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Fundamentos Teóricos para Organização Do Currículo
Fundamentos Teóricos para Organização Do Currículo
LIVRO DA REESTRU-
TURAÇÃO
1
PREFEITURA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS
Matriz Curricular
DEZEMBRO/2022
Fundamentos teóricos para a organização do currículo
As teorias clássicas do currículo separam os conteúdos do seu
processo de construção, transformando a educação num processo de
acumulação de conhecimentos já pensados. (...) Existem
necessidades, interesses, que são anteriores a todos os currículos, à
própria alfabetização, que é o acesso à condição humana, em que
aprender qualquer coisa é um prolongamento dessa necessidade de
ser gente.
Moacir Gadotti (2007, p. 38).
Não queremos neste momento fazer um levantamento teórico sobre os diversos autores
dos diferentes campos do conhecimento, que apresentam questionamentos acerca das
diversas perspectivas sociais da escola. Os documentos anexos que perpassam as discussões
acerca da proposta pedagógica em 2002, em 2004 e em 2019 aprofundam este cenário teórico.
Assumimos a complexidade da discussão sobre o tema, sobre a função da escola, pois sabemos
da necessidade das várias formas de pensá-lo, considerando a vertente a que estamos filiados.
No entanto, ousamos afirmar que o ponto comum, ao se pensar em educação e,
especificamente, no papel social da escola é a premente necessidade de se relacionar o fazer
da escola – campo da disseminação do saber - ao desenvolvimento das potencialidades físicas,
cognitivas e afetivas dos indivíduos que ali transitam, desenvolvendo suas capacidades,
promovendo a cidadania, tornando este indivíduo cidadão participativo na sociedade em que
vive.
Não se pode garantir que tais dados se justifiquem pela pandemia, momento muito difícil
pelo qual, ainda, atravessamos. Os gráficos nos ajudam a entender que a Rede, após queda nos
índices de distorção antes dos anos de 2015, teve certo aumento desses números nos últimos
anos, o que tem de ser motivo de preocupação. Queremos mostrar com os gráficos acima a
premente necessidade de a Rede proceder a um rigoroso exame das causas desta relação,
porque já conhecemos, em números, as consequências.
Há de se pensar que a composição ESCOLA tem de estar agregada a outros diversos fatores
intervenientes, a exemplo do necessário papel da Família, e porque não dizer da comunidade,
que deve apoiar a função essencial deste espaço de construção do conhecimento, ajudando os
alunos na motivação diária para irem à escola. A família não só precisa acreditar em sua
importância, como também precisa enxergar os atrativos da escola, sua receptividade, com
professores entusiasmados, suas possibilidades de diálogo e de aceitação das diferenças. A
família precisa incentivar este lócus do desenvolvimento de saberes, ressaltando sua
importância, ainda que “o estar nela” demande muitas obrigações.
Por seu turno, a escola precisa ser atrativa naquilo que ensina, como ensina, além de
oferecer outras atividades pedagógicas que ampliem os conhecimentos dos estudantes e o seu
desejo de “lá estar”. Além disso, a escola, como integrante de uma Rede, precisa se debruçar
sobre as efetivas dificuldades que esses estudantes apresentam, a fim de que essas não
estanquem o processo de aprendizagem, o que gera desmotivação, reprovações e o
consequente abandono da escola. A reestruturação curricular, defendemos, é um grande passo
para atingir a esse propósito, não só pelas necessidades que se impõem, mas também porque
estamos em outro momento sócio-histórico, o que exige novos enfoques, novas metodologias
para o desenvolvimento desta criança, deste jovem e do adulto do século XXI.
Por fim, mas não menos importante, neste cenário de atores, temos outro grupo de
grande participação para o processo pedagógico na escola: merendeiras, porteiros, inspetores,
motorista, mediadores, técnicos em informática que consubstancializam, em suas diferentes
funções, que o ambiente escolar não está centrado no par professor(a)/ aluno(a). |Portanto, é
necessário que estes funcionários – staff importante do pedagógico - sejam/ estejam
preparados para exercer a sua função pedagógica no processo de ensino e de aprendizagem,
visto que precisam saber dar exemplos, saber chamar a atenção quando necessário, precisam
saber orientar os estudantes, nos demais espaços que transitam na escola, além da sala de
aula – estrito senso. Entendemos que a escola como um todo é um grande lugar de
aprendizagem e as situações do cotidiano escolar precisam ser utilizadas para o processo de
desenvolvimento da criança em seus espaços sociais, de forma a não se tornar, apenas, uma
situação de brincadeira ou de repreensão. Há de se mostrar aos estudantes os diferentes
comportamentos, com desvelo e com intenções pedagógicas.
