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Secretaria de

Direitos Humanos
Presidência da República

Presidenta da República Diretora Executiva


Dilma Rousseff Cássia Valéria de Castro

Vice- presidente da República Secretário Executivo


Michel Temer Nilton Moreira Rodrigues
Ministra de Estado Chefe da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República
Ideli Salvati

Secretario Executivo
Claudinei Nascimento

Secretaria Nacional de Promoção e


Defesa dos Direitos Humanos
Patrícia Barcelos

Editoras Responsáveis
Debora Diniz
Malu Fontes

Conselho Editorial
Cristiano Guedes
Florencia Luna
Maria Casado
Marcelo Medeiros
Marilena Corrêa
Paulo Leivas
Roger Raupp Rios
Sérgio Rego
Metodologia e panorama das notícias
Lina Vilela

A pesquisa que orientou as análises deste livro baseou-se


em um universo de notícias publicadas em veículos impressos de
circulação regional e nacional e em plataformas digitais. Foram
recuperadas notícias relacionadas ao tema dos direitos sexuais
durante seis meses, de 1º de janeiro a 30 de junho de 2013.
O monitoramento foi possível por meio de um clipping que
montou uma base de dados sobre diversidade sexual, recuperando
notícias de jornais e revistas, além de entrevistas, cartas de
leitores, notas e artigos de opinião.

A homofobia, como é conhecido esse tipo de violência, pode


ser descrita como a atitude de discriminação, de hostilidade geral,
psicológica ou social a indivíduos fora da heteronormatividade
(Borrillo, 2009). Ela pode aparecer em diversas formas de violência
na linguagem cotidiana — piada, injúria, estigmatização  —
e também de violência corporal — agressão, estupro, tortura,
assassinato. A discussão da violência em razão da orientação
sexual da vítima e em relação à identidade de gênero e aos
direitos sexuais é um tema cada vez mais presente nas agendas
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políticas dos governos e sua incorporação pela cultura dos direitos


humanos. Além disso, é um desafio político de justiça assumido
abertamente por muitos países. Os veículos de comunicação
têm um papel central nesse processo, pois a divulgação de
informações e a publicação de opiniões configuram ferramentas-
chaves de promoção da igualdade e de direitos. No entanto,
as notícias podem funcionar também como reprodutoras de
preconceitos, desqualificando determinados grupos e reforçando
moralidades segregadoras.

As notícias foram selecionadas e analisadas em duas fases.


A primeira fase consistiu na busca das notícias relacionadas ao
tema de direitos sexuais e violência homofóbica. Para essa busca,
foram utilizadas palavras-chaves como: adoção gay, adoção
por pessoas do mesmo sexo, bissexual, casamento entre pessoas
do mesmo sexo, casamento gay, cirurgia de mudança de sexo,
fertilização artificial, gay, hermafrodita, homofobia, homossexual,
intersexo, lésbica, LGBT, mudança de nome, nome social,
pedofilia, poligamia, transexual, travesti, união civil. Utilizou-se
um vocabulário amplo com o intuito de recuperar o maior número
possível de histórias de violência. Com essas palavras-chaves,
foram recuperadas 20.767 notícias. Excluíram-se do processo de
análise as notícias em que o texto se repetia integralmente, ou seja,
quando a mesma notícia era publicada por veículos diferentes.
Foram excluídas também notícias classificadas como fora do
escopo, como as programações culturais de cinemas, novelas e
teatros. Do total das notícias recuperadas, 8.744 foram excluídas
por serem repetidas, e 5.556, por serem consideradas fora do
escopo, reduzindo a amostragem para 6.467 notícias válidas.

A segunda fase compreendeu a elaboração de categorias-


chaves, a classificação e a análise das notícias recuperadas. As
pesquisadoras fizeram a leitura e avaliação de cada notícia.
As 6.467 notícias válidas foram catalogadas nas seguintes
categorias-chaves: casamento entre pessoas do mesmo sexo;

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direitos das pessoas não heterossexuais; violência homofóbica;


cirurgia de mudança de sexo; adoção por casais não heterossexuais;
mudança do nome ou nome social; fertilização ou reprodução
assistida; direitos civis (herança, sucessões, previdência etc.);
bullying/homofobia nas escolas; e direitos relacionados à saúde.
O amplo conjunto de notícias que, embora retratassem o tema
LGBT, não se encaixavam nessas categorias foi catalogado como
outros (Quadro 1). Com base nessa catalogação, foi possível
reconhecer os recortes e as frequências com que as notícias
abordaram o tema dos direitos sexuais e da homofobia.

Quadro 1 Categorias-chaves das notícias analisadas

Categoria Número de notícias Frequência


Casamento entre pessoas do mesmo 2.365 37%
sexo
Direitos das pessoas não 2.215 34%
heterossexuais
Violência homofóbica 241 4%
Cirurgia de mudança de sexo 137 2%
Adoção por casais não heterossexuais 70 1%
Mudança do nome ou nome social 64 1%
Fertilização ou reprodução assistida 17 0,3%
Direitos civis (herança, sucessões, 12 0,2%
previdência etc.)
Bullying/homofobia nas escolas 11 0,2%
Direitos relacionados à saúde (exceto 8 0,1%
direitos reprodutivos e cirurgias de
mudança de sexo)
Outros 1.327 20%
Fonte: Observatório sobre Direitos Sexuais nas Mídias Brasileiras — Anis/SDH-PR, 2014.

