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Caracterizacao Dos Remanescentes Cerrado Karla Iesa
Caracterizacao Dos Remanescentes Cerrado Karla Iesa
__________________________________________
Profª. Drª. Selma Simões de Castro
Orientadora
_________________________________________
Profº. Dr. Idelvone Mendes Ferreira
Membro Titular
__________________________________________
Dr. Erides Campos Antunes
Membro Titular
__________________________________________
Profª. Drª. Sandra de Fátima Oliveira
Membro Suplente
Ao Tatuapu
v
AGRADECIMENTOS
VI LOBO GUARÁ
E ONÇA PINTADA
CAINDO NA BALA
VIRANDO CAÇADA
A BELA SERIEMA
DE PERNAS ESGUIAS
VIROU PEÇA RARA
SUMIU A CUTIA CAPIVARA, PICA-PAU
PAPAGAIO, MIQUINHO
TATU E SARACURA
NÃO TEM PAZ NEM NO NINHO
ABSTRACT
The occupation of the Savannah biome was influenced by governmenal projects and politics
related to the II National Plan of Development (PND) which promoted the development of the
area, provoking notable environmental impacts associated to the intense deforestation of the
native physiognomies and its substitution mostly by farming – a practice which, in turn,
promoted progressive isolation of the scattered biome remainders. The Araguaia river basin
drains an area of 62.384,41 km2, is located in the Central-West area of the country including
the States of Goiás, Mato Grosso, and Mato Grosso do Sul, and is one of the areas
representative of that process. The objective of this dissertation is to present the product of the
research accomplished with emphasis in the mapping out of the land use in that basin as well
as the quantification of Savannah remainders, relating space distribution to the fragmentation
process, having been selected sub-basins representative of high and low occurrences. This
study was done through analyzis and interpretation of satellite images Landsat 7 ETM,
combining visual and digital techniques of remote sensoring and geoprocessing, followed by
field control. The results revealed that the High Basin of the Araguaia river still presents
significant presence of remainders of several native phytophisiognomies of the Savannah,
corresponding to 44.8% of its total area, parallel to 52.4% where there occurred substitution
of native vegetation. On the entire area, the non-homogeneous fragmentation process allowed
us to verify that the degradation was more intense in Goiás than Mato Grosso, the sub-basin
of the river of Herons is located, representing the largest area of savannic and forest
formation remainders.
LISTA DE QUADROS
Resumo vii
Abstract viii
LISTA DE FIGURAS............................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS............................................................................................ xi
LISTA DE QUADROS........................................................................................... xi
LISTA DE SIGLAS................................................................................................. xii
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 15
CAPÍTULO I - Características do Bioma Cerrado 23
1.1. Distribuição e Classificação...................................................................... 24
1.2. Características físicas - ambientais do Bioma Cerrado e sua vegetação... 30
CAPÍTULO II - Fundamentos Teóricos e Conceituais da Pesquisa:
40
Ocupação do Cerrado e suas Conseqüências
2. Ocupação do Cerrado e suas conseqüências: Principais Aspectos.............. 41
2.1. Ocupação do Bioma.................................................................................. 41
2.2. Conseqüências da Ocupação do cerrado................................................... 51
2.2.1. Conseqüências da ocupação em Goiás e em Mato Grosso.................... 56
CAPÍTULO III - Metodologia 69
4.1 - Pressupostos metodológicos.................................................................... 70
4.2 - Etapas e procedimentos operacionais da pesquisa................................... 74
CAPÍTULO IV - A área de estudo 81
3.1. Características do meio físico.................................................................. 82
3.1.1. Clima...................................................................................................... 82
3.1.2. Geologia................................................................................................. 84
3.1.3. Geomorfologia....................................................................................... 91
3.1.4. Solos....................................................................................................... 97
3.2. Ocupação e Uso da Terra na Alta Bacia................................................... 102
3.2.1-Ocupação……………………………………………………………. 102
3.2.2. Uso da Terra………………………………………………………... 109
3.2.3. As sub-bacias ……………………………………………………… 112
CAPÍTULO V - Remanescentes: situação e alternativas 115
5.1. Situação dos remanescentes da Alta Bacia .............................................. 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 142
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 149
ANEXOS.................................................................................................................. 161
INTRODUÇÃO
16
A dominação da natureza acompanha o processo de evolução e ocupação do
espaço terrestre pelos seres humanos. Essa relação, principalmente no mundo ocidental,
esteve fundada em um processo de privatização dos bens, acontecendo de forma variada entre
as regiões, culturas e, até mesmo, através do tempo em todo o planeta. A análise sistemática
dos impactos dessa dominação e das subseqüentes mudanças causadas aos ambientes naturais
tem promovido o aumento dos conhecimentos sobre as relações entre os seres humanos e a
natureza e despertado interesse na compreensão dessa dinâmica tão desconcertante.
Esse processo acelerou a degradação das terras, uma vez que na ocupação não
foram respeitadas áreas inaptas às práticas agrícolas, além de terem sido promovidas perdas
incalculáveis da biodiversidade do bioma, pois ao incorporar parcelas significativas de
ecossistemas naturais, reduziu a esparsos fragmentos, entendidos como remanescentes do
bioma original.
As rápidas mudanças no uso e ocupação das terras como ação dos seres humanos
é objeto de discussão da Geografia, auxiliada pelas geotecnologias na análise para a
compressão dessa dinâmica espaço-temporal. Assim, o sensoriamento remoto tem se aliado, à
ciência geográfica como suporte instrumental e oferecido elementos para o mapeamento e
registro das mudanças no uso do solo e no meio ambiente em geral, visando, com a
espacialização produzida, melhorar ou sugerir planejamentos para o uso das terras, e delimitar
áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.
O rio Araguaia nasce na Serra do Caiapó, no paralelo 18º, divisa de Goiás, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, a uma altitude de 850 m. Percorre uma extensão de 2.115 Km,
até desaguar no rio Tocantins, na cota 100 m.(N.M.) e drena uma área de 383 mil quilômetros
quadrados, aproximadamente, sendo que, apenas 23% desta área está situada no Estado
de Goiás.
Observações preliminares sobre a Alta Bacia do Rio Araguaia, área objeto desta
dissertação, revelaram essas mesmas tendências quanto a distribuição dos remanescentes
(FARIA,2005). Atualmente, a área como um todo e vários municípios pertencentes a ela são
focos de amplas discussões (políticas, sociais e científicas) que questionam a continuação do
desmatamento indiscriminado do Cerrado e a expansão de atividades agrícolas. Nesse sentido,
o objetivo desse trabalho é identificar e caracterizar os remanescentes do Cerrado na Alta
Bacia do rio Araguaia, em escala adequada aos cerca de 62.384,41 km2 e com um nível de
tratamento que permita distinguir as fisionomias presentes, bem como fornecer subsídios para
a compreensão do grau de isolamento, assim como elaborar a caracterização física da área,
22
para relacioná-las tanto ao processo de sua ocupação como à contribuição atual dos
remanescentes.
Este trabalho estrutura-se em 5 (cinco) capítulos que se interligam pelo tema geral
dessa pesquisa, assim distribuídos:
Uma das primeiras definições de Cerrado foi feita por Warming em 1908, que o
definiu como xerófito, caracterizado por tipos fisionômicos que variam de formas densas a
campestres (FERRI, 1971). Já Rizzini (1979), o relacionou como sendo a forma brasileira da
formação savânica, que pode mostrar gêneros arbóreos ou arbustivos, chegando a ser campo
sujo com arbustos mal desenvolvidos e esparsos por cima de gramíneas. Eiten (1993:20), no
entanto, “o relaciona ecológica e fisionomicamente às “Savanas” e arvoredos mais úmidos e
distróficos, com chuvas no verão, de outros continentes como o “miombo” e outros arvoredos
relacionados da parte sul da África”.
Assim no espaço do Domínio do Cerrado, nem tudo que ali se encontra é Bioma de
Cerrado. Veredas, Matas de Galeria, Matas Mesófilas de Interflúvio, são alguns
exemplos de representantes de outros tipos de bioma, distintos do de Cerrado, que
ocorrem em meio àquele mesmo espaço. Não se deve, pois, confundir o Domínio
com o Bioma. No Domínio do Cerrado predomina o Bioma Cerrado. Todavia,
outros tipos de Biomas também estão ali representados, seja como tipos
“dominados” ou “não predominantes” (caso das Matas Mesófilas de Interflúvio),
seja como encraves (ilhas ou manchas de caatinga, por exemplo), ou penetrações de
Florestas Galeria, de tipo amazônico ou atlântico ao longo dos vales úmidos dos
rios. (Coutinho, 2005)
De acordo com Borlegat (2003, p. 05), “os biomas são identificados no planeta
como unidades ambientais constituídas por pequenas variáveis que ocupam grandes
dimensões terrestres, portanto os macro-sistemas zonais. Eles são definidos pela combinação
do clima e vegetação com características ecológicas mais uniformes e marcantes”.
1
Termos referem-se a regiões onde a drenagem não chega até o mar (endorréica) ou chegam (exorréica)
(GUERRA, 1997).
28
flora atual (matas, cerrados, caatinga, araucárias e pradarias), que contribuiu para instalações
e adaptações de inúmeras espécies animais e vegetais (AB’SABER, 1971;1979).
O termo “Cerrado” tem sido usado, de acordo com Ribeiro & Walter (1998), para
determinar tanto tipos fisionômicos (tipos de vegetação, entendidos como a fisionomia, flora e
ambiente), quanto para formação ou categorias fisionômicas (formas de vegetação, entendida
pela fisionomia). O uso do termo cerrado como tipo de vegetação pode incorporar
componetes que não são observados quando se considera apenas a forma da vegetação. Estes
autores esclarecem ainda, que o termo Cerrado evoluiu ao longo dos anos, sendo utilizadas
29
atualmente três concepções: Cerrado como bioma; cerrado latu sensu que compreende
formações savânicas e campestres (estando inclusos desde o cerrado até o campo limpo); e o
cerrado stricto sensu que designa um dos tipos fitofisionômicos que ocorrem na formação
savânica e caracteriza melhor a fitofisionomia do bioma.
