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Tiro de Comprometimento em Ocorrências Com Reféns
Tiro de Comprometimento em Ocorrências Com Reféns
FLORIANÓPOLIS (SC)
2008
RODRIGO GUSTAVO DUARTE DEWITZ
FLORIANÓPOLIS (SC)
2008
RODRIGO GUSTAVO DUARTE DEWITZ
Banca examinadora:
A Polícia Militar de Santa Catarina atua em seu dia-a-dia com diversas situações que
colocam a segurança da sociedade em risco. Dessas, uma das mais preocupantes
que se deve considerar é a tomada de reféns. Ocorrências deste nível ressoam
pesadamente na imprensa e na sociedade, exigindo que o aparato policial não deixe
margem para erro nesses tipos de operações. O gerenciamento de crises, nesse tipo
de evento, deve primar pela negociação como alternativa de solução, para que
sejam poupadas vidas, sejam elas dos reféns ou dos seqüestradores. Porém,
quando cessadas as negociações, é no tiro de comprometimento, executado pelo
atirador, que se vê uma primeira alternativa viável para a solução da crise. Essa
alternativa tática ainda gera diversas discussões quanto a sua legalidade jurídica e
legitimidade que dá ao atirador de elite o amparo para agir. Diferentemente do sniper
militar, que efetua um tiro com o intento de abater e neutralizar um inimigo, o atirador
de elite policial busca salvar vidas, portanto sua atividade se reveste de profundo
profissionalismo. Muitas críticas recaem sobre essa alternativa tática, alegando que
a morte do agente causador da crise pelo estado é tão grave quanto o próprio crime
cometido por ele. Este trabalho se reveste de importância, pois busca esclarecer os
aspectos doutrinários na utilização do atirador de elite policial, sempre quando
esgotadas as alternativas não-letais de solução da crise, e principalmente,
demonstrar os aspectos legais que dão ao sniper a legitimidade para agir dentro do
ordenamento jurídico nacional.
The Military Police of Santa Catarina acts in their day-to-day with various situations
that put the safety of society at risk. Of those, one of the most worrying is that with
the taking of hostages. Events this level resonate heavily in the press and society,
demanding that the police apparatus does not leave room for error in these types of
operations. The management of the crisis in this kind of event, should have the
negotiation in frontline of the alternative to solution so that lives are saved, whether
the hostages or the kidnappers. But when the negotiations do not develop, is the
shooting of commitment, run by the sniper, who is a first viable alternative to solving
the crisis. This tactical alternative produces various discussions about its legality and
legitimacy that gives the shooter refuge for the act. Unlike the military sniper, which
makes a shot with the intent to kill and neutralize an enemy, the police sniper search
of saving lives, so their activity is of great professionalism. Much criticism has
focused on the alternative tactic, claiming that the death of the agent causing the
crisis by the state is so serious as the actual crime committed by him. This work is of
importance because search clarify the doctrinal aspects of the use of police sniper,
always acting when exhausted the non-lethal alternatives to solve the crisis, and
above all, demonstrate the legal aspects that give the sniper the legitimacy to act
within the national legal system.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1TEMA ............................................................................................................... 13
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................... 13
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 14
1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 14
1.4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 14
2 ASPECTOS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE.................................................. 16
2.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ATIRADOR DE ELITE ..... 16
2.1.1 Conceito.................................................................................................. 16
2.1.2 Histórico ................................................................................................. 17
2.2 ATIRADOR DE ELITE MILITAR...................................................................... 19
2.2.1 Conceito.................................................................................................. 19
2.2.2 Emprego e Missão ................................................................................. 19
2.3 ATIRADOR DE ELITE POLICIAL.................................................................... 21
2.3.1 Conceito.................................................................................................. 21
2.3.2 Emprego e Missão ................................................................................. 22
2.4 GENERALIDADES .......................................................................................... 24
2.4.1 Aspectos Técnicos ................................................................................ 24
2.5 SNIPER POLICIAL NO CONTEXTO DO GERENCIAMENTO DE CRISES ... 28
2.5.1 Responsabilidade na Decisão .............................................................. 31
