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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Psicologia

Adrienne Keure Andrade Martins


Luciléia Carvalho Vilarino de Oliveira

A influência do uso da tecnologia nos vínculos sociais dos adolescentes

Belo Horizonte
2021
Adrienne Keure Andrade Martins
Luciléia Carvalho Vilarino

A INFLUÊNCIA DO USO DA TECNOLOGIA NOS VÍNCULOS SOCIAIS DOS


ADOLESCENTES

Artigo apresentado à Faculdade de Psicologia da Pontifícia


Universidade Católica de Minas Gerais - Unidade São Gabriel.
Como requisito parcial para obtenção de Grau de Bacharel em
Psicologia

Área de concentração: Psicologia Social e Psicologia do


desenvolvimento humano

___________________________________________________________
Professor Dr. Marcelo Augusto Resende - PUC Minas (Orientador)

__________________________________________________________
Professora Dra. Márcia Stengel – PUC Minas (Leitora)
(banca examinadora)

Belo Horizonte, 10 de maio de 2021


Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3

2 TECNOLOGIA E AS RELAÇÕES SOCIAIS ....................................................... 4

3 A POLÊMICA RELAÇÃO ENTRE A TECNOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO


AFETIVO ..................................................................................................................... 9

4 METODOLOGIA ............................................................................................... 11

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .......................................................... 12

5.1 O uso da tecnologia pelos adolescentes ............................................................. 13


5.2 A percepção dos pais ................................................................................................ 15
5.3 Compreensão dos jovens quanto ao uso do celular ........................................ 17
5.4 Vivência da interação social .................................................................................... 19
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 21

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 23
A INFLUÊNCIA DO USO DA TECNOLOGIA NOS VÍNCULOS SOCIAIS DOS
ADOLESCENTES
THE INFLUENCE OF TECHNOLOGY USE ON TEENAGER’S SOCIAL BONDS

Adrienne Keure Andrade Martins1


Luciléia Carvalho Vilarino de Oliveira2

RESUMO

A tecnologia vinculada à comunicação se mostra cada dia mais presente em nossas


vidas, trazendo inúmeros benefícios e agilidade aos processos cotidianos,
atravessando as relações humanas. O objetivo deste artigo é abordar como os
celulares, tablets e demais dispositivos influenciam nos vínculos sociais dos
adolescentes. Os objetivos específicos são levantar um breve histórico da evolução
tecnológica; verificar a importância das relações sociais no desenvolvimento
humano; identificar os impactos da tecnologia nos vínculos interpessoais e
compreender como pais de adolescentes lidam com o uso da tecnologia pelos
jovens. A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico e pesquisa
qualitativa com entrevista semiestruturada realizada com 6 adolescentes entre 11 e
16 anos, além de um questionário para os responsáveis. Os resultados
evidenciaram a importância dos dispositivos eletrônicos para os jovens
entrevistados, como meio de informação, pesquisa, entretenimento e conexão com
os pares, sendo o celular o dispositivo mais utilizado por eles e o aplicativo
whatsapp o meio de comunicação de preferência. Apesar dos relatos obtidos nas
entrevistas demonstrarem que os jovens utilizam o smartphone para manter-se
conectados aos amigos e interagir de modo geral, foi possível perceber a
preferência em fazer amizades presencialmente, mesmo havendo ocorrências de
amizades que surgiram no meio virtual. Concluindo, a comunicação e a interação
social estão irremediavelmente atravessadas pela virtualidade. A formação dos
vínculos ainda permanece atrelada ao contato físico e pessoal, entretanto a
manutenção destes conta com a participação constante das mídias digitais.

1
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas. Email: drikeure.psi@gmail.com
2
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas. Email: lucileiapsicologa@gmail.com
1
Palavras-chave: Tecnologia; Adolescente; Vínculo social.

ABSTRACT

Technology linked to communication is increasingly present in our lives, bringing


countless benefits and agility to everyday processes, crossing human relationships.
The purpose of this article is to approach how cell phones, tablets and other devices
influence the social bonds of teenage people. The specific objectives are to
investigate a brief history of technological evolution; verify the importance of social
relations in human development; identify the impacts of technology on interpersonal
bonds and understand how teenager’s parents deal with technology use by young
people. The methodology used was a bibliographic survey and qualitative research
with a semi-structured interview conducted with 6 adolescents between 11 and 16
years old, in addition to a questionnaire for those responsible. The results showed
the importance of electronic devices for the young people interviewed, as a means of
information, research, entertainment, and connection with peers, being the cell phone
the most used device by them and the WhatsApp application the preferred means of
communication. Despite the reports obtained in the interviews show that young
people use the smartphone to stay connected to friends and interact in general, it
was possible to realize a preference to make friends in person, even though there
were occurrences of friendships that emerged in the virtual environment. In
conclusion, communication and social interaction are irrevocably crossed by
virtuality. The formation of bonds remains linked to physical and personal contact,
however the maintenance of these has the constant participation of digital media.

Keywords: Technology; Adolescent; Social link.

