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Ilimitados - Parte 2 - Jussara Leal
Ilimitados - Parte 2 - Jussara Leal
ILIMITADOS – PARTE 2
1ª Edição
LAS VEGAS
APÓS CONHECER BRUCE NO
CLUBE
Chego ao saguão e Lorenzo está de pé, pálido, encarando-me como se eu
fosse um fantasma.
— Você dormiu com outro homem? — questiona.
— Não dormi. Não foi por falta de vontade, foi porque ele não quis —
informo e o vejo ficar boquiaberto. Eu lido com verdades.
— Nós podemos conversar?
— Podemos. Agora de preferência. É bom que resolvemos os problemas de
uma vez. — Caminho para o elevador e ele vem comigo.
Subimos e chegamos ao meu quarto no mais profundo silêncio. Quando
fecho a porta, o desespero me invade sem que eu possa controlar. Eu abro as
barragens e ele fica sem saber o que fazer.
— Sabe qual a diferença entre nós? — pergunto chorando.
— Não.
— A diferença é que eu nunca disse que te amava. Nunca te prometi amor
eterno. Nunca! Eu nunca menti, Lorenzo. Na verdade, fui bem sincera. Mas
vi mentiras em mensagens de textos e em seus olhos essa noite. Há,
hospedada nesse hotel, uma garota que você dormiu e que veio atrás de você.
Eu li mensagens, mas não pude ouvir o que vocês falaram pelo telefone. Me
diga, Lorenzo, como ela sabe até o hotel em que você está hospedado? —
grito. — Eu nunca entrei em relacionamentos por isso. Não sirvo para me
relacionar e não sirvo para ser enganada. Eu estive com um homem assim
que você saiu da boate, eu o beijei e permiti que ele me tocasse intimamente.
Eu fui a um clube de swing. Eu o conheci e o quis. Eu o quis quando
estávamos dentro da boate de uma maneira tão insana... Pedi por ele, mas
fui negada, porque estava completamente alcoolizada e, também, por julgar
errado eu querer sexo sendo que eu nem o conheço. — Ele estava tão certo...
como posso fazer sexo com alguém que não conheço?... — Após sairmos do
clube, nós passamos a madrugada toda conversando, sem tensão sexual, sem
pressão, sem porra nenhuma. Eu ri, conversei sobre assuntos banais, me
diverti e recebi centenas de conselhos incríveis. Eu me diverti com ele,
Lorenzo, porque ele não esteve a noite toda apenas tentando entrar em
minha calcinha. Ele estava interessado em me conhecer mais. Me diga
quando tentou me conhecer, Lorenzo? Diga, por favor! Você consegue
enxergar mais uma diferença? Eu estou aqui, abrindo tudo que eu fiz essa
noite. Dando minha cara a tapa para você me julgar, me taxar de piranha ou
do que quiser. Porque eu assumo meus atos e não iludo pessoas jurando
amor eterno e transo com outras. E se você quer saber, eu transei com um
idiota na festa tentando esquecê-lo. Eu não menti para você, apenas omiti. Já
você mentiu, omitiu e sei lá o que foi falado naquela ligação! Nós dois
erramos, mas você tem o agravante de ter dito sobre sentimentos que não
sente.
— Isis...
— Lorenzo! Eu não terminei.
— Tudo bem. — Ele se cala.
— Me diga por que você namorou Maria Flor — peço. Há um grande motivo
por trás do meu questionamento, porque essa noite eu descobri que o amor e
o tesão podem nublar a visibilidade das pessoas. Eu consegui enxergar
coisas que eu não via antes. Preciso de respostas para saber se o que estou
pensando e sentindo está certo. — Me diga o real motivo para você ter
namorado ela por um tempo considerável. Você não a amava.
— Ela era... bonita. — Primeiro erro de Lorenzo.
— Superficial — informo. — Agora me diga por que se apaixonou por mim?
— Como não se apaixonar? Você é linda, Isis. Eu realmente amo você.
Quero você. Desejo você, sinto tesão.
Eu tenho todas as respostas. Nem mesmo preciso fazer mais perguntas. Eu
me apaixonei pela forma como ele sempre se preocupou comigo, apaixonei-
me pelo jeito que ele tratava Flor, pelas conversas incríveis que possuíamos
antes de ultrapassarmos as barreiras. Ele se apaixonou pelo meu rosto e pelo
meu corpo. Apaixonou-se pela forma como sou, espírito livre quando o
assunto é sexo. Enfim. Eu amo sexo, sinto muito tesão por ele. Mas ele? Ele
não sabe fazer outra coisa a não ser transar quando estamos juntos. Percebi
isso hoje, conversando com Bruce. Não foi por nada que Bruce disse, foi pelo
que ele fez. Eu me diverti, tivemos diálogos interessantes e ele me viu como
uma mulher completa e não como um rosto e um corpo. Isso me fez enxergar
que eu e Lorenzo somos só sexo, porém, sexo não é tudo na vida.
Não significa que teremos algo.
Mas significa que eu consegui enxergar alguns erros que não tinha clareza
antes.
Não sou santa, não sou puritana e sei que estou muito longe da perfeição.
Entretanto, errei ao colocar Lorenzo na minha linha de frente, errei ao
tentar usar uma pessoa para tirá-lo do meu sistema, errei ao entrar num
relacionamento com ele quando nem mesmo nos conhecemos a fundo.
Eu descobri ontem que nos últimos dias tenho guiado as coisas como uma
garota iludida, que acredita em contos de fadas. É preciso muito mais do que
um eu te amo para conhecer alguém. No fim, eu percebi que estava certa em
não deixar as emoções guiarem minhas palavras. Foi melhor não ter dito.
— Lo, nós não nos conhecemos. Nós temos tesão um pelo outro. Um tesão
louco, gostoso. Mas nós dois vivemos de sexo desde a primeira vez. Não
saímos, não conversamos sem que tenha sexo envolvido. A culpa não é
apenas sua, é nossa. Nós dois começamos errados. Eu acho que o que
aconteceu veio no momento certo. Se continuássemos com isso, com essa
explosão e essa intensidade seria pior. Imagina no futuro descobrirmos que
tudo não passou de um meio para o fim? Eu tenho problemas com entrega,
Lo. Não é um trauma ou nada parecido. Eu só não gosto de me prender há
algo que não vejo futuro. Sou o tipo calculista quando tem meu coração
envolvido. Eu não sei sua comida preferida, não sei sobre sua família, não
sei absolutamente nada da sua vida. Tudo que sei é que você se tornou um
príncipe encantado para mim, porque eu via a forma como você tratava Flor,
via a forma como você é carinhoso, protetor..., mas acredito que isso não
basta e acredito que você tenha problemas mal resolvidos. Aquela garota da
mensagem, ela não estaria aqui à toa, Lo. E ela não rasgaria sua camisa à
toa. Você esteve com ela aqui nesse hotel, enquanto eu estava com a minha
família na piscina. Seja verdadeiro comigo e com você mesmo.
— Nós estamos terminados?
— Eu acho que sim, Lorenzo. Acho que primeiro precisamos encontrar a nós
mesmos antes de entrarmos num relacionamento sério. — Abaixo minha
cabeça tomada por uma emoção inexplicável.
— Não chora, Isis — pede e eu pulo em seus braços. Abraço-a tão forte,
como uma despedida. Eu me iludi por ele. Apaixonei-me. Errei. Tudo errado,
tudo!
Eu só consigo enxergá-lo chorando agarrado às minhas pernas, meu pai o
abraçando, o jeito audacioso como peitou meu pai e quem ousou interferir.
Não compreendo nada disso. Mas também percebi a segunda coisa em
comum além do sexo: impulsividade.
Nós dois somos impulsivos.
Não somos espontâneos, somos impulsivos. Há uma grande diferença.
Impulsividade é dizer e agir sem pensar. Espontaneidade é dizer e fazer o
que se pensa. A impulsividade nubla e nos faz tropeçar. Foi isso, tropeçamos
em nossos atos. Nós dois. A única diferença foi eu ter guardado palavras,
por não saber como dizer e não ter certeza sobre os sentimentos. Eu preferi
não ser impulsiva nesse quesito e resolvi atropelar os outros.
— Ela me beijou, eu não me esquivei. As coisas ficaram insanas, mas
consegui parar antes de cometer um erro maior — confessa olhando em
meus olhos.
— Você contaria se eu não tivesse visto as mensagens? — pergunto, ele
balança a cabeça negando.
— Não contaria. Sinto muito, Isis — diz com lágrimas nos olhos. — Eu errei
com você, não quero errar mais. Eu não gosto de você apenas pela beleza
como pareceu. Você é doce, divertida, carinhosa e generosa. Você é um
pacote completo, Isis. Desculpe se eu fiz parecer diferente. Por favor. Sei o
que sinto, mesmo que em algum momento eu tenha perdido em minhas ações.
Meus sentimentos são verdadeiros, Isis.
— Não estou com raiva, Lorenzo. Eu gosto de você. Mas precisamos de um
tempo para descobrirmos mais sobre nós mesmos, a importância e a força
dos nossos sentimentos. Não vamos atropelar mais, Lo. Isso traz mágoas,
como agora. Eu estou magoada com você e você comigo, porque ambos
fomos impulsivos.
— Por favor, Isis, eu amo você. Deixa-me tentar consertar.
— Descubra sobre seus sentimentos, sobre sua força de vontade, sobre sua
capacidade de se autocontrolar. Eu farei o mesmo. Para o bem de um
relacionamento futuro. É o que eu preciso e o que vejo que você está
precisando. Se o que existe entre nós for real, Lorenzo, nós conseguiremos
nos manter afastados. Sempre critiquei pessoas que pediam um tempo, mas
hoje julgo que um tempo é necessário para o nosso próprio bem.
Ele me abraça forte, deposita um beijo em minha testa e se vai.
Eu tomo um banho, abraço um travesseiro e choro até conseguir dormir.
Ninguém me disse que se relacionar envolvia tantos problemas.
Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de
amor.
PRESENTE
— Há uma Paulinha. Peguei mensagens deles. Eles transaram na quinta,
antes de ficarmos na boate. E então ela foi para Las Vegas atrás dele, ele não
me disse nada e ainda rolou um pega entre eles, que ocasionou numa camisa
rasgada. Discutimos e então, em seguida, os peguei se beijando no saguão.
Achei uma tremenda falta de respeito com os meus pais. Lorenzo fez tantas
promessas a eles e nem se deu ao cuidado de ocultar essa vaca. Ao menos,
felizmente, foi apenas eu que os vi, ou ele estaria internado em algum
hospital e meu pai preso — suspiro. — Enfim... eu percebi que ainda não
estamos preparados para um relacionamento sério. Há alguns erros em nossa
história desde o início. Ele diz me amar, ser completamente apaixonado, mas
namorou você por seis meses, vivia praticamente sob o mesmo teto que eu...
ele insistia para que vocês transassem e vocês viviam no sexo oral. Nada
contra isso..., mas não é estranho esse amor? — Indago. — Pedi um tempo,
um distanciamento para entendermos os sentimentos e descobrirmos a
importância que temos um para o outro. Se for verdadeiro, o sentimento
permanecerá e então ficaremos juntos.
— Paulinha é uma loira? — pergunta, deixando-me levemente curiosa.
— Sim.
— Ela já existia. Eu desconfiava dela quando estávamos juntos, mas não
tinha como cobrar Lorenzo, eu não queria ser cobrada. Éramos um espécie de
relacionamento aberto, mesmo não sendo, compreende? De qualquer forma,
fico chateada. Quando ele me procurou para falar sobre você, me passou tanta
verdade, Isis. Você sempre foi fechada a relacionamentos, é bom pensar
realmente para não se foder logo na primeira chance que está dando a si
mesma. — Amo a sinceridade de Flor.
— Obrigada. — Sorrio. — Você está certa. — O celular dela toca a fazendo
gritar.
— Oh, meu Deus! É Joseph! — Suas reações são tão adolescentes que me
encantam. Na verdade, Flor acaba mesmo de deixar a adolescência. Só agora
está se transformando em uma mulher. Tio Bê acabava a mimando
excessivamente e impedindo um crescimento.
— Atenda! — A encorajo.
— Ok. — Anuncia e atende, colocando no viva-voz. — Olá! — diz
timidamente e eu fico atenta.
— Flor, está tudo bem? — Velho do céu! Que Deus e Maria Flor me
perdoem, mas a voz de Joseph ao telefone é tipo disk-sexo. Você ouve e tem
um orgasmo.
— Tudo bem, e com você?
— Eu a vi pela janela, minutos atrás. Talvez você tenha visto um episódio
desagradável.
— Vi só até a parte em que ela tentou enfiar a língua na sua boca — comenta
Flor. Sorrio da maneira “despretensiosa” que ela escolheu dizer.
— Ok, não deve ser algo bom de ver, não é mesmo?
— Não mesmo — ela afirma.
— Eu dispensei a babá. — Flor ri assim que ele fala, ouço-o devolver o riso.
Deve ser algum assunto que tenha estado em pauta entre os dois. — Enfim,
estava pensando se você gostaria de passar a noite aqui para fazermos
programas de crianças. Afinal, há um monte de comidas para crianças... —
Gente, vivi para ver Joseph Vicenzo ser derrubado por Maria Flor.
— Programas de crianças? — Ela questiona.
— É... pizza, filmes de ursinhos, guerra de travesseiros e muitas guloseimas.
Mas só se você quiser conhecer Mathew. Não é uma imposição. — Flor abre
a boca e fecha, repetidas vezes.
— Estarei aí mais tarde — ela anuncia e Vincenzo solta um suspiro.
— Aguardarei — diz, encerrando a ligação. Enquanto é isso, Flor fica alguns
longos segundos encarando o celular.
— Isso é real? — questiona.
— Parece que sim. — Sorrio. — É real. — O homem está tombado por Maria
Flor, definitivamente.
— Vamos ao shopping!
— Vou me trocar — informo, saltando da cama.
Talvez dar uma volta no shopping melhore meu humor.
Saindo do quarto, trombo com Heitor. Ele está abatido. Consegue estar pior
do que eu me encontrava minutos atrás.
— Está tudo bem? Está sentindo algo? — questiono, preocupada.
— Dor — diz.
— Quer algum remédio?
— Eu me apaixonei rápido e levei um pé na bunda. Há algum remédio? —
Pergunta. — Para piorar, sei que há algo errado acontecendo com Milena. Eu
preciso de sua moto, preciso ficar à espreita. Há algo muito errado, mas ela
não me atende e nem foi à delegacia. Fiquei escondido próximo ao
apartamento dela parte da noite, mas não vi qualquer movimentação. Preciso
segui-la apenas para me certificar de que ela está bem. Juro que, se tiver tudo
bem, a deixarei e tocarei minha vida. Mas se eu vir algo errado...
— Calma. Respira. Que espécie de algo errado? — Não estou conseguindo
compreender.
— O ex-marido dela me causou um mau pressentimento. Ela me ligou
dizendo que havia reatado e foi muito insistente em pedir que eu me
afastasse, como se estivesse sentindo medo. Diabos! — Ele passa pelos
cabelos. — Ela estava com medo, era visível. Ele deve ter a ameaçado.
— Minha moto é sua. Aliás, diga que ela é realmente sua ou minha mãe
acabará com a minha vida — peço. — E, por favor, tome cuidado. Se você
sentiu que ele é perigoso, tenha cuidado redobrado e me ligue se precisar de
qualquer coisa.
— Obrigado, Isis. Se nada der certo para nós, nos casamos. Esse lance de não
poder pegar primo está ultrapassado.
— Claro. Idiota. — Rio e ele me dá um tapa estalado na bunda, antes de
descer correndo.
Tomo um banho, cubro meu corpo de hidratante e vou direto vestir uma
roupa que nunca usei. Escolho uma calcinha decente, faço uma maquiagem
leve e calço uma sandália que combine com todo o look. Fiz tudo isso em
quarenta minutos contados no relógio, bati todos os recordes.
Quando desço, Bruce está gargalhando com minha mãe. A risada termina
quando ele me vê. Sinto-me quase despida com a intensidade do olhar. Tão
quente quanto é possível.
— Meu Deus! Serei clichê novamente, mas a sua filha é uma princesa — ele
diz à minha mãe.
— Ela é. A mais linda de todas as princesas. — Dona Vic concorda, radiante.
Quando Bruce fica de pé, permito-me sentir um pouco de ansiedade.
— Vamos, senhorita? — Aceno positivamente com a cabeça e o sigo, após
me despedir.
Assim que nos acomodamos no carro, ele solta um suspiro no mínimo
curioso.
— Vou passar no hotel, alguma objeção? — questiona.
— Nenhuma.
"Sarà il ritorno di Melissa Fontana e Ignázio? La modella è stata vista accanto all'ex-ragazzo
visibilmente giù. In questo momento di debolezza alcuni legami saranno ricostituiti?
“Será o retorno de Melissa Fontana e Ignázio? Modelo foi vista ao lado do ex-namorado visivelmente
abatida. Será que nesse momento de fraqueza alguns laços serão reconstituídos?”
— Mi? — Ouço a única voz que não quero escutar na vida. A cada vez que
ele volta para casa, sou invadida pelo pânico absoluto.
Que Deus me perdoe, mas eu nunca senti tanta vontade de matar alguém
como estou sentindo agora. Tudo o que tenho pensado é em uma maneira de
executar meu plano.
Embora eu seja delegada, treinada para matar, nunca precisei fazer. Aliás, já
precisei, porém, nunca fiz. Sempre miro em locais estratégicos que não levam
uma pessoa à morte, ao menos não intencionalmente.
— Milena!
— O que você quer? — Questiono, deitada em minha cama.
Meu Deus, eu quero matá-lo, mas nem mesmo tenho forças para isso. Não sei
de onde tirar a força que preciso. Não faço a mínima ideia.
Por enquanto só quero ficar assim, em um estado vegetativo.
Ele conseguiu um afastamento do trabalho para mim, de vinte dias. Minhas
saídas são controladas, tudo é controlado. É o pesadelo voltando a me
assombrar, dessa vez com uma intensidade maior e pior.
— Trouxe comida para a gente. Você está um lixo.
— Obrigada, amor. Eu estou um lixo porque estou vivendo com outro lixo.
Logo, estou contaminada. — Ele arranca as cobertas de mim e sou puxada
pelo braço, obrigada a ficar de pé. — Você está me machucando.
— Você nunca mais me chame de lixo, sua puta!
— Eu vou denunciá-lo!
— Não se eu te matar antes — ameaça, trazendo suas mãos ao meu pescoço e
me grudando contra a parede. — Você vai me denunciar, Milena? Quem vai
acreditar em você? Mando mais naquela delegacia do que você mesma. É a
sua palavra contra a minha.
— Existe corpo de delito, se eu comprovar amostra do seu DNA em mim...
— Ele ri e aumenta o aperto — Eu mando no laboratório. Eu tenho muito
mais poder do que você nunca terá. — Suspira frustrado. — Você tem a
opção de querer ser uma boa esposa, Milena. Você pode vir jantar comigo na
sala e então podemos namorar. Nós podemos voltar no passado, quando te
conheci... quando você se apaixonou por mim. Se eu fosse você, escolheria o
lado mais fácil da situação. É mais prazeroso e não corre o risco de ter esse
rostinho lindo desfigurado.
— Por favor, me deixe em paz. Vá embora da minha vida.
— Eu não sei viver longe de você. Não sei, viro um psicopata quando não
tenho você comigo. Entende isso, Milena? — pergunta em meu ouvido. —
Você tem que ficar comigo. Pode ter o meu melhor e o meu pior. Quero
jantar e então trazê-la para cama... quero você receptiva para eu foder bem
gostoso. Sinto saudades de você, Mi. Quero que tenhamos um filho. Sinto
que um bebê trará paz para a nossa relação. E, quando estiver grávida de um
filho meu, você se afastará da polícia e será apenas mãe e esposa. Nunca
deixarei faltar nada a você, princesa.
Ele é muito doentio. É assustador. Pondero em como agir e decido entrar no
jogo dele Heitor... ele agora sabe. Ele é o único que pode fazer algo por mim.
Preciso confiar nele, ao mesmo tempo em que preciso me certificar em
manter Anthony controlado.
— Um filho? — pergunto, fingindo emoção.
— Um bebê nosso. Vamos tentar ser felizes? — Incrível, ele até se parece
com o homem que me apaixonei há alguns anos. Se eu não soubesse o
monstro que ele se tornou, cairia nessa história agora.
— Eu quero um filho. Lembra que planejávamos? — instigo, forçando um
sorriso. Isso faz com que ele solte meu pescoço.
— Quero muito um filho, Milena.
— Vamos jantar então. Um filho...eu quero muito. Para termos um bebê,
precisamos ser felizes, Anthony. Promete que será o meu velho Anthony? —
peço. Ele começa a chorar.
— Me perdoe por tê-la agredido, princesa. Te amo muito. Seremos uma
família feliz. Jura que quer mesmo tentar?
— Juro — digo levando a minha mão ao seu rosto. — Eu quero muito tentar.
Estou ansiosa para engravidar! — Deveria ser contratada para alguma série.
— Vamos jantar. — Ele segura minha mão, entrelaçando nossos dedos, então
nos guia até a sala de jantar. Até mesmo puxa a cadeira para eu me sentar e
faz questão de servir tudo o que comprou.
— Talvez eu tire mais um tempo de folga para ficar com você. Quem sabe
uma viagem? — sugere.
— Acho melhor não arriscarmos. Se queremos um bebê, é melhor ficarmos
quietos em casa. Não sou tão jovem, não quero arriscar os planos —
comento, tentando não soar desesperada com essa possibilidade.
— Você está certa. Vamos tentar muito. Parou de tomar o remédio no
período em que estivemos separados?
— Sim, parei — minto
— Perfeito, Mi. Perfeito, minha princesa. — Ele sorri, está radiante. — Você
é muito linda.
— Você disse que eu era um lixo...
— Você não é. Eu estava nervoso porque tem me evitado. Você é linda,
perfeita. Eu te amo, estou louco por você, mais do que o normal. Tarado,
insano, com fome. — Merda!
Só dou um sorriso leve. Concentro-me em comer e rezar silenciosamente.
Enrolo o máximo que consigo, mas chega um momento em que é inevitável
enfrentá-lo, a refeição termina. Ele nem mesmo espera um tempo para que
possamos fazer a digestão.
Como uma doença maldita infiltrada em sua pele, sou pega brutalmente,
tenho minhas roupas arrancadas e sou colocada de quatro na cama. Ao menos
nessa posição ele não consegue ver minhas lágrimas. O homem que quer
fazer um filho comigo, deu lugar ao homem bruto e grosseiro sexualmente.
Fecho os meus olhos e, junto com eles, fecho a minha mente de quaisquer
pensamentos e sentimentos. Sem soltar um único pio, permito que ele faça
todo o serviço.
Sinto-me suja, usada, devastada e estraçalhada.
Eu me sinto como o lixo que ele disse minutos atrás.
Quando ele termina o ato e se dá por satisfeito, faz-me deitar sobre a cama e
deposita um beijo em minha testa.
Faço minha melhor cara de satisfação e, em seguida, viro-me para o canto
fingindo dormir. Ao fechar os meus olhos, permito-me viajar para um lugar
bom; Heitor.
Aquele garoto jovem que me agarrou sem ao menos me conhecer, o garoto
que demonstra ser inconsequente e impulsivo, é o mesmo garoto que me
amou de uma maneira surreal em Las Vegas e, consequentemente, é o único
disposto a segurar minha mão e me ajudar.
Heitor Albuquerque é minha única esperança.
CAPÍTULO 4
Assim que vi Joseph com a mãe de Mathew, por um momento, pensei ter
perdido toda e qualquer chance com ele. Então, surpreendentemente, fui da
desolação à surpresa, quando ele – o meu Tudão –, convidou-me para passar
a noite em sua casa, na companhia dele e do filho.
Após realizar algumas atividades para essa visita sair devidamente perfeita,
eu viro dois copos de uísque, pego minha bolsa e o presente que comprei.
Despeço-me dos meus queridos familiares, tomo uma longa respiração e vou,
na cara e na coragem, mesmo me cagando por dentro. É uma experiência que
não imaginei viver tão cedo. Até dois dias atrás, Mathew era sagrado para
Vincenzo, a ponto de não permitir que seus casos se aproximassem da
criança. Ou seja, tudo significa que sou além de um caso para esse homem. O
que é incrivelmente excitante, mas assustador.
Eu tenho estrutura para receber em minha vida um homem como Joseph
Vincenzo? Não passo de uma estudante perdida e louca.
Sério, não é uma reclamação, eu atentei o homem até consegui-lo. E não,
também não é uma desistência. Mas, porra, Joseph Vincenzo está dormindo
comigo, caralho! Eu estou indo conhecer o filho dele. É normal que eu esteja
aterrorizada com toda essa intensidade de acontecimentos que sucederam em
curto intervalo de tempo.
Fico parada em sua porta, sem coragem para apertar o botãozinho do
interfone. Ando de um lado para o outro, permitindo-me agir como a garota
que fede a leite e tudo mais... É então que a porta se abre, revelando meu
objeto de desejo.
— Ficará rodando por quantos minutos mais? — Joseph questiona. Em seu
rosto perfeito há um sorriso mais perfeito ainda. — Está nervosa, novinha?
Diga-me o que está acontecendo e resolverei todos os seus problemas.
— Está tudo bem. — Sorrio e ele me oferece sua mão.
O nervosismo me faz ponderar pegá-la. O que está acontecendo comigo? Não
tenho tempo de continuar na dúvida. Sem que eu possa protestar, Joseph me
pega com bolsa e tudo e me joga em suas costas.
— Você é maluco? O que seu filho pensará desta entrada triunfal? —
questiono, e logo ouço uma risada doce e infantil, que me faz sorrir no
mesmo instante. Desde quando eu sou uma garota que gosta de criança?
Joseph me deposita no chão e eu tento retomar a compostura. É com muita
coragem que me viro para encontrar a coisinha mais linda diante de mim.
— Oh, meu Deus, Joseph! Ele é muito mais lindo pessoalmente!
— Flower? — diz o garoto. Joseph dá uma gargalhada.
— Flor, Mathew, repita com papai, Flor — incentiva. — O nome dela em
português é Flor.
— Flower. Tia Flower — repete Mathew, acabando-se de rir. Caralho, ele é
muito risonho.
— Olá, Mathew. Sou a Flor, amiga do seu papai — apresento-me,
agachando-me até o garoto. Ele sorri e voa em meus braços, fazendo com que
eu caia de bunda no chão.
— Mathew! — repreende Joseph. Leva tudo de mim para eu não fazer um
gesto obsceno.
— Flower!
— Olá, Mathew. Flor, fale igual a titia, Flor — incentivo e ele se afasta dos
meus braços, rindo de alguma piada que não sei.
— Flower.
— Ok, eu aceito ser Flower, tranquilo. Enfim, tia Flower trouxe um presente
— anuncio, tentando ficar de pé. Joseph me ajuda.
— Não precisava comprar presente... não cabe mais brinquedos dentro dessa
casa — diz, e eu reviro os olhos.
— Sua casa está impecável, deixa de ser chato! — Digo baixinho, entregando
o embrulho de presente ao pequeno. Acho a coisa mais linda do universo
quando ele se joga no chão e leva o presente entre suas perninhas para abri-
lo. Puta merda! Ele é incrível, no entanto, mais incrível que ele é a maneira
como Joseph o olha, com total orgulho e admiração, seus olhos chegam a
brilhar.
— Bom, Flower, a pizza já deve estar chegando. Esse garotinho chegou aqui
passando mal, dei remédio e ele está melhor.
— Flower é o teu rabo — sussurro. — Apenas o seu filho pode me chamar
assim, porque ele é um bebê. Aliás, você disse que ele tem dois anos —
informo, cruzando meus braços.
— Porque faltam dois meses apenas.
— Homens e a praticidade. Ele tem um ano e dez meses — rebato e ele
arqueia uma sobrancelha. — Um bebê de praticamente dois anos.
— Ele tem dois.
— Ainda não — afirmo e o garoto dá um grito de alegria ao ver o kit de
engenheiro civil que comprei. — Gostou, Mathew? — sondo. Quando dou
por mim, Joseph está sentando-se ao lado dele e analisando o brinquedo.
— É muito maneiro — exclama, encantado.
— Igual ao do papai! — diz Mathew, colocando o capacete em sua cabeça.
No kit há um mini capacete de obras, escavadeiras, andaimes e blocos que,
após montados, formam um prédio.
— Poxa, por que eu nunca achei um desses? — questiona Joseph, enquanto
abre tudo. Na verdade, Mathew agora o está encarando contrariado e eu
acabo de descobrir que Vincenzo tem um lado criança que é encantador.
— Ei, bonitão, o brinquedo é de Mathew. — Estrago sua brincadeira. Ele
olha para o filho e percebe que o garoto está devidamente puto.
— Ok, garotão, papai se empolgou — justifica, entregando relutantemente o
brinquedo ao garoto. É cômico.
— Papai, desenho — pede Mathew. Joseph liga a televisão colocando em um
canal de desenhos.
— Agora pode esquecer que ele existe. Só voltará a me dar atenção quando
se cansar de brincar — explica, sorrindo.
— Ele é tão perfeito. Estou apaixonada.
— Sim, ele é dócil e amoroso pra caralho — diz orgulhoso.
— Diferentemente do pai, que é um tirano na maior parte do tempo —
provoco, ganhando um olhar mortal. — Estou mentindo?
— Está. Sou dócil e amoroso. — O interfone toca e eu o acompanho até a
porta, para pegarmos a pizza. Surpreendo-me ao ver que são duas caixas.
Arrumamos a mesa e, antes que possamos pegar Mathew, o interfone toca
novamente.
— Pode pegar Mathew para mim? — pede indo atender. Eu vou.
O garoto parece ter gostado de mim, porque ele vem prontamente e pede para
subir em minhas costas.
Atendo ao seu pedido e caminhamos para a cozinha. No meio do trajeto, vejo
que é o meu irmão na porta, com um semblante nada agradável.
— Desculpe-me... eu não fazia ideia de que seu filho estava aqui — diz a
Vincenzo, visivelmente chateado. — Preciso conversar com você — anuncia,
deixando-me com a pulga atrás da orelha.
— Tôr?
— Maria Flor pode ficar com Mathew, não pode, Flor? — Joseph pede, e é
óbvio que posso. O que meu irmão precisa falar de tão urgente com Joseph?
— Claro. Com maior prazer — digo e Mathew grita “Flower” em alto e bom
som.
— Tia Flower vai ficar com você — Vincenzo anuncia rindo. Quase o mando
para o inferno com uma passagem só de ida.
Há uma cadeirinha de alimentação e eu a pego para colocar Mathew. Prendo-
o nela, porque não me sinto segura ainda. Vai que ele é endiabrado? Não sei.
Prefiro não me arriscar.
— Então, Mathew, você está com fome?
— De leão! — responde rindo.
— O cheiro está delicioso, que tal comermos uma fatia escondido do papai?
— proponho. Ele balança a cabeça em concordância.
Pego uma fatia da pizza de calabresa e corto em pedacinhos pequenos. Sirvo
um corpo de refrigerante e me acomodo ao lado de Mathew.
Vou dando aviãozinho, porque não sei se ele come sozinho. Afinal, o que eu
sei sobre crianças? Só sei que fazem merda demasiadamente, nada além
disso.
A cada volta com o garfo que dou, ele dá uma gargalhada gostosa. Acho
bonitinho quando ele toma o garfo da minha mão, espeta um pedaço e faz
aviãozinho para mim. Como a mãe desse garoto consegue ser tão filha da
puta? É impossível tratá-lo mal, impossível. Estou muito apaixonada por ele.
— Que bonito! — comenta Joseph, surgindo na porta minutos depois,
pegando Mathew em flagrante, me dando aviãozinho. — Eu também quero!
Estou com ciúmes — protesta. Mathew pega um pedaço e oferece a ele.
— Está tudo bem com Tôr? — pergunto.
— Depois falamos sobre isso, ok? — diz e eu concordo. Certamente é algo
que não pode ser dito na frente de uma criança. Espero que meu irmão esteja
bem.
Joseph se aproxima de Mathew com um sorriso enorme e aceita o aviãozinho
de bom grado. Em seguida, beija o garoto com todo amor que possui dentro
de si. Quero me casar com ele!
Não, não quero.
Sim, eu quero sim.
Não!
Acabamos os três utilizando apenas um prato e um copo. Ficamos no nosso
ritual de aviãozinho, fazendo rodízio. Perco até mesmo a conta de quantos
pedaços comemos, mas sei que foram muitos.
— Bom, agora acho que deveríamos assistir um filme, o que acham? —
propõe Joseph.
— Eu posso ficar no meio? — Mathew pergunta.
— Como assim?
— No meio de você e da tia Flower. — Oh, porra! Caralho! Puta que pariu!
Eu o quero para mim!
— Claro que pode — digo, tirando-o da cadeirinha e o pegando em meus
braços. Foda-se, Joseph Vincenzo, eu estou morrendo de amores, tanto que
não quero saber nem mesmo de lavar a louça que sujamos agora.
Penso que estamos indo para a sala, mas Joseph nos conduz a um lugar que
eu ainda não conhecia em sua casa: uma sala de cinema. Há sofás tipo cama e
um enorme telão.
— Querem pipoca? — oferece, ligando o aparelho.
— Eu não aguento. E você, Mathew? — pergunto agarrada ao garoto.
— Não quero, papai.
— Mathew, você disse que queria ficar no meio e está no colo da tia Flower.
— Tia Flor! — corrijo.
— Quero ficar com a tia Flower — diz o garoto, enquanto faço cafuné em
seus cabelos. Vincenzo não diz nada, porque dou um olhar maquiavélico para
ele. Então o bonitão escolhe um filme de animação e ficamos assistindo. O
que acho mais incrível é que ele assiste atento com o filho, dedicando toda
sua atenção e apreciando o momento cinema. Enquanto eu, ao invés de fazer
o mesmo, estou focada em sua imagem sexy, deitado tranquilamente de
maneira despojada. Ele está usando uma calça de moletom cinza e uma
camisa cinza e preta. Tem coisa mais sexy que um homem de calça de
moletom? Porra...marca tudo...
Sério, se eu ainda possuía chances de ir para o reino dos céus, acabo de
perdê-las. Não existe mais salvação para a minha pobre alma sofrida. Meu
lugar no inferno está mais do que garantido e o capiroto está quente pelando
a minha espera, com o tridente em mãos pronto para atolá-lo em minha
bunda!
Há uma criança em meu colo e eu estou excitada pra caralho, observando
Joseph brincar com ele. Isso é doentio, eu sei. Aliás, não sei se me excita
mais ver Joseph no modo rude ou no modo paternal. De qualquer maneira,
ele conduz as duas opções de uma forma absurdamente quente e bem-feita.
Esse papai é foda pra caralho!
Tento me concentrar no filme e fico fazendo cafuné em Mathew, até perceber
que ele desmaiou.
— Ele dormiu — sussurro para Joseph, recebendo um sorriso.
— Vou levá-lo para o quarto — anuncia, ficando de pé e pegando Mathew
em seus braços. Desligo tudo na sala de cinema e o sigo para acompanhar
todos os detalhes desse momento único. Nunca desperdiçaria a chance de
apreciar uma cena dessas.
Ele entra no quarto do garoto e pede que eu acenda o abajur. Após acender,
sigo até a cama, afasto as cobertas e ele acomoda o filho com todo cuidado,
depositando um beijo em sua testa e o cobrindo.
É quase um orgasmo.
Eu quero e pretendo voar sobre esse homem tão forte, que nem sou capaz de
raciocinar agora. Nós podemos fazer sexo enquanto o filho dele está aqui,
não podemos? Merda, eu espero que sim.
Percebo que o quarto é monitorado por câmeras, quando o superprotetor
aperta um botão e algo gira no teto. Ultramoderno.
O engraçado é que Joseph é bilionário, sua casa possui itens ultramodernos,
porém, é simples e aconchegante; uma mistura no mínimo curiosa para
alguém como ele. É quase do mesmo modelo da minha casa, contudo, mais
bem equipada. Com todo esse dinheiro, você apostaria que ele mora em uma
mansão em Beverly Hills, o bairro mais luxuoso e famoso da Califórnia. Mas
não, ao contrário disso, ele optou pela simplicidade, algo que gosto muito e
que se encaixa perfeitamente com a criação que meus pais me deram.
— Vamos, Flower — sussurra em meu ouvido. O acompanho, mas foco em
Mathew antes de sair.
Acabo de descobrir que um dia quero ser mãe. Essa ideia nunca havia
passado pela minha cabeça, mas agora está aqui, assim, do nada. Uma criança
traz leveza para os dias difíceis. O sorriso de Mathew arrebatou meu coração.
Joseph nos conduz até a suíte principal, pega um controle, aperta alguns
botões. Imagens do quarto de Mathew surgem em sua televisão ultra
tecnológica. Acho incrível que ele tenha todo um cuidado especial com o
filho.
Ele me encara enquanto retira a camisa, causando o impacto de sempre.
Minha boca chega a salivar conforme passo a língua pelos meus lábios e
mordo meu lábio inferior. Nunca imaginei que a minha carne fosse tão fraca.
Na verdade, não costumava ser. É algo nele que me deixa assim, fraca,
entregue, idiota.
— Então, Flower...
— Pare de me chamar de Flower, merda! Aposto que foi você quem ensinou
errado para o garoto — o repreendo. Ele ri. Estou surpresa com a leveza que
ele está demonstrando hoje. Algo me diz que a presença de Mathew é o
motivo. É um amor que dá para ser sentido.
— É um segredo meu e do meu filho — responde.
— É, papai? — questiono e o vejo engolir em seco. — Continue me
chamando de Flower, papai! — provoco. O homem vem para cima de mim
com tudo. Pobrezinho, eu sou mais rápida e fujo. Subo em sua cama e sorrio
ao vê-lo de cara fechada. — Está puto, papai? — questiono. De repente, está
quente demais aqui. O suficiente para eu enganchar meus dedos no cós de
minha calca e retirá-la sob o olhar esfomeado de Vincenzo.
— Pare de chamar assim. São efeitos diferentes, Maria Flor — argumenta.
— Qual efeito te causa, papai? Mostre! Oh não, não mostre. Não podemos
transar com o seu filho em casa — digo, fazendo um enorme bico.
— Quem disse isso? — questiona, tentando me pegar enquanto fujo, pulando
pela cama afora. Ainda bem que é gigantesca...
— Eu estou dizendo.
— Você é mãe por acaso? — pergunta, contrariado.
— Não pretendo ser mãe tão cedo, mas serei um dia. Você tem sido um bom
professor sexual, de um jeito que estou me tornando viciada em sexo, papai.
Meu marido ficará feliz em ter uma esposa como eu, praticaremos sexo
excessivamente e faremos um filho. — Ele suspira.
— Então, quando tiver um filho, não fará mais sexo? — questiona. Ele para
de tentar me pegar e passa a me observar com um ar de curiosidade.
— Pouco provável. Acredito que serei como uma ninfomaníaca. Amo foder.
— Não gosto desse tipo de brincadeira — alerta com seriedade. — Sem
marido para você, Maria Flor — adverte. — Venha! Pare com esse joguinho,
parece uma criança fujona.
— Que fede a leite materno? — provoco.
— Que cheira a feromônios — explica. — Vem no papai, Flor. Sente-se no
colinho do papai, gostosa. — Puta que me pariu...ele não disse isso. Estou
chorando por todos os lados agora. Isso foi quente ao extremo.
— O que eu vou ganhar indo, papai? — Ele suspira e sobe na cama,
pegando-me de uma só vez.
Eu rio enquanto ele me faz cócegas. Somos duas crianças que fedem a leite
materno agora.
Quando estou perdendo o fôlego, ele paira sobre mim e fica analisando meu
rosto de uma maneira que me deixa sem graça.
— Você fica corada quando te olho assim — comenta. — É muito linda,
Flor. Deveria ser proibido uma mulher como você.
— Como eu em que sentido?
— Em todos. Obrigado por ter sido além de legal com Mathew. Ele gostou
muito de você e é muito importante para mim que tenha gostado dele — diz.
— Como não gostar? Ele é perfeito em todos os sentidos. É uma criança
apaixonante — asseguro. — Nunca tive muito contato com crianças, não
sabia se seria boa com ele. Mas parece que fui, até o fiz dormir. — Sorrio.
— Você foi além de boa, Flor. Estou ainda mais encantado por você. — Ele
passeia com uma mão em meu rosto e, quando vai me beijar, o interfone toca
mais uma vez. Ele pega o controle e aperta um botão que mostra a imagem da
frente da casa. O suspiro que ele dá me deixa em estado de alerta. Em um
segundo ele sai de cima de mim e fica de pé. A frustração estampada em seu
rosto não passa despercebida. — Flor, provavelmente teremos problemas
agora...
— O quê?
— Diana, mãe de Mathew — informa. — Não quero que pense que não
quero assumir você, mas eu quero resguardá-la de Diana. Não quero deixá-la
na mira dela. Pode ficar aqui e me esperar? Pode acompanhar pela câmera se
quiser... — Ele está demonstrando até mesmo receio agora. Imagino como
deve ser frustrante lidar com a mãe de Mathew.
— Ficarei aqui te esperando. Não se preocupe comigo, ok? — Reitero,
porque não quero ser mais um problema para ele lidar no dia de hoje.
— Obrigado por isso.
— Tire a calça de moletom! — ordeno. Nem por um caralho que permitirei
ele ir assim...
— O quê?
— Seu pau está duro e está marcando — explico. — Vista algo que oculte,
por gentileza, papai.
Ele me obedece. Veste uma bermuda rapidamente e uma blusa grande o
bastante para cobri-lo. Eu quase rio quando ele se vai, mas meu riso morre ao
observar o mulherão da porra que está lá fora esperando por ele. Ódio por ela
ser tão linda. Pelo visto, o padrão Joseph Vincenzo de qualidade é altíssimo,
sinto-me uma formiguinha agora. Que mulher detestavelmente linda! Parece
uma Barbie de cabelos negros. Extremamente elegante, sexy e naturalmente
sensual. Ódio!
Enquanto ela esbanja luxo, eu sou a garota com uma camisa larga da Levis,
sem maquiagem, sem porra nenhuma. Quer dizer, até há uma lingerie
bonitinha por baixo dessa camisa, mas está mais para fofa do que para
Femme fatale. Talvez seja o momento de virar um mulherão também, tendo
em vista que minha rival é luxo puro.
Vincenzo chega até a porta e então embalam uma conversa. Essa câmera
deveria ter um microfone integrado para que eu pudesse ouvir. Só consigo
ver os gestos rudes de Vincenzo com ela, que parece gritar a plenos pulmões
com ele.
A filha da puta descarada tenta agarrá-lo pela segunda vez no dia de hoje e eu
sou obrigada a ficar de pé, para conter minha indignação e a vontade de socá-
la. Puta rampeira! Eu queria ir até lá e arrastar a cara dela no chapisco de
algum muro!
Por Deus! Nunca me senti assim.
Abro o frigobar e pego uma cerveja para acalmar, mas a adrenalina agora está
correndo solta pelas minhas veias, de um jeito que me faz querer quebrar
tudo.
Ela tenta novamente, porém, ele a afasta todas as vezes. Vejo-o pegar o
celular enquanto tem uma mão à frente do seu corpo, impedindo a
aproximação. Isso é tão absurdo...
O que leva uma mulher a se humilhar dessa maneira? Aliás, o que me leva a
ficar insana dessa maneira? A resposta é bastante clara: Joseph Vincenzo,
molhador de calcinhas ambulante!
A mulher chega a agachar no chão. Eu sinto vontade de chutá-la de todas as
maneiras. Desligo a merda da televisão, porque não quero ver mais essa cena.
Há vários tipos de mulheres no mundo, eu faço parte da minoria que foge de
ver coisas embaraçosas como essa. Sou fodona para algumas coisas e covarde
para outras.
Está bem... nem tão covarde, porque, quando dou por mim, estou ligando a
merda da TV novamente.
Vejo um carro preto parar e dois brutamontes saltam dele. Abro a boca em
espanto quando eles seguram a tal Diana, levando-a com eles. Ela faz gestos
de quem está desesperada, mas se vai, incapaz de lutar contra os brutamontes.
Ela deve saber que brigar com Joseph é causa perdida.
Fico alguns longos minutos o esperando aparecer, porém, nada acontece, nem
mesmo um único zumbido. Por isso, visto um roupão que pego em seu
banheiro e vou atrás de encontrá-lo. Só não estava preparada para ver a cena
que destroça meu coração.
Ele está no quarto de Mathew, ajoelhado no chão segurando a mão do filho,
enquanto tem sua cabeça baixa.
Isso fode meu psicológico de forma que fico sem saber o que fazer ou como
agir.
Eu devo entrar e ampará-lo ou devo apenas voltar para o quarto e fingir que
não vi nada? Vê-lo desestabilizado não é agradável.
Sabe quando você nunca se imaginou em uma situação? Essa sou eu agora.
Nunca imaginei que um dia estaria na casa do meu babá, convivendo com o
seu filho e, de quebra, o vendo completamente desestabilizado.
Movida pela necessidade de dar um acalanto mínimo que seja, sigo meus
instintos e o que o meu coração está pedindo. Temerosa e me sentindo uma
intrusa em um momento tão paternal e tão dele com ele mesmo, caminho para
dentro do quarto e me ajoelho ao seu lado.
— Está tudo bem? — pergunto baixo, receosa como nunca estive.
— Sim, está tudo bem — responde, mas eu sei que não está. Ele fica de pé e
então me puxa para acompanhá-lo.
Reunindo toda minha coragem, estico-me nas pontas do pé e deposito um
beijo em sua bochecha. Ele me surpreende ao fechar os olhos e ofegar de uma
maneira doce.
