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Herbert José de Souza Colegio FAZER) | Oriontagso etitorit Tnettuto Brasileira de Andiises Socals © Bonomicas Base) t Livros da.coleo: Como se taz Andtiso de Conjuntura — COMO SE FAZ Seemert José de Sousa Ga ter com am slo minino — ANALISE Gomo se faz uma Comunidade Releial do Base — ‘onno cular de bobs — Marla toreas Maldonado DE CONJUNTURA Goma traainsr com 0 poto Codon Rott (om seta Huror Police — Hen Come ss fr ainda do vaubuar — Sonia Qumartes Como se fs tm Presidente Go Republica Balch uber de Azecedo Lira ‘Edigso obrevivor sem emprego — ‘Teimo Wambier (Como fazer movimento ecotigico e defender & nsturess fs iberdades — Carlos Mine Gomo se iaz itaratura - Affonso Romano de Séot’ansa (Como So far & lita de bairvos ~ 30 Rezende Prinimas fitslos 2 sorem taacados: ‘Como se monta & informagiio — Regina Festa ‘Como defender os eeu dlretos — Merman asta ‘Como so fas um golpe de Estado — Rene Drelfuss ‘Como ge faz 2 lun no campo — Momélia Moreira ‘Caso ook tena alguma sugestio de assunto € ‘autor para a Colegio Pazar frcrevs para of seguintes enderecos: BASE —~ un Vicente de Sosa, 0 — CRP 2281 — } Botatogo, Ru ‘Baltes Yoees ~ Rua Frei Lis, 100 — CEP 25500 — ‘Petropolis, © 1984, Buitora Voros Ltda. ‘Rus Pret Luts, 100 25600 Petrépolis, RI ‘Brasi) Diagramagiio Valdeeir Mello Sumério Introdugao, 7 1 ‘Algumas categorias para a andlise da conjuntura, 9 a Sistema do cap'tal mundial, Dados gerais, 19 3 Sistema do poder politico transnacionalizado, 25 4 Formas de controle politico, 8 8 Estratégias em Jogo, 39 a Quadro atual, 4 7 ‘Campos de corfronto, 47 a ‘Um metodo pritico de fazer andlise de conjuntura ecm os movimentos populares: a representacio da ccajuntura, 51 Introducao (9 momento em que toes @ sociedade brasileira IN"acompanna ativamente 0 desenrolar dos noom tecimentos. politicos, flea etidente que nao basta fpens estar com a leitara dos. Jornals em din para entender 0 cite std ecorveuito. No volume Ge informagges. que 6 veictinio todos os dias 6 hecessénio identificar os ingredientes, os atores, fs interesses em jogo. Fazer isso € fazer undliss Se conjunturs, Na venlade a toto momento e em ro- loco as mais variadas situagdes faxemos “andlises” 9 conjuntura sabendo ot! néo, quterendo ou nio: quando decidimos sain de cass, sair do emprego, entrar num partido, perticipar de ima luta pol tica, casar, colocar 6 ‘tho num coléto, evitar ou buster uma bisa, deseansar ou ficar atento, om todas essas situagdes, tomamcs decisbes ‘passages, em ume avalingto da_situagio wists sob a_ofica 2 noso Unteresse ou Aecessidade. Nossas disses Jevamos em conta as informaccos que temoe, Dpuseamos nos informar, avatiames ea ossfulaa’ Aes, fazemos hipsteses ‘desenvoivimenta das ‘fatos, das reactes possiveis das pessoas ou dos 1 ‘grupos, medimos a “forga” ou o perlgo de nossos oventuais “inimizos" ou dos “perigos” e, a partir desse conjunto de conhecimentos, informaghes @ avaliagSes, tomamos nossas decistes. A andlise da conjuntura 6 uma mistura de conhecimento e_descobarta, ¢ uma leitura eS ia realidade e quie se [az sempre em funcao de alguma necessidade ou interesse. Nesse sontido pho hi anélise de conjuntura neutra, desinteres (SAGR ela pode se¥-objetion mas estara sempre relacionada a uma delerminada vielo do sentido e do rumo dos aconteeimentos, A andlise da conjuntura néo somente parte da arte da politica como é em si mesma uum ato politico, Faz andlise politica quem fax politica, mesmo sem saber Mas a andiise da conjuntura é uma ta Tefa complesa, dificil e que exige nto somente um ronhecimento ‘detalhado de todos os elementos JWsados importantes e disponiveis de uma siti, s¢i0 determinada, como exige também um tipo de Hespaciande de porveber, compreender, deercbsig ‘seafides, relaqdes, tentienclas & pattir’ dos dados @ das Witormagoes Nao deiza de ser surpreendente que para uma atividade tio importante como é€ 0 de snallsar e acompanha: o desenvolvimento dash tuagto potitica © econdmica de um pais. falte elaboractio de teorias © métoior especitieas, © texto que segue vise oferecer alguns elementos etodoligicos para se analisar a realidade polities Derceber mals claramiente-a-sonjunturs, a i Algumas categorias para a andlise da conjuntura ara se fazer anilise de conjuntura sto news ‘Sérias algumas ferramentas pr6prias para isso. Silo as categorias com que se trabalhar seontecimentos atores relepio de forcas articulacio (Felacio) entre “estrutura”™ ‘conjuntura’, Cacla uma destas categorias merece wm tretamento parte, mas no conjunto elas pode vim ser estudadas como elementos da “repre. sentaglo da vida” ou uma peca de teatro, Essas. categorias, por exemplo, foram wtilizadas por Marx fem seu estudo da revolucio frances, no “18 Bru meério”, que constitui um dos mais brilhantes es. todos de uma situacio politiea (uma conjuntura) i realizados, ‘Tentemos ver um pouco mais o sentido ae cada uma, a) Acont fmentos Devemos distinguir fato de acontecimen- to. Na vida real ocorrem milhares de fatos todos os dias em todas as partes mas somente «lyuns esses fatos <0 “considerados” como acontect- mentos:_aqueles_que_adouirem_um_sentido-espe etal _pere_um_pais,_uma-classe-social,-um_srupo ‘social ou uma pestos, ‘Alguém pode cair de um cavalo e isso se constitulr somento num fato banal, mas se esta a queda de um presidente, provavelmente sera lum acontecimento. O nascimento do filho de wm rei € um qgontecimento para o pais, 0 nascimento do fitho de um operirio 6 um acontecimento para fa familia, © beljo pode ser um fato comum mas © eljo de Judas foi um acontecimento, Existem ovorréncias que se constituem fem “aconteclmentos” tals como greves gerais, elei- ges presidenciais (principalmente se sio ’ dire fas...), golpes mblitares, catdstrofes, descobertas cientificas de grande alcance, Estas ocorrénclas ‘Na andlise da conjuntura o importante 6 analisar os acontecimentos, sabendo distingulr primeiro fatos de acontecimentos e depois distin- gulr os acontecimentos segundo sua importancia, Essa importincia e peso silo sempre relativos ¢ dependem da stiea de quem analisa a conjuntura, porque uma conjuntura pode ser boa para alguém fe péssima para outros: um ladrdo que chega num 10 lugar policiado vai veriticar que a conjuntura ests rum para ele