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COMENTARIOS AO CODIGODE PROCESSO CIVIL DOS RECURSOS LUIS GUILHERME AIDAR BONDIOLI Doutor e mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Sio Paulo, Advogado. COORDENADORES JOSE ROBERTO F. GOUVEA LUIS GUILHERME A. BONDIOLI JOAO FRANCISCO N. DA FONSECA 04 COMENTARIOS ao CODIGODE PROCESSO CIVIL ARTS. 994 A 1.044 2016 CS Sarva soMos | CU Sine ‘Av, das NagGes Unidas, 7.221, 1° andar, Setor B Pinheiros - Séo Paulo ~ SP — CEP 05425-902 0800-0117875 SAC | 0: 22.6% cas enas ten ‘www.editorasaraiva.com.br/contato Presidente Eduardo Mufare] Vice-presidente Claudio Lensing Diretora editorial Flavia Alves Bravin Consetho editorial Presidente Carlos Ragazz0 Gerente de aquisigso Roberta Densa Consuttor académico Murilo Angel Gerente editorial Thais de Camargo Rodrigues ‘Assistente editorial Daniel Paani Naveira Produgéo editorial Ana Cristina Garcia (coord) Luciana Cordeiro Shirakawa (Glarissa Boraschi Mara (coord,) Guilherme H. M. Salvador Kell Priscita Pinto Maria Cordero Monica Landi ‘Surane Vellenich Tatiana dos Santos Romao Tiago Dela Rosa Diagramagéo erevis6o Know-how Edtrial Comunicagso e MKT Elaine Cristina da Siva Capa Aero Comunicagao / Danilo Zanott Produgéo gréfica Marl Rampim Impresséo e acabamento Prot Editora Grafica 18-B5-472-1130-4 ADOS WNTERAACIONAS De cmHLocAgto ‘ANGELICA ACQUA CRBs AO (0) Bondi, Luis Guiherme Adar mets an cto de proceso 8941.04 is Gn Aer Bont ce sou Roberto Fra Gov, is ern Na eg i Joa Fac vest Fea «Sr Ps ea |. Proctsen ci 2. Past ces gio - sil Tho. Goo, Jost Reber Fare ta Francisco Naves da. — 16.0782 cou 347 961) 0044 Indice para catiogo sistemstio: 1. Proesso chil Les logisagdo- Bri 247 9(81)004.4) Data de fechamento da edigdo: 3-8-2016 Dividas? Acesse www.etorasarava.com.bitireto Nentuma parte desta publcago poder ser eproduza por qualquer meio ou forma sem a previa autorieado da Era Saraiva. A violagdo dos dreltos autora é crime estabelcido ma Lein. 9.610/8 e uni peo art. 184 do Céigo Pena (maracont ] CPC/2015, ant. 994 Registre-se que raz6es objetivas (caso das hipéteses previstas no § 3° do art. 1.013 do CPC) e subjetivas (caso do aproveitamento do recurso pelos li- tisconsortes inertes nas hipéteses expressas no art. 1.005 do CPC) podem levar ao alargamento involuntario da extensio do efeito devolutivo. Isso fica evi- dente, por exemplo, nas situagdes de prejudicialidade, em que ha capitulos de sentenca dependentes do que foi impugnado pelo recorrente."* E pensar em ago declaratéria de paternidade cumulada com pedido para o pagamento de cor- relatos alimentos, julgada totalmente procedente para declarar a relagdo de parentesco e condenar o réu a pagar verba alimenticia. O réu recorre expres- samente apenas da declaragio de paternidade. No julgamento da apelacio, 0 afastamento da relacio de parentesco prejudica a condenagio nos alimentos € irradia naturais efeitos sobre 0 capitulo condenatério, para que da procedéncia se passe 4 improcedéncia, ainda que tal pretensao no tenha sido explicitamen- te abordada nas razdes recursais. Efeito recursal que merece ao menos um aceno neste t6pico é 0 éfeito suspensivo, consubstanciado na aptidio do recurso a conter a eficdcia da decisio recorrida até o fim do prazo para a sua interposi¢o ou até o julgamento da pretensio recursal. Observe-se que o efeito suspensivo intrinseco manifesta-se j4 com a recorribilidade da decisio, antes mesmo da apresentagao do recurso, € se pereniza com 0 efetivo exercicio do direito de recorrer. Esse efeito € ob- jeto de maiores consideragSes nos comentarios ao art. 995 do CPC Por fim, também merecedor de um aceno neste tpico € 0 efeito substitu- tivo, que se opera mediante 0 conhecimento do recurso fundado em error in judicando e a consequente troca da decisio recorrida pelo pronunciamento judicial emitido pelo tribunal por ocasiao do julgamento do recurso, a fim de que este ocupe o preciso lugar daquela. Esse efeito, orientado pela extensio do efeito devolutivo, é analisado com maior profundidade nos comentarios ao art. 1.008 do CPC. 4. — Juizo de admissibilidade e juizo de mérito O poder de recorrer é um desdobramento do direito de ago. Avangan- do um pouco mais nesse paralelismo, também é possivel dizer que 0 mérito da pretensio formulada na petigio inicial eo mérito da pretensio formulada nnas pecas recursais somente serio apreciados caso presentes requisitos legais minimos. Trata-se aqui dos requisitos de admissibilidade do julgamento do mérito e dos requisitos de admissibilidade dos recursos. A auséncia desses requisitos leva 14 Cf. CANDIDO Dinamanco, Capitulos de sentenca, n. 51, p. 111; Ligsman, Manuale di dirito processuale civile, v. 11, n. 310, p. 288 € segs. 25 ~~ ComenrAnios ao Copico DE Processo Civit v. XX inadmissio da respectiva peticio, sem que se investigue ser procedente ov improcedente a pretensio ali formulada. Na instincia recursal, as aividades do julgador direcionadas para a aferi- Gio da presenga dos pressupostos para 0 julgamento do mérito do recurs F°= Cebem o nome de juizo de admissibilidade. Esse juizo antecede lgica ¢ cron” logicamente o juizo acerca do mérito do recurso, que consiste no exarne acerca da procedéncia ou da improcedéncia da pretensio recursal. A matéria daque- le é considerada preliminar em relagio deste: uma vez negativo 0 juiz0 de admissibilidade, simplesmente se atesta 2 inviabilidade do recurso, sem se in- vestigar a existéncia de fundamentos para 0 seu provimento."