Ele segura minha mão e nos conduz para fora do quarto de Mathew. Então
ele me encosta contra a parede e percebo o quão bem nossos corpos se
encaixam quando estamos de pé. Tenho um metro e setenta, Joseph deve ter
por volta de 1.85 ou pouco mais. De alguma maneira, estando nas pontas dos
pés, meus seios levemente macios pressionam o peitoral rijo dele e minha
pélvis embala sua ereção.
Ele desfaz o nó do roupão que está em meu corpo e o retira cuidadosamente,
deixando a peça cair em meus pés. Agora estou apenas de lingerie e só uma
camisa oculta esse fato.
Ele me pega pelas pernas, fazendo com que eu as envolva em torno de sua
cintura, conduz-nos até seu quarto e, quando fecha a porta atrás de nós, meu
ventre se contrai em antecipação. Esse homem é quente como um vulcão.
Sou depositada ao chão, então dou dois passos para trás, como se estar perto
demais fosse capaz de fazer meu corpo convulsionar.
Joseph estende sua mão, encontra a bainha de minha camisa e a puxa para
longe do meu corpo. Seu olhar viaja pelo meu corpo de maneira avaliativa e
ele dá um sorriso... doce? Eu não esperava esse sorriso agora, quando ele está
prestes a me devorar.
— Você é uma princesa, Flor. Eu amei isso — diz, apontando para minha
lingerie. Ele está com um olhar tão doce de admiração que eu estou puta pra
caralho. Sinto que minha vagina secou automaticamente agora, de tão puta.
Não queria doçura ao me ver seminua, queria tesão estalando por todos os
lados. Ok. Estou errada! Eu sei! — O que foi?
— Não queria que me visse como uma princesa. Não minutos antes de irmos
para a cama — confesso, ele arqueia uma sobrancelha.
— Você queria que eu te visse como? — pergunta visivelmente me
desafiando. Mais uma vez minha vagina se inunda. Esse homem é o diabo!
Dono do inferno!
— Como uma mulher com alto poder de destruição ou talvez pelo menos
como sua filhinha... — Aqui estou eu pegando o controle da situação de
novo.
— Você tem dúvidas sobre ser uma mulher com alto poder de destruição? —
questiona, sério, retirando sua camisa.
— Todas as dúvidas. Sou nova nessa brincadeira, papai. Você pode me
ensinar? — peço, à medida que ele quebra a distância entre nós. Suas mãos
descansam em minha cintura, enquanto ele mantém seu olhar penetrante em
meus olhos. Contenho um sorriso e sustento sua avaliação.
Ele tenta me beijar, então eu afasto nossos lábios provocativamente.
— Flor...
— Papai...
— Papai quer foder você — afirma, resoluto.
— Uma foda? Ou sexo? A foda de destruir a porra toda ou o sexo que
também é bem destruidor? — Ele não responde minhas dúvidas traidoras.
Afasta-se, fecha a porta com chave e anda pelo quarto em busca de algo.
Quando ele encontra o que deseja, eu engulo a seco. É um preservativo que
está descansando em sua boca, enquanto ele desfaz do restante de suas
roupas.
Ele vem caminhando em minha direção e eu vou andando de costas, até bater
contra a parede, sem chance de escapatória. Joseph se aproxima e abre o
fecho frontal do meu sutiã. Suas mãos envolvem meus seios e ele os aperta,
delicadamente, antes de ajoelhar ao chão e puxa minha calcinha.
Eu quase caio quando ele pega minhas pernas e as coloca sobre seus ombros,
uma por uma. Sinto-me vulnerável e exposta o bastante. Sei que já fizemos
sexo oral, mas assim é tão louco...Eu estou olhando para baixo e ele para
cima, quero enfiar minha cabeça num buraco, enquanto ele está prestes a
enfiar a sua língua em minha intimidade.
Seu braço contorna minha coxa, ele leva o indicador e o polegar em minha
intimidade para expô-la mais.
— Isso é tão desconcertante...
— Você quer uma foda, mas acha desconcertante que eu a beije dessa
maneira? — questiona, incrédulo. Sim, é isso mesmo, Joseph Vincenzo.
— Não é um beijo...
— Oh, é um beijo sim, Maria Flor, de língua. Você sentirá — avisa, não
dando tempo de eu formular uma resposta.
Sua boca toca minha intimidade, dessa vez não é um sexo oral carinhoso.
Fico completamente aturdida. Espalmo minhas mãos na parede, então as
desço para segurar em seus cabelos. Joseph está me devorando com sua
versão de beijo de língua vaginal. Ele me come com sua boca com
voracidade, como se fosse um banquete suculento.
— Meu Deus, Joseph! — exclamo, chocada, e o homem se transforma num
diabo sexual, consumido pelo tesão, assim que sente meu orgasmo se
aproximando. Ele para o ato e me coloca de pé, completamente frustrada e
sem forças.
Ele pega o preservativo no chão, abre-o e desliza o látex pela sua extensão.
Em seguida, me pega com força e enfia seu pau extremamente duro de uma
só vez em minha boceta, fazendo-me gritar. Isso doeu, como um inferno!
Doeu pra caralho mesmo! Porém, não me atrevo a comunicar, porque ele está
bastante insano agora. É uma foda. Não sei se é sua foda quando está no
modo tempestivo, mas isso certamente é uma foda sim. Uma foda que vai me
foder em todos os sentidos da palavra.
Sua boca vem até a minha, sinto meu gosto nele enquanto me beija. Uma
mão voa em minha nuca, ele puxa minha cabeça para trás quando agarra
meus cabelos, com força. Sua boca desliza por meu pescoço e ele morde,
chupa e beija, tudo insanamente. Enfim meu corpo se liberta da tensão num
orgasmo delicioso. Não existe sensação no mundo que seja melhor do que a
de gozar.
Ele nos conduz até a cama e eu quase agradeço a Deus por isso. Quase,
porque o diabo está aqui comigo e a cama parece ideal para ele ampliar o
ritmo da sua foda.
— Você vai me partir ao meio.
— Vou deixá-la dolorida por alguns dias.
— Esse é o seu pior? — questiono.
— Nem perto — afirma calando minha boca. Ele começa a diminuir seu
ritmo e solta um suspiro. — Você é muito gostosa, Maria Flor,
extremamente. Eu até começo fodendo..., mas então olho para o seu rosto e
não consigo. Sinto vontade de ir lento, de vê-la se contorcer de prazer
atentamente. Quero ir lento, Flor.
— Sim... — gemo, usando suas costas como minha base de apoio... só não sei
o tipo de apoio. Ele vai lento, porém, profundo para caralho. Muito mais do
que quando estava indo forte. Sinto até mesmo suas bolas pesadas batendo
sobre mim.
— Como você pode ter dúvidas sobre seu potencial sexual? — questiona. —
Estou de quatro por você, menina.
— Não diga essas coisas, me sinto vulnerável quando estamos transando.
— Sexo é um momento vulnerável — afirma. — Percebe quão duro estou
dentro de você?
— Sim, Joseph.
— Eu estou exposto. Durante a troca sexual é o momento onde você não
consegue fingir ou mentir. Se você o fizer, você será descoberto.
— Há mulheres que fingem orgasmos.
— Para moleques que não sabem foder e não entendem de sexo. Tipo agora,
sinto você me apertando, Flor, e se eu fizer mais um pouquinho de esforço
você gozará e a sensação é outra. Como se sua bocetinha estivesse me
sugando completamente e me estrangulando.
— Meu Deus...
— Um homem de verdade sabe identificar. — Sorri.
— Então estamos fazendo um sexo falante?
— Sim. Faremos sexo de todos os tipos. Há muitas coisas que gostaria de
falar e fazer, mas você ficaria assustada. Aos poucos vou introduzir isso em
nossa relação — sussurra em meu ouvido. Nós temos uma relação? Acho que
nós temos.
— Estou ávida para descobrir cada uma delas.
— Você sempre está ávida, Flor. Você é uma pequena tentação do caralho.
Tem sede e fome de aprender coisas novas.
— Você me ensina? Quero que me ensine tudo, tudo, absolutamente tudo. —
Porra! Eu estou tão apaixonada.
Estou experimentando tantas sensações desconhecidas, não apenas no âmbito
sexual. Eu já senti desejo em ficar com outros homens, mas nada se compara
ao que sinto desde quando vi Joseph pela primeira vez. Aquele lance clichê
de boca seca, palpitações, suor frio, arrepio pela espinha, borboletas no
estômago, contrações involuntárias nas partes baixas... isso é tudo o que
nunca acreditei. Parecia historinhas de livros de romances. Acontece que é
real, eu estou sentindo tudo isso e mais. Sonho com esse homem há tantos
meses. É mistura de tesão, desejo, admiração... Joseph é tão lindo
fisicamente, tão lindo que beira ao inacreditável. Agora eu estou conhecendo
o seu “eu interior” e me sinto ainda mais presa, presa de todas as maneiras
possíveis.
Ainda é bastante surreal acreditar que estou em sua cama e que estamos
trocando palavras, enquanto fazemos sexo.
Joseph antes não oferecia nem mesmo sua amizade. E agora parece que está
disposto a me oferecer o coração. Ele abriu a guarda e está me permitindo
entrar para bagunçar sua vida politicamente correta.
— Você é minha menina.
— Eu sou? O que isso significa? — questiono.
— Significa que eu te darei o mundo, Maria Flor.
— Você está apaixonado por mim, Joseph Vincenzo? — pergunto,
provocando-o, enquanto traço círculos em suas costas e o deixo me tomar
com sua lentidão deliciosa.
— Eu estou, Flower. — Ele desce seu lábio ao meu e selamos algo que não
tem explicação.
Nosso assunto passa a ser discutido exclusivamente por nossos corpos, que se
rendem ao prazer juntos. Joseph ofega, solta um rugido quando me preenche
com sua porra. Ele está tremendo. Eu também. A visão dele tendo um
orgasmo é perfeita. Ficamos um tempo presos nessa névoa, mas passa quando
ele joga seu peso sobre mim e começamos a rir, abraçados. Quem ri no pós
sexo? Nós!
— Esse foi o sexo mais lento da minha vida — comenta.
— Da minha também — brinco.
— Todas as suas primeiras vezes serão minhas — anuncia. — Sabe, Flor, eu
nunca fui o tipo de homem orgulhoso. Mas tenho um orgulho imenso de ter
sido seu primeiro e único homem.
— Oh, bonitão, está se achando... — Sorrio.
— Orgulho, Maria Flower, eu tenho orgulho pra caralho. Um orgulho doentio
— afirma com seriedade.
— Eu gosto disso... — anuncio.
— De Maria Flower?
— Não! Isso eu não gosto. Mas gosto que tenha sido o meu primeiro. —
Sorrio e então um choro nos faz saltar da cama. Puta que pariu!
— Mathew. Algo está errado, ele nunca chora... Vista algo — diz,
desesperado, vestindo sua cueca e sua bermuda.
Ele sai disparado, então eu me limpo e me visto rapidamente para ir atrás.
Quando chego ao quarto, há sangue no nariz de Mathew e ele está
praticamente desacordado nos braços de Joseph.
— Merda, o que aconteceu? Ele estava chorando minutos atrás...
— Pegue a minha carteira no quarto e a chave do meu carro — pede
Vincenzo, atônito. Chega a estar pálido.
Faço o que ele pediu e então o encontro já na porta de casa.
— Preciso que dirija até o Children's, sabe onde é? — questiona.
— Eu sei. — Abro o a porta do carro para que ele entre com Mathew e me
acomodo, ligando o carro e abrindo a garagem.
Confesso que estou até com medo de dirigir no meu atual estado de
desespero. Mas por Mathew eu me forço. É necessário que eu respire fundo
antes dar partida no carro.
— Porra... está piorando.
— Me desculpe, mas terei que ser imprudente agora — informo acelerando.
Joseph faz uma ligação para o hospital durante o trajeto.
Que Deus nos proteja, principalmente, proteja o Mathew.
E que proteja a mãe de Mathew, porque sinto que de alguma forma ela tem
culpa sobre isso e, se minhas suspeitas forem constatadas, Vincenzo acabará
com ela.
Quando chegamos, já há uma equipe médica aguardando o garoto. Vincenzo
quase quebra tudo ao ser impedido de acompanhá-lo. Eu nunca presenciei
algo tão devastador assim. Mathew é tão pequenino...
— Vai dar tudo certo, você precisa se acalmar — digo, fazendo-o se sentar na
recepção.
— Eu não deveria ter dado pizza a ele. Ele chegou passando mal da viagem,
dei remédio e ele ficou bem, Flor... eu fui e dei a pizza. Meu filho ama pizza.
— Oh meu Deus! Dai-me estrutura para lidar com um Vincenzo devastado. É
de partir o coração.
— Se ele chegou passando mal, é porque algo já estava errado, você não tem
culpa. Não se culpe. Os médicos farão um check-up e descobrirão o que há
de errado — digo, tentando tranquilizá-lo.
— Desculpe-me por envolvê-la nisso.
— Peça desculpas e nós teremos um problema — informo. — Estou onde
queria estar, ao seu lado — reitero, sob seu olhar atento.
— Você certamente seria uma mãe muito melhor para o meu filho. —
Suspira sem se dar conta do impacto que suas palavras causaram em mim.
CAPÍTULO 5
— O que você está fazendo? — questiono a Bruce, intrigada. Ele abre o mais
largo dos sorrisos.
— Levando-a para desestressar.
Uma corrida no parque...
Frustração me define neste momento. O conceito de descarregar a adrenalina
que Bruce possui é completamente diferente do meu. Ele já deu três voltas
correndo no parque e eu estou caminhando a passos lentos para evitar a
fadiga e porque estou com uma sainha imprópria. Se eu quisesse malhar ia
para a academia.
Ok Isis, respira fundo e não pira. O que você está fazendo da sua vida? Meu
subconsciente questiona.
Pois é, caro inconsciente, o que eu estou fazendo da minha vida? Por que me
sinto descontrolada em todos os campos da minha vida? Talvez eu deva
procurar tio Ricardo e fazer uma terapia intensiva via Skype.
Ele surge ao meu lado e então cessa sua corrida.
— E então, pequena coisinha quente. Gostando do nosso passeio? —
pergunta segurando um sorriso.
— Amando. É bom estar em meio a natureza, ouvir os pássaros cantando,
sentir o cheiro de mato. — Sorrio.
— Não gosta de atividades físicas?
— Gosto. Vários tipos — comento, enquanto caminhamos até um banco.
— De qual mais gosta? Só me dizer e nós faremos. CrossFit? — pergunta,
curioso.
— De todas as atividades físicas existentes no mundo, minha preferida é o
sexo.
— Isis... — diz num tom repreensivo. Qual o problema dele com sexo? É
frustrante. O homem parece uma máquina de foder e então age como um
celibatário.
— Só estou sendo sincera. — Sorrio.
— Vamos ali no carro — convida ficando de pé e estende sua mão, que pego
mais que depressa.
Caminhamos passeando pelo parque deserto, então chegamos ao
estacionamento mais ermo ainda. Bruce sorri quando chegamos diante do
carro e, surpreende-me ao me puxar para um beijo delicioso.
Nossas línguas se cruzam ao mesmo tempo que nossos lábios duelam entre si.
Sou sentada sobre o capô e quando percebo estou retirando a blusa dele. Uso
a deixa que ele está dando e aproveito a oportunidade. Minha mãe sempre
disse que nunca devemos desperdiçá-las.
— Nós podemos ser pegos — comento afastando nossos lábios.
— Podemos. Você quer parar? — pergunta, beijando meu pescoço e sorrio.
Não quero parar. Aqui é totalmente deserto e prefiro acreditar que o universo
está do nosso lado neste momento, conspirando para que nenhuma alma
penada surja e atrapalhe minha conquista sexual.
— Não. Apenas quero continuar. Quero protagonizar uma cena quente para
aliviar minha vontade de tê-lo, não importa as consequências. — Ele sorri,
então enlouquecemos juntos.
Eu abro sua bermuda e faço pela primeira vez um contato com seu membro.
É impressionante, tanto que afasto nossos lábios e o empurro para contemplá-
lo melhor. Certamente todas as palavras que já ouvi sobre big pirocas até
hoje se encaixam no pau de Bruce. É surpreendente e chocante. Em meu
interior agora surge até mesmo um receio: como será recebê-lo? É de longe o
maior e mais grosso que já lidei. E olha que Lorenzo é bem-dotado.
Lorenzo, Isis? Sério que você está lembrando de Lorenzo e fazendo
comparações? Meu subconsciente repreende coberto de razão.
— Gosta do que vê?
— Eu amo muito tudo isso — afirmo, soltando seu cajado. O puxo pelo
cordão.
Ele não vem. Contrariando minha vontade e minha previsão, ele segura em
minha cintura, trazendo-me de volta ao chão, vira-me de costas e faz com que
eu debruce meu corpo sobre o capô. Espalmo minhas mãos sobre a superfície
e aguardo suas ações. A ansiedade me consome a cada segundo,
especialmente quando sinto suas mãos em meus calcanhares.
Bruce começa a subi-las numa lentidão agoniante pelas minhas pernas, até
adentrar em minha saia e alcançar as laterais da minha calcinha. Lentamente
a desliza, permitindo que caia ao chão, então me vejo completamente livre e
exposta. Não me atrevo a olhar para trás e descobrir o que ele está fazendo,
mas sei que, antes que eu possa protestar sua ausência, ele abre um pouco
minhas pernas e encontra minha entrada com seus dedos espertos. Incapaz de
pronunciar quaisquer palavras, ofego delirando de tesão. Ele retira os dedos e
começa a pedir passagem como seu membro, me penetrando sem pressa. Sua
grossura me alarga pouco a pouco, um misto de dor e prazer.
Uma mão espalma minhas costas, para manter-me imóvel, e a outra agarra
meu quadril. Logo ele deixa a lentidão de lado e penetra tudo de uma só vez.
Porra! Esse homem deixa as coisas injustas para os outros homens.
Definitivamente!
— Bruce...
— Isis, minha boneca, você é o céu — diz. Quero dizer que ele é o inferno de
tão quente e extremamente gostoso, mas me calo. Ele disse que queria me
possuir. Eu estou permitindo que ele faça o que quiser comigo.
E ele faz.
E o melhor, ele sabe o que fazer e como fazer. Desafiando e ultrapassando
todas as minhas expectativas, percebo que ele sabe exatamente como cuidar
do corpo de uma mulher. Exatamente como se tivesse nascido para o sexo,
como previ.
Ele tem um jogo de cintura e uma malemolência em seus quadris que beira ao
absurdo. A forma como ele se mexe em meu interior, é focada para trazer
meu orgasmo à tona.
— Bruce...
— Minha boneca...
— O que você está fazendo comigo? — questiono, aturdida, tentando conter
a explosão que se aproxima.
— Eu estou destruindo você para os outros homens, minha boneca —
sussurra em meu ouvido e então ....
Eu acordo desesperada.
Meu Deus do céu! Eu estou enlouquecendo, tive um orgasmo dormindo!
Salto da cama apressada e, como uma insana, entro de calcinha e sutiã
embaixo da ducha fria. Estou desorientada como uma barata tonta.
Retiro minhas roupas íntimas. Quando toco em meu corpo, cada pedacinho
dele está tomado por uma sensibilidade absurda. Parecia tão real... tão bom.
Perco um tempo cuidando de mim e imaginando como seria ter Bruce me
fodendo. Certamente o prazer seria garantido.
Meia hora depois, após o choque de água fria, encontro-me preparada para
descer e começar o dia. Encontro minha mãe na sala, com um sorrisinho em
seu rosto, conversando com meu pai por vídeo chamada.
Corro até ela e invado a cena.
— Pai!
— Minha princesinha! — exclama. — Como você está, meu amor?
— Bem, acabei de acordar. E você?
— Com saudades. Duas das minhas princesas estão longe de mim. Isso é
injusto — reclama, fazendo bico. — Estou indo buscá-la, Victória, não
adianta lutar contra isso — anuncia, sério, e eu me sinto uma invasora de
conversas.
— Ok, meu sadcasal, vocês podem conversar e resolver as diferenças —
informo, beijando minha mãe e mandando um beijo para o meu pai.
Caminho até a cozinha e minha vó está sentada em uma cadeira, rindo de
algo que está vendo no celular. Ela leva um susto tão grande quando me vê,
que deixa até o aparelho cair. Algo de errado ela estava fazendo, certeza.
— Bom dia, vó!
— Quer me matar de infarto? — questiona, levantando-se e vindo me
abraçar. — Bom dia, meu amor. Dormiu bem?
— Muito bem — informo indo preparar um lanche.
— Vocês são tumultuados aqui, hein? — Comenta.
— Por quê?
— Há Heitor com problemas com Milena, Maria Flor no hospital com filho
de Vincenzo, Arthurzinho na Itália resolvendo problemas com Mel. Sério,
estou me sentindo no meio de um tornado. Agora me conte sobre você, que
também está tumultuada. Qual é desse triângulo amoroso que está vivendo?
Já fez ménage? — Eu me engasgo com o leite com Nescau.
— Ménage? — questiono rindo, enquanto limpo minha boca.
— Dois homens e você, isso é igual a um ménage. Vamos lá, conte para a
vovó. Sou vida louca. Ninguém da família fez ménage até hoje, quer dizer...,
houve Ricardo. Ele fez um ménage no casamento dos seus pais, com
Giovanna e Sabrina.[13]
— Quê? — grito, chocada, à medida que me sento ao lado dela. — Sabrina
filha da tia Alice? — Ela ri.
— Você era novinha. Sim, Sabrina filha da tia Alice. Sabrina é bissexual.
Queria ficar com Giovanna e parece que despertou interesse nela. E, para
ficar perfeito para todos, incluíram Ricardo no pacote. Ficamos escutando
atrás da porta do banheiro.
— Você está brincando! — exclamo, altamente impactada.
— Não. Depois ainda passaram o restante da noite juntos no hotel.
— Meu Deus! E como eles convivem? Porque tio Ricardo frequenta todas as
festas da família e Sabrina também.
— Agem como se nada tivesse acontecido — explica.
— Com essa naturalidade?
— Sim. Gi já até saiu para fazer compras com Sabrina no Rio. São
superamigas. — Gente!
— E eles ainda se pegam?
— Não. — Minha avó ri. — Foi uma única noite. Eles falam disso com
naturalidade, é engraçado. Mas voltando a você...
— Oh, vó, não me sinto preparada para falar sobre Lorenzo. Mas posso te
dizer sobre Bruce. — Sorrio.
— Você e Lorenzo não estão mais juntos?
— Não. Desde Las Vegas. Foi uma curta e louca história de amor — explico.
— É uma pena. E onde Bruce entra nisso?
— Nós nos conhecemos em Las Vegas. Eu e Lorenzo brigamos na boate,
então eu o deixei e fui andar pelas ruas. Encontrei uma boate com o nome
suspeito e entrei.
— Uma boate suspeita?
— Que não é uma boate e sim um tipo de clube do sexo superseleto e VIP. —
Ela arregala os olhos em descrença.
— Novamente, onde Bruce entra nisso?
— Ele é dono da boate e me pegou espiando em flagrante.
— Pau no meu cu! — ela exclama. — Ele é dono de um clube de sexo?
— Sim e advogado também. Inclusive advoga para Joseph Vincenzo.
— Oh meu Deus! Estou chocada, no chão mesmo. Como diz Mel, real e
oficial. Um clube de sexo em Las Vegas... eu e Arthur precisamos ir.
— O quê?
— Diga-me, o que rola lá? — pede, completamente interessada.
— Bom, na entrada é um bar normal, extremamente luxuoso. Você nunca
desconfiaria que é um clube de sexo. Bruce me explicou que eles te dão
algumas pulseiras que simbolizam o que você busca. Há um significado para
cada cor de pulseira. Há swing, voyeurismo, orgias... É louco! Parece coisa
de filme.
— E você participou de uma dessas coisas?
— Não. Quer dizer, eu fui até a parte de voyeur, porque estava realmente
interessada em saber como era o lugar. É luxuoso, vó, extremamente. Nada
vulgar, sabe? Tudo dentro de limites rígidos e muito bem administrado.
Quando não conhecemos, pensamos que é uma zona completa onde mulheres
se vulgarizam, homens se tornam tarados insanos. Mas não é nada disso, é
rigoroso e seleto. Um ambiente completamente refinado e sensual, sem
qualquer traço de vulgaridade.
— E há BDSM?
— Sim, há um ambiente de BDSM, mas eu não conheci e provavelmente não
irei conhecer. Bruce diz que não sou para o BDSM — explico.
— Ouça a voz da experiência, se ele está dizendo, deve ser porque tem
conhecimento aprofundado nisso.
— Sim, eu sei.
— Ele é fofo, né? Achei interessante ele dizer que você não é para essas
práticas. — Ela sorri. — E feliz por Joseph conhecê-lo, isso me deixa mais
tranquila. Será que Joseph já frequentou esse lugar? Será que Joseph gosta de
um chicote estalando?
— Não sei, vó — digo rindo e minha mãe se junta a nós.
— Ouvi falar sobre chicote.
— Sim. Estávamos questionando se Joseph gosta de dar uma chicotada —
explica minha vó. — Você gosta, né, norinha?! — Encaro minha mãe em
choque e ela ri.
— Matheus é bom com chicote e cordas —minha mãe diz com naturalidade.
— Houve um período que deixamos as brincadeirinhas de lado, mas, com o
passar dos anos, resolvemos inovar.
— Oi? Meu pai? Como assim? — Pergunto quase tapando meus ouvidos.
— Nada que uma filha tenha que saber, mocinha.
— Oh, meu Deus! A imagem do meu pai com um chicote nas mãos nunca
sairá da minha mente — afirmo.
— Seu pai é lindo com um chicote em mãos — ela afirma com um sorriso
enorme no rosto.
— Mãe, você é tão... minha avó!
Estou ainda perplexa quando a porta de entrada se abre e Flor chega. Ela
parece desesperada.
— O que houve? — questiona minha vó, desesperando-se.
— Eu vim trocar de roupa. Está um inferno no hospital. Bruce está lá —
comenta.
— Bruce? — questiono.
— Vocês não fazem ideia! Não fazem! — diz esbaforida.
— Como Mathew está? — Minha vó pergunta.
— Ruim, mas a mãe dele ficará pior! — afirma. — Vincenzo é um trator. Eu
juro que estou com medo dele hoje. Os funcionários do hospital estão
praticamente por conta dele e ele está atropelando metade do mundo. Enfim,
não há tempo para contar. Preciso de um banho e de uma roupa decente para
voltar. Estou com o carro dele — explica e sai correndo escada afora.
— Uau! — exclamo.
— Espero que Mathew se recupere.
— Joseph Vincenzo... Esse homem veio para mudar a vida de Maria Flor,
acredite. Já vi essa história antes — afirma minha vó sorrindo.
— E você, filha, qual dos dois homens veio para mudar a sua vida? —
pergunta minha mãe. Eu dou uma gargalhada.
— Oh, mãe... sinceramente, não acredito que homem algum tenha vindo
mudar minha vida. Estou bem, vivendo um dia de cada vez. Minha primeira
tentativa de atropelar as coisas falhou. — Sorrio.
Minha única pressa em relação a Bruce é sexual, mas sei que isso é algo que
ele mesmo está tentando controlar. Às vezes, é bom renunciar ao controle – e
descontrole –, deixar as coisas apenas fluírem, mesmo que passe por alguns
momentos de frustração.
— Então, vamos almoçar fora? Onde o Heitor está? — Proponho.
— Dormindo. É uma merda... eu irei ajudá-lo. Eu, sinceramente, estou
querendo ir em busca de uma casa aqui. Não há como ser diferente.
Arthurzinho, por ser o mais novo, está sendo menos privilegiado que
Matheus e Beatriz. Meu coração de mãe não será capaz de deixá-lo em meio
a confusão emocional em que ele se encontra. E há vocês, meus netos, pelo
amor de Deus, está um mais perdido que o outro.
— Calma, Mari. Não decida as coisas precipitadamente — diz minha mãe. —
Vamos almoçar fora, aproveitar um pouco. Você terá tempo para pensar
sobre isso.
— Ok, família, irei me trocar — aviso, lavo meu copo e subo para arrumar.
Passamos parte da manhã andando em lojas de grife e eu viro guia turística.
Paramos para almoçar em um bistrô e, quando terminamos, ficamos sentadas,
conversando banalidades. É então que olho para o lado e vejo mais uma cena
de casal protagonizada por Lorenzo e Paulinha. Eles estão rindo e brindando
com uma long neck.
A imagem embrulha meu estômago no mesmo instante e sou obrigada a
correr para o banheiro, onde coloco tudo o que comi para fora. Lavo meu
rosto, repetidas vezes, e então me encaro diante do espelho. Não há como
conter, eu choro.
Choro de ódio. Não por sentir dor ao vê-los, mas por ter me submetido a essa
situação. Sinto-me enojada por ter me permitido ser tocada por ele.
Primeiro ele foi em Maria Flor. Logo em seguida veio até mim. Nem mesmo
duramos um tempo considerável. Então há Paulinha, que não sei há quanto
tempo está com ele. Tudo me leva a crer que fui usada, me sentir dessa
maneira é a pior de todas as coisas. Faz-me pensar se há algo errado comigo.
— Isis, abra! — diz minha mãe batendo à porta e eu abro.
Eu voo em seus braços. Ela fecha a porta atrás de si e me abraça.
— O que há, minha princesa? O que está acontecendo?
— Isis! — É a voz de Lorenzo. Isso me faz conter o choro e me afastar, em
estado de choque.
— Lorenzo... ele está lá fora.
— Por favor, abra — pede.
— Não, mãe. Não quero falar com ele.
— O que houve? Por que está chorando? — ela pergunta.
— Eu o vi com uma garota... Não quero falar com ele — explico vagamente
e a porta se abre.
— Me desculpe, dona Victória.
— Saia! — ordena minha mãe. — Por favor, Lorenzo, saia.
— Por favor, Isis, converse comigo — insiste, balanço minha cabeça
negando. É então que outra crise de vômito me invade e eu corro até o vaso
sanitário, fechando a porta atrás de mim.
— Isis sempre tem crises quando fica nervosa. Quando ela não tem febre
emocional, vomita sem parar. Então, por favor, você é o motivo do
nervosismo, ficarei agradecida se sair. — Ouço minha mãe pedir. — Não
adianta conversarem de cabeça quente, nunca sai algo que presta, experiência
própria. Espere as coisas acalmarem. É o melhor a ser feito agora.
— Ela pensa que eu não a amo. Só preciso dizer que a amo, que não menti
sobre isso.
— Mas mentiu sobre todo o resto — grito. — Saia!
Ele parece sair, pois ouço a porta batendo com força. Recomponho-me, volto
até a pia e lavo a boca e o rosto mais uma vez. Minha mãe fica silenciosa,
respeitando meu momento. Minutos depois, ergo minha cabeça e saio
tentando controlar meu ataque de nervos.
Nós voltamos para casa e eu durmo por três horas, até ser desperta por
alguém juntando-se a mim. Acordo com Bruce ao meu lado e quase caio da
cama.
— Olá, boneca.
— Meu Deus!
— Sou tão assustador assim? — pergunta sorrindo.
— Não. Eu sonhei com você essa noite. E então dormi após o almoço e
acordo com você em minha cama.
— Sonho bom ou ruim?
— As duas coisas — respondo, voltando a relaxar. Queria puxá-lo para cima
de mim.
— Sua mãe disse que passou mal e permitiu que eu subisse.
— Está há muito tempo aqui? — pergunto.
— Uns cinco minutos. Fiquei com dó de acordá-la, estava quase indo embora
— responde, suspirando. — Estou um pouco esgotado psicologicamente
hoje. Fiquei no hospital desde manhã bem cedo e só saí de lá agora.
— Fiquei sabendo. Notícias sobre Mathew?
— Está sendo medicado, a medicação o deixa dormindo. Tem algo a ver com
anemia e mais algumas complicações. Ele ficará no hospital por mais alguns
dias, pelo que parece — explica.
— Merda. E Vincenzo?
— Incontrolável. Mas não quero falar disso agora. Quero propor um
programa mais leve. O que acha de ir para o hotel, assistirmos a alguns filmes
e comer besteiras no aconchego de uma cama? Amanhã tenho que voar para
Las Vegas, então gostaria de aproveitar o resto do dia de hoje com você —
propõe, mexendo em meus cabelos. — Claro, se você estiver melhor.
— Acho que me sinto melhor — digo saltando da cama. Ele abre a boca em
surpresa. Só então me dou conta de que estou apenas usando lingerie. —
Desculpe-me! Você não pode dizer que foi proposital, eu não sabia que
receberia visitas.
— Isis, minha boneca, você é o céu! — exclama e eu abro a boca em estado
de choque. É a mesma frase que ele disse em meu sonho. — Está tudo bem?
— Sim, não foi nada. Ok, pode cobrir os olhos se não quiser ver.
— Não tem problemas com nudez? Incrível! Também não há o que temer,
você é perfeita, pequena. Perfeita. É linda demais. Só tem um problema...
— Qual?
— Somos completamente diferentes — diz sorrindo. — Eu sou negro, você é
branquinha, eu sou forte, você é delicada ao extremo. Bem opostos. Parece
uma boneca de porcelana, Isis, tão perfeita. Seu corpo é todo delicado,
exageradamente delicado.
— Não sei se já ouviu essa frase aqui na Califórnia, ela é famosa no Brasil,
mas dizem que os opostos se atraem. Então tudo o que acabou de dizer, para
mim não significa absolutamente nada. — Ele arqueia a sobrancelha sério,
em seguida salto em seus braços rodeando minhas pernas em sua cintura e o
beijo até perder o fôlego.
— Pequena... você só é delicada por fora. Sei que em seu interior habita uma
gigante repleta de ferocidade. Não sei se já ouviu essa frase no Brasil... —
Diz, matreiro. — Mas dizem que as aparências enganam.
— Acho que você está certo. Elas realmente enganam na maioria das vezes,
só espero que eu não esteja me enganando com você. — Ele fica sério e me
encara, olhos nos olhos.
— O que houve, Isis? Vamos conversar? Quem a magoou? Está tudo bem
com você?
— Sim, está tudo bem — digo, afastando-me dos seus braços. — Vou me
trocar, ok? — Fujo até meu closet, deixando-o no quarto. Visto uma roupa
mais básica e coloco outra roupa reserva em uma bolsa. Rápida e prática. —
Estou pronta — informo e ele sorri, oferecendo-me sua mão.
Descemos juntos e vejo Heitor deitado nas pernas da minha mãe, todo jururu.
— Ei, Thor, está tudo bem? — pergunto, abaixando-me até ele.
— Ficará — responde beijando minha mão. — Amo você, juízo, ok?
— Amo você. — Sorrio. — Mãe, estou saindo com Bruce.
— Cuide dela ou será um homem morto — avisa séria, mas logo sorri. —
Divirta-se, com moderação.
— Prometo trazê-la inteira para casa — assegura Bruce. — Aliás, ainda não
acredito que são mãe e filha.
— Sim, pareço ter 25 anos, isso é incrível! — exclama minha mãe,
completamente sorridente. É uma verdade. Não diria 25, mas uns 35, nada
além disso.
Nós nos despedimos e ele, gentilmente, abre a porta do carro para que eu me
acomode.
Nossa primeira parada é em um mercado para comprarmos besteiras. É
engraçado, Bruce é leve e divertido – e me trata como uma princesinha de um
castelo.
Ele me pega em seus braços e me coloca dentro do carrinho. Cubro meu rosto
de vergonha e então começa a me empurrar rapidamente pelo mercado, como
uma corrida.
— Abra os braços, boneca — ordena. Eu retiro minhas mãos do rosto e os
abro. Ele corre comigo por um corredor e quase atropela uma velhinha.
Depois desse episódio, decido que é melhor se conter.
— Você é um péssimo motorista, Bruce! — brinco, sob risadas.
— Eu sou o melhor piloto de fuga que você já ouviu falar. No próximo final
de semana te levarei ao Kart, aí vamos disputar uma corrida — informa.
— Você virá no próximo final de semana?
— Virei durante a semana também. Os últimos dias serão de trabalho
exaustivo no caso do Joseph — explica, parando em frente uma sessão de
chocolates. — Eu amo M&M's.
— Deixe-me descer, eles nos expulsarão — peço.
— Não. Você é uma mercadoria de valor inestimável. Fique quietinha,
boneca.
— Oh, eu tenho 23 anos de idade! Todos estão me olhando assustados —
explico.
— Tudo bem, mas só vou deixá-la descer porque irá em minhas costas —
anuncia, pegando-me como se eu não pesasse nada.
Nós compramos uma quantidade exagerada de chocolates, compramos vários
sacos de batata rufles, refrigerantes, cervejas e salgadinhos. Bruce me faz
subir em suas costas e então empurra o carrinho até o caixa. Atraímos muita
atenção quando discutimos sobre quem vai pagar a conta. Ele vence. Então
novamente estou dentro do carrinho sendo carregada até o carro, com os
braços abertos e gritando como uma maluca.
Esqueço de todos os problemas e me pergunto qual foi a última vez em que
me diverti e me senti tão livre e leve. Não sei se é uma magia, mas ele me fez
esquecer de todos os acontecimentos matinais.
Chegamos ao hotel e eu, mais uma vez, vou em suas costas, enquanto ele
carrega as sacolas. No quarto fico responsável por organizar as comidas na
cama e as bebidas no frigobar, enquanto ele vai tomar banho.
Quando termino, retiro minha calça e visto um shortinho mais confortável,
então subo na cama e vou em busca de algum filme divertido.
Bruce surge vestindo apenas uma bermuda e eu quase solto um gemido ao
contemplar o corpo perfeito que esse homem tem. Ele é mesmo gostoso,
aquele tipo de homem que dá vontade de lamber inteiro.
— Então, boneca, qual filme escolheu?
— Amizade colorida — respondo.
— É uma indireta?
— Não. Até porque no final eles... Ok, é spoiler. Nada disso, garotão — digo
rindo e ele joga um travesseiro em minha cara. — Você não fez isso!
— Eu fiz sim! — afirma, fico de pé sobre a cama pego um travesseiro. Ele ri
e então eu jogo em seu rosto. Como crianças, começamos uma guerra de
travesseiros até Bruce, com toda força que possui, explodir um fazendo com
que penas voem para todos os lados. Eu rio até chorar. Bruce me puxa pelas
pernas e faz com que eu caia de joelhos no chão. É nesse momento que o
telefone da suíte toca e ele atende: — Sim... O quê? Não! — Ele parece
chocado. — Não estou fazendo sexo... Tudo bem, seremos mais controlados.
Desculpe.
— What? — grito rindo quando ele desliga.
— Isis, você terá que gemer mais baixo a partir de agora e teremos que parar
com esse sexo louco que estamos fazendo. Os hóspedes estão incomodados
— explica, sério, e me pega em seus braços. — Você geme demais, boneca.
Nunca imaginei que gostava de gritar durante o sexo.
— Engraçadinho. Você que é selvagem sexualmente — brinco. Ele sorri e
então me puxa para um beijo. As coisas começam a esquentar
gradativamente. Eu arranho suas costas e ele aperta minha bunda. Sinto seu
membro acordando em minha barriga e solto um gemido em sua boca, o
fazendo se afastar e rir.
— Você é gemedeira! — brinca.
— Você é um... é um...
— Eu sou um? — questiona rindo.
— Um... engraçadinho.
— Ok, chega de guerra e esse sexo insano. Vamos comer, beber e assistir um
filme como dois adultos responsáveis. — Ele quer assistir filme, eu quero
protagonizar um filme pornô. Os opostos se atraem mesmo!
Por que eu sinto que morrerei essa noite?
Por que Bruce tem que ser tão divertido e gostoso?
Isso enfraquece a amizade.
Sentamo-nos na cama e então começamos a fazer uma mistureba de salgados
e doces, conforme bebemos algumas cervejas. Nem mesmo assistimos o
filme, ficamos apenas conversando e rindo, porque Bruce simplesmente tem
o dom da fluidez. Você fica perto dele e então tudo passa a fluir de maneira
natural.
No final da noite, terminamos com ele tentando controlar o meu lado sexual e
eu tentando descontrolar o dele. Nós não transamos, mais uma maldita vez.
Entretanto, sinto-me saciada da mesma forma quando ele me deixa em casa
com a promessa de voltar no próximo final de semana.
Sinto que tenho grandes coisas a aprender com ele e estou feliz por ele ter se
disponibilizado a ser meu mentor.
CAPÍTULO 6
— Você certamente seria uma mãe muito melhor para o meu filho. — Joseph
suspira, sem se dar conta do impacto que suas palavras causaram em mim.
Dito isso, ele deposita um beijo em minha testa e se vai. É impossível não
comparar a diferença de tratamento que os funcionários dão a um homem
bilionário e uma pessoa normal. Só faltam fechar o hospital para Joseph,
além de darem todo o suporte necessário ao Mathew.
Isso me faz lembrar a saúde pública do meu país, que é uma pouca-vergonha
do caralho e onde os menos favorecidos morrem por falta de suporte e
tratamento digno. Agora, entendo por que Joseph escolheu ser frio e solteiro,
as pessoas lambem os pés dele com um enorme interesse. Estou presenciando
isso agora, não deve ser bom perceber que as pessoas te tratam bem apenas
pelo que possui. Nem imagino como ele se sente.
O homem é lindo pra caralho, gostoso e com o agravante de ser bilionário.
Eu foco no lindo pra caralho, no gostoso e no talento sexual. Isso é tudo que
me interessa. Joseph Vincenzo sabe foder e é um ótimo professor. Eu ganhei
na Megasena da virada!
Não deveria estar pensando em sexo. Não quando estamos num hospital e o
filho dele está dentro de alguma sala, passando por uma bateria de exames.
Desvio os meus pensamentos e miro em meu... Joseph!
Por Deus! O homem parece um trator sem controle.
Sinto-me acuada observando a cena diante de mim. Eu já o vi mal-humorado,
irritado, estressado, mas nada se compara ao Joseph que estou vendo agora.
Desta vez não é sexy, é assustador como um filme de terror.
A parte engraçada é vê-lo de chinelo, bermuda e uma camiseta que estava no
carro; completamente casual e dando ordens a metade do universo, como um
empresário fodão. Eu estou tendo um enorme vislumbre do Joseph Vincenzo
pai: um homem capaz de qualquer coisa pelo filho.
O homem que parecia frio como uma pedra de gelo, impessoal e demonstrava
controle sobre todas as coisas, finalmente está mostrando que possui um
ponto fraco: Mathew.
Sem saber o que fazer ou como agir, fico quieta em um sofá na recepção. A
realidade é que mal o conheço, tenho receio de me aproximar e levar um fora.
Sim, porque todos que tentam se aproximar estão levando. Na verdade, sinto-
me um peixe fora d'água.
Vejo três homens vestidos com traje social adentrarem ao hospital e irem
direto a ele, um deles é... Bruce? Sim. É Bruce. Chocante.
Eles trocam algumas palavras e Vincenzo vem até mim.
— Minha princesa, me desculpe por tudo isso.
— Está tudo bem. Já avisei sobre pedir desculpas. — Sorrio.
— Faria um enorme favor para mim? — pede baixinho.
— O que precisar.
— Preciso que vá até a minha casa, pegue algumas roupas decentes para mim
e troque esse seu shortinho curto. Preciso também que, quando voltar para
trazer as roupas, fique comigo — diz, fechando os olhos e passando as mãos
pelos cabelos. Gente, o que está acontecendo? Sim, uma confusão, Maria
Flor. O homem está uma confusão!
— Ciúmes?
— Eu estou vendo os médicos e enfermeiros olhando para você. Não preciso
de mais motivos para quebrar esse lugar. Por favor, Flor, colabore ao menos
hoje.
— Alguma notícia de Mathew? — pergunto ficando de pé.
— Algo como anemia, porém, é um pouco mais complicado. Estão
realizando exames mais complexos. É inaceitável, completamente absurdo e
inaceitável — brada, revoltado.
— Ele vai ficar bem, ok? Confie — digo, abraçando-o.
— Vá lá, minha princesa. Se eu não estiver aqui quando voltar, é só perguntar
por mim na recepção, ok?
— Sim senhor, papai.
— Flor! — diz em tom de repreensão.
— Desculpa. — Sorrio, beijo seu rosto e então vou fazer o que ele solicitou.
Porém, quando estou saindo, Joseph recebe algum tipo de notícia que o deixa
irado. A última coisa que vejo é Bruce, e os outros dois homens que estão
com ele, tentando contê-lo. Eu fujo o mais rápido que consigo, porque me dói
vê-lo assim. Sério, minha vontade é de dar uma surra na mãe de Mathew, até
que ela consiga sentir a dor que Joseph e o filho estão sentindo.
Dirijo rápido. Em casa, tomo um banho, visto uma roupa decente e
apresentável. Logo em seguida vou para a casa de Joseph. Sinto uma
dorzinha no peito ao ver alguns brinquedos do pequeno Mathew espalhados
pela sala.
Pego uma foto, onde estão pai e filho, e fico admirando a imagem. Sorrio
como uma idiota apaixonada. Que ódio de mim!
Eu, Maria Flor, apaixonada, assim, do nada! Foda-se, eu não estou em mim
de qualquer forma, prova disso é eu estar pensando em ter filhos com ele num
futuro distante. Imagina eu, grávida de Joseph Vincenzo? Puta que pariu! Ia
ser o auge da minha vida, provavelmente, carregar um bebê Vincenzo.
Imagina uma garotinha? Deus, ela seria a coisinha mais linda e enlouqueceria
Joseph. Já até o imagino fazendo cócegas e brincando de Barbie.
Eu estou delirando, real!
Na verdade, eu deveria não ter me apaixonado tão rápido, assim poderia
provar outras picas, quicar em outros colos. Talvez, se eu não tivesse me
apaixonado perdidamente por uma surra de piroca monstra, não sentiria essas
vontades loucas e descobriria o prazer em outros corpos. Mas não, eu estou
de quatro, de lado, de todas as posições, arriada para ele. Sem um pingo de
vontade de ao menos cobiçar outro homem.
