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ANATOMIA GERAL

Márcio Haubert
Sistema urinário: rins
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a anatomia macroscópica dos rins, assim como a inervação


e a vascularização desses órgãos.
 Reconhecer as funções dos rins.
 Descrever o impacto da insuficiência renal no organismo.

Introdução
Nossos rins trabalham em tempo integral e são responsáveis por filtrar
cerca de 200 litros de líquido da corrente sanguínea diariamente, fazendo
com que toxinas, resíduos metabólicos e íons em excesso deixem o corpo
pela urina enquanto as substâncias necessárias retornam para o sangue.
Os rins são considerados os principais órgãos excretores, mesmo os
pulmões e a pele também fazendo um papel de órgãos de excreção.
Além da função de excreção, os rins atuam diretamente na regulação
do volume e da composição química do sangue, adequando o balanço
hídrico corpóreo e também o equilíbrio de sais, ácidos e bases, denomi-
nado equilíbrio hidroeletrolítico.
Neste capítulo, você vai conhecer a anatomia, a função e o impacto
da insuficiência renal para a vida de um indivíduo.

Os rins
Os rins são órgãos que fazem parte do sistema urinário. O sistema urinário
é formado por dois rins, dois ureteres, uma bexiga urinária e uma uretra
(Figura 1). A principal função dos rins é filtrar o sangue e, após esse processo,
devolver à corrente sanguínea a maior parte de água e muitos solutos. Essa
492 Sistema urinário: rins

água e os solutos remanescentes formam a urina que passa pelos ureteres e é


armazenada na bexiga urinária até ser expelida do corpo pela uretra (TOR-
TORA; DERRICKSON, 2017).
A principal função dos rins é manter a homeostasia hídrica do corpo, por
meio da execução das seguintes ações:

 Regulação dos níveis de íons no sangue, ajudando a regular os níveis


sanguíneos de vários íons, principalmente os íons de sódio, potássio,
cálcio, cloretos e fosfatos.
 Regulação do volume e da pressão sanguínea por meio do ajuste do
volume de sangue no corpo e eliminação do excesso pela urina.
 Regulação da pressão sanguínea pela secreção da enzima renina, que
ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que ajusta o fluxo san-
guíneo para dentro e para fora dos rins, regulando o volume sanguíneo.
 Regulação do pH do sangue por meio da concentração de íons H no
sangue ao excretar uma quantidade variável de H na urina. Também
regula o pH por meio da conservação de íons bicarbonato (HCO) no
sangue.
 Produção de hormônios calcitriol, forma ativa da vitamina D, que auxilia
na regulação do homeostasia do cálcio, e eritropoietina (EPO), que tem
função primordial de estimular a produção de eritrócitos.
 Excreção de resíduos formados na urina que não têm função útil para o
corpo. Alguns resíduos eliminados são resultados de reações metabólicas
do corpo, como a ureia oriunda dos aminoácidos, a bilirrubina oriunda
do catabolismo da hemoglobina, a creatinina oriunda da decompo-
sição do fosfato de creatinina nas fibras musculares e o ácido úrico
que é resultado do catabolismo de ácidos nucleicos. Demais resíduos
excretados são substâncias provenientes da alimentação, fármacos ou
toxinas ambientais.
Sistema urinário: rins 493

Figura 1. Órgãos do sistema urinário feminino em relação às estruturas adjacentes.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017).

Funções dos rins:


 Regular a composição sanguínea.
 Manter a concentração constante de substâncias importantes.
 Manter volume hídrico constante.
 Remover resíduos do organismo (ureia, amônia, drogas e toxinas).
 Manter concentração constante do equilíbrio ácido-base.
 Ajudar na regulação da pressão sanguínea.
 Estimular a produção de glóbulos vermelhos.
494 Sistema urinário: rins

