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Dra.

Luciana Oliveira
Dra. Manuela Fischer

Tudo sobre Alimentação caseira


SUMÁRIO
CLIQUE NO TEMA PARA IR A PÁGINA QUE DESEJA

Introdução......................................................................................................................................03

Contexto Histórico...................................................................................................................04

Mas o que é, de fato a Alimentação Natural?.......................................................05

Alimentação Natural crua com ou sem ossos (BARF)....................................06

Alimentação Natural Cozida.............................................................................................10

Suplementação da AN com vitaminas e minerais..............................................14

Como calcular a quantidade diária de comida para meu pet....................15

Como formular uma receita de AN para meu pet..............................................21

Como preparar, armazenar e fornecer a AN cozida..........................................26

Como fazer a transição alimentar da ração para AN.........................................31

Mitos e fatos sobre ração e alimentação natural................................................35

Conclusões.....................................................................................................................................42

Referências Bibliográficas...................................................................................................43

Sobre as autoras........................................................................................................................47
INTRODUÇÃO
Autoras: Profa. Dra. Luciana D. Oliveira & Profa. Dra. Manuela Fischer

Fornecer uma alimentação completa e balanceada que supra as


necessidades das diferentes fases de vida dos cães e gatos é um
componente importante da posse responsável. Inúmeras melhorias
na nutrição de animais de companhia resultaram em uma ampla
variedade de alimentos comerciais disponíveis no mercado,
fornecendo uma nutrição completa e balanceada. Apesar desses
desenvolvimentos, cada vez mais tutores tem preferido preparar
alimentos caseiros naturais para seus animais, seja devido à
sensação de maior aproximação com o seu pet, seja para evitar
alimentos super-processados, por acreditar que a dieta caseira é
mais saudável ou outros motivos que legitimam essa opção de
alimentação.

Nesse E-book vamos abordar diversas informações importantes para


os tutores que pretendem iniciar o uso da Alimentação Natural ou
mesmo para os que já o fazem, de forma a esclarecer pontos
importantes e sanar dúvidas comuns, para tornar o uso desse tipo
de alimentação uma opção realmente saudável e segura aos pets.

Esperarmos que esse material seja de grande valia a todos os


leitores!

13
CONTEXTO HISTÓRICO:
POR QUE A ALIMENTAÇÃO NATURAL SE
TORNOU TÃO POPULAR?

Em 2007 os Estados Unidos passaram por um recall de rações que


estavam contaminadas com ingredientes proteicos adulterados
proveniente da China. Esses ingredientes foram contaminados de
forma fraudulenta com um composto chamado de melamina. A
melamina quando ingerida é absorvida pelo intestino e causa
intoxicação, problemas digestivos, respiratórios e insuficiência renal
aguda. Por conta dessa fraude, muitos pets acabaram
contaminados e tiveram diversos problemas de saúde, incluindo
muitos óbitos (SHARMA & PARADAKAR, 2010).

Esse foi o ponto de partida para o interesse em novas alternativas


alimentares para cães e gatos. De lá para cá surgiram milhares de
tutores e profissionais adeptos e centenas de empresas investindo
nessa nova categoria de alimentação.

4
MAS O QUE É, DE FATO,
A “ALIMENTAÇÃO NATURAL”?

O que conhecemos popularmente no Brasil com o nome de


“Alimentação Natural”, nada mais é do que uma alimentação
caseira, preparada com ingredientes normalmente vendidos em
mercados, açougues e feiras para consumo humano. Esse tipo de
alimentação tem se concentrado na inclusão de ingredientes
inteiros, incluindo carnes, frutas e vegetais, evitando o uso de
ingredientes altamente processados e subprodutos e, por vezes,
seguindo filosofias nutricionais ancestrais ou instintivas dos
carnívoros (BUFF et al., 2014).

Mas vale ressaltar que o termo natural não é o mais adequado, visto
que os pets não são selvagens e não estão na natureza, pelo
contrário, são domiciliados e tratados como seres humanos, após
um processo de domesticação de milhares de anos que já causou
mudanças genéticas e fisiológicas quando comparados aos lobos
selvagens. Uma alimentação realmente “Natural” seria se
recebessem presas vivas, para que expressassem todo o seu
comportamento natural desde a caça até o consumo de todas as
partes dessas presas, incluindo todas as vísceras, ossos, conteúdo
intestinal, sangue, pelos e penas.

Mas o que há de natural num pet domesticado? Todo o processo é


diferente ao que observamos na natureza. Tiramos os animais do
seu habitat e os colocamos em espaços pequenos, reprimimos seus
comportamentos (latidos, mordeduras, brigas, disputas de
território), disponibilizamos alimentos de forma farta e regular sem
a necessidade de “caça” e ainda os castramos (repressão dos
comportamentos sexuais). Por quê, então, faria sentido uma
alimentação natural de fato? Por uma questão de saúde? Eis que
surgem diversas opiniões a respeito, mas na prática pouco se sabe
sobre os reais benefícios das dietas ditas “naturais” para pets
domesticados, de forma que é difícil dizer se são mais saudáveis ou

5
não diante da falta de estudos de qualidade sobre o tema, o que
torna as informações totalmente especulativas e subjetivas, com
pouco ou nenhum respaldo científico.

ALIMENTAÇÃO NATURAL CRUA COM


OU SEM OSSOS (BARF)

Ao longo dos últimos anos percebeu-se um aumento significativo


no número de adeptos à nova tendência de “alimentação natural
crua” para cães e gatos, também conhecida como BARF
(Biologically Appropriate Raw Food). Dietas que promovam o
fornecimento de carne crua como base se tornaram muito
populares, especialmente pela crença em oferecer uma dieta
semelhante à dos ancestrais carnívoros, lobos e gatos selvagens, ou
pela tentativa de fornecer uma dieta “mais saudável”, sem a adição
de ingredientes processados, corantes e conservantes.

Os adeptos da alimentação crua afirmam que essa é a dieta mais


próxima à da natureza, assumindo que a dieta da natureza seja a
ideal para cães e gatos domiciliados, castrados, de baixa atividade
física e que vivem muito mais que os animais na natureza. Um dos
argumentos está relacionado à questão dos carboidratos, presentes
em quantidades muito baixas nas dietas naturais de lobos e que
muitos acreditam não ser digerido adequadamente pelos cães. Um
estudo publicado por Axelsson et al (2013) na revista científica
Nature, demonstrou que há diferença entre cães e lobos em dez
genes com papéis importantes na digestão do amido e que os cães
estão adaptados a digerir dietas ricas em carboidratos,
diferentemente dos lobos. Estudos comprovam que a
digestibilidade do amido, quando cozido, passa de 98% em cães
(CARCIOFI et al., 2008; BRIENS et al. 2021). Isso ocorre porque desde
o início do processo da domesticação dos lobos, há mais de 500 mil
anos, o contato com humanos primitivos já permitia o contato
desses animais com os restos de alimentos cozidos (isso mesmo, os
lobos não cozinhavam na natureza, mas os humanos primitivos
sim!), incluindo carboidratos, e isso acabou por modificar, ao longo

6
de centenas de milênios, o genoma e a fisiologia dos cães, agora
domesticados.

Dietas cruas consistem, primariamente, em carne, ossos, órgãos e


ovos que não foram cozidos e, portanto, são mais susceptíveis a
apresentarem microrganismos que podem levar não apenas, a
danos na saúde dos animais, como também demonstram ser
perigosas para a saúde humana, principalmente por pessoas com
algum tipo de redução da função imune, como crianças, idosos e
pessoas portadoras de enfermidades (DAVIES, LAWES, WALES,
2019). O risco do fornecimento de dietas a base de carne crua é,
muitas vezes, subestimado. O contra-argumento utilizado por
adeptos à BARF é a convicção de controle dos parasitas ao congelar
a carne a -20°C durante um número determinado de dias, porém
até o presente momento não existem estudos que embasem tal
pressuposto. Estudo realizado em 2018 por Van Bree e
colaboradores analisou 35 alimentos comerciais congelados a base
de carne crua comercializados na Holanda e como resultado foi
possível isolar diversas bactérias e parasitas nos diferentes
alimentos, dentre eles: Escherichia coli, Listeria monocytogenes,
Listeria spp., Salmonella spp., Sarcocystis cruzi, S. Tenella e
Taxoplasma gondi, demonstrando que esses microrganismos e
parasitas não são mortos mesmo após o congelamento do alimento
cru. Além disso, outro estudo avaliou 10 dietas caseiras à base de
frango cru e como resultado oito dietas foram positivas quando
cultivadas para Salmonella spp., comparativamente nenhuma das
dietas comerciais extrusadas avaliadas apresentaram Salmonella
spp (JOFFE & SCHLESINGER, 2002).

