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Copyright © 2016 Jussara Leal

ILIMITADOS – PARTE 2
1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do autor/editor.

Capa: Designer Tenório


Revisão: PatSue - Patrícia

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor(a). Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
A todas vocês que esperaram, muito obrigada!!!
AVISO DE CONTEÚDO
Ilimitados, apesar de ser um livro de comédia, contém
alguns temas que podem ser sensíveis a algumas pessoas.
Na parte 2 você encontrará relatos de violência doméstica,
abuso sexual e uma cena de racismo.
NÃO LEIA SE NÃO SE SENTIR CONFORTÁVEL.
Sumário
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO FINAL
O QUE LER AGORA?
CAPÍTULO 1
Fofoca é algo terrível!
Você pode estar fraca, abatida, no fundo do poço, sem ânimo para respirar,
no entanto, quando surge uma fofoca, você arruma forças até das profundezas
do inferno para conseguir se levantar.
Eu estava quase morta, deitada sobre as pernas da minha mãe, recebendo um
cafuné maravilhoso. Encontrava-me em um estado de pura degradação, até o
momento em que, um barulho de uma porta de carro batendo fortemente, me
fez saltar do sofá. No mesmo instante eu, minha avó e minha mãe, corremos
para a janela e nos escondemos atrás da cortina, tudo isso para termos o
privilégio de acompanhar a treta maligna protagonizada por Joseph
Vincenzo.
Sério, nunca imaginei que ele fosse o tipo “barraqueiro”.
Chegamos a tempo de ver uma mulher, uniformizada, descer de um outro
carro, trazendo uma criança em seus braços. Ela segue um Joseph muito
revoltado e entra na casa. E você pensa que acabou? O tiro maior é quando,
do mesmo carro, desce uma mulher que beira a perfeição. Sério. Uma mulher
que me faz questionar meu amor-próprio e meu senso de moda. Ela é linda! E
tem um corpo mais lindo ainda, além de ser puro estilo. Tudo nela grita
“grife”, (e “problema” também).
— Noh! [1]— Exclama minha vó. — Que mulherão do caralho! Será alguma
ex de Joseph?
— Será a mãe do filho dele? — questiono, completamente tomada pela
curiosidade. De repente, nem fraqueza estou sentindo mais.
— Maria Flor coloca essa mulher no chinelo. Flor é maravilhosa ao natural. É
evidente que essa pessoa, por mais bonita que esteja, está toda montada. Não
que ela seja feia, mas natural ela não é. Já a minha Florzinha, é linda ao
acordar e só usa maquiagem para ir para as baladas da vida. Igual a você,
princesa, naturalmente linda, sem quilos de reboco na cara, sem porra
nenhuma. — Minha mãe faz sua avaliação.
É... é algo em que se apegar. A mulher é linda, mas, provavelmente, passa
horas semanais dentro de salões, Spa, fazendo os mais diversos tratamentos.
É evidente. Você conhece uma pessoa assim de longe. Radar de dondoca.
Nossa análise termina quando Joseph volta, visivelmente soprando fogo pelas
ventas. A dondoca o puxa fortemente pela camisa, isso faz com que a minha
vó leve a mão diretamente ao coração. Enquanto o dela deve estar batendo
rápido, as batidas do meu próprio coração chegam a falhar.
— Eu juro por Deus, se ele permitir que ela o beije, eu farei pedacinhos dele
— vovó afirma, enquanto eu sigo bastante atenta em todos os movimentos.
Ela tenta beijá-lo, mas bate na trave. Joseph é mais rápido. Ele se desvencilha
dela e dá dois passos para trás.
— Você perdeu a merda da sua mente? — Ele brada a plenos pulmões. —
Oh, porra! Você nunca teve, na verdade! O motorista a levará para onde quer
que você queira ir, Diana — comunica.
— Oh! Eu estou muito apaixonada nesse homem! Puta merda! — Minha avó
exclama empolgada. Até eu estou. Quem não estaria? Maria Flower está
passando muito bem, obrigada.
— Eu não vou! — A tal Diana grita de volta. — Quero ficar aqui, com o meu
filho!
— Para Joseph estar agindo desta maneira, essa Diana deve ser uma vadia —
cochicha minha mãe.
Fico tomada pela perplexidade quando a tal Diana começa a desfazer o nó do
seu cropped. Há um motorista no carro vendo tudo, há vizinhos, crianças na
rua brincando.
— Gente! O que as pessoas não são capazes de fazer por um macho alfa
bilionário... — comento.
Joseph diz algo ao motorista, pega uma mala azul e nem mesmo se despede
da mulher. Ele simplesmente entra para dentro de casa e bate a porta,
deixando o som reverberar por toda rua.
— Você vai pagar a minha estadia no hotel mais caro da cidade, Joseph
Vincenzo! — Diana grita, enraivecida, e entra no carro, a contragosto,
batendo a porta com força.
— Puta merda! Tem barracos em todos os lugares do mundo mesmo.
Agradeço a Deus por ser fluente em inglês e poder acompanhar brigas como
essa. Deve ser péssimo ver um barraco internacional e não fazer ideia do que
estão dizendo — minha avó divaga ao nos afastarmos da janela.
Preciso concordar com ela. Seria péssimo se eu não fizesse ideia do que eles
acabaram de “dizer”.
— Vou ver a Flor — anuncio.
Subo as escadas correndo e entro em seu quarto sem nem mesmo bater na
porta. A encontro cabisbaixa, tampando os olhos com as próprias mãos.
— Flor? O que foi? — questiono. Ela logo retira as mãos e me encara.
— A ex de Joseph... ela estava ali e o agarrou — diz, parecendo arrasada. Na
verdade, ela parece não ter acompanhado o que de fato aconteceu.
— Você viu tudo direito? — questiono.
— Não. Quando ela foi beijá-lo, cobri os olhos. Covarde, eu sei. Preciso de
cinco doses de tequila para superar essa cena. Foi um inferno!
— Joseph não a beijou. Ele a afastou e bateu a porta na cara dela — revelo.
Só então ela abre a boca em espanto, parecendo acordar de um pesadelo.
— Sério? Ela não conseguiu? Como você sabe? — questiona, quase eufórica.
— Eu, vovó e minha mãe estávamos na janela assistindo tudo. Desculpa?! —
peço sem graça.
— Oh, meu Deus! — exclama socando a mesa. — Eu morri mil vezes agora.
Eu jurava que ele não iria resistir, não fazia ideia de que a mãe do filho dele
era daquele nível... Ela é linda, porra! E gostosona. Os homens devem cair
aos pés dela. Ex namoradas não deveriam ser assim...
— Beleza física é algo superficial, Flor. Joseph não parece um homem
superficial, nem de longe — comento.
— Mesmo assim. Meu Deus! Isis, nunca imaginei que um dia passaria por
isso. É fodido se apaixonar. — E eu não sei? É o fim!
— Bastante. — Sorrio fraco.
— Tá, me diga por que está triste desde Las Vegas! Não tivemos tempo o
bastante para conversarmos e passei o dia todo estudando. — Ela se levanta e
se joga na cama, puxando-me junto. Sempre fomos assim. Na infância
vivíamos brigando, porém, na adolescência, nos tornamos melhores amigas.
— Eu e Lorenzo terminamos.
— O quê? Por quê? — questiona meio chocada.

LAS VEGAS
APÓS CONHECER BRUCE NO
CLUBE
Chego ao saguão e Lorenzo está de pé, pálido, encarando-me como se eu
fosse um fantasma.
— Você dormiu com outro homem? — questiona.
— Não dormi. Não foi por falta de vontade, foi porque ele não quis —
informo e o vejo ficar boquiaberto. Eu lido com verdades.
— Nós podemos conversar?
— Podemos. Agora de preferência. É bom que resolvemos os problemas de
uma vez. — Caminho para o elevador e ele vem comigo.
Subimos e chegamos ao meu quarto no mais profundo silêncio. Quando
fecho a porta, o desespero me invade sem que eu possa controlar. Eu abro as
barragens e ele fica sem saber o que fazer.
— Sabe qual a diferença entre nós? — pergunto chorando.
— Não.
— A diferença é que eu nunca disse que te amava. Nunca te prometi amor
eterno. Nunca! Eu nunca menti, Lorenzo. Na verdade, fui bem sincera. Mas
vi mentiras em mensagens de textos e em seus olhos essa noite. Há,
hospedada nesse hotel, uma garota que você dormiu e que veio atrás de você.
Eu li mensagens, mas não pude ouvir o que vocês falaram pelo telefone. Me
diga, Lorenzo, como ela sabe até o hotel em que você está hospedado? —
grito. — Eu nunca entrei em relacionamentos por isso. Não sirvo para me
relacionar e não sirvo para ser enganada. Eu estive com um homem assim
que você saiu da boate, eu o beijei e permiti que ele me tocasse intimamente.
Eu fui a um clube de swing. Eu o conheci e o quis. Eu o quis quando
estávamos dentro da boate de uma maneira tão insana... Pedi por ele, mas
fui negada, porque estava completamente alcoolizada e, também, por julgar
errado eu querer sexo sendo que eu nem o conheço. — Ele estava tão certo...
como posso fazer sexo com alguém que não conheço?... — Após sairmos do
clube, nós passamos a madrugada toda conversando, sem tensão sexual, sem
pressão, sem porra nenhuma. Eu ri, conversei sobre assuntos banais, me
diverti e recebi centenas de conselhos incríveis. Eu me diverti com ele,
Lorenzo, porque ele não esteve a noite toda apenas tentando entrar em
minha calcinha. Ele estava interessado em me conhecer mais. Me diga
quando tentou me conhecer, Lorenzo? Diga, por favor! Você consegue
enxergar mais uma diferença? Eu estou aqui, abrindo tudo que eu fiz essa
noite. Dando minha cara a tapa para você me julgar, me taxar de piranha ou
do que quiser. Porque eu assumo meus atos e não iludo pessoas jurando
amor eterno e transo com outras. E se você quer saber, eu transei com um
idiota na festa tentando esquecê-lo. Eu não menti para você, apenas omiti. Já
você mentiu, omitiu e sei lá o que foi falado naquela ligação! Nós dois
erramos, mas você tem o agravante de ter dito sobre sentimentos que não
sente.
— Isis...
— Lorenzo! Eu não terminei.
— Tudo bem. — Ele se cala.
— Me diga por que você namorou Maria Flor — peço. Há um grande motivo
por trás do meu questionamento, porque essa noite eu descobri que o amor e
o tesão podem nublar a visibilidade das pessoas. Eu consegui enxergar
coisas que eu não via antes. Preciso de respostas para saber se o que estou
pensando e sentindo está certo. — Me diga o real motivo para você ter
namorado ela por um tempo considerável. Você não a amava.
— Ela era... bonita. — Primeiro erro de Lorenzo.
— Superficial — informo. — Agora me diga por que se apaixonou por mim?
— Como não se apaixonar? Você é linda, Isis. Eu realmente amo você.
Quero você. Desejo você, sinto tesão.
Eu tenho todas as respostas. Nem mesmo preciso fazer mais perguntas. Eu
me apaixonei pela forma como ele sempre se preocupou comigo, apaixonei-
me pelo jeito que ele tratava Flor, pelas conversas incríveis que possuíamos
antes de ultrapassarmos as barreiras. Ele se apaixonou pelo meu rosto e pelo
meu corpo. Apaixonou-se pela forma como sou, espírito livre quando o
assunto é sexo. Enfim. Eu amo sexo, sinto muito tesão por ele. Mas ele? Ele
não sabe fazer outra coisa a não ser transar quando estamos juntos. Percebi
isso hoje, conversando com Bruce. Não foi por nada que Bruce disse, foi pelo
que ele fez. Eu me diverti, tivemos diálogos interessantes e ele me viu como
uma mulher completa e não como um rosto e um corpo. Isso me fez enxergar
que eu e Lorenzo somos só sexo, porém, sexo não é tudo na vida.
Não significa que teremos algo.
Mas significa que eu consegui enxergar alguns erros que não tinha clareza
antes.
Não sou santa, não sou puritana e sei que estou muito longe da perfeição.
Entretanto, errei ao colocar Lorenzo na minha linha de frente, errei ao
tentar usar uma pessoa para tirá-lo do meu sistema, errei ao entrar num
relacionamento com ele quando nem mesmo nos conhecemos a fundo.
Eu descobri ontem que nos últimos dias tenho guiado as coisas como uma
garota iludida, que acredita em contos de fadas. É preciso muito mais do que
um eu te amo para conhecer alguém. No fim, eu percebi que estava certa em
não deixar as emoções guiarem minhas palavras. Foi melhor não ter dito.
— Lo, nós não nos conhecemos. Nós temos tesão um pelo outro. Um tesão
louco, gostoso. Mas nós dois vivemos de sexo desde a primeira vez. Não
saímos, não conversamos sem que tenha sexo envolvido. A culpa não é
apenas sua, é nossa. Nós dois começamos errados. Eu acho que o que
aconteceu veio no momento certo. Se continuássemos com isso, com essa
explosão e essa intensidade seria pior. Imagina no futuro descobrirmos que
tudo não passou de um meio para o fim? Eu tenho problemas com entrega,
Lo. Não é um trauma ou nada parecido. Eu só não gosto de me prender há
algo que não vejo futuro. Sou o tipo calculista quando tem meu coração
envolvido. Eu não sei sua comida preferida, não sei sobre sua família, não
sei absolutamente nada da sua vida. Tudo que sei é que você se tornou um
príncipe encantado para mim, porque eu via a forma como você tratava Flor,
via a forma como você é carinhoso, protetor..., mas acredito que isso não
basta e acredito que você tenha problemas mal resolvidos. Aquela garota da
mensagem, ela não estaria aqui à toa, Lo. E ela não rasgaria sua camisa à
toa. Você esteve com ela aqui nesse hotel, enquanto eu estava com a minha
família na piscina. Seja verdadeiro comigo e com você mesmo.
— Nós estamos terminados?
— Eu acho que sim, Lorenzo. Acho que primeiro precisamos encontrar a nós
mesmos antes de entrarmos num relacionamento sério. — Abaixo minha
cabeça tomada por uma emoção inexplicável.
— Não chora, Isis — pede e eu pulo em seus braços. Abraço-a tão forte,
como uma despedida. Eu me iludi por ele. Apaixonei-me. Errei. Tudo errado,
tudo!
Eu só consigo enxergá-lo chorando agarrado às minhas pernas, meu pai o
abraçando, o jeito audacioso como peitou meu pai e quem ousou interferir.
Não compreendo nada disso. Mas também percebi a segunda coisa em
comum além do sexo: impulsividade.
Nós dois somos impulsivos.
Não somos espontâneos, somos impulsivos. Há uma grande diferença.
Impulsividade é dizer e agir sem pensar. Espontaneidade é dizer e fazer o
que se pensa. A impulsividade nubla e nos faz tropeçar. Foi isso, tropeçamos
em nossos atos. Nós dois. A única diferença foi eu ter guardado palavras,
por não saber como dizer e não ter certeza sobre os sentimentos. Eu preferi
não ser impulsiva nesse quesito e resolvi atropelar os outros.
— Ela me beijou, eu não me esquivei. As coisas ficaram insanas, mas
consegui parar antes de cometer um erro maior — confessa olhando em
meus olhos.
— Você contaria se eu não tivesse visto as mensagens? — pergunto, ele
balança a cabeça negando.
— Não contaria. Sinto muito, Isis — diz com lágrimas nos olhos. — Eu errei
com você, não quero errar mais. Eu não gosto de você apenas pela beleza
como pareceu. Você é doce, divertida, carinhosa e generosa. Você é um
pacote completo, Isis. Desculpe se eu fiz parecer diferente. Por favor. Sei o
que sinto, mesmo que em algum momento eu tenha perdido em minhas ações.
Meus sentimentos são verdadeiros, Isis.
— Não estou com raiva, Lorenzo. Eu gosto de você. Mas precisamos de um
tempo para descobrirmos mais sobre nós mesmos, a importância e a força
dos nossos sentimentos. Não vamos atropelar mais, Lo. Isso traz mágoas,
como agora. Eu estou magoada com você e você comigo, porque ambos
fomos impulsivos.
— Por favor, Isis, eu amo você. Deixa-me tentar consertar.
— Descubra sobre seus sentimentos, sobre sua força de vontade, sobre sua
capacidade de se autocontrolar. Eu farei o mesmo. Para o bem de um
relacionamento futuro. É o que eu preciso e o que vejo que você está
precisando. Se o que existe entre nós for real, Lorenzo, nós conseguiremos
nos manter afastados. Sempre critiquei pessoas que pediam um tempo, mas
hoje julgo que um tempo é necessário para o nosso próprio bem.
Ele me abraça forte, deposita um beijo em minha testa e se vai.
Eu tomo um banho, abraço um travesseiro e choro até conseguir dormir.
Ninguém me disse que se relacionar envolvia tantos problemas.
Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de
amor.

PRESENTE
— Há uma Paulinha. Peguei mensagens deles. Eles transaram na quinta,
antes de ficarmos na boate. E então ela foi para Las Vegas atrás dele, ele não
me disse nada e ainda rolou um pega entre eles, que ocasionou numa camisa
rasgada. Discutimos e então, em seguida, os peguei se beijando no saguão.
Achei uma tremenda falta de respeito com os meus pais. Lorenzo fez tantas
promessas a eles e nem se deu ao cuidado de ocultar essa vaca. Ao menos,
felizmente, foi apenas eu que os vi, ou ele estaria internado em algum
hospital e meu pai preso — suspiro. — Enfim... eu percebi que ainda não
estamos preparados para um relacionamento sério. Há alguns erros em nossa
história desde o início. Ele diz me amar, ser completamente apaixonado, mas
namorou você por seis meses, vivia praticamente sob o mesmo teto que eu...
ele insistia para que vocês transassem e vocês viviam no sexo oral. Nada
contra isso..., mas não é estranho esse amor? — Indago. — Pedi um tempo,
um distanciamento para entendermos os sentimentos e descobrirmos a
importância que temos um para o outro. Se for verdadeiro, o sentimento
permanecerá e então ficaremos juntos.
— Paulinha é uma loira? — pergunta, deixando-me levemente curiosa.
— Sim.
— Ela já existia. Eu desconfiava dela quando estávamos juntos, mas não
tinha como cobrar Lorenzo, eu não queria ser cobrada. Éramos um espécie de
relacionamento aberto, mesmo não sendo, compreende? De qualquer forma,
fico chateada. Quando ele me procurou para falar sobre você, me passou tanta
verdade, Isis. Você sempre foi fechada a relacionamentos, é bom pensar
realmente para não se foder logo na primeira chance que está dando a si
mesma. — Amo a sinceridade de Flor.
— Obrigada. — Sorrio. — Você está certa. — O celular dela toca a fazendo
gritar.
— Oh, meu Deus! É Joseph! — Suas reações são tão adolescentes que me
encantam. Na verdade, Flor acaba mesmo de deixar a adolescência. Só agora
está se transformando em uma mulher. Tio Bê acabava a mimando
excessivamente e impedindo um crescimento.
— Atenda! — A encorajo.
— Ok. — Anuncia e atende, colocando no viva-voz. — Olá! — diz
timidamente e eu fico atenta.
— Flor, está tudo bem? — Velho do céu! Que Deus e Maria Flor me
perdoem, mas a voz de Joseph ao telefone é tipo disk-sexo. Você ouve e tem
um orgasmo.
— Tudo bem, e com você?
— Eu a vi pela janela, minutos atrás. Talvez você tenha visto um episódio
desagradável.
— Vi só até a parte em que ela tentou enfiar a língua na sua boca — comenta
Flor. Sorrio da maneira “despretensiosa” que ela escolheu dizer.
— Ok, não deve ser algo bom de ver, não é mesmo?
— Não mesmo — ela afirma.
— Eu dispensei a babá. — Flor ri assim que ele fala, ouço-o devolver o riso.
Deve ser algum assunto que tenha estado em pauta entre os dois. — Enfim,
estava pensando se você gostaria de passar a noite aqui para fazermos
programas de crianças. Afinal, há um monte de comidas para crianças... —
Gente, vivi para ver Joseph Vicenzo ser derrubado por Maria Flor.
— Programas de crianças? — Ela questiona.
— É... pizza, filmes de ursinhos, guerra de travesseiros e muitas guloseimas.
Mas só se você quiser conhecer Mathew. Não é uma imposição. — Flor abre
a boca e fecha, repetidas vezes.
— Estarei aí mais tarde — ela anuncia e Vincenzo solta um suspiro.
— Aguardarei — diz, encerrando a ligação. Enquanto é isso, Flor fica alguns
longos segundos encarando o celular.
— Isso é real? — questiona.
— Parece que sim. — Sorrio. — É real. — O homem está tombado por Maria
Flor, definitivamente.
— Vamos ao shopping!
— Vou me trocar — informo, saltando da cama.
Talvez dar uma volta no shopping melhore meu humor.
Saindo do quarto, trombo com Heitor. Ele está abatido. Consegue estar pior
do que eu me encontrava minutos atrás.
— Está tudo bem? Está sentindo algo? — questiono, preocupada.
— Dor — diz.
— Quer algum remédio?
— Eu me apaixonei rápido e levei um pé na bunda. Há algum remédio? —
Pergunta. — Para piorar, sei que há algo errado acontecendo com Milena. Eu
preciso de sua moto, preciso ficar à espreita. Há algo muito errado, mas ela
não me atende e nem foi à delegacia. Fiquei escondido próximo ao
apartamento dela parte da noite, mas não vi qualquer movimentação. Preciso
segui-la apenas para me certificar de que ela está bem. Juro que, se tiver tudo
bem, a deixarei e tocarei minha vida. Mas se eu vir algo errado...
— Calma. Respira. Que espécie de algo errado? — Não estou conseguindo
compreender.
— O ex-marido dela me causou um mau pressentimento. Ela me ligou
dizendo que havia reatado e foi muito insistente em pedir que eu me
afastasse, como se estivesse sentindo medo. Diabos! — Ele passa pelos
cabelos. — Ela estava com medo, era visível. Ele deve ter a ameaçado.
— Minha moto é sua. Aliás, diga que ela é realmente sua ou minha mãe
acabará com a minha vida — peço. — E, por favor, tome cuidado. Se você
sentiu que ele é perigoso, tenha cuidado redobrado e me ligue se precisar de
qualquer coisa.
— Obrigado, Isis. Se nada der certo para nós, nos casamos. Esse lance de não
poder pegar primo está ultrapassado.
— Claro. Idiota. — Rio e ele me dá um tapa estalado na bunda, antes de
descer correndo.

Meia hora depois, Flor e eu, estacionamos no shopping e saltamos do carro,


agora um pouco mais animadas. Nossa primeira parada é em uma loja de
lingeries, onde eu e ela abusamos das compras e renovamos o estoque para o
ano.
Paro em uma loja de doces, e compro chocolates o suficiente para afogar
minhas mágoas pelo resto do final de semana. Em seguida, começamos pelas
lojas de brinquedos, porém, Maria Flor parece completamente perdida.
— Ok, tive uma ideia. — Ela anuncia, após rodar a loja inteira. — Joseph é
engenheiro, talvez Mathew queira seguir o pai... que tal dar algum brinquedo
ligado à construção? Nem que seja blocos de montar...
— Excelente ideia, finalmente! — Sorrio.
Ela compra o tal brinquedo e, em seguida, nos sentamos em um barzinho para
tomarmos um Chopp.
— Eu fui a um clube de swing — conto, atraindo sua atenção.
— É o que? Sério?
— Sim. Fui pega em flagrante observando o local, então o dono me convidou
para conhecer — digo com naturalidade, como se estivesse dizendo que fui à
missa. — Que dono, Flor! Puta merda! Na verdade, estou evitando lembrar
dele para conseguir controlar a minha vontade de transar.
— Como assim? Você viu tudo ou participou? Você participou de um swing?
— grita.
— Fala baixo, por gentileza. E não, eu não participei, mas vi um casal
transando e ... Misericórdia, Flor! E eu estava bêbada e necessitada... então
fiquei muito excitada e insana. Talvez eu tenha deixado Bruce me tocar...
talvez eu tenha implorado para ele me foder — revelo, cobrindo o rosto.
— Bruce? Tipo Bruce Venture? — pergunta rindo.
— Tipo isso, numa versão mais quente e melhorada. Ele, diferentemente do
Bruce Ventura, é negro, de arrancar o folego de qualquer mulher. O homem é
um espécime espetacular. Você não faz ideia! Ele é lindo e tem um sorriso
fodidamente perfeito. É inteligente, intelectual, porém, muito brincalhão e
leve — sorrio, lembrando-me. — Nós fomos lanchar no MC Donald’s e
ficamos a madrugada toda conversando e rindo, sem toda pressão sexual,
sabe? Foi uma excelente experiência. Fora que Bruce é um gostoso, cheiroso,
que dá vontade...
— Vontade de? — Ouço uma voz e começo a rir para Flor. Existem
momentos constrangedores que só acontecem comigo. É isso.
— Você é o Bruce? — Flor questiona. Eu nem mesmo tenho a coragem para
olhar.
— Prazer, você é? — O ouço dizer.
— Maria Flor. — Flor, muito sorridente, o responde. — Sente-se conosco
para que minha prima possa concluir a avaliação que fez sobre você... — Eu
vou matá-la!
Bruce se acomoda em uma cadeira ao meu lado, cruza as mãos sobre a mesa
e me encara.
— Conclua — pede sorrindo. Que sorriso perfeito!
— Dá vontade de...sentir o cheiro — minto.
— Se eu sou cheiroso, logo você já está sentindo o cheiro — diz, arqueando
uma sobrancelha e com um tom desafiador. Seguro um sorriso.
— Você disse que viria semana que vem.
— Eu ainda virei, mas agora virei apenas para vê-la. A reunião que eu tinha
foi antecipada para hoje, aqui no centro administrativo do shopping. —
Explica. — Estava passando e a vi. Iria ligar para você mais tarde, para
jantarmos.
— Oh! Que incrível! Bom, eu tenho um encontro quente com um homão e
uma criança de dois anos, então acho que já vou. Você ficará, não é mesmo,
Isis? — Flor questiona.
— Acredito que sim.
— Eu cuidarei dela — Bruce diz piscando um olho para Flor, que sorri.
Entrego minhas compras a ela e então encaro Bruce, quando ela se vai. Que
homem! — Então Isis, como está?
— Bem. E você, Bruce? — Sorrio.
— Vejamos, há uma linda mulher, com os olhos mais impactantes da história,
ao meu lado. Eu estou bem? Estou ótimo! — brinca. — Vamos, preciso que
me ajude a comprar algumas roupas. Não trouxe.
— Sério?
— Claro que sim — diz ficando de pé. Um pouco tonta com o impacto de vê-
lo, me levanto.
Enquanto andamos pelo shopping, ele vai olhando as vitrines de várias lojas.
Entramos em uma e ele me pede ajuda para escolher algumas peças. É
divertido.
Quando ele vai experimentar, acomodo-me em um Puff e relaxo. Estou
mexendo em meu celular quando ouço a voz de Lorenzo: — Isis? — Levanto
minha cabeça para encontrá-lo com... Paulinha.
— Oi. Tchau.
— Isis, me desculpe... me desculpe por isso — repete. O que o salva de
receber um xingamento é Bruce, que escolhe o momento ideal para sair do
provador sem camisa, vestindo apenas uma calça jeans. Desvia todo meu
foco. Eu lamberia cada gominho desse tanque.
— Ficou boa? — questiona, demorando um pouco a se dar conta da presença
de mais pessoas. Viro-me para Lorenzo e sorrio: — Me desculpe por isso! —
digo, levantando meus ombros antes de voltar a minha atenção a Bruce. —
Ficou ótima.
— Ok — diz, desconfiado, voltando ao provador.
— Isis...
— Está tudo bem, Lorenzo. Estamos seguindo, não é, Paulinha? — Sorrio e a
garota suspira antes de sumir pela loja.
— Me perdoe por isso.
— Não tenho que te perdoar — informo, sentindo meu peito doer. Está tudo
errado.
Bruce agora volta com uma camisa e encara Lorenzo.
— Olá — cumprimenta, educadamente. Porém, Lorenzo não é tão educado
assim, e simplesmente sai sem respondê-lo. — Seu ex?
— Sim. — Sorrio. — Está lindo, Bruce! Parabéns! — Ele sorri e volta
confiante ao provador.
A parte mais confusa é quando entramos em uma loja para comprarmos
cuecas. Todas as atendentes querem atendê-lo. Eu fico rindo ao invés de
julgá-las. Eu faria o mesmo. Quem não faria? Bruce leva seu tempo
escolhendo, paga e seguimos nossa jornada.
— Então... ainda é cedo para jantarmos— ele diz, enquanto caminhamos até
um carro que, provavelmente, é alugado.
— Eu agradeceria se pudesse ir em casa tomar um banho e me arrumar
devidamente — digo.
— Você está linda!
— Até posso estar, mas preciso de um bom banho e uma roupa menos
esportiva — explico.
— Mulheres! — Diz sorridente. — Tudo bem, onde fica sua casa? Aliás,
você dirige? Estou cansado — sugere, entregando-me a chave do carro.
Ele vai tenso e assustado com a minha performance ao volante.
— Você é meio maluca, não é? Não quero morrer ainda não. Bem que eu
desconfiei que você era louca naquela noite — brinca.
— Eu estava louca aquela noite. Não faça com que eu me arrependa, pelo
amor de Deus, senhor Bruce — peço e logo estamos em minha rua. Quando
estaciono, Bruce solta um suspiro de alívio.
— Graças a Deus chegamos vivos!
— Eu não posso convidá-lo para descer. Minha mãe está aqui e ficaria meio
confuso — digo. Porém..., o destino quer me foder, porque, do nada, minha
avó e ela surgem ao lado do carro, chegando de algum lugar.
— Sua mãe está vindo — anuncia, mas, na verdade, é minha vó. — Aquela é
sua irmã?
— Essa é minha avó, aquela é minha mãe — explico.
— Sério? Parecem irmãs, ela é novinha. E sua avó parece mãe. — Sorrio com
sua avaliação.
— Ok, vamos descer. — Desço e ele me acompanha. Minha mãe o seca dos
pés à cabeça e pressiona os lábios segurando um sorriso. — Oi... esse é
Bruce, um amigo.
— Bruce tipo Venture fodedor? — questiona minha avó.
— Tipo isso. — Rio enquanto Bruce se apresenta a elas.
— Gente, sério, você me lembra o passado. — Minha avó divaga enquanto
sorri. — Aliás, Dudu é o nome do passado.
— Bruce Venture...parece que é de família isso — comenta Bruce.
— Bom, já que você conheceu minha avó e minha mãe, talvez queira entrar e
me
esperar? Sou rápida.
— Oh, temos um encontro? — questiona minha mãe. Dona Vic está muito
sorridente. Se fosse o meu pai aqui, o drama era certo.
— Temos, Isis? — Bruce me pergunta.
— Acho que sim. Não?
— Temos um encontro — ele afirma sorrindo.
— Agora que me toquei, você é brasileiro? — sonda minha mãe, unindo o
braço ao dele. É desta forma que começamos a caminhar para dentro de casa.
Bom que já estão íntimos antes mesmo de conversarem.
Assim que entramos, pegamos Maria Flor na cozinha. Não sei o que houve,
mas a insana está bebendo um copo de uísque.
— Não é água não viu, querida — avisa minha avó.
— Eu estou muito nervosa. Joseph... estou indo dormir com ele novamente...
com o agravante do filho.
— Joseph? Joseph Vincenzo? — Bruce questiona.
— Você o conhece?
— Claro. Diga a ele que Bruce mandou um abraço. Aliás, você é namorada
dele? — Bruce questiona, acomodando-se no sofá.
— Somos algo não definido. — Ela sorri. — Ok, deixamos a conversa para
depois. Preciso ir.
Ela pega a bolsa, o saco de presente e sai feito louca.
— Bom, vou me arrumar. Não importunem o Bruce, por gentileza. Espero
voltar e ele ainda estar aqui, me esperando.

Tomo um banho, cubro meu corpo de hidratante e vou direto vestir uma
roupa que nunca usei. Escolho uma calcinha decente, faço uma maquiagem
leve e calço uma sandália que combine com todo o look. Fiz tudo isso em
quarenta minutos contados no relógio, bati todos os recordes.
Quando desço, Bruce está gargalhando com minha mãe. A risada termina
quando ele me vê. Sinto-me quase despida com a intensidade do olhar. Tão
quente quanto é possível.
— Meu Deus! Serei clichê novamente, mas a sua filha é uma princesa — ele
diz à minha mãe.
— Ela é. A mais linda de todas as princesas. — Dona Vic concorda, radiante.
Quando Bruce fica de pé, permito-me sentir um pouco de ansiedade.
— Vamos, senhorita? — Aceno positivamente com a cabeça e o sigo, após
me despedir.
Assim que nos acomodamos no carro, ele solta um suspiro no mínimo
curioso.
— Vou passar no hotel, alguma objeção? — questiona.
— Nenhuma.

Eu fiquei o aguardando enquanto tomava banho e agora estamos indo a um


pub. Nada de restaurantes finos, porque não gosto e o convenci a algo mais
leve.
Comemos e agora estamos de pé. Eu estou encostada em um balcão e ele está
de frente para mim, tomando alguns drinks enquanto conversamos
banalidades. É estranho que não tenhamos dado um único beijo? É estranho
que eu esteja frustrada?
— Ficará o restante do final de semana? — questiono, após ele me contar
sobre sua reunião. Descobri que ele, além de ser dono do clube, é advogado e
administra um escritório de advocacia. Descobri também que ele é advogado
pessoal de Joseph Vincenzo e, essa reunião que foi antecipada, tem a ver com
algo pessoal que Vincenzo está enfrentando. Bruce, precisou se reunir com
outros advogados. Devido a questões de ética, ele não adentrou ao assunto e
estou morrendo de curiosidade.
— Acho que sim — diz com um sorriso misterioso. — Me explique mais
sobre a sua profissão.
— Minha família possui vários abrigos para crianças carentes, jovens e até
mesmo adultos, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Eu cresci em meio a
isso, cresci participando de causas sociais. Então escolhi assistência social.
Não sei se é assim que é chamado aqui na Califórnia. No Brasil, assistente
social é o profissional licenciado em serviço social, que pode atuar nas
expressões da questão social, nas políticas sociais públicas, privadas e nas
organizações não governamentais. Eu trabalho desde jovem resgatando
pessoas necessitadas. É algo muito importante para mim. Fugi um pouco da
linha “advogado”.
— Isso é incrível, Isis. Incrível mesmo! Você pretende continuar na
Califórnia?
— Pretendo. Estou gostando muito daqui. Era para ser apenas um ano
sabático, mas em breve começarei minhas pesquisas para engajar em causas
sociais por aqui. Sinto que é a minha missão. — Os olhos dele estão
brilhando agora. É desconcertante.
— Estou ainda mais encantado. Generosidade, benevolência, se preocupar
com o próximo, são características que faltam nas pessoas. Você as possui.
Isso é lindo e encantador. Isis não é só Absinto — brinca.
— Não. Na verdade, Isis é bem diferente do que tenho sido nos últimos
meses. Meio que me perdi aqui, mas estou tentando me reencontrar.
— O primeiro passo é a força de vontade. Vejo que você já a tem.
— Sim — afirmo, enquanto ele me olha intensamente. Esse homem é
desconcertante o tempo todo. — Me conte mais sobre os seus gostos
singulares — peço sorrindo de lado.
— Oh, meus gostos singulares? Bom, o que posso dizer? Não significa que
eu pratique apenas os meus gostos singulares. Gosto de algumas práticas do
BDSM e gosto de ver cenas se desenrolando diante de mim, mas isso não
significa que eu seja resumido a isso. Você, por exemplo, caso a gente se
conheça intimamente, já adianto, não há BDSM para você.
— O quê? Por quê? — indago, curiosa.
— Não é para todos, Isis. Suas características não são de alguém preparada
para ser subjugada ao extremo. Não a vejo sendo grampeada, chicoteada ou
qualquer outra coisa. Você parece uma princesa, mas é quente, eu pude
perceber. — Ele sorri. — Enfim. Você é para o sexo selvagem, nada além
disso. Até pode experimentar algumas coisinhas, mas voltadas à dominação
apenas, nada além. Palavra de um homem experiente no assunto.
— Como sabe minhas características sexuais em tão pouco tempo? —
questiono arqueando uma sobrancelha e o fazendo sorrir.
— Permita-me fazer algo que quero fazer desde que a vi? — pede, dando um
sorriso desconcertante. Balanço a cabeça concordando, então ele toma o copo
da minha mão, o deposita sobre a mesa e quebra a distância entre nós. Engulo
em seco quando suas mãos tocam meus quadris. É breve, apenas uma delas
permanece, enquanto a outra vai subindo lentamente pela minha cintura e
para em minha nuca. Me perco no toque, ao mesmo tempo em que me perco
na proximidade do seu corpo, que agora está sendo grudado ao meu de um
jeito quase inapropriado. Ele enfia sua mão por entre meus cabelos e então dá
um sorriso cafajeste antes de colar nossos lábios.
Minhas mãos, que estavam caídas, sobem para sua cintura e, quando percebo,
estou cravando minhas unhas fortemente por cima da camisa. Sua língua
duela com a minha, seu beijo é preciso, instigante e faminto, como se
quisesse provar vários pontos para mim e para si mesmo.
Agarro-o pela beirada da calça e me torno insana, querendo-o
completamente. Sabe aquele tipo de beijo que te faz querer tirar a roupa por
completo e ser tomada de todas as maneiras, livre de pudor? É exatamente
isso.
Ele tenta se afastar, mas não permito. Então ele apenas continua me beijando
do seu jeito quente, que rasga uma pessoa por dentro.
Só o deixo se afastar quando o fôlego começa a faltar. Quando abro meus
olhos, ele está sorrindo e limpando o canto da boca.
— Viu?
— O quê? — pergunto, desnorteada.
— Você é sensível ao extremo. Completamente. Você não está para o
BDSM.
— Que seja.
— Você é uma coisinha sexual, Isis. Totalmente descontrolada quando sexo
está em pauta. Vamos controlar isso?
— Oi? Não sou descontrolada — informo e ele ri.
— Você fica bonitinha brava. Quanto tempo consegue ficar sem sexo?
— Eu fiquei sem sexo por mais de seis meses... então tive Lorenzo e um caso
de derrota à parte. — Rio lembrando-me do DJ. — Ia muito em festas, mas
só ficava em beijos, nada além disso. E, foi exatamente porque eu controlava,
ou seja, não sou descontrolada. Me desculpe pelo o que vou falar agora... não
é descontrole sexual. É apenas você que me atrai sexualmente. Seu beijo, sua
"pegada".
— Oh, eu a atraio sexualmente? Conte mais sobre isso — pede, fazendo-me
sorrir. Afasto-me e pego meu copo. Um drink agora é mais que necessário.
Porém, não consigo dar mais que um gole antes que Bruce retire o copo da
minha mão.
— Está bom de beber, mocinha — anuncia. As coisas esquentaram de
repente. — Vamos sair daqui? Dar uma volta?
— Dar uma volta? — questiono sorrindo.
— Claro. Vamos dar uma volta.
Ele não permite que eu pague a conta, o que acho muito desconcertante. Eu
penso que estamos indo para o hotel, mas ele simplesmente para o carro em
um parque e descemos.
— Essa é a sua volta? — pergunto, enquanto, de mãos dadas, caminhamos
pelos jardins desertos.
— Respirar ar puro, sair de um ambiente carregado onde a paquera e a tensão
sexual estão contagiando. É dar uma volta. Talvez "namorar" um pouco. Não
gosta?
— Nunca fiz isso — admito.
— Nunca teve um namoro assim? De ir ao parque, dar uns beijos e uns
amassos? questiona, abismado.
— Nunca — afirmo rindo.
— Oh, então começaremos corrigindo isso — anuncia, encostando-se em um
muro baixo e me puxando para ficar entre suas pernas. Sua mão novamente
enlaça minha cintura e tornamos a nos beijar. Só beijar.
Nada além de beijar.
Só beijos.
Meu Deus, apenas beijos. Nem uma apalpada na bunda. Ficamos umas duas
horas assim, beijando e conversando. É totalmente diferente de tudo que já
vivi. Ele está me tirando completamente da zona de conforto e me levando a
um lugar desconhecido.
Isso se chama tortura psicológica, especialmente porque o pau dele estava
devidamente duro! Sinto-me frustrada, tentando entender aonde ele quer
chegar.
São duas da manhã quando paramos em frente minha casa.
— Está entregue, mocinha. Sã e salva, inteira.
— Obrigada? Devo te agradecer por estar inteira? — pergunto. Ele sorri,
então responde sabiamente: — Tudo ao seu tempo, Isis. Não estamos com
pressa. Costumam dizer que a pressa é inimiga da perfeição.
— Odeio que ela seja inimiga da perfeição! — informo, fazendo-o gargalhar.
— Vamos sair à tarde? Passo às 15h para pegá-la. Vista algo confortável, de
preferência tênis.
— Não me chame para uma corrida no parque — aviso rindo.
— Vamos descarregar um pouco da adrenalina.
— Aonde iremos? Motel? Preciso de tênis? — pergunto, provocando.
— Não é motel. — Ri. — É segredo. Confie em mim, você vai se divertir. —
Pisca um olho e me puxa para um último beijo antes de me levar até a porta.
CAPÍTULO 2

Dezoito horas dentro de um avião. Uma experiência desesperadora para


caralho, levando em conta o motivo da viagem. Dezoito horas sem obter
quaisquer notícias sobre Melissa. Eu diria que essa está sendo uma viagem
obscura.
Não sei do paradeiro dela, não sei como contatá-la ou encontrá-la. Tudo o
que sei é que acabei de chegar ao aeroporto e estou dentro de um táxi,
seguindo para um hotel. Só possuo dinheiro e vontade de encontrá-la, nada
além disso.
Por que ela tinha que ter deixado o celular em casa? Porra, isso complica
tudo!
Estou completamente afetado pelo fuso horário, cansado, frustrado e
estressado.
Chegando no hotel, faço meu check-in. Em busca de facilidade, optei por um
hotel no centro de Milão, Baglioni Hotel, e reservei a minha suíte pela
internet enquanto estava no voo.
Quando chego ao quarto, a primeira coisa que faço é tomar um banho. A
segunda é pedir um lanche, a terceira é pesquisar tudo sobre o velório do pai
de Mel. Os tabloides estão fazendo cobertura completa e as atualizações
chegam o tempo todo. O homem, certamente, era um influenciador sendo
deputado. O alvoroço é grandioso.
Em alguns sites anunciaram que o velório está sendo fechado, restrito apenas
para familiares e amigos próximos. Informaram também o horário do
sepultamento e o local, com isso, descubro que, para estar ao lado de Melissa
neste momento, nosso relacionamento terá que ser exposto ao mundo.
Há uma notícia que me deixa totalmente ligado.

"Sarà il ritorno di Melissa Fontana e Ignázio? La modella è stata vista accanto all'ex-ragazzo
visibilmente giù. In questo momento di debolezza alcuni legami saranno ricostituiti?
“Será o retorno de Melissa Fontana e Ignázio? Modelo foi vista ao lado do ex-namorado visivelmente
abatida. Será que nesse momento de fraqueza alguns laços serão reconstituídos?”

Puta que pariu! Por algum tempo, acabei me esquecendo de um grande


detalhe: Melissa é famosa na Itália. Isso piora as coisas. Faço uma busca
completa no Google e descubro que esse filho da puta é o ex-namorado dela.
Há tantas fotos dos dois, que fico até impactado. Inclusive, há fotos e vídeos
deles em um reality show, porém, não estou interessado em ampliar a busca e
acabar vendo intimidades. O que me deixa menos puto é o fato dela estar
séria em grande parte das imagens, visivelmente insatisfeita por estar ao lado
dele.
Ela é minha esposa e, de alguma forma, confio nela, mesmo tendo pouco
tempo de relacionamento. Eu fui traído e enganado, portanto, tinha todo
direito de não confiar em qualquer mulher. Mas há algo que me faz confiar de
olhos fechados em Mel, continuarei perseguindo e acreditando nisso.
Encerro minhas buscas, após anotar corretamente o local do sepultamento.
Exausto pela viagem, decido dormir.

Acordo com a claridade invadindo o quarto e o despertador berrando ao meu


lado.
Após um banho, um café da manhã reforçado, desço decidido a alugar um
carro. Após ajustar o GPS, sigo para um dos cemitérios da cidade, onde
ocorrerá o sepultamento. Precavido, pego minha certidão de casamento antes
de descer e encarar um mundo de pessoas. Há centenas de repórteres, carros
de emissoras de televisão e um forte esquema de policiamento.
Ao que parece, há uma área reservada para a entrada de familiares e é para lá
que sigo. Sou barrado logo na primeira tentativa e obrigado a testar um pouco
da língua italiana (que nem tenho grande conhecimento).
— Devi presentarti — pede o segurança que eu me apresente. É nesse
momento que respiro fundo e faço a revelação que nem mesmo sou capaz de
acreditar ainda.
— Marito di Melissa Fontana — pronuncio, atraindo o olhar avaliativo de
todos os seguranças. O que fez o questionamento até começa a rir. O encaro
sério, demostrando que não há qualquer tipo de piada na informação que
acabei de lhe conceder.
— Di Melissa Fontana? — questiona em tom de deboche. Pego a certidão e o
entrego. Assim que o faço, um mundo de flashes começa a explodir, um
tumulto se forma de um jeito que preciso ser escoltado por seis seguranças.
Isso é quase absurdo e inacreditável.
— É vero, c'è un certificato di matrimônio. — Ele diz que é verdade e que há
uma certidão de casamento. Só então abre passagem para que eu entre e fuja
da confusão de gritos e flashes. Repórteres gritam o tempo todo: “Você é
marido de Melissa Fontana?”. É um pouco invasivo e desconcertante,
principalmente para um homem normal como eu, que nunca estive na mira
dos holofotes. Agora será difícil sair daqui, mas sei que darei um jeito se
Melissa estiver comigo.
Caminho pelo cemitério — que mais se parece um parque. Devido ao meu
histórico, este não é o tipo de lugar que gosto de frequentar, mas não há
saída, tenho que seguir em frente. Embora eu tenha frequentado um ambiente
assim durante 8 meses seguidos, cemitérios me lembram a morte dos meus
bisavós. Desde que eles se foram, criei uma espécie de aversão.
Vejo uma movimentação distante, detenho meus passos quando consigo
visualizar Mel. Ao mesmo tempo que um alívio me invade, a dor vem junto
ao vislumbrar a desolação em que ela se encontra.
Minha grutinha!
Ela está parada, de cabeça baixa, seus braços estão caídos ao lado de seu
corpo como se tivesse sido derrotada. O intrigante é perceber que minha
garota está alguns metros afastada dos familiares, sozinha, sem ninguém ao
seu lado... isso dilacera meu coração e enche meu peito de raiva. Melissa
parece tão perdida e solitária, que mal consigo reconhecê-la. Não existe
aquela garota inconsequente que fala mil e uma insanidades, que brinca e
sorri. Ela parece morta, sem vida, sem cor e sem ninguém a quem se apegar.
Às vezes, é preciso estar com as mãos livres para segurar algo novo. Eu sou o
algo novo de Melissa Fontana e darei minha mão a ela...
Tomo uma longa respiração e caminho até minha garota solitária. Mel está
tão distraída que nem nota minha aproximação. Seguro sua mão esquerda,
entrelaçando nossos dedos, e ela me encara em choque.
— Você está aqui — afirma para si mesma enquanto limpa algumas lágrimas.
— Eu estou, meu amor. Espero que não fique triste por milhares de pessoas
estarem sabendo neste momento que você é uma mulher casada.
— Você revelou? — questiona, abraçando-me forte.
— Foi o meu passaporte para conseguir entrar e encontrá-la. Há centenas de
repórteres lá fora. Certamente estarei estampado na mídia em alguns minutos,
se já não estiver.
— Você está bem com a exposição? — questiona.
— Eu estou bem, se você estiver comigo — afirmo.
— Sua mãe... você a deixou para estar aqui. Me desculpe por não ter dito
nada, apenas vi o quanto você está sofrendo por ela e não achei justo
interromper um momento de vocês.
— Estou com você, meu amor. Nunca deixaria você enfrentar tudo isso
sozinha, Mel. Jamais. Porém, compreendi sua postura, admirável, embora eu
não tenha ficado satisfeito. Foi agoniante ficar esse tempo todo sem notícias.
Você partiu sem deixar meios de comunicação. Precisei recorrer a sites de
fofoca para descobrir onde seria o sepultamento. Enfim, minha princesa, nada
disso importa agora, ok? Já a tenho em meus braços. Me diga como você
está... me diga por que não está lá com todos os seus familiares — peço.
— Eu não sei. Sinto muito que meu pai tenha falecido, mas minha luta
interna é por não estar sofrendo como uma pessoal normal sofreria. Eu estou
me julgando desde quando fui avisada, não está doendo, Arthur. Está doendo
não doer, entende? — É um pouco confuso, mas a entendo.
— As circunstâncias fizeram isso, Mel. Não adentramos muito nesse assunto,
aliás, nem mesmo tivemos tempo. Porém, pelo pouco que soube, vocês
perderam o vínculo há um bom tempo.
— Não sou uma pessoa ruim por não estar sofrendo tanto? — questiona, com
uma inocência absurda que me faz apertá-la mais.
— Você não é uma pessoa ruim. Você é uma pessoa verdadeira, Melzinha.
— Eu não estou ali por muitos motivos, mas o principal é por não conseguir
ser falsa. Não consigo fingir lágrimas e sofrimento. Estou sofrendo por mim
mesma, por me sentir pequena diante de tudo isso. Por me sentir fria e alheia.
— Você não é fria, Melissa, longe disso. Você é acolhedora, amorosa...
— Não me encaixo aqui, não mais — confessa, cortando-me.
— Onde você se encaixa? — questiono. Ela até me dá um sorriso.
— Eu me encaixo aqui, em seus braços. É errado?
— É certo pra caralho. — Sorrio beijando sua testa.
— Você está aqui mesmo.
— Sou o seu marido — afirmo.
— Estou meio te amando.
— Meio?
— Meio inteiro. Obrigada por vir, você é meu super-herói, está além do meu
sonho de princesa. Meu porto seguro. Só tenho você — declara com
seriedade.
— Seu sonho de princesa ... — Rio. — Amo ser seu sonho de princesa. Você
me tem Mel, sou seu marido.
— Eu te am... — Mel diz, mas é cortada.
— Melissa? — Uma voz a chama e me viro para encontrar o homem da
foto... conhecido como ex-namorado de Mel.
— Ignázio — ela diz secamente.
— Chi è quest'uomo? — Ignazio pergunta quem sou eu, de uma maneira que
não me agrada muito. Como se estivesse tentando controlar a minha esposa.
— Marito di Melissa, piacere, Arthur — digo e Mel me encara.
— Você fala italiano? — pergunta sorrindo.
— Não muito, mas dá para me virar em algumas coisas. — Sorrio.
— É muito sexy! — pontua. Eu beijo sua testa. Mel é uma princesa. A frase
meu sonho de princesa combina bem com ela.
— Eu também sei me virar no inglês — ele afirma, atraindo minha atenção.
— Já que é uma conversa em inglês, pode começar me explicando que
história é essa de marido? — questiona a Melissa.
— Não devo satisfações — ela afirma.
— Casamo-nos recentemente, nossa lua de mel foi interrompida pela
fatalidade — explico.
— Nós temos assuntos inacabados — insiste ele, enquanto ela finge não ter
ouvido o que acabei de dizer. Por enquanto, apenas por enquanto, estou
calmo. Espero que ele não mude isso.
— Nós não temos quaisquer assuntos a serem concluídos! — Mel afirma.
— Nós temos — ele rebate, pegando seu celular e mostrando a foto que vi
estampada nos tabloides. Mel suspira e ele sorri.
— Você é um imbecil de achar que uma foto ridícula tirada por um fotógrafo
mais ridículo ainda vai afetar o que eu e Arthur estamos construindo. Se
tínhamos algum assunto pendente, agora não temos mais — esbraveja Mel.
— Essa foto foi próxima à casa da minha família, Arthur, eu saí para ir à
lanchonete e esse imbecil foi atrás. Um paparazzi aproveitou o momento e
fez o clique inédito, agora estamos espalhados por todos os tabloides e estão
especulando uma reaproximação que nunca irá acontecer —explica sem que
eu tenha solicitado qualquer explicação sobre isso.
— Melissa! — Uma senhora alta, que deve ter na faixa de uns cinquenta
anos, surge toda vestida de preto, amparada por uma... Mel? A mulher é
muito parecida. Porém, tem essas coisas loiras no cabelo e não é tão bonita
quanto minha grutinha. Na verdade, ela parece montada e artificial. Já a
minha grutinha é naturalmente linda. Ela me analisa de cima a baixo, então
esboça um sorriso. Melissa me solta e cruza os braços encarando a irmã
fixamente.
— Já acabou a análise? Piranha! — questiona e xinga a irmã em inglês. A
mulher faz uma careta e sorri para mim de maneira descarada.
— Non ci presenterai al tuo amico? [2]— Questiona a senhora, que imagino
ser mãe dela.
— Questo è Arthur e lui non è mio amico, lui è mio marito [3]— revela,
deixando a mulher boquiaberta. Não me movo para cumprimentá-la. O que
esperar de uma mulher que deixava a própria filha criança em meio a uma
tempestade de raios e trovões?
— Non sei pazzo di aver sposato, Melissa Fontana. Non oserebbe! [4]— Ela
grita.
— Siamo in luna di miele. Sfortunatamente siamo stati interrotti dagli eventi
[5]
— revela Mel sem fraquejar, encarando-as duramente.
— Sei la delusione della famiglia. Odio tuo padre lasciare parte dell'eredità a
te — [6]esbraveja a mulher.
— Prendi la mia parte dell'eredità e mettila nel culo — [7]rebate Mel,
deixando-me chocado e então ri. — O dare a Belen una nuova chirurgia
plastica. Dato che le piace esibirsi su xvideos.[8]
— Que porra! A irmã de Mel tem vídeo no xvideos?
— Ignázio è l'uomo ideale per te. Non lo vedi? [9]
— È un traditore volontario [10]— afirma Mel e uma plateia começa a se
juntar. Antes que a situação perca o controle decido retirá-la desse ambiente.
— Dove stai portando mia figlia? — [11]quer saber a mulher.
— Lontano da te. Non permetterò mai a mia moglie di andare attraverso
situazioni spiacevoli come questa [12]— respondo, acelerando o passo e então,
quando saímos do cemitério, somos engolidos por um mundo de fotógrafos.
— Puta merda, eu sinto muito por isso. Não sei se conseguiremos sair daqui
— diz Mel, temerosa.
— Nós conseguiremos de um jeito ou de outro — asseguro, segurando-a
firme e então enfrento de cabeça erguida os fotógrafos. — Puoi scusarci, per
favore? — peço licença e felizmente a altura e meu porte físico ajudam eu
adentrar em meio a multidão e proteger Mel ao mesmo tempo.
Demoramos pelo menos um cinco minutos em meio ao tornado, quando nos
vemos livres, começamos a correr rumo ao carro. Os loucos vêm correndo
atrás. Abro a porta rapidamente para Mel entrar, porém, ela pega a chave da
minha mão e anuncia: — Eu dirijo. Conheço tudo aqui. — Corre para o lado
do motorista e eu me acomodo no banco do passageiro.
A maluca liga o carro e, com toda a insanidade que possui, sai acelerando.
— Porra, Mel! Você quer nos matar? — questiono, segurando fortemente no
banco.
— Eu juro para você, que Deus perdoe meus pecados, virgem da grutinha me
conceda o perdão, mas eu preciso transar. Preciso transar como uma louca
por horas seguidas. O tirano do meu pai acabou de ser enterrado, os que
sobraram da família começarão uma perseguição do caralho até me encontrar,
os repórteres não darão sossego enquanto estiver aqui e, principalmente, até
descobrirem tudo sobre a sua vida. A adrenalina está correndo intensamente
dentro de mim. Eu sou muito casada, me sinto muito casada mesmo! Nós
podemos transar do seu modo psicopata de fazer sexo, marido?
— Modo psicopata?
— É, que quase estrangula e fode forte — explica.
— Você está querendo dizer que eu faço sexo como um psicopata?
— Você detona minha boceta, destrói a bichinha na pressão! Mas sei que se
controla por saber que carrega um armamento bruto entre as pernas — afirma
com toda a naturalidade. — Você me dá o seu pior? Pode me deixar o
sentindo até a próxima encarnação? — pede.
— Estou hospedado no Baglioni — informo.
— Graças a Deus! Assim não teremos que enfrentar repórteres na porta do
meu apartamento. — Suspira, antes de fazer uma curva quase mortal. Não
vou discutir com maluca, Mel está agindo de um jeito insano, então me resta
relaxar e deixar que ela enlouqueça. É assim que casais loucos sobrevivem.
Ao menos é assim que vejo meu pai fazer, então aplicarei com Melissa todos
os ensinamentos que tive.
Lembro-me que, quando a vó de Larissa morreu, ficamos mais de três meses
sem sexo. Mel acabou de enterrar o pai e quer foder pra caralho, tipo um
ritual do descarrego. São relações diferentes, porém, ainda assim, surpreendo-
me.
Ok, parece que estou sendo um babaca pensando desta maneira, mas não
estou. A família da Mel é uma bosta, não sei muito, mas só a cara que Isis fez
ao saber que Mel tinha vindo sozinha para Itália, confirma tudo que penso. E
esse pequeno encontro também. Para piorar, descobri que a família dela torce
para uma reconciliação entre ela e aquele idiota.
Chegamos ao hotel e entrego a chave para o manobrista. Todos os olhares se
direcionam a nós, cochichos começam por todos os lados e eu percebo que
estou em meio ao fogo cruzado. Mel é uma celebridade reconhecida, eu sou
um homem contido, amo e faço questão de ter minha privacidade respeitada.
São dois extremos, dois seres humanos completamente diferentes juntos.
Casados.
Consumido pela pressa de me ver livre da invasão de privacidade, arrasto-a
até o elevador. Na segurança e privacidade, solto um suspiro enquanto Mel
faz um biquinho engraçado.
— Me perdoe por fazê-lo passar por isso.
— Você não está me fazendo passar por nada, Mel. Eu escolhi você e toda a
bagagem que carrega. Não escolhi apenas a pessoa que você é na Califórnia,
escolhi você completa com passado, presente e futuro. Irei me acostumar com
isso, é apenas a primeira vez que passo por algo desse tipo, então é normal
estar assustado.
— Você deixa eu fazer penteados nos seus cabelos? — Ela muda de assunto
com uma facilidade. Isso é foda.
— Deixo, Mel. — Sorrio.
— Sério que você não me acha uma pessoa horrível? Eu me sinto a Malévola.
Não, eu me sinto a Arlequina. Não, me sinto a bruxa da Branca de Neve. Ou
melhor...
— Mel, você não é nada disso e muito menos uma animação da Disney, meu
amor.
— Mas eu estava triste por não estar triste, compreende? Quer dizer, eu sinto
que ele tenha falecido, nunca desejei a morte de ninguém, exceto da sua ex-
noiva que já está morta. Aquela finada puta. Odeio ela, preciso confessar. Se
estivesse viva e se aproximasse de você, eu mesma a matava, porque você é
meu! — Viu? Mel muda de assunto de um jeito que faz eu, um mero mortal,
ter que me tornar um gênio para conseguir compreender e absorver o que ela
realmente quer falar. Começamos pela tristeza, pulamos para a falecida.
— Tudo bem, meu amor, também não gosto mais dela. Agora me fala sobre
você. Converse comigo — digo, enquanto caminhamos para fora do elevador
e seguimos rumo ao quarto.
— Então, meu amorzinho Tutuzinho. Eu estava devastada por não estar
devastada. Eu queria que o chão se abrisse aos meus pés e me engolisse.
Então, você surgiu como um sonho real e oficial, em pele e osso, disse que
era normal eu não estar sofrendo tanto, devido às circunstâncias. Eu sinto
muito por não sentir. Quero chorar — diz entrando na suíte.
— Minha princesa real e oficial, eu a compreendo e estou do seu lado. Faria e
sentiria as mesmas coisas se tivesse passado por tudo o que você passou.
Você não é o monstro que está imaginando.
— Eu não queria que a imprensa descobrisse sobre meu marido quente. Você
foi a maior e a melhor de todas as minhas conquistas da vida, queria guardá-
lo apenas para mim. — Suspira retirando meu casaco e retirando minha blusa
em seguida. Ela está levando a sério a questão do sexo. Chuto meus tênis e
minhas meias. Em seguida, abro minha calça.
— Eu sou seu.
— Graças a Deus, você é lindo por dentro e por fora, indo e vindo, vestido ou
completamente nu.
— É decepcionante que você esteja fazendo observações e só eu esteja
ficando nu — informo, trazendo-a até mim, puxando-a pelo casaco.
— Que pegada! — sussurra em meu ouvido e beija meu pescoço, enquanto
retiro seu casaco e sua blusa. As duas peças caem ao chão, em seguida abro
sua calça deslizando a peça até o chão. — Merda, não me olhe!
— Por quê? — questiono, curioso.
— Não sei se estou com uma lingerie própria para o sexo!
— Eu não quero saber da sua lingerie, princesa, quero saber de você apenas.
Mas, de qualquer forma, você está gostosa pra caralho nesse conjuntinho
preto de bolinhas brancas — informo, pegando-a pela cintura e a depositando
sobre a cama.
— Merda! — exclama. — Estou parecendo uma galinha carijó, não estou?
Preta com bolinhas brancas... merda, mil vezes merda. Casada com um
homem desse porte e usando lingeries broxantes.
— Mel, deixa eu explicar uma coisa para você, não me leve a mal — digo. —
Quando estou perto de você e há a possibilidade de sexo, sua lingerie nem
mesmo é analisada. Minha única intenção é deixá-la nua. Isso é tudo que
quero, você nua embaixo de mim, compreende? — Começo a retirar sua
calcinha e ela ajuda a se livrar da peça.
— Merda... eu... — Chega! Perco a paciência e calo sua boca com a minha.
Mais uma reclamação e eu ficarei maluco. A maluca, ainda assim, tenta falar
e eu empurro minha cueca para baixo, liberando meu pau. É isso que calará
sua boquinha linda.
— Vem aqui, Melissa — digo, fazendo-a se sentar. Ela me encara curiosa e
atenta enquanto toco meu membro. — Chupe-o.
— Oh! É assim? Sexo mandão é o que teremos para hoje?
— Caladinha, meu amor. Chupe-o — peço mais uma vez, ela não demora
nem um único segundo. Mel tem uma boca perfeita e sabe me testar, ficando
apenas na glande, a porra da área mais sensível. Ela manipula o restante com
as mãos e, quando obtenho o bastante, empurro-a para se deitar novamente.
— Parece que terei a versão proibidona de Arthur Albuquerque Filho!
— Parece que sim — digo, segurando-a pelos cabelos e a fazendo virar de
bruços. Dou uma tapa forte em sua bunda e a vejo agarrar os lençóis. Ela
geme em antecipação do que está por vir.
Beijo suas costas e abro sua bunda com minhas mãos para conseguir um
encaixe perfeito. Guio meu membro em sua entrada e verifico quão
escorregadia e receptiva minha esposa está. Uma delícia de mulher que me
deixa louco como nunca fui capaz de ficar em toda vida. É incrível como Mel
ativa meu lado sexual, que até então era desconhecido. Talvez seja seu jeito
despudorado, onde ela finge santidade na maior parte do tempo e se revela
uma devassa na cama. Gosto disso pra caralho e nem tinha consciência.
Penetro-a e ela solta um grito.
— Machuquei você?
— Tipo... nessa posição fica mais apertado e parece que você é mais grosso
do realmente é. Seu pau é grosso de qualquer maneira, mas nessa posição
parece que tem um... — Tapo sua boca com a mão antes que ela fale algo que
vai me tirar do propósito. Vou movendo lentamente para que ela se acostume.
Enquanto é isso, beijo sua nuca e suas costas. É uma luta fazer sexo com
Melissa. Eu faço uma espécie de sexo que me deixa arrepiado e à flor da pele
o tempo todo. Nunca usei tanto meu autocontrole em toda existência e nunca
tive que controlar a vontade de gozar com tanta força. Isso é inédito e
interessante, sou eu saindo da zona de conforto e abrindo espaço para o novo.
— Está melhor agora, meu amor?
— Você nem é gente, é anjo...
— Está melhor, Melissa? — questiono, bravo.
— Você é perfeito, amor. Quer casar comigo real e oficial? — ela é muito
faladeira! Hoje ainda irei em busca de uma mordaça, estou falando sério. Está
na hora de acrescentar alguns brinquedinhos nessa relação. É mais que
necessário.
— Melissa, eu estou querendo fodê-la, pode responder minha pergunta?
— Está uma delícia. Nós podemos dar uma pausa mais tarde, apenas para
almoçar, e fazer isso o dia e a noite toda? — pede.
— Nós podemos. Agora eu só quero ouvir gemidos, ok?
— Sim, senhor — responde e quase me desarma. Ela é fofa pra caralho. Eu
amo essa mulher, certeza.
Pego um novo ritmo até me tornar descontrolado e ela obedece a meu pedido,
gemendo alto e chamando meu nome nos momentos de desespero.
Suas mãos voam para meus cabelos e eu dou o que ela pediu: um Arthur sem
limites e sem controle.
Só não esperava uma interrupção horas mais tarde, por conta de um passado
insistente: Ignázio.
CAPÍTULO 3

Tornei-me um perseguidor insano por conta de uma mulher que conheci há


pouco tempo.
Enquanto estou à espreita, próximo ao seu apartamento, faço milhões de
perguntas a mim mesmo. Por que eu estou aqui? Por que apenas não respeito
seu pedido de deixá-la? O que está me movendo? Por que agora? Por que tão
rápido? Por que e por que...
Não encontro resposta para qualquer das perguntas. Algo está errado. Senti
isso na voz dela. Sendo assim, farei tudo o que estiver ao meu alcance para
descobrir.
Eu a vejo sair, vejo-a voltar, vejo aquele homem entrar e sair. Eles se
movimentam o bastante para me deixar curioso.
Agora mesmo o vejo sair e, segundos depois, Milena surge à espreita para
verificar se ele realmente se foi. Até mesmo consigo ver sua cara de alívio ao
constatar.
Deixo o capacete na moto e então vou até ela. Assim que me vê, vejo-a ficar
branca, nem mesmo a voz sai.
— Sou eu, Milena...
— Não...não... Você precisa ir! Ele vai matá-lo... Saia daqui!
— Conte-me o que está acontecendo, deixe eu te ajudar! — imploro,
segurando suas mãos e ela se afasta como se eu fosse um ninguém.
— Por favor, eu nunca irei me perdoar se acontecer algo a você. Apenas vá
embora. Não quero vê-lo nunca mais — diz tremendo... — Você é jovem,
tem toda uma vida pela frente. Vá embora — Não consigo, Milena...
— Pelo amor de Deus, eu estou implorando para ir. Será ruim para mim
também... — As lágrimas escorrem pelo seu rosto e levo a minha mão para
limpá-las.
— Eu não quero perdê-la. Sei que ainda é cedo, mas gosto de você. Sei que
algo está errado, Milena. Me conte e eu tentarei ajudá-la.
— Você não pode. Ele vai matá-lo... Vai matar a mim também — ela chora e
isso me leva a abraçá-la. — Me solte, pelo amor de Deus! Heitor, desapareça
— implora. — Você tem uma família que a sentirá sua falta... Não se
arrisque.
— Ele bate em você? Ele faz ameaças? É isso? Por que está com roupas de
frio? Por que está pálida e fria? Por que há olheiras em seus olhos? Me
explique, porra! Me explique e eu farei algo — peço, quase arrancando meus
cabelos da cabeça. — Encontre-se comigo em algum lugar seguro, por favor,
Milena. Eu vou morrer se não souber o que está acontecendo. — Ela sofre
violência física e mental, com toda certeza. Está mais do que provado e,
constatar isso, deixa-me desesperado pra caralho. Minha vontade é levá-la
comigo.
— Não posso encontrá-lo. Não posso. Nem mesmo estou indo para o
trabalho.
— O que te impede de denunciá-lo? — questiono.
— Ele é mais poderoso que eu, ninguém acreditaria na minha palavra...
Ninguém. Ele é influente, temido e perigoso. É calculista e de uma frieza
incomparável, Heitor. Não é tão simples.
— Mas não é impossível também, Milena. Há um mundo de coisas que
podem ser feitas. Venha para o Brasil comigo. Eu volto para lá com você e a
mantenho segura. Se ele é influente aqui, minha família é influente lá. Eu a
manterei segura.
— Ele fará o mesmo com outras — justifica.
— Isso tudo que acabou de falar significa que você está assumindo que é
agredida? É isso? — questiono, ela se cala.
— Você precisa ir. — Ela é agredida tanto fisicamente, quanto
psicologicamente. Parece absurdo pelo fato dela ser uma delegada. Isso só
mostra que mulher alguma está imune a sofrer violência doméstica.
— Você precisa dar um jeito de falar tudo comigo. Eu irei, não quero que
qualquer coisa ruim aconteça a você. Mas você precisa ter uma maneira de se
comunicar comigo. Preciso saber tudo para pensar em uma melhor maneira
de ajudá-la.
— Não quero trazê-lo para isso, Heitor. Não é justo. Você nem mesmo me
conhece o suficiente para estar aqui — sussurra. — Vá, meu amor. Por favor,
vá. Estou implorando.
— Me conte tudo...
— Não tenho como. Ele está fiscalizando toda a minha vida — explica.
— Fique com o meu celular, esconda-o de todas as maneiras possíveis,
mantenha-o silencioso, retire do modo vibrador. Comprarei um novo
aparelho e enviarei um sms com o novo número para que me ligue quando
ele não estiver. Por favor, Milena, aceite isso, aceite minha ajuda — suplico,
retirando minha senha e entregando o aparelho a ela. Demora alguns
segundos até que ela aceite e isso me diz muito sobre ela. Sou bom em ler as
entrelinhas.
Ela quer sair disso, sinto isso, só há um medo gigantesco e uma infinita
quantidade de receios. Também não há ninguém para dar a mão e ajudá-la a
enfrentar tudo isso, pelo pouco que conversamos sei que Milena é sozinha.
Era. Agora ela tem a mim, independentemente do que acontece entre nós.
Basta que ela aceite isso. Eu serei insistente em conseguir. Puxo-a para um
abraço e beijo sua cabeça.
— Eu lutarei essa batalha com você! Nós vamos sair dessa juntos, Milena, eu
prometo a você — informo antes de deixá-la.
Porra, eu deveria pegá-la a força? Quão pior isso tornaria as coisas? Eu
preciso analisar toda a situação antes de agir.
Preciso saber com quem e com o quê estou lidando. Se eu estivesse no Brasil
seria infinitamente mais fácil.
Vou para casa quase no piloto automático. São tantos pensamentos em minha
cabeça agora. Há um medo de deixá-la... porra, eu nunca imaginei algo
assim.
Milena é delegada, poderosa, e está passando por isso há sei lá quanto tempo.
Isso me faz pensar em quantas vítimas silenciosas estão por aí, demonstrando
força e felicidade por fora, enquanto por dentro estão ocultando as mais
fodidas coisas. Você olha para Milena e nunca passará pela sua cabeça que
ela é agredida e submetida a um imbecil. É uma delegada, portadora de arma
e com um preparo físico espetacular.
No fundo habita a fragilidade em seu interior. Minha Milena é frágil.
Maldição!
Por que não me dei conta disso? Nessa viagem... ela estava tão entregue. Tão
malditamente entregue. Ela buscava carinho o tempo todo e eu, felizmente,
pude dar ao menos um pouco a ela.
Uma mulher que demonstrou ser rude, inalcançável. Eu, idiota, achei que
tudo que ela precisava era de uma foda para amansar. É muito além disso, ela
precisa de alguém disposto a lutar suas batalhas, alguém que cuide e zele.
Porra, é a primeira mulher que eu quero um “algo mais” e, logo de cara, já
enfrento esse quase abismo.
Preciso salvá-la. Preciso tirá-la disso, mesmo que no final da história não
fiquemos juntos. Preciso salvá-la, porque sou homem e sou incapaz de saber
que há alguém próximo sofrendo esse tipo de situação sem ter qualquer tipo
de ajuda.
Talvez seja um sinal para eu entrar nessa causa!
Quem sabe meu destino seja ajudar mulheres que passam por esse tipo de
situação? Pode ser que isso tenha sido um sinal. Minha mãe sempre disse que
precisamos saber interpretar os sinais, tanto os negativos quanto os positivos.
Tudo tem um porquê e uma lógica.
Chego em casa angustiado. Nem mesmo cumprimento minha tia e minha vó.
Subo direto para o quarto e me enfio embaixo do chuveiro. Acho que nunca
senti uma dor como essa. A dor de se sentir inválido.
— Que porra está acontecendo? — Minha avó entra no banheiro e tento
cobrir meu pau.
— Já vi alguns desses, não precisa esconder. Aliás, parabéns, você é um
Albuquerque do caralho! Pica da galáxia! — Isso me faz rir. — Vamos,
Heitor, diga o que está acontecendo, antes que eu tenha que perguntar mais
uma vez. As coisas não ficarão boas para você — avisa, sentando-se no vaso
sanitário. Até parece que a dona Mariana intimida alguém.
— Milena sofre violência doméstica.
— O quê? Como? Milena não é solteira? — questiona.
— Divorciada, mas o marido está de volta e ela está praticamente em cárcere
privado.
— Ela é delegada e tem uma arma. Como ela pode sofrer violência doméstica
quando tem a lei ao seu lado? — pergunta.
— Ele é xerife, vó. Tem praticamente o mesmo poder que a Milena, é
reconhecido e aparentemente respeitado. É influente, tão ou mais que ela. Ele
é mais velho, pelo menos é o que pareceu. Provavelmente está há mais tempo
na profissão que Milena. Além disso, o homem parece um boi de tão forte.
Milena se torna uma “ninguém” perto disso, vó. Certamente, se ela tivesse
certeza de ser devidamente amparada, teria procurado ajuda.
— Ele bate nela?
— Ela não desmentiu quando citei isso, então ele bate. O medo estava
estampado na cara dela, vó. Acho que nunca serei capaz de esquecer. É uma
merda que eu não tenha qualquer influência aqui, se fosse no Brasil seria
mais fácil. Agora preciso apenas parar e pensar em todas as possibilidades.
Preciso tirá-la disso, mas não é apenas ir lá e capturá-la. Pelo que eu entendi,
a situação é mais grave do que posso imaginar e o homem é perigoso. Meu
medo é que ele descubra sobre mim e, com isso, Milena sofra as
consequências. Não conheço qualquer pessoa influente que possa entrar e
tornar uma briga de cachorro grande. Preciso pensar e traçar estratégias.
— Eu conheço — ela diz, até desligo o chuveiro.
— Quem?
— Joseph Vincenzo. Ele é influente, Heitor. O homem é bilionário, deve ter
centenas de pessoas de alta patente que lambem o olho do cu dele.
— Porra, Joseph Vincenzo! — Não havia pensado nessa possibilidade. — Eu
te amo, vó. Não fazia ideia de como começar. Ele conhece Milena, deve
saber algo.
— Converse com ele. — Ela se levanta e me dá um beijo na testa. — Eu
estou com você. Vamos resolver isso, garoto. Mantenha-me informada. De
um jeito ou de outro, agindo com cautela ou utilizando um pouco da nossa
loucura, vamos ajudá-la.
— Obrigado, vó. — Ela se vai e eu termino de me enxugar. Para completar,
ainda preciso comprar um celular.
Nem mesmo limpei meu aparelho antes de entregá-lo a ela. O desespero faz
você fazer coisas sem pensar. Não que tenha algo comprometedor.
O quão tarde é para eu ir até a casa de Joseph? São 21h. Não é tão tarde
assim.
Visto a primeira roupa que encontro pela frente e me pego batendo à porta
dele. Odeio incomodar, porém, sinto que não conseguirei respirar direito até
tentar tudo o que posso para resolver essa situação.
— Heitor? — Diz surpreso ao abrir a porta.
— Eu preciso conversar com você — digo, então vejo Maria Flor com um
garotinho em suas costas.
— Tôr?
— Desculpe-me... eu não fazia ideia de que seu filho estava aqui — digo,
sentindo-me um merda.
— Maria Flor pode ficar com Mathew, não pode, Flor? — ele questiona.
— Claro. Com maior prazer — responde, e o garoto grita Flower ao invés de
falar “Flor”, como todos.
— Tia Flower vai ficar com você — diz Vincenzo rindo. Maria Flor faz uma
cara de brava antes de sumir.
Entro e ele me leva até um escritório, onde logo vou me sentando.
— O que está errado?
— Milena... o que você me diz sobre Anthony? — questiono.
— Não sei muito sobre ele. Sei que é xerife, cara fechado, temido por muitos.
Conheceu Milena, se casaram e isso é tudo.
— Milena sofre violência doméstica. Nós voltamos de Las Vegas e ele estava
no apartamento dela, então ela insistiu para que eu fosse embora e me ligou
minutos depois demonstrando um desespero, dizendo que não podia me ver
nunca mais e insistindo para que eu ficasse longe. Porém, tenho seguido ela,
na verdade, tem ficado à espreita. Ela não sai de casa, apenas ele. Hoje eu o
vi saindo e me aproximei dela. Ela disse coisas... foi uma confissão, Joseph.
Porém, ela teme muito, e eu nem mesmo sei por onde começar.
— Você está me dizendo que Anthony agride Milena?
— Física e psicologicamente. Você não faz ideia do quão pálida ela está, do
medo transparecendo através do seu rosto e sua fala. Conheci uma Milena
que não conhecia, tomada pela fragilidade, pelo desespero. Uma mulher
totalmente diferente da que conheci dias atrás.
— Porra, isso que você está falando é muito sério — afirma.
— Não sei por onde começar a ajudá-la, mas sei que tenho que agir com
cautela. Um passo em falso e ela sofrerá consequências.
— Tenho uma equipe de advogados, seguranças e investigadores. Nós
podemos começar daí. Se o que precisa é ajuda, entrarei nisso com você.
Conheço Milena há anos, farei o possível para ajudá-la. Vamos nos reunir
segunda-feira e cuidaremos disso, vou convocar minha equipe. Por enquanto,
se entrar em contato com ela, diga para ser paciente e cautelosa. — Até
respiro um pouco aliviado.
— Não sei nem como agradecer — digo, levantando-me.
— Não agradeça. Sou contra a todo e qualquer tipo de agressão à mulher,
tanto física quanto psicologicamente. Não posso saber disso e permitir que
continue acontecendo. Vamos resolver isso, de um jeito ou de outro. — Dou
um aperto em sua mão.
— Obrigado, cara. Obrigado mesmo.
— Fique, estamos comendo pizza — oferece, enquanto saímos do escritório.
— Não. Preciso ir ao shopping comprar um novo celular, porque deixei o
meu com ela. Isso me abalou, quando eu voltar só quero tentar dormir.
Muitas informações na cabeça em um curto espaço de tempo. De qualquer
forma, obrigado. A propósito, seu filho é lindo, parabéns!
— Ele está apaixonado com a Flower — comenta, sorrindo. Não é só
Mathew que está apaixonado com a Flower. — Que foi?
— Nada. — Rio. — Vá aproveitar a Flower e Mathew. Valeu mesmo, já
consigo ter um vislumbre de esperança.
— Flor não está feliz com o novo apelido. — Ri.
— Imagino.
— Dará tudo certo. Não se intimide, me ligue a qualquer momento caso
obtenha qualquer tipo de notícia.
— Valeu. Dê um beijo em minha florzinha e um beijo no seu pequeno.

— Mi? — Ouço a única voz que não quero escutar na vida. A cada vez que
ele volta para casa, sou invadida pelo pânico absoluto.
Que Deus me perdoe, mas eu nunca senti tanta vontade de matar alguém
como estou sentindo agora. Tudo o que tenho pensado é em uma maneira de
executar meu plano.
Embora eu seja delegada, treinada para matar, nunca precisei fazer. Aliás, já
precisei, porém, nunca fiz. Sempre miro em locais estratégicos que não levam
uma pessoa à morte, ao menos não intencionalmente.
— Milena!
— O que você quer? — Questiono, deitada em minha cama.
Meu Deus, eu quero matá-lo, mas nem mesmo tenho forças para isso. Não sei
de onde tirar a força que preciso. Não faço a mínima ideia.
Por enquanto só quero ficar assim, em um estado vegetativo.
Ele conseguiu um afastamento do trabalho para mim, de vinte dias. Minhas
saídas são controladas, tudo é controlado. É o pesadelo voltando a me
assombrar, dessa vez com uma intensidade maior e pior.
— Trouxe comida para a gente. Você está um lixo.
— Obrigada, amor. Eu estou um lixo porque estou vivendo com outro lixo.
Logo, estou contaminada. — Ele arranca as cobertas de mim e sou puxada
pelo braço, obrigada a ficar de pé. — Você está me machucando.
— Você nunca mais me chame de lixo, sua puta!
— Eu vou denunciá-lo!
— Não se eu te matar antes — ameaça, trazendo suas mãos ao meu pescoço e
me grudando contra a parede. — Você vai me denunciar, Milena? Quem vai
acreditar em você? Mando mais naquela delegacia do que você mesma. É a
sua palavra contra a minha.
— Existe corpo de delito, se eu comprovar amostra do seu DNA em mim...
— Ele ri e aumenta o aperto — Eu mando no laboratório. Eu tenho muito
mais poder do que você nunca terá. — Suspira frustrado. — Você tem a
opção de querer ser uma boa esposa, Milena. Você pode vir jantar comigo na
sala e então podemos namorar. Nós podemos voltar no passado, quando te
conheci... quando você se apaixonou por mim. Se eu fosse você, escolheria o
lado mais fácil da situação. É mais prazeroso e não corre o risco de ter esse
rostinho lindo desfigurado.
— Por favor, me deixe em paz. Vá embora da minha vida.
— Eu não sei viver longe de você. Não sei, viro um psicopata quando não
tenho você comigo. Entende isso, Milena? — pergunta em meu ouvido. —
Você tem que ficar comigo. Pode ter o meu melhor e o meu pior. Quero
jantar e então trazê-la para cama... quero você receptiva para eu foder bem
gostoso. Sinto saudades de você, Mi. Quero que tenhamos um filho. Sinto
que um bebê trará paz para a nossa relação. E, quando estiver grávida de um
filho meu, você se afastará da polícia e será apenas mãe e esposa. Nunca
deixarei faltar nada a você, princesa.
Ele é muito doentio. É assustador. Pondero em como agir e decido entrar no
jogo dele Heitor... ele agora sabe. Ele é o único que pode fazer algo por mim.
Preciso confiar nele, ao mesmo tempo em que preciso me certificar em
manter Anthony controlado.
— Um filho? — pergunto, fingindo emoção.
— Um bebê nosso. Vamos tentar ser felizes? — Incrível, ele até se parece
com o homem que me apaixonei há alguns anos. Se eu não soubesse o
monstro que ele se tornou, cairia nessa história agora.
— Eu quero um filho. Lembra que planejávamos? — instigo, forçando um
sorriso. Isso faz com que ele solte meu pescoço.
— Quero muito um filho, Milena.
— Vamos jantar então. Um filho...eu quero muito. Para termos um bebê,
precisamos ser felizes, Anthony. Promete que será o meu velho Anthony? —
peço. Ele começa a chorar.
— Me perdoe por tê-la agredido, princesa. Te amo muito. Seremos uma
família feliz. Jura que quer mesmo tentar?
— Juro — digo levando a minha mão ao seu rosto. — Eu quero muito tentar.
Estou ansiosa para engravidar! — Deveria ser contratada para alguma série.
— Vamos jantar. — Ele segura minha mão, entrelaçando nossos dedos, então
nos guia até a sala de jantar. Até mesmo puxa a cadeira para eu me sentar e
faz questão de servir tudo o que comprou.
— Talvez eu tire mais um tempo de folga para ficar com você. Quem sabe
uma viagem? — sugere.
— Acho melhor não arriscarmos. Se queremos um bebê, é melhor ficarmos
quietos em casa. Não sou tão jovem, não quero arriscar os planos —
comento, tentando não soar desesperada com essa possibilidade.
— Você está certa. Vamos tentar muito. Parou de tomar o remédio no
período em que estivemos separados?
— Sim, parei — minto
— Perfeito, Mi. Perfeito, minha princesa. — Ele sorri, está radiante. — Você
é muito linda.
— Você disse que eu era um lixo...
— Você não é. Eu estava nervoso porque tem me evitado. Você é linda,
perfeita. Eu te amo, estou louco por você, mais do que o normal. Tarado,
insano, com fome. — Merda!
Só dou um sorriso leve. Concentro-me em comer e rezar silenciosamente.
Enrolo o máximo que consigo, mas chega um momento em que é inevitável
enfrentá-lo, a refeição termina. Ele nem mesmo espera um tempo para que
possamos fazer a digestão.
Como uma doença maldita infiltrada em sua pele, sou pega brutalmente,
tenho minhas roupas arrancadas e sou colocada de quatro na cama. Ao menos
nessa posição ele não consegue ver minhas lágrimas. O homem que quer
fazer um filho comigo, deu lugar ao homem bruto e grosseiro sexualmente.
Fecho os meus olhos e, junto com eles, fecho a minha mente de quaisquer
pensamentos e sentimentos. Sem soltar um único pio, permito que ele faça
todo o serviço.
Sinto-me suja, usada, devastada e estraçalhada.
Eu me sinto como o lixo que ele disse minutos atrás.
Quando ele termina o ato e se dá por satisfeito, faz-me deitar sobre a cama e
deposita um beijo em minha testa.
Faço minha melhor cara de satisfação e, em seguida, viro-me para o canto
fingindo dormir. Ao fechar os meus olhos, permito-me viajar para um lugar
bom; Heitor.
Aquele garoto jovem que me agarrou sem ao menos me conhecer, o garoto
que demonstra ser inconsequente e impulsivo, é o mesmo garoto que me
amou de uma maneira surreal em Las Vegas e, consequentemente, é o único
disposto a segurar minha mão e me ajudar.
Heitor Albuquerque é minha única esperança.
CAPÍTULO 4

