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FILOSOFIA

AS CORRENTES FILOSÓFICAS

OS IDEALISTAS

Os idealistas acreditam que o mundo externo e material é


produzido pela mente ou pelas ideias, de que não pode existir
separadamente. A realidade, por conseguinte, começa dentro
da mente e não fora dela.

PLATÃO (428-354 a.C)

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Para PLATÃO, tudo no mundo material deve sua existência a
uma ideia perfeita, eterna e imutável a partir da qual é modelado.
Ele chamou essas ideias de “formas”. Formas de noções abstratas,
como coragem e justiça, servem de ideal para as pessoas, que se
esforçam por alcançá-las. Assim como imaginamos um cavalo ideal,
perfeito, podemos imaginar um ideal de justiça e nos esforçarmos
para alcançá-lo.
A “forma” ideal mais famosa de Platão é sua ideia de uma
sociedade ideal, que ele descreveu no diálogo “A República”. Neste,
Platão expressou firmes opiniões sobre a estrutura da sociedade.
Ele acreditava que as pessoas se dividem em tipos. Algumas não
são especialmente brilhantes e nunca poderão esperar ocupar
posições importantes. Ele disse que essas pessoas têm alma de
bronze e se destinam à agricultura e outros trabalhos. Platão rotulou
esse grupo de “trabalhadores”. Acima dele estão aqueles com alma
de prata: essas pessoas possuem alguns talentos e podem vir a ser
importantes para a sociedade, sendo mais adequadas a policiar e a
proteger o Estado. Platão chamou esse grupo de “soldados”. No
alto da escada estão aquelas pessoas com alma de ouro, que têm a

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inteligência e a educação necessárias para se tornar filósofos e
governantes — os “guardiães”.
Platão argumentou que os filósofos são os melhores líderes
porque são sábios e têm menos probabilidade de se comportar
irracionalmente. Ele acreditava que o Estado permaneceria estável
e justo com filósofos no poder. Sua sociedade ideal é uma estrutura
ordenada, onde as pessoas permanecem fixas em seus papéis.
Todas são treinadas até o limite de sua habilidade, que garante sua
posição na vida. Seria impróprio um agricultor governar o Estado ou
um filósofo trabalhar a terra.
Platão considerava mulheres e homens igualmente capazes
de governar. Mas também achava que os homens tendem a fazer
as coisas melhor. Entretanto, sua concepção sobre a igualdade
entre homens e mulheres era revolucionária para seu tempo.
O Estado ideal de Platão é uma sociedade controlada. A
tentação de ganância — um dos maiores males da sociedade —
desapareceria ao ser abolida a propriedade privada. Para evitar que
as pessoas tornassem o Estado menos importante que suas
famílias, todas as crianças seriam levadas após o nascimento, sem
nunca conhecer seus verdadeiros pais. As crianças seriam criadas
pelo Estado e levadas a pensar em todos como seu próprio pai e
mãe. Os governantes também determinariam quem se casaria com
quem.

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GEORGE WILHELM FRIEDRICH HEGEL

(1770-1831) filósofo alemão

HEGEL desenvolveu um consistente sistema filosófico para


explicar a realidade. Ele sustentou que o universo e tudo dentro
dele está interligado. Disse que a realidade é o produto de uma
mente cósmica. E uma ideia em movimento — e toda a história
pode ser explicada pelo desenvolvimento dessa ideia. Para ele, a
história só poderia ser entendida se cada era fosse vista como uma
pequena peça de um enorme quebra-cabeça. Isso constitui uma
visão radical da história. A visão tradicional é que a história resulta
de mudanças nas circunstâncias materiais das pessoas. Por
exemplo, uma nova tecnologia pode mudar a forma como as
pessoas se comunicam ou fazem guerra. De acordo com Hegel,
essas mudanças materiais na sociedade são os efeitos de um

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profundo processo de mudança. Ele sustentou que esse processo
profundo é “uma ideia que realiza a si mesma”.
Hegel afirmou que essa ideia cósmica se desenvolve em
padrões fixos, que ele chamou de “dialética”. Esse é um processo
triplo: primeiro, um argumento, ou “tese”, é apresentado; surge
então um argumento oposto, ou “antítese”; e, depois de muita luta,
uma conclusão é alcançada, conhecida como “síntese”. Essa
conclusão torna-se então a nova ‘tese”, e todo o processo
recomeça, ad infinitum. Na opinião de Hegel, cada grande era da
história do mundo começa como uma síntese de forças opostas à
era precedente. Essas forças opostas (teses e antíteses) acabam
destruindo o momento histórico, mas uma era nova e melhor se
ergue das cinzas.
A “dialética” é o motor que movimenta o sistema de Hegel. Ele
demonstrou que o processo dialético escora toda a história,
inclusive a história do pensamento. Hegel argumentou que, a cada
era, as pessoas desenvolvem um conhecimento melhor sobre o
mundo. Hoje, a prova de Hegel desse desenvolvimento seria que a
ciência moderna e a tecnologia dão uma imagem mais precisa de
como o universo funciona do que davam cinqüenta anos atrás. No
futuro, esse conhecimento terá se desenvolvido ainda mais.
Para Hegel, a história caminha para o conhecimento
completo. O processo dialético terminará numa “síntese” final que
revelará a mente de Deus.

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OS MATERIALISTAS

Os materialistas têm uma visão completamente oposta à


dos idealistas sobre a natureza da realidade. Os materialistas
acreditam que tudo o que existe é matéria ou depende da
matéria para existir O mundo real está fora de nós, não em
nossa mente.

ARISTÓTELES (384-322 a.C) filósofo grego

ARISTÓTELES foi o primeiro grande crítico de Platão. Ele


acreditava que Platão tinha invertido as coisas ao dizer que a

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“forma”, ou a ideia, de uma coisa é o que é mais real. Ele disse que
as coisas materiais são a realidade e que sua forma é uma parte da
realidade. Aristóteles sustentou que a realidade é feita de muitas
coisas diferentes, que chamou de “substâncias”. Qualquer
substância é uma fusão de “ideia disso” (de que é feito) e “ideia do
que é”(sua forma ou o que é). Por exemplo, a “ideia disso” de uma
cadeira de madeira é a madeira a partir da qual a cadeira foi feita. A
madeira é modelada, ou recebe a forma do que é: uma cadeira.
Aristóteles também criticou as formas de Platão porque não
explicavam como as coisas mudam. Isso o levou a desenvolver sua
própria teoria sobre a mudança. Ele concluiu que toda substância
tem uma “potencialidade” inerente. Com isso, quis dizer que as
coisas têm dentro delas o potencial de transformação. Por exemplo,
a água tem o potencial de se transformar em gelo e também em
vapor.
Aristóteles também discordou de Platão quanto à ideia de que
a alma é separada do corpo. Argumentou que todas as coisas vivas
têm uma alma, que as anima e que as torna diferentes de
substâncias como pedra ou água. O tipo de alma que alguma coisa
possui corresponde ao que faz e ao que necessita. Os organismos
mais inferiores, como as plantas, precisam apenas ser alimentados
e se reproduzir. Os animais têm sentimentos, portanto há um
aspecto sensível em suas almas. As pessoas são bem mais
complicadas e sua alma tem muitas outras dimensões. Aristóteles
afirmou que as coisas vivas são diferentes porque sua alma é feita
de material diferente. Ele também julgou que as almas perecem
quando as coisas vivas morrem. Entretanto, ele identificou um
aspecto da alma humana capaz de sobreviver à morte. Esse
aspecto é o pensamento ou a razão. Aristóteles não encontrou uma

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base física para os pensamentos que se impõem (ou “forma”) na
mente.
Assim como Sócrates, Aristóteles acreditava que as pessoas
deveriam Se esforçar para ser boas. Ele desenvolveu um “teste de
significados” para que as pessoas pudessem aperfeiçoar suas
virtudes.
Argumentou que a virtude real repousa na moderação, entre
fazer demais alguma coisa e não fazê-la suficientemente. Por
exemplo, ser corajoso é o meio-termo entre ser audacioso e ser
covarde.
Este “meio-termo de ouro” também se reflete nas opiniões de
Aristóteles sobre política. Diferentemente de Platão, que acreditava
em uma elite de filósofos governantes, Aristóteles acreditava que
um grupo intermediário forte deveria estar no comando, criando
assim um equilíbrio entre a tirania e a democracia.
A incansável pesquisa de Aristóteles sobre o mundo ao seu
redor levou-o a desenvolver o primeiro sistema de lógica da filosofia
ocidental. Ele quis transformar o argumento em uma ferramenta
para verificar a verdade das coisas. A característica central do
método de Aristóteles é o “silogismo”. Um exemplo simples é:
Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Portanto
Sócrates é mortal. Isso mostra como duas colocações indiscutíveis
podem produzir uma conclusão.

