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2 MECANISMOS NEUROTICOS O Nascimento da Neurose A probabilidade de sobrevivéncia fisica do individuo €é quase nula, se ele for deixado inteiramente por conta propria. O homem necessita dos outros para sobreviver fisicamente. Suas probabilidades de sobrevivéncia fisiol6- gica e emocional séo ainda menores se for deixado sd. No nivel psicoldgico, 0 homem necessita de contato com ou- tros seres humanos, assim como, no nivel fisiolégico, ne- cessita de comida e bebida. O sentido de relacdo com 0 grupo lhe é tao natural quanto seu sentido de relagao com qualquer dos seus impulsos fisioldgicos de sobrevi- vencia. De fato, este sentido de identificacio é provavel- mente seu impulso mais primitivo de sobrevivéncia psico- légica. ‘A abordagem gestaltica, que considera 0 individuo uma funcéo do campo organismo/meio e que considera seu comportamento como um reflexo de sua ligacao dentro deste campo, dé coeréncia & concepcao do homem tanto. como individuo quanto como ser social. AS ‘psicologias mais antigas-descreviam a vida humana como um conflito cons- tante entre o individuo e seu meio. Por outro lado, nds 0 ‘vemos como uma interacao entre os dois, dentro da es- trutura de um campo constantemente mutdvel. E, uma vez que o campo esta mudando_con! tantemente, devido & sua propria natureza e a0 que fazemos, suas formas e técnicas de interagéo devem ser, elas mesmas, necessa- riamente fluidas e mutaveis. O que nos interessa como psicdlogos e psicoterapeutas, neste campo em perpétua mudanga, sio Os grupos sempre Scanned with CamScanner ‘A ABORDAGEM GESTALTICA 40 tes a ar constants dividuo $e torr ao € que surge a neurose. ipulagao @, inter lizado num modo. de—atua ino estl ore ir 20. encontro de qua ett iz previvencia, inclusive d esidades de sobre oa cous ale a ‘extenso numero de pt sociais. E Y soladas que encontramos a nossa volta 6 y iaéncia de que esta incapacidade pode aes ate ‘Se encararmos 0 homem em seu meio a 0 quanto como ser social, como parte do aero melO} nao podemos jogar a culpa dest: ‘ pate no individuo nem no meio. No primeiro aac sobre o velho problema corpo/mente, que nao pode haver uma relacéo causal entre os l que constituem o todo. E, desde que o individuo séo meramente elementos de um Unico todo, o mpre mutante, pois ele | Lit be quiset sobreviver. Qua incapaz de alterar suas gas do outro. Mas ambos estao doentes. Uma sociedade ct por muitos neurdticos tem que ser uma soci tica; das pessoas que vivem numa sociedade ne’ grande numero tem que ser neurctico. O homem viver em contato intimo com sua sociedade, sem se gado por ela nem dela completamente afastado, 6 u mem bem integrado. 5 auto-suficiente, porque com a relacdo entre si e a sociedade, como as partes Parecem compreender, instintivamente, sua a © corpo como um todo. E um homem que reco limites de Contato entre ele e sua Sociedade, que daa © que € de César e fica com suas coisas para si. O da pase ct} € justamente criar tal homem, tica ecco © ideal de uma comunidade d uma comunidade ne ae com as mesmas cari ta determina i Nero hein ate a Sociedade estd em intimo conta SUpo esté clarament’s & ote do é su i = ‘a e claramente sentic Scanned with CamScanner t MECcANIsMos Neuréricos 4 ma que o corpo responde primeiro as necessidades doml- nantes, a sociedade responderia em primeiro lugar suas necessidades dominantes. Se um incéndio ameagasse toda a comunidade, cada um deveria ajudar a extinguir as cha mas e salvar vidas e propriedades. Mas, como 0 corpo hu- mano como um todo luta para preservar a integridade de todos os seus membros quando um esté sendo atacado, assim numa comunidade