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SEXUALIDADE ATRAVÉS DAS LINHAS DE FUGA: A HOMOSSOCIABILIDADE

NO APLICATIVO GRINDR.

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA DE GÊNERO, SEXUALIDADE E DIFERENÇA, NO PROGRAMA


DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA – PPGA, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA
PARAÍBA – UFPB.

CRUZ, Bruno Maciel Leal.1

RESUMO: O presente trabalho trata sobre os processos de controle da sexualidade como


um sistema de dominação, fazendo um breve apanhado histórico da elaboração do modelo
binário masculino/feminino, sustentado pela religião, medicina e ciência, e tem por objetivo
demonstrar como os sujeitos desviantes à “normalidade” buscam a experimentação de sua
sexualidade através de instrumentos mediativos no ciberespaço. A partir da fundamentação
da performatividade de gênero, foi possível observar no aplicativo Grindr a criação de um
território como uma linha de fuga à heteronormatividade, identificando como os sujeitos
performatizam e constroem suas identidades para serem apreciados pelo outro e assim
possam experimentar seus desejos sexuais.
Palavras-chave: Performatividade, Desejo, Cibercultura, Grindr, Homossocialidade.

ABSTRACT: The present work deals with the processes of control of sexuality as a system
of domination, making a brief history of the development of the male / female binary model,
supported by religion, medicine and science, and aims to demonstrate how deviant subjects
to "normality" seek the experimentation of their sexuality through mediative instruments in
cyberspace. Based on the basis of gender performativity, it was possible to observe in the
Grindr application the creation of a territory as a line of escape from heteronormativity,
identifying how individuals performatize and construct their identities to be appreciated by the
other and thus can experience their sexual desires.
Key words: Performativity, Desire, Cyberculture, Grindr, Homossociality.

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB,
brunomacielleal@gmail.com.
INTRODUÇÃO

Os indivíduos são os fabricantes e protagonistas dos diversos níveis de


sociabilidade, nos diferentes contextos dos quais fazem parte. Tais relações são
compostas por inúmeras características que possibilitam uma similitude entre os
sujeitos, favorecendo o contato e uma conseguinte troca de conhecimentos e
experiência, bem como que as características dessa sociabilidade surgem a partir de
construções sociais onde os indivíduos cumprem seus papeis anteriormente
estabelecidos, a fim de serem aceitos entre os demais e consequentemente
manterem os laços estabelecidos.
Tais construções não surgem aleatoriamente e são perceptíveis em estruturas
que, segundo Pierre Bourdieu (2010), são estruturantes e previamente estruturadas,
exercendo um poder simbólico que é invisível e ignorado, mas é reproduzido por
aqueles que estão sujeitos a ele. Tal poder simbólico, mesmo não visto, gera uma
mobilização a tal ponto de ter sua validade reconhecida, mesmo que sua força não
seja aparentemente sentida pelos indivíduos (BOURDIEU, 2010).
Apesar desse poder controlador e repressivo estabelecer uma moralidade
impositiva, o sujeito, em suas mais variadas esferas, é movido por vontades nessa
relação com o outro e com o mundo, permanecendo em uma busca constante na
direção de sua saciedade para obter o prazer.
Nessa composição, o desejo sexual não estaria às margens da essência do
ser, mas está marginalizado ante a repressão social e moral como forma de
controle, e todos estão sujeitos aos mecanismos repressivos que suprimem os
comportamentos fora do padrão estabelecido. Age sobre os indivíduos uma força
que controla as intensidades do prazer e os comportamentos, fazendo com a
liberação desse poder seja tardia e, mesmo assim, continue difícil de expressar
através da linguagem (FOUCAULT, 1988).
Dessa forma, o ciberespaço funcionaria como espaço mediativo dos desejos
socialmente invizibilizados. Os sujeitos, por meio de artefatos mediativos, produzem
frestas, fendas, linhas de fuga, pelas quais a existência ativa se transforma em
vivência real de zonas de contatos desejantes, ou seja, há uma atualização do
virtual por meio da experimentação do corpo e do desejo.
Nesse contexto, aplicativos de encontros, como o Grindr, são cada dia mais
usados como meios pelos quais os sujeitos podem experimentar os desejos. Neles,
o território ganha uma nova significação que vai além do espaço físico atualizado,
criando um ambiente propício aos encontros furtivos produzidos nas frestas de uma
moralidade “bem-dita”. Esses afetos “mal-ditos” correspondem a transgressão dos
bem-dizeres característicos da heteronormatividade, criando assim uma rede de
socialização dos desejos que potencializam uma afetividade homossocializadora.

