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Psicologia: Tria e Pesquisa Vol 320.4, pp. 19 124221 oi: pdx doo. 15900102.37726324221 ARTIGO ORIGINAL A comunicacao de Mas Noticias na UTI: Perspectiva dos Médicos Daniela Trevisan Monteiro’ Universidade Federal do Rio Grande do Sul Alberto Manuel Quintana Universidade Federal de Santa Maria RESUMO ~ Este estudo objetivou compreender 0 processo de comunicapio de més noticias no contexto da uma Unidade de Tratamento Intensive para adultos, na perspectiva dos médicos. Configurou-se como uma pesquisa qualitative, de cardter exploratéria e descrtiva. Os dados foram coletados a partir de entevists semiestruturadas ¢ observacéo registrada em diério de campo. Participaram 12 médicos de um hospital-escola do interior do Rio Grande do Sul. A alse foi realizada por meio «és andlise de conteiido, Destacam-se dficuldades dos médicos em comunicar més noticias, bem como o uso de mecanismos de defesa para realizar essa tarefa, Considera-se necessirio resgatar a importincia da reflexdo sobre a relagdo médico-familiar come prétic diia to importante para a medicina Palavras-chave: comunicaslo, psicologia médica, relagBes profssional-familia The Communication of Bad News in ICU: Perspective of Doctors ABSTRACT This study aimed to understand the process ofthe bad news communication in the context ofthe Intensive Care Unit for adults, from the perspective ofthe doctors. It was configured as a qualitative, exploratory and descriptive researc. Data were collected through semi-structured interviews and observation recorded in daily field. Participated 12 doctors in a teaching hospital of Rio Grande do Sul, The analysis was performed through the content analysis. The results highlight the Aificulties ofthe doctors to communicate bad news, as well as the use of defense mechanisms to accomplish this task. I is necessary to recover the importance of reflection on the doctor-family relationship as daily practice as important to the medicine. Keywords: communication, medical psychology, professionsl-family relations Asatide passa por grandes desafios nas questbes relativas qualidade de vida, Por um lado hd um eal avangocienitico- teenolégico e, por outro, se reconhece o important papel de uma medicina humanizada, Nesse cenéri, a8 teonologias diferonciadas atraem a atengéo e, por vezes, até lateralizam as ages reltivas&humanizagio, eriando uma interpretagio erdnea de que a solugdo para uma melhora da qualidade de vida estd nos sofisticados aparelhos e nos dferenciados recursos terapéuticos (Lottenberg, 2010). Logo, o modelo tédico proriza os sinais esintomas, tomanda secundirio 0 cuidado aos aspectos psiquicos c/ou cmocionais dos envolvidos. Mas, para alm da tecnologia, hd de se considerar que toda relacio estabclecida entre © médico co paciente: familiar & sustentada por encontros, conversas e afetos ¢ atravessada por confitos que abarcam os processos de subjetivagao (Rodrigues, Moraes, Betosehi, & Amaral, 2018). Ente os fatores que contribuem para 6 prejuizo na Telagao do médico com o pacientefamiliarencontram-se 0s problemas de comunicagio enfrentados pelo profssional (Castro & Barreto, 2013) ‘A comunicagio faz parte do cotidiano dos profissionsis de saiide e implica na interagio entre eles, paciente © familiares (Borges, Freitas, & Gurgel, 2012). E uma ferramenta importante na relajio médico pacient/familiar 1 Bdrego para corespondénci: Universidade Federal de Santa Mari, ‘Avenida Rorsim 1000, CCSH, Presi 43, Sela 3212 ‘Senta Mais, RS, Brasil. CEP: 97.105-900, Z-mail daislaswevisun. ‘monteit@gmal com ce deve ser aperfeigoada para diminuir o impacto emocional proporcionar melhor assimilagio da nova realidade, Saber informagdes sobre diagnéstico e prognéstico permite que pacientes e familia vivenciem © momento de forma menos dolorosa (Rodriguez, 2014). A comunicagio de mas noticias E aquela que causa sensagGes desagradaveis em um de seus agentes, principalmente aquelas associadas a diagnosticar f prognosticar enfermidades, sendo essa uma constante 0 cotidiano dos profissionais de satide (Borges et al, 2012). ara que ocorra a comunicagdo entre médico e paciente! familiar € primordial considerar a palavra interacao, pois a comunicagdo envolve a transmissao de informagdo continua dde uma pessoa para a outra, sendo entio compartilhada por ambas, de modo que o destinatdrio a receba e a compreenda, Sca informagio foi apenas transmitida, porém, nao recebida, no foi efetivamente comunicada, sendo necessétio alinhat 0 transmissor co receptor entre os participantes do processo (Moritz etal, 2008), Na hospitalizacdo, a familia experimenta desafios, no apenas relacionados as exigéncias do papel do cuidar, mas igualmente enffentam a dor c 0 luto em relago & possivel morte do ente querido (Rodriguez, 2014), Para o familiar, a comunicagdo de mas noticias é um momento de angistia, sua capacidade de entendimento estd limitada. Assim como, © paciente, ele pode possuir dificuldades em se expressar por meio das palavras, pois esté exposto a angiistias e fragilidades, que inibem formas mais complexas de comunicagdo, Nesse interim, hi diminuigdo da capacidade de assimilagao das explicagdes e orientagdes passadas pelo médico. Jé para 0 médico, sua formagao conspira contra uma comunicagao acessivel, o que o leva ao uso de jargoes que pacientes e familiares ndo conseguem entender. 