bem regulada ou auto-regulada, se 0 fogo ameaga apenas uma casa, os vizinhos do pro- prietdrio e, se necessdrio, toda a comunidade, deveriam ajudd-lo a lutar contra o incéndio. Os membros da comu- nidade e seus administradores deveriam se identificar mu- tuamente, e os membros deveriam se identificar entre si. O homem parece nascer com um sentido de equilibrio. Social e psicolégico téo acurado quanto seu sentido de equi- Iibrio fisico. Cada movimento que faz no nivel social ou psicoldgico € dirigido para a descoberta deste equilibrio, de equilibrio estével entre suas necessidades pessoais e aS demandas de sua sociedade. Suas dificuldades emergent nao do desejo de rejeitar tal equilibrio, mas dos movimen- tos extraviados que visavam atingi-lo e manté-lo. Quando estes movimentos o colocam em severo con- flito com a sociedade porque, @ procura do limite de con- tato (o ponto de equilibrio), arriscou-se demais e entrou yudemente em choque com a sociedade, nds 0 chamamos de criminoso. O criminoso 6 0 homem que se apropria de fungdes tradicionalmente definidas como prerrogativas do estado. O homem que usurpa tais fungdes é, em nossa SO- ciedade, um criminoso. Quando, por outro lado, a busca de equilibrio do ho- mem o leva a retirar-se mais e mais, a permitir que & sociedade 0 influencie demais, a subjugd-lo com suas € géncias, ao mesmo tempo a separé-lo do convivio a pressiona-lo e molda-lo passivamente, nds 0 cham neurotico. O neurdtico nao pode ver claramente prias necessidades e, portanto, nao pode satisfa pode distinguir adequadamente entre si e 0 re tende a ver a sociedade como maior que mesmo como menor. O criminoso nao | sidades dos outros — e por isso pisa tpém ele nao pode distinguir ad prio e o resto do mundo. Co! ‘a se ver como maior que @ vid Scanned with CamScanner ‘A ABORDAGEM. GESTALTICA 2 . is distuirbios no eqi oO que permite ee eo? Os socidlogos exa no campo Organ Tomo base 0 meio ambi pergunta tométr’s e psicoterapeutas a eologos, psiqui ue acontece no individuo. curando ver 0 GY Gesequilibrio surge q duo e 0 Ce viveng n e io 0 individuo é incapaz diferentes, are. 0 grupo pode significar a a { © circulo social, companheiros de qualquersou todas as combinacoes de pessoas qu uma relacéo funcional _especifica com um qualquer tempo. O individuo, que € parte deste g yencia a necessidade de contato com ele como primitivos impulsos psicoldgicos de sobrevivénci: sem duvida, nado experimente necessidade tao mente sempre. Mas quando, a0 mesmo tempo, necessidade pessoal, para cuja satisfacaéo ne grupo, podem comegar os problemas. Na situa flito de necessidades, 0 individuo tem que ser tomar uma decisao clara. Se o faz, ou fica em con foge; sacrifica temporariamente a necessidade minante & mais dominante e pronto! Nem ele nen sofrem qualquer conseqliéncia grave. Mas ql poelecemnay) quando nao pode tomar uma sente satisfeito com a decisaio que tomou, um bom contato nem uma boa fi meio ficam afetados, oe Parece haver, em dén Scanned with CamScanner ‘MECANISMos NEUROTICOS 4B } 0 tempo, séio incapazes de satisfazer as necessi- iveis do individuo. Séo, no maximo, formas estée- ressio — que nfo dao nada a César nem a st a bém as pessoas normais parecem sentir uma necessidade de ritual. Se numa ocasiio importante nao houvesse aenhum ritual — nenhum brinde, aperto de maos, discurso, cAntico, nenhuma ceriménia de qualquer tipo — tudo pareceria sem sentido e vazio. O ritual pare- ce dar a tal experiéncia ordem, forma e objetivo. Em termos gestalticos, poderiamos dizer que torna mais evi- dente, faz a figura sobressair mais nitidamente. Todos nés, por exemplo, parecemos sentir a necessidade de algum ritual