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[ Yonne Leite Dinah Callou Como Falam os Brasileiros terceira edigao Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro Copyright © 2002, Yonne Leite e Dinah Callou Copyright desta edicéo © 2005: Jorge Zahar Editor Leda rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel: (21) 2240-0226 | fax: (21) 2262-5123 email: j ym.br sie: woww.zahar-com.br Todos os direitos reservados. A reprodugo nfo-autorizada desta publicasio, no todo ou em parte, constitui violagdo de direitos autorsis. (Lei 9.610/98). Capaceilustragio da capa: Sérgio Campante ‘Vinheta da colegio:ilustragio de Debret Composicio eletrénica: Top Textos Edigées Grificas Leda. Impressio: Cromosete Geéfiea e Editora Edigdes anteriores: 2002, 2004 CIP-Brasil. Catalogagiéo-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Leite, Yonne, 1935- L556 Come falamos brasileiros / Yonne Leite, Dinah Callou. 3ied, — 3.00. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005 (Descobrindo o Brasil) Inclui bibliografia ISBN: 85-7110-650-9 3, Lingua poreuguesa — Brasil. 2. Lingua porruguesa — Regionalisinos — Brasil. 3. Lingua poreaguesa — Portugués falado ~ Brasil. 4. Lingua portuguesa — Aspectos soci Brasil, I, Callow, Dinah, 1938-. II. Titulo. IIL. Série. CDD 469.7981 05-3461 CDU 811.134.3'282(81) Sumario Introdugao 7 Uma visto geral do Brasil: © mito da homogeneidade 11 Assumindo a diversidade 16 O falar carioca no conjunto dos falares brasileiros 26 Sexo, idade e variagao lingiifstica 36 Para urna caracterizacao dos falares brasileiros 38 A fonética da fala culra 39 Os sotaques sintdticos da fala culta 51 Normas, pluralismo etc. 56 ‘Tragando linhas imagindrias 59 Voltando ac comego 60 Cronologia 64 Referéncias ¢ fontes 66 Sugestoes de leitura 71 Sobre as autoras 73 Introdugao E através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento ¢ entendimento de si prépria ° e do mundo que a cerca. E na linguagem que se refletem a identificagio ¢ a diferenciagio de cada co- munidade ¢ também a insergio do individuo em dife- rentes agrupamentos, estratos sociais, faixas ctérias, géneros, graus de escolaridade. A fala tem, assim, um cardter emblematico, que indica se o falante ¢ brasileiro ou portugués, francés on italiano, alemio ou holandés, americano ou inglés ¢, mais ainda, sendo brasileiro, se € nordestino, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer seo locutor é homem ‘ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primério, universitério ou se é iletrado. E, por ser tm parametro que permite classificar 0 individuo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condigao econdmica ou social seu grau de instrugio, é freqiientemente usada para discriminar e estigmatizar o falante. De uma perspectiva estritamente lingiilstica, ndo se justificam julgamentos de valor, uma vez que a facul- “7s —_—_-WH ——,— ‘YONHE (EITE E DINAH CALLOU dade da linguagem € inata e comum a-toda a espécie humana. As diferengas existentes entre as Jinguas re- presentam apenas formas de atualizagao distintas dessa faculdade universal. Assim, pata o lingiista, todo ho- mem € igual nao sé perante a lei, mas também frente a sua capacidade lingiifstica. Como assinala 0 fildlogo do inicio do século Xx Joo Ribeiro, a primeira ligdo elementar de todas as ciéncias é que objetivamente nao pode haver um fenémeno bom c outro mau ou ruim, todos sfo essencialmente legitimos. Nao existe, assim, variante boa oti m4, lingua rica ou Ifngua pobre, dialeto superior ou inferior. O que ocorre é uma variabilidade na producao, muitas vezes determinada por fatores sociais, que nfo é exclusiva de uma lingua, ¢ universal ¢ inerente a todas. O que hd de conecreto no coti sdo as realizagbes individuais que ocorrem & nossa volta, porém a comunicacio sé se efetiva devido a existéncia de uma representagio abstrata, compartilhada por um grupo maior ou menor de individuos, que vem a ser a lingua nacional x, y ou 2 E de se esperar dessa forma que na extensio do cerritério brasileiro haja uma unidade lingitistica, Uingud portuguesa, mas também diversidade, os f- Lares brasileiro, © falante do norte do pais no tem a menor dificuldade em entender o falante do sul, embora ocorram diferengas na fonética, na sintaxe no léxico. Por exemplo, a uma mesma fruta atri- buem-se palavras regionalmente diferentes, tais +8. COMO FALAM 05 BRASILEIROS como tangerina, mexerica, laranja cravo ou berga- mota, pinha, fruta de conde ow ata, goiaba ou aragd, ou seja, opgdes lexicais préprias de cada regiao. Essas variagées, que sio mais flagrantes no vocabu- lério © na prontincia, ndo comprometem a unidade maior de entendimento entre os falantes. ‘Toda essa variagio lingtifstica explica-se, nas palavras de Anténio Houaiss, pelo proprio processo de coloni- zagio do pats: dialctago horizontal por influxo indi- gena e diferenciagao vertical entre a fala do luso ¢ a fala do nascido e criado na terra. Segundo o cientista social Manuel Diégues Jr., 0 Brasil pode ser considerado como uma vasta experiéncia de pluralismo étnico e culcural, ‘em que as mais diversas relagdes de racas e culturas — que se processam e se processaram no cendrio brasileiro — séo responséveis pelas diferengas existentes entre regides e dreas geograficas do pals e, conseqiientemen- te, pelas diferengas entre os diversos falares brasileizos. - A grande questo nunca foi a da intercomunicabili- dade, mas sim a da padronizagao de uma lingua falada ¢ esctita para fins cultos. Por uma ou outra razdo, a escolhade um falar local padrao sempre girou em torno de trés grandes centros urbanos, a saber, a cidade do Rio de Janeiro, a de Sao Paulo e a de Salvador. A preferéncia recaiu sobre a cidade do Rio de Janeiro e se deveu, prioritariamente, a razées extralingiifsticas: 0 fato de o Rio de Janciro estar geograficamente no centro de uma polaridade norte/sul, ser centro politico -9- ‘YONNE LEITE € DINAH CALLOU ha mais tempo, capital da Colénia desde 1763, ¢ ser uma drea cuja linguagem culta tende a apresentar menor ntimero de marcas locais ¢ regionais, com uma cendéncia universalista, dentro do pais. Nao hé como negar que, em termos socioecondmicos, S40 Paulo hé muito superou o Rio de Janeiro, mas, por outro lado, mantém a sua marca localista, pelo menos na fala, a marca do chamado “dialeto caipira’. Salvador, embora capital durante a maior parte do Brasil-Col6nia, sofreu forte isportagao lexical das linguas africanas, apresen- tando um tipo de entoagio descendente, denominada fala “cantada”, ¢ caracteristicas fonéticas marcantes, como a de vogais abertas ¢ perda pronunciada do r final. Como todos sabem, essas marcas regionais, tanto do dialeto caipira quanto do dialeto baiano, sao estig- matizadas pelos falances de outras éreas do pais. Costuma-se dizer que 0 falar carioca € 0 que mais, eqiiidistante se encontra do nortista, do nordestino, do oriental, do sulista e do sertanejo, eque o Rio de Janeiro possui condigses geograficas, histéricas, politicas ¢, inclusive, lingiiisticas, para ser um centro unificador. Dois congressos nacionais, o de Lingua Cantada, orga- nizado em 1937por Mario de Andrade, escritore figura dominante do Modernismo em Sto Paulo, e 0 de Lingua Falada no Teatro, realizado em Salvador em 1956, debrugaram-se sobre cssas questSes com a fina- lidade de estabelecer normas de imbito generalista que, de um lado, representassem © ideal lingiifstico da co- + 10+ | ‘COMO FALAM OS BRASILEIROS. munidade brasileira como um todo ¢, de outro, néo fizessem com que se corresse o risco de chegar a uma média que nao correspondesse a nenhuma das varieda- des faladas no Brasil, no passado ou no presente, Cumpria também evitas, aquela altura ¢ ainda hoje, 0 perigo dos pruridos de orgulho regional, pois, confor me se escuta a todo momento, o sotaque alheio “irrita”, tal’ pronincia € “horrivel” ou “engragada’, principal- mente se caracterizadora de um falante de drea néo prestigiada. Ainda que se admita partir de uma “base carieca”, que representaria, embora com ressalvas, a média da pronincia nacional dentro de um quadro geral de caracterfsticas fonéticas ¢ morfossintdticas, é de funda mental importncia situar esse linguajar catioca em relagio aos outros falares ¢ tornar evidente, se verda- dciro, este comportamento medio. Uma visao geral do Brasit 0 mito da homogeneidade A oposigao entre as variantes brasileira ¢ européia da lingua portuguesa jé foi reconhecida, conquanto tenha suscitado polémicas, durante algum tempo, sobre a existéncia ou nao de uma “Iingua brasileira” e, por mais tempo