> Os requisitos de admissibilidade dos recursos sio objeto de classica divi- sio cunhada por BaRBosa MOREIRA: “requisitos intrinseeos (concernentes 4 propria existéncia do poder de recorrer) e requisitos extrinsecos (relativos a0 modo de exercé-lo). Alinham-se no primeiro grupo: o cabimento, a legitima- gio para recorrer, o interesse em recorrer e a inexisténcia de fato impeditivo (0g, 0 previsto no art. 881, capu, in fie) ou extintivo (vg, os contemplados nos arts, 502 ¢ 503) do poder de recorrer. O segundo compreende: a tempes- tividade, a regularidade formal e o preparo”.'* Exige-se para 0 exame do mérito do recurso que 0 juizo de admissibili- dade tenha atestado a presenga de todos 0s requisitos enunciados anteriormen- te, Ausente um dinico desses requisitos, o juiz limita-se a tratar dessa auséncia no julgamento do recurso, sem tecer qualquer consideracio de merits. O fen6- meno se assemelha 4 sentenga terminativa: diagnosticada fattispecie descrita em inciso do art. 485 do CPC, nio se trata do meritum causae, mas sim das razdes pelas quais se consideraram faltantes os pressupostos para sua anilise. CAPITULO I DISPOSIGOES GERAIS Art. 994, Sao cabiveis os seguintes recursos: 1-apelacao; Il - agravo de instrumento; ie CE Banosn Mons, Comentiris ao Cig de Proceso Civil v. Vn. 4 261248 6 Comento ao Cig de Praeso Civ, Vn, 145, p. 263. Por sa et Leonie 1tecO divide os pressupostos geras de admissbilidade dos recursos €™ eta Pressupostos gerais objetivos de admissibilidade de todos oS reco ae reoriiite ) a tempestvidade; c) a singularidade; d) a adequasao: ©) ° Pf i 4 regularidade procedimental” “sio pressupostos gerais subjetivos: ®) ° ier recorter; b) a legitimidade 7 eee enosicao” (dns! Troe st en one) iit 26 ad CPC/2015, art. 994 IM — agravo interno; IV-embargos de declaragao; V—recurso ordinario; Vi— recurso especial; Vil — recurso extraordinario; Vl — agravo em recurso especial ou extraordinario; 1X—embargos de divergéncia CPC de 1973 —art. 496 . Cabimento O cabimento é um dos requisitos intrinsecos de admissibilidade dos re- cursos (supra, n. 4), Esse requisito apresenta duas facetas: uma relacionada com aexisténcia de previsdo legal da figura recursal e a outra atrelada a uma relagio de pertinéncia entre o recurso e o pronunciamento judicial contra 0 qual ele se volta.” O rol do art. 994 do CPC esta intimamente vinculado 4 previsio legal da figura recursal. E 0 dispositivo legal que melhor reflete os recursos exis. tentes no ordenamento juridico nacional, na medida em que se propée a enumeri-los, ainda que de forma nio exaustiva. Oart. 994 do CPC nao detém o monopélio das figuras recursais nacionais. Ha previsio de recursos em outros diplomas legais brasileiros, caso da Lei n. 9.099/1995, que prevé no seu art. 41 recurso inominado contra a sentenga pro- ferida nos Juizados Especiais Civeis, ¢ da Lei n. 6.830/1980, que dispée no seu art. 34 acerca dos embargos infringentes para a impugnagio de sentenca profe- rida em execugio fiscal com valor igual ou inferior a 50 ObrigacSes Reajusta— veis do Tesouro Nacional. Assim, interessa no caso que haja lei instituindo e disciplinando 0 recurso, ainda que nao se trate do Cédigo de Processo Civ A relagio de pertinéncia entre 0 recurso e © pronunciamento judicial impugnado nio é estabelecida pelo art. 994 do CPC. Tal relagio deve ser investigada nas regras disciplinadoras de cada recurso. Por exemplo, do caput do art. 1.009 do CPC se extrai que “da sentenga cabe apelacao”. 6. Confronto com o Cédigo de Processo Civil de 1973 Comparagio entre 0 rol do art. 994 do CPC € 0 correspondente rol do art. 496 do CPC de 1973 revela que a apelagao, os embargos de declaragio, 0 Fecurso ordinario, o recurso especial € 0 recurso extraordinario nao softeram 17 CE. NELSON Nery Juntor, Teoria geral dos recursos, n. 3.4.1.1, p. 275-276, 27 —_— CPC/2015, ant. 996 14. Legitimidade De acordo com o caput do art. 996, podem interpor recurso a parte venci- da, 0 terceiro prejudicado eo Ministério Piiblico, como parte ou fiscal da ordem juridica. E preciso cuidado para no baralhar os conceitos de legitimidade e de interesse. A legitimidade tem a ver com uma relagio de pertinéncia entre 0 direito material objeto do processo e consequentemente da decisio recorrida ea pessoa do recorrente. Nao importa, para fins de legitimidade, se a parte restou vencida ou se o terceiro foi prejudicado, Isso é matéria a ser investigada em sede de interesse. Assim, sio legitimados a recorrer a parte, 0 terceiro que demonstra que a decisio recorrida pode “atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juizo como substituto processual” (art. 996, pardgrafo tinico, do CPC) e 0 Ministério Publico, tanto nos processos em que atua como parte quanto nos processos em que funciona como fiscal da ordem juridica (art. 178 do CPC). Convém registrar que a lei confere legitimidade recursal também para o amicus curiae, com diferentes graus de intensidade e amplitude, a comegar pelo proprio Cédigo de Processo Civil, que autoriza o amicus curiae a opor embar- gos de declaragio (art. 138, § 1°, do CPC) e a “recorrer da decisio que julgar 0 incidente de resolugo de demandas repetitivas” (art. 138, § 3°, do CPC). No tocante a outros diplomas legais, o art. 31 da Lei n. 6.385/1976 prevé que, nos processos envolvendo matéria inclufda na competéncia da Comissio de Valores Mobilidrios, esta seja intimada a “oferecer parecer ou prestar esclare- cimentos” (caput), bem como possa “interpor recursos, quando as partes nao o fizerem” (§ 3°), iniciando-se 0 prazo para tanto “no dia imediato aquele em que findar o das partes” (§ 4°). 