2
1 INTRODUÇÃO

O tema abordado neste trabalho é a influência da tecnologia através de


dispositivos eletrônicos portáteis e como o uso pode afetar na construção dos
vínculos sociais em indivíduos de 11 a 16 anos. Essa pesquisa se fez importante
para nós por uma vivência pessoal, na qual foi possível observar o interesse de
adolescentes pelos recursos tecnológicos, muitas vezes abdicando da brincadeira
em grupo em prol do uso de celulares. A partir dos estudos e observação sobre o
tema, durante a graduação, foi possível perceber a importância do convívio social e
da troca entre os pares para o desenvolvimento das habilidades sociais dos
mesmos.
A tecnologia se mostra cada dia mais presente em nossas vidas, em nosso
cotidiano, facilitando o acesso a informações, processos, mão de obra, tornando
mais próximo o que de fato está muito distante. Com o advento das redes sociais,
com jogos eletrônicos e smartphones, ficou muito mais simples a comunicação à
distância e o entretenimento de forma individual. A questão é quando esse acesso
passa a ser prejudicial.
De acordo com Assunção e Matos (2014), a adolescência é a fase de
transformação em que os jovens ganham autonomia, deixando de ter os pais como
centro das relações sociais, passando a evidenciar as relações com os pares como
referência. Por ser uma fase de profundas transformações emocionais, cognitivas e
comportamentais são mais suscetíveis à interferência da internet em seu cotidiano.
Uma das características da adolescência, evidenciadas por Calligaris (2000),
é a de ser gregário: “o adolescente transforma assim sua faixa etária num grupo
social, ou então num conglomerado de grupos sociais dos quais os adultos são
excluídos e que os adolescentes podem mutuamente se reconhecer como pares” (p.
35-36).
Há indícios de contribuição do uso de tecnologias e também preocupação
quanto aos efeitos que podem gerar no desenvolvimento humano. Segundo
Silvestrini e Pereira (2014, p. 3): “os jogos eletrônicos [...] são prazerosos e
dinâmicos, despertam curiosidade e interesse, além de estimularem a aprendizagem
cognitiva, afetiva e social de um modo divertido.” Paiva e Costa (2015, p. 4)
ponderam que: “a utilização da tecnologia cada vez mais precoce e frequente
provoca vários questionamentos polêmicos quanto ao desenvolvimento afetivo,
3
cognitivo e social da criança, uma vez que, as crianças acabam substituindo as
amizades reais pelas virtuais.” Considerando a importância das relações
interpessoais na Psicologia do Desenvolvimento, essa realidade traz uma
preocupação sobre como se dará a construção dos laços sociais no futuro e que tipo
de efeito esse afastamento no convívio social trará para os indivíduos.
A Psicologia, sendo uma ciência que estuda o comportamento humano, pode
encontrar nas relações dos indivíduos com os dispositivos eletrônicos um campo de
interesse, pois tais interações provocam mudanças nas maneiras de se relacionar e
se comportar. Desse modo, é fundamental que a Psicologia esteja atenta para
buscar compreender e auxiliar no desenvolvimento de estratégias que possam
proporcionar aos indivíduos meios de conviver com a tecnologia sem perder a
humanidade, o que justifica a relevância desta pesquisa.
O objetivo do presente estudo é compreender como o uso da tecnologia
influencia nos vínculos sociais em adolescentes. Os objetivos específicos são
levantar um breve histórico da evolução tecnológica; verificar a importância das
relações sociais no desenvolvimento humano; identificar os impactos da tecnologia
nos vínculos interpessoais e compreender como pais de adolescentes lidam com o
uso da tecnologia pelos jovens. Para alcançar estes objetivos foi realizada uma
pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica, de acordo com Gil
(2002), é aquela que se embasa em material já elaborado, como livros e artigos
científicos. Essa etapa é necessária para a familiarização com o tema, conforme os
tópicos a seguir.

2 TECNOLOGIA E AS RELAÇÕES SOCIAIS

A fim de compreender a evolução da comunicação perpassada pelas


inovações tecnológicas, trazemos os estudos de Fernandes (2016) que relata a
criação do cinema em 1985. Seu objetivo era a comunicação em massa, para o
entretenimento através da fusão da fotografia e do teatro, que ao evoluir, abandonou
o viés cultural para tornar-se comercial. Em 1923, a televisão levou os recursos do
cinema para dentro das casas. Ela também passou pela evolução que a aliou a
videocassetes, fitas e dvds, até atingir a qualidade de imagem HDTV, com funções
interativas.

4
Ainda de acordo com Fernandes (2016) o primeiro computador, com
funcionamento próximo ao que temos na atualidade, surgiu em meados de 1976
sendo fabricado pela empresa Aplle. Nos anos 90 começam a surgir as miniaturas
portáteis como notebooks palmtops. No início da década de 1990 a telefonia móvel
entra no Brasil, mudando o habitual uso de telefone fixo por aparelhos portáteis,
alterando a forma de comunicação que passou a ser possível de qualquer lugar.
De acordo com Kobs (2017), a internet tem sua origem na década de 60 e se
popularizou na década de 90. Foi no ano de 1995 que a internet se tornou comercial.
No ano seguinte, o governo brasileiro criou o Comitê Gestor de Internet do Brasil
(CGI.br), que até os dias atuais exerce seu papel de construção de uma internet de
qualidade e inclusiva, através da realização de pesquisas acerca do uso da
ferramenta pelos brasileiros.
Fernandes (2016) aponta que as redes sociais chegaram para transformar a
comunicação e interação no ano de 2000. Desde então, Orkut, Facebook, Twitter e
Myspace, entre outras, foram tornando-se meios de comunicação cada vez mais
ágeis e interativos.
Muita coisa mudou em nossa sociedade. O brincar para crianças da década
de 90 comparado com o brincar de crianças da década de 2000 e a partir de 2010
se tornou bastante diferente. Há vinte anos, brincava-se muito de pega-pega,
adedanha, pique-esconde, queimada, amarelinha e diversas outras brincadeiras em
que era necessário mais de uma criança. Quanto mais crianças envolvidas, melhor.
Para Silvestrini e Pereira (2014, p. 4), “a brincadeira favorece a autoestima das
crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma
criativa, transformando os conhecimentos que já possuíam em conceitos gerais com
os quais brinca”.
Com o passar dos anos, as brincadeiras individuais, como o próprio
dispositivo eletrônico, celular e tablets, se tornaram uma realidade, afastando as
crianças do brincar em conjunto. Muitas questões surgiram a partir da percepção
desse domínio tecnológico. Young (2011) em seu livro intitulado, Dependência da
internet: Manual e Guia de Avaliação e Tratamento, aponta o fato de que a internet
tem o poder de nos conectar e isolar socialmente. Ela nos permite uma conexão
social com o mundo, porém esse contato é feito de forma controlada, na qual os

5
usuários não necessitam se envolver completamente. Mostram o que querem
mostrar, se comportam da forma como acreditam ser correto.
Segundo Young (2011, p. 182): “jamais existiu antes uma tecnologia que nos
conecta socialmente e ao mesmo tempo nos desconecta”. Para muitos usuários que
têm problemas relacionados à timidez, essa forma de conexão se torna melhor do
que presencialmente. Esses indivíduos se sentem melhor virtualmente. Não estamos
querendo dizer que o uso das tecnologias, internet e mídias sociais traz somente
prejuízos para o indivíduo, mas queremos avaliar quando esse uso se torna
incontrolável, tornando um vício para o indivíduo, que deixa de envolver com outras
pessoas, em troca do uso de celulares, tablets, computadores, vídeo games, etc.
Vale ressaltar que os participantes da presente pesquisa são os que podemos
considerar nativos digitais, de acordo com Fernandes e Gonzales (2017, apud
STENGEL, 2018, p. 426).

