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1º MÓDULO – A EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA

A Educação Escolar Quilombola é uma modalidade da educação básica, cujos


fundamentados podem ser encontrados no Parecer CNE/CP nº 03/2004 e na Resolução
CNE/CP nº 01/2004, que instituem a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura
Afro-brasileira e Africana nos currículos das escolas públicas e privadas da Educação
Básica.

Foto: reprodução

Posteriormente, foi assegurada nas Diretrizes Curriculares Gerais para a


Educação Básica (Resolução CNE/CEB. nº 04/2010, de 13/07/2010, DOU de
14/07/2010), e regulamentada pelo Parecer CNE/CEB nº 16/12 (de 05/06/2012 e DOU
de 20/11/2012), e pela Resolução CNE/CEB nº 08/2012 (de 20/11/2012 e DOU de
21/11/2012), bem como pelas demais orientações e resoluções do CNE voltadas para a
educação nacional.

Essa modalidade legitimou-se pelo processo histórico de luta e resistência dos


povos negros e quilombolas, seus valores civilizatórios afro-brasileiros e a política de
pertencimento étnico, político e cultural. Destina-se ao atendimento educacional
diferenciado das populações quilombolas rurais e urbanas e deve ser garantido pelo
poder público e organizado em articulação com as comunidades quilombolas e os
movimentos sociais.

Por escola quilombola entende-se somente aquela localizada em território


quilombola. A Educação Escolar Quilombola é ofertada nessas escolas e em escolas
que atendem estudantes oriundos de territórios quilombolas.

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Os espaços, o currículo e as vivências pedagógicas da oferta dessa modalidade
devem estar fundamentados no reconhecimento e na valorização da diversidade
cultural dos povos negros e quilombolas, exaltando sua memória, sua relação com a
terra, com o trabalho, seu modo de organização coletiva, seus conhecimentos, saberes
e o respeito às suas matrizes culturais.

Fonte: https://www.seduc.ce.gov.br/educacao-escolar-quilombola/

EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA

A questão da terra tem sido o principal obstáculo à implementação de políticas


públicas destinadas às comunidades remanescentes de quilombos e motivo de
perpetuação dos históricos conflitos pela posse e uso da terra.

Quanto à educação observa se que um grande número de comunidades não


possui escolas quilombola, ou seja, escola situada no território quilombola, o que leva
crianças, jovens e adultos quilombolas serem transportados para fora de suas
comunidades de origem.

Observa-se que as unidades educacionais estão longe das residências, o acesso


é difícil, os meios de transporte são insuficientes e inadequados, e o currículo das
escolas localizadas fora da comunidade muitas vezes está longe da realidade histórica
e cultural destes alunos e alunas.

As comunidades remanescentes de quilombos possuem dimensões


educacionais, sociais, políticas e culturais significativas, com particularidades no
contexto geográfico e histórico brasileiro, tanto no que diz respeito à localização,
quanto à origem. Considerando essas dimensões em 20 de novembro de 2012 o
ministro da educação homologo a Resolução CNE 08/2012 que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.

A Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na


Educação Básica define que a Educação Escolar Quilombola, requer pedagogia própria,
respeito à especificidade étnico-racial e cultural de cada comunidade, formação
específica de seu quadro docente, materiais didáticos e paradidáticos específicos,
devem observar os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios

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que orientam a Educação Básica Brasileira, e deve ser oferecida nas escolas
quilombolas e naquelas escolas que recebem alunos quilombolas fora de suas
comunidades de origem.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola,


representa uma vitória dos movimentos sociais, pois elas nasceram na base, a partir da
luta da população negra, mais especificamente do movimento quilombola. Uma
revolução no ensino brasileiro tendo em vista que as referidas diretrizes orientam os
sistemas de ensino a valoriza os saberes, as tradições e o patrimônio cultural das
comunidades remanescente de quilombos, algo impensável em outras épocas.

Etnia — De acordo com o artigo 2º do Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de


2003, os quilombos são "grupos étnico-raciais segundo critérios de autoatribuição,
com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com
presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica
sofrida". As comunidades quilombolas no Brasil são múltiplas e variadas e se
encontram distribuídas em todo o território nacional, tanto no campo quanto nas
cidades.

