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Edição Especial

em homenagem
ao Centenário
de Paulo Freire

Revista produzida pelo Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

“Quando a educação não é libertadora,


o sonho do oprimido é ser opressor.”

Paulo Freire
Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
Editorial
A Revista Professor Formador de Profissões é uma
publicação anual do Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação (PPGE), da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA), campus São Luís. Seu objetivo principal é divulgar
pesquisas e práticas desenvolvidas por professores e pesqui-
sadores na área de educação.
A essência deste número foi homenagear o notável
pensador brasileiro, Paulo Freire, possuidor de vários títulos
Doutor Honoris Causa. É Patrono da Educação Brasileira e
muito respeitado no mundo todo, além de ser considerado
“Patrimônio Documental da Humanidade” pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unes-
co).
Comemorar os 100 anos de Paulo Freire é mais do
que necessário pelo indispensável reconhecimento do valor,
da importância do pensamento, da obra e de tudo que ele
representa para a educação brasileira.
O que nos chama atenção é a atualidade e a pertinên-
cia do pensamento de Paulo Freire para o projeto político de
formação de professores no Brasil. O pensamento dele traz
um conteúdo tão atual que evoca a luta contínua por uma
educação crítica, reflexiva, política, emancipadora, transfor-
madora e de qualidade social para todos.
A educação é permanente não porque certa linha ide-
ológica ou certa posição política ou certo interesse econômi-
co o exijam. A educação é permanente na razão, de um lado,
da finitude do ser humano, de outro, da consciência que
ele tem de sua finitude. Mais ainda, pelo fato de, ao longo
da história, ter incorporado à sua natureza “não apenas saber
que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais”,
como enfatizou o mestre Paulo Freire.
Compete-nos reafirmar à concepção freireana de
resistir e insistir, sem dicotomizar essas duas ações e viver
ensinamentos a favor da dignidade e do direito à vida e à
educação.
Este número especial é dedicado a Paulo Freire pelo
o que seu legado representa para todos que pensam em uma
educação que liberta e humaniza.

Ana Lúcia Cunha Duarte


Coordenadora do Mestrado em Educação

2 Professor|Formador de Profissões Professor|Formador de Profissões 3


Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
Uma das maiores referências brasileiras no campo da educação,
citado e estudado mundialmente, o filósofo, o pedagogo, o escritor,
Paulo Freire (1921-1997), ainda ecoa fortemente nas discussões sobre
pedagogia e educação. ‘Pedagogia do Oprimido’, escrito em 1968, é o
terceiro livro mais citado em trabalhos acadêmicos na área de humani-
dades em todo o mundo. Países como a Finlândia, referência mundial
EXPEDIENTE na qualidade do ensino; África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda,
Reitor Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e Suécia homenageiam e
PROJETO GRÁFICO
Gustavo Pereira da Costa prestigiam a figura do educador brasileiro.
Almenbergues Jales
No ano em que se celebra 100 anos de Paulo Freire, a obra e o
Vice-Reitor FOTOGRAFIAS legado desse educador traduzem aquilo que mais do que nunca deve
Walter Canales Sant’Ana - Almenbergues Jales ser considerado no processo de educação: a humanização a partir da
- Banco de Imagens reciprocidade entre as pessoas e a elaboração e a apropriação crítica da
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós Graduação - Algumas imagens de domínio realidade por parte de todos que estão inclusos nesse processo. Não há
público a partir da internet possibilidade de mudança social sem a perspectiva de compreensão do
Rita de Maria Seabra Nogueira mundo a partir de uma educação humanizadora.
TEXTOS Freire (1983, p. 104), ao pensar a educação como “um ato de
Pró-Reitora de Infraestrutura Os textos contidos nesta amor, por isso um ato de coragem. Não pode temer o debate”, busca
Fabíola de Oliveira Aguiar publicação são de inteira que todos nós compreendamos a importância da educação como for-
responsabilidades de seus
ma de libertação humana, por meio de um processo dialético que pres-
Pró-Reitor de Planejamento e Administração autores.
supõe a interrelação entre o necessário conhecimento da realidade pela
Antônio Roberto Coelho Serra JORNALISTAS “leitura do mundo” e pela “leitura da palavra” de forma indissociável.
RESPONSAVEL
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantis
Paulo Henrique Aragão Catunda
Giuliano Villa Nova
“Ninguém educa ninguém, como
Pró-Reitora de Graduação
EDITORAS EXECUTIVAS
Ana Lúcia Cunha Duarte
tão pouco ninguém se educa a si
Zafira da Silva de Almeida Heloiisa Cardoso Varão
Sannya Fernanda Rodrigues
mesmo: os homens se educam em
Pró-Reitor de Gestão de Pessoas
Terezinha de Jesus Amaral comunhão, mediatizados pelo
José Rômulo Travassos da Silva REVISÃO FINAL
Kallyne Kafuri Alves
mundo”
Diretora do Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais (FREIRE, 1983, p. 79). A educação assume o papel de possibilitar a
Maria Goretti Cavalcante de Carvalho IMPRESSÃO
500 exemplares
transformação do homem e de seu “status quo” por meio da interação
proporcionada nas relações humanas na prática educativa em que o
Coordenadora do Mestrado em Educação amor, como uma condição para o entendimento entre os homens, e
Ana Lúcia Cunha Duarte a esperança, início da busca para a educação, devem ser a base para a
superação da acomodação, para a formação e a promoção dos educan-
dos.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA
Nunca tais princípios foram tão pertinentes para o momento em
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO – PROG
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS – CECEN que vivemos. Os ensinamentos de Freire sobre o sentido e o significa-
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE do da educação, como ação constitutiva de nossa humanidade, com a
CURSO DE PEDAGOGIA necessária compreensão da totalidade da existência do homem como
ser social em constante devir, consideradas todas as suas dimensões e
Cidade Universitária Paulo VI - Av. Lourenço Vieira da Silva, 1000
realidades, representam ainda hoje princípios norteadores, mobilizado-
Jardim São Cristóvão – CEP 65.055-310 - São Luís-MA.
res e transformadores de possibilidade de (re)humanização do homem.
Uma educação que liberta, desaliena, que nos ensina a pensar, refletir e
www.ppge.uema.br
compreender o mundo com criticidade.
Uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Educação A Paulo Freire, o reconhecimento da Universidade Estadual do
Professor - Formador de Profissões - ISSN 2447-634X Maranhão.
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Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA

Sumário
Tecnologias, Educação nas Paulo Freire e a Tecnologias, ferramentas
ferramentas a serviço prisões: reflexões e Educação a Distância:
da transformação
social
transformação
Página 20
uma prática educativa
que se aproxima dos
a serviço da transformação
Página 07
Reflexões sobre a
sujeitos
Página 44 social
Ensinar exige Paulo formação continuada
Freire dos Coordenadores Gestão com Autonomia Pesquisadora Sannya Fernanda Nunes Rodrigues explica de que maneira as reflexões trazidas por Paulo Freire sobre os
avanços tecnológicos e suas aplicações em sala de aula podem ajudar os educadores a utilizar corretamente essas inovações, na
Página 10 Pedagógicos da EJA e Empatia
construção de seres mais conscientes de seus direitos e seu papel na sociedade
em São Luís Página 46
Ensino da leitura e da Página 24
escrita traz reflexões O uso das tecnologias Paulo Freire não viveu para progresso da ciência, da tecnologia e da cer e reivindicar direitos. Isso
ver tudo o que as tecnologias inovação na escola e na educação, pois se aplica, por exemplo, às redes
sobre a formação Um legado vivo e digitais na Educação
se tornaram em nossos dias. O ele se considerava um homem de seu sociais e às outras tecnologias de
docente enriquecedor durante o ensino educador, que morreu em 1997, tempo, e não um exilado dele. Paulo natureza social, que dão voz e vez
Página 12 Página 28 remoto, sob a ótica de observou o início da utilização Freire nos convida ao debate sobre o ao sujeito.
Paulo Freire dos computadores, mas não que representa a entrada de aparelhos “Para Freire, a tecnologia preci-
teve de lidar com questões mais no cenário educacional, num posicio- sa servir ao homem, como uma filosofia
Novos olhares sobre Paulo Freire e a Página 48
profundas, como as contradições namento que nos afasta da simples que ajuda a refletir como as máquinas
os saberes e práticas Educação Ambiental: da internet, das redes sociais, os aceitação da tecnologia, e nos convida a e os serviços nos ajudam a pensar nossa
docentes um exercício nos Diálogo pedagógico: benefícios dos meios multimídia conhecê-la para entendê-la, se apropriar realidade, assim como intervir nela,
Página 14 quintais uma mudança associados às disciplinas presen- dela para criticá-la, questioná-la e usá- transformá-la, para melhorá-la, para
ciais e muitas outras aplicações -la para transformar o real, na direção torná-la mais justa. A tecnologia, em
Página 33 educativa, a partir da
dos avanços tecnológicos em sala de uma transformação social”, explica sua concepção, seria uma das grandes
Os ensinamentos promoção de reflexões de aula. No entanto, em algumas a pesquisadora Sannya Fernanda expressões da criatividade humana,
de Pedagogia do Um reencontro com Página 50 de suas obras, Freire colocou seu Nunes Rodrigues. exercendo principalmente funções como
Oprimido Paulo Freire pensamento crítico-reflexivo a da politicidade. Portanto, deve ser
serviço do necessário pensar e Reivindicar direitos compreendida como tal e percebida como
Página 16 Página 37
agir sobre a educação – inclusive Paulo Freire ainda hoje re- ela pode servir aos interesses de deter-
relacionados à tecnologia. presenta o que sobressaía de seus minados grupos, pois está permeada de
Uma obra que inspira a A práxis de Paulo Em seu pensamento e nas escritos: esperança, um espírito da uma concepção de mundo, de homem, de
práxis comprometida Freire na formação de suas bandeiras de lutas pela cons- mudança, a conscientização de ser sociedade, de informação, de conhecimen-
cientização, ele propôs sempre oprimido e as possibilidades da to”, ressalta a pesquisadora Sannya
Página 18 docentes
o questionamento das coisas, e transformação com base na cons- Fernanda Nunes Rodrigues.
Página 40 não poderia deixar de abordar o ciência de classe, da realidade, das As reflexões trazidas por
propósito da entrada das “má- nossas condições de existência, Paulo Freire demonstram que é
Decolonialidade do quinas na escola”, uma vez que do entendimento dos discur- necessário saber quais as razões
sua “pedagogia”, se baseava numa sos, que ajudam na construção de ser dos artefatos tecnológicos
pensamento de Paulo
pedagogia do cotidiano imediato como também na manutenção de e seus usos na sociedade contem-
Freire é uma das do sujeito cognoscente, revelando identidades e papeis, ao defender porânea, em tempos de robôs
marcas de “Pedagogia suas condições que deviam ser uma pedagogia como prática da digitais, Google Analytics, web
do Oprimido” desdobradas e apreciadas, espe- liberdade. Por isso, fica mais claro semântica etc. Dessa maneira,
cialmente politicamente. hoje, como as tecnologias podem especialmente aos educadores é
Página 42
“Esse posicionamento reflexivo ser usadas, pela perspectiva de recomendado ir além do simples
e crítico não o coloca como contrário ao Freire: como forma de reconhe-
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Nunes Rodrigues. dos esfarrapados do mundo, da
inclusão digital, num processo
Alfabetismo científico humano e inclusivo. “A leitura e
Paulo Freire defendia que a escrita contam hoje com tecnologias e
os docentes usassem as ferramen- suas linguagens, que precisam explo-
tas à disposição para o enten- rar todo o seu potencial educativo e
dimento e o enfrentamento do comunicacional, dentro dos processos
cotidiano, em uma perspectiva de de multiletramentos, tão necessários ao
alfabetismo científico, mas espe- viver no século XXI, considerando as
cialmente político, reforçado pela deficiências de uma parte da população
urgente relação dialógica. Com que não lê, que não interpreta o que lê
isso, podem ser identificadas algu- e que possui inúmeras deficiências em
mas das competências que deve compreender gráficos, mapas e ilustra-
ter o professor para preparar seus ções”, analisa. “Os dispositivos com os
alunos para um cenário cada vez quais convivemos hoje precisam estar a
mais complexo. serviço do ser humano crítico e reflexivo
De acordo com a pesqui- e do seu necessário desenvolvimento,
sadora Sannya Fernanda Nunes enquanto ser que se apropria do cenário
Rodrigues, se Paulo Freire aqui em que está embrenhado e se percebe
estivesse, converteria as tecno- como ser inacabado em constante reno-
logias a serviço da alfabetização, vação/reconstrução”, conclui.
do engajamento social e político

Banco de Imagens

consumo de tais tecnolo- as, para que saibam lidar com as infor- esses aspectos. O educador se
gias. Cada vez mais a formação mações e não se coloquem como vítimas posicionava sobre o necessário
de leitores e eleitores críticos se da comunicação. É preciso ter novos rigor metodológico que precisa
torna urgente e emergente em posicionamentos, que remetam a uma acompanhar cada recurso tecno-
nosso tempo, marcado pela cultu- postura crítica sobre seu entorno, seu lógico na sala de aula. E se ainda
ra do digital. mundo, suas relações e as informações se debruçasse sobre a temática da
que chegam às suas mãos, bem como educação envolvendo as tecno-
Sociedade entender de que maneira se posicionar logias, se reportaria a uma práxis
Interessante notar que o sobre elas e como elas nos moldam como tecnológica que se junta a uma
debate em torno das tecnologias sujeitos”, afirma a pesquisadora práxis axiológica, ontológica, ge-
não se restringe à discussão sobre Sannya Fernanda Nunes Rodri- rando novos modos de viver em
o aparelhamento dos espaços gues. sociedade. “Essa experiência deve
educativos e à formação de pro- Da mesma forma, Paulo estar em constante debate, servindo à
fessores. Há elementos da vida Freire se dedicou muito à discus- construção da cidadania do digital, ple-
em sociedade que interferem nas são sobre mudanças na prática na de autoria, co-construções, reflexões,
nossas relações e nas questões pedagógica, na discussão do cur- no pensar e fazer a cultura. A bipo-
de identidade e comportamen- rículo, da formação de professo- larização presente nas comunicações,
tos sociais, políticos, culturais e res, da relação professor e aluno, especialmente nas redes sociais, seria um
educacionais, como o papel da ideologia e linguagem. Ainda que tema de debate para Freire, uma vez
linguagem, a comunicação e os por pouco tempo, Paulo viu as que uma de suas bandeiras era apren-
elemento comunicacionais. “Esses tecnologias entrarem na escola der a ouvir e respeitar o pensamento do
aspectos devem estar a serviço das pesso- e modificar ou contribuir com outro”, ressalta Sannya Fernanda
Banco de Imagens

8 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 9


Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA

Ensinar exige me assegurou que, até a próxima


semana, os livros didáticos seriam
entregues”, diz a professora Livia.
desamor foi um ato de resistência
ao descaso dos responsáveis pela
integridade da educação pública”,

Paulo Freire Escassez


Mas o tempo passou e os
observa.

