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CAPÍTULO IV
A RELAÇÃO JURÍDICA
1. A Relação Jurídica
1.1. Conceito
1.2. Estrutura
1.3. Elementos da Relação Jurídica
2. Os Sujeitos
2.1. Pessoas Singulares
2.2. Pessoas Coletivas
3. Objeto
3.1. Objeto Imediato
3.2. Objeto Mediato
4. Facto Jurídico
4.1. Noção
4.2. Classificação
4.3. Ineficácia e Invalidades dos Negócios Jurídicos
5. A Garantia
5.1. Noção
5.2. Obrigações naturais
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1. A RELAÇÃO JURÍDICA
1.1. Conceito
O Homem vive em sociedade, é um ser eminentemente social, e, enquanto
tal, estabelece uma panóplia de relações sociais com os seus semelhantes,
cuja importância exige, por vezes, uma certa regulamentação.
Quando o Direito regula e tutela tais relações intersubjetivas, elas dizem-se
relações jurídicas.
Relação jurídica em sentido amplo: é toda a relação da vida social
(real) disciplinada pelo Direito, isto é, juridicamente relevante,
produtora de consequências jurídicas.
Relação jurídica em sentido estrito ou técnico : é a relação da vida real
(social) disciplinada pelo Direito, pela qual se atribui a um sujeito (ativo)
um direito subjetivo e se impõe, em consonância, a outro sujeito
(passivo) um dever jurídico ou uma sujeição (ex.: as relações entre
comprador e vendedor, entre senhorio e arrendatário, entre empreiteiro
e dono da obra, etc.).
A relação jurídica pode ser também uma relação jurídica abstrata ou concreta.
Assim, será uma relação jurídica abstrata, quando se designa um
modelo de relação aplicável a muitos casos – a compra e venda, a
locação, …
Por outro lado, será uma relação jurídica concreta quando se tratar de
uma relação jurídica existente na realidade, entre pessoas
determinadas, sobre um objeto determinado, e procedendo de um facto
jurídico determinado, ou seja, quando se encara uma determinada
relação jurídica (ex.: a venda que A fez a B).
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1.2. Estrutura
A estrutura da relação jurídica é o seu conteúdo, o seu cerne, o vínculo, o
nexo, a ligação entre os sujeitos; toda a relação jurídica existe entre sujeitos,
incidirá usualmente sobre um objeto, promana de um facto jurídico, a sua
efetivação pode fazer-se através do recurso a providências coercitivas,
adequadas a proporcionarem a satisfação correspondente ao sujeito ativo da
relação, ou seja, a relação jurídica está dotada de garantia.
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Relação
Jurídica
Lado Lado
Activo Passivo
Direito Subjectivo
Dever
ou propriamente
Jurídico
dito
Direito
Potestativo Sujeição
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Características:
Direitos gerais: toda a gente tem direitos de personalidade.
Direitos absolutos: impõem-se a toda a gente, a todos os outros
sujeitos existentes.
Direitos extrapatrimoniais: não têm, em si mesmos, valor pecuniário
(apesar da lesão poder originar uma indemnização, a saúde e a
liberdade, por exemplo, não têm preço).
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Pode fazê-lo através dos mecanismos de tutela nos termos do artigo 70.º n.º 2
CC:
1. Pode sempre pedir uma indemnização pela lesão –
responsabilidade civil – porque há um facto ilícito e culposo
que gera uma lesão (artigo 483.º CC)
2. Pode ainda – e isto é específico e exclusivo dos direitos de
personalidade – requerer as providências adequadas que
evitem a consumação da lesão ou atenuem os efeitos da
ofensa já cometida.
Exemplo: se alguém viola o meu direito à imagem e publica
uma fotografia sem o meu consentimento numa revista, se a
revista ainda não saiu posso mandar apreender as revistas;
se já saiu, posso mandar recolher as ainda não vendidas.
3. Note-se que para além do plano das reações civis, pode
haver ainda responsabilidade penal.
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RELAÇÃO
JURÍDICA
1.3.1. Sujeito
Os sujeitos são as pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece,
isto é, são os titulares do direito subjetivo - sujeito ativo - e da vinculação
correspondente (dever jurídico e sujeição) - sujeito passivo.
A relação é um nexo entre dois termos: ora na vida social esses dois termos
são pessoas, ou seja, os sujeitos.
São sujeitos da relação jurídica as pessoas entre as quais ela se estabelece,
ou seja, são, pelo menos, dois: o sujeito ativo e o sujeito passivo.
