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Mala Direta Pos. Basica so123237092019.08 RS CRPRS 11 CORREIOS entre linhas wit, | OZCRR Jul-Ago-Set 2014 ongur x gNGO - 18304 A - * A, 354/20: a a # RTO ALEGRE - RS DO CONSULTORIO AS RUAS: O COMPROMISSO SOCIAL NAS PRATICAS DO(A) PSICOLOGO(A) Muito mais do que um discurso, o conceito de compromisso social est presente no dia a dia dos(as) psic6logos(as) nos mais diferentes campos de atuaSo: na Clinica, na Educagéo, no Trabalho, na Avaliagao Psicolégica, nas Politicas Publicas e em outras éreas. Ao completar 40 anos, o CRPRS propde & categoria uma reflexao sobre a contribuicao das diferentes praticas profissionais a sociedade, CRPRS lanca campanha em homenagem ao Movimento da Luta Dia do Psicologo Antimanicomial -, pag. 3 pag. 12 40 anos do CRPRS © Félix Guazina: Psicologo, Mestre ‘em Psicologia Social ‘eda Personalidade, Docente da Unifra, Do consult6rio as ruas: o compromisso social nas praticas do(a) psicdlogo(a) ‘Ao completar 40 anos, 0 CRPRS pro- poe a categoria uma teflexdo sobre a con- tribuicao das diferentes praticas profissio- nais a sociedade. Muito mais do que um discurso, 0 concelto de compromisso social esta presente no dia a dia dos psicologos nos mais diferentes campos de atuacdo: na Clinica, na Educacao, no Trabalho, na Ava~ Tiacao Psicolégica, nas Politicas Pablicas ete, Falar de uma pratica comprometida socialmente significa falar de uma atuacao implicada com o contexto em que vivernos ‘que busca a transformagao da vida. (Ge = cent enies fuer eccite Para Félix Guazina, que atua na For- magao e na Clinica, 0 compromisso so- cial neseas areas esta relacionado a uma questao de ética, “Nao ha como conce- ber uma Clinica que seja descontextua- lizada de uma politica, compreendendo essa como as aches da prévis que trans- formam as vidas das pessoas. Na do- céncia a questa do compromisso social torna-se algo mais radical, na medida em que 0 escopo da producao de conhe- cimento esté na constiucao de saberes que incidem no social e que produzem modos de viver mais dignos para todos cs segmentos da sociedade” ‘A Psicanalise, relacionada a tradicao positivista das ciéncias humanas, foca- ~se na ética do desejo e, devido a isso, € exoneamente taxada de elitista e aliena- da socialmente. “Fazer com que o sujeito advenha com a consisténtia necessaria para responsabilizar-se por aquilo que deseja nao significa dizer que seja, desde uma perspectiva individualista, um su- jeito fascinado pelo seu proprio narcisis- mo e dlienado do mundo onde vive. Ao contrario, desde Freud, a proposicao psi- canalitica de que a Psicologia individual € a0 mesmo tempo, Psicologia Social e a tese de Lacan de que o inconsciente é 0 discurso do outro, nio deixam dividas do quanto a revolucao subjetiva que uma anilise possibilita articula-se em seus efeitos a posicao do sujeito no mundo, in cluindo-se ai a esfera coletiva e politica”, afirma Siloé Rey. ‘A Psicologia do Trabatho exerce seu compromisso social ao ter sua agéo orientada para a transformacao das rela- Ges e processos de trabalho, discutindo € problematizando 0s modos de traba- Ihar na contemporaneidade. Conforme Tatiana Baierle, “trata de fazer uma in- terlocucao entre o mundo do trabalho e a subjetividade humana de modo a po- tencializar este espaco como territorio de producao de sentido, relacdes, vida. Contribuir para que as relacdes do e no trabalho sejam melhores implica nes te compromisso ético (de promocao do respeito a vida).e politico (de necessi- dade de implicacao deste saber-fazer da Psicologia com as diferentes questoes que produzem a subjetividade)” ‘Uma Avaliacao Psicologica, por exem- plo, pode se configurar como uma forma de auxilio ou exclusio. “Um parecer ou laudo psicol6gico pode ter um efeito liber- tador ou estigmatizador na vida de um in- dividuo. A Avaliagao