15. Parte Conforme ensina CANDIDO DiNAMARCO, partes sao “os sujeitos interessados da relacio processual, ou os sujeitos do contraditério instituldo perante o juiz (Liebman)".” Enquadram-se nesse conceito autor ¢ réu, incluindo seus litis- consortes, assistente simples ou litisconsorcial,” litisdenunciado, chamado a0 processo, sdcio ou pessoa juridica integrada 20 processo por incidente de des- consideragio da personalidade juridica. Todos eles sio legitimados a recorrer fi de decisées proferidas no processo 29 Canoimo Dinamanco, Insttuiges de dieito processual civil, v. Il, n. 520, p. 252. 30. “Nas hipéteses de asistencia ltisconsorcial, 0 asistenee arua, No Processo, com poderes equivalentes 20 do litisconsorte. Assim, a interposigio de recurso pelo as~ sistente, - ‘iléncio do assistido, € plenamente possivel” (STJ, 3° Turma, REsp 585.385, rel. Min. NANCY ANDRIGHI, J 3/3/2009, DJ 13/3/2009). 37 CoMENTARIOs AO Coico DE PRocesso Civit v. XX. © assistente simples nao pode atuar contra o interesse do assistido no Processo, o que vale também para o exercicio do poder de recorrer. Assim, no siléncio do assistido, o assistente simples pode livremente recorrer da decisio, Equivale ao siléncio do assistido a desisténcia do recurso por ele interposto, que apenas faz este desaparecer (infra, n. 32), sem interferir na sorte do recur- so do assistente simples. Todavia, uma vez que 0 assistido tenha manifestado concordancia com determinada decisio ou que uma decisio homologue ato Seu ou que contou com a sua participagio, o assistente simples fica impedido de recorrer contra ela.”! Por fim, é legitimado a recorrer como parte quem figura no processo no momento da interposi¢ao do recurso. Se alguém sucede a parte original, por exemplo, em razio da aquisigio da coisa litigiosa e do correlato consentimen- to da parte contraria (art. 109, § 1°, do CPC), é 0 sucessor a pessoa habilitada a interpor o recurso. A pessoa que perde no curso do processo a qualidade de Parte nio pode, a esse titulo, recorrer de uma decisio proferida apés a sua saida da relagio juridica processual, mas pode ulteriormente interpor recurso como terceiro prejudicado.” 16. Terceiro A nogio de terceiro & dada por exclusio: considera-se terceiro quem nio 6 Parte no processo, Para recorrer de uma decisio proferida num processo de que ndo patticipa, essa pessoa alheia a relacio juridica processual deve demonstrar 31 GF. Bansosa Moneina, Comentirios ao Codigo de Proceso Civil, v. V.n, 162, p. 293; ARAKEN DE Assis, Manual dos recursos, n. 19.2.1, p. 160; FLAVIO CHEIM Jorce, Co- mentérios ao art. 996. In: Breves Comentarios ao Novo ‘Cédigo de Processo Civil, p. 2.221; Ricarvo APRIGLIANO, Comentirios ao art. 996, In: Cédigo de Processo Civil anorado, p. 1.546. Cf. também THzoToNi0 NecRAo, Jost Roserra k Gouvéa, Luis GuILHERME A. BoNDIOLI e Joao Fra CISCO N. DA Fonseca, Cédigo de Processo Civil ¢ legislagao processual em vigor, 47 ed., nota 2 a0 att. 121, P. ecial do Superior Tribunal de Justica “segundo 0 entendimento mais condizente com o instituto da assisténcia simples, a legtimidade para recorrer do assistente nio esbarra na inewiatérn, de proposigio [fcursal da parte asistida, mas na vontade contritiae expressa desea np tocante 20 direito de permitir a continuidade da relacio processual Assim, in casu, em atendi- mento i melhor interpretacio do disposi ! vo da norma processual, uma vez cons- tarada a auséncia da vontade contriria do asistido, afigura-se cabivel o recurso da re eeente:& qual detém legitimidade para a continuidade de relagio proces- spat’ (STJ. Corte Especial, ED no REsp 1.068.391, rel, Mine Mania THEREZA, j 29/8/2012, dD 7/8/2013) ANA THEN ; “A decisio relativa & declaracio da ilegitimidade ad causam da recorrente, para set parte, ainda que transitada em julgado, em nada poderd atingir sua legitimidade recursal ativa como terceira Prejudicada” (ST], 4* Turma, RE 696.934, rel. Min. Qunctia Banwoss, j. 15/5/2007, Dj 4/6/2007), POE ech 32 38 CPC/2015, arr. 996 que tal decisio tem aptidao para interferir em “direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juizo como substituto processual” (art. 996, paragrafo tinico, do CPC). Nio basta, portanto, interferéncia de ordem fatica ou econd- mica; a interferéncia tem que ser juridica, assim como tem que ser juridico 0 interesse para legitimar a intervengio do assistente no processo (art. 119, caput, do CPC). Fala-se aqui, por exemplo, do contratante que nao foi inserido como litisconsorte necessério na relacdo juridica processual instaurada para a invalida- ao de um contrato. O terceiro tende a contar com um leque de op¢ées para neutralizar os efeitos da decisio proferida no proceso em que ele nao figura como parte. Pode se valer do recurso de terceiro de prejudicado, do mandado de seguran- ga (“a impetrac¢do de seguranga por terceiro, contra ato judicial, nao se condi- ciona a interposigao de recurso” — Stimula n. 202 do STJ), dos embargos de terceiro, de aco propria. Conforme as particularidades do caso concreto, deve escolher a ferramenta mais adequada para a tutela dos seus interesses.