A maioria dos patógenos encontrados em dietas naturais cruas


podem ser transmitidos para a população humana pelo contato
direto com o alimento cru, com o animal que recebe a dieta crua ou
suas fezes ou com as superfícies que entraram em contato com o
alimento cru, como o comedouro e utensílios de cozinha utilizados
para o preparo do alimento. Outro ponto que precisa ser
considerado e que torna a situação ainda mais crítica para a saúde
pública, se refere ao aumento da transmissão de cepas de bactérias

7
multirresistentes a antibióticos entre humanos e pets (DAVIES,
LAWES, WALES, 2019).

Até o momento, são raros e de pouca relevância os estudos


científicos que tenham demonstrado algum benefício das dietas
cruas em relação à alimentação cozida ou mesmo aos alimentos
comerciais. Por outro lado, encontramos de forma ampla e extensa
na literatura estudos relatando diversos riscos associados a essa
prática. Veja bem, não significa que não existam benefícios, a
questão é que não existem estudos contundentes para suportar
essa afirmação até os dias de hoje. Entretanto, diversos estudos
apontam para o alto risco de desbalanceamento nutricional e de
contaminações microbiológicas e parasitárias, além dos riscos de
obstrução por corpo estranho e perfuração intestinal quando a dieta
contém ossos.

Mais de 10 entidades e associações internacionais e mundiais da


área de veterinária, nutrição animal ou saúde pública se posicionam
nos seus websites fortemente contra a prática de dietas cruas para
pets, como por exemplo o World Small Animal Veterinary
Association (WSAVA), American College of Veterinary Nutrition
(ACVN), American Animal Hospital Association (AAHA), American
Association of Feline Practitioners (AAFelP), National Association of
State Public Health Veterinarians (NASPHV), Centers for Disease
Control and Prevention (CDC), FDA Center for Veterinary Medicine
(CVM), American Veterinary Medical Association (AVMA), British
Veterinary Association, Canadian Veterinary Medical Association e
Alberta Veterinary Medical Association, entre outras

Todas essas Associações relatam que os benefícios alegados são


restritos a depoimentos e não existem estudos publicados que
suportem as reivindicações feitas por defensores da dieta crua. A
literatura que relata os benefícios é baseada em livros de um único
autor, que coloca sua experiência pessoal mas não embasa
cientificamente as declarações. Diversos artigos científicos
publicados em journals indexados alertam para os riscos e não
citam benefícios da dieta crua (JOFFE & SCHLESINGER, 2002; VAN
BREE et al., 2018; DAVIES, LAWES, WALES, 2019, FREDRIKSSON-
8
AHOMAA et al, 2017; FREEMAN et al., 2013). Pouquíssimos estudos
relatam algum benefício das dietas cruas para cães e gatos quando
comparadas aos alimentos comerciais, como aumento da
digestibilidade (FRANÇA, 2009; KERR et al., 2012), alterações da
microbiota intestinal (BELOSHAPKA et al. 2011; KIM et al, 2017;
SANDRI et al, 2016) e redução da ocorrência de atopia (HEMIDA et
al., 2021), porém esses benefícios não foram evidenciados quando se
compara as dietas cruas com as cozidas (FRANÇA, 2009; KERR et al.,
2012).

De forma resumida, listamos os principais motivos para o


posicionamento de tantas Associações Internacionais contra as
dietas cruas:

1) A não eficácia do congelamento profilático para eliminação de


bactérias patogênicas

2) A possibilidade de cães e gatos transmitirem as bactérias


patogênicas para os seres humanos (principalmente os com
redução da imunidade) mesmo não adoecendo por hospedá-las

3) A maior dificuldade de se encontrar dados corretos de


composição química e biodisponibilidade de ingredientes proteicos
com ossos para formulação

4) O alto risco dessas dietas, mesmo com ossos, apresentarem


diversas deficiências nutricionais

5) A possibilidade real de ossos crus causarem fraturas dentárias,


obstruções por corpo estranho, perfurações intestinais e outros
danos aos animais

6) A modificação da microbiota intestinal, que pode ou não ser


benéfica aos animais

7) A constatação que as dietas cruas estão contribuindo com a


transmissão de bactérias multirresistentes a antibióticos entre pets
e tutores em nível mundial

9
Nem vamos comentar o que os veterinários especialistas em
odontologia e gastroenterologia acham sobre o consumo de ossos,
pois esse assunto daria outro e-book com muitas fotos de fratura de
dentes, obstrução por corpo estranho e perfuração gastrointestinal.

Por esses motivos acima expostos, a comunidade científica


concorda que, se for para dar dieta natural aos animais, que ela seja
cozida.

ALIMENTAÇÃO NATURAL COZIDA

O fornecimento de Alimentação natural cozida apresenta diversos


benefícios para cães e gatos saudáveis ou com doenças, como por
exemplo:

Uso de ingredientes frescos e de qualidade para uso humano

Fuga da monotonia alimentar, com possibilidade de variação das


receitas

Evitar o uso de corantes, aromatizantes e conservantes químicos

Aumento da digestibilidade

Aumento a ingestão hídrica e a diluição urinária

Aumento da palatabilidade, sendo importante para animais


seletivos ou inapetentes

Melhor adequação dos ingredientes de acordo com a preferência


do animal e do tutor;

Particularmente útil para uso em algumas doenças, como


obesidade, reações adversas ao alimento (alergias e
hipersensibilidade alimentar), câncer e doenças gastrointestinais

Melhor ajuste para pacientes com 2 ou mais doenças


concomitantes

Mais seguras em termos de contaminação microbiológica, desde


que as boas práticas de fabricação sejam seguidas no seu
preparo e armazenamento.
10
Entretanto, diversos benefícios atribuídos ao uso de Alimentação
natural em literatura popular e páginas de internet ainda não
possuem evidências científicas que os suportem, como por
exemplo:

Prevenção de doenças (ex. obesidade, diabetes, câncer)

Aumento da longevidade

Mesmo assim, não podemos ignorar que uma alimentação


composta de excelentes ingredientes proteicos, legumes,
carboidratos, fibras, óleos, ervas e outros superalimentos pode
oferecer muitos nutrientes e ser muito saudável para os pets.
Entretanto, devemos lembrar que a adequada nutrição é composta
não só pela variedade dos nutrientes, mas também por sua inclusão
em teores adequados para cada espécie, ou seja, não adianta ter
todas as vitaminas, mas em quantidades insuficientes ou excessivas,
porque o animal pode apresentar problemas metabólicos da
mesma forma.

11
O uso da dieta caseira entrega ao tutor a responsabilidade da
produção do alimento e seu controle de qualidade. Mas, o que é
visto por muitos como “empoderamento” do tutor, pode se tornar
uma grande armadilha, já que os mesmos não possuem
conhecimentos específicos em nutrição de cães e com frequência
se baseiam em receitas difundidas pela internet, por livros e por
pessoas que não possuem adequada formação para tal atividade, de
forma que não são aptos em garantir que essas dietas estejam
adequadamente balanceadas para cada animal.

A partir do momento que há falta ou excesso de nutrientes


essenciais, como vitaminas, minerais, aminoácidos ou ácidos graxos,
o pet pode apresentar, num período relativamente curto, piora de
sua qualidade de vida pelo aparecimento de uma ou mais
disfunções metabólicas, que vão se agravando com o passar do
tempo. Dessa forma, a elaboração de um alimento por um
Nutrólogo veterinário ou Nutricionista devidamente capacitado,
associado a um tutor disposto a seguir exatamente o que foi
recomendado, sem substituições, exclusões e alterações de
quantidade dos ingredientes, pode oferecer benefícios aos animais.
Entretanto, a falta de comprometimento dos proprietários com a
recomendação ou a ideia de que eles podem fazer a dieta da forma
que julgarem melhor pode causar sérios danos à saúde dos pets e o
que era para ser um grande benefício se transforma num terrível
pesadelo.