Uma das vantagens da classificação proposta por Ribeiro & Walter (1998) é que
ela é composta por termos regionais amplamente conhecidos e bastante empregados em
pesquisas realizadas sobre o Cerrado. Ela fundamenta-se primeiro na forma (definidas pela
estrutura, formas de crescimento e mudanças estacionais), depois considera os aspectos do
ambiente (fatores edáficos) e, por fim, a composição florística. Essa classificação é mais
adequada para escalas de detalhe e semidetalhe (WWF/ IMAGEM, 2004), como é o caso
deste trabalho.
30
Sua geologia é bem complexa, constituindo-se na maior parte por rochas do Pré-
Cambriano recobertas por coberturas lateríticas dos pediplanos cenozóicos, exceto nos
planaltos areníticos e basálticos paleozóicos das bacias sedimentares do Paraná, Paranaíba,
Araguaia e Guaporé (SANTOS, 1977). Segundo Del’Arco (1989), identificam-se áreas de
Crátons (Amazônico e Maciço Central), faixas de dobramentos (Araguaia - Tocantins,
Uruaçu, Paraguai e a Brasília) e bacias sedimentares (Paraná e Paranaíba) que ocupam mais
da metade da área do bioma.
Com esse espírito, convém lembrar que o Cerrado é uma vegetação de interflúvio,
desenvolvida sobre LATOSSOLOS vermelho, vermelho-amarelo ou amarelos, que são
originados de variadas rochas, como basalto, diabásio, gabro, granulitos ortoderivados,
granitos, gnaisses, quartzitos, xistos, ardósia e arenitos (AB’SABER, 2003).
encontrados nas bordas das chapadas e associados à presença de couraças ferruginosas. São
solos ácidos a ácidos de difícil manejo. Os GLEISSOLOS são solos típicos de áreas de
planícies, ou fundo de vale. Apresentam várias texturas e são, em geral, de baixa fertilidade.
Os PLINTOSSOLOS têm ocorrência restrita à Depressão do Araguaia e são caracterizados
por apresentarem textura variável (média a muito argilosa), pouco profundos, imperfeitamente
mal drenados. A baixa permeabilidade destes solos, e as possibilidades de alagamentos, aliada
à baixa fertilidade natural e elevados teores de alumínio trocável, principalmente, são os
fatores que mais restringem o uso agrícola destes solos (EMBRAPA, 1999).
As árvores do Cerrado têm raízes extensas que buscam a água presente nas
profundezas do solo (chegam até 25 metros ou mais), e suas folhas são sempre verdes, mesmo
no auge da seca; as cascas são grossas e corticentas e protegem os troncos da ação do fogo. A
vegetação é rasteira apresentando xilopódios, bulbos, rizomas e gemas subterrâneas que
resistem dormentes quando a parte superior da planta desaparece e rebrotam com as primeiras
chuvas de primavera, geralmente em setembro. Ela é adaptada aos solos pobres, distróficos ou
oligotróficos da região (PROENÇA, 2000).
A flora do Cerrado apresenta-se como uma das mais ricas do mundo, ela é bem
característica e diferenciada dos biomas adjacentes, apesar de compartilhar espécies de outros
biomas. Embora parcialmente conhecidas e escassas as compilações sobre sua composição
florística, estima-se que a flora possua mais de 10.000 espécies de plantas, das quais 4.400 são
34
O bioma Cerrado, segundo Ribeiro & Walter (1998), caracteriza-se por apresentar
três grandes tipos de fitofisionomias: as Formações Florestais, Savânicas e as Campestres.
são um total de 195 espécies, sendo 18 endêmicas (WWF,2000). A maioria dos animais
encontrados na região tem ampla distribuição nos biomas vizinhos (COUTINHO, 2005).
2
Conceito criado em 1988, pelo ecólogo Norman Myers. É definido como ecossistemas que cobrem pequena
parcela de superfície da Terra, mas que abrigam uma alta porcentagem da biodiversidade global, especificamente
nas floretas tropicais. Essa área é determinada por meio do número de espécies endêmicas e grau de ameaça.
(WWF, 2005).
3
Biodiversidade: existência de variedade de animais vegetais e de microorganismos em determinado habitat
natural.
39
Estima-se, também, que 40% das espécies de plantas lenhosas e 50% das espécies
de abelhas sejam endêmicas4 (WWF, 2005). Outros estudos têm indicado que o Cerrado
possui, no mínimo, o mesmo número de espécies de mamíferos que a Floresta Amazônica.
Nas últimas décadas, o cerrado vem sendo altamente desmatado por ser visto
como uma das maiores e últimas reservas de terra capazes de suportar imediatamente a
produção de grãos e formação de pastagens, e também como alternativas ao desmatamento da
Amazônia (DUARTE, 1998).
4
Endêmicas ou endemismo: distribuição restrita a uma determinada unidade de áreas que pode ser um bioma ou
em um país.
CAPÍTULO II - Fundamentos Teóricos e Conceituais da
Pesquisa: Ocupação do Cerrado e suas Conseqüências
41
2. Ocupação do Cerrado e suas conseqüências: Principais Aspectos
A longa história de ocupação do Bioma Cerrado pode ser dividida, de acordo com
Ferreira (2006) em três momentos distintos: Ocupação Pré-histórica, Ocupação Histórica e a
Ocupação Moderna.
A atividade agrícola era voltada para a subsistência, e, aos poucos foi crescendo
com a pecuária. Segundo CHAUL (2000, p.119) “ela delineou-se por meio da chamada
“roça”, um trampolim para a ocupação de novas e extensas terras de onde se obteve a
produção que os trilhos da estrada de ferro levaram pelo Brasil afora, inserindo,
paulatinamente, Goiás no contexto do mercado nacional”.
A marcha para o Oeste (anos trinta), não se tratava simplesmente de uma vaga idéia
de marcha para o oeste e sim da concreta ocupação do Planalto Central e, a partir
deste, do desbravamento da Amazônia. No período de 1930 a 1960 importantes
elementos de transformação foram introduzidos no território goiano e o processo de
germinação de novas estruturas, principalmente no centro-sul do estado, esteve
balizado em dois acontecimentos: a nível externo, a integração nacional do comércio
de mercadorias comandado por São Paulo e, a nível interno, o surgimento de centros
urbanos comerciais no interior da região. Tais fenômenos, concomitantes o
programa Marcha para o Oeste, definiram novos rumos para Goiás em função da
urbanização e da articulação mercantil inter-regional. Para compreender a evolução
das modificações estruturais no estado tornou-se fundamental citar algumas
temáticas que contribuíram como: de um lado a edificação de Goiânia, a imigração e
concentração econômica na parte centro-sul do estado e, do outro, a evolução dos
meios de transporte, o surgimento de centros comerciais e a acelerada urbanização
regional.
As transformações sócio-espaciais ocorridas durante o processo de ocupação dos
Estados de Goiás e Mato Grosso e conseqüentemente da área do Bioma Cerrado, foram
multiplicadas a partir da expansão das frentes pioneiras.
Mas, com todos esses projetos e políticas, a região ainda continuava pouco
ocupada. A população concentrava-se em alguns centros urbanos de maior expressão. Essa
situação foi revertida com o avanço explícito da fronteira agrícola influenciada diretamente
pela construção de Brasília e de toda uma rede de estradas de rodagem implantadas a serviço
da capital federal, o que auxiliou na integração do país e abriu novas frentes de imigração para
o Planalto Central e para o Cerrado. Segundo Cunha (1994), existe uma forte correlação entre
a expansão da agricultura dos cerrados e o crescimento da malha viária.
Durante este período, até a década de 60, as práticas sociais mais ameaçadoras
eram as queimadas, introdução de espécies exóticas, pastoreiro e a caça. Mas, a partir da
década de 60, grandes obras de infra-estrutura de estradas e comunicação impuseram-se sobre
o ambiente, interrompendo ou dificultando fluxos animais, de água e mobilizando cargas de
sedimentos, devido à erosão acelerada.
46
As políticas governamentais dirigidas para ao crescimento agrícola nas áreas de
Cerrado, atendendo às necessidades de mobilidade do capital nacional associado ao
transnacional, tinham como objetivo a produção de commodities para a exportação,
equilibrando a balança comercial brasileira, e promovendo a ocupação do oeste brasileiro
(MEDONÇA e THOMAZ JR., 2004).
O setor agrário brasileiro, a partir de 1964, passou a ser motivado pela política
agrícola dos governos militares e passou a ser caracterizado por uma agricultura moderna,
conservadora e excludente, mas que ganhou forte impulso com a introdução da “Revolução
Verde” (CHAUL, 2000). Essa “Revolução Verde” é definida como modelo de intensificação
do desenvolvimento agrícola, com o objetivo de aumentar a produção com a implantação de
várias inovações tecnológicas, como sementes geneticamente melhoradas, uso de insumos
agroquímicos, mecanização e irrigação em larga escala. O resultado foi à transformação de
ricos ecossistemas, como o Cerrado, em grandes extensões de monoculturas (THEODORO;
LEONARDOS e DUARTE et al., 2002). O cerrado, que segundo Pires (1996), no imaginário
coletivo era visto como algo feio, raquítico e fraco, tornou-se, com os avanços da “Revolução
Verde”, um grande celeiro mundial.
O PRODECER foi criado no final dos anos 1970. O recurso contou com
financiamento da agência japonesa - JICA - e do governo brasileiro, em áreas dos Estados de
Minas Gerais, da Bahia, de Goiás, do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com a criação de
assentamentos de agricultores vindos do Sul e Sudeste. O principal instrumento foi o crédito
supervisionado com empréstimos fundiários de investimento e de cobertura de despesas
operacionais e de subsistência do mutuário. O crédito era concedido a taxas de juros reais e
atraiu um número significativo de agricultores (ALHO e MARTINS, 1995).
Houve fora destes projetos específicos, tanto na política estadual quanto na federal,
uma cooperação com a expansão da fronteira agrícola, através de linhas de crédito,
amparo técnico e reorientação para modernização das atividades agrícolas; inclusive
com a introdução de novas culturas de bens capitalistas, como o algodão herbáceo e
a soja (FRANCO, 2003, p.291).