Assim que vi Joseph com a mãe de Mathew, por um momento, pensei ter
perdido toda e qualquer chance com ele. Então, surpreendentemente, fui da
desolação à surpresa, quando ele – o meu Tudão –, convidou-me para passar
a noite em sua casa, na companhia dele e do filho.
Após realizar algumas atividades para essa visita sair devidamente perfeita,
eu viro dois copos de uísque, pego minha bolsa e o presente que comprei.
Despeço-me dos meus queridos familiares, tomo uma longa respiração e vou,
na cara e na coragem, mesmo me cagando por dentro. É uma experiência que
não imaginei viver tão cedo. Até dois dias atrás, Mathew era sagrado para
Vincenzo, a ponto de não permitir que seus casos se aproximassem da
criança. Ou seja, tudo significa que sou além de um caso para esse homem. O
que é incrivelmente excitante, mas assustador.
Eu tenho estrutura para receber em minha vida um homem como Joseph
Vincenzo? Não passo de uma estudante perdida e louca.
Sério, não é uma reclamação, eu atentei o homem até consegui-lo. E não,
também não é uma desistência. Mas, porra, Joseph Vincenzo está dormindo
comigo, caralho! Eu estou indo conhecer o filho dele. É normal que eu esteja
aterrorizada com toda essa intensidade de acontecimentos que sucederam em
curto intervalo de tempo.
Fico parada em sua porta, sem coragem para apertar o botãozinho do
interfone. Ando de um lado para o outro, permitindo-me agir como a garota
que fede a leite e tudo mais... É então que a porta se abre, revelando meu
objeto de desejo.
— Ficará rodando por quantos minutos mais? — Joseph questiona. Em seu
rosto perfeito há um sorriso mais perfeito ainda. — Está nervosa, novinha?
Diga-me o que está acontecendo e resolverei todos os seus problemas.
— Está tudo bem. — Sorrio e ele me oferece sua mão.
O nervosismo me faz ponderar pegá-la. O que está acontecendo comigo? Não
tenho tempo de continuar na dúvida. Sem que eu possa protestar, Joseph me
pega com bolsa e tudo e me joga em suas costas.
— Você é maluco? O que seu filho pensará desta entrada triunfal? —
questiono, e logo ouço uma risada doce e infantil, que me faz sorrir no
mesmo instante. Desde quando eu sou uma garota que gosta de criança?
Joseph me deposita no chão e eu tento retomar a compostura. É com muita
coragem que me viro para encontrar a coisinha mais linda diante de mim.
— Oh, meu Deus, Joseph! Ele é muito mais lindo pessoalmente!
— Flower? — diz o garoto. Joseph dá uma gargalhada.
— Flor, Mathew, repita com papai, Flor — incentiva. — O nome dela em
português é Flor.
— Flower. Tia Flower — repete Mathew, acabando-se de rir. Caralho, ele é
muito risonho.
— Olá, Mathew. Sou a Flor, amiga do seu papai — apresento-me,
agachando-me até o garoto. Ele sorri e voa em meus braços, fazendo com que
eu caia de bunda no chão.
— Mathew! — repreende Joseph. Leva tudo de mim para eu não fazer um
gesto obsceno.
— Flower!
— Olá, Mathew. Flor, fale igual a titia, Flor — incentivo e ele se afasta dos
meus braços, rindo de alguma piada que não sei.
— Flower.
— Ok, eu aceito ser Flower, tranquilo. Enfim, tia Flower trouxe um presente
— anuncio, tentando ficar de pé. Joseph me ajuda.
— Não precisava comprar presente... não cabe mais brinquedos dentro dessa
casa — diz, e eu reviro os olhos.
— Sua casa está impecável, deixa de ser chato! — Digo baixinho, entregando
o embrulho de presente ao pequeno. Acho a coisa mais linda do universo
quando ele se joga no chão e leva o presente entre suas perninhas para abri-
lo. Puta merda! Ele é incrível, no entanto, mais incrível que ele é a maneira
como Joseph o olha, com total orgulho e admiração, seus olhos chegam a
brilhar.
— Bom, Flower, a pizza já deve estar chegando. Esse garotinho chegou aqui
passando mal, dei remédio e ele está melhor.
— Flower é o teu rabo — sussurro. — Apenas o seu filho pode me chamar
assim, porque ele é um bebê. Aliás, você disse que ele tem dois anos —
informo, cruzando meus braços.
— Porque faltam dois meses apenas.
— Homens e a praticidade. Ele tem um ano e dez meses — rebato e ele
arqueia uma sobrancelha. — Um bebê de praticamente dois anos.
— Ele tem dois.
— Ainda não — afirmo e o garoto dá um grito de alegria ao ver o kit de
engenheiro civil que comprei. — Gostou, Mathew? — sondo. Quando dou
por mim, Joseph está sentando-se ao lado dele e analisando o brinquedo.
— É muito maneiro — exclama, encantado.
— Igual ao do papai! — diz Mathew, colocando o capacete em sua cabeça.
No kit há um mini capacete de obras, escavadeiras, andaimes e blocos que,
após montados, formam um prédio.
— Poxa, por que eu nunca achei um desses? — questiona Joseph, enquanto
abre tudo. Na verdade, Mathew agora o está encarando contrariado e eu
acabo de descobrir que Vincenzo tem um lado criança que é encantador.
— Ei, bonitão, o brinquedo é de Mathew. — Estrago sua brincadeira. Ele
olha para o filho e percebe que o garoto está devidamente puto.
— Ok, garotão, papai se empolgou — justifica, entregando relutantemente o
brinquedo ao garoto. É cômico.
— Papai, desenho — pede Mathew. Joseph liga a televisão colocando em um
canal de desenhos.
— Agora pode esquecer que ele existe. Só voltará a me dar atenção quando
se cansar de brincar — explica, sorrindo.
— Ele é tão perfeito. Estou apaixonada.
— Sim, ele é dócil e amoroso pra caralho — diz orgulhoso.
— Diferentemente do pai, que é um tirano na maior parte do tempo —
provoco, ganhando um olhar mortal. — Estou mentindo?
— Está. Sou dócil e amoroso. — O interfone toca e eu o acompanho até a
porta, para pegarmos a pizza. Surpreendo-me ao ver que são duas caixas.
Arrumamos a mesa e, antes que possamos pegar Mathew, o interfone toca
novamente.
— Pode pegar Mathew para mim? — pede indo atender. Eu vou.
O garoto parece ter gostado de mim, porque ele vem prontamente e pede para
subir em minhas costas.
Atendo ao seu pedido e caminhamos para a cozinha. No meio do trajeto, vejo
que é o meu irmão na porta, com um semblante nada agradável.
— Desculpe-me... eu não fazia ideia de que seu filho estava aqui — diz a
Vincenzo, visivelmente chateado. — Preciso conversar com você — anuncia,
deixando-me com a pulga atrás da orelha.
— Tôr?
— Maria Flor pode ficar com Mathew, não pode, Flor? — Joseph pede, e é
óbvio que posso. O que meu irmão precisa falar de tão urgente com Joseph?
— Claro. Com maior prazer — digo e Mathew grita “Flower” em alto e bom
som.
— Tia Flower vai ficar com você — Vincenzo anuncia rindo. Quase o mando
para o inferno com uma passagem só de ida.
Há uma cadeirinha de alimentação e eu a pego para colocar Mathew. Prendo-
o nela, porque não me sinto segura ainda. Vai que ele é endiabrado? Não sei.
Prefiro não me arriscar.
— Então, Mathew, você está com fome?
— De leão! — responde rindo.
— O cheiro está delicioso, que tal comermos uma fatia escondido do papai?
— proponho. Ele balança a cabeça em concordância.
Pego uma fatia da pizza de calabresa e corto em pedacinhos pequenos. Sirvo
um corpo de refrigerante e me acomodo ao lado de Mathew.
Vou dando aviãozinho, porque não sei se ele come sozinho. Afinal, o que eu
sei sobre crianças? Só sei que fazem merda demasiadamente, nada além
disso.
A cada volta com o garfo que dou, ele dá uma gargalhada gostosa. Acho
bonitinho quando ele toma o garfo da minha mão, espeta um pedaço e faz
aviãozinho para mim. Como a mãe desse garoto consegue ser tão filha da
puta? É impossível tratá-lo mal, impossível. Estou muito apaixonada por ele.
— Que bonito! — comenta Joseph, surgindo na porta minutos depois,
pegando Mathew em flagrante, me dando aviãozinho. — Eu também quero!
Estou com ciúmes — protesta. Mathew pega um pedaço e oferece a ele.
— Está tudo bem com Tôr? — pergunto.
— Depois falamos sobre isso, ok? — diz e eu concordo. Certamente é algo
que não pode ser dito na frente de uma criança. Espero que meu irmão esteja
bem.
Joseph se aproxima de Mathew com um sorriso enorme e aceita o aviãozinho
de bom grado. Em seguida, beija o garoto com todo amor que possui dentro
de si. Quero me casar com ele!
Não, não quero.
Sim, eu quero sim.
Não!
Acabamos os três utilizando apenas um prato e um copo. Ficamos no nosso
ritual de aviãozinho, fazendo rodízio. Perco até mesmo a conta de quantos
pedaços comemos, mas sei que foram muitos.
— Bom, agora acho que deveríamos assistir um filme, o que acham? —
propõe Joseph.
— Eu posso ficar no meio? — Mathew pergunta.
— Como assim?
— No meio de você e da tia Flower. — Oh, porra! Caralho! Puta que pariu!
Eu o quero para mim!
— Claro que pode — digo, tirando-o da cadeirinha e o pegando em meus
braços. Foda-se, Joseph Vincenzo, eu estou morrendo de amores, tanto que
não quero saber nem mesmo de lavar a louça que sujamos agora.
Penso que estamos indo para a sala, mas Joseph nos conduz a um lugar que
eu ainda não conhecia em sua casa: uma sala de cinema. Há sofás tipo cama e
um enorme telão.
— Querem pipoca? — oferece, ligando o aparelho.
— Eu não aguento. E você, Mathew? — pergunto agarrada ao garoto.
— Não quero, papai.
— Mathew, você disse que queria ficar no meio e está no colo da tia Flower.
— Tia Flor! — corrijo.
— Quero ficar com a tia Flower — diz o garoto, enquanto faço cafuné em
seus cabelos. Vincenzo não diz nada, porque dou um olhar maquiavélico para
ele. Então o bonitão escolhe um filme de animação e ficamos assistindo. O
que acho mais incrível é que ele assiste atento com o filho, dedicando toda
sua atenção e apreciando o momento cinema. Enquanto eu, ao invés de fazer
o mesmo, estou focada em sua imagem sexy, deitado tranquilamente de
maneira despojada. Ele está usando uma calça de moletom cinza e uma
camisa cinza e preta. Tem coisa mais sexy que um homem de calça de
moletom? Porra...marca tudo...
Sério, se eu ainda possuía chances de ir para o reino dos céus, acabo de
perdê-las. Não existe mais salvação para a minha pobre alma sofrida. Meu
lugar no inferno está mais do que garantido e o capiroto está quente pelando
a minha espera, com o tridente em mãos pronto para atolá-lo em minha
bunda!
Há uma criança em meu colo e eu estou excitada pra caralho, observando
Joseph brincar com ele. Isso é doentio, eu sei. Aliás, não sei se me excita
mais ver Joseph no modo rude ou no modo paternal. De qualquer maneira,
ele conduz as duas opções de uma forma absurdamente quente e bem-feita.
Esse papai é foda pra caralho!
Tento me concentrar no filme e fico fazendo cafuné em Mathew, até perceber
que ele desmaiou.
— Ele dormiu — sussurro para Joseph, recebendo um sorriso.
— Vou levá-lo para o quarto — anuncia, ficando de pé e pegando Mathew
em seus braços. Desligo tudo na sala de cinema e o sigo para acompanhar
todos os detalhes desse momento único. Nunca desperdiçaria a chance de
apreciar uma cena dessas.
Ele entra no quarto do garoto e pede que eu acenda o abajur. Após acender,
sigo até a cama, afasto as cobertas e ele acomoda o filho com todo cuidado,
depositando um beijo em sua testa e o cobrindo.
É quase um orgasmo.
Eu quero e pretendo voar sobre esse homem tão forte, que nem sou capaz de
raciocinar agora. Nós podemos fazer sexo enquanto o filho dele está aqui,
não podemos? Merda, eu espero que sim.
Percebo que o quarto é monitorado por câmeras, quando o superprotetor
aperta um botão e algo gira no teto. Ultramoderno.
O engraçado é que Joseph é bilionário, sua casa possui itens ultramodernos,
porém, é simples e aconchegante; uma mistura no mínimo curiosa para
alguém como ele. É quase do mesmo modelo da minha casa, contudo, mais
bem equipada. Com todo esse dinheiro, você apostaria que ele mora em uma
mansão em Beverly Hills, o bairro mais luxuoso e famoso da Califórnia. Mas
não, ao contrário disso, ele optou pela simplicidade, algo que gosto muito e
que se encaixa perfeitamente com a criação que meus pais me deram.
— Vamos, Flower — sussurra em meu ouvido. O acompanho, mas foco em
Mathew antes de sair.
Acabo de descobrir que um dia quero ser mãe. Essa ideia nunca havia
passado pela minha cabeça, mas agora está aqui, assim, do nada. Uma criança
traz leveza para os dias difíceis. O sorriso de Mathew arrebatou meu coração.
Joseph nos conduz até a suíte principal, pega um controle, aperta alguns
botões. Imagens do quarto de Mathew surgem em sua televisão ultra
tecnológica. Acho incrível que ele tenha todo um cuidado especial com o
filho.
Ele me encara enquanto retira a camisa, causando o impacto de sempre.
Minha boca chega a salivar conforme passo a língua pelos meus lábios e
mordo meu lábio inferior. Nunca imaginei que a minha carne fosse tão fraca.
Na verdade, não costumava ser. É algo nele que me deixa assim, fraca,
entregue, idiota.
— Então, Flower...
— Pare de me chamar de Flower, merda! Aposto que foi você quem ensinou
errado para o garoto — o repreendo. Ele ri. Estou surpresa com a leveza que
ele está demonstrando hoje. Algo me diz que a presença de Mathew é o
motivo. É um amor que dá para ser sentido.
— É um segredo meu e do meu filho — responde.
— É, papai? — questiono e o vejo engolir em seco. — Continue me
chamando de Flower, papai! — provoco. O homem vem para cima de mim
com tudo. Pobrezinho, eu sou mais rápida e fujo. Subo em sua cama e sorrio
ao vê-lo de cara fechada. — Está puto, papai? — questiono. De repente, está
quente demais aqui. O suficiente para eu enganchar meus dedos no cós de
minha calca e retirá-la sob o olhar esfomeado de Vincenzo.
— Pare de chamar assim. São efeitos diferentes, Maria Flor — argumenta.
— Qual efeito te causa, papai? Mostre! Oh não, não mostre. Não podemos
transar com o seu filho em casa — digo, fazendo um enorme bico.
— Quem disse isso? — questiona, tentando me pegar enquanto fujo, pulando
pela cama afora. Ainda bem que é gigantesca...
— Eu estou dizendo.
— Você é mãe por acaso? — pergunta, contrariado.
— Não pretendo ser mãe tão cedo, mas serei um dia. Você tem sido um bom
professor sexual, de um jeito que estou me tornando viciada em sexo, papai.
Meu marido ficará feliz em ter uma esposa como eu, praticaremos sexo
excessivamente e faremos um filho. — Ele suspira.
— Então, quando tiver um filho, não fará mais sexo? — questiona. Ele para
de tentar me pegar e passa a me observar com um ar de curiosidade.
— Pouco provável. Acredito que serei como uma ninfomaníaca. Amo foder.
— Não gosto desse tipo de brincadeira — alerta com seriedade. — Sem
marido para você, Maria Flor — adverte. — Venha! Pare com esse joguinho,
parece uma criança fujona.
— Que fede a leite materno? — provoco.
— Que cheira a feromônios — explica. — Vem no papai, Flor. Sente-se no
colinho do papai, gostosa. — Puta que me pariu...ele não disse isso. Estou
chorando por todos os lados agora. Isso foi quente ao extremo.
— O que eu vou ganhar indo, papai? — Ele suspira e sobe na cama,
pegando-me de uma só vez.
Eu rio enquanto ele me faz cócegas. Somos duas crianças que fedem a leite
materno agora.
Quando estou perdendo o fôlego, ele paira sobre mim e fica analisando meu
rosto de uma maneira que me deixa sem graça.
— Você fica corada quando te olho assim — comenta. — É muito linda,
Flor. Deveria ser proibido uma mulher como você.
— Como eu em que sentido?
— Em todos. Obrigado por ter sido além de legal com Mathew. Ele gostou
muito de você e é muito importante para mim que tenha gostado dele — diz.
— Como não gostar? Ele é perfeito em todos os sentidos. É uma criança
apaixonante — asseguro. — Nunca tive muito contato com crianças, não
sabia se seria boa com ele. Mas parece que fui, até o fiz dormir. — Sorrio.
— Você foi além de boa, Flor. Estou ainda mais encantado por você. — Ele
passeia com uma mão em meu rosto e, quando vai me beijar, o interfone toca
mais uma vez. Ele pega o controle e aperta um botão que mostra a imagem da
frente da casa. O suspiro que ele dá me deixa em estado de alerta. Em um
segundo ele sai de cima de mim e fica de pé. A frustração estampada em seu
rosto não passa despercebida. — Flor, provavelmente teremos problemas
agora...
— O quê?
— Diana, mãe de Mathew — informa. — Não quero que pense que não
quero assumir você, mas eu quero resguardá-la de Diana. Não quero deixá-la
na mira dela. Pode ficar aqui e me esperar? Pode acompanhar pela câmera se
quiser... — Ele está demonstrando até mesmo receio agora. Imagino como
deve ser frustrante lidar com a mãe de Mathew.
— Ficarei aqui te esperando. Não se preocupe comigo, ok? — Reitero,
porque não quero ser mais um problema para ele lidar no dia de hoje.
— Obrigado por isso.
— Tire a calça de moletom! — ordeno. Nem por um caralho que permitirei
ele ir assim...
— O quê?
— Seu pau está duro e está marcando — explico. — Vista algo que oculte,
por gentileza, papai.
Ele me obedece. Veste uma bermuda rapidamente e uma blusa grande o
bastante para cobri-lo. Eu quase rio quando ele se vai, mas meu riso morre ao
observar o mulherão da porra que está lá fora esperando por ele. Ódio por ela
ser tão linda. Pelo visto, o padrão Joseph Vincenzo de qualidade é altíssimo,
sinto-me uma formiguinha agora. Que mulher detestavelmente linda! Parece
uma Barbie de cabelos negros. Extremamente elegante, sexy e naturalmente
sensual. Ódio!
Enquanto ela esbanja luxo, eu sou a garota com uma camisa larga da Levis,
sem maquiagem, sem porra nenhuma. Quer dizer, até há uma lingerie
bonitinha por baixo dessa camisa, mas está mais para fofa do que para
Femme fatale. Talvez seja o momento de virar um mulherão também, tendo
em vista que minha rival é luxo puro.
Vincenzo chega até a porta e então embalam uma conversa. Essa câmera
deveria ter um microfone integrado para que eu pudesse ouvir. Só consigo
ver os gestos rudes de Vincenzo com ela, que parece gritar a plenos pulmões
com ele.
A filha da puta descarada tenta agarrá-lo pela segunda vez no dia de hoje e eu
sou obrigada a ficar de pé, para conter minha indignação e a vontade de socá-
la. Puta rampeira! Eu queria ir até lá e arrastar a cara dela no chapisco de
algum muro!
Por Deus! Nunca me senti assim.
Abro o frigobar e pego uma cerveja para acalmar, mas a adrenalina agora está
correndo solta pelas minhas veias, de um jeito que me faz querer quebrar
tudo.
Ela tenta novamente, porém, ele a afasta todas as vezes. Vejo-o pegar o
celular enquanto tem uma mão à frente do seu corpo, impedindo a
aproximação. Isso é tão absurdo...
O que leva uma mulher a se humilhar dessa maneira? Aliás, o que me leva a
ficar insana dessa maneira? A resposta é bastante clara: Joseph Vincenzo,
molhador de calcinhas ambulante!
A mulher chega a agachar no chão. Eu sinto vontade de chutá-la de todas as
maneiras. Desligo a merda da televisão, porque não quero ver mais essa cena.
Há vários tipos de mulheres no mundo, eu faço parte da minoria que foge de
ver coisas embaraçosas como essa. Sou fodona para algumas coisas e covarde
para outras.
Está bem... nem tão covarde, porque, quando dou por mim, estou ligando a
merda da TV novamente.
Vejo um carro preto parar e dois brutamontes saltam dele. Abro a boca em
espanto quando eles seguram a tal Diana, levando-a com eles. Ela faz gestos
de quem está desesperada, mas se vai, incapaz de lutar contra os brutamontes.
Ela deve saber que brigar com Joseph é causa perdida.
Fico alguns longos minutos o esperando aparecer, porém, nada acontece, nem
mesmo um único zumbido. Por isso, visto um roupão que pego em seu
banheiro e vou atrás de encontrá-lo. Só não estava preparada para ver a cena
que destroça meu coração.
Ele está no quarto de Mathew, ajoelhado no chão segurando a mão do filho,
enquanto tem sua cabeça baixa.
Isso fode meu psicológico de forma que fico sem saber o que fazer ou como
agir.
Eu devo entrar e ampará-lo ou devo apenas voltar para o quarto e fingir que
não vi nada? Vê-lo desestabilizado não é agradável.
Sabe quando você nunca se imaginou em uma situação? Essa sou eu agora.
Nunca imaginei que um dia estaria na casa do meu babá, convivendo com o
seu filho e, de quebra, o vendo completamente desestabilizado.
Movida pela necessidade de dar um acalanto mínimo que seja, sigo meus
instintos e o que o meu coração está pedindo. Temerosa e me sentindo uma
intrusa em um momento tão paternal e tão dele com ele mesmo, caminho para
dentro do quarto e me ajoelho ao seu lado.
— Está tudo bem? — pergunto baixo, receosa como nunca estive.
— Sim, está tudo bem — responde, mas eu sei que não está. Ele fica de pé e
então me puxa para acompanhá-lo.
Reunindo toda minha coragem, estico-me nas pontas do pé e deposito um
beijo em sua bochecha. Ele me surpreende ao fechar os olhos e ofegar de uma
maneira doce.
Ele segura minha mão e nos conduz para fora do quarto de Mathew. Então
ele me encosta contra a parede e percebo o quão bem nossos corpos se
encaixam quando estamos de pé. Tenho um metro e setenta, Joseph deve ter
por volta de 1.85 ou pouco mais. De alguma maneira, estando nas pontas dos
pés, meus seios levemente macios pressionam o peitoral rijo dele e minha
pélvis embala sua ereção.
Ele desfaz o nó do roupão que está em meu corpo e o retira cuidadosamente,
deixando a peça cair em meus pés. Agora estou apenas de lingerie e só uma
camisa oculta esse fato.
Ele me pega pelas pernas, fazendo com que eu as envolva em torno de sua
cintura, conduz-nos até seu quarto e, quando fecha a porta atrás de nós, meu
ventre se contrai em antecipação. Esse homem é quente como um vulcão.
Sou depositada ao chão, então dou dois passos para trás, como se estar perto
demais fosse capaz de fazer meu corpo convulsionar.
Joseph estende sua mão, encontra a bainha de minha camisa e a puxa para
longe do meu corpo. Seu olhar viaja pelo meu corpo de maneira avaliativa e
ele dá um sorriso... doce? Eu não esperava esse sorriso agora, quando ele está
prestes a me devorar.
— Você é uma princesa, Flor. Eu amei isso — diz, apontando para minha
lingerie. Ele está com um olhar tão doce de admiração que eu estou puta pra
caralho. Sinto que minha vagina secou automaticamente agora, de tão puta.
Não queria doçura ao me ver seminua, queria tesão estalando por todos os
lados. Ok. Estou errada! Eu sei! — O que foi?
— Não queria que me visse como uma princesa. Não minutos antes de irmos
para a cama — confesso, ele arqueia uma sobrancelha.
— Você queria que eu te visse como? — pergunta visivelmente me
desafiando. Mais uma vez minha vagina se inunda. Esse homem é o diabo!
Dono do inferno!
— Como uma mulher com alto poder de destruição ou talvez pelo menos
como sua filhinha... — Aqui estou eu pegando o controle da situação de
novo.
— Você tem dúvidas sobre ser uma mulher com alto poder de destruição? —
questiona, sério, retirando sua camisa.
— Todas as dúvidas. Sou nova nessa brincadeira, papai. Você pode me
ensinar? — peço, à medida que ele quebra a distância entre nós. Suas mãos
descansam em minha cintura, enquanto ele mantém seu olhar penetrante em
meus olhos. Contenho um sorriso e sustento sua avaliação.
Ele tenta me beijar, então eu afasto nossos lábios provocativamente.
— Flor...
— Papai...
— Papai quer foder você — afirma, resoluto.
— Uma foda? Ou sexo? A foda de destruir a porra toda ou o sexo que
também é bem destruidor? — Ele não responde minhas dúvidas traidoras.
Afasta-se, fecha a porta com chave e anda pelo quarto em busca de algo.
Quando ele encontra o que deseja, eu engulo a seco. É um preservativo que
está descansando em sua boca, enquanto ele desfaz do restante de suas
roupas.
Ele vem caminhando em minha direção e eu vou andando de costas, até bater
contra a parede, sem chance de escapatória. Joseph se aproxima e abre o
fecho frontal do meu sutiã. Suas mãos envolvem meus seios e ele os aperta,
delicadamente, antes de ajoelhar ao chão e puxa minha calcinha.
Eu quase caio quando ele pega minhas pernas e as coloca sobre seus ombros,
uma por uma. Sinto-me vulnerável e exposta o bastante. Sei que já fizemos
sexo oral, mas assim é tão louco...Eu estou olhando para baixo e ele para
cima, quero enfiar minha cabeça num buraco, enquanto ele está prestes a
enfiar a sua língua em minha intimidade.
Seu braço contorna minha coxa, ele leva o indicador e o polegar em minha
intimidade para expô-la mais.
— Isso é tão desconcertante...
— Você quer uma foda, mas acha desconcertante que eu a beije dessa
maneira? — questiona, incrédulo. Sim, é isso mesmo, Joseph Vincenzo.
— Não é um beijo...
— Oh, é um beijo sim, Maria Flor, de língua. Você sentirá — avisa, não
dando tempo de eu formular uma resposta.
Sua boca toca minha intimidade, dessa vez não é um sexo oral carinhoso.
Fico completamente aturdida. Espalmo minhas mãos na parede, então as
desço para segurar em seus cabelos. Joseph está me devorando com sua
versão de beijo de língua vaginal. Ele me come com sua boca com
voracidade, como se fosse um banquete suculento.
— Meu Deus, Joseph! — exclamo, chocada, e o homem se transforma num
diabo sexual, consumido pelo tesão, assim que sente meu orgasmo se
aproximando. Ele para o ato e me coloca de pé, completamente frustrada e
sem forças.
Ele pega o preservativo no chão, abre-o e desliza o látex pela sua extensão.
Em seguida, me pega com força e enfia seu pau extremamente duro de uma
só vez em minha boceta, fazendo-me gritar. Isso doeu, como um inferno!
Doeu pra caralho mesmo! Porém, não me atrevo a comunicar, porque ele está
bastante insano agora. É uma foda. Não sei se é sua foda quando está no
modo tempestivo, mas isso certamente é uma foda sim. Uma foda que vai me
foder em todos os sentidos da palavra.
Sua boca vem até a minha, sinto meu gosto nele enquanto me beija. Uma
mão voa em minha nuca, ele puxa minha cabeça para trás quando agarra
meus cabelos, com força. Sua boca desliza por meu pescoço e ele morde,
chupa e beija, tudo insanamente. Enfim meu corpo se liberta da tensão num
orgasmo delicioso. Não existe sensação no mundo que seja melhor do que a
de gozar.
Ele nos conduz até a cama e eu quase agradeço a Deus por isso. Quase,
porque o diabo está aqui comigo e a cama parece ideal para ele ampliar o
ritmo da sua foda.
— Você vai me partir ao meio.
— Vou deixá-la dolorida por alguns dias.
— Esse é o seu pior? — questiono.
— Nem perto — afirma calando minha boca. Ele começa a diminuir seu
ritmo e solta um suspiro. — Você é muito gostosa, Maria Flor,
extremamente. Eu até começo fodendo..., mas então olho para o seu rosto e
não consigo. Sinto vontade de ir lento, de vê-la se contorcer de prazer
atentamente. Quero ir lento, Flor.
— Sim... — gemo, usando suas costas como minha base de apoio... só não sei
o tipo de apoio. Ele vai lento, porém, profundo para caralho. Muito mais do
que quando estava indo forte. Sinto até mesmo suas bolas pesadas batendo
sobre mim.
— Como você pode ter dúvidas sobre seu potencial sexual? — questiona. —
Estou de quatro por você, menina.
— Não diga essas coisas, me sinto vulnerável quando estamos transando.
— Sexo é um momento vulnerável — afirma. — Percebe quão duro estou
dentro de você?
— Sim, Joseph.
— Eu estou exposto. Durante a troca sexual é o momento onde você não
consegue fingir ou mentir. Se você o fizer, você será descoberto.
— Há mulheres que fingem orgasmos.
— Para moleques que não sabem foder e não entendem de sexo. Tipo agora,
sinto você me apertando, Flor, e se eu fizer mais um pouquinho de esforço
você gozará e a sensação é outra. Como se sua bocetinha estivesse me
sugando completamente e me estrangulando.
— Meu Deus...
— Um homem de verdade sabe identificar. — Sorri.
— Então estamos fazendo um sexo falante?
— Sim. Faremos sexo de todos os tipos. Há muitas coisas que gostaria de
falar e fazer, mas você ficaria assustada. Aos poucos vou introduzir isso em
nossa relação — sussurra em meu ouvido. Nós temos uma relação? Acho que
nós temos.
— Estou ávida para descobrir cada uma delas.
— Você sempre está ávida, Flor. Você é uma pequena tentação do caralho.
Tem sede e fome de aprender coisas novas.
— Você me ensina? Quero que me ensine tudo, tudo, absolutamente tudo. —
Porra! Eu estou tão apaixonada.
Estou experimentando tantas sensações desconhecidas, não apenas no âmbito
sexual. Eu já senti desejo em ficar com outros homens, mas nada se compara
ao que sinto desde quando vi Joseph pela primeira vez. Aquele lance clichê
de boca seca, palpitações, suor frio, arrepio pela espinha, borboletas no
estômago, contrações involuntárias nas partes baixas... isso é tudo o que
nunca acreditei. Parecia historinhas de livros de romances. Acontece que é
real, eu estou sentindo tudo isso e mais. Sonho com esse homem há tantos
meses. É mistura de tesão, desejo, admiração... Joseph é tão lindo
fisicamente, tão lindo que beira ao inacreditável. Agora eu estou conhecendo
o seu “eu interior” e me sinto ainda mais presa, presa de todas as maneiras
possíveis.
Ainda é bastante surreal acreditar que estou em sua cama e que estamos
trocando palavras, enquanto fazemos sexo.
Joseph antes não oferecia nem mesmo sua amizade. E agora parece que está
disposto a me oferecer o coração. Ele abriu a guarda e está me permitindo
entrar para bagunçar sua vida politicamente correta.
— Você é minha menina.
— Eu sou? O que isso significa? — questiono.
— Significa que eu te darei o mundo, Maria Flor.
— Você está apaixonado por mim, Joseph Vincenzo? — pergunto,
provocando-o, enquanto traço círculos em suas costas e o deixo me tomar
com sua lentidão deliciosa.
— Eu estou, Flower. — Ele desce seu lábio ao meu e selamos algo que não
tem explicação.
Nosso assunto passa a ser discutido exclusivamente por nossos corpos, que se
rendem ao prazer juntos. Joseph ofega, solta um rugido quando me preenche
com sua porra. Ele está tremendo. Eu também. A visão dele tendo um
orgasmo é perfeita. Ficamos um tempo presos nessa névoa, mas passa quando
ele joga seu peso sobre mim e começamos a rir, abraçados. Quem ri no pós
sexo? Nós!
— Esse foi o sexo mais lento da minha vida — comenta.
— Da minha também — brinco.
— Todas as suas primeiras vezes serão minhas — anuncia. — Sabe, Flor, eu
nunca fui o tipo de homem orgulhoso. Mas tenho um orgulho imenso de ter
sido seu primeiro e único homem.
— Oh, bonitão, está se achando... — Sorrio.
— Orgulho, Maria Flower, eu tenho orgulho pra caralho. Um orgulho doentio
— afirma com seriedade.
— Eu gosto disso... — anuncio.
— De Maria Flower?
— Não! Isso eu não gosto. Mas gosto que tenha sido o meu primeiro. —
Sorrio e então um choro nos faz saltar da cama. Puta que pariu!
— Mathew. Algo está errado, ele nunca chora... Vista algo — diz,
desesperado, vestindo sua cueca e sua bermuda.
Ele sai disparado, então eu me limpo e me visto rapidamente para ir atrás.
Quando chego ao quarto, há sangue no nariz de Mathew e ele está
praticamente desacordado nos braços de Joseph.
— Merda, o que aconteceu? Ele estava chorando minutos atrás...
— Pegue a minha carteira no quarto e a chave do meu carro — pede
Vincenzo, atônito. Chega a estar pálido.
Faço o que ele pediu e então o encontro já na porta de casa.
— Preciso que dirija até o Children's, sabe onde é? — questiona.
— Eu sei. — Abro o a porta do carro para que ele entre com Mathew e me
acomodo, ligando o carro e abrindo a garagem.
Confesso que estou até com medo de dirigir no meu atual estado de
desespero. Mas por Mathew eu me forço. É necessário que eu respire fundo
antes dar partida no carro.
— Porra... está piorando.
— Me desculpe, mas terei que ser imprudente agora — informo acelerando.
Joseph faz uma ligação para o hospital durante o trajeto.
Que Deus nos proteja, principalmente, proteja o Mathew.
E que proteja a mãe de Mathew, porque sinto que de alguma forma ela tem
culpa sobre isso e, se minhas suspeitas forem constatadas, Vincenzo acabará
com ela.
Quando chegamos, já há uma equipe médica aguardando o garoto. Vincenzo
quase quebra tudo ao ser impedido de acompanhá-lo. Eu nunca presenciei
algo tão devastador assim. Mathew é tão pequenino...
— Vai dar tudo certo, você precisa se acalmar — digo, fazendo-o se sentar na
recepção.
— Eu não deveria ter dado pizza a ele. Ele chegou passando mal da viagem,
dei remédio e ele ficou bem, Flor... eu fui e dei a pizza. Meu filho ama pizza.
— Oh meu Deus! Dai-me estrutura para lidar com um Vincenzo devastado. É
de partir o coração.
— Se ele chegou passando mal, é porque algo já estava errado, você não tem
culpa. Não se culpe. Os médicos farão um check-up e descobrirão o que há
de errado — digo, tentando tranquilizá-lo.
— Desculpe-me por envolvê-la nisso.
— Peça desculpas e nós teremos um problema — informo. — Estou onde
queria estar, ao seu lado — reitero, sob seu olhar atento.
— Você certamente seria uma mãe muito melhor para o meu filho. —
Suspira sem se dar conta do impacto que suas palavras causaram em mim.
CAPÍTULO 5

— O que você está fazendo? — questiono a Bruce, intrigada. Ele abre o mais
largo dos sorrisos.
— Levando-a para desestressar.
Uma corrida no parque...
Frustração me define neste momento. O conceito de descarregar a adrenalina
que Bruce possui é completamente diferente do meu. Ele já deu três voltas
correndo no parque e eu estou caminhando a passos lentos para evitar a
fadiga e porque estou com uma sainha imprópria. Se eu quisesse malhar ia
para a academia.
Ok Isis, respira fundo e não pira. O que você está fazendo da sua vida? Meu
subconsciente questiona.
Pois é, caro inconsciente, o que eu estou fazendo da minha vida? Por que me
sinto descontrolada em todos os campos da minha vida? Talvez eu deva
procurar tio Ricardo e fazer uma terapia intensiva via Skype.
Ele surge ao meu lado e então cessa sua corrida.
— E então, pequena coisinha quente. Gostando do nosso passeio? —
pergunta segurando um sorriso.
— Amando. É bom estar em meio a natureza, ouvir os pássaros cantando,
sentir o cheiro de mato. — Sorrio.
— Não gosta de atividades físicas?
— Gosto. Vários tipos — comento, enquanto caminhamos até um banco.
— De qual mais gosta? Só me dizer e nós faremos. CrossFit? — pergunta,
curioso.
— De todas as atividades físicas existentes no mundo, minha preferida é o
sexo.
— Isis... — diz num tom repreensivo. Qual o problema dele com sexo? É
frustrante. O homem parece uma máquina de foder e então age como um
celibatário.
— Só estou sendo sincera. — Sorrio.
— Vamos ali no carro — convida ficando de pé e estende sua mão, que pego
mais que depressa.
Caminhamos passeando pelo parque deserto, então chegamos ao
estacionamento mais ermo ainda. Bruce sorri quando chegamos diante do
carro e, surpreende-me ao me puxar para um beijo delicioso.
Nossas línguas se cruzam ao mesmo tempo que nossos lábios duelam entre si.
Sou sentada sobre o capô e quando percebo estou retirando a blusa dele. Uso
a deixa que ele está dando e aproveito a oportunidade. Minha mãe sempre
disse que nunca devemos desperdiçá-las.
— Nós podemos ser pegos — comento afastando nossos lábios.
— Podemos. Você quer parar? — pergunta, beijando meu pescoço e sorrio.
Não quero parar. Aqui é totalmente deserto e prefiro acreditar que o universo
está do nosso lado neste momento, conspirando para que nenhuma alma
penada surja e atrapalhe minha conquista sexual.
— Não. Apenas quero continuar. Quero protagonizar uma cena quente para
aliviar minha vontade de tê-lo, não importa as consequências. — Ele sorri,
então enlouquecemos juntos.
Eu abro sua bermuda e faço pela primeira vez um contato com seu membro.
É impressionante, tanto que afasto nossos lábios e o empurro para contemplá-
lo melhor. Certamente todas as palavras que já ouvi sobre big pirocas até
hoje se encaixam no pau de Bruce. É surpreendente e chocante. Em meu
interior agora surge até mesmo um receio: como será recebê-lo? É de longe o
maior e mais grosso que já lidei. E olha que Lorenzo é bem-dotado.
Lorenzo, Isis? Sério que você está lembrando de Lorenzo e fazendo
comparações? Meu subconsciente repreende coberto de razão.
— Gosta do que vê?
— Eu amo muito tudo isso — afirmo, soltando seu cajado. O puxo pelo
cordão.
Ele não vem. Contrariando minha vontade e minha previsão, ele segura em
minha cintura, trazendo-me de volta ao chão, vira-me de costas e faz com que
eu debruce meu corpo sobre o capô. Espalmo minhas mãos sobre a superfície
e aguardo suas ações. A ansiedade me consome a cada segundo,
especialmente quando sinto suas mãos em meus calcanhares.
Bruce começa a subi-las numa lentidão agoniante pelas minhas pernas, até
adentrar em minha saia e alcançar as laterais da minha calcinha. Lentamente
a desliza, permitindo que caia ao chão, então me vejo completamente livre e
exposta. Não me atrevo a olhar para trás e descobrir o que ele está fazendo,
mas sei que, antes que eu possa protestar sua ausência, ele abre um pouco
minhas pernas e encontra minha entrada com seus dedos espertos. Incapaz de
pronunciar quaisquer palavras, ofego delirando de tesão. Ele retira os dedos e
começa a pedir passagem como seu membro, me penetrando sem pressa. Sua
grossura me alarga pouco a pouco, um misto de dor e prazer.
Uma mão espalma minhas costas, para manter-me imóvel, e a outra agarra
meu quadril. Logo ele deixa a lentidão de lado e penetra tudo de uma só vez.
Porra! Esse homem deixa as coisas injustas para os outros homens.
Definitivamente!
— Bruce...
— Isis, minha boneca, você é o céu — diz. Quero dizer que ele é o inferno de
tão quente e extremamente gostoso, mas me calo. Ele disse que queria me
possuir. Eu estou permitindo que ele faça o que quiser comigo.
E ele faz.
E o melhor, ele sabe o que fazer e como fazer. Desafiando e ultrapassando
todas as minhas expectativas, percebo que ele sabe exatamente como cuidar
do corpo de uma mulher. Exatamente como se tivesse nascido para o sexo,
como previ.
Ele tem um jogo de cintura e uma malemolência em seus quadris que beira ao
absurdo. A forma como ele se mexe em meu interior, é focada para trazer
meu orgasmo à tona.
— Bruce...
— Minha boneca...
— O que você está fazendo comigo? — questiono, aturdida, tentando conter
a explosão que se aproxima.
— Eu estou destruindo você para os outros homens, minha boneca —
sussurra em meu ouvido e então ....

Eu acordo desesperada.
Meu Deus do céu! Eu estou enlouquecendo, tive um orgasmo dormindo!
Salto da cama apressada e, como uma insana, entro de calcinha e sutiã
embaixo da ducha fria. Estou desorientada como uma barata tonta.
Retiro minhas roupas íntimas. Quando toco em meu corpo, cada pedacinho
dele está tomado por uma sensibilidade absurda. Parecia tão real... tão bom.
Perco um tempo cuidando de mim e imaginando como seria ter Bruce me
fodendo. Certamente o prazer seria garantido.
Meia hora depois, após o choque de água fria, encontro-me preparada para
descer e começar o dia. Encontro minha mãe na sala, com um sorrisinho em
seu rosto, conversando com meu pai por vídeo chamada.
Corro até ela e invado a cena.
— Pai!
— Minha princesinha! — exclama. — Como você está, meu amor?
— Bem, acabei de acordar. E você?
— Com saudades. Duas das minhas princesas estão longe de mim. Isso é
injusto — reclama, fazendo bico. — Estou indo buscá-la, Victória, não
adianta lutar contra isso — anuncia, sério, e eu me sinto uma invasora de
conversas.
— Ok, meu sadcasal, vocês podem conversar e resolver as diferenças —
informo, beijando minha mãe e mandando um beijo para o meu pai.
Caminho até a cozinha e minha vó está sentada em uma cadeira, rindo de
algo que está vendo no celular. Ela leva um susto tão grande quando me vê,
que deixa até o aparelho cair. Algo de errado ela estava fazendo, certeza.
— Bom dia, vó!
— Quer me matar de infarto? — questiona, levantando-se e vindo me
abraçar. — Bom dia, meu amor. Dormiu bem?
— Muito bem — informo indo preparar um lanche.
— Vocês são tumultuados aqui, hein? — Comenta.
— Por quê?
— Há Heitor com problemas com Milena, Maria Flor no hospital com filho
de Vincenzo, Arthurzinho na Itália resolvendo problemas com Mel. Sério,
estou me sentindo no meio de um tornado. Agora me conte sobre você, que
também está tumultuada. Qual é desse triângulo amoroso que está vivendo?
Já fez ménage? — Eu me engasgo com o leite com Nescau.
— Ménage? — questiono rindo, enquanto limpo minha boca.
— Dois homens e você, isso é igual a um ménage. Vamos lá, conte para a
vovó. Sou vida louca. Ninguém da família fez ménage até hoje, quer dizer...,
houve Ricardo. Ele fez um ménage no casamento dos seus pais, com
Giovanna e Sabrina.[13]
— Quê? — grito, chocada, à medida que me sento ao lado dela. — Sabrina
filha da tia Alice? — Ela ri.
— Você era novinha. Sim, Sabrina filha da tia Alice. Sabrina é bissexual.
Queria ficar com Giovanna e parece que despertou interesse nela. E, para
ficar perfeito para todos, incluíram Ricardo no pacote. Ficamos escutando
atrás da porta do banheiro.
— Você está brincando! — exclamo, altamente impactada.
— Não. Depois ainda passaram o restante da noite juntos no hotel.
— Meu Deus! E como eles convivem? Porque tio Ricardo frequenta todas as
festas da família e Sabrina também.
— Agem como se nada tivesse acontecido — explica.
— Com essa naturalidade?
— Sim. Gi já até saiu para fazer compras com Sabrina no Rio. São
superamigas. — Gente!
— E eles ainda se pegam?
— Não. — Minha avó ri. — Foi uma única noite. Eles falam disso com
naturalidade, é engraçado. Mas voltando a você...
— Oh, vó, não me sinto preparada para falar sobre Lorenzo. Mas posso te
dizer sobre Bruce. — Sorrio.
— Você e Lorenzo não estão mais juntos?
— Não. Desde Las Vegas. Foi uma curta e louca história de amor — explico.
— É uma pena. E onde Bruce entra nisso?
— Nós nos conhecemos em Las Vegas. Eu e Lorenzo brigamos na boate,
então eu o deixei e fui andar pelas ruas. Encontrei uma boate com o nome
suspeito e entrei.
— Uma boate suspeita?
— Que não é uma boate e sim um tipo de clube do sexo superseleto e VIP. —
Ela arregala os olhos em descrença.
— Novamente, onde Bruce entra nisso?
— Ele é dono da boate e me pegou espiando em flagrante.
— Pau no meu cu! — ela exclama. — Ele é dono de um clube de sexo?
— Sim e advogado também. Inclusive advoga para Joseph Vincenzo.
— Oh meu Deus! Estou chocada, no chão mesmo. Como diz Mel, real e
oficial. Um clube de sexo em Las Vegas... eu e Arthur precisamos ir.
— O quê?
— Diga-me, o que rola lá? — pede, completamente interessada.
— Bom, na entrada é um bar normal, extremamente luxuoso. Você nunca
desconfiaria que é um clube de sexo. Bruce me explicou que eles te dão
algumas pulseiras que simbolizam o que você busca. Há um significado para
cada cor de pulseira. Há swing, voyeurismo, orgias... É louco! Parece coisa
de filme.
— E você participou de uma dessas coisas?
— Não. Quer dizer, eu fui até a parte de voyeur, porque estava realmente
interessada em saber como era o lugar. É luxuoso, vó, extremamente. Nada
vulgar, sabe? Tudo dentro de limites rígidos e muito bem administrado.
Quando não conhecemos, pensamos que é uma zona completa onde mulheres
se vulgarizam, homens se tornam tarados insanos. Mas não é nada disso, é
rigoroso e seleto. Um ambiente completamente refinado e sensual, sem
qualquer traço de vulgaridade.
— E há BDSM?
— Sim, há um ambiente de BDSM, mas eu não conheci e provavelmente não
irei conhecer. Bruce diz que não sou para o BDSM — explico.
— Ouça a voz da experiência, se ele está dizendo, deve ser porque tem
conhecimento aprofundado nisso.
— Sim, eu sei.
— Ele é fofo, né? Achei interessante ele dizer que você não é para essas
práticas. — Ela sorri. — E feliz por Joseph conhecê-lo, isso me deixa mais
tranquila. Será que Joseph já frequentou esse lugar? Será que Joseph gosta de
um chicote estalando?
— Não sei, vó — digo rindo e minha mãe se junta a nós.
— Ouvi falar sobre chicote.
— Sim. Estávamos questionando se Joseph gosta de dar uma chicotada —
explica minha vó. — Você gosta, né, norinha?! — Encaro minha mãe em
choque e ela ri.
— Matheus é bom com chicote e cordas —minha mãe diz com naturalidade.
— Houve um período que deixamos as brincadeirinhas de lado, mas, com o
passar dos anos, resolvemos inovar.
— Oi? Meu pai? Como assim? — Pergunto quase tapando meus ouvidos.
— Nada que uma filha tenha que saber, mocinha.
— Oh, meu Deus! A imagem do meu pai com um chicote nas mãos nunca
sairá da minha mente — afirmo.
— Seu pai é lindo com um chicote em mãos — ela afirma com um sorriso
enorme no rosto.
— Mãe, você é tão... minha avó!
Estou ainda perplexa quando a porta de entrada se abre e Flor chega. Ela
parece desesperada.
— O que houve? — questiona minha vó, desesperando-se.
— Eu vim trocar de roupa. Está um inferno no hospital. Bruce está lá —
comenta.
— Bruce? — questiono.
— Vocês não fazem ideia! Não fazem! — diz esbaforida.
— Como Mathew está? — Minha vó pergunta.
— Ruim, mas a mãe dele ficará pior! — afirma. — Vincenzo é um trator. Eu
juro que estou com medo dele hoje. Os funcionários do hospital estão
praticamente por conta dele e ele está atropelando metade do mundo. Enfim,
não há tempo para contar. Preciso de um banho e de uma roupa decente para
voltar. Estou com o carro dele — explica e sai correndo escada afora.
— Uau! — exclamo.
— Espero que Mathew se recupere.
— Joseph Vincenzo... Esse homem veio para mudar a vida de Maria Flor,
acredite. Já vi essa história antes — afirma minha vó sorrindo.
— E você, filha, qual dos dois homens veio para mudar a sua vida? —
pergunta minha mãe. Eu dou uma gargalhada.
— Oh, mãe... sinceramente, não acredito que homem algum tenha vindo
mudar minha vida. Estou bem, vivendo um dia de cada vez. Minha primeira
tentativa de atropelar as coisas falhou. — Sorrio.
Minha única pressa em relação a Bruce é sexual, mas sei que isso é algo que
ele mesmo está tentando controlar. Às vezes, é bom renunciar ao controle – e
descontrole –, deixar as coisas apenas fluírem, mesmo que passe por alguns
momentos de frustração.
— Então, vamos almoçar fora? Onde o Heitor está? — Proponho.
— Dormindo. É uma merda... eu irei ajudá-lo. Eu, sinceramente, estou
querendo ir em busca de uma casa aqui. Não há como ser diferente.
Arthurzinho, por ser o mais novo, está sendo menos privilegiado que
Matheus e Beatriz. Meu coração de mãe não será capaz de deixá-lo em meio
a confusão emocional em que ele se encontra. E há vocês, meus netos, pelo
amor de Deus, está um mais perdido que o outro.
— Calma, Mari. Não decida as coisas precipitadamente — diz minha mãe. —
Vamos almoçar fora, aproveitar um pouco. Você terá tempo para pensar
sobre isso.
— Ok, família, irei me trocar — aviso, lavo meu copo e subo para arrumar.
Passamos parte da manhã andando em lojas de grife e eu viro guia turística.
Paramos para almoçar em um bistrô e, quando terminamos, ficamos sentadas,
conversando banalidades. É então que olho para o lado e vejo mais uma cena
de casal protagonizada por Lorenzo e Paulinha. Eles estão rindo e brindando
com uma long neck.
A imagem embrulha meu estômago no mesmo instante e sou obrigada a
correr para o banheiro, onde coloco tudo o que comi para fora. Lavo meu
rosto, repetidas vezes, e então me encaro diante do espelho. Não há como
conter, eu choro.
Choro de ódio. Não por sentir dor ao vê-los, mas por ter me submetido a essa
situação. Sinto-me enojada por ter me permitido ser tocada por ele.
Primeiro ele foi em Maria Flor. Logo em seguida veio até mim. Nem mesmo
duramos um tempo considerável. Então há Paulinha, que não sei há quanto
tempo está com ele. Tudo me leva a crer que fui usada, me sentir dessa
maneira é a pior de todas as coisas. Faz-me pensar se há algo errado comigo.
— Isis, abra! — diz minha mãe batendo à porta e eu abro.
Eu voo em seus braços. Ela fecha a porta atrás de si e me abraça.
— O que há, minha princesa? O que está acontecendo?
— Isis! — É a voz de Lorenzo. Isso me faz conter o choro e me afastar, em
estado de choque.
— Lorenzo... ele está lá fora.
— Por favor, abra — pede.
— Não, mãe. Não quero falar com ele.
— O que houve? Por que está chorando? — ela pergunta.
— Eu o vi com uma garota... Não quero falar com ele — explico vagamente
e a porta se abre.
— Me desculpe, dona Victória.
— Saia! — ordena minha mãe. — Por favor, Lorenzo, saia.
— Por favor, Isis, converse comigo — insiste, balanço minha cabeça
negando. É então que outra crise de vômito me invade e eu corro até o vaso
sanitário, fechando a porta atrás de mim.
— Isis sempre tem crises quando fica nervosa. Quando ela não tem febre
emocional, vomita sem parar. Então, por favor, você é o motivo do
nervosismo, ficarei agradecida se sair. — Ouço minha mãe pedir. — Não
adianta conversarem de cabeça quente, nunca sai algo que presta, experiência
própria. Espere as coisas acalmarem. É o melhor a ser feito agora.
— Ela pensa que eu não a amo. Só preciso dizer que a amo, que não menti
sobre isso.
— Mas mentiu sobre todo o resto — grito. — Saia!
Ele parece sair, pois ouço a porta batendo com força. Recomponho-me, volto
até a pia e lavo a boca e o rosto mais uma vez. Minha mãe fica silenciosa,
respeitando meu momento. Minutos depois, ergo minha cabeça e saio
tentando controlar meu ataque de nervos.
Nós voltamos para casa e eu durmo por três horas, até ser desperta por
alguém juntando-se a mim. Acordo com Bruce ao meu lado e quase caio da
cama.
— Olá, boneca.
— Meu Deus!
— Sou tão assustador assim? — pergunta sorrindo.
— Não. Eu sonhei com você essa noite. E então dormi após o almoço e
acordo com você em minha cama.
— Sonho bom ou ruim?
— As duas coisas — respondo, voltando a relaxar. Queria puxá-lo para cima
de mim.
— Sua mãe disse que passou mal e permitiu que eu subisse.
— Está há muito tempo aqui? — pergunto.
— Uns cinco minutos. Fiquei com dó de acordá-la, estava quase indo embora
— responde, suspirando. — Estou um pouco esgotado psicologicamente
hoje. Fiquei no hospital desde manhã bem cedo e só saí de lá agora.
— Fiquei sabendo. Notícias sobre Mathew?
— Está sendo medicado, a medicação o deixa dormindo. Tem algo a ver com
anemia e mais algumas complicações. Ele ficará no hospital por mais alguns
dias, pelo que parece — explica.
— Merda. E Vincenzo?
— Incontrolável. Mas não quero falar disso agora. Quero propor um
programa mais leve. O que acha de ir para o hotel, assistirmos a alguns filmes
e comer besteiras no aconchego de uma cama? Amanhã tenho que voar para
Las Vegas, então gostaria de aproveitar o resto do dia de hoje com você —
propõe, mexendo em meus cabelos. — Claro, se você estiver melhor.
— Acho que me sinto melhor — digo saltando da cama. Ele abre a boca em
surpresa. Só então me dou conta de que estou apenas usando lingerie. —
Desculpe-me! Você não pode dizer que foi proposital, eu não sabia que
receberia visitas.
— Isis, minha boneca, você é o céu! — exclama e eu abro a boca em estado
de choque. É a mesma frase que ele disse em meu sonho. — Está tudo bem?
— Sim, não foi nada. Ok, pode cobrir os olhos se não quiser ver.
— Não tem problemas com nudez? Incrível! Também não há o que temer,
você é perfeita, pequena. Perfeita. É linda demais. Só tem um problema...
— Qual?
— Somos completamente diferentes — diz sorrindo. — Eu sou negro, você é
branquinha, eu sou forte, você é delicada ao extremo. Bem opostos. Parece
uma boneca de porcelana, Isis, tão perfeita. Seu corpo é todo delicado,
exageradamente delicado.
— Não sei se já ouviu essa frase aqui na Califórnia, ela é famosa no Brasil,
mas dizem que os opostos se atraem. Então tudo o que acabou de dizer, para
mim não significa absolutamente nada. — Ele arqueia a sobrancelha sério,
em seguida salto em seus braços rodeando minhas pernas em sua cintura e o
beijo até perder o fôlego.
— Pequena... você só é delicada por fora. Sei que em seu interior habita uma
gigante repleta de ferocidade. Não sei se já ouviu essa frase no Brasil... —
Diz, matreiro. — Mas dizem que as aparências enganam.
— Acho que você está certo. Elas realmente enganam na maioria das vezes,
só espero que eu não esteja me enganando com você. — Ele fica sério e me
encara, olhos nos olhos.
— O que houve, Isis? Vamos conversar? Quem a magoou? Está tudo bem
com você?
— Sim, está tudo bem — digo, afastando-me dos seus braços. — Vou me
trocar, ok? — Fujo até meu closet, deixando-o no quarto. Visto uma roupa
mais básica e coloco outra roupa reserva em uma bolsa. Rápida e prática. —
Estou pronta — informo e ele sorri, oferecendo-me sua mão.
Descemos juntos e vejo Heitor deitado nas pernas da minha mãe, todo jururu.
— Ei, Thor, está tudo bem? — pergunto, abaixando-me até ele.
— Ficará — responde beijando minha mão. — Amo você, juízo, ok?
— Amo você. — Sorrio. — Mãe, estou saindo com Bruce.
— Cuide dela ou será um homem morto — avisa séria, mas logo sorri. —
Divirta-se, com moderação.
— Prometo trazê-la inteira para casa — assegura Bruce. — Aliás, ainda não
acredito que são mãe e filha.
— Sim, pareço ter 25 anos, isso é incrível! — exclama minha mãe,
completamente sorridente. É uma verdade. Não diria 25, mas uns 35, nada
além disso.
Nós nos despedimos e ele, gentilmente, abre a porta do carro para que eu me
acomode.
Nossa primeira parada é em um mercado para comprarmos besteiras. É
engraçado, Bruce é leve e divertido – e me trata como uma princesinha de um
castelo.
Ele me pega em seus braços e me coloca dentro do carrinho. Cubro meu rosto
de vergonha e então começa a me empurrar rapidamente pelo mercado, como
uma corrida.
— Abra os braços, boneca — ordena. Eu retiro minhas mãos do rosto e os
abro. Ele corre comigo por um corredor e quase atropela uma velhinha.
Depois desse episódio, decido que é melhor se conter.
— Você é um péssimo motorista, Bruce! — brinco, sob risadas.
— Eu sou o melhor piloto de fuga que você já ouviu falar. No próximo final
de semana te levarei ao Kart, aí vamos disputar uma corrida — informa.
— Você virá no próximo final de semana?
— Virei durante a semana também. Os últimos dias serão de trabalho
exaustivo no caso do Joseph — explica, parando em frente uma sessão de
chocolates. — Eu amo M&M's.
— Deixe-me descer, eles nos expulsarão — peço.
— Não. Você é uma mercadoria de valor inestimável. Fique quietinha,
boneca.
— Oh, eu tenho 23 anos de idade! Todos estão me olhando assustados —
explico.
— Tudo bem, mas só vou deixá-la descer porque irá em minhas costas —
anuncia, pegando-me como se eu não pesasse nada.
Nós compramos uma quantidade exagerada de chocolates, compramos vários
sacos de batata rufles, refrigerantes, cervejas e salgadinhos. Bruce me faz
subir em suas costas e então empurra o carrinho até o caixa. Atraímos muita
atenção quando discutimos sobre quem vai pagar a conta. Ele vence. Então
novamente estou dentro do carrinho sendo carregada até o carro, com os
braços abertos e gritando como uma maluca.
Esqueço de todos os problemas e me pergunto qual foi a última vez em que
me diverti e me senti tão livre e leve. Não sei se é uma magia, mas ele me fez
esquecer de todos os acontecimentos matinais.
Chegamos ao hotel e eu, mais uma vez, vou em suas costas, enquanto ele
carrega as sacolas. No quarto fico responsável por organizar as comidas na
cama e as bebidas no frigobar, enquanto ele vai tomar banho.
Quando termino, retiro minha calça e visto um shortinho mais confortável,
então subo na cama e vou em busca de algum filme divertido.
Bruce surge vestindo apenas uma bermuda e eu quase solto um gemido ao
contemplar o corpo perfeito que esse homem tem. Ele é mesmo gostoso,
aquele tipo de homem que dá vontade de lamber inteiro.
— Então, boneca, qual filme escolheu?
— Amizade colorida — respondo.
— É uma indireta?
— Não. Até porque no final eles... Ok, é spoiler. Nada disso, garotão — digo
rindo e ele joga um travesseiro em minha cara. — Você não fez isso!
— Eu fiz sim! — afirma, fico de pé sobre a cama pego um travesseiro. Ele ri
e então eu jogo em seu rosto. Como crianças, começamos uma guerra de
travesseiros até Bruce, com toda força que possui, explodir um fazendo com
que penas voem para todos os lados. Eu rio até chorar. Bruce me puxa pelas
pernas e faz com que eu caia de joelhos no chão. É nesse momento que o
telefone da suíte toca e ele atende: — Sim... O quê? Não! — Ele parece
chocado. — Não estou fazendo sexo... Tudo bem, seremos mais controlados.
Desculpe.
— What? — grito rindo quando ele desliga.
— Isis, você terá que gemer mais baixo a partir de agora e teremos que parar
com esse sexo louco que estamos fazendo. Os hóspedes estão incomodados
— explica, sério, e me pega em seus braços. — Você geme demais, boneca.
Nunca imaginei que gostava de gritar durante o sexo.
— Engraçadinho. Você que é selvagem sexualmente — brinco. Ele sorri e
então me puxa para um beijo. As coisas começam a esquentar
gradativamente. Eu arranho suas costas e ele aperta minha bunda. Sinto seu
membro acordando em minha barriga e solto um gemido em sua boca, o
fazendo se afastar e rir.
— Você é gemedeira! — brinca.
— Você é um... é um...
— Eu sou um? — questiona rindo.
— Um... engraçadinho.
— Ok, chega de guerra e esse sexo insano. Vamos comer, beber e assistir um
filme como dois adultos responsáveis. — Ele quer assistir filme, eu quero
protagonizar um filme pornô. Os opostos se atraem mesmo!
Por que eu sinto que morrerei essa noite?
Por que Bruce tem que ser tão divertido e gostoso?
Isso enfraquece a amizade.
Sentamo-nos na cama e então começamos a fazer uma mistureba de salgados
e doces, conforme bebemos algumas cervejas. Nem mesmo assistimos o
filme, ficamos apenas conversando e rindo, porque Bruce simplesmente tem
o dom da fluidez. Você fica perto dele e então tudo passa a fluir de maneira
natural.
No final da noite, terminamos com ele tentando controlar o meu lado sexual e
eu tentando descontrolar o dele. Nós não transamos, mais uma maldita vez.
Entretanto, sinto-me saciada da mesma forma quando ele me deixa em casa
com a promessa de voltar no próximo final de semana.
Sinto que tenho grandes coisas a aprender com ele e estou feliz por ele ter se
disponibilizado a ser meu mentor.
CAPÍTULO 6

— Você certamente seria uma mãe muito melhor para o meu filho. — Joseph
suspira, sem se dar conta do impacto que suas palavras causaram em mim.
Dito isso, ele deposita um beijo em minha testa e se vai. É impossível não
comparar a diferença de tratamento que os funcionários dão a um homem
bilionário e uma pessoa normal. Só faltam fechar o hospital para Joseph,
além de darem todo o suporte necessário ao Mathew.
Isso me faz lembrar a saúde pública do meu país, que é uma pouca-vergonha
do caralho e onde os menos favorecidos morrem por falta de suporte e
tratamento digno. Agora, entendo por que Joseph escolheu ser frio e solteiro,
as pessoas lambem os pés dele com um enorme interesse. Estou presenciando
isso agora, não deve ser bom perceber que as pessoas te tratam bem apenas
pelo que possui. Nem imagino como ele se sente.
O homem é lindo pra caralho, gostoso e com o agravante de ser bilionário.
Eu foco no lindo pra caralho, no gostoso e no talento sexual. Isso é tudo que
me interessa. Joseph Vincenzo sabe foder e é um ótimo professor. Eu ganhei
na Megasena da virada!
Não deveria estar pensando em sexo. Não quando estamos num hospital e o
filho dele está dentro de alguma sala, passando por uma bateria de exames.
Desvio os meus pensamentos e miro em meu... Joseph!
Por Deus! O homem parece um trator sem controle.
Sinto-me acuada observando a cena diante de mim. Eu já o vi mal-humorado,
irritado, estressado, mas nada se compara ao Joseph que estou vendo agora.
Desta vez não é sexy, é assustador como um filme de terror.
A parte engraçada é vê-lo de chinelo, bermuda e uma camiseta que estava no
carro; completamente casual e dando ordens a metade do universo, como um
empresário fodão. Eu estou tendo um enorme vislumbre do Joseph Vincenzo
pai: um homem capaz de qualquer coisa pelo filho.
O homem que parecia frio como uma pedra de gelo, impessoal e demonstrava
controle sobre todas as coisas, finalmente está mostrando que possui um
ponto fraco: Mathew.
Sem saber o que fazer ou como agir, fico quieta em um sofá na recepção. A
realidade é que mal o conheço, tenho receio de me aproximar e levar um fora.
Sim, porque todos que tentam se aproximar estão levando. Na verdade, sinto-
me um peixe fora d'água.
Vejo três homens vestidos com traje social adentrarem ao hospital e irem
direto a ele, um deles é... Bruce? Sim. É Bruce. Chocante.
Eles trocam algumas palavras e Vincenzo vem até mim.
— Minha princesa, me desculpe por tudo isso.
— Está tudo bem. Já avisei sobre pedir desculpas. — Sorrio.
— Faria um enorme favor para mim? — pede baixinho.
— O que precisar.
— Preciso que vá até a minha casa, pegue algumas roupas decentes para mim
e troque esse seu shortinho curto. Preciso também que, quando voltar para
trazer as roupas, fique comigo — diz, fechando os olhos e passando as mãos
pelos cabelos. Gente, o que está acontecendo? Sim, uma confusão, Maria
Flor. O homem está uma confusão!
— Ciúmes?
— Eu estou vendo os médicos e enfermeiros olhando para você. Não preciso
de mais motivos para quebrar esse lugar. Por favor, Flor, colabore ao menos
hoje.
— Alguma notícia de Mathew? — pergunto ficando de pé.
— Algo como anemia, porém, é um pouco mais complicado. Estão
realizando exames mais complexos. É inaceitável, completamente absurdo e
inaceitável — brada, revoltado.
— Ele vai ficar bem, ok? Confie — digo, abraçando-o.
— Vá lá, minha princesa. Se eu não estiver aqui quando voltar, é só perguntar
por mim na recepção, ok?
— Sim senhor, papai.
— Flor! — diz em tom de repreensão.
— Desculpa. — Sorrio, beijo seu rosto e então vou fazer o que ele solicitou.
Porém, quando estou saindo, Joseph recebe algum tipo de notícia que o deixa
irado. A última coisa que vejo é Bruce, e os outros dois homens que estão
com ele, tentando contê-lo. Eu fujo o mais rápido que consigo, porque me dói
vê-lo assim. Sério, minha vontade é de dar uma surra na mãe de Mathew, até
que ela consiga sentir a dor que Joseph e o filho estão sentindo.
Dirijo rápido. Em casa, tomo um banho, visto uma roupa decente e
apresentável. Logo em seguida vou para a casa de Joseph. Sinto uma
dorzinha no peito ao ver alguns brinquedos do pequeno Mathew espalhados
pela sala.
Pego uma foto, onde estão pai e filho, e fico admirando a imagem. Sorrio
como uma idiota apaixonada. Que ódio de mim!
Eu, Maria Flor, apaixonada, assim, do nada! Foda-se, eu não estou em mim
de qualquer forma, prova disso é eu estar pensando em ter filhos com ele num
futuro distante. Imagina eu, grávida de Joseph Vincenzo? Puta que pariu! Ia
ser o auge da minha vida, provavelmente, carregar um bebê Vincenzo.
Imagina uma garotinha? Deus, ela seria a coisinha mais linda e enlouqueceria
Joseph. Já até o imagino fazendo cócegas e brincando de Barbie.
Eu estou delirando, real!
Na verdade, eu deveria não ter me apaixonado tão rápido, assim poderia
provar outras picas, quicar em outros colos. Talvez, se eu não tivesse me
apaixonado perdidamente por uma surra de piroca monstra, não sentiria essas
vontades loucas e descobriria o prazer em outros corpos. Mas não, eu estou
de quatro, de lado, de todas as posições, arriada para ele. Sem um pingo de
vontade de ao menos cobiçar outro homem.
É, isso me foi avisado durante anos. Minha vó avisou que aconteceria. A
profecia está se cumprindo. E, embora eu saiba que serei atropelada por ele
em algum momento, quero prosseguir e ver onde chegaremos com essa
brincadeira quente.
Deposito a foto no local e subo até o quarto dele. Caminho pelo closet e
quase rio o analisando friamente. É tudo separado por cores, absurdamente
organizado, como uma pessoa altamente exigente e metódica faria.
Enquanto Joseph parece possuir um tipo TOC com organização, eu sou cheia
de não me toque. Porque se ele entrar no meu closet, certamente ficará
chocado. Não que seja uma zona, mas também está muito longe de ser tão
organizado. Fora que o homem parece ser um consumista excessivo. Há tênis
dos mesmos modelos de várias cores, sapatos. Ok, eu tenho umas três
sandálias iguais, de cores diferentes, mas Joseph ... beira ao absurdo.
Abro suas gavetas em busca de cuecas e fico abismada por serem separadas
por cor e marca. Tem a sessão Calvin Klein e é nela que eu vou, porque acho
sexy. Pego duas: uma preta e uma azul-escura, porque ele fica gostoso com
essas cores. Coloco-as dentro de uma bolsa que grita riqueza e saio. Sério, se
eu for assaltada terei que vender meu carro para comprar uma bolsa dessas
para ele. Pode ser exagero, mas é foda.
Acho que possuo um excesso de humildade. Por mais que minha família seja
rica, esse luxo todo me assusta.

Quando chego ao hospital, meus pés paralisam ao avistar a tal Diana,


sozinha, de pé na recepção. Respiro fundo e me forço a andar.
Ao chegar próximo a ela, percebo que ela deve ter acabado de chegar de
alguma balada, porque está usando uma maquiagem fortíssima e uma roupa
totalmente ousada. Ela me encara e sorri, mas o riso morre assim que eu
pergunto à recepcionista sobre Joseph.
— Qual o nome da senhorita? — pergunta a recepcionista.
— Maria Flor.
— Oh, sim! A senhorita está liberada. Basta pegar o elevador e ir ao segundo
piso, senhor Joseph Vincenzo encontra-se na segunda sala de reunião.
— Por que ela está liberada e eu não? — Questiona a tal Diana e eu,
exercendo meu direito de recém-saída da adolescência, quase rio em vitória.
— Quem é você? O que você é de Joseph? — questiona agora a mim.
— Nada que seja do seu interesse.
— Eu sou mãe do filho dele! Meu Filho está internado nessa merda de
hospital! Eu exijo que libere minha entrada!
— Diana, não é? — questiono, fazendo com que ela volte seu olhar
diretamente para mim. Sinto ódio que ela seja tão bonita fisicamente, mas
fico feliz por saber que é desprovida de beleza interior. — Joseph ligou para
você há pelo menos quatro horas. Se estivesse realmente interessada em seu
filho, teria largado qualquer coisa que estivesse fazendo e vindo logo. A
propósito, se eu fosse você, começaria a rezar. Que a paz esteja com você,
porque com Joseph certamente ela não está! — Sorrio, mega simpática, e saio
rumo ao elevador.
Assim que chego ao segundo piso, Vincenzo já está na porta me esperando.
— Você encontrou com Diana?
— Sim, ela está lá embaixo possessa, porque quer subir — explico.
— Ela não fez nada com você? — pergunta, preocupado, tocando meus
braços.
— Não! De qualquer forma, se ela tivesse tentado fazer qualquer coisa,
certamente eu saberia como me defender. Não se preocupe — digo,
tranquilizando-o e tentando ocultar meu lado barraqueira. O sobrenome
Albuquerque corre quente em minhas veias, porém, Joseph não precisa disso
neste momento. — Suas roupas.
— Você está linda, princesa. — Sorrio sem graça. — Naturalmente linda.
— Ok, papai, pare de me deixar sem graça e vá colocar uma roupa decente,
nada de expor músculos. — Ele sorri e me puxa pelas mãos.
Entramos em um quarto que se parece muito com uma suíte de hotel, então
ele se troca sob meu olhar atento. Quando termina, nos conduz até uma sala
de reunião, onde os três advogados estão.
— Olá! — digo, educadamente.
— Oi, garota. Você é prima de Isis, não é isso? — Bruce pergunta,
oferecendo-me um aperto de mão.
— Sim. E você é... algo de Isis! — afirmo.
— Estou tentando. — Ele sorri e eu cumprimento os outros dois. Vincenzo
parece não gostar muito da minha troca com Bruce, pois faz questão de
marcar território, fazendo-me cair sentada na cadeira ao seu lado.
— Ela é minha namorada — anuncia algo que eu nem mesmo sabia. Só não
digo nada, pois sei que ele ficará ainda mais nervoso (e porque gostei de
como soou). — Agora só nos resta aguardar os laudos — informa, frustrado,
enquanto brinca com o anel em minha mão. É engraçado. Ele retira o anel
que estava no meu dedo indicador e o leva até meu anelar, então franze a
testa e fica rodando em meu dedo. Quando levanto os olhos, os três
advogados estão fixados na cena. Isso tanto me deixa mortificada, quanto
corada.
Uma batida à porta muda toda a situação e a tensão retorna quando dois
médicos surgem.
— Senhor Vincenzo, os laudos estão prontos — diz o médico, direto e reto.
— Mathew está com dois tipos de anemia: uma anemia chamada de anemia
ferropriva e outra chamada de megaloblástica. A ferropriva é devido a uma
alimentação com pouco ferro. Já a megaloblástica acontece devido ao pouco
consumo de vitamina B12 e ácido fólico. Ou seja, resumindo, é falta de
vitaminas e nutrientes importantes para um crescimento saudável. — Abaixo
minha cabeça quando ele se levanta. — Além disso, ele está com uma
infecção intestinal que chamamos gastroenterite. Essa infecção pode ser
causada por vírus ou bactérias. A forma de transmissão e contágio se dá pela
via fecal-oral, ou seja, pela contaminação de alimentos e da água. A infecção
induz a má digestão, má absorção de nutrientes e inibição da absorção de
água. O vírus entra nas células intestinais sem destruí-las, mas gerando uma
resposta inflamatória intensa. Já as bactérias causam ulceração e abscessos na
mucosa, induzindo a uma resposta inflamatória. O acúmulo da anemia e a
infecção, o levou ao sangramento pelo nariz. Nós precisaremos mantê-lo no
hospital por alguns dias, até conseguirmos normalizar a situação, por medida
de segurança mesmo. Mathew é muito novinho e frágil, esses problemas
podem agravar, se não controlados corretamente podem levar a óbito.
— Puta que pariu! — grito assim que Vincenzo sai transtornado pela porta.
Todos saem correndo atrás dele, que desce correndo pelas escadas. Eu sinto
que ele irá matar Diana neste momento e estou com medo das consequências.
Por sorte, antes que ele possa ter as mãos sobre Diana, Bruce entra na frente
dela.
— Se o meu filho morrer, você morrerá junto! — ele grita. — Eu matarei
você com as minhas próprias mãos, Diana!
— Você age como se ele fosse uma propriedade sua! — berra a mulher,
enquanto um segurança a segura. — Eu tenho direito de ver o meu filho!
— Você não passa de uma cobra pretensiosa. Se quisesse dinheiro era só
falar, mas colocar em risco a vida do meu filho? Eu pago por ele, diga o
quanto quer e segunda-feira estará em sua conta. Pegue o dinheiro e vá para o
inferno! — Ela ri. Uma gargalhada de bruxa que faz Vincenzo perder o
restante da sanidade. É preciso três homens para contê-lo agora.
— Eu quero ver o meu filho.
— Você parece saída de uma zona — rebate Vincenzo. — Isso é um hospital
e não uma balada.
— Eu irei processá-lo! — ela ameaça, Vincenzo começa a chutar tudo o que
vê pela frente. É aí que eu entro na jogada. Enquanto ele é contido pelos
braços dos advogados, entro em sua frente, isso parece acalmá-lo.
— Calma, não vai adiantar nada. Ficar nervoso só vai piorar as coisas. Me
ouça, Mathew ficará bem, está recebendo o melhor dos atendimentos. Ele é
um Vincenzo, isso significa que ele é forte e que precisa que você seja forte
agora. Com isso tudo de ruim que está acontecendo, você certamente
conseguirá a guarda dele e isso é incrível, Vincenzo. Há males que vêm para
o bem. Tudo tem um propósito. Talvez o propósito dessa doença seja torná-lo
seu. Desconhecemos os meios, mas tudo tem uma finalidade. Ele ficará bem,
precisa confiar — digo, levando a mão em seu rosto. Ele está tremendo e
respirando com dificuldade. Imagino o ódio que está sentindo neste
momento.
— O meu filho... — diz e uma lágrima escorre de seus olhos. Isso dói até a
minha alma, se é que é possível. Abraço-o e então o soltam. Ele me abraça
como se eu pudesse salvá-lo de todas as coisas. Mais um grande impacto no
dia de hoje.
— Vai ficar tudo bem. Ele está no melhor hospital, com os melhores médicos
e o melhor pai — tranquilizo-o.
— Vincenzo, com os laudos conseguiremos a guarda preventiva. Preciso que
fique calmo. Se agir de cabeça quente perderá a razão — orienta Bruce
pacientemente.
— Eu só quero tirá-lo dela e dar os devidos cuidados que ele merece. Ele não
pediu para vir ao mundo!
— Irei agora mesmo entrar com o pedido de guarda preventiva. Com os
laudos e todas as provas que temos, é causa ganha. Então depois pensaremos
a longo prazo até a audiência definitiva — explica Bruce e Vincenzo balança
a cabeça em concordância. — Posso confiar em deixá-lo sozinho?
— Sim. Ele não fará nada de errado, prometo — afirmo com a segurança de
quem está mantendo tudo sob controle. Eu estou? Nem sei, porra!
Os advogados se despedem e Vincenzo lança um olhar assassino à Diana, que
ainda está sendo contida.
— Quem é essa projeto de puta juvenil? — ela questiona e eu tento segurá-lo.
— Não a ouça. Deixe que os seguranças se encarreguem dela. Vamos subir e
aguardar para tentarmos ver Mathew, ok?
— Ok — concorda para a minha surpresa e andamos até o elevador.
Não sei como será. A megera é mãe do garoto e certamente dará um show até
conseguir vê-lo.
— Nós podemos vê-lo? — pergunto a um dos médicos, quando entramos na
sala de reuniões.
— Sim, mas não se assustem, ele não irá responder devido à medicação —
explica. Vincenzo fecha os olhos como se sentisse dor.
Caminhamos até um quarto e encontramos o pequeno, com uma sonda no
nariz e uma enorme agulha em seu braço, a imagem é de cortar o coração.
Não consigo conter as lágrimas ao vê-lo tão vulnerável e frágil. Trocaria de
lugar se pudesse.
Dou-me conta de que o conheço a menos de 24 horas e já estou apaixonada.
— Isso é uma puta sacanagem, ele é tão pequeno — reclama Vincenzo,
pesaroso, sentando-se ao lado de Mathew e segurando a pequena mãozinha.
— Ele vai ficar bem.
— Me sinto culpado por vê-lo apenas de quinze em quinze dias. Eu deveria
ter burlado a ordem judicial. Quando estamos juntos, ele parece tão bem, tão
forte e saudável. Os relatórios que Diana me passa são sempre excelentes. Eu
nunca imaginei... mando dinheiro para que ela possa dar o melhor ao garoto.
É uma quantia exorbitante, Maria Flor, cuidar dele era o mínimo que ela
podia fazer...
— Você não tem culpa. De qualquer maneira terá o poder e a chance de fazer
tudo diferente a partir de agora. Ele estará sob seus cuidados e sua
responsabilidade. Receberá o melhor tratamento tanto aqui, quanto em sua
casa.
— Obrigado por estar aqui. Nem sei o que teria feito. Está tendo uma
maturidade que eu mesmo não estou conseguindo ter agora — agradece.
— Você está apenas nervoso, eu imagino o quanto. Eu mesma estou...
— Flower, você é uma princesa — diz sério e eu coro.
Eu me sento na cama e faço cafuné nos cachinhos dourados de Mathew.
Ficamos longos minutos assim, até a enfermeira nos repreender por estarmos
na cama do garoto.
— Vamos comer algo? Eu não comi absolutamente nada hoje — convida e
eu aceito.
Vamos até o restaurante do hospital e pedimos um lanche. Em seguida, nos
acomodamos em uma das mesas e comemos conversando. Então passamos o
restante do dia sentados no sofá, ao lado da cama de Mathew, zelando o sono
forçado do garoto.
Quando anoitece, é chegado o momento de me despedir, já que só pode ficar
um acompanhante. Vincenzo me leva até a saída do hospital e me entrega,
novamente, a chave do seu carro e de sua casa.
— Eu ficarei aqui durante os dias em que Mathew precisar ficar, isso
significa que o estágio será adiado por mais alguns dias. Mandarei alguém da
minha equipe ir até a faculdade avisar. Adoraria que ficasse comigo, mas
você precisa ir à aula. — Suspira. — Espero estar logo em casa com o meu
pequeno. Enquanto isso, fique com meu carro e a chave da minha casa. Se eu
precisar de qualquer coisa pedirei a você, de acordo?
— Só se você permitir que eu durma lá essa noite para poder sentir seu cheiro
no travesseiro. — Sorrio escondendo meu rosto em seu peitoral. Sinto-me
uma perfeita adolescente dizendo isso.
— Eu ficarei honrado por isso.
— Honrado por eu dormir em sua cama? — questiono, afastando-me para
olhar seu rosto.
— Exatamente, senhorita Flower. É uma pena que eu não esteja lá para
dormir com você, agora estou com inveja do meu travesseiro — diz,
carinhosamente.
— Eu dormirei com ele entre minhas pernas, papai.
— Flor... Você é uma garota malvada. Deixe-me sair daqui e então pagará
caro pela provocação — sentencia.
— Agora falando sério...
— Eu estou falando sério desde sempre.
— Não, ok, compreendo. Mas falando de um assunto realmente sério... — É
realmente sério o que falarei com você — informa.
— Joseph! — repreendo sorrindo.
— Diga.
— Mathew ficará bem. Incluirei ele em minhas orações, assim como incluirei
você. Não caia nas provocações de Diana, ela vai tentar te tirar do sério nos
próximos dias. Permaneça firme pelo seu filho. Pense que Bruce e seus
advogados conseguirão a guarda preventiva dele, então você controlará a
situação a partir disso. Confie e tenha paciência, senhor Joseph Vincenzo.
Mathew sairá daqui dentro em breve, saudável e bagunceiro, ele destruirá sua
casa espalhando brinquedos, pintando paredes e isso será a coisa mais
incrível que terá acontecido em sua vida. — Sorrio.
— Seguirei seus conselhos, Flower.
— Bom garoto — afirmo, beijando seu rosto. — Amanhã virei vê-los a tarde,
ok?
— Estou contando com isso.
— Promete dar notícias? Seja a hora que for, não esqueça de me manter
informada.
— Prometo. Obrigado, Flor, por tudo, principalmente por se importar com o
meu filho — diz, abraçando-me e beijando o topo da minha cabeça.
— Adeus, Tudão. Boa noite e fique bem.
Corro até o carro e, assim que vou entrar, ele grita em alto e bom som: —
Flower?
— Oi?
— Você seria uma mãe muito melhor para o meu filho.
É a segunda vez que ele diz isso e a segunda vez que eu fico tão chocada
quanto possível.
CAPÍTULO 7

Quantas mulheres são vítimas de violência doméstica no mundo? Quantas


mulheres morreram vítimas de violência? Infelizmente esse é um assunto que
não damos tanta importância, especialmente quando não vivemos algo
parecido. É verdade. Só passamos a prestar atenção e se importar quando nos
tornamos vítimas.
Sou vítima há alguns anos, não apenas da agressão física, mas também a
psicológica. Eu tive chance de reverter essa situação, mas preferi acreditar
que havia fechado o ciclo quando me separei. Tive a chance de começar a
lutar por essa causa e não fiz, por medo. Eu sabia que, quando eu levantasse
essa bandeira, Anthony viria com tudo para cima de mim, por isso me calei.
Eu sempre me calo.
Quando nós, mulheres, chegamos à adolescência, começamos a nutrir
interesses sexuais, idealizar romances. É bem como a magia da descoberta
para um novo mundo, a despedida da inocência. Todas (ou a maioria)
idealizamos um príncipe encantado, como os dos contos de fadas, dos livros
de romance e dos filmes. Não sei vocês, mas eu, no auge dos quinze anos de
idade, ficava revoltada por não ser livre, por ter que acatar ordens. Eu
sonhava com o dia em que surgiria um príncipe encantado que me tiraria da
prisão do castelo, após pedir minha mão em casamento. Idealizava um
homem perfeito, que só faltava vir montado em um cavalo branco, que teria
um físico forte, imponente e uma beleza extrema. Sonhava que ele seria
capaz de me livrar de todas as aflições e suprir todas as minhas necessidades
físicas e emocionais. Sonhava até mesmo em me resguardar para a primeira
noite de amor, onde entregaria minha virgindade a ele e seria amada com
paixão e docilidade.
Eu acreditei que príncipes encantados existiam até por volta dos meus dezoito
anos. Houve uma época em que eu até achei que ele poderia ser Joseph
Vincenzo. O homem, desde jovem, tinha porte de príncipe encantado. Sim, é
engraçado lembrar dessa paixonite adolescente. Foi então que surgiu
Anthony, ele veio como um príncipe encantado, com toda sua glória e
atitudes impecáveis.
A realidade é que ninguém avisa que príncipes encantados não existem.
Ninguém conta que eles ficam irritados, agressivos e irremediáveis.
Pois é. Quando jovens, costumamos acreditar que o amor sempre vem num
formato de perfeição, premeditado para trazer apenas coisas boas, e que é
inabalável.
Nós estamos sempre em busca da felicidade, desde crianças, sem nem mesmo
nos darmos conta. Nós estudamos em busca de realização profissional,
fazemos compras de coisas que acreditamos nos fazer feliz, vamos em
lugares onde nos sentimos seguros e felizes, conversamos com pessoas que
acreditamos ser boas, buscamos um relacionamento incrível acreditando que
obteremos amor e que o amor é o sinônimo felicidade. Com isso vamos nos
perdendo, vamos sendo baleados pela vida ao ver que a constante busca pela
felicidade, na maior parte das vezes, nada mais é do que pura ilusão. Vamos
depositando confiança e buscando em coisas que não acrescentam, que não se
encaixam em nós. E ainda insistimos, porque, no fundo, acreditamos
bravamente que a felicidade completa existe, que ela só está oculta em algum
lugarzinho e que, se insistirmos, conseguiremos alcançá-la. Simplesmente,
porque lá no passado, quando dizíamos que príncipes encantados existiam,
ninguém nos alertou que era ilusório, que não existem.
Não existe ninguém no mundo que seja cem por cento feliz. Nada,
absolutamente nada no mundo, nos trará a felicidade absoluta. Na profissão
escolhida você passará por provações o tempo inteiro. Os objetos que
compramos em busca de felicidade – roupas, sapatos, mimos, lembrancinhas,
enfeites –, desgastam-se com o tempo, tornam-se obsoletos. No
relacionamento amoroso haverá discordâncias, brigas, palavras que magoam
de um jeito que o amor pode tornar-se tóxico e o pior de todos os
sentimentos.
O amor, aquele sentimento que dizem ser o maior de todos, pode vir a se
tornar seu pior inimigo.
Então você enxerga que a busca pela perfeição nada mais se resume do que à
decepção, e que a incrível busca pela realização, pela felicidade e pela
plenitude é inalcançável. Ninguém é feliz e realizado cem por cento em todos
os campos da vida. Ninguém. E isso não tem absolutamente nada a ver com
dinheiro ou com status. Eu garanto que até mesmo os mais ricos dos homens
não são realizados em tudo. Sempre há algo faltando...
Fazendo um balanço da minha vida, só consigo enxergar a decepção. Perdi
meus pais, o homem que eu acreditava ser um príncipe é um monstro
disfarçado. E, o garoto jovem que surgiu com toda leveza e disponibilidade,
não pode ser meu porquê sou assombrada pelo homem que, no passado,
acreditei ser o cara certo. O homem que entreguei minha vida anos atrás. Eu
achava que teríamos um casamento perfeito. Ambos tínhamos os mesmos
planos, a mesma ganância profissional, éramos conectados sexualmente, nos
divertíamos. Nossa vida foi planejada cedo, mas hoje percebo que nada foi
realizado, muito pelo contrário.
Estou na cozinha, enrolando ao máximo com a louça para não ter que ir para
o quarto, passar mais uma noite em claro ao lado de Anthony.
Nos dois últimos dias tenho pensado muito sobre denunciá-lo, tenho pensado
nas possibilidades. A parte ruim é que ele é bastante conhecido e respeitado,
segundo as pessoas que o conhecem, a índole dele é inquestionável. Se você
não vive entre quatro paredes com esse homem, certamente você irá adquirir
uma paixão por ele.
Ele mente.
Anthony possui um alto poder de persuasão, de tal forma que todos passam a
nutrir uma admiração imediata ao conhecê-lo.
Ele é sério, "ajuda" pessoas, faz favores, se mostra disponível sempre que
alguém precisa. Quem irá acreditar que ele é agressivo comigo? É aquela
velha questão: as aparências enganam. Eu fui enganada e talvez tenha
demorado tempo demais para poder pensar em agir. Sinto-me perdida,
receosa, com um medo sobrenatural, especialmente por conta das ameaças.
Quando nos separamos dessa última vez, eu estava certa de que seria
definitivo, que eu poderia tocar minha vida em paz, que ele havia percebido o
desgaste e a falta de sentimentos entre nós dois. E mais uma vez eu estava
enganada, ligeiramente.
Parece um ciclo interminável.
Heitor me enviou uma mensagem com seu novo número e, até o presente
momento, não pude retornar. Não sei se é certo envolvê-lo nisso. Ele
certamente passará a correr riscos, portanto, não estou disposta a ferrar com a
vida de um garoto cheio de vida e que possui uma família tão perfeita.
Eu não tenho ninguém. Qualquer coisa que acontecer a mim não causará
impacto a quem quer que seja. Algumas pessoas sentirão, mas em uma
semana tudo terá sido esquecido e a vida seguirá seu curso normal. Agora, se
algo acontece a Heitor, sua família estará destruída de inimagináveis formas.
Eu estarei destruída e nunca perdoarei a mim mesma.
Estou lavando um copo pela quinta vez, quando Anthony surge o tirando das
minhas mãos brutalmente. Fecho os olhos e respiro fundo, buscando o
mínimo de paciência possível.
— Você pensa que eu sou idiota? — questiona, puxando-me pelo braço,
fazendo com que eu me vire de frente para ele.
Encaro seus olhos sombrios e meu estômago se contorce de nojo, raiva, ódio
e asco. Não sei até quando conseguirei atuar, fingindo que ele ainda causa um
impacto positivo sobre mim.
— Viajo amanhã em uma missão, eu quero você limpa na cama em dez
minutos, nem um minuto a mais, você escutou?
— É assim que você insiste em dizer que mudou sua conduta, sua postura? É
assim que você diz querer filhos comigo? — questiono, mantendo minha
cabeça erguida e o encarando friamente. Seus olhos passeiam pelos meus e
ele suspira frustrado, diminuindo seu aperto em meu braço.
— Você não ajuda, Milena — rebate, soltando-me e passando as mãos pelos
cabelos. — Você se tornou frígida, não possui mais qualquer vestígio de
receptividade.
— Nossa relação está fadada ao fracasso, não percebe? Não possui mais
qualquer respeito entre nós dois. Você não me ama, Anthony...
— Eu amo, caralho!
— Não ama. Você havia percebido isso quando nos separamos. Você mesmo
disse — argumento e ele nada diz. — Quando poderei ter a minha rotina de
volta? Eu estou afastada da delegacia, estou presa em casa sem poder sair
para ir ao mercado. Estou vivendo em cárcere privado, Anthony.
— Você está de licença por quinze dias.
— E eu ficarei os quinze dias presa, Anthony? Qual a finalidade desse
absurdo? Explique-me — peço, sentando-me em uma cadeira.
— Não confio em você. Sei que, assim que eu a libertar, irá atrás daquele
garoto juvenil.
— Não existe ninguém, Anthony, você teria ficado sabendo se eu estivesse
envolvida com quem quer que seja.
— Não confio em você — repete. — Anda, Milena, vamos lá, me ajude a te
ajudar. Faça o que pedi.
— O que você ordenou, Anthony. — Digo cansada. — Você só sabe ditar
regras, ordens, como você quer que eu seja receptiva? Não tenho o perfil que
você idealiza, não nasci para ser comandada. — Ele volta a me pegar, dessa
vez com mais violência. Eu tento lutar, afinal também tenho minhas técnicas.
Desvencilho-me do seu aperto e tento correr para o quarto, porém, ele me
puxa pelos cabelos com força, como se fosse arrancar todos os fios. Isso me
detém. — Me solta! Você é um monstro!
— Vá tomar banho, sua vagabunda, então eu te mostrarei o monstro que
habita em meu interior — diz, arrastando-me até o banheiro e me jogando ao
chão, como se eu fosse um papel amassado. Tranca a porta e eu fico alguns
minutos ainda caída, tentando absorver o impacto dessas ações.
Sabe quando você chega ao limite? Eu estou tão cansada de tudo isso. Sinto
que parte disso tem a ver com Heitor. Quando você passa por esse tipo de
coisa e surge um outro alguém que se mostra tão diferente, acolhedor e
carinhoso, você passa a não aceitar menos que isso. Um garoto de vinte e
quatro anos me deu o acalento surreal que não tive em anos.
A porta se abre e logo estou de pé. Anthony abre o chuveiro e me joga
embaixo da ducha.
— Eu não estou brincando com você — anuncia, rasgando as roupas do meu
corpo e forçando meu short para baixo.
Suprimo à vontade chorar enquanto ele me dá banho do seu modo grosseiro.
Quando termina, ele me joga sobre a cama e começa a tortura novamente.
Dessa vez eu dou uma joelhada certeira em seu membro e ele cai no chão
urrando de dor. Eu visto um roupão e corro em busca da minha arma, não a
encontro em minha bolsa ou em meu escritório. É aí que ele surge na porta,
com uma mão segurando suas partes íntimas e uma arma na outra. A minha
arma!
— Está procurando isso? — pergunta.
— Por favor, pare com isso — imploro.
— Você é uma vadia — diz, jogando a arma no chão e vindo para cima de
mim.
A primeira agressão que recebo é um chute certeiro nas costelas, do lado
direito.
A última eu não sei.

Eu só acordo no dia seguinte, caída ao chão do escritório, sem conseguir me


mover direito.
Mais uma noite à espreita.
As luzes do apartamento estão acesas e vejo a sombra do tal Anthony
passando de um lado para o outro.
Não há como saber o que está acontecendo, isso é fodido.
Quero desistir, mas algo me faz permanecer aqui, como um verdadeiro
vigilante. Quando estou prestes a ir embora uma movimentação atrai minha
atenção. São seis e meia da manhã quando Anthony sai da casa. Ele está
carregando uma mala e entra em uma viatura que surge do nada.
Ele se vai e eu espero por mais trinta minutos antes de agir.
Deixando de lado o contexto sobre o que é certo ou errado e, mais uma vez,
atropelando a sensatez, sigo meus instintos e invado o prédio.
Subo os degraus, incapaz de conseguir esperar o elevador. Chego diante da
porta do apartamento e aperto a campainha. Não obtenho qualquer resposta.
Insisto por alguns longos minutos e então me dou por vencido.
Viro-me para ir embora, porém, detenho meus passos quando ouço um
gemido abafado acompanhado de um choro. Aproximo meu ouvido da porta
e percebo que vem do apartamento de Milena realmente.
Afasto-me o suficiente para pegar impulso e, agindo movido pelo desespero,
dou um único chute na porta e ela se abre.
— Milena? — chamo-a e então invado seu apartamento. Não a encontro na
cozinha, na sala, no quarto ou no banheiro. Encontro-a caída no chão de um
escritório e abro a boca tamanho o assombro diante de mim.
A primeira coisa que noto é uma arma caída ao chão.
— Saia daqui... — ela diz em um tom quase inaudível e então me forço a
agir.
— Você levou um tiro? — questiono, abaixando-me até ela. Meu coração é
massacrado ao ver um enorme hematoma em seu rosto e seus olhos brilhando
em lágrimas.
— Não...
— Meu amor — digo, pegando-a em meus braços e reprimo a vontade de
chorar por vê-la destruída.
— Não... dói. — Chora quando minhas mãos tocam suas costelas.
Levo-a rapidamente para a cama e decido examiná-la. Não há qualquer sinal
de tiro, felizmente.
Levanto sua camisa e torna-se sobre-humano não chorar ao ver os
hematomas.
— Meu Deus! — exclamo tomado pelo pânico.
— Ele pode voltar, vá embora. — Sua voz... está fodida, assim como seu
corpo.
Deixo-a e caminho até a cozinha. Pego um copo de água enquanto ligo para
Vincenzo. Sei que ele está com o filho no hospital, mas não há outra saída.
Estou desesperado de um jeito que não sei como agir. Eu mataria esse
desgraçado, mataria sem dó.
— Heitor, aconteceu algo? — Joseph atende questionando.
— Ela foi espancada, está horrível, não sei o que fazer, preciso tirá-la daqui e
levá-la para algum lugar seguro. Não sei o que fazer...
— Calma. Você está no apartamento dela? — questiona solícito.
— Sim.
— E Anthony?
— Saiu com uma mala... ela está muito ferida. — Digo e ele solta um
suspiro.
— Ok. Em quinze minutos no máximo terá um carro da Vincenzo aí. Pegue
algumas roupas para ela. Eu possuo uma casa em Beverly Hills, vocês irão
ficar lá, haverá uma equipe de médicos aguardando vocês e um advogado
para auxiliá-los. Lá é seguro. Não sabemos do que ele é capaz, por isso vou
solicitar que o restante da sua família fique lá também.
— Tudo bem. Obrigado, cara. Desculpa não ter perguntado por Mathew,
como ele está?
— Ficará bem. Eu entrarei em contato em breve. Vou resolver tudo por aqui.
— Anuncia, encerrando a ligação.
Por precaução, pego a arma no escritório e volto ao quarto. Ela está encolhida
em posição fetal e isso me mata...
— Mi, onde consigo uma mala?
— Ele vai nos encontrar... vai matar você — diz choramingando.
— Não vai. Eu prometo a você — informo levando minha mão em sua
cabeça, onde encontro um hematoma gigante.
— Dói.
— Você será devidamente cuidada, meu amor. Eu prometo a você que nunca
mais passará por isso, nunca mais. Agora diga-me onde há uma mala — peço
e ela aponta para o closet.
Encontro uma mala e pego algumas roupas, lingeries e sapatos mais básicos.
Volto ao quarto e a faço ficar de pé para vestir uma roupa limpa. É horrível
ver seu corpo perfeito marcado.
— O que aconteceu?
— Ele tem me... — Ela começa a dizer e então começa a chorar, incapaz de
terminar. Respeito sua dor. Por isso, apenas termino de vesti-la, pego a mala
e, lentamente, a conduzo para fora do apartamento. — O celular... debaixo do
colchão — informa e eu volto correndo para pegá-lo.
Conforme Joseph disse, há um carro da Vincenzo nos aguardando na porta.
Ajudo Milena a se acomodar e me acomodo ao seu lado, sem me importar em
deixar a moto de Isis. Mais tarde dou um jeito de pegá-la.
Abraço-a e ela volta a chorar. Não sou capaz de imaginar o tamanho da dor
que ela está sentindo, principalmente por saber que não é apenas física.
— Eu vou proteger você, delegata, confia em mim? — pergunto, ela balança
a cabeça positivamente.
— Eu... ele tem me estuprado — confessa cravando um punhal em meu peito.
— Eu não permiti essa noite... então o chutei... tentei fugir, mas ele foi mais
rápido.
— Ele nunca mais chegará perto de você. Eu juro, Milena, nunca mais. Nem
que eu tenha que matá-lo. Você não está sozinha, meu amor. Não mais. —
Ela me aperta mais forte e eu engulo a seco. Estupro, agressões físicas e
verbais... Maldito seja esse desgraçado!
Nem que eu tenha que voltar para o Brasil, a manterei segura.

Chegamos diante de um portão e eu já me assusto assim que ele abre.


Esperava uma casa normal... não isso que estou vendo.
O motorista segue adiante, até pararmos diante do que Joseph Vincenzo
chama de casa.
A pergunta é, por que ele não mora aqui? Beverly Hills é o bairro dos
magnatas da Califórnia e ele simplesmente mora em um bairro comum, sem
luxo ou nada, quando possui uma mansão absurda.
Mas isso não vem ao caso agora. O que importa é que esse local parece
confortável o bastante para Milena e já vejo médicos nos aguardando na
porta, antes mesmo de estacionarmos. Qualquer coisa que eu fizer para
Vincenzo não será o suficiente para agradecer essa ajuda.
— Onde estamos? — Milena pergunta.
— Em uma casa de Vincenzo.
— Oh merda... eu não queria envolver você e ele, não queria envolver
qualquer pessoa nisso.
— Eu farei qualquer coisa para salvá-la daquele homem, Milena, isso não
está mais em discussão. Concentre-se em sua saúde física e psicológica, do
resto eu cuidarei a partir de agora — informo descendo do carro e a ajudo
descer.
Um enfermeiro surge com uma cadeira de rodas e, sem protestar, Milena se
acomoda. Essa é a prova de que ela está realmente fodida de dor, caso
contrário, pelo pouco que a conheço, sei que ela não aceitaria tão facilmente.
Pego sua mala e os sigo até um quarto, onde parece ter sido montado uma ala
de hospital. Surpreendo-me até mesmo com aparelhagem maluca.
Tento ficar com ela, mas um engravatado me chama.
— Heitor, sou Adam, um dos advogados de Joseph. — Ele se apresenta e
trocamos um aperto de mãos.
— Vincenzo comunicou que viria.
— Bom, ele me disse brevemente que é um caso de violência doméstica.
Devo dizer que estou um pouco chocado, conheço Milena e Anthony, ele é
xerife, ela delegada, bastante inacreditável que ela tenha sofrido esse tipo de
situação. Ela está de acordo sobre tomarmos as providências cabíveis? Ela
buscou ajuda? Pode me contar?
— Há alguns dias ela me confidenciou essa situação, então hoje o vi saindo
de casa e fui verificá-la, encontrei-a caída ao chão desse jeito que acabou de
ver. Ela me disse que ele tem abusado sexualmente dela e que essa noite ela
não permitiu... — Suspiro. — Pelo que percebo ela se calou durante muitos
anos por medo e por não ter em quem se apoiar, já que os amigos dela
também são amigos do Anthony e por ele ser bastante conhecido. Porém,
hoje, a agressão atingiu um novo nível. Ela quer sim ser ajudada, não tivemos
como conversar direito no calor do momento, mas certamente ela não se
calará. Não mais.
— Os médicos estão a examinando, faremos exame de corpo delito.
Vincenzo aumentou a equipe de segurança do condomínio e da casa. Estou
aqui apenas para assegurar que tomaremos controle a partir de agora. Pelas
informações que já obtive, Anthony viajou para o Canadá em uma missão,
voltará nos próximos quatro dias. Vamos monitorar o apartamento e todos os
passos dele. Acredito que não será uma missão impossível ficarem alguns
dias preso nesta casa. Peço que sejam cuidadosos, que não saiam por
enquanto. Resguarde Milena, Heitor, tome frente da situação para mantê-la
segura. Voltarei amanhã com novidades e para ter uma conversa com ela.
Hoje ela está visivelmente debilitada.
— Cuidarei dela, agradeço imensamente pelo suporte. Nunca tive que lidar
com qualquer situação desse porte.

DUAS HORAS DEPOIS


Deixo Milena dormindo no quarto e caminho pela mansão. Nunca vi nada
desse tipo em toda minha vida. Acho que já passei por pelo menos três salas
gigantes.
Ouço um burburinho e vou até a sala principal, encontrando meus familiares
que acabam de chegar. Isso aqui, certamente, será um parque de diversões
para dona Mariana, amante da arquitetura.
— Meu amor — diz tia Vic, deixando sua mala e vindo até mim. — Como
ela está?
— Dormindo, tia. Fodida pra caralho. Cheia de hematomas.
— Isso é pesado, Thor, sei bem o que ela está sentindo. Talvez, mais tarde,
quando ela acordar, possamos ter uma conversa de mulher para mulher. Acho
que vamos nos entender — comenta, pensativa, enquanto me pergunto se
algo desse tipo já aconteceu com ela antes de conhecer meu tio.
— Neném da vovó, como está? E Milena? — Minha vó me abraça e deposito
um beijo em sua testa.
— Ela dormiu, vó. Foi medicada e dormiu — explico e abraço Isis.
— Tôr.
— E Maria Flor? — questiono.
— Faculdade. Ela vai ficar puta quando sair, Vincenzo mandou três
seguranças para cuidarem dela. Acho que eles já devem estar na porta da
faculdade — diz Isis rindo.
— Ele é extremamente foda! Não sei nem como agradecê-lo — confesso.
— Porra! — Minha vó diz. — Eu achava que a casa de Vic e Theus em BH
era luxuosa. Agora percebo que minha visão de luxo está defasada pra
caralho. Me sinto uma gota de água no oceano. Isso não é uma casa, isso é
uma aberração! Extremamente luxuosa, um designer hipermoderno, por que
Joseph não mora aqui? — questiona. — O homem possui uma mansão no
bairro mais luxuoso da puta que pariu e mora lá na nossa rua. Ok, sei que ele
é bilionário, mas convivendo com ele você esquece desse detalhe, porque é
gente como a gente. Mas daí ter uma casinha dessas e não desfrutar...
— Calma, dona Mariana — comenta Isis, rindo. — Mas é um absurdo
mesmo. Me sinto no filme “As patricinhas de Beverly Hills” versão
turbinada.
Milena me grita chorando, fazendo com que meu coração quase salte pela
boca.
— Deixa que eu a verifico, pode ser que ela se assuste ao ver todos vocês —
digo, indo até o quarto correndo.
— Desculpa! — ela diz chorando.
— O que houve, minha princesa? — questiono, acomodando-me ao lado
dela.
— Um pesadelo, você pode ficar comigo? Por favor, não me deixe sozinha.
Ele vai me pegar... ele vai me matar.
— Ele não vai pegar você, meu amor — digo na tentativa de tranquilizá-la,
enquanto ela se esforça para me abraçar. É chocante vê-la no mais alto índice
de vulnerabilidade, principalmente por já tê-la visto no auge do poder como
delegada. Beira ao inacreditável que essa aqui é a mesma mulher que me deu
ordem de prisão. — Eu ficarei aqui, fazendo cafuné em seus cabelos
enquanto dorme.
— Desculpe — pede mais uma vez e suspira cansada. — Você é um príncipe.
Talvez eles realmente existam — sussurra, fechando os olhos.
— Eu não sou um príncipe. — Sorrio beijando sua testa. — Ainda assim,
cuidarei de você.
A luta está apenas começando... sinto isso!
CAPÍTULO 8

Saio do banho com uma toalha enrolada na cintura e vou em busca de roupas
para enfrentar o passado caótico de Melissa Fontana.
Acho que nunca conseguirei entender o motivo de ela me olhar como se eu
fosse o homem mais incrível da história. É engraçado e curioso.
— O que foi, grutinha? — questiono enquanto visto uma cueca e ela suspira.
— Eu deveria estar de luto. Deveria estar realmente sofrendo, chorando e
arrancando os cabelos. Talvez eu deveria estar com o que chamam de minha
família, aturando a puta da minha irmã, a mercenária da minha mãe, que
certamente agora é uma viúva milionária e já deve estar contando com o
dinheiro alto que a morte do marido trará para sua vida, além de todo o
restante dos parentes desqualificados que possuo. Talvez, eu devia estar em
algum bar afogando as mágoas e produzindo conteúdo interativo para a
imprensa — confessa. Ela realmente está sofrendo, martirizando-se por não
estar tão sentida com a morte do pai.
— Mas... — digo enquanto visto uma calça e uma camisa.
Mas...
— Eu te escalaria como uma parede de escalada. Ficaria com você dentro
dessa suíte até morrer de exaustão ou emagrecer dez quilos de tanto queimar
calorias.
Calma, Arthur, você precisa aprender a conviver com a insanidade.
— Nós transamos quantas vezes? — pergunta e sorrio.
— Mel, a única coisa que não penso quando estou dentro de você é sobre
realizar uma contagem de vezes... — Ela cora e então suspira. — O que foi?
— Nunca fui assim — diz.
— Assim como?
— Tão ligada ao sexo e tão insensível a uma morte. Ok, sei que já me tornei
repetitiva, mas é que estou achando o cúmulo do absurdo não sofrer em
grandes proporções. Você surgiu lá ao meu lado e meu corpo reagiu a você,
dentro de um cemitério, isso é insano, errado.
— Mel, você precisa parar de se cobrar — informo calçando meu tênis. Ela
fica de pé e caminha até mim, segura em minha camisa, completamente séria.
— O que foi, Melzinha?
— Não queria trazê-lo para esse turbilhão de acontecimentos. Você não
merece passar por todas essas coisas, conhecer todas essas pessoas ruins,
lidar com o caos que sou obrigada a enfrentar.
— E você merece passar por tudo isso sozinha? — questiono, tentando
entender a complexidade do seu grau de inferioridade.
— São meus familiares, meu ex, meu passado... — diz, afastando-se. — Eu
sinto muito. Não fazia ideia que, do dia para noite, eu teria em minha vida
alguém como você, nem mesmo pensei que, me relacionando com você,
involuntariamente, te arrastaria para toda essa confusão.
— Você está arrependida por estar comigo?
— Apenas pelos problemas que o pacote Melissa envolve — confidencia,
ajoelhando-se diante de mim. — Eu me apaixonei por você, rápido demais.
Eu me joguei sobre você e sobre essa relação tão recente que já considero
tudo. — Sorri fracamente. — Embora não tenhamos conversado muito sobre
o seu passado, sei que ter permitido que eu entrasse em sua vida deve ser um
grande passo para você. Sei que quando sofremos um baque pesado passamos
a ter dificuldade para nos entregarmos, mesmo assim você se entregou a
mim. Tenho medo de que se magoe, que perceba que eu não sou boa o
suficiente para você. Tenho um passado não muito bonito e você está aqui,
dentro do meu passado, mergulhado de cabeça.
— Quando decidi me relacionar com você, não esperava um mar de rosas,
uma vida perfeita ou uma pessoa perfeita. Todos nós temos um passado,
todos nós temos problemas. Eu escolhi você com erros e acertos, sabendo do
seu passado, envolvido pelo presente e na esperança de um futuro. Sei que
você não está feliz de estar aqui, tendo que enfrentar todos eles. Sei que você
os enfrentaria sozinha, sei que se sente sozinha e já se acostumou com isso.
Mas, Melissa, você precisa saber disso agora, se você quiser que eu
permaneça em sua vida, terá que ser por completo e não apenas nos
momentos em que julgar certo. É em meio ao caos, a turbulência, ao sexo, a
felicidade e então ao caos novamente. Eu não sei me doar pela metade ou
quando achar convencional. Comigo é tudo ou nada. Eu estou aqui por um
milhão de motivos, jamais sairia da Califórnia, jamais deixaria minha mãe se
você não significasse tanto para mim. Eu não vou dizer que te amo, porque
estaria mentindo, mas posso garantir que sua paixão é recíproca. Eu estou
apaixonado, encantado e outras centenas de coisas, Melissa, quero você. Sou
intenso e profundo. Uma vez que segurei sua mão, estarei com você para o
que quer que seja. Foi incrível passar parte da manhã e da tarde transando
como um selvagem, mas não é apenas isso, Melissa. Para mim, vai muito
além do sexo e ficarei decepcionado pra caralho se para você for diferente.
Estou certo sobre o que quero, se você não compartilhar das mesmas
vontades, peço que me diga o quanto antes. Não ficarei chateado ou qualquer
outra coisa, muito pelo contrário, ficarei feliz e orgulhoso por ter sido sincera
comigo — digo de cabeça baixa e, quando a levanto, pego-a chorando. —
Merda, por que está chorando, Mel?
— Meu sonho de princesa real e oficial — confessa, jogando-se em meus
braços.
— Pare de chorar.
— É que eu sempre fui tão sozinha, até quando estava com Ignázio. Você é a
primeira pessoa a me oferecer a "mão"...
— Então, aceite-a e permita que eu esteja com você em todos os momentos,
não apenas os sexuais.
— Eu aceito. Promete ter paciência comigo? — pede. — Estou me adaptando
a ter alguém.
— Eu sou paciente.
— Bom, então já que é na alegria e na tristeza, espero que esteja pronto para
descermos e enfrentarmos um passado bem chato e insistente — diz,
limpando o rosto e saindo de cima de mim.
— Vamos lá, grutinha!
— Antes só preciso dizer... Eu disse todas aquelas coisas, porque me
preocupo e me importo. Não quero fazê-lo sofrer, tenho medo de que isso
aconteça. Jamais me perdoaria. O meu passado...
— O seu passado é desconhecido por mim. O que interessa são as suas ações
a partir do dia em que nos conhecemos, nada além disso. O seu passado não é
forte o bastante para colidir com o seu presente, não para mim.
— Não quero perdê-lo, mas também não quero fazê-lo sofrer.
— Vamos, Mel, chega dessa conversa de sofrimento, ok? — ofereço minha
mão a ela e saímos rumo ao elevador.
Assim que cegamos ao térreo, os flashes começam através da grande vidraça
que há na recepção.
— Isso é por você? — questiono à Melissa.
— Faz parte do pacote de vantagens ou desvantagens de Melissa Fontana.
Você disse que estaria de mãos dadas comigo...
— Eu estou. — Sorrio.
— Sinto muito por isso, marido.
— Não sinta, esposa — tranquilizo-a, e seguimos rumo ao tal Ignázio, que
parece feliz por ter centenas de fotógrafos do lado de fora registrando esse
encontro. Já imagino o tipo de noticiário que iremos protagonizar.

