You are on page 1of 177

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO AMBIENTAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

CARACTERIZAÇÃO DOS REMANESCENTES DE CERRADO E SUAS


RELAÇÕES COM O USO E OCUPAÇÃO DAS TERRAS DA ALTA
BACIA DO RIO ARAGUAIA

Mestranda: Karla Maria Silva de Faria

Orientadora: Profª. Drª. Selma Simões de Castro

Goiânia, junho de 2006.


ii
KARLA MARIA SILVA DE FARIA

Caracterização dos Remanescentes de Cerrado e suas relações


com o Uso e Ocupação das Terras da Alta Bacia do Rio Araguaia

Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-


Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Sócio-
Ambientais da Universidade Federal de Goiás, para a
obtenção de título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Ambiente e Apropriação do


Cerrado

Orientadora: Profª. Drª Selma Simões de Castro

Goiânia, junho de 2006


iii
KARLA MARIA SILVA DE FARIA

Caracterização dos Remanescentes de Cerrado e suas relações com o Uso e


Ocupação das Terras da Alta Bacia do Rio Araguaia

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Geografia do Instituto de


Estudos Sócio - Ambientais da Universidade Federal de Goiás, para a obtenção do grau de
Mestre, aprovada em _____ de ___________ de ______, pela Banca Examinadora constituída
pelos seguintes professores:

__________________________________________
Profª. Drª. Selma Simões de Castro
Orientadora

_________________________________________
Profº. Dr. Idelvone Mendes Ferreira
Membro Titular

__________________________________________
Dr. Erides Campos Antunes
Membro Titular

__________________________________________
Profª. Drª. Sandra de Fátima Oliveira
Membro Suplente

Goiânia, junho de 2006.


iv

Aos meus pais,


Clarice e Carlos, e aos meus irmãos,
Kalyna, Carlos Jr. pela amizade,
paciência e confiança.

Ao Tatuapu
v
AGRADECIMENTOS

À minha família pelo apoio, compreensão e, sobretudo pelas excessivas doses de


paciência e prestativa ajuda sempre que solicitada.
À Profª Drª. Selma Simões de Castro que contribuiu com observações, empenho e
dedicação na orientação deste trabalho.
Ao Raphael Oliveira Borges, pela ajuda na elaboração dos produtos cartográficos
e que a tornou bem divertida.
Ao CNPQ, pela concessão da bolsa de pesquisa sem a qual, essa pesquisa não
teria saído do “papel”.
Às amigas Gisele, Cinttia, Renatinha e Mônica pelos momentos de descontração,
por terem me lançado e incentivado nesta aventura e sempre colaborado durante todas as
etapas da pesquisa.
Aos colegas da turma de Mestrado, em especial as amigas Rosane e a Neiva,
companheiras de orientação e de área de estudo.
Aos coordenadores dos Laboratórios de Geografia e Física, Prof. Dr. Edgardo M.
Latrubesse e do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento, do Prof. Dr.
Laerte Guimarães F. Júnior, por terem permitido acesso aos equipamentos e instalações dos
laboratórios sempre que necessário.
Ao corpo docente do Programa de Mestrado: Celene C. Monteiro Antunes Barreira,
Eguimar Felício, Laerte Guimarães F. Júnior, Lana de Souza Cavalcanti, Manoel Calaça,
Maria Geralda de Almeida, Maria Ieda de Almeida Burjack, Sandra de Fátima Oliveira,
Luciana Maria Lopes, Cláudia Valéria de Lima, ao Prof. João de Deus e aos demais docentes
do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais.
Ás professoras Drª Maria Ieda de Almeida Burjack e Drª Sandra de Fátima
Oliveira, pelas contribuições dadas no momento da qualificação deste trabalho. E ao Eng.
Flor. Erides C. Antunes por contribuir nos trabalhos de campo na identificação das
fisionomias.
Aos funcionários do IESA e do Programa de Mestrado em Geografia, em especial
à Roberta e ao Charles, pela atenção e dedicação sempre quando solicitada.
As amigas e aos amigos: Eliete, Monalisa, Gervásio, Aline, Luiza, Lorena, Reila e
todos os outros que contribuíram direta ou indiretamente nesta pesquisa.
Ás Yanofriends por todos os telefonemas, e-mails e festinhas para os momentos
de descontração, e a ainda as minhas Grandes-Primas.
Ao Wesley pela leitura e correção gramatical do texto.
À Deus e a todas as suas representações mágicas.
vi
O GRANDE BIOMA
SEGUNDO DO MUNDO
O CERRADO GOIANO
ESTUDO A FUNDO
FAUNA TÃO BELA
DA TERRA QUE AMO
HOJE É SAUDADE
NO CERRADO GOIANO

VI LOBO GUARÁ
E ONÇA PINTADA
CAINDO NA BALA
VIRANDO CAÇADA

A BELA SERIEMA
DE PERNAS ESGUIAS
VIROU PEÇA RARA
SUMIU A CUTIA CAPIVARA, PICA-PAU
PAPAGAIO, MIQUINHO
TATU E SARACURA
NÃO TEM PAZ NEM NO NINHO

O MURICI, QUE DELICIA!


FRUTO DE RARO SABOR
HOJE SÓ VEJO O DESENHO
EM UM FRASCO DE LICOR!

O JATOBÁ, AMARELO, GRUDENTO


DIFERENTE ATÉ NA COR.
SUMIU, VIROU MADEIRA
CAIBROS DE GRANDE VALOR

DA FLORA TÃO VASTA


A SAUDADE FICOU
TANTOS FRUTOS, TANTAS FLORES
QUE O PROGRESSO TIROU

ESSA MÃE NATUREZA


GRANDES POVOS SUSTENTOU
XAVANTES, TUPIS, GUARANIS
SEUS CURUMINS ABRIGOU

FAUNA E FLORA TÃO BELA


DESTA TERRA QUE TANTO AMO
SÃO REMANESCENTES, SÃO SAUDADES
DO MEU CERRADO GOIANO.
CLARICE BADIA
vii
RESUMO

A ocupação intensiva do Bioma Cerrado, dominante na região Centro-oeste do país, foi


influenciada por políticas governamentais, como as relacionadas ao II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND), as quais promoveram o desenvolvimento da região, porém,
provocaram impactos ambientais notáveis, associados ao intenso desmatamento das
fisionomias nativas e sua substituição, sobretudo pela agropecuária, conduzindo a uma
drástica redução do bioma e isolamento progressivo dos remanescentes. A bacia do Rio
Araguaia, que drena uma área de 62.384,41 km2, abrangendo terras dos Estados de Goiás,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, constitui-se numa das áreas representativas desse
processo. O objetivo dessa dissertação é apresentar e discutir os resultados do mapeamento do
uso da terra dessa bacia, com ênfase na análise dos remanescentes de cerrado, relacionando
sua distribuição espacial ao processo de sua fragmentação e às sub-bacias, selecionando-se
dentre elas as representativas de sua máxima e mínima ocorrência. O mapeamento foi
realizado através de tratamento, análise e interpretação de imagens de satélite Landsat 7
ETM+, combinando técnicas visuais e digitais de sensoriamento remoto e geoprocessamento,
acompanhada de validação em campo. Os resultados revelaram que a Alta Bacia do rio
Araguaia ainda apresenta significativa presença de remanescentes de diversas fitofisionomias
nativas do Cerrado, correspondentes a 44,8% de sua área total, paralelamente a 52,4% onde
ocorreu importante substituição dessas coberturas por atividades agropecuárias. Revelaram
ainda que essa substituição da vegetação nativa não foi homogênea por toda a área,
permitindo constatar que a degradação foi mais intensa do lado goiano do que do lado mato-
grossense, onde se localizam a sub-bacia do rio das Garças, e do Rio Claro, respectivamente,
representativa das maiores e menores áreas de remanescentes das formações Savânicas e
Florestais.

Palavras-chave: Remanescentes do Bioma Cerrado; Desmatamentos; Ocupação e Uso da


terra.
viii

ABSTRACT

The occupation of the Savannah biome was influenced by governmenal projects and politics
related to the II National Plan of Development (PND) which promoted the development of the
area, provoking notable environmental impacts associated to the intense deforestation of the
native physiognomies and its substitution mostly by farming – a practice which, in turn,
promoted progressive isolation of the scattered biome remainders. The Araguaia river basin
drains an area of 62.384,41 km2, is located in the Central-West area of the country including
the States of Goiás, Mato Grosso, and Mato Grosso do Sul, and is one of the areas
representative of that process. The objective of this dissertation is to present the product of the
research accomplished with emphasis in the mapping out of the land use in that basin as well
as the quantification of Savannah remainders, relating space distribution to the fragmentation
process, having been selected sub-basins representative of high and low occurrences. This
study was done through analyzis and interpretation of satellite images Landsat 7 ETM,
combining visual and digital techniques of remote sensoring and geoprocessing, followed by
field control. The results revealed that the High Basin of the Araguaia river still presents
significant presence of remainders of several native phytophisiognomies of the Savannah,
corresponding to 44.8% of its total area, parallel to 52.4% where there occurred substitution
of native vegetation. On the entire area, the non-homogeneous fragmentation process allowed
us to verify that the degradation was more intense in Goiás than Mato Grosso, the sub-basin
of the river of Herons is located, representing the largest area of savannic and forest
formation remainders.

Key-words: remainders of the Cerrado biome, deforestation, ocupation, land use.


ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Localização da área de estudo................................................................ 20


Figura 02 – Localização hipotética dos biomas brasileiros originais........................ 24
Figura 03 - Área de abrangência continua e isolada do bioma Cerrado.................... 25
Figura 04 - Principais fitofisionomias encontradas no bioma Cerrado...................... 35
Figura 05 – Áreas de atuação do POLOCENTRO.................................................... 49
Figura 06 – Remanescentes do Bioma Cerrado......................................................... 54
Figura 07 – Mapa de unidades fisionômicas de uso da terra no Estado de Goiás..... 57
Figura 08 – Mapa de remanescentes e UCs do Estado de Goiás………………….. 61
Figura 09 – Mapa de unidades fisionômicas de uso da terra no estado de Mato
65
Grosso.....................................................................................................................
Figura 10 – Mapa de remanescentes e UCs do Estado de Mato Grosso................... 67
Figura 11 - Identificação das fitofisionomias de cerrado.......................................... 73
Figura 12 – Mapa de Clima........................................................................................ 83
Figura 13 - Distribuição anual de precipitação do Alto Araguaia............................. 84
Figura 14 – Mapa Geológico..................................................................................... 88
Figura 15 – Mapa de Geomorfologia......................................................................... 92
Figura 16 – Mapa Clinográfico.................................................................................. 95
Figura 17 – Mapa Hipsométrico ............................................................................... 96
Figura 18 – Mapa de solos......................................................................................... 98
Figura 19 – Evolução da População Rural e Urbana da Alta Bacia........................... 103
Figura 20 – Evolução do nº de Bovinos da Alta Bacia.............................................. 104
Figura 21 - Evolução do Uso da Terra de 1970-1996............................................... 105
Figura 22 - Concessão de desmatamentos por bacias hidrográficas.......................... 105
Figura 23 - Vegetação em área de encosta................................................................. 109
Figura 24 - Gráfico de Uso da Terra......................................................................... 119
Figura 25 - Área de pastagens .................................................................................. 110
Figura 26 - Cultivo do algodão................................................................................. 110
Figura 27 - Remanescentes da sub-bacia Cachoeira Grande................................ 118
Figura 28 - Área de Cerrado Denso/soja............................................................. 119
Figura 29 - Área de Campo Limpo Úmido………………………………………… 120
Figura 30 - Remanescentes da sub-bacia do Rio dos Peixes.................................. 121
Figura 31 -Área de Campo Sujo ......................................................................... 123
x
Figura 32 - Remanescentes da sub-bacia do Rio das Garças..................................... 125
Figura 33 - Área de Cerrado Denso.......................................................................... 126
Figura 34 - Remanescentes da sub-bacia do Rio Caiapó.......................................... 127
Figura 35 - Mata Ciliar do Rio Caiapó....................................................................... 129
Figura 36 - Área de Cerrado Rupestre.................................................................... 129
Figura 37 - Remanescentes da sub-bacia do Rio Claro.............................................. 131
Figura 38 - Gráfico de comparação entre os tipos fisionômicos por sub-bacia…… 133
Figura 39 - “Ilhamento” da vegetação remanescente................................................. 135
xi
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Estimativas da riqueza de espécies do Cerrado................................... 38


Tabela 02 – Quantificação da cobertura vegetal em Goiás, 2002 .......................... 58
Tabela 03 – Quantificação da cobertura vegetal em Goiás, 2004 ......................... 59
Tabela 04 – Áreas das unidades de Conservação, Goiás -1998-2000..................... 62
Tabela 05 - Quantificação da cobertura vegetal em Mato Grosso ........................ 64
Tabela 06 - Cálculo da área de geologia................................................................. 87
Tabela 07 - Cálculo de área dos solos.................................................................... 97
Tabela 08 – Uso do solo 1976-1998 do setor sul da Alta bacia do Rio Araguaia.. 107
Tabela 09 – Cálculo de área de uso e ocupação da terra e ocorrências erosivas ... 107
Tabela 10 – Grau de discrepância........................................................................... 108
Tabela 11 - Participação da área das sub-bacias e de seus remanescentes à Alta 116
Bacia…......................................................................................................................
Tabela 12 – Área dos remanescentes da Sub-bacia Cachoeira Grande .............. 117
Tabela 13 – Área dos remanescentes da Sub-bacia Rio dos Peixes......... .............. 122
Tabela 14 – Área dos remanescentes da Sub-bacia Rio das Garças....................... 124
Tabela 15 – Área dos remanescentes da Sub-bacia Rio Caiapó............................. 128
Tabela 16 – Área dos remanescentes da Sub-bacia Rio Claro................................ 130
Tabela 17 - Área dos remanescentes por sub-bacias............................................. 134
Tabela 18 - Quantificação da cobertura vegetal na Alta Bacia............................... 135

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Sumário da Estratigrafia da área de estudo........................................ 86


Quadro 02 - Síntese do meio físico e do uso das sub-bacias……………………. 114
Quadro 03 - Quadro síntese das fisionomias por sub-bacias e na Alta Bacia…... 138
xii
SIGLAS UTILIZADAS

AGIM - Agência Goiana de Desenvolvimento Industrial e Mineral de Goiás


AGMA - Agência Ambiental de Goiás
ANA - Agência Nacional das Águas
APA - Área de Proteção Ambiental
APP - Área de Preservação Permanente
CANG - Colônia Agrícola Nacional de Goiás
CI - Conservation International
CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
EMGOPA - Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária
EMPA - MT- Empresa Agropecuária de Mato Grosso
EMPAER - MT- Empresa de Pesquisa, assistência técnica e extensão de Mato Grosso do Sul
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ENVI - Environment for Visualing Imagens
EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais
FEMA - MT - Fundação Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso
GIS - Sistema de Informação Geográfica
GPS - Global Positioning System
IBGE - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
JICA - Agência de Cooperação Internacional do Japão
LABOGEF - Laboratório de Geologia e Geografia Física
LANDSAT - Land Satellite
LAPIG - Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento
MMA - Ministério do Meio Ambiente
NASA - National Aeronautics and Space Administration
NDVI - Normalized Difference Vegetation Index
ONGs - Organizações não Governamentais
PENT - Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento
PNE - Parque Nacional das Emas
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
POLOCENTRO - Programa de Desenvolvimento das Áreas de Cerrados
xiii
PRODEAGRO - Programa de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso
PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados
RL - Reservas Legais
RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural
SEMA - MT - Secretaria Especial do Meio Ambiente de Mato Grosso
SEPLAN - GO - Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás
SEPLAN - MT - Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso
SIAD - Sistema de Alerta de Desmatamentos
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPOT - Satélite Pour I’Observation de la Terre
SPRING - Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas
SRTM - Shuttle Radar Topography Mission
UCs -Unidades de Conservação
WWF - Worl Wildlife Fund (Fundo Mundial para a Natureza)
ZEE-MT - Zoneamento Ecológico Econômico do Estado de Mato Grosso
xiv
SUMÁRIO

Resumo vii
Abstract viii
LISTA DE FIGURAS............................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS............................................................................................ xi
LISTA DE QUADROS........................................................................................... xi
LISTA DE SIGLAS................................................................................................. xii
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 15
CAPÍTULO I - Características do Bioma Cerrado 23
1.1. Distribuição e Classificação...................................................................... 24
1.2. Características físicas - ambientais do Bioma Cerrado e sua vegetação... 30
CAPÍTULO II - Fundamentos Teóricos e Conceituais da Pesquisa:
40
Ocupação do Cerrado e suas Conseqüências
2. Ocupação do Cerrado e suas conseqüências: Principais Aspectos.............. 41
2.1. Ocupação do Bioma.................................................................................. 41
2.2. Conseqüências da Ocupação do cerrado................................................... 51
2.2.1. Conseqüências da ocupação em Goiás e em Mato Grosso.................... 56
CAPÍTULO III - Metodologia 69
4.1 - Pressupostos metodológicos.................................................................... 70
4.2 - Etapas e procedimentos operacionais da pesquisa................................... 74
CAPÍTULO IV - A área de estudo 81
3.1. Características do meio físico.................................................................. 82
3.1.1. Clima...................................................................................................... 82
3.1.2. Geologia................................................................................................. 84
3.1.3. Geomorfologia....................................................................................... 91
3.1.4. Solos....................................................................................................... 97
3.2. Ocupação e Uso da Terra na Alta Bacia................................................... 102
3.2.1-Ocupação……………………………………………………………. 102
3.2.2. Uso da Terra………………………………………………………... 109
3.2.3. As sub-bacias ……………………………………………………… 112
CAPÍTULO V - Remanescentes: situação e alternativas 115
5.1. Situação dos remanescentes da Alta Bacia .............................................. 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 142
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 149
ANEXOS.................................................................................................................. 161
INTRODUÇÃO
16
A dominação da natureza acompanha o processo de evolução e ocupação do
espaço terrestre pelos seres humanos. Essa relação, principalmente no mundo ocidental,
esteve fundada em um processo de privatização dos bens, acontecendo de forma variada entre
as regiões, culturas e, até mesmo, através do tempo em todo o planeta. A análise sistemática
dos impactos dessa dominação e das subseqüentes mudanças causadas aos ambientes naturais
tem promovido o aumento dos conhecimentos sobre as relações entre os seres humanos e a
natureza e despertado interesse na compreensão dessa dinâmica tão desconcertante.

A exploração mais recente da natureza, considerada por muitos como, excessiva e


insustentável tem seu início após as inovações tecnológicas incentivadas pela “Revolução
Verde” na década de 1960, que promoveram o desenvolvimento econômico de várias regiões
do planeta, mas, também, causaram perdas ambientais incalculáveis da biodiversidade dos
diversos biomas mundiais, em especial dos tropicais, como o Bioma Cerrado.

O Bioma Cerrado que representava cerca de 23% do território brasileiro,


compreende tipos vegetacionais e espécies de fauna e flora endêmicas e caracteriza-se por
apresentar três grandes tipos de fitofisionomias: Formações Florestais (predominância de
espécies arbóreas, com formação de um dossel contínuo ou descontínuo), Formações
Savânicas (árvores e arbustos espalhados sobre o estrato graminoso, sem a formação de dossel
contínuo) e Formações Campestres (áreas com predomínio de espécies herbáceas e algumas
arbustivas, faltando árvores na paisagem), que apresentam vários subtipos (RIBEIRO &
WALTER, 1998).

No Brasil, ao longo da história, com o avanço das fronteiras agrícolas, os padrões


de uso da terra sofreram mudanças drásticas e a situação não foi diferente para o Bioma
Cerrado, considerado por alguns como a última fronteira agrícola do país, já que a Amazônia
é protegida pela Constituição Federal. Sem despertar maiores interesses durante séculos, a
ocupação intensiva do Cerrado iniciou-se ao fim da década de 1960, por meio da expansão da
fronteira agrícola promovida por políticas públicas federais de desenvolvimento baseadas em
um modelo de exploração agropecuário denominado de moderno, implementado
principalmente por meio dos Planos Nacionais de Desenvolvimento - os PNDs e, sobretudo,
pelo II PND (1975 – 1979) em especial pelo Programa de Desenvolvimento das áreas de
Cerrado -POLOCENTRO e Programa de Cooperação Nipo -Brasileira de Desenvolvimento
dos Cerrados -PRODECER, que viabilizaram a ocupação rápida das terras, favoreceram a
concentração fundiária e estimularam a modernização do campo apoiados na implantação de
infra-estrutura, sobretudo viária, para o escoamento da produção e em linhas de financiamento
do setor produtivo agropecuário, dentre outras ações (GOMES & TEIXEIRA NETO, 1993).
17
Os incentivos voltados para a região estimularam diretamente o desenvolvimento
agrícola a partir da incorporação imediata das novas tecnologias pelos produtores. A região
desenvolveu-se em alta velocidade, alcançando competitivos índices de produtividade com
outras regiões produtivas do país (CUNHA, 1992). Em 40 anos, transformou-se no celeiro
agrícola do país, capaz de suportar a produção de grãos e atividades de pastagens. A região é
produtora de monoculturas voltadas ao mercado internacional, como a soja e o algodão, e
detentora do maior rebanho bovino do país, responsável por cerca de 55% de toda a produção
nacional de carne bovina, e, atualmente, por 42% do PIB do agronegócio nacional
(EMBRAPA CERRADOS, 2005).

Esse processo acelerou a degradação das terras, uma vez que na ocupação não
foram respeitadas áreas inaptas às práticas agrícolas, além de terem sido promovidas perdas
incalculáveis da biodiversidade do bioma, pois ao incorporar parcelas significativas de
ecossistemas naturais, reduziu a esparsos fragmentos, entendidos como remanescentes do
bioma original.

Considerado como uma das 34 áreas prioritárias para a conservação da


biodiversidade mundial, (“hotspots”) o Bioma Cerrado apresenta uma elevada taxa de
conversão de cobertura vegetal (CI, 2005). As taxas de ocupação e devastações desse bioma
são superiores às taxas de vegetação em regeneração e o fenômeno de fragmentação se instala
rapidamente. Atualmente, a vegetação desse bioma está restrita a somente 20% de área total
com remanescentes que se encontram cada vez mais fragmentados e degradados e que ainda
podem ser alvo de desmatamentos em vista das limitações das áreas protegidas, pequenas em
número e concentradas em poucas regiões. Apenas 0,85% desses remanescentes encontram-se
protegidos em Unidades de Conservação que não conseguem garantir a conservação deste
bioma (MMA, 2002).

Segundo Borlegart (2003), os desmatamentos em larga escala da vegetação nativa


do cerrado, obedeciam a técnicas de “corte raso”, que envolve duas etapas: derrubada (com a
prática de correntões) e de enleiramento (empilhamento das árvores, seguida da produção de
carvão). O desmatamento, assim praticado, só não foi total, porque o Código Florestal (Lei nº
4.771/65) proibia desmatamentos em áreas específicas (vegetação ao longo dos cursos d’água,
ao redor de lagoas, reservatórios e lagos, ou que estivessem em áreas de topos de morros e
encostas com mais de 45º, além de exigir a manutenção de no mínimo 20% de reserva legal
para as propriedades rurais), embora nem sempre respeitadas. O resultado foi a fragmentação
da vegetação nativa em manchas espalhadas e ilhadas em meio a áreas de agropecuária
intensiva.
18
Assim, remanescentes são encontrados cada vez mais dentro de propriedades
públicas, privadas e comunitárias. Eles geralmente correspondem às Áreas de Preservação
Permanente (APP) ou às Reservas Legais (RL) dos estabelecimentos rurais ou ainda a áreas
que por algum motivo ainda não foram incorporadas ao processo produtivo. Os remanescentes
apresentam-se em manchas isoladas entre fazendas de agricultura intensiva, pastagens e
outros usos, o que conduz à descaracterização dos remanescentes e até mesmo ao risco de
desaparecimento.

As rápidas mudanças no uso e ocupação das terras como ação dos seres humanos
é objeto de discussão da Geografia, auxiliada pelas geotecnologias na análise para a
compressão dessa dinâmica espaço-temporal. Assim, o sensoriamento remoto tem se aliado, à
ciência geográfica como suporte instrumental e oferecido elementos para o mapeamento e
registro das mudanças no uso do solo e no meio ambiente em geral, visando, com a
espacialização produzida, melhorar ou sugerir planejamentos para o uso das terras, e delimitar
áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.

Mapeamentos realizados para o monitoramento das mudanças no uso das terras


têm apontado as atividades de agropecuária como responsáveis pela fragmentação da
vegetação nativa, devido às grandes extensões envolvidas, à velocidade e, freqüentemente à
insuficiência ou mesmo ausência de planejamento preventivo de impactos ambientais
negativos que as acompanham. E, ainda, aos efeitos diretos e indiretos que trazem como a
poluição do solo e da atmosfera, a introdução de espécies exóticas nos ambientes e a
compactação e erosão dos solos, entre outros.

São raros os trabalhos que mapeiam os fragmentos de vegetação em escalas de


maior detalhe, embora se multipliquem cada vez mais os trabalhos que o fazem em escalas
mais amplas, regionais, de semidetalhe e mesmo de reconhecimento, principalmente com o
auxílio de sensoriamento remoto e monitoramento, como os que vêm sendo desenvolvidos
pelo Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SIAD-Cerrado).

Entretanto, a identificação e a caracterização das áreas remanescentes de Cerrado,


em escala de detalhe, podem fornecer mais subsídios para a avaliação diagnóstica,
prognóstica e a proposição de ações de manejo, assim como para suprir, em parte, a
deficiência de dados nos órgãos responsáveis quanto ao monitoramento das áreas específicas,
onde, justamente, constata-se maior criticidade em relação ao desrespeito à legislação
ambiental e à falta de práticas conservacionistas de uso/ocupação e manejo das terras no
entorno desses remanescentes. Tal situação pode comprometer a própria sobrevivência dos
remanescentes, já que é comum o fato deles estarem cada vez mais isolados, comprometendo
19
seriamente algumas espécies vegetais e animais, degradando-as por problemas decorrentes de
efeito de borda e polinização entre outros. Tanto é assim que estudos sobre “Corredores
Ecológicos” vêm sendo propostos e implementados, como o Cerrado-Pantanal (MMA, 1999),
conhecido como Emas (Parque Nacional) - Pantanal.

Por se constituir como uma das representantes das transformações sócio-


econômicas e ambientais sofridas pelo Cerrado, como relatado, a bacia do rio Araguaia já
atingiu, ao final do século XX, elevados índices de antropização (FRANCO, 2003), aos quais
se associam impactos ambientais decorrentes da expansão de atividades agrícolas nas últimas
quatro décadas, destacando-se a origem e aceleração dos processos erosivos e de
assoreamento presentes em vários setores da bacia, principalmente no seu setor sul, assim
como na eliminação da cobertura vegetal original (FARIA 2001; BARBALHO, 2002;
CASTRO, et al. 2004, dentre outros).

O rio Araguaia nasce na Serra do Caiapó, no paralelo 18º, divisa de Goiás, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, a uma altitude de 850 m. Percorre uma extensão de 2.115 Km,
até desaguar no rio Tocantins, na cota 100 m.(N.M.) e drena uma área de 383 mil quilômetros
quadrados, aproximadamente, sendo que, apenas 23% desta área está situada no Estado
de Goiás.

Segundo proposto por Latrubesse e Stevaux (2002), os três segmentos do rio


Araguaia são: o Alto Araguaia – que se estende das suas nascentes até a cidade de Registro
do Araguaia, com 450 km e um desnível de 570 m; o Médio Araguaia - que se estende por
1.600 km desde Registro do Araguaia até Conceição do Araguaia com um desnível de 185m;
e o Baixo Araguaia que se inicia após a localidade de Conceição do Araguaia e se estende até
sua confluência com o rio Tocantins. A cada um desses segmentos do canal confluem vários
afluentes, compondo diversas sub-bacias (ANEEL, 1998), dentre elas a Alta Bacia que
corresponde à área do presente estudo, situada na porção sudoeste e sudeste dos Estados de
Goiás e Mato Grosso, respectivamente. Localiza-se entre as longitudes 53º 58’27’’ e 50º 01’
53’’ Oeste e as latitudes 18º 03’ 53’’ e 15º 21’ 46’’ Sul, abrangendo 62.384,410 km2, sendo
composta pelas sub-bacias de Cachoeira Alta, rio Peixes, rio das Garças, rio Caiapó e rio
Claro (Figura 01).

Esta área contempla ao todo ou em parte, 49 municípios, pertencendo ao Estado


de Goiás (34): Amorinópolis, Aragarças, Arenópolis, Aurilândia, Baliza, Bom Jardim de
Goiás, Buriti de Goiás, Cachoeira de Goiás, Caiapônia, Córrego do Ouro, Diorama,
Doverlândia, Fazenda Nova, Firminópolis, Goiás, Iporá, Israelândia, Ivolândia, Jaupaci,
Jussara, Mineiros, Moiporá, Montes Claros de Goiás, Mossâmades, Novo Brasil, Palestina de
Goiás, Paraúna, Piranhas, Portelândia, Sancrerlândia, Santa Fé de Goiás, Santa Rita do
Araguaia, São João da Paraúna e São Luis dos Montes Belos; ao Estado de Mato Grosso (14):
Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Araguaiana, Araguainha, Barra do Garças, General
Carneiro, Guiratinga, Pontal do Araguaia, Ponte Branca, Poxoréu, Ribeirãozinho, Tesouro,
Torixoréu; e a Mato Grosso do Sul o município de Costa Rica.

Os impactos, já identificados nessa bacia, são decorrentes das atividades


agropecuárias e expressam-se principalmente na redução da biodiversidade de um dos mais
importantes biomas nacionais e na alta incidência de processos erosivos, além de areais,
pastos e solos degradados, como os constatados principalmente no pequeno setor sul da Alta
Bacia do rio Araguaia, onde dominam solos arenosos finos e erosões do tipo voçorocas
contabilizam 91 focos (SILVA, 2000) de médio a grande porte e estão relacionadas ao uso e
ocupação inadequados das terras, pois que surgiram após 1980.
Franco (2003), ao estudar a bacia como um todo, particularizando-a no Estado de
Goiás, em escala de semidetalhe (1:250.000), constatou elevado grau de antropização, como
já exposto, o que faz com que a vegetação do Bioma Cerrado seja cada vez mais reduzida,
fragmentada e degradada, dependa cada vez mais das Unidades de Conservação e as Áreas de
Preservação, porém estas não conseguem garantir a conservação mínima do bioma .

Entretanto, a distribuição e dimensão dos remanescentes não são uniformes. Alves


(2003), estudando a sub-bacia do ribeirão Zeca Novato, também do setor sul da Alta Bacia,
constatou pouca alteração pela ação antrópica e ressaltou a importância da manutenção dos
remanescentes nesse setor para a recomposição dos pontos degradados na paisagem, de modo
a auxiliar na manutenção dos corredores ecológicos, do Parque Nacional das Emas - PNE e do
Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari - PENT. Barbalho (2002) e Faria (2001)
haviam assinalado para esse setor sul diferenças de cobertura vegetal nativa entre as áreas de
Goiás e Mato Grosso, favorável ao primeiro.

Observações preliminares sobre a Alta Bacia do Rio Araguaia, área objeto desta
dissertação, revelaram essas mesmas tendências quanto a distribuição dos remanescentes
(FARIA,2005). Atualmente, a área como um todo e vários municípios pertencentes a ela são
focos de amplas discussões (políticas, sociais e científicas) que questionam a continuação do
desmatamento indiscriminado do Cerrado e a expansão de atividades agrícolas. Nesse sentido,
o objetivo desse trabalho é identificar e caracterizar os remanescentes do Cerrado na Alta
Bacia do rio Araguaia, em escala adequada aos cerca de 62.384,41 km2 e com um nível de
tratamento que permita distinguir as fisionomias presentes, bem como fornecer subsídios para
a compreensão do grau de isolamento, assim como elaborar a caracterização física da área,
22
para relacioná-las tanto ao processo de sua ocupação como à contribuição atual dos
remanescentes.

Assim, para a identificação e caracterização dos remanescentes da Alta Bacia,


adotou-se a classificação proposta por Ribeiro & Walter (1998) que parte dos critérios
fisionômicos (forma e estrutura), prossegue com os aspectos do ambiente e, por último,
considera a composição florística. Como a identificação dos remanescentes resultou da
classificação segmentada de imagem LANDSAT no software SPRING, a classificação final
apresentada considerou apenas os critérios fisionômicos.

A identificação e caracterização final dos remanescentes foi feita com base em


tratamento, classificação e interpretação de imagens de satélite Landsat ETM+ e são
apresentadas tanto para a Alta Bacia como um todo como por sub-bacias que a compõem,
para tornar possível a visualização do grau de fragmentação e isolamento dos remanescentes
mapeados e alertar para a necessidade de serem tomadas medidas drásticas por todos
segmentos da sociedade para a sua recuperação e manutenção.

