You are on page 1of 12

Antecedentes e realizações da

• Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do liberalismo. O peso do Antigo Regime fazia-se nas
pesadas obrigações senhoriais que condenavam os camponeses á miséria e na intransigência do absolutismo
assente na ação repressiva da Inquisição.

• No entanto, principais centros urbanos, burgueses e intelectuais, muitos deles filiados em lojas maçónicas,
discutiam ideias de mudança. Uma conjuntura favorável abriu caminho á concretização das suas aspirações,
devido, em grande parte, ao impacto das invasões francesas.

As invasões francesas
• Decidido a abater o poderio da Inglaterra, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental, nos termos do
qual nenhuma nação europeia deveria comerciar com as ilhas Britânicas.

• Fiel á sua velha aliada, mas não querendo hostilizar o imperador dos franceses e arriscar uma mais que certa
invasão da França e da Espanha, o príncipe regente D. João adotou uma política ambígua. Esta atitude custou ao
país, o flagelo das três invasões napoleónicas.

• Napoleão invade Portugal pois não tinha capacidade de invadir Inglaterra, e ao decretar Bloqueio Continental,
aqueles que não aceitassem seriam alvo de invasões.

• O embarque da família real para o Brasil, que de colónia passou a sede de Governo (Rio de Janeiro), permitiu a
Portugal manter a independência do Estado.

• O prelo a pagar revelou-se bem alto. Não só pela devastação e pela destruição causadas por quatro anos de
guerra com a França, mas, especialmente, pelo domínio político e económico que a Inglaterra exerceu,
doravante, entre nós.

Corte ausente, ingleses presentes

• Portugal viveu na dupla condição de protetorado inglês e de colónia brasileira. D. João VI teimava em
permanecer no Brasil, proclamado reino, para grande descontentamento dos portugueses, que sofriam a
humilhação da presença inglesa.

• O merechal Beresford, incumbido de reestruturar o exército e organizar a defesa do reino contra os franceses,
tornou-se generalíssimo e comandante-chefe das tropas portuguesas, nas quais britânicos ocupavam as mais
altas patentes. Os seus poderes chegaram, inclusive, a sobrepor-se aos da Regência.

• Beresford exerceu um rigoroso controlo sobre o funcionalismo e a economia, enchendo as prisões de suspeitos
de jacobinismo.

1
Entretanto, a situação económica e financeira assumia contornos de elevada gravidade: as despesas ultrapassavam
as receitas, a agricultura definhava e o comércio decrescia. Para esta situação muito contribuíram os seguintes
fatores:

• A abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, a perda do exclusivo comercial com a
colónia, que abastecia a metrópole de alimento e matérias-primas e que constituía um mercado
garantido de escoamento para os produtos manufaturados nacionais, revelou-se desestruturante
para a economia portuguesa;

• O tratado de comércio com Grã-Bretanha- considerado uma espécie de confirmação do Tratado


de Matheun, permitiu a entrada com grandes facilidades das mercadorias britânicas,
nomeadamente as manufaturas, em Portugal e nos seus domínios.

Privada de lucrativos negócios, em consequência da conjuntura atrás relatada, a burguesia portuguesa sofreu,
naturalmente, sérios prejuízos.

Rebelião em marcha

• Não espanta que a preparação da rebelião tenha ficado a cargo da burguesia, com especial destaque para a que
estava radicada no Porto, notável centro de atividade mercantil.

• Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação daquela cidade, fundou uma associação secreta como
nome de Sinédrio, cujos membros pertenciam, na quase totalidade, á Maçonaria.

• Atento á marcha dos sucessos políticos, o Sinédrio propunha-se a intervir logo que a situação se revelasse
propícia, o que veio, efetivamente, a acontecer.

• Nesse mesmo ano, na vizinha Espanha, uma revolução liberal restaurou a Constituição de 1812. A Espanha
tornou-se, então, centro de uma grande agitação política e Portugal passou a receber muita propaganda liberal,
que compreendia panfletos e edições traduzidas da Constituição espanhola.