[...] nativos digitais, por terem crescido rodeados pelas TIC, estabelecem
uma relação de intimidade e gerenciam naturalmente as ferramentas
digitais. Além disso, não processam sequencialmente, pensam em paralelo,
atendem a várias coisas de uma só vez e rapidamente, além de esperarem
receber respostas instantâneas.

Os nativos digitais são definidos, de acordo com Stengel (2018), não apenas
pela data de nascimento, tendo em vista que essa cisão não foi dada de maneira
pontual, mas sim no decorrer do tempo. Também devem ser considerados aspectos
comportamentais e sociais que compõem o sujeito e as maneiras como esse sujeito
se relaciona com a tecnologia.
Os nativos digitais, segundo pesquisa realizada por Kobs (2017), apontaram
benefícios do uso de celulares no âmbito acadêmico, relatando que os mesmos
facilitam acesso a pesquisas, notícias e fatos recentes, além de proporcionar mais
agilidade nas comunicações entre os próprios adolescentes e entre estes e os
professores, no que tange ao compartilhamento de materiais para aulas. Por outro
lado, reconhecem que o uso desses dispositivos no ambiente escolar pode causar
distrações e diminuir o foco e atenção nas tarefas didáticas.
Segundo Silva e Silva (2017):

Mesmo com todos os anunciados benefícios gerados pelas tecnologias


digitais, é evidente a preocupação com os problemas sociais e
comportamentais, principalmente, os que afetam os adolescentes. Esse
grupo é bastante suscetível, devido a estar em mais contato com essas
6
tecnologias e encontrar-se em uma idade de intensas transformações
biológicas e psicológicas. Assim, o estudo mostrou que o uso excessivo das
tecnologias digitais acarreta diversos problemas, entre eles, isolamento
social, narcisismo, depressão, ansiedade, dependência, etc. (SILVA; SILVA,
2017, p. 95).

Segundo reportagem publicada no jornal Estado de Minas, uma em cada


cinco crianças e adolescentes sofre de algum transtorno ocasionado pelo uso
indiscriminado de tecnologias digitais. Em alguns casos é necessário o uso de
medicamentos. A reportagem aponta a necessidade de a família agir, colocando
limites de horários e usos de aparelhos eletrônicos (MACEDO, 2014).
Le Breton (2017) relata também essa questão acerca da imersão dos nativos
digitais, no mundo virtual, afirmando que: “a existência on-line é, então, um lugar de
onde se pode ver o mundo da outra margem, dominando as informações
encontradas, antes de nele se aventurar” (p. 16). Desse modo, o jovem se vê diante
da possibilidade de criar o próprio mundo rodeado por seus pares, afastando-se,
portanto, da convivência presencial.
Quanto ao acesso descontrolado à internet, o DSM-5, Manual de Diagnóstico
e Estatística de Transtorno Mentais (2014, p. 735), relaciona com os seguintes
sintomas:

O uso persistente e recorrente da internet para envolver-se em jogos,


levando a prejuízo significativo ou sofrimento por cinco (ou mais) dos
seguintes sintomas em um período de 12 meses: 1. Preocupação com jogos
eletrônicos, tornando-se a atividade dominante na vida diária; 2. Sintomas
de abstinência quando os jogos são retirados (irritabilidade, ansiedade ou
tristeza, mas sem sinais físicos de abstinência farmacológica); 3.
Necessidade de despender cada vez mais tempo jogando; 4. Tentativas
frustradas de controlar a participação nos jogos; 5. Perda de interesse em
antigos passatempos e entretenimentos; 6. Uso excessivo continuado de
jogos pela internet, apesar do conhecimento dos problemas psicossociais;
7. Enganar a família, terapeutas ou outros quanto ao tempo dispendido com
os jogos; 8. Uso dos jogos para evitar ou aliviar o humor negativo; 9.
Colocar em risco ou perder relacionamentos, emprego ou oportunidade
educacional ou de carreira devido à participação em jogos pela internet.
(DSM-5, 2014, p. 735).

Nicolaci-da-Costa (2002) aponta as revoluções tecnológicas e as


transformações subjetivas em nossas vidas. Cita em seu artigo algumas mudanças
em torno da vida familiar em decorrência do avanço da tecnologia. Destaca que a
tecnologia transforma o modo de ser, hábitos e forma de agir das pessoas. As novas
formas de organização social (virtual e em rede) e o novo espaço imaginário (porém

7
vivido como concreto), alteram não somente o comportamento, mas também a
constituição psíquica dos homens, mulheres e crianças dos nossos dias.
É importante destacar a importância do convívio social no desenvolvimento
dos jovens. Ao relacionar-se com outras pessoas, o indivíduo efetua trocas de
informações e vai construindo o seu conhecimento conforme o desenvolvimento
psicológico e biológico lhe permite. Segundo Vygotsky (2008, p. 12):

Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o


ambiente com a ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente,
além de uma nova organização do próprio comportamento. A criação
dessas formas caracteristicamente humanas de comportamento produz,
mais tarde, o intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: a forma
especificamente humana do uso de instrumentos.

Segundo o mesmo autor, é possível observar que a interação tem papel


fundamental no desenvolvimento da mente. O processo de aprendizagem se dá a
partir da interação entre sujeitos diferentes e, para isso, é essencial que o indivíduo
promova laços com pares para que aprimore suas concepções e seja capaz de
construir novos conceitos. É imprescindível apontar que o sujeito é um elemento
ativo no processo de construção do seu conhecimento pois, conforme estabelece
relações e se comunica, desenvolve-se cultural e socialmente, constituindo-se como
indivíduo ativo.
O outro social contribui para a formação das crianças em fase de
desenvolvimento no que se refere a diferenciação de si, suas competências,
permitindo a elaboração de hipóteses e ideias sobre os laços formados, trazendo
para o âmbito intrapessoal as experiências vividas no interpessoal. Ao tratar das
funções psicológicas superiores no desenvolvimento da criança, Vygotsky (2008) as
classifica em dois momentos:

Primeiro no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro entre


pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança
(intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para atenção voluntária, para a
memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções
superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos.
(VYGOTSKY, 2008, p. 58).