naguele éia, a mie que chega na raga com seu filho val pensar 0 contririo. A smportinela da anslise a partir dos aconiecimentos € que eles indicam sempre certos “sentidos” e revelam também a pereepeao que uma ociedade ou grupo social, ou classe tem da realk dado e de si mesmas. identiticar os principals acontecimentos ‘num determinade momento, ou perfode de tempo, @ um passo fundamental para se coracterlzar € analisar uma eonjuntura bv) Condrios 1s tr apa et pgm emir’ atest amis Sop ee ee Se Se eS ae i ah Oo a ne ts de oe co a i oun as Go emo, emai eb oe meyer © et, a a ee A So ca re aoe cnerias § aera a ee Se 2 ae iets ors as we eh ee ey cena ap ia, ee oe eC oe aa se or re te ewe a campo onde seu poder ¢ maior. Dai a importincia de identificar os cendrios onde as lutas se desen- volvem e as particwaridades dos diferentes oe anirios. Numa ditadara militar os cenérios do poder e da luta contra esse poder serao necessa: rlamente diferentes dos cendrios de uma sociedade eemocritica. Numa, talvez 0 quartel; noutra, 0 parlamento, as russ e as pragas, ©) Atores Outra categoria que podemos usar na andlise da conjuntura é a de atores. © ator é alguéin que representa, que en- carna um papel dentro de um enredo, ‘de uma tama de relagdes, Um determinado individuo & lum ator social quando ele representa algo para a sociedade (para 0 srupo, a classe, o pais), encazna, uma idéla, uma relvindlengio, um projeto, ums promessa, "uma dentincfa, Uma classe social, uma categorie social, um grupo podem ser atores’ sociais, ‘Mas a idéia de “ator” nfio se limita so mente a pessoas ou ETupos socials. Instituicdes também podem ser atores socials: um_sindicato, partidos politicos, jornals, ridios, einissoras de (alerisio, ierajas. ~ 2 @) Relagin de foreas ‘As classes sociais, os grupos, os aiferen- tes atores sorisis estilo em rolagdo us com os _outzos,, Esens relagdes podem ser de confronto, de coexisténcia, de cooperacio e estaxfio sempre revelando uma Telagio de forga, de dominio, igual- dade ou de subordinagio. Encontrar formas de verificar a zelacio de forcas, ter uma idéia mais clara dessa elagdo € decisivo se se quer tirar conseqiénelas priticas da andlise da conjuntura. ‘Algumas vezes essa relagio de forcas se revela através de indisadores até quantitativos, como é (0 caso de uma elelcio: o niimero de votos indicard fa relagio de foreas entre partidos, grupos e classes sociais. Outras vezes devemos buscar formas de vveritleagio menos “visivels": qual 6 a forca de um movimento social ou politico emergente? Como thedir 0 novo, aquilo que nao tem registros quan- Utativos? Outra idéia importante 6 a de que a relagio de forca: no é um dado imutivel, eolo- Sedo de uma ver por todas: @ meee80. do foreas testotg. 6 DOF so sos22_mudancas_pemmanentenaats ‘que a politica 6 tio cheia de surpresas: um eandl- Gato, um empresério, um partido politico podem fachar que mantém uma relayio de stperioridade fe quando sio chamados a demonstrar sua “forca” percebem que a relagio mudou e que a derrota ou vitdria deve ser explicadas depois 13 €) Anilise de fatos, eventos tendo coma pano de fundo as “estruturas”, ow articulagio entre estrutura e conjuntura A questiio aqui é que os acontecimentos, ago desenvolvida pelos stores socials, gerati@> ‘ua sifusglo, definindo uma conjunture, do. se @io no vazio: eles tém relagio histori, som. pasta om slacs sods, scondmis & pollicas estabelectas ao longo de tun process Tis longo, UME greve geral que marca tuma com jJuntura 6 lum acontecimento novo que pode pro- vocar mudangas mais profundas, mas ela nfo edi 40 cfu, éla € o resultado de um processo mais longo ¢ ests situada nama determinada estrutum Industrial que define suas caracteristicas isis, seu elcanco e limites. Um quadro de seca m9 Nerdeste pode marear uma eonjuntura social gra ve, mas ola dove ser selacionada estrutura fun Giérie que, de alguma mancira, interfere na forme coma_a seca atinge as papulagses, a quem ating Seon. A isso chamamos relacionar a conjun- ira (0s dades, os acontectinentos,osatoresy—& Aléra de considerar estas entegorias, exis. tem outras indicacdes que dovem ser levadus em conta para se fazer uma anilise de conjuntura. # fundamental percaber 0 conjunto de forcas e problemas que esto por detris dos acon tecimentos, Tio importante quanto gprecnder 0 sentido de’ um acontectmento € percober quals as 1 forgas, os movimentos, as contradiges, as condi- Ses que 0 gerazam. Se 0 acontecimento aparece Gjretamente A nossa pereepeéo este pano de fundo que 0 produz nem sempre est claro, Um esforco fe wm cuidado maiores devem entao ser feltos para situar os acontecimertos e extrair deles os seus possiveis sentidos. Procurar ver também os sinais de saida para 9 “novo”, 0 nfoeecntzcide, 9 inédito. Tio Important quanto ertender 0 que Ji esté ccon- teceado € estar atento aos sinais dos fendmenos hoves que comecam a se manifesta, Buscar ver 0 fio condutor dos aconte- cimentos, No se pode afirmar a priori que todos 0s acontecimentos “seontecem” dentro de uma ogiea determinada, seguindo um enredo predeter minado. Na realidede, os processos sio cheios de sentidos e dinamicas’ que escapam ou nilo estio subordinados a doterminaedes I6gicas. Tsto, no en: tanto, nilo nos impede de procuzar, de pesquisar 0 encadeamento, a logics, as articulagoes, 0s sen- tidos comuns dos acontecimentos, Quando somos capazes de perceber 1 10zica interna de uma de terminada_potitica ca sicardé mais ficil entender o sentido das decretos, das agées © até mesmo ‘visitas dos ministros do Planeja- Existem dias leituras possiveis dos aconteclmentos ou do's modos de ler a conjuntura: — a partir da situagio ou do ponto de vista do poder dominante (a Idgiea do poder); 16 —a partir da situagio ou do ponto de vista dos movimentos populares, das classes subordinaclas, da oposigio 20 poder dominante. De modo geral as aniilises de conjuntu- ra silo conservadoras: sua finalidade € reordenar os elementos da realidade, da situacio dominante, DATA rhanter o funcionamento do sistema, do ze ime, Uma anilise feita tendo como pressupasto tina correcio de rota, mas nfio de directo fun- demental, Fsse tipo de anilise parte do ponto de vista do ‘poder dominante e, do corta forma, de- terminaré nfo somente a scleoio dos acontech mentos @ atores