Diversos estudos têm demonstrado que boa parte dos tutores não
segue corretamente as receitas prescritas por nutrólogos,
modificando as recomendações da forma que julgam melhor e
causando graves desequilíbrios nutricionais nas receitas. Johnson et
al. (2016), verificaram que apenas 13% dos tutores que passaram por
atendimento nutricional de seus cães seguiram rigorosamente as
receitas prescritas. Em um estudo brasileiro, Oliveira et al. (2014)
verificaram que 30,4% dos tutores admitiram modificar as dietas,
40% não controlaram adequadamente a quantidade de
ingredientes das receitas, 73,9 % não utilizaram as quantidades
recomendadas de óleo e sal e 34,8 % não utilizaram corretamente
os suplementos vitamínicos-minerais.

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Estudos realizados em outros países também confirmam os
resultados, indicando o alto risco de desequilíbrios nutricionais em
receitas de alimentação natural (STREIFF et al., 2002; REMILLARD,
2008; STOCKMAN et al., 2013) E o problema inclui também receitas
de AN para tratamento de doenças. Nos Estados Unidos,
pesquisadores avaliaram dietas caseiras publicadas na internet para
cães com câncer foram avaliadas quanto à composição nutricional
estimada e nenhuma delas apresentou os teores mínimos de todos
os nutrientes essenciais segundo especificações internacionais
como o NRC (HEINZE; GOMEZ; FREEMAN, 2012). Em estudo
semelhante, 67 dietas caseiras para cães e gatos com doença renal
crônica foram avaliadas e nenhuma atingiu os teores mínimos
recomendados pelo NRC (LARSEN et al., 2012).

Os resultados obtidos por esses estudos são extremamente


alarmantes e apontam a necessidade de formulação de dietas por
profissional treinado para evitar riscos à saúde dos animais por
desequilíbrios nutricionais. Para a correta formulação de dietas
caseiras é imprescindível o uso de softwares destinados para essa
finalidade, de forma que mesmo um profissional treinado não
elabora uma dieta “de cabeça”.

E mais que isso, embora seja uma excelente alternativa em diversos


casos clínicos, nem sempre o tutor tem o perfil para cozinhar e
alimentar seu pet com alimentação natural. Nesses casos é indicado
comprar de empresas do ramo que tenham o registro no Ministério
da Agricultura e que o formulador da dieta seja veterinário ou
zootecnista com pós-graduação em nutrição de cães e gatos.

13
SUPLEMENTAÇÃO DA AN COM
VITAMINAS E MINERAIS

Quando se utiliza alimentação natural, sempre surge a dúvida sobre


a necessidade do uso, ou não, de suplementos minerais e
vitamínicos, já que esse tipo de alimentação preconiza que sejam
utilizados somente ingredientes naturais. De fato, é possível usar
somente ingredientes naturais para fornecer todos os nutrientes
essenciais em dietas para cães e gatos. Entretanto, não podemos
ignorar a grande dificuldade em se preparar um alimento sob essa
premissa, já que teremos uma lista de ingredientes bastante
extensa e complexa, com preparo demorado e com custo alto, além
de exigir ainda mais o conhecimento especializado de um
profissional treinado para sua elaboração e um proprietário muito
consciente para que a receita seja seguida à risca.

A forma mais recomendada para garantir o adequado fornecimento


de minerais e vitaminas para os pets que consomem AN é através
de suplementos minerais e vitamínicos formulados exclusivamente
para essa finalidade, devendo ser adicionados na alimentação diária
do pet. Esses suplementos devem atender, no mínimo, 100% das
necessidades diárias dos nutrientes essenciais para os cães ou gatos,
segundo guias internacionais como o NRC (2006), FEDIAF (2021) ou
AAFCO (2022) e somam maior liberdade na escolha de ingredientes,
maior facilidade de preparo e redução de riscos de desbalanço
nutricional dessas receitas.

Porém, a realidade é bem diferente. Em um estudo realizado no


Brasil, Pedrinelli, et al. (2019) avaliaram a composição de minerais de
100 alimentos caseiros para animais adultos saudáveis produzidos
de acordo com receitas obtidas de websites, sendo 75 para cães e 25
para gatos. Das 100 dietas avaliadas nenhuma atingiu os valores
recomendados dos nutrientes avaliados e mais de 84% das dietas
apresentaram três ou mais nutrientes abaixo da recomendação. Os
minerais com maior incidência de valores abaixo da recomendação
foram: selênio, cálcio e potássio nos alimentos para cães e selênio,
ferro e zinco nos alimentos para gatos.
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No Brasil ainda são poucos os suplementos minerais e vitamínicos
de qualidade formulados para completar a alimentação
natural/caseira dos pets. Basicamente temos 3 fabricantes que
produzem suplementos exclusivos para Alimentação Natural:

Linha Food Dog,


Linha Complet da Biofarm
da Botupharma

Linha Nutroplus,
da Nutroplus

(Clique nos botões para acessar o site)

Infelizmente muitos profissionais sem a devida qualificação têm se


aventurado a “formular” dietas para empresas ou para tutores e o
resultado disso, que são as deficiências nutricionais, acaba
chegando aos consultórios cedo ou tarde. Diante desse quadro, a
recomendação é que em caso de desejo ou da necessidade do uso
de alimentação natural para cães e gatos, um Veterinário ou
Zootecnista com conhecimento em Nutrição de Cães e Gatos seja
responsável pela elaboração dessa nova dieta e que os tutores sejam
adequadamente instruídos sobre a necessidade de que essa
recomendação seja totalmente implantada, de forma que qualquer
modificação seja discutida com o Nutricionista a fim de garantir os
resultados desejados.

COMO CALCULAR A QUANTIDADE DIÁRIA DE


COMIDA PARA MEU PET?

A forma correta de calcular a quantidade de alimentos que seu


animal necessita por dia é baseada em equações matemáticas,
divulgadas em Guias Internacionais de Nutrição de Cães e Gatos,
como o NRC (2006) e o FEDIAF (2021). Nesses guias é possível
encontrar todas as equações que estimam as exigências calóricas
dessas espécies em diferentes condições, considerando fatores
como idade, nível de atividade física, raça e status sexual ou
reprodutivo.
15
ATENÇÃO! Lá você NÃO VAI encontrar recomendação de consumo
de alimento baseado em um percentual do peso do animal. Sabe
aquele cálculo que determina que um cão deve consumir o
equivalente ao percentual de 3% até 7% do seu peso? Pois é, está
errado! E sabe por quê? Primeiro porque esse cálculo não consta nos
guias nutricionais (NRC, AAFCO, FEDIAF) e segundo porque o
quanto o animal deve consumir depende de 2 fatores:

A necessidade energética diária do animal.

E de quantas calorias existem por quilo de alimento a ser oferecido.

As receitas de AN cozida podem variar de 900 a 1800kcal/kg, ou


seja, uma receita pode ter até o dobro de calorias que outra,
impactando radicalmente na quantidade diária a ser consumida
pelo pet.

Você pode estar se perguntando “mas eu li em livros de autores


americanos essas indicações”. E nós rebatemos a pergunta: Desde
quando livro tem validade científica? Qualquer pessoa escreve um
livro com suas experiências, opiniões e “achismos” sobre
determinado assunto. Livros não são submetidos a revisões por
outros profissionais da área. Mesmo que esses autores sejam
veterinários, será que são profissionais realmente capacitados na
área de Nutrição de Cães e Gatos, diplomados por algum Colégio de
Nutrição Animal? Temos certeza que não, mas você pode entrar no
site e buscar pelo nome você mesmo: www.acvn.org Lá você vai
encontrar todos os nomes de pesquisadores e professores
americanos de alta relevância e contribuição ao conhecimento de
nutrição de cães e gatos mundial. Pesquisadores renomados que
publicam, ARTIGOS CIENTÍFICOS em renomadas revistas
internacionais.