Este trabalho estrutura-se em 5 (cinco) capítulos que se interligam pelo tema geral
dessa pesquisa, assim distribuídos:

! No Capítulo I, são apresentadas as características ambientais do bioma,


sua atual classificação fitofisionômica e área distribuição;

! No Capítulo II, são apresentados o processo de ocupação e as


conseqüências desse fato ao Bioma Cerrado tendo como contexto os
remanescentes, em especial os pertencentes aos Estados de Goiás e Mato
Grosso;

! No Capítulo III, são apresentadas a metodologia e todas as etapas dos


procedimentos operacionais para a execução do mapeamento e da
construção dos capítulos aqui apresentados;

! As características do meio físico e da ocupação e uso da terra da Alta Bacia


são apresentadas no Capítulo IV, assim como o panorama geral sobre os
remanescentes mapeados;

! E, finalmente, o Capítulo V apresenta os remanescentes por sub-bacias e


fornece sugestões alternativas para a conservação e manutenção da
vegetação nativa.
CAPÍTULO I - Características do Bioma Cerrado
24

1.1. Distribuição e Classificação do Bioma

O Brasil é constituído por ambientes diversos, produtos da história geológica e


geográfica, especialmente da influência humana mais recente. É um país com alta diversidade
ecológica: abriga entre 10 a 20% do número de espécies conhecidas pela ciência e cerca de
30% das florestas tropicais mundiais (MMA, 2002). Segundo Mittermeir et al., (1997), o país
está entre os países mais ricos em biodiversidade, principalmente dos grupos de vertebrados e
plantas superiores.

A vasta superfície do território brasileiro, associada a suas características


climáticas, conferem uma grande diversidade de ecossistemas e de riquezas biogeográficas
que compõem, segundo o IBGE/MMA (2004), seis biomas: Floresta Amazônica, Caatinga,
Cerrado, Floresta Atlântica, Campos e Pantanal (Figura 02). A localização geográfica desses
biomas é condicionada por fatores climáticos, como a temperatura, pluviosidade e a umidade
relativa, em menor escala, pelo tipo de substrato (RIBEIRO & WALTER, 1998) e, na maior
parte dos casos, formam sistemas ecológicos interdependentes (BARBOSA, 1996).

Figura 02 - Localização hipotética dos biomas brasileiros originais.

A distribuição dos biomas apresentados na figura 02 representa, entretanto, o


que Conti e Furlan (1998) chamam de situação hipotética original, porque nela não estão
25

registradas as atividades humanas (urbanização e agricultura) que transformaram a


vegetação em manchas de regiões não ocupadas ou preservadas em forma de Unidades de
Conservação.

A idéia de que os recursos naturais são inesgotáveis e estão à disposição da


sociedade humana criou a ação de exploração desordenada e predatória dos ecossistemas
mundiais e principalmente tropicais, como é o caso do Brasil. Segundo Brasil (2002), os
impactos sobre os ecossistemas ocorrem em função do processo de ocupação do território,
realizado historicamente mediante o uso de práticas econômicas sociais arcaicas que se
desenvolvem fundadas na idéia da inesgotabilidade dos recursos naturais, processo que
aumentou consideravelmente nas últimas três décadas. De acordo com Campos (2004, p.
26), a própria expansão da civilização humana está “intrinsecamente relacionada com a
gradual e inexorável diminuição dos habitat’s naturais e a sua fragmentação”.

O Cerrado Brasileiro, que interessa ao presente trabalho, está localizado


basicamente no Planalto Central do Brasil e é o segundo maior bioma do país em termos de
dimensão, perdendo apenas para a Amazônia. Sua área inicial era de 2 (dois) milhões de km2
ou aproximadamente 23% do território brasileiro, abrangendo como área contínua Goiás,
Tocantins, Distrito Federal, e parte de outros estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rondônia (Figura 03).

Figura 03 - Mapa de Área de abrangência contínua e isolada do bioma Cerrado.


26

Vários estudos foram realizados na região dos cerrados, procurando caracterizar a


sua vegetação, tanto florística como fisionomicamente, além de reconhecer os fatores
ambientais associados a sua ocorrência. Para tal, são adotados, de acordo com cada
pesquisador parâmetros, escalas e critérios distintos, que resultam em nomenclaturas
diferentes, tais, como: província vegetacional (EITEN,1993), sistemas biogeográficos
(BARBOSA, 1996), domínio fitogeográfico (AB’SABER, 1971; COUTINHO, 2005) e ainda
como Bioma (DIAS, 1993; ALHO, 1993; ALHO E MARTINS, 1995, RIBEIRO &
WALTER, 1998). Essa variedade de nomenclatura resulta também em diferentes
classificações fitofisionômicas para a sua vegetação.

Uma das primeiras definições de Cerrado foi feita por Warming em 1908, que o
definiu como xerófito, caracterizado por tipos fisionômicos que variam de formas densas a
campestres (FERRI, 1971). Já Rizzini (1979), o relacionou como sendo a forma brasileira da
formação savânica, que pode mostrar gêneros arbóreos ou arbustivos, chegando a ser campo
sujo com arbustos mal desenvolvidos e esparsos por cima de gramíneas. Eiten (1993:20), no
entanto, “o relaciona ecológica e fisionomicamente às “Savanas” e arvoredos mais úmidos e
distróficos, com chuvas no verão, de outros continentes como o “miombo” e outros arvoredos
relacionados da parte sul da África”.

Recentemente, para Barbosa (1996), o Cerrado constitui-se em um domínio pela


sua posição geográfica, o caráter florístico, faunístico e geomorfológico, tornando-se ponte de
equilíbrio entre variados domínios morfoclimáticos. Para este autor, o correto é definir o
cerrado como um sistema biogeográfico que exerce importância fundamental para o
“equilíbrio dos demais biomas do continente, além de demonstrar que a principal
característica de sua biocenose é a interdependência dos componentes aos diversos
ecossistemas“. (BARBOSA, 1996, p.12).

Coutinho (2005) enfatiza que é necessário que se distingam os termos: “Domínio


do Cerrado” e “Bioma do Cerrado”: o Domínio refere-se a uma área do espaço geográfico
com extensões subcontinentais, onde predominam certas características fitogeográficas e
morfoclimáticas, diferentes das predominantes nas demais áreas. Em um dado Domínio
podem ocorrer outras feições morfológicas e condições ecológicas, além daquelas
predominantes.
27

Assim no espaço do Domínio do Cerrado, nem tudo que ali se encontra é Bioma de
Cerrado. Veredas, Matas de Galeria, Matas Mesófilas de Interflúvio, são alguns
exemplos de representantes de outros tipos de bioma, distintos do de Cerrado, que
ocorrem em meio àquele mesmo espaço. Não se deve, pois, confundir o Domínio
com o Bioma. No Domínio do Cerrado predomina o Bioma Cerrado. Todavia,
outros tipos de Biomas também estão ali representados, seja como tipos
“dominados” ou “não predominantes” (caso das Matas Mesófilas de Interflúvio),
seja como encraves (ilhas ou manchas de caatinga, por exemplo), ou penetrações de
Florestas Galeria, de tipo amazônico ou atlântico ao longo dos vales úmidos dos
rios. (Coutinho, 2005)
De acordo com Borlegat (2003, p. 05), “os biomas são identificados no planeta
como unidades ambientais constituídas por pequenas variáveis que ocupam grandes
dimensões terrestres, portanto os macro-sistemas zonais. Eles são definidos pela combinação
do clima e vegetação com características ecológicas mais uniformes e marcantes”.

De acordo com o IBGE/MMA (2004), bioma é “ [...] um conjunto de vida (animal


e vegetal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em
escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças,
o que resulta em uma diversidade biológica própria”. È por essa razão que o Cerrado vem
sendo considerado atualmente como Bioma e é como esta pesquisa o considera. Entretanto,
convém esclarecer que o Cerrado se enquadra no bioma internacionalmente conhecido como
“savana” (BORLEGAT, 2003; CONTI e FURLAN, 2000), mas em contraste com as savanas
africanas são úmidos, as estações são bem marcadas e as espécies arbóreas são adaptadas para
retirar água de grandes profundidades do solo, com raízes que atingem 15 metros ou mais
(CONTI e FURLAN, 2001).

Não existe consenso entre os pesquisadores se aspectos climáticos, pedológicos


ou antrópicos seriam responsáveis pela evolução da flora do Cerrado. (RIBEIRO &
WALTER, 1998). Estudos paleoclimáticos e paleoecológicos têm demonstrado que a origem
do cerrado está vinculada aos fenômenos da orogenia andina ocorridos durante o Cretáceo
Superior (65 milhões de anos), que alteraram a rede de drenagem (passou de endorréica para
exorréica1). Sobre a nova configuração geomorfológica pós-cretáceo, ocorreram grandes
eventos que influenciaram na distribuição dos solos e da flora, associados às intensas
mudanças nos conjuntos climáticos (stocks globais de vegetação) (AB’ SABER, 1971;
BARBOSA, 1996).

Acredita-se que do Terciário Médio para o Quartenário houve uma grande


evolução das paisagens no interior do Brasil, resultando no quadro que mais se aproxima da

1
Termos referem-se a regiões onde a drenagem não chega até o mar (endorréica) ou chegam (exorréica)
(GUERRA, 1997).
28

flora atual (matas, cerrados, caatinga, araucárias e pradarias), que contribuiu para instalações
e adaptações de inúmeras espécies animais e vegetais (AB’SABER, 1971;1979).

Sendo a origem das Formações Florestais atribuídas à retração e expansão da


vegetação no Período Quartenário (flutuações climáticas com temperaturas baixas - no
período glacial - e temperaturas mais elevadas - no período interglacial), a origem das
Formações Savânicas e Campestres é classificada, segundo Alvim (1954) e Ribeiro & Walter
(1998), em três teorias, propostas por Beard em 1953:

! Teoria Climática: defendida por Warming (1973), que acreditava que as


características xeromórficas da vegetação eram determinadas pelo clima,
principalmente em função da limitação sazonal de água no período seco;

! Teoria Biótica: segundo por Rawitscher (1948), a vegetação era resultado


da ação antrópica, pelo uso do fogo, com o propósito de “limpar os
campos” durante a estação seca e “estimular brotações herbáceas” na
estação chuvosa, e, também pela participação de outros usos e agentes (as
formigas, por exemplo);

! Teoria Pedológica: Alvim e Araújo (1952) iniciaram estudos sobre a


correlação entre solo e vegetação em zonas de campos cerrados,
constataram que a vegetação seria dependente de aspectos edáficos,
geológicos, saturação por alumínio e diferenças na profundidade do solo.

A vegetação do Cerrado é atualmente considerada como resultado indireto do


clima: as chuvas ao longo do tempo geológico intemperizavam os solos deixando-os pobres
em nutrientes e com alta disponibilidade de alumínio.

Os conceitos sobre o Bioma Cerrado têm sido aprimorados, no sentido de


estabelecer uma maior relação entre os ambientes e pela sua funcionalidade ecológica
(MALHEIROS, 1997). Cerrado é uma palavra de origem espanhola que significa fechado.
Esse termo busca traduzir a característica geral da vegetação arbustivo-herbácea que ocorrem
na formação savânica (RIBEIRO & WALTER, 1998).

O termo “Cerrado” tem sido usado, de acordo com Ribeiro & Walter (1998), para
determinar tanto tipos fisionômicos (tipos de vegetação, entendidos como a fisionomia, flora e
ambiente), quanto para formação ou categorias fisionômicas (formas de vegetação, entendida
pela fisionomia). O uso do termo cerrado como tipo de vegetação pode incorporar
componetes que não são observados quando se considera apenas a forma da vegetação. Estes
autores esclarecem ainda, que o termo Cerrado evoluiu ao longo dos anos, sendo utilizadas
29

atualmente três concepções: Cerrado como bioma; cerrado latu sensu que compreende
formações savânicas e campestres (estando inclusos desde o cerrado até o campo limpo); e o
cerrado stricto sensu que designa um dos tipos fitofisionômicos que ocorrem na formação
savânica e caracteriza melhor a fitofisionomia do bioma.

A classificação de um tipo de vegetação ocorre, segundo Eiten (1979), em função


da fisionomia (baseia-se na aparência dos indivíduos); da composição das espécies e dos
condicionantes ambientais (ou condição ecológica: clima, drenagem, relevo, solo). A relação
entre estes critérios estabelece a existência de diferentes tipos de vegetação. Ainda segundo
esse autor, um mesmo tipo de vegetação pode apresentar formas distintas, baseando - se na
diferenciação fisionômica. As classificações baseadas na forma consideram a estrutura (altura
e densidade das diferentes camadas: arbórea, arbustiva e rasteira), mudança do aspecto
vegetativo durante o ano (caducidade, estacionalidade), a forma de crescimento dos
indivíduos e, em alguns sistemas, a consistência e tamanho das folhas.

O IBGE (1992) propõe um modelo de classificação Fisionômico-Ecológico


baseado numa hierarquia de formação a qual é delimitada inicialmente pela região ecológica
florística (Classe de Formação), seguida pela Sub-Classe (Ombrófila ou Estacional), Grupo de
Formação (tipo de transpiração e fertilidade do solo), o Sub-Grupo de Formação
(comportamento das plantas) e finalmente a Formação (forma do relevo). Com base nesta
classificação o Cerrado é denominado de Savana (o termo utilizado por esse órgão) que está
dividida em: Florestada, Arborizada, Parque, Gramíneo-lenhosa, sendo estas três últimas sub-
divididas em com ou sem presença de Mata Galeria. Esta classificação é usada para
estabelecimento de políticas em nível regional e tem bases conceituais adaptadas aos sistemas
de classificação internacionais e mostra-se mais adequada em escalas de representação
regional de 1:250.000.

Uma das vantagens da classificação proposta por Ribeiro & Walter (1998) é que
ela é composta por termos regionais amplamente conhecidos e bastante empregados em
pesquisas realizadas sobre o Cerrado. Ela fundamenta-se primeiro na forma (definidas pela
estrutura, formas de crescimento e mudanças estacionais), depois considera os aspectos do
ambiente (fatores edáficos) e, por fim, a composição florística. Essa classificação é mais
adequada para escalas de detalhe e semidetalhe (WWF/ IMAGEM, 2004), como é o caso
deste trabalho.
30

1.2. Características físico - ambientais do Bioma Cerrado e a sua vegetação

O bioma Cerrado caracteriza-se pela presença de invernos secos e verões


chuvosos em um clima do tipo Aw - tropical chuvoso, de acordo com a classificação de
Köppen, com médias anuais de 1.500 mm variando de 750 a 2.000 mm. Ao sul da área do
bioma, que caracteriza os locais mais altos da região, ocorre o clima Cwa, mas o cerrado não
ocorre onde há geadas. As chuvas concentram-se de outubro a março, quando alcançam cerca
de 80% do total anual e as temperaturas médias anuais variam em amplitude, de no mínimo
20 a 22º C até no máximo 24 a 26º C, mas em nenhum mês a temperatura média é inferior a
18ºC. (NIMER, 1977; NOVAES PINTO, 1993; ALHO E MARTINS, 1995). Trata-se de um
clima com certa homogeneidade, considerando-se seu mecanismo atmosférico, porém o
relevo influencia por meio da variação latitudinal, conferindo ao bioma uma heterogeneidade
térmica, que determina uma marcha estacional de precipitação semelhante por toda a região,
possibilitando uma tendência de uniformidade pluviométrica (NIMER, 1977).

Sua geologia é bem complexa, constituindo-se na maior parte por rochas do Pré-
Cambriano recobertas por coberturas lateríticas dos pediplanos cenozóicos, exceto nos
planaltos areníticos e basálticos paleozóicos das bacias sedimentares do Paraná, Paranaíba,
Araguaia e Guaporé (SANTOS, 1977). Segundo Del’Arco (1989), identificam-se áreas de
Crátons (Amazônico e Maciço Central), faixas de dobramentos (Araguaia - Tocantins,
Uruaçu, Paraguai e a Brasília) e bacias sedimentares (Paraná e Paranaíba) que ocupam mais
da metade da área do bioma.

As rochas metamórficas e magmáticas mais antigas (arquenas e proterozóicas),


localizadas na região central dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, são
representadas pelos cinturões de rochas verdes (grenstones belts) e faixas de dobramentos. As
magmáticas (intrusivas e vulcânicas) e sedimentares do Paleozóico são representadas pela
borda da bacia sedimentar do Paraná (estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e
pela borda da bacia sedimentar do Paranaíba, em Tocantins (DEL’ARCO,1989). A área
abrange mais de 85% das reservas brasileiras de amianto, diamante, nióbio, ouro, prata,
titânio e zinco; e cerca de 40 e 80% das reservas de calcário, ferro, fosfato, manganês, níquel
e quartzos (IBGE, 1990).

Segundo Ab’Saber (1971), não há relação entre a distribuição do Cerrado e o


substrato rochoso: [...] “Os “cores” estão profundamente amarrados aos quadros de
superposição dos fatos geomórficos e geopedológicos (...) e possuem filiação direta com a
31

história paleoclimática quartenária da região onde se fixaram e expandiram” (AB’SABER,


1971, p.100). Ainda segundo Ab’Saber (2003), a vegetação, tendo se desenvolvido e adaptado
durante algum momento do Período Quartenário (ou fins do Terciário) e a estrutura de
planaltos dotados de solos lateríticos, caracteriza-se como uma das vegetações mais arcaicas
do país, sendo sua origem relacionada a condições climáticas e as edáficas responsáveis pela
sua manutenção.

A região central do Bioma Cerrado ocupa, predominantemente, maciços planaltos


de estrutura complexa, dotados de superfícies aplainadas de cimeira, além de um conjunto
significativo de planaltos sedimentares compartimentados, situados em níveis de 300 a 1700
metros de altitude (AB’SABER, 2003). O relevo dessa região apresenta, no entanto, várias
feições morfológicas cumulativamente resultantes da interação entre clima e substrato
rochoso de origem cristalina e sedimentar desde o período Terço-Quartenário, que são, em sua
maioria, similares tanto em áreas de solos cristalinos como nas áreas sedimentares mais
elevadas (AB’SABER, 2003). Apresenta formas conservadas ou dissecadas, delimitadas ou
não por escarpas e com rede de drenagem hierarquizada tanto mais densa quanto mais
dissecado for o relevo. As planíceis são resultantes de processos deposicionais e são
representadas pela Planície do Bananal e a Planície do Pantanal Mato-grossense (BRASIL e
ALVARENGA, 1989).

De acordo com Novaes Pinto (1993), entretanto, as formas de relevo


predominantes são residuais de superfícies de aplainamento (Chapadas), apresentando
topografia plana a levemente ondulada. Ao lado dessas superfícies, localizam-se as áreas
serranas, depressões periféricas e interplanálticas resultantes de processos de pediplanação e
vales fluviais alongados.

Com esse espírito, convém lembrar que o Cerrado é uma vegetação de interflúvio,
desenvolvida sobre LATOSSOLOS vermelho, vermelho-amarelo ou amarelos, que são
originados de variadas rochas, como basalto, diabásio, gabro, granulitos ortoderivados,
granitos, gnaisses, quartzitos, xistos, ardósia e arenitos (AB’SABER, 2003).

Os solos originados de espessas camadas de sedimentos que datam do Terciário


são profundos, de cor vermelha amarelada, porosos, permeáveis, sendo bem mais drenados e
por isso intensamente lixiviados, controlando a distribuição do Bioma Cerrado dentro de sua
região fitogeográfica (RANZINI, 1971; COUTINHO, 2005). Por isso alguns autores, dentre
eles Alvim e Araújo (1952), atribuem a origem do cerrado aos solos.
32

Dominam no Cerrado os solos bastante ácidos, com elevadas concentrações de Fe


e Al, baixa capacidade de troca catiônica, baixa soma de bases e alta saturação por alumínio
(Al3+), resultando em solos distróficos (cerca de 90% dos solos do cerrado) ou mesmo álico.
Possuem fertilidade extremamente baixa, em decorrência dos milhões de anos de lixiviação
sob regime de chuvas abundantes. Essa situação pode ser corrigida com uso de técnicas de
calagem e fertilização com adubação, sobretudo química. São solos bem drenados, profundos
e assentados sobre sedimentos do período terciário que cobrem os planaltos em cerca de 70%
da região. Podem, ainda, apresentar concreções ferruginosas, as chamadas bancadas
lateríticas, que dificultam a penetração da água de chuva ou das raízes, podendo impedir ou
dificultar o desenvolvimento da vegetação (GOEDERT, 1986; NOVAES PINTO, 1993;
EMBRAPA, 1999; COUTINHO, 2005; entre outros).

De acordo com Macedo (1996), as principais classes de solo presentes no bioma


Cerrado são: LATOSSOLOS que ocupam 48,8% da área, seguido pelos NEOSSOLOS
Quartzarênicos com 15,2%, os ARGISSOLOS com 15,1% (dos quais 6,9% são Argissolos
Vermelhos e 8,2% são Argissolos Vermelho-Amarelos), os NEOSSOLOS Litólicos
correspondem a 7,3%, os CHERNOSSOLOS a 1,7%, os GLEISSOLOS a 2,0%, os solos
PETROPLÍNTICOS (ou concrecionários) alcançam 2,8%, os PLINTOSSOLOS 6,0% e os
demais tipos ocupam 0,9%.

Os LATOSSOLOS são solos profundos, bem evoluídos e intemperizados,


distribuídos principalmente por amplas e antigas superfícies de erosão, pedimentos ou
terraços fluviais antigos. Devido as suas características morfológicas (profundos, porosos,
homogêneos, textura argilosa à média, ácidos a fortemente ácidos) apresentam boa aptidão
para as atividades agropecuárias, desde que bem manejados (EMBRAPA, 1999).

Os NEOSSOLOS Quartzarênicos estão presentes em colinas de declive suave,


sendo bastante expressivos sobre arenitos do Grupo Bauru e Botucatu (sudoeste do Estado de
Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). São solos profundos, arenosos, sobretudo finos,
distróficos a álicos.

Os ARGISSOLOS ocorrem geralmente em setores mais movimentados do relevo.


São solos de profundidade variável, fortemente ácidos, forte a imperfeitamente drenados, de
cores avermelhadas. Estes solos, quando corrigidos e submetidos a técnicas de conservação
de solos, também se prestam à prática da agricultura. (EMBRAPA, 1999).

Os NEOSSOLOS Litólicos e os CAMBISSOLOS são solos, em geral, rasos, com


fertilidade variada e que ocupam relevos mais declivosos. Os solos Concrecionários são
33

encontrados nas bordas das chapadas e associados à presença de couraças ferruginosas. São
solos ácidos a ácidos de difícil manejo. Os GLEISSOLOS são solos típicos de áreas de
planícies, ou fundo de vale. Apresentam várias texturas e são, em geral, de baixa fertilidade.
Os PLINTOSSOLOS têm ocorrência restrita à Depressão do Araguaia e são caracterizados
por apresentarem textura variável (média a muito argilosa), pouco profundos, imperfeitamente
mal drenados. A baixa permeabilidade destes solos, e as possibilidades de alagamentos, aliada
à baixa fertilidade natural e elevados teores de alumínio trocável, principalmente, são os
fatores que mais restringem o uso agrícola destes solos (EMBRAPA, 1999).

O Cerrado apresenta uma vegetação com aparência ou fisionomia quase sub-


desértica ou xeromórfica (árvores pequenas, espalhadas e uma camada rasteira incompleta),
mas não é uma vegetação xérica. A contestação da característica xeromórfica por Rawitscher
(1972) e Ferri (1943) influenciou nos estudos para a compreensão da vegetação do cerrado.
Estes mesmos autores constataram que as raízes das plantas do Cerrado eram profundas e que
os vegetais respiravam livremente, conservando os estômatos abertos (mesmo na estação
seca) e que o solo conserva-se úmido durante todo o ano (GOOLAND, 1979). Segundo Ferri
(1969), portanto, trata-se de um pseudoxeromorfismo, pois as plantas do Cerrado seriam flora
da evolução integrada com as condições dos climas e solos dos trópicos úmidos, sujeitos a
forte sazonalidade.

Para Arens (1958), o aspecto xeromórfico das plantas atribui-se ao


escleromorfismo oligotrófico, que se trata da ausência de nutrientes às plantas, devido ao
excesso de atividade fotossintética dos carboidratos e gorduras, que produz uma espessa
camada de celulose, impede a fabricação de proteínas e dificulta o crescimento das plantas.

As árvores do Cerrado têm raízes extensas que buscam a água presente nas
profundezas do solo (chegam até 25 metros ou mais), e suas folhas são sempre verdes, mesmo
no auge da seca; as cascas são grossas e corticentas e protegem os troncos da ação do fogo. A
vegetação é rasteira apresentando xilopódios, bulbos, rizomas e gemas subterrâneas que
resistem dormentes quando a parte superior da planta desaparece e rebrotam com as primeiras
chuvas de primavera, geralmente em setembro. Ela é adaptada aos solos pobres, distróficos ou
oligotróficos da região (PROENÇA, 2000).

A flora do Cerrado apresenta-se como uma das mais ricas do mundo, ela é bem
característica e diferenciada dos biomas adjacentes, apesar de compartilhar espécies de outros
biomas. Embora parcialmente conhecidas e escassas as compilações sobre sua composição
florística, estima-se que a flora possua mais de 10.000 espécies de plantas, das quais 4.400 são
34

endêmicas e destas, grande parte ocorre em determinados ambientes específicos do bioma.


(RIBEIRO & WALTER, 1998; MENDONÇA et al., 1998).

Como famílias de maior expressão da flora do bioma, destacam-se as


Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), entre as lenhosas, e as Gramíneas
(Poaceae) e Compostas (Asteraceae), entre as herbáceas (COUTINHO, 2005).

Algumas das espécies florísticas e frutíferas como jatobá de mata (Hymenaea


stigonocarpa Mart. Ex Hayne), tingui (Magonia pubescens St. Hil.), pimenta de macaco
(Xylopia aromatica Lam.), sucupira branca (Pterodon emarginatus Vog) e preta (Bowdichia
virgilioides Kunth), barú (Dipteryx alata Vog), jatobá, marmelo (Alibertia edulis A. Rich) e
pequi (Caryocar brasiliense Camb.), algodãozinho (Cochlospermum regium Mart et Schl),
anador (Alternanthera sp.), assa peixe (Vernonia sp.), bananeira (Salvertia convallariodora
A.St. Hil.), carrapicho (Acanthospermum sp.), caroba (Jacaranda ruffa Manso), cascavel
(Crotalaria sp.), chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth.) Micheli), favela
(Dimorphandra molis Benth), gervão (Stachytarpheta chamissonis Walp), graviola-do-
cerrado (Annona sp.), imbé (Philodendron sp.), pau santo (Kielmeyra coricacea Spr.), pé-de-
perdiz (Croton antissiphylyticus St. Hil.), barbatimão (Stryphnodendron sp.), sabugueiro
(Sambucus australis Cham.), alecrim-do-campo (não identificada), cipó-de-índio, entre
outras, são encontradas nesse bioma e uteis para o aproveitamento econômico, pois podem ser
utilizadas no uso medicinal, alimentício, ornamental, madeireiro, produção de cortiças, fibras,
óleos e artesanatos. O conhecimento tradicional das populações locais sobre a biodiversidade
e aproveitamento econômico dessa flora valida alternativas para a promoção do
desenvolvimento sustentável do bioma.

Em síntese, a distribuição florística do Cerrado é condicionada, além do clima,


pela constituição química e física do solo, a disponibilidade de nutrientes, a geomorfologia e
topografia, a latitude, a freqüência de queimadas, a profundidade do lençol freático, e pastejo
e outras formas de interferência antrópica, que influenciam na formação de um grande
mosaico de vegetação (COUTINHO, 1992; EITEN, 1993).

A vegetação apresenta-se como um mosaico de fitofisionomias estruturadas por


espécies herbáceas, arbustivas e arborescentes (Figura 04). As diferenças fisionômicas desse
bioma, segundo Warming (1973) estão relacionadas à natureza do terreno, dos declives e da
composição dos solos: onde o solo é mais denso, a vegetação é mais desenvolvida; o contrário
ocorre nas áreas de encosta onde o solo é raso e a vegetação é rala e retorcida, o que já havia
sido constatado por Waibel (1948) em suas observações em visitas feitas ao chamado “Mato
Grosso de Goiás”. (FAISSOL,1958).
35

Figura 04 - Principais fitofisionomias encontradas no bioma Cerrado. Adaptação de Bitencourt e


Mesquita Jr, 1997.

O bioma Cerrado, segundo Ribeiro & Walter (1998), caracteriza-se por apresentar
três grandes tipos de fitofisionomias: as Formações Florestais, Savânicas e as Campestres.

Nas Formações Florestais há a predominância de espécies arbóreas, com


formação de dossel contínuo ou descontínuo e subdividido em mata ciliar e mata galeria
(associadas aos cursos de água), mata seca e o cerradão (ocorrem nos interflúvios, em terrenos
bem drenados). Especificamente:

! Mata Ciliar - acompanha os rios de curso de médio e grande porte; a


vegetação não forma galerias, geralmente ocorre sobre terrenos acidentados, se
diferencia da mata galeria pela composição florística e pela deciduidade;

! Mata Galeria – acompanha os rios de pequeno porte e córregos do


planalto Central, formando corredores fechados; localiza-se nos fundos de vale
ou nas cabeceiras de drenagem, onde os cursos de água não escavaram um
canal definitivo; pode ser subdividida em mata de galeria inundável e não-
inundável;

! Mata Seca – são as formações florestais caracterizadas por vários níveis


de plantas caducifólias durante a estação seca; depende das condições químicas
e físicas e da profundidade do solo;

! Cerradão – apresenta aspectos xeromórficos, a altura média do estrato


arbóreo varia de 8 a 15 metros, com cobertura arbórea que pode variar de 50 a
90%; em sua maioria, os solos desta vegetação são profundos e bem drenados,
pertencentes às classes dos LATOSSOLOS.
36

As formações Savânicas caracterizam-se pela presença de árvores e arbustos


espalhados sobre um estrato graminoso, sem formação de dossel contínuo e englobam quatro
tipos fitofisionômicos principais: Cerrado no sentido estrito, o Parque Cerrado, o Palmeiral e a
Vereda.

! Cerrado no sentido estrito – caracteriza-se pela presença dos estratos


arbóreos e arbustivo-herbáceos definidos, com as árvores distribuídas
aleatoriamente sobre o terreno em diferentes densidades; pode ser divido ainda
em Cerrado Denso (cobertura de 50 a 70% e altura média de cinco a oito
metros, correspondem à forma mais densa e alta do Cerrado sentido restrito),
Cerrado Típico (cobertura arbórea de 20 a 50% e altura média de três a seis
metros, correspondem a uma forma comum e intermediária entre cerrado denso
e cerrado ralo), Cerrado ralo (cobertura arbórea de 5 a 20% e altura de dois a
três metros e a forma mais baixa e menos densa do cerrado sentido restrito) e
Cerrado rupestre (cobertura de 5 a 20% com altura média de dois a quatro
metros ocorre em ambientes rochosos;

! Parque Cerrado – caracteriza-se pela ocorrência de árvores que se


concentram em locais com pequenas elevações, algumas imperceptíveis,
conhecidas como “murundus”;

! Palmeiral – ocorre tanto em áreas bem drenadas quanto em áreas mal


drenadas, com a presença marcante da palmeira arbórea;

! Vereda – caracteriza-se pela presença de uma única espécie de palmeira


(o Buriti) e é circundada por um estrato arbustivo-herbáceo característico.

As Formações Campestres apresentam predomínio de espécies herbáceas e


algumas arbustivas, sem árvores na paisagem. Englobam três tipos fitofisionômicos
principais: Campo Sujo, Campo Rupestre e o Campo Limpo.

! Campo Sujo – caracteriza-se pela presença marcante de arbustos e


subarbustos por entre o estrato herbáceo. Apresentam três subtipos: Campo
Sujo Seco (onde o lençol freático é profundo), Campo Sujo Úmido (lençol
freático é alto) e o Campo Sujo com Murunduns;

! Campo Rupestre – diferencia-se do Campo Sujo pelo substrato,


composto por afloramento de rochas, e pela presença de endemismo florístico;
37

geralmente ocorrem em altitudes superiores a 900 m, em áreas de ventos


constantes;

! Campo Limpo – presença de raros arbustos e ausência completa de


árvores, geralmente é encontrado em áreas de encosta, nas chapadas,
circundando as veredas e nas bordas das matas de galeria que apresentam
vários subtipos.

