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Educação inclusiva: o que é e como aplicá-la?

Dificilmente questionamos a quão importante e necessária é a educação, e o conhecimento por


ela proporcionado, para a prosperidade de uma sociedade. Na verdade, é comum vermos
debates e discussões no meio público e na mídia sobre a necessidade de valorizá-la mais, com
maiores recursos e condições para garantir sua qualidade.

Isso porque a falta do ensino, ou a sua precariedade, pode comprometer a independência de


uma pessoa e a sua vida como um todo, dificultando não só a sua inserção na sociedade, mas
também o seu desenvolvimento como ser humano.

Nesse sentido, quando pensamos no coletivo, a carência da educação pode comprometer o


futuro de toda uma geração.

E quando pensamos no ensino para Pessoas com Deficiência (PcD), a situação é ainda mais
desafiadora. De acordo com a Agência Brasil, com base em dados do Censo Escolar de 2019, mais
da metade das escolas públicas de ensino fundamental e médio no país não são adequadas para
crianças e jovens com deficiência.
Assim, uma das formas de buscar a integração dessas pessoas no sistema educacional é
a educação inclusiva. Neste texto do Equidade vamos buscar entender o que significa a educação
inclusiva, qual a sua importância e como podemos colocá-la em prática.
A origem da educação inclusiva
Historicamente, a escola nem sempre foi um ambiente aberto a todos. Muitos grupos sociais
vulneráveis tiveram dificuldades para ter acesso à educação. Um desses grupos é formado pelas
pessoas com deficiência.

No Brasil, essas pessoas tiveram a sua cidadania e os seus direitos plenamente reconhecidos
apenas com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Contudo, mesmo com direitos sendo conquistados, a maneira como o direito à educação era
efetivada não resultava, na prática, na inclusão total dessas pessoas no sistema educacional em
conjunto com as demais pessoas.

Isso porque antes da Conferência Mundial de Salamanca sobre Educação para Necessidades
Especiais, em 1994, o combate à discriminação das PcD no ensino se dava por meio da chamada
educação especial.

A educação especial buscava proporcionar o ensino às pessoas com deficiência de maneira


exclusiva, funcionando muitas vezes como um complemento à educação geral.
Dessa forma, essa prática educacional era voltada somente para pessoas com deficiência, em
vista de seus impedimentos e necessidades.

De acordo com o professor em educação da Universidade de Manchester, Mel Ainscow, esse tipo
de serviço muitas vezes resultava em um sistema escolar separado e paralelo aos alunos com
deficiência, que eram considerados como necessitados de atenção especial.
A existência de sistemas de educação separados começou a ser questionada do ponto de vista
dos direitos humanos e em relação à inclusão social dos estudantes com deficiência.
Especialmente após o modelo social da deficiência aflorar a partir do final do século XX,
enxergando que a sociedade deveria se reorganizar e se adaptar para incluir as PcD.
Assim, em 1994, na Conferência Mundial de Salamanca sobre Educação para Necessidades
Especiais, foi elaborada a Declaração de Salamanca, que reforçou o compromisso de
implementar a educação para todos.
O documento reconheceu a necessidade de proporcionar educação às pessoas com deficiência
dentro do sistema regular de ensino, com base na inclusão escolar e social.

Com isso, surgiu a concepção da educação inclusiva e, como consequência, esforços ao redor do
mundo passaram a ser tomados para mudar a prática educacional em direção à integração plena.

O que é educação inclusiva?


A educação inclusiva pode ser entendida como uma abordagem de ensino que prevê a adaptação
do sistema educacional de forma a garantir o acesso, a permanência e as condições de
aprendizagem para todas as pessoas com deficiência.

Isso significa que a educação inclusiva promove o direito fundamental à educação com base nos
princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana.
Com isso, busca-se a eliminação de qualquer discriminação ou preconceito contra PcD no âmbito
escolar, promovendo a valorização da diversidade humana e a efetiva participação dessas
pessoas no sistema educacional.
Sendo assim, segundo a doutora em educação Rosita Edler Carvalho (2005), “trata-se de
equiparar oportunidades, garantindo-se a todos – inclusive às pessoas em situação de deficiência
e aos de altas habilidades/superdotados, o direito de aprender a aprender, aprender a fazer,
aprender a ser e aprender a conviver” (p. 30).

Aqui no Brasil, programas e medidas voltadas à educação inclusiva


começaram a ser realizadas especialmente no século XXI.
Em 2001, o Conselho Federal de Educação instituiu as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
estabelecendo que o sistema de ensino deveria matricular os alunos
indiscriminadamente, cabendo às escolas se organizarem para receber os alunos com
deficiência.
Já no ano de 2008, o Ministério da Educação instituiu a Política de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), com o objetivo de garantir a inclusão escolar dos
alunos com deficiência a partir do acesso ao ensino regular.
Para isso, busca assegurar a formação de professores para o atendimento educacional
especializado e a acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários e nas
comunicações e informações do sistema de ensino.

Além disso, em 2014 foi elaborado o mais recente Plano Nacional de Educação, que estabelece
as diretrizes para o desenvolvimento nacional da educação.
Nele, foi posto como meta universalizar o acesso à educação básica adequada e especializada
para crianças e jovens com deficiência, com a garantia de um sistema educacional inclusivo.

Isso significa que a educação inclusiva já é um objetivo a ser executado no país. Mas o que é
preciso fazer para aplicá-la na prática? É o que veremos a seguir.