A Coordenação Geral para a Educação das Relações Étnico-Raciais orienta a


respeito da implementação da Educação Escolar Quilombola junto aos alunos/as e
professores/as das comunidades existentes no município do estado de Minas Gerais
com as informações a seguir.

No exercício de 2011, foram elaboradas, com ampla participação das


comunidades remanescentes de quilombos, as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Escolar Quilombola, que revisa a perspectiva ideológica da formulação de
currículos, respeitando os valores históricos e culturais dos/as alunos/as e
professores/as das comunidades remanescentes de quilombos.

As diretrizes atendem as deliberações da Conferência Nacional de Educação


(CONAE, 2010) e ao acordo firmado no I Seminário Nacional de Educação Quilombola
realizado em novembro de 2010. Tais eventos contaram com a participação de
delegados/as quilombolas, professores/as e gestores/as e lideranças quilombolas de
todas as unidades da federação.

Nesse mesmo evento, foi instituída uma comissão de assessoramento à


comissão especial da Câmara de Educação Básica do CNE, comissão está formada por
oito integrantes: quatro quilombolas indicados pela Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombola (CONAQ); uma pesquisadora
da educação quilombola; uma representante da Secretaria de Educação Continuada,

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Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI e representante da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR/PR.

Em parceria com a comissão assessora durante o exercício de 2011, a Câmara


de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação – CNE realizou três audiências
públicas para subsidiar a elaboração das referidas Diretrizes Curriculares Nacionais.

As audiências públicas realizadas tiveram como tema "A Educação Escolar que
temos e que queremos" e contou com a participação significativa de representantes
das comunidades, gestores, docentes, estudantes, movimentos sociais, fóruns
estaduais e municipais de educação e diversidade étnico-racial, pesquisadores/as e
pessoas interessadas no tema. As datas e locais das audiências foram os seguintes:

1ª audiência: Cidade de Itapecuru-Mirim, Estado do Maranhão, 368


participantes;

2ª audiência: Cidade de São Francisco do Conde, Estado da Bahia, 433


participantes;

3ª audiência: Brasília/DF, auditório do Conselho Nacional de Educação com 110


participantes.

Pelos depoimentos feitos nas audiências e pelo Parecer CNE/CEB nº 16/2012


pode-se observar que os quilombolas, compreendidos também como povos ou
comunidades tradicionais, exigem que as políticas públicas a eles destinadas
considerem a sua inter-relação com as dimensões históricas, políticas, econômicas,
sociais, culturais e educacionais que acompanham a constituição dos quilombos no
Brasil.

Consequentemente, a Educação Escolar Quilombola não pode ser pensada


somente levando-se em conta os aspectos normativos, burocráticos e institucionais
que acompanham a configuração das políticas educacionais. A sua implementação
deverá ser sempre acompanhada de consulta prévia e informada a realização pelo
poder público junto às comunidades quilombolas e suas organizações.

Considerando-se o processo histórico de configuração dos quilombos no Brasil


e a realidade vivida, hoje, pelas comunidades quilombolas, é possível afirmar que a
história dessa parcela da população tem sido construída por meio de várias e distintas
estratégias de luta, a saber: contra o racismo; pela terra e território, pela vida, pelo
respeito à diversidade sociocultural, pela garantia do direito à cidadania, pelo
desenvolvimento de políticas públicas que reconheçam, reparem e garantam o direito
destas comunidades à saúde, à moradia, ao trabalho e à educação.