A variação fisionômica no Cerrado ocorre, segundo Eiten (1993), devido a três


aspectos do substrato: fertilidade e teor de alumínio disponível; profundidade, grau e duração
de saturação da camada superficial e baixa camada lenhosa

O efeito do fogo também é marcante na caracterização fisionômica dos


Cerrados. Ele pode ser considerado vital para a manutenção deste bioma, por meio de seus
múltiplos e diversificados efeitos ecológicos e pela ação conservacionista. Ele afeta
principalmente a camada arbustiva e depende da densidade, altura das gramíneas e da camada
rasteira como combustíveis para as queimadas.

Segundo Coutinho (2005), a ação do fogo provoca vários benefícios ao cerrado:

! Aceleração da remineralização da biomassa e transferência de


nutrientes para o solo (sob forma de cinzas) que ficam a disposição das raízes;

! Transformação da estrutura da vegetação e das fitofisionomias: as


queimadas afetam principalmente o estrato arbóreo/arbustivo, menos adaptado
que o estrato herbáceo/subarbustivo. Assim, quando submetido a queimadas
constantes, os cerradões se transformam em campos sujos ou campos limpos
(EITEN, 1993; COUTINHO, 2005);

! Rebrota e floração, que ocorrem semanas após as queimadas;

! Dispersão de sementes e germinação dos cerrados.

A diversidade da fauna é resultado das variadas fitofisionomias de vegetação


encontradas no Cerrado, algumas espécies são restritas a algumas formações enquanto outras
têm distribuição livre (FILGUEIRAS e PEREIRA, 1993).

Há cerca de 837 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161


espécies e 19 endêmicas, 150 espécies de anfíbios, das quais 45 endêmicas e 120 espécies de
répteis, sendo 45 endêmicas. Estima-se que, em relação a invertebrados, o Cerrado abrigue
14.425 espécies, representando 47% da fauna estimada para o Brasil. Quanto aos mamíferos,
38

são um total de 195 espécies, sendo 18 endêmicas (WWF,2000). A maioria dos animais
encontrados na região tem ampla distribuição nos biomas vizinhos (COUTINHO, 2005).

A importância do Cerrado decorre de várias características, tais como a grande


diversidade de animais, plantas e ambientes, contribuindo para a regulação do clima, proteção
do solo, acúmulo do estoque de carbono em subsolo (devido ao sistema radicular das plantas),
atuando como um sumidouro de gases de efeito estufa, tal como o CO, CO2 e CH4
(MONTEIRO, 1995), recarga de aqüíferos e subseqüente alimentação das nascentes das
bacias hidrográficas do Rio São Francisco, Rio Paraná e da Região Amazônica (nesta incluída
a bacia do Rio Araguaia - Tocantins).

Devido a estas características, Almeida Jr. (1993), o considera como sendo um


bioma de integração nacional, recentemente classificado como um das 34 áreas prioritárias -
“hotspots”2- áreas para a conservação da biodiversidade mundial3.

O valor da biodiversidade do Cerrado pode ser notado por estimativas que


apontam que existam mais de 1/3 da biota brasileira e 5% da fauna e flora mundiais. A
diversidade de espécies de fauna e flora está associada à heterogeneidade espacial do bioma e
apresentar-se-ia associada aos ambientes locais. Machado et al., (2004), aponta a existência de
mais de 6.000 espécies de árvores e 800 espécies de aves, além de grande diversidade de
outras formas de vida (Tabela 01).

Tabela 01 - Estimativas da riqueza de espécies do Cerrado.

Cerrado % Brasil Brasil Mundo


Plantas 6.600 12.0 55.000 280.000
Mamíferos 212 40.5 524 46.000
Aves 837 49.2 17000 9.700
Répteis 180 38.5 468 6.500
Anfíbios 150 29.0 517 4.200
Peixes 1.200 40.0 3.00 24.800
Invertebrados 67.00 20.0 335.00 ?
Fonte: Machado. et al.,2004

2
Conceito criado em 1988, pelo ecólogo Norman Myers. É definido como ecossistemas que cobrem pequena
parcela de superfície da Terra, mas que abrigam uma alta porcentagem da biodiversidade global, especificamente
nas floretas tropicais. Essa área é determinada por meio do número de espécies endêmicas e grau de ameaça.
(WWF, 2005).
3
Biodiversidade: existência de variedade de animais vegetais e de microorganismos em determinado habitat
natural.
39

Estima-se, também, que 40% das espécies de plantas lenhosas e 50% das espécies
de abelhas sejam endêmicas4 (WWF, 2005). Outros estudos têm indicado que o Cerrado
possui, no mínimo, o mesmo número de espécies de mamíferos que a Floresta Amazônica.

Nas últimas décadas, o cerrado vem sendo altamente desmatado por ser visto
como uma das maiores e últimas reservas de terra capazes de suportar imediatamente a
produção de grãos e formação de pastagens, e também como alternativas ao desmatamento da
Amazônia (DUARTE, 1998).

Os desmatamentos generalizados do Cerrado devem ser somados àqueles que


foram praticados desde o início do século passado pela exploração de carvão, mineração, caça
e políticas de desenvolvimento (“Marcha para o Oeste” e Programa de Desenvolvimento dos
Cerrados - POLOCENTRO), em função da demanda de terras para a implantação da pecuária
e agricultura de grãos em particular, que será mais bem discutida no próximo capítulo.

4
Endêmicas ou endemismo: distribuição restrita a uma determinada unidade de áreas que pode ser um bioma ou
em um país.
CAPÍTULO II - Fundamentos Teóricos e Conceituais da
Pesquisa: Ocupação do Cerrado e suas Conseqüências
41
2. Ocupação do Cerrado e suas conseqüências: Principais Aspectos

2.1. Ocupação do Bioma

A longa história de ocupação do Bioma Cerrado pode ser dividida, de acordo com
Ferreira (2006) em três momentos distintos: Ocupação Pré-histórica, Ocupação Histórica e a
Ocupação Moderna.

A ocupação Pré-histórica do Cerrado brasileiro teria se iniciado, segundo Novaes


Pinto (1993), com caçadores e coletores, há cerca de 11.000 anos A.P., pela Tradição
Itaparica; 6.500 anos A.P. pela Tradição Serranópolis; 2.400 anos A.P. pela Fase Pindorama,
Tradição não definida; 1.500 anos A.P. pela Tradição Aratu; e há cerca de 1.100 anos A. P.
pela Tradição Tupi-Guarani, confirmadas por Barbosa; Ribeiro e Schimitz (1993) e por
Barberi (2001).

As populações indígenas instaladas na região desenvolviam uma agricultura de


subsistência diversificada até o século XVIII, quando a região passou a ser ocupada pelo
“homem branco” em busca de ouro, pedras preciosas e índios. A partir de 1726, o
povoamento foi fundado na exploração das minas, que teve seu auge em 1750, para, a partir
daí, enfrentar um longo destino. Neste período, inicia-se a Ocupação Histórica.

Em Mato Grosso, a descoberta de minas auríferas na região de Cuiabá, em 1719,


provocou intensas migrações oriundas de todas as partes da colônia, convertendo Cuiabá
numa das regiões mais populosas do Brasil nos anos de 1722 a 1726. Cuiabá tornou-se o
ponto focal de expedições para a exploração do Norte e Centro-Oeste, mas, com a exaustão
das minas, a economia regrediu à agricultura de subsistência e à pecuária ultra-extensiva
(SANCHES, 1992).

A atividade mineratória, segundo Barreira (2004), em Goiás, desenvolveu-se em


três fases:

1º Fase: Predomínio da exploração de veios d’água e de jazidas e o


povoamento ao longo dos rios que eram locais de extração;

2º Fase: Uso de técnicas rudimentares e mão de obra escrava. O povoamento e


assentamento urbano foram consolidados e houve uma pequena, porém notável
para a época, melhoria na rede viária, com a abertura da Estrada Real e do
caminho Vila Boa - Cuiabá. Essa fase é considerada como o período de apogeu
da mineração.
42
3º Fase: Período de decadência da atividade com queda na rentabilidade das
minas e deteriorização da estrutura social e econômica no Estado de Goiás.
Neste período, os povoados esvaziaram-se e ocorreu uma ruralização e
empobrecimento cultural da região.

Coexistindo com as minas, praticava-se a atividade agropecuária, que se


desenvolveu e ganhou destaque com o declínio do ouro. Por um longo tempo, a pecuária
sustentou a economia de Goiás, ultrapassando as barreiras naturais que se impunham à região
e paulatinamente ocupando- a.

A pecuária foi a atividade econômica que gerou recursos com a exportação,


mesmo porque foi claramente estimulada pelos presidentes da província e pelas condições
naturais para sua prática, como a ausência de caminhos e estradas e mesmo de atividades mais
complexas. O gado era a solução mais racional, porque se autotransportava e porque havia
mercado consumidor potencial em Minas Gerais e Bahia (BARREIRA, 1995; CHAUL,
2000). Para Borges (2000), entretanto, o predomínio da atividade pastoril não aconteceu
devido às condições agronômicas e sim em virtude de como estava inserida e organizada a
atividade agrária na divisão regional do trabalho.

A atividade agrícola era voltada para a subsistência, e, aos poucos foi crescendo
com a pecuária. Segundo CHAUL (2000, p.119) “ela delineou-se por meio da chamada
“roça”, um trampolim para a ocupação de novas e extensas terras de onde se obteve a
produção que os trilhos da estrada de ferro levaram pelo Brasil afora, inserindo,
paulatinamente, Goiás no contexto do mercado nacional”.

A produção agrícola se deu de forma heterogênea no tempo e no espaço e oscilava


em fases de expansão e retração e, além dos fatores naturais desfavoráveis, a produção ainda
tinha que competir com a pecuária que contava com incentivos, como o crédito rural.

Segundo Chaul (2000, p.118):

Pecuária e agricultura sempre foram atividades complementares na economia de


Goiás. Ganham valoração diferenciada dependendo da época, mas aparecem sempre
juntas nas interpretações sobre a economia goiana, seja sob o viés da decadência,
após o reinado absoluto do ouro, seja sob o manto do atraso, em que nada era como
antes, persistindo a idéia de que pouco havia mudado.
Mas a história de ocupação do Cerrado coincide com o processo de ocupação da
Região Centro - Oeste e, conseqüentemente, dos Estados de Goiás e Mato Grosso, uma vez
que as políticas para o povoamento do bioma estavam fundamentadas em políticas voltadas
para a ocupação e desenvolvimento desses Estados.
43
A inserção do Cerrado no mercado nacional iniciou-se a partir de 1912, por meio
de dois fatores: desenvolvimento da economia cafeeira do Centro-Sul e da penetração da
estrada de ferro em território goiano (GOMES e TEIXEIRA NETO, 1993; BARREIRA,
1997; CHAUL, 2000; BORGES, 2000).

A ocupação mais intensiva da região - e da área central do cerrado - ocorreu a


partir da década de 30, com a política do governo de Vargas chamada de “Marcha para o
Oeste”. De acordo com Chaul (2000), as bandeiras, atividades mineratórias, pecuária e
agricultura constituíram-se em marchas para o oeste “incipientes” que abriram caminhos,
renovaram fronteiras e estabeleceram marcas para o projeto de Vargas.

Segundo Estevam (1998, p.104):

A marcha para o Oeste (anos trinta), não se tratava simplesmente de uma vaga idéia
de marcha para o oeste e sim da concreta ocupação do Planalto Central e, a partir
deste, do desbravamento da Amazônia. No período de 1930 a 1960 importantes
elementos de transformação foram introduzidos no território goiano e o processo de
germinação de novas estruturas, principalmente no centro-sul do estado, esteve
balizado em dois acontecimentos: a nível externo, a integração nacional do comércio
de mercadorias comandado por São Paulo e, a nível interno, o surgimento de centros
urbanos comerciais no interior da região. Tais fenômenos, concomitantes o
programa Marcha para o Oeste, definiram novos rumos para Goiás em função da
urbanização e da articulação mercantil inter-regional. Para compreender a evolução
das modificações estruturais no estado tornou-se fundamental citar algumas
temáticas que contribuíram como: de um lado a edificação de Goiânia, a imigração e
concentração econômica na parte centro-sul do estado e, do outro, a evolução dos
meios de transporte, o surgimento de centros comerciais e a acelerada urbanização
regional.
As transformações sócio-espaciais ocorridas durante o processo de ocupação dos
Estados de Goiás e Mato Grosso e conseqüentemente da área do Bioma Cerrado, foram
multiplicadas a partir da expansão das frentes pioneiras.

O Estado, ao incentivar a conquista da fronteira, ocultou o “espírito bandeirista”


no processo de ocupação, e suas ações implementadas fizeram com que a fronteira política
coincidisse com a fronteira econômica (BORGES, 2000).

Segundo Miziara (2000), a ocupação da fronteira ocorreu de duas maneiras:


primeiro através da chamada “frente de expansão”, na denominação de Martins (1997), que se
caracteriza por uma ocupação esparsa (grandes vazios demográficos) onde predominava a
economia de excedente, terra não possuía valor de mercadoria e a ocupação era mediada pelo
Estado; o segundo momento “é aquele em que as relações capitalistas de produção estendem
seus domínios sobre áreas anteriormente denominadas de pré-capitalistas” (MIZIARA, 2000,
p. 279). Este momento é denominado também por Martins (1997) como “frente pioneira”,
marcada pela propriedade privada da terra e pelo empreendimento econômico.
44
Para Martins (1997, p. 153):

A concepção de frente pioneira compreende implicitamente a idéia de que na


fronteira se cria o novo, nova sociabilidade, fundada no mercado e na
contratualidade das relações sociais. No fundo, portanto, a frente pioneira é mais do
que o deslocamento da população sobre territórios novos, mais do que supunham os
que empregaram essa concepção no Brasil. A frente pioneira é também a situação
espacial e social que convida ou induz a modernização, a formulação de novas
concepções de vida, à mudança social. Ela constitui o ambiente oposto ao das
regiões antigas, esvaziadas de população, rotineiras, tradicionalistas e mortas.
A frente pioneira pode-se apresentar como uma fronteira econômica e fronteira
demográfica e pode ou não ter seus limites coincididos. Para Waibel (1955), a fronteira, no
sentido econômico, é uma zona pioneira onde se intercalam a vegetação e a civilização.

Todas as frentes pioneiras são caracterizadas pelo crescimento rápido da


população e, paralelamente, pela expansão rápida da área cultivada (WAIBEL, 1979). Assim,
transformada na nova fronteira agrícola do país, a ocupação do estado goiano aconteceu de
formas variadas devido à diversidade sócio-econômica dos migrantes e pela descontinuidade,
formando espaços insulados como o Sudoeste Goiano, Estrada de Ferro, Vale do São Patrício,
Goiânia, que se constituem em verdadeiras frentes de ocupação impulsionadas pelo governo,
com projetos de ocupação (BARREIRA, 2004).

As transformações estruturais ocorridas a partir da década de 30, criaram


condições para mudanças na produção regional: a agropecuária baseada em gado de corte e as
lavouras de subsistência desenvolveram-se e organizaram-se para suprir o mercado da região
sudeste. Nesse contexto, a chegada da ferrovia em Anápolis, em 1935, auxiliou no despertar
da região do isolamento em que ela se mantinha há séculos e a colocou no circuito comercial,
facilitando o escoamento da produção para o sul do país.

A ferrovia foi responsável pela integração nacional, contribuindo para a expansão


da fronteira agrícola, indicando e conectando as áreas de produção agropecuária, mas ela
esbarrou em estruturas políticas e econômicas de natureza arcaicas, que atrasaram sua
expansão.

Para Borges (2000, p. 36):

A ferrovia tornou-se não só a principal artéria de exportação de bens primários e de


importados manufaturados, como também a principal via de penetração de novas
idéias e valores culturais da sociedade moderna, portanto, um instrumento do capital
no processo de dominação econômica e cultural.
A construção de Goiânia representou a consolidação da frente pioneira, sendo
considerada por Barreira (1995) como um trampolim para a conquista da Amazônia e da
inserção na economia de mercado, um centro político que contribuiu para a economia do sul e
do sudeste. A nova capital do Estado representou, nesse aspecto, o símbolo do progresso, os
45
novos tempos que estruturavam os horizontes nacionais. Era o exemplo de Fronteira do
Estado Novo.

Um dos projetos da “Marcha para o Oeste” incentivou a criação de colônias. A


Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), instalada na região de Ceres, reforçou o mito
de conquista da fronteira transmitida à imagem de que o governo estava promovendo a
unificação nacional. Essas colônias atraíram milhares de imigrantes e pequenos produtores
excluídos, mas as colônias tiveram pouco impacto e retorno aos trabalhadores.

Em 1945, foi criada a Fundação Brasil Central com a função de planejar,


coordenar o processo de desbravamento e ocupação das áreas com a implantação de estradas
para a conquista de novos horizontes como no Alto Araguaia e Xingu.

Mas, com todos esses projetos e políticas, a região ainda continuava pouco
ocupada. A população concentrava-se em alguns centros urbanos de maior expressão. Essa
situação foi revertida com o avanço explícito da fronteira agrícola influenciada diretamente
pela construção de Brasília e de toda uma rede de estradas de rodagem implantadas a serviço
da capital federal, o que auxiliou na integração do país e abriu novas frentes de imigração para
o Planalto Central e para o Cerrado. Segundo Cunha (1994), existe uma forte correlação entre
a expansão da agricultura dos cerrados e o crescimento da malha viária.

Os investimentos públicos na malha viária eram justificados pelos governantes


como a forma mais rápida e de menor custo para a integração do território brasileiro, e de
certa forma estavam relacionados com o desenvolvimento da indústria automobilística norte-
americana e européia e ao modelo de modernização dependente do país (BORGES, 2000).

A estrada de ferro, vista inicialmente como transporte estratégico para a ocupação


do espaço regional, foi gradativamente substituída, no final da década de 50, pelos veículos
motorizados. O Plano Rodoviário Nacional, implementado no governo de Vargas em 1938,
projetou a implantação de uma rede de rodagens para o Centro-Oeste, mas a ausência de
recursos financeiros não viabilizou a finalização da obra. Somente com o plano de transporte
do governo de JK, é que se completou a integração do Centro-Oeste, principalmente através
da construção da Belém-Brasília e da Brasília-Cuiabá.

Durante este período, até a década de 60, as práticas sociais mais ameaçadoras
eram as queimadas, introdução de espécies exóticas, pastoreiro e a caça. Mas, a partir da
década de 60, grandes obras de infra-estrutura de estradas e comunicação impuseram-se sobre
o ambiente, interrompendo ou dificultando fluxos animais, de água e mobilizando cargas de
sedimentos, devido à erosão acelerada.
46
As políticas governamentais dirigidas para ao crescimento agrícola nas áreas de
Cerrado, atendendo às necessidades de mobilidade do capital nacional associado ao
transnacional, tinham como objetivo a produção de commodities para a exportação,
equilibrando a balança comercial brasileira, e promovendo a ocupação do oeste brasileiro
(MEDONÇA e THOMAZ JR., 2004).

Com o esgotamento das fronteiras agrícolas tradicionais da região sul e sudeste


do país, ampliou-se o interesse das autoridades nacionais pela região dos cerrados, para seu
aproveitamento “racional,” o que significou seguir parâmetros de desenvolvimento já
consolidados em outras regiões do país (DUARTE, 1998).

O setor agrário brasileiro, a partir de 1964, passou a ser motivado pela política
agrícola dos governos militares e passou a ser caracterizado por uma agricultura moderna,
conservadora e excludente, mas que ganhou forte impulso com a introdução da “Revolução
Verde” (CHAUL, 2000). Essa “Revolução Verde” é definida como modelo de intensificação
do desenvolvimento agrícola, com o objetivo de aumentar a produção com a implantação de
várias inovações tecnológicas, como sementes geneticamente melhoradas, uso de insumos
agroquímicos, mecanização e irrigação em larga escala. O resultado foi à transformação de
ricos ecossistemas, como o Cerrado, em grandes extensões de monoculturas (THEODORO;
LEONARDOS e DUARTE et al., 2002). O cerrado, que segundo Pires (1996), no imaginário
coletivo era visto como algo feio, raquítico e fraco, tornou-se, com os avanços da “Revolução
Verde”, um grande celeiro mundial.

Segundo Silva (2000, p. 25):

Assim, a região dos Cerrados tornou-se estratégica para a incorporação de novas


áreas, tanto por sua posição geográfica, como por suas características físico-
ambientais, que propiciaram a expansão da produção agropecuária nos padrões da
nova agricultura moderna, baseada no pacote tecnológico da “Revolução Verde”.
À fronteira agrícola do Centro-Oeste e do Cerrado não bastou a existência de
tecnologias e infra-estrutura para atrair os interesses dos investidores do sul do país, foi
necessário que o Estado fornecesse outros atrativos, “principalmente de crédito e de acesso à
terra a custo baixo, para que se modificasse o cálculo dos investidores privados.” (MIZIARA,
2000, p. 284). Assim, os programas especiais voltados para o Cerrado, tornaram-se o principal
veículo de capitalização e tecnificação de sua agricultura e utilizando-se destes instrumentos,
os programas induziram “os produtores rurais a realizarem ações esperadas, por meio das
seguintes medidas: crédito rural orientado, assistência técnica seletiva, seguro contra risco,
incentivos fiscais etc.” (SALIM, 1986, p. 308).
47
Segundo Faria (1998), o desenvolvimento da agricultura esteve fundado e
integrado ao complexo agroindustrial, tanto a montante quanto a jusante das áreas ocupadas.
A montante estava relacionada às firmas (principalmente de insumos) localizadas fora da
região e a jusante pela agregação de valores à produção agropecuária.

Durante o período da ditadura militar, adotou-se o planejamento como técnica e


retórica do governo. Portanto, o planejamento passou a desempenhar e estabelecer reforço
central e determinar, sem contestação, programas e projetos em que a população não tinha
participação (nem mesmo os governantes estaduais e municipais), pois, todas as diretrizes
sempre levavam a uma centralidade de decisões pelos organismos federais ou encaminhado-as
por políticos que se alinharam com os governantes e obtinham do governante a fidelidade
para a implantação de ações locais (SILVA, 2000).

Os incentivos no âmbito federal iniciaram-se com a criação da Empresa Brasileira


de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), responsável pela criação de tecnologias aptas às
características específicas dos solos tropicais. Em nível estadual, essa responsabilidade era
dos centros de pesquisa agropecuária como a Empresa de Pesquisa agropecuária do Estado de
Minas Gerais (EPAMIG); a Empresa Agropecuária do Estado de Goiás (EMGOPA); a
Empresa Agropecuária de Mato Grosso (EMPA- MT) - e a Empresa de pesquisa, assistência
técnica e extensão rural de Mato Grosso do Sul (EMPAER-MS).

Neste contexto, surgem os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) que


foram divididos em três etapas. O I Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974)
estabelecia uma estruturação mais complexa e integrada do desenvolvimento baseada na
estabilidade política, na segurança nacional interna e externa. No II Plano Nacional de
Desenvolvimento ou II PND (1975 – 1979), em conjunto com o I PND, fica claro o projeto de
organizar o território brasileiro de acordo com a lógica do projeto geopolítico. Todo o
discurso de integração dos vazios nacionais, principalmente o Centro - Oeste e a Amazônia,
de forma rápida e combinada, foi além de estabelecer ações de ocupação do território,
estavam, também, vinculadas a expansão do processo capitalista que interessava as lideranças
nacionais. O terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento, III PND (1980-1985), dá ênfase ao
combate à inflação e ao contingenciamento de fluxos de capital.

O II PND em particular, destaca-se para o Cerrado pela criação de projetos que


favoreciam diretamente a ocupação e desenvolvimento dessa região, como o POLOCENTRO
e o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos
Cerrados).
48
O POLOCENTRO foi criado em 1975, com objetivo de promover o
desenvolvimento e modernização das atividades agropecuárias da Região Centro-Oeste e
Oeste de Minas Gerais, mediante a ocupação das áreas de Cerrado e seu aproveitamento em
escala empresarial com o desenvolvimento, principalmente, de linhas de financiamento rural,
fortalecendo de maneira acelerada o processo de capitalização no campo. O crédito rural
impunha a compra de insumos modernos, induzindo a compra de tecnologias,
motomecanização, além de farta aquisição de fertilizantes e outros insumos concentrando-se,
portanto, no domínio das grandes propriedades (SANTOS, 1992). Esta política alterou a
exploração agrícola, estimulou a concentração da propriedade fundiária e provocou seqüelas
sociais negativas (ESTEVAM, 1998), além da introdução de culturas como soja, milho e
algodão em larga escala.

Esse programa teve como base a concepção de pólos de crescimento,


selecionando doze áreas, de Cerrado, espalhadas pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Goiás e Minas Gerais (Figura 05), visando proporcionar sua ocupação racional e
ordenada. Em Goiás, foram selecionadas cinco áreas (Gurupi, Pirineus, Paraná, Piranhas e Rio
Verde) que dispunham de alguma infra-estrutura e razoável potencial agrícola (CUNHA,
1994), as quais, por isso, receberam recursos para investimentos para a construção de
estradas, eletrificação rural, rede de estocagem e comercialização. Os benefícios incluíram
produtores de médio e grande porte e tinham como meta a destinação de 60% da área
explorada em lavouras e o restante - 40% - em pastagens. Mas o resultado foi inverso e as
áreas de pastagens continuaram predominando na região.

O PRODECER foi criado no final dos anos 1970. O recurso contou com
financiamento da agência japonesa - JICA - e do governo brasileiro, em áreas dos Estados de
Minas Gerais, da Bahia, de Goiás, do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com a criação de
assentamentos de agricultores vindos do Sul e Sudeste. O principal instrumento foi o crédito
supervisionado com empréstimos fundiários de investimento e de cobertura de despesas
operacionais e de subsistência do mutuário. O crédito era concedido a taxas de juros reais e
atraiu um número significativo de agricultores (ALHO e MARTINS, 1995).

Houve fora destes projetos específicos, tanto na política estadual quanto na federal,
uma cooperação com a expansão da fronteira agrícola, através de linhas de crédito,
amparo técnico e reorientação para modernização das atividades agrícolas; inclusive
com a introdução de novas culturas de bens capitalistas, como o algodão herbáceo e
a soja (FRANCO, 2003, p.291).
Todas as políticas implementadas na região transformaram - na em um grande
centro agrícola, desenvolvendo uma agricultura comercial moderna com elevada
produtividade, principalmente da soja, que atualmente representa cerca de um quarto da
produção nacional de oleaginosas. Assim, houve um crescimento acelerado da produção
agropecuária da região. Segundo Theodoro; Leonardos e Duarte (2002) em 1990, as
principais lavouras (soja, arroz, milho, feijão e mandioca) ocupavam 6,8 milhões de hectares e
atividade de pecuária esteve em pleno crescimento, graças aos incentivos direcionados à
região dos Cerrado que propiciaram condições para ampliação da frente de agricultura
comercial, auxiliando ainda mais na abertura dessa fronteira. Entretanto esses investimentos
não levaram em consideração os custos ambientais e sociais que foram desencadeados após a
implantação destes programas (DUARTE, 2002; BOURLEGAT, 2003).

Em meio a todos esses programas, políticas e incentivos, a estrutura da paisagem


do Cerrado se alterou: modernas cidades, grandes áreas de pastagens e monoculturas, a
extensa malha viária, vegetação fragmentada e etc.; mas uma característica se manteve
inalterada: a concentração fundiária. Em conseqüências, a atração para a rápida ocupação do
Cerrado motivada pelas grandes extensões territoriais, sobretudo em áreas de fronteira, que
atraiam também as populações urbanas. Empresários das regiões Sul e Sudeste iniciaram um
rápido processo de privatização das terras (em um ritmo superior aos anteriormente
empregados) que favoreceu a incorporação da região ao processo produtivo, significando
forte demanda dos novos insumos, produzidos pela Revolução Verde. Segundo Mesquita
(1989), houve também, como conseqüência da alteração dos custos da agricultura: as despesas
com insumos modernos em 1980 representaram a 4º parte do total de gastos efetuados com a
agropecuária.

Esse processo, chamado de modernização da agricultura, não se restringiu às


novas lavouras, atingiu os pequenos latifundiários, expropriando aqueles que não se
adequavam ao modelo e que buscaram as áreas férteis nas baixadas dos rios comprometendo
as matas ciliares. Na região, predominam até hoje as grandes propriedades; os pequenos
estabelecimentos (menos de 50 hectares) concentram-se em pequenas manchas de solos
férteis ou em áreas de relevo acidentado impróprias à mecanização.

O tamanho das propriedades estava relacionado com as atividades desenvolvidas:


as grandes propriedades eram destinadas à pecuária de corte, e como essa atividade é a que
sempre desenvolveu-se com mais intensidade justifica-se a estrutura fundiária concentrada; as
médias conciliavam pecuária com lavouras e as pequenas destinavam-se a lavouras
51
temporárias e localizavam-se principalmente em áreas de fronteira com o objetivo de
desbravar o Cerrado (BEZERRA e CLEPS JR.,2004).

Os espaços de avanço das fronteiras agrícolas eram ocupados e estruturados,


muitas vezes, por decisões e interesses externos e muito distantes do lugar. Não levavam em
conta a “heterogeneidade ambiental (biodiversidade), como também a heterogeneidade social
(sócio-biodiversidade)” (BOURLEGAT, 2003:13).

Os interesses estavam voltados aos grandes empresários e consumidores nacionais


e internacionais e o resultado foi a fragmentação da vegetação, a extinção e ameaça às
espécies do Cerrado, no que se refere ao bioma.

Estima-se que a conseqüência final desse processo de ocupação, como um todo e,


particularmente, desde a década de 1970, reduziu os 2 (dois) milhões de km 2 da área coberta
pelas diferentes fitofisionomias desse bioma a cerca de 400.000 km2, o que equivale
aproximadamente a 80% de área inicial. Desse modo, hoje, o Cerrado é constituído por
remanescentes, aqui entendidos de diferentes composições e dimensões e graus de degradação
ou de risco de degradação.

2.2. Conseqüências da Ocupação do Cerrado

O processo relatado e o pacote tecnológico introduzido na região do Cerrado a


partir das décadas de 1960 e 1970, auxiliaram no desenvolvimento da economia regional,
inserindo-a no circuito econômico regional e até mesmo internacional, mas promoveram
perdas significativas da biodiversidade do bioma, pois basearam-se no desmatamento de
parcelas significativas de vegetação natural destinando-as ao cultivo adotando como prática
de conservação o reflorestamento com espécies exóticas (principalmente Eucaliptos).
Segundo a EMBRAPA CERRADOS (2004), o Cerrado é responsável, atualmente,
por 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas, 28 milhões de hectares de pastagens
nativas e 15 milhões de áreas agrícolas, sendo responsável, também por 38,5% da produção
de carne do país, 41,5% da soja, 23% por milho e 20% do arroz, feijão e café. E, existem,
ainda, segundo este órgão, disponíveis e próprios para a agricultura cerca de 80 milhões de
hectares.
Mas todo esse processo de crescimento e a importância econômica da região
baseiam-se em um modelo de desenvolvimento considerado insustentável, apoiados numa
espécie de tripé: alta concentração de renda e fundiária, alta dependência tecnológica e
52
econômica para a adequação dos solos às culturas importadas (como é o caso da soja) e a
produção cumulativa de impactos ambientais.
O uso intensivo pela soja (e também por outras culturas como o algodão e o
tomate) já vem inviabilizando as atividades econômicas em várias áreas. Segundo a CI
(Conservation Internacional, 2005), os desmatamentos descontrolados, uso excessivo de
irrigação e uso de agrotóxicos/fertilizantes vem ocasionando perdas significativas de solo por
lixiviação, erosão e alterações físico - químicas: estima-se que para cada grão produzido,
perdem-se de 6 a 10 Kg de solo por erosão, os quais acumulam-se nas partes mais baixas do
relevo e nos canais de drenagem (assoreamento).
Os impactos no Cerrado incidem à medida que novas áreas são transformadas em
fronteiras agrícolas e submetidas a práticas de queimadas e desmatamentos, inicialmente para
uma agricultura não - tecnificada e, depois, para a agricultura comercial, que volta a
intensificar os desmatamentos, insere o uso intensivo de fertilizantes, pesticidas e de irrigação.
O potencial lenheiro do Cerrado e o conceito vigente de décadas passadas de que
suas terras eram improdutivas influenciou nos desmatamentos ocorridos neste bioma. Os
proprietários sentiam-se “obrigados” a desmatar ou ceder às carvoarias as áreas de vegetação.
Boa parte da produção das carvoarias era e ainda é (mesmo com ações intensivas de combate
do Ministério Público de Goiás e da Agência Ambiental de Goiás - AGMA, por exemplo)
destinada às siderúrgicas de Minas Gerais. De acordo com dados fornecidos pelo Instituto
Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF), são contabilizados anualmente “1,470 milhão de
mdc”, extraídos ilegalmente do Cerrado nativo. (AGMA, 2004).
As atividades agropecuárias são apontadas como responsáveis pela fragmentação
da vegetação nativa devido às grandes extensões envolvidas, à velocidade e à ausência de
planejamento nestas atividades e ainda, ao fato de proporcionarem efeitos diretos e indiretos
através da poluição do solo e atmosfera, introdução de espécies exóticas, compactação e
erosão dos solos, entre outros.