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KARL MARX (1818-1883)

MARX foi muito influenciado por Hegel. Entretanto, discordou


dele quanto à sua posição de que a história é o resultado do
desenvolvimento de uma ideia. Marx pensava que a história é um
processo material. Ele argumentava que são as mudanças na
maneira como as pessoas vivem que as levam a desenvolver novas
ideias, e não o contrário.
Marx concordava com a opinião de Hegel de que a história
atravessa vários estágios. Ele acreditava que o último estágio da
história, o capitalismo, seria superado. Marx sonhava com uma
sociedade melhor, na qual o dinheiro não governaria e tudo seria
dividido. Um de seus textos mais famosos é “O Manifesto
Comunista”. Nesse pequeno livro ele argumenta que o capitalismo
escraviza as pessoas, e chama aqueles que trabalham por dinheiro
de “escravos do salário”, forçados a produzir bens que
provavelmente nunca usarão.

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OS ESCOLÁSTICOS

Os escolásticos eram pensadores cristãos que tentaram


entender e explicar as doutrinas cristãs à luz da antiga filosofia
grega. Os pensadores cristãos que viveram nos primeiros
séculos após o nascimento de Cristo eram conhecidos como
“Pais da Igreja”. A escolástica dominou a filosofia ocidental
por centenas de anos.

SANTO AGOSTINHO (354-430)

SANTO AGOSTINHO nasceu no norte da África e estudou na


Itália. Foi muito influenciado pelas ideias de Platão. Agostinho
procurou combinar sua fé cristã com a razão. Acreditava que

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compreender é uma recompensa pela fé, e que a alma humana
mantinha latentes algumas verdades últimas e eternas.
Agostinho era muito interessado na natureza do tempo.
Achava que o tempo começou quando Deus criou o mundo — o
que suscita a questão da existência de Deus antes do tempo. A
resposta de Agostinho foi que Deus reside em um eterno presente,
fora do tempo terrestre. Isso o levou à teoria de que “agora” é tudo
o que realmente existe.
O passado é uma memória presente, e o futuro é uma
expectativa do presente. Essa opinião lhe permitiu enfatizar que é
mais importante o que as pessoas estão fazendo para Deus e não o
que farão.

TOMÁS DE AQUINO (1225-1274)

TOMÁS DE AQUINO elaborou cinco provas para demonstrar


a existência de Deus. A primeira prova é que a mudança está em
toda parte, portanto algo deve causá-la. (Deve ser Deus.) A
segunda prova é que as coisas acontecem, portanto deve haver
uma causa. (Deus, que é a causa primeira, deve provocar o
acontecimento das coisas.) A terceira prova é que tudo na natureza
é interdependente. (Como isso pode ser explicado sem concluirmos

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que há um Deus independente da natureza?) A quarta prova é a
pergunta da harmonia na natureza: por exemplo, quem deu guelras
aos peixes para que pudessem respirar na água? (Apenas Deus
poderia fazê-lo.) A quinta prova são os graus de excelência que
podem ser observados na natureza. (Isso envolve a noção de
perfeição e, portanto um ser perfeito: Deus.) Tomás de Aquino
apresentou essas provas em seu livro “Summa Contra Gentiles”
(Suma contra os pagãos), o primeiro dos dois densos volumes que
ele escreveu. A intenção deste primeiro livro era provar através da
razão a importância de ser cristão aos não-cristãos.

OS RACIONALISTAS

Os racionalistas consideram que as verdades sobre a


realidade só podem ser reveladas através da razão, e não pelo
que os sentidos nos apresentam sobre o mundo.

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PARMÊNIDES (501-492 a.C.)

PARMÊNIDES pode ser considerado o primeiro racionalista


porque afirmou que o mundo material só poderia ser propriamente
compreendido através do pensamento e da razão, e não através
dos sentidos.
As ideias de Parmênides sobreviveram nos fragmentos de um
longo poema que ele escreveu. O poema tem dois temas principais:
“O caminho da verdade” (o que a razão nos revela sobre o mundo)
e “O caminho da aparência” (o que nossos sentidos nos revelam).
Parmênides argumentou que o pensar e o ser (existir) são um e
iguais, isto é, que é impossível pensar em uma coisa que não
exista. Sua lógica era de que “nada” só se pode pensar se for o
pensamento de “algo”. Portanto, “nada”, ou “não ser”, não é
possível — só pode haver o “ser”. No mesmo poema Parmênides

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argumenta que o tempo é uma ilusão. Ele disse que o passado e o
futuro não existem, pois só podem ser pensados no presente.

RENÉ DESCARTES (1596-1650)

DESCARTES é considerado o primeiro filósofo “moderno”. Ele


quebrou a supremacia da escolástica na filosofia ao questionar tudo
o que tinha aprendido. Descartes era um cientista. Isso deu a ele o
desejo de estabelecer um sistema dedutivo de conhecimento que
forneceria as verdades lógicas e necessárias sobre o universo.
Em seu livro “As meditações”, Descartes pôs-se a descobrir
uma base firme para seu sistema. Ele se deu conta de que tudo o
que conhecia havia apreendido a partir de seus sentidos. Mas ele
questionava se era sensato confiar em um conhecimento mentiroso.
Como poderia confiar em seus sentidos quando, por exemplo, um
remo parece dobrar-se na água? O método de Descartes era
duvidar de tudo sistematicamente. Tudo o que restasse era o
conhecimento seguro que ele poderia pensar, mesmo que estivesse
apenas sonhando que estivesse pensando. Essa era a pedra
fundamental para seu novo sistema de conhecimento. A primeira
dedução a que chegou a partir de sua verdade inquestionável foi
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que, em virtude do pensamento, ele existia. Entretanto, acreditou
estar em uma sinuca filosófica. Como poderia provar que o mundo
exterior também existia? Como poderia confiar no que percebia
sobre o mundo? A única solução era provar a existência de Deus —
só então ele deduziu que seus sentidos, dados por Deus, mereciam
confiança. Muitos filósofos consideram que o pensamento de
Descartes se enfraquece nesse ponto.
Descartes elaborou dois argumentos para provar a existência
de Deus. O primeiro foi que ele (Descartes), em virtude de suas
dúvidas, era um ser imperfeito. Entretanto, imperfeito como era,
ainda poderia manter a ideia de um ser perfeito: Deus. Só um ser
perfeito poderia ser a causa de uma ideia tão perfeita. Portanto
Deus deve existir. O segundo argumento Descartes argumenta que
a ideia de um ser perfeito contém perfeição em todos os graus.
Portanto a ideia de Deus deve conter a existência de Deus. Tendo
“provado” a existência de Deus, Descartes não precisou mais
considerar que o mundo poderia ser o produto de um gênio
diabólico. Ele concluiu que um ser perfeito não permitiria tal coisa.
Descartes ainda tinha de descobrir como conhecia o mundo. Como
ser pensante, raciocinou que seus sentidos, dados por Deus, não o
decepcionariam se fossem apropriadamente empregados. Ele
deduziu que foi com a mente, ou a razão, que aprendeu a verdade
sobre o mundo. Quando ele derretia cera, ela tinha forma,
consistência e cheiro diferente, mas em sua mente ele não
duvidava de que aquela substância ainda fosse cera.
O alicerce do sistema racional de Descartes foi sua afirmação
“Penso, logo existo” (do latim: cogito ergo sum). Com ele Descartes
identificou a mente como algo separado da matéria. Assim, ficou
conhecido como um filósofo “dualista”, isto é, para ele o mundo

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consistia de duas substâncias distintas: mente e matéria. A
propriedade essencial da mente é a consciência, enquanto a
propriedade essencial da matéria é a “extensão” no espaço, no qual
tem comprimento, altura e profundidade. Em sua opinião, toda
matéria, inclusive o corpo humano, não tem mente. Todas as coisas
vivas são apenas matéria em movimento. Essa filosofia dualista
deixou Descartes com o problema de explicar como mente e corpo
se uniram para formar uma pessoa. Ele teorizou que as impressões
duplas —recebidas pela virtude de ter duas orelhas, dois olhos,
duas mãos (e assim por diante) — estavam unidas à consciência
em uma glândula no cérebro. Essa teoria foi muito debatida, mesmo
antes da morte de Descartes, e ele estava consciente da natureza
insatisfatória de sua conclusão. Uma das pessoas que questionou
sua teoria foi a rainha Cristina da Suécia. Ela também discordou de
Descartes quanto aos animais não terem mente, pois já tinha
observado muito seus animais de estimação.