para lidar com a morte. Mesmo 0 cidad&o menos So- fisticado do mundo acharia chocante se simplesmente em— pacotdssemos nossos caddveres e NOs desembaracassemos: deles. Ao_mesmo tempo em que satisfaz_uma necessidad& ual um valor social. r de Sobrevivencia da vida em grupo. Mantém as pessoas juntas. O jogo, por exemplo, aumenta a coordenacéo de seus participantes e, ao mesmo tempo, aumenta sua capacidade de agir como um todo em defesa de suas necessidades grupais. A magia — que é apenas 2 manipulacéo fantasiosa do meio — serve para assegurar o valor do grupo como jnstrumento para a aduisicfio de obietivos. & usada para pedir o apoio de poderes benéft- cos (aqueles que tém uma catexis positiva) e para destruir poderes temidos (os que tém uma catexis negativa). Seja qual for seu valor para 0 gTUpO, o ritual — e ele é desti- nado a isso — interromperd pelo menos alguns dos pro- cessos espontaneos @ pessoais do individuo no grupo. Uma vez que haja um engajamento no ritual, todas as outras atividades serao- desconsideradas como impuras. A ™ Ra conicenitracaéo, como convém @ uma sidade ; te de sobrevivencia, € pedida e adquirida com sOlenidade ~ : e respeito. Somente uma total participacao de toda a | . sonalidade resultaré naquele sentimento religioso d téncia intensificada, de exaltagao, de int minuicéo do estado de plena consciénci yviduo como do grupo, tanto do si m¢ e da plena conscientizagéo pelo ind Scanned with CamScanner eM GESTALTICA A ABOoRD: 44 . tos s6 6 po tensificagao de sentiment pe total for jninterrupta. Se ha qr ET advinda do meio, ou se oO in em “fantasia __ desaparecem a Signifi a atengat r 1 esta no meio de sua plo, que ‘embros de repente descobre que 2 a ereseidals de sobrevivéncia se intro eae no ato solene. Temos, endo, tes ae lid jndividuo pode se retirar (mas silel 4 » chamar a atengéo), pode reprimir sua ne céla a nao existir temporariamente, ou pode osci atengéo de suas prdéprias necessidades as neces grupo. No tltimo caso tenta manter-se em contato ritual, concedendo-lhe a posicaéo de dominancia, o poderé num conflito traumatico, que pode oco o pavor e a impaciéncia. O sofredor poderia a ceramente seu aperto: “Desejo urinar; gostaria interromper a sesso, mas queremos prosseguir, tamos de ser perturbados, E nao é educado pe outros. Por isso, gostaria de nao precisar urinar, que me controlar. Gostaria que minha bexiga nao comodasse. E realmente um transtorno”. ae Nesta afirmacio aparentemente inocente se @ uma série de confusdes que podem conduzir a neu Quem fala esta, visivelmente, incapaz de distinguir quadamente entre si e seu meio, e seu pronunci contém todos os quatro mecanismos que se nos distirbios de limite que a terapia gestaltica ae aquest tras das neuroses isto nao al Significa que as pile seja declaradamente se no for atitudes que jazem sob o pronunci f em examinadas, se representam um Dp : complete comportamento, podem: 0550 sofredor yon tente neuréticas/, ‘Assim, vamos mecanismos neurdticn ‘iomento e discutir 0 que Poderemos retorn, Ss € como se desenvoly Pode ser 0 model ‘ar a ele e ver como esta situac: Toticos, lo para o desenvolvimento de pa Scanned with CamScanner MEcaNisMos |NEUROTICOS 45 los os disturbios neuréticos surgem da incapaci- dade dQ individuo encontrar e manter o edullibrio ade- te ite. Sua neurose é uma manobra defensiva para protegé-lo contra a ameaga de ser barrado por um mundo esmagador. Tratase de sua técnica mais efetiva para manter 0 equilfbrio e o sentido de auto-regulagao numa situagéo em que sente que as probabilidades estao todas , contra ele. / _Embora admitamos que as neuroses, os disturbios de limites, operam originariamente através