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Os Planetas como símbolos de impulsos psíquicos

Por: Leonardo Alvim Corrêa- Astrólogo e Psicólogo

De acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), o


termo “Inconsciente Coletivo” corresponde à incorporação de todos os tipos de
reações psíquicas e todas as experiências humanas desde os primórdios da
humanidade. Designa uma área da psique cujos conteúdos não são específicos dos
nossos egos individuais ou produtos da experiência pessoal, mas derivados da
estrutura cerebral herdada e do potencial herdado do funcionamento psíquico de um
modo geral. A hipótese presume que somos partes de nossos semelhantes e que
compartilhamos a mente inconsciente com todas as pessoas. Dentro do Inconsciente
Coletivo está situada a origem daqueles temas que o mundo inteiro tem em comum,
temas esses que desempenham um importante papel na psique individual. Tais temas
foram chamados por Jung de Arquétipos. Como exemplos temos: “ A Mãe”, “O Pai”, “O
Herói”, “O Mago”, “O Salvador”, etc.

. Os arquétipos estão armazenados no inconsciente coletivo sem forma específica,


podendo revelar-se de inúmeras maneiras no espírito humano. Cada arquétipo como
tal é um símbolo potencial, o que significa que a forma que ele assume quando se
manifesta pode ser representada por um símbolo. Também o repertório das idéias
astrológicas pode ser entendido como uma expressiva reunião ordenada de símbolos,
necessariamente assentados sobre uma fundamentação arquetípica. Os signos do
zodíaco, os planetas, as casas, etc. podem ser redescobertos na psique de todas as
pessoas; são arquétipos que assumiram formas definidas, representativas de material
e processos psíquicos com os quais o ser humano aprendeu a lidar ao longo dos
séculos.

Os planetas são os símbolos mais puros de que dispomos para certos motivos
humanos e formas de conduta, e com base na sucessão dos planetas podemos
desenhar para nós mesmos um quadro do possível curso do desenvolvimento da
espécie humana. O Sol e a Lua representam um papel especial e distintivo no processo
de desenvolvimento. Apesar de não serem estritamente planetas, nós, astrólogos, os
chamamos assim para efeito de simplificação.

O Sol, como o centro, ao redor do qual tudo o mais no sistema solar gira, no
horóscopo representa o centro da parte consciente da Psique: O Ego. O ego é o ponto
de referência central com o qual todos os outros fatores do horóscopo têm de estar
ligados. Ele significa o impulso inato que cada pessoa tem de ser si própria, perceber-
se a si mesma e atingir autoconhecimento. Portanto, numa carta astrológica natal, o
Sol indica o caminho a ser seguido no trabalho de integração de outras instâncias do
psiquismo; a saber, em termos Junguianos, a Sombra, a Persona, o Animus e a Anima.

O signo no qual o Sol está localizado revela a mais profunda natureza de um indivíduo,
mas isso não significa necessariamente que ele se expressará na maneira característica
daquele signo. O Astro Rei simboliza o caminho perseguido, o propósito central, o que
a pessoa precisa ser em essência. Para Jung, o caminho da Individuação ( tornar-se Si
Mesmo). E o signo ocupado pelo Sol mostra a maneira na qual esse caminho pode ser
melhor seguido. Ao seguir plenamente o caminho indicado pelo seu Sol, uma pessoa
fica em posição de integrar as outras partes do horóscopo, não importando quão
incompatíveis possam ser.

Se o Sol simboliza o centro do campo da consciência, a Lua significa o conteúdo do


inconsciente humano. Se o Sol representa o Propósito, o Futuro; A Lua representa o
Passado. São os padrões condicionados de resposta emocional que a pessoa
desenvolveu no correr da primeira infância, significando uma herança psíquica familiar
e social. Vai nos falar da nossa genuína natureza emocional. Enquanto o Sol nos
impulsiona a sermos plenamente nós mesmos, a Lua como significadora do
inconsciente e condicionado comportamento emocional humano, vai representar o
“fazer o que é esperado socialmente de nós”. Como regente do signo de Caranguejo, é
ligada ao passado e à tradição.