ainda, sobre seu cardter uniformeeconservador. No que se refere ao portugues do Brasil, predominava YONNE LETTE & DINAH CALLOU a concepgéo de lingua como reflexo ¢ expressio da cultura e a da superioridade cultural dos brancos sobre ‘os negros ¢ {ndios. Ao advogarem a “lusitanidade” da cultura brasileira, os estudiosos teriam, necessariamen- te, de admitir que havia uma identidade lingiiistica e uma homogeneidade dentro de um conjunto hetero- géneo, mais recentemente chamado de “portugués bra- sileiro”. Segundo Jos¢ Honério Rodrigues, s6 por oca- sigo da Assembléia Constituinte de 1823 os repre~ sentantes de diversas provincias foram capazes de ob- servar a diferenga de prasddia e, ao mesmo tempo, a igualdade da /éngua que todos falavam. A célebre m4- xima “unidade na diversidade e diversidade na unida- de” é0 ponto central da questio sobre o portugués do Brasil. Um territério de 8,5 milhées de quilémerros quadrados, com uma populagao hoje estimada em 170 milhées de habitantes — com indice ainda alto de analfabetismo — nao poderia apresentar um quadro lingiiistico homogéneo. A diversidade que existe em qualquer ponto espelha uma pluralidade cultural ¢ nao se pode presumir para a expansio do portugués no Brasil uma forma lingiifstica Gnica, pois a época em que se deu a colonizagao, a origem dos colonizadores ¢ as conseqiiéncias lingiifsticas de um contato heterogéneo so aspectos que devem ser considerados. Uma regido como a do Rio Grande do Sul, realmente povoada no século XVII, € cuja +12 COMO FALAM OS BRASILEIROS. colonizagao se deu por proceso diferente da maior parte do pais, na base de casais, com miscigenacao relativamente insignificante, néo pode apresentar um quadro idéntico ao do Brasil Central, Bahia, Rio de Janeiro ¢ vérios outros pontos do atual territério nacional que foram colonizados apenas por homens, com maior mestigagem. Em decorrén- cia disso, as vésperas da Independéncia, o Brasil possufa uma populagao estimada em 1.347.000 brancos ¢ 3.993.000 négros ¢ mestigos, entre escra- vos ¢ livres, mas a distribuiggo populacional era irregular, com niaior concentragdo de negros em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais ¢ Rio de Janeiro. Na verdade, toda essa complexidade dificulra ou torna praticamente imposs(vel tragat um quadro completo da vatiagio dialetal ¢ socialmente dife- renciada resultante do contato.com outras linguas €, por sua vez, de mudangas ocorridas na lingua portuguesa trazida para cd. Outro aspecto que surpreende os ndo-especialistas ¢ no pode deixar de ser posto em relevo € 0 de que, até a primeira metade do século XVIII, a “lingua geral” indigena era predominante. O historiador Sérgio Buar- que de Holanda informa, com base em relatério escrito por volta de 1692 pelo entdo governador do Rio de Janeiro, que os filhos de paulistas primeiro aprendiam a lingua indigena ¢ sé depois a materna, isto é, a portuguesa. Em alguns pontos, até 1755, a lingua +13 —_—_— i T_T YONNE LEITE € DINAH CALLOU portuguesa era minoritéria, embora tivesse acabado por se impor na Corte, segundo informagées de histo- riadores. Embora a época da conquista fossem faladas 1.273 Mnguas ind{genas, no Brasil atual hd, além do portu- gués, segundo estimativa do pesquisados Aryon Rodri- gues, apenas 180 linguas indigenas — das quais a grande maioria se encontra na Regiéo Amaz6nica, que possui uma populagao de 350 mil pessoas distribuidas em 206 etnias — ¢ 41 familias, dois troncos ¢ uma dezena de linguas isoladas. Em 500 anos, uma perda de 85%! E-bom lembrar que, apesar do grande exter- minio, ainda hoje ha grupos indigenas préximos a grandes centros urbanos, como os guaranis, na costa do Rio de Janeiro, em Séo Paulo ¢ também no Rio Grande do Sul, que conservam sua lingua nativa. ‘A Constituiggo de 1988 assegurou as populagdes indigenas 0 dircito de manter sua diversidade lin- giifstica e cultural, num reconhecimento oficial de ser o pafs multilingiie. O portugues falado por essas populagées tem sido alvo de poucos cstudos siste- maticos, mas o nuimero jé é suficiente.para mostrar que se tem um outro tipo de heterogencidade, & qual sc deve somar o do portugués falado por con- tingentes ‘de imigrantes japoneses, italianos, ale- mies, poloneses, espanhéis, libaneses, sem esquecer de falantes de origem portuguesa, agorianos, povei- ros € transmontanos, Também devem ser lembrados 114 COMO FALAM 0S BRASILEHROS os pequenos redutos de antigos escravos africanos, como a localidade de Helvécia, no municipio de Nova Vigosa, na Bahia, originéria da antiga Colénia Leopoldina, fundada por colonos alemées, suigos € franceses em 1818, pois apresentam até hoje carac- terfsticas de um “falar crioulo”, visto como resul- tance de transmissio lingtifstica irregular, devido ao contato precatio com a lingua portuguesa. A verdade é que a hegemonia da lingua portuguesa nao dependeu de fatores lingiiisticos, mas sim histéri- cos, € s6 nos tiltimos dois séculos e meio ocorreu uma normatizagao do portugués falado no Brasil em diregao a um chamado portugués “padrio”, que, apesar de intrinsecamente variado regional e socialmente, passou —- a gozar de prestigio ¢ a representar a “norma” para 0 bem falar ¢ 0 bem escrever. _ Nao resta divida de que a histéria da colonizagao brasileira se reflete na diversidade lingiifstica existente no pais, a qual veio aos poucos sendo reconhecida. Esse reconhecimento traduz-se, por exemplo, na eleiga0, pelo eleitorado do estado do Rio de Janeiro, de um indio xavante como seu representante junto a0 Con- gresso Nacional nas eleigoes de 1982, 0 que evidencia uma maior abertura étnica e lingifstica. Por outro lado, persiste a idealizacao de um pais monolingtie e de uma gramatica pura, imutdvel, o mais,préxima possivel do portugués falado no outro lado do Atlantico. O pre- conceite lingiifstico por parte da sociedade ¢ dificil de + 1be YONNE LEITE E DINAH CALLOU ser vencido, uma vez. que a pressio social é continua e ‘os meios de comunicagio de massa atuam a seu favor. Para © sociolingilista, cuje objeto de estudo é a lingua ¢ os fatores sociais que condicionam sua produ- gao, é natural aceitar a idéia de que, se em termos relativos se justifica a qualificagio de “espantosa” —- que nio raro se atribui & unidade lingiifstica do Brasil ——, mais espantoso pareceria negar a diversidade que ela pressupée, dadas as caracterfsticas pluriculturais tanto de nosso passado quanto de nosso presente. O uso de uma lingua cnvolve, contudo, aspectos ideolé- gicos ¢ © preconccito que existe em relagao a determi- nadas variedades ¢ equivalente a outros, como o social, © religioso e 0 racial. O dominio de um portugués padrao € privilégio reservado a poucos membros de uma clite econémico-social que, assim, assegura 0 scu poder e sua primazia politico-cultural, Cumpriria, a uma educago realmente democratica ¢ igualitéria, reconhecer a diversidade e com ela trabalhar, no senti- do de possibilitar a todos os usudtios da lingua o acesso Rs normas prestigiadas e As mesmas oportunidades. Assumindo a diversidade A diferenga no tratamento dado aos fatos lingiifsticos de homogeneidade ¢ de unidade na visio anterior, ¢, na atual, de multiplicidade, ultrapassa o mero registro 16+ COMO FALAM OS SRASILEIROS: de formas arcaizantes ¢ populares ¢ vai em busca da melhor forma de descrigao ¢ andlise da diversidade em todos os estratos socioculturais, no sentido de explicar as diferengas e semelhangas que existem entre as diver- sas variedades da lingua portuguesa, nio sé interna- mente, dentro do pais, mas também externamente, entre o portugués brasileiro ¢ o europeu. Essa diversidade foi durante muito tempo enfocada apenas em variantes populares, como nos glossdrios regionais e, mais tarde, nos atlas lingiifsticos, iniciados no Brasil na década de 1960, a saber, 0 Arlas prévio dos falares baianos, o Atlas lingiiistico de Sergipe, o Esbogo de um atlas lingitistico de Minas Gerais, 0 Atlas lingitistico da Paratha ¢ 0 Ailas lingiitstico do Parand, para citar apenas os atlas gerais. Sé agora esté em curso a elabo- ragao de um atlas geral, o Arlas lingittstico do Brasil (ALIB), tarefa cogitada ha quase 50 anos, mas sempre adiada devido, entre outras razGes, 4 extensio territorial do pais, A assimetria da densidade demografica ca falta de recursos humanos ¢ financeiros para um empre- endimento de tal vulto. O objetivo é fazer um retrato do Brasil, isto é, dar conta da diversidade existente, ou melhor, da dialetagio do portugués, a fim de tomar vidvel a tao complexa delimitago de areas préprias a cada fendmeno lingiifstico. Em