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TSBN 85 08) rte de bem exprimir o pensamento te em saber ordenar as idéies. Ordem que di clareze a toda comunicacgo. E como se ordenam as idéias? Fazendo a previstio do que se vai expor Da reflexéa, passa-se ao plano. Elaborar 0 plano € fixar a ordem do desenvolvimento da exposicao, uma vez que o plano nfo é outra coisa Sendo previsto. Dispor as ideias de maneira que se tornem um instrumento eficaz para 0 expositor. 0 plano € um itinerdrio a seguir — um ponto de partida onde se indica o que se quer dizer, € um outro de chegada, onde se conclu Entre os dois, hé as etapas, isto 6, as partes da composi¢ao. Cumprir o plano é, em altima anélise, estabelecer as divisées Edivaldo Boaventura é professor titular da Universidade Federal da Bahia Areas deinteresse do- volume Comunic Direito « Linguist Outras creas da série Administraga0 * Antropologia Artes Ciéncias + Civilizagdo + Economia * Educactic Enfermagem « Estética * Farmacia * Filosofia Geografia ¢ Histéria + Literatura * Medicina Odontologia « Politica * Psicologia « Sade Sociologia 7988 PandroS Kdivaldo Boaventura, | ORDENAR AS IDEIAS @ Diregzo Benjamin Abdala Junior Samira Youssef Campedeli Preparagio de texto ‘Mario Teaeu Brugs projto grticemmiolo Antonie do Amaral Rocha 8 ‘Avy Normanha. Antonio Ubiralara Domiencio ISBN 85 08 02898 9 1990 Todos 08 aieitos reservados Editors Atica $8. ~ Rua BarBo de iguapo, 110 ‘Tol: (PABN) 2786922 — Calva Postal B66 End. Tolegrtico "Bomlio" — S40 Paulo Sumario 1. Introdugéo 2.0 antincio do tema Refletir antes de anunciar ‘A fungio da introdugao Os requisitos da introdusao Exemplo de introdugio 3. 0 desenvolvimento por partes ‘A decomposi2o como condicéo da compreensio— ‘Aproximagio do plano definitive ‘A quantidade das partes Tipos de divisdes vitandos Busea do equilforio Exemplo de divisao por partes 4.0 resumo marcante Brevidade na conclusto Marear para plantar Janela para 0 futuro Exemplo de conclusdo Plano completo do exemplo 5. Epllogo 6. Vocabulario critico 7. Bibliografia comentada S86G8 6 S8BRRRR Saos ss 23 8 ...conduir por ordem os meus penso- ‘mentos, comecando pelos mais simples @ mais féceis de conhecer, para subir, (POUe0 @ pouco, como por degra. Descartes Introducdo A arte de bem exprimir 0 pensamento consiste em sa- ber ordenar as idéias. Ordem que di clareza a toda comu- nicagzo. E como se ordenam as idias? Fazendo a previsto do ue se vai expor. Da reflexio, passa-se ao plano. Elaborar o plano € fi- xara ordem do desenvolvimento da exposigo, uma vez que ‘le ndo € outra coisa sendo previsio. Dispor as idias de me neira que se tornem um instrumento eficaz para o expositor. plano ¢ 0 itinerdrio a seguir: “um ponto de partida”, on- de se indica 0 que se quer dizer, e “‘um outro de chegada”, onde se conciui. Entre os dois, hé as etapas, isto 6, “as par- tes” da composi¢io. Construr 0 plano é, em tkima analise, estabelecer as divisdes ( segredo de toda arte de exprimir consiste, para Jean Guitton, em dizer a mesma coisa trés ver Pertindo dal, eu ensinava aos meus alunos que o sepredo de {eda aarie do so axprossar consiste em der a mesma coisa Inés vezes. Anunciase; desenvolves, inalmente, resumes ‘9m poucas palavas. Em segulde, passa-se a una outta iia. E mous alunos daquela época tansformaram estas regras nu ma eanote: Dizse 0 que se tem a dizer Jase cisse Dizse 0 que [¢ fol ito. ‘O tema € de todos, mas o plano é de cada um. E a con- tuibuigdo pessoal. Dizia um