Estrutura anatômica dos rins


Os rins são órgãos pares avermelhados que se situam em ambos os lados da
coluna vertebral entre o peritônio e a parede posterior da cavidade abdominal
ao nível da 12ª vertebra torácica e das três primeiras vértebras lombares. O
rim direito fica um pouco mais baixo do que o esquerdo graças ao fígado, que
ocupa uma grande área acima do rim direito. Ambos os rins têm proteção
pelas costelas falsas (MARIEB; HOEHN, 2009).
Externamente, a anatomia dos rins se apresenta com o tamanho aproxi-
mado de 11 cm de comprimento, 5 a 7 cm de largura e em torno de 2,5 cm
de espessura. Têm um centro de margem medial contendo o hilo renal, pela
qual o ureter deixa o rim e também por onde os vasos sanguíneos, a artéria,
as veias renais e os nervos também chegam ao rim.
Recobrindo cada rim, está presente uma camada fina e transparente denomi-
nada de cápsula renal, formada por uma bainha de tecido conectivo que ajuda a
manter a forma do rim e atua como barreira contra traumas. Envolvendo cada
cápsula renal existe um tecido adiposo eu ajuda a fixar os rins em conjunto
com uma camada fina de tecido conectivo denso não modelado que ancora
os rins à parede posterior do abdome (Figura 2).
A anatomia interna dos rins apresenta duas principais regiões:

 Região externa: chamada de córtex renal, tendo coloração vermelha-


-clara. As extensões do córtex renal, chamadas colunas renais, preen-
chem os espaços entre as pirâmides renais.
 Região interna: chamada de medula renal, tendo coloração vermelha-
-castanha escura. Dentro da medula renal, encontram-se várias pirâ-
mides renais coniformes.
Sistema urinário: rins 495

Figura 2. Estrutura do rim.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017).

A cápsula renal recobre o rim. Internamente, as duas principais regiões do


rim são o córtex renal, superficial, e a medula renal, profunda.
O suprimento sanguíneo renal ocorre pelas artérias renais direita e esquerda,
que fornecem cerca de 1.200 ml de sangue por minuto. No interior de cada
rim, a artéria renal se divide em vasos de diâmetro cada vez menor, chamadas
artérias do segmento, interlobares, arqueadas e interlobulares. Estas fornecem
sangue para as arteríolas aferentes e as aferentes se dividem em uma rede capilar
enovelada chamada glomérulo. Os vasos capilares do glomérulo se unem para
formar uma arteríola eferente, que se divide para formar uma rede de vasos
capilares ao redor dos túbulos renais. Na sequência, capilares peritubulares
finalmente se reúnem para formar as veias peritubulares, se fundindo às veias
interlobulares, arqueadas e interlobulares (Figura 3). Enfim, todas essas veias
menores drenam e se direcionam para a veia renal que drena o sangue que sai
do rim (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
496 Sistema urinário: rins

Figura 3. Suprimento sanguíneo do rim direito.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017).

Néfrons

Os néfrons são as unidades funcionais dos rins. Estão presentes aproxima-


damente em número de 1 milhão em cada rim. Cada néfron é composto por
duas partes:

 Corpúsculo renal: onde o plasma sanguíneo é filtrado. É formado pelo


glomérulo e pela cápsula glomerular (de Bowman). Essa estrutura
apresenta forma de taça bilaminada de células epiteliais que circunda os
capilares glomerulares. O filtro glomerular entra na cápsula glomerular
e, em seguida, passa para o túbulo renal.
 Túbulo renal: por onde passa o líquido filtrado, ganhando o nome de
filtrado glomerular. Diretamente associado ao néfron, encontramos seu
suprimento sanguíneo. Enquanto o líquido se move pelos túbulos renais,
os resíduos e as substâncias em excesso são adicionados e os materiais
Sistema urinário: rins 497

úteis são devolvidos ao sangue pelos vasos capilares peritubulares. No


túbulo renal existem três seções principais: túbulo contorcido proximal,
alça do néfron e túbulo contorcido distal. A parte proximal se refere
à parte do túbulo ligada à cápsula glomerular e o distal se refere à
parte que está mais distante. Por último, o contorcido quer dizer que o
túbulo é levemente retorcido ao invés de reto (VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016).