De mãos dadas com Arthur, caminho até Ignázio. Porém, há uma outra
pessoa que atrai minha atenção: o advogado da minha família.
— Senhorita Melissa — diz, ficando de pé e me oferecendo sua mão.
— Olá, Borges. Esse é meu marido, Arthur. — Ele me encara chocado após
ouvir o “marido”, mas, em seguida, oferece sua mão à Arthur em um
cumprimento.
— Essa conversa será toda em italiano, não é mesmo? — Arthur questiona
baixo em meu ouvido.
— Sim, será. Prometo mantê-lo a par de tudo.
— Ok, ficarei aqui fingindo compreender tudo o que se passa. Não se deixe
intimidar, minha garota. Você é melhor e mais forte que todos esses abutres
que a cercam — incentiva, apertando minha mão mais forte. Eu engulo em
seco. Ele vê mais potencial em mim do que eu mesma.
— Ignázio — cumprimento-o, oferecendo a mão, e ele aceita. — Vocês estão
juntos? — questiono.
— Não, mas talvez o assunto que Borges tem a tratar com você deva ser mais
importante. Não que o assunto que tenho a tratar com você seja superficial,
mas...
— Ok, vou providenciar uma sala de reuniões — informo, fazendo um sinal
para que uma funcionária venha até mim e, assim que ela se aproxima,
solicito uma sala privada, para tratarmos o que quer seja. Longe dos
holofotes, apesar de que Ignázio parece confortável com isso.
Cinco minutos depois eu, Borges e Arthur, estamos em uma sala de reuniões
do hotel, enquanto Ignázio nos espera do lado de fora. Arthur mantém sua
mão sobre a minha, esse simples gesto se torna o maior de todos os
incentivos que preciso.
— Bom, senhorita... digo, senhora Melissa, o assunto que tenho para tratar é
sobre o testamento do seu pai.
— Ele disse testamento do seu pai? — Arthur questiona perplexo.
— Exatamente — confirmo. — Testamento? Meu pai foi sepultado há o quê?
Seis horas?
— Senhora Melissa, a senhora é a principal beneficiada do testamento por
desejo de seu pai. Para os demais beneficiários terem acesso, depende única e
exclusivamente da senhora.
— Por que eu sou a principal beneficiária? — pergunto entrando em um
completo estado de choque. Ele olha para Arthurzinho, desconfiado. — Ele é
meu marido, pode falar.
— Se é assim... Bom, seu pai encontrou através do testamento a chance de se
redimir por todos os atos inapropriados e pela conduta nada paternal que teve
com você desde a infância — revela, deixando-me mais perplexa ainda.
— Ele quis usar o dinheiro para "comprar" o que ele não pôde me dar? —
Rio e Arthur me encara sério. — Vamos lá, Borges, informe quanto estou
valendo nessa merda...
— Senhora Melissa...
— Oh, Borges, sem titubeios, diga logo o quanto vale todo o carinho e apoio
paterno que me faltou? — Ele me entrega um documento, então eu começo a
ler. Nele diz de cinquenta por cento da herança é minha e os outros 50%
serão divididos entre minha mãe, minha irmã e... a empregada da nossa casa?
Beira ao absurdo. Já imagino minha mãe querendo matar pessoas,
sinceramente, inclusive eu. O outro choque vem pela quantia que está
especificado ao lado do meu nome, juntamente com algumas propriedades.
— Você está brincando com a minha cara!
— Não estou.
— Está sim. Eu jurava que não valia nada e agora percebi que valho muito —
brinco rindo, puramente pelo nervoso. Eu rio de quase chorar e entrego o
documento para Arthur, que tenta traduzi-lo. Então permaneço rindo até
escorregar da cadeira e cair de joelhos no chão, batendo meu queixo na mesa.
Dói. Puta que pariu! Dói e eu sinto gosto de sangue em minha boca.
— Porra! Mel, sério, às vezes acho que você não é normal — diz Arthur,
pegando-me.
— Acho que cortei a boca... — anuncio caminhando até o banheiro, onde
lavo minha boca e me encaro através do espelho. Então o choro vem com
força. Encontro-me num completo estado de instabilidade emocional. Apoio
meus cotovelos na pia e apoio minha cabeça nas mãos para chorar.
Choro pela morte do meu pai.
Choro pela vinda de Arthur.
Mas choro, principalmente, por me dar conta de que as pessoas podem ser
rasas o suficiente para tratarem as outras como uma mercadoria que pode ser
comprada.
Ali, naquele papel, eu estou valendo muitos milhões, porém, ao ver todos
aqueles números, me dei conta do quão desvalorizada eu fui para ele uma
vida toda, o suficiente para pesar em sua consciência e herdar milhões pela
sua morte.
Não há dinheiro no mundo que pague todo o abandono emocional que recebi.
Entretanto, de alguma forma, eu farei um uso correto dessa merda, já que
agora sou multimilionária.
Lavo meu rosto mais uma vez e respiro fundo antes de conseguir sair de
cabeça erguida.
— Ok. Estou bem. — Digo a Arthur, que me encara demonstrando
preocupação. — Então como funciona tudo isso? Eu assino onde e como
serão as coisas daqui para frente?
— Uma vez assinado, levaremos em torno de cinco dias úteis para
terminamos todos os trâmites. O dinheiro estará em sua conta no prazo final,
assim como todas as propriedades listadas.
— A casa, o chalé na Toscana e um apartamento em Florença. Ok. A casa eu
não quero.
— Mas...
— Eu renuncio à casa. Quero que ela permaneça com minha mãe e minha
irmã. Não quero toda a dor de cabeça e todas as lembranças ruins que aquela
casa tem para me oferecer. Quero a praticidade, Borges, e quero não ter que
lidar com elas. Preciso saber até quando será necessária minha estadia em
Milão...
— Eu tenho toda uma documentação aqui. Se for de sua vontade assinar
todas elas de uma vez, estará liberada. Pode ser que surjam alguns
imprevistos, mas podemos tratar virtualmente se necessário for. Se sua
presença for solicitada novamente eu...
— Eu venho quando necessário for — digo, cortando-o. — Só não quero
ficar aqui. Você, como advogado da família desde sempre, sabe o que irei
enfrentar assim que for anunciada como principal beneficiária. Não estou
disposta a isso, não mais — informo, portando-me como uma executiva de
alto padrão.
— Não pode ficar por pelo menos cinco dias?
— Não. Apenas me mantenha informada sobre todos os tramites através do e-
mail que informarei — digo e ele me entrega os papéis para serem assinados.
Assino em todas as folhas e, no envelope, escrevo meu e-mail.
— Só uma questão. Como sabia que eu estava nesse hotel? Não há qualquer
reserva em meu nome — questiono.
— Ignázio — responde, dando de ombros. — Sinto muito, senhora Melissa.
Meu trabalho aqui está feito. — Trocamos um aperto de mãos e então ele se
vai deixando-me com Arthur.
— Você está bem?
— Não muito — confesso. — Mas ficarei.
— Sim, princesa. Agora vamos enfrentar a outra situação. Se sente bem para
isso? Ou acha melhor dispensarmos?
— Irei dispensá-lo. Essa pequena reunião me ocasionou um desgaste
psicológico gigantesco, não me sinto pronta ou disposta a aturar Ignázio hoje
— digo, abraçando-o. — Nós podemos voltar ao quarto, pedir milhões de
comidas, doces e passarmos o resto do dia e da noite assistindo televisão,
falando futilidades e comendo?
— Eu acho uma excelente ideia, grutinha. Acho que não tivemos muito
tempo para ficarmos de pernas para o ar desde que nos conhecemos, está tudo
muito caótico — comenta, beijando minha testa. — Olha, depois que a poeira
abaixar vamos fazer uma viagem. Vou levá-la para encontrar o equilíbrio e a
felicidade no meu lugar preferido do mundo.
— Na Ilha? — pergunto sorrindo e mergulhando na intensidade dos seus
olhos azuis. Arthur ri com os olhos, isso é fantástico.
— Exatamente. Vamos ficar pelo menos quinze dias na ilha. Tanto eu, quanto
você, precisamos disso — afirma, puxando-me para um beijo delicado e eu
me perco por alguns segundos. — Grutinha milionária, seu pai foi tolo por
não perceber que seu valor é inestimável. Eu vejo através de você, Melissa.
Eu vejo luz, bondade e pureza, mesmo sendo essa maluquinha. — Ele sorri.
— Você é pura e transparente. Nós iremos embora e, se for sua vontade,
construiremos uma nova história para nós dois, dessa vez com um final feliz.
— Meu sonho de princesa real e oficial! — comemoro, beijando-o e então
seguimos para dispensar Ignázio...
Ou ao menos tentamos!
Após fazermos, passamos o restante do dia fazendo tudo o que planejamos:
comendo, falando besteiras, assistindo filmes de comédia romântica e
discutindo sobre eles. Por fim, tomamos um banho, nos acomodamos na
cama e dormimos abraçados por toda noite. Sem sexo, sem putaria ou sem
piadinhas eróticas. Apenas atingindo um novo nível de cumplicidade.
....
Acordo antes de Arthur e fico o observando dormir com a boca levemente
aberta. É engraçado e fofo. É uma confusão de cabelos, incrivelmente
sedosos, espalhados pelo travesseiro. Acho que já tenho um novo apelido
para pirocomon, leãozinho. Ele é feroz e faminto como um leão, tem cabelos
fartos castanho-dourados e é voraz. Ok. Eu estou sempre viajando em minha
mente alucinante.
Mas ele é tão lindo!
Até as axilas. Sério.
Existem homens que têm axilas horrorosas, que pelos parecem cabelinho de
cu, têm as axilas manchadas, os cabelos espetados como se o cidadão tivesse
pegado gel e mousse para mantê-los espetados. Mas o de leãozinho parece
cabelinho de bunda de neném. É uma coisinha linda. Arthurzinho deve fazer
hidratação em seus pelos ou a genética foi muito abençoada. O homem não
tem um único defeito físico, é perfeito da cabeça aos pés e ainda possui um
dote absurdo entre as pernas, além de não broxar ou ter ejaculação precoce.
Ô vida injusta.
Já eu tenho um pé horroroso, acho meus lábios carnudos demais e
desproporcionais ao meu rosto. Gosto do meu corpo, é bacana, mas sei lá...
— Grutinha, em que está pensando? — questiona a voz rouca dissipando
minha autocrítica.
— Leãozinho, você acordou! — Sorrio.
— Leãozinho, Mel? — pergunta sorrindo, e eu me derreto todinha. Quando
foi que me tornei fofa? Sinto vontade de abraçá-lo e espremê-lo até perder
todas as forças. Sinto vontade de falar com voz de neném e vontade de dar
comida de aviãozinho. Eu estou realmente surtada. Por falar nisso preciso
marcar uma sessão de depilação...
— Você parece um leãozinho, não tenho culpa. — Sorrio passando a mão em
seus cabelos. Ele até fecha os olhos e volta a suspirar em plena satisfação.
— Minha grutinha é carinhosa — diz sorrindo. Será que a finada puta não era
carinhosa? Deus, eu fico puta toda hora que lembro dessa demônia! Não tem
lógica ser filha da puta com um homem desse e não é apenas pela beleza
física. O homem é completo, com atributos físicos e morais. Parece um
bebezão carente... meu deuso!
— Você é um leãozinho mais feroz do universo.
— Oh, Mel, isso está ficando meloso demais, não? — questiona rindo, em
seguida me puxa de forma que eu fique embaixo dele.
— Uau!
— Uau! — Sorri. — Você é linda, grutinha. — Puxo-o pelo cordão e o beijo.
Uma excelente maneira de começar o dia.
Quando as coisas começam a esquentar o telefone da suíte toca e Arthur salta
da cama com o susto.
— Puta merda! — exclama passando as mãos pelos seus cabelos.
Uma bela visão matinal!
Ele atende e o vejo franzir as sobrancelhas.
— Está conseguindo entender? — questiono.
— Sim. Ignázio — anuncia e agradece a atendente antes de desligar.
— Esse Ignázio é um pau no cu! — Reclama, puto, e eu acho incrível ele
falando palavrões. É tão incomum... — Vamos, princesa. Precisamos nos
livrar desse embuste para termos ao menos um pouco de paz nesse caralho.
— Olha, ele está falando uma sucessão de palavrões nessa linda manhã. —
Sorrio me esticando na cama e então fico de pé.
— A manhã estava começando da melhor maneira possível até o telefone
tocar — resmunga, indo ao banheiro.
Meia hora depois, estamos no saguão do hotel, diante de Ignázio. Novamente
há fotógrafos do lado de fora do hotel e isso deixa Arthur ainda mais mal-
humorado.
— Esse imbecil fala inglês? — Arthur questiona baixo em meu ouvido.
— Sim.
— Ok. É o seguinte, Ignázio, nós ainda não tomamos café da manhã, você
decide se quer nos acompanhar ou aguardar. Não há a menor chance de
termos qualquer conversa antes de fazermos nosso desjejum — informa meu
marido dotadão, e Ignázio sorri de lado.
— Eu acompanho vocês — anuncia, estendendo a mão como se estivesse nos
dando passagem. Imbecil!
Pelo menos no restaurante do hotel não há fotógrafos!
— Grutinha, eu vou deixar que vocês dois conversem sozinhos. Creio que o
assunto não me diz respeito. Estarei sentado em outra mesa, atento. Se
precisar de mim, basta fazer um sinal e eu estarei com você — diz Arthur
assim que terminamos de preencher nossos pratos com guloseimas.
— Ok, leãozinho.
— Leãozinho... — repete rindo. — Ok, grutinha. Estarei ali... — insiste,
dando-me um beijo casto e eu caminho até a mesa onde Ignázio está
acomodado.
— Seu pseudo-marido não vem participar da conversa?
— Ele não é meu pseudo-marido. E não, meu marido não vem. — Sorrio
forçada.
— Vocês se casaram de verdade?
— Sim, nós casamos há poucos dias.
— Percebe o quão absurdo é isso, Melissa? Você some da Itália por quase um
ano sem dar satisfações para mim e para sua família, quando volta,
exclusivamente para o funeral do seu pai, está casada — esbraveja,
encarando-me como se fosse capaz de me fazer abaixar a cabeça.
— Não seja ridículo. Você sabe exatamente o quão insignificante sempre fui
para os meus familiares. De qualquer forma, Ignázio, não devo satisfações a
você, mas eu sempre estive em contato para saber notícias através da Zu –
empregada dos meus pais. Eu ligava para ela pelo uma vez por semana,
mesmo que meus amados parentes não merecessem, porque eu, felizmente,
fui, sou e sempre serei diferente deles e de você — pontuo levando um
pedaço de torta alemã em minha boca. Santa da grutinha virgem, que delícia!
— Você nem mesmo terminou comigo, nem mesmo deu qualquer explicação.
— Eu "fugi" de um reality show onde estava com você, fugi do meu país.
Precisava dizer mais qualquer coisa? — questiona.
— Claro que sim.
— Então eu digo agora, Ignázio! — exclamo. — Eu fugi, porque não
suportava mais ter que olhar na sua cara e na cara dos meus pais. Eu fugi,
porque queria estar num lugar onde pudesse ser quem sou, fugi para ser livre,
para ser feliz e para encontrar outra vida. Uma vida onde sou reconhecida
pelo que sou, não pelo que dizem e o que esperam que eu seja. Não nasci
para ser fútil, para ser falsa ou fingida. Não nasci para viver de aparência,
Ignázio. Eu sou muito mais do que um corpo e um rosto. Tenho sentimentos,
sonhos...
— Está dizendo que tudo que nós vivemos foi uma farsa?
— No início não — confesso. — No início eu realmente gostava de você,
porque eu achava que você era diferente, você se mostrou diferente. Mas
então, depois, as coisas mudaram de forma. Você se mostrou ser igual à
minha mãe, fútil. Demonstrou querer mais mídia, mais foco e mais capas de
revistas. Meu Deus, Ignázio, para ir à banca de revista em frente ao
apartamento, você se vestia como se fosse estampar a capa de uma revista de
moda masculina, você me beijava para ganhar notinhas ridículas: "Melissa
Fontana é vista em clima de romance com Ignázio", que merda, às vezes
estávamos brigando e você simplesmente me roubava um beijo para aparecer.
Você andava comigo na rua atento aos possíveis paparazzis. É ridículo isso.
Eu nunca quis e continuo não querendo.
— Nós estamos sendo cotados para o novo Gran Fratello Vip, sabia disso? —
questiona.
— Não sabia, desculpe, mas também não quero saber. Minha vida agora é
outra. Tenho outros planos, novos projetos, um marido e até uma família
nova que me acolheu como filha. Não há qualquer motivo para fingir ser algo
que não sou.
— Eu tenho uma proposta — diz. — Participe do reality comigo. Nós
podemos manter um acordo com seu ...
— Marido.
— Sim. É nosso último trabalho juntos. Mel, isso vai dar uma visibilidade do
caralho após ter sumido por quase um ano — propõe na maior cara lavada e
pasmem, não me deixa chocada. É sempre assim: visibilidade.
— Era isso que queria falar?
— Pense, Melissa, por favor — pede.
— Não! Não há a menor chance sobre isso, Ignázio. Está maluco? Cara, saia
dessa merda. Expandir os horizontes, às vezes, é necessário. Você é um cara
bonito, forte e saudável. Vá em busca de algo útil, seja útil no mundo e não
apenas um parasita. — Quando termino de falar Belen – minha irmã –, surge
no caralho do restaurante. — Que maravilha!
— Saia, Ignázio! Eu preciso conversar com Melissa! — ela anuncia, raivosa.
— Foi para a balada e esqueceu de tirar a fantasia? — questiono rindo do seu
look absurdo.
— Nossa conversa ainda não acabou! — ameaça Ignázio, ficando de pé e eu
me levanto também. Apoio as duas mãos na mesa e o encaro.
— Nossa conversa acabou sim, satanás! Não há mais nada a ser conversado
ou resolvido, embuste. Não me procure mais! — esbravejo. — Aliás, por que
não fica com a Belen? Vocês são o casal ideal. Os dois gostam de aparecer.
Olha ela, está igual um lustre ofuscando com esse brilho em plena manhã e
você igual um radar de paparazzi. Vão tomar em suas respectivas cavidades
anais, juntos, obrigada!
Ignázio sai cuspindo fogo e Belen me segura pelo braço, enfincando suas
garras firmemente contra minha pele. Desvencilho-me e a empurro.
— Eu vim aqui para termos uma conversa civilizada — grunhe com sua voz
de tamanco e então se senta no lugar onde antes estava sendo habitado pelo
satanás. Dois em uma só manhã, incrível!
— Diga, piranha. — Sorrio.
— Não é justo que papai tenha deixado metade dos bens para você!
— É mesmo? Já que vocês nem esperaram o corpo dele esfriar dentro do
caixão, desenterrem e vão em busca de uma ceita ou qualquer merda para
ressuscitarem ele. Aí, você e mamãe, poderão discutir isso.
— Você é dissimulada! — quase grita. — Sua ladra!
— Não tenho culpa se papai resolveu retribuir a indiferença a mim em forma
de milhões e bens materiais — provoco a "movida a interesse".
— Você tem que renunciar a isso e dar à nossa mãe!
— Querida, o dinheiro será muito bem empregado com quem merece. Já fiz
até um favor para vocês, renunciei à casa. Sabia que papai deixou aquela
linda mansão para mim? — Ela abre a boca em espanto.
— Ele não fez isso...
— Ele fez, pergunte ao Borges. Abri mão para vocês continuarem vivendo no
palácio de cristal da terra do nunca! Agora me deixa em paz, caralho. Vá
arrumar um saco de rola para chupar, vá fazer pornô caseiro para cair no
xvideos como você gosta, vá aprender a fazer tricô, consolar Ignázio ou tentar
dar o golpe em algum político velho, que já está com o pé na cova. O
falecimento do papai pode ser vantajoso para você. Esse é o momento em que
todos os políticos vão prestar as condolências à viúva e a filha modelo... de
putaria. Talvez até mamãe consiga algo nessa brincadeira...
Ela tenta jogar uma bebida em direção ao meu rosto, mas Arthur surge do
nada contendo-a.
Meu sangue ferve pela forma que ela o encara. Então eu me levanto, pego-o
pela mão e saio o arrastando, até o primeiro elevador que encontramos. Belen
vem correndo e a empurro fazendo-a cair de bunda no chão. A porta se fecha
e eu finalmente posso respirar tranquilamente.
— Nós vamos precisar mudar de hotel. — Suspiro frustrada. — Mais uma
vez, me desculpe por tudo isso.
— Vamos para alguma cidadezinha aqui perto, alguma que dê para voltarmos
rápido se sua presença for solicitada. Vou providenciar o aluguel de um carro
e saímos de madrugada, sem que ninguém veja. Vou exigir privacidade do
hotel ou irei processá-los.
— E o que faremos durante todo o dia? Nem mesmo tomei café da manhã.
— Vou pedir serviço de quarto e passaremos o dia namorando — informa,
abraçando-me.
— Namorando? — questiono rindo.
— Traduzindo para palavras rudes: fodendo! Prepare-se, Melzinha, eu estou
devidamente estressado!
CAPÍTULO 9

— Flor, hoje à noite terá uma resenha na casa do Adam, você vem? — Félix,
um amigo que estuda na mesma turma que eu, convida.
Sorrio.
Se fosse há duas semanas, toparia sem pensar. Não houve uma única festinha
da turma que eu não estivesse presente, desde que entrei na faculdade. Porém,
hoje, só consigo pensar em ir visitar Mathew e Joseph. E, por esse motivo,
abro meu maior sorriso e dispenso o convite.
— Tenho compromissos hoje, infelizmente dessa vez não poderei ir.
— Ok, se mudar de ideia...
— Tudo bem — sorrio.
— Maria Flor! — Uma outra voz me chama e eu começo a pensar em quão
filha da puta a vida pode ser.
Quando você está livre e solta, perdida na pista, os boys magias cagam trinta
quilos para você. Aí, por obra do destino, você encontra um boy homão da
porra do caralho e isso parece atrair um festival de homens gostosos. Sério,
parece atração magnética. Então você se vê obrigada a dispensá-los, em nome
da moral e dos bons costumes, porque está de quatro, pagando paixão
mesmo...
Enfim.
Ali vem ele. A tentação: Richard, mais conhecido como Rich. Um pedaço de
homem, todo trabalhado nas tatuagens espetaculares (que mais parecem obras
de arte sincronizadas). Dono de um corpo impecável, praticante de esportes
radicais, jogador de basquete no time da universidade, 25 anos de pura
testosterona e futuro engenheiro civil.
— Ei! — Sorrio, tentando não olhar para seu peitoral, que está devidamente
marcado sob a camisa.
— Ei, linda! Faz tempo que não conversamos — cumprimenta-me, dando-me
dois beijinhos nas bochechas. — Fiquei sabendo que foi aprovada para o
estágio na Vincenzo. Como você deu uma sumida da faculdade não tive
como parabenizá-la. — Sorri, quase perco o fôlego. — Sabe que trabalho lá,
não é? Comecei como estagiário e fui promovido após um ano. — Puta que
pariu, que maravilha! Estou fodida pra caralho! Além dos dois estagiários,
agora fico sabendo que Richard, o gostoso da faculdade, trabalha na
Vincenzo. Só melhora essa merda!
— Sério?
— Sim. Será um prazer trabalhar junto com você — diz, mexendo em uma
mecha dos meus cabelos. — Deve estar ansiosa para começar, não é mesmo?
Joseph é um pouco chato com estagiários, faz questão de acompanhá-los e de
que sigam todos os seus comandos à risca, mas com o tempo você
compreenderá que ele só pega no pé para poder extrair o melhor de nós. Ele
não aceita menos que o melhor em sua empresa.
— Sim, estou muito ansiosa, não vejo a hora de começar. — Sorrio fingida.
— Bom, você vai na resenha na casa do Adam?
— Não. Tenho compromissos, infelizmente não poderei ir.
— Estava pensando se podíamos sair um dia desses... — propõe. Ainda não
posso dizer que estou numa espécie de relacionamento com o chefe dele. Na
verdade, eu e Joseph precisamos conversar sobre isso, não há como fingir ser
solteira.
— Claro... depois combinamos algo sim. — Sorrio. — Bom, eu preciso ir,
Rich. Foi bom falar com você.
— Você está cada dia mais linda, Flor.
— Obrigada. — Vou me despedir dele com dois beijos no rosto e ele erra um
propositalmente, depositando um selinho em meus lábios. Não gosto. Na
verdade, isso me deixa ligeiramente furiosa e eu decido pontuar a ele a minha
insatisfação. — Não repita isso, Richard!
— Desculpa, falhou. Sou inocente, juro. — Balanço a cabeça negativamente
e caminho até a saída do campus.
É então que noto três grandalhões engravatados me seguindo. Eu paro de
andar e eles param também, volto a andar e eles voltam. Viro para a direita e
eles me acompanham... Puta de raiva, viro-me de frente para eles e os encaro.
— Algum problema comigo? — questiono, cruzando meus braços.
— Só cumprindo ordens, senhorita — responde um deles.
— Ordens? Ordens de quê? De quem? Qual a finalidade?
— Fomos contratados pelo senhor Vincenzo para garantirmos a sua
segurança — explica.
— Oi? Garantir a minha segurança? Que caralho é esse?
— Tudo que sabemos é que houve um problema com a namorada do seu
irmão e o senhor Vincenzo quer garantir a segurança de toda família.
Inclusive, a senhorita não poderá mais ir para a casa em que morava. Todos
seus familiares estão hospedados na propriedade do senhor Vincenzo, em
Beverly Hills. — Minha boca vai ao chão em espanto. São muitas
informações a curto prazo. Quando saí de casa às 6h30 estava tudo tranquilo,
inclusive ninguém havia acordado.
— Milena está bem?
— Sim. Sob cuidados médicos, segura na residência do senhor...
— Vincenzo. — Reviro os olhos. — Então, agora terei que andar com três
seguranças? Isso é absurdo! — resmungo caminhando até meu carro e não o
encontro. — Onde está o meu carro?
— Senhora, é para sua segurança.
— Meu cu! Tenho pavor de perseguição! Não vou permitir isso! — informo,
andando rápido e entrando no primeiro táxi que encontro. — Eu preciso que
acelere, agora! — peço em desespero e o taxista dá partida o mais rápido que
consegue.
Minutos depois, ele me deixa no hospital e, após pagar a corrida, vou rumo à
recepção, onde minha entrada é liberada prontamente. Quando estou prestes a
entrar no elevador, a tal Diana surge, puxando-me pela blusa e, como já estou
estressada mesmo, empurro-a fazendo-a ir ao menos uns dez passos para trás.
— Não encoste em mim! — advirto. — Não venha dar uma de maluca para
cima de mim não, porque tenho certeza de que sou pior que você.
— Você não tem o direito de entrar para ver o meu filho! Eu não autorizo! —
ela grita atraindo atenção de todos. Vaca voadora!
— Quem é você na fila do pão francês? Nem mãe você é! Não sei se já te
informaram isso, mas parir não te torna mãe, abutre! — Ela vem com tudo
para cima e eu me desvencilho, entrando no elevador, enquanto ela perde o
equilíbrio e cai de joelhos ao chão. Aperto os botões para a porta se fechar
logo e subo até o segundo andar, agora um pouco mais nervosa.
O bonitão está no corredor, em uma ligação no celular. Quando me vê,
encerra a ligação e me encara de um jeito sério..., um jeito sério que me faz
molhar...
Inferno, eu odeio esse homem e o efeito que um único olhar dele tem sobre
mim. Ódio, ranço, pavor.
— Mathew está bem? — questiono.
— Sim. Está passando por uma bateria de exames neste momento —
responde de forma impessoal, com toda sua secura.
Temos aqui um Joseph Vincenzo no modo rude ativado!
— Que bom! Agora, já que está com tempo livre, pegue a merda do seu
celular e cancele aqueles três brutamontes que estão me seguindo, por
gentileza, querido! — digo, colocando o dedo em seu peitoral.
Ele arqueia uma sobrancelha e permanece me encarando sério. Isso é irritante
e me deixa mais enfurecida.
— Eu não sou sua propriedade! Não sou porra nenhuma! Não quero e não
admito ser perseguida, perder a merda da minha liberdade na está em jogo,
especialmente tendo três homens me seguindo, quatro com você! Você pode
ser dono da porra toda, mas não faço parte das suas aquisições. Não sou uma
propriedade e não admito ser tratada como uma. E tem outra coisa, não pense
que vai me manipular. Meu interesse por você é sexual pra caralho, nunca
teve a ver com dinheiro. Se eu estivesse com você por interesse material,
certamente, aceitaria todas suas imposições, mas não vem ao caso. Não sou
uma puta de luxo, até pretendo virar uma puta, mas apenas na cama com
você! E já vou avisando, vou dar na cara daquela desqualificada da sua ex-
peguete se ela encostar mais um único dedo em mim, está escutando, Joseph
Vincenzo? É bom que esteja! Eu vou depená-la, vou descer do salto sim,
porque hoje eu estou puta pra caralho....
O elevador se abre e a diaba surge no meu campo de visão. Jogo minha bolsa
no chão, cruzo os braços e a encaro. Então, antes que eu possa começar a
testar meus golpes de muay thai, Vincenzo me pega pelas pernas e me joga
em seu ombro. Eu soco suas costas, mas ele não se intimida. Só não grito,
porque tenho consciência de estar dentro de um hospital.
Ele nos leva a uma sala e fecha a porta atrás de si, só então me coloca no
chão.
— Você é um imbecil — esbravejo, vendo-o colocar minha bolsa em um
sofá. Irrita-me que ele não diga nada. Esse silêncio mexe com todos os meus
nervos! — Na boa, o que eu vim fazer aqui? Eu deveria ter ido para o inferno
da minha casa! — digo, andando até o sofá e pegando minha bolsa. Antes
que eu possa alcançar a maçaneta, ele está sobre mim, virando-me de frente e
grudando minhas costas contra a porta. — Me solta! — ordeno, olhando
fixamente em seus olhos enquanto seu corpo esmaga o meu.
— Você não vai sair daqui desse jeito — informa.
— Eu saio daqui a hora que eu quiser, da forma como eu quiser. E se eu
quiser matar a sua ex, eu matarei!
— Ela não é minha ex — anuncia, levando sua mão em meu short e o
abrindo. Eu perco a discussão, quando sua boca se choca contra a minha de
uma maneira selvagem e desesperada.
Meu Deus...
Eu amo esse modo. De repente, o ódio, a raiva, o pavor e o ranço não existem
mais. Eu abro o botão de sua calça, então deslizo sua cueca o suficiente para
seu membro saltar livre. Seu beijo fica mais urgente e eu me desvencilho do
short que está ainda em minhas panturrilhas. Enlaço minhas pernas em torno
de sua cintura e ele me penetra sem piedade alguma. A agressividade é tanta,
que sou obrigada a afastar nossos lábios e morder seu ombro para não gritar.
Suas mãos estão firmes em minha bunda, quero chorar de desespero por ser a
melhor coisa que já fiz em toda a vida.
Beijo seu pescoço, puxo seus cabelos e passo a língua pelos seus lábios, antes
de beijá-lo loucamente. Meu Deus! Nós estamos fodendo em um hospital!
Ele impulsiona meu corpo para cima e para baixo e o ar me falta... Está indo
tão rápido, tão forte e tão profundo que chega a doer, mas é uma dor que
estou disposta a encarar, porque ao mesmo tempo em que machuca, atinge
um lugarzinho delicioso dentro de mim que faz tudo valer a pena.
Agora é ele quem afasta nossos lábios e vem direto para meu ouvido,
sussurrar palavras desconcertantes.
— Você é tão gostosa, Flower. Você é sim minha propriedade.
— Não sou! — esbravejo, à medida que ele se torna insano em busca de
provar seu ponto. Arranho suas costas através da camisa e ele ruge de
frustração.
— Você é minha! Isso não está em discussão, Maria Flor!
— Você sabe se eu quero ser sua? — questiono, ele passa a me segurar com
uma mão só, trazendo seu polegar em meu clitóris. Grudamos nossas testas e,
juntos, o observamos manipular meu orgasmo como um fantoche. Se todas as
brigas que tivermos foram resolvidas com sexo, eu perderei a batalha em
todas elas, não há como lutar contra esse homem.
Ele acalma os movimentos assim que gozo, esperando pacientemente que eu
me recupere. Então, contemplo seu lindo rosto e vejo um sorrisinho
pretensioso que me deixa insana. Empurro-o e ele me solta aos poucos.
Tomada pelo ódio, o puxo pela camisa e o faço se sentar em uma cadeira. Eu
o monto como uma devassa insana e incontrolável, destruo o dono da porra
toda. Faço-o gemer, perder o controle, dou tapas em seu lindo rosto, eu fodo
com Joseph Vincenzo de um jeito que nunca imaginei que poderia fazer
antes.
E gozo mais uma vez!
Nós tivemos a primeira foda na parede atrás de nós e a segunda nessa cadeira.
Porque, no fundo, nós dois somos iguais: duelamos pelo poder, cada um ao
seu modo. Eu jamais vou permitir que ele me atropele em todos os sentidos.
Sinto seu membro pulsando, prestes a explodir em meu interior e sorrio
vitoriosa. Sim, eu dou a ele o mesmo sorriso pretensioso que recebi minutos
atrás. Sinto-me no auge do poder quando ele joga sua cabeça para trás, geme
e libera sua excitação em meu interior.
Vejo seu peito subir e descer descompassadamente, então ele envolve seus
braços possessivamente em minha cintura para me abraçar. O gesto me faz
engolir em seco, enquanto descanso minha cabeça no vão do seu pescoço.
Retribuo o abraço, apertando-o contra mim. Parece que a merda do
sentimento só aumenta e não sei até onde isso será capaz de chegar.
— Namore comigo — pede. Fecho meus olhos para tentar memorizar isso
que acabou de acontecer. — Seja minha.
— Não como uma aquisição...
— Você é uma aquisição, Flor, não há como fugir disso. Uma aquisição
sentimental. Eu não sei fazer isso, não sei mesmo. Mas quero tentar, com
você.
— Para você tentar ter algum controle sobre mim? — Ele me afasta o
suficiente para olhar em meus olhos e suspira frustrado.
— Não, Maria Flor! Caralho, você está na TPM? Está para ficar? Não sei
lidar com isso, é novo para mim. Me ajude.
— Para que três seguranças?
— Você não falou com os seus familiares? Milena foi encontrada por Heitor
no apartamento dela, havia sido espancada. O marido dela é xerife, conhecido
e perigoso. Não sabemos o que ele é capaz. Já estou tomando todas as
providências, isso envolve manter Milena, Heitor, toda sua família em
segurança. Você e eu... — Ele suspira mais uma vez. — Flor, eu me
preocupo, quero apenas mantê-la segura até conseguirmos detê-lo. Preciso
que compreenda isso e seja maleável ao menos um pouco. Não é porque
estou com ciúme e quero controlar você, é apenas para sua segurança. Além
dos três seguranças que você fugiu hoje, há ao menos cinco na minha casa em
Beverly Hills. É um mal necessário. Não quero invadir sua privacidade, só
quero mantê-la segura. Eu posso pedir para que eles te acompanharem de
longe, mas não vou dispensá-los.
— Obrigada por cuidar dos meus familiares, obrigada mesmo. Eu apenas não
gosto de ser controlada, Vincenzo, mas compreendi sua intenção agora. Serei
maleável, até não invadirem minha privacidade.
— Namore comigo — pede mais uma vez, dessa vez, olhos nos olhos.
— Como vai ser isso? Há o estágio, as pessoas da faculdade... — Ele perde a
paciência...
— Foda-se todos eles, Maria Flor. Se estou te propondo um namoro é porque
saberei como lidar com isso. Vamos separar o estágio de relacionamento. Na
empresa, você será uma funcionária, será tratada da mesma forma que trato
todos. Do lado de fora, você é minha namorada. — Suspira. — Vamos lá,
Flor, vamos ser sinceros aqui. Você não quer ou você está para ficar naqueles
dias?
— A segunda opção — admito. — Eu quero. Sou sua, Joseph Vincenzo. —
Sorrio. — Sua namorada.
— Eu gozei dentro de você.
— Mais uma vez. Está tudo bem. Injeção em dia, nenhuma medicação que
possa cortar o efeito do anticoncepcional.
— Agora que somos namorados, seria excelente você marcar uma consulta
ginecológica. É o céu estar dentro de você, pele na pele. — Isso me deixa
tímida, por isso volto a esconder meu rosto em seu pescoço. — Você pode
marcar? Ou se preferir eu marco.
— Você marcaria uma consulta ginecológica para mim? — pergunto,
descrente.
— Por que não? É minha mulher. — Oh, meu Deus! Ouvi-lo dizer que sou
sua mulher é foda... ainda mais foda do que ouvi-lo me propor um namoro.
— Eu mesma marcarei — informo, ele fica de pé com nossos corpos ainda
grudados. Vai andando desajeitado até uma porta e entramos em um
banheiro, prontamente me coloca sentada sobre a pia e desconecta nossos
corpos. É horrível tê-lo fora de mim, mas é fofo a maneira como está
preocupado em cuidar de mim. Ele pega alguns lenços de papel e me limpa
delicadamente. Em seguida, sob meu olhar de admiração e gula, limpa sua
extensão ainda rija.
— Mathew será cuidado em casa — informa.
— Sério?
— Sim. Teremos três enfermeiras revezando turnos para acompanhá-lo. É
mais confortável para ele e para mim.
— Você ficará em qual casa, papai? — questiono e ele dá um sorrisinho.
— Na mesma que você.
— Oh! — Abro a boca em espanto. Ficar debaixo do mesmo teto com ele,
por alguns dias seguidos, ... isso será insano.
— Diga-me, Flower, você dormirá com o seu papai ou em um quarto
sozinha? — pergunta, arrumando sua calça e se acomodando entre minhas
pernas.
— Eu... jamais perderia a oportunidade de dormir com o meu papai —
provoco, puxando-o pela camisa. — Diga-me, papai, o que fizemos ali fora é
foder?
— Sim. É foder, mas um foder mais leve, porque estou bem-humorado —
comenta rindo. — Você quer a foda nervosa, não é mesmo, Flower?
— Estou ansiando por ela, papai... Você vai me dar umas palmadas fortes na
bunda e na cara? — questiono, inspirando seu cheiro delicioso.
— Maria Flor — repreende. — Você terá o que está pedindo — afirma,
beijando-me, então se afasta. — Precisamos ir. Preciso ver se Mathew já
retornou dos exames. Você fica comigo?
— Se você quiser, papai...
— Você fica! — Oh! Mandão esse Joseph!

Enquanto andamos pelo corredor, Joseph segura minha mão com uma
possessividade absurda, meus dedos chegam a doer, mas nem reclamo. É
chique ser namorada de um homem mais velho, maduro e poderoso. Eu,
Maria Flor Albuquerque Brandão, com apenas dezenove anos, sou namorada
do poderoso Joseph Vincenzo, um homão da porra do caralho, dono do meu
útero!
— Calma, Joseph, você parece um tornado andando — repreendo e ele me
encara sério. Porra. Esse homem é o diabo! — É... me diga sobre a situação
de Mathew, não tivemos tempo de conversar.
— Tivemos tempo de foder.
— Exatamente — concordo, envergonhada, e ele para de andar.
— Minha menina, acho lindo você corando — comenta, passando o polegar
em minhas bochechas. — Estou ansioso para que os médicos liberem meu
filho. Então, passarei a noite inteira em cada pedacinho do seu corpo. —
Escondo meu rosto em seu peitoral, mortificada pelas suas palavras. Sei que é
contraditório, mas, enfrentar esse olhar e essas palavras, é demais para mim.
— Vamos lá, Flor, olhe para mim.
Eu olho.
Ele me beija no meio do corredor, sem se importar com a presença de
pessoas. Quando se afasta, eu estou perplexa.
— Ok, bonitão. Mathew? — Ele sorri.
— Mathew é meu.
— O quê? — grito e me jogo em seus braços. — Você está falando sério?
— Sim. Em alguns meses haverá o julgamento final, mas, por enquanto, a
guarda provisória é minha.
— Oh, meu Deus! Isso é fantástico! — exclamo, ainda em seus braços. É aí
que a satanás surge novamente.
— Vincenzo!
— Diga que eu posso dar na cara dela? — peço, gentilmente,
desvencilhando-me dos braços fortes do meu namorado! Ah, eu quero gritar
como adolescente mesmo!
— Eu preciso falar com você sobre Mathew! — anuncia, empinando seus
seios. Eu sinto um ódio tão grande por ela ser absurdamente linda! Enquanto
ela está de salto quinze, eu estou de shortinho, tênis e um moletom rosa.
Sério, minha TPM está terrível realmente. Inclusive, acho que quando minha
querida menstruação descer será o apocalipse. Há meses em que fico
emocionalmente abalada, sensível pra caralho, em outros eu fico esfomeada e
há outras vezes em que fico assim, com instinto assassina aflorado. E, quando
isso acontece, sobra para todos!
— Diga, Diana — diz Joseph, voltando a segurar minha mão, dessa vez ainda
mais apertado.
— É pessoal — ela acrescenta, chupando o canudinho do seu Frapuccino.
— A minha namorada pode ouvir.
— Senhor Joseph, desculpe atrapalhar, é que o senhor pediu que eu avisasse.
Mathew já foi levado para o quarto.
— Por que todos agem como se Mathew não tivesse mãe? — grita a perua
louca. Joseph treme ao meu lado. Sei que dará merda.
— Posso ficar com ele enquanto vocês conversam? — pergunto baixinho a
ele, porque não quero que ela pense que é uma afronta.
— Por favor — responde, dando-me um beijo na testa. Eu vou. Não quero
participar de uma discussão desse nível: pai e mãe. Sinto que minha presença
só vai deixá-la mais irada, e eu realmente não estou com paciência para isso.
Entro no quarto e fico feliz ao ver que Mathew só tem uma medicação em sua
veia, nada além disso. Ele está uma mistura de deitado com sentado e seu
rostinho está até mais corado.
— Ei, Mathew! — digo sorrindo.
— Tia Flower.
— Você lembrou da tia Flower? — questiono, sentando-me na cama e
segurando sua mãozinha.
— Sim. — Ele sorri. — Papai contou a história da princesa Flower para mim.
— Fico espantada, mas tento fingir naturalidade.
— Sério? Papai é um contador de histórias?
— Sim. Ele disse que a princesa Flower é a mais bonita — explica.
— Eu acho o príncipe Mathew o mais lindo! Mais lindo até que o rei Joseph.
Só não conta isso para o papai, ok? É o nosso segredo de amizade.
— Segredo de amizade. — Ele ri.
— Você está se sentindo bem hoje? — pergunto, então ele fica jururu. Meu
coração quase para de bater.
— Sinto fraqueza.
— Oh, meu amorzinho, você vai ficar bem logo, logo, viu, príncipe? E nós
vamos brincar e nos divertir muito — prometo, passando a mão em seu
rostinho. Ah, não nasci para ser mãe. Eu nem sou mãe dele e estou morrendo
por vê-lo assim, imagina se fosse? Crianças não deveriam adoecer ou sofrer.
É injusto isso.
— Tia Flower, você tem jogos no celular?
— Oh! Tenho vários! Tipo Angry Birds, você gosta? — questiono e ele
balança a cabeça afirmando. — Quer jogar?
— Não. Estou com sono.
— Oh! — exclamo quase chorando. — Você quer que a tia Flower faça
cafuné?
— Você pode se deitar ao meu lado? — pede. Engulo em seco antes de me
acomodar ao seu lado, cuidadosamente. Estou apaixonada por esta criança.
Ele se encolhe o quanto dá e deita sua cabeça em meu peito. Juro por Deus,
que fico sem saber como agir diante desse gesto. Fico alguns longos
segundos imóvel, mas crio coragem para fazer carinho em seus cabelinhos de
anjo. Em poucos minutos, ele dorme e eu também....
— É absurdo! Essa ninfeta está indo ficar com o meu filho? — grita Diana
quando Flor desaparece.
Seguro-a pelo braço e a levo para a sala onde eu estava com Maria Flor.
Ainda sou capaz de sentir o cheiro da Flor aqui.
— Sente-se, Diana — ordeno, apontando para o sofá. Ela se acomoda. Então,
me sento na cadeira, onde minutos atrás Maria Flor me cavalgava como uma
amazona... eu só preciso tirar o foco disso agora, porque estou ficando
realmente duro em minhas calças.
Essa menina se infiltrou em minha mente de um jeito que me deixa maluco.
Rápido pra caralho!
— Vincenzo?
— Oi?
— Estou aguardando!
— Claro! — digo balançando a cabeça. — Ok, o que você quer, Diana? Vou
continuar te dando um dinheiro mensal, não precisa se preocupar quanto a
isso. Obviamente o valor será reduzido, mesmo assim você sairá ganhando
uma quantia.
— Eu vou recorrer, é injusto!
— O que é injusto, Diana?
— Você diminuir valores e ficar com o meu filho! — grita.
— Vamos ver se eu entendi. Se eu continuar pagando a quantia que pagava
antes, poderei ficar com Mathew? — Ela não responde. — Vamos lá, Diana!
Eu quero entender você. Na verdade, nem era para estarmos aqui. Você tem o
direito de vê-lo apenas daqui quinze dias, comigo e um conselheiro tutelar
acompanhando. Sinceramente, Diana, o mínimo que uma mãe deve fazer pelo
filho é amar, cuidar e educar. Que diabos você fez com o meu filho? —
questiono. — Você não sabe ser mãe, não sabe nem mesmo ser mulher. É
fútil, interesseira e burra. Você é desprovida de inteligência, Diana, porque se
você possuísse o mínimo de inteligência estaria em sua casinha neste
momento, seguindo as ordens do juiz de manter distância do meu filho. Se eu
quiser, basta chamar a polícia aqui e as coisas ficarão piores para o seu lado.
Por favor, levante-se e saia. Vá embora e só apareça em quinze dias. Eu
mandarei um relatório sobre a saúde de Mathew a você, se for do seu
interesse é claro.
— Você é um tirano.
— Eu deveria ser, mas estou bem-humorado hoje — informo sorrindo —
Bom, Diana, boa viagem. Qualquer coisa que quiser, entre em contato com os
meus advogados. Nós dois não temos mais nada a tratar.
— E as coisas de Mathew? — questiona.
— Eu, pessoalmente, comprarei tudo novo para o meu filho. Ok? É só isso?
— questiono, ficando de pé.
— Aquela garota é uma criança — protesta, e sorrio mais uma vez. A garota
a quem ela se refere, deixa-me duro pra caralho neste momento. Porra, hoje
eu estou mais tarado que o normal. Preciso de mais algumas doses de Maria
Flor.
— Você não faz ideia o quão criança ela pode ser — afirmo. — Aquela
garota de dezenove anos é muito mais mulher do que você jamais conseguirá
ser um dia.

Saio da sala e caminho para o quarto do meu filho. Eu só não estava


preparado para pegar ele e Flower dormindo agarrados. A cena é tão foda que
perco até um pouco da força em minhas pernas. É preciso que eu me sente
por alguns minutos e tente assimilar o que senti ao ver essa situação. Eu sou
maduro, nunca me iludi por qualquer mulher antes. Porém, vê-los assim
mexeu com algo... um universo nunca habitado antes.
Tenho um filho, mas nunca pensei em ter uma família, em constituir algo
dessa grandeza. Só preciso voltar ao foco agora, é cedo demais. A garota só
tem dezenove anos, está no segundo período da faculdade, tem planos,
sonhos e metas. Não posso atropelar isso, não é justo com ela, ... embora vê-
los assim pareça tão certo.
Uma leve batida à porta me dispersa dos pensamentos. Fico de pé e caminho
para fora do quarto para atender a enfermeira.
— Senhor Vincenzo, está tudo autorizado para Mathew ir para casa,
conforme o senhor pediu — ela explica, tímida, olhando para baixo. Por que
diabos as pessoas fazem isso diante de mim?
— Então posso ir agora?
— Sim. Há uma enfermeira que irá acompanhá-los e já providenciei a ida de
todo material necessário, junto a escala de turnos das três enfermeiras que
foram solicitadas — complementa.
— E os dois médicos irão ao final do dia como solicitado? — questiono.
— Sim, todos os dias um deles estará em sua residência.
— Obrigado, Lara — digo, conferindo o crachá dela. — Obrigado pelo
cuidado que teve com meu filho, pela receptividade e por ter organizado tudo
conforme pedi.
— Não precisa agradecer, senhor Vincenzo. — Preciso. Realmente preciso.
Sei ser grato a quem é bom com o meu filho. Ela não sabe, mas não é apenas
um obrigado que ganhará de mim.
Faço uma ligação organizando todo o restante da logística e volto ao quarto
para acordar Flor com um beijo. Eu não sei ser romântico, mas parece que
estou sendo.
— Merda, eu dormi! — exclama, assustada, e se desvencilha de Mathew com
cuidado. Ela fica tonta ao se levantar e eu a seguro.
— Esse short é demasiadamente curto para ir para a faculdade.
— Eu não me lembro de ter perguntado — rebate, séria, arqueando uma
sobrancelha em desafio. Essa mulher me deixa puto pra caralho.
— Ok.
— Ok? Só ok? Ora, Joseph, eu esperava mais de você! — argumenta.
— Você não almoçou ainda, não é mesmo?
— Você está mudando de assunto? Que lindo! — reclama bravinha. — Não,
Joseph Vincenzo, eu não almocei ainda.
— Nós estamos indo almoçar em casa.

Três horas depois, Mathew está dormindo em seu quarto adaptado, eu e


Maria Flor já terminamos de almoçar e ela está me torturando, fazendo uma
hora danada para ir para o quarto. Está fazendo isso de propósito e eu vou
cometer um ato de loucura neste momento.
Ela está na varanda conversando com Mariana, Isis, Heitor e Victória.
Enquanto eu, estou sentado na porra do sofá, fingindo mexer em meu celular,
como um adolescente viciado.
Levanto-me um tanto quanto bruto e atraio atenção de todos. A diaba ri
disfarçadamente, morde o lábio e eu vou firme em meu propósito de arrastá-
la ao quarto.
— Nos deem licença — digo, quando a jogo em meu ombro.
Quando abro a porta do meu quarto e a coloco no chão, a maluca voa sobre
mim com a mesma voracidade que sinto sobre ela.
Retiro seu moletom, sua camiseta, ela chuta os tênis e retira o short
ridiculamente curto que estava vestindo, acompanhado da sua calcinha de
lacinho. Enquanto é isso, numa velocidade assustadora, desfaço-me de todas
as roupas antes de pegá-la para mim.
Jogo-a contra a parede e ela grita quando penetro de uma só vez em sua
entrada apertada. É bom saber que ela já aguenta uma foda comigo, isso me
dá novas possibilidades.
Olho em seus olhos e ela cora. Porra. Isso é fodido!
— Não me olha... — protesta e no mínimo devo estar fodendo devagar
demais para dar chance de protestos.
— Você vai gemer para mim agora, Flor — ordeno, desconectando nossos
corpos e passando a dar uma atenção especial aos seus seios, enquanto ela se
contorce.
— Por favor, volte.... — Implora. Desço uma mão em sua pequena boceta.
Massageio seu clitóris enquanto chupo cada um de seus mamilos. Vamos
treiná-la a pegar o que quer. Flor ainda é devidamente tímida sexualmente, eu
acho encantador, mas tendo em vista nosso avanço de relacionamento, é o
momento de fazê-la perder a timidez.
Quando ela está quase gozando em minha mão, afasto-a completamente e ela
me encara enraivecida.
— Onde você me quer, Flor?
— Dentro de mim.
— Na cama? Na parede? No sofá? No chão? — Ela estuda o quarto e engole
em seco. Linda pra caralho minha menina.
— Você é frustrante!
— Você é minha namorada, minha mulher. Diga onde quer foder. O quanto
antes disser, mais rápido estarei dentro de você.
— Na cama — anuncia, dou as costas para ela enquanto caminho para a
cama. — Isso é sério, Vincenzo? — grita enquanto me acomodo deitado de
barriga para cima, aguardando-a.
— Já estou na cama, Flor. Não quer cavalgar no papai? — pergunto e ela
solta um gemido que faz a adrenalina fervilhar em meu sangue. — Pegue o
que quer, Flor, venha aqui... — convido, ela vem após suspirar frustrada. Ela
me monta e espera que eu faça o serviço de penetrá-la, mas hoje é com ela.
— Basta pegá-lo e guiá-lo em você — instruo, tirando seus cabelos do rosto.
— Por que está fazendo isso? — questiona choramingando.
— Para você saber que já temos intimidade o bastante para tomarmos partido
entre quatro paredes, da mesma forma que te reivindiquei como minha, quero
me reivindique como seu, eu sou seu, Maria Flor, me use para o seu prazer
como achar que deve. Agora deixe de conversa e faça o que deve ser feito —
ordeno com seriedade e ela faz. Sua mão desliza em meu membro e ela o toca
algumas vezes, antes de guiá-lo em sua entrada. Ambos estamos observando
a cena, o momento exato quando nossos corpos começam a se conectar. É
gostoso pra caralho.
Quando se encaixa por inteiro, ela trabalha em se acostumar, já que nessa
posição a preencho por completo. Flor traz suas duas mãos em meu peitoral e
geme assim que arrisca o primeiro movimento. Minha garota está tão perto de
gozar, sinto como sua boceta está apertando cada vez mais. É necessário
somente alguns movimentos e me dará o que quero, mas ela quer ir lento
dessa vez, portanto, estou disposto a dar qualquer coisa que queira. Só
preciso ter mais disso hoje, quantas vezes forem possíveis.
Para aumentar mais a fricção, levanto um pouco o torso e coloco alguns
travesseiros em minhas costas para ficar um pouco inclinado. Ela sorri,
parada, e eu levo minha mão por entre seus cabelos, puxando-a para um beijo
que a faz mover seu corpo. E ela move... deliciosamente. Seus quadris
parecem ganhar vida própria. Ela se move lentamente e então forte e rápida.
Fico orgulhoso de vê-la buscando o prazer e o alívio em mim.
Nossos lábios se afastam quando ela sente a necessidade de gemer.
— Isso, meu amor. Geme e goza para mim — provoco, agarrando seus
cabelos e a fazendo me encarar. Então ela abre a boca levemente, fecha os
olhos e solta um gemido delicioso, enquanto goza no meu pau. Não existe
nada no mundo que me dê tanta saciedade sexual do que vê-la gozando. É
lindo, verdadeiro e puro.
Seu corpo cai sobre o meu e ela tenta retomar o controle de sua respiração
com a cabeça escondida em meu pescoço. Abraço-a e fico imóvel, apenas
esperando ela se recuperar desse momento para que possamos dar
continuidade. Porém, sou surpreendido ao senti-la chorando.
— Flor, você está chorando? — questiono nos virando de lado, sem
exterminar nossa junção deliciosa. Ela não me olha e, por isso, sou obrigado
a forçá-la. — Flor, por que está chorando? Me diga, princesa.
— Eu me apaixonei por você — confessa. — Eu não achei que seria tão
rápido, me desculpe. Eu não queria isso...não queria me apaixonar. Estou
sendo ridícula, não estou? Tipo uma garotinha novinha, eu sou nova, caralho.
Merda, eu me apaixonei até pelo seu filho que conheci há dois dias. Eu estou
muito apaixonada por você, do tipo amor. — Ela tenta se afastar e fugir, mas
a prendo em meus braços e tento absorver suas palavras.
Maria Flower está apaixonada por mim, do tipo amor.
Isso me faz sorrir.
CAPÍTULO 10

Oh, maldição do inferno!


Após passar o dia inteiro deitada no colo da minha mãe, eis que vim para o
quarto, sonolenta. Porém, não consigo dormir.
Por que diabos eu fui escolher o bendito quarto ao lado do quarto do
poderoso chefão? Pelo menos isso evita minha vó, meu primo, minha mãe de
ouvirem essa putaria..., mas o foda é que tomo no redondo sozinha!
Vá para o inferno, Maria Florzinha trepadeira!
Eu estou realmente fodida, sabe?! Eu já gritei ao menos quatro vezes a
pergunta: "o que eu estou fazendo da minha vida nesse caralho?"
Meu Deus, esse Joseph Vincenzo é gostoso pra caralho e, pelos sons, o
homem sabe como foder e entreter uma mulher entre quatro paredes. É um
absurdo ter que ouvir Maria Flor gemendo desesperadamente, é um absurdo
ouvir sons de tapas e, principalmente, ele rugindo como um animal feroz.
Tá, confesso, só dava mesmo para ouvir o gemido, porque teve um momento
em que foi alto excessivamente. Uma coisa levou a outra. Eu, neste
momento, encontro-me sentada no chão, com o ouvido grudado à parede,
tentando escutar todo o restante, por quê? Porque sim! Sou neta de Mariana
Albuquerque, isso significa muitas coisas. Se eu não puder agir insanamente
como minha vó, de nada vale a vida.
Só que, ao ouvi-los na putaria máxima, eu me lembro de que tem um big de
um homem gostoso me deixando na seca. Meu Deus, eu devo ter sido muito
fodida em outras vidas para pagar tanto assim. Só isso explica.
Minha vontade é ligar para ele e dizer: Bruce meu amor, eu nunca te pedi
nada, só te peço uma foda! Mas prefiro me manter firme no propósito... que
propósito? Que maldição de propósito, Isis? Você não tem propósito, sua
filha da puta!
Caralho, são 3h e esses diabos não dormem! A demônia tem aula amanhã e,
ao invés de dormir, está dando pra caralho. Deus me livre, mas quem me
dera! Puta merda, quem me dera mesmo! Não queria com Vincenzo não...é
só com Bruce mesmo. Eu preciso dar para aquele homem! Ele é tentador pra
caralho, tem um olhar impenetrável, um sorriso sacana. Bruce me atiça, então
me joga um balde de água fria. Talvez essa seja uma maneira de testar os
meus limites. Se é, está dando certo pra caralho! Com esse teste eu estou
descobrindo que limite é a merda de um caralho!
Sério, neste momento estou amaldiçoando aos sete ventos! Não vou me
masturbar, recuso-me. Isso sentenciaria o fim da minha carreira nesta linda
madrugada.
Eu rastejo pelo chão e vou engatinhando até o banheiro. Ligo a ducha ultra
potente e deixo a água morna cair sobre meu corpo. Ao mesmo tempo em que
estou puta, sorrio ao lembrar de Bruce. Sem querer ele está se tornando parte
da minha vida, entrando em meu sistema. Sorrateiramente. Venhamos e
convenhamos, Bruce é um homem incrível. Ele apenas faz as coisas fluírem
com naturalidade.
Com esse pensamento encerro meu banho, enxugo-me e visto um pijama.
Acomodo-me na cama e então digito uma mensagem de texto para ele.
— Olá, eu estou com saudades.
Envio e coloco o celular no travesseiro ao meu lado. Porém, ele vibra e eu
sorrio ao ver que ele respondeu.
— Olá, boneca! O que faz acordada esse horário?
— Digamos que Maria Flor e Vincenzo estão tendo um bom momento no
quarto ao lado.
Adiciono uma carinha revirando os olhos e aparece que ele está digitando: —
Oh, minha boneca, kkkkk.
Ele envia uma série de risos e eu fico puta!
— Não sei o que te dizer.
— Olha...nem eu sei o que te dizer, Bruce!
Envio e ele me liga.
— Boneca, eu sou capaz de ver a carinha que está fazendo agora — diz em
um tom divertido e então suspira. — Agora falando sério, paciência é uma
grande virtude. Manter a calma e controlar a ansiedade, são atitudes
primordiais para buscarmos o equilíbrio emocional, físico e mental. Quando
estamos sob controle, tudo tende a ser melhor.
— Você está dizendo que eu sou descontrolada? — questiono.
— Não. Antes até estava, mas agora parece mais calma. Estou orgulhoso de
você, pequena Isis — comenta, rindo. Eu até imagino a imagem dele
sorrindo... é algo de tirar o fôlego.
— Não tem graça, garotão.
— Você está excitada? — pergunta mudando o tom de sua vez e dando uma
guinada em nossa conversa.
— O que mudaria eu te dizer?
— Mataria a minha curiosidade — informa.
— Eu estou — afirmo.
— Hum, interessante. Posso te fazer um pedido?
— Sim — respondo, engolindo a seco.
— Não faça nada. Controle a vontade, aprenda a controlar seu corpo. Pode
fazer isso? Oh, merda!
— Posso. Mas..., por quê? — questiono, curiosa.
— Você ainda é tão inocente, meu amor, enfim. — Ele suspira. — Minha
boneca, já passam das 03h, eu me distraí com o trabalho e preciso acordar
cedo. À tarde ligo para você, ok? — diz tão carinhoso, que eu até suspiro.
— Tudo bem. Boa noite, Bruce.
— Boa noite, minha boneca, eu estou ansioso para vê-la.
— Igualmente. — Sorrio e então ele encerra a ligação.

Acordo às 11h com meu celular vibrando. É um número estranho e eu atendo


prontamente: — Alô.
— Boa tarde, aqui é a da assessoria de cobranças da CS Financial, neste
número eu falo com a senhora Montgomery?
— Ela morreu — digo, levantando-me meio atrapalhada.
— Desculpe, senhora, o que disse?
— Ela morreu, sábado.
— Oh, senhora, desculpe-me. Desconsidere a ligação — diz a mulher,
completamente sem graça. Rapidamente ela encerra a ligação. Isso me faz rir.
Aprendi com minha avó Liz a fazer isso.
Após fazer minhas necessidades e escovar os dentes, visto um short, uma
camiseta e saio para o convívio familiar. Cara, eu nunca estive em uma casa
desse padrão, sério. Cada detalhe deste lugar é chocante o bastante.
Hoje está mais movimentado. Só no corredor já encontro duas empregadas.
As cumprimento e sigo meu caminho. Na sala, pego a cena fofa de Joseph
com Mathew em seus braços e aproveito para conhecer o garoto direito. Ele
se parece como um anjo. É absurdamente lindo.
— Bom dia! — Sorrio a todos e me dirijo ao Joseph. — Olá, Mathew! Eu sou
a tia Isis, tudo bem com você? — Ele sorri demonstrando estar um pouco
mais animado do que ontem, também pudera, o garoto chegou aqui em uma
maca.
— Sim. — Ele balança a cabeça.
— Você é muito lindo, mas aposto que várias pessoas já disseram isso. —
Sorrio. — O que acha de sermos amigos?
— Sim. Igual à tia Flower? — Isso desmancha meu coração. Parece que
"Flower" conseguiu um feito aqui. Joseph até sorri orgulhoso e eu reviro
meus olhos ao lembrar da madrugada passada.
— Sim, igual tia Flower. Temos um acordo de amizade? — pergunto,
segurando a mão dele.
— Sim, tia Isis.
— Ownt, você é muito lindo! — Beijo-o e encaro seu pai. — Né, Joseph
Vincenzo... — Ele me encara sem entender. Apenas balanço a minha cabeça
e decido ver minha avó, que está sentada no balcão da cozinha acompanhada
de Heitor, conversando com uma senhora que acredito ser a cozinheira. Dou
um beijo nela, cumprimento a cozinheira e então me viro para meu primo.
— Ei, Tôr! Heitor! Combinou, né? — Sorrio. — Como Milena passou a
noite?
— Ela teve um pesadelo. Tia Vic está conversando com ela.
— E como você está? — pergunto e ele se levanta.
— Vai comer algo? — Questiona. — Há um bolo de cenoura que a tia Vic
fez. Posso pegar para você? Aí nos sentamos ali fora para conversar. — Eu
aceno positivamente e ele, todo gentil, serve um prato com bolo e pega um
copo de suco para mim.
Heitor é incrível. Eu sempre soube que um dia apareceria uma mulher capaz
de extrair dele o melhor. É uma pena que ele esteja passando por uma
situação como essa, mas Milena é uma sortuda por tê-lo. Heitor é uma versão
cafajeste do meu tio Bê, no entanto, sei que Milena o conquistou e que agora
o cafajeste não existirá mais. É aquela questão sobre crescer... Heitor cresceu,
Flor cresceu, Arthur cresceu... enquanto é isso eu estou aqui, apenas
aguardando. Vislumbrando a vida de todos caminhar e me mantendo na
inércia.
— Então, Tôr...
— É complicado. Há uma mistura de sentimentos. Ódio, amor, piedade e
dúvidas. Amor é forte, não acha? — questiona.
— Amor é forte — concordo.
— É cedo, não é?
— Tôr, eu entendo você, sei onde quer chegar, mas sobre o sentimento amor,
você se sentia assim antes de saber a realidade de Milena?
— Eu não sei dizer. Apenas a conheci naquela festa e bateu. Bateu com força.
Foi diferente de atração física e sexual, nem tive tempo para tudo isso
naquela noite. Mas sei que ela se infiltrou em minha mente. Então, em Las
Vegas pude conhecê-la e porra, foi incrível. Infelizmente, quando a viagem
acabou, eu já fui logo descobrindo sobre Anthony. Quando desconfiei, senti
uma fúria crescer dentro de mim, uma vontade de protegê-la surreal e, agora
mesmo, estou desesperado para que tia Vic termine essa conversa e eu possa
ficar com ela. — Isso me faz sorrir. — Eu... é louco, eu sei..., mas já penso
em dividir o mesmo teto, em dar a porra do mundo para ela. Fazê-la feliz,
porque ela parece nunca ter sido feliz antes.
— Oh, merda! — Não consigo controlar as lágrimas. É tão puro e genuíno
isso. Os olhos dele estão brilhando. — Isso é lindo, Tôr. É tão meu pai. —
Sorrio.
— Oh, estou virando um rei do drama então? — ele brinca.
— Talvez. Sabe, Tôr, nós seres humanos temos a péssima mania de pensar
demais. Talvez o melhor a fazer seja se entregar a isso. Sem pensar, sem
pesar ou tentar trazer bagagens à situação. Não sou muito boa em falar sobre
relacionamentos, em dar conselhos, mas sei lá, acredito que quando um
sentimento tem que existir, quando está predestinado, não há dia, hora, lugar
ou situação. Não importa quanto tempo se conheçam, simplesmente acontece.
Milena é uma mulher de sorte, você um homem incrível, além de ser gostoso
e ter um big pau! Isso é fantástico, Tôr, sério. Poucas no mundo têm uma
sorte dessas.
— De ter um homem bem-dotado? — questiona com um sorriso divertido.
— Não apenas isso, mas de ter um homem capaz de segurar suas mãos e lutar
suas batalhas. Muitos fugiriam, Tôr, mas você escolheu enfrentar isso com
ela. Essa sua atitude é de um homem de verdade.
Ele balança a cabeça em concordância e eu termino meu bolo.
— Acho que vou dar um mergulho, anima? — ele convida apontando para a
piscina e eu sorrio. É uma excelente ideia. Hoje o dia está quente, o sol está
escaldante.
— Olá! Estou indo buscar Maria Flor na faculdade. Há alguma coisa que
queiram da rua? — Joseph surge com uma camiseta branca, uma calça jeans e
um ray-ban. Uau, Flower vai tirar onda na faculdade hoje, é isso?
— Eu não quero nada e você, Tôr?
— Não, cara, mas obrigado de qualquer maneira. — Para a sessão de homens
bonitos ficar completa falta apenas Arthurzinho.
Ele se vai e eu me levanto para levar o prato e colocar um biquíni.
Lavo meu prato, mesmo com a ajudante insistindo em lavar, e então caminho
pelo corredor. Porém, a voz de minha mãe faz com que detenha meus passos.
“— Eu fui estuprada aos quatorze anos e isso impactou minha vida inteira —
ela diz, e eu engulo em seco, sentindo um arrepio frio percorrer todo meu
corpo. — Não apenas por um homem. Eu vivi três anos sucumbindo a todos
os desejos e ordens deles. Porque um deles ameaçava matar meus familiares
e o outro, por mais bizarro que seja, era vítima também. Era sucumbir ou
perder tudo. Eu conheci Matheus e tivemos um relacionamento intenso aos
dezessete anos, mas não podia assumi-lo, pela própria segurança dele...
Inesperadamente, engravidei de Isis e minha única opção era fugir para
proteger a todos, especialmente à minha filha. Fugi para Itália, com a
desculpa de estudar fora. Matheus nunca soube de Isis até o dia em que
voltou de Nova York. A escondi de todos por sete anos, pela segurança deles
e, principalmente, a segurança dela. Embora esse não seja o seu caso, eu sei
muito bem o que é ser estuprada, forçada e espancada. Eu fui açoitada,
queimada e chicoteada, fui tantas coisas que jamais serei capaz de enumerá-
las. A diferença entre mim e você, Milena, é apenas a idade, eu tinha
quatorze, era inocente e virgem, só isso nos difere. Sei o que é ser agredida
física e psicologicamente. No meu caso, a dor física se tornou parte de mim e
eu me acostumei a conviver com ela. Eu entendo o que você está sentindo,
mas acredite, isso não vai durar para sempre. Assim como em mim existiu e
existe, sei que em você existe uma força interior e será essa força que a fará
superar todos os traumas. Em breve, se Deus quiser, tudo será apenas uma
lembrança. Uma lembrança fodida, porém, apenas uma lembrança...”
Eu deixo de ouvir.
O chão se abre aos meu pés.
Meu jeito carente, dócil de ser, levou-me a nunca fazer qualquer
questionamento sobre o motivo de ter conhecido meus familiares apenas aos
sete anos. Nós apenas voltamos ao Brasil e eu os abracei, conformada e feliz
por possuir uma família tão volumosa, um pai maravilhoso.
Eu me torno claustrofóbica, sinto como se todo o sangue do meu corpo
tivesse acabado de sumir.
Por que ela nunca me contou?
Oh, meu Deus! Eu não estou aqui para cobrá-la, não mesmo. Se ela passou
por tudo isso, como eu nunca percebi? Minha mãe é exemplo de força e
alegria. Ela nunca, nunca mesmo, deixou transparecer. Ou deixou? Tento
voltar à minha infância e isso me lembra do tio Rhael... eles pareciam
namorados. Eu quis que ele fosse meu pai algumas vezes. Mas minha mãe era
um pouco fria com ele, totalmente diferente do que é com meu pai. Quem fez
isso com ela? Quem foi capaz de fazer isso com uma garota de quatorze
anos?
Isso diz muito sobre a forma cuidadosa com que meus pais tratam a mim, aos
meus irmãos, em especial as minhas irmãs. Todo o excesso de cuidado se
resume a medo de que algo parecido aconteça a nós. Isso explica meu pai ser
quase psicótico em torno de mim, de Luma e Ava. Por que eles não me
contaram? Por que escondem isso a sete chaves?
— Você está bem? — questiona uma funcionária, trazendo sua mão em
minhas costas. Eu apenas balanço a cabeça afirmativamente e vou para meu
quarto.
Eu não posso cobrá-la. Não posso. Isso traria a dor a ela, eu jamais me
perdoaria. Como dizer a ela que escutei e pedir para desenterrar essa história?
Há inúmeros motivos que devem tê-la levado a optar pelo segredo. Mas
agora... isso dói como o inferno. A curiosidade, a covardia do ato, é
assombroso pra caralho.
Engulo a seco e tento centrar minha mente. Eu preciso de alguém para
conversar, preciso desabafar e extravasar a dor que estou sentindo. Como um
milagre, meu telefone toca e o nome Bruce pisca na tela.
— Ei, boneca.
— Bruce... — digo seu nome e então todas as barragens se rompem.
— Isis, o que aconteceu? Onde você está? — pergunta desesperado.
— Eu preciso de você. — É tudo que consigo dizer.
— Está na mansão do Vincenzo?
— Sim.
— Chego aí em dez minutos — avisa encerrando a ligação. Ele está em Los
Angeles?
Acomodo-me no chão e encosto minhas costas na cama.
Eu me sinto devastada. Embora nunca tenha assumido isso, lembro-me do
quão doloroso era ver as minhas amiguinhas com seus respectivos pais. Eu
me lembro de ir em parques e ver cenas de pais empurrando seus filhos nos
balanços. Lembro-me de como ela ficava arrasada a cada vez que eu
questionava a existência de um pai, quando eu a cobrava. Lembro-me de
quando sugeri que tio Rhael fosse meu pai e ela disse com todas as letras:
"Você tem um pai, Isis, mamãe só não está preparada para encontrá-lo
ainda, mas em breve isso acontecerá." Essas palavras que ouvi agora
explicam tantas coisas...
Há dois monstros que a levaram a me esconder. Eu preciso descobrir quem
são essas pessoas. Preciso desvendar tudo isso...
Uma batida à porta, então Bruce está ao meu lado. Eu fico de pé e me jogo
em seus braços, derrubando-o sentado sobre a cama, abraço-o tão forte
quanto consigo. Ele não diz nada, apenas me acalenta, enquanto choro
desesperadamente.
Não sei quanto tempo demora até que eu consiga voltar a respirar e não
possua mais lágrimas.
— Me desculpe por isso — digo, cobrindo meu rosto e tentando me afastar.
— Conte o que está havendo — pede. Eu nem mesmo tenho coragem de
encará-lo. — Isis, minha boneca, olhe para mim.
— Não. Eu devo estar horrível o bastante. Eu estou tão perdida, tão perdida...
— Foi o seu ex-namorado?
— Não. — Quase rio do seu questionamento. Ele ficou receoso. Tanto que o
sinto soltar o ar que parecia estar prendendo. — Aliviado?
— Não. Me conte, princesa, permita que eu te ajude. Olhe para mim, estar
com você e não poder olhar esses olhos é um desperdício.
— Eu descobri sobre coisas sobre o passado da minha mãe. Coisas que
impactaram minha vida significativamente e na dela também — confesso
deitando minha cabeça em seu peitoral. — Eu não sei como lidar com isso.
Sempre, desde criança, fui uma pessoa ajustável, sabe? Que se adéqua às
situações com muita facilidade. Nunca fui de me importar muito com o meu
bem-estar, desde que todos que eu amo estivessem bem. Mas ouvir o que
ouvi... por que ela nunca me contou?
— Como você descobriu essas coisas, boneca?
— Eu a ouvi falando com Milena enquanto passava pelo corredor... são
coisas muito pesadas. — Ele franze a testa.
— Você está querendo dizer que sua mãe passou pelas mesmas coisas que
Milena, é isso?
— Parece que pior... — Suspiro. — Eu só conheci meu pai e toda a minha
família aos sete anos de idade. Meus primeiros sete anos de vida foram
apenas ao lado de minha mãe, da minha tia Gi e de Rhael, um homem que eu
achava ser namorado da minha mãe, mas que ela nunca realmente assumiu.
Escutei que ela me escondeu de todos visando a minha segurança e do
restante da família... ela nunca me contou isso. — Engulo a seco tentando
conter o choro.
— Você precisa falar com ela sobre isso então, tentar entender o motivo de
ela nunca ter dito.
— Ou talvez ela só queira me resguardar desse passado e tenha optado por
nunca contar — digo.
— É, há essa possibilidade, boneca. Mas acredito que você não conseguirá
ignorar o que ouviu, terá que enfrentar isso com os seus pais. Você é
transparente, Isis, não conseguirá ocultar o sentimento diante deles. Eu, como
advogado e pessoa, sou amante de uma boa conversa esclarecedora. Acho
que, uma vez que você descobriu algo que visivelmente a impactou, você tem
que ir até o fim.
— Não quero causar dor a ela, não quero que soe como uma cobrança.
— Ela entenderá isso, meu amor. É sua mãe, Isis, certamente a conhece
melhor que você mesmo. — Eu suspiro um pouco mais calma.
— O que está fazendo aqui? Digo em Los Angeles...
— Trabalho. Aliás, estou ponderando mudar de uma vez para o jatinho de
Vincenzo — brinca, e então fica sério. — Estou o ajudando com as questões
de Mathew e de Milena. Mathew já está encaminhado, o caso de Milena é
mais complicado, porque envolve a segurança dela, de Heitor e de toda a
família. Mas vamos resolver. Estava te ligando para levá-la para almoçar,
porém, diante das circunstâncias, quero propor que passemos o dia juntos.
Talvez seja bom para esfriar essa cabecinha.
— Isso parece bom. — Sorrio e ele limpa meu rosto.
— Não gosto de vê-la chorando, boneca. Promete que vai relaxar e colocar
um sorriso nesse rosto perfeito? — Balanço a cabeça em concordância e ele
sorri. — Agora vá trocar de roupa, tenho alguns planos em mente.
— Que tipo de roupa devo vestir? — Ele dá um sorriso de lado e então
balança a cabeça, como se estivesse tendo uma conversa silenciosa consigo
mesmo.
— Qualquer roupa que quiser. — Respiro fundo e me aproximo dele,
grudando nossos corpos o suficiente, com isso consigo sentir sua respiração
vacilar.
— Por que evita me beijar? — questiono traçando o indicador em seus lábios.
Suas mãos sobem e descansam em minha cintura.
— Porque seu beijo quase me faz perder o controle, me faz querer ir além.
— E por quê...
— Isis, meu anjo, você pode ir se trocar? — pede cortando minhas palavras.
— Você parece fugir, o que te impede?
— Acredite, eu não estou fugindo. Não fujo, nunca, seja em qualquer sentido.
Agora aproveite e coloque uma roupa reserva em alguma bolsa. Vá. —
Suspiro um pouco frustrada, mas me apego ao fato de ele pedir uma outra
roupa...
Arrumo-me e sou obrigada a caprichar um pouco na maquiagem para ocultar
meu choro. Quando volto ao quarto, Bruce prende a respiração e eu quase rio
do quão exagerado esse ato foi.
— Você não faz ideia, isso que é o mais desconcertante.
— Ideia sobre?
— Sobre todas as coisas. Tem tudo o que precisa?
— Sim. — Ele me oferece sua mão e juntos saímos do quarto.
— Ei, e a piscina? — Heitor questiona segurando a vontade de rir.
— Mudança de planos. — Rio, enquanto ele e Bruce trocam um aperto de
mãos.
— Cuide da minha menina — adverte Tôr.
— Pode deixar.
— Já vai, né... — diz minha vó sorrindo. — Eu te digo que é super
compreensível.
— Vó — repreendo revirando os olhos. — Você pode dizer à minha mãe que
eu fui passar o dia com Bruce?
— E a noite — ele informa sorrindo. Meu ventre se contrai, mas não sou
masoquista a ponto de criar expectativa. Não mais.
— Eu juro que estou com saudade de Arthur. — Ela suspira. — Ok, vá lá,
juízo e mantenha o celular ligado. Bruce, não esqueça do preservativo. Deve
ser o que? G? GG? Arthur usa GG... na verdade, eu não me lembro se em
algum momento da vida usamos preservativo realmente...talvez tenhamos.
— Ok, Vó, já tivemos o suficiente. — Rio abraçando-a.
— É tudo brincadeira, Bruce, sou assim. — Ela sorri o abraçando. — Cuide
da minha garota.
— Cuidarei.
Nós saímos após responder algumas perguntas dos seguranças. Só assim me
dou conta da gravidade dos fatos.
Bruce está em um carro da empresa do Vincenzo. Ele gentilmente abre a
porta para que eu possa entrar e a fecha em seguida. Acomoda-se ao meu
lado e solta um suspiro.
— Boneca, nossos planos estão um pouco restritos, então vou tentar levar um
pouco de diversão ao meu quarto no flat.
— Entretenimento no quarto com Bruce. — Sorrio. — Sei muitas maneiras
de diversão...— Rio da cara que ele faz. — Calma, eu apenas gosto de
provocá-lo, você fica engraçado bravinho.
— Já percebi que você gosta. — Ele sorri e dirige pelas ruas de Beverly Hills.
Ele para em um Wal-Mart e pede para que eu o espere no carro. Fico uns
quinze minutos esperando, até que ele volta carregando uma caixa grandinha
e a. coloca no banco de trás.
— O que é isso?
— Parte da nossa diversão — explica voltando a se acomodar em seu lugar e
dando partida.
Minutos depois, estamos em seu quarto no flat, aguardando a refeição que ele
pediu. Eu estou sem meus sapatos, sentada no sofá, quando ele surge vestindo
uma bermuda e uma camisa, trazendo em suas mãos a caixa.
Eu fico possessa quando percebo que é um videogame. Sério. Esse homem
me testa de todas as maneiras possíveis. Ele comprou um vídeo para nos
divertimos?
Fico apenas parada, imóvel, observando-o montar o aparelho na televisão.
Ele sorri quando percebe que está tudo certo e me encara.
— Preparada para queimar calorias?
— Qual a sua idade, Bruce? — questiono tentando não rir da sua carinha de
garoto feliz, que acabou de ganhar o primeiro videogame.
— Doze para você. Isis, boneca, quando souber o que tenho em mente essa
carinha de frustração mudará.
— Envolve sexo? — questiono rindo e a campainha toca anunciando nosso
almoço.
Ele corre até a porta para receber, em seguida deposita as embalagens sobre a
mesa. Ajudo-o a pegar pratos, taças e talheres. Ele serve vinho, nos
acomodamos e então comemos, debatendo sobre a questão de tantos
seguranças no caso de Milena.
Falamos sobre seu clube do sexo e ele diz que não tem tido tempo de ir lá,
que deixou tudo na mão de um gerente, por causa dos últimos
acontecimentos. Ser advogado do poderoso chefão requer uma quantidade
significativa de dedicação pelo visto.
Eu lavo os pratos e ele joga os restos de comida fora. Escovamos nossos
dentes juntos, depois continuamos bebendo vinho e conversando no sofá.
Apenas flui... é incrível. Os assuntos entre nós dois são intermináveis.
— Bom, eu já estou bem para dar início às brincadeiras, e você? — ele
questiona com um sorrisinho.
— Estou realmente bem para brincar — respondo sugestivamente e ele
balança a cabeça.
— É boa em jogar tênis?
— Não sei... — Sorrio. Eu sou realmente boa, mas como não sei o que ele
pretende, prefiro ocultar isso. Ele fica de pé, liga a televisão, o videogame e
me dá um controle, pegando o outro para si.
Ajudo-o a arrastar a mesinha de centro até o canto e ele me encara.
— É o seguinte, vamos jogar cinco partidas, quem vencer mais vezes têm
direito a escolher qualquer coisa que quiser do outro — explica.
— Que tal colocarmos algo mais nessa brincadeira?
— Tipo?
— A cada partida que um de nós ganhar, temos o direito de mandar o
perdedor tirar uma peça de roupa. E então na partida final o campeão escolhe
o prêmio final. O derrotado não poderá se opor, em hipótese alguma, de
acordo? — Mordo meu lábio inferior e ele suspira.
— Você quer assim?
— Sim. — Sorrio maliciosamente.
— Que assim seja. — Damos um aperto de mãos regado de promessas e
começamos a jogar a primeira partida. Confesso, é divertido pra caralho.
Principalmente quando, acidentalmente, eu e Bruce colidimos. Minha barriga
chega a doer de tão engraçado e eu permito que ele ganhe a primeira partida.
O jogo está ganho. Bruce é péssimo realmente.
— Perdi essa, garotão — digo, fazendo um biquinho e ele me rouba um
selinho.
— Tire seu short para mim, Isis — ordena de um jeito que causa arrepios.
Coloco meu controle em suas mãos, afasto-me e então começo a tirá-lo
lentamente, fazendo uma dancinha sensual. Vejo os olhos de Bruce
escurecerem conforme deslizo a peça pelas minhas pernas. Todo e qualquer
resquício de diversão some do seu lindo rosto. Essa brincadeira foi a melhor
coisa que ele poderia ter inventado.
Quando a peça cai aos meus pés, abaixo o suficiente para ele conseguir
vislumbrar meu decote. Subo com a peça em minhas mãos, depois a deposito
delicadamente sobre o sofá. Encaro-o com a minha cara mais angelical e
ganho um vislumbre do seu pomo de adão subindo e descendo, quando ele
engole em seco.
— Vamos para o segundo round, senhor Bruce Fosters — incentivo pegando
o controle de suas mãos. Só então ele parece acordar do transe.
Sorrateiramente olho para sua bermuda e reprimo um gemido ao contemplar
um grande volume...
Respiro fundo e novamente o deixo ganhar.
— Esse jogo está fodido para mim. Vamos lá, Isis, retire sua blusa. — E
assim o faço, repetindo o ritual da dancinha. Desta vez jogo a peça em sua
cara. Seu olho varre meu corpo e ele solta um rugido que entra em contato
direto com meu ventre.
— Vamos lá, Bruce, eu estou amando jogar esse jogo. — Sorrio pegando o
controle novamente e agora sim a brincadeira começa. Eu ganho a terceira
partida e o mando retirar a camisa, ganho a quarta e ele retira sua bermuda.
Quando o vejo de cueca boxer branca, marcando toda sua ereção, leva tudo
de mim para não voar sobre ele.
— Me desculpe por isso. Você está seminua, pulando ao meu lado... não há
como, Isis.
— Não fique constrangido e não se desculpe. Eu estou molhada e você duro,
a diferença é que eu posso ver, já você... — Sorrio provocando-o. — O jogo
está empatado, Bruce, agora precisamos ver quem será o vencedor.
— Não sei se foi uma boa ideia — ele diz sério, mas, logo em seguida, sorri e
respira fundo. — Vamos lá... o Grand finale.
Sorrio quando ele aperta o play e a partida começa. Eu mal dou chance para
ele se defender, por isso recebo vários olhares reprovadores. Só sei rir. O
jogo dura menos de dez minutos e eu ganho.
— Você sabia jogar essa porra, eu pude notar desde a primeira vez que
ganhou. Você mentiu para mim — protesta.
— Não menti, omiti — defendo-me. — Um bom jogador nunca deve
informar seus truques, caro Bruce. — Sorrio, abandonando o controle e
caminhando decidida até ele.
O controle escorrega de sua mão assim que grudo meu corpo ao dele. Apoio
minhas mãos em seu peitoral rijo e levanto minha cabeça para encará-lo.
— Qual o seu pedido, Isis? — questiona. Ele está sério, isso me faz sorrir
mais uma vez.
— Eu quero que me beije.
— Um beijo? — Arqueia as sobrancelhas em descrença.
— Não, não apenas isso — informo. — Eu quero que me beije, mas que,
dessa vez, permita que o beijo nos leve aonde quer que ele queira nos levar.
Ele faz uma avaliação profunda em meus olhos, então suas mãos sobem e
deslizam pelas minhas costas. Tão delicado quanto possível, ele desfaz o
fecho do meu sutiã e eu permito que a peça deslize com facilidade pelos meus
braços. Bruce não olha para meus seios, seu foco permanece em meus olhos.
Suas mãos deslizam pela minha cintura com uma lentidão agonizante e para
os meus quadris. Antes que eu possa processar, estou em seus braços,
rodeando as pernas em sua cintura e abraçando seu pescoço.
Ele fecha os olhos. Faço o mesmo quando sinto seus lábios se chocarem
contra os meus.
— É isso que você quer, boneca? — questiona, afastando-se e mantendo
nossas testas grudadas. Abro os olhos e aceno positivamente, vendo-o sorrir.
— Por favor — peço.
— Não peça “por favor”. Isso não é um favor, isso é uma honra. — Ele me
beija novamente e eu esqueço que existe vida fora desse quarto...
Bruce coloca suas mãos em minha bunda e eu aumento meu aperto em torno
dos seus quadris. Seu beijo, neste momento, causa-me as mais diversas
sensações, coisas que jamais senti. Há algo que torna diferente de tudo que já
vivi e compartilhei no sexo. Eu só não consigo achar uma explicação
plausível. É diferente... deliciosa e dolorosamente diferente.
Enquanto me segura com uma mão, a outra sobe e desliza pelas minhas
costas. O simples toque tem o efeito de uma grandiosa carga elétrica, anuvia
meus sentidos e envia ondas de calor ao meu sexo.
Aos poucos, ele a desliza para frente e toca meu mamilo esquerdo,
prendendo-o entre seus dedos. Afasto a conexão tortuosa dos nossos lábios e
arqueio meu corpo, incentivando-o a fazer mais do mesmo. Eu nunca estive
tão ligada sexualmente. Sim, eu já senti tesão desesperador, mas não dessa
maneira. Agora compreendo o motivo de Bruce evitar tanto os nossos beijos,
ele decerto captou a eletricidade exagerada que ocorre entre nós dois, ele viu
além do que fui capaz de ver.
Sua boca passeia pelo meu pescoço e ele beija um pontinho que me faz
gemer e me contorcer em seu braço. Sinto sua majestosa ereção pressionando
firme entre minhas coxas e ofego com a deliciosa sensação. Tudo parece
amplificado.
Ele caminha até a suíte e, apesar de já ter feito sexo outras vezes, o
nervosismo surge com uma força absurda. De repente, sinto-me vulnerável.
Bruce age como se pudesse ver através de mim. Ele para na beirada da cama
e eu escorrego minhas pernas, permitindo que meus pés toquem o chão.
Algum tipo de emoção corre entre nós dois quando ele passa sua mão
carinhosamente em meu rosto.
— Tem ideia do quanto desejo você? — pergunta em um tom de voz rouco.
Balanço a cabeça negando. Seu olhar é tão hipnótico neste momento que não
consigo olhar para nada além de seus olhos. Mas eu forço... permito que a
conexão se quebre e olho para esse homem seminu diante de mim. A cor da
sua pele é um contraste incrível diante da minha. Seus ombros largos
assustariam qualquer pessoa que não soubesse o quão doce esse grande
homem pode ser. Navego pelo seu peitoral muito definido e deixo meus olhos
vagarem para baixo... contemplo os gominhos de sua barriga e desço até o V
perfeito, que desaparece abaixo de sua cueca. O pacote incrível dentro dela
me faz engolir em seco. — Deus, Isis, você me olhando dessa maneira... eu
preciso senti-la, boneca, de todas as maneiras. — Suas palavras são
convidativas e eletrizantes. Todo meu corpo arrepia...
— Eu...
— Shi... não diga nada, boneca. Não pense em nada agora... — diz colando
nossos lábios em seguida. Ele me faz dar passos para trás, até sentir a cama
batendo em minhas pernas. Eu mal posso acreditar que isso está mesmo
acontecendo. Do jeito que minha vida é fodida, sinto que a qualquer
momento eu irei acordar desse sonho.
Ele me pega em seus braços e, lentamente, nos acomoda sobre a cama. Nosso
beijo me acalma e me enlouquece ao mesmo tempo.
— Eu preciso ver você — pede, apoiando seus braços sobre a cama e dando
um olhar lascivo pelo meu corpo, de uma maneira intimidante. — Você é
linda demais, minha boneca. Linda. Perfeita da cabeça aos pés. — Congelo
com a verdade que sinto em suas palavras. Eu me sinto linda agora e,
principalmente, desejada. Só percebo que estou prendendo a respiração
quando o ar me falta, então inspiro e suspiro atraindo seu olhar ao meu. É tão
devastadoramente insana a maneira como ele me olha, que sinto a extrema
necessidade de fugir disso.
Eu levo minhas mãos em seus pescoço e trago sua boca até a minha. Ele vem,
munido de inúmeras maneiras diferentes de me enlouquecer. A vontade de tê-
lo se inflama em meu interior, arranho suas costas quando sua mão aperta
meu seio. Ele se acomoda entre minhas pernas e permite que nossas partes
íntimas façam uma fricção a seco, pela primeira vez. Solto um gemido em
sua boca ao mesmo tempo em que ele ruge como um selvagem.
Nossos lábios desconectam e ele desliza a língua pelo meu pescoço, indo
rumo a um de meus mamilos. Então sua boca se fecha nele e eu agarro meus
próprios cabelos em desespero. Enquanto sua boca trabalha em um, sua mão
trabalha no outro. Bruce tem um aperto firme, sob medida, a linha tênue
perfeita entre a dor e o prazer. Isso envia fogo ao meu sexo e me sinto
contraindo em antecipação. Movo-me embaixo dele, buscando uma fricção
que traga qualquer alívio. Minha respiração vira uma bagunça. Na verdade,
eu me torno uma bagunça completa sob o corpo dele.
Após chupar meu outro mamilo, sua boca desliza pela minha barriga. Solto
um gemido agonizante quando ele para diante da barra da minha calcinha.
Meu Deus! Ao mesmo tempo em que eu quero, sinto-me desesperada,
nervosa, tensa e ansiosa... Arrisco olhar para ele e o pego me dando um
sorriso travesso.
— Tão sensível e ansiosa, boneca — diz. — Eu espero que você não tenha
qualquer apego a essa calcinha — anuncia antes de rasgá-la em suas laterais.
Ele quebra o olhar e ronrona satisfeito e feroz ao contemplar pela primeira
vez minha intimidade. Ele traça um dedo pelas minhas dobras e eu agarro o
lençol ao meu lado.
— Eu amei isso... — comenta traçando o dedo em toda minha pele lisa,
desprovida de pelos. — Tão lisa, molhada... — Eu não tenho a chance de
respondê-lo ou criar qualquer palavra, no momento ele está apenas traçando o
caminho e, logo em seguida, dois dedos espertos estão me invadido.
— Oh, Deus... Bruce... — Eu nem sequer consigo manter meus olhos abertos,
enquanto ele explora, entrando e saindo vagarosamente.
— Isis... eu sinto o quão apertada é... você está apertando meus dedos,
boneca. Isso é tão malditamente quente. Eu quero sentir fazendo isso em meu
pau, bem gostoso. — Esse homem está me matando de um jeito... Puta que
pariu! Eu sabia que seria quente, mas não imaginava que seria dessa maneira
não. — Olhe para mim, abra esses lindos olhos e olhe o que minha boca pode
fazer com você — provoca. Eu vou do céu ao inferno quando sinto seu hálito
quente em minha pele. Apoio em meus cotovelos e vejo a imagem mais
erótica de sua boca se fechando em minha intimidade. Solto um gemido
apreciativo e isso é tudo que ele precisava para seguir sua tortura.
Sua língua desliza pelo meu clitóris, intercalando entre leveza e pressão, meu
ventre se contorce e meus braços falham, fazendo com que eu caia de volta a
cama, incapaz de me manter consciente e firme. A única força encontra-se em
meus quadris, que empurro deliberadamente para ele.
Estou no limite de perder a sanidade mental quando sua voz me atrai de volta
à órbita: — Tão deliciosamente sensível — exalta com admiração. — Goze
para mim, Isis. Por favor.
— Não é um favor, é uma honra. — Sorrio, copiando suas palavras, mas ele
faz meu sorriso morrer ao trabalhar mais firme em seus dedos. — Deus!
Bruce... — Torno-me insana, permitindo que meus quadris tomem um ritmo
alucinante. Ele se acomoda ao meu lado e eu sinto sua ereção pressionando
meus quadris bravamente, enquanto seus dedos continuam me levando do céu
ao inferno, ou vice-versa, não sei.
— Goze, meu amor. Eu preciso disso para estar dentro de você... — atiça,
trazendo sua boca até a minha e vencendo a luta. Agarro-o firmemente contra
mim quando meu corpo obedece aos seus comandos, transformando-se em
milhares de partículas... — Isso, minha boneca, agora você está pronta para
me receber.
Oh, puta que pariu! Se esse homem fez isso com os dedos, não quero
imaginar o que ele é capaz de fazer com o pau.
Bruce espera meu corpo se acalmar, então se afasta e fica de pé. Arrepio-me
completamente ao vê-lo retirar a cueca e quase solto um grito ao contemplar
seu membro ereto em toda sua glória. Puta que pariu, isso é generosamente
grande.
Ele dá um sorriso caloroso para mim, como se pudesse ler meus
pensamentos. Mordo meu lábio e me torno desesperada pra caralho, no auge
da ansiedade. Vejo-me pegar um pacotinho laminado e o observo deslizar o
látex por todo seu comprimento. Aperto minhas pernas em uma necessidade
desesperadora e ele vem...
Puta que me pariu!
Deve ser um sonho.
Ele se acomoda entre minhas pernas e mais uma vez seus dedos estão em
mim.
— Bruce — digo em protesto e ele ri.
— Só confirmando se você está devidamente lubrificada. Digamos que...
— Seu pau é grande. Eu compreendo.
— Você falando pau, boneca. — Ele assovia e posiciona sua generosa glande
em minha entrada. Isso quebra qualquer chance de piadinhas indecorosas. Eu
me sinto num filme de terror neste momento, mas esse é um meio para o fim.
Como um predador perfeito, ele se contém e sobe beijos pela minha barriga,
meus seios, até chegar em meus lábios. Seu majestoso membro descansa em
minha entrada, enquanto me entrego ao seu beijo e ao seu controle.
Centenas de emoções passam por mim neste momento. Bruce apagou da
minha mente quaisquer acontecimentos ruins que tenham surgido no último
mês...
— Diga que me quer. Diga que precisa de mim — pede em minha boca.
— Eu quero e preciso, você sabe disso. Eu quero você, muito, meu corpo
chega a doer de necessidade... — Ele se perde em meus olhos, mas eles logo
se fecham quando seu membro me invade lentamente. Há uma ardência e
uma dor. É generosamente grande e largo. Não uma aberração, mas é sem
dúvidas o maior que já recebi. Bruce penetra até estar completamente
enterrado dentro de mim e, juro por Deus, só isso me faria gozar facilmente.
Ele se mantém imóvel, esperando que meu corpo se acostume. Sua respiração
está tão bagunçada quanto a minha. Permito-me abrir os olhos e o pego com
os próprios olhos fechados.
— Você é céu, minha boneca, talvez você seja além do céu, se é que possível
— diz com sua testa grudada a minha. Seu maxilar está tenso e ele aperta
ainda mais, é visível o quanto está lutando para manter o controle sobre si
mesmo.
Movo-me embaixo dele e ele geme.
— Caralho, Isis... isso é maravilhoso. — Sorrio sentindo que possuo um
poder sobre esse homem. Ele começa a se mover lentamente. Aos poucos,
vou me acostumando, Bruce sabe como trabalhar isso com maestria. De
repente, sinto ódio de saber que ele é tão experiente. — O que foi, meu amor?
Não está gostando?
— Você fez isso com outras mulheres... — protesto demonstrando toda
minha vulnerabilidade.
— Não. Eu nunca fiz isso com outras mulheres, acredite. Mas também não
era virgem, boneca, assim como você também não. Pare de pensar... deixe-
me amar você. Eu quis tanto isso e sei que você também.
Puxo-o para meus lábios, porque sei o poder que seu beijo tem. Meu corpo
relaxa e eu permito ser consumida por esse homem incrível. Eu o sinto em
meu ponto G... eu o sinto em todos os pontos. Bruce me preenche tão bem,
em todos os sentidos.
Envolvo minhas pernas em torno de sua cintura, tentando chegar o mais
próximo que consigo dele, querendo sentir seu corpo me esmagar, me matar e
então me trazer de volta à vida. Suas mãos deslizam pela minha bunda, ele a
levanta fazendo com que tenhamos um atrito maior entre nossos corpos. A
fricção incrível em meu clitóris faz meu corpo se incendiar além do normal.
Afasto nossas bocas, buscando ar, e passo a gemer baixo em seu ouvido a
cada movimento. Tento arquear minhas costas quando se torna demais,
depois mordo seu ombro quando meu corpo convulsiona mais uma vez.
Isso não se parece com qualquer orgasmo que tenha tido antes. Sinto-me
jogada de um penhasco, em plena queda livre. O prazer é tão
devastadoramente forte que dói, dura longos minutos, intermináveis. Bruce se
move mais algumas vezes, conforme sinto seu membro enrijecer mais antes
de ele chamar meu nome e liberar sua excitação. Seus másculos sacodem
violentamente em torno de mim e eu mantenho-me agarrada aos seus ombros,
numa espécie de abraço. Ele enterra sua cabeça no vão do meu pescoço e
tenta controlar sua respiração, sinto seus espasmos involuntários dentro de
mim e ainda sinto meu orgasmo estremecendo em torno do seu pau ainda
rijo. A cada tremor do meu corpo ele solta ruídos baixos de apreciação.
Puta merda.
Inacreditável!
É agora que eu acordo.
Mas não, a cada segundo eu descubro que é real. Deliciosamente real.
Ele levanta sua cabeça aos poucos, à medida que distribui beijos em minha
bochecha até chegar à minha boca. Sorrio, então ele sai de minha entrada, o
vazio é absurdo após tê-lo ocupando cada pedacinho... Ele retira o
preservativo, dá um nó e o joga numa mesinha de cabeceira, depois passa um
braço em minhas costas e sou envolvida num abraço delicioso pós-sexo.
Levanto minha cabeça para olhar seu rosto e ele sorri. Esse sorriso de um
milhão de megawatts, com dentes perfeitamente brancos e alinhados, de boca
carnuda e convidativa. Eu o beijo, um beijo puro dessa vez.
Nós tivemos uma troca aqui. É visível tanto em meu olhar quanto no dele.
— Minha boneca pensativa...
— Isso foi incrível. Você estava certo o tempo todo. — Sorrio. — A espera
valeu a pena.
— Eu precisava estar certo de que não era apenas fogo. Há apenas um
pequeno problema que devo alertá-la — diz, sério.
— Qual?
— Você agora é minha, Isis — anuncia e eu abro a boca em choque. Eu sou
de Bruce? O que significa isso?
— Eu sou?
— Você é minha. Minha boneca e minha namorada.
— Isso é um pedido de namoro?
— É uma afirmação. — Ele sorri. — Ok, vou dar a chance de fugir disso.
Vamos lá, é sua única chance, Isis. Eu vou te fazer uma pergunta e ela vai
sentenciar o que anunciei.
— Tudo bem.
— Você aceita ser minha namorada? — questiona olhando fixamente em
meus olhos e sorrio.
— Eu não sei... — respondo traçando um dedo em seu peitoral. — Talvez
você deva tentar me persuadir.
— Oh, Isis, é sério? — questiona, divertido, e eu aceno minha cabeça
positivamente. — Eu posso ser muito persuasivo.
— Eu estou aqui pagando para ver seu poder de persuasão. — Seus olhos
brilham encarando os meus, enquanto me estuda friamente. Mordo meu lábio
para abafar um sorriso, então estou em cima dele antes que eu possa
protestar.
Ele estica a mão, pega outro preservativo e desliza em seu membro. Dizer
que estou assustada é pouco... o homem tem um preparo sexual invejável.
— Levante-se um pouco — ordena e eu faço, então, novamente, ele desliza
em minha entrada. Dessa vez parece ir mais fundo que antes, dói, mas acabo
de descobrir ser amante da dor que esse homem me causa, porque ele me
preenche muito bem.
Eu testo minha performance, levantando-me até a ponta e descendo de uma
só vez, enquanto meu corpo volta a se ajustar à invasão. Bruce uiva em
desespero a cada vez que eu faço.
Suas mãos se perdem entre meus seios e deslizam pela minha bunda. Ele
passa a controlar meus movimentos, ao passo que começo a balançar
ritmadamente em cima dele. Apoio minhas mãos em sua barriga e ele desliza
o polegar em meu clitóris, enquanto mantém uma mão firme em meu quadril.
Isso me faz perder a luta de me manter no controle.
— Por Deus! Isis... você está me deixando louco! — exclama, levando sua
pélvis ao encontro da minha. Eu me sento, pressionando-o para baixo e ele
força para cima. É uma delícia. Quando se torna demais, ele se senta, abraça
meu corpo e nos perdemos entre mãos, beijos, sons, movimentos pélvicos. Eu
me sinto afogando neste homem e ele parece sentir o mesmo. Meu corpo fica
tenso quando o orgasmo se aproxima e Bruce fixa em meus olhos. — Eu
estou indo com você, boneca... venha para mim, me dê tudo... — Suas
palavras me envolvem poderosamente. Abraço-o apertado, deixando meus
quadris se moverem desesperadamente enquanto gozo, sentindo-o se liberar
junto comigo. Ficamos abraçados por longos minutos tentando recuperar,
tentando entender.
Não sou capaz de fixar em seu rosto agora. Apenas deito minha cabeça em
seu ombro e descanso de toda carga emocional...
— Eu sinto que posso te quebrar. — Ele sorri e eu levanto minha cabeça. —
Desculpa por te apertar tanto... espero não machucado.
— Eu não sou de vidro — informo, sorrindo.
— Você é tão delicada, Isis, tão delicada que temi quebrá-la em algum
momento. Mas agora sei que você pode ser uma pequena garota sexual. —
Ele ri.
— Eu aceito — anuncio minha escolha.
— Ora, eu disse que tinha um ótimo potencial de convencimento —
comemora, dando-me dezenas de beijos. — Eu farei o possível e o
impossível para fazê-la feliz, Isis. Obrigado por isso, é uma honra.
— É uma honra ser namorada do dono de um clube de sexo.
— Oh, merda. Isso está fora da jogada, definitivamente. O clube é só um
negócio, retire da sua cabecinha qualquer ideia. — Eu rio do seu desespero.
— Tudo bem, era apenas brincadeira. Eu prometo tentar fazê-lo feliz, Bruce
Venture.
— Você nunca vai deixar de dizer isso, não é mesmo? — questiona sorrindo.
— Talvez você possa me convencer a deixar de dizer.
— Meu Deus, Isis, você é insaciável, é isso? — pergunta com divertimento.
— Não. Até que pode ser fácil viciar em sexo com você. Entretanto, agora só
consigo pensar em tomar um banho e ter mais algum momento divertido com
aquele videogame, dessa vez sem peças de roupas a serem descartadas e sem
segundas intenções.
— Essa é uma excelente ideia.
— Alguém me ensinou que relacionamentos não giram apenas em torno de
sexo — provoco.
— Esse alguém está coberto de razão, hein... Aliás, ao invés de videogame,
que tal eu levá-la em um lugar? Acredito que estamos seguros, por ora.
— Que lugar?
— É surpresa — diz, ficando de pé comigo em seus braços. Ele me coloca no
chão, retira o preservativo e tomamos banho.
Uma hora depois, estamos em um enorme parque de diversões, brincando de
tiro ao alvo, disputando quem consegue pegar o maior ursinho.

