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FACULDADE DA REGIÃO SERRANA

DIREITO CIVIL

MARCOS VINICIUS SILVA DE JESUS

RESPONSABILIDADE CIVIL: QUANDO NÃO HÁ RESPONSABILIDADE?

DUQUE DE CAXIAS – RJ
2022
RESPONSABILIDADE CIVIL: QUANDO NÃO HÁ RESPONSABILIDADE?

Marcos Vinicius Silva de


Jesus 1

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo o estudo da Responsabilidade Civil, que


trata-se do dever de ressarcir o prejuízo causado a outro, seja moral ou
patrimonial, em razão do descumprimento de uma obrigação, partindo-se do
princípio de que o interesse jurídico é violado em virtude do descumprimento
de uma norma jurídica já existente, seja ela contratual ou não, buscando a lei,
reconstituir o ordenamento jurídico infringido, lesado pela outra parte. No
entanto, é preciso destacar que há no ordenamento pátrio as causas que
geram a irresponsabilidade, ou seja, as excludentes da responsabilidade e
estas, precisam estar claras, visto que, tendo como resultado um dano, não
geram, contra o agente, pretensões indenizatórias. As causas excludentes da
responsabilidade civil atacam diretamente os elementos da responsabilidade
civil, fazendo-a inexistir. Ocorre sempre que há um fato externo, ou seja,
heterônomo, que leva a ocorrer algo que, mesmo diante de ação do agente,
não se originou de sua própria vontade, ou seja, não foi espontânea, não
nasceu de sua autodeterminação. Como forma de compreensão do tema
apresentado, utilizou-se de uma metodologia de análise bibliográfica,
utilizando-se de doutrinas e da legislação pátria para o desenvolvimento do
mesmo.

Palavras-chave: Responsabilidade civil; elementos da Responsabilidade Civil;


Excludentes de Responsabilidade.

1
Pós graduando em Direito Civil. E-mail: mvpenal@yahoo.com
1.INTRODUÇÃO

Considerando que a responsabilidade advém da violação de uma


obrigação preexistente, entende-se, dessa forma, ser um dever jurídico
sucessivo já consolidado pela doutrina pátria. Assim sendo, imperativo é a
recomposição do dano decorrente de um dever jurídico originário que afetará
diretamente o autor da ação lesiva.
Para tanto, deve-se conhecer os requisitos da responsabilidade civil
que originariamente advém dos artigos 186 e 187 do Código Civil Brasileiro,
que definem o ato ilícito, fato gerador do dever ou não de indenizar.
O presente artigo científico teve por objetivo a compreensão da
Responsabilidade Civil e as causas que geram a irresponsabilidade, ou seja, as
excludentes da responsabilidade.
Como forma de compreensão do tema apresentado, utilizou-se de uma
metodologia de análise bibliográfica, utilizando-se de doutrinas e da legislação
pátria para o desenvolvimento do trabalho.
É certo que, para que seja abordado o presente tema, há que ser
ponderado a responsabilidade nos seus primórdios, como o seu surgimento
pelo descumprimento de uma obrigação preexistente, bem como os requisitos
para sua caracterização e as causas excludentes, cuja quais removem a
responsabilidade do causador do dano.
Dessa forma, imperioso se torna a apresentação do tema, tendo como
intuito a aproximação da realidade, visto que, fora do âmbito meramente
jurídico, no plano da realidade, não se pode imputar ao agente culpa lato sensu
quando sua conduta for determinada por alguma causa excludente de
responsabilidade.
Ademais, o Direito não deverá, neste sentido, intervir na motivação de atos
inofensivos, que não transcendam a pessoa do agente, da mesma forma que
não poderá culpá-lo de algo, quando a vontade para aquela conduta não
houver sido autônoma.
2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Teoria Geral da Responsabilidade Civil

