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Psicologia Desafios e Possibilidades Vol
Psicologia Desafios e Possibilidades Vol
1ª Edição
Guarujá
Editora Científica Digital
2020
Copyright© 2020 Editora Científica Digital
Conselho Editorial
Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro
Profª. Drª. Eloisa Rosotti Navarro
Prof. Me. Ernane Rosa Martins
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
Prof. Dr. Rogério de Melo Grillo
Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-87196-09-1
DOI: 10.37885/978-65-87196-09-1
CDD 150
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos
aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
Jéssica Oliveira Costa; Michelle Alves de Souza; Samya Regia Figueiredo Vieira Antero
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................................ 15
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................................ 22
Denis Mantovani
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................................ 29
Ana Paula Parise Malavolta; Andressa Bittencourt Flores; Nitheli Cardoso Bissaco; Thayara Carlosso Irion
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................ 36
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................................................ 39
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................................................ 47
CAPÍTULO 9 ............................................................................................................................................ 68
CAPÍTULO 10 .......................................................................................................................................... 73
Rosimar Conceição Rodrigues; Letícia Maia Amaral; Ronaldo Santhiago Bonfim de Souza
CAPÍTULO 11 .......................................................................................................................................... 78
CAPÍTULO 12 .......................................................................................................................................... 81
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................................................... 86
CAPÍTULO 14 .......................................................................................................................................... 97
Daniele da Silva Fébole; Paulo Vitor Palma Navasconi; Karen Eduarda Alves Venâncio; Bárbara Anzolin
CAPÍTULO 16 .........................................................................................................................................117
Cleison Guimarães Pimentel; Aline Carlos do Vale; Ana Carolina da Rocha Gonçalves; Barbara Suelen
Lima dos Santos; Kassia Thamiris dos Santos Freire; Maria Karolina Dias da Costa
Cintia Glaupp Lima dos Santos; Lívia Maria Monteiro Santos; Maria das Graças Teles Martins
Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini ; Bruna Fernanda Alves ; Lucas Lauro da Silva; Thiago Bellei de Lima
SUMÁRIO
CAPÍTULO 22 ........................................................................................................................................ 168
MEU PET, MEU AMPARO, MEU CAMINHO SEGURO: A HISTÓRIA DE VIDA DE PESSOAS COM
DEPRESSÃO PÓS-ADOÇÃO
Julia Roveri Rampelotti ; Najla Maryla Maltaca; Vittoria do Amaral Ceccato de Lima; Cloves Antonio de
Amissis Amorim
Benedita Nádia Silva Pereira; Francisco Flávio Muniz Rufino; Francisca Telma Vasconcelos Freire;
Leidiane Carvalho de Aguiar; Marcelo Franco e Souza
Melissa Tavares Lima; Suellen de Oliveira Barbosa; Sarah Medeiros Tavoglieri; Greg Luan dos Anjos
Cardoso; Marcos Vinicius Lebrego Nascimento
RESUMO
O crescimento da população idosa no Brasil nos remete a uma
Jéssica Oliveira Costa
UNINASSAU
reflexão sobre os cuidados que a sociedade deve ter para manter
estes idosos em condições de independência, motivados e
Michelle Alves de Souza
participantes de programas instituídos para a melhoria da qualidade
UNINASSAU
de suas vidas. Este trabalho aborda a nova face da velhice numa
Samya Regia Figueiredo perspectiva sócio histórica, tendo como objetivo conhecer como
Vieira Antero
vivem os idosos hoje e quais fatores os motivam a assumirem uma
UNINASSAU
nova postura comportamental, considerando suas limitações e suas
possibilidades. Para tanto, tomou-se como base os desafios e as
oportunidades advindos desta nova postura. Para embasamento
da pesquisa realizou-se estudo teórico sobre envelhecer nos dias
atuais com foco no novo perfil e na motivação, assumindo diferentes
papéis na sociedade. O presente trabalho utilizou como instrumento
de investigação um questionário constando de dez perguntas
respondidas por trinta alunos participantes do Curso de Memória Ativa
do Programa de Atenção Integral ao Aposentado do Estado – PAI.
Os resultados da pesquisa indicam que os idosos hoje desfrutam de
uma gama de possibilidades para que tenham um envelhecimento
bem sucedido.
des.
10.37885/200400131
1. INTRODUÇÃO Brasileiro de Geografia e Estatística realizado em
2010 a estimativa de crescimento da população com
65 anos ou mais, entre os anos de 1991 a 2010
“De nada adianta acrescentar anos à
passou de 4,8% para 7,4%. Sendo que no Nordeste
nossa vida, se não acrescentarmos
a população é ainda jovem, porém com o controle
vida aos nossos anos”.
de natalidade aumentando a tendência é de que a
Marcelo Salgado proporção de idosos aumente.
O Brasil está envelhecendo, isto é um fato incontestável. Em decorrência do crescimento da população idosa,
Estima-se que a expectativa de vida da população percebeu-se um avanço da ciência em relação à velhice
brasileira no ano de 2020 será de aproximadamente contribuindo e muito para a melhoria da qualidade
16,2 milhões de idosos. Deve-se este fato ao avanço de vida para as pessoas que adentram esta fase. Na
da tecnologia, ao baixo índice de natalidade e as virada do século a expectativa de vida se ampliou
melhorias das condições de vida. de 50 para 80/90 anos; isso significa que podemos
viver 1/3 a mais. Daí, o estímulo para buscar formas
O processo de envelhecimento está atrelado a uma de aproveitamento deste tempo de vida. Portanto,
fase de significativas mudanças bio-psico-sócio-cul- vemos os idosos de aproximadamente 70/90 anos
tural que de acordo com cada envelhecente, esse nas academias, universidades, espaços culturais,
processo assume uma conotação diferenciada, por excursões, nos chamados clubes da Melhor idade
vezes positiva e cheias de possibilidades, noutras, e nos trabalhos voluntários. Comprovadamente aqui
com limitações. Ter uma boa velhice é viver um pro- está o foco deste trabalho – a nova face da velhice.
cesso contínuo de adaptações e aprendizagens, con-
siderando, aqui, perdas e ganhos, autoaceitação, Com índice de natalidade cada vez mais baixo, os
acúmulo de experiências e a busca constante de avanços na área de medicina e da tecnologia e ainda
independência, e bem-estar, passando pelo prazer a crescente preocupação com a qualidade de vida,
de viver. as pessoas que envelhecem estão atingindo idades
próximas aos 100 anos.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS) foram
adotadas diretrizes básicas que estão inseridas na É possível abordar o envelhecimento sob diversos
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), enfoques, além do cronológico:
tendo por objetivo promover o envelhecimento sau-
• Biológico: é o processo gradual e progressivo
dável, a prevenção de doenças e a manutenção da
que atinge todos os seres vivos;
capacidade funcional. Com base em estudos realizados,
podemos observar que a melhoria das condições de • Psicossocial: acontece quando o indivíduo apre-
vida favorece ao aumento da expectativa de vida da senta modificações afetivas e cognitivas, interfe-
população idosa. Nesse contexto, entram em cena rindo nas suas relações com os outros;
os Centros de Convivência, Clubes da Maturidade,
Escolas Específicas, dentre outros, que possibilitam • Funcional: ocorre quando a pessoa necessita
a inclusão dessa faixa etária a vários segmentos da de ajuda para desempenhar atividades básicas;
sociedade e todo um aparato para proporcionar a • Sócio-econômico: acontece por meio de mu-
esta categoria uma melhor qualidade de vida. danças decorrentes da aposentadoria.
Neste contexto, apresentam-se as seguintes questões: Considerando os estudos hoje realizados sobre o
o que motiva a pessoa idosa a vencer os obstáculos, futuro dos longevos na esfera mundial e particular-
superando as limitações encontradas no seu dia-a-dia mente no Brasil, podemos observar que a melhoria
para viver melhor? Onde encontrar recursos para da qualidade de vida do idoso, apesar do preconceito,
envelhecer com saúde e qualidade de vida? Quais discriminação e isolamento da sociedade para com
benefícios os recursos da comunidade agregam à o mesmo, e mais ainda, da velhice ser vista como
vida desta população? Para o alcance dos objetivos etapa de vida permeada de doenças, fracassos e
propostos por este trabalho realizou-se aplicação de peso social percebemos que existe hoje um esfor-
questionário seguido de entrevista com os idosos/ ço da sociedade, dos profissionais de saúde e dos
alunos da Instituição escolhida. Vale salientar que próprios longevos, para rever este quadro e oferecer
a pesquisa foi realizada num clima de harmonia e uma melhor qualidade de vida a essa população.
percebeu-se alegria dos participantes em contribuir Existe um movimento de sensibilização por parte
com o referido trabalho. da sociedade para tornar o idoso mais participativo,
o que justifica o presente trabalho. Com essa nova
5.OBJETIVOS
Regras mais específicas foram, então, criadas para
regulamentar as leis infra-constitucionais, sempre se-
guindo os princípios expostos no texto constitucional. Constituem os objetos deste estudo:
Positivar um Direito é sempre proporcionar benefícios
à sociedade, é um avanço, pois poder-se-á utilizar a
7.METODOLOGIA
qualidade de vida dos participantes do curso de Me-
mória Ativa.
A metodologia para o desenvolvimento deste
trabalho está organizada de maneira a descrever o
5.2 ESPECÍFICOS: caminho adotado para a sua realização, contemplado
a partir do levantamento da pesquisa bibliográfica
• Analisar o estilo de vida dos idosos hoje e quais
acerca do envelhecimento na atualidade. Com base
fatores os motivam a assumirem uma nova postura
na pesquisa elaborou-se um questionário a ser res-
comportamental, considerando suas limitações e
pondido por trinta idosos participantes do curso de
suas possibilidades.
Memória Ativa do Programa de Atenção Integral ao
• Refletir sobre as representações do velho de Aposentado do Estado - PAI com o intuito de conhe-
ontem e de hoje, levando em consideração o seu cer a maneira como administram suas vidas e como
estilo de vida. ocupam seu dia. O modelo de pesquisa usado foi de
natureza qualitativa constando do referido questionário
• Conhecer o que motiva o idoso a ter interes- 10 (dez) perguntas. Após aplicação procedeu-se a
se em participar de atividades socioeducativas análise interpretativa dos resultados e a observação
e culturais. de dados escritos pelos respondentes. Este trabalho
• Conhecer as expectativas e aspirações do idoso é composto de três partes, a saber: levantamento
em relação ao futuro. da pesquisa bibliográfica sobre o tema trabalhado,
aplicação de questionários e análise dos resultados
obtidos.
6.JUSTIFICATIVA
A escolha pelo tema deste estudo deu-se pele
No levantamento da literatura, realizou-se um amplo
leque de informações sobre o tema através de lei-
relevância que o processo de envelhecimento bem turas em livros e artigos com foco no perfil do idoso
sucedido tem assumido na sociedade nos dias de da atualidade. Constando, também, de informações
hoje. Fala-se em Melhor idade, Idade Dourada, Feliz advindas de pesquisas na internet.
idade e tantos outros títulos que venham a suavizar O resultado obtido nesta etapa compõe a base teórica
o impacto da velhice nos seres humanos. A velhice é deste trabalho e orientou a construção do formulário
uma fase da vida permeada de medos, frustrações, de pesquisa.
ansiedade e tantas outras ocorrências que dificultam
a aceitação. Daí, ter-se conteúdo para desenvolver Para a realização do levantamento de dados, optou-se
um trabalho de estudo e reflexão com um rico material pela aplicação de questionário de entrevista como
para seu embasamento. Suscitando o interesse por instrumento de pesquisa mais adequado, visto que
discorrer sobre o tema. o estudo pretendia conhecer o perfil, a motivação e
as dificuldades por que passam os respondentes.
A opção por aplicar a pesquisa no Programa de Aten- O questionário foi elaborado tomando por base os
ção Integral ao Idoso fundamenta-se na variedade aspectos importantes a serem estudados e que foram
existente de cursos e atividades oferecidas por esta levantados no estudo bibliográfico. Tendo em vista
instituição a seus associados, possibilitando um rico o objetivo da pesquisa, considerou-se o número de
trabalho de investigação e observação sobre a ma- respondentes e o resultado da pesquisa suficiente
neira de como vivem os idosos em nossa sociedade, para o propósito do estudo.
foco da presente pesquisa. A pesquisa é orientada,
portanto, pela questão: Qual o fator motivacional
que leva o idoso associado ao PAI a participar das
atividades oferecidas por este órgão? 8.RESULTADOS
Este relatório apresenta os resultados das entre-
O interesse pelo tema e a realização da pesquisa
vistas realizadas para conhecer o perfil, a motivação
na instituição mencionada também se justifica pelo
e as limitações a que são submetidos os idosos hoje.
reconhecimento de demanda por serviços que pro-
movem e facilitam a vida pessoa idosa, para que Para a realização deste estudo foi utilizado o méto-
continuem com força, energia e vitalidade por um do de pesquisa qualitativa, através da aplicação de
maior período de tempo e por ser esta instituição questionários. O público-alvo dessa pesquisa foram
reconhecida pela prestação exemplar dos serviços trinta idosos/alunos do curso de memória ativa da
7. “Ocupo meu dia conversando com os amigos Dessa forma, conclui-se que manter o idoso ativo
e fazendo os afazeres domésticos”. e preparado para os desafios próprios desta etapa
da vida, significa termos pessoas mais saudáveis,
8. “Agora na velhice me sinto ainda realizado por participativas, com menos conflitos e, principalmente,
estar ativo e independente”. pessoas mais felizes.
9. “O curso de memória melhora a minha vida.
Meu raciocínio anda um pouco lento, às vezes REFERÊNCIAS
me sinto confuso. ”
NEGREIROS, T. C. G. A nova velhice: uma
9.CONCLUSÃO
visão multidisciplinar. Editora Revinter, Rio de
Jeneiro – 2001.
De acordo com a pesquisa realizada o objetivo MARTINS, I. M. Felicidade na Velhice. Editora
do trabalho foi atingido. Entende-se que se faz ne- Paulinas, São Pulo – 2003.
cessário um novo enfoque sobre a velhice. Mesmo
com todas as dificuldades, a velhice deve ser vista OLIVEIRA, R. C. S. Terceira Idade: do repen-
não como o começo do fim, mas como um período sar dos limites aos sonhos possíveis. Editora
de grandes transformações. Envelhecer assusta se Paulinas, São Paulo – 1999.
não estamos preparados para as dificuldades des-
ta fase da vida. Por outro lado, o envelhecimento LORDA, C. R. Recreação na terceira Idade.
bem sucedido consiste em estar satisfeito com a Editora Sprint, Rio de Janeiro – 1998. 2ª edi-
RESUMO
Este trabalho é resultado de um diálogo entre os autores para buscar
Ricardo Colombo Gallina
UFGD
novas compreensões sobre as particularidades da brincadeira no
Transtorno do Espectro Autista (TEA) a partir das contribuições
Regina Basso Zanon
de Vigotski, principalmente de seus escritos sobre a brincadeira
UFGD
e o desenvolvimento. O objetivo, portanto, foi de investigar as
potencialidades de desenvolvimento em uma criança com TEA, a
partir da análise da qualidade de sua brincadeira, incorporando os
conceitos vigotskianos. Para tanto, utilizamos como material vídeos
de sessões lúdicas nas quais foi realizada a aplicação do instrumento
PROTEA-R com uma criança de 6 anos com diagnóstico prévio de
TEA, buscando identificar na relação da criança com os brinquedos e
com a avaliadora as dinâmicas descritas por Vigotski. Dessa forma, foi
possível identificar momentos nos quais a criança estabelecia relações
significativas com os brinquedos apresentados pela avaliadora, bem
como estabelecer contato operando com os significados dos objetos,
ainda que com apoio, demonstrando as potencialidades de operar
com signos e símbolos.
tural; Desenvolvimento.
10.37885/200400172
1. INTRODUÇÃO camente, ditadas pelas “formas de comportamento
baseadas no uso de signos como meio de controlar
qualquer operação psicológica em particular”. Esse
domínio de signos, no entanto, não constitui o único
1.1 A BRINCADEIRA COMO ATIVI- fator no desenvolvimento. Para o autor, “apenas em
DADE DOMINANTE NO DESENVOL- um certo nível de desenvolvimento interno do orga-
VIMENTO DA CRIANÇA nismo torna-se possível dominar qualquer método
cultural [de controle do comportamento]”. Assim, é
A partir da perspectiva histórico-cultural, cuja base necessário um nível de maturação para que o de-
filosófica é o materialismo histórico de Marx e Engels, senvolvimento cultural entre em ação. No entanto,
o ser humano caracteriza-se por seu devir histórico
em relação com a cultura, isto é um ser que não a relação entre os dois fatores nesse
“nasce pronto”, mas nasce com certas potencialida- tipo de desenvolvimento é alterada
des legadas a ele pela história evolutiva da espécie, materialmente. A parte ativa é desem-
que, no contato com o mundo externo, natural e penhada pelo organismo que domina
social, age ativamente transformando a natureza
os meios de comportamento cultural
e a si mesmo. Compreende-se que o ser humano
apresentados pelo ambiente. A matu-
sempre tem “diante de si uma natureza histórica
ração orgânica desempenha um papel
e uma história natural” (MARX; ENGELS, 2007, p.
31), mobilizando-o no sentido de agir em consonân- de condição, ao invés de motivo do pro-
cia com as condições de cada situação posta pela cesso de desenvolvimento. (VYGOT-
objetividade, pelo mundo externo. Dessa forma, as SKY, 1994, p. 64)
potencialidades ditas naturais, denominadas de fun-
ções elementares, são mobilizadas e “desafiadas” Nesse momento, passaremos para a análise da
ao se confrontarem com situações propostas pela brincadeira como atividade dominante na idade
sua relação com a natureza. pré-escolar e seu papel fundamental no desenvol-
vimento da criança. Isso porque o desenvolvimento,
Vigotski nos demonstra que o trabalho guarda uma fundado no domínio dos meios culturais de controle
relação essencial com o processo de devir humano na do comportamento, vai se expressar na criança na
cultura, isto é, com o processo de tornar-se humano. brincadeira. Por isso, ela é entendida como sendo
Segundo o autor, os instrumentos de trabalho, cuja a principal forma de atividade para este período do
finalidade é controlar um processo de metabolismo desenvolvimento, a partir da qual o desenvolvimento
entre homem e natureza, são meios artificiais criados cultural se efetiva na criança.
pelo ser humano para controlar um objeto externo.
De forma análoga, os instrumentos psicológicos são Na brincadeira, essencialmente, a criança cria uma
entendidos como meios artificiais cuja finalidade é situação imaginária, e essa característica é o que
controlar os processos mentais do próprio ser humano separa a brincadeira de outros tipos de atividade
(de si mesmo ou de outros), ou seja, são criados pelo da criança. Por outro lado, a brincadeira é também
ser humano para controlar seus próprios processos uma situação com regras. Assim, podemos dizer
psíquicos. (VIGOTSKI, 1999) Portanto, o processo que a situação imaginária já contém um conjunto de
de desenvolvimento do ser humano é o processo de regras a serem seguidas. A situação imaginária pode
apropriação e internalização desses meios auxiliares condensar em si certos papeis sociais (no caso da
criados culturalmente, os chamados signos culturais. brincadeira de faz de conta), limitações de objeto (um
Aqui, é preciso fazer uma delimitação, caracterizando cavalo não pode voar), etc, e essas contingências
o que é um signo e como este se expressa e influen- próprias da brincadeira são as regras as quais a
cia no desenvolvimento psicológico. Um signo é um criança se submete. Assim, a essência dessa situação
meio auxiliar de algum recurso cultural, ou seja, de imaginária é que a criança submete sua atividade,
uma relação ou objeto externo que é apresentada adaptando e controlando seu comportamento de
de maneira significativa pelos outros à criança, cuja acordo com as regras da brincadeira.
inclusão no processo de comportamento “forma um Mas, para que essas dinâmicas próprias da brincadeira
centro estrutural e funcional, que determina toda a se efetivem, existem dois processos fundamentais
composição da operação e a importância relativa de que são condições necessárias, são eles: 1) a sepa-
cada processo separado.” (VYGOTSKY, 1994, p. 61) ração da ideia do objeto e 2) o controle dos próprios
Tendo esse pressuposto da inclusão do signo no impulsos. No primeiro caso, o que ocorre é o que
processo de comportamento como o determinante Vigotski (2008, p. 26) chamou de “separação entre
do comportamento cultural do ser humano, Vygotsky o campo visual e o semântico”. Na criança até certa
(1994, p. 58) define o desenvolvimento cultural como idade, existe uma união efetiva entre esses dois
o conjunto de operações que se sucedem histori- campos, o que na prática significa que a criança é
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
tem natureza e origem social – a criança reelabora as
formas humanas de agir a partir de suas condições
concretas de vida – destaca-se que as dificuldades
sociais características do TEA também influenciam
no desenvolvimento da brincadeira destas crianças.
3.1 MOTIVO DO ENCAMINHAMENTO
Assumindo uma postura baseada no materialismo
INICIAL E PRINCIPAIS QUEIXAS
histórico-dialético, em que os fenômenos são enten-
didos como processos em constante movimento e A busca inicial dos pais pelo serviço se deu de forma
mudança, questionamos o caráter imutável de as- espontânea e foi decorrente de um diagnóstico prévio
pectos do desenvolvimento infantil e valorizamos as de Transtorno do Espectro Autista da filha, denomi-
interações sociais estabelecidas em determinados nada aqui de J. Entre as queixas iniciais trazidas
contextos históricos na construção de comportamentos pelos cuidadores estiveram hipersensibilidade a sons,
tipicamente humanos. Sendo assim, o objetivo do peculiaridades no desenvolvimento da linguagem e
estudo é investigar potencialidades do desenvolvi- dificuldades no relacionamento social. Deste modo,
mento de uma criança com TEA a partir da análise da o motivo principal da primeira avaliação foi investigar
qualidade da sua brincadeira, considerando contextos possíveis comprometimentos nas áreas da comuni-
interativos em especial os mediados por objetos. cação, interação social, qualidade da brincadeira e
ocorrência de comportamentos repetitivos/estereo-
2.METODOLOGIA
tipados, para fins de esclarecimento dos aspectos
comportamentais do diagnóstico. A avaliação buscou
também identificar aspectos desenvolvimentais pre-
Realizou-se um estudo de caso (YIN, 2001) servados (potencialidades), nas áreas investigadas
de uma menina com 6 anos e com o diagnóstico e o adequado encaminhamento aos profissionais
prévio de TEA. A pesquisa consiste em uma análise da área. J. foi avaliada por equipe interdisciplinar
retrospectiva de uma sessão lúdica videogravada de quando tinha 3 anos e 10 meses e reavaliada quando
aplicação do Sistema PROTEA-R (BOSA; SALLES, tinha 5 e 6 anos. Em todos os processos avaliativos
2018) no processo de reavaliação da menina. As e momentos foram identificados comportamentos
sessões foram desenvolvidas pela segunda autora característicos do diagnóstico de TEA.
do estudo, em contexto de clínica-escola de Psi-
cologia. Nesse processo, a pesquisadora inclui-se Para fins do presente estudo, será analisada uma
como elemento que faz parte da situação pesquisada, sessão de reavaliação, quando a menina tinha 5
sem assumir uma posição de observadora/avaliadora anos, na qual foi administrado o sistema PROTEA-R.
neutra. Sendo assim, as suas ações no ambiente Ressalta-se que o PROTEA-R é um instrumento de
e as relações dessas ações com o comportamento observação, composto por 17 itens, que se destina a
infantil também serão materiais de análise. avaliar a qualidade e a frequência de comportamentos
característicos do TEA (isto é, comprometimentos
A pesquisa tem caráter transversal e qualitativo, sendo sociocomunicativos e presença de comportamentos
as análises baseadas pelos pressupostos do enfoque
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espectro Autista. São Paulo: Vetor, 2018.
RESUMO
O estudo da criminalidade, do encarceramento e das consequências
Denis Mantovani
UEM/PR
dele na saúde mental dos apenados tem exigido que a prática do
profissional psicólogo se adeque a um setting totalmente diferente
do consultório particular. Considerando esta importância conceitual
para a prática clínica, e que atualmente a psicologia encontra-se
inserida no contexto de atendimentos no sistema prisional, considera-
se relevante levantar a hipótese sobre a possível existência de
um tipo de contratransferência específica nesse caso. Para tanto,
descreve-se como ocorre o trabalho de um psicólogo em uma
penitenciária. Em seguida são expostos pontos que mostram a
especificidade da contratransferência no contexto prisional, expondo
suas particularidades, características e possível manejo. Entre essas
características, tem-se que, devido a todos os atendimentos serem
escoltados por um agente penitenciário, as projeções e introjeções
do psicólogo incidem sobre esses dois personagens, saindo, então,
da tradicional relação dual que ocorre nos consultórios particulares,
para uma relação triangular. Contratransferencialmente, o escoltante
e a estrutura da segurança pública que gerencia a penitenciária
tornam-se depositários da projeção do superego, pressionando o
psicólogo, de forma inconsciente; e o paciente-apenado-criminoso
torna-se depositário da projeção do id do profissional, que se verá
defrontado a seu lado instintivo primitivo; restando ele próprio como
ego-mediador entre esses dois eixos contratransferenciais.Manejar tal
contratransferência torna-se de suma importância em uma instituição
muitas vezes hostil à prática psicológica e na qual o sofrimento
humano se revela de forma dramaticamente crua.
Prisional.
10.37885/200400171
1. INTRODUÇÃO impactam com relevância no trabalho que ele (pro-
fissional) realiza.
O estudo da criminalidade, do encarceramen- Considerando que a intervenção do psicólogo se
to e das consequências dele na saúde mental dos insere em uma relação dialética com seu paciente e
apenados tem aguçado vários questionamentos na com a instituição em que ele trabalha; ou seja, simul-
contemporaneidade. Questiona-se qual caminho seria taneamente quando intervém, sua prática também
o mais justo para lidar com alguém que rompe os é modificada, produzindo uma nova interpretação;
limites éticos e morais mais caros e estruturantes conceitos que ele operaria em um lugar não neces-
à nossa sociedade. Projeções futuras e políticas sariamente ocorreriam da mesma maneira em outro.
públicas são pensadas caso haja continuidade do
modelo de aprisionamento atual, assim como se bus- O sistema prisional é uma instituição com uma repre-
ca identificar a causa de o que leva uma pessoa a sentação social bastante negativa, com um setting
exterminar outra, ou a cometer uma violação sexual peculiar, com internos reclusos portadores de condi-
- acting-outs puros. ções psicopatológicas que exigem atenção especial
dos psicólogos. É um lugar em que as pulsões (de
Assim, o trabalho do psicólogo nesses locais torna-se vida; de morte) apresentam-se em sua forma crua,
desafiador, e para alguns, algo bastante inóspito e descritas na história de vida dos pacientes-apenados.
árido.
Com o número de encarceramentos crescendo a
Para auxiliar na dissolução desse desafio, traz-se à cada ano, foi necessário que a psicologia “entrasse
tona o conceito psicanalítico de contratransferência. na penitenciária” a fim de tratar das questões de
Mesmo abordagens díspares e que não guardam saúde mental dos internos ali custodiados.
relação conceitual com a psicanálise utilizam esse
conceito em sua prática psicoterápica, evidenciando Este estudo tenta investigar a existência de uma
seu relevo. contratransferência específica neste local de trabalho,
suas características e possível manejo.
A contratransferência tem sido objeto de estudos
no campo da psicanálise desde a sua definição por Como método de pesquisa qualitativo/compreensivo,
Sigmund Freud, no começo do século XX, sobretudo a psicanálise tem como objetivo de pesquisa a “apre-
devido à interferência que ela provoca na prática ensão e interpretação da relação de significações
profissional. de fenômenos para os indivíduos e a sociedade”
(TURATO, 2003, p. 156-7).
A partir disso a subjetividade do profissional passa a
ser encarada sob um viés de maior complexidade e A psicanálise enquanto método de investigação do
torna-se parte ativa do cenário psicólogo - paciente, psiquismo humano utiliza o critério evolutivo, onde
abandonando a concepção positivista de “cientista as manifestações patológicas e não-patológicas são
da mente” imparcial, neutro e distante, então em estudadas levando-se em conta as vivências do indi-
voga na psicologia experimental (anterior a Freud) víduo, suas experiências de gratificação, frustração,
(SCHULTZ, 2004). privação e suas consequências dentro do aparelho
psíquico. A psicanálise, ainda, considera o contex-
A contratransferência funciona como um radar sensível to em que os fenômenos psíquicos ocorrem. Este
às variações do campo relacional, isto é, como uma contexto se constitui pelas condições biológicas do
antena que capta, inconsciente e conscientemente, o indivíduo, sua psicodinâmica (como se dá o funcio-
que se passa tanto durante a sessão de atendimen- namento entre as instâncias psíquicas), e a realidade
to com o paciente, quanto em relação à instituição social e cultural em que ele está inserido - neste
em que o profissional desempenha suas atividades. caso, particularmente, será a penitenciária. Somente
Capta, e, muitas vezes apenas inconscientemente, dentro deste contexto fenômenos mentais podem
produz efeitos desta captação. ser analisados (KUSNETZOFF, 1982).
Sendo assim, torna-se indispensável uma análise Partindo dessa base teórica analisar-se-á a contra-
da contratransferência sob pena de a eficácia da transferência, e como ela se desenvolve no setting
intervenção psicoterapêutica ser comprometida se- penitenciário. Delimitarei como se dá esse setting,
veramente por um estímulo alheio à condição mental usando minhas observações decorrentes do meu
do paciente. O manejo da contratransferência é de cotidiano de psicólogo do sistema prisional.
inteira responsabilidade do psicoterapeuta (ETCHE-
GOYEN, 2004). O “setting penitenciário” é bastante diverso do set-
ting clínico, descrito detalhadamente na literatura
Em determinados locais de trabalho, o profissional psicanalítica.
pode sentir que essas variações de campo - ou
perturbações - sejam de tão modo massivas que O setting influencia tanto a própria construção teó-
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar considerações
Ana Paula Parise
Malavolta sobre o lugar e a implicação das figuras parentais na vida de uma
UFSM criança que adentra para o espaço da Educação Infantil. Para isso,
compartilhamos nesta escrita por meio da perspectiva do Ensaio
Andressa Bittencourt (LARROSA, 2003) a construção de uma prática educacional grupal
Flores com pais e/ou responsáveis de crianças que se apresentam inseridas
URI
no contexto de escolas de Educação Infantil na cidade de Santiago/
RS, com intuito de apontar meios de reflexão acerca da infância
Nitheli Cardoso Bissaco
e do ser criança. Nesse percurso, percebemos que no processo
URI
de encontros, trocas e gestos, as relações entre famílias e escola
Thayara Carlosso Irion apresentam-se como arranjos fundamentais para a composição de
URI
espaços de potência, amparo e sustentação para que as crianças,
possam sentirem-se seguras em suas composições singulares.
RESUMO
A Endometriose é uma doença crônica, inflamatória, de difícil
Camila Barreto
diagnóstico, que ocorre durante o período menstrual. Os sintomas
Gabriela Nascimento podem surgir ainda na adolescência. A endometriose, com toda a sua
Arina Lebrego sintomatologia, atravessa a vida das mulheres afetadas, da carreira
aos relacionamentos, até os planos futuros para a concepção. Em
razão disto, observou-se a importância de um acompanhamento
psicológico a essas mulheres. Os principais resultados mostraram
que a grande maioria das mulheres portadoras de endometriose,
necessitam de atendimento psicológico devido à alta prevalência
de depressão e entre outros sofrimentos psíquicos envolvidos no
processo de adoecimento. Percebeu-se que a mulher portadora de
endometriose também é uma demanda para a psicologia.
mento Psicológico.
10.37885/200400108
1. INTRODUÇÃO Na elaboração deste trabalho foi realizada uma re-
visão de literatura, a partir da seleção de artigos
A maioria das mulheres sofrem com dores científicos que preenchessem os seguintes critérios:
durante o período menstrual. O que muitas não sa- apresentassem uma linguagem clara sobre a endo-
bem, é que algumas delas podem ser portadoras metriose, que explorassem os recursos utilizados nos
de Endometriose. A Endometriose é uma doença tratamentos, e por fim que expusessem relatos das
crônica, inflamatória, de difícil diagnóstico, que ocor- vivências dessas mulheres e suas principais queixas,
re durante o período menstrual, caracterizando-se sejam elas físicas ou emocionais. Foram excluídas
pela migração do tecido endometrial para fora da desta pesquisa, os artigos que não atenderam aos
cavidade uterina (tecido que reveste a “parede” do critérios de inclusão descritos acima. Utilizou-se os
útero, conhecido como endométrio), principalmente seguintes descritores: endometriose, acompanha-
para o abdome, além de ovários, ligamentos uterinos, mento psicológico e infertilidade. A base eletrônica
bexiga e intestino. Os sintomas podem surgir ainda consultada foi a SciELO no idioma português.
na adolescência como cólicas menstruais progres-
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
sivas e/ou incapacitantes, dores durante a relação
sexual, dores entre uma menstruação e outra, queixas
como diarreia e/ou constipação intestinal, náuseas
Os principais resultados mostraram que a grande
no período menstrual, e em casos mais alarmantes,
maioria das mulheres portadoras de endometriose,
podendo causar infertilidade (VILA et al, 2010, p.220).
necessitam de atendimento psicológico devido à alta
A endometriose, com toda a sua sintomatologia, prevalência de depressão e entre outros sofrimentos
atravessa a vida das mulheres afetadas, da carreira psíquicos envolvidos no processo de adoecimento
aos relacionamentos, até os planos futuros para a (LORENÇATTO et al, 2002, p. 229). Vale ressaltar,
concepção (COX et al., 2003; DENNY, 2004 apud que em casos de depressão, por exemplo, deve-se
MATTA e MULLER, 2006). tratar não apenas como resultado esperado do so-
frimento decorrente da endometriose, mas sim com
O dado mais importante, na literatura toda a importância que se espera de um tratamento
mundial, foi publicado em 2011, por em pacientes depressivos. Observou-se também,
Nnoaham, que apontou em um levanta- que uma parte significativa dessas mulheres relatam
mento multicêntrico em 16 centros clí- que durante o seu processo de tratamento, sentem
nicos de 10 países, que mulheres com uma carência de apoio por parte do parceiro (o apoio
do parceiro, da família e amigos é importante e sua
endometriose, confirmadas cirurgica-
ausência pode favorecer transtornos emocionais).
mente, perdem 38% de sua capacida-
As que recebem tal apoio reconhecem que é um
de de trabalho, o que representa, sem elemento essencial para superar a doença.
dúvida, um grande impacto socioeco-
nômico, além de a redução impactante
na sua qualidade de vida (FEBRASGO,
2014/2015, p. 10). 4.CONCLUSÃO
A conclusão final é que através dos estudos
Neste sentido, é possível que a mulher com esta levantados, verificou-se que ao receber o diagnóstico
patologia, além das dúvidas e incertezas que vive de endometriose, tais mulheres relataram sentir vari-
com o diagnóstico, experimente uma série de frus- áveis emoções negativas que se estenderam durante
trações e conflitos emocionais como raiva, angústia, o tratamento, somando-se com a carência de apoio
ansiedade, medo – sentimentos comuns em todas do parceiro e familiares. Percebeu-se que a mulher
as pessoas que se descobrem com alguma doença portadora de endometriose também é uma demanda
crônica. Vale ressaltar que os prejuízos da doença para a psicologia. Uma vez que, há um papel para o
estão para além do fisiológico, atingindo também o profissional de saúde, com enfoque no psicólogo, em
emocional. Em razão disto, observou-se a impor- promover e estimular a participação ativa do parceiro/
tância de um acompanhamento psicológico a essas família/amigos valorizando estes vínculos para um
mulheres. tratamento mais humanizado, acompanhando esta
mulher no seu processo de tratamento provendo uma
O objetivo deste trabalho foi investigar, a partir de elaboração de seus sofrimentos psíquicos e sempre
um estudo bibliográfico, o sofrimento de mulheres apoiando as tentativas dessas mulheres de lidar com
portadoras de endometriose. a insegurança, preconceito cultural, ansiedade, de-
pressão e entre outros transtornos emocionais que
RESUMO
O presente artigo objetiva apresentar as interconexões entre o
Claudia Maria Rinhel-
Silva trabalho do psicólogo nas políticas públicas sociais e a instituição
UNESP-ASSIS familiar. Sendo assim, versa sobre a inserção dos psicólogos nas
políticas públicas sociais, especificamente nos Centros de Referências
da Assistência Social (CRAS) e suas interfaces entre teoria e prática,
ou seja, o foco da problematização é a relação entre as intervenções
propostas pela Política de Assistência Social executadas num
CRAS e seus efeitos na prática para o atendimento de famílias em
vulnerabilidade social.
qualificação dos recursos humanos; monitoramento Para abordar a família como foco de intervenção
e avaliação de resultados das ações desenvolvidas; necessita-se de um aprofundamento das discussões
acesso democrático e transparente à informação. sobre o que é família, suas possíveis configurações
(Capacitação para implementação do sistema Único e suas representações de gênero no âmbito familiar,
de Assistência Social – SUAS e do Programa Bolsa com ênfase nas famílias que estão em vulnerabili-
Família – PBF/ Coordenação geral/2008). dade social¹.
