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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO CENTRO DE ENSINO DE BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE


COMPROMETIMENTO PELA POLÍCIA MILITAR DE SANTA
CATARINA EM OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO A TOMADA
DE REFÉNS

RODRIGO GUSTAVO DUARTE DEWITZ

FLORIANÓPOLIS (SC)
2008
RODRIGO GUSTAVO DUARTE DEWITZ

A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE


COMPROMETIMENTO PELA POLÍCIA MILITAR DE SANTA
CATARINA EM OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO A TOMADA DE
REFÉNS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Segurança Pública pela
Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Major PM Marcelo Cardoso

FLORIANÓPOLIS (SC)
2008
RODRIGO GUSTAVO DUARTE DEWITZ

A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE


COMPROMETIMENTO PELA POLÏCIA MILITAR DE SANTA
CATARINA EM OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO A TOMADA DE
REFÉNS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua


forma final pela Coordenação do Curso de Segurança Pública da Universidade do
Vale do Itajaí, em 07 de outubro de 2008.

Prof. Msc. Moacir José Serpa


Coordenador do Curso
Univali – CEJURPS Biguaçu

Banca examinadora:

Maj PMSC Marcelo Cardoso, Esp.


Professor Orientador

Ten PMSC Julival Queiroz Santana, Esp.


Membro

Ten PMSC Edgar De Paris Neto, Esp.


Membro
Dedico este trabalho ao meu avô, Manoel Vilmar
Duarte, que me apoiou e foi exemplo em cada
momento de minha vida.
AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Márcia Duarte, por todo apoio,


educação e oportunidades que me foram
proporcionadas.

Ao meu padrasto, Cel RR Araken Silva Santiago,


pela confiança depositada em mim, pelos
experientes conselhos e por todo apoio que me foi
dado, indo muito além de suas obrigações.

Aos meus avós, Manoel Vilmar Duarte e Ivone


Pinheiro Duarte, que nunca mediram esforços para
me auxiliarem e sempre torceram pelas minhas
conquistas.

Aos meus amigos, companheiros de jornada, com os


quais dividi inúmeros momentos de alegria e que
foram suporte nos momentos difíceis.

Ao meu orientador, Maj Marcelo Cardoso, pela


paciência e comprometimento demonstrado nas
orientações para elaboração deste trabalho.

Ao Ten Edgar De Paris Neto por todo auxílio e


compartilhamento de conhecimentos.

Ao Ten Santana por ter aceitado o convite de fazer


parte da banca examinadora.

Ao Sgt. Flávio e ao Sd.Vitalino, Atiradores de Elite do


Comando de Operações de Busca Resgate e
Assalto, por todas as informações repassadas.

A Polícia Militar de Santa Catarina, que possibilitou a


minha formação acadêmica e profissional.
Porque, por definição o Homem de guerra é nobre. E
quando ele se põe em marcha à sua esquerda vai a
coragem, e à sua direita a disciplina. (Moniz Barreto,
1893)
RESUMO

A Polícia Militar de Santa Catarina atua em seu dia-a-dia com diversas situações que
colocam a segurança da sociedade em risco. Dessas, uma das mais preocupantes
que se deve considerar é a tomada de reféns. Ocorrências deste nível ressoam
pesadamente na imprensa e na sociedade, exigindo que o aparato policial não deixe
margem para erro nesses tipos de operações. O gerenciamento de crises, nesse tipo
de evento, deve primar pela negociação como alternativa de solução, para que
sejam poupadas vidas, sejam elas dos reféns ou dos seqüestradores. Porém,
quando cessadas as negociações, é no tiro de comprometimento, executado pelo
atirador, que se vê uma primeira alternativa viável para a solução da crise. Essa
alternativa tática ainda gera diversas discussões quanto a sua legalidade jurídica e
legitimidade que dá ao atirador de elite o amparo para agir. Diferentemente do sniper
militar, que efetua um tiro com o intento de abater e neutralizar um inimigo, o atirador
de elite policial busca salvar vidas, portanto sua atividade se reveste de profundo
profissionalismo. Muitas críticas recaem sobre essa alternativa tática, alegando que
a morte do agente causador da crise pelo estado é tão grave quanto o próprio crime
cometido por ele. Este trabalho se reveste de importância, pois busca esclarecer os
aspectos doutrinários na utilização do atirador de elite policial, sempre quando
esgotadas as alternativas não-letais de solução da crise, e principalmente,
demonstrar os aspectos legais que dão ao sniper a legitimidade para agir dentro do
ordenamento jurídico nacional.

Palavras-chave: Legitimidade. Atirador de Elite. Tiro de Comprometimento.


ABSTRACT

The Military Police of Santa Catarina acts in their day-to-day with various situations
that put the safety of society at risk. Of those, one of the most worrying is that with
the taking of hostages. Events this level resonate heavily in the press and society,
demanding that the police apparatus does not leave room for error in these types of
operations. The management of the crisis in this kind of event, should have the
negotiation in frontline of the alternative to solution so that lives are saved, whether
the hostages or the kidnappers. But when the negotiations do not develop, is the
shooting of commitment, run by the sniper, who is a first viable alternative to solving
the crisis. This tactical alternative produces various discussions about its legality and
legitimacy that gives the shooter refuge for the act. Unlike the military sniper, which
makes a shot with the intent to kill and neutralize an enemy, the police sniper search
of saving lives, so their activity is of great professionalism. Much criticism has
focused on the alternative tactic, claiming that the death of the agent causing the
crisis by the state is so serious as the actual crime committed by him. This work is of
importance because search clarify the doctrinal aspects of the use of police sniper,
always acting when exhausted the non-lethal alternatives to solve the crisis, and
above all, demonstrate the legal aspects that give the sniper the legitimacy to act
within the national legal system.

Key-words: Legitimacy. Sniper. Shooting of Commitment.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BOPE Batalhão de Operações Policiais Especiais

CATE Curso de Ações Táticas Especiais

COBRA Comando de Operações de Busca Resgate e Assalto

COCH Curso de Operações de Choque

COESP Curso de Operações Especiais

FAB Força Aérea Brasileira

OPM Organização Policial Militar

PMSC Polícia Militar de Santa Catarina


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Bulbo Raquidiano como alvo em diferentes posições. ............................... 38


Figura 2: Modelo Flect de uso progressivo da força.................................................. 43
Figura 3: Modelo Remsberg de uso progressivo da força. ........................................ 44
Figura 4: Modelo Canadense de uso progressivo da força. ...................................... 45
Figura 5: Modelo Nashville de uso progressivo da força. .......................................... 45
Figura 6: Modelo Phoenix de uso progressivo da força. ........................................... 46
Figura 7: Modelo Básico de Uso Progressivo da Força. ........................................... 47
Figura 8: Fuzil IMBEL AGLC completo com equipamentos para sniper. ................... 72
Figura 9: Fuzil SIG 551 utilizado pelos atiradores do C.O.B.R.A. ............................. 73
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1TEMA ............................................................................................................... 13
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................... 13
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 14
1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 14
1.4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 14
2 ASPECTOS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE.................................................. 16
2.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE ..... 16
2.1.1 Conceito.................................................................................................. 16
2.1.2 Histórico ................................................................................................. 17
2.2 ATIRADOR DE ELITE MILITAR...................................................................... 19
2.2.1 Conceito.................................................................................................. 19
2.2.2 Emprego e Missão ................................................................................. 19
2.3 ATIRADOR DE ELITE POLICIAL.................................................................... 21
2.3.1 Conceito.................................................................................................. 21
2.3.2 Emprego e Missão ................................................................................. 22
2.4 GENERALIDADES .......................................................................................... 24
2.4.1 Aspectos Técnicos ................................................................................ 24
2.5 SNIPER POLICIAL NO CONTEXTO DO GERENCIAMENTO DE CRISES ... 28
2.5.1 Responsabilidade na Decisão .............................................................. 31
2.5.2 Responsabilidade na Execução ........................................................... 34
2.6 TIRO DE COMPROMETIMENTO ................................................................... 36
2.6.1 Conceito.................................................................................................. 36
2.6.2 Disparo e Alvo ........................................................................................ 36
3 A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE COMPROMETIMENTO .......... 39
3.1 CONCEITOS ................................................................................................... 39
3.1.1 Legalidade .............................................................................................. 39
3.1.2 Legitimidade ........................................................................................... 40
3.2 USO DE FORÇA LETAL NA ATIVIDADE POLICIAL ...................................... 41
3.2.1 Modelos de Uso da Força...................................................................... 42
3.3 TIRO DE COMPROMETIMENTO E O CONCEITO DE CRIME...................... 47
3.4 EXCLUDENTES DE ILICITUDE E O TIRO DE COMPROMETIMENTO ........ 50
3.4.1 Legítima Defesa ..................................................................................... 50
3.4.2 Legitima Defesa de Terceiros ............................................................... 53
3.4.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal ................................................... 55
3.5 ANÁLISE JURÍDICA DAS HIPÓTESES DO RESULTADO DO DISPARO ..... 57
3.5.1 Disparo com o Criminoso Atingido ...................................................... 58
3.5.2 Disparo com o Refém Atingido ............................................................. 59
3.5.3 Disparo com o Criminoso e Refém Atingidos ..................................... 60
3.5.4 Disparo em Momento Não Adequado .................................................. 61
3.5.5 Atirador de Elite Policial Militar e o Código Penal Militar ................... 62
4 ATIRADOR DE ELITE NA POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA ............... 66
4.1 ANÁLISE DA DIRETRIZ DE PROCEDIMENTO PERMANENTE Nº 34/CMDO
GERAL/2001 ......................................................................................................... 66
4.1.1 Generalidades da Diretriz n°34 .............. ............................................... 66
4.2.2 Pessoal ................................................................................................... 69
4.2.3 Armamento ............................................................................................. 71
4.2.4 Treinamento ........................................................................................... 73
5 METODOLOGIA .................................................................................................... 75
5.1PESQUISA ....................................................................................................... 75
5.2 MÉTODO CIENTÍFICO ................................................................................... 75
5.3 TIPO DE PESQUISA ...................................................................................... 76
5.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA .................................................................. 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 79
7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 83
12

1 INTRODUÇÃO

Vive-se, no momento, uma crise geral na estrutura da Segurança Pública


nacional. Tal situação tem colaborado para o aumento da sensação de insegurança
e para os elevados registros nos números de ocorrências policiais.
Santa Catarina, como não poderia ser diferente, também compartilha dessa
situação. O Estado se preocupa com a periculosidade dos criminosos e o aumento
geral da violência, que culmina com a exposição do cidadão a uma gama cada vez
maior de situações de crise que colocam em risco o bem jurídico mais precioso: a
vida. O exemplo maior de situação, onde o aparato repressivo do Estado se
confronta com a violência do criminoso, seria aquela em que o causador da crise
toma reféns, colocando em perigo iminente a vida de inocentes.
Em circunstâncias como estas, busca-se sempre uma solução considerada
aceitável. Partindo do ponto de vista da atividade policial ocidental, uma solução
aceitável é aquela que tem em mente a função primordial de preservar vidas, sejam
elas das vítimas, dos policiais e até mesmo do agente causador da crise. Em
momentos como este, a negociação se torna o procedimento mais importante a ser
adotado pela polícia.
Contudo, uma vez constatada o insucesso dos meios não-letais de solução da
crise envolvendo reféns, a atividade policial poderá optar pela utilização do tiro de
comprometimento, executado por atirador de elite, como solução extrema e que,
sem dúvida, irá ferir bens jurídicos tutelados pelo direito.
A execução do tiro de comprometimento constitui-se em um único disparo
realizado por policial especialmente treinado, objetivando a incapacitação imediata
do agente causador da crise: via de regra, significa sua morte instantânea.
Diante do exposto, fica presente a possibilidade iminente da ofensa ao bem
jurídico tutelado (vida), e por tal motivo, deve-se delinear quais as possibilidades de
sua utilização e, a partir daí, analisar a legalidade jurídica e a legitimidade que dá ao
atirador de elite a possibilidade para agir.
O presente trabalho consiste, baseado em toda essa questão já abordada
quanto à tomada de reféns, na busca em demonstrar o amparo legal, moral e ético
que legitima a ação do atirador de elite policial na execução do tiro de
comprometimento na Polícia Militar de Santa Catarina.
13

Para tanto, busca-se esclarecer as dúvidas que permeiam a atividade do


atirador de elite e sua aplicabilidade no contexto geral. Dessa maneira, se faz
presente a elucidação de assuntos básicos referentes ao tiro de comprometimento e
do atirador de elite, bem como, sua evolução histórica dentro das corporações
militares e policiais, abordagem da conceituação e nomenclaturas relevantes e dos
aspectos jurídico-penais referentes ao tema

1.1TEMA

A legitimidade na execução do tiro de comprometimento pela Polícia Militar de


Santa Catarina em ocorrências envolvendo a tomada de reféns.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

A Polícia Militar do Estado de Santa Catarina atua em seu dia-a-dia com


diversas situações que colocam a segurança da sociedade em risco. Dentre essas,
uma das mais preocupantes que se deve considerar é a tomada de reféns.
O gerenciamento de crises, nesse tipo de evento, deve primar pela
negociação como alternativa de solução, para que sejam poupadas vidas, sejam
elas dos reféns ou dos perpetradores. Porém, quando cessadas as negociações, é
no tiro de comprometimento, executado pelo atirador, que se vê uma primeira
alternativa viável para a solução da crise.
Com isso, pergunta-se:
Existe legitimidade para a execução do tiro de comprometimento pela
Polícia Militar de Santa Catarina em ocorrências que envolvam a tomada de
reféns?
14

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a legitimidade da execução do tiro de comprometimento pela Polícia


Militar de Santa Catarina em ocorrências envolvendo a tomada de reféns.

1.3.2 Objetivos Específicos

- Revisar os aspectos relacionados à Doutrina referente ao atirador de elite,


abordando seu histórico, conceitos e práticas.

- Explicar o conceito de atirador de elite policial, bem com diferenciá-lo do


atirador de elite militar.

- Determinar os aspectos legais que fundamentam a execução do tiro de


comprometimento.

- Demonstrar a realidade da PMSC no que se refere à regulamentação e


aplicação prática do atirador de elite policial.

1.4 JUSTIFICATIVA

A Polícia Militar de Santa Catarina tem como missão constitucional o exercício


da polícia ostensiva e a preservação da ordem pública e, de não raro, nesse mister,
está lidando em suas atividades diárias com a proteção do bem mais precioso ao ser
humano, qual seja, a vida. Dessa forma, a utilização da arma de fogo se dá como o
último recurso, agindo ou reagindo apenas em legítima defesa própria ou de
terceiros.
Dentro desse contexto, na situação fática onde foi constatado o insucesso dos
meios não-letais de solução de crise e a vida do refém está em risco iminente ou
potencial, é na execução do tiro de comprometimento pelo atirador de elite que se vê
uma alternativa viável para por fim à agressão.
15

Vale ressaltar que as situações de risco que exigem esta conduta do


comando policial sempre repercutem na imprensa diante da gravidade em que são
colocados o agressor, a vítima e os policiais envolvidos no gerenciamento da crise,
colocando à prova a efetiva necessidade da utilização desse recurso, bem como os
questionamentos referentes à legalidade da ação.
Por se tratar de assunto tão delicado, faz-se necessário demonstrar a
cientificidade e o profissionalismo que envolve a atividade do atirador de elite policial
e, principalmente, explanar de forma ratificadora a legalidade e a legitimidade na
execução do tiro de comprometimento.
Isto posto, este trabalho se reveste de uma relevância oportuna para
complementar o pouco que existe em matéria de estudos científicos do tema na
Polícia Militar de Santa Catarina, haja vista a deficiência de documentos existentes
na corporação referentes à sua aplicação prática.
Para o acadêmico, mostra-se de vital importância, pois traz a oportunidade de
se pesquisar, além da legalidade e legitimidade do tema, toda a técnica e
cientificidade que envolve a execução do tiro de comprometimento.
16

2 ASPECTOS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE

Neste capítulo pretende-se explanar, de forma ratificadora, os aspectos gerais


do Atirador de Elite, conceitos, emprego, seu histórico e nomenclaturas relevantes e,
dentro deste contexto, apresentar as diferenças entre o modo de atuação do Atirador
de Elite Militar e do Atirador de Elite Policial, demonstrando a importância de suas
atividades.

2.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE

2.1.1 Conceito

Na cultura geral, as palavras "atirador de elite" evocam uma imagem


perturbadora: um atirador solitário, escondido, à espreita. Apesar, de na maioria das
vezes, serem soldados com boa pontaria que se escondem, ajustam um alvo na sua
mira e puxam o gatilho, por causa da natureza dissimulada e furtiva da função,
poucas pessoas sabem o que realmente implica em ser um atirador de elite. Esses
atiradores altamente habilidosos são freqüentemente confundidos. Atiradores de
elite que trabalham para as forças armadas e instituições policiais, apesar da
similaridade em treinamento e conhecimento, possuem muitas diferenças entre si, e
aquele último tem muito mais a ver com as vidas que salva do que com aquelas que
tira.
Segundo Horta apud Antony e Barbas (2001, p. 17), Atirador de Elite, Sniper,
Marksman, são os nomes mais comumente utilizados para descrever o indivíduo que
realiza a tarefa de efetuar um tiro preciso, com uma arma longa em um alvo pré-
determinado. Existem outras nomenclaturas como, Sharpshooter, Caçador, Atirador
de Escol, Franco Atirador, Atirador de Comprometimento, entre outras.
Nota-se, porém, que não se pode abranger no mesmo conceito, o atirador de
elite militar e o atirador de elite policial, fora daquilo já mencionado, ou seja,
indivíduo treinado que efetua um tiro preciso, com arma longa em alvos pré-
determinados, pois as características do emprego e missão, além de outras
peculiaridades, infligem a obrigação de distingui-los e conceituá-los em separado.
Sua principal diferença consiste em primeiro: o Atirador de Elite Militar tem por
objetivo eliminar alvos determinados humanos ou materiais, já que atua em
17

situações de guerra e deve cumprir suas missões de combate, eliminando sem


distinção o inimigo; o Atirador de Elite Policial tem como primeira atribuição, salvar
vidas, mesmo que para isso tenha que fazer uso de força letal em um alvo
determinado.

