You are on page 1of 25

A IMPORTÂNCIA DO BOLETIM DE

OCORRÊNCIA NA ATUAÇÃO
POLICIAL
CONTEXTUALIZAÇÃO

O Estado, visando à convivência harmônica no seio social, delimitou por


normas os tipos incriminadores para balizar as condutas sociais. Quando alguém
infringe a norma penal surge para o Estado o poder-dever de punir, conhecido com
pretensão punitiva. Para fazer valer seu direito, através de imposições
constitucionais, o Estado deve procurar os elementos probatórios que possibilitem o
esclarecimento do fato e o seu autor. Posteriormente, levará todo o lastro
probatório ao conhecimento da autoridade judiciária, legalmente investida, para
valoração da conduta durante o julgamento.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


A polícia militar atua na fase de situação de ordem pública normal, entendida
como situação em que há SEGURANÇA, TRANQUILIDADE E SALUBRIDADE
PÚBLICA.
Nessa fase, a PM atua com AÇÕES DISSUASIVAS, com a PRESENÇA
OSTENSIVA.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


Na segunda fase, ocorre a interseção das atribuições entre a POLÍCIA
MILITAR e a POLÍCIA CIVIL.

Inicia-se a repressão que pode ser imediata, pela PM, constituindo em


PRISÃO EM FLAGRANTE, a PRESERVAÇÃO DAS PROVAS, entre outras
medidas que irão auxiliar na persecução criminal e, por fim, a comunicação à
polícia civil ou a autoridade judiciária.

É nesta fase, por meio de um procedimento típico de polícia ostensiva


administrativa, que o policial militar lavra o BOLETIM DE OCORRÊNCIA
POLICIAL.
LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C
A IMPORTÂNCIA DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA NA
ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR

O BOLETIM UNIFICADO, também conhecido pela sigla “BU” é, sem dúvida, o


documento mais importante produzido pelo POLICIAL MILITAR DO ESPÍRITO
SANTO. É o “BU” o documento que registra a notícia do crime.

É o ato que dá inicio à fase pré-processual de apuração de um crime cometido


e é o que possibilita a instauração do INQUÉRITO POLICIAL – IP.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


As informações nele contidas são de suma importância, podendo ser cruciais
no desfecho de um processo judicial, visto terem sido colhidas ou observadas
ainda no calor dos acontecimentos.

É através do BU que se leva à AUTORIDADE POLICIAL ou JUDICIÁRIA a


notícia crime, fornecendo-lhes uma série de dados (NOMES DE AGENTES,
VÍTIMAS, TESTEMUNHAS, VESTÍGIOS, INSTRUMENTOS E PRODUTOS DE
CRIME, ETC.).

É também um precioso meio de resguardo da legalidade em que se pautou a


ação ou operação policial.
LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C
O BOLETIM UNIFICADO é um documento oficial. Portanto, deve seguir os
princípios expressos e reconhecidos da Administração Pública (LEGALIDADE,
IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE, EFICIÊNCIA, MOTIVAÇÃO).

Por tratar-se de um documento lavrado por AGENTES PÚBLICOS, tem


PRESUNÇÃO DE VERACIDADE até que se demonstre o contrário. Daí a
importância de serem observados os requisitos do ato administrativo na lavratura
do BU, quais sejam: COMPETÊNCIA, FINALIDADE, FORMA, MOTIVO E
OBJETO.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


APONTAMENTOS LEGAIS PARA O REGISTRO DO BU

O BOLETIM UNIFICADO, como peça jurídica informativa de suma importância


para persecução criminal, requer o registro dos fatos com subsídios técnicos. O
conhecimento do agente, para um bom registro, deve perpassar pelos campos da
LEGISLAÇÃO VIGENTE, DOUTRINA ATUAL, TÉCNICA POLICIAL E
JURISPRUDÊNCIA, com objetivo de resguardar a legalidade dos seus atos.
O primeiro fator a ser citado é a qualificação dos envolvidos no fato. O tipo de
envolvimento deve ser preciso, pois atribuir fato tipificado como crime na ficha
policial de um cidadão requer responsabilidade.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


Erros poderão culminar em ações na justiça civil e criminal. OS DADOS DOS
ENVOLVIDOS, SEMPRE, DEVERÃO SER VERIFICADOS JUNTO AO BANCO
DE INFORMAÇÕES. Os endereços devem ser minuciosamente descritos para
facilitar a intimação dos partícipes da ocorrência. A falta de dados para intimação
acarretam atrasos nos procedimentos e processos, gerando até mesmo
arquivamento por falta de provas.
A TIPIFICAÇÃO DEVE ESTAR COMPATÍVEL COM A NARRATIVA DO
FATO MATERIAL DESCRITO NO HISTÓRICO DO BU. A autoridade de polícia
judiciária poderá retificar o enquadramento justificando legalmente seu
entendimento