As ações do SUAS são também concretizadas A configuração da família contemporânea foi constitu-
por meio dos CRAS que realizam a Proteção Social ída no decorrer da história, porém sempre mantendo
Básica e dos Centros de Referência Especializados a importância das funções familiares de cuidado e
da Assistência Social (CREAS), o qual intervêm socialização nos vínculos familiares e nos laços afe-
em situações de risco com ou sem rompimento dos tivos. Assim, “É na família que se obtém não apenas
vínculos familiares, denominada Proteção Social Es- apoio e suporte material através de sua rede de
pecial (PSE). (BRASIL, 2006) amparo e proteção, mas também se experimenta
as principais vivências emocionais (...).” (OLIVEIRA;
O foco deste trabalho se localiza nos atendimentos
VIEIRA; BARROS, 2010 p.3)
realizados por profissionais da área da psicologia
junto às famílias referenciadas ao CRAS. Este equi- Independente das transformações, dos seus arranjos,
pamento social se concretiza nas ações e atuações configurações e laços consanguíneos, a família é
como proteção social básica e sua localização é considerada como uma estrutura essencial à huma-
sempre em áreas com maiores índices de vulnera- nização e à socialização das crianças e adolescentes
bilidade e risco social destinadas: à prestação de e ainda, como norteadora do desenvolvimento da
serviços e programas socioassistenciais às famílias personalidade e de suas potencialidades. É importante
e indivíduos; à articulação destes serviços no seu que as famílias promovam um ambiente saudável,
território de abrangência; e uma atuação intersetorial no qual diante de fatores estressores, possam fun-
na perspectiva de potencializar a proteção social. cionar como protetoras, encontrando recursos que
auxiliem seus membros a enfrentarem situações de
Os trabalhos realizados nos CRAS são desenvolvidos
vulnerabilidade, tornando-os mais fortes frente às
por meio do Programa de Atendimento Integral à
adversidades, ou seja, ajudá-los a serem resilientes
família (PAIF), estipulado pelas diretrizes da política
para enfrentar as transições e as dificuldades do
pública do SUAS. O PAIF tem como prerrogativa
cotidiano. (RINHEL-SILVA, 2009; OLIVEIRA; VIEIRA;
fortalecer os vínculos familiares e comunitários e
BARROS, 2010)
prevenir situações de riscos pessoal e social. Dentre
os objetivos do PAIF podemos citar a promoção do Nesse aspecto, considera-se a importância das re-
acompanhamento socioassistencial de famílias em lações familiares no contexto das políticas públicas
um determinado território, a potencialização da família sociais, visto que a política foi criada para amparar
como unidade de referência, fortalecendo vínculos as dificuldades provenientes dos núcleos familiares
internos e externos de solidariedade; a contribuição
para o processo de autonomia e emancipação so-
cial das famílias, fomentando seu protagonismo; o
desenvolvimento de ações que envolvam diversos
setores, com o objetivo de romper o ciclo de repro- ¹ O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (SÃO PAULO, 2000),
dução da pobreza entre gerações e a atuação de considera como fatores geradores de vulnerabilidade: moradias
forma preventiva, evitando que essas famílias tenham precárias, baixa renda familiar, drogadição, pouca ou nenhuma
seus direitos violados, recaindo em situações de qualificação profissional, pois sobrevivem de subempregos
risco social. (trabalhadores rurais, catadores de materiais reciclados, entre outros)
e necessitam de intervenções assistenciais para o seu sustento.
Pode-se observar que no contexto das políticas as- Entende-se o conceito de vulnerabilidade por meio do Índice Paulista
sistenciais proposta pelo SUAS o enfoque é nas de Vulnerabilidade (IPVS) que a divide em duas categorias: alta e baixa
ações de fortalecimento dos vínculos familiares e vulnerabilidade, sendo que este índice “é resultante da combinação da
dimensão socioeconômica, ou seja, a renda apropriada pelas famílias
acompanhamento da dinâmica das relações familiares
e o poder de geração da mesma por seus membros, associada a
no âmbito do território de abrangência, ressaltando
uma dimensão demográfica, relacionada ao local de moradia e à
a centralidade dos trabalhos na família e não no
fase do ciclo de vida familiar, que potencializa riscos(...) ” (MACEDO;
KUBILOWSKI; BERTHOUD, 2006, p. 43).
4.OPOLÍTICAS
de uma comparação, que os mesmos se apresentam
como líquidos, não permanentes e atados frouxa- PAPEL DO PSICÓLOGO NAS
mente para serem desfeitos a qualquer momento. PÚBLICAS
Aponta as fragilidades dos vínculos humanos bem
como o sentimento de insegurança nas relações que A PNAS propõe, para a realização dos serviços socio-
se apresentam ambivalentes, no qual ao mesmo assistenciais, uma equipe interdisciplinar de referência
tempo em que desejam manter os laços afetivos, no qual os profissionais atuam no apoio, superação
os afrouxam por se depararem com sentimentos e fortalecimento das potencialidades das famílias
descartáveis, momentâneos ou instantâneos. em situação de vulnerabilidade. A equipe, segundo
a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
O autor ainda considera que, diante desta satisfação do SUAS – NOB/SUAS/RH (2007), é constituída por
dos desejos instantâneos, os vínculos amorosos, ou psicólogos, assistentes sociais, coordenador, auxiliar
seja, o viver junto, passa a ter intenções modestas administrativo, educadores sociais, entre outros e
que não se prestam a juramentos diante de teste- sua composição dependerá do número de famílias
munhas para consagrar tal união. Enfim, os casais referenciadas no território, ou seja, da área delimitada
ficam juntos apenas quando querem ou quando estão para atendimento da população.
a fim, caso contrário, cada um segue o seu caminho
buscando a realização dos seus desejos. Cada profissional, de acordo com sua formação, dará
a sua contribuição para a efetivação das ações de
A partir deste conceito, torna-se necessário desmis- forma integrada, porém a ênfase nesse trabalho é
tificar a idealização de uma dada estrutura familiar na atuação do psicólogo que deve atuar para diri-
como sendo a tradicional, abrindo-se caminhos e mir as vulnerabilidades socioassistenciais por meio
possibilidades para o reconhecimento da diversidade do acolhimento e empoderamento dos membros da
das organizações familiares no contexto histórico e composição familiar.
social. Sendo assim,
O profissional de psicologia para atender essa demanda
[...] não se trata mais de conceber um específica das políticas públicas sociais, necessita
modelo ideal de família, devendo-se ul- de um reposicionamento de sua prática na qual,
trapassar a ênfase na estrutura familiar
para enfatizar a capacidade da família [...] esses profissionais não devem
de, em uma diversidade de arranjos, “patologizar” ou categorizar os usuá-
exercer a função de proteção e sociali- rios do CRAS nos seus atendimentos,
zação de suas crianças e adolescentes mas intervir de forma a utilizar de seus
(BRASIL, 2006, p. 24). recursos teóricos e técnicos para: a)
compreender os processos subjetivos
Assim, a autora Roudinesco (2003) considera que a que podem gerar ou contribuir para a
família enquanto instituição não se dissolveu e sim se incidência de vulnerabilidade e risco
reorganizou garantindo a reprodução das gerações social de famílias e indivíduos; b) con-
de maneira diferente, no qual o casamento não é tribuir para a prevenção de situações
mais tão enfatizado como as relações de uniões que possam gerar rupturas dos víncu-
afetivas que se unem por períodos aleatórios e os los familiares e comunitários, e c) favo-
filhos que, antigamente, quando nascidos fora do recer o desenvolvimento da autonomia
matrimonio, eram considerados como algo aterro- dos usuários do CRAS. Esses profis-
rizante, hoje passou a ser um fato natural. Apesar sionais devem fazer encaminhamentos
dessas constantes transformações ocorridas na psicológicos para os serviços de saúde,
família ao longo dos séculos, a mesma continua a quando necessários. (BRASIL, 2009)
ser reivindicada por mulheres, homens e crianças,
independente de idade, orientação sexual e classe Cruz (2009) ressalta que o psicólogo é solicitado a
social. (RINHEL-SILVA, 2009) desenvolver ações de cunho social, cujos pareceres
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Co-
munitária. Brasília: MDS/SEDH, 2006. Dis-
RESUMO
No caso deste trabalho, foram estudadas maneiras de potencializar
Ana Beatriz Santos
Honda resultados em praticantes de tênis de alto rendimento, melhorando
seus desempenhos ao unir o treino físico com o treino mental. Para
isto, a ferramenta utilizada foi a música, introduzida nos treinos com
um exercício que induzia ao estado de flow. Sendo assim, este
trabalho tem como objetivo geral explorar os estudos desta área
da Psicologia, identificando a influência da música no esporte. Para
averiguar a influência da música no estado de flow, foi realizada
uma pesquisa em uma academia particular de tênis, em que foram
coletados dados quantitativos e qualitativos. Os dados qualitativos
foram obtidos através de breves entrevistas semi dirigidas que
antecediam o treino, em que eram perguntados aspectos relevantes
à ocorrência do flow e às possíveis novas variáveis incontroláveis que
pudessem surgir. Já os dados quantitativos foram coletados durante o
exercício praticado pelos atletas, contabilizando os acertos e erros de
cada um na atividade aplicada nos treinos, tanto com a presença da
música quanto sem a mesma. Somada às condições necessárias, a
música se torna uma indutora do estado de consciência em questão,
podendo ser grandemente aproveitada para estudos na psicologia do
esporte, visando a melhoras de rendimento baseada em um treino
mental mais aprofundado e intenso, focando na concentração.
10.37885/200400128
1. INTRODUÇÃO TEÓRICA a um alto nível de concentração, pico
de desempenho, distorções tempo-
rais, foco em um objetivo, habilidades
adequadas para enfrentar os desafios,
1.1 ESTADO DE FLOW recebimento de feedbacks imediatos
sobre o desempenho e perda de au-
O conceito de flow (também conhecido como flow-
toconsciência. (CSIKSZENTMIHALYI,
-feeling, estado de fluência, fluidez, entre outros) foi
desenvolvido pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi 1990 apud ROETTGERS, 2014, p.24)
na década de 1970, e desde então vem sendo apli-
cado em diversas áreas da psicologia. Ele pode ser Aplicando o conceito de flow na área esportiva, de-
definido pelo estado de consciência em que uma ve-se considerar que o flow independe de ganhar
pessoa fica completamente absorvida pelo que está ou perder e ocorre em pessoas que se encontram
fazendo, excluindo qualquer outro estímulo externo altamente envolvidas na atividade, mesmo sem re-
(como estímulos visuais ou sonoros) ou interno (como compensas externas (JUNIOR, M. 2012).
pensamentos e sentimentos). É o momento em que Considerando suas características, o flow tem uma
mente e corpo estão em harmonia, causando uma contribuição altamente positiva no contexto esportivo.
sensação de prazer e satisfação na pessoa (JACK- De acordo com Marina Peinado (2011, p.7),
SON, S; CSIKSZENTMIHALYI, M, 1999).
Segundo Csikszentmihalyi (1990 apud ROETTGERS, O flow integrado normativamente na
2014, p.24), para que o flow possa ocorrer, há três prática desportiva ajuda a compreen-
condições fundamentais. A primeira é uma coerên- der não apenas o engajamento afetivo
cia entre o desafio a ser enfrentado e a habilidade na prática de alguma atividade física
da pessoa de enfrentá-lo (isto é, a demanda deve ou desportiva (mantendo o praticante
ser possível de ser alcançada, de acordo com o intrinsecamente motivado, implicando
repertório de habilidades da pessoa). A segunda se maior assiduidade, empenho, tempo
refere à clarificação das metas e objetivos, ou seja, de permanência e satisfação), mas
o sujeito deve ter conhecimento exatamente do que também o desempenho máximo des-
pretende alcançar. E, por último, a terceira condição portivo.
é a existência de feedbacks imediatos da atividade
praticada.
Especialmente em modalidades esportivas de alto
Tendo como base estas três condições, a chance de rendimento, o flow é muito importante para a melhoria
ocorrer o flow é potencializada em atividades físicas de habilidades de atletas.
como tocar algum instrumento musical, dançar e pra-
ticar esportes, visto que são atividades com metas e Atingir o melhor desempenho possí-
objetivos claros, guiadas por regras e que requerem vel é o principal objetivo dos atletas e
a existência de habilidades específicas para serem seus técnicos em competições. Nesse
praticadas (CSIKSZENTMIHALYI, 1990). Dessa forma, cenário, o flow se constitui como uma
o esporte é um grande facilitador para a ocorrência importante ferramenta que pode faci-
do flow, devido à sua grande estruturação. litar o alcance desse resultado, pois
Este estado de consciência, de acordo com Csiks- empurra o atleta em direção aos seus
zentmihalyi (1990 apud ROETTGERS, 2014, p. 24), limites, fazendo com que o seu nível de
faz emergir seis características ou dimensões. São habilidades aumente. (ROETTGERS,
elas: concentração intensa e focada naquilo que se 2014, p.48).
está fazendo; fusão entre ação e consciência; perda
da autoconsciência; senso de controle sobre suas Entretanto, visto que o flow é uma experiência au-
ações; distorção temporal e experiência autotélica. O totélica, não são apenas os atletas de alto rendi-
termo autotélica se refere a “atividades válidas por si mento que podem alcançar este estado mental. No
próprias, intrinsicamente gratificantes, que não preci- contexto esportivo, ele é ampliado para todos aque-
sam de uma recompensa externa” (PEINADO, 2011, les praticantes de exercício físico, mesmo com fins
p.12). Tais características, unidas às três condições recreativos ou de reabilitação. Ainda assim, o flow
já citadas, somam os princípios e fundamentos do costuma ser mais focado na atuação com atletas de
flow proposto por Mihaly Csikszentmihalyi (1999). alto rendimento pois cada mínima melhora tende a
repercutir intensa e diretamente nos resultados de
É comum (...) que as pessoas descre- competições e torneios, que envolvem altas deman-
vam essa experiência relacionando-a das e recompensas.
3. MÉTODO
4.RESULTADOS
presença da música, para poder verificar se houve
a presença e influência de outras variáveis atuando
nos resultados dos treinos.
Ao longo dos treinos, foram coletados os dados,
Os dados também foram coletados de forma quan- que foram então registrados em formato de tabelas
titativa durante o exercício praticado pelos atletas, e ilustrados por gráficos. Inicialmente, participariam
contabilizando os acertos e erros de cada um na do estudo 3 atletas; no entanto, por problemas de
atividade aplicada nos treinos, tanto com a presença saúde, um dos atletas não pôde mais comparecer,
da música quanto sem a mesma. sendo, portanto, retirado do estudo. Em seu lugar,
entrou um atleta maior de idade.
Os treinos foram divididos em duas etapas: a primeira
etapa serviu para estabelecer uma linha de base sem O único atleta que compareceu a todos os dias de
a presença da música, com duração de 4 treinos para treinos foi L., 16 anos, tendo, portanto, os registros
conseguir atingir maior veracidade e estabilidade mais completos. Como é possível verificar nas tabelas
da coleta de dados. Já a segunda etapa (3 treinos) 1 e 2 e nos gráficos 1 e 2, após a entrada da variável
contou com a presença da música durante os treinos música (a partir do treino de 21/09/2018), houve um
(uma única música para cada atleta durante os sete aumento notável na quantidade de alvos atingidos.
Tabela 1 Tabela 2
A denominação “área 1” se refere à área da quadra cujo acerto vale 1 ponto. Já a denominação “área 2”
indica os dois alvos cujo acerto vale 3 pontos.
L. obteve um rendimento crescente em todos os treinos. A quantidade de alvos atingida foi maior em níveis
exorbitantes, indicando que houve uma grande mudança responsável pelos resultados.
Já o atleta P., 16 anos, como é possível verificar pelas tabelas 3 e 4, não compareceu aos treinos dos dias
31/08 e 21/09, entre os quais o primeiro era uma parte da linha de base. Ainda assim, como visível nos grá-
ficos 3 e 4, os seus resultados também denotam um aumento significativo no número de acertos de alvos.
Tabela 3 Tabela 4
Gráfico 3 Gráfico 4
Tabela 5 Tabela 6
Gráfico 5 Gráfico 6
Todos os atletas são do sexo masculino e destros. São visíveis também diferenças quanto à lateralidade nos
resultados apresentados, que em sua grande maioria indicam um melhor rendimento do lado direito.
Como explicado anteriormente, também foram consideradas outras variáveis que pudessem estar presentes
nos 3 últimos treinos (todos aqueles que não marcavam linha de base) por meio da breve entrevista realizada
com cada atleta antes dos exercícios. A respeito disso, as respostas dos atletas foram tabeladas para melhor
compreensão, assim como visto nas tabelas 7, 8 e 9.
Tabela 7
Tabela 9
5. DISCUSSÃO
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Oct./Dec, 2012.
RESUMO
Atualmente, existe um crescente número de estudos voltados para
Débora Irion Bolzan
URI
questões relacionadas ao abigeato, porém, não se encontra nenhum
artigo científico sobre os sentimentos e danos psicológicos causados
Giana Bernardi Brum
nos produtores que perdem reses para os abigeatários ou/e que
Vendruscolo
URI precisam sacrificar animais mutilados. O objetivo foi analisar as
vivências causadas pelo abigeato, em produtores rurais da cidade de
São Francisco de Assis/RS. O tipo de pesquisa utilizado foi qualitativo,
de cunho descritivo e exploratório, com delineamento estudo de
caso múltiplo. Foram entrevistados 4 produtores rurais pecuaristas
da cidade de São Francisco de Assis/RS, que já foram vítimas de
abigeato. Os dados foram analisados através da análise de conteúdo e
evidenciaram que o dano mais significativo recorrente do abigeato é o
financeiro, mas que existem marcas ocultas que rondam aqueles que
já foram vitimados, como o medo e a insegurança. Há uma descrença
na resolutividade do problema por parte da polícia, já que os números
de roubos sem solução são crescentes. Também constatou-se que
não há diferença entre ter mais ou menos reses, eles são lesados da
mesma maneira, independente da sua classificação rural.
10.37885/200400027
1. INTRODUÇÃO ou dividido em partes - Bens Semoventes são aqueles
que possuem movimentação própria, independente
São Francisco de Assis, é um município loca- da ação do homem e possuem estimação econômica.
lizado na região Sudoeste do estado do Rio Grande Com a nova sanção, a legislação ampliará as penas
do Sul, distante 485km da capital. Possui área de mínimas e máximas, além de fazer com que toda a
2.501,3 Km2 e segundo o IBGE/Censo 2010, sua cadeia do crime seja punida, desde quem rouba até
população é de 19.258 habitantes. De acordo com quem oculta, transporta e comercializa. Atualmente,
dados da Emater/RS, a economia do município é qualquer tipo de furto é punido com pena de um a
alicerçada no setor primário e destaca-se pelo grande quatro anos de reclusão, pela nova lei, que tipifica
plantio de arroz e soja e a geração de renda através o abigeato como furto qualificado no Código Penal,
da pecuária, com a criação de bovinos de leite e de a pena será de dois a cinco anos de reclusão. Além
corte. disso, a legislação passa a enquadrar como crime a
comercialização, o armazenamento, a exposição e
O sustento que é oriundo do campo, desde o seu a entrega de carne ou outros alimentos sem origem
início é vulnerável as condições climáticas, sofren- controlada.
do perdas com a presença de secas e enchentes
e quando consegue manter o gado bem tratado e Conforme Júnior (2012) O abigeato pode ser chamado
alimentado para a venda e consumo, expõe-se ao de crime fronteiriço, pois se torna possível pela com-
roubo, mutilação e perca das reses. binação das práticas econômicas com a fragilidade
da fiscalização e a estrutura fundiária que comporta
Abigeato é o nome dado ao crime de furtos envol- propriedades rurais que se estendem em ambos
vendo animais do campo, destacando entre esses lados da fronteira. O autor refere-se que dados da
o gado. Tem por característica o fato de ser sempre Polícia Civil apontam que, só no primeiro semestre
praticado durante o período noturno, haja vista que de 2012, foram registrados, na metade sul do es-
a escuridão ou a pouca vigilância acabam por faci- tado, cerca de dois mil casos de abigeato, quase o
litar a execução do delito e também tornar difícil a mesmo número registrado ao longo de todo o ano de
identificação do agente praticante, gerando maior 2010 na região. Cabe pontuar o risco representado
impunidade. O crime é caracterizado como furto e não pelo abigeato para as exportações brasileiras, dada
roubo pois no primeiro não há episódio de violência a dificuldade em comprovar a qualidade sanitária
ou ameaça contra a vítima, enquanto no segundo desse gado.
ocorrem ameaças ou violência contra quem está
sendo roubado. O que será tratado inversamente Embora a lei do abigeato tenha sido reformulada,
no presente trabalho, pois o seu objetivo é identifi- aumentando o rigor na punição àqueles que come-
car os sentimentos e danos físicos e psíquicos que tem o crime, ainda se enfrenta muita impunidade
o abigeato causa nos produtores rurais. Quando diante do mesmo. O setor primário enfrenta gran-
o crime ocorre, a vítima é ameaçada, mesmo que des dificuldades por causa do clima e das chuvas
não diretamente, sua propriedade/casa foi invadida que atacam o Rio Grande do Sul e concomitante
e seu rebanho mutilado, o que causa o medo real ao esforço dos produtores rurais para manterem o
da reincidência, mesmo que suas consequências gado alimentado e saudável, há a instabilidade em
sejam ocultas. relação ao futuro do rebanho, já que as denúncias,
na maioria dos casos não geram prisões, devido às
Decorrente deste crime, surge a preocupação com dificuldades em identificar os ladrões e recuperar os
a segurança e saúde do restante da população rural animais furtados.
e urbana já que grande parte dos animais roubados
são comercializados sem fiscalização e abatidos A pesquisa apresenta com questão central “Quais as
sem o mínimo de higiene. Com o abigeato, além vivências de produtores rurais que sofreram abigeato
do pecuarista ser afetado monetariamente, após a em sua propriedade na cidade de São Francisco de
primeira invasão de propriedade seguida do primeiro Assis/RS?” E tem em seus objetivos analisar as vi-
roubo, não existe mais a mínima segurança para os vências causadas pelo abigeato, em produtores rurais
que residem na mesma; sendo inclusive ameaça- da cidade de São Francisco de Assis/RS. Identificar
dos após abrirem investigação. A venda de todas as número de animais mortos, roubados e mutilados por
reses tornou-se prática comum entre os produtores propriedade. Averiguar quantas vezes o produtor foi
de pequeno porte, que temem pelo seu sustento e roubado e em qual turno ocorreu o(s) abigeato(s).
pela segurança de suas famílias. Investigar os sentimentos gerados no sujeito após
o abigeato. Indagar se ele já viu alguém dentro da
A lei Nº 13.330, de 2 de agosto de 2016, alterou o propriedade e se reagiu ao abigeato. Averiguar se
Código Penal Brasileiro para tipificar, de forma mais o produtor rural possui medo ou receio de residir ou
gravosa, os crimes de furto e de receptação de semo- pernoitar na propriedade rural. Identificar as provi-
vente domesticável de produção, ainda que abatido dencias tomadas pelo proprietário após a ocorrência
2.METODOLOGIA
Pesquisa qualitativa, de cunho descritivo e
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da análise dos dados obtidos nas entre-
exploratório. vistas, dividiram-se em quatro categorias de discus-
são, visando corroborar as falas dos participantes,
O delineamento estudo de caso múltiplo. A população
sobre suas vivências e sentimentos, causados pelo
pesquisada foram os produtores rurais do município
abigeato, com as ideias de diferentes autores.
de São Francisco de Assis que possuem a criação de
gado como sustento e tenham sofrido roubo de gado Participante 1: Pequeno produtor rural da cidade
em sua propriedade pelo menos 2 vezes. Segundo de São Francisco de Assis, teve de 25 à 30 animais
o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrá- mortos/roubados/mutilados. Sua propriedade foi in-
ria (INCRA), os produtores rurais são classificados vadida cerca de 25 vezes e uma única vez a casa
de acordo com os módulos fiscais. Módulo fiscal é da propriedade rural foi invadida, todos os crimes
uma unidade de medida, em hectares, cujo valor é ocorreram durante a noite.
fixado pelo INCRA para cada município levando-se
Participante 2: Grande produtor rural da cidade de
em conta: (a) o tipo de exploração predominante
São Francisco de Assis, teve de 12 à 20 animais
no município (hortifrutigranjeira, cultura permanen-
mortos/roubados/mutilados. Sua propriedade rural
te, cultura temporária, pecuária ou florestal); (b) a
foi invadida por abigeatários de 6 à 10 vezes e todos
renda obtida no tipo de exploração predominante;
os crimes ocorreram durante a noite.
(c) outras explorações existentes no município que,
embora não predominantes, sejam expressivas em Participante 3: Produtor rural minifundiário da cidade
função da renda ou da área utilizada; (d) o conceito de São Francisco de Assis, teve cerca de 7 animais
de “propriedade familiar”. A dimensão de um módulo mortos/roubados/mutilados. Sua propriedade rural
fiscal varia de acordo com o município onde está foi invadida por abigeatários em torno de 6 vezes e
localizada a propriedade. O valor do módulo fiscal todos os crimes ocorreram durante a noite.
no Brasil varia de 5 a 110 hectares.
Participante 4: Médio produtor rural da cidade de
No município pesquisado, São Francisco de Assis, São Francisco de Assis, teve cerca de 30 animais
1 módulo fiscal equivale a 35 hectares (ha) de terra. mortos/roubados/mutilados. Sua propriedade rural foi
Então, serão pesquisados um minifundiário – produtor invadida 6 vezes e em 3 roubos a casa da proprieda-
rural com área inferior a um módulo fiscal; um peque- de foi invadida também, todos os crimes ocorreram
no produtor rural – com área compreendida entre 1 durante a noite.
e 4 módulos fiscais; um médio produtor rural – com
área compreendida entre 4 e 15 módulos fiscais e Categoria I: Sentimentos após o abigeato.
um grande produtor rural – com área superior a 15 Pretende-se com esta categoria trazer os sentimentos
módulos fiscais. dos produtores rurais em decorrência do abigeato e as
A amostra foi de quatro sujeitos, acessados através sensações em olhar os restos dos animais abatidos.
dos hectares de terra que possuem: um produtor Participante1: “Olha, me gerou assim um transtorno
minifundiário, um pequeno produtor rural, um médio muito grande, porque a gente trabalha, o produtor
produtor rural e um grande produtor rural pecuarista, rural né, hoje trabalha meio sacrificado né, e... e eu
encontrados através do Sindicato Rural do município fui mais, fui maior lesado ainda porque a maioria
pesquisado, São Francisco de Assis. eram animais puros né.”
O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética da Participante 2: “Primeira a perda financeira, que
Universidade e, somente após aprovação do mes- um...um animal... sempre são animais que já estão
mo, foi feito o contato com os participantes, a fim gordos, prontos pro abate... A gente trata como se
de apresentar o protocolo de pesquisa. A pesquisa fosse, que fosse mais, do que...do que um simples
respeitou as diretrizes e normas de pesquisas em negócio, a gente pega um afeto pelos animais,...que
seres humanos, conforme a resolução 466/12 CNS/ perdeu um parente teu ali, não é só uma perda finan-
CONEP. ceira, tu tem um....uma perda sentimental mesmo.”
Para realização da mesma, foi utilizado uma entrevista Participante 3: “Ah, o sentimento de.... impunidade
semiestruturada contendo sete perguntas, havendo né, e trabalhando assim, com...com dedicação e aí
RESUMO
Este texto tem como objetivo a apresentação de dados sobre a
Flávia Cristina
Guimarães Paiva atuação das/os psicólogas/os nas APACs - Associações de Proteção
Nascimento e Assistência aos Condenados. APACs são entidades civis de direito
privado, que custodiam pessoas condenadas pelo Judiciário; cumprem
uma função de controle social e fazem parte, conforme a legislação
vigente, das políticas públicas de segurança e administração
prisional no estado de Minas Gerais e em outros estados do Brasil.
Em setembro de 2018, por ocasião deste estudo, eram 39 APACs
em Minas e 10 em outros estados brasileiros. A inserção das/os
psicólogas/os nesses espaços de participação e controle social,
ainda é pouco conhecida e estudada, quando se considera a prática
profissional no sistema prisional brasileiro, conforme será apresentado
neste estudo. O levantamento de dados foi realizado nas 39 APACs
em funcionamento no Estado e mostra algumas semelhanças com
os dados levantados nos estudos realizados pelo CREPOP em 2009,
2010 e 2012, à exceção das condições do ambiente de trabalho que
são oferecidas pelas APACs. Essas/es psicólogas/os atuam como
colaboradores na construção de políticas públicas humanizadas e
práticas específicas de direitos humanos, considerando sua inserção
em um contexto social que reflete as práticas da discriminação da
pobreza na sociedade brasileira.
APAC; Inserção.
10.37885/200400167
1. INTRODUÇÃO Nº 15.299/2004 de Minas Gerais que amparam o
Estatuto da APAC. Desde 2006 o Governo de Minas
Para a redação deste artigo foram consultadas Gerais destina recursos para a construção e o custeio
as publicações do Conselho Federal de Psicologia: das unidades. De utilidade pública, a APAC objetiva
A prática profissional dos/as psicólogas/as no a recuperação do preso, a proteção da sociedade,
Sistema Prisional (2009); Atuação do psicólogo no o socorro às vítimas e a promoção da justiça res-
sistema prisional (2010) e Referências Técnicas taurativa.
para Atuação das/os Psicólogas/os no Sistema As APACs são filiadas à Fraternidade Brasileira de
Prisional (2012). Textos construídos por meio de Assistência aos Condenados – FBAC, responsá-
pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas vel pela congregação, orientação e fiscalização do
entre psicólogas/os que atuam no sistema prisional funcionamento e da aplicação do método APAC em
brasileiro e servem como referência para a atuação cada associação.
dos psicólogas/os em todo o Brasil. Em 2007, no
estudo realizado pelo CREPOP, publicado em 2009, O Método APAC é fundamentado por 12 elementos:
participaram praticamente todos os Conselhos Regio- 1) Participação da comunidade; 2) Recuperando aju-
nais de Psicologia do Brasil, por meio de Reuniões dando recuperando; 3) Trabalho; 4) Espiritualidade;
Específicas e Grupos Focais. 5) Assistência jurídica; 6) Assistência à saúde; 7)
Valorização humana; 8) A família; 9) O voluntário e
Entretanto, em leitura e análise desses documentos, sua formação; 10) Centro de Reintegração Social;
não foi constatada a participação das/os psicólogas/ 11) Mérito; 12) Jornada de Libertação com Cristo.
os das Associações de Proteção e Assistência aos Devido ao espaço limitado deste artigo, não serão
Condenados – APAC. Percebe-se que, apesar de 39 descritos e podem ser consultados na bibliografia
APACs estarem em funcionamento em Minas Gerais, indicada.
e de psicólogas/os atuarem em praticamente todas,
ainda são profissionais quase anônimos. “As coisas
só têm significado quando nós as conhecemos” (Má-
rio Ottoboni). Este trabalho pretende apresentar a
atuação das/os psicólogas/os nas APACs em Minas
3.METODOLOGIA DE PESQUISA
Foi realizado levantamento dos dados sobre a
Gerais. atuação dos psicólogos por meio de quatro questões
enviadas por e-mail para as 39 APACs em funciona-
2.DESENVOLVIMENTO
mento: 1- Há psicólogas/os na sua APAC? 2- Quantos?
3- Qual a situação trabalhista dessas/es psicólogas/
os? 4- Que tipo de atendimento psicológico realizam
na APAC? Foram obtidos dados de 37 APACs. Duas
delas não responderam. As informações fornecidas
2.1 O QUE É APAC foram organizadas em planilhas.
É uma entidade civil de direito privado, sem fins Foi informado que 24 psicólogas/os trabalham nas
lucrativos, com personalidade jurídica e patrimônio APACs, por contrato de prestação de serviços, pela
próprios e tempo indeterminado de duração. rubrica contratação de serviço de terceiros, pagos com
recursos do Estado. Além desses, trabalham cerca
A APAC surgiu em 1972, em São José dos Campos de 25 psicólogas/os voluntárias/os e 85 estagiárias/
– SP, de um movimento cristão coordenado pelo os de Psicologia de diversas instituições de ensino.
advogado Mário Ottoboni. A experiência se expan-
diu e chegou a Itaúna-MG, em 1986. Em 2001, o O Relatório de ocupação das APACs solicitado à
TJMG adotou o Método APAC como alternativa à Secretaria de Administração Prisional – Seap, em
execução penal em Minas Gerais, criando o Projeto 05/06/2018, informou que havia 3.159 condenados
Novos Rumos na Execução Penal. Desde então as em cumprimento de pena nas APACs.
APACs vêm se expandindo em todo o Brasil. Em
setembro de 2018, são 39 APACs em Minas, outras
10 em outros estados brasileiros. Outras já foram
implantadas em 11 países.
4.ORIENTAÇÃO TEÓRICA
Os textos de orientação do Conselho Federal
O funcionamento das APACs está regulamentado de Psicologia (CFP) sobre a atuação do psicólogo
pelos dispositivos que constam no artigo V da Cons- no sistema prisional foram utilizados como base para
tituição Federal de 1988, que dispõe sobre os direi- este estudo. Foi utilizada bibliografia sobre o méto-
tos fundamentais previstos nos incisos: III, XLVII e do APAC e legislação que ampara sua aplicação. A
XLIX; pelos dispositivos do Código Civil Brasileiro; Psicologia Social é a orientação teórica de formação
pela Lei de Execução Penal nº 7.210/84 e pela Lei
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sistema Prisional / Conselho Federal de Psi-
cologia. - Brasília: CFP, 2009.
Diante do cenário exposto, pode-se concluir
- Atuação do psicólogo no sistema prisional
que faltam estudos mais aprofundados sobre a in-
serção das/os psicólogas/os e o papel da psicologia
/ Conselho Federal de Psicologia. - Brasília:
nas APACs. Este artigo é uma tentativa de divulga- CFP, 2010.
ção desse trabalho e de despertar o interesse sobre
FERREIRA, V. Método APAC: sistematização
atuação dos profissionais da psicologia nas APACs.
de processos. Belo Horizonte: TJMG, Progra-
RESUMO
O relato refere-se ao estágio realizado no 5º período do curso de
Rosimar Conceição
Rodrigues Psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) -
UEMG Divinópolis. Baseou-se no projeto “Avaliações cognitivas dos fatores de
risco e proteção em adolescente, na região do centro-oeste mineiro”,
Letícia Maia Amaral objetivando avaliar uma amostra de alunos entre 12 e 17 anos de uma
UEMG Escola Estadual (93 estudantes que participaram voluntariamente
Ronaldo Santhiago por meio de Termo de Consentimento Livre Esclarecido assinado
Bonfim de Souza pelos pais/ responsáveis); e realizar intervenções após os dados
UEMG coletados, os quais seriam analisados posteriormente. Foram
utilizados como instrumento a Escala Resiliência e o Inventário do
Clima Familiar. A coleta de dados ocorreu de maio a junho de 2016.
Ao final, alguns alunos disseram ter mais dificuldades para responder
a Escala Resiliência, diante da compreensão de algumas perguntas
semelhantes que denotavam sentido diferente. No geral, alegaram
que as atividades foram “legais” para repensar, tentar melhorar alguns
aspectos, conhecer melhor a si mesmos e suas famílias. O estágio na
abordagem cognitiva aprimorou nossa perspectiva quanto à avaliação
psicológica, culminando a percepção de que não se trata meramente
de aplicações de testes, sendo apenas um dos instrumentos para a
realização de um conjunto de possibilidades de ferramentas iniciais
para uma construção terapêutica, constituída desde o primeiro contato
com o paciente. Foi relevante perceber as representações de cada
adolescente cogitando variadas interpretações e valores atribuídos
a diferentes eventos.
10.37885/200400153
1. INTRODUÇÃO emocionais causados pelo estresse”. (BRANDÃO;
MAHFOUD; GIANORDOLI- NASCIMENTO, 2011,
A adolescência é uma fase considerada inter- p. 264).
mediária, entre a infância e a fase adulta, marcada Os estudos realizados por Werner e Smith (1989),
por diversas transformações corporais, hormonais citados por Brandão, Mahfoud e Gianordoli- Nas-
e comportamentais. Nessa idade, cimento (2011), foram relevantes para apreensão
de que, diante de adversidades da vida, crianças
[...] aparecem a rejeição familiar, a bus- podem desenvolver habilidades de adaptação e
ca por novidades e riscos, as paixões, a enfrentamento. Assim, “foi investigando os riscos
impulsividade e os novos interesses [...] aos quais a infância estava submetida que o citado
É uma fase de lapidação, refinamento e fenômeno [resiliência] foi observado. Isso porque se
amadurecimento. Muitas conexões que tornou [...] importante entender como crianças ame-
foram feitas até a infância são abando- açadas em seu desenvolvimento poderiam alcançar
nadas. [...] O corpo que cresce desor- sucesso ou demonstrar competência.” (MASTEN;
denadamente distorce a auto-imagem COATSWORTH, 1998 apud BRANDÃO; MAHFOUD;
e [...] precisam se identificar com algum GIANORDOLI-NASCIMENTO, 2011, p. 267). A partir
disso, a Escala Resiliência (Resilience Scale) foi
grupo. (HERCULANO-HOUZEL, 2005,
elaborada originalmente por Wagnild e Young (1993)
p. 94-101).
e adaptada e validada para a população brasileira
por Pesce e col. (2005).