Todas as políticas implementadas na região transformaram - na em um grande
centro agrícola, desenvolvendo uma agricultura comercial moderna com elevada
produtividade, principalmente da soja, que atualmente representa cerca de um quarto da
produção nacional de oleaginosas. Assim, houve um crescimento acelerado da produção
agropecuária da região. Segundo Theodoro; Leonardos e Duarte (2002) em 1990, as
principais lavouras (soja, arroz, milho, feijão e mandioca) ocupavam 6,8 milhões de hectares e
atividade de pecuária esteve em pleno crescimento, graças aos incentivos direcionados à
região dos Cerrado que propiciaram condições para ampliação da frente de agricultura
comercial, auxiliando ainda mais na abertura dessa fronteira. Entretanto esses investimentos
não levaram em consideração os custos ambientais e sociais que foram desencadeados após a
implantação destes programas (DUARTE, 2002; BOURLEGAT, 2003).
Estima-se que até 1970, apenas cerca de 5 milhões de hectares dos cerrados
haviam sido desmatados para o plantio de cereais. Atualmente, cerca de 67 milhões dos 240
milhões de hectares já foram desmatados e incorporados ao processo produtivo, sendo 45
milhões para a formação de pastagens cultivadas, 10 milhões para culturas de arroz sequeiro e
2 milhões para culturas perenes (EMBRAPA, 2000).
! Conseqüências em Goiás
O Estado de Goiás registrou nos últimos 40 anos profundas alterações em seu uso
devido à expansão das atividades agrícolas e da urbanização que foram influenciadas pelo
desenvolvimento de novas tecnologias, como já discutidas. Assim, ele ocupa lugar de
destaque no cenário agropecuário nacional e possui extensas áreas desmatadas. A vegetação
constitui-se de fragmentos, como mostra a Figura 07, ilhados por um entorno agropecuário.
58
No entanto, convém ressaltar que tais fragmentos, ainda não são bem conhecidos.
Iniciativas recentes do governo estadual de Goiás em parceria com o IESA/UFG, por meio do
Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), têm revelado a
distribuição espacial e a tipologia de fitofisionomias para o estado, ainda que em escala muito
abrangente (1:250.000), com base em imagens de satélite obtidas pelo sensor MODIS
integradas a dados do meio físico e censitários e objetiva identificar as áreas prioritárias para a
fiscalização e controle ambiental do Estado (FERREIRA et al., 2005).
Antes desse estudo, ainda em andamento, dois estudos quantificaram as áreas de
remanescentes de Cerrado para o Estado, e que se basearam em metodologias diferentes: O
primeiro estudo foi realizado em 2000 pela ECOFORÇA/EMBRAPA (GEOAGOIÁS, 2002),
que realizou mapeamento através do sensor VEGETATION, a bordo do satélite europeu
SPOT IV. A imagem foi classificada inicialmente em escala de 1:1000.000 e apresentação
final em escala de 1:4.400.000 e obteve várias classes de uso, mesmo depois que algumas
foram agrupadas. As classes de uso e porcentagem de cada uso podem ser observadas na
Tabela 02. Esta pesquisa indicou que a região do antigo domínio do Cerrado abrigava 25% de
remanescentes. No entanto, os dados apresentados na tabela não se mostram confiáveis, uma
vez que a somatória da área das classes não atinge os cem porcento (100%), o que pode ser
causado pelo tratamento estatístico ou por algum uso não contabilizado, como estradas ou
nuvens, por exemplo.
Tabela 02 - Quantificação da cobertura vegetal em Goiás – 2000.
Classes de uso %
Agriculturas 73,81
Agricultura intensiva 12,18
Agricultura irrigada 0,28
Agricultura e pastagens permanentes dominantes 57,05
Mosaicos de agricultura, pastagens e vegetação arbórea alterada 2,01
Mosaicos de vegetação não arbórea pastejada e pequena 2,28
agricultura
Florestas Secas 4,23
Florestas estacionais deciduais densas 4,23
Florestas de transição 4,73
Florestas arbustivas-arbóreas densas 4,54
Florestas arbustivas-arbóreas abertas 0,19
Vegetação Ciliar 1,75
Florestas de galeria 1,75
Campos e Savanas 14,71
Savanas arbustivas 14,30
Campos limpos 0, 30
Campos inundáveis 0,11
Corpos d’água naturais e artificiais 0,47
Áreas urbanizadas 0,31
ÁREA TOTAL 98,26
Fonte: adaptado de ECOFORÇA/EMBRAPA, 2002 (GEOGOIÁS, 2002).
59
O segundo estudo, mais recente, é o da WWF/ IMAGEM (2004), que quantificou
em 35,4% a área de remanescentes, logo, maior que o anterior. Este estudo foi realizado com
imagens analógicas do satélite LANDSAT ETM 5+, na composição colorida RGB – 543,
correspondentes aos anos de 2001-2002. A interpretação foi realizada para as 34 (trinta e
quatro) folhas na escala de 1:250 000 que compõem o Estado de Goiás (com o Distrito
Federal incluído). A classificação adotada foi a do IBGE (1992), por se mostrar mais
adequada às nomenclaturas internacionais. As classes de usos e de remanescentes mapeados e
quantificados podem ser observadas na Tabela 03, desta vez chegando aos 100%.
9
A detectação e mapeamento das áreas desmatadas no projeto SIAD foi realizada por meio de comparação entre
limiar de mudança em imagens NDVI. Foram adotados os limiares de 10% para as áreas onde o potencial de
mudança era elevado e de 40% para áreas de menor antropismo. Nos resultados preliminares adotaram limiares
de 10 e 20%.
40
Na Tabela 04, verifica-se que nos últimos quatro anos houve em Goiás um
significativo acréscimo, mais de 295% na cobertura territorial das áreas protegidas nas esferas
federal, estadual, municipal e particular. Os Parques Municipais representam apenas 0,01% da
área total do Estado. As unidades Estaduais de uso sustentável (APAs e outros) foram as que
apresentaram maior crescimento neste período, acima de 1.000%. Todavia, são os Parques
Nacionais, em especial Veadeiros e Emas, que respondem pelos maiores remanescentes em
áreas contínuas.
Para Oliveira, S., (2002), essa preservação pode proporcionar uma melhoria das
condições sócio-econômicas das populações envolvidas, através da valorização das
manifestações culturais locais e do manejo integrado dos ecossistemas.
10
Conservação é a ação de reunir atividades de preservação, manutenção, utilização sustentada (racional) e melhoria
do meio ambiente para satisfazer às gerações futuras, enquanto preservação é a proteção mais rigorosa de
determinadas áreas e seus recursos naturais, considerando o grande valor como patrimônio ambiental, sem qualquer
interferência humana (SEMA-PR, 1997).
40
! Comentários Comparativos
As rápidas mudanças no uso e ocupação das terras como ação dos seres
humanos é objeto de constante discussão da Geografia. Atualmente o estudo dessas
mudanças conta com apoio de geotecnologias, as quais auxiliam na análise, sobretudo
espacial, para a compressão dessa dinâmica. Assim, o sensoriamento remoto tem se aliado
à ciência geográfica como suporte instrumental e oferecido elementos para o mapeamento
e registro das mudanças no uso do solo e no meio-ambiente em geral, procurando
subsidiar, melhorar ou sugerir planejamentos para o uso racional das terras, assim como
para delimitar áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.
Fonte:Einten,1978
3.1.1-Clima
A Alta Bacia apresenta três centros de maior pluviosidade e três de média (Figura
12). As maiores médias (entre 1700 e 1730 mm) são encontradas a oeste da bacia, e as
menores médias (1350-1400) são encontradas a leste e a norte da bacia (SANTANA,2006).
81
84
Durante a estação seca, a umidade relativa é baixa e a evaporação alta, sendo que a
precipitação pode ser zero em alguns meses. A precipitação durante o período chuvoso pode
ser irregular, havendo dias de chuvas intensas intercalados com períodos curtos de estiagem.
300,0
250,0
200,0
150,0
100,0
50,0
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
M eses
A área da Alta Bacia do Rio Araguaia está inserida em parte sobre a Bacia Sedimentar
do Paraná, em parte sobre a Província do Tocantins e ainda sobre coberturas recentes
inconsolidadas de textura argilosas a médias, de idade Cenozóica.
Época
Era Super- Símbolo
Período Complexo Grupo grupo/Formação/
Grupo s
Unidades
Qha
TQDL
CENOZÓICO
Quartenário
Qpa
Qpi
Terciário Cachoeirinha Tc
Marilia Km
NEO Bauru
MESOZÓICO
Adamantina Ka
Cretáceo
Iporá K^2
EO
Serra Geral Jksg
NEO
São Bento
Juro-Cretáceo MES Botucatu Jb
O
NEO Corumbatí Pc
Passa Dois
Permiano Iratí Pi
EO
Grupo Guatá Palermo Pp
PALEOZÓICO
Granitos sin a
Suíte Rio Caiapó Ny2c
tarditectônios
Suíte Grabro-
Suíte Grabro-
Diorítica do Nssg
Diorítica
Sudoeste de Goiás
Suíte máfico
Ultramáfico tipo
pEbj
Americano do
PRÉ - CAMBRIANO
Proterozóico
Brasil
Ortognaisses do
Ngn
Oeste de Goiás
Ganitos pós
NEO Granitos tipo
tectonicos N 1ar
Aragoiana
Grupo Cuiabá Ncb
Grupo Serra Unidade A Msma
Dourada Unidade B Msmb
PALEO
Seqüência
Metavulcano Seqüência Anicuns
Pai
Sedimentar do Itaberaí
Arco de Goiás
Complexo
Granito Gnaisse
Arqueano Granítico- Agn
indiferenciado
Gnáissico
Quadro 1 - Sumário da Estratigrafia da área de estudo
Fonte: Baseado em SOUZA JUNIOR et.al. (1983).