0 maior desafio, entdo, é transformar verdades complexas em informagdes compreensiveis para pessoas angustiadas e com muitas incertezas (Lucchese & Ledur, 2008). Nesse sentido, para que os canais de comunicagdo estejam abertos ¢ familia e paciente possam se expressar & preciso que a equipe médica aperfeigoe a comunicagao de més noticias e se encontre preparada para suportar as demandas que emergem nessas situagbes, respeitando as necessidades dos pacientes e da familia e os amparando em uma possivel despedida de seu ente querido (Rodriguez, 2014). A comunicagao poderd ser tanto terapéutica, realizada a fim de beneficiar a familia e a ajudar na vivéncia de intemagdo; quanto nociva, podendo comprometer sua satide Fisica e mental e proporeionar momentos traumiéticos (Santos, Oliveira, Veronez, & Nogueira, 2015). Alguns médicos reconhecem a dificuldade que enfrentam em comunicar, pis estabelecer uma comunicasio proporciona didlogos e vineulos com pacientes e familiares, Na comunicado de més noticias varios afetos estio presentes, afligindo os profissionais, pacientes e familiares (Almeida & Santos, 2013). Logo, a questio principal para os profissionais de saiide nio & saber informar os pacientes/familiares, mas sim saber o quanto, como e quando informar, principalmente quando a informagao se refere a més noticias, como os diagnésticos de doengas graves (Pereira, 2005). Portanto, no tocante & comunicagdo, as més noticias constituem tema de suma importincia na relagio m&dico paciente/familiar. Comunicar mas noticias ¢ considerada uma tarefa estressante para os médicos, e muitos evitam sua transmiss0 ou a realizam de maneira inadequada (Lino, Augusto, Oliveira, Feitosa & Caprara, 2011). Por vezes, os profissionais| encaram a situagio da comunicagao de més noticias como tum fracasso, Nesse sentido, os processos de comunicasio podem vira ser esvaziados de contetido, como consequéncia do uso inconsciente de mecanismos de fuga, levando a0 uso de eufemismos, para ndo deixar a sensagio de falta de transparéncia e omissio (Pereira, 2005). Assim, a comunicagdo de més noticias, tanto para o pacientel familiar quanto para o médico, é considerada desagradével e desconfortivel, Trata-se de um momento dificil que envolve emogdes c reagdes experienciadas pelo paciente‘familiar, enquanto fonte adicional de estresse, e, ainda, o fato de 0 médico ter de lidar com suas préprias emoges, reccios ¢ 0 enfrentamento de sua finitude (Lino et al., 2011), Apesar de as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduagao em Medicina enfatizarem a relevaneia da comunicagdo como uma competéncia a ser bem desenvolvida pelos graduandos, 0 texto é superficial no que se refere & importancia da habilidade na relagio médico-paciente! familiar, Além disso, poucas universidades valorizam 0 cnsino da comunicago verbal e nio-verbal em seus curriculos (Rossi-Barbosa, Lima, Queiroz, Frées, & Caldeira, 2010) Esse assunto também é assinalado por Lino etal. (2011) que apontaram que, embora a comunicagio de més noticias seja objeto de estudo em diversos cursos de medicina em nivel internacional, o tema ainda é pouco abordado por professores e estudantes no contexto brasileiro. Assim, observa-se cada vez mais uma erescente preocupagdo mundial com a formagdo dos profissionais da saiide, na medida em que se passa a deslocar 0 eixo do “o que fazer” (conhecimento técnico-cientifico), para “como fazer” abordando, assim, as priticas de comunicayao profissional-paciente’ familiar, Destaca-se que os processos de comunicagio sio fundamentais no estabelecimento da conduta, prineipalmente porque o doente/familiar, ao chegar a frente do médico, pode se encontrar em um estado emocional regressive. Portanto, tanto a confianga no médico quanto 0 sucesso da terapéutica dependerdo de uma comunicagio adequada entre o profissional de saiide e o paciente/familiar (Rossi- Barbosa et al., 2010). Porém, se a doenga evolui eo médico no encontra mais amparo nos recursos tecnolégicos, a falta de preparo dos profissionais para a comunicagdo e para 0 suporte emocional aos pacientes e familiares fica evidente, resultando em silenciamentos, falsas promessas de cura ou comunicagdes abruptas de prognésticos adversos, com sérios prejuizos & relagio terapéutica (Penello & Magalhies, 2010), Os trabalhos sobre a comunicacao de mis noticias geralmente abordam a comunicagao ao paciente, Contudo, nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) podemos considerar que essa comunicagdo & feita quase que exclusivamente com os familiares dos pacientes intemados. Assim sendo, considera-se que para poder melhorar esse processo de comunicaglo das mds noticias torna- se impreseindivel conhecer como os médicos de UTIs, encarregados de realizar essa tarefa, dio sentido a esse processo © qual € o significado que para eles tem a ago de comunicar més noticias aos familiares dos pacientes internados. Desse modo, a pesquisa norteia-se pela seguinte pergunta: Como ocorrem as comunicagdes de mis noticias e que implicagGes essa tarefa possui na conduta médica? O objetivo principal € compreender 0 processo de comunicagao de mis noticias no contexto de uma UTI para adultos, na perspectiva dos médicos, Método Desenho do Estudo © estudo proposto caracteriza-se