É, isso me foi avisado durante anos. Minha vó avisou que aconteceria. A
profecia está se cumprindo. E, embora eu saiba que serei atropelada por ele
em algum momento, quero prosseguir e ver onde chegaremos com essa
brincadeira quente.
Deposito a foto no local e subo até o quarto dele. Caminho pelo closet e
quase rio o analisando friamente. É tudo separado por cores, absurdamente
organizado, como uma pessoa altamente exigente e metódica faria.
Enquanto Joseph parece possuir um tipo TOC com organização, eu sou cheia
de não me toque. Porque se ele entrar no meu closet, certamente ficará
chocado. Não que seja uma zona, mas também está muito longe de ser tão
organizado. Fora que o homem parece ser um consumista excessivo. Há tênis
dos mesmos modelos de várias cores, sapatos. Ok, eu tenho umas três
sandálias iguais, de cores diferentes, mas Joseph ... beira ao absurdo.
Abro suas gavetas em busca de cuecas e fico abismada por serem separadas
por cor e marca. Tem a sessão Calvin Klein e é nela que eu vou, porque acho
sexy. Pego duas: uma preta e uma azul-escura, porque ele fica gostoso com
essas cores. Coloco-as dentro de uma bolsa que grita riqueza e saio. Sério, se
eu for assaltada terei que vender meu carro para comprar uma bolsa dessas
para ele. Pode ser exagero, mas é foda.
Acho que possuo um excesso de humildade. Por mais que minha família seja
rica, esse luxo todo me assusta.
Saio do banho com uma toalha enrolada na cintura e vou em busca de roupas
para enfrentar o passado caótico de Melissa Fontana.
Acho que nunca conseguirei entender o motivo de ela me olhar como se eu
fosse o homem mais incrível da história. É engraçado e curioso.
— O que foi, grutinha? — questiono enquanto visto uma cueca e ela suspira.
— Eu deveria estar de luto. Deveria estar realmente sofrendo, chorando e
arrancando os cabelos. Talvez eu deveria estar com o que chamam de minha
família, aturando a puta da minha irmã, a mercenária da minha mãe, que
certamente agora é uma viúva milionária e já deve estar contando com o
dinheiro alto que a morte do marido trará para sua vida, além de todo o
restante dos parentes desqualificados que possuo. Talvez, eu devia estar em
algum bar afogando as mágoas e produzindo conteúdo interativo para a
imprensa — confessa. Ela realmente está sofrendo, martirizando-se por não
estar tão sentida com a morte do pai.
— Mas... — digo enquanto visto uma calça e uma camisa.
Mas...
— Eu te escalaria como uma parede de escalada. Ficaria com você dentro
dessa suíte até morrer de exaustão ou emagrecer dez quilos de tanto queimar
calorias.
Calma, Arthur, você precisa aprender a conviver com a insanidade.
— Nós transamos quantas vezes? — pergunta e sorrio.
— Mel, a única coisa que não penso quando estou dentro de você é sobre
realizar uma contagem de vezes... — Ela cora e então suspira. — O que foi?
— Nunca fui assim — diz.
— Assim como?
— Tão ligada ao sexo e tão insensível a uma morte. Ok, sei que já me tornei
repetitiva, mas é que estou achando o cúmulo do absurdo não sofrer em
grandes proporções. Você surgiu lá ao meu lado e meu corpo reagiu a você,
dentro de um cemitério, isso é insano, errado.
— Mel, você precisa parar de se cobrar — informo calçando meu tênis. Ela
fica de pé e caminha até mim, segura em minha camisa, completamente séria.
— O que foi, Melzinha?
— Não queria trazê-lo para esse turbilhão de acontecimentos. Você não
merece passar por todas essas coisas, conhecer todas essas pessoas ruins,
lidar com o caos que sou obrigada a enfrentar.
— E você merece passar por tudo isso sozinha? — questiono, tentando
entender a complexidade do seu grau de inferioridade.
— São meus familiares, meu ex, meu passado... — diz, afastando-se. — Eu
sinto muito. Não fazia ideia que, do dia para noite, eu teria em minha vida
alguém como você, nem mesmo pensei que, me relacionando com você,
involuntariamente, te arrastaria para toda essa confusão.
— Você está arrependida por estar comigo?
— Apenas pelos problemas que o pacote Melissa envolve — confidencia,
ajoelhando-se diante de mim. — Eu me apaixonei por você, rápido demais.
Eu me joguei sobre você e sobre essa relação tão recente que já considero
tudo. — Sorri fracamente. — Embora não tenhamos conversado muito sobre
o seu passado, sei que ter permitido que eu entrasse em sua vida deve ser um
grande passo para você. Sei que quando sofremos um baque pesado passamos
a ter dificuldade para nos entregarmos, mesmo assim você se entregou a
mim. Tenho medo de que se magoe, que perceba que eu não sou boa o
suficiente para você. Tenho um passado não muito bonito e você está aqui,
dentro do meu passado, mergulhado de cabeça.
— Quando decidi me relacionar com você, não esperava um mar de rosas,
uma vida perfeita ou uma pessoa perfeita. Todos nós temos um passado,
todos nós temos problemas. Eu escolhi você com erros e acertos, sabendo do
seu passado, envolvido pelo presente e na esperança de um futuro. Sei que
você não está feliz de estar aqui, tendo que enfrentar todos eles. Sei que você
os enfrentaria sozinha, sei que se sente sozinha e já se acostumou com isso.
Mas, Melissa, você precisa saber disso agora, se você quiser que eu
permaneça em sua vida, terá que ser por completo e não apenas nos
momentos em que julgar certo. É em meio ao caos, a turbulência, ao sexo, a
felicidade e então ao caos novamente. Eu não sei me doar pela metade ou
quando achar convencional. Comigo é tudo ou nada. Eu estou aqui por um
milhão de motivos, jamais sairia da Califórnia, jamais deixaria minha mãe se
você não significasse tanto para mim. Eu não vou dizer que te amo, porque
estaria mentindo, mas posso garantir que sua paixão é recíproca. Eu estou
apaixonado, encantado e outras centenas de coisas, Melissa, quero você. Sou
intenso e profundo. Uma vez que segurei sua mão, estarei com você para o
que quer que seja. Foi incrível passar parte da manhã e da tarde transando
como um selvagem, mas não é apenas isso, Melissa. Para mim, vai muito
além do sexo e ficarei decepcionado pra caralho se para você for diferente.
Estou certo sobre o que quero, se você não compartilhar das mesmas
vontades, peço que me diga o quanto antes. Não ficarei chateado ou qualquer
outra coisa, muito pelo contrário, ficarei feliz e orgulhoso por ter sido sincera
comigo — digo de cabeça baixa e, quando a levanto, pego-a chorando. —
Merda, por que está chorando, Mel?
— Meu sonho de princesa real e oficial — confessa, jogando-se em meus
braços.
— Pare de chorar.
— É que eu sempre fui tão sozinha, até quando estava com Ignázio. Você é a
primeira pessoa a me oferecer a "mão"...
— Então, aceite-a e permita que eu esteja com você em todos os momentos,
não apenas os sexuais.
— Eu aceito. Promete ter paciência comigo? — pede. — Estou me adaptando
a ter alguém.
— Eu sou paciente.
— Bom, então já que é na alegria e na tristeza, espero que esteja pronto para
descermos e enfrentarmos um passado bem chato e insistente — diz,
limpando o rosto e saindo de cima de mim.
— Vamos lá, grutinha!
— Antes só preciso dizer... Eu disse todas aquelas coisas, porque me
preocupo e me importo. Não quero fazê-lo sofrer, tenho medo de que isso
aconteça. Jamais me perdoaria. O meu passado...
— O seu passado é desconhecido por mim. O que interessa são as suas ações
a partir do dia em que nos conhecemos, nada além disso. O seu passado não é
forte o bastante para colidir com o seu presente, não para mim.
— Não quero perdê-lo, mas também não quero fazê-lo sofrer.
— Vamos, Mel, chega dessa conversa de sofrimento, ok? — ofereço minha
mão a ela e saímos rumo ao elevador.
Assim que cegamos ao térreo, os flashes começam através da grande vidraça
que há na recepção.
— Isso é por você? — questiono à Melissa.
— Faz parte do pacote de vantagens ou desvantagens de Melissa Fontana.
Você disse que estaria de mãos dadas comigo...
— Eu estou. — Sorrio.
— Sinto muito por isso, marido.
— Não sinta, esposa — tranquilizo-a, e seguimos rumo ao tal Ignázio, que
parece feliz por ter centenas de fotógrafos do lado de fora registrando esse
encontro. Já imagino o tipo de noticiário que iremos protagonizar.
De mãos dadas com Arthur, caminho até Ignázio. Porém, há uma outra
pessoa que atrai minha atenção: o advogado da minha família.
— Senhorita Melissa — diz, ficando de pé e me oferecendo sua mão.
— Olá, Borges. Esse é meu marido, Arthur. — Ele me encara chocado após
ouvir o “marido”, mas, em seguida, oferece sua mão à Arthur em um
cumprimento.
— Essa conversa será toda em italiano, não é mesmo? — Arthur questiona
baixo em meu ouvido.
— Sim, será. Prometo mantê-lo a par de tudo.
— Ok, ficarei aqui fingindo compreender tudo o que se passa. Não se deixe
intimidar, minha garota. Você é melhor e mais forte que todos esses abutres
que a cercam — incentiva, apertando minha mão mais forte. Eu engulo em
seco. Ele vê mais potencial em mim do que eu mesma.
— Ignázio — cumprimento-o, oferecendo a mão, e ele aceita. — Vocês estão
juntos? — questiono.
— Não, mas talvez o assunto que Borges tem a tratar com você deva ser mais
importante. Não que o assunto que tenho a tratar com você seja superficial,
mas...
— Ok, vou providenciar uma sala de reuniões — informo, fazendo um sinal
para que uma funcionária venha até mim e, assim que ela se aproxima,
solicito uma sala privada, para tratarmos o que quer seja. Longe dos
holofotes, apesar de que Ignázio parece confortável com isso.
Cinco minutos depois eu, Borges e Arthur, estamos em uma sala de reuniões
do hotel, enquanto Ignázio nos espera do lado de fora. Arthur mantém sua
mão sobre a minha, esse simples gesto se torna o maior de todos os
incentivos que preciso.
— Bom, senhorita... digo, senhora Melissa, o assunto que tenho para tratar é
sobre o testamento do seu pai.
— Ele disse testamento do seu pai? — Arthur questiona perplexo.
— Exatamente — confirmo. — Testamento? Meu pai foi sepultado há o quê?
Seis horas?
— Senhora Melissa, a senhora é a principal beneficiada do testamento por
desejo de seu pai. Para os demais beneficiários terem acesso, depende única e
exclusivamente da senhora.
— Por que eu sou a principal beneficiária? — pergunto entrando em um
completo estado de choque. Ele olha para Arthurzinho, desconfiado. — Ele é
meu marido, pode falar.
— Se é assim... Bom, seu pai encontrou através do testamento a chance de se
redimir por todos os atos inapropriados e pela conduta nada paternal que teve
com você desde a infância — revela, deixando-me mais perplexa ainda.
— Ele quis usar o dinheiro para "comprar" o que ele não pôde me dar? —
Rio e Arthur me encara sério. — Vamos lá, Borges, informe quanto estou
valendo nessa merda...
— Senhora Melissa...
— Oh, Borges, sem titubeios, diga logo o quanto vale todo o carinho e apoio
paterno que me faltou? — Ele me entrega um documento, então eu começo a
ler. Nele diz de cinquenta por cento da herança é minha e os outros 50%
serão divididos entre minha mãe, minha irmã e... a empregada da nossa casa?
Beira ao absurdo. Já imagino minha mãe querendo matar pessoas,
sinceramente, inclusive eu. O outro choque vem pela quantia que está
especificado ao lado do meu nome, juntamente com algumas propriedades.
— Você está brincando com a minha cara!
— Não estou.
— Está sim. Eu jurava que não valia nada e agora percebi que valho muito —
brinco rindo, puramente pelo nervoso. Eu rio de quase chorar e entrego o
documento para Arthur, que tenta traduzi-lo. Então permaneço rindo até
escorregar da cadeira e cair de joelhos no chão, batendo meu queixo na mesa.
Dói. Puta que pariu! Dói e eu sinto gosto de sangue em minha boca.
— Porra! Mel, sério, às vezes acho que você não é normal — diz Arthur,
pegando-me.
— Acho que cortei a boca... — anuncio caminhando até o banheiro, onde
lavo minha boca e me encaro através do espelho. Então o choro vem com
força. Encontro-me num completo estado de instabilidade emocional. Apoio
meus cotovelos na pia e apoio minha cabeça nas mãos para chorar.
Choro pela morte do meu pai.
Choro pela vinda de Arthur.
Mas choro, principalmente, por me dar conta de que as pessoas podem ser
rasas o suficiente para tratarem as outras como uma mercadoria que pode ser
comprada.
Ali, naquele papel, eu estou valendo muitos milhões, porém, ao ver todos
aqueles números, me dei conta do quão desvalorizada eu fui para ele uma
vida toda, o suficiente para pesar em sua consciência e herdar milhões pela
sua morte.
Não há dinheiro no mundo que pague todo o abandono emocional que recebi.
Entretanto, de alguma forma, eu farei um uso correto dessa merda, já que
agora sou multimilionária.
Lavo meu rosto mais uma vez e respiro fundo antes de conseguir sair de
cabeça erguida.
— Ok. Estou bem. — Digo a Arthur, que me encara demonstrando
preocupação. — Então como funciona tudo isso? Eu assino onde e como
serão as coisas daqui para frente?
— Uma vez assinado, levaremos em torno de cinco dias úteis para
terminamos todos os trâmites. O dinheiro estará em sua conta no prazo final,
assim como todas as propriedades listadas.
— A casa, o chalé na Toscana e um apartamento em Florença. Ok. A casa eu
não quero.
— Mas...
— Eu renuncio à casa. Quero que ela permaneça com minha mãe e minha
irmã. Não quero toda a dor de cabeça e todas as lembranças ruins que aquela
casa tem para me oferecer. Quero a praticidade, Borges, e quero não ter que
lidar com elas. Preciso saber até quando será necessária minha estadia em
Milão...
— Eu tenho toda uma documentação aqui. Se for de sua vontade assinar
todas elas de uma vez, estará liberada. Pode ser que surjam alguns
imprevistos, mas podemos tratar virtualmente se necessário for. Se sua
presença for solicitada novamente eu...
— Eu venho quando necessário for — digo, cortando-o. — Só não quero
ficar aqui. Você, como advogado da família desde sempre, sabe o que irei
enfrentar assim que for anunciada como principal beneficiária. Não estou
disposta a isso, não mais — informo, portando-me como uma executiva de
alto padrão.
— Não pode ficar por pelo menos cinco dias?
— Não. Apenas me mantenha informada sobre todos os tramites através do e-
mail que informarei — digo e ele me entrega os papéis para serem assinados.
Assino em todas as folhas e, no envelope, escrevo meu e-mail.
— Só uma questão. Como sabia que eu estava nesse hotel? Não há qualquer
reserva em meu nome — questiono.
— Ignázio — responde, dando de ombros. — Sinto muito, senhora Melissa.
Meu trabalho aqui está feito. — Trocamos um aperto de mãos e então ele se
vai deixando-me com Arthur.
— Você está bem?
— Não muito — confesso. — Mas ficarei.
— Sim, princesa. Agora vamos enfrentar a outra situação. Se sente bem para
isso? Ou acha melhor dispensarmos?
— Irei dispensá-lo. Essa pequena reunião me ocasionou um desgaste
psicológico gigantesco, não me sinto pronta ou disposta a aturar Ignázio hoje
— digo, abraçando-o. — Nós podemos voltar ao quarto, pedir milhões de
comidas, doces e passarmos o resto do dia e da noite assistindo televisão,
falando futilidades e comendo?
— Eu acho uma excelente ideia, grutinha. Acho que não tivemos muito
tempo para ficarmos de pernas para o ar desde que nos conhecemos, está tudo
muito caótico — comenta, beijando minha testa. — Olha, depois que a poeira
abaixar vamos fazer uma viagem. Vou levá-la para encontrar o equilíbrio e a
felicidade no meu lugar preferido do mundo.
— Na Ilha? — pergunto sorrindo e mergulhando na intensidade dos seus
olhos azuis. Arthur ri com os olhos, isso é fantástico.
— Exatamente. Vamos ficar pelo menos quinze dias na ilha. Tanto eu, quanto
você, precisamos disso — afirma, puxando-me para um beijo delicado e eu
me perco por alguns segundos. — Grutinha milionária, seu pai foi tolo por
não perceber que seu valor é inestimável. Eu vejo através de você, Melissa.
Eu vejo luz, bondade e pureza, mesmo sendo essa maluquinha. — Ele sorri.
— Você é pura e transparente. Nós iremos embora e, se for sua vontade,
construiremos uma nova história para nós dois, dessa vez com um final feliz.
— Meu sonho de princesa real e oficial! — comemoro, beijando-o e então
seguimos para dispensar Ignázio...
Ou ao menos tentamos!
Após fazermos, passamos o restante do dia fazendo tudo o que planejamos:
comendo, falando besteiras, assistindo filmes de comédia romântica e
discutindo sobre eles. Por fim, tomamos um banho, nos acomodamos na
cama e dormimos abraçados por toda noite. Sem sexo, sem putaria ou sem
piadinhas eróticas. Apenas atingindo um novo nível de cumplicidade.
....
Acordo antes de Arthur e fico o observando dormir com a boca levemente
aberta. É engraçado e fofo. É uma confusão de cabelos, incrivelmente
sedosos, espalhados pelo travesseiro. Acho que já tenho um novo apelido
para pirocomon, leãozinho. Ele é feroz e faminto como um leão, tem cabelos
fartos castanho-dourados e é voraz. Ok. Eu estou sempre viajando em minha
mente alucinante.
Mas ele é tão lindo!
Até as axilas. Sério.
Existem homens que têm axilas horrorosas, que pelos parecem cabelinho de
cu, têm as axilas manchadas, os cabelos espetados como se o cidadão tivesse
pegado gel e mousse para mantê-los espetados. Mas o de leãozinho parece
cabelinho de bunda de neném. É uma coisinha linda. Arthurzinho deve fazer
hidratação em seus pelos ou a genética foi muito abençoada. O homem não
tem um único defeito físico, é perfeito da cabeça aos pés e ainda possui um
dote absurdo entre as pernas, além de não broxar ou ter ejaculação precoce.
Ô vida injusta.
Já eu tenho um pé horroroso, acho meus lábios carnudos demais e
desproporcionais ao meu rosto. Gosto do meu corpo, é bacana, mas sei lá...
— Grutinha, em que está pensando? — questiona a voz rouca dissipando
minha autocrítica.
— Leãozinho, você acordou! — Sorrio.
— Leãozinho, Mel? — pergunta sorrindo, e eu me derreto todinha. Quando
foi que me tornei fofa? Sinto vontade de abraçá-lo e espremê-lo até perder
todas as forças. Sinto vontade de falar com voz de neném e vontade de dar
comida de aviãozinho. Eu estou realmente surtada. Por falar nisso preciso
marcar uma sessão de depilação...
— Você parece um leãozinho, não tenho culpa. — Sorrio passando a mão em
seus cabelos. Ele até fecha os olhos e volta a suspirar em plena satisfação.
— Minha grutinha é carinhosa — diz sorrindo. Será que a finada puta não era
carinhosa? Deus, eu fico puta toda hora que lembro dessa demônia! Não tem
lógica ser filha da puta com um homem desse e não é apenas pela beleza
física. O homem é completo, com atributos físicos e morais. Parece um
bebezão carente... meu deuso!
— Você é um leãozinho mais feroz do universo.
— Oh, Mel, isso está ficando meloso demais, não? — questiona rindo, em
seguida me puxa de forma que eu fique embaixo dele.
— Uau!
— Uau! — Sorri. — Você é linda, grutinha. — Puxo-o pelo cordão e o beijo.
Uma excelente maneira de começar o dia.
Quando as coisas começam a esquentar o telefone da suíte toca e Arthur salta
da cama com o susto.
— Puta merda! — exclama passando as mãos pelos seus cabelos.
Uma bela visão matinal!
Ele atende e o vejo franzir as sobrancelhas.
— Está conseguindo entender? — questiono.
— Sim. Ignázio — anuncia e agradece a atendente antes de desligar.
— Esse Ignázio é um pau no cu! — Reclama, puto, e eu acho incrível ele
falando palavrões. É tão incomum... — Vamos, princesa. Precisamos nos
livrar desse embuste para termos ao menos um pouco de paz nesse caralho.
— Olha, ele está falando uma sucessão de palavrões nessa linda manhã. —
Sorrio me esticando na cama e então fico de pé.
— A manhã estava começando da melhor maneira possível até o telefone
tocar — resmunga, indo ao banheiro.
Meia hora depois, estamos no saguão do hotel, diante de Ignázio. Novamente
há fotógrafos do lado de fora do hotel e isso deixa Arthur ainda mais mal-
humorado.
— Esse imbecil fala inglês? — Arthur questiona baixo em meu ouvido.
— Sim.
— Ok. É o seguinte, Ignázio, nós ainda não tomamos café da manhã, você
decide se quer nos acompanhar ou aguardar. Não há a menor chance de
termos qualquer conversa antes de fazermos nosso desjejum — informa meu
marido dotadão, e Ignázio sorri de lado.
— Eu acompanho vocês — anuncia, estendendo a mão como se estivesse nos
dando passagem. Imbecil!
Pelo menos no restaurante do hotel não há fotógrafos!
— Grutinha, eu vou deixar que vocês dois conversem sozinhos. Creio que o
assunto não me diz respeito. Estarei sentado em outra mesa, atento. Se
precisar de mim, basta fazer um sinal e eu estarei com você — diz Arthur
assim que terminamos de preencher nossos pratos com guloseimas.
— Ok, leãozinho.
— Leãozinho... — repete rindo. — Ok, grutinha. Estarei ali... — insiste,
dando-me um beijo casto e eu caminho até a mesa onde Ignázio está
acomodado.
— Seu pseudo-marido não vem participar da conversa?
— Ele não é meu pseudo-marido. E não, meu marido não vem. — Sorrio
forçada.
— Vocês se casaram de verdade?
— Sim, nós casamos há poucos dias.
— Percebe o quão absurdo é isso, Melissa? Você some da Itália por quase um
ano sem dar satisfações para mim e para sua família, quando volta,
exclusivamente para o funeral do seu pai, está casada — esbraveja,
encarando-me como se fosse capaz de me fazer abaixar a cabeça.
— Não seja ridículo. Você sabe exatamente o quão insignificante sempre fui
para os meus familiares. De qualquer forma, Ignázio, não devo satisfações a
você, mas eu sempre estive em contato para saber notícias através da Zu –
empregada dos meus pais. Eu ligava para ela pelo uma vez por semana,
mesmo que meus amados parentes não merecessem, porque eu, felizmente,
fui, sou e sempre serei diferente deles e de você — pontuo levando um
pedaço de torta alemã em minha boca. Santa da grutinha virgem, que delícia!
— Você nem mesmo terminou comigo, nem mesmo deu qualquer explicação.
— Eu "fugi" de um reality show onde estava com você, fugi do meu país.
Precisava dizer mais qualquer coisa? — questiona.
— Claro que sim.
— Então eu digo agora, Ignázio! — exclamo. — Eu fugi, porque não
suportava mais ter que olhar na sua cara e na cara dos meus pais. Eu fugi,
porque queria estar num lugar onde pudesse ser quem sou, fugi para ser livre,
para ser feliz e para encontrar outra vida. Uma vida onde sou reconhecida
pelo que sou, não pelo que dizem e o que esperam que eu seja. Não nasci
para ser fútil, para ser falsa ou fingida. Não nasci para viver de aparência,
Ignázio. Eu sou muito mais do que um corpo e um rosto. Tenho sentimentos,
sonhos...
— Está dizendo que tudo que nós vivemos foi uma farsa?
— No início não — confesso. — No início eu realmente gostava de você,
porque eu achava que você era diferente, você se mostrou diferente. Mas
então, depois, as coisas mudaram de forma. Você se mostrou ser igual à
minha mãe, fútil. Demonstrou querer mais mídia, mais foco e mais capas de
revistas. Meu Deus, Ignázio, para ir à banca de revista em frente ao
apartamento, você se vestia como se fosse estampar a capa de uma revista de
moda masculina, você me beijava para ganhar notinhas ridículas: "Melissa
Fontana é vista em clima de romance com Ignázio", que merda, às vezes
estávamos brigando e você simplesmente me roubava um beijo para aparecer.
Você andava comigo na rua atento aos possíveis paparazzis. É ridículo isso.
Eu nunca quis e continuo não querendo.
— Nós estamos sendo cotados para o novo Gran Fratello Vip, sabia disso? —
questiona.
— Não sabia, desculpe, mas também não quero saber. Minha vida agora é
outra. Tenho outros planos, novos projetos, um marido e até uma família
nova que me acolheu como filha. Não há qualquer motivo para fingir ser algo
que não sou.
— Eu tenho uma proposta — diz. — Participe do reality comigo. Nós
podemos manter um acordo com seu ...
— Marido.
— Sim. É nosso último trabalho juntos. Mel, isso vai dar uma visibilidade do
caralho após ter sumido por quase um ano — propõe na maior cara lavada e
pasmem, não me deixa chocada. É sempre assim: visibilidade.
— Era isso que queria falar?
— Pense, Melissa, por favor — pede.
— Não! Não há a menor chance sobre isso, Ignázio. Está maluco? Cara, saia
dessa merda. Expandir os horizontes, às vezes, é necessário. Você é um cara
bonito, forte e saudável. Vá em busca de algo útil, seja útil no mundo e não
apenas um parasita. — Quando termino de falar Belen – minha irmã –, surge
no caralho do restaurante. — Que maravilha!
— Saia, Ignázio! Eu preciso conversar com Melissa! — ela anuncia, raivosa.
— Foi para a balada e esqueceu de tirar a fantasia? — questiono rindo do seu
look absurdo.
— Nossa conversa ainda não acabou! — ameaça Ignázio, ficando de pé e eu
me levanto também. Apoio as duas mãos na mesa e o encaro.
— Nossa conversa acabou sim, satanás! Não há mais nada a ser conversado
ou resolvido, embuste. Não me procure mais! — esbravejo. — Aliás, por que
não fica com a Belen? Vocês são o casal ideal. Os dois gostam de aparecer.
Olha ela, está igual um lustre ofuscando com esse brilho em plena manhã e
você igual um radar de paparazzi. Vão tomar em suas respectivas cavidades
anais, juntos, obrigada!
Ignázio sai cuspindo fogo e Belen me segura pelo braço, enfincando suas
garras firmemente contra minha pele. Desvencilho-me e a empurro.
— Eu vim aqui para termos uma conversa civilizada — grunhe com sua voz
de tamanco e então se senta no lugar onde antes estava sendo habitado pelo
satanás. Dois em uma só manhã, incrível!
— Diga, piranha. — Sorrio.
— Não é justo que papai tenha deixado metade dos bens para você!
— É mesmo? Já que vocês nem esperaram o corpo dele esfriar dentro do
caixão, desenterrem e vão em busca de uma ceita ou qualquer merda para
ressuscitarem ele. Aí, você e mamãe, poderão discutir isso.
— Você é dissimulada! — quase grita. — Sua ladra!
— Não tenho culpa se papai resolveu retribuir a indiferença a mim em forma
de milhões e bens materiais — provoco a "movida a interesse".
— Você tem que renunciar a isso e dar à nossa mãe!
— Querida, o dinheiro será muito bem empregado com quem merece. Já fiz
até um favor para vocês, renunciei à casa. Sabia que papai deixou aquela
linda mansão para mim? — Ela abre a boca em espanto.
— Ele não fez isso...
— Ele fez, pergunte ao Borges. Abri mão para vocês continuarem vivendo no
palácio de cristal da terra do nunca! Agora me deixa em paz, caralho. Vá
arrumar um saco de rola para chupar, vá fazer pornô caseiro para cair no
xvideos como você gosta, vá aprender a fazer tricô, consolar Ignázio ou tentar
dar o golpe em algum político velho, que já está com o pé na cova. O
falecimento do papai pode ser vantajoso para você. Esse é o momento em que
todos os políticos vão prestar as condolências à viúva e a filha modelo... de
putaria. Talvez até mamãe consiga algo nessa brincadeira...
Ela tenta jogar uma bebida em direção ao meu rosto, mas Arthur surge do
nada contendo-a.
Meu sangue ferve pela forma que ela o encara. Então eu me levanto, pego-o
pela mão e saio o arrastando, até o primeiro elevador que encontramos. Belen
vem correndo e a empurro fazendo-a cair de bunda no chão. A porta se fecha
e eu finalmente posso respirar tranquilamente.
— Nós vamos precisar mudar de hotel. — Suspiro frustrada. — Mais uma
vez, me desculpe por tudo isso.
— Vamos para alguma cidadezinha aqui perto, alguma que dê para voltarmos
rápido se sua presença for solicitada. Vou providenciar o aluguel de um carro
e saímos de madrugada, sem que ninguém veja. Vou exigir privacidade do
hotel ou irei processá-los.
— E o que faremos durante todo o dia? Nem mesmo tomei café da manhã.
— Vou pedir serviço de quarto e passaremos o dia namorando — informa,
abraçando-me.
— Namorando? — questiono rindo.
— Traduzindo para palavras rudes: fodendo! Prepare-se, Melzinha, eu estou
devidamente estressado!
CAPÍTULO 9
— Flor, hoje à noite terá uma resenha na casa do Adam, você vem? — Félix,
um amigo que estuda na mesma turma que eu, convida.
Sorrio.
Se fosse há duas semanas, toparia sem pensar. Não houve uma única festinha
da turma que eu não estivesse presente, desde que entrei na faculdade. Porém,
hoje, só consigo pensar em ir visitar Mathew e Joseph. E, por esse motivo,
abro meu maior sorriso e dispenso o convite.
— Tenho compromissos hoje, infelizmente dessa vez não poderei ir.
— Ok, se mudar de ideia...
— Tudo bem — sorrio.
— Maria Flor! — Uma outra voz me chama e eu começo a pensar em quão
filha da puta a vida pode ser.
Quando você está livre e solta, perdida na pista, os boys magias cagam trinta
quilos para você. Aí, por obra do destino, você encontra um boy homão da
porra do caralho e isso parece atrair um festival de homens gostosos. Sério,
parece atração magnética. Então você se vê obrigada a dispensá-los, em nome
da moral e dos bons costumes, porque está de quatro, pagando paixão
mesmo...
Enfim.
Ali vem ele. A tentação: Richard, mais conhecido como Rich. Um pedaço de
homem, todo trabalhado nas tatuagens espetaculares (que mais parecem obras
de arte sincronizadas). Dono de um corpo impecável, praticante de esportes
radicais, jogador de basquete no time da universidade, 25 anos de pura
testosterona e futuro engenheiro civil.
— Ei! — Sorrio, tentando não olhar para seu peitoral, que está devidamente
marcado sob a camisa.
— Ei, linda! Faz tempo que não conversamos — cumprimenta-me, dando-me
dois beijinhos nas bochechas. — Fiquei sabendo que foi aprovada para o
estágio na Vincenzo. Como você deu uma sumida da faculdade não tive
como parabenizá-la. — Sorri, quase perco o fôlego. — Sabe que trabalho lá,
não é? Comecei como estagiário e fui promovido após um ano. — Puta que
pariu, que maravilha! Estou fodida pra caralho! Além dos dois estagiários,
agora fico sabendo que Richard, o gostoso da faculdade, trabalha na
Vincenzo. Só melhora essa merda!
— Sério?
— Sim. Será um prazer trabalhar junto com você — diz, mexendo em uma
mecha dos meus cabelos. — Deve estar ansiosa para começar, não é mesmo?
Joseph é um pouco chato com estagiários, faz questão de acompanhá-los e de
que sigam todos os seus comandos à risca, mas com o tempo você
compreenderá que ele só pega no pé para poder extrair o melhor de nós. Ele
não aceita menos que o melhor em sua empresa.
— Sim, estou muito ansiosa, não vejo a hora de começar. — Sorrio fingida.
— Bom, você vai na resenha na casa do Adam?
— Não. Tenho compromissos, infelizmente não poderei ir.
— Estava pensando se podíamos sair um dia desses... — propõe. Ainda não
posso dizer que estou numa espécie de relacionamento com o chefe dele. Na
verdade, eu e Joseph precisamos conversar sobre isso, não há como fingir ser
solteira.
— Claro... depois combinamos algo sim. — Sorrio. — Bom, eu preciso ir,
Rich. Foi bom falar com você.
— Você está cada dia mais linda, Flor.
— Obrigada. — Vou me despedir dele com dois beijos no rosto e ele erra um
propositalmente, depositando um selinho em meus lábios. Não gosto. Na
verdade, isso me deixa ligeiramente furiosa e eu decido pontuar a ele a minha
insatisfação. — Não repita isso, Richard!
— Desculpa, falhou. Sou inocente, juro. — Balanço a cabeça negativamente
e caminho até a saída do campus.
É então que noto três grandalhões engravatados me seguindo. Eu paro de
andar e eles param também, volto a andar e eles voltam. Viro para a direita e
eles me acompanham... Puta de raiva, viro-me de frente para eles e os encaro.
— Algum problema comigo? — questiono, cruzando meus braços.
— Só cumprindo ordens, senhorita — responde um deles.
— Ordens? Ordens de quê? De quem? Qual a finalidade?
— Fomos contratados pelo senhor Vincenzo para garantirmos a sua
segurança — explica.
— Oi? Garantir a minha segurança? Que caralho é esse?
— Tudo que sabemos é que houve um problema com a namorada do seu
irmão e o senhor Vincenzo quer garantir a segurança de toda família.
Inclusive, a senhorita não poderá mais ir para a casa em que morava. Todos
seus familiares estão hospedados na propriedade do senhor Vincenzo, em
Beverly Hills. — Minha boca vai ao chão em espanto. São muitas
informações a curto prazo. Quando saí de casa às 6h30 estava tudo tranquilo,
inclusive ninguém havia acordado.
— Milena está bem?
— Sim. Sob cuidados médicos, segura na residência do senhor...
— Vincenzo. — Reviro os olhos. — Então, agora terei que andar com três
seguranças? Isso é absurdo! — resmungo caminhando até meu carro e não o
encontro. — Onde está o meu carro?
— Senhora, é para sua segurança.
— Meu cu! Tenho pavor de perseguição! Não vou permitir isso! — informo,
andando rápido e entrando no primeiro táxi que encontro. — Eu preciso que
acelere, agora! — peço em desespero e o taxista dá partida o mais rápido que
consegue.
Minutos depois, ele me deixa no hospital e, após pagar a corrida, vou rumo à
recepção, onde minha entrada é liberada prontamente. Quando estou prestes a
entrar no elevador, a tal Diana surge, puxando-me pela blusa e, como já estou
estressada mesmo, empurro-a fazendo-a ir ao menos uns dez passos para trás.
— Não encoste em mim! — advirto. — Não venha dar uma de maluca para
cima de mim não, porque tenho certeza de que sou pior que você.
— Você não tem o direito de entrar para ver o meu filho! Eu não autorizo! —
ela grita atraindo atenção de todos. Vaca voadora!
— Quem é você na fila do pão francês? Nem mãe você é! Não sei se já te
informaram isso, mas parir não te torna mãe, abutre! — Ela vem com tudo
para cima e eu me desvencilho, entrando no elevador, enquanto ela perde o
equilíbrio e cai de joelhos ao chão. Aperto os botões para a porta se fechar
logo e subo até o segundo andar, agora um pouco mais nervosa.
O bonitão está no corredor, em uma ligação no celular. Quando me vê,
encerra a ligação e me encara de um jeito sério..., um jeito sério que me faz
molhar...
Inferno, eu odeio esse homem e o efeito que um único olhar dele tem sobre
mim. Ódio, ranço, pavor.
— Mathew está bem? — questiono.
— Sim. Está passando por uma bateria de exames neste momento —
responde de forma impessoal, com toda sua secura.
Temos aqui um Joseph Vincenzo no modo rude ativado!
— Que bom! Agora, já que está com tempo livre, pegue a merda do seu
celular e cancele aqueles três brutamontes que estão me seguindo, por
gentileza, querido! — digo, colocando o dedo em seu peitoral.
Ele arqueia uma sobrancelha e permanece me encarando sério. Isso é irritante
e me deixa mais enfurecida.
— Eu não sou sua propriedade! Não sou porra nenhuma! Não quero e não
admito ser perseguida, perder a merda da minha liberdade na está em jogo,
especialmente tendo três homens me seguindo, quatro com você! Você pode
ser dono da porra toda, mas não faço parte das suas aquisições. Não sou uma
propriedade e não admito ser tratada como uma. E tem outra coisa, não pense
que vai me manipular. Meu interesse por você é sexual pra caralho, nunca
teve a ver com dinheiro. Se eu estivesse com você por interesse material,
certamente, aceitaria todas suas imposições, mas não vem ao caso. Não sou
uma puta de luxo, até pretendo virar uma puta, mas apenas na cama com
você! E já vou avisando, vou dar na cara daquela desqualificada da sua ex-
peguete se ela encostar mais um único dedo em mim, está escutando, Joseph
Vincenzo? É bom que esteja! Eu vou depená-la, vou descer do salto sim,
porque hoje eu estou puta pra caralho....
O elevador se abre e a diaba surge no meu campo de visão. Jogo minha bolsa
no chão, cruzo os braços e a encaro. Então, antes que eu possa começar a
testar meus golpes de muay thai, Vincenzo me pega pelas pernas e me joga
em seu ombro. Eu soco suas costas, mas ele não se intimida. Só não grito,
porque tenho consciência de estar dentro de um hospital.
Ele nos leva a uma sala e fecha a porta atrás de si, só então me coloca no
chão.
— Você é um imbecil — esbravejo, vendo-o colocar minha bolsa em um
sofá. Irrita-me que ele não diga nada. Esse silêncio mexe com todos os meus
nervos! — Na boa, o que eu vim fazer aqui? Eu deveria ter ido para o inferno
da minha casa! — digo, andando até o sofá e pegando minha bolsa. Antes
que eu possa alcançar a maçaneta, ele está sobre mim, virando-me de frente e
grudando minhas costas contra a porta. — Me solta! — ordeno, olhando
fixamente em seus olhos enquanto seu corpo esmaga o meu.
— Você não vai sair daqui desse jeito — informa.
— Eu saio daqui a hora que eu quiser, da forma como eu quiser. E se eu
quiser matar a sua ex, eu matarei!
— Ela não é minha ex — anuncia, levando sua mão em meu short e o
abrindo. Eu perco a discussão, quando sua boca se choca contra a minha de
uma maneira selvagem e desesperada.
Meu Deus...
Eu amo esse modo. De repente, o ódio, a raiva, o pavor e o ranço não existem
mais. Eu abro o botão de sua calça, então deslizo sua cueca o suficiente para
seu membro saltar livre. Seu beijo fica mais urgente e eu me desvencilho do
short que está ainda em minhas panturrilhas. Enlaço minhas pernas em torno
de sua cintura e ele me penetra sem piedade alguma. A agressividade é tanta,
que sou obrigada a afastar nossos lábios e morder seu ombro para não gritar.
Suas mãos estão firmes em minha bunda, quero chorar de desespero por ser a
melhor coisa que já fiz em toda a vida.
Beijo seu pescoço, puxo seus cabelos e passo a língua pelos seus lábios, antes
de beijá-lo loucamente. Meu Deus! Nós estamos fodendo em um hospital!
Ele impulsiona meu corpo para cima e para baixo e o ar me falta... Está indo
tão rápido, tão forte e tão profundo que chega a doer, mas é uma dor que
estou disposta a encarar, porque ao mesmo tempo em que machuca, atinge
um lugarzinho delicioso dentro de mim que faz tudo valer a pena.
Agora é ele quem afasta nossos lábios e vem direto para meu ouvido,
sussurrar palavras desconcertantes.
— Você é tão gostosa, Flower. Você é sim minha propriedade.
— Não sou! — esbravejo, à medida que ele se torna insano em busca de
provar seu ponto. Arranho suas costas através da camisa e ele ruge de
frustração.
— Você é minha! Isso não está em discussão, Maria Flor!
— Você sabe se eu quero ser sua? — questiono, ele passa a me segurar com
uma mão só, trazendo seu polegar em meu clitóris. Grudamos nossas testas e,
juntos, o observamos manipular meu orgasmo como um fantoche. Se todas as
brigas que tivermos foram resolvidas com sexo, eu perderei a batalha em
todas elas, não há como lutar contra esse homem.
Ele acalma os movimentos assim que gozo, esperando pacientemente que eu
me recupere. Então, contemplo seu lindo rosto e vejo um sorrisinho
pretensioso que me deixa insana. Empurro-o e ele me solta aos poucos.
Tomada pelo ódio, o puxo pela camisa e o faço se sentar em uma cadeira. Eu
o monto como uma devassa insana e incontrolável, destruo o dono da porra
toda. Faço-o gemer, perder o controle, dou tapas em seu lindo rosto, eu fodo
com Joseph Vincenzo de um jeito que nunca imaginei que poderia fazer
antes.
E gozo mais uma vez!
Nós tivemos a primeira foda na parede atrás de nós e a segunda nessa cadeira.
Porque, no fundo, nós dois somos iguais: duelamos pelo poder, cada um ao
seu modo. Eu jamais vou permitir que ele me atropele em todos os sentidos.
Sinto seu membro pulsando, prestes a explodir em meu interior e sorrio
vitoriosa. Sim, eu dou a ele o mesmo sorriso pretensioso que recebi minutos
atrás. Sinto-me no auge do poder quando ele joga sua cabeça para trás, geme
e libera sua excitação em meu interior.
Vejo seu peito subir e descer descompassadamente, então ele envolve seus
braços possessivamente em minha cintura para me abraçar. O gesto me faz
engolir em seco, enquanto descanso minha cabeça no vão do seu pescoço.
Retribuo o abraço, apertando-o contra mim. Parece que a merda do
sentimento só aumenta e não sei até onde isso será capaz de chegar.
— Namore comigo — pede. Fecho meus olhos para tentar memorizar isso
que acabou de acontecer. — Seja minha.
— Não como uma aquisição...
— Você é uma aquisição, Flor, não há como fugir disso. Uma aquisição
sentimental. Eu não sei fazer isso, não sei mesmo. Mas quero tentar, com
você.
— Para você tentar ter algum controle sobre mim? — Ele me afasta o
suficiente para olhar em meus olhos e suspira frustrado.
— Não, Maria Flor! Caralho, você está na TPM? Está para ficar? Não sei
lidar com isso, é novo para mim. Me ajude.
— Para que três seguranças?
— Você não falou com os seus familiares? Milena foi encontrada por Heitor
no apartamento dela, havia sido espancada. O marido dela é xerife, conhecido
e perigoso. Não sabemos o que ele é capaz. Já estou tomando todas as
providências, isso envolve manter Milena, Heitor, toda sua família em
segurança. Você e eu... — Ele suspira mais uma vez. — Flor, eu me
preocupo, quero apenas mantê-la segura até conseguirmos detê-lo. Preciso
que compreenda isso e seja maleável ao menos um pouco. Não é porque
estou com ciúme e quero controlar você, é apenas para sua segurança. Além
dos três seguranças que você fugiu hoje, há ao menos cinco na minha casa em
Beverly Hills. É um mal necessário. Não quero invadir sua privacidade, só
quero mantê-la segura. Eu posso pedir para que eles te acompanharem de
longe, mas não vou dispensá-los.
— Obrigada por cuidar dos meus familiares, obrigada mesmo. Eu apenas não
gosto de ser controlada, Vincenzo, mas compreendi sua intenção agora. Serei
maleável, até não invadirem minha privacidade.
— Namore comigo — pede mais uma vez, dessa vez, olhos nos olhos.
— Como vai ser isso? Há o estágio, as pessoas da faculdade... — Ele perde a
paciência...
— Foda-se todos eles, Maria Flor. Se estou te propondo um namoro é porque
saberei como lidar com isso. Vamos separar o estágio de relacionamento. Na
empresa, você será uma funcionária, será tratada da mesma forma que trato
todos. Do lado de fora, você é minha namorada. — Suspira. — Vamos lá,
Flor, vamos ser sinceros aqui. Você não quer ou você está para ficar naqueles
dias?
— A segunda opção — admito. — Eu quero. Sou sua, Joseph Vincenzo. —
Sorrio. — Sua namorada.
— Eu gozei dentro de você.
— Mais uma vez. Está tudo bem. Injeção em dia, nenhuma medicação que
possa cortar o efeito do anticoncepcional.
— Agora que somos namorados, seria excelente você marcar uma consulta
ginecológica. É o céu estar dentro de você, pele na pele. — Isso me deixa
tímida, por isso volto a esconder meu rosto em seu pescoço. — Você pode
marcar? Ou se preferir eu marco.
— Você marcaria uma consulta ginecológica para mim? — pergunto,
descrente.
— Por que não? É minha mulher. — Oh, meu Deus! Ouvi-lo dizer que sou
sua mulher é foda... ainda mais foda do que ouvi-lo me propor um namoro.
— Eu mesma marcarei — informo, ele fica de pé com nossos corpos ainda
grudados. Vai andando desajeitado até uma porta e entramos em um
banheiro, prontamente me coloca sentada sobre a pia e desconecta nossos
corpos. É horrível tê-lo fora de mim, mas é fofo a maneira como está
preocupado em cuidar de mim. Ele pega alguns lenços de papel e me limpa
delicadamente. Em seguida, sob meu olhar de admiração e gula, limpa sua
extensão ainda rija.
— Mathew será cuidado em casa — informa.
— Sério?
— Sim. Teremos três enfermeiras revezando turnos para acompanhá-lo. É
mais confortável para ele e para mim.