a serom analisadas, como stri- buira a estes acontecimentos um sentido afinado ccm os intezessos das classes dominantes. Todo acontecimento 6 uma sealldsde com um sentido” attibuido, nfo dum puro fato, mas im fato Tide e visto por iMtBREESés especilicas, — Partir do ponto de vista dos movimen: tos populares no 6, cbviamente, inventar situs gkes, acortocimentos e eorrelacdes de forcas que ‘Deneticiem 0 campo popular ao nivel da fantasia eda imaginazio dos analistas interessados, # yar- fir dos acontecimentos social e historicamente doterminados, existentes, concretos, mas percebé Jos, analisé-los sob a stica dos interesses das clas ses subordinadas, dado que toda andlise de con- Juntura sé adquite seatido quando é usada como ‘um elemento de transtormacto da realidade, A anilise de conjuntura deve levar em conta as articulagdes e dimensGes locais, regionals, nacinnais ® internacionals. as fenfimenas, dos acontecimentos, dos atores, das forcas sociais, 6 A importaneia dos elementos na andlise de conjuntura depende de cada situacio, de rela do ou posicéo num contexto mais amplo e mais permanente. A anilise de conjuntura de modo goral 6 uma anflise interessada em produzir wm tipo de intervenes na polftica; é um elemento fundamen. tal na organizagio da politica, na det das. esizalézias e ttions das diversas forgas em iuia, ma questio chive na anise de con juntura (a pereepeio da complexidade ¢ da di Tieulgade-emrcstetninar ‘Telagtes de occa dade “depo tnilinear, simples. Existe um elemenio~ “CORSIEMS Ce ImprevistbMYdade em relacko b acho Polldeay sus ertinct, sous ellos sues eutsas, 4X aglo pollica ¢ em si mesmo um elemento. da Teslltaad poles: € a base da ‘Dossibildade. Oe iansformagoee, de mudange, do” surgizento. Go novo. Falar de uma légica da agio é falar também &o sua enpeenatbinceaeS As categorlas “estratégla” @ “tatica” so também instramentos uteis para a anilise da acio os diferentes atores sociais. 1 possivel buscar iden- tificar as linhas gerais de acio, as estratégias em- regadas por estes atores sociafs para conseguir realizar seus objetivos. Poderiamos doflnir estra tégia como a articulaclo, a definicio de um con Junto da mefos, de forcas, de elementos tendo em ‘vista realizar objetivos gerais ou “projetas” mais Blobais que réspondem a interesses.e objetivos 50; ~ fiais, econémicos @ politicos de determinadas. for- gas ou classes socials. " Se na estratégia obsorvamos os objeti- vos e linkas de agio mais gerais, na titica obser vamos os meios e formas particulares, coneretas de agdo, tendo em vista a realizagéo de estratézias Geterminadas. Nem sempre, porem, um acontect- mento, ou um conjunto de ages ‘aparentemente articuladas entre si constituem uma tétiea ou uma parte de uma estratégia. Na sociednde, no pro- ‘cesso sock, 0 que acontece nfo tem’ que ver necessariamént com wma légica ou um plano estabeleciéo. $6 as teorias conspirativas ou “es- truturalistas” da historia acreditam nisso. Por isso fas anilises de conjunture deveriam estar sempre aberias a detcoberte de varias possibilidades & alternativas. 8 2 Sistema do capital mundial. Dados gerais Jfy importante retecionar a confuntura com os ele mentos mais permanentes, mais estruturais da realidad e evar em conta as dimenstes locais, rogionais, nacionafs e internacionais da realidade. © sistema do capital mundial se cons fitul no pano de fundo do process econtmico, social e politica que se desenvolve em nosso pais, O sistema do capitsl mundial nao determina todos (os acontecimentos de nossa realidade, mas sezura- mente ele 6 um elemento condicionante do con- Junto dos acontecimentos que definom o nosso rocesco histdrfoo. Nesto sentido, é ftmdamental ter uma idéia global de suas caracteristicas e das formas concrelas através das quals a realidade ‘etd relaciorada a este sistema, DESCRICAO DO SISTEMA DO CAPITAL ‘sonra. ‘As empresas transnacionals sio a ponta avangada do capitalismo contemporaneo, elas se caracterizam principalmente: 19 — pelo uso da tecnologia mais avanada; — pela capacidade fantistica de produrir bens so- fstleados; —em escala de massa e a nivel mundial. A l6gica do capltal transnacional nfo é ‘a maximizacio do uso da ciéncia na producto para atender as necessldades do conjunto da scciedade, mas a maximfzagdo dos jueros. (© desenvolvimento do sistems transna- cional de produego uprofunds ainda mais e em eseala mundiat ag comtradic6es do modo de pro- ucKo_capitesista: telconcentranéo dos bens de producto sob 0 com role de um minoria; — concentragso da riqueza nas mios de pequenas parcelas da populacio; <“selrramento da competicio entre as formas cligopdlicas © nio-ligopdlicas e entre os grandes oligopdlios entra si no interior e através de sua existéneia nas diferentes nagSes do mundo. Uma noglo fundamental que 0 capital mundial nio é frat A soma das cororagies, das empresas transnacionais existentes no mundo cu no interior dos paises, 6 um sistema produtivo artiovlado em escala mundial sob a lideranga das grandes corporagSes e bancos transnacionals: — este capital mundial (o sistema produtive mun. dial) submete a seu processo e integra a mithares de wnidades produtivas (emprests) de tamanha médio e pequeno, independentemente de sua loca engio geogrifica, nacionalidade ou propriedade; nas montadoras de auto por exemplo, o pro- duto final, o carro, é propriedade das transnacio- 20 nnais, mas as pecas de tais carros so produnidas (cadeia produtiva) por milhares de pequenas e médias empresas de autopecas; — um aparelao de TV ¢ decomposto em 10.000 pocas, produzidas por mitbares de empresas que Se sulometem a0 sistema produtivo de algumas poueas montadoras transnacionals. de 2/3 dos investimentos transnacionais esto concentrados nestes paises, Este sistema se realiza no interior das ages, osjonta, reotienta, determina o sentido, 0 estilo, 'os limites do desenvolvimento das nacdes. Articulase, sob formas de:erininadas, até mesmo oom of Dairer e economias-sociatistae ‘Multas empresas transnaeionaig produzem hoje no interior dos paises socialistas através de contratos realisados entre 0s governos © as empresas, LIMITES E CONTRADICGES DO SISTEMA DO CAPITAL MONDIAL: —o prncesso de acumulaglo asentase scbro a expleracto do trabalho pelo capital: contradicio entre proprietirlos dos meios