• Perante a situação, o pânico começou a fazer-se sentir entre os membros da Regência, admitindo que os ventos
liberais podiam também começar a soprar em Portugal.

• Finalmente, Beresford embarcou para o Rio de Janeiro, a fim de solicitar ao rei dinheiro para pagamento das
despesas militares, além de mais amplos poderes para reprimir a crescente onda de agitação.

• A ausência do marechal favoreceu a ação do Sinédrio, cujos membros se lançaram com entusiamos no
aliciamento de figuras militares capazes de consumar a tão desejada revolução.

2
A revolução de 1820 e as dificuldades de
implantação da ordem liberal
O vintismo

• O pronunciamento militar sucedido no Porto, a 24 de agosto de 1820, processou-se de forma pacífica e ordeira.

• O sucesso deste movimento ficou a dever-se á união de militares e burgueses prejudicados nos seus interesses
pela presença britânica: os primeiros, por se verem preteridos pelos ingleses nas promoções; os segundos, por
se sentirem afetados pela concorrência inglesa, nomeadamente no comércio com o Brasil.

• Nesse mesmo dia, o Conselho Militar reuniu-se com as autoridades municipais do Porto e em conjunto
declararam constituída a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino.

Governo Provisional: é aquele que detêm o poder executivo, mas não foi sufragado (eleito) não foram eleitos
segundo as regras da Constituição, governo antes da Constituição.

• Dela, fizeram parte os principais dirigentes da revolução.

• Este governo provisório propunha-se a substituir a Regência de D. João VI, mantendo-se em funções até à
instalação das Cortes que elaborariam a Constituição.

• A Manuel Fernandes Tomás coube a redação do Manifesto ao Portugueses, no qual se davam a conhecer razões
e os objetivos do movimento. Quantos às razões, aponta a situação catastrófica em que o reino se encontrava e
a incapacidade de governar de Regência. Quanto aos objetivos, defendia a convocação de Cortes que
aprovassem uma sábia Constituição, a soberania popular e o liberalismo.

O triunfo da revolução vintista

• A 15 de setembro foi a vez de Lisboa repetir o pronunciamento militar semelhante ao do Porto, responsável pela
expulsão dos regentes e pela Constituição de um governo interino (provisório).

• Com a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino reconheceu, a revolução triunfou sem derramamento se
sangue. Para este sucesso muito contribuiu a conjugação de interesses entre militares e burgueses, sobretudo
no desejo de afastar os ingleses do comando militar e da ingerência nos negócios nacionais.

• No entanto, as tensões políticas entre os principais atores revolucionários, já verificadas no período de


preparação da rebelião, acabaram por assombrar os primeiros tempos liberais.

• De facto, o movimento acabou por se dividir em dois grupos:

✓ Os dos militares, encabeçado pelo brigadeiro Fernandes Tomás (outra figura importante na revolução
liberal);
✓ O dos civis, liderado por Manuel Fernandes Tomás;

• As eleições para as Cortes Contribuintes, através de sufrágio indireto, tiveram finalmente lugar em dezembro de
1820. Os deputados eleitos eram, na sua maioria, militares, magistrados, professores, universitários e membros
das profissões liberais, composição socioprofissional que influenciaria a legislação emanada pela assembleia.

• processo leitoral era composto, essencialmente, por 3 fases:


3
✓ Fase 1 (realizada ao nível de Freguesia): os cidadãos elegem os Eleitores Paroquiais.
✓ Fase 2 (realizada ao nível da Comarca): eleitores paroquiais nomeiam os eleitores da comarca
✓ Fase 3 (realizada ao nível das províncias): eleitores de comarca elegem os deputados às cortes.

A constituição de 1822

• Nas primeiras reuniões das Cortes Constituintes, os deputados eleitos juraram ser fiéis ao rei, á Constituição e á
religião católica.