* Regis- tre-se que, quando opta pela via do recurso, 0 terceiro conta com 0 mesmo prazo assinado as partes para a sua interposi¢io.* Em matéria de honordrios advocaticios sucumbenciais, 0 advogado é considerado terceiro atingido pela decisio judicial a seu respeito e portanto legitimado a recorrer contra ela. Lembre-se de que, nos termos do caput do art. 22 da Lei n. 8.906/1994, os honorarios de sucumbéncia sio assegurados “go inscritos na OAB”, Na mesma linha, o caput do art. 85 do CPC prevé: “a sentenga condenara o vencido a pagar honorarios a0 advogado do vencedor”. 33 “O terceiro prejudicado por ato judicial pode impugné-lo por mandado de segu- ranga, mesmo que nao tenha interposto 0 recurso cabivel (na espécie, o agravo de instrumento). Isto porque, a escolha, nesta hipétese, é faculdade do interessado que, na maioria das vezes, nao pretende discutir os méritos da lide, mas apenas livrar-se dos efeitos do ato judicial que Ihe prejudicou e atingiu seus direitos” (STJ, 4* Tur- ma, RMS 14.995, rel. Min. Jorce ScaRTEzzINI, j. 26/10/2004, DJ 6/12/2004). “Em proceso de execugio, 0 terceiro afetado pela constrigio judicial de seus bens poder opor embargos de terceiro 4 execugo ou interpor recurso contra a decisio constritiva, na condigao de terceiro prejudicado, exegese conforme a instrumenta- lidade do proceso e 0 escopo de economia processual” (STJ, 3* Turma, REsp 329.513, rel. Min. NANCY ANDRIGHI, j. 6/12/2001, DJ 11/3/2002). 34 Cf. FLAVIO CHEIM Jorce, Comentérios ao art. 996. In: Breves Comentérios ao Novo Cédigo de Processo Civil, p. 2.222; LEONARDO GRECO, Instituigdes de processo civil, v. IIL, n, 4.2.2, p. 77. Vale mengao aqui as ponderagdes de FREDIE Dipier JUNIOR: “o prazo para o terceiro é, em principio, o mesmo das partes e se inicia no mesmo momento. Mas Dinamarco pontua duas hipdteses em que esta semelhanca nao ocorre, tendo o prazo do terceiro medida distinta: a) se as partes tiverem o benefi- cio do prazo em dobro (arts. 188 e 191, CPC), isto no é razio para que o tenha o terceiro; b) se o terceiro tiver esse beneficio e as partes nao, seu prazo ser maior” (Recurso de terceiro: juizo de admissibilidade, n. 2.5.1, p. 201). 39 COMENTARIOS AO CoDIGO DE Processo Civit v. XX Logo, nio ha diivida de que o pronunciamento judicial acerca desses honors tios afeta direito do advogado, o que lhe autoriza a interpor recurso no Caso,35 17. Ministério Pablico O Parquet esta autorizado a recorrer tanto nos processos em que figura como parte quanto naqueles em que figura como fiscal da ordem juridica (art, 178 do CPC). Quando atua como parte, a interposi¢ao de recurso pelo Mi, nistério Publico nio comporta maiores particularidades em relagio a que j foi dito logo acima. Nas circunsténcias em que participa do processo como fiscal da ordem Juridica, o recurso do Ministério Piiblico é admissivel, “ainda que nio haja recurso da parte” (Stimula n. 99 do STJ). Também nio afeta a admissibilidade do recurso ministerial 0 fato de o Parquet ter quedado inerte no Processo até esse momento, sem prévias manifestagdes. Todavia, na condi¢io de fiscal da ordem juridica, o Parquet fica impedido de ir contra os interesses que justificam sua intervengio na relagio juridica pro- Cessual, © que vale também para 0s atos recursais. Por exemplo, se 0 Ministério Pablico intervém no processo em razio da presenga de um incapaz como autor (art. 178, Il, do CPC), ele nao pode recorrer contra a sentenca de procedéncia da demanda, ainda que, no seu entender, a decisio tenha violado a ordem juri- dica. Afinal, o Parquet nao pode passar a litigar contra 0 incapaz, sob pena de a parte hipossuficiente na rela¢ao juridica processual vir a ter um adversério a mais Para enfrentar, em desvirtuamento da razio que trouxe o Ministério Piiblico Para 0 processo. Nessas condigSes cabe a0 Parquet ficar silente.2* 35 Cf BuuNno Vasconcetos Carrito Loves, Honorérios advocaticios no processo civil, n. 47, p. 198-201; AnakeN De Assis, Manual dos recursos, n. 19.2.5, p. 169; Netson NERY Junior e Rosa Maria dE ANDRADE NERY, Comentérios ao Cédigo de Processo Civil, P. 2.012. Na jurisprudéncia, prevalece posicionamento no sentido da legitimidade dvogado para a interposicio de recurso tendo por - CE THEOTONIO NeGRAO, Jost ROBERTO F. GOVE: Luts GUILHERME A. BonproLt e Jo&o Francisco N. pa Fonseca, Cédigo de Process? Civil e legislagao processual em vigor, 47* ed, ‘ota 4 ao art. 23 do EA, p. 1.058, com destaque para o