2.5.2 Responsabilidade na Execução ........................................................... 34
2.6 TIRO DE COMPROMETIMENTO ................................................................... 36
2.6.1 Conceito.................................................................................................. 36
2.6.2 Disparo e Alvo ........................................................................................ 36
3 A LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO DO TIRO DE COMPROMETIMENTO .......... 39
3.1 CONCEITOS ................................................................................................... 39
3.1.1 Legalidade .............................................................................................. 39
3.1.2 Legitimidade ........................................................................................... 40
3.2 USO DE FORÇA LETAL NA ATIVIDADE POLICIAL ...................................... 41
3.2.1 Modelos de Uso da Força...................................................................... 42
3.3 TIRO DE COMPROMETIMENTO E O CONCEITO DE CRIME...................... 47
3.4 EXCLUDENTES DE ILICITUDE E O TIRO DE COMPROMETIMENTO ........ 50
3.4.1 Legítima Defesa ..................................................................................... 50
3.4.2 Legitima Defesa de Terceiros ............................................................... 53
3.4.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal ................................................... 55
3.5 ANÁLISE JURÍDICA DAS HIPÓTESES DO RESULTADO DO DISPARO ..... 57
3.5.1 Disparo com o Criminoso Atingido ...................................................... 58
3.5.2 Disparo com o Refém Atingido ............................................................. 59
3.5.3 Disparo com o Criminoso e Refém Atingidos ..................................... 60
3.5.4 Disparo em Momento Não Adequado .................................................. 61
3.5.5 Atirador de Elite Policial Militar e o Código Penal Militar ................... 62
4 ATIRADOR DE ELITE NA POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA ............... 66
4.1 ANÁLISE DA DIRETRIZ DE PROCEDIMENTO PERMANENTE Nº 34/CMDO
GERAL/2001 ......................................................................................................... 66
4.1.1 Generalidades da Diretriz n°34 .............. ............................................... 66
4.2.2 Pessoal ................................................................................................... 69
4.2.3 Armamento ............................................................................................. 71
4.2.4 Treinamento ........................................................................................... 73
5 METODOLOGIA .................................................................................................... 75
5.1PESQUISA ....................................................................................................... 75
5.2 MÉTODO CIENTÍFICO ................................................................................... 75
5.3 TIPO DE PESQUISA ...................................................................................... 76
5.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA .................................................................. 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 79
7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 83
12
1 INTRODUÇÃO
1.1TEMA
1.3 OBJETIVOS
1.4 JUSTIFICATIVA
2.1.1 Conceito
2.1.2 Histórico
2.2.1 Conceito
Em uma análise mais simplista, o objetivo das missões dos Atiradores de Elite
Militar é tirar vidas, portanto tem uso de força letal sempre como primeira opção.
Atiradores de elite militar agem como multiplicadores de força, ou seja, um
indivíduo ou uma pequena equipe que, através do uso de táticas especiais, pode
causar danos a uma força muito maior. O que é mais notável sobre esses atiradores
é que eles são capazes de multiplicar a força sem jamais terem que enfrentar
diretamente o inimigo.
Por causa da natureza de suas missões, atiradores de elite deslocam-se com
muito pouco equipamento, movendo-se pacientemente sob a cobertura do mato ou
da noite. Equipes de atiradores de elite freqüentemente têm que ficar imóveis por
21
horas ou dias seguidos para evitarem ser detectadas, esperando pelo momento
certo de disparar o tiro.
2.3.1 Conceito
Existem alguns livros novos sobre tiro de precisão, mas nenhum feito para
preencher as necessidades da Polícia. Reimprimir ou refazer textos militares
não dão ao atirador de elite policial um esboço real do que ele precisa saber
(RAPP, 1988 p. 01).
Nenhum sniper policial realiza um tiro – como força letal – a menos que o
suspeito seja uma ameaça para si mesmo, para outro policial, um inocente,
ou para o refém. O oposto se aplica a um militar em combate. Assim que se
confirma a silhueta de um soldado inimigo, o sniper pode agir, e seu alvo
não precisa ser uma ameaça iminente para ninguém. A simples presença de
um uniforme inimigo é uma ameaça para as forças amigas. O sniper policial,
entretanto, tem que ter em mente que cada ação sua deverá ser justificada,
e a ameaça tem que ser perceptível ou potencial para seu disparo ser
legitimado. (PLASTER, 1993, p. 12).