É importante que, ao estabelecer esta comunicação, o indivíduo já se sinta


parte do mundo. Afinal, o conhecimento não está no sujeito nem no objeto, mas na
interação entre ambos. Agindo sobre os objetos e sofrendo a ação destes, o homem

8
vai ampliando a sua capacidade de conhecer, ou seja, de vivenciar processos de
aprendizagem.
Segundo Xavier e Neves (2014) a internet serve de mediadora para as
interações sociais:

[...] a internet, por ser um objeto tecnológico inovador que instituiu uma nova
configuração de espaço e tempo para a interação social, se configura como
a invenção tecnológica que mais teve ferramentas adaptadas para o
uso na sociabilidade e afetividade dos seres humanos. O
ciberespaço estabeleceu novas possibilidades para a sociabilidade e
promoveu novas formas de relações sociais [...] (XAVIER; NEVES, 2014, p.
11).

Relacionando os conceitos acerca da necessidade de interações sociais


trazidos por Vygotsky (2008), e as ideias de Xavier e Neves (2014) sobre as
contribuições da internet, buscamos compreender através da presente pesquisa,
como se dá na prática, entre os adolescentes, a construção dessas interações
virtuais e como as mesmas podem afetar as relações reais geradoras das funções
superiores. Seriam as interações mediadas pela tecnologia tão eficazes quanto as
relações reais para o desenvolvimento humano?
Para Silva e Silva (2017), a família e as relações sociais são de extrema
importância para o desenvolvimento dos adolescentes e o uso da tecnologia
modificou essas relações. Entretanto, a solução proposta pelas autoras não é proibir
o uso das tecnologias, relatam que é função da família e dos educadores,
trabalhando em conjunto, prover aos adolescentes meios para estabelecer relações
no mundo real, pois “para se ter um desenvolvimento cognitivo, social e afetivo
saudável, é preciso equilibrar a relação entre a interação virtual e a social, realizada
por meio de atividades lúdicas e esportivas e dos laços afetivos.” (SILVA; SILVA,
2017, p. 95).

3 A POLÊMICA RELAÇÃO ENTRE A TECNOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO


AFETIVO

Young et al. (2011) apontam a existência de diversas pesquisas realizadas


buscando entender a influência da tecnologia no comportamento e na saúde mental
dos indivíduos. Eles ressaltam que o uso excessivo da internet estava associado a
efeitos prejudiciais sobre o desempenho acadêmico e profissional.

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Desde 2005, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da
Sociedade da Informação (Cetic.br) elabora indicadores sobre o uso das tecnologias
no Brasil. Em 2018, foi realizada a pesquisa “TIC Kids Online Brasil 2018” sobre o
uso da internet por crianças e adolescentes no país. Foi constatado que 86% da
população entre 9 e 17 anos era usuária da internet, embora houvesse desigualdade
de acesso à rede devido a diferenças sociais. Percebeu-se um maior número de
acessos nas classes AB e C do que nas classes D e E. Foi evidenciado o aumento
na realização de atividades multimídia pelos indivíduos pesquisados, sendo que 83
% da população investigada disse ter assistido a vídeos, programas, filmes ou séries
on-line. Pela primeira vez na história do estudo, essas atividades passaram a ser
mais frequentes em crianças e adolescentes, superando trabalhos escolares (74%)
e o envio de mensagens instantâneas (77%) (NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E
COORDENAÇÃO DO PONTO BR, 2019).
Segundo Fabiana Harumi Shimabukuro (2013), em texto publicado para o
portal COMPORTE-SE, a atual geração se beneficia da tecnologia, pois os meios de
comunicação digitais podem proporcionar um ambiente mais seguro para o
desenvolvimento de contato social para pessoas tímidas ou “fóbicos sociais”.
Todavia, o contato físico está se tornando cada vez mais distante e uma geração de
pessoas com um repertório social pobre aumenta. Ela destaca também, no texto “O
domínio da tecnologia afetando as relações interpessoais”, a ansiedade anunciada
pelos indivíduos, quando não estão com o celular e principalmente sem acesso à
internet. Segunda ela, dentre os transtornos de ansiedade, a fobia social é um dos
transtornos mais comuns, que está por trás do uso excessivo de dispositivos
eletrônicos.
Considerando a importância das relações interpessoais na Psicologia do
Desenvolvimento, essa realidade traz uma preocupação sobre como se dará a
construção dos laços sociais no futuro e que tipo de efeito esse afastamento no
convívio social trará para os indivíduos.
A Psicologia, sendo uma ciência que estuda o comportamento humano, pode
encontrar nas relações dos indivíduos com os dispositivos eletrônicos um campo de
interesse, pois tais interações provocam mudanças nas maneiras de se relacionar e
se comportar. Desse modo, é fundamental que a Psicologia esteja atenta para
buscar compreender e auxiliar no desenvolvimento de estratégias que possam

10
proporcionar aos indivíduos meios de conviver com a tecnologia sem perder a
humanidade.

4 METODOLOGIA

Para a elaboração da pesquisa foi utilizado o método qualitativo. De acordo


com Moreira (2002, p. 50): “graças a sua capacidade interpretativa e interativa, as
pessoas são diferentes de quaisquer outros objetos de estudo.” Tendo em vista a
necessidade da pesquisa de compreender a interpretação do mundo do ponto de
vista dos sujeitos entrevistados, entende-se a pesquisa qualitativa como o melhor
método.

Os objetos estudados pelas ciências sociais, ou seja, as pessoas e suas


atividades, não apenas são agentes interpretativos de seus mundos, mas
também compartilham suas interpretações à medida que interagem com
outros e refletem sobre suas experiências no curso de suas atividades
cotidianas [...] Podem ajudar os pesquisadores a entender sua situação,
compartilhando, de modos diversos, aspectos de seus mundos com esses
pesquisadores. (MOREIRA, 2002, p. 51).