RENÉ DESCARTES 1596 – 1650 filósofo, físico e matemático


francês “Cogito ergo sum” = Penso, logo existo.

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A EVIDÊNCIA POR CLAREZA
“O primeiro (Evidência) será o de nunca aceitar nada por
ver¬dadeiro que o não reconheça evidentemente como tal, vale por
dizer, evitar cuidadosa¬mente a precipitação e a pre¬venção e não
englobar nada mais nos meus juízos do que aquilo que se
apresente tão cla¬ramente e tão distintamente ao meu espírito, que
eu não venha a ter nenhuma oportunidade de o pôr em dúvida.”

A ANÁLISE
“O segundo, (Reducionismo) de dividir cada dificuldade a
examinar em tantas quantas as parcelas possíveis, de forma a
melhor a resolver”.

CAUSALISMO LINEAR
“O terceiro, de seguir por or¬dem os meus pensamentos,
começando pelos objectos mais simples e os mais acessíveis de
conhecer, para subir pouco a pouco como por degraus até ao
conhecimento dos mais com¬postos, e supondo ordem mes¬mo
entre aqueles que não são de modo algum precedentes uns dos
outros.
Estas longas correntes de razões bem simples e fáceis, de
que os geómetras têm o hábito de se servir para alcançar as suas
mais difíceis demonstrações, tinham me dado ocasião de imaginar
que todas as coisas que podem cair sob a alçada do
conheci¬mento dos homens se entre-seguem da mesma maneira”

O PRINCÍPIO DA ENUMERAÇÃO
“E o último (princípio), o de fazer em toda parte
enumera¬ções tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse
a cer¬teza de nada omitir.”
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GIAMBATTISTA VICO 1668 —1744 filósofo italiano

“Pois que o Método cartesiano prejudica o engenho e o


engenho foi dado aos seres humanos para compreender, isto é,
para fazer intencionalmente” (G. Vico, 1710)

BARUCH SPINOZA (1632-1677)

Assim como DESCARTES, Spinoza acreditava que a razão


era a verdadeira fonte de todo o conhecimento. Como Descartes,
ele era brilhante em matemática e geometria, e concordava que a
filosofia deveria tentar copiar os métodos de dedução dessas
ciências. O objetivo de Spinoza era construir a “geometria da
filosofia”. Em seu livro mais importante, “A Ética”, ele tenta
demonstrar através de um sistema matemático como conduzir uma
boa vida. A pedra fundamental do sistema de Spinoza é a

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indiscutível existência de Deus. Tudo o mais no seu sistema se
desenvolve a partir dessa verdade. Ele chegou a essa verdade ao
tentar resolver o problema proposto pela opinião de Descartes de
que o universo consistia de duas substâncias: mente e matéria.
Descartes chamou-as de “substâncias finitas”. Além delas está
Deus, a “substância infinita”. Spinoza achou isso contraditório.
Spinoza concordava com a definição de Descartes de
substância como algo que não depende de nada mais para existir,
mas achava que Descartes deveria ter parado quando identificou
Deus como uma “substância infinita”, porque uma “substância
infinita” possuiria também todas as propriedades das “substâncias
finitas” — então, como poderia existir independentemente? Dessa
forma, Spinoza foi capaz de argumentar que Deus não está
separado do resto do universo, como Descartes (e praticamente
todo o mundo) havia pensado. Em vez disso, Deus e o universo são
uma mesma e única coisa. Spinoza insistiu que Deus e a natureza
são uma mesma substância e que mente e matéria são apenas
formas diferentes nas quais Deus aparece. Spinoza pensou que
deveria haver muitas outras formas de Deus aparecer, mas que os
sentidos humanos são limitados demais para perceber. A crença de
Spinoza em uma só substância fez dele um “monista”.
Spinoza também era “determinista”, pois acreditava que tudo
que acontecia no mundo fazia parte de um plano divino. Isso
parecia negar a possibilidade de liberdade no sistema de Spinoza.
Mas ele discordava, argumentando que o único jeito de ser livre é
aceitar o que se é. Spinoza acreditava que conhecer a si próprio é
parte do caminho para entender Deus. Isso faz sentido nos termos
do sistema de Spinoza, porque se Deus está em tudo e em todo
lugar cada pessoa é uma parte de Deus. Spinoza disse que quanto

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mais as pessoas compreendessem seu relacionamento com o resto
do mundo, mais livres se sentiriam. A conscientização de que não
há casualidade é libertadora porque livra as pessoas de serem
governadas por suas emoções. Para Spinoza, não era “razoável”
sentir raiva se alguém o magoa. Isso não faria sentido. Não mudaria
nada. Uma pessoa que tenha a clara compreensão do mundo
(portanto, de Deus) aceita tudo o que acontecer.
Para Spinoza, as pessoas mais felizes são aquelas que
colocam Deus em primeiro lugar — não um Deus que existe como
ser elevado, mas a soma total de tudo e todos no cosmos. Assim,
Spinoza acreditava ter inventado uma forma perfeitamente racional
de ética. As pessoas que agem de modo generoso são felizes
porque com certeza estão conduzindo uma boa vida.

GOTTFRIED LEIBNIZ (1646—1716)

O alemão Leibniz foi o último grande filósofo racionalista.


Diferentemente de Spinoza, que pensava haver apenas uma
substância, Leibniz acreditava que o universo é feito de um número
infinito de substâncias, sendo cada uma única. Ele chamou essas
substâncias de “mônadas” e argumentou que cada mônada refletia
tudo o mais no universo.

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E possível imaginar o que Leibniz queria dizer imaginando um
globo espelhado. Se você olhar um globo espelhado, verá seu
reflexo e o que está no espaço ao seu redor. Entretanto, em vez de
apenas refletir o espaço imediatamente ao redor, as mônadas de
Leibniz refletem todo o universo. Isso significa que, no mundo, tudo
está conectado, ou interrelacionado. Em vez de pensar o mundo
como uma complexa confusão de espaço, tempo e matéria, Leibniz
introduz a ideia de que cada momento e lugar estão conectados a
outros. Nenhuma mônada está desconectada.
Entretanto, Leibniz também argumentou que as mônadas não
agem umas sobre as outras, e sim que cada uma segue seu
caminho desde o início. Segundo Leibniz, tudo o que existe e
acontece, o faz por causa de uma razão. Não haver uma razão,
pensou, seria irracional. Essa foi a pedra fundamental do sistema
de pensamento de Leibniz. Assim como muitos filósofos antes dele,
Leibniz investigou a causa de “tudo o que é” em Deus. Foi Deus
que colocou em movimento uma miríade de mônadas, que fizeram
a realidade, e cada mônada carrega dentro de si tudo o que existirá.
Leibniz chamou essa ideia de que tudo é antecipadamente
programado por Deus de “harmonia pré-estabelecida”. Afirmava que
este mundo é apenas um de um número infinito de mundos
possíveis. Mas, por Deus ter escolhido fazê-lo existir, é lógico que
deve ser o melhor de todos os mundos possíveis. Isso porque se
Deus é um ser perfeito, ele nunca teria escolhido nada que não
fosse o melhor.

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EMPIRISMO

Empirismo é o oposto de racionalismo. Os empíricos


acreditam que o verdadeiro conhecimento do mundo é obtido
através dos sentidos, e não através da razão. Esses filósofos
argumentam que temos ideias apenas porque temos
percepções. Todo conhecimento é baseado na experiência.

JOHN LOCKE (1632-1704)

LOCKE discordou do racionalismo de Descartes e não tinha


nenhuma inclinação para utilizar a religião como base de seu
pensamento, como Descartes havia feito.