É logo no início da manhã que sou desperta por algum ser humano insistente
ligando para o meu celular.
Vou batendo minhas mãos na cama e então pego em algo que me faz saltar da
cama. Bruce começa a rir até cair da cama, enquanto tento normalizar a
respiração. Puta merda!
— Não tem graça! — digo ofegante e caminho até ele, que está caído de
costas no tapete.
— Tem graça sim — anuncia, puxando-me pelas pernas até que eu caia em
cima de si. — Bom dia, minha linda.
— Bom dia. — Sorrio encaixando minha cabeça no vão do seu pescoço. Ele
faz um cafuné em meus cabelos e eu quase adormeço o fazendo de colchão,
até meu celular voltar a tocar desesperadamente. — Merda!
— Atenda, pode ser sua mãe — incentiva e eu me levanto. Vou em busca do
meu celular e o nome Lorenzo brilha na tela.
— Não é minha mãe, é Lorenzo — digo rejeitando a ligação, então ele insiste
sem parar até que eu atenda. — Oi, Lorenzo... são oito da manhã!
— Não desligue, por favor — diz, desesperado. Isso me faz ponderar
permanecer ou não.
— Eu vou sair para que possa conversar, vocês têm assuntos inacabados —
informa Bruce ficando de pé. Ele me dá um beijo na testa e vai para a sala do
flat.
— Ok, Lorenzo, você parece realmente desesperado, diga.
— Eu preciso conversar com você, Isis, preciso muito. Tem que ser
pessoalmente.
— Loren...
— Ouça, eu não vou te agarrar, não quero te seduzir nem porra nenhuma.
Estou pedindo uma conversa, uma única conversa. Nós não conversamos...
— Eu não sei se é uma boa ideia — confesso, sentando-me na cama.
Coração é realmente terra que ninguém pisa...
— Por favor, Isis, depois disso eu prometo nunca mais importuná-la, se essa
for sua vontade. Por favor, deixe-me falar com você. Pode ser agora pela
manhã ou quem sabe um almoço?
— Eu não terei apetite para encarar uma conversa e um almoço. — Ele
suspira frustrado. — Se não me engano, você mora em Beverly Hills, não é?
— Sim.
— Eu estou passando alguns dias em Beverly Hills. Me mande algum local
por mensagem e eu estarei lá em duas horas.
— Porra, obrigado por isso. Eu mandarei...
— Ok — digo encerrando a ligação e caminho até a sala.
— Está tudo bem, boneca?
— Você é seguro de si mesmo, não é mesmo? — pergunto, aconchegando-
me nas pernas de Bruce.
— Eu preciso ser.
— Se fosse o contrário, eu estaria surtando. — Sorrio. — Bom, ele quer que
eu o encontre para uma conversa. Foi bastante insistente. Sinto que
precisamos disso para encerrar o ciclo.
— Então hoje a senhorita tem duas grandes conversas: com Lorenzo e com
sua mãe.
— Eu não estou certa sobre minha mãe — confesso.
— Eu imagino, mas é algo necessário, princesa. Você sabe disso. — Ele é
sempre tão maduro, acho que essa é a vantagem de namorar um homem mais
velho, experiente e seguro de si. — Bom, seria fantástico passar o dia todo
com você, mas Vincenzo já me mandou mensagens e eu preciso trabalhar.
Vamos tomar o café da manhã juntos?
— Sim, senhor. — Sorrio concordando e vejo o enorme urso de pelúcia que
ele ganhou para mim no parque de diversões. — Eu posso deixar “Bruce”
aqui?
— Claro. Eu até achei essa ideia fantástica, porque assim eu posso usá-lo
como desculpa para ir vê-la essa noite — diz o Bruce original, pegando-me
em seus braços. — Eu estava pensando se, além do café da manhã, você
gostaria de tomar outra coisa comigo...
— Outra coisa?
— Sim, um banho — sugere, dando uma gargalhada em seguida. — Essa foi
péssima!
— Foi horrível, de verdade. — Beijo seu pescoço e ele me coloca sentada na
pia do banheiro. — Olha, eu tomarei banho com você só porque adoro tomar
banho assim que acordo.
— E eu só te convidei para não a deixar sozinha na sala — brinca, piscando
um olho. Antes que eu possa protestar estou nua em seus braços.

Chego quinze minutos atrasada em meu encontro com Lorenzo.


Não sei descrever o que sinto ao vê-lo.
Sei que Bruce, quando estávamos a caminho, estava terrivelmente tenso. Não
é uma situação boa realmente.
Embora eu esteja gostando muito de Bruce e sinta que tirei a sorte grande,
não consigo controlar o nervosismo e uma leve pontada de dor. Ambas
aumentam ainda mais quando ele percebe que estou andando em sua direção.
Meu emocional já logo mostra estar abalado. Meu estômago se contorce, sou
inundada por um enjoo repentino e sou obrigada a conter meus passos para
respirar. Eu gostaria de não ter que encará-lo novamente.

Eu estou suando frio neste momento.


Ela está tão linda.
Radiante eu diria.
Aguardo que ela venha até mim, mas, ao invés disso, ela contém seus passos
e espera que eu caminhe até ela.
Ela está certa.
Meu estômago chega a revirar tamanho o nervosismo. Eu paro diante dela e
meu coração falha algumas batidas ao contemplar seus olhos.
— Ei — digo pegando sua mão e a noto fria. — Você está bem?
— Sim — diz, soltando sua mão da minha. — Nós podemos conversar aqui
mesmo? Eu preciso respirar.
— Claro — concordo e ela se senta no murinho. Eu a acompanho.
— Então, pode começar.
— Eu ensaiei como dizer, mas agora parece tão fodido, tão difícil.
— Comece do começo — incentiva e eu dou um sorriso fraco.
— Eu... tudo mudou. Mudou radicalmente e não soube como agir. O
desespero me cegou e saí atropelando tudo. Você sabe que eu e Maria Flor
não tínhamos sexo, então eu tinha um arranjo com Paulinha. — Ela dá uma
risada nervosa e eu me sinto um imbecil. — Eu sei, acredite, sei que estou
completamente errado. Mas eu...
— É movido a sexo.
— É uma necessidade, Isis. Flor sabia como testar um homem, isso é tudo.
— Eu não estou aguentando ficar perto de você. Eu não sabia que seria
assim... — Anuncia e começa a chorar de um jeito que leva tudo de mim para
não pular de um penhasco.
— Não faça isso... está doendo em mim, Isis, está doendo pra caralho. Você
nunca será capaz de imaginar, porque sei que qualquer coisa que eu disser
não será o suficiente para conquistar sua confiança. Paulinha está grávida. Eu
mantive contato com ela e naquele dia em Las Vegas, ela me entregou o
resultado do teste de paternidade. Eu sou o pai. Em duas semanas sua
gestação completará cinco meses.
— Mas... eu vi vocês bebendo — comenta, incrédula. — Ela não tinha uma
barriga...
— Era cerveja sem álcool. E ela tem uma barriga pequena, mas tem.
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Por que não me disse? Por que se afastou?
Por que...
— Eu não sabia como dizer, Isis. Um dia antes eu tinha declarado meu amor
aos seus pais. Foi o maior baque de toda minha existência. Desde o momento
em que ela me contou, eu estava certo de que não era meu, mas é meu, Isis. É
meu filho. Um garoto.
— Antes. Por que não me disse antes que havia essa possibilidade? Eu teria
ficado do seu lado, Lorenzo... eu teria ficado. Eu cultivei um sentimento por
você durante tantos meses, não perderíamos isso... eu não sei.
— Meus pais são separados. Separaram-se quando eu tinha quatro anos e
lembro da cena até hoje — confesso. — Nós comíamos pizza caseira todas as
sextas e sábados, então, no sábado, após a pizza, meu pai surgiu com uma
mala e saiu de casa. Eles nunca, nunca mesmo, me contaram os motivos. Eu
era muito novinho, mas essa é uma imagem viva em minha mente. Minha
mãe me segurou na porta, enquanto ele estava indo embora chorando. Não
houve conversas ou explicações. Foi apenas o fim. Ele foi presente, esteve
comigo em tudo, assim como a minha mãe. Mas é algo fodido e não sei se
estou disposto a deixar meu filho passar por isso. A cada vez que penso em
chutar a porra toda, a imagem invade minha cabeça. Toda criança quer ter os
pais juntos. Você, melhor do que ninguém, sabe disso também.
— Você e eu... não teríamos um futuro de qualquer maneira, é isso que está
dizendo? — Pergunta me olhando de um jeito ... eu fico de pé e passo as
mãos pelos meus cabelos, tomado por uma frustração absurda.
Eu a amo.
Cometi centenas de erros com ela desde o início, desde quando a conheci
naquele bar e caí nas graças de Maria Flor.
Sou impulsivo e fodido, mas a amo.
Eu a amo o suficiente para desistir de estar com ela, por saber que não estou à
altura do que merece. Isis merece muito. Merece ser respeitada, amada,
merece exclusividade e lealdade. Eu nunca fui capaz de dar quaisquer coisas
que ela merece, além de amá-la.
Mas o meu amor agora não vale de nada.
Há muitas responsabilidades envolvidas.
Deus sabe o quanto eu queria ter feito diferente, o quanto queria voltar atrás...
— Você a ama? — pergunta quebrando o silêncio.
— Oh, Isis, é óbvio que não. Eu amo meu filho. É tão fantástico vê-lo através
de uma tela. É uma experiência completamente diferente, muda a nossa visão
da vida, muda a porra toda.
— Vocês estão juntos?
— Sim e não. Eu não sei — Confesso cansado. Volto a me sentar. Eu e
Paulinha não estamos realmente juntos, temos feito sexo casualmente por
opção minha, mas isso terá de mudar... Por ela nós estaríamos juntos.
— Você não se dá conta de que seu filho pode vir a sofrer muito mais sendo
criado por um casal que não se ama? É um casamento, Lorenzo, casamentos
com amor já são difíceis, imagina sem? E eu não estou falando isso por mim,
por nós. Eu tenho um namorado agora. — Um soco no estômago seria
melhor.
— Você está certa, mas eu preciso tentar. Meu coração está uma bagunça,
Isis, assim como minha cabeça. Ambos estão duelando entre o que é certo e o
que é errado. Estou completamente perdido, como nunca estive. Nunca esteve
nos meus planos ser pai antes de me casar, antes de ter certeza... O quão sério
é o seu namoro?
— Sério. Mas isso não importa. — Ela suspira limpando as lágrimas. — Se
essa conversa tivesse sido lá atrás, antes do primeiro beijo, tudo estaria sendo
diferente, Lorenzo, tudo. Tantos erros teriam sido evitados, inclusive os
meus. Você pode me levar embora? — Pede.
— Isis...
— Por favor.
— Seu namorado mora aqui? — questiono, curioso.
— Não. O namorado da Flor. Aconteceram algumas coisas na família e
estamos passando um tempo aqui — explica e ficamos de pé, juntos.
— Isis, eu...
— Não. Eu tive o suficiente, me desculpe, mas eu não sou masoquista o
suficiente para continuar ouvindo. — Engulo a seco e sou obrigado a me
calar. Não há nada que eu possa dizer...
Abro a porta do meu carro para ela, então me acomodo ao seu lado. Ela me
ensina a localização da casa e fico puto por ser perto o suficiente.
— Chegamos — anuncia.
— Há cinco seguranças na porta — digo, assustado.
— Sim, problemas no paraíso.
— Você pode me dar um abraço? — peço e ela se joga em meus braços.
Torna-se incapaz conter as lágrimas. Sabe aquela dor no peito que te deixa
claustrofóbico? Aquele tipo de dor que você só sente quando sabe que perdeu
alguém para valer? É provável que esse abraço seja o último. Eu perdi minha
garota, para valer agora.
— Eu entendo você — ela diz com a cabeça deitada em meu ombro. — Mas
você tem pouco tempo com seu filho, até que ele cresça e passe a ter sua
própria vida. Você precisa ponderar se vale a pena renunciar à sua felicidade
apenas para manter um relacionamento de aparência. Eu posso estar errada,
mas não acredito que duas pessoas que não se amam podem transmitir o amor
puro e verdadeiro ao filho. Você não precisa estar junto para estar perto,
compreende? O amor paternal é diferente dos demais tipos de amor. Mas... eu
também não sei o que é ter um filho, é você quem está passando por isso. Eu
desejo que seja feliz, Lorenzo. Desejo que amadureça, que ame e que seja
feliz, de verdade.
— Você me amava? — questiono e ela se afasta. Vejo-a limpar o rosto e dar
um sorriso fraco enquanto olha para suas mãos.
— Eu sempre fui fechada ao amor, sempre tive medo de sofrer. Sim, posso
dizer que sou um pouco covarde quando meu coração está em jogo. Eu não
sei se era amor, nós tivemos pouco tempo. Mas eu sentia... eu sentia algo
muito forte. Isso é tudo.
— Porra, Isis. Eu sinto muito... — Ela balança a cabeça e sai sem se despedir
dessa vez.
Ela se vai e eu fico mais fodido do que estava quando propus uma conversa.
Nós temos tatuagens gêmeas.
Eu a amo...
Deus é minha testemunha.
CAPÍTULO 11

Estou vivendo um pesadelo, não importa que eu esteja acordada ou


dormindo. Estou sendo engolida, consumida pelo terror desde que me permiti
ser resgatada.
Não sei quão estúpida sou, mas o meu terror maior é por medo de que,
qualquer mínima coisa que seja, possa atingir Heitor ou qualquer outra
pessoa que esteja envolvida nesta operação.
Esta noite, eu sonhei que Anthony nos pegava na cama. Em um momento eu
estava me deleitando do mais puro prazer e, no outro, eu tive Heitor
arrancado de mim da forma mais brutal possível. Vi Anthony mirar a arma
nele e dar três disparos certeiros. O final do pesadelo foi Heitor morrendo em
meus braços. Desde que fui acordada por braços fortes e protetores me
envolvendo, não consigo me desfazer dessas imagens, parecia tão real que, a
cada vez que fecho os olhos, vejo a cena perfeita diante de mim.
Mesmo que esteja fazendo uso de medicações fortes, mesmo que cada uma
delas esteja me dando um sono e uma indisposição absurda, não consigo me
desconectar. Não consigo relaxar e não quero dizer isso às enfermeiras que
têm cuidado de mim desde ontem. Tenho medo de que o médico ordene que
aumentem a dose e que eu caia em um sono constante, perdendo assim todos
os acontecimentos.
Eu não quero perder nenhum detalhe que seja. O medo está me corroendo de
todas as formas.
Os poucos minutos que consigo fechar os olhos é apenas para rezar, não por
mim, mas por Heitor.
Eu descobri um homem grandioso em todos os sentidos da palavra.
Benevolente, cavalheiro, protetor, observador, dócil e voraz, uma mistura de
características que o torna único. Só Deus sabe o quão sentida estou por tê-lo
arrastado para os meus problemas. Só Deus sabe o meu medo de que
qualquer coisa respingue nele.
Pretensioso demais querer que ele seja meu cavalheiro da armadura brilhante,
o meu salvador e meu herói. Covarde demais envolver um homem cheio de
vida nesta confusão.
Ao mesmo tempo em que tenho todos esses pensamentos, quero apenas gritá-
lo para vir para o quarto para que eu possa passar a merda do restante do dia
em seus braços, sorvendo seu carinho, aproveitando seu conforto e proteção.
Estou há tantos anos sozinha e, de repente, Heitor surgiu disposto a ser tudo
que eu nunca tive antes. Surgiu como um tornado, derrubando barreiras,
transformando meus muros de proteção em nada.
Eu apenas preciso parar de pensar ou surtarei.
Estou surtando.
Fecho meus olhos e, mais uma vez, tento relaxar. Não sei quanto tempo fico
nessa tentativa frustrada, mas sei que me levanto ao ouvir o som da porta se
abrindo.
Sento-me e percebo que cada pedacinho do meu corpo dói absurdamente, em
especial meus ombros.
— Bom dia, minha princesa — diz o príncipe encantado, trazendo uma
enorme bandeja de café da manhã. Ele está me mimando de todas as maneiras
possíveis. Isso me deixa ligeiramente emocionada.
— Bom dia.
— Você conseguiu dormir ao menos um pouquinho? — questiona,
acomodando-se ao meu lado e então estou em seus braços.
Esse garoto está entrando rápido demais em meu sistema, mesmo que eu
queira fugir disso.
É tão confuso, eu sei. Quero tanto fugir, quanto me jogar de cabeça e deixá-lo
me levar onde quiser.
— Heitor, eu não posso arrastá-lo para isso.
— Desculpe parecer agressivo ou abusivo, mas você não tem direito de
escolha! — sentencia, sério, realmente sério. — Você não pode escolher o
que eu quero, Milena. E mesmo que amanhã você diga que não me quer
como homem, eu ainda estarei lutando por você como amigo. Ou seja, você
não tem opções. Eu torço para que escolha a opção onde possamos ser mais
que amigos. Digamos que estou meio louco por você. — Ele enfim sorri e
pisca seu olho, gracejando. Nunca estive perto de alguém tão bem-humorado.
Não importa a situação, Heitor sempre arranja um jeito de fazer alguma
graça. Isso dissipa um pouco da tensão em que me encontro. — Diga-me o
que quer comer, delegata, e eu te darei.
— Esse bolo parece bom — digo apontando para um bolo que tem uma calda
de chocolate. Fico feliz por meu estômago dar sinal de existência.
— É o melhor, tia Vic faz o melhor bolo de cenoura da porra toda.
— Você gosta muito dela, não é? De todos seus familiares... — divago
enquanto ele me entrega um pratinho com bolo e se serve.
— Eu amo tia Vic, amo todos os meus familiares. Você teve a chance de
conhecer parte deles, ainda há meus avós paternos, muitos primos e meus
tios, Pietro, Ricardo, Jéssica, Giovanna... é uma família numerosa e
espalhafatosa. Tio Ricardo e tia Gi são agregados. Ele é psicólogo da família
e acho que se tornou louco ao longo dos anos, após vivenciar tanta loucura —
comenta, orgulhoso e ri. — Enfim, todos são especiais, cada um com sua
particularidade. Em alguns meses é o Natal, estou mais que disposto a levá-la
comigo para o Brasil. Todos os anos nos reunimos no Rio de Janeiro para as
festas de final de ano. Começamos a festejar dia 23 e só paramos por volta do
dia 2 de janeiro. É divertido, acontece de tudo nas festas da família.
Enquanto ele diz eu tento imaginar a cena. É tão diferente dos Natais que já
tive. Quando meus pais eram vivos, éramos apenas nós três. Então eles
faleceram e passei a ficar só com o Anthony, já que ele não é muito ligado à
família dele. Meus Natais sempre foram muito solitários, completamente o
oposto disso que Heitor está narrando.
— Maria Flor é sua única irmã?
— Não. Há Enzo de dezesseis anos. Ele estuda em Nova York com o nosso
primo Victor. Meus avós paternos praticamente moram lá para ficar de olho
neles.
— Incrível.
— O bolo? — questiona sorrindo.
— O bolo, você e sua família. Suas histórias me distraem.
— Eu tenho centenas delas para te contar, estou disposto a distrai-la,
delegata. Prepare seus ouvidos. — Sorrio.
Ele termina de comer antes de mim e se distrai com o celular. É uma bela
visão. Tão jovem, despojado, no auge da saúde física. Ele está usando uma
calça de moletom e há uma pulseirinhas em seu pulso direito. Seus cabelos,
como sempre, estão uma bagunça louca. Ele é apenas lindo, de tirar o fôlego.
Há uma batida à porta e eu quase tenho um princípio de infarto.
— Ei, calma. Não é nada. — Ele percebe meu tremor e segura minha mão. —
Não é nada, delegata. Não deixarei que nada de ruim aconteça a você.
Engulo em seco suas palavras e apenas balanço a cabeça em concordância.
Ele se levanta e abre a porta. É Victória.
— Olá, eu vim visitá-la! — ela anuncia sorridente. — Claro, se você quiser.
— Seu bolo é fantástico — elogio de boca cheia.
— Oh, anos de prática. Faço esse bolo praticamente todos os dias. — Ela
sorri.
— Eu agradeceria se me der a receita.
— Claro! — afirma radiante. — Será que eu posso conversar com Milena a
sós, Tôr?
— Eu não gosto de ficar longe dela, mas vou abrir uma exceção porque é
você — concorda, depositando um beijo em minha testa e se vai.
Não sei se ele é mais bonito vindo ou indo. Há essa dúvida.
Victória retira sua sandália e se acomoda ao meu lado na cama. Acho seu
gesto tão "familiar", por um segundo me sinto parte da sua família.
Eu bebo um copo de suco e pego mais um pedaço do bolo. Estou um pouco
sem graça pela situação.
— Como você está se sentindo hoje? — ela questiona, demonstrando toda
sua atenção.
— Eu estou uma bagunça de dores físicas e terrores mentais. — Confesso,
porque de alguma forma ela me passa segurança.
— Eu vivi isso.
— O quê? Violência doméstica? — pergunto chocada.

— Não. Matheus é o melhor homem que eu poderia ter conhecido — explica.


— Eu fui estuprada aos 14 anos e isso impactou minha vida inteira — revela,
ganhando toda a minha atenção. Eu jamais desconfiaria disso... — Não
apenas por um homem. Eu vivi três anos sucumbindo a todos os desejos e
ordens deles. Porque um deles ameaçava matar meus familiares e o outro, por
mais bizarro que seja, era vítima também. Era sucumbir ou perder tudo. Eu
conheci Matheus e tivemos um relacionamento intenso aos dezessete anos,
mas não podia assumi-lo, pela própria segurança dele... Inesperadamente,
engravidei de Isis e minha única opção era fugir para proteger a todos,
especialmente à minha filha. Fugi para Itália, com a desculpa de estudar fora.
Matheus nunca soube de Isis até o dia em que voltou de Nova York. A
escondi de todos por sete anos, pela segurança deles e, principalmente, a
segurança dela. Embora esse não seja o seu caso, eu sei muito bem o que é
ser estuprada, forçada e espancada. Eu fui açoitada, queimada e chicoteada,
fui tantas coisas que jamais serei capaz de enumerá-las. A diferença entre
mim e você, Milena, é apenas a idade, eu tinha quatorze, era inocente e
virgem, só isso nos difere. Sei o que é ser agredida física e psicologicamente.
No meu caso, a dor física se tornou parte de mim e eu me acostumei a
conviver com ela. Eu entendo o que você está sentindo, mas acredite, isso
não vai durar para sempre. Assim como em mim existiu e existe, sei que em
você existe uma força interior e será essa força que a fará superar todos os
traumas. Em breve, se Deus quiser, tudo será apenas uma lembrança. Uma
lembrança fodida, porém, apenas uma lembrança...
Estou tão chocada que mal sou capaz de formular uma resposta.
— É, eu sei que é chocante. Sei que deve estar se perguntando: "essa mulher
tão forte e radiante diante de mim sofreu tudo isso?". — Ela sorri, um sorriso
triste agora. — Você pode superar. Tenha isso em sua mente.
— Como foi tudo isso?
— É uma longa história, Milena. Uma história que terminou em morte. Eu
preciso que essa conversa fique apenas entre nós duas. Heitor era criança,
Isis, Flor. De toda a família, a única pessoa que sabe dos detalhes é meu
marido. Eu nunca quis trazer toda essa confusão para a vida das pessoas.
Estou te contando por que, embora você seja uma mulher feita, eu me vejo
em você. Eu sei exatamente todas as dores, todas as dúvidas, medos e receios.
Você foi salva a tempo, Milena, eu não tive tanta sorte. Sofri as piores
atrocidades, coisas que poucas pessoas suportariam. Minha vida começou aos
24, quase 25 anos, quando voltei para o Brasil. Antes disso, eu apenas existi.
Milena, eu sei — diz, olhando-me fixamente. — Apenas aceite.
— O quê?
— Aceite que Heitor te dê a mão. Por experiência própria, você precisa disso
agora. E isso independe do estado civil de vocês dois. — Ela parece enxergar
o meu interior, isso é assustador.
— Eu sinto que estou o arrastando...
— Sozinha você não sairá dessa — aconselha. — Os traumas de agressões
vêm com o tempo, Milena. Agarre toda e qualquer ajuda que puder, queira
isso. Queira ser ajudada, queira superar. Há Heitor, Vincenzo, toda a nossa
família está aqui por você. Você não está sozinha, meu amor. — Eu não
consigo conter o choro, então ela me abraça, com todo o carinho e cuidado do
mundo. — Dói, Milena, eu sei tão bem. Inclusive eu queria ter o poder de
aliviar sua dor, mas não tenho. Apenas posso ajudá-la, guiando-a ao que é
necessário. Confie em mim, princesa, eu tenho experiência de sobra e só fui
capaz de superar quando Matheus me deu sua mão, quando Ricardo me deu
sua mão, quando toda minha família me deu a mão. Sinta-se parte da nossa
família. Acredite, eu também sei o que é olhar para o lado e não ter ninguém.
Foram sete anos evitando o contato familiar, tudo pela segurança deles.
— Eu tenho medo de que Heitor se machuque...
— Ele é um Albuquerque Brandão — ela diz, orgulhosa. — Você sabe o que
significa isso?
— Não.
— Significa que ele é forte, benevolente, voraz, focado. Significa que ele é
bom o bastante para comprar a briga dos outros, para fazer justiça, para
ajudar. Significa tantas coisas maravilhosas, mas não vou enumerar todas
elas, você irá descobrir por si só. — Ela sorri mexendo em meus cabelos. —
Você é forte. Basta tentar encontrar sua força interior. Todos nós somos
fortes, todos possuímos força dentro de nós, Milena. Pense no futuro que
você deseja para si mesma e encontre a força para lutar pelos seus ideais. —
Eu volto a me sentar e recomponho minha postura. Ela é mulher, ela sofreu
abuso, certamente entenderá meu próximo receio. Deus, eu estou feliz por
estar falando com ela.
— Eu quero ficar com ele, mas não sei... não sei se consigo... você sabe...
— Eu sei — ela compreende de pronto. — Não pense nisso agora. Tirei esses
pensamentos da mente. É difícil pensar em sexo quando sofreu esse tipo de
violência. Milena, quando você menos perceber estará entregue novamente.
Vai acontecer de um jeito que você só se dará conta no final, quando o ato
tiver acabado e você estiver envolvida na névoa do prazer. Heitor saberá
conduzir isso, sabe por quê?
— Não.
— Porque é ele é um Albuquerque Brandão — diz novamente e até eu sorrio.
— Ser um Albuquerque Brandão, também significa ser paciente. Não se
preocupe com isso, posso praticamente afirmar que esse é o último dos
pensamentos de Heitor neste momento.
— Com você foi assim?
— Sim, um pouco mais violento. — Ela ri. — Matheus e eu tínhamos 17
anos. Estávamos no shopping e ele me deu o primeiro beijo. Aquele beijo foi
como tacar fogo na gasolina. Eu o ataquei de todas as maneiras possíveis.
Mas depois, aos 25 anos, foi ele quem tomou as rédeas. Eu tinha o receio da
entrega, o receio de ser ferida emocionalmente, mas ele foi fantástico, sexual
e emocionalmente.
— Heitor é jovem...
— Você também é — afirma. — Bom, nós agora temos um segredo. Eu
estarei disponível para você enquanto eu estiver aqui. E, quando eu não
estiver, nós podemos nos falar por videochamada a qualquer momento. Eu
quero ser sua amiga, Milena, eu sinto que você veio como uma missão e
estou disposta a ajudá-la a superar o que quer que seja.
— Eu não tenho palavras suficientes para agradecê-la, Victória.
— Seja forte. Seja resiliente, meu amor. Você vai superar e eu faço questão
de participar da sua superação.
Nós ficamos conversando por mais de duas horas, então Heitor surge
carregado de sacolas.
— Bom, vou deixá-los — anuncia Vic, dando-me um último abraço e se vai.
— O que é tudo isso?
— Roupas. Nós dois estávamos sem roupas, o segurança informou que havia
lojas aqui perto e me levou.
— Você está falando em lojas de grifes absurdamente caras! — repreendo. —
Estamos em Beverly Hills!
— Não é grande coisa — justifica, dando de ombro e despeja todo o
conteúdo sobre a cama, após retirar a bandeja de café da manhã. Ele
realmente foi às compras. Há tantas roupas que estou embasbacada. — Eu ia
nadar com Isis, mas ela saiu com o Bruce e então eu lembrei de roupas...
— Você exagerou aqui... — Suspiro e ele despeja uma última sacola, de
lingeries. Não creio que Heitor comprou lingeries para mim.
— Bom... — diz sem graça. — Eu comprei de acordo com as que já te vi
usando. Espero que esteja do seu gosto. Eu fui cuidadoso na escolha. Não que
eu esteja mal-intencionado, compreendo o momento delicado que estamos
passando, que você está passando. Apenas achei bonito e que...
— Eu entendi, Heitor. Elas são lindas, é perceptível que foram escolhidas
cuidadosamente a dedo. Eu amei, tem um excelente gosto. Amei mesmo. Só
não precisava ter gastado comigo. Há muitas roupas aqui. Há muito dinheiro
nessas calcinhas... — digo ao ver as marcas Agent Provocateur e Victória
Secret.
— Não são tantas assim, as minhas também estão nesse bolo. Eu comprei
tudo pelo meu gosto, não sei se você irá gostar das roupas e nem se acertei
em seu tamanho. Simplesmente olhava para a peça e tentava te enxergar
dentro dela. — Jesus, ele é apaixonante.
— Obrigada, Heitor, a perfeição está longe de descrevê-lo. Obrigada por tudo
— digo forçando-me a levantar, mas todo meu corpo grita pela dor. Eu não
posso ficar de pé para abraçá-lo, isso é uma merda!
— Fique aí. Vou guardá-las e então farei uma massagem relaxante.
— Eu não quero parecer abusada, mas uma massagem é muito mais do que
bem-vinda. Meus ombros estão extremamente doloridos — confesso e
começo ajudá-lo a dobrar as roupas, sentada mesmo.
Meia hora depois, estou deitada de bruços recebendo uma massagem que faz
meu corpo todo relaxar. Heitor tanto massageia quanto distribui beijos
carinhosos pelas minhas costas, em cada um dos hematomas.
— A cada vez que olho seus ombros eu sinto vontade de matá-lo. A cada vez
que olho para suas costelas eu sinto vontade de matá-lo — ele diz e sinto a
dor em sua voz. Não respondo. Fecho meus olhos e me concentro no poder
que suas mãos possuem, na mágica que ele está fazendo em meu corpo. —
Você vai se casar comigo, delegada, pode apostar!
É a última coisa que ouço antes de me render ao sono.
Heitor, com toda sua doçura, com todo seu carinho, conseguiu ser mais eficaz
do que todos os remédios que tomei.
Ele disse que me casarei com ele. É com isso que sonho, isso sim pode ser
chamado de sonho!
CAPÍTULO 12

Viajar de carro com Melissa é coisa de louco. Essa mulher incrível ao meu
lado precisa ser estudada pela NASA com urgência. Nem se eu mandasse
fazê-la, sairia alguém tão...tão... errada. Ela é doida pra caralho e não para de
falar. E eu, ao invés de ficar puto, só consigo rir. Sinceramente, nem consigo
explicar essa minha paciência. É coisa de outro mundo. Pelo tanto que ela
está falando já era para eu ter perdido o controle da direção e caído em algum
penhasco. Mas, misteriosamente, sigo firme e forte, quase inabalável.
— Você sabe se seu pênis foi circuncidado? — ela questiona, dessa vez eu
quase perco o controle o mesmo.
— Como? — questiono tentando entendê-la.
— É, se tipo o médico teve que dar aquele corte, tipo microcirurgia.
— Oh, Mel, eu realmente não sei — respondo rindo. — Nunca perguntei isso
à minha mãe.
— Vou mandar uma mensagem para ela e perguntar — anuncia pegando o
telefone e eu o tomo das mãos delas.
— Não, nada disso, mocinha maluquinha. O que isso vai mudar na sua vida?
— Nada, só curiosidade — responde sorrindo.
— O meu pênis não é legal? É feio? — questiono, entrando em sua loucura.
— Oh, ele está longe de ser feio! — Suspira. — Seu pênis tinha que ganhar o
título de uma das maravilhas do mundo. É lindo, rosadinho e cheio de veias
saltadas. É grande, grosso, pesado e bonito. Dá vontade de ficar abraçada
com ele o dia todo e fazer cafuné.
— É...
— É verdade. Eu amo seu pênis. Amo mesmo. Pirocomon! Ficaria com ele o
dia inteiro.
— Pirocomon não! Já falamos sobre isso, garota maluquinha — repreendo.
— Você vai amar Florença — comenta, mudando cem por cento o assunto,
mas agora já estou mais esperto e ligado a essas mudanças repentinas.
— Nós vamos poder ser um casal livre em Florença? — questiono e ela
suspira.
— Não.
— Ser marido de uma celebridade não estava nos meus planos, sabia? —
digo fingindo seriedade.
— Merda, eu sinto muito...
— Eu estou brincando, grutinha. Não estava nos meus planos realmente, mas
estou bem com isso, de verdade. — Sorrio e ela suspira contente.
— Eu amo seu pau.
— Mel, foco!
— Ok. Enfim, há algumas coisas que podemos fazer. Tipo, podemos usar um
disfarce e curtir a vida adoidado em Florença — sugere.
— Um disfarce?
— É, tipo, eu posso comprar uma peruca e tal, e posso fazer um penteado em
seus cabelos.
— Compreendo. Você não vai sossegar enquanto não fizer esse bendito
penteado em meus cabelos, não é mesmo, Melissa? — Ela ri.
— Você prometeu que deixaria.
— Eu deixo, grutinha, se isso vai te fazer feliz. — Sorrio.
— Eu não mereço você. Olhe para você e olhe para mim, sou toda errada.
— Novamente isso?
— Mas é verdade. Você é absurda e exageradamente lindo, além de todas as
qualidades que possui. Eu sou apenas uma mulher normal e possuo uns três
parafusos a menos na cabeça.
— Você é a coisinha mais linda e doidinha. Você me tira completamente fora
da zona de conforto. Nada que eu tenha feito na vida se compara ao que
estamos fazendo, Mel. É a curva fora da estrada totalmente — explico. —
Estou feliz por ter você, só não esperava um ex-namorado. Não sei lidar com
isso. Não gosto dessa merda, não gosto de Ignázio e não quero que ele se
aproxime de você mais. Sinto que perderei o controle se ele fizer.
— É ciumento?
— Acho que sim. Isso é novo para mim — confesso.
— Não possuía ciúme da finada puta? Digo, da sua falecida noiva?
— Finada puta? — Dou uma gargalhada. — Não, eu não tinha ciúme dela.
Como começamos a namorar cedo, tive a ilusão de que seríamos para
sempre, eu confiava no que existia entre nós e todos os garotos da escola, da
faculdade sabiam que ela era minha namorada e então minha noiva. Eles
respeitavam, mas acho que ela deixou de respeitar no final da relação. Ou
talvez eu tenha sido enganado uma vida toda, mas não tem como saber disso.
Se não fosse pela mãe dela, eu nunca teria ficado sabendo da traição. Ou
talvez ficaria sabendo no futuro...
— Você se sente magoado, não é mesmo?
— Sim. Não vou mentir. Não me lembro dela, mas quando o assunto vem em
pauta há mágoa. Eu gostaria que ela tivesse viva só para poder obter
respostas do motivo pelo qual ela tudo aquilo. O fato de ela ter morrido e não
ter obtido respostas meio que me fodeu. Desde que estamos juntos não tenho
pensado nisso, mas no início, eu ficava questionando o motivo vinte e quatro
horas por dia. Não sei se isso acontece com todas as pessoas que são traídas,
mas me questionei muito onde havia errado, o que tinha deixado de fazer, se
eu era bom sexualmente, sabe? Todos os tipos mais loucos de
questionamentos. Porque, na minha cabeça, para uma pessoa trair é pela falta
de algo. Há algo que não está saciado e você precisa ir buscar em outro lugar.
— Há desvio de caráter também, é isso que eu acredito que tenha sido seu
caso, porque você fode como ninguém, é divertido e bem-disposto. Eu tive
outros parceiros sexuais, mas nenhum deles fez comigo o que você faz.
Arthur, você nasceu para dar prazer sexual a uma mulher e não apenas isso.
Você beira a perfeição, possui um caráter ímpar, é por isso que às vezes acho
que você é muito para mim.
— Eu não gosto que pense tão baixo sobre si mesma — repreendo.
— Entendo. Mas de mim você tem ciúme? — Olha ela voltando ao início...
— Sim. Há um homem que deixou declarado que quer você, obviamente eu
estou com ciúme, porque você é minha mulher. — Ela suspira dando um
sorrisinho e se cala por alguns poucos minutos.
— Você já fez sexo na estrada?
— Oi? — Eu estou muito doido por esse jeitinho dela. É incrível. Desde
quando gosto de pessoas loucas? Ah, claro, desde quando sou filho de
Mariana Albuquerque. É isso. Está devidamente explicado.
— É... sexo na estrada.
— Nunca fiz sexo na estrada, Melissa.
— Legal — diz com naturalidade e olha pela janela. Eu devo me preocupar?
— Você quer fazer sexo na estrada? — pergunto, curioso.
— Tipo, nós estamos de bobeira, sem fazer nada.
— Eu estou dirigindo e você falando como uma maritaca. — Rio. — Todo
sexo que tivemos a noite toda não foi o bastante? — provoco.
— Eu não sei, mas você ativa minha sexualidade, compreende?
— O que é fazer sexo na estrada para você? Preciso saber, porque vai que
isso significa descermos do carro, eu te colocar sobre o capô do carro e
mandar ver.
— Uau, mandar ver — diz rindo. — É tipo você parar em algum lugar e
fazermos sexo.
— Então é fazer sexo no carro parado em uma estrada?
— É exatamente isso.
— Ah, sim, compreendi. — Sorrio fingindo ignorar sua sugestão sexual,
então ela se torna ainda mais engraçada. Eu diria que há centenas de formigas
picando sua bunda tamanho é a sua inquietude. — Está tudo bem, grutinha?
— Sim. Tudo bem, realmente. Seus músculos ficam em evidência quando
dirige. Tanto os braços quanto as coxas.
— Você acha? — questiono, atento à estrada em busca de algum tipo de
desvio. O carro é coberto no insulfilme como foi solicitado, mas há o vidro
da frente e não estou disposto a correr o risco de sermos pegos. Se ela quer
foder no carro, eu estou dando isso a ela.
— Sim.
— Mel, você faria um favor para mim? — peço, sério, e ela se disponibiliza
de pronto.
— Claro. Você quer que eu dirija?
— Não. Eu quero que você tire sua calcinha, por gentileza. — Ela dá um
sorriso preguiçoso e se desfaz do cinto de segurança. Eu luto para focar na
estrada quando ela levanta seu vestido e enrosca os dedos na calcinha
minúscula.
Essa mulher e suas calcinhas que me deixam louco.
Ela desliza a peça em suas pernas e me entrega. Inspiro seu cheiro delicioso e
a guardo no bolso de minha bermuda em seguida. Enquanto isso, Mel fica
aguardando meus comandos como uma garota obediente e isso me deixa duro
como uma rocha.
— Sua boceta cheira a morango.
— Sabonete íntimo — explica e eu sorrio. Amo o cuidado que ela tem
consigo mesma. Aliás, isso é algo a se falar.
Melissa é extremamente vaidosa com seu corpo. Está sempre hidratada,
cheirosa, dos pés à cabeça. Ela gosta de vestir lingeries sensuais mesmo que
não vá fazer porra alguma. Seu corpo é completamente depilado, macio e
delicioso. Fora outras questões, como, por exemplo: ser sensível ao meu
toque. Isso me deixa desesperado.
— Você sabe que vai engravidar, não sabe?
— O quê? — ela grita.
— Não usamos proteção e eu duvido muito que exista um anticoncepcional
capaz de proteger todo o sexo que estamos tendo.
— E você fala isso assim, do nada, com essa calma? — pergunta,
desesperada, e eu rio.
— Estou aprendendo com a melhor. — Pisco um olho. — Se acontecer
ficarei bem, mesmo querendo aproveitar um pouco mais de você e deixar
filhos para o futuro.
— Eu não posso ser mãe... ao menos não agora. Sou completamente louca!
— Isso é verdade, mas ela só foca na loucura. Ela ignora o fato de ser
extremamente doce, carinhosa e amorosa. Mel seria uma mãe fantástica,
tenho certeza.
— Não é uma exigência. É apenas algo que pode acontecer.
— Nada disso. Seu esperma não pode ser tão potente a ponto de ultrapassar a
eficácia de um método contraceptivo! — diz, apavorada.
— Você sabe da teoria dos 70%?
— O quê?
— Meus pais dizem que o segredo de um relacionamento feliz é, não apenas
o amor e a cumplicidade, mas também significa ter 70% de sexo na relação.
Essa foi a educação sexual que eu e meus irmãos recebemos. — Sorrio
lembrando desse absurdo, mas vai ver que eles estão certos. Estão juntos há
mais de quarenta anos, parecem jovens e cheios de vitalidade. Com certeza
isso faz sentido. Meu antigo relacionamento não tinha 30% e fracassou, é o
momento de inverter o jogo e foder sem limites. — É bom que esteja
preparada, Melissa, 70% do nosso relacionamento vai ser fodendo.
— Meu Deus! O que fizeram com meu Tutuzinho? — Quem vê essa carinha
de puritana não sabe as coisas absurdas que grita durante o sexo.
— Está achando ruim, Melissa Fontana? Há algum protesto a ser feito? Fale
agora ou cale-se para sempre, submetendo-se assim às minhas vontades
sexuais — provoco.
— Nenhum protesto, senhor! — Eu sorrio.
Nós ficamos uns dois minutos em silêncio até mudar o rumo da situação...
— Abra as pernas para mim, Melissa — ordeno, recebendo uma encarada
perplexa.
— Eu amo como você muda de doce para rude quando o assunto é de cunho
sexual.
— Então faça o que ordenei. — Ela faz e fica esperando pelo meu toque.
Porém, eu tenho outros planos. — Excelente, Melissa. Agora leve seu
indicador e dedo médio em seus clitóris e faça movimentos circulares lentos,
sem pressionar muito forte.
— Você quer que eu me masturbe? — pergunta, chocada.
— Há algum problema em relação a isso? Não gosta de conhecer seu próprio
corpo? De pressionar seu clitóris pequeno e inchado?
— Você se toca com frequência? — Sua pergunta me deixa intrigado comigo
mesmo. Eu não me toco. Fiquei pouco mais de oito meses sem sexo, sem me
tocar, sem qualquer porra. Então estou envolvido com Mel e realmente temos
transado significativamente, a ponto de eu não precisar recorrer a um cinco
contra um.
— Não. Mas posso começar.
— Oh, meu Deus, você é meu sonho erótico de puta real e oficial! Você pode
fazer isso até o fim quando chegarmos ao hotel? — pede, empolgada.
— O quê? Me tocar?
— Sim, por favor. Eu quero ver você se dando prazer. Deve ser incrível.
Você é extremamente quente e gostoso. Sou capaz de imaginar... — diz,
ofegante.
— Você é meu sonho erótico de macho, Melissa, farei isso. Agora pare de
falar e faça. Eu quero você bem molhada, contraindo de necessidade de me
ter.
— Meter.
— Dá no mesmo — digo sorrindo. Ela toca e solta um gemido baixo que faz
meu pau pulsar. — Pense que são meus dedos aí. Se toque como gostaria que
eu a tocasse.
— Eu gostaria que fosse...
— Mas eu estou dirigindo, em breve eles estarão aí. Continue circulando, em
seguida passeie com eles até sua entradinha, mas não a invada. Quando tiver
para entrar, esfregue os dedos subindo e volte aos movimentos circulares.
— Meu Deus, isso é quente.
— Quente vai ficar assim que eu conseguir um lugar seguro para pararmos.
Sua respiração aos poucos via se tornando urgente, então encontro a porra do
local ideal para pararmos. Entro numa estradinha repleta de mato e árvores,
por fim estaciono.
— Que tal substituirmos seus dedos pelo meu pau? — proponho,
observando-a conter os movimentos e ela se torna uma felina desesperada,
jogando-se em cima de mim. Afasto o banco apenas para conseguir sair do
carro com ela em meus braços, então caminho até o banco traseiro. Antes
mesmo de bater a porta atrás de nós já estou sem camisa.
Melissa está selvagem e eu insano. Sem dúvidas, perderemos um longo
tempo nessa brincadeira.

Virgem da grutinha perdida, dai-me forças!


Eu me sinto tão pecadora que jamais conseguirei descrever. Estou vivendo
meu luto a base de sexo. Ao mesmo tempo em que estou certa sobre isso,
questiono se houve realmente um luto. Então chego à conclusão de que não
houve realmente. Simplesmente compreendi, após muita conversa e muito
sexo, que não tenho que me martirizar por não sentir tanto a perda. A falta de
convivência e a falta de afeto provocada pelos meus pais fizeram com que eu
me tornasse fria em relação a eles. Não vou mais julgar a mim mesma por
não morrer de chorar ou morrer de dor. Não há nada a ser feito e, mesmo que
eu me esforce, qualquer emoção seria falsidade da minha parte.
É inadmissível que, após tudo que eles fizeram comigo por longos anos, eles
ainda consigam fazer com que eu me torne falsa. Por isso resolvi me blindar
da maior de todas as minhas características: a autenticidade.
Vamos ser verdadeiros, vamos encarar a verdade dos fatos sem ficar
questionando e colocando em dúvida o próprio caráter. Eu sofri desde
pequena, há alguns traumas que jamais serão superados. Felizmente, por
enquanto, Arthur só viu um deles: o medo de chuvas torrenciais, tempestades
e raios. Mas há outros, quero escondê-los o quanto puder.
Quando se passa por determinadas situações desde a infância, você tende a
mascarar alguns fatores sobre si mesma. No meu caso, eu me coloco no
mundo como uma mulher forte, empoderada, incontrolável e insana. É dessa
maneira que venço todas as adversidades e problemas que surgem. Mas há
muita fragilidade disfarçada de força, não tenho motivos para mentir para
mim mesma. Não que eu seja uma mulher fraca, mas não sou a fortaleza
ambulante. No entanto, de alguma forma, sinto que Arthur já percebeu esse
meu pequeno segredo em poucos dias. Ele é bom em analisar e isso é
desconcertante.
Por falar em Arthur...
Como descrever o que é estar num espaço pequeno e apertado com um
homão desse? Se você está pensando que é ruim, desconfortável e abafado,
você está completamente errada.
É magnífico senti-lo tão perto, tão grudado e sem muito espaço para
locomoção. Eu sou alta, mas ele é muito mais, ainda tem o agravante de ele
ser devidamente forte. Eu sinto que irei quebrar ao meio, mas sei que não é
exatamente isso que acontecerá em alguns segundos. Não serei quebrada ao
meio, serei uma confusão de sensações e resumida ao pó, quando
terminarmos a brincadeira, porque desde ontem nós pegamos um novo ritmo
sexual, um que é bastante caótico e insano. Não sei se é pela vontade de me
marcar como sua ou o real motivo por trás de toda essa voracidade, mas ele
está incansável, numa potência absurdamente alta. E estou adorando cada
segundo, mesmo que no final sempre caia exausta e desmaie. Estou dando
meu melhor para acompanhar o ritmo.
Neste momento, encontro-me deitada sobre o banco e ele está abrindo sua
bermuda para libertar o Arthur Jr. de sua cueca. Eu sei, é brochante apelidar
seu membro de pirocomon, Arthur Jr., entre outros. Mas é que parece outra
pessoa que tem vida própria.
Eu rio dos meus pensamentos loucos, por isso ganho uma encarada sinistra.
— Do que você está rindo?
— Minha mente é altamente fértil... — explico e sua boca vem em até a
minha. Quando penso que estou indo ganhar um dos beijos destruidores,
Arthur apenas fica imóvel olhando fixamente em meus olhos.
Ele vê o momento exato em que eles se fecham, quando sinto seu membro
passear em minha intimidade. Arqueio meu corpo e nossos lábios se tocam,
mas apenas se tocam, então agarro seu quadril e tento puxá-lo para mim.
— Sempre ansiosa.
— Sempre — confirmo suas palavras, ele me tortura usando seus dedos.
Então, num ímpeto, seus dedos são ligeiramente substituídos pelo seu incrível
pau e tenho meu grito silenciado por sua boca.
— Você é perfeita. — Ele ofega em meus lábios. — Sempre está úmida e
molhadinha para me receber.
— Você me deixa assim...
— Eu amo seus beijos, amo estar dentro de você, amo observar seu corpo se
perdendo junto ao meu.
— O que mais você ama? — pergunto, contendo meu desespero e deixando
meu corpo entregue aos comandos dele. É tão bom ceder o controle, relaxar e
permitir ser consumida.
— Eu amo beijar sua boceta, foder ela com a minha boca.
— Hummmm... eu amo isso também. — Ofego, ao passo que ele desliza seu
polegar em meu clitóris. Instantaneamente meu corpo se retesa. É incrível
sentir o sangue bombeando mais forte dentro de mim, a adrenalina surgindo
com voracidade, o frio na barriga. Tesão, na minha humilde opinião, é uma
das sensações mais fortes, avassaladoras e incontroláveis que o corpo
humano é capaz de sentir. É uma explosão de prazer interna e externamente.
O corpo grita por dentro e por fora. A mente se perde, então surgem as
sensações de saciedade e plenitude. Eu tirei a sorte grande, porque Arthur,
além de todas as qualidades que admiro num ser humano, é o melhor homem
com que eu já tive o prazer de transar. Com ele não é apenas sexo, não é
foder. E algo que não tem uma descrição correta. Eu viro uma marionete em
suas mãos com muita facilidade e sem ao menos querer protestar pelo
controle.
— Eu quero amarrar você, Melissa.
— Você quer o quê? — questiono, impactada.
— Amarrar você, amordaçar e algemar.
— Uau! — É tudo que eu consigo dizer. — Tem tendências ao BDSM,
querido? — provoco, ele não responde, simplesmente para o ato, afasta-se o
tanto que consegue e ordena que eu fique de quatro.
Num ato de contorcionismo, atendo sua solicitação. Quando ele posiciona em
minha entrada e penetra, o impacto faz meu corpo cair para frente.
— Puta merda! — exclamo, em seguida ganho um tapa na bunda estalado e
uma puxada de cabelo sinistra. Que Deus perdoe os pensamentos que tenho
agora...
— Eu nunca senti tanto tesão em toda minha vida — sussurra com a voz
rouca e eu juro, quase tenho um orgasmo só por ouvi-lo.
— Esse tapa está ardendo — digo entre gemidos, empinando mais minha
bunda e ele dá um tapa do outro lado. — Oh, meu Deus, Arthur!
— Você gosta, Melissa. — Sim, é uma verdade. Eu amo esses tapas. Eles têm
o poder de libertar a devassa em mim. Mas realmente está ardendo. Deus me
livre, mas quem me dera mais um desses!
Levanto-me um pouco e grudo minhas costas em seu peitoral. Sua boca
devora meu pescoço ao mesmo tempo em que sua mão deixa meus cabelos
para se juntar a outra em meus seios.
Ele invade meu vestido e, em perfeita sincronia, prende meus mamilos em
seus dedos enquanto os aperta. E aí vem mais uma dor, uma das que estão
enquadradas na lista de dores deliciosas da vida.
A posição fica ruim e ele me segura pela cintura, enquanto se senta sem
desgrudar nossos corpos. Agora o controle parece meu e eu o monto
invertida. Eu permito que a devassa que ele atiçou tome o controle da
situação e viro a verdadeira amazona. Meu homem ruge como um selvagem,
puxa meus cabelos, aperta meus seios, morde meu pescoço, aperta minha
cintura e enlouquece, perdendo-se em mim por completo. É indescritível a
sensação de poder que surge em meu âmago ao vê-lo derrotado sexualmente
por mim. Sim, ele é uma máquina de fazer sexo, mas eu posso controlá-lo em
alguns poucos momentos. Ele goza antes de mim e sorrio vitoriosa, só
quando o sinto me encher plenamente permito a libertação que meu corpo
tanto buscava. Então, jogo minha cabeça para trás e descanso no vão de seu
pescoço, enquanto minha mente duela entre estar voltando do céu ou do
inferno. A dúvida vem pelo fogo que se alastra em meu interior. Se há fogo
no céu, então posso dizer que é dele que estou voltando...
— Você me fodeu, Melissa. — Tutuzinho ofega me abraçando, no auge da
respiração desregulada.
— Você me fodeu mais — confesso sorrindo preguiçosamente. — Obrigada
por estar comigo, por estar me dando tudo que nunca tive.
— Eu estou te dando apenas pau, por enquanto, Melzinha. Isso é realmente
algo triste.
— Não é, você sabe disso. Não é triste o pau e nem é só isso que você está
me dando. Eu nunca saberei descrever e muito menos agradecer o bastante.
— Quando foi que me tornei emotiva? Ah, claro, quando me apaixonei
perdidamente por esse homem.
— Mel é você quem está me dando alguma coisa nessa história. Eu estava
fodido pra caralho antes de te conhecer. Você foi a primeira pessoa que me
fez sorrir em oito meses, Melissa. Por causa desse jeitinho maluquinho, nós
estamos aqui, recém-saídos de mais uma foda louca.
— Nós somos casados. — Sorrio. — Somos muito loucos, não somos?
Sabemos tão pouco um do outro e estamos casados. Você se arrepende?
— Não. Você se arrepende?
— Não. Mas é engraçado, estamos nos conhecendo já casados. Pulamos
todas as etapas. E o pior é que o falecimento do meu pai virou uma lua de
mel. Sei que soa mórbido, contudo, por causa desse acontecimento você
viajou até a Itália e por causa da loucura da minha família, estamos indo fazer
uma incrível viagem por Florença. É como uma lua de mel.
— Não é uma lua de mel. Nossa lua de mel será na Ilha, lá no Brasil. Nós
voltaremos a Los Angeles por uns dias, preciso organizar algumas questões e
depois viajaremos por pelo menos dez dias para o Rio. Lá seremos apenas eu
e você, Mel. Nenhum barulho de carro, nenhum vizinho, nenhum paparazzi,
nada além de nós dois. Isolados da civilização.
— Humm... seremos um casal primitivo? Incivilizado?
— Bem rústico. — Ele ri e beija meu pescoço.
— Ainda bem que você sabe cozinhar então!
— Te mostrarei todos os meus dotes, Melzinha. Sou o melhor marido da
porra toda!
Ficamos em silêncio, apreciando o pós-sexo. A paz reina até o momento em
que ouvimos uma batida no vidro.
Eu espero que esse vidro realmente incapacite as pessoas de verem do lado de
fora do veículo, porque do lado de fora há dois policiais.
— Puta que pariu! — Nós dizemos juntos!
CAPÍTULO 13

Acabo de descobrir uma nova sensação.


A sensação de fazer uma declaração de amor e não obter qualquer resposta.
Consigo relembrar perfeitamente de todos os garotos que deixei no vácuo,
enquanto faziam promessas de amor eterno a mim. Agora entendo o quão
fodido eles se sentiam.
O sexo é uma troca tão íntima que invoca toda vulnerabilidade dentro de
mim. Eu me entrego tanto a Joseph, que perco o controle completo sobre
mim, principalmente sobre meu corpo e meu emocional. Ele me deu mais um
orgasmo incrível e isso ajudou que eu abrisse todas as barragens e declarasse
minha paixonite absurda.
Mas que porra! Estou me sentindo tão diminuída neste momento. Sentindo a
adolescente que ele tanto falava.
Isso ativa minha impulsividade e eu salto da cama instantaneamente. Foda-se
se ele estava dentro de mim, rijo por completo e cheio de vida.
Eu caminho direto para o banheiro e tranco a porta atrás de mim. Abro a
ducha e Joseph começa a bater à porta.
— Por que você trancou a porta, Maria Flor? O que há de errado? — ele
pergunta.
— Eu preciso de um tempo para mim.
— Não! Abra essa porta agora! Nós estávamos transando e você
simplesmente salta da cama, desaparece dentro do banheiro. Diga o que está
havendo para que possamos resolver — pede, por enquanto calmo.
— Eu quero ficar sozinha um pouco. Isso é tudo, Joseph Vincenzo!
— Caralho, mulher é um bicho de outro planeta! — protesta. — Vamos lá,
Flower, abra a porta e vamos conversar. É sobre o que você disse?
— Retire o que eu disse!
— Flor, você fica puta quando eu falo isso, mas, neste momento, você está
agindo como uma adolescente mimada. Abra a porta e converse comigo,
como uma mulher feita.
Não respondo e ele se dá por vencido.
Rápido pra caralho!
Minha história é um pouco parecida com a da minha avó, isso me faz sorrir.
Há algumas diferenças.
Primeiro ponto: Ela cobiçou meu avô por mais de um ano, ele era casado e
inacessível. Eu cobicei Joseph por longos meses, ele era solteiro, mas
completamente inacessível.
Segundo ponto: Assim que meu avô ficou solteiro, foi em busca dela e ela se
apaixonou logo de cara, na velocidade de um cometa. Quando eu provoquei
Joseph e ele cedeu, eu me apaixonei de cara, na velocidade de um comenta.
Terceiro ponto: Meu avô é mais velho que ela. Vincenzo é mais velho que
eu.
Agora vem as diferenças: Meu avô estava tão apaixonado quanto ela e
deixava isso declarado.
Minha avó era experiente em diversos aspectos que eu não sou.
Ela já era dona de si, adulta, madura e independente. Já tinha tido decepções
amorosas. Eu ainda sou dependente dos meus pais, sou madura grande parte
do tempo e nunca tive qualquer desilusão amorosa, porque nunca amei.
Meu Deus! Toda a profecia de dona Mariana sobre eu me apaixonar por um
ser místico está se cumprindo.
Eu fui me apaixonar pelo todo-poderoso, dono da porra toda, pelo temido,
inalcançável, fodão, fodedor máster, alguns anos mais velho e mais
experiente, Joseph Vincenzo Tudão!
É evidente que ele está gostando de ficar comigo, mas nós estamos falando
de sentimentos mais profundos agora. Eu estou muito morrendo de amores,
do tipo que faz planos para o futuro.
Virgem santa, proteja-me dessa situação caótica, dessa confusão interna.
Quando saio do banho Joseph não está mais no quarto.
Eu faço tudo errado, sei bem disso!
Minutos depois, estou sentada em uma banqueta devorando uma torta
holandesa que a empregada fez. Olho para o lado e então, mais uma vez,
estou chocada com a cena paternal que desembola ao meu lado.
Um Joseph Vincenzo muito fofo passeia pela sala com Mathew em seus
braços, conversando e sorrindo. Ele permite que o pequeno faça dele o que
quiser, é tão lindo, dá uma vontade enorme de sorrir ao contemplá-los. Eu
olho para as demais pessoas e estão todas babando na cena. Minha avó nem
se dá ao trabalho de disfarçar, merda... até tia Vic. Até a empregada...
Foda-se! Não tem como ser diferente realmente. Olho para trás e vejo a
enfermeira que está cuidando de Mathew babando também.
Queria um bebê Joseph.
Não! Não queria!
Que porra!
O feitiço termina quando o telefone dele toca e minha tia pega Mathew, para
ele poder atender a ligação. Eu fico só de espectadora observando-o franzir a
testa e sumir do meu campo de visão.
— A senhora é muito bonita — diz a empregada.
— Não me chame de senhora. Maria Flor apenas. Muito obrigada. — Sorrio.
— Qual o seu nome?
— Katrina.
— Uau, tipo furacão — brinco. — Foi você quem fez essa torta?
— Sim, senhora.
— Eu poderia comê-la inteirinha. Está absurdamente gostosa. Sente-se aí,
vamos comer juntas. Estou na bad e está tudo brilhando de tanta limpeza.
— Não, senhora, eu já comi de qualquer maneira. Obrigada. Agora irei
preparar o jantar de Mathew. Ele janta cedo e o preparo da refeição requer
mais cuidados — explica.
— Ah, tudo bem então, Katrina. Gostei do seu nome e da sua torta. —
Levanto-me para lavar o prato e logo entramos em uma briga para ver quem
vai lavá-lo. Eu venço e ela fica completamente sem graça.
— Eu preciso ir até a empresa, nós dois temos assuntos não resolvidos. —
Vincenzo surge das profundezas e quase morro ao ouvir sua voz em meu
ouvido.
— Não temos não.
— Temos sim. Nós vamos resolver todas as diferenças em breve. Qualquer
coisa que precisar ligue em meu celular — avisa, depositando um beijo em
minha cabeça e se vai.

O restante do dia se arrasta. Eu fico com Mathew a maior parte do tempo, só


desgrudo quando a enfermeira o leva para tomar medicação. É triste que a
medicação seja tão forte a ponto de “desmontá-lo”. Chega a dar uma dorzinha
no peito.
Às 19h, vou para o quarto estudar um pouco. Às 20h30, o jantar fica pronto e
janto com tia Vic, minha avó e Isis, já que Heitor decide comer no quarto
com Milena.
Estranho a demora de Vincenzo, tanto que não consigo me concentrar em
mais nada. Após o jantar ficamos deitados na sala assistindo filmes de
comédia romântica.
Meia-noite o telefone de tia Vic toca e ela dá um sorriso.
— Bom, boa noite a todos vocês. Nós nos vemos amanhã.
— Sexo virtual é o poder! — diz minha avó rindo.
— Oh, não! Eu não quero ouvir que minha mãe está indo fazer sexo virtual!
— protesta Isis.
— Nem é nada disso — defende-se tia Vic e some pelo corredor, apressada.
— Pensando bem, vou fazer uma ligação para Tutu, então irei dormir
relaxada. Que horas são no Brasil mesmo?
— São 20h no Brasil, vó — explica Isis.
— Essa porra de fuso horário é um pau atolado no meu cu! — Tão meiga
minha avó... — Enfim, partiu! Sexo virtual é vida, aprendam isso, garotas.
Mandem nudes!
— Que merda! — digo rindo.
— Não para qualquer pessoa, bonitinha, você não vai querer ter a sua xana
estampada em todas as redes sociais. Mas para o marido e namorado é
superválido. Vocês não fazem ideia do impacto que isso causa — aconselha
rindo e se vai.
— Alguém normal por gentileza?! — diz Isis, espreguiçando-se. — Vou
nessa, Flower. Não vai dormir? Tem aula amanhã.
— Já, já eu vou. Vou esperar Vincenzo — explico. — Você já deu para o
Bruce?
— Oi? Ainda não, mas pretendo. — Ela sorri.
— Queria saber detalhes íntimos. Bruce é gostoso e fodidamente lindo.
Queria saber se ele é bom em fazer as coisas.
— Eu conto assim que fizermos. — Ela pisca um olho e se vai.
Acho que Bruce fode melhor que Lorenzo. Já imagino os filhos de Isis com
Bruce, uma mistura entre um negro e uma branca, com os olhos azuis ou
verdes, puta merda! Ela deveria investir em fazer filhos com Bruce. Sim, será
um investimento, certamente os filhos deles estamparão capas de revista pelo
mundo. Se bem que Lorenzo é muito estiloso e gato, se Isis e ele procriassem
eu já até imagino a criança... se for menino Lorenzo faria se vestir igual a ele,
é bem provável. Pensar nisso me faz rir. Isis e esse triângulo amoroso do
caralho...se bem que acho que não há um triângulo realmente, Lorenzo sumiu
e Bruce está dominando a porra toda. Homão do caralho!
Vincenzo chega duas horas da manhã e, só pela maneira que passa pelo
corredor, sei que está puto com alguma coisa. Eu fico quietinha, finjo que
nem o vi, já que ele fez o mesmo. Até pondero dormir no sofá, que é bastante
aconchegante por sinal.
Fico de boas, quietinha, até sua voz me causar um microinfarto.
— Quarto! — ordena e eu me viro para encará-lo. Por Jesus, esse homem é
uma tentação ambulante. Ele está me olhando com um olhar raivoso... bem
estilo o Joseph Vincenzo antigo. É uma pena que eu tenha detestado seu tom
de voz! É uma pena que eu odeie receber ordens!
— Não!
— Maria Flor, eu quero você no meu quarto, não me faça perder a cabeça —
ameaça.
— Nem tudo que você quer poder ter, bonitão! Você acha que está falando
com um dos seus funcionários que obedecem a todos seus comandos?
— Maria Flor, você está me testando desde cedo, eu tive um dia de merda e
quero você no meu quarto para resolvermos essa porra.
— Nós não temos nada para resolver. Eu praticamente disse que te amo e
você não disse nada, fim de papo. Não é o fim do relacionamento — digo,
fazendo aspas com o dedo. — Vamos continuar juntos, fodendo sem limites e
sem barreiras. Merda, sem barreiras não! Eu exijo preservativo!
— Claro, Maria Flor, porque você deve ser o tipo que diz as coisas esperando
obter algo em troca. — Fico de pé e o encaro perplexa. Filho da puta esse
Vincenzo. Ele está dizendo que eu me declarei esperando algo em troca. Mas
é realmente óbvio, nem que seja um “valeu”.
— O quê?
— Você disse que estava apaixonada por mim e eu não disse com palavras
que estou apaixonado por você, é por isso toda a crise existencial de sair e se
trancar no banheiro como uma criança faria! Acostume-se, Maria Flor, nem
todos dirão as coisas quando você acha que devem ser ditas. Agora vamos
terminar essa conversa no quarto.
— Eu estava muito bem antes de você chegar, ficarei aqui.
— Caralho! — esbraveja vindo para cima de mim como um selvagem e eu
salto do sofá para fugir. Consigo correr para a cozinha e o balcão fica entre
nós dois. — Isso é infantilidade, Maria Flor.
— Isso é possessividade, Joseph Vincenzo.
— Eu tive um dia de merda, não complique mais as coisas.
— O que você quer comigo no quarto? Foder? É isso? Uma foda e eu estarei
livre? — provoco rindo.
— Você acha que tudo que eu quero é te foder? — questiona, perplexo, e
suspira frustrado. — Eu quero conversar e então dormir. Eu estou cansado,
passei o dia resolvendo dezenas de problemas, esperava chegar em casa e
resolver o maior de todos os problemas: você! — informa.
— Eu sou um problema?
— Um megaproblema!
— Então seus problemas acabaram, Vincenzo, eu não faço mais parte do
pacote problemas de Joseph Vincenzo. — Ele dá um soco no balcão, que me
faz arregalar os olhos.
— Que dia você vai menstruar, Maria Flor? Isso deve ser parte de uma TPM
do caralho.
— Não é da sua maldita conta — grito de volta e, em plena forma física, ele
faz um CrossFit pulando o balcão.
— Você está me testando, eu estou chegando bem perto do limite.
— Oh, eu estou morrendo de medo. Devo fugir para as colinas, papai? —
questiono sorrindo. Deus, eu amo ver esse homem enlouquecido. Eu
realmente senti falta de todo esse mau humor.
O som da sua respiração desregulada é audível mesmo a distância. Acho que
nesse momento o certo e mais sensato seria eu apenas parar de relutar,
abaixar a cabeça e segui-lo até o quarto. Mas isso resultaria em seu
empoderamento sobre mim e isso é inadmissível. Eu tenho voz, tenho direito
de escolhas e livre arbítrio.
— Flor, é a última vez que vou pedir com educação.
— Ah, você tinha pedido com educação antes? Engraçado, pareceu mais com
uma imposição, papai! — Mais um soco no balcão...
— Não me chama de papai!
— Mais uma imposição.
— Maria Flor, eu vou repetir, tive um dia de merda do caralho...
— E eu vou repetir, Joseph Vincenzo, estou fora da jogada, não sou mais um
problema para você! — informo.
— É essa a sua decisão? Vai agir como uma criança estúpida e mimada?
— Pois é, talvez meu pai tenha me mimado muito e esquecido de me dar
umas boas palmadas durante a infância. — O homem liberta seu lado felino e
voa sobre mim, de uma maneira que quase não tenho como fugir, quase. Eu
saio correndo pela cozinha, pela sala, pelas outras quinhentas salas, até ele
me alcançar e me prender contra uma parede.
Eu luto contra a minha respiração descompassada e então estou, mais uma
vez, em seus ombros.
Eu vou batendo em suas costas até ele nos trancar dentro de seu quarto e me
colocar no chão. Então, assim que escorrego em seu peitoral delicioso, minha
mão ganha vida e eu dou um belíssimo tapa em seu rosto.
Por Deus, eu estou surtada com essa TPM! Joseph vai me matar!
— Me desculpa! — digo, enquanto vou caminhando de costas e ele vem
dando passos lentos em minha direção. — Eu juro que não era minha
intenção...
— Você acha que vai me dar um tapa na cara e, a seguir, tudo vai desembolar
como uma cena de novela, de filme, do caralho a quatro, onde o receptor
começa a chorar, tem seu ego ferido e sofre como um cãozinho machucado?
— Eu juro que não quis fazer... — Estou completamente trêmula agora,
quero chorar, mas seguro ao máximo.
— Você é uma maldita criança provocadora, Maria Flor, uma tentação do
caralho! Você me faz perder a cabeça, me testa e me deixa insano. Eu não
estou com o mínimo de paciência hoje, você está ouvindo? — questiona,
alcançando-me. Ele destrói todos os itens que estão sobre o aparador atrás de
mim, antes de me laçar pela cintura e me acomodar sobre ele.
— Você está maluco? — questiono, ainda impactada pela destruição, quando
ele rasga meu vestido brutalmente. Não tenho tempo de obter qualquer
raciocínio lógico, porque Vincenzo gruda sua boca na minha com uma
violência absurda e espanta qualquer possibilidade de pensar.
Ele afasta minha calcinha e então o sinto dentro de mim impiedosamente. Eu
sinto que acabei de perder minha virgindade neste momento. Sou obrigada a
afastar minha boca da sua para conseguir respirar, logo sua boca fica livre
para avançar em meus seios, e ele os chupa com uma ferocidade única, de
uma maneira dolorosa. Sei que, no final dessa brincadeira, eu terei meu corpo
todo marcado, mas não sou capaz de pedi-lo para conter sua fúria, porque
quero aprender tudo que esse homem tem a me ensinar e quero tomar tudo
que ele tiver para me dar.
Ele retira seu membro deixando-me vazia e desce sua boca pela minha
barriga, desliza sua língua em meu quadril e desce até minha boceta. Ele está
indo fazer algo inesperado. Sua boca entra em contato com minha intimidade
de uma maneira brusca, enquanto suas mãos se dividem em meus seios e meu
quadril.
— Eu vou morrer... — grito sentindo meu corpo se preparar para o clímax.
Isso é foder!
Nada que fizemos antes chega perto dessa aberração sexual.
Minha barriga treme, minhas pernas viram gelatinas e então, quando estou
praticamente gozando, ele se afasta e sua boca encaixa na minha. Eu soco seu
peitoral em protesto.
— O gosto da sua boceta é a coisa mais gostosa que já tive o prazer de provar
— murmura, afastando-se e me pegando em seus braços. Sou colocada sobre
a cama e virada de bruços como uma marionete. Suas duas mãos erguem meu
corpo puxando-me pelo quadril. Eu fico de quatro e, de uma só vez,
Vincenzo está em mim.
— Joseph...
— Chama o papai agora, Maria Florzinha do caralho — provoca, envolvendo
meus cabelos em sua mão e puxando com precisão. Sua mão livre estapeia
minha bunda e eu grito a cada tapa forte. — É assim que se bate, Maria Flor,
não aquele tapinha fraco que você me deu. Você gosta de apanhar. A cada
vez que te bato sinto seu aperto intensificar em meu pau. Nós estamos
aprendendo coisas novas essa madrugada, Maria Florzinha.
Urgh! Eu odeio ele me chamando assim...
— Agora você vai aprender a gozar na hora que eu mandar. Se você não
fizer, nós paramos.
— Quem você pensa que é? — grito, ele começa a foder com toda força, é
óbvio que eu vou gozar. Não há como não fazer...
— Oh, Flower, você está quase lá — diz e pelo tom sei que está sorrindo.
Maldito homem das cavernas. Onde eu fui me meter? No pau dele! — Vamos
lá, menina bonita, você vai gozar agora.
Eu luto. Não quero dar isso a ele.
Mas então sua mão solta meus cabelos, ele agora tem as duas mãos em meu
quadril. Ele guia meu corpo de uma maneira que eu desmancho em milhares
de partículas.
Eu caio de cara na cama tentando recuperar da pressão, mas o homem parece
longe de estar satisfeito. Ele apenas diminui o ritmo um pouco. Talvez apenas
o suficiente para eu não morrer.
— Olha tudo o que precisamos fazer por conta da sua estupidez, Maria Flor.
— O seu ânus, Joseph Vincenzo! — rebato, puta, e ganho um tapa na bunda.
— Tudo porque precisa de palavras.
— Enfie as palavras no seu rabo! — Ele agora desce até mim, forçando que
todo meu corpo caia deitado.
Seu peitoral gruda em minhas costas e sua boca desliza pela minha nuca indo
até minha orelha.
— Flower, eu vou dizer cinco palavras a você, mas terá que saber lidar com
elas. Eu nunca as disse antes — provoca, tomando um delicioso ritmo. Eu
não sei o que me faz gozar mais rápido, se é quando Vincenzo toma a –
recém-descoberta por mim –, velocidade máxima ou se é quando ele faz lento
e tortuosamente. É tão gostoso que sinto numa paz absoluta. — Está
escutando, Maria Flor?
— Talvez.
— É bom que escute, uma vez que eu disser você terá uma enorme
responsabilidade em suas mãos.
— Sim... está tão gostoso.
— Primeiro, me responda por que precisa de palavras? Tudo que tenho feito
é tentar dar o melhor de mim a você, Maria Flor. Isso não é o suficiente? —
questiona, sério.
— Nós estamos discutindo durante o sexo?
— É melhor do que eu simplesmente sair de cima de você e me trancar
dentro da merda do banheiro, sem dar quaisquer explicações.
— Não me irrita! Não preciso das suas palavras, apenas continue se movendo
dessa maneira e eu acho que te amo pra caralho. É tão gostoso... você é tão
gostoso, faz tudo tão deliciosamente gostoso.
— O melhor sexo que já teve em toda sua vida?
— Sim, o melhor... — Sorrio.
— Que bom, Flower, porque eu espero que seja o único.
— Sim... — gemo, quando ele desliza sua mão entrando embaixo da minha
barriga e deslizando até meu clitóris. Eu estou indo mais uma vez e esse filho
da mãe permanece no controle sobre si mesmo. Como ele consegue?
— Flor, cinco palavras — diz, mordiscando minha orelha e beijando meu
rosto.
— Não importa nada agora...
— Eu sou apaixonado por você — sussurra...
— Oh... — Ele disse e eu estou impactada o bastante.
Ele se afasta de mim, então se deita ao meu lado. Eu me viro de lado e
contemplo seus olhos. Esse homem é incrível pra caralho. Suas mãos me
puxam e seu membro está novamente em mim. Nós fazemos amor agora,
uma mudança súbita e surreal.
Nos beijamos delicadamente e ele, com os movimentos certeiros, nos conduz
ao orgasmo. Olhos nos olhos, respirações ofegantes, beijos lentos... eu e
Joseph Vincenzo finalmente estamos na mesma frequência.

Como prestar atenção na aula?


Eu estou morta de sono, sentindo dores em lugares que desconhecia e
sorrindo feito uma idiota para todos. Eu mal consigo andar, merda. Foder
significa andar de cadeira de rodas? Porque eu estou implorando por uma.
Nem mesmo saio da sala no intervalo, aproveito alguns minutos para dormir.
E estou radiante por saber que há dois seguranças lá fora me esperando para
me levar para casa. Não aguentaria dirigir por nada desse mundo.
Faltando dez minutos para a aula terminar, recebo uma mensagem de
Vincenzo. Ele está apenas mandando aqueles olhinhos do WhatsApp. Isso me
faz rir. Vincenzo Tudão também manda emoticons, isso é incrível.
Eu respondo com os mesmos olhinhos e então ele manda um macaquinho
com os olhos tampados e um coração. Isso me deixa mais risonha ainda.
O professor nos libera, eu arrumo minhas coisas e me arrasto pelo corredor
da escola.
— Flor? — É a voz de um amigo meu, Adam, o amigo da resenha. Isso me
faz fechar os olhos e respirar fundo.
— Oi, Adam. — Sorrio virando-me para ele.
— Está passando mal?
— Indisposta. Não dormir muito bem. — Na verdade, eu dormi pouco, mas
maravilhosamente bem. Ninguém precisa saber disso.
— Deixa que eu te levo em casa — anuncia, pegando a mochila das minhas
mãos e sai andando.
— Não, Adam, devolva minha mochila, merda — esbravejo, saindo do
campus atrás dele. É então que vejo meu namorado, encostado em um carro
da Vincenzo, me esperando.
Meu sangue gela ao ver o olhar que ele lança para Adam, meu coração quase
para de bater por alguns segundos, quando ele move seus pés vindo em
minha direção.
Eu estou fodida e dessa vez não é nada sexual.
Eu nem mesmo consigo correr dessa vez.
CAPÍTULO 14

Caminhar para casa é um pouco difícil, especialmente quando passo por


vários seguranças. Há coisas que simplesmente têm a capacidade de mexer
comigo muito mais do que eu gostaria ou esperava. Desde ontem não tem
sido fácil, embora tenha tido um tempo bom e divertido com Bruce,
prazeroso também, não poderia me esquecer. Bruce entre quatro paredes é
tudo que uma mulher pode sonhar, supriu e foi além de todas as minhas
expectativas. Valeu a espera.
Bruce tem sido a parte boa da minha vida, não há como negar o bem que ele
tem me feito voluntária e involuntariamente. Mas me sinto uma traidora por
estar sentindo uma pitada de dor após a conversa com Lorenzo. O único
homem que eu quis ir além, agora será pai e terá uma família, embora ainda
ache errado um casamento por conveniência. Imaginar Lorenzo casado e com
filho é um soco no estômago, porque além de tudo remete sua falta de
fidelidade e comprometimento com Maria Flor e comigo mesma. Lorenzo
não pode ser fiel quando sexo está em pauta, eu compreendi isso ainda em
Las Vegas. Ele é fiel única e exclusivamente às vontades dele mesmo. Ainda
assim, tentaria reverter esse quadro, mas não tive tempo o bastante. No fim,
naquela noite na boate, eu não estava de toda errada. Meu sexto sentido me
guiou corretamente. Estava certa em duvidar de Lorenzo e, mesmo parecendo
um erro, acertei em entrar naquele bendito clube do sexo que trouxe Bruce
diretamente para mim. Talvez, mesmo ele sendo advogado de Joseph, eu
jamais teria o conhecido. Pequenos erros, às vezes, podem ser transformados
em grandes acertos.
Não há nada que eu possa fazer neste momento, antes de Bruce eu poderia
pensar em uma coisa ou outra para fazê-lo desistir dessa estupidez, mas agora
eu prefiro acreditar nos desígnios da vida. Vou me apegar ao fato de cada vez
mais estar sendo impulsionada a entrar de cabeça no meu recém-
relacionamento. Bruce é incrível, nos mais diversos sentidos. Ele é divertido,
carinhoso, responsável, experiente, sabe como conduzir uma mulher no sexo,
é um amante voraz e implacável, dono do melhor sexo que eu já tive em toda
minha existência, paciente e benevolente. Ele me faz ver a vida por outro
ângulo, faz-me enxergar coisas que sozinha jamais conseguiria, a cada dia
mostra que não é só o físico, é além dele. Além de todas as coisas, é um
homem muito compreensivo e seguro de si. Ou seja, eu tenho um homem
quase perfeito e a ele que devo dedicar minha cumplicidade, meus
pensamentos, meus sentimentos e meu coração. Eu o deixarei entrar de uma
vez por todas. Eu já deixei... Meu afeto por ele está aumentando cada dia
mais e é nisso que irei me concentrar.
Agora, prestes a entrar na incrível casa do Tudão, as palavras da minha mãe
começam a me atormentar. Essa madrugada, pós-sexo, Bruce conversou
muito comigo e ampliou minha visão dos fatos. Apenas necessito encarar de
frente, pois se guardar essas informações, um dia elas baterão bastante forte
em mim mesma. Preciso me sentar e conversar com minha mãe, cresci
ouvindo tio Ricardo dizendo sobre a importância de “sentar e conversar”.
Vou colocar em prática.
— Chegou a minha netinha! Conte-me tudo e não esconda nada. Primeiro
preciso vê-la caminhar — pede minha avó assim que entro na casa. Franzo a
sobrancelha tentando compreender. — Vamos, Isis, faça um desfile. — Eu
faço e ela começa a rir. — Está andando levemente com dificuldade, Bruce
Venture é o veneno!
— Oh, merda, vó! — exclamo, constrangida pelo que ela está sugerindo, é
verdade. Bruce me deu uma surra de pau, sinto-me devidamente usada, mas
não estou andando de cadeira de rodas como ela pensa que estou.
— Então... vocês finalmente fizeram as coisas? — Agora é minha mãe que
pergunta. Caramba, a convivência com a minha avó afeta a todos.
— Sim. Tudo o que tenho a dizer é que foi incrível. Nada de detalhes.
— É grande mesmo? Como é? — questiona minha avó, interessada.
— É grande, é incrível. — Sorrio. — Chega!
— Você está feliz, filha?
— Sim — digo e minha franze a testa.
— Não parece tão feliz.
— Eu acabo de chegar de uma conversa com Lorenzo — confesso, juntando-
me a elas no sofá. — Foi difícil ouvir tudo o que ele disse.
— Oh, meu Deus! Isis...
— Qual foi a do parangolé? — Minha vó vai direto ao ponto.
— Ele vai ser pai e se casar.
— Puta que pariu, essa foi sem lubrificante — comenta, puxando-me para
seus braços. Estico as pernas sobre minha mãe. — Minha netinha, alguns
homens, talvez a maior parte deles, são verdadeiros idiotas na maior parte do
tempo.
— E Bruce? Como ele fica nessa história? — pergunta minha mãe. —
Sinceramente, isso está parecendo uma trama mexicana, estilo Maria do
Bairro ou Usurpadora.
— Eu estou feliz por tê-lo, gosto dele. Mas as coisas com Lorenzo são
recentes, eu sou humana, não tem como não sentir um pouco de dor,
principalmente por saber que fui enganada. Até mesmo a Flor foi. Eu e
Lorenzo nos tornamos amigos durante todo o período em que ele esteve com
Flor, demonstrava ser um cara fantástico, divertido e verdadeiro. A soma de
tudo isso fez com que eu nutrisse muita afeição por ele. Ele sempre dava um
jeitinho de cuidar de mim quando exagerava na bebida, colocava-me até à
frente de Maria Flor. Eu me encantei por ele, mãe, me encantei e agora
simplesmente descubro que estava errada o tempo todo. Dói — confidencio
entre lágrimas.
— Claro, meu amor. Porém, acredito que a dor seja um pouco menor do que
teria sido semanas atrás — acrescenta minha mãe.
— Acredito que sim. Ele será pai de um menino e vai se casar com a garota
apenas por não suportar a ideia do garoto ser criado sem pai, porque ele
possui traumas pela separação dos pais dele na infância. Achei tão absurdo,
mas não posso fazer nada sobre isso. Eu dei minha opinião e ela era tudo que
eu podia oferecer. Mesmo que ele resolvesse segui-la, já é tarde demais. Eu
vou seguir em frente de qualquer maneira, mesmo que ele tivesse dito
qualquer outra coisa, o que existe entre mim e Bruce é sólido, ele me passa
uma segurança que nunca tive antes.
— Minha boneca, você é meu orgulho. — Minha mãe suspira.
— Bruce me chama de “minha boneca”. — Sorrio. — Você é o meu orgulho,
mãe, meu maior orgulho.
— Oh, merda, eu estou chorando.
— Cheguei nesse caralho! — Ouço a voz do meu pai e salto do colo das
duas. Puta que pariu, meu pai está aqui!
Minha mãe sai correndo e ele a pega em seus braços. Posso jurar que vejo
uma lágrima escorrendo de seus olhos assim que ela o abraça.
— Eu senti sua falta, fodida sadgirl do meu caralho! — ele exclama quase
suspirando. — Eu amo tanto você, pequeninha, tanto, tanto. Não suportava
mais aquela cama vazia.
— Oh, merda, eles são fofos — diz minha vó, emocionada, e eu só consigo
pensar que quero viver algo assim, como eles.
— Agora eu preciso abraçar a minha princesa e tentar convencê-la, mais uma
vez, a voltar para o Brasil.
— Sem chance, pai. — Sorrio e corro para ele. Ele me pega no colo e me
roda no alto, como se eu não pesasse nada e tivesse apenas sete anos de
idade. — Amo você, pai, amo muito você.
— Eu vou mudar pra esse caralho, está decidido!
— Que bom, porque eu também vou! — exclama minha avó.
— Sério? A senhora está falando sério? — ele questiona indo abraçá-la.
— Senhora é meu orifício anal! E sim, eu estou falando sério.
— Então eu também estou!
— Agora só falta tia Bia resolver vir também — brinco, mas meu pai parece
estar falando sério. — É sério, pai? Vai deixar a sua amada Belo Horizonte?
— Sim. Seus irmãos merecem um ensino de melhor qualidade e eu mereço
não ter que ficar tão distante de vocês. Não se preocupe, já estou com as
minhas tendências controladoras devidamente controladas — anuncia e eu
volto a pular em seus braços.
— Pai, eu vou amar vocês aqui. É a melhor notícia saber que terei vocês tão
perto. — É verdade, a gente só se dá conta do quanto precisa da família por
perto quando eles estão longe o bastante.
— O bom de tudo isso é que eu não sou consultada sobre quaisquer decisões!
— repreende minha mãe. — De qualquer forma, eu estou dentro!
— Eu quem estarei dentro...
— Pai! — repreendo.
— Não é nada disso que você está pensando, princesinha, vem aqui. Papai
ama você — diz, abraçando-me e fazendo cafuné em meus cabelos. — Mas,
eu estou muito exausto pela viagem e não dormi muito bem nos últimos dias.
Agradeceria se você me levasse até o quarto, Vic, se eu não dormir nos
próximos cinco minutos ficarei maluco.
— E eu sou a Barbie! — minha avó zomba. — Sua cara nem queima, filho da
puta! Quem você puxou?
— É sério, mãe, tem esse lance de fuso horário e as incansáveis horas dentro
de um jatinho. Estou ficando velho pra caralho. — Ele deveria aproveitar que
está em Los Angeles e fazer alguma adaptação cinematográfica.
— Eu preciso conversar com você, mãe — digo.
— Então nós iremos conversar. Você pode esperar, não pode, meu amor? —
Ela questiona ao meu pai.
— Claro que posso. Vou conhecer essa incrível mansão e comer algo. Cadê
Vincenzo pau no cu?
— Está na empresa, eu acho. Aliás, como chegou até aqui? — Minha avó
pergunta.
— Vincenzo — informa. — Ele informou ao Bernardo sobre os últimos
acontecimentos. Inclusive acredito que no final de semana ele e Bia estejam
aqui. Peguei o endereço, vim no jatinho da empresa e em um carro da
Vincenzo até aqui.
— Entendi. — Minha avó sorri. — Eu amo você.
— Eu amo você muito mais, sempre, minha gata.
— Ok, agora vou conversar com a nossa garota — comenta minha mãe e me
segue até o quarto. Eu seguro suas mãos para nos sentarmos na cama e ela é a
primeira a dizer algo. — Eu falarei com ele sobre Bruce.
— Não é sobre isso — confesso. — Mãe, talvez eu devesse esperar para ter
essa conversa, não sei quão impactante ela será para você. Peço, por favor,
que não fique magoada, por favor, por favor. Não é a minha intenção e não
consigo adiá-la por mais um dia.
— Isis, diga...
— Eu ouvi parte da sua conversa com Milena. — Ela engole em seco e
sustenta meu olhar. — Eu não vou pedir que me explique tudo agora, mãe,
não quero estragar a felicidade de ter meu pai aqui. Só queria dizer que ouvi e
que ficaria feliz se você pudesse dividir essa parte da sua história comigo.
— Oh, Isis! Eu lutei por 24 anos para esconder isso de você e dos seus
irmãos. Nunca quis que meu passado influenciasse na vida de vocês, negativa
e positivamente. Eu tentei privá-los de ter que lidar com tudo que aconteceu
comigo. Não queria usar minha história de modelo para explicar a vocês os
cuidados que devem ter com pessoas, com sexo, entre outras. Eu e seu pai os
educamos sem usar o peso do meu passado, foi um pedido meu. Eu levaria
essa história para o caixão, tudo para não a ver com essa carinha — diz
suspirando. — Eu precisei expor à Milena como forma de ajuda, julguei
necessário ela poder desabafar com uma pessoa que passou por algo
semelhante, mas sinceramente, filha, nunca quis que você descobrisse. Fiz
seu pai prometer que nunca, em hipótese alguma, diria algo sobre meu
passado. É um assunto proibido na família. Não é algo bonito, filha, não é
algo que eu teria orgulho em relatar. É feio, é sofrido, é sombrio.
— Por favor.
— Pensarei na melhor maneira de abordar isso com você — promete,
passando a mão em meu rosto. — Você é tão linda, tão madura, filha.
Agradeço todos os dias a Deus por ele ter livrado minhas três garotas de
todos os males, por vocês serem verdadeiramente felizes, seguras e livres da
maldade humana. Eu sofri muito quando sua adolescência foi se
aproximando, havia um medo imenso de você passar por qualquer coisa
parecida, mas Deus esteve do meu lado, Ele livrou você, Ele livrou suas
irmãs. Nunca serei capaz de agradecê-lo o bastante. Sou feliz pelas minhas
garotas e pelos meus dois garotos. Eles se tornaram pessoas de bem, minis
Matheus. — Ela sorri orgulhosa. — Meu Deus, Victor e Lucca são muito seu
pai, nunca vi dois filhos parecerem tanto com o pai. Sou tão feliz por isso.
Isis, eu sou tão feliz, tão feliz e tão realizada, que não sobra espaço para nada
além de amor. Vou te dizer algo que pode soar absurdo, mas, se para ter tudo
o que tenho hoje eu precisasse passar por tudo que passei, eu passaria. —
Essa mulher é o meu exemplo na vida.
— Mãe, seja qual for sua história, admiro ainda mais por ser tão forte. Se
antes eu já te achava forte, agora nem mesmo sei descrever o que penso.
Quero você continue com essa felicidade. Se julgar certo não me contar eu
irei compreender.
— Eu amo você, minha pequena. Você é a maior parte da minha força, desde
quando descobri que estava grávida. Cometi erros, filha, privei-a de sete anos
de convívio familiar, mas foi pensando na sua segurança, na segurança dos
nossos familiares, em especial no seu pai. Eu irei contar a você, será um
segredo meu e teu, mas não agora, ok? Não será algo fácil.
— Tudo bem mãe, obrigada!
— Obrigada você, filha, por ser essa mulher tão incrível, possuir sentimentos
tão puros — diz, depositando um beijo em minha testa. — Quanto ao Bruce...
— É, eu terei que ter uma conversa com meu pai. Mas pode deixar, mãe, eu
mesma quero tomar à frente, talvez assim ele finalmente perceba que sou
uma mulher.
— Ele já percebeu, embora nunca dê o braço a torcer.
— Bruce virá hoje à noite trazer meu ursinho Bruce.
— Um urso que chama Bruce? — questiona sorrindo.
— Sim. — Sorrio. — Ele pegou em um parque de diversões para mim.
— Isso me lembra o passado. — Ela sorri. — Ele é um cara legal, não é?
Vincenzo disse muito bem dele ontem no jantar. Parece que Vincenzo ontem
estava falante, porque ele e Maria Flor não estão conversando. Aliás, quando
ela chegar da faculdade, talvez seja bom você ir falar com ela.
— Farei isso.
— Agora vou ficar um pouco com seu pai. Tem certeza de que não preciso
preparar o terreno? — pergunta, receosa e eu sorrio. Não sei o motivo, mas
estou sentindo mais segurança em mim mesma. Preciso enfrentar isso
sozinha.
Minha mãe se vai e eu tomo um banho demorado. Enquanto a água cai sobre
meu corpo, tento imaginar que ela está lavando toda a dor, todos os
sentimentos negativos pelo ralo. Há coisas maiores, planos incríveis. É o
momento de começar uma nova vida.