Como aplicar a educação inclusiva


Além das políticas e dos planos nacionais estabelecidos, a implementação de instituições de
ensino inclusivas também depende do suporte de um arcabouço legislativo.
No Brasil, isso é garantido especialmente pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, que prevê a
educação inclusiva como um direito das PcD. Mas, além de tudo isso, a educação inclusiva só se
consolida com ações práticas dos atores envolvidos no sistema educacional do país.
Isso porque a inclusão plena vai além do compartilhamento do mesmo espaço físico. A maneira
como o estudante interage com o ambiente influencia no seu desenvolvimento.

Sendo assim, a prática pedagógica, a organização e a gestão da instituição de ensino são


importantes fatores na aplicação efetiva da educação inclusiva.

Nesse sentido, com base na obra “Introdução Geral à Educação Inclusiva” do psicólogo Emílio
Figueira, trazemos algumas ações voltadas para a implementação dessa prática de ensino:
• Adaptação curricular: adoção de currículos abertos e propostas curriculares diversificadas,
bem como a diversificação e flexibilização do processo de ensino-aprendizagem, de modo a
atender às diferenças individuais dos alunos.
• Professores especializados: formação e preparação de professores especializados e
capacitados para atender às necessidades do ensino inclusivo, conseguindo estabelecer plena
comunicação com os alunos por meio de sistemas alternativos, como língua de sinais, sistema
braille, sistema bliss ou similares.
• Adaptação da instituição de ensino e da sala de aula: a organização estrutural e funcional
do ambiente escolar deve se dar de forma a eliminar barreiras que impedem o aprendizado,
possuindo recursos físicos, materiais, ambientais, técnicos e tecnológicos que atendam às
necessidades de todos.
• Sistemas de apoio: é importante o estabelecimento de redes de apoio que envolvam
atores do ambiente de ensino, como os gestores escolares e docentes, e atores externos, como
familiares, amigos, profissionais especializados (médicos, fisioterapeutas, psicopedagogos etc.)
que busquem favorecer a autonomia, produtividade e integração dos estudantes com
deficiência.
• Adaptações metodológicas e didáticas: adoção de conteúdos, procedimentos de
avaliação, atividades e metodologias que atendam às diferenças individuais dos alunos, como
dinâmicas individuais ou em grupo e técnicas de ensino-aprendizagem específicas que
beneficiem os estudantes e não restrinjam a sua ativa
participação.

Mas apesar da educação inclusiva ser um direito e uma garantia


legal no Brasil, a realidade do sistema educacional nacional ainda
não é de total inclusão e integração das pessoas com deficiência
no país.

A realidade da educação das pessoas com deficiência no Brasil


É bem verdade que o número de estudantes com deficiência matriculados nas escolas brasileiras
aumentou nos últimos tempos.

Segundo a Agência Brasil, com base em dados do Inep, entre 2014 e 2018 houve um aumento de
33,2% no número de matrículas de alunos com deficiência, sendo que 92,1% do total estão
incluídos em classes comuns.
Contudo, muitas escolas no país ainda carecem de estrutura para serem consideradas inclusivas,
dificultando o acesso à educação para pessoas com deficiência.
De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica, de 2019, apenas 44,2% das escolas
urbanas são acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida, sendo que na zona rural esse
número cai para 17,9%.
Também segundo o Anuário, somente 31,5% das escolas urbanas possuem salas de recursos
multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE). Na zona rural esse
percentual é ainda menor, de 16,1%.

Outro importante fator diz respeito à formação e capacitação de professores, que ainda
demonstra ser um desafio para o sistema educacional brasileiro. Segundo o Censo Escolar de
2019, somente 6% das professoras e professores da educação básica têm formação adequada
para dar aulas para estudantes com deficiência.
A defasagem também se encontra na preparação, visto que, também segundo o Censo, mesmo
os professores que atuam exclusivamente com alunos com deficiência, apenas 42% foram
capacitados para isso.

Especificamente em relação ao ensino superior, mesmo com a Lei nº 13.409/2016, que


contempla as pessoas com deficiência com cotas para o ingresso em universidades federais,
segundo o Inep, em 2018 haviam apenas 43.633 PcD matriculados em instituições de ensino
superior, menos de 1% do total de estudantes matriculados.
Conclusão
Muito mais do que apenas um caminho para ingressar no mercado de trabalho, a educação
possui um papel fundamental na construção e formação da cidadania, sendo uma ferramenta
para o desenvolvimento humano tanto em nível individual, quanto coletivo.

Assim, a educação inclusiva consiste em possibilitar que todos tenham acesso ao ensino e ao
conhecimento, promovendo o desenvolvimento das pessoas com deficiência e da sociedade com
base nos princípios da igualdade e da acessibilidade.
Além disso, a educação inclusiva contribui para o combate à exclusão social das pessoas com
deficiência, oferecendo a oportunidade de interação social em períodos cruciais da vida, como a
infância e a juventude.

Contudo, a implementação prática da educação inclusiva no Brasil ainda demonstra ser um


desafio, em que ações e políticas públicas devem ser reforçadas no sistema educacional para
garantir educação de qualidade para PcD.
Na verdade, isso não ocorre apenas no âmbito da educação, muitos são os desafios e obstáculos
enfrentados pelas pessoas com deficiência para terem a sua total inclusão e participação na
sociedade.

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