2.4 GENERALIDADES
2.4.1.1 Armamento
Por muito tempo, os fuzis de repetição por ação manual do ferrolho eram
tidos como as armas ideais para esta missão, mas o gradual
aperfeiçoamento dos sistemas semi-automáticos foi abrindo um espaço
respeitável para fuzis desse tipo. Afinal, sempre existe a possibilidade de
que um rápido segundo (ou terceiro) tiro seja necessário num engajamento
de sniper, e nem sempre ou quase nunca, a manipulação do ferrolho pelo
atirador pode oferecer a rapidez necessária para o(s) disparo(s)
subseqüentes(s). Uma arma semi-automática, com adequada precisão,
atende perfeitamente a este requisito. (Alves apud De Paris Neto, 2002,
p.25)
2.4.1.2 Munição
O atirador de elite deve ter a sua disposição a melhor munição, inclusive para
os treinamentos, pois deverá treinar e participar da ação real com o mesmo tipo de
munição com a qual regulou o aparelho de pontaria da arma.
Uma munição para ser considerada ideal para o uso sniper deve possuir
estabilidade da trajetória e energia do projétil, e ser capaz transmitir alta energia ao
alvo no impacto, evitando a transfixação e o risco a outrem.
Nas palavras de ALVES apud DE PARIS NETO (2002, p. 49):
2.4.1.3 Pessoal
2.4.1.4 Treinamento
O aparato policial, dessa forma, não terá outra possibilidade que não seja a
atuação do atirador de elite, executando o tiro de comprometimento, ou do grupo de
assalto tático, ou de ambos, como saída para preservar a vida e a integridade física
do refém.
Segundo LUCCA (2002, p. 04):
Observado isso, uma crise exige uma resposta especial da polícia, pois em
primeiro lugar, confere à polícia restabelecer a ordem pública e envidar esforços no
sentido de preservar a incolumidade das pessoas envolvidas.
Nesse sentido, a legislação brasileira, no Decreto Lei 667, de 02 de julho de
1969, alterado pelo Decreto Lei 1406, de 24 de junho de 1975 e pelo Decreto Lei
2010 de 12 de janeiro de 1983, prescreve:
jurídica, embora seja uma conseqüência desta e tenha sua existência formal
justamente dela derivada.
Plaster (1993, p.14) afirma que atirador de elite policial deve possuir a
habilidade de dizer não:
O sniper policial deve ter em mente que mesmo com o sinal de “luz verde”, ele
ainda é responsável pela execução de um disparo que visa salvar a vida de um
inocente, devendo ser extremamente preciso e consciencioso de suas habilidades,
limites e fatores que podem interferir em um tiro perfeito.
Se você recebe uma “Luz Verde” do seu comandante, lembre-se que isto
não o absolve de qualquer responsabilidade, tenha certeza do seu alvo.
Tenha em mente que se existe um refém, o suspeito pode ter trocado de
roupa com ele, e lembre-se de identificar o seu alvo através do rosto, e não
apenas pelas roupas.Também tenha cuidado com as informações que você
recebe. Um atirador de precisão policial que atingiu o gerente de uma
joalheria de Beverly Hills há alguns anos atrás estava seguindo uma
descrição dada por uma outra pessoa. A morte por engano continua
presente na sua consciência (RAPP, 1988, p.48).
Oliveira, Gomes e Flores, apud De Paris Neto (2002, p.74) fala dos
questionamentos que o atirador policial deve ter em mente antes de efetuar o
disparo:
2.6.1 Conceito
A partir deste ponto, resta definir-se o que vem a ser, exatamente, o tiro de
comprometimento.
O tiro de comprometimento equivale a um tiro de precisão efetuado por um
atirador de elite, sendo uma das alternativas táticas que as organizações policiais
dispõem para a resolução de situações críticas.