Essa é uma fase de vulnerabilidade e precisa ser
acompanhada, já que pode ocorrer do adolescente O Inventário do Clima Familiar (ICF) foi formulado
não adequar-se a lógica, à função do momento porque por Björnberg e Nicholson em 2007, atua na área
ainda não tem o raciocínio abstrato, resultando no da pesquisa e intervenção como um aporte amplo
distanciamento do ambiente familiar, buscando novas utilizado na avaliação e apreensão das relações fa-
alternativas como centro de recompensa. Faz-se miliares. Foi elaborado inicialmente em 1970, através
relevante a realização de pesquisas que ampliem o da Family Environmente Scale (FES), que possibilita
conhecimento do funcionamento mental desse grupo a compreensão de diferentes características familia-
para que, se necessário, sejam formulados programas res, como a qualidade do relacionamento emocional,
de prevenção e promoção de saúde apropriados segundo Moss (1974) e Schneewind (1999), citados
(CORDOVIL et al., 2011), sendo essa uma razão por Teodoro, Allgayer e Land (2009).
social e intelectual para justificar esse projeto. As-
De acordo com Björnberg e Nicholson (2007), citados
sim, espera-se contribuir para o conhecimento dos
por Teodoro, Allgayer e Land (2009), o ICF foi ela-
fatores de riscos e proteção em adolescentes. Rela-
borado através de escalas com distintas estruturas
cionando os eventos de vida e recursos internos de
fatoriais, segundo a finalidade e o embasamento
apoio externo que eles possuem, aplicando a Escala
teórico da pesquisa, resultando assim, em novas
Resiliência e o Inventário do Clima Familiar (ICF).
formulações e mensurações, propiciando - como
De acordo com Fantova (2008) e Ojeda (2004), ci- colocados por Teodoro, Allgayer e Land (2009) -,
tados por Brandão, Mahfoud e Gianordoli - Nasci- essa última por meio da percepção do clima a partir
mento (2011), a resiliência é estudada por autores de quatro fatores, como coesão (vínculo emocional),
de diferentes lugares e que utilizaram de distintas apoio (suporte material e emocional), hierarquia (di-
abordagens teóricas para tal. Atualmente, esse con- ferenciação de poder) e conflito (relação agressiva,
ceito pode ser analisado através de três correntes: crítica e conflituosa) na família em adolescentes e
a norte-americana ou anglo-saxônica (abordagem adultos.
behaviorista ou ecológico transacional, utiliza-se de
Evidencia-se um procedimento de grande relevância,
dados observáveis e quantificáveis, os quais permi-
pois abrolha uma nova possibilidade de avaliação
tem que a relação indivíduo-ambiente determine a
familiar, intervindo nesses aspectos. Contém poucos
resiliência); a europeia (normalmente de abordagem
itens, tornando-se um instrumento rápido e de simples
psicanalítica, considera a perspectiva do sujeito como
preenchimento, fornece uma visão geral do sistema
fator preponderante) e a latino-americana (aborda-
familiar ao clima positivo e negativo em adolescentes.
gem social/comunitária, compreende que a resposta
do indivíduo diante dos seus conflitos refere-se ao Portanto, tal estágio refere-se a uma pesquisa res-
contexto social em que se encontra). Dessa forma, paldada pelo projeto intitulado “Avaliações cognitivas
“brasileiros e pesquisadores falantes de línguas latinas dos fatores de risco e proteção em adolescente,
têm uma concepção que entende a resiliência ora na região do centro-oeste mineiro”, cujo objetivo foi
como resistência ao estresse, ora como associada identificar os fatores de risco e de proteção no de-
a processos de recuperação e superação de abalos senvolvimento biopsicossocial de adolescentes em
2.DESENVOLVIMENTO
sobre a desunião presente nelas. A partir disso, as
aplicadoras apontaram para os pontos positivos que
esse momento propiciou a eles, e alguns disseram
A coleta de dados ocorreu no período de 05 de
que a partir desse, haveria uma oportunidade para
maio a 17 de junho de 2016, compondo uma amostra
pensar no que eles poderiam modificar para melhorar
de 93 alunos com idade entre 12 e 17 anos de uma
a situação que estavam vivenciando. Além disso,
Escola Estadual, matriculados do 7º ao 9º ano do
puderam esclarecer dúvidas sobre a faculdade e a (o)
Ensino Fundamental II e do 1º ao 2º ano do Ensino
profissional psicóloga (o). Observou-se que o retorno
Médio. Ao recrutar tais alunos, as estagiárias escla-
dos alunos no turno vespertino foi menos frequente
receram sobre o objetivo da pesquisa, avaliando os
em relação ao turno matutino, hipoteticamente, pelo
mesmos através da Escala Resiliência e do Inven-
fator timidez ou inibição dos mesmos.
tário do Clima Familiar (ICF), mediante um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que Após o encerramento da coleta de dados efetivou-se
foram entregues, anteriormente a cada aplicação, o feedback das atividades para a direção da escola,
para que fossem levados para casa e assinados através do qual foram realizados encaminhamentos a
pelos pais/responsáveis para autorização da parti- rede e apoio psicossocial aos adolescentes, quando
cipação dos adolescentes, enfatizando o anonimato solicitado pelos próprios alunos ou quando percebida
dos mesmos. Além do TCLE assinado pelos respon- a necessidade, identificando o sofrimento, seja por
sáveis dos adolescentes, a escola também consentiu motivos intra ou interpessoais, dos mesmos por meio
a realização da pesquisa através da assinatura de de uma escuta qualificada.
um termo de concordância. “[...] Os procedimentos
utilizados nesta pesquisa obedeceram aos Critérios Com os estudantes, realizou-se uma dinâmica de
da Ética na Pesquisa com Seres Humanos conforme encerramento a fim de desmistificar o papel do psi-
resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de cólogo e dar a contrapartida sobre a aplicação dos
Saúde – Brasília – DF. Tal pesquisa foi avaliada e instrumentos e assuntos levantados por eles. Nesse
aprovada pelo comitê de ética da Universidade do sentido, o objetivo da dinâmica foi explanar sobre
Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade Divinó- o modelo cognitivo (pensamento-emoção- compor-
polis sob o número do parecer: 1.298.278.” tamento) e a tríade cognitiva (o que penso sobre
self-mundo-futuro), abordagem a qual embasou
Após ter acesso aos termos já assinados, realizou-se teoricamente esse estágio. Além disso, buscamos
a aplicação, inicialmente, em dupla, e posteriormente trabalhar alguns temas que foram abordados pelos
em grupos maiores condizentes com o domínio das alunos – relacionados às escalas, como o bullying,
aplicadoras. O espaço físico foi facilitador para que desunião familiar (Inventário de Clima Familiar) e
os adolescentes não se comunicassem e houves- resiliência (estratégia de enfrentamento) – por meio
se sigilo sobre as questões assinaladas. A Escala dos feedbacks ao final de cada aplicação.
Resiliência possui 25 itens, em que o avaliando tem
que responder se discorda totalmente (1), muito (2),
pouco (3), não concorda nem discorda (4), concorda
pouco (5), muito (6) ou totalmente (7) e que avalia os
níveis de adaptação psicossocial positiva em relação
aos eventos de vida relevantes (LOPES; MARTINS,
2011). Enquanto o ICF, é composto por 22 itens,
em que o participante responde a algumas frases
que descrevem situações e sentimentos que podem
ou não ocorrer no dia a dia de qualquer família. As
respostas variam em: não concordo de jeito nenhum
Para isso, preparamos a imagem de uma mulher mas, mostramos a imagem do modelo cognitivo e
esperando o elevador e outra com o modelo cogni- explicamos que em cada situação vivenciada, cada
tivo, um saco de balões coloridos e tiras de papel pessoa terá um tipo de pensamento que vai levar
cortado. Foi disponibilizada uma sala, em que os a uma emoção e um determinado comportamento.
alunos ficaram sentados em círculo e onde cada Os balões representavam o conjunto de variados
um recebeu um balão e uma tira de papel. Explica- pensamentos que diversas pessoas podem ter sobre
mos que daríamos as instruções e que, antes disso uma mesma situação. Essa ideia gira em torno da
gostaríamos de saber o que achavam que era um tríade cognitiva que abrange as percepções de cada
psicólogo. Houve respostas como “uma pessoa que um sobre “self”, mundo e futuro.
ajuda a seguir o caminho certo” (sic), “alguém pra
Enfatizamos a importância que um psicólogo pode
resolver os problemas da gente” (sic), “coisa de doido”
ter na vida de muitas pessoas em fases que elas se
(sic), entre outras.
deparam com suas dificuldades e sentem-se perdidas.
Após, mostramos a imagem do elevador e pedimos Dessa forma, quando os pensamentos negativos ou
que escrevessem no papel um pensamento ou sen- distorções ficam mais evidentes, o psicólogo tenta
timento que teriam se estivessem nessa situação. E, mostrar outros caminhos possíveis para que se alcan-
posteriormente, dobrassem, colocassem dentro do cem maior resiliência e momentos mais valorativos
balão, enchessem e aguardassem novas instruções. e prazerosos.
Feito isso, pedimos que jogassem os balões para
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
cima, no intuito de se misturarem. Deveriam escolher
um e estourar para que pudessem pegar o papel que
estava dentro. Pedimos que lessem e dissessem se
Diante do intuito de identificar os fatores de
era parecido com o que haviam escrito, a maioria disse
risco e de proteção no desenvolvimento biopsicos-
que não. Houve respostas variadas, como “apesar
social de adolescentes - através da Escala Resili-
de não ter medo de altura, tenho medo do elevador
ência e Inventário do Clima Familiar -, apesar dos
cair” (sic), “penso que o elevador vai chegar” (sic),
dados coletados não terem sido analisados dentro
“tenho medo de ficar presa” (sic), “vou para minha
do período de estágio, acredita-se que tal objetivo foi
casa” (sic), entre outras.
alcançado a partir dos encaminhamentos realizados
Nesse sentido, também com o intuito de sensibi- para a rede e apoio psicossocial aos adolescentes,
lizar sobre a relação com os colegas e famíliares, quando percebida a necessidade, como já menciona-
trazendo reflexão sobre o bullying, entre outros te- do anteriormente. Da mesma forma que foi possível
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Juliana Mendanha; MAHFOUD,
Miguel; GIANORDOLI-NASCIMENTO, Ingrid
Faria. A construção do conceito de resiliência
em psicologia: discutindo as origens. Paidéia,
v. 21, n. 49, p. 263–271, ago. 2011. Dispo-
nível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/
v21n49/14.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2020.
RESUMO
Devido à falta de psicólogos nas escolas públicas e a visão
Juan Farret Ritzel
FISMA
desatualizada sobre este profissional percebida pelo autor ao longo
de sua jornada acadêmica e eventos recentes, como o massacre
Marcelo Moreira Cezar
ocorridos em escolas. Decidiu-se investigar sobre a percepção dos
FISMA
agentes escolares que compõe este cenário sobre o profissional
psicólogo. Para tanto, foi necessário pesquisar sobre o entendimento
dos agentes acerca do papel do psicólogo escolar, analisar a
importância do psicólogo no cenário educativo sobre psicologia,
por meio de artigos científicos. Realizou-se, então, uma Revisão de
Literatura Integrativa. Diante disso, conclui-se que a necessidade
de um psicólogo escolar é evidente, mas as opiniões dos agentes
escolares acerca do mesmo parecem ainda bastante arcaicas.
Escolar; Saúde.
10.37885/200400040
1. INTRODUÇÃO quando esta não condiz com o imaginário colocado
pela família e pela cultura e, acaba “falhando” em
Este trabalho visa relatar as experiências viven- uma dessas facetas. Isso faz bastante sentido quando
ciadas durante os estágios de ênfase em saúde do todas as crianças recomendadas para o estagiário
curso de Psicologia da FISMA, realizados em uma atender, eram as descritas, pelo próprio corpo do-
escola pública do município de Santa Maria. Tendo cente, como as mais “problemáticas”, as que mais
como um dos objetivos principais evidenciar o con- “precisam de um psicólogo”.
traste entre dificuldades e situações gratificantes. O momento que houve maior resistência da direção
A psicologia escolar nasce, cresce e alcança seu atual escolar foi em práticas de intervenções com alunos
estágio sob a luz dos ícones da utilidade social, da adolescentes. Todas as propostas iniciais foram bar-
controvérsia e da unidade na diversidade (PFROMM radas. Inicialmente, os motivos dados para tentar
NETTO, 2011). Durante bastante tempo, prevaleceu não se efetivar um trabalho com os alunos mais ve-
o pensamento de que o psicólogo, em um contexto lhos, confirmavam a fala de Leitão e Cacciari (2017),
escolar, nada mais fazia além de medir as capacidades pois a fala mais comum era a de que tais alunos
dos alunos com testes, evidenciando os aptos e não precisavam porque “já estavam encaminhados”, e
aptos para a aprendizagem, gerando exclusão entre “já eram independentes até demais”. Com o passar
crianças (ANDRADA, 2005). Atualmente, as ativida- do tempo e a insitência do estagiário em consumar
des nas quais atuam os profissionais de psicologia uma tarefa com os alunos mais avançados, as ten-
escolar priorizam aspectos objetivos e subjetivos do tativas de barreira tomaram forma de “imprevistos” e
processo de ensino-aprendizagem (LESSA e FACCI, “inconvenientes”, isto é, não importava a disponibili-
2011). Além desses fatores, de psicólogos na rede dade de horário do psicólogo, sempre havia algum
pública de ensino e visão desatualizada do seu papel evento ou aula remarcada que impedia a realização
neste ambiente é confirmada por Balbino (2008). de qualquer atividade. A tentativa mais escancarada
de que um atendimento às turma mais velhas não
Straub (2005) menciona que tanto uma pessoa sau- era interessante para a coordenação, foi quando
dável, quanto uma pessoa em risco, podem aprender um encontro, previamente agendado, foi cancelado
comportamentos saudáveis preventivos. A Psicologia em cima da hora, com a alegação de que “há uma
da Saúde é um subcampo da Psicologia que pega lei do MEC que não permite que o psicólogo faça
os princípios e as pesquisas psicológicas e os apli- grupo com as crianças”. Neste momento todas as
ca visando a melhoria da saúde, o tratamento e a atividades planejadas tiveram que ser revistas com
prevenção de doenças (STRAUB, 2005). Portanto, o supersor responsável. Essa questão chegou até a
tentou-se realizar trabalhos não apenas com as turmas coordenação de estágios, onde foi confirmada que
tidas como “problema” pelos profissionais docentes, tal “lei do MEC” não existe.
uma vez que o custo de uma prevenção é, muitas
vezes, menor que o de uma remediação, seja custo Um grupo operativo se efetivou com os funcionários,
financeiro, emocional, tempo, etc. sem ser os professores, isto é, auxiliares de serviços
gerais, cozinheiros e secretário. Esta atividade foi
mais produtiva para uns funcionários do que para
2.METODOLOGIA
outros. Alguns comentaram sobre o que foi visto, e
outros até gostariam que mais uma atividade se-
Trata-se de um relato de experiência, do estágio melhante tivesse ocorrido. Todos as pessoas que
específico com ênfase na saúde. O local onde foram compoem o cenário escolar sempre se mostraram
realizadas as práticas que possibilitam a elaboração abertas, receptivas e animadas para, praticamen-
deste relato, foi uma escola pública municipal de te, qualquer atividade que fosse proposta. Várias
ensino fundamental, localizada na cidade de Santa escutas breves eram realizadas, as pessoas que
Maria - RS. pediam para falar com o psicólogo se repetiam, e
era perceptível o fortalecimento do vínculo com o
Neste relato de experiência foram elaboradas as estagiário a cada conversa.
vivências, e elucidadas dificuldades, bem como os
4.CONCLUSÕES
momentos mais gratificantes encontrados ao longo da
prática. As atividades de estágio em questão tiveram
o período de dois semestres de duração. Dentre as possíveis causas que podemos pen-
sar para toda essa resistência encontrada, temos o
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
fato de a psicologia, em qualquer contexto fora da
clínica, ainda ser pouco conhecida e a persistência
de muitos mitos e ideias erradas acerca do profis-
Segundo Leitão e Cacciari (2017), a demanda
sional psicólogo. O que faz sentido quando Martinez
de um atendimento psicológico para a criança surge
REFERÊNCIAS
ANDRADA, E. G. C. Novos paradigmas na
prática do psicólogo escolar. Psicologia: Re-
flexão e crítica. Porto Alegre. v.18. n. 2. p. 169-
199. 2005.
RESUMO
Este artigo tem como finalidade comentar e analisar sobre as
Naillê Belmonte Trindade
URI
observações realizadas através do Estágio Básico e relacionar com
os conhecimentos obtidos em disciplinas estudadas no curso de
Rejane La Bella Flach
Psicologia, bem como com o referencial teórico abordado. Neste serão
Cunegatto
apresentados os aspectos presentes nas escolas que desenvolvem
as várias formas de ensino-aprendizagem em classes multisseriadas
e as estratégias adotadas por elas, buscando analisar o contexto em
que os alunos estão inseridos, suas experiências, correlacionando
com a aquisição de conhecimentos, bem como as relações tanto
sociais, como de aprendizagem, obtidas pelos alunos. A partir deste
estágio pode-se concluir que o ensino multisseriado, possui elementos
positivos, como por exemplo a relação de trocas de conhecimentos
entre os alunos, e negativos, pode-se citar a dificuldade da professora
em ministrar a aula e atender as necessidades individuais dos alunos,
mesmo a turma tendo número reduzido, e as metodologias de ensino
presentes neste sistema precisam ser reavaliadas para que possam
obter mais êxito na educação.
zagem.
10.37885/200400141
1. INTRODUÇÃO zação social, ou seja, diferentes classes produzem
papeis distintos à criança”. Esses papeis podem ser
O presente artigo abordará a experiência viven- definidos pelo brincar, fantasiar, imaginar e aprender,
ciada no Estágio Básico de Observação do Curso de itens esses que estão interligados ao desenvolvi-
Psicologia da URI (Universidade Regional Integrada mento infantil e a aprendizagem, pois a criança ao
do Alto Uruguai e das Missões) – Campus Santo Ân- brincar e fantasiar, estabelece uma forma lúdica de
gelo, o qual teve o intuito de efetuar, na prática, uma apreensão do conhecimento.
associação dos conhecimentos teóricos adquiridos Existem variadas formar de aprender e algumas se
nas disciplinas já cursadas anteriormente. dão desde os primeiros anos de vida e estão liga-
O estágio de observação foi efetuado em uma es- das ao cotidiano da pessoa, outras acontecem de
cola pública de ensino fundamental, localizada no maneira sistemática em instituições próprias, como
interior de um município da região noroeste do RS. a escola (NUNES e SILVEIRA, 2015). Ao relacio-
A partir de diálogos com o diretor da escola e com nar estas formas de aprendizagem compreende-se
uma professora regente de uma turma foi solicitada que o conhecimento obtido demonstra os diversos
que a prática curricular fosse realizada com uma saberes que compõem as áreas do conhecimento,
turma de séries iniciais, que consiste em uma classe onde desde o nascimento o indivíduo começa a se
multisseriada, de primeiro e segundo ano, contendo apropriar deles.
oito alunos de sete a oito anos de idade, no turno Partindo de uma análise acerca da infância:
da tarde.
Tem como finalidade empreender uma análise acer- É impossível pensar a criança fora da
ca da infância, das formas de aprendizagem e das sociedade, haja vista que é dela que
relações que são estabelecidas na aprendizagem advém as suas determinações. Uma
infantil em classes multisseriadas, em que tratará compreensão da criança, portanto, en-
e exemplificará diversas experiências vivenciadas, volve o conhecimento da sua relação
possibilitando reflexões relativas as formas de lidar com o seu meio, das diversas possi-
e ensinar nesse tipo de contexto. bilidades de influência às quais está
suscetível. (WALLON apud PILETTI e
2.ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
ROSSATO, 2011, p. 111).
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acesso em: 01. nov. 2018.
RESUMO
O Behaviorismo Radical de B. F. Skinner foi arquitetado segundo
Rogério de Melo Grillo
UNICAMP
a corrente filosófica do Pragmatismo. A partir disso, Skinner ilidiu
veementemente o mentalismo e, igualmente, o livre-arbítrio. Por
Eloisa Rosotti Navarro
outro lado, não renunciou a introspecção, aceitando-a como um
UFSCAR
tipo de comportamento verbal sucedido da reflexão (observação e
autoconhecimento). Em linhas gerais, esta vertente da Psicologia
tem como escopo o estudo do comportamento por via do próprio
comportamento, sendo este ideado mediante a sua relação direta
com o ambiente, sem a identificação de estruturas mediadoras ou
causadoras (processos cognitivos mentais, tais como a consciência)
entre estes eventos. Em vista disso, o presente texto tem o fito de
analisar o Behaviorismo Radical de B. F. Skinner por meio de obras da
literatura e do cinema. Acreditamos que trazer exemplos da literatura
e do cinema corrobora para uma melhor compreensão do trabalho
de B. F. Skinner e, ademais, serve como suporte para pesquisadores
e professores que queiram utilizar de seus preceitos no campo da
Educação.
tamento; Psicologia.
10.37885/200400042
1. AS ORIGENS DO BEHAVIORISMO que o estímulo incondicionado, passando, por sua
RADICAL vez, a ser chamado de estímulo condicionado.
É precípuo aludir que Watson defendia que as res-
Os homens agem sobre o mundo modi- postas são mudanças observáveis do organismo
ficando-o e são, por sua vez, modifica- atinentes aos seus músculos e glândulas. Nesse
dos pelas consequências de sua ação. viés, elas são causadas pela ação de estímulos
B. F. Skinner (antecedentes imediatos às respostas) localizados
no ambiente. Essa corrente de pensamento ficou
O Behaviorismo surgiu em 1913, a partir da publicação conhecida como Behaviorismo Metodológico e sua
do artigo “Psychology as the Behaviorist Views It” base filosófica é o Realismo.
de John B. Watson. Neste artigo, Watson defendeu
Ulterior a Watson, B. F. Skinner fundou o “Behavio-
que a psicologia deveria ser definida como “ciência
rismo Radical”, fundamentando-se no Pragmatismo.
do comportamento” e o behaviorismo seria, então,
Sob a égide da aludida corrente filosófica, Skinner
a filosofia dessa ciência. Ademais, este autor deixou
rejeitou veementemente o Mentalismo¹ e o livre-ar-
explícita a sua insatisfação em relação à introspecção.
bítrio. Entrementes, não renunciou a introspecção,
Por isso, criticou as correntes teóricas que defendiam
aceitando-a como um tipo de comportamento verbal
a Psicologia como uma ciência da mente.
advindo da reflexão (forma de observação e autoco-
De modo resumido, Watson arquitetou que a Psico- nhecimento). Dessa maneira, o autoconhecimento,
logia, apenas por meio do estudo do comportamento, para Skinner, torna-se útil, posto que é uma forma
poderia atingir a fidedignidade, a confiabilidade e a de explanar um acontecimento privado que é produto
generalidade precípuas para se tornar uma ciência colateral de causas ambientais (CARRARA, 1998;
natural. Portanto, para se explicar o comportamento GUIMARÃES, 2003; SKINNER, 1974).
era preciso, a priori, rejeitar os termos tradicionais
Em outras palavras, Skinner entendeu que autoco-
atinentes à mente e à consciência, assim como, a
nhecimento tem um valor especial para o próprio
subjetividade da introspecção. Com isso, o objetivo
indivíduo. Ora, uma pessoa que se “tornou consciente
da ciência do comportamento seria estudar somente
de si mesma”, por intermédio de perguntas que lhe
o comportamento objetivamente observável.
foram feitas, indubitavelmente, está em melhor posi-
Vale enfatizar que Watson foi influenciado diretamen- ção de prever e controlar seu próprio comportamento
te por Ivan Pavlov e, destarte, criou seu paradigma (SKINNER, 1974).
de comportamento S R, versado como estímu- Nesse contexto, os “eventos internos” existiriam,
lo-resposta. É inegável que esse modelo esclarece contudo, sua natureza seria física (comportamentos
somente uma parcela pequena dos comportamentos privados). Vale sublinhar que estes eventos pode-
humanos, chamados de: comportamentos reflexos riam ser estudados cientificamente por intermédio
ou respondentes e os comportamentos reflexos ou da aquisição de repertórios sob o controle de even-
respondentes condicionados (GUIMARÃES, 2003). tos privados. Nota-se, a partir disso, que Skinner
Os “Comportamentos Reflexos ou Respondentes” depreendeu que eventos públicos e privados não
são aqueles as quais um estímulo está diretamente são tão distintos quanto se pensava. A diferença
relacionado a uma determinada resposta do orga- entre ambos corresponde ao número de indivíduos
nismo, isto é, um determinado estímulo engendra que podem relatar tais eventos. Excetuando isso,
uma resposta incondicional no organismo (estímu- são eventos do mesmo tipo, já que possuem as
lo incondicional). A título de exemplo, quando um mesmas características. Desse modo, se eu estiver
indivíduo sem perceber esbarra seu braço numa só e destruir o meu quarto, pode-se dizer que é um
panela quente e afasta-a imediatamente, logo após evento privado, visto que ninguém mais observou
ter esbarrado na panela. Assim, quando o indivíduo tal evento. Caso contrário, se eu comportasse da
esbarra na panela quente, ele está se comportando mesma maneira e fosse observado por alguém, este
de acordo com o modelo S R, uma vez que esse evento já seria público.
comportamento de afastar imediatamente o braço é Em termos gerais, a preocupação principal do Beha-
tido como um comportamento reflexo.
No que concerne ao “Comportamento Reflexo Con-
dicionado”, este precisa de aprendizagem, visto que,
nesse tipo de comportamento, um estímulo neutro ¹ Termo usado por Skinner para aludir um tipo de explicação que
não explica nada (BAUM, 1999). É preciso enfatizar que Skinner
será pareado com um estímulo incondicionado para
questionou e refutou os conceitos mentalistas, no que concerne à sua
que, subsequentemente, esse estímulo neutro seja
natureza fictícia, sobrenatural e imaterial, e, mormente, o seu papel
capaz de produzir no organismo a mesma resposta na determinação de um comportamento público (causalidade interna).
Um pouco depois a surra terminou. Pude ouvir David Seu intuito, de fato, é ganhar tempo e encontrar um
soluçando. Então ele parou.” sentido para a sua vida e sua morte. No desenrolar
do filme, Block foge constantemente da Morte. A cada
O excerto supra-aludido apresenta um exemplo tí- lance de xadrez que ele faz e que são respondidos
pico de punição positiva, a partir da agressão física habilmente pela Morte, ele está, na verdade, fugindo
como forma de rechaçar um determinado comporta- de seu destino, pois percebe que será impossível
mento tido como inadequado. Em outras palavras, o vencer a Morte no tabuleiro. Aqui temos um bom
comportamento de David teve como consequência exemplo de comportamento de fuga, uma vez que
a inserção de um estímulo aversivo (agressão física Block objetiva subterfugir de um estímulo aversivo
efetuada mãe), no qual objetivou a diminuição da (morrer) que já se acha em andamento (figura ma-
frequência do comportamento (resposta). Entremen- terializada da Morte). Para tal, ele usa a partida de
tes, é preciso depreender que a punição positiva, xadrez para ganhar tempo (instrumento de fuga)
nesse caso, não garantiu que o comportamento de frente ao inevitável.
David, por exemplo, fosse obliterado. Na verdade,
retroalimentou comportamentos de fuga e esquiva O comportamento de esquiva se refere ao evitar ou
no desenrolar do romance em David, em especial na adiar o contato com um determinado estímulo aver-
personagem Henry Chinaski (protagonista), já que sivo, ou seja, é um comportamento que sobrevém
este também sofria abusos físicos e morais. quando um estímulo aversivo não está diretamente
presente no ambiente. Novamente, usando como
exemplo a situação explicitada no romance “Outsi-
ders”, há episódios em que Ponyboy e Johnny evitam
2.5 FUGA, ESQUIVA E CONTRA-ATA- caminhar por determinados lugares, já que sabem,
QUE de antemão, que esses ambientes são frequentados
por “Socs”. O comportamento de evitar um ambiente
Os comportamentos de fuga e esquiva são mantidos
que provoca estímulos aversivos é considerado um
pelo reforçamento negativo. Um comportamento de
comportamento de esquiva.
fuga concerne a uma resposta que tenciona escamotear
um estímulo aversivo que se encontra no ambiente. Tomemos igualmente como exemplo o filme “O Ho-
Em outras palavras, o comportamento reforçado é mem Elefante” (1980), de David Lynch. O longa-
aquele a qual finda com um estímulo aversivo já em -metragem conta a história real de Joseph Merrick,
andamento (SKINNER, 2003). portador de uma doença congênita que provocou
complexas deformidades em grande parte do seu
Tomemos como exemplo as personagens Ponyboy
corpo. Por esta razão, Merrick usava um saco de
Curtis e seu amigo Johnny, pertencentes ao romance
linho para cobrir sua cabeça, objetivando esconder
“Outsiders” (1967/1996), da escritora Susan E. Hin-
as suas deformidades das pessoas. Ademais, vivia no
ton. No romance, estes dois garotos são pobres e
isolamento temendo sofrer represálias devido à sua
constantemente sofrem agressões físicas e verbais
aparência (já havia tido algumas experiências nesse
dos “Socs” (grupo de garotos ricos). Assim, toda vez
sentido). Ao analisarmos tal situação, podemos inferir
que as personagens supramencionadas encontram
que o comportamento de evitar ou adiar expor-se
os “Socs”, nos limites entre os bairros (East Side e
em público, de Merrick, é um meio de impedir que
West Side), elas fogem e são perseguidas. Algumas
estímulos aversivos (repulsa, represália, censura,
vezes, quando não conseguem escapar, são agredidas
discriminação, repreensão etc.) pudessem ocorrer
fisicamente. Analisando tal situação, podemos inferir
no ambiente. Com isso, temos um considerado um
que o comportamento de fugir, perpetrado pelas per-
comportamento de esquiva.
sonagens, é uma resposta que intenciona tergiversar
de um estímulo aversivo (sofrer agressões) que já O filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1989)
se encontra em andamento (o fato de encontrarem também serve de “mote” para debatermos o com-
os “Socs” fisicamente no ambiente/bairro). Sob esta portamento de esquiva. No longa-metragem, o jovem
TOURINHO, E. Z. O autoconhecimento na
Psicologia comportamental de B. F. Skinner.
Belém: Editora Universitária da UFPA, 1995.
RESUMO
Esse artigo é um relato de experiência acerca da vivência como
Raquel Furtado Conte
UCS/RS
professora e supervisora de uma disciplina na Universidade de
Caxias do Sul (UCS)/RS, acerca dos atendimentos psicoterápicos
dos acadêmicos da graduação que realizam avaliação psicológica
com crianças que buscam um serviço-escola. De cunho qualitativo,
exploratório e interpretativo, há o levantamento e estudo sobre as
diversas demandas envolvidas no processo, por meio de exemplos
vivenciados pelas acadêmicas com as crianças e seus pais.
Psicologia clínica.
10.37885/200400014
1. INTRODUÇÃO a psicoterapia. A probabilidade de tornar produtivo e
acolhedor a troca de experiências com as colegas e
O processo psicodiagnóstico infantil abrange supervisora, através da escuta desprovida de críticas
demandas específicas e diversas, pois provêm de e preconceitos, possibilita um maior aproveitamento
diferentes partes envolvidas no processo: a pessoa dos momentos de supervisão em grupo.
que atende (nesse artigo refere- se aos acadêmicos Há a tendência, conforme Coppolillo (1990), a preen-
da disciplina de Psicodiagnóstico), as pessoas que chermos com preconceitos, teorias e crenças aquilo
buscam ou são levadas para a avaliação clínica (as que não conhecemos. Portanto o exercício de ouvir o
quais são atendidas pelo Serviço de Psicologia Apli- outro, percebendo suas próprias reações, sentimentos
cada da Universidade do RS) e, a supervisora (que e pensamentos, bem como os das demais, possibilita
também é a professora desta disciplina). o acolhimento daquilo que lhes é genuíno. É comum
Esse estudo visa discutir e refletir sobre as especifici- que as demandas das acadêmicas assemelhem-se
dades dos atendimentos das acadêmicas em relação em muitos momentos. A identificação e a empatia,
às crianças e aos seus pais, bem como, em relação portanto, são fatores que possibilitam uma escuta
às supervisões dos acadêmicos e a professora, que afinada e promove uma maior capacidade de ajuda
situa-se no lugar de supervisora dos casos atendidos às demais. Nas situações onde as colegas trazem
numa clínica-escola da Universidade do RS. vivências novas, percebe-se que apesar destas mo-
bilizarem ansiedades pelo impacto do desconhecido,
Inicialmente será descrito acerca das ansiedades e levam à reflexão de suas próprias idéias, sentimentos
expectativas dos acadêmicos em relação a uma primeira e atitudes. Assim sendo, a aprendizagem do processo
experiência clínica. Posteriormente, são discutidas psicodiagnóstico é perpassada pela escuta da aluna
as experiências do encontro entre os acadêmicos em dois momentos: no atendimento ao paciente e
e os pais das crianças e, posteriormente, a experi- nas vivências com as colegas, no âmbito da su-
ência do atendimento com a criança. Em seguida, pervisão. As angústias das acadêmicas provêm de
discute-se algumas particularidades da experiência diversas fontes: de sua própria inexperiência, das
da supervisão, a partir dos sentimentos transferên- experiências em grupo com as colegas, do seu próprio
cias e contratransferências envolvidos em todo o funcionamento psíquico, bem como das demandas
processo psicodiagnóstico, incluindo a relação entre dos pais que lhes são depositadas desde o início do
acadêmicos e supervisora/professora. processo. Tais angústias precisam ser identificadas
e traduzidas para que sejam assimiladas e assim,
2.DESENVOLVIMENTO
possibilitem uma maior flexibilidade de pensamento
e movimento durante o processo. Uma das citações
das acadêmicas que permeiam essas reflexões é:
De acordo com Aguirre (2000), a curiosidade e a “Como vou pedir para os pais a respeito da relação
emoção são fatores desencadeantes desse processo, sexual deles?”
os quais mobilizam angústias e comportamentos di-
versos. A preparação para o atendimento inicia com o A dúvida reflete o sentimento de inapropriação da
estudo a respeito do processo psicodiagnóstico, seus aluna no papel de terapeuta, bem como mobiliza
objetivos, passos e finalização. Nesse momento é questões edípicas internas, isto é, parece estar com a
muito comum aparecerem as angústias confusionais, seguinte dúvida “como vou entrar no quarto do papai
com alguns questionamentos como: “O que eu vou e da mamãe e saber o que se passa por lá?” Se as
dizer para o pai e a mãe se eles me perguntarem o angústias forem muito intensas podem paralisar a
que fazer?” “ Quem primeiramente eu chamo na pri- aluna e prejudicar o processo pela inexatidão das
meira consulta?” “Como conversamos com a criança?” informações. Quanto à possibilidade de identificação
“Podemos opinar a respeito de algum procedimento profissional é possível perceber que muitas vezes há
mais adequado para os pais?” uma precariedade na recorrência a modelos identifica-
tórios. Muitas vezes, as acadêmicas surpreendem-se
Observa-se que o momento é de muita ansiedade com algumas técnicas utilizadas na avaliação de
pelo desconhecido, ao mesmo tempo, demonstram crianças. Alguns questionamentos são realizados
um desejo e um interesse das acadêmicas de colocar como estes: “Mas um terapeuta que trabalha com a
em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do abordagem psicanalítica pode abraçar uma criança,
curso. O estudo teórico representa um dos diversos pegar no colo?” “E se a criança quiser me abraçar,
objetos continentes necessários e importantes para me beijar?” “O que fazemos se recebermos um pre-
o processo. Alguns outros devem estar presentes sente, a gente aceita?”
como: a possibilidade de confiar e dividir seus anseios,
dúvidas, idéias e sentimentos com os colegas e su- Essas questões evidenciam a tentativa de preen-
pervisora; a possibilidade de identificação profissional; cher com conhecimentos e vivências anteriores as
bem como o autoconhecimento, que se efetua com situações inesperadas e inéditas que ocorrem nas
RESUMO
Este conceito nos possibilita compreender e vislumbrar as opressões de modo
Daniele da Silva Fébole imbricadas e relacionadas e não como matrizes de opressões e violências
UNESP isoladas. No entanto, podemos nos indagar: tudo seria interseccional? Ina
Kener (2012) tenta trabalhar essa questão apontando quatro modos de re-
Paulo Vitor Palma lação entre os marcadores de raça, classe e gênero.