— Você ficará em qual casa, papai? — questiono e ele dá um sorrisinho.
— Na mesma que você.
— Oh! — Abro a boca em espanto. Ficar debaixo do mesmo teto com ele,
por alguns dias seguidos, ... isso será insano.
— Diga-me, Flower, você dormirá com o seu papai ou em um quarto
sozinha? — pergunta, arrumando sua calça e se acomodando entre minhas
pernas.
— Eu... jamais perderia a oportunidade de dormir com o meu papai —
provoco, puxando-o pela camisa. — Diga-me, papai, o que fizemos ali fora é
foder?
— Sim. É foder, mas um foder mais leve, porque estou bem-humorado —
comenta rindo. — Você quer a foda nervosa, não é mesmo, Flower?
— Estou ansiando por ela, papai... Você vai me dar umas palmadas fortes na
bunda e na cara? — questiono, inspirando seu cheiro delicioso.
— Maria Flor — repreende. — Você terá o que está pedindo — afirma,
beijando-me, então se afasta. — Precisamos ir. Preciso ver se Mathew já
retornou dos exames. Você fica comigo?
— Se você quiser, papai...
— Você fica! — Oh! Mandão esse Joseph!
Enquanto andamos pelo corredor, Joseph segura minha mão com uma
possessividade absurda, meus dedos chegam a doer, mas nem reclamo. É
chique ser namorada de um homem mais velho, maduro e poderoso. Eu,
Maria Flor Albuquerque Brandão, com apenas dezenove anos, sou namorada
do poderoso Joseph Vincenzo, um homão da porra do caralho, dono do meu
útero!
— Calma, Joseph, você parece um tornado andando — repreendo e ele me
encara sério. Porra. Esse homem é o diabo! — É... me diga sobre a situação
de Mathew, não tivemos tempo de conversar.
— Tivemos tempo de foder.
— Exatamente — concordo, envergonhada, e ele para de andar.
— Minha menina, acho lindo você corando — comenta, passando o polegar
em minhas bochechas. — Estou ansioso para que os médicos liberem meu
filho. Então, passarei a noite inteira em cada pedacinho do seu corpo. —
Escondo meu rosto em seu peitoral, mortificada pelas suas palavras. Sei que é
contraditório, mas, enfrentar esse olhar e essas palavras, é demais para mim.
— Vamos lá, Flor, olhe para mim.
Eu olho.
Ele me beija no meio do corredor, sem se importar com a presença de
pessoas. Quando se afasta, eu estou perplexa.
— Ok, bonitão. Mathew? — Ele sorri.
— Mathew é meu.
— O quê? — grito e me jogo em seus braços. — Você está falando sério?
— Sim. Em alguns meses haverá o julgamento final, mas, por enquanto, a
guarda provisória é minha.
— Oh, meu Deus! Isso é fantástico! — exclamo, ainda em seus braços. É aí
que a satanás surge novamente.
— Vincenzo!
— Diga que eu posso dar na cara dela? — peço, gentilmente,
desvencilhando-me dos braços fortes do meu namorado! Ah, eu quero gritar
como adolescente mesmo!
— Eu preciso falar com você sobre Mathew! — anuncia, empinando seus
seios. Eu sinto um ódio tão grande por ela ser absurdamente linda! Enquanto
ela está de salto quinze, eu estou de shortinho, tênis e um moletom rosa.
Sério, minha TPM está terrível realmente. Inclusive, acho que quando minha
querida menstruação descer será o apocalipse. Há meses em que fico
emocionalmente abalada, sensível pra caralho, em outros eu fico esfomeada e
há outras vezes em que fico assim, com instinto assassina aflorado. E, quando
isso acontece, sobra para todos!
— Diga, Diana — diz Joseph, voltando a segurar minha mão, dessa vez ainda
mais apertado.
— É pessoal — ela acrescenta, chupando o canudinho do seu Frapuccino.
— A minha namorada pode ouvir.
— Senhor Joseph, desculpe atrapalhar, é que o senhor pediu que eu avisasse.
Mathew já foi levado para o quarto.
— Por que todos agem como se Mathew não tivesse mãe? — grita a perua
louca. Joseph treme ao meu lado. Sei que dará merda.
— Posso ficar com ele enquanto vocês conversam? — pergunto baixinho a
ele, porque não quero que ela pense que é uma afronta.
— Por favor — responde, dando-me um beijo na testa. Eu vou. Não quero
participar de uma discussão desse nível: pai e mãe. Sinto que minha presença
só vai deixá-la mais irada, e eu realmente não estou com paciência para isso.
Entro no quarto e fico feliz ao ver que Mathew só tem uma medicação em sua
veia, nada além disso. Ele está uma mistura de deitado com sentado e seu
rostinho está até mais corado.
— Ei, Mathew! — digo sorrindo.
— Tia Flower.
— Você lembrou da tia Flower? — questiono, sentando-me na cama e
segurando sua mãozinha.
— Sim. — Ele sorri. — Papai contou a história da princesa Flower para mim.
— Fico espantada, mas tento fingir naturalidade.
— Sério? Papai é um contador de histórias?
— Sim. Ele disse que a princesa Flower é a mais bonita — explica.
— Eu acho o príncipe Mathew o mais lindo! Mais lindo até que o rei Joseph.
Só não conta isso para o papai, ok? É o nosso segredo de amizade.
— Segredo de amizade. — Ele ri.
— Você está se sentindo bem hoje? — pergunto, então ele fica jururu. Meu
coração quase para de bater.
— Sinto fraqueza.
— Oh, meu amorzinho, você vai ficar bem logo, logo, viu, príncipe? E nós
vamos brincar e nos divertir muito — prometo, passando a mão em seu
rostinho. Ah, não nasci para ser mãe. Eu nem sou mãe dele e estou morrendo
por vê-lo assim, imagina se fosse? Crianças não deveriam adoecer ou sofrer.
É injusto isso.
— Tia Flower, você tem jogos no celular?
— Oh! Tenho vários! Tipo Angry Birds, você gosta? — questiono e ele
balança a cabeça afirmando. — Quer jogar?
— Não. Estou com sono.
— Oh! — exclamo quase chorando. — Você quer que a tia Flower faça
cafuné?
— Você pode se deitar ao meu lado? — pede. Engulo em seco antes de me
acomodar ao seu lado, cuidadosamente. Estou apaixonada por esta criança.
Ele se encolhe o quanto dá e deita sua cabeça em meu peito. Juro por Deus,
que fico sem saber como agir diante desse gesto. Fico alguns longos
segundos imóvel, mas crio coragem para fazer carinho em seus cabelinhos de
anjo. Em poucos minutos, ele dorme e eu também....
— É absurdo! Essa ninfeta está indo ficar com o meu filho? — grita Diana
quando Flor desaparece.
Seguro-a pelo braço e a levo para a sala onde eu estava com Maria Flor.
Ainda sou capaz de sentir o cheiro da Flor aqui.
— Sente-se, Diana — ordeno, apontando para o sofá. Ela se acomoda. Então,
me sento na cadeira, onde minutos atrás Maria Flor me cavalgava como uma
amazona... eu só preciso tirar o foco disso agora, porque estou ficando
realmente duro em minhas calças.
Essa menina se infiltrou em minha mente de um jeito que me deixa maluco.
Rápido pra caralho!
— Vincenzo?
— Oi?
— Estou aguardando!
— Claro! — digo balançando a cabeça. — Ok, o que você quer, Diana? Vou
continuar te dando um dinheiro mensal, não precisa se preocupar quanto a
isso. Obviamente o valor será reduzido, mesmo assim você sairá ganhando
uma quantia.
— Eu vou recorrer, é injusto!
— O que é injusto, Diana?
— Você diminuir valores e ficar com o meu filho! — grita.
— Vamos ver se eu entendi. Se eu continuar pagando a quantia que pagava
antes, poderei ficar com Mathew? — Ela não responde. — Vamos lá, Diana!
Eu quero entender você. Na verdade, nem era para estarmos aqui. Você tem o
direito de vê-lo apenas daqui quinze dias, comigo e um conselheiro tutelar
acompanhando. Sinceramente, Diana, o mínimo que uma mãe deve fazer pelo
filho é amar, cuidar e educar. Que diabos você fez com o meu filho? —
questiono. — Você não sabe ser mãe, não sabe nem mesmo ser mulher. É
fútil, interesseira e burra. Você é desprovida de inteligência, Diana, porque se
você possuísse o mínimo de inteligência estaria em sua casinha neste
momento, seguindo as ordens do juiz de manter distância do meu filho. Se eu
quiser, basta chamar a polícia aqui e as coisas ficarão piores para o seu lado.
Por favor, levante-se e saia. Vá embora e só apareça em quinze dias. Eu
mandarei um relatório sobre a saúde de Mathew a você, se for do seu
interesse é claro.
— Você é um tirano.
— Eu deveria ser, mas estou bem-humorado hoje — informo sorrindo —
Bom, Diana, boa viagem. Qualquer coisa que quiser, entre em contato com os
meus advogados. Nós dois não temos mais nada a tratar.
— E as coisas de Mathew? — questiona.
— Eu, pessoalmente, comprarei tudo novo para o meu filho. Ok? É só isso?
— questiono, ficando de pé.
— Aquela garota é uma criança — protesta, e sorrio mais uma vez. A garota
a quem ela se refere, deixa-me duro pra caralho neste momento. Porra, hoje
eu estou mais tarado que o normal. Preciso de mais algumas doses de Maria
Flor.
— Você não faz ideia o quão criança ela pode ser — afirmo. — Aquela
garota de dezenove anos é muito mais mulher do que você jamais conseguirá
ser um dia.
É logo no início da manhã que sou desperta por algum ser humano insistente
ligando para o meu celular.
Vou batendo minhas mãos na cama e então pego em algo que me faz saltar da
cama. Bruce começa a rir até cair da cama, enquanto tento normalizar a
respiração. Puta merda!
— Não tem graça! — digo ofegante e caminho até ele, que está caído de
costas no tapete.
— Tem graça sim — anuncia, puxando-me pelas pernas até que eu caia em
cima de si. — Bom dia, minha linda.
— Bom dia. — Sorrio encaixando minha cabeça no vão do seu pescoço. Ele
faz um cafuné em meus cabelos e eu quase adormeço o fazendo de colchão,
até meu celular voltar a tocar desesperadamente. — Merda!
— Atenda, pode ser sua mãe — incentiva e eu me levanto. Vou em busca do
meu celular e o nome Lorenzo brilha na tela.
— Não é minha mãe, é Lorenzo — digo rejeitando a ligação, então ele insiste
sem parar até que eu atenda. — Oi, Lorenzo... são oito da manhã!
— Não desligue, por favor — diz, desesperado. Isso me faz ponderar
permanecer ou não.
— Eu vou sair para que possa conversar, vocês têm assuntos inacabados —
informa Bruce ficando de pé. Ele me dá um beijo na testa e vai para a sala do
flat.
— Ok, Lorenzo, você parece realmente desesperado, diga.
— Eu preciso conversar com você, Isis, preciso muito. Tem que ser
pessoalmente.
— Loren...
— Ouça, eu não vou te agarrar, não quero te seduzir nem porra nenhuma.
Estou pedindo uma conversa, uma única conversa. Nós não conversamos...
— Eu não sei se é uma boa ideia — confesso, sentando-me na cama.
Coração é realmente terra que ninguém pisa...
— Por favor, Isis, depois disso eu prometo nunca mais importuná-la, se essa
for sua vontade. Por favor, deixe-me falar com você. Pode ser agora pela
manhã ou quem sabe um almoço?
— Eu não terei apetite para encarar uma conversa e um almoço. — Ele
suspira frustrado. — Se não me engano, você mora em Beverly Hills, não é?
— Sim.
— Eu estou passando alguns dias em Beverly Hills. Me mande algum local
por mensagem e eu estarei lá em duas horas.
— Porra, obrigado por isso. Eu mandarei...
— Ok — digo encerrando a ligação e caminho até a sala.
— Está tudo bem, boneca?
— Você é seguro de si mesmo, não é mesmo? — pergunto, aconchegando-
me nas pernas de Bruce.
— Eu preciso ser.
— Se fosse o contrário, eu estaria surtando. — Sorrio. — Bom, ele quer que
eu o encontre para uma conversa. Foi bastante insistente. Sinto que
precisamos disso para encerrar o ciclo.
— Então hoje a senhorita tem duas grandes conversas: com Lorenzo e com
sua mãe.
— Eu não estou certa sobre minha mãe — confesso.
— Eu imagino, mas é algo necessário, princesa. Você sabe disso. — Ele é
sempre tão maduro, acho que essa é a vantagem de namorar um homem mais
velho, experiente e seguro de si. — Bom, seria fantástico passar o dia todo
com você, mas Vincenzo já me mandou mensagens e eu preciso trabalhar.
Vamos tomar o café da manhã juntos?
— Sim, senhor. — Sorrio concordando e vejo o enorme urso de pelúcia que
ele ganhou para mim no parque de diversões. — Eu posso deixar “Bruce”
aqui?
— Claro. Eu até achei essa ideia fantástica, porque assim eu posso usá-lo
como desculpa para ir vê-la essa noite — diz o Bruce original, pegando-me
em seus braços. — Eu estava pensando se, além do café da manhã, você
gostaria de tomar outra coisa comigo...
— Outra coisa?
— Sim, um banho — sugere, dando uma gargalhada em seguida. — Essa foi
péssima!
— Foi horrível, de verdade. — Beijo seu pescoço e ele me coloca sentada na
pia do banheiro. — Olha, eu tomarei banho com você só porque adoro tomar
banho assim que acordo.
— E eu só te convidei para não a deixar sozinha na sala — brinca, piscando
um olho. Antes que eu possa protestar estou nua em seus braços.
Viajar de carro com Melissa é coisa de louco. Essa mulher incrível ao meu
lado precisa ser estudada pela NASA com urgência. Nem se eu mandasse
fazê-la, sairia alguém tão...tão... errada. Ela é doida pra caralho e não para de
falar. E eu, ao invés de ficar puto, só consigo rir. Sinceramente, nem consigo
explicar essa minha paciência. É coisa de outro mundo. Pelo tanto que ela
está falando já era para eu ter perdido o controle da direção e caído em algum
penhasco. Mas, misteriosamente, sigo firme e forte, quase inabalável.
— Você sabe se seu pênis foi circuncidado? — ela questiona, dessa vez eu
quase perco o controle o mesmo.
— Como? — questiono tentando entendê-la.
— É, se tipo o médico teve que dar aquele corte, tipo microcirurgia.
— Oh, Mel, eu realmente não sei — respondo rindo. — Nunca perguntei isso
à minha mãe.
— Vou mandar uma mensagem para ela e perguntar — anuncia pegando o
telefone e eu o tomo das mãos delas.
— Não, nada disso, mocinha maluquinha. O que isso vai mudar na sua vida?
— Nada, só curiosidade — responde sorrindo.
— O meu pênis não é legal? É feio? — questiono, entrando em sua loucura.
— Oh, ele está longe de ser feio! — Suspira. — Seu pênis tinha que ganhar o
título de uma das maravilhas do mundo. É lindo, rosadinho e cheio de veias
saltadas. É grande, grosso, pesado e bonito. Dá vontade de ficar abraçada
com ele o dia todo e fazer cafuné.
— É...
— É verdade. Eu amo seu pênis. Amo mesmo. Pirocomon! Ficaria com ele o
dia inteiro.
— Pirocomon não! Já falamos sobre isso, garota maluquinha — repreendo.
— Você vai amar Florença — comenta, mudando cem por cento o assunto,
mas agora já estou mais esperto e ligado a essas mudanças repentinas.
— Nós vamos poder ser um casal livre em Florença? — questiono e ela
suspira.
— Não.
— Ser marido de uma celebridade não estava nos meus planos, sabia? —
digo fingindo seriedade.
— Merda, eu sinto muito...
— Eu estou brincando, grutinha. Não estava nos meus planos realmente, mas
estou bem com isso, de verdade. — Sorrio e ela suspira contente.
— Eu amo seu pau.
— Mel, foco!
— Ok. Enfim, há algumas coisas que podemos fazer. Tipo, podemos usar um
disfarce e curtir a vida adoidado em Florença — sugere.
— Um disfarce?
— É, tipo, eu posso comprar uma peruca e tal, e posso fazer um penteado em
seus cabelos.
— Compreendo. Você não vai sossegar enquanto não fizer esse bendito
penteado em meus cabelos, não é mesmo, Melissa? — Ela ri.
— Você prometeu que deixaria.
— Eu deixo, grutinha, se isso vai te fazer feliz. — Sorrio.
— Eu não mereço você. Olhe para você e olhe para mim, sou toda errada.
— Novamente isso?
— Mas é verdade. Você é absurda e exageradamente lindo, além de todas as
qualidades que possui. Eu sou apenas uma mulher normal e possuo uns três
parafusos a menos na cabeça.
— Você é a coisinha mais linda e doidinha. Você me tira completamente fora
da zona de conforto. Nada que eu tenha feito na vida se compara ao que
estamos fazendo, Mel. É a curva fora da estrada totalmente — explico. —
Estou feliz por ter você, só não esperava um ex-namorado. Não sei lidar com
isso. Não gosto dessa merda, não gosto de Ignázio e não quero que ele se
aproxime de você mais. Sinto que perderei o controle se ele fizer.
— É ciumento?
— Acho que sim. Isso é novo para mim — confesso.
— Não possuía ciúme da finada puta? Digo, da sua falecida noiva?
— Finada puta? — Dou uma gargalhada. — Não, eu não tinha ciúme dela.
Como começamos a namorar cedo, tive a ilusão de que seríamos para
sempre, eu confiava no que existia entre nós e todos os garotos da escola, da
faculdade sabiam que ela era minha namorada e então minha noiva. Eles
respeitavam, mas acho que ela deixou de respeitar no final da relação. Ou
talvez eu tenha sido enganado uma vida toda, mas não tem como saber disso.
Se não fosse pela mãe dela, eu nunca teria ficado sabendo da traição. Ou
talvez ficaria sabendo no futuro...
— Você se sente magoado, não é mesmo?
— Sim. Não vou mentir. Não me lembro dela, mas quando o assunto vem em
pauta há mágoa. Eu gostaria que ela tivesse viva só para poder obter
respostas do motivo pelo qual ela tudo aquilo. O fato de ela ter morrido e não
ter obtido respostas meio que me fodeu. Desde que estamos juntos não tenho
pensado nisso, mas no início, eu ficava questionando o motivo vinte e quatro
horas por dia. Não sei se isso acontece com todas as pessoas que são traídas,
mas me questionei muito onde havia errado, o que tinha deixado de fazer, se
eu era bom sexualmente, sabe? Todos os tipos mais loucos de
questionamentos. Porque, na minha cabeça, para uma pessoa trair é pela falta
de algo. Há algo que não está saciado e você precisa ir buscar em outro lugar.
— Há desvio de caráter também, é isso que eu acredito que tenha sido seu
caso, porque você fode como ninguém, é divertido e bem-disposto. Eu tive
outros parceiros sexuais, mas nenhum deles fez comigo o que você faz.
Arthur, você nasceu para dar prazer sexual a uma mulher e não apenas isso.
Você beira a perfeição, possui um caráter ímpar, é por isso que às vezes acho
que você é muito para mim.
— Eu não gosto que pense tão baixo sobre si mesma — repreendo.
— Entendo. Mas de mim você tem ciúme? — Olha ela voltando ao início...
— Sim. Há um homem que deixou declarado que quer você, obviamente eu
estou com ciúme, porque você é minha mulher. — Ela suspira dando um
sorrisinho e se cala por alguns poucos minutos.
— Você já fez sexo na estrada?
— Oi? — Eu estou muito doido por esse jeitinho dela. É incrível. Desde
quando gosto de pessoas loucas? Ah, claro, desde quando sou filho de
Mariana Albuquerque. É isso. Está devidamente explicado.
— É... sexo na estrada.
— Nunca fiz sexo na estrada, Melissa.
— Legal — diz com naturalidade e olha pela janela. Eu devo me preocupar?
— Você quer fazer sexo na estrada? — pergunto, curioso.
— Tipo, nós estamos de bobeira, sem fazer nada.
— Eu estou dirigindo e você falando como uma maritaca. — Rio. — Todo
sexo que tivemos a noite toda não foi o bastante? — provoco.
— Eu não sei, mas você ativa minha sexualidade, compreende?
— O que é fazer sexo na estrada para você? Preciso saber, porque vai que
isso significa descermos do carro, eu te colocar sobre o capô do carro e
mandar ver.
— Uau, mandar ver — diz rindo. — É tipo você parar em algum lugar e
fazermos sexo.
— Então é fazer sexo no carro parado em uma estrada?
— É exatamente isso.
— Ah, sim, compreendi. — Sorrio fingindo ignorar sua sugestão sexual,
então ela se torna ainda mais engraçada. Eu diria que há centenas de formigas
picando sua bunda tamanho é a sua inquietude. — Está tudo bem, grutinha?
— Sim. Tudo bem, realmente. Seus músculos ficam em evidência quando
dirige. Tanto os braços quanto as coxas.
— Você acha? — questiono, atento à estrada em busca de algum tipo de
desvio. O carro é coberto no insulfilme como foi solicitado, mas há o vidro
da frente e não estou disposto a correr o risco de sermos pegos. Se ela quer
foder no carro, eu estou dando isso a ela.
— Sim.
— Mel, você faria um favor para mim? — peço, sério, e ela se disponibiliza
de pronto.
— Claro. Você quer que eu dirija?
— Não. Eu quero que você tire sua calcinha, por gentileza. — Ela dá um
sorriso preguiçoso e se desfaz do cinto de segurança. Eu luto para focar na
estrada quando ela levanta seu vestido e enrosca os dedos na calcinha
minúscula.
Essa mulher e suas calcinhas que me deixam louco.
Ela desliza a peça em suas pernas e me entrega. Inspiro seu cheiro delicioso e
a guardo no bolso de minha bermuda em seguida. Enquanto isso, Mel fica
aguardando meus comandos como uma garota obediente e isso me deixa duro
como uma rocha.
— Sua boceta cheira a morango.
— Sabonete íntimo — explica e eu sorrio. Amo o cuidado que ela tem
consigo mesma. Aliás, isso é algo a se falar.
Melissa é extremamente vaidosa com seu corpo. Está sempre hidratada,
cheirosa, dos pés à cabeça. Ela gosta de vestir lingeries sensuais mesmo que
não vá fazer porra alguma. Seu corpo é completamente depilado, macio e
delicioso. Fora outras questões, como, por exemplo: ser sensível ao meu
toque. Isso me deixa desesperado.
— Você sabe que vai engravidar, não sabe?
— O quê? — ela grita.
— Não usamos proteção e eu duvido muito que exista um anticoncepcional
capaz de proteger todo o sexo que estamos tendo.
— E você fala isso assim, do nada, com essa calma? — pergunta,
desesperada, e eu rio.
— Estou aprendendo com a melhor. — Pisco um olho. — Se acontecer
ficarei bem, mesmo querendo aproveitar um pouco mais de você e deixar
filhos para o futuro.
— Eu não posso ser mãe... ao menos não agora. Sou completamente louca!
— Isso é verdade, mas ela só foca na loucura. Ela ignora o fato de ser
extremamente doce, carinhosa e amorosa. Mel seria uma mãe fantástica,
tenho certeza.
— Não é uma exigência. É apenas algo que pode acontecer.
— Nada disso. Seu esperma não pode ser tão potente a ponto de ultrapassar a
eficácia de um método contraceptivo! — diz, apavorada.
— Você sabe da teoria dos 70%?
— O quê?
— Meus pais dizem que o segredo de um relacionamento feliz é, não apenas
o amor e a cumplicidade, mas também significa ter 70% de sexo na relação.
Essa foi a educação sexual que eu e meus irmãos recebemos. — Sorrio
lembrando desse absurdo, mas vai ver que eles estão certos. Estão juntos há
mais de quarenta anos, parecem jovens e cheios de vitalidade. Com certeza
isso faz sentido. Meu antigo relacionamento não tinha 30% e fracassou, é o
momento de inverter o jogo e foder sem limites. — É bom que esteja
preparada, Melissa, 70% do nosso relacionamento vai ser fodendo.
— Meu Deus! O que fizeram com meu Tutuzinho? — Quem vê essa carinha
de puritana não sabe as coisas absurdas que grita durante o sexo.
— Está achando ruim, Melissa Fontana? Há algum protesto a ser feito? Fale
agora ou cale-se para sempre, submetendo-se assim às minhas vontades
sexuais — provoco.
— Nenhum protesto, senhor! — Eu sorrio.
Nós ficamos uns dois minutos em silêncio até mudar o rumo da situação...
— Abra as pernas para mim, Melissa — ordeno, recebendo uma encarada
perplexa.
— Eu amo como você muda de doce para rude quando o assunto é de cunho
sexual.
— Então faça o que ordenei. — Ela faz e fica esperando pelo meu toque.
Porém, eu tenho outros planos. — Excelente, Melissa. Agora leve seu
indicador e dedo médio em seus clitóris e faça movimentos circulares lentos,
sem pressionar muito forte.
— Você quer que eu me masturbe? — pergunta, chocada.
— Há algum problema em relação a isso? Não gosta de conhecer seu próprio
corpo? De pressionar seu clitóris pequeno e inchado?
— Você se toca com frequência? — Sua pergunta me deixa intrigado comigo
mesmo. Eu não me toco. Fiquei pouco mais de oito meses sem sexo, sem me
tocar, sem qualquer porra. Então estou envolvido com Mel e realmente temos
transado significativamente, a ponto de eu não precisar recorrer a um cinco
contra um.
— Não. Mas posso começar.
— Oh, meu Deus, você é meu sonho erótico de puta real e oficial! Você pode
fazer isso até o fim quando chegarmos ao hotel? — pede, empolgada.
— O quê? Me tocar?
— Sim, por favor. Eu quero ver você se dando prazer. Deve ser incrível.
Você é extremamente quente e gostoso. Sou capaz de imaginar... — diz,
ofegante.
— Você é meu sonho erótico de macho, Melissa, farei isso. Agora pare de
falar e faça. Eu quero você bem molhada, contraindo de necessidade de me
ter.
— Meter.
— Dá no mesmo — digo sorrindo. Ela toca e solta um gemido baixo que faz
meu pau pulsar. — Pense que são meus dedos aí. Se toque como gostaria que
eu a tocasse.
— Eu gostaria que fosse...
— Mas eu estou dirigindo, em breve eles estarão aí. Continue circulando, em
seguida passeie com eles até sua entradinha, mas não a invada. Quando tiver
para entrar, esfregue os dedos subindo e volte aos movimentos circulares.
— Meu Deus, isso é quente.
— Quente vai ficar assim que eu conseguir um lugar seguro para pararmos.
Sua respiração aos poucos via se tornando urgente, então encontro a porra do
local ideal para pararmos. Entro numa estradinha repleta de mato e árvores,
por fim estaciono.
— Que tal substituirmos seus dedos pelo meu pau? — proponho,
observando-a conter os movimentos e ela se torna uma felina desesperada,
jogando-se em cima de mim. Afasto o banco apenas para conseguir sair do
carro com ela em meus braços, então caminho até o banco traseiro. Antes
mesmo de bater a porta atrás de nós já estou sem camisa.
Melissa está selvagem e eu insano. Sem dúvidas, perderemos um longo
tempo nessa brincadeira.
Saio do quarto de Isis e, enfim, volto a respirar. Eu nunca quis que esse
momento chegasse, temi-o por grande parte da vida e agora o dia chegou.
Minha filha, a garotinha que eu tentei proteger de todo o meu passado,
descobriu sobre ele e não sei como lidar com isso. Foi Deus quem, mais uma
vez, mandou Matheus no momento certo.
Chego à sala em busca dele e Mari diz que ele está no quarto. Corro um
pouco agoniada, e entro. Assim que fecho a porta, encontro meu marido
perfeito deitado na cama, tomando um energético, com a cara de segundas e
terceiras intenções.
— Você está pálida — anuncia saltando da cama e vindo até mim. Suas mãos
passeiam pelo meu rosto e ele franze a testa. — Pálida e fria. O que houve?
— Isis...
— Ela está grávida? — questiona levando a mão no peito e começando a
respirar com dificuldade. Se fosse isso ele teria um infarto.
— Não. Ela descobriu sobre mim. Sobre o meu passado.
— Como? — questiona soltando um suspiro e me abraçando. — Eu sinto
muito, amor, sinto muito.
— Ela me escutou conversando com Milena, não sei como, pois a porta
estava fechada e eu não sou de falar gritando. Enfim, Theus, ela descobriu e
agora quer saber tudo. Ela respeita se eu não quiser contar, mas estou
completamente perdida, Matheus, achei que levaria esse segredo até a morte,
não sei como lidar ou como agir. Não acho justo esconder após ela ter ouvido
parte da conversa.
— Se você decidir contar parte do que viveu, eu estarei ao seu lado. Nós
contaremos juntos, Vic, sempre juntos. Não vou deixar que enfrente uma
conversa dessa grandeza sozinha. Não precisa contar os detalhes, conte
apenas o que for menos traumático para ela imaginar.
— Falar com Milena foi fácil, Matheus, mas com Isis... ela foi vítima do meu
passado por sete anos. Reviver isso com ela é doloroso.
— Vic, há algumas coisas que fogem do nosso controle. Aconteceu, agora
temos que pensar na melhor maneira de abordar isso. Ficar triste, se
culpando, não vai ajudar em nada. Eu estou aqui, morrendo de saudades de
você.
— Você falou sério sobre se mudar para cá? — questiono, curiosa.
— Sim, mas isso é algo a ser conversado depois. Você não sabe a merda que
é ficar sem você, Vic. Preciso senti-la, preciso fazer amor com você e não é
apenas sobre sexo, é sobre ter você. Nem mais um dia longe, é insuportável,
por favor.
— Eu senti sua falta. — Sorrio. — Desculpa um pouco da empolgação ter
morrido.
— Eu sou bom em contornar situações. — Sorri e então sua boca está na
minha. Ele é realmente bom. Antes que eu me dê conta, estou deitada sobre a
cama implorando para tê-lo — Viu?
— Sim. — Sorrio.
— Eu amo você. Nós vamos passar por tudo juntos. Já enfrentamos coisas
realmente ruins juntos, Vic, isso é pequeno demais diante do nosso passado.
— Obrigada.
— Você é a coisa mais linda desse mundo, tão linda, Vic, cada dia mais —
elogia, movendo suas mãos até meu short.
— Tão romântico, meu príncipe encantado.
— Sou romântico, mas estou ansioso para entrar em sua calcinha e fodê-la
por algumas horas.
— É bom que comece logo os trabalhos, garotão. Isis ainda quer ter uma
conversa com você — anuncio, ele contém seus movimentos: — Sobre?
— É algo pessoal, ela irá falar com você mais tarde. — Sorrio e ele se levanta
desesperado.
— Isis está grávida!
— Não está, Matheus! Se ela estivesse grávida eu diria — informo, ficando
de pé na cama. Preciso jogar sujo para atrair sua atenção. Fico apenas de
lingerie e começo a seduzi-lo. Primeiro, eu dou meu sorriso angelical, em
seguida começo os trabalhos sujos. Se ele é bom em contornar situações, eu
sou ótima em deixá-lo louco, a ponto de esquecer quaisquer coisas que
estejam em sua mente.
— Puta que pariu, Victória.
— Eu quero foder com você.
— Fodida sadgirl do meu caralho, você mata um sujeito macho! — exclama
vindo para cima de mim como um animal selvagem.
São 19h quando meus pais surgem. Eles só saíram do quarto para almoçar e
nada além disso.
— Eita! Como estão essas forças? — pergunta minha avó, fazendo todos
rirem. Hoje, até mesmo Milena resolveu sair do quarto um pouco. Ela ainda
está andando com dificuldades e Heitor está sobre ela o tempo inteiro. Maria
Flor não chegou em casa até o presente momento e Joseph está devidamente
mal-humorado, trabalhando em algo no seu notebook.
— Tiramos um cochilo prolongado — diz meu pai e eu rio da sua cara de
pau. — Você, mocinha, precisamos trocar uma palavrinha... — anuncia
olhando para mim e então estende sua mão. Caminhamos até o jardim e nos
acomodamos em um banco. — Essa casa é top.
— Muito.
— Vamos lá, sua mãe disse que você gostaria de falar comigo.
— Eu e Lorenzo...
— Casamento não, Jesus! — diz, exasperado. — Pelo amor de Deus, Isis,
diga que não é isso!
— Não estamos mais juntos desde Las Vegas. Aconteceram algumas coisas
ainda lá e terminamos. Lorenzo será pai, provavelmente vai se casar.
— Que filho da puta! Ele engravidou uma garota estando com você? —
pergunta, nervoso.
— Não. Estando com Maria Flor.
— Ele é um imbecil do caralho! — Esbraveja. — Filha, seria tolo de pensar
que nunca nenhum homem irá machucá-la, mas você precisa aprender a fazer
escolhas certas. Sou homem, já iludi dezenas de garotas e não me orgulho
disso, você precisa aprender a ser mais foda que qualquer moleque que só
pensa com a cabeça de baixo. Eu vou socá-lo, você querendo ou não.
Ninguém mexe com a minha princesinha e minha florzinha. Eu sabia que
havia algo errado nele, ele demonstrou um pouco de desespero e aquela
história dele ter namorado Flor sendo apaixonado por você beirou ao
absurdo. Porém, você estava com brilho nos olhos e eu realmente achei que
ele era especial para você.
— Ele era pai. Mas as coisas fugiram do meu controle.
— Você está bem? Está sofrendo? Me mata vê-la sofrer, Isis — diz,
puxando-me para seus braços.
— Estou bem, pai. Há uma outra questão — digo e então a voz de Bruce
surge.
— Boa noite!
— Quem é? — pergunta meu pai, receoso.
— A outra questão — explico, temerosa.
— Como assim a outra questão, Isis Brandão? — questiona. Fico de pé e dou
a mão ao Bruce, que tem o enorme urso em seus braços. Engraçado, quando
faço algo certo sou Isis Albuquerque, quando faço algo errado sou Isis
Brandão. Meu pai deveria ser alvo de estudos. Ele é o melhor e o mais
engraçado.
— Bruce, esse é o meu pai — informo. — Pai, esse é Bruce, meu namorado.
— O quê? Victória! — Esbraveja. Bruce segura a vontade de rir quando
minha mãe chega desesperada e observa a cena.
— Se você rir ele vai matá-lo — digo baixinho. Bruce se afasta e caminha até
ele com uma segurança invejável.
— Boa noite, Matheus. É um enorme prazer conhecê-lo — cumprimenta,
oferecendo sua mão ao meu pai, que a observa com a testa franzida. Agora
são dois advogados e essa discussão promete ser acalorada, engraçada
também, assim espero.
— Você já o conhecia, Victória Brandão?
— Sim — responde minha mãe, mordendo o lábio e então o furacão Matheus
começa a atropelar.
Eu sinto que estou fodida, não apenas eu, minha mãe também.
CAPÍTULO 15
Aqui estou eu, mais uma vez intermediando tretas familiares. Dessa vez a
questão é entre Joseph e Maria Flor, minha irmãzinha que é um doce de
pessoa quando amarrada e amordaçada. Um ser humano que sempre foi
bastante pacífica, nunca fez chantagens emocionais ou foi mimada. Bastava a
filha da puta piscar os cílios e falar "Maria Florzinha" e toda família caía aos
seus pés, inclusive eu.
Maria Flor sempre foi foda e linda, lembro-me da infância, eu tentava ficar
puto com ela, mas a garota tinha o dom de reverter a situação – até mesmo
quando estava errada. Até hoje acho que ela está na profissão errada. Maria
Flor seria uma ótima advogada, posso dizer que até melhor do que eu e nossa
mãe. Ela tem um jogo de cintura, sabe lidar com as palavras, com a mente das
pessoas. Se ela diz algo, você acaba convencido. Maria Flor não tem medo de
nada, é audaciosa, ousada e impulsiva. Não mede as consequências dos atos e
se joga de cabeça em tudo que acredita ser o certo, principalmente quando
contrariada.
Ela não sabe lidar com Vincenzo. Ele é um cara experiente, alguns anos mais
velho. Uma hora eu sabia que daria merda, a diferença de postura entre os
dois é enorme. Joseph é exigente demais, Flor não suporta ser controlada.
Dois bicudos não se bicam. Precisarão passar por alguns ajustes se quiserem
seguir em frente, caso contrário a relação está fadada ao fracasso. A parte
ruim é que se o fracasso surgir, Flor vai despirocar, como diz minha avó. E
eu terei um grande trabalho em controlá-la.
Agora, às 19h, o homem está soltando fogo pelas ventas, porque Maria
Florzinha simplesmente decidiu sumir no dia de hoje, após terem uma
discussão ontem.
— Conseguiu falar com ela?
— Ainda não, cara — respondo tentando ligar pela milésima vez.
— Nenhum dos meus homens conseguiu localizá-la.
— O que de tão grave aconteceu entre vocês? — pergunto, receoso, levando
em conta o quão fechado Vincenzo pode ser.
— Eu fui buscá-la na faculdade e ela simplesmente resolveu me ignorar como
se eu fosse nada além de seu babá. Parece que não temos a mesma opinião
sobre relacionamento sério. Heitor, você sabe que todos aqui corremos riscos.
Estamos lidando com um homem perigoso que, provavelmente, já está de
volta à cidade. Maria Flor está se colocando em risco. Vou tentar rastrear o
celular dela mais uma vez. — Ele se vai e eu volto para minha delegata. Ela é
fodidamente linda, sou um babão do caralho.
— Ei, minha princesa.
— Maria Flor ainda não apareceu? — Ela questiona.
— Ainda não. Você está se sentindo bem? Não quer ir se deitar um pouco?
— Estou bem, preciso ficar um pouco fora do quarto — explica, abraçando-
me e eu tento controlar os desejos que surgem com o contato. Preciso
respeitá-la, mas meu corpo não segue os comandos. É difícil. De alguma
forma, após a conversa com tia Vic, ela está demonstrando-se mais disposta.
— Essa não é a voz de Matheus? — questiona e então passo a prestar
atenção, parece que alguma espécie de discussão está rolando lá fora e isso
diz que precisarei usar meu lado cinegrafista amador.
Pego meu celular e Milena me encara séria.
— Você vai filmar se for uma discussão? É isso?
— Óbvio, vou fazer a live no grupo da família. Se não quiser me
acompanhar, basta pegar seu celular. — Sorrio depositando um beijo em sua
testa e vou em busca do furo de reportagem. A treta da vez é entre Bruce, tio
Theus, tia Vic e Isis.
— Pai, você pode usar menos da dramaturgia neste momento? — Isis pede,
enquanto Bruce parece se divertir.
— Eu faria o mesmo se fosse minha filha — afirma Bruce, relaxado, como se
tivesse tudo sob controle. — Vamos lá, Matheus, vamos ter uma conversa de
pai para namorado. Eu pedi sua filha em namoro ontem, antes estávamos
apenas nos conhecendo. Fizemos uma grande amizade, muito rápido, e isso
nos levou a um relacionamento... — ele argumenta e então um segurança
surge com minha irmã em seus braços, coberta de sangue. Meu riso some e
meu celular cai ao chão. — Merda!
— Oh, meu Deus! — Grita minha avó. — O que houve? — questiona e todos
nós o seguimos. Ele a coloca sobre o sofá e eu ajoelho para conferi-la,
enquanto todos a rodeiam com o horror estampado em seus rostos. Tudo vira
um caos de repente e torna-se difícil manter-se atento a todos os
acontecimentos. Há choros, suspiros, desespero...
— Ela foi deixada por um carro. Há seguranças seguindo o veículo —
explica o homem.
— Quero imagens das câmeras de seguranças, agora! — Bruce pede sumindo
do meu campo de visão.
— Ele é policial? — Ouço meu tio perguntar.
— Advogado do Vincenzo — explica Isis.
— Flor... fala comigo — peço passando a mão em seu rosto. Parece que estou
num circo de horrores. Primeiro Milena, agora minha irmã. Se foi Anthony...
puta merda!
Flor nem se move, verifico seu pulso e está fraco o bastante.
— Ela precisa de um hospital, com urgência — anuncio e Vincenzo surge ao
meu lado.
— O que... Flor? Porra! — ele grita em desespero. — Flor, fale comigo, por
favor, fale comigo.
— Minha menina. — Minha avó chora nos braços do meu tio.
— Hospital! O pulso está fraco! Chorar não vai ajudar agora, precisamos agir
— anuncio.
— Prepare o carro. — Vincenzo grita ordens e a pega em seus braços.
Saímos todos, inclusive Milena, rumo ao hospital. Não sabemos o que houve,
mas sei que saberemos muito em breve.
Muito em breve.
— Onde estou? — gaguejo as palavras, tomada pelo medo. Minha boca está
seca, minha garganta arranhando levemente. Estou com medo. Há uma
espécie de terror em mim neste momento.
— Fique calada, piranha. — A voz do homem misterioso me faz temer, é uma
mistura de ameaça e gracejo, algo obscuro o bastante. Nunca quis que
Joseph fosse possessivo e controlador como agora. Eu daria muitas coisas
para ser rastreada e encontrada.
O homem para o carro, então ouço coisas sendo jogadas pela janela. Logo
em seguida ele volta a dirigir.
— Pronto, agora não existe mais celular, já era.
— Por quê? O que eu fiz? Por favor, diga-me algo — imploro, temerosa.
— Joseph Vincenzo vai aprender a brincar com as pessoas certas — ameaça.
— Ele acha que dinheiro pode comprar tudo. Acha que pode controlar o
mundo e entrar em assuntos que não lhe dizem respeito. — O homem dá uma
gargalhada assustadora. — Vamos ver até onde o poder dele é capaz de
chegar.
Alguns minutos depois, o carro para e sou puxada dele, violentamente. O
homem tira o pano que cobre minha cabeça e sinto um golpe duro em meu
rosto, que me leva direto ao chão. Minha cabeça bate em algo que não sou
capaz de identificar, o latejar em meu crânio quase faz com que eu desmaie.
Começo a rezar silenciosamente para conseguir me manter firme, acordada.
Não sei o que ele fará comigo se eu desmoronar.
Sou pega pelos cabelos e golpeada mais uma vez, dessa vez nas costelas.
Solto um grito de pavor misturado com a dor agoniante. Até mesmo minha
respiração fica comprometida. O forte enjoo surge enquanto tento lutar
contra a dor. Talvez a morte seja melhor do que ser espancada de maneira
cruel.
— Vagabunda. Isso tudo é culpa de Milena, sua cunhadinha — informa. —
Agora nós vamos subir e tudo que fizermos lá em cima será por Joseph
Vincenzo — grita.
— Por favor, não... — Choro quando ele me puxa mais forte pelos cabelos,
fazendo com que eu fique de pé. Não há uma maneira de ficar ereta, tudo
dói. Fico tonta na primeira tentativa e caio de joelhos.
— Anda porra, vamos lá, putinha — ordena.
Acordo com um soluço. Forço abrir os olhos e tudo que vejo é branco.
Pânico. Medo. Pavor.
Tento ficar de pé, em vão. Minha cabeça dói infinitamente.
— Flor? — Uma voz desesperada surge e Joseph entra no meu campo de
visão. Não sei de onde tiro forças, mas sei que ela surge o suficiente para eu
puxá-lo até mim. O abraço e então choro. — Meu amor, não chore. Graças a
Deus você acordou. Graças a Deus, minha linda.
— Não me deixa — peço com a voz falha.
— Não deixarei, nem por um segundo. Eu amo muito você, muito. Estou tão
bravo...
— Fica comigo para sempre.
— Minha princesa, você está tão fodida, Flor, porque se antes eu era chato,
agora que quase te perdi, serei infinitamente pior — ele diz. — Eu preciso
chamar o médico — informa, tentando se afastar.
— Não me deixe aqui. Não quero ficar sozinha com ninguém, ninguém, por
favor.
— O que fizeram com você? Eu matarei quem fez isso com você. Eu juro por
Deus, Flor — anuncia num tom de puro sofrimento, então a dor em minha
cabeça surge com força e tudo fica escuro.
Acordo sobressaltada. Tudo dói; meu corpo, minha cabeça...meu peito. Tento
abrir os olhos, mas dessa vez não consigo. Eu preciso de um pouco de força,
não quero mais dormir. Nunca mais. A cada vez que eu faço, sou invadida
por uma série de acontecimentos horríveis. Fico quieta, ouço um som de
choro baixinho. É de uma mulher, é a minha mãe.
Quero falar, quero abrir os olhos e vê-la, mas não consigo. O esforço que
faço para conseguir é o suficiente para a dor na cabeça surgir. Não há
alternativa a não ser me render ao sono.
Ok, fodeu! Sem lubrificante mesmo. Minha reputação não é das melhores,
principalmente se tratando de policiais. Digamos que eu já tenha cometido
alguns desacatos no passado. O que eu posso fazer? Esses filhos de putas
ficavam me perseguindo como se eu fosse uma criminosa. Qual o crime há
em beber, dançar e subir em balcões para dançar? Quero saber onde está
escrito que isso é proibido!
Paciência é uma virtude que não possuo.
— Eu terei que mediar a conversa — informo para Arthur – que está com a
cara bastante fechada e quase quebrando meus dedos, tamanho a força do
aperto em minha mão. Virgem da grutinha dos homens possessivos, isso é
quente na maioria das vezes, mas agora estou com medo real e oficial. Vir
para Florença com ele era a realização de um sonho de princesa, mas agora
está parecendo um pesadelo.
— Pois bem, dona Melissa Fontana, o que faz parada no meio da estrada e no
banco de trás do veículo?
