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CQuinze Anos de Planos de Estabilaagto Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV Fundagao Gettlio Vargas Escola de Administracao de Empresas de So Paulo Programa de Iniciacao Cientifica CNPq Quinze Anos de Planos de Estabilizagao Econémica Do Plano Cruzado ao Plano Real Aluno : Livio Hagime Kuze Professor Orientador: Prof. Franeiseq Humberto Vignoli nt SAO PAULO Agosto de 2001 ‘Quinze Anos de Planos de Estabtizagao Econdmica: do Piano Cruzado ao Plano Real EAESP -FoV Sumai A economia brasileira no inicio da década de 80 © Plano Cruzado Os Principais Resultados do Plano Cruzado Q Plano Bresser Os Principais Resultados do Plano Bresser O Plano Verao Q Plano Color | Os Principais Resultados do Plano Collor I Q Plano Collor I Os Principais Resultados do Plano Collor I O Plano Real Os Principais Resultados do Plano Real Os Planos de Estabilizacao e o Contexto Macroeconémico Sintese. Referéncia Bibliografica 03 40 14 22 26 30 35 38 43 46 47 55 59 65 66 CQuinze Anos de Planos de Establizagdo Econdmica: do Plane Cruzado a0 Plano Real EAESP -FGV I-A economia brasileira no inicio da década de 80 No inicio da década de 70, 0 regime autoritario havia reduzido de forma gradual a inflagao de uma taxa anual de aproximadamente 100% para cerca de 26% em 1973. Isto foi alcangado através de medidas fiscais padronizadas como 0 aumento dos tributos e redugdo nos gastos, politica de redugao dos salarios reais e pregos controlados. O persistente déficit piblico tomava-se decrescente com um minimo de criagao de moeda. As contas da poupanga, que passaram a ser indexadas, ajudaram a promover ainda mais a poupanga privada. Depois de julho de 1968, um cambio regulado por diversas minidesvalorizagGes estimulou as exportagées possibilitou o periodo do "milagre" de 1968 a 1973, no qual a economia cresceu a taxas anuais superiores a 10%. Essa tendéncia de estabilizagao da inflagao a niveis razodveis foi revertida em 1973. A inflagao cresceu cerca de 34% em 1974 e 1975, e 47% em 1976 & 1977. Depois de baixar para menos de 40% em 1978, a taxa de inflagdo aumentou para 55% e 90% em 1979 e 1980, respectivamente. De cerca de 100% em 1981 € 1982, ela disparou para mais de 220% em 1983 e 1984, atingindo uma taxa anual de quase 300% em fevereiro de 1986. Até 1980 a taxa de crescimento real do Brasil era estavel, embora nao tao elevada quanto os anos do milagre econdmico. De 1981 a 1983, a medida que a inflacdo apresentou niveis elevados a economia estagnou; e em 1984 0 crescimento econémico havia se recuperado um pouco' Assim, do final da década de 70 até a instalagao da Nova Republica, em marco de 1985, a inflacdo brasileira apresentou dois grandes movimentos”. O primeiro grande salto da inflagdo ocorreu em fins de 1979. Quando o segundo choque do petréleo, a politica interna de fixagao de “pregos realistas” e 0 simultaneo aumento da freqUéncia dos reajustes salariais de anual para semestral dobraram a taxa de inflagao que passou de 50% para 100% ao ano. O segundo "BAER (1996135) ? MODIANO(1990:147) (Quinze Anos de Pianos de Estabilzagdo Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP- FOV grande salto da taxa de inflagdo aconteceu em 1983, impulsionado por uma maxidesvalorizagao de 30% no cruzeiro em fevereiro daquele ano. Foi entéo alcangado o patamar de 200% ao ano Alguns economistas argumentaram que os choques conduziram a uma inflagao verdadeira e nao a aumentos Unicos no nivel de pregos devido a indexacao formal e informal na economia. Por varias raz6es socioeconémicas, os agentes econémicos brasileiros provaram, cada vez mais, serem capazes de repassar 0 aumento de precos que os afetavam. O resultado foi um processo inflacionario pela manutengao da renda cada vez mais intensos *...entre empresas, setores, empresas e sindicatos, entre classes, entre os setores puiblico € privado... e [isso se tornou] ... um mecanismo de transferéncia de renda aos setores econémica e politicamente mais fortes”. O processo acima descrito foi chamado de “inflagao inercial’, pretendendo transmitir a idéia de que a propria inflagao criou a inflagéo num processo auto perpetuante, podendo predominar em anos de elevado crescimento ou recessao. Conforme Francisco Lopes: * (..) na auséncia de choques inflacionarios a inflagdo corrente & determinada pela inflago passada, independentemente do estado das expectativas. (..) A idéia basica € que num ambiente cronicamente inflaciondrio, os agentes econdmicos desenvolvem um comportamento fortemente defensivo na formagao de pregos, o qual em condig6es normais consiste na tentativa de recompor 0 pico anterior de renda real no momento de cada ajuste periddico de prego. Quando todos os agentes adotam essa estratégia de recomposigao periédica dos picos, a taxa de inflaggo existente no sistema tende a se perpetuar: a tendéncia inflacionéria torna- se igual a inftagdo passada."* Além disso, € preciso considerar que a percepgao da populagao sobre a natureza do proceso inflaciondrio era influenciada pelo diagnéstico de alguns economistas. Afirmagées que diziam que a causa da inflagao era o déficit publico, 8 BRESSER PEREIRA & NAKANO(1984:48) Quinze Anos de Planos de Estabillzacdo Econémica: do Plano Cruzado ao Plane Real EAESP - FOV nao tinham consisténcia pois, apesar do controle rigoroso das contas publicas levado a efeito pelo governo no ano de 1983, a inflagdo nao cedeu. Outro diagnéstico que parece ser incorreto foi apresentado pelo Professor Celso Furtado, ao dizer que a raiz do problema estava na baixa produtividade do sistema econémico, a qual por seu lado, refletia a orescente incoerénoia do processo de investimento. Se existe incoeréncia no processo de investimento, cabia esperar que o fluxo de renda crescesse mais do que a oferta de bens finais de consumo, gerando uma pressao inflacionaria E inegavel que a inflacao poderia ser exacerbada por uma demanda excessiva por bens finais de consumo, mas isto € obviamente incompativel com 0 capacidade ociosa na produgao destes bens que existia naquela época no Brasil © modelo defendido por Lopes e outros autores como Ignacio Rangel, Mario Henrique Simonsen, Luis Carlos Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano parece nao caber nem no modelo monetarista, nem no modelo keynesiano. Qual seria entao o diagnéstico correto para a inflagdo brasileira? Em qualquer economia cronicamente inflacionada, a principal causa da inflagao é a propria inflagdo. Num regime de alta inflagao, os agentes econémicos desenvolvem mecanismos para tentar defender suas rendas reais; assim, 0 mecanismo encontrado pelos agentes econdmicos brasileiros foi a indexagao. Em uma economia fortemente indexada, os pregos sobem em respostas a aumento de custos, e 0s custos sobem em resposta ao aumento de pregos, ou seja, a inflagao tende a se auto-sustentar. Assim, se a taxa de inflagdo hoje fosse de 200% ao ano, o natural é que a taxa de inflagdo no futuro fosse também de 200%. Qualquer taxa de inflacao, por alta quer seja, tenderia a transformar-se num equilibrio inflacionario. * LOPES (1886a:110) (Quinze Anos de Planos de Estabiizagdo Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP - FGV A indexagao decorre de uma regra de comportamento extremamente rigida na presenga de alta taxas de inflacdo: os agentes econdmicos visam recompor 0 pico prévio da renda real. Segundo Lara-Resende a inflagao tinha cunho inercial: " que importa, contudo, aceitar 0 fato de que uma parte substancial da inflagao 6 devida 20 componente inércia. Para dizé-lo de outra forma: se fosse possivel suprir ‘a meméria inflacionéria, As atuais condigées objetivas da economia manteriam os pregos muito proximos da estabilidade”> Desde o final dos anos 70, Lopes havia escrito sobre a relagao existente entre os saldrios € a inflagao. Ele mostrou como a inflagao poderia se perpetuar caso a mao-de-obra conseguisse recuperar ou superar o prévio rendimento maximo real em cada reajuste de salario. A medida que os trabalhadores Tecuperam 0 pico de seu poder de compra no inicio de cada periodo de negociago, os pregos precisam subir para restaurar a estrutura de patticipacao relativa do period precedente, derrubando 0 poder aquisitivo do trabalhador durante o transcorrer de cada periodo. Quanto maior o pico de renda anterior do trabalhador, maior sera o ajuste salarial que ele iré buscar no inicio de cada periodo e provavelmente maior sera a pressdo salai Os agentes econémicos podem agir de modo a defender-se garantindo ajustes de pregos mais freqiientes. Contudo, quanto mais freqtientes forem os intervalos entre os ajustes, mais rapidamente o nivel de pregos precisara ser aumentado a fim de nivelar os pregos ao novo salario real Caso os agentes econdmicos agissem para restaurar e manter os prévios picos de renda reais, a inflagao existente podera ser considerada como “(...) 0 pico de renda real desejado de cada um deles e da estrutura dos pregos médios relatives. Como resultado, se todos os agentes adotarem normas estaveis de ajustes periédicos para manter inalterados os picos de renda e os precos relativos no mudarem, a taxa de inflagdo permanecera constante.” ° ® RESENDE (1986:45) ° LOPES (1984:113) Quinze Anos de Planos de Estabiizagde Econdmica: do Plano Cruzado a0 Plano Real EAESP -FOV Desse modo, Lopes conclui que todos os agentes econémicos devem aceitar redugdes em suas ambigdes de renda real a fim de ver a inflagao declinar verdadeira e permanentemente. Aliado com um novo comportamento dos agentes econémicos deveria haver um congelamento total dos pregos e saldrios, acompanhado de politicas fiscais e monetarias passivas; ou seja, seria necessdrio um “choque heterodoxo’. Porém, antes desse congelamento, Lopes defendia que os salarios e os pregos deveriam ser fixados de acordo com um valor real ao nivel de valores que poderiam ser assumidos como de “equilibrio’. O congelamento seria temporario € seguido com uma descompressao, com afrouxamento gradual dos pregos. No final do plano, seriam permitidos aumentos nos pregos a fim de corrigir eventuais distorgdes surgidas durante o congelamento. Por meio desse “choque heterodoxo" © processo de geragao da inflagdo seria interrompido, permitindo um novo “recomego” da economia’ A recessao que ocorreu de 1981 a 1984 que teve como origem as politicas aprovadas para confrontar a crise da divida externa, néo exerceu nenhum impacto sobre a taxa de inflagao, embora tenha revertido de forma extraordinaria a posi¢ao da balanga de pagamentos do pais. Esta politica produziu elevados superdvits comerciais, resultantes da queda das importag6es. As contribuigdes do crescimento das exportagSes aos superavits comerciais comegaram somente em 1984, ano em que o pais retomou 0 orescimento econdmico. Ainflagao oficial, medida pelo IPCA, alcangou 13,4% em dezembro de 1985, © 16,2% em janeiro de 1986. O choque de oferta agricola, que aconteceu com os precos dos géneros alimenticios no atacado aumentando 19% em agosto de 1985, finalmente se manifestava para o consumidor, tendo esses géneros um aumento de aproximadamente 17% ao més durante dezembro de 1985 e janeiro ‘Quinze Anos de Planos de EstabilzacSo Econémica: do Plano Cruzado ao Plane Real EAESP -FOV de 1986. Em relagao ao atacado esses géneros alcangaram 26% somente em janeiro de 1986, Nao havia duvidas que com a indexagao da economia, a taxa de inflagao tenderia rapidamente para o patamar de 400 a 500% ao ano®. Nestas condig6es, 0 governo ndo seria capaz de manter os reajustes salariais na frequéncia semestral, o que poderia ocasionar uma outra pressao de custos, aumentando a tendéncia de hiperinflagao. Além disso, havia uma pressao sobre a politica cambial, uma vez que os saltos nas taxas mensais de inflagao nao mantinham o mesmo passo que as desvalorizagées diarias pré-fixadas da taxa de cambio. Um plano de recuperagao gradual dos pregos dos servigos puiblicos, como parte do esforgo de redugao do déficit piiblico, langado em dezembro de 1985 foi abandonado, quando os elevados reajustes nominais das tarifas em dezembro e janeiro acabaram ficando abaixo da inflagao. © fracasso do gradualismo em produzir a estabilidade das taxas mensais de inflagdo nao ameagavam apenas os ministros da area econémica, mas também a coaliza¢ao pdlitica que sustentava o govern’. Apesar dos disturbios internos, 0 produto industrial, impulsionado pelos bens de consumo duraveis, cresceu 9,2% durante os ultimos 12 meses a partir de fevereiro de 1985; a balanga comercial acumulava um superavit de US$ 12,8 bilhdes nos ultimos 12 meses; as reservas internacionais alcangavam em dezembro US$ 11,6 milhdes; 0 prego do petroleo que na época correspondia 45% das importagées brasileira caia no mercado internacional; ¢ 0 délar, que estava atrelado ao cruzeiro, estava se desvalorizando frente as moedas européias e ao iene. ® MODIANO (1990:68) ® MODIANO (1990:73) Quinze Anos de Planos de Establizacdo Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FoV Desse modo, em 28 de fevereiro de 1986 0 Presidente José Samey decretou um novo programa de estabilizagao: o Plano Cruzado. CGuinze Anos de Planos de Establizagdo Econdmica: do Plano Cruzado a0 Plano Real EAESP -Fav M-0 Plano Cruzado O programa brasileiro de estabilizagao de fevereiro de 1986, através do Decreto-lei 2.283/86, promoveu uma reforma econémica que caracterizou-se por ter adotado, reforma monetaria, com a adogao do cruzado. © Plano Cruzado introduziu a atualizagao dos saldrios, soldos, vencimentos, penses, proventos de aposentadoria e remuneragao, pelo seu valor médio real, com uma escala mével para reviséo dos salarios sempre que a inflagao acumulada atingisse a 20%. Essa atualizagdo seria acompanhada pela reposigao parcial do valor real dos salarios na data-base das diversas categorias profissionais, na proporgao de 60% da varia¢ao do IPC ocorrida no periodo de vigéncia do salério a ser corrigido. Além disso se propés 0 congelamento total dos pregos, pelo prazo de 12 meses incluindo os pregos administrados (derivados de petréleo, trigo e demais produtos e servigos comercializados pelo setor piiblico) a partir do dia 28 de fevereiro. Juntamente foi autorizada a atualizagao e posterior congelamento dos aluguéis, prestagdes do SFH e dos pregos de servigos de prestagao continuada e pactuada em contratos. ‘A corregao monetaria para depésitos