Entende-se por responsabilidade, o dever de ressarcir o prejuízo


causado a outro, seja moral ou patrimonial, em razão do descumprimento de
uma obrigação. A responsabilidade tem seu primórdio na Lei de Talião, a qual
diz que o autor de um delito devia sofrer castigo igual ao dano por ele causado,
posteriormente substituída no processo evolutivo, em que passam todas as
leis, pela Lei das XII Tábuas, que possibilitava à vítima, a seu critério e a título
de pena, uma importância, por meio de uma solução transacional, em dinheiro
ou outros bens, de forma que, ainda, evitasse que o autor do delito sofresse a
aplicação de uma pena proporcional ao dano causado como previa a Lei de
Talião. (TELLES JR., 2009, p. 326)
A responsabilidade civil tem por base, basicamente, que: “toda
manifestação humana traz em si o problema da responsabilidade”. A
responsabilidade civil parte do princípio de que o interesse jurídico é violado
em virtude do descumprimento de uma norma jurídica já existente, seja ela
contratual ou não. A lei busca reconstituir o ordenamento jurídico infringido,
lesado pela outra parte. (STOCO, 2004, p.119)
Desta feita, a responsabilidade é o corolário da faculdade de escolha e
de iniciativa que uma pessoa possui no mundo fático, irá submetê-la, ou a seu
patrimônio, aos resultados de suas ações, que, quando contrária a ordem
jurídica, irão gerar na esfera civil, a obrigação de ressarcir o dano causado, ao
atingir componentes pessoais, morais ou patrimoniais da esfera jurídica de uma
outra pessoa. Tal fato tem fundamento no art. 927 do Código Civil Brasileiro,
que aduz “Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.”.
Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a teoria da responsabilidade
civil procura determinar em que condições uma pessoa pode ser considerada
responsável pelo dano sofrido por outra e em que medida está obrigada a
repará-lo. A reparação do dano é feita por meio da indenização, que é quase
sempre de forma financeira, ou seja, sob pecúnia. O dano pode ser à
integridade física, ou moral da pessoa.
Para Venosa (2011) a responsabilidade civil pode ser definida como:
A responsabilidade civil é sempre uma obrigação de reparar danos:
danos causados à pessoa ou ao patrimônio de outrem, ou danos
causados a interesses coletivos, ou transindividuais, sejam estes
difusos, sejam coletivos strictu sensu (VENOSA, 2011, P. 5)

Avaliando este conceito, verifica-se que o mesmo tem seus alicerces


afixados sobre a culpa, que é um dos principais elementos da responsabilidade
civil.
Outra alusão sobre o tema é de Cavalieri Filho (2014, p.14) que define
responsabilidade civil nos seguintes pontos:
Em apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico
sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de
um dever jurídico originário. Só se cogita, destarte, de
responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e
dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir
o prejuízo decorrente da violação de um precedente dever jurídico
(CAVALIERI FILHO, 2014, p. 14).

Diferente da posição de Maria Helena Diniz, o autor tem como modelo


pré-definido o dever jurídico, dilatando, de certa forma, a definição, pois, nestes
termos toda conduta humana que vier violar o dever jurídico e causar estrago
para outro, pode ser objeto de reparação de danos.
Dessa forma, o termo responsabilidade advém de um dever jurídico
sucessivo, ou seja, deriva do descumprimento de uma obrigação originária.
Neste sentido, sustenta Cavalieri Filho (2014, p.15) que: “Sem violação de um
dever jurídico preexistente, portanto, não há que se falar em responsabilidade
em qualquer modalidade, porque esta é um dever sucessivo decorrente
daquele”.
Observa-se, portanto, que há a necessidade da violação de uma
obrigação primária para que caracterize a responsabilidade em responder pelo
descumprimento de tal violação. A responsabilidade, desse modo, é um dever
jurídico sucessivo derivado da violação de uma obrigação primária.
Acerca deste tema de responsabilidade, preconiza o mestre Stoco (2004,
p.118) como: “[...] a necessidade que existe de responsabilizar alguém por
seus atos danosos”.
Diante disso, é certo que para se responsabilizar alguém, é necessário,
primeiro, descobrir aquele a quem a lei imputou a obrigação, eis que não há
que se falar em responsabilização sem a violação de uma obrigação
preexistente.
Por fim, observa-se que referente à posição adotada por Gagliano e
Pamplona Filho (2008, p.9):
(...) a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade
danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma
jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa
forma, às consequências do seu ato (obrigação de reparar)
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2008, p.9).