Navasconi
UEM
Bárbara Anzolin
UNIPAR
10.37885/200400137
1. INTRODUÇÃO a psicologia a partir da interseccionalidade”, mas
estaríamos fazendo isso? Estaríamos colocando o
Vivemos em uma sociedade que produz, coti- conceito de interseccionalidade nas nossas práticas
dianamente, modos de vida esperados, desejados e, de intervenção e cuidado? Sendo assim, a proposta
consequentemente, por oposição, produz modos de do trabalho: Interseccionalidade: uma estratégia
vida indesejados, ininteligíveis. A nossa linguagem atual (?) e necessária tem como objetivo dar um
binária faz isso todo o tempo, produzindo aquilo que passo para atrás e retomar o que seria interseccio-
cabe na ‘norma’ e o que fica marginalizado. Esse nalidade? Este conceito passou a ser estruturado
movimento é o que hierarquiza nossas diferenças, por quais mãos e vozes?
transformando-as em desigualdades. É o movimen- Nesta perspectiva, assim como Crenshaw (1991)
to que constrói o padrão social do homem branco, e Collins (2015), objetivamos compreender a inter-
europeu, racional. seccionalidade como sendo uma estratégia política
Essa cultura e linguagem binária atravessam tam- e analítica, e também compreender enquanto uma
bém a nossa produção de conhecimento, e nossas possibilidade de mobilização política (Bernardinho-
práticas profissionais, isto é, as ciências. Pautadas -Costa, 2013). Haja vista que o conceito de intersec-
em uma noção de neutralidade e imparcialidade, as cionalidade possibilita-nos denunciar e problematizar
ciências, em sua maioria, têm fechado os olhos para as estruturas de desigualdades sociais, bem como,
as diferenças, ou, quando muito, têm falado delas os efeitos negativos referentes às múltiplas formas
de modo binário e hierarquizante. de opressão e como estas se dinamizam. Mas tam-
bém permite e favorece a produção de resistência.
Na contramão destas produções, este capítulo tem
por objetivo apontar e refletir sobre como as práticas Se entendermos que toda estrutura de poder é rela-
de produção de conhecimento e intervenções profis- ção e consequentemente, em toda relação de poder
sionais são atravessadas por nossos pressupostos há resistência (Foucault, 1995), pode-se afirmar que
culturais, nossa historicidade, linguagem e sociabi- ao modo que se constroem entendimentos e com-
lidade (Ibañez, 2001). Para fazer isso, discutimos o preensões sobre o funcionamento destas dinâmicas
conceito de interseccionalidade, como recurso para de opressões, passa-se a construir também ações
lançarmos diferentes olhares para as diferenças e interventivas de resistência e combate frente às es-
seus marcadores sociais, como os de gênero, raça, truturas opressoras.
classe social, idade e outros. A partir dos questionamentos e reflexões sobre in-
Ina Kerner (2012) questiona: Tudo é interseccional? terseccionalidade, o trabalho busca problematizar a
A discussão sobre interseccionalidade nos últimos forma como a binariedade de gênero tende a atra-
anos vem ocupando espaços de suma importância vessar de modo acentuado a vivência de mulheres
no contexto acadêmico e de militância. Há diferentes lésbicas e bissexuais. Quando femininas, servem de
versões e modos de compreender o fenômeno e o fetiche aos olhos masculinos. Quando masculinas,
conceito de interseccionalidade, entretanto, pode-se servem de afronta às normas e são menos mulheres
afirmar que existe um consenso sobre os contornos por isso. Vivem a abjeção. Nos cuidados em saúde,
gerais do que viria ser interseccionalidade, isto é, a esses atravessamentos produzem algumas invisibili-
concepção crítica frente aos marcadores de raça, dades de experiências e violências no atendimento.
classe, gênero, sexualidade, etnia, nação, idade, Em especial, as mulheres masculinas habitam um
deficiências, entre outros, nos quais tais marcadores espaço no imaginário social que as colocam em um
passam a operar dentro da lógica de uma construção espaço ininteligível. Sua forma de viver a vida, suas
recíproca e produzindo complexas desigualdades práticas sexuais e seus modos de relação são, conti-
sociais. nuamente, relacionados ao modelo heteronormativo.
Este conceito nos possibilita compreender e vislumbrar Neste sentido, o trabalho Mulheres lésbicas e bis-
as opressões de modo imbricadas e relacionadas e sexuais masculinas: interseccionalidades em foco
não como matrizes de opressões e violências isola- tem o intuito de trazer algumas considerações acerca
das. No entanto, podemos nos indagar: tudo seria dos atravessamentos de raça, gênero e classe na
interseccional? Ina Kener (2012) tenta trabalhar essa vida de mulheres lésbicas e bissexuais masculinas
questão apontando quatro modos de relação entre visando inserir a psicologia no debate, convidando-a
os marcadores de raça, classe e gênero. Entretanto, a produzir possibilidades de compreensão destas
nos últimos anos podemos verificar uma banalização vivências.
do conceito interseccionalidade, no qual passa-se a Tais aspectos se relacionam à construção dessa
construir algumas dicotomias onde tudo seria inter- masculinidade e os sentidos que isso tem na vida
seccional, mas esta interseccionalidade estaria sob dessas mulheres; essa masculinidade na relação
o viés do discurso, ou seja, “precisamos entender com outras mulheres; os determinantes de classe
2.
parecer distintas tais categorias como, classe, raça
INTERSECCIONALIDADE: UMA ESTRATÉ- e gênero uma hora ou outra irão se imbricar, isto é,
GIA ATUAL (?) E NECESSÁRIA dependendo do contexto histórico, social, econômico
e político as categorias de raça, gênero e classe
Paulo Vitor Palma Navasconi apresentarão consonâncias e encontros, produzindo
assim uma complexa rede de desigualdades sociais
O conceito de interseccionalidade cunhado por fe- que produzirá efeitos estruturais, políticos e subje-
ministas negras norte-americanas nos anos de 1980 tivos (particulares).
difundiu-se mundo a fora como sendo uma ferramenta
Patricia Hill Collins em um artigo de 2015 intitulado:
teórico-metodológica fundamental para ativistas e
“Intersectionalites definitional dilemas” afirma que in-
teóricas feministas comprometidas com análises que
terseccionalidade constitui um novo termo aplicado a
desvelem os processos de interação entre relações
um conjunto diversificado de práticas, interpretações,
de poder e categorias como classe, gênero e raça
metodologias e orientações políticas, isto é, pode-
em contextos individuais, práticas coletivas e arranjos
3.
e não de modo hierárquico ou somatório como dito
anteriormente. MULHERES LÉSBICAS E BISSEXU-
AIS MASCULINAS: INTERSECCIO-
No entanto, mesmo com a produção e o desenvol- NALIDADES EM FOCO
vimento deste conceito, o termo interseccionalidade
vem assumindo um espaço de banalidade, ou seja, Daniele da Silva Fébole
nos últimos anos tenho observado nas discussões
acadêmicas e no cyber-ativismo a utilização do termo Como nos tornamos “nós”? Como nos
interseccionalidade de maneira inadequada e até
tornamos “eles”? Como alguns se tor-
mesmo deturpada. No qual tudo deveria ser compre-
nam “nós” e outros “eles”? Ou, talvez a
endido sob olhar da interseccionalidade, entretanto,
melhor maneira de formular essa per-
quando verificamos as práxis o que identificamos é
novamente a reprodução e a produção de hierarqui- gunta seja: de que modo os dispositivos
zação das opressões, bem como análises focalizando de poder produzem a diferença entre
apenas uma matriz de subordinações e excluindo o “nós” e “eles”? (Moutinho, 2014, p.
outras opressões, vidas, vozes, bem como outros 203).
conhecimentos.
Este trecho de Moutinho nos convida a pensar sobre
Sendo assim, é possível verificar em diferentes dis- as produções subjetivas identitárias e, ainda, acerca
cursos científicos a seguinte utilização do termo: do “espaço” entre uma identidade e outra. Estes es-
“Temos que entender o gênero em sua interseccio- paços, que a autora denomina como diferenças se
nalidade”; “É fundamental e necessário compreender relacionam, sobretudo, com o modo que as relações
as categorias mulheres nos termos plurais e de modo de poder produzem não só experiências diferentes
interseccional”. entre tais grupos como também normatizações sub-
Mas será que está interseccionalidade estaria apenas jetivas, transformando diferenças em desigualdades.
no plano dos discursos e das falácias, ou estaríamos Tais diferenças constituem o que chamamos de mar-
de fato produzindo análises, conhecimentos e ações cadores sociais e estes atuarão como determinantes
interseccionais? sociais na produção de vulnerabilidades, portanto,
Na minha pesquisa de mestrado intitulada “Vida, condicionantes do processo saúde – doença – cui-
adoecimento e suicídio: Racismo na produção do dado. Esses marcadores sociais dizem respeito
conhecimento sobre Jovens negros/as LGBTTI” iden- aos processos sociais que produzem diferenciação
tifico possíveis respostas para essas indagações, entre as pessoas. É importante pensar que essas
posto que segundo a literatura especializada sobre diferenciações se constroem por meio de algumas
sexualidades, gênero e sobre comportamento suicida polarizações colocando de um lado o hegemônico,
devemos entender e compreender esses fenômenos portanto, normatizado e de outro aquilo que fugiria
de modo plurais, e consequentemente a partir do às normas.
viés interseccional, haja vista que o fenômeno do A prática profissional psicológica que se baseava
suicídio, por exemplo, corresponderia a um fenômeno neste sujeito hegemônico tinha como critérios a
multifacetado (interseccionado por diversos fatores),
5.ÉTICA
política em todas as suas possibilidades, desde os
E PSICOLOGIA: UM CONVITE atendimentos em equipe nos serviços públicos até
À REFLEXIVIDADE a psicoterapia individual em consultório particular
(Ibañez, 2001). Nós atuamos a partir dos nossos es-
Bárbara Anzolin tudos, experiências e das nossas trajetórias pessoais,
O presente texto tem como objetivo apresentar a refle- porque isso nos constrói, isso ocorre de acordo com
xividade como um recurso para o trabalho profissional nossos anseios, nosso modo de entender a vida e
ético em psicologia. Para isso, tomamos como base o modo como gostaríamos que ela fosse. É a partir
o Construcionismo Social, uma perspectiva crítica desta leitura que pensamos a ética e recorremos à
em Psicologia, que reconhece a parcialidade e não reflexividade.
neutralidade das práticas profissionais nas relações Ética e reflexividade
sociais e, portanto, convida a um posicionamento
reflexivo, comprometido ética e politicamente com Se pensarmos ética como “a ciência que têm por
a construção de uma sociedade menos opressora objeto os julgamentos de apreciação sobre os atos
(Ibañez, 2001). Nesta perspectiva, problematizamos considerados bons ou maus” (Spink, 2000), precisa-
as relações de poder nas tradições das culturas e mos considerar que bom ou mau é relativo, é fruto
buscamos ouvir e trabalhar ao lado dos grupos his- de convenções sociais historicamente construídas,
toricamente marginalizados. portanto, não natural e passível de transformação
(Cordeiro, Freitas, Conejo & Luiz, 2014). O que é
Assumimos um posicionamento de que não exis- bom para uma pessoa pode não ser bom para mui-
te uma realidade pronta e independente, existem tas outras pessoas, então como podemos saber se
múltiplas realidades, criadas por nós, a partir de nossas escolhas e ações são éticas?
nossa historicidade, nossa sociabilidade e contex-
tos linguísticos (Ibañez, 2001; Souza 2014). A partir Em nossas intervenções profissionais, para além da
deste entendimento, quando falamos sobre atuação “ética prescritiva” (Spink, 2000, p. 12), que contem-
profissional, voltamos nossos olhares para as inte- pla as normas, códigos de ética profissional, leis,
rações construídas entre as pessoas (profissionais políticas, resoluções e notas técnicas, recorremos
e usuárias/os de serviços psicológicos), de forma a a “ética relacional”. Trata-se de um processo dia-
tornar o processo transparente e dialógico. lógico que possibilite uma postura atenta, curiosa,
Collins, P. H. (2015). Em direção a uma nova Beauvoir, S. (2014). O segundo sexo. Rio de
visão: raça, classe e gênero como categorias Janeiro: Nova Fronteira.
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RESUMO
Este artigo apresenta o relato de experiência realizado como
Gabriel Henrique da
Silva Honório atividade obrigatória de estágio para a formação em Psicologia
UNIPAR da UNIPAR, Universidade Paranaense e responde à proposta do
Projeto “Espaço Estimular: inteligências múltiplas em alunos da
Maria Adelaide Pessini educação especial com deficiência intelectual (D.I.)”. As atividades
UNIPAR interventivas do estágio foram realizadas ao longo de oito meses do
ano de dois mil e dezoito, junto a alunos com deficiência intelectual
matriculados no ensino fundamental na modalidade de educação
especial na Escola Municipal Drummond de Andrade, respondendo
a demanda dialogada com os profissionais do estabelecimento,
surgiu então a necessidade de um trabalho do psicólogo escolar/
educacional cujo objetivo foi proporcionar aos alunados um espaço
que vise a estimulação das Inteligências Múltiplas. Por meio de
métodos propostos por Gardner (2002) e Antunes (2014) através de
jogos organizados por planos de ação, produziu-se um espaço que
proporcionou ações psicoeducacionais para o desenvolvimento de
habilidades. Observou-se, no decorrer do processo a identificação de
facilidades e dificuldades em relação as habilidades nas Inteligências
Múltiplas, o que faz supor que as intervenções contribuíram para as
necessidades específicas diferenciada ao processo educacional e a
articulação de saberes plurais às diferenças individuais dos alunos,
de tal forma a auxiliar na emancipação, pensamento crítico e na
coprodução dos alunados.
2.MÉTODO
realizado na Escola Drummond de Andrade, loca-
lizada no interior do Paraná. A proposta de inter-
venção foi entorno de proporcionar aos alunos do O estágio cuja experiência aqui é relatada, teve
atendimento educacional especializado (AEE) com como propósitos a estimulação das inteligências múl-
Deficiência Intelectual através de jogos, um espaço tiplas com alunos de sete à onze anos da Educação
que pudesse propiciar o conhecimento dos alunos Especial no Ensino Fundamental, realizado numa
de suas inteligências e a estimulação de outrem. A escola municipal no período vespertino. A escola
luz de uma produção interventiva com professor e encontra-se no centro da cidade, atendendo predo-
psicólogo, viu-se a necessidade de produzir ações minantemente a população do pequeno município.
diferenciadas como forma de trabalho transversal e O atendimento do estabelecimento é dividido em
multidisciplinar em articulação do atendimento es- ensino infantil, fundamental no período matutino e
pecial às necessidades dos alunos. Este dinamismo vespertino e na modalidade de Educação para Jo-
proporcionou criar uma prática pedagógica para a vens e Adultos (EJA) no período noturno.
identificação das especificidades dos alunos e da
estimulação de suas inteligências, de modo que A supervisora de estágio juntamente com o estagiário
possibilitou métodos pedagógicos para estimulação consultou a escola de interesse para ser fornecido a
de habilidades concomitante a uma aprendizagem oportunidade de articular Psicologia Escolar/Educa-
significativa. cional no estabelecimento, de tal forma a cooperar
com a comunidade escolar e ao conhecimento es-
Metodologicamente, este relato utilizou-se sob o pecífico a luz de um trabalho preventivo. A primeiro
entendimento da pesquisa bibliografia, o qual apre- momento, foi apresentado a proposta a psicóloga
sentou-se diante a ação interventiva. do local, sendo ressaltado a oportunidade do serviço
Norteados por leituras construtivistas da perspectiva em auxílio as demandas escolares e a cooperação
de Gardner e dos referenciais técnicos da educa- com os alunos.
ção especial, construiu reflexões sobre os estudos Foi assim, estabelecendo parceria entre a escola e
de alunos com deficiência intelectual num espaço o curso de graduação em Psicologia com o objetivo
diversificado em uma modalidade inclusiva e preven- do desenvolvimento de jogos para estimulação dos
tiva para construção do rompimento das situações alunos da Educação Especial. Ao decorrer de oito
de exclusão, buscando assim promover ambientes meses consecutivos, o estagiário foi responsável por
heterogêneos, de ressignificação a estigmatização organizar planos de ação com jogos e atividades uma
dos alunos a um pleno desenvolvimento que deve vez por semana no período vespertino das treze às
ser o processo de aprendizagem. dezessete horas com alunos de sete à onze anos.
Com isso, pudemos nos aproximar das necessidades O grupo, constituiu de sete meninos e quatro meni-
da educação diferenciada a uma visão pluralista de nas com predomínio de baixo rendimento escolar,
forças cognitivas para inclusiva. Vale salientar que a diagnosticados com Deficiência Intelectual.
utilização da teoria de Gardner, propõe desenvolver Os quatro primeiros meses foram dedicados as ob-
competência nos alunados, principalmente quando servações assistemáticas, cujo objetivo foi conhecer
nos referimos a Educação Especial, visto a neces- e coletar dados sobre o público alvo para melhor
sidade da articulação de recursos pedagógicos para elaborar e adequar os jogos interventivos as necessi-
o ensino. dades específicas dos alunos, permitindo planejar e
Em posição profissional, pudemos ver que a educa- registrar os elementos da observação (Danna, 2011).
ção a partir das inteligências visa estimular alunos Por meio de leituras em textos-base da Psicopedagogia
em suas habilidades particulares de encontro com com o construtivismo por Gardner e as inteligências
o processo educacional, pois assim vão construir múltiplas, referenciais da Política Nacional de Educa-
meios de transmissão mais consistentes que facili- ção Especial na perspectiva da educação inclusiva
tarão o processo de aprendizagem. Esse movimento (2008) assim como a Resolução nº 04, de outubro de
proporciona a escola poder avaliar o aluno através 2009 que institui a modalidade do Atendimento Edu-
de uma perspectiva holística, resultando na apren- cacional Especializado (AEE). Além disso, o período
dizagem de forma prazerosa, desenvolvendo assim inicial, utilizamos de referenciais sobre a construção
suas habilidades de maneira abrangente. de jogos atrelado as habilidades para construção
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que a intervenção realizada
tam ser repensadas pois, a construção de práticas
hegemônicas que normaliza, naturaliza, exclui su-
jeitos e despersonaliza-os, cria condições que vão
com os alunos sob a perspectiva de Gardner a partir responsabilizar a família e o sujeito-problema.
das inteligências múltiplas, puderam estimular os pro-
O que é fundamental mostrar, é que existem outras
cessos de aprendizagem, as habilidades intelectuais
formas de realizar a avaliação psicológica comple-
e sociais, bem como possibilitar o desenvolvimento
mentando os processos de diagnósticos utilizando-se
de competências sociais numa ótica preventiva aos
de uma nova visão, a psicopedagógica, consideran-
alunos com deficiência intelectual.
do suas práticas de entendimento de sujeito plural
Destaco que o ensino voltado ao atendimento educa- e ferramentas diversas, produzindo atuações em
cional especializado (AEE) prevê de recursos materiais respeito às alteridades dos alunados bem como a
e humanos para construção de práticas diversificadas estimulação do processo de aprendizagem em di-
de modo a considerar a atenção sob um movimento álogo a Pedagogia, também de forma preventiva.
complementar, multidisciplinar e multiprofissional com
Assim, permite criar um processo educacional eficaz
os agentes educacionais. Na medida que a aprendi-
que proporcione não só o aprender, mas promoção
zagem favorece a relação entre o mundo do sujeito
de condições para autonomia do aluno com defi-
ao mundo do aluno, cria condições que possibilitem
ciência a luz da promoção de qualidade de vida,
a aprendizagem significativa.
consequentemente, a resultados quantitativamente
Como área integrada a tais relações, a psicopedago- e qualitativamente melhores aos interessados.
gia serve como ferramenta de intervenção e análise,
A estimulação na escola foi o princípio das condições
pois puderam construir espaços integrados eficazes
do aprender, porém, a família é agente responsável
para estimulação dos alunos, frente as demandas de
por permitir condições extraescolares que continuem
ensino-aprendizagem, desenvolvendo condições na
o trabalho de explorar os alunos e suas inteligências,
busca de novas estratégias para a avaliação psico-
favorecendo uma comunicação entre escola e comu-
lógica e pedagógica, considerando sujeito autônomo
nidade eficiente, criando práticas e recursos próprios
atuante deste processo.
que vão prosseguir com o trabalho psicoeducacional
A Psicologia Escolar/Educacional sob este enfoque, utilizando de seu resultado para circunstâncias inte-
diversifica as práticas primitivas no começo de sua gradas a produtivas a luz da construção de autonomia
construção história nas escolas de avaliação psico- e desenvolvimento do aluno.
lógica mensurada, para complementar a ferramenta
de análise às demandas do ensino-aprendizagem,
permitindo criar condições atuantes num caráter dife-
REFERÊNCIAS
renciado conhecendo o mundo externo e interno do
aluno a partir de seus exercícios extra e interescolar
Antunes, C. (2014). Jogos para estimulação
através de jogos. das inteligências (20a ed.). Petrópolis: Vozes.
RESUMO
O termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos
Rafaela Brito
UNAMA
que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia,
disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras
Larissa Soares
alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo
UNAMA
diversas manifestações sistêmicas, como distúrbios fisiológicos e
Lorena Paulino psicológicos. (Margis, Picon, Cosner e Silveira 2003) A ansiedade é um
UNAMA
sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado
Emília Damasceno por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de
UNAMA
algo desconhecido ou estranho (Castillo; Recondo; Asbahr e Manfro
2000). Situações de estresse e ansiedade implicam a ativação
principalmente do sistema nervoso autônomo [SNA (feixe simpático)]
e do sistema nervoso periférico (SNP). Seus efeitos são: aumento do
ritmo cardíaco, aumento da pressão arterial, secura na boca, sudorese
intensa, “nó” na garganta, efeitos relacionados ao funcionamento
do SNA, formigamento dos membros, dilatação das pupilas e
dificuldade para respirar, com relação ao SNP. Neurotransmissores
como a adrenalina e noradrenalina são ativados durante situações de
estresse e ansiedade o que ajuda a aumentar e manter a atividade
adrenérgica somática. Sobre os transtornos de ansiedade, é lícito
imaginarmos que a interação de fatores ambientais (os eventos de
vida estressores) com predisposição genética para transtornos de
ansiedade, modulada pelas capacidades do sujeito em lidar com
estes estressores, determinada também geneticamente, resultaria
no surgimento de um transtorno de ansiedade. (Margis;Picon;Cosner
e Silveira 2003).
posta Somática.
10.37885/200400039
1. INTRODUÇÃO Assim, os sintomas surgem como um resultado da
existência de níveis elevados de ansiedade, ou seja,
O termo estresse denota o estado gerado pela um alerta de que as tensões internas no indivíduo
percepção de estímulos que provocam excitação não estão sendo aliviadas adequadamente. Quan-
emocional e, ao perturbarem a homeostasia, dis- do acumulada, a forma encontrada para equilibrar
param um processo de adaptação caracterizado, o aparelho psíquico é a descarga dessas tensões
entre outras alterações, pelo aumento de secreção no próprio corpo por meio de sintomas. Podemos
de adrenalina produzindo diversas manifestações inferir que o tipo de resposta de cada pessoa de-
sistêmicas, como distúrbios fisiológicos e psicoló- penderá não somente da grandeza e frequência de
gicos. (Margis, Picon, Cosner e Silveira 2003) A determinado evento estressor, mas da junção de
ansiedade é um sentimento vago e desagradável fatores genéticos e ambientais. A resposta para en-
de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou frentar o evento estressor, será determinada a partir
desconforto derivado de antecipação de perigo, de de componentes cognitivos, emocional e fisiológico.
algo desconhecido ou estranho (Castillo; Recondo; Quando o indivíduo consegue eliminar ou solucionar
Asbahr e Manfro 2000). Situações de estresse e a situação que ocasionou o estresse, acarretará em
ansiedade implicam a ativação principalmente do uma diminuição dos sintomas fisiológicos que foram
sistema nervoso autônomo [SNA (feixe simpático) ] ativados pelo evento estressor. Logo, se a resposta
e do sistema nervoso periférico (SNP). Seus efeitos ao estresse gerar ativação fisiológica frequente e
são: aumento do ritmo cardíaco, aumento da pres- duradoura ou intensa, poderá levar a um esgota-
são arterial, secura na boca, sudorese intensa, “nó” mento dos recursos do sujeito, com o aparecimento
na garganta, efeitos relacionados ao funcionamen- de transtornos psicofisiológicos diversos, podendo
to do SNA, formigamento dos membros, dilatação predispor ao aparecimento de transtornos de ansie-
das pupilas e dificuldade para respirar, com relação dade entre outros transtornos mentais. Constatamos
ao SNP. Neurotransmissores como a adrenalina e também, que o surgimento de um transtorno está
noradrenalina são ativados durante situações de diretamente relacionado à frequência e duração de
estresse e ansiedade o que ajuda a aumentar e respostas de ativação provocadas por situações que
manter a atividade adrenérgica somática. Sobre os o sujeito avalia como estressoras para si. Apesar
transtornos de ansiedade, é lícito imaginarmos que de diversos estudos avaliarem essa relação entre a
a interação de fatores ambientais (os eventos de ocorrência de eventos estressores e o surgimento de
vida estressores) com predisposição genética para sintomas que possam caracterizar ansiedade, existem
transtornos de ansiedade, modulada pelas capaci- poucos dados disponíveis atualmente na literatura.
dades do sujeito em lidar com estes estressores, Diversos trabalhos acabam por sugerir que enfoque
determinada também geneticamente, resultaria no nos estudos levem em consideração os aspectos
surgimento de um transtorno de ansiedade. (Mar- etiológicos, para que seja melhor avaliada a relação
gis;Picon;Cosner e Silveira 2003). causal entre a exposição a diferentes eventos de
vida estressores e o surgimento de sintomas de an-
2.OBJETIVO
siedade, bem como de transtornos ansiosos. Nesse
sentido, o reconhecimento desta relação causal terá
implicações práticas tão relevantes como a preven-
Realizar um levantamento bibliográfico para a ção de transtornos ansiosos e o estabelecimento de
identificar a relação entre o estresse e a ansiedade, estratégias de tratamento.
as suas causas e como o corpo reage frente a esses
5.CONCLUSÃO
transtornos.
3.METODOLOGIA
Foi realizado um levantamento bibliográfico na
Dado o reconhecimento de que, quadros de
estresse e ansiedade ativam principalmente o sistema
nervoso central e o SNP, torna-se clara a interferência
busca de artigos que contenham informações sobre que os sintomas destas patologias podem causar no
a relação entre ansiedade e estresse, focando em funcionamento do indivíduo, uma vez que, podem
seus aspectos fisiopatológicos. Para isso foram uti- afetar funções vitais do ser humano, como: respi-
lizados como critérios de seleção artigos na base ração, circulação sanguínea, e até na transmissão
de dados Scielo. de impulsos nervosos. Entende-se que o estresse,
comumente, atua como coadjuvante em quadros
4.RESULTADOS E DISCUSSÕES
de ansiedade, podendo até mesmo, surgir através
da ansiedade exacerbada. Assim como, fatores es-
tressores em grande incidência, são ameaças para
Como falado anteriormente, a ansiedade carac- o aparecimento de diversos transtornos ansiosos.
teriza-se como uma resposta somática do estresse. Importante considerar, além dos aspectos fisiopa-
REFERÊNCIAS
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Annelise Forme et al. Stressfull life-events,
stress and anxiety. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul
[online]. 2003, vol.25, suppl.1, pp.65-74. Dis-
ponível: http://www.scielo.br/pdf/rprs/v25s1/
a08v25s1. Acesso em 19/03/2019.
RESUMO
Os EE (exercícios espirituais) são um instrumento de mudança, e
Maria Teresa Moreira
Rodrigues quer passem por uma eleição de vida ou mesmo por um crescimento
SBPSP/PUC espiritual, neles está em jogo uma conversão, que é a versão teológica
da mudança psíquica. Vividos “com grande ânimo e liberalidade”,
levam sempre a experimentar uma humanidade, que implica uma
transformação do ego, numa trama psíquica e espiritual, em diferentes
níveis. Aquele que busca os EE traz, quer queira quer não, uma
histórica psíquica que o condiciona, bloqueando ou libertando; fazer
os EE é colocar essa sua história humana dentro desse itinerário que
o transformará, integrando todas suas dimensões pessoais. Aquele
que “dá os EE” acompanha aquele que “os faz” com enorme respeito
à sua liberdade, oferecendo-lhe seu senso comum, seu realismo, seus
conhecimentos, sua experiência, e contempla a viabilidade humana,
consciente do mistério de Deus. A Psicologia aqui considerada não é
um luxo e nem leva a um individualismo intimista; ela está a serviço
da comunidade humana, pois não se esquece de que o exercitante
dos EE é uma pessoa solidária, fruto e agente de uma história, que
a chama a se libertar, mas vinculada a um povo, no seguimento de
Jesus.
Psicanalise e Fé;
10.37885/200400164
Maria Teresa Moreira Rodrigues¹ é um mundo invisível. “Ver o que está por trás” de
todas as coisas é o mesmo que não ver nada.
A Psicanálise é uma disciplina extremadamente ín-
tima, e de sensibilidade e habilidade. A prática da Carl S.Lewis⁴
psicanálise converte essa intimidade em uma relação
especializada entre duas pessoas, as quais, através
da mesma natureza de sua exclusividade, transfor-
mam-se mutuamente. A primeira coisa que quero
dizer acerca do trabalho refletido nestes escritos,
é que meus pacientes têm me ajudado a conver-
ter e personalizar meu pensamento, afetividade e
1.OTRABALHO
SENTIDO E O PORQUÊ DESSE
esforço potenciais, em uma forma de vida que me Así voy devolviendole a Diós unos cen-
é profundamente satisfatória. Se tivesse seguido tavos del infinito caudal que me pone
outra carreira, talvez minha vida tivesse sido mais en las manos.
cheia de acontecimentos e variada, mas não teria Luna de enfrente. Jorge L. Borges⁵
sido mais completa. A relação com meus pacientes
tem-me ensinado a humildade e a necessidade do Este trabalho não pretende apresentar em sua com-
outro para eu ser e converter-me em mim mesmo. plexidade já tão decantada, as relações possíveis
M.Masud R.Khan² entre Psicanálise e Religião, Psicanálise e Fé. Nunca
foi fácil o diálogo entre elas pelas posições pré-es-
Assim como uma mesma partitura pode ser interpre- tabelecidas, pelo medo e preconceitos, e mesmo
tada de formas diversas por diferentes maestros, os por mecanismos de ordem inconsciente que têm
Evangelhos são sempre os mesmos, porém conti- impedido o enfrentamento com disposição suficiente
nuamente animados pela sensibilidade, pela história para escutar o que a outra parte diz. “Os psicanalistas
pessoal e pela ciência de cada um. Uma escritura-fala têm sido particularmente cegos frente ao tema da
que renasce, linguagem própria a cada homem, cuja religião”, já afirmava Bion. E as pessoas que creem
veia jamais se esgotará, linguagem criadora de sua precaveram-se e resguardaram-se da Psicanálise,
vida e de sua dignidade. Não pretendo compreender sentindo-a como uma fúria poderosamente icono-
a totalidade desses escritos, que permanecem uma clasta. A despeito da cegueira e da desconfiança,
revelação espiritual. E a psicanálise trata da psicologia; ambas terão que manter um diálogo interminável,
ela propõe uma leitura que responde aos “comos” como nos diz Domínguez Morano: “A questão entre
e “porquês” de certas atitudes e comportamentos; elas coloca-se de modo radicalmente novo cada vez
não trata do que é espiritual, pois este imprime o que alguém fala, e enuncia seu Credo. A psicanálise
movimento da reivindicação profunda do coração nunca pretenderá contar de antemão com a inter-
humano: a busca da verdade, o insondável sonho pretação deste dizer, e nunca tampouco aquele que
de justiça, o culto da beleza, o encontro com Deus. crê poderá esquivar-se da pergunta que se oculta
De qualquer forma, a psicanálise pode, no entanto, por baixo desse dizer ⁶.”
alertar leitores indiferentes a esses manuscritos e
tirar da rotina aqueles que com eles estão familia- Pretendo apenas apresentar a experiência pessoal
rizados demais. que tive com os Exercícios Espirituais (doravante
EE) de Inácio de Loyola, e o que inferi e estudei
Françoise Dolto³ dele, mas sempre reconhecendo a psicanalista que
existe em mim, e lembrando-me das marcas dessa
Não há nenhuma utilidade em tentar “enxergar o
longa jornada profissional.
que está por trás” dos primeiros princípios. Se você
“enxergar o que está por trás” de todas as coisas sem Compartilho com meus pares psicanalistas o que
exceção, então tudo se tornará transparente para tenho vivido e estudado, mesmo que fora de nossa
você. Mas um mundo completamente transparente área de conhecimento, por entender que assim de-
¹ Membro Associado da SBPSP. Mestre em Ciências da Religião pela ⁴ Verso anotado da placa em frente ao prédio em que Borges morou.
PUC-SP. Buenos Aires. Julho de 2011.
² KHAN, M. Masud R., La intimidad del sí mismo. Madrid, Editorial ⁵ LEWIS, Carl S. A abolição do homem. São Paulo, SP: Martins
Saltés, 1980, p. 9, Prefacio. A tradução é um exercício livre da autora, Fontes, 2010, p. 77.
assim como o são os itálicos. ⁶ DOMÍNGUEZ MORANO, Carlos. Psiconálisis y religiíon: el diálogo
³ DOLTO, Françoise. A fé à luz da psicanálise. Campinas, SP: Verus, interminable. Madrid: Editoral Trotta 2000. Há uma tradução para o
2010, p. 7-8. português, editada pelas Edições Loyola.
2.BREVÍSSIMO OLHAR SOBRE INÁ- própria Espanha, e indo depois para Jerusalém. No
CIO E SEU TEMPO entanto, entre 1526 e 1538, durante viagens e es-
tudos, ele já se inteira dos problemas religiosos de
A espiritualidade de Inácio foi moldada não só por seu tempo, vivendo estas controvérsias em Paris,
sua experiência religiosa, mas também pelo mundo na década de 1530. Numa breve visita à Inglaterra,
em que vivia; sua história pessoal e seu contexto mendigando dinheiro para pagar as taxas universitá-
social deram forma e direção ao seu modo de enten- rias, convive com o tumulto generalizado provocado
der e viver a vida cristã, além de ser também fonte pelo casamento do rei, que provoca a separação
para suas tentativas de resposta aos problemas e da Igreja, e quando também Tomás MORE é exe-
necessidades do mundo de seu tempo. cutado (1535). Depois, entre 1537 e 38, ele e seus
companheiros de então, caminharam entre Paris e
Inácio nasceu em 1491: tempo de horizontes geo- Roma, também convivendo com as controvérsias e
gráficos em expansão. Na sua meninice, Cristóvão desgastes da Igreja. Lembremos sua experiência com
Colombo descobriu América, enquanto outros des- a Inquisição (em Alcalá, Salamanca e Toleco), suas
cobriram a rota marítima para as Índias. Enquanto viagens prolongadas, seus estudos, suas relações
ele ia se expandindo em sua vida pessoal, tanto em com dignatários religiosos; tudo foi dando a ele co-
tempos de cavaleiro, jovem cortesão, soldado, como nhecimento direto dos problemas e das necessidades
de peregrino solitário e estudante, a costa leste da dos cristãos contemporâneos. Sua espiritualidade
América era explorada e também se expandia. Inácio orientada para o serviço foi sua resposta a essas
não só acompanhava estes acontecimentos, como necessidades.
inclusive teve um irmão que seguiu as expedições
espanholas e morreu na América. Quando em ROMA, de 1538 até 1556 (ano de sua
morte), Inácio conviveu com a efervescência das
Muitos anos depois, já na década de 1540, quando artes, embora demonstrasse pouco interesse por
superior geral da Companhia de Jesus, enviou mis- elas. Na pintura: Ticiano, Palladio, Cellini e Tintoreto;
sionários à Índia e ao Japão. Importante ressaltar a em 1541, Michelangelo concluiu o teto da Capela
diferença entre o tempo de Inácio e o de hoje; essas Sistina. Na música, Palestrina tornou-se diretor de
viagens de conquista não geravam o questionamento música na Basílica de s.Pedro. No entanto, seu in-
moral que hoje despertariam; pelo contrário, rece- teresse estava depositado em outra área, plena de
biam as bênçãos da Igreja e homens e missionários criatividade: “a nova aprendizagem”, e que parecia
partiam em grande número. ameaçar a ordem antiga. Inácio deixou um legado
de muitas escolas, instaladas na década de 1550,
Outro fator da época a moldar e influenciar a espi-
que era uma estratégia pastoral aberta ao novo;
ritualidade de Inácio: em 1492, os exércitos do rei
a partir da educação, satisfazia as necessidades
e da rainha da Espanha puseram fim ao domínio
intelectuais, espirituais, morais e sociais da época,
assim como o continuou fazendo.
4. OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS E A
PSICANÁLISE
¹³ MHSI: A Monumenta Historica Societatis Iesu encontra-se hoje em
Roma, ao lado da Cúria Geral dos Jesuítas, mais precisamente no Dizer algo sobre a relação entre os EE (como iden-
Instituto Histórico da Companhia de Jesus. Esta grande coleção é
tidade espiritual gerada pelo processo dos EE) e a
fruto do desejo dos Padres, em 1892, reunidos na Congregação Geral
XXIV, de ver estudados e publicados os documentos que tratam das
origens da Companhia de Jesus, de sto. Inácio e seus companheiros
e colaboradores, das Constituições, Pedagogia e missões na Ásia
e América. Na ocasião, o então Padre Geral Luis Martin recebeu ¹⁴ TETLOW, Joseph A. Os exercícios espirituais no século XX, texto
a incumbência de realizar esse desejo de toda a Companhia. fotocopiado, sem referência.