— Pois bem, cabo Giordano — digo observando o nome em sua camisa. —
Nós dois estávamos dormindo. Você sabe, travar uma fuga da imprensa pode
ser bastante cansativo. Estou sendo perseguida duramente em Milão, então
resolvi vir para Florença enquanto o advogado da família trabalha no
testamento do meu pai. Há algo contra? Está escrito na constituição que é
proibido estacionar o carro no meio do mato, embaixo de uma árvore, para
dormir? Ou será que o senhor acha que deveríamos continuar a viagem
correndo risco de dormir no volante e um acidente fatal acontecer?
Lembrando que um acidente na estrada pode vir a matar não apenas eu e meu
marido, mas pessoas inocentes, que não têm nada a ver com o fato de não
estarmos em condições de dirigir devido ao sono!
— Senhora Melissa...
— Senhora Melissa não! É um absurdo ser importunada dessa maneira. Eu
percebi seu olhar crítico, como se estivesse insinuando que estávamos
fazendo outra coisa além de dormir. Você sabe que posso processá-lo? É um
absurdo!
— A senhora pode tirar uma selfie comigo? — pede o outro policial, de nome
Rocco, e eu sorrio com toda minha simpatia.
— Não. Os senhores estão em trabalho e não quero que a imprensa descubra
onde estou. Aliás, ficaria grata se os senhores mantiverem o sigilo. —
Suspiro na minha melhor performance de atuação. — Os senhores permitirão
que eu tire um cochilo por mais meia horinha ou terei que dirigir embriagada
de sono? O que acho um grande absurdo, sendo que pago meus impostos.
— Desculpe-nos por importuná-la. Pode continuar com seu sono, não
queremos um acidente — diz o cabo Rocco, enquanto o outro me olha
desconfiado.
— Muito obrigada. Agora podem ir, por obséquio. — Sorrio e eles se vão.
Arthur me encara incrédulo.
— Que diabos você fez?
— Digamos que tenho dado para um bom advogado. — Sorrio piscando um
olho.
— Você tem dado realmente. — Ele sorri, um sorriso lindo e perfeito.
— Digamos que eu consegui mais trinta minutinhos.
— Trinta minutos? Nós podemos pensar em algo para ocupar esse tempo
— sussurro em seu ouvido, sentindo meu pau recém-dormido despertar para
a vida. Quando foi que virei insaciável e descontrolado? Se existe algo que
sempre possuí foi controle e agora, desde que Melissa surgiu, eu perdi a porra
toda.
— Eu quero montá-lo.
— Você é uma menina muito malvada, Melissa — digo apertando sua bunda
e a trazendo seu corpo mais próximo ao meu.
— Eu amo sua boca em mim, seu corpo sobre o meu ou o meu sobre o seu.
— Ela sorri mexendo em meus cabelos.
Enfio minha mão por dentro de seu vestido e traço beijos em seu pescoço.
Essa mulher é uma diabinha e está me enlouquecendo em grandes
proporções.
Ela mói sua intimidade em minha ereção, arqueia as costas e gira seus quadris
usando toda a incrível performance de rebolar que sua feminilidade permite.
Inclino-me mais abaixo e alcanço seu decote generoso. Mordo a carne
exposta e solto um gemido quando ela se esfrega tortuosamente contra mim.
Ela me puxa para dentro do carro e nós burlamos os trinta minutos,
transformando-os em mais de quarenta. Sim, nós gostamos de burlar as leis.
Gostamos do perigo.
1 MÊS DEPOIS
— É Coachella, porra! — Ouço Thor gritar a borda do seu carro conversível,
enquanto eu, Mel, Maria Flor e Milena estamos no banheiro.
Estamos em Indio, uma cidadezinha onde acontece o Coachella Valley Music
and Arts Festival. Um presente de Joseph Vincenzo à Maria Flor, para ver se
ela anima.
Foi difícil tirá-la do casulo e convencê-la a vir, mas agora ela até parece
animada. Ela e Milena fizeram um pacto de voltarem às suas atividades
sexuais aqui, neste festival, eu e Melissa estamos pagando para ver.
Tudo que temos feito é impulsioná-las a superar as dificuldades, agora
estamos confiando que elas conseguirão quebrar essa barreira.
Aliás, Melissa, acredita estar grávida... Então, teve a brilhante ideia de
fazermos o teste em uma parada, bem no meio da estrada. Após muita
insistência, fui obrigada a fazer primeiro para ensinar a louca e então ela fez
em seguida. Agora os dois potinhos estão lado a lado enquanto aguardamos o
resultado do teste dela.
— Real e oficial, eu estou rezando para todos os santos para não dar positivo.
Que espécie de mãe eu posso ser? O que eu tenho a ensinar a uma criança?
Porra nenhuma. Vejamos, eu tenho estudado possibilidades, de verdade.
Talvez possa ensiná-la a como tomar banho em um reality show sem expor a
vagina ou a pirocomonstra. Ou ensiná-la a fugir de paparazzi. Quem sabe eu
possa ensiná-la a virar uma garrafa de cerveja na boca sem intervalos... —
Ela suspira. — Eu olho para o meu sonho de princesa e percebo que ele é a
salvação. Se eu estiver grávida, entregarei nosso bebê a ele para a criança ter
o mínimo de cérebro e uma boa educação.
— E onde você entra nisso? — questiona Maria Flor rindo.
— Eu entro na parte de carregar nove meses e amamentar. Até posso ajudar a
trocar fraldas, aliás, sou multimilionária, querida, eu sou rica, posso pagar
pessoas! — exclama. — Mentira, jamais pagaria alguém para cuidar do meu
pirocomon baby ou da minha grutinha nenê. Mas educar será com
Arthurzinho, meu marido pirocomon extremo nível hardcore sexual. Eu
posso entrar com a vagina novamente pós-resguardo — diz. — Merda!
Quarenta dias sem sexo! É real... não quero ser mãe — grita.
— Grutinha, já sabe se serei pai? — Arthurzinho grita do lado de fora do
banheiro. Ele é loucasso, né? Às vezes acho que ele usa drogas. O louco se
casou do nada e está levando a vida de casado na maior, assim, do nada. Ele
se casou com a Melissa Fontana, minha amiga mais louca. Eles são tão
opostos, mas parecem tão certos.
— Ainda não tive coragem de olhar.
— Flor, sai logo desse banheiro, por favor — ordena Vincenzo.
— Me force a sair, tirano controlador! — ela rebate.
— Eu sou capaz mesmo, Maria Flor! Saia da porra do banheiro!
— Deixa de ser controlador! — Bruce esbraveja. — Isis vem, meu amor... —
É assim que se fala, idiota. Tem que fingir que é carinhoso e fofo nesses
momentos.
— Muito lindo, senhor Bruce! — Rio.
— Na boa, vocês são todos malucos, sou a única normal. — Milena afirma.
— Mel já falou o suficiente para cinco dias em menos de dez minutos. Estou
indo olhar o teste, já que ninguém aqui tem coragem. — Ela toma a frente e
Mel aperta minha mão.
— Virgem da grutinha safada e incontrolável, mestre dos magos protetor dos
pirocomons gozadores, permita que meu anticoncepcional seja à prova do
esperma volumoso do meu marido, que goza igual um cavalo. Virgem
abençoada, eu não tenho nada a oferecer a um bebê, sou mais perdida que
cego em tiroteio... Por que sexo engravida? Porra, é sacanagem isso...
— Puta que me pariu! — Flor grita histérica. — Puta que pariu! Vou até sair
daqui.
— Abra essa porta, caralho! O que está acontecendo aí dentro? — grita meu
tio.
— Os dois exames deram positivos — informa Milena e a porta se abre,
mostrando quatro homens impacientes.
Eu perco o eixo da terra.
Perco a cor.
A fala.
A respiração.
— O que está havendo? — questiona Thor, assustado.
— As duas estão grávidas.
— As duas quem? — Joseph questiona agora. — Maria Flor está grávida?
Porra, diga logo.... Florzinha, você vai ter um bebê meu?
— Nós nem fodemos — anuncia Flor, rindo.
— Ah é, verdade — concorda Joseph, dando-se conta e saindo do banheiro.
Flor vai atrás.
— Melissa e Isis.
— Oh, meu Deus! Eu estou grávida! — digo a mim mesma. — Eu estou
grávida.
— Eu serei pai, porra! — grita meu tio pegando Mel em seus braços.
— Meu Deus, como criarei uma criança? Ela se mexe dentro da barriga?
Virgem santa, nunca mais faço sexo com você, Arthur, é sério. Imagina um
ser humano dentro da minha barriga mexendo? Eu vou morrer! — Eu deixo
de escutar, então Bruce me pega em seus braços.
— Respire, boneca, respire. É um bebê ...
— Eu estou grávida — repito e então não vejo mais nada.
CAPÍTULO 19
Tenho Isis caída em meus braços e, pela primeira vez na vida, não sei o que
fazer, estou sem ação. Há dois choques neste momento, o choque da gravidez
e o de ela ter desmaiado.
— Olha, eu só não vou fazer uma transmissão ao vivo, porque é arriscado
meu tio virar o Superman e surgir do nada dentro desse banheiro — anuncia
Heitor rindo, como se tivesse muita graça.
Está bem, eu não vou mentir que um bebê com Isis me deixa feliz, por mais
precoce que seja o relacionamento. A verdade é que nunca me permiti um
relacionamento sério e tão intenso quanto o que nós estamos tendo.
Já namorei algumas vezes, mas namoros normais, inclinados para o
superficial. Já com Isis eu mergulhei de cabeça. É apenas o jeitinho de ela
ser. Eu fiquei encantado desde o primeiro momento em que a vi escondida na
escadaria do clube. Era uma coisinha pequena e travessa, movida pela
curiosidade e surpreendentemente quente. Em um primeiro momento, achei
que ela não passava de uma adolescente rebelde querendo descobrir coisas
em um clube de sexo, mas então nós conversamos e fui surpreendido por um
mulherão. Repleta de atitude, transparente, dona de si, audaciosa, autêntica,
dinâmica e um tanto quanto perdida. Naquela noite ela estava travando
batalhas internas, eu vi. Tão perdida que senti instantaneamente a vontade de
segurar sua mão e guiá-la.
Não precisei me esforçar, antes que eu pudesse fazer algo, sua mão já estava
estendida para mim e eu a peguei.
Seu perfil sexual ousado, intenso e voraz me mostrou um certo descontrole
emocional. Deus sabe o quão forte segurei todo o meu desejo e meus
impulsos, apenas com a finalidade de controlá-la. E eu consegui. Não sei o
tipo de relacionamento que ela costumava ter antes de mim, mas comigo
certamente o relacionamento não seria baseado apenas em sexo. E assim
temos feito. Temos sexo, evidentemente, bastante sexo. Porém, antes do sexo
temos passeios, conversas, risadas, brincadeiras e papos cabeça. O sexo é só
um acréscimo. Inclusive, o sexo entre nós dois é algo louco e insano. Algo
que em todos os meus anos de vida não tinha vivenciado. Estranho um dono
de clube de sexo e um admirador do BDSM dizer isso, eu sei. Mas trata-se da
conexão. Eu e Isis estamos conectados, sintonizados na mesma frequência.
Um estilo de conexão mental e física. Você tem ideia do quão raro é isso? Eu
tenho, porque é a primeira vez na minha existência que eu consegui atingir
isso.
Eu estou tentando pensar em qual das fodas loucas essa criança foi
concebida. Houve a garagem, houve o sexo no estacionamento de um
restaurante, houve também numa boate... houve dezenas de sexo louco e
falhei miseravelmente em me lembrar da existência de algo chamado
preservativo. Eu falhei. Falhei e falhei inúmeras vezes. Simplesmente pelo
fato de estar tão tomado, tão consumido pelo tesão, de uma forma que
qualquer outro pensamento não pudesse passar pela minha mente.
Agora há tanto a ser enfrentado.
No auge da minha idade eu já me sinto bastante preparado para a paternidade,
mas Isis, minha boneca, tem 24 aninhos e uma lista de projetos a serem feitos
na sua cabecinha. Minha garota certamente ficará perdida e terei que guiá-la
da melhor maneira. Gravidez não é uma sentença de morte ou doença, eu
estarei com ela para mostrar o lado bom da situação. É por esse propósito que
passarei a trabalhar a partir desse exato momento em que a terra deu um giro
completo em minha vida.
Sou um homem visionário, sempre fui. Eu odeio o negativismo, gosto de
tentar extrair o bem até mesmo em situações caóticas, onde torna-se
impossível enxergar o belo. Não é o caso, ter um filho não é uma situação
caótica, mas Isis vai precisar do meu positivismo mais do que nunca.
Há seu pai, o homem tende a ser ciumento e extremamente cuidadoso com
ela. Eu não irei julgá-lo, não quando há a possibilidade de ter uma garotinha.
Mas sei que Isis vai temer magoá-lo. No primeiro momento ela vai enxergar
apenas a parte feia da situação. Mas eu, com toda experiência de vida, já
imagino Matheus aproveitando nosso bebê da melhor forma possível e é
nisso que irei focar também.
— Aí, delegata, podia ser um filho nosso, mas você não colabora — comenta
Heitor rindo e Milena dá um tapinha na cara dele.
— Eu não me sinto preparada para a maternidade, garotão. Você é só um
bebezão.
— Ora, ora, delegata, você não me chamava de bebezão quando eu estava te
fo...
— Heitor! — ela repreende e ele a pega em seus braços.
— Eu te amo, delegata... — declara. — Ops... saiu! Nem te amo.
— E nem eu amo você, pequeno príncipe.
— Ok. Ficou sem ação, caro Bruce? Debocha mais da minha possessividade
mesmo filho da puta! — diz Vincenzo. — Vamos agir, precisamos levá-la até
o hospital mais próximo.
— Fique calmo. Essa não é a primeira vez que Isis desmaia e nem será a
última. Ela é filha do meu tio, que certamente irá desmaiar assim que ficar
sabendo que será avô — diz Flor gargalhando. — Vai ser demais! Ok, me
desculpe por isso — brinca. — Então, ela tem febre emocional, ânsias de
vômito e desmaios quando fica muito nervosa. É melhor levarmos para a
observação, essa notícia foi impactante o bastante.
— Bruce... — diz Isis despertando do nada.
— Oi, minha boneca.
— Bruce... eu não sei... — Ela começa a chorar e eu a abraço mais forte.
— Está tudo bem.
— Vou pegar uma água para ela. Leve-a para seu carro — aconselha
Vincenzo, então sai com Flor.
— Ei, está tudo bem, Isis. Tudo bem. Um bebê é incrível, realmente. Você
deixa eu ser padrinho? — pede Heitor, fazendo cafuné nos cabelos dela. É
bonito ver a união dessa família incrível.
— Deixo — responde minha princesa, então a conduzo até o carro. Aperto o
botão para a capota se abrir e ela absorver um pouco mais de ar. Flor entrega
a água e ficamos apenas eu e Isis.
— Está um pouco melhor?
— Eu desmaiei, mas não foi apenas pela surpresa da gestação. Foi porque me
dei conta de que nem mesmo atrasada eu estive, Bruce. Isso me faz
questionar de quanto tempo estou... e isso...
— Isso? — incentivo que continue.
— Esse bebê pode não ser seu, até porque menstruei normalmente. — Eu não
gosto disso.
É como receber um soco no estômago.
Aperto minhas mãos em torno do volante, agarrando qualquer merda que me
dê o mínimo de sustentação.
Isis chora, mas eu só preciso compreender as coisas dentro de mim antes de
confortá-la, porque essa possibilidade nem mesmo tinha passado pela minha
mente e quero pra caralho ser pai desse bebê.
— Me perdoe — diz. — Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer
comigo. Nunca imaginei...
— Fique calma, boneca.
— Deixe-me falar.
— Fale — digo soltando o volante e segurando suas mãos frias. O amor
sempre vai vencer, não importa quantos obstáculos haja...
— Eu me apaixonei por Lorenzo — começa. — Eu entrei de cabeça numa
relação que começou totalmente errada. Foi tudo errado, tudo, Bruce. Mas ele
foi o primeiro homem que gostei de verdade e me deixei levar. Eu confiei no
que estávamos tendo, tínhamos sexo demais, em excesso. Bastava um único
olhar e estávamos transando como animais.
— Eu sei...
— Então tudo ruiu. Nós terminamos de uma forma feia, brigamos dentro de
uma boate e eu trombei com você, quando eu nem mesmo sabia o que estava
indo fazer da merda da minha vida. E você, Bruce, é tão o oposto de tudo que
já conheci. Você é um homem completo, cabeça e coração. Me mostrou que
um relacionamento é muito mais que orgasmos e sexo louco. Você vê quem
eu sou além da aparência, você me quis pela personalidade e não porque sou
um rosto bonito. Você me quis para compartilhar momentos incríveis,
conversas sérias e engraçadas, passeios, descobertas. Eu achava que Lorenzo
era o amor da minha vida, mas você é o amor para a minha vida. Você,
Bruce... eu quero que seja você o pai do meu filho e não importa nada, não
importa se eu serei criticada, se minha família vai ficar triste por uma
gravidez precoce, importa é que eu sei que se você for o pai do meu filho será
o melhor, porque você, e apenas você, me dá o melhor. Você me faz ser um
ser humano melhor, me ama como se eu fosse a melhor, me faz sorrir de
dobrar a barriga, me faz sentir borboletas no estômago e tudo mais. Eu
aprendi e aprendo diariamente com você, meu amor... Quando está em Las
Vegas eu vivo na expectativa de vê-lo. Quando liga avisando que está indo
para Los Angeles eu passo um dia inteiro ansiosa, me arrumando para ficar
bonita para você... é tão puro, Bruce, tão puro e genuíno que eu jamais
saberei explicar. — Ela sente o mesmo que eu, eu tive tanto receio sobre isso,
mas agora minha boneca está se declarando e eu estou sem palavras. — O
que nós temos é um relacionamento de verdade, com tudo o que tem direito e
um pouco mais. Lorenzo me marcou por ser o cara errado, você me marcou
por ser o certo. Que Deus tenha piedade de mim e queira que esse bebê seja
seu filho, caso contrário...
— Caso contrário... ele será meu de qualquer forma, pois eu amo a mãe dele
— declaro, puxando-a para meus braços. — Eu estarei com você, nós
estaremos juntos, não existe a possibilidade de ser diferente. Ele pode ser de
Lorenzo, mas ainda assim será um pouquinho meu. Não importa, ok?
— Eu nunca fui capaz de expressar em palavras meus sentimentos, nunca,
mas estou feliz por você ser o primeiro. Eu quero você, estou apaixonada por
você e vou amar se esse filho for seu. Eu só preciso saber disso o quanto
antes e então nós iremos comemorar ou não. — Ela está chorando pra
caralho... isso me assusta. — Por Deus, Bruce, se esse bebê não for seu....
— Você vai amar da mesma maneira, porque essa criança não tem
absolutamente culpa por nada, Isis. Eu sei que você o amará de qualquer
maneira, meu amor. Tenho fé em você. Está apenas assustada. Vai dar tudo
certo, Isis — informo. — Agora você precisa se acalmar, meu amor. Há
alguém que precisa do seu bom humor, do seu carinho e da sua paciência.
Essa pessoa vai precisar disso pelo resto da vida. Sua vida agora reflete em
outra.
— Me leve até algum hospital, por favor. Eu não serei capaz de conviver com
a incerteza.
— Ok, meu amor, nós estamos indo em busca de um bom hospital —
tranquilizo-a.
Puta merda, eu estou rezando internamente a todos os santos. Quero ser pai
dessa criança, pelo amor de Deus, deixe que eu seja pai dessa criança.
— Abra essa porta caralho! O que está acontecendo aí dentro? — grito para
as malucas que estão presas dentro do banheiro e chuto a porta até abri-la. Há
a possibilidade de eu me tornar pai e por isso estou desesperado. Preciso
saber se isso é real e oficial. Merda, eu já estou usando as palavras da Mel,
quão louco eu fiquei de uns tempos para cá? Louco o bastante para se casar
do dia para noite e querer uma família!
A desconfiança começou semana passada, quando ela começou a enjoar com
cheiros de perfumes e determinados alimentos. Ela relutou até a morte e
decidiu que faria o teste no meio da estrada. Nada dentro do convencional, eu
sei, mas desde quando fomos convencionais? Nunca!
— O que está havendo? — pergunta Heitor adentrando ao pequeno cubículo.
— As duas estão grávidas. — Ouço Milena dizer e minha boca vai ao chão
tamanho o susto. Eu deixo de escutar e foco só nos nomes das duas gestantes.
....
— Melissa e Isis — revela Maria Flor e sou tomado pela adrenalina
instantaneamente. Acredite, é apenas a adrenalina, porque sei que a ficha vai
demorar a cair pra caralho.
— Eu serei pai, porra! — grito, pegando minha grutinha em meus braços e a
retirando do meio da muvuca. Esse momento é meu! Eu serei pai! Eu sempre
quis ser pai, sempre sonhei com esse dia. Mas em meus sonhos, tudo
acontecia numa outra perspectiva...
Agora é tudo novo. Eu e Melzinha teremos um filho, que não foi planejado e
veio tão rápido como um cometa. Não importa, acredito que tenha vindo no
tempo de Deus, porque estou certo de que um filho é o maior dos presentes
que eu poderia ganhar na vida. Mel está carregando em seu ventre um bebê
meu. Um bebê Albuquerque. O primeiro de muitos, porque queremos bater
metas. Bia tem três, Matheus cinco, então eu preciso ter ao menos seis para
garantir o primeiro lugar no pódio de super praticante sexual e esperma
potente. Nós seremos a grande família, terei que comprar uma van
futuramente, mas estou feliz pra caralho pelo meu primogênito.
— Meu Deus, como criarei uma criança? Ela se mexe dentro da barriga?
Virgem santa, nunca mais faço sexo com você Arthur, é sério... Imagina um
ser humano dentro da minha barriga mexendo? Eu vou morrer! — Mel,
caralho, essa mulher é muito doida, puta que pariu!
— É um bebê, nosso bebê. Eu estou feliz pra caralho, Mel, não dá nem para
fingir que estou receoso neste momento, porque eu realmente não estou.
— A minha mãe... ela não foi boa para mim. Eu não tenho qualquer modelo
materno do passado. Tenho medo de falhar, Arthur.
— Mel, você não irá falhar. Você não fará isso pelo simples fato de ter tido
uma mãe de merda e não desejar isso para qualquer pessoa, principalmente
para nosso filho. Você é boa, há um coração gigante e generoso batendo em
seu peito. Você será a melhor — explico. — É o primeiro de muitos bebês,
nós vamos povoar o mundo — brinco.
— Misericórdia, Arthur, não venha me dizer que você é esse tipo de homem
ser humano! — ela exclama, afastando-se.
— Que tipo de “homem ser humano”? Sou as duas coisas, ser humano e
homem. — Vou caminhando até ela e ela vai andando de costas. — Mel?
— Você é desse tipo de homem ser humano que quer ter quinhentos filhos!
Meu Deus, não posso segurar essa barra que é te amar — diz, levando a mão
ao peito, dramatizando. Pego-a para mim, porque eu simplesmente estou feliz
e quero comemorar — Agora vamos falar sério.
— Mas eu estou falando sério, Arthur. Não tenho maturidade para ter um
filho, imagina povoar o mundo? Meu Deus, pirocomon, eu estou grávida!
Tipo, eu estou muito grávida, sabe? Porque há um bebê na minha barriga.
— Não existe estar muito grávida ou pouco grávida, Mel, existe estar grávida
— digo rindo. — Você está grávida, grutinha, de um filho meu.
— Eu traumatizei de sexo com você! — exclama. — Eu faço uso de
anticoncepcional, Arthur, e engravidei. Não duvido nada de você gozar em
mim, tipo hoje, e um outro bebê ser gerado junto com esse que já existe.
— Você está falando mais merda que o normal, grutinha.
— Sem sexo para nós dois pelo resto da vida. — Prendo-a contra a parede e
ela ofega dando um sorrisinho safado.
— Você está certa sobre isso?
— Você é tão gostoso. Eu sinto vontade de transar o tempo todo — confessa,
fazendo-me sorrir. Ela é meu par.
— É tão ruim fazer filho comigo? — questiono passando o polegar em seu
lábio inferior.
— Fazer é realmente maravilhoso, magnífico. Mas eu não me sinto boa o
bastante para ser mãe. — Eu fico puto que ela pense tão pouco sobre si
mesma. Mel se acha inferior ao mundo, mas nem mesmo sei o motivo. Não
há uma coisa que ela bata no peito com orgulho e diga "eu mereço" "eu
consigo". Nós precisamos mudar isso, eu preciso ajudá-la a mudar isso.
— Mel, se eu fosse um filho da puta eu aproveitaria tanto dessa sua
vulnerabilidade, de um jeito que você jamais imaginaria. Há homens que
gostam de mulheres fracas, eu não sou um deles. Você tem um potencial
absurdo, é um ser humano incrível, inteligente, bondosa, amorosa e
carinhosa. Mel, por que você acha que eu me apaixonei por você do dia para
a noite? Por que você acha que me deu a louca de inventar um casamento?
Por que você acha que eu insisti para ir para Las Vegas comigo conhecer toda
minha família? Melissa, eu tinha tudo para ter desistido do amor, todos os
motivos possíveis. Fui traído, enganado, não sei nem por quanto tempo. A
minha noiva morreu e eu descobri que toda nossa história foi uma mentira.
Eu cheguei em Los Angeles descrente de todas as merdas sentimentalistas,
então conheci você. Logo de início sua transparência me chamou atenção,
mesmo quando eu insistia em te chamar de louca e brigávamos. Você é
verdadeira, divertida, sexy, ousada e fala pra caralho o tempo todo. Você me
deixa tão louco, nos mais diversos sentidos. Você é perfeita, Melzinha, até
seus defeitos são lindos. Então, por favor, tenha fé em si mesma, tente ver o
que eu vejo. Você é maravilhosa, meu amor, e será uma mãe fantástica. —
Ela começa a chorar e se joga em meus braços.
Ela faz várias coisas de uma só vez e eu fico perdido. Num momento ela me
abraça, no outro ela deita sua cabeça em meu ombro e, logo em seguida, sua
boca se choca contra a minha. Não é um beijo normal, é um beijo insano.
Estou tentando ter algum controle aqui, mas é foda. Essa mulher tem um ímã
com o meu pau.
Usando um pouco do meu autocontrole a afasto. A química é explosiva, beira
a insanidade.
— Calma, mocinha.
— Ok, eu estou gestante. Sou uma gestante. Isso deve ser divertido, não
deve? Você poderia comprar um caderninho para mim? Na lojinha de
conveniência deve ter.
— O quê? Para quê? Provavelmente não vende um caderno em uma lojinha
de um posto de gasolina.
— Há algumas coisas que quero fazer antes da minha barriga crescer, preciso
fazer uma lista — explica.
— Que coisas, Melissa?
— Algumas, nada de mais — diz simplesmente.
— Bora? — Heitor chama e então eu me lembro de que existem duas
gestantes, Mel e Isis. Puta merda, Matheus vai dar um show épico que não
quero nem mesmo imaginar. Já prevejo desmaios, choro e dramaturgia.
— Isis?
— Por algum motivo que desconheço foi para um hospital fazer uma
ultrassonografia de emergência — explica Heitor. — Aliás, vem aqui,
Melzinha. — Ele a chama e então a abraça, enquanto Milena me dá os
parabéns pela novidade. — Estou muito feliz pelos dois, é incrível que você
vá ser pai cara, sério, nós crescemos juntos — diz, emocionado.
Eu ficaria da mesma forma se fosse o contrário. Nós nunca fomos tio e
sobrinho, sempre fomos irmãos e melhores amigos.
— Obrigado, irmão! Você será o padrinho.
— Porra! — ele exclama, abraçando-me. — Eu também serei padrinho do
bebê de Isis. Estou feliz pra caralho agora. Sou padrinho de dois anjos. Bora
fazer um, delegata? É injusto!
— Era só o que me faltava agora! — Milena protesta. — Nós nem somos
namorados.
— Nós somos além de namorados, acredite! — Heitor argumenta. —
Caralho, vou comprar um celular ultramoderno para filmar o dia que Isis dará
a notícia ao meu tio — comenta rindo. — Será que ela vai esperar até o Natal
para contar? Ia ser doido, família toda reunida...
— E você ainda quer ser pai...
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, delegata — justifica Heitor.
— E se fosse sua filha te dando a notícia? — questiona Melissa cruzando os
braços, encarando-o bem brava. Linda.
— De boa, ué, o que mais poderia fazer? Nada! A única coisa que está ao
meu alcance é guiá-la e ensinar o que é certo e errado. De resto...
— Oh, você agora foi lindo, Heitor. — Milena sorri, abraçando-o.
— Pena que isso não será tão fácil assim quando acontecer — anuncio rindo.
— Não tem condições, todos os homens da família são possessivos.
— Acho sexy! — Mel diz sorrindo.
— Eu não acho nada sexy. Aliás, caso eu e esse garoto aqui continuemos
juntos, viveremos um relacionamento acalorado de brigas.
— Vocês vão ficar aí tricotando ou iremos juntos? — Vincenzo pergunta.
— Melzinha, você será mamãe! — diz Flor diz, abraçando-a. As duas
começam a chorar.
— Nem acredito que é daquele homão da porra do caralho. Eu fiquei
desesperada quando o vi na porta da nossa casinha e agora ele é pai do meu
filho — diz como se eu não estivesse escutando.
— Você sabe que sua mulher é louca, não sabe? — Joseph questiona.
— Talvez a sua seja mais, hein, amigo — brinco, batendo em seu peitoral. —
Você não viu Maria Flor em ação ainda. A bichinha está em uma fase fodida,
mas tenho fé de que não durará o bastante, aí serei eu a lembrá-lo do dia de
hoje. O dia em que você disse que minha mulher é louca.
— Eu até acredito que Flor possa ser louca sim, mas a sua mulher é
insuperável. Enfim, louca ou não, fico feliz por vocês. Ser pai é fantástico,
cara, é uma mudança significativa na vida de um homem. Nada mais será
como antes — diz sorrindo. — Parabéns!
— Obrigado. Eu o vejo com Mathew, parece fantástico realmente. Já estou
ansioso.
— É incrível. Deve ser ainda mais mágico sendo com a mulher que você
ama. Eu não aproveitei a gravidez de Mathew, só estava com ele aos finais de
semana. Nunca quis ser pai, mas desde que Mathew surgiu, trouxe com ele
aquela vontade, lá no fundo, de ter uma família completa. Gostaria de ter
Maria Flor grávida, de poder acompanhar todos os detalhes e, obviamente,
incluir Mathew em cada momento. Não agora, evidentemente. Ela tem todo
um futuro pela frente, há a faculdade e os planos de carreira. Digo no futuro.
— A magia da maternidade envolve a todos realmente. Vincenzo já está
confidenciando planos futuros de paternidade. Ele é um cara maneiro. Sinto
que ele não tem muitos amigos pelo fato de todos se aproximarem por tudo o
que possui e não pelo que ele é. Acho que ele está encontrando em nossa
família um bando de loucos que tocam o foda-se para qualquer merda
material, e está se agarrando nisso. Fico feliz de poder me tornar amigo dele.
— Vocês terão tempo e, mesmo que em algum momento as coisas saiam dos
trilhos e Flor engravide antes do previsto, será incrível da mesma maneira. Eu
não sei muito sobre isso, mas acredito que a vida não acabe por causa de um
bebê, acredito que ela realmente começa por causa de um bebê. Faz sentido?
— Faz todo o sentido. — Ele sorri, em seguida cada um vai em direção ao
seu carro.
Mel mantém uma distância, passa as mãos pelos cabelos e eu fico parado,
esperando-a. A grutinha está meio perdida, mas sei que logo, logo ela
entenderá todas as coisas.
Ela me olha e dá um sorriso. Eu sorrio de volta e ela vem correndo para meus
braços. Recebo-a e então a giro.
— Eu estou tão feliz!
— Eu também, Melissa Fontana Albuquerque, que tal nos casarmos real e
oficial? — questiono rindo.
— É sério? Tipo meu sonho de princesa?
— Tipo isso, meu amor.
— Só se eu receber um pedido digno — informa e eu arqueio as
sobrancelhas.
— É chantagem?
— Sim! — Ela sorri e eu a beijo.
— Vou pensar em algo digno então — prometo, grudando-a a uma pilastra.
Beijo-a delicadamente enquanto ela me puxa pela camisa. Seu celular vibra
no bolso e eu a pego de suas mãos ao ver uma carinha confusa. O nome
Ignázio brilha na tela e eu rejeito a ligação. Não será ele a atrapalhar o nosso
momento. Volto a beijá-la até quase estarmos transando como selvagens ao
ar livre.
— Meu Deus... nós precisamos ir. Precisamos de um quarto.
— Você disse que não transaria mais comigo minutos atrás. — Sorrio a
provocando.
— Foi apenas um pouco de drama momentâneo. Eu transaria com você em
todos os momentos, real e oficial.
— Então acho que precisamos chegar logo. — Carrego-a até o carro e abro a
capota. Mel vai sentada na parte de trás com os braços abertos, enquanto
tento dirigir o mais lento possível. Gosto de vê-la feliz, gosto de saber que a
loucura dela é momentânea e que aos poucos ela vai começando a lidar
melhor com as notícias.
Nós chegamos numa enorme mansão e nem mesmo temos tempo de olhá-la,
porque Mel simplesmente caça o caminho do quarto escolhido para nós dois
e, uma vez que a porta se fecha, o mundo lá fora é esquecido.
A parte mais fantástica do sexo com Arthur no dia de hoje foi como entramos
no quarto afoitos, desesperados e ele conseguiu contornar a explosão
trazendo uma leveza absurda. O homem se mostrou o mestre do controle por
mim e por si mesmo. Nós fizemos amor doce num primeiro momento, onde
ele fez questão de beijar meu ventre, repetidas vezes, durante o ato. Eu jamais
imaginei que ele ficaria tão eufórico, feliz e apaixonado com a notícia.
Preciso confessar, eu estaria sendo falsa se dissesse que estou cem por cento
feliz. Sempre fui aberta, transparente e verdadeira, e o fato de estar grávida
tão rapidamente, sem um planejamento e com um histórico caótico na
bagagem me assusta mais do que imaginei.
Eu sei que sou boa, que há excesso de bondade e, acredite ou não, até uma
quantia generosa de inocência em mim, mas digamos que eu sou meio
traumatizada com a "instituição" maternidade. Não quer dizer que eu vá fazer
com meus filhos o que foi feito comigo, porém, é algo que me assusta, que
me tira da zona de conforto. Sempre, desde criança, fui eu por mim mesma.
Compartilhar a vida com Arthur já foi um enorme passo para mim, ter um
filho é como dar um salto rumo ao desconhecido. Eu sei que vou amar meu
bebê, que vou dar o meu melhor a ele, mas quanto a educá-lo? Será que eu
sei fazer isso? Será que sou capaz?
O destino resolveu ser surpreendente comigo nos últimos meses, o jeito é
começar a acreditar que esse bebê é um dos grandes presentes, o mais
generoso e surpreendente de todos. Ao menos há em mim a certeza de que
possuo um homem incrível ao meu lado, que me dará todo o suporte
necessário. Eu espero passar o resto dos meus dias ao lado dele, mas sei que
se, em algum momento, algo der errado entre nós, meu filho – ou filha –,
estará bem amparado. Eu não ganhei apenas um homem maravilhoso, ganhei
toda sua família também, graças a Deus.
É tudo tão novo, tudo tão diferente. É como se eu estivesse vivendo outra
vida. Todos os acontecimentos fogem de tudo que fui no passado.
Termino de me arrumar e desço para encontrar com toda a turma.
Encontro Flor, Milena e Isis envolvidas numa conversa divertida, enquanto
todos os homens estão no barzinho bebendo uísque.
Eu fico emocionada ao ver Flor sorrindo tão abertamente e relaxada. Nas
últimas semanas foi como se ela estivesse morta por dentro, foi difícil lidar,
principalmente quando a considero uma irmã.
Será que todo esse modo emotivo já é reflexo da gestação?
— Junte-se a nós, Melzinha, a mamãe mais maluca do ano — diz ela,
animada.
— Isis, nós vamos compartilhar a gravidez! — digo, jogando-me ao lado de
Isis.
— Meu pai vai me matar! — ela diz rindo. — Mas, ainda assim, estou feliz, é
um bebê. E você, Melzinha, como está?
— Receosa, a ficha ainda não caiu — confesso.
— Eu fiz uma ultrassonografia horrível, fui penetrada por algo estranho na
xota, mas eu vi... — ela comenta, emocionando-se. — Há um pequeno ser. É
tão louco, né? Como uma vida pode crescer dentro de nós.
— Vou sentir nervoso quando começar a se mover — divago.
— Eu e Milena nem fazemos sexo, não saberemos, né, Mi? — brinca Flor
rindo, achando graça.
— Eu irei mudar isso esta noite — afirma Milena com segurança. — Olhem
para Heitor. — Todas nós olhamos. O homem é bonito. Absurdamente.
Ele está sem camisa, envolvido numa conversa séria com os demais rapazes.
É uma belíssima visão. Para piorar, não sei se é pelo fato de ele saber que é
gato e que possui um corpo do caralho, mas ele adora andar seminu.
— Meu irmão é gostoso! — elogia Flor e continuo a análise até me engasgar
com o vento.
— Com todo respeito, só há um Albuquerque que tem meu interesse, mas
esses Albuquerques são bem-dotados, hein? É visível o tamanho do
armamento que Heitor possui.
— Mel... — diz Isis rindo. — Eu acho que é genética viu, minha mãe e minha
avó adoram expor os centímetros...
— Quantos centímetros? — questiona Milena, interessada.
— Minha avó diz que meu avô tem 23, minha mãe insisti que meu pai tem
24.
— Porra, isso explica meu útero — digo rindo. — Arthurzinho deve ter nessa
faixa hein... santa piroca!
— Mas, voltando ao assunto — comenta Milena rindo... — Meu apetite
sexual deu as caras há alguns dias. Sinceramente, sexo era a última coisa que
estava em minha mente, mas de alguma forma eu tenho estado excitada
constantemente. Eu vou tentar, Flor, essa noite. Heitor é jovem, cheio de
vida, cheio de energia e precisa de sexo. E, desde que eu o quero como meu e
apenas meu, não posso deixá-lo aos extremos...
— Ora, ora, temos aqui uma alguém decidida! — zomba Isis rindo.
— Ele não precisa saber disso — afirma Milena. — Segredo de mulheres.
— Eu... eu também irei tentar. Olhem para Vincenzo....
— Santa merda, é muito homem gostoso reunido! — afirmo. O nível de
testosterona entre aqueles quatro é algo espantoso. Não há um que você olhe
e diga "esse é mais ou menos".
— É, Flower, esse Vincenzo, além de ser um gostoso absurdamente lindo, é
bilionário. Deve haver centenas de mulheres se jogando sobre ele. — Isis
provoca a fera.
— Eu sei disso. É algo difícil que estou tendo que lidar. Eu sinto tesão, mas
tenho medo de ir até o fim. Porém, como eu e Milena fizemos uma promessa
de retomar nossas vidas, vou tentar. Estou ansiosa por isso. Agora, Bruce não
fica longe de Vincenzo e ainda há o agravante de ser dono de um clube de
sexo — alfineta Maria Flor e eu rio. — Olhem para ele... eu não sei o que é
mais bonito em Bruce, se é o rosto, o corpo ou aquela boca...
— É o pau! — Isis quase grita. — É uma pena que você nunca irá vê-lo
realmente. Ao contrário de você e Milena, eu e Bruce temos sexo louco o
tempo todo. Não sei se você sabe, mas é devido ao excesso de sexo que estou
grávida.
— Virou uma competição? — Milena indaga, divertindo-se. — Então vamos
analisar o Arthurzinho.
— Tirem o olho do meu homem! — aviso rindo.
— Olha, eu vou ser sincera — começa Isis. — Todos os quatro ali são
extremamente lindos e gostosos, mas... Arthurzinho é falta de respeito real e
oficial, Melzinha. Ele é de longe o mais lindo de rosto. Ele é perfeito e
totalmente proporcional. Ele é um absurdo de lindo, o acho mais bonito que
tia Bia e meu pai. Deus resolveu ser generoso com ele, porque até mesmo deu
os olhos azuis do meu avô para o estrago ser maior. O homem é a perfeição
masculina.
— E ainda há piercings, tatuagens... ele é diferenciado, realmente. Se não
fosse meu tio... — conclui Flor.
— Melzinha, com todo respeito, ele é lindo. Uma aberração da natureza
humana. Até as sobrancelhas do homem são perfeitas — comenta Milena
rindo. — Meu Deus, vocês são muito loucas.
— Chega! — grito brincando. — Ele é meu pirocomon. Ele é lindo
realmente. Todos os dias que acordo do lado dele fico pelo menos dez
minutos o observando, acho que isso é pecado sabe? Mas foda-se. Ele é meu
sonho de princesa!
— Não foi à toa que fui apaixonada por ele — revela Isis. Milena arregala os
olhos. Novamente essa história. Não fico chateada, só acho engraçada. Dizem
que eu sou louca, mas Isis não fica atrás.
— Espera, você foi apaixonada pelo próprio tio?
— É perdoável. O conheci quando já tinha sete anos, meio que demoramos
muito a criar um vínculo familiar. Nós éramos muito grudados, mesmo
morando em cidades diferentes. Sempre que estávamos juntos dormíamos no
mesmo quarto, ocasionalmente ignorávamos até mesmo Heitor. — Ela ri. —
Ele era superprotetor comigo, na mente de uma pré-adolescente tudo vai para
o lado do romance. Eu fiquei louca por ele, afinal, ele agia como um príncipe
encantado. Eu roubei um beijo dele uma vez e então deu ruim.
— Ele retribuiu? — Milena questiona.
— Sim, no início apenas — explica.
— Gente, estou chocada. — Todas rimos. — Bom, eu acho que somos muito
jovens para ficarmos sentadas nesse sofá tricotando, que tal atiçarmos nossos
homens quentes? — propõe Milena e Flor salta do sofá.
— Essa é uma excelente ideia.
— Eu ao menos espero que vocês sigam até o fim dessa brincadeira, porque é
sacanagem atiçar os pobrezinhos se vocês não têm intenção de usá-los —
adverte Isis.
— Vamos beber e requebrar a raba!
— Pena que não podemos entrar na cachaça, sis — digo a Isis e nos
abraçamos. Agora somos unidas pelas regras que a gestação impõe. Sem
bebidas e grandes loucuras.
Mas ainda dá para fazer loucuras médias... sei que dá.
O receio está aqui, comigo. Conforme deixo a canção guiar meu ritmo,
observo-o e meu coração chega a doer. Nu, duro, olhar intenso e
impenetrável, de um jeito que eu jamais conseguirei desvendar seus
pensamentos. Suas mãos estão agarrando firmemente as laterais da cadeira e
posso ver seu membro pulsar pela necessidade.
É algo que preciso enfrentar definitivamente. Quão covarde serei se desistir
neste momento e deixá-lo dessa maneira? Eu o quero, quero muito, o bastante
para lutar contra todos os meus demônios. Mas, como qualquer ser humano,
há o mínimo de fraqueza e medo querendo me atrapalhar.
É o momento de me jogar.
Eu deslizo o zíper do body e lentamente vou retirando-o do meu corpo.
Heitor assovia fixado na cena e isso é tudo que preciso como impulso.
— Milena... esse seu corpo — elogia, pegando meu body no ar e sorrio.
Retiro meus sapatos e então é a vez de tirar minha meia-calça. Viro-me de
costas para ele e deslizo a peça provocativamente. Estou testando o
autocontrole e ele está me mostrando quão controlado pode ser. Um garoto
bem-comportado que foge completamente do Heitor que conheci.
Eu adoro quando ele me chama pelo nome e isso só acontece em atos sexuais,
nada além.
Desvencilho-me da meia e então estou apenas com minhas orelhinhas de
coelha e uma calcinha minúscula.
— Perfeita. Retire a calcinha para mim — pede com seriedade. Seus olhos
quase são capazes de se infiltrar em meu corpo neste momento. Sinto-me
uma virgem indefesa, até mesmo perdi a noção do que fazer.
Levo meus polegares nas laterais da calcinha e remexendo os quadris
sensualmente começo a descê-la. É então que Heitor desliza uma mão pela
sua extensão e começa a tocá-lo. A minha calcinha paralisa nas coxas, porque
a cena é tão incrível que não sou capaz de qualquer ação agora. Não era esse
meu propósito inicial. Definitivamente.
— Retire, Milena.
— Ok — respondo, terminando meu serviço em sintonia com a música, que
termina junto, num timing perfeito.
Estou nua, parada no meio do quarto, na direção de Heitor.
— Eu amei essa surpresa, delegata. Não esperava uma performance dessa.
Confesso que nunca fui ligado nesse tipo de coisa, mas sinto que acabei de
me tornar um viciado. Já consigo imaginá-la envolvida em outras fantasias,
tipo enfermeira safada, professora impertinente. — Ele sorri. — Eu vou
querer isso mais vezes. Agora me diga, Milena, há mais alguma performance
para essa noite? Eu devo permanecer sentado ou já estou liberado para ficar
de pé? — Estou sem palavras, apenas fico muda. É uma merda que eu tenha
me tornado uma mulher traumatizada sexualmente, é uma pena que me sinta
com 15 anos agora, consumida pela vulnerabilidade. — Vou aceitar seu
silêncio como a resposta para que eu possa ficar de pé — avisa e então está
de pé.
Ele olha fixamente nos meus olhos e toco seu membro mais algumas vezes.
Eu me sinto quase em combustão. Parece que há chamas consumindo meu
corpo internamente.
Ele vem em minha direção e meu coração acelera consideravelmente. Eu
estou o analisando de maneira descarada, mas ele não. Seu único foco é meu
rosto e nada além dele neste momento.
Quando está perto o bastante, suas mãos deslizam pela minha cintura e tenho
meu corpo puxado ao encontro do seu. Eu não tenho coragem de olhar em
seu rosto, sinto-me patética. Parece apenas que o jogo inverteu, eu não pareço
mais velha que ele, pareço infinitamente mais jovem.
