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Fica claro, entdo, 0 porqué da busca da origem das Linguas. Essa busea, no Centanto, no tem por objetivo a origem das linguas de fato, nde importa saber como ‘© homem comegou a falar ou qual foi a primeira lingua -, a questio da origem das linguas deve ser entendida como um provesso “hist6rico” de esclarecimento das leis que Oorganizam a linguagem humana, como um processo de esclarecimento das razies da diversidade lingUfstiea constatada, como um processo de explicagio da existéncia de linguas, © de sociedades, em diferentes estdgios de desenvolvimento, etc., tudo com 0 fim de compreender a linguagem humana, AAs discussoes sobre a origem das linguas no séeulo XVII preparam os cestudos lingGisticos do século XIX. A deseoberta do sénscrito ¢ o conccito de ‘parentesco lingitistico racionalizam e dio “ciéntificidade” & busca da origem, Nesse sentido, alingdisticahistérico-comparativa nao é muito mais do que um refinamento da. lingiistica setecentista. Pode-se até dizer que 0 método comparativo foi construido ¢om ‘esperanga de que, com certo grau de cientilicidade € com s6lido apoio nos fatos, se pudesse reconstruir "um estado de lingua ‘primitivo’ e alcangar assim as origens da Tinguagem humana’®. E digno de nota o fato de que progressivamente a lingUfstica Ijstorico-comparativa vai substituindo a nogao de evolugao, como métuco de explicagao do presente pelo passado, pela nocdo de histOria, destacando, assim, 0 papel da documentasdo ¢ restringindo as conjecturas, Passemos agora as respostas que Rousseau e Herder oferecery & questo da origem das Tinguas. Ill. A ORIGEM DAS LINGUAS SEGUNDO ROUSSEAU. Encontramos a resposta de Rousseau desenvolvida em dois textos: Discurso sobre a origem ¢ os fundamentos da desigualdade entre os homens (1754) e Ensaio ‘Sobre a origem das linguas, publicado postumamente em 1782. ‘A tese fundamental de Rousseab € que a lingua surge com a socializaclo do hhomem: a lingua nio é natural, mas supve a sociedade. Segundo Rousseau, as necessidades fisicas separam os homens, enquanto as necessidades morais, as paixdes, os aproximam. S40 estas, ento, que dio origem & vida social e, em conseqiiéncia, & linguagem "Nao é a fome ou a sede, mas 0 amor, 0 dio, a piedade, a ccélera, que thes arrancaram as primeiras wzes Os frutos nao fogem de nossas maos, € possivel nutrir-se com eles sem falar; ‘acossa-se em siléncio a presa que se quer comer; mas, para ‘emocionar um jovem coracao, para repelir um agressor injusto, a * Ver Lemy 197148, 95 rarureza impde sinais, gritos e queixumes, Eis as mais antigas ppalavras inventadas, eis porque as primeiras linguas foram cantadas € apaixonadas antes de serem simples e metddicas* {Rousseau 1782: 170) |A primeira linguagem, entio, enquanto fruto das paixdes, foi poesia, "A principio s6 se falou peta poesia, s6 muito tempo depois € que se tratou de reciocinar” ddiz Rousseau (1782: 170). © processo de desenvolvimento das finguas, desde a origem podtica até o estéigio racional do presente, acompanhou o processo de desenvolvimento da sociedade: quanto mais complex a estrutura social, mais racional a lingua. “Na medida em que as necessidades crescem, os negécios se complicam, as luzes se expandem, a linguagem muda de cardter: Torma-se mais justa e menos apaixonada, substitui os sentimentos ‘pelas idéias, ndo fala mais ao coractio, sendo a raxdo" (Rousseau 1782: 173) Um bom critério para estabelecer 0 estigio de desenvolvimento de um povo 6 s identificagao do tipo de eserita que esse povo utiliza, Rousseau reconhece