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Bibliotecas escolares. E famentdvel o divércio existente entre as criangas pobres e o livro. Em geral, elas sé conhecem um livro: aqué- le que o professor exigiu para a leitura do ano; livro, cujos treches, por muito revistos, perdem a atracao da novidade e Ihes desperta a_ indife~ renga . Serd voluntério éste divércio, que é palpdyvel e que existe, onde nado devia existir? Queremos crer que nao. A tragédia financeira, que é a yida do pobre, onde o desvio de alguns mil réis representa um deficit medonho, ndo comporta a alegria de pre~ sentear os pequeninos com livros, embora se re= conhega serem éles “germen que faz a palma, chuva que faz o mar!” eee Somos dos que créem no poder benéfico e construtor das leituras bem dirigidas, e dos que nao se satisfazem com a alfabetizacao. A luta pela vida, a falta de diretriz de muitos pais pobres roubam as coletividades os frutos de Ot FARRAPOS DE IDEIAS inteligéncie de escél, entregandd-as, com pressa, ao officio, mal saidas, ainda, dum curso rapido de quatro anos, Sem terem contraido o habito de leitura, elas que podiam crescer e individualizar_se, na maio= tig dos casos, as mais das yézes, vivem e passam as sombras, ditas protetoras. A necessidade e o meio matam a flér de cul- tura que poderia dai desabrochar, conservam na planicie os que podiam realizar g escalada des~ tumbradora. Todos nés temos o dever ¢ 0 direito do traba= tho, mas temos, também, necessidade de cultura, para viver, no sentido humano da palavra. “Nem sé do pao vive o homem”. Boek E preciso, portanto, que, desde a escola, ofi- cina de caracteres, a crianga contrdia 0 gésto pela leitura, sintg o prazer de penetrar, por inter médio do livro, nos mundos encantados da arte e do saber, e conquiste, insensivelmente, o poder de realizar-se, Entre nés, nada se hd feito, néste sentido. Seré impraticdvel éste sonho, que é necessi= dade, de dar mais p&o ao espirito das criangas, pondo=as em contacto continuo com o “qudaz guerreiro que conquista o mundo in- teiro” ? FARRAPOS DE IDEIAS 95 Nao. A iniciativa deve partir dos que dirigem os nossos estabelecimentos primérios; alids, hd no Regimento Interno dos Grupos, se n@o nos falha a meméria, um capitulo sébre esta questdo. O magistéric é a missdo maxima de entusias~ mo, de acao, de vida. Que se movimentem, pois, as criaturas, cheias de béa vontade e de energia que estado a testa dos nossos educandérios infantis ! Que se verifique a letra do Regimento, por amor dos pequeninos, a quem os fados negaram o prazer de folhear os livros de recreio, impossibili- tando-os de contrair o vicio da leitura, que é vir- tude, que eleva, que ilumina, que fortalece ! Nota da A. — Hoje, felizmente, jé os peque- nines pobres podem, em quase todas as nossas es~ colas, penetrar nos mundos encantados do pensa- mento, gracas as Bibliotecas Escolares que se vao fundando.

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