• A Constituição de 1822 é um longo documento, baseado na Constituição espanhol de 1812 e nas Constituições
francesas de 1791, 1793 e 1795.

• Nele estão presentes grandes princípios do constitucionalismo liberal: os direitos á liberdade, á segurança e á
propriedade, logo nos primeiros artigos; a igualdade perante a lei, a soberania da Nação; a separação de
poderes.

• Em contrapartida, não reconhece qualquer privilégio ao clero e á nobreza e submete o poder real á supremacia
da Cartas Legislativas.

• Demasiado progressista para o tempo, a Constituição de 1822 foi fruto da ala mais radical dos deputados
presentes às Cortes Constituintes, cuja ação é conhecida por vintismo.

• Vintismo: Tendência do liberalismo português, instituída na sequência da Revolução de 1820, o vintismo foi
elaborado á luz do iluminismo e por isso defende posições como: a soberania popular, não reconhece situação
de privilégio á nobreza e ao clero…

• Cartismo: Cartista ou Cartismo é a designação que se deu em Portugal á tendência mais conservadora do
liberalismo surgido após a revolução de 1820 centrada em torno da Carta Constitucional de 1826.

• Aprovado a 23 de setembro de 1822 o texto constitucional consagrava a divisão tripartida dos poderes, assim
distribuídos:

✓ Legislativo: entregue a uma única câmara, as Cortes Legislativas, cujos deputados eram eleitos através
de sufrágio direto por homens maiores de 25 anos que soubessem ler e escrever;

✓ Executivo: exercido pelo rei, que podia recorrer ao veto suspensivo, isto é, quando não concordasse com
uma lei, poderia remetê-la ao Congresso para efeito de segunda votação, mas esta seria definitiva e de
aceitação obrigatória para o monarca;

✓ Judicial: exercido pelos juízes e tribunais, com absoluta independência perante as Cortes e o rei.

• No fundo, a verdadeira soberania residia nas Cortes, representativas da ação. A autoridade régia saía
profundamente diminuída, o que não inviabilizou a aceitação e juramento da Constituição por D. João VI.

• A Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação ou Cortes Constituintes Vintistas, foram o primeiro parlamento
português no sentido moderno do conceito. A sua base estava, em grande parte, idealizada nas Cortes Gerais.

4
A legislação vintista

• Embora centradas na elaboração da Constituição e na instauração do primeiro sistema de governo parlamentar, as


Cortes legislaram em muitos outros domínios propondo grandes reformas para eliminar as estruturas do Antigo
Regime.
Entre as medidas mais significativas que as Cortes tomaram, contam-se:

✓ A extinção da Inquisição;
✓ A abolição da censura prévia e a instituição da liberdade de imprensa;
✓ A fundação do primeiro banco português, o Banco de Lisboa (fator de desenvolvimento);
✓ A transformação dos bens da Coroa em bens nacionais;
✓ O encerramento de numerosos mosteiros e conventos e a suspensão do pagamento da dízima á Igreja;
✓ A eliminação dos privilégios judiciais quanto a assuntos criminais e civis;

• Os deputados vintistas, respondendo a inúmeras petições chegadas às Cortes, procederam ainda a uma reforma dos
forais.

• A ação do vintismo revelou-se plena de contradições. Se, no plano político, foram adotadas medidas
inequivocamente liberais, no domínio socioeconómico, a legislação vintista manifestou-se precária.

• O facto de muitos deputados serem proprietários rurais explica a atitude protecionista das Cortes liberais,
comprovada pela continuidade dos privilégios económicos da Companhia das Vinhas do Alto Douro e pela proibição
da importação de produtos como os cereais, o azeite e o vinho.

Brasil nos trilhos da independência

Fuga da família real para o Brasil


Com o embarque da família real para o Brasil, a colónia passou a ser sede de Governo.