Mas vamos lá! Esqueçamos as informações nada científicas e vamos


ao que a verdadeira literatura recomenda.

16
CÃES FILHOTES, as equações são baseadas na porcentagem do
peso estimado adulto (FEDIAF, 2021):

Para filhotes com até 50% do peso adulto: NEM = 210 kcal x peso corporal 0,75
0,75
Para filhotes com 50% a 80% do peso adulto: NEM = 175 kcal x peso corporal
Para filhotes com 80% a 100% do peso adulto: NEM = 140 kcal x peso corporal 0,75

Exemplo 1: Cão com 7 meses, com 3kg, 70% do peso adulto


estimado, escore de condição corporal 5 (ideal – nem magro e nem
gordo), fêmea e não-castrado.

A equação mais adequada nesse caso é a segunda: NEM = 175 kcal x


peso corporal0,75

Então: NEM = 175 kcal x 3 0,75

NEM = 175 x 2,28

NEM = 399 kcal/dia, ou seja, esse cão precisa de 399 kcal por dia

Depois é preciso definir qual dieta ele irá consumir e ela pode ser
mais ou menos calórica. Escolhendo uma dieta de caloria mais alta,
ou seja, energia metabolizável (EM) de 1.700kcal/kg, o consumo é
calculado dividindo-se a NEM pela EM, numa regra de 3.

Se o alimento possui 1.700kcal ---------- 1.000 g (ou 1 kg)

E o Cão precisa de 399 kcal ------------ x

X = 399 x 1.000
1.700

Ou seja, esse cão vai precisar comer 234 g por dia


do alimento escolhido.

17
CÃES ADULTOS: As equações mais usadas para cálculo de
necessidade energética de manutenção (NEM) diária são (FEDIAF,
2021):
0,75
Para cães idosos, castrados e pouco ativos: NEM = 85 kcal x peso corporal
0,75
Para cães adultos, não-castrados e ativos: NEM = 95 kcal x peso corporal
Para cães adultos jovens, não castrados e muito ativos: NEM = 110 kcal x peso
corporal0,75

Exemplo 2: Cão com 4 anos, com 10kg, escore de condição corporal


5 (ideal – nem magro e nem gordo), passeia durante 15 minutos 2
vezes ao dia (pouco ativo), macho e não-castrado.

A equação mais adequada nesse caso é a segunda: NEM = 95 kcal x


peso corporal 0,75

Então: NEM = 95 kcal x 10 0,75

NEM = 95 x 5,62

NEM = 534 kcal/dia, ou seja, esse cão precisa de 534kcal por dia

Depois é preciso definir qual dieta ele irá consumir e ela pode ser
mais ou menos calórica. Escolhendo uma dieta de caloria
intermediária, ou seja, energia metabolizável (EM) de 1.300kcal/kg, o
consumo é calculado dividindo-se a NEM pela EM, numa regra de 3.

Se o alimento possui 1.300kcal ---------- 1.000 g (ou 1 kg)

E o Cão precisa de 534 kcal ------------ x

X = 534 x 1.000
1.300

Ou seja, esse cão vai precisar comer 410g por dia


do alimento escolhido.

18
GATOS FILHOTES: As equações são baseadas na idade do gatinho
(FEDIAF, 2021):

Para filhotes com até 4 meses de idade: NEM = 200 kcal x peso corporal 0,67
0,67
Para filhotes de 4 a 9 meses de idade: NEM = 175 kcal x peso corporal
Para filhotes com 9 a 12 meses de idade: NEM = 150 kcal x peso corporal 0,67

Exemplo 3: Gato com 11 meses e 4kg, escore de condição corporal 5


(ideal – nem magro e nem gordo).

A equação mais adequada nesse caso é a terceira: NEM = 150 kcal x


peso corporal 0,67

Então: NEM = 150 kcal x 4 0,67

NEM = 150 x 2,53

NEM = 380 kcal/dia, ou seja, esse gato precisa de 380 kcal por dia

Depois é preciso definir qual dieta ele irá consumir e ela pode ser
mais ou menos calórica. Escolhendo uma dieta de caloria mais alta,
ou seja, energia metabolizável (EM) de 1.800kcal/kg, o consumo é
calculado dividindo-se a NEM pela EM, numa regra de 3.

Se o alimento possui 1.800kcal ---------- 1.000 g (ou 1 kg)

E o gato precisa de 380kcal ------------ x

X = 380 x 1.000
1.800

Ou seja, esse gato vai precisar comer 211 g por dia


do alimento escolhido

19
GATOS ADULTOS: As equações mais usadas para cálculo de
necessidade energética de manutenção (NEM) diária de são
(FEDIAF, 2021):

Para gatos castrados, idosos e inativos: NEM = 55 kcal x peso corporal 0,67
0,67
Para gatos castrados, adultos e inativos: NEM = 75 kcal x peso corporal
Para gatos jovens, não castrados e muito ativos: NEM = 100 kcal x peso
corporal 0,67

Exemplo 4: Gato com 8 anos e 5kg, escore de condição corporal 6


(leve sobrepeso), fêmea, castrada e inativa.

A equação mais adequada nesse caso é a primeira: NEM = 55 kcal x


peso corporal 0,67

Então: NEM = 55 kcal x 5 0,67

NEM = 55 x 2,94

NEM = 161 kcal/dia, ou seja, esse gato precisa de 161 kcal por dia

Depois é preciso definir qual dieta ele irá consumir e ela pode ser
mais ou menos calórica. Escolhendo uma dieta de caloria mais
baixa, ou seja, energia metabolizável (EM) de 1.300kcal/kg, o
consumo é calculado dividindo-se a NEM pela EM, numa regra de 3.

Se o alimento possui 1.300kcal ---------- 1.000 g (ou 1 kg)

E o gato precisa de 161kcal ------------ x

X = 161 x 1.000
1.300

Ou seja, esse gato vai precisar comer 124 g por dia


do alimento escolhido

20
COMO FORMULAR UMA RECEITA DE AN
PARA MEU PET?

Esse tópico, com certeza, é para onde muitos de vocês que estão
lendo esse E-book, vão correr pra ler. Então vamos começar!

Como devemos fazer para “formular” uma receita de alimentação


natural para um pet? Com certeza muitos de vocês já se depararam
com esse tipo de gráfico, com proporções de ingredientes que
devem ser usadas para cães.

Mas será que esse gráfico de proporções está correto?

Será que se usarmos ingredientes que estão dentro de uma mesma


categoria, de forma aleatória, nós vamos garantir o fornecimento
dos nutrientes essenciais (aminoácidos, gorduras, vitaminas e
minerais) que são necessários ao cão na quantidade correta? Será
que a variação dos ingredientes vai garantir que o pet receba tudo
que precisa ao longo do tempo?

21
Para exemplificar, fizemos duas receitas para um cão de 10 kg,
seguindo as mesmas proporções de ingredientes sugeridas pelo
gráfico acima.

Agora vamos jogar essas receitas num software de formulação para


avaliar a composição nutricional delas.

Todos os nutrientes que estão em amarelo indicam que estão


ABAIXO do mínimo recomendado. Os que estão em azul estão
atendendo as necessidades nutricionais.

22
Como vocês podem perceber, nenhuma das opções atendeu todas
as necessidades nutricionais daquele cão, porém a receita de frango
teve um maior número de nutrientes deficientes que a receita de
suíno.

23
Ainda que eu adicione um suplemento de vitaminas e minerais, eu
preciso do software para me indicar a quantidade correta de
suplemento a ser utilizada, lembrando que essas quantidades de
nutrientes variam de acordo com o fabricante do suplemento e com
a necessidade do animal. Mas vamos considerar que nós
adicionamos um suplemento e resolvemos todas as deficiências de
vitaminas e minerais de ambas as fórmulas. Ainda assim, nessas
duas receitas que usamos como exemplo, iria ficar deficiente o teor
de ácido linoleico, que é um ácido graxo essencial, presente em
grandes quantidades somente em óleos vegetais como soja, canola,
girassol ou milho. Além disso, a quantidade de calorias das 2
receitas estariam abaixo ou acima da necessidade do cão, o que
causaria ganho ou perda de peso do animal, dependendo do tempo
de uso de cada uma delas.