Esperança
problemas não se resolviam. As Foi uma mudança de-
Professora Livia Pereira da Silva conta sua experiência transformadora e mostra que os ensinamentos do educador podem
semanas se sucederam e nada de cisiva. Desse dia em diante, a
ajudar a superar a falta de estrutura e os desafios cotidianos da sala de aula
livros nem materiais didáticos. professora Livia afirma que seu
Outros desafios se sobrepunham, fazer docente se tornou afetivo,
O contato e as leituras dos formação acadêmica, advindos da são não foi positiva “Fiquei chocada como a falta de água na escola, alegre, esperançoso. “Foi assim
textos de Paulo Freire influen- formação continuada”, conta a com a estrutura física da escola. A sala que inviabilizava um dia completo que consegui ensinar na escassez,
ciaram e até hoje influenciam a professora. era muito pequena, sem ventiladores, de aula. “Em um mês de trabalho, sabendo que gestos possuem uma
formação de muitos professores Nos dez anos seguintes, pouco ventilada e parte do forro do teto o desânimo me abateu. Uma outra força socializadora, que supera
no Brasil. Não são raros os casos Livia Pereira da Silva trabalhou na lutava contra a gravidade para não professora me consolou, dizendo que qualquer espaço físico. Que lápis
em que as obras do educador mesma escola, com a certeza de cair”, relata a professora. era uma questão de tempo para eu me e papel, por mais simples que
acabam se tornando referência que estava na profissão certa, no Apesar desses desafios, adaptar à nova realidade. Cheguei a me sejam, ainda fazem mágica, mas
para docentes que buscam trazer lugar certo. “Fiz o meu melhor as aulas iniciaram em um clima perguntar se estava na profissão certa, o melhor recurso de uma sala de
para a sua prática os saberes ne- e testemunhei que Paulo Freire alegre e de acolhimento às crian- no lugar certo, fazendo o correto. Eu aula, é o recurso humano. Que
cessários à prática educativa. Uma estava certo: ensinar exige segu- ças. No entanto, algo incomodava sabia dos problemas da escola pública, falta de água não nos impede de
dessas professoras é Livia Pereira rança, competência profissional e a professora Livia: o forro da sala mas diferente de saber, é conhecer, sentir exercer o que é nosso por direito,
da Silva, que ao longo dos anos generosidade. Essa tríade resulta de aula e o risco que ele trazia. e viver”, compara a professora o ato de aprender, de ensinar, de
experimentou a aplicação dos na formação de um espaço pe- “Ao final da primeira semana, resolvi Livia. se formar, de ser mais”, conta.
pensamentos de Freire em sala de dagógico cuja palavra geradora é conversar com a diretora sobre o risco Diante das injustiças, das “Ensinar na escassez ensinou-me
aula. “Na minha formação inicial, respeito”, atesta. para as crianças e para mim, afinal, en- ausências e do descaso, a docente a riqueza da força formadora da
como pedagoga, na disciplina de sinar exige, também, integridade física se voltou para a sua formação ini- educação”, reforça.
didática, a professora pediu para Novas experiências dos estudantes e professores. A diretora cial. Logo ela se deu conta do que Paulo Freire ensinou que
ler o livro Pedagogia da Auto- Mas outras práticas peda- reconheceu os problemas apresentados era necessário: as ideias de Paulo é responsabilidade de profes-
nomia e apresentar uma aula de gógicas surgiram no caminho e garantiu que logo a sala passaria por Freire. “Os primeiros impulsos sores e professoras primar pela
acordo com as ideias do livro. da professora Livia. Após uma uma reforma”, relembra. de mudança tinham que vir de ética no exercício da docência. A
Esta foi a minha primeira experi- década, ela decidiu ampliar sua Do forro da sala de aula, mim. Retomar a consciência do referência maior é a ética univer-
ência teórico-prática com Paulo, atuação e, em 2012, foi aprovada o olhar da professora Livia meu inacabamento foi o primeiro sal do ser humano, que Freire
e certamente não foi a única”, em um concurso público munici- percebeu outros problemas no passo para ir além e me reinven- descreve como libertadora, que
conta a educadora. pal, para trabalhar como profes- seu entorno. “Verifiquei que as tar.Retomei o meu lugar na escola rompe com o determinismo das
Livia começou a carreira sora de séries iniciais. A felicidade crianças iam para a escola de com outra disposição, marcando injustiças sociais. É por essa ética,
docente nas séries inicias, em uma pela aprovação se misturou com mochila vazia, sem nem um lápis a minha presença como um ato inseparável da prática educativa,
escola particular de excelência. a apreensão pelas novas experi- dentro. Quando perguntava a de intervenção e reconhecendo que devemos lutar. “Dez anos
Ali, esteve à frente, pela primeira ências. “Antes do primeiro dia eles se tinham uma agenda, um a presença dos educandos com na escola particular e 12 anos na
vez, de uma turma de aproxima- de trabalho, eu estava um pouco caderno, um lápis, praticamente, responsabilização”, relata a pro- escola pública me ensinaram que
damente 30 alunos na faixa etária apreensiva, pois iria ficar com todos respondiam que não e jus- fessora Livia. ensinar exige Paulo”, resume a
de 9 anos de idade. “Foi um ver- uma turma do primeiro ano, na tificavam, timidamente, que ainda Ela conta que a partir dessa professora Livia Pereira da Silva,
dadeiro desafio, que com o tempo faixa de 6 a 7 anos, com o qual iriam comprar, ou que tinham mudança de postura, lembrou que que, felizmente, não teve mais o
aprendi a gerenciar, buscando tinha pouca vivência de práti- esquecido em casa, ou que não Paulo Freire escreveu: ensinar exi- trabalho prejudicado pelo forro
sempre a maneira mais ética de cas educativas alfabetizadoras”, tinham dinheiro para comprar”, ge a convicção de que a mudança da sala de aula. “Após quatro
constituir relações justas, respei- conta. conta. “Recorri, mais uma vez, à é possível. “Não basta se adaptar, meses, uma parte dele desabou.
tosas, democráticas, entre profes- Nos primeiros dias de diretora, para tratar sobre o as- é necessário intervir, mudar, por Por sorte ou alguma intervenção
sora e aluno. Foi neste espaço que trabalho, ela conheceu os colegas sunto. Prontamente ela forneceu mais difícil que as circunstâncias divina, isso ocorreu em um do-
tive a oportunidade de adquirir de trabalho e o espaço da escola. lápis e folhas de papel sulfite para pareçam. Não relegar a minha mingo e ninguém se feriu”, conta,
saberes, que estavam além da Infelizmente, a primeira impres- contemplar todos os educandos e prática docente ao desprezo e ao bem-humorada.
10 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 11
Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
possuem conexões metodológicas mecanicista do ensino circunscri- pela educação como bem público.
que contribuem com os exercí- ta à repetição de letras e sílabas “Eu me (re)escrevo e (re)invento

Ensino da leitura e da cios social, ético, moral e político


da profissão, transformando a
descontextualizadas da realidade
do estudante. “Deve-se valorizar
porque compreendo a importân-
cia do meu papel como agente
prática pedagógica frente à eman- a concepção da linguagem viva, social que acolhe, cria, orienta,

escrita traz reflexões sobre cipação dos sujeitos.


O ensino deve estar a ser-
vivificada pelos sentidos e sig-
nificados construídos com base
apoia, incentiva, mas que trata o
conteúdo escolar como conheci-
viço da emancipação dos indiví- na experiência do leitor/escritor mento construído historicamente

a formação docente duos, da (re)leitura e contribuição


no/com/de/para o mundo, aju-
que reflitam o uso nas práticas
sociais”, afirma Vitoria Raquel
que ajuda os sujeitos a se situa-
rem e transformarem o mundo”,
dando na compreensão e na ação Pereira de Souza. comenta a professora Vitoria
da realidade onde está situado. “A Nessa dimensão, professor Raquel Pereira de Souza. “Pre-
Educação na atualidade reforça a necessidade da formação docente consistente, fundamentada e epistemológica, defende a profes-
forma como professores enten- e estudante elaboram conheci- cisamos ensinar-aprender com
sora e pesquisadora Vitoria Raquel Pereira de Souza. Leitura de mundo é uma a bases do trabalho de Paulo Freire
dem o que é ensinar causa efeitos mentos, pois a cada situação- rigor científico necessário, pois o
na aprendizagem dos estudantes, -problema que se coloca no conhecimento liberta e empode-
A leitura e a escrita são dois seu trabalho, à escolarização, à blemas complexos da educação,
pois revela seu comprometimen- espaço-tempo escolar apresenta ra. E conhecer certos conteúdos
dos elementos mais presentes e educação e à emancipação dos como a baixa proficiência em
to político, social, cultural com a inúmeras formas de resolução, perpassa pelo domínio da leitura
mais analisados em toda a obra de sujeitos”, defende a docente. leitura e escrita dos estudantes do
aprendizagem e com a educação pois tratamos do trabalho docen- e da escrita”, analisa.
Paulo Freire. Na perspectiva do Nessa perspectiva, o traba- ciclo de alfabetização”, observa.
dos estudantes”, constata Vitoria te como elemento que modifica Paulo Freire reflete que se
educador, esses dois elementos lho do professor deve ser enten- Segundo a professora, é
Raquel Pereira de Souza. e é modificado pelo ser humano. “não é possível dicotomizar ler e
atravessam os sujeitos históricos, dido como a ação do humano preciso garantir formação (inicial
O mesmo ocorre no ensino da escrever”, também não é possível
políticos, sociais, culturais, pois sobre o humano, dialeticamente, a e continuada) com rigor científi-
Ensinar – aprender leitura e da escrita. dicotomizar a formação docen-
contribuem na (re)constituição partir do qual todos estão impli- co, considerando a complexidade
A experiência apontada por Vitoria Raquel Pereira de te alienando o professor do seu
humana e dão conta do inacaba- cados e sofrem mudanças – do- do objeto de ensino frente as
Paulo Freire quando da prática de Souza defende que os docen- trabalho, transformando-o em
mento do sujeito – contemplando centes e discentes. “Esse trabalho demandas do tempo presente
ensinar-aprender é aquela propor- tes devem manter-se atentos mero aplicador de programas e/
a formação continuada, em inú- deve ser pensando, planejado, da escola. “Atualmente atacada
cionada pela leitura de mundo. às questões sobre porque leio/ ou ações didática-pedagógicas que
meros aspectos que reverberam acompanhado e avaliado de e sucateada, com o currículo
Ler está para além de decodificar escrevo, para quem leio/escrevo, o afastam de refletir sobre todo
nuances das linguagens vivencia- maneira autônoma pelo docente, focado no desenvolvimento de
fonemas: é desvelar o mundo. Ler qual a importância de ler/escrever o processo educativo. “O atual
das por todos e todas em diferen- respeitando seus saberes e faze- competências desdobrando-
é resistência e (re)existência. Ler não apenas para os estudantes, governo tem um projeto ardiloso
tes espaços e momentos. res para uma educação cidadã”, -se numa formação docente de
é ter possibilidade de explorar, de mas também para si, para sua que avança incessantemente con-
Para a professora Vitoria reforça Vitoria Raquel Pereira de caráter instrumental e praticista,
conhecer, de intervir, de com- constituição como leitor/escri- tra o direito a educação. Denun-
Raquel Pereira de Souza, pesqui- Souza. há a preponderância da racionali-
parar, enfim ler contribui para tor. “Ao considerar o contexto cio e expresso minha indignação
sadora da palavra de Paulo Freire, dade técnica e tecnológica dando
se forjar gente, pessoa e cidadã dos estudantes, os professores contra o uso das normativas
a formação docente (inicial e Lógica atual vida ao neotecnicismo e empo-
do mundo. “Assim, a leitura e também revisitam os seus e (re) que, articuladas, agilizam a pri-
continuada) concretiza a política No contexto atual em que brecendo ainda mais a formação
a escrita devem ser objetos do significam o ensinar-aprender a vatização, fragilizam a formação
pública implementada no Sistema as políticas públicas se encon- dos professores e professoras do
ensinar-aprender para promover partir do respeito às diferenças de docente todos os níveis e moda-
Público de Ensino e é utilizada tram, a formação da profissio- Brasil”, lamenta Vitoria Raquel
as práticas de linguagens dotadas ser, de existir, de sentir, de dizer. lidades, cerceando o pensamento
como uma ferramenta para mo- nalização dos docentes é imple- Pereira de Souza.
de sentido e significados para os Este movimento enriquece as crítico-reflexivo e o desenvolvi-
dificações no currículo, na orga- mentada pela lógica neoliberal, Esses efeitos na educação
estudantes, tornando-a viva para linguagens sociais e ajuda a com- mento da cidadania”, defende
nização do trabalho pedagógico associada aos reformadores reforçam a necessidade da forma-
além das práticas escolares”, res- preender a importância de saber Vitoria Raquel Pereira de Souza.
e na cultura escolar. “Este espaço empresariais que, pela arquite- ção docente consistente, funda-
salta a professora Vitoria Raquel a importância da leitura/escrita “A formação docente (inicial e
deve ser de troca de conhecimen- tura normativa, almejam a total mentada epistemológica, teórico-
Pereira de Souza. numa sociedade letrada, que exige continuada) deve estar alicerçada
tos entre os pares, para teorizar privatização da educação brasilei- -metodológica e pedagogicamente
Ela recorda que a forma- cada vez mais dos seus cidadãos”, em concepções progressistas e
a prática pedagógica, validando, ra, opina Vitoria Raquel Pereira para contribuir para a reflexão. A
ção de leitores e escritores não observa a professora. valores humanistas, respeitando
refutando, (re)construindo sabe- de Souza. “Por meio de institutos professora Vitoria Raquel Perei-
é exclusiva da escola, mas não os sujeitos históricos, que valorize
res e fazeres educativos e didáti- que prometem reverter o quadro ra de Souza cita os estudos de
se pode negar que ela é uma das Contribuição os saberes e fazeres professorais
co-pedagógicos. É um espaço de caótico nas escolas com receitas Saviani, para quem a formação
agências que contribuem com Nesse entendimento, numa perspectiva emancipató-
constituição do professor-pes- prontas, receitas ofertadas aos docente deve favorecer a reflexão
esta formação, em especial nas escrevemos e lemos para con- ria, crítica-reflexiva que dote o
quisador, de reconhecimento e Sistemas de Ensino como paco- filosófica, que em sua constitui-
classes populares. Este entendi- tribuindo no/com o mundo, cidadão para compreender e agir
valorização dos profissionais que tes educacionais, cartilhas, dentre ção têm suas exigências (radical,
mento de formação de leitores numa perspectiva de construir no mundo em que está inserido”,
dão materialidade, por meio do outros, objetivam resolver pro- rigorosa e de conjunto), as quais
e escritores supera a concepção um projeto societário que preze conclui a professora.
12 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 13
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profissionais dos outros profes- a pedagogia e as práticas educati- as e possibilitar a saída de uma
sores e a necessidade constante vas. “Os pressupostos freirianos, as- condição de submissão, pela
de busca de conhecimentos e sim como a própria educação, vêm sendo compreensão dos contextos de

Novos olhares sobre atualização (formação científica)”,


escreveu Freire.
Nessa conjuntura, os ges-
constantemente atacados por políticas
públicas educacionais que caminham
em oposição às ideias de uma educação
desigualdade em que vivem e da
possibilidade de se tornar agentes
de mudanças.

os saberes e tores escolares enquanto líderes,


responsáveis pela administração,
organização pedagógica e de-
libertária, crítica e engajada. Neste
momento, precisamos comemorar o cen-
tenário do nascimento de Paulo Freire,
Essa visão foi confirmada
em uma reflexão feita por uma
Supervisora escolar de Miranda

práticas docentes senvolvimento de formações na


escola podem contribuir com a
construção de uma escola eman-
contudo não podemos perder o foco da
luta, pois ‘a minha resposta à ofensa à
do Norte que participou da aula
virtual. “Gratificante ouvir e compar-
educação é a luta política consciente, crí- tilhar as memórias de Paulo Freire.
cipatória, considerando o legado tica e organizada contra os ofensores’, Que legado nos deixou, nos anos 2000,
Mestres em Educação Renato Moreira Silva e Otávio Augusto de Moraes promovem reflexões sobre a obra de Paulo Freire educacional de Paulo Freire e conforme escreveu Freire”, defendem muitas críticas recebíamos por defender
em aula virtual com gestores escolares do município de Miranda do Norte. Debates sobre o livro Pedagogia da autonomia suas reflexões sobre concepção os mestres em Educação que uma pedagogia libertadora e hoje a vejo
trazem elementos para pensar ações de transformação social de educação. conduziram a aula virtual. tão procurada e aceita por muitos, e em
Em tempos de muitas viárias áreas”, constatou.
Reflexões incertezas, é preciso reafirmar o A aula virtual está dispo-
A 124 quilômetros de São no ensino e aprendizagem a par- mia, voltada para a transformação De acordo com Renato legado de Paulo Freire e o sig- nível no canal do YouTube da
Luís fica Miranda do Norte, um tir do contexto ao qual o mesmo social. Na ocasião dos debates Moreira Silva e Otávio Augusto nificado da pedagogia da auto- Secretaria Municipal de Educação
pequeno município do Mara- está inserido, permitindo que haja com os gestores escolares, foi de Moraes, a aula virtual sobre nomia como prática libertadora, de Miranda do Norte, e pode ser
nhão com aproximadamente 29 significado naquilo que ele apren- lembrado que o conceito de Paulo Freire trouxe a oportunida- como uma educação voltada para acessada através do link: https://
mil habitantes, de acordo com o de”, observou. autonomia tem sido construído, de de reflexão aos gestores sobre transformar a vida das pesso- youtu.be/mRPVTQ4ALYs
Censo do IBGE de 2016. A cida- No primeiro momento da historicamente, no contexto de
de possui 25 escolas municipais aula virtual, o professor e mestre diferentes características culturais,
e 5.298 estudantes, distribuídos em Educação Renato Moreira econômicas e políticas que con-
nas séries de Educação Infantil Silva e o mestre em Educação figuram as sociedades ao longo
e Ensino Fundamental. Com o Otávio Augusto de Moraes des- de seu percurso. “Ele faz com que
objetivo de celebrar o centenário tacaram a vida e a obra de Paulo tanto professor quanto alunos saiam do
do educador Paulo Freire, gesto- Freire, sua importância para a conformismo e passem a buscar novas
res escolares e a equipe técnica da alfabetização de adultos no Rio ideias e novos saberes”, constatou
Secretaria Municipal de Educação Grande do Norte e todo o con- uma gestora escolar que partici-
de Miranda do Norte tiveram a texto de pobreza e desigualdades pou da aula virtual.
oportunidade de participar, no no qual o autor cresceu. “Esse Em um segundo momento
último mês de julho, de uma aula conjunto de fatores contribuiu durante a aula, o diálogo com
virtual, que debateu o legado de para a sua indignação com as os gestores foi construído na
Freire para a educação brasileira, mazelas sociais. Ainda na primei- perspectiva dos 3 capítulos do
com base no livro Pedagogia da ra etapa, revisitamos a epistemo- livro Pedagogia da Autonomia.
autonomia – saberes necessários logia das palavras pedagogia e Para Paulo Freire, os saberes e
à prática educativa. autonomia”, descreveram Renato as práticas docentes para uma
Durante a aula virtual, Moreira Silva e Otávio Augusto pedagogia da autonomia podem
seguiram-se importantes debates de Moraes. ser compreendidos em uma
e reflexões, com vistas a novos perspectiva na qual a “prática
olhares sobre os saberes e práti- Conceitos educativa deve vir sem interesses
cas docentes. Em determinado Na aula virtual com os lucrativos, sem acusações injustas,
diálogo, uma gestora de escola gestores de Miranda do Norte foi sem promessas inalcançáveis, sem
pública daquele município co- possível analisar a autonomia na discriminação racial, social ou de
mentou: “É preciso reconhecer perspectiva da legislação educa- gênero, sem mediocridade e/ou
o aluno como sujeito do seu cional e naquilo que Paulo Freire falsidades. Daí a importância do
próprio conhecimento e pensar compreendia como uma autono- respeito às diferentes posturas

14 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 15


Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
detenha o opressor, para se deter ocorre porque o diálogo, para Freire,
a opressão. Esse seria o caminho implica uma unidade dialética de ‘ação
para a liberdade, ao passo que e reflexão’, e é nesse diálogo que está

Os ensinamentos de desse modo se estaria impedindo


o regime opressor. Considerando
que para o autor, os homens se
a verdadeira práxis”, explica Jerry
Wendell Rocha Salazar.
Por fim, no quarto capítulo