de poupanga teve seu prazo minimo ampliado de 1 para 3 meses e de um para 12 meses para os demais ativos financeiros indexados, além do uso de indexadores baseados na variacao do IPC, sem exclusdo de sazonalidades ou fatores acidentais. Desse modo, a falta de sincronizagao e as diferentes periodicidades dos reajustes dos salarios (semestral) e pregos (de diario a semestral) necessitaram 0 desenvolvimento de regras especificas para conversao, de tal forma a evitar redistribuigdes da renda e da riqueza. Estas regras pretendiam produzir um “07 Quinze Anos de Planos de Estabilizacio Econémica: do Plano Cruzado a0 Plano R EAESP -FGV “choque neutro’, 0 qual iria restaurar, sob a vigéncia do cruzado, os mesmos padroes de renda e riqueza verificados mais recentemente com o cruzeiro™’ Os salarios foram convertidos em cruzados, tomando como base o poder de compra médio dos ultimos 6 meses. A formula de conversdo dos salarios considerava 0 poder de compra médio entre setembro de 1985 e fevereiro de 1986 em valores correntes. Um abono de 8% foi concedido a todos os salarios de acordo com a decisao de cunho politico de promover uma redistribuigao de renda em favor dos assalariados, 0 que deveria facilitar a aceitagao por parte dos trabalhadores da “conversao pela média” Favorecendo ainda mais as classes de renda mais baixa, 0 salario minimo foi fixado em Cz$ 804,00,que significava um abono de 16% em relagao ao poder de compra médio dos ultimos 6 meses. Por ocasiao dos dissidios anuais, os saldrios seriam automaticamente cortigidos com base em 60% da variagdo acumulada do custo de vida. Além dos reajustes anuais, os salarios seriam automaticamente corrigidos de acordo com uma escala mével, sempre que a taxa de inflagéo acumulasse 0 “gatilho” de 20%". Com excessao das tarifas industriais de energia elétrica, que obtiveram aumento de 20%,0s pregos foram congelados por tempo indeterminado nos niveis ao consumidor prevalecentes em 27 de fevereiro de 1986. Nao houve qualquer compensagao pela inflagéo passada (desde 0 iltimo reajustamento), nem tampouco pela perda futura (durante a vigéncia do congelamento). Os pregos publicos e administrados, congelados, encontravam-se defasados em relagao aos custos de produgdo, devido a sua freqdente utilizagao como parte da pt antiinflaciondria dos anos 80. *° BACHA (1986:34) TT Quinze Anos de Planes de EstablizagSo Econémica: do Plano Cruzado a0 Plano Real EAESP -FGV Relagdes média-pico foram anunciadas para conversdo dos aluguéis residenciais, com reajuste semestral e anual. Estes pretendiam reproduzir na nova moeda 0 valor real médio dos aluguéis comerciais, calculado em um intervalo igual ao periodo entre sucessivos reajustes. Para os contratos para pagamento futuro em cruzeiros com taxa de juros pos-fixadas, os percentuais contratados acima da corregao monetéria seriam as taxas de juros nominais em cruzados, apés a supressao da corregao monetaria No caso dos contratos com taxa de juros pré-fixadas , estabeleceu-se para os 12 meses subseqiientes ao Plano uma tabela de conversao diaria de valores de cruzeiros para cruzados. O Plano Cruzado nao estabeleceu regras ou metas para as politicas monetarias e fiscal para complementar 0 programa de estabilizagao. As politicas monetaria e fiscal tiveram como responsaveis os mesmos agentes formuladores da nova politica econdmica. O objetivo implicito da politica monetaria durante os primeiros meses do Plano era acomodar o incremento na demanda de moeda que resultaria de uma mudanga de carteira em favor da moeda estavel, a medida que este movimento era percebido como ndo inflacionario. A administragéo das taxas de juros foi uma tarefa ardua nos primeiros meses do Plano. Taxa de juros elevadas poderiam afetar negativamente os programas de investimento e aumentariam o peso da divida publica interna. Taxas de juros baixas poderiam estimular a especulagdo com estoques e com moedas estrangeiras, ameagando a estabilizagao. Com respeito a politica fiscal, 0 governo havia anunciado em dezembro de 1985 um ‘pacote fiscal” que tinha como objetivo eliminar as necessidades de financiamento do setor publico, no conceito operacional, o que exclui as corregdes monetaria e cambial da divida publica, projetadas para 1986. Entretanto, os * GIAMBIAGI (1987:49) Ta Quinze Anos de Planos de Estabileacao Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV ganhos projetados de receita, que dependiam da continuidade do processo inflacionario, tais como a taxagéo dos ganhos nominais de capital, nao se materializaram com a queda das taxas de inflagao. Além disso, um pacote fiscal de dezembro de 1985 no poderia levar em considerago a perda do “imposto inflacionario’, que resultaria da estabilizagao dos pregos apés fevereiro de 1986" 1? MODIANO (1990:93) 13> ‘Quinze Anos de Pianos de Estatlizardo Econémica: do Plano Gruzado a0 Plano Real EAESP-FGV Ill - Os Principais Resultados do Plano Cruzado © Plano Cruzado foi recebido pela populago com grande estusiasmo. O apelo presidencial & populagao para que fiscalizasse o congelamento de pregos foi entendido como dever civico. Assim, apesar de ter sido langado como decreto-lei, ou seja, sem discussao com a sociedade, e nem mesmo votacdo no Congresso, 0 Plano Cruzado parecia satisfazer os anseios da populagéo por uma maior participagao no destino do pais. Por estes motivos 0 congelamento de pregos se tornaria “a pega fundamental” do programa de establizagao. (MODIANO, 1990) Quanto mais durasse o congelamento, mais graves seriam as distorgdes existentes no mercado. A inflagao brasileira ainda nao atingira o nivel maximo na 6poca do congelamento,de modo que os agentes econémicos ainda ajustavam pregos (ou tinham ajustado) a intervalos discretos, se bem que relativamente curtos. Assim, em 28 de fevereiro, alguns setores cujos pregos haviam aumentado em um periodo préximo ao congelamento ficaram favorecidos se comparados as suas médias reais recentes, enquanto outros, que haviam postergado os seus reajustes, ficaram defasados. As taxas de servicos publicos sofreram com essa defasagem, permitindo a elevacdo do deficit das empresas estatais prestadoras de servigo publico, pressionando 0 governo a subsidiar seus dispéndios correntes de capital. Os subsidios de capital ndo poderiam ser postergados, pois néo poder-se-ia criar pontos de estrangulamento a medida que continuava o rapido crescmento econémico. Embora a idéia de que o congelamento de pregos teria de ser tempordrio era unanime entre os economistas do Plano Cruzado, nao havia se atingido o consenso sobre a sua duragao, visto que ndo se sabia quanto tempo levaria para se reverter as expectativas inflaciondrias; ou seja, fazer com que a inflagao deixasse de ser inercial: 14> ‘Quinze Anos de Planos de Estabilizaglo Econémica: do Plano Cruzado 20 Plano Real EAESP -FGV “A rigor, pare quebrar a inércia inflacionaria, © congelamento geral de trés a seis meses deveria ser suficiente(..) em qualquer hipdtese o periodo de congelamento nfo pade ser longo. Porque nos primeiros meses apés 0 choque seré teoricamente possivel diminuir os desequilbrios nos pregos relatives por via administrative; a longo prazo, entretanto, os riscos