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A Política Cambial Estabelece o Preço Do Kwanza Face Às Moedas Estrangeiras
A Política Cambial Estabelece o Preço Do Kwanza Face Às Moedas Estrangeiras
Há três
tipos de política cambial: a rígida, em que o Estado fixa esse preço; a flexível, em que o
mercado estabelece o preço livremente; e a mista, em que o Estado tende a fixar uma
banda de oscilação da moeda, não a deixando sair desses limites. Em Angola, durante
muitos anos seguiu-se uma política mista, semi-rígida.
Trata-se assim de uma política que divide opiniões e cria vários dilemas aos decisores
políticos. Nas linhas seguintes vamos enunciar os principais argumentos no sentido de
travar a flexibilização do câmbio e para manter o seu valor.
Tal política não era aconselhável num país com desequilíbrio na balança de
pagamentos, que apresentava uma disparidade de entrada e saída de divisas acima de
40%.
Essa medida pretendeu garantir que o kwanza se tornaria uma moeda forte, o que, num
país com fraca produtividade, era irrealista. E só poderia ter como resultado, como aliás
teve, o aumento das importações e a degradação da produção interna. Criou-se uma
falsa imagem de prosperidade, resultante de importações excessivas. A isto acresceu
que tal política obrigou a utilizar as reservas internacionais líquidas para suportar esses
valores, sabendo-se que estas dependem do preço do crude, extremamente volátil. Este
sistema também fez dos bancos e do BNA verdadeiras casas de câmbio, descurando as
suas outras actividades na economia.
Com este sistema, estima-se que o país tenha perdido em fuga de divisas um valor
acima dos 60 mil milhões de dólares, fruto da importação inflacionada com preços
acima do real; falsas distribuições de dividendos, pagamentos inflacionados de
contratos; pagamentos de empréstimos especulativos, duvidosas reposições cambiais
dos bancos; pagamentos fraudulentos de contratos públicos, e negócios obscuros das
empresas públicas, principalmente na Sonangol.
Não admira, por isso, que em 2015 o país se visse confrontado com uma grave crise
financeira e uma recessão, que perduram até hoje.
O Câmbio Flexível
O actual governador foi exonerado do cargo no início de 2015, tendo regressado à
liderança do BNA no final de 2017.
Foi num contexto de recessão que, no início de 2018, se tomou a decisão, a conselho do
Fundo Monetário Internacional (FMI), da total liberalização da política cambial. No
entanto, tal flexibilização também tem tido consequências preocupantes na economia,
pelo menos a curto prazo.
No actual contexto, o BNA não conseguiu criar confiança à volta da nossa moeda, nem
com os players bancários. A insegurança actual é tanta, que é impossível dar resposta à
procura e, consequentemente, em 30 meses, o câmbio kwanza / dólar passou de uma
taxa de 166 para 595.
No início de 2018, devido à fixação do câmbio nos dois anos anteriores, o kwanza
encontrava-se cerca de 30% sobrevalorizado face ao dólar. É, neste período, iniciado
um processo de liberalização do mercado cambial.
Numa primeira fase dessa liberalização, a oferta de compra e venda fazia-se através de
leilão, permitindo-se bandas de flutuação de + ou – 2%. Estas variações são
comummente apelidadas de “estabilizadores”, pois permitem que se evitem situações de
pânico que descontrolem os preços.
Num modelo liberalizado, para poder gerir e estabilizar as flutuações de valor da sua
moeda através de intervenções pontuais, o Banco Emissor tem de ser capaz de gerar
confiança suficiente.
Em 30 meses, para as famílias, para as empresas, para o Estado, tornou-se 3,6 vezes
mais caro comprar um dólar.
É como se procurássemos tratar um paciente com transfusões de sangue que entram nas
veias a uma velocidade demasiado rápida, colocando em risco a vida do próprio
paciente.
O Produto Interno Bruto, medido em moeda externa, está a cair, ano após ano, porque o
kwanza se desvalorizou fortemente. Ou seja, medido numa moeda forte, o país
empobrece todos os anos: o PIB angolano medido em dólares passou de 122 mil
milhões para cerca de 75 mil milhões no final de 2020 (estimativa do FMI).
Se o PIB cai, então o rácio Dívida Pública / PIB dispara e, consequentemente, dá-se um
aumento exponencial do risco percebido pelos mercados externos, tornando provável
que os mercados de dívida se fechem para Angola.
Fonte: FMI, Min. Finanças
Com o descontrolo da taxa de câmbio, o rácio de Dívida Publica/PIB passou de cerca de
70% do PIB em 2017 para 107% em 2019, e estimativas do Regional Outlook do FMI
mais recentes estimam que o rácio da divida possa atingir os 130% do PIB no final de
2020.
A política fiscal do Governo está correcta: a despesa foi controlada, o valor absoluto da
dívida também. No entanto, o descontrolo do câmbio deita quase tudo a perder.
Nunca houve um Governo tão reformista como o Governo liderado pelo presidente João
Lourenço. Nunca houve tanta consolidação fiscal, tantos cortes massivos em despesa
não relevante e aumento da base de impostos. E isto apesar de o país se encontrar num
período recessivo.
Este ajuste deve ser aplicado pelo período temporário que for necessário, até que a
economia normalize.
Conclusões
É claro que a política cambial seguida nos últimos anos da Presidência de José Eduardo
dos Santos foi catastrófica, conduzindo o País a um beco sem saída. Arruinou-se a
produção nacional, ao mesmo tempo que se esgotaram as reservas financeiras. Portanto,
era imperativo optar por uma política cambial diferente, no sentido da flexibilidade.
O BNA optou por ser drástico e aguentar o sofrimento no curto prazo, esperando com
isso estabilizar a economia, enquanto outros defendiam uma progressão mais cautelosa
e por etapas, para não agravar os sacrifícios já tão intensos da população. A divergência
reside no prazo e na velocidade da implementação das medidas, porque, numa situação
de excepção económica como a presente, insistir em manter uma política ultraliberal
sem qualquer controlo no valor da moeda pode ter um efeito contrário ao que o BNA
pretende: a economia pode ficar descontrolada, tendo em conta o descontrolo cambial
existente e o consequente aumento drástico da taxa de inflação, que já se observa ao
nível dos bens essenciais.
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