No trabalho de campo, optou-se pela entrevista semiestruturada com os


adolescentes e um questionário elaborado a fim de captar a percepção dos pais
acerca da temática abordada. A pesquisa foi realizada com seis adolescentes, que
possuem aparelho celular, tablet ou smartphone, com idade entre 11 e 16 anos,
sendo dois participantes do sexo masculinos hora denominados como PM1 e PM2 e
quatro participantes do sexo feminino sendo denominados PF1, PF2, PF3 e PF4,
matriculados em escola particular ou pública, da rede de contatos das
pesquisadoras, com a devida autorização dos pais. Os adolescentes foram
entrevistados individualmente através da plataforma de conferências online Google
Meet, seguindo um roteiro semiestruturado. Os questionários, elaborados com base
nos objetivos da pesquisa, foram disponibilizados na plataforma Google Forms para
os pais dos participantes denominados R1, R2, R3, R4, R5 e R6. Foi elaborado um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a fim de atender as normas
éticas para realização de pesquisa, dispostas na resolução 466 de 2012 do
Conselho Nacional de Saúde que regulamenta pesquisa envolvendo seres humanos
(BRASIL, 2012).

11
A análise dos dados coletados ocorreu a partir da análise de conteúdo,
seguindo as premissas de Bardin (2004). Esse método analisa as palavras e as
significações, visando compreender as outras realidades existentes para além do
que se apresenta no discurso. A partir das compreensões do autor entende-se que
para a análise qualitativa interessa mais a ausência ou presença dos elementos, do
que a sua frequência.
Dentre as etapas necessárias têm-se: a pré-análise, em que ocorre a
organização do material a ser analisado; a exploração do material, em que se realiza
a codificação e a categorização; discussão e articulação do material de análise com
o arcabouço teórico. Cada etapa possui procedimentos específicos, os quais devem
ser seguidos para que a análise seja coerente e consistente. Assim sendo, foram
realizadas entrevistas e transcrições, possibilitando a construção do material
analisado, como indica Bardin (2004).

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nas entrevistas com os adolescentes e nos questionários enviados aos pais


foram abordadas questões referentes ao uso dos dispositivos eletrônicos pelos
adolescentes e como se sentem em relação a isso. A partir da escuta atenta das
entrevistas, foram elaboradas cinco categorias sendo elas: O uso da tecnologia
pelos adolescentes: aborda como os participantes fazem uso do celular, quais os
principais aplicativos e formas de interação; A percepção dos pais: traz a maneira
como os pais percebem a interação dos filhos com a tecnologia; Compreensão dos
jovens quanto ao uso do celular: relata como os participantes identificam a
presença do celular na rotina diária; Vivência da interação social: demonstra as
preferências dos participantes quanto às interações sociais nos meios virtuais e
presenciais.
Um fator relevante para a análise dos dados é o momento de realização da
pesquisa. As entrevistas e questionários foram feitos respeitando as normas de
distanciamento impostas pela pandemia de COVID-19 que surgiu no final de 2019
em Wuhan, na China, e assolou o mundo no início do ano de 2020. A pandemia
segue até o presente momento impondo medidas restritivas do convívio social
presencial. Oliveira (2020, p. 10) afirma que: “na pandemia da COVID-19, os
encontros com os colegas estão diminuídos ou inexistem e isto pode aumentar o
12
estresse, desencadeando comportamentos negativos/indisciplinados ou aumento do
uso de tecnologias digitais.” Não foram observadas alterações no comportamento
referentes à agressividade, no entanto, ficou evidente o aumento do uso de
tecnologias digitais.

5.1 O uso da tecnologia pelos adolescentes

Foi observado que os adolescentes do sexo masculino se envolvem com


jogos online e fazem amigos virtuais através dessa ferramenta. Já as participantes
do sexo feminino não relatam uso do dispositivo para jogos, porém também relatam
fazer amizades no meio virtual, seja por indicação de amigos em comum ou
diretamente pela rede social. Um ponto relevante que foi observado acerca dessas
interações é a intenção de trazer para o convívio pessoal esses amigos virtuais,
notada apenas nas adolescentes do sexo feminino.
A diferenciação por gênero em relação a consumo de jogos, apesar de
aparecer na pesquisa não será aprofundada no presente artigo, ressaltamos apenas
a divergência entre o encontrado no público pesquisado e o que se apresenta no
mercado brasileiro de jogos digitais segundo Fortim et al. (2016, p. 1313).

No Brasil, entre as atividades mais realizadas na internet pelos usuários,


estão os jogos online. Estas são uma atividade utilizada por 48% dos
homens e 39% das mulheres. Apesar destes dados, há pesquisas que
destacam que, na verdade, as mulheres são a maioria consumidora de
jogos digitais. A porcentagem de mulheres que afirmam fazer uso de jogos
vem crescendo. Atingiu 52,6% em 2016, enquanto somavam 47,1% em
2015 e 41% no ano de 2013, segundo pesquisas realizadas pela empresa
Sioux.

Retornando ao foco da pesquisa que é a interação dos jovens com a


tecnologia, percebeu-se que o celular tem importância e relevância significativas
para todos os participantes, seja para comunicação, estudos ou passatempo. Ao
serem perguntados acerca dessa importância, foram obtidas respostas como as que
se seguem:

A partir do momento que tive o telefone acho que ele já virou uma questão
de necessidade, por questão de comunicação, de coisa de escola, qualquer
coisa, porque eu acho que sem o telefone a gente não iria conseguir fazer
nada, eu acho. (PF3, 2021).
É tipo... ele representa um passatempo que eu tenho mais ou menos, é tipo
uma saída, não sei explicar direito. (PM2, 2021).

13
A utilização da internet, como meio de comunicação, foi relatada pela maioria
dos participantes o que foi evidenciado também por Fernandes (2016) que relata a
internet como forma de interação com maior aceitação nas diferentes sociedades e
nas mais variadas faixas etárias.
Os participantes relataram quais os principais meios utilizados para interagir
com o mundo virtual, através do celular, o que está relatado no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 - Demonstrativo dos aplicativos utilizados pelos entrevistados

Participante Whatsapp Instagram Youtube Tik Netflix Twitter Free


Tok fire

PF1 X X X X

PF2 X X X

PF3 X X X

PF4 X

PM1 X X X

PM2 X X X

Fonte: Elaborado pelas autoras com dados extraídos da pesquisa (2021).