que a administragao de pregos, ao invés de seu controle pelo mercado, aumente ao invés de diminuir aqueles desequilibrios s80 muito grandes. Por isso serd necessério suspender 0 congelamento de forma gradual, € certamente antes que essa suspenséo deixe de ser uma deciséo do ‘governo para se tornar um fato inevitavel, uma imposi¢ao do proprio mercado. Foram surgindo diversas tentativas de contornar o congelamento. A demanda por bens comegou a ser maior que a sua oferta, portanto isso caracterizava uma pressdo dos fabricantes para aumentar os pregos. As listas de espera para carros novos chegavam a 6 meses ou mais, embora a demora pudesse ser consideravelmente reduzida pelo pagamento do agio adequado. Diversos produtos comegaram a desaparecer das prateleiras e filas de consumidores tornavam-se cada vez mais comuns. Os alimentos — predominantemente a came e 0 leite — tornaram-se escassos 4 medida que grupos de renda mais baixa aumentaram a demanda ao mesmo tempo em que os produtores reduziram a oferta © governo autorizou um aumento na produgao de produtos alimenticios. Com a eliminagao de certos impostos e o aumento de subsidios, 0 governo conseguiu aumentar a oferta sem literalmente aumentar os pregos ~ elevando, porém, dessa maneira, as pressées sobre a finangas do setor piblico. No transcorrer do ano, os problemas inevitéveis causados pelo congelamento de pregos se aprofundaram e os esforgos do governo e do povo para cumpri-lo tomnaram-se fracos e desanimados. © Plano Cruzado em si teve conseqiiéncias fiscais favoraveis ¢ eficazes"*. © congelamento de pregos eliminou a “defasagem de arrecada¢ao"(perda do valor das receitas devido a inflagao). Além disso, as taxas nominais de juros e a taxa 8 BRESSER PEREIRA & NAKANO (1986:55) BAER (1995:72) 76 CQuinze Anos de Plenos de Estabilizacao Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FOY cambial fixa reduziram, consideravelmente, as volumosas necessidades de empréstimos “nao operacionais’ do setor publico, resultantes do eficiente ajuste inflacionario da volumosa divida intema e externa do setor piblico. Porém, 0 governo continuou a manter amplos programas de subsidio que nao foram suficientemente reduzidos até junho de 1987. Além disso, os aumentos nos salarios do setor piiblico provocaram graves conseqiiéncias para o déficit orgamentario do governo. Deve-se enfatizar, também, a existéncia de uma defasagem de pregos de algumas empresas estatais, principalmente no setor de energia elétrica, por terem postergado os reajustes de pregos. © Governo foi tomando consciéncia da magnitude do desequilibrio fiscal. Esta situagdo somente iria se agravar durante a vigéncia do Plano devido principalmente ao aumento das despesas com a folha de salarios do setor pliblico, 0s subsidios, as inseng6es tarifarias, as transferéncias as empresas estatais, aos estados e aos municipios. O governo reconheceu entao que o déficit ptiblico em 1986 poderia alcancar 2,5% do PIB, em contraste com a taxa de 0,5 % estimada a partir do “pacote fiscal” de dezembro de 1985. Desse modo, o déficit total do setor publico persistiu apés 0 Plano Cruzado, © que era inadequado sob condigées de excesso de demanda, dado o rapido desenvolvimento da economia. Porém, nao era justo *atribuir o insucesso do Plano Cruzado ao déficit em questéo, cujo total, segundo indicam as evidéncias disponiveis, nao pode ter sido muito grande nos meses imediatamente subseqientes ao Plano (...) a parte ndo-operacional deve ter sido virtualmente zero nesses meses. Para o ano de 1986, como um todo, o déficit operacional (...) de 3,7% do PIB, dos quais 0,9% eram do governo central, 0,5% dos estados e dos municipios e 2,3 % das empresas estatais."° Um pacote fiscal foi elaborado na tentativa de sanear as contas publicas. Anunciado no final de julho de 1986, o pacote envolvia basicamente a criagao de BAER(1995.76) : 16 Quince Anos de Planos de EstablizacSo Econdmica: do Pano Cruzado ao Plano Real EAESP “FOV um sistema de empréstimos compulsérios: novos impostos indiretos na aquisigao de gasolina e automéveis que seriam restituidos apés trés anos, Além disso, introduziu impostos néo restituiveis sobre a compra de moedas estrangeiras para viagem e passagem aéreas internacionais. O *Cruzadinho”, como foi chamado o pacote fiscal, teve pouca eficacia Em telagdo a politica monetatia, 0 governo viu no Plano Cruzado a oportunidade de retirar de circulagdo importantes titulos indexados do governo que poderiam reduzir a carga futura do servigo da divida do setor piblico. Criaram, assim, um titulo do Banco central denominado LBC para substituir os titulos indexados. Isso foi devido a disposig4o do piiblico em reter 0 dinheiro, sendo uma conseqiiéncia das expectativas de uma inflagdo em declinio e que, portanto, sendo benéfico o crescimento dos meios de pagamento, a fim de evitar presses de altas indevidas sobre as taxas de juros internas. De acordo com 0 método de aumentar os meios de pagamento para atender a demanda de moeda supostamente mais elevada, eles cresceram vertiginosamente nos meses que se seguiram ao Plano Cruzado. Os limitados meios de pagamento M1(papel moeda em poder do piiblico mais os depésitos & vista no setor bancério) aumentaram 80% s6 no més de margo. publico transformou seus bens em dinheiro. O coeficiente entre os estreitos meios de pagamento M1 e o amplo agregado de liquidez M4 (M1 mais depésitos a prazo, depésitos em poupanga eo saldo de titulos publicos federais) aumentou cerca de 8% para aproximadamente 20% ao longo de 1986, quanto entao tornou a mergulhar na explosao inflacionaria do inicio de 1987 A politica expansionista manteve press6es de baixa nas taxas de juros. Entretanto, as taxas de juros relativamente baixas representaram um combustivel adicional para a demanda agregada. “TFs ‘Quinze Anos de Pianos de Estabiizagdo Econémica: do Piano Gruzado ao Plano Real EAESP -FGV Desse modo, as baixas taxas de juros contribuiram de diversas maneiras para superaquecer a economia e as autoridades fizeram varias tentativas para eleva-las. Entre junho e julho o Conselho Monetério Nacional acrescentou mais restrigdes as operagées de crédito ao consumidor na tentativa de criar uma estrutura de crédito segmentada, na qual 0 crédito ao consumidor fosse caro e 0 crédito destinado a produgao, barato™®. Come 0 publico brasileiro comegou a formar as expectativas inflacionarias baseado, em parte, nas taxas de juros, quando as autoridades monetarias tentaram aumentar as taxas de juros reais e nominais, 0 pliblico agiu como as taxas nominais tivessem subido e aumentaram as expectativas inflacionarias. A verdadeira crise do Plano Cruzado surgiu das contas externas’. Em meados de 1986 estava claro que a conta capital do balango de pagamentos havia softido uma extraordinaria reversdo. O investimento estrangeiro liquido que havia totalizado US$ 800 milhdes em 1985 que era considerado um desempenho desastroso, reduziu-se para US$ 15 milhdes no primeiro semestre de 1986. As remessas de luctos e as saidas de capital estavam aumentando, sinalizando a presenca do gio do mercado cambial ‘paralelo” em ascensdo. Apesar do governo ter liberado os valores referentes as suas