Constituiu-se uma equipe internacional para iniciar a coleção, que teve ¹⁵ TETLOW, Joseph A. Os exercícios espirituais no século XX. Os
a sua 1a publicação em Madri, no ano de 1894. itálicos e negritos são da autora do trabalho.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em termos da vivência de fé, a semente que ³¹ Parábola evangélica Mt 13,8.
RESUMO
O presente trabalho visa explanar sobre a implicação da Psicologia
Cleison Guimarães
Pimentel com a diversidade sexual e gênero, bem como os aspectos sociais
FAMETRO diante dos preconceitos e estigmas ainda existentes na sociedade
referentes ao assunto. Foram analisadas as concepções de 3
Aline Carlos do Vale estudantes do curso de Psicologia de uma faculdade de Ensino
FAMETRO Superior da cidade de Manaus, cursando o 4º período, turno matutino,
Ana Carolina da Rocha sobre questões referentes a gênero e diversidade sexual no contexto
Gonçalves social atual. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e de campo, com
FAMETRO o intuito de analisar e discutir as questões debatidas em torno dessas
duas temáticas no âmbito acadêmico. O estudo pressuposto também
Barbara Suelen Lima buscou salientar a importância da Psicologia estar relacionada com
dos Santos
FAMETRO
as questões da diversidade sexual e analisar como os estudantes da
área estão sendo preparados para lidar com essas questões. Diante
Kassia Thamiris dos disso, se dá a importância de estudar a questão acerca da diversidade
Santos Freire sexual e gênero a fim de saber como os estudantes de Psicologia
FAMETRO estão entendendo o assunto, despertar interesses e proporcionar
subsídios para manter uma posição de futuros psicólogos perante
Maria Karolina Dias da os conflitos ligados ao tema. Além disso, a relevância se mostra,
Costa
principalmente por razão de a Psicologia estar sendo frequentemente
FAMETRO
mencionada nas discussões a respeito da homossexualidade, entre
ativistas do movimento e instituições religiosas. E, evidentemente,
esse debate está longe de acabar.
10.37885/200400170
1. INTRODUÇÃO Conforme a necessidade de se compreender de for-
ma mais detalhada, descrevendo e interpretando
Refletir sobre o envolvimento da Psicologia nas o fenômeno estudado, este estudo foi estruturado
questões que abrangem a diversidade sexual e gê- mediante a orientação da abordagem de pesquisa
nero representa a oportunidade de construir sujeitos qualitativa.
sociais críticos que reproduzam em sociedade uma De acordo com Pimentel (2015) essa abordagem
nova mentalidade em relação à orientação sexual, torna-se exitosa para uma investigação em que os
extinguindo o preconceito e encontrando mecanismos fenômenos humanos não passam por uma quantifica-
para que a violência de gênero seja abrandada de ção, pelo contrário, precisa-se de um olhar que vem
forma a efetivar mais um espaço político de vivência desde sua gênese. Além disso, contribui pela busca
de direitos humanos. de significados que envolvem “os valores e atitudes
Borges (2016, p. 1-2) afirma que há uma necessidade dos sujeitos que falaram de um espaço profundo das
de estudos acadêmicos para uma compreensão mais relações” (ALMEIDA, 2015, p. 23).
aprofundada sobre o tema, levando os estudantes Diante disso, foram analisadas as concepções de 3
a conviverem e aceitarem a diversidade, além de estudantes do curso de Psicologia de uma faculdade
compreenderem como as identidades são construí- de Ensino Superior da cidade de Manaus, cursando
das e quais são as estratégias de enfrentamento aos o 4º período, sobre questões referentes a gênero e
preconceitos, que implicam no sofrimento psíquico e diversidade sexual no contexto social atual.
na violência (verbal e física) daqueles que não são
aceitos dentro das suas escolhas. Segue abaixo (Tabela 1) a identificação dos parti-
cipantes que fizeram parte desta pesquisa. Todos
Desse modo a pesquisa aqui apresentada teve por tiveram seus nomes preservados e trocados por
objetivo analisar as concepções de estudantes de pseudônimos (nomes de flores), com o intuito de
Psicologia sobre questões referentes a gênero e resguardar suas identidades e manter válida a ética
diversidade sexual no contexto universitário, especi- que permeia a elaboração deste trabalho.
ficamente investigando o papel da Psicologia no que
se refere às questões relativas à diversidade sexual,
identificando também as divergências e convergên- Tabela I: Participantes da Pesquisa
cias entre os relatos de estudantes da Psicologia
em relação ao tema Gênero e Diversidade Sexual.
2 . MÉTODO
Este artigo é resultado de um trabalho realizado
na disciplina “Pesquisa em Psicologia” do Curso de
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário
Psicologia.
com 5 perguntas abertas. Os questionários trazem
Para a realização deste estudo, foi escolhida a aborda- perguntas previamente formuladas, seguindo uma
gem qualitativa. Entendemos por pesquisa a atividade estruturação, onde todos os participantes respondem
básica da ciência na sua indagação e construção da as mesmas perguntas permitindo uma comparação
realidade. É a pesquisa que alimenta atividade de de respostas através do mesmo conjunto de pergun-
ensino e construção da realidade. É a pesquisa que tas, onde as diferenças iram refletir a subjetividade
alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à (BONI e QUARESMA, 2005).
realidade do mundo (MINAYO, 2010 p. 16)
Como o objetivo desta pesquisa consistiu em ana-
As primeiras informações sobre a temática deram- lisar as concepções dos estudantes de psicologia
-se de forma exploratória por meio de livros, textos, sobre as questões referentes ao gênero e a diversi-
pesquisas em periódicos, análise bibliográfica e es- dade sexual, optou-se pela formulação de perguntas
truturação dos capítulos que auxiliaram no esclare- abertas para que assim os discentes discorressem
cimento. Esse procedimento foi realizado para uma sobre as suas compressões sobre o tema de forma
apropriação do tema aqui estudado, abarcando os a manifestar a sua subjetividade.
principais conceitos e reflexões já produzidas em
Diante disto, foram formuladas as seguintes per-
outras literaturas. Gil (2010, p.77) fundamenta a im-
guntas para o questionário, sendo apresentadas no
portância deste procedimento, pois proporciona ao
quadro abaixo.
pesquisador uma abrangência de fenômenos muito
mais ampla do que teria se pesquisasse o fenômeno
apenas diretamente.
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
frente a sua estrutura biológica esteve em um patamar
de poder acima da mulher, pertencente ao gênero
feminino (FIGUEIRÊDO e BARROS, 2014, p. 203).
Além disso, Amaral et al. (2017) afirma que o conceito
3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA de gênero é amplo e flexível dependendo do contexto
Neste tópico serão apresentadas as concepções já histórico atual, assim como, não é estático, e sim,
construídas pela literatura científica sobre as questões maleável com os preceitos da época, ou seja, esses
gênero e diversidade sexual de forma a contextua- conceitos de transformação mediante ao tempo são
lizar a temática. reguladores de normas que regem a sociedade, e
também por meio delas é formado a identidade de
gênero do indivíduo levando em conta os aspectos
3.1.1 DEFINIÇÃO DE GÊNERO E como cultura familiar, social e religiosidade.
CONSTRUÇÃO SOCIAL
Sobre a construção social de gênero e sua denominação
As questões sobre gênero estão ganhando noto- são variadas dependendo da cultura que permeia a
riedade. Para tal, as informações precisam estar pessoa, todas essas formulações sobre o que é ser
explicitas. De acordo com Figueiredo e Barros (2014) homem ou mulher na sociedade envolvem diversos
gênero é um elemento que está relacionado à con- fatores históricos que tendem a perduram até hoje
vivência social, construído culturalmente, ancorado na sociedade. Como, por exemplo, as características
nos discursos das diferenças biológicas entre os implementadas para cada gênero como modo de
sexos. Essas discussões sobre gênero é de funda- falar e vestir são reforços para a manutenção dos
mental importância uma vez que as desigualdades comportamentos de gêneros.
se estabelecem pela falta de esclarecimentos. Por
Esse comportamento ocorre desde cedo, nas brin-
isso se tem vários vertentes esclarecimentos. Por
cadeiras onde se apresenta os objetos diferentes
isso se tem vários vertentes sobre o conceito de
para cada sexo, em que a boneca é para menina e
gênero. Na concepção de Meyer (2010) o conceito
carrinho é para os meninos. Por isso, Favero (2010,
de gênero passa:
p.01) diz que:
[...] a englobar todas as formas de
“As relações são construídas. Em nos-
construção social, cultural e linguística
sa sociocultura, a experiência do femi-
implicadas com os processos que dife-
nino e masculino faz referência a signi-
renciam mulheres de homens, incluindo
ficados particulares representados nas
aqueles processos que incluem seus
brincadeiras e nos brinquedos infantis,
corpos, distinguindo-os e separando-os
na moda, as telenovelas, dentre muitos
como corpos dotados de sexo, gênero
exemplos”.
e sexualidade” (p.16).
Através dessa amplitude de informações na quali- As mesmas autoras ainda revelam que é indispensável
ficação durante a graduação torna-se possível que que o profissional de psicologia possa considerar a
esse profissional se liberte dos estigmas provindos existência da diversidade do sujeito, buscando ques-
do desconhecimento acerca do tema e passe a ter tionar a reprodução de normas, valores e praticas
um olhar livre de julgamentos, garantindo assim aos heteronormativas, e para que isso seja possível é
seus futuros pacientes uma abordagem pautada na necessário que durante a construção do profissional
humanização e ética. ainda na graduação, seja possível existirem momentos
que sejam possíveis as reflexões sobre a questão
Do ponto de vista da condução das discussões, de gênero e diversidade sexual.
nota-se que, tanto para o gênero quanto para as
sexualidades, prevalece uma discussão baseada Por a graduação de psicologia possibilitar a expan-
em acepções fixas sobre as identidades sexuais. são do senso crítico dos discentes acerca da reali-
(BORGES et al., 2013, p. 740). dade nas aulas, principalmente na instituição onde
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
aids e esclerose múltipla. Dissertação (Mes-
trado) Universidade Federal do Amazonas¬_
O assunto nos faculta um empoderamento de UFAM, Manaus. 2015.
que estamos em um processo de mudanças, len-
tas, porém que estão ocorrendo, evidenciando que AMARAL, A. M et al. Adolescência, Gênero e
se precisa de uma discussão mais ampla acerca sexualidade: Uma revisão integrativa. Revista
da temática. Em suma maioria a sociedade ainda Enfermagem Contemporânea. v.6, n.1, p.62-
tem seus preconceitos que são visíveis em muitos 67, 2017.
comportamentos.
ARAÚJO, R. P; CAMARGO, F. P; Gênero Diver-
Gênero e Diversidade Sexual ainda é um tema sidade Sexual e Currículo: um diálogo possível
desconhecido, pois quando se tem um diálogo, fica e necessário In IRINEU, B. A; FROEMMING,
perceptível a ignorância de muitos que qualificam C.N (org). Gênero, Sexualidade e Direitos:
os semelhantes como uma aberração da natureza, Construindo Políticas de Enfrentamento ao
estigmatizando com palavras de baixo escalão e
Sexismo e a Homofobia. Palmas, 2012.
insultos. A repulsa acaba levando a não aceitação do
outro, acontecendo até mesmo dentro de um ambiente ASSUNÇÃO, M. M. S; SILVA, L. R. Formação
familiar. Logo surgem alguns questionamentos, será
em psicologia e diversidade sexual: atraves-
que esses pais não aceitam seus filhos? Ou tem
samentos e reflexões sobre identidade de gê-
medo de que suas proles sofram por suas escolhas?
nero e orientação sexual. Pretextos-Revista da
A sociedade ainda é machista e autoritária. Mesmo a Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 3,
pesquisa revelando uma pequena e discreta melhora n. 5, p. 3-5, 2018.
no pensar dos participantes entrevistados, ainda há
muito a ser feito para que se evitem as exclusões BRASIL. Ministério da Saúde. Temático pre-
que os LGBTs sofrem, onde buscam ter seus direitos venção de violência e cultura de paz III. Bra-
garantidos, não de forma desordeira, mas por meios sília: Organização Pan-Americana de Saúde,
de leis que lhes assegurem o direito de ir e vir e com p. 23, 2008.
quem bem quiser, pois são cidadãos que lutam por
uma sociedade humanizada. BONI, V; QUARESMA, S. J. Aprendendo a en-
Portanto, levar a temática para ser dialogada no nível trevistar: como fazer entrevistas em Ciências
acadêmico é proveitoso, visto que, a Psicologia vem Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduan-
sendo constantemente inserida em debates e dis- dos em Sociologia Política da UFSC. v.2, n.1
cussões sobre o assunto, pois busca um bem estar , 2005, p. 68-80.
físico e psíquico dos indivíduos; além de procurar
uma maior compreensão sobre a relevância desses BORGES, I. A. Gênero, Sexualidade e Diver-
dois grandes temas para evolução da educação, sidade na Educação. Faculdade de Ciências
no que diz respeito às diferenças e ao combate a da Educação e Saúde – FACES. Brasília/DF,
violência, na perspectiva dos alunos de Psicologia 2016, p. 1-20.
e ampliar para outras áreas do conhecimento que
serão passadas de forma clara para a sociedade. BORGES, L. S et al. Abordagens de Gênero
e Sexualidade na Psicologia: Revendo Con-
A partir desse trabalho surgiram possíveis temáticas ceitos, Repensando Práticas. Revista Psicolo-
que podem ser aprofundadas e estudadas, “diver- gia: Ciência e Profissão, v.33, n.3, p. 730-745,
sidade sexual: desestigmatizar os estereótipos por
2013.
meio de políticas públicas”; “Sou igual a você: Leis
que asseguram a inclusão na sociedade tornando as CABALLERO, A. I. M. A desigualdade entre os
RESUMO
Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, a qual objetiva
Cintia Glaupp Lima dos
Santos analisar como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode contribuir
ESTÁCIO para o tratamento de pessoas idosas com ideação suicida. O interesse
em realizar esta pesquisa surgiu da constatação do alto número de
Lívia Maria Monteiro pessoas idosas com o desejo de se matar. Uma intervenção adequada
Santos pode contribuir para a prevenção, manutenção e tratamento da
ESTÁCIO
saúde mental e qualidade de vida do idoso, evitando, possivelmente,
o sofrimento oriundo da ideação suicida. Nessa perspectiva, a
Maria das Graças Teles
TCC se coloca como estratégia terapêutica que pode orientar o
Martins
ESTÁCIO psicoterapeuta quanto às intervenções apropriadas e eficazes diante
desse tipo de situação. Para a realização da pesquisa foi utilizada
uma bibliografia oriunda de artigos localizados nas seguintes bases
de dados: Biblioteca Virtual em Violência e Saúde da BIREME e
SciELO. Foram utilizados também livros que se relacionam com os
objetivos da pesquisa. A Terapia Cognitivo-Comportamental possui
recursos eficientes para a remissão dos sinais e sintomas referentes
ao desejo de morrer. A pessoa com ideação suicida é aquela que se
posiciona mais próxima dos atos suicidas, pois possui um desejo
de acabar com a própria vida. Assim, poderá expressar crenças
distorcidas sobre si mesmo, o mundo e o futuro, apresentando,
portanto atitudes disfuncionais em relação às experiências vividas.
As estratégias que compõem as intervenções terapêuticas fazem
parte de um plano de segurança elaborado de forma colaborativa
entre terapeuta e paciente, as quais buscam a modificação de crenças
desadaptativas, um significado para a vida e o aumento da habilidade
de resolutividade de problemas.
3.
abordagem que investiga os fatores de risco de pes-
soas com ideação suicida e que já tentaram abreviar
TERAPIA COGNITIVO - COMPORTA-
suas vidas, logo pode disponibilizar recursos para
MENTAL E IDOSO COM IDEAÇÃO
o atendimento do idoso com intenção de cometer o
SUICIDA
suicídio, possibilitando meios para a reestruturação
O envelhecimento da população antes visto como um
de pensamentos distorcidos e o desenvolvimento de
fenômeno possível é, na atualidade, uma realidade.
habilidades para a solução de conflitos.
A população de pessoas com mais de 65 anos no
Brasil “cresceu de 2,8% em 1960 para 3,1% em
4.RESULTADOS E DISCUSSÕES
sica ou mental diante das quais o idoso se sente
humilhado. (MINAYO; CAVALCANTE, 2010).
Existem muitas variáveis associadas aos pensamentos
e atos suicidas, que devem ser avaliadas pelo psicólogo
4.1 FATORES DE RISCO PARA IDEA- e usadas para formar um entendimento abrangente
ÇÃO SUICIDA ENTRE IDOSOS do nível de risco de suicídio de um paciente idoso,
buscando o trabalho preventivo e evitando o auto
Diante da análise da literatura, considera-se que os aniquilamento. (WENZEL; BROWN; BECK, 2010).
principais fatores de risco para ideação suicida são
as variáveis: Patológicas, Psicológicas e Sociais.
Minayo e Cavalcante (2010) afirmam que no caso dos 4.2 DISTORÇÕES COGNITIVAS DE
idosos, o processo de adoecimento mental, problemas IDOSOS COM INTENÇÃO SUICIDA
de saúde física, isolamento e à falta de suporte social,
são um dos fatores que se relacionam à ocorrência As cognições influenciam indelevelmente as emo-
de suicídio. A presença de algumas doenças graves ções e os comportamentos gerando pensamentos
é considerada um fator de risco para o suicídio de disfuncionais e distorções cognitivas que contribuem
pessoas idosas. para a manutenção das psicopatologias.
Os autores são unânimes em afirmar que na variá- A maneira que as pessoas reagem frente a uma
vel patológica, podemos elencar a depressão maior, dada situação definirá os seus comportamentos que
limitações físicas como dificuldade locomotora, trans- consequentemente causarão distorções cognitivas.
tornos mentais e câncer. Essas doenças geralmente Botega (2014) afirma que outro aspecto a ser lem-
acometem os idosos, o que pode levá-lo a ideação brado é que uma tentativa de suicídio sempre vem
suicida. acompanhada de pensamentos disfuncionais, que
elevam o risco de uma futura efetivação desse intento.
Nos casos de doenças graves pesam muito para Por esse motivo, as tentativas devem ser encaradas
os idosos, a convivência com dores físicas que se com seriedade dando especial atenção a pessoa que
intensificam e problemas ligados ao desempenho tentou se suicidar, utilizando como uma das principais
sexual, que criam uma situação insuportável. estratégias para se evitar a morte autoinflingida.
No que se refere ao câncer existe sempre a amea- As razões mais frequentes de distorções cognitivas
ça da morte, em razão disso pode apresentar para em idosos com ideação suicida estão associadas as
o idoso, consequências sérias em relação ao seu suas crenças de desvalor, despropósito, inadequação,
estado mental. (CAVALCANTE et al, 2014). de desamparo ou o simples fato de se sentirem fardo
Fatores Psicológicos também afetam e agravam a para as pessoas. (WENZEL; BROWN; BECK, 2010).
ideação suicida de idosos, e está relacionado direta- Com os pensamentos suicidas os idosos ficam mais
mente com a desesperança, luto patológico e solidão. vulneráveis a cometer o suicídio propriamente dito,
Wenzel, Brown e Beck (2010) afirmam que a de- em razão disso não sentem mais a vontade de viver,
sesperança é prevalente entre idosos em eventos devido às várias dificuldades enfrentadas na velhice
no contexto de vida que foram marcados por per- e o não apoio familiar influênciam na tomada de
das interpessoais. O luto patológico aparece como decisão do idoso.
síndrome que é distinta de depressão associada a Os pensamentos de suicídio variam desde o remo-
uma perda, que vem em acréscimo com a solidão to desejo de estar simplesmente morto, até planos
que geralmente é experimentada entre aqueles que minuciosos de se matar. Os pensamentos relativos
moram sozinhos. à morte devem ser sistematicamente investigados,
Fatores de risco preocupantes em relação à ideação uma vez que essa conduta poderá prevenir atos sui-
suicida estão no contexto social e cultural, “apo- cidas, dando a possibilidade ao doente de expressar
RESUMO
O envelhecimento é realidade mundial, assim como a tecnologia,
Cláudia Cibele Bitdinger
Cobalchini relacionada à informatização e à internet, tem tomado espaço nas
UP mais diversas relações cotidianas e na prestação de serviços.
Através de uma revisão de literatura, o artigo teve como objetivo
Bruna Fernanda Alves compreender como a tecnologia beneficia os idosos, e se ela
UNIANDRADE é um fator protetivo de socialização para que ele possa manter
Lucas Lauro da Silva contato com outras gerações. O envelhecimento é alvo ainda de
UNIANDRADE representação pejorativa por parte de outros segmentos etários, ao
Thiago Bellei de Lima mesmo tempo que tem se apresentado, em virtude do aumento de
UP longevidade, uma oportunidade para ampliação de aprendizagens. E
as universidades abertas para terceira idade, ao lado da necessidade
de atualização para acesso a serviços, têm se configurado num
espaço privilegiado para estimulação de processos cognitivos,
atividades físicas e socialização. Na abordagem histórico cultural,
na qual a mediação cultural e a interação social são motores do
desenvolvimento, compreende-se a manutenção das situações de
aprendizagem, assim como a socialização, fatores primordiais para
o envelhecimento saudável. A aprendizagem de recursos por meio
da informática ao mesmo tempo que insere o idoso no mundo digital,
pela ampliação de conhecimento, também estimula seus processos
cognitivos e promove mais interações sociais, com grupos, familiares.
E a intergeracionalidade tem se apresentado como outra dimensão
nutrida de modo a incentivar a aprendizagem e a inclusão social do
idoso.
3.PSICOLOGIA
de serviços bancários online facilitando as tarefas
HISTÓRICO-CULTU- diárias, o acesso a informações atualizadas, a prática
RAL: SOBRE O ENVELHECIMENTO de atividades intelectuais, seja através da escrita,
entre outros (GARCIA, 2001).
4.PARA
incertezas pelo desconhecido. Outro objetivo é a inte-
UM ENVELHECIMENTO SAU- gração dos idosos com diferentes gerações, sendo a
DÁVEL tecnologia uma das ferramentas que promovem essa
aproximação e socialização (ADAMO et al., 2017).
Apesar da concepção ideal e integral que a Organi- Incentivar a população idosa a ocupar os diferentes
zação Mundial de Saúde adota sobre saúde, ao se espaços de convivência estimulam trocas afetivas,
considerar a população idosa, deve-se compreen- de experiências e de conhecimentos.
der que a maioria apresenta uma ou mais doenças
crônicas. Assim, para se definir um envelhecimento Criar oportunidades para aquisição de novos apren-
saudável novos constructos são associados, como dizados possibilita maior qualidade de vida para to-
o de capacidade funcional (RAMOS, 2003). dos os envolvidos, facilitada pela interação entre
gerações diversas, o que propicia transformações
Na dimensão biológica, são considerados os hábitos sociais (GOULART; FERREIRA, 2012). A convivência
e comportamentos, como alimentação saudável, prá- dos idosos com outros grupos etários pode ampliar
tica de exercícios físicos e o não tabagismo. Aderir sua satisfação pessoal, com o estabelecimento de
a esse estilo de vida pode ser um fator protetivo e novas interações que os desafiam para aquisição
preventivo de diversas doenças crônicas, que são de novos conhecimentos assim como os tiram da
as principais causas de mortalidade da população solidão (BASSOLLI; PORTELLA, 2004). Estas re-
idosa, a doença cardíaca, o acidente vascular cerebral lações podem se dar por redes sociais, grupos de
(AVC) e a doença pulmonar. Na dimensão psicológica, convivência, entre outras modalidades de interações.
o olhar positivo e otimista no envelhecimento pode
ser consequência de uma rede de apoio fortalecida, As relações intergeracionais, segundo Oliveira (2011),
qualidade de vida e atividades individuais e sociais têm a afetividade como cerne para aprendizagem
do cotidiano do idoso, que permitem ter uma melhor mútua, mudando formas de ser, sentir, pensar em
perspectiva do futuro. A fé e a espiritualidade tam- todos os envolvidos, pautadas na partilha (LOPES,
bém são aspectos relacionados ao envelhecimento PARK, 2007). E é no espaço de convivência e de
saudável, pois podem contribuir para a superação aprendizado nos projetos universitários em que se
de dificuldades, trazer um significado para a vida podem exercitar as trocas intergeracionais, ainda mais
e ensinar virtudes como compaixão, altruísmo, sa- quando se tem a inclusão digital um caminho para a
bedoria e gratidão. As relações sociais dos idosos inclusão social (BIZELLI et al., 2009), favorecendo
com familiares, amigos, vizinhos corroboram para a a socialização com os novos padrões de relações
longevidade e resiliência; o trabalho voluntário, por assim como estimulando cognitivamente, assim como
exemplo, pode influenciar positivamente a saúde do motoramente, dentre outras necessidades.
idoso, por ocupar uma posição social valorizada. A Junto aos projetos desenvolvidos para população
autonomia e independência, como tomar decisões e idosa, outro ponto a destacar é a necessidade de
executar tarefas sem auxílio também são valorizadas envolvimento de uma equipe interdisciplinar no cuidado
nesse momento de vida (TAVARES et al., 2017). do idoso, o que pode promover maior qualidade de
Ramos (2003), dentre os fatores que proporcionam vida (JACOB FILHO, 2009). As várias áreas do saber
que os idosos vivenciem esta fase da vida de forma disponibilizadas para a construção de intervenções
5. APRENDIZAGEM, TECNOLOGIA,
INTERGERACIONALIDADE E ENVE-
LHECIMENTO
dos idosos. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio
de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 545-555, Aug.
2017. Available from <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
Ao retomar o objetivo do presente ensaio, que se 9 8 2 3 2 0170 0 0 4 0 0 5 4 5 & lng = e n & n r m =i -
dispôs, por meio de um levantamento bibliográfico so>. Access on 13 Oct. 2019. http://dx.doi.
(não sistematizado), compreender como a tecnologia org/10.1590/1981-22562017020.160192.
beneficia os idosos, e se ela é um fator protetivo de
socialização para que ele possa manter contato com BASSOLI, Silvana, PORTELLA, Marilene Ro-
outras gerações, pode-se afirmar que a manutenção drigues. Estratégias de atenção ao idoso:
dos idosos em situação de aprendizagem se apre- avaliação das oficinas de saúde desenvolvi-
senta como um fator de desenvolvimento imprescin- da em grupos de terceira idade no município
dível. A possibilidade de se assumir como um sujeito de Passo Fundo- RS. Estudo interdisciplinar
aprendente, em que se dispõe a manter-se ativo na envelhecer, Porto Alegre; 6: 111-122, 2004.
construção de novas interações com a realidade,
repercute de forma a promover melhor qualidade de BOCK, Ana Mercês Bahia et al. (Org.). Psico-
vida. E aqui apresentou-se, em um cenário, como os logia Sócio-Histórica: Uma perspectiva crítica
programas ofertados pelas universidades/faculdades,
em Psicologia. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2015.
a exemplo das UNATIs, a oportunidade de fazer in-
teragir dois temas que propiciam a inclusão social BRASIL. IBGE. (Org.). Projeção da população.
do idoso: a relação entre a intergeracionalidade e a
2019. Disponível em: <https://www.ibge.gov.
aprendizagem sobre recursos tecnológicos.
br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 19
A inclusão digital tem a função de inserir o idoso no set. 2019.
acesso a serviços e bens hoje cada vez mais informa-
tizados, ampliando sua autonomia e independência. BRASIL. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de
Assim como incentiva a interação com outras faixas 2003.: Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
etárias, cujos encontros promovem transformações outras providências.
nas formas de pensar, viver, sentir a todos os en-
volvidos, isto é, novas aprendizagens tanto para os CETIC.BR (Brasil) (Ed.). TIC Domicílios: Indiví-
idosos quanto para outras gerações. Manter-se ativo duos. 2017. Disponível em: <https://www.cetic.
socialmente apresenta-se como primordial à projeção br/tics/domicilios/2017/individuos/>. Acesso
de novos sentidos, à ressignificação da existência, na em: 19 set. 2019.
medida em que se valoriza o saber já vivenciado no
decorrer de sua vida e a disposição em nutrir novas GARCIA, Heliéte Dominguez. A TERCEIRA
relações com a sociedade. IDADE E A INTERNET: UMA QUESTÃO PARA
Dentre os fatores protetivos ao envelhecimento sau-
O NOVO MILÊNIO. 2001. 160 f. Dissertação
dável, destacam-se as atividades sociais (manter-se (Mestrado) - Curso de Ciência da Informação,
em interações grupais), de aprendizagem (como os Faculdade de Filosofia e Ciências, Universida-
desafios que a interação com novos recursos digi- de Estadual Paulista, Marília, 2001.
tais), de estimulações das diversas dimensões do
desenvolvimento (cognitiva, física, espiritual), de GOULART, Denise, FERREIRA, Anderson Ja-
projeto de vida (para alimentar aspirações futuras). ckle. Aprendizagem digital de idoso: Um novo
Diante deste universo que se desvela para o idoso, desafio. Educação & Envelhecimento. EdiPU-
certamente novas configurações de subjetividade se CRS. Porto Alegre, 2012.
desenham ao lado da produção de novos recursos
tecnológicos para ampliação da qualidade de vida, JACOB FILHO, Wilson. Fatores determinantes
assim como na criação de espaços de convivência do envelhecimento saudável. BIS, Bol. Inst.
e aprendizagem, que podem também serem lidas Saúde (Impr.), São Paulo, n. 47, Apr. 2009.
como possíveis zonas de desenvolvimento. Available from<http://periodicos.ses.sp.bvs.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-
18122009000200007&lng=en&nrm=iso>. ac-
RESUMO
O presente trabalho refere-se a parte de um trabalho de conclusão
Maria Luiza Bertoni
UNIFAE
do curso de Licenciatura que está sendo desenvolvido como
requisito de obtenção do grau de licenciado em Educação Física.
Cassio José Silva
Iniciação esportiva entende-se como o período em que a criança
Almeida
UNIFAE aprende de forma específica e planejada a prática de uma ou mais
modalidades esportiva, onde seu objetivo é dar continuidade ao seu
desenvolvimento e não a competição regular (RAMOS, 2008). A
iniciação esportiva é importante para o desenvolvimento integral da
criança. Tendo como objetivo a reflexão, sistematização, avaliação,
organização e a crítica do processo educativo por meio do esporte
(LEONARDI, 2014). O objetivo do trabalho é questionar a forma como
o esporte é conduzido pedagogicamente na escola, observando como
o esporte é desenvolvido nas aulas de educação física do ensino
fundamental I, no Município de São João da Boa Vista – SP, e observar
o discurso e a práxis em relação a iniciação esportiva na escola. A
coleta de informações será desenvolvida a partir da observação das
aulas de educação Física que tem como referência as participações
obrigatórias decorrentes das horas de estágio. A abordagem da
pesquisa é qualitativa e participativa. Todo esse conteúdo oriundo
das sessões de estágio será transcrito em texto e posteriormente
analisado segundo a metodologia da análise de conteúdo de BARDIN
(2013). As análises mostram que no primeiro e segundo ano do ensino
fundamental houve iniciação esportiva precoce, porém não houve
uma especialização precoce. Já no terceiro, quarto e quinto ano do
ensino fundamental, identifica-se que a iniciação esportiva está na
sua fase correta, não identificando especialização precoce.
A primeira experiência da criança com a modalidade O treinamento especializado precoce no esporte ocorre
esportiva escolhida é decisiva para manter ou perder quando as crianças (antes da fase da puberdade)
o gosto pela prática da mesma, nesse primeiro contato iniciam um processo de treinamento planejado e
ela deve sentir-se recompensada, útil e hábil pelo organizado a longo prazo, no mínimo três sessões
desafio que se expôs e risco que assumiu, pois uma semanais, com o objetivo do aumento do rendimento
experiência negativa pode causar traumas e afastar e participação periódica em competições (KUNZ,
a criança da prática esportiva. O esporte infantil deve 2006).
ser mais lúdico e menos rígido, representado por A especialização precoce tende reduzir as possibili-
uma atividade alegre e prazerosa (MACHADO, 2011). dades educacionais do esporte na infância, influen-
A iniciação esportiva começa aos oito anos de idade, ciando ao abandono precoce da prática esportiva.
nessa fase devem ser trabalhadas as habilidades Consequentemente a criança escolhe outras opções
motoras e destrezas específicas e globais através de lazer de uma forma sedentária (televisão e vi-
de movimentos básicos e jogos pré-desportivos. deogame), podendo se estender até a fase adulta
Aos dez anos de idade inicia-se o aperfeiçoamento (GALATTI, 2012).
desportivo, nessa fase são introduzidos elementos
técnicos, táticas e regras através de jogos educativos No esporte, a especialização precoce é a exigência
e atividades esportivas com regras. Aos doze anos a prematura da realização dos gestos técnicos com
criança já é introduzida ao treinamento, aperfeiçoando perfeição e eficiência, antecipando as fases da apren-
as técnicas individuais, além de desenvolver as qua- dizagem esportiva, sendo mais importante a execução
lidades físicas necessárias para a prática desportiva das tarefas do que a compreensão do esporte e o
escolhida (RAMOS, 2008). prazer em sua prática (SILVA et al., 2009).
A prática esportiva prazerosa traz benefícios à crian- Os erros cometidos na especialização precoce torna
ça, tanto biológicos aumentando o gasto calórico e a iniciação esportiva pouco atrativa e traumática,
controlando o metabolismo basal, quanto socioafetivo fazendo com que perca seus inúmeros benefícios
principalmente nos jogos esportivos coletivos (JECs), de ser prazerosa, diversificada, rica em aprendiza-
pois articulam a prática esportiva com a convivência gem motora, técnica e tática, além dos valores e
2.METODOLOGIA
2006).
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
versas manifestações e sentidos.
A iniciação esportiva nos primeiros anos de idade
escolar é vista positivamente quando são considerados
os benefícios que o esporte proporciona para seus
praticantes na dimensão biopsicossocial. Portanto, 3.1 ANALISE DAS TABELAS DE
é necessário evitar a especialização precoce que CATEGORIZAÇÃO
reduz esses benefícios pela cobrança de resultados,
sobrecarregando fisicamente e psicologicamente as A partir das observações das aulas do 1º ao 5º ano
crianças e também adolescentes que se destacam do ensino fundamental, foram tabelados os indica-
no esporte, e a exclusão dos que não se destacam dores de inter-relação: esporte da escola, esporte na
reduz os benefícios sociais que a prática esportiva escola, iniciação esportiva e especialização precoce.
proporciona (GALATTI, 2012).
O esporte infantil que se preocupa com a participa-
ção de todas as crianças, sendo cooperativo, lúdico,
reflexivo assume a pedagogia que se contrapõe às
ideias de seletividade de especialização esportiva
precoce (MOREIRA, 2011).
A pedagogia da educação física e dos esportes tem
como objeto de estudo as formas de manifestação
humana, o movimentar-se do homem, tanto no campo
dos esportes sistematizados, como no mundo que
não abrange o esporte, ou seja, o contexto onde
vive, família, trabalho (KUNZ, 2006).
A pedagogia do esporte na infância preocupa-se
em ampliar as possibilidades das pessoas se re-
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 6
As tabelas 4, 5 e 6 apresentam o 2º ano do ensino Isso acontece pelo fato da escola ser particular e
fundamental, o esporte trabalhado também foi o han- participar de competições de diversas modalidades
debol, nessa série é trabalhado da mesma forma, esportivas, tanto coletivas como individuais, por isso,
porém com um pouco mais de cobrança do professor os professores trabalham com os esportes desde
e pela idade das crianças nessa fase escolar pode o primeiro ano do ensino fundamental até o último
também caracterizar uma iniciação esportiva precoce. ano do ensino médio.
Tabela 7
Tabela 8
Tabela 9 As tabelas 7, 8 e 9 correspondem ao 3º ano Agora com oito anos de idade e pelas características
do ensino fundamental, a modalidade trabalhada é das aulas, o jogo pré-desportivo, o desenvolvimento
o handebol, estão presentes na aula o esporte da das habilidades motoras e destrezas específicas
escola e o esporte na escola, inicia-se com o jogo e globais através de movimentos básicos, ca-
pré-desportivo (queimada) e depois passa para o jogo racterizam a iniciação esportiva respeitando as fases
de handebol propriamente dito, primeiro utilizando de desenvolvimento.
meia quadra e depois passando para a quadra inteira.
Tabela 10
Tabela 11
Tabela 12
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
1999.
RESUMO
A leitura sempre se apresentou como um importante subsídio para
Luanna Freitas Johnson
DINTER UEM/UNIR
a formação do cidadão crítico e reflexivo. É papel fundamental da
escola, favorecer o desenvolvimento de tal habilidade através de
Tainara Braga Lima
práticas pedagógicas ofertadas pelos professores, mediadores no
GEIFA
processo de construção de conhecimento. A presente pesquisa
buscou então compreender a importância da mediação pedagógica
para a aquisição de habilidades de leitura a partir da teoria Histórico-
Cultural desenvolvida por Lev Vygotsky, o qual defende que o homem
não nasce pronto, mas precisa da interação com outros para se
constituir e modificar o meio em que vive. A pesquisa se configura
como qualitativa na modalidade estudo de caso. Nessa perspectiva,
buscamos identificar ações de mediações pedagógicas voltadas
para a leitura a partir da análise de um projeto denominado Clube
de Leitores Pérola do Mamoré, realizado no Campus da Unir de
Guajará-Mirim, projeto este que juntamente com seus colaboradores
se classificou como instrumento mediador, pois levou todos os
participantes a construírem seus próprios conhecimentos através
das experiências vivenciadas, e favoreceu ainda a aprendizagem e o
desenvolvimento de forma conjunta principalmente ao que se refere
a habilidades de leitura.