Como se pode notar a definição tem como critério a ilegalidade, como


padrão para o estabelecimento da responsabilidade civil. Todavia a culpa não é
um elemento geral e, sim, um elemento considerado acidental.
Mesmo com os diferenciados posicionamentos dos doutrinadores
citados, é conclusivo que os principais elementos da responsabilidade civil são
a conduta ou ato humano onde há noção de voluntariedade, podendo ser ela
positiva ou negativa (ação ou omissão), o nexo de causalidade que é o vínculo
que une a conduta humana ao resultado danoso; e por fim o dano ou prejuízo
que onde há prejuízo a um interesse jurídico tutelado, material ou moral. Para
que um dano seja indenizável é preciso obedecer a algumas regras, violação
de um interesse jurídico material ou moral, certeza de dano, mesmo dano
moral tem que ser certo e deve haver a subsistência do dano.
O que há em comum entre estas citações é a obrigação da reparação
como efeito necessário evidente das condutas humanas, visando o
restabelecimento, das situações que precediam a ocorrência do evento lesivo.
Assim, pode-se definir a responsabilidade civil como a consequência jurídica
que recai sobre todo aquele, seja pessoa física ou jurídica, que, culposamente,
causa danos materiais, morais ou qualquer outra espécie de dano, obrigando-o
a repará-los.

2.1.1 Responsabilidade Civil Objetiva

Por responsabilidade civil objetiva, entende-se ser toda ação ou


omissão causadora de um dano que independa da culpabilidade. Para
corroborar ou retificar esse entendimento, ver-se-á alguns entendimentos de
responsabilidade civil objetiva de alguns doutrinadores.
Venosa (2011, p.14), entende sobre o instituto da responsabilidade
civil objetiva como: “[...] somente pode ser definida como objetiva a
responsabilidade do causador do dano quando este decorrer de “atividade
normalmente desenvolvida” por ele. “
Gonçalves (2010, p.48), por sua vez, diz:
[...] a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde da
culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta
teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é
indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo
de causalidade, independentemente de culpa. (GONÇALVES, 2010,
p.48).

Lessa Giordani (2007, p.14) sustenta que: “A responsabilidade civil


objetiva, por sua vez, não exige a demonstração da culpa, bastando a vítima
comprovar que houve um dano decorrente da conduta do agente. “
Diante de tais entendimentos, há que se observar que a
responsabilidade civil objetiva nem sempre estará vinculada diretamente ao
causador do dano, uma vez que ela decorre do ato ilícito, do abuso de direito e,
ainda, por alguém diverso daquele que praticou a ação como, nos atos dos
incapazes, atos de terceiros, fato de animais, circulação de produtos, nos atos
dos agentes públicos, e outros.

2.1.2 Da Responsabilidade Civil Subjetiva

Para que se seja caracterizada a responsabilidade civil subjetiva, faz-


se mister frisar a necessidade do elemento culpa do agente, além do dano e do
nexo de causalidade entre a conduta do agente e o referido dano.
Gonçalves (2010, p.48) diz:
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na
ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto
necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a
responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu
com dolo ou culpa.

Neste sentido, é necessário a configuração da culpa de forma que a


vítima possa receber a reparação pelo dano efetivamente causado. Desta
maneira fica visível que é necessário que a vítima comprove a culpa do
causador do dano para que então se fale em dever de indenizar por parte do
lesante. Neste diapasão sustenta Cavalieri Filho (2014, p.32): “A ideia de culpa
está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra, ninguém
pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o
dever de cautela em seu agir”.