Sujeito ativo: titular do direito subjetivo, que detém o poder – aquele
que tem o direito de exigir ou pretender o comportamento positivo ou
negativo;
Sujeito passivo: o que sofre a correspondente vinculação jurídica –
aquele que se tem de comportar de acordo com o direito da outra
parte.
Mas também existem relações jurídicas com pluralidade do lado ativo (vários
sujeitos ativos), pluralidade do lado passivo (vários sujeitos passivos) ou
pluralidade simultaneamente ativa e passiva.
Já vimos que os sujeitos da relação jurídica devem possuir personalidade
jurídica. Ora, o nosso direito atribui personalidade jurídica não só aos seres
humanos (pessoas singulares), mas também a outras entidades (associações
de homens ou conjuntos de bens) denominadas pessoas coletivas.
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1.3.2. Objeto
O objeto é aquilo sobre que recaem os poderes do titular do direito.
1.3.4. Garantia
Garantia é a susceptibilidade de tornar efetivos os poderes do sujeito ativo da
relação jurídica, que poderá, assim, reagir no caso de violação ou de ameaça
de violação do seu Direito Subjetivo. Para isso, o seu titular dispõe de uma
série de meios coercivos, podendo em último caso recorrer aos tribunais para
fazer valer o seu direito.
Consiste na suscetibilidade de proteção coativa do poder de que é titular o
sujeito ativo da relação e traduz-se no conjunto de providências que a lei
estabelece para assegurar essa proteção.
Tais providências são adotadas pelo Estado, por intermédio dos tribunais, e
destinam-se não só a proteger o direito do sujeito ativo quando ofendido ou
insatisfeito, mas ainda a defendê-lo contra simples ameaças de ofensa ou
violação.
Exemplo: se o devedor não pagar, o tribunal retira do património daquele os
bens necessários para satisfazer o interesse do credor: se antes do
vencimento do crédito sobreviver justo receio de que o cumprimento venha a
tornar-se impossível poderá o tribunal a requerimento do credor, proceder ao
arresto dos bens do devedor para evitar que o direito daquele seja
efetivamente violado.
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2. OS SUJEITOS
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a) Incapacidade
A pessoa é titular de direitos, tem capacidade de gozo, mas não os pode
exercer, pois falta-lhe idoneidade para praticar atos jurídicos: não tem
capacidade de exercício. A falta da capacidade de exercício de direitos de
alguém impossibilita agir por ato próprio, constitui uma situação de exceção.
Essa incapacidade pode ser suprida por alguém que atue em nome e no
interesse do incapaz, sob pena de se prejudicar gravemente a sua pessoa.
Tratam-se de casos em que o grau de imaturidade ou impreparação do
indivíduo afeta a capacidade de governo da sua vida e dos seus bens, pelo
que se torna necessário proteger tais pessoas, consoante a sua debilidade,
passando a existir necessidade de suprimento da incapacidade.
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atos. É uma proibição não absoluta, pois tais atos podem ser
praticados por outrem em nome e em representação do incapaz, ou,
noutros casos, pelo incapaz desde que autorizado por outra pessoa,
para o efeito designada na lei. É suprível através do instituto da
representação ou da assistência, e levam a atos ou negócios
anuláveis.
b) Menoridade
É menor aquele que não tiver ainda completado 18 anos de idade (art.º 122.º
CC). Nos termos do disposto nos arts.º 122.º e 123.º do C.Civil os menores
(que ainda não completaram 18 anos de idade), são considerados incapazes
(o objetivo é o de proteger o próprio menor incapaz e seus familiares dos
prejuízos que potencialmente lhes adviriam se os incapazes pudessem
praticar pessoal e livremente todos ou determinados atos jurídicos.)
Regra geral, os menores não têm capacidade de exercício (art.º 123.º),
tratando-se de uma incapacidade geral: não estão habilitados a reger a sua
pessoa e a dispor dos seus bens, não tendo capacidade para adquirir direitos
ou assumir obrigações por ato próprio. Ora, como é sabido, a incapacidade de
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exercício dos menores, pode ser suprida pelo poder paternal ou pela tutela -
art.º 124.º do C.Civil.
Podem, contudo, os representantes necessitarem de requerer autorização
judicial para a prática de certos atos, face aos arts.º 1889.º e 1938.º do
mesmo código.
Por outro lado, o mesmo art.º 127.º no seu n.º 2 estabelece que pelas dívidas
do menor apenas respondem os bens que ele, no exercício dessa profissão,
possa livremente dispor,
Porém, os menores têm algumas capacidades concretas, de acordo, aliás,
com a ressalva inicial do artigo 123.º CC, nomeadamente as mencionadas no
artigo 127.º do Código Civil.