aluno, expressando o que havia de seu, em trabalho escolar: ““— Professor, de meu, nessa, Prova, s6 existe o esquema””. Assim 0 verdadeiro plano, trabalho original. Ninguém, como os franceses, soube estabelecer a8 re- gras para ordenar o pensamento. Descartes ensina: "(..) con- dduzir por ordem os meus pensamentos, comegando pelos mais simples ¢ mais fdceis de conhecer, para subir, pouco a pou- 0, como por degraus (...)" ‘André Maurois indaga se existem métodos que permi tam ao homem conduzir seus pensamentos de tal mancira que seus atos, em sua continuidade, encontrem caminho fécil entre 0s seres € as coisas. Essa reflexto sobre a arte de exprimir ‘em ordem os pensamentos nasceu na Franca. E uma questéo de método. Mas, para que ordenar as idéias? Todo aquele que tem algo para dizer deve saber es- ‘quematizé-lo. Plano para tudo, pois “tudo depende do pla- no”, segundo Goethe. E dbvio que, em todo trabalho a ser feito, um plano & necessério. O arquiteto faz a planta antes de construir a ca- sa; O empresdrio projeta a industria que vai instalar. O Es- tado programa a aplicario dos recursos. E, se os bens s80 ‘escassos ¢ as necessidades ilimitadas, traga-se um plano de ‘escolha. De igual sorte, deve-se antever, refletida e metodo- logicamente, 0 que se vai comunicar. ‘O plano é tl quer em razdio da comunicago, quer por motivo pedagogico. Quanto & comunicacio, & possivel demonstrar que, pe- lo plano, o pensamento pode ser expresso com sistema, com maior eficdcia, Sem estabelecer um plano sobre o que s¢ vai 2 cscrever, as dfculdades depressa comesam a surgr. Sem pla- no, hd 6 risco de se perder sem se aprofundar em nenhum aspecto ¢ pode-se acabar por fazer um trabalho superficial. ‘A propésito, eis a primeira recomendagdo: 0 plano traz lareza & exposigao. A utilidade do plano & inconteste, so- ‘bretudo para certo tipo de comunicasdo, como a prova, a pre- legdo, 2 aula, o discurso, a conferéncia, a relat6rio, o artigo. Se ha um tema para tratar, como arrumar as idéias? Percebe- “se a vantagem do plano, ao esquematizar uma tese ‘Que dizer no inicio @ no fim do diseurso? E do que se tratard a seguir: pensar nos pressupostos e nas quesides pré- vias que ajudam a ordenar © pensamento. Primeiro pensar, para depois expressar. A auséncia do plano implica repeti a0. E quem a suporta? ‘O motivo pedagésico esté no hibito de disciplinar a men- te, Da disciplina, ao comunicar para 0 ordenamento do espi- Fito, vai-se, pouco a pouco, aprendendo a disposiedo Iogica das coisas. Dizem os franceses: “um lugar para cada coisa ¢ cada coisa em seu lugar". Nao estaria no exercicio cont rnuo de arrumar 0 pensamento uma das explicardes da reco- nhecida clareza do espirito francés? O pensar claro, por partes, € a inevitével contribuigdo de sua inteligéncia a0 mundo. ‘Como ordenar as idéias? Em que se fundamenta esta ma- neira de arranjar 0 assunto antes de comunicé-lo? ‘Aaarte de exprimic consiste em estabelecer as indicagdes para a elaboracdo do plano. Elaborar o plano ¢ ter a exposi- ‘edo mentalmente pronta, sem a haver sequer, materialmen- te, iniclado, Feito o plano, esté pronta a estrutura; falta 0 recheio. Elaborar o plano ¢ simplesmente prever 0 que sera comunicado. Acrescente-se que construir 0 plano ¢ encon- tar as combinagdes e ligagdes naturais do tema. E preciso ‘buscar as partes do conjunto, como Mozart procurava as no- tas que se amavam: ‘“Eu procuro as notas que se amam"" Laboriosa e pequena agonia & fazer e refazer 0 esquema: » risca-se; anota-se; rasgam-se folhas de papel até alcangar “o onto da possibilidade’’, de que falava Retz Refletindo acerca da previsiio do que se vai anunciar, ‘observam-se pontos que precisam ser definidos logo no ini- cio, outros que devem aparecer no corpo da exposigio ¢ al- sguma coisa, finalmente, deve ser dita para concluir. Tudo estard harménico e perfeito se houver introdus2o, desenvol- vimento do corpo do assunto ¢ conclusio. ‘Antes de tudo, convencer-se da necessidade de dizer 0 que se vai expor. Em primeiro lugar, anunciar o assunto. E 8 introdusdo; 0 seu papel é colocar o tema. ‘Uma vez prometido, desenvolver o tema por partes. A reflexdo inicial forneceu 0s aspectos principais e, a0 se mar neles, deve-se construir as partes da comunicacao. Por titimo, que haja a preocupacto em deixar alguma coisa de tudo o que se disse. Saber marcar. Resumir em pou- cas palavras, em um s6 traco. E a conclusdo. Em tr@s partes sera exposto como se ordenam as idéias ‘ow se organiza um texto. E, também, a aplicacdo do plano em exemplos, como fez. Leon Fletcher. Formato do plano da exposiedo 1. Introdugao — 0 antincio do tema. 2. Corpo da exposicio — 0 desenvolvimento por partes 3. Conclusto — 0 resumo marcante. 2 O anincio do tema ‘Anuncia-se o assunto na introdugfo. Ao se receber uma visita, a primeira coisa € abrir-the a porta. Da mesma forma, nna exposicdo € preciso abrir 0 assunto. ‘A introdugdo encerra, implicitamente, toda a exposicdo, ‘dando idéia de como sera desenvolvida. Para tal, ela precisa, ‘conter certa dose de entusiasmo. Nao ha por que se precipi- tar de chofre sobre o assunto. Carece incitar, previamente, ‘© auditério, Acender os flashes principais da exposigio, pres- tando aten¢ao para o ponto de partida. Preparar-se para a ‘marcha inicial. Nao se comega viagem sem se saber 0 desti- xno; fazem-se provisdes € previsdes; avisam-se 05 amigos ¢ hoieis ‘A introduso ¢ 0 espaco onde se anuncia, se colocs, se promete, se desperta... Introduzir & convidar. Mas para que se possa pensar “0 que vou dizer” & preciso haver refletido sobre o assunto, pois anunciar pressupde reflexto prévia. Ci bem apropriado a causa. E to do slscurso ‘ue ele encante logo ® ganne os ouvines. 2 Refletir antes de anunciar ‘Como liberar 0 potencial de idéias? Antes detudo, éne- cessirio compreender plenamente assunto, a partir do enn- ciado. Para tanto, aplicar todo o espitito em descobrir 0 alcance, implicagdes e limites do tema central. Entranhar-se rele ¢ possuiro seu sentido até que ele se torne absolutamen- teclaro. Dirigir a exposicdo, como os sinais de trénsito orien- tam os motoristas. Saber reservar essa parcela de tempo para © trabalho inteiramente mental, mesmo antes de expressar qualquer palavra ou denotar qualquer ponto. E uma santa vagabundagem mental, o penoso caminho de ida a fonte pes- soal, Deve ser um suspense. Desligar-se de tudo e concentrar- -se, inteiramente, no tema. Entregar-se ao assunto. E a con- versio que antecede a expresso. A busca das idéias ¢ seme- Inante ao trabalho do mineiro que extrai o carvo nas galerias. Feita esta escavagdo mental, esperar que os pensamentos aflo- rem: eles vém como chuva, ora de vez, ora aos pings. Con- ‘tudo, chegam sempre desordenados. Apari-los, recolhé-los, Juntd-los ¢ anoté-los tal como surgem é "‘a arte de inventa- tiar o capital de nogOes tteis que trazemos sempre, implici- tamente, em n6s mesmos", afirma Ducassé. “Antes de ‘serever, aprenda a pensar”, jé dizia Boileau. Nessa