87
A Tabela 06 indica a participação de cada litologia e a figura 14 a sua distribuição na
Alta bacia, como pode ser observado nelas (Tabela 06 e Figura 14) existe uma grande
diversidade de litologias na área em estudo. A predominância é da unidade da Formação
Aquidauana (41,2% de toda a Alta Bacia), distribuídas no sentido leste-oeste. As litologias
Pré-Cambrianas (21,47% da área total) encontram-se na porção leste e central da área.
Área
Litologias
(%)
Formação Araguaia 2,36
Aluviões Holocênicas 0,19
Formação Cachoeirinha 1,04
Coberturas detríticas indiferenciadas 0,60
Formação Marília 0,67
Formação Adamantina 1,03
Grupo Iporá 0,10
Formação Serra Geral 1,65
Formação Botucatu 5,72
Formação Corumbataí 1,83
Formação Iratí 0,23
Formação Palermo 0,81
Formação Aquidauna 41,30
Formação Ponta Grossa 12,25
Formação Furnas 8,63
Formação Vila Maria 0,12
Formação Piranhas 0,04
Suíte Intrusiva Serra Negra 1,80
Suíte Rio Caiapó 1,01
Suíte gabro-diorítica do Sudoeste de Goiás 0,08
Sequência Máfica - Ultramáfica Tipo Americano do Brasil 0,08
Ortognaisses do Oeste de Goiás 8,88
Granitos sintectonicos Tipo Aragoiana 0,16
Grupo Cuiabá 0,67
Grupo Serra da Mesa (Unidade A e B) 0,11
Coberturas detrito-lateríticas Terço-Quartenárias 4,55
Sequências metavulcanossedimentares do Arco de Goiás 4,07
Granito-Gnáissico Indiferenciado 0,02
TOTAL 100
* Baseado no cálculo do mapa de geologia
88
89
As litologias do Pré-Cambriano são encontradas principalmente na Depressão do
Araguaia, na porção centro-leste da bacia, onde predomina a Suíte Gabro-diorítica do
Sudoeste de Goiás (Nssg), que representa 8,88% da Alta Bacia e caracteriza-se por apresentar
um conjunto de intrusões diferenciadas de natureza básica a intermediária e com composição
gabro-diorítica.
O Grupo Passa Dois, representado pelas Formações Iratí (Pi) e Corumbataí (Pc),
corresponde somente a 2,06% da área, ocorre na porção setentrional da Bacia do Paraná, na
porção superior da Serra do Caiapó. Essas formações constituem-se de siltitos e arenitos finos
freqüentemente quebradiços (LACERDA FILHO, et al., 2000).
3.1.4-Solos
No que se refere aos solos, de acordo com Novaes et al., (1983), adaptando-se a
nomenclatura à classificação da EMBRAPA (1999), estão presentes na área as classes de
LATOSSOLOS (LATOSSOLOS Vermelho e LATOSSOLOS Vermelho-Amarelo), os
NEOSSOLOS (NEOSSOLOS Quartzarênicos, NEOSSOLOS Litólicos e NEOSSOLOS
Quartzarênicos hidromórficos) e, em porções mais restritas, os ARGISSOLOS
(ARGISSOLOS Vermelho-Amarelo), os NITOSSOLOS (NITOSSOLO VERMELHO
eutrófico e distrófico), os CAMBISSOLOS, GLEISSOLOS, PLINTOSSOLOS e
ORGANOSSOLOS (Tabela 07). A figura 18 resulta de compilação dessas classes com base
no mapa de solos da AGIM (2001) para ao Estado de Goiás e o mapa exploratório de solos do
Mato Grosso (PRODEAGRO, 1995), adaptados para ao presente trabalho, como exposto no
capítulo anterior (Capítulo III).
Área
Classes de Solos
(%)
NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS 22,6
ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO 22,17
LATOSSOLOS VERMELHO 16,4
LATOSSOLOS VERMELHO AMARELO 10,9
CAMBISSOLOS 16,6
NEOSSOLOS LITÓLICO 8,4
NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS hidromórfico 0,89
GLEISSOLOS 0,6
NITOSSOLOS VERMELHO 1,02
PLINTOSSOLOS ARGILÚVICO 0,27
ORGANOSSOLOS 0,15
TOTAL 100
* Baseado no cálculo de área do mapa de solos (Ver figura 18).
98
99
Dominam, na área, a classe dos NEOSSOLOS (31,98%) onde se destacam os
Quartzarênicos e Quartzarênicos hidromórficos, seguidos dos LATOSSOLOS correspondem
a 26,6%; os ARGISSOLOS (22,01%) em especial dos álicos e distróficos; os
CAMBISSOLOS cerca de 16,57% e os demais ocupam cerca de 2,04% da área.
Segundo Oliveira (2001), a textura varia desde franco-arenosa (16% de argila) até
menos argilosa (> 80% de argila), o que reflete variada capacidade de retenção de água.
Aqueles que apresentam baixo teor de argila (<15%) são considerados com menor aptidão
agrícola.
Os GLEISSOLOS (0,6 %) são solos hidromórficos, com horizonte glei dentro dos
50 cm da superfície do solo. Desenvolvem-se em materiais inconsolidados influenciados por
encharcamento prolongado (devido ao lençol freático), que provoca saturação do perfil.
Possuem fertilidade bastante variada, podendo ser aproveitados para a agricultura quando
corrigidos os excessos d’água e acidez do solo (LEPSCH, 2002). Ocorrem nas planícies
inundáveis, como a presente na Depressão do Araguaia, e em zonas de nascentes de veredas.
102
Sua coloração acinzentada, azulada ou esverdeada ocorre devido à deficiência ou até mesmo
ausência de oxigênio (BARBALHO, 2002).
3.2.1. Ocupação
350000
300000
250000
200000 Urbana
150000 Rural
100000
50000
0
1970 1980 1991 2000
10000000
8000000
1970
6000000 1980
4000000 1996
2000000 2000
0
BOVINOS
35.000,00
30.000,00
25.000,00
Área (ha)
20.000,00
Pecuária
15.000,00
Agricultura
10.000,00
Agropecuária
5.000,00
M ineração
0,00
T ocantins Paranaíba Araguaia Extração de madeira
Bacias Hidrográficas
Estudos realizados para o setor sul da área em estudo revelaram que o processo de
ocupação agropecuária intensivo acabou por atingir também áreas com solos frágeis e de
baixa aptidão agrícola para práticas culturais intensivas e moderadas para pastagens. A
fragilidade restringe-se principalmente aos interflúvios amplos, convexizados, de longas
vertentes, como os NEOSSOLOS Quartzarênicos (ex - Areias Quartzosas), ocupados com
pastagens formadas (em geral Bracchiara), degradada por trilheiros, falta de bebedouros e
super-pastoreiro de gado bovino para o corte. Tal é a situação da imensa zona rebaixada que
106
contorna os contrafortes da Serra de Caiapó, nos municípios de Mineiros, Santa Rita do
Araguaia, em Goiás e Alto Araguaia e Alto Taquari no Mato Grosso.
Barbalho (2003) e Xavier (2003), estudando esse setor sul da Alta Bacia, onde o
uso agropecuário das terras extrapolou os topos das chapadas rumo a zona rebaixada,
destacaram que os processos erosivos (ravinas e boçorocas) de médio e grande porte se
intensificaram após a década de 70, posicionando-se em setores onde também há forte
discrepância entre a capacidade de uso e uso atual das terras. Oliveira & Castro (2005)
também ressaltaram a presença de erosão laminar nessa mesma zona rebaixada.
Estudos realizados para essa região, também conhecida como nascentes do rio
Araguaia (CASTRO, XAVIER e BARBALHO, 2004; CASTRO, XAVIER, 2004, inédito),
com base em levantamentos das erosões citadas, mostram que a maioria surgiu na década de
1980, cerca de 6 a 7 anos após a implementação das políticas federais (POLOCENTRO) de
apropriação rápida, intensiva e indiscriminada do Cerrado, iniciada em 1975, como já
exposto, sem as devidas práticas conservasionistas e sob riscos climáticos dada a presença de
epicentros de chuvas nessa área. (RAMOS, 2003; MARINHO, 2003).
Matias (1999), analisando a evolução do uso do solo nos anos de 1976 e 1998
(para o setor norte e sul da alta bacia, excluindo a bacia do Rio Babilônia), correspondendo a
cerca de 3000km2, constatou que cerca de 36% da vegetação nativa existente foi retirada no
período e substituída pela agropecuária (Tabela 08), restando poucos vestígios de vegetação
original.
Tabela 08 – Uso do Solo 1976-1998 do Setor sul da Alta bacia do Rio Araguaia, excluída a
sub-bacia do rio Babilônia.
Isto sugere que os proprietários rurais (em geral de grandes propriedades) estariam
mais atentos ao combate de erosões (ravinas e voçorocas) e dos grandes areais em suas áreas
de contribuição. Mas, nada se constatou em relação às reservas legais, várias delas averbadas
em áreas de preservação permanente (MEDEIROS, 2002; FARIA, 2001).
30.000
Agricultura
25.000
Pastagens
20.000 sitio urbano
Área (km 2)
solo exposto
15.000 campo sujo
cerradão
10.000 cerrado denso
cerrado rupestre
5.000
campo limpo umido
0 cerrado ralo
Classes de uso M ata Seca
M ata Ciliar
Foram identificadas na área ainda as classes de corpos d’ água (0,8%) e áreas não
identificadas (0,1%) da bacia.
3.2.3 - As Sub-bacias
A sub-bacia do rio das Garças drena uma área de 16.360,57 km2, está localizada
na porção noroeste da Alta Bacia, em território mato-grossense. Toda inserida sobre a Bacia
Sedimentar do Paraná: sobre litologias do período paleo - mesozóico, com predomínio da
Formação Aquidauana (73% da área total); 79,6% da área estão sobre a unidade
geomorfológica do Planalto dos Guimarães - Alcantilados, onde as altitudes variam de 500 a
300 m. Sobre estas características, desenvolvem-se principalmente os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos (42,9% da área), seguidos pelos CAMBISSOLOS álicos (32,5% da
área) e pelos NEOSSOLOS litólicos (8,4% da área). As atividades agrícolas relacionam-se
principalmente às pastagens (26,7% da área), que se apresentam concentradas na porção sul
da bacia sobre os NEOSSOLOS. Nessa sub-bacia, o uso predominante, como será analisado
adiante, é de remanescentes (68,8% da área total).
