproximação, há uma descoberta importante para o relacionamento
interpessoal e o rompimento de barreiras étnicas — mesmo com diferentes origens,
as pessoas compartilham sentimentos, esperanças, preocupações.
Para o aumento da empatia com relação aos outros, os estudantes precisam
adquirir perspectiva. Proporcione práticas, exercícios e projetos que os façam entrar
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em contato e colocar-se a partir da perspectiva de outras culturas — isso ajuda a
combater o preconceito e aumenta a flexibilidade cognitiva.
O pensamento crítico sobre as relações interétnicas e a inteligência emocional
refletem positivamente na redução do preconceito em relação aos outros. Em
contrapartida, aqueles estudantes que apresentam pensamento mais raso acerca
dessas questões, em geral, são também mais preconceituosos. Quando se aprende
a fazer perguntas e pensar nas questões de forma crítica, substituindo a resposta
automática que posterga o julgamento, os estudantes se tornam menos
preconceituosos e mais abertos. (FOREHAND; RAGOSTA; ROCK, 1976).
Algumas ferramentas que podem ajudar a reduzir, lidar ou, até mesmo, eliminar
seu preconceito são:
trabalhar com imagens de crianças de diversos grupos culturais e étnicos —
por meio da seleção de textos e histórias para os alunos também refletiram essa
diversidade multicultural;
priorizar materiais didáticos que valorizem e dissertem acerca do
entendimento cultural e étnico — por meio do uso de dramatização para ilustrar papéis
e famílias não estereotipados de diversas origens;
ajudar os estudantes a desconstruir as ideias estereotipadas que têm de
determinadas culturas — por meio da criação de uma regra rígida e clara na qual não
serão toleradas nenhuma brincadeira de mau gosto ou exclusão de qualquer
estudante devido à sua etnia;
conversar com os pais sobre a importância da educação multicultural na
sociedade — por meio da ajuda na compreensão das origens dos preconceitos e das
ideias estereotipadas para que eles também possam promover uma educação
multicultural em seus domicílios.
Para aumentar a tolerância, promova discussões seguras para todas as
opiniões e permita que seus alunos expressem as suas perspectivas culturais sobre
determinados temas, salientando que o consenso sempre é a melhor estratégia. A
escola e a comunidade devem ser vistas como uma equipe. A melhor maneira de se
ter acesso aos estudantes, à sua cultura e ao seu cotidiano é fazendo com que a
escola se torne parceira da comunidade. Dessa forma, os estudantes vão se sentir
mais motivados para aprender, pois conseguirão enxergar onde os conteúdos vistos
em sala de aula podem ser aplicados no seu dia a dia.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ZAMBONI, M. Marcadores sociais. 2015. Disponível em: Acesso em: 31 jan. 2018.
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