Saio do quarto de Isis e, enfim, volto a respirar. Eu nunca quis que esse
momento chegasse, temi-o por grande parte da vida e agora o dia chegou.
Minha filha, a garotinha que eu tentei proteger de todo o meu passado,
descobriu sobre ele e não sei como lidar com isso. Foi Deus quem, mais uma
vez, mandou Matheus no momento certo.
Chego à sala em busca dele e Mari diz que ele está no quarto. Corro um
pouco agoniada, e entro. Assim que fecho a porta, encontro meu marido
perfeito deitado na cama, tomando um energético, com a cara de segundas e
terceiras intenções.
— Você está pálida — anuncia saltando da cama e vindo até mim. Suas mãos
passeiam pelo meu rosto e ele franze a testa. — Pálida e fria. O que houve?
— Isis...
— Ela está grávida? — questiona levando a mão no peito e começando a
respirar com dificuldade. Se fosse isso ele teria um infarto.
— Não. Ela descobriu sobre mim. Sobre o meu passado.
— Como? — questiona soltando um suspiro e me abraçando. — Eu sinto
muito, amor, sinto muito.
— Ela me escutou conversando com Milena, não sei como, pois a porta
estava fechada e eu não sou de falar gritando. Enfim, Theus, ela descobriu e
agora quer saber tudo. Ela respeita se eu não quiser contar, mas estou
completamente perdida, Matheus, achei que levaria esse segredo até a morte,
não sei como lidar ou como agir. Não acho justo esconder após ela ter ouvido
parte da conversa.
— Se você decidir contar parte do que viveu, eu estarei ao seu lado. Nós
contaremos juntos, Vic, sempre juntos. Não vou deixar que enfrente uma
conversa dessa grandeza sozinha. Não precisa contar os detalhes, conte
apenas o que for menos traumático para ela imaginar.
— Falar com Milena foi fácil, Matheus, mas com Isis... ela foi vítima do meu
passado por sete anos. Reviver isso com ela é doloroso.
— Vic, há algumas coisas que fogem do nosso controle. Aconteceu, agora
temos que pensar na melhor maneira de abordar isso. Ficar triste, se
culpando, não vai ajudar em nada. Eu estou aqui, morrendo de saudades de
você.
— Você falou sério sobre se mudar para cá? — questiono, curiosa.
— Sim, mas isso é algo a ser conversado depois. Você não sabe a merda que
é ficar sem você, Vic. Preciso senti-la, preciso fazer amor com você e não é
apenas sobre sexo, é sobre ter você. Nem mais um dia longe, é insuportável,
por favor.
— Eu senti sua falta. — Sorrio. — Desculpa um pouco da empolgação ter
morrido.
— Eu sou bom em contornar situações. — Sorri e então sua boca está na
minha. Ele é realmente bom. Antes que eu me dê conta, estou deitada sobre a
cama implorando para tê-lo — Viu?
— Sim. — Sorrio.
— Eu amo você. Nós vamos passar por tudo juntos. Já enfrentamos coisas
realmente ruins juntos, Vic, isso é pequeno demais diante do nosso passado.
— Obrigada.
— Você é a coisa mais linda desse mundo, tão linda, Vic, cada dia mais —
elogia, movendo suas mãos até meu short.
— Tão romântico, meu príncipe encantado.
— Sou romântico, mas estou ansioso para entrar em sua calcinha e fodê-la
por algumas horas.
— É bom que comece logo os trabalhos, garotão. Isis ainda quer ter uma
conversa com você — anuncio, ele contém seus movimentos: — Sobre?
— É algo pessoal, ela irá falar com você mais tarde. — Sorrio e ele se levanta
desesperado.
— Isis está grávida!
— Não está, Matheus! Se ela estivesse grávida eu diria — informo, ficando
de pé na cama. Preciso jogar sujo para atrair sua atenção. Fico apenas de
lingerie e começo a seduzi-lo. Primeiro, eu dou meu sorriso angelical, em
seguida começo os trabalhos sujos. Se ele é bom em contornar situações, eu
sou ótima em deixá-lo louco, a ponto de esquecer quaisquer coisas que
estejam em sua mente.
— Puta que pariu, Victória.
— Eu quero foder com você.
— Fodida sadgirl do meu caralho, você mata um sujeito macho! — exclama
vindo para cima de mim como um animal selvagem.

São 19h quando meus pais surgem. Eles só saíram do quarto para almoçar e
nada além disso.
— Eita! Como estão essas forças? — pergunta minha avó, fazendo todos
rirem. Hoje, até mesmo Milena resolveu sair do quarto um pouco. Ela ainda
está andando com dificuldades e Heitor está sobre ela o tempo inteiro. Maria
Flor não chegou em casa até o presente momento e Joseph está devidamente
mal-humorado, trabalhando em algo no seu notebook.
— Tiramos um cochilo prolongado — diz meu pai e eu rio da sua cara de
pau. — Você, mocinha, precisamos trocar uma palavrinha... — anuncia
olhando para mim e então estende sua mão. Caminhamos até o jardim e nos
acomodamos em um banco. — Essa casa é top.
— Muito.
— Vamos lá, sua mãe disse que você gostaria de falar comigo.
— Eu e Lorenzo...
— Casamento não, Jesus! — diz, exasperado. — Pelo amor de Deus, Isis,
diga que não é isso!
— Não estamos mais juntos desde Las Vegas. Aconteceram algumas coisas
ainda lá e terminamos. Lorenzo será pai, provavelmente vai se casar.
— Que filho da puta! Ele engravidou uma garota estando com você? —
pergunta, nervoso.
— Não. Estando com Maria Flor.
— Ele é um imbecil do caralho! — Esbraveja. — Filha, seria tolo de pensar
que nunca nenhum homem irá machucá-la, mas você precisa aprender a fazer
escolhas certas. Sou homem, já iludi dezenas de garotas e não me orgulho
disso, você precisa aprender a ser mais foda que qualquer moleque que só
pensa com a cabeça de baixo. Eu vou socá-lo, você querendo ou não.
Ninguém mexe com a minha princesinha e minha florzinha. Eu sabia que
havia algo errado nele, ele demonstrou um pouco de desespero e aquela
história dele ter namorado Flor sendo apaixonado por você beirou ao
absurdo. Porém, você estava com brilho nos olhos e eu realmente achei que
ele era especial para você.
— Ele era pai. Mas as coisas fugiram do meu controle.
— Você está bem? Está sofrendo? Me mata vê-la sofrer, Isis — diz,
puxando-me para seus braços.
— Estou bem, pai. Há uma outra questão — digo e então a voz de Bruce
surge.
— Boa noite!
— Quem é? — pergunta meu pai, receoso.
— A outra questão — explico, temerosa.
— Como assim a outra questão, Isis Brandão? — questiona. Fico de pé e dou
a mão ao Bruce, que tem o enorme urso em seus braços. Engraçado, quando
faço algo certo sou Isis Albuquerque, quando faço algo errado sou Isis
Brandão. Meu pai deveria ser alvo de estudos. Ele é o melhor e o mais
engraçado.
— Bruce, esse é o meu pai — informo. — Pai, esse é Bruce, meu namorado.
— O quê? Victória! — Esbraveja. Bruce segura a vontade de rir quando
minha mãe chega desesperada e observa a cena.
— Se você rir ele vai matá-lo — digo baixinho. Bruce se afasta e caminha até
ele com uma segurança invejável.
— Boa noite, Matheus. É um enorme prazer conhecê-lo — cumprimenta,
oferecendo sua mão ao meu pai, que a observa com a testa franzida. Agora
são dois advogados e essa discussão promete ser acalorada, engraçada
também, assim espero.
— Você já o conhecia, Victória Brandão?
— Sim — responde minha mãe, mordendo o lábio e então o furacão Matheus
começa a atropelar.
Eu sinto que estou fodida, não apenas eu, minha mãe também.
CAPÍTULO 15

BUSCANDO MARIA FLOR NA FACULDADE


Eu estou viciado em Maria Flor. Parece que ela fez algum tipo de ritual sobre
mim, porque ela apenas me tem dobrado aos seus pés, tanto que tenho
pensado em coisas que jamais se passaram em minha mente antes. Acontece
que eu nunca me relacionei sério com qualquer mulher e, por isso, não sei
lidar com a confusão de sentimentos que surgiram desde que Maria Flor
entrou em minha vida.
Eu já estive em uma universidade, sei bem como algumas coisas funcionam e
isso não me deixa em uma situação confortável. Estou cem por cento fora da
zona de conforto, trilhando um caminho desconhecido.
A aula termina e me torno ansioso, extremamente ligado a tudo e a todos.
Centenas de estudantes alvoroçados saem pela porta, querendo se ver livres
de mais um dia de aula. Sei que Flor está em algum lugar, sua demora me
deixa mais tenso.
Estar aqui nessa faculdade, aguardando a minha namorada, faz com que eu
me sinta velho.
Por que ela está demorando?
Talvez seja porque fodemos como selvagens, a ponto de ela estar andando
com dificuldade. Talvez eu tenha exigido muito dela durante toda a
madrugada. Tal pensamento faz com que eu repreenda a mim mesmo. Flor é
novinha, não possui experiência o bastante, apenas preciso pegar leve até ela
estar devidamente preparada, pegar o meu ritmo.
Continuo examinando a saída e a encontro em meio a alguns garotos. Não
gosto do que vejo. Há um garoto segurando sua mochila possessivamente,
enquanto ela argumenta algo. Ele apenas fica rindo, mesmo ela estando com
uma carranca em seu rosto. Um outro garoto surge passando a mão em seus
cabelos e algo explode em meu interior: a fúria que tanto tento evitar.
Não sou capaz de me controlar. Antes que possa raciocinar, caminho em
direção a ela. O garoto a abraça e ela tenta se desvencilhar de seu aperto.
Estou prestes a alcançá-lo quando ela intervém, entrando em minha frente,
contendo por completo meus atos.
— Não! — ela diz com seriedade. Soa como uma ordem.
— Sim, com certeza sim, Maria Flor.
— Não! — diz mais uma vez. — Não venha ser meu babá na faculdade.
— O quê? — questiono tomado pela incredulidade, sabendo que há alguns
espectadores. Não estou compreendendo onde ela quer chegar com isso.
— Sei que meu pai pediu que cuidasse de mim, mas não estou fazendo nada
de errado. Não precisa me perseguir na faculdade! — exclama engolindo
cada uma de suas palavras. Essa situação é incompreensível.
— Eu não estou aqui sendo seu babá — afirmo. — Acho que deixei de ser
isso há alguns dias.
— Não, Vincenzo! — diz, exasperada. Que diabos ela está fazendo?
— Você vem comigo? — questiono perdido em minhas ações.
— Não.
— Que...
— Eu irei com uma amiga — informa, cortando minhas palavras. Isso tira
minha ação por completo.
Ela se vai e então, sob o olhar curioso de alguns estudantes, caminho de volta
ao carro.
Dirijo para casa frustrado, incrédulo e puto pra caralho. Por alguns segundos
me sinto tolo, ludibriado e trouxa. No meio do caminho decido acalmar os
nervos antes de prosseguir, então estaciono o carro na praia e tento respirar
um pouco de ar puro.
Sinto-me tomado pela imbecilidade por não conseguir compreender as ações
dela. Em um minuto ela chora e se diz apaixonada, no outro eu volto a ser o
babá controlador. Relacionamentos são complexos dessa maneira ou será
apenas a diferença de idade gritando mais alto e mostrando que não há como
nos encaixarmos?
No primeiro instante, relutei em relação à diferença, mas então, depois,
consegui fixar na cabeça que poderíamos dar certo, que a idade era só um
detalhe perto da grandeza dos acontecimentos. As coisas pareciam estar
dando certo para mim, consegui ter meu filho, ele está demonstrando
melhorar a cada dia, encontrei uma mulher que me fez querer um futuro, os
negócios em expansão diariamente, ou seja, tudo perfeito. Porém, nada
perfeito dura tempo o bastante. Maria Flor se tornou a curva fora da estrada
neste momento.
Uma hora e meia depois, chego em casa e, ainda na estradinha que me levará
a garagem, Maria Flor entra na frente do carro fazendo com que eu freie
bruscamente.
A louca abre a porta e se joga no banco do passageiro.
— Desça! — peço.
— Sei que está magoado, mas eu preciso explicar.
— Não há qualquer explicação que me faça compreender ou aceitar suas
ações, então, por favor, desça do meu carro.
— Você está mesmo puto? — pergunta, chocada.
— Se eu estivesse puto estaria bom, acredite.
— Eu não quero ser conhecida por ser sua namorada. Não quero ouvir
murmurinhos ou piadinhas por ser namorada do dono da Vincenzo,
compreende? E é isso que estava prestes a acontecer se eu não tivesse contido
suas ações. Eu passei em primeiro lugar para a vaga de estágio, nós sabemos
disso, mas então, se eu mostro ser sua namorada, me tornarei a garota que
passou na vaga de estágio por ser namorada do dono da empresa. Vão falar
que eu tive benefícios e Deus sabe lá o quê. Eu quero ser conhecida pela
minha inteligência...
— Então nós não podemos estar juntos, Maria Flor. Você está sendo egoísta
de pensar apenas em si mesma, mas e eu? Como fico nessa história ao ver
meninos duelando para ter sua atenção? Como eu fico tendo que ver meninos
tocando em você? E se fosse o contrário? Você gostaria de ver mulheres me
tocando livremente por que pareço estar solteiro? Onde eu fico quando tiver
bailes beneficentes, eventos? Nós nunca poderemos ir ao shopping, à praia,
ao cinema? É isso? Nós teremos que manter um relacionamento oculto? Eu
nunca namorei qualquer mulher e quando, enfim, estou com alguém, não
poderei desfrutar disso? Por que diabos você aceitou o pedido de namoro,
Maria Flor? Eu deixei claro que não esconderia nossa relação de quem quer
que seja e você pareceu feliz quando eu disse. Flor, você parecia ser uma
mulher bem resolvida, me enganei completamente — confesso. — Não
importa o que os outros vão dizer, importa o que nós dois sentimos e a nossa
verdade, ambos sabemos das suas capacitações e isso é tudo. Não sou um
adolescente para ter namorinho escondido. Eu esperava uma atitude de
mulher, esperava uma mulher que gostaria de compartilhar sua vida comigo e
com meu filho. E não uma garota que, basicamente, me humilhou diante de
dezenas de jovens na faculdade. Foi estúpido pra caralho. Se você sabia que
não teria condições de seguir com um relacionamento sério, por que permitiu
que eu entrasse de cabeça? Por que permitiu que Mathew se apegasse a você?
Me sinto como um masoquista, desejando algo que não posso ter. Eu queria
te dar tudo, Flor, você teria tudo de mim...
Ela sai do carro chorando e correndo. Claro.
Frustrante.
Não conversamos mais e, na manhã seguinte, ela dribla todos os seguranças e
some, nem mesmo aparece na faculdade.

Aqui estou eu, mais uma vez intermediando tretas familiares. Dessa vez a
questão é entre Joseph e Maria Flor, minha irmãzinha que é um doce de
pessoa quando amarrada e amordaçada. Um ser humano que sempre foi
bastante pacífica, nunca fez chantagens emocionais ou foi mimada. Bastava a
filha da puta piscar os cílios e falar "Maria Florzinha" e toda família caía aos
seus pés, inclusive eu.
Maria Flor sempre foi foda e linda, lembro-me da infância, eu tentava ficar
puto com ela, mas a garota tinha o dom de reverter a situação – até mesmo
quando estava errada. Até hoje acho que ela está na profissão errada. Maria
Flor seria uma ótima advogada, posso dizer que até melhor do que eu e nossa
mãe. Ela tem um jogo de cintura, sabe lidar com as palavras, com a mente das
pessoas. Se ela diz algo, você acaba convencido. Maria Flor não tem medo de
nada, é audaciosa, ousada e impulsiva. Não mede as consequências dos atos e
se joga de cabeça em tudo que acredita ser o certo, principalmente quando
contrariada.
Ela não sabe lidar com Vincenzo. Ele é um cara experiente, alguns anos mais
velho. Uma hora eu sabia que daria merda, a diferença de postura entre os
dois é enorme. Joseph é exigente demais, Flor não suporta ser controlada.
Dois bicudos não se bicam. Precisarão passar por alguns ajustes se quiserem
seguir em frente, caso contrário a relação está fadada ao fracasso. A parte
ruim é que se o fracasso surgir, Flor vai despirocar, como diz minha avó. E
eu terei um grande trabalho em controlá-la.
Agora, às 19h, o homem está soltando fogo pelas ventas, porque Maria
Florzinha simplesmente decidiu sumir no dia de hoje, após terem uma
discussão ontem.
— Conseguiu falar com ela?
— Ainda não, cara — respondo tentando ligar pela milésima vez.
— Nenhum dos meus homens conseguiu localizá-la.
— O que de tão grave aconteceu entre vocês? — pergunto, receoso, levando
em conta o quão fechado Vincenzo pode ser.
— Eu fui buscá-la na faculdade e ela simplesmente resolveu me ignorar como
se eu fosse nada além de seu babá. Parece que não temos a mesma opinião
sobre relacionamento sério. Heitor, você sabe que todos aqui corremos riscos.
Estamos lidando com um homem perigoso que, provavelmente, já está de
volta à cidade. Maria Flor está se colocando em risco. Vou tentar rastrear o
celular dela mais uma vez. — Ele se vai e eu volto para minha delegata. Ela é
fodidamente linda, sou um babão do caralho.
— Ei, minha princesa.
— Maria Flor ainda não apareceu? — Ela questiona.
— Ainda não. Você está se sentindo bem? Não quer ir se deitar um pouco?
— Estou bem, preciso ficar um pouco fora do quarto — explica, abraçando-
me e eu tento controlar os desejos que surgem com o contato. Preciso
respeitá-la, mas meu corpo não segue os comandos. É difícil. De alguma
forma, após a conversa com tia Vic, ela está demonstrando-se mais disposta.
— Essa não é a voz de Matheus? — questiona e então passo a prestar
atenção, parece que alguma espécie de discussão está rolando lá fora e isso
diz que precisarei usar meu lado cinegrafista amador.
Pego meu celular e Milena me encara séria.
— Você vai filmar se for uma discussão? É isso?
— Óbvio, vou fazer a live no grupo da família. Se não quiser me
acompanhar, basta pegar seu celular. — Sorrio depositando um beijo em sua
testa e vou em busca do furo de reportagem. A treta da vez é entre Bruce, tio
Theus, tia Vic e Isis.
— Pai, você pode usar menos da dramaturgia neste momento? — Isis pede,
enquanto Bruce parece se divertir.
— Eu faria o mesmo se fosse minha filha — afirma Bruce, relaxado, como se
tivesse tudo sob controle. — Vamos lá, Matheus, vamos ter uma conversa de
pai para namorado. Eu pedi sua filha em namoro ontem, antes estávamos
apenas nos conhecendo. Fizemos uma grande amizade, muito rápido, e isso
nos levou a um relacionamento... — ele argumenta e então um segurança
surge com minha irmã em seus braços, coberta de sangue. Meu riso some e
meu celular cai ao chão. — Merda!
— Oh, meu Deus! — Grita minha avó. — O que houve? — questiona e todos
nós o seguimos. Ele a coloca sobre o sofá e eu ajoelho para conferi-la,
enquanto todos a rodeiam com o horror estampado em seus rostos. Tudo vira
um caos de repente e torna-se difícil manter-se atento a todos os
acontecimentos. Há choros, suspiros, desespero...
— Ela foi deixada por um carro. Há seguranças seguindo o veículo —
explica o homem.
— Quero imagens das câmeras de seguranças, agora! — Bruce pede sumindo
do meu campo de visão.
— Ele é policial? — Ouço meu tio perguntar.
— Advogado do Vincenzo — explica Isis.
— Flor... fala comigo — peço passando a mão em seu rosto. Parece que estou
num circo de horrores. Primeiro Milena, agora minha irmã. Se foi Anthony...
puta merda!
Flor nem se move, verifico seu pulso e está fraco o bastante.
— Ela precisa de um hospital, com urgência — anuncio e Vincenzo surge ao
meu lado.
— O que... Flor? Porra! — ele grita em desespero. — Flor, fale comigo, por
favor, fale comigo.
— Minha menina. — Minha avó chora nos braços do meu tio.
— Hospital! O pulso está fraco! Chorar não vai ajudar agora, precisamos agir
— anuncio.
— Prepare o carro. — Vincenzo grita ordens e a pega em seus braços.
Saímos todos, inclusive Milena, rumo ao hospital. Não sabemos o que houve,
mas sei que saberemos muito em breve.
Muito em breve.

Há uma ala do hospital fechada apenas para a minha irmã.


Seguranças por todos os lados e alguns policiais conhecidos de Milena. Isso
fez com que minha delegata optasse por ficar escondida em uma sala. Isis,
minha avó e minha tia estão com ela por precaução. Enquanto isso, eu, tio
Theus, Joseph e Bruce estamos sentados em um banco, em um enorme e frio
corredor. Tudo isso se parece bem como um filme de terror.
Bruce fala em seu telefone sem parar e Joseph anda de um lado para o outro.
Não avisei meus pais ainda. Primeiro, preciso ter notícias sobre o estado de
saúde de Flor para então repassar uma notícia mais concreta e não os deixar
tão desesperados com a espera, como me encontro neste momento.
— Vincenzo — Bruce o chama e todos passam a prestar atenção. — O
apartamento de Milena foi encontrado revirado, há marcas de sangue em
alguns lugares, a perícia está indo para lá neste momento — diz fazendo meu
sangue bombear mais forte. — Há uma outra questão.
— Diga logo — peço.
— O carro que deixou Maria Flor está registrado no nome de um policial.
— Vocês estão chegando ao marido de Milena? — meu tio questiona.
— Exatamente. Todas as suspeitas apontam para ele. Agora, com a perícia,
descobriremos se o sangue lá é de Maria Flor. Ela também está passando por
exame de corpo de delito, é difícil ouvir o que irei dizer, mas trabalhamos
com a hipótese também de um possível abuso sexual, que será confirmado
através do exame.
Esse desgraçado do Anthony fodeu com Milena e com minha irmã.
— O fato de termos tido relações pode atrapalhar?
— Não. Através das amostras recolhidas descobriremos a quem pertence. —
Vincenzo soca uma parede. — Calma! Eu não estou dizendo que Maria Flor
foi abusada sexualmente, estou dizendo que a hipótese precisa ser trabalhada.
Os médicos legistas farão o serviço completo.
— Eu vou matá-lo, você sabe disso, não sabe? — Vincenzo pergunta a
Bruce.
— Eu faço questão de ter uma participação ativa nesse assassinato — digo.
— Ok, isso é fodido pra caralho. Minha Florzinha... — Tio Theus suspira. —
Mas precisamos manter a calma aqui, mesmo que eu também queira cometer
um assassinato. Vamos nos preocupar primeiro com ela, há policiais e
investigadores trabalhando no restante, isso foge do nosso alcance neste
momento. Não importa quanto tempo demore, nós vamos foder com esse
homem. Agora a prioridade é a saúde de Flor, precisamos ouvir o que ela tem
a nos dizer. O depoimento dela é de suma importância. Porém, também
teremos que ser pacientes. Dependendo do quão grave foi a situação, ela
precisará de um tempo até conseguir relatar os fatos.
— E vocês esperam que eu fique aqui, de mãos e pés atados? Sem mover um
único músculo? — Vincenzo pergunta. Seu tom demonstra uma frieza
completa, ele está cego pelo ódio.
— É o certo a ser feito, cara. Há mais de 25 pessoas trabalhando em torno
disso. Você precisa relaxar e esperar sua garota, apenas isso — diz Bruce.
— Se fosse com Isis? — Vincenzo pergunta e meu tio foca a atenção em
Bruce.
— Não foi com Isis e, ainda assim, eu mataria o desgraçado. Compreendo o
que você está sentindo, eu sentiria o mesmo, o instinto de proteção, de querer
que porra alguma aconteça com a mulher da sua vida. Porém, eu jamais sairia
de perto dela neste momento para me vingar do filho da puta. Eu planejaria
uma morte lenta e dolorosa, se é que me entende. Neste momento vale mais
ser estrategista do que agir como um maluco.
— Visionário — concorda meu tio. — Ele tem razão, Vincenzo. Há pessoas
trabalhando nisso, por ora vamos focar em Flor e Milena, que são as vítimas.
— É complicado. Eu estou puto com ela... puto pra caralho!
— Não sei se é a primeira vez, mas posso garantir que não será a última —
informo.
— É, Flor é foda! Mas ela é uma boa garota. Qualquer que seja o problema
que estão enfrentando, tudo será resolvido. Sentar-se e conversar, é o segredo
de um relacionamento sólido. — Meu tio aconselha.
— Eu não quero ser um ditador de regras, muito pelo contrário, porém,
visando a segurança e o conforto das três mulheres ali naquela sala, eu
gostaria de sugerir que um de vocês as levassem para casa. Mandarei três
carros escoltarem vocês até lá — sugere Bruce.
— Eu sinto muito, não posso ir — digo. — É a minha irmã ali. Não
conseguirei.
— Eu irei, é o mais certo a fazer realmente — concorda meu tio. — Gostei de
você — anuncia, apontando para Bruce. — Seja bem-vindo à família, como
você mesmo disse, devemos planejar uma morte lenta e dolorosa. Inclusive,
já estou fazendo isso caso magoe Isis. Ela teve problemas com aquele
moleque, eu espero que você seja para ela o homem que está demonstrando
ser para mim.
— Não estou fazendo quaisquer demonstrações a você, sou assim. Não tenho
pretensão alguma de impressioná-lo, tenho 35 anos de idade, digamos que já
passei da fase de tentar impressionar os sogros — declara Bruce com firmeza.
Esse homem é meio foda mesmo. — Sou advogado de Vincenzo, talvez ele
possa confirmar o que estou te dizendo.
— Eu espero que sim — diz meu tio, oferecendo a mão a ele. — Seja bom
com ela, a faça feliz e eu ficarei feliz.
Deixo os dois na guerra de testosterona e sigo caminho até minha delegata.
Ela se levanta com um pouco de dificuldade e vem até mim.
— Foi Anthony quem fez isso com ela? — pergunta, segurando em meus
braços e eu pondero uma maneira menos caótica de dizer.
— Não está confirmado, mas, obviamente, ele está como principal suspeito.
Não se preocupe com isso agora, há muitos homens trabalhando em torno da
sua situação e na da Flor também. Você agora só precisa se preocupar com
sua saúde, minha princesa, física e mental. O resto deixa comigo, com
Vincenzo e os investigadores.
— Eu sei que foi ele e a culpa é minha.
— Não é sua culpa, meu amor. Não vamos levar por esse caminho.
— Me perdoe por toda a confusão, nunca foi minha intenção. Você chegou e
então foi envolvido no meu caos... sinto muito. Prometo a você que resolverei
essa questão assim que minha saúde estiver em perfeito estado.
— Nada disso, delegada! Se você tornar a repetir essas palavras, nós dois
teremos um problema.
— Ouça, por favor — ela diz, segurando-me pela camisa. — Eu preciso
recuperar minhas forças para lutar contra essa situação. Sou treinada,
qualificada, não é à toa que sou delegada, Heitor. A conversa que tive com
Victória me fez enxergar algumas questões. Eu me tornei vítima dos
acontecimentos e me acomodei a esse papel, porém, eu não posso mais.
Preciso guerrear e tentar impedi-lo de fazer mais vítimas, preciso ser mais
forte que ele, Heitor, e eu serei. Não descansarei enquanto não o colocar atrás
das grades, pois sei que agora eu tenho uma base de pessoas amparando,
lutando junto comigo. Não quero ser mais vítima e nem estou disposta a
deixar que ele faça isso com outras mulheres.
— É incrível o que está dizendo, Milena, fico feliz pela sua força, mas
sozinha você não está indo a lugar algum.
— Argh! — protesta.
— Não venha querer ser mandona. Sou muito maleável, mas sei ser a
personificação do diabo quando necessário. Eu moverei o inferno se isso fizer
com que fique segura, e tenho dito! Agora seja uma boa garota, vá para casa e
me espere. Darei notícias assim que as receber.
— Eu estou melhorando, não pense que vai me domar — rebate, nervosinha.
— Nós estamos indo ver se eu não irei domá-la, Milena. Não fujo de um bom
desafio — anuncio e ela sai pisando duro. Parece que minha delegata está
melhorando, sua personalidade arisca já está dando as caras.
Nem por um maldito caralho tirarei meus olhos dela a partir de agora. Ela
está fodida!

— Onde estou? — gaguejo as palavras, tomada pelo medo. Minha boca está
seca, minha garganta arranhando levemente. Estou com medo. Há uma
espécie de terror em mim neste momento.
— Fique calada, piranha. — A voz do homem misterioso me faz temer, é uma
mistura de ameaça e gracejo, algo obscuro o bastante. Nunca quis que
Joseph fosse possessivo e controlador como agora. Eu daria muitas coisas
para ser rastreada e encontrada.
O homem para o carro, então ouço coisas sendo jogadas pela janela. Logo
em seguida ele volta a dirigir.
— Pronto, agora não existe mais celular, já era.
— Por quê? O que eu fiz? Por favor, diga-me algo — imploro, temerosa.
— Joseph Vincenzo vai aprender a brincar com as pessoas certas — ameaça.
— Ele acha que dinheiro pode comprar tudo. Acha que pode controlar o
mundo e entrar em assuntos que não lhe dizem respeito. — O homem dá uma
gargalhada assustadora. — Vamos ver até onde o poder dele é capaz de
chegar.
Alguns minutos depois, o carro para e sou puxada dele, violentamente. O
homem tira o pano que cobre minha cabeça e sinto um golpe duro em meu
rosto, que me leva direto ao chão. Minha cabeça bate em algo que não sou
capaz de identificar, o latejar em meu crânio quase faz com que eu desmaie.
Começo a rezar silenciosamente para conseguir me manter firme, acordada.
Não sei o que ele fará comigo se eu desmoronar.
Sou pega pelos cabelos e golpeada mais uma vez, dessa vez nas costelas.
Solto um grito de pavor misturado com a dor agoniante. Até mesmo minha
respiração fica comprometida. O forte enjoo surge enquanto tento lutar
contra a dor. Talvez a morte seja melhor do que ser espancada de maneira
cruel.
— Vagabunda. Isso tudo é culpa de Milena, sua cunhadinha — informa. —
Agora nós vamos subir e tudo que fizermos lá em cima será por Joseph
Vincenzo — grita.
— Por favor, não... — Choro quando ele me puxa mais forte pelos cabelos,
fazendo com que eu fique de pé. Não há uma maneira de ficar ereta, tudo
dói. Fico tonta na primeira tentativa e caio de joelhos.
— Anda porra, vamos lá, putinha — ordena.

Acordo com um soluço. Forço abrir os olhos e tudo que vejo é branco.
Pânico. Medo. Pavor.
Tento ficar de pé, em vão. Minha cabeça dói infinitamente.
— Flor? — Uma voz desesperada surge e Joseph entra no meu campo de
visão. Não sei de onde tiro forças, mas sei que ela surge o suficiente para eu
puxá-lo até mim. O abraço e então choro. — Meu amor, não chore. Graças a
Deus você acordou. Graças a Deus, minha linda.
— Não me deixa — peço com a voz falha.
— Não deixarei, nem por um segundo. Eu amo muito você, muito. Estou tão
bravo...
— Fica comigo para sempre.
— Minha princesa, você está tão fodida, Flor, porque se antes eu era chato,
agora que quase te perdi, serei infinitamente pior — ele diz. — Eu preciso
chamar o médico — informa, tentando se afastar.
— Não me deixe aqui. Não quero ficar sozinha com ninguém, ninguém, por
favor.
— O que fizeram com você? Eu matarei quem fez isso com você. Eu juro por
Deus, Flor — anuncia num tom de puro sofrimento, então a dor em minha
cabeça surge com força e tudo fica escuro.

— Não me toque! — grito usando o pouco de força que possuo.


— Deixa eu ver o que esconde por trás dessas roupas. Vamos ver o
playground de Joseph Vincenzo...— O homem ri tentando tirar minha blusa e
eu luto contra ele.

Acordo sobressaltada. Tudo dói; meu corpo, minha cabeça...meu peito. Tento
abrir os olhos, mas dessa vez não consigo. Eu preciso de um pouco de força,
não quero mais dormir. Nunca mais. A cada vez que eu faço, sou invadida
por uma série de acontecimentos horríveis. Fico quieta, ouço um som de
choro baixinho. É de uma mulher, é a minha mãe.
Quero falar, quero abrir os olhos e vê-la, mas não consigo. O esforço que
faço para conseguir é o suficiente para a dor na cabeça surgir. Não há
alternativa a não ser me render ao sono.

— Pegaram ele. — Ouço uma voz dizendo.


— E agora?
— Está preso. Nós faremos tudo, Vincenzo, não se preocupe. Faremos o
possível e o impossível para ele morrer naquele lugar.
— Eu quero vê-lo. — Ouço a voz de Vincenzo. Há dor em suas palavras. Isso
me faz chorar.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Eu irei vê-lo, de um jeito ou de outro — ele anuncia.
— Vincenzo, vamos lá, você precisa ir para casa. Há o Mathew. — É a voz
de minha mãe.
— Mathew está bem, está sendo bem-cuidado. Não vou sair daqui, Beatriz
nem tente.
— Eu ficarei com ela — afirma minha mãe.
— Não. Por favor, sei que você é a mãe dela, mas eu não sou capaz de deixá-
la. Não estou indo para casa.
— Você gosta realmente dela...
— Eu a amo. — Minha mãe soluça ao ouvir as palavras. Joseph me ama.
Joseph Vincenzo me ama. Joseph Vincenzo Tudão me ama!
— Eu quase morri uma vez — ela diz chorosa. — Bernardo não saiu do meu
lado durante todo o período em que estive em coma. Dói ver minha princesa
assim, passando pelo mesmo...
— Ela é forte. Vai ficar bem — assegura Vincenzo. — Ela é a minha
princesa também.
Eu forço abrir os olhos e então, mais uma vez, sou engolida...
Dessa vez o pesadelo dá lugar ao sonho.
Sonho com mãos fortes, abraço protetor, ruídos excitantes, corpos suados,
barba arranhando minhas coxas. Hum... Joseph Vincenzo é tão
deliciosamente gostoso.
— Flor, você está gemendo, porra, Maria Flor! — Ouço a voz distante dizer e
sorrio em meu sonho. Não quero acordar.

— Quando ela vai acordar? Já faz quatro dias.


— Senhor Vincenzo, perdoe minhas palavras, mas, com todo respeito, o
senhor está enlouquecendo os funcionários do hospital. — Uma mulher o
repreende. — Assim que ela obtiver alta, todos os enfermeiros precisarão de
ao menos de quinze dias de folga para recuperar desse tornado que o senhor
está causando. Não adianta ficar nervoso, ela está estável, já, já estará
acordada.
— Vocês só sabem dizer isso. Estou ouvindo esse caralho há quatro malditos
dias. Eu preciso que ela acorde — ele esbraveja tentando soar baixo. Eu
quero rir, mas não tenho forças para isso.
— Ela vai acordar, em algum momento.
— Eu vou pedir transferência para algum hospital melhor! — ameaça.
— Esse é o melhor da Califórnia, senhor, sinto desapontá-lo.
Sinto sede, muita.
Preciso de forças, por favor, Deus!
Abro minha boca, percebo que ela está tomada por uma secura horrível.
Forço as palavras e finalmente elas saem.
— Flor? Você acordou? Fala comigo, meu amor — ele pede, segurando
minha mão. Forço abrir os olhos. Minha visão está turva. Demoro a me
acostumar com a claridade e tento focar em Vincenzo. Sua barba está grande,
há olheiras em seus olhos. Ainda assim, ele está lindo como sempre.
— Ei.
— Porra! — Ele quase grita soltando um suspiro alto.
— Senhor Vincenzo, talvez seja interessante o senhor conter o volume da fala
— repreende a enfermeira. Ele faz uma careta. — Bem-vinda de volta, Maria
Flor. — Ouço sua voz e então viro minha cabeça aos poucos, para encontrá-
la. Ela é uma senhora, na casa dos cinquenta anos, é gordinha e muito fofa.
Eu sorrio para ela e Joseph suspira.
— É a coisa mais linda desse mundo.
— Esse homem está me enlouquecendo, fico feliz que tenha acordado, assim
terei minha sanidade de volta. — Ela sorri. — Prazer, meu nome é Adelaide.
— Ei.
— Você deve estar com sede, irei buscar água e chamarei o médico para
verificá-la — informa e some do meu campo de visão.
— Minha princesa, você voltou para mim.
— Mathew?
— Ele está bem. Está em casa, quase cem por cento por recuperado — diz
sorrindo. — Você acorda e a primeira coisa que pergunta é pelo meu filho...
O que eu faço com você, Flor?
— Sei de muitas coisas — sussurro com a voz falha, porém, a realidade me
engole. A ideia de ter alguém tocando em meu corpo, de repente, me deixa
desesperada. Eu o puxo para mim e, sem que possa conter, começo a chorar.
— Não me deixa sozinha. Por favor. Promete? Não quero nunca mais ficar
sozinha.
— Flor, me mata a cada vez que ouço essas palavras... — confessa,
abraçando-me forte e meu mundo escurece, mais uma vez.
CAPÍTULO 16

— Porra! Graças a Deus eu não tirei sua roupa. Jamais me perdoaria se


estivesse nua agora — digo, fechando minha calça.
— O carro está fedendo a sexo e não sou capaz de ficar de pé agora. — Tão
logo compreendo as palavras de Melissa, pego minha blusa e limpo os
resquícios de minha excitação. Incrivelmente isso me deixa duro novamente.
— Você está me olhando como se quisesse me devorar.
— Eu quero. Porém, neste momento, querer não é poder. — Ela sorri e logo
batem novamente na janela. — Ok, está tudo certinho?
— Sim, o que falaremos?
— Que paramos para tirar um cochilo, apenas — informo.
— Tem certeza de que esse vidro é escuro o bastante?
— Tenho, Melzinha, nós testamos. — Abro a porta e saímos juntos.
— Melissa Fontana? — diz um policial, surpreso, e faz uma análise profunda
sobre minha esposa. Não gosto disso.

Ok, fodeu! Sem lubrificante mesmo. Minha reputação não é das melhores,
principalmente se tratando de policiais. Digamos que eu já tenha cometido
alguns desacatos no passado. O que eu posso fazer? Esses filhos de putas
ficavam me perseguindo como se eu fosse uma criminosa. Qual o crime há
em beber, dançar e subir em balcões para dançar? Quero saber onde está
escrito que isso é proibido!
Paciência é uma virtude que não possuo.
— Eu terei que mediar a conversa — informo para Arthur – que está com a
cara bastante fechada e quase quebrando meus dedos, tamanho a força do
aperto em minha mão. Virgem da grutinha dos homens possessivos, isso é
quente na maioria das vezes, mas agora estou com medo real e oficial. Vir
para Florença com ele era a realização de um sonho de princesa, mas agora
está parecendo um pesadelo.
— Pois bem, dona Melissa Fontana, o que faz parada no meio da estrada e no
banco de trás do veículo?
— Pois bem, cabo Giordano — digo observando o nome em sua camisa. —
Nós dois estávamos dormindo. Você sabe, travar uma fuga da imprensa pode
ser bastante cansativo. Estou sendo perseguida duramente em Milão, então
resolvi vir para Florença enquanto o advogado da família trabalha no
testamento do meu pai. Há algo contra? Está escrito na constituição que é
proibido estacionar o carro no meio do mato, embaixo de uma árvore, para
dormir? Ou será que o senhor acha que deveríamos continuar a viagem
correndo risco de dormir no volante e um acidente fatal acontecer?
Lembrando que um acidente na estrada pode vir a matar não apenas eu e meu
marido, mas pessoas inocentes, que não têm nada a ver com o fato de não
estarmos em condições de dirigir devido ao sono!
— Senhora Melissa...
— Senhora Melissa não! É um absurdo ser importunada dessa maneira. Eu
percebi seu olhar crítico, como se estivesse insinuando que estávamos
fazendo outra coisa além de dormir. Você sabe que posso processá-lo? É um
absurdo!
— A senhora pode tirar uma selfie comigo? — pede o outro policial, de nome
Rocco, e eu sorrio com toda minha simpatia.
— Não. Os senhores estão em trabalho e não quero que a imprensa descubra
onde estou. Aliás, ficaria grata se os senhores mantiverem o sigilo. —
Suspiro na minha melhor performance de atuação. — Os senhores permitirão
que eu tire um cochilo por mais meia horinha ou terei que dirigir embriagada
de sono? O que acho um grande absurdo, sendo que pago meus impostos.
— Desculpe-nos por importuná-la. Pode continuar com seu sono, não
queremos um acidente — diz o cabo Rocco, enquanto o outro me olha
desconfiado.
— Muito obrigada. Agora podem ir, por obséquio. — Sorrio e eles se vão.
Arthur me encara incrédulo.
— Que diabos você fez?
— Digamos que tenho dado para um bom advogado. — Sorrio piscando um
olho.
— Você tem dado realmente. — Ele sorri, um sorriso lindo e perfeito.
— Digamos que eu consegui mais trinta minutinhos.
— Trinta minutos? Nós podemos pensar em algo para ocupar esse tempo
— sussurro em seu ouvido, sentindo meu pau recém-dormido despertar para
a vida. Quando foi que virei insaciável e descontrolado? Se existe algo que
sempre possuí foi controle e agora, desde que Melissa surgiu, eu perdi a porra
toda.
— Eu quero montá-lo.
— Você é uma menina muito malvada, Melissa — digo apertando sua bunda
e a trazendo seu corpo mais próximo ao meu.
— Eu amo sua boca em mim, seu corpo sobre o meu ou o meu sobre o seu.
— Ela sorri mexendo em meus cabelos.
Enfio minha mão por dentro de seu vestido e traço beijos em seu pescoço.
Essa mulher é uma diabinha e está me enlouquecendo em grandes
proporções.
Ela mói sua intimidade em minha ereção, arqueia as costas e gira seus quadris
usando toda a incrível performance de rebolar que sua feminilidade permite.
Inclino-me mais abaixo e alcanço seu decote generoso. Mordo a carne
exposta e solto um gemido quando ela se esfrega tortuosamente contra mim.
Ela me puxa para dentro do carro e nós burlamos os trinta minutos,
transformando-os em mais de quarenta. Sim, nós gostamos de burlar as leis.
Gostamos do perigo.

— Nós estamos chegando? — questiono Melissa enquanto dirijo.


— Sim, mais quinze minutos — explica, buscando algo em seu celular. — Eu
acho que deveríamos optar por alguma pousadinha aconchegante ao invés de
hotéis luxuosos. A imprensa está atrás de nós. As chances de sermos pegos
em um lugar menos suntuoso e mais acolhedor é menor.
— Excelente.
— Então estacione. Eu dirijo a partir de agora, porque conheço bem Florença.
Já tenho um lugar em mente. — Assim o faço, então minha pilota de fuga
passa a comandar a direção.
Ela dirige muito bem, porém, é inconsequente ao extremo. Certamente ela
comprou sua habilitação.
Minutos depois, paramos em frente a uma pousada e Melissa desce para
resolver tudo, após pedir que eu me mantenha dentro do veículo. Isso é algo
que ainda preciso me acostumar. Mel não é o tipo dependente. Ela é mais o
tipo que vai e faz o que tem que ser feito, sem precisar de ninguém para
resolver nada para ela. Não estou acostumado com isso. Meu modo
controlador sempre me fez tomar frente de tudo e a falecida ficava mais do
que grata por não precisar fazer nada.
Consigo ficar quieto dentro do carro por exatos três minutos e, quando saio,
ela me intercepta no meio do caminho.
— Ora, ora, o bonitão dominador não consegue obedecer às ordens — diz,
cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas. Quase rio, quase.
— Fui um bom garoto por exatos três minutos.
— Você contou? — pergunta, incrédula.
— Sim, pode apostar. — Sorrio. — Então?
— Está tudo certo. Teremos uma boa estadia e sigilo garantido. Agora
precisamos estacionar o veículo na garagem e subir com nossas coisas.
Preciso de um banho. Alguém me deixou toda gozada.
— Eu nem perderia tempo tomando banho. Vou te sujar novamente.
— Senhor! Não sei se minha... grutinha vai aguentar essa pressão. Você fala
como se o seu pau fosse uma minhoca, mas, querido, preciso dizer que você
tem algo grandioso aí. Bem desproporcional à minha cavidade vaginal. Ela
precisa de algumas horas de descanso, real e oficial. — Eu rio por estarmos
debatendo isso em uma calçada.
— Ok, darei um descanso até a noite.
Melissa me provoca no banho, até eu ter seu rosto grudado contra a parede,
seus cabelos envolvidos em minha mão e sua bunda empinada enquanto a
fodo. Nós passamos o dia e a noite toda no hotel, comendo, dormindo e
assistindo filmes idiotas de comédia romântica.
Passeamos por Florença disfarçados, mas passamos a maior parte do tempo
na segurança e privacidade do hotel.
Em uma certa manhã, eu acordo com o telefone tocando. É Heitor: — Fala,
cara.
— Olha, eu odeio ser estraga-prazer, mas as circunstâncias me obrigam.
Cara, o mundo está desabando aqui em Los Angeles, nós precisamos de
você. Matheus, meus pais, todos já estão aqui. Todos estão surtando.
— O que houve? — questiono, receoso, enquanto Mel fica na cama atenta à
ligação.
— Para começar não podemos ir para nossa casa. Estamos todos em uma
mansão do Vincenzo, em Beverly Hills. Milena sofria violência doméstica, o
ex-marido dela é xerife e a situação foi tensa. Ela foi espancada e estuprada.
— Você está falando sério? — Deve ser brincadeira.
— Sim. Por conta disso, Vincenzo tem nos mantido em sua mansão, rodeados
de seguranças. Acontece que o ex da Milena pegou Maria Flor, ela está
internada há alguns dias, acorda por alguns segundos e desmaia em seguida.
Estão todos loucos, está um caos. O homem foi preso, mesmo assim é
arriscado.
— Ok. Estamos em Florença. Vamos voltar para Milão e pegarei o primeiro
voo.
— Me informe o horário do voo quando souber. Mandarei um carro buscar
vocês no aeroporto — diz antes de encerrar a ligação.
— O que houve, amor?
— Precisamos ir para casa. Quer dizer, para a casa de Vincenzo. Maria Flor
está no hospital, ela sofreu algum tipo de abuso do ex-marido de Milena.
Milena foi estuprada e espancada.
— Sério?
— Sim, Mel. Fim da lua de mel. Eu amei a viagem, mesmo que tenha sido
por um motivo ruim. Amo você, mas preciso estar com eles agora. Ficarei
feliz e mais tranquilo se puder ir comigo. — Ela sorri e vejo lágrimas
escorrendo de seus olhos. — O que foi?
— Você disse que me ama. Foi tão natural.
— Eu disse? — questiono, fingindo-me de bobo e ela faz uma careta. — Eu
disse — afirmo, puxando-a pelas pernas e a pegando em meus braços. —
Você vem comigo, não vem? Por favor.
— Eu vou com você. Amo você, meu sonho de princesa, pirocomon extremo.
— Tão romântica e maluquinha. — Sorrio. — Precisamos ir. Prometo uma
lua de mel no estilo sonho de princesa, conto de fadas.
— No caso conto de fodas — argumenta.
— Melhor ainda, não acha?
— Sim.

Em Milão, antes de pegarmos um voo, Mel se encontra com o advogado e


consegue adiantar algumas assinaturas necessárias.
Em menos de 24 horas após a ligação de Heitor, pousamos em Los Angeles e
realmente se parece uma cena de filme: um filme de terror. Vamos em um
carro com dois seguranças armados e escoltados por duas motos. Parece que
a situação é mais séria do que pensei.

Desolação é tudo que vejo.


Cada um aqui tem sua maneira de sofrer.
Eu sofro tentando demonstrar minha força e meu autocontrole. Beatriz sofre
chorando o tempo todo. Bernardo sofre no mais profundo silêncio,
demonstrando o quanto está fodido.
Estamos apenas nós três no hospital, dia e noite. Nas poucas vezes que Maria
Flor acordou, ela só falou comigo; as mesmas palavras repetitivas que batem
direto no meu sistema e me fazem querer matar Anthony com as minhas
próprias mãos. Ele, felizmente e para o próprio bem, não chegou às vias de
fato com Flor. Mas fez algo que eu ainda irei descobrir, pois só isso justifica
o pavor dela em ser tocada e de ficar só. Ele tocou em minha garota, agrediu
física e psicologicamente, assim como fez com a própria esposa. E, não
importa quanto tempo demore, eu o farei pagar até o último dia da sua vida –
vida essa que espero que seja curta.
Não fazia ideia que amava essa garota. Na verdade, ainda estou tentando
entender como é isso. Mas, vê-la ali, pálida e inexpressiva, desperta em mim
todos os tipos de sentimentos que nunca senti. Há uma vontade absurda de
protegê-la, de impedir que qualquer maldade humana chegue perto da minha
garota. Há a vontade gigante de tê-la testando meus nervos, sorrindo e
provocando. A vontade de fazer coisas simples, como jantar fora, ir ao
cinema, apreciar uma praia. Eu nunca quis isso com qualquer pessoa, mas eu
quero com essa pequena ninfeta que me tem prendido pelas bolas. Isso parece
ser amor, então só tenho que aceitar e me dar por vencido. Ela conseguiu o
impossível, admiro-a por isso.
Neste momento, estou a observando através da vidraça. Bernardo e Bia estão
com ela, que não exibe qualquer tipo de reação. É uma cena fodida. Bia está
chorando e Bernardo está segurando a mão de Flor, enquanto mantém sua
cabeça baixa. Sei como ele se sente, eu senti o mesmo com meu filho dias
atrás.
É fodido ver um filho em cima de uma cama de hospital e saber que você é
praticamente um inútil. Nosso poder torna-se nulo dentro de um hospital. O
dinheiro só pode pagar o melhor tratamento, a melhor estadia, os melhores
médicos, mas é incapaz de comprar a saúde de uma pessoa. Eu juro que se
comprasse teria dado todo ele na cura de Mathew e de Flor. Mas, como isso é
algo que foge do meu controle, tenho que me apegar à fé em Deus e na
equipe que cuida do meu menino e da minha garota.
Mathew está em casa, mas ainda está sendo acompanhado por enfermeiros e
médicos. Parece que, ele estar em casa, no conforto do meu lar, passa-me
mais segurança e esperança. Hospitais são frios e obscuros. Há tantas pessoas
que perderam suas vidas neste local e isso o torna assombroso o bastante.
Bernardo sai do quarto e eu resolvo me acomodar ao lado dele.
— Eu passei por isso há muitos anos — revela, quebrando o silêncio. —
Beatriz sofreu um acidente de carro e quase morreu. Foi infinitamente mais
grave do que o caso de Flor, porém, eu passei a odiar hospitais desde aquele
dia trágico. Ela ficou por um longo período em coma e fiquei exatamente
como você. Não saía do lado dela para porra alguma. — Ele sorri fraco. —
Meus sogros foram compreensivos comigo. Eles permitiram que eu dormisse
com ela e ficasse a maior parte do tempo. Hoje, entendo o que meus sogros
passaram e o quão bons e generosos eles foram, por permitir que eu ficasse
no lugar que eles queriam estar ocupando.
— Imagino.
— O que eu quero dizer é que estou feliz por saber que você sente pela minha
filha o mesmo que eu sentia e sinto pela minha esposa. Você a ama, de
verdade. Só um homem que ama é capaz de desistir de viver a própria vida e
passar a viver a rotina hospitalar da mulher que ama. Você renunciou ao seu
filho, como eu renunciei à convivência com Heitor. Nos primeiros dias, não
saí do hospital para nada, mas, depois, passei a tirar duas horas para estar
com meu filho. Ele era muito pequeno na época. Essa cena, por mais fodida
que seja, me remete diretamente ao passado. Eu não consigo não sentir as
dores que as lembranças me trazem. Achei que perderia Beatriz. Vi seu
coração parar de bater diante dos meus olhos, então os médicos tentando
reanimá-la. Você tem ideia do desespero que foi?
— Não, eu não tenho ideia.
— Foram os piores dias da minha vida e, de alguma forma, esses últimos dias
também têm sido. Ser pai é uma loucura. Eu sinto que perdi meu coração e
que ele só voltará a bater quando Flor acordar de vez.
— Eu sinto o mesmo, não querendo comparar nossos sentimentos. Sei como
é sentir a dor de ver um filho em cima de uma cama de hospital. O que quero
dizer é que está doendo em mim muito mais do que imaginei. Eu não sabia
que ela significava tanto.
— Entendo. Nós nunca sabemos, na verdade, até corrermos riscos de perder a
pessoa para a eternidade. — Suspira. — Beatriz, antes de eu conhecê-la, foi
drogada e quase estuprada. Isso que aconteceu com a nossa filha está batendo
muito forte sobre ela e sobre mim. Eu nunca senti vontade de matar alguém
antes, mas estou sentindo agora. A sorte é que ele não conseguiu ir além, mas
sei que minha menina passou por um terrorismo, eu sinto.
— Ele vai pagar, tem minha palavra.
— Ela sempre foi uma pimentinha, desde criança. Esperta, forte, dinâmica,
travessa e de uma inteligência absurda, para o bem e para o mal. — Ele sorri.
— Ela testava todos os limites e ia além deles. Dobrava a todos com sua
sagacidade. Tenho certeza de que se ele não foi além, é porque ela usou da
inteligência. Preciso que ela acorde. Preciso ver o sorriso perfeito que só ela
possui. Eu amo meus filhos, mas ela, por ser a garotinha, sempre me teve em
suas mãos. Eu a mimei, pra caralho. Qualquer coisa que ela quisesse eu dava,
passava por cima de qualquer um que tentasse me impedir.
— Eu imagino. Ela é adulta e eu faria qualquer merda que ela quisesse —
confesso.
— Mas você não vai fazer — ordena.
— Não, não vou.
— Te admiro por isso. Eu não havia aceitado muito vocês dois, mas, desde
que cheguei nesse hospital, consegui enxergar muitas coisas. Sei que ela está
em boas mãos. Você é um grande substituto para quando eu não estiver por
perto. Sinto que posso ficar tranquilo.
— Você pode. Eu farei tudo para mantê-la segura e feliz.
— Sei que sim — concorda. — Eu preciso levar Beatriz para sua casa. Aliás,
não é apenas sobre Maria Flor minha gratidão, é sobre Heitor também. Não
existem palavras para agradecer o que fez e está fazendo por ele e Milena.
— Sempre estarei aqui por eles, independentemente de estar em um
relacionamento com Flor. Sou contra qualquer ato de violência contra
mulher.
— Você é um homem bom — afirma, dando-me um aperto de mão.
Meia hora depois estamos apenas eu e Flor.
Fico a observando, vendo seu peito subir e descer de acordo com sua
respiração lenta. Fico assim por horas até pegar no sono.
Sou desperto por uma mão em meus cabelos. Esfrego meus olhos e a
encontro acordada.
— Por favor, permaneça acordada, não vou suportar vê-la apagada
novamente — peço, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. Porra, eu
nunca chorei por qualquer mulher na vida.
— Ei, Tudão. Me sinto melhor.
— Você sente? — Pergunto, esperançoso.
— Sim. Eu sonhei com você.
— O que você sonhou? — questiono, curioso, enquanto afago seu rosto
perfeito.
— Que estávamos transando na cama de um hospital. — Ela sorri, mas logo
sinto seu corpo tremer e vejo seu sorriso morrer. Já sei o que vem adiante,
mas nunca, nunca estarei preparado. — Eu não quero que ninguém me toque,
nunca mais.
— Flor...
— Você me protege? — questiona, chorando e cortando meu coração.
Abraço-a como consigo. Ela parece uma criança assustada, vulnerável e com
medo de tudo e todos.
— Eu protejo você, você é minha.
— Ele me tocou — confessa aos prantos. Eu tento segurar o ódio, seguindo
os conselhos de Matheus. Tudo que importa neste momento é ela. Preciso
lidar com ela primeiro, antes de tomar qualquer atitude que burle as leis.
— Ele nunca mais vai tocar em você. Ninguém mais vai tocar em você.
— Estou com medo — confessa.
— Não fique. Estarei com você. Você tem a mim, Flor.
— Ele tentou...
— Não fale — peço, incapaz de continuar ouvindo. — Não fale agora, por
favor.
— Nunca mais eu vou sair de casa. — Decido não discutir sobre isso, mas
faço uma nota mental para procurar um bom profissional para ajudá-la a lidar
com o trauma.
— Você não precisa fazer nada que não queira, ok?
— Quer se casar comigo? — pede, fazendo-me sorrir. Casar...
— Ora, ora, você está me pedindo em casamento, Flower? — Afasto-me para
olhar em seu rosto que está tomado pelas lágrimas.
— São os remédios me deixando confusa — argumenta, dando um sorriso
fraco. — Estou com medo — repete.
— Não fique. Você está segura comigo. Agora preciso chamar o médico para
verificá-la.
— Não vá — pede, segurando minha camisa com força. — Não me deixa
sozinha.
— Eu só vou pegar o telefone e solicitar a presença médico — informo.
Quando o médico chega, Flor dá uma crise de choro devido ao fato de não
querer que ele a toque para examiná-la. Perco um pouco de ação, enquanto
ela se mantém grudada à minha camisa.
Mais uma vez não sei como agir ou o que fazer. Só sei que não a soltarei, em
hipótese alguma.
CAPÍTULO 17

Após seis dias no hospital e muita insistência de todos os meus familiares, os


médicos decidiram optar pela alta.
Ficar nesse lugar com pessoas desconhecidas tendo que me tocar,
respondendo perguntas, passou a ser sufocante desde o minuto em que
acordei.
Sinto-me como uma menina mimada e pirracenta, gritando a cada vez que
surge alguém desconhecido perto de mim. Eu juro por Deus, estou usando
toda a força que possuo para ignorar as peças que minha mente está pregando
em mim, mas não estou conseguindo, não dessa vez. Quando o médico surge
na porta, fico dividida entre aceitar e rejeitar, eu luto internamente para a
primeira opção sobressair, mas, conforme ele se aproxima, sou tomada pelo
pavor. E não é apenas por ele ser homem, eu faço o mesmo quando é uma
mulher – tipo as enfermeiras. Eu não suporto ver qualquer pessoa que não
tenha o mínimo de familiaridade comigo. Perdi a fé nas pessoas e em mim
mesma. Sou culpada por quase ter sido estuprada. Tudo porque decidi
pirraçar Joseph Vincenzo e fugi de seus seguranças, que estavam lá para
garantir a minha segurança.
A maior dor não é a física por estar toda quebrada. A pior dor é a emocional,
a de saber que cometi um erro imprudente e estive prestes a ser violentada; é
fechar os olhos e ter flashes dos acontecimentos daquele dia; é ouvir aquela
voz que grita maldade enquanto tento dormir. Acho que nunca serei capaz de
superar esse acontecimento. Nem mesmo consigo pensar em ter qualquer ato
de intimidade com Vincenzo, mesmo que eu tenha sonhado com isso
também. Fui tocada, não de uma maneira carinhosa. Ele esteve bem perto de
concluir o ato, só se conteve após eu começar usar Milena para brincar com
sua mente. O homem é um doente, arrisquei-me a falar de Milena e ele se
conteve prontamente. Eu disse que se ele me tocasse, espantaria qualquer
possibilidade de tê-la novamente. Disse que eles formavam um casal bonito,
que ela o amava e só estava perdida. O maior choque foi perceber que ele
estava ponderando minhas palavras e que elas fizeram um efeito totalmente
inesperado, o impediram de ir além no ato sexual, mesmo que não tenham
feito efeito nas agressões. Ao menos não fui estuprada. Se só com o fato de
ter sido tocada adquiri um pavor, se ele tivesse ido além eu acabaria com a
minha própria vida, estou certa disso.
Estou no banheiro e Joseph está na porta, virado de costas, esperando-me. O
simples pensamento de ficar só me dá arrepios e um medo terrível. Tão
contraditório à minha personalidade arisca. Sempre fui desprovida de medo e
de pudores, nunca fui dependente de qualquer pessoa, exceto quando eu ainda
usava fraldas. Agora, não sou capaz de ir ao banheiro sozinha ou ficar só em
qualquer lugar.
Após concluir minha higiene, ando com dificuldade até a porta e Vincenzo
me segura cuidadosamente: — Está pronta para irmos?
— Sim, papai. — Seus olhos sempre escurecem quando digo isso. Eu deveria
parar de provocá-lo, porém, é mais forte que eu. Aliás, tudo tem sido mais
forte que eu, realmente. Perdi o controle total.
— Eu acho melhor pegarmos uma cadeira de rodas — diz...
— Não. Eu quero andar um pouco, consigo ir devagar. — Ele me encara
sério, sentindo-se contrariado obviamente, mas, felizmente, permite que eu vá
andando usando-o como muleta.
Ele assina alguns papéis na recepção e então saímos. A claridade bate forte
em meus olhos e fico tonta após ter passado seis dias imersa à escuridão e
baixa luminosidade.
— Você está bem? Não vai desmaiar, não é mesmo? — pergunta,
completamente preocupado.
— Estou bem. É só a claridade.
Assim que consigo estabilizar minha visão, vejo o carro de Joseph entre dois
carros da Vincenzo com quatro seguranças em cada. A situação é
assustadora, mais séria do que eu realmente imaginava antes...
Ele me auxilia a entrar no carro e o pouco que ele demora para caminhar até a
outra porta e se acomodar, faz meu corpo tremer de medo.
Quero chorar por estar me sentindo ridícula, porém, contenho-me. A pior
coisa que existe é você se dar conta de que está num completo descontrole e
não consegue ter forças para lutar.
Vincenzo coloca os óculos escuros e o observo. Sério, acho que esse homem
tem o poder da minha cura para todas as enfermidades. Só de olhar seu rosto
perfeito meu coração bate mais forte.
Sua barba está bem grandinha, ele parece um lenhador, um homem primitivo.
Isso é quente. Eu ainda não acredito que ele é meu e que o ouvi dizer aos
meus pais que me ama. Pergunto-me o que fiz para conquistar esse homão.
Ele fez muito.
Eu não.
Levo minha mão ao seu rosto e ganho sua atenção.
— Estou muito barbudo, não estou?
— Está lindo. Eu gostei, de verdade. — Sorrio.
— Eu espero que nunca mais tenhamos que voltar a esse hospital, Maria Flor.
Não sei se posso passar por isso uma terceira vez — diz sério. — Nós ainda
teremos uma conversa, mocinha, uma conversa bem séria.
— Você tem um filho pequeno e pode vir a ter outros filhos, obviamente
você terá que enfrentar hospitais uma vez ou outra, crianças adoecem.
— Não sei se sou capaz de enfrentar um parto. — Fico feliz de tê-lo distraído
da minha bronca.
— Você não esteve presente no parto do seu filho? — questiono.
— Não. Eu e Diana tínhamos um relacionamento muito ruim e, além disso,
eu estava em uma viagem de negócios. O parto dela não foi devidamente
programado.
— Você quer ter mais filhos? — questiono, enquanto ele liga o carro e
começa a dirigir.
— Nunca quis. Ser pai nunca esteve nos meus planos até surgir Mathew.
Você quer ser mãe?
— Sim. Quero ter dois filhos ou três. — Ele me encara em choque, quase
freando o carro.
— Um só não está bom?
— Não. Quero ter mais de um. Dois é um bom número, três é excelente —
explico. — Minha família é bem reprodutora, quero manter o ritmo.
— Eu estou fodido!
— Você será o pai dos meus filhos? — Questiono gracejando. Ele dá um
sorriso de lado.
— Tente fazê-los com outro homem — ameaça.
— Achei que você não queria mais filhos...
— Vamos mudar de assunto?
— Fica nervoso? — questiono quase rindo.
— Quando você pretende ser mãe?
— Assim que eu me formar na faculdade quero ter o primeiro. Quero me
formar grávida — confesso meus planos para testá-lo, ele balança a cabeça
em concordância.
— Em cinco anos. É um bom período para eu me adaptar a ideia. — Ele trata
o assunto filhos como se estivesse tratando de negócios. É cômico. Joseph é
lindo. Já imagino nossos filhos. Adoraria uma garotinha parecida com o pai,
certamente ela será muito pior do que eu fui quando criança.

Chegamos em casa e todos estão me esperando com uma recepção de boas-


vindas, porém, minha cabeça dói com todo alvoroço. A cabeça tem sido a
pior parte, qualquer coisa dói.
Mel é a pior. Ela vem feito um furacão para cima de mim e começa a chorar.
— Nunca mais me dê um susto desses — diz, chorando em meu ombro.
— Eu já estou bem, Melzinha. Quero saber de todas as novidades, mas agora
não sou capaz de socializar. Preciso de um quarto escuro e uma cama
confortável — explico e ouço um grito.
— Tia Flower! — diz Mathew, começo a chorar ao me dar conta de que já
estou apegada o bastante nele e ele em mim.
Mel se afasta e ele abraça minha perna. Não consigo agachar para brincar
com ele. Joseph o pega no colo e beijo sua barriga gordinha.
— Ei, amigo. — Sorrio limpando meus olhos. — Você está melhor?
— Eu sou forte. Papai disse que você também é forte.
— Papai está certo, nós dois somos muito, muito fortes, não somos?
— Tia Flower é a supergirl e eu o Batman. Papai pode ser o super-homem —
comenta, rindo.
— Claro que podemos. Eu amo a supergirl.
— Tia Flower, nós podemos jogar no celular?
— Podemos. Mas tia Flower precisa descansar um pouco agora, para poder
ficar bem forte para jogarmos — explico, beijando sua bochecha.
Heitor surge. Como num passe de mágica, Mathew sai dos braços de Joseph e
corre direto para ele. Heitor é o rei das crianças, sempre foi. Acho que é seu
jeito moleque rebelde que atrai todas.
Após cumprimentar a todos e rejeitar a comemoração, sigo para o quarto.
Vincenzo fecha todas as cortinas e prepara um banho na hidromassagem para
mim. Ele cuida de mim como se eu fosse uma preciosidade. Após muita
insistência, ele se junta a mim na banheira.
Através da água o vejo duro e descubro o motivo de ter sido relutante. Ele
sabe que não sou capaz de fazer qualquer coisa agora. No final, sinto-me
ruim por tê-lo feito tomar banho comigo.
— Você está...
— Não há como lutar, acredite, eu tentei. Mas você está nua, a um palmo de
distância, fica difícil controlar. Sinto muito, Flor. Não quero que pense que
estou desesperado para fodê-la. Até estou, mas compreendo tudo que você
viveu, tudo o que vivemos nos últimos dias. Sexo está longe de ser a
prioridade. Nós vamos esperar você estar bem em todos os sentidos, não
apenas fisicamente.
— Tenho medo de não conseguir... — confesso. — Eu sinto tesão em você,
mas tenho medo.
— Eu tirarei todos os seus medos, acredite em mim, meu amor. Quando
chegar o momento, tudo o que você não irá sentir é medo — assegura,
passando a mão em minha bochecha carinhosamente.
— Nós meio que voltaremos à estaca zero. Eu serei como uma virgem.
— Eu tirarei sua virgindade quantas vezes forem necessárias. — Ele acalma
meus medos e receios.
— Você é tão forte, tão viril. Tenho medo de que não espere por mim.
— Flower, o remédio está afetando seus pensamentos, só isso explica essa
última confissão que fez — repreende. — Minha única necessidade tem
nome, um sorriso lindo e um rostinho de anjo que engana qualquer cristão. —
Ele sorri. — Quero você, Flor. Só você. A minha garota.
— Eu amo ser sua garota. Me perdoe por ter errado com você.
— Nós estamos nos encaixando um ao outro, nos adaptando a um
relacionamento. Eu também cometerei erros, Flor, acredite. Porém, não se
arrisque mais dessa maneira, por favor. É tudo que peço, nada além da sua
segurança.
— Prometo. — Faço minha jura beijando sua mão. Ele dá um sorriso fraco,
porém, satisfeito.
Quando estou devidamente limpa e vestida, deito-me na cama e ele se
acomoda ao meu lado. Estou cansada, bastante cansada. Porém, o medo de
ficar sozinha impede que eu me renda ao sono.
Com uma certa dificuldade, viro-me de lado e fico o observando. Ele aparou
a barba, mas futuramente, quando eu estiver bem-disposta, irei persuadi-lo a
mantê-la grande.
— Você está um pouco bravo comigo, não está? — questiono, observando-o
fixamente enquanto traço o polegar em seus lábios: — Muito. Pouco não. Eu
estou muito bravo — confessa suspirando. Até mesmo seu maxilar fica
rígido. — Por Deus, Maria Flor, se algo pior tivesse acontecido com você eu
teria cometido o meu primeiro assassinato. Aquele homem estaria morto.
Aliás, eu pretendo matá-lo. Além de tudo que ele fez com Milena, ele bateu
em você, Flor, ele tocou em você — diz, fechando os olhos. — Não vou
acusá-la, mas porra, Maria Flor, você foi inconsequente e...
— Infantil. Eu sei.
— Nunca mais faça isso. Nunca mais repita esse tipo de ação, Flor. Da
próxima vez pode ser que não tenhamos tanta sorte.
— Eu estou tão arrependida — digo. — E eu estou cansada também, porém,
tenho medo de que, quando eu fechar os olhos e dormir, você me deixe
sozinha.
— Eu não a deixarei. Irei dormir junto com você, estou cansado também,
minha princesa. À noite preciso ficar com Mathew.
— Sim. Você pode segurar minha mão para eu dormir? — peço novamente,
sentindo-me ridícula.
Sua mão encontra a minha por baixo do edredom e então fecho os olhos.
Acho que não demoro nem dois minutos acordada. Simplesmente me rendo o
sono.

SEGUNDA SEMANA APÓS O OCORRIDO


Tudo mudou.
Tornei-me uma mulher dependente, como se eu sofresse alguma doença que
me deixa impossibilitada de fazer toda e qualquer atividade sozinha.
Nunca imaginei que um dia passaria por uma situação como essa. A verdade
é que só achamos que esse tipo de coisa acontece com as demais pessoas,
nunca conosco. Pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente de
qualquer característica social. Qualquer pessoa no mundo pode ser vítima de
abuso sexual, inclusive homens.
Eu e Milena, estamos fazendo acompanhamento psicológico em casa, com
psicólogas diferentes, obviamente. Mathew também está, para aprender a
lidar com a nova rotina que Vincenzo está proporcionando. Em um primeiro
momento, achei desnecessário já que o garoto nem lembra da existência da
mãe, mas estava completamente enganada. Agora eu entendo por que tia Vic
até hoje faz tratamento com tio Ricardo, é benéfico ao extremo da palavra.
Porém, mesmo com todos os benefícios, não consigo voltar à rotina. Estou
estudando de casa e sempre tem que ter alguém ao meu lado. Só fico sozinha
quando vou ao banheiro e, mesmo assim, fico desesperada para fazer tudo
logo e voltar a estar na companhia de alguém. Vincenzo tem ficado comigo
boa parte do tempo. Quando ele não está comigo, estou com Mel, Isis,
Arthurzinho, Thor ou Milena. Há quatro dias, tio Theus, tia Vic, minha avó e
meus pais voltaram ao Brasil.
Minha avó foi apenas para resolver algumas questões. Sua mudança para a
Califórnia já é certa, assim como a mudança do tio Theus e Tia Vic.
Agora mesmo estou pairando no corredor. Todos já foram se deitar e
esqueceram de mim no banheiro. Vincenzo está com Mathew e sou incapaz
de interromper o momento, porque sei que ele está fazendo o garoto dormir.
Não tenho coragem de perturbar Isis, porque Bruce está dormindo com ela
hoje. Não tenho coragem de perturbar Arthurzinho, porque ele e Mel estão
numa espécie de lua de mel. E, não tenho coragem de perturbar meu irmão,
porque ele está cuidando de Milena.
Por falar em Milena, eu e ela viramos grandes amigas. Ela tem me dado força
mesmo que não esteja possuindo uma boa quantidade. Ela é uma mulher
incrível e seu tratamento está tendo mais progresso que o meu. Porém, no
caso dela, é porque ela quer vingança. Isso tem deixado Heitor um pouco
louco nos últimos dias. Milena simplesmente cismou que vai se reerguer e
acabar com Anthony. Eu faria o mesmo, mas não consigo. Não tenho nem
mesmo porte de arma. Já ela tem porte de arma, entrada facilitada no presídio
e tudo mais. Tomara que ela meta um tiro no pau daquele desgraçado de
merda.
Arrisco ir até a cozinha sozinha, está tudo escuro, sendo iluminado
exclusivamente pela luz da lua cheia que brilha lá fora. Através da porta de
vidro, vejo alguns seguranças e é tão assustador. Isso tudo que tem
acontecido nos últimos dias parece como um filme, porém um filme que está
longe do fim.
Com as mãos trêmulas pego um pote de bombons. É estranho, pois o tempo
todo eu sinto que há alguém atrás de mim, alguém se aproximando, alguém
perseguindo. Mas quando olho para trás nada vejo. Sinto que vão me pegar
com mais força e então me arrependo amargamente de ter arriscado vir até a
cozinha.
Respiro fundo algumas vezes enquanto tento conter o pânico, mas não
resolve. Ouço um segurança tossir e quase morro. O suor frio brota e minhas
pernas falham. Escorrego do balcão até o chão, deixando de lado o chocolate.
Abraço minhas pernas, fecho os olhos e começo a cantar uma música que
minha mãe cantava para mim quando eu era pequenina: Seus olhos, meu
clarão Me guiam dentro da escuridão Seus pés me abrem o caminho Eu sigo
e nunca me sinto só Você é assim Um sonho para mim Quero te encher de
beijos Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito Eu
começo a chorar de saudades. Queria estar nos braços dela neste momento,
com quatro anos de idade, onde tudo era extremamente perfeito. Livre de
traumas, livre de medos e receios. Então, minha mente falha, levando-me
para o lugar onde tenho lutado para me manter afastada, meu choro passa a
ser por medo. Há tantos deles habitando em mim agora...
— Flor. — Ouço a voz de Vincenzo e então seus braços estão ao meu redor.
— Meu amor, o que houve? Por que está sozinha aqui?
— Eu não queria incomodar, então vim pegar chocolates, mas fiquei com
medo. Eu tentei enfrentar isso, mas não conseguir — explico chorando em
seu ombro, enquanto ele me tem em seus braços.
— Eu estou aqui, meu amor, estou aqui com você. Não vou deixar nada de
ruim acontecer com a minha menina... — afirma carinhosamente.
Ele coloca o pote de chocolate entre nós dois e segue rumo ao quarto. Sou
depositada sobre sua cama e ele se afasta para fechar a porta.
Limpo meu rosto com as mãos e ele se acomoda ao meu lado: — Que filme
vamos assistir hoje? — questiona, animado, abrindo dois bombons para cada
um de nós.
— Não sei.
— Meu amor, você não sabe o quão fodido fico por vê-la assim, Flower. Eu
faria qualquer coisa para ter um sorriso lindo neste rosto. — Suspira. — Me
perdoe por tê-la deixado sozinha, é que você estava com o pessoal...
— Eu vim tomar banho e quando saí não havia mais ninguém, eles devem ter
pensado que você estava comigo — explico.
— Por que não foi ao quarto de Mathew?
— Não gosto de interromper seu momento com ele, Vincenzo, o pobrezinho
já está tendo que dividir o pai comigo.
— Ele ama você, Flor, teria adorado ficar entre nós dois — diz. Eu imagino a
cena em minha mente, isso me faz sorrir. Mathew sempre me faz sorrir. É
absurdo o que vou dizer, mas é como se ele fosse meu filho. Passamos
bastante tempo juntos, jogando joguinhos no celular e assistindo desenhos.
Todas as manhãs, Vincenzo vai para a construtora, e eu e Mathew ficamos
juntos. É surpreendente que ele seja uma ótima companhia e que perto dele
eu não fique com medo? O garoto não me deixa nem ir fazer xixi sozinha.
Ele sempre me acompanha e fica virado para a parede, enquanto faço as
necessidades. É engraçado e curioso. — Flor, antes da nossa sessão cinema
preciso de um banho — anuncia, tirando-me do transe.
— Tudo bem — concordo e ele fica de pé. Oferece a mão a mim, que aceito
mais do que rapidamente. Em seguida seguimos para o banheiro e o ritual se
repete.
Eu me sento ao chão, ele se livra de suas roupas e entra embaixo da ducha. É
uma cena incrível.
Ele despeja xampu em suas mãos e lava seus cabelos, enquanto fico
observando a espuma escorrer por cada parte do seu corpo. Sinto uma inveja
momentânea dessa espuma... Não perco mais um único banho desse homem,
porque supera qualquer imagem erótica que eu já tenha visto antes. É de tirar
o fôlego.
Essas costas largas, essa bunda incrível, essa barriga "rasgada", essas
tatuagens incríveis... esse homem é uma obra-prima valiosíssima.
Seus olhos encontram os meus e eu desço o olhar para observá-lo duro. Sei
que sou a causadora, confesso-me culpada. Sei que ele está assim devido ao
olhar que está recebendo.
Agora ele despeja sabonete líquido e começa a lavar cada pedaço do seu
corpo. Quando suas mãos descem ao seu pau, vejo seu pomo de Adão subir e
descer com lentidão. Pobrezinho, meu homem está excitado e necessitado.
— Sonhei com você essa tarde... — confesso, observando seu rosto perfeito.
Ele sorri lavando a espuma de suas mãos, então as leva em seu rosto tirando o
excesso de água. Eu sorrio também.
— Ok, pequena, jogue a bomba em mim, estou esperando.
— Eu sonhei com nossa primeira vez, mas não houve cama ou delicadeza.
Você me fodeu assim que eu entrei na suíte, me fodeu contra a parede sem se
importar com hímen ou qualquer outra coisa. Eu chorei de dor e prazer ao
mesmo tempo.
— Quantos sonhos eróticos você tem tido comigo nas duas últimas semanas?
— questiona e sorrio.
— Alguns — digo suspirando. — Você não quer... tipo, se aliviar? — sondo,
apontando para seu magnífico pacote entre as pernas.
— Não. Estou bem.
— Você pode fazer, não me importo. Deve ser difícil. Não quer fazer por que
eu estou aqui? — pergunto.
— Não. Você poderia me ver, não tenho problema algum com isso. Você é
minha mulher. — Porra, nunca vou me acostumar com isso. "Você é minha
mulher". Ai papai...
— Sua mulher.
— Meu alívio se chama, Maria Flor — afirma. — Eu esperarei por você,
pequena. Não se preocupe com isso, estou bem, de verdade.
— Ok. — Merda, até hoje não demos um único beijo. Talvez seja o momento
de arriscar, sei que ele jamais fará qualquer coisa que vá me prejudicar.
Minutos depois, ele termina o banho, veste uma cueca e nos deitamos. Na
televisão passa um programa de notícias, à medida que luto internamente para
tentar algo enquanto ele faz cafuné em meus cabelos. Pego um bombom de
licor, o abro e dou uma mordida. O líquido escorre em minha boca e sorrio ao
ver Vincenzo atento aos meus movimentos.
Molho meu dedo no líquido e espalho pelos lábios dele, então,
audaciosamente, aproximo-me mais e passo a língua para limpá-lo.
— Bom... — digo ao meu homem que está tomado pela tensão neste
momento. Ele me respeita, absurdamente. Acho isso fantástico.
Termino de comer a outra parte do bombom e então o monto.
— Flor...
— Não me toque, ok? Só preciso tentar algo.
— Santa merda! Maria Flor. Tortura sexual é meu ponto fraco. Se você não
quiser ser tocada, afaste-se, princesa, por favor. Estava quietinho aqui, me
comportando como um bom homem, mas se você está em cima de mim as
coisas mudam de figura e eu não posso controlar, Flor, torna-se difícil
demais. Estamos separados por uma calcinha e uma cueca, eu estou sentindo
quão quente você está. É foda, Flor, não quero forçá-la, Deus é minha
testemunha. — Desesperado, é exatamente assim que ele está.
— Você pode tocar minha cintura e meus cabelos apenas, ok? — Suas mãos
encontram minha cintura por baixo da camisola e meu corpo todo se arrepia.
Abaixo-me e o beijo. Primeiro é um beijinho tímido e casto, mas de repente a
boca dele torna-se exigente e eu a acompanho. Uma mão deixa minha cintura
e a outra invade meus cabelos, então estou renascendo para a vida, como se
ele fosse a cura para todos os meus problemas. Nós dois somos quentes
juntos e essa parece a primeira vez que estou tendo essa percepção. Somos
uma explosão, um fogo avassalador.
Meus quadris ganham vida própria, agitando-se com fervor, minha pélvis
também se agita consideravelmente. Não sei se estou pronta para o próximo
passo, mas meu corpo está gritando para seguir adiante.
O corpo insiste por algo e a mente insiste para que eu pare. Eu sempre fui
quente, sempre fui intensa e sensível. É essa parte de mim que quero que
ganhe, nenhuma outra. É o duelo do século, minha mente versus o meu
corpo.
Eu não consigo ir adiante.
A mente vence e eu me afasto chorando, pois sei que piorei as coisas
consideravelmente para Vincenzo agora.
— Me perdoe por isso.
— Pelo amor de Deus! Maria Flor, está tudo bem, meu amor. É só um pau
duro, nada além disso. Não consigo explicar o quão louco você me deixa só
por existir — confessa. — Eu estou sonhando em te foder, Flor, sonhando.
Mas há um sonho maior, que sobressai ao carnal, o sonho de ter de ver bem,
recuperada psicologicamente. Isso é tudo o que importa agora, nada além
disso. Você pode me beijar, pode subir em mim, pode fazer o que quiser sem
precisar se desculpar depois. Está tudo bem, meu amor. Eu senti falta de te
beijar, se você puder me dar outros beijos ficarei muito feliz, mas, se isso for
demais, eu também estarei bem. Não vamos ultrapassar seus limites, em
hipótese alguma.
— Eu queria voltar a ser normal...
— Você é normal, Flor. É normal estar assustada e receosa após tudo o que
foi obrigada a passar. Não há nada anormal — ele diz, carinhosamente.
— Eu desejo tanto você, tanto. Tenho medo de que você tenha que ir buscar
em outra algo que não estou conseguindo te dar.
— Flor, isso é uma ofensa do caralho. Eu não sou um tarado, um maníaco
sexual que precisa buscar algo fora, porque não consegue manter o pau
dentro das calças. Você está muito mais preocupada com sexo do que eu —
briga sorrindo. — Pare com isso, princesa, está tudo bem. Não coloque mais
peso sobre si mesma. É desnecessário.
— Há dois dias, tive minha libido de volta...
— Eu percebi — afirma, deixando-me intrigada.
— Como?
— Os olhares — responde aos risos. — Mas tudo ao seu tempo, Flor, tudo ao
seu tempo. Estou preparando uma surpresa para você. É algo novo para mim,
mas farei por você. Nós vamos sair um pouquinho daqui, desse clima pesado
e vamos ter um pouco de diversão. Eu, você, Bruce, Isis, Arthur, Melissa,
Milena e Heitor.
— Não sei se quero sair de casa... — confesso.
— Vou saber convencê-la no momento certo. Agora relaxe, meu amor.
Vamos dormir ou você quer ver algum filme?
— Acho que prefiro dormir — digo, acomodando-me direito na cama. Joseph
desliga a televisão e então estou em seus braços. — Boa noite, papai.
— Diabinha. — Eu sorrio. — Boa noite, meu amor.
...
— Minha menina Flower — diz.
— Oi, papai. — Ele beija o topo da minha cabeça e solta um suspiro
demorado.
— Eu acho que te amo, Flor.
— Eu tenho certeza. — Sorrio emocionada. — Eu amo você, Joseph
Vincenzo.
CAPÍTULO 18

UM DIA ANTES DOS PAIS IREM EMBORA


Desde que meu pai chegou, meu recente relacionamento com Bruce tornou-se
um pouco difícil. Beira ao engraçado, mas é frustrante também. O homem
tende a ser ciumento e controlador, e agora que ele decidiu se mudar para a
Califórnia, sinto que meus dias estão contados. Pareço uma adolescente de
quatorze anos namorando no sofá, ao lado do pai. E meu pai tem feito de tudo
para tirar Bruce de perto de mim. A desculpa que ele inventa é assistir jogos
juntos, debater sobre leis, processos e tudo mais.
Pois é, meu pai está mesmo apaixonado por Bruce, porém, ele está usando
esse fato para me manter intocável. Só consigo beijar Bruce quando ele está
indo embora e, ainda assim, é um beijo bem mais ou menos devido aos
seguranças. Felizmente, conseguimos dar umas quatro escapadas e eu o
ataquei na primeira oportunidade. Bruce se fodeu e me fodeu junto. Ele não
quer um relacionamento baseado em sexo, quando ele é o melhor sexo que já
tive na vida. Isso tem dado um embate que, no momento, eu estou vencendo.
Neste momento estamos comendo aperitivos enquanto tomamos cerveja e
conversamos, porém, meu pai está aqui acompanhado do meu tio Bernardo,
bem diante de nós, exercendo todo seu controle.
Meu tio nem gosta de uma coisa errada.
Bruce leva tudo na brincadeira, acha a maior graça que meu pai seja assim e
tornou-se fã do tio Bê também. Eles viraram amigos íntimos e eu estou puta
por isso. Após três dias sem ver Bruce, eu achei que teríamos uma noite
tórrida sexualmente, mas a única coisa tórrida é a minha paciência.
Eu deixo os dois bonitões e decido ficar com minha mãe e tia Bia.
— Ei, princesa — chama tia Bia, acomodo-me sentando-me em seu colo.
— Mãe, não dá! Tio Bê e meu pai estão começando a me irritar.
— Relaxa, cara, você precisa aprender a relaxar, Isis. Há males que vem para
o bem, no final tudo pode ser usado para fins sexuais — aconselha tia Bia.
— Beatriz, você está ensinando técnicas sexuais à minha filha? Acho
desrespeitoso — anuncia minha mãe, fazendo sua cara de dramática.
— A espera pode ser benéfica, querida — continua Tia Bia rindo, então se
vira para a minha mãe. — Falou a santa que não briga igual louca só para ter
uma foda sinistra — rebate minha tia — Você acha que minha filha, Maria
Florzinha do caralho, não está trepando naquele espetáculo do Vincenzo? É
claro que ela está. Você acha que sua filha não está dando até os poros para
Bruce, vulgo chocolate delicioso, gostoso e quente, que eu nunca terei o
prazer de pegar por que sou casada com seu irmão? É claro que ela está! Eu,
se fosse ela, estaria dando até minha traseira! Olha aquele homem? Olha o
sorriso desse desgraçado? Bruce é a coisa mais perfeita que está tendo, dá um
combate e tanto com Tudão. Sento e quico sem parar.
— Em quem você se senta sem parar, Beatriz? — questiona meu tio,
aproximando-se. Minha mãe começa a rir.
— Em você, bebezinho — responde na maior cara lavada, e eu fico de pé.
Bruce surge enlaçando minha cintura, abraçando-me por trás, e meu pai se
acomoda ao lado da minha mãe.
— Eu estou muito indisposta. Algo que comi não fez bem — ela anuncia.
— O que foi, pequeninha? Quer um remédio? Vamos ao médico? Há algo
que eu possa fazer? — Exagero impera.
— Só preciso me deitar em uma cama aconchegante e em um quarto escuro
— diz encenando. — Bom, se você quiser pode ficar com eles, amor...
— Nem fodendo. Estou indo com você — responde meu pai de pronto. —
Essa Vic é muito safadona, Deus me livre.
— Bom que vocês anunciam que estão indo transar, é maravilhoso mesmo.
Amo ser parte dessa família, cambada de puto! — diz minha tia e Bruce
começa a rir. Pobrezinho, preciso levá-lo para passar o Natal conosco. Será
um teste onde ele poderá vir a desistir de mim ou entrará de vez na família.
Só os fortes permanecem pós-natal.
Minha mãe me dá um beijo e diz: — É a sua chance...
— Obrigada. — Sorrio abraçando-a.
— Vamos foder loucamente, Bernardo Brandão? — convida minha tia.
Prontamente meu tio a joga em suas costas. — Adeus, pessoas... — ela grita
apertando a bunda dele. Eles se vão, acompanhados dos meus pais.
Mel e Arthurzinho estão se pegando na piscina, Thor e Milena no quarto,
Maria Flor com Tudão, minha vó em seu quarto. Enfim, só eu e meu Bruce.
Viro-me de frente para ele, que tem um sorrisinho maldoso em seu rosto.
— Você é uma maquininha, não é mesmo, boneca?
— Eu?
— Você — afirma. — Vem comigo. — Eu vou. Seguro sua mão e vou,
porque eu não sou obrigada a passar vontade!
Ele nos guia para um lugar que eu desconhecia: a garagem da casa. Está
completamente escura, de um jeito que não enxergo um palmo à minha
frente. Bruce me joga em seu ombro e nos conduz como se tivesse total
conhecimento sobre o local.
— Eu acho que tenho medo de escuro — digo apertando sua bunda.
— Eu prometo protegê-la. Em alguns minutos, você nem se lembrará que
está no escuro — anuncia com malícia, e eu sorrio silenciosamente.
— Mas por que estamos em uma garagem subterrânea completamente escura
e você está conseguindo nos guiar sem bater em nada?
— Perguntas e mais perguntas, boneca... Eu conheço a área e sei onde estão
os veículos que aqui se encontram.
— Veículos no plural? — questiono.
— Vincenzo tem alguns brinquedinhos.
— Há alguma coisa que Vincenzo não possua? — brinco.
— Deve haver, senhorita apertadora de bunda!
— Nós vamos passear de carro, é isso? — Estou realmente curiosa.
— Não, Isis.
— Transar dentro de um dos carros?
— Não — afirma detendo seus passos. Sou retirada de seus ombros e
escorrego pelo seu peitoral rijo, até meus pés alcançarem o chão. É horrível
não ter o mínimo de iluminação aqui, nem mesmo a lua.
Sinto a mão forte de Bruce adentrando por entre os meus cabelos e sou
puxada contra seu corpo antes de ele grudar nossos lábios.
Seu beijo me prova que hoje ele está indo direto ao ponto da brincadeira.
Meu corpo incendeia e sinto seu membro ganhar vida, pressionado a minha
barriga. Ele vai nos guiando sem desgrudar nossas bocas e, de repente, minha
traseira bate em algo.
Bruce desconecta nossos lábios e me força a virar de costas. Posso dizer
também que hoje ele não está para romance. Seu toque está mais selvagem,
seu beijo mais exigente e ele está levemente bruto, sob medida.
— Debruce sobre a capô — ordena.
— Oi? — pergunto, chocada.
— Quero que você debruce, deite seu torso sobre o capô — sussurra em meu
ouvido e então dá uma leve mordida em minha orelha. Eu faço o que me foi
ordenado. Deito-me e espalmo minhas mãos sobre o capô do carro.
— Meu Deus! — exclamo quando suas mãos envolvem minhas canelas e
começam a subir lentamente pelas minhas pernas. Se eu tivesse pelos anais
certamente eles estariam arrepiados neste momento. A lentidão é incrível e
tortuosa.
Ele atinge minhas coxas e segue rumo ao interior do meu vestido. Detém seus
movimentos após alcançar as laterais da minha calcinha e gruda sua excitação
em minha bunda.
— Agora é com você, Isis.
— O quê?
— Digamos que hoje estou disposto a realizar seus sonhos eróticos mais
perversos — sussurra com uma voz baixa e rouca e então, aos poucos, vou
compreendendo o que ele quer dizer. — Enganchei meus dedos em sua
calcinha e qual foi meu próximo passo em seu sonho?
— Eu acho que terei um orgasmo.
— Vamos, Isis, você me provocou parte da noite. Diga o que eu fiz após ter
meus dedos enganchados em sua calcinha minúscula.
— Você a deslizou lentamente pelas minhas pernas e eu me desvencilhei dela
em seguida — narro, enquanto ele coloca a cena em prática. Misericórdia...
eu gozei em um sonho, imagina agora?
— E então?
— Você abriu um pouco minhas pernas com o auxílio das suas. — Ele o faz,
conforme sinto sua dureza pressionada em minha bunda. — Eu não sou capaz
dessa brincadeira, não podemos ir direto ao ponto?
— Isis, o que eu fiz depois de abrir suas pernas? — Engulo em seco após
ouvir o tom de repreenda.
— Você deslizou dois dedos por entre minhas dobras e começou a brincar
com eles de maneira tortuosa... exatamente assim... você é tão gostoso. Eu
estou desesperada por você.
— Molhadinha, escorrendo de tesão, desesperada por mais. Você é tão
safada, Isis, tão afoita e desesperada. — Ofega, tomado pelo tesão. — Diga,
Isis, eu fiz você gozar em meus dedos?
— No sonho não, mas você está prestes a conseguir... — informo e ele se
afasta.
— Quero seguir o script — afirma. — O que eu fiz após meter meus dedos
em sua bocetinha?
— O que eu estou fazendo da minha vida, Senhor? Porra, Bruce...
— Diga, boneca, estou ansioso.
— Você substituiu os dedos pelo seu pau — informo e então, após alguns
segundos, sinto-o explorando minha entrada com seu membro. Borboletas no
estômago definitivamente existem... eu as sinto.
— Como foi? Eu apenas o meti em você?
— Você falando assim não está me ajudando — digo gemendo. — Por
favor... vamos lá, Bruce, você quer isso.
— Narre como foi.
— Você segurou um pouco minha perna direita e então penetrou seu pau em
mim lentamente, me alargando aos poucos até entrar por completo. — Ele
faz... e eu solto um gemido alto, assim como no sonho. Uma delícia tê-lo me
invadindo sem pressa. Já penso em casamento com esse homem.
Sinto-o me alargando até que esteja enterrado completa e profundamente em
mim. Ele fica imóvel e eu contraio em torno de seu membro.
— E agora, Isis? Como foi?
— Você colocou uma mão em minhas costas para me manter imóvel e com a
outra agarrou meu quadril esquerdo. Então você foi consumido pelo desejo e
começou a me foder bem forte. — Ele faz e eu grito seu nome... — Bruce...
— Isis, minha boneca, você é o céu — diz, relembrando da frase que eu
contei a ele. Isso quase me faz sorrir, mas, neste momento, tudo que consigo
fazer é gemer.
É muito melhor que no sonho. Ele desafia a lógica com a sua experiência. Ele
sabe foder tão bem que beira ao absurdo e ao imoral.
Ele arremete fundo em mim, num ritmo quase punitivo. Se torna um homem
primitivo devorando uma pobre garota indefesa. Ele faz jogadas com seus
quadris que surtem um efeito arrebatador em meu interior.
— Deus, Bruce... — balbucio, sentindo um orgasmo ser construído
rapidamente — Minha gostosa, você me faz perder o controle, Isis. Faça a
pergunta — ordena.
— O que você está fazendo comigo? — pergunto quase chorando.
— Eu estou destruindo você para os outros homens, minha boneca —
promete baixinho em meu ouvido, como no sonho. Eu gozo, exatamente da
mesma maneira que gozei no sonho, porém, dessa vez é real, há um pau e não
acordei gozando de imaginações.
Na realidade, Bruce permanece arremetendo forte e implacável, mil vezes
melhor que qualquer sonho erótico. Ele retira a mão das minhas costas e
agarra meus cabelos, puxando meu corpo ao encontro do seu. Agora estou
grudada ao seu peitoral, enquanto ele segue arremetendo fundo. Meus
cabelos são deixados de lado quando suas mãos passam a dar total atenção
aos meus seios. Ele os aperta tão deliciosamente que eu sinto meu ventre se
contrair, preparando-se para mais um orgasmo.
Sua boca desliza pelo meu pescoço e ele passa a foder mais rápido.
— Porra, estou louco por você, Isis. Louco.
— E eu por você — afirmo convicta.
Antes que eu me dê conta, estou sendo virada de frente e ele me tem em seus
braços, obrigando-me a rodear as pernas em torno de sua cintura.
Tenho minhas costas contra a porta do carro e sou consumida com
voracidade. Ele me beija e eu me perco pela segunda vez. Saciedade e
plenitude são tudo o que sinto, especialmente quando noto que ele atinge o
pico do prazer e se perde em mim.
— Sou apaixonado por você.
— E eu por você. — Sorrio descansando a cabeça no vão do seu pescoço...