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As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Escolar Quilombola
aprovadas pelo CNE de caráter mandatório, com base na legislação em geral e em
especial na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho ratificada pelo
Brasil por meio do Decreto Legislativo 143/2003 e do Decreto nº 6.040/2007, que
institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades
Tradicionais tem por objetivo:

- Orientar os sistemas de ensino da União dos Estados do Distrito Federal e dos


Municípios na elaboração, no desenvolvimento e na avaliação de seus projetos
educativos;

- Orientar os processos de construção de instrumentos normativos dos


sistemas de ensino visando garantir a Educação Escolar Quilombola na diferentes
etapas e modalidades, da Educação Básica, sendo respeitadas as suas especificidades;

- Assegurar que as escolas quilombolas e as escolas que atendem estudantes


oriundos dos territórios quilombolas considerem as práticas socioculturais, políticas e
econômicas das comunidades quilombolas, bem como os seus processos próprios de
ensino-aprendizagem e as suas formas de produção e de conhecimento tecnológico;

- Assegurar que o modelo de organização e gestão das escolas quilombolas e


das escolas que atendem estudantes oriundos desses territórios considere o direito de
consulta e a participação da comunidade e suas lideranças, conforme o disposto na
Convenção 169 da OIT;

- Fortalecer o regime de colaboração entre os sistemas de ensino da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na oferta da Educação Escolar
Quilombola;

- Zelar pela garantia do direito à Educação Escolar Quilombola às comunidades


quilombolas rurais e urbanas, respeitando a história, o território, a memória, a
ancestralidade e os conhecimentos tradicionais;

- Subsidiar a abordagem da temática quilombola em todas as etapas da


Educação Básica, pública e privada, compreendida como parte integrante da cultura e
do patrimônio afro-brasileiro, cujo conhecimento e imprescindível para a
compreensão da história, da cultura e da realidade brasileiras.

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Escolar Quilombola, a


construção do projeto político pedagógico (PPP) das escolas e a formação de
professores/as são elementos estruturantes para essa modalidade de ensino.

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A construção do PPP de forma participativa envolvendo o coletivo da escola e a
comunidade constitui-se como um processo no qual a escola revela seus
compromissos, suas intensões e principalmente a identidade de seus integrantes e
deve estar intrinsecamente relacionado com a realidade histórica, regional, politica,
sociocultural e econômica das comunidades quilombolas.

Na formação inicial e continuada de professores/as para a educação escolar


quilombola, as diretrizes destacam a importância da inclusão do estudo de memória,
ancestralidade, oralidade, corporeidade, estética e do etnodesenvolvimento,
produzido pelos quilombolas ao longo do seu processo histórico, político, econômico e
sociocultural.

A formação de professores/as deverá ainda desencadear o processo de


inserção da realidade quilombola no material didático e de apoio pedagógico existente
e produzido para docentes da Educação Básica nas suas diferentes etapas e
modalidades.

A produção e distribuição de material específico precisa ser feita em diálogo


com as realidades locais das várias comunidades existentes em cada município.

A Educação Escolar Quilombola demanda também a formação de gestores/as


dos sistemas, das escolas das coordenações pedagógicas e das coordenações ou
núcleos da diversidade; deve contar também com a presença das lideranças
quilombola que, há muito tempo, reivindicam a participação na elaboração, análise e
monitoramento das políticas públicas voltadas para essas comunidades.

O Programa de alimentação escolar (merenda escolar) voltado para as


comunidades deverá ser desenvolvido em diálogo com essas comunidades.

As DCNEEQ determinam que a Educação Escolar Quilombola deva implementar


um programa institucional de alimentação escolar voltado para as especificidades
socioculturais das comunidades quilombolas e seus hábitos alimentares.

Outro tema muito debatido nas audiências publica foi a nucleação e o


transporte escolar para alunos/as quilombolas. As DCNEEQ indicam que, pelas
especificidades da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental na
Educação Escolar Quilombola, realizada em áreas rurais, deverão ser sempre ofertados
nos próprios territórios quilombolas, considerando a sua importância, no âmbito do
Estatuto da Criança e do Adolescente.

Observa-se ainda que as escolas quilombolas dos anos finais do Ensino


Fundamental, o Ensino Médio, da Educação Jovens e Adultos integrada ou não a
educação o Profissional Técnica, quando nucleadas, deverão ficar em polos

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quilombolas e somente serão vinculadas aos polos não quilombolas em casos
comprovadamente excepcionais. Vale ressaltar ainda, que o Plano Nacional de
Educação PNE – Lei 13005/2014 estabelece metas e estratégia para a oferta de
educação para a população quilombola e povos indígenas:

Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a


população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e
cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último
ano de vigência deste PNE.