Podemos afirmar que o caminho trilhado em nossa Rede foi diferente. Na seção que
recobre o caminho histórico deste processo, destaca-se que a Rede Municipal de Educação de
Duque de Caxias fez uma opção por uma Reestruturação Curricular, o que implica em algumas
atitudes imprescindíveis, a saber: (I) a atualização da relação entre o currículo prescrito e as
ações de ensino; (II) a ratificação dos pressupostos teóricos indicados nos primeiros
documentos. No caso de nossa Rede, desde 2002, esses pressupostos se ligam à abordagem
histórico-cultural do desenvolvimento humano, lá atrás com foco no sociointeracionismo, que
assevera a aprendizagem como uma forma de interação por meio das relações nas quais os
sujeitos trocam ideias, leituras e experiências, que culminam na produção dos conhecimentos;
(III) a manutenção de um currículo que reflete a dimensão social do desenvolvimento humano
e suas interações sociais; (IV) uma proposta curricular fundamentada no materialismo
histórico-dialético, na teoria histórico-cultural e na pedagogia histórico-crítica.
Para corroborar essa visão, o Documento Curricular da Rede Municipal de Duque de Caxias
(2021) retoma Vygotsky (2007 - 2010) ao asseverar que a interação social favorece a
aprendizagem e as experiências de aprendizagem que necessitam ser estruturadas de forma
contextualizada com as práticas sociais, privilegiando a colaboração, a cooperação e o
intercâmbio de pontos de vistas com fins à construção do conhecimento (p. 38). Além disso, o
referido documento retoma Vygotsky que considera que as palavras têm um papel importante
nas relações entre o pensamento e a linguagem, sendo construídas, partindo do meio social,
desde a infância. Nesse sentido, a linguagem tem importância ímpar no processo de
construção do conhecimento, pois surge da necessidade do ser humano de se comunicar com
o outro e fortalecer o seu pertencimento nos grupos sociais.
Nesta sociedade pós-moderna, com novas e cada vez mais complexas demandas, esta
Rede Municipal de Educação deve promover um processo de ensino e de aprendizagem que
articule a construção do conhecimento com a análise crítica. Cabe à Rede Municipal de
Educação formar cidadãos autônomos, capazes de compreender o mundo social e natural no
qual estão inseridos a fim de que se posicionem criticamente, de que proponham diferentes
soluções para as situações-problema com que nos deparamos no cotidiano da vida, de que
ajam politicamente para a transformação social e econômica da sociedade.
Longe de se querer criar um protocolo de agir didático, defendemos que a função social
da escola (cf. Zabala, 2014) é o desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica dos
estudantes, ou seja, é preciso ensinar os estudantes a olharem para o seu entorno, para sua
realidade, a fim de compreender os fatos “além da visão simplificadora ou deformadora” que,
às vezes, são oferecidos à população. Há de se desenvolver a capacidade de tomada de
decisões com “base na reflexão e no diálogo, promovendo mais do que a formação de futuros
cientistas, mas sim a educação de cidadãos em uma cultura científica básica, capacitando-os
para interpretar os fenômenos naturais e para agir de forma crítica e responsável diante dos
problemas sociais” (cf. Zabala, 2014, p.95).
Zabala (1999, p.7) assevera que “a escola que teve por objetivo a formação integral dos
estudantes sentiu a necessidade de abarcar todas as capacidades da pessoa”. Para tanto, o
autor cunha alguns termos específicos importantes para nossa reestruturação curricular.
Assim:
O referido autor faz uma constatação que merece destaque. Ele afirma que qualquer
coisa que aprendamos tem componentes conceituais, procedimentais e atitudinais.