de produao_em extal mundial © forea de trabalho viva organisa dos e definicos @ nivel nacional. _— Dai o confronto decorrente de expro- priacio dos vapitais mais débels pelos mais fortes, agora estabelecendose a nivel mundial a ‘Outro aspecto importante 6 a contradt cio entre as necessidades e vooagio mundial Aas fransnacioncis e os limites e necessitiades nacio- nnais das sociedades onde operam. O capital nio tam compramisso com nacional, com o part! ceulax, com £$ roalidados @ necossidades definidas 4 nivel locel ou nacional. Sua yocacéo & universal, quer 0 mundo como seu limite. As mages, oS paisos devom organizar ag respostas is suas ne cassidades locals, nacionals 9 af reside inclusive a base de legitimfdade de seus sistemas economi cose politicos. A tégica da acumulagdo definisa 2 nivel ndial_nic_corresponde, porianto, s 1dgiea ¢e i tin interior de tum pafs. Para Poder existir nos espacos nacionals, no~entanto, © capital mundial necessita do consentimento do poder politico de eada pais. Deste isto decorrem fam grande medida as contradicbes sxistentes entre ‘as instincias de poder a nivel mundial © 05 Esta- dos nacfanals transnacionallzados, Hi uma arti- feulacio contraditéria do poder polttice em esesla mundial e nacional Para o capital transnacional, que plane- ja e opera tendo em vista 0 longo prara, a esia- ‘piiaade dos regimes 6 um fator essonelal, Outra contzidighe bésica 6 a que se es tabelece entre as fungdes do Estado emt relagio as nevessidades populares e um Dstado transna- cionalizado, euja ordem e 6zica internas trans. eendem o ‘espaco nacional. Os Estados nacionsis passam a desempenhar uma dupla fungi trans. fnacionat e nacional — da qual decorrem novos problenss relatives a aczmulacio e & legitimidade. 2 Como legitimar um Estado nacional que no tem ‘como objetivo eeniral atender os interesses na- clonais? © proceso de transnacionalizagio exer- co pressiog visiveis no sentido de: mudar 9 papel do Estado na economia, ora ampliando sua inter (0 _divets, ora Tazendoa diminuir, Centraliza SG tal ho comutive,aproruia ‘as crises fe. legitimidade afetando os ‘mecanismos tradicio- ais de constituigio e definigio do poder do Es- tado. ALGUNS DADOS SOBRE O BRASIL EO PROCESSO DE TRANSNACIONALIZAGKO — 0 capital transnacional é um dos principais ato- res de nossa economia politica. Fle esta presente em posi¢io estratégica nos setores fundamentals a economia, Controla os setores industriais mais, Ginimlcos e praticamente determina a natureza © ‘08 rumas de nosso provesso econémieo. =A divida externa de 100 bilhoes de délares é um problema do sistema financeiro mundial e cor- responde de certa forma a um “crédito” interessa do concedido a0 Brasil como parceiro do sistema © em fungio do desenvolvimento transnacionalizae do. % um sinal da forca do sistema financeiro mundial e da debilidade do sistema politico bra- sileiro que foi praticamente ocupado e submetido 80 EMI, “SA divide. externa brasileira de corta forma 6, portanto, um indicador do grau de transnaciona- lizagio da economia brasileira. — A transnacionalizagio capltalista torna evidente fe acentua ainda mais as desigualdades econdmicas fe sociais: os niveis salarinis, o Jeque salarial 20 interior do Brasil e entre o Brasil e outros paises, mesmo entre os subdesenvolvidos, mostram uma situico de extrema desigualdade. A diferenca sala. rial entre o trabalhador brasileiro e um emericano pode chegar a 1x1, Carca de 70% ds populnczo Drasiieira nfo slo merendo para os produtos das transnacionais, particularmonte os mais. sofistica- dos, Mas mesino assim existe um mercado de 10 fa 15 milhoes de brasileiros para as transnacionais ‘quo operam no Brasil. A transnneianalizagio da economia @ da politica ¢ tim fandmeno que vuructerica © Process Braleixo Go forma global e determina 0 rumo fe seu desenvolvimento, Como Estado transna- clonalizado teve que se impor & Nogio e se divor fio dete, dat derivam as grandes questdes poli fens ca arigem de suas erises. O Bstado brasileiro festé sendo cirigide por stores politicos que nfo ‘ém condie6es de so apresentar clara e direta- ments & sociodade, porque respondem aos interes: ses do grande capital transnacional instalndo no als. A histéria potion de Roberto Campos, Mario Heasigue Simonsen e Deltim Notto ao longo des ser 20 anos. ilustra esse ponto, Enquanto ssa situsco perdurar sexé. probletnético institucionay lar o poder do Estado, Nacionalisar o Estado assou a ser uma questio fundamental ¢ nova. Tao nova que para muitos esta proposta pode parecer sem sentido, J que nao se conserue pensar um Bstado que no seja nacional, por de- {inigio. A realidade ultrapassou a definicho ea transnacionalizagio redefiniu a natureza dos star dos nacionais, 3 transnacionalisalo Sistema do poder politico Ff init! separar © seongmieo ao pautien, 0 ato de produsts € também um ato politico. © eapital ¢ uma relacio social de producio. For isso 6 importante” perceber © contexte” econdmico @ politico como dias Gimensées do um mesmo te némeno global, Devemos falar, portanto, de um sistema do capitat mundial que existe porque tam- bém 6 um sistema de poder politico transnacio- nalizado, que submete os Fstaios nacionais a sua dinamicd, limites © contracigves No sistema do poder transnaclonalizado © Estado passa por uma série de transformagies politieas © de modo geral se caracteriz por seu carter centralizedo, desnacionalizado, teencersitico © repressivo sob diferentes formas. Como é um Estado nacional mas est submetido a uma logica de acumulacio transaa- Cionalizada, a questo central deste Estado passa a ser a da legitimidade e, portanto, 0 de sua ince Pacidade de Institucionalizerse pelas vias Uberais ©, particularmente, sua institucionalimgio através dos processos eleitorais. +o Estado ¢ praticamente reduzido a0 Poder Bxecutive federal. Centralizado © tecnoeratizado 0 Estado passa_a exercer 0 seu poder através de decisdes fautoritarlas, com base no uso direto da forga ou no recurso visivel a coergio armada (Forgas Ar madas) © n0 uso intensivo dos meios de comunt. cagio de massa sob 0 controle direto e indireto do Estadc. © monopolio da produgdo e difusio da informacio, em mios das grandes redes de TY fe sob controle do Estado, definem um tipo de poder politico que também escapa as