Estratégia.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em especial dos anos


iniciais, para as populações do campo, indígenas e quilombolas, nas próprias
comunidades;

Quando os anos finais do Ensino Fundamental, o Ensino Médio, integrado ou


não à Educação Profissional Técnica, e a Educação de Jovens e Adultos que
comprovadamente não puderem ser ofertados nos próprios territórios quilombolas, a
nucleação rural levará em conta a participação das comunidades quilombolas e de
suas lideranças na definição do local, bem como as possibilidades de percurso a pé
pelos estudantes na menor distância a ser percorrida e em condições de segurança.

Quando se fizer necessária a adoção do transporte escolar de alunos das séries


finais do Ensino Fundamental, ou Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos
integrado ou não à Educação Profissional Técnica, devem ser considerados o menor
tempo possível no percurso residência-escola e a garantia de transporte intracampo
dos estudantes quilombolas, em condições adequadas de segurança.

O eventual transporte de crianças e jovens com deficiência, em suas próprias


comunidades ou quando houver necessidade de deslocamento para a nucleação,
deverá adaptar-se às condições desses estudantes, conforme leis específicas.

O transporte escolar quando for comprovadamente necessário, deverá


considerar o Código Nacional de Trânsito, as distâncias de deslocamento, a
acessibilidade, as condições de estradas e vias, as condições climáticas, o estado de
conservação dos veículos utilizados e sua idade de uso, a melhor localização e as
melhores possibilidades de trabalho pedagógico com padrão de qualidade.

Assegurar que a gestão municipal e o gestor das escolas que atendem


estudantes quilombolas fora de suas comunidades de origem considere o direito de
consulta e a participação da comunidade e suas lideranças, na decisão sobre o
transporte dos alunos conforme o disposto na Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo

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143/2003 e do Decreto nº 6.040/2007, que institui a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais tem por

Outra questão séria e que diz respeito à organização e funcionamento das


escolas localizadas em comunidades quilombolas e que recebem estudantes desses
territórios foi a alimentação escolar (merenda escolar).

Há uma reivindicação histórica das organizações do movimento quilombola em


relação à alimentação destinada às escolas e seus estudantes. Os quilombolas
reivindicam uma alimentação escolar articulada aos costumes locais, à sua dieta
alimentar, aos modos de ser e de produzir das comunidades.

Algumas experiências de alimentação escolar específica destinadas às


comunidades quilombola têm sido desenvolvidas no Brasil. Todavia, elas ainda
acontecem como programas e projetos específicos. A Educação Escolar Quilombola
deverá implementar um programa institucional de alimentação escolar voltado para as
especificidades socioculturais das comunidades quilombolas e seus hábitos
alimentares. Este deverá ser organizado em regime de cooperação entre União,
Estados, DF e Municípios e por meio de convênios entre sociedade civil e poder
público.

Contudo, cabe um alerta: todo e qualquer programa de alimentação escolar


voltado para as comunidades quilombolas deverá ser desenvolvido em diálogo com
essas comunidades. Deverão ser ouvidas as lideranças quilombolas e o Movimento
Quilombola local a fim de que tais políticas se realizem de forma coerente com as reais
necessidades e hábitos alimentares dessas comunidades, (conforme Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho ratificada pelo Brasil por meio do Decreto
Legislativo 143/2003 e do Decreto nº 6.040/2007, que institui a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais

O respeito à diversidade cultural no que se refere a garantia da alimentação


escolar a essas comunidades implica na superação de práticas alimentares
massificadas, industrializadas e muito pautadas no modelo urbano de alimentação.

O MEC vem orientando os sistemas de ensino para que ao elaborarem o Plano


de Ações Articuladas-PAR proponham ações de: construção de escolas nas
comunidades; formação continuada de professores/as; distribuição de materiais
didáticos específicos para alunos/as e professores/as das referidas comunidades e
capacitação de gestores para que a educação escolar quilombola seja implementada
no dia a dia da escola.

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Fonte:
Técnica Responsável - Maria Auxiliadora Lopes.
http://etnicoracial.mec.gov.br/educacao-escolar-quilombola

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