A primeira porção da alça do néfron se inicia no local em que o túbulo


contorcido proximal faz sua curva descendente final, que começa no córtex
renal e se estende para baixo até a medula renal, sendo chamada de ramo
descendente da alça do néfron. Na sequência, acontece uma curva fechada para
o retorno do córtex renal, em que termina no túbulo contorcido distal, sendo
conhecido como ramo ascendente da alça do néfron. Os túbulos contorcidos
distais de diversos néfrons são esvaziados em um túbulo coletor comum.
Vários túbulos coletores se fundem para formar o ducto papilar, que leva a
um cálice menor, um cálice maior, uma pelve renal e um ureter (Figura 4).
A função do néfron de produzir urina depende de ação dos túbulos coletores,
realizando três processos básicos:

 Filtração: passagem forçada de líquidos e substâncias dissolvidas por


uma membrana, sob pressão. Ocorre nessa etapa a filtração glomerular,
que é o primeiro estágio da produção da urina, sendo que a pressão
sanguínea força a saída da água e da maioria dos solutos do plasma
sanguíneo pelas paredes dos capilares glomerulares. O líquido ali fil-
trado entra na cápsula glomerular e é chamado de filtrado glomerular.
 Reabsorção tubular: vai ocorrendo à medida que o filtrado flui ao longo
do túbulo renal e pelo túbulo coletor. Os túbulos têm células e ductos
que retornam cerca de 99% de água filtrada e muitos solutos úteis para
o sangue e que convergem pelos capilares peritubulares.
 Secreção tubular: ocorre à medida que o líquido flui ao longo do tú-
bulo e pelo túbulo coletor. Túbulos e ductos têm células que removem
substâncias indesejadas, como resíduos, fármacos e excesso de íons do
sangue nos capilares peritubulares, conduzindo-os para o líquido dos
túbulos renais. Assim que o líquido filtrado sofre reabsorção e secreção
tubulares e entra nos cálices menores e maiores, recebe o nome de urina.
498 Sistema urinário: rins

Com todo esse processo, os néfrons realizam a tarefa de manter a ho-


meostasia do volume e a composição do sangue (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009).

Figura 4. As partes de um tipo de néfron (néfron cortical), um túbulo coletor e vasos


sanguíneos associados. A maioria dos néfrons é de néfrons corticais; seus corpúsculos
renais se situam no córtex renal externo e suas alças curtas de Henley estão localizadas,
em sua maioria, no córtex renal.
Fonte: Tortora e Derrickson (2017).

Hormônios sintetizados pelos rins


Um importante aspecto da fisiologia renal é que, além de ter as funções de filtrar
substâncias resultantes de todo o nosso metabolismo celular, os rins exercem
uma função endócrina. Os hormônios agem na reabsorção de sódio, cloro,
cálcio e água, e também como a secreção de potássio pelos túbulos renais. Os
dois hormônios reguladores mais importantes nessa ação são a angiotensina
II e a aldosterona (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Sistema urinário: rins 499

A angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e cloretos, além de esti-


mular o córtex suprarrenal a liberar aldosterona, que, por sua vez, estimula
as células tubulares na última parte do túbulo contorcido distal e ao longo dos
túbulos coletores e reabsorve mais sódio e cloro para secretar mais potássio.
Quanto mais sódio e cloro forem reabsorvidos, mais água também é reabsorvida
por osmose. A secreção de potássio estimulada pela androsterona é o principal
regulador do nível de potássio no sangue. Um nível elevado de potássio gera
a hipercalemia no plasma sanguíneo, causando sérios distúrbios no ritmo
cardíaco ou até mesmo parada cardíaca. A angiotensina II é um potente vaso-
constrictor agindo na função circulatória e na pressão arterial de dois modos:

 Vasoconstrição: aumenta a resistência vascular periférica e causa au-


mento do retorno venoso por constrição de veias.
 Diminuição da excreção de sal e água pelos rins, aumentando o volume
de líquido extracelular e, consequentemente, elevando a pressão arterial.

A angiostensina II age de duas maneiras nos rins:

 Promove a constrição das arteríolas renais, diminuindo o fluxo san-


guíneo no rim. Esse fluxo sanguíneo lento possibilita o aumento da
reabsorção de líquidos pelos túbulos.
 Atua sobre células tubulares, aumentando a reabsorção de sal e água.