andlises convencionais. Tratase do poder de “construir o real”, de definir 0 real, de incluir e excluir atores, forgas sociais no quadro do real apresentado a milhes de pessoas. As colsus, os acontecimentos, fas pessoas, os movimentos socials, as idélas, as propostas, as alternativas existem, ou ndo, através fe um unico canal, na ponta do qual se coloca a vontade de um grupo, classe ¢ Estado, Na outra ponta milhdes de pessoas reccbem o pacote de Imagens que se pretende passar como a realidade inquestiondvel. Neste Estado transnacionalizado, divor ciado do pais, desaparece a divisiio tradicional dos poreres; exeettivo, logislativo, judieidrio, No Brasil prineipalmente a pertir de 1964, 0 legisiativo apre sentou milhares de projetos de lei sem conseguir transformi-los em lel, enquento 0 executivo passou a legislar por Gecreto: ‘Da transnacionalizacio do sistema de poder politico e do Hstado decorre a impossibili- dade de controlar o poder executive através de 26 ‘mecanismos politicos sensiveis As quas bases na clonais e populares. Neste quadro os movimontos @ partidos populares sto submetidos & l0sica das leis de ‘Sseguranca nacional e 0 povO-é dentifieado como tntinige potencial da Nacio. As manifestacdes dos, movimentos populares so. tratedes como mani- fesiagoes agreseivas de inimigo do Estado. Os processes eeitorais de modo geral ‘silo banidos, por tempo fixada sezundo os célculos do poder dominante, ou controtados ¢ manipulados de forma a nio amezgar o miicleo central do poder executive, Os parlamentos, onde se refletem de certo modo os interesses nacionais e populares, capitelistas ou nio, sio transformados em instar clas decorativas, elamados a lezatizar os atos do poder executivo ou serem marginalizados do sis tema de poder. CONTKOLE ESTATAL DOS MEIOS DE COMUNIGAGAO DE MASSA Essa é uma outra dimenséo das trans formagoes do Estado transnaconelizado em suas formas autoritérlas © que merece uma atencio especial: —a informagio é apropriada pelo Estado como elemento fundamental de poder; — sho os setores dominantes que geram as ima gens correntes do pais e do mundo; aT ‘Universidade de Gracilia, RIBLIOTERA — desenvolvese 0 monopslio do executivo na pro- Gugio e difusdo das informagées, a partir das quais a realidade 6 pensada sem mecanismos de controle pliblico sobre a qualidade ou a veraci- dade destas informacées; a produgio dos dados 6 em grande medida privildsio do Estado. A estatistica deixa de ser conflavel para ser uma arma politica; — 0 Estado, sem fiscalizaglio e controles demo- créticos, determina quem somos, que produzimos, ‘quanto ganhamos e prognostiga como seri nosso futuro; —a sociedade elvil 6 pensada como reflexo do Estado, e se vé muitas vezes incapaz de contrapor- se aos dados produsidos e manipulados pelo Es- tado. Os morimentos de oposicfio real ao re- gime so tratados segundo os principios da guerra fe nlio da politica, Nao hii jogo politico, mas guerra politica ‘As instituigdes mifitares slo colocadas na diregfio da politica do Estado por forge da I6glea da ordem, sem serem as que resimente Girigem as opg6es © os destinos do pais. Assumem ‘como profissionais da guerra ¢ da ordem do Es: tado transnacionalizado, caindo prisioneiros da 16+ giea de um sistema que na verdade os dirige Em um Estado transnacionalizado as Iiderances militares que dixigem o poder politico se afastam da sociedad nacional, do Povo e da Nacho. 2 CONTRADIQUES DESTE SISTEMA Este sistema de fato tio poderoso apre- senta, no entanto, contradicGes que trabalham no ‘sentido de sua Superagao histcrica, A primeira sendo a pesda da soberanla nacional. Impotente frente aos centros de decisio econémiea e politica do sistema transnacionaliza- do, como Estado nacional ele nfo pode abdicar de’ suas fungées nacionais © nfo pode atendé-tas. (© Estado passa a promover as condiches para que a transnacionalizagso se dé e administra suas crises jé que ¢ incapaz de determinar o tipo de desenvolvimento conveniente as necessidades potencialidades do pais. Através da retorica dos grandes projetos “nospedes” de interesses transnacionais, o Estado pperacionaliza grandes investimentos internacio- ais que so no entanto apresentados como pro Jetos nacionais ou programas macionais de desen: volvimento. ‘A perda da soberania nacional se dé em varias dimens6es: econdmica, politica, tecnoldgica, cultural e militar, Por {ss também 0 ‘nacionalismo militar aparece como um perigo para os interesses transnacionaliaados. A PERDA DA SUBSTANCIA POPULAR Como a I6rlca do sistema é conzentra- dora, elitista e tecnorratica, o Estado nio conse gue camufiar suas pollticas econdmicas e socinis 29 antipopulares, Enquanto nos patses capitatistas avangados 0 Estado ainda consegue, apssar_ das crises, respomler a certas necessidades de bem: ‘estar ‘social, nos paises de capitalismo atrasado, © Estado transnacionalizado assume caracteristt- cai perversas em telacio a suas politicas sociais, © que aprofunda a cistincla entre o Estado e @ secledade evil, 4 deslegitimacio crescente do poder mu dional treats as maiorias nacionsis proveca wm amplo movimento de resisténela e xearganizacho a sociedede civil, Surgem novas formas do organizagau que conquisiasa espacos de poder fora do Estado, emerge movimentos populares com eontaido ¢ formas novas. PERDA DA SUBSTANCIA DEMOCRATICA A osstncia da crise do Estado é a ques tWo da democracia, que se toma um pélo catali- sander, unifiendor dos movimentos socials. A luta pela demoeratizncio das estrutu- ras de poder e a negatio do Estado transnacio- natizado passa a unificar ¢ a orientar a estratézia global de trensformacio da sociedade e do Bstado. Setores majoritérine da sociedade civil se organizam desvineulados @ em oposiclo 20 Bs tado, e dessa oposicic nasce a negacio da ordem autoritiria e a proposta democritica, ‘A questiio da democracia passa a ser o elxo unifieader da questo nacional e popular: a 30 conquuista da democracia 6 uma condigio essencis! para a Tealizagao das aspiragdes nacionals © po- pulares, ‘As formas autoritarias dos Estados trans- nacionalizados variam de ditaduras militares e re gimes “elvis” com forte presenga das foreas ar ‘madas na retaguarda da ordem, o que nfo varia € sua contradigao com a democracia. 