3.1 CONCEITOS
3.1.1 Legalidade
3.1.2 Legitimidade
Legitimidade é:
Observa-se de pronto que o uso da força na atividade policial, ainda que letal,
é claramente legal e legítima, pois o Estado assegura isso aos seus agentes, para
que façam valer suas pretensões, exteriorizadas nos regramentos, seja de atos
42
A apostila Uso Legal da Força (2006) traz modelo básico de uso gradual da
força. Assemelha-se ao modelo Flect, sendo representado por uma figura
geométrica em forma de trapézio com degraus em seis níveis, cada qual pintado por
uma cor diferente.
Nota-se que emprego da força letal policial aparece como recurso extremo,
expresso no ápice da pirâmide por meio da cor vermelha, podendo ser utilizada em
situações em que houver agressão por parte do suspeito configurar-se com letal.
Observa-se em comum em todos os modelos estudados que o uso de força
letal por parte do aparato policial é legítimo desde que obedecidos os requisitos para
47
Conclui Capez (2000, p.135) que, “O tipo é, portanto, um molde criado pela
lei, em que está descrito o crime com todos seus elementos, de modo que as
pessoas sabem que só cometerão algum delito se vierem a realizar uma conduta
idêntica à constante do modelo legal”.
49
Pois bem, percebe-se que o tiro de comprometimento possui sua ação contida
no conceito de conduta jurídica e que este agir possui tipicidade, ou seja, está
descrito como fato criminoso no texto penal brasileiro. Contudo, cogita-se o absurdo,
a priori, em querer incriminar o ato executado pelo atirador de elite na tentativa de
preservar a vida de inocentes, haja vista, primeiramente, a própria intenção do
aparato policial em preservar a vida e a lei, e dentro da lógica puramente jurídica, a
ausência da antijuridicidade.
Nas palavras de Antony e Barbas (2001, p.87):
É evidente que o ordenamento jurídico não confere a quem quer que seja o
direito de matar. Contudo, em ocorrências, em que reféns (terceiros
inocentes) estão com a vida em risco, o organismo policial há que agir com
determinação e eficiência a fim de afastar o mal iminente, utilizando-se, para
tanto, dos “meios necessários”. E nesta hipótese, é possível que o “injusto
agressor” possa ser ferido e até mesmo morto.
Mirabete (2004, p. 185) afirma ser “os que causam o menor dano
indispensável à defesa do direito, já que, em princípio, a necessidade se determina
de acordo com a força real da agressão”.
Misael Aguilar Neto Afirma:
Ainda, a lei não faz distinção entre quem exerce a legítima defesa, não
importando a condição de amizade, parentesco, nacionalidade ou conhecimento e
consentimento da pessoa, bastando que se caracterize a injustiça da agressão e a
necessidade de reação imediata.
O sujeito pode defender seu bem jurídico (legítima defesa própria) ou
defender direito alheio (legítima defesa de terceiro), tendo em vista que a lei
consagra o elevado sentimento da solidariedade humana. No segundo caso, admite-
se somente a defesa de bens indisponíveis quando o titular consente na agressão.
(MIRABETE, 2004).
Confirmando a tese, a configuração da hipótese de legítima defesa de terceiro
não necessariamente depende do consentimento do agredido, desde que se trate de
bem indisponível, como a vida. (NUCCI, 2005)
Ficam claros os argumentos que colocam a execução do tiro de
comprometimento dentro do amparo legal do arcabouço jurídico brasileiro. A
atividade do atirador de elite neste disparo encontra-se perfeitamente socorrida pelo
instituto jurídico-penal da legítima defesa de terceiros, que visa à preservação da
vida e a integridade física da vítima ou refém, mesmo que em detrimento do
causador da crise.
Justamente por trazer a preservação da vida como objetivo mais importante
em uma ocorrência com tomada de reféns é que se admite a possibilidade do uso de
força letal na doutrina de gerenciamento de crise.
Por todo esse exposto, percebe-se que o atirador deve se utilizar de força
letal, não podendo apenas tentar ferir os agressores, pois poderá implicar numa
tentativa ou gesto que leve o bandido a ferir os reféns.
É como completa De Paris Neto (2002, p. 53):
Sua conceituação, porém, é dada pela doutrina, como por exemplo, Fernando
Capez (2000, p.275), que assim define o "estrito cumprimento do dever legal": “É a
causa de exclusão da ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por força
do desempenho de uma obrigação imposta por lei, nos exatos limites dessa
obrigação”.