Mas para que a Psique funcione e se desenvolva plenamente, é preciso que haja uma
função de ligação e codificação; uma ponte entre o consciente ( Sol) e o inconsciente
(Lua). É o planeta Mercúrio, da comunicação, que exerce essa função, formando uma
dinâmica unidade de ação e conexão entre todas as facetas psíquicas, conscientes e
inconscientes. Dessa forma, é criada a possibilidade de compreensão e integração
desses fatores. Regendo a comunicação e a expressão linguística, simboliza também o
conjunto de funções humanas associadas às atividades de pensar, refletir, analisar e
trocar informações com o meio ambiente. Sem Mercúrio, a sobrevivência de nossa
espécie em sua forma presente seria inconcebível. Este impulso psíquico no sentido de
absorver intelectualmente as experiências, processá-las racionalmente, descrevê-las
através de algum código de linguagem e transmiti-las aos outros ou a si mesmo, é
próprio das funções representadas por esse planeta num horóscopo natal.

Vênus já representa uma outra dimensão da experiência humana, qual seja a de


atribuir valoração a tudo que é experienciado. A avaliação mental do que vivenciamos
ocorre através da função de Mercúrio e o lado afetivo do que vivenciamos é avaliado
pela função de Vênus. A necessidade de unir opostos, harmonizar e alcançar equilíbrio,
bem como a necessidade de segurança e pertencimento nos terrenos afetivo e
material, é próprio das funções psíquicas desse planeta. Vênus também vai nos
informar sobre o padrão global de organização, numa pessoa, dos aspectos “passivos”
de sua sexualidade e sensualidade, o desejo de ser desejada por seu objeto de afeto.
À esta necessidade de pertencimento e identificação do indivíduo com os valores
adotados pelo grupo social, vai opor-se a função do planeta Marte, que representa o
Diabolos, aquele que separa, divide. Na psique humana, representa o impulso de
afirmar e preservar sua individualidade, mantendo-se firme contra os outros. É o
primeiro passo na formação de um ego consciente e o primeiro ato de desligamento
da unidade e da mente do grupo. Simboliza também o pólo “ativo” da sensualidade e
sexualidade humanas, indicando o impulso de conquista do objeto desejado. Em
síntese, vai representar num horóscopo natal o padrão global de manifestação da
agressividade e assertividade, a capacidade de se envolver direta e pessoalmente com
qualquer experiência e o impulso sexual ativo.

No entanto, por sermos seres essencialmente gregários, o convívio harmonioso com os


outros é um dado vital para o nosso psiquismo . Dessa forma, tornou-se necessário em
nosso processo evolutivo encontrarmos um ponto de equilíbrio entre o instinto de
seguir os valores e normas do grupo ( Vênus) e a vontade do indivíduo de separar-se
desse grupo e desenvolver sua própria identidade ( Marte). Além disso, enquanto
permanecia sobre a influência dessas funções planetárias, o homem ficava sob o
estrito domínio dos instintos e da fisicalidade, o que também ameaçava sua
sobrevivência e evolução. Surgiu então a necessidade do surgimento de uma outra
função psíquica, o impulso Jupiteriano. Os impulsos instintivos foram gradualmente
sendo subordinados à influência modificadora de códigos morais, sociais e religiosos. A
crença religiosa tornou-se muito importante nesse contexto. A fé e os consequentes
dogmas, rituais, códigos de conduta e mandamentos proibitivos eram o fator mais
importante na canalização da agressão de Marte.

Júpiter representou um grande avanço no processo da socialização e evolução cultural


da humanidade, representando os impulsos internos relacionados à religião, filosofia,
direito e mais modernamente, aos “ conhecimentos superiores”, o espectro mais
amplo de conhecimentos. Este planeta está associado aos movimentos de
magnificação das coisas e processos através de longas viagens externas ( largos
deslocamentos da pessoa pela superfície terrestre) e internas ( aprofundamentos
especulativos e filosóficos), sempre como forma de ampliar o universo de referências
básicas de vida.