de quatro meca- nismos que podem ser diferentes uns dos outros, seria irreal dizer que qualquer tipo particular de comportamen- to neur6tico seja apenas um exemplo da atuagéo de qual- quer um deles sozinho. Também nao seria razodvel dizer que qualquer confusao isolada sobre o limite — qualquer distrbio isolado do equilibrio no campo organismo/meio — produz a neurose ou é evidéncia de um modelo neur6- tico. Para dizer a verdade, ha certas situagGes em que isto ocorre de fato e conduzem ao que os psiquiatras chamam de neuroses traumdticas. As neuroses traumdticas sao eS- sencialmente padrées de defesa que se originam numa tentativa de o individuo se proteger contra uma intromis- s&o completamente apavorante da sociedade ou de choque com o meio. Por exemplo, a crianga de dois anos, cujos pais a trancam num quarto escuro durante a noite, fica submetida a uma tensdo quase insuportavel. Fica reduzida a um nada na verdade, a menos que nada, a um objeto de manipulagéo com nenhum direito ou poder proprios. Nao ha mais “ele”, ha apenas “eles” e 0 que “eles” podem fazer. Para se defender desta situagao, a crianga deve de- senvolver rigidos padroes de comportamento. E estes po- dem persistir muito depois que 0 perigo haja passado. postos em agaéo por um trauma, mas continu: a mesmo quando © trauma deixou de existir. Mas os distirbios de limites ai da maioria das neuroses costuma aue estes. Sdo importunos, no processo de cr Scanned with CamScanner A Avon GEsSTALTICA ramos sustento)e maturidade, Ee Cee essas interferéncias e interry ae mento possam tomar, resultam no desenyo SE eOneL confusio entre o si-mesmo e 0 outro, 46 Introjecao ns crescemos exercitando a capacid ae mesma uma fungao do limite si-n Retiramos algo do meio e The devolvemos. rejeitamos 0 que o meio tem para oferecer, S6 crescer se, no processo de tomar, digerimos mente e assimilamos inteiramente. O que milamos do meio se torna nosso, para fazermos | sejarmos. Podemos reté-lo ou devolvé-lo com ua forma, destilada através de nds. Mas aquilo que traz inteiro, 0 que aceitamos indiscriminadamente, 9 rimos e nao digerimos, 6 um corpo estranho, um que se instala em nos. Nao é parte de nés, embora ; E ainda parte do meio,/ . Fisicamente, este processo de crescimento por Imilacio — pela desestruturagéo e digestio — 6 ff ver. Crescemos e nos mantemos nio através da que engolimos inteira, mas pela comida que n 3 (com 0 que comeca o processo de desestruturacgéo) e timos (0 que dé continuidade ao processo pela d Posterior da comida em particulas quimicas, que 0 Pode usar). A comida fisica, adequadamente d assimilada, torna-se parte de nos — € convertida em 0 musculos e sangue. Mas a comida que engolimos que deitamos garganta abaixo, e mas porque temos que comer, Scanned with CamScanner | ea cohen NEuROTICOs 47 nao do meio, e nao ~ nada no meio para o qual nao ja uma necessidadeorginica, fisica ou psicol6- ae is devem ser digeridas e dominadas, se quiserem se rn nossas de verdade, realmente uma parte da per- le. Mas se simplesmente as aceitamos completa- mente e'sem critica, baseados na palavra de outra pessoa, esto na moda, ou sdo de confianga, ou tradicio- tiquadas ou revolucionérias — tornam-se Ta nds. Séo realmente indigeriveis. Ainda sao corpos est os, embora tenham se instalado em nossas mentes./Tais atitudes nao digeridas, modos de agir, sentir e avaliar, a psicologia chama de introjec6es, e o mecanis- mo pelo qual estes acréscimos estranhos sao anexados & personalidade chamamos de introjecdo/ Nao digo que este processo de engolir algo inteiro nao tenha, ocasionalmente, certa utilidade. O estudante que vira a noite estudando as vésperas de um exame, a