suma, seria importante confirmar ou infirmar a tese de que as divisées diale- tais no Brasil sio menos geogrficas que socioculturais ede que as diferengas na maneira de falar s4o maiores, -17 YONNE LEITE E DINAH CALLOU num determinado lugar, entre um homem culto e 0 vizinho analfabeto do que entre dois brasileiros do mesmo nfvel cultural, origindrios de regides distantes uma da outra. Surgiram, ao longo dos anos, vérias tentativas de tragar dreas dialetais brasileiras ~— algumas com base em critérios meramente geogréficos —, como a do fildlogo Julio Ribeiro, de Antenor Nascentes, a do afticanista Renato Mendonga, a do cientista social, Manuel Diégues Jr., entre oucras. O que ha de comum em todas elas é que partem sempre de fatores histéricos c/ou socioculturais, sem um levantamento de tracos lingiifsticos diferenciadores. Nascentes é o unico que, ao dividir o falar brasileiro em seis subfalares (o ama- z6nico, o nordestino, o baiano, o fluminense, o minei- ro € 0 sulista) reunidos em dois grupos, o do norte ¢ 0 do sul, apresenta um critério de natureza prosédica — que chama de cadéncia — ¢ um'de natureza estrita- mente fonética, a prontincia das vogais antes do acento (preténicas): vogais abertas, caracteristicas da regiio norte, versus vogais fechadas, caracteristicas da regio sul. Em 1953, Antenor Nascentes, que juntamente com Serafim da Silva langou as bases para a elaboragao de um atlas lingtifstico do Brasil, ressaltava que a diviséo do nosso pais em dreas lingiifsticas esbarrava numa grande dificuldade: a falta de determinagao das chama- das “isoglossas”, isto é, linhas demarcadoras de cada um -18- Nira nnn intact il. COMO FALAM OS GRASILEIROS CONVENGOES {AREER mma poten Mapa 1. Divisio das areas lingiisticas, segundo Antenor Nascentes +19 YONNE LEITE € DINAH CaLLOU Todo brasileiro ¢ capaz de reconheces, intuitivamente, ui . oe : un aide cixo divisério entre falares do “norte” falares do “sul”: uma “cadéncia” : a : ncia” do nortista fas : © outra do Sta, Vogais pret6nicas abertas do nordestino e fecha 2s Bevelas, por exemplo, assim come em promarnas humors — sempre que se quer resalar, 0 com. eeoaPetonagem, fla dem determinada tegito EAS A lngsgem televise usa e aha dese ‘ lores, acabando por caricaturar ¢ igualar a fala de nordestinos e nortistas, balan ‘ambucanes, parsibanos ou cearenses, ameonetng Parsenses. Metece mengéo 0 caso da prontinct, <7 § exacerbada, em algumas novelas, na fala ce pomonagem nativo da cidade de Salvador ou do sul de estado da Bahia, sem atentar para o fato de que nec #98 © £00 d slo to wh ed coma o denna, +20. COMO FALAM 05 BRASILEIROS carioca. Nessa hipercaracterizagéo, a chamada cadéncia ‘ou ritmo, sem diivida um fator identificador da origem do falante, se resume a uma fala si-la-ba-da, sempre coma mesma entoagio. Esse ritmo, porém, algo mais intricado, por envolver nao s6 duracao dos segmentos vocélicos, mas também a curva entonacional da sen- tenga, ora ascendente, ora descendente; ora neutra, ora contrastiva, Também a substituicao de vogais fechadas por abertas, na composico de um-tipo regional, néo obedece aos condicionamentos naturais, chegando a criar prontincias improvaveis cm qualquer uma das regibes, tais como m/2Jtido, [e)spécie v[d]cés, s[o]fria. O desconhecimento da interagio de um conjunto de regras e representagées é que gera, portanto, as falas caricaturais de personagens nordestinas nos diferentes meios de comunicacio, ¢ serve como motivagio para crénicas como “Grilos gramaticais” do escritor Joao Ubaldo Ribeird, publicada no jornal O Globo de 14.6.1987: Antigamente, nordestino nao falava “sé-brinho” e “té- Ihado”, como hoje a gente ouve, em contraposigao aos “centro-sulistas” “s6-brinho” ¢ “té-hado”. Falava “su- brinho” ¢ “té-Ihado” mesmo. Mas af chegou o nortés da Rede Globo ... eaté os nordestinos se convenceram de que o certo é dizer “sé-brinho”, que € como se escreve. A tinica diferenga entre 0 esctito ¢ 0 falado é a de que todo nordestino tem de abrir a vogal ¢ todo +21 YONNE LENE € DINAH CALLOU centro-sulista tem de fechar, em absohutamente todos os casos. Ourra doidice completa, mas que jd levou atores de novelas a pronunciat “vé-c8” em vez de “oct”, a fim de mostrar como faziam bem o sotaque nordestino. A identificagio de um falantecomo membrode uma determinada comunidade € complexa, pois somos sur. Preendidos, por vezes, por uma semelhanga de prontin- cia entre regides que foge as nossas expectativas. No Primeiroe tinico Congresso Nacional de. Lingua Falada no Teatro, o intelectual cearcnse José Liberal de Castro apresentou uma comunicagio em que afirmava que, salvo 0 caso citado das pretOnicas abertas¢ fechaday, as demais variantes extravasariam fronteiras, aparecendo isoladas em diferentes e distances pontos do territério nacional. Dava ainda o-seu depoimento pessoal, na qualidade de nascido e criado em Fortaleza mas mor. dor do Rio de Janeiro hé mais ‘de 12 anos, aquela altura, de que a prontincia carioca poderia chegar a ser pare- cida com a do litoral cearense: se “fecharmos” as vogais PretOnicas € “chiarmos” em certos 5, ‘bastaremos por cariocas, nie em outros estados, mas no priprio Rio” comprovando a possibilidade de sobreposigio de pro. miincias regionais. Ouuaa dificuldade, portanto, para estabelecer limi- tes divisérios entre as falares brasileiros reside no fato de rarissimamence coincidiretn limites administrative, +22. COMO FALAM OS BRASILEIROS com limites lingiifsticos e de haver faixas de intersegao. © falar baiano, por exemplo, na proposta de Antenor Nascentes, é intermedidrio entre os dois grupos que estabelece, o do norte ¢ 0 do sul, ¢ nfo se restringe a0 estado da Babia, invadindo parte de Sergipe, Minas nn vane, Uialetal nao apenas privativa dos ive populares, mas de todos os niveis em que exista dife- renciagio, e os atlas lingiifsticos, com sua énfase na fonética e no vocabulérios, ¢ calcados apenas no falar convencert eth weet oon mrrones Mapa 2, Limites do falar baiono na divisso proposta por Antenor Nascentes +23 YONNE LETTE € DINAH cALLOU de iletrados, nao poderiam, por si sé, dar conta dese imensa diversificagio. A vatiagio atinge tambem o nivel culto, jd que a norma culea padre, conmubsean, ciada nas graméticas escolares, nada mais ¢ que umn abstracio. As normas cultas regionais devem ver fron lizadas como fatos dialetais ¢ essas modalidacles ponan fares deve ser estudadas precisamente a lur deces normas locais. Foi nesse sentido que surgiu, em 1970 © Projeto de Estudo da Norma Linguistica Urbans Culka (Projero NURC), que tinha por finalidade corde as normas lingiifsticas de cinco capitais brasileiras (Por to Alegre, Séo Paulo, Rio de Jancizo, Salvador ¢ Recife) através da anilise da fala culta média habivwal, Eos cidades proporcionam uma amostra telativa a tune populagio urbana concentrada cm quatro eidades fan dadasno sécwlo XVI euma-—Porco Alegre--no século XVIt, distribuiclas por nossa extensSo terstorial mal densuments powoide, correpondende, rot modo i " , faites rors do Sul (POA), Sudeste (SP e Rj) « Esse projeto disponibilizou uma documentagZo so- nora de mais de 650 horas de tegistros magnetofnvico ne pals, capaz de fomnecer dados sobre alingus faladse em diferentes modos de interasSo, entreviseas, didlan 80s, aulas, conferéncias, Desde 0 primeiro moments, 08 idealizadores do projeto brasileiro, que buscaran inspitasio no Projeto Internacional sobre o Espanhel na América, pretendetam demonstrar que havie uma +24. COMO FALAM 05 BRASILEIROS pluralidade de normas, normas objetivas, calcadas em dados empiricos, ¢ ndo uma norma imposta segundo padsées externos de corregao € juizo de valor. Questdes do tipo como se fala hoje em deverminadas comunida- des, que variagoes hid, sejam sociais, regionais, combi natérias ou distribucionais, ¢ qual o afastamento exis- tente entre as Iinguas falada e escrita poderiam encon- trar af uma resposta, Estudos sistematicos de varios fenémenos, nas mo- dalidades cultas de Porto Alegre, Sio Paulo, Rio de Janciro, Salvador e Recife, considerados centros urba- nos irradiadores de cultura, puderam comprovar, mais uma vez, essa diversidade de falares e normas, Além disso, nfo se detectou, como seria de esperar, uma coincidéncia entre o comportamento lingitistico desses falares ¢ suas respectivas dreas geogréficas: Recife, por exemplo, incluida na regio Nordeste, aproxima-se, muitas vezes, mais de Porto Alegre que de Salvador. O Rio de Janeiro, cujo dialeto ¢ considerado 0 “padrao” em relagio aos falares brasilciros ¢ € inclufdo entre os dialetos do Sul, apresenta realizagdes que ora o aprox mam de uma regio, ora de outra: no caso do 7, de Salvador e Recife, e no caso do famoso “chiado” cario- ca, apenas de Recife. Em outros casos, afasta-se tanto de Recife quanto de Salvador, aproximando-se mais de So Paulo e Porto Alegre, como no uso do artigo diante de nomes de pessoas, 0 Jodo, a Maria, usado mais freqlientemente na regido Sul, em oposico a Joi, -25- YORNE LEITE € DINAH CALLOU Maria, tipico da tegiio Norte e Nordeste ©, por estra- ho que possa parecer, de Niterdi, apenas do outro lado da ponte, dentro do préprio falar fluminenee -Assim, a escalaridade de ocorréncia de cada fendme- ne nio se sobrepie pari passe a uma continuidade geogrdfica. Ao menos, no quese referea alguns aspectos fonéticos e morfossintdticos, nao se pode tracar um feixe de isoglossas que determine dreas lisletaie nftidas. 