4 Formas de controle politico s formas de controle politico sio_mecanismos existentes em cada formacio social com 0 objetivo de manter_aestabilidade e a ordem dos rognnes, © eonheetmento dessas formas é um ele- mento importante na andlise da conjuntura por- que elas aiuam de forma permanente e nem sem- pre sio visiveis A nossa percepeio. COERGAO ECONOMICA (© Estado e as empresas controlam os siferentes grupos sociais e particularmente as mas- 525 assalariadas através da coerglo econdmica. Para sobroviver ¢ necessério assalariarse, portan- to, submeter-se ao poder econdmico do Estado ou 0s proprietarios privados dos bens de produgio. Ha imimeros mecanismos e formas de coergio econdmiea que funclonam nesse sentido dentro da soeledade, controlados pelo Estado, por certas instituigdes da sociedade civil e pelas em- presas: impostos, taxas, salérios 33 ,MECANTSMOS DE CONTROLE SOBRE A ‘ORGANIZAGAO SOCIAL © Estado estabelece as regras @ as nor mas do que 6 permitido ou ¢ proibido existir como organizagio social. Os sindicatos operirios so permitidos, mas suas atividades sfo regulamentadas por lef, pelo Estado e nfio pela ventade livre dos ope Pirios. Da mesma forma os partidos politicos, as escolas, as universidades, as empresas © a maioria das organizapdes de servicos, as editoras, os meios de difusio de massa, sio todos organizagSes re- gulamentadas pela ago do Fstado. Exemplo: as leis sobre sindicato, Da mesma forma o Fstado proibe a existéncia de outras organizagdes ¢ atividades que sto consideradas ilegais, criminosas ou subver- Desta forma o Estado trata de ‘orga nizar © “desorganizar” a sociedade civil segundo os interesses dos grupos ou classes dominantes, amo se essa vontade transformada em lel repre. sentasse a vontade do todos © em beneficio de todos. © Estado também interfere nos mecanis mos de representacao social e politica da socie dade, definindo as regras @ as condigies da re prosentagio, isto 6, estabeleccndo as formas legals através das'quals os diferentes atores ou sujeitos socials se constituem institucional e politicamente, e escolhem e clogem os seus dirigentes. Estd clare 34 _Siijeite “socal, seja’ ele Individuo ou classé social que a essa pretensio do Estado nfo corresponde necessarlamente a capacidade de controlar © de Einir todos os atores © sujeitos socials, que esea- pam ao seu controle © se constituem numa espéels de Sociedade submersa. MECANISMOS TDEOLAGICOS DE RESIGNAGAO/ MEDO: DUAS FORMAS FUNDAMENTAIS DE, CONTROLE SOCTAL. ‘A resignagio é um dos mecanismos mais eficientes de controle soolal porque ele se esta Delece no interior, na subjetividade_do_préprio Aceitese a orden social, suas leis, seus mecanis- mos, seus horizontes como algo inevitavel e que niio ‘tem como nem por que sofrer_mudancas. Se “existe miscria & porque assim tem que ser, € parte do destino de cada um, é a vontade de Deus. Através da resignacto, a vitima se trans forma em carcereira de si propria, daf sua eficién- cis como arma de dominagio. atfavés da resigna ei0 a ordem se perpetua e afasta do horizonte qualquer possibilidade ou desejo de mudanca. Na nossa histdrla social e politiea mi- ines de pessoas foram trabalhadas por esse me eanismo ideoldzico, prineipalmente através de certa ideologia religiosa que ensinava os pobres a sofre- rem com pucléncla na terra para se transformarem fom herdeiros da felicidade no céu. B claro que enguanta isso 0s ricos viviam a felicidade na ter ra e nem por isso eram excluidos da felicidade tterna, © desenvolvimento eapitalista com toda a parafernilia consumista e as transformagdes mais rocentes no pensamento religioso, particularmente 35 através da teologia da Iibertagio, minaram as ‘bases da resignagio e 0 regime passou a reforcar jum outro meganismo de controle ideoléeico: 0. ‘miedo Se na resignagio a dominagéo era inter nalizada na, propria witima, no medo’€ nocessirio criar a 1dela de um perigo, ameaga, tnimigo po- ‘ou_forca sem que se coloca. tee F-eima_da vitima, Os grupos socials ou as ‘Péssoas atacadas pelo medo ficam_paralisadas en- Guanto sentirem que, esse inimigo.externo os ameaga, Mas Tetomario os movimentos quando fsso inimigo desaparecer. Dai que 0 resime que sto terrorismo, 0 medo como arma de. controle Social deve estar sompre eriando as situacées ce redo, inventando perigos, explorando as situagBes de ameaga, para thanter aoesa a chama do medo fas pessoes. CONTROLE DA INFORMACAO ‘A forma de controle social talvez mais eliciente na sociedade moderna ¢ a informagio. Num pais continental como 0 Brasil, o Bstado tem sob seu controle uma fantistica rede nacio- nal de informagbes (TV, rédios, jornais, revistas), articulada as redes internacionals e submetida & Lel de Seguranga Nacional, & Lei de Imprensa e As pressOes fiscais e financeiras. O Estado, por outro lado, 6 produtor exclusivo e sem controle Por parte da sociedade de informagdes econdmi: as, Tinanceiras, sociais e politicas através dos Gr gos produtores de estatisticas e de todo o aparato 36 de “inteligéncia” militar (Escola Nacional de In- formagées, Servigo Nacional de Informagdes, Ce. nimar, CTE, CIA e dezenas de outros). Neste contexto a identificagéo destas agénclas produtoras de informacao e dos interes: ses que elas representam é uma tarefa importante para a leitara adequads da conjuntura, Os drgios de inteligéneia trabalham com um sentido de “guerra” na produgio de informagio e de contra- informagio, onde © que interessa ¢ 0 objetivo ‘que 0 Griio persegue e no a existéncia do fato, onde predomina a manipulacdo do dado e nio sua veracidade, Num regime autoritério é dificil saber se 0 editorial de um grande jornal esté sendo escrito por um drgio de inteligéncia, uma agéncia de publicidade ou uma grande empresa transns- ‘ional. No Brasil este sentido de manipulagéo 46 atingiu 0 TBGE e langou uma onda de descré- dito sobre as estatisticas bisicas do pais A democratizagio do Estado, do regime, passa pela democratizacio de todas as agéncias & instituledes, civis e militares, estatais e privadas que produzem a informagio, dado que informacio 6 poder e produzir informaao é produzir as con igdes da existéncia e exercicio do poder politico 3 5 Estratégias em jogo 5 idéias que spresentamos a seguir constituem, ‘apenas um pequeno exercicio de andlise das estratégias em Jogo e que podemos considerar ‘como uma das formas mais interessantes de se fager_uma_andlise de conjuntura, porque a idéia decGstzatégia serve para so identificar as intengoes dos grUpOs-e asses sociais-o-tentar-aescObrir os ‘sentidos mais globais dos acontecimentos e cia ago do diferentes atores: ‘Como se trata apenas de um exemplo, vamos dispensar maiores anilises e fiquemos so- mente com o esquema que identifique as estraté sias existentes no grupo dirigente no poder, grupo dirigente fora do poder e oposigio e movimentos populares. A anilise podria ser organimda através do seguinte esquema: |A) As estratéglas dos dois setores ou tendéncias fexistentes no grupo dirigente no poder seriam: ) Abrir para governar. Linha liberal ¢ institneto nallzante, A estratégia desse grupo é a de tentar 39 institucionalizar a ordem antoritéria mesmo que para isso tenha que usar um processo de abertura politica que amplie os espacos democriticos ¢ Dos Sibilite um desenvolvimento mais live das lutas Socials, O governo Castelo encarna esse tipo de cestratégla, representando um dos grupos dirigen- tes no poder do Estado, ‘b) Fechar para governa:. Linha dura e golpista. Partindo do prineipio dz que sua unica base de sustentagdo no poder 6 a coercio policial-militar este grupo dirigente teme a abertura acima de tudo © adota o golpe como estratégia permanente de sustentagso no poder. ©) Principio fundamental das duas tendéncias: nio falteraancia do poder. ) Esséncia da estratégia do grupo dirigente no poder face & sucesso, que € quando a questio da alternaneia se coloca: ‘dominar os fatos/fatores de modo que nfo se alters 0 colégio eleitoral que Gocidird a sucesso até 1991. B) Setores dirigentes fora do pode = Nderangas potiticas lberais: — empresirios: querem expressio politica; — estratégia fundamental: Tutar contra o grupo Girigente no poder no sentido de ampliar os es- pagos para sua representagio no poder do Estado: abrir para participar de diregio do Estado. Co- ‘administragio do poder. a) Até a fusio do PMDB e PP estes setores esta- Yam ‘reprosentados ‘baskamente no Partido Po: ular. 40 b) Depols da fuséo vollaram a se incorpora: no PMDB, © Op. sigdes @ movimentos populares, Trés tipus de estruléyla que podeus eo existirt #) Detensiv: — esté presente, dominante nos movimentos po- Pulares @ partidos de oposicac = os inovimentas procuram defenderse dos ata: ques, das situacdes graves; = pénsam nos meios de dete evitam ficar a nfo 2m proposia de ataque nem alternative ;ratégia domlnante, — 6 wma estratégta que so dé mais ao nivel da oposicio politica; —diante ‘da inteiativa, da acti do governe, faz foutra diametralmente oposta; — reagies: dangam segundo a milsice do gover e) Alternativa: = ¢ uma estratégia que toma iniclativa no plano politico; = temuma aco propria, com importancia ort gina ‘= cxisto mals go nivel da préticn que da formu tech —exemplos no campo do poder local: Lages & Bos Esperanca; F_iCTEH ovmlzagto, tormagto ¢ participesto a — tals oxperiéacias reteoem 0 tecido social; uma estratégia alternative expressa uma visto @ uma vontade de transformacio global da soci dade; no parece ser ainda a estratégia dominante nos movimentos populares e@ na oposicio brasilei- ra, que flea mais @ nivel da resistencia © da po- sigéo purarcente reativa Bs iniclativas do governo. a 6 Quadro atual Aree? sesportante nn sndlise da, conjuntura 6 ‘A de cameteriaar a2 quostées contrais quo ecto eolocadas em evidéncla na luts social e politica num perfoda determinado, Estas questes fazem parte do debate dos partidos politicns, dos sind catos, dos iovimentos sociais em geral_¢ esto refletidas na grande imaprensa, AS notas que sequem —~constittiem-apenas-umrexemplo concreto de com- posi¢io de um quadro da situaclo. a) Preoenpagées centrats do governo; rise ecandmioa, divida externa, recessio; crise social, desemprego; sucesso; negociagies com o FMT. ») Grandes projeto — hg 35 grandes projetos om curso euos inves timentos totals ultrapassam os 200 bilhGes de dé- ares; a elemento fundamental da conjuntura econdml ca atual: coatinuidade ou deseontmuidade dos grandes projetos. Alguns projeios estio paralisa dos, outros Projetos surgiram, sem que a socle dade Hvesse sondicdes de particinar dessas decl- 862s OU mesmo do debate sobre cles, ©) Questia opersrin: — profundas transformagies na laces operiria; — 1m a um, cinco mindes de operdrios empre- gados diretamente nas transnacionais; no sistema transnactonatizado talves 0 dobro; <0 dosemprego, a rotativilads e a crise eco nOmica tm difieultado o desenvolvimento das lutas sindtcais; — provével modifiongsio em profundidede da CLT com o objetivo do ‘mplantar a negoclacio direta entre patrées e empregados e 0 sindicato por em presa. @) Questio agrints: — reformulacio da estrutura fundiéria: vis gram des projetos agropecussios; —repressio sobre 0s movimentos de ccupacdo de tesa, Transformacio da questio fundtria em problema de seguranca nacionst com a criagio do Ministério de Ascuntos Fundiirios (General von- turin); = aprotunaamento da contradicio entre Igreja e Esta.io em rolacio a propostas politieas e socials 4 relativas A situaglo das populagies urais © questio fundiéria; = dceenvalvimento das lutas socisis no campo, ocupagtes, invasdes, Iuta pela tera, por melhores salérios @ pela garantia dos diroltes trabalhisias. €} Questo olettor — ponto central para 0 governo: fazor 0 sucossor do attial presidente adsptando © método a0 obje- vo, as leis ao interesse dos grupos dominantes sno poder — os partidos de opasicio, agora nos governos estaduais, vivem as agraras da coadministragio da crise; ~ seforma constitucional e elettoral 1) Conttife com a Igreja: a posigéo de setores importantes da Tereja esté destegitimando o regime @ as bases de sustentaso do governo, ‘A euractorlzanio das questées centrais constituem Bs vezos um Ponto de parlida para se aprofimder a snalise da conjuntura. Seria noves- Sitio verificar quais as quesldes mais importantes, feomo elas se Telacionam @ quais os deccnvolvi: mentos possiveis de cada uma delas e suas re percussSes mais gerals. 