seguinte julgado: “tém legitimidade, Para recorrer da sentenga, nO Pomto alusivo aos honorarios advocaticios, tanto a parte como o cea patrono” (ST), €Turma, REsp 361.713, rel. Min. BaRRos MONTEIRO, J. 17/2/2004, Dj 10/5/2004) 36 Cf. Luis GuILHeRME Aipar Bonpiou, Comentérios aos arts, 178 ¢ 180. In: Codigo de Processo Civil anotado, p. 311 © 314, No mesmo sentido, na jurisprudéncia: “a legi- Umidade recursal do Ministério Pablico nos processoe en que sua intervencio é obrigatéria nao chega ao Ponto de lhe permitir recorrer contra 0 interesse do incapa% © qual legitimou a sua intervencio no feito” (STJ, 5° Tarma, R Esp 604.719, rel. Mit Felix Fischer, j. 22/8/2006, Dj 2/10/2006), Em, sentido contririo, na doutrina, ¢ DANIEL AMORIM ASSUMPCKO NivES, Nove Cédiga de Provan Civil comentado, p. 1-642 40 CPC/2015, art. 996 CO interesse, enquanto requisito de admissibilidade para o exame do mé- rito recursal, apresenta duas facetas, quais sejam, a utilidade e a necessidad aquela consiste na possibilidade de se chegar a uma situagdo praticamente mais vantajosa € esta traduz-se pela indispensabilidade do recurso para se alcangar tal situagao.”” 19. Utilidade A ideia de que 0 recurso traga uma vantagem para o recorrente pode ser inferida do caput do art. 996 do CPC, a partir dos adjetivos vencida e prejudica- do que © legislador associa a parte e terceiro. Logo, abre-se a via recursal para a parte que em alguma medida sucumbiu no processo, para o terceiro que teve direito seu atingido de forma prejudicial. Para a caracterizaco do interesse recursal da parte, alias, basta que a decisio recorrida a tenha privado da ob- tencdo de alguma coisa e que o recurso seja capaz de proporcioné-la. A priva- a0 autorizadora do recurso pode ser circunscrita a verbas meramente acess6- rias, como corre¢ao monetiria e juros moratérios. Exce¢io a regra do decaimento para a caracterizagao do interesse da par- te em recorrer tem-se nos embargos de declara¢ao. Aqui, independentemente da condigao de vencida, a parte pode lancar mio dos embargos de declaragio para o aperfeicoamento do pronunciamento judicial (infra, n. 145). Ordinariamente, é a parte dispositiva da decisio que se leva em conta para aferir o que a parte deixou de conseguir no proceso. Nao hé interesse no mero reexame das razées de decidir, por exemplo, para substituir fundamento da senten¢a por argumento que a parte preferia que desse suporte ao julgado. Todavia, excepcionalmente, a motiva¢ao pode ser levada em conta na avaliagio do interesse em recorrer. E pensar em a¢io popular julgada improcedente por deficiéncia de prova, 4 luz do disposto no art. 18 da Lei n. 4.717/1965: “neste caso, qualquer cidadio poder intentar outra agi com idéntico fundamento, valendo-se de nova prova”. Aqui, hé interesse do réu em recorrer contra a sentenga de improcedéncia, a fim de obter pronunciamento judicial que reco- nheca a validade e regularidade dos atos descritos na peticao inicial, para que se forme coisa julgada material impeditiva de rediscussio a esse respeito em outro processo.** ‘os ao Cédigo de Processo Civil, v. V, n. 166, p. 298. 38 OG * Gomentbras ao Cédigo de Processo Civil, v.V, 167, p. 300 See ee Jontor, Curso de direito processual civil, v. III, n. 745 & 748, p. 983 ¢ 988-989; FLAvIO Cizim Jonas, Comentirios 20 art. 996. In: Breves Cone tina vo Rove Cédigo de Processo Civil, p. 2-220-2.221; NELSON NERY JUNIOR @ Rosa Manta be ANDRADE NERY, Comentarios ao Cédigo de Processo Civil, p. 2.011 37 Cf. Barsosa Moreira, Comentéri a COMENTARIOS Ao CopiGo DE Proceso Civit v. XX Quando a decisio recorrida se assenta em mais de um fundamento mo e suficiente para a sustentacio do julgado, faz-se mister que o recy Pugne todos eles para garantir que se alcance algo de util para o Tecorrente r. i I. Afinal, de nada adianta i? Pena de nao se fazer presente o interesse recursal. Afinal, de nada adian, es "2 impug. nar parte da decisio insuficiente para influir no resultado pratico do Proceso, Por fim, no caso das cumulagées de pedidos previstas no art, 326 do Pc a avaliacao do interesse recursal varia conforme se trate da cumulacio sup, diéria (caput) ou da cumulagio alternativa (pardgrafo tinico) de pedidos. Ha. vendo subsidiariedade entre os pedidos langados na peticio i mento do pedido subsidiério nao inibe recurso do autor para Pedido principal, pois é, sobretudo, este que se deseja obter com » ingresso en Juizo. J4 no caso de alternatividade entre os pedidos, o acolhimento de qualquer Tposi¢ao de recurso pelo autor para a obtencao de outro, Uno, ‘UES im, nicial, © acolh;_ que se acolha g ~ S218 rigid ao dra 'Versa, observado, ainda, o seguint® © qual o recurs 42 160, No recurs CoMENTARIOS AO CODIGO DE Processo Civit v. XX para a reacao do recorrente principal diante do novo recurso apresentado no processo é desdobramento da garantia constitucional do contraditério (art. 5°, LV, da CF). Esse estado de coisas revela que as disposigées do § 2° do art. 1.010 estio mal alocadas no Cédigo de Processo Civil. Elas deveriam estar dentro do capitulo reservado as disposicdes gerais sobre recursos, mais especificamente na sua parte destinada ao recurso adesivo, talvez como um pardgrafo adicional a0 art. 997 do CPC, e nio isoladas no capitulo reservado para a apelacio. A intimagio para resposta ao recurso adesivo se d4 antes da remessa dos autos 4 instincia superior (art. 1.010, § 2°, do CPC). No caso de recurso extra- ordinério ou especial, a intimagio para resposta ao recurso adesivo se dé antes, ainda, da tomada das providéncias previstas nos incisos do art. 1.030 do CPC. Por fim, registre-se que o prazo para resposta ao recurso adesivo é de 15 dias, nos termos do § 5° do art. 1.003 do CPC. Esse prazo se dobra nas hip6- teses dos arts. 180, 183, 186 ¢ 229 do CPC. Uma vez esgotado esse prazo, segue-se 0 disposto nos arts. 1.010, § 3°, ou 1.030 do CPC, conforme o recur- so em processamento. Art. 998. 