Psicol6gica entrela- ‘cada pelo conceito de compromisso social € aquela que prima pela exatidao técnica, pela clareza teOrica, pela ética e pela pers- pectiva politico-social que seu resultado tera para individuo e sociedade”, actedita Anderson Comin. Simone Courel destaca como sua pré- tica esta relacionada ao conceito de com- ‘promisso social. “Afuar na rea Clinica ou em instituigdes educativas com compro- isso social entre os anos de 1990 ¢ 2000 era um ato revolucionario, pois a Psicolo- gia ainda era muito vista, principalmente fora da academia, como uma ciéncia e pra- tica focada no individuo e sua ‘adaptacéo a0 meio’. Entender que 0 sujeito com 0 qual se lida é um sujeito ‘biopsicos- -social’, com suas singularidades, inse- vido, construido e construindo a realida- de que o cerca, ¢ fundamental na minha pratica profissional.”, afirma Simone. Na atuacao em Psicologia Educacional, 0 com- promisso social implica no questionamen- to. do modélo tradicional e das praticas conservadoras, padronizadas e pautadas ‘no paradigma cartesiano ainda presente za filosofia educacional e no sistema de en- sino de mnitas instituigGes educativas, “O compromisso com a incluso se da pela promosao e exercicio da critica constru- tiva, respeitando 0 proceso de todos os atores do contexto educativo. Assim, meu fazer 6 um ato comprometido a refletir, agir e promover 0 mesmo em cada sujeito deste processo”, explica ‘entre Unhias | jul_aeo-set 2014 © Siloé Rey: Psicéloga, Especialista em Psicologia Clinica, Mestre em Psicologia Social e da Personalidade, Psicanalista Membro dda APPOA, Tatiana Baierle: Psic6loge, Doutoranda e Mestre em Psicologia Social e institucional, Docente da PUCRS. Anderson Comin: Psicologo, Pés-graduado ‘em Avaliagao Psicologica, Consetheiro do CRPRS. ‘Simone Courel: Psicéloga, Especialista em Psicopedagogiae Neuropsicologia, 40 anos do CRPRS © ‘Aline Hernandez: Psicéloga, Doutora em Psicologia Social e Metodologia, Professora Adjunta dda UERGS. Aline Hernandez, que trabalha com Psicologia Politica e Psicologia Social, teve sua pratica muito influenciada pe- Jos movimentos sociais, 0 que se reflete em uma atuacao profissional com “altas doses de ativismo”, como ela mesma de- fine, “A discussio aberta sobre os con- flitos, 0 espaco de voz para os que ain- da nao puderam falar, a possibilidade de autogestao ou 0 "faca voce mesmo” quando as instituicdes fracassam, 0 e: paco para a inventividade, para a cri: do, para o pensamento grupal, a troca ¢, talvez, o mais importante: nao desis- tir nunca, apesar de nem sempre conse- guir o que pretendiamos”. De que compromisso social estamos falando? Para 0 Sistema Conselhos, 0 conceito de compromiisso social esté relacionado a construcdo de praticas comprometidas com a transformagio social, em direcdo a uma étiea voltada a emancipacao huma- na, a defesa da democracia e das politicas Pablicas como elementos centrais para a melhoria da qualidade de vida da popu- lagdo, & participacao politica e aos movi- mentos de rompimento da profissao com sua tradicao elitista As responsabilidades que individu- al ou coletivamente sao assumidas pelos profissionais na sociedade caracterizam 0 compromisso’ social, para Anderson Co- min, “Embora algumas formas de rela- ges em sociedade sejam estipuladas pela via legal, o compromisso social abarca um modo de vida que vai além, devendo ser pautado pelo principio da alteridade” "O compromisso social O compromisso social representa também “buscar diminuir as desigual- dades sociais, atuar na desconstrucio de preconceitos e estereotipos e agir para a promocao do respeito e da producdo de vida”, conforme descreve Tatiana Baierle. A busca por uma sociedade mais justa © igualitaria também é destacacia por Si- mone Courel. Para ela, esse compromisso estd relacionado a postura de correspon- sabilizagao intrinseca a profissao. “Com- promisso social nao é discurso, é envolvi- mento, posicionamento, reflexdes e aces, consfderando a comunidade € a socieda- deem questao” Essa corresponsabilidade existe quan- do o psicélogo sente-se participe de uma situacao. “Para que essa dimensao ativis- ta aconteca 6 fundamental um sentimento forte de identidade, de pertencimento, de abarca um modo de vida que vai além, devendo ser pautado pelo principio da alteridade". 