2.1.2 Histórico

Desde o surgimento das armas de fogo, e conseqüentemente as armas de


cano longo, o homem buscou aperfeiçoar o binário tecnologia e técnica, de forma a
buscar um disparo mais preciso, seja para caça ou combate. Dentro desse contexto,
os conflitos bélicos foram os principais responsáveis pelo avanço tecnológicos das
armas, sempre mais precisas e potentes, como também da perícia técnica dos
atiradores, que necessitavam abater inimigos a distâncias cada vez maiores e com
mais segurança.
Através de pequenas experiências, motivadas até mesmo pela curiosidade,
buscou-se adaptar os fuzis, a base do armamento individual do soldado de
infantaria, aos aparelhos ópticos para melhorar a aproximação e visualização dos
alvos. É como afirmam Antony e Barbas (2001, p. 17):

Os fuzis de precisão começaram a ser empregados em 1640, na Inglaterra,


local onde foi instalado, sobre um rifle custom, o primeiro sistema
“telescópico” com a finalidade de aproximar os alvos e melhorar a sua
visualização e, então, a precisão do disparo sobre o alvo. Este sistema foi
considerado mera curiosidade. Depois de 300 anos, os rifles melhoram
consistentemente, assim como seus sistemas de pontaria: aberto, fechado e
lunetas de tiro.

Durante a Guerra de Independência America, surgiu a notícia da utilização de


fuzis raiados para efetuar disparos a maiores distâncias e com mais precisão, nos
quais os americanos se valiam de ações não convencionais e do novo armamento,
superior aos fuzis de alma lisa do Exército Britânico, para obter maior efetividade em
combate. Porém, um ponto marcante ocorreu durante a Guerra da Secessão,
quando o Coronel do Exército da União Hiran Berdam, treinou especialmente um
Batalhão com fuzis Sharp, de retrocarga e cartuchos metálicos, dotados de primárias
lunetas telescópicas, com o corpo de bronze. Esse batalhão recebeu a informal
alcunha de “Sharpshooters” e registraram disparos certeiros a mais de 700 metros.
18

A utilização de atiradores de elite na Primeira Guerra Mundial contribuiu muito


para os avanços do tiro de precisão, pois a natureza da guerra, onde os inimigos
permaneciam entrincheirados, favoreceu os disparos de longo alcance e a
imobilidade do atirador, que buscava acertar alvos importantes, como oficiais e
graduados, na tentativa de quebrar a cadeia de comando e desorganizar o inimigo.
No período entre guerras, percebeu-se a importância em se aprimorar a
técnica do atirador, haja vista sua valia em operações militares, e começaram a ser
criados diversos centros de instrução que buscavam aprimorar cada vez mais a
doutrina do emprego do tiro de precisão. É o caso da “The United States Army
Markmanship Training Unit” ou Unidade de Treinamento de Atiradores de Precisão
do Exército Americano, que atualmente ainda é referência mundial, e de outras
escolas em diversos países, como Alemanha, União Soviética e outros, que na
eclosão da Segunda Guerra Mundial, puderam demonstrar suas habilidades.
No contexto policial, a utilização de atiradores de elite se origina nos Estados
Unidos, no final da década de sessenta e início dos anos 70, em decorrência do
surgimento do conceito “armas e táticas especiais”.
Nesse período, as polícias americanas, em especial o Departamento de
Polícia de Los Angeles, se propuseram a estudar novas formas de dar resposta
eficiente aos vários incidentes que ocorriam no país, como atiradores que
escondidos ou protegidos em locais de difícil acesso disparavam contra civis e
policiais, seqüestros com reféns e grupos revoltosos.

Num esforço de dotar a polícia de meios eficazes, em Los Angeles, EUA,


criou-se uma unidade que deu origem à sigla mundialmente conhecida
como SWAT, ou Special Weapons and Tactics (Armas e Táticas Especiais),
que além de dar resultados satisfatórios, criou doutrinas em terras
americanas. Esta unidade era basicamente constituída por duas equipes, os
atiradores de armas curtas (Assault Team, ou Equipe de Assalto) e os
atiradores de armas longas (Sniper Team, ou Equipe de Snipers). Para a
doutrina e treinamento do Sniper Team, como não havia referências na
polícia, buscou-se profissionais do Exército Americano. (MOREIRA, apud
DE PARIS NETO, 2002, p. 14).

Modernamente, instituições policiais com credibilidade no mundo todo já


possuem estudos e experiências na utilização da doutrina SWAT, e buscam
constante aperfeiçoamento, contribuindo com doutrina e conceitos próprios,
adaptando-se à realidade policial todo o conhecimento adquirido militarmente. Os
19

Atiradores de Elite ocupam lugar de estaque dentro dos conceitos e doutrinas de


“Armas e Táticas Especiais”, e são considerados um recurso eficiente em
ocorrências onde o risco é muito grande para os envolvidos, principalmente nas
situações de reféns, tornando-se uma alternativa viável no Gerenciamento de Crises.

2.2 ATIRADOR DE ELITE MILITAR

2.2.1 Conceito

Segundo o conceito adotado pela unidade do Exército Americano, Fort


Benning citado por De Paris Neto (2002, p. 09), sniper é definido como sendo:
“atirador de precisão que fustiga o inimigo através de tiros de fuzil de alta potência,
dotado de mira telescópica, visando isoladamente membros ou instalações
inimigas”.
O Exército Americano define em seu manual Special Operations Target
Interdiction Course: Sniper Training And Emplyment, (2000, p.01):

Sniper é o voluntario selecionado, especialmente treinado em técnicas


avançadas e habilidades em campo, que pode eliminar alvos determinados
a grandes distâncias, disparando de posições furtivas, sob condições que
não seriam possíveis para o soldado de infantaria comum, dando suporte
nas missões de forças e operações especiais. (Tradução Nossa)

2.2.2 Emprego e Missão

Atiradores de Elite Militar são empregados na maior parte de suas missões


em ambientes rurais (selvas, montanhas, etc.), em ações furtivas e infiltradas, em
uma variedade de operações que vão além de simplesmente puxar um gatilho.
Por serem treinados em camuflagem e técnicas de observação são muito
utilizados em missões de reconhecimento, infiltrando-se atrás das linhas inimigas
para fornecer ao Comando informações sobre tamanho, força e localização das
tropas adversárias.

O sniper tem formação, equipamento e habilidades especiais. Seu trabalho


é efetuar disparos de fuzil de alta precisão contra o fogo inimigo, que não
pode ser realizado com sucesso pelo soldado comum por causa da
distância, tamanho, localização, naturezas fugazes ou visibilidade. Sniping
20

exige o desenvolvimento das habilidades básicas infantaria para um elevado


grau de perfeição. A formação de um sniper integra uma ampla variedade
das disciplinas concebidas para aumentar o seu valor como uma força
multiplicadora e a fim de garantir sua sobrevivência no campo de batalha. A
arte de sniping requer aprender e praticar essas competências
repetidamente até dominar. Um sniper deve ser altamente treinado em
disparos de longa distância, habilidades artesanais e de campo para
assegurar a máxima eficácia e com risco mínimo. (PLASTER,1993, p.10).

Em missões de apoio, podem auxiliar no avanço de forças de assalto,


efetuando disparos de locais dissimulados e com visão do campo de batalha,
eliminando forças inimigas que coloquem em risco o avanço das tropas, ou ainda,
auxiliar em ações de bloqueio, auxiliando as tropas de solo a manter e defender sua
posição.
Quando não há missão específica, procuram os chamados alvos de
oportunidade, ou seja, aqueles que podem trazer algum ganho estratégico, como
eliminar oficiais e graduados.
Sobre os alvos dos Atiradores Militares, Antony e Barbas (2001, p. 24)
completam:

Na guerra, os objetivos são: controlar e ocupar o território e destruir o


inimigo. Se o combate acontece na terra do inimigo, não existe, geralmente,
nenhuma restrição com relação à destruição e qualquer pessoa que não
esteja usando um uniforme amigo, é um alvo. Civis inimigos são
considerados alvos tal como os militares. O atirador de precisão, contudo,
geralmente atira em uniforme. Pelo motivo de o atirador de precisão militar
abrir fogo contra um uniforme, qualquer um que esteja com uniforme inimigo
serve, embora o atirador prefira “tirar de ações” os oficiais.

Em uma análise mais simplista, o objetivo das missões dos Atiradores de Elite
Militar é tirar vidas, portanto tem uso de força letal sempre como primeira opção.
Atiradores de elite militar agem como multiplicadores de força, ou seja, um
indivíduo ou uma pequena equipe que, através do uso de táticas especiais, pode
causar danos a uma força muito maior. O que é mais notável sobre esses atiradores
é que eles são capazes de multiplicar a força sem jamais terem que enfrentar
diretamente o inimigo.
Por causa da natureza de suas missões, atiradores de elite deslocam-se com
muito pouco equipamento, movendo-se pacientemente sob a cobertura do mato ou
da noite. Equipes de atiradores de elite freqüentemente têm que ficar imóveis por
21

horas ou dias seguidos para evitarem ser detectadas, esperando pelo momento
certo de disparar o tiro.

2.3 ATIRADOR DE ELITE POLICIAL

2.3.1 Conceito

Pouco existe escrito sobre o atirador de elite policial na literatura


especializada, limitando-se, muitas vezes, em se adaptar os manuais e escritos
sobre sniper militar à realidade policial.

Existem alguns livros novos sobre tiro de precisão, mas nenhum feito para
preencher as necessidades da Polícia. Reimprimir ou refazer textos militares
não dão ao atirador de elite policial um esboço real do que ele precisa saber
(RAPP, 1988 p. 01).

Não se chega, ao menos na literatura nacional, devido à escassez ou quase


inexistência de impressos sobre o tema, a um conceito universal de atirador de elite
policial, porém é possível entender a concepção da idéia ao se apreciar as missões
do sniper policial bem como as diferenças em relação ao atirador militar.
Segundo De Paris Neto (2002, p. 12), fica o conceito de atirador de elite
policial como sendo:
Em termos policiais pode-se dizer que se trata de um atirador altamente
treinado que visa incapacitar com tiros precisos de fuzil com luneta,
marginais que detém em seu poder pessoas inocentes ou que protegidos
em algum lugar, atiram indiscriminadamente contra pessoas ou autoridades.

O mesmo autor ainda completa (2002 p. 12-13):

Portanto, quando precisão, potência e fogo dirigido são pré-requisitos da


ação policial, o atirador de elite atua, notadamente, contra:
a) Criminosos que de tocaia atiram indiscriminadamente contra pessoas
inocentes;
b) Criminosos que fazem reféns e encontram-se homiziados pedindo
meios de fuga e outros tipos de exigências;
c) Criminosos que se encontram barricados ou em fortificações, com o
sem reféns;
d) Instalações, veículos, etc., que necessitam ser danificados, destruídos
ou parados;
e) Segurança de dignatários.
22

2.3.2 Emprego e Missão

Atiradores de Elite Policial são empregados em situações de risco, geralmente


em ocorrências que envolvem a tomada de reféns, como observadores e também
como alternativa tática para a solução do evento crítico no gerenciamento de crises.
Porém, diferentemente do sniper em combate, quando o sniper policial efetua um
disparo seu objetivo maior é salvar vidas.

Esta é uma reorientação básica para o atirador de precisão policial que


tenha tido experiência militar. É necessário, porque a intenção militar é tirar
vidas e o policial tenta salvar vidas. Na guerra, prisioneiros são grandes
responsabilidades, pois gastam recursos, precisam de vigilância e alimento.
O policial, muito pelo contrário, esforça-se em trazer prisioneiros de volta,
vivos e não cadáveres. Este objetivo determina os procedimentos e as
táticas (RAPP, 1988, p. 5).

Uma diferença básica entre o emprego do sniper militar e do sniper policial


consiste na maneira a ser empregada a força letal. O atirador de elite policial nunca
efetua um disparo a menos que exista uma ameaça iminente ou potencial contra si
mesmo ou outro policial, ou contra um inocente ou refém.

Nenhum sniper policial realiza um tiro – como força letal – a menos que o
suspeito seja uma ameaça para si mesmo, para outro policial, um inocente,
ou para o refém. O oposto se aplica a um militar em combate. Assim que se
confirma a silhueta de um soldado inimigo, o sniper pode agir, e seu alvo
não precisa ser uma ameaça iminente para ninguém. A simples presença de
um uniforme inimigo é uma ameaça para as forças amigas. O sniper policial,
entretanto, tem que ter em mente que cada ação sua deverá ser justificada,
e a ameaça tem que ser perceptível ou potencial para seu disparo ser
legitimado. (PLASTER, 1993, p. 12).

Em uma situação crítica que envolva a tomada de reféns, o sniper policial é


uma importante ferramenta à disposição do comandante do teatro de operações,
desdobrando sua atuação para além da execução do tiro de comprometimento. É o
que afirma Matton apud Antony e Barbas (2001, p. 25)

O atirador de precisão executa várias funções que se completam e ajudam


a solucionar situações de crise. Além do mais, o atirador pode ter várias
missões. O sniper pode fazer parte de um time tático ou ser parte somente
de um time de sniper, isto vai depender da estrutura organizacional da
polícia a que estiver subordinado.
23

A principal missão de um atirador de elite policial, contrariando a senso


comum, é a observação. Pelo fato de o atirador de precisão ter uma mira
telescópica, ele é o mais qualificado para observar um suspeito, do que qualquer
outro, que tenha de observar a olho nu. Em algumas situações, o atirador terá
apenas que observar e comunicar. Como completa Lonsdale apud Antony e Barbas
(2001, p. 26):

Os times de sniper são os olhos e os ouvidos do comandante e do time de


entrada. Reportam localização e movimentação de suspeitos. Também
dizem onde não vêem nada. Se tiver áreas limpas, em uma edificação, é
importante para saber onde os suspeitos não estão, o que é tão significativo
quanto onde eles estão.

Antony e Barbas (2001, p. 26 - 27) evidenciam o papel de observador do


sniper, destacando a importância em identificar claramente os suspeitos e reféns,
que devem ser reconhecidos, principalmente, por seus rostos, suas vestimentas e
objetos pessoais, pois pode haver uma troca de roupas, entre suspeitos e reféns.

As negociações, se não estiverem indo bem, o comandante vai ordenar que


os atiradores fiquem em alerta para comunicar qualquer mudança. Esta é
uma informação valiosa para as negociações e para o plano de assalto. Em
algumas situações, o atirador terá uma boa visão. Em outras, pode não
haver quase nada a dizer. Uma mira telescópica de potência variada é muito
valiosa para a observação, pois a mesma pode ser ajustada para uma visão
mais próxima. (Antony e Barbas, 2001, p.28).

Devem identificar todas as armas em um local de crise, bem como fazer


descrições o ambiente e localização de indivíduos, pois isso vai ser muito importante
para futuras tomadas de decisão, tanto por parte do próprio sniper, como da equipe
de assalto.
O atirador de elite possui também uma importância preventiva estratégica,
que segundo GIRALDI (2001, p. 61):

A presença do atirador de elite num seqüestro também é preventiva e


estratégica; uma função psicológica de pressão e força sobre o
seqüestrador que, ao sabê-lo, estará sempre preocupado com ela e com a
possibilidade de receber um tiro, funcionando assim, como elemento inibidor
de uma ação mais violenta de sua parte.
24

Obviamente, além da observação, o atirador de elite policial deve estar


preparado para efetuar um disparo preciso caso a situação assim exigir. Pairando o
insucesso das alternativas não-letais de resolução da crise, viabiliza-se a execução
do tiro de comprometimento. Nas Palavras de Burt Raap (1998, p. 35) “embora o
objetivo, para a solução das ocorrências de uma equipe tática, seja solucionar a
crise sem perda de vidas, algumas vezes, a morte é inevitável. Talvez seja
necessário tirar a vida do suspeito, para salvar a vida de um inocente”.

2.4 GENERALIDADES

Neste capítulo pretende-se explanar de maneira geral alguns aspectos


referentes ao armamento, treinamento e seleção do atirador, contextualizar o
atirador de elite policial dentro do gerenciamento de crises. Busca-se evidenciar o
tiro de comprometimento, seu conceito e demais aspectos, além de demonstrar as
responsabilidades que o atirador e o comandante do teatro de operações possuem
sobre o tiro de comprometimento.

2.4.1 Aspectos Técnicos

2.4.1.1 Armamento

A arma é parte integrante do atirador de elite, sendo um instrumento de


precisão cirúrgica. Independente de quão perfeita é a pontaria de um sniper, uma
falha no equipamento pode criar um elo fraco na cadeia e resultar em conseqüências
indesejadas.
Os autores Oliveira; Gomes; Flores (2000, p. 17), afirmam que o fuzil a ser
utilizado pelo atirador de elite em suas atividades deve possuir as seguintes
características:
a) Utilizar munição de alta velocidade, no mínimo 600 m/s, para assegurar
uma deformação e transmissão de, no mínimo 50% da energia ao alvo;
b) Possibilitar o tiro com trajetória tensa do projétil, com variação de, no
máximo, 01 (uma) polegada a 100 (cem) jardas. (padrão norte-americano);
c) Calçar munição de alto índice de incapacitação, para transmitir grande
energia ao alvo;
25

d) Possuir cano pesado e flutuante, para minimizar as vibrações


desnecessárias e diminuir o efeito de refração, pela absorção do calor pelo
cano da arma;
e) Possuir gatilho e coronha reguláveis;
f) Bipé ou tripé e acabamento fosco e sem brilho.
Quanto ao funcionamento, há uma grande aplicabilidade dos fuzis de
repetição, porém os fuzis semi-automáticos ganharam espaço dado sua
possibilidade e necessidade, principalmente após o incidente chamado de
“Setembro Negro”, no qual terroristas palestinos mataram nove atletas israelenses
nas Olimpíadas de Monique, em 1972 na Alemanha, e ficou evidente a dificuldade
de se efetuar disparos para neutralizar vários criminosos em um curto espaço de
tempo.