DIA DA PARTIDA DO THEUS E VIC


Estou no quarto, trancada com meu pai e minha mãe. Parece que neste
momento teremos uma conversa difícil.
— Então...
— Eu falo — diz meu pai. — Filha...
— Não... eu falo! Eu devo saber contar melhor. Eu vou falar tudo de uma
vez, Isis, esteja preparada...
— Ah, mais que merda! Qualquer um dos dois que puder falar eu agradeço
infinitamente — repreendo os dois, tomada pela impaciência. Tem ao menos
cinco minutos que eles estão nesse impasse.
— Eu fui abusada sexualmente aos 14 anos — começa minha mãe, deixando-
me boquiaberta. — Eu conheci um garoto, Túlio[14]. Ele foi mandado para me
seduzir e ele o fez, não porque queria, mas porque era a única maneira de se
auto proteger, de proteger a mim e a minha família, mas não vou entrar nesse
mérito agora. Fui seduzida e levada para o clube de BDSM do pai dele,
drogada, dopada... fui amarrada e tive minha primeira vez naquele lugar.
Eu começo a chorar desesperadamente, a ponto do meu pai ter que me
segurar em seus braços. Não posso acreditar que ela tenha passado por isso...
14 anos... era apenas uma criança.
— Eu fui obrigada a manter segredo absoluto, porque o pai de Túlio
ameaçava matar meus familiares. Então, aos 17 anos, eu conheci seu pai.
Tentei enfrentá-los, fui estuprada novamente e ameaçada. Eu não podia
manter um relacionamento com o seu pai, nós ficamos juntos por um ano e
tivemos que nos separar. Por minha culpa — confessa. — Eu fiz seu pai
sofrer o bastante, até ele decidir ir embora. Ele foi estudar em Nova York. O
que eu não esperava era descobrir no dia da partida dele que eu estava
grávida de você.
— Oh, meu Deus....
— Estou contando a versão resumida. Eu fui para Itália com a desculpa de
estudar e eu realmente estudei, mas meu foco principal foi esconder a sua
existência de todos, para mantê-la segura, manter seu pai seguro e toda a
nossa família. Foi por isso que você passou sete anos sem conhecer seu pai,
porque eu tinha medo de que qualquer coisa pudesse acontecer a você e a
toda nossa família — diz. — Com 7 anos você adoeceu, passou a ter
problemas emocionais, febre... então fui obrigada a contar à sua vó sobre sua
existência. Foi assim que nós voltamos para o Brasil e ...
Eu saio dos braços do meu pai e corro para ela. Ajoelho aos seus pés e a
abraço o mais forte que consigo.
— Mãe...
— Não chore, filha, por favor. Está tudo bem... — Graças a meu bom Deus,
nunca a julguei, nunca. Se em algum momento da minha vida eu tivesse a
julgado, jamais saberia conviver com a dor após saber disso.
— Mãe, você é tão forte mãe, tão forte... eu te amo tanto, mãe — digo em
desespero, meu pai nos abraça. Choramos os três agarrados um ao outro. —
Pai...
— Eu teria feito qualquer coisa se soubesse, mas sua mãe só queria nos
proteger, filha. Ela fez tudo o que podia ser feito. — Ele diz.
— Eu preciso fazer um pedido, filha — acrescenta minha mãe e nos
afastamos. — Prometa para mim que nunca, em hipótese alguma, contará
essa história aos seus irmãos.
— Eu prometo, mãe. Eu nunca contarei a ninguém. Levarei comigo até a
morte.
— Eu não posso ajudar minha florzinha, mas Milena fará isso por mim. Não
consigo mais falar sobre o meu passado. Eu sou feliz, tenho uma linda
família, um marido gostoso — diz rindo entre lágrimas. — Eu amo vocês e
sou muito feliz, filha, infinitamente feliz. Tenho tudo além do que sonhei.
— Mãe, você é uma super-heroína, meu maior orgulho. Eu sinto muito...
— Não sinta, acabou. Está tudo bem. — Ela me conforta.
Como pode ser ela a me confortar, quando foi a única que passou por toda
merda? Eu nunca saberei a resposta para esse questionamento, nunca.

1 MÊS DEPOIS
— É Coachella, porra! — Ouço Thor gritar a borda do seu carro conversível,
enquanto eu, Mel, Maria Flor e Milena estamos no banheiro.
Estamos em Indio, uma cidadezinha onde acontece o Coachella Valley Music
and Arts Festival. Um presente de Joseph Vincenzo à Maria Flor, para ver se
ela anima.
Foi difícil tirá-la do casulo e convencê-la a vir, mas agora ela até parece
animada. Ela e Milena fizeram um pacto de voltarem às suas atividades
sexuais aqui, neste festival, eu e Melissa estamos pagando para ver.
Tudo que temos feito é impulsioná-las a superar as dificuldades, agora
estamos confiando que elas conseguirão quebrar essa barreira.
Aliás, Melissa, acredita estar grávida... Então, teve a brilhante ideia de
fazermos o teste em uma parada, bem no meio da estrada. Após muita
insistência, fui obrigada a fazer primeiro para ensinar a louca e então ela fez
em seguida. Agora os dois potinhos estão lado a lado enquanto aguardamos o
resultado do teste dela.
— Real e oficial, eu estou rezando para todos os santos para não dar positivo.
Que espécie de mãe eu posso ser? O que eu tenho a ensinar a uma criança?
Porra nenhuma. Vejamos, eu tenho estudado possibilidades, de verdade.
Talvez possa ensiná-la a como tomar banho em um reality show sem expor a
vagina ou a pirocomonstra. Ou ensiná-la a fugir de paparazzi. Quem sabe eu
possa ensiná-la a virar uma garrafa de cerveja na boca sem intervalos... —
Ela suspira. — Eu olho para o meu sonho de princesa e percebo que ele é a
salvação. Se eu estiver grávida, entregarei nosso bebê a ele para a criança ter
o mínimo de cérebro e uma boa educação.
— E onde você entra nisso? — questiona Maria Flor rindo.
— Eu entro na parte de carregar nove meses e amamentar. Até posso ajudar a
trocar fraldas, aliás, sou multimilionária, querida, eu sou rica, posso pagar
pessoas! — exclama. — Mentira, jamais pagaria alguém para cuidar do meu
pirocomon baby ou da minha grutinha nenê. Mas educar será com
Arthurzinho, meu marido pirocomon extremo nível hardcore sexual. Eu
posso entrar com a vagina novamente pós-resguardo — diz. — Merda!
Quarenta dias sem sexo! É real... não quero ser mãe — grita.
— Grutinha, já sabe se serei pai? — Arthurzinho grita do lado de fora do
banheiro. Ele é loucasso, né? Às vezes acho que ele usa drogas. O louco se
casou do nada e está levando a vida de casado na maior, assim, do nada. Ele
se casou com a Melissa Fontana, minha amiga mais louca. Eles são tão
opostos, mas parecem tão certos.
— Ainda não tive coragem de olhar.
— Flor, sai logo desse banheiro, por favor — ordena Vincenzo.
— Me force a sair, tirano controlador! — ela rebate.
— Eu sou capaz mesmo, Maria Flor! Saia da porra do banheiro!
— Deixa de ser controlador! — Bruce esbraveja. — Isis vem, meu amor... —
É assim que se fala, idiota. Tem que fingir que é carinhoso e fofo nesses
momentos.
— Muito lindo, senhor Bruce! — Rio.
— Na boa, vocês são todos malucos, sou a única normal. — Milena afirma.
— Mel já falou o suficiente para cinco dias em menos de dez minutos. Estou
indo olhar o teste, já que ninguém aqui tem coragem. — Ela toma a frente e
Mel aperta minha mão.
— Virgem da grutinha safada e incontrolável, mestre dos magos protetor dos
pirocomons gozadores, permita que meu anticoncepcional seja à prova do
esperma volumoso do meu marido, que goza igual um cavalo. Virgem
abençoada, eu não tenho nada a oferecer a um bebê, sou mais perdida que
cego em tiroteio... Por que sexo engravida? Porra, é sacanagem isso...
— Puta que me pariu! — Flor grita histérica. — Puta que pariu! Vou até sair
daqui.
— Abra essa porta, caralho! O que está acontecendo aí dentro? — grita meu
tio.
— Os dois exames deram positivos — informa Milena e a porta se abre,
mostrando quatro homens impacientes.
Eu perco o eixo da terra.
Perco a cor.
A fala.
A respiração.
— O que está havendo? — questiona Thor, assustado.
— As duas estão grávidas.
— As duas quem? — Joseph questiona agora. — Maria Flor está grávida?
Porra, diga logo.... Florzinha, você vai ter um bebê meu?
— Nós nem fodemos — anuncia Flor, rindo.
— Ah é, verdade — concorda Joseph, dando-se conta e saindo do banheiro.
Flor vai atrás.
— Melissa e Isis.
— Oh, meu Deus! Eu estou grávida! — digo a mim mesma. — Eu estou
grávida.
— Eu serei pai, porra! — grita meu tio pegando Mel em seus braços.
— Meu Deus, como criarei uma criança? Ela se mexe dentro da barriga?
Virgem santa, nunca mais faço sexo com você, Arthur, é sério. Imagina um
ser humano dentro da minha barriga mexendo? Eu vou morrer! — Eu deixo
de escutar, então Bruce me pega em seus braços.
— Respire, boneca, respire. É um bebê ...
— Eu estou grávida — repito e então não vejo mais nada.
CAPÍTULO 19

Tenho Isis caída em meus braços e, pela primeira vez na vida, não sei o que
fazer, estou sem ação. Há dois choques neste momento, o choque da gravidez
e o de ela ter desmaiado.
— Olha, eu só não vou fazer uma transmissão ao vivo, porque é arriscado
meu tio virar o Superman e surgir do nada dentro desse banheiro — anuncia
Heitor rindo, como se tivesse muita graça.
Está bem, eu não vou mentir que um bebê com Isis me deixa feliz, por mais
precoce que seja o relacionamento. A verdade é que nunca me permiti um
relacionamento sério e tão intenso quanto o que nós estamos tendo.
Já namorei algumas vezes, mas namoros normais, inclinados para o
superficial. Já com Isis eu mergulhei de cabeça. É apenas o jeitinho de ela
ser. Eu fiquei encantado desde o primeiro momento em que a vi escondida na
escadaria do clube. Era uma coisinha pequena e travessa, movida pela
curiosidade e surpreendentemente quente. Em um primeiro momento, achei
que ela não passava de uma adolescente rebelde querendo descobrir coisas
em um clube de sexo, mas então nós conversamos e fui surpreendido por um
mulherão. Repleta de atitude, transparente, dona de si, audaciosa, autêntica,
dinâmica e um tanto quanto perdida. Naquela noite ela estava travando
batalhas internas, eu vi. Tão perdida que senti instantaneamente a vontade de
segurar sua mão e guiá-la.
Não precisei me esforçar, antes que eu pudesse fazer algo, sua mão já estava
estendida para mim e eu a peguei.
Seu perfil sexual ousado, intenso e voraz me mostrou um certo descontrole
emocional. Deus sabe o quão forte segurei todo o meu desejo e meus
impulsos, apenas com a finalidade de controlá-la. E eu consegui. Não sei o
tipo de relacionamento que ela costumava ter antes de mim, mas comigo
certamente o relacionamento não seria baseado apenas em sexo. E assim
temos feito. Temos sexo, evidentemente, bastante sexo. Porém, antes do sexo
temos passeios, conversas, risadas, brincadeiras e papos cabeça. O sexo é só
um acréscimo. Inclusive, o sexo entre nós dois é algo louco e insano. Algo
que em todos os meus anos de vida não tinha vivenciado. Estranho um dono
de clube de sexo e um admirador do BDSM dizer isso, eu sei. Mas trata-se da
conexão. Eu e Isis estamos conectados, sintonizados na mesma frequência.
Um estilo de conexão mental e física. Você tem ideia do quão raro é isso? Eu
tenho, porque é a primeira vez na minha existência que eu consegui atingir
isso.
Eu estou tentando pensar em qual das fodas loucas essa criança foi
concebida. Houve a garagem, houve o sexo no estacionamento de um
restaurante, houve também numa boate... houve dezenas de sexo louco e
falhei miseravelmente em me lembrar da existência de algo chamado
preservativo. Eu falhei. Falhei e falhei inúmeras vezes. Simplesmente pelo
fato de estar tão tomado, tão consumido pelo tesão, de uma forma que
qualquer outro pensamento não pudesse passar pela minha mente.
Agora há tanto a ser enfrentado.
No auge da minha idade eu já me sinto bastante preparado para a paternidade,
mas Isis, minha boneca, tem 24 aninhos e uma lista de projetos a serem feitos
na sua cabecinha. Minha garota certamente ficará perdida e terei que guiá-la
da melhor maneira. Gravidez não é uma sentença de morte ou doença, eu
estarei com ela para mostrar o lado bom da situação. É por esse propósito que
passarei a trabalhar a partir desse exato momento em que a terra deu um giro
completo em minha vida.
Sou um homem visionário, sempre fui. Eu odeio o negativismo, gosto de
tentar extrair o bem até mesmo em situações caóticas, onde torna-se
impossível enxergar o belo. Não é o caso, ter um filho não é uma situação
caótica, mas Isis vai precisar do meu positivismo mais do que nunca.
Há seu pai, o homem tende a ser ciumento e extremamente cuidadoso com
ela. Eu não irei julgá-lo, não quando há a possibilidade de ter uma garotinha.
Mas sei que Isis vai temer magoá-lo. No primeiro momento ela vai enxergar
apenas a parte feia da situação. Mas eu, com toda experiência de vida, já
imagino Matheus aproveitando nosso bebê da melhor forma possível e é
nisso que irei focar também.
— Aí, delegata, podia ser um filho nosso, mas você não colabora — comenta
Heitor rindo e Milena dá um tapinha na cara dele.
— Eu não me sinto preparada para a maternidade, garotão. Você é só um
bebezão.
— Ora, ora, delegata, você não me chamava de bebezão quando eu estava te
fo...
— Heitor! — ela repreende e ele a pega em seus braços.
— Eu te amo, delegata... — declara. — Ops... saiu! Nem te amo.
— E nem eu amo você, pequeno príncipe.
— Ok. Ficou sem ação, caro Bruce? Debocha mais da minha possessividade
mesmo filho da puta! — diz Vincenzo. — Vamos agir, precisamos levá-la até
o hospital mais próximo.
— Fique calmo. Essa não é a primeira vez que Isis desmaia e nem será a
última. Ela é filha do meu tio, que certamente irá desmaiar assim que ficar
sabendo que será avô — diz Flor gargalhando. — Vai ser demais! Ok, me
desculpe por isso — brinca. — Então, ela tem febre emocional, ânsias de
vômito e desmaios quando fica muito nervosa. É melhor levarmos para a
observação, essa notícia foi impactante o bastante.
— Bruce... — diz Isis despertando do nada.
— Oi, minha boneca.
— Bruce... eu não sei... — Ela começa a chorar e eu a abraço mais forte.
— Está tudo bem.
— Vou pegar uma água para ela. Leve-a para seu carro — aconselha
Vincenzo, então sai com Flor.
— Ei, está tudo bem, Isis. Tudo bem. Um bebê é incrível, realmente. Você
deixa eu ser padrinho? — pede Heitor, fazendo cafuné nos cabelos dela. É
bonito ver a união dessa família incrível.
— Deixo — responde minha princesa, então a conduzo até o carro. Aperto o
botão para a capota se abrir e ela absorver um pouco mais de ar. Flor entrega
a água e ficamos apenas eu e Isis.
— Está um pouco melhor?
— Eu desmaiei, mas não foi apenas pela surpresa da gestação. Foi porque me
dei conta de que nem mesmo atrasada eu estive, Bruce. Isso me faz
questionar de quanto tempo estou... e isso...
— Isso? — incentivo que continue.
— Esse bebê pode não ser seu, até porque menstruei normalmente. — Eu não
gosto disso.
É como receber um soco no estômago.
Aperto minhas mãos em torno do volante, agarrando qualquer merda que me
dê o mínimo de sustentação.
Isis chora, mas eu só preciso compreender as coisas dentro de mim antes de
confortá-la, porque essa possibilidade nem mesmo tinha passado pela minha
mente e quero pra caralho ser pai desse bebê.
— Me perdoe — diz. — Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer
comigo. Nunca imaginei...
— Fique calma, boneca.
— Deixe-me falar.
— Fale — digo soltando o volante e segurando suas mãos frias. O amor
sempre vai vencer, não importa quantos obstáculos haja...
— Eu me apaixonei por Lorenzo — começa. — Eu entrei de cabeça numa
relação que começou totalmente errada. Foi tudo errado, tudo, Bruce. Mas ele
foi o primeiro homem que gostei de verdade e me deixei levar. Eu confiei no
que estávamos tendo, tínhamos sexo demais, em excesso. Bastava um único
olhar e estávamos transando como animais.
— Eu sei...
— Então tudo ruiu. Nós terminamos de uma forma feia, brigamos dentro de
uma boate e eu trombei com você, quando eu nem mesmo sabia o que estava
indo fazer da merda da minha vida. E você, Bruce, é tão o oposto de tudo que
já conheci. Você é um homem completo, cabeça e coração. Me mostrou que
um relacionamento é muito mais que orgasmos e sexo louco. Você vê quem
eu sou além da aparência, você me quis pela personalidade e não porque sou
um rosto bonito. Você me quis para compartilhar momentos incríveis,
conversas sérias e engraçadas, passeios, descobertas. Eu achava que Lorenzo
era o amor da minha vida, mas você é o amor para a minha vida. Você,
Bruce... eu quero que seja você o pai do meu filho e não importa nada, não
importa se eu serei criticada, se minha família vai ficar triste por uma
gravidez precoce, importa é que eu sei que se você for o pai do meu filho será
o melhor, porque você, e apenas você, me dá o melhor. Você me faz ser um
ser humano melhor, me ama como se eu fosse a melhor, me faz sorrir de
dobrar a barriga, me faz sentir borboletas no estômago e tudo mais. Eu
aprendi e aprendo diariamente com você, meu amor... Quando está em Las
Vegas eu vivo na expectativa de vê-lo. Quando liga avisando que está indo
para Los Angeles eu passo um dia inteiro ansiosa, me arrumando para ficar
bonita para você... é tão puro, Bruce, tão puro e genuíno que eu jamais
saberei explicar. — Ela sente o mesmo que eu, eu tive tanto receio sobre isso,
mas agora minha boneca está se declarando e eu estou sem palavras. — O
que nós temos é um relacionamento de verdade, com tudo o que tem direito e
um pouco mais. Lorenzo me marcou por ser o cara errado, você me marcou
por ser o certo. Que Deus tenha piedade de mim e queira que esse bebê seja
seu filho, caso contrário...
— Caso contrário... ele será meu de qualquer forma, pois eu amo a mãe dele
— declaro, puxando-a para meus braços. — Eu estarei com você, nós
estaremos juntos, não existe a possibilidade de ser diferente. Ele pode ser de
Lorenzo, mas ainda assim será um pouquinho meu. Não importa, ok?
— Eu nunca fui capaz de expressar em palavras meus sentimentos, nunca,
mas estou feliz por você ser o primeiro. Eu quero você, estou apaixonada por
você e vou amar se esse filho for seu. Eu só preciso saber disso o quanto
antes e então nós iremos comemorar ou não. — Ela está chorando pra
caralho... isso me assusta. — Por Deus, Bruce, se esse bebê não for seu....
— Você vai amar da mesma maneira, porque essa criança não tem
absolutamente culpa por nada, Isis. Eu sei que você o amará de qualquer
maneira, meu amor. Tenho fé em você. Está apenas assustada. Vai dar tudo
certo, Isis — informo. — Agora você precisa se acalmar, meu amor. Há
alguém que precisa do seu bom humor, do seu carinho e da sua paciência.
Essa pessoa vai precisar disso pelo resto da vida. Sua vida agora reflete em
outra.
— Me leve até algum hospital, por favor. Eu não serei capaz de conviver com
a incerteza.
— Ok, meu amor, nós estamos indo em busca de um bom hospital —
tranquilizo-a.
Puta merda, eu estou rezando internamente a todos os santos. Quero ser pai
dessa criança, pelo amor de Deus, deixe que eu seja pai dessa criança.

Eu estou entorpecida neste momento, bem como se tivesse absorvido algum


tipo de droga.
Todos estão seguindo para Indio, eu e Bruce também, mas não estamos indo
direto para a casa que Vincenzo locou. Estamos indo rumo ao Hospital JFK.
Há até uma médica me esperando e isso me leva a questionar o poder que
Bruce e Joseph Vincenzo possuem. Basta uma ligação e tudo é ajustado para
melhor resolver.
Minhas mãos estão suando frio, estou lutando de todas as maneiras para me
manter calma. Pensar que esse bebê pode ser de Lorenzo me traz sentimentos
conflitantes. A possibilidade me desespera. O homem ficaria louco, já que ele
desistiu de viver a própria vida para viver a vida do filho. Não o julgo, não
mais, porém, imagina se ele fica sabendo que eu estou carregando um filho
dele? A mente dele vai entrar em paranoia e isso vai causar problemas a
todos. Eu sinto que meu pai ficará decepcionado, mas se o filho for de
Lorenzo, a decepção certamente será maior, tendo em vista todo o histórico
do meu breve relacionamento.
Ok, eu não quero pensar em meu pai agora. No meio do caos, ele é o menor
de todos os meus problemas. Meu pai vai chorar, desmaiar e dramatizar, mas
ele vai amar meu bebê como se fosse dele, eu carrego essa certeza comigo.
Nunca vi qualquer homem amar mais bebês do que meu pai. Se antes eu
estava duvidando da sua mudança, agora estou certa de que ela se
concretizará.
Olhando pela janela, vejo o momento exato em que Bruce indica seta e entra
no estacionamento VIP do hospital. Eu até me sinto como uma estrela de
Hollywood neste momento.
Desço do carro antes mesmo que Bruce possa vir abrir a porta para mim.
— Ei, calma boneca — diz segurando minha mão.
— Só estou ansiosa — argumento e caminhamos até a entrada. Há uma
médica me aguardando já na recepção.
— Bom dia! Eu sou Doutora Rhana — cumprimenta-me e depois sua atenção
se volta ao meu namorado.
— Olá, Bruce.
— Olá, Rhana. Essa é a minha namorada, Isis. — Eles se conhecem. Eu sou
ciumenta?
— Vamos lá, Isis, já me foi explicado o motivo da sua visita. Aqui há todo
suporte necessário para melhor atendê-la. — É simpática, legal.
Ela nos guia por um enorme corredor e entramos em um consultório.
— Vamos fazer uma rápida ultrassonografia transvaginal para saber o
andamento da gestação, mas antes preciso que me responda algumas
perguntas.
— Tudo bem — digo, segurando firme a mão de Bruce.
Eu passo uns dez minutos respondendo às mais diversas perguntas e então ela
me entrega um avental.
— Você está de vestido, então vou pedir apenas para que retire sua calcinha e
se acomode naquela cadeira — orienta sorridente, forço-me a ficar de pé.
Surpreendo tanto ela quanto Bruce, ao vestir o avental por cima do vestido e
deslizar minha calcinha pelas pernas diante dos dois. Pego-a e entrego para
Bruce, que tenta conter a vontade de rir bravamente. — Ótimo.
Acomodo-me na cadeira e levo minhas pernas a cada um dos aparadores.
Doutora Rhana me mostra uma espécie de sonda, um tanto quanto grosseira e
comprida...
— Não me olhe assustada — diz sorrindo. — É um aparelho de
ultrassonografia transvaginal, se a gestação for recente saberemos o período
exato.
— Tudo bem — digo, aflita. Desesperada, para ser mais específica.
Vejo-a deslizar um preservativo na sonda e espirrar uma espécie de
lubrificante nela. Então o negócio faz contato com minha intimidade e eu
quero morrer.
Lentamente ela começa introduzi-lo e eu aperto a mão de Bruce como se
estivesse tendo um bebê de parto normal.
— O bebê vai aparecer ali, naquela tela — informa, volto meu olhar para a
tela. Nada aparece ainda... então ela começa a mover a sonda e eu o vejo. É
tão engraçado. Nós vemos isso em filmes, novelas, séries, mas, quando é a
vida real, a emoção vem com força. Até mesmo Bruce está emocionado. Há
um pequeno grãozinho dentro do meu ventre... — Olha ali, seu bebê é esse
pontinho aqui.
— Já acho meu bebê lindo — afirmo.
— Ele é muito lindo, realmente — comenta Bruce rindo e limpando uma
lágrima de seus olhos. — Já dá para ouvir o coração?
— Oh... ainda não. E isso quer dizer que sua gestação é muito recente.
Vamos colocar entre três e quatro semanas.
— Oh, meu Deus! — grito. Grito de verdade. Bruce solta minha mão e
começa a chorar agachado no chão, enquanto cobre seu rosto com a minha
calcinha, pobrezinho, acho que nem mesmo está percebendo isso. Eu quero
saltar daqui e dar a volta olímpica gritando como uma louca. — Graças Deus,
meu... eu achei... porra!
— Ok. Fico feliz de trazer o alívio a vocês — anuncia a doutora Rhana. —
Bom, pode saltar daí, mocinha, e se limpar. Há um banheiro ali atrás.
Eu faço tudo rapidamente. Bruce permanece agachado no chão quando saio
do banheiro.
— Minha calcinha, por gentileza — peço e aí sim ele se dá conta. Ele limpa
seu rosto e abre um sorriso de admiração, misturado com amor, carinho e
gratidão. Ele é tão lindo... tão lindo. E gostoso!
— Merda, toma boneca. — Eu sorrio e volto ao banheiro para vesti-la. Então,
segundos depois, estou diante da médica.
— Você terá que marcar uma consulta em Los Angeles para começar o pré-
natal o quanto antes — explica a doutora. — Mas, enquanto é isso, vou
deixar uma série de vitaminas e o ácido fólico que você deve começar a
tomar a partir de agora. Evite bebidas alcoólicas, pegar peso, fazer coisas
muito radicais. Os três primeiros meses de gestação são os mais arriscados,
merecem um cuidado especial, ok?
— Pode deixar — afirmo e ela me entrega duas listas, uma com cuidados que
devo ter a partir de hoje e outra com as vitaminas.
— No mais é isso. Foi um prazer recebê-los e poder auxiliá-los.
— Muito obrigada, doutora, pela disponibilidade e o carinho — agradeço.
— Foi um prazer.
— Rhana, muito obrigado — diz Bruce, oferecendo um aperto de mãos.
Quando eu estou do lado de fora eu finalmente posso gritar.
— Oh meu Deus! Eu tive tanto medo! — Bruce me pega em seus braços e
me dá um beijo bastante inapropriado.
— Eu serei pai. Você me fez o homem mais feliz.
— Temos um bebê nosso. Embora eu esteja receosa, estou feliz. Não foi
premeditado, mas está bom, não está? Deus sabe tudo o que faz e não irei
questioná-lo — digo para mim mesma e para o pai do meu bebê.
— É o nosso presente de amor, boneca. Nosso filho.
CAPÍTULO 20

— Abra essa porta caralho! O que está acontecendo aí dentro? — grito para
as malucas que estão presas dentro do banheiro e chuto a porta até abri-la. Há
a possibilidade de eu me tornar pai e por isso estou desesperado. Preciso
saber se isso é real e oficial. Merda, eu já estou usando as palavras da Mel,
quão louco eu fiquei de uns tempos para cá? Louco o bastante para se casar
do dia para noite e querer uma família!
A desconfiança começou semana passada, quando ela começou a enjoar com
cheiros de perfumes e determinados alimentos. Ela relutou até a morte e
decidiu que faria o teste no meio da estrada. Nada dentro do convencional, eu
sei, mas desde quando fomos convencionais? Nunca!
— O que está havendo? — pergunta Heitor adentrando ao pequeno cubículo.
— As duas estão grávidas. — Ouço Milena dizer e minha boca vai ao chão
tamanho o susto. Eu deixo de escutar e foco só nos nomes das duas gestantes.
....
— Melissa e Isis — revela Maria Flor e sou tomado pela adrenalina
instantaneamente. Acredite, é apenas a adrenalina, porque sei que a ficha vai
demorar a cair pra caralho.
— Eu serei pai, porra! — grito, pegando minha grutinha em meus braços e a
retirando do meio da muvuca. Esse momento é meu! Eu serei pai! Eu sempre
quis ser pai, sempre sonhei com esse dia. Mas em meus sonhos, tudo
acontecia numa outra perspectiva...
Agora é tudo novo. Eu e Melzinha teremos um filho, que não foi planejado e
veio tão rápido como um cometa. Não importa, acredito que tenha vindo no
tempo de Deus, porque estou certo de que um filho é o maior dos presentes
que eu poderia ganhar na vida. Mel está carregando em seu ventre um bebê
meu. Um bebê Albuquerque. O primeiro de muitos, porque queremos bater
metas. Bia tem três, Matheus cinco, então eu preciso ter ao menos seis para
garantir o primeiro lugar no pódio de super praticante sexual e esperma
potente. Nós seremos a grande família, terei que comprar uma van
futuramente, mas estou feliz pra caralho pelo meu primogênito.
— Meu Deus, como criarei uma criança? Ela se mexe dentro da barriga?
Virgem santa, nunca mais faço sexo com você Arthur, é sério... Imagina um
ser humano dentro da minha barriga mexendo? Eu vou morrer! — Mel,
caralho, essa mulher é muito doida, puta que pariu!
— É um bebê, nosso bebê. Eu estou feliz pra caralho, Mel, não dá nem para
fingir que estou receoso neste momento, porque eu realmente não estou.
— A minha mãe... ela não foi boa para mim. Eu não tenho qualquer modelo
materno do passado. Tenho medo de falhar, Arthur.
— Mel, você não irá falhar. Você não fará isso pelo simples fato de ter tido
uma mãe de merda e não desejar isso para qualquer pessoa, principalmente
para nosso filho. Você é boa, há um coração gigante e generoso batendo em
seu peito. Você será a melhor — explico. — É o primeiro de muitos bebês,
nós vamos povoar o mundo — brinco.
— Misericórdia, Arthur, não venha me dizer que você é esse tipo de homem
ser humano! — ela exclama, afastando-se.
— Que tipo de “homem ser humano”? Sou as duas coisas, ser humano e
homem. — Vou caminhando até ela e ela vai andando de costas. — Mel?
— Você é desse tipo de homem ser humano que quer ter quinhentos filhos!
Meu Deus, não posso segurar essa barra que é te amar — diz, levando a mão
ao peito, dramatizando. Pego-a para mim, porque eu simplesmente estou feliz
e quero comemorar — Agora vamos falar sério.
— Mas eu estou falando sério, Arthur. Não tenho maturidade para ter um
filho, imagina povoar o mundo? Meu Deus, pirocomon, eu estou grávida!
Tipo, eu estou muito grávida, sabe? Porque há um bebê na minha barriga.
— Não existe estar muito grávida ou pouco grávida, Mel, existe estar grávida
— digo rindo. — Você está grávida, grutinha, de um filho meu.
— Eu traumatizei de sexo com você! — exclama. — Eu faço uso de
anticoncepcional, Arthur, e engravidei. Não duvido nada de você gozar em
mim, tipo hoje, e um outro bebê ser gerado junto com esse que já existe.
— Você está falando mais merda que o normal, grutinha.
— Sem sexo para nós dois pelo resto da vida. — Prendo-a contra a parede e
ela ofega dando um sorrisinho safado.
— Você está certa sobre isso?
— Você é tão gostoso. Eu sinto vontade de transar o tempo todo — confessa,
fazendo-me sorrir. Ela é meu par.
— É tão ruim fazer filho comigo? — questiono passando o polegar em seu
lábio inferior.
— Fazer é realmente maravilhoso, magnífico. Mas eu não me sinto boa o
bastante para ser mãe. — Eu fico puto que ela pense tão pouco sobre si
mesma. Mel se acha inferior ao mundo, mas nem mesmo sei o motivo. Não
há uma coisa que ela bata no peito com orgulho e diga "eu mereço" "eu
consigo". Nós precisamos mudar isso, eu preciso ajudá-la a mudar isso.
— Mel, se eu fosse um filho da puta eu aproveitaria tanto dessa sua
vulnerabilidade, de um jeito que você jamais imaginaria. Há homens que
gostam de mulheres fracas, eu não sou um deles. Você tem um potencial
absurdo, é um ser humano incrível, inteligente, bondosa, amorosa e
carinhosa. Mel, por que você acha que eu me apaixonei por você do dia para
a noite? Por que você acha que me deu a louca de inventar um casamento?
Por que você acha que eu insisti para ir para Las Vegas comigo conhecer toda
minha família? Melissa, eu tinha tudo para ter desistido do amor, todos os
motivos possíveis. Fui traído, enganado, não sei nem por quanto tempo. A
minha noiva morreu e eu descobri que toda nossa história foi uma mentira.
Eu cheguei em Los Angeles descrente de todas as merdas sentimentalistas,
então conheci você. Logo de início sua transparência me chamou atenção,
mesmo quando eu insistia em te chamar de louca e brigávamos. Você é
verdadeira, divertida, sexy, ousada e fala pra caralho o tempo todo. Você me
deixa tão louco, nos mais diversos sentidos. Você é perfeita, Melzinha, até
seus defeitos são lindos. Então, por favor, tenha fé em si mesma, tente ver o
que eu vejo. Você é maravilhosa, meu amor, e será uma mãe fantástica. —
Ela começa a chorar e se joga em meus braços.
Ela faz várias coisas de uma só vez e eu fico perdido. Num momento ela me
abraça, no outro ela deita sua cabeça em meu ombro e, logo em seguida, sua
boca se choca contra a minha. Não é um beijo normal, é um beijo insano.
Estou tentando ter algum controle aqui, mas é foda. Essa mulher tem um ímã
com o meu pau.
Usando um pouco do meu autocontrole a afasto. A química é explosiva, beira
a insanidade.
— Calma, mocinha.
— Ok, eu estou gestante. Sou uma gestante. Isso deve ser divertido, não
deve? Você poderia comprar um caderninho para mim? Na lojinha de
conveniência deve ter.
— O quê? Para quê? Provavelmente não vende um caderno em uma lojinha
de um posto de gasolina.
— Há algumas coisas que quero fazer antes da minha barriga crescer, preciso
fazer uma lista — explica.
— Que coisas, Melissa?
— Algumas, nada de mais — diz simplesmente.
— Bora? — Heitor chama e então eu me lembro de que existem duas
gestantes, Mel e Isis. Puta merda, Matheus vai dar um show épico que não
quero nem mesmo imaginar. Já prevejo desmaios, choro e dramaturgia.
— Isis?
— Por algum motivo que desconheço foi para um hospital fazer uma
ultrassonografia de emergência — explica Heitor. — Aliás, vem aqui,
Melzinha. — Ele a chama e então a abraça, enquanto Milena me dá os
parabéns pela novidade. — Estou muito feliz pelos dois, é incrível que você
vá ser pai cara, sério, nós crescemos juntos — diz, emocionado.
Eu ficaria da mesma forma se fosse o contrário. Nós nunca fomos tio e
sobrinho, sempre fomos irmãos e melhores amigos.
— Obrigado, irmão! Você será o padrinho.
— Porra! — ele exclama, abraçando-me. — Eu também serei padrinho do
bebê de Isis. Estou feliz pra caralho agora. Sou padrinho de dois anjos. Bora
fazer um, delegata? É injusto!
— Era só o que me faltava agora! — Milena protesta. — Nós nem somos
namorados.
— Nós somos além de namorados, acredite! — Heitor argumenta. —
Caralho, vou comprar um celular ultramoderno para filmar o dia que Isis dará
a notícia ao meu tio — comenta rindo. — Será que ela vai esperar até o Natal
para contar? Ia ser doido, família toda reunida...
— E você ainda quer ser pai...
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, delegata — justifica Heitor.
— E se fosse sua filha te dando a notícia? — questiona Melissa cruzando os
braços, encarando-o bem brava. Linda.
— De boa, ué, o que mais poderia fazer? Nada! A única coisa que está ao
meu alcance é guiá-la e ensinar o que é certo e errado. De resto...
— Oh, você agora foi lindo, Heitor. — Milena sorri, abraçando-o.
— Pena que isso não será tão fácil assim quando acontecer — anuncio rindo.
— Não tem condições, todos os homens da família são possessivos.
— Acho sexy! — Mel diz sorrindo.
— Eu não acho nada sexy. Aliás, caso eu e esse garoto aqui continuemos
juntos, viveremos um relacionamento acalorado de brigas.
— Vocês vão ficar aí tricotando ou iremos juntos? — Vincenzo pergunta.
— Melzinha, você será mamãe! — diz Flor diz, abraçando-a. As duas
começam a chorar.
— Nem acredito que é daquele homão da porra do caralho. Eu fiquei
desesperada quando o vi na porta da nossa casinha e agora ele é pai do meu
filho — diz como se eu não estivesse escutando.
— Você sabe que sua mulher é louca, não sabe? — Joseph questiona.
— Talvez a sua seja mais, hein, amigo — brinco, batendo em seu peitoral. —
Você não viu Maria Flor em ação ainda. A bichinha está em uma fase fodida,
mas tenho fé de que não durará o bastante, aí serei eu a lembrá-lo do dia de
hoje. O dia em que você disse que minha mulher é louca.
— Eu até acredito que Flor possa ser louca sim, mas a sua mulher é
insuperável. Enfim, louca ou não, fico feliz por vocês. Ser pai é fantástico,
cara, é uma mudança significativa na vida de um homem. Nada mais será
como antes — diz sorrindo. — Parabéns!
— Obrigado. Eu o vejo com Mathew, parece fantástico realmente. Já estou
ansioso.
— É incrível. Deve ser ainda mais mágico sendo com a mulher que você
ama. Eu não aproveitei a gravidez de Mathew, só estava com ele aos finais de
semana. Nunca quis ser pai, mas desde que Mathew surgiu, trouxe com ele
aquela vontade, lá no fundo, de ter uma família completa. Gostaria de ter
Maria Flor grávida, de poder acompanhar todos os detalhes e, obviamente,
incluir Mathew em cada momento. Não agora, evidentemente. Ela tem todo
um futuro pela frente, há a faculdade e os planos de carreira. Digo no futuro.
— A magia da maternidade envolve a todos realmente. Vincenzo já está
confidenciando planos futuros de paternidade. Ele é um cara maneiro. Sinto
que ele não tem muitos amigos pelo fato de todos se aproximarem por tudo o
que possui e não pelo que ele é. Acho que ele está encontrando em nossa
família um bando de loucos que tocam o foda-se para qualquer merda
material, e está se agarrando nisso. Fico feliz de poder me tornar amigo dele.
— Vocês terão tempo e, mesmo que em algum momento as coisas saiam dos
trilhos e Flor engravide antes do previsto, será incrível da mesma maneira. Eu
não sei muito sobre isso, mas acredito que a vida não acabe por causa de um
bebê, acredito que ela realmente começa por causa de um bebê. Faz sentido?
— Faz todo o sentido. — Ele sorri, em seguida cada um vai em direção ao
seu carro.
Mel mantém uma distância, passa as mãos pelos cabelos e eu fico parado,
esperando-a. A grutinha está meio perdida, mas sei que logo, logo ela
entenderá todas as coisas.
Ela me olha e dá um sorriso. Eu sorrio de volta e ela vem correndo para meus
braços. Recebo-a e então a giro.
— Eu estou tão feliz!
— Eu também, Melissa Fontana Albuquerque, que tal nos casarmos real e
oficial? — questiono rindo.
— É sério? Tipo meu sonho de princesa?
— Tipo isso, meu amor.
— Só se eu receber um pedido digno — informa e eu arqueio as
sobrancelhas.
— É chantagem?
— Sim! — Ela sorri e eu a beijo.
— Vou pensar em algo digno então — prometo, grudando-a a uma pilastra.
Beijo-a delicadamente enquanto ela me puxa pela camisa. Seu celular vibra
no bolso e eu a pego de suas mãos ao ver uma carinha confusa. O nome
Ignázio brilha na tela e eu rejeito a ligação. Não será ele a atrapalhar o nosso
momento. Volto a beijá-la até quase estarmos transando como selvagens ao
ar livre.
— Meu Deus... nós precisamos ir. Precisamos de um quarto.
— Você disse que não transaria mais comigo minutos atrás. — Sorrio a
provocando.
— Foi apenas um pouco de drama momentâneo. Eu transaria com você em
todos os momentos, real e oficial.
— Então acho que precisamos chegar logo. — Carrego-a até o carro e abro a
capota. Mel vai sentada na parte de trás com os braços abertos, enquanto
tento dirigir o mais lento possível. Gosto de vê-la feliz, gosto de saber que a
loucura dela é momentânea e que aos poucos ela vai começando a lidar
melhor com as notícias.
Nós chegamos numa enorme mansão e nem mesmo temos tempo de olhá-la,
porque Mel simplesmente caça o caminho do quarto escolhido para nós dois
e, uma vez que a porta se fecha, o mundo lá fora é esquecido.
A parte mais fantástica do sexo com Arthur no dia de hoje foi como entramos
no quarto afoitos, desesperados e ele conseguiu contornar a explosão
trazendo uma leveza absurda. O homem se mostrou o mestre do controle por
mim e por si mesmo. Nós fizemos amor doce num primeiro momento, onde
ele fez questão de beijar meu ventre, repetidas vezes, durante o ato. Eu jamais
imaginei que ele ficaria tão eufórico, feliz e apaixonado com a notícia.
Preciso confessar, eu estaria sendo falsa se dissesse que estou cem por cento
feliz. Sempre fui aberta, transparente e verdadeira, e o fato de estar grávida
tão rapidamente, sem um planejamento e com um histórico caótico na
bagagem me assusta mais do que imaginei.
Eu sei que sou boa, que há excesso de bondade e, acredite ou não, até uma
quantia generosa de inocência em mim, mas digamos que eu sou meio
traumatizada com a "instituição" maternidade. Não quer dizer que eu vá fazer
com meus filhos o que foi feito comigo, porém, é algo que me assusta, que
me tira da zona de conforto. Sempre, desde criança, fui eu por mim mesma.
Compartilhar a vida com Arthur já foi um enorme passo para mim, ter um
filho é como dar um salto rumo ao desconhecido. Eu sei que vou amar meu
bebê, que vou dar o meu melhor a ele, mas quanto a educá-lo? Será que eu
sei fazer isso? Será que sou capaz?
O destino resolveu ser surpreendente comigo nos últimos meses, o jeito é
começar a acreditar que esse bebê é um dos grandes presentes, o mais
generoso e surpreendente de todos. Ao menos há em mim a certeza de que
possuo um homem incrível ao meu lado, que me dará todo o suporte
necessário. Eu espero passar o resto dos meus dias ao lado dele, mas sei que
se, em algum momento, algo der errado entre nós, meu filho – ou filha –,
estará bem amparado. Eu não ganhei apenas um homem maravilhoso, ganhei
toda sua família também, graças a Deus.
É tudo tão novo, tudo tão diferente. É como se eu estivesse vivendo outra
vida. Todos os acontecimentos fogem de tudo que fui no passado.
Termino de me arrumar e desço para encontrar com toda a turma.
Encontro Flor, Milena e Isis envolvidas numa conversa divertida, enquanto
todos os homens estão no barzinho bebendo uísque.
Eu fico emocionada ao ver Flor sorrindo tão abertamente e relaxada. Nas
últimas semanas foi como se ela estivesse morta por dentro, foi difícil lidar,
principalmente quando a considero uma irmã.
Será que todo esse modo emotivo já é reflexo da gestação?
— Junte-se a nós, Melzinha, a mamãe mais maluca do ano — diz ela,
animada.
— Isis, nós vamos compartilhar a gravidez! — digo, jogando-me ao lado de
Isis.
— Meu pai vai me matar! — ela diz rindo. — Mas, ainda assim, estou feliz, é
um bebê. E você, Melzinha, como está?
— Receosa, a ficha ainda não caiu — confesso.
— Eu fiz uma ultrassonografia horrível, fui penetrada por algo estranho na
xota, mas eu vi... — ela comenta, emocionando-se. — Há um pequeno ser. É
tão louco, né? Como uma vida pode crescer dentro de nós.
— Vou sentir nervoso quando começar a se mover — divago.
— Eu e Milena nem fazemos sexo, não saberemos, né, Mi? — brinca Flor
rindo, achando graça.
— Eu irei mudar isso esta noite — afirma Milena com segurança. — Olhem
para Heitor. — Todas nós olhamos. O homem é bonito. Absurdamente.
Ele está sem camisa, envolvido numa conversa séria com os demais rapazes.
É uma belíssima visão. Para piorar, não sei se é pelo fato de ele saber que é
gato e que possui um corpo do caralho, mas ele adora andar seminu.
— Meu irmão é gostoso! — elogia Flor e continuo a análise até me engasgar
com o vento.
— Com todo respeito, só há um Albuquerque que tem meu interesse, mas
esses Albuquerques são bem-dotados, hein? É visível o tamanho do
armamento que Heitor possui.
— Mel... — diz Isis rindo. — Eu acho que é genética viu, minha mãe e minha
avó adoram expor os centímetros...
— Quantos centímetros? — questiona Milena, interessada.
— Minha avó diz que meu avô tem 23, minha mãe insisti que meu pai tem
24.
— Porra, isso explica meu útero — digo rindo. — Arthurzinho deve ter nessa
faixa hein... santa piroca!
— Mas, voltando ao assunto — comenta Milena rindo... — Meu apetite
sexual deu as caras há alguns dias. Sinceramente, sexo era a última coisa que
estava em minha mente, mas de alguma forma eu tenho estado excitada
constantemente. Eu vou tentar, Flor, essa noite. Heitor é jovem, cheio de
vida, cheio de energia e precisa de sexo. E, desde que eu o quero como meu e
apenas meu, não posso deixá-lo aos extremos...
— Ora, ora, temos aqui uma alguém decidida! — zomba Isis rindo.
— Ele não precisa saber disso — afirma Milena. — Segredo de mulheres.
— Eu... eu também irei tentar. Olhem para Vincenzo....
— Santa merda, é muito homem gostoso reunido! — afirmo. O nível de
testosterona entre aqueles quatro é algo espantoso. Não há um que você olhe
e diga "esse é mais ou menos".
— É, Flower, esse Vincenzo, além de ser um gostoso absurdamente lindo, é
bilionário. Deve haver centenas de mulheres se jogando sobre ele. — Isis
provoca a fera.
— Eu sei disso. É algo difícil que estou tendo que lidar. Eu sinto tesão, mas
tenho medo de ir até o fim. Porém, como eu e Milena fizemos uma promessa
de retomar nossas vidas, vou tentar. Estou ansiosa por isso. Agora, Bruce não
fica longe de Vincenzo e ainda há o agravante de ser dono de um clube de
sexo — alfineta Maria Flor e eu rio. — Olhem para ele... eu não sei o que é
mais bonito em Bruce, se é o rosto, o corpo ou aquela boca...
— É o pau! — Isis quase grita. — É uma pena que você nunca irá vê-lo
realmente. Ao contrário de você e Milena, eu e Bruce temos sexo louco o
tempo todo. Não sei se você sabe, mas é devido ao excesso de sexo que estou
grávida.
— Virou uma competição? — Milena indaga, divertindo-se. — Então vamos
analisar o Arthurzinho.
— Tirem o olho do meu homem! — aviso rindo.
— Olha, eu vou ser sincera — começa Isis. — Todos os quatro ali são
extremamente lindos e gostosos, mas... Arthurzinho é falta de respeito real e
oficial, Melzinha. Ele é de longe o mais lindo de rosto. Ele é perfeito e
totalmente proporcional. Ele é um absurdo de lindo, o acho mais bonito que
tia Bia e meu pai. Deus resolveu ser generoso com ele, porque até mesmo deu
os olhos azuis do meu avô para o estrago ser maior. O homem é a perfeição
masculina.
— E ainda há piercings, tatuagens... ele é diferenciado, realmente. Se não
fosse meu tio... — conclui Flor.
— Melzinha, com todo respeito, ele é lindo. Uma aberração da natureza
humana. Até as sobrancelhas do homem são perfeitas — comenta Milena
rindo. — Meu Deus, vocês são muito loucas.
— Chega! — grito brincando. — Ele é meu pirocomon. Ele é lindo
realmente. Todos os dias que acordo do lado dele fico pelo menos dez
minutos o observando, acho que isso é pecado sabe? Mas foda-se. Ele é meu
sonho de princesa!
— Não foi à toa que fui apaixonada por ele — revela Isis. Milena arregala os
olhos. Novamente essa história. Não fico chateada, só acho engraçada. Dizem
que eu sou louca, mas Isis não fica atrás.
— Espera, você foi apaixonada pelo próprio tio?
— É perdoável. O conheci quando já tinha sete anos, meio que demoramos
muito a criar um vínculo familiar. Nós éramos muito grudados, mesmo
morando em cidades diferentes. Sempre que estávamos juntos dormíamos no
mesmo quarto, ocasionalmente ignorávamos até mesmo Heitor. — Ela ri. —
Ele era superprotetor comigo, na mente de uma pré-adolescente tudo vai para
o lado do romance. Eu fiquei louca por ele, afinal, ele agia como um príncipe
encantado. Eu roubei um beijo dele uma vez e então deu ruim.
— Ele retribuiu? — Milena questiona.
— Sim, no início apenas — explica.
— Gente, estou chocada. — Todas rimos. — Bom, eu acho que somos muito
jovens para ficarmos sentadas nesse sofá tricotando, que tal atiçarmos nossos
homens quentes? — propõe Milena e Flor salta do sofá.
— Essa é uma excelente ideia.
— Eu ao menos espero que vocês sigam até o fim dessa brincadeira, porque é
sacanagem atiçar os pobrezinhos se vocês não têm intenção de usá-los —
adverte Isis.
— Vamos beber e requebrar a raba!
— Pena que não podemos entrar na cachaça, sis — digo a Isis e nos
abraçamos. Agora somos unidas pelas regras que a gestação impõe. Sem
bebidas e grandes loucuras.
Mas ainda dá para fazer loucuras médias... sei que dá.

Há algumas coisas que tenho aprendido no período em que estou convivendo


diariamente com a família de Heitor: ser ousada, provocativa, cometer alguns
atos de insanidade, manter os homens ligados e saciados. Ao menos é isso
que Beatriz, Victória e Mari fazem, parece realmente dar certo, as três têm os
maridos completamente apaixonados e devotos, como se elas fossem uma
santidade ou algo assim.
Melissa parece já possuir o talento de conquista natural. Flor e Isis também.
Já eu, sempre fui tão reservada, tão politicamente correta que nunca ousei
arriscar na arte da sedução. Então surgiu o Heitor, um garoto tão diferente,
despudorado e entregue. Eu amei isso. Os dias em Las Vegas foram
altamente proveitosos, mesmo assim não saí muito da zona de conforto.
Porém, após um longo período sem sexo, eu preciso ousar, sinto que preciso.
Heitor tem sido tão fofo e carinhoso comigo, tem sido um homem que jamais
imaginei que seria. É um ser humano grandioso, benevolente e paciente. É
tão cuidadoso comigo, com o meu psicológico, são tantos elogios que eu
passaria horas enumerando cada um deles. Ele apenas merece algo grandioso
em retribuição. Eu devo a ele tanto, tanto que jamais serei capaz de retribuir.
Eu e Flor realmente animamos a situação e quebramos o clima conversação,
quando colocamos uma música. Nós pegamos bebidas alcoólicas para nós e
sem álcool para as gravidinhas da família, então começamos a dançar e
aproveitar, como se já tivéssemos em meio ao festival de música.
Por algum motivo que desconheço, Mel e Arthurzinho saem para algum lugar
acompanhados de Bruce e Isis. Ficamos apenas eu, Flor, Heitor e Joseph.
É estranho como eu me sinto uma garota de 19 anos agora. Parece que
regredi, mas essa regressão faz com que eu me sinta feliz e leve. Realmente
leve.
É engraçado que os dois homens agora estão no mais absoluto silêncio, nos
fitando.
Eu e Flor passamos a ignorar a presença dos dois e dançamos sensualmente.
Em determinados momentos grudamos nossas bundas, em outros damos as
mãos e sensualizamos.
Não sei por quanto tempo fazemos isso e bebemos, mas sei que o álcool nos
deixa mais soltas e animadas a cada segundo. Sei que estamos testando o
autocontrole de dois machos alfas desesperados, Maria Flor também parece
ciente.
— Já deu por hoje — diz Heitor tomando os copos de nossas mãos.
— Ah, vá para o inferno, Heitor. Vocês encheram meu saco dizendo que eu
tinha que vir, que eu preciso de um pouco de diversão e agora vem
importunar? — Flor repreende.
— Vocês já beberam o bastante, Flor — argumenta Heitor, enquanto
Vincenzo permanece quieto no bar, apenas observando a cena. Heitor não dá
atenção às palavras dela, apenas se vira para mim: — E você, delegada?
— Eu concordo com a Maria Flor — informo e a voz de Vincenzo me faz
saltar.
— Maria Flor, venha aqui, por favor — ele chama. Flor é foda. Ela até vai,
mas não sem antes pegar o copo da mão de Heitor.
— Delegada, não é interessante você testar um homem sofredor como eu.
Não é agradável ficar andando de pau duro pela sala na presença de outras
pessoas.
— Há um problema enorme aí que precisa ser resolvido, hein, Heitor, fica a
dica — provoco, pegando meu copo de sua mão e virando todo o líquido na
boca. — Olha, não tente mandar em mim, por gentileza. Nós teremos
conflitos se você começar a achar que eu sou submissa — informo,
colocando o copo em uma mesinha antes de reivindicá-lo para um beijo.
Um beijo que nem mesmo começa lento. É a explosão. Eu o beijo como não
o beijei por mais de um mês. Suas mãos descansam em minha cintura,
enquanto as minhas exploram seus cabelos e seu pescoço.
— Meu Deus, Milena... não podemos continuar com isso — diz grudando a
testa na minha. — Eu quero você tanto que chega a doer.
— Eu tenho uma surpresa para você, mas vou precisar que seja um mocinho
comportado e espere o meu sinal — informo, ele me encara curioso. Sorrio.
— O que eu tenho que fazer?
— Ficar aqui embaixo e só subir quando eu enviar uma mensagem para seu
celular informando que sua entrada no quarto está liberada.
— Você está certa sobre isso? Se sente preparada? — questiona, preocupado.
Eu juro que sinto um aperto no peito quando ele demonstra tanto cuidado
comigo. Esse homem é incrível. Eu estou certa, nunca estive tão certa.
— Sim. Eu estou pronta.
— Eu sou louco por você, delegata — declara sorrindo. — Suba e me
surpreenda.
— Não tenha dúvidas que irei surpreendê-lo. Esteja pronto, Heitor. — Pisco
um olho e então subo correndo...
O projeto "Abalar as estruturas de Heitor Albuquerque" começa agora. ...
ele merece e eu também.
CAPÍTULO 21

Extasiado, é tudo o que estou. Como um maldito pré-adolescente que está


apaixonadinho pela garota mais linda do colégio e fica na porta ansiando por
sua chegada.
Acontece que sou um homem feito, encontro-me na sala, esperando por uma
mulher incrível, madura e que está lutando bravamente contra seus traumas.
O que quer que ela esteja fazendo, parece que ela se sente devidamente
preparada, mas... talvez eu não esteja preparado.
Não sei, esse tempo juntos eu me apaixonei perdidamente por ela, estou
numa zona desconhecida. Eu quero fazer tudo por ela e, ao mesmo tempo, me
assusto com isso. Eu nunca amei, gostar eu já gostei de dezenas de garotas,
mas isso que sinto por Milena não é apenas um simples gostar, vai além,
muito além. Tão além que há alguns poucos momentos em que me encontro
assim, perdido.
— Alguém terá um pouco de diversão essa noite — comenta Flor,
acomodando-se ao meu lado no sofá. — Por que está apreensivo,
irmãozinho?
— Porque parece que estou indo perder minha virgindade — confesso,
precisando dar uma desabafada.
— Foram dias difíceis, eu te entendo. Mas acredite, Milena está preparada
para seguir em frente, em todos os sentidos. Ela é muito madura, forte e
persistente. Vai dar tudo certo, irmãozinho. Você é incrível, tenho orgulho de
ser sua irmã.
— Oh, minha Maria Florzinha pimentinha. Eu amo você. — Sorrio
abraçando-a. — E Joseph?
— Ele é incrível, né? — diz sorrindo.
— Vocês dois não vão seguir adiante? — Ela solta um suspiro e abaixa o
olhar.
— Eu tentarei, ele não tem culpa pelo que passei, não é justo que tenha que
ficar me esperando o tempo todo.
— Estou certo de que ele irá esperar o tempo que for necessário, porque eu
esperaria por Milena também — digo segurando suas mãos. — Eu odeio que
você tenha relações sexuais, odeio com força mesmo. Mas Joseph é um cara
legal, Flor. Maduro, responsável e generoso. Olha, eu sinto muito por tudo
que passou, eu juro a você que se aquele homem aparecesse diante de mim eu
o mataria com as minhas próprias mãos, mas a vida não pode parar, a vida
segue e você perde todos os dias quando deixa de aproveitar. Achar que
temos todo o tempo do mundo é nada mais que pura ilusão, é uma mentira.
Nós não temos todo o tempo do mundo, Flor, a vida está passando rápido
demais, bem como um sopro. E nós desperdiçamos cada dia que deixamos de
aproveitar, cada dia que deixamos de nos entregar a algo ou alguém que
queremos. Eu imagino o quão traumático é tudo que você e Milena passaram,
eu as acompanhei de perto, meu amor, mas você precisa ser mais forte que
isso. Só tem dezenove anos, Flor, uma vida inteira pela frente. Está no auge
da sua juventude e, venhamos e convenhamos, Joseph Vincenzo é um big
partido. O homem quase morreu naquele hospital, ele moveu o mundo para
nos ajudar, está cuidando de você com tanta dedicação e amor que, até
mesmo, está me deixando surpreso. Eu não sabia que ele era um cara foda,
mas descobri isso desde o momento em que bati na porta da casa dele
pedindo ajuda. — Sorrio. — Vamos lá, Flor, seja mais forte que seus
problemas, seja feliz, entregue-se. O homem ama você. Se ele não te disse
isso ainda em palavras, analise todos os gestos.
— Ele disse.
— Mais um motivo para você tentar — incentivo.
— Eu estou tentando desde o momento em que saí de casa — revela. — É
apenas difícil, mas eu sou uma Albuquerque, isso significa muitas coisas. Sou
neta de Mariana, afinal.
— Oh, vovó é um belíssimo exemplo, hein. É muito bom ser vida louca —
digo rindo. — Vovó já passou por algumas barras-pesadas na vida, Flor,
como ela mesma já contou. Ela disse que em alguns momentos até balançava,
mas que nunca, em hipótese alguma, permitiu que os acontecimentos fossem
maiores que sua força de vontade. Siga isso.
— Seguirei, brother.
— Você é linda, princesa, esse seu sorriso é o mais lindo do mundo inteiro —
declaro, dando um beijo em sua testa.
— Realmente. Esse sorriso desarma uma guerra — concorda Vincenzo,
aproximando-se e se sentando no sofá.
— Oh, dois dos homens da minha vida estão me elogiando, sou sortuda.
— Então, o que faremos? Quer dar uma volta para conhecer o lugarejo, ver
um filme, ficar na piscina? — Ele questiona a Flor.
— Ficar na piscina — responde sorrindo, enquanto meu celular vibra com
uma mensagem de Milena.
— Preciso ir.
— É, alguém tem que foder! Vá lá, irmãozinho. Só não faça muito escândalo,
por gentileza.
— E assim diz a mulher que tem que ser quase amordaçada — divaga
Vincenzo e eu realmente não estou interessado em saber se minha irmã geme
ou não. Foda-se essa merda. Há um problema, as pessoas são normais até
entrarem na minha família e serem contagiadas com loucura e falta de filtro,
tenho percebido isso e é bastante impactante.
— Só quando você...
— Não quero ouvir! — corto. — Estou subindo e então vocês podem
continuar a discussão sexual — informo dando um beijo em Flor, um aperto
de mãos em Joseph e subo afoito, curioso e extremamente ansioso.
Eu abro a porta do quarto e meus pés congelam. Milena acaba de me foder,
sinto-me um garotinho portando a primeira ereção da vida. Ela está usando
uma fantasia sexy de coelhinha.
Minha coelhinha.
Santa Mãe de Deus, essa mulher está disposta a me matar.
— Retire sua calça, sua cueca e sente-se naquela cadeira ali, mas antes feche
a porta, com chave — ordena, fazendo com que eu retorne à realidade.
— Delegada, isso é abuso de poder. Consigo pensar em mais alguns crimes
que a senhora está cometendo. — Sorrio fechando a porta. Fico nu e me
acomodo sentado na cadeira.
Seus olhos se arregalam assim que encontram meu pau. Não tenho culpa.
Nunca fui um homem fetichista ou fantasioso. Nunca uma mulher fez algo
assim para mim e nem mesmo tive vontade que isso acontecesse. Minhas
relações eram sempre bem genéricas, sair para algum lugar e no final da noite
partir para o sexo, bem no estilo pegação desenfreada. Mas com Milena não
foi assim nem mesmo na primeira vez. Com ela tudo tem uma antecipação,
uma espera, é como se estivéssemos nos preparando para a entrega sexual,
não é apenas sexo, é além. É isso que ela está fazendo neste momento e,
embora eu esteja duro como um aço, sorvendo cada movimento do seu lindo
corpo que está movendo no ritmo da canção, estou ligeiramente emocionado
e completamente encantado.
— Esse rabinho está me deixando louco, delegada. — Sorrio e ela vira sua
traseira para mim. Há qualquer chance de isso acabar nos próximos cinco
segundos? Eu quero tanto essa mulher que está difícil para mim neste
momento.

O receio está aqui, comigo. Conforme deixo a canção guiar meu ritmo,
observo-o e meu coração chega a doer. Nu, duro, olhar intenso e
impenetrável, de um jeito que eu jamais conseguirei desvendar seus
pensamentos. Suas mãos estão agarrando firmemente as laterais da cadeira e
posso ver seu membro pulsar pela necessidade.
É algo que preciso enfrentar definitivamente. Quão covarde serei se desistir
neste momento e deixá-lo dessa maneira? Eu o quero, quero muito, o bastante
para lutar contra todos os meus demônios. Mas, como qualquer ser humano,
há o mínimo de fraqueza e medo querendo me atrapalhar.
É o momento de me jogar.
Eu deslizo o zíper do body e lentamente vou retirando-o do meu corpo.
Heitor assovia fixado na cena e isso é tudo que preciso como impulso.
— Milena... esse seu corpo — elogia, pegando meu body no ar e sorrio.
Retiro meus sapatos e então é a vez de tirar minha meia-calça. Viro-me de
costas para ele e deslizo a peça provocativamente. Estou testando o
autocontrole e ele está me mostrando quão controlado pode ser. Um garoto
bem-comportado que foge completamente do Heitor que conheci.
Eu adoro quando ele me chama pelo nome e isso só acontece em atos sexuais,
nada além.
Desvencilho-me da meia e então estou apenas com minhas orelhinhas de
coelha e uma calcinha minúscula.
— Perfeita. Retire a calcinha para mim — pede com seriedade. Seus olhos
quase são capazes de se infiltrar em meu corpo neste momento. Sinto-me
uma virgem indefesa, até mesmo perdi a noção do que fazer.
Levo meus polegares nas laterais da calcinha e remexendo os quadris
sensualmente começo a descê-la. É então que Heitor desliza uma mão pela
sua extensão e começa a tocá-lo. A minha calcinha paralisa nas coxas, porque
a cena é tão incrível que não sou capaz de qualquer ação agora. Não era esse
meu propósito inicial. Definitivamente.
— Retire, Milena.
— Ok — respondo, terminando meu serviço em sintonia com a música, que
termina junto, num timing perfeito.
Estou nua, parada no meio do quarto, na direção de Heitor.
— Eu amei essa surpresa, delegata. Não esperava uma performance dessa.
Confesso que nunca fui ligado nesse tipo de coisa, mas sinto que acabei de
me tornar um viciado. Já consigo imaginá-la envolvida em outras fantasias,
tipo enfermeira safada, professora impertinente. — Ele sorri. — Eu vou
querer isso mais vezes. Agora me diga, Milena, há mais alguma performance
para essa noite? Eu devo permanecer sentado ou já estou liberado para ficar
de pé? — Estou sem palavras, apenas fico muda. É uma merda que eu tenha
me tornado uma mulher traumatizada sexualmente, é uma pena que me sinta
com 15 anos agora, consumida pela vulnerabilidade. — Vou aceitar seu
silêncio como a resposta para que eu possa ficar de pé — avisa e então está
de pé.
Ele olha fixamente nos meus olhos e toco seu membro mais algumas vezes.
Eu me sinto quase em combustão. Parece que há chamas consumindo meu
corpo internamente.
Ele vem em minha direção e meu coração acelera consideravelmente. Eu
estou o analisando de maneira descarada, mas ele não. Seu único foco é meu
rosto e nada além dele neste momento.
Quando está perto o bastante, suas mãos deslizam pela minha cintura e tenho
meu corpo puxado ao encontro do seu. Eu não tenho coragem de olhar em
seu rosto, sinto-me patética. Parece apenas que o jogo inverteu, eu não pareço
mais velha que ele, pareço infinitamente mais jovem.
— Olhe para mim — pede e eu balanço a cabeça em negativa. Ele suspira,
então estou em seus braços, rodeando as pernas em torno de sua cintura e
sendo obrigada a encará-lo. Uau! Há um enorme pênis entre nós.
Sua boca reivindica a minha de uma maneira que tenho todos os pensamentos
expulsos da mente. Suas mãos apertam minha bunda e então sou carregada
até a cama.
Nossos lábios se afastam e ele me encara fixamente.
— Sou eu. Apenas eu, Milena. Nunca, em hipótese alguma, haja o que
houver, eu farei mal a você. Nunca. Você confia em mim? — pergunta, e eu
engulo a seco.
— Sim.
— Você quer se entregar a mim? Se sente pronta? Diga-me, meu amor. Você
está com tesão?
— Sim para todas as coisas — confesso.
— Eu estou indo cuidar de você, porque eu estou apaixonado por você e
quero fazê-la se sentir bem, amada e feliz. — Eu não consigo conter as
lágrimas. Sinto-me tão segura nos braços desse garoto. Em pensar que eu
debochei dele, algumas vezes, em relação à nossa diferença de idade... O
garoto novinho que me agarrou na parede de sua casa durante uma
ocorrência, é o homem que tem me mantido segura e devidamente amparada.
Ele limpa minhas lágrimas e beija cada um dos meus olhos. Sua boca desliza
pela minha e então desce pelo meu pescoço e encontra um dos meus seios.
Suas mãos os envolvem e ele dá um aperto não muito firme. É tão bom... me
sinto tão excitada. Fecho meus olhos e me entrego como um fantoche. Eu me
sinto aos cuidados de um anjo. Um anjo lindo e repleto de segundas
intenções.
— Meu Deus! Você é perfeita, Milena, perfeita.
— Eu quero você — protesto, enquanto sua boca desliza sentido à minha
intimidade.
Ele encontra meu clitóris e minhas mãos voam para seus cabelos, quando
sinto sua língua deslizar deliciosamente através da minha fenda.
— Molhadinha, delegata — diz, então deixa de lado toda sua fofura pegando
um ritmo novo. Sua língua esperta faz movimentos que eu nem mesmo sabia
que era capaz de existir. Seu polegar brinca com o pontinho acima do meu
clitóris, estou na seca tempo o suficiente para não conseguir segurar um
orgasmo que ganha força em meu interior. Porém, Heitor não permite que eu
desmorone em sua boca. Quando nota meus tremores aumentando, ele se
afasta e traz sua boca a minha.
Seu corpo incrível está encaixado entre minhas pernas e sua ereção está
moendo em minha intimidade. Tento inclinar os quadris para capturá-lo e ele
apenas ri em meio ao beijo.
— Me dê... — peço e ele sorri encaixando-se em minha entrada lentamente.
— Oh, meu Deus, é tão bom! — exclamo cravando as unhas em suas costas.
— Mais, mais...
— Eu estou indo, delegata. Estou indo te dar tudo, posso?
— Sim, por favor, tudo.
— Ora, ora, ora... eu tenho minha garota de volta, é isso mesmo? —
questiona sorridente.
— Você tem tudo, apenas me foda! — Ele o faz.
Em uma única estocada ele está dentro e eu estou perdendo o fôlego. Dói,
mas fui eu quem pedi por isso.
— Puta merda, Milena, eu sinto que estou vou gozar como um maldito
adolescente. Você é incrível.
— Eu estou quase... tão perfeito, Heitor... Tão bom. Você é a melhor coisa
que aconteceu na minha vida — confesso.
— Você é a melhor coisa que aconteceu na minha. Obrigado por confiar em
mim, por ser minha. Eu sempre darei a você o meu melhor, Milena.
— Então me dê mais — peço, descaradamente, e ele morde meu pescoço.
Uma mão paira sobre minha garganta, como se estivesse prestes a me
sufocar, a outra agarra meus cabelos e ele começa a me foder, a realmente me
foder. Eu gozo rapidamente.
Heitor para de se mover, enquanto meu corpo se recupera e agora tem as duas
mãos em minha cabeça.
— Gostosa demais.
— Eu ainda não estou satisfeita — informo sorrindo preguiçosa e ele nos
vira, deixando-me pairar sobre seu corpo.
Solto um gemido assim que faço o primeiro movimento e suas mãos
envolvem em torno dos meus seios. Ele os aperta e brinca com meus mamilos
rijos, então começo a montá-lo lentamente, sugando seu membro em minha
intimidade. Suas mãos agora descem para a minha bunda e ele a aperta
firmemente, enquanto impulsiona os movimentos mais fortes.
Apoio minhas mãos em seu peitoral e ele solta um gemido, ao passo que sinto
seu membro crescendo mais dentro de mim. Sexo com Heitor é um orgasmo
a cada minuto, prova disso é como meu corpo se encontra com o seu
explodindo os dois na mais perfeita sincronia.
— Minha... — Ele me abraça firme, enquanto lutamos para recuperar o
fôlego.
— Isso foi perfeito. Foi a melhor vez de toda a minha vida — confidencio
sorridente.
— Foi perfeito, embora tenha sido rápido. Eu senti falta de você sexualmente,
Milena, é como um vício. Eu quero mais de você, mas por ora quero apenas
ficar abraçado enquanto nossos corpos continuam conectados.
— Romântico. — Rio.
— Perfeição é seu nome, delegata!
CAPÍTULO 22

— E aí, você conseguiu? — Milena surge radiante pela manhã com cara de
quem realmente deu a noite inteira.
— Não, mas você pelo visto conseguiu. — Sorrio feliz pela conquista dela.
Eu sei quão grande é dar um passo em relação ao sexo após ter sido abusada
sexualmente. No caso dela ainda foi pior, Anthony foi até o fim.
— Sim e foi incrível, Flor. Incrível o bastante para eu impulsioná-la a fazer
isso.
— Eu irei, hoje — informo, decidida, lutando internamente contra todos os
meus demônios.
Mel passa correndo rumo ao banheiro com a mão na boca, Isis chega
carregada nos braços de Bruce como se estivessem vivendo em plena lua de
mel, Heitor surge puxando Milena para os seus braços e Vincenzo ainda não
se levantou.
É uma muvuca familiar.
— Melissa abre a porta! — Ouço Arthurzinho gritar, enquanto esmurra a
porta com violência.
— Ah, para! É só um enjoo matinal, pelo amor de Deus! — diz Bruce,
tentando acalmá-lo. — Você não está tendo enjoo né, minha boneca? Eu
gostaria que estivesse.
— Você deve estar surtado. Como pode dizer que gostaria que eu estivesse
tendo algo terrível? — Isis questiona.
— É o nosso bebê, não é algo terrível vomitar por causa dele — justifica
Bruce e ela faz um ownt. Sério, meu humor não está bom o suficiente para
ficar perto de três casais melosos.
Preparo uma bandeja com guloseimas e decido acordar Vincenzo.
— Ei, nós estamos indo passar o dia fora, vamos fazer as refeições na rua e
em seguida iremos para a Coachella, você e Joseph não vem conosco? —
Heitor questiona.
— Acho que não sei — digo. — Não sei. Hoje à noite tem show do Tweenty
One pilots e certamente iremos.
— Hum, entendemos, vocês querem privacidade — ele diz rindo.
— Acredite, não é nada disso.
— Flor, vocês não... — Meu irmão é tão lindo merda.
— Não. Mas está tudo bem, realmente. — Sorrio.
— Se quiser que eu fique em casa...
— Não, meu amor. Eu quero que vocês todos tenham diversão. Eu terei hoje
à noite. Agora vou lá acordar o bonitão. Divirtam-se! — digo dando um beijo
em sua bochecha e subo.
Não preciso acordar Vincenzo, ele já está gloriosamente desperto e está
caminhando para a sacada. Que bela visão, meu humor até mudou.
— Ei! — Digo e então ganho sua atenção.
— Olá, menina bonita. Você me abandonou sozinho essa manhã.
— Trouxe café da manhã para você. — Sorrio, ele vem em minha direção
pegar a bandeja. Ele a coloca sobre a cama e caminha em minha direção com
um olhar indecifrável e um semblante de um homem decidido. Engulo a seco
e vou andando para trás até bater na porta.
Ele deposita as duas mãos ao lado da minha cabeça e estou presa entre seus
braços.
— Meu beijo de bom dia — diz com nariz grudado ao meu, então reivindica
minha boca com furor. Ele me beija como nos beijamos lá atrás, na primeira
vez. Não é delicado e carinhoso. É voraz, intenso e insano. Ele me beija de
uma maneira que me faz querer puxar seu corpo para perto do meu, mas ele
não está disposto a isso, porque apenas seu lábio está tocando o meu, nada
além disso. Quando ofego em seus lábios ele se afasta e me dá um sorriso
genuíno, quase angelical. — Já tomou café da manhã? — questiona.
— Não.
— Então vamos comer. Quais seus planos para o dia de hoje? À noite temos
o show. — Ele se acomoda na cama, completamente pleno e seguro de si,
enquanto custo a conseguir sair do meu estado de embriaguez.
— Todos estão saindo. Eles vão passear pela cidade de manhã e após o
almoço estão indo para o festival. Eu pensei em passarmos a tarde em casa,
eu posso tentar cozinhar e podemos ficar na piscina — explico, acomodando-
me ao seu lado.
— Está com medo de sair de casa, princesa? — pergunta, preocupado.
— N... não. Claro que não — digo pegando uma fatia de bolo.
— Olhe para mim, Maria Flor — ordena e eu faço. — Você está com medo.
Não minta para mim.
— Eu vou me esforçar. Iremos à noite.
— Tudo bem, à noite iremos, ok? À noite teremos um pouco de diversão —
diz e balança a cabeça. — Sabe há quanto tempo não vou a shows? Eu acho
que tinha uns 22 anos quando fui em um show pela última vez. Isso tudo que
estou fazendo significa muito, Flor, estou fazendo tudo por você. Não estou
te cobrando nada, só estou comentando, porque estar aqui me faz lembrar de
quando eu era mais jovem. — Ele sorri. — Você virou meu mundo do
avesso, garota, rápido como um tornado.
— Você é incrível. Não existem palavras para agradecer tudo o que tem feito
por mim e pela minha família.
— Eu amo você — diz aberta e sinceramente. Eu não me acostumei com isso
ainda.
— Eu amo você também. Nunca imaginei amar...
— Você é uma princesinha. Fico feliz de ser o seu primeiro em todos os
sentidos da palavra — sussurra em meu ouvido e deixa um beijo em minha
bochecha.
Nós comemos num silêncio confortável e ele fica de pé. Eu vejo todo seu
comprimento marcado lindamente em sua cueca. Não sei, de fato o que é
mais bonito nesse homem. Não há um único defeito físico nesse corpo. Ele é
bonito demais merda, eu ajo sempre como uma garotinha patética diante de
uma beleza extremista.
— Vou levar a bandeja lá para baixo e já volto. Coloque uma roupa de banho
para irmos para a piscina — diz, pisca um olho e sai após vestir um roupão.
Eu corro até minha mala e pego um biquíni qualquer. Enquanto o visto,
Vincenzo surge de volta, tirando o roupão e a cueca. Ele desfila nu e duro,
bem duro, diante dos meus olhos.
— Precisa de ajuda para amarrar? — questiona.
— Não... — respondo e ele sorri pegando uma sunga e uma bermuda.
— Todos já foram, somos apenas você e eu.
— Sim... — Ele ri das minhas respostas monossilábicas e eu termino de
amarrar a parte de cima. Vejo-o ajeitando toda sua bagagem dentro da sunga
e fujo desse diabo que acordou disposto a me atentar no dia de hoje.
Coloco uma música na área externa da casa e sorrio ao encontrar a geladeira
cheia de cerveja. Viro uma long neck todinha de uma só vez, tentando obter
um pouco de alívio diante de todos os tipos de calor que estou sentindo.
Assim que termino respiro fundo e me jogo na água.
Estou boiando quando uma sombra me cobre.
— Oi. — Sorrio, virando-me para encará-lo e ele mergulha. Quando
submerge, tenho a imagem de um homem sexy, estilo lenhador molhado.
— Oi.
— Papai. — Sorrio, abraçando-o e enrolando minhas pernas em sua cintura.
— Flor. — É tudo que ele diz antes de eu beijá-lo. Eu preciso tentar merda,
preciso. Eu quero, mas quando estou prestes a chegar lá sempre surge um
bloqueio, preciso ser mais forte que a força que está me puxando para trás.
Eu quero ir adiante. — Eu estou começando a ponderar os beijos, Flor — ele
diz após afastar nossos lábios, olhando em meus olhos.
— Por quê?
— É mais do que estou conseguindo suportar — confessa, afastando meus
cabelos e se aproxima da minha orelha. — Eu quero foder você tão ruim,
entende? — Eu arrepio até a alma e ele volta a me encarar. — Quero foder
você, Flor. Estou ficando maluco já. E não adianta se culpar, terminar
comigo, mandar eu foder outra. Não é falto de sexo. É falta de você. É a sua
boceta que eu quero. É você que eu quero. Quero enfiar meu pau todinho
dentro de você, te encher com a minha porra e continuar fodendo como se
não tivesse acabado de gozar. Quero dar uns tapas nessa bunda gostosa, fazê-
la gritar do jeito que eu gosto, dar uns tapas nessa carinha de anjo. Quero te
colocar de quatro e começar a trabalhar para foder sua bunda. Você vai
gostar, Maria Flor, eu vou te foder tão bem que pedirá por mais. Não serei
delicado, estou com fome de você, como um animal selvagem. Informações
demais? — Ele sorri.
— Oh...
— Mas você não está pronta ainda, princesa. Por isso vou me afastar apenas
alguns poucos metros, ok? E não se preocupe, Flor, não estou te
pressionando, meu amor. Só estou informando que quando quiser voltar a ser
minha puta farei exatamente dessa maneira. Vamos aproveitar o dia, tomar
algumas cervejas? Irei pedir nosso almoço quando chegar a hora. Vamos
ficar de pernas para o ar hoje, ok? — propõe, sorrindo e mergulha até chegar
à borda da piscina e sair.
Eu estou molhada e não é pela água da piscina.
Oh, meu Deus...eu preciso de tudo isso que ele acabou de falar.
Saio da piscina e pego algumas cervejas. Então fico ao seu lado sobre o
balcão duelando sobre quem bebe mais. Eu bebo apenas três long necks, até
pegar a que está na mão dele e jogar longe.
Puxo-o pela corrente e foda-se. Eu quero ser fodida por Joseph Vincenzo.
— O que está acontecendo?
— Eu quero tudo que você disse, podemos começar agora? — Questiono
ofegante, enquanto o seguro seu cordão.
— Quer foder?
— Eu quero ser fodida como você falou — peço e estou em seus braços
sendo levada para dentro de casa. Na sala ele me coloca no chão e começa a
se desfazer de suas roupas.
Ele fica nu e eu sem ação. Então mais uma vez ele me tem sem seus braços.
Enrolo as pernas em sua cintura e solto um gemido ao sentir sua dureza entre
nós. Ele desfaz o nó que prende a parte de cima do meu biquíni e a joga
longe. Então começa a quebradeira, porque esse homem gosta de quebrar
tudo que está em nosso caminho quando estamos indo foder. Essa casa é
dele? Foda-se se é ou não.
Ainda na escada, rumo ao segundo andar, ele rasga a parte de baixo do
biquíni e eu solto um gemido alto agora, sentindo-o bem próximo da minha
entrada.
Ele para no meio da escadaria e lentamente sinto seu pau deslizar para dentro
de mim.
— Aí papai... por favor... tudo. — Ele o faz, arqueio em seus braços. — Oh,
meu Deus... eu acho que havia me esquecido.
— Estou te lembrando — avisa e sobre o restante dos degraus. No último, eu
já sinto minhas costas no chão. — Não vai dar tempo de chegar ao quarto...
— Foda-me... me faça sua mulher, me faça do jeito que você quer...
— Eu farei — afirma, então sua boca está dividindo atenção em cada um dos
meus seios, enquanto suas mãos estão firmes em meus cabelos. Ele está me
fodendo de maneira mais intensa que a nossa última transa louca. Eu achei
que aquela vez era o limite de uma foda, mas agora estou percebendo que não
há realmente um limite. Ele está apagando todo e qualquer medo da minha
mente, está fazendo meu corpo reconhecer a quem realmente pertence e quem
sabe tratar de todas as necessidades físicas. Uma mão voa em meu pescoço e
a outra estala em meu rosto. Eu me sinto tão devassa por gostar disso.
Arranho seu peitoral e fecho meus olhos, quando sinto um orgasmo varrendo
toda a merda dentro de mim, então começo a chorar, pois esse orgasmo
parece me libertar de toda a prisão em que estava envolvida nos últimos
tempos. Envolvo meus braços firmemente em torno de Vincenzo e choro em
seu ombro enquanto ele diminui o ritmo. — Não chore. Eu vou me sentir um
merda por gozar enquanto você chora, mas está foda — confessa.
— Por favor, eu quero sentir você gozando dentro de mim — peço entre
lágrimas. — Por favor, papai, se perca em mim, por favor — incentivo-o, ele
goza escondendo sua cabeça em meu pescoço. É tão bom, tão bom, que eu
jamais ousaria tentar explicar.
— Porra. Você é a segunda melhor coisa da minha vida — confessa rolando
para o lado e ficamos os dois, deitados no chão, lado a lado, olhando para o
teto. — Nós estamos indo foder o dia todo.
— Eu sinto isso — digo rindo e chorando, uma bagunça completa.
— Não chora, Maria Flor, me obedeça ao menos uma vez.
— Eu não consigo parar.
— Porra de mulher gostosa. Vem aqui no seu papai — chama, fazendo-me
sorrir.
— Se alguém chegar nós estamos fodidos.
— Então vamos para o quarto, agora vou fazer amor lento e em seguida te
pegarei de quatro. Após isso vamos foder no banho e almoçar. Quero chupar
sua boceta de sobremesa e te foder mais umas duas vezes antes de irmos para
o show.
— Eu não sei se conseguirei ir ao show se você cumprir toda a agenda de
fodas. — Rio.
— Você vai, porque há algo grandioso lá para você. Algo que vai mudar a
minha vida e a sua — anuncia ficando de pé e me puxando. Eu paro de pé em
seus braços e o encaro.
— O que você está tramando?
— Uma surpresa, algo que eu nunca imaginei fazer um dia na vida, mas
quero fazer com você — diz dando um sorrisinho. — Monta meu pau agora,
princesa? Eu preciso de mais uma dose de você — pede com seriedade e saio
correndo para o quarto. Ele bate a porta, deita-se na cama e me puxa.
— Estou cheia de caquinha. Está escorrendo em minhas pernas.
— Isso me deixa mais duro que o normal. Sexo sujo — diz sorridente e eu
me desvencilho dos seus braços para ir ao banheiro limpar. Ele fica
resmungando na cama e eu fico rindo no banheiro. Assim que me limpo,
encaro-me diante do enorme espelho. Meu rosto está vermelho e meus
cabelos uma bagunça. Estou no auge do meu estilo pós-foda e temo a
maneira que ficarei no final do dia.
Vincenzo irrompe pela porta e abre a ducha antes de me puxar para dentro do
boxe. Eu rio de sua brutalidade e paro de rir, assim que vejo seriedade em seu
rosto.
— Eu preciso anotar na caderneta para nunca mais deixá-lo sem sexo.
— Sem sexo agora só quando nossos filhos nascerem e você estiver de
resguardo — informa me deixando boquiaberta.
— Uau. Filhos? No Plural?
— Três filhos, como você queria, não? Quatro com Mathew, você acabará
sendo mãe dele. — Juro que quero chorar, mas dirijo todo meu foco ao fato
dele estar planejando filhos. Quando eu o conheci, ele deixou tão claro que
não queria filhos – além de Mathew obviamente.
— Você está planejando ter filhos comigo? — questiono, embasbacada.
— Oh, Flor, você não faz ideia de todos os planejamentos que tenho feito
sobre você. Agora vamos deixar essa discussão para depois, vou varrer essas
informações para fora da sua mente em três, dois, um... — Sua boca está na
minha e ele varre quando sinto novamente sua ereção buscando seu habitat
natural.
Dessa vez, sou eu quem sou tomada pela insanidade. Agarro seus cabelos,
bato em seu lindo rosto e guio os movimentos montando-o de pé, no
banheiro, enquanto seus braços estão envoltos em minhas pernas, sustentando
meu corpo.
— Ninfeta atentada.
— Papai gostoso. Eu senti falta de foder assim com você — provoco,
mordendo seu pescoço.
— Monta meu pau, sua gostosa. Mostra quem é a porra do macho que nasceu
para te foder.
— Oh, papai, palavras sujas? Isso é um jogo baixo. Sinta, Joseph Vincenzo,
sinta como faço pompoarismo no seu pau.
— Ora, uma versão mais devassa da minha ninfeta?
— Eu tive um ótimo professor de putaria — digo olhando em seus olhos.
— Então, mostre mais, dê tudo. Entre quatro paredes você pode se libertar
comigo. Faça um sexo louco com seu homem.
— Sim, senhor. Vou foder com meu papai como uma garotinha bem safada.
— Filha da puta! — ele grita, jogando minhas costas contra a parede, então é
ele quem passa a ditar o ritmo.
Dessa vez eu não choro. Eu rio. Eu tenho um poder sobre esse homem. Ele
me libertou de alguns traumas, eu retribuirei liberando a garota suja que
tenho escondida em meu interior.

Eu não quero sair, mas Vincenzo decidiu que não quer entender isso e está
me torturando há alguns minutos. Um passo de cada vez. Já dei um passo
significativo conseguindo transar, agora ele quer que eu enfrente uma
multidão de pessoas que não conheço e estou com medo.
Dá uma sensação claustrofóbica e desesperadora, temer algo que antes
costumava ser rotineiro para mim. Eu sempre fui ligada na voltagem máxima,
sempre gostei de socializar, costumava ser a garota popular antes de todos os
acontecimentos. Agora, estou temendo enfrentar um festival de música que
sempre foi um sonho participar. É tão estranho, de forma que só quem está
vivendo a situação consegue entender. Dá a sensação de fraqueza e de
inutilidade. Eu odeio me sentir fraca, estafada, mas é assim que me sinto
quando tento forçar algo que ainda não estou pronta para encarar.
Na verdade, estou toda errada. Eu me propus a vir nessa viagem e tentar,
agora sinto que estou dando alguns passos atrás no quesito socializar.
— Maria Flor, vamos lá, levante da cama — diz, bravo, recém-saído do
banho. Nós tivemos uma maratona de sexo e ele parece ter passado o dia
inteiro meditando. É injusto. Enquanto ele está pleno, eu saí do banho direto
para a cama.
— Não podemos ficar aqui?
— Eu tenho uma surpresa para você, lembro de ter te comunicado mais cedo.
— Vamos apenas namorar pelados, papai, por favor. Eu te amo — peço e ele
solta um suspiro. — A surpresa não pode ser feita aqui?
— Não. Olha, tudo bem, Flor, você não quer ir, não irei forçá-la — comenta,
rendendo ao meu pedido e sorrio preguiçosamente. — Eu estou indo de
qualquer maneira, com ou sem você.
— Você o quê?
— É exatamente isso, eu estou indo, Maria Flower. Quando eu chegar, se
você ainda estiver acordada, talvez possamos assistir um filme ou algo assim.
— Você está louco se pensa que eu permitirei um absurdo desses! —
protesto, saltando da cama. O safado me encara contendo um sorrisinho
sarcástico. Filho de uma boa mãe. Só sendo maravilhosa para criar um
homem dessa potência. Como fiquei sem transar com essa bênção celestial?
— Sabe eu amo você, mas eu realmente quero aproveitar o show da minha
banda preferida, Flower. Sua nudez neste momento não muda meus planos,
afinal, fodemos o dia inteiro. E, mesmo que tenhamos ficado um longo
período sem sexo e eu não tenha saciado toda a vontade de te foder ainda, sei
que consigo controlar por mais algumas horas antes de estar dentro de você
novamente, minha princesa — diz, apertando meu queixo e então se afasta.
— Bom, estou indo, meu amor. Estou levando o celular, se precisar falar
comigo ligue, se eu não atender é porque você sabe, multidão, música alta e
tal...
— Meu cu! Joseph Vincenzo! Passe por cima de mim e então você irá
sozinho!
— Se eu passar por cima de você poderei ir? — pergunta com um sorrisinho
e eu quero matá-lo, dessa vez é sério.
— Nem assim!
— Vamos lá, Maria Flor, você tem cinco minutos para aparecer pronta lá na
sala. Um segundo a mais e eu irei sozinho — avisa agora com uma cara de
"sou Joseph Vincenzo e vou te destruir”.
— Papai, quinze minutos, pode ser? Sou menina — justifico e ele sorri.
— Sim, minha menina. Quinze minutos, nem um único segundo a mais.