trés tipos de escrita: a pintura dos objetos (escrita dos povos selvagens); a representacao ‘convencional das palavras das proposighes (escrita dos povos barbaros); € a escrita ‘alfabética (prOpria dos povos policiados). A simples presenga da escrita, por mais rudimentar que seja, indica progresso do povo que a utiliza na diregio do racional, uma vez.que a escrita implica numa reificagdo da lingua e, portanto, numa transformasao da ixfo em idéia, Deste modo, seré considerada mais antiga a lingua, € mais primitivo (© povo, quanto mais grosseira for a escrita Mas, Rousseau precisa sofisticar sua hipétese hist6rica para dar conta dos fatos que 0 levaram investigagao da origem das Singuas: a diversidade tingdistia. Rousseau é adepto da teoria poligenética das linguas, teoria que admite a origem independente, em mais de um lugar, das finguas. Nesse sentido, Rousseau distingue dois grupos de linguas, cada qual com seu processo peculiar de surgimento: as Vinguas meridionais ¢ as Knguas setentrionais 'No sul, a estabilidade climética € a consequente estabilidade nas condictes de sobrevivéneia facilitam 0 isolamento do homem. O encontro dos homens dispersos vai se dar em "pontes de reuniao” como, por exemplo, a5 fontes de égua. Nas palavras de Rovsseau “As mocas vinham procurar dgua para a casa, 0s macos para dar de beber aos rebanhos. (..) Acostumaram-se gradativamente uns ‘aos outros em esforcando-se para fazer entender-se, aprenderam ‘a explicar-se. Ai deram as primeiras fesias - os pés saliavam de Alegria, 0 gesto ardoroso néo bastava e a vo: 0 acompanhava com ‘acentuagdes apoiranadas." (1782: 189) Surgem, assim, Higadas ao praer, at primeira socedades as primitas Hinguas, nas reyes quents do sul No nore, nas regides (ria, 0 surgimento da linguagem obedece a outres rarbes. As necessdades de sobrevivencia dterminadas pelo lia iglementeforgam o homem a euni-se, ma essa renifo, a contri do que acorre ns Tepes sents, 80 ligada ao prazer ras Tata ela vida, “Ene eles a primeira palara no fo amal-me, ms ajudal-me (1782: 191, Das diferengasnaorigem surgem a difeengas propriamente linguistics: as Uinguas seierrinais, fithas da necesidade, a0 pera, de sons estrdentes ¢ artculagBes fortes, “surdas, rues, arcilaas,gritantes, mondtonas". Por out lado, as lnguas meridionas,flhas do prazr, so vives, sonors, melodiosas, acentuadas, elogientes. As lingus do norte so mas aconas, mis adequadas & pros, enquano 2 linguas do sl sto passionais, adequadas a poesia, As linguas modemas, com suas dierenges, sto, segundo Rousseas, 0 resultado de um longo proceso de fuss ede misturs dessa finguas primitives essa, em poueaspalavras, a resposta que Rousseau dé questo da orgem das linguas. Passemos agora 4 resposta de Herder. IV. A ORIGEM DA LINGUAGEM SEGUNDO HERDER. Encontrames a resposta de Herder no seu Ensaio sobre a Origem da Linguagem. publicaco em 1772 e escrito para concorter a0 prémio oferecido pela Academia de Ciéncias de Berlim, ei 1769, para o melhor ensaio sobre 0 tema: “Supondo-se 0 homem abandonado as suas faculdades naturais, poderia ele cer desenvolvido a linguagem? E por que meios teria realizado tal empreendimento?". A solugtio dada por Herder a questéo da origem da linguagem garanciu-the 0 prémio da ‘Academia, Herder comega mostrande que os homens os animais compartlham um tipo de linguagem a que ele chama linguagem da impressio. Essa linguagem expressa 0 sentir © manifesta-se independentemente de qualquer intenglo comunicativa: ela é cconstituida por suspiros, gritos, sonoridades que exprimem "as dolorosas impresses do compo € as fortes paixdes da alma” (1772: 25). Contudo , tal linguagem da impresséo nao € a verdadeira raiz da linguagem humana, que ¢ filha da ra280 ¢ da sociedade. [Numa critica a Condillac e 2 Rousseau*, Herder afirma: * Herder no pois conhecer Esai de Rousseau, ns critica wun psig a patie do Discurso abe a Desigualade, que Heer eomece ee, 7 "Nao posso esconder meu espanto peranie 0 faro de haver {filésofos, ot seja, pessoas que procuram encontrar conceitos distincos, que tenham podido chegar d idéia de explicar a origem da linguagem humana a partir deste grito da impressao. Ou no serd ébvio que a linguagem humana & qualquer coisa de tovalmene diferente" (172: 38) Para Herder, Condillac e Rousseau nio conseguiram perceber a diferenca centre a Hinguagem animal ¢ a linguagem humana porque nio conseguiram perceber a diferenga entre 0 animal e 0 homem: “o primeiro transfortou os animais em homens 0 segundo os homens cm animais” (1772: 42). E preciso, entio, estabelecer claramente essa diferenca. ‘Todo animal, segundo Herder, tem um circulo de atividades ao qual pertence desde 0 nascimento e no qual permanece por toda a vida até morrer. Quanto menos © ciroulo, mais fortes 0s instintos, mais agudos os sentidos e mais especificos os produtos da atividade do animal. © homem., por outro lado, ndo tem um circulo de atividales ‘como 0 animal. *0 homer nao tem uma tarefa nica face d qual sua apdo tenho ‘que permanecer inaperfeicodvel: mas dispde de espago lire part se ocupar de muitas coisas e, por isso, para se aperfeigoar “Sempre. Nele, 0s pensamentos nao sto obra imediata da naturera ‘mas, exatamente por isso, podem ser obra dele mesmo” (1772: 49) fa razho a forga do homem. A diferenga entre 0 homem e 0 animal nio pode ser encarada como diferenga de grau “antes reside num direcionamento € desdobramento totalmente diferentes de todas as forgas” (1772: 49). © homem no € ‘um animal instintivo, € uma criatura dotada de reflexdo. E precisamente porque & hhomem e nfo animal, tem que possuir a reflexio logo no primeiro momento de sia vida: ‘a reflexo tem que mostrar-se logo no primeiro pensamento da crianca, tal como no inseto se ve desde o prinefpio que € inseto" ¢p.52).. 7 quediferenciao homem dy animal€» Jisposicio global das ores do hone, ettenidas cme ago qwatativamente din das Tongs dos ani, e sempre enueas em sa lata, Nes plas de Henn: fo anus global de todas as freas hranas economia da matureza sensivee cgniiva, Cognitive weltiva do homnem, Ov mais anda: € a simples fry postiva do pensameno qe. iipads uma cnpanizagae define do compo, recebe no homiem o nome de azo, do meso (Ngo us nos anonna Se toma habla tina, equ mo meré berfade nuato 0s am) © homem evidencia a reflexto quando consegue reconhecer propriedades diferenciadoras, quando consegue isolar conceitos. Suponhe-se que passe diante do homem uma ovetha: “a alma humana vé, toca, reflete, procura uma caracterisica... 4 ovetha solta um balido. Esti descoberta a caracterfstica, (...) Ah! Tw és aquela que balet", O homem conhece a ovetha porque a distingue e a nomeia, e no reconhecimento dda ovelha esta inventada a linguagem humana. “Nao hd aqui organizacdo da boca que possa ser responsdvel pela constituigdo da linguagem; porque, ainda que permanecesse mudo toda a vida, era homem, tinka consciéncia e a linguagem residia- the, portanto, na alma! Nao hd agui grito da impressao; porque ‘ndo foi uma mdquina dotada de respiragiéo que inventou a Unguagem, mas sim uma criatura consciente. Néo ha na alma nenhum principio imitativo; a eventual imitagdo da natureca & ‘apenas wm