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Seu livro mais importante de filosofia chama-se “Um ensaio
sobre o entendimento humano”. Neste livro, Locke tentou
demonstrar como as pessoas adquirem conhecimento. Ele
descreveu os filósofos como “auxiliares” dos cientistas, porque uma
das tarefas do filósofo era tirar os obstáculos do caminho que leva à
obtenção do conhecimento.
O primeiro desafio de Locke no livro é se as pessoas já
nascem com ideias ou se as adquirem por meio de experiências.
Ele se decidiu cuidadosamente pela experiência. Segundo Locke, a
mente de um recém-nascido é uma lousa vazia. A partir de então,
sua mente é bombardeada com um fluxo de informações obtidas
pelos sentidos. Locke chama essas primeiras impressões do mundo
de “ideias sensoriais”, que devem incluir a experiência da cor
vermelha e do peso de uma maçã. Estas são ideias “simples”, que
não podem ser analisadas. Para quem não entende o vermelho, ele
pode ser apenas mostrado, não explicado. Ideias simples são a
base de todo o conhecimento. Em uma primeira instância, essas
ideias são recebidas passivamente pela mente, que então reflete
sobre elas. A mente se torna ativa quando começa a combiná-las
em ideias “complexas”. Por exemplo, um unicórnio é uma
combinação de ideias simples. Locke chamou esse tipo de ideia de
“complexa” porque elas não têm base na realidade percebida pelos
sentidos.
Locke foi desafiado por aqueles que disseram que sua teoria
não fez nada para explicar se a realidade é real ou se é apenas um
conjunto de ideias causado pelos sentidos. Ele tentou responder
isso fazendo uma distinção entre as qualidades primárias e
secundárias das coisas. Argumentou que todas as coisas do mundo
exterior têm qualidades que são parte da coisa em si e que não

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podem ser separadas. Por exemplo, se fecharmos todos os nossos
sentidos para uma laranja, sem sentir seu cheiro, seu gosto, ver sua
cor ou sua forma, a laranja ainda terá forma, peso e densidade.
Locke chamou essas qualidades de “primárias”. A cor, o gosto e o
cheiro da laranja são as qualidades “secundárias”. Locke disse que
as qualidades secundárias são produzidas na mente em resposta
ao estímulo de nossos sentidos. Dessa forma, acreditou ter provado
que há um mundo externo real e que a existência das coisas não
depende de nossa percepção.
Locke então se deparou com a questão de se esse mundo
objetivo de coisas é tudo o que há. Ele reconheceu que deve haver
um “algo” mais básico — e admitiu que não havia encontrado
nenhuma pista sobre o que seria.

DAVID HUME (1711-1776)

HUME usou um método de duas pontas para testar a verdade


sobre a realidade, comumente chamado de “forquilha” de Hume.
Em uma ponta da forquilha estão todas as verdades que são
conclusões lógicas do raciocínio. Entre elas estão todos os cálculos
matemáticos (como 3+2=5) e verdades auto-evidentes (como a
afirmação: todas as mulheres são fêmeas). Hume concluiu que a

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razão, portanto, nos revela muito pouco do mundo. Na outra ponta
da forquilha estão o que Hume chamou “matérias de fato”. Essas
são todas as coisas que aprendemos sobre o mundo através da
experiência direta. Assim como Locke, era opinião de Hume que
todo o conhecimento útil sobre o mundo vem do que
experimentamos através dos sentidos.
Hume usou essa abordagem de duas pontas para examinar
todas as idéias possíveis de realidade, na busca pela verdade. Ele
achava que sua forquilha atingia muito pouco do que responderia
qualquer das grandes perguntas da filosofia, como “Existe um
Deus?”. Quando Hume aplicou seu método a essa questão,
concluiu que o conceito de Deus não poderia estar ligado à
experiência direta. Portanto a existência de Deus não poderia ser
provada nem contestada.

Hume disse que as pessoas conseguiriam ter certeza de


muito pouco. Seu método o levou a ser cético em relação a tudo o
que falhasse em seu teste — mesmo que previamente aceito pelas
leis da natureza. Por exemplo, ele argumentou que não podíamos
estar certos de nossa crença em causa e efeito. Seu exemplo mais
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famoso é o de uma bola de bilhar batendo em outra, fazendo-a
mover-se. Pode-se observar diretamente que um evento segue o
outro e também uma bola batendo na outra. Mas não se pode
observar a “causa”, ou a relação necessária entre os dois
acontecimentos, apesar de se experimentar a seqüência muitas
vezes. Ele disse que nós esperamos que uma bola se mova se
outra bater nela, mas tal não significa necessariamente que isso
sempre acontecerá. Da mesma forma, Rume questionou a lei da
gravidade. Disse que esperamos que um objeto caia se for solto
porque sempre observamos que é isso o que acontece. Ele afirmou
que as leis da natureza são, na verdade, apenas expectativas
introduzidas em nossa mente, que então projetamos no mundo.
Essas expectativas são construídas por nossas experiências
anteriores do mundo. Se amanhã soltarmos um vidro e ele não cair,
nossa crença na gravidade será destruída. A questão de Hume era
que a experiência passada não garante a experiência futura. Ele
quis permanecer aberto à natureza da realidade, motivo por que
adotou uma abordagem tão cética.

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Outra ideia que desafiou Hume foi a de se podemos saber
quem somos. De acordo com seu método, não pode haver nada
como o “eu”, no sentido de uma identidade constante e imutável.
Sempre que tentou olhar a si mesmo, encontrou-se em um
processo de sentir alguma coisa, seja calor, frio, felicidade ou raiva.
No auge, acreditou ser um “feixe de percepções” que mudavam
constantemente. Em outras palavras, além de duvidar que
permanecia a mesma pessoa ao longo da vida, ele também duvidou
que fosse a mesma pessoa de um momento ao outro! Hume disse
que apenas a cegueira da familiaridade evita que as pessoas se
dêem conta disso.
Hume discordou da ideia de que a moralidade é uma questão
de razão. Para ele, são nossos sentimentos que nos dão o senso
de o que é certo e errado. A compaixão nos motiva a ajudar os
outros ou a colocar as necessidades alheias acima das nossas. Ele
argumentou que não podemos deduzir o que é bom ou ruim a partir
de fatos sobre o mundo. O julgamento vem de dentro, através da
reflexão sobre nossos sentimentos e da empatia. Isso conta para o
fato de as pessoas terem diferentes valores morais. Hume apontou
que seria mais “razoável” tomar decisões frias ou agir com egoísmo.
Ele disse: “Não é contrário à razão preferir a destruição de todo o
mundo a sofrer um arranhão em meu dedo.”

IMMANUEL KANT (1724-1804)

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KANT era um racionalista, pois nunca questionava o poder da
razão para deduzir verdades além da experiência humana, até se
deparar com o empirismo de David Hume. Kant escreveu que Hume
o acordou de seu “sono dogmático”. Entretanto, Kant não se tornou
um empírico. Em vez disso, escolheu o que era importante em cada
escola e sintetizou tudo em uma filosofia. Isso ficou conhecido como
a “Síntese de Kant”.
Kant achava o ceticismo de Rume desafiador. Hume havia
concluído que o conhecimento além da experiência humana é
impossível e que a experiência podia revelar muito pouco de certo
às pessoas. Kant queria encontrar um jeito de sair desse terrível
impasse. Começou tentando descobrir as capacidades do
pensamento humano. O resultado foi o livro “Crítica da razão pura”.
Suas conclusões reviraram as afirmações de Rume de que a
gravidade e outras “leis naturais” são meramente expectativas
causadas pela repetição das experiências. Kant argumentou que
essas leis são parte da construção, ou estrutura, da própria mente
humana. Em outras palavras, as pessoas já são préprogramadas ao
nascer com um conjunto de regras para estruturar sua experiência
do mundo exterior.
28
Kant também se interessou pela ética. Ele discutiu as
afirmações de Hume de que certo e errado são julgamentos
pessoais baseados na experiência. Kant acreditou que poderia
elaborar um caminho racional para distinguir as ações boas das
más. Ele argumentou que uma ação seria errada se o resultado de
todos a praticando causasse um problema universal. Por exemplo,
ele considerava errado mentir. Kant argumentou que se todos
mentissem, ninguém poderia confiar na palavra de ninguém, e o
resultado seria desastroso. Da mesma forma, uma ação é correta
se sua prática generalizada traz benefícios para todos.