como qualitative (Minayo, 2010), de cariter exploratério ¢ descritivo (Gil, 2010). O molde qualitativo € o que melhor se encaixa na andlise das vivéncias subjetivas que acontecem com os participantes durante 0 processo de comunicagdo de més noticias Participantes Participaram deste estudo 12 médicos que exercem atividade em UTI de um hospital-escola do interior do Rio Grande do Sul, sendo oito do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idades no intervalo de 26 a 57 anos. Comunicagdo de Ms Noticias na UTE Foi incluida nas entrevistas a totalidade dos médicos atuantes na UTI onde se realizou a pesquisa, Todos estavam. ‘em contato com os familiares e/ou pacientes para comunicar ‘uma noticia na evolugio do quadro geral apresentado pelo paciente, indiferente dessa comunicasio ser especifica de mé noticia, ‘Técnicas e Procedimentos de Coleta de Dados Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas ¢ observagao nao participante registrada didrio de campo. A entrevista é uma forma de comunicasao verbal privilegiada de interago (Minayo, 2010). Jia téenica da observagio permite o entendimento do comportament global do sujeito entrevistado no decorrer da relaga0 estabelecida. A partir dos achados anotados para a posterior anilise, € dada importancia ao estilo © as alteragoes psicologicas e da fala, como por exemplo: interposigao de momentos de siléncio, fala embargada, palavras pronunciadamente vaciladas, colocagdes com inibigao e desinibigd0, manifestagio de atos falhos. Ainda, deve-se cconsiderar os elementos de apresentagiio pessoal, aspectos do comportamento global e a comunicago ndo-verbal, como: ‘mudanas de posturafisica, gesticulagdes, mudancas afetivas no timbre e volume da voz, entre outros (Turato, 2013). Os participantes foram abordados no proprio local de trabalho por mediagdo do chefe da unidade. Inicialmente foram esclarecidos sobre a temética e os objetivos do trabalho, riscos, beneticios e sigilo. Apés, foi realizado 0 convite para a participago na pesquisa, posteriormente as explicagdes sobre a pesquisa, ¢ quando aceito © convite, solicitou-se consentimento verbal e escrito, sendo que 0 ‘Termo de Consentimento Livre ¢ Esclarecido (TCLE) foi assinado por todos os participantes. Foi observado tanto ‘© ambiente da UTI quanto © momento da comunicaga0 centre médico e familiares. Para possibilitar a observagio no ‘momento da comunicago entre médico e familiares, estes igualmente receberam as explicagdes sobre a pesquisa, e quando aceita a participagdo, assinaram o TCLE As observagdes na UTI foram realizadas concomitantes As entrevistas e aconteceram por um periode de 45 dias, Esse periodo foi necessario para a ambientag3o do pesquisador no local da coleta de dados, bem como por se considerat a importéncia do pesquisador tornar-se uma figura conhecida entre a equipe de saiide e, prineipalmente, entre os familiares que se encontravam cm um momento de fragilidade. As “observagies aconteceram com base em um roteiro explicitado a seguir: a) Observagio na Unidade de Tratamento Intensive: Interagdo entre os membros da equipe de saide; Tratamento aos pacientes; Referencias as doengas; Comunicagdo entre os membros da equipe de satide: Round da equipe de saide. b) Observagio de momento da comunicacio na relagdo médico-familiar: Proceso de comunicagao; Comportamentos subjetives dos médicos: Comportamentos subjetivos dos pacientes e/ou familiares; Reagdes dos pacientes e/ou familiares frente a noticia; sic: Toor. ¢ Pos, Brasilia, Vol. 32 4, pp. 1-9 No momento especifico da comunicagdo entre médicos © familiares foram realizados 14 dias de observagdes;, totalizando 121 comunicagdes observadas entre médicos ¢ familiares. Em cada dia de comunicagio ocorriam, aproximadamente, nove comunicagées, considerando os familiares dos nove leitos da UTI, Houve dias em que no hhavia familiar presente, por isso o nimero de comunicaga« & menor que a mera multiplicago dos dias com o numero de leitos. Quanto a entrevista, esta foi realizada em uma sala da unidade jé previamente disponibilizada para a pesquisa. Os. cixos norteadores das entrevistas foram: Entrada/ingresso na UTI; Caracteristica da UTI; O paciente da UTI; O ingresso do paciente na UTI; Relagio da equipe com a familia, do paciente coma familia e entre a propria equipe; Comunicagao do diagnéstico ao paciente e/ou familiar; Comunicagao da evolugdo do quadro do paciente; Lembranga de uma comunicagdo que avalia como positiva; Lembranga de uma comunicagdo que avalia como negativa; Impressoes sobre as reagdes dos receptores das mas noticias; Exemplo de um caso clinico que teve desfecho desfavoravel e outro com desfecho favoravel; Futuro profissional; Aprendizagem da comunicagao, (© momento para a realizagao da entrevista foi escolhido pelos participantes, ocorrendo de forma individual e sigilosa As entrevistas foram gravadas e posteriormente transeritas Procedimentos de Anilise dos Dados As entrevistas foram analisas a partir da anélise de contetido proposta por Bardin (2008) ¢ Turato (2013), pois esse tipo de anilise trata das mensagens (comunicago) ou seja, as codifica (Bardin, 2008), explicitando sentido contido em um documento com a finalidade de oferecer um significado por meio de palavras pré-escolhidas, frequéncia de repetigio de termos, aparato © andamento do