meio para umn fim que aqui tem que ser explicado, E ‘menos ainda haverd aqui entendimentos miiuos, convencoes arbitrérias e sociais; 0 selvagem, o solitdrio na floresta teria tido que inventar a linguagem para si mesmo, ainda que nunca a fivesse lewado a fala, Era pois entendimento da alma consiga Proprio, entendimento necessério, tal como no homem é necessario © fato de ser homem". (1772: 59) A linguagem é, para Herder, um 6rgao natural do entendimento, “um sentido dda alma humana", e, com a razao, constitui a caracteristica especifica do género hhumano. Para Herder, "a linguagem constitui o verdadeiro cardter distintivo exterior 4a nossa espécie, tal como a razdo constitui o interior" (p.68). A linguagem, assim, Surge com o préprio homem. As linguas, por outro lado, dependem de outros fatores. Herder vai expor sua explicagio para *o caminho mais conveniente & possibilidade ¢ & nevessidade da invengao da linguagem pelo homem* por meio de quatro lels naturals: 1V.1. PRIMEIRA LEI NATURAL ‘homem é um ser em atividade, que pensa livremente, e cujas forcas atuam em progressao; por isso @ uma criatura de Tinguagem!" (p.117) (© homem apresenta, como parte de sua natureza, a capacidade de reflexto, ‘por isso, tem condigoes de desenvolver-se, O homem nada aprende s6 para o momento resente; tudo 0 que aprende € remetido “ou para o que jé sabia ou para o que prevé ue possa vir a ligar com o que agora aprende™ (p.122), ¢ 6 nisto que consiste a sua teflexdo. A reflexio pode ser vista como uma cadeia de transformagées em que cada Pensamento surge dos anteriores © preparam os seguintes; uma cadeia semupre em 99 desenvolvimento, sempre em progresso; uma cadeia sempre em desenvolvimento, sempre em progresso; uma cadeia que se prolonga até a morte ¢ que nos impede de considerarmos o homen, em momento algam, um ser completo. Essa “abertura", 3s Tiberdade humana, essa inexisténcia de Timites & © que dstingue o homem do animal Fssa capacidade de refleo fem que ser entendida de forma globalizante, em Herder. Como 2 reflexdo incorpora, deforma indissociével raziv, consciéncia, Tinguagem etc, justamente porgue reflete, o homem ndo animal: é uma eritura de linguagem, 1V.2. SEGUNDA 1 NATURAL: *O homem & por vocagdo wma criauura gregdria, social. O desenvolvimento progressiva de uma lingua é-the, pois, natural, ‘essencial, necessério.” (p.134) Segundo Herder, o homem vem ao mundo fraco e desprotegido como nenbumm outro animal para que *posss gozar de uma educacto" e para que, em viride dessa evlucagio, 0 género humano "pos torna-se um todo intimamente ligado" (p.136). Em futras palavas, o individuo é fraco para que o géneto humano seja Forte, ¢ essa forca surge da edueacto. ‘A educagdo do individuo sed, fundamentalmente, no seio da familia € com as idélas ea linguagem dos pais. A reflex2o do individvo humano toma como ponto de panida os pensamentos dos pai. Isso eria uma espécie de “maneira de pensar. ¢ de falar, da familia’- um “génio” ou "espirito™ da familia, Para Herder, "a formavio progressiva da instrugdo humana por intermédio do espirito da familia... ¢ também formacao progressive da linguagem* (p.137), ou seja, a Tinguagem, no processo ceducativo, progride. A linguagem é natural no homem em cada home =e, 20 mesmo tempo € adquirida, Como diz Herd "Os pais nunca ensinam a lingua aos filhos sem que estes a inventem sempre por si proprios, Aqueles limitam-se a chamar a atencdo destes para diferencas das coisas por meio de certos sinais verbais e, deste modo, ndo se substimem ao uso da razao pela cerianca, antes lhe faciliiam esse