fim de obter nota para passar numa matéria muito enfadonha, tem um motivo legitimo para suas acdes. Mas se ele se ilude pensando que realmente aprendeu algo nessa virada, estaré pronto para ter um desagradavel choque quando, seis meses mais tarde, for de novo examinado na mesma matéria. Isto porque entao terd perdido a maior parte do que “aprendeu”. Também nao estou dizendo que o individuo deveria rejeitar qualquer alimento psicoldgico que vem do mundo externo. E tao impossivel dar de comer a alguém psicolo- gicamente como o € fisicamente. Quero dizer que o alimen- to psicoldgico que nos oferece 0 mundo externo — 0 ali- mento de fatos e atitudes sobre o qual se constroem as personalidades — tem que ser assimilado exatamente da mesma forma que nosso alimento real, Tem que ser deses- truturado, analisado, separado e, de novo, reunido sob a forma que nos serd mais valiosa. Se for meramente engo- lido inteiro nao contribui para o desenvolvimento de nossas personalidades. Pelo contrério, nos torna algo se- melhante a uma casa t&o superlotada com coisas de outras pessoas que nao sobra lugar para as coisas do dono. Trans- forma-nos em latas de lixo de informagoes estranhas e ir levantes. E o que torna isto mais tragico 6 0 fato « se esta matéria tivesse que ser temperada, altera formada através de nds, poderia ser- enorme, Scanned with CamScanner é A AporDAGEM GESTALTICA jegdo s&o, pois, dup! fos Per AO nunca ee ir Sees doesS aesenvolver sua propria personali a muito ocupado Saat com 0s COrpos est hos | S seu sistema. }Quanto mais se sobrecartée, SUES menos lugar hé para que expresse o descubra o que 6 de fato.\Em segundo lugar, a contribui para a desintegracao da persona alguém traga inteiros dois conceitos incompatiy se achar tragado em pedagos no processo de cilid-los. E esta 6 uma experiéncia bastante co em dia/ Nossa sociedade, por exemplo, nos ensina fancia dois tipos de atitudes completamente difey aparentemente opostas. Uma é a regra de Ouro, “ outros 0 que queres que te fagam”. O outro é a lei brevivéncia do mais forte, que foi reduzido a di chorro come cachorro”. Se introjetassemos estes dacos de dogmas, terminariamos tentando ser, ao tempo, gentis, simpaticos, despretensiosos, e arbitr mente agressivos. Amariamos nosso prdéximo, N; a u de introjecio. Quem, Ue san 80 = Cle ou eles? Sera que ele rei ee Proprias necessidades so tio des de ean Gok dar sempre preferéncia as geralment! at lando saul sued introjeta diz am”. er dizer “e] Scanned with CamScanner MECANISMos NeuR6TICos 49 Olcontrario de introjegio 6 ai trojecap é a tendéncia a rai Sl eet reese ats que na'realidade faz parte do meio,/a projecio é a tenden. cia a fazer o meio responsdvel pelo que se origina na propria pessoa/Clinicamente, reconhecemos que a doence da paran@ia, que é caracterizada pelo desenvolvimento de um sistema altamente organizado de ilusdes, é 0 caso ex- tremo de projecdo. A parandica tem sido, caso apés caso, a personalidade mais agressiva que, incapaz de suportar @ responsabilidade de seus proprios desejos, sentimentos € vontades, se liga a objetos ou pessoas do meio. Sua con- vicg&o de que esta sendo perseguida é de fato a afirmagao de que gostaria de perseguir outros. Mas a projecdo existe em formas muito menos extre- mas que esta e temos que ser cuidadosos para distinguir entre projegaio, que é um processo patoldgico, e suposigao paseada na observacao, que é normal e saudavel, Planejat e antecipar, escaramugar e manobrar num jogo de xadrez e muitas outras atividades envolvem comportamentos paseados na observacéo e em suposicOes sobre 0 mundo externo. Mas estas suposig6es sao reconhecidas como SUu- posigdes. O