— Olhe para mim — pede e eu balanço a cabeça em negativa. Ele suspira,
então estou em seus braços, rodeando as pernas em torno de sua cintura e
sendo obrigada a encará-lo. Uau! Há um enorme pênis entre nós.
Sua boca reivindica a minha de uma maneira que tenho todos os pensamentos
expulsos da mente. Suas mãos apertam minha bunda e então sou carregada
até a cama.
Nossos lábios se afastam e ele me encara fixamente.
— Sou eu. Apenas eu, Milena. Nunca, em hipótese alguma, haja o que
houver, eu farei mal a você. Nunca. Você confia em mim? — pergunta, e eu
engulo a seco.
— Sim.
— Você quer se entregar a mim? Se sente pronta? Diga-me, meu amor. Você
está com tesão?
— Sim para todas as coisas — confesso.
— Eu estou indo cuidar de você, porque eu estou apaixonado por você e
quero fazê-la se sentir bem, amada e feliz. — Eu não consigo conter as
lágrimas. Sinto-me tão segura nos braços desse garoto. Em pensar que eu
debochei dele, algumas vezes, em relação à nossa diferença de idade... O
garoto novinho que me agarrou na parede de sua casa durante uma
ocorrência, é o homem que tem me mantido segura e devidamente amparada.
Ele limpa minhas lágrimas e beija cada um dos meus olhos. Sua boca desliza
pela minha e então desce pelo meu pescoço e encontra um dos meus seios.
Suas mãos os envolvem e ele dá um aperto não muito firme. É tão bom... me
sinto tão excitada. Fecho meus olhos e me entrego como um fantoche. Eu me
sinto aos cuidados de um anjo. Um anjo lindo e repleto de segundas
intenções.
— Meu Deus! Você é perfeita, Milena, perfeita.
— Eu quero você — protesto, enquanto sua boca desliza sentido à minha
intimidade.
Ele encontra meu clitóris e minhas mãos voam para seus cabelos, quando
sinto sua língua deslizar deliciosamente através da minha fenda.
— Molhadinha, delegata — diz, então deixa de lado toda sua fofura pegando
um ritmo novo. Sua língua esperta faz movimentos que eu nem mesmo sabia
que era capaz de existir. Seu polegar brinca com o pontinho acima do meu
clitóris, estou na seca tempo o suficiente para não conseguir segurar um
orgasmo que ganha força em meu interior. Porém, Heitor não permite que eu
desmorone em sua boca. Quando nota meus tremores aumentando, ele se
afasta e traz sua boca a minha.
Seu corpo incrível está encaixado entre minhas pernas e sua ereção está
moendo em minha intimidade. Tento inclinar os quadris para capturá-lo e ele
apenas ri em meio ao beijo.
— Me dê... — peço e ele sorri encaixando-se em minha entrada lentamente.
— Oh, meu Deus, é tão bom! — exclamo cravando as unhas em suas costas.
— Mais, mais...
— Eu estou indo, delegata. Estou indo te dar tudo, posso?
— Sim, por favor, tudo.
— Ora, ora, ora... eu tenho minha garota de volta, é isso mesmo? —
questiona sorridente.
— Você tem tudo, apenas me foda! — Ele o faz.
Em uma única estocada ele está dentro e eu estou perdendo o fôlego. Dói,
mas fui eu quem pedi por isso.
— Puta merda, Milena, eu sinto que estou vou gozar como um maldito
adolescente. Você é incrível.
— Eu estou quase... tão perfeito, Heitor... Tão bom. Você é a melhor coisa
que aconteceu na minha vida — confesso.
— Você é a melhor coisa que aconteceu na minha. Obrigado por confiar em
mim, por ser minha. Eu sempre darei a você o meu melhor, Milena.
— Então me dê mais — peço, descaradamente, e ele morde meu pescoço.
Uma mão paira sobre minha garganta, como se estivesse prestes a me
sufocar, a outra agarra meus cabelos e ele começa a me foder, a realmente me
foder. Eu gozo rapidamente.
Heitor para de se mover, enquanto meu corpo se recupera e agora tem as duas
mãos em minha cabeça.
— Gostosa demais.
— Eu ainda não estou satisfeita — informo sorrindo preguiçosa e ele nos
vira, deixando-me pairar sobre seu corpo.
Solto um gemido assim que faço o primeiro movimento e suas mãos
envolvem em torno dos meus seios. Ele os aperta e brinca com meus mamilos
rijos, então começo a montá-lo lentamente, sugando seu membro em minha
intimidade. Suas mãos agora descem para a minha bunda e ele a aperta
firmemente, enquanto impulsiona os movimentos mais fortes.
Apoio minhas mãos em seu peitoral e ele solta um gemido, ao passo que sinto
seu membro crescendo mais dentro de mim. Sexo com Heitor é um orgasmo
a cada minuto, prova disso é como meu corpo se encontra com o seu
explodindo os dois na mais perfeita sincronia.
— Minha... — Ele me abraça firme, enquanto lutamos para recuperar o
fôlego.
— Isso foi perfeito. Foi a melhor vez de toda a minha vida — confidencio
sorridente.
— Foi perfeito, embora tenha sido rápido. Eu senti falta de você sexualmente,
Milena, é como um vício. Eu quero mais de você, mas por ora quero apenas
ficar abraçado enquanto nossos corpos continuam conectados.
— Romântico. — Rio.
— Perfeição é seu nome, delegata!
CAPÍTULO 22
— E aí, você conseguiu? — Milena surge radiante pela manhã com cara de
quem realmente deu a noite inteira.
— Não, mas você pelo visto conseguiu. — Sorrio feliz pela conquista dela.
Eu sei quão grande é dar um passo em relação ao sexo após ter sido abusada
sexualmente. No caso dela ainda foi pior, Anthony foi até o fim.
— Sim e foi incrível, Flor. Incrível o bastante para eu impulsioná-la a fazer
isso.
— Eu irei, hoje — informo, decidida, lutando internamente contra todos os
meus demônios.
Mel passa correndo rumo ao banheiro com a mão na boca, Isis chega
carregada nos braços de Bruce como se estivessem vivendo em plena lua de
mel, Heitor surge puxando Milena para os seus braços e Vincenzo ainda não
se levantou.
É uma muvuca familiar.
— Melissa abre a porta! — Ouço Arthurzinho gritar, enquanto esmurra a
porta com violência.
— Ah, para! É só um enjoo matinal, pelo amor de Deus! — diz Bruce,
tentando acalmá-lo. — Você não está tendo enjoo né, minha boneca? Eu
gostaria que estivesse.
— Você deve estar surtado. Como pode dizer que gostaria que eu estivesse
tendo algo terrível? — Isis questiona.
— É o nosso bebê, não é algo terrível vomitar por causa dele — justifica
Bruce e ela faz um ownt. Sério, meu humor não está bom o suficiente para
ficar perto de três casais melosos.
Preparo uma bandeja com guloseimas e decido acordar Vincenzo.
— Ei, nós estamos indo passar o dia fora, vamos fazer as refeições na rua e
em seguida iremos para a Coachella, você e Joseph não vem conosco? —
Heitor questiona.
— Acho que não sei — digo. — Não sei. Hoje à noite tem show do Tweenty
One pilots e certamente iremos.
— Hum, entendemos, vocês querem privacidade — ele diz rindo.
— Acredite, não é nada disso.
— Flor, vocês não... — Meu irmão é tão lindo merda.
— Não. Mas está tudo bem, realmente. — Sorrio.
— Se quiser que eu fique em casa...
— Não, meu amor. Eu quero que vocês todos tenham diversão. Eu terei hoje
à noite. Agora vou lá acordar o bonitão. Divirtam-se! — digo dando um beijo
em sua bochecha e subo.
Não preciso acordar Vincenzo, ele já está gloriosamente desperto e está
caminhando para a sacada. Que bela visão, meu humor até mudou.
— Ei! — Digo e então ganho sua atenção.
— Olá, menina bonita. Você me abandonou sozinho essa manhã.
— Trouxe café da manhã para você. — Sorrio, ele vem em minha direção
pegar a bandeja. Ele a coloca sobre a cama e caminha em minha direção com
um olhar indecifrável e um semblante de um homem decidido. Engulo a seco
e vou andando para trás até bater na porta.
Ele deposita as duas mãos ao lado da minha cabeça e estou presa entre seus
braços.
— Meu beijo de bom dia — diz com nariz grudado ao meu, então reivindica
minha boca com furor. Ele me beija como nos beijamos lá atrás, na primeira
vez. Não é delicado e carinhoso. É voraz, intenso e insano. Ele me beija de
uma maneira que me faz querer puxar seu corpo para perto do meu, mas ele
não está disposto a isso, porque apenas seu lábio está tocando o meu, nada
além disso. Quando ofego em seus lábios ele se afasta e me dá um sorriso
genuíno, quase angelical. — Já tomou café da manhã? — questiona.
— Não.
— Então vamos comer. Quais seus planos para o dia de hoje? À noite temos
o show. — Ele se acomoda na cama, completamente pleno e seguro de si,
enquanto custo a conseguir sair do meu estado de embriaguez.
— Todos estão saindo. Eles vão passear pela cidade de manhã e após o
almoço estão indo para o festival. Eu pensei em passarmos a tarde em casa,
eu posso tentar cozinhar e podemos ficar na piscina — explico, acomodando-
me ao seu lado.
— Está com medo de sair de casa, princesa? — pergunta, preocupado.
— N... não. Claro que não — digo pegando uma fatia de bolo.
— Olhe para mim, Maria Flor — ordena e eu faço. — Você está com medo.
Não minta para mim.
— Eu vou me esforçar. Iremos à noite.
— Tudo bem, à noite iremos, ok? À noite teremos um pouco de diversão —
diz e balança a cabeça. — Sabe há quanto tempo não vou a shows? Eu acho
que tinha uns 22 anos quando fui em um show pela última vez. Isso tudo que
estou fazendo significa muito, Flor, estou fazendo tudo por você. Não estou
te cobrando nada, só estou comentando, porque estar aqui me faz lembrar de
quando eu era mais jovem. — Ele sorri. — Você virou meu mundo do
avesso, garota, rápido como um tornado.
— Você é incrível. Não existem palavras para agradecer tudo o que tem feito
por mim e pela minha família.
— Eu amo você — diz aberta e sinceramente. Eu não me acostumei com isso
ainda.
— Eu amo você também. Nunca imaginei amar...
— Você é uma princesinha. Fico feliz de ser o seu primeiro em todos os
sentidos da palavra — sussurra em meu ouvido e deixa um beijo em minha
bochecha.
Nós comemos num silêncio confortável e ele fica de pé. Eu vejo todo seu
comprimento marcado lindamente em sua cueca. Não sei, de fato o que é
mais bonito nesse homem. Não há um único defeito físico nesse corpo. Ele é
bonito demais merda, eu ajo sempre como uma garotinha patética diante de
uma beleza extremista.
— Vou levar a bandeja lá para baixo e já volto. Coloque uma roupa de banho
para irmos para a piscina — diz, pisca um olho e sai após vestir um roupão.
Eu corro até minha mala e pego um biquíni qualquer. Enquanto o visto,
Vincenzo surge de volta, tirando o roupão e a cueca. Ele desfila nu e duro,
bem duro, diante dos meus olhos.
— Precisa de ajuda para amarrar? — questiona.
— Não... — respondo e ele sorri pegando uma sunga e uma bermuda.
— Todos já foram, somos apenas você e eu.
— Sim... — Ele ri das minhas respostas monossilábicas e eu termino de
amarrar a parte de cima. Vejo-o ajeitando toda sua bagagem dentro da sunga
e fujo desse diabo que acordou disposto a me atentar no dia de hoje.
Coloco uma música na área externa da casa e sorrio ao encontrar a geladeira
cheia de cerveja. Viro uma long neck todinha de uma só vez, tentando obter
um pouco de alívio diante de todos os tipos de calor que estou sentindo.
Assim que termino respiro fundo e me jogo na água.
Estou boiando quando uma sombra me cobre.
— Oi. — Sorrio, virando-me para encará-lo e ele mergulha. Quando
submerge, tenho a imagem de um homem sexy, estilo lenhador molhado.
— Oi.
— Papai. — Sorrio, abraçando-o e enrolando minhas pernas em sua cintura.
— Flor. — É tudo que ele diz antes de eu beijá-lo. Eu preciso tentar merda,
preciso. Eu quero, mas quando estou prestes a chegar lá sempre surge um
bloqueio, preciso ser mais forte que a força que está me puxando para trás.
Eu quero ir adiante. — Eu estou começando a ponderar os beijos, Flor — ele
diz após afastar nossos lábios, olhando em meus olhos.
— Por quê?
— É mais do que estou conseguindo suportar — confessa, afastando meus
cabelos e se aproxima da minha orelha. — Eu quero foder você tão ruim,
entende? — Eu arrepio até a alma e ele volta a me encarar. — Quero foder
você, Flor. Estou ficando maluco já. E não adianta se culpar, terminar
comigo, mandar eu foder outra. Não é falto de sexo. É falta de você. É a sua
boceta que eu quero. É você que eu quero. Quero enfiar meu pau todinho
dentro de você, te encher com a minha porra e continuar fodendo como se
não tivesse acabado de gozar. Quero dar uns tapas nessa bunda gostosa, fazê-
la gritar do jeito que eu gosto, dar uns tapas nessa carinha de anjo. Quero te
colocar de quatro e começar a trabalhar para foder sua bunda. Você vai
gostar, Maria Flor, eu vou te foder tão bem que pedirá por mais. Não serei
delicado, estou com fome de você, como um animal selvagem. Informações
demais? — Ele sorri.
— Oh...
— Mas você não está pronta ainda, princesa. Por isso vou me afastar apenas
alguns poucos metros, ok? E não se preocupe, Flor, não estou te
pressionando, meu amor. Só estou informando que quando quiser voltar a ser
minha puta farei exatamente dessa maneira. Vamos aproveitar o dia, tomar
algumas cervejas? Irei pedir nosso almoço quando chegar a hora. Vamos
ficar de pernas para o ar hoje, ok? — propõe, sorrindo e mergulha até chegar
à borda da piscina e sair.
Eu estou molhada e não é pela água da piscina.
Oh, meu Deus...eu preciso de tudo isso que ele acabou de falar.
Saio da piscina e pego algumas cervejas. Então fico ao seu lado sobre o
balcão duelando sobre quem bebe mais. Eu bebo apenas três long necks, até
pegar a que está na mão dele e jogar longe.
Puxo-o pela corrente e foda-se. Eu quero ser fodida por Joseph Vincenzo.
— O que está acontecendo?
— Eu quero tudo que você disse, podemos começar agora? — Questiono
ofegante, enquanto o seguro seu cordão.
— Quer foder?
— Eu quero ser fodida como você falou — peço e estou em seus braços
sendo levada para dentro de casa. Na sala ele me coloca no chão e começa a
se desfazer de suas roupas.
Ele fica nu e eu sem ação. Então mais uma vez ele me tem sem seus braços.
Enrolo as pernas em sua cintura e solto um gemido ao sentir sua dureza entre
nós. Ele desfaz o nó que prende a parte de cima do meu biquíni e a joga
longe. Então começa a quebradeira, porque esse homem gosta de quebrar
tudo que está em nosso caminho quando estamos indo foder. Essa casa é
dele? Foda-se se é ou não.
Ainda na escada, rumo ao segundo andar, ele rasga a parte de baixo do
biquíni e eu solto um gemido alto agora, sentindo-o bem próximo da minha
entrada.
Ele para no meio da escadaria e lentamente sinto seu pau deslizar para dentro
de mim.
— Aí papai... por favor... tudo. — Ele o faz, arqueio em seus braços. — Oh,
meu Deus... eu acho que havia me esquecido.
— Estou te lembrando — avisa e sobre o restante dos degraus. No último, eu
já sinto minhas costas no chão. — Não vai dar tempo de chegar ao quarto...
— Foda-me... me faça sua mulher, me faça do jeito que você quer...
— Eu farei — afirma, então sua boca está dividindo atenção em cada um dos
meus seios, enquanto suas mãos estão firmes em meus cabelos. Ele está me
fodendo de maneira mais intensa que a nossa última transa louca. Eu achei
que aquela vez era o limite de uma foda, mas agora estou percebendo que não
há realmente um limite. Ele está apagando todo e qualquer medo da minha
mente, está fazendo meu corpo reconhecer a quem realmente pertence e quem
sabe tratar de todas as necessidades físicas. Uma mão voa em meu pescoço e
a outra estala em meu rosto. Eu me sinto tão devassa por gostar disso.
Arranho seu peitoral e fecho meus olhos, quando sinto um orgasmo varrendo
toda a merda dentro de mim, então começo a chorar, pois esse orgasmo
parece me libertar de toda a prisão em que estava envolvida nos últimos
tempos. Envolvo meus braços firmemente em torno de Vincenzo e choro em
seu ombro enquanto ele diminui o ritmo. — Não chore. Eu vou me sentir um
merda por gozar enquanto você chora, mas está foda — confessa.
— Por favor, eu quero sentir você gozando dentro de mim — peço entre
lágrimas. — Por favor, papai, se perca em mim, por favor — incentivo-o, ele
goza escondendo sua cabeça em meu pescoço. É tão bom, tão bom, que eu
jamais ousaria tentar explicar.
— Porra. Você é a segunda melhor coisa da minha vida — confessa rolando
para o lado e ficamos os dois, deitados no chão, lado a lado, olhando para o
teto. — Nós estamos indo foder o dia todo.
— Eu sinto isso — digo rindo e chorando, uma bagunça completa.
— Não chora, Maria Flor, me obedeça ao menos uma vez.
— Eu não consigo parar.
— Porra de mulher gostosa. Vem aqui no seu papai — chama, fazendo-me
sorrir.
— Se alguém chegar nós estamos fodidos.
— Então vamos para o quarto, agora vou fazer amor lento e em seguida te
pegarei de quatro. Após isso vamos foder no banho e almoçar. Quero chupar
sua boceta de sobremesa e te foder mais umas duas vezes antes de irmos para
o show.
— Eu não sei se conseguirei ir ao show se você cumprir toda a agenda de
fodas. — Rio.
— Você vai, porque há algo grandioso lá para você. Algo que vai mudar a
minha vida e a sua — anuncia ficando de pé e me puxando. Eu paro de pé em
seus braços e o encaro.
— O que você está tramando?
— Uma surpresa, algo que eu nunca imaginei fazer um dia na vida, mas
quero fazer com você — diz dando um sorrisinho. — Monta meu pau agora,
princesa? Eu preciso de mais uma dose de você — pede com seriedade e saio
correndo para o quarto. Ele bate a porta, deita-se na cama e me puxa.
— Estou cheia de caquinha. Está escorrendo em minhas pernas.
— Isso me deixa mais duro que o normal. Sexo sujo — diz sorridente e eu
me desvencilho dos seus braços para ir ao banheiro limpar. Ele fica
resmungando na cama e eu fico rindo no banheiro. Assim que me limpo,
encaro-me diante do enorme espelho. Meu rosto está vermelho e meus
cabelos uma bagunça. Estou no auge do meu estilo pós-foda e temo a
maneira que ficarei no final do dia.
Vincenzo irrompe pela porta e abre a ducha antes de me puxar para dentro do
boxe. Eu rio de sua brutalidade e paro de rir, assim que vejo seriedade em seu
rosto.
— Eu preciso anotar na caderneta para nunca mais deixá-lo sem sexo.
— Sem sexo agora só quando nossos filhos nascerem e você estiver de
resguardo — informa me deixando boquiaberta.
— Uau. Filhos? No Plural?
— Três filhos, como você queria, não? Quatro com Mathew, você acabará
sendo mãe dele. — Juro que quero chorar, mas dirijo todo meu foco ao fato
dele estar planejando filhos. Quando eu o conheci, ele deixou tão claro que
não queria filhos – além de Mathew obviamente.
— Você está planejando ter filhos comigo? — questiono, embasbacada.
— Oh, Flor, você não faz ideia de todos os planejamentos que tenho feito
sobre você. Agora vamos deixar essa discussão para depois, vou varrer essas
informações para fora da sua mente em três, dois, um... — Sua boca está na
minha e ele varre quando sinto novamente sua ereção buscando seu habitat
natural.
Dessa vez, sou eu quem sou tomada pela insanidade. Agarro seus cabelos,
bato em seu lindo rosto e guio os movimentos montando-o de pé, no
banheiro, enquanto seus braços estão envoltos em minhas pernas, sustentando
meu corpo.
— Ninfeta atentada.
— Papai gostoso. Eu senti falta de foder assim com você — provoco,
mordendo seu pescoço.
— Monta meu pau, sua gostosa. Mostra quem é a porra do macho que nasceu
para te foder.
— Oh, papai, palavras sujas? Isso é um jogo baixo. Sinta, Joseph Vincenzo,
sinta como faço pompoarismo no seu pau.
— Ora, uma versão mais devassa da minha ninfeta?
— Eu tive um ótimo professor de putaria — digo olhando em seus olhos.
— Então, mostre mais, dê tudo. Entre quatro paredes você pode se libertar
comigo. Faça um sexo louco com seu homem.
— Sim, senhor. Vou foder com meu papai como uma garotinha bem safada.
— Filha da puta! — ele grita, jogando minhas costas contra a parede, então é
ele quem passa a ditar o ritmo.
Dessa vez eu não choro. Eu rio. Eu tenho um poder sobre esse homem. Ele
me libertou de alguns traumas, eu retribuirei liberando a garota suja que
tenho escondida em meu interior.
Eu não quero sair, mas Vincenzo decidiu que não quer entender isso e está
me torturando há alguns minutos. Um passo de cada vez. Já dei um passo
significativo conseguindo transar, agora ele quer que eu enfrente uma
multidão de pessoas que não conheço e estou com medo.
Dá uma sensação claustrofóbica e desesperadora, temer algo que antes
costumava ser rotineiro para mim. Eu sempre fui ligada na voltagem máxima,
sempre gostei de socializar, costumava ser a garota popular antes de todos os
acontecimentos. Agora, estou temendo enfrentar um festival de música que
sempre foi um sonho participar. É tão estranho, de forma que só quem está
vivendo a situação consegue entender. Dá a sensação de fraqueza e de
inutilidade. Eu odeio me sentir fraca, estafada, mas é assim que me sinto
quando tento forçar algo que ainda não estou pronta para encarar.
Na verdade, estou toda errada. Eu me propus a vir nessa viagem e tentar,
agora sinto que estou dando alguns passos atrás no quesito socializar.
— Maria Flor, vamos lá, levante da cama — diz, bravo, recém-saído do
banho. Nós tivemos uma maratona de sexo e ele parece ter passado o dia
inteiro meditando. É injusto. Enquanto ele está pleno, eu saí do banho direto
para a cama.
— Não podemos ficar aqui?
— Eu tenho uma surpresa para você, lembro de ter te comunicado mais cedo.
— Vamos apenas namorar pelados, papai, por favor. Eu te amo — peço e ele
solta um suspiro. — A surpresa não pode ser feita aqui?
— Não. Olha, tudo bem, Flor, você não quer ir, não irei forçá-la — comenta,
rendendo ao meu pedido e sorrio preguiçosamente. — Eu estou indo de
qualquer maneira, com ou sem você.
— Você o quê?
— É exatamente isso, eu estou indo, Maria Flower. Quando eu chegar, se
você ainda estiver acordada, talvez possamos assistir um filme ou algo assim.
— Você está louco se pensa que eu permitirei um absurdo desses! —
protesto, saltando da cama. O safado me encara contendo um sorrisinho
sarcástico. Filho de uma boa mãe. Só sendo maravilhosa para criar um
homem dessa potência. Como fiquei sem transar com essa bênção celestial?
— Sabe eu amo você, mas eu realmente quero aproveitar o show da minha
banda preferida, Flower. Sua nudez neste momento não muda meus planos,
afinal, fodemos o dia inteiro. E, mesmo que tenhamos ficado um longo
período sem sexo e eu não tenha saciado toda a vontade de te foder ainda, sei
que consigo controlar por mais algumas horas antes de estar dentro de você
novamente, minha princesa — diz, apertando meu queixo e então se afasta.
— Bom, estou indo, meu amor. Estou levando o celular, se precisar falar
comigo ligue, se eu não atender é porque você sabe, multidão, música alta e
tal...
— Meu cu! Joseph Vincenzo! Passe por cima de mim e então você irá
sozinho!
— Se eu passar por cima de você poderei ir? — pergunta com um sorrisinho
e eu quero matá-lo, dessa vez é sério.
— Nem assim!
— Vamos lá, Maria Flor, você tem cinco minutos para aparecer pronta lá na
sala. Um segundo a mais e eu irei sozinho — avisa agora com uma cara de
"sou Joseph Vincenzo e vou te destruir”.
— Papai, quinze minutos, pode ser? Sou menina — justifico e ele sorri.
— Sim, minha menina. Quinze minutos, nem um único segundo a mais.
Ser cinegrafista amador é foda. Não sei para onde virar a câmera, preciso
ampliar a equipe.
Meu tio está desmaiado no chão em um minuto, no outro está correndo atrás
de Bruce. É assim que o caos se instala. Há pessoas correndo para todos os
lados, porque tio Theus afirma que está indo matá-lo. Estou com dó da amiga
do meu primo, que não está acostumada com esse tipo de situação. Nos
Natais rolam de tudo, pessoas bêbadas, risadas, brigas mais leves. Mas esse
está sendo épico. É o primeiro Natal que talvez aconteça dois assassinatos,
Bruce e... meu pai. É triste dizer isso. Meu pai é forte, musculoso, mas Joseph
é um pouco mais. Resta descobrir na luta quem ganha a melhor, até porque
tamanho não é documento, exceto quando se trata do meu pau.
Milena, delegada, acostumada a lidar com bandido, está assustada. E eu estou
rindo. Estou rindo até o momento em que os dois correm pelo deck e se
jogam ao mar. Agora há uma disputa de quem nada mais rápido. Bruce
parece estar levando a melhor pelo fato de ser um pouco menos forte que
meu tio.
— Esse povo tem bosta na cabeça — diz meu avô Arthur. — Eu falava com a
Mariana, Mari, olha como você está criando essas crianças. Ela não me
ouvia. Está aí o resultado. Um mais louco que o outro.
— Arthur Albuquerque, eu deveria atolar um pão na sua boca neste
momento, seu idiota! Eu criei três filhos maravilhosos. Se Matheus está
fazendo isso, é porque herdou seu gene! Quem quebrou a porra de um
blindex quando descobriu que Bia estava grávida de Heitor? Quem me
machucou sem querer? Você! Então fica caladinho. — Minha vó bota moral
e meu vô faz uma careta. — Olha o resultado do blindex quebrado que
coisinha mais linda — ela diz apertando minhas bochechas. — É meu
primeiro neto, lindo, tesudo e roludo da vovó.
— Sim vó, sou tudo isso mesmo. — Sorrio. — Tá vendo, delegata? Sou
roludo!
— Calem a boca! — esbraveja meu vô e então, quando tio Theus alcança
Bruce, Isis dá um ataque de loucura e inconsequência se jogando ao mar.
— Puta merda! — grita tia Vic e todos saímos correndo. Ela também se joga
ao mar, para salvar Isis.
— Matheus Albuquerque Barcelos! Você tem um minuto para estar aqui! —
grita minha vó, mas ele já está voltando de toda maneira, desesperado, tanto
que Bruce é quem não consegue acompanhá-lo agora. Eu até desisto de
filmar, porque a merda agora ficou feia, Isis está grávida e se jogou de uma
estrutura de pelo menos três metros e meio de altura e caiu a uma
profundidade considerável de três metros também.
Deixo meus brinquedos cinematográficos e fico à espreita para ver se eles
precisarão de ajuda. Bruce pega Isis, tio Theus pega minha tia e nadam até
chegar. Isis é minha preocupação, pois há meu afilhado ou afilhada.
— Você é inconsequente! — Ouço Bruce xingando pra caralho, enquanto
meu tio é o primeiro a chegar de volta ao deck. Só não esperava a atitude da
minha avó.
Ela pega primeiro meu tio e, depois, Bruce pelas orelhas.
— Vocês dois estão de castigo até aprenderem a se portar como homens —
avisa para o choque de toda a família.
— Ai, mãe! Que caralho!
— Você fala direito comigo, porque eu não estou brincando agora, Matheus
Albuquerque. Você está indo para o quarto, sem celular, sem porra alguma. E
você também, Bruce.
— Eu? — Bruce questiona em choque.
— Sim, você. Cada um em seu quarto, só sairão na hora que eu achar que
devem sair. Agora! — Nenhum dos dois mais ousa desafiar a matriarca da
família. Até eu estou com medo, nunca vi minha vó agir assim. Ela está
colocando meu tio de 42 anos de castigo. Quão ridículo é isso?
— Mãe, você não está falando sério! — pergunta meu tio e ela aperta mais
sua orelha. Ele grita e a tia Vic leva a mão no coração.
— Não faça assim com ele — protesta tia Vic.
— Faço com ele e com você também! — minha vó ameaça, fazendo com que
tia Vic dê três passos para trás. — Agora!
— Pequeninha, você vem comigo?
— Meu cu, Matheus Albuquerque! Victória não irá, seu filho da puta! Some
da minha frente, diabo. E você também Bruce, agora!
— Mas e Isis? — Bruce questiona.
— Ela estará melhor longe de vocês. Vazem! Três, dois, um... os dois saem
rapidamente e meu tio ainda o empurra para longe antes de subir.
— Sério mesmo, vou zoar Matheus até meu último dia de vida — diz meu
pai rindo. Será que Maria Florzinha ainda não contou a bomba? Enfim, dessa
vez não vou mais semear a discórdia não.
Isis está com meu avô, com meus primos e todos nós ficamos em torno dela.
Aparentemente ela está bem.
— Ei, não está sentindo nada? — questiono.
— Foi só um pulo na água — ela explica. — Só assim eles não se matariam.
— Mas foi inconsequente, Isis. Você está grávida de três meses, dizem que
os primeiros meses são os mais arriscados, você se arriscou — advirto.
— Oh, você é lindo, às vezes, Tôr, mas eu estou bem. Não há nada errado.
Deus protege as gestantes.
— Diga-me se precisar de algo.
— Onde foi que eu errei? — questiona tia Vic. — Meu marido e meus cinco
filhos são loucos. Algo eu fiz de errado.
— Cadê Arthurzinho e Melissa? — Milena questiona.
— Estão fazendo exploração pela casa, segundo Melissa disse. Ela é
extremamente engraçada — comenta Lucca rindo. — Larissa era um saco.
— Exploração sexual, no mínimo — Isis diz. — Larissa era uma vadia.
— Finada puta! — Minha avó diz.
— Mari, dê o exemplo!
— Arthur, você está querendo me irritar hoje? — rebate minha vó, mas se
joga nos braços dele em seguida. — Te amo muito, Tutu.
— Maluquinha, você é a melhor.
— Ownt... — diz Isis e começa a chorar. — É tão lindo...
— Mari, posso ficar com Tetheus?
— Meu Deus do céu, que fixação do caralho com esse homem, Victória! O
que ele tem, hein? Nem precisa responder essa merda — diz minha vó,
balançando a cabeça. — Você fique aqui com a sua filha. Matheus merece
um castigo há anos. Ele vai passar parte do dia pensando nas merdas que faz.
E o Bruce vai junto, para ver se a loucura sai do corpo dele. O homem já está
contaminado! Mais um louco... Jesus tenha piedade! É muito bom ser vida
louca, mas a loucura está subindo na mente das pessoas.
— Mas tadinho, Mari, Theus é sensível e fofo — argumenta tia Vic.
— Não é ele quem grita para os quatro cantos do mundo que é um sujeito
macho?
— Mas ele é. Muito macho, por sinal — concorda tia Vic.
— Victória, o mundo não vai acabar porque Matheus está de castigo, entenda
isso.
— Mas...
— Victória! — grita minha avó e tia Vic salta para trás. — Vá aproveitar Isis
e seu novo status de avó! Se eu repetir, você ficará trancada na sauna! Eu
estou indo ajudar a cozinheira. Espero que tenham em mente que há menores
de idade neste ambiente, controlem a língua, controlem os atos!
Ela sai com um rompante de fúria e todos ficamos em silêncio.
— É, nem quando a professora da Bia apertou minha bunda Mari ficou tão
possessa — divaga meu avô.
— O quê? A professora da Bia apertou sua bunda? — pergunta Milena rindo,
então todos nos sentamos para ouvir os casos do meu avô. Eu amo essa
família.
— Sim. Tivemos muitos problemas quando Matheus e Bia estudavam. As
professoras me assediavam, era um inferno. E os professores de educação
física e outros homens assediavam Mariana. Nós os trocamos de escola cinco
vezes. Quando uma escola estava boa pra Mari, um engraçadinho a
assediava, levava um soco no olho e tínhamos que retirar as crianças. Era
incrível. Com a Jeh foi pior. Na época da Jeh as amigas dela me assediavam.
Um bando de adolescentes de dezesseis, dezessete anos. Elas inventam de
fazer trabalhos escolares na nossa casa só para me verem. Uma vez Mariana
quase bateu em uma, só não bateu, porque eu contive. Ela seria presa por
bater em menor de idade.
— Isso é sério? — Milena pergunta morrendo de rir.
— É muito sério. Nós vivíamos no fogo cruzado — ele diz rindo. — Ainda
vivemos, mas um pouco mais calmo agora. — Meu avô é interrompido por
mais uma treta...
— Abre o caralho dessa porta! Acharam que iam passar despercebido? —
Meu pai grita do segundo andar e a casa toda se cala.
— É, bem-vinda à selva, Milena — diz ficando de pé e todos nós seguimos
para mais uma treta.
Eu nunca fiquei tão feliz por tio Theus ser tão dramático e insano antes. O
caos se instalou e, com isso, o foco de todos está voltado a ele. Enquanto
estão todos em volta dele, eu estou ponderando roubar a lancha e fugir com
Mathew e Joseph. São muitas notícias de uma só vez, meu pai não irá
suportar essa situação. Ele nunca aceitará a maioria das coisas...
Estamos todos atentos ao show protagonizado pelo meu tio quando ouço uma
voz bastante conhecida chorando. Eu e Joseph saímos desesperados para
encontrar Mathew, caído no chão chorando e gritando por sua mãe. É uma
situação que nunca aconteceu antes.
— Mãe... — ele grita.
— Filho, o que houve? — Joseph questiona o pegando em seus braços.
— Mãe... — ele grita e se joga sobre mim. — Mamãe! Eu caí — reclama. —
Eu escorreguei e caí, mamãe.
Joseph olha assustado para mim e eu juro por Deus, demora quase um século
para eu entender o que está acontecendo. Mathew está abraçado ao meu
pescoço. Tudo bem. Normal.
Mas ele está me chamando de mãe.
Mãe.
Mamãe.
Mathew está me chamando de mamãe. Não estava preparada para esse
momento, nunca. Aos dezenove anos, eu ganhei um filho de dois aninhos.
— Mamãe, você pode jogar comigo? — pede, manhoso, e se afasta do meu
pescoço. Vejo-o esfregar os olhinhos e fica me encarando, à espera de uma
ação da minha parte. Eu apenas não consigo reagir.
— Flor... está tudo bem?
— Mamãe, Flower.
— Mathew... — digo olhando dele para Vincenzo. Um Vincenzo pálido e
preocupado.
— Mamãe — diz e volta a me abraçar. Então eu desabo. Abraço-o forte,
sento-me na escada com ele em meus braços e choro, porque é a única coisa
que consigo fazer. — Mamãe, por que está chorando?
— Mamãe — digo entre choro e sorrisos. Por que isso se parece tão certo?
Por que ele se parece tão meu? A verdade é que eu tenho sido mãe dele todos
esses meses. Diana sumiu, se contentou com o dinheiro de Vincenzo. Eu
estou por Mathew desde então, até mais que Vincenzo, já que a rotina de
trabalho dele é pesada e tenho estudado de casa. Tem sido eu e ele, o tempo
todo. — Meu amor. Amo muito você, meu pequeno, muito.
— Mamãe. — Sorrio e olho para um Vincenzo que está lutando para conter
as lágrimas. Mas, contrariando a ele mesmo, elas descem. Meu marido
gostosão, dono do mundo, também tem suas fraquezas. — Você pode jogar
comigo?
— Primeiro me diga, você fez um dodói?
— Sim. Eu escorreguei, saiu sangre.
— Oh, meu Deus, saiu sangre? — digo quase rindo. — Deixe a mamãe ver
— peço, limpando meu rosto e ele se afasta para me mostrar seu joelho
levemente ralado. — Ah! Isso foi só uma bobeirinha, não é mesmo? Você é
forte, foi só um arranhão.
— Sim.
— O que houve? — Enzo surge questionando e eu balanço a cabeça
sinalizando que não podemos falar agora. — Ei, Mathew, quer jogar
videogame? — convida e Mathew pula das minhas pernas.
— Eu vou jogar videogame, mamãe — anuncia. Enzo abre a boca em
choque, mas decide se calar. Então Vincenzo me pega em seus braços e nos
leva até o quarto que está reservado para nós dois.
— Flor...
— Está tudo bem — tranquilizo-o passando as mãos pelo seu rosto.
— Você não é obrigada a desempenhar esse papel com ele. Temo que isso
tenha sido muito para sua mente, principalmente agora. Mas eu sabia que em
algum momento isso aconteceria. Você tem sido uma mãe para ele, a melhor.
Até melhor que eu. Mas...
— Está tudo bem, Joseph, eu estou bem com isso. Eu quero ser a mãe dele,
eu o amo como um filho, o amo muito, mais do que amo você, aliás, bonitão.
— Ele faz um bico e eu sorrio. — Foi um choque. Você esperava, mas eu
não. Foram apenas uns minutinhos de choque, agora é como se tudo
continuasse seguindo o fluxo como tem sido. Está tudo bem. Só não quero
que pareça que estou roubando o lugar da Diana.
— Diana o abandonou de vez, você sabe disso. Ela não o ama, nunca o amou,
nem mesmo ligar para saber do garoto. Mathew foi parte de um jogo de
interesse, infelizmente. Eu sinto que o comprei dela e isso beira ao absurdo
— diz, chateado. — De qualquer forma estou feliz por ele ter você, muito
feliz, Flor. Ele considerar você como mãe é a coisa mais incrível que
aconteceu em minha vida desde o nascimento dele. Você é um mulherão.
— Engraçado, um dia disseram que eu fedia a leite materno. Que eu era uma
criança, e blábláblá — provoco.
— Mas agora é tipo isso, mas em um outro sentido, mamãe — diz sorrindo.
— Você fede a leite materno e paterno.
— Oh, leite paterno?
— Aí, mamãe. — diz me imitando e eu rio.
— Hummm... isso vai virar um fetiche igual o "papai"?
— Com toda certeza, mamãe — concorda, jogando-me sobre a cama, mas eu
inverto a posição ficando por cima.
Tem sido incontrolável e assustador meu apetite sexual. Mas estou feliz e
orgulhosa por ter um homem com apetite até um pouco além.
— Nós temos duas opções — digo.
— Quais?
— Fazer amor e foder. Qual você escolhe?
— Levando em conta que o show do Matheus deve durar pouco e que seu pai
vai querer me matar em alguns minutos, foder. — Rio, apenas porque é
verdade. Então estou embaixo do seu corpo, suas mãos me atacando de todas
as maneiras, assim como sua boca.
— Aí papai... gostoso.
— Abre o caralho dessa porta! Acharam que iam passar despercebido? — A
voz do meu pai nos faz saltar da cama. Puta merda! — Maria Flor
Albuquerque Brandão.
— Maria Flor Albuquerque Brandão Vincenzo. Diga a ele, Flower —
provoca Joseph tentando se recompor. — Meu pau está explodindo.
— Vá tomar um banho, eu abro a porta — sugiro, ele vai após apertar meus
seios.
Respiro fundo e caminho confiante para abri-la. Meu pai entra como um
furacão e minha mãe também. Atrás deles vem toda a família.
— Ouçam todos, já, já vocês ficam sabendo das fofocas, ok? Apenas me
deixem resolver isso com meus pais e Vincenzo. Cuidem de Mathew ao invés
de fofocarem — peço com toda gentileza que possuo e eles se afastam,
exceto Heitor.
— Sou seu irmão mais velho.
— Tudo bem, Heitor, entre. — Ele sorri vitorioso, mas pego o celular em sua
mão e entrego a Milena antes de fechar a porta. — Sem celular, mocinho. —
Sorrio.
— Ok. — Anuncia sentando-se na chaise.
— Onde está Vincenzo?
— Estou aqui. — Meu homem surge vestindo um roupão preto e eu sorrio
com sua beleza ofuscante. Lindo! — Bom, vamos sentar-nos. — Meus pais
se acomodam nas duas poltronas vazias e eu e ele nos sentamos na cama —
Vou ser direto, ok?
— Eu espero que seja.
— Eu e Maria Flor nos casamos no civil em comunhão total de bens há três
semanas. Desde então estamos morando juntos na nossa casa em Beverly
Hills, optamos por não voltar para a minha antiga casa, até mesmo por
medidas de segurança — informa Vincenzo, deixando meus pais ficam
boquiabertos. Vincenzo aperta a minha mão e sei que vem a pior parte ou
melhor... depende. — Ela está grávida de cinco semanas. Decidimos juntos,
em comum acordo mesmo, que ela dará um tempo nos estudos, levando em
conta que não tem frequentado a faculdade devido aos traumas que adquiriu e
que isso impacta significativamente nas notas dela, em especial em relação à
falta de participação. Juntos, optamos por ela dar um intervalo visando o
tratamento e a maternidade. Em dois meses nos casaremos na igreja, os
preparativos já estão a todo vapor.
— Eu não sabia da gravidez — exclama Heitor, chocado. — Caralho, Flor!
— Exclama, levantando-se. Meu irmãozinho vem até mim e me puxa para
um abraço. — Eu te amo tanto. Estou muito feliz. Meu primeiro sobrinho ou
sobrinha. Te amo muito!
Minha mãe também se aproxima e damos um abraço triplo.
— Minha menina, você cresceu, filha. Será mãe.
— Eu já sou. Mathew me chamou de mãe hoje, pela primeira vez.
— Que massa! Porra! — Heitor exclama feliz.
— Meu Deus, filha, não há o que dizer. Eu tenho muito orgulho da mulher
que se tornou, seu crescimento e amadurecimento é notável, é tudo que eu
pedi a Deus. Eu sou jovem, mas estou feliz por ser vovó. Tomara que seja
uma menina, vamos transformá-la na patricinha de Beverly Hills — diz rindo
entre lágrimas. — Eu quero participar da organização do casamento.
— Eu não esperava outra coisa, mãe. — Sorrio. — Eu preciso de você, estou
começando a surtar com isso.
— Estarei com você, meu amor.
— Que lindo, como um conto de fadas! — diz meu pai com a voz
embargada. — Parabéns a vocês dois, parabéns ao titio e a vovó também.
Que todos sejam muito felizes. — São suas últimas palavras antes dele sair
do quarto.
— Pai...
— Calma. Ele precisa de um tempo. Foram muitas informações de uma só
vez — minha mãe tenta me tranquilizar.
— Eu irei falar com ele — anuncia Joseph, retirando o roupão e ficando de
cueca na frente de Heitor e minha mãe.
— Misericórdia! Joseph perdeu a porra do pudor também? — questiona
minha mãe cobrindo os olhos, mas deixando uma brecha que eu vejo muito
bem.
— Casei-me com Maria Flor, desde então desconheço o significado dessa
palavra — comenta, vestindo uma bermuda. — É só uma cueca, como sunga.
— Eu não acho que seja uma boa ideia você ir falar com ele agora —
argumenta minha mãe. — Se quando ele descobriu o namoro foi quase o
apocalipse... temo pela reação dele com a notícia da gravidez e do casamento.
Já começou ruim, com uma fuga.
— Sim, Joseph. Deixe minha mãe falar com ele primeiro — peço.
— É, cara. Eu e minha mãe falamos com ele primeiro.
— Não tenho medo dele, francamente. Sou um homem feito, Maria Flor é
uma mulher, a minha mulher. Eu quem tenho que enfrentar isso, seja como
for. Ficaremos bem — diz meu marido, dando-me um beijo na testa e se vai.
— Oh, merda!
— Mamãe! — Mathew surge e eu sorrio.
— Ei, garoto. — Meu Deus, como me acostumar a esse "mamãe"? Como
continuar vivendo a cada vez que eu ouvir essa palavra? Prestes a fazer 20
anos já tenho dois filhos! Isso é surreal.
— Cansei de videogame, estou com fome — ele diz, minha mãe sorri
abaixando até ele.
— Ei.
— Oi.
— Eu sou sua avó, sabia? — ela pergunta e eu engulo o nó que se forma em
minha garganta.
— Vovó Bia? — Mathew pergunta.
— Sim, sua vovó Bia.
— Tudo bem, vovó — pergunta meu pequeno diz sorrindo e se joga em
Heitor. — Tio Tôr, vamos nadar juntos? — Ele chama Heitor de tio desde
sempre, assim como Arthurzinho e Bruce. É lindo.
— Depois que você comer nós podemos nadar, campeão — responde Tôr,
bagunçando os cabelos dele. — Mais tarde farei um filho com Milena,
porque estou em desvantagem aqui.
— Vamos comer meu pequeno — anuncio pegando-o.
— Não fique pegando peso agora no início, por gentileza — adverte minha
mãe e sou obrigada a colocá-lo no chão.
Estou indo alimentar meu primogênito enquanto meu pai, certamente, tentará
matar o pai dos meus filhos.
Teremos uma briga de cachorro grande, porque eu desconheço um homem
mais decidido que Joseph Vincenzo.
CAPÍTULO 25
Hora de encarar a fera, meu amigo que se tornou meu sogro. Já estava
preparado para uma conversa difícil, então estou tranquilo. Maria Flor é
maior de idade e tudo o que fizemos foi devidamente planejado. Eu serei pai
novamente, casamo-nos no civil e estamos planejando o casamento religioso.