A extensa transformação antrópica do Cerrado resultou em grandes perdas de


biodiversidade, especialmente em vista das limitações das áreas protegidas, pequenas em
número e concentradas em poucas regiões (MMA, 2002). Segundo Pararaios (2000), para
cada 3% de áreas de conservação, o Cerrado já teve 80% de terras devastadas. Ainda, segundo
este autor, a presença humana cria ilhas de instabilidade ambiental neste ecossistema
tornando-se danosa, devido à ausência de uma política clara de ocupação.

De acordo com Viana et al., (1992), o processo de fragmentação da vegetação


nativa está presente em todas as etapas do processo de expansão da fronteira agrícola no país,
53
desde as mais antigas (Mata Atlântica nordestina) até as mais recentes (Cerrado e Floresta
Amazônica). A degradação é causada muitas vezes por razões culturais (uso indiscriminado
de queimadas); geográficas (terras planas com plantios intensivos) e econômicas
(proximidade de mercados consumidores ou de acessos a estes) que acabam por induzir o
surgimento de distúrbios graves, com reflexo imediato na flora e fauna da região.
(FERREIRA, 2003)

Segundo a WWF (2005), atualmente, o Bioma Cerrado possui somente 20% de


remanescentes, pois 80% da sua área foi alterada para expansão agropecuária, principalmente
para atividades agrícolas de monoculturas, como a soja e o algodão e destes 5% são viáveis
para a conservação por possuírem mais de 2 mil hectares.

Mapeamento realizado por de Machado et al., (2004), com imagens MODIS,


indicou que as maiores manchas relativas e contínuas de fragmentos de Cerrado encontram-se
no médio curso do rio Araguaia, em especial na Depressão do Araguaia, e no Vão do Paranã,
além de outras igualmente grandes em Tocantins, Bahia e Minas Gerais (MACHADO, et al.,
2004), que correspondem a locais onde as condições do terreno ainda se apresentam como
grandes limitações à implantação de projetos agrícolas. Já a Alta Bacia do rio Araguaia, de
interesse para este trabalho, apresenta remanescentes bem menores e permite perceber que se
concentram mais do lado do Mato Grosso como mostra a figura 06.

Segundo Bourlegat (2003), o processo de fragmentação é entendido como redução


de unidades de vegetação anterior, assim como o isolamento de áreas remanescentes em
conseqüência do desmatamento.
Nesse aspecto,
A fragmentação forma ilhas de vegetação distribuídas geograficamente em várias
regiões da terra. Nessas ilhas, a ocorrência de espécies passa a determinar por fatores
relacionados com a competição e imigração de espécies. A fragmentação da
vegetação afeta a fauna, flora e a redução da biodiversidade é o primeiro passo para
a desestabilização dos recursos naturais solo e água, cujo processo evolui no sentido
da degradação desses recursos (ARAÚJO E SOUZA, 2003, p. 118,119)

Miller (1997) indica que as paisagens fragmentadas/ remanescentes têm sido


convertidas para outros usos e seus limites de cobertura geralmente não correspondem aos
formatos e dimensões necessárias à preservação e manutenção da biodiversidade
Existem ainda os remanescentes que estão localizados em manchas isoladas entre
fazendas de agricultura intensiva, pastagens e outros usos. Esses remanescentes são
encontrados cada vez mais dentro de um mosaico de propriedades públicas, privadas e
comunitárias, como acontece com o Cerrado em Goiás.
40
55
Os remanescentes geralmente correspondem a Áreas de Preservação Permanente
(APP), Reservas Legais (Rls), áreas que por algum motivo não foram incorporadas ao
processo produtivo dentro das propriedades rurais ou encontram-se em Unidades de
Conservação (UCs).
Como resumido por Campos (2004), com base no Sistema Nacional de Unidades
de Conservação - SNUC (2000), as Unidades de Conservação (UCs) são formas de
preservação ou conservação de fragmentos residuais das coberturas vegetais naturais, sendo
classificadas em duas categorias, com características específicas: Unidades de Proteção
Integral, cujo objetivo é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus
recursos naturais, e a UC de Uso Sustentável que tem com objetivo a compatibilização da
conservação da natureza com o uso sustentável. Segundo o IBAMA (2004), existem no Brasil
cerca de 607 UCs, incluindo as Federais, Estaduais, Municipais e Particulares, totalizando
9,89% da área nacional (84.550,233,52 ha).

De acordo com a CI (Conservação Internacional, 2005) a taxa de devastação da


cobertura vegetal do bioma Cerrado é alta: cerca de 2,6 campos de futebol desaparecem a
cada minuto e se a devastação se mantiver neste ritmo 43% do Cerrado brasileiro que ainda
se encontra em pé pode desaparecer até 2030.

Estima-se que até 1970, apenas cerca de 5 milhões de hectares dos cerrados
haviam sido desmatados para o plantio de cereais. Atualmente, cerca de 67 milhões dos 240
milhões de hectares já foram desmatados e incorporados ao processo produtivo, sendo 45
milhões para a formação de pastagens cultivadas, 10 milhões para culturas de arroz sequeiro e
2 milhões para culturas perenes (EMBRAPA, 2000).

Dentre os principais temas ambientais contemporâneos, pode-se dizer que o tema


da diminuição da biodiversidade causada pela ação do homem no planeta é o que se encontra
em situação mais delicada. Isto se deve ao fato de que restam poucos remanescentes
ecologicamente viáveis de vegetação nativa original, os quais se encontram desprotegidos e
em rápido processo de desaparecimento, seja pelo isolamento derivado de sua fragmentação,
seja pela exploração ilegal de seus componentes, seja, ainda, pela incapacidade regenerativa
de várias espécies nessa condição.

A retirada da cobertura vegetal nativa, talvez seja um dos impactos negativos de


mais difícil recuperação. A demanda do mercado global por grãos, algodão e carne,
principalmente, ligada ao fenômeno de globalização e da produção sob controle do capital
internacional e concentrado, não soube aproveitar a vasta diversidade ecológica do bioma
56
Cerrado, que, manejada, poderia trazer igualmente o desenvolvimento e a incorporação de
suas terras à economia nacional.

A Alta Bacia do rio Araguaia apresenta elevado grau de antropização e baixo


índice de remanescentes como se verá mais adiante, conseqüentes do processo de ocupação
adotado. Uma vez que os remanescentes são os alvos deste trabalho, faz-se necessário
apresentar um panorama geral dos remanescentes de vegetação nativa desses dois Estados que
essa bacia banha e drena: Goiás e Mato Grosso.

2.2.1 - Conseqüências da ocupação em Goiás e Mato Grosso

Os Estados de Goiás e Mato Grosso beneficiaram-se das políticas de


interiorização do país (“Marcha para o Oeste”), nas décadas de 40 e 50 dos programas de
integração nacional (PNDs) a partir da década de 70, como discutido no capítulo anterior.
Esses Estados apresentam-se como grandes centros nacionais agropecuários e com altos
índices de degradação da vegetação nativa, como conseqüência do processo de ocupação e
desenvolvimento. Porém, as conseqüências em termo da ocupação do Bioma Cerrado não são
as mesmas, seja em termos de remanescentes, seja quanto às proporções dos impactos
ambientais gerados.

! Conseqüências em Goiás

O Estado de Goiás registrou nos últimos 40 anos profundas alterações em seu uso
devido à expansão das atividades agrícolas e da urbanização que foram influenciadas pelo
desenvolvimento de novas tecnologias, como já discutidas. Assim, ele ocupa lugar de
destaque no cenário agropecuário nacional e possui extensas áreas desmatadas. A vegetação
constitui-se de fragmentos, como mostra a Figura 07, ilhados por um entorno agropecuário.
58
No entanto, convém ressaltar que tais fragmentos, ainda não são bem conhecidos.
Iniciativas recentes do governo estadual de Goiás em parceria com o IESA/UFG, por meio do
Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), têm revelado a
distribuição espacial e a tipologia de fitofisionomias para o estado, ainda que em escala muito
abrangente (1:250.000), com base em imagens de satélite obtidas pelo sensor MODIS
integradas a dados do meio físico e censitários e objetiva identificar as áreas prioritárias para a
fiscalização e controle ambiental do Estado (FERREIRA et al., 2005).
Antes desse estudo, ainda em andamento, dois estudos quantificaram as áreas de
remanescentes de Cerrado para o Estado, e que se basearam em metodologias diferentes: O
primeiro estudo foi realizado em 2000 pela ECOFORÇA/EMBRAPA (GEOAGOIÁS, 2002),
que realizou mapeamento através do sensor VEGETATION, a bordo do satélite europeu
SPOT IV. A imagem foi classificada inicialmente em escala de 1:1000.000 e apresentação
final em escala de 1:4.400.000 e obteve várias classes de uso, mesmo depois que algumas
foram agrupadas. As classes de uso e porcentagem de cada uso podem ser observadas na
Tabela 02. Esta pesquisa indicou que a região do antigo domínio do Cerrado abrigava 25% de
remanescentes. No entanto, os dados apresentados na tabela não se mostram confiáveis, uma
vez que a somatória da área das classes não atinge os cem porcento (100%), o que pode ser
causado pelo tratamento estatístico ou por algum uso não contabilizado, como estradas ou
nuvens, por exemplo.
Tabela 02 - Quantificação da cobertura vegetal em Goiás – 2000.
Classes de uso %
Agriculturas 73,81
Agricultura intensiva 12,18
Agricultura irrigada 0,28
Agricultura e pastagens permanentes dominantes 57,05
Mosaicos de agricultura, pastagens e vegetação arbórea alterada 2,01
Mosaicos de vegetação não arbórea pastejada e pequena 2,28
agricultura
Florestas Secas 4,23
Florestas estacionais deciduais densas 4,23
Florestas de transição 4,73
Florestas arbustivas-arbóreas densas 4,54
Florestas arbustivas-arbóreas abertas 0,19
Vegetação Ciliar 1,75
Florestas de galeria 1,75
Campos e Savanas 14,71
Savanas arbustivas 14,30
Campos limpos 0, 30
Campos inundáveis 0,11
Corpos d’água naturais e artificiais 0,47
Áreas urbanizadas 0,31
ÁREA TOTAL 98,26
Fonte: adaptado de ECOFORÇA/EMBRAPA, 2002 (GEOGOIÁS, 2002).
59
O segundo estudo, mais recente, é o da WWF/ IMAGEM (2004), que quantificou
em 35,4% a área de remanescentes, logo, maior que o anterior. Este estudo foi realizado com
imagens analógicas do satélite LANDSAT ETM 5+, na composição colorida RGB – 543,
correspondentes aos anos de 2001-2002. A interpretação foi realizada para as 34 (trinta e
quatro) folhas na escala de 1:250 000 que compõem o Estado de Goiás (com o Distrito
Federal incluído). A classificação adotada foi a do IBGE (1992), por se mostrar mais
adequada às nomenclaturas internacionais. As classes de usos e de remanescentes mapeados e
quantificados podem ser observadas na Tabela 03, desta vez chegando aos 100%.

Tabela 03 - Quantificação da cobertura vegetal, Goiás* – 2004.


Classes de uso %
Savanas 36,96
Savana Florestada (Cerradão) 3,24
Savana Arborizada (Cerrado Típico, Cerrado Denso) 23,12
Savana Parque I 9,8
Savana Parque II 0,1
Savana Gramíneo-Lenhosa I 0,6
Savana Gramíneo-Lenhosa II 0,1
Floresta Estacional Semidecidual 2,6
Floresta Estacional Semidecidual Aluvial 1,1
Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas 1,3
Floresta Estacional Semidecidual Submontana 0,12
Floresta Estacional Semidecidual montana 0,08
Floresta Estacional Decidual 1,43
Floresta Estacional Decidual Submontana 1,37
Floresta Estacional Decidual Montana 0,06
Formações Pioneiras 0,04
Formações Pioneiras Fluviais e ou Lacustres 0,04
Outros usos 58,97
Água 1,78
Área urbana e núcleo rural 1,19
Culturas 0,08
Pastagens 55,71
Reflorestamento 0,12
Outros (nuvem, queimadas) 0,09
Total 100
Fonte: adaptado de WWF/IMAGEM, 2004.
* inclui o Distrito Federal
60
A diferença entre estes resultados é devida à metodologia e imagens usadas em
cada pesquisa. No entanto, deste percentual, cabe ressaltar que das áreas remanescentes
4,48% estão em UCs, mas, com a estimativa de 1,16% de taxas de desmatamentos/ ano
(GEOGOIÁS, 2002), os 20,5% ou 31,1% (AGMA e WWF) restantes seriam destruídos em
86 anos. Analisando ainda as tabelas 02 e 03 da ECOFORÇA/EMBRAPA (2002) e
WWF/IMAGEM (2004) é possível perceber um fato interessante: as fitofisionomias do bioma
mais atingidas foram as florestas como um todo, aparentemente, mas essa afirmação carece de
confirmação, bem como de explicação.
Segundo GEOGOIÁS (2002), a Agência Ambiental de Goiás vem registrando um
aumento significativo das áreas de desmatamento no Estado, um fato preocupante já que o
Estado não é mais a atual fronteira agrícola e apresenta baixos índices de vegetação natural,
que somadas suas fitofisionomias, alcança pouco mais de 41% (Tabela 03).
Dados preliminares do projeto Sistema de Alerta de Desmatamentos - SIAD já
identificaram um total de 31.075 hectares desmatados no Estado (com limiar de 20%9) que
estão concentrados em somente 54 (cinqüenta e quatro) municípios (FERREIRA, et al.,2005).
Extraindo-se apenas as fitofisionomias de vegetação natural do mapa anterior
(Figura 08) e sobrepondo a elas os limites das maiores UCs do Estado é possível constatar,
em uma primeira aproximação, que a maior extensão contínua de cerrado encontra-se
basicamente no NE goiano e é do tipo Savana Parque, onde se encontra , também, um maior
número de áreas “protegidas” (Figura 08). No mais, as manchas encontradas estão muito
dispersas e reduzidas em poucas áreas, corroborando o já exposto.
Por outro lado, essa mesma figura 08 permite constatar que as menores áreas de
remanescentes de Cerrado, correspondem às Reservas Particulares de Patrimônio (RPPN), as
RL e APP e, em grande maioria a uma espécie de “reserva de mercado”, que, ainda, pode ser
alvo de desmatamentos, e com apoio da lei, já que o Código Florestal (Lei nº 7.444/65 -
Anexo I) obriga a manutenção de no mínimo 20% de vegetação nativa, nas propriedades
rurais.
O Estado de Goiás abriga 80 unidades de conservação que representam 1,5
milhões de hectares, correspondendo a 4,48% da área do Estado (Figura 08 e Anexo 2), índice
muito baixo quando comparado ao percentual recomendado pelo PNUMA (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente) que é de 10% ou o Sistema Estadual de Unidades de
Conservação que determina no mínimo 20% da superfície do Estado (GEOGOIÁS, 2002).

9
A detectação e mapeamento das áreas desmatadas no projeto SIAD foi realizada por meio de comparação entre
limiar de mudança em imagens NDVI. Foram adotados os limiares de 10% para as áreas onde o potencial de
mudança era elevado e de 40% para áreas de menor antropismo. Nos resultados preliminares adotaram limiares
de 10 e 20%.
40
Na Tabela 04, verifica-se que nos últimos quatro anos houve em Goiás um
significativo acréscimo, mais de 295% na cobertura territorial das áreas protegidas nas esferas
federal, estadual, municipal e particular. Os Parques Municipais representam apenas 0,01% da
área total do Estado. As unidades Estaduais de uso sustentável (APAs e outros) foram as que
apresentaram maior crescimento neste período, acima de 1.000%. Todavia, são os Parques
Nacionais, em especial Veadeiros e Emas, que respondem pelos maiores remanescentes em
áreas contínuas.
Para Oliveira, S., (2002), essa preservação pode proporcionar uma melhoria das
condições sócio-econômicas das populações envolvidas, através da valorização das
manifestações culturais locais e do manejo integrado dos ecossistemas.

Tabela 04 - Áreas das Unidades de Conservação, Goiás-1998-2000.

ÁREAS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, GOIÁS-1998-2000.


ÁREA TOTAL DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Até 1998 Até 2002


Área % da
Unidade de % da % da Acrescida Área
conservação (ha) Área do (ha) Área do (ha) acrescida
Estado Estado
FEDERAIS 234.694,33 0,69 74.389,15 2,19 509.694,82 217,17
Proteção
189.790,00 0,56 366.360,00 1,08 176.570,00 93,03
Integral
Uso
41.631,33 0,12 378.029,15 1,11 336.397,82 808,04
sustentável
ESTADUAIS 135.453,62 0,4 754.458,46 2,22 619.004,84 456,99
Proteção
75.453,62 0,22 78.800,42 0,23 3.346,80 4,44
Integral
Uso
60.000,00 0,18 675.658,04 1,99 615.658,04 1.026,10
sustentável
MUNICIPAIS 377,20 <0,01 4.072,06 0,01 3.694,86 979,55
Particulares
14.472,59 0,04 20.302,14 0,06 5.826,55 40,25
RPPN's
TOTAL 384.997,74 1,13 1.523.221,81 4,48 1.138.224,07 295,64
Fonte: Agência Ambiental de Goiás e Ibama-GEOGOIÁS (2002).

Entretanto, a falta de infra-estrutura dos órgãos responsáveis pela fiscalização,


tanto em nível federal como estadual, dificultam ações mais enérgicas e ágeis para o
cumprimento da lei. Os atos praticados e considerados lesivos são punidos freqüentemente de
forma tímida e os valores das multas são irrisórios, o que incentiva o descumprimento da lei,
mesmo porque quanto às ações punitivas, quando concluídas, o bem natural já foi depredado
de forma irrecuperável (BUCCI, 1992).
63
! Conseqüências em Mato Grosso

O Estado de Mato Grosso apresenta uma grande diversidade de formações


vegetais em relação ao Estado de Goiás, por abrigar três importantes biomas: Floresta
Amazônica, que ocupa grande parte de seu espaço territorial (52,1%); Cerrado com 40,86% e
Pantanal com 7,04%. Apresenta, também, como Goiás, crescimento econômico expressivo na
agricultura, principalmente na produção de soja e algodão, alta concentração fundiária com
propriedades com mais de mil ha que representam cerca de 10,2% dos estabelecimentos
agropecuários e ocupam 82,2% do território estadual. A sua população é constituída
principalmente por migrantes da região sul do país (MMA, 2001), diferentemente de Goiás
que recebeu contingentes importantes de migrantes da região nordeste (SILVA, 2006).
Segundo MMA (2001), o uso e ocupação predominante do Estado podem ser
divididos por regiões:
! Norte: atividades de extrativismo mineral e vegetal; produção pecuária
pequena e média; produção agrícola pouco expressiva de culturas como milho,
arroz, algodão, cana e outros em pequenas e médias propriedades influenciadas
por projetos de colonização governamental e da iniciativa privada;
! Sul: atividades de pecuária extensiva sob os campos úmidos naturais e
atividades agrícolas mecanizadas com alta tecnologia;
! Nordeste: predomínio de pecuária extensiva com pequena produção
agrícola;
! Sudeste: atividade de pastagens (inclusive da produção leiteira) e de
agricultura mecanizada em manejo primário nas culturas de soja, arroz, milho,
cana e feijão;
! Noroeste: atividades de extrativismo mineral e vegetal, pequena
produção agropecuária. Predomínio de áreas indígenas;
! Sudoeste: atividades de pecuária com pequena participação de culturas
como o arroz, soja e extrativismo vegetal.
Em resumo, a base da economia regional é a agropecuária que é também,
responsável pelos maiores impactos ambientais. As manchas agrícolas e de pastagens estão
distribuídas em lotes de 50 a 1000 ha e que se dispõem ao redor das grandes propriedades de
companhias agropecuárias e em meio às áreas de remanescentes florestais (SOARES FILHO,
2001).
64
A ocupação do Estado ocorreu ao longo dos eixos rodoviários, tanto que as áreas
com vegetação mais preservadas e contínuas correspondem a áreas legalmente protegidas
(Ucs), às áreas norte/noroeste com acessibilidade limitada (ARIMA et al., 1999).
O mapa de uso do solo deste Estado foi elaborado em 1999, para o Zoneamento
Ecológico Econômico do Estado de Mato Grosso - ZEE-MT (Figura 09). Observa-se que as
principais fitofisionomias preservadas são dos domínios das Florestas Ombrófila e as áreas de
contato entre Floresta Ombrófila e Estacional. O contrário se observa na região onde
predomina o Cerrado e suas áreas de contato que se encontram ilhadas pelas atividades
antrópicas, já que essas áreas foram escolhidas para a expansão e concentração de grandes
empresas agropecuárias. Restam somente cerca de 33,7 % de Cerrado (em suas variadas
fitofisionomias). (Tabela 05)
Tabela 05 - Quantificação da cobertura vegetal, Mato Grosso – 1999.
Classes de usos %
Uso Antrópico 21,59
Uso antrópico em terras indígenas 0,12
Uso antrópico em unidades de conservação 0,24
Áreas de queimadas 1,44
Pastagens 14,66
Agricultura 4,91
Área urbana 0,08
Reflorestamento 0,07
Extrativismo mineral 0,06
Zonas de contato 14,82
Contato floresta ombrófila/ savana 0,21
Contato floresta ombrófila/ floresta estacional 7,24
Contato floresta estacional/ savana 7,37
Região das Savanas 33,17
Savana parque 4,37
Savana gramíneo lenhosa 0,96
Savana florestada 7,32
Savana arborizada 15,46
Savana parque associada as áreas pantaneiras 3,93
Formação savânica associada a vertentes 1,15
Região das Florestas 24,28
Floresta ombrófila 7,88
Floresta estacional 2,34
Floresta associada ao Planalto dos Parecis com Corte Seletivo 1,00
Floresta associada ao Planalto dos Parecis/ savana 2,96
Floresta associada ao Planalto dos Parecis 9,19
Floresta associada ao Planalto dos Parecis com corte raso 0,92
Formações secundárias 6,14
Formação secundária 3,09
Formação Ripária 3,05
Total 100,0
Fonte: Adaptado do ZEE/MT-1999.
40
Mapeamentos realizados por Anderson et al., (2005) utilizando-se de imagens
MODIS constataram que cerca de 39% da área total do Estado ainda está presente no domínio da
Floresta Ombrófila Aberta, seguida por 17% de áreas de Savana Gramíneo-Lenhosa. Mas o
Estado apresenta uma alta taxa de conversão da cobertura vegetal devido ao aumento da
agricultura e pastagens em áreas de Cerrado. Os desmatamentos por queimadas praticados pelos
produtores rurais, para a abertura de novas áreas agrícolas e de pasto, alcançam altos índices.
Segundo o IBAMA (2004), os maiores focos de queimadas nacionais estão localizados neste
Estado e eles chegam a atingir mais de 20 mil ha de áreas de conservação. Segundo o INPE o
Estado é um dos campeões de desmatamentos do bioma da Floresta Amazônica, já tendo perdido
mais de 190 mil km2 de floresta (cerca de 28% de toda área do bioma).
No entanto, segundo estudos apresentados pela SEMA - MT (2005), o Estado vem
apresentando nos últimos anos, redução nas áreas desmatadas: em 2003, o índice de
desmatamento foi de 2,06%; em 2004, foi apresentado índice de 2,01% (redução de 0,05% em
relação ao ano anterior) e em 2005, o índice de desmate foi de 1,71% (queda de 0,30%). Foram
apontados como fatores dessa redução uma leve “desestabilização” das atividades agropecuárias:
redução do preço da soja e da carne no mercado nacional e internacional e a atividade de
fiscalização realizada pelo órgão.
Sobrepondo-se o mapa de fitofisionomias do Estado ao limite das unidades de
conservação (Figura 10), observa-se que a maioria das UCs (tanto de uso sustentável, como
integral) estão no Bioma Cerrado, nas fitofisionomias campestres de savana parque e savana
gramíneo lenhosa.
As 32 (tinta e duas) Unidades de Conservação (Anexo 3) correspondem a cerca de
819 ha (0,10%) da área do Estado e convivem com a ameaça constante das atividades predatórias
já descritas e também com a ausência de fiscalização por parte dos órgãos ambientais estaduais e
federais. Várias ONGs que atuam na região, assim como a FEMA-MT alertam para a alta
fragilidade ambiental dos remanescentes, que carecem de ações conservacionistas e
preservacionistas10 e evidenciam a prevalência de um modelo de desenvolvimento predatório e
destrutivo sobre os três biomas (Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal).

10
Conservação é a ação de reunir atividades de preservação, manutenção, utilização sustentada (racional) e melhoria
do meio ambiente para satisfazer às gerações futuras, enquanto preservação é a proteção mais rigorosa de
determinadas áreas e seus recursos naturais, considerando o grande valor como patrimônio ambiental, sem qualquer
interferência humana (SEMA-PR, 1997).
40
! Comentários Comparativos

O avanço da fronteira agrícola do Estado de Goiás para o Estado de Mato Grosso é


recente. No primeiro, a vegetação nativa foi atingida profundamente e encontra-se restrita a
esparsos fragmentos, como constatado em mapeamentos realizados pela
EMBRAPA/ECOFORÇA (2002) e pela IMAGEM/WWF (2004), enquanto que em Mato Grosso,
no mapeamento realizado pela SEPLAN (1999) e por Anderson et al., (2005), a vegetação nativa
ainda se apresenta em grandes manchas. Essas áreas de vegetação nativa ou não foram
incorporadas, ainda, ao processo produtivo ou localizam-se em áreas de solos pobres e/ou de
difícil mecanização.
Outro fator que conta na distribuição e caracterização dos remanescentes de
vegetação nativa nestes Estados refere-se à distribuição das rodovias, que levam o progresso e a
modificação dos ambientes naturais. Goiás apresenta-se muito mais “retalhado” por rodovias que
o interligam a todas as regiões do país, que permitem o escoamento de sua produção agropecuária
e a ocupação de todo o território, ainda que sofram de problemas de manutenção. Em Mato
Grosso, as rodovias concentram-se na porção sul do Estado e interligam-se a Goiás no caminho
para o sul. É onde a vegetação apresenta-se mais fragmentada; já a norte, onde domina vegetação
ombrófila do tipo amazônico e onde praticamente inexistem estradas federais e estaduais,
ocorrem os grandes remanescentes. Entretanto, existe nos dois Estados, atuação de empresas
multinacionais que criam toda a infra-estrutura necessária para a exploração econômica da terra,
além de conflitos no campo entre os “sem-terras” e os grandes proprietários rurais e entre estes e
os indígenas das reservas, o que também revela um outro lado da história.
CAPÍTULO III - Pressupostos Metodológicos e a
Operacionalização da Pesquisa
70
3.1 Pressupostos metodológicos

As rápidas mudanças no uso e ocupação das terras como ação dos seres
humanos é objeto de constante discussão da Geografia. Atualmente o estudo dessas
mudanças conta com apoio de geotecnologias, as quais auxiliam na análise, sobretudo
espacial, para a compressão dessa dinâmica. Assim, o sensoriamento remoto tem se aliado
à ciência geográfica como suporte instrumental e oferecido elementos para o mapeamento
e registro das mudanças no uso do solo e no meio-ambiente em geral, procurando
subsidiar, melhorar ou sugerir planejamentos para o uso racional das terras, assim como
para delimitar áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.

Segundo Assad e Sano (1998), o monitoramento de uma região é o principal


fator para o planejamento racional, frente à velocidade de ocupação do espaço e dos
poucos conhecimentos existentes sobre os recursos naturais de uma dada área. Com isso,
os produtos do sensoriamento remoto são fundamentais para a aquisição de dados
primários de informação, como nos inventários para o gerenciamento da paisagem.

Como exposto anteriormente, o processo de ocupação do Bioma Cerrado


induz, na atualidade, à necessidade e prioridade de monitoramento desse bioma, para
auxiliar no planejamento e na sugestão de políticas para a conservação, preservação e
desenvolvimento sustentável na sua área da abrangência, em diferentes escalas, mas
principalmente nas de detalhe.

Os avanços das tecnologias espaciais, os dados e imagens obtidas pelos


sensores orbitais tornaram-se aliados particularmente no mapeamento da cobertura vegetal
e, conseqüentemente, dos remanescentes das coberturas nativas, como nesse caso, de
cerrado, pois possibilitaram o aprimoramento de métodos para obtenção de informações
ecológicas da vegetação e reconhecimento da distribuição dos diversos morfotipos de
vegetação em escala regional (MESQUITA JÚNIOR, 2002).

Ferreira et al., (2005) confirmam que o sensoriamento remoto tem se


manifestado como uma fonte contínua e regular para o monitoramento sistemático dos
biomas, com o processamento de imagens de satélite. O monitoramento do cerrado vem
+
sendo realizado por meio de imagens LANDSAT/ TM 5 e ETM7 como o trabalho de
Montovani (1998), SPOT/ HRV (mapeamento da cobertura vegetal da América do Sul,
realizado pela JRC - European Commission), MODIS como os trabalhos de Machado et
al., (2001) e Aguiar et al., (2005) e também com o uso de imagens CSBERS.
71
No entanto, o monitoramento desse bioma encontra vários obstáculos que se
relacionam principalmente à extensão territorial do Bioma, à acentuada sazonalidade das
fisionomias, à diversidade vegetal e fisiográfica e à rápida expansão agropecuária, pela
confusão espectral entre algumas classes de uso e de vegetação natural (SANO e
FERREIRA, 2005), o que requer obrigatoriamente a validação dos mapas em campo.

O tratamento das imagens de satélite dá se através de SIGs, definidos como


sistemas destinados ao tratamento automatizado de dados referenciados espacialmente
(NOVO, 1993). Segundo Rosa (1992), o desenvolvimento do SIG possibilitou a integração
e manipulação de vários dados e a construção de modelos que se modificam no tempo e no
espaço e possibilitaram a caracterização da fragmentação de uma paisagem fornecendo
valores quantitativos de extensão e distribuição espacial dos diferentes tipos de fragmentos
que compõem uma paisagem (VALENTE, 2001).

Valente (2001) afirma que a escolha da imagem e do sensor é uma etapa


essencial para o mapeamento vegetal. Assim, para a realização deste trabalho utilizou-se da
imagem LANDSAT ETM7+ de abril de 2003, nas órbitas/pontos 225/71, 225/72, 224/71,
224/72, 223/71, 223/72, cedidas pela Secretaria de Fazenda do Estado de Goiás, e do
sensor SRTM - Shuttle Radar Topography Mission imagens do acervo do LAPIG
(Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento).

O satélite da série Landsat TM (Thematic Mapper) melhorou as resoluções


espectral, espacial, temporal e radiométrica. O sensor deste satélite opera em sete bandas
espectrais, sendo três na faixa do visível, três na faixa do infravermelho refletido e uma na
região termal. A resolução espacial é de 30m x 30m, mas no Landsat 7, a banda
pancromática tem resolução espacial de 15m x 15m (MOREIRA, 2003).

Em 2000, a NASA lançou ao espaço um satélite intitulado de SRTM (Shuttle


Radar Topography Mission), com o objetivo de mapear 80% do globo terrestre, entre as
latitudes 54° Sul a 60° Norte, gerando modelos digitais do terreno por interferometria.
Estes dados foram coletados durante dez dias e foram obtidas informações suficientes a
respeito da topografia terrestre, com elevada precisão horizontal e vertical (MIRANDA,
2005).

Para o mapeamento de áreas vegetais, o uso de imagens coloridas tem se


mostrado mais eficaz, porque permite trabalhar com a resposta espectral de três bandas
simultaneamente, além de possibilitar ao pesquisador a discriminação das cores ao invés de
níveis de cinza. Os alvos mapeados na superfície terrestre interagem de maneira diferente
aos comprimentos de ondas da energia eletromagnética e podem apresentar resultados
72
diferentes nos níveis de radiação e o arranjo das cores dependerá da reflexão de cada banda
(OLIVEIRA, I., 2002).

Os produtos coloridos resultam da associação de cada banda a uma das cores


primárias (red, green e blue - RGB). Em imagens LANDSAT-TM e ETM são possíveis
realizar combinações com três bandas espectrais. As mais utilizadas para o mapeamento de
uso das terras são as bandas: a TM3 (faixa do vermelho) que permite o mapeamento de
áreas com vegetação, apresentando bom contraste entre as áreas ocupadas com vegetação
natural e as áreas antrópicas, além de apresentar bom contraste entre os diferentes tipos de
cobertura vegetal; a TM4 (faixa do infravermelho próximo) que permite o mapeamento da
vegetação densa e uniforme e a banda TM5 (faixa do infravermelho médio) que apresenta
sensibilidade ao teor de umidade das plantas (MOREIRA, 2003). Para mapeamentos de
uso da terra e vegetacionais é então recomendada a utilização da composição 5, 4, 3
(RGB), por apresentar uma semelhança entre as cores verdadeiras da paisagem (NOVO
1992; MIRANDA, 2005).