Os resultados desses eventos são significativos, pois podem reduzir até


80% do débito urinário.
A angiotensina II também atua nas glândulas suprarrenais, fazendo com
que elas secretem aldosterona. A aldosterona causa um aumento intenso da
reabsorção de sódio pelos túbulos renais, elevando a quantidade de líquido
extracelular e, consequentemente, aumentando a pressão arterial a longo prazo.
Resumidamente, os eventos do sistema renina-angiotensina-aldosterona
são os seguintes:

 Quando a pressão é reduzida, os rins produzem renina.


 A renina cai na corrente sanguínea convertendo o angiotensinogênio
em angiotensina I. A angiotensina I tem efeito vasoconstrictor leve.
 A angiotensina I é convertida em angiotensina II pela enzima conversora
de angiotensina presente nos pulmões.
 A angiotensina II é um potente vasoconstrictor que irá promover o
aumento da resistência vascular periférica e diminuir a excreção renal
500 Sistema urinário: rins

de sal e água, elevando a pressão sanguínea. A angiotensina II atua


sobre as suprarrenais, fazendo com que elas secretem a aldosterona.
 A aldosterona causa um aumento intenso da reabsorção de sódio pelos
túbulos renais.

Atuando em conjunto temos o principal hormônio regulador da reabsorção


de água: o hormônio antidiurético (ADH), que atua por meio de retroalimen-
tação negativa. Quando a concentração de água no sangue diminui aproxi-
madamente 1%, osmorreceptores no hipotálamo estimulam a neuro-hipófise
a liberar ADH. Um segundo estímulo poderoso para a secreção de ADH é a
diminuição do volume de sangue, como ocorre na hemorragia ou na desidra-
tação grave. O ADH age nas células tubulares presentes na parte final dos
túbulos contorcidos distais e ao longo dos túbulos coletores. Na ausência do
ADH, essas partes do túbulo renal têm pouca permeabilidade à agua. O ADH
aumenta essa permeabilidade à água nas células tubulares ao inserir proteínas
que funcionam como canais de água em suas membranas plasmáticas. Quando
a permeabilidade à água das células tubulares aumenta, as moléculas de água
se movem do líquido tubular para as células e, em seguida, para o sangue.
Os rins produzem aproximadamente 400 a 500 ml de urina concentrada por
dia, quando a concentração de ADH é máxima, como durante a desidratação
grave. No entanto, quando o nível de ADH diminui, os canais de água são
removidos das membranas. Os rins produzem um grande volume de urina
diluída, quando o nível de ADH é baixo.
Os túbulos renais também respondem a um hormônio que regula a com-
posição de íons. Como exemplo, citamos o cálcio. Quando ele se encontra em
nível abaixo do normal no sangue, as glândulas paratireoides liberam o para-
tormônio (PTH). Este, por sua vez, estimula as células dos túbulos contorcidos
distais a reabsorverem mais cálcio no sangue. O PTH também ajuda a inibir
a reabsorção de fosfato nos túbulos contorcidos proximais, promovendo, com
isso, a excreção de fosfato pela urina (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Os rins também são responsáveis por sintetizar a EPO nos fibroblastos
intersticiais, ou seja, no tecido conectivo renal. Pode correr eventualmente a
síntese desse hormônio no fígado. A função mais conhecida da EPO se dá nos
processos de estímulo à medula óssea para a síntese de células da série ver-
melha, os eritrócitos. Deficiência na síntese da EPO pode resultar em anemia.
Sistema urinário: rins 501

A especialidade médica que estuda a anatomia e a fisiologia dos rins se chama nefro-
logia, enquanto a urologia é aquela que estuda os sistemas urinários dos homens e
das mulheres e o sistema genital masculino.