2.2 DAS CAUSAS DE IRRESPONSABILIDADE

As causas excludentes de responsabilidade civil são situações que, ao


ocorrer, tendo como resultado um dano, não geram, contra o agente,
pretensões indenizatórias. Diferentemente das causas concorrentes, que,
conforme o art. 945 do Código Civil, diminuem a responsabilidade, as causas
excludentes realmente excluem, ou fulminam qualquer pretensão indenizatória.
Tal fato se dá no intuito de aproximação da realidade, visto que, fora do âmbito
meramente jurídico, no plano da realidade, não se pode imputar ao agente
culpa lato sensu quando sua conduta for determinada por uma dessas
situações.
O Direito não deverá, neste sentido, intervir na motivação de atos
inofensivos, que não transcendam a pessoa do agente, da mesma forma que
não poderá culpá-lo de algo quando a vontade para aquela conduta não houver
sido autônoma.
As causas excludentes da responsabilidade civil atacam diretamente os
elementos da responsabilidade civil, fazendo-a inexistir. Ocorre sempre que há
um fato externo, ou seja, heterônomo, que leva a ocorrer algo que, mesmo
diante de ação do agente, não se originou de sua própria vontade, ou seja, não
foi espontânea, não nasceu de sua autodeterminação.

2.2.1 Caso Fortuito ou Força Maior

O caso fortuito como o próprio nome diz, decorre de algo que não está
ao alcance humano, acontecendo independente das vontades das partes
envolvidas. Este caso, advém de uma situação adversa ocorrendo um fato
impossível de ser evitado, não só pelo agente, mas por qualquer outra pessoa
que passe por esta situação. Já na força maior, o caso pode ser previsível,
porém é inevitável. Apesar de ser ter o conhecimento de que aquilo poderá
acontecer, o agente não tem meios para evitar mais danos, ocorrendo um nexo
fora da relação entre o agente e a vítima. Há fundamento destes dois casos no
Código Civil, em seu art. 393, que diz o seguinte: “O devedor não responde
pelos prejuízos resultantes de caso fortuito e força maior se expressamente
não se houver por eles responsabilizado”.
Conclui-se, portanto, que sempre que uma situação é inevitável, ou
seja, independe das vontades das partes, se caracteriza como causa
excludente da responsabilidade civil, apresentando, neste caso, como caso
fortuito ou força maior.

2.2.2 Estado de Necessidade

O estado de necessidade ocorrerá quando da ofensa do direito alheio


(deterioração ou destruição de coisa de outrem ou lesão à pessoa de terceiro)
para remover perigo iminente, quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário e quando não exceder os limites do indispensável
para a remoção do perigo.
Dispõe, acerca deste tema, o art. 188, inciso II do Código Civil, 2002:
Art. 188: Não constituem atos ilícitos: I – omissis (...) II - a
deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim
de remover perigo iminente (BRASIL, CÓDIGO CIVIL, 2002).

Em outras palavras, pode-se auferir do estado de necessidade como


sendo medida adotada em momento de perigo iminente, com o intuito de
remover o perigo.

2.5.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal

Há que se entender como estrito cumprimento do dever legal, toda


ação praticada pelo agente que o ordenamento jurídico “autoriza”, de forma
indireta, a prática de determinado ato que possa provocar danos, desde que
este ato tenha sido necessário para proteger a integridade de pessoas ou
prejuízos patrimoniais maiores do que o (s) provocado (s).
Neste entendimento, vislumbra-se, por exemplo, o bombeiro militar que
necessita em vários momentos derrubar uma porta, quebrar uma janela,
destruir parcialmente uma parede para pôr fim a um incêndio residencial, tendo
em vista que estes atos desde que não praticados desnecessariamente, ou de
forma abusiva, não gerarão pretensão indenizatória.
Nesta seara, pode-se auferir que o estrito cumprimento do dever legal
se aplica, geralmente, aos agentes públicos, uma vez que estes agem em
nome do interesse público ao restringir ou afetar, diretamente, determinados
direitos de particulares.
Dessa maneira, ao agir dentro do estrito cumprimento do dever legal,
os agentes públicos ficam isentos de responsabilização civil. Apesar de via de
regra, ser o estrito cumprimento do dever legal ser reconhecido pela atuação
de agentes públicos, este ainda poderá isentar de responsabilidade civil os
responsáveis legais de menores, visto que têm, conforme ordena o Código
Civil, deveres para com eles.
Serão tais deveres, conforme o art. 1.634 do Código:
Art. 1634: Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua
situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste
em, quanto aos filhos: I – dirigir-lhes a criação e educação; II – tê-los
em sua companhia e guarda; III – conceder-lhes ou negar-lhes
consentimento para casarem; 26 IV – nomear-lhes tutor por
testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V –
representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e
assistilos, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento; VI – reclamá-los de quem ilegalmente os
detenha; VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
serviços próprios de sua idade e condição (BRASIL, CÓDIGO CIVIL,
2002).