A garota que fedia a leite materno e fralda agora é minha esposa. Pois é,
rápido como um furacão, eu, Joseph Vincenzo, o homem que nunca iria se
casar ou ser pai novamente, casei-me, tenho minha mulher grávida e me
tornei doméstico.
Surpreendente.
Essa garota se tornou o centro do meu mundo, um vício e uma necessidade.
Eu quero tudo dela e quero dar tudo de mim a ela. Simples como um mais
um, são dois. E, para a minha surpresa, hoje meu primogênito a chamou de
mãe. Eu poderia estar mais feliz? Não. Está tudo perfeito em todos os campos
da minha vida. Parece que encontrei o Norte. Está tudo caminhando
perfeitamente bem e espero que continue assim. Flor é como meu amuleto da
sorte, desde que entrou em minha vida tudo ganhou um novo significado.
Descobrimos sobre a gravidez quase um mês após o pedido de noivado. No
primeiro momento ela se desesperou, mas isso durou apenas alguns minutos.
Em um minuto ela estava gritando e chorando desesperada, no outro ela
estava gritando meu nome no banco de trás do carro. O longo período que
ficamos sem sexo parece estar surtindo efeito avassalador agora. Flor tem
vivido como se quisesse recuperar o tempo perdido, acontece que ela já
recuperou e resolveu ultrapassar os limites. Minha garota está transbordando
libido e eu estou morto. Vejamos, há uma carga imensa de trabalho, há
Mathew que necessita de bastante atenção e há minha mulher ninfomaníaca.
Além de tudo isso, ainda arrumo um tempo para malhar e poder manter o
ritmo. Minha ninfeta está usufruindo bastante da minha experiência e minha
performance sexual. Os anos de diferença não estão pesando, pelo menos não
ainda.
Encontro Bernardo sentado no deck, sozinho. Acomodo-me ao seu lado e ele
me encara como se estivesse prestes a me matar.
— Eu acho que precisamos conversar — digo.
— Conversar sobre o quê? Não há mais nada a ser conversado. Minha filha
se casou e está grávida, o que resta para ser conversado?
— Bernardo, eu não sei se terei uma filha, mas só de cogitar isso eu imagino
como está se sentindo. Flor é jovem, mas ela é extremamente madura. Nós
decidimos sobre todas as coisas juntos. Eu não sentenciei nada se é essa sua
preocupação.
— Vocês planejaram um bebê? Ela é apenas uma garota, Joseph, como uma
garota de 19 anos pode planejar um filho? Como ela pode renunciar a todos
os projetos para ser mãe?
— Me desculpe por dizer isso, mas não acha que está sendo hipócrita?
Beatriz foi mãe aos 18 anos e não foi algo planejado.
— Sabe o que acontece, Joseph? No passado, quando engravidei minha
namorada, meu sogro disse que, se um dia eu tivesse uma filha, iria entender
o motivo de ele ter surtado quando descobriu a gravidez da filha dele. E sabe
o quê? Ele estava certo, eu agora sei como ele se sentiu. Não é agradável,
embora eu saiba que irei amar com todas as forças meu neto ou minha neta.
O mais desagradável ainda é perceber que eu não sou mais o único homem
importante para a minha filha, agora há você. Eu estou dividindo minha filha
com você, mas estou em desvantagem simplesmente, porque não sou mais o
primeiro a saber dos seus projetos. O primeiro agora é você. Ela te ama, você
deve ser o primeiro pensamento dela ao acordar e o último antes de dormir,
eu sei por que é assim comigo. Minha esposa é meu primeiro e último
pensamento do dia, assim como sou para ela. É lindo, mas é fodido perceber
que os pais são postos em segundo lugar em determinada fase das nossas
vidas. Eu não estou bravo, não vou socar sua cara como quis fazer, só estou
triste, pois perdi minha garota e não sei lidar com isso. Estou triste, pois não
fui comunicado sobre os projetos, estou triste pelo que aconteceu meses atrás,
apenas estou triste. Minha filha cresceu rápido demais, tão rápido como o
vento. Não adianta, Joseph, um pai nunca está preparado para entregar uma
filha. Ela sempre foi o centro do meu mundo, havia Heitor e Enzo, mas Flor?
Sabe quantas vezes eu e Bia brigamos por conta de eu fazer todas as vontades
da nossa filha? Sabe o que é você andar em um shopping no horário de
almoço e, ao invés de almoçar, ir caçar coisas cor-de-rosa para a sua filha?
Meu mundo se tornou rosa quando Flor nasceu, meu mundo se tornou melhor
infinitamente por conta daquela garotinha — ele diz enquanto lágrimas
escorrem de seus olhos. — Ela era a coisa mais linda do mundo, Joseph,
esperta, sagaz e trapaceira. — Ele ri e solta um suspiro. — Flor agora terá sua
própria família e sua família virá em primeiro lugar, sempre. Porque é assim
que as coisas são quando constituímos nossa própria família. — Eu limpo
uma lágrima sorrateira do meu rosto, porque não esperava um desabafo desse
porte. Deve ser foda mesmo. Agora estou vendo as coisas numa nova
percepção.
— Ela ainda continuará sendo sua. Eu não tenho qualquer garantia de que
nossa relação será eterna, mas você tem a garantia de que, aconteça o que
acontecer, Flor sempre será sua filha, Bernardo. Você está acima de mim de
todas as maneiras possíveis.
— É difícil para um pai ter que enxergar que sua filha se tornou uma mulher.
É difícil lidar com o fato de que ela tem relações sexuais, é difícil lidar, é
apenas difícil — diz cabisbaixo. — Mas o que posso fazer? Aceitar. Um neto
ou uma neta é o que temos para hoje, além da notícia de que ela trancou a
faculdade, está casada e morando com meu amigo. Tudo isso sem me dizer
nada.
— Talvez eu tenha errado em não ter pedido a mão dela — confesso
ganhando a compreensão.
— Você acha? — pergunta com cinismo. Eu acho, ele está com a razão.
— Eu estou certo. Sinto muito — digo com toda minha sinceridade. — Eu a
amo, Bernardo. O amor é louco, insano e intenso. Eu saí atropelando tudo
para tê-la, porque eu sou louco por ela, louco. Eu a amo muito forte. Talvez
assim você consiga compreender meus atos, sei que você ama Bia da mesma
maneira louca.
— É, eu amo.
— Sei que já é tarde, mas eu gostaria da sua... permissão não seria a palavra,
talvez bênção? É isso, eu gostaria da sua bênção para me casar com sua filha.
Gostaria de vê-lo levando Flor para mim no altar com um sorriso de
felicidade, de quem sabe que eu moverei o mundo se preciso for para fazer
sua filha feliz. Eu cuidarei dela, respeitarei, darei o meu melhor. Você tem a
minha palavra, Bernardo.
— Vá lá — ele diz simplesmente.
— Você vai agir assim? Como se fosse indiferente? — Questiono tentando
compreendê-lo.
— É indiferente. Vocês já estão casados. Eu ficarei bem, só estou pensativo.
Suba, pegue sua esposa e diga a ela que eu estou bem com as novidades.
— Mas você não está.
— Pensativo, Joseph, pensativo — repete. — Vá, você tem minha bênção,
embora seja irrelevante.
— É relevante e importante. Te peço desculpas, eu deveria ter pedido a mão
da sua filha a você antes de tudo, mas houve o receio de ganhar um não, por
isso pedi primeiro a ela. Enfim, eu espero que possamos nos entender nesses
dias, Bernardo, não quero sua inimizade. Não sou portador de notícias ruins,
sua filha está feliz e eu também. Queremos que se una à nossa felicidade, que
compartilhe dos mesmos sentimentos.
— Ok.
— Vamos ficar bem, cara, vai passar o Natal triste por que sua filha está
sendo feliz, se tornou uma mulher e será mãe? Não faz muito sentido. Flor
cresceu absurdamente nos últimos meses, tenho orgulho da mulher que ela se
tornou e sei que você também tem. Apenas aceite, meu amigo. Nós dois nos
amamos.
— Joseph, só preciso de um tempo. Preciso ficar só, por favor — pede,
dispensando-me e eu resolvo deixá-lo.
— Estarei lá dentro se quiser conversar, a qualquer momento — informo e
sigo em direção à casa.
— Como ele está? — Beatriz questiona.
— Estranho. Não está revoltado, está triste, disse que os anos passaram
depressa demais e coisas do tipo. Ele está com a razão, eu deveria ter pedido
a mão de Flor para ele antes e para você também. Eu errei, Beatriz, sinto
muito por isso. Não há o que ser feito, eu a amo e as coisas continuarão
seguindo o curso que escolhemos. Eu dei o primeiro passo, o segundo e Flor
fez dos meus planos os dela. Estamos felizes e bem, meu filho também está
muito feliz por tê-la. Somos uma família.
— Eu estou feliz por vocês, Bê também ficará. Você não sabe, mas Flor
sempre foi o xodó da vida dele. Ele ama todos os nossos filhos de maneira
igual, mas por Flor ser uma menina, ele sempre esteve em torno dela. Vê-la
crescer é um pouco doloroso para ele, mas não é nada que não vá aceitar com
o tempo. Vocês deram muitas informações de uma só vez. É comum que ele
tenha ficado abalado.
— Sim, eu sou assim, Bia, como um rompante. Tentarei controlar mais
minhas ações.
— O amor nos torna impulsivos — diz minha sogra. — Agora vá no quarto e
presencie uma cena linda — ela incentiva e eu vou.
Eu encontro Flor sentada no chão dando comida de aviãozinho para um
Mathew risonho. Os fins justificam os meios, essa cena justifica meus erros.
Minha família está ali. Mathew, Maria Flor e nosso bebê. O que mais eu
posso querer da vida? Apenas saúde para apreciá-los e fazê-los felizes.
— Papai!
— Você está comendo muito? — pergunto, juntando-me a eles.
— Sim. Mamãe está me dando. — Olho para Maria Flor e os olhos dela estão
brilhando. Minha jovem garota assumiu meu filho como dela. Ela não
precisava disso, mas fez.
— Ele vai ficar forte como um leão, papai. Está comendo muito papa.
— Sim, papa — diz Mathew, satisfeito.
— Papa? — Questiono a Flor.
— Sim, meus pais falavam assim quando era almoço ou jantar — ela explica
rindo. — Eu falava papa delícia.
— Mathew, a mamãe não te contou uma novidade? — Pergunto, colocando-o
sentado entre minhas pernas.
— Um segredo?
— Não, garotão, uma novidade. Sem segredos vocês dois — digo sorrindo.
— O que é?
— Você vai ganhar um irmão ou uma irmã.
— Pode ser um irmão? — Ele pergunta e eu rio.
— Só Papai do céu quem pode escolher, meu amor — explica Flor. — Pode
ser um garotinho como você ou uma garotinha. De qualquer maneira vocês
serão amiguinhos e você será o irmão mais velho.
— Oh! — Ele exclama encantado com a notícia. — Mamãe não quero mais
comer.
— Ok, meu amor. Papai vai levá-lo para escovar os dentes e então você pode
ir brincar — diz Flor, e eu fico de pé com o pequeno leão.
Assim que escovo os dentes dele, ele sai feito um raio e Flor surge possuída
no banheiro.
— Dilf.
— Milf.
— Como foi a conversa?
— Não sei. Não foi como esperava. Seu pai está estranho, mas pediu que eu
dissesse a você que está tudo bem. Talvez seja interessante uma conversa pai
e filha — digo traçando seu lábio inferior. — Linda.
— Eu irei falar com ele mais tarde, estou com sono agora.
— My pregnant. — Sorrio. — Vamos, vou levá-la para a cama — anuncio,
pegando-a em meus braços e a coloco na cama.
— O que você fará enquanto durmo?
— Chegarei alguns e-mails e ficarei na piscina. Seu tio e Bruce ainda estão
de castigo, não quero perder quando Mari liberá-los — digo rindo,
imaginando a cena.
— Você foi contaminado com toda loucura. Que merda, só sei comer, foder e
dormir.
— Não necessariamente nessa ordem.
— Eu sei foder, comer e dormir — corrige a ordem. — Eu gostaria de foder
um pouco agora, mas estou morrendo de sono, papai. À noite foderemos
dobrado.
— Certamente, princesa. Durma bem, eu amo muito você. — Deposito um
beijo em sua testa, fecho as cortinas e a deixo dormir.
Quando saio do quarto, encontro uma cena absurda. Victória está sentada no
chão, encostada na porta de um dos quartos trocando bilhete com quem eu
acredito ser o Matheus.
— É sério isso? — questiono.
— Fique caladinho para eu continuar gostando de você, Tudão. Você não
está vendo nada — ela diz.
— Mas eu estou! — Mariana surge. — Você tem quantos anos de idade,
Victória? Sério, depois de todos esses anos, hoje estou realmente
compreendendo por que você e meu filho estão casados.
— Por quê? — Victória pergunta.
— Porque vocês dois são iguais. Dois insanos. Vaza daqui agora, eu estou
falando sério.
— Porra, mãe, já deu esse caralho de castigo.
— Se você continuar falando, Matheus Albuquerque, ficará aí até amanhã,
filho do Satã! E você também, Tudão, pode ir indo lá pra baixo. Cadê minha
florzinha?
— Dormindo — informo.
— Deixe-me adivinhar, foder, comer e dormir?
— Bem isso. — Como ela sabe?
— Melhor fase — Matheus diz. — Espera aí, Maria Flor está grávida? — Ele
grita.
— Sim.
— Chupa, Bernardo seu frouxo do caralho — ele grita para casa inteira
escutar. — Mãe, me libera aí. Libera o Tonho. Não posso perder a piada,
caralho. É sacanagem comigo.
— Animal, você também será avô — diz Mari e o silêncio surge por alguns
segundos até escutarmos um baque.
— Ah, fodeu, fodeu, fodeu — grita Victória. — Meu pimpolho desmaiou
novamente. Abra essa porta, Mariana!
— Chamarei o Heitor, porque se esse filho da puta desmaiou novamente eu
mesma irei filmar — ela diz e vai em busca de Heitor.
— Isso é bullying com o meu marido — protesta Vic chorando. — Theus,
fala comigo covinhas bonitinhas, pequeninho, pimpolho....
Eu irei ficar louco até o réveillon!
Matheus é muito filho da puta, definitivamente. E, nós dois juntos, não temos
maturidade alguma. Nossos filhos, pobrezinhos, são quem tentam colocar
algum tipo de juízo na nossa cabeça, mas não queremos. Nós fazemos o que
queremos, como queremos e quando queremos. Somos parceiros no crime
desorganizado.
Enquanto tentam arrombar a porta – algo que Matheus faria em cinco
segundos –, eu saio sorrateiramente rumo ao andar de baixo. Pego a chave do
jet-ski, pego um pouco de dinheiro e um cartão de crédito na minha carteira e
o embrulho num saco plástico, pego uma garrafa de água, algumas besteiras
para comer e as coloco numa bolsa térmica, pego meus óculos de sol, prendo
meus cabelos em um rabo de cavalo e caminho pelo deck rumo ao nosso
meio de condução.
— Mãe?
— Shiu! — digo para Lucca e ele me olha como se eu fosse louca.
— Mãe, o que há?
— Não diga nada! Há algo acontecendo, finja que não está me vendo — peço
e desço vagarosamente pelas escadas até alcançar a moto aquática. Fico
sentada aguardando alguns minutos até que a cena começa a desembolar.
Ligo o jet-ski quando vejo um Matheus desesperado correndo pelo deck e
várias pessoas correndo atrás dele. Meu princeso se joga ao mar e sobe
correndo atrás de mim.
— Vamos... rápido! — ele ordena tomado pela adrenalina.
— Matheus Albuquerque! Seu filho da puta! Você está de castigo até a
próxima eternidade, demônio! E você também, Victória! — Mariana grita e
eu acelero enquanto ele ri.
— Para onde vamos? — questiono.
— Deixa que eu conduzo, sadgirl, vou levá-la em um lugar. Pegou dinheiro?
— Sim. — Jogo-me no mar para invertermos a posição e ele ocupa meu
lugar, então me ajuda a subir e seguimos passeando pela Ilha, agora mais
devagar. Theus está calado e eu rindo, porque não regulo bem. O mundo está
acabando e nós dois estamos fugindo como crianças. Eu realmente não me
importo de agir como louca neste momento, meu princeso, com toda sua
possessividade, está sofrendo, sei disso. Eu farei qualquer merda estúpida
para aliviar seu humor, mesmo que isso inclua entrar em suas loucas
aventuras.
Quando estamos no meio de nada, cercados apenas por ilhotas, o combustível
acaba e eu começo a rir.
— Merda! — reclama e faz um biquinho, olhando para mim. — Estamos
perdidos no paraíso, sadgirl.
— Podemos nadar até chegarmos à faixa de areia, então podemos fazer um
piquenique e namorar — sugiro.
— Você é muito vida louca, não é mesmo?
— Anos de convivência. — Sorrio e ele me rouba um selinho.
— Ok, você trouxe coisas de comer nessa bolsa?
— Sim. Algumas besteiras, mas dá para sobreviver — explico. — Só não há
como entrarmos em contato com o pessoal e pedir ajuda, não trouxe celular.
— Eu precisava de um tempo — diz e se joga no mar. Eu fico de pé e ele me
pega. — Preparada para um pequeno nado?
— Sim, senhor, estamos em plena forma! — Ele sorri, pega a bolsa das
minhas mãos e nadamos até chegarmos em terra firme.
Eu fico na água boiando, enquanto ele vai deixar a bolsa na areia e volta.
Ele me pega em seus braços e eu o abraço.
— Meu covinhas.
— Vic, nós somos jovens demais. Você é a mesma de anos atrás, eu também.
Nós seremos avôs — diz com queixo apoiado no meu ombro direito.
— Nós somos jovens, ainda parecemos os mesmos, mas fomos pais jovens
também, Theus. Seremos avós, é algo estranho para assimilar agora, mas
teremos um sadbabyneto, temos que aceitar e apoiar nossa menina.
— É complicado ser pai. As filhas crescem e você começa a perceber que
devem estar fazendo com elas o mesmo que você fazia com as filhas alheias.
Dá um arrependimento do caralho — diz sorrindo. — Nossa princesa, Vic,
ela terá um bebê e eu sei que ela não o fez rezando, que maldição!
— Mas a nossa princesinha, Theus, é uma mulher incrível. Isis nunca nos deu
trabalho, sempre foi doce e responsável. Ela arrumou um homem incrível,
maduro, responsável e uma pessoa de bem. Só cabe a nós dois ficarmos
felizes e orgulhosos. Ela está bem, com um homem muito legal. Já pensou se
fosse com um homem qualquer? Se ela fosse uma louca insana?
— Eu sei, Vic. É só difícil aceitar que os anos estão passando. Nós ainda
temos mais duas meninas e eu não sei se sobreviverei a elas. Luma é como
Isis, mas Ava, Victória... — diz suspirando. — Ava é uma mistura nossa com
acréscimo da minha mãe. Se eu não morri com Isis, com Ava eu morrerei.
— Drama king! — Sorrio. — Nós vamos conseguir controlá-las. Somos
excelentes pais, mesmo que, às vezes, façamos mais loucuras que nossos
filhos. Theus, você precisa conversar com Isis, ignorá-la não é legal.
— Eu... eu não ignorei. Só fiquei perdido, não queria demonstrar desagrado,
Vic, eu fui estúpido, sei disso, mas aquela garota... ela é a porra da minha
vida. Eu gostaria de mantê-los dentro de uma redoma, livrá-los de todas as
merdas da vida, mas não posso. Eu não queria que o tempo tivesse passado
tão rápido, sinto que não apreciei meus filhos como deveria.
— Você está com problemas sérios. Agora usarei a nossa própria família
numa comparação, o que é algo bastante feio, mas necessário. Matheus
Albuquerque, eu nunca os vi fazer com os filhos deles o que nós fazemos
com os nossos. Não que nossos familiares sejam ruins, mas nós dois nos
superamos como pais. Demos conta de cinco crianças a vida toda, nunca
demos mais a um do que ao outro, todos os dias, além do suporte que damos
a eles, tiramos algumas horas para brincarmos em família, é assim até hoje.
Mesmo quando Isis não está, nossos quatro filhos estão conosco todas as
noites, nós jogamos baralho, inventamos um monte de coisas para estarmos
juntos. Viajamos, brincamos, passeamos em família. Nós somos fodas,
Matheus, você é foda. Nossos filhos são fodas! Nós aproveitamos cada um
deles ao máximo e ainda sobra tempo para aproveitarmos um ao outro. Nós
fazemos quase mágica, Matheus.
— Verdade, né? Nós somos realmente fodas, fodida sadgirl do meu caralho!
Mas eu...
— Você é carente e dramático — afirmo, educadamente o óbvio. Theus tem
excesso de carência, essa é a verdade.
Uma lancha se aproxima atraindo nossa atenção, então eu percebo que nela
estão Isis e Bruce.
— Eu vou matá-lo, Victória.
— Não vai não, senhor. Você vai conversar como um homenzinho — digo e
ele faz uma careta. Eu foco em Bruce todo cuidadoso ajudando Isis a descer e
sorrio. — Eles são lindos.
— Não gosto mais dele. — Matheus é uma criança perdida no mundo dos
adultos.
— Gosta sim, pimpolho.
— Olá! — diz Bruce enquanto minha garota fica fixada no pai. Matheus
agora apoia a testa em meu ombro e sei que ele está tentando não chorar. Eu
o amo tanto por ser exatamente assim.
— Pai...
— Ah, nem... — Theus protesta abafado.
— Não é vergonha se emocionar — digo baixinho em seu ouvido.
— Não estou emocionado, quem disse isso? — ele esbraveja e Isis vem
abraçá-lo por trás. Então ele chora e eu acabo chorando junto. Por fim, são
quatro chorando, porque até Bruce não é capaz de ver a cena e conter.
— Pai, eu te amo.
— Ah, nem... Vic, pede ela para parar.
— Isis, seu pai pediu para parar — digo sorrindo entre lágrimas.
— Pai, você vai me ajudar a cuidar do seu neto ou neta? — ela questiona
usando da psicologia... meu orgulho essa menina! — Você vai mesmo se
mudar para a Califórnia? Eu ficaria muito feliz. Nós podemos morar juntos.
— Juntos? — questiona Theus levantando a cabeça e limpando o rosto. —
Tipo vizinhos? Ou tipo juntos numa mesma casa?
— Qualquer uma das duas opções. — Isis sorri. — O que você acha? Você
vai poder estar bem perto de mim e do sadbebê neto.
— Um sadbebê... Merda, Isis, eu sou jovem para ser avô, você ainda é a
minha garotinha — ele diz e Isis abaixa a cabeça, triste. — Mas de qualquer
forma eu vou amar um sadbebê. — Ele a puxa para seus braços. — Eu te
amo muito, estou com ciúme, quero matar Bruce por ter feito sexo com você,
mas eu te amo, vou amar esse bebê e vou amar poder acompanhar tudo de
perto. Não sairei do seu lado filha, em momento algum.
— Eu sempre soube — ela diz rindo entre lágrimas agarrada ao pai,
conforme Bruce vem me abraçar. — Pai, você é o melhor e mais importante
homem da minha vida. Eu tenho muito orgulho de ser sua filha, desconheço
uma pessoa que chegue ao seu nível de bondade, de fofura e de amor —
declara, nem fico com ciúmes porque é a mais absoluta verdade. Theus foi
desenhado por Deus em todos os sentidos, só isso responde a toda a
perfeição. Quando eles se afastam, Matheus olha fixamente para Bruce e
fecha as mãos em punhos.
— Eu deveria matá-lo, seu filho da puta! Você prometeu que cuidaria da
minha filha.
— Eu estou cuidando, de todas as maneiras possíveis. Como você mesmo
disse, eu prometi que cuidaria dela e estou fazendo isso, mas não prometi em
momento algum que não faríamos sexo — justifica Bruce, afastando-se de
mim e eu seguro a vontade de rir. Esse Bruce é afrontoso. — Sua filha pode
ser persuasiva sexualmente falando...
— Ela é igual a mãe mesmo — diz Theus, balançando a cabeça e abraça
Bruce do nada. — É foda, cara, você está fodido, é bom que saiba. Isis tem a
maldição do sadismo na veia, tipo Victória. As duas enganam todos com
essas carinhas de anjo, mas são os demônios disfarçados de anjos. Lúcifer era
anjo, né? Vai vendo aí...
— Isis é foda mesmo, estou assustado, mas a amo muito, o amor tudo
suporta, não é assim que dizem? — Que espécie de diálogo eles estão tendo?
Como muda do assassinato para o amor? Eu vou morrer e não terei conhecido
Matheus o suficiente. — Bom, nós fugimos. Isis gostou da ideia, vimos o jet-
ski e resolvemos parar. Mariana está possuída, creio que não seja uma boa
ideia voltarmos para casa hoje.
— Então, já que vocês estão de lancha, nós podemos ir para algum hotel.
Cada um num quarto separado, obviamente. Podemos comer, tomar uma
cerveja no final da noite, você agora é meu genro mesmo, não há como eu
fugir dessa merda — Theus propõe e eu rio.
— Você vai conseguir dormir sem mim? — questiono.
— Nem fodendo, estou falando dos dois — ele explica com naturalidade.
— Oh, pai, eu estou grávida, temos um relacionamento, não vou dormir sem
Bruce — diz minha filha e Matheus solta um suspiro frustrado.
— Eu já estou fodido mesmo, então foda-se — resmunga dando o braço a
torcer.
Ele pega nossa bolsa na areia e seguimos para a lancha. Bruce e Matheus
colocam gasolina no jet-ski e seguimos rumo a um hotel num lugar
paradisíaco. Aliás, qual lugar nessa ilha não é paradisíaco?
No final da tarde, eu e Theus nos acomodamos na rede, na sacada da nossa
suíte, e ficamos balançando observando o mar e o sol se despedir...
— Flower será mamãe — ele diz rindo.
— No cu dos outros é refresco, não é mesmo, Matheus?
— Não, eu estou feliz e com ciúme, porque ela é minha Maria Florzinha do
caralho. Bernardo é um filho da mãe, ele ia me zoar até a morte, mas agora
estamos no mesmo barco. Ambos seremos avós — diz rindo e então solta um
suspiro. — Vic, nós realmente seremos avós, não é mesmo?
— Sim Theus, nós seremos. — Sorrio.
— Será uma menina, sinto isso — comenta sorrindo. — Eu a imagino uma
mistura de Isis e Bruce, com olhos azuis, cabelos de cachinhos, mestiça, a
coisinha mais linda desse mundo inteiro.
— E se for um menino?
— Eu sinto que será uma menina. Vamos apostar? — sugere.
— Apostar o quê?
— Se for menina você me dá outro filho, se for menino eu faço qualquer
coisa que você quiser.
— Qualquer coisa? — pergunto começando a me interessar pela proposta.
— Qualquer coisa.
— Ok. Se for uma menina nós teremos outro bebê. Você está certo de que
deseja ter outro bebê? Já temos 42 anos. — Ele sorri e traz suas mãos em
minha barriga.
— É tudo que eu tenho sonhado, tê-la grávida mais uma vez, a última vez. Eu
amo você grávida dos meus filhos.
— E se vier gêmeos? Ou mais?
— Meu amor, somos pais de gêmeas e nos saímos superbem. Você não quer
ter mais um bebê?
— Eu sinto falta de um bebê. Um bebê seu. Mas é a história se repetindo, sua
mãe engravidou do Arthurzinho com a nossa idade — relembro.
— Ela e meu pai ficaram superfelizes, lembro até hoje, eu chorei escondido,
porque naquela época minha fofura era escondida.
— Não era nada, você era fofo comigo — relembro. — Mas sobre seus pais,
hoje eles se sentem um pouco culpados por serem mais velhos e por
Arthurzinho não ter tido a chance de aproveitar tanto eles quanto você e Bia
aproveitaram, entende?
— Sim, eu entendo, mas Arthurzinho teve muito mais que eu e Bia, tanto que
ele é feliz e extremamente satisfeito, tão feliz quanto eu e Bia fomos, e ainda
somos. Arthurzinho teve atenção duplicada. Como eu e Bia já éramos mais
velhos, eu fui pra Nova York, Bia se casou, ficaram apenas eles e
Arthurzinho. Eu penso que será assim se tivermos outro bebê. Nossos filhos
estão caminhando para trilharem seus respectivos caminhos. Em breve
ficaremos apenas nós. Eu gostaria de ter um filho, talvez assim eu não
sentiria tanto o crescimento dos outros. Obviamente que nosso bebê também
irá crescer, mas aí já estaremos mais velhos, poderemos apenas aproveitar
netos, viajar... Não estou impondo, faremos isso apenas se for da sua vontade.
Estou apenas pedindo que pense com carinho na possibilidade. Nosso bebê
crescerá junto com a sobrinha.
— Se for menina nós teremos um bebê. Se for menino... eu acho que teremos
um bebê. — Ele sorri e me abraça mais apertado. — Te amo, papai.
— Eu também amo você. Nós sobrevivemos a tantas coisas e nada entre nós
mudou.
— Verdade...
— Eu estou apaixonado por você.
— Você está? — pergunto rindo.
— Sim, novamente, parceira do crime desorganizado. Nem mesmo nossa
fuga dá certo. Nós teríamos ficado naquela ilha de boa, comeríamos e então
foderíamos em seguida. Mas, ao invés disso, estamos numa pousada de luxo,
eu com uma sunga marcando o pau, você com um micro biquíni indecente,
balançando numa rede e, para completar, sinto que minha filha está fodendo
no quarto ao lado e quero morrer só de cogitar isso.
— Se ela puxou a mãe, certamente ela foderá — divago fazendo carinho em
seus braços. Eu amo esses pelinhos dourados...
— Mas a mãe dela, ao invés de estar fodendo para me distrair desses
pensamentos tortuosos, está calminha, quase dormindo.
— Não estou quase dormindo, estou aproveitando o colo do meu marido.
Esse lugar traz uma paz surreal. Sempre direi isso, todas as vezes que
viermos. Só há os barulhos das ondas, dos pássaros, do seu coração batendo
perto do meu ouvido. Eu sou tão feliz, tão feliz. Há um marido perfeito que
eu amo, há cinco filhos lindos, inteligentes e saudáveis, há uma família
gigante e louca. O que fiz para merecer tudo isso?
— Eu me pergunto todos os dias a mesma coisa — ele diz sorrindo. — Só
nos resta gozar da felicidade, em vários sentidos da palavra.
— Tão romântico e fofo...
— Eu sou muito fofo. — Eu rio todas as vezes que ele diz isso. — Deixa eu
enfiar meu fofurômetro em você lentamente?
— Você está me convidando para fazer um amor lento, calmo, pacífico e
preguiçoso?
— Sim.
— Eu acho que pode ser algo maravilhoso para fazer nesse final de tarde.
Não consigo pensar em nada melhor. — Sorrio.
— Melhor que isso, só você algemada nas grades da nossa cama, recebendo
umas chicotadas nessa bunda e gritando meu nome. Vamos lá, sadgirl —
provoca, afastando-se, levanta-se e me pega em seus braços. Eu vou rindo,
até ele me colocar sobre a cama e tirar meu biquíni, se livrar de sua sunga e
se acomodar entre minhas pernas.
Então, sua boca toma a minha e o momento amor vai pelo ralo. Eu e Matheus
nos amamos, mas nós dois definitivamente não sabemos fazer amor. Foi
assim na primeira vez e ainda será assim última, basta nossos lábios
colidirem para o avassalador tornar nossa definição.
Seremos avós.
Talvez seremos pais novamente, porque eu também sinto que será uma
menina.
Ou não.
CAPÍTULO 26
Não é um bom momento para rir, mas pego Mel em flagrante sentada no
balcão da cozinha devorando a enorme tigela de sorvete. Ela colocou três
coberturas e ainda picou alguns chocolates.
Aproximo-me ficando entre suas pernas e ela me dá algumas colheradas de
aviãozinho. A mistureba realmente ficou muito boa.
Na varanda, está uma movimentação com a partida de Bruce e Joseph. Há
uma Flor chorando agarrada a uma Isis também. Melzinha, que estava com
uma colher na boca, ao ouvir os prantos, começa a chorar também. Benditos
hormônios do caralho.
Ela coloca a tigela no balcão e me abraça escondendo seu rosto em meu
pescoço.
— Mel, o que há?
— É muito horrível ver pessoas chorando. Deixa-me passar sorvete no seu
pau e chupar? — Olha o mundo girando em questão de segundos. Melissa é
um exemplo de coerência.
— Cobertura eu até deixo, o sorvete já fica um pouco difícil. — Sorrio.
— Ok. Podemos ir para o quarto?
— Sim, meu amor — concordo, pegando-a em meus braços e a colocando no
chão. Ela pega a tigela, o tubo de cobertura de morango, sorri como uma
garotinha travessa e sai andando.
Eu guardo a bagunça que minha garota fez e ...
— Está indo transar em meio ao caos que estamos vivendo? — pergunta
minha mãe com uma cara de horror levando a mão no coração.
— Mãe... — Eu vou argumentar e ela começa a rir, vindo me dar um abraço.
— Te amo muito meu mascote, filhotinho de Arthur Albuquerque.
— Também te amo muito, mãe. Você vai ficar comigo, não vai? — Eu
pareço uma criança, sei disso. As lágrimas dos meus olhos e eu sinto que
estou afetado pelos hormônios da gravidez.
— Sim. Ou você acha que perderei a chance de ver meu netinho ou netinha e
meus bisnetos nascerem? De jeito algum! — Califórnia é meu novo lar! —
exclama chorosa e limpa meu rosto. — Vá ficar com sua grutinha.
— Se precisarem de qualquer coisa basta chamar.
— Não, agora vou aterrorizar Matheus, nunca mais eu vou dormir! Ele vai
aprender a fugir do castigo! — diz rindo e se vai. — Matheus Albuquerque
Barcelos! — Ouço-a gritar e subo escapando de mais uma treta familiar.
Acordo com alguém entre minhas pernas. Levanto a coberta e pego Mel
pronta para dar o bote munida da maldita cobertura de morango.
— Mel...
— Bom dia, Tutuzinho. Acordei com fome de chupá-lo. Eu preciso fazer
isso, é desejo — explica e despeja o líquido melado diretamente no meu pau.
Ela começa a chupá-lo de uma maneira nada delicada. Eu vou ficando duro
aos poucos e ela se empolga no ato. Retiro os cabelos do seu rosto e os enrolo
em uma das minhas mãos. Ela se afasta mais e despeja mais cobertura, então
volta a tortura. Acordar assim é algo realmente bom.
Mas o que acontece quando ela está no auge do ato, não é agradável. A porta
se abre e minha mãe surge. Vejo-a arregalar os olhos e eu cubro a nós dois
rapidamente.
— Mãe? Que diabos... você não sabe bater à porta? — questiono e Mel
continua freneticamente. Puta que pariu.
— Meu Deus, queria não ter visto isso! Estou impactada real e oficial, como
diz Melissa — ela diz...
— Mel, pare porra... — esbravejo, mas a mulher parece em outro universo.
— O que está acontecendo aqui? Uow! Sinistrão! — Meu irmão surge e com
ele Vic, Heitor e Milena. Pronto, a merda está realmente feita.
— Gente, que absurdo! — diz Vic rindo.
— Absurdo? Eu estou na porra do meu quarto e vocês entram — esbravejo
puxando os cabelos de Mel. Levanto um pouco a coberta e tento acordá-la do
sonho. — Mel, há espectadores — aviso e ela para.
— Como assim?
— Não é possível que você não tenha escutado! — digo, incrédulo, e ela
afasta a coberta para ver.
— Puta merda — exclama e volta para baixo das cobertas. Sério, ela
extrapola os níveis de loucura.
— Feliz o homem que é acordado dessa maneira diariamente — diz Heitor
rindo.
— Não está satisfeito? — Milena questiona.
— Muito, meu amor, prefiro ser eu acordando entre suas pernas.
— Gente, eu nunca tinha visto o pau do meu segundo garoto em posição de
sentido, estou muito impactada. Ele é muito Arthur, parabéns genes
dominantes! — diz minha mãe e Mel dá uma lambida.
— Mel...
— Desculpa.
— Tempo bom que não volta mais — diz meu irmão sério. — Vamos lá, Vic,
eu sempre posso dar um cochilo de cinco minutos e ser acordado em grande
estilo. Acho justo, digno.
— Não seja ridículo, Matheus Albuquerque.
— Já dizia o velho pensador, um boquete e um copo de água não se negam a
ninguém! — Meu irmão dá um de filósofo e Heitor começa a rir.
— É isso mesmo.
— Ok, porra, vocês vão permanecer aqui discutindo? Apenas saiam. Por que
diabos vocês estão aqui? Isso é invasão de privacidade, vou processá-los —
ameaço e Liz surge com Bernardo. Fodeu, só melhorar.
— O que está havendo?
— Um boquete matinal — explica Matheus.
— Ah, sim, muito bom. Parabéns. Isso ajuda a fortalecer o matrimônio. É
importante ter esses momentos matinais, faz o dia começar inspirador — diz
Bernardo e Liz sorri.
— Verdade esse bilhete. — Ela sorri e o beija, então a cobertura de morango
cai das mãos de Mel diretamente no chão e o caos está formado.
— Saiam daqui! Estou falando sério, eu estou nu e Melissa também. Se eu
me levantar não será legal.
— Só viemos chamá-los para passearmos de barco.
— Eu quero! — anuncia Mel tirando a coberta novamente. Seus seios estão
cobrindo meu pau agora e eu estou puto. — Vamos, Tutuzinho?
— Não.
— Por favor, vamos? Eu quero conhecer as ilhotas que você disse. Você ia
com a finada puta, não pode ir com a sua real e oficial? É injusto —
argumenta fazendo bico.
— Saiam daqui para que eu possa decidir com a minha mulher? Por gentileza
— peço.
— Ok, vocês têm meia hora, nada além disso — anuncia minha mãe e todos
se vão rindo. — Matheus, eu quero você calado, mas foi engraçado o lance
do boquete. — Ouço-a dizer rindo. Onde e quando eu vim parar nessa
família? Ah, sim, a mais louca é a minha mãe.
Olho para Melissa e ela sabe que estou realmente bravo.
— Me desculpa, Tutuzinho — pede e sorri antes de voltar ao seu trabalho
sujo. Não permito que ela pegue novamente a cobertura, apenas a deixo
chupar um pouco mais e é a minha vez. Não retribuo seu carinho matinal, eu
parto logo para o ataque e transamos numa rapidinha bem gostosa.
Uma rapidinha que parece não ter sido tão rápida, porque quando tomamos
banhos, nos vestimos e descendo não há mais ninguém em casa.
— Eles já foram, Melzinha, prometo pegar a lancha à tarde e te levar para um
passeio, só nós dois — digo fazendo um cafuné em seus cabelos.
— Ok, estou faminta, é bom que a casa é toda nossa, eu preciso tomar sol nos
mamilos — anuncia tirando a saída de praia e a parte de cima do biquíni. De
onde ela tirou essa merda?
— Mel, que porra é essa? Vista o biquíni.
— Amor, é importante, mesmo que você não acredite. Os médicos indicam,
ajuda algo na amamentação. Preciso começar desde já — explica. — É
verdade, Arthur, se está duvidando pesquise no Google — avisa indo pegar
os lanches que estão sobre a mesa da cozinha. Acompanho-a um pouco
incomodado com essa merda. Nós comemos e então fico na piscina, enquanto
ela toma o tal sol nos seios, sentada no deck com as pernas para fora. A parte
de cima do biquíni dela está em minhas mãos, foda-se, sou insano com
exposição. Ela é muito linda, esse corpo é fodidamente perfeito. As
tatuagens, sua pele delicada, seus cabelos longos...
Ela posou nua caralho! Que ódio dessa merda... muitos já viram o que
pertence a mim. Devem ver até hoje.
Ela é perfeita.
Nunca imaginei que seria casado com uma celebridade italiana doidinha da
silva.
Pego-a pela cintura e a faço ficar comigo na piscina.
— Eu acho que já tomou sol o bastante nos mamilos. — Sorrio e ela sorri de
volta.
— Eu preciso que os chupe, é supersaudável para a amamentação. Pode
pesquisar. — Isso não deve ser verdade, mas eu sorrio e faço o sacrifício. Só
dura até eu ouvir vozes. Então a cubro mais que depressa, colocando-a atrás
de mim.
Maldição, hoje meu dia está começando bem fodido.
— Olá! Somos da equipe do buffet que dona Mariana contratou — diz uma
senhora de uns cinquenta anos, então vejo mais três senhoras e dois homens
ao lado dela.
— Ok, bem-vindos. Fiquem à vontade, meu nome é Arthur, sou filho de
Mariana. Me chamem para o que precisar. — Sorrio. — A cozinha fica logo à
frente, basta seguir pelo deck e vocês encontrarão. — Ela sorri e todos
caminham rumo à cozinha. Minha mãe não me avisou desse caralho.
Mel morde minhas costas rindo, mas não acho graça alguma.
— Vista o biquíni sem que possam vê-la, por gentileza, Melissa — digo,
prendendo-a na borda da piscina e a tampando ao máximo.
— Estou com desejo.
— Desejo de que, Melissa? — questiono, nervoso. — Vista logo.
— Que chupe meus mamilos.
— Ok, apenas vista o biquíni e eu farei isso, no nosso quarto, com tudo
trancado.
— Você é o melhor sonho de princesa da minha vida. — Ela sorri e se vira de
costas para amarrar a maldição. Filha da mãe.
Partiu chupar mamilos.
CAPÍTULO 27
Sabe quando você olha uma pessoa e pensa, puta que pariu, como eu
consegui uma proeza dessas. Esse sou eu acordando e observando minha
delegada sentada num sofá, sexy pra caralho.
Aí eu te pergunto, como eu consegui esse mulherão? Pensei que o
deslumbramento iria passar com o tempo, mas não. Ainda está aqui, em plena
ascensão. Também, não estamos há tanto tempo juntos, apenas poucos meses,
mas é sempre como se eu estivesse a observando pela primeira vez. Ela é
uma mulher maravilhosa, maravilhosa demais. Gosto de tudo sobre ela, cada
pequeno detalhe. Até mesmo do seu jeito arisco de ser. O que me pergunto,
também, diariamente é, como um homem pode ser idiota o bastante para
perdê-la? Como um homem pode agredir uma preciosidade como Milena? É
irracional. A mulher é perfeita nos mais diversos sentidos, inclusive em seu
jeito arisco e dominador. E, independentemente disso, mesmo que ela não
fosse perfeita. Mulheres, por mais que já não sejam conhecidas como o sexo
frágil, possuem sim um pouco de fragilidade feminina. Nenhuma mulher
merece ser subjugada e abusada dessa maneira. Isso foge da compreensão.
Dispenso pensamentos indesejáveis e volto a olhar para a mulher mais linda.
Ela captura meu olhar.
Eu só consigo focar em seus seios quase à mostra agora. Eu sinto que essa
mulher pode ser a minha morte.
— Bom dia, Heitor Albuquerque... — diz abrindo um sorriso.
— Bom dia, delegata, Milena que fala, né? — brinco. — Por que não está na
cama? — Pergunto. Ela fica de pé e caminha até mim. Puxo-a, fazendo com
caia sobre meu corpo. Ela ri. O som da sua gargalhada é como música para
meus ouvidos.
— Gosto de te ver dormindo, é bonito, pacífico, sem toda tensão que emana
involuntariamente — explica.
— Hum, então a senhorita fica me observando enquanto durmo?
— Sempre... — assume. — Trouxe café da manhã para você.
— Hummm, estou sendo mimado nessa manhã. — Sorrio.
— Todos foram passear de lancha, achei que estávamos só, então vi Arthur e
Mel num quase sexo na piscina, ela estava nua da cintura para cima. Estou
traumatizada. — Dou uma gargalhada. — Então chegaram os cozinheiros que
vão preparar a ceia e eles pararam de se pegar... devem estar frustrados.
— Eu estaria frustrado se alguém nos interrompesse em um momento íntimo.
— Sorrio. — Se um dia tivermos filhos, isso vai acontecer.
— Filhos... — ela diz fazendo uma careta. Milena ainda não está para a
maternidade. Ela tem outros planos agora, que envolvem sua carreira. Eu
respeito isso. Também preciso focar em minha carreira assim que voltar para
a Califórnia, mas agora farei apenas uma pequena mudança em minhas
escolhas.
— Já tomou café da manhã? — pergunto.
— Não. Trouxe o seu e o meu, para tomarmos juntos. — Sorri. — Estou
apaixonada por esse lugar, estar aqui traz uma sensação de paz.
— Há muitas histórias nessa Ilha. Acho que todos os casais aqui presentes já
tiveram momentos importantes aqui. Minha vó a chama de Ilha da Magia ou
Ilha da Felicidade. Ela acredita que em momentos de crise conjugal, aqui é
local ideal para o casal voltar a conexão. — Sorrio. — Ela diz que não há um
único casal que não venha aqui, que seja malsucedido no relacionamento.
Será que é verdade? Estou querendo construir uma história com você aqui,
para testarmos essa teoria.
— Deve ser. Quando brigarmos podemos fazer esse teste.
— Mas reza a lenda que essa magia não é restrita a casais com crises. Vale
para casais que estão bem apaixonados e felizes. — Ela sorri. — O que será
que levaremos dessa Ilha, Milena? Sou muito pacífico para brigarmos.
Prefiro ser leve, livre de dores de cabeça.
— Pior que você é realmente pacífico. Um gentleman, mas eu não! Eu tenho
sangue quente em minhas veias.
— Oh! Eu também tenho, porém, o uso só para momentos oportunos, tipo
quando estamos prestes a transar — provoco.
— Sei bem disso.
— Você é linha dura, delegata — digo a rolando na cama e me levanto. — O
dia está perfeito, vamos tomar o desjejum e aproveitar a praia, apenas eu e
você, topa?