Doença renal
O volume excretado de urina por dia em um adulto normal varia de 1 a 2 litros.
A maioria desse volume é formada por água (95%). Além de água, a urina
ainda é formada por ureia, creatinina, potássio, amônia, ácido úrico, íons de
sódio, cloreto, magnésio, sulfato, fosfato e cálcio (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009).
Se uma doença alterar o metabolismo do corpo ou a função renal, po-
dem aparecer traços de substâncias que normalmente não estão presentes na
urina, ou os próprios constituintes normais podem aparecer em quantidades
anormais. A análise da urina se dá pela urinálise, que é a forma de analisar
as características físicas, químicas e microscópicas presentes na urina. Veja
no Quadro 1 os constituintes anormais da urina.
Doença renal nada mais é que um estado em que os rins apresentam perdas
insidiosas da função e da capacidade renal, ou seja, os rins não têm mais
condições para efetuar a função de filtrar o sangue. A insuficiência renal, que
desde 2002 se chama doença renal ou lesão renal, pode ser classificada como
doença ou lesão renal aguda (DRA/LRA) ou doença ou lesão renal crônica
(DRC/LRC) (BASTOS; BREGMAN; KIRSZTAJN, 2010).
502 Sistema urinário: rins

Quadro 1. Constituintes anormais da urina que podem ser detectados pela urinálise.

Resumo dos constituintes anormais da urina

Constituinte
anormal Comentários

Albumina Constituinte normal do plasma sanguíneo que geralmente


aparece apenas em pequenas quantidades na urina,
porque é muito grande para ser filtrada. A presença de
albumina em excesso na urina, chamada albuminúria,
indica um aumento na permeabilidade das membranas
de filtração, decorrente de lesão ou doença, aumento
na pressão sanguínea ou danos nas células dos rins.

Glicose Glicosúira, a presença de glicose na urina,


geralmente indica diabetes melito.

Eritrócitos Hematúria, a presença de hemoglobina proveniente


dos eritrócitos rompidos na urina, ocorre com
inflamação aguda dos órgãos do sistema urinário,
como resultado de doença ou irritação por cálculos
nos rins, tumores, trauma e doença renal.

Leucócitos A presença de leucócitos e outros componentes de


pus na urina, chamada piúria, indica infecção nos
rins ou em outros órgãos do sistema urinário.

Corpos cetônicos Altos níveis de corpos cetônicos na urina, chamado


cetonúria, podem indicar diabetes melito, anorexia, jejum
ou simplesmente muito pouco carboidrato na dieta.

Bilirrubina Quando os eritrócitos são destruídos pelos macrófagos,


a porção globina da hemoglobina é separada, e o
heme é convertido em biliverdina. A maior parte
da biliverdina é convertida em bilirrubina. Um
aumento no nível de bilirrubina na urina, acima
dos valores normais, é chamado bilirrubinúria.

Urobilinogênio A presença de urobilinogênio (produto da decomposição


da hemoglobina) na urina é chamado de urobilinogenúria.
Pequenas quantidades são normais, mas quantidades
altas de urobilinogênio podem ser decorrentes de anemia
hemolítica ou perniciosa, hepatite infecciosa, obstrução
dos ductos biliares, icterícia, cirrose, insuficiência
cardíaca congestiva ou mononucleose infecciosa.

(Continua)
Sistema urinário: rins 503

(Continuação)

Quadro 1. Constituintes anormais da urina que podem ser detectados pela urinálise.

Resumo dos constituintes anormais da urina

Constituinte
anormal Comentários

Cilindros Cilindros são massas minúsculas de material que


endureceram e assumiram a forma do lúmen de um
túbulo no qual foram formados. São eliminados do
túbulo quando o filtrado glomerular se acumula atrás
deles. Cilindros são denominados de acordo com
as células ou com as substâncias que os compõem
ou com base em seu aspecto. Por exemplo, existem
cilindros leucocitários, eritrocitários e cilindros de
células epiteliais (células dos túbulos renais).

Micróbios O número e o tipo de bactérias variam de acordo com


as infecções específicas do trato urinário. Uma das mais
comuns é a Escherichia coli. O fungo mais comum na urina
é a Candida albicans, uma causa da vaginite. O protozoário
mais frequente é o Trichomonas vaginalis, uma causa
de vaginite nas mulheres e de uretrite nos homens.

Fonte: Tortora; Derrickson (2014, p. 540).