113
A área de drenagem do rio Piranhas e do rio Caiapó, localizada na porção central
da Alta Bacia, corresponde a 13.930,85 km2, sendo identificada como sub-bacia do Rio
Caiapó. Nessa sub-bacia, também predominam litologias areníticas da formação Aquidauana
(46,1%), que se localizam na porção sul, que se relacionam com domínio dos ARGISSOLOS
Vermelhos Amarelos distróficos (22,1% da área) e com os CAMBISSOLOS álicos (16,4% da
área). Na porção norte, são identificadas litologias do período Paleozóico pertencentes às
Formações Furnas (19,9% da área) e Ponta Grossa (10,8% da área), e também litologias do
Período Pré-Cambriano, que juntas correspondem a 16,5% da área. Os solos, nesta porção,
correspondem, principalmente, à classe de ARGISSOLOS Amarelos distróficos e eutróficos e
dos LATOSSOLOS Vermelho distróficos. Esta sub-bacia localiza-se sobre a unidade do
Planalto dos Guimarães - Alcantilados (porção sul) e sobre a Depressão do Araguaia (porção
norte). Assim, como nas demais sub-bacias, as atividades de pastagens (51,1 % da área)
Unidade
Uso antrópico
Sub-Bacias Litologia Predominante Geomorfológica Solo Predominante
Predominante
Predominante
formadas especialmente com Brachiaria, predominam.
Quadro 02 - Síntese das características do meio físico e uso das sub-bacias que compõem a Alta
Bacia do rio Araguaia.
CAPÍTULO V - Situação dos Remanescentes
116
5.1 - Situação dos Remanescentes da Alta Bacia
A ocupação da Alta bacia parece ter ocorrido de forma diferenciada como pode se
deduzir no Anexo 6. A fragmentação da vegetação nativa foi mais intensa na parte goiana do
que no lado mato-grossense, onde as fisionomias, em especial de Cerradão, Cerrado Denso e
Cerrado Ralo, apresentam áreas maiores e mais contínuas localizadas a oeste da Alta Bacia. A
porção central da bacia, em território goiano, apresenta também áreas consideráveis de
fragmentos; no entanto, eles encontram-se desconexos e “ilhados” por atividades de
pastagens. Ainda em território goiano, duas particularidades foram notadas: a primeira a leste,
com a presença de vários fragmentos de Mata Seca Decídua (também, conhecida como Mato
Grosso Goiano) e a segunda relaciona-se a uma pequena concentração de fragmentos de
Formações Florestais e Savânicas sobre o domínio dos LATOSSOLOS, na micro-bacia do rio
Babilônia, ao sul da Alta Bacia.
% da área Remanescentes
Área Total
Sub-Bacias 2 total da Alta % na Alta
(km )
Bacia Área (km2)
Bacia
Cachoeira Grande 4.423,07 7,1% 2.068,75 3,3%
Rio dos Peixes 13.871,70 22,2% 6.661,88 10,7%
Rio das Garças 16.360,57 26,2% 11.137,70 17,9%
Rio Caiapó 13.930,85 22,3% 4.784,35 7,7%
Rio Claro 13.798,22 22,1% 3.288,21 5,3%
Total 62.384,41 100,0% 27.940,89 44,8%
117
! Sub-bacia Cachoeira Grande
Área dos
Participação dos remanescentes
remanescentes
Fisionomias
% da área total % da Alta
(Km2) ha
dos remanescentes Bacia
Cerradão 853,07 85.307 41,2% 1,4%
Cerrado Denso 211,32 21.132 10,2% 0,3%
Mata Ciliar 362,60 36.260 17,5% 0,6%
Campo Limpo úmido 305,46 30.546 14,8% 0,5%
Campo Sujo 336,30 33.630 16,3% 0,5%
Área total dos
2.068,75 206.875 100,0% 3,3%
remanescentes
118
119
Nessa tabela, verifica-se que, entre os remanescentes da sub-bacia Cachoeira
Grande, há predominância da fisionomia de Cerradão, que ocupa 853,07 km2, correspondendo
a 41,2% da área total ocupada pelos remanescentes identificados nesta sub-bacia. Uma grande
mancha dessa classe destaca-se próxima à porção centro-oeste da sub-bacia, totalizando cerca
de 7.130m2. Os fragmentos menores (até 820m2), com base em Medeiros (2002), geralmente
correspondem às áreas de RL das propriedades rurais. Estes encontram-se em sua maioria,
ilhados por atividades como pastagens, além de serem agredidos com atividades de
desmatamentos, voltadas para carvoaria e suprimento de madeira para as propriedades rurais.
Estão localizados principalmente sobre o domínio dos NEOSSOLOS Quartzarênicos álicos
(onde se encontram 72,8% dos remanescentes desta fisionomia). Em relação à Alta Bacia,
esta classe corresponde a 1,4% de sua área total.
A classe de Cerrado Denso, que ocupa 211,32 km2 na sub-bacia, (10,2% da área
total dos remanescentes) está localizada, principalmente, a leste na área de drenagem do rio
Babilônia, e seus maiores fragmentos não ultrapassam os 1.500m2. Cerca de 96,5% dos
remanescentes ocorrem sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelho álicos e encontram-se
“ilhados” por pastos e por plantações de soja (Figura 28). Essa classe apresenta apenas 0,3%
do total da área da Alta Bacia.
A Classe de Cerrado Ralo com 1.041,18 km2 (1,7% da área da Alta Bacia) que
corresponde a 15,6% da área total dos remanescentes encontra-se sob áreas de domínio dos
LATOSSOLOS Vermelhos distróficos. Os remanescentes dessa fisionomia apresentam-se
123
bem espalhados e desconexos ao longo desta sub-bacia. Os maiores fragmentos atingem até
1.018m2.
As áreas de Campo Sujo (795,58 km2) correspondem a 11,9% da área total dos
remanescentes, que se localizam principalmente (36,8% destes remanescentes) sobre o
domínio dos ARGISSOLOS Vermelhos distróficos. Estão distribuídas por toda a sub-bacia,
interligando as fisionomias de Cerradão e Cerrado Denso e convivendo com áreas de pastos
(Figura 31). Os maiores fragmentos não chegam a apresentar mais de 4.756m2. Essa
fisionomia representa 1,3% da área total da Alta Bacia.
Essa sub-bacia apresenta um baixo índice de antropização (30% de sua área está
voltada para atividades antrópicas). Sua ocupação inicial esteve relacionada às atividades de
garimpo no século XVIII que foram substituídas bem mais tarde pelas atividades de pastagens
no século XX, que correspondem, no atual mapeamento, a 26,7% da área. O baixo índice de
produtividade é conhecido e relaciona-se, principalmente, às restrições impostas pelo meio-
físico (predominância de solos neossólicos, cambissólicos e litólicos).
Os fragmentos de Cerrado Ralo que abrangem 2.305,30 km2 (ou seja, 20,7 da área
total dos remanescentes e a 3,7% da área total da Alta Bacia) apresentam áreas maiores (até
2.560m2) e mais contínuas na porção sul desta sub-bacia, onde o uso antrópico predominante
é o de pastagens.
As áreas de Campo Sujo (363,90 km2) localizam-se na porção sul dessa bacia e
correspondem a 7,6% da área dos remanescentes. Coexistem principalmente com as
atividades de pastagens e com os remanescentes de Cerradão, formando, entre essas duas,
classes uma espécie de “zona tampão”, no entanto, elas acabam sendo freqüentemente
incorporadas às áreas de pasto.
Como pode ser verificado na Tabela 15, a fisionomia predominante, com 48,8%
(1.605,71 km2) da área total dos remanescentes é de Mata Seca Decidual, classe identificada
por Faissol (1958), como “Mato Grosso Goiano”, - uma extensa região florestal situada na
parte centro-sul do Estado de Goiás, que se constitui como uma das maiores áreas agrícolas
do Planalto Central, tanto por sua extensão, quanto pela fertilidade dos solos. Mas,
atualmente, resume-se a esparsos fragmentos, principalmente na forma de Áreas de
Preservação Permanente (APP), relativas aos topos e encostas de serras, como na Serra de
Santa Luzia, no município de São Luís dos Montes Belos.
131
132
Os maiores fragmentos dessa fisionomia, atingem até 2.850m2. Essa classe está
relacionada principalmente às litologias do Ortognassises do Oeste de Goiás e ao domínio dos
ARGISSOLOS Vermelhos Amarelos eutróficos (41,2% dos remanescentes estão sobre esse
solo). Em relação a Alta Bacia, essa fisionomia que detém 10.961 fragmentos, correspondente
a 2,6% da sua área total.
As Matas Ciliares com 848,13 km2: 25,8% da área total dos remanescentes
encontram-se bem degradadas, descontínuas e rarefeitas e ocorrem, predominantemente, em
áreas de domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos distróficos, localizados na porção noroeste
da bacia, ao longo das planícies dos rios dos Bois e Claro, na Planície do Araguaia,
respondendo por 1,4% da área total da Alta Bacia. Espectralmente, essas áreas podem ser
confundidas com áreas de Cerradão e Mata Seca Decidual e como a ocorrência principal é
desta última, as áreas identificadas podem estar superestimadas.
As áreas de Cerrado Denso abrangem 446,12 km2 (13,6% da área total dos
remanescentes), concentram-se na porção sul da bacia sobre os arenitos da Formação
Aquidauna, 35,8% desse remanescente desenvolvem-se sobre os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos e na porção nordeste da bacia sobre as formações Furnas e
Coberturas Detrito - Lateríticas Terciárias, sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos
distróficos, onde o maior fragmento apresenta 2.230m2. Na primeira área, os remanescentes
convivem com a atividade de pastagens, enquanto, na segunda, convivem também, com
atividades agrícolas.