Das categorias selecionadas, elegeram-se dois temas para


análise em profundidade neste livro: violência homofóbica e
bullying/homofobia nas escolas, com 241 (4%) e 11 notícias (0,2%),
respectivamente. Na análise dessas notícias, recuperaram‑se
informações sobre o tipo de violência praticada contra a
população LGBT, a frequência, o local e o período em que esta
ocorreu, além de dados demográficos sobre vítimas, sobreviventes

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e agressores. Foram também coletadas informações sobre a


existência de fotos, charges e fluxogramas nas notícias, sobre
a aparição de celebridades e sobre a história de vida dos sujeitos
agredidos e seus agressores. As notícias foram quantificadas
e classificadas com o objetivo de traçar um mapa de como se
apresenta o tema dos direitos sexuais, com foco em violência
homofóbica e bullying, nas notícias. Dada a maior concentração
de notícias em torno do tema da violência homofóbica, os
capítulos deste livro exploraram seus significados e sentidos.

Perfil dos dados

Das 6.467 notícias analisadas, 4.648 (72%) eram referentes


ao Brasil, 1.797 (28%) eram referentes a outros países e 22 (0,3%)
não traziam essa informação. As cinco unidades da Federação
mais presentes foram: Distrito Federal, em 1.289 notícias (28%);
São Paulo, em 644 (14%); Rio de Janeiro, em 337 (7%); Bahia,
em 131 (3%); e Pernambuco, em 106 (2%). Os cinco veículos
mais comuns foram G1, com 306 (5%) notícias; Folha.com, com
209 (3%); Folha de S.Paulo, com 172 (3%); Correio Braziliense,
com 159 (3%); e O Globo, com 156 (2%).

As notícias sobre violência e bullying homofóbicos


identificaram 304 vítimas. Quando identificadas, as vítimas
eram majoritariamente descritas como homens brancos, jovens
e gays, que sofreram discriminação ou violência corporal
uma única vez de madrugada, em vias públicas, por homens
heterossexuais desconhecidos, ou em boates, por seguranças
também heterossexuais. As mais retratadas foram os gays, 175
(58%), seguidas pelas lésbicas, 46 (16%), pelas transexuais
mulheres, 27 (9%), e pelas travestis, 23 (8%). As faixas etárias das
vítimas eram: 49 (17%) de 20 a 24 anos; 25 (8%) de 25 a 29 anos;
34 (11%) de 30 a 39 anos; e 30 (10%) de 40 a 49 anos; 143 (47%)
não tiveram sua idade informada. Em sua maioria, 235 (77%),
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as notícias não mencionaram a cor das vítimas. Quando houve


menção, elas eram descritas como brancas 42 (61%); negras,
14 (20%); pardas, 11 (16%); e amarelas, 2 (3%). Não havia nas
notícias referência às histórias de vida de 277 (91%) vítimas. Além
disso, 167 (66%) das notícias de violência e bullying homofóbicos
não tinham fotografia ou imagem da vítima.

Há poucas informações sobre os 367 agressores presentes


nas notícias: 235 (64%) foram descritos como homens
heterossexuais; 18 (5%), como mulheres heterossexuais; e 10
(3%), como gays; 92 (25%) notícias não traziam tal informação
e 12 (3%) mencionavam outras orientações sexuais. O número
de agressores relatado variou: apenas um agressor, em 100 (40%)
notícias; dois agressores, em 48 (19%); e mais de dois agressores,
em 32 (13%). Ainda sobre os agressores, 300 (82%) não tiveram
a faixa etária informada nas notícias, 28 (8%) tinham de 20 a 24
anos e 12 (3%) tinham de 15 a 19 anos; nas outras faixas etárias,
havia 22 agressores (6%).

A maioria das agressões, 224 (89%), não apareceram


vinculadas a eventos sociais amplos; 8 (3%) delas eram
ligadas ao carnaval; 4 (2%) eram associadas a paradas gay; e
3 (1%) eram relacionadas a manifestações e passeatas. Além
disso, a maior parte das agressões sofridas, 146 (48%), foram
classificadas como violência discriminatória, seguidas de lesões
corporais, 112 (37%), homicídios, 81 (27%), latrocínios, 12
(4%), roubos, 7 (2%), e violências sexuais e injúrias, com 6 (2%)
cada. Cabe destacar que uma notícia poderia ser classificada
em mais de uma categoria. Sobre os 367 agressores, 211 (58%)
não foram identificados quanto à sua relação com a vítima, 28
(8%) foram identificados como profissionais de restaurantes, bares
ou boates; 16 (4%), como políticos; 16 (4%), como clientes sexuais;
29 (8%), como estudantes; 13 (4%), como colegas de trabalho;
12 (3%), como celebridades; e, como vizinhos, conhecidos,
companheiros, policiais e grupos religiosos, 5 (1%) cada.

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Ética na pesquisa

O material analisado é de circulação pública e produzido


por noticiadores. A identificação nominal ou visual de vítimas,
sobreviventes, testemunhas e agressores seguiu o regime de
inscrição adotado pelas notícias. Assim, há casos de personagens
cujo nome foi apresentado de diferentes maneiras nas notícias;
optamos por reproduzir essa diversidade de registros, pois é
expressiva para um debate sobre reconhecimento da violência
e do luto. Além disso, um dos capítulos do livro analisou as
imagens de vítimas, sobreviventes e testemunhas. A reprodução
das imagens nesta obra, como citação das fontes noticiosas,
segue a legislação brasileira de direitos autorais. Os sobreviventes
cujas imagens foram reproduzidas e os familiares das vítimas
referenciados nas notícias foram informados sobre a realização da
pesquisa e o uso das imagens neste livro.

R eferências

Borrillo, Daniel. A homofobia. In: Lionço, Tatiana; Diniz, Debora (Org.).


Homofobia & educação: um desafio ao silêncio. Brasília: LetrasLivres;
Editora da UnB, 2009. p. 15-46.

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