reservas internacionais com um atraso de 6 meses, os agentes econémicos tinham a expectativa de perdas de teservas significativas e, consequentemente, previram uma maxidesvalorizacéo iminente. Até agosto, os elevados superdvits da balanga comercial nao refletiam o excesso de demanda que se observava no mercado interno. Esta situagdo se alterou em setembro, e mais drasticamente em outubro, com uma queda da receita das exportagdes de US$ 2,1 bilhdes para US$ 1,3 bilhdes. A especulacao acerca de uma maxidesvalorizagao do cruzado levou 0 agio no mercado paralelo de dolares para 90%. Ainda em outubro, 0 governo descongelou a taxa de cambio, promovendo uma modesta desvalorizacao do cruzado anunciando uma * MARQUES (1987:121) 18 ‘Quinze Anos de Planes de Estabiizagdo Econdmica: do Plano Cruzado a0 Plano Real EAESP “Fay politica de minidesvalorizagdes eventuais, baseado num indicador da relagdo cAmbio/salario. Como 0 indicador sugeria que a taxa de cambio estava sobrevalorizada ainda em 10% em relagéo ao fim de fevereiro de 1986, e expectativa de uma nova e maior desvalorizagao de cruzado estimulou a antecipagao das importagdes e a suspensdo das exportagdes para exportagao futura na busca de maiores lucros. Isso levou a uma deterioragao maior das contas externas nos meses seguintes. Desde 0 inicio de 1984, o superavit comercial vinha sendo de USS 1 bilhao ao més. Embora esse valor fosse positivo, visto que permitia o pais cobrir sua conta externa de juros sem novas exigéncias de “dinheiro novo”, era também uma fonte de pressao inflacionaria Com 0 choque inflacionario do denominado Cruzado II, 0 governo tornou a realizar minidesvalorizagdes cambiais didrias do Cruzado, atrelou os contratos financeiros aos rendimentos das recém-criadas Letras do Banco Central (LBCs), e permitiu que os bancos voltassem a emitir Cerfificados de Depésitos Bancarios, (CDBs) pés-fixados. Diante de uma ameaga de uma nova explosao inflacionaria, 0 governo iniciou discuss6es com representantes de empresdrios e trabalhadores visando a formulagao de um primeiro pacto social. Todavia a falta de tradigao na negociagdo de acordos distributivos de renda nao permitiu a rapida conciliago dos objetivos conflitantes™. A taxa de inflagdo atingiu 16,8% em janeiro, 0 que significava que o primeiro reajuste salarial de 20%, detonado pela inflagao acumulada entre margo e setembro de 1986 e pago no final de janeiro, reporia pouco mais do que a perda de poder de compra incorrida durante o préprio més. Contando com a retragao da demanda para amortecer a aceleragao inflacionaria, 0 governo cedeu 4s pressées pela liberalizacéo dos pregos, suspendendo abruptamente quase todos os controles. Em fevereiro 27 de fevereiro, foi concluida com o reajustamento do ” BAER (199541) *® BAER (1995:118) 3 Quinze Anos de Pianos de Estabiizagdo Econémica: do Piano Cruzado ao Plano Real EAESP -FOV valor nominal da OTN e a reintrodugao da corrego monetaria em bases mensais. Com a escala mével salatial, a economia estava se torando mais indexada do que antes do Plano Cruzado ‘As vendas cairam em conseqiléncia da queda do salario real, da elevagéo das taxas de juros e do aumento da incerteza. O desaquecimento da economia tinha, no entanto, também raizes do lado da oferta. Foram impostos novos limites para as importagées, devido a escassez de reservas cambiais, e os mercados domésticos encontravam-se desorganizados pelo descongelamento de pregos abrupto e sem indicagées, seja de uma nova politica de reajustes, seja de um novo congelamento. Apesar do reinicio das minidesvalorizagbes didrias do cruzado, os saldos da balanga comercial brasileira tornavam-se negativos entre outubro de 1986 & janeiro de 1987. Sem indicios de recuperago, 0 governo decidiu, no final de fevereiro de 1987, suspender por tempo indeterminado os pagamentos de juros da divida externa aos bancos privados. Os objetivos oficiais da moratéria eram: estancar a perda de reservas cambiais e iniciar uma nova fase nas renegociagdes da divida externa". O objetivo extra-oficial seria a reconquista do apoio popular , prejudicado pelo fracasso do Plano Cruzado, para uma nova tentativa de estabilizagdo. Depois do fracasso do Plano Cruzado, a taxa de inflagéo mensal disparou de 1,4% em outubro de 1986 para 27,7% em maio de 1987. Com esse aumento foi introduzida a indexagao oficial dos contratos financeiros, representando o reconhecimento, por patte do governo, do fracasso de sua politica. O ressurgimento da inflagdo estava relacionado ao realinhamento de pregos que haviam ficado defasados durante o congelamento, aos aumentos especulativos de precos na expectativa de outro congelamento e a outras pressdes de custo *® BATISTA JR.(1988:79) 207 {Quinze Anos de Planos de EstabiizagSo Econdmica: do Plano Cruzado a0 Plano Rel EAESP -FGV provocadas pelos aumentos salariais autométicos resultantes do mecanismo de gatilho instituido durante o Plano Cruzado”’. Além disso, contribuindo para as _ incerteza e instabilidades adicionais estava o déficit do setor piiblico, que aumentou de 3,7% do PIB em 1986 para 5,4% em 1987, € a deciaragao da moratéria da divida externa em fevereiro de 1987 que agravou as expectativas inflaciondrias e causou declinio dos investimentos. Em abril de 1987, com a taxa de inflagao ultrapassando o patamar de 20% ao més, 0 ministro Dilson Funaro deixou 0 cargo e Bresser Pereira iniciou a sua gestao. 2 BAER (1995:120) a Quinze Anos de Planos de Estab 0 Economica: do Plano Cruzado a0 Plano Real EAESP -FOV IV- PLANO BRESSER Esse Plano foi elaborado pelo ministro Luis Carlos Bresser Pereira, entrou em vigor no primeiro semestre de 1987, exatamente no dia 12 de junho. Como o plano anterior tentava interromper o processo inflacionario. O plano incorporava as caracteristicas consideradas positivas do Plano Cruzado, mas com algumas modificagdes_para evitar o ponto negativo daquele plano. O novo choque era fundamentalmente heterodoxo, mas incorporava alguns elementos ortodoxos”". As medidas do plano foram as seguintes: 1. congelamento geral de pregos e salarios por um prazo de 90 dias, com 0 propésito de baixar a inflagao para patamares bem inferiores aos existentes; 2. apés os noventa dias de congelamento, previa-se uma flexibilizagao de pregos com reajustes mensais de pregos e salarios, a fim de corrigir eventuais desequilibrios herdados da fase anterior; 3. apés os ajustes da fase de flexibilizagao o plano estabelecia a liberalizagao de pregos, que passaria a ser definido pela forga de mercado; 4. Estabelecimento de um novo indexador, a Unidade de Referéncia de Pregos (URP), que reajustaria os saldrios e determinaria o teto para os reajustes de pregos. O valor inicial da URP foi fixada a NCz$ 100,00 a partir de 15/06/1987, permanecendo inalterado até o periodo da época do congelamento. Nos trés meses seguintes, a URP seria reajustada a uma taxa fixa determinada pela variagdo da média mensal do IPC, ocorrida durante 0 periodo de congelamento. Nos trimestres subseqtientes, a taxa que reajustaria mensalmente a URP seria igual a taxa média mensal da variagao do IPC, verificado no trimestre imediatamente anterior, e assim sucessivamente; 3 SANDRONI (1999 ae ‘Quinze