Por muito tempo, os fuzis de repetição por ação manual do ferrolho eram
tidos como as armas ideais para esta missão, mas o gradual
aperfeiçoamento dos sistemas semi-automáticos foi abrindo um espaço
respeitável para fuzis desse tipo. Afinal, sempre existe a possibilidade de
que um rápido segundo (ou terceiro) tiro seja necessário num engajamento
de sniper, e nem sempre ou quase nunca, a manipulação do ferrolho pelo
atirador pode oferecer a rapidez necessária para o(s) disparo(s)
subseqüentes(s). Uma arma semi-automática, com adequada precisão,
atende perfeitamente a este requisito. (Alves apud De Paris Neto, 2002,
p.25)

2.4.1.2 Munição

O atirador de elite deve ter a sua disposição a melhor munição, inclusive para
os treinamentos, pois deverá treinar e participar da ação real com o mesmo tipo de
munição com a qual regulou o aparelho de pontaria da arma.
Uma munição para ser considerada ideal para o uso sniper deve possuir
estabilidade da trajetória e energia do projétil, e ser capaz transmitir alta energia ao
alvo no impacto, evitando a transfixação e o risco a outrem.
Nas palavras de ALVES apud DE PARIS NETO (2002, p. 49):

Tradicionalmente os snipers têm usado cartuchos 7,62 x 51 mm do tipo


Match, (máxima potência) com projétil de 168 grains e desenho boat tail, por
oferecerem, sabidamente, excelente precisão. Acontece que, pouca, ou
nenhuma, atenção costuma ser dada ao desempenho terminal da munição
em detalhes como penetração, ferimentos produzidos ou capacidade de
26

choque. Como a munição se destina a uso por snipers, em ações anti-


terroristas e de resgate, torna-se imperativo que o projétil tenha capacidade
de neutralizar o alvo antes que ele possa, por exemplo,atirar num refém ou
acionar um detonador explosivo, tanto por ação deliberada, como também,
por reação involuntária de seu sistema nervoso central. Paralelamente,
deve-se evitar, ao máximo, transfixação, para que inocentes não sejam
atingidos.

2.4.1.3 Pessoal

Uma equipe de atiradores de elite corretamente organizada é constituída de


no mínimo dois homens, o atirador (sniper) e o observador (spotter), que auxilia o
atirador, podendo inclusive trocar postos com o passar do tempo.
Na seleção dos indivíduos para compor uma equipe de snipers, algumas
qualificações devem ser exigidas. Segundo o Manual do Atirador de Elite da Polícia
do Departamento de Estado dos Estados Unidos, citado por Antony e Barbas (2001,
p. 30) são qualidades desejáveis tanto do sniper quanto do observador:
a) O candidato deve ser altamente motivado.
b) Deve ser confiável.
c) Ter uma inteligência acima da média.
d) Deve possuir aptidões com armas longas.
e) Deve possuir facilidade de expressão.
f) Ter capacidade de trabalhar em grupo.
g) Ter excelente retenção de memória.
h) Ser autoconfiante.
i) Ser apto fisicamente.
j) Ter muita paciência.
k) Ter disciplina.
l) Ter muita resistência a fadiga.
m) Ter boa visão.

Para Manton apud Antony e Barbas (2001, p. 31-32):

Algumas qualidades devem ser buscadas na seleção individual para a


escolha do sniper:
a) Pontaria: Deve ser habilidoso com a arma. A possibilidade de reféns e
populares pode requerer um tiro muito rápido e sem muito tempo de
preparação.
b) Condicionamento mental: Enquanto o elemento de entrada deve ser
qualificado no tiro de precisão, eles devem atirar com emoção e reflexo para
salvar a sua ou a vida dos outros. O sniper deve neutralizar o alvo
calmamente e deliberadamente, atingindo cuidadosamente alvos
selecionados, se necessário. Durante crises extensas, o sniper deve
conhecer os suspeitos, observando seus movimentos, enquanto come etc.
e, quando recebe luz verde, baseado em perigo imediato ou na
27

possibilidade de neutralizar algum refém, deve atingir o suspeito no


momento exato.
c) Paciência: Deve permanecer em posição por grandes períodos,
independentemente das condições de tempo.
d) Habilidades de movimentação tática: Deve ser hábil em movimentação e
camuflagem.
e) Inteligência: Deve possuir uma gama de conhecimentos que incluem
balística, ajustamento dos aparelhos ópticos, efeitos do tempo etc.
Adicionalmente, deve coletar informações úteis para a central de inteligência
durante uma crise. Deve demonstrar decisão, autoconfiança, bom
julgamento e bom senso.
f) Estabilidade Emocional: Não importa o que está acontecendo no local da
crise, o atirador só poderá agir se receber (luz verde), do comandante da
operação.

2.4.1.4 Treinamento

Os treinamentos de atiradores de elite devem ser executados de modo a atuar


em situações imitativas da realidade (simulações), utilizando tudo aquilo que será
empregado em uma ação verdadeira (mesma arma, munição, equipamentos). Não
se deve treinar de modo diverso do que é empregado em ocorrências. Segundo
Giraldi (2001, p. 56):

O atirador de elite terá que possuir absoluta confiança e intimidade com a


arma, os equipamentos e a munição que usa. Isso somente será obtido
através de intensivos treinamentos (com ou sem disparos) e o contato diário
com os mesmos. É como se fossem uma extensão do próprio corpo.

Somente treinando com atenção, com a mente focada em detalhes, anotando


resultados, desenvolvendo as valências físicas e psicológicas o atirador de elite
pode conseguir um desempenho próximo do ideal. Além do treinamento individual,
deve ser evidenciado, também, os aspectos psicológicos e o treinamento em equipe.

Um outro aspecto de treinamento da equipe é o psicológico.Os membros da


equipe tática estão acostumados a trabalhar juntos, e precisam saber o que
os outros membros irão fazer em uma crise. A prognosticabilidade é
importante para construir uma confiança mútua, um membro da equipe não
será bem aceito pelos outros até que ele tenha provado através dos
exercícios de treinamentos e nas operações. (ANTONY e BARBAS, 2002, p.
56-57).

Ao atirador de elite policial não se pode permitir aprender a partir de um erro.


O momento para erro é o treinamento de tiro. “Por isso que o treinamento e a prática
28

de tiro são tão valiosos. Treinamentos permitem aos atiradores se prepararem


fisicamente para a função, durante um incidente cheio de tensão”. (MOREIRA apud
DE PARIS NETO, 2002, p. 49).

2.5 SNIPER POLICIAL NO CONTEXTO DO GERENCIAMENTO DE CRISES

Situações de crise crescem diariamente, com uma amplificação considerável


da periculosidade dos agentes causadores e de sua ousadia, exigindo das
corporações policiais um preparo cada vez mais adequado para enfrentar tal
realidade.
“A Academia Nacional do FBI define crise como sendo um evento ou situação
crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução
aceitável”. (CARDOSO, p. 22). E para o aparato policial, um evento em que ocorra a
tomada de reféns é uma das situações mais complexas onde o aparato estatal se
defronta com a criminalidade.
Ikeda et al (2001, p.25) afirma ainda:

Este conceito aborda aspectos fundamentais que encontram, no conteúdo


da doutrina, uma interpretação detalhada. Fundamentalmente “evento ou
situação crucial”, refere-se à ocorrência de ilícitos penais que representam
um risco iminente de vida, ou seja, há uma considerável probabilidade de
ocorrer perda de vidas humanas motivado pela ação intencional de um ou
mais agentes; pode-se exemplificar este entendimento com casos que vão
da tentativa de suicídio, pessoas mantidas como reféns por perpetradores
homiziados a extorsão mediante seqüestro. O entendimento fundamental
neste caso é a compreensão da existência de grave ameaça a integridade
física de alguém.

Em ocorrências com reféns, a doutrina de gerenciamento de crises - processo


de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à antecipação, prevenção e
resolução de uma crise - preceitua como objetivos principais a preservação da vida e
a aplicação da lei. No tocante a preservação da vida, Ikeda et al afirma (2001, p.34-
35):

Observa-se que o princípio doutrinário de preservar vidas, nos casos de


crise, indica uma postura voltada a garantir a vida de todos os envolvidos no
processo, ou seja, há que se mobilizarem todos os esforços no sentido de
proteger-se a vida dos reféns, dos perpetradores, da comunidade em geral
que pode sofrer efeitos diretos da crise e dos policiais envolvidos.
29

Axiologicamente, este princípio é preponderante aos demais, o que em uma


situação extrema, deve ser levado em conta todos os aspectos conjunturais
que podem implicar na tomada de decisão.

O mesmo autor, no que tange à aplicação da lei:

Aplicar a lei é um aspecto ligado ao próprio princípio constitucional da


legalidade, ou seja, os atos praticados pelos agentes públicos deverão estar
sustentado em um pleno consentimento do ordenamento jurídico. O fato de
um perpetrador estar cometendo um ilícito penal não implica em conceder
ao Estado a possibilidade de praticar atos que não estejam revestidos de
previsão legal. Por certo, em determinados momentos haverá conflitos entre
princípios constitucionais onde a força maior e o caso fortuito poderão
fundamentar a adoção de alguma medida sustentada nos excludentes de
criminalidade. (IKEDA et al, 2001, p.35)

A polícia deve fundamentar suas ações em princípios legais voltados ao


interesse público, a legalidade, a moralidade, a eficiência, as garantias individuais,
pois o gerenciamento de crises é um processo destinado à proteção de indivíduos.
Soluções desmedidas como o uso excessivo da força, e o tratamento impróprio ao
perpetrador rendido, afetam a credibilidade da organização policial. Desta forma,
aplicar as medidas com a devida proporcionalidade, mesmo que as mais drásticas,
implica na condução à uma resolução aceitável sob todos os aspectos.
Segundo a Apostila de Noções Básicas de Gerenciamento de Crise e
Negociação (CARDOSO, p. 21):

No processo de gerenciamento de crise, existem quatro alternativas táticas


consideradas clássicas para a resolução do conflito. Em ordem, estas
quatro alternativas representam a mais desejável forma de resolver
situações de confronto entre forças do governo e forças criminosas.
Avalia-se que a cada passagem de alternativa, a possibilidade de sucesso
esta diretamente relacionada com o incremento do risco de vida dos
agentes do governo, reféns, agressores e transeuntes, obedecendo-se
rigorosamente o chamado “escalonamento do uso da força”. O mais
moderno jogo de alternativas táticas é o seguinte:
1) Negociação;
2) Armas não-letais e cães;
3) Tiro de comprometimento; e
4) Assalto tático.

O seqüestro estando contido, isolado e as negociações iniciadas, existe,


estatisticamente, a grande chance de uma solução pacífica, não-letal, favorável ao
refém e a polícia. Entretanto, por maior que seja a capacidade do aparato policial,
30

existem situações onde a negociação não se desenvolve e persiste um risco à vida


do refém na utilização de alternativa não-letal.

Embora o objetivo, para a solução das ocorrências de uma equipe tática,


seja solucionar a crise sem perda de vidas, algumas vezes, a morte é
inevitável. Talvez seja necessário tirar a vida do suspeito, para salvar a vida
de um inocente (RAPP, 1988, p. 35).

O aparato policial, dessa forma, não terá outra possibilidade que não seja a
atuação do atirador de elite, executando o tiro de comprometimento, ou do grupo de
assalto tático, ou de ambos, como saída para preservar a vida e a integridade física
do refém.
Segundo LUCCA (2002, p. 04):

O tiro de comprometimento constitui também uma alternativa tática de


fundamental importância para a resolução de crises envolvendo reféns
localizados. No entanto, a utilização dessa alternativa tática necessita de
uma avaliação minuciosa de todo o contexto, sobretudo do polígono
formado pelo treinamento, armamento, munição e equipamento, que são os
elementos fundamentais para que o objetivo idealizado seja alcançado. Ser
um sniper (atirador de elite) transcende ter uma arma qualquer e uma luneta
de pontaria, para acertar um tiro na cabeça.

Observado isso, uma crise exige uma resposta especial da polícia, pois em
primeiro lugar, confere à polícia restabelecer a ordem pública e envidar esforços no
sentido de preservar a incolumidade das pessoas envolvidas.
Nesse sentido, a legislação brasileira, no Decreto Lei 667, de 02 de julho de
1969, alterado pelo Decreto Lei 1406, de 24 de junho de 1975 e pelo Decreto Lei
2010 de 12 de janeiro de 1983, prescreve:

Ordem Pública – Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento


jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os
níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência
harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma
situação ou condição que conduza ao bem comum. (BRASIL, 1969).

De Plácido e Silva (1987, p. 291) define ordem pública como sendo:

Entende-se a situação e o estado de legalidade normal, em que as


autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam
e acatam, sem constrangimento ou protesto. Não se confunde com a ordem
31

jurídica, embora seja uma conseqüência desta e tenha sua existência formal
justamente dela derivada.

O ordenamento jurídico confere ao organismo policial o poder-dever de agir,


através do poder de polícia que lhe é conferido, recaindo-lhe esta responsabilidade.
Álvaro Lazzarini (1999) ensina que o poder de polícia é uma faculdade, um
direito que o Estado tem de, através da polícia, que é uma força organizada, limitar
as forças nefastas dos cidadãos. Sendo que este que legitima a ação da polícia e a
sua própria existência.
Di Pietro (1991, p. 88) define poder de polícia como sendo: “[...] a atividade do
Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do
interesse público.”
No caso especial do tiro de comprometimento, dentro do contexto do
gerenciamento de crises, divide-se, doutrinariamente, a responsabilidade na
aplicação dessa alternativa tática entre a decisão em executá-la, emanada pelo
comandante do teatro de operações, e a responsabilidade na execução do tiro, que
cabe ao sniper, ou time de snipers, decidir ou não pelo disparo no momento
considerado adequado.

2.5.1 Responsabilidade na Decisão

A questão da competência para a autoridade que deve comandar o


gerenciamento de uma crise ainda encontra divergências e que, em muitas
situações, já ocorreram conflitos entre policias militares e civis, autoridades do poder
judiciário, pessoas em exercício temporário de função pública, bem como a tomada
de decisões desprovidas de qualquer sustentação técnica, científica ou legal.

Dentre essas discussões de ordem jurídica, talvez a primeira que vem à


tona é a da competência, isto é, a quem vai competir o gerenciamento da
crise? Essa dificuldade prática de definir competência não é privilégio do
Brasil. Os próprios norte-americanos reconhecem que uma das primeiras
indagações a serem feitas ao se depararem com uma crise é “quem está
encarregado? (MONTEIRO, apud IKEDA et al, 2001, p.36)

Percebe-se que os eventos críticos de grande vulto, a exemplo da tomada de


reféns, se concentram todos os níveis de autoridade no local, desde elementos
operacionais do próprio aparato policial, até autoridades judiciárias e políticas,
32

passando pela imprensa e curiosos, constituindo uma presença muito grande de


pessoas desnecessárias no momento, fato que pode culminar com uma influencia
negativa ou uma ingerência da crise no teatro de operações, gerando conseqüências
desastrosas.

Os eventos críticos de grande repercussão fazem com que se reportem ao


local, juízes de direito, promotores públicos, funcionários públicos não
policiais, além da participação do poder Executivo no âmbito federal e
estadual, e membros das secretarias de segurança pública. Este grupo de
autoridades não possui formação policial e invariavelmente desconhecem
preceitos doutrinários ou normas que sustentam a metodologia do
gerenciamento de crise. Neste sentido, na administração de crises, a
aplicação de uma política implica em ônus e responsabilidades pelo
resultado final do evento crítico. As posições políticas do nível decisório
frente a uma crise nem sempre são muito claras para a equipe encarregada
da administração da crise ou o negociador, e muitas vezes são divulgadas
de forma confidencial ou restrita ao nível indispensável de conhecimento.
Durante uma crise a maioria dos membros da infra-estrutura da
administração do evento crítico desconhece a exata política a ser aplicada,
implicando na possibilidade de decisões inconsistentes. (IKEDA et al, 2001
p.37-38)

Em um ambiente como esse, o desdobramento de um gerenciamento


eficiente não foge da necessidade de se estabelecer uma cadeia de comando eficaz,
com elementos bem definidos em suas atribuições, devendo o gerenciamento geral
da crise, bem como o comando e as decisões relevantes ficarem a cargo de um
comandante do teatro de operações, ou também chamado de comandante de cena
de ação.
Ikeda et al (2001 p.54) define o comandante do teatro de operações como
sendo:

Ele é o Comandante da Operação, a autoridade máxima de todas as ações


desenvolvidas no local da crise, por ele passarão todas as informações
sobre o local. É ele quem determina a estratégia a ser tomada, e todas as
ações táticas desencadeadas.

Qualquer decisão, bem como qualquer ação tática desenvolvida no cenário da


crise deverá passar pela anuência deste policial, que pelo pressuposto de ser a
maior autoridade na área do ponto crítico, detém pleno conhecimento da doutrina de
gerenciamento de crise e alternativas táticas para sua solução.
33

No caso específico da utilização do tiro de comprometimento como alternativa


tática para a solução da crise, é o comandante do teatro de operações que decidirá
pela utilização deste recurso, baseando sua decisão na conjuntura de fatores,
informações trazidas pelo seu grupo de negociadores, pelo seu time tático e seus
observadores, e motivado principalmente pelo insucesso das alternativas não-letais
e no iminente e/ou potencial risco à vida do refém.
Resumidamente, o comandante do teatro de operações é quem toma a
decisão em dar “luz verde” ao atirador de elite, ou seja, é dele a decisão de autorizar
o sniper policial a efetuar o tiro de comprometimento visando salvar a vida do refém.
Vale ressaltar, porém, que essa decisão não fica simplesmente a mercê do
despotismo do comandante, mas sim, embasada na doutrina de gerenciamento de
crises, legislação e na deliberação de alternativas realizadas por toda a equipe
especializada.