Movimento histórico de liberação da sexualidade

Há tempos, a sexualidade humana é controlada de modo a dividir, organizar e


controlar a sociedade com base no sexo biológico. Historicamente, temos, nos
séculos XVI e XVII, um notável controle do estado e da igreja católica sobre as
práticas sexuais dos indivíduos a fim de obter uma melhor eficiência econômica,
onde o cristianismo foi um dos principais responsáveis pelo imperativo normativo
que regulava homens e mulheres através do controle de seus corpos e suas almas
(MUCHEMBLET, 2007).
No século XVIII, era considerada uma aproximação da natureza animalesca
quando o indivíduo pensava sobre si levando paixões e prazeres em consideração,
tendo em vista que, dessa forma, sua alma não seria salva (MUCHEMBLET, 2007),
mas foi no século XIX que a rigidez e o controle tornaram-se muito mais intenso,
durante o reinado da Rainha Vitória na Inglaterra, o qual ocorreu no período da
Revolução Industrial.
Nesse conturbado momento, que ficou conhecido como Era Vitoriana, houve
uma intensa rigidez e controle sobre a sexualidade, a qual foi tolhida e restrita
somente ao ambiente familiar através do matrimônio, onde o casal era legitimado e
tinha a função tão somente de procriar, mantendo tal assunto em segredo e
restringindo suas práticas ao quarto (FOUCAULT, 1999).
O controle do sexo e da sexualidade não ficou amparado somente na
expressão religiosa, mas foi além e buscou uma fonte de legitimação e afirmação
diante do discurso científico. A partir desse momento, os resultados dos estudos
eram carregados de um discurso moralizante, destacando as doenças sexualmente
transmissíveis e as patologizações de comportamentos como doenças mentais e
aberrações, estabelecendo uma sexualidade controlada e uma harmonia
heteronormatizadora e direcionada às funções reprodutivas (COURTINE et al.,
2011).
O modelo binário adotado perpassou toda construção social, onde se via
somente as possibilidades de homem ou mulher, colocando o feminino em uma
posição de passividade e inferioridade com relação ao masculino, pois o falo era
carregado de potência e virilidade enquanto a vagina era involuída e o clitóris era
visto como uma anomalia. O discurso psicanalítico de Freud no final do século XIX,
colocava o pênis como o centro do prazer e que as sexualidades deveriam se
organizar em torno dele, onde a mulher, quando criança, praticaria a masturbação
com estimulação do clitóris e, quando adulta, privilegiaria a penetração do pênis
através de uma relação de submissão (COURTINE et al., 2011).
A parcial liberação sobre o corpo só começa a dar seus primeiros sinais no
século XX, quando se colocar em pauta os questionamentos acerca do prazer
feminino e do lugar da mulher na sociedade, tendo em vista que esses dois pontos
associavam a mulher ao trabalho doméstico e baixa capacidade intelectual em
comparação aos homens. Por outro lado, essa liberação ocorre com as devidas
amarras, com a medicalização do corpo feminino e, mais uma vez, colocando a
mulher em uma posição de corpo controlado e alvo de políticas públicas desde a
infância até a maternidade, sendo um dos motivos do desenvolvimento de
contracepção química para as mulheres (COURTINE et al., 2011).
Nesse percurso histórico, a força do discurso sobre a sexualidade saiu em
partes do monopólio religioso e passou para a tutela da academia, onde a ciência é
produzida através de verificação e comprovação de experimentos, onde os corpos
sexuados foram rotulados e tratados como amostras científicas. Não por acaso, a
ciência é produzida por quem está em uma posição privilegiada para construir o que
chamam de verdades, colocando o outro como objeto passível de análise e inapto a
se demonstrar representado e visto por si mesmo, o que, consequentemente, sujeita
a validade da verdade somente sob as perspectivas produzidas em laboratório
(HARAWAY, 1995).
A parcialidade do ponto de vista científico é fruto de uma moralidade e
ideologias que regem as pesquisas, tendo em vista que, para se estudar algo, é
necessário que se tenha um interesse e se parta de uma hipótese que se busca
negar ou confirmar, como afirmava Max Weber, que não era um positivista, e trouxe
um postulado muito importante para as ciências sociais, quando tratava sobre uma
neutralidade axiológica precisa e sistemática, tendo em vista que, para ele, não
havia valores objetivos e o ponto de vista do pesquisador era fundamental em uma
investigação científica (LOWY, 1994). Ademais, as questões de gênero e
sexualidade sempre foram observadas sob viés biológico para se chegar a
respostas objetivas que reiterassem um sistema de dominação heteronormativo,
branco, opressor e voltado para o modelo ideal de família, excluindo, violentamente,
todas as possibilidades de existência que não mantivessem de pleno acordo com
essa estrutura.
Essa estrutura repressora colocou como desvio e aberração a
homossexualidade na idade média, pautando-se, inicialmente, no discurso religioso
que denominou como sodomita o homem que praticava sexo com outro homem,
baseando na história bíblica da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra,
como castigo pela grande quantidade de relações homossexuais que ali ocorriam
(LONGARAY; RIBEIRO, 2009). No século XIX, o homossexual é colocado como
uma espécie ante a incorporação das perversões ao indivíduo, senão vejamos:

Nada daquilo que ele é, no fim das contas, escapa à sua


sexualidade. Ela está presente nele todo: subjacente à todas as suas
condutas, já que ela é o princípio insidioso e infinitamente ativo das
mesmas; inscrita sem pudor na sua face e no seu corpo, já que é um
segredo que se trai sempre. [...] A homossexualidade apareceu como
uma forma das figuras da sexualidade quando foi transferida, da
prática da sodomia, para uma espécie de androgenia interior, um
hermafroditismo da alma. O sodomita era um reincidente, agora o
homossexual é uma espécie. (FOUCAULT, 1999, p. 43)

A partir do século XX, os homossexuais se beneficiaram dos movimentos


libertários feministas, dando importantes passos para um reconhecimento que ainda
estaria muito longe de acontecer, passando por ondas de aceitação e discriminação.
Em 1968, a Organização Mundial de Saúde – OMS incluiu como transtorno
psiquiátrico o homossexualismo, utilizando o sufixo “ismo” como caracterização e
patologização de uma doença, recorrendo, para tanto, de formas de “cura”
perversas, como lobotomia e eletrochoque, e somente em 1974 a Associação
Americana de Psiquiatria exclui a homossexualidade do rol de transtornos mentais,
mas a OMS só retira do Código Internacional de Doenças – CID em 1990
(COURTINE et al., 2011).
Se por um lado houve uma luta para se ter voz, houve muita clandestinidade
entre os homossexuais no século XX, como ocorreu nas décadas de 1950 e 1960
nos Estados Unidos, as quais foram marcadas por uma forte repressão aos
homossexuais e intensa vigilância policial nos locais freqüentados por gays e
lésbicas. Em 28 de junho de 1969, em Nova Iorque, houve uma batida policial no bar
Stonewall Inn, onde os agentes foram revistar o estabelecimento e os
frequentadores. Ademais, nesta noite houve resistência por parte dos
frequentadores e um enfrentamento à polícia através de uma verdadeira rebelião,
conhecida como Revolução de Stonewall, e essa data é comemorada mundialmente
como Dia do Orgulho Gay (FRY; MCRAE, 1985).
Nesse sentido, movimentos que lutam por reconhecimento são de extrema
importância até os dias atuais, para libertação dos poderes exercidos sobre o sexo e
sobre o corpo e que muitas vezes não estão expressos em forma de lei, mas se
instituem através de um isolamento de sexualidades, colocando-as em zonas
periféricas e tipificado indivíduos para submetê-los a uma intervenção
heteronormatizadora através do controle dos prazeres (FOUCAULT, 1999).