Podemos perceber a presença do whatsapp em todas as respostas, o que


torna evidente a comunicação como principal finalidade do uso do celular, o que não
limita a apenas isso, sendo também utilizado para jogos, pesquisas, visualização de
vídeos, acesso a redes sociais, etc. A participante PF4, que incluiu apenas este
entre os seus aplicativos preferidos, vale ressaltar, ganhou o celular na semana em
que foi realizada a entrevista, estando, portanto, se familiarizando com as demais
funcionalidades do dispositivo.
14
Quanto aos principais assuntos de interesse dos jovens, ao realizar pesquisas
ou conversas no celular, as respostas foram bastante variadas e seguem abaixo:

Coisas que estão acontecendo, machismo, homofobia e racismo. (PF1,


2021).

No youtube uso muito para vídeo aula. Whatsapp mais pra conversa fiada
com os amigos. (PF2, 2021).

Meme, acho engraçado. (PF3, 2021).

Entretenimento, leitura da bíblia, moda. (PF4, 2021).

Acompanhar posts de amigos. (PM1, 2021).

Jogos e futebol. (PM2, 2021).

Essa variedade de assuntos relatada pelos participantes revela que a função


do celular ultrapassa a comunicação, demonstrando sua utilização para
entretenimento, educação, informação e evangelização, entre outros. Isso é
percebido por Silva e Silva (2017), que relata a preferência dos jovens pelo mundo
virtual se utilizando de diversas ferramentas, como blogs, chats e jogos online, entre
outros, para se conectar com a cultura do mundo dos eletrônicos.

5.2 A percepção dos pais

Quanto à percepção dos pais acerca do uso de celular pelos filhos e como
este afeta a rotina destes, as respostas foram variadas. R1 e R6 afirmam não
perceber alteração alguma, outros responsáveis trazem questões como:

Muitas horas usando e não estou sempre por perto. (R2, 2021).

Dificulta a comunicação familiar e os momentos em família. (R3, 2021).

R4 e R5 disseram que o celular é considerado como motivo de distração ou


falta de atenção nas tarefas diárias. Esta afirmativa é corroborada por Silva e Silva
(2017), que relatam as características da geração atual como distraída e imediatista,
atribuindo essas peculiaridades aos bombardeios de informações, alertas e
estímulos apresentados pelos celulares a todo tempo.
Em relação às mudanças comportamentais de modo geral, após terem
ganhado o primeiro celular, aproximadamente 70% dos pais entrevistados afirmam
não observarem essas alterações. Outros pais, porém, relataram que:
15
Ficou mais limitada em seu espaço, interagindo menos com as pessoas
próximas. (R5, 2021).

Está mais atento no que acontece nas redes sociais e noticiários. (R1,
2021).

Outro ponto abordado foi o comportamento dos filhos relacionado ao uso de


tecnologia quando estes ficam sem o celular. Apenas um dos responsáveis relatou o
aumento do estresse como mudança percebida. De modo geral os participantes
afirmaram que os relacionamentos intrafamiliares são bons, a presença do celular é
vista como vantagem para auxiliar na comunicação, organização da rotina, rever os
momentos e fazer pesquisas escolares. R4 não identifica pontos positivos para o
uso do celular em relação ao convívio familiar, relatando como negativos: a distração
das tarefas domésticas e o isolamento. Outros pontos negativos apresentados
foram:

Atrapalha quando se quer ter uma conversa de atenção concentrada e


limitando tempo para interações em brincadeiras e jogos. (R5, 2021).

Prejudica na comunicação familiar, prejudica na atenção com os familiares


dentro da própria casa. O celular nos faz dar atenção a quem está longe e
não dar atenção e tempo a quem está perto. (R3, 2021).

Moreira (2010) atribui à internet a responsabilidade por alterações


comportamentais e na interação social dos indivíduos que se utilizam da ferramenta.
Em nossa pesquisa, os sujeitos são considerados nativos digitais, o que pode
influenciar na percepção da alteração desses comportamentos, pois os hábitos que
eram comuns antes da internet não eram praticados por nossos entrevistados.
Além da diferença geracional do público pesquisado, vale salientar o
momento em que foi realizada essa pesquisa. Sua idealização e início das
pesquisas teóricas ocorreram antes da pandemia de COVID-19, mas as entrevistas
foram realizadas virtualmente devido ao isolamento social imposto pela questão
sanitária. Tal peculiaridade deve ser considerada como fato importante para os
resultados, pois essa situação trouxe a necessidade de mais tempo conectados e
exacerbou a falta do convívio social de maneira presencial.
A maioria dos jovens, participantes deste estudo, relatou ter recebido o
primeiro celular antes dos 11 anos. A única exceção havia ganhado o celular
recentemente aos 12 anos, confirmando o que Le Breton (2017, p. 16) evidencia, ao

16
afirmar que é nessa faixa etária que os jovens têm acesso a diversos aparatos
eletrônicos. O autor ressalta também o entusiasmo desses jovens pela autonomia
proporcionada pela tecnologia e vislumbre de um aprofundamento na convivência
com seus pares, mesmo que os pais mantenham a expectativa, ainda que ilusória,
de estarem presentes na vida e vivência de seus filhos.
Essa ilusão relatada por Le Breton (2017) foi percebida de certa forma nos
participantes através da contradição de algumas respostas dadas pelos pais e pelos
filhos acerca do uso do celular e controle dos pais. Alguns adolescentes relataram
que seus responsáveis têm confiança quanto ao conteúdo acessado pelo celular. Os
pais, por sua vez, relataram verificar os históricos de acesso.