O mapeamento é expresso em forma de mapas e gráficos obtidos através do


processamento das imagens de satélite resultantes da classificação digital supervisionada
ou não supervisionada em softwares como ENVI (Environment for Visualizing Images) e o
SPRING (Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas). Na primeira
classificação, são utilizadas informações independentes para definir as categorias ou
classes temáticas, que são representadas pelas “assinaturas” espectrais dos alvos através de
amostras de pixels, obtidas em áreas conhecidas. Nas classificações não supervisionadas,
são consideradas para a classificação as propriedades estatísticas das imagens, as classes
são definidas automaticamente, mas o fotointérprete (analista), que pode indicar quais as
concentrações de pixel devem ser tratadas em grupos distintos, essa é a forma mais rápida
de classificação (MOREIRA, 2003).

Conforme já descrito no início do presente trabalho, a classificação do Bioma


Cerrado é baseada em critérios fisionômicos, composição de espécies e condicionantes
ambientais e atualmente, duas classificações vêm sendo bastante utilizadas em
mapeamentos desse bioma: a classificação do IBGE (1992) e a classificação proposta por
Ribeiro & Walter (1998), adotada neste trabalho.

A definição do mapeamento depende da natureza de cada estudo proposto,


podendo seguir critérios fisionômicos (quando são individualizados o porte e estrutura
espacial das comunidades vegetais), critérios florísticos (quando são individualizadas as
73
diferentes espécies) e critérios fitoecológicos (quando são associados parâmetros
ambientais da distribuição das comunidades) (PONZONI, 2001).

De acordo com Sano & Ferreira (2005), o mapeamento do uso da terra do


cerrado não deve se ater exclusivamente à utilização de métodos tradicionais de
classificação digital supervisionada ou não supervisionada de imagens, devido à influência
significativa e variada dos diferentes tipos de solos, condições topográficas e manejo de
solos sobre a resposta espectral da cobertura vegetal natural ou artificial. O uso de funções
de delimitação de polígonos, disponíveis na maioria dos softwares de processamento
digital de imagens, como o ENVI e o SPRING, são mais apropriados para a classificação
digital (MOREIRA, 2003 e SANO & FERREIRA, 2005).

A vegetação de Cerrado, de maneira geral, ocorre em áreas de relevo pouco


ondulado e pouco dissecado pela drenagem. A cor e a textura variam com a fitomassa dos
tipos de cerrado, apresentando, em geral, cor entre o cian e o verde pouco saturados, com
textura fina, mas não homogêneas.

Segundo Ferreira (2003), no caso do Bioma Cerrado, normalmente observa-se


confusão espectral entre as classes gramíneo-lenhosa e arbustiva (campo limpo e campo
sujo), como também nas classes arborescentes (campo cerrado e cerrado sensu sticto) o que
dificulta o mapeamento. A Figura 11 mostra a relação das diferentes visões de algumas das
fisionomias desse bioma.

Fonte:Einten,1978

Figura 11 - Identificação de fitofisionomias de Cerrado.


Fonte: FERREIRA, 2003.
74
A identificação, nas imagens de satélite, das formas fitofisiônomicas mais
abertas (formas campestres e arbustivas) ocorre junto com áreas de solo nu (usualmente
neste tipo de vegetação ocorrem pequenas porções de solo exposto em meio ao dossel da
vegetação). As áreas de vegetação queimada aparecem com coloração entre preto e
magenta e freqüentemente são visíveis às bordas deixadas pelas queimadas. As áreas
antropizadas aparecem na cor magenta pouco saturada ou bem claras, com pouca
contibuição da cor verde, e textura meio ou fina. Geralmente apresentam formato
geométrico definido, com presença de estradas e /ou caminhos (MONTOVANI &
PEREIRA, 2005).

A recomendação é para que a análise de imagens seja feita combinando-se as


técnicas de interpretação visual, digital e a validação em campo.

4.2. Etapas e procedimentos operacionais da pesquisa

Com base no exposto, as etapas realizadas da presente pesquisa são


apresentadas a seguir:

1º Etapa: Revisão Bibliográfica

Revisão Bibliográfica sobre o Bioma Cerrado, da área em estudo e do processo


de fragmentação da vegetação nos Estados de Goiás e Mato Grosso, atreladas ao processo
de apropriação e uso do espaço do Cerrado, sobretudo nas últimas quatro décadas, após a
chamada “Revolução Verde”. As técnicas utilizadas foram as usuais em pesquisa
bibliográfica (levantamento e seleção de fontes, leitura, fichamentos e elaboração de texto)
e serviram para a elaboração dos textos relativos ao uso e ocupação da área, de
caracterização do bioma e dos remanescentes.

Nesta etapa, foram realizados, ainda, levantamento das características do meio


físico da Alta Bacia, assim como revisão sobre as metodologias para interpretação de
imagens de satélite e para a identificação de fitofisionomias do Bioma Cerrado. Através
dessa revisão, optou-se por realizar a classificação por meio da segmentação de região que
aplicasse o classificador ISOEG, que agrupa as regiões através do grau de similaridade
entre elas (MOREIRA, 2003).
75
Durante esta etapa, foram coletados junto ao IBGE e SEPLAN-GO e SEPLAN
- MT, dados para a construção do perfil sócio-econômico da bacia, adotando-se o ano de
1970 para o início da coleta devido às referências nas bibliografias consultadas que
indicam essa década como a da intensificação do processo de ocupação da Alta Bacia.

2º Etapa: Produtos cartográficos

Junto à Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM) obteve-se


mapa hidrográfico e geológico da Alta Bacia (também chamada de Sub-bacia 24), em
escala de 1: 250.000. Esses mapas foram reprojetados para a projeção de Albers, que
mantém as relações de superfície, não havendo deformação da área. Esse mapa
hidrográfico serviu de base para a delimitação da bacia na imagem do SRTM (2000), e
para, posteriormente, a geração dos mapas clinográfico e hipsométrico na escala de
1:250.000, utilizando-se do software ENVI, ambos através da operação “Topografic”, na
qual foram atribuídos valores e classes para os pixels da imagem, de acordo com o produto
a ser gerado. Com base neles, foram elaborados os textos descritivos que compõem parte
da caracterização geral do meio físico.

O mapa de solos foi compilado da base cartográfica do RADAMBRASIL


1983, disponível em formato digital na escala de 1:250.000 no SIG- GOIÁS : Solos do
Estado de Goiás, e do Mapa Exploratório de Solos do Mato Grosso elaborado pelo
Programa de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso (PRODEAGRO)
e disponível no site do SEPLAN - MT. Eles foram reprojetados no software ArcMap e
transferidos para o ArcView GIS onde foram recortados no limite da bacia utilizando-se da
operação de “clip” disponível na extensão “GeoProcessing”. Posteriormente, eles, foram
tratados e adequados à nova nomenclatura de classes dos solos, com base na Classificação
Brasileira de Solos proposta pela EMBRAPA (1999).

Realizaram-se cálculos de áreas para os mapas de geologia e solos no software


ArcView GIS, que foram sumarizados em tabelas e gráficos no software Excel.

Não foi possível obter o mapa geomorfológico em formato digital, então


procedeu-se à digitalização das cartas SE-22 (Folha Goiânia) e SD-22 (Folha Goiás) no
software SPRING, após o processo de “escaneamento” e georreferenciamento das cartas.
Adotou-se a legenda proposta por Mamede (1983) nos relatórios e mapas. Após a
digitalização, foram realizados os cálculos de área para cada unidade. Posteriormente, ele
76
foi exportado no formato shapefille e importado para diretório no ArcView GIS, onde já
estavam os mapas de geologia e de solos. A montagem do mosaico com as órbitas/pontos,
já georreferenciadas da imagem ao limite da Alta Bacia foi realizado no software ENVI.

Inicialmente, o mapeamento da cobertura vegetal da bacia foi realizado no


software ENVI através de classificação supervisionada, na qual foram identificadas quatro
classes de uso: Mata e Floresta galeria, Cerrados/Campos abertos naturais, Pastagens
plantadas e Àreas agrícolas. Esta classificação foi gerada com uso do método de
“máximasemelhança”, disponível do ENVI 4.1, que reconhece o valor e característica de
cada pixel e atribui a ele uma classe. Esta classificação ofereceu um panorama da
distribuição dos remanescentes da área, mas demonstrou que ocorreram agrupamentos de
pixel pertencentes a outras classes. Em virtude de limitações computacionais, não foi
possível a vetorização desse mapa para a edição das classes.

No software SPRING, testou-se, para o setor sul da Alta Bacia, a classificação


segmentada por reconhecimento de regiões, o método mostrou-se eficaz, mas também
confirmou confusões espectrais entre as classes de campo limpo e campo sujo,
confirmando a necessidade do campo para a validação. No entanto, a classificação deste
software mostrou-se mais dinâmica para a correção e edição das áreas mapeadas e
classificadas, daí a sua escolha para a classificação final.

3º Etapa: Elaboração do Mapa de Uso da Terra e de Remanescentes

A classificação final do mapa de uso da terra e de remanescentes foi realizada a


partir da classificação segmentada por regiões, que utiliza como critérios de análise para a
classificação a informação espectral de cada pixel e relação deste entre seus vizinhos
(MOREIRA, 2003), assim, obedeceram-se às seguintes etapas:

! Importação da imagem da Alta Bacia para o software SPRING;

! Realização da segmentação por meio do crescimento de regiões: a imagem é


dividida em regiões espectralmente homogêneas. O segmentador calcula a
média, a variância e a textura, sendo que a agregação das regiões é feita por
critérios de similiaridade e de área que foram, para ambos, adotados o valor
de 10;
77
! Definição das classes de uso após análise dos parâmetros espaciais e
espectrais das imagens e obtidas as amostras de treinamento. Foram
consideradas para a interpretação fatores como cor, textura, forma e relevo,
assim foram identificadas áreas de uso antrópico (agricultura, pastagens,
solo exposto, áreas urbanas), de remanescentes (Cerradão, Cerrado Denso,
Campo Sujo, Campo Limpo Úmido, Cerrado Ralo, Cerrado Rupestre, Mata
Seca Decídua e Mata ciliar) e áreas de corpos d’água e não identificadas;

! Extração das regiões: extração de informações de média, variáveis na região


de cada banda;

! Classificação da imagem segmentada através do classificador ISOEG: é


definido o limiar de aceitação e as classes são ordenadas e agrupadas;

! Transformação da imagem gerada em modo matricial em um mapa vetorial;

! Verificação e edição das áreas mapeadas com a imagem. Neste processo


foram observadas inicialmente as classificações das áreas antrópicas: áreas
de cultura agrícola irrigada, culturas agrícolas irrigadas e áreas urbanas que
foram re-classificadas e redefinidas, quando necessária a correção,
utilizando-se da função da delimitação de polígonos. Para a edição das
classes de remanescentes contou-se com auxílio do mapa de uso da terra e
de fitofisionomias do Estado de Goiás, elaborado pela IMAGEM/WWF
(2004) e o Mapa de Uso da Terra de Mato Grosso elaborado pela
PRODEAGRO (1999), ambos em escala de 1: 250.000; devido a
sazonalidade das fisionomias de cerrado, utilizou-se também como material
de apoio imagem LADSAT de agosto de 2002;

! Cálculos de área de cada uso mapeado e sumarização dos resultados da


classificação em forma de tabelas, tratadas no software Excel;

Na definição e classificação das classes de uso e remanescentes foram necessários


alguns ajustes e agrupamentos, em virtude, especialmente, do tamanho da área e de
limitações computacionais. Assim, foram agrupadas:

! Áreas de agricultura temporária e permanente, assim como as áreas de


culturas irrigadas (pivôs) na Classe de Agricultura;

! A fisionomia associada aos córregos e rios da bacia foram todas


classificadas como mata ciliar. Em função da escala e métodos, não foi
78
possível a definição entre mata ciliar e mata galeria que segundo a
classificação de Ribeiro e Walter (1998) baseia-se fundamentalmente
em critérios florísticos;

! Áreas das fisionomias de Vereda foram classificadas e contabilizadas na


classe de Campo Limpo úmido; enquanto para a fisionomia de campo
Sujo, optou-se por não identificar seus sub-tipos.

! A classificação de áreas de Cerradão, Cerrado Denso e Mata Seca, por


apresentar semelhanças na resposta espectral, a atividade de campo
auxiliou na coleta de informações sobre o comportamento dessas classes
na imagem de satélite, contou-se ainda com o auxílio dos mapas de
vegetação, já descritos.

4º Etapa: Trabalho de Campo

Foram realizados dois trabalhos de campo com o objetivo de validar os


produtos cartográficos gerados em laboratório. O primeiro foi realizado de 01 a 02 de
agosto de 2005 (estação seca) no município de Mineiros (GO), no setor sul da Alta Bacia.
O trabalho contou com a colaboração do Engenheiro Florestal, Erides Campos Antunes,
que auxiliou na identificação fisionômica, composicional, e na distribuição dos
remanescentes presentes na área. E na confirmação do mapa de uso, já elaborado para
aquele setor, gerado na 2º Etapa.

Nesse trabalho, pôde-se comprovar o processo de fragmentação da vegetação e


os processos decorrentes do efeito de borda, além de algumas áreas de cerrado em
regeneração, assim como as variações das fitofisionomias no relevo.

O segundo trabalho de campo contou com o auxílio do bolsista do LAPIG-


IESA Raphael de Oliveira Borges a partir da elaboração do roteiro (Anexo 5) até a
atividade de campo que ocorreu entre os dias 14 e 18 de fevereiro de 2006 (estação úmida).
Ele foi realizado em áreas previamente selecionadas na imagem de satélite, para esclarecer
dúvidas de possíveis confusões espectrais, bem como para a validação do atual mapa de
uso e remanescentes já elaborado em laboratório.

Em campo, com auxílio do GPS (Global Positioning System) e das


quadrículas impressas da imagem de satélite das áreas selecionadas, foram percorridos os
79
pontos previstos e observadas as formas fisionômicas da vegetação remanescente e do uso
da terra e realizados registros através de anotações e fotografias.

Em ambos os trabalhos de campo, foram obtidas fotografias digitais para o


acervo da pesquisa. A montagem da legenda das fotos contou novamente com auxílio do
Engenheiro Floretal, Erides Campos Antunes.

Após o campo, com base nas informações recolhidas, foram realizadas


correções no mapa de uso da terra, no entanto, ainda prevaleceram confusões espectrais
entre a classe de campo sujo e áreas de pastagem em regeneração.

5º Etapa: Redefinição das Bacias

Finalizado o mapa de uso da terra e de remanescentes, observou-se a


necessidade de detalhamento da distribuição espacial e da fragmentação dos
remanescentes. Optou-se então, por uma sub-divisão da Alta Bacia do Rio Araguaia em
sub-bacias. A delimitação das sub-bacias obedeceu aos critérios propostos para a
delimitação de bacias hidrográficas: delimitação a partir das curvas de nível, traçando-se
uma linha divisora de águas que acompanha os pontos mais elevados da área em torno da
rede de drenagem considerada. Assim, a Alta Bacia foi dividida em cinco sub- bacias:

! Sub-Bacia 1: Compreende a região das nascentes do rio Araguaia e a bacia


do rio Babilônia, drena uma área de 4.423,06 km2, correspondendo a 7,3%
da Alta Bacia, aqui focada. Foi identificada como Cachoeira Grande, nome
atribuído pela CPRM (2001);

! Sub-Bacia 2: Identificada como sub-bacia do rio Peixes, corresponde a


22,4% da Alta Bacia, drenando uma área de 13.871,70 km2;

! Sub-Bacia 3: Corresponde à área de drenagem do Rio das Garças, localizada


em território mato-grossense, drena uma área de 16.360,57 km2 e representa
cerca de 29,5% da área da Alta Bacia.

! Sub-Bacia 4: Corresponde à área de drenagem do Rio Caiapó, representa


19,5% da Alta Bacia e está localizada dentro do lado goiano e drenando
uma área de 13.930,85 km2;
80
! Sub-Bacia 5: Também localizada em território goiano, corresponde à área
de drenagem do Rio Claro drena uma área de 13.798,22 km2 e corresponde
a 21,3% da Alta Bacia;

Sobre essas sub-bacias foram sobrepostos os mapas do meio físico e o mapa de


remanescentes. Com o uso da operação “clip” disponível no software ArcView Gis foram
recortados os dados do meio físico e de remanescentes da Alta Bacia para cada sub-bacia.
Em seguida, para cada sub-bacia, as áreas foram recalculadas e sumarizadas, para análise
quantitativa e espacial.

Essa sub-divisão mostrou-se bem viável, e pode, futuramente, transformar-se


em “micro” unidades de planejamento ambiental, que favoreça às políticas, tanto
econômicas quanto ambientais, voltadas para a Alta Bacia do rio Araguaia.

6º Etapa: Cruzamento das informações

O cruzamento dos mapas de remanescentes com os mapas de meio físico foi


realizado no ArcView GIS pela operação de “intersect” disponível no “GeoProcessing”.
Nessa operação, é gerada uma única tabela onde constam as classes do meio físico
selecionadas (solo ou litologias ou unidades geomorfológicas) e as áreas correspondentes
das classes de remanescentes. Estes dados foram transformados em novas tabelas e
gráficos que se encontram nesse trabalho. Devido a escala dos mapas do meio físico
(1:250.000) e predominância dos arenitos da Formação Aquidauana na geologia e da
unidade do Planalto dos Guimarães - Alcantilados, na geomorfologia, o cruzamento dos
remanescentes apresentou-se muito generalizado. Portanto, foi possível, apenas uma
análise deles com o mapa de solos.

7º Etapa: Interpretação final

Corresponde à discussão e interpretação dos resultados obtidos, com base na


análise dos produtos cartográficos e das tabelas e gráficos gerados durante a pesquisa e
aqui apresentados.
CAPÍTULO IV - A área de estudo
82
3.1-Características do meio físico

Como a localização e a situação geral da Alta Bacia do rio Araguaia já foram


apresentadas na Introdução, neste capítulo serão expostas cada uma das principais
características do meio físico.

3.1.1-Clima

A região dos Cerrados enquadra-se no tipo Aw - tropical quente sub-úmido,


segundo a classificação climática de Köppen, caracterizando-se por apresentar duas estações
bem definidas: uma seca que corresponde ao período outono-inverno, e outra úmida, na
primavera-verão, com chuvas que costumam ser muito fortes e de curta duração, não sendo
raras precipitações acima de 50mm/dia. A temperatura média é de 23ºC, podendo variar em
5ºC entre os meses frios e os mais quentes. Segundo Alho e Martins (1995), a precipitação
anual nos cerrados é de 1500 mm, dos quais 90% concentram-se de outubro a março.

Ramos (2003) ressaltou a presença de um epicentro de chuvas neste período, sobre


Alta Bacia, bem como alertou para o fato de que suas intensidades podem exceder 100mm/h-1,
concentradas especialmente ao final da estação chuvosa; também ressaltou que sob o
epicentro as médias pluviométricas anuais podem exceder 1600mm, portanto, acima da média
para o Estado de Goiás. Marinho (2003) identificou na microbacia por ele estudada (Córrego
Queixada) episódios que corroboram o constatado por Ramos (op.cit.), mas constatou as
intensidades de 50mm/h efetivos como suficientes para promover erosão hídrica.

Marinho e Castro (2003) identificaram o período inicial da noite (18 às 24 h)


como o preferencial dessas chuvas intensas, bem como que as chuvas erosivas correspondem
àquelas identificadas por Ramos (2003), e que tais processos ocorriam principalmente áreas
de pastagens, com vertentes longas, suavemente convexas ou mesmo retilíneas, de baixo
declive e desnível altimétrico, ocupadas com solos arenosos finos e submetidas a
desmatamentos relativamente recentes (a partir de 1980), com indícios de manejo inadequado
do rebanho (superpastoreio, falta de bebedores, etc.) e dos pastos (adubação, etc.).

A Alta Bacia apresenta três centros de maior pluviosidade e três de média (Figura
12). As maiores médias (entre 1700 e 1730 mm) são encontradas a oeste da bacia, e as
menores médias (1350-1400) são encontradas a leste e a norte da bacia (SANTANA,2006).
81
84
Durante a estação seca, a umidade relativa é baixa e a evaporação alta, sendo que a
precipitação pode ser zero em alguns meses. A precipitação durante o período chuvoso pode
ser irregular, havendo dias de chuvas intensas intercalados com períodos curtos de estiagem.

A região encontra-se sob a influência de centros de ações inter e extratropicais


positivos, através dos anticiclones do Atlântico Sul e migratório Polar, e dos negativos,
representados pelas depressões Amazônicas e do Chaco (CAMPOS et al., 2002).

Na bacia do rio Araguaia, as médias máximas oscilam em torno de 30ºC, com


máximas absolutas podendo atingir 40ºC em setembro e outubro, sendo que esta área registra
maiores temperaturas que as áreas circundantes. As médias mínimas posicionam-se entre
16ºC e 19ºC, com mínimas absolutas podendo chegar a 0ºC. O regime pluvial recebe
influência direta da circulação atmosférica regional (MONTEIRO, 1988) sem interferência
significativa do relevo sobre o regime das chuvas e sua distribuição espacial, que se faz de
maneira relativamente irregular (RAMOS, 2003).

O período chuvoso se estende de novembro a março, quando são registrados mais


de 80% do nível de todas as chuvas acumuladas no ano. O período seco estende-se de abril a
outubro, com máximo neste mês. (Figura 13). O índice pluviométrico médio mensal da bacia
é de 333,54 mm (período de chuvas) e de 6,3 mm (período de estiagem) (GEOGOIÁS, 2002).

Chuv a - Média Mensal - Alta Bacia


350,0

300,0

250,0

200,0

150,0

100,0

50,0

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
M eses

Figura 13 - Média total pluviométrica mensal de 28 estações dispersas pela área


(mm). Médias representadas das séries Históricas de 19 a 38 anos de dados. Dados
cedidos pela ANA.
Fonte: SANTANA, 2006.
85
3.1.2-Geologia

A área da Alta Bacia do Rio Araguaia está inserida em parte sobre a Bacia Sedimentar
do Paraná, em parte sobre a Província do Tocantins e ainda sobre coberturas recentes
inconsolidadas de textura argilosas a médias, de idade Cenozóica.

A bacia do Paraná foi formada, a partir de arqueamentos do embasamento, com


natureza erosiva estabelecida a partir do Devoniano Inferior ou do Siluriano. É
consideravelmente estável, dissociada de efeitos tectono - térmicos mais agudos, desenvolvida
totalmente sobre a crosta continental (IPT, 1981). Ocupa a porção norte, sul e oeste da área.

A Província do Tocantins é uma unidade geotectônica posicionada entre os crátons do


São Francisco e Amazônico, sua origem estaria relacionada à tectônica de placas; é
representada por terrenos de idades arquenas e neoproterozóicas. Esta província está
localizada na porção leste da Alta bacia, sendo representada pelo compartimento do Arco
Magmático de Goiás, através de seqüências vulcano-sedimentar e de granitóides (LACERDA
FILHO et al., 2000). O Quadro 01 apresenta as unidades litoestratigráficas identificadas na
Alta Bacia.
86
GEOCRONOLOGIA LITOESTRATIGRAFIA
Sub-

Época
Era Super- Símbolo
Período Complexo Grupo grupo/Formação/
Grupo s
Unidades
Qha
TQDL
CENOZÓICO

Quartenário
Qpa
Qpi

Terciário Cachoeirinha Tc

Marilia Km
NEO Bauru
MESOZÓICO

Adamantina Ka
Cretáceo
Iporá K^2
EO
Serra Geral Jksg
NEO
São Bento
Juro-Cretáceo MES Botucatu Jb
O
NEO Corumbatí Pc
Passa Dois
Permiano Iratí Pi
EO
Grupo Guatá Palermo Pp
PALEOZÓICO

Carbonífero Tubarão Itararé Aquidauna Cpa


NEO
MES Ponta Grossa Dpg
Devoniano Paraná
O
Furnas Sdf
Siluriano EO Vila Maria Svm
Ordoviciano Piranhas Op
Granitos pós- Suíte Intrusiva
Cambriano Ny3r
tectônicos Serra Negra
SUPERIOR

Granitos sin a
Suíte Rio Caiapó Ny2c
tarditectônios
Suíte Grabro-
Suíte Grabro-
Diorítica do Nssg
Diorítica
Sudoeste de Goiás
Suíte máfico
Ultramáfico tipo
pEbj
Americano do
PRÉ - CAMBRIANO

Proterozóico

Brasil
Ortognaisses do
Ngn
Oeste de Goiás
Ganitos pós
NEO Granitos tipo
tectonicos N 1ar
Aragoiana
Grupo Cuiabá Ncb
Grupo Serra Unidade A Msma
Dourada Unidade B Msmb
PALEO

Seqüência
Metavulcano Seqüência Anicuns
Pai
Sedimentar do Itaberaí
Arco de Goiás
Complexo
Granito Gnaisse
Arqueano Granítico- Agn
indiferenciado
Gnáissico
Quadro 1 - Sumário da Estratigrafia da área de estudo
Fonte: Baseado em SOUZA JUNIOR et.al. (1983).
87
A Tabela 06 indica a participação de cada litologia e a figura 14 a sua distribuição na
Alta bacia, como pode ser observado nelas (Tabela 06 e Figura 14) existe uma grande
diversidade de litologias na área em estudo. A predominância é da unidade da Formação
Aquidauana (41,2% de toda a Alta Bacia), distribuídas no sentido leste-oeste. As litologias
Pré-Cambrianas (21,47% da área total) encontram-se na porção leste e central da área.

Tabela 06 - Cálculo de área das litologias*

Área
Litologias
(%)
Formação Araguaia 2,36
Aluviões Holocênicas 0,19
Formação Cachoeirinha 1,04
Coberturas detríticas indiferenciadas 0,60
Formação Marília 0,67
Formação Adamantina 1,03
Grupo Iporá 0,10
Formação Serra Geral 1,65
Formação Botucatu 5,72
Formação Corumbataí 1,83
Formação Iratí 0,23
Formação Palermo 0,81
Formação Aquidauna 41,30
Formação Ponta Grossa 12,25
Formação Furnas 8,63
Formação Vila Maria 0,12
Formação Piranhas 0,04
Suíte Intrusiva Serra Negra 1,80
Suíte Rio Caiapó 1,01
Suíte gabro-diorítica do Sudoeste de Goiás 0,08
Sequência Máfica - Ultramáfica Tipo Americano do Brasil 0,08
Ortognaisses do Oeste de Goiás 8,88
Granitos sintectonicos Tipo Aragoiana 0,16
Grupo Cuiabá 0,67
Grupo Serra da Mesa (Unidade A e B) 0,11
Coberturas detrito-lateríticas Terço-Quartenárias 4,55
Sequências metavulcanossedimentares do Arco de Goiás 4,07
Granito-Gnáissico Indiferenciado 0,02
TOTAL 100
* Baseado no cálculo do mapa de geologia
88
89
As litologias do Pré-Cambriano são encontradas principalmente na Depressão do
Araguaia, na porção centro-leste da bacia, onde predomina a Suíte Gabro-diorítica do
Sudoeste de Goiás (Nssg), que representa 8,88% da Alta Bacia e caracteriza-se por apresentar
um conjunto de intrusões diferenciadas de natureza básica a intermediária e com composição
gabro-diorítica.

O Grupo Paraná é representado pelas Formações Vila Maria (Svm), Formações


Furnas (SDf) e Formação Ponta Grossa (Dpg), que juntas representam 21% da área da Alta
Bacia, estão localizados na porção central da bacia, sob o Planalto dos Guimarães e no
contanto deste com a Depressão do Araguaia. No contato da Formação Furnas com os
sedimentos da Formação Vila Maria formam-se cuestas (como as Serras de São João, Negra e
Taboca) ou morros testemunhos no contato com o embasamento cristalino (SOUZA JÚNIOR,
et al. 1983; LACERDA FILHO, et al. 2000).

Do Grupo Itararé (pertencente ao supergrupo Tubarão), destaca-se a Formação


Aquidauana (Cpa), que também é aquela que predomina em 41,5% da área da Alta Bacia do
rio Araguaia. Localiza-se principalmente com extensão leste-oeste sobre o Planalto dos
Guimarães.

Representante do Grupo Guatá, a Formação Palermo (Pp) (0,81% da área)


apresenta-se restrita a estreitas faixas na porção oeste da bacia, depositadas discordantemente
sobre a Formação Aquidauna.

O Grupo Passa Dois, representado pelas Formações Iratí (Pi) e Corumbataí (Pc),
corresponde somente a 2,06% da área, ocorre na porção setentrional da Bacia do Paraná, na
porção superior da Serra do Caiapó. Essas formações constituem-se de siltitos e arenitos finos
freqüentemente quebradiços (LACERDA FILHO, et al., 2000).

O Grupo São Bento é um conjunto de rochas com seqüências de pacotes arenosos


entremeados por derrames basálticos que são representados pelas Formações Botucatu (Jb) e
Serra Geral (JKsg). A primeira Formação corresponde a 5,72% da bacia e são comumente
recobertas por solos derivados dos arenitos (NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS)
predominando na porção sul da bacia, enquanto a segunda formação, que representa 1,65% da
área, ocorre em pequenas faixas na porção sul da área e a oeste sobre o Planalto dos
Guimarães.

O Grupo Iporá (K^2) restringe-se a pequenos pontos ao longo das Formações


Furnas e Ponta Grossa, localizadas na Depressão do Araguaia. É formado por rochas
90
plutônicas (granitóides, sienitos, piroxenitos e dioritos), rochas hipabissais (gabros, traquitos,
basaltos) e ainda rochas efusivas (MOREIRA, 1999).

O Grupo Bauru estabeleceu-se no Cretáceo com relações discordantes com as


demais unidades sotopostas do Grupo São Bento. Este Grupo possui sedimentação
predominantemente arenosa, depositada em ambiente continental, fluvial e lacustre, sendo
representado pela Formação Adamiantina (Kba), localizada a oeste e pela Formação Marilia
(Ka), que geralmente recobre as rochas da Formação Adamiantina.

A Formação Cachoeirinha (Tc) possui seus sedimentos estendidos sobre rochas


paleozóicas e mesozóicas dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e na área
encontra-se próxima às áreas de nascente do Araguaia e afluente do Babilônia. Esta formação
é descrita por ser composta de argilitos e arenitos com nível de conglomerados (CPRM,
2001). A cobertura Arenosa Indiferenciada (Qpi) está associada a uma fase de sedimentação
do período Pleistocênico. È constituída por areias finas a grossas, siltico-argilosa formam
terraços argilo-arenosos com cascalhos dispersos e níveis de material de transporte
ferrugizado. Foi identificada próxima a Cuesta do Caiapó.

A Formação Araguaia (QPa) é caracterizada por uma seqüência de sedimentos


continentais que formam uma grande superfície plana denominada de Superfície do
Araguaia. Esta formação assenta-se diretamente sobre rochas do embasamento cristalino,
sedimentos devonianos e corpos intrusivos de idade cretácea (LACERDA FILHO, et al.,
2000).

Nos topos e chapadas da Alta Bacia ocorrem as Coberturas Terço- Quartenárias


(TQdl) que se originaram através de aplanamento pós-triássico e contêm uma capa
sedimentar terço-quartenária de origem fluviolacustre semelhante aos sedimentos do Grupo
Bauru. Algumas manchas dessa cobertura Sedimentar Terciário-Quartenária se constituem
em um dos produtos finais dos diferentes estágios de aplainamento, aparecendo
conseqüentemente, nas margens de todas as unidades litológicas aflorantes (SOUZA JUNIOR
et al.,1983).

Os aluviões (QHa) são depósitos aluvionares caracterizados por sedimentos


inconsolidados, representados por areias, com níveis de cascalhos e lentes de materiais silto-
argilosos e turfas. Estão distribuídos nas planícies de inundação e ao longo das drenagens de
maior porte como as encontradas na bacia do Araguaia (LACERDA FILHO, et al., 2000).
91
3.1.3-Geomorfologia

Em relação aos aspectos geomorfológicos, a área da alta bacia encontra-se parte


sobre a unidade de relevo denominada de Planalto e Chapada da Bacia Sedimentar do Paraná
e parte sobre a unidade do Planalto Central Goiano. A primeira é representada por três
compartimentos: Planalto da Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná (18,3% da área),
Planalto dos Guimarães Alcantilados (55,8% da área) e Depressão do Araguaia com 16,6% da
área. A segunda está representada pelo Planalto Rebaixado de Goiânia (4,1% da área) e o
Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba (3,7% da área). Ao longo dos rios Bois, Claro e
nascentes do rio Araguaia são encontrados superfícies de Acumulação fluvial, que
correspondem a 1,5% da Alta Bacia. (Figura 15).