KARL POPPER (1902-1994)

POPPER queria solucionar o problema que Hume deixou para


a filosofia. Rume afirmou que, quando pensamos estar observando
uma lei da natureza, na realidade estamos apenas projetando
nossas expectativas no mundo. Ele argumentou que nossa
experiência do passado não garante o que experimentaremos no
futuro.
Popper se deu conta de que a conclusão cética de Hume pôs
em dúvida todo o método científico. Hume estava colocando a
credibilidade científica em leis naturais como a gravidade no mesmo
nível da conclusão de que “todas as vacas são marrons” (em um
contexto em que ninguém nunca tivesse visto uma vaca que não
fosse marrom). O objetivo de Popper era tentar restaurar a fé na
ciência.
Popper concordava com Hume que a ciência não pode ser
matéria de certezas, ou ter verdades inquestionáveis. Mas
discordava que isso a tornasse inútil. Através de seu método de

29
“falseamento”, Popper mostrou ser possível verificar se algumas
colocações científicas são erradas. Em oposição, as não-ciências,
como a astrologia, não podem ser verificadas, não se pode provar
se estão certas ou erradas. Mas a cada vez que a ciência é
refutada, chega mais perto da certeza. Por exemplo, se achamos,
por experiência própria, que todas as vacas são marrons e vemos
uma vaca branca, então acrescentamos a nosso conhecimento
outras cores de que as vacas podem ser. Em outras palavras,
estamos nos aproximando mais da verdade sobre a cor das vacas.

OS PRAGMÁTICOS

O pragmatismo é uma visão prática da filosofia. Os


pragmáticos julgam a verdade de uma ideia em relação à sua
utilidade na vida real. Esta escola foi o primeiro grande
movimento filosófico originado na América do Norte.

CHARLES SANDERS PEIRCE (1839—1914)

PEIRCE inventou o termo “pragmatismo”. Com ele, queria


designar um método que esclarecesse o relacionamento entre
pensamento e ação. Segundo Peirce, as ideias que não têm valor
concreto na experiência do dia-a-dia são sem significado.

WILLIAM JAMES (1842—1910)

JAMES foi influenciado por Peirce. Ele apurou o pragmatismo


a partir de uma teoria geral de significado para uma filosofia simples
e prática. Ele acreditava que a veracidade de uma ideia repousa em
seu valor prático, significando que é verdadeiro se for útil. O

30
pragmatismo de James era subjetivo no sentido de que ele
reconhecia que a mesma ideia poderia ser útil para uma pessoa e
não para outra. Embora admirasse a forma como James reformulou
sua teoria abstrata em uma filosofia completamente desenvolvida,
Peirce tentou separar sua teoria original, renomeando-a pragmati-ci-
smo. E disse que essa palavra era “feia o suficiente para ficar a
salvo de raptores”.

JOHN DEWEY (1859-1952)

As principais influências sobre Dewey foram William James e


o naturalista Charles Darwin — que publicou sua teoria da evolução
no ano em que Dewey nasceu. O trabalho de Darwin fez Dewey ver
a consciência como parte da natureza, em vez de uma faculdade à
parte. Dewey via a mente como uma ferramenta para resolver
problemas, que se adapta continuamente ao meio ambiente da
mesma forma que os seres desenvolvem diferentes características.
Dewey acreditava que à medida que os organismos se tornam
mais complexos, o mesmo acontece com sua capacidade de lidar
com o meio. Em primeiro lugar há o comportamento instintivo.
Depois, os hábitos se desenvolvem. Quando estes deixam de lidar
propriamente com as situações, o organismo desenvolve a
habilidade de raciocinar, ou pensar no que fazer. Dewey sustentou
que todos os pensamentos são apenas ideias para a ação. Dessa
forma um organismo adquire conhecimento sobre o mundo.

31
OS FENOMENOLOGISTAS

A fenomenologia estuda como as coisas são


apresentadas ou representadas. Os fenomenologistas tentam ir
além da aparência, ou superfície sensível, para revelar a
natureza da consciência em si.

EDMUND HUSSERL (1859-1938)

HUSSERL foi o fundador da fenomenologia. Ele quis abolir as


teorias sobre a realidade e restaurar a certeza na filosofia. Seu
método era descrever exatamente como a realidade se apresenta à
consciência. Ele quis transformar a filosofia em uma ciência precisa.
Acreditava que sem isso as ciências tradicionais não teriam uma
base firme e nunca poderiam ter certeza do que estavam fazendo.
A filosofia de Husserl começa com o que ele chamou de “ponto de
vista natural”, o mundo cotidiano experimentado por cada indivíduo.
Seu método é realizar uma “redução fenomenológica” dessa
experiência. Isso leva a ignorar todas as suposições pessoais,
filosóficas e até científicas previamente adquiridas sobre uma coisa
e então examinar o que restou. O objetivo é revelar exatamente
como a mente funciona. Husserl acreditava que é possível
retroceder e realizar uma redução fenomenológica da consciência
em si. Ele chamou essa consciência “pura”, que seria capaz de
observar a consciência “cotidiana” trabalhando, de “ego
transcendental”. Isso poderia ser o começo de todo o
conhecimento.

32
Apenas uma pequena parte do que Husserl escreveu foi
publicada. A maioria de seus textos permanece em um arquivo na
Bélgica.

MARTIN HEIDEGGER (1889—1976)

HEIDEGGER foi o aluno mais famoso de Husserl e trabalhou


como seu assistente. O principal interesse de Heidegger era a
existência (ou “ser”) em si, baseado na questão fundamental
filosófica: “Por que há algo em vez de não haver nada?”. Em seu
trabalho mais famoso, “O ser e o tempo”, Heidegger usa o método
da redução fenomenológica de Husserl para descrever a existência
humana. Entretanto, a versão de Heidegger da fenomenologia não
separa o mundo exterior da consciência humana individual. Ele
achava que não podemos nos separar do mundo. Em primeiro lugar
somos todos “seres-no-mundo”. Heidegger inventou uma porção de
palavras compostas, porque julgou a linguagem limitada demais
para descrever a espécie humana. Heidegger identificou “cuidado”
como a característica que separa a humanidade do resto da
existência. Com isso ele quis se referir ao interesse ativo que as
pessoas demonstram por tudo o que percebem, como família,
animais de estimação, política, história e o futuro.

MAURICE MERLEAU-PONTY (1908—1961)

MERLEAU-PONTY emprestou muitas ideias de Husserl. Sua


objeção básica à fenomenologia de Husserl era que estava
baseada na experiência mental em vez de na corporal. Em seu
primeiro grande livro, “A fenomenologia da percepção”, Merleau-
Ponty argumentou que a maneira como usamos nosso corpo

33
determina como experimentamos o mundo. Assim como Kant, ele
acreditava que todas as nossas ideias vêm de impressões
sensoriais que são moldadas por certas regras de entendimento.
Mas ele discordou que essas regras fossem puramente mentais.
Acreditava que o entendimento é moldado por regras do corpo.
Neste livro, ele demonstrou como as pessoas cujo corpo foi lesado
ou debilitado experimentam o mundo diferentemente.

OS EXISTENCIALISTAS

Os existencialistas acreditam que não há ordem no


universo e não há objetivos certos ou errados. Os indivíduos
são livres para criar sua própria vida de acordo com as
escolhas que fizerem, e devem ser responsáveis por suas
ações.

SØREN KIERKEGAARD (1813—1855)

KIERKEGAARD é visto por muitos como o pai do


existencialismo, por seu ataque à opinião de Hegel de que os
indivíduos são menos importantes que seu contexto histórico. Este
filósofo dinamarquês rejeitou o sistema hegeliano de um processo
aberto que deixou às pessoas pouco ou nenhum livre arbítrio. Ele
acreditava que as pessoas são livres para escolher sua experiência,
e que é moralmente errado esquivar-se dessa responsabilidade. Ele
incitou as pessoas a serem honestas consigo mesmas ao fazerem
escolhas de vida, que ele via como extensões da fé.

JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980)

34
SARTRE estudou fenomenologia com Husserl e também foi
influenciado pelas ideias de Heidegger. Sartre levou a
fenomenologia ao existencialismo. Heidegger mencionara pessoas
“inautênticas”, referindo-se àqueles que se recusam a aceitar a
responsabilidade pela própria existência. Heidegger achava que
encarar a certeza fatal, ou inquestionável, da morte obriga as
pessoas a valorizar sua existência e a fazer algo para sua vida.
Para Sartre, os verdadeiros existencialistas são pessoas
“autênticas”, que encaram a realidade de frente e assumem o
controle de sua vida. A habilidade de escolher e agir é a base da
liberdade humana. Sartre rejeitou a ideia de uma autoridade
externa, como Deus ou razão cósmica, para guiar as pessoas. Ele
via isso como uma ilusão criada para confortar mentes
desesperadas. Aceitar a responsabilidade pelas próprias escolhas
pode trazer muita ansiedade ao momento de decisão. Para Sartre
esse era o preço da liberdade.
Sartre explorou suas ideias em “O ser e o nada”, seu livro
mais famoso. O título reflete dois modos de existência que ele
identificou no mundo. Uma coisa que existe apenas por “estar” lá,
como uma pedra, existe “em si”. Em oposição, a consciência é
“nada”. Ela existe “por si” e é capaz de se envolver com o mundo.
As pessoas, em sua maioria, vivem como se fossem pedras na
praia, incapazes de mudar a si ou ao mundo ao seu redor. Os
existencialistas desafiam os limites dessa situação vivendo “por eles
mesmos”.

35
OS FEMINISTAS

Os feministas acreditam que a sociedade está baseada


em uma divisão desigual entre homens e mulheres. A “primeira
onda” feminista se dedicou à igualdade entre os sexos. A
“segunda onda” feminista se interessou mais pelo que é
especial para as mulheres terem sua importância reconhecida
e valorizada.

SIMONE DE BEAUVOIR (1908-1996)

O livro de Simone de Beauvoir, “O segundo sexo” (1949), deu


início à segunda onda feminista. O livro mostra como os homens
são vistos como normais, e as mulheres, como o “outro” ou o
“segundo” sexo. Simone de Beauvoir considerou que essa visão
sobre as mulheres domina todos os aspectos da sociedade e
influencia como são tratadas e como tratam a si mesmas. Ela disse
que “Ninguém nasce, mas se torna, uma mulher”. Simone de
Beauvoir quis expor a máscara masculina que a filosofia ocidental
havia vestido ao longo dos séculos.

36
OS PÓS-MODERNOS

O pós-modernismo é um movimento filosófico


relativamente recente. Recebeu esse nome porque começou
como uma reação contra a idade “moderna” da filosofia,
iniciada com Descartes. Descartes abriu caminho para os
sistemas que pretendiam descobrir as verdades fixas e
absolutas sobre o universo. A opinião dos pós-modernos é que
a filosofia está zombando de si mesma. O pós-modernismo é
uma escola aberta e existem diferentes opiniões sobre quais
filósofos pertencem a ela.

HERÁCLITO (536-470 a. C)

HERÁCLITO viveu há mais de dois mil anos, mas suas ideias


são tidas hoje como verdadeiramente “pós-modernas”. Isso porque
ele acreditava que a única coisa que permanece constante no
universo é que tudo muda. Portanto, Heráclito foi o primeiro filósofo
ocidental a sugerir que nunca podemos ter conhecimentos que
durem para sempre.

FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900)

NIETZSCHE rejeitou a idéia de uma verdade superior. Ele


disse: “O mundo aparente é o único mundo: o ‘mundo real’ é mera
mentira”. Ele concordava com a visão de Heráclito de que o mundo
está mudando constantemente. Para Nietzsche há apenas fluxo e
caos, que podem ser criativamente forçados à forma de desejo
individual. Ele acreditava que todas as aspirações ao conhecimento
são mentiras baseadas em auto-decepções. E ainda que a

37
linguagem é uma das maiores de todas as decepções. Nietzsche
alertou para o quão limitadas ou distorcidas as palavras podem ser.
Por exemplo, a referência a coisas no plural ou no coletivo, como
árvores, matas, flores, buquês, casas, bairros e assim por diante
promove semelhanças e elimina diferenças. Nietzsche achava que
as opiniões que temos sobre o mundo são apenas artifícios úteis
para lidarmos com a vida. Entretanto, ele pensava que acreditar que
toda ação tem uma causa leva à falsa crença em um eu superior.
Ele disse: “Um pensamento vem quando ele quer, não quando eu
quero”.

LUDWIG WITTGENSTEIN (1889-1951)

É o trabalho do Wittgenstein maduro que pode ser visto como


pós-moderno. O jovem pensou ter encontrado certeza e precisão na
linguagem. Quando velho, Wittgenstein discordou intensamente de
seu eu anterior. O Wittgenstein velho afirmou que todo o significado
da linguagem depende de como as palavras são usadas. Ele falou
sobre “jogos de linguagem”, isto é, que a linguagem tem certas
regras de uso como qualquer jogo. Disse que quando as regras são
38
quebradas “a linguagem sai de férias”. Wittgenstein gostava muito
dos livros infantis “Alice no país das maravilhas” e “Através do
espelho”. Eles contêm muitos exemplos de como o sentido pode ser
invertido quando as regras da linguagem são quebradas. Por
exemplo, uma promessa de “geléia qualquer outro dia” nunca é
cumprida porque nunca será “qualquer outro dia”. Segundo
Wittgenstein, qualquer busca filosófica pelo conhecimento da
verdade absoluta não tem sentido, é um exemplo perfeito para a
“linguagem de férias”.

THOMAS KUHN (1922-1996)

Kuhn foi o primeiro filósofo a questionar se existem verdades


fixas na ciência. Ele argumentou que a verdade que os cientistas
descobrem é relativa apenas aos tempos em que vivem. Kuhn
declarou que os cientistas não podem escapar de seu
condicionamento histórico. O pensamento deles é limitado pelo total
do conhecimento disponível. Esse condicionamento histórico é
semelhante às lentes de Kant. É inevitável que os cientistas só
vejam a realidade sob uma certa perspectiva. Às vezes uma grande
descoberta altera essa perspectiva (é o que Kuhn chamou
“mudança de paradigma”). Porém as velhas lentes da ciência são
apenas trocadas. Isso não significa que a ciência chegou mais perto
da verdade.

39
MICHEL FOUCAULT (1926-1984)

Foucault acreditava que nossa opinião sobre o passado muda


de uma época para outra. O jeito como pensamos sobre a história
nunca é neutro ou despreocupado. Foucault enfatizou o papel
central que o poder exerce em nossa compreensão sobre o
passado. O velho ditado “a história é escrita pelos vencedores”
significa que os que estão no poder fazem ouvir apenas a sua
versão sobre os acontecimentos. O trabalho de Foucault mostra
que não há continuidade na história. As regras que estruturam a
sociedade e governam a vida das pessoas estão em constante
mudança. E aqueles que determinam as regras são os que detêm o
poder.
Foucault também se interessou pelo “micropoder”, o poder
que opera em uma escala muito menor. Ele mostrou como as
autoridades de prisões, escolas e hospitais exercem o poder sobre
os “internos” por meio de um sistema de regras: os que
desobedecem as regras são punidos. Das investigações sobre o
passado, Foucault obteve pouca esperança no futuro, dado que os
avanços tecnológicos oferecem temíveis possibilidades de mal uso
do poder.

40
JACQUES DERRIDA (1930-2004)

As ideias de Derrida, em muitos aspectos, são semelhantes


às de Wittgenstein. Derrida concorda que o sentido das palavras
depende de como são faladas ou escritas. Ele acredita que o modo
como entendemos a nós mesmos e a nossa linguagem muda com o
tempo: nada é fixo.
Uma palavra-chave para Derrida é “diferença”. Ele sustenta
que tudo difere de tudo. Por exemplo, uma determinada palavra em
um livro tem um significado diferente neste livro e em outro. E em
qualquer livro, uma palavra tem significados diferentes nos
diferentes capítulos.
Derrida argumenta que os filósofos que clamam ter
descoberto verdades fixas e absolutas sobre o mundo não estão
conscientes dos engodos que a linguagem prega em seus próprios
escritos. Derrida escreveu sobre esses filósofos, e “desconstruiu”

41
suas afirmações para descobrir esses engodos. O
desconstrucionismo tornou-se um movimento popular além da
filosofia, que influencia arquitetos e até estilistas de moda.