A corte portuguesa residiu no Brasil de 1808 a 1821, período de extraordinário progresso econômico, político e
cultural daquele território, elevado a reino em 1815.

O Brasil abandonou a sua condição de colónia e o Rio de Janeiro assumia-se como a sede da monarquia portuguesa.
Para que isto acontecesse, contribuíram os seguintes fatores:

• Aos portos abertos


• Indústrias
• Banco Nacional
• Tribunais
• Instituições de ensino
5
• Biblioteca
• Imprensa local

Benefícios do Brasil com a presença da corte:


Com a fuga da família real para o Brasil, o mesmo sobe à condição de reino tornando-se mais importante que
Portugal

A nível político:

• Passa a ser a sede de Governo

A nível econômico

• Abertura dos portos brasileiros

A nível social e cultural:

• Sociedade e cultura brasileira ganham importância

Importância da abertura dos portos brasileiros:

Com abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, o comércio brasileiro passou a ser muito superior ao
comércio com o resto das processões coloniais portugueses da época.

Com a publicação da Carta Régia de 28 janeiro de 1808, o Brasil obteve benefícios como:

• Permissões da entrada, no Brasil, de produtos transportados por navios estrangeiros


• Autorização da exportação por comerciantes estrangeiros dos produtos coloniais brasileiros, à exceção do
pau Brasil
• Suspensão da legislação que interditava o comércio entre os colonos brasileiros e os comerciantes de outras
nações.

Luta dos colonos brasileiros pela independência:

• Junto com estas características temos também o sentimento de liberdade coletiva vai, em 1789, gerar uma
rebelião.

• Dirigida por estudantes e homens esclarecidos que chegaram a projetar a independência de Minas Gerais e a
formação de um governo republicano.

• A revolta ficou conhecida por Inconfidência Mineira.

• Outro movimento independentista sucedeu em 1817: Revolução Republicana de Pernambuco. Defendia o


separatismo do Nordeste Brasileiro, mas foi fracassada.

A independência do Brasil

• A política antibrasileira das Cortes Constituintes de Portugal acabou por acelerar o processo de independência
daquele território. A maioria dos deputados queria restituir o Brasil à condição de colónia.

• Quiseram anular os benefícios comerciais atribuídos ao Brasil e de subordinar administrativa, judicial e


militarmente Lisboa.

• Uma ordem de regresso foi dada a D. Pedro a pretexto de concluir a sua educação na Europa.

6
• D. Pedro permaneceu no Brasil. A tensão era tal que as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil eram
consideradas inimigas.

• A independência foi, por fim, declarada por D. Pedro a 7 de setembro de 1822, mas esta só foi reconhecida por
Portugal em 1825.

A resistência ao Liberalismo
A revolução de 1820 deparou-se com várias dificuldades:

• Grandes potências procuravam eliminar os vestígios da Revolução francesa;

• Vários diplomatas portugueses opunham-se à instauração do Liberalismo, procurando apoio externo junto de
forças conservadoras europeias;

• A nobreza e o clero mais conservadores estavam descontentes com o radicalismo da Constituição e sentiam-se
prejudicados pela abolição de antigos privilégios senhoriais.

• A rainha D. Carlota Joaquina recusa jurar a constituição dá apoio ao clero e nobreza para organizar uma
contrarrevolução.

• A contrarrevolução eclodiu em 1823 onde a monarquia absolutista fora restaurada na pessoa de Fernando VII,
irmão da rainha Carlota.

• Dois regimentos de Lisboa, mandados para defender a fronteira de um eventual ataque, revoltaram-se em Vila
Franca, juntamente com o infante D. Miguel, que assumiu a direção do movimento.

• A revolta conhecida como Vila-Francada terminou quando o rei D. João VI retomou o comando da situação,
defendendo a alteração da Constituição.