6 i Campos de confronto fm outro aspecto a ser considereda muma ané- Use de conjuntura é a identifieactio dos cam: pos de confronto existentes num determinado mo- ‘mento e que caractorizam os tipos de oposicio e (0s conflltos entre os diferentes atores soeiais, A identitieegio dos eampos de confront € inpor tante também para a anilise da correlagia de forcas porque 0 enfoque ¢ basieamente 0 do com fio. A titulo de exemplo poderfamos identiticar nha realidade brasileira atual os seguintes campos de confronto: a) Estado € socledade: — estatizagio da politica, do poder; ‘= resisténcia da sociedade, autonomla relativa da sociedade diante do Estado, Indicafores desse rocesso: as milltiplas formas ue organizaglo po- ular, sindicatos, CEBSs, sociedades amigos de bair Fo, cooperailvas, etc, ea discussio eada vez mals generalizada da’ questio da democracia. a by Estadio e partidos politieos: — sistema do poder estatiza os partidos, isto 6, fenta transformélos em meros apéncices do esta do através de uma legislagdo partidérla que esta bpolece um campo global do intervengio do Estado por vias legais. Ais} orgimica dos partidos 6 um verdadeiro AT 6 sobre a autonamia dos partidos. — partidos buscam sua autonomia frento ao Es. ‘tado e sua ariiculacdo com a sociedade civil ©) Estado Igrejat = ponto de referéacia para a leltura do coatite: Intas coneretas; — essencia do ‘eontiito: —eoncepcio totalitéria do Estado: afo alternin. dia do poder; = concepeto de democracla da Igreja: nocesside. de de participacso, Uverdade; = 95 sotares mais’ avancados da Igroja tornamse centro articulador de visées alternadva no seu pensamenta € nas suss praticas. 4) Estado ¢ empresirios: — Estado defende fundamentalmente os interesses dos grardes empresérios; do capital transnacional ou transnacionalizado; — setores empresariais discordam da forma como seus interesses sio atendidos; = fattamnes mecanismos de’ comunieagiio confld: ‘vels © mais estiveis com o Estado: . a pam do fechumento do pod —quorem um modo lboral do defender seus in- teress —o grande capital trabatha com horlzonte mals largo: 15 a 20 anos, e um Estado imprevistvel, autoritério, ditieulta tais pretensoes. e) Estado e Milltares: = setores duros; visto tolslitiria do politica; visto aclonalista de direita da economia; = setores dominantes no ovemo: liberal-interna clonalistas; grupos existentes: ESC, EMFA, comuntdede de informacio; grupos em forno do liderongas ou organizaptes militares. 1) Bstado ¢ foreas politieas tnternactonais: — Brasil Ciransnacionalizada) tem interesses na Africa, Amériea Latina: politica pragmitica; — motor dessa politica: busca de mercados para ‘a exportaclio (sotor internacicnalizado); —liberaliraefo brasileira sofre influéncia da line. ralizegio internacional; pyimEneem contltos purclals e importantes om A, 2) Estado € movimentos populares: — onde tudo ¢ Estado, tudo que ¢ movimento é confronto com o Estado: o —0 Estado atua no sentido de desenvolver a0 ‘méximo 03 seus mocanismos de cooptaca = BM um descongelamento da sociedade civil; = hi um desenvolvimento da orgarizaclo autGno- ma da Sociedade e um processo de mobilizagio e de politizagio das priticas cociais em eonfronto com 0 Estado, 50 & Um método pratico de faxer andlise de conjuntura com os movimentos populares: @ representacao da conjuntura forma eonereta de se farer uma anise do conjunttra exo reunies organisadas com 08 rmovlmmentos populares €-a de representar & ala No streves dum excrtla do "tstro™ realizado Siac propnos-partctpartes: Bata. muctodo 46 fot Bpliado ca wiring cituoss com’ ito” porque Sossibtca uma Tetisio coletiva sobre @ reall inae Qs passos para se organizar esse tipo de anstise serlam os Segaintes: 1. Tevantar as grandes questOes do momento ¢ Tstois num quadsomegra, com a Pesteipesio db todos. . 2 identificar selecionar aa(forgas soci gue estio diretamente envolvides neslas grandes ques- toes 5 Taontiticar ¢ seleconar os atores (pessoes 1ide- Tangis) que representam estas fongat soeinis. iE "Bscomer entre os parscipantes as pessoas que trio representar estes stores, socials, F'Dispor estas pessons mem paleo) smpromcade @ organizar ‘um debate “pibllea e aberio” entre Cases atores como’ se estivessem falando’ pera 0 51 conjunto do pafs, debatendo suas idéias e confron- fando stas posicces. 8, O dekate sera livie ¢ sem nenhum tivo de dire Gio © de intervengio do plendrio, Pode ter um Tempo oe 20 munilos e gerd intervompido para gue logo depois se faga uma avaliacto do que “aconteceu” na representacio e comparar isso com ‘© que atontece na realidade. As experiénelas realizadas com esto mé todo foram muito interessantes tanto pelo que fot produzido como andlise coletiva da conftmtwa, como pela tomada de consciéncia dos participantes sobre © sett nivel de informatio e conhecimento a realidade, A representacio 6 roveladora também dag atimdes Disiens que temos sobre as diferentes forcas steluls que attam na lute politiea e © quae fo estamos ou somos Influenciados pela informa co e Ideologia dominantes. 2 mut 1 i as Catp 0, Can % ene A pe a Tad Retivie Grout 1 cn os 4 own 8. taba Num mundo em que 0s meies de comunicagio despejam Sobre as pessoas diariamente. minuto a minuto, uma ‘carga enorme de informacio, fica cada dia mals diffe ‘encontrar tempo e instrumentospars uma reflexao sobre 4@ realidade que nos cerca. O volume de Tatos, dados, informacoes ¢ de tal ordem e tal € o ritmo a vide mo- era que sem um métodc organizado, a tendencia é hos transformarmos om meres: receptaculos de dados ‘sem sentido, O livio de Herbert José de Seuza vom proencher justa- ‘mente esta lacuna de métods para o entendimento da ‘ealidade. A proposta 6 a enalise de conjuntura, onde atores, cenarios, elementos da cana, elementos dos bas tidores da cena 880 destacados, colocad0s no seu pape ‘devido apresentados de tal forma que permita a quem pprocura entender o mundo queocerea solecionar oqueé Felevante, o que traz consequencias, o que se liga aque, situando fatos ¢ atores nas suas dovidas dimensoas. © Autor: Herbert José de Souza, socidtogo e clentista politico, fundador do IBASE, ex-professor do Programa {de Doutorade em Economia da Universidade Nacional ‘Auténoma do México, co-tundador da Latin American Research Unit (LARU), Toronto, Cariadd e da Unidade do Investigacion Latinoamnerioarss (Gi), México, % a ATENDEWOS PELO REEMBOLSOFOSTAL cota soe Analise de Conuntura Her Jose de wm anuan 8 e7DKe ed. 32: sm ae

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