uso € Uo entregam com a inguagem’, (p.62.) TERCEIRA LEE NATURAL: “Tal como o género humano na sua globalidade nao podta continuar a ser uma s6 horda, também nao podia permanecer com uma sé lingua, Assiste-se, assim, & consituicao de diferentes lingwas nacionais,” (p.146) 100 © homem, #0 contririo do animal, no fica restrito a um tertit6rio, mas & hrabitante do planeta. E sua linguagem também é linguagem do planeta e "hi de ser uma ‘nova lingua em cala novo mundo, lingua nacional em cada nacdo" (p.150). yguagem € um Proteu sobre a superficie curva do planeta’ (p.150). ‘As raz0es para esta diversidade encontram-se tanto na impossibilidade de uniformizagio da prondncia (a estrutura dos érgdos fonadores, os habitos individuais ctc., vio impedir que dois homens quaisquer falem uma s6 I{ngua) quanto nas Uiferenciagdes das familias e de seus processos educativos, Na medida em que a lingua passa a ser "o sinal verbal do grupo, o lago da familia, o instrumento da instrugio, 0 canto herdico dos feitos dos antepassados, @ sua propria voz vinda dos tmulos” (p.154), ela torna-se propriedade da familia e distintive da familia no conjunto dos homens. Ela jamais serd compartithada com quem, de alguma forma, for considerado ‘um inimigo da familia, A oposicio, entao, entre as familias, ou grupos de familias, eria uma espécie de "consciéacia natural" que desemboca nas Hinguas nacionais, que mais {do que apenas modos distintos de falar, so também modos distintos de ver 0 mundo, de refletr. Nas palavras de Herder: “0 fundamento da diversidade, entre pequenos povos vizinhos, quanto a tingua, quanto ao modo de pensar e a forma de vida, reside no dio entre as familias e entre as nacaes" (p.152) 1V.4. QUARTA LET NATURAL: “Tal como o género humano, segundo toda a probabitidade, se foi constituindo progressivamente como um todo, duma s6 origem, ‘para uma grande familia, 0 mesmo se passou com todas as linguas , portanto, com toda a cadeia da formacdo." (p.156) ‘Como pode-se ver, Herder € adepto da monogenia: a humanidade é uma s6 ‘porque tem um origem tnica e assim também a linguagem. “Se 0s homens fossem animais diferentes segundo a nagao a que pertencem, se cada um tivesse invemtado por sia sua lingua, separadamente, em total independéncta dos outros, emiao as linguas apresentariam uma heterogeneidade como a que salver ‘exista entre os habitantes da Terra e dos de Saturno, B contudo é evidente que em nds tudo parte dum sé fundamento. Dum so fundamento, e neo apenas no que diz respeito @ forma mas também no que respeita ao verdadeiro percurso do eéspirito ‘humano,. De fato, entre todos os povos da Terra a gramatica esté consiruida quase do mesmo modo." (p.161) ior Herder vai dizer que ndo se pode negar o parentesco fundamental das linguas ¢ relacionando-as a0 género humano novamente vai mostrar que 2 dispersio dos homens, com a eriagdo de imimeras nagSes, determinow a diversificagdo das lnguas. ROUSSEAU E HERDER Feita esta apresentagio, em linhas gerais, das duas hipoteses sobre a origen 4a linguagem, cabe-nos agora fazer um breve comentério comparativo sobre elas. ‘A primeira coisa a dizer € que ambas as propostas basciam-se em concepgoes distintas de homem, de sociedade e de lingua, concepgies que ainda em nossos dias fandamentam propostas de explicagdo do fendmeno lingtistico ara Rousseau, o homem natural ¢ fundamentalmente solitario: 9 homem nfo & naturalmente socidvel e sua eventual associagao é “obra dos acidentes da natureza*. A lingua, nfo obstante, ¢ fruto da vida social. Logo, para Rousseau, ppodemos imaginar um momento na