busca interior da mente, proceder a colheita ede- ‘ois escolha. Hid o que reter, 0 que aprofundar eo que aban- donar... Ha idéias principais © secundérias. As que centralizam e as que ilustram o assunto. O estudante deve fixar-se em tomo daquelas que podem fazer girar 0 tema cen- tral. As idéias principais sero as vigns da futura comunica- ‘0; elas sio os embrides das partes da composiséo. Dai Porque so poucas, duas ou trés, no méximo. Uma casa 6 ccoberta por vérias telhas, mas as vigas de suporte sf poucas ¢ fortes. Do recolhimento & seleeo, vai surgindo a ordem: via real, do simples ao complexo, do conhecido ao desconheci- a do..., segundo Jean Guitton. © assunto vai sendo arruma- do. O encadcamento dos pensamentos engendra o plano, que serd tdo pessoal quanto for o esforeo interior eto auténtico quanto for o atrito mental. O atrto é a condigao do nasci- ‘mento, Do interruptor que se liga, vem a luz. Da mente que reflete, que correlaciona, surge 0 plano — pequena centetha da criagdo. A fungiio da introducéo “Autores os mais diversos salientam © papel da introdu- 40 quando aconselham a dedicar-Ihe parte da leitura, por- ‘que nela se encontra resummido o pensamento que orientou ‘© escritor, bem assim os propésitos que o levaram a fazer 0 livro, idéias prineipais etc. ‘Os receptares, ouvintes€ letores carecem de algo que hes dé o sentido geral do tema. Nao esquecer que se esta num mundo de multiplas solictagdes ¢ atengSes que, de repente, convergem para 0 autor, para 0 que esté dizendo ou esere- vendo. E preciso faciltar a entrada, a intercomunicasio, elu- cidando 0 que se vai dizer, sem subterfigios. A fase prel ‘em toda redaglo € a de elucidasao do assunto proposto, diz Ducassé, elucidasdo que prepara o despertar ea escolha. Por iss0 cabe & introdugdo “abordar o problema pelo seu obje- to”. Eo padre Lebret quem sentencia: “Nada, a ndo ser a submissdo a0 objeto” ‘Antes de precisar os requisitos da introdugdo, indicar- -se-4 como aprender a arranjar as idéias ea conceber um mo- do de ordené-las. Repetindo, com Descartes, como “formar” este método? (4d com que formel um métode, pelo qual me parece, tenho rielos de aumentr,gradualments, ormeu conhecimento ede “ ‘lever, pouco a pouca, a0 mals alto ponto a que « medioodd ‘dedo mou espitoe acurta duragte de minnavida ne permit Fo chegar. 0 proprio Descartes que fala. Para quem procura sis- tematizar a experiéncia, extraindo 0 que a vida vai generali- zando, quem busca ordenar a sua razdo ha de considerar que as questdes de método so as mais importantes. Ha um afo- rismo de Nietzsche que niio deve ser esquecido: “As verda- des mais preciosas so aquelas que se descobrem em iltimo lugar; as verdades mais preciosas sio métodos”. AA pessoa ird sempre se deparar na vida com situagdes em que seré imperioso pensar, ordenadamente, antes de fa lar ou escrever. E, muitas vezes, nfo saberi como fazé-lo, nem tampouco ter4 conhecimento de que existe uma manei- ra sistematica de arrumar as idéias. Ao fazer o primeiro con- curso, por exemplo, o candidato pensa pouco antes de compor. Elabora um esquema simplista e primério, pois preocupa-se mais com o conteddo do que com a maneira de expor. Avs pouces, vai-se aprendendo, no laboratério pes- soal, que antes de escrever ¢ preciso pensar longamente, an- tevendo tudo. Se uma prova dura seis horas, gasta-se mais dde uma em refletir. Remexer a mente. Concentrartotalmen- te 0 espirito. Anotar 0 que vier & cabera. Ao cabo de algum