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Em outras palavras, a lei não pode punir quem cumpre um dever que ela
impõe. É que quando a lei impõe determinada obrigação, existem limites,
parâmetros, para que tal obrigação seja cumprida, isto é, a lei só obriga ou impõe
dever até certo ponto, e o agente obrigado só dever proceder até esse exato limite
imposto pela lei. Dessa forma, exige-se que o agente tenha atuado dentro dos
rígidos limites do que obriga a lei ou determina a ordem que procura executar o
comando legal. Fora desses limites, desaparece a excludente, surgindo então o
abuso ou excesso.
Mas para que esta conduta, embora típica, seja lícita, é necessário que esse
dever derive direta ou indiretamente de "lei". Por "lei", entenda-se não
apenas a lei penal, mas também a civil, comercial, administrativa etc. Não é
necessário, também, que esta obrigação esteja imposta textualmente no
corpo de uma lei "estrito sensu". Pode constar de decreto, regulamento ou
qualquer ato administrativo infralegal, desde que "originários de lei”.
(ARAÚJO, 2003)
O Professor Brodt (2007) afirma que uso letal de armas de fogo por policiais
não está amparado pela excludente do “estrito cumprimento do dever legal, restando
sua utilização apenas em legítima defesa própria ou de terceiros:
como não poderia deixar de ser, também não é absoluto, subordinado que
está aos parâmetros legais e constitucionais.
O policial, quando no cumprimento de dever funcional, está sujeito às
limitações que vinculam todos os incumbidos de obrigação legal: órgãos dos
Poderes do Estado, seus agentes e particulares.
O uso de armas de fogo (letais), por implicar a lesão inevitável dos direitos
fundamentais, exclui-se do âmbito do estrito cumprimento de dever legal.
Para que se possa ter uma opinião acerca dos aspectos jurídico-penais na
execução do tiro de comprometimento, deve-se observar o caso em concreto e suas
conseqüências, pois as nuances de cada situação podem ser muitas, e se
desdobrarem de varias maneiras, sendo muito difícil estabelecer o momento ideal, a
situação fática ideal para utilizar-se do atirador na execução do tiro de
comprometimento. Pode-se, porém, traçar uma análise geral para as hipóteses que
podem ocorrer no teatro de operações, nos mesmos moldes que o magistrado do
Paraná, Bruno Pegoraro, faz em seu artigo.
58
Note-se bem que o artigo 25, do Código Penal permite, de forma expressa,
a utilização da legitima defesa como meio de afastar injusta agressão a
direito próprio ou de outrem. Neste caso, é a chamada legítima defesa de
terceiro. Cumpre destacar que a causa de justificação existirá mesmo que a
agressão não esteja em curso, isto é: não é necessário que a agressão
injusta seja atual, basta que seja iminente.
Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do artigo 20 deste Código. (DECRETO
2.848, 1940).
Art.74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente
responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre
também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
(DECRETO 2.848, 1940)
Primeiramente vale dispor que não existe uma delimitação exata do momento
mais oportuno para se realizar o disparo, devendo observar o caso concreto com
todas as suas peculiaridades relativas ao local, situação, tempo, entre outras para
uma decisão como esta.
De modo geral, o momento adequado para a execução do tiro de
comprometimento será aquele que depois de esgotadas todas as negociações e
alternativas não-letais de resolução da crise, ainda se faz presente o risco iminente à
vida do refém, sendo a decisão pela utilização dessa alternativa tomada pelo
comandante do teatro de operações embasada por toda técnica e doutrina referente
ao gerenciamento de crise, negociação e emprego do atirador de elite policial.
Ocorre que pode acontecer do comandante do teatro de operações decidir
pelo disparo na ausência da situação configurada, e neste caso, fica inviabilizada o
reconhecimento do excludente de ilicitude. Ainda poderá ocorrer do atirador decidir
pelo momento não adequado para se efetuar seu disparos, quando não estejam
configurados os elementos necessários para o disparo, ou ainda, o fato do atirador
62
Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de
execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela que realmente pretendia
atingir. Devem ter-se em conta não as condições e qualidades da vítima,
mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão do
crime, e agravação ou atenuação da pena.(DECRETO-LEI 1.001, 1969)
64
4.2.2 Pessoal
técnico de qualidade. São policiais militares que se encontram servindo nas fileiras
do Batalhão de Operações Policiais Especiais desde 1987, quando a unidade ainda
era chamada de Companhia de Choque.