Cultural.
10.37885/200400008
1. INTRODUÇÃO com o meio.
Leontiev (1978), afirma que o indivíduo precisa adquirir
A leitura está presente no cotidiano do ser hu- o que foi alcançado pela sociedade humana, pois, o
mano desde as situações mais habituais às mais que a natureza lhe dá ao nascer não é suficiente para
complexas. Ela ocupa um importante lugar no de- que ele viva em sociedade. Por sua vez, Vygotsky
senvolvimento do homem, pois, a vida é mediada (2007) enfatiza a necessidade da natureza social
pela palavra, afinal as possibilidades de leitura são para que ocorra o aprendizado humano. Pode-se
diversas. dizer então, que a máxima da Teoria Histórico- Cul-
Nesse contexto, pode-se considerar que a mediação tural acerca da humanização do indivíduo perpassa
pedagógica torna-se um instrumento facilitador para questões socioculturais.
aquisição de tal habilidade. Vale salientar que a intenção aqui não é fazer uma
O presente artigo busca compreender esse processo reflexão profunda sobre tal teoria, mas destacá-la
à luz da Teoria Histórico-Cultural que tem suas origens como uma abordagem que fornece pressupostos
nos estudos de Lev Vygotsky. Em sua concepção e fundamentos para subsidiar um olhar sustentado
o indivíduo constrói seu conhecimento a partir da em concepções ativas acerca do desenvolvimento,
interação com o outro, na ausência do homem não aprendizagem, formação dos sujeitos e mediação.
se constrói outro homem. Ao longo dos anos, pretende-se que a educação
Acredita-se que o tema abordado apresenta relevân- contribua para a formação de um indivíduo crítico,
cia, pois, no âmbito escolar o professor é o principal responsável e atuante no meio em que está inserido
responsável por mediar o processo de aquisição de a partir da aquisição e apropriação do conhecimen-
habilidades principalmente ao que se refere à leitura, to cientifico, pois, como afirma Leontiev (1978), a
base do processo de alfabetização e da formação criança não nasce dotada de conhecimento, mas
da cidadania. é pela educação que ela se torna verdadeiramente
humana. A educação então propicia ao ser humano
A concretização desta pesquisa justificou-se pelo o desenvolvimento de funções psíquicas superiores.
entendimento de que ainda há muito para refletir e
agir em prol do processo de aquisição da leitura que Vygotsky (1994) chamou de Funções Psíquicas Supe-
geralmente não tem sido valorizada como deveria. riores ou Funções Psicológicas Superiores (FSP), os
Nesse sentindo, pretende-se que este trabalho possa mecanismos utilizados propositalmente pelos homens
colaborar no processo de compreensão dos aspectos cuja finalidade é organizar adequadamente a vida
que envolvem leitura e mediação pedagógica, bem mental de um indivíduo em seu meio. O autor relacio-
como possibilitar o planejamento de práticas que na as seguintes FPS: Sensação, atenção, memória,
desenvolvam e incentivem o hábito de ler tal qual o linguagem, pensamento, emoção, escrita e leitura.
projeto aqui exporto. É notória e indiscutível a importância do desenvol-
vimento das Funções Psíquicas Superiores, porém,
2.TEORIA
abordaremos mais detalhadamente acerca da leitura,
HISTÓRICO-CULTURAL E pois, esta é fundamental para o processo de formação
A LEITURA do indivíduo crítico, reflexivo e atuante no meio em
que se encontra inserido.
Para compreender a leitura como um processo de
formação crítica e reflexiva, acredita-se ser neces- A inserção da leitura na vida do ser humano ocorre
sário recorrer a uma abordagem teórica que possa desde o seu nascimento, pois, como afirma Freire
subsidiar a compreensão acerca da aprendizagem (1989, p.9) ‘‘ A leitura do mundo precede a leitura
e do desenvolvimento. Nessa perspectiva recorreu- da palavra’’. Ou seja, bem antes de a criança ler as
-se a Teoria Histórico-Cultural visando entender os palavras, a criança lê o mundo através dos seus
elementos envolvidos na aquisição da leitura como órgãos sensoriais, como tato, visão, paladar. Assim,
um processo de instrumentalização do indivíduo para é no contato com o mundo que ela constrói símbo-
atuar de forma crítica na sociedade. los singulares que futuramente se transformarão em
significados compartilhados socialmente. Em outras
Para a teoria Histórico-Cultural, o ser humano evolui palavras, antes mesmo da alfabetização a criança
de uma condição primitiva a uma condição cultural a já sabe ler, mas não as palavras grafadas e sim a
partir da aquisição do conhecimento científico. Tan- vida e o mundo.
to Vygotsky quanto Leontiev, representantes desta
abordagem teórica, afirmam que o desenvolvimento A leitura é à base do processo de alfabetização, da
do indivíduo é resultado de um processo sócio–histó- formação da cidadania e participação social. Além
rico, onde o mesmo se desenvolve não apenas pela disso, o ato de ler contribui para o desenvolvimento
maturação biológica, mas também pela interação da imaginação e da criatividade, aumenta o voca-
3.MEDIAÇÃO
ao dizer que ninguém se torna leitor por obediên-
E FORMAÇÃO DE LEI-
cia, ninguém já nasce gostando de leitura, mas é
TORES
o exemplo dos adultos como referência que pode
favorecer o interesse. Gostar de ler não é um dom,
Mediação é um conceito fundamental na teoria de
mas um hábito que se adquire e aprender a ler não
Vygotsky. Para ele ‘‘a relação do homem com o mundo
é uma atividade natural, para a qual o aluno se ca-
não é uma relação direta, mas uma relação mediada,
pacita sozinho. Entre livros e leitores há importantes
sendo os sistemas simbólicos os elementos interme-
mediadores (NUNES, 2012).
diários entre o sujeito e o mundo’’. (OLIVEIRA, 2002,
p 24). Essa concepção liga o desenvolvimento da .A fim de reverter essa situação e favorecer o de-
pessoa à sua relação com o ambiente sociocultural senvolvimento de habilidades de leitura despertando
em que vive e a sua situação de organismo que não nos alunos o interesse pela mesma é preciso mediar
se desenvolve plenamente, sem o suporte de outros à aquisição e posteriormente o gosto pela leitura. E
indivíduos de sua espécie. essa é uma tarefa que requer estímulos significati-
vos. A partir daí o professor deve elencar diversas
Desde o nascimento, o indivíduo, estabelece uma
vantagens, como a de que elas conheçam mundos
constante interação com os adultos, que frequente-
novos e realidades diferentes para que, desta for-
mente o incorporam às suas relações e a sua cultura.
ma, elas possam construir sua própria linguagem,
A mediação dos adultos permite que os processos
oralidade, valores, sentimentos e ideias, essas tais,
psicológicos mais complexos tomem forma. Assim, o
que levarão para o resto da vida.
ser humano que vive em constante desenvolvimento
relacionando-se com o mundo e a coletividade onde A fim de transformar um sujeito em leitor, é neces-
vive, vai construindo o seu conhecimento através de sário que o professor o estimule-o a produzir e ouvir
uma interação mediada por diversas relações intra textos, para que assim ele possa desenvolver suas
e interpessoais. competências e habilidades, instigando a leitura como
um método de libertação da criatividade e da reflexão
Estudos sobre mediação pedagógica são relativa-
crítica do cidadão. Porém, é preciso extrapolar as
mente recentes e estão relacionados à teoria históri-
barreiras da leitura, não a olhar apenas como mero
co-cultural, que destaca o ensino como instrumento
procedimento escolar e sim como ferramenta que
favorecedor do desenvolvimento humano. As ideias
oferece ao leitor uma visão ampla do mundo.
relacionadas à mediação pedagógica iniciam-se no
Brasil com Paulo Freire. Para Freire (1996, p. 21), Portanto, o professor não deve simplesmente ressaltar
“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar sobre a importância da leitura, mas principalmente
as possibilidades para a sua própria produção ou a mediar o seu interesse pelo ato, tal incentivo deve
sua construção”. iniciar-se preferencialmente nos anos iniciais, fase
em que todos os gostos estão sendo formados, e
Nesse cenário de ensino-aprendizagem, pode-se dizer
assim, lograr-se a um êxito maior no objetivo; formar
ainda que o professor não é apenas o sujeito que
leitores.
ensina nem o aluno apenas o aprendiz que recebe
um saber pronto, pois, as relações pedagógicas se
dão de forma dialógica. O professor é um mediador
que não dá o conhecimento, ele a compartilha, ao
tempo em que desperta o conhecimento, ele também
5.METODOLOGIA
intuito de beneficiar a aquisição do hábito; do prazer
pela leitura, pois, estão ligadas as atividades que
consideram a interação, a comunicação, a exposição
Através de um estudo de caso, realizou-se a
de ideias, a criatividade e a produção coletiva do
análise do projeto Clube de Leitores Pérolas do Ma-
conhecimento como meio que favorece o processo
moré desenvolvido por acadêmicos da Universidade
de aprendizagem dos alunos de maneira lúdico- pe-
Federal de Rondônia (UNIR), campus de Guajará-Mi-
dagógicas.
rim, cuja principal finalidade era criar um espaço de
A leitura é uma ferramenta de suma importância interação com a leitura para crianças da comunidade.
para a contribuição da criatividade e imaginação, Para conhecer nosso objeto de estudo partimos da
além de favorecer o aprendizado, a comunicação análise do projeto, dos relatórios e de registros fo-
e instrumentar o indivíduo para atuar de forma crí- tográficos das atividades desenvolvidas.
tica na sociedade. Mas tal prática tem sido pouco
Considerando ainda nosso objetivo de identificar ações
repensada, desenvolvida e incentivada. Todavia, o
de mediação pedagógica voltadas para a leitura,
professor é o principal responsável por estimular e
analisamos os relatórios das atividades executadas,
produzir variadas condições para desenvolver o ato
realizamos observação participante durante os encon-
de ler. Para Neves (1998) o papel do professor com
tros, além de análise de fotos e conversas informais
a leitura está além de apresentar o que será lido.
com participantes do projeto, tanto crianças como
acadêmicos e voluntários.
[...] É ele quem auxilia a interpretar e
6.APRESENTAÇÃO
a estabelecer significados. Cabe a ele
criar, promover experiências, situações
E ANÁLISE DOS
DADOS
novas e manipulações que conduzam
à formação de uma geração de leitores
Os dados coletados foram analisados em consonân-
capazes de dominar as múltiplas for-
cia com o referencial teórico e apresentados a partir
mas de linguagem e de reconhecer os das seguintes categorias: 1. Conhecendo o Clube
variados e inovadores recursos tecnoló- de leitores Pérolas do Mamoré 2. Mediações peda-
gicos, disponíveis para a comunicação gógicas e a promoção da leitura no clube de leitores
humana presentes no dia-a-dia. (p.14).
O professor deve mediar esse processo logo nos anos 6.1 CONHECENDO PROJETO CLUBE
iniciais utilizando ações pedagógicas que tornem tal DE LEITORES PÉROLAS DO MAMORÉ
prática mais atrativa e prazerosa, tais como: Realizar
contação de histórias, caminhada da leitura, troca da O projeto Clube de leitores Pérola do Mamoré foi
leitura, modernizar as histórias tradicionais, efetivar idealizado por uma docente do Departamento Acadê-
feiras e salas de leitura, utilizar aventais de histórias mico de Ciências da Educação (DACE) do Campus
e saias literárias. Cada professor, de acordo com sua de Guajará-Mirim, tendo a adesão de outros cinco
história de leitura e as necessidades de seus alunos, professores, quarenta e nove acadêmicos dos cursos
tem condições de avaliar o melhor caminho a ser de Pedagogia, Letras e Gestão Ambiental, além de
traçado. Porém, para que haja êxito na formação sete egressos e voluntários. Inicialmente 108 crian-
do leitor, é preciso efetuar uma leitura estimulante, ças com idade entre 3 e 12 anos foram inscritas, a
reflexiva e diversificada. maioria dos inscritos eram da própria comunidade
e\ou filhos de acadêmicos.
Dessa forma ficam perceptíveis que o uso de dife-
rentes recursos possibilita diferentes experiências e A proposta de criação do projeto considerou a preca-
visões de mundo. E assim, é importante propor-se a riedade de espaços onde o sujeito possa desenvolver
observação, análise e discussão de outros materiais o hábito de ler, pois, a cidade não dispõe de biblioteca
além de livros para que os alunos façam a leitura de pública, nem livrarias ou bancas de revistas, assim
outros materiais. Nesse sentido podem ser utilizados o projeto teve como finalidade oferecer aos parti-
recursos como quadros, charges, figuras, fotogra- cipantes um espaço dinâmico, criativo e interativo
fias, lista telefônica, jornais, revistas, histórias em de desenvolvimento da leitura e a apropriação do
quadrinhos, outdoors, camisetas, cartões, mapas, mundo cultural, além de oportunizar aos acadêmicos
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura é uma das funções psíquica superior
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três
que além de ser base do processo de alfabetização artigos que se completam. 23ª Ed. São Paulo:
é também prática fundamental para o processo de Cortez, 1989.
formação do indivíduo crítico e reflexivo, é através
dela que o indivíduo adquire cultura, expande a sua FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes
visão de mundo e o seu vocabulário. Para que a Necessários à Prática Educativa. São Paulo:
prática da leitura se transforme num hábito, o seu Paz e Terra, 2002.
processo de apropriação deve ser dá de forma pra-
zerosa seja em casa, no meio social ou na escola KRIEGL, M.L de S. Leitura: um desafio sempre
que é a principal responsável nesse processo. atual. Revista PEC, Curitiba, 2002. LEONTIEV,
De acordo com a Teoria Histórico-Cultural, o compor- A. O desenvolvimento do psiquismo. 1.ed. São
tamento do ser humano é histórica e culturalmente Paulo: Moraes, 1978.
determinado pela estimulação do meio, por isso faz-se
necessário instrumentos mediadores que auxiliem o NUNES, I. et al. A importância do incentivo à
processo de aprendizagem principalmente ao que se leitura na visão dos professores da escola Walt
refere à aquisição de habilidades de leitura. Sendo Disney. In.: Revista eletrônica online. Editora:
assim o processo de aquisição de leitura ocorrerá REFAF, 2012.
de forma mais significativa através da mediação, ou
seja, do contato com outra pessoa que desempe- OLIVEIRA, M.K. de. Aprendizado e desenvol-
nhará o papel de mediador, que no caso da escola vimento. Um processo sócio-histórico. 4 ª Ed.
será realizado pelo professor. São Paulo, 2002.
Muitas são as ações pedagógicas que favorecem o PRADO, M. D. L. O livro infantil e a formação
desenvolvimento do indivíduo em relação à leitura, do leitor. Petrópolis: Vozes, 1996.
nessa pesquisa buscamos analisar a mediação reali-
zada no clube de leitores Pérola do Mamoré, projeto SOARES, M. A Importância da Leitura no
este que se qualificou como um instrumento mediador, Mundo Contemporâneo. E-revista ISSN 1645-
pois, facilitou, instigou e incentivou a aquisição de 9180, Nº 16, OZARFAXINARS. Fev. 2010.
habilidade de leitura nas crianças participantes de
uma forma prazerosa, além disso, os acadêmicos SILVA, E. T. Leitura na escola e na biblioteca:
participantes também foram importantes mediadores 8. Ed. Campinas: Papirus, 2003. VYGOTSKY,
nesse processo. L.S.; LURIA, A.R. e LEONTIEV, A.N. Lingua-
Vale ressaltar aqui que o projeto não propiciou so- gem, desenvolvimento e aprendizagem. 11 ª
RESUMO
A presente pesquisa fora realizada com o intuito de visualizar quais
Daniel Andrei Rodrigues
da Silva são as características mais esperadas de lideres sob situação de
CNEC extremo estresse. Realizando assim uma comparação direta entre
militares de operações especiais e equipes de trabalho de uma
empresa financeira.
Equipes; Liderança.
10.37885/200400013
1. INTRODUÇÃO buintes não se sentirem liderados, confortáveis e
sem perspectiva positiva, jamais terão a confiança
A liderança, uma posição difícil, onde são ne- para acreditarem no valor da sua contribuição para
cessárias diversas características e habilidades para aquela empresa.
que seja possível ser considerado um excelente líder, Ambos grupos de trabalho colocados em cenário de
principalmente quando há diversas adversidades. crise e estresse. Qual é a expectativa sobre seus
Situações conflitosas e tempos de crise demandam líderes e quais são as características positivas que
que os elementos que estão na posição de geren- são esperadas sob as adversidades, vejamos os
ciar subordinados e contribuintes, se destaquem e gráficos abaixo:
liderem através de circunstâncias tempestuosas que
muitas vezes são caminhos inexplorados, sem uma Com uma amostragem de 20 respondentes Operadores
clara visão do que vem a frente, mas mesmo assim de Operações Especiais, chega-se a estes resultados
manter a confiança e otimismo dos liderados. respectivamente. Com a maior porcentagem e valor,
está o “outros”, por conta de respostas dadas em
A grande questão é: o que é necessário para que outras opções que, porém, não se enquadram nas
em situações de estresse as equipes não percam a cinco mais selecionadas. Na segunda maior porcen-
confiança e motivação no seu trabalho, fazendo-os tagem está a Capacidade Estratégica, a habilidade
acreditar em seu líder e considera-lo excelente nes- de delegar tarefas inteligentemente e planejar sob
sas situações? Para responder esta pergunta foram estresse; Controle Emocional, habilidade de se manter
realizadas pesquisas quantitativas, com 15 (quinze) calmo mesmo sobre grande pressão; Honestidade
possibilidades de resposta, através de formulários sobre a situação, comunicar a realidade da situação,
online e distribuídos em diversas plataformas digi- sua gravidade, prós e contras; Postura consultiva,
tais, em dois grupos de trabalho, bem distintos, po- deixar os subordinados darem suas opiniões, solicitar
rém que tem uma característica universal, há seres novas ideias, buscar um consenso, tomar decisões
humanos nesses grupos. Um grupo de operadores baseadas no conhecimento de todos.
de Operações Especiais e uma equipe de trabalho
de uma empresa financeira. Para melhor entender Gráfico 1 – Características de excelentes líderes de
destacamento de Operações Especiais
sobre a situação de liderança nestes dois grupos,
vejamos os contextos abaixo.
Os operadores de Operações Especiais, são aque-
les que são treinandos nos níveis mais rigorosos
do mundo e enfrentam missões de características
não convencionais de riscos elevadíssimos. Esses
militares são de um nível de excelência altíssimo
em todos graus hierárquicos, mas mesmo assim a
demanda por líderes com excelentes qualidades é
de fundamental importância, mesmo que na maioria
das vezes ocorre uma liderança compartilhada entre
os operadores, onde a situação determina quem
vai fazer a tomada de decisão, baseada em espe-
cialidade e experiência, sendo isso parte da cultura
desses destacamentos, porém sempre havendo
aquele que é encarregado do planejamento tático.
Fonte: Elaboração própria (2018)
Tendo em vista que suas missões são de alto risco,
o estresse também é elevado, portanto muito de
seu treinamento é para desenvolver a tenacidade Podemos concluir que as características consideradas
mental ou seja manter-se equilibrado mesmos nas as essências para excelentes líderes de destaca-
situações de maior desconforto e perigo. mentos, são baseadas em capacidade receptivida-
de e intelectual, ética pessoa e controle emocional.
As equipes em empresas e corporações, se diver- Na situação de estresse ou seja em combate de
gem muito de uma organização para outra, a cultura Operações Especiais, os liderados se sentem mais
organizacional não é homogênea. O recurso humano confiantes quando o seu líder de destacamento de-
continua sendo uma pessoa, singular, com emoções monstra consciência situacional total, interagindo com
e pensamentos. Quando um empreendimento está a equipe o tempo todo, seja delegando tarefas de
em crise, muitos são as ideias nebulosas de todos maneira inteligente, comunicação mais transparente
integrantes da mesma, medos e inseguranças. Os possível, horizontal e com a falta da necessidade
líderes das equipes são essências nesses momentos ser o chefe o tempo todo, sendo capaz de escutar
críticos. Pois é de maneira lógica que se os contri-
RESUMO
Dados recentes comprovam um número de pessoas com diagnóstico
Cindy Gomes Bezerra
UFAM
de depressão aumentado de forma alarmante. A psicologia tem
se reinventado no desenvolvimento de técnicas e procedimentos
Ewerton Helder Bentes
não medicamentosos que auxiliam no combate aos transtornos
de Castro
UFAM depressivos. Nessa linha, métodos envolvendo animais domésticos
vêm se destacando e se colocando como opção às intervenções
psicoterapêuticas convencionais em quadro depressivo. A pesquisa
teve como objetivo, compreender a trajetória de vida de uma pessoa
com diagnóstico de depressão e a sua vivência com um animal de
estimação à luz da Fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty, para
isso, foram realizadas entrevistas áudio gravadas com 3 pessoas
diagnosticadas com transtorno depressivo. Utilizou-se o método
fenomenológico de pesquisa em psicologia, através de uma entrevista
áudio gravada e encontradas 5 categorias de análise: a) O quadro
clínico; b) O início da relação: o pet veio até mim; c) E esse-outro
se faz presente em meu viver; c) E esse-outro se faz presente em
meu viver; d) Tenho alguém à minha espera: as impossibilidades
são agora possibilidades, cuidado; e) E meu olhar sobre mim e
sobre a vida, modifica. Conclui-se que o processo de adoção do
animal foi sobremaneira importante para cada um dos participantes,
uma vez que, o conviver os fez ir além do quadro nosológico em que
se encontravam e os fez perceber a dimensão do cuidar e do ser
cuidado.
gia; Fenomenologia.
10.37885/200400010
1. INTRODUÇÃO
Outros sintomas que podem contribuir para o diagnóstico Segundo Moreira (2007) a ideia de um diagnóstico
desses transtornos são: perda ou ganho significativo dever ser vista enquanto um processo de reconhe-
de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo cimento e de compreensão do sujeito, superando a
psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimen- ideia de rotulação do indivíduo, inserindo-o numa
tos de inutilidade ou culpa excessiva, diminuição determinada categoria de doença mental. De acordo
na capacidade de concentração e ideação suicida com as considerações de Bloc et al. (2015), o sujeito
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). em depressão remete-se constantemente a seu corpo
como parâmetros para discorrer sobre si na prática
Além disso, é necessário que os sintomas sejam
clínica, logo, sob uma perspectiva fenomenológica,
observáveis e causem prejuízos significativos no
temos que a descrição da situação do sujeito de-
funcionamento social do indivíduo, nesse sentido,
pressivo trata-se de uma descrição da experiência do
Cavalcante (1997) aponta a possibilidade de consi-
corpo vivido, o que é corroborado por Merleau-Ponty
derar a depressão como um processo de interação
(2015) ao afirmar que o corpo é nossa expressão no
social e definida a partir de questões culturais:
mundo, a figura visível de nossas intenções, ou seja,
o ponto de partida de nossas experiências subjetivas,
A depressão passa a existir a partir de
sendo assim, a vivência sob a ótica da depressão
uma interação social dada e, desse constitui-se uma das formas de ser-no-mundo que
modo, pode ser compreendida como são vivenciadas a partir do corpo.
um fenômeno cuja dimensão maior ou
primária é um processo de interação
social. Assim, é multidefinida e sempre 2.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS
resultado de uma nomeação regulada RELAÇÕES ENTRE O SER HUMANO
pela comunidade. E OS ANIMAIS: O QUE SE SABE ATÉ
AGORA?
Bloc et al. (2015) corrobora com essas afirmações
pelo resultado de suas pesquisas, concluindo que Apesar de ser um tema de pesquisa relativamen-
as condições socioeconômicas vigentes contribuem te recente, o relacionamento humano com animais
para a manutenção e surgimento de novos casos domésticos é muito antigo, e as pessoas precisam
de depressão: dos animais em suas vidas (GRANDIN; JOHNSON,
2006, p. 185-186). As formar de lidar com esse re-
Pesquisa fenomenológica transcultural lacionamento mudou ao longo dos anos, desde os
sobre depressão realizada em Forta- antigos egípcios que viam alguns animais como seres
leza, Boston e Santiago mostra que, místicos, até os tempos atuais onde a tendência é
trata-los como parceiros dos seres humanos e não
ainda que não haja variação na sinto-
como propriedade. Segundo Manucci (2005) os ani-
matologia, a experiência vivida asso-
mais fazem parte de todas as culturas e o contato
ciada a estes sintomas varia de acordo
que se tem com cães e gatos é o ultimo elo como o
com os diferentes processos culturais passado recente em que os seres-humanos trocaram
subjetivos que são característicos de
3.MATERIAIS E MÉTODOS
a partir da história imanente da cons-
ciência, Merleau-Ponty a partir de um
ponto de vista mundano de encarnação Para a realização do escopo deste projeto, ou
corporal e intersubjetiva, como uma si- seja, a compreensão sobre a trajetória de vida de
tuação histórica. (JOHNSON, 1996) uma pessoa com diagnóstico de depressão e sobre
como a sua vivência com um animal de estimação
Nesse sentido, entende-se que não se pode discorrer insere-se nesse processo, utilizei a abordagem qua-
sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty, sem levar litativa em pesquisa, tendo em vista a busca pelos
em consideração as questões relacionadas à corpo- significados da vivência dos sujeitos através da
reidade do indivíduo, visto que a própria questão da descrição fenomenológica, coletando informações
intersubjetividade está marcada em uma “condição junto à pessoa, já que a vivência não encerra um
corpórea”, essa condição apreende os significados sentido em si mesmo, mas adquire um significado,
do mundo, que não são dados apenas sob suas para quem a experimenta, relacionado à sua própria
condições biológicas, mas também pelas condições maneira de existir.
relativas à cultura do indivíduo. “(...) o corpo é o local
da experiência com o outro e com o mundo. O corpo A pesquisa qualitativa se preocupa com aspectos da
possibilita e inaugura a existência e a presença do realidade que não podem ser mensurados, centran-
ser no mundo” (DAOLIO; RIGONI; ROBLE, 2012), é do-se na compreensão e explicação da dinâmica das
através do corpo em movimento que se adquire os relações sociais (FONSECA, 2002; MINAYO, 2014).
significados das vivências, visto que a expressão de Para esta última autora, esse tipo de pesquisa é
sua intencionalidade é dada por meio de seus gestos: focado no trabalho com os significados, motivações,
aspirações, crenças, valores e atitudes.
Merleau-Ponty diz que eu só consigo A pesquisa qualitativa, por meio do método fenome-
compreender a intencionalidade do ou- nológico, foi privilegiada no presente estudo pelo
tro – e sua atitude para comigo – por- fato de ser o melhor meio para a compreensão da
que através do meu corpo posso torná- vivência de pessoas diagnosticadas com transtornos
-la minha. Assim, encontramos em seu depressivos que experimentam a convivência com
pensamento um lugar especial para o animais de estimação. Giorgi e Souza (2010) refe-
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
sonhei, mas que eu não consegui en-
contrar meio, ela foi o meio. (Perdita)
E meu corpo passa por transformações que resultam Realizar a pesquisa com um tema envolvendo
em mudanças no meu dia a dia. O corpo vivencia animais de estimação e poder conciliar algo que
as transformações. vivo no dia a dia –convivência com pets – com a
parte acadêmica foi extremamente satisfatório. Como
Corpo: Na obra Fenomenologia da Percepção, o tutores de animais de estimação atualmente, e de
autor francês elabora uma distinção entre o corpo vários outros durante a vida, sabemos da importân-
objetivo, que tem o modo de ser de uma coisa, e cia deles e do quanto podem ser benéficos para o
que é “o corpo do animal, analisado, decomposto ser humano em diversas situações. O sentimento
em elementos” e o corpo fenomenal ou corpo pró- existente entre pets e seus tutores vai muito além
prio, que a um só tempo é eu e meu, no qual me do sentimento de posse, por parte do humano, ou
apreendo como exterioridade de uma interioridade de necessidade, por parte do animal. O sentimento
ou interioridade de uma exterioridade, que aparece é de companheirismo, aconchego e amor mútuo.
para si próprio fazendo aparecer o mundo, que, por-
tanto, só está presente para si próprio a distância e Realizar as entrevistas com tutores que passaram
não pode se fechar numa pura interioridade. Assim, por situações tão difíceis e que encontraram em uma
o corpo fenomenal é um corpo-sujeito, no sentido relação tão pura, acolhimento e motivos para seguir
de um sujeito natural ou de um eu natural, provido e ressignificar suas vidas, mostrou que esses pe-
de uma estrutura metafísica, mediante a qual ele quenos seres possuem uma capacidade de empatia
é qualificável como poder de expressão, espírito, e solidariedade digna de qualquer ser humano. O
produtividade criadora de sentido e de história. A que lhes falta de racionalidade lhes é compensado
todos estes elementos, a esta vivência nossa nas com a capacidade de amar e perdoar incondicional-
situações que se nos ocorrem no cotidiano, Merle- mente. Durante as entrevistas foi comum ouvir que
au-Ponty (2015) compreende como corporeidade. os animais “sentiam” que os tutores estavam aden-
trando em quadro depressivo e que prontamente se
Corporeidade: Conceito elaborado pelo autor, designa aproximavam e se colocavam a “disposição” para
o desenho das nuances que a adoção de um animal acompanhá-los. Também foi muito comum ouvir que
e as modificações contínuas em seu ser, dando-lhe os animais passavam de “bichos” para a condição
LEITE, Maria Edivânia de A. Corpo deprimido: SANTIAGO, Anielli & HOLANDA, Adriano
Um Estudo sobre Corpo Vivido e Depressão Furtado. Fenomenologia da Depressão: uma
sob a Lente da Fenomenologia de Merleau- Análise da Produção Acadêmica Brasileira.
-Ponty. 2009. 154 f. Tese (Doutorado) - Curso Revista da Abordagem Gestáltica: Phenome-
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TEIXEIRA, Ivana dos Santos. A Terapia Assis-
MANNUCCI, Anna. Fazendo amigos. Viver tida por Animais como uma forma de associa-
Mente e Cérebro, n. 152, set. 2005. Reporta- ção: um estudo antropológico sobre a relação
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Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
MARTINS, Joel & BICUDO, Maria Aparecida 2015.
V. A pesquisa qualitativa em psicologia. São
Paulo: Centauro, 2005
RESUMO
Viver e morrer: a certeza cotidiana. O objetivo deste estudo foi
Julia Roveri Rampelotti
PUCPR
investigar o desenvolvimento do conceito de morte em crianças. Foram
investigadas 3 dimensões do conceito de morte biológica - Extensão,
Najla Maryla Maltaca
Significado e Duração. Aplicou-se individualmente o Instrumento
PUCPR
de Investigação do Conceito de Morte. Participaram do estudo 40
Vittoria do Amaral crianças saudáveis, com idades entre 5 e 6 anos (compreendendo o
Ceccato de Lima
estágio de Piaget pré-operacional), das quais 22 são meninas e 18
PUCPR
são meninos, todos de nível socioeconômico médio. Os seguintes
Cloves Antonio de resultados foram encontrados: 52,5% dos participantes apresentaram
Amissis Amorim uma dimensão de Extensão desenvolvida; 20% apresentaram uma
PUCPR dimensão de significado desenvolvida; e 55% apresentaram conceito
adequado de dimensão Duração. Os dados confirmam estudos
anteriores, que apontam que indivíduos de condição socioeconômica
semelhante geralmente apresentam resultados semelhantes.
Neste estudo, as dimensões Extensão e Duração do conceito de
morte foram identificadas sem lacunas cognitivas para o estágio
de desenvolvimento. Entretanto, apenas 20% dos participantes
apresentaram a dimensão de Significado desenvolvida, o que sugere
influência cultural com prevalência da negação da morte. Assim, evita-
se uma compreensão cognitiva completa do fenômeno, ainda que a
cultura brasileira, nesse momento, seja violenta e as crianças sejam
diariamente expostas às notícias de morte.
10.37885/200400018
1. INTRODUÇÃO plicá-la. É comum a personificação desse conceito,
ou seja, a compreensão da morte como se fosse
A morte faz parte do desenvolvimento de cada uma pessoa.
indivíduo e é sentida pela criança antes mesmo de ser Speece & Brent (1984) analisaram alguns compo-
vivenciada concretamente. A partir do momento que a nentes básicos que auxiliam na compreensão de
criança percebe a ausência de sua mãe, seu animal como as crianças enxergam a morte: universalidade,
de estimação foge ou algum brinquedo é perdido, irreversibilidade e não funcionalidade. Universalidade
significados e qualidades passam a ser atribuídos a compreende o entendimento de que todas as coisas
esse conceito. Essas situações representam perdas vivas morrem. Esse conceito engloba a inevitabilidade
que servem como ponto de partida para a busca da e a possibilidade imediata da morte. A irreversibilidade
compreensão da morte (KOVÁCS, 1992). entende a morte como final, permanente e envolve o
Dado a complexidade e importância desse assunto reconhecimento de que não é possível reverter esse
no ciclo vital dos indivíduos, o desenvolvimento do estado. A não funcionalidade se refere à cessação de
conceito de morte tem sido objeto de estudo para todas as funções definidoras da vida após a morte.
muitos pesquisadores (KOOCHER, 1973; TORRES, Nunes et al. (1998) afirma que o conceito de mor-
1979; NUNES et al., 1998). Segundo Torres (1996), te como um fenômeno permanente e irreversível é
o desenvolvimento desse conceito começou a ser entendido apenas no período operatório concreto.
estudado no ano de 1934 por Schilder e Wechsler, Koocher (1973) e Nagy (1948) relatam que as crian-
teve continuidade com os estudos de Nagy em 1948 ças no pré-operatório compreendem a morte como
e se intensificou nas décadas seguintes. Em sua temporária e reversível, além de serem capazes de
maioria, as pesquisas a respeito desse tema abordam mencionar algumas alternativas para reviver coisas
dois métodos de exploração que se entrelaçam: a mortas e de negarem a sua própria morte.
idade e o nível de desenvolvimento global da criança.
A maioria dos estudos destacam essa perspectiva,
Em relação ao desenvolvimento cognitivo, a teoria mas alguns autores apontam que tal compreensão
de Piaget nos disponibiliza alguns conceitos teóricos pode diferir conforme a cultura, religião, experiên-
que servem como ponto de partida para essa com- cias prévias do indivíduo e nível socioeconômico
preensão. Piaget afirma que as crianças passam por (TORRES, 1996; KENYON, 2001; ROAZZI, DIAS
quatro estágios do desenvolvimento intelectual que E ROAZZI, 2010).
influenciam a maneira da criança perceber o mundo:
estágio sensório-motor (0-2 anos); pré-operatório (2-7 Roazzi, Dias e Roazzi (2010) ressaltam que há duas
anos); operatório concreto (7-11 anos) e o estágio maneiras de encarar a morte, a partir de uma pers-
operatório formal (11-12 anos) (KOOCHER, 1973; pectiva secular-biológica, onde é entendida como
NUNES et al., 1998). irreversível, ou a partir de um ponto de vista me-
tafísico-religiosa, que exemplifica a interpretação
O presente estudo tem como foco principal crian- de diversas religiões de que a morte não é o fim,
ças de 5 a 6 anos, que se encontram no estágio mas uma transição. Brent et al. (1996) aborda essas
pré-operatório. Para Piaget (1983), é nesse está- duas perspectivas, trazendo explicações naturais
gio que ocorre um aumento significativo do uso de que explicam a morte a partir das leis científicas, e
símbolos, imagens e palavras, para representar ou explicações não naturais, referindo-se à uma força
significar eventos. Entretanto, o entendimento da maior para explicar a reversibilidade. Como consequ-
criança a respeito dos eventos ainda está baseado ência de crenças religiosas, é possível que a criança
no pensamento lógico e racional, manifestado pela atribua conceitos não naturais e adote uma postura
falta de reversibilidade, ou seja, incapacidade de metafísico-religiosa para fundamentar a morte. Para
desfazer mentalmente uma ação. o autor, essa postura indica um entendimento mais
O período pré-operatório também é marcado pelo maduro a respeito de assunto, pois considera outras
animismo e realismo. Isso implica em um pensamento alternativas de explicação que não sejam apenas
infantil caracterizado pela tendência em dar vida e “morte ou vida”.
consciência à objetos inanimados. A criança considera Em relação ao efeito das experiências no indivíduo,
que imagens, nomes, sentimentos e pensamentos Yalom (1980) e Furman (1978) citados por Torres
são a essência do objeto. Como consequência disso, (1996) concluem que em certas condições, como a
a morte adota corporeidade (PIAGET, 1983). perda, as crianças podem compreender o conceito
Os estudos de Nagy (1948) e de Kübler-Ross de morte como irreversível antes do que a teoria do
(1969/2008) vão de encontro com essa ideia. Para desenvolvimento cognitivo propõe. Além disso, Kenyon
as autoras, crianças de 5 a 9 anos entendem que (2001) relata que crianças com alguma experiência
a morte existe, mas incluem fantasias ao tentar ex- prévia, seja a própria doença ou a morte de alguém
próximo, também podem apresentar um entendimento
2.COLETA DE DADOS
cado desenvolvida e 55% apresentaram o conceito
de Duração adequado. Esses resultados podem ser
visualizados na Tabela 1, que não especifica a faixa
O presente estudo foi desenvolvido na disciplina etária de cada criança.
de Tanatologia do curso de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, campus de Curitiba.