• As cortes ordinárias, manifestando a sua oposição relativamente a qualquer alteração do texto constitucional,
interrompendo as sessões. Controlada a resistência parlamentar, D. João VI remodelou o governo, entregando-o
a absolutistas e liberais moderados e nomeou D. Miguel comandante-chefe do Exército.

• No entanto, em abril de 1824 os partidários de D. Miguel prenderam os membros do Governo e semearam a


confusão em Lisboa, no sentido de levar o rei a abdicar e a confiar a regência à sua esposa. D. João VI conseguiu
travar o golpe conhecido por Abrilada.

Carta constitucional e a tentativa de apaziguamento político-social


• Após a morte de D. João VI, as tensões agravaram-se.

• D. Pedro considerou-se o legítimo herdeiro da Coroa Portuguesa, no entanto o mesmo era detentor da Coroa
Imperial brasileira sendo, então, considerado um estrangeiro o que pelas leis vigentes quanto à sucessão,
tornava-o inelegível para o trono português.

• A 26 de Abril confirmou a regência da sua irmã, infanta D. Isabel Maria.

• No dia 29 de outubro, outorgou um novo diploma constitucional, mais moderado e conservador- a Carta
Constitucional.

7
A carta Constitucional de 1826 introduziu várias medidas conservadoras:

• As cortes passaram a funcionar num sistema bicamaral- Uma câmara de deputados eleita através de sufrágio
indireto e censitário e uma Câmara dos Pares constituída pela nobreza, o clero, o príncipe real e os infantes,
nomeados a títulos vitalícios e hereditários;

• Reforço do poder régio- através do poder moderador, o rei podia nomear os Pares, convocar as cortes e
dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir o Governo e vetar a título definitivo as resoluções das
Cortes;

• Os direitos do indivíduo foram relegados para o fim do diploma.

D. Pedro abdicou dos seus direitos à Coroa portuguesa na filha mais velha, a princesa D. Maria da Glória até D.
Miguel regressar a Portugal e jurar o cumprimento da Carta Constitucional e assumir a regência do Reino de
Portugal.

A Guerra Civil
• D. Miguel regressou a Portugal e jurou a Carta Constitucional, no entanto, esta adesão ao Liberalismo durou
pouco, porque pouco tempo depois fez-se aclamar rei absoluto por umas Cortes convocadas à maneira
tradicional, isto é, por ordens.

• Com medo, milhares de liberais fugiram de Portugal para França e Inglaterra onde organizaram a resistência.
Aqueles que ficaram sujeitaram-se a uma repressão sem limites.

• Em 1831, D. Pedro abdicou do trono brasileiro e veio lutar pela restituição à filha do trono português.

• Mobilizou influências diplomáticas nas cortes europeias, conseguiu recursos necessários à constituição de um
pequeno exército.

• Em fevereiro de 1832, cerca de 7500 homens partiram da ilha Terceira desembarcando em Mindelo. Seguiu-se a
ocupação da cidade do Porto, contrariando as expectativas do exército miguelista que se encontrava
concentrado nas proximidades de Lisboa.

• Na cidade do Norte, cercada pouco depois pelos absolutistas, viveu-se o episodio mais dramático de confronto
entre liberais e absolutistas.

• A guerra civil durou 2 anos. Os vencedores foram os liberais, instalando definitivamente o liberalismo em
Portugal.

Antigo regime: O Antigo Regime foi um sistema social e político estabelecido na França. Trata-se principalmente de
um regime centralizado e absolutista, em que o poder era concentrado nas mãos do rei.

8
A ação reformadora da regência de D. Pedro
Desde que assumiu a regência liberal, D. Pedro não se poupou a esforços para que o cartismo triunfasse e à sua
sombra se construísse o Portugal novo.

Ação política de Mouzinho da Silveira


A Mouzinho da Silveira, ministro da fazenda e da Justiça coube a autoria das grandes reformas legislativas que
consolidaram o liberalismo.