O comandante da cena de ação não age despoticamente ou desvinculado a


qualquer outro tipo de autoridade, ao contrário, ele é o elo entre uma
instância técnica de natureza policial, com o comando superior da
instituição, autoridades dos outros poderes públicos e a instância política.
Esta instância superior não elabora estratégias policias e não atua
diretamente na crise, contudo, analisa todas as alternativas técnicas
indicadas pelo Comandante da Cena de Ação e sugere alternativas que
tenham respaldo sob todos os aspectos. (IKEDA et al, 2001, p.55)

Antony e Barbas (2001, p.84), sobre o comando do teatro de operações,


ainda refletem:

Geralmente, o comandante no teatro de operações é o que tem a


autorização para dar a “luz verde” aos atiradores. Deve existir uma política
pré-estabelecida para isto, e a política deve ser escrita, com o auxílio do
departamento jurídico ou da promotoria da cidade. A política adotada deve
também cobrir as circunstâncias pelas quais devem ser dadas as
autorizações para luz verde. Isto é para evitar confusão ou controvérsia
sobre a pessoa que tem a autoridade no teatro de operações.

Percebe-se, portanto, que só o comandante do teatro de operações é quem


possui a autoridade para dar “luz verde” ao atirador, sendo que este último, como
será visto em seguida, nunca poderá agir sem a anuência de seu comandante.
34

2.5.2 Responsabilidade na Execução

Um atirador de elite policial, diferentemente de seu homólogo militar, via de


regra, nunca age por iniciativa própria, sem autorização de seu escalão superior, ou
sem a liberação do comandante do teatro de operações para efetuar seu disparo.
Não se pode deixar um sniper policial livre para agir, pois se arriscaria a
possibilidade de um disparo em momento não adequado, quando as negociações
mostram-se vantajosas para a polícia e não existe risco iminente ou potencial à vida
do refém, configurando, dessa forma, mais uma execução sumária do que uma
tentativa de salvar vidas inocentes.
Contudo, configurando-se a situação ideal, na qual o comandante do teatro de
operações decide utilizar-se do atirador de elite para solucionar a crise, o sniper,
mesmo assim, ainda tem a liberdade de decidir por não efetuar o disparo, caso
perceba que não tem condições no momento de efetuar um disparo preciso, ou se
atente para algo que colocaria à vida do refém em risco maior.
Giraldi (2001, p.53) afirma que a ordem partirá do comandante de operações,
mas o momento do disparo é decisão do atirador:

Somente ele terá condições de saber quando as miras estarão


enquadradas; o seqüestrador em posição favorável; e o instante exato em
que estará pronto para acionar o gatilho. O agora ou já é seu, e não do
comandante. E, se não estiver muito bem preparado, poderá sofrer totais
alterações físicas e psíquicas que prejudicarão, totalmente, sua atuação.

Plaster (1993, p.14) afirma que atirador de elite policial deve possuir a
habilidade de dizer não:

Aliada a esta exigência de nunca errar, um sniper policial - muito mais do


que o seu homólogo militar - deve ter a capacidade de dizer não. Ele deve
ter a coragem para avaliar a situação com honestidade, pesar sua vontade,
a sua arma, suas habilidades e seus limites, e deixar o seu supervisor
decidir se o tiro pode ser efetuado. Muitas vezes, os líderes não podem
avaliar plenamente as habilidades de um atirador; simplesmente aceitar
passivamente a ordem de atirar, sem avaliar seu campo de visão, pode
levar à catástrofe. É muito possível que a melhor oportunidade de
salvamento para um refém exiga um tiro arriscado. Sendo assim, tão logo
isso seja percebido, opções menos práticas podem ser descartadas. Após o
processo, você pode conviver consigo, mesmo se a operação falhar, você
fez o seu melhor. Mas se você se manteve quieto e apenas executou a
35

ordem sem considerar o risco ao refém no momento do disparo, o resultado


vai assombrar-lo em seu túmulo.

O sniper policial deve ter em mente que mesmo com o sinal de “luz verde”, ele
ainda é responsável pela execução de um disparo que visa salvar a vida de um
inocente, devendo ser extremamente preciso e consciencioso de suas habilidades,
limites e fatores que podem interferir em um tiro perfeito.

Se você recebe uma “Luz Verde” do seu comandante, lembre-se que isto
não o absolve de qualquer responsabilidade, tenha certeza do seu alvo.
Tenha em mente que se existe um refém, o suspeito pode ter trocado de
roupa com ele, e lembre-se de identificar o seu alvo através do rosto, e não
apenas pelas roupas.Também tenha cuidado com as informações que você
recebe. Um atirador de precisão policial que atingiu o gerente de uma
joalheria de Beverly Hills há alguns anos atrás estava seguindo uma
descrição dada por uma outra pessoa. A morte por engano continua
presente na sua consciência (RAPP, 1988, p.48).

Oliveira, Gomes e Flores, apud De Paris Neto (2002, p.74) fala dos
questionamentos que o atirador policial deve ter em mente antes de efetuar o
disparo:

Primeiro, o policial deve perguntar-se se o agressor tem habilidade em


causar morte ou grave lesão corporal a este ou a terceiros; em possuindo,
se o agressor tem a oportunidade de utilizar esta habilidade para causar
morte ou a lesão ao policial ou a terceiros; uma vez determinado que o
agressor tem a habilidade e a oportunidade, se sua ação realmente colocará
em perigo de vida ou de grave lesão corporal ao policial ou a terceiros. Se a
resposta a uma destas três perguntas – habilidade, oportunidade e perigo –
for não, provavelmente o policial não estará justificado em utilizar a arma de
fogo.

Ainda Leão, apud De Paris Neto, (2002, p.74):

Esse modelo coincide perfeitamente com a legislação e não há divergências


dessa teoria com os aspectos legais de atirar ou não em uma ação policial.
A diferença está na forma de identificar o momento certo de usar a força
letal, sem desrespeitar a lei. O ensinamento jurídico ensina o policial a
visualizar o momento do uso de força letal sob as vistas da lei, enquanto o
modelo do triângulo do tiro ensina sob o ponto de vista TÁTICO. O triângulo
do tiro prevê que o policial só pode usar a força letal, ou seja, usar sua arma
de fogo, se visualizar um agressor que o esteja atacando ou atacando a um
outro cidadão com habilidade, oportunidade e perigo.
36

2.6 TIRO DE COMPROMETIMENTO

2.6.1 Conceito

A partir deste ponto, resta definir-se o que vem a ser, exatamente, o tiro de
comprometimento.
O tiro de comprometimento equivale a um tiro de precisão efetuado por um
atirador de elite, sendo uma das alternativas táticas que as organizações policiais
dispõem para a resolução de situações críticas.

Este tiro se constitui em um único disparo realizado por policial


especialmente treinado para este fim, sob as ordens do comandante do
teatro de operações. Objetiva a imobilização imediata do causador da crise:
via de regra, significa sua morte instantânea.(PEGORARO, 2008)

Via de regra, tiro de comprometimento visa à morte instantânea do criminoso,


porém existem casos nos registros policiais em que o disparo obteve sucesso e
mesmo assim não levou a óbito o agente causador da crise. Situações como essa
são comuns nos casos assim chamados de “tentativa de suicídio por policial”, não
muito comum no cenário nacional, sendo mais freqüentemente encontrado em
ocorrências norte-americanas.
Em eventos como esse, o causador da crise, geralmente portando arma de
fogo e sem fazer reféns, faz ameaças contra sua própria vida ou espera que, ao
ameaçar os policiais, estes por sua vez o executem em legítima defesa.
Dessa forma, quando um atirador de elite é solicitado para esse tipo de
ocorrência, objetiva, em um momento de distração do agente, atingir a arma ou feri-
lo levemente visando simplesmente fazer cessar a situação crítica, buscando a
preservação de sua vida.

2.6.2 Disparo e Alvo

Não existindo outra possibilidade de se fazer parar a conduta delituosa do


agente que está colocando em risco iminente ou potencial a vida do refém, executa-
se o tiro de comprometimento que visa neutralizar totalmente o agressor, ou seja,
levá-lo a óbito instantâneo.
37

É um consenso geral que o sistema nervoso central é o alvo preferido


quando é necessário parar um suspeito. Um disparo na coluna vertebral irá
causar a queda do sujeito imediatamente, porque isto interrompe os
impulsos nervosos que controlam os movimentos voluntários, se o disparo
atinge o alto da coluna, pode provocar a morte através de parada cardíaca e
respiratória. (ANTONY e BARBAS, 2001, p.93).

Obviamente, tiros de fuzil que atingem a cabeça de um ser humano levam à


morte, porém, para o atirador de elite é muito importante saber o quão rápido essa
pessoa irá morrer e qual seu poder de reação nesse intervalo de tempo.

Uma das proeminentes autoridades na atualidade em ferimentos com arma


de fogo, o doutor Vincent Di Maio, afirma que não existe projétil ou calibre
mágico no qual se vai garantir uma parada. A discussão do doutor de Maio
se refere aos projéteis de pistola, mas pode-se dizer o mesmo para os
projéteis de rifle e projéteis de escopetas é essencial que se atinja um órgão
vital para causar uma “parada” instantânea. O tamanho e o poder do projétil
são menos importantes do que o local que ele atinge. (ANTONY e BARBAS,
2001, p.91)

Para minimizar a reação do seqüestrador, inclusive possíveis espasmos


musculares, o sniper deve efetuar um tiro preciso em pontos específicos da caixa
craniana.

Para tanto, ao encontrar um seqüestrador armado que detém em seus


braços uma vítima, o atirado de elite, de preferência, terá de acertá-lo de
frente, a região entre os lábios e o septo nasal, a fim de atingir o bulbo
raquiano (e outros pontos letais do cérebro), que irá incapacitá-lo
instantaneamente, sem qualquer possibilidade de reação, sendo que o
bulbo raquidiano também pode ser atingida estando a cabeça do
seqüestrador em outra posição. (PLASTER, 1993, p. 135).

Atingir o alvo no bulbo raquidiano via impedir qualquer possível reação do


agente, inclusive espasmos musculares que poderiam acionar o gatilho de uma
arma ou acionar uma bomba, etc. O Exército americano, no seu manual Army
Special Operations Target Course, Sniper Training and Employment, de 2001,
apresenta uma figura com alvos humanos, mostrando que é possível atingir o bulbo
raquidiano do seqüestrador em diferentes posições, a notar-se a Figura 1 a seguir.
38

Figura 1: Bulbo Raquidiano como alvo em diferentes posições.


Fonte: U.S Army Special Operations Target Course, Sniper Training and Employment, 2001.
39

3 A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE COMPROMETIMENTO

O tiro de comprometimento, por ser uma alternativa extrema na solução de


crise, se envolve de complexidade jurídica. Se por um lado busca a preservação da
vida do refém, por outro, sua execução implica necessariamente na morte do agente
causador da crise.
Na eclosão de uma situação crítica em que se cogite a utilização do tiro de
comprometimento, diversos problemas de ordem legal, moral e ética são trazidos à
tona. Questões referentes à legitima defesa de terceiros, responsabilidade civil e
penal, estrito cumprimento do dever legal, além do uso progressivo da força, entre
outras, devem ser levadas em conta para que a ação esteja legalmente e
legitimamente amparada.

3.1 CONCEITOS

3.1.1 Legalidade

Não se confundem a legalidade e a legitimidade. A legalidade é a situação de


conformidade com o direito positivo, independentemente do consenso social, de
maneira que norma, embora formalmente perfeita, pode ser ilegítima, se não tiver,
na sua origem, órgãos autênticos da representação popular.
A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância das
leis, isto é, o procedimento da autoridade em consonância estrita com o direito
estabelecido. Ou em outras palavras, traduz a noção de que todo poder estatal
deverá atuar sempre de conformidade com as regras jurídicas vigentes. Em suma, a
acomodação do poder que se exerce ao direito que o regula.
A legalidade supõe, por conseguinte, o livre e desembaraçado mecanismo
das instituições e dos atos da autoridade, movendo-se em consonância com os
preceitos jurídicos vigentes ou respeitando rigorosamente a hierarquia das normas,
que vão dos regulamentos, decretos e leis ordinárias até a lei máxima e superior,
que é a Constituição

Cumpre ressaltar que a legalidade reflete fundamentalmente o acatamento


a uma estrutura normativa posta, vigente e positiva. Compreende a
existência de leis, formal e tecnicamente impostas, que serão obedecidas
40

por condutas sociais presentes em determinada situação institucional. A


legalidade projeta-se concretamente como a esfera normativa contida em
expressões ou signos expressivos dos deveres e direitos dos sujeitos de
atividade social, subjetivamente como fidelidade dos sujeitos sociais ao
cumprimento de suas atividades dentro da ordem estabelecida
necessariamente no grupo humano a que pertencem. (WOLKMER apud
COELHO, 1991, p. 387).

3.1.2 Legitimidade

A legitimidade tem exigências mais delicadas, visto que levanta o problema de


fundo, questionando acerca da justificação e dos valores do poder legal. A
legitimidade é a legalidade acrescida de sua valorização. É o critério que se busca
menos para compreender e aplicar do que para aceitar ou negar a adequação do
poder às situações da vida social que ele é chamado a disciplinar. No conceito de
legitimidade entram as crenças de determinada época, que presidem à manifestação
do consentimento e da obediência.
Do ponto de vista filosófico, a legitimidade repousa no plano das crenças
pessoais, no terreno das convicções individuais de sabor ideológicos, das
valorações subjetivas, dos critérios axiológicos variáveis segundo as pessoas,
tomando os contornos de uma máxima de caráter absoluto, de princípio inabalável,
fundado em noção puramente metafísica que se venha a eleger por base do poder.
Para Schroder (2001, p. 55):

A legitimidade exterioriza-se pela vontade do povo, ou o que a sociedade


espera do detentor do poder. Portanto, toda e qualquer ação legítima será a
resultante consensual do interesse coletivo. Para que o Estado use a força e
tenha sua ação legitimada pelo povo, este deve aprovar sua utilização.

Legitimidade é:

A qualidade ética do direito, a maior ou menor potencialidade para que o


direito positivo e os direitos não positivos alcancem um ideal de perfeição.
Esse ideal, espaço privilegiado da ideologia, pode ser provisoriamente
identificado com a justiça, ou certos valores que representam conquistas da
humanidade, principalmente os direitos humanos [...] (COELHO 1991, p.
358).

A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu enquadramento


nos moldes de uma constituição observada e praticada; sua legitimidade será
41

sempre o poder contido naquela constituição, exercendo-se de conformidade com as


crenças, os valores e os princípios da ideologia dominante, no caso a ideologia
democrática. Verifica-se que a noção de legitimidade está ligada à aceitação e a
vontade do povo, indo além do que seja legal.
Desta forma, o conceito de legitimidade precede e condiciona o princípio da
legalidade, não podendo haver legalidade, em sentido estrito, sem que os poderes
das autoridades representativas do Estado não sejam legítimas.

3.2 USO DE FORÇA LETAL NA ATIVIDADE POLICIAL

Na continuidade da análise da legitimidade na execução do tiro de


comprometimento, outro aspecto a ser considerado é do uso da força letal pelo
aparato policial. Muito se questiona sobre o uso da força policial, pois se desconhece
o preparo e estudos realizados nesse cerne e, levianamente, acredita-se que as
instituições policiais banalizam a força em suas técnicas e processos de
policiamento.
A Polícia Militar, na realização de sua missão constitucional de polícia
ostensiva e preservação da ordem pública, lida com diversos processos de
policiamento, com intuito maior de dar uma resposta a qualquer evento que venha a
quebrar a ordem pública.
Por ser uma atividade deveras complexa, não raro necessita-se da utilização
do uso da força, inclusive força letal, medida que é reconhecida como inteiramente
legítima, desde que respeitados os padrões legais, morais e éticos.
Para o jurista Francisco de Assis Toledo, citado por Antony e Barbas (2001,
p.87), afirma:

Os destinatários da norma permissiva em exame são em geral, os agentes


do Poder Público, servidores do Estado, postos freqüentemente diante de
situações em que a exigência de predominância do principio da autoridade
torna necessário o emprego da força, com lesão a bens jurídicos, tais como:
liberdade, patrimônio, integridade física e excepcionalmente – se houver
resistência – até a vida.

Observa-se de pronto que o uso da força na atividade policial, ainda que letal,
é claramente legal e legítima, pois o Estado assegura isso aos seus agentes, para
que façam valer suas pretensões, exteriorizadas nos regramentos, seja de atos
42

normativos ou jurídicos. Porém, o seu emprego da força não deve de maneira


nenhuma ser banalizado, obedecendo a regramentos que escalonam procedimentos
e ritos para que não se extrapole os limites legais e éticos, respeitando os direitos e
garantias fundamentais.