2.500.000
Cerradao
2.000.000
Cerrado Denso
Área (km2)
Sub-Bacias
Tabela 17 - Área dos Remanescentes nas Sub-Bacias e participação em relação à área de cada sub-bacia
FITOFISIONOMIAS
Área Campo Limpo Cerrado
Cerradão Mata seca Mata Ciliar Cerrado Denso Cerrado ralo Campo Sujo
Total das úmido rupestre
Sub-bacias sub-bacia %
% na % na % na % na % na % na % na
(km2) Área Área Área Área Área Área Área Área na
sub- sub- sub- sub- sub- sub- sub-
(Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) sub-
bacia bacia bacia bacia bacia bacia bacia
bacia
Cachoeira
4.423,07 853,07 19,3% 0 0 362,60 8,2% 211,32 4,8% 0 0 336,30 7,6% 305,46 6,9% 0,00 0,0%
Grande
Rio Peixes 13.871,70 1.550,49 11,2% 865,31 6,2% 1.762,43 12,7% 625,44 4,5% 1.041,18 7,5% 795,58 5,7% 0,00 0 21,45 0,2%
Rio das
16.360,57 2.947,57 18% 0 0 1.718,67 10,5% 2.365,33 14,5% 2.305,30 14,4% 609,22 3,7% 1.105,27 6,8% 86,35 0,5%
Garças
Rio Caiapó 13.930,85 1.502,70 10,8% 0 0 1.361,86 9,8% 962,51 6,9% 576,33 4,1% 363,90 2,6% 0 0 17,05 0,1%
Rio Claro 13.798,22 0 0 1.605,71 11,6% 848,13 6,1% 446,12 3,2% 0 0 0 0 346,09 2,5% 42,15 0,3%
Total das
62.384,41 6.853,83 2.471,02 6.053,69 4.610,72 3.922,81 2.105,00 1.756,82 167,00
sub-bacias
135
Em todas as sub-bacias, os remanescentes das fisionomias de cerrado mantêm em
seu entorno áreas de agropecuária (Figura 39), sendo ameaçados constantemente pela
introdução de espécies exóticas e por desmatamentos, que comprometem a conectividade e
até mesmo a sobrevivência dos remanescentes.
% em relação % em relação
Classes de Usos Área (Km2) ha à área total dos à área total da
remanescentes Alta Bacia
Cerradão 6.853,83 685.383 24,5% 11,0%
Mata Seca 2.471,03 247.103 8,8% 4,0%
Mata Ciliar 6.053,70 605.370 21,7% 9,7%
Cerrado Denso 4.610,72 461.072 16,5% 7,4%
Cerrado Ralo 3.922,80 392.280 14,0% 6,3%
Campo Sujo 2.105,00 210.500 7,5% 3,4%
Cerrado Rupestre 167,00 16.700 0,6% 0,3%
Campo Limpo Úmido 1.756,82 175.682 6,3% 2,8%
Área total dos Remanescentes 27.940,91 2.794,09 100,0% 44,80%
Agricultura 3.672,56 367.256 - 5,9%
Pastagens 28.859,72 2.885.972 - 46,3%
Sitio Urbano 206,00 20.600 - 0,3%
Solo Exposto 855,00 85.500 - 1,4%
Corpos d’ água 486,00 48.600 - 0,8%
Não identificado 364,22 36.422 - 0,6%
Outros usos 34.443,51 3.444,35 - 55,2%
Área total da Alta Bacia
62.384,41 6.238,44 44,8% 100%
(remanescentes+ outros usos)
136
Como se observa na Tabela 18 dominam na Alta Bacia do rio Araguaia áreas de
Cerradão correspondendo a 11% de sua área total e a 24,5% da área total dos remanescentes,
que foram representados por 21.650 fragmentos distribuídos por toda a bacia. Os
remanescentes dessa fisionomia são encontrados principalmente sobre o domínio dos
LATOSSOLOS Vermelho distróficos (39% dos remanescentes), no entanto, as maiores e
mais contínuas manchas foram identificadas nas sub-bacias Cachoeira Grande e rio das
Garças, sobre NEOSSOLOS Quartzarênicos. Os maiores fragmentos apresentam até 7.150,12
m2, localizados na sub-bacia Cachoeira Grande e os menores 85 m2, na sub-bacia do Rio
Caiapó. Essa fisionomia é responsável, segundo Alho & Martins (1995), por abrigar 2231
árvores e cerca de 60 espécies de flora.
FORMAÇÕES CAMPESTRES
Restrita a pequenas áreas sobre o " Ocupa 0,8% da sub-bacia - ocorrência restrita " dos remanescentes;
Restrito a Serra Dourada; Ocorrências restritas;
" central;
2
domínio dos solos NEOSSOLOS " Restrita a Serra da Azul - 0,4% da área da Alta Bacia "
" > fragmento:
Ocupam 1,32.850m
da ; área dos 21824 fragmentos;
"" Ocupam apenas 167 km2 (0,3% da Alta
Ocupa 11,6% da área da sub-
-Litólicos. " Ocorrem sobre o domínio dos " Restrita a áreas de RL e APP;
remanescentes. > fragmento: 2.850m2;
"Bacia);
Cerrado
Não identificada bacia; NEOSSOLOS Litólicos. " Localizados sobre os "- 0,6% da Alta
4%dos Bacia;
remanescentes.
Rupestre
- apresenta-se bem fragmentada; ARGISSOLOS Vermelhos " 8,8% da área dos remanescentes;
Mata Seca Não identificada Não identificada Não foi identificada
- > fragmento: 950m2; Amarelo eutróficos; " Dominam sobre os ARGISSOLOS
- 1,4% da área total da Alta Bacia; " Correspondem a 2,6% da área Vermelhos Amarelo eutróficos.
total da Alta Bacia.
FORMAÇÕES FLORESTAIS
" Representam 8,2% da área " Ocupa > área da sub-bacia, " Apresentam-se bem contínuas " Ocupa 9,8% da área total da sub- " Ocupa 6,1% da área total; " De forma geral apresentam-se fragmentada;
total da sub-bacia; com 1.762,43 km2 (12,7% da ao longo do médio curso dos bacia; " Apresentam-se contínuas, " Corresponde a 9,7% do total da Alta Bacia;
" Representa 17,5% de área área); rios das Garças e seus " Contínuas somente nas áreas de somente na porção noroeste; " 21,7% do total de remanescentes;
total dos remanescentes; " Correspondem 26,5% da área afluentes; nascentes; " Predominam sobre os " Dominam sobre os LATOSSOLOS Vermelhos
" Encontram-se dos remanescentes; " Representam 10,5% da área " Predominam sobre os LATOSSOLOS Vermelhos álicos;
fragmentadas; " Não se apresentam total dessa sub-bacia; LATOSSOLOS; distróficos; " Recebem maior contribuição da sub-bacia do rio
Mata ciliar " Identificadas contínuas; " 2,8% da área da Alta Bacia. " Representa 2,2% da área total " Representa 1,4% da área total da Peixes.
principalmente na micro- " > representatividade (2,8%) da Alta Bacia. Alta Bacia.
bacia do Rio Babilônia. para a Alta Bacia.
" Correspondem a 4,8% da " Representam apenas 4,5% da " > fragmentos: até 7.140m2; " Corresponde a 20,1% da área " Ocupam 3,2% da sub-bacia; " Ocupa 7,4% da Alta Bacia;
área total da sub-bacia; área desta sub-bacia; " Identificados nas porções total de remanescentes; " Localizados na porção sul e " Representa 16,5% da área total de
" Fragmentos não " Sobre o domínio dos norte e nordeste desta sub- " Concentração na porção central; nordeste da área; remanescentes;
ultrapassam os 1.500m2 ; LATOSSOLOS Vermelhos bacia; " > fragmento: 6.594m2; " Dominam sobre os NEOSSOLOS " 9463 fragmentos;
" Ilhados por atividades distróficos; " Representam 14,5% dessa " Representa 1,5% da área total da Quartzarênicos distróficos; " > fragmento: 7.140m2;
agropecuárias. " Identificados na porção norte; sub-bacia; Alta Bacia. " > fragmento: 2.230m2. " > contribuição da sub-bacia do rio das Garças
Cerrado Denso " Responsável por 3,8% da área com 2.947,57 km2;
total da Alta Bacia. " Dominam sobre os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos.
" Apresentam-se bem " Ocupa 14,1% da sub-bacia; " Corresponde a 4,1% da área; " Ocupa 6,3% da área total da Alta Bacia;
espalhados sobre a área; " > manchas localizam-se na " Áreas restritas; " Representa 14% da área dos remanescentes;
FORMAÇÕES SAVÂNICAS
" Representam 7,5% da sub- porção sul; " > fragmento: 1.502m2. " 20.147 fragmentos;
Cerrado Ralo Não identificada bacia; " > fragmento: 2.560m2; Não identificada " > fragmento: 2.560, na sub-bacia do rio das
" > fragmentos apresentam até " Respondem por 3,7% da área Garças, que contribuem com 2.305,30 km2.
1.018m2. total da Alta Bacia.
Quadro 03 - Quadro síntese das fisionomias remanescentes nas sub-bacias e na Alta Bacia.
Em campo, foi constatado que o recente processo de arenização no setor sul da
sub-bacia Cachoeira Grande avança até mesmo sobre as áreas de remanescentes.
Uma vez que as matas ciliares e as áreas de Cerradão têm presença significativa na
Alta Bacia (ambas detém 20,7% da área total da bacia e 46,2% da área total dos
remanescentes), a recomposição e recuperação dessas áreas apresentam-se como uma
141
alternativa para a formação de “micro - corredores” ecológicos na Alta Bacia, que
beneficiariam a sul o Corredor Cerrado - Pantanal e a norte o Corredor Cerrado - Bananal.
Segundo Alves (2003), devem ser adotadas novas formas de planejamento do uso
da terra do Cerrado, que privilegiem a criação de novas reservas que se conectem às atuais
UCs, na tentativa de buscar novas formas de utilização dos recursos naturais e compatíveis
com os interesses das comunidades locais.