5.3 Compreensão dos jovens quanto ao uso do celular

Quanto ao tempo de utilização de celular e outros dispositivos, foi pedido que


não considerassem o tempo despendido em aulas online. Aproximadamente 70%
dos participantes relataram utilizar algum dispositivo eletrônico, entre celular, tablet e
computador por pelo menos 6 horas ao longo do dia. Os demais participantes
relataram utilizar dispositivos eletrônicos apenas duas horas por dia, o que foi
confirmado no questionário dos pais para apenas um deles.
Todos afirmaram já ter passado um dia ou mais sem celular. Dentre os
motivos relatados, estar de castigo foi citado por 50% dos participantes, celular
estragado ou sem bateria, esquecimento, ou por vontade própria, foram outras
motivações trazidas.
Não há um parâmetro que estabeleça a quantidade ideal de horas diárias
para se usar dispositivos eletrônicos, entretanto, de acordo com Silva e Silva (2017),
o uso em excesso traz prejuízos cognitivos para o desenvolvimento dos
adolescentes, embora esse ainda seja um fator que deixa dúvidas e necessite
maiores estudos. As autoras relatam ainda que o modo como é utilizado o recurso
da tecnologia pode afetar as relações sociais e o aprendizado dos jovens,
ressaltando para a questão de utilização em excesso para mensagens e jogos e
pouco tempo de uso para pesquisas escolares, o que foi percebido também com o
público pesquisado.

17
Tratando da ausência do celular, o público pesquisado relata de modo geral
sentir falta do dispositivo e das praticidades que ele proporciona. Uma das respostas
chamou atenção pela emoção ligada ao tema.

Foi horrível. Me senti perdida, um tédio, foi como se não tivesse nada para
fazer da minha vida, nada, nada, nada, nada ia substituir o que fazia no
celular, porque acho mais interativo, parece que um dia demorou uma
semana para passar. Para passar rápido o dia eu dormi. (PF3, 2021).

Young (2011) adverte acerca da dependência dos dispositivos eletrônicos.


Ressalta que apesar da praticidade e entretenimento proporcionados, devemos
estar atentos às propriedades viciantes destes aparelhos e sua capacidade de
ludibriar a mente que se envolve em demasia neste mundo.
O uso do celular, quais seus benefícios e malefícios, foi um dos temas
explorados na pesquisa com os adolescentes. As respostas apresentaram
benefícios como comunicação, distração, entretenimento, estudos, etc.. Um dos
malefícios apontados foi a utilização para causar mal a outros, como afirma PF3
(2021):

Começa a ficar ruim quando usam para maldade por exemplo com
cyberbullying.

Também foi relatado prejuízo pessoal nas interações sociais nas respostas de
PF1 e PM1, respectivamente:

Quando traz isolamento social e faz com que as pessoas não saibam
expressar seus sentimentos, é ruim.

Torna muito ruim quando o adolescente não está conversando, está ficando
antissocial e quando fica 24h dentro do quarto só jogando, jogando., não
quer saber nem de comer.

A participante PF4 (2021) relata o perigo de interação com estranhos:

Acho perigoso porque uma pessoa pode se passar por alguma pessoa que
não é.

Podemos inferir a partir das respostas obtidas que os participantes


entrevistados apresentam consciência acerca dos perigos que podem ser
encontrados nas interações através da internet. Foi demonstrado pelos participantes
que orientações acerca desse assunto foram obtidas tanto através dos pais quanto

18
pela escola. Ficou evidente a maior atenção dos pais em relação a conversas e
orientação sobre o uso correto do celular, deixando o controle impositivo em
segundo plano, o que é evidenciado por Stengel (2018) ao afirmar que em virtude da
preservação do bom relacionamento com os filhos, os pais abdicam do controle
sobre os dispositivos e apostam na educação de valores e práticas oferecida.

5.4 Vivência da interação social

Quando perguntados acerca do comportamento em situações sociais, os


adolescentes entrevistados responderam em sua maioria que preferem interagir com
as pessoas presentes no local. Entretanto surgem algumas ressalvas quanto a
companhia que está presente no local.

Dependendo de com quem eu estou, eu prefiro ficar no celular. Sou tímida e


espero que as pessoas venham falar comigo. (PF1, 2021).

Costumo interagir com as pessoas. Gosto muito de fazer amizade.


Dependendo do lugar eu fico na minha ou chego pra conversar. (PF2,
2021).

Depende da companhia. Se eu não conhecer, procuro conversar para


conhecer; se for uma pessoa mais extrovertida conversaria, se fosse uma
pessoa mais retraída, ficaria retraída também, aí ficaria no celular. (PF3,
2021).

Essa intenção de relacionar-se com as pessoas de modo presencial não é


retratada por Silva e Silva (2017), que afirma que a tecnologia pode ser prejudicial
ao convívio social, alterando a capacidade de distinção entre os mundos real e
virtual pelos adolescentes, além de provocar isolamento social. Tal discrepância
pode ser devida ao fato do isolamento social vivenciado pelos jovens entrevistados
de maneira forçada pela pandemia de COVID-19.
O sentimento durante essas interações sociais, relatado pelos jovens, foi de
modo geral positivo, demonstrando sentir uma certa perda de fatores relevantes da
comunicação, ao fazer uso da tecnologia para intermediar essa interação.

Pessoalmente parece mais fácil porque a pessoa te entende melhor. (PF1,


2021).

Pessoalmente consigo me expressar muito melhor, abraçar. É muito melhor.


(PF2, 2021).

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O celular não tem o lugar da conversa pessoalmente, pessoalmente você
percebe a reação da pessoa, o rosto da pessoa. Se você discute com uma
pessoa por whatsapp não dá para saber se a pessoa está super nervosa ou
se não está nem ligando. Se você briga pessoalmente, você vê no rosto da
pessoa se ela está super nervosa. Não é sincera a conversa por whatsapp.
(PF3, 2021).

Outro participante relata não perceber diferença entre a comunicação


presencial e a interação mediada pelo celular, exceto pela questão de segurança em
relação ao compartilhamento de dados e informações pessoais pela internet, o que
foi advertido pelos pais e escola.

Acho um pouco mais seguro conversar pessoalmente que virtualmente, mas


não acho muita diferença não. Tenho [amigos virtuais] mas nunca dividi
nada pessoal, por orientações dos pais e da escola. Quando tem uma
amizade pessoalmente dá para dividir as coisas, confiar mais. (PM1, 2021).

Ao serem perguntados acerca do relacionamento intrafamiliar e a importância


do celular nessas relações, os entrevistados responderam conforme podemos
observar nos relatos abaixo:

Com minha mãe é tudo ok, com meu pai é meio afastado e com minha irmã
a gente conversa pouco, mas também não se aguenta. Às vezes afasta
mais eu do meu pai e da minha mãe e da minha irmã, quando cada um fica
mexendo no celular. (PF1, 2021).