Podemos fazer este ensino de forma consciente ou de forma intencional, mas “de
qualquer forma, no momento de aprender, estamos utilizando ou reforçando
simultaneamente conteúdos de natureza conceitual, procedimental ou atitudinal. Isso,
claro, sempre que as aprendizagens não sejam puramente mecânicas” (1999, p. 9).
Acrescenta que
Ainda de acordo com Zabala (1999), um estudo minucioso de como se aprende nos faz
tomar consciência de que existem elementos comuns para cada uma das três tipologias,
ainda que aprendamos, de forma distinta, o que sabemos, o que sabemos fazer e o que nos
faz agir de um modo ou de outro. Segundo o autor,
A reestruturação da Matriz Curricular de Duque de Caxias, não poderia ser diferente, tem
como ponto central garantir o direito dos estudantes à educação de qualidade. Para tanto, é
importante registrar que se fundamenta no que preconiza a Constituição Federal (1988), o
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB 9394/96), documentos que referenciam a educação brasileira. Além disso, coadunada
com as diretrizes do MEC, mais recentes, fundamenta-se no documento da atualidade, a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
Esse documento é, na verdade, uma política nacional curricular por meio da qual “[...]
constitui-se um documento normativo que seleciona e organiza os conhecimentos a serem
ensinados ao longo dos níveis e das modalidades da Educação básica no Brasil” (BRASIL, 2018,
p. 7).
Nunca é demais lembrar que saímos de uma perspectiva de ensino de conteúdos mínimos,
expressão recorrente nas leis anteriores, para o ensino de um conjunto de aprendizagens
essenciais e indispensáveis, referida na BNCC, que reproduz o discurso proposto na
“Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de
Aprendizagem”, resultado da Conferência Mundial da Educação para Todos, realizada em
Jomtien, na Tailândia, em 1990. Essas “necessidades essenciais”, de acordo com a Declaração,
Nossa Rede entende que existe um avanço entre o uso das expressões “conteúdos mínimos”
e “aprendizagens essenciais”, mudando, de certa forma, o espectro do que se deve ensinar.
Discordamos, entretanto, da delimitação de um rol de aprendizagens que restringe o direito de
nossos estudantes ao conhecimento em sua globalidade. Postulamos a inclusão do
conhecimento do entorno onde vivemos, de nossa cultura local, dentro do Estado do Rio de
Janeiro. Almejamos, e temos como foco, na Rede Municipal de Educação de Duque de Caxias,o
desenvolvimento máximo das potencialidades humanas dos nossos estudantes. Entendemos
que, no processo ensino-aprendizagem, devemos partir de um olhar do microcosmo social, que
implica em olhar o entorno da localidade, da cultura, em que nossa Rede está inserida para um
olhar que visa ao entendimento e ao conhecimento da estrutura macrossocial em que estamos
inseridos, em que nosso município está inserido.
Paralelo à BNCC, conforme diretrizes do MEC, outros documentos balizam o nosso Currículo
em sua reestruturação na Rede Municipal de Duque de Caxias - 2022. São eles: Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), documento que reforça a renovação e a reelaboração da proposta
curricular, além da importância de que cada escola formule seu projeto educacional,
compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da educação resulte da
corresponsabilidade entre todos os educadores; as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica (DCN), Referência Nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e
das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das propostas
pedagógicas das instituições escolares; além de Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil/ MEC/ CNE/ 2009 ( DCNEI).
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien – 1990). Jomtien,
Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990. Unesco.
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos-conferencia-de-
jomtien-1990. Acesso em 20 de novembro de 2022.
GADOTTI, Moacir. A escola e o professor: Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo:
Publisher Brasil, 2007.p.38
Plano Nacional de Educação (PNE). Lei Federal n.º 10.172, de 9/01/2001. Brasília: MEC, 2001c.
BRASIL.
ZABALA, Antoni. Introdução. In: . (Org.). Como trabalhar os conteúdos procedimentaisem aula
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.
ZABALA, Antoni. ARNAU, LAIA. Como aprender e ensinar competências tradução: Carlos
Henrique Lucas Lima. Porto Alegre, 2010.
ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo. Uma proposta para o currículo
escolar. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: ArtMed Editora, 2022.