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


Na FASE DE REDAÇÃO DO HISTÓRICO DA OCORRÊNCIA, o policial
deverá circunstanciar o fato motivador que ocasionou a presença policial no local,
podendo ser acionamento por VÍTIMA, AUTOR OU TESTEMUNHA, EMPENHO
PELO CIODES OU INICIATIVA COM A ABORDAGEM.
Juridicamente tal fato inclui como testemunhas as pessoas que antecederam a
atuação policial. Na esteira, urge a necessidade de narrar à natureza da ocorrência
transmitida ou repassada pessoalmente pelo solicitante.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


É tal informação que o policial utiliza para a realização do pensamento e
planejamento tático visando à abordagem e atuação.

EXEMPLIFICANDO: Natureza de ROUBO em andamento, pessoa armada,


tentativa de homicídio é fator justificador para imprimir maior velocidade a viatura e
ultrapassar sinais, utilizar de abordagem enérgica, entre outras. No local o policial
militar encontra uma simples discussão.

Assim, no registro tem que especificar para justificar a autuação em radar por
alta velocidade, abordagem em nível 3 em caso de denúncia na corregedoria.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


No enveredar do registro da ocorrência, o policial militar deve elencar as
informações administrativas pertinentes, lembrar que o BU estará presente como
prova em futura apuração por SINDICÂNCIA REGULAR, INQUERITO POLICIAL
MILITAR, ENTRE OUTROS.

EXEMPLIFICANDO: Passar em radar em alta velocidade, furar sinal


semafórico, uso dos dispositivos, parada em local irregular, perda ou extravio de
patrimônio público, reposição de munições, entre outras.

Tais informações serão inseridas em conformidade com o processo narrativo


da ocorrência, podendo estar no início, meio ou fim do BU.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


Na mesma seara estrutural deverá consignar a narrativa do cenário
encontrado: POSIÇÃO DOS ENVOLVIDOS, OBJETOS, TESTEMUNHAS DOS
FATOS E DOS PROCEDIMENTOS.

Em seguida, evidenciar as providências tomadas: SOCORRO AS VÍTIMAS,


ISOLAMENTO DO LOCAL, ENTRE OUTRAS.

Tal fato é importante para justificar a entrada no local, movimentação dos


envolvidos, das provas e outras diversas situações.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


Sequencialmente deverá relatar as versões da vítima, autor e testemunhas.
Constar fatos, com fundamento nas elementares necessárias para o
enquadramento nos tipos penais, visando explicitar a materialidade e autoria do
crime.
É de extrema valia a individualização de condutas dos policiais no cenário. É
vital também a individualização de condutas dos outros envolvidos e localização
exata dos materiais apreendidos.

EXEMPLO: Durante busca pessoal no conduzido Y, realizada pelo policial X,


foram encontradas em seu bolso esquerdo 20 “buchas” de substância análoga à
maconha.
LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C
No corpo do BU deve constar quem deu voz de prisão em flagrante delito, que
o detido foi informando dos seus direitos constitucionais, sendo eles:

1. IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE DA PRISÃO; 2. MOTIVO DA PRISÃO; 3.


ASSISTÊNCIA JURÍDICA E FAMILIAR; 4. LOCAL PARA ONDE SERÁ LEVADO;
5. INFORMAR A FAMÍLIA OU OUTRA PESSOA; 6. PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE FÍSICA; 7. PERMANECER CALADO.

Ademais, deverá constar o estado de saúde aparente do conduzido.

EXEMPLO: O detido não apresenta lesões ou escoriações.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


O Militar deverá circunstanciar o atendimento médico fornecido ao conduzido
e o número de protocolo. Em caso de alta médica, anexar cópia do documento.

Nesse mesmo assunto cabe salientar que em ocorrência que haja vítima fatal
o POLICIAL MILITAR deverá constar o nome e registro da autoridade técnica que
atestou a morte no local do crime, dispensando socorro médico.

Instar o nome e registro do policial que assumiu o local de crime, pois a PM


tem por competência preserva-lo até a chegada da autoridade policial.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


O USO DE ALGEMAS DEVE SER JUSTIFICADO

A jurisprudência reiterada vincula a obrigatoriedade de constar no BU a


justificativa, taxativamente descrita no texto, sendo: RESISTÊNCIA, RECEIO DE
FUGA OU PERIGO A INTEGRIDADE FÍSICA.

Por fim, cabe frisar que todo objeto e instrumento de crime, bens materiais que
estiverem em posse do conduzido fica sobre custódia do policial militar até a
entrega física para a polícia judiciária..

