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Os Planetas Como Símbolos de Impulsos Psíquicos
Os Planetas Como Símbolos de Impulsos Psíquicos
Os planetas são os símbolos mais puros de que dispomos para certos motivos
humanos e formas de conduta, e com base na sucessão dos planetas podemos
desenhar para nós mesmos um quadro do possível curso do desenvolvimento da
espécie humana. O Sol e a Lua representam um papel especial e distintivo no processo
de desenvolvimento. Apesar de não serem estritamente planetas, nós, astrólogos, os
chamamos assim para efeito de simplificação.
O Sol, como o centro, ao redor do qual tudo o mais no sistema solar gira, no
horóscopo representa o centro da parte consciente da Psique: O Ego. O ego é o ponto
de referência central com o qual todos os outros fatores do horóscopo têm de estar
ligados. Ele significa o impulso inato que cada pessoa tem de ser si própria, perceber-
se a si mesma e atingir autoconhecimento. Portanto, numa carta astrológica natal, o
Sol indica o caminho a ser seguido no trabalho de integração de outras instâncias do
psiquismo; a saber, em termos Junguianos, a Sombra, a Persona, o Animus e a Anima.
O signo no qual o Sol está localizado revela a mais profunda natureza de um indivíduo,
mas isso não significa necessariamente que ele se expressará na maneira característica
daquele signo. O Astro Rei simboliza o caminho perseguido, o propósito central, o que
a pessoa precisa ser em essência. Para Jung, o caminho da Individuação ( tornar-se Si
Mesmo). E o signo ocupado pelo Sol mostra a maneira na qual esse caminho pode ser
melhor seguido. Ao seguir plenamente o caminho indicado pelo seu Sol, uma pessoa
fica em posição de integrar as outras partes do horóscopo, não importando quão
incompatíveis possam ser.
Mas para que a Psique funcione e se desenvolva plenamente, é preciso que haja uma
função de ligação e codificação; uma ponte entre o consciente ( Sol) e o inconsciente
(Lua). É o planeta Mercúrio, da comunicação, que exerce essa função, formando uma
dinâmica unidade de ação e conexão entre todas as facetas psíquicas, conscientes e
inconscientes. Dessa forma, é criada a possibilidade de compreensão e integração
desses fatores. Regendo a comunicação e a expressão linguística, simboliza também o
conjunto de funções humanas associadas às atividades de pensar, refletir, analisar e
trocar informações com o meio ambiente. Sem Mercúrio, a sobrevivência de nossa
espécie em sua forma presente seria inconcebível. Este impulso psíquico no sentido de
absorver intelectualmente as experiências, processá-las racionalmente, descrevê-las
através de algum código de linguagem e transmiti-las aos outros ou a si mesmo, é
próprio das funções representadas por esse planeta num horóscopo natal.
Nesse ponto de sua jornada evolutiva, o homem deu-se conta das várias vontades
dentro de si que lutavam por se manifestar: a vontade de agir agressivamente (Marte),
a de encontrar segurança ( Vênus) e a de transcender o próprio corpo, comungando
com o mundo espiritual e religiosamente orientado ( Júpiter). A experiência de prazer
e dor nesse processo de luta interior garantiu o desenvolvimento de uma consciência
genuína. Essa consciência é representada por Saturno. Ele demarca o surgimento de
um ego consciente, resultado do confronto na psique entre os impulsos instintivos e o
processo de aprendizagem que os acompanha.
A função deste planeta na psique humana representa muito mais o processo de
formação do ego consciente do que o faz o próprio ego consciente ( O Sol), pois é
através do seu teste de realidade e das experiências frustrantes e restritivas contidas
em seu simbolismo que o indivíduo vai amadurecendo e ganhando sabedoria e força.
Saturno representa o aprendizado através da dor. Mediante a formação do ego
consciente, o ser humano também não pôde mais atribuir todas as suas motivações
inconscientes a incríveis seres e espíritos poderosos fora dele mesmo, como ainda
acontecia na fase Jupiteriana. Agora, é forçado a reconhecer as consequências de suas
atitudes e induzido a aprender a se responsabilizar pelo que acontece em sua vida.