tempo, sintetizar ¢ reunir tudo em partes. Bis o que & tentar fazer planos sem perceber que ha um método para isso. Fa- zer planos sem saber, & semelhanca do eélebre personage dde Molitre, Monsieur Jourdan: ‘era como M. Jourdan, es- ctevia prosa sem 0 saber” Havia um seminério, na Universidade de Paris, para en- sinar estudantes estrangeiros a fazer o plano da prova. O pro- fessor dava 0 tema para reflexdo e para se tracar o plano. Expunha-se em aula e discutia-se; com esse ensaio de acerto- -etro ia-se aprendendo. Nao é fécil encontrar material escri~ to sobre o assunto, pois a sstematizaco do pensamento algo inerente ao proprio espirito francés, dai a dificuldade. No caso brasileiro, existe um liveo que ensine a jogar futebol? Apos algumas reflexdes, va-se 208 poucos desentravando dos ‘ros 0 material procurado. 0s francesessdo mestres no ofico da arte de pensar © do cultivo do raciocini, Nese ministri, o leitor pode se deixar guar por Descartes, no clssico Discurso sobre o mé- todo, tendo, pelo menos, & segunda parte, para sprender a ntreterse com os seus proprio pensamentos, Além de Des- cates, denar-se acoltar pelos modernos;enre eles, Seri- langes, em cuja obra, A vide intelectual, 0 interessado aprenderé as condigdes eo: métodos de elexdo; Jean Guit- ton, em 0 rrebaiho intelectual, aconselha 208 que pretendem cscrever a pensar, a colocar ef ordem notase sugestées¢ a {tacaro plano de trabalho intelectual, E como obra de ini- slasio, para se tornar um afegoado ou um espevaista do pensamento, vejase um trecho de Arce de viver, de André Maurois: “(..) assim como se regula hoje a circulagdo dos ‘culos, os homens tentam regular a circalacio das palavras. Eo que ehamaram, mais tarde, de lopia"™ Todo aquele que meditasentird a neessidade de conhe- clmentos menos centifics talvez, porém bem mais profun- dos. E 0 no se contentar com a altura relativa dos muros da cinci, € buscar imperiosa cinvitaelmenteo que ext além dees, Sf os limites sem fim da meditaglo eda perqu- risdo.E 0 descobrimente das categorias do pensamento... E O despertar lossfico, Mounier, expresando, talve, seme- Thante atiude, considera que a flosofia “(..) deka de ser uma igdo qe se aprende, como era costume na Escoléstica decadente, para ser uma meditago pessoal, ea cada um € pedido au, por sua conta, a refaca” Fol assim que nasceu esta reflex. O convite incl pa- ra refletie sobre as condiées prévas da comunicasko veio a0 encontro de um intenso deseo de transmit esta experia- cin de ordenagio do texto e da fala ra ‘Como se faz, entdo, uma boa introducio? Quais os re- ‘quisitos? Sao 08 elementos de uma futura teria do ansincio, Os requisitos da introducio ara bem elucidar 0 assunto, ha determinados requisi- tos a preencher que dao vida e brilho a quem expde ¢ in- teressam a quem escuta. B possivel iniciar sem definir 0 as- sunto? Sem situd-lo no contexto? Sem despertar a atengio? ‘Sem indicar 0s pontos principais? ‘Um professor, ao comentar os planos dos alunos, dis se: “Na introdugiio, define-se a questio, mostrando-se 0 ob- jeto, situando-se 0 problema, despertando o interesse © decompondo os elementos". Nesta frase estfo os elementos bésicos da introducdo. ‘Anuncia-se o assunto da seguinte manera: primeiramen- te define-se a questdo e depois indica-se 0 caminho a seguir. Esses dois requisitos — definigdo e indicago — sfo impres- cindiveis a qualquer introdugao. ‘Todavia, quando o tema comportar referéncia hist6ri- ca ou houver necessidade de situé-lo no