A TEORIA CONTRATUALISTA

Três grandes pensadores modernos marcaram a reflexão sobre a questão política:


Hobbes, Locke e Rousseau. Um ponto comum perpassa o pensamento desses três
filósofos a respeito da política: a idéia de que a origem do Estado está no contrato
social. Parte-se do princípio de que o Estado foi constituído a partir de um contrato
firmado entre as pessoas. Aqui entende-se o contrato como um acordo, consenso, não
como um documento registrado em cartório. Além disso, a preocupação não é
estabelecer um momento histórico (data) sobre a origem do Estado. A idéia é defender
que o Estado se originou de um consenso das pessoas em torno de alguns elementos
essenciais para garantir a existência social. Porém, existem algumas divergências entre
eles, que veremos a seguir:

Hobbes (1588-1679)acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do


próprio homem. Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o
seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se necessário
existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para que o estado de
guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do homem seja dominado.
Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar os "instintos de lobo" que
existem no ser humano e, assim, garantir a preservação da vida das pessoas. Para que
isso aconteça, é necessário que o soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os
cidadãos devem transferir o seu poder ao governante, que irá agir como soberano
absoluto a fim de manter a ordem.

Locke (1632-1704)parte do princípio de que o Estado existe não porque o homem é


o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do
julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos
livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a
fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar
o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da
assembléia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da
tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a idéia de um poder
inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a
monarquia).

Rousseau (1712-1778)considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a


sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo
o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O
governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação
para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de
um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individual para
garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento
político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A

42
democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A
democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a
população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.

Os filósofos pré-socráticos.

Na história da filosofia, os filósofos pré-


socráticos também são conhecidos como filósofos
da natureza ou físicos. O termo pré-socrático na
Filosofia relaciona-se a ideia de que tais filósofos
viveram antes de Sócrates, e indica uma tendência
de pensamento voltada para a compreensão do
mundo a partir da observação e do uso da razão.
Eles desenvolveram teorias que apresentavam
diferentes respostas para a mesma pergunta: Qual a
origem do mundo, do universo, da natureza, da
vida?

43
O termo pré-socráticos é uma indicação cronológica,
pois a maioria dos filósofos da natureza viveram
antes de Sócrates (retratado acima).

Os quatro elementos que para Empédocles


constituía a essência de todos as coisas.
Os filósofos

44
Tales, Anaximandro, Pitágoras, Parmênides, Zenão,
Heráclito, Demócrito, Empédocles são alguns
nomes, entre muitos filósofos que inauguraram o
pensamento filosófico no Ocidente. A filosofia
nascente se caracterizava pela busca de explicações
capazes de satisfazer a mente humana de modo
alternativo as explicações que a mitologia grega
oferecia para o funcionamento da realidade e o
surgimento da vida.

Esquema extraído do blog: conhecimentoedireitodetodos.blogspot.com

Contexto histórico
Os filósofos pré-socráticos impulsionaram o
surgimento da filosofia na Grécia antiga, mais
precisamente, nas colônias gregas na Ásia menor e
região da Itália. Eles se dividiam em escolas de
pensamento: Escola Jônica, Escola Itálica, Escola
Eleática, Escola Atomística; de acordo com o local e
problemas discutidos por seus pensadores. Viveram
entre os séculos VII e V a.C.
Aula abaixo, trata dos principais filósofos pré-
socráticos e suas teorias.
45
Filosofia de ARISTOTELES

Aristóteles nasceu em 384 a.C. em Estagira (Macedônia) e morreu no ano 322


a.C. em Cálcis (Eubéia). Aristóteles foi discípulo de Platão, mas seguiu o
próprio caminho, com uma filosofia bem diferente do mestre. Quanto ao
método de exposição da filosofia, enquanto Platão utilizara os diálogos,
Aristóteles foi um sistematizador. Embora ele também tenha escrito diálogos, o
que chegou até nós foi apenas uma parte das suas obras produzidas em forma
descritiva e ordenada. Aristóteles sistematizou todo o conhecimento filosófico e
científico produzido até sua época. Sua vida: Aristóteles foi preceptor de
Alexandre Magno, na corte de Pela, e isso facilitou suas pesquisas pois,
quando Alexandre expandiu o império Macedônico, o filósofo teve mais acesso
às informações sobre formas de governo e sobre o mundo natural (do qual
Aristóteles fez uma das primeiras classificações conhecidas). Quando
Alexandre sobe ao trono na Macedônia, Aristóteles deixa a corte de Pela e
volta para Atenas, onde funda sua própria escola de filosofia, próxima ao
templo de Apolo Liceano (por isso passa a se chamar Liceu), seguindo uma
orientação que rivaliza com a Academia de Platão que, nesse tempo, é dirigida
por Xenócrates. A Academia era mais voltada para as Matemáticas e Filosofia,
enquanto o Liceu se dedicava principalmente às Ciências Naturais. Sua
principal Obra: Metafísica/Órganon: A obra de Aristóteles – corpus aristotelicum
foi organizada por Andrônico de Rodes, que dirigiu o Liceu no século I a.C. Na

46
sua Metafísica, Aristóteles ensina sobre o Ente, que é tudo aquilo que é, que
tem Ser. É a noção mais abrangente de todas. Aristóteles cria a teoria das
quatro causas do ser: material, formal, eficiente e final. Para Aristóteles, a
permanência e o movimento necessitam dessa teoria para que possam ser
explicados: a teoria das causas do Ser.

Há causas que são:


a) Intrínsecas (estáticas – explicam o ser)
1. Material: responde à pergunta do que é feita alguma coisa.
2. Formal: responde à pergunta como uma coisa é feita? É o ato ou perfeição
pelo qual uma coisa é o que é. Pode-se chamar também de essência.
b) Extrínsecas (dinâmicas – explicam o vir a ser ou devir)
1. Eficiente: responde à pergunta quem fez? Trata-se do agente ou princípio do
qual resulta a coisa.
2. Final: responde à pergunta para que é feita? Trata-se do objetivo que move
o agente a atuar sobre tal coisa.
Por exemplo: uma mesa feita de madeira (causa material), com um lugar para
colocar os livros (causa formal), feita pelo marceneiro (causa eficiente) para
servir ao estudo dos alunos (causa final).
Inteligência Divina na filosofia de Aristóteles: atração do ser. Para Aristóteles,
há uma substância supra-sensível que é a Inteligência Divina (1º motor imóvel
– ato puro) que pensa a si mesma e atua como Causa Final (por atração) e não
como causa eficiente (pois, segundo ele, o Universo sempre teria existido).
Lema de Aristóteles: "O homem que não precisa da sociedade, ou é um Deus
ou uma besta".
Local original do texto

Biografia
Aristóteles nasceu no ano de 385 a.C. em Estagiros, cidadezinha da Trácia
fundada por colonos gregos no lugar onde hoje se situa Stavro, na costa
setentrional do mar Egeu.
Era ainda muito jovem quando morreu seu pai, Nicômaco, médico bastante
famoso, neto de Esculápio. Um amigo da família, Próxeno, que morava em
Estagiros, se encarregou de sua educação.
Aos dezessete anos, foi para Atenas prosseguir seus estudos. Em 367, quando
Platão retorna da Sicília e retoma seu magistério na Academia, Aristóteles
aparece como um de seus alunos mais assíduos e se distingue por seu ardor e
pela excepcional inteligência.
Depois de alguns anos de estudo, rompe subitamente com Platão, mas sem
cessar de testemunhar-lhe respeito e continuando a conservar do mestre uma
grata lembrança. Permanece, no entanto, em Atenas até 347; presume-se que
teria fundado uma escola retórica que lhe valeu grande reputação.
De 347 a 342, Aristóteles deixa Atenas. Torna-se como que um embaixador
oficioso junto a Filipe, que acaba de subir ao trono da Macedônia e é quase
seu amigo. Mais tarde o encontramos junto com outros alunos de Platão, como
Xenócrates, na Eólida, junto a Hérmias, tirano de Atárnea, que seguiu seus
cursos em Atenas e está contente por tê-lo junto a si. Permanece na corte do
tirano até a morte de Hérmias, que será estrangulado pelos persas.
Hérmias deixa uma filha e uma sobrinha. Aristóteles casa-se com a sobrinha.
Não se sentindo em segurança em Atárnea, parte para Mitilene, onde
permanece até 342.
47
Vai então à Macedônia, onde o chamava Filipe para lhe confiar a educação de
seu filho Alexandre, de treze anos. O filósofo esforça-se por desenvolver nele
as qualidades de moderação e de razão que lhe parecem essenciais para a
conduta de um soberano. Alexandre sente por seu mestre um grande apego,
que conservará até quando suceder a seu pai.
Todavia, Alexandre parte em conquista da Ásia em 335, e Aristóteles considera
que seu papel terminou. Deixa Alexandre e retorna a Atenas.
O ensino de Platão na Academia tem seqüência com Xenócrates.
Aristóteles, então, abre uma escola perto do templo de Apolo Lício, donde o
nome de escola do Liceu que lhe foi dado. Aristóteles expõe suas idéias
enquanto passeia com seus discípulos, e é por isso que são chamados
peripatéticos, do grego nFpínaTov, que significa " lugar de passeio".
O ensino de Aristóteles compreende duas séries de aulas: de manhã, trata das
questões puramente teóricas, no ensino exotérico reservado aos iniciados.
À tarde, Aristóteles se dirige a um público mais amplo: as questões tratadas
são mais acessíveis. A retórica ocupa um lugar importante; é o ensino
exotérico. Durante doze anos, prossegue suas aulas, não sem publicar
numerosas obras que abordam todos os domínios do saber humano.
Com a morte de Alexandre, em 323, os partidários da Macedônia vêem-se
ameaçados de morte e de perda dos bens pelo partido nacional ateniense,
dirigido por Demóstenes. Aristóteles, pró-macedônio, é acusado. Sem aguardar
o julgamento que deve condená-lo, deixa Atenas e vai para Cálcis, na ilha de
Eubéia.
Morre ali um ano depois, em 322, aos 63 anos. Deixa dois filhos, uma menina,
Pítia, com o nome de sua mulher, e um menino, Nicômaco, com o nome de seu
pai.
Diógenes Laércio conta que Aristóteles era um pouco gago, muito magro de
pernas, tinha olhos pequenos e gostava de belas roupas. As gravuras mais
antigas representam-no com uma longa barba ondulada, um nariz muito
arqueado e um bigode pendente.
Local original do texto:
RECORTE do arquivo A Política - Aristóteles -.-www.LivrosGratis.net-.-.pdf disponível para
download