jogador de xadrez que pensa em muitas joga- das a frente estd fazendo um grupo de suposigdes sobre os processos mentais de seu opositor, baseado em suas observacées. Esta dizendo, essencialmente: “Se eu fosse ele faria isto.” Mas reconhece que esta fazendo suposigdes que nao necessariamente governarao 0 comportamento de seu opositor, reconhece que estas suposi¢Oes so suas ¢ nao as do outro. Beis Por outro lado, a mulher sexualmente inibida que S¢ queixa de que todos a estao tapeando, ou 0 homem frio, reservado, oy que acusa OS outros de nao serem amigayels — sao exemplos de projecao neurdtica. Nessee casoy/o individuo fez hipdteses baseadas em suas PLOPTES fantasias e falhou em reconhecé-las apenas como bps. ses/Além disso, também recusou reconhecer a origem, suas hipdteses. Também a cr A980 artistica exige Ge comportamento de suposigoes e projecdes ° cista sempre se projeta literariamente em Scanned with CamScanner ‘A AporDAGEM GESTALTICA 50 da um torna-se to escreve sobre cal de abe) nao sofre da eee tes ident ary teriza o neurotico. Sabe quando eq Soronasens entram, embora no ardor da ativir Ben bee temporariamente perder seu senso e se torne alguém diferente. a a neurético nfo usa o mecanismo projecy gens e enq| rio. Tem uma tel Também 0 usa consigo proprio. somente para se desapropriar de seus ern que surgem os impulsos. Da-lhes, como se uma existéncia objetiva fora de si, de modo 3 ponsdveis por seus problemas sem encarar o fato de eles sao partes suas. Em vez de ser um participante de sua propria vida, aquele que projeta se torna um Obj passivo, a vitima das circunstaéncias Z A frase queixosa de nosso cantor sobre sua “Ela € de fato uma praga”, 6 um pequeno exemplo de projecdo. O “ela” levantou sua cabega feia; nosso r logo comigo; tenho que sofrer”, di ele. Estamos testemunhando o nascimento de um de parandia. Pois assim como a resposta & Pergunta_ quem introjeta “quem disse isso?” 6 “eles”, a resposta & declaragao de quem projeta 6 “6 sua bexiga, 6 vocé que quer urinar”. Quando quem projeta usa ele, ela, eles, dizer “eu”, externas, A: om raj ele néo quer Paz, quer ficar ¢ q ar com o grupo e © Scanned with CamScanner MECANISMos NEUuRGTICos nuar\a cantar. Mas a bexiga odiosa e s i BM que vive justamente nele, e que agora EN ecnSnaere) sendo uma introjegéo — um elemento estranho nele intro- duzido| forgosamente contra a vontade — quer que ‘ele urine. Como o introjetor, ele é incapaz de distinguir entre as facetas de sua personalidade total, que sfio realmente suas, e aquelas que lhe so impostas pelo exterior, vée seus introjetos como si préprio e vé as partes de si das quais deverig se livrar como introjegées nao digeridas ou indigeriveis/Projetando, espera se livrar de suas introje- goes imagindrias que, de fato, nao sao de todo introjecoes, e sim aspectos de si mesmo, A personalidade introjetiva, que se tora um campo de batalha para idéias contrdrias nao assimiladas, é acom- panhada pela personalidade projetiva, que faz do mundo o campo de batalha em que devem ser vencidos seus con- flitos intimos. A pessoa super-alerta, supercautelosa, que Ihe diz que quer amigos e quer ser amada, mas di mesmo tempo, que “vocé nao pode confiar em que todos estao a fim de saque: projetiva por exceléncia. St Confluéncia Scanned with CamScanner 52 ‘A ABoRDAGEM GESTALTICA icologicamente,J Nao do mundo, esta doente psicol See teecian a si mesmo porque perdeu todo o tio i io. Fi Bd Caressa em quem a confluéncia é um estado Patolo- gio, nao pode discriminar entre o que ela éeo0 que as. outras pessoas sio/Nao sabe onde ele termina e os outros. Como nao se dé conta da barreira entre ele e os outros, nao pode entrar