— Só nós dois?
— Sim, só nós dois. — Ela sorri.
— Sem Arthur e Mel?
— Sem eles. Só eu e você. — Ela me puxa pela cueca e caio sobre o seu
corpo. Vai ser difícil resistir a um sexo matinal, mas serei forte.
— Uma ótima ideia. — Deixo um beijo casto em sua testa e fico de pé.
Vou ao banheiro e ouço Milena gargalhando. Sorrio. Ela está rindo, porque
esses banheiros são todos de vidros e ela está me vendo urinar. Minha vó
merece ser estudada, eu sei disso. Quando termino tomo um banho rápido,
escovo os dentes e me junto a ela na varandinha, para tomarmos café da
manhã.
Encontro Arthurzinho e Mel na varandinha ao lado e rio.
— Ao casal sexo na piscina — digo e Mel dá um grito.
— Você viu meus seios? Arthur, ele viu meus seios!
— Não vi. Milena viu, eu estava dormindo. — Rio. — Só as tetas de Milena
me interessam.
— Seus seios são lindos, Melzinha, seu corpo é incrível, parabéns. São mais
empinados que os meus — diz a delegata rindo. Eu quase faço uma
comparação, mas me contenho. Amo os seios da minha delegada. São lindos,
mamilos rosadinhos. Um sexo matinal agora faz sentido...
— Antes ver meus seios, que o pirocomon do meu marido.
— Pirocomon... se Milena chama meu pau de pirocomon, ele nunca mais
sobe — brinco. — Vocês vão ficar em casa? Eu e Milena vamos sair de jet.
— Estou pensando. Melissa de jet-ski não é uma opção. Há o bebê. Vamos
decidir ainda.
— Arthur fala como se eu fosse louca — repreende Mel.
— E você é... — Eu e ele dizemos juntos.
— Real e oficial? Vão se foder!
— Ela ficou nervosinha, gente — brinca Milena. — Ok, vamos comer e
vamos embora, Heitor. Estou ligada no 220 essa manhã. — Indicativo de
sexo selvagem absorvido com sucesso, sinto isso.
Comemos e então, antes de ir, paramos para conversar com Arthur e Mel, que
já estão na sala.
Minutos depois, agarro minha delegada decidido a ir logo.
Nadamos até o jet-ski e a ajudo subir, subindo em seguida.
Pondero um lugar legal para levá-la. Decido ir a uma ilhota que acho linda e
que não é tão distante. Ilha Grande está vazia, acho até estranho, devido a ser
alta temporada.
Milena mal me espera desligar o jet e salta no mar, é uma verdadeira sereia.
Pulo atrás e a puxo pelos pés assim que consigo me aproximar.
— Ei, vem aqui fugitiva — digo, segurando-a em meus braços.
— Aqui é lindo demais! Estou apaixonada, não quero ir embora nunca mais.
— Podemos vir sempre. — Ela sorri e traz suas mãos em meu rosto.
— Obrigada — agradece, emocionada. Não compreendo.
— Pelo quê?
— É. Por sua tendência perseguidora. Você me salvou — explica me
abraçando. — Eu tentava me mostrar uma super-heroína, afastava a todos.
Me fechei no papel de vítima e por fora tentava mostrar que era durona. Eu
não era e não sou. Você foi a única pessoa no mundo que percebeu isso. Você
me salvou do monstro. Mas não apenas isso, você me salvou de mim mesma,
porque eu me boicotava o tempo todo. Então começamos a nos envolver de
verdade... mesmo com uma certa diferença de idade, você é muito mais
homem e muito mais maduro que eu.
— Não sou.
— É, você é o homem mais foda que conheci. Eu ainda não acredito que
temos um relacionamento mais sério, mesmo quando você fala de filhos. —
Sorrio.
— Sério? Você não acredita? Ora, ora, delegata, preciso fazê-la acreditar em
nosso relacionamento sério.
— Você é meu namorado novinho.
— E se eu me tornasse o seu marido novinho? — Ela me encara, sem graça,
boquiaberta. — Você não quer filhos ainda, mas isso não impede de
formalizarmos nossa união. Você impôs sobre filhos, mas não impôs sobre
ser minha esposa. — Ela permanece boquiaberta, como se estivesse em outra
dimensão. É quase engraçado. — Eu iria propor hoje à noite, seu anel está em
minha mala, não há um anel aqui agora. Mas tenho medo de receber um
"não" diante de toda a minha família. — Sorrio. — Não apenas por isso. Essa
conversa acabou "casando" com minha pretensão e acho um bom momento
para propor. Estamos em uma Ilha deserta, de águas límpidas, nadando com
milhares de peixes, o céu está azul e sem nuvens. Nós estamos no paraíso e
tenho algo além do paraíso em meus braços. Você é mais linda que tudo que
acabei de enumerar. Enfim, sou novo com romantismo e devo estar falando
dezenas de absurdos, enchendo sua cabeça. Vamos ao que interessa. Aceita
se casar comigo? Eu prometo que esse será o seu primeiro verdadeiro
casamento. Você terá um marido, um amigo, um amante, um homem que te
respeite, acima de todas as coisas, e que te ama. — Maldição, ela não reage.
Sei que deve ser difícil para ela estar numa situação como essa. Talvez eu
devesse ter esperado... — Você pode dizer não e, ainda assim, continuaremos
juntos, nada mudará, Milena. Não precisamos nos casar, é isso. Sem filhos ou
casamento. Está tranquilo para mim.
— Eu aceito.
— Aceita? — Pergunto incrédulo. Acho que nunca fiquei tão nervoso.
— Sim, mas com uma condição.
— Condição?
— Você terá que fazer o pedido à noite, na ceia, com toda sua família
reunida, com direito a declaração de amor bem marcante e deixará que
alguém filme. — Eu começo a rir. Quer me foder, me beija.
— É sério isso?
— Sim! — Ela dá uma gargalhada e me abraça forte. — Por favor, por favor,
prove que me ame!
— E você? Você não vai provar que me ama, de alguma maneira?
— A noite. Há um presente para você, na árvore de Natal. É a prova do meu
amor — anuncia. — Eu te amo.
— Eu só poderei abrir o presente depois da meia-noite? — questiono ficando
puto.
— Sim.
— Que merda, Milena. Eu deveria ter esperado para propor casamento a
você. Maldição! — Ela ri, radiante pra caralho. Eu quero ir embora e roubar o
presente escondido, apenas para bisbilhotar e colocá-lo no lugar de volta. Ela
nem vai perceber. Mas vê-la sorrir assim, tão livremente e feliz, eu desisto do
meu plano de inventar uma dor de barriga e trancá-la em algum cômodo.
Estou encostada em uma porta, olhando um bando de loucos meio
alcoolizados confraternizando. Minha família! Eu, talvez mais do que todos
aqui presentes, sei a importância de cada um deles, a importância de
instituição família. Eu era apenas uma criança, mas me lembro perfeitamente
de como meus Natais eram solitários, mesmo minha mãe movendo céus e
terras para tornar o meu Natal uma data especial. Sempre sentia, mais do que
poderia dizer. Desde os meus sete, oito anos, felizmente aquele tipo de Natal
solitário ficou apenas na lembrança. Agora essa data tornou-se algo épico e
insano. Regada de gargalhadas, loucuras, bebidas, e o mais importante, o
amor. Amor é o sentimento que mais vejo em minha família, até mesmo em
relação aos agregados. Uma vez que você entra para a família Albuquerque
Brandão, você torna-se tão importante quanto qualquer outro membro. Eles
têm o dom de acolher as pessoas e de compartilhar o amor.
Porém, o Natal esse ano está sendo completamente diferente. Há em mim
uma nostalgia, um vazio, como se algo estivesse faltando. E está. Bruce. Eu
nem mesmo estou conseguindo fingir felicidade, talvez pelo fato dos meus
hormônios estarem um pouco bagunçados. Estou triste, nostálgica e
insatisfeita. Feliz por saber que a partir do próximo ano os Natais ganharão
um novo sentido, triste por estar sem o homem que plantou uma sementinha
milagrosa em meu ventre.
Pensar em Bruce me faz querer chorar e isso é tão louco.
Eu passei uma vida toda evitando criar sentimentos, evitando aproximação
além do sexo casual. Aí eu conheci Lorenzo, o fruto proibido e aquilo se
infiltrou em minha mente – talvez por ser mesmo o fruto proibido. Através
dele, comecei a mudar minhas paranoias de não relacionamentos e achei que
o amava, com todo meu ser. Então, ele cometeu um deslize e fui parar num
clube onde conheci Bruce. Fui até por todos os motivos errados e conheci um
homem com um alto poder de destruição, para o bem. Ele destruiu toda e
qualquer chance de eu me interessar por outro, mas não foi tão fácil. Houve
um pouco de relutância da minha parte, houve dúvidas e incertezas. A única
coisa certa era a forte atração sexual, mas Bruce não estava disposto ao sexo
casual, para minha surpresa.
Bruce estava disposto a desnudar minha alma, antes de desnudar meu corpo.
Sabe o quão desconcertante é conhecer um homem mais velho, maduro,
experiente e que sabe exatamente ler através e além do que você tenta passar?
É imensamente desconcertante. Eu falava algo e Bruce via além das minhas
palavras, a ponto de decifrar se eram verdadeiras ou falsas. Como os mineiros
dizem, eu ia com o fubá e o homem já estava com angu pronto. Mas não foi
só o rosto perto, o sorriso mais incrível do mundo e o corpo escultural
daquele homem que me atraiu. Foi sua inteligência, perspicácia e sua
hombridade. O homem é incrível. Bruce é apenas... homem. Com h e todas as
demais letras maiúsculas, bem gritantes. Ele valoriza uma boa conversa,
valoriza atividades de um casal, antes mesmo de valorizar o sexo. Para mim,
sexo sempre foi a coisa mais importante da vida. Bruce me ensinou que sexo
é sim importante, mas que não é a prática sexual que faz um relacionamento
caminhar. Há muitas coisas, além do sexo, que são importantes para um
relacionamento dar certo. Eu compreendo isso, embora, neste momento,
esteja alucinada de saudade de transar com ele. Ok, eu também estou com
saudades de ter sua companhia, sem sexo. Mas os hormônios da gestação
pedem por outra coisa, não há como mentir ou negar. A felicidade é que
Bruce tem sido compreensivo em relação à fome sexual. Tem sido um
amante generoso o bastante para suprir minhas necessidades sexuais. Bruce...
ele é muito perfeito.
Eu quero chorar novamente. Estou na fossa completa.
Nunca imaginei que um dia ficaria tão na fossa quanto estou agora.
Pego meu celular e vejo uma foto dele, que tirei sem que ele percebesse.
Nela, ele estava distraído, observando a televisão. Nu, com certa parte do
corpo coberta por um lençol. Nós tínhamos acabado de sair do banho após
transarmos. Ele estava relaxado, feliz e absurdamente gostoso.
Lembro-me de que após tirar a fotografia, eu rastejei até a cama e o chupei
com total voracidade. Eu me mantenho insana perto desse homem. O desejo é
tão forte que beira à insanidade.
Eu o amo, de verdade. O amo mesmo. Bruce Fosters é o primeiro homem que
eu amo de verdade e espero que seja o único.
Meu irmão, Victor, surge. Retiro da imagem rapidamente e ele me dá um
abraço. Isso me faz sorrir.
— Você está mesmo grávida, já parece mãe.
— Isso é um elogio? — pergunto sorrindo.
— Sim, você está linda, com cara de mãe. Uma princesa. — Meu coração se
derrete. Ele é tão... meu pai, às vezes.
— Você é um príncipe — digo, beijando sua bochecha. — E aquela garota?
— Ela está em uma casa aqui na Ilha, foi passar essa noite lá, volta amanhã.
— Ela é sua namorada?
— O quê? Não! Sou jovem demais para ter uma namorada fixa. Somos
ficantes. Sabe, sexo casual. — Abro a boca em espanto. Ser a irmã mais
velha não facilita as coisas. Acho que meus irmãos sempre serão crianças aos
meus olhos.
— Tão jovem e já no sexo casual...
— Ela é minha amiga, também não está em busca de um relacionamento, mas
gosta de foder... digo, gosta de sexo — diz ficando corado. — Desculpa por
ter falado assim... foi mal.
— Está tudo bem — minto horrorizada. — Foder é legal.
— Não gosto de saber que você faz esse tipo de coisa, mas gosto que esteja
grávida.
— Use sempre preservativo e não faça as garotas sofrerem dando falsas
esperanças, ok?
— Não posso te prometer que não farei alguma garota sofrer. Muitas vezes o
sofrimento é inevitável — afirma categórico. — Por mais aberto que eu seja
em dizer minhas pretensões, algumas simplesmente se iludem. O sexo, por si
só, já ilude, por ser uma troca tão íntima. Por exemplo, uma garota, ao aceitar
o sexo, está permitindo que eu entre dentro dela, que eu partilhe de uma
intimidade. Algumas, simplesmente acham que essa troca sexual é a
promessa de um futuro, quando não é. E isso acontece mesmo que eu tenha
deixado bem explícito no início que seria só sexo. Logo, posso dizer com
propriedade, que algumas garotas se iludem simplesmente por quererem a
ilusão. Talvez elas precisem de um pouco de ilusão para se sentirem vivas,
sei lá que porra é. Mas, eu, Victor, tenho a minha consciência limpa, pois
deixo claro as minhas reais intenções. No caso, sexo. Eu quero sexo, nada
além disso. Meu pai sempre diz que todos os seres humanos possuem um
alguém que está destinado a eles. Eu possuo alguém que está destinado a
mim, mas não acho que ainda é cedo. Não estou buscando uma alma gêmea.
Há muito pela frente. Quero estudar, me dedicar a construir minha carreira
como advogado e então, talvez, eu pense em consolidar um relacionamento,
isso se encontrar alguém que valha a pena. Se não encontrar, paciência.
Continuarei fazendo mais do mesmo.
— Claro... faz sentido. — Quando ele se tornou homem? Ele parece mais
maduro que realmente é. Eu não tinha essa maturidade nos meus quinze,
dezesseis anos. Estou no chão. Victor tem atitude, mais do que eu nunca terei.
Ele é tão jovem, e já tem todo o futuro programado. Parece tão fácil para ele.
— E Lucca?
— Lucca é virgem — afirma, busco meu outro irmão com os olhos. Ele está
com Mathew em seus braços e isso reafirma o que sempre digo, Lucca é a
versão pré-adolescente de Matheus Albuquerque. Lucca é meu pai, inclusive
fisicamente, exceto pela ausência de covinhas. Os cabelos são iguais, os
traços e o jeito de ser. Se Victor é uma mistura, Lucca não tem nada
misturado. Não é à toa que seus apelidos são sadboy, princeso e pimpolho.
Até a veia dramática e artística do meu pai, meu irmão possui, felizmente, o
humor também. Já Victor, ele é um pouco mais sério, mais compenetrado e
focado. Racional combina muito com ele. — Bom, vou ficar um pouco com a
vovó Mari — ele anuncia e se vai, então minha avó Liz chega.
— Vó! — Sorrio e abraço.
— Você está com cara de mãe — afirma sorridente. — Está tão linda, minha
princesa.
— Puxei minha avó. — Sorrio. — Eu te amo muito, vovó.
— Não me faça chorar! — diz limpando o rosto. — Minha primeira netinha
será mãe.
— Serei, e a senhora será bisavó.
— Oh, isso faz com que eu me sinta tão velha! Ainda bem que sou bisavó
que faz sexo! — Começo a rir, porque ela pegou a doença da minha avó
Mari.
Um alvoroço começa e então já sei que meu pai é protagonista.
Ele não deveria ter bebido, mas bebeu. Por esse motivo, ele está chorando e
minha mãe está rindo, juntamente com os demais familiares.
— Oh, merda, seu pai é sempre o protagonista das ceias natalinas — diz
minha vó e saímos rumo a ele. Ele para de chorar assim que me vê e finge
estar realmente bem.
— O que aconteceu? — Pergunto.
— O idiota do Bernardo lembrou que Matheus será avô, mas ele esquece que
ele também será — grita minha mãe. Meu tio leva a mão ao peito e se
acomoda em uma cadeira.
— Eu só amo a Ava! E estou falando sério. Isis e Luma são traidoras —
reclama meu pai diz. — Ava! — ele grita e minha irmã surge correndo. —
Vem no papai, filha. — A filha de uma boa mãe, puxa-saco master, vai e se
acomoda nas pernas do meu pai. — Luma talvez se case em breve... Isis já se
casou...
— Eu não me casei, pai — afirmo.
— Mas vai se casar, assim como Luma.
— Pai, eu nem namoro ainda — diz Luma cruzando os braços.
— A diferença está aí nesse “ainda”. Diga a eles, Ava.
— Eu nunca irei namorar — afirma minha irmã e pior, ela afirma isso até
quando nosso pai não está. Ela já é muito filha da puta com os garotos. Eu
fico chocada com esses meus irmãos.
— É isso! Porra! Minha garotinha nunca irá me abandonar. — Ava faz uma
careta para mim, levanta-se e desparece. Eu sinto vontade de tacar uma
almofada em sua cara, bem adolescente mesmo.
— Vá para a puta que te pariu, Matheus. Para de drama! — ameaça minha
vó e ele começa a chorar.
— Eu serei avô. Meu pau tem 24 centímetros, eu sou superdisposto
sexualmente, faço sexo como uma máquina e serei avô. Um avô que o pau
sobe pra caralho. Vic será uma avó tesuda, sadgirl, sádica pra caralho.
— Pai, você precisa superar isso — digo, aproximando-me.
— Seu pai é bisavô e o pau dele sobre que é uma maravilha — anuncia vó
Mari sorridente e meu pai encara meu avô.
— É sério, pai?
— É sério. Nós transamos, bastante. Sexo é o segredo da longevidade —
responde meu vô, e quero me jogar no mar por estarmos debatendo a vida
sexual abertamente.
— Victória é muito gostosa — ele diz, abaixando sua cabeça e a apoiando em
suas mãos, então ele continua chorando. — Vic, você é gostosa, mas nunca
mais quero ter filhos. E se nascerem mais garotas? Foda-se, não posso ser pai
de garotas, Vic, compreende? Só posso ser pai de meninos. Porque as
meninas me deixam, e eu fico sofrendo. Não quero mais sadbebês, esqueça
minha proposta. Vamos foder e ser feliz, nossas filhas são ingratas, exceto
Ava. Nossas meninas fazem o que eu faço com você, é absurdo fazerem isso
com elas.
— Luma e Ava são virgens, Matheus — explica minha mãe.
— Mas Luma vai namorar e isso vai acontecer.
— Até Ava vai querer dar uma pentada, é normal — argumenta dona Vic,
com naturalidade.
— Mas ela nunca vai me abandonar — ele justifica.
— Nunca! — Ava grita lá de dentro e eu saio para ir pegá-la. A guerra de
irmãs começa, porque ela começa a correr rindo por toda casa. Eu retiro
minhas sandálias, pronta para o ataque e, antes que eu possa acertá-la, meu
pai me segura e me envolve num abraço.
— Eu te amo muito, minha filha — balbucia choramingando, e eu começo a
chorar. Eu o amo mais do que amo a mim mesma. Meu pai é o melhor ser
humano que conheço.
— Eu te amo mais.
— Eu vou amar ser avô — afirma.
— Eu sei que sim.
— Mas eu odeio Bruce. — Reviro os olhos e sorrio.
— Você não o odeia.
— Não, mas eu queria odiar.
— Pai, você é incapaz de odiar alguém — digo fazendo um carinho em seu
rosto.
— Não, você está enganada. Eu posso odiar sim, qualquer pessoa que tenha
feito mal a minha família, à minha esposa e aos meus filhos. — Não entendo
o que ele quer dizer, mas parece uma mensagem subliminar. Meu pai odeia
alguém... talvez Rhael? Eu não saberia dizer. — Mas Bruce te faz bem, pra
caralho, então eu não posso odiá-lo.
— Ele me faz bem, pai. Muito bem. Eu o amo.
— Ok, isso é mais do que sou capaz de suportar. Você ama outro homem...
— Começo a rir.
— Amo, mas você é o maior amor da minha vida pai, eu o amo mais do que
amo a mim mesma. Você é o homem da minha vida. — Ele sorri.
— Ok, vou superar que você não é mais minha...
— Sempre serei sua. Bruce pode vir a deixar de ser meu namorado ou
marido, mas você pai, você nunca deixará de ser meu pai. Está infinitamente
na frente de Bruce, mesmo que isso não seja uma disputa.
— É uma disputa — afirma. — De qualquer forma, estou na frente dele,
porque sou seu pai.
— É isso aí.
— Mas Ava agora é minha preferida — anuncia e sai rindo. Eu vou matar
Ava por ser assim... Ela quer roubar meu pai!
— Já estou cheia de peru. Vamos abrir os presentes? É tempo o suficiente
para fazermos a digestão e entrarmos no peru novamente — avisa minha vó,
maquiavelicamente, e eu começo a rir.
A sala vira um festival de pessoas, só assim que eu percebo o quão volumosa
é nossa família.
— Jéssica está fazendo chamada de vídeo — anuncia minha tia Bia e todos
damos olá, quando ela e meu tio surgem no visor.
— Olá! — ela diz sorridente. — Estamos passando só para desejar um Feliz
Natal para vocês. Deus, aqui em Nova York está nevando absurdamente e
vocês estão aí seminus, é engraçado vê-los tão à vontade...
Todos nós falamos com eles, então, dez minutos depois ela encerra a
chamada e a discussão começa.
— É sacanagem, Milena tem que ser a primeira a entregar o presente —
anuncia Thor.
— Milena será a última, não há discussões, Heitor — sentencia minha vó.
— Você vai ficar um mês sem sexo, Milena. Estou afirmando isso diante de
todos os familiares, porque eles são testemunhas.
Maria Flor surge e está tão abatida quanto eu. Nós nos abraçamos e ficamos
observando a loucura dos presentes começar.
— Você conseguiu falar com Bruce? — Pergunta.
— Não, na verdade, não tentei.
— Tudão não responde minhas mensagens. Mathew dormiu — diz sorrindo.
— Meu filho...
— Ele te chamando de mãe é a coisa mais fofa que eu já vi na vida. — Sorrio
emocionada, para variar.
— É surreal, não tinha a pretensão de roubar o lugar da mãe dele, nunca me
esforcei para isso. Isso saiu com naturalidade da boca dele, deixando tudo
mais chocante e mais perfeito. Ele é meu filho, já sinto isso.
— Ele é — afirmo.
— Eu espalhei sapatinhos pelo quarto, incluindo os meus sapatos, para ele
encontrar os presentes, como Tudão pediu.
— Há tantos presentes assim?
— Joseph pode ser exagerado no quesito presentes de Natal — ela explica
sorrindo e volto a atenção a entrega de presentes. É sempre difícil, já que
temos tudo, graças a Deus. Então, geralmente, os presentes são simbólicos.
Por exemplo, o que eu poderia dar às minhas avós? Elas são bilionárias. O
que eu darei aos meus pais? Eles também são absurdamente ricos. Nós damos
livros, alguma joia singela, nunca damos algo exagerado, sempre optamos
por algo que simbolize algum momento importante.
Todos entregamos nossos presentes e recebemos, também. Então a atenção se
volta à Milena, que faz todos ficarem sentados. Meu pai está gravando a cena
com o celular dela e ela parece emocionada.
— Não sou boa com as palavras. Nunca fui boa em lidar com muitas pessoas,
então não estou sabendo lidar agora, mesmo que eu já me sinta da família.
Vou direto ao ponto, preciso deixar as palavras restritas a Heitor, num
momento em que estivermos a sós.
— Daqui um mês.
— Duvido. De qualquer forma quero deixar registrado algo sobre o meu
presente. Esse presente é uma prova de que realmente amo você. Sério, eu
não fazia ideia que te amava até cogitar dar isso a você. Foi necessário vencer
algumas lutas internas, pensar, repensar e então pensar novamente, para
chegar à conclusão de que eu realmente queria dar esse presente a você.
— Eita, será o cu? — Minha vó questiona e todos rimos.
— Você não precisou de todo esse teatro para dar o cu, então creio que cu
não mereça uma explicação tão séria e centrada como a explicação de
Milena, agora fique caladinha, Mariana — repreende meu avô.
— Eu nunca daria o cu para Heitor, ele é extremamente bem-dotado. — Meu
Jesus, há crianças na sala.
— Pica das galáxias, sou eu! — festeja Heitor rindo. Ele é bem-dotado
mesmo. Já dormi com ele e vi algo gigante ao acordar. Bruce é mais...
— Minha piroca é maior — diz meu pai rindo.
— A do pirocomon é mais.
— Pirocomon é escroto — desdenha Victor rindo.
— Ok, vamos lá, levante-se Heitor. — Milena o convida e ele fica de pé. Ele
sorri e a puxa pela cintura.
— Teu cu me pertence, Milena! Vamos lá, dê logo.
— O cu? — ela questiona rindo.
— O presente. O cu eu conquisto com o tempo. — Ela entrega uma caixinha
para ele e ele se afasta para abri-la. Sinceramente, todos estamos curiosos
após tanto drama por um presente.
Heitor desfaz o laço e abre a caixa com uma lentidão que dá vontade de socá-
lo. Ele desfaz um papel e observa o conteúdo dentro, então olha para Milena
e parece perder a cor de repente. Ele soluça... um soluço de choro capaz de
ter sido ouvido até do outro lado da ilha, em seguida, cai durinho no chão. E,
ao invés das pessoas que estão mais perto o ajudarem, todos começam a rir e
meu pai até mesmo se levanta para filmar melhor.
Aproximo-me e então vejo o motivo que o fez cair duro. Há sapatinhos de
bebê caídos ao chão, ao lado dele. Nós teremos mais um novo integrante para
a família, ano que vem teremos um Natal repleto de anjos neste lugar.
Todos vamos abraçar Milena e dar felicitações, enquanto Heitor fica
desmaiado, sendo amparado apenas por minha tia, que está chorando
emocionada.
Procriar é o forte da família Albuquerque Brandão, definitivamente. Só
reproduzimos... Teremos muitas histórias para contar, felizmente.
Meu telefone toca ao mesmo tempo que o da Maria Flor. Nós duas saímos
correndo para locais silenciosos.
— Oi...
— Minha boneca.
— Está horrível sem você — confesso.
— Papai Noel já passou aí?
— Abrimos os presentes da árvore, Milena está grávida e Heitor está
desmaiado. — Ele ri.
— Teremos muitos bebês no próximo Natal, isso é incrível. Como você e
nosso bebê estão?
— Com saudades... muitas saudades. Eu deveria ter te prendido no quarto. —
Ele volta a rir.
— Quando você fechar os olhos e menos esperar, eu estarei com você.
Confia em mim?
— Confio. — Sorrio.
— Amo você, Isis, Feliz Natal, meu amor.
— Feliz Natal, Bruce. — Ele encerra a ligação e vou para o banheiro chorar
por alguns minutos. Benditos hormônios...
Agora ele é meu marido. Tenho dezenove anos e sou casada com Tudão,
além de ter dois filhos, Mathew e o bebê que está aqui em meu ventre. Sou
jovem o bastante e já tenho minha própria família. É chocante que eu seja
casada com um homem tão maduro e dono da porra todinha. Quando tenho
esses pensamentos loucos, eu sinto a terrível necessidade de virar uma
mulher tão forte quanto possível e tão poderosa quanto ele, ou até mais.
Sinto-me em desvantagem, mesmo que tais vantagens não sejam necessárias
num relacionamento. Mas eu me sinto como uma criança e detesto me sentir
assim. Um dia o alcançarei...
Desligo o celular e encontro um quase sexo no meio da sala. Heitor acordou
na pressão e está beijando Milena, como se fosse o último dia de sua vida. É
bonito, mesmo que seja imoral e desnecessário dar um beijo desse porte
diante de tantos olhares, é lindo. O fim da ceia deles é decretado, quando ele
a pega em seus braços e sobe rumo ao quarto, sem dar chance de qualquer
familiar os parabenizar.
Então, meu foco vai para meus pais. Fico um pouco sentida ao ver meu pai
explodindo de felicidade. Por que ele apenas não pode agir dessa maneira
quando ficou sabendo sobre mim? Ok, eu sou sua princesinha e muito jovem.
Heitor já tem a própria profissão e é um homem independente. Não posso
questionar meu pai agora, seria injusto, contudo, nada me impede de sentir
um pouco de ciúme.
Os olhos dele encontram os meus e ele parece perceber que estou um pouco
sentida. Apenas viro as costas e decido que preciso verificar Mathew.
Encontro-o apagado, da mesma maneira que o deixei e sorrio. Parece que a
praia o dia todo tem o poder de derrubar uma criança. Quando me viro para
sair do quarto, meu pai está me esperando.
— Oi, pai, precisa de algo?
— É lindo ver o carinho com o garoto. Você parece mãe, Flor — diz pegando
minha mão. — É louco ser pai, Maria Flor, você não faz ideia. — Ele me
puxa até a escada e nos sentamos em um dos degraus. Não compreendo, no
entanto, acompanho-o onde quer que ele queira chegar. — Eu estou muito
feliz por Heitor, não consigo esconder isso. E eu vi que você ficou sentida,
porque eu não tive a mesma reação quando foi você a me dar a notícia de um
neto.
— Eu compreendo, pai, sou sua princesinha.
— Flor, eu confio em você, minha filha. Sei que você é apta a exercer a
função maternal, sei que é madura, responsável..., mas, sim, você é minha
princesinha. Uma princesinha muito nova. Pouco tempo atrás, você estava no
terceiro ano do segundo grau e eu ia buscá-la no colégio. Em pouco tempo,
você engravidou e se casou. Muita informação num curto intervalo de tempo.
— Eu sei, pai.
— Você já ouviu inúmeras vezes sua mãe contando do cuidado excessivo que
eu tinha com você. E era assim mesmo, Flor. Você era a garotinha em casa,
uma princesinha e eu te mimava pra caralho mesmo. É difícil encarar que
você cresceu e que está construindo sua própria família, o que não significa
que eu esteja triste, não estou. Estou feliz, Joseph me passa bastante
segurança e sei que ele vai cuidar bem da minha princesinha. Mas eu preciso
apenas trabalhar essa nova fase na minha cabeça. Estou feliz que terei netos,
acredite, mesmo que eu não estivesse esperando um neto da sua parte, estou
feliz, Flor. Vou amar essa criança, como eu amo você. Só te peço um pouco
de tempo para eu digerir as novidades, você para mim ainda é só uma
garotinha. E nem adianta falar que engravidei sua mãe aos dezoito, eu sei
disso, porra. Mas como meu sogro diz, pimenta no cu dos outros é refresco.
O filho da puta devia saber que isso aconteceria, porque lá no passado ele me
avisou. — Meu pai sorri. — Eu te amo, filha.
— Eu te amo, papai — digo, abraçando-o. — Eu te amo muito.
— Seja feliz e conte comigo, para tudo. Eu nunca soltarei suas mãos, minha
princesinha.
— Eu sei disso — asseguro, um outro alguém me abraça. Minha mãe. Eu me
sinto em casa agora.
— Me sinto muito velha agora — ela diz.
— Você é maravilhosa, dona Bia. Nem parece minha mãe — comento,
afastando do meu pai e a observando.
— Você é linda, Bia, absurdamente linda — elogia meu pai, apaixonado que
só. — Uma vó linda, sexy e gostosa. Eu sou um homem de sorte.
— Dispenso esse tipo de comentário, papai — brinco rindo. — Vocês dois
são maravilhosos e jovens, não apenas fisicamente. Possuem o espírito
jovem. Eu os amo tanto, são meus maiores exemplos na vida.
— Minha menina mulher, mamãe está feliz e orgulhosa pela sua jornada.
Você está nos meus passos, é uma grande mulher e será ainda mais. O céu
não é o limite para você, Flor. Você vai além.
— Se eu for metade do que você é, mãe, certamente eu serei grande.
— Você vai além, eu te direi isso lá no futuro, relembrando essa conversa. —
Sorrio.
Ficamos conversando por mais alguns minutos e então descemos. Caminho
pelo deck, me acomodo em uma espreguiçadeira, precisando respirar um
pouco de ar puro. Todos estão lá dentro, há apenas eu aqui. Ou ao menos é o
que eu achava. Ouço sons e encontro meu tio Theus e tia Vic, num de seus
momentos. Não consigo não os observar. Tia Vic está contra a parede, tio
Theus tem suas mãos apoiadas na parede e seu corpo altamente atlético e
forte, praticamente a cobre. Eu, às vezes, pego-me questionando por que ele
nunca quebrou a tia Vic ao meio. Aqueles braços são assustadores e o porte
físico dele também. E, há um agravante, ele não parece ser delicado
sexualmente. Na verdade, os dois parecem ser um casal explosivo. Eu diria
que o casal mais explosivo da família. Tio Theus possui várias nuances. Ele
vai de fofo ao ogro muito rapidamente, tipo neste momento, ele parece um
selvagem sobre tia Vic. Vejo-o descer uma mão e enfiá-la entre os cabelos
dela. Então ele desce uma segunda e aperta a bunda dela. Então, tia Vic faz
algo que me faz levar a mão à boca. Não é como se eu nunca tivesse feito
isso, mas, certamente, nunca fiz com toda essa força. Ela dá um tapa estalado
na cara do meu tio e ele sorri de uma maneira maquiavélica. Meu Deus, eu
apenas preciso sair daqui, não quero ficar excitada vendo meus tios e muito
menos quero vê-los transando. Mas esquentou tudo em mim... isso é
vergonhoso. Maldição! Deus, que vergonha, eu fiquei excitada ao ver os
meus tios se pegarem. Santo Inferno!
Decido que já deu. Estou estressada, excitada, nostálgica e emocionada, estou
sentindo um milhão de coisas e não estou sabendo lidar com qualquer uma
delas. Eu pego um pote de chocolates escondido e subo para meu quarto.
Verifico Mathew e ele está dormindo, então vou para o meu quarto. Não
estou com sono, por isso decido esperar um pouco mais para bancar a Mamãe
Noel e colocar os presentes nos sapatinhos, como Joseph pediu.
Caminho para meu quarto e quando o abro as cortinas estão voando. Eu me
lembro de ter fechado as portas da varandinha...
Ouço um barulho e ando um pouco mais para encontrar ...
— Papai?
Puta que pariu, esse homem nunca vai cansar de causar impacto? Ele está
absurdamente gostoso. Eu mordo um pedaço do meu chocolate, enquanto
engulo sua imagem com os olhos. Papai é gostoso, muito mais que chocolate.
Ele caminha até mim, arranca o pote de chocolates da minha mão e o
deposita sobre um aparador. Então ele volta, retira a toalha e me mostra que
chegou pronto para enfrentar qualquer situação. Ele está bem armado, em
posição de sentido.
Caio de joelhos aos pés dele, faminta para sentir seu gosto em minha boca.
Meu Deus, tudo muda em questão de segundos, não tem como eu ser normal.
Antes que eu possa alcançá-lo, Joseph agarra meus cabelos e me faz ficar de
pé. Sua boca desliza até a minha e sou posta contra a parede, como tia Vic.
Merda, afasto-o antes que ele me ataque ainda mais.
— Eu vi tia Vic e tio Theus, quase transando. Ela estava contra a parede... ela
deu um tapa na cara dele e eu acho que ele estava indo perder o controle. Eu
fiquei excitada os observando, então vi que era doentio e subi. É doentio?
Papai... — jogo toda informação sobre ele e ele me vira de costas. Ele abre o
fecho do meu vestido e desliza a peça até que ela esteja em meus pés.
Ele afasta meus cabelos e beija minha nuca. Não sei o que me deixa mais
afoita, o beijo ou sua barba roçando em minha pele. Ofegante, agarra
novamente meus cabelos e praticamente me arrasta até a cama. Sou deitada
de barriga para cima e o Tudão desliza as sandálias dos meus pés, antes de vir
para cima de mim como um predador desesperado. Ele afasta minha calcinha
para o lado, desliza o polegar em meu clitóris e faz alguns movimentos que
me fazem arfar.
— Joseph... — chamo seu nome e ele toca seu membro antes de trazê-lo à
minha entrada. Ele abre bem minhas pernas e o recebo de bom grado. É
doentio que eu tenha sentido tanta falta disso? Acho que sim. Entretanto,
quando ele me penetra, quando está por completo dentro de mim, eu me sinto
viva, completa e dele. Eu amo ser Joseph Vincenzo, bem como uma posse
mesmo e isso é doentio. Eu tenho tido umas fantasias muito doentias e quero
realizar todas elas. — Papai...
— Foda meu pau, Flor.
— Eu quero que você me pague, como uma prostituta de luxo. — Ele
arregala os olhos e contém os movimentos. — Pague para me foder, papai.
— Quer que eu te trate como uma prostituta?
— Como a sua prostituta. É um fetiche. — Ele sorri e dá uns tapinhas
delicados em meu rosto.
— Você está virando além de devassa, Maria Flor.
— Você me transforma.
— Estou por completo dentro de você e você quer dinheiro para foder? —
pergunta pulsando dentro de mim.
— Sim — digo, empurrando-o e salto da cama. Ele agora não está com o
semblante divertido.
— Vem aqui no papai, Flor — chama sério. — Agora.
— Não. — Sorrio travessa e deslizo minhas mãos em meus seios. — Você os
quer? — pergunto, provocando-o e ele suspira.
— Quero.
— Compre-os. — Sorrio e deslizo minha mão até minha intimidade. Eu estou
quase tendo um orgasmo só de ver a maneira como Tudão está me olhando.
— Você quer estar dentro dela? — pergunto e ele sai da cama e tenta me
pegar. Sou mais rápida e me tranco no banheiro de vidro. Estou excitada...
como nunca estive antes.
— Flor... eu não estou para brincadeiras hoje.
— Nem eu. — Ele suspira frustrado, balança a cabeça e caminha até sua
mala. Ele pega a carteira e retira dezenas de dólares dela.
— Eu pago, pago pelo sexo e pelo vidro que eu vou destruir se você não sair
daí em dez segundos. Eu gosto de quebrar coisas, Maria Flor, você deveria
saber que não estou brincando — diz, socando o vidro, e eu penso que ele
realmente irá quebrá-lo se eu não sair daqui. Saio e ele me captura pelos
cabelos em questão de segundos. — Qual seu preço, pequena prostituta? —
pergunta em meu ouvido e sorrio, reprimindo um gemido.
— Não sei... quanto você acha que mereço receber?
— Se eu estou pagando, vou me deitar naquela cama e você me dará o que eu
quiser, estamos entendidos? Vou tratá-la como prostituta e tornar seu fetiche
realista. — Eu amo esse homem...
— Sim, papai — digo e ele desliza as notas, prendendo-as na lateral direita
da minha calcinha. Ele se afasta e faz exatamente o que disse que faria.
Acomoda-se no meio da cama e eu fico quase sem ação.
— Esse serviço já está sendo decepcionante. Vai deixar seu cliente duro,
necessitado e sozinho na cama? Paguei para fodê-la, Maria Flor, o mínimo
que você tem que fazer é vir me dar. — Maldição, tudo que esse homem diz
me excita. Caminho rumo à cama e nada sai como eu esperava. — Não quero
olhar para seu rosto. Me monte de costas, invertida. Quero ver sua bunda e
ver meu pau sumindo a cada vez que você sobe e desce.
— Joseph...
— Nós estamos brincando de prostituta. Eu estou pagando, eu exijo! — Fico
puta de raiva, mas obedeço. O cliente tem sempre razão, não é o que dizem?
Posiciono-me sobre ele e ele me ajuda, arrastando novamente minha calcinha
para o lado e posicionando seu magnânimo pau em minha entrada. Abro
minha boca levemente e fecho os olhos quando ele desliza para dentro. Eu
fico alguns bons segundos me acostumando à invasão nessa posição, até
Joseph cobrar pelo serviço que foi pago. Ele se remexe, puxa meus cabelos,
fazendo com que eu jogue minha cabeça para trás. — Mexa-se, puta.
Rebolo lentamente e meu homem solta sons de puta satisfação. Sorrio e
decido fazer meu serviço direitinho. Abaixo minha cabeça, apoio as mãos em
suas panturrilhas e começo a destrui-lo. Obviamente, destruí-lo significa
destruir a mim mesma. Cada movimento parece tocar num lugar certeiro em
meu interior. É enlouquecedor. Gememos juntos e a ausência das mãos dele
em meu corpo, deixa-me mais insana. Cowgirl invertida... Deus, isso é muito
bom. Eu fico o mais empinada que consigo, apenas para que ele tenha uma
boa visão e uma morte lenta a cada vez que eu remexer, subir e descer. Minha
bunda não é pequena, então Tudão está tendo um bom momento e uma boa
visão. Porém, o feitiço vira contra mim, quando não consigo mais segurar o
orgasmo. Frustrada comigo mesma, derramo meu orgasmo sobre meu marido
e juro que o ouço rir atrás de mim. Sou pega pela cintura e ele me gira, caio
deitada na cama e ele retira o dinheiro da minha calcinha, rasgando-a logo em
seguida. Sua boca desliza pelo meu ventre e ele despeja beijos carinhosos.
Engulo a seco. Não me acostumei com isso ainda.
— Eu senti sua falta, pra caralho, tanto que não pude esperar. Eu não dormi
desde que saí daqui Flor, estou morto, exausto, mas preciso senti-la um pouco
mais. Você é meu lar e amo que esteja cheia de fetiches.
— Você irá realizar minhas fantasias?
— Desde que não envolva outro homem ou outra mulher, eu irei. — Sorrio e
ele se encaixa novamente em mim, fazendo meu riso se transformar em
gemido. — Meus pais estão indo para Los Angeles em duas semanas. — Meu
corpo fica tenso de repente. — Foda-se, nós teremos tempo para conversar.
— Ele se move num ritmo desesperador e constante, até nós dois gozarmos
juntos, então me puxa para seus braços e ficamos deitados de lado, sem falar
absolutamente nada.
Nem sei quantos minutos passam, talvez quase uma hora. Joseph está quase
dormindo e então me lembro dos presentes. Tento sair da cama e ele me
prende. Além dos presentes, preciso de um banho, porque esse homem goza
como um cavalo e estou toda melada.
— Tudão, eu preciso de um banho e preciso arrumar os presentes de Mathew.
— Eu o vi dormindo, passei no quarto e quase fui pego por Enzo — explica
sorridente. — Obrigado por ter cuidado do... nosso filho.
— Como foi tudo em Los Angeles?
— Não quero falar sobre isso agora, é mórbido o bastante. Vamos tomar um
banho e organizar os presentes, ok? — propõe e suspira. — Deus, eu estou
muito morto.
— Tome um banho, durma e eu cuidarei de tudo.
— Eu te amo, pra caralho.
No Réveillon todos vamos bem cedo para o Rio de Janeiro e nos hospedamos
em uma cobertura no Copacabana Palace. Faltando poucos minutos para a
virada, já nos posicionamos em um local estratégico para vermos a queima de
fogos. Daqui do alto, as pessoas tornam-se formiguinhas lá embaixo, há um
mar de gente e os gringos agregados à família estão um pouco deslumbrados.
Por falar em família... É tão bom ter meus pais, meus tios, meus primos,
meus avós e minha família neste momento. Não importa o que aconteça, eu
quero sempre passar as festas de final de ano com todos eles. Nada no mundo
é tão bom quanto a presença deles. Todos em harmonia, celebrando mais um
ano, exalando amor e saúde. Sorrio ao ver Mathew nos braços de Heitor.
Acho que meu irmão está realmente usando Mathew para treinar os seus
atributos paternais. Enquanto eles estão num momento genuíno, Tudão tem
sua boca em minha orelha e suas mãos quase tocando meus seios, por cima
do vestido. Esse homem está incontrolável desde que chegou de viagem e
isso não é uma reclamação.
— Você foi o melhor presente que ganhei esse ano, Maria Flower.
— Você e Mathew foram meus maiores, e nosso bebê também. — Ele sorri.
— Nosso bebê... você está grávida de um filho meu e é minha esposa. A
garotinha que fedia a leite materno. Qual feitiço você jogou em mim, Maria
Flor? Porque eu relutava pra caralho e agora você tem tudo de mim. — Sorrio
e a contagem regressiva começa. Viro-me de frente para ele, porque quero
vê-lo, ele é a minha própria queima de fogos.
— Ten... — digo.
— Nine...
— Eight...
— Seven...
— Six...
— Five...
— Four...
— Three...
— Two...
— One...
— Uow! — ele exclama e me viro para acompanhar a queima de fogos. É
incrivelmente lindo ver os fogos e as pessoas celebrando a chegada de um
novo ano. Vem aí mais 365 oportunidades e eu aproveitarei cada uma delas.
[1]
Expressão muito utilizada por mineiros em casos de espanto. By: Jussara Leal
[2]
Não vai nos apresentar seu amigo??
[3]
Este é Arthur e ele não é meu amigo, ele é meu marido
[4]
Você não é louca de ter se casado, Melissa Fontana. Não se atreveria.!
[5]
Estamos em lua de mel. Infelizmente, fomos interrompidos pelos acontecimentos.
[6]
Você é a decepção dessa família. Odeio seu pai por ter deixado parte da herança para você.
[7]
Pegue a minha parte da herança e enfie no rabo.
[8]
Ou dê para Belen fazer novas cirurgias plásticas. Levando em conta que ela gosta de se exibir no
xvideos...
[9]
IIgnázio é o homem ideal para você. Não percebe isto?
[10]
É um traidor, interesseiro.
[11]
Onde está levando minha filha?
[12]
Para longe de você. Jamais permitirei que a minha mulher passe por situações desagradáveis como
esta.
[13]
Cena narrada no livro Victória Brandão
[14]
Protagonista do livro Túlio Salvatore
[15]
Protagonista do livro Rebelde Sem Causa.
Table of Contents
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO FINAL
O QUE LER AGORA?