diseurso (Turato, 2013). A partir dessa anilise, primeiramente, foi realizada uma leitura Butuante, que consiste em uma pré= andlise, enquanto forma de assimilagio de todo o material coletade de modo a permitir a categorizagzo dos dados que foi feita a partir dos eritérios de repetigao e relevineia (Turato, 2013). Consideragies e Aspectos Eticos Foram mantidas todas as recomendagdes éticas propostas na resolugie 466/12.do Consclho Nacional de Saiide (Brasil, 2012), que presereve a dca na pesquisa com seres humans. Para manter o anonimato dos participantes, os nomes foram, trocados pela letra M, seguida sistematicamente do ntimero da entrevista, assim apresentou-se como: MI, M2, M3, M4 , Sucessivamente. A pesquisa foi aprovada pelo Comité de Etica em Pesquisa da instituigo onde a pesquisa foi realizada, sob o nimero do Centificado de Apresentago para Apreciagdo Ftica (CAE): 0367.0.243.000-11 Resultados ¢ Discussio Por meio da anélise dos dados procedentes da coleta de dados, surgiram determinadas categorias que exemplificam © processo de comunicagao de mis noticias na perspectiva dos médicas. A Comunicacio de Mas Noticias: Aprendizagem, Habilidade ou Estilo? Esta categoria versa sobre a maneira como o médico comunica as mas noticias. Muitos médicos relataram sua dificuldade em comunicé-las. Frente a esse fato, & importante ressaltar que, durante 0 convite aos médieos para a participagdo na pesquisa, areagao foi de que seria necessatia ‘uma mudanga na comunicagdo de més noticias, Da mesma forma, alguns médicos verbalizaram suas dificuldades logo no primeiro contato, ressaltando que nao sabiam dar mis noticias, Principalmente comigo, eu ndo sei dar mas noticias, (M4) Duvidamos da eapacidade dele em dar mis noticias. (M9) ‘Cada médico, sejaa partir de sua experiéncia profissional, da observacao de outros colegas de trabalho ou aprendizado durante sua formagio, busea, em concordincia com seu estilo, uma forma de comunicar mis noticias. Assim, a partir istas, foi possivel perceber diferentes formas de comunicé-las, baseadas em experiéncias pessoais, eno senso comum, jé que ndo houve, durante a formagio dos médicos entrevistados, um treinamento ou um preparo para realizar essa ado, Embora a comunicagdo de més noticias seja objeto de estuda em diversos cursos de medicina a nivel internacional, o tema ainda € pouco abordado por professores e estudantes no contexto brasileiro (Lino et al 2011). Corroborando com esse pensamento, os médicos entrevistados foram categéricos na defesa do discurso da falta de ensinamento durante a formaga0, como demonstram as falas: Nas aprendemos a dar noticias sozinkos. Nés néo estudamas para dar més noticias, nés nao somos treinados para dar mas noticias. Entdo, isto € uma capacidade, assim, que a gente vai sadguirinda dentro do curso de meedicina, wa formagdo médica, individualment,e, tado 0 mundo tem esa diculdade, (M2) A primeira a gente observa, a segunda a gente faze a terceira 1 gente ensina. (M3) Pode-se infer, a partir das falas, que @ comunicagao de mis noticias nao é vista como uma agdo téenica. Alem disso, fica explicito que esse aprendizado dé-se, geralmente, por meio da pritica e pela observagdo dos docentes. Em relagio ao processo de aprendizagem, Fomazicro, Gordan ¢ Garanhani (2011) realizaram uma pesquisa com 16 estudantes do sexto ano de medicina da Universidade Estadual de Londrina, com o intuito de compreender o processo de ensino caprendizagem do raciocinio clinico desenvolvido por estes. Nas respostas as entrevistas, os académicos apontaram 0 docente como modelo de conhecimento. Entre as diversas formas de aprender, seja por repetigdo, leitura ou estudos individuais, o professor foi decididamente destacado como modelo a ser adotado pelo estudante, independentemente do periodo do curso. Dessa forma, a eficécia do professor € uma caracteristica fundamental ao trabalho docente, considerando-se que o académico o observa como modelo profissional. © médico busca, entdo, maneiras de realizar a comunicagdo, determinando a sua forma de comunicar, como se observa no relato: Baseei-me muito também, no que eu vejona TV, porque é assim. nna imagem disto, porque, para o leigo, qual éa imagem que ele tem da ma noticia, 6a imagem que ele vé todo o dia. E onde é que ele vé todo dia esta imagem? F na televisdo, é no Jornal Nacional, (...,€ no cinema, na TV; na hora em que vio falar com omédico, éna novela, na hora em que alguém se acidenta «que téesperando o médico para falar Entdo sao estes termos que a populagao esta acostumada a ouvir, é esta postura que a populacioestd acostumada a ver, ela vai esperar que tuhaja desta maneira também, (M4) Percebe-se nessa fala que o médico buscou um aprendizado mais voltado ao senso comum como forma de fazer-se entendido por parte dos pacientes c/ou familiares. Nessa perspectiva, em pesquisa realizada sobre 0 conhecimento a utilizagdo de estratégias de comunicagao, evidenciou-se caréncia de habilidades de comunicagio dos profissionais da saiide para oferecer apoio emocional. A superficialidade do conhecimento sobre estratégias de comunicagdo fiea clara quando se avaliam informagGes complementares. Isto porque surge grande nimero de citagdes de expressdes subjetivas nas respostas, tais como: solidariedade, compaixlo, apoio, tengo, carinho, entre outras, Essas