Exceções (art.º 127º CC):
Os atos de administração ou disposição de bens que o maior de
dezasseis anos haja adquirido por seu trabalho;
Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que,
estando ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem
despesas, ou disposições de bens, de pequena importância;
Os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor
tenha sido autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa
profissão, arte ou ofício.
PODER PARENTAL
Cfr. Artigo 1878.º do Código Civil
Pertence a ambos os pais, indistintamente, competindo-lhes velar pela
segurança e saúde dos menores, prover ao seu sustento, dirigir a sua
educação, representá-los e administrar os seus bens, tudo no seu interesse.
O menor será, em consonância, representado pelos pais ou pelo progenitor
que tiver a guarda do filho (artigos 1901.º a 1912.º do Código Civil) – Trata-se,
portanto, de um poder-dever.
TUTELA
Cfr. Artigo 1921.º do Código Civil
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Os menores devem obedecer aos seus pais ou aos seus tutores e cumprir as
suas ordens, conforme dispõe o artigo 128.º do Código Civil.
TERMO DA INCAPACIDADE
Artigos 129.º, 130.º e 132.º do Código Civil
A incapacidade do menor só termina com a maioridade ou com a
emancipação pelo casamento, ou seja, o menor só pode atuar juridicamente
quando cessar a sua incapacidade (de exercício) – art.º 129.º e seguintes CC.
Duração da incapacidade:
Até aos 18 anos, momento em que se atinge a maioridade (ver art.º
122.º e 130.º CC) - Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire
plena capacidade de exercício de direitos, ficando habilitado a reger a
sua pessoa e a dispor dos seus bens.
Até à emancipação: por via da qual o menor é equiparado ao maior
(art.º 133º CC: A emancipação atribui ao menor plena capacidade de
exercício de direitos, habilitando-o a reger a sua pessoa e a dispor
livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto no
artigo 1649º CC).
A emancipação resulta do casamento e pode ter lugar aos 16 anos,
que é a idade nupcial – artigo 1601.º, alínea a) CC, mas só produz
efeitos plenos no caso de o menor ter obtido, dos pais ou tutor,
consentimento para casar (art.º 1649.º CC).
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INCAPACIDADE ACIDENTAL
Trata-se de uma incapacidade transitória, pois resulta de causas como a
embriaguez, intoxicação, estado hipnótico, etc. É uma incapacidade que não
afeta o estado da pessoa. Quem se encontra acidentalmente incapacitado
possui, em geral, capacidade de exercício, apenas a perdendo em casos
específicos. Naquelas situações, a pessoa age sem ter consciência dos seus
atos. Os atos praticados neste estado são anuláveis, MAS serão válidos se
praticados por essa mesma pessoa nos momentos lúcidos – Cfr. artigo 257.º
do Código Civil.
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Substrato:
Elementos pessoais: as pessoas que se agrupam para constituir a
pessoa coletiva.
Elementos patrimoniais: bens colocados à disposição da pessoa
coletiva. Elemento decisivo nas Fundações, mas presente também nas
outras pessoas coletivas.
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3. OBJETO
O objeto é aquilo sobre que incidem os poderes do sujeito ativo.
Costuma distinguir-se entre o objeto imediato e o objeto mediato dos direitos
subjetivos, consoante se trata daquilo sobre que os respetivos poderes
incidem diretamente, sem que se interponha qualquer elemento mediador, ou
daquilo sobre que tais poderes só de modo indireto vêm a recair.
Ex: Direito de propriedade: o seu conteúdo é constituído pelo conjunto de
poderes que pertencem ao proprietário (uso, fruição, transformação e
disposição). O objeto é o bem sobre o qual recaem esses poderes, por
exemplo, um prédio.
PESSOAS
Só podem ser objeto da relação jurídica nos denominados poderes-deveres
ou poderes funcionais.
Os direitos inseridos no poder paternal ou tutelar não atribuem qualquer tipo
de domínio sobre a pessoa do filho ou do pupilo, pois eles são atribuídos no
interesse destes.
PRESTAÇÕES
A prestação é a conduta a que o devedor está obrigado.
Trata-se de um comportamento - uma ação ou uma omissão. Num contrato
de empreitada o empreiteiro tem a obrigação de realizar a obra contratada
enquanto que o dono da obra assume a obrigação de pagar o respetivo
preço.
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COISAS
Artigo 202.º CC
Corpóreas: são as coisas físicas, que podem ser apreendidas pelos
sentidos, recaindo sobre elas o poder de domínio do seu titular.