0 recorrente poderd, a qualquer tempo, sem a anuéncia do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Paragrato tnico. A desisténcia do recurso nao impede a andlise de questao cuja fepercussao geral j4 tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinarios ou especiais repetitivos, CPC de 1973 — art. 501 32. Linhas gerais sobre a desisténcia A desisténcia do recurso € um fato extintivo do poder de recorrer, que invia- biliza a sua admissio. Alias, mais do que inviabilizar a admissio, a desisténcia faz 0 recurso desaparecer. Consiste em ato unilateral e incondicional, que independe de aceitagio de qualquer das partes, mesmo daquelas que poderiam ser beneficiadas pelo recurso (art. 1.005 do CPC). Também nio depende de homologacio judicial, a0 contririo da desisténcia da ago (art. 200, parigrafo ‘anico, do CPC). Para o aperfeigoamento da desisténcia, basta que a vontade de no mais levar adiante o recurso interposto seja externada com suficiéncia pelo recorrente, © que requer, entre outras coisas, capacidade postulatéria, isto é, manifestaga0 50 O legislador foi tomado por verdadeira compulsio por parigrafos na elaboracio do Cédigo de Processo Civil... Vide o art. 85 do CPC 50 CPC/2015, ant. 998 por meio de advogado regularmente constituido no Pprocesso e com poderes expressos para desistir (art. 105 do CPC). Nao se admite a desisténcia mani- festada diretamente pela parte, sem a participagio do seu patrono. Outrossim, inexiste forma especial para a desisténcia (art. 188 do CPC). Ordinariamente, desiste-se do recurso por meio de peti¢io, mas nada impede que a desisténcia seja manifestada oralmente pelo advogado, na sessio de julgamento. Nao se confunde a desisténcia do recurso com a “rentincia ao direito de recorrer” (art. 999 do CPC), visto que aquela é ulterior 4 interposigio do recurso, enquanto esta tem lugar antes da apresenta¢io do recurso. Por fim, 0 fato de a desisténcia independer de homologagio judicial nio inibe 0 controle do juiz sobre a presenga dos requisitos necessdrios para o seu aperfeigoamento.* Cabe ao magistrado investigar, sobretudo, a regularidade, a oportunidade ¢ as dimensdes da manifestagio de desisténcia. Uma vez per- feita e ampla a desisténcia, declara-se o fim da instancia recursal. No entanto, sendo irregular ou meramente parcial a desisténcia do recurso, deve o juiz colocar a respectiva irregularidade ou parcialidade em evidéncia e levar 0 procedimento recursal adiante. 33. Termos inicial e final Tio logo interposto o recurso, o recorrente pode dele desistir, indepen- dentemente da existéncia de prévia deliberacao judicial ou manifestagio do recorrido a seu respeito. Mesmo nos casos em que 0 recurso é interposto pe- rante o prolator da decisdo recorrida e sera julgado por outro juizo, pouco importa para o aperfeigoamento da desisténcia que o processo ainda nao tenha chegado a este. Assim, por exemplo, interposta a apelagao perante o juiz de primeira instancia que julgou a causa, pode o apelante no minuto seguinte dirigir a este peticio desistindo do apelo. Com relagio ao termo final para a manifestacio de desisténcia, nao se podem tomar ao pé da letra as disposigdes do caput do art. 998 do CPC, se- gundo as quais o recorrente pode desistir do recurso “a qualquer tempo”, Naturalmente, com a proclamagio do resultado e 0 encerramento do julga- mento do recurso, nao ha mais como desistir deste. Todavia, enquanto nio colhidos todos os votos e anunciado o resultado do julgamento, nos termos do art. 941 do CPC, o recorrente pode manifestar a desisténcia, mesmo que jé iniciada a votagio. Em outras palavras, enquanto nao aperfeigoado 0 julga- mento, é possivel desistir do recurso. a 51 Cf. Barbosa Moreira, Comentérios ao Cédigo de Processo Civil, v. V, n. 182, p. 333. 