so descrigdes ou denominagdes de sentimentos e nio de estratégias de ages cconcretas na atengdo aos pacientes, expondo a dificuldade dos profissionais em diferencid-las (Araujo & Silva, 2012). Em contrapartida, a habilidade de comunicagao ¢ imprescindivel para a construgdo de uma relagdo. Diante disso, essa relago passa a ser construida por meio do espago da comunicagao, sendo possivel realizar negociagSes, discusses, entre outras ages (Borges & D‘Oliveira, 2011). Outros entrevistados relataram: ar mé noticia, Ola, sta &innutivo, A gente tem a formagdo médica gral ecomo.o médico dia mé noicia para os pacientes pelos quaisé responsdvel. (MS) ‘Mas, nunca um contato assim, a gente falando e alguém junto. E nunca ninguém falow até onde eu passo me envalver até onde no (..) E, vendo 08 outros, também, mas, nunca ninguém me ensinow. (M6) Aqui podemos observar dois aspectos. © primciro ¢ 0 esforgo que 0 médico realiza para poder obter ferramentas para melhorar sua comunicago com o familiar. Na falta de ‘uma aprendizagem na graduagio, © mesmo langa mao da televisdo, da obscrvagdo dos scus professores ou, por vezes, por meio de eursos de formagio, como também relatado, conscguindo estabelecer para si uma técnica que mantém nna comunicagdo, Destarte, essa téenica pode ser considerada vinda a partir do bom senso do médico ou da academia, 0 que nio proporcionaria uma padronizagio na comunicagao, ¢ sim estilos pessoais. A partir do seu estilo, om&dico encontra sua melhor maneira de realizar a comunicagio, Esse estilo pessoal inclui formas de se proteger frente a essa tarefa considerada tio dificil, como se observa: Psic: Teor. ¢Pesq. Brasilia, Vol 32.4, pp. 1-9 Comunicaso de Ms Noticias na UTE Mas, na UTI, 0 que a gente aprende, nio por regra, nem por ivr, utem que deicar para familia, o paciente um pouguinho ior do que ele esti. Porque, se ele evolu; de uma hora para 4 outa, ficar mal... a familia tem que estar preparada.[..]. © paciente esti estavel, dentro de sua instabilidade, né. Mas, as doencas sio graves, eno, .. a gente sempre tenta, .. eu ‘pelo menos, aprendi vendo ist e me espelhando lé no pronto socorro. [Ea velha histéria, & uma frase horrivel, mas, a velha historia, quando tu pie um gato no telhado em um dda de chwva, com uma casca de banana na frente. Quase, raticamente, . praticamente mata para a familia, para a {familia ficar preparada e conseguir, se acontecer a coisa, que ‘agente ndo gosta, se 0 pacienteevoluir mal... uma defesa, é. A familia esti preparada. (MS) Agravar a situagdo do paciente durante a comunicagi pode preparar os familiares para um possivel ébito, possibilitando que reajam de forma mais branda se isso realmente acontecer. Igualmente, pode proteger o médico, {que nio se sente preparado, contra uma explosio emocional por parte dos familiares. Nas falas de outros entrevistados “observou-se, igualmente, que em torno da comunicagio de més noticias hd sempre a utilizagdo de estratégias, como forma de proteger o mésdico dessas situagdes estressantes: A grande maioria das vezes, eu comega afalar sempre na tempo verbal passado,[..] Dai eu inicel a falar, no tempo verbal no ppassado, ¢ eles ficaram prestando atencdo no que eu falava pprestando atencdo no que eu falava, dai quando eu nao tinka ‘mais o que falar dai eu disse, nflizmente ele falecew. Dat eles ‘comegaram a chorar dal eles nao acreditam, meu pa, nda seio que. Mas ali, a minka impressio, desde 0 inicio do que eu falei eu jd estava dizendo que ele tinha morrido, (M7) Na tentativa de contornar a comunicagio da morte, esse médico informa todas os procedimentos realizados no paciente no tempo verbal passado. O intuite do médico ‘com essa comunicagdo no passado & para que os familiares se deem conta do desfecho final sem que ele precise de fato comunicar. No entanto, © que se percebeu no relato, foi 0 fato de que os familiares ndo possuem essa compreensio {que o médico gostaria que tivessem. Isto porque ha de se considerar que numa situaydo como essa, geralmente, a esperanga sempre existe e, mesmo com a comunicagd0 no passado, os familiares esperam que o desfecho final seja positivo, Ao nio estar preparado para lidar com as emogoes que possam cmergir, © que o médico tenta evitar € ser explicito. Dessa forma, ao fazer afirmagdes indefinidas, 0 médico sempre deixa a possibilidade de o familiar acreditar naquilo que & menos angustiante, podendo levar a falhas na comunicagao. Assim, pode-se afirmar que os entrevistados apresentaram dificuldade e desconforto com a comunicagio de mé noticia. Em suma, © que sc evidenciou ¢ que, se por um lado existe uma preocupagio de procurar elementos para melhorar sua comunicagdo com o familiar, por outro no existe uma téenica médica para lidar com essas situagbes, € sim esquemas individuais, bascados nas préprias experiéncias pessoais e no senso comum. Entre a Aproximagiio e o Afastamento na Comunicagio de Mis Noticias sic: Toor. ¢ Pos, Brasilia, Vol. 32 4, pp. 1-9 Ainda que nio exista uma padronizagio na forma de dar as mas noticias aos familiares, foram observados dois meios distintos. Um representa uma tentativa de se aproximar do familiar, saber da sua preocupacio para organizar a comunicagao, O outro pode ser visto como a necessidade de apaziguamento das emogdes. Entre as que representam uma tentativa de aproximagdo