Estes planetas são considerados “oitavas superiores” dos planetas Mercúrio, Vênus e
Marte. Em música, uma nota “oitavada” é estruturalmente a mesma nota, mas vibra
em frequência muito mais alta. Positivamente falando, o pensamento mercuriano, por
exemplo, que é tão envolvido com partes e pormenores, quando transformado em
pensamento uraniano, encontra uma necessidade de transpor os antigos limites e
estruturas, para novas dimensões além do mundo dos fenômenos. O amor de Vênus,
sempre tão pessoalizado e apegado à segurança, quando transformado em amor de
Netuno, vai aumentar em sensibilidade e compaixão, estendendo-se à toda a
humanidade. O destempero e a agressividade marcianos transformam-se em
poderosos autocontrole e poder psíquico plutonianos. O arquétipo do Guerreiro
transforma-se no do Xamã.
E se com Urano chegamos à ultrapassagem da antiga forma rígida para dar espaço ao
crescimento da individualidade e maturidade da personalidade humana numa nova
forma, com o planeta Netuno, chegamos a um estágio de dissolução de formas e
fronteiras e a um propósito de unidade indiferenciada com tudo o que vive. O fator
Netuno representa um grande aumento e refinamento da sensibilidade e uma
sutilização dos processos psíquicos até então existentes. Amor universal, empatia,
compreensão, calor e dedicação humana são típicos deste planeta. É a fonte no ser
humano da qual o artista talentoso e o religioso devoto extraem sua inspiração.
Em Netuno, o ego, como o centro da consciência, não é mais vivenciado como o centro
da psique; está agora integrado dentro da psique como parte do Self ( o Arquétipo da
Integração plena, Total). Conforme Jung, o ponto máximo que a psique humana pode
chegar. Dessa forma, pode participar de uma troca natural com o inconsciente, o
ponto inicial e final da vida. A fecunda qualidade de imaginação, a grande sensibilidade
e a intensa receptividade de Netuno podem se revelar de inestimável valor para a
transcendência da prisão da matéria e consequente desenvolvimento posterior da
consciência. Mas a função netuniana, se não bem integrada pela psique, pode levar a
mecanismos de fuga da realidade e refúgio num mundo de fantasias. Uso de drogas,
fanatismo ou ideais pseudo religiosos, alucinações e, numa forma mais extrema,
medos e fobias obsessivos, incompreensíveis e inexplicáveis, escapismo, instabilidade,
compreensão nebulosa, histeria e desilusões consigo mesmo e com os outros são
exemplos disso.
Ocorre que no processo de formação do ego, processo este simbolizado pelo planeta
Saturno, há um movimento de interrupção da ação livre de aspirações e desejos
instintivos. No entanto, essas energias não desaparecem da psique, mas são relegadas
às camadas mais profundas do inconsciente e lá permanecem, fervilhando, originando
o que em termos junguianos é chamado de Complexo de Poder. Tal complexo, que
representa energias muito poderosas, podendo conduzir o ser humano à ruína
completa ou a realizações fabulosas, é simbolizado astrologicamente pelo último
planeta: Plutão.
Como se pode perceber, esta energia tanto pode representar a cura quanto a
destruição psíquica, a nível individual e coletivo. Uma vez que o indivíduo toma
consciência, assume e integra em seu ego os conteúdos representados pela sombra,
pode considerar-se curado psiquicamente. Sabe que em seu ser residem Luz e
Escuridão, sendo preciso atravessar a segunda para chegar à primeira. No entanto, se
o indivíduo resiste ao reconhecimento consciente de sua sombra, insistindo num
processo de negação e racionalização de seus complexos, cairá em tendências
neuróticas, que é um outro modo de expressão plutoniano.
Também a nível coletivo, como humanidade, temos que lidar, integrando-os, com os
crimes cumulativos do ódio, do medo, da raiva, da ambição e do abuso do poder, da
natureza e da sexualidade cometidos ao longo de nossa história. Estes são os nossos
complexos coletivos e, como se fosse uma dívida externa, cada um de nós deve um
pouco. Plutão nos ensina também que há uma diferença entre as leis naturais e as leis
morais do ego. A Lei Cósmica é absoluta, e a natureza, mais forte do que nós.
Enquanto não considerarmos a natureza sagrada e santa e não reconhecermos a
presença do Espírito em cada um de nós, como nossos “ Mestres” nos ensinaram ao
longo dos séculos a fazer, teremos que purgar nosso Karma Coletivo, passando por
guerras, pragas e destruições as mais diversas. E já vivenciamos várias.