3.2.1 Modelos de Uso da Força

Ao contrário do pensamento cotidiano e simplista, a atividade policial não é


empírica e deixada a discricionalidade de seus agentes, mas sim uma atividade
complexa que se reveste de extremo profissionalismo e cientificidade. Inúmeras são
as colaborações de trabalhos nacionais e internacionais que se dedicam ao estudo
policial e com o uso da força não é diferente.
Vários modelos de aplicação do uso progressivo da força foram elaborados
com a finalidade de fornecer orientações referentes ao emprego gradual da força,
oferecendo aos policiais parâmetros mais perceptivos sobre quando, como e porque
valer-se da força.
Segundo Moreira e Corrêa (2002, p. 77) “o uso progressivo da força é a
seleção adequada de opções de força pelo policial em resposta ao nível de
submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado”.
De acordo com Moreira e Corrêa (2002, p. 83), “um modelo de uso da força é
um recurso visual destinado a auxiliar na conceituação, planejamento treinamento e
na comunicação dos critérios sobre o uso da força utilizado pelos policiais”. Em
alguns dos principais modelos utilizados hoje por policias do mundo inteiro e se
percebe que o uso de força letal é um conceito doutrinário, amplamente difundido e
aceito como último recurso ou quando estão configurados os requisitos para sua
utilização.

3.2.1.1 Modelo Flect

O Modelo Flect é aplicado pelo Centro de treinamento da Polícia Federal de


Glynco, Geórgia, Estados Unidos da América (EUA). Constitui-se de um modelo
gráfico com cinco camadas e três painéis.
Em um dos painéis há a percepção do policial em relação à atitude do
suspeito, no segundo painel está representada a percepção do risco para o policial,
43

representado por algarismos romanos e cores. No terceiro painel encontram-se as


reações (respostas) de força possíveis em relação à atitude dos suspeitos e
percepção dos riscos.
Percebe-se que no último nível, representado pela cor vermelha, refere-se à
percepção de ameaça mortal, devendo o policial manter o mais alto nível de
avaliação de risco, empregando suas máximas habilidades de sobrevivência para
garantir sua auto-preservação e segurança de terceiros, podendo com isso, valer-se
da força letal.

Figura 2: Modelo Flect de uso progressivo da força.


Fonte: Ministério da Justiça, Apostila de Uso legal da Força, 2006.

3.2.1.2 Modelo Remsberg

Conforme a Apostila do Uso Legal da Força do Ministério da Justiça, este


modelo é formado por degraus em elevação. Os degraus mais baixos referem-se
aos níveis de força mais baixos e os degraus mais altos correspondem aos níveis de
força mais altos, relacionados ao emprego da força letal (armas de fogo).
Para empregar o modelo Remsberg, o policial utiliza-se dos degraus
correspondentes ao nível de força de resposta que melhor julgar para a situação
vivida. Conforme a situação evoluir, vai-se optando por diferentes níveis de força,
subindo ou descendo os degraus. Cabe ressaltar que o uso de arma de fogo, como
força letal está presente nesse modelo, sendo utilizado como último recurso em
resposta a uma agressão letal iminente.
44

Figura 3: Modelo Remsberg de uso progressivo da força.


Fonte: Ministério da Justiça, Apostila de Uso legal da Força, 2006.

3.2.1.3 Modelo Canadense

Esse modelo foi desenvolvido pela polícia canadense, reconhecida


mundialmente como uma das melhores instituições policiais, possuindo seus
estudos reconhecidos e copiados por várias corporações policiais.
Consiste em círculos sobrepostos e subdivididos. De acordo com a apostila
Uso legal da Força do Ministério da Justiça (2006) o círculo interno refere-se ao
comportamento do suspeito e o externo à ação de resposta do policial.
O círculo interno corresponde às atitudes do suspeito, graduado em cinco
níveis. No círculo externo, graduado em sete níveis, está a resposta policial à ação
do suspeito.
Neste modelo também está prevista a possibilidade do uso de força letal por
parte do aparato policial, representada através da cor vermelha, a utilização da arma
letal (força letal) é constituída de uma medida extraordinária, extrema. (USO LEGAL
DA FORÇA, 2006).
45

Figura 4: Modelo Canadense de uso progressivo da força.


Fonte: Ministério da Justiça, Apostila de Uso legal da Força, 2006.

3.2.1.4 Modelo Nashville

Consiste em um modelo simples, possuindo duas variáveis para o uso da


força, não estando presentes a avaliação do risco para o policial. (USO LEGAL DA
FORÇA, 2006). Possui um formato gráfico em forma de eixos de coordenadas (XY),
onde as abscissas (eixo X) correspondem à atitude dos suspeitos e o eixo das
ordenadas (eixo Y), corresponde aos níveis de força policial.
Sua análise se dá através do cruzamento dos eixos ordenados e pode ser
interpretada de duas formas: uma mais severa e outra menos severa. Neste modelo,
encontra-se também previsto o uso de força letal, através de arma de fogo, no
extremo dos eixos.

Figura 5: Modelo Nashville de uso progressivo da força.


Fonte: Apostila de Uso legal da Força, 2006.
46

3.2.1.5 Modelo Phoenix

Utilizado pelo Departamento de Polícia de Phoenix, é um modelo bastante


simples e prático, exposto na forma de tabela com duas colunas, sendo a primeira
coluna referente à ação do policial e a segunda coluna relacionada à atitude do
suspeito. (USO LEGAL DA FORÇA, 2006).
Corroborando os outros modelos estudados, o Modelo Phoenix também tem
previsto o uso de arma de fogo e força letal, quando necessário, sendo o último
recurso.

Figura 6: Modelo Phoenix de uso progressivo da força.


Fonte: Ministério da Justiça, Apostila de Uso legal da Força, 2006.

3.2.1.6 Modelo Básico de Uso Progressivo da Força e Análise Geral

A apostila Uso Legal da Força (2006) traz modelo básico de uso gradual da
força. Assemelha-se ao modelo Flect, sendo representado por uma figura
geométrica em forma de trapézio com degraus em seis níveis, cada qual pintado por
uma cor diferente.
Nota-se que emprego da força letal policial aparece como recurso extremo,
expresso no ápice da pirâmide por meio da cor vermelha, podendo ser utilizada em
situações em que houver agressão por parte do suspeito configurar-se com letal.
Observa-se em comum em todos os modelos estudados que o uso de força
letal por parte do aparato policial é legítimo desde que obedecidos os requisitos para
47

a sua configuração. O tiro de comprometimento é um recurso viável, legal e


legitimamente aceito em resposta a uma agressão letal, atual ou iminente, do
suspeito para com o refém. Sua aplicabilidade é estudada com cientificidade e
profissionalismo por várias instituições policiais de vanguarda, que corroboram seus
estudos na linha de pensamento que visa defender a vida do refém e aplicar a lei.

Figura 7: Modelo Básico de Uso Progressivo da Força.


Fonte: Ministério da Justiça, Apostila de Uso legal da Força, 2006.

3.3 TIRO DE COMPROMETIMENTO E O CONCEITO DE CRIME

Nas críticas de “vista curta” que recaem sobre a execução do tiro de


comprometimento, as mais duras referem-se diretamente ao resultado morte do
agente. Fala-se que tirar a vida do criminoso em questão é tão grave quanto o
próprio crime cometido por ele.
Obviamente, essa fala não leva em conta que a utilização do atirador de elite
se dá sempre quando já foram esgotadas todas as alternativas não-letais de
resolução do conflito. Mesmo assim, é pertinente esclarecer juridicamente essa
questão e mostrar como o tiro de comprometimento vai se afastando do conceito de
crime à medida que aumenta sua compreensão. Analisando de forma geral a
48

execução do tiro de comprometimento, pode-se observar certas características


gerais referentes a essa ação.
Em um tradicional conceito analítico descritivo, crime é toda conduta típica,
antijurídica culpável e, portanto, quando se quer analisar uma situação em que se
objetiva suas conseqüências penais, deve-se pensar em:

a) Verificação da existência de CONDUTA;


b) se positiva, verificação de existência de TIPICIDADE;
c) uma vez verificada a tipicidade, é de se buscar a ANTIJURIDICIDADE;
d) por fim, a reprovabilidade ou CULPABILIDADE. (PEGORARO, 2008)

A conduta é definida como fator de causalidade, que segundo Capez, (2000,


p. 97), é a “modificação no mundo exterior, perceptível sensorialmente. Agir é dar
causa a algum evento perceptível no mundo natural”. Ainda Capez, “é a ação ou
omissão humana, consciente e voluntária dirigida a uma finalidade”.
No tiro de comprometimento há, necessariamente, uma ação humana,
voluntária e consciente destinada a uma finalidade, ou seja, do ponto de vista
jurídico, está presente a conduta.
Continuando a análise na seqüência de Pegoraro, ao lançar os olhos na
execução do tiro de comprometimento, vê-se que é um fato típico, ou seja, tem a
conduta prevista na lei como crime ou contravenção penal. Em relação a tipicidade
do verbo praticado, não resta duvida do previsto no Código Penal Brasileiro: “Art.121
- Matar Alguém”.
Tem-se o tipo definido como:

A descrição do fato criminoso, feita pela lei. O tipo é um esquema, ou uma


fórmula, que serve de modelo para avaliar se determinada conduta está
incriminada ou não. O que não se ajusta ao tipo não é crime. [...] O tipo tem
uma função de garantia, impedindo que seja considerado crime o que não
estiver descrito na lei. É também um indício de antijuridicidade, indicando
que, em princípio, a conduta descrita é ilícita, salvo excludente prevista em
lei. (FÜHRER, 1990).

Conclui Capez (2000, p.135) que, “O tipo é, portanto, um molde criado pela
lei, em que está descrito o crime com todos seus elementos, de modo que as
pessoas sabem que só cometerão algum delito se vierem a realizar uma conduta
idêntica à constante do modelo legal”.
49

Na lógica do raciocínio referente ao conceito de crime, que analiticamente é


toda conduta típica e antijurídica, uma vez verificada a existência de conduta e
tipicidade, é de se buscar presumidamente a antijuridicidade, definida como:

O conceito de antijuridicidade é o oposto ao de juridicidade: assim como


juridicidade indica conformidade ao direito, antijuridicidade indica
contradição ao direito. A antijuridicidade é uma contradição entre a ação
humana e o ordenamento jurídico no conjunto de suas proibições e
permissões: as proibições são os tipos penais, como descrições de ações
proibidas; as permissões são as causas de justificação, como situações
especiais que excluem a proibição. (SANTOS, 2002, p.217).

Para Capez (2000, p.150):

É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídicos, pela qual a ação


ou omissão típicas tornam-se ilícitos. Em primeiro lugar, dentro da primeira
fase de seu raciocínio, o intérprete verifica se o fato é típico ou não. Na
hipótese de atipicidade, encerra-se, desde logo, qualquer indagação acerca
da ilicitude. É que não chega sequer a ser típico, pouco importa saber se é
ou não ilícito, pois, pelo principio da reserva legal, não estando descrito
como crime, cuida-se de irrelevante penal.

Reafirmando a idéia, Pegoraro (2008) diz que:

Uma vez verificada a tipicidade, a antijuridicidade é presumida, isto quer


dizer que, uma conduta típica é, presumivelmente, antijurídica, por que, em
princípio, viola o ordenamento jurídico, salvo permissivo legal expresso, que
pode ter origem não só no direito penal, mas em todo o ordenamento
jurídico.

Segundo Mirabete (2006):

A antijuridicidade é a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico.


O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se ao tipo
penal, é antijurídico. Existem, entretanto, na lei penal ou no ordenamento
jurídico em geral, causas que excluem a antijuridicidade do fato típico.

Em análise continua, existem situações em que a prática de fato típico


previsto na lei como crime tem sua antijuridicidade afastada. Isto ocorre quando a
atuação de sujeito ativo estiver amparada numa causa de excludente de ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
50

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.


(Decreto 2.848/40)

Pois bem, percebe-se que o tiro de comprometimento possui sua ação contida
no conceito de conduta jurídica e que este agir possui tipicidade, ou seja, está
descrito como fato criminoso no texto penal brasileiro. Contudo, cogita-se o absurdo,
a priori, em querer incriminar o ato executado pelo atirador de elite na tentativa de
preservar a vida de inocentes, haja vista, primeiramente, a própria intenção do
aparato policial em preservar a vida e a lei, e dentro da lógica puramente jurídica, a
ausência da antijuridicidade.
Nas palavras de Antony e Barbas (2001, p.87):

É evidente que o ordenamento jurídico não confere a quem quer que seja o
direito de matar. Contudo, em ocorrências, em que reféns (terceiros
inocentes) estão com a vida em risco, o organismo policial há que agir com
determinação e eficiência a fim de afastar o mal iminente, utilizando-se, para
tanto, dos “meios necessários”. E nesta hipótese, é possível que o “injusto
agressor” possa ser ferido e até mesmo morto.

Diante do exposto leva-se a concluir, então, que o tiro de comprometimento


apesar de possuir conduta típica, não possui antijuridicidade, haja vista estarem
afastadas as condições referentes à antijuridicidade.

3.4 EXCLUDENTES DE ILICITUDE E O TIRO DE COMPROMETIMENTO

3.4.1 Legítima Defesa

A legítima defesa é causa excludente de ilicitude, prevista no artigo 23, inciso


II, e regulada pelo artigo 25, do Código Penal Brasileiro: "Entende-se em legítima
defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".
O mesmo instituto encontra-se assegurado no Código Penal Militar, em seu
artigo 42, inciso II, e regulado pelo artigo 44:

Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
51

IV - em exercício regular de direito.


Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. (DECRETO 1.001, 1969)

Conforme o pensamento de Nucci (2005, p. 215), “é a defesa necessária


empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de
terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios necessários.”
Para Capez (2005, p. 270), legítima defesa é:

Causa de exclusão da ilicitude que consiste em repelir injusta agressão,


atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos
meio necessários. Não há, aqui, uma situação de perigo pondo em conflito
dois ou mais bens, na qual um deles deverá ser sacrificado. Ao contrário,
ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou terceiro, legitimando a
repulsa.

Do mesmo modo Inellas (2001, p. 60):

A legítima defesa é o direito indiscutível, inalienável e irreversível, que toda


pessoa possui, de se defender, defender seus entes queridos ou terceiros
inocentes, de ataques violentos e irracionais, repelindo a força com a força.

Observado o texto legal, percebem-se na letra da lei os requisitos para a


configuração da legítima defesa:

a) a reação a uma agressão atual ou iminente e injusta;


b) a defesa de um direito próprio ou alheio;
c) a moderação no emprego dos meios necessários a repulsa; e
d) o elemento subjetivo. (MIRABETE, 2006, p. 177).

3.4.1.1 Agressão atual ou iminente e injusta

Nota-se, então, que é indispensável que haja, inicialmente, reação contra


aquele que está praticando uma agressão. Agressão é um ato humano que lesa ou
põe em perigo um direito, exige-se que seja injusta, contrária ao ordenamento
jurídico, atual ou iminente, ou seja, que está acontecendo, desencadeando-se,
iniciando-se ou que ainda esta se desenrolando porque não se concluiu ou que está
para acontecer, existe a indicação que ela vai ocorrer.
52

Mirabete (2006, p. 178), para se configurar a legítima defesa, “é indispensável


que haja, inicialmente, por parte do agente, reação contra aquele que esta
praticando uma agressão”.
Capez (2000, p. 273) afirma que atual “é a que está ocorrendo, ou seja, o
efetivo ataque já em curso no momento da reação defensiva”. O autor segue,
destacando que para a legítima defesa ser admitida, a repulsa deve ser imediata, ou
seja, logo após ou durante a agressão atual, enfatizando que inexiste legítima
defesa contra agressão futura.
Relativamente ao termo iminente, Capez (2005) assevera que “é a que está
prestes a acontecer. Nesse caso, a lesão ainda não começou a ser produzida, mas
deve iniciar a qualquer momento”.
Nota-se que só estará protegido pela lei aquele que reagir a uma agressão
injusta. De acordo com Mirabete, injusta é a agressão não autorizada pelo Direito.
(MIRABETE, 2004, p.183).
No mesmo sentido, Capez (2005, p. 271) destaca que “agressão injusta é a
contrária ao ordenamento jurídico”. Observa-se, então, que a execução do tiro de
comprometimento deve se dar em momento ideal, onde se configura uma agressão
iminente e o potencial lesivo à vida do refém está presente.

3.4.1.2 Elemento Subjetivo

Mirabete (2006, p.182) diz: “Como em todas as justificativas, o elemento


subjetivo, ou seja, o conhecimento que está sendo agredido é indispensável”. O
agente deve ter consciência de que a agressão que sofre é injusta a atuar movido
por este raciocínio. À vontade de defesa será o elemento subjetivo da justificação.

3.4.1.3 Moderação no emprego dos meios necessários a repulsa

Nesta reação, deve o agente usar os meios necessários, mas de forma


moderada, a fim de não cometer excessos. Segundo Capez (2005, p. 275)
moderação consiste no “emprego dos meios necessários dentro do limite razoável
para conter a agressão”.
53

Mirabete (2004, p. 185) afirma ser “os que causam o menor dano
indispensável à defesa do direito, já que, em princípio, a necessidade se determina
de acordo com a força real da agressão”.
Misael Aguilar Neto Afirma:

A medida da repulsa deve ser encontrada pela natureza da agressão em


face do valor do bem atacado ou ameaçado, circunstâncias em que se
comporta o agente e os meios à sua disposição para repelir o ataque. O
meio escolhido deixará de ser necessário quando se encontrarem à sua
disposição outros meios menos lesivos. O sujeito que repele a agressão
deve optar pelo meio produtor de menor dano. Se não resta nenhuma
alternativa, será necessário o meio empregado.

Encontrado o meio necessário para repelir a injusta agressão, o sujeito deve


agir com moderação, não empregar o meio além do que é preciso para evitar a lesão
do bem próprio ou de terceiro. Caso contrário, desaparecerá a legítima defesa ou
aparecerá o excesso culposo. Havendo flagrante desproporção entre a ofensa e a
reação, desnatura-se a legítima defesa.
Do estudo da legítima defesa, um ponto importante a ser levado em conta
referente aos requisitos da legítima terceira, se consubstancia na defesa de direito
próprio ou alheio (legitima defesa de terceiros), e é neste último que recai o principal
interesse à legitimidade na execução do tiro de comprometimento, pois a lei
consagra o elevado sentimento de solidariedade humana e ampara o agir diante da
violência dirigida a um semelhante.