seu contexto, far-se- 4 isto logo na introduszo, COutrossim, quem comunica, sobretudo oralmente, de- ‘ve demonstrar a importincia ou o interesse pritico do assun- to, E recomendével que o fara, também, na introdusdo; assim, atraird ¢ comprometerd a atengdo desde o inicio. Ha, portanto, dois requisitos essenciais — definiedo ¢ indieagdo — ¢ dois acidentais — situagdo e motivagdo, ‘A primeira preocupario de quem expde ¢ dar, de ime- diato, a idéia do assunto. Ao pronunciar as primeiras pala- ‘ras ow ao escrever as primeiras linhas, deve-se definir a ‘questo, uma vez que oleitor ou o ouvinte quer saber do que se trata. n Para que a idéia geral possa ser entendida, precisa ser expressa de mancira exata, dal a necessidade de se definir © objeto da exposicao. A idéia deve estar clara na mente para que possa ser oferecida aos receptores. Escolher 0s ter- ‘mos que a encerram, pois ‘‘a primeira pancada € que mata a cobra’”. Um professor que trabalhava com esta técnica aconselhava “dar uma idéia geral, encerrando 0 assunto principal” ‘Ao definir-se, delimita-s. Dentre os muitos aspectos por que se pode tratar 0 assunto, escolhem-se alguns ¢ circunscreve-se af o dmbito da exposi¢do. O tema central é o guia. E forgoso saber escolher o que se prende a ele e saber desprezar 0 que dele se afasta. A delimitacdo do assunto ‘tomna-se necesséria sobretudo nas introdugdes de teses, pois de suma importancia apontar os limites do trabalho. Quem Pesquisa investiga apenas poucas hipSteses. Convém seguir ‘a sibia ligdo de Capitant: ‘a introdugdo deve conter todas ‘as nogGes nevessérias para poder entrar, em seguida, sem di ficuldade, no coragdo do assunto”. essencial & fornecer a idéia precisa e delimitada; en- ‘etanto, quando o assunto comportar referencia de ordem histérica, o que € sempre possivel, torna-se aconselhével ccolocé-la no inicio. E importante saber situar 0 assunto na histéria, na pai- sagem geogréfica ou na discuss4o tedrica, sem se esquecer de que 0 tema ocupa lugar na dimensfo espacial ou temporal. ‘A trajetoriahistérica &colocada apenas porque ela for- ‘neve luz para 0 desenvolvimento global do tema. Atencio pa- ra as longas introdugbes histéricas. Nao olvidar que “a historia justifica o que se quer”, segundo Paul Valéry. O que interessa & 0 estudo sistemitico do tema. Evidente que, se a ‘composigao ¢ de natureza historia, toda ela seré realizada dentro desse ponto de vista, como se Verd no capitulo seguinte. ‘Se o tema ¢ controvertido, que se faca, com brevidade, uum apanhado das diseussdes. Escolhido o assunto, deve-se saber colocd-lo. Nada vi- ve isolado, tudo tem o seu ambiente, 'A motivagéo do tema é de capital importancia, mor- ‘mente nas comunicagdes orais, havendo o empenho de de- ‘monstrar a importincia do assunto ou o seu interesse prdtico. Na introdugdo, hd muito de convite. Cabe atrair a aten- ‘glo desde 0 comero, colocando-se uma pitada de tentagao para induzir a leitura ov a audigdo. A introdusso deve ser ‘como a isca que se mostra fascinante para atrair e pegar. Se- duzir os receptores no ponto de partida, para viajarem jun- ‘os em toda a exposieao. Para prender é preciso despertar. E despertar sobretudo uma impressio favordvel Como despertar 0 interesse? “Nao diga que questo al- ‘guma é mais capital ou mais apaixonante; € banal ...). Mos- tte, a fim de que se ligue ao seu desenvolvimento, que 0 assunto merece ser examinado". E uma prudente recomen-

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