Em quinze minutos, estou diante de um Joseph com o sorriso triunfante de


quem consegue exatamente o que quer. Estou puta por isso, mas não posso
deixar um homão desses sozinho em meio a uma multidão de mulheres
fogosas. Ele é meu!
— Você é a mais linda do universo, Flower e é todinha minha, para eu fazer
tudo o que quiser — diz cheirando meu pescoço.
— Tudo?
— Tudo. — Afirma. — Eu estou indo pegar o que me pertence essa noite,
Maria Flor. — Eu engulo a seco diante da intensidade de suas palavras.
Rumamos a saída e pegamos os casais que aproveitaram o dia, eles estão
chegando e nós estamos indo.
— Olá! — grita Milena fazendo Heitor de cavalinho.
— Qual dos dois está mais bêbado? — questiono.
— Os dois — explica Mel. — Nós tivemos que vir embora por culpa desses
dois diabos.
— A Melissa não tem limites, ficaria até amanhã — diz meu tio. — Acontece
que ela esquece que está grávida, o tempo inteiro. Vou instalar um
dispositivo no corpo dela para ficar lembrando de dois em dois minutos.
— E Isis e Bruce? — questiono.
— Estão transando em alguma moita. Olha, sinceramente, eu estou impactada
o bastante sabe? Eu achava que era louca e agora percebi que talvez eu seja a
pessoa mais normal dentro dessa família. Até meu pirocomon é extremo.
— Vou falar algo para você, Arthur, se Maria Flor me chamasse de
pirocomon nós não estaríamos juntos no dia de hoje — zomba Joseph,
divertido, e eu dou uma cotovelada em sua barriga.
— Bom, tenham uma linda noite — aviso.
— Não voltaremos essa noite, não se preocupem, onde estaremos
provavelmente não haverá sinal de celular. Caso aconteça qualquer incidente
basta contatar um dos números que deixei sobre o balcão — informa meu
homem. Ele está bem misterioso hoje.
Nós nos despedimos deles e então seguimos para carro. Vincenzo torna-se
um homem silencioso e demonstra até mesmo um pouco de ansiedade
durante o trajeto.
Ao chegar ao festival de música ele tem seu aperto bastante firme em minha
mão e isso me faz querer rir. Ele passa da entrada convencional e seguimos
até uma entrada VIP, óbvio, ele é o dono do mundo, como eu pude ao menos
cogitar que seria uma entrada normal?
Enquanto permito-me ser conduzida, até esqueço-me dos meus traumas e do
meu medo de estar entre pessoas desconhecidas. Há um homem que sei que
faria qualquer coisa para me proteger e esse homem está de mãos dadas
comigo.
Chegamos em uma área reservada, então ele esbraveja quando percebe que o
show começou. Sorte que uma alma caridosa ouve e informa que é apenas a
primeira música. Pegamos bebidas e ele se posiciona atrás de mim para
assistirmos ao tão sonhado show. Obviamente, fico um pouco emocionada.
Essa banda me remete a Las Vegas, mais precisamente à estrada que nos leva
ao Canyon. Foi há pouco tempo, mas parece que anos já se passaram. Las
Vegas foi um marco, definitivamente. Um marco que me deu esse homem
incrível que, além de todos os atributos físicos, possui um coração
monstruoso. Um homem que segurou minha mão, pegou minha dor para si,
travou todas as batalhas comigo e que me ama. Eu ainda acho surreal o fato
de ser namorada do meu babá, aquele homem irritante de tão lindo e
perseguidor, que foi mandado pelo meu pai para seguir todos meus passos.
A banda toca seis músicas até chegar à que faz meu coração bater mais forte,
Hometown. Eu deixo de prestar atenção na banda e me viro para encarar meu
homem. Ele me dá um beijo na testa e diz parte da tradução, em meu ouvido:
— Você foi a escolhida para tomar minha alma e desfazê-la, você foi a
escolhida a me levar para casa e mostrar-me o sol. — Sorrio enquanto as
lágrimas correm soltas pelo meu rosto. — Esse seu sorriso é apenas o mais
perfeito do universo todinho. Eu faria qualquer coisa para mantê-lo em seu
rosto por toda a eternidade, minha Flower.
— Você faz com que ele seja sempre frequente.
— A senhorita é uma bruxinha que me pegou pelas bolas. — Ele sorri.
— E o senhor relutou até o limite. Nós perdemos um tempo nesse joguinho,
papai.
— Não acho que foi perda de tempo. Acho que foi o suficiente para a nossa
história ser como é, quente, interessante e intensa. Não me chame de papai
em locais públicos, Maria Flor — repreende.
— Eu amo que você seja mais velho que eu — confesso. — É bem como
uma fantasia erótica, o homem mais velho, experiente e a colegial inocente.
— Colegial inocente? — questiona e então dá uma gargalhada. — Maria
Flor, você podia ser virgem, mas inocente nunca foi. Só em determinadas
situações. Inocente sou eu perto de você.
— Eu gosto da sua experiência. Gosto de como me ensina a foder a cada
vez...
— Pelo amor de Deus, Maria Flor! — repreende apertando minha cintura e
eu levo minha boca em sua orelha.
— Papai, você me ensinar a foder tão bem. Você me fode tão gostoso
sempre. — O homem está ficando louco, sinto isso. Até mesmo dou um
sorriso interior.
— Você está de volta, não está? Pequena diabólica.
— Eu acho que voltei pior que antes, papai, você saberá lidar comigo? Ou
levarei algumas palmadas na bunda e ficarei de castigo ajoelhada aos seus
pés? — Ele me vira de frente para o show e eu me movo pressionando minha
bunda em sua ereção gritante. Nem música eu escuto mais, há a luxúria, a
lascívia, estou toda errada neste minuto e Vincenzo está mantendo o controle
por nós dois. Será que foi a bebida ou é apenas o tempo perdido cobrando
com juros e correção?
Eu só sei que o show acaba, mas o fogo na minha perseguida não! Não sei
quanto tempo se passa após o show, mas, quando dou por mim, Vincenzo
está nos guiando rumo à saída, porém, não em direção ao carro. Ele nos
conduz a um heliporto onde um helicóptero da Vincenzo – que ódio que esse
homem possui tudo –, nos aguarda.
Ele me ajuda a subir, fazemos todos os ajustes e eu abro a boca em espanto
quando percebo que é ele quem irá conduzir. Consigo até ouvir a música
Love me like you do na cena onde Grey pilota seu helicóptero rumo a
primeira foda com Anastásia.
— Você sabe fazer isso? — questiono e ele ri.
— O que você acha? Eu não estaria colocando sua vida em risco, pequena.
Relaxe e aprecie o passeio. Será curto. A aterrissagem será em alto-mar.
— Oi?
— Confia em mim? — pergunta, franzido a testa.
— Sim — respondo e ele pisca um olho. Nós vamos aterrissar em alto-mar à
noite? Que sexy ver meu homem conduzindo um helicóptero, puta que me
pariu!
Eu até finjo lixar minhas unhas, porque, de repente, eu estou me sentindo
uma semi-dona-do-mundo com meu Tudão incrível.
Eu me distraio olhando o mar escuro abaixo de nós e então avisto um iate
gigantesco que mais se parece um navio. Eu nunca vi algo dessa
grandiosidade, nunca.
— Flower, preparada para descermos?
— Isso... esse... isso... este iate é seu? Nós estamos indo descer nisso? — Ele
ri.
— Vamos sobrevoá-lo. Preste bem atenção à sua direita. Leia o que está
escrito nele — avisa e eu balanço a cabeça em concordância. Ele sobrevoa e
sou invadida por uma tontura quando leio Maria Flower ao lado do iate. —
Mathew quem escolheu o nome.
— Quando vocês fizeram isso? Eu não me recordo!
— Temos segredos, Maria Flower. Agora vamos pousar. Segure-se. — Santa
merda, há um heliporto no bagulho!
Eu achava a lancha do meu avô superluxuosa já, mas isso aqui? Vincenzo
não sabe brincar de coisas de garotos. Não sabe, não sabe mesmo. Isso beira
ao absurdo. Quantos milhões de dólares foram investidos nesse iate? Ao
menos 70.
Ele pousa e me ajuda a descer, então somos recepcionados por uma equipe de
cinco pessoas, sendo três homens e duas mulheres.
Vincenzo nos guia até o último andar do iate, onde há uma mesa de jantar
completamente preparada para nós.
— Essa surpresa foi um absurdo de ostentação, Vincenzo! — exclamo assim
que me acomodo em meu lugar. Um garçom serve nossas taças com água e
vinho, então ficamos a sós.
— Você acha que essa é a surpresa?
— Não é? — pergunto em choque.
— Claro que não, Maria Flor — diz, bravo.
— Ah, claro. É todos os dias que alguém atribui meu apelido a um iate. —
Reviro os olhos.
— Deboche e isso vai terminar antes do que pretendo — ameaça. — A
surpresa virá em breve, aguarde.
— Tem a ver com sexo? — pergunto mordendo meu lábio inferior.
— Certamente acabará em sexo, mas não tem a ver com sexo — responde
rindo e logo nos calamos quando servem nossos pratos. Eu abro um sorriso
gigante ao ver meu prato. Há medalhões de frango, batatas fritas, arroz
branco e legumes grelhados.
— Eu te amo tanto! — comemoro-o, puxando pela camisa e dando um beijo
nada gentil em seus lábios.
— Incrível. Eu coloquei o seu nome em meu iate e não recebi um único
beijinho, mas aí eu peço sua comida preferida e ganho até um “eu te amo” —
protesta meu papai fazendo bico.
— Medalhão com fritas, meu amor. Eu me casaria com você nesse segundo!
— Casaria mesmo? — questiona bebendo um gole do seu vinho.
— Isso está incrível! — Ofego de boca cheia. — Sem conversas agora,
papai! — anuncio, rendendo-me à incrível comida. Caramba, eu deveria estar
com fome, só isso justifica. Quando terminamos a refeição, o garçom traz a
minha sobremesa predileta: pudim de sorvete. Escorre até uma lágrima dos
meus olhos, havia meses que eu não me deliciava com isso. — Isso é um
orgasmo, Vincenzo.
— Há três desses na geladeira. Poderemos passar a noite comendo. Eu posso
pensar em lugares estratégicos para comer.
— Contanto que você deixe eu chupar seu pau coberto com essa especiaria...
— Flor, há pessoas aqui — repreende. Ele só me repreende!
Nós comemos rindo e brincando, então ficamos conversando um pouco.
Vincenzo olha em seu relógio e, do nada, muda de relaxado para tenso em
questão de segundos.
— Vem comigo — chama, ficando de pé e estendendo sua mão a mim. Eu a
pego e está fria, trêmula.
— O que há?
— Nada — afirma e ouço os acordes de um violão enquanto ele nos guia ao
andar principal.
A música vai se tornando mais alta a medida que os aproximamos. E, quando
chegamos, a introdução termina e Tweenty One Pilots começa a tocar uma
música do Elvis - Can't Help Falling In Love, ao vivo, para mim e para
Joseph.
Como eles chegaram aqui?
Levo minhas duas mãos à boca, então Joseph se ajoelha diante de mim,
tirando minha atenção dos músicos e roubando-a para si. Ele está indo fazer o
que acho que ele está indo fazer? Eu não estava preparada... não estava
mesmo. Ai minha pressão...
— Não! — exclamo, petrificada. — Não pode ser isso! — Ele sorri e retira
uma caixinha do seu bolso, então me ajoelho junto a ele, porque ficar de pé
não é mais uma possibilidade.
— Vincenzo...
— Eu não tenho um discurso diante deles, eu escolhi essa música, porque ela
diz por mim, Flower, desde o primeiro momento em que coloquei meus olhos
em você penso no futuro. Não sou romântico, não sou bom com essas coisas,
eu espero que tenha conseguido de alguma forma tornar esse momento
inesquecível. — Se ele não é romântico eu nem sei o que sou. — Como diz a
música, algumas coisas são destinadas a serem assim, eu te entrego minha
vida inteira nesse momento e espero ganhar a sua. Eu sou totalmente,
completamente, apaixonado por você, Maria Flor. É a melhor coisa, além de
Mathew, que já surgiu em minha vida. Não importa se é cedo, se alguns anos
nos separa, eu quero você para ser minha de todas as maneiras possíveis. Por
favor, daria a honra de ser minha esposa? — pede. Vejo o iate girar diante de
mim.
Por que eu tinha que puxar meu tio Matheus?

— Ela desmaiou? — pergunta Tyler, o cantor. — Isso é sério?


— Infelizmente. Irei lidar com ela. Agradeço vocês pela presença.
— Se quiser nós podemos ficar e esperar ela acordar — ele diz.
— Não, está tudo bem.
— Ela é linda, parabéns, cara — ele diz, então os ajudantes começam ajudá-
los a dispersarem rumo ao barco menor que está os aguardando ao lado.
Pego Flor em meus braços e a levo para minha suíte. Acomodo-a sobre a
cama, retiro suas sandálias e decido liberar os funcionários para que
tenhamos privacidade o bastante. Demora ao menos meia hora até que todos
tenham ido, só então volto para o quarto. Ela está deitada de lado,
provavelmente dormindo. Eu a deixei de barriga para cima. Enfim. A noite
fracassou e, ainda assim, estou bem com isso. Se saísse tudo conforme
previsto, não combinaria com a minha Flower. Ela é do caos realmente.
Retiro minhas roupas, tomo um banho e visto uma cueca. Pego o anel na
caixinha e estudo possibilidades.
Eu deveria esperar o “SIM” para colocá-lo em seu dedo ou deveria
surpreendê-la colocando-o de uma vez? Será que ela dirá sim? Será que eu
peguei pesado demais e saí atropelando os acontecimentos? Sou novo nessa
situação. O momento me pareceu certo tendo em vista a intensidade do nosso
relacionamento. Será que existe algum tipo de regra para um pedido de
noivado? É bem mais fácil comandar uma construtora gigante do que
comandar assuntos relacionados aos sentimentos. O que pode parecer perfeito
para mim, pode ser ruim para ela. Flor é novinha, talvez não esteja pronta
para enfrentar um casamento. Talvez eu tenha feito tudo errado. Será que ela
ao menos gostou das surpresas? Eu já vislumbro uma vida todinha com ela,
estou errado? Será que estou atrapalhando-a de viver sua juventude? Porra,
estou surtando, sinto isso.
Decido guardar a aliança e caminho para o convés superior, onde pego um
pouco de uísque e tento relaxar de todos os pensamentos, enquanto olho para
o mar. Essa minha nova aquisição será minha segunda casa. Espero passar
grande parte dos finais de semana a bordo desse iate.
Estou indo pegar mais um pouco de uísque, quando vejo Flor parada na porta
que dá acesso ao convés. Ela está envolvida em um roupão e eu fico
ligeiramente duro, como se fosse algum mecanismo onde basta apertar um
botão para a magia acontecer.
— Vem aqui — chamo-a, ela balança a cabeça em concordância, enquanto
caminha em minha direção. Ela para diante de mim e eu jogo seus cabelos
para trás. — Você está bem? Sentindo alguma coisa?
— Estou bem — responde, deslizando sua mão pelo meu peitoral. — Acordei
com uma vontade de tirar a roupa, papai — diz pegando em meu pau. Ela
acordou para foder com meu juízo.
— E por que não está nua?
— Porque eu estava na dúvida sobre estarmos sozinhos ou não — explica e
eu desfaço o nó do seu roupão deslizando a peça abaixo.
— Pronto. Você agora está nua.
— Há algo dentro do bolso que acho que você se esqueceu — comenta.
Arqueio a sobrancelha antes de pegar de volta o roupão e buscar o que ela
disse. Encontro a caixinha com o anel e então fixo em seus olhos. — Eu acho
que perdi a melhor parte. — Ela cora suas bochechas e eu pego o anel dentro
da caixinha antes de deixá-la cair junto com o roupão. — Acho que você tem
muita roupa, Joseph Vincenzo.
— Isso é fácil de resolver, Flower. — Sorrio, abaixando minha cueca e a
chutando para longe. — Acho que falta uma peça crucial em você — informo
pegando sua mão direita. — Você é minha noiva, Maria Flor? Você está
dizendo sim?
— Diga, papai, o que vem após o meu sim? — questiona. Essa garota sabe
jogar para enlouquecer um homem.
— Um aumento de possessividade, você e eu sob o mesmo teto a partir de
amanhã, exigências, meu sobrenome junto ao seu. Maria Flor Albuquerque
Vincenzo. Ou seria Maria Flor Brandão Vincenzo?
— Maria Flor Vincenzo Albuquerque Brandão.
— Oh, o Vincenzo viria antes, é isso? — questiono contendo um sorriso.
— O que mais está incluso? Me dê um pacote de vantagens!
— Posso cozinhar para você, cuidar de você. Posso fodê-la quando e onde
quiser. Eu estou indo testar você nas mais diversas situações, Maria Flor. —
Ela traz sua mão esquerda em meu pau e começa a masturbá-lo. Eu sou capaz
de jogar esse anel longe só para poder fodê-la.
— Sim. Eu quero ser a senhora Maria Flor Vincenzo. Quero ser sua noiva,
sua esposa, sua. Quero que seja meu, apenas meu. Quero que só tenha olhos
para mim, que me ame, me deseje e me necessite. Quero ser sua obsessão,
papai, porque você é a minha — declara a danadinha, coloco o anel em seu
dedo. Ela nem liga e isso me irrita. Eu movi um mundo para fazer algo
especial e ela simplesmente parece não se importar com absolutamente nada.
Seu único foco é foder. Eu deveria agradecer aos seres celestiais, mas, porra,
eu acabei de pedi-la em casamento e ela está mais preocupada em masturbar
meu pau.
— Você nem mesmo viu o anel, Maria Flor!
— Não importa o tamanho da pedra que habita nele. A única coisa que
importa é o que ele simboliza. Ele simboliza o homem que está nu diante de
mim. Vincenzo, eu não tenho dúvidas de que tenho em meu dedo um anel
incrível e absurdamente ostensivo. Mas ele não é o mais importante para
mim. O mais importante para mim é isso... — diz apertando meu pau.
— O quê? Você está dizendo que meu pau é mais importante? — Essa Maria
Flor é romântica, pra caralho! É compreensível. Eu estou reclamando à toa,
talvez. Eu tenho diante de mim a mulher que sempre idealizei. Alguém que
me ama pelo que sou e não pelo que possuo. Uma ninfeta safada que quer
foder comigo.
— Também. — Ela sorri e então suas mãos estão em meu peitoral,
depositadas onde meu coração bate fortemente. — Isso aqui vale mais que
qualquer coisa na vida. Isso nenhum dinheiro compra. Eu tenho tanta sorte de
tê-lo como meu. Mais sorte ainda por possuir seu coração. Te amo tanto.
Você fez valer a pena toda a espera para me entregar a alguém. Eu me
entreguei a você e quero que seja o único pelo resto da minha vida. Isso é tão
clichê. Clichês nunca combinaram comigo, mas parece tão certo ser clichê
com você. Parece tudo tão certo, como se tivesse sido escrito para acontecer
dessa maneira. Não mudaria nada da nossa história. — Ela sorri e então está
rodeando meu corpo. Minha garota para em minhas costas e distribui beijos
lentos que causam um efeito intenso sobre mim. Aperto minhas mãos em
punhos sentindo suas unhas arranharem minha barriga. Sua boca desliza pela
minha nuca, seus dentes deixam mordidas delicadas em meus ombros e
sobem novamente ao meu pescoço. Estou contendo todos os meus impulsos.
Então ela vem diante de mim novamente e beija meu peitoral, minhas
tatuagens e vai descendo pela minha barriga, até estar de joelhos. Antes que
ela possa seguir com seus planos a puxo pelo braço, fazendo-a ficar de pé.
— Você é um estraga-prazer, Joseph Vincenzo.
— Sua boca essa noite pertence exclusivamente à minha boca. Nada além
disso — decreto, pegando-a no colo e seguindo rumo ao quarto.

Oh, meu Deus! Eu estou noiva de Joseph Vincenzo! Isso é muita


responsabilidade e meu pai vai me matar. Serei deserdada, Vincenzo será
morto ou, se for esperto, será preso.
Eu estou sentada sobre seu corpo, descansando de um sexo incrivelmente
romântico e contemplando seu rosto perfeito. Ela traz sua mão à minha
barriga e balança sua cabeça.
— O que há?
— Você é tão mulher que, às vezes, esqueço da sua idade — diz. — Eu sou
ansioso demais em relação a você. Preciso tentar podar um pouco isso.
— Como assim?
— Eu gostaria de um bebê meu aqui — confessa, deixando-me tímida,
realmente tímida. É estranho ouvi-lo dizer coisas assim. Ele quer constituir
uma família comigo, isso é tão... adulto.
— Mais um bebê Vincenzo? Mathew gostaria de um irmãozinho ou
irmãzinha? — questiono sorrindo e me acomodo ao seu lado.
— Seu pai provavelmente me mataria, mesmo sabendo que engravidou sua
mãe aos dezoito. Talvez, casados, nós possamos conversar novamente sobre
isso. A partir do momento em que oficializarmos a união, deixaremos de ter
que dar algumas satisfações. Eu poderei engravidar minha esposa de quase
vinte anos.
— Você quer se casar quando? — pergunto tomada pelo susto. Faltam
poucos meses para eu completar vinte anos e ele está dizendo que quer
engravidar a mulher de dezenove.
— Rápido. Com o Natal chegando, eu gostaria de levar os convites.
— Oh, meu Deus! Vincenzo...
— Algo errado? — questiona.
— É só que... eu sonho em um casamento tradicional e organizar isso leva
tempo. Você não pensa em algo tradicional?
— Um dos meus sonhos relacionados a você é vê-la vestida de noiva indo em
minha direção ao altar. — Merda, ele me desarma todinha. — Há
cerimonialistas, há inúmeras maneiras de nos casarmos logo. Eu darei a você
a oportunidade de vivenciar o noivado e a preparação do nosso casamento,
mas quero que seja ao menos nos próximos três ou quatro meses.
— Em cinco meses completo vinte anos de idade. Você não poderá
engravidar sua esposa de dezenove. — Sorrio.
— Poderei. Se nos casarmos em três ou quatro meses eu realmente poderei.
— Eu não sei se estou pronta para a maternidade — confesso.
— Não estou impondo uma gravidez, Flor. Estou dizendo que eu gostaria de
tê-la grávida do meu segundo filho. Não atrapalharia seus estudos e seus
planos de carreira, eu não permitiria. Pareço um pervertido corrompendo uma
novinha — diz rindo.
— Atrasaria pouco mais de um ano da minha vida. Se eu tiver um bebê quero
aproveitar ao menos o primeiro ano dele todinho. Quero ser mãe, conhecer as
dores e as maravilhas da maternidade.
— Eu não esperaria menos que isso. Independentemente da rotina na
faculdade ou no estágio, sei que ainda assim será uma mãe perfeita. Eu vejo
como é com Mathew, Flor. Você é como uma mãe para o meu filho, mesmo
vivendo traumas terríveis nos últimos tempos foi incrível para o meu filho.
Você deu carinho, atenção, cuidado e amor.
— Eu o amo. Ele é tão apaixonante. Estou com saudades dele, aliás —
confesso mexendo em seus cabelos.
— Eu amo você, Maria Florzinha.
— Eu também amo você, papai. O que fizeram com Joseph Vincenzo, o
todo-poderoso e inalcançável? — provoco. — Ele era mais excitante.
— Eu não sou excitante? Acabei de fazê-la gozar duas vezes e não sou
excitante?
— É, mas a versão revoltada é incrível.
— O Joseph Vincenzo não está longe. Na verdade, ele está perto o bastante.
Tenho certeza de que você terá encontros com ele muitas vezes, porque há
algo que desempenha com maestria, Maria Flor, testar a minha paciência.
Você ultrapassa todos os limites aceitáveis e inaceitáveis.
— Verdade, papai. Sabe por quê? Porque sou incontrolável, indomável...
bonitão! — digo voltando para cima dele.
— Flower, você esqueceu de mencionar insaciável — diz rindo.
— Oh papai, nós nem casamos e você está negando sexo?
— Você acha que negarei sexo após o casamento? — questiona arqueando as
sobrancelhas. — Nossa vida sexual começará após o casamento, meu amor.
— Eu acho que deveríamos tomar um banho e apreciar alguns pontos
turísticos do seu iate, certamente não conseguirei conhecê-lo todo até
amanhã. Você pode ser meu guia-turístico?
— Eu posso ser tudo o que você quiser.
— Quero que seja meu guia e então meu escravo sexual — brinco traçando
uma linha até seu umbigo.
Esse homem tem problemas no pau, porque ele está realmente duro atrás de
mim.
— Não precisamos seguir uma ordem, não é mesmo?
— Não. — Sorrio e ele se levanta comigo em seus braços.
— Vou fodê-la duro no banheiro, então tomaremos um banho e irei mostrar
cada canto do iate para você.
— Melhor guia-turístico do universo inteiro.
— Agora vou te proporcionar um passeio, Maria Flower, está preparada?
— Aonde iremos? — questiono.
— Pode ser até o céu ou ao inferno, qual prefere?
— Hum... acabamos de ficar noivos, eu me sinto no céu. Me leve o mais alto
que conseguir. — Mordo meu lábio e o filho da mãe abre a ducha acima de
nós. Antes que eu possa xingá-lo sua boca está na minha.
CAPÍTULO 23

AINDA NO COACHELLA Somos seis pessoas, eu e


Bruce somos os únicos normais. Ainda estou assustada com o fato de ter
descoberto uma nova Milena. Uma Milena que parece ser o par perfeito para
Heitor, uma versão feminina do meu primo. Eu não entendia antes como eles
poderiam estar juntos devido à diferença de um para o outro. Não diferença
de idade, mas de personalidades. Milena era tão fechada, séria e centrada, já
Heitor é um moleque brincalhão, completamente errado. Agora Milena
parece ter sido contaminada e eles parecem ser o casal mais louco. Sim, hoje
Melissa milagrosamente resolveu se comportar, talvez seja o choque inicial
da gestação.
Meu Deus, eu também estou grávida!
Estou bem com isso, realmente, mesmo que não tenha sido algo premeditado.
Mas a cada vez que eu lembro que estou grávida, lembro também do meu pai.
Nós dois somos muito apegados, extremamente, como se tivéssemos uma
conexão de outras vidas. Sei que ele não está indo me matar ou algo assim,
sei que terá um amor absurdo pelo meu bebê, mas sei também que num
primeiro momento ele ficará um pouco abalado. Na cabeça dele, eu ainda sou
uma pré-adolescente, ele me trata como uma garotinha e sei que, nem mesmo
após eu me tornar mãe, deixarei de ser uma criança para ele.
Só consigo pensar nele. Apenas nele.
— Isis, será que Flower conseguiu transar? — questiona Mel, interessada,
enquanto Bruce e meu tio conversam.
— É o mínimo, né? Eu espero que sim. Manter um homem daqueles sem
sexo deve ser barra-pesada, tadinha. Tenho certeza de que ela está se
cobrando por isso, não que seja uma obrigação. Ela fará algo, eu espero.
— Queria tomar uma cerveja — comenta assim, do nada, mudando cem por
cento o rumo da conversa.
— Eu nem curto cerveja, mas beberia uma também. — Sorrio. — É a velha
história do proibido é mais gostoso. Nós só queremos porque não podemos
ter.
— Eu bebo desde os 15 anos. Terei que ficar pouco mais de nove meses sem
álcool. Não sei se sobreviverei. — Suspira. — Cara, como pode ter um ser
humano dentro de nós? Eu nunca havia parado para pensar sobre isso, Isis.
Há alguém dentro de mim, e esse alguém dará sinal de vida em breve. Eu vou
surtar pensando que há um Alien, mas é apenas meu filho. Sexo realmente
faz bebês, não é mesmo? Como eu posso ser mãe? Eu mal sei cuidar de mim.
— Melzinha, é claro que você sabe cuidar de si mesma e será uma ótima
mãe. Eu acho que os instintos maternos se afloram junto com a gestação.
Tudo dará certo, nós estaremos juntas — tento tranquilizá-la e ela começa a
chorar. — Mel, o que foi?
— Meu bebê não terá uma família por parte de mãe. Meu pai morreu, minha
mãe não liga para mim, minha irmã é uma piranha. Eu ganhei na loteria tendo
vocês, tendo Arthur — explica, abraçando-me e quando vejo estou chorando
junto. Pobrezinha, eu imagino o que ela sente em relação à ausência familiar,
porque senti durante os primeiros sete anos o fato de ter apenas minha mãe e
tia Gi. Mesmo minha mãe movendo o mundo para me dar tudo, eu sentia
falta de um pai, de uma família.
— Ei o que está acontecendo? — Bruce questiona e Mel me solta.
— Hormônios da gravidez — explico. Será que é isso? Eu não faço ideia. A
questão é que assim que disse, Bruce abre o maior de todos os sorrisos,
ajoelha-se no chão, levanta minha blusa e começa beijar minha barriga,
repetidas vezes. Sorrio sentindo cócegas devido ao roçar de sua barba por
fazer. É então que levanto minha cabeça e vejo Lorenzo há mais ou menos
uns três metros de distância encarando a cena petrificado. Meu riso morre e
ouço Mel dizer "ih, fodeu".
Bruce se levanta ao observar meu rosto de espanto, então busca com seus
olhos o que estou olhando. O surpreendente acontece. Lorenzo vem andando
em nossa direção e eu começo a tremer.
— Você está grávida? — ele questiona demonstrando um certo estado de
embriaguez.
— Lorenzo, desculpa a indelicadeza, mas isso não é da sua conta — informo
e ele ri.
— Isso é da minha maldita conta. Vamos lá, Isis, qual é? Você está grávida
de quantos meses? Ou será que você engravidou por que eu serei pai de um
filho que não é seu? — O quê? Nem eu entendi.
— Ei, camarada, acho que você deveria ir agora — diz Bruce, educadamente,
e Lorenzo estufa o peito como se estivesse preparado para uma briga. Minha
sorte é que Bruce possui excesso de maturidade e é um homem confiante,
caso contrário...
— Responda a minha pergunta — ordena, pegando, em meu braço e eu me
desvencilho.
— Lorenzo, você está bêbado, onde está sua mulher? Você deveria estar com
ela e não aqui cobrando coisas que não lhe dizem respeito.
— Você está grávida de um negro? — ele grita e minha mão estala em seu
rosto no mesmo instante. É aí que Bruce e meu tio entram no meio da
situação. Bruce deposita a mão no peito dele e dá um aviso que me faz
arrepiar.
— Eu acho bom que você se afaste, moleque!
É a primeira vez que alguém diz algo tão descabido. Como assim, eu estou
grávida de um negro? Qual a maldita diferença de estar grávida de um negro,
de um branco, de um pardo? É então que eu me ligo pela primeira vez na
diferença de etnia entre mim e Bruce, algo que nunca me importei por ser um
ser humano livre de qualquer tipo de preconceito. O preconceito existe, sei
que ele existe, mas nunca estive em uma situação assim antes. Por obra do
destino ele está vindo de um alguém que não esperava e, por isso, estou sem
palavras neste momento tamanho o choque.
— Você é apenas uma... fodida! — Lorenzo grita por cima de Bruce. — Uma
maldita fodida! — Ele vira as costas e se vai cambaleando.
— Está tudo bem? — questiona meu tio e eu balanço a cabeça informando
que sim, mesmo não estando.
— Vem, vamos buscar outro lugar — diz Bruce, pegando minha mão e
Arthur vai buscar Heitor e Milena.
Seguimos para outra parte do festival, mas agora nem mesmo há um clima.
Só Heitor e Milena que estão apreciando realmente. Mel e Arthur estão em
lua de mel, eu e Bruce tensos.
— Bruce...
— Está tudo bem com você? — ele questiona.
— Sim. Eu... sinto muito que ele tenha falado aquilo.
— Isis, minha boneca, você precisa saber que passaremos por isso. Você é
branquinha quase transparente e tem esses olhos que atraem uma atenção
considerável. Eu sou negro. Nós dois juntos damos um contraste e tanto.
Agora você está grávida de um bebê meu, há muita probabilidade de que esse
bebê seja uma mistura de nossas cores. Assim como pode vir a ser negro
como eu. As pessoas vão falar. Basta escolhermos a melhor forma de reagir.
Eu não reajo. Sou seguro com a minha cor, princesa. Sou negro com orgulho
da minha cor e do meu caráter. Nenhum xingamento me diminui, mas
diminui a pessoa que o faz. Só estou dizendo isso a você pelo nosso filho ou
filha, quero que ele tenha orgulho de ser como é, seja branco, pardo ou negro.
Quero criá-lo da mesma maneira que seus pais criaram você e os meus pais
me criaram, livre de preconceitos ridículos.
— Você passa muito por isso?
— Não, felizmente. Mas já passei muito, em especial durante a adolescência.
Acho que hoje a mente das pessoas está mais aberta, mas sei que o
preconceito existe, sei por que vejo no olhar de muitas pessoas quando
estamos andando juntos e de mãos dadas. Não me atacam, mas pensam. Não
me dói, eu acho graça. Eu sou negro e minha garota é a mais linda. Isso é o
que me importa — afirma com segurança.
— É a primeira vez que estou diante de algo assim — confesso. — É horrível
saber que existem pessoas assim.
— Não fique triste. Isso tudo é pequeno demais.
— Bruce...
— Oi.
— Eu tenho orgulho de ser sua — afirmo. — Muito orgulho.
— Isis, o que eu posso fazer para tirar esse ocorrido da sua mente? Diga e eu
farei! — Dou um sorriso e ele fica surpreso. Encara-me como se eu fosse a
aberração da vida dele. — Sério? — Questiona realmente sério.
— Só isso aliviaria minha tensão — provoco, tentando realmente dissipar o
ocorrido da minha mente.
— Você gosta de foder. Eu te amo.
— Você me ama por que eu gosto de foder? — pergunto, rindo.
— Também. Está incluso no pacote. — Ele sorri. — Vamos chamar o pessoal
para ir embora? Já deu por hoje.
— Nós podemos transar no carro? Estou com desejo.
— Eu não quero que nosso bebê nasça com cara de carro. Então nós faremos
um pit stop no meio do caminho para foder — diz em meu ouvido.
Nós vamos embora, mas paramos por pelo menos trinta minutos no meio da
estrada e Bruce apaga toda e qualquer merda da minha mente.
DOIS MESES DEPOIS - INÍCIO DAS FESTAS
NATALINAS
Viajar com essas pessoas é a coisa mais louca do universo. Parece que minha
família tem mesmo o dom de contagiar a todos. Eu, Melissa e Mathew – que
está dormindo na suíte –, somos os únicos em sã consciência dentro desse
jatinho.
Todo o restante está fazendo dessa viagem um evento.
Já estamos sobrevoando o Rio de Janeiro. Agora faltam poucos minutos para
as 07h e o sol já está iluminado a cidade maravilhosa. Estou ansiosa e
receosa. Parte da viagem foi vomitando de nervoso do que está por vir. Toda
a família estará reunida em Ilha Grande, toda! E eu tenho a missão de revelar
minha gestação de quase três meses a todos eles.
Os primeiros a anunciarem a chegada da cegonha serão Arthur e Melissa. Já
eu... não sei quando terei coragem realmente. Meu medo é de Heitor, que
teve a capacidade de comprar um celular de última geração apenas para
gravar todos os acontecimentos e está aqui, num estado de quase embriaguez
com sua digníssima namorada insana, que deixou de ser delegada para ser
doida. Heitor insiste em dizer que nesse Natal ele está vindo para roubar,
matar e destruir. É por isso, que faltando poucos minutos para aterrissamos,
eu corro novamente ao banheiro e vomito água, porque não há mais nada em
meu estômago, sinto-me verdadeiramente doente e sei que é tudo devido ao
meu abalo psicológico.
— Isis, você está bem? Abra a porta! — Bruce grita.
— Eu me sinto doente. Me deixe. Ficarei bem — digo escovando meus
dentes. Lavo meu rosto e percebo que estou mais pálida que o normal.
— Abra a porta, Isis — insiste e eu a abro. — Meu Deus! Você está fria e
pálida.
— Ficarei bem — afirmo sem passar qualquer verdade em minhas palavras.
— Isis, ficar nervosa não irá resolver absolutamente nada. Você precisa se
manter firme, já é uma mulher formada, será mãe. Não há nada errado nisso,
você não está cometendo um crime.
— Eu sei. Apenas ansiedade. Vai passar. Estarei com os meus irmãos, com
toda a família. Certamente ficarei mais relaxada.
— Pessoal, vamos nos acomodar que vamos pousar, ok? — avisa Vincenzo,
Flor passa com Mathew em seus braços. É tão bonitinho. Ela já é uma mãe,
mesmo sem ter feito nada por isso.
— Isis, você já vai chegar dando o tiro ou vai esperar? Preciso saber para me
programar — Heitor diz assim que eu me acomodo em meu assento.
— Heitor, eu amo você, mas, por favor, vá tomar no cu! — Grito.
— Eu e minha Milena somos cinegrafistas amadores. Cuidado se forem
transar e deixar as cortinas abertas, nunca se sabe quando podemos surgir
pelas sacadas e fazer um vídeo pornô amador — anuncia rindo. — Nós
vamos destruir, delegata, vamos nadar nus, foder pra caralho. Não vamos nos
casar, não teremos filhos, então vamos curtir a vida adoidado!
— Daqui a seis anos pensamos nessas coisas — comenta Milena rindo e eles
brindam com suas taças de champanhe. Dois retardados!
— Heitor, é sério, você está levando tudo na zoação. Nosso pai terá três
ataques cardíacos, portanto, não faça estupidez. Eu e Vincenzo
comunicaremos a ele sobre o casamento — avisa Maria Flor e ele fica rindo.
— É sério, Thor. Merda, Vincenzo! É tudo culpa sua. Eu disse que era
melhor mantermos segredo.
— Você é minha — Vincenzo diz o óbvio. — Aliás, eu perdi meu filho.
Mathew, você não quer ficar comigo?
— Não, papai — responde o pequeno, agarrado a Flor e Vincenzo faz uma
careta.
— Meu foco principal é Isis — zomba Heitor. — Meu tio será a atração
natalina. Bruce vai morrer afogado — diz rindo. — Aliás, Bruce, você sabe
que meu tio luta MMA, jiu-jitsu, faz CrossFit e musculação?
— Você sabe o que eu faço também? Eu não posso bater no meu sogro, mas
eu posso bater em você. Mantenha isso em mente antes de fazer merda —
ameaça Bruce.
Heitor está fazendo um terrorismo impiedoso. Merda!
— Vocês são retardados. Acho bom cada um cuidar da sua vida e das suas
questões — informa meu tio — Não seja idiota, Heitor. Deixe que Isis e
Maria Flor resolvam as questões delas quando e como quiserem.
— Até que enfim alguém sensato! — esbravejo. — Você não será mais o
padrinho do meu bebê!
— Não, eu só estava brincando. Eu serei padrinho sim. Milena não quer fazer
uns três filhos, eu vou aproveitar meus afilhados.
— No plural?
— Serei padrinho do bebê de Arthurzinho também — revela sorridente. —
Mas pode vir gêmeos, ok, Isis. Não esqueça que tia Vic é gêmea.
— Não brinca com isso! — aviso abaixando minha cabeça. Eu estou indo
surtar.
— De qualquer forma eu quero ver a treta! — diz Mel, animada. —
Arthurzinho disse que será um "tiro" como vocês brasileiros dizem. Não vou
desgrudar das minhas sis, quero ver as duas tretas de perto.
— Que coisa feia, Melzinha. Estou decepcionado — revela meu tio e eu juro
que estou louca para sair desse pandemônio.
O jatinho pousa e então caminhamos, há quatro helicópteros que estão nos
esperando. Cada casal vai em um. É muita frescura que os bonitões não
possam enfrentar duas horinhas de outras histórias enquanto esperam a
viagem até Ilha Grande, mas tudo bem.
No ar eu vou mostrando tudo para Bruce, ele conhece apenas a cidade do Rio
de Janeiro, mas não conhece as Ilhas e muitos lugares. A vista incrível me faz
ficar mais calma. O primeiro helicóptero a pousar é do meu tio. Enquanto
isso os demais ficam sobrevoando a Ilha aguardando o helicóptero levantar
voo e dar lugar a outro.
O nosso é o último.
— Uau! Isis, esse lugar é apenas o mais lindo que já conheci! — exclama
Bruce e sorrio. É lindo realmente. Ainda mais com os toques de dona
Mariana. Fica tudo ainda mais lindo.
Ele me ajuda a descer e então eu começo a chorar assim que meus quatro
irmãos correm para me abraçar.
— Que saudades de vocês! — grito quase sendo derrubada.
— Que bom que você chegou! — diz Lucca. — Eu senti sua falta.
— Mas agora todos estão indo morar na Califórnia, estaremos juntos para
sempre, ok?
— Sim.
— E vocês duas? — Sorrio olhando para Ava e Luma, idênticas.
Maravilhosas.
— A Ava não quer ir para a Califórnia, mas papai diz que ela não tem direito
de escolha — explica Luma.
— Compreendo. Algum namoradinho? — pergunto a Ava e ela ri.
— Não tão cedo.
— Vamos entrar. Quero ver todos.
— Victor trouxe uma "amiga" — denuncia Lucca.
— Como funciona isso, Victor?
— Uma amiga, sexo sem compromisso — justifica rindo. — E esse é o
Bruce?
— Exatamente. Bruce fala português fluente — explico.
— Exatamente. Vocês quatro são os meus cunhados — diz Bruce sorridente.
— É um prazer finalmente conhecê-los. Isis falar muito de vocês.
— Ela fala de você também — comenta Ava, encarando-o de cima a baixo,
então me olha e segura um sorriso. Meu pai está fodido com ela. Tenho
certeza.
Caminhamos e então cumprimentamos todos. São muitos! É assustador. Enzo
também trouxe uma amiga. Eles já fazem sexo, merda. Que absurdo!
— Meu amor! — diz minha mãe sorridente.
— Bem-vinda.
— Saia, ela é minha! — informa meu pai, tirando-me dos braços dela. —
Amor do papai como foram de viagem?
— Muito bem, pai. Tudo correu tranquilo. — Sorrio.
— Ei, família, quero todos reunidos aqui — pede meu tio Arthur sorridente e
uma multidão o rodeia. — Eu e Melissa temos um comunicado a fazer.
— Eita, porra! O Natal já começou quente pelando! — diz minha avó rindo.
— Fala logo! — Lucca grita e Victor dá um tapa na cabeça dele. — Filho da
puta.
— Lucca Albuquerque! — repreende meu pai.
— Eu e Melissa estamos grávidos — revela meu tio, emocionado, então
todos os atacam.
— Esse é meu irmão! — grita meu pai feliz da vida. — Serei o melhor tio da
porra toda!
— Teu cu! — Tia Bia grita.
— O teu, arrombada! Eu tive pesadelos de que Isis estava grávida cinco
vezes nas últimas semanas, devia ser o anúncio da gestação de Mel, estou
muito feliz. Agora sei que foram sonhos e não pesadelos — ele diz rindo,
perco a cor diante de todos. Minha mãe me olha rindo, então ganha a
percepção da minha palidez. Seu olhar desce para a minha barriga e ela abre a
boca em espanto, eu faço um sinal para que ela se cale, pelo amor de Deus, e
ela vira dois copos de champanhe de uma só vez.
— Fodeu! Vamos beber! Nada de café da manhã hoje! — ela diz rindo de
nervoso. — Puta que pariu! Fodeu pra caralho! — Ela sai andando como
uma barata tonta, retira a saída de praia, anda pelo deck e se joga no mar. —
Fodeu! — Grita lá de baixo e eu começo a rir, de nervoso novamente.
Se minha mãe está dizendo que fodeu é porque fodeu!
Olho para Bruce e ele parece entender completamente o meu desespero. Não
sei como agir, como enfrentar. Talvez eu deva apenas falar de uma vez, não é
como se o mundo estivesse prestes a desabar. É só um bebê, só um
bebezinho. Um sadbebê como meu pai mesmo diz.
— Você está grávida? — Minha avó Mari se aproxima e questiona em meu
ouvido.
— Sim.
— Oh! — ela exclama com os olhos cheios de lágrimas e passa a respirar
com dificuldade.
— Vó, vem, vamos sair daqui — digo, segurando em sua mão e subimos
rumo aos quartos. Sorrio quando encontro uma plaquinha escrita Isis E
Bruce, e abaixo a letra do meu pai escrito por cima do meu cadáver. Isso será
pior do que eu imaginava.
Nós entramos e minha avó desaba em lágrimas.
— Meu Deus, vó, eu não sabia que reagiria assim — digo abraçando-a.
— Eu vivi para ser bisavó. Esse é o maior presente que eu já ganhei na vida,
minha princesa. Eu serei bisavó, embora isso seja assustador, mostra que a
idade realmente chegou, que o tempo está passando rápido para mim e para
seu avô. Eu sou uma mulher muito feliz e realizada. Tive três filhos lindos,
netos incríveis e agora terei o privilégio de conhecer meu primeiro bisneto ou
bisneta. Deus parece gostar mesmo de mim, para permitir que eu tenha saúde,
disposição e forças para estar com vocês nesses momentos incríveis.
— Oh, vó! — Começo a chorar também, porque minha vó ultimamente age
como se tivesse seus dias contados e imaginar perdê-la é a pior sensação do
mundo. Como ela acabou de dizer, meus avós são pessoas "jovens",
extremamente saudáveis e nem mesmo aparentam ter idade o suficiente para
ganharem bisnetos. Graças a Deus! Minha vida sem ouvir como é bom ser
vida louca nunca seria a mesma.
— Seu pai...
— Nem me diga. Ele vai dar um surto psicótico não vai? — questiono,
receosa.
— Bem provável — diz rindo entre lágrimas. — Mas ele vai aceitar, ele é um
Albuquerque, é um homem incrivelmente bom, generoso e com sentimentos
puros. Ele ama muito você, Isis, às vezes acho que ele tem mais zelo com
você do que com os demais filhos, não que ele não os ame da mesma
maneira, mas por tudo que você simboliza a ele. Ele ama muito você,
Matheus será o melhor avô do mundo e sua mãe estará livre de ter mais um
bebê, ele tem insistido nisso, talvez ele transfira isso ao seu bebê — diz rindo.
— Theus tem muito de Arthur. Foi extremamente difícil contar a Arthur
sobre a gestação da Bia, ela tinha apenas 18 anos, isso complicou muito a
situação. Você já é formada, mulher feita. Mesmo que ele te enxergue como
uma garotinha, no fundo, sabe que você cresceu, que é uma mulher feita e
que mantém relações sexuais. Acredito que não tenha sido planejado.
— Não foi.
— E você está bem com isso?
— Sim. No primeiro dia foi um pouco chocante, agora eu já estou muito bem
com a notícia, cheia de planos. — Sorrio. — Bruce é um homem
incrivelmente bom. Eu e meu bebê temos muita sorte.
— Além de lindo e roludo. É uma bênção!
— Oh, vó! — exclamo rindo. — Ele é lindo, não é?
— Já imagino uma bebê com a cor dele e os seus olhos, mas acredito que ela
será uma mistura de cores, nem negra e nem branca, mestiça. Seja como for,
será a coisinha mais linda desse mundo.
— Você está falando no feminino — digo rindo.
— Verdade. — Ela ri. — Mas se for um garoto, imagina? Pirocudo, de olhos
azuis! Vai fazer um estrago.
— Sim, com certeza vó. — Uma batida à porta faz meu coração quase saltar
pela boca.
— Deve ser Liz. Eles estão para chegar a qualquer momento — comenta,
indo abri-la e então surge uma Victória, enrolada num roupão e
descompensada. Minha mãe, diva suprema, está em estado de loucura, sinto
isso.
— Meu Deus! Isis, eu ficarei viúva, mas ganharei meu primeiro neto ou neta
— comemora.
— Bom, vou deixá-las ter uma conversa de mãe para filha — anuncia minha
vó antes de nos deixar a sós.
— Eu preciso fazer Botox e colocar uma prótese de silicone.
— Mãe, óbvio que não. Você está maravilhosa, seu corpo é mais bonito que o
meu, é linda, maravilhosa, suprema. Sua pele parece de porcelana, nem
mesmo há uma única ruga — digo sorrindo.
— Eu poderia ser mãe novamente, então eu descubro que serei avó! Estou em
estado de choque, há muita felicidade, mas há a descrença também, Isis.
Minha princesinha cresceu e será mãe — diz chorando. — Oh, meu Deus,
Isis, você será mãe!
— Sim.
— Você está feliz, filha? Diga-me.
— Muito, mãe, muito feliz. — Sorrio.
— Você sempre foi tão fechada a relacionamentos, a se entregar, então surgiu
o Bruce... você mudou tanto em tão pouco tempo. Tenho uma gratidão eterna
àquele homem. Eu achei que você tinha algum tipo de trauma, mesmo que
tenhamos conversado sobre isso a vida toda. Mas então Bruce surgiu e
descobri que você só precisava de uma pessoa certa.
— Sim, mãe. Ele parece ser essa pessoa certa. Me faz muito feliz, cuida de
mim até com uma quantidade excessiva de proteção — afirmo.
— Ele me lembra um pouco seu pai, em alguns fatores. Você acha que eu
deveria falar com seu pai? Que eu deveria prepará-lo? Não sei como agir.
— Não, mãe, eu mesma falarei. É algo que eu tenho que enfrentar.
— Você é meu orgulho. Eu apenas irei tomar umas biritas para conseguir
segurar essa barra — confessa e me dá um beijo na testa, em seguida solta
um suspiro. — Eu amo você, filha.
— Eu amo você, mãe. A vó mais linda da história.
— Avó? — Ouço a voz e então fecho meus olhos. — Victória será avó de
quem?
— Pai...
— Avó — ele diz rindo. — Avó? — questiona. — Avó? — ele grita.
— Theus, calma — diz minha mãe, enquanto meu pai coloca a mão sobre o
peito enquanto olha de mim para ela e fixa em minha barriga. Eu desvio o
olhar dele e então vejo Heitor na sacada do meu quarto filmando e rindo. Na
porta, encontro Milena em busca do ângulo perfeito com seu celular e então,
atrás dela, tem meu tio Bê, minha tia Bia e Flor.
— Vocês ficaram loucos? — grito, revoltada.
— Esse momento é o meu momento — diz meu tio Bê em alto e bom som.
— Vá fazer a pipoca, Beatriz.
— Não apenas pipoca, meu amor, vou buscar uns óculos 3D — caçoa tia Bia
rindo.
— Olha, pai, não querendo ser deserdado ou semear a discórdia, mas,
pensando única e exclusivamente no seu bem-estar, tentando evitar chacotas,
se eu fosse você não ficava rindo do meu tio Theus não viu? — Heitor está
foda!
— O que você quer dizer com isso? — questiona meu tio.
— Eu nada — responde Heitor. — Mas Maria Flower acho que tem algo a
dizer, não tem, Florzinha? Vem aqui contar para nosso pai, vem você também
Tudão. Vem todo mundo! Está aberta a temporada "casos de família", tem
treta para todos os lados!
— Que porra está acontecendo, Maria Flor? — grita meu tio.
— Eu... — Flower ameaça dizer, mas se contém.
— Você o quê? Cadê o Vincenzo? Vou matá-lo! — berra meu tio, sumindo
do quarto e então grande parte das pessoas vão segui-lo.
— Milena, foca na treta do meu pai, deixa que eu fico aqui. Vá logo, não
podemos perder nada! Aqui é jornalismo de qualidade, cobrimos todos os
furos.
— Vic... eu estou morrendo aqui. Chame uma ambulância — pede meu pai e
ele está realmente branco. — Nossa princesa da Disney está grávida, Vic?
Você sabia disso e me escondeu?
— Ela não sabia, pai — digo. Ele dá um soluço e cambaleia. Maldição, meu
pai vai morrer!
— Oh, Deus! — Minha mãe se desespera indo até ele, que mantém os olhos
focados nos meus. — Theus, não, meu amor... — Eu vejo o momento exato
que lágrimas escorrem pelos olhos dele e isso me faz chorar junto.
— Você... a minha princesinha, a minha criança... você está grávida? É isso
que estou entendendo? — pergunta soluçando e dá uma leve cambaleada.
Merda.
— Pai, está tudo bem — digo tentando acalmá-lo.
— Theus, respire, meu amor. Respire.
— Eu queria ser pai, então descubro que serei avô. Eu estou no auge da
minha carreira sexual como marido, Victória, nem tenho cabelos brancos.
Pouco mudei com os anos. Tenho um desempenho sexual acima da média,
fazemos sexo três vezes por dia. Você quer que eu aceite que a minha
princesinha será mãe? Ela é minha garotinha. A minha vida. Ela deveria ser
virgem, mas ela apenas está se tornando mãe. Ela faz sexo, isso é um absurdo
para um pai!
— Matheus, nós podemos conversar em particular? É o melhor a ser feito. —
Bruce sugere.
— Eu vou matá-lo, desgraçado. Diga a ele minha lista de qualificações,
Victória...
— Oh, claro. Theus faz CrossFit, MMA, jiu-jitsu, muay thai... Esqueci de
algo?
— Musculação — diz meu pai. — Meu braço dá dois do seu, seu filho de
uma puta! — ameaça. — Vic, você pode avisar para ele que ele deve começar
a correr?
— Claro, amor — confirma minha mãe. — Bruce, Matheus pediu para avisar
que você pode começar a correr.
Eu estou no meio da conversa mais absurda que já vi em toda a minha
existência.
— Victória, avise para ele que eu não tenho medo e que não irei fugir. Sou
homem. Também faço CrossFit, fiz jiu-jitsu e faço musculação — começa
Bruce, entrando na loucura.
— Theus, ele mandou te avisar que é homem e que não tem medo de você.
Ele disse que também faz CrossFit, que já fez jiu-jitsu e que faz musculação.
— Mas ele não faz MMA — debocha meu pai.
— Sim Bruce, você não faz MMA — diz, minha mãe rindo. — Theus faz,
Theus é meu herói.
— Isso é sério? — questiono.
— Os braços do meu tio são maiores, Bruce — diz Heitor.
— Meu pau é maior, certamente. Diga a ele, Vic...
— Parem com essa loucura! — peço.
— 24 centímetros de puro prazer.
— Argh, mãe! Chega! — grito.
— Os Albuquerque’s tem picas grandes! Devo ter uns 25 e meu tio tem 24 —
argumenta Heitor.
— Teu cu, o meu é o maior da família, certeza. E dos meus filhos, Victor e
Lucca.
— Sério, Victor e Luquinha me assustam com suas picas gigantes a cada dia
— comenta minha mãe, pensativa. — Já enchem uma cueca todinha, tenho
medo. Eles serão disputados pela indústria pornô para substituírem Kid
Bengala.
— Cala a boca, meu Deus! Eu desisto dessa conversa — anuncio, tentando
sair do quarto, mas Heitor é mais rápido.
— Não vale fugir das consequências dos seus atos, bonitinha!
— Vá para a puta que pariu, Heitor! — esbravejo.
— Olha, Vic, o que fizeram com minha princesinha, ela fala palavrão e essas
coisas inadequadas. — Meu pai choraminga. — Eu poderia deixá-la de
castigo se ela não tivesse conhecido esse sujeito macho e engravidado. Ainda
bem que tenho minha Ava[15], ela disse que nunca vai sair de casa. Isis e
Luma são duas traidoras.
— A Ava é gêmea do mau mesmo. Essa vai bater na cara dos homens — diz
minha mãe, orgulhosa.
— Pai, por favor, pare de dramatizar — peço, aproximando-me.
— Não, eu estou enfartando, você não percebe? — Diga a ela, pequeninha,
diga a ela que estou morrendo — ele pede à minha mãe. — Eu estou
morrendo, Isis! — balbucia, tremendo. — Fui apunhalado pelas costas. Você
está mesmo grávida?
— Sim, pai. Eu estou — afirmo e ele sai feito um tornado porta afora. Todos
nós corremos atrás dele, enquanto ele desce as escadas desesperado, aos
prantos.
— O que está acontecendo? — questiona meu avô.
— Isis está grávida, pai. A minha menininha que eu conheci com sete anos
será mãe! — explica meu pai soluçando. Ele olha para mim, leva sua mão ao
peito e então...
— Puta merda! De novo não caralho! Eu sabia que ele ia desmaiar, mas achei
que seria no primeiro momento — grita minha mãe, quando o estrondo do
corpo do meu pai batendo fortemente no piso de madeira se faz presente.
CAPÍTULO 24

Ser cinegrafista amador é foda. Não sei para onde virar a câmera, preciso
ampliar a equipe.
Meu tio está desmaiado no chão em um minuto, no outro está correndo atrás
de Bruce. É assim que o caos se instala. Há pessoas correndo para todos os
lados, porque tio Theus afirma que está indo matá-lo. Estou com dó da amiga
do meu primo, que não está acostumada com esse tipo de situação. Nos
Natais rolam de tudo, pessoas bêbadas, risadas, brigas mais leves. Mas esse
está sendo épico. É o primeiro Natal que talvez aconteça dois assassinatos,
Bruce e... meu pai. É triste dizer isso. Meu pai é forte, musculoso, mas Joseph
é um pouco mais. Resta descobrir na luta quem ganha a melhor, até porque
tamanho não é documento, exceto quando se trata do meu pau.
Milena, delegada, acostumada a lidar com bandido, está assustada. E eu estou
rindo. Estou rindo até o momento em que os dois correm pelo deck e se
jogam ao mar. Agora há uma disputa de quem nada mais rápido. Bruce
parece estar levando a melhor pelo fato de ser um pouco menos forte que
meu tio.
— Esse povo tem bosta na cabeça — diz meu avô Arthur. — Eu falava com a
Mariana, Mari, olha como você está criando essas crianças. Ela não me
ouvia. Está aí o resultado. Um mais louco que o outro.
— Arthur Albuquerque, eu deveria atolar um pão na sua boca neste
momento, seu idiota! Eu criei três filhos maravilhosos. Se Matheus está
fazendo isso, é porque herdou seu gene! Quem quebrou a porra de um
blindex quando descobriu que Bia estava grávida de Heitor? Quem me
machucou sem querer? Você! Então fica caladinho. — Minha vó bota moral
e meu vô faz uma careta. — Olha o resultado do blindex quebrado que
coisinha mais linda — ela diz apertando minhas bochechas. — É meu
primeiro neto, lindo, tesudo e roludo da vovó.
— Sim vó, sou tudo isso mesmo. — Sorrio. — Tá vendo, delegata? Sou
roludo!
— Calem a boca! — esbraveja meu vô e então, quando tio Theus alcança
Bruce, Isis dá um ataque de loucura e inconsequência se jogando ao mar.
— Puta merda! — grita tia Vic e todos saímos correndo. Ela também se joga
ao mar, para salvar Isis.
— Matheus Albuquerque Barcelos! Você tem um minuto para estar aqui! —
grita minha vó, mas ele já está voltando de toda maneira, desesperado, tanto
que Bruce é quem não consegue acompanhá-lo agora. Eu até desisto de
filmar, porque a merda agora ficou feia, Isis está grávida e se jogou de uma
estrutura de pelo menos três metros e meio de altura e caiu a uma
profundidade considerável de três metros também.
Deixo meus brinquedos cinematográficos e fico à espreita para ver se eles
precisarão de ajuda. Bruce pega Isis, tio Theus pega minha tia e nadam até
chegar. Isis é minha preocupação, pois há meu afilhado ou afilhada.
— Você é inconsequente! — Ouço Bruce xingando pra caralho, enquanto
meu tio é o primeiro a chegar de volta ao deck. Só não esperava a atitude da
minha avó.
Ela pega primeiro meu tio e, depois, Bruce pelas orelhas.
— Vocês dois estão de castigo até aprenderem a se portar como homens —
avisa para o choque de toda a família.
— Ai, mãe! Que caralho!
— Você fala direito comigo, porque eu não estou brincando agora, Matheus
Albuquerque. Você está indo para o quarto, sem celular, sem porra alguma. E
você também, Bruce.
— Eu? — Bruce questiona em choque.
— Sim, você. Cada um em seu quarto, só sairão na hora que eu achar que
devem sair. Agora! — Nenhum dos dois mais ousa desafiar a matriarca da
família. Até eu estou com medo, nunca vi minha vó agir assim. Ela está
colocando meu tio de 42 anos de castigo. Quão ridículo é isso?
— Mãe, você não está falando sério! — pergunta meu tio e ela aperta mais
sua orelha. Ele grita e a tia Vic leva a mão no coração.
— Não faça assim com ele — protesta tia Vic.
— Faço com ele e com você também! — minha vó ameaça, fazendo com que
tia Vic dê três passos para trás. — Agora!
— Pequeninha, você vem comigo?
— Meu cu, Matheus Albuquerque! Victória não irá, seu filho da puta! Some
da minha frente, diabo. E você também Bruce, agora!
— Mas e Isis? — Bruce questiona.
— Ela estará melhor longe de vocês. Vazem! Três, dois, um... os dois saem
rapidamente e meu tio ainda o empurra para longe antes de subir.
— Sério mesmo, vou zoar Matheus até meu último dia de vida — diz meu
pai rindo. Será que Maria Florzinha ainda não contou a bomba? Enfim, dessa
vez não vou mais semear a discórdia não.
Isis está com meu avô, com meus primos e todos nós ficamos em torno dela.
Aparentemente ela está bem.
— Ei, não está sentindo nada? — questiono.
— Foi só um pulo na água — ela explica. — Só assim eles não se matariam.
— Mas foi inconsequente, Isis. Você está grávida de três meses, dizem que
os primeiros meses são os mais arriscados, você se arriscou — advirto.
— Oh, você é lindo, às vezes, Tôr, mas eu estou bem. Não há nada errado.
Deus protege as gestantes.
— Diga-me se precisar de algo.
— Onde foi que eu errei? — questiona tia Vic. — Meu marido e meus cinco
filhos são loucos. Algo eu fiz de errado.
— Cadê Arthurzinho e Melissa? — Milena questiona.
— Estão fazendo exploração pela casa, segundo Melissa disse. Ela é
extremamente engraçada — comenta Lucca rindo. — Larissa era um saco.
— Exploração sexual, no mínimo — Isis diz. — Larissa era uma vadia.
— Finada puta! — Minha avó diz.
— Mari, dê o exemplo!
— Arthur, você está querendo me irritar hoje? — rebate minha vó, mas se
joga nos braços dele em seguida. — Te amo muito, Tutu.
— Maluquinha, você é a melhor.
— Ownt... — diz Isis e começa a chorar. — É tão lindo...
— Mari, posso ficar com Tetheus?
— Meu Deus do céu, que fixação do caralho com esse homem, Victória! O
que ele tem, hein? Nem precisa responder essa merda — diz minha vó,
balançando a cabeça. — Você fique aqui com a sua filha. Matheus merece
um castigo há anos. Ele vai passar parte do dia pensando nas merdas que faz.
E o Bruce vai junto, para ver se a loucura sai do corpo dele. O homem já está
contaminado! Mais um louco... Jesus tenha piedade! É muito bom ser vida
louca, mas a loucura está subindo na mente das pessoas.
— Mas tadinho, Mari, Theus é sensível e fofo — argumenta tia Vic.
— Não é ele quem grita para os quatro cantos do mundo que é um sujeito
macho?
— Mas ele é. Muito macho, por sinal — concorda tia Vic.
— Victória, o mundo não vai acabar porque Matheus está de castigo, entenda
isso.
— Mas...
— Victória! — grita minha avó e tia Vic salta para trás. — Vá aproveitar Isis
e seu novo status de avó! Se eu repetir, você ficará trancada na sauna! Eu
estou indo ajudar a cozinheira. Espero que tenham em mente que há menores
de idade neste ambiente, controlem a língua, controlem os atos!
Ela sai com um rompante de fúria e todos ficamos em silêncio.
— É, nem quando a professora da Bia apertou minha bunda Mari ficou tão
possessa — divaga meu avô.
— O quê? A professora da Bia apertou sua bunda? — pergunta Milena rindo,
então todos nos sentamos para ouvir os casos do meu avô. Eu amo essa
família.
— Sim. Tivemos muitos problemas quando Matheus e Bia estudavam. As
professoras me assediavam, era um inferno. E os professores de educação
física e outros homens assediavam Mariana. Nós os trocamos de escola cinco
vezes. Quando uma escola estava boa pra Mari, um engraçadinho a
assediava, levava um soco no olho e tínhamos que retirar as crianças. Era
incrível. Com a Jeh foi pior. Na época da Jeh as amigas dela me assediavam.
Um bando de adolescentes de dezesseis, dezessete anos. Elas inventam de
fazer trabalhos escolares na nossa casa só para me verem. Uma vez Mariana
quase bateu em uma, só não bateu, porque eu contive. Ela seria presa por
bater em menor de idade.
— Isso é sério? — Milena pergunta morrendo de rir.
— É muito sério. Nós vivíamos no fogo cruzado — ele diz rindo. — Ainda
vivemos, mas um pouco mais calmo agora. — Meu avô é interrompido por
mais uma treta...
— Abre o caralho dessa porta! Acharam que iam passar despercebido? —
Meu pai grita do segundo andar e a casa toda se cala.
— É, bem-vinda à selva, Milena — diz ficando de pé e todos nós seguimos
para mais uma treta.
Eu nunca fiquei tão feliz por tio Theus ser tão dramático e insano antes. O
caos se instalou e, com isso, o foco de todos está voltado a ele. Enquanto
estão todos em volta dele, eu estou ponderando roubar a lancha e fugir com
Mathew e Joseph. São muitas notícias de uma só vez, meu pai não irá
suportar essa situação. Ele nunca aceitará a maioria das coisas...
Estamos todos atentos ao show protagonizado pelo meu tio quando ouço uma
voz bastante conhecida chorando. Eu e Joseph saímos desesperados para
encontrar Mathew, caído no chão chorando e gritando por sua mãe. É uma
situação que nunca aconteceu antes.
— Mãe... — ele grita.
— Filho, o que houve? — Joseph questiona o pegando em seus braços.
— Mãe... — ele grita e se joga sobre mim. — Mamãe! Eu caí — reclama. —
Eu escorreguei e caí, mamãe.
Joseph olha assustado para mim e eu juro por Deus, demora quase um século
para eu entender o que está acontecendo. Mathew está abraçado ao meu
pescoço. Tudo bem. Normal.
Mas ele está me chamando de mãe.
Mãe.
Mamãe.
Mathew está me chamando de mamãe. Não estava preparada para esse
momento, nunca. Aos dezenove anos, eu ganhei um filho de dois aninhos.
— Mamãe, você pode jogar comigo? — pede, manhoso, e se afasta do meu
pescoço. Vejo-o esfregar os olhinhos e fica me encarando, à espera de uma
ação da minha parte. Eu apenas não consigo reagir.
— Flor... está tudo bem?
— Mamãe, Flower.
— Mathew... — digo olhando dele para Vincenzo. Um Vincenzo pálido e
preocupado.
— Mamãe — diz e volta a me abraçar. Então eu desabo. Abraço-o forte,
sento-me na escada com ele em meus braços e choro, porque é a única coisa
que consigo fazer. — Mamãe, por que está chorando?
— Mamãe — digo entre choro e sorrisos. Por que isso se parece tão certo?
Por que ele se parece tão meu? A verdade é que eu tenho sido mãe dele todos
esses meses. Diana sumiu, se contentou com o dinheiro de Vincenzo. Eu
estou por Mathew desde então, até mais que Vincenzo, já que a rotina de
trabalho dele é pesada e tenho estudado de casa. Tem sido eu e ele, o tempo
todo. — Meu amor. Amo muito você, meu pequeno, muito.
— Mamãe. — Sorrio e olho para um Vincenzo que está lutando para conter
as lágrimas. Mas, contrariando a ele mesmo, elas descem. Meu marido
gostosão, dono do mundo, também tem suas fraquezas. — Você pode jogar
comigo?
— Primeiro me diga, você fez um dodói?
— Sim. Eu escorreguei, saiu sangre.
— Oh, meu Deus, saiu sangre? — digo quase rindo. — Deixe a mamãe ver
— peço, limpando meu rosto e ele se afasta para me mostrar seu joelho
levemente ralado. — Ah! Isso foi só uma bobeirinha, não é mesmo? Você é
forte, foi só um arranhão.
— Sim.
— O que houve? — Enzo surge questionando e eu balanço a cabeça
sinalizando que não podemos falar agora. — Ei, Mathew, quer jogar
videogame? — convida e Mathew pula das minhas pernas.
— Eu vou jogar videogame, mamãe — anuncia. Enzo abre a boca em
choque, mas decide se calar. Então Vincenzo me pega em seus braços e nos
leva até o quarto que está reservado para nós dois.
— Flor...
— Está tudo bem — tranquilizo-o passando as mãos pelo seu rosto.
— Você não é obrigada a desempenhar esse papel com ele. Temo que isso
tenha sido muito para sua mente, principalmente agora. Mas eu sabia que em
algum momento isso aconteceria. Você tem sido uma mãe para ele, a melhor.
Até melhor que eu. Mas...
— Está tudo bem, Joseph, eu estou bem com isso. Eu quero ser a mãe dele,
eu o amo como um filho, o amo muito, mais do que amo você, aliás, bonitão.
— Ele faz um bico e eu sorrio. — Foi um choque. Você esperava, mas eu
não. Foram apenas uns minutinhos de choque, agora é como se tudo
continuasse seguindo o fluxo como tem sido. Está tudo bem. Só não quero
que pareça que estou roubando o lugar da Diana.
— Diana o abandonou de vez, você sabe disso. Ela não o ama, nunca o amou,
nem mesmo ligar para saber do garoto. Mathew foi parte de um jogo de
interesse, infelizmente. Eu sinto que o comprei dela e isso beira ao absurdo
— diz, chateado. — De qualquer forma estou feliz por ele ter você, muito
feliz, Flor. Ele considerar você como mãe é a coisa mais incrível que
aconteceu em minha vida desde o nascimento dele. Você é um mulherão.
— Engraçado, um dia disseram que eu fedia a leite materno. Que eu era uma
criança, e blábláblá — provoco.
— Mas agora é tipo isso, mas em um outro sentido, mamãe — diz sorrindo.
— Você fede a leite materno e paterno.
— Oh, leite paterno?
— Aí, mamãe. — diz me imitando e eu rio.
— Hummm... isso vai virar um fetiche igual o "papai"?
— Com toda certeza, mamãe — concorda, jogando-me sobre a cama, mas eu
inverto a posição ficando por cima.
Tem sido incontrolável e assustador meu apetite sexual. Mas estou feliz e
orgulhosa por ter um homem com apetite até um pouco além.
— Nós temos duas opções — digo.
— Quais?
— Fazer amor e foder. Qual você escolhe?
— Levando em conta que o show do Matheus deve durar pouco e que seu pai
vai querer me matar em alguns minutos, foder. — Rio, apenas porque é
verdade. Então estou embaixo do seu corpo, suas mãos me atacando de todas
as maneiras, assim como sua boca.
— Aí papai... gostoso.
— Abre o caralho dessa porta! Acharam que iam passar despercebido? — A
voz do meu pai nos faz saltar da cama. Puta merda! — Maria Flor
Albuquerque Brandão.
— Maria Flor Albuquerque Brandão Vincenzo. Diga a ele, Flower —
provoca Joseph tentando se recompor. — Meu pau está explodindo.
— Vá tomar um banho, eu abro a porta — sugiro, ele vai após apertar meus
seios.
Respiro fundo e caminho confiante para abri-la. Meu pai entra como um
furacão e minha mãe também. Atrás deles vem toda a família.
— Ouçam todos, já, já vocês ficam sabendo das fofocas, ok? Apenas me
deixem resolver isso com meus pais e Vincenzo. Cuidem de Mathew ao invés
de fofocarem — peço com toda gentileza que possuo e eles se afastam,
exceto Heitor.
— Sou seu irmão mais velho.
— Tudo bem, Heitor, entre. — Ele sorri vitorioso, mas pego o celular em sua
mão e entrego a Milena antes de fechar a porta. — Sem celular, mocinho. —
Sorrio.
— Ok. — Anuncia sentando-se na chaise.
— Onde está Vincenzo?
— Estou aqui. — Meu homem surge vestindo um roupão preto e eu sorrio
com sua beleza ofuscante. Lindo! — Bom, vamos sentar-nos. — Meus pais
se acomodam nas duas poltronas vazias e eu e ele nos sentamos na cama —
Vou ser direto, ok?
— Eu espero que seja.
— Eu e Maria Flor nos casamos no civil em comunhão total de bens há três
semanas. Desde então estamos morando juntos na nossa casa em Beverly
Hills, optamos por não voltar para a minha antiga casa, até mesmo por
medidas de segurança — informa Vincenzo, deixando meus pais ficam
boquiabertos. Vincenzo aperta a minha mão e sei que vem a pior parte ou
melhor... depende. — Ela está grávida de cinco semanas. Decidimos juntos,
em comum acordo mesmo, que ela dará um tempo nos estudos, levando em
conta que não tem frequentado a faculdade devido aos traumas que adquiriu e
que isso impacta significativamente nas notas dela, em especial em relação à
falta de participação. Juntos, optamos por ela dar um intervalo visando o
tratamento e a maternidade. Em dois meses nos casaremos na igreja, os
preparativos já estão a todo vapor.
— Eu não sabia da gravidez — exclama Heitor, chocado. — Caralho, Flor!
— Exclama, levantando-se. Meu irmãozinho vem até mim e me puxa para
um abraço. — Eu te amo tanto. Estou muito feliz. Meu primeiro sobrinho ou
sobrinha. Te amo muito!
Minha mãe também se aproxima e damos um abraço triplo.
— Minha menina, você cresceu, filha. Será mãe.
— Eu já sou. Mathew me chamou de mãe hoje, pela primeira vez.
— Que massa! Porra! — Heitor exclama feliz.
— Meu Deus, filha, não há o que dizer. Eu tenho muito orgulho da mulher
que se tornou, seu crescimento e amadurecimento é notável, é tudo que eu
pedi a Deus. Eu sou jovem, mas estou feliz por ser vovó. Tomara que seja
uma menina, vamos transformá-la na patricinha de Beverly Hills — diz rindo
entre lágrimas. — Eu quero participar da organização do casamento.
— Eu não esperava outra coisa, mãe. — Sorrio. — Eu preciso de você, estou
começando a surtar com isso.
— Estarei com você, meu amor.
— Que lindo, como um conto de fadas! — diz meu pai com a voz
embargada. — Parabéns a vocês dois, parabéns ao titio e a vovó também.
Que todos sejam muito felizes. — São suas últimas palavras antes dele sair
do quarto.
— Pai...
— Calma. Ele precisa de um tempo. Foram muitas informações de uma só
vez — minha mãe tenta me tranquilizar.
— Eu irei falar com ele — anuncia Joseph, retirando o roupão e ficando de
cueca na frente de Heitor e minha mãe.
— Misericórdia! Joseph perdeu a porra do pudor também? — questiona
minha mãe cobrindo os olhos, mas deixando uma brecha que eu vejo muito
bem.
— Casei-me com Maria Flor, desde então desconheço o significado dessa
palavra — comenta, vestindo uma bermuda. — É só uma cueca, como sunga.
— Eu não acho que seja uma boa ideia você ir falar com ele agora —
argumenta minha mãe. — Se quando ele descobriu o namoro foi quase o
apocalipse... temo pela reação dele com a notícia da gravidez e do casamento.
Já começou ruim, com uma fuga.
— Sim, Joseph. Deixe minha mãe falar com ele primeiro — peço.
— É, cara. Eu e minha mãe falamos com ele primeiro.
— Não tenho medo dele, francamente. Sou um homem feito, Maria Flor é
uma mulher, a minha mulher. Eu quem tenho que enfrentar isso, seja como
for. Ficaremos bem — diz meu marido, dando-me um beijo na testa e se vai.
— Oh, merda!
— Mamãe! — Mathew surge e eu sorrio.
— Ei, garoto. — Meu Deus, como me acostumar a esse "mamãe"? Como
continuar vivendo a cada vez que eu ouvir essa palavra? Prestes a fazer 20
anos já tenho dois filhos! Isso é surreal.
— Cansei de videogame, estou com fome — ele diz, minha mãe sorri
abaixando até ele.
— Ei.
— Oi.
— Eu sou sua avó, sabia? — ela pergunta e eu engulo o nó que se forma em
minha garganta.
— Vovó Bia? — Mathew pergunta.
— Sim, sua vovó Bia.
— Tudo bem, vovó — pergunta meu pequeno diz sorrindo e se joga em
Heitor. — Tio Tôr, vamos nadar juntos? — Ele chama Heitor de tio desde
sempre, assim como Arthurzinho e Bruce. É lindo.
— Depois que você comer nós podemos nadar, campeão — responde Tôr,
bagunçando os cabelos dele. — Mais tarde farei um filho com Milena,
porque estou em desvantagem aqui.
— Vamos comer meu pequeno — anuncio pegando-o.
— Não fique pegando peso agora no início, por gentileza — adverte minha
mãe e sou obrigada a colocá-lo no chão.
Estou indo alimentar meu primogênito enquanto meu pai, certamente, tentará
matar o pai dos meus filhos.
Teremos uma briga de cachorro grande, porque eu desconheço um homem
mais decidido que Joseph Vincenzo.
CAPÍTULO 25

Hora de encarar a fera, meu amigo que se tornou meu sogro. Já estava
preparado para uma conversa difícil, então estou tranquilo. Maria Flor é
maior de idade e tudo o que fizemos foi devidamente planejado. Eu serei pai
novamente, casamo-nos no civil e estamos planejando o casamento religioso.
A garota que fedia a leite materno e fralda agora é minha esposa. Pois é,
rápido como um furacão, eu, Joseph Vincenzo, o homem que nunca iria se
casar ou ser pai novamente, casei-me, tenho minha mulher grávida e me
tornei doméstico.
Surpreendente.
Essa garota se tornou o centro do meu mundo, um vício e uma necessidade.
Eu quero tudo dela e quero dar tudo de mim a ela. Simples como um mais
um, são dois. E, para a minha surpresa, hoje meu primogênito a chamou de
mãe. Eu poderia estar mais feliz? Não. Está tudo perfeito em todos os campos
da minha vida. Parece que encontrei o Norte. Está tudo caminhando
perfeitamente bem e espero que continue assim. Flor é como meu amuleto da
sorte, desde que entrou em minha vida tudo ganhou um novo significado.
Descobrimos sobre a gravidez quase um mês após o pedido de noivado. No
primeiro momento ela se desesperou, mas isso durou apenas alguns minutos.
Em um minuto ela estava gritando e chorando desesperada, no outro ela
estava gritando meu nome no banco de trás do carro. O longo período que
ficamos sem sexo parece estar surtindo efeito avassalador agora. Flor tem
vivido como se quisesse recuperar o tempo perdido, acontece que ela já
recuperou e resolveu ultrapassar os limites. Minha garota está transbordando
libido e eu estou morto. Vejamos, há uma carga imensa de trabalho, há
Mathew que necessita de bastante atenção e há minha mulher ninfomaníaca.
Além de tudo isso, ainda arrumo um tempo para malhar e poder manter o
ritmo. Minha ninfeta está usufruindo bastante da minha experiência e minha
performance sexual. Os anos de diferença não estão pesando, pelo menos não
ainda.
Encontro Bernardo sentado no deck, sozinho. Acomodo-me ao seu lado e ele
me encara como se estivesse prestes a me matar.
— Eu acho que precisamos conversar — digo.
— Conversar sobre o quê? Não há mais nada a ser conversado. Minha filha
se casou e está grávida, o que resta para ser conversado?
— Bernardo, eu não sei se terei uma filha, mas só de cogitar isso eu imagino
como está se sentindo. Flor é jovem, mas ela é extremamente madura. Nós
decidimos sobre todas as coisas juntos. Eu não sentenciei nada se é essa sua
preocupação.
— Vocês planejaram um bebê? Ela é apenas uma garota, Joseph, como uma
garota de 19 anos pode planejar um filho? Como ela pode renunciar a todos
os projetos para ser mãe?
— Me desculpe por dizer isso, mas não acha que está sendo hipócrita?
Beatriz foi mãe aos 18 anos e não foi algo planejado.
— Sabe o que acontece, Joseph? No passado, quando engravidei minha
namorada, meu sogro disse que, se um dia eu tivesse uma filha, iria entender
o motivo de ele ter surtado quando descobriu a gravidez da filha dele. E sabe
o quê? Ele estava certo, eu agora sei como ele se sentiu. Não é agradável,
embora eu saiba que irei amar com todas as forças meu neto ou minha neta.
O mais desagradável ainda é perceber que eu não sou mais o único homem
importante para a minha filha, agora há você. Eu estou dividindo minha filha
com você, mas estou em desvantagem simplesmente, porque não sou mais o
primeiro a saber dos seus projetos. O primeiro agora é você. Ela te ama, você
deve ser o primeiro pensamento dela ao acordar e o último antes de dormir,
eu sei por que é assim comigo. Minha esposa é meu primeiro e último
pensamento do dia, assim como sou para ela. É lindo, mas é fodido perceber
que os pais são postos em segundo lugar em determinada fase das nossas
vidas. Eu não estou bravo, não vou socar sua cara como quis fazer, só estou
triste, pois perdi minha garota e não sei lidar com isso. Estou triste, pois não
fui comunicado sobre os projetos, estou triste pelo que aconteceu meses atrás,
apenas estou triste. Minha filha cresceu rápido demais, tão rápido como o
vento. Não adianta, Joseph, um pai nunca está preparado para entregar uma
filha. Ela sempre foi o centro do meu mundo, havia Heitor e Enzo, mas Flor?
Sabe quantas vezes eu e Bia brigamos por conta de eu fazer todas as vontades
da nossa filha? Sabe o que é você andar em um shopping no horário de
almoço e, ao invés de almoçar, ir caçar coisas cor-de-rosa para a sua filha?
Meu mundo se tornou rosa quando Flor nasceu, meu mundo se tornou melhor
infinitamente por conta daquela garotinha — ele diz enquanto lágrimas
escorrem de seus olhos. — Ela era a coisa mais linda do mundo, Joseph,
esperta, sagaz e trapaceira. — Ele ri e solta um suspiro. — Flor agora terá sua
própria família e sua família virá em primeiro lugar, sempre. Porque é assim
que as coisas são quando constituímos nossa própria família. — Eu limpo
uma lágrima sorrateira do meu rosto, porque não esperava um desabafo desse
porte. Deve ser foda mesmo. Agora estou vendo as coisas numa nova
percepção.
— Ela ainda continuará sendo sua. Eu não tenho qualquer garantia de que
nossa relação será eterna, mas você tem a garantia de que, aconteça o que
acontecer, Flor sempre será sua filha, Bernardo. Você está acima de mim de
todas as maneiras possíveis.
— É difícil para um pai ter que enxergar que sua filha se tornou uma mulher.
É difícil lidar com o fato de que ela tem relações sexuais, é difícil lidar, é
apenas difícil — diz cabisbaixo. — Mas o que posso fazer? Aceitar. Um neto
ou uma neta é o que temos para hoje, além da notícia de que ela trancou a
faculdade, está casada e morando com meu amigo. Tudo isso sem me dizer
nada.
— Talvez eu tenha errado em não ter pedido a mão dela — confesso
ganhando a compreensão.
— Você acha? — pergunta com cinismo. Eu acho, ele está com a razão.
— Eu estou certo. Sinto muito — digo com toda minha sinceridade. — Eu a
amo, Bernardo. O amor é louco, insano e intenso. Eu saí atropelando tudo
para tê-la, porque eu sou louco por ela, louco. Eu a amo muito forte. Talvez
assim você consiga compreender meus atos, sei que você ama Bia da mesma
maneira louca.
— É, eu amo.
— Sei que já é tarde, mas eu gostaria da sua... permissão não seria a palavra,
talvez bênção? É isso, eu gostaria da sua bênção para me casar com sua filha.
Gostaria de vê-lo levando Flor para mim no altar com um sorriso de
felicidade, de quem sabe que eu moverei o mundo se preciso for para fazer
sua filha feliz. Eu cuidarei dela, respeitarei, darei o meu melhor. Você tem a
minha palavra, Bernardo.
— Vá lá — ele diz simplesmente.
— Você vai agir assim? Como se fosse indiferente? — Questiono tentando
compreendê-lo.
— É indiferente. Vocês já estão casados. Eu ficarei bem, só estou pensativo.
Suba, pegue sua esposa e diga a ela que eu estou bem com as novidades.
— Mas você não está.
— Pensativo, Joseph, pensativo — repete. — Vá, você tem minha bênção,
embora seja irrelevante.
— É relevante e importante. Te peço desculpas, eu deveria ter pedido a mão
da sua filha a você antes de tudo, mas houve o receio de ganhar um não, por
isso pedi primeiro a ela. Enfim, eu espero que possamos nos entender nesses
dias, Bernardo, não quero sua inimizade. Não sou portador de notícias ruins,
sua filha está feliz e eu também. Queremos que se una à nossa felicidade, que
compartilhe dos mesmos sentimentos.
— Ok.
— Vamos ficar bem, cara, vai passar o Natal triste por que sua filha está
sendo feliz, se tornou uma mulher e será mãe? Não faz muito sentido. Flor
cresceu absurdamente nos últimos meses, tenho orgulho da mulher que ela se
tornou e sei que você também tem. Apenas aceite, meu amigo. Nós dois nos
amamos.
— Joseph, só preciso de um tempo. Preciso ficar só, por favor — pede,
dispensando-me e eu resolvo deixá-lo.
— Estarei lá dentro se quiser conversar, a qualquer momento — informo e
sigo em direção à casa.
— Como ele está? — Beatriz questiona.
— Estranho. Não está revoltado, está triste, disse que os anos passaram
depressa demais e coisas do tipo. Ele está com a razão, eu deveria ter pedido
a mão de Flor para ele antes e para você também. Eu errei, Beatriz, sinto
muito por isso. Não há o que ser feito, eu a amo e as coisas continuarão
seguindo o curso que escolhemos. Eu dei o primeiro passo, o segundo e Flor
fez dos meus planos os dela. Estamos felizes e bem, meu filho também está
muito feliz por tê-la. Somos uma família.
— Eu estou feliz por vocês, Bê também ficará. Você não sabe, mas Flor
sempre foi o xodó da vida dele. Ele ama todos os nossos filhos de maneira
igual, mas por Flor ser uma menina, ele sempre esteve em torno dela. Vê-la
crescer é um pouco doloroso para ele, mas não é nada que não vá aceitar com
o tempo. Vocês deram muitas informações de uma só vez. É comum que ele
tenha ficado abalado.
— Sim, eu sou assim, Bia, como um rompante. Tentarei controlar mais
minhas ações.
— O amor nos torna impulsivos — diz minha sogra. — Agora vá no quarto e
presencie uma cena linda — ela incentiva e eu vou.
Eu encontro Flor sentada no chão dando comida de aviãozinho para um
Mathew risonho. Os fins justificam os meios, essa cena justifica meus erros.
Minha família está ali. Mathew, Maria Flor e nosso bebê. O que mais eu
posso querer da vida? Apenas saúde para apreciá-los e fazê-los felizes.
— Papai!
— Você está comendo muito? — pergunto, juntando-me a eles.
— Sim. Mamãe está me dando. — Olho para Maria Flor e os olhos dela estão
brilhando. Minha jovem garota assumiu meu filho como dela. Ela não
precisava disso, mas fez.
— Ele vai ficar forte como um leão, papai. Está comendo muito papa.
— Sim, papa — diz Mathew, satisfeito.
— Papa? — Questiono a Flor.
— Sim, meus pais falavam assim quando era almoço ou jantar — ela explica
rindo. — Eu falava papa delícia.
— Mathew, a mamãe não te contou uma novidade? — Pergunto, colocando-o
sentado entre minhas pernas.
— Um segredo?
— Não, garotão, uma novidade. Sem segredos vocês dois — digo sorrindo.
— O que é?
— Você vai ganhar um irmão ou uma irmã.
— Pode ser um irmão? — Ele pergunta e eu rio.
— Só Papai do céu quem pode escolher, meu amor — explica Flor. — Pode
ser um garotinho como você ou uma garotinha. De qualquer maneira vocês
serão amiguinhos e você será o irmão mais velho.
— Oh! — Ele exclama encantado com a notícia. — Mamãe não quero mais
comer.
— Ok, meu amor. Papai vai levá-lo para escovar os dentes e então você pode
ir brincar — diz Flor, e eu fico de pé com o pequeno leão.
Assim que escovo os dentes dele, ele sai feito um raio e Flor surge possuída
no banheiro.
— Dilf.
— Milf.
— Como foi a conversa?
— Não sei. Não foi como esperava. Seu pai está estranho, mas pediu que eu
dissesse a você que está tudo bem. Talvez seja interessante uma conversa pai
e filha — digo traçando seu lábio inferior. — Linda.
— Eu irei falar com ele mais tarde, estou com sono agora.
— My pregnant. — Sorrio. — Vamos, vou levá-la para a cama — anuncio,
pegando-a em meus braços e a coloco na cama.
— O que você fará enquanto durmo?
— Chegarei alguns e-mails e ficarei na piscina. Seu tio e Bruce ainda estão
de castigo, não quero perder quando Mari liberá-los — digo rindo,
imaginando a cena.
— Você foi contaminado com toda loucura. Que merda, só sei comer, foder e
dormir.
— Não necessariamente nessa ordem.
— Eu sei foder, comer e dormir — corrige a ordem. — Eu gostaria de foder
um pouco agora, mas estou morrendo de sono, papai. À noite foderemos
dobrado.
— Certamente, princesa. Durma bem, eu amo muito você. — Deposito um
beijo em sua testa, fecho as cortinas e a deixo dormir.
Quando saio do quarto, encontro uma cena absurda. Victória está sentada no
chão, encostada na porta de um dos quartos trocando bilhete com quem eu
acredito ser o Matheus.
— É sério isso? — questiono.
— Fique caladinho para eu continuar gostando de você, Tudão. Você não
está vendo nada — ela diz.
— Mas eu estou! — Mariana surge. — Você tem quantos anos de idade,
Victória? Sério, depois de todos esses anos, hoje estou realmente
compreendendo por que você e meu filho estão casados.
— Por quê? — Victória pergunta.
— Porque vocês dois são iguais. Dois insanos. Vaza daqui agora, eu estou
falando sério.
— Porra, mãe, já deu esse caralho de castigo.
— Se você continuar falando, Matheus Albuquerque, ficará aí até amanhã,
filho do Satã! E você também, Tudão, pode ir indo lá pra baixo. Cadê minha
florzinha?
— Dormindo — informo.
— Deixe-me adivinhar, foder, comer e dormir?
— Bem isso. — Como ela sabe?
— Melhor fase — Matheus diz. — Espera aí, Maria Flor está grávida? — Ele
grita.
— Sim.
— Chupa, Bernardo seu frouxo do caralho — ele grita para casa inteira
escutar. — Mãe, me libera aí. Libera o Tonho. Não posso perder a piada,
caralho. É sacanagem comigo.
— Animal, você também será avô — diz Mari e o silêncio surge por alguns
segundos até escutarmos um baque.
— Ah, fodeu, fodeu, fodeu — grita Victória. — Meu pimpolho desmaiou
novamente. Abra essa porta, Mariana!
— Chamarei o Heitor, porque se esse filho da puta desmaiou novamente eu
mesma irei filmar — ela diz e vai em busca de Heitor.
— Isso é bullying com o meu marido — protesta Vic chorando. — Theus,
fala comigo covinhas bonitinhas, pequeninho, pimpolho....
Eu irei ficar louco até o réveillon!