A identificação de si e a experimentação do desejo através de uma experiência


homossocializadora no ciberespaço

O processo de formulação de uma identidade homossexual pelo sujeito é algo


discutido desde meados da década de 1970, quando se buscou estabelecer um
processo cronológico que vai desde a infância, quando a criança experimentaria
sensações e emoções que vão de encontro ao seu papel de gênero e as confusões
se estenderiam até a adolescência, momento no qual ocorreriam os primeiros
contatos com o outro que se identifica homossexual, e somente na fase adulta
haveria uma estabilidade e aceitação da própria homossexualidade (SIMÕES,
2003).
Ademais, esse processo não é linear como se costumava defender, pois
existem várias possibilidades de identificação pessoal quando se trata de gênero,
que desvincula o caráter biológico e evolutivo:

[...] a sexualidade é, na verdade, uma “construção social”, uma


invenção histórica, a qual, naturalmente, tem base nas possibilidades
do corpo: o sentido e o peso que lhe atribuímos são, entretanto,
modelados em situações sociais concretas. Isso tem profundas
implicações para nossa compreensão do corpo, do sexo e da
sexualidade, implicações que precisamos explorar. (WEEKS, 2010,
p. 40)
A sexualidade é, nesse sentido, a conjunção da subjetividade do indivíduo
com as expectativas e regulações da sociedade, intimamente unidos pelo do corpo
que a externaliza através de suas potencialidades, evidenciando que a sexualidade
não é uniforme e unificada diante da complexidade de estruturas que a modelam em
relações de resistência e subordinação (WEEKS, 2010).
O desejo faz parte da sexulidade do indivíduo, tendo em vista que, segundo
Gilles Deleuze e Felix Guattari (2004), o ser humano é uma máquina composta de
diversas outras máquinas, que se ligam e se conectam umas às outras, movidas
pelos fluxos e desejos que se estabelecem, através de um regime associativo e
sempre ligadas umas às outras e, entre essas máquinas desejantes, as conexões
são estabelecidas através dos sentidos e órgãos que também são máquinas que o
compõem, havendo uma interpretação de mundo a partir do próprio fluxo, onde o
desejo é a realidade e produtor da mesma, nada lhe falta, não tem sujeito fixo, não é
produto, é produção.
Entretanto, o desejo é normatizado socialmente a fim de ser contido e
utilizado como instrumento de controle e repressão, de tal maneira que é previsível
que haja uma demora para se manifestar a liberação desse poder, tendo em vista
que essa repressão é histórica, firmemente enraizada e age de maneira rigorosa
sobre os indivíduos (FOUCAULT, 1999). Tal normatização está ligada à moral, esta
concebida como um conjunto de regras e valores transmitidos de forma explícita ou
difusa, onde a contenção do prazer é feita por um processo longo de aprendizagem,
controlando o desejo até em suas formas mais profundas (FOUCAULT, 1998).
Além disso, a repressão do desejo está ligada à construção de gênero na
sociedade, através de mecanismos disciplinares e reguladores. Tal construção se dá
através de signos corporais, comportamentos, gestualidade, desejos direcionados, a
fim de criar uma identidade de gênero heterossexual, dominador e aparente e
superficialmente estável. Butler defende ainda que esse conjunto de atos é a
performatividade, a qual é realizada pelo sujeito e se configura através de uma
repetição estilizada para manter a divisão binária de gênero entre homem e mulher
(BUTLER, 2003).
Tal caráter heterossexual dominante é imposto de forma constante e
permanente, onde o corpo se torna instrumento performativo da representação da
identidade de gênero, haja em vista que há uma constituição de inúmeras
disposições corporais moduláveis que fazem parte do desenvolvimento, para que
haja uma socialização e consequente pertencimento de um indivíduo em seu grupo
social (LE BRETON, 2007).
O controle sobre os corpos está presente em todas as formas de organização
social, modulando os comportamentos a fim de estabelecer uma adequação ao
modelo binário homem /mulher. O espaço físico, nesse sentido não se torna livre de
um planejamento espacial, conforme afirma Paul Beatriz Preciado (2006) sobre a
arquitetura dos banheiros adotada no século XX:

En el siglo XX, los retretes se vuelven auténticas células públicas de


inspección en las que se evalúa la adecuación de cada cuerpo con
los códigos vigentes de la masculinidad y la feminidad. En la puerta
de cada retrete, como único signo, una interpelación de género:
masculino o femenino, damas o caballeros, sombrero o pamela,
bigote o florecilla, como si hubiera que entrar al baño a rehacerse el
género más que a deshacerse de la orina y de la mierda. No se nos
pregunta si vamos a cagar o a mear, si tenemos o no diarrea, nadie
se interesa ni por el color ni por la talla de la mierda. Lo único que
importa es el GÉNERO. (PRECIADO, 2006, p. 1)

Em contrapartida, o ciberespaço funciona como um território fluido que se


constrói possibilitando que a existência ativa do sujeito seja transformada em uma
vivência real, onde, através de instrumentos mediativos, são criadas fendas dentro
da moralidade heteronormatizadora, possibilitando que corpos e desejos sejam
experimentados pelo sujeito.
A mobilidade dos smartphones permite que aplicativos de relacionamento,
como o Grindr, criem um ambiente propício aos encontros furtivos entre esses
sujeitos do gênero masculino, através da criação do território onde o indivíduo está,
formando assim uma rede que possibilita a socialização dos desejos e a
potencialização de uma afetividade homossocializadora. Antigamente, o sujeito
precisava recorrer à ambientes propícios a encontros dos pares, como bares
específicos, saunas, cinemas pornô, entre outros que lhes possibilitasse o contado e
a experimentação dos desejos, identificando através de marcas corporais e
gestualidades quem estaria aberto à troca de experiências. Toda essa trajetória e
esforço foram suprimidos pelo Grindr, que utiliza a geolocalização do aparelho para
identificar usuários próximos, permitindo a troca de mensagens com qualquer outro
perfil que ali apareça.
No aplicativo, o usuário pode preencher informações como orientação sexual,
tipo físico, peso, altura, cor da pele, preferência sexual como ativo ou passivo, tipo
físico que procura, entre outras informações, mas verifica-se claramente que o
anonimato é algo bastante valorizado nesse ambiente. Dificilmente algum usuário
utiliza uma fotografia de rosto em seu perfil, mostrando tão somente partes
desnudas de seu corpo com o objetivo de se fazer ver e despertar o desejo do outro.
Após iniciar uma conversa, é comum enviar imagens de rosto acompanhadas de
fotos dos órgãos genitais como atributos para ter e manter a atenção outro, seguidas
de questionamentos sobre preferências durante o ato sexual, tamanho do pênis,
entre outros.
Os perfis aparecem em ordem do mais próximo ao mais distante, permitindo
que haja uma interação homossocializadora em ambientes considerados “hétero”,
edifícios, praias, restaurante, ou seja, qualquer lugar se torna uma zona de contatos
desejantes. Essa nova forma de territorialização que permite uma afetividade
homossocializadora em sentido amplo, reconfigurando as formas que os indivíduos
se enxergam na sociedade e exercem sua sexualidade.
No ciberespaço, a reterritorialização também pode ser pensada com o
objetivo de transpor o espaço físico, propondo uma nova territorialização do corpo e
da heteronormatividade, onde minorias viram multidão em uma resistência à
imposição da “normalidade” (PRECIADO, 2011). Esse ambiente possibilita uma
performatividade de gênero que vai de encontro às políticas do sexo que reduzem
ao binarismo masculino/feminino, permite a produção do corpo como um texto
escrito de uma forma mais particular e que contraria a “coerência” dominante
(PRECIADO, 2014), fazendo do smartphone uma prótese onde não se distingue a
representação da verdade da própria verdade, confunde o que é “real” e artificial,
torna a imagem do sujeito um produto elaborado por ele mesmo, uma construção de
uma construção.

BIBLIOGRAFIA

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BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Ed. 2003.
COURTINE, Jean-Jaques. et al. História do corpo. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de
Janeiro: Graal, Ed. 13. 1999.
FRY, Peter; MCRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense,
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HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo
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PRECIADO, Beatriz. Basura y género mear/cagar: masculino/femenino.
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