Demoliu o Antigo Regime ao legislar nos mais variados domínios:

Propriedade:

• Aboliram-se de vez os pequenos morgadios, os forais e os dízimos e extinguiram-se os bens da Coroa e


respetivas doações

Comércio:

• aboliram-se as portagens e encargos sobre a circulação interna de mercadorias, e quanto ao comércio


externo, diminuíram-se os direitos de exportação;
• suprimiram-se os monopólios do sabão e do vinho do Porto;
• Publicou-se o primeiro código comercial que refletia sobre os princípios de livre produção e circulação dos
produtos, isto é, do liberalismo económico.

Administração

• Desenhou-se uma nova organização administrativa, de índole mais centralizadora


• O país ficou dividido em províncias, comarcas e concelhos, tendo à frente funcionários de nomeação régia

Finanças

• Substituiu-se o secular sistema de tributação local, através do qual grande parte dos impostos revertia a
favor da nobreza e do clero, por um sistema de tributação nacional

Justiça

• Introduziu-se o princípio do júri nos tribunais e dividiu-se o território em círculos judiciais


• Criou-se o supremo tribunal da justiça, instalado em Lisboa, composto por juízes-conselheiros e com
jurisdição sobre todo o reino

• O clero foi especialmente afetado pela legislação liberal, pois muitos mosteiros apoiaram o absolutismo. O clero
regular foi eliminado. Expulsaram-se os jesuítas e proibiram-se os noviciados em qualquer mosteiro.
Extinguiram-se todos os mosteiros, colégios e hospícios das ordens religiosas masculinas, cujos bens foram
confiscados pelo estado.

• Esta nacionalização dos bens atingiu igualmente os nobres identificados com a causa miguelista e nem as
propriedades da Coroa escaparam. Os bens nacionais foram vendidos em hasta pública para pagar dívidas e
assim evitar um impopular aumento de impostos

9
A revolução de setembro de 1836

Setembristas: defendem o absolutismo

• A vitória definitiva do liberalismo, em 1834, não trouxe estabilidade que o país há tanto ansiava.

• Enquanto os miguelistas, através de guerrilhas espalhadas pelo país, procuravam regressar ao poder, a “família”
liberal acentuou a sua divisão em dois grandes grupos:

✓ Os Vintistas, defensores da Constituição de 1822


✓ Os Cartistas, adeptos da Carta Constitucional.

Na prática, a guerra civil não acabara e logo em 1836, em Lisboa, a Revolução de Setembro agitou a cena política.

• Protagonizada pelas pequena e média burguesias e com largo apoio das camadas populares, a Revolução de
Setembro reagiu tanto aos excessos de miséria, em que a guerra civil mergulhara o país, como á atuação do
Governo cartista, acusado de beneficiar a alta burguesia com a concessão de títulos de nobreza e com a venda
dos bens nacionais e hasta pública (leilão com participação de todos os interessados).

Motivos da revolução de setembro

• Os acontecimentos precipitaram-se, com a chegada a Lisboa dos deputados eleitos no Norte para as Cortes.
Ouviram-se “vivas” á Constituição e “morras” ao Governo.

• Á semelhança de Espanha, onde a Constituição de Cádis fora instaurada, Portugal afastava-se do liberalismo
moderado e abraçava a via mais radical e revolucionária.

• O novo governo saído da Revolução de Setembro, onde sobressaíram as figuras do visconde Sá da Bandeira e do
parlamentar nortenho Passos Manuel, declarou-se mais democrático, empenhando-se em valorizar a soberania
da nação e, inversamente, reduzir a intervenção régia, o que suscitou uma pronta reação de D. Maria II ao
setembrismo.