O Planalto da Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná compreende dois


compartimentos topográficos distintos: um mais elevado com cotas de 650 a 1000m de
altitude e outro com cotas de 350 a 650m. O primeiro se distribui irregularmente em meio ao
rebaixado e abrange a borda norte do planalto, assinalada pela cuesta do Caiapó e constitui-se
em unidade dispersora de drenagens que fluem para o Araguaia, Paraguai e Paraná
(MAMEDE et al., 1983), o limite superior do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do
Paraná, que abrange a borda norte da Serra do Caiapó o principal chapadão na área,
corresponde uma superfície pediplanada, de origem erosiva e forma tabular, que corta
litologias Cretáceas e Terciárias, constituindo um relevo residual.

Em seu limite superior (borda norte da Serra do Caiapó), apresenta superfície


sustentada por litologias pré-cambrianas, cretáceas e terciárias, configurando uma superfície
erosiva pediplanada de aspecto tabular. Nas áreas de dissecação que se estendem para ao
norte, ocorrem formas convexas, tabulares residuais, sendo os primeiros representados por
interflúvios alongados e suavizados, perpendiculares ao rio Araguaia e a segunda pelos
morros testemunhos.

O Planalto dos Guimarães (Alcantilados) está localizado a norte do Planalto


Setentrional sendo separado deste pelo front da cuesta do Caiapó. Ele representa a depressão
periférica desta referida cuesta e mantém, ao norte, contato com a Depressão do Araguaia.
Esse planalto é modelado em rochas Paleozóicas das Formações Furnas, Ponta Grossa e
Aquidauana da Bacia Sedimentar do Paraná. Sobre esta unidade predominam relevos suaves
do tipo tabular, com formas muito amplas, as formas mais dissecadas, convexas e tabulares ou
se encontram nas áreas de contato com a Depressão do Araguaia ou compartimento mais
92
93
elevado (MAMEDE et al., 1983). As características desta unidade refletem as litologias e os
solos existentes na área: quando o relevo é mais dissecado, afloram rochas areníticas da
Formação Botucatu e grandes manchas de NEOSSOLOS Quartzarênicos; nos sedimentos
terciários o relevo é muito suave e se desenvolve o LATOSSOLO Vermelho.

Ainda, encontra-se profundamente erodido, abrigando uma rede de drenagem de


vales profundos. Apresenta dois compartimentos distintos: um superior com altitudes que
variam de 500 a 700m e o inferior com cotas de 400 a 500m. O compartimento elevado é o
mais dissecado e ruiniforme, encontrando-se separado por dois segmentos devido à
penetração de um compartimento rebaixado do vale do rio Araguaia. (MAMEDE et
al.,1983),este é caracterizado por relevos mediana a fortemente dissecados que transicionam
para a Depressão do Araguaia. As formas mais dissecadas encontram-se em uma estrutura
circular erodida, tradicionalmente referida como “Domo de Araguainha” (IPT,1998), cuja
gênese foi bastante discutida entre os pesquisadores que, ora a consideravam como uma
estrutura dômica circular decorrente de intrusões ígneas, ora como uma estrutura em forma
circular decorrente do choque de um meteorito – um astroblema, sendo esta a mais aceita e
difundida (MOREIRA,1999).

As maiores altitudes do Planalto dos Guimarães (Alcantilados) são encontradas


por volta de 1.000 metros na Serra do Caiapó. Em toda esta unidade são encontrados paredões
abruptos de rochas areníticas e cor vermelha (características da Formação Aquidauna).

A Depressão do Araguaia desenvolve-se, segundo Mamede et al., (1983), sob uma


variedade de rochas pré-cambrianas do Complexo Goiano e com uma grande extensão de
cobertura detrítico-laterítica e depósitos aluvionares e coluvionares pleistocênicos. Já segundo
Moreira (1977), a Depressão do Araguaia constitui-se em uma unidade resultante dos
elementos de erosão e acumulação que atuaram num clima Tropical de Savana com chuvas
torrenciais concentradas. Sob o aspecto morfológico, a paisagem define-se por uma extensa
superfície aplainada que se mantém entre 200 e 300 m de altitude, sendo limitada por
unidades mais elevadas, o que lhe confere o papel de um imenso corredor, compartilhando o
espaço com a Planície do Bananal.

Encontra-se suavemente dissecada em formas tabulares e convexas e foi elaborada


sobre litologias diferenciadas. Um dos aspectos que mais chama a atenção no relevo da
depressão é a rede de drenagem, com sua extensa e contínua deposição fluvial ao longo de
todos os rios principais, originando planícies e terraços, muitas vezes associados
(NASCIMENTO, 1992).
94
A porção leste da bacia está localizada sobre a unidade, segundo Mamede et al.,
(1983), do Planalto Rebaixado de Goiânia (uma sub-unidade do Planalto Central Goiano) que
se apresenta como uma área de transição entre o Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e o
Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba.

Esta unidade caracteriza-se por apresentar um vasto planalto rebaixado e


dissecado, com formas amplas e interflúvios variando de 1.750 a 3.700m. Está esculpido em
litologias do Pré-Cambriano. A área em estudo está representada por litologias dos gnaisses e
granitos arqueanos do Complexo Goiano.

O Planalto do Alto Tocantins- Paranaíba encontra-se em faixas a leste da bacia e


limita-se com a Depressão do Araguaia. Essa unidade possui formas bastante dissecadas
apresentando topo aguçado, convexos e alguns tabulares. Está modelado em granitos pós-
tectônicos e em suíte gabro-diorítica.

A declividade da área em estudo varia de 0-3 a 45% (Figura 16), onde:

! 0 - 3% são áreas predominantemente (23,8%) e locais de pouca energia de


escoamento superficial;

! 3 - 6 % - ocupam 17,5% da área e são locais um pouco mais dissecados que


as anteriores;

! 6 - 13% áreas um pouco mais íngremes e com maior escoamento superficial,


representam 7,7 % da área;

! 13 - 20% ocupam 1,6 % da área e está associada às bordas escarpadas, com


alto grau de dissecação;

! 20 – 45 e > 45% - 0,45 % da área e estão localizadas nas porções mais


elevadas da bacia; apresenta alto grau de declividade e dissecação.

A análise das curvas de nível demonstrou a ocorrência de nove classes


altimétricas (Figura 17): 200-300, 300-400, 400-500, 500 -600, 600-700, 700-800, 800-900,
900-1000 e 1000-1100 m. São encontrados em todos os compartimentos geomorfológicos.

As classes de 1000-1100 foram identificadas na porção leste da bacia, sobre a


Serra Dourada e em algumas áreas na Serra do Caiapó.

No Planalto da Bacia Sedimentar do Paraná, predominam as classes de 700-800


m. As classes de 800 a 1000 m são observadas na borda deste compartimento e na Serra do
Caiapó e onde são encontradas coberturas Terço - Quartenárias.
95
96
97
As classes de 600 a 700 m predominam sobre o Planalto dos Guimarães
(Alcantilados) e as classes de 400-500 m acompanham o vale do Rio Araguaia e alguns de
seus principais afluentes como os rios Claro (GO), Bois (GO) e Garças (MT).

Sobre a Depressão do Araguaia são encontradas as classes de 200 a 400 m onde as


litologias variam entre coberturas cenozóicas e arenitos com intercalações de silte da
Formação Aquidauna.

3.1.4-Solos

No que se refere aos solos, de acordo com Novaes et al., (1983), adaptando-se a
nomenclatura à classificação da EMBRAPA (1999), estão presentes na área as classes de
LATOSSOLOS (LATOSSOLOS Vermelho e LATOSSOLOS Vermelho-Amarelo), os
NEOSSOLOS (NEOSSOLOS Quartzarênicos, NEOSSOLOS Litólicos e NEOSSOLOS
Quartzarênicos hidromórficos) e, em porções mais restritas, os ARGISSOLOS
(ARGISSOLOS Vermelho-Amarelo), os NITOSSOLOS (NITOSSOLO VERMELHO
eutrófico e distrófico), os CAMBISSOLOS, GLEISSOLOS, PLINTOSSOLOS e
ORGANOSSOLOS (Tabela 07). A figura 18 resulta de compilação dessas classes com base
no mapa de solos da AGIM (2001) para ao Estado de Goiás e o mapa exploratório de solos do
Mato Grosso (PRODEAGRO, 1995), adaptados para ao presente trabalho, como exposto no
capítulo anterior (Capítulo III).

Tabela 07 - Cálculo de área dos solos*.

Área
Classes de Solos
(%)
NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS 22,6
ARGISSOLOS VERMELHO-AMARELO 22,17
LATOSSOLOS VERMELHO 16,4
LATOSSOLOS VERMELHO AMARELO 10,9
CAMBISSOLOS 16,6
NEOSSOLOS LITÓLICO 8,4
NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS hidromórfico 0,89
GLEISSOLOS 0,6
NITOSSOLOS VERMELHO 1,02
PLINTOSSOLOS ARGILÚVICO 0,27
ORGANOSSOLOS 0,15
TOTAL 100
* Baseado no cálculo de área do mapa de solos (Ver figura 18).
98
99
Dominam, na área, a classe dos NEOSSOLOS (31,98%) onde se destacam os
Quartzarênicos e Quartzarênicos hidromórficos, seguidos dos LATOSSOLOS correspondem
a 26,6%; os ARGISSOLOS (22,01%) em especial dos álicos e distróficos; os
CAMBISSOLOS cerca de 16,57% e os demais ocupam cerca de 2,04% da área.

Os NEOSSOLOS são caracterizados como solos minerais, casualmente orgânicos


na superfície, não apresentam qualquer tipo de horizonte B diagnóstico. São pouco espessos,
com pequena expressão dos processos pedogenéticos em conseqüência da baixa intensidade
de atuação destes processos. Possuem seqüência de horizonte A-R, A-C-R, A-C, O-R ou H-C
(EMBRAPA, 1999).

! Os NEOSSOLOS Quartzarênicos álicos (4,7 %) e distróficos (17,94 %)


apresentam seqüência de horizontes A-C, com textura areia ou areia franca.
Por serem solos arenosos (pouco coesos) e profundos, a permeabilidade é
relativamente alta, o que favorece a infiltração das águas pluviais. O baixo teor
de argila facilita a remoção de partículas de areias em pequenos fluxos
concentrados, sobretudo quando desprovidos de cobertura vegetal. Os álicos
predominam no setor sul da alta bacia e em manchas nas porções noroeste,
sudoeste da bacia; os distróficos apresentam maior expressão na bacia do Rio
das Garças.

! Os NEOSSOLOS Litólicos eutróficos (0,10 %), distróficos (6,1 %) e


álicos (2,2 %) são solos minerais, rasos e pouco desenvolvidos e com ausência
de lençol freático. Onde há afloramento de rocha, muitas vezes estes solos
estão presentes (RESENDE, 2002). Possuem horizonte A ou hístico com
menos de 40 cm de espessura assentados diretamente sob a rocha ou dos
horizontes C ou Cr. Localizam-se em áreas de declive acentuado, que atrelado
a suas características morfológicas favorecem o desenvolvimento de ravinas
(EMBRAPA, 1999). São comuns na zona escarpada. Os eutróficos originam-se
sobre basalto da Serra Geral, de arenitos do Grupo Bauru e do Pré-Cambriano
Indiferenciado e da Formação Aquidauna.

! Os NEOSSOLOS Quartzarênicos hidromórficos (0,89%) são solos


minerais, arenoquartzosos, que apresentam lençol freático elevado durante boa
parte do ano, são imperfeitamente ou mal drenados podendo apresentar
horizonte H hístico; ocorrem no fundo de vale do rio Araguaia e de seus
maiores afluentes.
100
Os LATOSSOLOS são solos minerais, com horizonte B latossólico, com pouca
diferenciação entre seus horizontes. Originados de variados tipos de rochas, clima e tipos
vegetacionais. São solos profundos, bem evoluídos e intemperizados, distribuídos
principalmente por amplas e antigas superfícies de erosão, pedimentos ou terraços fluviais
antigos, variando de forte a bem drenados. Possuem baixa saturação por bases, são ácidos a
fortemente ácidos. (EMBRAPA, 1999)

Segundo Oliveira (2001), a textura varia desde franco-arenosa (16% de argila) até
menos argilosa (> 80% de argila), o que reflete variada capacidade de retenção de água.
Aqueles que apresentam baixo teor de argila (<15%) são considerados com menor aptidão
agrícola.

Morfologicamente, estes solos não são suscetíveis ao desenvolvimento de erosões,


no entanto, o manejo e o uso inadequados podem provocar sua compactação, que, por sua vez,
promove a diminuição da porosidade e da permeabilidade, propiciando o escoamento
subsuperficial concentrado das águas pluviais e, conseqüentemente, erosão.

! Os LATOSSOLOS VERMELHOS álicos (2,13 % da área, localizados


principalmente na bacia do Rio Babilônia e na porção central da bacia) e os
distróficos (14,27 % da área, localizado nas áreas tabulares do setor sul da alta
bacia e em manchas na porção central da área e nas nascentes do Rio Caiapó e
ao logo do Rio Claro) apresentam matiz 2,5 YR ou mais vermelho na maior
parte dos primeiros 100cm do horizonte B. Apresentam textura média a
argilosa, situando-se em declives suaves, o que permite facilmente a
mecanização agrícola. Nos solos álicos, o potencial nutricional é bem reduzido
devido à barreira química do alumínio.

! Os LATOSSOLOS VERMELHO Amarelos distróficos (10,9 % da


área) são encontrados em manchas na porção central e noroeste da bacia e ao
longo da planície aluvial do Araguaia, correlacionando-se com coberturas
terciárias da Depressão do Araguaia. Apresentam o matiz 5YR na maior parte
dos primeiros 100 cm do horizonte B. São solos pouco coesos e de textura
média e teores não raro expressos de argila dispersiva o que permite a remoção
das partículas por escoamento das águas pluviais e o desenvolvimento de
processos erosivos quando relacionados a uso e manejo incorretos.

Os ARGISSOLOS VERMELHOS álicos (2,84 % da área), eutróficos (6,04 % da


área) e distróficos (13,28 % da área) são solos bem evoluídos, minerais, não hidromórficos
que apresentam pequeno gradiente textural em profundidade e evidência de movimentação de
101
argila do horizonte A para o horizonte B, sendo esta (argila) de baixa atividade, e geralmente
apresentando um horizonte B textural. A textura varia de arenosa a argilosa no horizonte A e
de média a muito argilosa no horizonte B. Apresentam cor no matiz 2,5YR ou 10R nos
primeiros 100 cm do horizonte B. Apresentam profundidades variáveis, sendo fortemente
drenados, com proporções ligeiramente maiores de silte e de minerais pouco resistentes ao
intemperismo, quando comparado aos Latossolos, as cores dos horizontes variam entre
avermelhadas ou amareladas e brumadas ou acinzentadas (mais raramente) (EMBRAPA,
1999).

São solos suscetíveis ao desenvolvimento de ravinas e voçorocas, que se


desenvolvem em função do uso e ocupação. Localizam-se em terrenos com certa declividade,
na área; os álicos são encontrados na porção sudoeste, enquanto os distróficos na porção
central e os eutróficos a leste da bacia.

Os CAMBISSOLOS álicos (10,3 %), distróficos (5,6 %) e eutróficos (0,7 %),


compreendem solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B incipiente subjacente a
horizonte A de qualquer tipo, excluído o chernozêmico quando a argila do horizonte B é de
atividade alta. O horizonte B incipiente apresenta textura franco-arenosa ou mais argilosa, e o
solum apresenta teores uniformes de argila. Devido à heterogeneidade do material de origem,
das formas de relevo e das condições climáticas, as características destes solos variam. São
solos em geral bem drenados, pouco profundos ou rasos e com teores de silte relativamente
elevados. Apresentam seqüência de horizontes do tipo A, Bi, C, com modesta diferenciação
entre eles. (EMBRAPA, 1999). Estes solos também são comuns em zonas escarpadas, que
permite a concentração de águas pluviais. São encontrados, então, sobre o Planalto dos
Guimarães sobre a Serra do Caiapó.

Os NITOSSOLOS VERMELHOS eutróficos (0,64 %) e distróficos (0,38 %) são


solos minerais com horizonte B nítico de argila de baixa atividade, apresentam textura
argilosa ou muito argilosa com estrutura em blocos subangulares, angulares ou prismáticas.
São solos ácidos a ácidos saturados por bases baixas a alta, com composição caulinítico -
óxidica e, por conseguinte argila de baixa atividade (EMBRAPA, 1999).

Os GLEISSOLOS (0,6 %) são solos hidromórficos, com horizonte glei dentro dos
50 cm da superfície do solo. Desenvolvem-se em materiais inconsolidados influenciados por
encharcamento prolongado (devido ao lençol freático), que provoca saturação do perfil.
Possuem fertilidade bastante variada, podendo ser aproveitados para a agricultura quando
corrigidos os excessos d’água e acidez do solo (LEPSCH, 2002). Ocorrem nas planícies
inundáveis, como a presente na Depressão do Araguaia, e em zonas de nascentes de veredas.
102
Sua coloração acinzentada, azulada ou esverdeada ocorre devido à deficiência ou até mesmo
ausência de oxigênio (BARBALHO, 2002).

Os PLINTOSSOLOS (0,27 % da área) são solos minerais, formados sob


condições de restrição à percolação da água, sujeitos ao efeito temporário de excesso de
umidade, de maneira geral imperfeitamente ou mal drenados que apresentam expressiva
plintitização. Apresentam coloração pálida ou variegada. São solos ácidos com baixa
saturação em bases, mas podendo ocorrer, também, solos com saturação média a alta de
bases, a textura é variável ocorrendo de média a muito argilosa, sendo que a parte superficial
na maioria das vezes apresenta textura mais leve (EMBRAPA, 1999). Originam-se de
sedimentos quartenários e ocupam parte da Depressão do Araguaia.

Os ORGANOSSOLOS são solos pouco evoluídos, constituídos por material


orgânico proveniente da acumulação de restos vegetais (em decomposição); possuem
coloração preta, cinzenta muito escura ou marrom e contêm elevados teores de carbono
orgânico. São solos fortemente ácidos com alta capacidade de troca de cátions e baixa
saturação por bases, com esporádicas ocorrências de saturação média ou alta. Apresentam
horizonte H ou O hístico sobre camadas orgânicas constituídas por material orgânico, mas
podem apresentar também um horizonte sulfúrico, materiais sulfdídricos e caráter sálico.
Ocorrem geralmente em áreas de baixas de várzeas, depressão e locais surgentes, sob
vegetação hidrófila ou higrófila, quer do tipo campestre ou florestal; em áreas saturadas por
água em períodos chuvosos (menos de 30 dias) em ambientes úmidos de altitude elevada.
(EMBRAPA, 1999).

3.2. Ocupação e Uso da Terra

3.2.1. Ocupação

A bacia do rio Araguaia se constitui no Estado de Goiás, em uma das


representantes das transformações sócio-econômicas sofridas pelo Cerrado, que se
intensificaram, sobretudo, a partir das décadas de 1960 e 70, como já relatado. Analisando-se
os históricos de formação dos municípios nela inseridos (no todo ou em parte), cerca de 90%
se formaram em função da descoberta de jazidas de diamantes no vale dos rios Araguaia e
Barra das Garças nos séculos XVIII e XIX. (Anexo 5).
103
Segundo Franco (2003), durante cem anos (1870-1960) a bacia do rio Araguaia
não foi contemplada com programas ou projetos para seu desenvolvimento. Os primeiros
financiamentos ocorreram na década de 60 com programas de colonização, como a da
Colônia Agrícola de Uvá e da instalação da Fundação Brasil Central, com base em
Aragarças/GO. No entanto, esta fundação contribuiu mais para o desenvolvimento da região
do Xingu no Estado de Mato Grosso.

Os programas voltados diretamente para a bacia ficaram a cargo do


POLOCENTRO, em regiões específicas localizadas abaixo dos municípios de Aragarças,
Bom Jardim e Piranhas (Pólo Piranhas) e dos municípios de Caiapônia, Mineiros, Santa Rita
do Araguaia e Baliza (Pólo Rio Verde). Este programa influenciou a produção pecuária e
também a produção de grãos, especialmente o cultivo da soja, devido, principalmente, ao
crédito rural, que também promoveu o crescimento demográfico da área.

Os dados do censo mostram que a população urbana cresceu cerca de 20 % sobre


a rural, a partir da década de 70 e continuou crescendo até o último censo (Figura 19). Essa
característica não se refere somente à bacia do Araguaia, mas a todo Centro-Oeste. Segundo
Estevam (1993), o crédito rural (e todos seus produtos) foi o principal responsável por este
fato.

Evolução da população na Alta Bacia do


Rio Araguaia

350000
300000
250000
200000 Urbana
150000 Rural
100000
50000
0
1970 1980 1991 2000

Figura 19 - Evolução da população urbana e rural na Alta Bacia do Rio Araguaia.


Fonte: Censos Demográficos 1970/1980/1996 e SEPLAN GO/MT, 2000.

De acordo com Franco (2003), a corrente migratória para a bacia do Araguaia


possivelmente iniciou-se a partir de 1950 e 1960 por meio da abertura das rodovias, mas
somente a partir da década de 70, com os migrantes vindos do sul é que a fronteira agrícola
realmente começou a produzir e transformar a bacia. Através dos incentivos dos Planos de
104
Desenvolvimento e Integração Nacional promovidos pelo Governo Federal, já discutidos no
Capítulo II, estes municípios tiveram seu desenvolvimento fundados na atividade de pecuária.

Os dados apresentados pelo censo confirmam esta interpretação. O alto índice de


crescimento do efetivo de bovinos entre 1970 e 1996 foi de 98%, mas se observa um
decréscimo de 25% para o ano de 2000 (Figura 20).

Evolução do Nº de Bovinos na Alta Bacia do Rio


Araguaia

10000000

8000000
1970
6000000 1980
4000000 1996
2000000 2000
0
BOVINOS

Figura 20 - Evolução no número de bovinos na alta bacia do Rio Araguaia.


Fonte: Censos Agropecuários 1970/1980/1996 e SEPLAN GO/MT, 2000.

A Figura 21 representa a evolução do uso da terra da Alta Bacia entre 1970 e


1996, composta com base em dados dos censos agropecuários do IBGE dos municípios
inseridos nesta bacia. Ela indica que as pastagens naturais foram reduzidas, em oposição às
pastagens plantadas. As matas naturais reduziram fortemente entre 1970 e 1980, voltando a
crescer em 1996 (fato que os próprios dados do IBGE não explicam). As lavouras
apresentaram um crescimento de 26,6%, devido ao aumento na produtividade das culturas
temporárias da soja e do algodão.
105

Erro! Vínculo não válido.


Figura 21 - Evolução do uso da terra na alta bacia do Rio Araguaia.
Fonte: Censos Agropecuários 1970,1980 e 1996.

No entanto, a análise histórica da cobertura vegetal da bacia em estudo indica que


a atividade pecuária é considerada como responsável pela vegetação nativa, bem como em
outras bacias que dominam a área do Bioma Cerrado. Mas, é na bacia do Araguaia, que é
mais notável no conjunto, a qual se somada à bacia do Tocantins alcança mais de 4500 ha,
onde a agricultura é inexpressiva, no que se refere a antropização, para os desmatamentos
recentes (Figura 22). Isto a caracteriza como de maior taxa de desmatamentos dentre as três
para implantação de pecuária.

Autorizações concedidas para desmatamentos, por bacias hidrográficas e


tipo de atividade econômica, Goiás - 2001

35.000,00
30.000,00
25.000,00
Área (ha)

20.000,00
Pecuária
15.000,00
Agricultura
10.000,00
Agropecuária
5.000,00
M ineração
0,00
T ocantins Paranaíba Araguaia Extração de madeira

Bacias Hidrográficas

Figura 22 - Autorizações concedidas para desmatamento, por bacia hidrográfica e


tipo de atividade econômica, Goiás-2001. Fonte: adaptado de GEOGOIÁS, 2002.

Os municípios de Caiapônia e Mineiros (pertencentes à bacia do lado goiano)


apresentam as maiores taxas de desmatamentos, segundo o SIAD, com 3669 e 1776,5
hectares respectivamente (FERREIRA et al., 2005).

Estudos realizados para o setor sul da área em estudo revelaram que o processo de
ocupação agropecuária intensivo acabou por atingir também áreas com solos frágeis e de
baixa aptidão agrícola para práticas culturais intensivas e moderadas para pastagens. A
fragilidade restringe-se principalmente aos interflúvios amplos, convexizados, de longas
vertentes, como os NEOSSOLOS Quartzarênicos (ex - Areias Quartzosas), ocupados com
pastagens formadas (em geral Bracchiara), degradada por trilheiros, falta de bebedouros e
super-pastoreiro de gado bovino para o corte. Tal é a situação da imensa zona rebaixada que
106
contorna os contrafortes da Serra de Caiapó, nos municípios de Mineiros, Santa Rita do
Araguaia, em Goiás e Alto Araguaia e Alto Taquari no Mato Grosso.

Barbalho (2003) e Xavier (2003), estudando esse setor sul da Alta Bacia, onde o
uso agropecuário das terras extrapolou os topos das chapadas rumo a zona rebaixada,
destacaram que os processos erosivos (ravinas e boçorocas) de médio e grande porte se
intensificaram após a década de 70, posicionando-se em setores onde também há forte
discrepância entre a capacidade de uso e uso atual das terras. Oliveira & Castro (2005)
também ressaltaram a presença de erosão laminar nessa mesma zona rebaixada.

Medeiros (2002), estudando a estrutura fundiária dessa mesma área, constatou


concentração fundiária, tal como os historiadores e geógrafos têm relatado para a região do
Cerrado e anteriormente exposto. Segundo a autora, é também nessas propriedades que
concentram os focos erosivos de médio a grandes portes relacionados ao descumprimento da
legislação ambiental (APPs).

Estudos realizados para essa região, também conhecida como nascentes do rio
Araguaia (CASTRO, XAVIER e BARBALHO, 2004; CASTRO, XAVIER, 2004, inédito),
com base em levantamentos das erosões citadas, mostram que a maioria surgiu na década de
1980, cerca de 6 a 7 anos após a implementação das políticas federais (POLOCENTRO) de
apropriação rápida, intensiva e indiscriminada do Cerrado, iniciada em 1975, como já
exposto, sem as devidas práticas conservasionistas e sob riscos climáticos dada a presença de
epicentros de chuvas nessa área. (RAMOS, 2003; MARINHO, 2003).

Matias (1999), analisando a evolução do uso do solo nos anos de 1976 e 1998
(para o setor norte e sul da alta bacia, excluindo a bacia do Rio Babilônia), correspondendo a
cerca de 3000km2, constatou que cerca de 36% da vegetação nativa existente foi retirada no
período e substituída pela agropecuária (Tabela 08), restando poucos vestígios de vegetação
original.

Tabela 08 – Uso do Solo 1976-1998 do Setor sul da Alta bacia do Rio Araguaia, excluída a
sub-bacia do rio Babilônia.

Tipos de Uso do Solo 1976 1998


km² % Km² %
Vegetação Nativa 1415 53,7 464 17,6
Pastagem Natural 781 29,6 390 14,8
Agropecuária
441 16,7 1783 67,6
Motomecanizada
TOTAL 2637 100% 2637 100%
Fonte: Matias In: Campos, 2001.
107
Faria (2001), apenas para o setor Sul dessa mesma bacia, metade da área estudada
por Matias (1999), calculou em 70% a taxa de desmatamento, mas constatou também a
presença de algumas áreas que ele interpretou como de regeneração, provavelmente natural
(não induzida), mas o autor trabalhou com apenas uma data de imagem de satélite, de estação
chuvosa, o que pode significar na verdade efeito da sazonalidade típica de cerrado.

Já Barbalho (2002), calculou em 44,2% a cobertura vegetal natural nesse mesmo


setor sul da referida bacia (Tabela 09), o que resulta em 55,8% de desmatamento. Chamou a
atenção para o fato de que a maioria das terras com remanescentes contínuos do Cerrado
encontram-se do lado goiano, sucedendo-se as pastagens, dando-se o inverso do lado mato-
grossense, onde a agricultura cobre a parte mais significativa da área. A autora também
chamou a atenção para a notável concentração dos focos erosivos lineares nas áreas com
agropecuária, destacando-se as pastagens.

Tabela 09 - Cálculo de área de uso e ocupação da terra e ocorrências erosivas

Vegetação Área Ocorrências Erosivas Lineares


km² (%) (%)
Mata ciliar 120,00 7,91 0 0,00
Campo limpo úmido 32,99 2,18 0 0,00
Cerrado denso 268,78 17,72 3 3,30
Cerrado ralo 248,62 16,39 3 3,30
Agricultura 509,63 33,60 33 36,36
Pastagem 334,43 22,05 52 57,14
Cidade 2,26 0,15 0,00
Total 1.516,71 100,00 91 100,00
Fonte: Barbalho et al., 2001.

Somando-se as porcentagens dos graus de discrepância máximas, muito alto e alto


entre a capacidade de uso das terras e o uso real, o total alcança 71,19% (Tabela 10) onde se
destaca quase a metade do total da área no grau alto (BARBALHO, 2002), corroborando o
exposto no início deste trabalho.

Tabela 10 - Grau de discrepância

Grau de Área Área


discrepância (km2) (%)
Máximo 196,79 12,98
Muito Alto 252,58 16,65
Alto 630,35 41,56
Nulo 436,86 28,81
Total 1.516,58 100
Fonte: Barbalho, 2002.
108
Observações preliminares feitas recentemente no setor das nascentes dos rios
Araguaia e Araguainha, com cerca de apenas 300 km2 de área, quando comparadas às
mapeadas apresentadas no Atlas Geoambiental dessa mesma área (CASTRO, XAVIER e
BARBALHO, 2004), permitem constatar ainda, que áreas degradadas em zonas escarpadas,
bem como em bordas de chapadas (Serra do Caiapó) têm sido revegetadas espontaneamente e
que outras nas colinas amplas rebaixadas antes usadas como pastos, tem sido alvo de manejo
voltado à recuperação (terraceamento com curvas de nível revegetadas com gramíneas) e
submetida a práticas agrícolas, especialmente soja/sorgo-milheto-milho, além de revegetação
de áreas de contribuição de voçorocas (FIMES, s/d).

Isto sugere que os proprietários rurais (em geral de grandes propriedades) estariam
mais atentos ao combate de erosões (ravinas e voçorocas) e dos grandes areais em suas áreas
de contribuição. Mas, nada se constatou em relação às reservas legais, várias delas averbadas
em áreas de preservação permanente (MEDEIROS, 2002; FARIA, 2001).

Os remanescentes da vegetação nativa na área da bacia do rio Araguaia se


mostram bem pulverizados e variados de acordo com usos empregados em cada município.
Atualmente, encontram-se restritos a fragmentos de cerrado, raramente grandes, a pequenas
áreas com veredas e a alguns pontos muito declivosos a dissecados do relevo, como as
escarpas das chapadas e ainda encontram-se “ilhados” pelo uso predominante de pastagens
(Figura 23).

Figura 23 - Vegetação remanescente degradada e restrita à escarpa de


chapada. Note-se que na zona rebaixada predomina agricultura com prática
de terraceamento.
Fonte: ANTUNES, Julho de 2005.

3.2.2. Uso da Terra


109
O atual mapa de uso da terra da Alta Bacia do Rio Araguaia (Anexo 6 e Figura
24), obtido através de análise de imagens de satélite LANDSAT ETM+ por meio de
metodologia exposta no capítulo anterior, indica que dentre as atividades antrópicas aplicadas
à área; a atividade de pastagens é a predominante, correspondendo a 46,5% da área e está
distribuída por toda a bacia, apresentando-se mais concentrada ao longo da sub-bacia do Rio
Claro e do Rio Caiapó. A ocupação ocorre geralmente com pastagens formadas por
Bracchiaria (figura 25) onde se desenvolve criação intensiva e extensiva de gado para o corte.

Uso da Terra na Alta Bacia do Rio Araguaia


2003

30.000

Agricultura
25.000
Pastagens
20.000 sitio urbano
Área (km 2)

solo exposto
15.000 campo sujo
cerradão
10.000 cerrado denso
cerrado rupestre
5.000
campo limpo umido
0 cerrado ralo
Classes de uso M ata Seca
M ata Ciliar

Figura 24 - Gráfico de uso da terra na Alta Bacia do rio Araguaia.

Figura 25 – Área de pastagem formada por Brachiara.


Fonte: FARIA, fevereiro de 2006.