O relacionamento é bom e o celular ajuda quando estamos fora de casa e


precisamos nos falar. Mas quando estamos em casa e cada um fica no seu
celular, aí atrapalha. (PF2, 2021).

Estava sendo muito difícil, mas melhorou muito na base da conversa, tem
hora que super atrapalha e momentos que super ajuda, por exemplo
quando estamos fazendo alguma coisa na cozinha e pesquisamos alguma
receita. Atrapalha quando quero conversar e a outra pessoa está no celular
e não dá atenção e acaba desistindo de conversar. (PF3, 2021).

O relacionamento é muito bom. O celular é importante quando precisa


comunicar com os pais. Atrapalha quando deixa de conversar com os pais
ou irmão para conversar com outra pessoa pelo celular. (PF4, 2021)

Muito bom, de vez em quando há umas briguinhas, mas nada que não
acontece em qualquer família. É importante quando precisa comunicar com
os pais. Não, porque também fica junto com a família, quando está no
celular acaba esquecendo de fazer algo que os pais pedem. (PM1, 2021).

O relacionamento é bom e o celular não ajuda nem atrapalha. Conversamos


pessoalmente e pelo celular. (PM2, 2021).

Podemos perceber, de acordo com o relatado, que o relacionamento


intrafamiliar geralmente é classificado como bom, porém é observado pelos
20
participantes que o uso do celular dentro de casa atrapalha o convívio, quando se dá
preferência para o uso do aparelho em detrimento das conversas pessoais. Em
resposta ao questionário enviado aos pais com essa mesma pergunta,
aproximadamente 70% dos responsáveis responderam que, no geral, o
relacionamento é bom. Apenas dois relataram alguns pequenos conflitos
ocasionados pela idade. Esse fato foi observado também por Kobs (2017) que
observou, nos relatos dos pais, que o uso de redes sociais e outros meios de
comunicação virtual não afeta o convívio familiar.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos levantados através do presente estudo foram concluídos com


êxito, considerando que os resultados conseguiram abranger de forma satisfatória
como a tecnologia está influenciando os vínculos dos adolescentes, além de como
as famílias lidam com a presença dos dispositivos eletrônicos na relação com os
filhos.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa foi possível observar que a
tecnologia está presente na vida dos adolescentes. Ela é utilizada como maneira de
comunicação, entretenimento, conexão com as notícias e para pesquisas escolares
entre outros. Ficou evidente a importância dos dispositivos tecnológicos para o
grupo pesquisado. O fato de serem nativos digitais corrobora essa conexão, pois
não conhecem um mundo sem a presença da tecnologia.
O objetivo de compreender como pais de adolescentes lidam com o uso da
tecnologia pelos jovens, foi identificado que eles lidavam bem com a interação dos
filhos e a tecnologia, buscando, através do diálogo, orientar acerca do uso e do
comportamento no meio virtual, sem serem intrusivos e controladores. Entretanto, a
liberdade e confiança, apesar de valorizadas, são limitadas, havendo controle dos
horários e verificação de históricos como meios para acompanhar as interações dos
filhos na internet.
A presente pesquisa tem seus resultados atrelados a uma amostra reduzida,
apenas seis adolescentes, o que reduz consideravelmente as variáveis que puderam
ser observadas. Futuros estudos com uma amostra maior, variedade de classe
econômica, idade, escolaridade, sexo, regionalização, cultura, entre outros, podem

21
abordar essas diferenças de forma a possibilitar resultados mais ricos e
diversificados.
Considerando o objetivo geral de compreender como o uso da tecnologia
influencia nos vínculos sociais em adolescentes, foi possível perceber que a
interação social entre os jovens é mediada pela tecnologia. Mesmo com todos os
benefícios apontados pelos participantes quanto ao uso dos dispositivos, da internet
e das redes sociais. A criação dos vínculos continua sendo preferencialmente de
maneira presencial. Os relatos obtidos nas entrevistas demonstram que os jovens
utilizam o celular para manter-se conectados aos amigos e interagir de modo geral,
mas preferem fazer amizades presencialmente, mesmo havendo ocorrências de
amizades que surgiram no meio virtual.
Na fase de pesquisa bibliográfica, o levantamento feito pelas autoras, indicou
que o uso das tecnologias afastaria os adolescentes do convívio social, o que
divergiu do evidenciado nas entrevistas realizadas. Essa discrepância entre os
estudos preliminares e o resultado obtido nos intrigou de tal maneira que fomos
impelidas a buscar hipóteses que pudessem contribuir para essa divergência.
Inferimos que possa ter ocorrido em função do período em que se realizou a
pesquisa. No contexto das entrevistas, o mundo estava vivenciando a maior crise
sanitária do século, a pandemia de COVID-19, o que forçou todas as pessoas a um
isolamento social e uma maior conexão com os meios digitais, uma vez que todas as
atividades passaram a ser realizadas em casa, através de dispositivos eletrônicos.
Consideramos que esse contexto de afastamento social, vivenciado
obrigatoriamente, levou os jovens entrevistados a sentir falta daquilo que antes era
indiferente para eles, o contato social. A maneira como a pandemia afetou a vida e o
modo de viver da sociedade contemporânea, deverá ainda ser amplamente
estudada. Um dos aspectos que devem ser levados em conta, nesses futuros
estudos, é a relação dos jovens com a tecnologia, que pode ter sofrido grande
impacto e tomar rumos diferentes dos que vinha trilhando até o presente momento.
Os resultados obtidos com esta pesquisa levam a crer que a tecnologia é uma
importante aliada da sociedade pós-moderna. A conectividade mundial,
proporcionada pelos avanços tecnológicos, evidencia que esse é um caminho sem
volta, tornando impossível sequer imaginar um mundo sem a influência dos
dispositivos eletrônicos. A comunicação e a interação social estão

22
irremediavelmente atravessadas pela virtualidade. A formação dos vínculos ainda
permanece atrelada ao contato físico e pessoal, entretanto, a manutenção destes
conta com a participação constante das mídias digitais. Essa interferência
proporciona relações mais dinâmicas, amenizando a distância física, contudo, ainda
permanece a necessidade humana de contato presencial.

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