Por derradeiro, de uma maneira geral, o estrito cumprimento do dever


legal abrange os atos praticados por agentes públicos que visam proteger a
integridade de pessoas ou causar o menor prejuízo possível a patrimônios. No
entanto, verifica-se outra abordagem do estrito cumprimento do dever legal, no
que tange ao poder familiar, onde pais, curadores, tuteladores, gozam,
também, deste instituto para infringir aos filhos ou menores sob sua guarda sua
dignidade, liberdade e demais direitos fundamentais.
2.5.4 Exercício Regular de Um Direito

Neste sentido, sobre o tema acima descrito, traz o Código Civil: “Art.
188. Não constituem atos ilícitos: I – os praticados em legítima defesa ou no
exercício regular de um direito reconhecido” (BRASIL, CÓDIGO CIVIL, 2002).
Sendo assim, verifica-se que todo indivíduo que atua respaldado pelo
direito não poderá por ele ser atacado ou repreendido. Não há, por
conseguinte, como gerar pretensão indenizatória por dano causado por
aqueles indivíduos que exercitam, de maneira regular, seus direitos.
A fim de demonstrar o tema abordado, cita-se, como exemplo, a
inserção nos órgãos de constrição ao crédito de uma pessoa que quedou-se
inadimplente com as faturas do contrato firmado com a empresa seja de
telefonia ou não. Neste caso, a empresa age no exercício regular de direito ao
inserir o nome da pessoa no rol de inadimplentes, para assegurar o
cumprimento do contrato avençado entre as partes. Há a presença do exercício
regular de direito, ainda, na chamada “violência esportiva”, na qual os
participantes consentiram com a possibilidade de ferirem-se. Cita-se, como
exemplo, o discípulo de arte marcial, que, em combate com seu par, o fere
moderadamente, sem, contudo, estar obrigado a indenizá-lo, haja vista ter
agido no exercício regular de direito.
O exercício de direito que seja praticado abusivamente, gera
responsabilidade para o agente que praticou tal ato, bem como pretensão
indenizatória para o prejudicado. Vislumbra-se, neste caso, o médico que, para
coagir o paciente a deixá-lo realizar intervenção cirúrgica, utiliza de violência.
Vê-se, portanto, a necessidade de que o exercício regular seja de direito
reconhecido, sem que exclua a responsabilidade, mas respeitando orientações
religiosas ou éticas de qualquer tipo.

2.5.5 Fato de Terceiro

A causalidade dentro deste fato é provocada por uma terceira pessoa


que se omite ou age em desfavor a vítima, desta forma á a exclusão da
responsabilidade civil, pois o fato foi não foi provocado pelo agente. Nestes
casos, uma força exterioriza a inserção quebrando o nexo de causalidade entre
a conduta do agente e o resultado, já que a conduta que provocou o dano
acabou por não partir do agente. Apenas se configura o fato de terceiro se a
conduta de terceiro for o fator dominante e exclusivo da lesão sofrida. Sílvio de
Salvo Venosa (2011, p.70) discorre que: Entende-se por terceiro, nessa
premissa, alguém mais, além da vítima e do causador do dano. Na relação
negocial, é mais fácil a conceituação de terceiro, pois se trata de quem não
participou do negócio jurídico (VENOSA, 2011, p.70)
O terceiro nada mais é do que aquele que não tem nenhuma ligação
com o agente que provocaria o dano, por este motivo o senta de qualquer ato
de indexar, pois quebra o nexo de causalidade da ação.