Nesse ponto de sua jornada evolutiva, o homem deu-se conta das várias vontades
dentro de si que lutavam por se manifestar: a vontade de agir agressivamente (Marte),
a de encontrar segurança ( Vênus) e a de transcender o próprio corpo, comungando
com o mundo espiritual e religiosamente orientado ( Júpiter). A experiência de prazer
e dor nesse processo de luta interior garantiu o desenvolvimento de uma consciência
genuína. Essa consciência é representada por Saturno. Ele demarca o surgimento de
um ego consciente, resultado do confronto na psique entre os impulsos instintivos e o
processo de aprendizagem que os acompanha.
A função deste planeta na psique humana representa muito mais o processo de
formação do ego consciente do que o faz o próprio ego consciente ( O Sol), pois é
através do seu teste de realidade e das experiências frustrantes e restritivas contidas
em seu simbolismo que o indivíduo vai amadurecendo e ganhando sabedoria e força.
Saturno representa o aprendizado através da dor. Mediante a formação do ego
consciente, o ser humano também não pôde mais atribuir todas as suas motivações
inconscientes a incríveis seres e espíritos poderosos fora dele mesmo, como ainda
acontecia na fase Jupiteriana. Agora, é forçado a reconhecer as consequências de suas
atitudes e induzido a aprender a se responsabilizar pelo que acontece em sua vida.

Saturno, como o último planeta visível a olho nu no Sistema Solar, encerra, no


desenvolvimento da psique humana, as fases que levam à formação de um ego
consciente e que são puramente pessoais no caráter. Uma nova dimensão é
acrescentada à psique pelos planetas Transaturninos: Urano, Netuno e Plutão. Sendo
esses fatores em essência impessoais, estão frequentemente além da compreensão da
parte pessoal da psique. Esses impulsos, próprios das camadas psíquicas mais
profundas, nos levam a entrar em contato com dimensões da realidade que não são
perceptíveis ou descritíveis através de nossas noções mais comuns de tempo e espaço
( Saturno). Representam elos de ligação do psiquismo individual com a dimensão
universal da vida e ao mesmo tempo com todas as formas de manifestação desta
mesma vida. Com certeza, ainda há muito a ser descoberto sobre essas influências.

Estes planetas são considerados “oitavas superiores” dos planetas Mercúrio, Vênus e
Marte. Em música, uma nota “oitavada” é estruturalmente a mesma nota, mas vibra
em frequência muito mais alta. Positivamente falando, o pensamento mercuriano, por
exemplo, que é tão envolvido com partes e pormenores, quando transformado em
pensamento uraniano, encontra uma necessidade de transpor os antigos limites e
estruturas, para novas dimensões além do mundo dos fenômenos. O amor de Vênus,
sempre tão pessoalizado e apegado à segurança, quando transformado em amor de
Netuno, vai aumentar em sensibilidade e compaixão, estendendo-se à toda a
humanidade. O destempero e a agressividade marcianos transformam-se em
poderosos autocontrole e poder psíquico plutonianos. O arquétipo do Guerreiro
transforma-se no do Xamã.

Urano significa o impulso de rompimento com antigos padrões e estruturas


cristalizadas, mantidos pela função de Saturno, com o intuito de substituí-los por
novos padrões e formas que proporcionarão à psique mais espaço para se
desenvolver. Antigas estruturas devem ser derrubadas a fim de abrir caminho para
algo melhor e mais agradável. Liberdade para auto expressão irrestrita e
incondicional, assim como a originalidade, singularidade e independência são típicos
dos fatores simbolizados por esse planeta. Se as circunstâncias nas quais o indivíduo
se encontra estão excessivamente restritas por regras e normas, essa função, presente
em todos nós, pode ficar muito suprimida e levar a situações explosivas, alarmantes e
grotescas. A função uraniana, se bem aproveitada, representa a oportunidade de
empreender novos e melhores inícios e a liberação de antigos laços e obrigações.

E se com Urano chegamos à ultrapassagem da antiga forma rígida para dar espaço ao
crescimento da individualidade e maturidade da personalidade humana numa nova
forma, com o planeta Netuno, chegamos a um estágio de dissolução de formas e
fronteiras e a um propósito de unidade indiferenciada com tudo o que vive. O fator
Netuno representa um grande aumento e refinamento da sensibilidade e uma
sutilização dos processos psíquicos até então existentes. Amor universal, empatia,
compreensão, calor e dedicação humana são típicos deste planeta. É a fonte no ser
humano da qual o artista talentoso e o religioso devoto extraem sua inspiração.