8 © entre tinhas |jul-ago-set9014 sentir-se parte, de reconhecer-se na luta e um sentimento de eficécia, de que o fato de lutar fara a diferenca, de que o com- promisso social 6 uma instancia ética, re- lacional, proximal de crescer existencial- mente a partir do ‘outro’ social”, destaca ‘Aline Hernandez. Entendendo que as praticas da Psi- cologia produzem transformacdes em todas as esferas, Félix Guazina salien- ta a forte relagdo existente entre 0 fazer profissional e a sociedade. “A Psicologia uma area do conhecimento humano que possui uma historicidade e que esté atenta as demandas fabricadas no coti- diano por sujeitos ecoletivos reais e nao abstratos ea-historicos’” Siloé Rey defende a substituicae do termo compromisso social para respon- sabilidade social, para ampliar sew en- tendimento: “A palavra compromisso deixa margem a uma solucdo interme- diaria entre © comportalismo adaptacio- nista e a Psicologia Social. Por que no utilizamos a expressa_responsabilida- de social, essa sim, sem margens no que est4 em questdo em nossa intervencao? Nesse sentido, também apontaria para a responsabilidade do profissional quanto a sua formacio, com seus intimeros pro- blemas € inconsisténcias que posterior mente acabam incidindo nas Comissies de Onentncia € Pecalaagttve Ears Sistema Conselhos” ‘entre linhas | jul-ago-set 2014 40 anos do CRPRS 10 Uma Psicologia em constante movimento A Psicologia vive uum proceso de do da socie- transformacdo. “Apesar da vi dade ainda ser caicada sobre um modelo clinico tradicional e 0 psicologo ainda ser visto de modo hegemonico como o profis- sional da clinica privada individual, em ‘uma visio estereotipada, vao se construin- do outros campos de atuacao além dos tra- dicionais e, mesmo nesses, faz-se presente a possibilidade a necessidadle de um fa- zer diferenciado, como 6 0 caso, por exem- plo, da construcao do campo das Clinicas do Trabalho, na Psicologia do Trabalho”, afirma Tatiana Baierle Essa ideia de movimento se traduz nas mudangas de foco e percepsio da atuagao dos profissionais. “A percepcio da socie- dade é a de que nossa profissao é deten- tora de um saber e, por conseguinte, da possibilidade de respostas para as mai variadas questdes de ordem emocional e comportamental. Essa distorgdo provera equivocadas opinides da sociedade que ora pode ver a Psicologia como uma solu- ‘gad magica, ora como um artificio téenico de pouca ulilidade, Aceitar qualquer um esses lugares implica em um risco para si enquanto profissional, para a imagem da rofissdo e para o compromisso social que a mesma busca afirmar perante a socieda- de’, explica Anderson Comin. Para Felix Guazina, as mudancas pe- las quais a Psicologia vem pasando con- tribuem para a ampliacao das possibili- dades de atuagao do psicélogo. “Acredito que aos poucos estamos saindo de uma ‘entre Unhas | jul-ago-set 2014 heranca da profissAo marcada por uma pritiea individualista e descontextuali- zada do contexto social, para uma profis- sao comprometida com as realidades das demandas de um pais como 0 nosso, que possui muitas desigualdades” “Muito j4 foi superado no sentido dé uma ideia estereotipada e fechada que atrelava a Psicologia a pratica Clini- ca. Vejo que a Psicologia vem ganhando muito espaco no terreno das politicas pa- blicas, das politicas e organizas6es vin- culadas aos direitos nmanos em geral. Trata-se de um momento de abertura de maior compreensao de