Se fizéssemos mais 100 tentativas de receitas, seguindo esses


mesmos princípios de “formular” com base num percentual de
grupos alimentares, podemos afirmar que na maior parte das vezes
as receitas estariam com um ou mais nutrientes em deficiência. Isso
ocorre porque esse tipo de receita NÃO É FÓRMULA! Para falarmos
que temos, de fato, uma fórmula, precisamos usar softwares de
formulação, como por exemplo o SuperCrac, Nutrovet, Funcional
Pet, ou ainda via planilhas de excel de uma forma mais manual.

Quando falamos em “fórmulas” de alimentos, temos que definir


exatamente o nome de cada ingrediente e sua quantidade, e jamais
deixar o critério da escolha dos ingredientes para os tutores, já que
eles não possuem conhecimentos em nutrição que valide um
conhecimento para tomar a decisão correta.

Dentro de cada grupo de ingredientes existem variações muito


grandes nos teores de nutrientes como proteínas, gorduras,
vitaminas, minerais e fibras. Não tem como equiparar os teores de
gordura, proteínas e energia de 100g de peito de frango com 100g
de acém bovino, por exemplo. Assim como não tem como equiparar
o teor de fibras, amido e energia de 100g de arroz branco com 100g
de batata inglesa. Se utilizamos um ingrediente com mais gordura
na formulação e trocamos por um com menos gordura, fica por isso
mesmo?

24
NÃO, é preciso um programa para ajustar o que falta e o que sobra
de nutrientes cada vez que selecionamos os alimentos da dieta.

Isso quer dizer que variar os ingredientes de forma aleatória não


mantém o balanceamento da fórmula. Se já é difícil chegar ao
balanceamento de receitas de alimentação natural com o uso de
softwares, algumas vezes, imagina fazendo dessa forma?

Mas e como fazer então? Pode parecer mais fácil e barato consultar
a internet ou fazer curso de marmitaria no final de semana, mas
quem vai pagar a conta lá na frente é você e o seu pet. A ÚNICA
FORMA CORRETA DE SER FAZER UMA RECEITA DE AN é por meio
de um NUTRÓLOGO OU NUTRICIONISTA que tenha especialização
na área e faça formulação em Software de nutrição animal. Só ele
tem a capacitação e os meios para fazer e ele poderá te dar várias
opções de cardápios com receitas FIXAS, com todos os ingredientes
discriminados exatamente com o nome e quantidade diária, de
forma que todas as opções de receitas sejam adequadamente
balanceadas em TODOS OS 40 NUTRIENTES ESSENCIAIS.

Muito cuidado com os especialistas de final de semana, aqueles que


fizeram apenas cursos rápidos ou assistiram algumas palestras e se
intitulam nutrólogos de cães e gatos. A nutrição é uma CIÊNCIA e
deve ser tratada como tal. Você se submeteria a uma cirurgia na
coluna com um médico que fez apenas cursos de final de semana
na área de ortopedia? Não, né? Então não submeta seu animal ou o
seu paciente a esse risco! Procure um médico veterinário nutrólogo
ou um zootecnista. Verifique se esse profissional tem, pelo menos,
uma pós-graduação de 2 anos especificamente na área da nutrição
de cães e gatos.

Também tome muito cuidado com AN vendida por empresas. Só


compre alimentos de empresas legalizadas segundo orientações do
Ministério da Agricultura (MAPA), com Responsável Técnico e cujas
receitas tenham sido elaboradas por Nutricionistas capacitados.
Está chovendo gente vendendo “quentinha” para pets via internet.

25
Por esse motivo há uma legião de veterinários contra AN, afinal são
muitos cães e gatos chegando aos consultórios com deficiências
nutricionais que há décadas não se via, por conta da
irresponsabilidade de muitos, que estão apenas interessados em
ganhar dinheiro, sem se preocupar com a saúde dos pets!

COMO PREPARAR, ARMAZENAR E FORNECER


A ALIMENTAÇÃO NATURAL COZIDA?

A) Como higienizar legumes, frutas e verduras?

1. Lave as mãos e utilize utensílios limpos. Antes de iniciar o


contato com os alimentos, lave bem as mãos e utilize utensílios
limpos. É importante também evitar a contaminação cruzada:
por exemplo, não utilize a tábua de carnes para cortar legumes.
2. Retire as partes danificadas dos legumes e verduras antes de
realizar a higienização dos mesmos. Eventualmente, apenas uma
folha pode estar estragada. Elimine-a.
3. Lave em água corrente. O objetivo de lavar os alimentos em água
corrente é para retirar as sujidades aparentes, como terra, folhas
e insetos. Neste momento, é possível utilizar escovas de nylon
exclusivas para lavar as cascas de alimentos.
4. Coloque os legumes e verduras em solução de hipoclorito de
sódio (eliminação de microrganismos). Utilize uma colher de
sopa (10 ml) de hipoclorito de sódio ou água sanitária na
concentração de 2,0% ou 2,5% – ou duas colheres de sopa de
hipoclorito na concentração de 1% – para cada litro de água.
Coloque os alimentos em imersão nesta solução por 15 minutos
e depois enxágue em água corrente.
5. Coloque os legumes e verduras em solução de bicarbonato de
sódio (redução da contaminação por agrotóxicos) - Adicione 10g
de bicarbonato de sódio em 1 litro de água. Coloque os
alimentos em imersão nesta solução por 15 minutos e depois
enxágue em água corrente.

Pronto, o seu alimento está adequado para o consumo.

26
B) Como fazer a demolhagem de grãos e da batata-doce?

A demolhagem ajuda a eliminar o fitato – um anti-nutriente que


causa flatulência e redução da absorção de nutrientes (Ca, Fe, Zn)

1.Lavar os grãos em água corrente

2.Colocar em um recipiente com o dobro do volume de água

3.Adicionar 1 colher de sopa por litro de água de suco de limão ou


vinagre

4.Deixar em imersão nessa solução por pelo menos 2 horas (pode


ficar de um dia pra outro dentro da geladeira)

5.Trocar a água pelo menos 1 vez

6.Desprezar a água ao final do processo

7.Use uma água limpa para cozinhar

C) Como preparar as receitas de alimentação natural?

Passo 1: Comprar os ingredientes

• Faça os cálculos de quanto você vai precisar de cada


ingrediente para o número de dias a ser preparado

• Considere que a maior parte dos ingredientes perde peso


ao cozinhar (exceção – carboidratos) – então você precisa comprar
uma quantidade maior para compensar as perdas (veja planilha
Bônus com as quantidades de rendimento de cada ingrediente)

• Lembre-se de comprar todos os ingredientes que constam


na receita (como suplementos e óleos) com antecedência

27
Passo 2: Preparar os ingredientes

• Carnes e vísceras – cortar em cubos ou moer

• Vegetais: fazer a higienização e depois picar (em rodelas,


cubos ou ralar) – usar com a casca, sempre que possível

• Grãos: fazer a demolhagem

• Manter em recipientes diferentes (não misturar os


ingredientes)

Passo 3: Cozinhar separadamente

• Carnes e vísceras – cozinhar em panela com um pouco de


água até o centro do cubo estar levemente cozido (não deixar as
carnes mal-passadas – risco de contaminação por microrganismos!!!)