em bom contato com . Nem pode evitar envolver-se com eles. De fato, nao fazer contato consigo mesmo. \ Somos feitos de milhares de células. Se f6ssemos a confluéncia, seriamos como uma massa gelatinosa e nao haveria possibilidade de qualquer organizacaio. Por outro lado, cada célula esté separada de outra por uma mem- brana permedvel, e esta membrana é o lugar de ct ; de discriminagao, para o que é “aceito” e o que é rejei-_ tado”. SH Entretanto, se as partes que nos compoem, Operam nao somente como partes do ser humano mas também desempenham suas fungGes particulares, reunidas e permanecem juntas Scanned with CamScanner MECANISMos NeuROricos 3 er fazer e de como esta se i is Gnfluéncia patol6gica jaz sob muitas wey toytzet0/ Tal reconhecidas como psicossomiticas, A connie ee gora solugar que mencionamos acima pode levar a ‘ao Tespirar- siste por muito tempo. asma, se per- A confluéncia patoldgica tami qiiéncias sociais, Em cbuflusncla aurea cd conse thanga @ recusa tolerar quaisquer diferen eneontea mos isto freatiientemente em pais que consider os files como meras extensdes de si préprios. Tais pais nao levam em consideragéo que Os filhos tendem a ser diferentes deles em pelo menos alguns aspectos. E se os filhos nao sao confluentes e nao se identificam com as exigéncias de seus pais, encontrar&o rejeigao e alienagio: “Vocé nao é meu filho”, “Nao gosto de uma crianca tao malcriada”. Se os membros das NacGes Unidas apreciassem ou mesmo avaliassem as diferencas entre as nagdes que fazem parte da organizacdo, fariam um bom contato e haverla ‘uma boa oportunidade de resolver os problemas que agora assolam o mundo. Mas enquanto as diferencas nao forem toleradas, enquanto cada nac&o quiser que todas as outras partilhem da sua visdo, ponto por ponto, o conflito e a confusio continuaréo. Enquanto nao se avaliarem as di- ferencas, provavelmente elas serao perseguidas. Para a confluéncia, 0 pedido de total concordancia é como a afir- macio: “Se vocé nao for meu amigo, eu Ihe quebro a cara!” ‘A frase do nosso cantor, “Que quando de fato sao eles que querem cle — ele quer sair e urinar - fluéncia; uma afirmagao de esté em conflut dizer sobre quem. resto do mundo. barreira. Retrofle Scanned with CamScanner ‘A. ABORDAGEM GrEsTALTICA a sb nitida e- mundo, e a esboga divisoria entre es oo tna no meio de si rene in- Sa aTeaTe OS outros nee nous de trojetivo faz aos outros aquilo siete ie teal nao sabe quem projetivo faz em confluencia pai 108 rem, 0 homem ue a quem, e o retroflexor se fa Tn on ure ate eos ento, trata a f Fofleriona um comportam: tras pessoas ou objetos a ginalmente quis tratar a out fora, na tentativa de mani- de drial Sts eer Se ad melo *qeteateae aan Se eee EL vaatcicoNeeal ige sua atividade para necessidades; ao invt oY ugar do meio como alvo de com- dentro e se eles Te ae que faz isto, cinde sua ‘pereta ‘tamento. A mi z 40, ma-se, literal. palidade em aaa ceed mente, seu pior inimigo. jumano pode ir pela vida Obviamente, ‘nenhum aan ae ical zea impulsos. Pelo- motos alguns’ deles ten que eer Sefreadoe staan menos alguns deles eu s destrutivos, com 0 reconheck _ ee See é€ bastante diferente de vol- mento de que sao destrutivos, é atormentada) nol fia e tos ConA ane es ents a maquina de lavar um dia longo e exte: » ‘filho de roupas, em que seu Toupa estragou e rasgou as Pe cinco anos pata oe O nene aee prea visitas com ldpis vermelho, x : consertar o aspirador de Pe eo one e seu ae veio para o jantar com uma ie Nee atl Soe Se sente totalmente homicida, “¢ ental para ela matar o Hine ou o ae pac se ae ° insensato que ela cor asse seu Propric ye : Como se apresenta 0 mecanismo de retroflexao?