que atuamos numa area interdisciplinar e que nossas caréncias epistemolégicas podem ser dis- solvidas a partir do encontro com outros saberes, de novas tramas de conhiecimen- tos”, acredita Aline Hernandez, ‘Assim, compelicla a uma producao de conhecimento cada vez mais relacionada as politicas publicas, a Psicologia vem sendo chamada a adotar uma postura po- Iitica © um discurso social. “Inicialmente voltou-se para as populagdes mais caren- tes e minorias, abrindo espaco para pré- ticas diferentes dos modelos tradicionais € propondo acdes transformadoras da realidade, No entanto, infelizthente, ain- da percebemos dificuldades significativas de acde8 realmente engajadas com as de- mandas reais, contextualizadas, visando a0 empoderamento dos sujeitos e com cri- ticas efetivas no plano da aco, para alm do discurso, A sociedade, por sua vez, 20 ‘mesmo tempo ein que demanda transfor- macées, também conclama da Psicologia a solugdo magica para os males psicosso- ciais e o enquadramento dos individuos a condutas adaptativas e inseridas”, analisa Simone Courel. CRPRS: 40 anos de historia Alem de fiscalizar e orientar, 05 Con- selhos Profissionais sao solicitados a pro- mover reflexdo e contribuir com a cons tmucdo da propria profi transformagoes nos modos de vida das 0, a partir das pessoas e dos contextos nos quais sua pré- tica se faz presente. “Nos tiltirhos anos, 0 CRPRS vem se propondo a uma insergao cada vez maior nas politicas piiblicas, olhando para os de- safios da sociedade atual, levantando a im- porténcia de um fazer ético e comprometi- do com as necessidades sociais e voltado para os direitos humanos, Acredito que as reflexdes coletivas € criticas sobre o nosso proprio fazer sao fundamentais neste ca- minhar constante de compromisso social”, afirma Simone Courel Para Tatiana Baierle, o CRPRS apresen- ta uma trajetdria de envolvimento direto ra construcio do compromisso social da Psicologia. "Vejo o CRPRS como um dos regionais mais implicados com esta pers- pectiva de afirmacdo de uma psicologia plural. A cultura de fragmentacao existen- tena profissdo faz.com que muitos pensem a atuacao do CRPRS focada em uma rea especifica e em interesses. particulares, Precisamos superar essas questies, com- preendlendo que a riqueza desta ciéncia e pprofissio encentra-se justamente na multi- plicidade”, acredita Tatiana. A descentralizagao das agoes do Con- selho € vista como fundamental para for- talecer a profissdo em todo o estado. “Es- pero que 0 CRPRS continue promovendo didlogos pertinentes entre a categoria € a Sociedade e que continne apostando ria in- teriorizacao", declara Félix Guazina. Para os proximos anos, 0 grande desa- fio € buscar uma aproximacao ainda maior com a categoria, com reas de atuacdo tio diversas, “Desejo que o CRPRS possa ‘afe- tar’ mais os psicslogos, no sentido de que se envolvam ainda mais com as questes sociais e politicas de nossa categoria”, su- gere Aline Hernandez, Acontribuigao com a formagio dos no- vvos psicéloges € outro grande desafio, “ Sistema deve voltar-se ainda mais para as questies referentes a formacio, articulan- do-se com as outras instancias da profissdo a clas referidas para engrossar esforgos que garantam uma qualidade de escuta que si- {ue 0 sujeito para além de seu narcisismo", acredita Siloé Rey. ‘ J8 Anderson Comin, que é conselhei- 7 do CRPRS, projeta muito trabalho na promocéo da Psicologia pela garantia de direitos e contra quaisquer formas de se- gregacdo. “Espero que possamos trabalhar © compromisso social da Psicologia de forma transversal aos mais diversos cam- pos de atuacio da categoria, possibilitan- do que ela possa ver seu Conselho como parceiro na busca pelo reconhecimento da profissao e por uma Sociedade mais huma- na e mais justa” entre Uinhas |jubago-set 2014 11

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