3.4.2 Legitima Defesa de Terceiros

A legítima defesa de terceiro consagra o sentimento de solidariedade inerente


ao ser humano. Não é necessário relação de parentesco ou amizade com o terceiro
em favor de quem exercita a legítima defesa. O terceiro agredido pode ser uma
pessoa jurídica, o nascituro, a coletividade e também o próprio Estado.
Integrando esse pensamento, diz Neto (2005):

Pode-se apontar a razão da defesa de terceiro no espírito mais altruísta e


humanitário. Estaria na própria natureza da descriminante, já que é
inconcebível que a lei imponha ao espectador, a total passividade diante da
violência e ofensas dirigidas a um semelhante. Assim, o direito existe para
proteger os interesses jurídicos próprios, também existe para tutelar os
54

interesses jurídicos da ordem e o interesse público relativo à integridade


pessoal.

Ainda, a lei não faz distinção entre quem exerce a legítima defesa, não
importando a condição de amizade, parentesco, nacionalidade ou conhecimento e
consentimento da pessoa, bastando que se caracterize a injustiça da agressão e a
necessidade de reação imediata.
O sujeito pode defender seu bem jurídico (legítima defesa própria) ou
defender direito alheio (legítima defesa de terceiro), tendo em vista que a lei
consagra o elevado sentimento da solidariedade humana. No segundo caso, admite-
se somente a defesa de bens indisponíveis quando o titular consente na agressão.
(MIRABETE, 2004).
Confirmando a tese, a configuração da hipótese de legítima defesa de terceiro
não necessariamente depende do consentimento do agredido, desde que se trate de
bem indisponível, como a vida. (NUCCI, 2005)
Ficam claros os argumentos que colocam a execução do tiro de
comprometimento dentro do amparo legal do arcabouço jurídico brasileiro. A
atividade do atirador de elite neste disparo encontra-se perfeitamente socorrida pelo
instituto jurídico-penal da legítima defesa de terceiros, que visa à preservação da
vida e a integridade física da vítima ou refém, mesmo que em detrimento do
causador da crise.
Justamente por trazer a preservação da vida como objetivo mais importante
em uma ocorrência com tomada de reféns é que se admite a possibilidade do uso de
força letal na doutrina de gerenciamento de crise.
Por todo esse exposto, percebe-se que o atirador deve se utilizar de força
letal, não podendo apenas tentar ferir os agressores, pois poderá implicar numa
tentativa ou gesto que leve o bandido a ferir os reféns.
É como completa De Paris Neto (2002, p. 53):

O Atirador de Elite e o grupo tático encarregado do resgate de reféns ainda


com vida não podem tentar simplesmente ferir (ainda que gravemente) os
bandidos, pois essa ação não seria suficiente para neutralizá-los e impedi-
los de, num gesto desesperado, matar os reféns, frustrando o objetivo da
missão.

Completando o pensamento, Antony e Barbas (2001, p.88):


55

Quanto ao fato de se ceifar a vida do “injusto agressor”, conquanto seja uma


medida extrema e derradeira, não pode ser descartada e nem levar o
agente da policia a execração pública, posto que havia uma vida
socialmente mais útil e importante sob ameaça.

Ainda o julgado na Apelação nº 6.509/ 1ª AJME, citado por Antony e Barbas


(2001, p.88), em que o MM Juiz Cel Laurentino de Andrade Filocre assim se
manifestou:

É claro que sob o ponto de vista da Teologia e da Filosofia, e sob o enfoque


do Direito Natural, todas as vidas são iguais e, igualmente, devem ser
respeitadas e preservadas, como nosso Dom mais precioso, e lamenta-se a
perda de cada uma em qualquer circunstância. Mas, no sentido social de
utilidade prestante |à sociedade e à comunidade em que vivem muito mais
valor tem a vida do policial-militar, não se podendo compará-la com a do
bandido, que em geral, se transforma em elemento perturbador do meio
social circundante.

Ao se decidir pelo uso do tiro de comprometimento, o comandante do teatro


de operações deve embasar sua decisão no esgotamento total das possibilidades de
negociação e no iminente risco de vida para o refém, indo ao encontro dos preceitos
da legítima defesa de terceiros.

3.4.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal

Diferentemente do que fez com o "estado de necessidade" e com a "legítima


defesa", o Código Penal não definiu o conceito de "estrito cumprimento de dever
legal", limitando-se a dizer que:

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:


(...)
III – em estrito cumprimento de dever legal. (DECRETO 2.848, 1940)

Sua conceituação, porém, é dada pela doutrina, como por exemplo, Fernando
Capez (2000, p.275), que assim define o "estrito cumprimento do dever legal": “É a
causa de exclusão da ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por força
do desempenho de uma obrigação imposta por lei, nos exatos limites dessa
obrigação”.
56

Em outras palavras, a lei não pode punir quem cumpre um dever que ela
impõe. É que quando a lei impõe determinada obrigação, existem limites,
parâmetros, para que tal obrigação seja cumprida, isto é, a lei só obriga ou impõe
dever até certo ponto, e o agente obrigado só dever proceder até esse exato limite
imposto pela lei. Dessa forma, exige-se que o agente tenha atuado dentro dos
rígidos limites do que obriga a lei ou determina a ordem que procura executar o
comando legal. Fora desses limites, desaparece a excludente, surgindo então o
abuso ou excesso.

Mas para que esta conduta, embora típica, seja lícita, é necessário que esse
dever derive direta ou indiretamente de "lei". Por "lei", entenda-se não
apenas a lei penal, mas também a civil, comercial, administrativa etc. Não é
necessário, também, que esta obrigação esteja imposta textualmente no
corpo de uma lei "estrito sensu". Pode constar de decreto, regulamento ou
qualquer ato administrativo infralegal, desde que "originários de lei”.
(ARAÚJO, 2003)

Prof.Dr.Luís Augusto Sanzo Brodt (2007) complementa:

A atuação em estrito cumprimento de dever legal pressupõe que se persiga


a realização do interesse público relevante que fundamenta a existência da
norma preceptiva. Porém, para a execução de tal escopo, o encarregado de
cumprir a determinação legal somente poderá valer-se de meios permitidos
pela ordem jurídica e de modo que lese o menos possível o interesse dos
particulares. Em especial, deve-se atentar à necessidade de não violar os
direitos fundamentais, a não ser na medida expressamente permitida pela
Constituição Federal.
Portanto, para o reconhecimento do estrito cumprimento de dever legal é
preciso que tanto os meios utilizados quanto o fim perseguido estejam em
consonância com o direito. Não se pode dizer, assim, que se trata de
hipótese em que os fins “santificam” os meios.

O Professor Brodt (2007) afirma que uso letal de armas de fogo por policiais
não está amparado pela excludente do “estrito cumprimento do dever legal, restando
sua utilização apenas em legítima defesa própria ou de terceiros:

O exame da natureza dos atos que incumbe ao policial praticar no


cumprimento do dever evidencia-nos que, por vezes, pode ser ele
compelido ao uso da força.
Portanto, é preciso fixar os limites do seu emprego por parte dos policiais
que atuam no estrito cumprimento de dever legal. Mesmo porque o recurso
à força também lhes é reconhecido em legítima defesa e o poder da Polícia,
57

como não poderia deixar de ser, também não é absoluto, subordinado que
está aos parâmetros legais e constitucionais.
O policial, quando no cumprimento de dever funcional, está sujeito às
limitações que vinculam todos os incumbidos de obrigação legal: órgãos dos
Poderes do Estado, seus agentes e particulares.
O uso de armas de fogo (letais), por implicar a lesão inevitável dos direitos
fundamentais, exclui-se do âmbito do estrito cumprimento de dever legal.

É evidente que o estado democrático de direito não expõe em nenhum texto


legal a imposição ou obrigação dos agentes estatais de matar para exercer seu
dever. Não existe lei penal, civil ou administrativa que obrigue um policial a causar a
morte de um indivíduo pelo exercício do estrito cumprimento do dever legal.
Essa excludente de ilicitude só abrange o resultado morte em casos
específicos, quer sejam: do carrasco que executa condenado à morte, e do soldado
que abate inimigo em campo de batalha no caso de guerra declarada, ambas as
situações não existentes no ordenamento jurídico brasileiro em tempo de paz.
No vigente estado democrático de direito, que preceitua como fundamento de
sua própria existência o acatamento do ordenamento jurídico, o uso letal de arma de
fogo por policiais só encontra-se amparado na excludente de ilicitude da legítima
defesa própria ou de terceiros, em resposta a uma agressão atual, iminente ou
injusta, não se aceitando o estrito cumprimento do dever legal por si só como
excludente de ilicitude.

3.5 ANÁLISE JURÍDICA DAS HIPÓTESES DO RESULTADO DO DISPARO

Para que se possa ter uma opinião acerca dos aspectos jurídico-penais na
execução do tiro de comprometimento, deve-se observar o caso em concreto e suas
conseqüências, pois as nuances de cada situação podem ser muitas, e se
desdobrarem de varias maneiras, sendo muito difícil estabelecer o momento ideal, a
situação fática ideal para utilizar-se do atirador na execução do tiro de
comprometimento. Pode-se, porém, traçar uma análise geral para as hipóteses que
podem ocorrer no teatro de operações, nos mesmos moldes que o magistrado do
Paraná, Bruno Pegoraro, faz em seu artigo.
58

3.5.1 Disparo com o Criminoso Atingido

Conforme vem se destacando, o tiro de comprometimento é alternativa


extrema, devendo ser utilizado no momento adequado, ou seja, no esgotamento
total de alternativas não-letais de solução da crise. Com isso em mente, esgotada a
negociação e existindo ainda o risco iminente à vida do refém, o comandante do
teatro de operações dá a ordem e o atirador de elite efetua o disparo, atingindo
exclusivamente o causador do evento crítico.
Não resta dúvida quanto da responsabilidade, conduta e tipicidade, restando
para se discutir a existência da antijuridicidade e, em caso positivo, da culpabilidade.
O ato de matar alguém é típico (Art.121 do Código Penal), logo
presumidamente antijurídico, salvo se sobressair algum permissivo dos previstos no
Art.23 do Código Penal: legitima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento
de dever legal ou exercício regular de direito.
No caso em tela, o que se observa é a ocorrência do permissivo da legítima
defesa, mais especificamente a legítima defesa de terceiros, pois ninguém é
obrigado a suportar o injusto, podendo agir não havendo outra forma de preservar
seus bens jurídicos tutelados.
Pegoraro (2008) completa:

Note-se bem que o artigo 25, do Código Penal permite, de forma expressa,
a utilização da legitima defesa como meio de afastar injusta agressão a
direito próprio ou de outrem. Neste caso, é a chamada legítima defesa de
terceiro. Cumpre destacar que a causa de justificação existirá mesmo que a
agressão não esteja em curso, isto é: não é necessário que a agressão
injusta seja atual, basta que seja iminente.

Não há de se por em questão se o meio utilizado foi moderado quando é o


único que se dispunha no momento para afastar a agressão injusta do agente
causador do evento crítico, pois qualquer outro método não-letal não havia obtido
sucesso até então. Desse modo, no caso haveria o afastamento da antijuridicidade
e, por conseguinte a inexistência de delito, amparado pela legítima defesa de
terceiros.
59

3.5.2 Disparo com o Refém Atingido

Nessa segunda hipótese em discussão, leva-se em conta o disparo realizado


em momento adequado, ou seja, respeitado os preceitos da doutrina de emprego do
atirador de elite e do tiro de comprometimento como solução extrema, dirigido ao
agente causador da crise, porém por fato alheio à vontade do atirador, atinge o
refém, levando-o à morte. Vale ressaltar que no caso em tela, não se cogita nenhum
resultado advindo de imperícia, imprudência ou negligência por parte do atirador de
elite ou do comandante do teatro de operações, pois nisso, a modalidade culposa do
homicídio estaria presente.
Para essa análise é importante salientar o que diz o Art.73 do Decreto
2.848/40 em sua primeira parte:

Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do artigo 20 deste Código. (DECRETO
2.848, 1940).

Esse artigo refere-se ao erro de execução, também conhecido como aberratio


ictius, quando o agente quer atingir determinada pessoa, mas por erro acaba
atingindo pessoa diversa. Completando com o que diz o §3º do Art.20 do mesmo
decreto: “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão
as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”.
Com esse raciocínio, embora o tiro de comprometimento acabasse por atingir
o refém, por uma ficção jurídica, expressa na lei, penalmente, é como se o disparo
tivesse atingido o criminoso. Pegoraro (2008) bem afirma essa questão:

O raciocínio do aberratio ictus é simples. Embora o disparo tenha atingido o


refém, por uma ficção jurídica, determinada expressamente pela Lei,
considera-se, para fins penais, como se o projétil tivesse acertado o
causador do evento crítico, isto é, as condições e qualidades deste último é
que serão consideradas. Pois bem, no mundo empírico, o atingido foi o
refém, mas, no mundo jurídico-penal, o atingido foi, exatamente, o causador
do evento crítico.
60

Ainda o julgado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, citado por


Antony e Barbas (2001, p.87), no qual se manifesta o Desembargador Adriano
Marrey:

Se o agente estava procedendo em legítima defesa e houve erro na


execução, nem por isso deixa a justificativa invocada de ser admissível, se
comprovada. Em relação ao terceiro atingido terá havido mais acidente ou
erronia no uso dos meios de execução. E quem diz acidentalidade diz causa
independente da vontade do agente

Neste caso, a responsabilidade penal será afastada pela legítima defesa de


terceiros, a exemplo do primeiro caso, porém vale ressaltar que na esfera civil não
se afasta, ao menos em tese, eventual dano reparatório.

3.5.3 Disparo com o Criminoso e Refém Atingidos

No caso disposto, além do agente atingido, com um único disparo, o atirador


de elite acaba por acertar também o refém, levando os dois a óbito. Pegoraro afirma
que para tal caso, aplica-se o que vem previsto no artigo 73, última parte do Código
Penal: “No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do artigo 70 deste Código”.
O Artigo 70 dispõe:

Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais


crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um
sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a
ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. (DECRETO 2.848,
1940).

Trata-se do concurso formal, ou seja, quando o agente mediante uma só ação


pratica dois ou mais crimes, e na hipótese em estudo, dois homicídios.
Exagera-se nessa definição, pois se o disparo respeitou a doutrina de
emprego do tiro de comprometimento, realizado em momento adequado e dirigido
ao seqüestrador, a morte do mesmo está amparada por excludente de ilicitude
(legítima defesa de terceiros), conforme já estudado anteriormente. Portanto, não há
61

de se falar em concurso formal, pois não ocorre mais de um homicídio. Apesar de


ocorrerem dois resultados morte, o primeiro tem sua antijuridicidade afastada.
Para a morte do refém, configura-se o erro na execução conforme o primeiro
caso, desde que não configuradas as modalidades culposas.
Quanto à morte do refém na modalidade culposa observa-se o disposto o
seguinte disposto do Art.74 do Código Penal:

Art.74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente
responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre
também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
(DECRETO 2.848, 1940)

Então, por esta análise, se a morte do refém advém de imperícia, imprudência


ou negligência, a exemplo do uso de munição incorreta que venha a transfixar o
crânio do seqüestrador, matando o refém, resta ao atirador a responsabilidade por
homicídio culposo, haja vista o Art.121, §3º do Código Penal prever esse resultado.

3.5.4 Disparo em Momento Não Adequado

Primeiramente vale dispor que não existe uma delimitação exata do momento
mais oportuno para se realizar o disparo, devendo observar o caso concreto com
todas as suas peculiaridades relativas ao local, situação, tempo, entre outras para
uma decisão como esta.
De modo geral, o momento adequado para a execução do tiro de
comprometimento será aquele que depois de esgotadas todas as negociações e
alternativas não-letais de resolução da crise, ainda se faz presente o risco iminente à
vida do refém, sendo a decisão pela utilização dessa alternativa tomada pelo
comandante do teatro de operações embasada por toda técnica e doutrina referente
ao gerenciamento de crise, negociação e emprego do atirador de elite policial.
Ocorre que pode acontecer do comandante do teatro de operações decidir
pelo disparo na ausência da situação configurada, e neste caso, fica inviabilizada o
reconhecimento do excludente de ilicitude. Ainda poderá ocorrer do atirador decidir
pelo momento não adequado para se efetuar seu disparos, quando não estejam
configurados os elementos necessários para o disparo, ou ainda, o fato do atirador
62

agir por iniciativa própria, sem autorização do comandante do teatro de operações,


situações que não estariam amparadas pelas excludentes de ilicitude.
Vale ressaltar que no caso específico da Polícia Militar, mesmo diante da
hierarquia militar, o menos graduado não está obrigado a cumprir ordem
manifestamente ilegal, porém cumprindo a ordem manifestamente ilegal, responderá
pelas suas conseqüências, assim como aquele que as ordenou.

3.5.5 Atirador de Elite Policial Militar e o Código Penal Militar

Formalmente, o crime é a conduta descrita em lei para o qual se comina uma


sanção penal. E, adotando-se a concepção analítica tripartida do delito, tem-se que
uma conduta, para ser considerada crime, deve ser típica, antijurídica. Ademais,
para ser considerada como um delito militar, ela tem que se amoldar a uma das
situações prescritas pelo artigo 9º do CPM.
Resumidamente, para que um ato seja considerado crime militar não basta
configurada uma conduta típica, antijurídica culpável, faz-se necessário também que
ela esteja enquadrada em uma das circunstancias previstas no Art.9º do Código
Penal castrense.
No caso específico do atirador ser policial militar, em qualquer das situações
citadas anteriormente, encontra-se na situação exposta no Art.9º, inciso II, alínea c
do Código Penal Militar, onde a vítima dos disparos, sejam o criminoso e/ou refém,
são civis atingidos por tiro disparado por militar de serviço ou atuando em razão da
função:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na
lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo
disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na
mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à
administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
63

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da


reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (DECRETO-LEI 1.001, 1969).