52 CE ARAKEN De Assis, Manual dos recursos, n. 19.4.2.5, p. 188. Cf. ainda THEOTONIO NeGRAo, Jos Roperro F. Gouvea, Luts GUILHERME A. BONDIOLI ¢ JOAO FRAN- CISCO N. Da Fonseca, Cédigo de Processo Civil e legislasdo processual em vigor, 47° ed., 51 CoMENTARIOS AO CoDIGO DE PROCESSO CiviL v. XX 34. Efeitos A desisténcia do recurso produz efeitos imediatos e nio comporta retra_ ta¢io. Ela pode ser total ou parcial, isto é, pode abranger toda a Pretensio do Fecorrente, 0 que encerra 0 procedimento recursal, ou pode circunscreverq a apenas parte do recurso, 0 que faz com que o tribunal leve adiante © julga- mento das pretens6es recursais remanescentes. A desisténcia deve ser interpre- tada restritivamente. Nao obstante, na desisténcia parcial, todos os Pedidos recursais dependentes ou acessérios do que foi objeto de desisténcia acabans contaminados por esta. A desisténcia produz efeitos ex nunc, isto €, a partir da sua manifestagio, Ela nio apaga os efeitos produzidos pelo recurso até entio pendente, com destaque para a litispendéncia e o correlato retardamento na formacio da col, sa julgada, quando final a decisio recorrida. Porém, uma vez externada, levs a0 instantineo desaparecimento do recurso. Na hipdtese de desisténcia de embargos de declaracdo, os efeitos da desisténcia para o embargado exigem intimagao especifica a respeito, visto que ele legitimamente aguardava o jul- gamento dos embargos para depois recorrer para instancia superior, fiando-se no seu difuso efeito interruptivo (art. 1.026, caput, do CPC).* Pelas mesmas raz6es, essa intimagio do embargado também se faz necessétia no caso de desisténcia dos embargos de divergéncia opostos perante 0 Superior Tribunal de Justiga (art. 1.044, § 1°, do CPC). Nio fica inibida pela desisténcia do recurso a majoragao dos honoririos advocaticios prevista no art. 85, § 11, do CPC. Malgrado nio haja um julga- mento propriamente dito do recurso revogado pela desisténcia, a ratio do § 11 do art. 85 do CPC é, sobretudo, no sentido de que o recorrente que deu causa notas 2a e 3 ao art. 998, p. 900-901, com referéncia aos seguintes julgados: “admi- tindo a desisténcia de recurso cujo julgamento jé se tenha iniciado e se encontrava interrompido por pedido de vista: STF-Pleno, RE 113.682, Min. Ilmar Galvio, j. 30.8.01, DJU 11.10.01, seg. 1; STJ-4* T., REsp 63.702, Min. Silvio de Figueiredo, j. 18.6.96, DJU 26.8.96; STJ-2* T., REsp 689.439, Min. Mauro Campbell, j. 4.3.10, DJ 22.3.10; STJ-1* T., RMS 20.582, Min. Luiz Fux, j. 18.9.07, um voto vencido, DJU 18.10.07"; “em geral, a desisténcia do recurso manifesta-se por peticao escri- ta, conforme 0 caso, ao érgio perante o qual se o interpds ou ao relator do Tribu- nal, mas nada impede que tal se faga, oralmente, na prdpria sesso de julgamento, ainda que iniciada a votagio’ (STJ-3* T., REsp 21.323-3, Min. Waldemar Zvveiter, J. 16.6.92, DJU 24.8.92)”. Porém, em sentido mais restritivo, nio admitindo a de- sisténcia depois de iniciada a votagio: Barbosa Moreira, Comentarios ao Cédigo de Processo Civil, v. V, n. 181, p. 331. Em sentido semelhante, cf. FLAvio CHEIM JORGE, Comentérios ao art. 998. In: Breves Comentérios ao Novo Cédigo de Processo Civil, P- 2.224; Cassio Scarpinetta BUENO, Manual de direito processual civil, p. 611; LEONAR- Do GRECO, Instituigdes de proceso civil, v. III, n. 4.2.3, p. 80. 53. Cf. Luis GUILHERME AIDAR BoNDIOLI, Embargos de declaragao, p. 209-210. 52 CPC/2015, art. 998 3 deflagracao da instancia recursal remunere o trabalho desenvolvido pel savogado do recortido apés a prolagio da decisio recorrids, Aninn, suaato o julgador decreta o fim do procedimento recursal em razio da aa pies avaliar se houve atividade adicional do patrono do recorrido, nio eee la- da pela decisio recorrida na fixacao dos honoririos advocaticion Em caso ositivo, deve entio majorar os honoririos advocaticios, proporcionalmente a tal atividade. A desisténcia do recurso suaviza a majoragao dos honorarios advocaticios, na exata medida em que reduz o trabalho programado para a instincia recursal.* 35. Repercussao geral e recursos extraordinarios ou especiais repetitivos no contexto da desisténcia Nos casos de recurso extraordinario com repercussio geral reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal e de recursos extraordinarios ou especiais repetitivos estiio presentes questdes que, pela sua relevancia ou repetigdo, ex- trapolam os interesses das partes do processo em julgamento na instancia re- cursal, As decisSes tomadas na anilise da repercussio geral e na apreciagao de recursos extraordindrios ou especiais repetitivos influenciam os rumos de processos semelhantes (arts. 1.035, §§ 5° € segs., 1.036, § 1°, 1.037, Il, 1.039 e 1.040 do CPC). Nao é 3 toa que se prevé a possibilidade de manifestagao pré- + para o bom exame dos temas objeto do via de terceiros que possam contribui s circunstancias (arts. 1.035, § 4°, e 1.038, recurso antes do seu julgamento nessa‘ Te II, do CPC). Pensando nisso tudo, © legislador mitigou os efeitos da desisténcia do recurso extraordinario com repercussio geral reconhecida e dos recursos ex- Nessas circunstincias, prevé-se que a ibunal Federal ou o Superior Tribunal Jevante ou repetitiva (art. 998, traordindrios ou especiais repetitivos. desisténcia ndo impede o Supremo Tx de Justica de avangar no exame da questao re paragrafo nico, do CPC). Para que se permita a atividade jurisdicional ulterior & desisténcia do recur- 80 nos moldes do paragrafo Gnico do art. 998 do CPC, & precio ee a per cussio geral ja tenha sido reconhecida pelo Supremo Tribunal Fe i a (re x do CPC) ou que j4 tenha havido a selecao dos recut 0 representativos da con- trovérsia no Ambito do tribunal recorrido ou do tribunal superior eae ; §§ 1° € 5%, do CPC). A desisténcia do recurso antes desses