Lesão renal aguda (LRA)


A LRA é uma doença caracterizada pela redução abrupta da função renal,
causando retenção no organismo de substâncias nitrogenadas e outros oriundos
residuais que normalmente são eliminados pelo rim e, consequentemente,
pela urina. A gravidade da LRA pode variar de sutis alterações transitórias e
assintomáticas dos parâmetros laboratoriais da taxa de filtração glomerular
até os casos de desequilíbrios agressivos e rapidamente fatais da regulação
do volume circulante e da composição de eletrólitos e de balanço ácido-base
do plasma (EATON; POOLER, 2016).
As causas dessa doença estão divididas em três grupos gerais:

 LRA pré-renal (azotemia pré-renal): caracterizada pela concentração


de ureia ou de creatinina em consequência a um fluxo plasmático renal
504 Sistema urinário: rins

baixo e inadequado, causando baixa pressão hidrostática intraglome-


rular, insuficiente para manter a filtração glomerular normal. Isso tudo
geralmente é causado por hipovolemia, redução do débito cardíaco e
fármacos que interferem com as respostas autorreguladoras renais,
inclusive anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) e inibidores da
angiotensina II.
 LRA intrarrenal (doença renal parenquimatosa intrínseca): é a LRA
causada por impactos intrarrenais, como sepse, isquemia e nefrotoxi-
nas endógenas e exógenas. Também pode ocorrer como evolução da
azotemia pré-renal que progride para lesão tubular.
 LRA pós-renal (obstrução pós-renal): ocorre quando o fluxo urinário
é bloqueado repentinamente, parcial ou totalmente, causando aumento
retrógrado da pressão hidrostática e interferindo com a filtração glo-
merular. A obstrução do fluxo urinário pode ser causada por distúrbios
funcionais ou estruturais de qualquer estrutura desde a pelve renal
até a extremidade da uretra. A obstrução do colo vesical é uma causa
comum de LRA pós-renal e pode ser causada por doenças da próstata,
como hipertrofia benigna ou câncer da próstata, bexiga neurogênica ou
tratamento com agentes anticolinérgicos. Outras causas de obstrução
das vias urinárias inferiores são trombos, cálculos e estenoses uretrais.

Lesão renal crônica (LRC)


A LRC é uma doença que engloba um espectro de processos fisiopatológicos
diferentes associados à função renal anormal e ao declínio progressivo da taxa
de filtração glomerular, ou seja, a perda progressiva irreversível significativa
e contínua da função renal. Com isso, o rim não mais funciona, não executa
mais suas funções (JAMESON; LOSCALZO, 2014). A Figura 5 apresenta a
classificação das causas principais de lesão renal aguda.
Sistema urinário: rins 505

Figura 5. Classificação das causas principais de lesão renal aguda. I-ECA, inibidor da enzima
conversora da angiotensina 1; BRA, bloqueador do receptor de angiotensina; AINEs, anti-
-inflamatórios não esteroides; e PTT-SHU, púrpura trombocitopênica idiopática/síndrome
hemolítico-urêmica.
Fonte: adaptada de Jameson e Loscalzo (2014).

A LRC pode se instalar por uma LRA não tratada a tempo ou evoluir
lentamente por meio de doenças crônicas que danificam progressivamente
os néfrons, como é o caso da hipertensão arterial sistêmica e da diabetes
melito, quando não tratadas e não controladas. O tratamento para essa doença
está focado em realizar a filtragem do sangue de maneira artificial, podendo
correr por meio da diálise peritoneal ou pela hemodiálise. Como cura para
essa doença, o paciente pode ser submetido a transplante renal, procedimento
que geralmente leva anos para acontecer pela dificuldade de encontrar órgãos
compatíveis.
Essa doença traz um impacto bastante negativo na vida da pessoa acometida
por ela. Os indivíduos portadores de LRC podem ter a sua sobrevida prolongada
com o emprego da hemodiálise como método de substituição da sua função
renal. Hemodiálise consiste no uso de uma máquina para realizar a função e
filtrar o sangue, retirando dele substâncias maléficas ao organismo. As sessões
costumam durar em torno de 4 horas, três vezes na semana.
506 Sistema urinário: rins