Artigo 1302.°: só as coisas corpóreas, móveis ou imóveis, podem ser
objeto do direito de propriedade, como, por exemplo, casas, terrenos,
automóveis, barcos, aviões, bicicletas, etc.
Incorpóreas: “(…) aquelas cuja existência é desencadeada pelo
espírito humano, ganhando, depois, relevância social”. Sobre as coisas
incorpóreas recai, portanto, um poder de utilização exclusiva. Só
depois de exteriorizadas elas poderão ser suscetíveis de utilização por
outrem.
Exemplos: Patente, obra literária, científica, artística, etc. A obra na sua
conceção ideal é o objeto de direitos, e não as coisas materiais que a
exteriorizam, como o livro ou o filme.
DIREITOS
A controvérsia sobre a possibilidade de um direito poder ser objeto de uma
relação jurídica. Parece que a lei prevê tal possibilidade, nomeadamente no
artigo 879.° a) CC, relativo aos efeitos essenciais da compra e venda.
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4. FACTO JURÍDICO
4.1. Noção
Não há relação jurídica concreta enquanto não existir um facto, um
acontecimento da vida real que lhe dê origem. É, pois, o facto jurídico que dá
o ser à relação, desencadeando a aplicação da lei.
Facto jurídico é, então, o acontecimento da vida social juridicamente
relevante, pelo que todo o facto jurídico produz efeitos jurídicos. Tais efeitos
jurídicos traduzem-se na constituição, modificação ou extinção de uma
situação jurídica.
4.2. Classificação
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Espécies de contratos
CONTRATOS FORMAIS E CONTRATOS NÃO FORMAIS
Contratos formais são aqueles em que o acordo de vontades deve
revestir uma certa forma legalmente prescrita (ex. art.º 875.º venda de
bens imóveis).
Por seu lado, contratos não formais: aqueles em que os contraentes
podem exteriorizar a sua vontade como entenderem, sem a exigência
de qualquer formalidade (art.º 219.º CC).
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4.3. Em especial:
4.3.1. O tempo
a) Prescrição
Cfr. Código Civil: artigo 296.º a 333.º (o prazo ordinário de prescrição é de 20
anos: 309.º CC).
Prescrição de 5 anos – art.º 310.º CC
Prescrição de 2 anos – art.º 317.º CC
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b) Caducidade
Caducidade - diferentemente da prescrição, deve ser oficiosamente apreciada
pelo tribunal: artigo 333.º do CC (artigo 298.º n.º 2 do CC); a prescrição pode
ser suspensa e interrompida o que não sucede, em regra, com a caducidade
(artigo 328.º do CC).
Caducidade: trata-se de uma série de situações em que as relações jurídicas
duradouras de tipo obrigacional criadas pelo contrato ou pelo negócio
(formando no seu conjunto a relação contratual) se extinguem para o futuro
por força do decurso do prazo estipulado, da consecução do fim visado ou de
qualquer outro facto ou evento superveniente (ex.: morte de uma pessoa) a
que a lei atribui o efeito extintivo, ex nunc (para o futuro), da relação
contratual.
Exemplos de caducidade: artigos 1051.º, 1141.º, 1174.º, 1716.º, 2317.º CC.
Quando falamos de caducidade é sempre a própria lei que faz depender a
cessação da sua vigência dum evento futuro, certo ou incerto.
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4.4.2. Invalidades
a) Negócio nulo: não produz, desde o início, por força da falta ou vício
dum elemento interno ou formativo, os efeitos a que tendia;
b) Negócio anulável: não obstante a falta ou vício dum elemento interno
ou formativo, produz os seus efeitos e é tratado como válido, enquanto
não for julgada procedente uma ação de anulação; exercido, mediante
esta ação, o direito potestativo de anular pertencente a uma das
partes, os efeitos do negócio são retroativamente destruídos;
c) Invalidades de carácter misto: v.g. artigos 410.º n.º 3 e 1939.º n.º 1 e
n.º 2.
A) NULIDADE
a) Noção
- As nulidades operam ipso iure, ou seja, não é preciso intentar ação ou emitir
declaração nesse sentido, nem sequer uma sentença judicial prévia.
- São invocáveis por qualquer pessoa interessada.
- São insanáveis pelo decurso do tempo.
b) Regime
São nulos os negócios celebrados contra disposição legal de caráter
imperativo, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei (cfr. art.º 294º
CC).