Matheus é muito filho da puta, definitivamente. E, nós dois juntos, não temos
maturidade alguma. Nossos filhos, pobrezinhos, são quem tentam colocar
algum tipo de juízo na nossa cabeça, mas não queremos. Nós fazemos o que
queremos, como queremos e quando queremos. Somos parceiros no crime
desorganizado.
Enquanto tentam arrombar a porta – algo que Matheus faria em cinco
segundos –, eu saio sorrateiramente rumo ao andar de baixo. Pego a chave do
jet-ski, pego um pouco de dinheiro e um cartão de crédito na minha carteira e
o embrulho num saco plástico, pego uma garrafa de água, algumas besteiras
para comer e as coloco numa bolsa térmica, pego meus óculos de sol, prendo
meus cabelos em um rabo de cavalo e caminho pelo deck rumo ao nosso
meio de condução.
— Mãe?
— Shiu! — digo para Lucca e ele me olha como se eu fosse louca.
— Mãe, o que há?
— Não diga nada! Há algo acontecendo, finja que não está me vendo — peço
e desço vagarosamente pelas escadas até alcançar a moto aquática. Fico
sentada aguardando alguns minutos até que a cena começa a desembolar.
Ligo o jet-ski quando vejo um Matheus desesperado correndo pelo deck e
várias pessoas correndo atrás dele. Meu princeso se joga ao mar e sobe
correndo atrás de mim.
— Vamos... rápido! — ele ordena tomado pela adrenalina.
— Matheus Albuquerque! Seu filho da puta! Você está de castigo até a
próxima eternidade, demônio! E você também, Victória! — Mariana grita e
eu acelero enquanto ele ri.
— Para onde vamos? — questiono.
— Deixa que eu conduzo, sadgirl, vou levá-la em um lugar. Pegou dinheiro?
— Sim. — Jogo-me no mar para invertermos a posição e ele ocupa meu
lugar, então me ajuda a subir e seguimos passeando pela Ilha, agora mais
devagar. Theus está calado e eu rindo, porque não regulo bem. O mundo está
acabando e nós dois estamos fugindo como crianças. Eu realmente não me
importo de agir como louca neste momento, meu princeso, com toda sua
possessividade, está sofrendo, sei disso. Eu farei qualquer merda estúpida
para aliviar seu humor, mesmo que isso inclua entrar em suas loucas
aventuras.
Quando estamos no meio de nada, cercados apenas por ilhotas, o combustível
acaba e eu começo a rir.
— Merda! — reclama e faz um biquinho, olhando para mim. — Estamos
perdidos no paraíso, sadgirl.
— Podemos nadar até chegarmos à faixa de areia, então podemos fazer um
piquenique e namorar — sugiro.
— Você é muito vida louca, não é mesmo?
— Anos de convivência. — Sorrio e ele me rouba um selinho.
— Ok, você trouxe coisas de comer nessa bolsa?
— Sim. Algumas besteiras, mas dá para sobreviver — explico. — Só não há
como entrarmos em contato com o pessoal e pedir ajuda, não trouxe celular.
— Eu precisava de um tempo — diz e se joga no mar. Eu fico de pé e ele me
pega. — Preparada para um pequeno nado?
— Sim, senhor, estamos em plena forma! — Ele sorri, pega a bolsa das
minhas mãos e nadamos até chegarmos em terra firme.
Eu fico na água boiando, enquanto ele vai deixar a bolsa na areia e volta.
Ele me pega em seus braços e eu o abraço.
— Meu covinhas.
— Vic, nós somos jovens demais. Você é a mesma de anos atrás, eu também.
Nós seremos avôs — diz com queixo apoiado no meu ombro direito.
— Nós somos jovens, ainda parecemos os mesmos, mas fomos pais jovens
também, Theus. Seremos avós, é algo estranho para assimilar agora, mas
teremos um sadbabyneto, temos que aceitar e apoiar nossa menina.
— É complicado ser pai. As filhas crescem e você começa a perceber que
devem estar fazendo com elas o mesmo que você fazia com as filhas alheias.
Dá um arrependimento do caralho — diz sorrindo. — Nossa princesa, Vic,
ela terá um bebê e eu sei que ela não o fez rezando, que maldição!
— Mas a nossa princesinha, Theus, é uma mulher incrível. Isis nunca nos deu
trabalho, sempre foi doce e responsável. Ela arrumou um homem incrível,
maduro, responsável e uma pessoa de bem. Só cabe a nós dois ficarmos
felizes e orgulhosos. Ela está bem, com um homem muito legal. Já pensou se
fosse com um homem qualquer? Se ela fosse uma louca insana?
— Eu sei, Vic. É só difícil aceitar que os anos estão passando. Nós ainda
temos mais duas meninas e eu não sei se sobreviverei a elas. Luma é como
Isis, mas Ava, Victória... — diz suspirando. — Ava é uma mistura nossa com
acréscimo da minha mãe. Se eu não morri com Isis, com Ava eu morrerei.
— Drama king! — Sorrio. — Nós vamos conseguir controlá-las. Somos
excelentes pais, mesmo que, às vezes, façamos mais loucuras que nossos
filhos. Theus, você precisa conversar com Isis, ignorá-la não é legal.
— Eu... eu não ignorei. Só fiquei perdido, não queria demonstrar desagrado,
Vic, eu fui estúpido, sei disso, mas aquela garota... ela é a porra da minha
vida. Eu gostaria de mantê-los dentro de uma redoma, livrá-los de todas as
merdas da vida, mas não posso. Eu não queria que o tempo tivesse passado
tão rápido, sinto que não apreciei meus filhos como deveria.
— Você está com problemas sérios. Agora usarei a nossa própria família
numa comparação, o que é algo bastante feio, mas necessário. Matheus
Albuquerque, eu nunca os vi fazer com os filhos deles o que nós fazemos
com os nossos. Não que nossos familiares sejam ruins, mas nós dois nos
superamos como pais. Demos conta de cinco crianças a vida toda, nunca
demos mais a um do que ao outro, todos os dias, além do suporte que damos
a eles, tiramos algumas horas para brincarmos em família, é assim até hoje.
Mesmo quando Isis não está, nossos quatro filhos estão conosco todas as
noites, nós jogamos baralho, inventamos um monte de coisas para estarmos
juntos. Viajamos, brincamos, passeamos em família. Nós somos fodas,
Matheus, você é foda. Nossos filhos são fodas! Nós aproveitamos cada um
deles ao máximo e ainda sobra tempo para aproveitarmos um ao outro. Nós
fazemos quase mágica, Matheus.
— Verdade, né? Nós somos realmente fodas, fodida sadgirl do meu caralho!
Mas eu...
— Você é carente e dramático — afirmo, educadamente o óbvio. Theus tem
excesso de carência, essa é a verdade.
Uma lancha se aproxima atraindo nossa atenção, então eu percebo que nela
estão Isis e Bruce.
— Eu vou matá-lo, Victória.
— Não vai não, senhor. Você vai conversar como um homenzinho — digo e
ele faz uma careta. Eu foco em Bruce todo cuidadoso ajudando Isis a descer e
sorrio. — Eles são lindos.
— Não gosto mais dele. — Matheus é uma criança perdida no mundo dos
adultos.
— Gosta sim, pimpolho.
— Olá! — diz Bruce enquanto minha garota fica fixada no pai. Matheus
agora apoia a testa em meu ombro e sei que ele está tentando não chorar. Eu
o amo tanto por ser exatamente assim.
— Pai...
— Ah, nem... — Theus protesta abafado.
— Não é vergonha se emocionar — digo baixinho em seu ouvido.
— Não estou emocionado, quem disse isso? — ele esbraveja e Isis vem
abraçá-lo por trás. Então ele chora e eu acabo chorando junto. Por fim, são
quatro chorando, porque até Bruce não é capaz de ver a cena e conter.
— Pai, eu te amo.
— Ah, nem... Vic, pede ela para parar.
— Isis, seu pai pediu para parar — digo sorrindo entre lágrimas.
— Pai, você vai me ajudar a cuidar do seu neto ou neta? — ela questiona
usando da psicologia... meu orgulho essa menina! — Você vai mesmo se
mudar para a Califórnia? Eu ficaria muito feliz. Nós podemos morar juntos.
— Juntos? — questiona Theus levantando a cabeça e limpando o rosto. —
Tipo vizinhos? Ou tipo juntos numa mesma casa?
— Qualquer uma das duas opções. — Isis sorri. — O que você acha? Você
vai poder estar bem perto de mim e do sadbebê neto.
— Um sadbebê... Merda, Isis, eu sou jovem para ser avô, você ainda é a
minha garotinha — ele diz e Isis abaixa a cabeça, triste. — Mas de qualquer
forma eu vou amar um sadbebê. — Ele a puxa para seus braços. — Eu te
amo muito, estou com ciúme, quero matar Bruce por ter feito sexo com você,
mas eu te amo, vou amar esse bebê e vou amar poder acompanhar tudo de
perto. Não sairei do seu lado filha, em momento algum.
— Eu sempre soube — ela diz rindo entre lágrimas agarrada ao pai,
conforme Bruce vem me abraçar. — Pai, você é o melhor e mais importante
homem da minha vida. Eu tenho muito orgulho de ser sua filha, desconheço
uma pessoa que chegue ao seu nível de bondade, de fofura e de amor —
declara, nem fico com ciúmes porque é a mais absoluta verdade. Theus foi
desenhado por Deus em todos os sentidos, só isso responde a toda a
perfeição. Quando eles se afastam, Matheus olha fixamente para Bruce e
fecha as mãos em punhos.
— Eu deveria matá-lo, seu filho da puta! Você prometeu que cuidaria da
minha filha.
— Eu estou cuidando, de todas as maneiras possíveis. Como você mesmo
disse, eu prometi que cuidaria dela e estou fazendo isso, mas não prometi em
momento algum que não faríamos sexo — justifica Bruce, afastando-se de
mim e eu seguro a vontade de rir. Esse Bruce é afrontoso. — Sua filha pode
ser persuasiva sexualmente falando...
— Ela é igual a mãe mesmo — diz Theus, balançando a cabeça e abraça
Bruce do nada. — É foda, cara, você está fodido, é bom que saiba. Isis tem a
maldição do sadismo na veia, tipo Victória. As duas enganam todos com
essas carinhas de anjo, mas são os demônios disfarçados de anjos. Lúcifer era
anjo, né? Vai vendo aí...
— Isis é foda mesmo, estou assustado, mas a amo muito, o amor tudo
suporta, não é assim que dizem? — Que espécie de diálogo eles estão tendo?
Como muda do assassinato para o amor? Eu vou morrer e não terei conhecido
Matheus o suficiente. — Bom, nós fugimos. Isis gostou da ideia, vimos o jet-
ski e resolvemos parar. Mariana está possuída, creio que não seja uma boa
ideia voltarmos para casa hoje.
— Então, já que vocês estão de lancha, nós podemos ir para algum hotel.
Cada um num quarto separado, obviamente. Podemos comer, tomar uma
cerveja no final da noite, você agora é meu genro mesmo, não há como eu
fugir dessa merda — Theus propõe e eu rio.
— Você vai conseguir dormir sem mim? — questiono.
— Nem fodendo, estou falando dos dois — ele explica com naturalidade.
— Oh, pai, eu estou grávida, temos um relacionamento, não vou dormir sem
Bruce — diz minha filha e Matheus solta um suspiro frustrado.
— Eu já estou fodido mesmo, então foda-se — resmunga dando o braço a
torcer.
Ele pega nossa bolsa na areia e seguimos para a lancha. Bruce e Matheus
colocam gasolina no jet-ski e seguimos rumo a um hotel num lugar
paradisíaco. Aliás, qual lugar nessa ilha não é paradisíaco?
No final da tarde, eu e Theus nos acomodamos na rede, na sacada da nossa
suíte, e ficamos balançando observando o mar e o sol se despedir...
— Flower será mamãe — ele diz rindo.
— No cu dos outros é refresco, não é mesmo, Matheus?
— Não, eu estou feliz e com ciúme, porque ela é minha Maria Florzinha do
caralho. Bernardo é um filho da mãe, ele ia me zoar até a morte, mas agora
estamos no mesmo barco. Ambos seremos avós — diz rindo e então solta um
suspiro. — Vic, nós realmente seremos avós, não é mesmo?
— Sim Theus, nós seremos. — Sorrio.
— Será uma menina, sinto isso — comenta sorrindo. — Eu a imagino uma
mistura de Isis e Bruce, com olhos azuis, cabelos de cachinhos, mestiça, a
coisinha mais linda desse mundo inteiro.
— E se for um menino?
— Eu sinto que será uma menina. Vamos apostar? — sugere.
— Apostar o quê?
— Se for menina você me dá outro filho, se for menino eu faço qualquer
coisa que você quiser.
— Qualquer coisa? — pergunto começando a me interessar pela proposta.
— Qualquer coisa.
— Ok. Se for uma menina nós teremos outro bebê. Você está certo de que
deseja ter outro bebê? Já temos 42 anos. — Ele sorri e traz suas mãos em
minha barriga.
— É tudo que eu tenho sonhado, tê-la grávida mais uma vez, a última vez. Eu
amo você grávida dos meus filhos.
— E se vier gêmeos? Ou mais?
— Meu amor, somos pais de gêmeas e nos saímos superbem. Você não quer
ter mais um bebê?
— Eu sinto falta de um bebê. Um bebê seu. Mas é a história se repetindo, sua
mãe engravidou do Arthurzinho com a nossa idade — relembro.
— Ela e meu pai ficaram superfelizes, lembro até hoje, eu chorei escondido,
porque naquela época minha fofura era escondida.
— Não era nada, você era fofo comigo — relembro. — Mas sobre seus pais,
hoje eles se sentem um pouco culpados por serem mais velhos e por
Arthurzinho não ter tido a chance de aproveitar tanto eles quanto você e Bia
aproveitaram, entende?
— Sim, eu entendo, mas Arthurzinho teve muito mais que eu e Bia, tanto que
ele é feliz e extremamente satisfeito, tão feliz quanto eu e Bia fomos, e ainda
somos. Arthurzinho teve atenção duplicada. Como eu e Bia já éramos mais
velhos, eu fui pra Nova York, Bia se casou, ficaram apenas eles e
Arthurzinho. Eu penso que será assim se tivermos outro bebê. Nossos filhos
estão caminhando para trilharem seus respectivos caminhos. Em breve
ficaremos apenas nós. Eu gostaria de ter um filho, talvez assim eu não
sentiria tanto o crescimento dos outros. Obviamente que nosso bebê também
irá crescer, mas aí já estaremos mais velhos, poderemos apenas aproveitar
netos, viajar... Não estou impondo, faremos isso apenas se for da sua vontade.
Estou apenas pedindo que pense com carinho na possibilidade. Nosso bebê
crescerá junto com a sobrinha.
— Se for menina nós teremos um bebê. Se for menino... eu acho que teremos
um bebê. — Ele sorri e me abraça mais apertado. — Te amo, papai.
— Eu também amo você. Nós sobrevivemos a tantas coisas e nada entre nós
mudou.
— Verdade...
— Eu estou apaixonado por você.
— Você está? — pergunto rindo.
— Sim, novamente, parceira do crime desorganizado. Nem mesmo nossa
fuga dá certo. Nós teríamos ficado naquela ilha de boa, comeríamos e então
foderíamos em seguida. Mas, ao invés disso, estamos numa pousada de luxo,
eu com uma sunga marcando o pau, você com um micro biquíni indecente,
balançando numa rede e, para completar, sinto que minha filha está fodendo
no quarto ao lado e quero morrer só de cogitar isso.
— Se ela puxou a mãe, certamente ela foderá — divago fazendo carinho em
seus braços. Eu amo esses pelinhos dourados...
— Mas a mãe dela, ao invés de estar fodendo para me distrair desses
pensamentos tortuosos, está calminha, quase dormindo.
— Não estou quase dormindo, estou aproveitando o colo do meu marido.
Esse lugar traz uma paz surreal. Sempre direi isso, todas as vezes que
viermos. Só há os barulhos das ondas, dos pássaros, do seu coração batendo
perto do meu ouvido. Eu sou tão feliz, tão feliz. Há um marido perfeito que
eu amo, há cinco filhos lindos, inteligentes e saudáveis, há uma família
gigante e louca. O que fiz para merecer tudo isso?
— Eu me pergunto todos os dias a mesma coisa — ele diz sorrindo. — Só
nos resta gozar da felicidade, em vários sentidos da palavra.
— Tão romântico e fofo...
— Eu sou muito fofo. — Eu rio todas as vezes que ele diz isso. — Deixa eu
enfiar meu fofurômetro em você lentamente?
— Você está me convidando para fazer um amor lento, calmo, pacífico e
preguiçoso?
— Sim.
— Eu acho que pode ser algo maravilhoso para fazer nesse final de tarde.
Não consigo pensar em nada melhor. — Sorrio.
— Melhor que isso, só você algemada nas grades da nossa cama, recebendo
umas chicotadas nessa bunda e gritando meu nome. Vamos lá, sadgirl —
provoca, afastando-se, levanta-se e me pega em seus braços. Eu vou rindo,
até ele me colocar sobre a cama e tirar meu biquíni, se livrar de sua sunga e
se acomodar entre minhas pernas.
Então, sua boca toma a minha e o momento amor vai pelo ralo. Eu e Matheus
nos amamos, mas nós dois definitivamente não sabemos fazer amor. Foi
assim na primeira vez e ainda será assim última, basta nossos lábios
colidirem para o avassalador tornar nossa definição.
Seremos avós.
Talvez seremos pais novamente, porque eu também sinto que será uma
menina.
Ou não.
CAPÍTULO 26

Meu Deus, Melissa definitivamente vai me enlouquecer até o final da


gravidez. Eu tenho dado o meu melhor para tentar acompanhar as mudanças
hormonais, mas não estou conseguindo mais. Antes que pense o contrário,
sexualmente estamos muito bem. Mas, por outro lado... Eu realmente estou
surtando.
Devem ser 02h e a mulher está inquieta, remexendo na cama. Acho que é
falta de sexo, só transamos quando chegamos. De qualquer forma, não irei
questionar se é esse o problema.
A inquietação é tanta que estou começando a ficar com receio de que ela
esteja passando mal.
— Mel...
— Oi, você não está dormindo! — exclama com uma certa empolgação.
— Você está passando mal? Há algo errado?
— Eu quero algo, mas não sei o quê. Você sabe se tem sorvete? Eu estou
queimando internamente, real e oficial. Quero muito sorvete, por favor —
pede em desespero. Não há como não sorrir. Esses desejos...
— Irei buscar — aviso, levantando-me, visto uma bermuda e ela veste um
roupão para ir até a cozinha comigo.
Descemos com todo cuidado para não acordarmos os demais e então, no
último degrau, pego Victor com a garota que ele trouxe em flagrante. Eles
não estão transando, ao menos não de roupa. Porque aquilo que eles estão
fazendo é quase um sexo a seco.
— Merda! E agora? — Mel questiona baixinho. — Ele tem pegada, hein,
estou vermelha-escarlate! Ele deve ser o sonho de princesa dessa garota.
— Existem muitos quartos, lancha, lugares mais apropriados para o sexo.
Não vou deixar você com desejo, porque ele quer dar uns pegas na garota. —
Mel me lança um olho assassino que não compreendo. Eu não posso fazer
nada. Neste momento existem dois tipos de problemas no mundo, os meus e
os do Victor. Os meus são muito mais importantes. Minha mulher grávida
quer sorvete e nós estamos indo pegar!
— Credo, achei que você era mais compreensivo.
— Então você não quer sorvete? — questiono arqueando a sobrancelha e ela
sorri.
— Você é muito lindo, sabia? Esse piercing no nariz é um charme, essa barba
por fazer...
— Mel, sorvete?
— Eu amo suas tatuagens, real e oficial. Você é bem sexy, meu sonho de
princesa que você seja pai dos meus filhos para sempre.
— Eu sou pai do seu filho e isso é para sempre — argumento e ela faz uma
cara de brava.
— Você está mal-humorado?
— Não, nenhum pouco. Mas não é legal ficar parado na escada conversando,
enquanto meu sobrinho está fazendo sexo a seco na varanda.
— Ok, vamos pegar o sorvete — ela diz e caminhamos cuidadosamente até a
geladeira. Há muitos sorvetes para a minha alegria.
— Qual sabor quer, meu amor? Há de sonho de valsa, brigadeiro,
napolitano...
— Todos! — diz empolgada. — Ai que vontade insana! Por favor, vou
encontrar um pote gigante e pegamos de todos os sabores, felizes para
sempre!
Mel grávida é bem assustadora, mas, ainda assim, é perfeita. Perfeita em sua
loucura e insanidade.
Ela volta com um pote de vidro redondo bastante generoso e eu rio.
— Por que está rindo? Eu vou virar um hipopótamo, eu sei, mas tenho
vontade de matar por esse sorvete, então não ria.
— Tudo bem, meu amor. — Sorrio e vou pegar uma colher para pegar o
sorvete. Passo uns quatro minutos enchendo o pote, guardo os sorvetes e acho
coberturas. — Tem cobertura, quer? Tem de morango, leite condensado e
chocolate.
— Todas! — ela quase grita e então Victor nos nota.
— Merda! — ele exclama lá de fora e eu consigo escutar, então é o momento
de bancar o tio.
Caminho até eles e fico os encarando. A menina está tímida coitada... eu já
tive essa idade, sei bem como era... essa Ilha foi cenário de muitas fodas
sorrateiras.
— Querem transar? Há muitos lugares, camarada. Aqui na varanda vocês
podem ser pegos e não é agradável ser pego, acredite. Há uma lancha, por
que não vão passar a noite lá? Há ao menos 4 banheiros também, é legal
transar no banheiro. Não sabe transar escondido? Debaixo do edredom nessa
escuridão ninguém nota. Há o jet-ski aqui embaixo do deck, se organizar
direitinho dá para fazer umas manobras sexuais em cima dele.
— É mesmo! — Mel surge dizendo. — Você vai falar assim com nossos
filhos, Arthur Albuquerque Filho? Principalmente se for uma menina... me
interessa saber se você será esse tipo de pai liberal.
— Não! Está maluca? Minha filha será um anjinho, só vai beijar na boca aos
dezoito e fazer sexo depois de casada. — Meu Deus, permita que eu tenha
filhos homens, porque se tiver uma garota eu estou fodido de todas as
maneiras possíveis. Rezo internamente. Não sei ser pai de menina não. Eu
nem sei ser pai, vou descobrir ainda...
— Vai pensando assim. É bom começarmos uma vigília de oração desde já!
Se tivermos uma garota, ela será um misto de Albuquerque com Fontana,
logo boa coisa ela não será. Ainda tem o agravante do fogo no cu.
— Concordo com a Mel, tio — diz Victor rindo e eu volto a raciocinar.
— Ok, você está de pau duro no mínimo e eu não vou conversar com você
dessa maneira — informo. — Vá cuidar disso.
— Eu quero ir embora, são todos loucos — reclama a garota, escondendo a
cabeça no pescoço dele.
— Não fica assim, meu amor — diz Mel utilizando seu magnífico português,
puxando-a dos braços de Victor. — Jovens fazem sexo também, é natural.
Sua mãe não te explicou sobre isso? Tia Mel pode te explicar de boas... não
tenho preconceito. Sexo é vida, como minha sogra mesma diz. Adolescentes
têm a carne fraca, estão no auge dos hormônios, obviamente que uns pegas
mais quentes nos levam diretamente até as fodas insanas, essas são as
melhores. Escondido é mais excitante, dá uma adrenalina...
— O que está acontecendo aqui? — Meu pai surge analisando a cena.
— Eles só queriam transar, eu juro — explica Mel ao meu pai e quase dou
um tapa em sua cabeça. É sacanagem denunciar ações sexuais consensuais
adolescentes, ela deveria saber dessa regra, no entanto, o mais assustador é
perceber que ela está querendo defender fodas alheias e isso não pode ser
normal.
— Mel destransando os transantes! — exclamo. — Você deveria controlar
essa língua, grutinha, é maldade denunciar os jovenzinhos. Eu estava
cuidando de dar umas dicas.
— Victor, você estava transando na varanda? — meu pai pergunta com
seriedade e ...
— Quem estava transando? — Minha mãe surge. — Victor — ela diz rindo.
— Dando uma pentada violenta. É o seguinte, sexo é vida, pessoal! Desde
que usem preservativos, vida que segue. Sexo é saúde, acalma, deixa a pele
linda e desestressa total. Victor não quer ser pai agora, logo basta usar
preservativos e seguir em frente. — Ela caminha até ele e mexe em seus
bolsos.
— Porra, vó...
— Porra não! Vou te deixar de castigo igual ao seu pai, aquele filho de
Mariana! — esbraveja minha mãe e sorri pegando uma cartela com quatro
preservativos no bolso dele. — Meu orgulho esse menino transante! —
anuncia sorridente.
— Porra, Mariana, já não basta o estrago que fez em nossos filhos, agora
passa a loucura para os netos. O que eu fiz da minha vida para merecer essa
provação diária? — reclama meu pai levantando as mãos para o céu. —
Satanás! Seu nome é Mariana Barcelos!
— Arthur Albuquerque! — ela diz revirando os olhos. — Que diabo todos
vocês estão acordados?
— Melzinha está com desejo de sorvete — explico e minha mãe sorri.
— Aí, mais um netinho ou netinha! — Eu até puxo minha maluquinha para
os meus braços. Um bebê nosso é perfeito.
— Ok, o sorvete deve estar derretendo, Mel, vamos lá. — É então que Joseph
e Maria Flor surgem, meio desesperados. Ele está falando no telefone e Flor
está branca como a neve. — O que há?
— Algo terrível — ela diz e sai correndo rumo ao banheiro. Melissa e minha
avó vão atrás, Victor aproveita a deixa para escapar com a garota. Ficamos
apenas eu, meu pai e Joseph.
A lancha se aproxima e Isis e Bruce surgem no deck, acompanhados de
Matheus e Victória. Joseph encerra a ligação e, observando o semblante de
todos, eu noto que algo grave aconteceu.
Bruce se aproxima de Joseph e dá um abraço, então Joseph solta um suspiro.
— Mathew não irá.
— O que houve? — meu pai questiona.
— Diana acaba de falecer, overdose.
— Diana? — questiono.
— Mãe do Mathew — explica Joseph e abro minha boca em choque. —
Mathew é jovem demais, não irei levá-lo para um lugar que não é nada
agradável para uma criança. Ele nem mesmo se lembra dela. Não estou sendo
ruim, estou sendo sensato, não vou deixar meu filho ir em um velório. Se ele
fosse um pouco mais velho e tivesse compreensão, eu o levaria. Ela morreu
de overdose... — ele diz dando um sorriso sarcástico que demonstra puro
ódio. — Diana nem sequer se lembrava que tinha filho. Eu estou indo lá por
ele, vou dar um sepultamento digno, mesmo que ela não mereça, pelo meu
filho. Ele é a única coisa boa que ela fez nessa vida.
— Eu estou de acordo com isso, não que eu tenha algo a ver, mas, se permite
dizer... — Minha mãe surge dizendo. — Ele não se lembrará disso, não tem
idade o suficiente para ter memórias e velório não é o melhor lugar para
levarmos crianças realmente. Deixe-o aqui com a gente, cuidaremos do seu
filho. Resolva tudo, dê a mãe do seu filho um velório digno. Quando ele
crescer, ele saberá.
— Obrigado, Mari, eu fico perdido neste tipo de situação, mas só de ver que
compartilham da mesma opinião que a minha e apoiam a minha decisão de
deixá-lo, já ajuda o bastante. Flor?
— Passando mal no banheiro. Mel está com ela — explica dona Mariana.
— Eu irei com você — anuncia Bruce. — É bom assinar um documento à
mão, autorizando Maria Flor a ficar com Mathew nesse período da viagem.
Caso aconteça qualquer coisa... Na verdade, vou pensar em algo nos
próximos minutos, ainda estou aéreo.
— Eu até negaria, mas creio que precisarei de você para questões
burocráticas. Me desculpe por estragar o seu Natal — diz Joseph e Bruce dá
outro abraço nele.
— Há computador e impressora no escritório. Fiquem à vontade para usar se
necessário for. Vamos manter Mathew mais aqui em casa mesmo, seguro.
Não se preocupe — diz meu pai.
— Cuidem da minha garota, irei arrumar algumas roupas — anuncia Bruce
beijando Isis na testa e se vai.
— Vou ver Flor, já solicitei um helicóptero para nos levar até o jatinho.
Tentarei voltar para o Ano-Novo.
— Falou, cara, se precisar de qualquer coisa... — Digo.
Overdose! Puta merda!
Caminho rumo ao banheiro e encontro Flor bochechando um enxaguante
bucal. Ela está pálida e assustada.
— Ei, Mel, posso ter uma palavrinha com Flor? — peço e Mel se vai. Encaro
minha esposa através do espelho e ela começa a chorar, assim que cospe e
limpa sua boca.
— Mathew... — ela diz em meio às lágrimas e eu me sento no vaso sanitário,
trazendo-a junto em meus braços. — Não parece coincidência que ele tenha
me chamado de mãe hoje? Ontem no caso, mas como ainda é madrugada e eu
realmente não acordei, posso dizer que foi hoje.
— Você não pode ficar nervosa, há um bebê em seu ventre. Tudo que você
sente é transmitido para ele. Apenas fique bem, relaxe e eu irei resolver tudo.
Tentarei estar de volta ao menos na passagem de ano. Mathew ficará com
você, tudo bem?
— Sim. Eu pensei que você o levaria...
— Não posso fazer o menino enfrentar uma viagem longa, nós nem
chegamos direito e ele não vai se lembrar, de qualquer forma.
— Fico mais tranquila que ele fique — ela diz suspirando. — Eu prometo
cuidar dele.
— Sei que cuidará, meu amor.
— Ele ocupará seu lugar na cama. — Ela dá um sorriso fraco. — Prometo ser
uma boa mãe.
— Você já é.
— Seria nosso primeiro Natal juntos — diz com pesar. Eu também estou
sentindo.
— Nós teremos a vida toda.
— Volte logo, ok? — pede soando tão diferente da minha Flor espinhenta.
Esse jeito meigo é engraçado.
— Voltarei, descanse bastante para quando eu voltar. Vou estar alucinado de
saudades. — Ela sorri e me beija delicadamente.
— Meu papai Tudão.
— Minha garotinha que fede a leite materno — digo sorrindo. — Preciso ir,
meu amor, tenho que arrumar alguma roupa ainda.
— Ok. te esperarei.
— Há os presentes de Mathew, você pode bancar a Mamãe Noel por mim?
Eu gostaria que você sugerisse para ele colocar seus sapatinhos espalhados
pelo quarto, pela varandinha, para fingir que o Papai Noel vai vir. Gostaria
que ele acordasse no dia 25 com os presentes neles. Pode fazer isso?
— Oh, meu Deus! — ela exclama e começa a chorar. — Você é tão
perfeitamente perfeito. O melhor pai do universo.
— Flor, você está extremamente chorona. — Rio.
— Foda-se! — exclama mudando do choro para o modo abrutalhado. — Ok
— diz, limpando as lágrimas. — Eu farei tudo. Filmarei para você ver.
— Eu te amo muito.
— Eu amo você e Mathew, farei o Natal dele ser feliz e animado.
— O seu presente entregarei pessoalmente — digo em seu ouvido e fico de
pé a trazendo junto. — Cuide-se, coma de três em três horas, passe protetor
solar, não se exponha muito no sol, beba bastante água, coma frutas, não
esqueça de tomar as vitaminas e não entre em pânico com nada. Mantenha-se
perto dos seus familiares caso...você sabe, meu amor. Nada de ruim irá
acontecer a você, ok?
— Ok, papai! Posso me masturbar?
— Se for ao vivo numa videochamada comigo, sim. — Sorrio dando um tapa
em sua bunda.

Não é um bom momento para rir, mas pego Mel em flagrante sentada no
balcão da cozinha devorando a enorme tigela de sorvete. Ela colocou três
coberturas e ainda picou alguns chocolates.
Aproximo-me ficando entre suas pernas e ela me dá algumas colheradas de
aviãozinho. A mistureba realmente ficou muito boa.
Na varanda, está uma movimentação com a partida de Bruce e Joseph. Há
uma Flor chorando agarrada a uma Isis também. Melzinha, que estava com
uma colher na boca, ao ouvir os prantos, começa a chorar também. Benditos
hormônios do caralho.
Ela coloca a tigela no balcão e me abraça escondendo seu rosto em meu
pescoço.
— Mel, o que há?
— É muito horrível ver pessoas chorando. Deixa-me passar sorvete no seu
pau e chupar? — Olha o mundo girando em questão de segundos. Melissa é
um exemplo de coerência.
— Cobertura eu até deixo, o sorvete já fica um pouco difícil. — Sorrio.
— Ok. Podemos ir para o quarto?
— Sim, meu amor — concordo, pegando-a em meus braços e a colocando no
chão. Ela pega a tigela, o tubo de cobertura de morango, sorri como uma
garotinha travessa e sai andando.
Eu guardo a bagunça que minha garota fez e ...
— Está indo transar em meio ao caos que estamos vivendo? — pergunta
minha mãe com uma cara de horror levando a mão no coração.
— Mãe... — Eu vou argumentar e ela começa a rir, vindo me dar um abraço.
— Te amo muito meu mascote, filhotinho de Arthur Albuquerque.
— Também te amo muito, mãe. Você vai ficar comigo, não vai? — Eu
pareço uma criança, sei disso. As lágrimas dos meus olhos e eu sinto que
estou afetado pelos hormônios da gravidez.
— Sim. Ou você acha que perderei a chance de ver meu netinho ou netinha e
meus bisnetos nascerem? De jeito algum! — Califórnia é meu novo lar! —
exclama chorosa e limpa meu rosto. — Vá ficar com sua grutinha.
— Se precisarem de qualquer coisa basta chamar.
— Não, agora vou aterrorizar Matheus, nunca mais eu vou dormir! Ele vai
aprender a fugir do castigo! — diz rindo e se vai. — Matheus Albuquerque
Barcelos! — Ouço-a gritar e subo escapando de mais uma treta familiar.

Basta chegarmos ao quarto para Mel começar a chorar, agarrada ao pote de


mistura de sorvetes. Ela o abraça tão forte, que penso que em algum
momento o vidro se quebrará.
— Mel, o que foi? Por que, qual o motivo, a causa, a circunstância, de estar
chorando? — questiono tentando pegar o pote de sua mão, mas ela não o
solta de maneira alguma. Simplesmente caminha para a cama, se senta e
começa a comer chorando. É bastante complicado lidar com essas oscilações
de humor. Fico perdido, mas meu pai disse que a melhor forma de lidar com
isso é já sabendo que faz parte de uma loucura.
Vou para a cama e me acomodo ao lado dela, então respiro fundo.
— Não vou ganhar um pouco? — pergunto. Ela me encara, enche uma colher
de sorvete e coloca em minha boca. — Por que está chorando, Mel?
— Estou pensando na vida.
— Conte-me o que está pensando e que está causando esse choro constante
— peço, ela suspira enfiando mais uma colher cheia de sorvete na boca dela e
na minha.
— É o primeiro Natal da minha vida em família real e oficial.
— Da sua vida em família real e oficial? — Sorrio.
— Não sorria. É verdade. Tive alguns Natais quando criança, mas eram ruins.
Então, fui crescendo e foi se tornando ainda pior, de maneira que eu ficava no
quarto e só saía para comer. Quando me tornei independente, deixei de passar
o Natal com meus pais. Sempre passava sozinha, viajando para algum lugar.
Meus pais eram ruins, Arthur — diz com pesar. — Muito ruins. Agora meu
pai se foi, eu fiquei milionária, mas sou pobre de sentimentos, compreende?
Não tenho lembranças boas para contar para os nossos filhos e netos.
— Você pode começar a construir lembranças a partir de agora para ter o que
contar no futuro, meu amor. Sinto muito por você, Melzinha, de coração. Me
dói ouvi-la falando essas coisas, tendo essas lembranças do passado —
confesso roubando um pouco de sorvete. Até que a mistureba está boa.
— Nós vamos ter um bebê — diz ficando séria e então volta aos prantos. —
Meu bebê. Não me acostumei. — Começo a rir quando ela entope a boca de
sorvete. Fodeu. — Ano que vem ele terá um Natal.
— Sim, ano que vem nosso bebê estará em nosso Natal.
— Será que vai ser lindo como você? Você é tão lindo. — Por Deus...
— Mel, pare de chorar.
— Você é bem lindo, exageradamente lindo.
— Você é linda também, apenas pare. Nosso bebê será lindo, saudável e
feliz. — Ela vai se acalmando aos poucos e ficamos em silêncio. Acho
absurdo que ela vá comer esse pote inteiro de sorvete. Já sei que em alguns
minutos ela vomitará tudo, porém, não ouso interromper ou a morte é certa.
— Estou cheia, realmente cheia — comenta, entregando-me o pote e eu como
o restante sob seu olhar no mínimo curioso. Ela dá um sorriso maquiavélico e
eu sei que o fim do mundo está próximo.
— Mel, por que está me olhando dessa maneira? — Ela salta da cama e pega
o tubo de cobertura de morango. Despeja um pouco em seu dedo indicador e
o chupa. O gigante adormecido até dá sinal de vida, enquanto a observo
chupar seu dedo eroticamente. É muito sexo nessa vida, puta que pariu. Não
sei se esse lance é saudável não.
Minha garota fica nua e eu arqueia as sobrancelhas. Já sei o que ela está
querendo fazer, isso significa muita sujeira.
Coloco a tigela na mesinha ao lado da cama e sou atacado por Mel, assim que
fico de pé. Até sorrio quando ela abre minha bermuda e desliza a peça pelas
minhas pernas. O que estava num estado meio adormecido, meio acordado
começa a despertar quando ela o aperta. Então a doida vai me empurrando
para trás, até sentir a cama atrás de minhas pernas. Deito e ela sorri feliz com
a minha "obediência". Ela abre o pote de cobertura e eu viro sua sobremesa,
quando ela o despeja pelo meu peitoral. Puxo-a para um beijo e ele dura
menos do que queria, porque Mel desliza a língua pelo meu peitoral e me
lambe como se fosse um picolé. Eu odeio brincadeiras muito doces e
melosas, mas a deixo fazer o que quiser, desejo de grávida não deve ser
negado.
Do nada ela salta da cama e corre para o banheiro, eu começo a rir. Já a
conheço tão bem que era esperado. Ela comeu mais de um litro de sorvete,
cheio de chocolates e gororoba. Já me antecipo. Visto o roupão dela e desço
na cozinha para pegar água bem gelada. A família ainda está na varanda e me
encaram.
— Rápido assim? Achei que durava mais. — Matheus diz rindo.
— Você está de castigo, não quero ouvir um pio! — Minha mãe o repreende.
— Mas eu tenho que concordar, já?
— Vocês são retardados? Mel está passando mal após comer mais de 1 litro
de sorvete. — Explico. — Durmam em paz, cambada. A propósito Matheus,
seu filho está transando a seco na varanda, poderia guiar o menino nos
esquemas, seria um favor para a humanidade.
— Victor? — Vic questiona.
— Sim, o próprio. Não há educação sexual na sua casa? — questiono.
— Há, graças a Deus.
— Se houvesse, vocês teriam o ensinado a transar escondido — argumento.
— Durmam com essa. — Rio.
— Quero ver se você vai ensinar seus filhos a transarem escondido — xinga
Victória. — No meu mundo educação sexual é ensiná-los a protegerem de
doenças e gravidez indesejada.
— Ensiná-los onde devem transar também faz parte da educação — informo
rindo. — Durma com essa, querida cunhada.
— Esses demônios de filhos puxaram o pai. Convivo diariamente com três
satanás, Matheus, Victor e Lucca. Eu sinto que vou morrer em breve de
enfarto. — Matheus passou seu jeito de ser para a esposa, há dois Matheus
agora.
— Ah, falou a santa, a puritana, a fodidasadgirldomeucaralho. Você nem
gosta de sexo, não é mesmo? Nem tem fogo na rabeta.
— Eu ouvi sua voz, Matheus? — questiona minha e ele faz uma cara feia.
— Fala sério, mãe, não tenho idade para isso mais não. Vou embora dormir,
porque não sou bem-vindo nessa família. Acabou meu Natal também, enfiem
o peru na boca e comam até explodir — anuncia o rei da dramaturgia ficando
de pé. — Vic, se você quiser pôr meu peru na sua boca, venha comigo. Se
não, nós estamos terminados por hoje. Durma com essa. — Ele ri. Esse
durma com essa pegou, já estou até vendo as discussões familiares daqui para
a frente.
Vic fica o encarando de uma maneira tão insana, que eu acabo o
acompanhando e subimos juntos.
Quando chego ao quarto, vejo Mel deitada na banheira, praticamente
dormindo.
— Melzinha, vem, vou colocá-la na cama — digo passando as mãos em seus
cabelos e ela acaba vindo. Enxugo-a, coloco delicadamente sobre a cama, ela
se vira para o lado e desmaia. Nem mesmo bebe a água que trouxe.
Eu tomo um banho para tirar o melado do peitoral e me junto a ela. Sério, os
sonos de Mel têm sido tão pesados, que há momentos em que penso que ela
está morta e tenho que verificar sua respiração.

Acordo com alguém entre minhas pernas. Levanto a coberta e pego Mel
pronta para dar o bote munida da maldita cobertura de morango.
— Mel...
— Bom dia, Tutuzinho. Acordei com fome de chupá-lo. Eu preciso fazer
isso, é desejo — explica e despeja o líquido melado diretamente no meu pau.
Ela começa a chupá-lo de uma maneira nada delicada. Eu vou ficando duro
aos poucos e ela se empolga no ato. Retiro os cabelos do seu rosto e os enrolo
em uma das minhas mãos. Ela se afasta mais e despeja mais cobertura, então
volta a tortura. Acordar assim é algo realmente bom.
Mas o que acontece quando ela está no auge do ato, não é agradável. A porta
se abre e minha mãe surge. Vejo-a arregalar os olhos e eu cubro a nós dois
rapidamente.
— Mãe? Que diabos... você não sabe bater à porta? — questiono e Mel
continua freneticamente. Puta que pariu.
— Meu Deus, queria não ter visto isso! Estou impactada real e oficial, como
diz Melissa — ela diz...
— Mel, pare porra... — esbravejo, mas a mulher parece em outro universo.
— O que está acontecendo aqui? Uow! Sinistrão! — Meu irmão surge e com
ele Vic, Heitor e Milena. Pronto, a merda está realmente feita.
— Gente, que absurdo! — diz Vic rindo.
— Absurdo? Eu estou na porra do meu quarto e vocês entram — esbravejo
puxando os cabelos de Mel. Levanto um pouco a coberta e tento acordá-la do
sonho. — Mel, há espectadores — aviso e ela para.
— Como assim?
— Não é possível que você não tenha escutado! — digo, incrédulo, e ela
afasta a coberta para ver.
— Puta merda — exclama e volta para baixo das cobertas. Sério, ela
extrapola os níveis de loucura.
— Feliz o homem que é acordado dessa maneira diariamente — diz Heitor
rindo.
— Não está satisfeito? — Milena questiona.
— Muito, meu amor, prefiro ser eu acordando entre suas pernas.
— Gente, eu nunca tinha visto o pau do meu segundo garoto em posição de
sentido, estou muito impactada. Ele é muito Arthur, parabéns genes
dominantes! — diz minha mãe e Mel dá uma lambida.
— Mel...
— Desculpa.
— Tempo bom que não volta mais — diz meu irmão sério. — Vamos lá, Vic,
eu sempre posso dar um cochilo de cinco minutos e ser acordado em grande
estilo. Acho justo, digno.
— Não seja ridículo, Matheus Albuquerque.
— Já dizia o velho pensador, um boquete e um copo de água não se negam a
ninguém! — Meu irmão dá um de filósofo e Heitor começa a rir.
— É isso mesmo.
— Ok, porra, vocês vão permanecer aqui discutindo? Apenas saiam. Por que
diabos vocês estão aqui? Isso é invasão de privacidade, vou processá-los —
ameaço e Liz surge com Bernardo. Fodeu, só melhorar.
— O que está havendo?
— Um boquete matinal — explica Matheus.
— Ah, sim, muito bom. Parabéns. Isso ajuda a fortalecer o matrimônio. É
importante ter esses momentos matinais, faz o dia começar inspirador — diz
Bernardo e Liz sorri.
— Verdade esse bilhete. — Ela sorri e o beija, então a cobertura de morango
cai das mãos de Mel diretamente no chão e o caos está formado.
— Saiam daqui! Estou falando sério, eu estou nu e Melissa também. Se eu
me levantar não será legal.
— Só viemos chamá-los para passearmos de barco.
— Eu quero! — anuncia Mel tirando a coberta novamente. Seus seios estão
cobrindo meu pau agora e eu estou puto. — Vamos, Tutuzinho?
— Não.
— Por favor, vamos? Eu quero conhecer as ilhotas que você disse. Você ia
com a finada puta, não pode ir com a sua real e oficial? É injusto —
argumenta fazendo bico.
— Saiam daqui para que eu possa decidir com a minha mulher? Por gentileza
— peço.
— Ok, vocês têm meia hora, nada além disso — anuncia minha mãe e todos
se vão rindo. — Matheus, eu quero você calado, mas foi engraçado o lance
do boquete. — Ouço-a dizer rindo. Onde e quando eu vim parar nessa
família? Ah, sim, a mais louca é a minha mãe.
Olho para Melissa e ela sabe que estou realmente bravo.
— Me desculpa, Tutuzinho — pede e sorri antes de voltar ao seu trabalho
sujo. Não permito que ela pegue novamente a cobertura, apenas a deixo
chupar um pouco mais e é a minha vez. Não retribuo seu carinho matinal, eu
parto logo para o ataque e transamos numa rapidinha bem gostosa.
Uma rapidinha que parece não ter sido tão rápida, porque quando tomamos
banhos, nos vestimos e descendo não há mais ninguém em casa.
— Eles já foram, Melzinha, prometo pegar a lancha à tarde e te levar para um
passeio, só nós dois — digo fazendo um cafuné em seus cabelos.
— Ok, estou faminta, é bom que a casa é toda nossa, eu preciso tomar sol nos
mamilos — anuncia tirando a saída de praia e a parte de cima do biquíni. De
onde ela tirou essa merda?
— Mel, que porra é essa? Vista o biquíni.
— Amor, é importante, mesmo que você não acredite. Os médicos indicam,
ajuda algo na amamentação. Preciso começar desde já — explica. — É
verdade, Arthur, se está duvidando pesquise no Google — avisa indo pegar
os lanches que estão sobre a mesa da cozinha. Acompanho-a um pouco
incomodado com essa merda. Nós comemos e então fico na piscina, enquanto
ela toma o tal sol nos seios, sentada no deck com as pernas para fora. A parte
de cima do biquíni dela está em minhas mãos, foda-se, sou insano com
exposição. Ela é muito linda, esse corpo é fodidamente perfeito. As
tatuagens, sua pele delicada, seus cabelos longos...
Ela posou nua caralho! Que ódio dessa merda... muitos já viram o que
pertence a mim. Devem ver até hoje.
Ela é perfeita.
Nunca imaginei que seria casado com uma celebridade italiana doidinha da
silva.
Pego-a pela cintura e a faço ficar comigo na piscina.
— Eu acho que já tomou sol o bastante nos mamilos. — Sorrio e ela sorri de
volta.
— Eu preciso que os chupe, é supersaudável para a amamentação. Pode
pesquisar. — Isso não deve ser verdade, mas eu sorrio e faço o sacrifício. Só
dura até eu ouvir vozes. Então a cubro mais que depressa, colocando-a atrás
de mim.
Maldição, hoje meu dia está começando bem fodido.
— Olá! Somos da equipe do buffet que dona Mariana contratou — diz uma
senhora de uns cinquenta anos, então vejo mais três senhoras e dois homens
ao lado dela.
— Ok, bem-vindos. Fiquem à vontade, meu nome é Arthur, sou filho de
Mariana. Me chamem para o que precisar. — Sorrio. — A cozinha fica logo à
frente, basta seguir pelo deck e vocês encontrarão. — Ela sorri e todos
caminham rumo à cozinha. Minha mãe não me avisou desse caralho.
Mel morde minhas costas rindo, mas não acho graça alguma.
— Vista o biquíni sem que possam vê-la, por gentileza, Melissa — digo,
prendendo-a na borda da piscina e a tampando ao máximo.
— Estou com desejo.
— Desejo de que, Melissa? — questiono, nervoso. — Vista logo.
— Que chupe meus mamilos.
— Ok, apenas vista o biquíni e eu farei isso, no nosso quarto, com tudo
trancado.
— Você é o melhor sonho de princesa da minha vida. — Ela sorri e se vira de
costas para amarrar a maldição. Filha da mãe.
Partiu chupar mamilos.
CAPÍTULO 27

Sabe quando você olha uma pessoa e pensa, puta que pariu, como eu
consegui uma proeza dessas. Esse sou eu acordando e observando minha
delegada sentada num sofá, sexy pra caralho.
Aí eu te pergunto, como eu consegui esse mulherão? Pensei que o
deslumbramento iria passar com o tempo, mas não. Ainda está aqui, em plena
ascensão. Também, não estamos há tanto tempo juntos, apenas poucos meses,
mas é sempre como se eu estivesse a observando pela primeira vez. Ela é
uma mulher maravilhosa, maravilhosa demais. Gosto de tudo sobre ela, cada
pequeno detalhe. Até mesmo do seu jeito arisco de ser. O que me pergunto,
também, diariamente é, como um homem pode ser idiota o bastante para
perdê-la? Como um homem pode agredir uma preciosidade como Milena? É
irracional. A mulher é perfeita nos mais diversos sentidos, inclusive em seu
jeito arisco e dominador. E, independentemente disso, mesmo que ela não
fosse perfeita. Mulheres, por mais que já não sejam conhecidas como o sexo
frágil, possuem sim um pouco de fragilidade feminina. Nenhuma mulher
merece ser subjugada e abusada dessa maneira. Isso foge da compreensão.
Dispenso pensamentos indesejáveis e volto a olhar para a mulher mais linda.
Ela captura meu olhar.
Eu só consigo focar em seus seios quase à mostra agora. Eu sinto que essa
mulher pode ser a minha morte.
— Bom dia, Heitor Albuquerque... — diz abrindo um sorriso.
— Bom dia, delegata, Milena que fala, né? — brinco. — Por que não está na
cama? — Pergunto. Ela fica de pé e caminha até mim. Puxo-a, fazendo com
caia sobre meu corpo. Ela ri. O som da sua gargalhada é como música para
meus ouvidos.
— Gosto de te ver dormindo, é bonito, pacífico, sem toda tensão que emana
involuntariamente — explica.
— Hum, então a senhorita fica me observando enquanto durmo?
— Sempre... — assume. — Trouxe café da manhã para você.
— Hummm, estou sendo mimado nessa manhã. — Sorrio.
— Todos foram passear de lancha, achei que estávamos só, então vi Arthur e
Mel num quase sexo na piscina, ela estava nua da cintura para cima. Estou
traumatizada. — Dou uma gargalhada. — Então chegaram os cozinheiros que
vão preparar a ceia e eles pararam de se pegar... devem estar frustrados.
— Eu estaria frustrado se alguém nos interrompesse em um momento íntimo.
— Sorrio. — Se um dia tivermos filhos, isso vai acontecer.
— Filhos... — ela diz fazendo uma careta. Milena ainda não está para a
maternidade. Ela tem outros planos agora, que envolvem sua carreira. Eu
respeito isso. Também preciso focar em minha carreira assim que voltar para
a Califórnia, mas agora farei apenas uma pequena mudança em minhas
escolhas.
— Já tomou café da manhã? — pergunto.
— Não. Trouxe o seu e o meu, para tomarmos juntos. — Sorri. — Estou
apaixonada por esse lugar, estar aqui traz uma sensação de paz.
— Há muitas histórias nessa Ilha. Acho que todos os casais aqui presentes já
tiveram momentos importantes aqui. Minha vó a chama de Ilha da Magia ou
Ilha da Felicidade. Ela acredita que em momentos de crise conjugal, aqui é
local ideal para o casal voltar a conexão. — Sorrio. — Ela diz que não há um
único casal que não venha aqui, que seja malsucedido no relacionamento.
Será que é verdade? Estou querendo construir uma história com você aqui,
para testarmos essa teoria.
— Deve ser. Quando brigarmos podemos fazer esse teste.
— Mas reza a lenda que essa magia não é restrita a casais com crises. Vale
para casais que estão bem apaixonados e felizes. — Ela sorri. — O que será
que levaremos dessa Ilha, Milena? Sou muito pacífico para brigarmos.
Prefiro ser leve, livre de dores de cabeça.
— Pior que você é realmente pacífico. Um gentleman, mas eu não! Eu tenho
sangue quente em minhas veias.
— Oh! Eu também tenho, porém, o uso só para momentos oportunos, tipo
quando estamos prestes a transar — provoco.
— Sei bem disso.
— Você é linha dura, delegata — digo a rolando na cama e me levanto. — O
dia está perfeito, vamos tomar o desjejum e aproveitar a praia, apenas eu e
você, topa?
— Só nós dois?
— Sim, só nós dois. — Ela sorri.
— Sem Arthur e Mel?
— Sem eles. Só eu e você. — Ela me puxa pela cueca e caio sobre o seu
corpo. Vai ser difícil resistir a um sexo matinal, mas serei forte.
— Uma ótima ideia. — Deixo um beijo casto em sua testa e fico de pé.
Vou ao banheiro e ouço Milena gargalhando. Sorrio. Ela está rindo, porque
esses banheiros são todos de vidros e ela está me vendo urinar. Minha vó
merece ser estudada, eu sei disso. Quando termino tomo um banho rápido,
escovo os dentes e me junto a ela na varandinha, para tomarmos café da
manhã.
Encontro Arthurzinho e Mel na varandinha ao lado e rio.
— Ao casal sexo na piscina — digo e Mel dá um grito.
— Você viu meus seios? Arthur, ele viu meus seios!
— Não vi. Milena viu, eu estava dormindo. — Rio. — Só as tetas de Milena
me interessam.
— Seus seios são lindos, Melzinha, seu corpo é incrível, parabéns. São mais
empinados que os meus — diz a delegata rindo. Eu quase faço uma
comparação, mas me contenho. Amo os seios da minha delegada. São lindos,
mamilos rosadinhos. Um sexo matinal agora faz sentido...
— Antes ver meus seios, que o pirocomon do meu marido.
— Pirocomon... se Milena chama meu pau de pirocomon, ele nunca mais
sobe — brinco. — Vocês vão ficar em casa? Eu e Milena vamos sair de jet.
— Estou pensando. Melissa de jet-ski não é uma opção. Há o bebê. Vamos
decidir ainda.
— Arthur fala como se eu fosse louca — repreende Mel.
— E você é... — Eu e ele dizemos juntos.
— Real e oficial? Vão se foder!
— Ela ficou nervosinha, gente — brinca Milena. — Ok, vamos comer e
vamos embora, Heitor. Estou ligada no 220 essa manhã. — Indicativo de
sexo selvagem absorvido com sucesso, sinto isso.
Comemos e então, antes de ir, paramos para conversar com Arthur e Mel, que
já estão na sala.
Minutos depois, agarro minha delegada decidido a ir logo.
Nadamos até o jet-ski e a ajudo subir, subindo em seguida.
Pondero um lugar legal para levá-la. Decido ir a uma ilhota que acho linda e
que não é tão distante. Ilha Grande está vazia, acho até estranho, devido a ser
alta temporada.
Milena mal me espera desligar o jet e salta no mar, é uma verdadeira sereia.
Pulo atrás e a puxo pelos pés assim que consigo me aproximar.
— Ei, vem aqui fugitiva — digo, segurando-a em meus braços.
— Aqui é lindo demais! Estou apaixonada, não quero ir embora nunca mais.
— Podemos vir sempre. — Ela sorri e traz suas mãos em meu rosto.
— Obrigada — agradece, emocionada. Não compreendo.
— Pelo quê?
— É. Por sua tendência perseguidora. Você me salvou — explica me
abraçando. — Eu tentava me mostrar uma super-heroína, afastava a todos.
Me fechei no papel de vítima e por fora tentava mostrar que era durona. Eu
não era e não sou. Você foi a única pessoa no mundo que percebeu isso. Você
me salvou do monstro. Mas não apenas isso, você me salvou de mim mesma,
porque eu me boicotava o tempo todo. Então começamos a nos envolver de
verdade... mesmo com uma certa diferença de idade, você é muito mais
homem e muito mais maduro que eu.
— Não sou.
— É, você é o homem mais foda que conheci. Eu ainda não acredito que
temos um relacionamento mais sério, mesmo quando você fala de filhos. —
Sorrio.
— Sério? Você não acredita? Ora, ora, delegata, preciso fazê-la acreditar em
nosso relacionamento sério.
— Você é meu namorado novinho.
— E se eu me tornasse o seu marido novinho? — Ela me encara, sem graça,
boquiaberta. — Você não quer filhos ainda, mas isso não impede de
formalizarmos nossa união. Você impôs sobre filhos, mas não impôs sobre
ser minha esposa. — Ela permanece boquiaberta, como se estivesse em outra
dimensão. É quase engraçado. — Eu iria propor hoje à noite, seu anel está em
minha mala, não há um anel aqui agora. Mas tenho medo de receber um
"não" diante de toda a minha família. — Sorrio. — Não apenas por isso. Essa
conversa acabou "casando" com minha pretensão e acho um bom momento
para propor. Estamos em uma Ilha deserta, de águas límpidas, nadando com
milhares de peixes, o céu está azul e sem nuvens. Nós estamos no paraíso e
tenho algo além do paraíso em meus braços. Você é mais linda que tudo que
acabei de enumerar. Enfim, sou novo com romantismo e devo estar falando
dezenas de absurdos, enchendo sua cabeça. Vamos ao que interessa. Aceita
se casar comigo? Eu prometo que esse será o seu primeiro verdadeiro
casamento. Você terá um marido, um amigo, um amante, um homem que te
respeite, acima de todas as coisas, e que te ama. — Maldição, ela não reage.
Sei que deve ser difícil para ela estar numa situação como essa. Talvez eu
devesse ter esperado... — Você pode dizer não e, ainda assim, continuaremos
juntos, nada mudará, Milena. Não precisamos nos casar, é isso. Sem filhos ou
casamento. Está tranquilo para mim.
— Eu aceito.
— Aceita? — Pergunto incrédulo. Acho que nunca fiquei tão nervoso.
— Sim, mas com uma condição.
— Condição?
— Você terá que fazer o pedido à noite, na ceia, com toda sua família
reunida, com direito a declaração de amor bem marcante e deixará que
alguém filme. — Eu começo a rir. Quer me foder, me beija.
— É sério isso?
— Sim! — Ela dá uma gargalhada e me abraça forte. — Por favor, por favor,
prove que me ame!
— E você? Você não vai provar que me ama, de alguma maneira?
— A noite. Há um presente para você, na árvore de Natal. É a prova do meu
amor — anuncia. — Eu te amo.
— Eu só poderei abrir o presente depois da meia-noite? — questiono ficando
puto.
— Sim.
— Que merda, Milena. Eu deveria ter esperado para propor casamento a
você. Maldição! — Ela ri, radiante pra caralho. Eu quero ir embora e roubar o
presente escondido, apenas para bisbilhotar e colocá-lo no lugar de volta. Ela
nem vai perceber. Mas vê-la sorrir assim, tão livremente e feliz, eu desisto do
meu plano de inventar uma dor de barriga e trancá-la em algum cômodo.
Estou encostada em uma porta, olhando um bando de loucos meio
alcoolizados confraternizando. Minha família! Eu, talvez mais do que todos
aqui presentes, sei a importância de cada um deles, a importância de
instituição família. Eu era apenas uma criança, mas me lembro perfeitamente
de como meus Natais eram solitários, mesmo minha mãe movendo céus e
terras para tornar o meu Natal uma data especial. Sempre sentia, mais do que
poderia dizer. Desde os meus sete, oito anos, felizmente aquele tipo de Natal
solitário ficou apenas na lembrança. Agora essa data tornou-se algo épico e
insano. Regada de gargalhadas, loucuras, bebidas, e o mais importante, o
amor. Amor é o sentimento que mais vejo em minha família, até mesmo em
relação aos agregados. Uma vez que você entra para a família Albuquerque
Brandão, você torna-se tão importante quanto qualquer outro membro. Eles
têm o dom de acolher as pessoas e de compartilhar o amor.
Porém, o Natal esse ano está sendo completamente diferente. Há em mim
uma nostalgia, um vazio, como se algo estivesse faltando. E está. Bruce. Eu
nem mesmo estou conseguindo fingir felicidade, talvez pelo fato dos meus
hormônios estarem um pouco bagunçados. Estou triste, nostálgica e
insatisfeita. Feliz por saber que a partir do próximo ano os Natais ganharão
um novo sentido, triste por estar sem o homem que plantou uma sementinha
milagrosa em meu ventre.
Pensar em Bruce me faz querer chorar e isso é tão louco.
Eu passei uma vida toda evitando criar sentimentos, evitando aproximação
além do sexo casual. Aí eu conheci Lorenzo, o fruto proibido e aquilo se
infiltrou em minha mente – talvez por ser mesmo o fruto proibido. Através
dele, comecei a mudar minhas paranoias de não relacionamentos e achei que
o amava, com todo meu ser. Então, ele cometeu um deslize e fui parar num
clube onde conheci Bruce. Fui até por todos os motivos errados e conheci um
homem com um alto poder de destruição, para o bem. Ele destruiu toda e
qualquer chance de eu me interessar por outro, mas não foi tão fácil. Houve
um pouco de relutância da minha parte, houve dúvidas e incertezas. A única
coisa certa era a forte atração sexual, mas Bruce não estava disposto ao sexo
casual, para minha surpresa.
Bruce estava disposto a desnudar minha alma, antes de desnudar meu corpo.
Sabe o quão desconcertante é conhecer um homem mais velho, maduro,
experiente e que sabe exatamente ler através e além do que você tenta passar?
É imensamente desconcertante. Eu falava algo e Bruce via além das minhas
palavras, a ponto de decifrar se eram verdadeiras ou falsas. Como os mineiros
dizem, eu ia com o fubá e o homem já estava com angu pronto. Mas não foi
só o rosto perto, o sorriso mais incrível do mundo e o corpo escultural
daquele homem que me atraiu. Foi sua inteligência, perspicácia e sua
hombridade. O homem é incrível. Bruce é apenas... homem. Com h e todas as
demais letras maiúsculas, bem gritantes. Ele valoriza uma boa conversa,
valoriza atividades de um casal, antes mesmo de valorizar o sexo. Para mim,
sexo sempre foi a coisa mais importante da vida. Bruce me ensinou que sexo
é sim importante, mas que não é a prática sexual que faz um relacionamento
caminhar. Há muitas coisas, além do sexo, que são importantes para um
relacionamento dar certo. Eu compreendo isso, embora, neste momento,
esteja alucinada de saudade de transar com ele. Ok, eu também estou com
saudades de ter sua companhia, sem sexo. Mas os hormônios da gestação
pedem por outra coisa, não há como mentir ou negar. A felicidade é que
Bruce tem sido compreensivo em relação à fome sexual. Tem sido um
amante generoso o bastante para suprir minhas necessidades sexuais. Bruce...
ele é muito perfeito.
Eu quero chorar novamente. Estou na fossa completa.
Nunca imaginei que um dia ficaria tão na fossa quanto estou agora.
Pego meu celular e vejo uma foto dele, que tirei sem que ele percebesse.
Nela, ele estava distraído, observando a televisão. Nu, com certa parte do
corpo coberta por um lençol. Nós tínhamos acabado de sair do banho após
transarmos. Ele estava relaxado, feliz e absurdamente gostoso.
Lembro-me de que após tirar a fotografia, eu rastejei até a cama e o chupei
com total voracidade. Eu me mantenho insana perto desse homem. O desejo é
tão forte que beira à insanidade.
Eu o amo, de verdade. O amo mesmo. Bruce Fosters é o primeiro homem que
eu amo de verdade e espero que seja o único.
Meu irmão, Victor, surge. Retiro da imagem rapidamente e ele me dá um
abraço. Isso me faz sorrir.
— Você está mesmo grávida, já parece mãe.
— Isso é um elogio? — pergunto sorrindo.
— Sim, você está linda, com cara de mãe. Uma princesa. — Meu coração se
derrete. Ele é tão... meu pai, às vezes.
— Você é um príncipe — digo, beijando sua bochecha. — E aquela garota?
— Ela está em uma casa aqui na Ilha, foi passar essa noite lá, volta amanhã.
— Ela é sua namorada?
— O quê? Não! Sou jovem demais para ter uma namorada fixa. Somos
ficantes. Sabe, sexo casual. — Abro a boca em espanto. Ser a irmã mais
velha não facilita as coisas. Acho que meus irmãos sempre serão crianças aos
meus olhos.
— Tão jovem e já no sexo casual...
— Ela é minha amiga, também não está em busca de um relacionamento, mas
gosta de foder... digo, gosta de sexo — diz ficando corado. — Desculpa por
ter falado assim... foi mal.
— Está tudo bem — minto horrorizada. — Foder é legal.
— Não gosto de saber que você faz esse tipo de coisa, mas gosto que esteja
grávida.
— Use sempre preservativo e não faça as garotas sofrerem dando falsas
esperanças, ok?
— Não posso te prometer que não farei alguma garota sofrer. Muitas vezes o
sofrimento é inevitável — afirma categórico. — Por mais aberto que eu seja
em dizer minhas pretensões, algumas simplesmente se iludem. O sexo, por si
só, já ilude, por ser uma troca tão íntima. Por exemplo, uma garota, ao aceitar
o sexo, está permitindo que eu entre dentro dela, que eu partilhe de uma
intimidade. Algumas, simplesmente acham que essa troca sexual é a
promessa de um futuro, quando não é. E isso acontece mesmo que eu tenha
deixado bem explícito no início que seria só sexo. Logo, posso dizer com
propriedade, que algumas garotas se iludem simplesmente por quererem a
ilusão. Talvez elas precisem de um pouco de ilusão para se sentirem vivas,
sei lá que porra é. Mas, eu, Victor, tenho a minha consciência limpa, pois
deixo claro as minhas reais intenções. No caso, sexo. Eu quero sexo, nada
além disso. Meu pai sempre diz que todos os seres humanos possuem um
alguém que está destinado a eles. Eu possuo alguém que está destinado a
mim, mas não acho que ainda é cedo. Não estou buscando uma alma gêmea.
Há muito pela frente. Quero estudar, me dedicar a construir minha carreira
como advogado e então, talvez, eu pense em consolidar um relacionamento,
isso se encontrar alguém que valha a pena. Se não encontrar, paciência.
Continuarei fazendo mais do mesmo.
— Claro... faz sentido. — Quando ele se tornou homem? Ele parece mais
maduro que realmente é. Eu não tinha essa maturidade nos meus quinze,
dezesseis anos. Estou no chão. Victor tem atitude, mais do que eu nunca terei.
Ele é tão jovem, e já tem todo o futuro programado. Parece tão fácil para ele.
— E Lucca?
— Lucca é virgem — afirma, busco meu outro irmão com os olhos. Ele está
com Mathew em seus braços e isso reafirma o que sempre digo, Lucca é a
versão pré-adolescente de Matheus Albuquerque. Lucca é meu pai, inclusive
fisicamente, exceto pela ausência de covinhas. Os cabelos são iguais, os
traços e o jeito de ser. Se Victor é uma mistura, Lucca não tem nada
misturado. Não é à toa que seus apelidos são sadboy, princeso e pimpolho.
Até a veia dramática e artística do meu pai, meu irmão possui, felizmente, o
humor também. Já Victor, ele é um pouco mais sério, mais compenetrado e
focado. Racional combina muito com ele. — Bom, vou ficar um pouco com a
vovó Mari — ele anuncia e se vai, então minha avó Liz chega.
— Vó! — Sorrio e abraço.
— Você está com cara de mãe — afirma sorridente. — Está tão linda, minha
princesa.
— Puxei minha avó. — Sorrio. — Eu te amo muito, vovó.
— Não me faça chorar! — diz limpando o rosto. — Minha primeira netinha
será mãe.
— Serei, e a senhora será bisavó.
— Oh, isso faz com que eu me sinta tão velha! Ainda bem que sou bisavó
que faz sexo! — Começo a rir, porque ela pegou a doença da minha avó
Mari.
Um alvoroço começa e então já sei que meu pai é protagonista.
Ele não deveria ter bebido, mas bebeu. Por esse motivo, ele está chorando e
minha mãe está rindo, juntamente com os demais familiares.
— Oh, merda, seu pai é sempre o protagonista das ceias natalinas — diz
minha vó e saímos rumo a ele. Ele para de chorar assim que me vê e finge
estar realmente bem.
— O que aconteceu? — Pergunto.
— O idiota do Bernardo lembrou que Matheus será avô, mas ele esquece que
ele também será — grita minha mãe. Meu tio leva a mão ao peito e se
acomoda em uma cadeira.
— Eu só amo a Ava! E estou falando sério. Isis e Luma são traidoras —
reclama meu pai diz. — Ava! — ele grita e minha irmã surge correndo. —
Vem no papai, filha. — A filha de uma boa mãe, puxa-saco master, vai e se
acomoda nas pernas do meu pai. — Luma talvez se case em breve... Isis já se
casou...
— Eu não me casei, pai — afirmo.
— Mas vai se casar, assim como Luma.
— Pai, eu nem namoro ainda — diz Luma cruzando os braços.
— A diferença está aí nesse “ainda”. Diga a eles, Ava.
— Eu nunca irei namorar — afirma minha irmã e pior, ela afirma isso até
quando nosso pai não está. Ela já é muito filha da puta com os garotos. Eu
fico chocada com esses meus irmãos.
— É isso! Porra! Minha garotinha nunca irá me abandonar. — Ava faz uma
careta para mim, levanta-se e desparece. Eu sinto vontade de tacar uma
almofada em sua cara, bem adolescente mesmo.
— Vá para a puta que te pariu, Matheus. Para de drama! — ameaça minha
vó e ele começa a chorar.
— Eu serei avô. Meu pau tem 24 centímetros, eu sou superdisposto
sexualmente, faço sexo como uma máquina e serei avô. Um avô que o pau
sobe pra caralho. Vic será uma avó tesuda, sadgirl, sádica pra caralho.
— Pai, você precisa superar isso — digo, aproximando-me.
— Seu pai é bisavô e o pau dele sobre que é uma maravilha — anuncia vó
Mari sorridente e meu pai encara meu avô.
— É sério, pai?
— É sério. Nós transamos, bastante. Sexo é o segredo da longevidade —
responde meu vô, e quero me jogar no mar por estarmos debatendo a vida
sexual abertamente.
— Victória é muito gostosa — ele diz, abaixando sua cabeça e a apoiando em
suas mãos, então ele continua chorando. — Vic, você é gostosa, mas nunca
mais quero ter filhos. E se nascerem mais garotas? Foda-se, não posso ser pai
de garotas, Vic, compreende? Só posso ser pai de meninos. Porque as
meninas me deixam, e eu fico sofrendo. Não quero mais sadbebês, esqueça
minha proposta. Vamos foder e ser feliz, nossas filhas são ingratas, exceto
Ava. Nossas meninas fazem o que eu faço com você, é absurdo fazerem isso
com elas.
— Luma e Ava são virgens, Matheus — explica minha mãe.
— Mas Luma vai namorar e isso vai acontecer.
— Até Ava vai querer dar uma pentada, é normal — argumenta dona Vic,
com naturalidade.
— Mas ela nunca vai me abandonar — ele justifica.
— Nunca! — Ava grita lá de dentro e eu saio para ir pegá-la. A guerra de
irmãs começa, porque ela começa a correr rindo por toda casa. Eu retiro
minhas sandálias, pronta para o ataque e, antes que eu possa acertá-la, meu
pai me segura e me envolve num abraço.
— Eu te amo muito, minha filha — balbucia choramingando, e eu começo a
chorar. Eu o amo mais do que amo a mim mesma. Meu pai é o melhor ser
humano que conheço.
— Eu te amo mais.
— Eu vou amar ser avô — afirma.
— Eu sei que sim.
— Mas eu odeio Bruce. — Reviro os olhos e sorrio.
— Você não o odeia.
— Não, mas eu queria odiar.
— Pai, você é incapaz de odiar alguém — digo fazendo um carinho em seu
rosto.
— Não, você está enganada. Eu posso odiar sim, qualquer pessoa que tenha
feito mal a minha família, à minha esposa e aos meus filhos. — Não entendo
o que ele quer dizer, mas parece uma mensagem subliminar. Meu pai odeia
alguém... talvez Rhael? Eu não saberia dizer. — Mas Bruce te faz bem, pra
caralho, então eu não posso odiá-lo.
— Ele me faz bem, pai. Muito bem. Eu o amo.
— Ok, isso é mais do que sou capaz de suportar. Você ama outro homem...
— Começo a rir.
— Amo, mas você é o maior amor da minha vida pai, eu o amo mais do que
amo a mim mesma. Você é o homem da minha vida. — Ele sorri.
— Ok, vou superar que você não é mais minha...
— Sempre serei sua. Bruce pode vir a deixar de ser meu namorado ou
marido, mas você pai, você nunca deixará de ser meu pai. Está infinitamente
na frente de Bruce, mesmo que isso não seja uma disputa.
— É uma disputa — afirma. — De qualquer forma, estou na frente dele,
porque sou seu pai.
— É isso aí.
— Mas Ava agora é minha preferida — anuncia e sai rindo. Eu vou matar
Ava por ser assim... Ela quer roubar meu pai!
— Já estou cheia de peru. Vamos abrir os presentes? É tempo o suficiente
para fazermos a digestão e entrarmos no peru novamente — avisa minha vó,
maquiavelicamente, e eu começo a rir.
A sala vira um festival de pessoas, só assim que eu percebo o quão volumosa
é nossa família.
— Jéssica está fazendo chamada de vídeo — anuncia minha tia Bia e todos
damos olá, quando ela e meu tio surgem no visor.
— Olá! — ela diz sorridente. — Estamos passando só para desejar um Feliz
Natal para vocês. Deus, aqui em Nova York está nevando absurdamente e
vocês estão aí seminus, é engraçado vê-los tão à vontade...
Todos nós falamos com eles, então, dez minutos depois ela encerra a
chamada e a discussão começa.
— É sacanagem, Milena tem que ser a primeira a entregar o presente —
anuncia Thor.
— Milena será a última, não há discussões, Heitor — sentencia minha vó.
— Você vai ficar um mês sem sexo, Milena. Estou afirmando isso diante de
todos os familiares, porque eles são testemunhas.
Maria Flor surge e está tão abatida quanto eu. Nós nos abraçamos e ficamos
observando a loucura dos presentes começar.
— Você conseguiu falar com Bruce? — Pergunta.
— Não, na verdade, não tentei.
— Tudão não responde minhas mensagens. Mathew dormiu — diz sorrindo.
— Meu filho...
— Ele te chamando de mãe é a coisa mais fofa que eu já vi na vida. — Sorrio
emocionada, para variar.
— É surreal, não tinha a pretensão de roubar o lugar da mãe dele, nunca me
esforcei para isso. Isso saiu com naturalidade da boca dele, deixando tudo
mais chocante e mais perfeito. Ele é meu filho, já sinto isso.
— Ele é — afirmo.
— Eu espalhei sapatinhos pelo quarto, incluindo os meus sapatos, para ele
encontrar os presentes, como Tudão pediu.
— Há tantos presentes assim?
— Joseph pode ser exagerado no quesito presentes de Natal — ela explica
sorrindo e volto a atenção a entrega de presentes. É sempre difícil, já que
temos tudo, graças a Deus. Então, geralmente, os presentes são simbólicos.
Por exemplo, o que eu poderia dar às minhas avós? Elas são bilionárias. O
que eu darei aos meus pais? Eles também são absurdamente ricos. Nós damos
livros, alguma joia singela, nunca damos algo exagerado, sempre optamos
por algo que simbolize algum momento importante.
Todos entregamos nossos presentes e recebemos, também. Então a atenção se
volta à Milena, que faz todos ficarem sentados. Meu pai está gravando a cena
com o celular dela e ela parece emocionada.
— Não sou boa com as palavras. Nunca fui boa em lidar com muitas pessoas,
então não estou sabendo lidar agora, mesmo que eu já me sinta da família.
Vou direto ao ponto, preciso deixar as palavras restritas a Heitor, num
momento em que estivermos a sós.
— Daqui um mês.
— Duvido. De qualquer forma quero deixar registrado algo sobre o meu
presente. Esse presente é uma prova de que realmente amo você. Sério, eu
não fazia ideia que te amava até cogitar dar isso a você. Foi necessário vencer
algumas lutas internas, pensar, repensar e então pensar novamente, para
chegar à conclusão de que eu realmente queria dar esse presente a você.
— Eita, será o cu? — Minha vó questiona e todos rimos.
— Você não precisou de todo esse teatro para dar o cu, então creio que cu
não mereça uma explicação tão séria e centrada como a explicação de
Milena, agora fique caladinha, Mariana — repreende meu avô.
— Eu nunca daria o cu para Heitor, ele é extremamente bem-dotado. — Meu
Jesus, há crianças na sala.
— Pica das galáxias, sou eu! — festeja Heitor rindo. Ele é bem-dotado
mesmo. Já dormi com ele e vi algo gigante ao acordar. Bruce é mais...
— Minha piroca é maior — diz meu pai rindo.
— A do pirocomon é mais.
— Pirocomon é escroto — desdenha Victor rindo.
— Ok, vamos lá, levante-se Heitor. — Milena o convida e ele fica de pé. Ele
sorri e a puxa pela cintura.
— Teu cu me pertence, Milena! Vamos lá, dê logo.
— O cu? — ela questiona rindo.
— O presente. O cu eu conquisto com o tempo. — Ela entrega uma caixinha
para ele e ele se afasta para abri-la. Sinceramente, todos estamos curiosos
após tanto drama por um presente.
Heitor desfaz o laço e abre a caixa com uma lentidão que dá vontade de socá-
lo. Ele desfaz um papel e observa o conteúdo dentro, então olha para Milena
e parece perder a cor de repente. Ele soluça... um soluço de choro capaz de
ter sido ouvido até do outro lado da ilha, em seguida, cai durinho no chão. E,
ao invés das pessoas que estão mais perto o ajudarem, todos começam a rir e
meu pai até mesmo se levanta para filmar melhor.
Aproximo-me e então vejo o motivo que o fez cair duro. Há sapatinhos de
bebê caídos ao chão, ao lado dele. Nós teremos mais um novo integrante para
a família, ano que vem teremos um Natal repleto de anjos neste lugar.
Todos vamos abraçar Milena e dar felicitações, enquanto Heitor fica
desmaiado, sendo amparado apenas por minha tia, que está chorando
emocionada.
Procriar é o forte da família Albuquerque Brandão, definitivamente. Só
reproduzimos... Teremos muitas histórias para contar, felizmente.
Meu telefone toca ao mesmo tempo que o da Maria Flor. Nós duas saímos
correndo para locais silenciosos.
— Oi...
— Minha boneca.
— Está horrível sem você — confesso.
— Papai Noel já passou aí?
— Abrimos os presentes da árvore, Milena está grávida e Heitor está
desmaiado. — Ele ri.
— Teremos muitos bebês no próximo Natal, isso é incrível. Como você e
nosso bebê estão?
— Com saudades... muitas saudades. Eu deveria ter te prendido no quarto. —
Ele volta a rir.
— Quando você fechar os olhos e menos esperar, eu estarei com você.
Confia em mim?
— Confio. — Sorrio.
— Amo você, Isis, Feliz Natal, meu amor.
— Feliz Natal, Bruce. — Ele encerra a ligação e vou para o banheiro chorar
por alguns minutos. Benditos hormônios...

Durante a madrugada, quando finalmente consigo fechar meus olhos e


quando menos estou esperando, uma batida à porta da varanda do quarto me
faz saltar assustada. Com a mão no peito, caminho até ela. Primeiro eu abro
as cortinas e então vejo Bruce. A surpresa é tanta que esqueço de abrir a
porta. Ele parece cansado, exausto eu diria.
— Pode abrir, se não for incomodá-la? — pede debochando e eu abro.
— Você é o próprio Papai Noel sexy — brinco sorrindo.
— Você confiou em mim e aqui estou eu, cumprindo minha promessa — diz
dando o maior de todos os sorrisos.
CAPÍTULO FINAL

Eu nunca fiquei tão emocionada, nem mesmo tratando-se da minha gestação.


Vendo meu irmão caído ao chão, eu não consigo impedir que lágrimas de
felicidades escorram de meus olhos. Heitor é grandioso, em todos os diversos
sentidos da palavra. Meu irmão sempre foi tão alegre, meio maluco, divertido
e até mesmo mulherengo – mulherengo a ponto de eu trocar os nomes das
"namoradas" dele. Ele também sempre foi coração. Heitor é amor,
benevolência, paciência, carinho, docilidade. Meu irmão é tão incrível que
faltam adjetivos para descrevê-lo. Ele sempre foi muito bom com crianças. É
como se ele tivesse um ímã para atrair os pequenos. Onde íamos e havia
crianças, podíamos esquecer de Heitor, era uma causa perdida. Agora ele está
caído ali e isso demonstra sua grandeza, ao invés de ser sinônimo de
fraqueza. Sei que é a realização de um sonho. Se há algo no mundo que
Heitor sempre disse que queria, é um filho. Eu escuto isso desde pequenina e
agora seu sonho está indo tornar-se real. Milena... eu acho que passei a amá-
la um pouco mais agora. Nós nos tornamos muito próximas devido aos
terríveis acontecimentos, ela sempre foi muito firme em dizer que filhos não
estavam nos projetos dela pelos próximos anos. Ela é delegada e quer atuar,
agora, em causas relacionadas à proteção das mulheres. Isso requer esforço,
dedicação e muito trabalho. E, neste momento, eu percebi que ela jogou seus
planos para escanteio e resolveu dar esse presente a Heitor. Isso significa que
ela o ama muito e foi uma atitude tão linda e tão nobre, pelo simples fato de
ter sido de coração. Heitor não estava insistindo nisso, mas ele sempre jogava
uma piadinha ou outra sobre ser pai. O melhor de tudo é ver que ela está
realmente feliz com suas escolhas, radiante a descreveria bem.
Eu não estou tão feliz apenas por Heitor, estou feliz por ela. Após tudo que
passou, estou vendo-a feliz, renascendo, entregando-se e confiando,
felizmente ela está com o homem certo. Meu irmão é maravilhoso e a
valoriza de uma maneira linda. Ou seja, a lição que tiro de tudo isso é que se
você lutar, você consegue superar os traumas. Todos nós possuímos o
incrível poder de superação, basta encontrarmos a vontade de superar dentro
de nós. Lutar. Lutar é a palavra. Você nunca será capaz de superar se não
fizer esforço e não possuir o mínimo de força de vontade. Entretanto, se você
lutar, se você agarrar a vontade de superar com unhas e dentes, você
consegue. Cada vez que você se nega a desistir de algo, é um passo que você
dá em direção à superação. Não é um processo rápido e muito menos indolor,
contudo, é preciso muita persistência para chegar onde quer. Você é capaz,
Milena é capaz, eu estou no caminho, tornando-me capaz a cada dia. Minha
luta está apenas no início, mas o mais importante é que estou disposta a lutar,
disposta a continuar lutando em busca da superação. Assim como Milena.
As cicatrizes estão em mim, estão nela e em diversas mulheres. No entanto,
se são cicatrizes, isso prova que as feridas curam. A vida não vem com
manual de instruções. O que aconteceu comigo e com ela, pode acontecer
com qualquer pessoa, infelizmente. Mas é a maneira que escolhemos lidar
com os acontecimentos que fará com que consigamos superar. Se você
escolher ser forte, você vai conseguir. Se você escolher ser vítima, você será
vítima para sempre.
Há uma frase que gosto muito: "Me tiraram o chão, então eu descobri que
tinha asas para voar". Nada é por acaso. O que aconteceu comigo serviu de
lição e aprendizado. Até mesmo nas coisas ruins, nós podemos tirar algo
bom. No meu caso, o algo bom significa o amadurecimento e o aprendizado.
O que nos define, é a forma como nos levantamos após a queda.
Por falar em queda...
Meu irmão acaba de se recuperar do desmaio. Tio Theus está rolando no
chão, chorando de rir. Tia Vic está devidamente bêbada, minhas avós estão
insanas, está todo mundo louco, até Mel, que nem mesmo ingeriu bebida
alcoólica. Já eu, mesmo estando muito feliz por meu irmão, estão sentindo
uma leve pontada de tristeza, por estar longe de Tudão. É incrível a maneira
como me tornei dependente de Joseph. É fácil quando ele sai para trabalhar,
porque sei que ele vai voltar por volta das 18h. Entretanto, quando ele sai
sem me dar perspectivas é horrível. Na verdade, é a primeira vez que estou
sem a perspectiva de sua volta. Não estou gostando de me sentir assim. Acho
que isso tem muito a ver com o fato de estarmos envolvidos em uma bolha
desde o que aconteceu comigo. Tornamo-nos inseparáveis. Até quando
estamos distantes, damos um jeito de trocar mensagens e tudo mais. O
apelido Tudão faz tanto sentido quanto é possível. O homem tornou-se tudo
para mim. O que era uma fantasia de adolescente, tornou-se o norte da minha
vida.
Eu juro por Deus, quando o conheci, desenvolvi um tesão absurdo por ele.
Era físico, carnal. Eu precisava tê-lo sexualmente, mesmo que nunca tivesse
feito sexo na vida. Era uma fantasia erótica. Pense, um homem absurdamente
lindo, alto, forte, com uma barba por fazer contornando seu rosto, um olhar
capaz de derreter geleiras, um porte físico incrivelmente másculo, um corpo
feito para foder o juízo das mulheres e o poder. Não o poder aquisitivo. O
poder. Joseph emana poder. Você o olha e percebe que ele é um homem
altamente poderoso. O poder é excitante, mais do que você jamais poderá
imaginar. Eu achava que seríamos apenas uma noite de sexo quente, ou
talvez até algumas. Porém, uma vez que ele teve suas mãos em mim, eu me
apaixonei de uma maneira avassaladora. Na verdade, eu acho que mesmo
quando ele era apenas uma fantasia, eu já o amava. Amava-o antes do beijo,
antes do toque, antes de tudo; isso prova que meu amor é verdadeiro,
verdadeiro por completo. Eu o amo absurdamente, mesmo não tendo tido
qualquer experiência amorosa no passado. Eu sei que é amor. Sei que ele é o
amor da minha vida e sei também que, se um dia não estivermos mais juntos,
ele ainda assim continuará sendo o grande amor da minha vida, porque
Joseph Tudão Vincenzo simplesmente é insuperável.
Pego meu celular e ainda não há nenhuma mensagem dele. Sorrio assim
mesmo ao ver sua foto de protetor de tela. Eu a tirei em seu iate, um dia após
o pedido de casamento, quando ele estava acordando.

Agora ele é meu marido. Tenho dezenove anos e sou casada com Tudão,
além de ter dois filhos, Mathew e o bebê que está aqui em meu ventre. Sou
jovem o bastante e já tenho minha própria família. É chocante que eu seja
casada com um homem tão maduro e dono da porra todinha. Quando tenho
esses pensamentos loucos, eu sinto a terrível necessidade de virar uma
mulher tão forte quanto possível e tão poderosa quanto ele, ou até mais.
Sinto-me em desvantagem, mesmo que tais vantagens não sejam necessárias
num relacionamento. Mas eu me sinto como uma criança e detesto me sentir
assim. Um dia o alcançarei...
Desligo o celular e encontro um quase sexo no meio da sala. Heitor acordou
na pressão e está beijando Milena, como se fosse o último dia de sua vida. É
bonito, mesmo que seja imoral e desnecessário dar um beijo desse porte
diante de tantos olhares, é lindo. O fim da ceia deles é decretado, quando ele
a pega em seus braços e sobe rumo ao quarto, sem dar chance de qualquer
familiar os parabenizar.
Então, meu foco vai para meus pais. Fico um pouco sentida ao ver meu pai
explodindo de felicidade. Por que ele apenas não pode agir dessa maneira
quando ficou sabendo sobre mim? Ok, eu sou sua princesinha e muito jovem.
Heitor já tem a própria profissão e é um homem independente. Não posso
questionar meu pai agora, seria injusto, contudo, nada me impede de sentir
um pouco de ciúme.
Os olhos dele encontram os meus e ele parece perceber que estou um pouco
sentida. Apenas viro as costas e decido que preciso verificar Mathew.
Encontro-o apagado, da mesma maneira que o deixei e sorrio. Parece que a
praia o dia todo tem o poder de derrubar uma criança. Quando me viro para
sair do quarto, meu pai está me esperando.
— Oi, pai, precisa de algo?
— É lindo ver o carinho com o garoto. Você parece mãe, Flor — diz pegando
minha mão. — É louco ser pai, Maria Flor, você não faz ideia. — Ele me
puxa até a escada e nos sentamos em um dos degraus. Não compreendo, no
entanto, acompanho-o onde quer que ele queira chegar. — Eu estou muito
feliz por Heitor, não consigo esconder isso. E eu vi que você ficou sentida,
porque eu não tive a mesma reação quando foi você a me dar a notícia de um
neto.
— Eu compreendo, pai, sou sua princesinha.
— Flor, eu confio em você, minha filha. Sei que você é apta a exercer a
função maternal, sei que é madura, responsável..., mas, sim, você é minha
princesinha. Uma princesinha muito nova. Pouco tempo atrás, você estava no
terceiro ano do segundo grau e eu ia buscá-la no colégio. Em pouco tempo,
você engravidou e se casou. Muita informação num curto intervalo de tempo.
— Eu sei, pai.
— Você já ouviu inúmeras vezes sua mãe contando do cuidado excessivo que
eu tinha com você. E era assim mesmo, Flor. Você era a garotinha em casa,
uma princesinha e eu te mimava pra caralho mesmo. É difícil encarar que
você cresceu e que está construindo sua própria família, o que não significa
que eu esteja triste, não estou. Estou feliz, Joseph me passa bastante
segurança e sei que ele vai cuidar bem da minha princesinha. Mas eu preciso
apenas trabalhar essa nova fase na minha cabeça. Estou feliz que terei netos,
acredite, mesmo que eu não estivesse esperando um neto da sua parte, estou
feliz, Flor. Vou amar essa criança, como eu amo você. Só te peço um pouco
de tempo para eu digerir as novidades, você para mim ainda é só uma
garotinha. E nem adianta falar que engravidei sua mãe aos dezoito, eu sei
disso, porra. Mas como meu sogro diz, pimenta no cu dos outros é refresco.
O filho da puta devia saber que isso aconteceria, porque lá no passado ele me
avisou. — Meu pai sorri. — Eu te amo, filha.
— Eu te amo, papai — digo, abraçando-o. — Eu te amo muito.
— Seja feliz e conte comigo, para tudo. Eu nunca soltarei suas mãos, minha
princesinha.
— Eu sei disso — asseguro, um outro alguém me abraça. Minha mãe. Eu me
sinto em casa agora.
— Me sinto muito velha agora — ela diz.
— Você é maravilhosa, dona Bia. Nem parece minha mãe — comento,
afastando do meu pai e a observando.
— Você é linda, Bia, absurdamente linda — elogia meu pai, apaixonado que
só. — Uma vó linda, sexy e gostosa. Eu sou um homem de sorte.
— Dispenso esse tipo de comentário, papai — brinco rindo. — Vocês dois
são maravilhosos e jovens, não apenas fisicamente. Possuem o espírito
jovem. Eu os amo tanto, são meus maiores exemplos na vida.
— Minha menina mulher, mamãe está feliz e orgulhosa pela sua jornada.
Você está nos meus passos, é uma grande mulher e será ainda mais. O céu
não é o limite para você, Flor. Você vai além.
— Se eu for metade do que você é, mãe, certamente eu serei grande.
— Você vai além, eu te direi isso lá no futuro, relembrando essa conversa. —
Sorrio.
Ficamos conversando por mais alguns minutos e então descemos. Caminho
pelo deck, me acomodo em uma espreguiçadeira, precisando respirar um
pouco de ar puro. Todos estão lá dentro, há apenas eu aqui. Ou ao menos é o
que eu achava. Ouço sons e encontro meu tio Theus e tia Vic, num de seus
momentos. Não consigo não os observar. Tia Vic está contra a parede, tio
Theus tem suas mãos apoiadas na parede e seu corpo altamente atlético e
forte, praticamente a cobre. Eu, às vezes, pego-me questionando por que ele
nunca quebrou a tia Vic ao meio. Aqueles braços são assustadores e o porte
físico dele também. E, há um agravante, ele não parece ser delicado
sexualmente. Na verdade, os dois parecem ser um casal explosivo. Eu diria
que o casal mais explosivo da família. Tio Theus possui várias nuances. Ele
vai de fofo ao ogro muito rapidamente, tipo neste momento, ele parece um
selvagem sobre tia Vic. Vejo-o descer uma mão e enfiá-la entre os cabelos
dela. Então ele desce uma segunda e aperta a bunda dela. Então, tia Vic faz
algo que me faz levar a mão à boca. Não é como se eu nunca tivesse feito
isso, mas, certamente, nunca fiz com toda essa força. Ela dá um tapa estalado
na cara do meu tio e ele sorri de uma maneira maquiavélica. Meu Deus, eu
apenas preciso sair daqui, não quero ficar excitada vendo meus tios e muito
menos quero vê-los transando. Mas esquentou tudo em mim... isso é
vergonhoso. Maldição! Deus, que vergonha, eu fiquei excitada ao ver os
meus tios se pegarem. Santo Inferno!
Decido que já deu. Estou estressada, excitada, nostálgica e emocionada, estou
sentindo um milhão de coisas e não estou sabendo lidar com qualquer uma
delas. Eu pego um pote de chocolates escondido e subo para meu quarto.
Verifico Mathew e ele está dormindo, então vou para o meu quarto. Não
estou com sono, por isso decido esperar um pouco mais para bancar a Mamãe
Noel e colocar os presentes nos sapatinhos, como Joseph pediu.
Caminho para meu quarto e quando o abro as cortinas estão voando. Eu me
lembro de ter fechado as portas da varandinha...
Ouço um barulho e ando um pouco mais para encontrar ...
— Papai?
Puta que pariu, esse homem nunca vai cansar de causar impacto? Ele está
absurdamente gostoso. Eu mordo um pedaço do meu chocolate, enquanto
engulo sua imagem com os olhos. Papai é gostoso, muito mais que chocolate.
Ele caminha até mim, arranca o pote de chocolates da minha mão e o
deposita sobre um aparador. Então ele volta, retira a toalha e me mostra que
chegou pronto para enfrentar qualquer situação. Ele está bem armado, em
posição de sentido.
Caio de joelhos aos pés dele, faminta para sentir seu gosto em minha boca.
Meu Deus, tudo muda em questão de segundos, não tem como eu ser normal.
Antes que eu possa alcançá-lo, Joseph agarra meus cabelos e me faz ficar de
pé. Sua boca desliza até a minha e sou posta contra a parede, como tia Vic.
Merda, afasto-o antes que ele me ataque ainda mais.
— Eu vi tia Vic e tio Theus, quase transando. Ela estava contra a parede... ela
deu um tapa na cara dele e eu acho que ele estava indo perder o controle. Eu
fiquei excitada os observando, então vi que era doentio e subi. É doentio?
Papai... — jogo toda informação sobre ele e ele me vira de costas. Ele abre o
fecho do meu vestido e desliza a peça até que ela esteja em meus pés.
Ele afasta meus cabelos e beija minha nuca. Não sei o que me deixa mais
afoita, o beijo ou sua barba roçando em minha pele. Ofegante, agarra
novamente meus cabelos e praticamente me arrasta até a cama. Sou deitada
de barriga para cima e o Tudão desliza as sandálias dos meus pés, antes de vir
para cima de mim como um predador desesperado. Ele afasta minha calcinha
para o lado, desliza o polegar em meu clitóris e faz alguns movimentos que
me fazem arfar.
— Joseph... — chamo seu nome e ele toca seu membro antes de trazê-lo à
minha entrada. Ele abre bem minhas pernas e o recebo de bom grado. É
doentio que eu tenha sentido tanta falta disso? Acho que sim. Entretanto,
quando ele me penetra, quando está por completo dentro de mim, eu me sinto
viva, completa e dele. Eu amo ser Joseph Vincenzo, bem como uma posse
mesmo e isso é doentio. Eu tenho tido umas fantasias muito doentias e quero
realizar todas elas. — Papai...
— Foda meu pau, Flor.
— Eu quero que você me pague, como uma prostituta de luxo. — Ele
arregala os olhos e contém os movimentos. — Pague para me foder, papai.
— Quer que eu te trate como uma prostituta?
— Como a sua prostituta. É um fetiche. — Ele sorri e dá uns tapinhas
delicados em meu rosto.
— Você está virando além de devassa, Maria Flor.
— Você me transforma.
— Estou por completo dentro de você e você quer dinheiro para foder? —
pergunta pulsando dentro de mim.
— Sim — digo, empurrando-o e salto da cama. Ele agora não está com o
semblante divertido.
— Vem aqui no papai, Flor — chama sério. — Agora.
— Não. — Sorrio travessa e deslizo minhas mãos em meus seios. — Você os
quer? — pergunto, provocando-o e ele suspira.
— Quero.
— Compre-os. — Sorrio e deslizo minha mão até minha intimidade. Eu estou
quase tendo um orgasmo só de ver a maneira como Tudão está me olhando.
— Você quer estar dentro dela? — pergunto e ele sai da cama e tenta me
pegar. Sou mais rápida e me tranco no banheiro de vidro. Estou excitada...
como nunca estive antes.
— Flor... eu não estou para brincadeiras hoje.
— Nem eu. — Ele suspira frustrado, balança a cabeça e caminha até sua
mala. Ele pega a carteira e retira dezenas de dólares dela.
— Eu pago, pago pelo sexo e pelo vidro que eu vou destruir se você não sair
daí em dez segundos. Eu gosto de quebrar coisas, Maria Flor, você deveria
saber que não estou brincando — diz, socando o vidro, e eu penso que ele
realmente irá quebrá-lo se eu não sair daqui. Saio e ele me captura pelos
cabelos em questão de segundos. — Qual seu preço, pequena prostituta? —
pergunta em meu ouvido e sorrio, reprimindo um gemido.
— Não sei... quanto você acha que mereço receber?
— Se eu estou pagando, vou me deitar naquela cama e você me dará o que eu
quiser, estamos entendidos? Vou tratá-la como prostituta e tornar seu fetiche
realista. — Eu amo esse homem...
— Sim, papai — digo e ele desliza as notas, prendendo-as na lateral direita
da minha calcinha. Ele se afasta e faz exatamente o que disse que faria.
Acomoda-se no meio da cama e eu fico quase sem ação.
— Esse serviço já está sendo decepcionante. Vai deixar seu cliente duro,
necessitado e sozinho na cama? Paguei para fodê-la, Maria Flor, o mínimo
que você tem que fazer é vir me dar. — Maldição, tudo que esse homem diz
me excita. Caminho rumo à cama e nada sai como eu esperava. — Não quero
olhar para seu rosto. Me monte de costas, invertida. Quero ver sua bunda e
ver meu pau sumindo a cada vez que você sobe e desce.
— Joseph...
— Nós estamos brincando de prostituta. Eu estou pagando, eu exijo! — Fico
puta de raiva, mas obedeço. O cliente tem sempre razão, não é o que dizem?
Posiciono-me sobre ele e ele me ajuda, arrastando novamente minha calcinha
para o lado e posicionando seu magnânimo pau em minha entrada. Abro
minha boca levemente e fecho os olhos quando ele desliza para dentro. Eu
fico alguns bons segundos me acostumando à invasão nessa posição, até
Joseph cobrar pelo serviço que foi pago. Ele se remexe, puxa meus cabelos,
fazendo com que eu jogue minha cabeça para trás. — Mexa-se, puta.
Rebolo lentamente e meu homem solta sons de puta satisfação. Sorrio e
decido fazer meu serviço direitinho. Abaixo minha cabeça, apoio as mãos em
suas panturrilhas e começo a destrui-lo. Obviamente, destruí-lo significa
destruir a mim mesma. Cada movimento parece tocar num lugar certeiro em
meu interior. É enlouquecedor. Gememos juntos e a ausência das mãos dele
em meu corpo, deixa-me mais insana. Cowgirl invertida... Deus, isso é muito
bom. Eu fico o mais empinada que consigo, apenas para que ele tenha uma
boa visão e uma morte lenta a cada vez que eu remexer, subir e descer. Minha
bunda não é pequena, então Tudão está tendo um bom momento e uma boa
visão. Porém, o feitiço vira contra mim, quando não consigo mais segurar o
orgasmo. Frustrada comigo mesma, derramo meu orgasmo sobre meu marido
e juro que o ouço rir atrás de mim. Sou pega pela cintura e ele me gira, caio
deitada na cama e ele retira o dinheiro da minha calcinha, rasgando-a logo em
seguida. Sua boca desliza pelo meu ventre e ele despeja beijos carinhosos.
Engulo a seco. Não me acostumei com isso ainda.
— Eu senti sua falta, pra caralho, tanto que não pude esperar. Eu não dormi
desde que saí daqui Flor, estou morto, exausto, mas preciso senti-la um pouco
mais. Você é meu lar e amo que esteja cheia de fetiches.
— Você irá realizar minhas fantasias?
— Desde que não envolva outro homem ou outra mulher, eu irei. — Sorrio e
ele se encaixa novamente em mim, fazendo meu riso se transformar em
gemido. — Meus pais estão indo para Los Angeles em duas semanas. — Meu
corpo fica tenso de repente. — Foda-se, nós teremos tempo para conversar.
— Ele se move num ritmo desesperador e constante, até nós dois gozarmos
juntos, então me puxa para seus braços e ficamos deitados de lado, sem falar
absolutamente nada.
Nem sei quantos minutos passam, talvez quase uma hora. Joseph está quase
dormindo e então me lembro dos presentes. Tento sair da cama e ele me
prende. Além dos presentes, preciso de um banho, porque esse homem goza
como um cavalo e estou toda melada.
— Tudão, eu preciso de um banho e preciso arrumar os presentes de Mathew.
— Eu o vi dormindo, passei no quarto e quase fui pego por Enzo — explica
sorridente. — Obrigado por ter cuidado do... nosso filho.
— Como foi tudo em Los Angeles?
— Não quero falar sobre isso agora, é mórbido o bastante. Vamos tomar um
banho e organizar os presentes, ok? — propõe e suspira. — Deus, eu estou
muito morto.
— Tome um banho, durma e eu cuidarei de tudo.
— Eu te amo, pra caralho.

Acordo com o grito de Mathew, invadindo o quarto. Ainda bem que


dormimos vestidos. Tudão é o primeiro a ficar de pé.
— Papai! — exclama Mathew, surpreso, e sai correndo para os braços do
Tudão.
— Meu garoto!
— O Papai Noel... deixou um montão gigante de presentes — diz com os
olhinhos brilhando e me procura, quase escalando Joseph. — Mamãe!
— Oi, meu amor! — Eu sou mãe dele, sou mãe, surreal! Fico de pé, então
Mathew nos faz caminhar em busca dos presentes. Joseph exagerou,
absurdamente. Nós três não damos conta dos presentes. Trazemos todos eles
para nosso quarto e passamos parte da manhã abrindo os embrulhos. Como
esperado, Mathew gosta mais do lego que eu dei. Tudão fica puto por alguns
instantes, mas se derrete ao me ver com nosso pequeno, brincando de
construir coisas com lego.
À tarde saímos nós três e paramos em uma Ilha legal para Mathew poder
brincar. Construímos um castelo de areia e o pequeno fica brincando. Eu e
Tudão ficamos sentados. Estou entre as pernas dele, com minha cabeça
encostada em seu peitoral. Nós parecemos tão certo, eu e ele, aquele pequeno
e nosso bebê. É maravilhoso estar nos braços dele.

No Réveillon todos vamos bem cedo para o Rio de Janeiro e nos hospedamos
em uma cobertura no Copacabana Palace. Faltando poucos minutos para a
virada, já nos posicionamos em um local estratégico para vermos a queima de
fogos. Daqui do alto, as pessoas tornam-se formiguinhas lá embaixo, há um
mar de gente e os gringos agregados à família estão um pouco deslumbrados.
Por falar em família... É tão bom ter meus pais, meus tios, meus primos,
meus avós e minha família neste momento. Não importa o que aconteça, eu
quero sempre passar as festas de final de ano com todos eles. Nada no mundo
é tão bom quanto a presença deles. Todos em harmonia, celebrando mais um
ano, exalando amor e saúde. Sorrio ao ver Mathew nos braços de Heitor.
Acho que meu irmão está realmente usando Mathew para treinar os seus
atributos paternais. Enquanto eles estão num momento genuíno, Tudão tem
sua boca em minha orelha e suas mãos quase tocando meus seios, por cima
do vestido. Esse homem está incontrolável desde que chegou de viagem e
isso não é uma reclamação.
— Você foi o melhor presente que ganhei esse ano, Maria Flower.
— Você e Mathew foram meus maiores, e nosso bebê também. — Ele sorri.
— Nosso bebê... você está grávida de um filho meu e é minha esposa. A
garotinha que fedia a leite materno. Qual feitiço você jogou em mim, Maria
Flor? Porque eu relutava pra caralho e agora você tem tudo de mim. — Sorrio
e a contagem regressiva começa. Viro-me de frente para ele, porque quero
vê-lo, ele é a minha própria queima de fogos.
— Ten... — digo.
— Nine...
— Eight...
— Seven...
— Six...
— Five...
— Four...
— Three...
— Two...
— One...
— Uow! — ele exclama e me viro para acompanhar a queima de fogos. É
incrivelmente lindo ver os fogos e as pessoas celebrando a chegada de um
novo ano. Vem aí mais 365 oportunidades e eu aproveitarei cada uma delas.

— Feliz Ano-Novo, Maria Flower — ele diz em meu ouvido e eu volto a


virar para ele.
— Feliz Ano-Novo, papai Tudão.
— Esse é o nosso ano, eu te amo Flower.
— Sim, esse é o nosso ano e eu também amo você, muito — concordo,
puxando-o pela camisa.
— Por que eu sinto que nossa história está começando agora?
— Porque ela está.

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[1]
Expressão muito utilizada por mineiros em casos de espanto. By: Jussara Leal
[2]
Não vai nos apresentar seu amigo??
[3]
Este é Arthur e ele não é meu amigo, ele é meu marido
[4]
Você não é louca de ter se casado, Melissa Fontana. Não se atreveria.!
[5]
Estamos em lua de mel. Infelizmente, fomos interrompidos pelos acontecimentos.
[6]
Você é a decepção dessa família. Odeio seu pai por ter deixado parte da herança para você.
[7]
Pegue a minha parte da herança e enfie no rabo.
[8]
Ou dê para Belen fazer novas cirurgias plásticas. Levando em conta que ela gosta de se exibir no
xvideos...
[9]
IIgnázio é o homem ideal para você. Não percebe isto?
[10]
É um traidor, interesseiro.
[11]
Onde está levando minha filha?
[12]
Para longe de você. Jamais permitirei que a minha mulher passe por situações desagradáveis como
esta.
[13]
Cena narrada no livro Victória Brandão
[14]
Protagonista do livro Túlio Salvatore
[15]
Protagonista do livro Rebelde Sem Causa.
Table of Contents
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO FINAL
O QUE LER AGORA?

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