2.5.6 Cláusula de Não Indenizar

É o acordo onde as partes excluem o agente devedor de indenizar,


esta cláusula tem por objetivo minimizar o princípio de riscos no contrato, em
casos de inadimplemento da obrigação onde acontece a chamada liberdade
contratual. Trata-se da exoneração do dever do autor de indenizar e reparar o
dano. Nessa situação, os riscos são contratualmente delongados para a vítima.
Dispõe Gonçalves (2010, p.475) que: Clausula de não indenizar é o
acordo de vontades que objetiva afastar as consequências da inexecução ou
da execução inadequada do contrato. Tem por função alterar, em benefício do
contratante, o jogo de riscos, pois estes são transferidos para a vítima. As
exceções neste caso são aquelas em que não se prova a igualdade entre as
partes envolvidas, declarando que há presunção de hipossuficiência do
consumidor.
Podemos observar este fato no Art. 25 do Código de defesa do
consumidor:
É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite,
exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nas seções
anteriores. § 1º Havendo mais de um responsável pela causação do
dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista
nesta e nas Seções anteriores.
O que se induz em importância é o interesse público. O contratado
deve corresponder aos prazos e acordos estipulados, sob pena de não receber
o valor firmado pela parte do contratado. Nessas circunstâncias, se atualizada
a cláusula de não indenizar, será ela considerada nula.
2.5.7 Culpa Exclusiva da Vítima

Nestes casos o agente nada influencia no fato danoso sofrido pela


vítima, desaparecendo a relação de causa e efeito. Caracteriza-se pela ação
ou omissão voluntária recebida pela própria vítima, que age em
desconformidade e imprudência com o que lhe foi proposto. A culpa da vítima
pode ser distinta de forma exclusiva ou concorrente, a primeira situação
acontece quando ocorre o fato por culpa exclusivamente da vítima levando
assim o agente da responsabilidade, já na segunda hipótese o ato da vítima
não é suficiente para a produção do efeito danoso, somente quando aliada à
conduta do agente concorre para que o dano seja provocado.

Pela análise de Gonçalves (2010, p.463), pode completar que a culpa


exclusiva da vítima trata-se de:
Quando o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima,
desaparece a responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de
existir a relação de causa e efeito entre o seu ato e o prejuízo
experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que, no caso de culpa
exclusiva da vítima, o causador do dano não passa de mero
instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato
e o prejuízo da vítima.

Já a culpa concorrente da vítima na visão do mesmo doutrinador é


considerada:
Há casos em que a culpa da vítima é apenas parcial, ou concorrente
com a do agente causador do dano. Autor e vítima contribuem, ao
mesmo tempo, para a produção de um mesmo fato danoso. É a
hipótese, para alguns, de “culpas comuns”, e, para outros, de culpa
“concorrente” (Gonçalves, 2010, p.463).

Diante do exposto, fica comprovado que não é o grau de culpa em si


que causa a extinção da responsabilidade, mas sim a efetiva participação dos
dois agentes na produção do evento que poderá causar o dano que deve
motivar o dever de indenizar.
3. CONCLUSÃO

Com a realização do presente trabalho foi possível a compreensão


acerca da Responsabilidade Civil, compreendendo ser esta um dever jurídico
sucessivo, ou seja, que deriva do descumprimento de uma obrigação originária
para que caracterize a responsabilidade em responder pelo descumprimento
de tal violação.
Foi possível cumprir com o objetivo de estudo das causas excludentes
de responsabilidade civil, com a compreensão de se tratar de situações que, ao
ocorrer, tendo como resultado um dano, não geram, contra o agente,
pretensões indenizatórias.
Ademais, foi possível concluir que o Direito não deverá, neste sentido,
intervir na motivação de atos inofensivos, que não transcendam a pessoa do
agente, da mesma forma que não poderá culpá-lo de algo quando a vontade
para aquela conduta não houver sido autônoma.

REFERÊNCIAS

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