Pedagogia do Oprimido educam e se libertam em comu-


nhão, no diálogo e na reflexão,
pois em suas próprias palavras: “a
do livro Freire continua a reto-
mada da concepção de educação
problematizadora, enquanto um
reflexão, se realmente reflexão, conduz à ‘quefazer’ humanista e Libertador
prática”. contrapondo-se à antidialogicida-
Mestre em Educação Jerry Wendell Rocha Salazar detalha as ideias de Paulo Freire, presentes em
No capítulo dois, Frei- de. “Sobretudo porque ‘a práxis revolu-
uma de suas obras mais importantes re focaliza e aprofunda alguns cionária somente pode opor-se a práxis
pontos já trabalhados relativos das elites dominadoras. Visto que tal
Mais de meio século se Palavras” (Introdução); “Justificativa inacabamento, dialético e con- à opressão, como o protagonis- pratica, a práxis só pode ser dialógica,
passou desde que Paulo Freire da pedagogia do oprimido, A concepção creto. Além disso, revela traços mo da ação educativa – que, na caso contrário, é opressora. Portanto,
publicou uma de suas obras mais ‘bancária’ da educação como instrumen- de uma preocupação com a ética concepção bancária, é exclusiva a compreensão sobre a teoria dialógica
importantes, Pedagogia do Opri- to da opressão”; “Seus pressupostos, sua libertadora, cujo principal objetivo do professor, enquanto o educan- da ação só pode negar o autoritarismo,
mido. E, mesmo decorrido esse crítica”; “A dialogicidade – essência da é produzir a emancipação. “Paulo do é visto como um ser passivo e assim como nega a licenciosidade. E, ao
período, em que a sociedade pas- educação como prática da liberdade” Freire não é só um educador: é, sem vazio. Freire prega que nessa visão fazê-lo, afirma a autoridade e a liberda-
sou por diversas transformações, e “A teoria da ação antidialógica” –, dúvida, um grande revolucionador, pois destorcida de educação não há de. Reconhece que, se não há liberdade
o texto do educador, considerado o livro Pedagogia do Oprimido ao estabelecer uma pedagogia que não criatividade, não há transforma- sem autoridade, não há também esta
uma das personalidades mais lidas foi escrito por Paulo Freire em discrimina, revela a discriminação a que ção, não há saber, pois reflete-se sem aquela”, detalha o mestre em
no campo pedagógico mundial, 1968, durante o exílio, em Santia- muitos são relegados. Sua tarefa huma- na sociedade opressora, sendo Educação.
continua bastante atual e propício go do Chile. Uma época em que nizadora permitiu a saída de muitos da comum nesta a “cultura do silêncio”.
para a nossa realidade. De acordo houve uma virada paradigmática dominação”, afirma Jerry Wendell “Dessa forma, a ‘educação bancária’ Conclusão
com o mestre em Educação Jerry no âmbito da educação brasileira. Rocha Salazar. mantém e estimula a contradição, pois Freire finaliza o livro cri-
Wendell Rocha Salazar, há uma Certamente, este é um dos moti- é dela que se alimenta, visto que é ticando radicalmente a teoria da
frase na conclusão do livro que vos pelos quais a obra continua Questões principais necrófila, pois nutre-se do amor à morte ação antidialógica, que se assenta
expressa a contemporaneidade repercutindo e atualmente está na A humanização frente à e não do amor à vida”, detalha Jerry junto à opressão e aos silencia-
dos seus ensinamentos: “Se nada 67ª edição no Brasil. Conforme desumanização que a opressão Wendell Rocha Salazar. mentos, que legitimam a opressão,
ficar destas páginas, algo, pelo menos, Jerry Wendell Rocha Salazar, no produz é a questão fundamental Dessa forma, percebe-se deixar que a invasão cultural e a
esperamos que permaneça: nossa con- primeiro capítulo Freire justifica a nesta obra de Paulo Freire. Em- que Freire propõe a transforma- manipulação desqualifiquem a
fiança no povo. Nossa fé nos homens, na escolha do título, demonstrando bora verificada naquele que sofre ção na mentalidade dos oprimi- nossa identidade. “É importante que
criação de um mundo em que seja menos que “essa escolha emergiu da experi- a opressão e no que a produz, dos, para que esta chegue à ação. demos a mão e convidemos a todos para
difícil amar”. Esse trecho pode ter ência histórica dos próprios oprimidos essa desumanização é sentida de Portanto, só a “educação libertadora, se libertarem, de modo que, aos poucos,
seu sentido completado por outra que se percebendo nessa condição, não formas diferentes, e em ambos problematizadora” promoveria as possamos estar convictos de que, para
afirmação do autor, no mesmo a aceita mais”, descreve. “A ruptu- os casos, tal situação é resultado mudanças necessárias, de modo além de ator e sujeito, somos sujeitos
livro, em que ele expressa, na de- ra paradigmática proposta por Paulo de uma distorção da sociedade, a superar a dicotomia educador- processo histórico. Fica o desejo de
dicatória, que Pedagogia do Opri- Freire funda uma nova Pedagogia, que “porém, não é destino definido, mas -educando e fundamenta-se a recomendar a leitura da obra, pois nos
mido é ofertado “aos esfarrapados reconhece os excluídos atribuindo-lhes a resultado de uma ‘ordem’ injusta que dialogicidade, negada na concep- faz refletir sobre o quão sério é a educa-
do mundo e aos que neles se descobrem merecida relevância, a partir da infra- gera a violência dos opressores e esta, o ção bancária. Nesse movimento, ção”, afirma Jerry Wendell Rocha
e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, estrutura de base da sociedade, isto é, a ser menos”, observa Jerry Wendell a concepção problematizadora e Salazar. “Recomenda-se também, para
mas, sobretudo, com eles lutam”. De partir das tensas relações estabelecidas Rocha Salazar. “Convém destacar reflexiva faz o educando passar usufruir de toda a riqueza, que se faça
acordo com Jerry Wendell Rocha entre as classes”, reforça o mestre que, para Paulo Freire, a tomada de do âmbito da doxa para o nível do também a leitura de ‘Educação como
Salazar, trata-se de uma revelação em Educação. consciência da opressão não é suficiente logos. Prática de Liberdade’, pois o próprio
fundamental para o nosso tempo: A partir dessa nova pedago- se ocorrer, desacompanhada do engaja- Paulo Freire nos adverte de autor diz, em Pedagogia do Oprimido,
nessa frase podemos ouvir o eco gia humanista, Paulo Freire prega mento e da luta para superar a opressão sua retomada sobre uma educação que alguns conceitos trabalhados nessa
do silêncio imposto àquelas vozes a esperança, a luta, a utopia, o imposta, pois, sabe-se que tal opressão é problematizadora no terceiro ca- obra são desdobramentos e/ou aprofun-
com quem o livro interpela. amor e boniteza da vida, e com- produto da ação dos homens”, comple- pítulo, ao dialogar com outra obra damentos do que já fora abordado na
Organizado em quatro preende o ser como um constante ta o mestre em Educação. de sua autoria, a “Educação como obra de 1967”, afirma o mestre em
capítulos – pela ordem: “Primeiras vir a ser, sujeito em constante Assim, é necessário que se Prática de Liberdade” (1967). “Isso Educação.
16 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 17
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“Aprofundando os estudos sobre sua manente, defendida por Paulo Freire, Cruz.
trajetória, obras, concepções de educa- como processo humanizador, dialógico e É de sua autoria o livro
ção, homem, mundo, sociedade, escola, transformador, indispensável à reflexão “Dialogando com Paulo Freire:
avaliação, relação educador-educando, crítica e consubstanciada na dinâmica formação continuada de coorde-
confesso que fiquei seduzida, a priori, relacional teoria e prática, porque o ser nadores pedagógicos na educação
pela singularidade como pensava a humano é histórico, inconcluso, curioso de jovens e adultos”, ancorado
educação, que o fazia único”, relata a e com vocação para sempre ser mais”, e tecido em uma pedagogia
então estudante. “Depois, a maneira afirma a mestre em Educação. centrada no horizonte de uma
como trabalhava a ética e a estética, a Essa reflexão passa pela cidadania emancipatória, apresen-
teoria e a prática, o rigor com a incom- temática Formação de Professo- ta questionamentos e possíveis
pletude, o dizer e o fazer, o ensinar e o res que, segundo Tatiana Rocha saídas relacionadas à Formação
aprender, o texto e o contexto, o senso Cruz, é urgente, necessária e Continuada de Coordenado-
comum e o global, a militância, o políti- desafiadora, pois os dilemas e as res Pedagógicos e Professores,
co, a amorosidade”, completa. contradições enfrentados pela em especial a dos que atuam
Esses ingredientes com- formação de professores na con- com jovens e adultos, exigindo
puseram o educador que tanto temporaneidade se sobrepõem compreender a Educação de
inspirou a práxis comprometida aos problemas pedagógicos. Jovens e Adultos (EJA) sob uma
de Tatiana, possibilitando que ela “Eles atravessam questões de ordem perspectiva de educação como
revisasse cotidianamente postu- ética, política, de recursos, entre outras. direito e sua efetivação mediante
ras e desafios com atrevimento, Por isso, exigem um olhar relevante e a garantia de políticas públicas e
ousadia, coragem, esperança e significativo dos contextos global, local formações específicas, metodolo-

Uma obra que


A oportunidade de conhe- curiosidade. Mais adiante, no e escolar. Exigem também, repensar o gias inovadoras e a construção de
cer pessoalmente Paulo Freire Programa de Pós- Graduação de fazer docente, o aprimoramento profis- tempos e espaços diferenciados.
marcou a trajetória de muitos Educação: Currículo da PUC/SP, sional, as condições do trabalho docente, “Ousadia é a saída, no sentido

inspira a práxis
professores e professoras, impac- no qual concluiu o Mestrado em e a adoção reflexiva permanente sobre de contribuir com algumas proposições
tados pela presença cativante do Educação, ela ampliou os estu- teoria e prática”, detalhe. as quais acredito possam fomentar
educador e ver e ouvir de perto dos freireanos na Cátedra Paulo a construção de práticas formativas

comprometida
as suas palavras. Uma dessas pes- Freire. “Nesse espaço, ao desenvolver EJA inspiradas no pensamento de Paulo
soas foi a mestre em Educação pesquisas e estudos sobre o pensamento Quem são os educandos da Freire. E assim, como eterna aprendiz,
Tatiana Rocha Cruz, que esteve de Paulo Freire, aprendi que é necessá- Educação de Jovens e Adultos? curiosa e atenta ao novo, aventuro-me
junto de Paulo Freire em 1994, rio ir além do dizer, ou seja, sentir e, Que sonhos e histórias carregam? na busca do diálogo com os educa-
Tatiana Rocha Cruz, Mestre em Educação, relata zsua experiência
durante um encontro em São principalmente fazer freireanamente”, Quais saberes que trazem? Estas dores, para que juntos atribuamos
de ter conhecido Paulo Freire e de que maneira seus ensinamentos
Luís, sobre a Pedagogia da Espe- testemunha a educadora. e outras indagações possibilitam novos sentidos do pensar e do fazer em
influenciaram sua produção pedagógica
rança. “Tive a ventura de conhecer o aos professores e coordenadores educação”, descreve Tatiana Rocha
educador Paulo Freire, homenageá-lo Compromisso refletirem sobre suas posturas e Cruz. “O objetivo é possibilitar a
e sentir seu afetuoso abraço. Momento Ao expressar o compro- práticas cotidianas, na lida com germinação de concepções e práticas
que, até hoje, não acredito tê-lo vivido. misso com a educação demo- esse público, que possui diversi- inovadoras e responsáveis fundadas
Uma frase, entre tantas outras sábias, crática, as ideias de Paulo Freire dade e características peculiares. no respeito ao potencial de todo ser
foi impactante: ‘Quem não sonha, têm como intencionalidade a Em uma dimensão mais am- humano e no reconhecimento integral
dificilmente faz a história”, relata. libertação dos seres humanos e pliada, a tessitura da formação e irrestrito como pessoa e cidadão”,
Na época, Tatiana era a transformação da sociedade continuada no interior da escola completa a mestre em Educação.
estudante do curso de Pedagogia, por meio da solidariedade e da necessita ser ressignificada, assim “Somos todos aprendizes, responsáveis
do segundo período, na Uni- justiça social. De acordo com como os que com ela lidam. pela construção de novos espaços, novos
versidade Federal do Maranhão. Tatiana Rocha Cruz, por esse “Um dos profissionais é o coordenador tempos e, por decorrência, de novos
Naquela oportunidade, ela se fato, ela acredita que a educação pedagógico que, imperiosamente, de- horizontes. Este é o legado do querido
deparou com um trabalho desa- e a formação docente têm como manda assumir o seu papel de gestor da educador Paulo Freire a todos educa-
fiador: apresentar em um seminá- substrato a condição humana, formação dos professores, com o desen- dores, uma vez que o conjunto de sua
rio as concepções das pedagogias com base no tripé ação, reflexão volvimento de práticas mais reflexivas, obra tem como ponto central a condição
progressistas e, em particular, a e ação. “Torna-se imperiosa a com- humanizadoras, inovadoras, críticas inequívoca do respeito, da amorosidade
Concepção Libertadora de Edu- preensão da importância da Formação e que traduzam as reais necessidades e da promoção da dignidade da pessoa
cação, proposta por Paulo Freire. numa perspectiva de Formação Per- da escola”, defende Tatiana Rocha humana”, conclui.
18 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 19
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identidade, o diálogo, a recons- desenvolve dois conceitos impor- zação e buscar novas formas de
trução da sua história e valoriza tantes: o de revolução e de con- agir, levando o indivíduo a se re-

Educação nas prisões: os momentos de aprendizagem,


tendo o direito a uma escola
competente, solidária, produtiva e
tradição. “Para ele, uma revolução no conhecer como cidadão. O autor
campo da opressão, busca por mudan-
ças daqueles que dominam, acabam
também defende que a história é
tempo de possibilidades e não de

reflexões e transformação libertadora.

Condição opressora
gerando novos opressores e oprimidos.
Já na contradição, o opressor se reco-
nhece como o tal e o oprimido consegue
determinismos, que o futuro, per-
mita-se reiterar, é problemático
e inexorável. “Desta forma, perce-
É sabido que os sujeitos vê-se subjugado por outro. Evidencia-se be-se que a educação, para as pessoas
Pesquisadoras Natarsia Camila Luso Amaral e Néria Cristina Melo Moura Silva explicam em situação de prisão vivem sob a importância da educação na busca de privadas de liberdade, se caracteriza
zde que forma a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, ajuda a compreender a importân- opressão diária, acabam perden- discutir, junto às instituições responsá- como um processo dinâmico, no qual
cia da educação no contexto de prisonização do ou nunca tiveram a consci- veis, aos professores e gestores, o proces- o/a aluno/a consiga reformular novas
ência dos seus direitos, pois a so ensino e aprendizagem, a busca de formas de agir e de interagir, de pensar
No ano de 1968, o educa- e aos opressores. cernimento para analisar melhor condição de submissão e “ades- alternativas de atendimento mediante o e de se reconhecer como sujeito de sua
dor Paulo Freire estava exilado De acordo com as pesqui- o mundo do outro e, consequen- tramento’’ naquele lugar é muito desafio de educar neste cenário, propor- própria história”, afirmam Natar-
no Chile, pois o Brasil passava sadoras Natarsia Camila Luso temente, seu próprio mundo. “A forte. ‘Baixa a cabeça!, mãos cionando referências que lhes permitam sia Camila Luso Amaral e Néria
por um golpe miliar. Naquela Amaral e Néria Cristina Melo sociedade, em seu caráter desumaniza- para trás!, o que foi, ladrão?’ São refletir o fazer pedagógico frente ao Cristina Melo Moura Silva.
mesma época, muitos artistas, Moura Silva, a viabilidade para dor, comete um erro terrível, passando formas que chefes de plantão, fenômeno da prisonização”, ressaltam
políticos e pensadores estavam na superar a contradição opressor- a tratar os homens, em muitos casos, agentes e auxiliares se dirigem as pesquisadoras Natarsia Camila Estrutura prisional
mesma situação, longe do país de -oprimido tem como uma saída como tratam seus animais, predomi- aos internos e eles, na condição Luso Amaral e Néria Cristina Considerando que a maio-
origem, porque eram considera- sugerida a práxis, “que é a reflexão nando o desprezo pelos seus direitos subalterna, respondem: ‘Sim Melo Moura Silva. ria dos presídios brasileiros – e
dos subversivos à ordem política sobre a ação, de modo que, ao refletir, básicos, omitindo a voz daqueles que senhor (a)!’ É comum os internos De acordo com o pensa- os do Maranhão não estão fora
vigente. Naquele contexto de a humanidade tende a transformar o se sentem abandonados pelo mundo de chamarem aqueles que ali estão mento de Paulo Freire, o indiví- desse contexto –, não foi cons-
reflexões, Freire escreveu o livro mundo em que vive, e consequentemente que fazem parte”, observam as pes- para lhes prestarem qualquer tipo duo pode ser pensado como um truída para que se pudesse ofertar
Pedagogia do Oprimido, uma de reflete de forma crítica essa contradição quisadoras Natarsia Camila Luso de atendimento de ‘doutor’, ma- ser histórico e inacabado, que se educação para as pessoas que
suas principais obras. A exemplo a fim de superá-la. Ou seja, a supera- Amaral e Néria Cristina Melo neira hierarquizada de se referir encontra numa relação perma- se encontram em privação de
de outras, de sua autoria, ela dia- ção dessa contradição precisa, acima Moura Silva. aos que pretensamente sejam nente com o outro, transforman- liberdade, há dificuldades de ade-
loga sobre educação e a possibi- de tudo, da consciência oprimida e da Elas analisam que o opri- superiores a eles. do o mundo e a si mesmo. Dessa quação da própria estrutura, com
lidade de uma nova perspectiva consciência opressora pelas reflexões”, mido, no ambiente do cárcere, Para ajudar a entender essa forma, as ações pedagógicas no celas desativadas para se transfor-
de vida, a partir da transformação afirmam. pode ser encarado como apena- relação, A Pedagogia do Opri- sistema penitenciário precisam marem em salas, sem ventilação
de mundo pelo testemunho de do, ser oprimido socialmente, que mido, em seu primeiro capítulo, reconhecer os efeitos da prisoni- e sem condição de trabalho e
nossas histórias. Apesar de sua Reintegração social foi colocado à margem da socie-
importância, só foi publicada em A Pedagogia do Opri- dade com vistas à sua completa
meados dos anos de 1970. mido tem como uma das suas reintegração. “Colocar sujeitos fora
Nesta obra emblemática, características trazer reflexões de seu espaço social de constituição foi
Paulo Freire defende que as re- importantes em diversas moda- a maneira mais fácil que os organismos
lações que envolvem o processo lidades da educação formal e até sociais encontraram para remodelá-los,
de educação precisam superar da educação informal. Por essa reagrupá-los, torná-los iguais a todos os
as contradições de opressores e abrangência, pode ser aplicada, outros”, constatam.
oprimidos que compreendemos, por exemplo, ao contexto das Dessa maneira, a educação
sendo uma relação de poder en- pessoas que se encontram em escolar no interior das prisões
raizada na educação. A superação privação de liberdade e a impor- pode e deve estar comprometida
dessa relação de poder contribui tância da educação nas prisões, com as condições de vida dos
para que os oprimidos recuperem como processo de ressocialização internos e contribuir para melho-
sua humanidade – mas não ape- e de reintegração social. rá-las – afastando-se, no entanto,
nas as suas, a dos opressores tam- Isso porque Freire acredita- de qualquer postura ingênua em
bém, sabendo que estes correm o va na constituição do sujeito pelo relação ao papel da escola nesse
risco de se tornarem opressores conjunto das relações que o cer- ambiente. Porém, não há como
de opressores. O grande desafio é cam, e o entendimento maior de negar que o homem aprisiona-
que os oprimidos se libertem a si tais relações sociais lhe daria dis- do, muitas vezes, busca a sua