0 falor carioca no Conjunto dos falares brasi Hi 80 anos, o carioca Antenor Nascentes, seguindo os Passos do paulista Amadeu Amaral, autor de O dialoe caiping, descrevia o falar do Rio de Janeiro, afirmando, 20 preficio da primeira edicio, que seu trabalho eae sstado da lingua e neste ponto seriam mais felizes do Aue ele, que nada encontrara, é Sbvio, do falarde 1832, Filho de pais cariocas, nascido e criado no entas Dis- trito Federal, considerava-se um “legftimo repre- pamante da fala genuinamente catioca ... habilitato a fazer o estudo dela ...”, +26. on COMO FALAM OS BRASILEIROS. a No Brasil, nas primeiras décadas do século ies = ra a forma de fazer um estudo dialetal: uma pon era & i 0 co! falar, contrastant baseada no seu préprio ti a ceeeaeses assisteméticas sobre os demais flares bra sileiros em oposigéo a um Portugues europe viral as 1, 2 € 3 sao frutos do tr Neen no sentido de delimitar, através de observa -Ges de natureza lingiifstica, as dreas dialerais brasileiras Ssitwaro “linguajar carioca” nesse conjunte scone! ‘Como se pode ver, a drea lingiiistica juminense” brange, além do estado do Rio de Janeiro, o Espiti al CONVENGOES ang Une Dos uaraTone i tenor ‘Mapa 3. Limites do falar fluminense na divisio proposta por An Nascentes +27 YONNE LEITE F DINAH CaLtoU Santo € uma zona de Minas Gerais (Mata ¢ parte do Mi Leste). O linguajar om carioca seri: i subilor Ra eee erla tuma variedade do hk ‘ . coi do Rio de Janeiro costuma ser caracterizada come um Taso de contrastes, sea no plano geograti- “ors m0 p ne socioecondmico, e€ raro encontrar eagle atual, uma cidade tio diversificada, Fase Gutdto nio é recente, a julgar por depoimentos de todas as cores ¢ vestudvios, se cruzarn A existénci: um. R an Ansistacin de um lado, deum Rio locatizado entre 0 mare, de out 10, de uma cid se estende por uma di ixads Sede ne rea de baixada, “depois? se ' 2 1 » “depois” da mon- 4 hs justifica a diferenca no plano geowrf ve aMbILO soci i é woman sioecondmico, Porém, que o contraste mais be He is 4 ¢m Funsao disso que a capital lumi feito em parceria pelo Programa d “ las Nagdes Uni ee sp osenvolvimento (PNUD), o Tnstituce wen rie mica (IPEA) ea Prefeitura, conforme pu ac one orn © Clobo de 24.3,2001. me lessa diferenciacéo no se apdiam direta- nte na geografia da cidade, embora as diferencas diferencas geograticas, COMO FALAM OS BRASILEIROS ese desenvolveu, a partir do século XIX, e que levou diferentes classes sociais a ocuparem pontos urbanos diversificados. A expansio da cidade conduziu, grosso modo, 2 oposicio orla versus interior, ou zona sul versus resto da cidade. Acé 0 inicio do século XIX, o Campo de Santana marcava © limite norte-urbano do Rio ¢ se rornou a unidade espacial em torno da qual caminhou aexpansao norte urbana, no decorrer do século, através da implantagio do projeto da Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1850. A cidade, de inicio, dividia-se em diversas freguesias ou paréqutias, passando a abranger, mais tarde, os tertitérios de jurisdigéo administeativa. ‘A mobilidade espacial/populacional era privilégio de poucos ¢ talvez possa explicar, em parte, as diferengas lingiifsticas que existem hoje na fala de moradores das tradicionais reas da cidade —- Zona Norte, Zona Sul © Zona Suburbana, esta ultima com résquicios de caracteristicas rurais ¢ abrangendo toda a drea residen- cial e industrial constituida ao longo das linhas férreas a pattir das tiltimas décadas do século XIX. Sao 0s diversos aspectos caracterizadores da mobili- dade econdmica, cultural ¢ social que marcaram o Rio de Janeiro nos tiltimos dois séculos que tornam possivel entender a dindmica lingtifstico-educacional neste ter- ceito milénio. Os resultados do Rélatério de Desenvol- vimento Humano apontam um Rio de contradigées, em que a escolaridade mais alta € a da Zona Sul, com 11 anos, seguida da Zona Norte, com 9, € dos subsir- +29. YONNE LEMTE E DINAH CALLOU bios, com quase 7. Com esse quadro, nal na Zona Suburbana se asscmelha Nordeste. Nao hd, porém, dentro de uma tinica zona, gud € a tinica drea do subtirbio em que a escolaridade média supera 8 anos de estudo © mais de 17% da populagao adulta possuem curso superion A tese de que a migragio elevou a escolaridade dos cariocas adultos nao se confirma, uma vez que a média da Populacéo migrante, de 6,9, é menor que a da nascidis na cidade, de 8,8. De todo modo, na cidade do Rio de Janeiro, a escolaridade média de 8, da média nacional. © nivel educacio- 20 das capitais do uma igualdade nem mesmo J que Madureira-Jacarepa- 2 € 2,7 anos acima O Rio de Janeiro representaria, por assim dizer, um cenominador comurn da realidade brasileira por dea Par dentro do pais uma posisio privilegiads, senor taxa de analfabetismo entre as 12 maio fais do pais c com um em cada cinco adultos, pelo menos, tendo iniciado 0 curso superior. A escolarided. média da populacao'é de 8,2 anos, taxa insatisfardeia Para os padres dos paises desenvolvidos, mas bem acima da média nacional de 5,5 anos. Esses dados de natureza educacional (publicados em O Globo de 12.5.2001) poderiam setvir como argumentos na de, fesa de que a linguagem do Rio de Janeiro é 0 “padrio” nacional. Ressalte-se, porém, que o bom nivel edites- sional nao esté iguaimente distribuido pela cidade, estande a populacio com nivel superior concentrad, coma res capi- +30- ees came COMO FALAM OS BRASILEIROS itros ricos da Zona Norte, distri- aan a a akvida, ent rlage com as cifecer- arcs hngtlsticas existentes, como jé foi comprova- JorAcidadeabriga, em seuslimites geogréficos, Bairos ooo Lagoa, cuja renda familiar per capita media de 52.126 chega a ser quase 23 veies iio gu or ef hulaidadeo Ri de Jnciro most ae escolas ss “ t one arande ference de Sto Paulo, o maior contin- cave populational do pais. Na capital palit, eco- faridade média & de 7,44, contra 8,16 dos eatiocas. No uc ee refered educasso superior o Riode ansizo, com TNédia de 19,75%, perde apenas pate Porto Alegre, Vitis ¢ Oueba, Br alfaberias, ow de 1 primeiro lugar, na canta populagge anlfbers de apenas 395 * para exemplificar a diferencngo por ec gros i i iva: Lb Se essgme ponte de rekréncia a distibuigio do » ccnsoanve que apresenta varias possibilidades de pro- ‘aincia, desde uma realizagao considerada padrio, mais conser yadora, de vibrante anterior, o chamado role de, mais freqiiente nos falares gaticho € pout ait cima aspitacio ou auséncia do segment, em final de infinitivos, como em tomd(7), fazé(y), real isa inais inovadoras, Dentro do Rio de Jancio, quanto + fla sla a Zona Sabusbana ques revel maisinovader : estivel, com freqiiéncia maior de aspiradas ( 1» .ale YONNE LEITE € DINAH CALLoU mas, be Spor outro edo, com o maior indice de preservacao Sescemento no contro final dos verbos, embora essa reas stale quae sempre através de uma flo. A Zons mais instével, apres gue 2 realises mls conseraoras demir Zones Heras mis inovadoras, no mesmo contexto, A pocenneal east aproxima de uma, ode outra, com ives pan, iemilicativo da forma mais conserva ez ¥ uma drea de ocupacao mais antiga 2 tradicional da cidade. pase mals anviga © “Na opinia i inNsopini de alguns, a diferenga nftida entre o rdo Paulista ¢ 0 do falar carioca 38 se acentuou ne morades de outras provincias s : Pow smarca reconhecida da prontincia catioca é Fido inn Ge 9 f1mos0 “chiado”, que parece tet ‘utido no Rio de Janeiro no inicio do sécules ‘COMO FALAM 0S BRASILEIROS. um dos dialetélogos brasileiros, Mario Marroquim, ao descrever a lingua do Nordeste. ‘A constatagio de que a Zona Sul, onde & mais acentuada a interagao sociocultural e espacial, apresen- ta maior grau de oscilagao de prontincia (70% de s “chiado” versus 30% de s “nao-chiado”), 4 semelhanga dos