destaca-se: O que nés temos para falar de nove? (M3) Eu gosto de perguntar sempre, assim, 0 que que o paciente esté esperando. Sempre eu gosto de fazer uma pergunta e ver 0 que eles esto sentindo, dependendo da ocasido, se eu tenho oportunidade ou ndo, ¢ a,j ir meio que preparando a Fania. (M10) “Até onde tu sabe? (M6) Pensa-se que esse inicio, com uma pergunta, seria uma maneira de o médico ir formulando a sua comunicago de ‘modo que venha ao encontro das preocupagSes do farniliar, Assim, aquilo que serd informado ter mais probabilidades de ser compreendido, Porém, hi comunicagdes estritamente objetivas, que acabam causando um afastamento na relagao, como se existisse um temor de desencadear sentimentos © emopdes nos familiares, as quais © médico no saberia manejar, Assim, alguns médicos iniciam a conversa ji informando dados sobre a evolugdo do quadro do pacienie, geralmente com uso de jargdes. Apresentando uma forma mais objetiva e mais répida de comunicar: (O que tem de novo: nao esta dialzando, O que tem de igual & que 0 quadro continua estivel. (M6) Cresceu bactéria na ultima cultura de secregao traguial. (M3) Acho que passaram para a senhora que ela ja esté a quatro dias sem remédio ¢ ela ndo tem reac. (M8) Esse mal-estar frente a possiveis situagSes angustiantes originadas pela comunicagdo das més noticias pode ser cevidenciado em expresses utilizadas momentos antes da comunicagdo de mas noticias aos familiares de pacientes, Era frequente a expressio de frases jocosas como: Vamos para a dor? (M7) Vamos dara cara a tapa? (MAL) Ainda, se compreende que, em situagdes geradoras de estresse, como uma grave piora no quadro do paciente, alguns médicos realizam a sua comunicagdo sem que de ato comuniquem algo. Por exemplo, ao ser questionado se © quadro do paciente & grave ou estivel, o médico no dé uma definigdo do quadro do mesmo, limitando-se a uma resposta ambivalente, como se pereebeu da fala: Um paciente da UTI tem que esperar passar um tempo, pois ‘pode estar evoluindo bem e de repente piorar (M8) IE importante colacar que além da fala pausada, nessas simuagies, 0 tom de voz se apresenta muito mais baixo, Diferente de quando sc trata de noticias boas, em que © tom de vor. € mais alto do que o trivial e ainda se faz uso de brincadciras ou piadas durante a comunicagéo. Como se observou na fala: Esté em alta [se referindo ao paciente], ja est rindo até, est ‘mais bonito que 0 senor. (M9) Ah, essa que era a melhor noticia eu ndo vou poder dar [risos). (M2) [0s familiares no compareceram para falar com © médico} © iso ¢ as piadas em meio & comunicagio, quando se trata de boas noticias, demonstram o quanto € dificil para 0 médico quando deve comunicar o oposto: uma md noticia. Assim, esse comportamento no qual se procura evitar os sentimentos, mostra claramente o sofrimento desse profissional obrigade a lidar com a dor de outro ser humano; sem ter ferramentas apropriadas que o ajudem a aliviar 0 soffimento do familiar ¢ também a se proteger da angistia que essa situagao de sofrimento provoca nele mesmo, Parece que © médico encontra-se em uma corda bamba na sua profissdo, podendo a qualquer momento entrar em contato com sentimentos de euforia ou de tristeza. Outro contraponto & referido por Cano (2008), que considerou o humor como forma de evitar o contato com as emogdes. Assim, trabalhar tem clima de brineadeira seria uma forma de externalizar as emogies de outro modo, o que ndo deixa de ser uma forma de negag2o como meio para enfrentar as vicissitudes do cotidiano médico. ‘Uma Angéstia Compartilhada: Mas Noticias para quem? A comunicagéo de mas noticias é uma atividade cortiqueira na profisso médica, como ja visto, no entanto, aparece como uma tarefa que o médico gostaria de evitar, como se apresenta no relato, E no dia que eu fui {é para contar, na casa dele, de manha, ‘acho que eu tomei uns des ltrs de chi, de nervosa que eu estava. Eas enfermeirass6riam: “O que é que tu tem?” Nada, Dai chegow na hora e eu disse: “Nao quero ir. Nao vou fazer «visita hoje, vamos outro dia”. Ex fugi, mas dai fu, feet, a8 Jfilhos falaram. (M6) ‘Nota-se igualmente nos relatos que 6 preciso haver uma preparagdo prévia do médico para que ele possa comunicar ‘uma md noticia, Segundo Seabra e Costa (2015), 0s médicos possuem dificuldades em realizar a comunicagdo de mis noticias, indicando ansiedade, nervosismo e desconforto em realizar essa tarefa; e alivio ao terminé-la, dependendo da reagdo do paciente. Esses sentimentos podem justificar © fato de alguns profissionais se prepararem anteriormente reservarem um tempo especial para realizar a comunicagio. Pode-se salientar que essa preparagdo esté relacionada tanto ‘a uma questo mais técnica de como comunicar, quanto a0s sentimentos que emergem Frente a essa tarefa. Pervebe-se, entio, que 0 fato de a comunicagao, © aqui, principalmente, dda ma noticia, no é apenas a passagem de informagao. Se hi a necessidade de se preparar € porque essa tarcfa 6 dificil ¢ envolve sentimentos, tanto do lado de quem emite a notici no caso 0 médico, quanto de quem a recebe. A preparagao que o médico faz antes de comunicar leva a pensar em uma angisstia frente & comunicagao de més noticias; portanto, ele no se encontra preparado para comunicar, Logo, a comunicagao de mas noticias é percebida pelos médicos como