Em todo o mundo, incluindo países em desenvolvimento, a prevalência


da lesão renal crônica tem aumentado consideravelmente nos últimos anos,
o que constitui grave problema de saúde pública. As melhorias tecnológicas,
especialmente as relacionadas às terapias renais substitutivas, hemodiálise,
diálise peritoneal e transplante renal, têm possibilitado maior sobrevida aos
pacientes, mas também maior chance de permanecerem com algumas incapaci-
dades funcionais. Os tratamentos geram grande desgaste emocional provocado
pela doença, que gera significativo impacto sobre a qualidade de vida. Durante
a fase de tratamento, os portadores de insuficiência renal crônica podem ter
a qualidade de vida relacionada à saúde alterada, em razão de uma série de
fatores, como a ansiedade prévia e, no momento do tratamento, a perda da
autonomia, a dificuldade em lidar com uma doença irreversível e incurável,
o deslocamento diário ou semanal para hospitais e unidades de hemodiálise,
a queda dos níveis de vitalidade, a limitação para a realização das atividades
da vida diária e, em muitos casos, a falta de suporte por parte dos familiares
e amigos (TITAN, 2013).
Dessa forma, tanto a saúde física quanto a saúde psíquica do paciente são
prejudicadas. Ainda, as mudanças no estilo de vida, acarretadas pela insufici-
ência renal crônica e pelo tratamento dialítico, ocasionam limitações físicas,
sexuais, psicológicas, familiares e sociais, que podem afetar a qualidade de vida.
Na vivência cotidiana desses pacientes, eles expressam sentimentos negativos,
como medo do prognóstico, da incapacidade, da dependência econômica e da
alteração da autoimagem.

No link abaixo ou código ao lado, assista ao vídeo em


que um médico especialista explica o que é a doença
renal crônica (sintomas, tratamento, diagnóstico e
prevenção) e a diferença entre ela e a insuficiência
renal aguda.

https://goo.gl/bPeMdG
Sistema urinário: rins 507

1. As artérias segmentares e) uma região da camada


ramificam-se em: medular dos rins.
a) artérias renais. 4. Sobre os rins, indique a
b) arteríolas glomerulares eferentes. alternativa correta.
c) artérias interlobulares. a) O rim esquerdo é mais inferior
d) artérias arqueadas. do que o rim direito.
e) arteríolas glomerulares aferentes. b) São órgãos pélvicos.
2. O sistema urinário desempenha c) São retroperitoneais.
todas as seguintes d) Os néfrons somente conduzem
funções, exceto: a urina para a pelve renal.
a) sintetizar calcitriol, um e) O ápice de cada pirâmide se
derivado da vitamina D. volta para o córtex renal.
b) regular o volume sanguíneo. 5. Todas as alternativas
c) contribuir para estabilizar sobre a inervação dos rins
o pH sanguíneo. estão corretas, exceto:
d) eliminar produtos a) os rins são inervados
orgânicos residuais. pelo plexo renal.
e) auxiliar a secreção das b) os rins contribuem na atividade
glândulas suprarrenais. hepática de desintoxicação.
3. O seio renal é: c) as fibras nervosas são, em sua
a) o hilo renal. maioria, fibras pós-ganglionares
b) um conjunto de cálices menores. do plexo mesentérico inferior.
c) um espaço interno revestido d) a inervação simpática
pela cápsula fibrosa e localizado dos rins libera renina.
profundamente ao hilo renal. e) um ramo nervoso renal penetra
d) um grande ramo da pelve renal. em cada rim pelo hilo renal.
508 Sistema urinário: rins

BASTOS, M. G.; BREGMAN, R.; KIRSZTAJN, G. M. Doença renal crônica: frequente e


grave, mas também prevenível e tratável. Revista da Associação Médica Brasileira, v.
56, n. 2, p. 248-253, 2010.
EATON, D. C.; POOLER, J. P. Fisiologia renal de Vander. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
JAMESON, L.; LOSCALZO, J. Nefrologia e distúrbios acidobásicos de Harrison. 2.ed. Porto
Alegre: AMGH, 2014.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. (Coleção Martini). E-book.
TITAN, S. (Org.). Princípios básicos de nefrologia. Porto Alegre: Artmed, 2013.
TORTORA, J.; DERRICKSON, G. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2016.

Leitura recomendada
LERMA, V. E.; BERNS, J. S.; NISSENSON, A. R. Current: nefrologia e hipertensão. Porto
Alegre: AMGH, 2011.

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