As áreas de agricultura correspondem a 5,9% da bacia, e as maiores extensões


estão localizadas principalmente nos topos das chapadas, onde se desenvolvem monoculturas
de soja e algodão (Figura 26) e nas planícies ao longo do rio dos Bois e Claro, na porção norte
da bacia, onde se cultiva arroz. Essa atividade utiliza-se de uma grande quantidade de
110
insumos químicos e maquinários para a elevação da produtividade, que produzem uma série
de impactos ambientais e sociais na Alta Bacia.

Figura 26 - Lavoura de Algodão em topo de Chapada, próximo ao


Parque Nacional das Emas.
Fonte: ANTUNES, agosto de 2005.

Os outros usos antrópicos mapeados correspondem a 2,3% da área e são


representados pelas áreas urbanas dos municípios e por áreas de solo exposto (áreas
degradadas pelas atividades agrícolas que se encontram abandonadas ou área de areais).

Os remanescentes da vegetação nativa mapeados, nesta pesquisa, encontram-se


pulverizados e variados de acordo com usos empregados em cada município. Estão restritos a
fragmentos de cerrado, raramente grandes, a pequenas áreas com veredas e a alguns pontos
muito declivosos a dissecados do relevo, como as escarpas das chapadas e “ilhados” pelo uso
predominante de pastagens, no entanto correspondem a 45% da área da bacia.

Esses remanescentes foram identificados, segundo a classificação de Ribeiro &


Walter (1998), em Cerradão, Mata Seca Decídua, Mata ciliar, Cerrado Denso, Cerrado Ralo,
Campo Sujo, Campo Limpo Úmido e Cerrado Rupestre. A predominância é de
fitofisionomias do Cerradão que corresponde a 11% da área da bacia e apresenta manchas
expressivas no setor sul da alta bacia, sobre litologias areníticas do Grupo Bauru e solos
derivados e na sub-bacia do rio das Garças em Mato Grosso, sobre litologias, também
areníticas, da Formação Aquidauna e respectivos solos. Em ambas as áreas dominam os
Neossolos Quartzarênicos, solos arenosos finos de baixa aptidão agrícola e alta
suscetibilidade erosiva, como já exposto.

O processo de desmatamento da área atingiu, também, as matas ciliares, aonde


alguns cursos d’ água chegam a não apresentar essa vegetação ou a apresentam de forma
111
descontínua. Elas correspondem a 9,8% da área e se desenvolvem principalmente em áreas de
domínio dos Latossolos. Ribeiro & Walter (1998) alertam para ocorrência de transição, nem
sempre evidente, entre essa fitofisionomia e as formações florestais como a Mata Seca e o
Cerradão, por isso acredita-se que as áreas de mata ciliar mapeadas na Alta Bacia possam
estar superestimadas.

A classe de Mata Seca Decídua, caracterizada por vários níveis de plantas


caducifólias durante a estação seca, corresponde a 7,4% da área e seus maiores fragmentos
ocorrem na porção que vai do leste ao noroeste da bacia (na sub-bacia do Rio Claro) sobre o
domínio dos Argissolos. Essa classe pertence à região classificada por Faissol (1952) como
“Mato Grosso Goiano”, hoje bastante residual.

A classe de Cerrado Denso corresponde a 4,6% da área e os maiores fragmentos


encontram-se mais distribuídos na porção Noroeste da Alta Bacia, na sub-bacia do Rio das
Garças. Estão localizados sobre relevos das unidades do Planalto dos Guimarães -
Alcantilados e da Depressão do Araguaia, em litologias areníticas da Formação Aquidauna,
onde a predominância é de Neossolos Quartarênicos e Latossolos Vermelhos.

As áreas de Cerrado ralo correspondem a 6,3% e estão mais localizadas na porção


Noroeste e Sudoeste da bacia, do lado mato-grossense, sobre o Planalto dos Guimarães -
Alcantilados, principalmente sobre a Formação Aquidauna, em áreas mais elevadas, onde
dominam os Cambissolos.

A classe de Campo Sujo representa 3,4% da bacia e encontra-se distribuída por


toda a área, coexistindo com áreas de pastagens, o que a torna sujeita a ser incorporada a essa
atividade. A classe de Campo Limpo Úmido que corresponde a 2,8% da área está localizada
principalmente sobre os Neossolos Quartzarênicos do setor sul da Alta Bacia e da sub-bacia
do rio Garças, paralelamente aos cursos d’ água.

A classe de Cerrado Rupestre ocorre em solos litólicos ou em afloramentos de


rochas, corresponde a 0,3% cujas manchas mais contínuas estão localizadas na Serra Dourada,
em Goiás e na Serra da Arara, em Mato Grosso.

Foram identificadas na área ainda as classes de corpos d’ água (0,8%) e áreas não
identificadas (0,1%) da bacia.

Como os remanescentes são alvos principalmente desta dissertação, optou-se por


valorizá-los num capítulo próprio e também, devido à dimensão da área, optou-se por analisar
a distribuição espacial mais detalhada dos remanescentes e suas relações com o meio físico
nas cinco sub-bacias que compõem a Alta Bacia, como apresentado no Capítulo V (a seguir).
112
As características gerais do meio físico e uso de cada sub-bacia são apresentadas no item a
seguir.

3.2.3 - As Sub-bacias

A sub-bacia Cachoeira Grande está localizada a sul da Alta Bacia,


compreendendo a região das nascentes do rio Araguaia, área identificada em pesquisas
anteriores como Setor Sul (SILVA, 2000; BARBALHO, 2002), mas inclui a micro-bacia do
rio Babilônia. Drena uma área de 4.423,06 km2, onde predominam litologias areníticas da
Formação Botucatu (48,5% desta sub-bacia) e a classe dos NEOSSOLOS Quartzarênicos
álicos (25,8%) identificados principalmente na zona rebaixada, seguido pelos LATOSSOLOS
Vermelhos álicos (20,5% da área total da sub-bacia), que se desenvolvem principalmente
sobre as Chapadas da unidade do Planalto Setentrional da Bacia do Paraná que representa
92,9% desta sub-bacia. Essa área tem como uso predominante as atividades de pastagens
(42% da área), desenvolvidas principalmente na zona rebaixada sobre os NEOSSOLOS.

Localizada na porção centro-sul da Alta Bacia, a sub-bacia do rio dos Peixes


drena uma área de 13.871,70 km2, correspondente à área de drenagem dos rios Peixes e
Diamantino e seus tributários. A litologia predominante, correspondendo a 92,1% da área
desta sub-bacia, é da Formação Aquidauana, assim como da Unidade do Planalto dos
Guimarães-Alcantilados. Mas os solos são mais diversificados; a classe dos ARGISSOLOS
Vermelho distróficos, corresponde a 27,9% da área, distribuídos principalmente na porção
central, sendo seguidos pelo domínio dos LATOSSOLOS Vermelho Amarelo distróficos com
24,5% da área e pelos CAMBISSOLOS álicos (19,2%). O relevo suave (altitudes de 600 -
400 m e declividade predominante de 3 a 6%) favoreceu o desenvolvimento e predomínio das
atividades de pastagens (45,1% da área) que fragmentam e isolam os remanescentes.

A sub-bacia do rio das Garças drena uma área de 16.360,57 km2, está localizada
na porção noroeste da Alta Bacia, em território mato-grossense. Toda inserida sobre a Bacia
Sedimentar do Paraná: sobre litologias do período paleo - mesozóico, com predomínio da
Formação Aquidauana (73% da área total); 79,6% da área estão sobre a unidade
geomorfológica do Planalto dos Guimarães - Alcantilados, onde as altitudes variam de 500 a
300 m. Sobre estas características, desenvolvem-se principalmente os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos (42,9% da área), seguidos pelos CAMBISSOLOS álicos (32,5% da
área) e pelos NEOSSOLOS litólicos (8,4% da área). As atividades agrícolas relacionam-se
principalmente às pastagens (26,7% da área), que se apresentam concentradas na porção sul
da bacia sobre os NEOSSOLOS. Nessa sub-bacia, o uso predominante, como será analisado
adiante, é de remanescentes (68,8% da área total).
113
A área de drenagem do rio Piranhas e do rio Caiapó, localizada na porção central
da Alta Bacia, corresponde a 13.930,85 km2, sendo identificada como sub-bacia do Rio
Caiapó. Nessa sub-bacia, também predominam litologias areníticas da formação Aquidauana
(46,1%), que se localizam na porção sul, que se relacionam com domínio dos ARGISSOLOS
Vermelhos Amarelos distróficos (22,1% da área) e com os CAMBISSOLOS álicos (16,4% da
área). Na porção norte, são identificadas litologias do período Paleozóico pertencentes às
Formações Furnas (19,9% da área) e Ponta Grossa (10,8% da área), e também litologias do
Período Pré-Cambriano, que juntas correspondem a 16,5% da área. Os solos, nesta porção,
correspondem, principalmente, à classe de ARGISSOLOS Amarelos distróficos e eutróficos e
dos LATOSSOLOS Vermelho distróficos. Esta sub-bacia localiza-se sobre a unidade do
Planalto dos Guimarães - Alcantilados (porção sul) e sobre a Depressão do Araguaia (porção
norte). Assim, como nas demais sub-bacias, as atividades de pastagens (51,1 % da área)

Unidade
Uso antrópico
Sub-Bacias Litologia Predominante Geomorfológica Solo Predominante
Predominante
Predominante
formadas especialmente com Brachiaria, predominam.

A sub-bacia do Rio Claro está localizada na porção leste da Alta Bacia, em


território goiano, drenando uma área de 13.798,22 km2; predominam ai litologias do período
Pré-Cambriano, sendo que a maior participação é dos Ortognaisses do Oeste de Goiás (25,3%
da área), mas, são encontradas também, na porção norte desta sub-bacia, litologias das
Formações Furnas (13,5% da área). Essas litologias desenvolvem-se principalmente sobre o
Planalto Rebaixado de Goiânia (que corresponde a 32,7% da área total), sobre Planalto do
Alto Tocantins-Paranaíba (29,6% da área), e na porção norte sobre a Depressão do Araguaia,
que corresponde a 32,7% da área total desta sub-bacia. Dada a variação litológica e
geomorfológica, os solos identificados são bem variados; as classes dos ARGISSOLOS
Vermelho amarelo eutróficos e distróficos (17,6 % e 14,1 % da área, localizadas a leste e na
porção centro-leste), seguido pelos NEOSSOLOS Litólicos distróficos (12,9% da área),
distribuídos por toda a área e pelos NEOSSOLOS Quartzarênicos álicos com 11,9% da área,
identificados em manchas na porção sul (sobre os arenitos da Formação Aquidauana) e norte
(sobre os arenitos da Formação Furnas).

O quadro 02 sintetiza as principais características do meio-físico e do uso de cada


sub-bacia.

" Planalto Setentrional " NEOSSOLOS


Cachoeira " Formação Botucatu
da Bacia do Paraná Quartzarênicos álicos " 42% pastagens
Grande (48,5% da área)
(92,9% da área) (25,8% da área)
114
" ARGISSOLOS
Rio dos - Formação Aquidauana " Planalto do
Vermelho distróficos " 45,1% pastagens
Peixes (92,1% da área) Guimarães Alcantilados
(27,9% da área)
" NEOSSOLOS
" Planalto dos
Rio das " Formação Aquidauana Quartzarênicos
Guimarães-Alcantilados " 26,7% pastagens
Garças (73,5% da área) distróficos (42,9% da
(79,6% da área)
área)
" ARGISSOLOS
" Planalto dos
" Formação Aquidauana Vermelho Amarelos
Rio Caiapó Guimarães Alcantilados " 51,1% pastagens
(46,1% da área) distróficos (22,1% da
(35,9% da área)
área)
-ARGISSOLOS
" Planalto Rebaixado Vermelho Amarelo
" Ortognaisses do Oeste
Rio Claro de Goiânia (32,7% da eutróficos " 67,2% pastagens
de Goiás (25,5% da área)
área) (17,6 % da área)

Quadro 02 - Síntese das características do meio físico e uso das sub-bacias que compõem a Alta
Bacia do rio Araguaia.
CAPÍTULO V - Situação dos Remanescentes
116
5.1 - Situação dos Remanescentes da Alta Bacia

A ocupação da Alta bacia parece ter ocorrido de forma diferenciada como pode se
deduzir no Anexo 6. A fragmentação da vegetação nativa foi mais intensa na parte goiana do
que no lado mato-grossense, onde as fisionomias, em especial de Cerradão, Cerrado Denso e
Cerrado Ralo, apresentam áreas maiores e mais contínuas localizadas a oeste da Alta Bacia. A
porção central da bacia, em território goiano, apresenta também áreas consideráveis de
fragmentos; no entanto, eles encontram-se desconexos e “ilhados” por atividades de
pastagens. Ainda em território goiano, duas particularidades foram notadas: a primeira a leste,
com a presença de vários fragmentos de Mata Seca Decídua (também, conhecida como Mato
Grosso Goiano) e a segunda relaciona-se a uma pequena concentração de fragmentos de
Formações Florestais e Savânicas sobre o domínio dos LATOSSOLOS, na micro-bacia do rio
Babilônia, ao sul da Alta Bacia.

Como já exposto, muitos dos remanescentes identificados encontram-se, restritos


as áreas de APP ou RL e mantêm, em seu entorno, áreas agropecuárias que comprometem a
diversidade ecológica destes remanescentes. Entretanto, a identificação e espacialização das
fisionomias de remanescentes, mapeadas na Alta Bacia do rio Araguaia, devido à extensão da
área, limita bastante a análise, por muito generalizada.

Por se fazer necessário um melhor recorte para a identificação mais qualificada da


fragmentação, espacialização, conservação e de sua relação com as características do meio
físico e com o uso e a ocupação da área, a análise dos remanescentes será apresentada pelas
sub-bacias que compõem a Alta Bacia do rio Araguaia, já indicada no capítulo III e no item
anterior: Cachoeira Grande, rio dos Peixes, rio das Garças, rio Caiapó e rio Claro. A tabela 11
indica a participação de cada sub-bacia à área total da Alta Bacia, são também as sub-bacias
que mais contribuem em área de remanescentes para a Alta Bacia, onde se verifica que as sub-
bacias do rio das Garças e rio Claro como de máxima e mínima contribuição de
remanescentes.

Tabela 11 - Participação da área das sub-bacias e de seus remanescentes à Alta Bacia

% da área Remanescentes
Área Total
Sub-Bacias 2 total da Alta % na Alta
(km )
Bacia Área (km2)
Bacia
Cachoeira Grande 4.423,07 7,1% 2.068,75 3,3%
Rio dos Peixes 13.871,70 22,2% 6.661,88 10,7%
Rio das Garças 16.360,57 26,2% 11.137,70 17,9%
Rio Caiapó 13.930,85 22,3% 4.784,35 7,7%
Rio Claro 13.798,22 22,1% 3.288,21 5,3%
Total 62.384,41 100,0% 27.940,89 44,8%
117
! Sub-bacia Cachoeira Grande

A sub-bacia Cachoeira Grande, também conhecida como região das nascentes


do rio Araguaia, apresenta a menor participação em área na Alta Bacia e, portanto, baixa
participação em área de remanescentes (apenas 3,3%). Uma particularidade foi notada na
análise dessa área: as fisionomias remanescentes localizam-se, sobretudo, em áreas sobre o
domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos álicos (20,5%), o que é curioso, visto que, esses
solos são, geralmente, os alvos principais das práticas agrícolas devido ao relevo suave a
plano e às suas características pedológicas facilmente manejáveis. Talvez a explicação possa
ser encontrada na estrutura fundiária, nas RL e APP, como se verá logo adiante. Convém
ressaltar que essa sub-bacia está localizada próxima ao Parque Nacional das Emas, uma das
maiores UCs do Estado de Goiás.

Entre os usos antrópicos, predominam as atividades de pastagens com 42% da


área. Os remanescentes da vegetação nativa correspondem a 46,8% da bacia, mas apresentam-
se completamente fragmentados e desconexos (Figura 27).

Os remanescentes foram identificados praticamente na zona rebaixada desta sub-


bacia e convivem exclusivamente com atividades de pastagens, já que as áreas de agricultura
localizam-se nos topos, onde a presença dos remanescentes é ínfima. A Tabela 12 representa a
área ocupada por cada remanescente e a participação de cada fisionomia em relação à área
total dos remanescentes, que é de 2.068,71 km2, e em relação à área total da Alta Bacia.

Tabela 12 - Área dos remanescentes da Sub-bacia Cachoeira Grande

Área dos
Participação dos remanescentes
remanescentes
Fisionomias
% da área total % da Alta
(Km2) ha
dos remanescentes Bacia
Cerradão 853,07 85.307 41,2% 1,4%
Cerrado Denso 211,32 21.132 10,2% 0,3%
Mata Ciliar 362,60 36.260 17,5% 0,6%
Campo Limpo úmido 305,46 30.546 14,8% 0,5%
Campo Sujo 336,30 33.630 16,3% 0,5%
Área total dos
2.068,75 206.875 100,0% 3,3%
remanescentes
118
119
Nessa tabela, verifica-se que, entre os remanescentes da sub-bacia Cachoeira
Grande, há predominância da fisionomia de Cerradão, que ocupa 853,07 km2, correspondendo
a 41,2% da área total ocupada pelos remanescentes identificados nesta sub-bacia. Uma grande
mancha dessa classe destaca-se próxima à porção centro-oeste da sub-bacia, totalizando cerca
de 7.130m2. Os fragmentos menores (até 820m2), com base em Medeiros (2002), geralmente
correspondem às áreas de RL das propriedades rurais. Estes encontram-se em sua maioria,
ilhados por atividades como pastagens, além de serem agredidos com atividades de
desmatamentos, voltadas para carvoaria e suprimento de madeira para as propriedades rurais.
Estão localizados principalmente sobre o domínio dos NEOSSOLOS Quartzarênicos álicos
(onde se encontram 72,8% dos remanescentes desta fisionomia). Em relação à Alta Bacia,
esta classe corresponde a 1,4% de sua área total.

A classe de Cerrado Denso, que ocupa 211,32 km2 na sub-bacia, (10,2% da área
total dos remanescentes) está localizada, principalmente, a leste na área de drenagem do rio
Babilônia, e seus maiores fragmentos não ultrapassam os 1.500m2. Cerca de 96,5% dos
remanescentes ocorrem sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelho álicos e encontram-se
“ilhados” por pastos e por plantações de soja (Figura 28). Essa classe apresenta apenas 0,3%
do total da área da Alta Bacia.

Figura 28 - Em primeiro plano observa-se plantio de soja, em segundo


plano área de cerrado denso/transição para cerrado típico. (em processo de
degradação pelo efeito de borda e outros). Área próxima a Fazenda Canaã.
Fonte: FARIA, fevereiro de 2006.

As Matas Ciliares apresentam-se fragmentadas, no entanto, correspondem a


17,5% dos remanescentes, contemplando 362,60km2 da sub-bacia. Estão localizadas
principalmente na bacia do rio Babilônia, sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos
álicos. Em relação à Alta Bacia representam 0,6% de sua área total.
120
Das formações campestres, as fisionomias de Campo Sujo correspondem a 16,3%
da área dos remanescentes, abrangendo 336,30km2, localizando-se principalmente ao lado das
fisionomias de Cerradão. Os remanescentes de Campo Limpo Úmido representam 305,46 km2
(14,8%, da área total dos remanescentes), ocorrem em faixas ao longo do rio Araguaia (Figura
29) e praticamente ao longo de todos os afluentes do rio Babilônia. Ambas ocorrem
principalmente sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos álicos (69,8% dos
remanescentes de Campo Sujo e 81,5% dos remanescentes de Campo Limpo Úmido). Juntas
essas fisionomias correspondem a 1% da área total da Alta Bacia.

Figura 29 - Fisionomia de Campo Limpo Úmido, próxima à ao Córrego


Queixada, na sub-bacia Cachoeira Grande.
Fonte: ANTUNES, agosto de 2005.

A sub-bacia Cachoeira Grande apresenta cerca de 18.581 fragmentos que


representam 3,3% da área total da Alta Bacia. Os maiores fragmentos correspondem à
fisionomia de Cerradão, enquanto a fisionomia de Cerrado Denso, que detém 974 fragmentos,
apresenta-os em áreas menores e mais desconexas.

! Sub-bacia do rio dos Peixes

Localizada na porção centro-sul da Alta Bacia, esta sub-bacia, aparentemente,


apresenta baixo índice de antropização por ter 48% de sua área de remanescentes, todavia
como estes se encontram bastante fragmentados (Figura 30), mas convivendo igualmente,
sobretudo com a atividade de pastagem, que corresponde a 45,1% da área, e com área de
agricultura, mais localizada na sua porção sudoeste.

A área total dos remanescentes identificados nesta sub-bacia é de 6.661,89 km2,


que representam 10,7% da área total da Alta Bacia. Foram identificados 40.550 fragmentos,
as maiores áreas pertencem à fisionomia de Cerradão (que apresenta 8.470 fragmentos),
115
122
enquanto a fisionomia de Campo Sujo, que apresenta os 11.701 fragmentos, e as menores
áreas (até 813 m2).

A Tabela 13 representa as áreas de cada fisionomia mapeada nesta sub-bacia e a


participação de cada uma delas, a área total dos remanescentes e a área total da Alta Bacia.
Nela pode-se verificar que o Cerradão é a fisionomia dominante com 1.550,49km2: 23,3% da
área total dos remanescentes e localizam-se, principalmente, a leste desta sub-bacia, sobre o
domínio dos ARGISSOLOS Vermelhos álicos (31,5%). Os maiores fragmentos apresentam
até 8.880m2. Na porção sudoeste desta sub-bacia, eles convivem com área de agricultura,
sobretudo com o cultivo da soja.

Tabela 13 - Área dos remanescentes da Sub-bacia rio dos Peixes

Área dos Participação dos


remanescentes remanescentes
Fisionomias
% da área total % da Alta
(km2) ha
dos remanescentes Bacia
Cerradão 1.550,49 155.049 23,3% 2,5%
Cerrado Denso 625,44 62.544 9,4% 1,0%
Mata Ciliar 1.762,43 176.243 26,5% 2,8%
Mata seca 865,31 86.531 13,0% 1,4%
Cerrado ralo 1.041,18 104.118 15,6% 1,7%
Campo Sujo 795,58 79.558 11,9% 1,3%
Cerrado Rupestre 21,45 2.145 0,3% 0,0%
Área total dos
6.661,88 666.188 100,0% 10,7%
remanescentes

As áreas de Cerrado Denso foram identificadas na porção norte; abrangem uma


área de 625,44km2, o que equivale a 9,4% da área total dos remanescentes desta sub-bacia e a
1% de toda a área total da Alta Bacia. Foram identificadas especialmente sobre o domínio dos
LATOSSOLOS Vermelhos distróficos em áreas com uso predominante de pastagens. Os
maiores fragmentos apresentam até 6.624m2.

As áreas de Mata Ciliar, mesmo representando 1.762,43 km2 na sub-bacia (26,5%


da área total dos remanescentes), apresentam - se em manchas desconexas ao longo dos canais
de drenagens secundários, convivendo com todos os tipos agropecuários que aceleram sua
degradação. Essas áreas são encontradas predominantemente sobre o domínio dos
ARGISSOLOS Vermelhos álicos e correspondem a 2,8% da área total da Alta Bacia.

A Classe de Cerrado Ralo com 1.041,18 km2 (1,7% da área da Alta Bacia) que
corresponde a 15,6% da área total dos remanescentes encontra-se sob áreas de domínio dos
LATOSSOLOS Vermelhos distróficos. Os remanescentes dessa fisionomia apresentam-se
123
bem espalhados e desconexos ao longo desta sub-bacia. Os maiores fragmentos atingem até
1.018m2.

As áreas de Campo Sujo (795,58 km2) correspondem a 11,9% da área total dos
remanescentes, que se localizam principalmente (36,8% destes remanescentes) sobre o
domínio dos ARGISSOLOS Vermelhos distróficos. Estão distribuídas por toda a sub-bacia,
interligando as fisionomias de Cerradão e Cerrado Denso e convivendo com áreas de pastos
(Figura 31). Os maiores fragmentos não chegam a apresentar mais de 4.756m2. Essa
fisionomia representa 1,3% da área total da Alta Bacia.

Figura 32 - Área de Campo Sujo na sub-bacia do rio dos Peixes.


Fonte: Faria, fevereiro de 2006.

A classe de Cerrado Rupestre (0,3% dos remanescentes) encontra-se restrita a


pequenas áreas, encontradas predominantemente em sob domínio dos solos NEOSSOLOS
Litólicos.

! Sub-bacia do rio das Garças

Essa sub-bacia apresenta um baixo índice de antropização (30% de sua área está
voltada para atividades antrópicas). Sua ocupação inicial esteve relacionada às atividades de
garimpo no século XVIII que foram substituídas bem mais tarde pelas atividades de pastagens
no século XX, que correspondem, no atual mapeamento, a 26,7% da área. O baixo índice de
produtividade é conhecido e relaciona-se, principalmente, às restrições impostas pelo meio-
físico (predominância de solos neossólicos, cambissólicos e litólicos).

Os remanescentes ocupam 11.137,10 km2 (68,1%) da área total da sub-bacia e


representam 17,9% da área total da Alta Bacia (Tabela 14). As manchas mais conservadas e
concentradas pertencem às fisionomias das formações florestais e savânicas. As formações
124
campestres apresentam-se mais fragmentadas que as anteriores, pois coexistem com as
atividades de pastagens, apresentando, assim, alta fragilidade, pois a incorporação dessa
fisionomia à atividade é quase que imediata pelo pastoreio do gado (Figura 32).

Os remanescentes desta sub-bacia são encontrados principalmente sobre os


NEOSSOLOS Quartzarênicos distróficos e CAMBISSOLOS álicos. Nessa sub-bacia, são
encontrados maior número de fragmentos e de áreas ocupadas pelas fisionomias Cerradão,
Cerrado Denso, Mata Ciliar e Cerrado Ralo; tanto na sub-bacia, quanto em relação à Alta
Bacia, como pode ser verificado na Tabela 14.

Tabela 14 - Área dos remanescentes da Sub-bacia do rio das Garças

Área dos Participação dos


remanescentes remanescentes
Fisionomias % da
% da área total
(km2) ha Alta
dos remanescentes
Bacia
Cerradão 2.947,57 294.757 26,5% 4,7%
Cerrado Denso 2.365,33 236.533 21,2% 3,8%
Mata Ciliar 1.718,67 171.867 15,4% 2,8%
Cerrado ralo 2.305,30 230.530 20,7% 3,7%
Campo Limpo úmido 1.105,27 110.527 9,9% 1,8%
Campo Sujo 609,22 60.922 5,5% 1,0%
Cerrado rupestre 86,35 8.635 0,8% 0,1%
Área total dos
11.137,70 1.113.770 100,0% 17,9%
remanescentes

Essa tabela indica que, na sub-bacia em questão, a fisionomia de Cerradão


também é predominante. Ela apresenta 2.947,57 km2, que representam 26,5% da área total
dos remanescentes e a 4,7% da área total da Alta Bacia. As maiores concentrações foram
identificadas na porção central desta sub-bacia, onde os maiores fragmentos alcançam até
3.880m2.

As Matas Ciliares, que acompanham os rios de médio e longo porte, abrangem


1.718,67km2 (15,4% da área dos remanescentes) e encontram-se bem contínuas ao longo do
médio curso dos afluentes do rio das Garças.

Essa sub-bacia detém 51.714 fragmentos, os maiores correspondem à fisionomia


de Cerrado Denso, que atinge até 7.140m2, localizado na porção norte-nordeste da sub-bacia.
Essa classe apresenta 2.365,33 km2, que correspondem a 3,8% da área total da Alta Bacia e a
21,2% da área total dos remanescentes identificados nesta sub-bacia. A aparente cobertura
homogênea não indica que eles encontram-se amplamente conservados (Figura 33).
125
126

Figura 33 - Em primeiro plano, observa-se área de pastagem/camposujo e,


em segundo, plano grande extensão de cerrado denso. As setas indicam
sinais de degradação por ação antrópica no interior da vegetação. MT-100
sentido Alto Araguaia - Ribeirazinho/ MT.
Fonte: BORGES, fevereiro de 2006.

Os fragmentos de Cerrado Ralo que abrangem 2.305,30 km2 (ou seja, 20,7 da área
total dos remanescentes e a 3,7% da área total da Alta Bacia) apresentam áreas maiores (até
2.560m2) e mais contínuas na porção sul desta sub-bacia, onde o uso antrópico predominante
é o de pastagens.

Das formações campestres, estão presentes as fisionomias de Campo Sujo e


Campo Limpo Úmido. A primeira com uma área de 609,22km2, cerca de 5,5% da área total
dos remanescentes dispersos pela sub-bacia, os maiores fragmentos apresentam até 4.544 m2;
enquanto, a segunda com uma área de 1.105,27 km2 que representam 9,9% da área total dos
remanescentes e 1,8% da área total da Alta Bacia, mais concentrados na porção oeste desta
sub-bacia, onde o maior fragmento apresenta 2.150m2.

As áreas de Cerrado Rupestre têm ocorrência restrita à Serra Azul, em Barra do


Garças, representam 0,8% da área dos remanescentes e apresentam-se como uma vegetação
arbóreo-arbustiva que ocorre, principalmente, em ambientes rochosos, sobre os solos
NEOSSOLOS Litólicos, que correspondem a 50,8% desses remanescentes.

! Sub-bacia do rio Caiapó

Nessa sub-bacia, os remanescentes correspondem a 34,3% da área, concentram-se


na porção sul da sub-bacia (Figura 34) e foram fragmentados, predominantemente, pelas
atividades de pastagens que correspondem a 51,1% da área da sub-bacia.
127
128
A Tabela 15 apresenta as áreas de cada fisionomia identificadas nesta sub-bacia e a
participação de cada tipo em relação à área total dos remanescentes e em relação à área total
da Alta Bacia, uma vez que todas as fisionomias da sub-bacia do Rio Caiapó, correspondem a
7,7% da área total da Alta Bacia.

Tabela 15 - Área dos remanescentes da Sub-bacia do rio Caiapó

Área dos Participação dos


remanescentes remanescentes
Fisionomias % da área total
% da Alta
(km2) ha dos
Bacia
remanescentes
Cerradão 1.502,70 150.270 31,4% 2,4%
Cerrado Denso 962,51 96.251 20,1% 1,5%
Mata Ciliar 1.361,86 136.186 28,5% 2,2%
Cerrado ralo 576,33 57.633 12,0% 0,9%
Campo Sujo 363,90 36.390 7,6% 0,6%
Cerrado Rupestre 17,05 1.705 0,4% 0,0%
Área total dos
4.784,35 478.435 100,0% 7,7%
remanescentes

Entre os remanescentes de Formação Florestal, as fisionomias de Cerradão que


abrangem 1.502,70 km2, correspondem a 31,4% da área dos remanescentes e foram
identificadas principalmente na porção sul. Os maiores fragmentos desse tipo chegam a ter
3.029 m2 e localizam-se sobre manchas dos LATOSSOLOS Vermelhos álico e de
NEOSSOLOS Quartzarênicos álicos, com 24,8% e 16,7% da área dos remanescentes,
respectivamente. Essa fisionomia representa 2,4% da área total da Alta Bacia.

As áreas de Cerrado Denso apresentam-se concentradas na porção central dessa


sub-bacia, próximo ao rio Piranhas. Abrangem 962,51 km2, que correspondem a 20,1% da
área total dos remanescentes e a 1,5% da área total da Alta Bacia. Essa classe é representada
por 6.009 fragmentos, que chegam a apresentar 6.594m2 e compõem manchas mais conexas
que as outras fisionomias, identificadas nesta sub-bacia.

As áreas de Mata Ciliar encontram-se contínuas e aparentemente conservadas,


somente nas áreas das nascentes dos rios Caiapó, Piranhas e seus afluentes. Ao longo dessas
drenagens, elas apresentam-se desconectadas. Com uma área de 1.361,86 km2 (28,5% da área
total dos remanescentes), que representam 2,2% da área total da Alta Bacia, os remanescentes
foram identificados em áreas onde predominam os LATOSSOLOS Vermelhos distróficos
(Figura 35).
129

Figura 35 - Mata ciliar do rio Caiapó, junto a GO 221, sentido Iporá -


Caiapônia.
Fonte: FARIA, fevereiro de 2006.

As áreas de Campo Sujo (363,90 km2) localizam-se na porção sul dessa bacia e
correspondem a 7,6% da área dos remanescentes. Coexistem principalmente com as
atividades de pastagens e com os remanescentes de Cerradão, formando, entre essas duas,
classes uma espécie de “zona tampão”, no entanto, elas acabam sendo freqüentemente
incorporadas às áreas de pasto.