A Diretriz n°34 confirma que o BOPE é a unidade que tem a responsabilidade
na formação e aprimoramento técnico de seus profissionais:
4.2.3 Armamento
4.2.4 Treinamento
A instrução do efetivo do BOPE deverá ser regulada por QTS, e terá o seu
planejamento e fiscalização a cargo de cada Cmt de Fração Operacional em
coordenação com o P-3 do BOPE;
Compete ao BOPE, através da DIE, propor a realização de Cursos,
Estágios, Treinamentos, Seminários dentre outros, destinados ao
aprimoramento das frações especializadas na área de Operações de
Choque, Táticas Policiais e Operações Especiais
O BOPE, em coordenação com DIE, é o Órgão competente para realizar o
planejamento, o controle, a coordenação, a aplicação e a supervisão da
instrução do efetivo de táticas policiais, choque e de operações especiais, a
qual será regulada por Protocolos, Ordens, Normas ou Regulamentos que
auxiliem na padronização das técnicas e táticas empregadas pelas
respectivas frações. (POLÏCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2001).
5 METODOLOGIA
5.1PESQUISA
todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira, bem como
toda informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo menos
implicitamente, nas premissas.”
No dizer de Antônio Carlos Gil (1999, p. 27):
e Lakatos (2006, p. 185) “[...] o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem,
chegando a conclusões inovadoras”.
A pesquisa bibliográfica ou teórica, conforme Antônio Carlos Gil (1999, p. 65):
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ficou claro que dentro dos aspectos doutrinários, o uso de força letal por
parte do aparato policial encontra perfeito respaldo científico. Há diversos modelos
de uso da força, produzidos por corporações policiais de enorme prestigio no cenário
mundial, além de universidades e outros órgãos, que trazem em seus escritos, a
possibilidade do aparato policial reagir de modo letal à agressão do criminoso
quando a situação assim exigir.
As críticas de vista curta que condenam a utilização do tiro de
comprometimento como alternativa para salvar a vida de inocentes, defendem
inclusive a idéia de punibilizar o estado, na figura do atirador, pelo resultado morte
do perpetrador da crise. Obviamente a vida humana é o bem jurídico de mais
precioso, mas conforme foi visto e confirmado inclusive por tribunais estaduais, há
momentos em que vidas socialmente mais relevantes encontram-se em risco
iminente e a resposta incisiva do aparato policial se faz necessária, mesmo
resultando na morte dos agentes.
Em momentos como estes, a atuação do atirador de elite na execução do tiro
de comprometimento encontra amparo jurídico para seu ato, que apesar de tipificado
– matar alguém- tem sua antijuridicidade afastada pela excludente de ilicitude da
legítima defesa, mais especificamente a legítima defesa de terceiros.
Fica a ressalva de que, ao contrário de pensamentos mais antigos, o atual
estado de democrático de direito não vê o estrito cumprimento do dever legal como
excludente de ilicitude para o ato que resulta na morte de um indivíduo, pois esta
figura jurídica necessita de uma norma que lhe imponha essa conduta, e não há
imposição legal que obrigue os agentes estatais a dar cabo da vida de alguém no
cumprimento do dever, restando apenas a legítima defesa como amparo para esse
agir.
A Polícia Militar de Santa Catarina ainda caminha com passos incipientes no
que se refere à utilização do atirador de elite policial na execução do tiro de
comprometimento, principalmente nas questões referentes à logística necessária
para atuação deste profissional. O Batalhão de Operações Policiais Especiais, mais
especificamente o Comando de Operações de Busca Resgate e Assalto, conta com
dois policiais militares com profundo conhecimento técnico e experiência como
atiradores e mais cinco policiais com treinamento recente, mas necessita de
planejamento para substituição desse valioso recurso humano, haja vista esses
policiais já possuírem muito tempo de serviço.
81
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