Exemplos de nulidade estabelecidos no Código Civil: vícios de forma (artigo
220.º CC), vícios de objeto (artigo 280.º CC), falta de vontade (artigos 245.º e
246.º), contrariedade à lei (artigo 294.ºCC).
B) ANULABILIDADE
a) Noção
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b) Regime
Caraterísticas das anulabilidades:
a) Têm que ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade,
b) Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por quaisquer
interessados,
c) São sanáveis pelo decurso do tempo,
d) São sanáveis mediante confirmação.
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C) IRREGULARIDADE
Enquanto a invalidade importa a destruição dos efeitos negociais, a
irregularidade, embora provenha de um vício interno negocial, tem
consequências menos graves, não afetando a eficácia do negócio, mas dando
apenas lugar a sanções especiais: v.g. casamento de menores (cfr. artigos
1649º e 1650º CC).
D) INEXISTÊNCIA JURÍDICA
Corresponde àqueles casos mais graves em que verdadeiramente se pode
dizer que para o Direito não há nada, ou seja, são situações em que não
chega a haver determinado negócio, pelo que oque está em causa é bem
mais do que a mera produção de efeitos jurídicos, é a própria ocorrência do
negócio jurídico.
Ex. art.º 1628º e 1630.º CC – casamento inexistente.
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5. A GARANTIA
5.1. Noção
Quarto elemento da relação jurídica.
Ao Estado, como ente produtor de normas jurídicas, cabe zelar pela sua
aplicação e cumprimento, importando a violação de tais normas certas
sanções: é a garantia das relações jurídicas ou tutela jurídica.
A sanção constitui uma reação prevista pela ordem jurídica para a violação
das normas jurídicas, impondo coativamente o seu cumprimento ou a
reparação da violação – nisto consiste a tutela jurídica.
Consoante o agente protetor, podemos ter: Tutela Privada ou Autotutela e
Tutela Pública ou Heterotutela (já visto nos capítulos anteriores no tema da
Tutela).
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Para além desta garantia geral ou garantia comum dos credores, a ordem
jurídica prevê certas garantias denominadas especiais e que reforçam a
garantia geral.
A) Garantias pessoais
Estas garantias caracterizam-se pelo facto de outra pessoa, além do devedor,
tomar a responsabilidade pelo cumprimento da obrigação. Há, deste modo,
um reforço quantitativo da garantia do credor.
FIANÇA
É a garantia pessoal mais comum e encontra-se prevista no artigo 627.° do
Código Civil.
O fiador fica com a mesma responsabilidade que o devedor principal,
respondendo com o seu património pelo cumprimento da obrigação deste.
Assegura, portanto, a satisfação de um direito de crédito, ficando
pessoalmente responsável perante o respetivo credor.
Essencial à fiança é a vontade do fiador se obrigar, sendo irrelevante a
aceitação ou não do devedor (628.º CC). A obrigação do fiador é acessória da
obrigação principal (da que recai sobre o devedor) não podendo excedê-la e
extinguindo-se quando aquela se extinguir (651.º CC).
O fiador goza do benefício da excussão prévia, ou seja, o credor só pode
atacar o património do fiador quando tiver esgotado/excutido os bens do
devedor principal.
A responsabilidade do fiador é idêntica à do devedor principal nos termos do
artigo 634.º do Código Civil sendo que se extingue, em regra, com a extinção
da obrigação principal, de acordo com o disposto no artigo 651.º do Código
Civil.
B) Garantias Reais
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São aquelas que recaem sobre certos e determinados bens, quer do próprio
devedor, quer de terceiro, concedendo ao credor preferência no pagamento
pelo valor desses bens.
Por virtude delas, o credor adquire o direito de se fazer pagar, de preferência
a quaisquer outros credores, pelo valor ou pelos rendimentos de certos e
determinados bens do próprio devedor, ainda que esses bens venham a ser
posteriormente transferidos.
Exemplo:
Imaginemos que A pede um empréstimo ao banco B para a compra de uma
casa. O banco, credor, vai exigir como garantia a hipoteca dessa mesma
casa. Se o devedor não pagar, o banco vai executar a garantia e paga-se pelo
valor da casa. Se, por hipótese, aquele devedor só tinha aquele bem e havia
outros credores comuns, no limite, se o crédito do credor com garantia real
consumir todo o valor da casa, os outros ver-se-ão na contingência de nada
receber.
Sobre a mesma coisa podem recair várias hipotecas (713.º CC),
estabelecendo-se uma graduação com base na prioridade do registo; assim,
os credores hipotecários têm preferência uns em relação aos outros e todos
têm preferência sobre os credores comuns.
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