20 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 21


Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA

permanência dos alunos, como re, procura conscientizar o docen- as práticas escolares a serviço das
descreve Foucault (1987). te do seu papel problematizador prerrogativas carcerárias? A quem
No entanto, como escreve da realidade do educando. “Nessa a escola serve?
Paulo Freire (2002), contradições perspectiva, a educação nas prisões deve Para Paulo Freire (2002),
como essa geram a consciência. ser usada como possibilidade de instru- ensinar a pensar e problemati-
Mas a autor adverte que o proces- mentalização para a ressocialização, zar sobre a realidade é a forma
so de desintoxicação da opressão pois a impressão que se tem é que as correta de se reproduzir conheci-
deve acontecer de maneira cuida- prisões são apenas depósitos de pessoas mento. A partir desse movimento,
dosa, evitando que os opressores cumprindo punição por crimes cometidos. o educando terá a capacidade de
não venham a ser novos oprimi- O que se verifica é uma incompatibili- compreender-se como um ser
dos. O processo de liberdade deve dade muito grande entre os objetivos da social.
ser visto e sentido por ambas as educação e os objetivos da segurança, Natarsia Camila Luso Ama-
partes: enquanto ação social, não pois a primeira visa a emancipação ral e Néria Cristina Melo Moura
pode ocorrer isoladamente. dos indivíduos, enquanto a segunda, a Silva afirmam que, na educação
No livro, Freire (2002) anulação dos mesmos”, apontam as problematizadora, o professor
mostra como a educação no Brasil pesquisadoras Natarsia Camila aprende enquanto ensina pelo
reproduz a desigualdade, a mar- Luso Amaral e Néria Cristina diálogo de seus educandos, esti-
ginalização e a miséria. O autor Melo Moura Silva. mulando o ato cognoscente de
coloca que o ensinar a não pensar ambos, ou seja, ensina e aprende
é algo puramente planejado pelos Pensar e problematizar a refletir criticamente. “É preciso
que estão no poder, para que pos- Diversas questões surgem abrir espaços para reflexões, afinal vive-
sam ter em mãos a maior quanti- dessas reflexões sobre a educa- mos em uma sociedade acostumada com
dade possível de oprimidos; uma ção escolar dentro de espaços de uma ação antidialógica, que é a mani-
vez que se sintam fragilizados, privação de liberdade: como lidar pulação das massas oprimidas, enraiza-
necessitam dos que dominam para com a contradição da cultura pri- da em nossas vivências. Paulo Freire e
sobreviverem. Mas como poderá sional, caracterizada pela repres- suas obras nos possibilitam refletir sobre
o homem sair da opressão se os são, ordem e disciplina, com o fim nossa práxis como ser social e como
que nos “ensinam” são também de adaptar o indivíduo ao cárcere professor, nas diferentes modalidades da
aqueles que nos oprimem? e o princípio fundamental da edu- educação. Basta estarmos dispostos a
Um questionamento como cação que é, por essência, trans- novos diálogos e novos olhares”, ressal-
esse, na perspectiva de Paulo Frei- formador e libertador? Estariam tam as pesquisadoras.
22 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 23
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solidariedade e da justiça social. Educação.


Reflexões sobre a formação É nesta esfera que a formação
docente toma uma perspectiva de
Desafios na formação
Considerando os elementos

continuada dos Coordenadores formação permanente, confor-


me defendida por Paulo Freire”,
levantados ao tema investigado,
foram identificados possíveis
comenta Tatiana Rocha Cruz. desafios a servirem de base para
Pedagógicos da EJA Partiu-se do conceito
central – formação permanente –
a construção de proposições
voltadas à melhoria da Formação

em São Luís relacionando-o também a centrais


categorias freireanas para análise,
Continuada dos coordenadores
pedagógicos, em uma perspectiva
quais sejam: diálogo, conteúdos da práxis freireana. Entre eles es-
Experiência de pesquisa, realizada pela Mestre em Educação Tatiana Rocha Cruz com significativos, problematização e tão: promover práticas dialógicas
profissionais da Secretaria Municipal de Educação (Semed), utiliza a perspectiva do pensamento transformação da realidade, se- humanizadoras e horizontalizadas
de Paulo Freire para aprimorar as práticas formativas gundo a representação da Trama na perspectiva da formação per-
Conceitual Freireana, que vem manente; experienciar espaços e
Analisar o processo de for- marco teórico referencial o pen- documentos e proposições legais. sendo desenhada e utilizada desde tempos democráticos e de apren-
mação continuada de Coordena- samento freireano, uma vez que Porém, foi identificada significati- 2001, na Cátedra Paulo Freire da dizagem; valorizar os contextos
dores Pedagógicos (CP) da Edu- educar é também possibilitar o va distância entre o formalmente PUC-SP. “Ela trabalha os concei- de modo a que possam estimular
cação de Jovens e Adultos (EJA) encontro de almas a requerer es- prescrito e a realidade percebida tos e seu caráter relacional apre- a problematização, a pesquisa e
da rede municipal de São Luís, cuta e diálogo permanente – uma pelos profissionais”, afirma a sentados na obra freireana, que a reflexão crítica, dentre outros
considerando as práticas formati- educação que humaniza e liber- pesquisadora. “Os dados tam- compreende o ser humano como quesitos.
vas com base no pensamento de ta, tecida no horizonte de uma bém revelaram entendimento inconcluso, inacabado e historica- “O legado do educador
Paulo Freire, visando a melhoria cidadania emancipatória. “Trata-se diverso e contraditório quanto mente situado, que está no e com Paulo Freire incita que professo-
das práticas formativas, inspiradas de um processo humanizador, às concepções de Paulo Freire, o mundo, com a possibilidade de res, coordenadores pedagógicos,
em referenciais freireanos. Este dialógico e transformador, indis- razão pela qual foram lançados conhecer a realidade e nela inter- gestores e demais atores do cam-
foi o objetivo de uma investigação pensável à reflexão crítica e con- alguns indicativos à elaboração de ferir, para transformá-la”, explica po educacional, incluindo a esfera
realizada pela mestre em Educa- substanciada na dinâmica teoria e uma proposta redimensionada de Tatiana. das políticas públicas, estabele-
ção Tatiana Rocha Cruz, através prática”, completa Tatiana Rocha formação continuada de coorde- Relativo aos saberes e çam o movimento reflexivo em
de questionário (aplicado aos Cruz. nadores pedagógicos na esfera da contextos exigidos para o desem- relação à prática, de modo a gerar
coordenadores pedagógicos e pro- Nesse sentido, a práxis edu- Educação de Jovens e Adultos”, penho das funções do coordena- a conscientização e a assunção
fessores de três escolas da zona cativa ganha dimensão inequívoca explica. dor pedagógico, há vários sabe- desses enquanto agentes transfor-
urbana de São Luís) e entrevista enquanto possibilidade de fazer res provenientes de diferentes madores não só para ressignificar
semiestruturada, realizada com os realidade o movimento ação-refle- Fundamentos fontes, muitos deles elencados e o espaço escolar, mas também
profissionais da Secretaria Munici- xão-ação. “Quanto mais consoli- O marco teórico da inves- considerados por Freire, na obra para reinventar o espaço social,
pal de Educação (Semed). dada a consciência do docente em tigação teve como fundamento Pedagogia da autonomia (1996). de modo a torná-lo mais justo,
Os resultados foram siste- seu papel como agente transfor- obras de Freire e de autores que Isto porque o CP atua em uma democrático e solidário”, defende
matizados a partir de categorias mador da sociedade, tanto mais se alinham com o pensamento área complexa e diversificada, que a pesquisadora.
de análise, tendo como parâmetro o exercício o remete ao respeito deste educador, tendo por re- exige uma postura de permanente Afinal, Freire destaca a im-
a concepção de formação con- à humanidade, à liberdade e à ferência o compromisso ético, reelaboração e ressignificação do portância do papel docente para
tinuada abordada na produção superação da desigualdade social”, político e democrático e a peda- seu fazer. “Sob esta perspectiva, despertar nas pessoas, sobretu-
de Freire. Quanto ao percurso explica a mestre em Educação. gogia como prática da liberdade, o contexto escolar pode e deve do, aos oprimidos, a consciência
metodológico, a pesquisa de enfo- Segundo dados da Semed dialógica emancipatória, libertária possibilitar a aproximação do crítica da existência e dos direi-
que qualitativo teve duas etapas: a (ano base 2015), em relação à e de transformação do oprimi- contexto teórico ao contexto da tos inalienáveis a que têm como
aplicação de questionário aos Co- EJA, havia 488 professores e 54 do para um sujeito cognoscente prática, da realidade vivida. Res- cidadãos de fato, compreendendo
ordenadores Pedagógicos e pro- coordenadores pedagógicos em e autor de sua própria história. salta-se também que os contextos a Educação de Jovens e Adultos
fessores de três escolas da zona atuação, para um total de 7.082 “O pensamento freireano, ao culturais e históricos ultrapassam sob uma perspectiva de educação
urbana de São Luís, e entrevista alunos e 62 escolas EJA. “Entre expressar o compromisso com os muros da escola. Por esta como direito e com suas peculia-
semiestruturada realizada com os os dados coletados, constatou-se a educação democrática, tem a razão, tais contextos devem estar ridades, a exigir formações espe-
profissionais da Semed. que os referenciais freireanos intencionalidade da transforma- presentes nas discussões das for- cíficas e metodologias inovadoras
A investigação teve como encontravam-se anunciados nos ção da sociedade por meio da mações”, comenta a mestre em por parte dos que nela atuam.

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cado pelo nacionalismo desenvol- teoria sobre a ação antidialógica. Uma Política e educação (1993). “Sem
vimentista de Juscelino Kubits- leitura imprescindível à formação de dúvida, foi também um período de
chek e pelo nacional-populismo professores”, afirma a docente. maior diálogo com o contexto de outras
de João Goulart. “A partir dessa Freire coloca o papel da escolas na condição de coordenadora
leitura, passei a compreender as relações educação como um ato político, pedagógica, além de professora. A

Um legado vivo de poder inerentes à ação educativa,


cuja compreensão crítica só é possível
conhecendo-se os princípios defendidos
que liberta os indivíduos por
meio da “consciência crítica, trans-
formadora e diferencial, que emerge da
experiência da sala de aula tem sido, de
forma diferenciada, desde o início, a re-
ferência teórico-prática para o magistério