eventos impede que 4 partir dele se tomem medidas para resolver questio relevante ou repetitiva, so de desisténcia do recurso, cf. oe ios recursais no Novo Cédigo 54 Sobre majoragdo dos honoririos BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES: de Proceso Civil”, p. 31. advocaticios no cas “Qs honorai 53 CoMENTARIOS AO CopIGo DE PRocesso Civit v. XX Por fim, o exame da questao relevante ou repetitiva ulteriormen sisténcia do recurso no produz efeitos no caso concreto julgamento. A desisténcia tem eficdcia imediata e conduz seu fim, inclusive com a formagio de coisa julgada. O acéi sa a regular de maneira soberana e indiscutivel a matéria al: atividade jurisdicional do Supremo Tribunal Federal ou d de Justiga apenas orientard o destino de outros Processos relevante ou repetitiva se faca presente.’ te A de. que seria levado 4 © processo para g rdio recorrido pas. li tratada. A ulterior lo Superior Tribunal em que a tal questio Art. 999. A rendncia ao direito de recorrer independe da aceitagao da outra Parte. CPC de 1973 art. 502 36. Linhas gerais sobre a renancia A exemplo da desisténcia, a rentincia ao direito de recorrer é fato que impede a admissio do recurso. Também se trata de ato independente de ho- mologa¢io judicial. Inexiste forma especial para a rentincia (art. 188 do CPC). Como jé anunciado nos comentarios ao artigo precedente, a rentincia se diferencia da desisténcia por se manifestar necessariamente antes da interposi- Go do recurso, ao passo que esta pressupde recurso previamente interposto. Nao se cogita de rentincia apés a interposigaio do recurso — cabe ao recorren- te aqui langar mao da desisténcia, ¢ nio renunciar a um direito jé exercido — ou apés a formacio de preclusio em torno da decisio recorrida — o direito a0 recurso jé tera perecido nessa hipétese, sendo ociosa a rentincia. 37. Rendncia prévia ou ulterior a decisao recorrivel De acordo com 0 art. 190 do CPC, “versando o Processo sobre direitos que admitam autocomposi¢io, é licito 4s partes plenamente capazes estipulat mudangas no procedimento para ajusta-lo as especificidades da causa e con- vencionar sobre os seus énus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”. Nessas circunstincias, & possivel que as pessoas ante- cipadamente restrinjam a utilizacdo de recurso em processos por instaurar ou 55 Cf. Humberto THEoporo JUNIOR, Curso de direito processual civil, v. III, n. 754 € 847, P. 996-997 ¢ 1.143-1.144; Cassio SCARPINELLA BUENO, Manual de direito processial CPC/2015, ant. 1.007 O texto do § 4° do art. 1.007 do CPC nio pode ser tomado ao pé da jetra quando fala em “nao comprovar, no ato de interposigio do recurso, © recolhimento do preparo” nem pode ser lido de forma isolada, sobretudo, sem considerar 0 art. 932, pardgrafo tinico, do CPC. Como ji dito, admite- yea prova ulterior do preparo tempestivo, quer no prazo para recorrer, quer quando ja esgotado este (supra, n. 66). Assim, é para a hipotese de auséncia absoluta do pagamento das despesas recursais no prazo para recorrer, € nao de mera falta de comprovagio, que fica reservada a pena do recolhimento dobrado. Nesse cenario, quando diante de recurso desacompanhado de qualquer comprovante do preparo, deve o juiz intimar o recorrente, na pessoa do seu advogado, para, no prazo de 5 dias, comprovar o preparo tempestivo (art. 932, parigrafo Gnico, do CPC) ou recolher dobrado o seu respectivo valor (art. 1,007, § 4°, do CPC). Malgrado silente o legislador no § 4° do art. 1.007 do CPC, o prazo para orecolhimento dobrado € de cinco dias, quer por aplicagao do § 3° do art. 218 do CPC, quer por analogia com os §§ 2° e 6° do mesmo art. 1.007. Assim como nio se tolera falha no recolhimento complementar do pre- paro insuficiente, no se admite erro no pagamento dobrado das despesas re- cursais (supra, n. 70). D&-se apenas uma chance ao recorrente, e no duas, para contornar 0 obstaculo da deser¢do. £ 0 que se infere do § 5° do art. 1.007 do CPC, que dispée nio existir oportunidade para complementagio do pagamen- to dobrado feito em valor menor do que 0 efetivamente devido. Porém, tam- bém a exemplo do que se admite para a complementagio do preparo insufi- ciente, igualmente se tolera que 0 recorrente invoque o “justo impedimento” do § 6° do art. 1.007 do CPC para a nio realizagio do pagamento dobrado no seu devido tempo, com a consequente assinatura de novo prazo de 5 dias para tanto (supra, n. 70). 72. Justo impedimento No § 6° do art. 1.007 do CPC prevé-se que, “provando o recorrente Justo impedimento, o relator relevaré a pena de desergio, por decisio irrecor- tivel, fixando-Ihe prazo de cinco dias para efetuar o preparo”. O justo impe- dimento de que se cogita aqui traduz-se pela justa causa descrita no § 1° do att. 223 do CPC: “considera-se justa causa 0 evento alheio 4 vontade da parte © que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatério”. No caso, por "a26es alheias 4 sua vontade, o recorrente se vé impedido de tempestivamente Pagar ou comprovar o pagamento das despesas recursais € é autorizado a ulte- “ormente fazer 0 pagamento ou a sia Prova. ~~ a1

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