uma obrigagio desagradével; um mal necessirio, Pode-se questionar: Como o médico se prepara? Quais so as ferramentas, as teorias das quais ele langa mo para fazer esse preparo? Do que transparece das falas, a preparagdo di-se muito mais por meio da intuigo, Corroborando com. essa ideia, Grinberg (2010) destacou que, embora possa se fazer valer da intuigio na comunicagdo em saide, deveriam ser desenvolvidos programas de treinamento com 0 objetivo de se alcangar um maior grau de clareza e exatidio na comunicagao. Deve-se inferir entdo que, para o médico se utilizar de sua intuigdo, seria de suma importaneia que este tivesse além de um preparo relacionado a uma base cientifica, a possibilidade dderefletir sobre os seus sentimentos frente a doenga e4 morte Isto porque, como abordou Quintana (2009), o médico pode falar racionalmente da mort, ele no pode € senti-la, permitir ue ela toque scus sentimentos, refletindo no despreparo dos profissionais da saiide em lidar com essas situagdes, Um adequado prepato teérico e emocional permitiria nao apenas uma melhor comunicagio com paciente como, também, ‘uma diminuigao do grau de ansiedade do profissional, como ‘ apresentada no seguinte depoimento: Ex fiquei acho que dois dias pensando como é que eu ia dizer {-] Quando veio o diagnéstico eu figuei dois dias pensando, até que eu liguei para ela, pedi para ela vr ao hospital que eu finha que conversar com ela [..] Mas eufiquei, assim, quando eu peguei o resultado e fquei pensando: “meu Deus, como & que ew vou falar”, Na hora quem falou fot ela, depots eu iquel meio ruizinka, mas dai eu ja vi ela depois na terapia e estava evoluindo bem e ai eu jd me senti melhor [..] Lembro 0 nome, avidade e 0 sangue até, se tu quseres. (M8) 0 depoimento do entrevistado revela angistia frente necessidade de comunicar o resultado negativo das andlises feitas pela paciente no qual constata a existéncia de cdncer. Essa angistia reflete certa paralizagdo do entrevistado, que deixa passar um tempo (dois dias) para comunicar isso paciente, Inclusive, essa angistia pode ter resultado em que 1a mé noticia nfo foi de fato comunicada, mas, a propria ppaciente teve que afirmar isso. Igualmente, o médico se pergunta: “mew Deus, como & que vou falar?”. A fala demonstra o softimento, a angiistia e 0 despreparo frente & comunicagdo de mas noticias, capaz de gerar um impacto emocional muito forte nos profissionais, sendo que essa situagao fica registrada na lembranga deles. Isso ressalta que © preparo do médico no deve ser puramente teérico, ele deve ser igualmente produto de reflexdo, pois, se médico nfo refletiu c trabalhou suas dificuldades frente & morte ¢ a0 morrer, certamente ter dificuldades na comunicagio, ainda gue possua uma fundamentagio teérica para isso. Esse impacto emocional também se apresenta no préprio fato de ter que comunicar uma mé noticia, pois a partir ddessa comunicagio deve-se pensar na pessoa que a ouviy, scja paciente, familiar ou alguém que possua algum lago afetivo com o paciente. Além disso, os sentimentos e anseios presentes nas duas faces da relagdo podem prejudicar o desenvolvimento de uma boa comunicagao Jucé etal, 2010) Apés a comunicagio, o que fica é a reagao de quem arecebeu e & com isso que 0 médico precisa lidar. Assim, & possivel se pensar, também, no quanto a reagdo de quem recebe a noticia pode gerar angtistia no médico que, muitas vezes, comunica ese retira, nao dando um suporte/acolhimento a0 paciente/ familiar, como se percebe na fala: Psic: Teor. ¢Pesq. Brasilia, Vol 32.4, pp. 1-9 Comunicaso de Ms Noticias na UTE Como é que eles vio metaboizar isto, eu ndo se. Agente ndo ccommpanha dept, a. Psvaasiformare en fos mais, (M9) ‘Osméaicasndo conseguem ficar asistindo ao softimento do outro eno sabem como agir nessa stvagao, pois, mesmo com uma comunicagdo considerada adequada pelo médico, 2 cominicagio de mis notiias¢ sempre dificil, porque ela vai trazeruma realidade que muda, de forma negativa, a vida de «quem esta reeebendo a comunicasio. Talver sei ustamente fesse ponto que gera angistia para os médicos. Eles vo comuiniear que inevilavelmente vai gorarsofrimento no dutroe vio assstr a esse sftimento. Assim, infere-se que a comuiicagio de mis notieias gera momentos perturbadores, tanto na pessoa que emite quanto na que recebe a noticia Por este motivo, a comunieagao de mas noticias € considerada pelos profssionais de sade uma tarefe dificil de enfrenta, no apenas pelo reecio das reagdes emocionais que surgem fm quem recebe a noticia ~ pacientee/ou familiares, mas, ‘gualmente, pela dificuldade de conduzir essa situagio (Pereira, 2005). Um entrevistado verbalizou esa situagdo de angtstia frente 20 sofrimento do outro de forma muito car Mas, no vont engaar que da ome do pcientc]eu fio. Eu no consigo. assim. quando vj, que cle est chorando, que tt prcinamda de alma cit, ea chego ai, carvers, tanta resolver problema dele, mas, eutento resolver, no momento aque e vejo que ele ficou bem, que ele poe querer conversar Sobre utras coisas, que ele no vai caminkar que ele no va, sao fora, eum digo qu at 6 cert, eu gue isso & ‘rato, mas, eu, infeizmente, eu ndo consi, (M1) E imponante a fala desse médico, pois ele explicita claramente osentimento de angistiaeimpoténeia gue poss ffente a softimento do paciente. Mesmo tendo certeza de