e enriquecedor por ele: politicidade, contextualidade e


dialogicidade”, observa a doutoran-
da e mestre em educação.
educação como uma prática de liberda-
de”. Ele defende uma educação
que incentive a criticidade do
superior. Com estas obras, refleti sobre
a prática, redimensionei os conhecimen-
tos, reconstruí caminhos metodológicos
A partir de 1992, como aluno, indo além das disciplinas nas orientações dos alunos, bem como as
A professora Terezinha de Jesus Amaral da Silva, professora, doutoranda professora efetiva da rede es- do currículo oficial. “Nesse sentido, relações com outros professores”, conta
e mestre em educação, relata suas experiências acadêmico-profissionais com tadual de ensino no Maranhão, percebo que, de fato, suas ideias foram Terezinha de Jesus.
base na obra de Paulo Freire Terezinha de Jesus conheceu as influenciadas pelo pensamento filosófico
realidades da escola pública, as dialético, e não somente marxista e Conteúdos
“Mais uma vez os homens, desafiados A obra e os ensinamentos progressivamente, uma natureza histórias de vida dos adolescentes, críticas ao capitalismo em seus desdo- Mas que conteúdos essas
pela dramaticidade da hora atual, se de Paulo Freire contribuíram e instigadora e indagadora frente nas aulas de História e Língua bramentos em países periféricos, como obras de Paulo Freire trazem para
propõem, a si mesmos, como problema. influenciaram na formação de aos desafios inerentes aos cami- Portuguesa, as implicações das o Brasil”, observa Terezinha de a formação docente? Em “Cartas
Descobrem que pouco sabem de si, de muitos professores. São contri- nhos construídos no exercício do contradições econômicas e sociais Jesus Amaral da Silva. a Guiné-Bissau”, ele registra as
seu “posto no cosmos”, e se inquietam buições teóricas e reflexivas sobre magistério. “Foi com as primeiras destas crianças e jovens. Tudo experiências únicas e enriquece-
por saber mais. Estará, aliás, no a formação humana e concepções leituras freireanas que pude me apro- isso a fez perceber “os extremos Novas experiências doras naquele contexto e apro-
reconhecimento do seu pouco saber de de educação, currículo, escola e priar de concepções dialéticas, humani- existentes em ser filho de pais trabalha- As obras de Paulo Freire funda sua análise sobre alfabetiza-
si uma das razões desta procura. Ao docência que marcaram (e ainda zadoras, com sensibilidade pedagógica dores assalariados, com renda máxima continuaram auxiliando na prática ção de adultos naquele contexto.
instalar-se na quase, senão trágica balizam) muito do “saber-fazer” no para compreender, tanto as nossas de um salário-mínimo ou desemprega- de Terezinha de Jesus Amaral Em Educação e Mudança, Freire
descoberta do seu pouco saber de si, se magistério na Educação Básica. limitações quanto a dependência do dos, ou no trabalho informal, na condi- da Silva mesmo em outro mo- propõe mudanças individuais
fazem problema a eles mesmos. Inda- Terezinha de Jesus Amaral da outro e imprimir uma visão para além ção abusiva de exploração e luta e em mento da sua trajetória, quando e coletivas, com o objetivo de
gam. Respondam, e suas respostas os Silva, doutoranda e mestre em do instrucionismo e disciplinar predomi- ser filho de trabalhadores, servidores, ela, a partir de meados de 1994, expor a necessidade da mudança
levam a novas perguntas”. educação, foi uma das profes- nantes”, afirma a docente. “Mesmo autônomos, empresários, num patamar iniciou a experiência no Ensino qualitativa da percepção do mun-
Paulo Freire soras impactadas pela trajetória, em um ambiente escolar elitizado em diametralmente oposto, muito mais Superior, no então recém-criado do. Freire refere-se ao processo
pelo legado dos escritos e pelas que iniciei o magistério e o exerci por elevado”, compara a educadora. curso de Pedagogia, como pro- de substituição de uma percepção
experiências de Paulo Freire, de 11 anos, pude experimentar a prática A nova experiência, em fessora substituta de Currículo distorcida da realidade, por uma
quem se comemora o centená- do ensino de uma leitura contextua- uma escola pública, comparada e Didática (PROCAD/UEMA), percepção crítica da mesma e
rio de nascimento. “Nos primeiros lizada com as crianças e adolescentes, com a escola particular, conduziu e de 1998 a 2002, nesta mesma assegura que esta não se realiza
anos de magistério, como professora forjando uma prática diferenciada – o Terezinha de Jesus Amaral da condição, como professora do fora da práxis de transformação
do Ensino Fundamental, e aluna do que custou muitos desafios e aprendiza- Silva a novas leituras de Pau- Departamento de Educação II da da vida.
Curso de Pedagogia, entre 1986 e dos”, avalia. lo Freire, como a “Pedagogia do Universidade federal do Mara- Com a “Pedagogia da Espe-
1991, pude compreender com Paulo oprimido”, cuja centralidade está nhão (Psicologia e Didática). “O rança: um reencontro com a Pedagogia
Freire que a ‘importância do ato de ler’ Primeira obra na contradição dialética opressor- desafio foi buscar e aprofundar do Oprimido”, o leitor tem contato
não se refere apenas em saber dominar Com a leitura de “Conscienti- -oprimido mediante a análise das conhecimentos nestes campos com relatos das experiências e
os códigos alfabéticos e combiná-los com zação”, Terezinha de Jesus Amaral formas de opressão da educação específicos, num constante apren- discussões com trabalhadores,
precisão ortográfica. Nosso trabalho de da Silva foi impelida a conhecer capitalista e os caminhos para sua dizado, na perspectiva de corres- indígenas, camponeses, ministros
conclusão de curso já evidenciada essa a primeira grande obra de Paulo superação. “Com a riqueza de conteú- ponder às demandas emergentes e europeus. Em seu texto direto,
afinidade: Leitura na adolescência: base Freire, “Educação como prática da li- do desta obra, pude elaborar uma visão e inerentes ao trabalho”, relata Freire constrói uma conversa
para a aprendizagem e instrumento de berdade”, um ajuste de sua tese no mais crítica das realidades vivenciadas, Terezinha de Jesus. pedagógica, filosófica, critica e
conscientização”, conta a professora concurso público para a cadeira aprofundando na compreensão da dife- Neste período de oito anos, humanística, com percepções que
Terezinha de Jesus. de História e Filosofia da Edu- rença entre duas concepções pedagógicas: ela teve contato com mais quatro nos falam sobre o papel da educa-
Ela conta que, ao ter con- cação de Belas Artes de Pernam- a ‘bancária’ e a ‘problematizadora’, e importantes obras de Paulo freire: ção progressista, para a formação
tato com as obras freireanas, foi buco. O livro contempla o final a educação como prática da liberdade, Cartas à Guiné-Bissau (1975); de uma sociedade democrática.
tendo a certeza da incompletude da década de 1950 até a primeira trabalhando com conceitos como educa- Educação e mudança (1981); Já em “Política e Educa-
e do pouco-saber, imprimindo, metade da década de 1960, mar- ção dialógica e diálogo, construindo uma Pedagogia da Esperança (1992) e ção”, Freire reforça o compro-
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Paulo Freire não foi um semideus como eixo interdisciplinar os ções da educadora em outros
ou guru: ela se sente na condição princípios de Paulo Freire. “Nossa contextos, como no Curso de
politica e pedagógica de examinar prática pedagógica em torno das aulas, Especialização em Educação de
seus escritos e reconhecer a gran- nos diálogos com os futuros pedagogos e Jovens, Adultos e Idosos (2013-
deza das suas contribuições ao futuras pedagogas vem se fortalecendo, 2015) em vários polos da UEMA,
mundo, ao país, à Região Nordes- não somente com a leitura direta de um espaço-tempo, segundo ela,
te, à formação de professores e suas obras, como também de grandes de muitos estudos, reflexões e
à alfabetização de muitos traba- nomes brasileiros que as analisam e produções de artigos, posterior-
lhadores direta e indiretamente. avaliam com grande peso e crédito à mente publicados em uma edição
“Basta apenas um estudo cuidadoso e educação pública a que temos nos dedi- especial por este mesmo grupo de
despretensioso para se confirmar que cado com afinco. No acompanhamento pesquisa.
nosso mestre, como muitos outros nomes, de pesquisas e trabalhos, orientações de No projeto de Extensão
não ‘roubou’ método de ninguém ou TCC e projetos de extensão, a nossa “Escola de Educadores” de 2013-
copiou práticas já recorrentes. As acusa- tônica tem sido resgatar este legado, 2017, ela contribuiu teórica e
ções feitas ao seu legado nascem tanto da constituindo-o como eixo norteador nas metodologicamente com a forma-
incapacidade da crítica científica quanto nossas elaborações e publicizações”, ção continuada de professores
da ‘doutrinação’ de quem as faz, por descreve a doutoranda e mestre em duas escolas comunitárias do
mero capricho político eleitoreiro. Posso em educação. Coroadinho, referentes à prática
discordar das posições que considero Em sua prática, ela desta- da leitura literária infantil, com
por demais extremistas ou radicais do ca também o estudo cuidado e estudos, oficinas pedagógicas,
autor, sem jamais deixar de reconhecer contextualizado sobre o Método organização e gestão de bibliote-
que a relevância de sua obra é sobran- de Alfabetização nas disciplinas cas, com cerca de 8 acadêmicas de
ceira posterior aos objetos dessa crítica”, de Fundamentos e metodologia pedagogia cujos relatos e registros
defende a professora. da Educação de Jovens e Adultos resultaram em 4 trabalhos de
e Alfabetização e Letramento, conclusão de curso, 2 artigos, 1
Banco de Imagens Escola pública vinculado ao pensamento filosó- capitulo de livro e resumos apre-
Por essas razões, Terezinha fico de Freire sobre a educação sentados em eventos, com avalia-
misso politico com a formação de lecionou na Educação de Jovens lhadores informais, empregadas
de Jesus Amaral da Silva reco- transformadora, em uma perspec- ção muito positivas e satisfatórias
sujeitos participativos e resisten- e Adultos, com alfabetização e domésticas cujos patrões não
menda aos alunos dos cursos de tiva crítico-emancipatória, suas das 30 professoras destas escolas
tes à dominação pela apropriação letramento de algumas turmas reconheciam seus direitos, mães
licenciatura, em especial aos de pertinências em detrimento das e mais de 200 crianças beneficia-
da cultura, dos conhecimentos noturnas em duas escolas esta- solteiras, avós-mães, homens e
Pedagogia, que se comprometam diversas e duvidosas interpreta- das nestes 6 anos de vigência do
e da crítica, conduzindo a refle- duais de São Luís. Ela lembra mulheres calejados pelas injustiças
em conhecer Paulo Freire como ções sobre sua viabilidade. “Sem- projeto.
xões sobre o papel da escola e que vivenciou muitas histórias sociais, por preconceitos e pela
estudiosos curiosos, “como um pre envolvo os acadêmicos a irem mais a No projeto “Alfaletrando”
o papel dos educadores, a quem impactantes, com trajetórias de opressão.
exercício filosófico necessário à defesa da fundo nas suas leituras, com o objetivo (2016-2021) os municípios de
não cabe apenas passar para o vida e experiências enriquecedo- Com um trabalho duro e
escola pública, obrigatória, de qualida- de distanciá-los de uma visão receituá- Paulino Neves e Araioses ainda
aluno os conteúdos, mas fomen- ras, que a permitiram amadure- esperançoso, Terezinha de Jesus
de, que não reproduza um currículo que ria, e com deturpações de seus princípios estão sendo beneficiados com
tar reflexões, através do diálogo cer como pessoa e profissional. diz que conseguiu a frequên-
conforma e adestra futuros sub-traba- epistemológicos. A participação em ações pedagógicas, estudos e ofi-
contextualizado sobre as relações “Nesse contexto, busquei aprofundar cia nos estudos da maioria dos
lhadores, mas que incentive a construção diversos grupos de pesquisa e projetos, cinas sobre letramento e alfabeti-
implícitas no mundo que ele vive. questões sobre o método de Paulo Freire, alunos e alunas, além de moti-
de conhecimentos com e pela autonomia como colaboradora e coordenadora, zação em metodologias diversifi-
“Com a apropriação dessas leituras é centrando uma atenção mais epistêmica vá-los a conhecer e lutar pelos
didática”, afirma. tem oportunizado constantes revisões à cadas de alfabetização, dentro das
que a nossa ação docente se ressignifica, no momento político dos trabalhos de seus direitos, esclarecendo muitas
A partir de 2003, como obra de Paulo Freire, especialmente no perspectivas socioconstrutivistas e
fortalecendo-se, em cada experiência Freire com a alfabetização de adultos questões do cotidiano. “Como pro-
professora efetiva do Departa- Saberes, Pesquisa e Experiência em dialógica. “Alcançamos cerca de 500
educativa, na mediação de saberes”, nordestinos, nas experiências como pro- fessora, também contribuí para que a
mento de Educação e Filosofia ejai, que tem um viés de sustentação professores dos anos iniciais do Ensino
destaca Terezinha de Jesus Ama- fessor”, explica Terezinha de Jesus. modalidade e sua metodologia freireana
do Centro de Educação, Ciências teórico baseado nas obras e experiências Fundamental, apesar dos impedimentos
ral da Silva. Foram cerca de 10 anos pa- pudessem ser contempladas nos projetos
Exatas e Naturais (CECEN/ de Paulo Freire, com ricas experiên- da crise pandêmica em que tivemos que
ralelos ao magistério superior, que político-pedagógicos das escolas por onde
UEMA), Terezinha de Jesus tem cias e publicação de artigos”, detalha restringir as nossas socializações com os
Alfabetização e letramen- lograram resultados qualitativos passei, chegando, inclusive, a contribuir
fortalecido as experiências nas Terezinha de Jesus. educadores destes municípios. De forma
to muito expressivos, com a alfabe- com escolas comunitárias, municipais e
áreas do Currículo, Educação de especial, na Disciplina de Fundamen-
As reflexões trazidas por tização temática, temas geradores, filantrópicas”, relata a docente.
Jovens e Adultos, Letramento Reflexões e produções tos da Educação de Jovens e Adultos,
Paulo Freire também ajudaram com o objetivo de problematizar Apesar disso, Terezinha de
e Alfabetização e Educação em Paulo Freire fez e ainda faz dinamizamos os estudos com a leitura
a docente no período em que a alfabetização de jovens traba- Jesus Amaral da Silva afirma que
Espaços Não Escolares, tendo parte do cotidiano e das produ- dos vários livros e lançamos o desafio às
30 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 31
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Paulo Freire e a
Educação Ambiental: um
exercício nos quintais
Experiências práticas de interação com a comunidade são vivenciadas por meio da Pedagogia de Quintais, relatada
por pesquisadores Roberto Mauro Gurgel Rocha, Heloisa Cardoso Varão Santos e Eduardo Almeida, na busca pelo
compartilhamento de saberes

A Educação Ambiental, sadores Roberto Mauro Gurgel camponeses no Chile, intitulado


embora não seja explicitamente Rocha, Heloisa Cardoso Varão “Extensão ou Comunicação”. O
referenciada na obra de Paulo Santos e Eduardo Almeida, que que está escrito é bastante atual
Freire, é uma das dimensões em identificaram em uma frase de e serve de alerta a todos os que
que o seu pensamento se expres- Paulo Freire o ponto de partida querem transformar o mundo na
sa. Freire nunca deixou de relacio- para a realização da experiência: direção de uma sociedade susten-
nar a vida do ser humano com a “o que não é possível é sequer pensar em tável e justa. Dentro disso, não
nossa casa comum, a terra e seus transformar o mundo sem sonhos, sem podemos deixar de pensar em um
seres. E reconhecendo a necessi- utopia e sem projeto.” processo de Educação Ambiental
dade de melhor cuidar do mundo, Nesse sentido, Paulo Freire sem aproveitar os saberes dos po-
destaca, em uma de suas cartas, lançou sua proposta de uma vos tradicionais com suas práticas
a necessidade de atenção à res- Educação Libertadora, contrária à de vida sustentável e aproveitar
Banco de Imagens
ponsabilidade de constantemente educação domesticadora e bancá- as suas pedagogias – sejam eles
turmas com as leituras de Paulo Freire, Iniciais do Ensino Fundamental. Neste acreditar que mudar é possível. ria. Para Freire, “educar e edu- indígenas, quilombolas ou povos
que, ao final, são apresentadas e socia- trabalho, em andamento, destaco Paulo Nesse pensamento, a Pedagogia car-se, na prática da liberdade é do campo.
lizadas em forma de seminários pelos Freire, dentre outros autores convergen- de Quintais se constitui em um tarefa daqueles que pouco sabem, Outro importante ensina-
alunos e alunas”, relata Terezinha tes, como referência aos estudos empíri- movimento formado pelo tripé: por isso sabem que sabem algo mento deixado por Freire foi o
de Jesus Amaral da Silva. cos”, explica a docente. “Homenage- Sensibilização, Mobilização e e podem assim chegar a saber respeito às práticas do cotidiano
Em seus estudos para dou- ar a memória de um dos nossos grandes Ação, que visa práticas educativas mais em diálogo com aqueles que, e dos lugares onde se vive. Nesta
toramento, tendo como objeto de mestres é reconhecer a necessidade de em diferentes territórios de apren- quase sempre, pensam que nada direção, destaca a responsabilida-
pesquisa a “Base Nacional Comum maiores estudos, debates e publicitações. dizagem. Através dela, se propicia sabem, para que estes transfor- de dos educadores tanto na escola
Curricular (BNCC) na escola pública Este tem sido o nosso compromisso com o desenvolvimento de atitudes mando seu pensar em saber que como na sociedade de estimular
maranhense: implementação de compe- a produção de trabalhos interdisciplina- potenciais e viáveis, em uma pouco sabem, possam igualmente em suas missões, dentre outras
tências para a conformação ou para a res, nas diversas temáticas referentes à busca contínua de interações de saber mais.” tarefas, o fortalecimento do papel
autonomia?”, Terezinha de Jesus educação libertadora. Esses relatos são ações, entre os níveis de ensino, Esta é uma importante estratégico da formação das
adotou como fundamentação a uma homenagem aos colegas professores, entre as escolas e as comunidades assertiva no pensamento freiriano crianças e jovens incorporando
teoria crítica de Currículo para alunos e alunas, em especial aqueles que rurais e urbanas. no que se refere ao diálogo com valores humanistas e ambientais.
analisar as noções, percepções e se destacaram como defensores de suas O ponto de partida são os mais simples, que não somente Vale destacar algumas
apropriações de sentidos e suas ideias (in memorian) e aos pares que os quintais, lugares explorados têm saberes que desconhecem e experiências desenvolvidas no
implicações na construção do ainda se dedicam com afinco, concen- através dos temas geradores terra que podem aflorar na relação com Maranhão seguindo as orienta-
currículo da escola pública mara- trando tosos os esforços para manter e babaçu, na experiência de for- outros que sabem algo e precisam ções pedagógicas freirianas de
nhense. “Especificamente, na mate- vivo o seu legado”, conclui Terezinha mação de Educadores das Áreas saber mais. O livro do qual foram educadores ambientalistas. A
rialidade da prática docente nos Anos de Jesus Amaral da Silva. de Assentamentos da Reforma retiradas estas duas citações foi preocupação com a natureza ad-
Agrária (PRONERA). A atividade escrito direcionado aos extensio- quiriu importância e ocupa lugar
foi acompanhada pelos pesqui- nistas rurais que trabalhavam com de destaque no rol de interesses
32 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 33
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das mais diferentes organizações sadores, trazer e fazer acontecer rísticas específicas, tornando-se o
sociais. Hoje, é perceptível a sustentabilidade para as comuni- seu estudo muito importante para
devastação ambiental decorrente dades é saúde, é abrir trincheiras a sociedade. “Esse desafio de susten-
do processo de desenvolvimento e resistir com ações em potenciais tabilidade nas relações entre cidadão e
industrial, da urbanização e da que ainda persiste em cada um de cidade é um caminho a ser percorrido
dependência humana das grandes nós. que encoraja uma coexistência pacífica
empresas e políticas em mono- Isso, apesar de a pandemia na procura de projetos comuns partilha-
culturas. Vemos a importância de ter imposto novas práticas sociais dos por todos e para todos, orientados
práticas ambientais integradoras mediadas pela tecnologia e pela em ações democráticas, que promovam
articuladas no pensar global e na criatividade, na busca de novas a qualidade de vida, a emancipação dos
leitura da eco pedagogia, pensada formas de dialogar e agir e poder sujeitos e a mobilização dos saberes”,
como um movimento social e da fazer uma readaptação de rotinas reforçam os pesquisadores.
cultura da sustentabilidade, como e ações nos quintais de nossas
projeto de educação que implica comunidades, acionando redes de Experiências
reorientações de vida nos diversos produção para o consumo local e A experiência relatada foi
lugares do mundo, voltadas para abrindo fronteiras no enriqueci- desenvolvida em diversas esco-
a sustentabilidade e a garantia de mento dos laços humanitários de las de Caxias/MA. A Sede da
uma sociedade mais sustentável. sustentabilidade e solidariedade. Pedagogia de Quintais está no da Reforma Agrária, em convê- Os materiais didáticos norteadores para a humanidade a
Desta forma, a pandemia Bairro Cangalheiro, na Avenida nio com o INCRA-FETAEMA- foram elaborados em parceria caminhar com o desenvolvimen-
Ações de cidadania alavancou ainda mais a possibi- Senador Clodomir Cardoso, 1375, -FACT UEMA e envolveu 18 alu- com os trabalhadores rurais, to sustentável e criar uma ética
De acordo com os pesqui- lidade de contribuições que um com reformulações espaciais e nos dos cursos de Licenciaturas após o diagnóstico do universo globalizada, um código de condu-
sadores Roberto Mauro Gurgel lugar/quintal pode proporcionar, de ações, mantendo a agenda das como bolsistas responsáveis pelo vocabular e pontuamos os temas ta para pessoas e nações rumo à
Rocha, Heloisa Cardoso Varão na construção da consciência e da escolas, seguindo o calendário acompanhamento das atividades ambientais, como: terra, planta- sustentabilidade, capaz de refrear
Santos e Eduardo Almeida, a sensibilização ecológica das co- anual organizado com ingre- desenvolvidas nas áreas de Assen- ção, agrotóxicos, sustentabilidade, o consumismo predatório dos
Pedagogia de Quintais (PQ’s) munidades e, consequentemente, dientes, pedagógicos e didáticos, tamentos. alimentação saudável; agricultura países ricos e ajudar a eliminar
compreende as ações em prol da na minimização futura de algumas tendo em vista a aprendizagem e Destacamos o Programa sustentável etc., que foram pro- a partir de onde cada um vive, a
cidadania, por meio de projetos dessas problemáticas. a formação cidadã dos alunos e/ Nacional de Educação na Refor- blematizados e aprofundados nos escassez de alimentos, o melhor
integradores de valorização do Cabe ressaltar a importân- ou comunidade. ma Agrária - PRONERA, execu- momentos de escolarização dos aproveitamento dos produtos
quintal, possibilitando atividades cia do mapeamento dessas ações, Algumas das ações desen- tado no âmbito do Ministério do professores a fim de instrumen- naturais. Após as discussões em
viáveis em busca de uma integrali- como forma de registro de dife- volvidas durante o projeto foram: Desenvolvimento Agrário pelo talizá-los para as discussões face sala, os alunos se manifestavam
dade e em prol dos valores locais, rentes atores e formas de atuar escutas e diálogos com a comu- Instituto Nacional de Colonização à problematização da realidade, por meio de desenhos e pequenos
do diálogo de saberes. “Acredita- e, que os mesmos possam estar nidade para a implantação do e Reforma Agrária - INCRA, que que tem por objetivo sair da visão textos, frases e recortes de jornais.
mos que a manutenção dos quintais não em simbiose em prol da susten- projeto nas escolas, destacando a visava ampliar e qualificar a oferta ingênua por uma visão crítica, A partir do registro das
é uma questão menor, de complemento tabilidade. “Precisamos ver o mundo análise da realidade de cada espa- de educação básica e superior capaz de transformar o contexto informações pertinentes ao tema,
da casa, é uma questão de sabores e pelo olhar dos nossos locais, e não ao ço escolar; propiciar situações de às populações do campo. Na vivido e só a partir da consciên- buscamos fazer o levantamento
saberes, culturais milenares e, essen- contrário, não podemos ficar acostuma- sensibilização e do brincar sobre UEMA, o Programa foi desenvol- cia que os homens adquirem, de ações voltadas para os prin-
cial para o exercício de uma educação dos e contentes com o conforto das ideias a importância de práticas ambien- vido por professores do Depar- poderem decidir o que fazer para cípios da Carta da Terra lançada
ambiental pautada em teorias e práticas estabelecidas, de receber tudo pronto, tais em aulas campo; confecção tamento de Educação e Filosofia mudar a realidade . em 2000/2002: Respeitar e cuidar
que ganharam forças nesse período pan- pela lógica consumista do capitalismo, das casas de sementes na escola; -DEFIL com a proposta de A exploração do tema ge- da comunidade da vida; integri-
dêmico de percebermos a emancipação, do que é produzido para nós. É neces- produção de mudas, nativas e alfabetização de jovens e adultos rador terra, com base na Carta da dade ecológica; democracia, não
de assumir o dever de lutar e fazer algo sário lutar por mais soberanias, entre frutíferas, para o (re)plantio e assentados e a formação inicial e Terra, foi decodificada por meio violência e paz. As sugestões dos
por nossas riquezas”, descrevem. elas a alimentar do e pelos quintais”, troca solidária em escolas/comu- continuada dos alfabetizadores e de imagens de jornais e revistas grupos partiram da identificação
A PQ’s amplia o campo defendem Roberto Mauro Gurgel nidades de Caxias/MA; e doações a formação inicial pelo Progra- e dramatizações, e as discussões dos problemas relativos à falta
de reflexão e ação e se entranha Rocha, Heloisa Cardoso Varão de materiais necessários para a ma Magistério 2001 -UEMA de trouxeram a tona os conflitos de respeito às diferentes formas
como possibilidade e sutileza na Santos e Eduardo Almeida. construção de canteiros. forma semipresencial, envolvendo agrários gerando a confecção de de vida e as ações destrutivas
vida cotidiana, nas moradias, nos Os quintais urbanos nos Outra experiência realiza- educadores dos municípios de um jornal mural “Gente que faz”, por meio da caça aos animais
espaços públicos e privados, nos são apresentados de diversas da com base nos pressupostos São Mateus (19 professores), de com denúncias da depredação silvestres, dos efeitos das cons-
lugares de estudo, de lazer, nas formas, uma vez que ao mesmo freireanos foi implantada pela Barra do Corda (15), de Monção ambiental nos municípios. truções de estradas, da falta de
áreas de jardins, quintais, parques, tempo em que são globais, as Coordenação de Extensão da (4) e de Bacabal (4), sendo todos A Carta da Terra, enquan- ações preventivas e da adoção de
nascentes de riachos, florestas e relações que propiciam se con- PROEXAE-UEMA nos anos agricultores das áreas de assenta- to declaração universal, trouxe consumo, produção e reprodução
bosques. Conforme os pesqui- cretizam nos lugares com caracte- 2002 a 2009 nos Assentamentos mentos. temas pertinentes aos princípios que respeitem e salvaguardam os
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Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
direitos humanos e a capacidade voltado para o compartilhamento estar agregado à sustentabilidade.
regeneradora da Terra. As ações dos benefícios do uso de recursos “Dessa forma, a reflexão e a ação de