• Vegetais – cozinhar em panela com um pouco de água ou


no vapor até estarem al dente (levemente cozidos)

• Tubérculos (batatas, mandioca, inhame) – cozinhar até


estarem totalmente amolecidos (carboidratos mal-cozidos não são
adequadamente digeridos)

• Grãos/cereais: cozinhar em água (panela de pressão ou em


panela aberta) até estarem adequadamente cozidos (carboidratos
mal-cozidos não são adequadamente digeridos)

• Ovos: devem ser cozidos em água por 10 -15 minutos

• Não adicionar óleo no cozimento

• Ervas aromáticas podem ser adicionadas durante o


cozimento (ver aula sobre temperos permitidos)

• Não colocar sal durante o cozimento

28
Passo 4: Organizar

Coloque numa mesa os recipientes com todos os ingredientes


que serão utilizados na receita

Os alimentos devem estar cozidos, picados e em recipientes


diferentes

Não esqueça dos óleos, suplementos e demais ingredientes


que serão usados

Passo 5: Montar as porções diárias

Você precisará obrigatoriamente usar uma balança de cozinha


para fazer as porções

Coloque um recipiente vazio sobre a balança, tare a balança e


comece a pesar cada ingrediente de acordo com o que consta na
receita

Após pesar, adicione cada ingrediente num outro recipiente ou


saco plástico tipo zip lock, onde todos os ingredientes serão
misturados e depois levados para armazenamento na geladeira ou
freezer

DICA PARA OS GATINHOS: Se você está fazendo a alimentação


natural para gatos, uma dica importantíssima para aumentar as
chances dele comer é passar todos os ingredientes num mixer, após
estarem pesados e misturados, para que vire uma massa um pouco
mais homogênea e sem pedaços grandes de alimentos. Não precisa
mixar demais também para virar um purê, mas apenas o suficiente
para não dar para separar os ingredientes! Isso ajuda muito na
aceitação da alimentação natural!

29
D) Como armazenar as porções de alimentação natural?

• As porções diárias já pesadas e embaladas deverão ser


armazenadas da seguinte forma:

• Geladeira (1 a 7 graus): por até 3 dias

• Freezer (-18 a -25 graus): por até 4 meses

• Importante: Etiquete cada embalagem como o nome da


receita e a data da preparação ao colocar no freezer

E) Como oferecer a alimentação natural ao seu pet?

• O recipiente ou pacote com os alimentos deverá ser retirado


do freezer no dia anterior ao uso e deixado dentro da geladeira para
descongelar

• Não deixar os alimentos em temperatura ambiente


para descongelar – risco de estragar

• Evitar descongelar no micro-ondas – perdas de


nutrientes

• Na hora de servir o alimento poderá ser aquecido por alguns


segundos em micro-ondas ou adicionar um pouco de água morna –
liberação de aroma – estimula consumo

• Deixar os alimentos por no máximo 20 minutos para o pet


consumir. Após isso, descartar ou guardar as sobras em geladeira até
a próxima refeição

30
COMO FAZER A TRANSIÇÃO ALIMENTAR DA
RAÇÃO PARA AN, PARA CÃO E GATO?

CÃES: Se você tem um cachorro, a transição alimentar da ração para


a AN cozida costuma ser bem tranquila, pois a maioria dos cães
prefere mais a alimentação natural que a ração. Então o maior
cuidado é apenas para que não seja feita a mudança brusca para
evitar sintomas gastrointestinais como vômito e diarreia.

Então, para a maioria dos cães, a transição alimentar pode ser feita
durante 4 dias, da seguinte forma:

1º dia: 80% de ração e 20% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

2º dia: 60% de ração e 40% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

3º dia: 40% de ração e 60% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

4º dia: 20% de ração e 80% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

·A partir do 5º dia, 100% de AN

31
Se o seu cão tem maior sensibilidade às mudanças de alimentação
você deve fazer uma transição um pouco mais prolongada, fazendo
cada uma das etapas durar 2 ou 3 dias, como por exemplo:

1º e 2º dia: 80% de ração e 20% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

3º e 4º dia: 60% de ração e 40% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

5º e 6º dia: 40% de ração e 60% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

7º e 8º dia: 20% de ração e 80% de AN (misturar os alimentos e


fornecer junto)

A partir do 9º dia, 100% de AN

GATOS: Agora, se você tem um gato, a transição alimentar deve


ocorrer de forma bem diferente dessa. Isso porque os gatos têm um
comportamento alimentar bem diferente dos cães, sendo animais
muito metódicos e com maiores dificuldades de aceitar um novo
tipo de alimento quando já são adultos.

Por isso, na transição alimentar dos felinos, nós vamos oferecer a


alimentação natural mas não vamos misturar a ração com a
alimentação no mesmo comedouro (cada alimento deverá ser
mantido em um comedouro diferente, mas um ao lado do outro) e
nem parar de dar a ração enquanto o animal não estiver comendo
adequadamente a AN.

32
A transição alimentar para os gatinhos pode durar mais de 30 dias,
de forma a darmos maiores oportunidades para que ele aceite esse
novo tipo de alimento. E é por querer fazer a transição alimentar dos
gatos igual fazemos com os cães, que a maioria dos tutores acaba
desistindo porque os gatos se recusam a comer a AN.

Então siga esse cronograma para fazer a transição alimentar do seu


gato:

1ª semana: o comedouro com 100% da quantidade de ração


deverá ser oferecido somente pela manhã e à noite, por no
máximo 30 minutos em cada refeição. Após esse tempo retire o
comedouro com a ração. Ou seja, eles não vão ter acesso aos
alimentos fora dos horários estipulados para as refeições. Esse
passo deverá ser cumprido caso você tenha o costume de
deixar a ração sempre disponível para seu gato. Caso você já
ofereça a ração apenas em horários definidos, pode pular essa
etapa.

2ª semana: 1 comedouro com 100% da quantidade de ração e 1


comedouro com 25% da quantidade de AN. Coloque os 2
comedouros ao mesmo tempo, um ao lado do outro, pela
manhã e à noite, deixe por no máximo 30 minutos e retire
ambos os comedouros após esse tempo.

3ª semana: 1 comedouro com 50% da quantidade de ração e 1


comedouro com 50% da quantidade de AN. Coloque os 2
comedouros ao mesmo tempo, um ao lado do outro, pela
manhã e à noite, deixe por no máximo 30 minutos e retire
ambos os comedouros após esse tempo. Só avance para a
próxima etapa se o gato estiver comendo a AN. Alguns animais
podem precisar ficar mais tempo nessa etapa.

33
4ª semana: 1 comedouro com 25% da quantidade de ração e 1
comedouro com 75% da quantidade de AN. Coloque os 2
comedouros ao mesmo tempo, um ao lado do outro, pela
manhã e à noite, deixe por no máximo 30 minutos e retire
ambos os comedouros após esse tempo. Só avance para a
próxima etapa se o gato estiver comendo a AN. Alguns animais
podem precisar ficar mais tempo nessa etapa..

A partir da 5ª semana: parar com a ração e colocar 1 comedouro


com 100% da quantidade de AN pela manhã e à noite, deixe
por no máximo 30 minutos. Caso o gato esteja deixando sobras
da AN ou você perceba que ele continua procurando a ração,
volte para a etapa anterior por mais 1 ou 2 semanas, para que
ele se adapte melhor ao novo alimento.

E o mais importante, nunca deixe o gato sem comer caso ele recuse
a AN. Os gatos podem rejeitar um alimento novo mesmo com muita
fome, e podem desenvolver doenças como a lipidose hepática, que
é potencialmente fatal, caso fiquem muito tempo sem comer. Por
isso, não ache que você vai ganhar essa “briga” o deixando passar
fome. Jamais faça isso!!!!

E mesmo seguindo todas essas etapas de transição, sabemos que


uma parte dos gatos não vai aceitar a AN. Então tenha muita
paciência e esteja ciente dessa limitação. OK?!

34
MITOS E FATOS SOBRE RAÇÃO E
ALIMENTAÇÃO NATURAL

A) O uso de conservantes sintéticos nas rações são tóxicos e/ou


cancerígenos?

O uso de antioxidantes, amplamente conhecidos como


conservantes, são importantes para manter a gordura dietética e
outros nutrientes estáveis durante o estoque. Sem esses
antioxidantes as gorduras do alimento poderiam ser oxidadas ou se
tornariam rançosas e o seu valor nutricional seria destruído. Gordura
rançosa apresenta odor e sabor desagradáveis e inclui compostos
tóxicos quando consumidos. Preocupações foram expostas sobre o
uso de antioxidantes sintéticos, sugerindo que eles poderiam ser
tóxicos ou carcinogênicos. A toxicidade de qualquer composto está
relacionada à dose a ao tempo de exposição. Para os antioxidantes
sintéticos, BHA e BHT, por exemplo, uma dose extremamente alta
poderia causar efeitos adversos, porém dentro das doses indicadas
pelo Ministério da Agricultura os antioxidantes são seguros para
consumo (MAPA, 2010), não havendo nenhum estudo que comprove
seu efeito cancerígeno.