A concepção aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas


análises dos conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e
potência, com implicações metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e
potência relacionam-se com o movimento enquanto que a matéria e forma com
a ausência de movimento.

Para Aristóteles, os objetos caíam para se localizarem corretamente de acordo


com a natureza: o éter, acima de tudo; logo abaixo, o fogo; depois a água e,
por último, a terra.

Aristóteles (384 – 322 a.C.), cuja influência ao longo da história ocidental seria
notável.
Para Aristóteles, a Terra estaria imóvel, era esférica e se localizava no centro
do universo; os movimentos celestiais dependiam de 55 esferas móveis.

O fato de a Terra ser esférica foi deduzido por ele em fatos como o
desaparecimento dos navios no horizonte ou a alteração das estrelas quando

48
alguém se movia para o norte ou para o sul.
Embora não conhecesse a experimentação sistemática, Aristóteles fez várias
experiências e observações que aperfeiçoaram enormemente o conhecimento
disponível na Antigüidade.

Sua visão de mundo foi assimilada em grande parte pelo Ocidente até o século
XVII.

Para Aristóteles, utilizando uma idéia concebida no século V a.C., por


Empédocles, os corpos eram formados por quatro elementos básicos: ar, terra,
fogo e água. Esses elementos tinham propriedades como a idéia de a Terra ser
absolutamente pesada e o fogo absolutamente leve; ar e água ocupavam
posições intermediárias.

O lugar natural do elemento terra era o centro da Terra, por sua vez o centro
geométrico do universo.
Dessa forma, o movimento natural das substâncias terrestres era cair
diretamente para o centro da Terra, dado o seu peso, assim como o movimento
natural do fogo era subir para seu lugar natural no céu.

O lugar natural da água era acima da terra; o do ar, acima da água, mas abaixo
do fogo. A posição natural dos corpos pesados era o centro do universo, que
se localizava no centro da Terra.
Evidentemente, Aristóteles não tinha conhecimento da noção de gravidade
quando expunha essas idéias, mas amarrava de forma bastante lógica
observações disponíveis.

Para Aristóteles, a Terra é um mundo imperfeito, corruptível e sujeito a


contínuas e profundas modificações. E mais, tudo tem um propósito intrínseco,
ou seja, um menino cresce por que esse é seu propósito, da mesma forma que
uma pedra cai porque a Terra é seu lugar natural, é lá que deve permanecer,
fixa no centro do Universo. O céu, por outro lado, é o lugar da perfeição, diante
da harmonia que Aristóteles podia perceber. A diferenciação entre Céu e Terra
também exigia que esses dois mundos fossem feitos de materiais diferentes. A
Terra era composta pelos quatro elementos de Empédocles, mas o Céu,
perfeito, era composto pelo quinto elemento, puro, inalterável, transparente e
sem peso, chamado éter.
Com isso Aristóteles conseguia explicar por que na terra as coisas cresciam e
morriam e no céu os astros eram sempre os mesmos. Outra característica do
Universo descrito por Aristóteles era a finitude e esfericidade, com a terra
colocada imóvel no centro. O vácuo (ausência de matéria) não poderia existir.
Local original do texto

FILÓSOFO E CIENTISTA
Querida Sofia! Certamente você ficou impressionada com a
teoria das idéias, de Platão. E você não é a primeira. Não sei
se você aceitou tudo sem maiores problemas, ou se tem algum
comentário critico a fazer. Mas se você fez criticas á teoria de
Platão, saiba que estas mesmas críticas já foram feitas por
Aristóteles (384-322aC.). Durante vinte anos ele foi aluno da
Academia de Platão.

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Aristóteles não nasceu em Atenas. Ele era natural da
Macedônia e veio para a Academia quando Platão tinha
sessenta e um anos. Seu pai era um médico de renome; um
cientista da natureza, portanto. Este pano de fundo já diz
alguma coisa sobre o projeto filosófico de Aristóteles. Seu
maior interesse estava justamente na natureza viva. Ele não
foi apenas o ultimo grande filósofo grego foi também o
primeiro grande biólogo da Europa.
Exagerando um pouco, podemos dizer que Platão estava
mergulhado nas formas eternas, no mundo das "ideias", que
não registrou as mudanças da natureza. Aristóteles, ao
contrário, interessava-se justamente pelas mudanças, por
aquilo que hoje chamamos de processos naturais.
Exagerando mais ainda, podemos dizer que Platão se apartou
do mundo dos sentidos e que só percebia muito
superficialmente tudo aquilo que vemos ao nosso redor. (É
que ele queria escapar da caverna para espiar o eterno
mundo das idéias!) Aristóteles fez exatamente o contrário: ele
saiu ao encontro da natureza e estudou peixes e rãs,
anêmonas e papoulas.
Você bem poderia dizer que enquanto Platão usou apenas
razão, Aristóteles - ao contrario - usou também seus sentidos.
Mas há nítidas diferenças entre eles, até mesmo na forma de
escrever. Enquanto Platão era poeta e criador de mitos, os
escritos de Aristóteles são sóbrios e pormenorizados como os
verbete uma enciclopédia. Em compensação, muito do que ele
escreveu estava baseado em estudos naturais realizados com
extrema diligencia.
Registros da Antiguidade dão conta de não menos que cento e
setenta títulos assinados por Aristóteles. Destes, quarenta e
sete chegaram ate nossos dias. Não se tratava de livros
completos. A maior parte dos escritos de Aristóteles compõe-
se de apontamentos feitos para suas aulas. Também na época
de Aristóteles, a filosofia era essencialmente uma atividade
oral.
A importância de Aristóteles para a cultura européia esta
também no fato de ele ter criado uma linguagem técnica
usada ainda hoje pelas mais diversas ciências. Ele foi o
grande sistematizador, o homem que fundou e ordenou as
várias ciências.
Como Aristóteles escreveu sobre todas as ciências, vou me
limitar a tratar aqui sobre algumas das áreas mais
importantes.
E como me detive tanto em Platão, quero falar a você
primeiramente sobre os argumentos de Aristóteles contra a
teoria das idéias de Platão. Na seqüência, veremos como ele
formulou sua própria filosofia natural. Afinal, Aristóteles
resumiu o que os filósofos naturais haviam dito antes dele.
Veremos também como ele tenta colocar ordem em nossos
conceitos e funda a lógica como ciência. Por fim, vou falar um

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pouco sobre a visão que Aristóteles tinha do homem e da
sociedade.
Se você aceita este roteiro, então só nos resta arregaçar as
mangas e começar.

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