resultados relativos ao 7, sugere a necessidade de Jevar em conta a migragio de individuos procedentes de outras regides do pais para as diversas dreas da cidade, No Centio, area inicial de residéncia da corte portuguesa, 0 indice de s “chiado” chega a 96%. Convém lembrar que a vinda da corte portuguesa impés uma série de mudangas na cidade ¢ fez surgit uma classe social até entio inexistente. A cidade pouco a pouco passou a ser movida por ldgicas distintas, 2 escravista e a capitalista, com reflexes no espaco urbano © a separacdo de usos ¢ classes que se amontoavam no antigo espago colonial: brancos ¢ negros, livres ou escravos. Pelo relatétio de 1873 da Diretoria Geral de Estatistica, o chamado Municipio Neutro — que cor- responde & cidade do Rio de Janeiro — contava com uma populagio total de 274.972, sendo 226.033 ho- mens livres ¢ 48.939 escravos. ‘A expansio urbana nao foi acompanhada de uma preocupagao social igualitaria ¢ nao beneficiou as dreas em que as camadas mais pobres da populacio residiam. Deu-se, algumas vezes, 0 encontro de grupos pertencentes as classes mais baixas da popu- +33 YONNE LEME & DINAH cAuLOU lado com outros provenieni es de setores ticos mo Hentes de setores mais rick da sociedad, mas nunca houv cdo total entre uve intera A @S; pois © conceito de hierar uma oposicao lingiiistica, com a Presenga, em lados , opostos, de dois 4 » Possiveis + do falar carioca: Personagens da histéria possiveis ¢ mais popular, origindtio dos aqui. i {a0 Assim, a chamada polastagag pulares ©, em outro Populares ow verndcilan dos falantes menos escolar dos falantes mais escola distintas da norma padrito, modelos preconizados pela No que se refere a alfab, izados, essas, por sua ver que cotresponderia aos las gramaticas normativas. ), sae — YONNE LENE € DINAH cALLOU mas nao no de abaixamento (e— € de Recife. As mulheres apresentam ‘naiony ened de aplicagao da regra de elevagio que os homens ae bese serum indo de que as mulheres esto Tideranco um processo de mudanga, isto 6 seriam elas mai inovadoras por estatem usando as vatiantes Hlpices le geragdo mais nova. * A distribuigo dos resultados por faixas evdrias trou, no caso das pretdnicas, que, no Rio de Janine a slevasdo & mais freqiiente nos falantes mais walk : Gnais de 36 anos), diminuindo gtadativamente ee BeragGes mais jovens (25-35 anos). Ja em Recife é 4 Beragio mais Jovem, € nao a mais velha, que preferen- cialmente alteia a vogal, tanto a anterior e, quanto a Posterior 2 Esse comportamento inverso nas duas » uma do Nordeste ¢ outra do Sudeste, nao é wuprendente, uma ves gue c pee em Recife ¢ o do abaixamento da vogal e sao os ime sendo depositétios de formas mais antigas, pod Supor que a forma inovadora, a prefereneial dee mans Jancizo scja a manutengdo da vogal média, jd que o abaixamento no passa de 5% ¢ atinge um nth restrito de vocdbulos. mere 142. ‘COMO FALAM OS BRASILEIROS As consoantes pés-vocdlicas Os fonemas s, re /apresentam, em posigao final de si- laba, variagGes significativas e prestam-se A caracteriza- 80 dos dialetos regionais. A tendéncia expressa pelas variagdes dos fonemas parece ser a j4 observada em quase todas as linguas: a posteriorizagio do ponto de articulacdo da consoante, acompanhada de um proces- so de enfraquecimento e perda, se em final de palavra. ‘Tecnicamente, tem-se como possibilidades de realiza- a0 do'r, em palavras como rato, carro, carta, uma vi- brante dpico-alveolar multipla, uma fricativa velar, - uma mera aspiragio ¢, em palavras como amore cantar, até mesmo a auséncia do segmento. Ocorre ainda, em raros casos, uma vibrante retroflexa, o famoso rcaipira O spode ser “chiado” ou “sibilante”, uma aspiragio ou zero, excepcionalmente, em palavras como rasto, cisco, mesmo, luz, pires. O Ladmite basicamente duas possibi- lidades: ‘uma variante vocalizada, que leva & confusio na escrita de formas como mal e mau, e outta velariza~ da, que ficou célebre gracas aos pronunciamentos de polfticos gatichos no radio. (Os resultados aqui apre- sentados esto bascados na audigao de 30 fitas magne- tofenicas, 4.334 ocorréncias de 7, 9.026 de s ¢ 2.595 del) Or pés-vocdllico © estudo quantitative da distribuigio de variances nas cinco capitais mostrou que $40 Paulo € Porto +43 YONNE LETTE E DINAH CALLOU Alegre opéem-se nitidamente ao Rio de Janeiro, Sal- vador ¢ Recife nos indices de fireqiiéncia das variantes. Em Sao Paulo e Porto Alegre, a vibrante simples apre- Senta percentuais muito préximos: 62% e 68%. No Rio de Janeiro, Salvador ¢ Recife, a variante quase nao ecorre. No que tange a fricativa velat, Séo Paulo ¢ Porto Alegre apresentam um {ndice muito baixo de ocorréncia, No Rio de Janeiro ¢ em Salvador é essa a realizagio mais freqiiente: 39%. Em Recife, esse per- centual baixa para 28%. Por outro lado, em relagao 4 fricativa aspirada, variance ausente em Sao Paulo e com percentual de 1% em Porto Alegre, é em Recife Que se encontra 0 indice mais alto, 38%, enquanto Rio de Janciro ¢ Salvador tem 23% e 25%, respecti- vamente, A diferenga entre as duas éreas fica ainda mais nitida Se considerarmos apenas 0 contexto final de stlaba, no interior do vocdbulo,-c opusermos a tealizagao anterior (vibrante apical simples e miikipla) & realizagzo poste tlorizada (fricativa velar, aspiracio), como se pode ver na Figura 2, em que se apresentam os percentuais de posteriorizago do rem posico medial, Os resulcados permitem tragar, mais uma vez, uma linha diviséria que separa So Paulo ¢ Porto Alegte de Rio de Janeiro, Salvador ¢ Recife, os primeiros privile- giando as variantes vibrantes apicais ¢ os segundos, as vatiantes ndo-vibrantes posteriores, 14a. en = er = COMO FALAM OS BRASILEIROS Figura 2. Nao-vibrante posterior nas cinco cidades Os pés-vocdlico Palavras como cisco ¢ mesmo podem ser pronunciadas com um 5 “sibilante” ow “chiado”, a depender do dialeto. Anslises quantitativas evidenciam que Paulo ¢ Porto Alegre tém uma distribuigio Prascamen- te idéntica, com predomfnio quase absoluto da sali zagio alveolar, No Rio de Janeiro, por ou lade predomina a realizagio palatal, comportando-se Recif de forma semelhante, embora com percentual mais baixo, 69%. Salvador, por sua vez, apresenta uma distribuigdo equilibrada das duas variantes. 145° es YONNE LEITE € DINAH CALLOU RE ‘38a, a) 3P. POR Figura 3. “Chiamento* versus *ndo-chiamento" Observa-se, portanto, de novo, uma oposigao “sul/norte”, caracterizando-se a primeira pela nio-pa- latalizacao (realizaczo sibilante). A regido “norte”, en- tretanto, nao apresenta comportamento homogéneo: de um lado Recife ¢ Rio de Janeiro ostentam um clevado grau de “chiamento”, em oposigae a Salvador. Esses dados corroboram em parte a divisao de dren; lingiifsticas Proposta per Antenor Nascentes, que ad. mite um falar baiano que se ope aos falares nordceth, no, sulista ¢ fluminense. Assim, no Mapa 4, uma linha divisoria separa Porto Alegre ¢ Séo Paulo de Rio de Janeiro, Salvador e Recife, ea maior aproximagao entre Rio de Janciro e Recife € assinalada pele circunscrigao de Salvador. +46 COMO FALAM OS BRASILEIROS O1 pés-vocdlico rial examinado confirma um fato piblico notseer avocalizacao da lateral ¢ geral em todo o Pals Nao pode ser considerada um trago da fala pope us resttito a algumas Areas, como Ceard ¢ Rio Janeiro, Comparsn a fas cle de St Palo, Rio de Janene, do a fala culta de Sio Paulo, Savaton Recife e Porto Alegre, € facil pereeber awe Porto Alegrese distingue das demais, sendo ar lizasa alveolar/velar praticamente exclusiva dessa capital. cm Além disso, a prontincia vocalizada concorre m Porto Alegre com a proniincia velar/alveolar, com Pre- dominio da primeira entre os jovens, 0 que in aria uma mudanga em progresso, mas apenas para os Figura 4. Vocalizagio do £ +47 | ree YONNE LEITE € DINAH CALLOU mens. As mulheres apresentam outta configuracéo de uso, em que se igualam j i jovens ¢ idosos em com os adultos, “variate estavel. © que corresponde a uma variasio Figura 5. Distribui género/faixa etaria ‘G40 de uso da variante.vocalizada do / por Padrio entonacional em estrutseras de tipico Ovione da fase, o1 cadencia, pode ser considerado um na de apaixonante discussie, que supera mesmo, ne maiotia cas veres, a difirenciagiio fonicd na perecn, auditiva do interlocutor. E justamente af que fore, salts 2 mancira de falar nordestina em relagdo as 3s dreas, principalmente para as pessoas que tém bom ouvide. Nao é propriamente a prontineia de arn +48. COMO FALAM OS BRASILEIROS determinado som por um cearense, pernambucano ou amazonense que pode chocar um falante carioca; € 0 modo peculiar de falar “cantando” dos primeiros e nio do uiltimo, que nao “canta”, embora todos pronunciem, as vogais pretOnicas abertas. A anilise realizada na fala culta das cinco capitais abrange apenas as curvas entonacionais relativas as chamadas construgées de tépico, isto é aquelas cons- trugGes em que um sintagma nominal aparece desloca- do a esquerda da sentenca ¢ corresponde, em geral, ao tema da conversa, como “a passagem, cu compro a prazo”, “o carro, o pneu furou”, “drama, jd basta a vida”. Foram estabelecidos sete padrées entonacionais com a finalidade de verificar se haveria um padrio caracteristico de cada regiéo: 1. Ascendente simples: apresenta uma subida melédica na silaba ténica final ou na pés-ténica. 