que fez erado ao fugir da situagio, ele relata que nfo consegue ficar para ouvi-lo. De fato, hi um custo emocional para esse proissonal nas duas situagdes: quando ee fiea para duviro paciente, o que Ihe gera muita angisti: ou, quando cleo abandona, sabendo que ests fazendo algo errado © se culpebilizando por isso. Nesse sentido, fica implcito um pedido de que alguém tome esse papel que no seja ele Outros médicos relataram sobre a difculdade desse cas0 em espectfico, logo, esse papel seria de “ninguém”, ou de profissionsis que hicrarquicamente seriam obrigados @ recebé-o, Ressalta-se que a identiicagdo com os pacientes seria fonte do aumento da angistia sentida pelos médicos Aino caso especifin do [name do pacientl por, asin tumeimagino me dizendo que eu no vi mais caminhar Bah, ‘stpara ion muito. aredito que par ele também, tenasidoamesma cis. eleva ter momento da negagio, da raiva e depois vai acetar (M8) Nota-se que quando ha um processo de ideniicagdo, a tendincia do médico ¢ softer mais com a situagio. Ainda, 6 choro € 0 desespero do familiar sio a expressio de sua fngistia em face da impoténcia para solucionar a doenga ova more Eun quera ver alguém da famitiaberrando na mina ret chorando.Parece que uno foz nada née, Ta fe, tu sae que tue tudo que ti pod fzer Tuco 50 minutos tntando reanimar un pavente endo consegui. Eaiafamiliapengunta sic: Toor. ¢ Pos, Brasilia, Vol. 32 4, pp. 1-9 se eufi tudo 0 que tinka de fazer: Nao, eu fiz tudo 0 que tinka para fazer Parece traumético, para mim também é. (M6) Acomunicagio de mas noticias representa o sentimento de fracasso do médico. Desa forma, ela¢ dificil tanto para os familiares quanto para o proprio médico, que se defronta com 1 perda da onipoténcia. Diferente de quando a comunicagao se refere a noticias boas, na qual a sensagao ¢ inversa, ji que nesta se confirma a onipoténcia, o prazer do médico ao salvar uma vida. E importante considerar que membros da mesma familia tordo reagées diferentes em relago a mesma noticia, Esses comportamentos individuais e psicossociais ndo podem ser modificados pelo médico, Mas, ao saber dessas diferencas buscar entender o funeionamento de cada familia, poder haver uma comunicago mais eficaz e uma melhor formas de vinculo na relagio (Traiber & Lago, 2012). Consideragoes Finais Por um lado, tém-se profissionais da saiide que ndo se sentem preparados para comunicar mas noticias © por isso softem ao realizé-la, por outro, tém-se a necessidade de comunicé-las como atividade quase que didria da profissdo. Pode-se considerar que o impasse comeca desde a formago médica, que mesmo que esteja num process de transformagao, ainda encontra-se voltada aos ditames da cigneia positivista, no qual o subjetivo se encontra em segundo plano frente a tantos ensinamentos sobre o orginico, Com efeito, prevalece uma formagio que desenvolve uma barreira para que sentimentos ¢ emogées no surjam na pritica clinica, Assim, sobra ao estudante aprender pela pritica e observagdo daqueles que também aprenderam dessa forma, A relagdo médico-paciente/familiar acontece pela interagdo e esta pela comunicagao, seja ela verbal ou nai verbal. Para tanto, 0 médico deve compreender que sua palavra possui tanto valor quanto seu comportamento, que & sua frente ha alguém fragilizado pela doenga, pela ineerteza do desconhecido, Neste contexto que se encontra maior problema na relagio, a fragilidade do outro mostra ‘ao médico a sua propria fragilidade, a finitude do paciente faz 0 médico pensar cm sua propria finitude. E isso traz sofrimento. Para eviti-lo, para aliviar angistias, reduzir tenses ¢ amenizar sentimentos, mecanismos de defesa si0 ativados, muitas vezes ndo permitindo um mangjo adequado das questies emocionais. ‘Ainda, deve ser considerado que a comunicago de mis noticias traz 4 tona sentimentos para aqueles que a reccbem. ‘© médico precisa avolher essas emogdes, contudo, no possui lum aparato tedrico ou emocional que lhe alicerce. Entio, a fuga acontece airis de protocolos que expliquem os passos indispensdveis para se lidar com cssas reages. Mas, nio hé protocolo que dé conta dessa profusdo afetiva, e s6 resta a0 médico sair da situago o mais répido possivel. A partir das evidéncias, torna-se entio necessrio resgatar a importineia da reflexdo sobre a relago médico-familiar como prética diétia tio importante quantos outros ensinamentos da medicina. Pritica que envolva tanto um aparato teérico, que instrumentalize e auxilie na resolugo de problemas, como DIMonteiro & AM Quintana lum aparato que lide com sentimentos e emogSes dos futuros médivos, Ainda, corrobora-se 0 fatlo de que os médicos no precisam agir sozinhos. Ha uma equipe interdisciplinar que pode auxilis-los nessa ardua tarefa; trocando experiéncias, falando sobre os sentimentos e participando stivamente em prol dos familiares, Evidencia-se, também, a necessidade de cursos de atualizagio para que os médicos jé formados possam realizar uma reflexio acerca dos seus sentimentos, no intuito de uma assisténcia integral ao paciente Referéneias Almeida, M. D.D, & Santos, A. PA. L, (2013), Cancer infantil (© médico diante de noticias dificeis: uma contribuigio da psicandlise. Mudancas, 21(1), 49-54, doi: htip:dx.doi ‘org/10,15603/2176-1019/mad.v21nlp49-54 Araijo, M. 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