Um reencontro com
concretas foram discutidas em naturais e de um meio ambiente educadores e educandos dos Assenta-
seminários. saudável entre ricos e pobres, mentos estão balizadas nos pressupostos
Outro tema gerador foi o homens e mulheres e gerações freireanos voltados para a problema-

Paulo Freire
babaçu, desencadeado a partir presentes e futuras, internacio- tização da realidade a fundamentação
da leitura de imagem (pinturas, nalizando os custos ambientais teórica e o novo olhar sobre a realidade
fotografias e gravuras) e as letras sociais e econômicos. Ao final do buscando transformá-la”, observam.
de músicas sobre a cidadania no Curso, o Estágio foi desenvolvido “O resgate cultural visando a transfor- Participantes do XXXIII Encontro Estadual das Educadoras e Educadores
campo e obras de arte do pintor por meio de projetos desenvol- mação do lugar é uma ação que propicia da Reforma Agrária do Estado do Espírito Santo festejam, ainda que de forma virtual,
Avelar Morim e fotografias sobre vidos na comunidade com os a compreensão de coisas simples a serem o centenário de nascimento do educador
o trabalho das Quebradeiras de alunos assentados. desenvolvidos por meio de propostas eco
Coco. A problematização da pedagógicas que ultrapassam a Pedago-
realidade foi ampliada com os de- Despertar para o apren- gia de Quintais, não só como mais uma Garantir que a escola esteja safios e possibilidades da educação tam como horizonte um projeto
poimentos das agricultoras e das dizado pedagogia, mas como um projeto de vida, presente na vida das educandas e do MST/ES: dialogando com os de educação e de país com cen-
quebradeiras de coco. Partimos de Os pesquisadores Rober- que pensa o global e valoriza os quin- dos educandos e, ao mesmo tem- sujeitos Sem Terra. Pelo Setor de tralidade no ser humano e na sua
leitura de textos que destacavam o to Mauro Gurgel Rocha, He- tais”, reforçam os pesquisadores. po, manter a unidade e o acompa- Educação do MST. “Buscamos, por relação com a natureza. Essa foi
babaçu na vida dos maranhenses, loisa Cardoso Varão Santos e Dessa forma, a prática da nhamento das ações pedagógicas meio da carta, contar a ele nossas ações a mensagem geral transmitida aos
seguido de exposições de artes, Eduardo Almeida afirmam que pedagogia de quintais em conso- no interior das áreas de assenta- e os desafios prescritos às educadoras e participantes do Encontro virtual,
poemas e dramatizações denun- a solução para muitos dos pro- nância eco pedagógica propicia mentos. Esses foram os principais educadores do MST do Estado do Es- mantendo viva a chama da espe-
ciando a exploração do trabalho blemas urbanos de nossa cidade mudanças de atitudes dos sujeitos objetivos do XXXIII Encontro pírito Santo. Sendo uma carta datada, rança por uma Educação Pública e
das Quebradeiras de Coco. está diretamente relacionado às envolvidos, tornando uma prática Estadual das Educadoras e Edu- contextualizada e cheia de amorosidade, Popular, fortalecendo a Educação
A exposição dos produ- questões socioambientais, fazen- saudável, enquanto promoção cadores da Reforma Agrária do cada um que, ao ler, sentirá convocado a do Movimento como forma de
tos a partir do babaçu e os seus do-se necessário a implantação de aprendizagem e valorização Estado do Espírito Santo, rea- seguir adiante na construção da Refor- construção de um espaço de uni-
benefícios foram feitos na Feira de projetos que despertem nos da vida na Terra e valorizando o lizado no último dia 9 de julho, ma Agrária Popular”, observam os dade e afirmação das relações de
da Terra, destacando o azeite de professores/comunidade a busca ressignificar do lugar com carac- pelo segundo ano consecutivo de organizadores do Encontro. solidariedade e generosidade.
coco, o sabão de coco, a farofa de direitos, o prazer na reconstru- terísticas particulares em conexão forma virtual, devido ao período Ao longo de 35 anos de Na avaliação dos organiza-
de coco e o artesanato com coco. ção do espaço/lugar, rumo a um com a vida, em particular da vida de pandemia. história, o MST busca reafirmar dores, o Encontro foi muito boni-
A Carta da Terra traz um item aprendizado constante que pode sustentável. Apesar da impossibilidade em sua práxis educativa o papel to, em que foram reafirmados os
da presença física entre os par- das educadoras e educadores do valores pregados por Paulo Freire,
ticipantes, o evento atingiu suas Movimento nos processos de luta especialmente o compromisso
metas, conforme a organização. e construção da Reforma Agrá- de seguir adiante na luta por uma
“Mesmo neste formato, fomos tocadas ria Popular. Na compreensão do educação pública e socialmente re-
e tocados pela emoção das místicas, das MST enquanto sujeito educativo, o ferenciada, como direito de todos,
cantorias, das poesias e das reflexões da vigor da Pedagogia do Movimento na perspectiva de uma formação
práxis pedagógica suscitada nas narra- e sua relação com a Pedagogia do dialógica-crítica, humanista-liber-
tivas dos sujeitos Sem Terra, embalados Oprimido de Paulo Freire apon- tadora.
com o lema ‘Pedagogia do Movimento:
Resistir e Avançar’, momento em que
também celebramos o centenário Paulo
Freire”, informou o Setor de Edu-
cação do MST-ES, organizador do
Encontro, por meio de comunica-
do oficial.
Do Encontro também
resultou um documento, intitulado
“Carta do XXXIII Encontro Esta-
dual dos Educadores e das Educadoras
da Reforma Agrária do Estado do
Espírito Santo a Paulo Freire.” A
carta foi o resultado da mesa: De- Fonte: Setor de Educação MST-ES

36 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 37


representam muitos outros. Você precisa ver que lindeza os educandos se auto-organizando, criando seus próprios
CARTA DO XXXIII ENCONTRO ESTADUAL DOS EDUCADORES critérios – inclusive destacamos um que tem muito a ver com o que você nos ensinou: “ter compromisso com o
E DAS EDUCADORAS DA REFORMA AGRÁRIA DO ESTADO estudo e com a luta”. As crianças nos ensinam que são comprometidas com sua escola, com sua comunidade, com
DO wwESPÍRITO SANTO A PAULO FREIRE seus educadores. Dizem gostar de estudar numa escola do campo, numa escola de assentamento. Ah! Olha o que
nos disse uma mãe numa dessas assembleias, “Quando minha filha estudava na escola da rua, era diferente. No
Pedagogia do Movimento: Resistir e Avançar! assentamento minha filha aprendeu a cuidar da escola. Acho isso muito bonito na escola do campo”.
Como não se emocionar, Paulo, com esses relatos que demostram que nossa história está sendo escrita
Celebrando o centenário Paulo Freire
por todos os sujeitos que se comprometem com o campo e sua gente? Uma filha nos contou também que “Nunca
é tarde para aprender”. Ela firma: “Minha mãe está com 70 anos e está ansiosa para voltar a estudar”.
Prezado Paulo, Sabemos, Paulo, que tudo isso nos motiva a seguir adiante, mas não podemos deixar de te contar
os nossos desafios. Sim, nós nos sentimos orgulhosos aos vermos as inúmeras conquistas, mas somos também
Esperamos que você, onde quer que esteja, nos ouça neste momento! desafiados a cada dia quando olhamos para nossas áreas e enxergamos o tamanho do nosso compromisso e das
pautas pelas quais ainda temos que lutar.
Estamos nós aqui realizando o XXXIII Encontro Estadual dos Educadores e Educadoras da Estamos organizados em 10 acampamentos, 62 assentamentos e acompanhamos 26 escolas. Temos
Reforma Agrária do Estado do Espírito Santo. Sim, nosso XXXIII encontro! São 33 anos de lutas na defesa o desafio de chegar a todas as escolas de assentamentos, de nos espraiarmos pelo Sul do Estado e também o de
da educação pública, laica e socialmente referenciada. Ao longo deste tempo, Paulo, contamos com diversos par- lutar pela Educação Infantil como direito de todas as crianças, incluindo a participação efetiva de todas elas.
ceiros, camaradas, amigos e entidades que construíram conosco um projeto de educação. Lembramos, Paulo, que Lutamos pela melhoria da estrutura de nossas escolas, pela conquista da Educação de Jovens e Adultos para
foi aqui, no Espírito Santo, que se consolidou o Setor de Educação do MST, com um punhado de camaradas garantia do acesso e permanência de todos aqueles e aquelas que desejam estudar.
que ousaram sonhar. E hoje, ao rememorar esta história, trazemos presente o seu legado! Sim, estamos também Sabe, Paulo, tudo isso nos provoca a lutar pela garantia da nossa Pedagogia no chão das escolas. A
comemorando o seu centenário. Pedagogia do Movimento, nossos instrumentos pedagógicos, a Pedagogia da Alternância. Entendemos que quem
Relembramos através desta carta os sonhos que você tinha ao pensar o Brasil. Mesmo distante, impe- faz tudo isso acontecer são as pessoas, comprometidas com a educação e com os sujeitos que são os protagonistas
dido de estar conosco por conta do exílio que a ditadura militar lhe impôs, você ousou sonhar: com a mangueira, desse processo. Portanto, também lutamos pela aprovação das Diretrizes Estaduais das Escolas de Assenta-
com o sabor de seus frutos, com o cheiro da terra molhada, com um Brasil melhor para todos e todas. mentos, como forma de materializar uma demanda que nos ajude a continuar essa defesa também, nos espaços
Ah, Paulo, que saudades temos de você. Ficamos aqui imaginando o que nos diria em tempos tão de tomada de decisões.
sombrios. Você sabe que estamos passando por um momento conjuntural em que mais de meio milhão de pessoas Finalizando esta carta, Paulo, nos comprometemos a seguir seu legado, de um ser humano que cons-
perderam a vida por terem sido vítimas da COVID-19. Sim, são muitas pessoas! O opressor segue oprimindo. truiu uma Pedagogia tecida com o povo, na vida, na história e nas contradições que essa sociedade capitalista nos
Acho que neste momento você nos perguntaria: e vocês, o que estão fazendo? Como estão enfrentando o opressor? impõe.
Sabe, Paulo, temos sofrido, mas não perdemos nossa capacidade de nos indignarmos e seguirmos Com você aprendemos que “por mais que se apregoe hoje que a educação nada mais tem que ver com
lutando. São muitas as pautas. Todo dia o cenário muda. Mas nós, por vezes interpelados pelo cansaço, pela o sonho, mas com o treinamento técnico dos educandos, continua de pé a necessidade de insistirmos nos sonhos e
falta de perspectivas, pela falta de um ente querido que a COVID levou ou a falta de políticas públicas que nos na utopia. Mulheres e homens, nos tornamos mais do que puros aparatos a serem treinados ou adestrados. Nos
ajudem a enfrentar esse momento, quando sentimos vontade de abaixar a cabeça e desistir, encontramos sempre tornamos seres da opção, da decisão, da intervenção no mundo. Seres da responsabilidade” (FREIRE, 2000,
um companheiro ou companheira que nos motiva a seguir adiante. Olhamos para trás e vemos crianças, mulhe- s/p).
res e homens que lutaram, e muito, para que hoje pudéssemos contar esta história. Aí... aí erguemos a cabeça e
seguimos! Freire, um afetuoso abraço dos Sem Terrinha, das educadoras e dos educadores, das famílias, do
Nossa, temos tanta coisa para contar, mas depois lhe mandamos outra carta. Hoje, queremos te Setor de Educação do MST, que veem em você a chama da esperança, a possiblidade de continuarmos sonhando
dizer que somos muito gratos pela sua generosidade, sua capacidade de amar, de aprender e ensinar. Com você se- e juntos construirmos a educação que defendemos.
guimos construindo a educação que defendemos. Hoje, tivemos a honra de ouvir aqueles e aquelas que nos ajudam
a tecer essa história. Você percebeu, Freire, que Pedro, Isabele, Ana Clara, Solange e Geísa relataram o quanto Espírito Santo, 9 de julho de 2021.
ensinam e aprendem neste nosso Movimento? Nos territórios de assentamentos de Reforma Agrária vamos jun-
tos, diuturnamente, construindo processos educativos com muitas pessoas. Foi uma lindeza só a construção deste
momento. Devido à pandemia não podemos nos encontrar pessoalmente, mas os Sem Terra dão um jeitinho de,
mesmo que na telinha do computador, manter viva a mística que nos une.
Realizamos anteriormente algumas assembleias que nos permitiram trazer esses sujeitos que aqui
38 Professor|Formador de Profissões
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A práxis de Paulo Freire


co e ético contribui para mudança
da realidade opressora, uma vez
que a educação tem também sua