Atuação do Governo setembrista


• Acabou por se encontrar uma solução de compromisso entre o radicalismo democrático da Constituição de 1822
e o espírito monárquico da Carta de 1826, que se concretizou num novo diploma constitucional, a Constituição
1838:
✓ Manteve-se a vigorar o sufrágio direto, mantendo-se, porém, o sufrágio censitário;

✓ O rei tinha o poder de sancionar e vetar em definitivo as leis saídas das cortes, a instituição da
Câmara dos Senadores, com caráter eletivo e temporário, limitou o poder régio;

10
• No que se refere á política económica, o setembrismo procurou corresponder aos propósitos de
desenvolvimento nacional da pequena e da média burguesias, como demonstram as seguintes medidas:

✓ Proteção da indústria nacional, através de uma pauta alfandegária protecionista: todos os produtos
que entrassem no país ficavam obrigados ao pagamento de direitos especialmente aqueles que faziam
concorrência às produções portuguesas;

✓ Valorização dos territórios africanos, como forma de compensar a perda do mercado brasileiro: a fim de
atrair o investimento de capitais para outras áreas que não o comércio de escravos, proibiu-se este
tráfico nos territórios portugueses a sul do equador;

✓ Reforma no ensino primário, secundário e superior: preocupados com a formação de elites qualificadas
e com a instrução de amplas camadas da população, os setembristas criaram Escolas Médico-cirúrgicas,
Escolas Politécnicas e Academias de Belas-Artes no Porto e em Lisboa, reformaram a Universidade e
inauguraram o ensino liceal.

Os resultados destas medidas não corresponderam ao esperado. Medidas para o fracasso do setembrismo:

• A falta de capitais e vias de comunicação;


• A instabilidade que continuou a marcar a vida nacional;
• A instabilidade política económica;
• O protecionismo no plano industrial não obteve o resultado esperado;

• O Governo setembrista enfrentou constantes tentativas da restauração da Carta Constitucional.

• Em janeiro de 184, num golpe de estado pacífico, foi o próprio ministro da justiça quem finalmente pôs termo à
Constituição de 1838.

• A nova governação, conhecida por cabralismo, alicerçou-se nos princípios da Carta e fez regressar ao poder a
grande burguesia. (Quando vigora a burguesia a dominar, sufrágio censitário)

• Sob a bandeira da ordem pública e do desenvolvimento económico, Costa Cabral apostou nas seguintes áreas:

✓ Fomento industrial: Difundiu-se a energia a vapor (industrializar o país)

✓ Reforma administrativa e fiscal: Promulgou-se um Código Administrativo de cariz centralizador e criou-se o


Tribunal de Contas para fiscalizar todas as receitas e despesas do Estado

✓ Obras Públicas: Para desenvolver a economia é necessário desenvolver as vias de comunicação,


infraestruturas, modernizar o país investindo as infraestruturas: estradas, ponte

✓ Reforma da Saúde: proibiram-se os enterramentos nas igrejas, gerando descontentamento no meio rural,
que defendem os costumes da época.

11
• A inovação e a exigências de Costa Cabral, aliadas ao autoritarismo que rodeou a sua implementação, estiveram
na origem de uma série de motins populares.

• Viveu-se um clima de verdadeira guerra civil entre os adeptos do cabralismo e setembristas, cartistas puros e até
miguelistas.

• A demissão do Governo e a saída de Costa Cabral para Espanha não foram suficientes para trazer a acalmia
social e política.

• A guerra civil reacendeu a chamada Patuleia (uma revolta urbana) tendo como pretexto a demissão de ministros
anticabralistas, ordenado por D. Maria II.

• Iniciada no Porto, alastrou-se ao resto do país, chegando-se a colocar a hipótese da deposição da rainha e da
instauração de uma república.

• Na impossibilidade de um acordo político, a intervenção de Espanha e Inglaterra ditou os termos da Convenção


de Gramido, garantindo uma amnistia geral e prevendo a nomeação de um governo em que não figurassem
representantes dos partidos em luta.

• Na aprática a rainha e os cartistas saíram vitoriosos, enquanto a força política do setembrismo estava
definitivamente liquidada.

12

You might also like