Anos de Planos de Estabilizagao Econdmica: do Pano Cruzado ao Piano Real EAESP-FGV 5. Adogo de uma politica fiscal e monetaria rigorosa com a intengao de reduzir 0 déficit publico e impedir um crescimento explosivo da demanda, como havia acontecido nos primeiros meses do Plano Cruzado. Os salarios foram congelados por um prazo maximo de 3 meses, nos niveis prevalecentes em 12 de junho de 1987. Incorporavam, assim, apenas 0 reajuste de 20% detonado pela taxa de inflagdo de 23,2% registrada em maio. Nao era prevista qualquer compensacao salarial pela taxa de inflagao de junho, impulsionada pelos aumentos decretados para os pregos ptiblicos e administrados antes do congelamento. O residuo inflacionario, decorrente do teto de 20% para os reajustamentos salariais acumulados até maio, seria pago em 6 parcelas mensais a partir de setembro. © Plano Bresser também instituia uma nova base de indexagao salarial para vigorar apés 0 congelamento, a Unidade de Referéncia de Pregos (URP). De acordo com o novo esquema, a cada trés meses seriam pré-fixados os percentuais de reajuste da URP para os proximos trés meses subseqilentes, com a base de inflagéo média (geométrica) dos trés meses precedentes”. Mantinha- se, assim, a freqdéncia mensal dos reajustes salariais, que resultavam dos disparos sucessivos do “gatilho” com taxas de inflagdo superiores a 20% ao més. Além disso, em relacdo aos pregos, foram também congelados pelo prazo maximo de trés meses nos niveis prevalecentes em 12 de junho de 1987. Entretanto, antes do congelamento foram anunciados diversos aumentos para os pregos piblicos e administrados: 45% para a eletricidade, 34% para 0 telefone, 32% para 0 aco, 36% para 0 pao, 27% para o leite e 13% para os combustiveis. A majoracao desses precos pretendia, além de recompor perdas passadas, criar uma margem de folga para enfrentar 0 periodo de congelamento. A falta de um tealinhamento de pregos pibblicos e administrados na véspera do congelamento fora apontado com uma das falhas do Plano Cruzado. % MODIANO (1988) CQuinze Anos de Planos de Establizagdo Econdmica: do Plane Cruzado ao Plano Rel EAESP -FGV Em relago as empresas, a retirada da maior parte da liquidez de suas reservas representou a perda de seu capital de giro. Para evitar a queda da atin idade das empresas, 0 governo permitiu, apenas para pagar saldrios, a converséo em cruzeiros de valores até 500 mil e abriu uma linha de crédito com juros limitados até 15 milhdes. Acima deste limite, as empresas tiveram que recorrer a um crédito bancario que era escasso e caro. Em um més, a inflagao baixou para uma taxa mensal de um digito entre 5% e 9%, dependendo do indice utilizado. A brusca diminuigdo na liquidez conduziu a uma pronunciada queda na atividade econémica , como revelou o crescimento negativo de 7,8% do PIB no segundo semestre de 1990 Com 0 desbloqueio de varios ativos congelados nos meses seguintes , a atividade econdmica reagiu , produzindo um crescimento de 7,3% do PIB no terceiro trimestre , enquanto que no ultimo trimestre houve outro de declinio de 3,4%. O declinio de 4,4% do PIB para o ano de 1990 como um todo, porém nao pode ser atribuido somente ao Plano Collor*'. No trimestre anterior ao plano, ja havia ocorrido uma queda de 2,4%. A fim de aumentar a competitividade da industria nacional o Governo Collor deu inicio a um processo de liberalizagao comercial. Houve uma redugao das tarifas de importagdo e se permitiu a flutuagdo do cambio. Entretanto, com a aceleracao da inflagao no segundo semestre de 1990, a taxa de cambio comecou a se valorizar, fazendo com que o governo interferisse no mercado cambial de modo a evitar uma séria sobrevalorizagao do cruzeiro. Essa sobrevalorizacao no segundo semestre ocorreu paralelamente & eliminagao do programa de incentivo as exportagses. Esses fatos resultaram num declinio de 8,7% nas exportagdes em 1990, enquanto que as importagées aumentaram 11,5%. O aumento do valor das importagdes também foi influenciado 1 BAER(1996:95) [38> (Quinze Anos de Planos de Estabiizag3o Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV pelo aumento dos precos do petréleo, tendo como causa principal a crise do lraque. A ameaga da hiperinflagao continuava pairando sobre a economia brasileira, apesar do confisco da poupanga e de varias outras medidas de ajustamento fiscal no segundo semestre de 1990. Assim, em janeiro de 1991, a taxa mensal de inflagao atingiu novamente os 20%. Além disso, as crescentes dificuldades enfrentadas na rolagem da divida publica, gradativamente diminuiram as alternativas de financiamento do Governo Federal. A racionalidade do Plano Collor | estava baseada na quebra da excessiva liquidez dos ativos financeiros néo monetarios da economia brasileira que a qualquer momento poderiam ser transformados em moeda. Além disso, a taxagao do IOF ou da subindexagao da corregdo monetéria, foi um efeito colateral que deu a0 governo algum félego fiscal, através da redugao de seus gastos e o aumento da suas receitas, respectivamente Durante o plano houve “vazamentos” ocorridos no bloqueio financeiro™. Em consequéncia, as politicas fiscal e monetaria, naturalmente dificeis de serem controladas em anos eleitorais, tornaram-se ainda mais instaveis, reduzindo os esforgos de estabilizacao. A permissao para 0 pagamento dos impostos estaduais e municipais com cruzados bloqueados, conjugada a transformagao automatica dessas receitas para o cruzeiro foi 0 mais importante canal para esse “vazamento". As conseqiiéncias foram, em primeiro lugar, propiciar formas nem sempre legais de “descongelar” os ativos do setor privado, mediante pagamento antecipado e de descontos negociaveis de tributos e multas, muitas vezes ficticios; segundo, estimular a irresponsabilidade fiscal de estados e municipios que se prepararam para as eleigdes de outubro de 1990 com uma situagao de caixa extremamente folgada ® REIS (1991:80) ae Ta0= Quince Anos de Planos de Estabiizagdo Econdmica: do Plano Cruzado ao Plane Real EAESP - Fav Apesar do aumento real das receitas ocorrido em 1990, varios estados e municipios foram incapazes de honrar seus compromissos financeiros que acabaram sendo cobertos pelo Governo Federal. Faléncias do setor financeiro sao parte essencial do ajustamento estrutural que deveriam acompanhar a contengao inflacionaria no Brasil. O Pano Collor |, entretanto, foi arbitrario no congelamento das posigdes de débito e crédito do setor financeiro. Devido a isso e também aos “vazamentos" via pagamento de tributos aos estados e municipios, nao se entende o porque da nao regulagdo da liberagdo de recursos pelos leilées de cruzados pelo Banco Central. Isso possibilitaria a maior flexibilidade e gradualismo no ajustamento e também um papel mais decisivo para os mecanismos de mercado. Assim, a base monetaria aumentou 558% de fevereiro a maio e, no periodo posterior, com aceleracao inflacionaria, torna-se restritiva aumentando apenas 76% de junho a dezembro. O descontrole monetario evidencia-se, sobretudo nas bruscas expansées ocorridas entre setembro e novembro™. Além disso, a flexibilizagéo do cambio em contexto caracterizado pela suspensdo dos pagamentos da __divida externa , pelo bloqueio de grande parte dos ativos financeiros domésticos e pela recessao interna, implicou a sobrevalorizagdo do cruzeiro, com resultados desastrosos para o balango de pagamentos e a politica monetaria. As oscilagdes da taxa de cambio subsidiaram a fuga de capitais e reduziram o papel estabilizador que a politica cambial poderia ter desempenhado na manutengo da liquidez e do nivel de atividade da economia. Se a politica monetaria poderia, a curto prazo, reduzir a inflagéo com 0 seqiiestros das poupangas pelo menos até setembro, a lentidao e incertezas em Telago ao futuro do plano acabaram desestabilizando as expectativas a longo ® BARBOSA (1991:56) a CQuinze Anos de Planos de Estabiizagio Eoondmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP-FGV prazo, fazendo com que houvesse 0 retorno da instabilidade acompanhada pela recessao. A taxa de inflagao em dezembro de 1990 foi de 19,39% com o recuo de 4,6% no PIB demonstrando a falta de eficacia do Plano Collor. A instabilidade que se instaurou a partir do final de 1990, e as pressdes de amplos setores da sociedade para a reorientagao da politica econémica agravaram-se ainda mais em janeiro devido a um salto da inflagao para 20,21% e a continuidade da recessao. Reconhecendo 0 fracasso de sua estratégia o governo elaborou um novo programa de estabilizagao financeira no final de janeiro de 1991 e inicio de fevereiro, que ficou conhecido como Plano Collor Il. Quem acabou pagando pelo custo social da estabilizagao foi toda a sociedade, principalmente 0s 90% mais pobres. Estes foram punidos pelo desemprego e pela baixa do salario real frutos da politica econémica implementada. Taz {Guinze Anos de Planes de Establizao Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Reel EAESP - FGV IX - 0 Plano Collor Il Depois do impacto inicial ao antincio do Plano Collor |, a inflagdo comegou a subir novamente em julho, em conseqiiéncia do relaxamento do controle dos pregos e salarios e do processo irregular de monetizagao, caracteristico do Plano. Como a inflagao voltou a se acelerar no inicio de 1991 e 0 governo encontrava dificuldades crescentes em colocar os seus papéis, a equipe econémica de Collor implementou um novo pacote econdmico no dia 1° de fevereiro de 1991, conhecido como Plano Collor II. Dessa vez, a reforma se concentrou em uma reforma financeira limitada que consistia na eliminagao do overnight aliada a um ataque a inflagao inercial, através de instrumentos que congelassem salarios, pregos e as diversas formas de indexacao™. As principais medidas do plano Color Il foram as seguintes: 1. um tarifago, com aumento substancial do prego do trigo, da energia elétrica,dos combustiveis, dos servigos de telecomunicagées, etc; 2. congelamento de pregos; 3. conversao dos salarios e aluguéis; 4. uso de uma taxa de conversdo para deflacionar os valores nominais em obrigagées contratuais; 5. desindexagao, com a proibigdio de clausula de corregéo monetéria em contratos com prazos inferiores a um ano, extingdo da BTN fiscal ¢ a criagdo de uma taxa de juros referencial; BAER (1996:112) Tae CQuinze Anos de Pianos de Establizagdo Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP-FGV 6. extingdo das aplicagdes no overnight para pessoas fisicas e para pessoas juridicas nao financeiras e a criagao do Fundo de Aplicag6es Financeiras. © Plano Collor Il foi um plano que se deteve a um congelamento, a promessa de um novo rigor fiscal com corte do custeio das estatais, a promessa de um nova politica salarial, & promessa de desindexacao e a promessa do fim do overnight. Mas, tudo néo passou de promessas. © overnight foi substituido por um Fundo de Aplicagdes Financeiras, que era regulado pelo governo. Nesse fundo havia 43% de papéis do Governo Federal ou Estaduais garantidos pelo Banco Central, tendo em vista assegurar uma demanda minima para esses papéis, 13% de obrigagdes de Titulos de Desenvolvimento Econémico e de Titulos de Desenvolvimento Social, criados para financiar novos programas de investimento na area industrial e social. Dos recursos, 42% deveriam ser investidos a critério das instituigdes financeiras em papéis privados ou estaduais, sem garantia do Banco Central e o restante deveria ser mantido como reserva sob forma de depésito a vista. Os rendimentos desse fundo foram baseados em uma “Taxa Referencial’(TR) que era calculada a partir das futuras taxas de papéis privados e federais. O objetivo do governo com a criagao do fundo, em substituigao ao antigo sistema de indexagao, foi eliminar a “meméria inflacionaria’, possibilitando que as expectativas da queda das taxas de inflacdo fossem incorporadas a formagao de pregos. No Plano Collor Il, a austeridade fiscal consistiu em tentativas de melhor administragao dos fluxos de caixa e conter as despesas das empresas estatais. As iniciativas nesse sentido foram, principalmente, o bloqueio de 100% do or¢amento dos Ministérios da Educagao, Bem -Estar Social, Trabalho e Satide e 95% dos fundos destinados a investimentos; ou seja, os investimentos realizado por esses aaa CQuinze Anos de Planes de Estabiizagdo Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV Ministérios dependia, previamente, da liberalizagao desses fundos e aprovagao do Ministério da Fazenda, além da disponibilidade de recursos. Aliada a essa restrigao, foi criada uma comissao subordinada ao Ministério da Fazenda para controlar as empresas estatais que deveriam reduzir em 10% os seus gastos reais até 0 final de 1991. Enfatizando 0 controle das despesas, 0 governo reduziu as transferéncias de fundos aos estados e municipios, sem deixar de cumprir 0 nivel minimo fixado pela constituigao de 1988 Quinze Anos de Planos de EstablizagSo Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV X- Os Principais Resultados do Plano Collor Il Como 0 Plano Collor | 0 Plano Collor Il causou um impacto de curto prazo na inflagdo, que era de 21% em fevereiro e passou a 6% em maio. A equipe formuladora do Plano foi substituida em maio de 1991. A principal razéo da mudanga no Ministério da Fazenda pode ser encontrada na redugdo do apoio politico & equipe de Zélia Cardoso. O intervencionismo exacerbado do Plano Collor | e seu fracasso, e a implementagao do Plano Collor I! com um novo congelamento de pregos aliado uma nova forma de indexagao colaboraram para © surgimento de um impacto negativo na midia e no setor privado. Além disso, os investimentos piblicos cairam, representando apenas 30% do que havia sido programado para o ano. Os gastos relacionados ao servigo da divida publica interna declinaram 80%, principalmente devido @ redugao do estoque da divida em 1,5% do PIB, devido ao processo de subindexacao do Plano Collor Il. © Plano Collor Il repetiu 0 erro de seus antecessores ao deixar de atacar as raizes da inflagao e apenas se preocupou em eliminar os mecanismos de propaga¢ao ( a corregao monetéria) do processo inflacionario. Este tipo de programa teve apenas resultados a curto prazo, pois as reformas institucionais necessarias para que isso ocorresse nao foram feitas. 