/eomo a introjecio se apresenta Pelo uso do pronome ae quando 0 significado real é “eles”; como a projegio 4 apresenta pelo uso dos Pronomes “ele”, “ela” ou a quando o verdadeiro Significado 6 “eu”: come) a CO] ; éncia se apresenta pelo uso do pronome “nés”, quanda Significado verdadeiro esta em questao, assim a retrot 5 x40 se apresenta Pelo uso do reflexivo eu mesmo/ O retroflexivo diz “Estou envergonhado de mesmo”, ou “Tenho que me forcar a fazer este t1 Faz uma série duase intermindvel de afi tipo, todas baseadas na surpreendente Scanned with CamScanner MECANISMos NEvROricos 55 ele e ele mesmo sao duas pessoas nosso ean ee me controlar.” A confusao entre 0 si-mesmo e 09 o7 neuroses se mostra também na completa, conga ob, 88 o si-mesmo. Para 0 neurotico o si-mesmo é um anjo ou cee deménio — mas 0 si-mesmo nunca é a propria pessoa, Freud, descrevendo o desenvolvimento da ‘personali- dade, contribui para esta confusdo. Falou sobre oO ego (o “eu”), 0 id (as puls6es organicas) e o superego (a consciéncia) e descreveu a vida psiquica do individuo como um conflito constante entre eles — encerrado num. abraco infinddvel e inquebraével consigo mesmo, 9 homem luta até a morte. O retroflexivo parece estar agindo de acordo com a imagem freudiana do homem. Mas pare- mos, por um momento, para considerar o que é realmente o superego. Se ele nao € parte do si-mesmo, o “eu”, 0 ego deve, por necessidade, ser um amontoado de introjecdes de atitudes néo assimiladas e caminhos impostos ao indivi- duo pelo meio. Freud fala da introjegéo, como parte do processo moral de crescimento; diz, por exemplo, que @ crianca introjeta as imagens “boas” dos pais e as estabe- lece com ego-ideais. O ego entéo também se torna um amontoado de introjegdes. Mas varios estudos da perso- nalidade neurotica nos mostram que o problema surge nao em relacéo & identificagao infantil com pais “bons”, mas em relagao & identificagio com os pais “maus”. De fato, a crianga no introjeta as atitudes e éticas dos pals: “bons”. Ela as assimila. Ela pode nao se dar conta em termos complicados e em jargao psiquidtrico do fazendo, mas esta traduzindo as atitudes que sob 0 comportamento satisfatério de seus P diferentes. O que diz meios de enfrenta-la disso. Assim, ela Scanned with CamScanner 56 A AporpaGeM GESTALTICA verdade, esta confusio da identificagao é, de fato, a Rai E se ela se apresenta inicialmente pelo uso dos mecanismos de introjecao, ou projegao, ou retroflexao, ou confluéncia, seu sinal caracteristico/é a desintegragéo da personalidade e a falta de coordenagao entre pensamento e ago. = i A ferapia consiste em retificar as | falsas identifica- g6es. Se a neurose € 0 produto de “mas” identificagoes, a satide 6 0 produto de identificagdes “boas”. Isso deixa em aberto, sem duivida, a questao de quais sao as boas iden- tificagdes e quais as mas. A resposta mais simples e, penso eu, mais satisfatoria — baseada na realidade observave] — € que “boas” identificagdes sio aquelas que promovem as satisfagdes e preenchimentos de objetivos do individuo e seu meio. E mas identificagdes sio aquelas que resultam em esmagamento e frustragao do individuo, ou em com- portamento destrutivo com relagdéo ao meio. Pois o neu- rotico nado apenas se faz um miseravel; pune todos os que Se preocupam com ele, com seu comportamento autodes- trutivo. entre ele e o resto do mundo. sim A les dizer “ voc€é mesmo”, cs isa , Mas Para o neurotico, milhares de obsta- quais o neu- lesmo, podemos comecar @ » um por um. Porque isto e OrTer na terapia, terapia é 0 a vamos a © que deveria oc discutir agora, Scanned with CamScanner

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