Em Netuno, o ego, como o centro da consciência, não é mais vivenciado como o centro
da psique; está agora integrado dentro da psique como parte do Self ( o Arquétipo da
Integração plena, Total). Conforme Jung, o ponto máximo que a psique humana pode
chegar. Dessa forma, pode participar de uma troca natural com o inconsciente, o
ponto inicial e final da vida. A fecunda qualidade de imaginação, a grande sensibilidade
e a intensa receptividade de Netuno podem se revelar de inestimável valor para a
transcendência da prisão da matéria e consequente desenvolvimento posterior da
consciência. Mas a função netuniana, se não bem integrada pela psique, pode levar a
mecanismos de fuga da realidade e refúgio num mundo de fantasias. Uso de drogas,
fanatismo ou ideais pseudo religiosos, alucinações e, numa forma mais extrema,
medos e fobias obsessivos, incompreensíveis e inexplicáveis, escapismo, instabilidade,
compreensão nebulosa, histeria e desilusões consigo mesmo e com os outros são
exemplos disso.

Ocorre que no processo de formação do ego, processo este simbolizado pelo planeta
Saturno, há um movimento de interrupção da ação livre de aspirações e desejos
instintivos. No entanto, essas energias não desaparecem da psique, mas são relegadas
às camadas mais profundas do inconsciente e lá permanecem, fervilhando, originando
o que em termos junguianos é chamado de Complexo de Poder. Tal complexo, que
representa energias muito poderosas, podendo conduzir o ser humano à ruína
completa ou a realizações fabulosas, é simbolizado astrologicamente pelo último
planeta: Plutão.

A função plutoniana faz aflorar de forma intensa esses conteúdos instintivos


reprimidos, forçando o indivíduo à liquidação ou transformação desses conteúdos
emergentes, por assimilação ou integração consciente dos mesmos. À grosso modo,
pode ser comparado ao pus que representam impurezas do organismo que precisam
sair para que este sare, como acontece nos processos de furúnculos. Penso que este
planeta, na teoria junguiana, tem muito a ver com o arquétipo da Sombra, onde estão
encerradas as mais primitivas forças vitais: agressividade, violência, territorialismo,
crueldade, instinto de dominação, etc. Sendo a oitava superior de Marte, representa
esta energia de forma bastante aumentada. Para que tenham uma idéia de sua
intensidade, lembremos que Plutão rege a energia atômica, capaz de destruir um
planeta inteiro.

Como se pode perceber, esta energia tanto pode representar a cura quanto a
destruição psíquica, a nível individual e coletivo. Uma vez que o indivíduo toma
consciência, assume e integra em seu ego os conteúdos representados pela sombra,
pode considerar-se curado psiquicamente. Sabe que em seu ser residem Luz e
Escuridão, sendo preciso atravessar a segunda para chegar à primeira. No entanto, se
o indivíduo resiste ao reconhecimento consciente de sua sombra, insistindo num
processo de negação e racionalização de seus complexos, cairá em tendências
neuróticas, que é um outro modo de expressão plutoniano.

Também a nível coletivo, como humanidade, temos que lidar, integrando-os, com os
crimes cumulativos do ódio, do medo, da raiva, da ambição e do abuso do poder, da
natureza e da sexualidade cometidos ao longo de nossa história. Estes são os nossos
complexos coletivos e, como se fosse uma dívida externa, cada um de nós deve um
pouco. Plutão nos ensina também que há uma diferença entre as leis naturais e as leis
morais do ego. A Lei Cósmica é absoluta, e a natureza, mais forte do que nós.
Enquanto não considerarmos a natureza sagrada e santa e não reconhecermos a
presença do Espírito em cada um de nós, como nossos “ Mestres” nos ensinaram ao
longo dos séculos a fazer, teremos que purgar nosso Karma Coletivo, passando por
guerras, pragas e destruições as mais diversas. E já vivenciamos várias.

Podemos concluir então que os planetas transsaturnianos ( Urano, Netuno e Plutão)


simbolizam o novo conteúdo transpessoal da psique, que o homem deve procurar
integrar em sua mente consciente, um processo que certamente levará muitas
gerações para ser completado. Parece que estamos em uma encruzilhada como
humanidade. E como disse com tanta justeza o mestre espiritual indiano Osho, à nós
só resta hoje uma alternativa, ou o suicídio global ou o maior despertar espiritual que
o mundo jamais conheceu. Forte, mas verdadeiro.

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