na formação de docentes
dimensão humana.
“É preciso que o professor
compreenda a importância de estimular
o desenvolvimento participativo dos
Artigo das professoras Natarsia Camila Luso Amaral e Regina Célia de Castrl Pereira detalha
estudantes, pois cada sujeito tem uma
o Programa Ensinar, de Formação de Professores, da UEMA, que adota a perspectiva de Paulo Freire para a formação
história, e a práxis precisa ser autên-
permanente, no enfretamento crítico e reflexivo do cotidiano
tica e humana – o que só será possível
Um instrumento que pos- (INTERVALE) e Regina Célia de teórico-epistemológica do Pro- se os estudantes forem protagonistas”,
sibilite formar professores para o Castro Pereira, professora Adjun- grama Ensinar, na qual a práxis é defendem as professoras Natarsia
exercício da docência na educação to do Departamento de História ação e reflexão, e está, intrinsica- Camila Luso Amaral e Regina Cé-
básica, a partir de conhecimentos e Geografia (UEMA) e Doutora mente, vinculada com a formação lia de Castro Pereira. “O exercício
das práxis propagado pelo Programa As professoras descrevem la Luso Amaral e Regina Célia de
específicos, interdisciplinares e em Geografia (FCT/UNESP). permanente, no enfretamento
Ensinar não é transferir ou depositar que trabalhar uma educação para Castro Pereira.
pedagógicos, para a construção Com aulas ministradas aos crítico e reflexivo do cotidiano.
conhecimento, se dá em constante proces- a libertação da opressão precisa Transformações
de valores éticos, linguísticos, sábados e domingos, o Ensinar “Compreendemos que, para uma
so de atualização”, completam. ser tarefa conjunta de educares e O Programa de Formação
estéticos, políticos e profissionais, está presente em 28 polos e oferta educação e formação críticas, é preciso
educandos: a libertação é tarefa de Professores ensina que somen-
em um diálogo constante entre os cursos de Ciências Biológicas consolidar a práxis educativa com
O aluno e a práxis dos oprimidos, mas mediada para te uma educação libertadora ou
diferentes visões de mundo. Essa Licenciatura; Ciências Sociais consciência crítica da realidade vivida.
O Programa Ensinar consi- que se supere a opressão e não crítico-libertadora não transforma
amplitude de possibilidades é for- Licenciatura; Física Licenciatura; É de responsabilidade dos programas
dera que é fundamental respeitar a reproduza. “Ao mudar apenas os a sociedade: trata-se de um pro-
necida pelo Programa Ensinar, de Geografia Licenciatura; História de formação de professores, formar
o estudante, sua autonomia, suas sujeitos, o oprimido está tão acostumado cesso de humanização, como con-
Formação de Professores, da Uni- Licenciatura; Letras Licenciatura profissionais capazes de contribuir para
histórias, exigindo dos professores com a opressão que permite que o opres- sequência de ações emancipado-
versidade Estadual do Maranhão. em Língua Portuguesa, Língua o processo de reorientação curricular da
uma reflexão crítica permanente sor se instale em si e não percebe a in- ras, e estar presente em distintos
Também são objetivos fortalecer Inglesa e Literaturas; Matemática escola”, ressaltam as educadoras.
sobre sua prática, de modo a ava- versão de papeis, e ao invés de caminhar municípios do Maranhão, propor-
a política de formação docente Licenciatura; Pedagogia Licencia- “O compromisso precisa dar-se no
liar o fazer pedagógico. A práxis em direção à libertação, caminha para a cionando a formação de pessoas
para a educação básica no Estado tura, Química Licenciatura. exercício da transformação da realidade
educativa, na perspectiva de Freire, identificação e reprodução de opressão”, com potencial, mas sem oportuni-
do Maranhão, atendendo às de- Criado em 2016, com aulas opressiva, ou seja, da libertação dos
propõe um modelo educacional observam. dades, é uma ação emancipadora.
mandas municipais para a forma- iniciadas em setembro de 2017, o oprimidos, de modo que pela educação
com enfoque na qualidade do Os diálogos dos estudan- “Dentro de uma sala de aula temos uma
ção docente na educação básica. Programa Ensinar tem mantido a crítica, possamos chegar a uma emanci-
ensino, no diálogo e na reflexão tes são a primeira leitura de seus heterogeneidade, e muitos professores
“Pretende-se contribuir para a atualização do arcabouço teórico pação social”, reforçam.
crítica, e não em uma educação mundos, o que faz o ser humano acreditam que isso possa dificultar um
mudança dos indicadores sociais e edu- das disciplinas, com a busca de Dessa maneira, ao longo
individualista, competitiva e exclu- (re) conhecer-se capaz de dize-lo/ trabalho. É preciso considerar os objeti-
cacionais do Estado do Maranhão. Os oportunidades e experiências de do percurso formativo, o progra-
dente. dialoga-lo, pois no momento que vos pelo qual os estudantes lutam, tendo
alunos contam com um completo sistema trabalho aos acadêmicos, incenti- ma proporciona o diálogo com
Nessa concepção de Freire, o sujeito ler o mundo, ele (re) lê em vista que ‘a falta de unidade entre os
de apoio pedagógico e são estimulados vando-os a publicar os resultados a pedagogia freiriana, propondo
o Programa Ensinar tem como a sua própria existência, é a sua diferentes conciliáveis ajuda a hegemonia
constantemente a participar do am- dos projetos desenvolvidos em alternativas reais e humanas, que
principais categorias da práxis a condição que ganha projeção, per- do diferente antagônico”, explicam as
biente acadêmico, por meio de eventos, disciplinas. “São exemplos disso os possibilitem aos indivíduos a pro-
humanização, a dialogicidade, a mitindo avaliar sua história, (re) educadoras Natarsia Camila Luso
produzindo trabalhos e publicando em componentes curriculares Prática de dução da libertação, de modo que
problematização, a conscientização inventar sua existência e possibili- Amaral e Regina Célia de Castro
periódicos científicos. Da mesma forma, Vivência e de disciplinas específicas, o estudante seja formador de sua
e a emancipação. “Esses termos são tar novas leituras de mundo. “Não Pereira.
os professores do programa passam por inserção dos acadêmicos na pesquisa e própria ação, história e educação.
utilizados em suas obras afirmando seu podemos silenciar as vozes dos sujeitos As professoras concluem
treinamentos, reuniões de planejamento extensão universitária, como bolsistas Entendendo que a práxis
pensamento que a educação deve estar a desse processo, pois estaríamos negando- que educar não é apenas o profes-
e acompanhamento pelas respectivas e/ou voluntários, bem como em ações seja um compromisso do profes-
serviço de uma transformação social. O -lhes a práxis e refletindo uma sociedade sor saber utilizar diferentes méto-
direções de curso, visando manter a sociais”, observam as professoras sor, Paulo Freire afirmou, na obra
processo de humanização no pensamento opressora. A leitura de mundo do dos e técnicas, é preciso ensinar a
associação das suas atividades aos ob- Natarsia Camila Luso Amaral e Educação e Mudança, que “[...]
de Freire, está baseado na capacidade indivíduo possibilita o diálogo com sua pensar certo, pensar criticamente,
jetivos e metas do Programa Ensinar”, Regina Célia de Castro Pereira. o compromisso do profissional com a
que cada sujeito tem de ser protagonista realidade, ao refletir e fazer (re) leitura ser criativo, inquieto, investigador
descrevem as professoras Natar- sociedade nos apresenta o conceito do
e criador. O ato de fato humanizador de mundos. É importante reconhecer os e persistente. “Educar é compreen-
sia Camila Luso Amaral, Espe- Perspectivas compromisso definido pelo complemento
precisa ser consciente da superação e não saberes dos estudantes e criar possibi- der os sujeitos em seus contextos, suas
cialista em Educação Matemática Conforme as educadoras, do profissional ao qual segue o termo
da reprodução”, afirmam Natarsia lidades, para que os alunos construam vivências, suas experiências, contextuali-
(UNIASSELVI) e em Metodo- a perspectiva de Paulo Freire é a com a sociedade.” Dessa maneira, o
Camila Luso Amaral e Regina sua conscientização sobre sua realidade”, zando a educação enquanto processo de
logia do Ensino de Matemática que coaduna com as concepções docente com compromisso críti-
Célia de Castro Pereira. escrevem as professoras Natarsia Cami- humanização”, finalizam.
40 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 41
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dos colonizados em um processo deno- de Jesus, podemos considerar que indico a necessidade de leitura incessante
minado ‘colonização do ser’ que provoca vivemos tempos de opressão, por de suas obras, que dão voz aos que se

Decolonialidade do a imersão da consciência dos oprimidos,


leva à internalização e naturaliza-
termos no cargo maior do poder
político da nação um governan-
encontram em situação de desigualdade
no acesso ao saber, como os que buscam
ção das categorias do eurocentrismo”, te que dissemina ideias de ódio, escolarização tardiamente, para que o res-
pensamento de Paulo Freire observa Ilma Fátima de Jesus.
“O autor retrata, dessa forma, a luta
agindo com descaso em pleno
período pandemia. Mas isso não
peito aos direitos humanos, à raça/etnia
e gênero, contribua para uma convivência

é uma das marcas de contra a opressão, as desigualdades e em


suas obras a valorização dos saberes dos
deve reprimir as oportunidades de social sadia num país diverso como o
reflexão, segundo a Doutoranda em nosso”, completa. “São reflexões muito
povos tidos como subalternizados está Educação pela UFMA. “Paulo Freire importantes que vêm à tona no ano em
“Pedagogia do Oprimido” presente”, reforça. nos ensina a entender a consciência oprimi- que celebramos o centenário de nascimento
da, a consciência opressora e a dualidade de Freire, considerando a importância do
Nosso tempo gerada pela submissão da qual precisamos seu legado para a educação no país e no
Professora Ilma Fátima de Jesus mostra de que forma uma das obras clássicas do autor questiona Na visão de Ilma Fátima nos libertar”, afirma. “Por esse motivo, mundo”, conclui.
práticas pedagógicas pautadas nas relações opressoras vivenciadas por estudantes, apontando que o ser humano tem
de transformar-se num sujeito da realidade histórica

A obra “Pedagogia do Opri- Programa Ensinar da UEMA. ao afirmar que: “estes que oprimem,
mido”, de Paulo Freire, possibilita Entender a consciência exploram e violentam, em razão de seu
uma série de análises amplas em oprimida, a consciência opressora poder, não podem ter, neste poder, a
diversos aspectos da socieda- e a dualidade gerada pela submis- força de libertação dos oprimidos nem de
de. Um deles é o pensamento são está entre os ensinamentos si mesmos”.
decolonial perpassado pela luta mais importantes de “Pedagogia do Por essas reflexões, Peda-
de libertação dos oprimidos, o Oprimido”. Humanista e liberta- gogia do Oprimido é um ins-
que contempla um olhar sobre a dor, o livro analisa a pedagogia do trumento de libertação de um
opressão exercida pelos homens ser humano que luta em um pro- processo de desumanização, num
sobre as mulheres. Além disso, o cesso permanente por sua liber- olhar decolonial sobre a opressão
livro questiona práticas pedagógi- tação, a partir da reflexão sobre a exercida pelos homens sobre as
cas pautadas nas relações opres- opressão e suas causas, o que gera mulheres e outros gêneros, raças
soras vivenciadas por estudantes, uma ação transformadora, deno- e etnias. “Freire nos ensina a esse
e que devem ser relações respeito- minada de práxis libertadora. respeito em ‘Pedagogia da Autonomia:
sas e positivas no convívio social. “A obra detalha a contradição saberes necessários à prática educativa”,
É interessante notar que Paulo opressores-oprimidos e sua superação; lembra Ilma Fátima de Jesus.
Freire expressa seu pensamento a situação concreta de opressão e os Para a Doutoranda em
relacionando-o com outros auto- opressores. Além disso, esclarece que Educação pela UFMA, o pen- Banco de Imagens
res que dialogam sobre a opres- ninguém liberta ninguém, ninguém se samento decolonial de Freire
são colonial, como Frantz Fanon, liberta sozinho: os seres humanos se abrange a liberdade da humanida-
Aimé Césaire, Albert Memmi e libertam em comunhão. Freire destaca de, homens e mulheres, de todas
Amilcar Cabral. a amplitude do tema ao afirmar a as idades, raças, etnias, condições
“Paulo Freire dialoga e critica pretensão de aprofundar alguns aspectos sociais etc. “Acompanhamos, neste sé-
a realidade na luta de libertação dos discutidos em ‘Educação como Prática culo, a luta das mulheres marcada pelas
oprimidos, explicando que o ser humano da Liberdade’, refletindo que os seres marchas de libertação. Sua obra, ‘Pe-
tem de transformar-se num sujeito da humanos descobrem que pouco sabem dagogia do Oprimido’, está empenhada
realidade histórica em que se insere, de si, e se inquietam por saber mais”, na luta de libertação do ser humano”,
humanizando-se, lutando pela liberda- reflete Ilma Fátima de Jesus. destaca a professora do Programa
de, pela desalienação e enfrentando uma Ensinar da UEMA.
classe dominadora que, pela violência, Reflexões libertadoras Em seu pensamento, Freire
opressão, exploração e injustiça, tenta Em um dos trechos mais questiona o eurocentrismo no
perpetuar-se”, explica Ilma Fátima significativos do livro, Freire conhecimento no campo das ci-
de Jesus, Doutoranda em Educa- reforça a necessidade conscienti- ências sociais. “O eurocentrismo teria
ção pela UFMA e professora do zação sobre a exploração sofrida, culminado na imersão das consciências
42 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 43
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Paulo Freire e a
mo resultado apresentado pelo distância como um redimensiona-
Instituto Nacional de Estudos e mento espaço-temporal e uma for-
Pesquisas Educacionais Anísio ma concreta de democratização do

Educação a Distância:
Teixeira (Inep) e pelo Ministério ensino, capaz de romper os limites
da Educação (MEC), 63,2% das dos programas presenciais, a Reso-
vagas ofertadas no ensino superior lução nº 73/1998 – CEPE/UEMA

uma prática educativa que


foram na modalidade a distância. aprovou como sua primeira ação a
O censo mostrou também que, distância o Curso de Licenciatura
pela primeira vez na história da em Magistério das Séries Iniciais

se aproxima dos sujeitos


educação brasileira, o número de do Ensino Fundamental, o qual
ingressantes em cursos de educa- propiciou à UEMA credenciamen-
ção a distância foi maior do que to pela Portaria nº 2.216, de 11 de
Ilka Marcia R. De Souza Serra - Coordenadora do UEMANET o número do ensino presencial, outubro de 2001 – MEC, para a
Eliza Flora Muniz Araujo - Assessora UEMANET na rede privada. Dos alunos que oferta de cursos superiores nessa
Laryssa Maria Coelho Neves - Colaboradora UEMANET. ingressaram em instituições parti- modalidade de ensino.
culares, 50,7% optaram por cursos Para a UEMA, a Educação
Paulo Freire, o patrono educador não impõe sua leitura educacionais. Os cursos a distân- EaD, enquanto 49,3% escolheram a Distância mostra-se como uma
da educação brasileira. Filósofo, do mundo como “única verdade.” cia trazem em sua essência uma o modo presencial. alternativa factível na luta contra
professor universitário e grande Em sua concepção o aluno é um série de vantagens que vão desde a Quando analisamos a última os impactos da exclusão social.
educador, contribuiu sobremaneira personagem ativo e participativo flexibilização de horários à inclu- década, é possível perceber que À medida que oportuniza acesso
para a compreensão e desenvol- em todo o processo de aprendiza- são social, contribuindo assim para uma nova configuração da edu- democrático ao conhecimento,
vimento de alguns dos principais gem. Portanto, mais do que apenas ampliar o acesso à educação for- cação superior brasileira foi se procura promover um amplo
processos educacionais aplicados teoria, seguir a proposta de Freire mal. Merece destaque também que tornando mais evidente. É papel processo de transformações téc-
no país e em várias outras locali- representa abrir novos caminhos nessa modalidade é possível pensar dos educadores acompanhar as nico-científicas e de reorientação
dades ao redor do mundo. Hoje, de possibilidades de ensino e a aprendizagem como um proces- novas tendências, aprender e ético-valorativa da comunidade em
com tantas turbulências políticas aprendizagem. so ativo, dialógico, colaborativo e contribuir para o processo educa- geral não assistida pelos processos
e sociais, é possível afirmar que A data simbólica do cente- flexível, onde a teoria e a prática cional aproveitando o que existe tradicionais de educação formal.
o método freiriano consolida-se nário de Paulo Freire nos permite estão intrinsecamente interligadas. de melhor em práticas pedagógicas Tais propósitos parecem coadu-
como um processo ainda mais ne- a reflexão de como o seu traba- Todas essas características reme- e novas tecnologias. A Educação nados às ideias do Patrono da
cessário e oportuno, que permite a lho contribui diariamente para o tem à prática educativa freireana. a Distância é uma possibilidade Educação brasileira. Atualmente,
transformação e a conscientização desenvolvimento de uma educação Destaca-se que no últi- sem limites, principalmente para a UEMA tem aproximadamente
de pessoas e, consequentemente, de qualidade neste país. Especifi- mo ano, com a crise sanitária, a quem encara a educação como um 5.000 alunos em cursos de gra-
de sociedades. Presente, significati- camente pensando na Educação influência do método freiriano processo inesgotável. Nesse ponto, duação EaD, 2.500 em cursos de
vo e atual, os ideais de Paulo Freire a Distância, percebemos como mostrou-se fundamental para a entendemos que a influência do pós-graduação lato sensu, 1.000
além de importantes, compõem o método freiriano é inspirador, compreensão da educação na atu- método freireano nos processos em cursos técnicos EaD, em 42
uma conjuntura diferenciada e um pois, trata da autonomia do apren- alidade. Freire diz que o processo que desenvolvemos hoje é presen- polos de apoio presencial em todo
legado atemporal para a educação dizado, da busca incessante do de educação é também um proces- te e se constitui como um diferen- Maranhão.
brasileira. conhecimento, de processos que so de conscientização. E isso ficou cial para a qualidade da educação Dessa forma, acredita-se
Freire considera a educação não se limitam apenas às fórmu- muito evidente mediante todos os que promovemos. possível projetar que o cresci-
como um ato de “aprender de e las determinadas. Percebe-se que desafios que enfrentamos neste pe- Ainda de acordo com o últi- mento da Educação a Distância
com”, onde o processo de ensinar é possível ‘ser mais’ e fazer uma ríodo. É a conscientização que faz mo censo, em dez anos o número esteja ainda em franca escalada,
não consiste exclusivamente na leitura própria do mundo, sobretu- com que os estudantes tenham in- de estudantes em cursos a distân- considerando os quase 18 meses
transferência mecânica de conteú- do com o apoio fundamental das teresse em participar do processo cia aumentou 378%. Um aumento de distanciamento social impostos
dos do professor e “detentor de todo tecnologias. educacional, saber mais sobre um que supera as expectativas iniciais, pela pandemia. Esse crescimento
o conhecimento” para alunos passivos A Educação a Distância e assunto, buscar mais informações, sobretudo considerando que, em representa uma oportunidade de
e sem voz, incapazes de contribuir os princípios freirianos caminham se desenvolver não apenas como 2009, os ingressantes na modalida- melhoria, de investimento e de
para o próprio aprendizado. Para juntos no que diz respeito à busca acadêmico, mas como cidadão. de EaD representavam 16,1% dos transformação para a área da Edu-
Freire, a educação é um processo pela inovação. A modalidade EaD A tendência atual é a Educa- calouros no ensino superior do cação como um todo, E reafirman-
que não se esgota, que exige de surgiu como uma forma de aten- ção a Distância. país. Em 2019, este grupo repre- do, assim, as ideias de Paulo Freire
seus personagens curiosidade, der a demanda da sociedade atual De acordo com o Censo da senta 43,8% do total. de que a Educação é para todos.
pesquisa e investigação, onde o de democratizar as oportunidades Educação Superior 2019, últi- Ao perceber a educação a
44 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 45
Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA
organização administrativa, didá- Compartilhada e Democrática a
tico-científica e de distribuição de tônica das temáticas projetadas
pessoal. Isto reflete positivamen- para a gestão (2019-2022) do
Gestão te nas tomadas de decisão e no
pronto atendimento aos cursos e
Centro de Educação, Ciências
Exatas e Naturais – CECEN es-
suas demandas. tão voltadas para o compromisso
com Autonomia A atenção a todas as opor-
tunidades, que por ventura pos-
“Por uma Gestão Ativa e Partici-
pativa”; “por uma Gestão Com-
sam fortalecer o CECEN, é um partilhada de espaços, práticas
e Empatia cuidado constante. Bem como
o diálogo com todos os setores
e ideias” com vistas no “tempo
em gestão, com empatia, a arte
da UEMA, outros Centros de da convivência e do compartilha-
Ciências e Campi para conheci- mento”. Essas temáticas animam
Maria Goretti Cavalcante de Carvalho* mento e resolução de problemas os Encontros de Gestores do
reais que ameacem as Finalidades CECEN, anualmente. É uma
do Centro e do seu Bom Funcio- oportunidade de programarmos
namento, em prol da Formação a nossa agenda de compromissos
O Centro de Educação, seu Plano de Gestão (2019-2022),
Acadêmica Profissional realizada alinhada com as políticas institu-
Ciências Exatas e Naturais – que contemplam ação e partici-
em seus cursos específicos, e da cionais de Formação Acadêmica.
CECEN é um gigante em for- pação de todos e todas gestores
construção de saudáveis relações Podemos dizer que no
mação acadêmica, especialmente e gestoras, com a força de torção
de trabalho. CECEN há complementaridade
na formação de professoras e do espiral de mudanças.
Enfim, o mapeamento, aná- de intenções das várias áreas dos
professores do Estado do Ma- Para potencializar as fina-
lise e diagnóstico da real e atual saber, dos vários gestores, dos
ranhão. Congrega vários cursos lidades do CECEN ratificamos
situação do Centro, serve cons- humores e gestos, e revela que
de licenciaturas e bacharelados a valorização e a manutenção do
tantemente para ativar esta Ges- essa construção é coletiva e se dá
de dez grandes áreas do saber, que há de excelência nos cursos
tão com a Participação de todos nas relações entre todos os atores
nas modalidades presencial e de formação de professores/as e
os setores e respectivos Atores. sem distinção.
EaD. Nesse mister, o olhar do os bacharelados. O envolvimento
Uma Gestão que trabalha junto, Que deste Centro de
CECEN está para uma formação de todos e de todas é uma convo-
que ensina, que aprende, que pes- Educação, que forma professores
consciente, ética e com empatia, cação permanente na supervisão
quisa, que valoriza as produções e outros profissionais, possa se
e não pode deixar escapulir o que dos setores e respectivas ativi-
dos gestores dos cursos e depar- valer de todas as Ciências para
corroba Freire (2019) quando nos dades, com Atenção Especial às
tamentos. Uma Gestão que incor- ratificar a empatia e a autonomia
orienta que ensinar não é trans- dificuldades de cada setor.
pora a coletividade e compreende na construção do conhecimento
ferir conhecimentos, conteúdos Não podemos deixar de
que se trata de um ente só. Um da realidade social.
nem formar é ação pela qual um pontuar que há participação cole-
Centro de Educação que se aliou É isso!
sujeito criador dá forma, estilo tiva dos cursos no gerenciamento
às Ciências Exatas e Naturais para
ou alma a um corpo indeciso e da execução das atividades de
que a formação de professores/
acomodado. Nesse sentido, os es- ensino, pesquisa e extensão. Além
as se encontrasse em um corpo
forços estão para a compreensão disso, o atendimento equânime
só, o da Consciência sobre quem
de que, como gestores, buscamos das demandas dos Departamen-
*Diretora do Centro de Educação, forma os formadores, na comple-
Ciências Exatas e Naturais – CE-
e reprocuramos, indagamos e nos tos, Cursos de Licenciatura e Ba-
xidade de providências de quem
CEN, da Universidade Estadual do indagamos. Somos provocados charelado, Núcleos, Laboratórios,
forma as outras profissões.
Maranhão – UEMA. a pesquisar para constatar; pes- Cursos de Pós-Graduação (Lato
Com o objetivo maior de
Prof.ª Adjunta II do Departamento quisar para conhecer o que ainda Sensu e Stricto Sensu) e demais
de Educação e Filosofia – DEFIL, dinamizar as atitudes da Gestão
não conhecemos e comunicar ou atividades, fortalece o compro-
do CECEN/UEMA. Doutora em
História, pela UNISINOS, Mestre
anunciar novidades (FREIRE, misso com o qual todos e todas
em Educação e Licenciada em 2019). dão sentido às suas funções.
Pedagogia, pela UFMA. As ações institucionais pro- Outro ponto importante é
jetadas pelo CECEN para os seus o fortalecimento da autonomia
cursos de formação profissional dos Departamentos, para que
estão alinhadas aos objetivos do possam exercer suas atividades de