O objetivo do estudo foi investigar o desenvolvimento
do conceito de morte em crianças saudáveis. Par-
ticiparam 40 crianças de 5 e 6 anos, sendo 22 do
gênero feminino e 18 do sexo masculino. Dentre as
crianças entrevistadas, dez delas tinham apenas 5
anos de idade e 30 crianças tinham 6 anos de idade.
Todas as crianças estavam matriculadas no Ensino
Fundamental. Para a coleta de dados, foi solicita-
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
Garrett e Graham (2005), as crianças que ainda não
apresentam um completo entendimento da morte
normalmente preenchem seus questionamentos com
A análise dos dados foi realizada a partir das
elementos fantasiosos, que podem ser obtidos a
informações obtidas na aplicação do Instrumento de
partir das mídias infantis, como os filmes da Disney.
Sondagem do Conceito de Morte de Wilma Torres
(1979). Durante a aplicação do Instrumento, não foi Apesar disso, 55% dos participantes do estudo apre-
notado nenhum desconforto, verbalizações de medo sentaram a dimensão Duração formada, mostrando
ou pedidos para interromper o questionário. Apesar um resultado diferente do esperado pela teoria pia-
disso, foi possível perceber que algumas crianças getiana. Torres (1996) apresenta alguns estudos que
demonstraram surpresa quando o assunto “morte” mostram que a compreensão de irreversibilidade não
foi abordado. Paiva (2008) aponta que esse tema está diretamente associada à estrutura operacional
entrou no rol de assuntos proibidos para crianças. Os concreta, podendo ser assimilada no pensamento
adultos subestimam a criança e adotam uma postura pré-operacional. Nunes et al. (1998) ressalta que as
de negação frente a isso, minimizando e afastando a crianças entre os 5 e 7 anos apresentam o conceito
criança do significado da morte. Para a autora, essa formado por estarem fazendo a transição entre os
atitude pode ser entendida como uma tentativa de dois períodos, mas que a cultura pode exercer grande
proteger a criança e explica a surpresa das crianças influência no conceito de morte em particular.
ao serem questionadas sobre o assunto.
Em relação à não-funcionalidade, nenhuma criança
Segundo Lopes (2013), quando se tem receio de que de 5 anos e apenas 23% das crianças de 6 anos
os infantes não estejam preparados para compreen- apresentam esse conceito formado. Siqueira (2003)
der a morte, é comum que os adultos apresentem argumenta que as crianças nessa faixa etária ainda
soluções fantasiosas como “descansou” ou “foi para o não conseguem fazer a distinção apropriada entre
céu” em uma tentativa de facilitar seu entendimento. seres animados e inanimados, podendo influenciar
Cox, Garret e Graham (2005), Lima e Kovács (2011) no não desenvolvimento desse conceito. Além dis-
afirmam que a criança pode levar essas metáforas ao so, Kane (1979) citado por Torres (1996) relata que
contexto real por ainda não apresentar total capaci- as crianças compreendem primeiro a cessação dos
dade de abstração. Acredita-se que como influência aspectos visíveis, como comer e falar, enquanto os
disso, 19 crianças apresentaram o uso de eufemismos aspectos cognitivos mais sutis, como sonhar e sentir,
como “virou anjinho” e “viraram estrelas” em seus são mais difíceis de serem assimilados por necessi-
discursos para explicar o que acontece quando uma tarem de inferências por parte da criança. A resposta
4.CONCLUSÃO
sejam compreendidas pela criança. Não se trata de
evitar o tema e sim, de trazê-lo para uma dimensão
que possa ser assimilada pela criança, de acordo
Por falta de dados, o presente estudo não ava- com o seu nível de desenvolvimento.
liou a influência da cultura, do nível socioeconômico
e de experiências prévias no desenvolvimento do Entre tantas realidades humanas a mais desafiadora
conceito de morte. Além disso, o entendimento a é a morte. Morrem-se várias vezes na mesma vida,
respeito da morte não obteve diferenças significativas seja por meio de mortes simbólicas, seja pelas tran-
em relação ao gênero das crianças. Já em relação sições inevitáveis, com o avanço da idade, seja pelas
às dimensões avaliadas, destacou-se a dimensão perdas físicas e afetivas que acontecem como ônus
Duração. Mais da metade das crianças entrevistadas da existência. Assim, apesar do número pequeno de
apresentaram essa dimensão formada, contradizen- publicações no Brasil, os resultados da busca trazem
do os estudos de Piaget (1983) que afirmar que informações relevantes sobre o assunto pesquisado
as crianças nessa faixa etária ainda são marcadas e reforçam a ideia de que desenvolvimentos teóricos
pela irreversibilidade. Diversos fatores podem ser na área são de fundamental importância. Falar sobre
apontados para isso, mas os principais encontrados morte suscita medos, ansiedades, angústia, além da
na literatura abordam a cultura, nível socioeconômi- vontade de evitar o assunto. Entretanto, a morte faz
co, as experiências prévias, religião e os meios de parte da vida e é necessário tratá-la da forma mais
comunicação. É possível encontrar estudos contra- natural possível, especialmente quando se conversa
ditórios a respeito da influência desses fatores no sobre o assunto com uma criança.
entendimento da criança sobre a morte, apesar disso, Finalizando, observa-se que os estudos sobre o tema
o consenso é geral quando abordada a importância tiveram início nos anos 30 e 40, ocasionando uma
de discutir o tema morte com as crianças, evitando sensação de esgotamento do assunto. Entretanto, da
a mistificação do tema. mesma forma que a aplicação da teoria piagetiana
Outro fator importante a ser observado são as di- em contextos educativos é uma meta ainda distante,
mensões desenvolvidas de acordo com a idade dos pode-se inferir que os profissionais que se ocupam
participantes. Entre as crianças da 5 anos, 40% delas de criança diante da morte não têm acesso a essas
desenvolveram Extensão, 0% desenvolveram Sig- publicações e, de alguma forma, atuam mais por
nificado e 20% desenvolveram Dimensão. Quando intuição do que por protocolos baseados em evidên-
RESUMO
O objetivo principal do capítulo é apresentar uma pesquisa que
Gláucia Madureira Lage
e Moraes investigou a percepção de professores de Língua Portuguesa sobre
distintos aspectos relativos a práticas pedagógicas que promovem a
Eunice Maria Lima
criatividade na escrita. Foram entrevistados 12 docentes do segundo
Soriano de Alencar
ciclo do ensino fundamental. Os resultados revelaram ser a elaboração
de textos pouco trabalhada pelos professores, tendo sido dadas como
justificativas a falta de tempo gerada pelo número elevado de alunos
e carga horária extensa. Um percentual expressivo de docentes
considerou pouco criativas as produções textuais discentes, embora
a quase totalidade tenha se avaliado como profissionais inventivos e
apontado diversas estratégias para facilitar a escrita de textos criativos
em sala de aula. Indicaram como fatores limitadores à expressão
da criatividade nas produções textuais, elementos relacionados aos
estudantes, professores e escola. Os resultados trazem implicações
para a formação de professores de Língua Portuguesa no que diz
respeito à criatividade na redação de textos em sala de aula.
tuguesa.
10.37885/200400169
1. INTRODUÇÃO pelos professores os relacionados ao aluno, como
dificuldades de aprendizagem e desinteresse pelo
A necessidade de se investir no desenvolvi- conteúdo ministrado. Observou-se que apesar de
mento das habilidades criativas do aluno tem sido muitos professores apresentarem formação peda-
reconhecida de forma crescente nessas últimas dé- gógica com reduzido conhecimento a respeito de
cadas. Uma das justificativas para tal é a relevância criatividade, não consideraram este aspecto como
de se preparar os estudantes para o mundo incerto e um limitador à promoção de condições adequadas
complexo do trabalho na sociedade do conhecimento ao cultivo da expressão criativa em sala de aula.
globalizado, que requer pessoas aptas a utilizar sua Uma outra questão registrada (Carnaz, 2013) foi o
capacidade criativa. Além de ser apontada como excesso de tecnologia na sociedade contemporâ-
uma das habilidades indispensáveis no século XXI nea, que poderia levar a uma expressão mecânica
(Hartley & Plucker, 2014; Kaufman & Sternberg, 2010; e impessoal, pois à medida que a criança cresce e
Treffinger, Schoonover, & Selby, 2013), os benefícios avança em sua vida escolar, é comum que deixe de
da criatividade para o bem estar emocional e sua se dedicar a atividades meramente criativas, como
associação com motivação e desempenho escolar desenho livre, para mergulhar no mundo tecnológico
têm sido também ressaltados (Alencar & Fleith, 2009; e reprodutivo das novas mídias.
Fleith & Alencar, 2010; Omdal & Graefe, 2017; Rubens-
tein, McCoach, & Siegle, 2013; Wechsler & Souza, A escrita criativa apresenta-se como uma das melhores
2011). Essas são algumas das razões que levaram oportunidades de instigar os processos de pensa-
diversos países a introduzir políticas educacionais mento, fantasia e divergência em sala de aula. Por
voltadas para o desenvolvimento do potencial cria- isso, a imaginação das crianças deve ser valorizada,
tivo de estudantes (Cheung & Leung, 2013; Hartley estimulada, para que brotem ideias e, atrás delas,
& Plucker, 2014; Smith-Bingham, 2007). De forma uma história (Carnaz, 2013). Entretanto, a escola,
similar, no Brasil, o desenvolvimento desse potencial acostumada a trabalhar com a dicotomia certo/er-
como um dos objetivos educacionais encontra-se rado, exibe modelos a serem seguidos, deixando
incluído em diretrizes governamentais (Brasil, 2004; de oferecer ao aluno a possibilidade de construir
2007). Entretanto, o sucesso dessas diretrizes está seus próprios métodos criativos. O resultado dessa
em serem transformadas em práticas efetivas na ideologia dominante são produções textuais muitas
sala de aula vezes corretas, mas isentas de personalidade e de
criatividade, vazias de sentido e recheadas de fra-
Observa-se que, embora a criatividade seja, muitas ses feitas (Britto, 2006; Costa, 2006; Franchi, 2008).
vezes, considerada importante pelos professores e Assim, o que poderia ser uma oportunidade ímpar
que exista uma vasta literatura a respeito de caracte- para se trabalhar a criatividade, torna-se uma ativi-
rísticas de ambientes educacionais e procedimentos dade maçante, utilizada, muitas vezes, para castigar
didáticos que estimulam a expressão criativa (Alencar, alunos e turmas irrequietas ou para preencher um
2007; Alencar, Braga, & Marinho, 2016; Alencar & tempo ocioso (Costa, 2006).
Fleith, 2009; Beghetto, 2010; Cropley, 2005; Fleith,
2007; 2011; Fleith & Alencar, 2006; Kaufman, Be- Por ser um ato solitário, que exige tempo, concen-
ghetto, & Pourjalali, 2011; Martínez, 2003; Nakano tração, preocupação com o seu leitor imaginário e
& Wechsler, 2007; Treffinger, Schoonover, & Selby, por ser, em tese, mais formal do que a fala, a escri-
2013; Wechsler, 2002), tem sido constatado que o ta constitui-se em castigo para muitos estudantes.
desenvolvimento da criatividade não constitui priori- Talvez estes sejam alguns dos motivos que levam
dade nos diversos níveis de ensino, não recebendo as pessoas a escreverem tão pouco. É difícil ver os
as habilidades criativas a atenção devida. De modo alunos felizes quando são solicitados a produzir um
geral, o ensino se apresenta de maneira formal e tra- texto; pelo contrário, é frequente ser um momento
dicional, baseado no modelo de motivação extrínseca de resistência e dificuldade. O mesmo não ocorre
e de avaliação por notas. A maioria dos professores quando são chamados a contar uma história ou ler
desconhece os efeitos positivos de uma prática do- um livro. Ler e falar são mais práticos que escrever,
cente mais criativa para a motivação e participação já que não exigem tanto conhecimento de ordem
do aluno em sala de aula e carece de informações sintática, morfológica e ortográfica, que tolhem a
suficientes relativas a procedimentos incentivadores língua escrita e a impedem de ser mais espontânea
da criatividade discente (Alencar, Fleith, Boruchovitch, (Britto, 2006; Costa, 2009; Cunha & Santos, 2005).
& Borges, 2015; Oliveira & Alencar, 2012). Escrever inclui pensar. Assim como a criatividade,
Pesquisas a respeito de fatores cerceadores à pro- a escrita não é uma questão de dom, pois seria um
moção de condições adequadas ao desenvolvimen- erro imaginar que podemos buscar fora de nós, na
to da criatividade discente (Alencar & Fleith, 2008; inspiração, a explicação para a nossa aptidão ou
2010) indicaram como entraves mais apontados inaptidão para a escrita. Tampouco podemos dizer
3.RESULTADOS
Uma análise das respostas referentes à frequ-
inúmeras ideias, mas eles têm uma di-
ficuldade absurda de desenvolver as
ideias. Então eles têm, eles pincelam,
ência de produções de texto indicou que não havia eles fazem exatamente a reprodução
uma ocasião específica para a solicitação destas pro- do mundo deles... Eu percebo essa di-
duções em sala de aula, tendo os docentes apontado ficuldade da profundidade no assunto
que realizavam um trabalho de preparação para a (Professor “I”).
escrita, com explanação sobre determinados temas
e debates a respeito de algum acontecimento ou Seis professores afirmaram que apenas algumas
fato da vida cotidiana. Além disso, os professores produções escritas podiam ser consideradas criati-
sublinharam que reconheciam a importância desse vas. Para esses, um texto era considerado inventivo
exercício para o aprimoramento da escrita, embora quando estava bem fundamentado, demonstrando
apenas cinco disseram solicitar aos alunos produ- conhecimento sobre o assunto, ou quando apre-
ções semanais. Entre os demais, um informou que sentava teor humorístico ou desafiador. Também o
exigia uma produção textual a cada bimestre, dois esforço pessoal do aluno, no sentido de produzir
requeriam de dois a três textos por bimestre, dois algo mais elaborado, de inovar e de surpreender,
solicitavam uma produção escrita ao mês e dois foi citado como indicador de uma produção criativa.
exigiam produções escritas de 15 em 15 dias. Por outro lado, o medo de ser avaliado e a falta
Constatou-se, pois, que a produção escrita não era de pré-requisito foram apontados como alguns dos
uma prática que fazia parte do dia a dia dos estu- fatores que impediam uma produção textual mais
dantes. A maioria dos docentes apontou a falta de fecunda. Seguem exemplos de respostas obtidas:
tempo, gerada pelo número elevado de alunos e
carga horária extensa, como o maior obstáculo para Quando eles conhecem a respeito do
uma prática mais efetiva nesse sentido, situação assunto, e eles têm a ciência do que
ilustrada pelas seguintes respostas: vão escrever, eles conseguem ser
criativos... Senão as redações ficam
O fator, assim, de serem muitos alunos, sem criatividade, acho que por conta
muitos textos pra gente corrigir, atrapa- também deles não conhecerem sobre
lha (Professor “A”). o assunto (Professor “H”).
Infelizmente o professor de Português... Além deles não terem o pré-requisito,
ele tem que dar aula de gramática, de eles têm assim o medo de serem jul-
redação, de produção de texto, de in- gados (Professor “D”).
terpretação de texto, então fica muito
complicado pra gente, sozinho, fazer Quatro professores consideraram que os textos ela-
tudo. Fora o tempo que a gente tem borados em sala eram criativos, sublinhando como
que ter para corrigir as redações (Pro- indicadores de criatividade o domínio do assunto e o
Eles falam bastante, expressam muito Na escola pública, nós somos muito
oralmente, mas na hora de passar para limitados, nós não temos muito mate-
o papel, eles têm uma dificuldade enor- rial pra trabalhar, nós não temos muito
me, muitos por medo... Eles se preo- tempo pra poder tá trabalhando esse
cupam muito em ser avaliados. Então material com o aluno (Professor “C”)
eles evitam escrever... Além deles não
4.DISCUSSÃO
terem o pré-requisito, eles têm assim
o medo de serem julgados (Professor
“D”). Um dos objetivos da pesquisa aqui descrita
Eu percebo é falta de incentivo de foi investigar a frequência com que eram utilizadas
casa... É falta de desenvolvimento da produções de texto em sala de aula por parte de pro-
responsabilidade até mesmo com o fessores de língua portuguesa. Foi constatado que,
fator entregar trabalho, entregar a ati- embora os docentes reconhecessem o crédito desse
vidade (Professor “K”). exercício para o progresso na escrita, a produção
O problema da produção textual no textual era pouco praticada por ser, segundo eles,
contexto escolar é que muitos alunos uma tarefa que exigia muito de seu tempo devido ao
acreditam que a redação é um ato pu- elevado número de alunos em sala e, consequente-
nitivo. Chegou atrasado, tem que fa- mente, de textos para corrigir. Tal resultado está em
zer uma redação. A redação sempre foi sintonia com pesquisas anteriores sobre barreiras
vista como algo punitivo para o aluno à promoção da criatividade no ensino, em que o
elevado número de alunos foi um dos entraves mais
Amaral, A. L. N., & Martínez, A. M. (2009). Carvalho, O., & Alencar, E. M. L. S. (2004). Ele-
Aprendizagem criativa no ensino superior: a mentos favorecedores e inibidores da criativi-
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RESUMO
A dependência química é um assunto multifacetado e estudado por
Bruna Monique de
Souza diferentes profissionais da saúde, uma vez que o aumento de usuários
UNOESC da substância do crack cresce a cada ano e vem desenvolvendo
uma população consequentemente doentia, acercada de perdas
Scheila Beatriz Sehnem em diferentes âmbitos da vida pessoal, profissional e social. Este
trabalho de investigação teve como objetivo identificar as principais
características da personalidade dos sujeitos usuários de crack,
bem como avaliar as funções mentais superiores. Participaram da
pesquisa sete sujeitos usuários de crack que frequentavam um centro
de atenção psicossocial do meio oeste de Santa Catarina. Para a
coleta dos dados, utilizou-se dos instrumentos psicológicos BFP,
de Nunes, Hutz e Nunes (2010), cujo objetivo é analisar o perfil da
personalidade e o teste Neupsilin, de Fonseca, Salles e Parente
(2009), que analisa as funções mentais superiores. A coleta ocorreu
de forma individual em data pré-agendada com os usuários. Como
se trata de um teste psicométrico e eles têm o poder de escolher a
resposta que julgam encaixar com sua realidade, a sociabilidade é
o item que mais apresentou declínio, indiciando dificuldade em se
ressocializar no meio em que estão inseridos. Dessa forma, conclui-se
que os sujeitos também se assemelham por não possuírem tomada
de decisão, terem compulsão pela droga e falta de iniciativa diante das
coordenadas da vida. Com o auxílio dos instrumentos psicológicos
utilizados denota-se a dificuldade em realizar problemas situacionais,
colocar-se verbalmente sobre determinadas situações e a falta de
iniciativa frente à tomada de decisão sobre aspectos pessoais
Crack.
10.37885/200400016
1. INTRODUÇÃO Conforme apontam alguns dados do Relatório Bra-
sileiro Sobre Drogas, desenvolvido pelo Secretaria
A utilização de substâncias ilícitas é um assunto Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD, 2009),
interdisciplinar e perdura na vida do ser humano há em nível de Brasil, em uma pesquisa realizada entre
séculos. Antigamente, as drogas eram utilizadas de o ano de 2001 e 2005, as drogas com maior uso na
diferentes formas, estando presentes em distintas vida, em 2001, foram: maconha (6,9%), solven-
culturas, rituais religiosos e fins medicinais. Nos dias tes (5,8%), orexígenos (4,3%), benzodiazepínicos
atuais, seu uso tornou-se frequente e acelerado, (3,3%) e cocaína (2,3%); em 2005: maconha (8,8%),
com facilidade em conseguir a substância, que se solventes (6,1%), benzodiazepínicos
tornou corriqueira, aumentando progressivamente a (5,6%), orexígenos (4,1%) e estimulantes (3,2%).
compulsão por drogas, como consequência, o ex- De 2001 para 2005, houve aumento nas estima-
cesso em busca pelo prazer tende a desencadear tivas de uso na vida de álcool, tabaco, maconha,
e desenvolver a dependência química. solventes, benzodiazepínicos, cocaína, estimulan-
O uso das drogas é tão antigo quanto o ser humano, tes, barbitúricos, esteroides, alucinógenos e crack e
porém, conforme a humanidade foi se transformando, diminuição nas de orexígenos, xaropes, opiáceos e
sua utilização e a simbologia da utilização também anticolinérgicos. Ainda na mesma pesquisa, referente
sofreram alterações. Antigamente, as drogas eram à região Sul, no mesmo período de 2001 a 2005, o
utilizadas em rituais religiosos, em comemorações, Relatório Brasileiro Sobre Drogas (SENAD, 2009)
como medicações nos vários tipos de doenças e, apresentou aumento nas estimativas de uso de álcool,
frequentemente, sacerdotes, feiticeiros e adivinhos tabaco, maconha, solventes, estimulantes, esteroi-
orientavam o uso da droga na cura dos males da des, opiáceos, alucinógenos e crack e diminuição
vida causados pelas forças sobrenaturais (CORRÊA, nas de benzodiazepínicos, cocaína, barbitúricos e
2014). anticolinérgicos.
Com as transformações tecnológicas e científicas Diante dos dados apresentados pelo Lenad (2012),
do ser humano, que culminaram no início do ca- aproximadamente, 6 milhões de brasileiros, ou seja,
pitalismo, revolução industrial e científica, a busca 4% da população, já experimentaram a cocaína, tan-
excessiva por prazeres, distração, diversão, ociosi- to intranasal quanto fumada, aproximadamente, 2
dade, em um mundo que passa a impor, de um lado, milhões de brasileiros já fizeram o uso de cocaína
as guerras cotidianas de sobrevivência das classes fumada (crack), no mínimo, uma vez na vida, sendo
desfavorecidas e, de outro, a monotonia do confor- 1,4% de adultos e 1% de jovens. Um em cada cem
to proporcionado pelas boas condições financeiras adultos usou crack no último ano, o que representa
dos indivíduos, trazem um novo sentido ao uso de 1 milhão de pessoas, o que demonstra ser uma das
drogas. Nesse contexto, ela deixa de lado seu uso drogas mais utilizadas entre os brasileiros.
em rituais e começa a ser utilizada como fonte de O crack se faz presente entre a população desde
prazer. Prazer este proporcionado pela alteração meados de 1980, tornando-se mais comum conforme
da consciência. A droga, assim, torna-se um gran- o tempo transcorre. A droga surgiu nos Estados Uni-
de produto (lícito ou ilícito) do capitalismo, sendo dos, na década de 1980, em diferentes cidades e em
transferida de um uso religioso e coletivo para um distintos momentos, tornando-se comum entre alguns
uso individual com prazer imediato. E a ciência, por grupos de usuários. É caracterizada por ser de fácil
sua vez, aprimora, transforma e potencializa seus acesso e causar maiores adrenalinas, apresentando
usos e efeitos (GERALDO, 2018). preço reduzido em comparação com outras drogas,
Surgem, desse modo, várias substâncias em todos o que a tornou altamente consumível. O processo do
os âmbitos da saúde pública, sendo possível cons- uso do crack no Brasil teve mudanças graves com o
tatar algumas das drogas no CID-10. Conforme a passar dos anos, tornando-se um problema grave,
classificação mundial de Doenças Mentais, no que diz o qual necessita de soluções urgentes e eficazes
respeito a “Transtornos mentais e de comportamento (RIBEIRO; LARANJEIRA, 2012). O processo do uso
decorrentes do uso de substâncias psicoativas”, como do crack no Brasil teve mudanças drásticas com o
álcool, opioides (morfina, heroína, codeína, diversas passar dos anos, tornando-se um grave problema
substâncias sintéticas); canabinoides (maconha); se- que necessita de soluções eficazes. O acréscimo
dativos ou hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepíni- do uso do crack no Brasil é notável e de grandes
cos); cocaína; outros estimulantes (anfetaminas e proporções em todas as regiões do país, acarretando
substâncias relacionadas à cafeína); alucinógenos; relevantes problemas sociais. Percebe-se, ainda, que
tabaco; solventes voláteis, a dependência química o aumento do uso do crack atinge várias camadas
torna-se uma questão de saúde pública (ORGANI- sociais, idades, gêneros e regiões do país, trazendo
ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993). dificuldades cada vez maiores em cessar seu uso,
o que dificulta a saúde física e mental.
2.REVISÃO DE LITERATURA
(CAPS), onde existe tratamento especializado para
usuários de drogas, com uma equipe multidisciplinar,
com Enfermeiro, Assistente Social, terapeuta ocupa-
3.MÉTODO
qual ocorreu nos dias 16 de abril de 2018 e 21 de
maio de 2018. Os encontros tiveram uma duração
de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Os dados
O modelo de pesquisa utilizado foi o exploratório foram organizados e tabulados a partir da teoria dis-
que, segundo Gil (2007), tem por objetivo fornecer ponível e dos objetivos propostos nesta pesquisa.
maior intimidade com o problema e torná-lo mais
Nota-se que a compulsão é motivada pela procura de O fator Neuroticismo, segundo Nunes, Hutz e Nunes
prazer instantâneo e os sete sujeitos acrescentaram (2010, p. 21),
já terem feito uso do crack em maiores dosagens
do que pretendiam. Dentre os sujeitos, o S1 e o S2 [...] é relacionado às características
relataram estar sob o efeito das substâncias maconha emocionais das pessoas, quando
e álcool no dia da entrevista, os demais relataram
apresentado em alto nível identifica-se
estar limpos, mas não por muito tempo, visto que a
indivíduos propensos a vivenciar mais
vontade e a compulsão por usar são maiores. Con-
intensamente sofrimento emocional, in-
forme apontam Evren e Durkaya (apud RIBEIRO;
LARANJEIRA, 2012, p. 391), a impulsividade envolve cluindo ideias dissociadas da realida-
vários comportamentos, em geral expressos de forma de, ansiedade excessiva, dificuldade
prematura e compulsiva de forma instantânea, sem de tolerar frustação, impulsividade e
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aumento nas taxas mundiais de usuários
nar-se um ex-usuário ou permanecer e se autossa-
botar frente ao uso.
Considerando os aspectos apresentados na pre-
de crack encontra-se em constantes modificações,
sente pesquisa, enfatiza-se a importância de rea-
sofrendo acréscimos oriundos de sujeitos à procura
lizar novos estudos a respeito dessa temática, já
pela droga. Nota-se que cada vez mais pessoas
que a taxa de usuários cresce em todas as classes
jovens estão entrando para o mundo da dependên-
sociais, tornando-se precocemente alta a procura
BANDEIRA, Rafaela Alves; NICKEL, Daniele DIEHL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz;
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CAPISTRANO, F. C. et al. Perfil sociodemo- em: 18 ago. 2018.
gráfico e clínico de dependentes químicos em
RESUMO
Este artigo descreve o relato de experiência de um grupo de
Benedita Nádia Silva
Pereira estudantes do projeto de extensão chamado “Plantão Psicológico”,
UNINTA que se trata de um serviço voltado para a escuta psicológica urgente
da comunidade. É um projeto do Centro Universitário INTA (UNINTA),
Francisco Flávio Muniz na cidade de Sobral, Estado do Ceará, e conta com a participação
Rufino de um Psicólogo Clínico, professor da instituição e 15 acadêmicos de
UNINTA
Psicologia do oitavo semestre. Com base na Abordagem Centrada na
Pessoa (ACP) de Carl Rogers, tendo por base a obra intitulada “Um
Francisca Telma
jeito de Ser” e “Tornar-se Pessoa” de Carl Rogers. A prática do grupo
Vasconcelos Freire
UNINTA ocorre no Núcleo de Atendimento de Práticas Integradas (NAPI),
no UNINTA. O presente capítulo foi realizado por meio de Relato
Leidiane Carvalho de de Experiência da prática de atendimento ofertado à comunidade
Aguiar acadêmica e para a comunidade externa nas proximidades da
UNINTA universidade. Foi possível aprender que o acolhimento e a escuta
é importante no espaço do Plantão, pois as questões do paciente
Marcelo Franco e Souza
são ouvidas e valorizadas, de forma empática e sem julgamentos.
UECE/UNILAB
Atendemos demandas diversas de sofrimento psíquico e após os
atendimentos, ocorrem reuniões para discussão sobre os casos
atendidos. Compreendemos que o acolhimento psicológico tem
sido favorável tanto para pacientes quanto para os acadêmicos
de Psicologia, uma vez que grande parte dos pacientes atendidos
apresentou boa evolução durante o processo de retorno. Assim, os
discentes, como plantonistas, têm a oportunidade de articular a teoria
com a prática, aprimorando assim seus conhecimentos e adquirindo
experiência profissional para melhor desempenho profissional.
mento Psicológico.
10.37885/200400174
1. INTRODUÇÃO quinzenais, voltados para as supervisões, oriundo
dos estudos e a discussão acerca das diferentes
O Plantão Psicológico é um atendimento de demandas envolvendo hipóteses diagnósticas e
apoio emergencial que é destinado a pessoas que possíveis transtornos mentais.
buscam ajuda em situações de crise causadas por O mundo contemporâneo tem demandado novas
diversos fatores relacionados com vivências diárias formas de inserção do Psicólogo, na verdade, uma
que resultem em perda de equilíbrio emocional. Não nova postura, um novo olhar sobre ele. A definição
tem como proposta seguir com atendimentos psico- de clínica, em função disso, não pode mais se res-
terapêuticos, mas caso os extensionistas evidenciem tringir ao local e à clientela que atende, trata-se,
que o paciente necessita de psicoterapia, é realizado sobretudo, de uma postura diante do ser humano e
de imediato um encaminhamento para outros serviços sua realidade social, exigindo, portanto, do Psicólogo,
que possa dar suporte a demanda apresentada. O uma capacidade reflexiva continuamente exercitada
Plantão Psicológico pode ser realizado em hospitais, em relação à própria prática, da qual se origine um
clínicas, escolas e instituições. posicionamento ético e político (DUTRA, 2004). O
Segundo Tassinari (2010), Plantão Psicológico é um processo de escuta exige cuidado objetivando pro-
tipo de atendimento psicológico que se completa em mover a minimização de sintomas de ansiedade,
si mesmo, realizado em uma ou mais consultas sem depressão e riscos de suicídio.
duração predeterminada, objetivando receber qualquer
2.METODOLOGIA
pessoa no momento exato (ou quase exato) de sua
necessidade, para ajudá-la a compreender melhor
sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a
O presente capítulo foi realizado por meio de
outros serviços de saúde metal. Tanto o tempo da
um relato de experiência, como também por pesquisa
consulta, quanto os retornos, dependem de decisões
e revisão de literatura com embasamento teórico na
conjuntas do plantonista e do cliente, tomadas no
Psicologia Humanista. Foi realizado consulta a litera-
decorrer da consulta. O plantonista e o cliente vão
tura por meios eletrônicos na base “SciELO” feito a
juntos procurar no “momento já” as possibilidades
pesquisa com os descritores “Plantão Psicológico”
ainda não exploradas, que podem ser deflagradas a
e “Acolhimento Psicológico”, assim como a leitura
partir de uma relação calorosa, sem julgamentos, na
das obras intituladas “Um jeito de Ser” e “Tornar-se
qual a escuta sensível e empática, a expressividade
Pessoa” de Carl Rogers. Foram encontrados três
do plantonista e seu genuíno interesse em ajudar,
artigos e destes, foi realizada a leitura completa.
desempenham papel primordial.
Utilizamos Scorsolini (2015), Souza (2016) e Braga
O presente artigo é um relato de experiência dos
(2019). Estes autores perceberam que a utilização
extensionistas do Plantão Psicológico do Centro Uni-
da Abordagem Centrada na Pessoa torna possível
versitário INTA-UNINTA que é realizado semanalmente
ao extensionista compreender como utilizar recursos
no Núcleo de Atendimento de Práticas Integradas
de atitude facilitadora para proporcionar a clientela
(NAPI), nos três turnos, de segunda à sexta- feira,
buscar em si auto-compreensão e adquirir conhe-
com intuito de acolher as demandas da comunidade
cimento de suas atitudes tornando-se responsável
externa e comunidade acadêmica.
por tomada de decisões.
O trabalho é realizado por 15 extensionistas e um
Psicólogo clínico professor da instituição. O público
alvo é a comunidade externa e a população aca-
dêmica da referida instituição, oportunizando uma
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Plantão Psicológico do Centro Universitário
escuta e um acolhimento à pessoa no momento de INTA-UNINTA teve inicio no ano de 2018 no mês de
crise, proporcionando um ambiente empático, como março. No principio ocorreu um processo seletivo
também capacitando os discentes para futuro pro- para selecionar os extensionistas, foram aprovados
fissional na Psicologia, bem como otimizar a fila de 15 alunos. Nas atividades foi apresentado o crono-
espera do NAPI. grama programático para todo o ano letivo, onde
Os extensionistas são orientados, por meio de ca- durante seis meses, foi realizado estudos teóricos
pacitações, sobre a construção e fundamentos do com base na perspectiva rogeriana e sua abordagem
principal objetivo da modalidade do Plantão Psi- centrada na pessoa. Após as leituras dos textos havia
cológico, sobre a conduta e o exercício clínico no contextualização sobre as temáticas abordadas para
processo de atendimento afim de que se torne um aprendizagem e respaldo preparatório para atuação
profissional capacitado,que saiba realizar a escu- psicológica prática. Em 2019 o Plantão passou a
ta e o acolhimento necessário. Posteriormente, ao prática dos atendimentos dos extensionistas através
longo dos atendimentos, são realizados encontros do NAPI.
4.CONCLUSÃO
A prática no Plantão Psicológico nos proporcio-
nou diversos momentos de vivência peculiar sendo
possível despertar nos acadêmicos extensionistas
um olhar diferenciado para cada caso a partir de suas
especificidades. Foi possível evidenciar que a teoria
e prática são fundamentais para realizar um bom
atendimento psicológico. Evidenciamos na prática
que o acolhimento promove reflexão e potencializa
mudanças significativas no alivio de angústias para
as pessoas que procuraram o serviço no momento
de suas urgências.
Destaca-se ainda que as atividades que desempe-
nhamos no Plantão Psicológico é uma complemen-
tação da formação acadêmica que veio enriquecer
nosso aprendizado quanto profissionais psicólogos
e psicólogas, assim como estamos contribuindo no
atendimento de demandas psíquicas da comunidade
e desenvolvimento da universidade e da comunidade
externa em promoção da saúde mental.
REFERÊNCIAS
DUTRA, E. Considerações sobre as signifi-
cações da psicologia clínica na contempora-
neidade, Estudos de psicologia, Natal, 9 (2),
381-387, (2004).
RESUMO
A longevidade é realidade vivida hoje por um número crescente de
Maria Arlene de Almeida
Moreira pessoas ao redor do mundo. Nessa vivência, a Organização Mundial
PUC-SP de Saúde (OMS-WHO, 2002) aconselha a prática da atividade física,
como um dos fatores que contribui para a qualidade de vida de
Ceneide Maria de idosos. Entretanto, a atividade física contribui apenas como um dos
Oliveira Cerveny fatores responsáveis pelo envelhecer com saúde. O envelhecer bem
PUC-SP
também depende de um cuidar de si, vencer a solidão com novas
redes, cultivar a autoestima, livrar-se de crenças negativas, sanear
as cicatrizes da alma que nos impedem de ser felizes, além de uma
alimentação saudável e acesso à oportunidades. Este estudo foi tema
de dissertação de mestrado da primeira autora, sob a orientação
da segunda e, numa abordagem qualitativa de Estudo de Casos,
focalizou 06 (seis) seniores com mais de 60 anos que encontraram
formas de manter-se ativos na longevidade praticando maratonas. Os
aspectos motivacionais, os sentimentos e os resultados percebidos e
presentes nos contextos, pessoal, familiar e social dessas pessoas,
antes e depois da prática da corrida e participação em maratonas
foram apreciados nas mudanças que ocorreram na qualidade de vida
desses participantes.
lia; Autoestima.
10.37885/200400163
1.INTRODUÇÃO
A Longevidade é uma realidade vivida por um
3. SOBRE ENVELHECIMENTO, SOCIA-
BILIDADE, EXERCÍCIOS FÍSICOS E
AUTOESTIMA
grande número de pessoas ao redor do mundo. E
diferentes autores referendam a receita do que seja Quando se pensa em envelhecimento, o desejável
“envelhecer com saúde”. é que se tenha qualidade de vida, autonomia, no-
vos interesses e possibilidades de realizações dos
A pergunta, que nos fazemos ainda hoje, é se um mesmos, ausência de patologias debilitantes e uma
dia, com os novos descobrimentos, avanços em rede social expansiva viva. Nem sempre isso ocorre.
tecnologia e medicamentos a ciência descobrirá a
fonte da eterna juventude. Jacob Filho (2006) entende O envelhecimento em si não é sinônimo de doença,
haver um equívoco, se se supõe que os avanços da mas uma fase da vida em que, mesmo com alte-
ciência poderão nos levar um dia à eterna juventu- rações fisiológicas naturais, podemos ser pessoas
de. Existem diversas alterações fisiológicas naturais envelhecidas e saudáveis.
que concorrem no envelhecimento e elas não são
Alguns estudos realizados por autores em diferen-
passíveis de reversão pelos tratamentos estéticos
tes países mostram uma boa correlação entre en-
em voga. Estes tratamentos estéticos podem ser
velhecimento, sociabilidade, autoestima e prática de
importantes para a autoestima e obtenção de um
exercícios físicos.
aspecto jovial, mas não significa que parecer jovem
é ser saudável. Steptoe, Oliveira, Demakakos e Zaninotto (2014) referem
que viver saudável inclui, também, a sociabilidade.