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


O OBJETIVO DESSA INSTRUÇÃO NÃO É ENSINAR, E SIM
ORIENTAR.

 Troque a palavra MELIANTE por INFRATOR, ACUSADO, DETIDO,


CONDUZIDO ou ENVOLVIDO;

 Não utilize o “CÓDIGO Q”;

 Não use “ACUSADO A”, “ENVOLVIDO C”, “TESTEMUNHA B” na redação do


histórico. Substitua pelo primeiro nome das pessoas. Ficará mais fácil, da menos
trabalho e é menos confuso;

 Evite rasuras, erros gramaticais. Lembre-se: O BU será enviado para outros


órgãos públicos;

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


 “ENTREGUE SEM LESÕES” ou “COM LESÕES NA”... “LUGAR DEFINIDO
QUANDO LAVRADO O AUTO DE RESISTÊNCIA” OU “ EM VIRTUDE DE
FATO ANTERIOR...”;
 Fazer menção de que o AUTO DE RESISTÊNCIA está sendo lavrado em alusão
ao BU;

Em situações delicadas onde seja necessária a ACÃO DA VÍTIMA contra o


INFRATOR (Estupro) sendo que ela ou o responsável demonstre vontade de agir
representando, portanto deve-se escrever no BU: “A VÍTIMA (OU O
RESPONSÁVEL) TÊM O DESEJO DE VER PROCESSAR O SR.(A) ACUSADO
(A)”;
LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C
 Deve-se lavrar tudo na forma mais FIEL do fato ocorrido (como ocorreu, meio
que utilizou);

OUTRAS DICAS:

 FURTO QUALIFICADO: Se há escada, se rompeu barreira, horário ocorrido;


 FURTO NOTURNO: Enfatizar que as pessoas estavam dormindo.
 ROUBO: Forma violenta contra pessoa, que pode ser FÍSICA, MORAL E
PRESUMIDA;

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


 TRÁFICO DE DROGAS: Próximo a escolas, quantidade de envolvidos, uso de
armas, participação de menores;
 HOMICÍDIO SIMPLES X HOMICÍDIO QUALIFICADO: Segundo informações de
pessoas, o Sr. Fulano de Tal, de “MANEIRA TRAIÇOEIRA”...
“EMBOSCADA...” OU “ SE MOSTRANDO AMIGO DA VÍTIMA
(SIMULAÇÃO)...”.

 ARROLAR O MÁXIMO POSSÍVEL DE TESTEMUNHAS NO BU.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


 Lembre-se, NÃO EXISTE PRENDER PARA AVERIGUAÇÃO!!

Escreva: “O CIDADÃO FOI CONVIDADO A COMPARECER A DELEGACIA


PARA ELUCIDAR UM FATO OCORRIDO NA NOITE ANTERIOR”;

 Faça um rascunho do fato e mostre para o companheiro, ele sempre tem


alguma coisa a acrescentar!;

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


CONCLUSÃO

A atividade policial militar é dinâmica e complexa. Exige conhecimento


multidisciplinar e constante atualização. A doutrina policial é focada em
procedimento operacional técnico, sendo parca a produção jurídica.

O BOLETIM DE OCORRÊNCIA POLICIAL MILITAR possui natureza jurídica


de ato administrativo informativo. Tem por objetivo levar a conhecimento das
autoridades competentes fatos sociais com relevância jurídica.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


No contexto da legislação atual os casos de condução para o Departamento
de Polícia Judiciária, na condição de detido, são:

PRESO EM FLAGRANTE DELITO, PESSOA COM MANDADO DE PRISÃO


EM ABERTO OU FORAGIDO RECAPTURADO.

NÃO É LEGAL A CONDUÇÃO COMPULSÓRIA DA VÍTIMA OU


TESTEMUNHAS PARA A DELEGACIA. Igualmente o descumprimento de medida
protetiva e a falta de alvará não constituem em justificativa jurídica para condução
ao DPJ.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C


O instituto da representação não poderá ser levado a efeito perante do policial
militar, CONFORME ART. 38 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

O POLICIAL MILITAR DEVE CONSTAR NO HISTÓRICO DO BU A


JUSTIFICATIVA JURÍDICA E CIRCUNSTANCIAL QUE AMPARARAM A CONDUÇÃO
DO DETIDO AO DPJ.

NO HISTÓRICO DO BU DEVE FICAR CLARO O INDICIO MÍNIMO DE


MATERIALIDADE E AUTORIA DA INFRAÇÃO PENAL COMETIDA. CASO UTILIZE
DE FORÇA, OBRIGATORIAMENTE, DEVERÁ LAVRAR O AUTO DE RESISTÊNCIA.

LUCIANO BALEEIRO – ST QPMP-C

You might also like