46 100 anos de Paulo Freire | set 2021 Professor|Formador de Profissões 47


Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA

O uso das tecnologias


digitais na Educação durante
o ensino remoto, sob a ótica
de Paulo Freire
Pesquisadoras Wendla Mendes Silva Borges e Ilma Vieira do Nascimento identificam lacunas e oportunidades
do trabalho com as Novas Tecnologias da Informação nas práticas em sala de aula, durante a pandemia, a partir dos
ideais defendidos pelo educador
Banco de Imagens
O uso das tecnologias dir a formação do educador e oferecer política e o currículo educacional Ilma Vieira do Nascimento. tadora, onde o saber instrumental pesquisadoras.
digitais na Educação durante o acessos à sociedade já era prevista por do Brasil postergaram em pleno No trabalho com os pro- também é um saber crítico e político, As professoras Wendla
ensino remoto é uma das ques- Paulo Freire como uma possibilidade século XXI a inclusão social e a fessores pesquisados, elas teste- para que os saberes sejam instrumentos Mendes Silva Borges e Ilma Viei-
tões que mais tem despertado de ‘expandir a capacidade crítica dos formação de professores no âm- munharam o desenvolvimento do mobilizadores da prática educativa. ra do Nascimento estimam que
debates e chamado a atenção de nossos meninos e meninas’. No entanto, bito tecnológico”, defendem. currículo, desenvolvendo práticas Permite-se afirmar então que educação a apropriação da cultura digital
especialistas, principalmente neste o que se pode analisar, decorrente dos de ensino no período da pande- ao lado da tecnologia digital em tempos esteja ao lado dos pressupostos
período de pandemia, em que alu- estudos e pesquisas que realizamos, é Pesquisa mia e de distanciamento social, o remotos, para Freire, só faz sentido freirianos, pois o espaço digital
nos e profissionais da Educação que a formação de professores não tem Para comprovar esta tese, que culminou nas aulas remotas, se estes aspectos embasarem os proces- pode oferecer inclusão e liberta-
foram levados massivamente ao garantido aos docentes a competência elas realizaram estudos, em 2019 nas quais os procedimentos atitu- sos formais formativos”, defendem ção; no entanto, também pode
uso de computadores e aparelhos digital suficiente para tornar o ensino e 2020, em uma escola municipal dinais precisaram ser repensados Wendla Mendes Silva Borges e servir como meio de controle
celulares para as aulas, antes pre- remoto confortável, em um evidente o na Zona Rural de São Luís, para para que não perdesse seu sentido Ilma Vieira do Nascimento. ideológico, de alienação social e
senciais. As ideias de Paulo Freire processo de exclusão, da negação de aces- identificar os efeitos que o uso formativo e inclusivo. “Nossas ob- Para elas, percebe-se que política. “Cabe aos educadores e à
podem ajudar a refletir sobre esse so, condição e permanência no caráter da tecnologia digital na Educação servações se baseiam na pesquisa e nos estas máximas demandam desa- sociedade a vigilância das informações
fenômeno? De acordo com Wen- educacional e tecnológico”, defendem Básica, anos iniciais, ocasionam estudos realizados com esses professores, fios às práticas presenciais e aos que lhes são transmitidas. Cabe a nós,
dla Mendes Silva Borges, Mes- as professoras Wendla Mendes à prática dos professores. As na implementação do blog junto com processos de ensino via remota, educadores, o aprimoramento de nossas
tranda no Programa de Pós-Gra- Silva Borges e Ilma Vieira do observações resultaram em uma os professores, nas vivências formativas pois se há uma lacuna entre o práticas no uso das Novas Tecnologias
duação em Educação (PPGE) da Nascimento. dissertação e produto técnico formais durante a pandemia e das refle- conhecimento e a prática defen- da Informação e da Comunicação. O
UEMA e professora do Ensino Na visão das duas professo- tecnológico do Mestrado Profis- xões sobre Paulo Freire”, reforçam. dida por Freire nos processos de presente nos mostrou a pouca competên-
Fundamental Anos Iniciais de ras, se Paulo Freire estivesse vivo, sional do Programa de Pós-Gra- formação de Educação Popular e cia técnica que tínhamos e este período
São Luís, e Ilma Vieira do Nasci- suas percepções sobre o contexto duação em Educação (PPGE) da Ideais de Paulo Freire do Jovens e Adultos, imaginemos de aprendizagens remotas demonstra-
mento, professora do Programa Educação, Pandemia e Tecnolo- Universidade Estadual do Mara- A partir dos ideais de Paulo as barreiras que são transporta- ram que há uma possibilidade e uma
de Pós-Graduação em Educação gias Digitais teriam significativas nhão (UEMA). Freire, a Educação e Tecnologia das aos processos de aprendiza- pedagogia significativa que pode agregar
(PPGE) da UEMA, Freire trouxe contribuições, que provavelmente “Mediante a pesquisa de cunho podem ser pensadas no sentido gem remota. “Estas eram as áreas qualidade às práticas educativas”, afir-
importantes contribuições, com mobilizariam ainda mais as práti- qualitativa, elaboramos com os profes- de contribuir com as práticas que Freire destinava suas reflexões, mam as pesquisadoras. “Cabe aos
sua visão dos fundamentos do cas educativas progressistas dos sores um blog educacional chamado educativas. Portanto, podem ser portanto, seu conhecimento é válido sujeitos da escola a construção de um
processo educativo, para elucidar docentes do Brasil, considerando de Diálogos de professores, contendo incorporadas nos processos de para todo aquele que pensa ser correto currículo que inclua o aluno na cultura
essa questão. “O uso de computado- que seu pensamento defende uma um vasto repertório de ferramentas, ensino e de aprendizagem, já que o ensino pautado nos saberes e contexto digital, apoiando-se nos meios legais
res no processo de ensino-aprendizagem, Educação progressista e emanci- documentos e orientações sobre a os aspetos defendidos pelo edu- prévios; que visam um ensino que inclui e políticos deste direito. A educação é
em lugar de reduzir, pode expandir a padora. “Paulo Freire diria que a Base Nacional Comum Curricular cador são: o caráter político; o o excluído; que media os processos de a base de um país, os educadores são
capacidade crítica e criativa de nossos pandemia que nos levou ao ensi- (BNCC). Como a pesquisa foi realiza- saber da experiência; autonomia, ensino para a conscientização e prática as engrenagens que fazem esse país se
meninos e meninas. Depende de quem no remoto e massivamente ao uso da parte presencial e parte remotamente, diálogo e emancipação; consciên- política; que entende o ensino e os resul- mobilizar e para se ter qualidade na
usa, a favor de quê e de quem e para dos equipamentos tecnológicos a implementação do blog também se cia crítica. tados das aprendizagens como processos Educação é preciso que ofereça qua-
quê”, escreveu o educador. da informação e da comunicação concretizou neste meio”, descrevem “Os pressupostos de Paulo de libertação para o agir, para formar lidade aos educadores e educandos”,
“Dessa forma, incluir e expan- revelou sobremaneira como a Wendla Mendes Silva Borges e Freire defendem uma educação liber- sujeitos ativos no meio”, afirmam as completam.
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Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Universidade Estadual do Maranhão|UEMA

Diálogo pedagógico: uma


gias ativas para o ensino. Esse con- político-pedagógica, contrapondo-se ao
texto desencadeou a situação-pro- silêncio/omissão. Nosso compromisso
blema que orienta a proposta dos na supervisão perpassa por concebê-la a

mudança educativa, a partir


encontros formativos em questão. serviço da docência, sobretudo, incen-
“Constatei que é urgente e prioritário tivando, valorizando e respeitando os
promover um itinerário formativo para diversos posicionamentos dos professores”

da promoção de reflexões
todos os professores da escola, oferecendo- afirma. “É imprescindível olhar a
-lhes uma oportunidade de aprendizagem escola /sociedade com os próprios olhos,
no contexto de atuação profissional, notadamente em contextos de crise”,
sendo que todos os envolvidos poderão reforça.
Pesquisadora Francisca Jandira Machado Neves relata experiência e observação da importância do diálogo como
aprender com seus pares, ampliando a
elemento essencial na construção de posicionamentos, na luta contra o autoritarismo e os conflitos
formação, tendo em vista o processo de Caminhada coletiva
fala e escuta, potencializado pelas tec- Francisca Jandira Machado
O diálogo é um dos elemen- incertezas, intensificadas pelo contexto partir da medida de isolamento social. A nologias de informação e comunicação”, Neves constata que não há prática
tos mais importantes da vida em da pandemia”, ressalta Francisca maioria dos governos fechou as escolas, descreve. educativa ausente de diálogos e
sociedade. Por este motivo, tem Jandira Machado Neves. com o propósito de conter a propaga- conflitos. Assim, lembra que existe
grande relevância para promover A pesquisadora baseia sua ção da pandemia. Além disso, alunos Construção uma linha tênue que separa esses
o entendimento e a resolução de análise em suas vivências de super- estão sendo impactados severamente no Do ponto de vista de Mo- dois elementos, o que significa que
conflitos que emergem no cotidia- visão e docência, tendo por refe- processo de ensino e de aprendizagem”, acir Gadotti e Sérgio Guimarães, essa linha desencadeia limitações,
no da escola, exigindo vivenciá-lo rência igualmente relevante o livro observa Francisca Jandira Macha- é evidente o poder que os profes- dúvidas e julgamentos. “De acordo
com dedicação e comprometimen- “Pedagogia: diálogo e conflito”, escrito do Neves. sores constroem intelectualmente com as concepções de Freire, o diálogo e o
to, a serviço da educação. Este é por Moacir Gadotti, Paulo Freire e No contexto da suspensão em sala de aula, quando assumem conflito fazem parte simultaneamente do
o pensamento da pesquisadora Sérgio Guimarães. De acordo com das aulas em todo o território o compromisso de promoverem processo pedagógico. Para Paulo Frei-
Francisca Jandira Machado Neves, Francisca Jandira Machado Neves, nacional, durante meses, as mudanças necessárias no am- re, o diálogo, a leitura, a compreensão
que afirma ser o diálogo um ato ao longo da leitura dos cin- Francisca Jandira Machado biente escolar. Nas vivências dos leitora e as relações sociais contribuem
pedagógico essencial na constru- co capítulos, percebe-se que a obra Neves viu a necessidade de organi- diálogos pedagógicos, a docência/ decisivamente para a promoção de uma
ção de posicionamentos, na luta contribui com discussões, no que zar e promover encontros forma- supervisão/gestão coletivamente ação educativa de caráter libertador para
constante contra o autoritarismo. tange aos processos prioritários tivos quinzenais de forma on-line. constroem saberes para materiali- todos os envolvidos no contexto educacio-
“A convivência entre os pares, sobretudo, de conquista de direitos políticos, “Os diálogos pedagógicos foram zar o ensino remoto, possibilitan- nal e social”, ressalta a pesquisadora.
no ambiente educacional, deve priori- notadamente os que dizem respei- concebidos numa perspectiva de do aos alunos a continuidade dos Ela completa que o diálogo
tariamente, perpassar pelo direito da to à educação. “O percurso dialógico formação continuada e permanen- estudos, como parte determinante pedagógico vivenciado autentica-
vivência do diálogo. Ele é primordial, foi desencadeado pelos questionamentos e te para a docência, considerando de valores primordiais a (re) cons- mente no ambiente escolar pacifi-
notadamente quando está a serviço da perguntas direcionadas para os autores prioritariamente, as demandas trução da escola. ca os possíveis conflitos, buscando
educação, gerando reflexão político-pe- durante as andanças pelo Brasil, fun- específicas dos docentes da “Vale sublinhar a capacidade na relação dialógica entre docência
dagógica; promovendo coletivamente o damentalmente, possibilitadas genui- instituição de ensino que atuo na humana de ressignificar a luta para e supervisão a superação dos con-
diálogo em prol da superação de confli- namente, por meio do diálogo”, reflete supervisão, no que concerne aos garantia do direito à educação, seja no flitos inerentes à prática educativa
tos, como parte determinante de valores Francisca Jandira Machado Neves. desafios do ensino remoto emer- ambiente presencial ou on-line. Foi isso por meio de uma conduta ética.
primordiais a (re) construção da escola gencial”, descreve a pesquisadora. que fizemos: juntos, construímos uma “Certamente, essas considerações
e, consequentemente, da sociedade”, Diálogo e conflitos “A materialização da prática educativa nova configuração de ensino por meio do colocam em evidência às experi-
analisa. De acordo com a pesquisa- parte de um novo contexto, que exige engajamento, mediado pelo diálogo peda- ências dos processos de ensinar e
Para ela, o diálogo se con- dora, ao tomar como referência dos professores um modelo de ensino no gógico, promovendo reflexões para uma aprender, dos processos de refletir,
trapõe ao silêncio ou à omissão, ao essa obra, fica evidente o debate qual não foi possibilitado na formação mudança educativa”, explica Francis- escrever, falar e escutar, estimu-
incentivar, valorizar e respeitar os sobre a importância do diálogo no inicial, saberes docentes/profissionais ca Jandira Machado Neves. lando a participação de alunos,
diversos posicionamentos, tendo cotidiano da escola, sem, no en- que os capacitassem a agir com mais A pesquisadora afirma que professores, gestão e supervisão
em vista que o diálogo proporcio- tanto, negar a existência dos con- desenvoltura/segurança nesse cenário de o conceito de diálogo em Freire é em favor das transformações de-
na perguntas, respostas, dúvidas flitos, especialmente nos tempos incertezas”, constata. muito forte, pois esclarece que só mocráticas da escola e, consequen-
e esperança. “O diálogo corresponde atuais. “O diálogo é práxis que pode Partindo dessa premissa, existe liberdade plena quando o temente, da sociedade, buscando
aos anseios e reivindicações educacionais transformar a escola. Todos os países en- com o coletivo da escola, Francis- indivíduo se liberta da consciência incessantemente a superação das
históricas de professores que precisam, frentam os desafios desencadeados desde ca Jandira Machado Neves ideali- ingênua, da ideologia dominante. injustiças educacionais e sociais”,
cotidianamente, comprometer-se com a o início da pandemia. Diversos setores zou os diálogos pedagógicos, com “O diálogo é uma expressão do pensa- finaliza Francisca Jandira Machado
mudança, sobretudo, em tempos de mais foram afetados, sobretudo a educação, a ênfase em estudos das metodolo- mento, que nos possibilita uma reflexão Neves.
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