746 Quinze Anos de Pianes de Estabiizago Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV XI- 0 Plano Real Com 0 “impeachment” do presidente Fernando Collor de Mello, 0 seu vice, Itamar Franco assume a presidéncia. No inicio do governo de Itamar Franco nao ocorreram grandes realizagées, dando a impresséo de que seria necessério esperar uma nova administracao para voltar a enfrentar os problemas que afligiam a economia brasileira ha anos. Entretanto, a entrada de Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, apoiado por uma equipe de economistas, em sua maioria da PUC-RJ como Gustavo Franco, André Lara Resende, Francisco Lopes, Edmar Bacha e Pérsio Arida, inverteu as expectativas. O Plano Real pode ser dividido em trés etapas distintas™*: 1. Ajuste fiscal com 0 estabelecimento do equilibrio das contas do governo, tendo como objetivo eliminar 0 déficit ptiblico primario 2. Criagéo da Unidade Real de Valor (URV), a fim de estabelecer um padrdo estavel de valor 3. Criagao e emissdo de uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estavel, que se denominaria “Real” ira etapa do Plano Real foi lancada no dia 14 de junho de 1993. 0 Programa de Agao Imediata, denominado PAI ja demonstrava as diretrizes governamentais em relagao a politica econémica. Depois de diversas tentativas de estabilizagdo econémica fracassadas sem um politica fiscal eficiente, o Plano Real enfatizou a necessidade da © REGO e ROSA(2000:205) = TaT- uinze Anos de Planos de Estabilizagdo Econémica: do Plano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV implementagao de um ajuste fiscal a fim de obter um combate inflacionario bem- sucedido. As medidas adotadas pelo PAI foram as seguintes: 1. Criagao do Fundo Social de Emergéncia (FSE) que deveria aumentar o volume de arrecadagéo e permitir a flexibilidade na _gestéo orgamentaria dos anos de 1994 e 1995, a fim de balancear o orgamento e reduzir a rigidez excessiva dos gastos da Unido imposta pela Constituigao de 1988; 2. Corte orgamentério com prioridades definidas pelo Executivo a serem aprovados pelo Legislativo; 3. Crago de uma lei que limitasse as despesas com servidores civis em 60% da receita corrente da Unido; 4. A proposta orgamentaria do ano de 1994 deveria ser baseada um uma estimativa realista da receita, ao contrario de um orgamento baseado na estimativa de gastos do governo para o exercicio seguinte; 5. _ Definigao legal das competéncias da Unido, Estados e Municipios em relagao A cooperagao, manutengao de débitos para recebimento de verbas federais PAI dava énfase na necessidade de um ajuste fiscal para a estabilizagao da economia. A principal medida a ser considerada € a criagéo do Fundo Social de Emergéncia que deveria aumentar 0 volume da arrecadagao, aumentando as receitas governamentais, e permitir uma maior flexibilidade orgamentaria nos anos que se seguiam. Mecanismos de ajuste como corte emergencial nos gastos e recuperacao. da receita tributdria, equacionamento da inadimpléncia de estados e municipios com a Unido, reorganizagao do setor ptiblico, maior controle sobre bancos estatais we Cuinze Anos de Planos de Estabitzagao Econdmica: do Plano Cruzado ao Plano Real FAESP -FOV € 0 inicio do saneamento dos bancos federais, a reorientacéo do programa de privatizagao, melhoraram de forma emergencial as condig6es das contas piiblicas. Porém, 0 FSE nao conseguiu cumprir completamente os seus objetivos iniciais devido a necessidade de modificaco pelas diversas negociagées no Congreso. Mais de 80% de sua receita era originada de receitas jé existentes. Alem disso, do ponto de vista da flexibilizagdo dos gastos na houve grandes progressos, uma vez que a redugao de receitas destinada a determinados itens foram repassadas através de aumentos da dotagao orgamentaria de outros itens, porém da mesma categoria de gastos. Outro problema que 0 govemo estava enfrentado era o de escassez de Tecursos para a manutengao de servigos basicos e para investimentos. Afim de elevar a receita tributaria nos anos de 1993 e 1994 foi criado 0 Imposto Provisério sobre Movimentagao Financeira (IPMF). Além disso, paralelamente ao PAI, a Unido, através da Secretaria da Receita Federal, langou um campanha de conscientizagao contra a sonegacao, aumentando a fiscalizagao sobre as maiores empresas do pais somada a uma atuagao mais rigida na cobranga de impostos de pessoas fisicas. Os principais indicadores de desempenho fiscal mostram um melhora nos anos 90 se comparados aos nos 80. O déficit operacional passou de 5,3% em média para entre 1986 e 1989 para um pequeno superdvit médio de 0,04% entre 1990 e 1994, apesar do piora desse indice entre os anos de 95 e 96. No ano de 94, ano de introdugao do Real, constatou-se um superavit operacional de 1,3% seguido de uma piora de mais de 4% no ano de 1995. Gesner de Oliveira ressalta que 0 motivo para 0 ocorrido tem um cunho paradoxal. Embora o déficit publico seja determinante primario da inflagdo, a desinflagao vem acompanhada primeiramente pelo aumento e nao da diminuicao do déficit publico observado, uma vez que aquilo que antes era corroido pela inflagao passava a 7 Quinze Anos de Piancs de Estabilzagdo Econdmica: do Ptano Cruzado ao Plano Real EAESP -FGV representar um valor real de despesa que deveria ser financiado de alguma maneira O restabelecimento das relagGes financeiras da Unido e dos demais niveis de governo visava reduzir as transferéncias do governo federal, regularizar a quitagéo de dividas j4 vendidas de Estados e municipios e impedi-los que voltassem a uma situacéo de endividamento desordenado. Para isso foram definidas condigées e requisitos para o endividamento plblico e restrigses a0 acesso de crédito, além da interrupgao de transferéncias federais para entes federativos em débito com instituig6es federais. © governo acreditava que o setor financeiro era 0 maior beneficiario do desajuste econémico, devido ao efeito das taxas de juros ¢ da inflagdo sobre as receitas por ele originada. Desse modo, foi previsto que com a queda da inflagao e a conseqiiente queda dos juros, diversas instituigdes financeiras iriam recorrer a0 Banco Central na necessidade de ajuda para cobrir as suas posigdes. Assim, seria necessério que o Banco Central comegasse desde logo um controle mais rigido € um processo de saneamento sobre os bancos federais, estaduais, municipais e privados. Seria necessario que os bancos cumprissem normas em relagéo ao montante minimo determinado, tao como no limito de créditos e débitos. Conjuntamente, 0 governo se responsabilizava pela reestruturagao do bancos federais e estaduais a fim de torna-los mais eficientes e competitivos. Inserido em um processo de desestatizagao, 0 govemno reforgou a necessidade de privatizagdo de setores ndo essenciais. Assim, ele poderia centralizar seus esforgos nas areas essenciais como satide, educagao, justica, seguranga, justiga e tecnologia. Outras duas razées, ou conseqiiéncias podem ser ligados ao programa de privatizagao adotado. A primeira é 0 aumento da receitas devido a venda das estatais e a redugao de gastos devido a reducao de gastos em relagao as estatais. A segunda é a transferéncia da responsabilidade do investimento na renovagdo da infra-estrutura para o setor privado, 507

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