O mapeamento do uso da terra e dos remanescentes para toda a Alta Bacia do rio
Araguaia realizado através de classificação segmentada em imagens LANDSAT identificou
11 (onze) classes de uso. A análise dessas imagens foi possível através da combinação de
técnicas de interpretações visuais, digitais e de validação em campo, o que não descartou a
ocorrência de confusões espectrais entre as classes de Cerradão e Mata seca decídua em
algumas áreas e entre a classe de Campo Sujo e áreas em regeneração.
A paisagem evolui com o tempo, sendo que uma classificação do uso do solo
geralmente é válida para aquela data, não sendo algo permanente. O mapeamento aqui
apresentado baseou-se em imagens LANDSAT ETM+ 7 de abril de 2003. Provavelmente o
resultado, até otimista, de 44,8% de remanescentes, já não seja o atual, pois o histórico de
expansão agropecuária da área é elevado. No entanto, a identificação e espacialização dos
remanescentes, servem para alertar sobre o elevado grau de degradação e fragmentação da
vegetação.
A recomendação geral é para que sejam tomadas medidas enérgicas contra futuros
desmatamentos e que sejam adotadas providências, até mesmo para a recuperação de algumas
áreas. Essas áreas devem ser as áreas de matas ciliares, áreas com poucos remanescentes e
áreas desmatadas e não produtivas que se localizem principalmente na sub-bacia do rio Claro.
A recuperação das matas ciliares, que se interligam com as fisionomias de Cerradão e
Cerrados Denso pode auxiliar na manutenção dos corredores ecológicos Cerrado-Pantanal (a
sul da área) e do Cerrado-Bananal (a norte da área).
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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
Faço saber que o congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º. - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas
de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente
esta lei estabelecem.
Parágrafo único - As ações ou omissões contrárias às disposições deste
Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso nocivo
da propriedade.
Art. 2º. - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;
2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de
largura;
3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de
largura;
4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 500 (quinhentos)
metros de largura;
5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos)
metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a sua
situação topográfica, num raios mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas com declive superior a 45o., equivalente a 100 por cento na linha de
maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.
i) REVOGADA
Parágrafo Único - No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros
urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o
território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo,
respeitados os princípios e limites que se refere este artigo.
Art. 3º. - Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do
Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas:
a) a atenuar a erosão das terras:
b) a fixar as dunas;
c) a formar as faixas de proteção ao longo das rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçadas de extinção;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas
h) a assegurar condições de bem estar público.
163
Parágrafo 1o. - A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida
com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras,
planos, atividade e projetos de utilidade pública ou interesse social.
Parágrafo 2o. - As florestas que integram o Patrimônio indígena ficam sujeitas ao regime de
preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.
Art. 7º. - Qualquer árvore poderá ser declarada imune de corte, mediante ato do Poder Público, por
motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes.
Art. 9º. - As florestas de propriedade particular, enquanto indivisas com outras, sujeitas a regime
especial, ficam subordinadas às disposições que vigorarem para estas.
Art. 10º - Não é permitida a derrubada de florestas situadas em áreas de inclinação entre 25 a 45
graus, só sendo nelas toleradas a extração de toros quando em regime de utilização racional, que vise
rendimentos permanentes.
Art. 11º - O emprego de produtos florestais ou hulha como combustível obriga o uso de dispositivo
que impeça difusão de fagulhas suscetíveis de provocar incêndios nas florestas e demais formas de
vegetação marginal.
Art. 12º - Nas florestas plantadas, não consideradas de preservação permanente, é livre a extração
de lenha e demais produtos florestais ou a fabricação de carvão. Nas demais florestas, dependerá de
norma estabelecida em ato do Poder Federal ou Estadual, em obediência a prescrições ditadas pela
técnica e às peculiaridades locais.
Art. 13º- O comércio de plantas vivas oriundas de florestas, dependerá de licença de autoridade
competente.
164
Art. 14º - Além dos preceitos gerais a que está sujeita a utilização das florestas, o Poder Público
Federal ou Estadual poderá:
a) preservar outras normas que atendam às peculiaridades locais;
b) proibir ou limitar o corte das espécies vegetais consideradas em via de extinção, delimitando as
áreas compreendidas, no ato, fazendo depender nessas áreas, de licença prévia, o corte de outras
espécies;
c) ampliar o registro de pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à extração, indústria e comércio
de produtos ou subprodutos florestais.
Art. 15º - Fica proibida a exploração sob forma empírica das florestas primitivas da bacia amazônica
que só poderão ser utilizadas em observância a planos técnicos de condução e manejo a serem
estabelecidos por ato do Poder Público, a ser baixado dentro do prazo de um ano.
Art. 16 - As florestas de domínio privado, não sujeitas ao regime de utilização limitadas e ressalvadas
as de preservação permanente, previstas nos artigos 2o e 3o desta Lei, são suscetíveis de exploração,
obedecidas as seguintes restrições:
a) nas regiões Leste Meridional, Sul e Centro-Oeste, está na parte sul, as derrubadas de florestas
nativas, primitivas ou regeneradas, só serão permitidas desde que seja em qualquer caso, respeitado
o limite mínimo de 20% da área de cada propriedade com cobertura arbórea localizada, a critério de
autoridade competente;
b) nas regiões citadas na letra anterior, nas áreas já desbravadas e previamente delimitadas pela
autoridade competente, ficam proibidas as derrubadas de florestas primitivas, quando feitas para
ocupação do solo como cultura e pastagens, permitindo-se nesses casos, apenas a extração de árvores
para produção de madeira. Nas áreas ainda incultas, sujeitas a formas de desbravamento, as
derrubadas de florestas primitivas, nos trabalhos de instalação de novas propriedades agrícolas, só
serão toleradas o máximo de 50% da área da propriedade;
c) na região Sul, as áreas atualmente revestidas de formações florestais em que ocorre o pinheiro
brasileiro Araucária angustifolia (Bert-O.Kitze), não poderão ser desflorestadas de forma a provocar
a eliminação permanente das florestas, tolerando-se somente, a exploração racional destas,
observadas as prescrições ditadas pela a técnica, com a garantia de permanência dos maciços em
boas condições de desenvolvimento e produção;
d) nas regiões Nordeste e Leste Setentrional, inclusive nos Estados do Maranhão e Piauí, o corte de
árvores e a exploração de florestas só serão permitidas com observância de normas técnicas a serem
estabelecidas por ato do poder Público na forma do Art. 15.
Parágrafo 1o - Nas propriedades rurais, compreendidas na alínea a deste artigo, com área entre 20
(vinte) e 50 (cinqüenta) hectares, computarse-ão, para efeito de fixação do limite percentual, além da
cobertura florestal de qualquer natureza, os maciços de porte arbóreo, sejam frutíferos, ornamentais
ou industriais.
Parágrafo 2o - A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, 20% (vinte por cento) de cada
propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser averbada à margem da inscrição de
matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação,
nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento da área.
Parágrafo 3o. - Aplica-se às áreas de cerrado a reserva legal de 20% (vinte por cento) para todos os
efeitos legais.
Art. 20 - As empresas industriais que, por sua natureza, consumirem grandes quantidades de
matéria-prima florestal, serão obrigadas a manter, dentro de um raio em que a exploração e o
transporte sejam julgados econômicos, um serviço organizado, que assegure o plantio de novas áreas,
em terras próprias ou pertencentes a terceiros, cuja produção, sob exploração racional, seja
equivalente ao consumido para o seu abastecimento.
Parágrafo único - O não cumprimento do dispositivo neste artigo, além das penalidades previstas
neste Código, obriga os infratores ao pagamento de multa equivalente a 10% (dez por cento) do valor
comercial da matéria-prima florestal nativa consumida além da produção da qual participe.
Art. 23 - A fiscalização e a guarda das florestas pelos serviços especializados não excluem a ação da
autoridade policial por iniciativa própria.
Art. 24 - Os funcionários florestais, no exercício de suas funções, são equiparados aos agentes de
segurança pública, sendo-lhes assegurado o porte de armas.
Art. 25 - Em caso de incêndio rural, que não se possa extinguir com os recursos ordinários, compete
não só ao funcionário florestal como a qualquer outra autoridade pública requisitar os meios
materiais e convocar os homens em condições de prestar auxílio.
Art. 26 - Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de prisão simples ou
multa de uma a cem vezes o salário mínimo mensal do lugar e da data de infração ou ambas as penas
cumulativamente:
a) destruir ou danificar a floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação
ou utilizá-la com infrigência das normas estabelecidas ou previstas nesta Lei;
b) cortar árvores em florestas de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente;
c) penetrar em florestas de preservação permanente conduzindo armas, substâncias ou instrumentos
próprios para caça proibida ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem estar
munido de licença da autoridade competente;
d) causar danos aos Parques Nacionais, Estaduais ou Municipais, bem como às Reservas Biológicas;
e) Fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, sem tomar precauções
adequadas;
f) fabricar, vender, transportar e soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais
formas de vegetação;
g) impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação;
166
h) receber madeira, lenha, carvão e outros produtos procedentes de floresta, sem exigir a exibição de
licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente e sem munir-se da via que deverá
acompanhar o produto, até final beneficiamento;
i) transportar ou guardar madeiras, lenha e carvão e outros produtos procedentes de florestas, sem
licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade
competente;
j) deixar de restituir à autoridade licenças extintas pelo decurso do prazo ou pela entrega ao
consumidor dos produtos procedentes de florestas;
l) empregar, como combustível, produtos florestais ou hulha, sem uso de dispositivos que impeçam a
difusão de fagulhas, suscetíveis de provocar incêndios nas florestas;
m) soltar animais ou não tomar precauções necessárias, para que o animal de sua propriedade não
penetre em florestas sujeitas a regime especial;
n) matar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros
públicos ou em propriedade privada alheia ou árvore imune de corte;
o) extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia
autorização: pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais;
p) VETADO
q) transformar madeiras de lei em carvão, inclusive para qualquer efeito industrial, sem licença da
autoridade competente;
Art. 28 - Além das contravenções estabelecidas no artigo procedente, subsistem os dispositivos sobre
contravenções e crimes previstos no Código Penal e nas demais leis, com as penalidades nele
cominadas.