O Código Penal Militar traz em seu texto os mesmos institutos previstos no


Código Penal Comum no que se refere aos excludentes de ilicitude:

Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. (DECRETO-LEI 1.001, 1969)

Em estudo análogo realizado em relação ao Código penal Comum, age em


legítima defesa de terceiros o sniper policial militar que efetua o tiro de
comprometimento contra criminoso que faz ameaça atual, iminente ou potencial à
vida de reféns. Nas palavras do Desembargador Antônio Cláudio Barcellos de
Abreu, do Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul:

Agem em estrito cumprimento do dever legal e em legítima defesa própria e


de terceiros policiais que atiram e matam indivíduo que, encontrado armado
e em atividade e local suspeitos, ao ser abordado, reage, atirando contra os
militares, e, após, ainda armado, refugia-se em residência alheia, ali
fazendo reféns – Negado provimento ao apelo do Ministério Público, sem
divergência de votos. (Apelação Criminal 2.613/93 RS, Rel. Antônio Cláudio
Barcellos de Abreu, publicado 1994 / I p. 143).

No caso do atirador, sendo policial militar, efetuar o disparo acertando pessoa


diversa da pretendida, ou seja, alvejando o refém, desde que excluída a modalidade
culposa, decorrente de imperícia, imprudência ou negligencia, aplica-se o disposto
no caput do Art. 37do Código Penal Militar:

Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de
execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela que realmente pretendia
atingir. Devem ter-se em conta não as condições e qualidades da vítima,
mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão do
crime, e agravação ou atenuação da pena.(DECRETO-LEI 1.001, 1969)
64

Como no caso em questão, pretendia-se atingir o criminoso com a clara


intenção de salvaguardar a vida de inocente, e como tal ato ampara-se na
excludente de ilicitude da legítima defesa de terceiros, não há de se falar em
punibilizar o agente da lei. Importa-se, que apesar do disparo ter atingido o refém,
por uma ficção jurídica, prevista na lei, considera-se atingido, para fins penais, a
figura do criminoso. No mundo real atingiu-se o refém, mas no mundo jurídico-penal
o atingido foi justamente o perpetrador da crise.
A duplicidade de resultados também tem previsão no diploma castrense,
assim sendo, no resultado de refém e criminoso atingidos, resta o Art.37, parágrafo
2º em combinação com Art.79:

2º Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa visada, ou, no caso


do parágrafo anterior, ocorre ainda o resultado pretendido, aplica-se a regra
do art. 79.
Art. 79. Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas
de liberdade devem ser unificadas. Se as penas são da mesma espécie, a
pena única é a soma de todas; se, de espécies diferentes, a pena única e a
mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo das
menos graves, ressalvado o disposto no art. 58. (DECRETO-LEI 1.001,
1969).

Trata-se do concurso formal, contudo, exagera-se em cogitar essa


possibilidade, igualmente ao caso aplicado no Código Penal Comum, haja vista a
morte o criminoso estar amparada pela excludente de ilicitude da legítima defesa de
terceiros, restando, em tese, apenas um crime, apesar de dois resultados morte.
Entretanto, faz-se necessário lembrar de que a intenção do disparo é claramente
salvar a vida de inocente em risco iminente, portando, se não recair a modalidade
culposa, a morte do refém estaria amparada pelo erro de execução previsto no
Art.37 do Código Penal Militar.
Vale ressaltar que a rotina castrense impõe o pronto acatamento das ordens
superiores por seus subordinados, contudo, a obediência hierárquica não exclui de
punibilidade o atirador que efetua disparos em momento não adequado por ordem
de seu comandante. Art.38, parágrafos 1º e 2º do Código Penal Militar:
1° Responde pelo crime o autor da coação ou da orde m.
2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente
criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível
também o inferior. (DECRETO-LEI 1.001, 1969)
65

Se existe a ordem, emitida pelo comandante do teatro de operações, paro o


sniper efetuar um disparo em momento não adequado, ou seja, quando as
negociações inspiram sucesso e não existe risco iminente ou potencial a vida do
refém, trata-se na verdade de ordem de execução sumária, totalmente reprovável
aos olhos de um estado democrático de direito. Não resta a possibilidade de o
atirador alegar a obediência hierárquica para afastar sua culpabilidade, pois se trata
de uma ordem manifestamente ilegal, culminando com a responsabilização de
ambos, comandante e atirador, pelas conseqüências.
66

4 ATIRADOR DE ELITE NA POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

4.1 ANÁLISE DA DIRETRIZ DE PROCEDIMENTO PERMANENTE Nº 34/CMDO


GERAL/2006

Neste capitulo procura-se mostrar os documentos e normas no que se refere


à atividade do atirador de elite na Polícia Militar de Santa Catarina. Para tanto, faz-se
necessário analisar a Diretriz de Procedimento Permanente n°34/CMDO
GERAL/2001, único documento da corporação que, mesmo indiretamente, faz
referência ao tema, trazendo em seu texto aspectos normativos quanto a utilização e
emprego dos efetivos de operações especiais e tropas especializadas da
corporação. Procura-se com essa análise fazer um comparativo com a realidade
prática, hoje, do atirador de elite na Polícia Militar de Santa Catarina em relação ao
que efetivamente prega a documentação.

4.1.1 Generalidades da Diretriz n°34

A referida diretriz tem por finalidade normatizar o emprego das tropas de


operações especiais, tropas especializadas e as ações de choque na Polícia Militar
de Santa Catarina, de modo a estabelecer critérios para a utilização desses efetivos
diferenciados, padronizando quem deve e poderá agir, definir quando e em que
situações cada tropa será aplicada, além de outras questões técnicas e de logística.
A finalidade da diretriz vem exposta em seu item n°01 como sendo:

Estabelecer normas para o emprego do BOPE, Companhias e Grupos de


Resposta Tática na área de "OPERAÇÕES ESPECIAIS", “Táticas
Policiais” e “Choque”, regular e coordenar a formação, instrução,
treinamento e emprego técnico das Frações Especializadas e de
Operações Especiais no âmbito da Polícia Militar. (POLÍCIA MILITAR DE
SANTA CATARINA, 2001)

É observada ainda, a diferenciação trazida pela diretriz no que tange as ações


de Operações Especiais, Atividades Especializadas e Ações de Choque, que ficam
assim conceituadas no item n°02, alíneas “a”, “b” e “c”, respectivamente:
67

Operações Especiais como sendo:

Operações Especiais: Compõem-se operações especiais todas as


atividades desenvolvidas por policiais militares, com qualificação avançada,
formado em curso de especialização ou capacitação em operações policiais
ou militares especiais, que através de equipamentos, mecanismos de
transporte e armamento específicos estão aptos a darem resposta imediata
a eventos críticos. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2001).

Atividades Especializadas como sendo:

Atividades Especializadas: Compõem-se atividades especializadas todas


as atividades levadas a termo por policiais militares, com qualificação
intermediária, formado em Estágio de Táticas Policiais, Ações Táticas
Especiais que através de dotação convencional, estão aptos a comporem as
frações Táticas e darem resposta imediata a ocorrências graves e
preliminares em ocorrências de altíssimo risco, extraordinárias e exóticas –
conforme classificação em item n. 4 desta diretriz. (POLÍCIA MILITAR DE
SANTA CATARINA, 2001).

Ações de Choque definidas como:

Operações de Choque: compõem-se atividades especializadas com


qualificação própria em atividade de operações de policiamento de choque
(Controle de distúrbios Civis, Praças Desportivas, Grandes Eventos e
Ocorrências em Estabelecimentos prisionais sem arma de fogo) podendo
compor as frações táticas em operações policiais. (POLÍCIA MILITAR DE
SANTA CATARINA, 2001).

Considerando as características constitutivas das frações especializadas e de


operações especiais e seu correto emprego doutrinário, o emprego do atirador de
elite policial na questão da execução do tiro de comprometimento, encontra sua
utilização, devido a presença de reféns, caracterizada nas ocorrências de altíssimo
risco, conceituadas no sub-item 5.2 da Diretriz n°3 4:

Ocorrências de Altíssimo Risco: Ações criminosas classificadas como


crise fora da normalidade do serviço policial, com a presença de refém,
onde exija a intervenção imediata da tropa especializada e os infratores
estejam com acentuado potencial ofensivo e armados, com armas de porte,
portátil e de alto poder de fogo.

A própria diretriz traz exemplos de ocorrências de altíssimo risco:


68

a) Intervenção e Operações de Resgate de Reféns em Áreas Urbanas ou


rural;
b) Rebeliões em estabelecimentos prisionais com e sem a tomada de
reféns;
c) Atendimento de ocorrências de roubo com tomada de refém em áreas
urbanas e rurais;
d) Operação de busca, resgate e salvamento de pessoas, em
cativeiro, desaparecidas ou em local de difícil acesso;
e) Negociações em ocorrências com tomada de reféns;

As ocorrências de altíssimo risco necessitam de resposta especial do aparato


policial, que na PMSC, somente o Batalhão de Operações Policiais Especiais tem
autorização, treinamento e condições de atuar, como Tropa de Pronto Emprego e
Fração de Reação Imediata.
A Diretriz em seu item n°03, alínea “a”, traz sobre o Batalhão de Operações
Policiais Especiais:

Constituir-se-á em Tropa de Pronto Emprego e Força de Reação Imediata


do Comando Geral, com todas as suas frações especiais, para emprego em
todo o território Catarinense, devendo estar em permanente condições de
adestramento e pronto emprego para atuar preventiva e/ou
repressivamente, isolada ou em conjunto com outras forças em locais onde
ocorra ou haja incidência de ocorrência conforme classificação desta
Diretriz.
Terá organização própria de uma Unidade de Apoio Operacional,
observadas as peculiaridades das suas frações, as quais terão
denominação, regime de trabalho, instrução, treinamento, fardamento,
armamento, viaturas e emprego táticos específicos e ajustados de acordo
com a natureza real da missão a ser cumprida.
Poderá desenvolver Operações e/ou Ações no Âmbito Interestadual de
cunho extraordinário, em especial nos Estados que compõem o CODESUL,
mediante a efetivação de parcerias e de atividades coordenadas, ações
conjuntas, intercâmbio técnico na área policial e interação na área de
informações e doutrina de operações especiais com tais entes, a partir de
parcerias e comprometimento de apoio e cooperação mútua na área da
Segurança Pública a ser estabelecido entre estes Organismos Policiais, via
Governo do Estado e Comando Geral, respeitado as normas acordos,
convenções e tratados nacionais e internacionais

Quanto ao emprego e acionamento do BOPE, o item n°0 4 da Diretriz n°34


assim se manifesta:

a) Quanto as Normas Gerais de emprego e acionamento: Desenvolverá


ações e operações táticas para o recobrimento e resposta imediata as
situações emergentes conforme classificação do risco no campo da
Segurança Pública e ruptura generalizada da ordem, da forma que segue:
69

1) Emprego e acionamento ordinário: será empregado em todo o território


do Estado de Santa Catarina, comportando a nível Estadual o seu emprego
em operações e/ou ações integradas, autônomas ou através de solicitação
local, mediante acionamento e autorização por parte do COMANDO
POLICIAL MILITAR DE APOIO OPERACIONAL (CPMAO);
2) Emprego e acionamento especial: a nível especial será acionado e
empregado em operações de grande porte e relevante importância,
congregando um estreitamento Interestadual e de cooperação, mediante
determinação Exmo. Sr Gov do Estado e acionamento por parte do Cmt
Geral;
3) Emprego e acionamento extraordinário: comportara o emprego do
BOPE a nível Internacional, quer com a efetivação de operações integradas
e coordenadas, ou quer a nível de cooperação para o desenvolvimento de
tecnologia e doutrina na área de técnicas, táticas de operações policiais,
choque e operações especiais, mediante determinação do Exmo Sr.
Governador do Estado, e acionamento via Cmdo Geral da PMSC;

4.2.2 Pessoal

Conforme foi visto, a atuação do atirador de elite na Polícia Militar de Santa


Catarina, em especial no que se refere à execução do tiro de comprometimento, se
dá em ocorrências de altíssimo risco. Nesse tipo de crise por se tratar de uma
intervenção e/ou uma operação de resgate de reféns, seja em área urbana ou rural,
necessita da utilização de efetivo com treinamento em operações especiais, que na
corporação catarinense, somente o C.O.B.R.A., Comando de Operações de Busca
Resgate e Assalto, tem conhecimento, treinamento e competência suficiente para
atuar:

O desenvolvimento de ações operacionais e o emprego das frações


operacionais especializadas, de choque e de operações especiais, ocorrerá
necessariamente calcadas no planejamento e respeito as características
técnicas e de emprego tático de cada fração e suas especialidades, para
que seja obtido a máxima eficiência e eficácia na resposta e solução de
ocorrências conforme sua classificação, podendo ser empregado de forma
integrada as demais frações operacionais do Estado Catarinense, ou
isoladamente comportando atividades específicas, as quais serão
delineadas pela missão recebida do escalão superior, comportando seu
emprego de forma geral a realização das seguintes atividades de
policiamento preventivo e repressivo. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA
CATARINA, 2001).

No que se refere ao tiro de comprometimento, somente o C.O.B.R.A. possui


atiradores com nível técnico suficiente para efetuar um disparo nessas condições. O
grupo possui hoje, 02 (dois) atiradores com profunda experiência e conhecimento
70

técnico de qualidade. São policiais militares que se encontram servindo nas fileiras
do Batalhão de Operações Policiais Especiais desde 1987, quando a unidade ainda
era chamada de Companhia de Choque.
A Diretriz n°34 confirma que o BOPE é a unidade que tem a responsabilidade
na formação e aprimoramento técnico de seus profissionais:

O BOPE será a Unidade Operacional em nível de Estado, legítima e capaz


de dar aporte técnico, tático e doutrinário junto às demais Unidades que
compõem a PMSC no que concerne a táticas policiais, choque e operações
especiais, através da manutenção, reserva e aprimoramento permanente do
seu quadro de profissionais ante a doutrina de Operações Especiais,
mantendo-se responsável pela formação técnica do seu efetivo e de outras
OPM, servindo ainda como pólo e ente irradiador de conhecimentos
específicos, os quais de acordo com planejamento e interesse da
Corporação possam ser repassados, através de cursos, treinamentos,
estágios e seminários, implementados de forma permanente e previamente
autorizados pela Diretoria de Ensino. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA
CATARINA, 2001).

A Diretriz n°34 ainda traz como missão diferenciada do BOPE:

Qualificação e Aprimoramento Técnico: atuando em apoio no ensino e


capacitação técnica, através da realização dos seguintes cursos e estágios
junto a Corporação:
Curso de Operações Especiais (COESP);
Curso de Ações Táticas Especiais (CATE);
Cursos de Operações de Choque (COCh);
Estágios de Táticas Policiais e treinamento específico; (POLÍCIA
MILITAR DE SANTA CATARINA, 2001).

Nessa questão, os atiradores mais experientes do grupo de operações


especiais, sendo um sargento e um soldado, freqüentaram o Curso de Operações
Especiais/COESP em 1995, primeiro realizado na corporação. Ainda em sua
capacitação profissional, realizaram os estágios de Tiro Tático de Precisão, na Força
Aérea Brasileira, e o Estagio de Caçador, no Exército Brasileiro, sendo que no
primeiro, dos vinte e sete formandos, apenas mais seis militares incluindo os
atiradores do COBRA, concluíram o curso com 100% de aproveitamento.
O Batalhão de Operações Policiais Especiais possui outro cinco atiradores,
sendo um oficial, que freqüentaram o Estagio de Caçador no Exército Brasileiro
recentemente. A ampliação dos recursos humanos com esse nível de conhecimento
técnico se faz imperiosa e urgente, haja vista os atiradores mais experientes da
71

unidade já estarem coma mais de vinte e cinco anos de serviço na corporação,


necessitando o treinamento de novos policiais para substituí-los quando passarem
para reserva.
Quanto ao ingresso de novos policiais, a Diretriz n°34, item n°09, alínea b, faz
a seguinte menção:
Os novos integrantes das Frações Especiais e Especializadas deverão ser
recrutados e selecionados do seio da tropa PM, através do lançamento de
Edital de Seleção para capacitação em táticas policiais, ações táticas,
choque ou operações especiais sob supervisão, coordenação e controle da
DIE em cooperação com o BOPE. Todo policial militar para compor
qualquer das Frações nesta diretriz referenciadas, deverá possuir no
mínimo dois anos de efetivo serviço na atividade operacional ou três anos
alternados, sendo o último ano na atividade operacional. (POLÍCIA MILITAR
DE SANTA CATARINA, 2001).

4.2.3 Armamento

Conforme explicita a Diretriz n°34, o emprego e uti lização de equipamentos


de uso específico em operações especiais são de uso exclusivo de policiais com
habilitação reconhecida e com treinamento específico, portando a utilização e o
emprego de fuzis de precisão fica a cargo exclusivo dos atiradores do C.O.B.R.A.

O porte e emprego dos armamentos, munições, agentes químicos e


explosivos, estão vinculados a prévia habilitação através de curso ou
treinamento, ao pleno conhecimento técnico e tático por parte do seu
operador imediato, em especial no que concerne ao armamento automático,
semi-automático, de precisão, explosivo e químico, avaliados por comissão
designada pela DIE mediante sugestão com o Cmdo do BOPE e aprovado
pelo Cmt-G;
Os policiais militares capacitados em operações especiais e operações de
choque, no que concerne o item anterior, dentro de suas especialidades,
terão sua habilitação reconhecida pela DIE. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA
CATRINA, 2001).