B) A alimentação natural é uma opção mais saudável que a ração?

Como citado anteriormente a alimentação natural pode trazer


inúmeros benefícios, porém em 2011 a Associação Mundial
Veterinária de Pequenos Animais publicou diretrizes para a
avaliação nutricional, indicou uma lista de fatores de risco
relacionados à nutrição, entre eles encontra-se a alimentação feita
com dietas não convencionais (ex.: AN crua, AN cozida, vegetariana)
(WSAVA, 2011). A grande maioria dos riscos relacionados à
alimentação natural decorre-se do uso de dietas não corretamente
formuladas ou com pouco cuidado no preparo pelos tutores, sem o
correto cozimento do alimento ou pela não adição de suplemento
mineral e vitamínico.

35
C) Pode-se mesclar alimentos caseiros com a ração?

O fornecimento de alimentação natural associado à uma dieta a


base de ração é conhecida como Mix FEEDING. Quando a receita de
AN for completa, balanceada e suplementada ela pode compor a
alimentação diária do cão em qualquer proporção junto com a
ração (ex. 50% das calorias vindas da AN e 50% da ração).
Entretanto, caso os alimentos incluídos na ração não sejam
balanceados (ex. carnes, legumes ou frutas, adicionados de forma
aleatória somente para incrementar a ração), esses alimentos
devem ser adicionados de forma limitada, de forma a fornecer até
10% das calorias necessárias ao cão, por dia (FASCETTI & DELANEY,
2012). Quantidades superiores a isso podem gerar desbalanços
nutricionais que podem trazer prejuízo à saúde do pet.

D) E em relação aos custos?

Em geral, a alimentação natural tende a apresentar custo mais


elevado quando comparada a ração. Além dos ingredientes caseiros
é imprescindível a adição de suplemento mineral e vitamínico que
eleva o valor final da alimentação

E) A alimentação natural previne o aparecimento de doenças e


aumenta a longevidade?

Tutores e veterinários têm atribuído diversos benefícios ao uso da


AN como por exemplo: melhora da imunidade, redução de alergias,
melhora da pelagem, manutenção do peso, redução da
possibilidade de câncer, doenças do sistema urinário, aumento da
longevidade, da vitalidade, da disposição e da qualidade de vida,
entre outras. Entretanto, ainda faltam estudos científicos que
comprovem estes benefícios, que acabam sendo muito mais
percepções e especulações do que propriamente comprovações
científicas. Essa ausência de comprovação científica também ocorre
porque o advento da alimentação natural é ainda relativamente
recente em nosso meio quando comparada ao uso das rações, e
esses tipos de estudos demandam tempo para serem realizados.

36
Mas não podemos ignorar que uma alimentação composta de
excelentes ingredientes proteicos, legumes, carboidratos, fibras,
óleos, ervas e outros superalimentos pode oferecer muitos
nutrientes e ser muito saudável para os pets desde que sejam bem
balanceadas.

F) É necessário adicionar sal na Alimentação Natural? Qual sal


devo usar?

O sal deverá ser adicionado em uma receita de AN se os


ingredientes que compõe a receita não fornecerem as quantidades
suficientes de algum desses minerais: Sódio, Cloro, Potássio ou Iodo.

Nesses casos, o tipo de sal e a quantidade diária a ser usada deverá


constar na receita elaborada pelo Nutricionista, já que o tutor não
tem como saber dessa informação se não for orientado. O sal nas
receitas de AN para cães servem, basicamente, para completar a
necessidade desses minerais, e não para “temperar”. Temos que
lembrar que o sentido mais pronunciado dos cães é o olfato e não o
paladar, enquanto para nós humanos é o paladar. Por isso, que para
nós humanos uma comida sem sal fica sem gosto, porém a
percepção de sabor é diferente para os cães.

O tipo de sal a ser usado vai depender dos minerais que estão em
falta. Se estiver faltando apenas sódio e/ou cloro, qualquer sal serve,
pois todos contém teores altos desses nutrientes. Se faltar também
Iodo, aí precisa ser um sal iodado. E se faltar potássio, precisa ser o
sal light, que é o único que contém esse mineral. Usar sal do
Himalaia não faz nenhuma diferença em relação ao uso do sal
refinado, pois os teores de outros minerais que o sal do Himalaia
contém equivalem a menos de 1% de sua composição, e os teores
de sódio e cloro são idênticos ao do sal refinado.

G) É normal os pets beberem menos água quando consomem


alimentação natural?

Sim! É normal e totalmente esperado que isso ocorra. Isso porque a


alimentação natural é naturalmente rica em água, enquanto as

37
rações secas não são. Para você ter uma ideia, cada 100g de AN tem,
em média, 75g de água, enquanto cada 100g de ração tem menos
de 10g de água. Ou seja, a AN tem mais de 7 vezes mais água que as
rações.

A quantidade de água que um cão ou gato saudável precisa receber


diariamente para se manter hidratado é de 60 a 70 mL por quilo de
peso. Quando o pet consome AN, praticamente 50% da necessidade
hídrica já é atendida ao consumir os alimentos. E é por isso que a
necessidade de ingerir água do bebedouro é drasticamente
reduzida.

Mas se você tem alguma dúvida se o seu pet está bebendo água o
suficiente, veja se ele manteve o volume de urina e se essa urina está
de cor amarelo claro. E se mesmo com a AN ele ainda apresente a
urina muito concentrada e escura, uma dica é você adicionar água
na AN, para virar uma sopa. Dessa forma garantimos que ele vai
beber toda a água que precisa ao dia. E na dúvida, procure por
orientação de um médico veterinário.

H) É necessário usar óleo nas receitas de AN? Azeite de oliva e óleo


de coco são as melhores opções de gorduras para cães?

Quando falamos em gorduras, normalmente o que nos vêm à


cabeça são situações relacionadas a seus malefícios, como excesso
calórico e sobrepeso. Mas, o que muita gente ignora, é que as
gorduras e os ácidos graxos contidos nelas desempenham funções
estruturais e metabólicas que são essenciais para o funcionamento
adequado do organismo. Além de serem uma excelente fonte de
energia, apresentam outras diversas funções, como por exemplo,
atuando no controle da temperatura corporal, na absorção das
vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), na produção de hormônios e de
outras substâncias, na composição das membranas celulares, além
de fazerem parte da estrutura de tecidos e órgãos do corpo.

Com a popularização do uso de alimentação natural para cães e


gatos, assim como da maior humanização da forma em que nos
relacionamos com esses animais, vemos muitos alimentos
preconizados como saudáveis para nós, humanos, como o azeite e o

38
óleo de coco, sendo incluídos na alimentação dos pets em
substituição a outras gorduras, objetivando-se os mesmos
benefícios.

O primeiro ponto que devemos considerar é que, por mais que


muitas pessoas tratem os pets como filhos, eles ainda continuam
sendo pets. E devemos lembrar que cada espécie tem suas
particularidades fisiológicas e metabólicas, que acabam
culminando em diferentes necessidades nutricionais. Simplesmente
não podemos transpor conceitos da nutrição humana para cães e
gatos como se essas espécies fossem todas fisiologicamente
semelhantes.

No que se refere à questão das gorduras, devemos considerar


quando falamos de nutrição humana, é que a nossa espécie pode
desenvolver inúmeras doenças decorrentes do consumo de
gorduras trans ou de gorduras saturadas ou insaturadas em excesso,
como as doenças coronarianas, aterosclerose, infarto agudo do
miocárdio, hipertensão e AVC (acidente vascular cerebral).

Entretanto, cães e gatos não desenvolvem tipicamente essas


doenças cardiovasculares que afetam os humanos. Por existirem
diferenças tão marcantes na fisiopatogenia das doenças cardíacas
entre humanos e pets, temos que considerar que os alimentos que
atuariam no combate às doenças cardiovasculares em humanos
não necessariamente teriam algum efeito benéfico para a
prevenção de doenças em cães e gatos.