2. Ascendente duplo: duas modulagées ascendentes, 3. Ascendente/descendente: modulagio ascendente na primeira r6nica, alta aré a preténica final, descendo na liltima tnica, 4, Ascendente contrastivo: modulagio ascendente na preténica ou na ténica, ¢, neste ultimo caso, mais acentuada que © padrao ascendente simples. 5. Descendente: modulagao descendente na tOnica final. 6. Neutro: tessitura normal, sem modulagio. 7. Alto: cessitura alta, sem modulacao. +49. | ere YONNE LEITE € DINAH caLLou Verificou-se que hé, na verdade, uma distribuigdo regional mais nitida no que se refere a0 padrao des. conden A Figura 6 apresenta os percentuais de ocor- sec dos tres padres basicos, ascendente (simples, lo ou contrastivo), descendente > (tessitura neutra ou alta): “Sem modulaszo Figura 6, PadrBes entonacionais nas construgées de topico Assim, Porto Alegre se singulariza por uma ndo- ocorréncia do padrio descendente ¢ total predomi. nancia do padrio ascendente (89%). O Rio de Janciro aproxima-se da distribuigao de Porto Alegre embora dele difira pela possibilidade mininta da um padro descendente. Ocupa, em geral, ama Posigao intermeditria entre Salvador ¢ Recife de um lado € Sao Paulo e Porto Alepre de outro. No a , . ; S° expecifico, estd mais proximo de Porto Alegre 50 COMO FALAM OS BRASILEIROS que de Sao Paulo. As cidades de Salvador e Ree mais uma vez apresentam comportamentos seme- thantes, embora o padrao descendente seja mais caracterfstico da primeira, Os dados referentes a esse padrdo € que permitem tragar uma linha que separa Salvador, Recife ¢ Sao Paulo de Porto Alegre ¢ Rio de Janeiro, conforme Mapa 4. Os sotaques sintaticos da fala culta Conquanto as diferengas que chamam de imediato a atengio de qualquer usudrio de uma lingua fossem as de prontincia, ¢ nfo se esperassem nitidas diferengas entre as cinco cidades na andlise de fatos gramaticais, tornou-se evidente, conforme palavras do lingiista Fernando Tarallo, a existéncia de “sotaques sintéticos”. O artigo definido diante de nomes préprios ¢ de possessivos © portugués do Brasil apresenta um aspecto diverso da maioria das linguas roménicas: a possibilidade de em- prego de artigo diante de possessivos, 0 meu Livro, ¢ diante de antropénimos, 4 Maria. Esses usos varidveis so mencionades na gramdtica normativa, mas ndo se estabelece uma correlagao entre os dois. O uso diante de antropénimos é normalmente considerado indica- -51- | een ener YONNE LEITE £ DINAH cALLOU tivo do grau de intimidade entre falantes e, embora no estigmatizado ou valorizado socialmente, ¢ evitada em textos jornalisticos e técnicos que utilizam uma lingua- Bem menos marcada, mais impessoal. © mesmo na» ec aplica aos textos literdrios, em que o uso do artigo pode ter uma funcio estilfstica. Sabe-se que houve um aumento gradual de uso do artigo nos dois contextos nos tltimos séculos, max sua freqliéncia de uso é assimeétrica: diante de Possessivos é alta ¢ diante de nomes préprios é neutra, se anuladas as distingSes existentes entre as diversas Areas do terri- tétio brasileiro. No Brasil, na verdade, 0 uso do artigo diante de nomes personativos obedece a ume distribui- 40 regional nitida e é suficiente, por si sd, Para deter- minar a regito de origem do filante. A freqiiéncia aumenta & proporgiio que se vai do nordeste para osul do pats, embora cada cidade apresente uns comporta- mento interno heterogéneo em relago a homens « mulheres, jovens e idosos. O comportamento dialetal diferenciado poderia apoiar-se, além de ena critétios histéricos, na diferenga entre o ritmo sildbico eo ritmo acentual, geralmente considerados, tespectivamente, caracteristicos dos falares “nortistas” © “sulistas”, Os Primeiros tenderiam a nao empregar 0 artigo e os iltimos a empregé-lo, termos absolutos, a distingo se situa no Rio de Janciro ¢ em Sio Paulo. Enquanto, diante des posses- sivos os falantes do Rio de Janeiro ¢ de Sa0 Paulo ficam +52. COMO FALAM OS BRASILEIOS. [man proprio mpossessivo - a 7% oo 70 70% on 20 Pa J RE. 35a Re - POA §4 es Figura 7. Distribuigdo regional de uso do artigo diante de nom proprios e de possessivos “norte” @ “sul”. di dos a meio caminho entre “norte” e “sul”, diante dos a ai ais antropénimos os falantes de Sao Paulo séo os que mais utilizam o artigo. _ sante de Os limites relatives & freqiiéncia de uso dante de nomes préprios sao mais nitidos: Sio Paulo ¢ Por ° Alegre opem-se a Recife ¢ Salvador, o Rio de Jancir permanecendo numa posic&o intermedidtia. Alternancia ‘nés’l'a gente” A inclusio da expressio a genze no quadro des poner mes péssoais jd motivou pesquisas tanto ns fs cl quanto na popular. No portugués do Brasil, a dis buigio de uso de 2 gente ¢ nds é mais ou 153+ rr YONNE LEITE & DINAH CALLOU equilibrada: 56% ¢ 449%, respectivamente. Nao se encontram grandes divergéncias entre as cinco capitais brasileiras, mas o Rio de Janeiro é a capital onde mais se usa a gente (69%) na fangao de sujeito, enquanto as lemais cidades ainda privilegiam o emprego de nds conforme se pode ver na Figura 8. “ Os percentuais de uso indicam que a substituigéo de nds por a gente ainda nao atingiu ria norma culta o rnesmo ive de accitagao que se verifica na fala popu- r. Na década de 90, na verdade, i atingin 759 no Rio de Janet cmos ovens cheno sou 90%. Esse fato sugere uma substituiczo accler ‘da de nds por a gente nos iltimos 20 anos. “ [scene woos] 72% om ome . . 20% = am a7 ae 208% FE 550 Ba se Toe COMO FALAM 0S BRASILEIROS, “Ter” por “haver” em construgies existenciais Costuma-se dizer que a substituigao de Aaver por ter, em estruturas existenciais, constitui uma das marcas que caracterizam 0 portugués do Brasil, em oposigao ao portugués de Portugal e a semelhanga do de Angola ¢ Mogambique. Na modalidade oral culta do portugués brasileiro contempor4neo, a penetragao de ter ainda nao se com- pletou. Observando os mesmos cinco centros urbanos, a partir de gravag6es realizadas na década de 70, veri- fica-se, mais uma vez, que hé diferenciacao regional. No Rio de Janciro, na década de 90, 0 uso de ter j4 alcangava 78% e, nos mais jovens, de 25 a 35 anos, chegava a atingir 97%. Mesmo na década de 70, so os jovens que apresentam um uso maior de ser, oscilando entre 77 ¢ 89%, com excegio de Salvador, cujos falantes da faixa intermedidria, entre 36¢55 anos, € que usavam preferencialmente zer (90%). Salvador apresenta um Figura 8. Percentuais de uso de nds ¢ 0 gente ba Figura 9. Uso de ter em estruturas existenciais +555 rrr YONNE LEFTE E DINAH CALLOU comporcamento diferenciado também no que se refex istingio de género: € a tnica a . : : € a tunica cidade, das of analisadas, em que os hi ser que ws 7 OMENS us i salina sam mais ter que as A anilise de textos jornalisticos, 29.10 a 811.1999, Gis ODE . em trés jornais, O Globo, O Di « Powe de Rio, © primeiro enquadrado entre os de . — que fornecem informagio sébria e séria © que gozam de 0 ju ee fe < Prestigio Junto as classes A or ter jd atingiu a lingua escrita. 2, como seria de esperar, ainda se feréncia pela variante padrao, com No jornal O Glo verifica uma pre 20% 60% 40%, 30% 20%. oe on Creer) oD Povo Figura 10. Distribui ao de i (esata de 90)? 