2.ENVELHECIMENTO:
OU PROBLEMA?
CONQUISTA Estes autores acompanharam 6.500 pessoas, com
idade entre 52 a 79 anos num período de oito anos
(2004 a 2012) em estudo pela University College of
Tótora (2008) discute se o envelhecimento é uma London. Concluíram que a possibilidade de morte
conquista individual, ou um problema. E refere que precoce para as pessoas que vivem isoladas era
o envelhecimento ultrapassa o status de conquista 26% mais frequente do que aquelas que alimenta-
individual, para dizer respeito, também a questões de vam sua vida social. Nestas, era encontrada uma
políticas públicas e de acesso ao sistema de saúde associação de altos índices de secreção de cortisol,
e assistência social para muitos que o vivem. Para pelo estresse motivado com a falta de contato físico
além do fato de as taxas de natalidade da população e também inflamações.
estarem em declínio da esperança de vida ao nascer Liu, Wrosch, Miller e Pruessner (2013), da Universida-
ser alta, o envelhecimento aponta consequentes pro- de Concordia, Québec, acompanharam por 04 anos
jeções de gastos em saúde que oneram o Estado. 147 adultos com mais de 60 anos e concluíram em
Mas há outros eventos que impactam o bem enve- seus resultados que uma boa autoestima diminui o
lhecer, como as migrações de famílias novas que aparecimento de doenças em seniores. Para esses
buscam nas capitais ou no estrangeiro melhores autores, a autoestima funciona como uma proteção
oportunidades de trabalho. Estes eventos trazem contra o estresse e a ansiedade, favorecendo a re-
preocupações em relação ao envelhecimento da siliência e a capacidade de superar os problemas, à
população no futuro, em duas direções: no indivi- semelhança de um sistema imunológico emocional.
dual, pela escassez de apoio familiar e de rede; no Kross, Berman, Mischel, Smith e Wager (2011) da
institucional, por conta da ausência de contribuinte Universidade de Michigan, utilizaram ressonância
financiador do sistema saúde e o governo pode ter magnética e mapearam as zonas cerebrais da dor
que pensar no planejamento de ações restritivas de nos cérebros dos voluntários analisados. Verificaram
gastos públicos com saúde. que as dores físicas ou emocionais, não se confi-
O envelhecimento da população, que já ocorria na guram como fenômenos distintos e compartilham
Europa nos idos da década de 70, atinge hoje países as mesmas zonas cerebrais. Podemos supor, por
antes tidos como jovens, como é o caso do Brasil estes estudos que, alimentar nossa autoestima e
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, rede social é prática saudável, não importa a idade
2010 e adequações de anos posteriores¹). que tenhamos.
4.LONGEVIDADE E MARATONAS:
OLHANDO PARA A AUTOESTIMA
¹ HTTP://www.censo2010.IBGE.gov.br/sinopse/index.ph
6.RESULTADOS
de nissei com issei); e 01 (um) oriundi (descendência
italiana). Profissões: 01 comerciante, 02 advogados,
01 costureira, 01 professora de piano, 01 professor
As narrativas dos participantes evidenciam que
universitário (Quadro 1. Universo da amostra, MOREI-
os entrevistados perceberam mudanças em suas vidas
RA E CERVENY, 2013), o qual especifica o Universo
desde o início da prática esportiva. Os participantes
da Amostra). Motivação para a escolha da prática
percebem que a idade impõe algumas restrições
esportiva. Todos os seis (06) participantes iniciaram
ao corpo, mas que sabem ser preciso respeitar os
a prática corrida pela facilidade e possibilidade de
limites pessoais, cuidar do corpo e dar atenção aos
escolha no horário do fazer. Quatro (04) deles em
sinais de alerta. Importante também é ter atenção
face a problemas de saúde; um (01), para apoiar
quanto aos excessos e disciplina no treino referem
o filho mais velho, que decidira participar de uma
que as mudanças trazidas com a prática do esporte
maratona; um (01) aos 60 anos fora convidado a
abrangem aspectos múltiplos e amplos da vida co-
participar de pesquisa sobre longevidade e seden-
tidiana nas esferas pessoal, familiar e profissional.
tarismo o que lhe marcou o retorno ao esporte e à
As mudanças atingem a família, a rede de amigos,
modalidade corrida e, desde então, continuava a
a visibilidade e o respeito com que são vistos. Essa
praticar e participar em maratonas (P1). Passado
visibilidade se dá com a admiração por participar de
esportivo pessoal ou de parentes. Um (01) dos
provas como maratonas, as quais são provas duras,
participantes (P3) fora atleta amador por 10 anos
que exigem treino, adequação de hábitos e disci-
na juventude, tendo parado porque percebera a ne-
plina. Cada prova finalizada alimenta a autoestima,
cessidade de estudar para dar um futuro à família
com efeitos secundários que se irradiam no traba-
e filhos; dois (02) tinham histórias de antecedente
lho, nos relacionamentos com pessoas de todas as
paterno que praticara remo (P5) e maratonas (P4),
faixas etárias nas comunidades que frequentam, na
este último no Japão, sempre exitoso e com boas
vivência da conjugalidade, no modo como são vistos.
colocações; dois (02) não tinham histórico de ante-
Passam a inspirar pessoas mais velhas ou mais
passados praticantes de esporte (P1 e P2).
novas e isso é gratificante. Uma grande variedade
de pensamentos e sentimentos lhes vêm à mente
no imediatamente antes e após a participação em
maratonas. A experiência de participação em provas
anteriores faz com que eles se sintam mais segu-
ros, ou cuidem para não cair em erros já cometidos.
Não dispensam os cuidados prévios e tomadas de
tempo do treinamento, a dieta, o tempo de sono, a
hidratação e o modo de vida sem excessos.
Níveis de resultados. No primeiro nível de resulta-
dos foram encontrados padrões de ação e de sen-
timentos e codificados em 04 (quatro) categorias e
19 subcategorias.
Kross, E, Bergman, M.G, Mischel, W. SMITH, World Health Organization (WHO, 2002). A Po-
E.E., and Wager,T.D. (2011). Social Rejection licy Framework. Geneva, Switzerland: World
shares Somatosensory Representations with Health Organization.
Physical Pain. Proc.Natl.Acad.Sci USA. 201
1,Apr12;108(15);6270-5.doi:10.1073/pnas.
1102693108.Epub2011 Mar28;
RESUMO
A Violência Intrafamiliar contra a Pessoa Idosa é vista como algo
Jeane Samara Zucchi
UNOESC
“normal” e “cultural”, pois muitas vezes a sociedade trata o idoso
como um objeto passível de descarte a qualquer momento, não
Carmen Lúcia Arruda de
demonstrando cuidados sociais, especialmente, familiares para
Figueiredo Dagostini
UNOESC com aquele que envelhece. O objetivo desta pesquisa qualitativa foi
investigar a representação social acerca da violência intrafamiliar para
idosos de um Município do Oeste de Santa Catarina. As entrevistas
foram realizadas no ambiente domiciliar do idoso, gravadas e,
posteriormente, transcritas para análise de conteúdo. A partir da
análise de coleta de dados identificaram-se relatos de violência
intrafamiliar e abandono, assim como drogas, religião, educação e
herança como potencializadores da violência intrafamiliar contra a
pessoa idosa. Concluiu-se que existe a naturalização da violência
pelos idosos, numa perspectiva de que o vitimizador deve ser
protegido pela vítima, sobressaindo-se às crenças de amor e união
num ambiente onde se propaga a violência.
pagação da Violência.
10.37885/200400119
1.INTRODUÇÃO
A expectativa é que por volta do ano 2025, a
2.VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR
Com o acelerado aumento da expectativa de
população será de mais ou menos 32 milhões de vida a população brasileira está envelhecendo ra-
idosos. Desse modo, a velhice passa a se tornar um pidamente. Os idosos ficam à mercê da sociedade
problema social (MAIA; CASTRO; JORDÃO, 2010), e de famílias sem preparo, que os enxergam como
complexo e crescente, com entraves sociais, pesso- um peso e como pessoas sem valor, não estando
ais e familiares, visto que a velhice entra como uma preparados para responsabilizar-se por seus velhos,
categoria social e culturalmente construída, possuin- fato este que se torna um dos potencializadores da
do um componente preconceituoso e estereotipado violência contra a pessoa idosa.
que a associa a múltiplas patologias, denotando um
A violência é considerada um fenômeno cultural e,
período vital fragilizado e debilitado, estando, assim,
muitas vezes, um acontecimento normal, em que
relacionada a uma fase negativa do curso da vida
“a sociedade e muitos dos idosos consideram que
(MAIA; CASTRO; JORDÃO, 2010).
as condutas são normais da idade” (SÃO PAULO,
Em se tratando da velhice como um problema so- 2007), tornando-se uma relação social conflituosa,
cial, é possível observar que a sociedade não está na qual os agressores buscam posições, domínios
preparada para lidar com esse público, visto que os e vantagens em uma estrutura que lhes garantam
idosos são tratados como objetos que não possuem poderes reais ou simbólicos em detrimentos de outros
mais prestígio e que devem ser descartados. Sob (FALEIROS et al., 2009).
tal ótica, é possível verificar a presença da violência
Comumente, a violência ocorre dentro do âmbito
enraizada dentro da sociedade, assim como no próprio
familiar, corrompendo o direito do idoso, em que
ambiente familiar do idoso, seja física, psicológica,
a família tem o dever de prover cuidados e zelar
financeira, afetiva, sexual, negligência, abandono,
pela saúde, integridade e convivência social e co-
entre outras.
munitária (BRASIL, 1988). A violência intrafamiliar
Em geral, os idosos economicamente melhores são torna-se uma das questões mais complexas, uma
levados para instituições de longa permanência para vez que envolve a família nuclear dos idosos e tra-
idosos, enquanto aqueles com condições inferiores ta-se de um processo circular, em que o mais forte
acabam abandonados em seus lares. Mesmo aqueles tem poder sobre o mais fraco, cujo poder implica
que passam a conviver sob o mesmo teto de sua submissão do mais fraco por meio de estratégias,
família, vivem em um ambiente de tensão e medo mecanismos, dispositivos e arranjos que o levam
que, a qualquer momento, a família possa se negar a curvar-se perante o mais forte (FALEIROS et al.,
a ajudar. Além disso, pode haver um acelerado au- 2009, p. 2), provocando abusos físicos, psicológicos
mento do processo de finitude do idoso, tanto pela e sexuais, abandono, negligência, abuso financeiro,
família quanto pelo próprio idoso, deixando, dessa autonegligência (MINAYO, 2005) e, em muitos casos,
maneira, de ser um “fardo” (FERRETO, 2010). até mesmo a morte.
A violência se propaga com intensidade nos lares Pode-se compreender a violência intrafamiliar como:
dos idosos, diante de tal situação sentiu-se a ne-
cessidade de investigar por meio de uma questão Toda e qualquer ação ou omissão que
central: qual a representação social dos idosos em prejudique o bem estar, a integridade
relação à violência intrafamiliar? física e psicológica, ou a liberdade e o
Para responder a esta questão se faz necessário direito ao pleno desenvolvimento de um
compreender as chamadas representações sociais integrante do núcleo familiar. Pode ser
(RS), que são concomitantes de grupos sociais que cometida dentro ou fora de casa, por
se comunicam e interagem entre si a respeito de as- qualquer membro da família que este-
suntos do cotidiano. As RS são construídas por meio ja em relação de poder com a pessoa
de imagens e significados, o que permite ao indivíduo agredida e inclui também as pessoas
e à coletividade, ao falar de determinado objeto, re- que exercem a função de pai ou mãe,
meter-se ao pensamento pelo qual se reportam a ele, mesmo sem laços de sangue. (BRASIL,
mesmo não estando presente (MOSCOVICI, 2003). 2001, p. 15).
Para Jodelet (2001), as RS se tornam necessárias
“porque nos guiam no modo de nomear e definir Na maior parte dos casos, os agressores são filhos
conjuntamente os diferentes aspectos da realidade e filhas e as mulheres são em maior proporção as
diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar vítimas, conforme Faleiros (2007). Segundo Alves
decisões e eventualmente posicionar-se frente a eles (2008), os agressores e as pessoas responsáveis
de forma defensiva.” pelos maus-tratos aos idosos, residindo no mesmo
3.METÓDO
idoso o abandona, sem informação de contato ou
sem repassar o dever de cuidado a outro; violência
sexual, que se configura por insinuações sensuais
e prática sexual indesejada por meio de ameaça ou Trata-se de uma pesquisa de opinião, com
violência; violência física, que é a agressão física ou abordagem qualitativa, realizada com 31 idosos es-
a indução a acidentes, por intolerância, vingança, colhidos de forma intencional, com subsídio de uma
implicância ou qualquer outro motivo; e violência instituição do Município do Oeste de Santa Catarina,
institucional, quando o idoso recebe atendimento de com idade igual ou superior a 60 anos, que sofreram
má qualidade, baseado numa relação de hierarquia ou não algum tipo de violência intrafamiliar.
entre quem trabalha na instituição e quem deveria Os dados da pesquisa foram coletados a partir de
receber auxílio (OAB, [2017?]). uma entrevista semiestruturada, já que, segundo
Minayo (2005) elucida mais duas maneiras de vio- estudos, esse tipo de entrevista é muito comum em
lência: autonegligência, que diz respeito à conduta pesquisas com idosos, por tratar-se de uma técnica
da pessoa idosa que ameaça a sua própria saúde que concede maior flexibilidade para trabalhar com
ou sua segurança, pela recusa de prover cuidados esse grupo específico, por esse tipo de entrevista
necessários a si mesma; e violência medicamentosa, não ser inteiramente focalizado, e, desse modo, me-
quando a administração medicamentosa feita por nos cansativo (GOMES; OLIVEIRA; ALCARÁ, 2016).
familiares, cuidadores e profissionais é feita de forma Os participantes da pesquisa foram contatados e
indevida, aumentando, diminuindo ou excluindo os entrevistados em seus domicílios, sendo informados
medicamentos. dos objetivos da realização da pesquisa, e, em se-
guida, os idosos que concordaram em participar do
Outro potencializador relevante para o desenvolvi- estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre
mento da violência é a plataforma socioeconômica, e Esclarecido, impresso em duas vias.
em que as dificuldades fazem com que o indivíduo
persiga o idoso para conseguir com que este lhe As entrevistas foram gravadas com o intuito de manter
repasse suas economias, podendo tornar-se depen- a fidedignidade dos dados coletados, além de pos-
dente dele. Ademais, a família pode considerar que sibilitar maior número de informações para posterior
o idoso é uma despesa a mais para ser dividida, análise. Foi assegurado o sigilo da pessoa entrevis-
acarretando em discórdias e violações de direitos tada, sendo que cada uma durou entre 30 minutos e
(FALEIROS et al., 2009). uma hora, aproximadamente. As perguntas realiza-
das tiveram o objetivo de identificar a representação
Minayo (2003) expõe que a impossibilidade de falar social da violência intrafamiliar para os idosos. As
dos maus-tratos está implicada com o constrangi- principais questões a serem discutidas foram: Qual
mento ou por temerem punições e retaliações de sua opinião em relação à violência cometida contra
seus agressores. O segredo ou conluio familiar faz os idosos dentro da família? E quais são os princi-
com que os idosos violentados não denunciem seus pais motivos para a ocorrência da violência? A partir
4.RESULTADOS E DISCUSSÕES
O grupo participante desta pesquisa apresentou
casa onde vive. Apenas um casal de idosos recebe
assistência dos filhos em todas suas necessidades.
Dos treze participantes, a autonomia e a indepen-
um total de 31 idosos. Dentre estes, 38,7% não foram dência apresentavam-se preservadas. Em relação
localizados; 6,45% mudaram-se de cidade e/ou de à saúde física, foram apresentadas as seguintes
bairro, não sendo possível a localização; 16,12% é doenças: asma, diabetes, pressão alta, mal de Parkin-
casal, sendo que, dos casais, 6,45% a mulher res- son, gastrite, fibromialgia, câncer, esclerose crônica,
pondeu, 3,22% o homem respondeu e 6,45% o casal catarata, doença cardiovascular, incluindo acidente
respondeu; 3,22% óbito recente e 19,35% residem de trabalho, que impossibilitou o idoso de trabalhar.
sozinhos. Dessa forma, foram entrevistados somente O Idoso 13 relata que “a nossa doença é a velhice.”
51,61% da população pretendida para a pesquisa. (informação verbal).
Os medicamentos são adquiridos pelos próprios idosos,
Quadro 1 – Identificação dos idosos segundo
numeração, idade, sexo, estado civil, religião e situação nos postos de saúde e/ou na farmácia municipal. Em
econômica relação à ocupação dos idosos, estes frequentam a
igreja, pescam, limpam a casa, frequentam o grupo
de idosos de seus bairros, saem com os amigos e
uma idosa refere que sua única ocupação é ir ao
médico.
A relação intrafamiliar se articula às relações sociais.
A família não está separada da sociedade; ela so-
brevive e vive em condições sociais determinadas
de produção, cultura, distribuição de riqueza e de
acesso a oportunidades e política. A violência in-
trafamiliar é um processo complexo de interseção
e combinação de dinâmicas e da estrutura familiar
com a dinâmica e a estrutura social (FALEIROS et
al., 2009), como visto no relato da idosa 2 (81 anos)
Fonte: os autores
“é o tipo de criação dos filhos, antigamente criavam
É importante observar que 61,53% da população perto das famílias e hoje são criados na rua e nas
entrevistada são do sexo feminino, enquanto que drogas.” (informação verbal).
apenas 38,46% são do sexo masculino; 38,46% A idosa 5 também se refere ao tipo de “criação”,
são viúvos; 53,84 são casados e 7,69 são divor- mencionando: “eu acho que é a educação que tem
ciados; 84,61% são de religião católica e 15,38% nos dias de hoje; hoje não se pode mais surrar, não
são de religião evangélica; 76,92% possuem mais se pode mais dar um exemplo; às vezes tem crian-
de 70 anos e 23,07% possuem menos de 70 anos, cinhas que você não pode ir à casa dos pais que
todos têm filhos. Todos os idosos da pesquisa são eles te mandam ‘calar a boca’, e os pais admitem
responsáveis pelos seus domicílios. Em relação à né.” Refere-se, ainda, às leis de proteção à crian-
moradia, dos treze idosos, 07 residem sozinhos e ça como potencializadoras de uma má educação:
06 residem com filhos, sendo que somente 01 idosa “mas vamos fazer o que, a lei é um pouco culpada
não é aposentada e não recebe nenhum outro tipo também, não pouco, bastante; as crianças já sabem
RESUMO
Esse ensaio pretende discutir sobre aspectos causadores de
Evely Najjar Capdeville
UFMG
estresse, ansiedade e sofrimento mental em estudantes da área
da saúde, das universidades brasileiras. Ressalta-se que esses
transtornos de origem psicológica, estão presentes durante a
formação em saúde e podem se estender para a vida profissional.
Estudos indicam que tal fenômeno tem sido associado a afastamentos,
doenças, fadiga, cansaço, dificuldades para adaptação ao meio
acadêmico, falta de tempo para dedicar ao lazer e a vida pessoal,
obsessão pelo trabalho técnico, excesso de cobrança pessoal,
frustrações relacionadas ao curso e dificuldades inerentes à relação
professor-aluno profissional-paciente. Alguns fatores psicossociais
relevantes são a transição do ensino médio para o ensino superior,
a maior mobilidade entre cidades acompanhada do afastamento da
rede de proteção da família, Nesse trabalho, propomos estratégias de
enfrentamento do fenômeno, a partir de três eixos de ação, a saber:
1- reflexão sobre o currículo integrado; 2- sensibilização e capacitação
para a humanização das relações professor-aluno e profissional de
saúde-população; 3- ações de promoção e prevenção em saúde
mental destinadas ao desenvolvimento de autoconhecimento e
resiliência em estudantes. Como resultado espera-se a indissociação
entre formação e praxis em saúde, a abordagem crítica na formação
acadêmica, o fomento às relações que promovam dialogicidade,
humanização e escuta qualificada, no âmbito coletivo-institucional e
a necessidade de aprimorar o olhar para questões que ultrapassam
os limites das singularidades dos sujeitos e se instalam no âmbito
ampliado da formação em saúde.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
estressores, impedindo que sintomas já manifestos
se tornem patológicos, tão logo os estudantes co-
mecem a manifestá-los.
Esse ensaio vem alertar sobre a necessidade
de uma abordagem crítica em relação à formação A prevenção secundária, através da identificação
acadêmica, às relações entre os diversos atores precoce de transtornos emocionais e psiquiátricos já
envolvidos no processo formativo e reafirma a ne- instalados, alerta para a necessidade de uma pronta
cessidade de aprimorar o olhar para questões que intervenção terapêutica visando impedir a progressão
ultrapassam os limites da singularidade dos sujeitos dos sintomas.
e se instalam no âmbito ampliado da formação em É necessário cuidar também da prevenção terciária,
saúde. através de acolhimento, apoio e acompanhamento
Como nos ensina Freire (10), é fundamental diminuir dos processos de ensino-aprendizagem. E, princi-
a distância entre o que se diz e o que se faz. Nesse palmente, trabalhando na construção de projetos
sentido, entendemos a formação deve se declinar que valorizem as potencialidades e talentos dos es-
sobre os estudantes/futuros profissionais de saúde. tudantes, direcionando para alternativas culturais e
O termo em latim clinámen, originariamente usado artísticas, que envolvam também a família.
pelo filósofo atomista Epicuro, se refere ao movi- O protagonismo estudantil e a parceria com diretórios
mento imprevisível e a capacidade dos átomos em
RESUMO
Através da revolução tecnológica ocorrida nos últimos anos, o mundo
Tamara Natácia Mulari
Coneglian tem passado por muitas mudanças. A tecnologia propiciou relações
UEM mais “flexíveis”, encurtou a distância e o tempo, abrindo espaço para
o trabalho à distância de qualquer parte do mundo, como é o caso do
Guilherme Elias da Silva teletrabalho, inclusive da sua própria casa, o chamado teletrabalho
UEM home-office. Todas essas mudanças no jeito de se trabalhar exigem
adaptações dos trabalhadores, e por esse motivo o tema se torna
tão importante, pois é necessário entender quais são as implicações
desse novo jeito de se trabalhar para a subjetividade do trabalhador.
Dessa forma, esse capitulo terá o objetivo de fazer uma breve
discussão de quais são as possíveis consequências do modelo
de teletrabalho home-office para a subjetividade do trabalhador e
consequentemente para sua saúde mental. Essa discussão será feita
à luz da psicossociologia, que se preocupa em investigar os processos
de engendramento do psíquico e do social em uma perspectiva
necessariamente pluridisciplinar, enfatizando os processos criativos e
construtivos do sujeito, sua capacidade de mobilização, de agir frente
as situações de trabalho. O texto também questiona se as condições
desse trabalho está contribuindo para a formação de um trabalhador
com a subjetividade fortalecida, capaz de ser um potente agente de
transformação e capaz de construir sentido para o seu fazer; ou se
em vez disso, se as condições do trabalho home-office, podem estar
contribuindo para um fazer individualista e solitário, visto que é um
trabalho feito a partir de casa (distante da organização) e tem suas
relações interpessoais mediadas pela tecnologia.
10.37885/200400154
1. INTRODUÇÃO pois carregava em si a possibilidade
de flexibilizar o local e o tempo do tra-
Através do advento da globalização, são per- balho, com reflexos na remuneração e
ceptíveis na atualidade, novas configurações sociais, nas condições contratuais.
econômicas e tecnológicas, as quais fazem emergir
profundas modificações no mundo trabalho. Os traba- Dentro do Teletrabalho, uma das novas formas fle-
lhadores e as organizações, por consequência, estão xíveis de trabalho - qual vem ganhando cada mais
se adaptando aos novos modos de desenvolvimento visibilidade - que surgiu na década de 70 do último
de tarefas e atividades, conforme esses surgem e se século é o home-office¹ (trabalho em domicílio). A
estabelecem. Desse modo, tornam a flexibilidade e modalidade de trabalho home-office se caracteri-
a capacidade de suportar as mudanças frequentes za pela inserção em um espaço, sem tamanho ou
nos modos de gestão, necessárias à sobrevivência propriedades definidas, e localizado na residência
profissional (BARUCH, 2001; ROSA, 2010 citado do trabalhador, sendo muito comum o uso de tec-
por RAFALSKI; ANDRADE, 2015). nologias informacionais para a realização das ati-
vidades (ELLISON, 1999; LIM & TEO, 2000, citado
Essas tendências, somadas ao avanço tecnológico, por RAFALSKI; ANDRADE, 2015).
são propensas para a implantação de um novo modelo
de trabalho, chamado teletrabalho. O teletrabalho, O sociólogo Bauman (2001), em seu livro Moderni-
no que tange à flexibilização do jeito de se trabalhar, dade Líquida, menciona que “não importa mais onde
acompanhado de uma forma de controle do próprio está quem dá a ordem – a diferença entre ‘próximo’
trabalho, permite relações mais diretas e flexíveis e ‘distante’... está a ponto de desaparecer” (p. 16).
entre os trabalhadores e também romper os limites Quando a distância percorrida numa unidade de
da distância. tempo passou a depender da tecnologia, de meios
artificiais de transportes, os limites à velocidade de
Existem variadas definições para o teletrabalho, mais movimento existentes, conseguiriam, ser transgre-
é importante observar como permanece, para vários didos, “apenas o céu era agora o limite, e a moder-
autores, a ideia de que o uso das novas tecnologias de nidade era um esforço continuo, rápido e irrefreável
comunicação e a flexibilidade configuram o teletrabalho. para alcançá-lo” (p. 16). Como consequência disso,
Trope (1999) diz que o teletrabalho caracteriza-se Quadrado (2006) ainda complementa que a globali-
pela “utilização de ferramentas de telecomunicações zação, reforçada pela ampliação do uso da internet,
para receber e enviar o trabalho” (p. 13). enfraquece as fronteiras e as formas nacionais de
O teletrabalho surge então, como uma nova forma identidade cultural.
de trabalho flexível que se originou da introdução do Para Mendonça (2010), a nomenclatura do homeoffice
instrumental da informática e da telecomunicação é exclusividade do uso do local residencial, mesmo que
[telemática] no processo produtivo das organizações: partilhado por outros moradores. Explicita, também,
o computador em rede. A evolução da tecnologia da que as atividades possuem horários estabelecidos
informação e da comunicação e a crescente afir- de forma mais flexível e são de cunho profissional,
mação e difusão da internet, aliados à estratégia sejam elas de empresários/autônomos ou ligadas a
empresarial de descentralização e externalização uma organização privada, como, por exemplo, de
produtiva de trabalho, mudaram a geografia laboral prestação de serviços. Para fins de definição deste
(TROPE, 1999). estudo, trabalhar em homeoffice se caracteriza por
Nas palavras de Jardim (2003, p. 38): desempenhar as atividades profissionais no mesmo
ambiente em que se reside.
(...) o prefixo ‘tele’ está sendo entendi- O trabalho home-office tem sido propagado pelas
do como telecomunicações, mas quer organizações e pela mídia como meio de trabalho
dizer ‘distância’; por esse motivo, a eficiente e viável. É considerado um modelo adaptado
primeira acepção do teletrabalho é o aos avanços tecnológicos e equivalentes quanto aos
trabalho a distância, para depois ser ganhos e às perdas de empregados e empregadores,
acoplada a expressão “uso da conexão um modo de trabalho a ser amplamente realizado ‘no
informática na execução do trabalho, futuro’ (RASMUSSEN & CORBETT, 2008; WARD &
substituindo o contato físico com os co- SHABBA, 2001 citado por RAFALSKI; ANDRADE,
legas pelo contato virtual”. (...) Quando 2015).
se pensa na desconcentração da ativi- No Brasil, uma pesquisa realizada em 2016 pela SAP
dade assalariada deve-se ter em mente Consultoria em RH¹ que teve o apoio institucional
que o teletrabalho atendeu a esse pa- da SOBRATT (Sociedade Brasileira de Teletrabalho
radigma [da deslocalização produtiva], e Teleatividades) e o patrocínio da GCONTT (Gru-
3.MÉTODO
da sociedade, torna-se um fim em si, para o qual toda
a sociedade deve se direcionar. O ritmo da vida indi-
vidual, social e institucional passa a ser determinado
Como metodologia, realizou-se o levanta- pelo ritmo das corporações (GAULEJAC, 2007). Ou
mento bibliográfico de publicações como artigos e seja, o trabalhador tem a liberdade de trabalhar na
livros referentes ao contexto histórico e social, as casa dele, no horário que ele quiser, sem justificar
transformações no mundo do trabalho, com foco as horas trabalhadas, porém deve entregar os re-
no novo modelo de trabalho crescente do Brasil, o sultados e lucros que a organização propõe dentro
home-office e suas relações com a subjetividade do ritmo dela.
dos trabalhadores.
Ainda sobre esse imediatismo, Bauman (1998) faz
Este trabalho também traz alguns artigos e teses de uma análise sobre avanço que a sociedade está
estudiosos sobre o tema do trabalho home-office no vivenciando, avanço ao qual exige dos indivíduos
Brasil. Já a análise crítica do modelo de trabalho ho- que o mesmo acompanhe o ritmo acelerado das
me-office foi fundamentada pelas teorias dos autores mudanças globais, questionando e criticando a ma-
da Psicossociologia e Sociologia do Trabalho, tais neira como o indivíduo lida com essas cobranças e
como: Enriquez, Sennett, Bauman, Gaulejac, entre ritmo, ele não consegue se preparar e se firmar em
outros autores, que tratam da relação entre homem algo sólido, se já lhe é cobrado uma nova mudança;
e organização na contemporaneidade e suas con- e assim lhe é posto um ritmo a ser seguido pela
sequências à subjetividade e saúde do trabalhador. sociedade. Bauman (1998, p. 112) questiona:
Levando em conta que a psicossociologia se ocupa
das relações entre o coletivo e o individual, o psí- Como pode alguém investir numa reali-
quico e o social, o objetivo e o subjetivo, buscando zação de vida inteira, se hoje os valores
compreender o sujeito inserido historicamente em um são obrigados a se desvalorizar e, ama-
determinado contexto social e na complexidade de nhã, a se dilatar? Como pode alguém
sua dinâmica psíquica (ARAUJO; SOARES, 2016), se preparar para a vocação da vida, se
essa abordagem teórica fornecerá as bases nesse habilidades laboriosamente adquiridas
trabalho, para fazer uma leitura de sujeitos capazes se tornam dividas um dia depois de se
de nomear as próprias inquietações, de elaborar tornarem bens? Quando profissões e
significações e de se mobilizarem, a fim de modificar empregos desaparecem sem deixar
a si mesmos e às situações de crise ou sofrimento notícia e as especialidades de ontem
em que estão envolvidos. são antolhos de hoje?
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
RESUMO
O Transtorno do Pânico é um conjunto de manifestações patológicas,
Melissa Tavares Lima
UNAMA
com ataques inesperados e repentinos de pânico que são
caracterizados por um medo intenso, associados a efeitos físicos,
Suellen de Oliveira
somando-se a quatro ou mais sintomas que podem ser cognitivos
Barbosa
UNAMA ou somáticos e que logo acarretam em prejuízos significativos, tanto
psíquicos, quanto funcionais. Objetivo: Repensar o Transtorno do
Sarah Medeiros Pânico (TP) por meio de aspectos específicos como a neurobiologia,
Tavoglieri sintomatologia e o diagnóstico. Metodologia: Análise do TP utilizando
UNAMA o procedimento de revisão de literatura. Usaram-se dois artigos
publicados em revistas eletrônicas (Revista Brasileira de Psiquiatria
Greg Luan dos Anjos e Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul), disponíveis na
Cardoso
UNAMA
plataforma digital Scielo e o manual diagnóstico reconhecido como
referência na Psiquiatria (DSMV).
Marcos Vinicius Lebrego
Nascimento
UNAMA
nóstico diferencial.
10.37885/200400037
1. INTRODUÇÃO louquecer”); uma mudança desadaptativa significativa
no comportamento relacionada aos ataques (p. ex.,
O Transtorno do Pânico é um conjunto de ma- comportamentos que têm por finalidade evitar ter
nifestações patológicas, com ataques inesperados ataques de pânico, como a esquiva de exercícios
e repentinos de pânico que são caracterizados por ou situações desconhecidas). A perturbação não
um medo intenso, associados a efeitos físicos, so- é consequência dos efeitos psicológicos de uma
mando-se a quatro ou mais sintomas que podem substância (p. ex., droga de abuso, medicamento)
ser cognitivos ou somáticos e que logo acarretam ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidis-
em prejuízos significativos, tanto psíquicos, quanto mo, doenças cardiopulmonares). A perturbação não
funcionais. é mais bem explicada por outro transtorno mental
(p. ex., os ataques de pânico não ocorrem apenas
em resposta a situações sociais temidas, como no
2.OBJETIVO
Repensar o Transtorno do Pânico (TP) por meio
transtorno de ansiedade social; em resposta a ob-
jetos ou situações fóbicas circunscritas, como na
fobia específica; em resposta a obsessões, como
de aspectos específicos como a neurobiologia, sin- no transtorno obsessivo-compulsivo; em resposta à
tomatologia e o diagnóstico. evocação de eventos traumáticos, como no trans-
torno de estresse pós-traumático; ou em resposta à
3.MÉTODOS E MATERIAIS
separação de figuras de apego, como no transtorno
de ansiedade de separação) (DSM – V, 2014). Par-
tindo de aspectos neuroanatômicos, alguns estudos
Análise do TP utilizando o método de revisão
encontraram uma relação importante entre o medo
de literatura. Usaram-se dois artigos publicados em
condicionado em animais e o TP. De acordo com
revistas eletrônicas (Revista Brasileira de Psiquia-
Mezzasalma et al. (2004), os ataques de pânico se
tria e Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul),
originam de pontos no tronco cerebral que compre-
disponíveis na plataforma digital Scielo e o manual
endem a transmissão serotoninérgica (serotonina)
diagnóstico reconhecido como referência na Psiquia-
noradrenérgica (noradrenalina), sendo a ansiedade
tria (DSM-V).
ativada por estruturas do sistema límbico. Além disso,
o núcleo central da amígdala recebe informações
4.RESULTADOS
sensoriais diretamente das estruturas do tronco cere-
bral e do tálamo sensorial, permitindo uma resposta
a estímulos potencialmente perigosos (apud Gorman
O estudo dos materiais proporcionou a ob-
et al., 1989). Outras contribuições sugerem que sub-
servação de um conjunto de sintomas psicológicos
tipos de receptores serotoninérgicos exercem uma
e físicos manifestados durante um pico de tempo,
elaborada forma de controle de diferentes tipos de
aproximadamente 10 minutos, que causam prejuízos
ansiedade, dessa forma a serotonina poderia faci-
na vida social e pessoal do indivíduo (SALUM et al.,
litar ou inibir distintos tipos de medo em diferentes
2009). Conforme o DSM-V, o TP se refere a ataques
regiões cerebrais (MEZASSALMA, 2004 apud De-
de pânico inesperados e recorrentes. Um ataque de
akin & Graeff, 1991). É necessário a realização de
pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto
uma investigação minuciosa do caso do paciente
intenso que alcança um pico em minutos e durante
em questão para se fazer o diagnóstico correto do
o qual ocorrem quatro ou mais de uma lista de 13
Transtorno do pânico.
sintomas físicos e cognitivos: palpitações, coração
acelerado, taquicardia; sudorese; tremores ou abalos;
5.CONCLUSÃO
sensações de falta de ar ou sufocamento; sensações
de asfixia; dor ou desconforto torácico; náusea ou
desconforto abdominal; sensação de tontura, insta-
Conclui-se então que o Transtorno do Pâni-
bilidade, vertigem ou desmaio; calafrios ou ondas
co é um distúrbio de ansiedade caracterizado pela
de calor; parestesias (anestesia ou sensações de
ocorrência constante e inesperada de ataques de
formigamento); desrealização (sensações de irre-
pânico, com sensações extremas de medo e deses-
alidade) ou despersonalização (sensação de estar
pero, combinadas a sintomas físicos e emocionais
distanciado de si mesmo); medo de perder o controle
que causam prejuízos irreparáveis à vida pessoal
ou “enlouquecer”; medo de morrer. Pelo menos um
e social do indivíduo. Observaram-se também alte-
dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma
rações importantes em aspectos neuroanatômicos
ou de ambas as seguintes características: apreensão
e neurofisiológicos, que combinados com outros fa-
ou preocupação persistente acerca de ataques de
tores, podem desencadear ou agravar ainda mais
pânico adicionais ou sobre suas consequências (p.
os sintomas do TP.
ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “en-