evolucao do homem em que ele jf se distingue do ‘animal - é homem - mas ainda nfo possui linguagem. Rousseau vai, en(20, buscar & ‘rigem da linguagem naquele ponto em que as condigoes de vida social sto tais que « ‘homem, de um ser nio falante, tora-se um ser falante, Rousseau vé a lingua como ‘eonvengo determinada pelas necessidades da vida social e, assim, liga-se & corrente de pensamento lingoistico, que podemos denominar convencionalismo, que inclu, entre cuiros, Saussure, Searle Herder, pot outro lado, considera o homem naturahmente gregério considera impossivel o isolamento do homem primitivo, tal como 0 conhece Rousseau (e Hobbes). A finguagem, para Herder, nio supe a vida social, embora o homem seja tum ser social desde o inigio.A linguagem supde a razdo e a razio supde a linguagem; linguagem e razio, indissociiveis, caracterizam 0 género humano. Assim, 96 hé hhomem, oposto 20 animal, quando ha linguagem. Herder nfo pode mais buscar a crigem da linguagem do mesmo modo que Rousseau, Para Herder, a origem a ser buscada esté nas condigées necessérias e suficientes para a formacao da finguagem no individuo, condigdes que devem ser entendids como tipos constantes, presente tanto nos primeiros homens cono nos homens atuais. A histéria da linguagem, ento, nfo ¢ ‘uma continuidade de acontecimentos, de etapas sucessivas no tempo, que levam 0 hhomem de um estigio de linguagem primitiva a um estdgio de linguagen racional, mas ‘um percurso de complexifieagao crescente da linguagem em que cada estigio s cenriquece dos estdgios anteriores e prepara os estégios seguintes dando continuidade as formas do tipo origindrio, Embora em constante mudanga, a linguagem & sempre Tundamentalmente a mesma, sua forma € constante. Para Herder a linguayem nio € a questo & funtamentlnente metodolgiea.Néo & que a valu yocial set eleven pura & eseavalyimento J ingoagen0 que Herder quer a sompreensio da natrera a guager 9 Sev wpt0 ‘nema independememente do seu lado sca extern). 102 convengio, A linguagem ¢ uma forga necessiria, sempre presente no homem, natural no homem porque o elemento caraterzador do genero humano. ffi ver, assim, que Herder lignse & cortente de pensamento que pode scr chamada de maturulsta © que conta com seguidores, na aualidade, do port de Noam Chomsky. Nio € nosso objetivo, neste trabalho, agar os caminhos, descobrir us ages ou estabelecer relagoes fortes ene os nosos Jos autores efilgsofos/lingdisas confemporincos. O que eu gostaria de destacar € a atvalidade da quesito que separa Rousseau de Herder: a linguagem e suis relagdcs com o mando social e com o mundo mmemtal. Diseutese hoje a natureza da relagio entre linguagem © sociedade: & a soviedade que determina a linguagem, como quer Rousseat © como postula, por exemplo, Labov? Ou é a linguagem que determina 0 socal, como sfirma Herder « ‘como postulam Sapir € Whort? Qual a natueza dese objeto linguagem? E resultado de processos psic6gicos,eonlorme quer Chomsky (alia de Herder)? resultado do proeesso de socalizagio do. homen, como que Vygotsky (aliado de Rousseau)? Infelizmente iso two ainda se parece com a velha histéria do ovo e da galinha: nfo hh respostas deintivas. Talver tudo o que poseamos fazer, no sual estgio de nosso conheciment, sea especular, como Rousseau e Herder fireram IRTIOGRAFIA AARSLEED, UM. The radon Conia: em of he lo ani ne Een ‘Cenury and the Detat nthe Berlin Academy before Henle. In IYMES, D. cory) Studies story af fgudstics Blinn: Inia Univeraty Pes, pip. 3-156 CCASSIRER, FE. 1932. 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