4 U0 de ter € haver por tipo de joonal +56- COMO FALAM 05 BRASILEIROS predominio do verbo have, enquanto nos jornais mais populares, © percentual maior ¢ de ter. Normas, pluralismo ete. A variagio existente hoje no portugués do Brasil, que nos permite reconhecer uma pluralidade de falares, € fruto da dinamica populacional ¢ da natureza do con- tato dos diversos grupos étnicos e sociais nos diferentes perfodos da nossa histéria. Sao fatos dessa natureza que demonstram que néo se pode pensar no uso de uma lingua em termes de “certo” ¢ “errado” ¢ em variante regional “melhor” ou “pior”, “bonita” ou “feia”. No ensino da lingua escrita, contudo, procura-se neutrali- zat as marcas identificadoras de cada grupo social, a fim _de atingir um padvio tinico abstrato e idealizado que seja supranacional. O paradoxo estd em que cada falar, mesmo 0 culto, tem sua norma, variantes que prevale- cem estatisticamente, mas que néo anulam a ocorrén- cia de outras. Para exemplificar, como se pode ver nas Figuras 11 ¢ 12 referentes ao 7; no contexto final de sflaba, em carta ou porto, quase todas as variantes ocorrem, tanto em Porto Alegre quanto no Rio de Janeiro. O que singulariza uma ou outa cidade € a predominancia de determinada variante sobre as ou- tras: em Porto Alegre, 0 r rolado; no Rio de Janeiro, 0 r posterior (velar ou aspirado). “57 ett a ‘YONNE LEITE E DINAH cALOU Figura 12. Tipos de rno Rio de Janeiro Que evidéncias inequh eviden -quivocas ha para decidi dain i dec desi eum to Tingulstico do Rio de Janeizo representa o padnto € € melhor que 0 de Porto Al qualquer outra cidade? ee de Salvador ou de +58. COMO FALAM OS BRASILEIROS E mais um adendo. Vocalizar o J apagar © r dos infinitivos, dizer tem livros em cima da mesa, em vez de hd livros em cima da mesa, ndo constituem ameagas & integridade da Lingua portuguesa. A vocalizagio do /ja ocorria em latim, o francés j4 cancelou o r de seus infinitivos ha séculos ¢ a invaséo de ser no dominio de haver j4 ocortea desde, pelo menos, 0 século XVI, quando a idéia de posse passou a ser expressa pelo verbo ter, € no mais pelo verbo baver. Nem os empréstimos lexicais colocam a lingua “a perigo”. Sac apenas reflexos de contatos culturais, ontem ¢ hoje. Convivemos per- feitamente bem com palavras como alcool, almofada, do arabe, garagem e personagem, do francés, e futebol, do inglés. E temos de conviver também com deletar, por empréstimo ao inglés, que, por sua vez, tem origem latina (delere, delesum). Tragando linhas imaginarias Outra questéo digna de destaque ¢ a de que nao hd, necessariamente, uma coincidéncia entre 0 comporta- mento lingiifstico dos falares ¢ de suas areas geogréficas respectivas: Recife, por exemplo, incluida na regido Nordeste, aproxima-se, muitas vezes, mais de Porto Alegre que de Salvador. O Rio de Janeiro, cujo dialeto & considerado 0 “padrio médio” em relagio aos falares brasileiros e é inclufdo, segundo Nascentes, cntre os +59 YONNE LETTE & DINAH CALLOU dialetos do Sul, apresenta realizagaes que ora 0 aproxi- mam de Salvador ¢ Recife, como no caso do ” ora apenas de Recife, coma no caso do s. O falar do Rio de Janciro, pois, ora se liga aos falares do Sul ors aos do Noxdeste, ora ocupa uma posigtio intermedidtia. clou sintdticos: “chia 0 5 aspina 0 pode apostar, é carioca, © mulher’ ‘nio chia os, vibra.o n sm entoagito ascendente, ¢ gaitehy”, Voltando ao comeco Tad isso teve inicio com a chegada de Cabral, que, ao ePortar no Nove Mundo, se deparou com povos, coo, Panes ¢ linguas diversos, até entéo desconhecides Pouco depois, chegaram os jesuitas, com misera de transformar os indigenas em cristios, E daj surgiu a Primeira gramdtica de falares brasileitos, Avge ole gra auese. Como qualquer gramética, embora intertaose Sst apenas descritiva © pedagogica, terminou por ser +60. COMO FALAM 05 BRASILEIROS convencoes Lio 96° cane FeR-NGS 8 i areas Mapa 4. Linhas demarcatérias de fendmenos lingliisticos em no continues -61- YONNE LEITE E DINAH CALLOL um instrumento de normatizagao ¢ homogeneizacao. E bom lembrar que havia em tupinambd urn, variagio dialctal bem Pronunciada. Fernio Cardim, um de nossos primeiros cronistas, menciona, em 1584, 68 dialetos distintos do tupinambé que se estendiant por ima drea correspondente aos estados de Sergipe, Bahia, Espirito Santo e Rio de Janeiro, aproximadamente. Anchieta até reconhece essa diversidade, ao comparar a diferenga de prontincia de falantes de Sao Vicen- te/Sao Paulo ¢ do Rio de Janeiro, cujo dialeto rettans em sua gramética, . A politica posta em préiica pelos jesuitas com o apoio da Coroa tirou dos indios seus costumes, suas ‘srras, sua cosmologia, sua mtisica e sua lingua. A uma diversidade condenada impés-se uma homogeneidade, cujo objetivo era manter a unidade do territério con. quistado. Essas populagSes sem f& nem lei, nem 6h deveriam passar a ter uma f6, 36 uma lei, a wm rei. Estavam assim langadas as bases para um imagindrio, que ainda hoje perdura, de uma Terra Brasilica, lingtifs- tea e culturalmente homogénca. Os hospedeiros dos portugueses, os tupinambis, conviviam bem com a vatiagio e a heterogencidade, ja que sua sociedade nao tinha como critério classificaré— tio 0 “bem” ou “mal” falar, que dir4 9 “bem” ou “mal” escrever. Mas chegara também com Cabral uma socie- dade portuguesa estratificada, em que prevaleciam jute vos de valor sobre a linguagem. E hoje legisla-se sem +62. COMO FALAM 0S BRASILEIROS real conhecimento da complexidade dos fatos que caracterizam cada falar. Elege-se um padrao seprana cional, do mesmo modo como se institucionalizo uma lingua indigena como lingua geral. E assim tudo continua. +63- Cronologia oss Primeira gramatica de uma lingua brasileira: Arte fegammasice da ingoa mais wsada na csi do Bra, de José de Anchieta, efcrita para ensinar 0 cupinambé aos Jesuitas com a finalidade de tornar mais eficaz acatequese 1823 Reconhecimento oficial das diferengas de “pross- dia” do porty; io no Brasil gués falado no Bi . Nacional Comtitaina’ irasil durante a Assembléia 1852 Publicaggo de Cole ecto de voedbulos ¢ ina provincia de Sto Pedro do. Rio Coon ie Sate fOnio Alvares Pereira Coruja, primeico glossirio regio~ nal representative dé imei fe uma primei i letoldgicos primeira fase dos estudos dia- . io Publicasao de O dialeto caipira, de Amadeu Ama: » marco da dialetologia brasilei imei 5 swonogedico dem flare padiaas Pete edo 1222. Publicagho de O tinguajar carioca, de Antenor seucentes, com urna primeira tentativa de divisio de eas dialetais brasileiras, a partir de dados lingtifsticos 1937 Primeiro Congresso da Lény 7 \gua Nacional Cat realizado no Teatro Municipal de Sao Paulo, om rast cipasio da alta intelectualidade da época, tendo como idade estabelecer as “normas de dicgio em lingua +64. COMO FALAM 05 BRASILEIROS nacional, adequando-as as exigencias dos fonemas nacio- nais”. 1956 Primeiro Congresso Brasileiro de Lingua Falada no Teatro. Realizado em Salvador, teve como objetivo a padronizagio de uma prontincia no marcada regional- mente a ser usada nao sé no teatro, mas também no Congresso Nacional, em conferéncias, salas de aula e em todos os veiculos de comunicagio de massa. 1963 Publicagao do primeiro atlas lingiiistico brasileiro, 0 Atlas prévio dos falares baianos, Num reconhecimento da hererogeneidade, pela primeira vez buscava-se estabe- lecer limites lingiifsticos através da distribuigao espacial de formas lingiifsticas. Serviu de modelo para os que seguiram. 1969 Inicio do projeto nacional de estudo da Norma Lingiifstica Urbana Culta (NURC) com a finalidade de caracterizar uma pluralidade de normas que levassem em conta as diferencas regionais ¢ socioculturais do pais, opondo-se aos desideratos do Congreso de Lingua Fala- da no Teatro. 1997. In{cio do projeto nacional Para a Histéria do Por- tugués Brasileiro, empreendimento que tem por finalida- de a reconstrugao dos elementos sociais ¢ lingiifsticos da histéria do portugués brasileiro. +65 Referéncias e fontes A “Introdugao” retrata a tensfo existente ent: " eee. ne i Sade lings supranacional e + consatago de ung rewidade regional e sociocultural, utilzandoos seguin.