Ao tratar-se do armamento reservado à execução do tiro de comprometimento


na Polícia Militar de Santa Catarina, percebe-se uma problemática preocupante. A
corporação adquiriu para os atiradores o Fuzil IMBEL AGLC, porém este armamento
tem se mostrado longe do ideal.
A Diretriz n°34, item n°10, prevê para aquisição de armamento e
equipamentos específicos o seguinte:
72

Toda a aquisição de armamento e equipamento de uso específico em


operações especiais, choque e táticas policiais devem ser submetidos a
analise, teste e aprovação por comissão composta por integrantes com
notável conhecimento técnicos previamente definidos pelo Cmt Geral, DIE,
COMANDO POLICIAL MILITAR DE APOIO OPERACIONAL (CPMAO). A
comissão contará ainda com pelo menos dois integrantes do BOPE.
(POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2001).

Mesmo assim, os fuzis IMBEL AGLC, foram adquiridos completamente


inoperáveis para a execução de um disparo de precisão. Os armamentos recebidos,
apesar de se destinarem ao emprego sniper, não possuíam luneta e nem bipé ou
tripé de apoio. Além desse fato, não possuem o mecanismo do ferrolho polido, o que
pode culminar com o emperramento durante o manejo; não possui coronha regulável
nem empunhadura anatômica, o que dificulta a adaptação do atirador à arma.

Figura 8: Fuzil IMBEL AGLC completo com equipamentos para sniper.


Fonte: IMBEL Indústria de Material Bélico, 2008.

Por esse motivo, os atiradores do C.O.B.R.A utilizam-se do fuzil de assalto


SIG 551, por ser mais confiável, adaptado com luneta, previamente aferido, para as
operações com utilização do sniper, principalmente em patrulhas urbanas em morros
e favelas. Apesar de não ser um fuzil para ser utilizado em tiro de precisão, por ser
um fuzil de assalto, demonstra melhores resultados que o fuzil IMBEL AGLC
existente o BOPE.
73

Figura 9: Fuzil SIG 551 utilizado pelos atiradores do C.O.B.R.A.


Fonte: Sig Sauer Firearms, Inc.

4.2.4 Treinamento

A Diretriz n°34, item n°09, fala quanto à instrução e capacitação do efetivo do


BOPE e demais OPM na execução de atividades de táticas policiais, choque e
operações especiais, especificamente, que:

A instrução do efetivo do BOPE deverá ser regulada por QTS, e terá o seu
planejamento e fiscalização a cargo de cada Cmt de Fração Operacional em
coordenação com o P-3 do BOPE;
Compete ao BOPE, através da DIE, propor a realização de Cursos,
Estágios, Treinamentos, Seminários dentre outros, destinados ao
aprimoramento das frações especializadas na área de Operações de
Choque, Táticas Policiais e Operações Especiais
O BOPE, em coordenação com DIE, é o Órgão competente para realizar o
planejamento, o controle, a coordenação, a aplicação e a supervisão da
instrução do efetivo de táticas policiais, choque e de operações especiais, a
qual será regulada por Protocolos, Ordens, Normas ou Regulamentos que
auxiliem na padronização das técnicas e táticas empregadas pelas
respectivas frações. (POLÏCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2001).

Apesar da realização freqüente de instruções e treinamentos com o efetivo do


BOPE, em especial os policias militares do C.O.B.R.A, quanto aos atiradores de
elite, os treinamentos são prejudicados no que se refere ao tiro de
comprometimento, pois a corporação não possui um local ideal para a realização de
disparos dessa natureza, nem existe previsão de materiais, munição e outros
reursos.
74

A freqüência de treinamentos para execução do tiro de comprometimento


também é baixa, haja vista os atiradores também fazerem parte da equipe tática do
C.O.B.R.A. e serem largamente requisitados para atender às demandas das demais
ocorrências, o que aliado ao pequeno efetivo do grupo de operações especiais,
dificulta a rotina de treinamentos.
75

5 METODOLOGIA

A elaboração do estudo foi dividido em etapas, sendo que na primeira coube


demonstrar os aspectos históricos referentes ao emprego do atirador de elite nas
corporações militares e instituições policiais no Brasil e no mundo.
Por conseguinte, foram explicados conceitos e doutrinas referentes ao
emprego do tiro de comprometimento como solução extrema em ocorrências com
refém, bem como as nomenclaturas relevantes para a elucidação da doutrina sniper.
Em terceiro passo, analisou-se a legitimidade na execução dessa técnica, sob a luz
da doutrina jurídico-penal e técnico-policial, e por fim a realidade da Polícia Militar
catarinense frente ao tema.

5.1PESQUISA

Primeiramente, cabe demonstrar o significado de pesquisa, que segundo Gil


(2002, p.17) é:
o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar
respostas aos problemas que são propostos. [...]. A pesquisa é
desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a
utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos
científicos. Na verdade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo
que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até
a satisfatória apresentação dos resultados.

5.2 MÉTODO CIENTÍFICO

Marconi e Lakatos (2006, p. 83), o método consiste no “[...] conjunto das


atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia permite
alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a
ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”.
Dessa forma, utilizar-se-á do método dedutivo e técnica de pesquisa
bibliográfica, buscando em tal estudo analisar, sobretudo os principais aspectos
inerentes a aplicação do tiro de comprometimento em ocorrências com refém.
Sobre o método dedutivo, Pasold (2005, p. 113) caracteriza-o pela “[...]
seleção prévia de uma formulação geral cuja sustentação será buscada pela
pesquisa.” Lakatos e Marconi (2006, p. 92) individualizam o método dedutivo: “Se
76

todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira, bem como
toda informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo menos
implicitamente, nas premissas.”
No dizer de Antônio Carlos Gil (1999, p. 27):

O método dedutivo, de acordo com a acepção clássica, é o método que


parte do geral e, a seguir, desce ao particular. Parte de princípios
reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a
conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de
sua lógica.

Inicia-se análise de estudos já existentes e que após formular-se-ão as


conclusões a respeito do tema, aliado aos conceitos trazidos pelos autores
pesquisados, percebendo-se a adequação do método em questão para a realização
da pesquisa científica.
A metodologia da pesquisa busca atingir os objetivos e responder o problema
de pesquisa, sendo um procedimento que possibilita a seleção e organização de
materiais, estipulando prazos e tarefas a serem realizadas

5.3 TIPO DE PESQUISA

Para elaboração deste trabalho utilizar-se-á, fundamentalmente, a pesquisa


bibliográfica em livros de doutrina policial, artigos científicos e sites de doutrina
jurídica, policial e técnica militar, além de jurisprudências encontradas na internet.
Pode-se classificar a pesquisa desse estudo como exploratória, com principal
objetivo desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias inerentes ao tema
com análise mais precisa dos aspectos divergentes quanto ao conteúdo proposto.
Primeiramente, cabe demonstrar o significado de pesquisa, de acordo com
Andrade (2003, p. 129) pesquisa “é o conjunto de métodos ou caminhos que são
percorridos na busca do conhecimento”. Fachin (2003, p. 123), afirma ser: “um
procedimento intelectual em que o pesquisador tem como objetivo adquirir
conhecimentos por meio da investigação de uma realidade e da busca de novas
verdades sobre um fato (objeto, problema)”.
Contudo, a pesquisa bibliográfica não pode ser interpretada como mera
repetição do que já foi concluído anteriormente. Ela deve propiciar, segundo Marconi
77

e Lakatos (2006, p. 185) “[...] o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem,
chegando a conclusões inovadoras”.
A pesquisa bibliográfica ou teórica, conforme Antônio Carlos Gil (1999, p. 65):

É desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente


de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja
exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas
exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

A natureza bibliográfica da pesquisa, que segundo Fachin (2001, p.125)


“constitui um ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos de interesse
para a pesquisa em pauta”.
Nas palavras de Lakatos e Marconi (2006, p.185) “a pesquisa bibliográfica
não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre o assunto, mas propicia o
exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões
inovadoras”. Desta maneira, é importante salientar que a atividade bibliográfica
permite ao pesquisador buscar, através de outras publicações, dados relevantes
sobre o assunto de seu interesse.
Semelhante a pesquisa bibliográfica foi utilizada também a pesquisa
documental. Conforme Gil (2002, p. 45), esta pesquisa “[...] vale-se de materiais que
não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objetos da pesquisa”. Ainda sobre a pesquisa documental, Cervo
e Bervian (2002, p. 67) descrevem que, “[...] são investigados documentos a fim de
se poder descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras
características”.

5.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Para coletar os dados disponíveis procurou-se nos acervos das bibliotecas


materiais como: livros, artigos científicos, monografias, teses, revistas, documentos,
que versem sobre o tema proposto. Os dados coletados durante a pesquisa
bibliográfica foram organizados em fichas de leitura de citações e de conteúdo.
Essas fichas foram realizadas das obras atinentes ao tema, e após isso, analisadas.
As fichas sobre o material bibliográfico pesquisado foram catalogadas, pois,
dessa forma, o material permaneceu de forma mais organizada, facilitando assim, a
78

procura de apontamentos ou citações já pesquisadas anteriormente. Nesse sentido,


Lakatos e Marconi (2006, p. 49 - 50) ensinam que:

Para o pesquisador, a ficha é um instrumento de trabalho imprescindível.


Como o investigador manipula o material bibliográfico, que em sua maior
parte não lhe pertence, as fichas permitem: a) identificar as obras; b)
conhecer seu conteúdo; c) fazer citações; d) analisar o material; e) elaborar
críticas.

Sobre a interpretação dos dados coletados obtidos por meio da pesquisa


bibliográfica Marconi e Lakatos (2006, p. 170) afirmam quanto à interpretação que:

É a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às


respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação
significa a exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em
relação aos objetivos propostos e ao tema. Esclarece não só o significado
do material, mas também faz ilações mais amplas dos dados discutidos.
79

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como ficou demonstrado, a atividade do atirador de elite exerce um enorme


fascínio na cultura geral. A imagem perturbadora de um atirador solitário, à espreita,
motiva as confusões freqüentes em torno deste profissional habilidoso. Apesar, de
na maioria das vezes, serem soldados com boa pontaria que se escondem, ajustam
um alvo na sua mira e puxam o gatilho, as atividades dos atiradores de elite e seu
emprego são variáveis.
Os sniper que trabalham para as forças armadas e instituições policiais,
apesar da similaridade em treinamento e conhecimento, possuem muitas diferenças
entre si, e aquele último tem muito mais a ver com as vidas que salva do que com
aquelas que tira.
Diferentemente de seu homólogo militar, o sniper policial não tem margem
para erro, pois uma vida inocente depende inteiramente de sua habilidade. Sua
atuação difere-se em muitos aspectos do sniper militar, pois atua geralmente em
ambiente urbano, e nunca efetua um disparo a menos que exista uma ameaça
iminente ou potencial contra si mesmo ou outro policial, ou contra um inocente ou
refém.
No âmbito policial, a utilização do sniper se vê completamente inserida dentro
do contexto do gerenciamento de crises, sendo empregado principalmente em
ocorrências envolvendo a tomada de reféns. Ao contrario do senso comum, a
principal missão do atirador de elite em ocorrências desse nível é atuar como
observador, operando como os olhos do comandante no ponto crítico. Conforme o
que foi visto, a doutrina de gerenciamento de crises tem como objetivo principais a
preservação de vidas e a aplicação da lei, e para tal, utiliza-se de um escalonamento
de alternativas táticas para a resolução do conflito, tendo a negociação como
principal meio de resolução.
Porém, como foi observado, há situações onde a negociação não se
desenvolve e o comandante do teatro de operações pode optar pela utilização do tiro
de comprometimento como alternativa tática para por fim ao conflito e ao risco
iminente à vida dos reféns. Inúmeras são as criticas referentes a este tipo de ação,
oriundas de pseudo-especialistas que desconhecem a cientificidade e o
profissionalismo do aparato policial ao se optar por esse disparo.
80

Ficou claro que dentro dos aspectos doutrinários, o uso de força letal por
parte do aparato policial encontra perfeito respaldo científico. Há diversos modelos
de uso da força, produzidos por corporações policiais de enorme prestigio no cenário
mundial, além de universidades e outros órgãos, que trazem em seus escritos, a
possibilidade do aparato policial reagir de modo letal à agressão do criminoso
quando a situação assim exigir.
As críticas de vista curta que condenam a utilização do tiro de
comprometimento como alternativa para salvar a vida de inocentes, defendem
inclusive a idéia de punibilizar o estado, na figura do atirador, pelo resultado morte
do perpetrador da crise. Obviamente a vida humana é o bem jurídico de mais
precioso, mas conforme foi visto e confirmado inclusive por tribunais estaduais, há
momentos em que vidas socialmente mais relevantes encontram-se em risco
iminente e a resposta incisiva do aparato policial se faz necessária, mesmo
resultando na morte dos agentes.
Em momentos como estes, a atuação do atirador de elite na execução do tiro
de comprometimento encontra amparo jurídico para seu ato, que apesar de tipificado
– matar alguém- tem sua antijuridicidade afastada pela excludente de ilicitude da
legítima defesa, mais especificamente a legítima defesa de terceiros.
Fica a ressalva de que, ao contrário de pensamentos mais antigos, o atual
estado de democrático de direito não vê o estrito cumprimento do dever legal como
excludente de ilicitude para o ato que resulta na morte de um indivíduo, pois esta
figura jurídica necessita de uma norma que lhe imponha essa conduta, e não há
imposição legal que obrigue os agentes estatais a dar cabo da vida de alguém no
cumprimento do dever, restando apenas a legítima defesa como amparo para esse
agir.
A Polícia Militar de Santa Catarina ainda caminha com passos incipientes no
que se refere à utilização do atirador de elite policial na execução do tiro de
comprometimento, principalmente nas questões referentes à logística necessária
para atuação deste profissional. O Batalhão de Operações Policiais Especiais, mais
especificamente o Comando de Operações de Busca Resgate e Assalto, conta com
dois policiais militares com profundo conhecimento técnico e experiência como
atiradores e mais cinco policiais com treinamento recente, mas necessita de
planejamento para substituição desse valioso recurso humano, haja vista esses
policiais já possuírem muito tempo de serviço.
81

Apesar de recursos humanos de extrema qualidade, o BOPE, principalmente


por questões logísticas, não tem condições, hoje, de se utilizar do tiro de
comprometimento como alternativa tática para a solução de uma crise que envolva à
tomada de reféns. O armamento sniper reservado para esse tipo de atuação não
está em condições mínimas para se efetuar um disparo desse nível com segurança,
o que leva os atiradores do COBRA a se utilizarem de um fuzil de assalto, adaptado
com luneta, sendo mais confiável, para as missões onde a presença do sniper
inserido em uma patrulha se faça necessária, porém muito arriscado para se efetuar
um tiro de comprometimento com segurança.
Obviamente, aliado às questões do armamento, outras questões logísticas
ainda são preocupantes, pois o batalhão ainda não conta com luneta de observação,
telêmetro para aferição de distancias, ou equipamentos de comunicação condizentes
à atuação do atirador de elite policial.
É perceptível, porém, que ser um sniper (atirador de elite) transcende ter uma
arma qualquer e uma luneta de pontaria, para acertar um tiro na cabeça. Ao se
observar o que é imperativamente defendido pela doutrina do tiro tático de precisão,
o polígono formado pelo recurso humano, treinamento, armamento, munição e
equipamento, se complementam como os elementos fundamentais para que o
objetivo idealizado seja alcançado.
Negligenciar qualquer um desse pilares, e ainda assim se optar para a
realização do tiro de comprometimento como alternativa tática na solução de uma
crise que envolva a tomada de reféns, certamente trará conseqüências graves de
ordem jurídica e administrativa ao aparato policial, além do risco do resultado mais
desastroso: a perda de vidas inocentes.
Apresentado isso, fica evidente que a Polícia Militar de Santa Catarina não
sustenta condições de se valer do tiro de comprometimento como alternativa tática
para a solução de uma crise que envolva a tomada de reféns, haja vista apenas o
elemento humano do Batalhão de Operações Policiais Especiais ter qualidade
suficiente para isso, restando aos outros elementos do polígono, que serve de
sustentáculo para o agir do atirador de elite, figurar como inadequados, obsoletos ou
inoperantes.
Apesar de o estado catarinense ter se deparado com situações assim com
pouca freqüência, o crescimento da ousadia dos criminosos é evidente, sendo
previsível que ocorrências envolvendo a tomada refém certamente serão atendidas
82

pela corporação com mais constância, restando a obrigação de se adequar o


aparato logístico do BOPE, em especial do Comando de Operações de Busca
Resgate e Assalto, às necessidades mínimas de qualidade, para que se evite um
resultado trágico e a responsabilização advinda desse despreparo.
Com este trabalho, não se pretende exaurir os pontos da matéria em questão,
mas sim, trazer elementos pelos quais se pudessem compreender a cientificidade e
o profissionalismo que envolve a execução do tiro de comprometimento, bem como,
mostrar quais elementos legitimam esta alternativa tática, passando também,
mesmo de modo geral, por ratificar alguns aspectos técnicos referentes ao tema.
83

7 REFERÊNCIAS

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho


Científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

ANTONY, Márcio Moraes; BARBAS, Hélio de Carvalho. O Sniper Policial e o Tiro


de Comprometimento: Uma proposta de emprego a nível nacional. Trabalho
Técnico-Profissional apresentado ao Instituto de Ensino e Segurança do Pará para a
obtenção do título de especialista – IESP, 2001.

ARAÚJO, Kléber Martins de. O Estrito cumprimento do Dever Legal Como Causa
Excludente de Ilicitude. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 90, 1 out. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4262>. Acesso em: 20
set. 2008.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia Para Assuntos Jurídicos.


Decreto nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 17 abr. 2008.

_______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia Para Assuntos Jurídicos.


Decreto-Lei nº 1.001 de 21 de outubro de 1969. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 abr. 2008.

_____. Decreto Federal n. 667. De 02 de julho de 1969. Reorganiza as polícias


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