Para nós humanos, assim como para cães e gatos, existem alguns
ácidos graxos poli-insaturados que não são produzidos pelo
organismo, e por isso necessitam ser ingeridos via dieta (NRC, 2006).
São eles o ácido linoleico, um ácido graxo da família ômega 6 e
presente em óleos vegetais como o de soja, milho, canola, girassol,
prímula e em castanhas, e o ácido alfa-linolênico, um ácido graxo da
amília ômega 3 e presente em óleos vegetais como de linhaça,
canola, soja e também encontrado, em menores quantidades, em
cereais e leguminosas como arroz, feijão, ervilha, aveia, soja e em
verduras verde-escuras.

39
O óleo de coco se tornou um queridinho da nutrição humana na
última década, devido a diversos benefícios. Esse óleo possui várias
características únicas que podem ser responsáveis ​por esses
benefícios para a saúde, a principal delas é conter quase 50% de
ácidos graxos de cadeia média (MCFA), que são convertidos em
corpos cetônicos, que atravessam a barreira hematoencefálica e
fornecem energia para o cérebro. Além disso, os MCFA são oxidados
mais eficientemente, se depositando menos em tecido adiposo e
aumentando a termogênese induzida pela dieta e o gasto de
energia quando comparados aos ácidos graxos de cadeia longa
(LCFA). Outro ponto, é que os MCFA têm menos calorias por grama
em comparação com os ácidos graxos poliinsaturados (PUFA),
sugerindo efeitos benéficos sobre perda de peso. E mais que isso, o
óleo de coco apresenta outros compostos como polifenóis,
antioxidantes, vitaminas E, esteróis e fosfolipídios, que também são
relacionados aos efeitos benéficos de saúde relatados
(JAYAWARDENA et al., 2021)

Em cães e gatos, existem pucos estudos que avaliaram o óleo de


coco ou os triglicerídeos de cadeia média (TCMs) purificados e
efeitos benéficos tem sido constatado no que se refere
principalmente ao tratamento da epilepsia idiopática (HAN et al.,
2021), enquanto que efeitos relacionados a perda de peso e outros
parâmetros metabólicos ainda não foram suficientemente
comprovados (FLOERCHINGER et al., 2015; FRAGUA et al., 2015).
Ainda assim, todos os estudos que incluíram óleo de coco na
composição das dietas experimentais garantiam também o
fornecimento dos ácidos graxos essenciais via suplementação com
outros óleos vegetais poliinsaturados.

Já o azeite de oliva extravirgem é um ingrediente típico da dieta


mediterrânea, considerada uma das mais saudáveis do mundo, e é
utilizado pela população há muitos milênios. Os principais
componentes do azeite de oliva são os ácidos graxos livres
(principalmente os ácidos palmítico, palmitoleico, esteárico, oleico,
linoleico e o alfa-linolênico), os triglicerídeos, os acilgliceróis e outras
substâncias como os tocoferóis, fitoesteróis, compostos fenólicos
(oleuropeína), pigmentos, entre outros (JIMÉNEZ-SÁNCHEZ et al.,
2022). Essa associação do ácido oleico com as outras substâncias

40
são reconhecidamente as maiores responsáveis pelos efeitos
benéficos atribuídos ao uso contínuo do azeite de oliva, como os
efeitos anti-inflamatórios, anticoagulantes, vasodilatadores, anti-
câncer, anti-diabetes, da redução de doenças neurodegenerativas,
entre outras. Assim, pode-se concluir que o consumo de azeite é
benéfico para a saúde humana, desde que na dieta sejam atendidos
os teores de ácidos graxos essenciais. No entanto, estudos em cães
ou em gatos que tenham avaliado potenciais benefícios ou riscos do
consumo do azeite em relação a outros óleos vegetais ou animais
ainda são raros, de forma que ainda sabemos muito pouco ou quase
nada sobre seu uso nessas espécies.

Na tabela abaixo podemos notar que os óleos de cártamo, girassol,


noz, milho, soja, semente de algodão possuem mais de 50% de sua
composição em ácido linoleico, enquanto o óleo de linhaça é o mais
rico em ácido alfa-linolênico, seguido pelo óleo de soja e de noz.
Entretanto, o azeite de oliva e o óleo de coco são extremamente
pobres em ambos os ácidos graxos essenciais.

41
Por tudo isso, podemos concluir que o uso indiscriminado de azeite
de oliva e óleo de coco na dieta de cães e gatos saudáveis ou com
doenças não deve ser realizado, principalmente considerando que
são fontes de gordura pobres em ácidos graxos essenciais e cujos
efeitos metabólicos nessas espécies ainda não foram
suficientemente estudados. E mais que isso, não se deve substituir
outras fontes de gordura por esses óleos sem orientação de um
médico veterinário ou zootecnista com conhecimentos em nutrição
de cães e gatos, sob o risco de trazer alterações metabólicas
decorrentes da deficiência de ácidos graxos essenciais,
prejudicando o funcionamento adequado do organismo.

CONCLUSÕES

Tanto a alimentação natural quanto as rações podem ser benéficas


para a saúde do animal desde que sejam bem formuladas e de
qualidade. Não há uma única opção de dieta que seja a melhor para
todos os pets, visto que cada uma tem suas vantagens e limitações.
O importante é conversar com Nutricionista ou Nutrólogo de
confiança para que a escolha da dieta seja individual, baseado nas
necessidades do animal e nas possibilidades do tutor. Via de regra o
mais importante é fornecer uma dieta completa, balanceada e de
boa qualidade, independentemente de ser em forma de ração ou
alimentação caseira.

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PROFA. DRA.
SOBRE A AUTORA: LUCIANA D. DE OLIVEIRA

Médica Veterinária formada pela UNESP de Jaboticabal (2002)

Mestrado (2005) e Doutorado (2009) na área de Nutrição de Cães e Gatos


pela UNESP de Jaboticabal.

Realizou estágio de doutoramento na Universidade LMU,


Munique/Alemanha (2007)

Trabalhou nas duas principais indústrias multinacionais de alimentos para


cães e gatos no mundo, a Royal Canin do Brasil e a Nestlé Purina América
Latina.

Foi docente no curso de Graduação e Mestrado da Universidade de Santo


Amaro (UNISA) entre 2012 e 2015

Desde 2020 é docente da Pós-graduação em Nutrição de Cães e gatos do


Qualittas

Há mais de 10 anos é membro do Comitê Técnico do Colégio Brasileiro de


Nutrição Animal Pet (CBNA PET).

É colunista fixa na seção de Pet Food da Revista Cães & Gatos desde abril de
2019

É autora e coautora de diversos artigos científicos nacionais e


internacionais, textos, resumos e livros sobre nutrição animal, e é
palestrante em eventos nacionais e internacionais

Em 2018 Fundou a NaturaliaPet, uma empresa que presta consultoria para


empresas na área de pet food. Também realiza atendimento especializado
em Nutrologia Clínica de Cães e Gatos,

Atualmente exerce o cargo de Food Innovation Specialist Senior na


empresa Petfive Brands, totalizando mais de 20 anos de experiência na
área.

47
PROFA. DRA.
SOBRE A AUTORA: MANUELA MARQUES FISCHER

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul


(2008)

Mestrado com foco em nutrição de cães e gatos na UFRGS com período na


UNESP - Jaboticabal

Doutorado na mesma área pela UFRGS

Pesquisadora visitante durante o doutorado na Universidade da Califórnia,


UCDavis

Recebeu prêmio de pesquisa em 2016, ficando em primeiro lugar da América


Latina na Competição Jovem Cientista da empresa Alltech.

Foi docente no curso de Graduação em Medicina Veterinária da UNIRITTER


ministrando as disciplinas de Nutrição Animal e Bioquímica entre 2016 e 2018.

Membro do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal Pet (CBNA PET).

Palestrante em mais de 60 eventos de Medicina Veterinária desde 2010

ATUAÇÃO PROFISSIONAL ATUAL:

Atende em clínica veterinária como nutróloga desde 2011.

Responsável técnica de empresa de Alimentação Natural desde 2014 – PetPapá

É mentora e professora do curso de Pós-graduação em Nutrição de Cães e


Gatos da Faculdade Qualittas desde 2015

Embaixadora MARS Petcare desde 2017

Representante e consultora da INOVET desde 2020

Consultora de empresas nacionais e internacionais, auxiliando na área de


registro de estabelecimento e de produto no Ministério da Agricultura e outros
assuntos regulatórios.

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