- Pane Bes € obras: Jodo Ribeiro, A lingua nacional, Sto rag BPanhia Editora Nacional, 2*ed., 1933; Ma. nel Diggs Je. Regibes cultterais do Brasil, Rio de Janeiro, we » 19 Anténio Houaiss, Sugestoes (para ui 1 politica do idioma, Rio de Jancito, MECIINL, 1960; Poe mneiro Congresso Nacional de de Janeiro, MEC, 1958, Lingua Falada no Teatro, Rio “Uma visio geral do Brasil: © mito da hom logen. ” spbinss nee trabalhos de: José Honério Rednes tia gira vie, Sto Paulo, Global Universitaria, 1986; Sérgio Bua 4 jc Holanda, Ratzes do Brasil, Rio de Janeiro, Jose Ohm Pio, 20, 19885 Serafim da Silva Neto, Jnirodu- Presa nde da lingua portuguesa no Brasil Riode Jancieo Pretend, 1986; Nelson Rossi, “A realidade brasi. cena, nite da unidade e sux manipulacio”, Revista do Ine ae Bird Brasileiros, 22, Sao Paulo, USP, p.34- i A in Rodrigues, Lingwas indigenas: 500 anos de dee Tae C pends, Delta vol.9, n*1, Sio Paulo, 1993 Portaeced Raine Lucchesi “A constituigio histérica do 'gués brasileiro como um proceso bipolarizador, -66- COMO FALAM OS BRASILEIROS tendéncia atual de mudanca nas normas cultae popular”, in Grosze, S. eK. Zimmermann (orgs.), “Substandard” e mudanga no portugués do Brasil, Frankfurt, TPM, 1998, p.73-99. “Assumindo a diversidade” apresenta as diversas propos- tas de divisdo do Brasil em dreas regionais, entre as quais se destaca a de Antenor Nascentes, reformulada na 2* edigao de O linguajar carioca, Rio de Janeiro, Simoes, 1953, Registram-se também os atlas lingiiisticos gerais j& publicados ¢ os principais estudos monogrdficos: Nelson Rossi etal., Ailas prévio dos falares baianos, Rio de Janeiro, MECIINL, 1963; José Ribeiro et al., Esbogo de um atlas Lingiilstico de Minas Gerais, Rio de Janeiro, MEC/Funda- 0 Casa de Rui Barbosa/Universidade de Juiz de Fora, Vol.1, 1977; Maria do Socorro Aragéo e Cleusa Menezes, Aulas lingittstico da Paraiba, Cartas léxicas e fonéticas, Brasilia, UEPb/CNPq, 1984; Carlota Ferreira et al., Avdas Lingiiistico de Sergipe, Salvador, UFBA/Fundagao Estadual de Cultura do Estado de Sergipe, vol.1, 19875 Vanderci Aguilera, Arlas lingiiéstico do Parand, Curitiba, Imprensa Oficial do Estado do Parana, vol.1, 1994. Além do tra- balho de Antenor Nascentes, estéo referidos: Amadeu Amaral. O dialeto caipira, Sao Paulo, Hucitec/SCET/CEC, 38 ed.,1976 (1? ed. 1920), e Mario Marroquim, A Hingua do Nordeste (Alagoas ¢ Pernambuco), Sao Paulo, Compa- nhia Editora Nacional, 1934. E rambém 0 artigo de José Liberal de Castro, “Excrasio da média aritmética da promincia nacional. Caracterizagio da base carioca, como resultado da média. Notas subsididrias a respeito -67- RE YONNE LEE E DINAH caLou do linguajar cearense”, Anais do gress Primeiro Con, 3 keiro de Lingua Falada ime aoe, pete Li. 70 Teatro, Rio de Jancito, MEC, 2O Flat catioca no conjunto dos falares brasileiros” Sas. idade © variasso lingistia” apoiam-se nba Oo Ak Antenor Nascentes, anteriormente citado, ¢ eng pane (allow, Variagdo ¢ dissribuigéo da vibrant na file urbana culta do Rio de Janeiro, Rio de Join W/PROED, 1987; Dinah Callou e Maria Helena Nae, Fie 70 3 implosivo na linguagem do Rio de Jancico”, ‘era, 14, ano 5, Rio de Janel j : paar Mauricio Ahasuy eae wnat det 1975, janeiro, Rio de Janeito, Jorge Zahar, 1989, Lvs Aleexszo (ore) Hiab davida prada eB al Treen Companhia das Letras, 1997. Os dados exc ificos foram exttaidos de O Globo, “Retratos do Rio” ee 24.3.2001, e de: Recenseamento do Brasil de be. nee yeutto, vols, IBGE; Relatério de 1873, cacti graphia Franco-Americane, 1874. ¢ feo, DP Prasil de 1890, Distrito Federal, voli, Ber” @ Para a caracterizacdo dos falares brasileiros” © “Norm: Pluralismo etc.” baseiam-se em estudos walizalen Dinah Callow, Yonne Leite et al., “Usa problema oa fonologia do portugues: variagao das vogais pretSnieas” in r Cilene Pereira © Paulo Pereira (orgs), Macelinea de (os dengiitseicos, Ploldgicos © litevtrios in ym Ge Cunha, Rio de Janeito, Nova Fronteica, | 995 p59. ' Socorro Demasi, “OI posvocdlico na fle lee iy +68. ‘COMO FALAM OS BRASILEIRO. Rio de Janciro”, in Cilene Pereira e Paulo Pereira (orgs.), op. cit., p.115-63; Dinah Callou, Yonne Leite ¢ Joao Moraes, “Processos de enfraquecimento consonantal”, in Maria Bernadete Abaurre e Angela Rodrigues (orgs.), Gramdtica do portugues falado, volt, Campinas, Uni- camp, no prelo, e, dos mesmos autores, “A topicalizagao no portugués do Brasil: sintaxe e prosédia”, in Herold Hitly (org,), Actes du XX* Congrés International de Linguis- tique et Philologie Romanes, Tabingen, A. Francke, 1993, p.89-97; Dinah Callou 8 Giselle Oliveira ¢ Silva, “O uso do artigo em contextos especificos”, in Dermeval da Hora (org,), Diversidade lingitistica no Brasil, Joao Pessoa, Idéia, 1997, p.11-27; Célia Lopes. “Nés”e “a gente” no poreugués falado culto do Brasil, Delta, 14/2, Sa0 Paulo, EDUC, 1998, p.405-22; Suzana Cardoso, “Ter e haver no portu- gués do Brasil: mudanga lingilistica ¢ ensino”, Atas dor Simpésio sobre a Diversidade Lingiiistica no Brasil, Salva- dor, UFBA, p.223-36; Rosa Virginia Mattos ¢ Silva, “A variacao haver/ter”, in R.V. Mattos ¢ Silva, (org.), A carta de Caminha— Testemunho lingitistico de 1500. Salvador, EDUFBA, 1996, p.182-93. “Tracando linhas imagindrias” e “Voltando ao comego” tratam da tenrativa de estabelecer limites de fatos lingtifs- ticos e de situar 0 inicio da questao da unidade e diversi- dade lingiifstica, com © apoio de: Dinah Callou, Yonne Leite ¢ Jodo Moraes, “Variagao dialetal no portugués do Brasil: aspectos fonéticos e morfossintaticos”, Revista In- ternacional de Lingua portuguesa, 14, mimeo especial, Lisboa/Associagao das Universidades de Lingua Portu- +69. ee YONNE LEITE E DINAH CALLOU guess, Editorial Noticias, 1995, p.106-18; Yonne Leite ¢ Bruna Francherto, “500 anos de linguas indigenas no Bre iin Suzana Cardoso, Jacyra Mota e Rosa Virginia M fan me < Sine (orgs.), 500 anos de lingua portuguesa no ih, lor, UEBA, no prelo; A, igues, “ n : 5 Aryon Rod: - ‘icin del tupinambé en el periodo colonial cl ane de “ chien in Klaus Zimmermann (org.), La descripcién Te ings emerindias en la época colonial. Madri > » p.371-400; Maria Candida Drummond Barros, Lui Mein A » Luiz Borges ¢ Marcio Meira, ‘) Jingua geral como identidade construida’ Revista a intropologia, 3911, Séo Paulo, 1996, p.191-219. +70. Sugestées de leitura ABREU, Mauricio. Evolugao urbana do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1987. Trabalho que descreve a estrutura metropolitana do Rio de Janeiro e suas intera- ges com os processos econdmicos, sociais e politicos. . CARDOSO, Suzana ¢ Carlota Ferreira, A dialetologia no Brasil, Séo Paulo, Contexto, 1994. Introdugao 4 metodo- logia de trabalho dialetal: o que se escreveu sobre a lingua do pafs, quem e quando. CASTILHO, Ataliba. Para a hisedria do portugués brasileiro. Primeiras idéias, vol.1, S40 Paulo, USP/Humanitas/Fa- pesp, 1998. Coletinea de textos que levantam quest6es sobre uma histéria do portugués brasileiro. CUNHA, Celso. A questdo da norma culta brasileira, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1985. Apresentacio do Projeto de Estudo da Norma Lingiifstica Oral Culta e de seus Objetivos. Para quem quer saber mais sobre obser- vagio e estabelecimento de normas, de Iingua escrita e de lingua falada. LOPES, Eliane et al. (org.). 500 anos de educagao no Brasil, Belo Horizonte, Auténtica, 2000. ‘Textos sobre a historia da educagzo no Brasil que levam 3 teflexio sobre 0 mundo, o homem e a cidade. | YONNE LEITE E DINAH CALLOU MATTOS ESILVA, Rosa Virginia, Contradigées no ensino do Pertuguts, Sao Paulo, Contexto, 1995. Para quem quise saber mais sobre a lingua que se fala versusa lingua cise co ensina, falares, norma padrio e normas socials. aes OLIVEIRA E SILVA, Giselle M. e M: E sttva, . € Marta Scherre (orgs, Padhtessosiolngiicos, Rio de Janice, Tempo Bane 996. Artigos que versam sobre as relagées entre 0 socal 0 lingiifstico ea metodologia quantitative nm aniline ie fenémenos vari) Reet vatitveis do pornugutsfalado na cidade do LOPRIGUES, Aryon, Linguas brasileiras, Séo Paulo, Loyo- ti 1986. Visto panoramica das linguias indigenas brast eiras com exemplificacio de cada lingua e classifies genética em troncos, familias e dialeros se SILVA NETO, Serafin. Ineroduga , im. so ao estudo da lin portuguest no Brasil, Rio de JancicolBraslia, Presene GAlINL, Sted., 1986. Livro clissico, publicado em 1950 escrito em linguagem clara, sobre os antecedcintes histé. ricos, geogrdficos e socioculeurais i eos geogricos € soc que modelaram a lin- +726 Sobre as autoras Yonne Leite ¢ Dinah Callou sao autoras do livro Jni- ciagho a fonética ¢ & fonologia, publicado por Jorge Zahar Editor, que j& se encontra em oitava edigio. Yonne € licenciada em letras neolatinas pela Universi- dade do Brasil e doutora em lingiifstica pela Universi- dade do Texas em Austin/Bua. E professora-adjunta aposentada da UFRJ e integra o corpo docente do Programa de Pés-graduagio cm Antropologia Social do Museu Nacional/UFR}. Suas areas de pesquisa sao as Iinguas indigenas brasileiras ¢ a fonologia do portu- gués. Dinah é graduada em letras anglo-germanicas pela UFBA, fez mestrado na UNB ¢ doutorado na UFR] na drea de lingua portuguesa. Possui também um pés-doutorado em lingiifstica pela Universidade da Califérnia, em Santa Barbara/EUA. Atua como profes- sora-titular do Departamento de Letras Verndculas da Faculdade de Letras da UFRJ, foi colaboradora princi- pal do primeiro atlas lingitistico brasileiro, 0 Aslas prévio dos falantes baianos, ¢ suas pesquisas atuais ver ‘sam sobre variagio e mudanca no portugués do Brasil. Ambas sfio pesquisadoras 14 do CNPq. -B-

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