Art. 30 - Aplicam-se às contravenções previstas neste Código as regras gerais do Código Penal e da
Lei das Contravenções Penais, sempre que a presente Lei não disponha de modo diverso.
Art. 31 - São circunstâncias que agravam a pena, além das previstas no Código Penal e na Lei de
Contravenções Penais:
a) cometer a infração no período de queda das sementes ou de formação das vegetações prejudicadas,
durante a noite, em domingos ou dias feriados, em época de seca ou inundações;
b) cometer a infração contra a floresta de preservação permanente ou material dela provido.
Art. 32 - A ação penal independe de queixa, mesmo em se tratando de lesão em propriedade privada,
quando os bens atingidos são florestas e demais formas de vegetação, instrumentos de trabalho,
documentos e atos relacionados com a proteção florestal disciplinada nesta Lei.
Art. 33 - São autoridades competentes para instaurar, presidir e proceder a inquéritos policiais,
lavrar autos de prisão em flagrante e intentar a ação penal, nos casos de crimes ou contravenções,
previstos nesta Lei ou em outras leis e que tenham por objeto florestas e demais formas de vegetação,
instrumentos de trabalho, documentos e produtos dessas procedentes:
a) as indicadas no Código de Processo Penal;
b) os funcionários da repartição florestal e de autarquias, com atribuições correlatas, designados
para as atividades de fiscalização.
167
Parágrafo Único - Em caso de ações penais simultâneas, pelo mesmo fato, iniciadas por várias
autoridades, o Juiz reunirá os processos nas jurisdições em que se firmou a competência.
Art. 34 - As autoridades referidas no item b do artigo anterior, ratificada a denúncia pelo Ministério
Público, terão ainda competência igual a deste, na qualidade de assistente, perante a Justiça comum,
nos feitos de que trata a Lei.
Art. 37 - Não serão transcritos ou averbados no Registro Geral de Imóveis os atos de transmissão
inter-vivos ou causa mortis, bem como a constituição de ônus reais, sobre imóveis da zona rural, sem
a apresentação de certidão negativa de dívidas referentes a multas previstas nesta Lei ou nas Leis
estaduais supletivas, por decisão transitada em julgado.
Art. 38 - REVOGADO
Art. 39 - REVOGADO
Art. 40 - VETADO
Art. 42 - Dois anos depois da promulgação desta Lei, nenhuma autoridade poderá permitir a adoção
de livros escolares de leitura que não contenhas textos de educação florestal, previamente aprovados
pelo Conselho Federal de Educação, ouvido o órgão florestal competente.
Parágrafo primeiro - As estações de rádio e televisão incluirão, obrigatoriamente, em suas
programações, texto e dispositivos de interesse florestal, aprovados pelo órgão competente no limite
mínimo de cinco (5) minutos semanais distribuídos ou não em diferentes dias.
Parágrafo segundo - Nos mapas e cartas oficiais serão obrigatoriamente assinalados os Parques e
Florestas Públicas.
Parágrafo terceiro - A União e os Estados promoverão a criação e o desenvolvimento de escolas para
o ensino florestal, em seus diferentes níveis.
Art. 43 - Fica instituída a SEMANA FLORESTAL, em datas fixadas para as diversas regiões do País,
por Decreto Federal. Será a mesma comemorada, obrigatoriamente, nas escolas e estabelecimentos
públicos ou subvencionados através de programas objetivos em que se ressalte o valor das florestas,
face aos seus produtos e utilidades, bem como sobre a forma correta de conduzí-las e perpetuá-las.
Parágrafo Único - Para a Semana Florestal serão programadas reuniões, conferências, jornadas de
reflorestamento e outras solenidades e festividades, com o objetivo de identificar as florestas como
recurso natural renovável de elevado valor social e econômico.
Art. 44 - Na Região Norte e na parte Norte da Região Centro-Oeste, enquanto não for estabelecido o
decreto de que trata o artigo 15, a exploração a corte raso só é permissível desde que permaneça com
a cobertura arbórea, pelo menos 50% da área de cada propriedade.
168
Parágrafo Único - A RESERVA LEGAL, assim entendida a área de, no mínimo, 50% (cinqüenta por
cento) de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser averbada à margem da
inscrição da matrícula do imóvel, no Registro de Imóveis competente, sendo vedada a alteração de
sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento da área.
Art. 45 - Ficam obrigados ao registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA os estabelecimentos comerciais responsáveis pela comercialização de
moto-serras, bem como aqueles que adquirirem este equipamento.
Parágrafo 1º. - A licença par o porte e uso de moto-serras será revogada a cada 2 (dois) anos perante
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
Parágrafo 2o. - Os fabricantes de moto-serras ficam obrigados, a partir de 180 (cento e oitenta dias)
da publicação desta Lei, a imprimir, em local visível deste equipamento, numeração cuja seqüência
será encaminhada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA e constará das correspondentes notas fiscais.
Parágrafo 3o. - A comercialização ou utilização de moto-serras sem a licença a que se refere este
artigo constitui crime contra o meio ambiente, sujeito à pena de detenção de 1 (um) a 3 (três) meses e
multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos de referência e apreensão da moto-serra, sem prejuízo da
responsabilidade pela reparação dos danos causados.
Art. 46 - No caso de florestas plantadas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, zelará para que seja preservada, em cada município, área destinada à
produção de alimentos básicos e pastagens, visando ao abastecimento local.
Art. 47 - O Poder Executivo promoverá no prazo de 180 dias, a revisão de todos os contratos,
convênios, acordos e concessões relacionados com a exploração florestal em geral, a fim de ajustá-
las às normas adotadas por esta lei.
Art. 48 - Fica mantido o Conselho Florestal, com sede em Brasília, como órgão consultivo e
normativo da política florestal brasileira.
Parágrafo Único - A composição e atribuições do Conselho Florestal Federal, integrado, no máximo,
por 12 (doze) membros, serão estabelecidas por decreto do Poder Executivo.
Art. 49 - O Poder Executivo regulamentará a presente Lei, no que for julgado necessário à sua
execução.
Art. 50 - Esta Lei entrará em vigor 120 (cento e vinte) dias após a data de sua publicação revogados
o Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934 (Código Florestal), e demais disposições em contrário.
Central
Área de Proteção Ambiental da Bacia do 35.588 Cerrado
Rio Descoberto
Área de Proteção Ambiental das Serras das 30.000 Cerrado
Gáleas e da Portaria
Área de Proteção Ambiental Serra de ND Cerrado
Jaraguá
Floresta Nacional de Silvânia 466.55 Cerrado
Fazenda Boca da Mata 1.058,191 Cerrado
Bacia do Ribeirão Cocal 48,98 Cerrado
Fazenda Vereda de Gato 143 Cerrado
Fazenda Cachoeirinha 80 Cerrado
Vale Encantando da Cachoeira dos Cristais 600 Cerrado
Fazenda Pindorama 636 Cerrado
Fazenda Cachoeira da Boa Vista 108,25 Cerrado
Fazenda Jaquanês 269 Cerrado
Fazenda Santa Branca 36,36 Cerrado
Flor das Águas 43 Cerrado
Reserva Pousada das Araras 175 Cerrado
Fazenda Linda Serra dos Topázios 469,14 Cerrado
Continuação: Unidade de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral em Goiás,
2002.
170
FAZENDA CONCEIÇÃO OU COLÔNIA 50 CERRADO
Fazenda Palmeiras 2.178 Cerrado
Reserva Ecológica Serra Dourada 136,54 Cerrado
Reserva Ecológica Cachoeira das 29,04 Cerrado
Andorinhas
Fazenda Gleba Vargem Grande I 390 Cerrado
Fazenda Vaga Fogo 17 Cerrado
Fazenda João de Barro 2,90 Cerrado
Fazenda Arruda 800 Cerrado
Fazenda Mata Funda 110 Cerrado
Fazenda Campo Alegre 7.500,82 Cerrado
USO SUSTENTÁVEL (CONT.)
D
E
P
Guimarães
171
Parque Nacional do Pantanal Mato-
135.000,00 Pantanal
grossense
Transição entre
Parque Estadual de Santa Bárbara 120.092,19
Mata e Cerrado
Parque Estadual Serra do Ricardo Franco 158.620,85 Cerrado
Parque Estadual do Araguaia 230.000 Cerrado
Parque Estadual Mãe Bonifácio 771.609 Cerrado
Parque Estadual Massairo Okamura 53.75 Cerrado
Parque Estadual da Saúde 663.965 Cerrado
APA Meandros do Rio Araguaia 357.126,00 Cerrado
Estação Ecológica de Ique Juruena 200.000,00 Cerrado
Estação Ecológica Taiamã 11.200,00 Cerrado
Estação Ecológica Serra das Araras I 24.790,00 Cerrado
Estação Ecológica Serra das Araras II 3.910,00 Cerrado
Floresta
Parque Estadual do Xingu 134.463
Amazônica
Floresta
RE Apiacás 100.000
Amazônica
RE Culuene 3.900 Cerrado
Floresta
Colniza 13.682
Amazônica
Floresta
EE do Rio Rosselvet 8.915
Amazônica
Floresta
EE do Rio Ronuro 131.795
Amazônica
CONSERVAÇÃO DE
USO SUSTENTÁVEL
Floresta
Cristalino 66.900
UNIDADES DE
Amazônica
Gruta da Lagoa Azul 12.512 Cerrado
Serra Azul 11.002 Cerrado
APA Cabeceiras do Rio Cuiabá 251.847,94 Cerrado
APA Pé da Serra Azul 7.980 Cerrado
Águas Quentes 1.487 Cerrado
Refúgio Quelônios do Araguaia 60.000 Cerrado
Refúgio da Corixão da Mata Azul 40.000 Cerrado
Floresta
RE Guariba Roosevelt 57.630
Amazônica
147 Km na
MT - 100
Estrada Parque Transpantaneira entre Pantanal
Poconé e
Porto Jofre
15 Km do
trecho da MT
Estrada Parque Chapada dos Guimarães - 251 entre Cerrado
Chapada e
Mirante
Entre Santo
Estrada Parque Santo Antônio Antônio e Pantanal
Porto Rosa