As fisionomias de Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre encontram-se em áreas mais


restritas. A primeira, com 576,33 km2, que correspondem a 12% da área total dos
remanescentes, foi identificada próxima à nascente do Rio Piranhas e na Serra do Caiapó.
Enquanto a segunda (17 km2: 0,4% da área total dos remanescentes) foi identificada em áreas
mais elevadas, como no Morro do Gigante (Figura 36).

Figura 36 - Área de Cerrado Rupestre na GO194, sentido Ribeirãozinho -


Doverlândia.
Fonte: AMARAL, fevereiro de 2005.
130
! Sub-bacia do rio Claro

Esta sub-bacia, ao contrário das anteriores, apresenta elevado índice de


antropização correspondendo a 75,5% da área total da sub-bacia ocupada,
predominantemente, pela atividade de pastagens (67,2 % da área), caracterizando-se por
apresentar elevada concentração de gado leiteiro, segundo os censos agropecuários dos
municípios dessa sub-bacia. Em conseqüência, os remanescentes correspondem a 3.288,21
km2 (23,8% da área) (Figura 37), encontram-se bem fragmentados e degradados pela
atividade de pastagens.

Essa sub-bacia destaca-se, ainda, por apresentar a menor área de remanescentes e,


portanto, a menor participação da Alta Bacia (apenas 5,3% da área total) e por apresentar
remanescentes da área do “Mato Grosso Goiano”, aqui tratada como Mata Seca Decídua. A
Tabela 16 apresenta a área e participação de cada fisionomia identificada nesta sub-bacia.

Tabela 16 - Área dos remanescentes da Sub-bacia do Rio Claro

Área dos Participação dos


remanescentes remanescentes
Fisionomias % da
2 % da área total
(Km ) ha Alta
dos remanescentes
Bacia
Cerrado Denso 446,12 44.612 13,6% 0,7%
Mata Ciliar 848,13 84.813 25,8% 1,4%
Mata seca 1.605,71 160.571 48,8% 2,6%
Campo Limpo úmido 346,09 34.609 10,5% 0,6%
Cerrado rupestre 42,15 4.215 1,3% 0,1%
Área total dos
3.288,21 328.821 100,0% 5,3%
remanescentes

Como pode ser verificado na Tabela 15, a fisionomia predominante, com 48,8%
(1.605,71 km2) da área total dos remanescentes é de Mata Seca Decidual, classe identificada
por Faissol (1958), como “Mato Grosso Goiano”, - uma extensa região florestal situada na
parte centro-sul do Estado de Goiás, que se constitui como uma das maiores áreas agrícolas
do Planalto Central, tanto por sua extensão, quanto pela fertilidade dos solos. Mas,
atualmente, resume-se a esparsos fragmentos, principalmente na forma de Áreas de
Preservação Permanente (APP), relativas aos topos e encostas de serras, como na Serra de
Santa Luzia, no município de São Luís dos Montes Belos.
131
132
Os maiores fragmentos dessa fisionomia, atingem até 2.850m2. Essa classe está
relacionada principalmente às litologias do Ortognassises do Oeste de Goiás e ao domínio dos
ARGISSOLOS Vermelhos Amarelos eutróficos (41,2% dos remanescentes estão sobre esse
solo). Em relação a Alta Bacia, essa fisionomia que detém 10.961 fragmentos, correspondente
a 2,6% da sua área total.

As Matas Ciliares com 848,13 km2: 25,8% da área total dos remanescentes
encontram-se bem degradadas, descontínuas e rarefeitas e ocorrem, predominantemente, em
áreas de domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos distróficos, localizados na porção noroeste
da bacia, ao longo das planícies dos rios dos Bois e Claro, na Planície do Araguaia,
respondendo por 1,4% da área total da Alta Bacia. Espectralmente, essas áreas podem ser
confundidas com áreas de Cerradão e Mata Seca Decidual e como a ocorrência principal é
desta última, as áreas identificadas podem estar superestimadas.

As áreas de Cerrado Denso abrangem 446,12 km2 (13,6% da área total dos
remanescentes), concentram-se na porção sul da bacia sobre os arenitos da Formação
Aquidauna, 35,8% desse remanescente desenvolvem-se sobre os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos e na porção nordeste da bacia sobre as formações Furnas e
Coberturas Detrito - Lateríticas Terciárias, sobre o domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos
distróficos, onde o maior fragmento apresenta 2.230m2. Na primeira área, os remanescentes
convivem com a atividade de pastagens, enquanto, na segunda, convivem também, com
atividades agrícolas.

A classe de Cerrado Rupestre (1,3%) encontra-se restritas a Serra Dourada, a leste


da bacia. Os campos Limpos Úmidos (10,5%) estão distribuídos em pequenas áreas (as
maiores manchas não excedem 20m2) ao longo dos rios dos Bois e Claro, na porção noroeste
da sub-bacia, e coexistem ora com áreas de pastagens, ora com áreas de agricultura. Juntas,
elas correspondem a 0,7% da área total da Alta Bacia.

Em síntese, fisionomias das Formações Florestais e Formações Campestres foram


identificadas em todas as sub-bacias. Entretanto, os estados de conservação e de fragmentação
e de predominância e contribuição à área total da Alta Bacia, são variados, em função da
intensidade da ocupação de cada sub-bacia. Algumas sub-bacias apresentam maiores áreas de
remanescentes de Formações Florestais, enquanto outras de Formações Campestres. E mesmo
entre essas formações existe a predominância de um ou outro tipo fisionômico (Figura 38).
133

Fitofisionomias por Sub-bacias


3.000.000

2.500.000

Cerradao
2.000.000
Cerrado Denso
Área (km2)

1.500.000 Mata Seca


Cerrado Ralo
1.000.000 Mata Ciliar
Campo Sujo
500.000
Campo limpo úmido
0 Cerrado Rupestre
Cachoeira Rio Peixes Rio das Garças Rio Caiapó Rio Claro
Grande

Sub-Bacias

Figura 38 - Gráfico de comparação entre os tipos fisionômicos por sub-bacia.

A Tabela 16 apresenta a área de participação de cada fisionomia identificada nas


sub-bacias e a participação de cada uma delas na área total das sub-bacias. Nesta tabela, pode-
se observar que em cada sub-bacia predomina um tipo fisionômico: nas sub-bacias Cachoeira
Grande, rio das Garças e rio Caiapó dominam o Cerradão com 19,3%, 18% e 10,8%,
respectivamente da área total de cada uma; na sub-bacia do rio dos Peixes, as Matas Ciliares
ocupam maior área com 12,7% e na sub-bacia do rio Claro a Mata Seca Decídua com 11,6%
da área total da sub-bacia.
134

Tabela 17 - Área dos Remanescentes nas Sub-Bacias e participação em relação à área de cada sub-bacia

FITOFISIONOMIAS
Área Campo Limpo Cerrado
Cerradão Mata seca Mata Ciliar Cerrado Denso Cerrado ralo Campo Sujo
Total das úmido rupestre
Sub-bacias sub-bacia %
% na % na % na % na % na % na % na
(km2) Área Área Área Área Área Área Área Área na
sub- sub- sub- sub- sub- sub- sub-
(Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) (Km2) sub-
bacia bacia bacia bacia bacia bacia bacia
bacia
Cachoeira
4.423,07 853,07 19,3% 0 0 362,60 8,2% 211,32 4,8% 0 0 336,30 7,6% 305,46 6,9% 0,00 0,0%
Grande
Rio Peixes 13.871,70 1.550,49 11,2% 865,31 6,2% 1.762,43 12,7% 625,44 4,5% 1.041,18 7,5% 795,58 5,7% 0,00 0 21,45 0,2%
Rio das
16.360,57 2.947,57 18% 0 0 1.718,67 10,5% 2.365,33 14,5% 2.305,30 14,4% 609,22 3,7% 1.105,27 6,8% 86,35 0,5%
Garças
Rio Caiapó 13.930,85 1.502,70 10,8% 0 0 1.361,86 9,8% 962,51 6,9% 576,33 4,1% 363,90 2,6% 0 0 17,05 0,1%
Rio Claro 13.798,22 0 0 1.605,71 11,6% 848,13 6,1% 446,12 3,2% 0 0 0 0 346,09 2,5% 42,15 0,3%
Total das
62.384,41 6.853,83 2.471,02 6.053,69 4.610,72 3.922,81 2.105,00 1.756,82 167,00
sub-bacias
135
Em todas as sub-bacias, os remanescentes das fisionomias de cerrado mantêm em
seu entorno áreas de agropecuária (Figura 39), sendo ameaçados constantemente pela
introdução de espécies exóticas e por desmatamentos, que comprometem a conectividade e
até mesmo a sobrevivência dos remanescentes.

Figura 39 - Fotomontagem mostrando o “Ilhamento” da vegetação remanescente pelas pastagens.


Fonte: ANTUNES, Julho de 2005.

Os remanescentes da Alta Bacia correspondem, quando somadas todas as áreas das


fisionomias mapeadas, a 27.940,410 km2: 44,8% de toda a área (Tabela 18). Um índice
relativamente elevado, levando-se em consideração que a WWF indica que todo o Bioma
Cerrado apresenta apenas 20% de remanescentes.

Tabela 18 - Quantificação da Cobertura vegetal na Alta Bacia do Rio Araguaia

% em relação % em relação
Classes de Usos Área (Km2) ha à área total dos à área total da
remanescentes Alta Bacia
Cerradão 6.853,83 685.383 24,5% 11,0%
Mata Seca 2.471,03 247.103 8,8% 4,0%
Mata Ciliar 6.053,70 605.370 21,7% 9,7%
Cerrado Denso 4.610,72 461.072 16,5% 7,4%
Cerrado Ralo 3.922,80 392.280 14,0% 6,3%
Campo Sujo 2.105,00 210.500 7,5% 3,4%
Cerrado Rupestre 167,00 16.700 0,6% 0,3%
Campo Limpo Úmido 1.756,82 175.682 6,3% 2,8%
Área total dos Remanescentes 27.940,91 2.794,09 100,0% 44,80%
Agricultura 3.672,56 367.256 - 5,9%
Pastagens 28.859,72 2.885.972 - 46,3%
Sitio Urbano 206,00 20.600 - 0,3%
Solo Exposto 855,00 85.500 - 1,4%
Corpos d’ água 486,00 48.600 - 0,8%
Não identificado 364,22 36.422 - 0,6%
Outros usos 34.443,51 3.444,35 - 55,2%
Área total da Alta Bacia
62.384,41 6.238,44 44,8% 100%
(remanescentes+ outros usos)
136
Como se observa na Tabela 18 dominam na Alta Bacia do rio Araguaia áreas de
Cerradão correspondendo a 11% de sua área total e a 24,5% da área total dos remanescentes,
que foram representados por 21.650 fragmentos distribuídos por toda a bacia. Os
remanescentes dessa fisionomia são encontrados principalmente sobre o domínio dos
LATOSSOLOS Vermelho distróficos (39% dos remanescentes), no entanto, as maiores e
mais contínuas manchas foram identificadas nas sub-bacias Cachoeira Grande e rio das
Garças, sobre NEOSSOLOS Quartzarênicos. Os maiores fragmentos apresentam até 7.150,12
m2, localizados na sub-bacia Cachoeira Grande e os menores 85 m2, na sub-bacia do Rio
Caiapó. Essa fisionomia é responsável, segundo Alho & Martins (1995), por abrigar 2231
árvores e cerca de 60 espécies de flora.

As áreas de Mata Ciliar, embora se apresentem descontínuas ao longo dos cursos


d’ água, representam 9,7% da Alta Bacia e a segunda maior proporção entre os
remanescentes: 21,7% da área total. É na sub-bacia do rio dos Peixes que se encontra uma
maior representatividade dessa classe (1.762,43 km2). Em toda a bacia, as áreas de Mata
Ciliar interligam principalmente os remanescentes das Formações Florestais e Savânicas
(Cerradão e Cerrado Denso).

As áreas de Cerrado Denso possuem 18.820 fragmentos que correspondem a


16,5% da área total dos remanescentes e a 7,4% da área total da Alta Bacia. Essas áreas
encontram-se bem fragmentadas: as maiores foram identificadas na sub-bacia do rio das
Garças e os menores fragmentos (com até 80m2) com maior proximidade foram observados
principalmente na sub-bacia Cachoeira Grande, eles interligam-se por áreas de matas ciliares
ou por formações campestres (Campo Sujo e Campo Limpo). 29,6% dos remanescentes são
encontrados sobre os NEOSSOLOS Quartzarênicos distróficos.

A fisionomia de Cerrado Ralo detém o maior número de fragmentos: cerca de


20.147 fragmentos, com 3.922,80 km2 que correspondem a 14% da área total dos
remanescentes. Essa fisionomia, assim como a do Cerrado Denso, apresenta os maiores
fragmentos e áreas mais contínuas na sub-bacia do rio das Garças, já os menores fragmentos
são encontrados na sub-bacia rio dos Peixes, com 90 m2. São encontrados em áreas de
domínio dos NEOSSOLOS Quartzarênicos e dos ARGISSOLOS Vermelhos distróficos (25%
e 21,7%, respectivamente dos remanescentes dessa fisionomia).

As áreas de Mata Seca Decídua apresentam 15.882 fragmentos identificados a


leste e em pequena porção na região central da bacia, predominado, portanto, sobre os
ARGISSOLOS Vermelhos eutróficos (31,1% dos remanescentes). Essa fisionomia
137
corresponde entre os demais remanescentes a 8,8% da área total e em relação à área da Alta
Bacia sua porcentagem é de 4%.

A principal ameaça a estas fisionomias (Formações Florestais e Savânicas) é a


atividade de desmatamento, voltada principalmente para a oferta de lenha e carvão. Nas áreas
de Mata seca decídua e semi-decídua (áreas de florestas estacionais) onde são encontrados
angicos, aroeiras, cedros cerejeiras e ipês, a exploração madeireira ocorre, segundo Felfili
(2003), livremente, sem a requisição de planos de manejo e reposição das espécies.

As demais fisionomias campestres (campo sujo, cerrado rupestre, campo limpo


úmido) juntas correspondem a 14,6% da área total dos remanescentes, que significa 6,5% da
área total da Alta Bacia. A fisionomia de Campo Sujo encontra-se distribuída por toda a bacia,
apresentando na sub-bacia rio dos Peixes o maior fragmento, 4.756m2; e o menor, com 80m2,
localiza-se na sub-bacia Cachoeira Grande. As fisionomias de Campo Limpo e de Cerrado
Rupestre têm ocorrência mais restrita: a primeira, foi identificada na porção sul (sub-bacia
Cachoeira Grande), onde se localiza o menor fragmento com 150 m2 e na porção oeste (sub-
bacia rio das Garças), onde se identificou o maior fragmento com 7.020 m2. Essa fisionomia
ocorre sobre o domínio dos NEOSSOLOS Quartzarênicos (46,2% dos remanescentes) e sobre
o domínio dos LATOSSOLOS Vermelhos álicos (46,6% dos remanescentes). Já a segunda
fisionomia (Cerrado Rupestre) tem ocorrência ainda mais restrita. Foi identificada sobre
NEOSSOLOS Litólicos, na Serra Dourada e Serra da Arara e ainda em algumas localidades
na Serra do Caiapó.

A ameaça a esses tipos fisionômicos é muito elevada, pois geralmente não se


constituem de áreas de proteção e preservação das propriedades rurais, quando coexistem com
as atividades de pastagens são mais suscetíveis a serem incorporadas ao processo produtivo.

O quadro síntese (Quadro 3) indica as fisionomias dominantes e as características


em relação às sub-bacias e a Alta Bacia.
138
SUB-BACIAS
FISIONOMIAS 2 ALTA BACIA
" Abrange " Apresenta - 5,5% da área total dos " Concentram-se na porção sul; " Representam 3,4%DOdaRIO
AltaARAGUAIA
Bacia;
Cachoeira336,60
Grandekm - Rio dosmaior
Peixesnúmero de Rio das Garças Rio Caiapó Rio Claro
7,6% da área; fragmentos; remanescentes; " Correspondem a 2,6% da área; " Correspondem a 7,5% da área dos
" 19,9% da área da " Ocupa da sub- participação 2 tanto " Representa 10,8% da área total Corresponde a 11% da área total;
5191 fragmentos.
" Ocupa " Corresponde
11,2% ada5,7%
área da sub- - " >>fragmento: 4.544
em márea
" Identificadas ao lado das
"remanescentes;
Campo Sujo sub-bacia; bacia;
bacia; na sub-bacia (14,5%) quanto da sub-bacia; Não identificada área de remanescentes;
fisionomias de cerradão. 9.571
""24,5% dafragmentos.
" Ocorrem em " Localizam-se na porção sul; na Alta Bacia (4,7%); " Identificados na porção sul; " > fragmento: 7.150,12m2;
" Interligam as fisionomias de
NEOSSOLOS " Cerradão
Ocorremesobre
Cerrado
os Denso. " Fragmentos mais contínuos e " Encontram-se sobre os " 30.714 fragmentos;
Quartzarênicos álicos; ARGISSOLOS Vermelho mais concentrados; NEOSSOLOS; " Maior contribuição da sub-bacia do Rio das
" Representam
" > fragmento: 7,130m
14,8%2; da álicos; Representa
" " Sobre o 9,9%
domínioda área
dos " Representa 31,4% da área dos " Pequenos fragmentos; Correspondem
" Garças a 2,8%
com 2.947,57 2 Alta Bacia;
kmda;
Cerradão área
" Contribui com
total 1,4 paradosa " Representam 2,5% da área total dos remanescentes;
NEOSSOLOS remanescentes; " Identificados na porção norte da
Não identificada Há 6,3% da área dos remanescentes;
""Predominam sobre os NEOSSOLOS
remanescentes;
área total da Alta Bacia. total da Alta Bacia. " Concentrados na porção
Quartzarênicos distróficos. área; Identificados na
" Quartzarênicos porção
" Ocupa 2,4% da área da Alta distróficos. oeste e sul da Alta
" 6,9% da área da sub-bacia; oeste; Bacia. " Fragmentos atingem até 20m2. Bacia.
Campo Limpo " Identificados em " > fragmento: apresenta
Não identificada Não identificada
Úmido praticamente todos os 7.140m2.
afluentes do rio Babilônia;
" Sobre o domínio dos
LATOSSOLOS
Vermelhos álicos. " Representa 48,8% da área total " Ocorrem na porção leste e pequena parte na

FORMAÇÕES CAMPESTRES
Restrita a pequenas áreas sobre o " Ocupa 0,8% da sub-bacia - ocorrência restrita " dos remanescentes;
Restrito a Serra Dourada; Ocorrências restritas;
" central;
2
domínio dos solos NEOSSOLOS " Restrita a Serra da Azul - 0,4% da área da Alta Bacia "
" > fragmento:
Ocupam 1,32.850m
da ; área dos 21824 fragmentos;
"" Ocupam apenas 167 km2 (0,3% da Alta
Ocupa 11,6% da área da sub-
-Litólicos. " Ocorrem sobre o domínio dos " Restrita a áreas de RL e APP;
remanescentes. > fragmento: 2.850m2;
"Bacia);
Cerrado
Não identificada bacia; NEOSSOLOS Litólicos. " Localizados sobre os "- 0,6% da Alta
4%dos Bacia;
remanescentes.
Rupestre
- apresenta-se bem fragmentada; ARGISSOLOS Vermelhos " 8,8% da área dos remanescentes;
Mata Seca Não identificada Não identificada Não foi identificada
- > fragmento: 950m2; Amarelo eutróficos; " Dominam sobre os ARGISSOLOS
- 1,4% da área total da Alta Bacia; " Correspondem a 2,6% da área Vermelhos Amarelo eutróficos.
total da Alta Bacia.

FORMAÇÕES FLORESTAIS
" Representam 8,2% da área " Ocupa > área da sub-bacia, " Apresentam-se bem contínuas " Ocupa 9,8% da área total da sub- " Ocupa 6,1% da área total; " De forma geral apresentam-se fragmentada;
total da sub-bacia; com 1.762,43 km2 (12,7% da ao longo do médio curso dos bacia; " Apresentam-se contínuas, " Corresponde a 9,7% do total da Alta Bacia;
" Representa 17,5% de área área); rios das Garças e seus " Contínuas somente nas áreas de somente na porção noroeste; " 21,7% do total de remanescentes;
total dos remanescentes; " Correspondem 26,5% da área afluentes; nascentes; " Predominam sobre os " Dominam sobre os LATOSSOLOS Vermelhos
" Encontram-se dos remanescentes; " Representam 10,5% da área " Predominam sobre os LATOSSOLOS Vermelhos álicos;
fragmentadas; " Não se apresentam total dessa sub-bacia; LATOSSOLOS; distróficos; " Recebem maior contribuição da sub-bacia do rio
Mata ciliar " Identificadas contínuas; " 2,8% da área da Alta Bacia. " Representa 2,2% da área total " Representa 1,4% da área total da Peixes.
principalmente na micro- " > representatividade (2,8%) da Alta Bacia. Alta Bacia.
bacia do Rio Babilônia. para a Alta Bacia.

" Correspondem a 4,8% da " Representam apenas 4,5% da " > fragmentos: até 7.140m2; " Corresponde a 20,1% da área " Ocupam 3,2% da sub-bacia; " Ocupa 7,4% da Alta Bacia;
área total da sub-bacia; área desta sub-bacia; " Identificados nas porções total de remanescentes; " Localizados na porção sul e " Representa 16,5% da área total de
" Fragmentos não " Sobre o domínio dos norte e nordeste desta sub- " Concentração na porção central; nordeste da área; remanescentes;
ultrapassam os 1.500m2 ; LATOSSOLOS Vermelhos bacia; " > fragmento: 6.594m2; " Dominam sobre os NEOSSOLOS " 9463 fragmentos;
" Ilhados por atividades distróficos; " Representam 14,5% dessa " Representa 1,5% da área total da Quartzarênicos distróficos; " > fragmento: 7.140m2;
agropecuárias. " Identificados na porção norte; sub-bacia; Alta Bacia. " > fragmento: 2.230m2. " > contribuição da sub-bacia do rio das Garças
Cerrado Denso " Responsável por 3,8% da área com 2.947,57 km2;
total da Alta Bacia. " Dominam sobre os NEOSSOLOS
Quartzarênicos distróficos.

" Apresentam-se bem " Ocupa 14,1% da sub-bacia; " Corresponde a 4,1% da área; " Ocupa 6,3% da área total da Alta Bacia;
espalhados sobre a área; " > manchas localizam-se na " Áreas restritas; " Representa 14% da área dos remanescentes;

FORMAÇÕES SAVÂNICAS
" Representam 7,5% da sub- porção sul; " > fragmento: 1.502m2. " 20.147 fragmentos;
Cerrado Ralo Não identificada bacia; " > fragmento: 2.560m2; Não identificada " > fragmento: 2.560, na sub-bacia do rio das
" > fragmentos apresentam até " Respondem por 3,7% da área Garças, que contribuem com 2.305,30 km2.
1.018m2. total da Alta Bacia.

Quadro 03 - Quadro síntese das fisionomias remanescentes nas sub-bacias e na Alta Bacia.
Em campo, foi constatado que o recente processo de arenização no setor sul da
sub-bacia Cachoeira Grande avança até mesmo sobre as áreas de remanescentes.

É interessante destacar que cerca de 36,8% dos remanescentes, principalmente os


identificados nas sub-bacias dos rios Peixes e Cachoeira Grande, localizam-se sobre o
domínio dos LATOSSOLOS; o que de certa forma desobedece a uma das regras da
fragmentação, que é a manutenção dos remanescentes em áreas que não oferecem retorno
imediato para as atividades agropecuárias. Mas nas outras sub-bacias e na Alta Bacia do Rio
Araguaia, como um todo, os remanescentes, predominam sobre os ARGISSOLOS (39,26%
dos remanescentes) e sobre os NEOSSOLOS Quartzarênicos (24,35% dos remanescentes) .

A inter-relação dos remanescentes com os demais aspectos do meio físico é bem


generalizada, devido às proporções ocupadas pelas principais unidades, tanto geológica,
quanto geomorfológica: Formação Aquidauana predomina com 41,5% da área e o Planalto
dos Guimarães Alcantilados com 55,8% da área.

Observações realizadas nas folhas topográficas (Iporá - SE -22-V-B; Guiratinga -


SE -22-V-A; Barra das Garças - SD-22 -Y-D; Mineiros - SE -22-V-C; São Luis dos Montes
Belos - SE-22-X-A) em escala de 1:250.000, indicaram que a vegetação nativa de Cerrado
dominava na Alta Bacia na década de 1960; as áreas de agricultura e de campo (natural ou
pastagens) localizavam-se próximas aos núcleos urbanos e na porção leste da bacia, que já
abrigava municípios que instalados no fim do século XVIII (Goiás, Mossâmades, Iporá entre
outros).

Portanto, o desmatamento da vegetação nativa relaciona-se à expansão da


fronteira agrícola sobre a região, sobretudo a partir da década de 70, que provocou a
descaracterização e a fragmentação da vegetação nativa, como exposto nos capítulos
anteriores.

O alto grau de fragmentação da bacia induz à necessidade de serem tomadas


medidas drásticas e imediatas, especialmente do lado goiano, tanto pelos governos
municipais, estaduais e até mesmo federais por meio de leis específicas e ações coercitivas
contra futuros desmatamentos. A manutenção e preservação dos remanescentes presentes na
área devem se dar através de planos de manejo principalmente das áreas ao redor dos
remanescentes, para minimizar os efeitos de borda.

De acordo com Cerqueira et al., (2003), a proliferação das bordas gera um


conjunto de efeitos bióticos e abióticos. A persistência de uma determinada espécie em um
dado fragmento vai depender de sua tolerância ao efeito de borda, que inclui o aumento das
140
temperaturas do ar e do solo, a diminuição da umidade do ar e uma maior exposição aos
ventos, entre outros.

Segundo Bourlegat (2003), algumas pesquisas realizadas por diversas instituições de


ensino, centros de pesquisas, Ong’s, fundações, entre outros, buscam alternativas para a
manutenção da integridade dos remanescentes nos ambientes ilhados pelas atividades
agrícolas. Essas alternativas relacionam-se, principalmente, à busca de interconexões entre os
remanescentes, possíveis através “cinturões verdes” e corredores ecológicos.

Por guardarem informações biológicas e ecológicas necessárias à restauração da


vegetação, é necessário que os remanescentes sejam preservados e estejam interconectados.
Isso é possível através dos chamados corredores ecológicos, que representam uma unidade de
planejamento regional, unindo os remanescentes florestais, com objetivo de ampliar as
possibilidades de sobrevivência de todas as espécies, a manutenção dos processos ecológicos
e evolutivos. Eles podem unir as mais variadas formas de Unidades de Conservação, assim
como as Reservas Particulares, Reservas Legais, Áreas de Preservação Permanente e outras
UCs ou quaisquer outras áreas de vegetação natural. Existem diferentes tipos de corredores,
que dependem das escalas e grau de isolamento das áreas fragmentadas (FELFILI, 2004).

Os pequenos fragmentos servem como vias de acesso e de ligação entre grandes


áreas. Eles auxiliam no aumento da heterogeneidade da matriz e atuam como refúgio para
espécies que necessitam de ambientes particulares para sobrevivência. Os grandes fragmentos
são importantes para a manutenção da biodiversidade e de processos ecológicos em larga
escala (BRITEZ et al., 2005).

Para a APREMAVI (2005), por meio da manutenção ou recuperação das matas


ciliares, (que são Áreas de Proteção Permanente - APP) é possível estabelecer conexões com
as reservas legais e outras áreas florestais dentro das propriedades particulares e, assim,
garantir parte da manutenção dos remanescentes e até mesmo retorno econômico para a
comunidade local.

Atuações recentes da CI implementaram a criação do Corredor Cerrado-Pantanal,


que influencia no setor sul da Alta Bacia. As ações promovidas por essa unidade, atualmente,
restringem-se ao re-povoamento das espécies da fauna.

Uma vez que as matas ciliares e as áreas de Cerradão têm presença significativa na
Alta Bacia (ambas detém 20,7% da área total da bacia e 46,2% da área total dos
remanescentes), a recomposição e recuperação dessas áreas apresentam-se como uma
141
alternativa para a formação de “micro - corredores” ecológicos na Alta Bacia, que
beneficiariam a sul o Corredor Cerrado - Pantanal e a norte o Corredor Cerrado - Bananal.

Segundo Alves (2003), devem ser adotadas novas formas de planejamento do uso
da terra do Cerrado, que privilegiem a criação de novas reservas que se conectem às atuais
UCs, na tentativa de buscar novas formas de utilização dos recursos naturais e compatíveis
com os interesses das comunidades locais.

A autora acredita, ainda que, o maior aproveitamento para a conservação destes


remanescentes ocorreria através do estabelecimento de Condomínios Ecológicos de Reserva
Legal, que se apresentam em forma de mosaico e são formadas pelas próprias UCc e através
da adesão de parceiros privados e instituições públicas que buscam o desenvolvimento
sustentável.

Seja qual for a alternativa de recuperação e manutenção/conservação dos


remanescentes presentes na Alta Bacia do rio Araguaia, ela deve ser imediata, mesmo
apresentado 44,8% de sua área por remanescentes e alguns fragmentos relativamente
expressivos, eles apresentam-se fragmentados e convivem com a ameaça constante da
expansão das atividades agropecuárias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
143
A região Centro-Oeste, dominada pelo Bioma Cerrado, revelou um processo de
ocupação intenso, estruturado por políticas de desenvolvimento e investimentos
governamentais a partir da década de 1970, que empregavam o discurso da integração
nacional e do desenvolvimento e incorporação de suas áreas interioranas ao sistema produtivo
nacional. Esse processo, também chamado de expansão da fronteira agrícola, estava integrado
em uma proposta maior de inserção do país na economia globalizada (altamente dependente e
excludente) e que estimulou a inserção de um pacote tecnológico alheio às características
tropicais e principalmente do Bioma Cerrado.

Assim, o Bioma Cerrado despontou no cenário nacional e internacional como


grande celeiro agrícola do país e recebeu atenção dos grandes centros urbanos e científicos
por sua importância na produção agropecuária e pelos elevados índices de devastação das
paisagens naturais e a perda irreversível de elevada biodiversidade.

O modelo de desenvolvimento agropecuário exploratório implementado à região


promoveu a substituição da vegetação nativa do cerrado por pastagens e agricultura intensiva
fortemente motomecanizada, à custa de desmatamentos até mesmo das matas ciliares, de
nascentes, de escarpas e bordas de chapadas, todas consideradas áreas de preservação
permanente desde o Código Florestal de 1965.

O processo de ocupação da Alta Bacia do rio Araguaia é representativo da ação


implementada em todo o Bioma Cerrado e, conseqüentemente, nos Estados de Goiás e Mato
Grosso: ocupação inicial por garimpos, incentivos governamentais para ocupação e
desenvolvimento econômico, primeiro com colônias agrícolas e, depois, com crédito
subsidiado, predomínio de atividades de pastagens, entre outros, à custa da eliminação da
vegetação original, reduzindo-a a pequenos fragmentos, hoje ilhados pelas áreas agrícolas.

O mapeamento do uso da terra e dos remanescentes para toda a Alta Bacia do rio
Araguaia realizado através de classificação segmentada em imagens LANDSAT identificou
11 (onze) classes de uso. A análise dessas imagens foi possível através da combinação de
técnicas de interpretações visuais, digitais e de validação em campo, o que não descartou a
ocorrência de confusões espectrais entre as classes de Cerradão e Mata seca decídua em
algumas áreas e entre a classe de Campo Sujo e áreas em regeneração.

A vegetação original da área foi intensamente desmatada, com técnicas de


corte raso (correntão) e substituída por atividades de pastagens, que predominam com 46,5%
da área total, encontrando-se distribuídas em toda a bacia, até mesmo em áreas de fragilidade
natural. As áreas de agricultura têm pouca representatividade na área, as maiores áreas
144
localizam-se nos topos da chapada no setor sul da Alta Bacia, onde são cultivadas lavouras de
soja e algodão.

Essas atividades foram responsáveis pela fragmentação da vegetação nativa que


representa apenas 44,8% da área da bacia e encontram-se desconectadas, sofrendo influências
de atividades antrópicas (plantio de Brachiaria, pastoreio de gado, atividades agrícolas) que
as margeiam e que contribuem para degradação da biodiversidade e da sustentabilidade deste
remanescente.

Os remanescentes foram identificados com base na classificação de Ribeiro &


Walter (1998) em Cerradão, Mata Seca Decídua, Mata Ciliar, Cerrado Denso, Cerrado Ralo,
Cerrado Rupestre, Campo Sujo e Campo Limpo, sendo que as Formações Florestais
(Cerradão, Mata Seca e Mata Ciliar) predominam na Alta Bacia. Juntas, elas respondem por
24,7% da área total desta bacia. O domínio das fitofisionomias de Cerradão (11% da área
total) e Mata Ciliar (9,7% da área total) auxiliam na tomada de futuras medidas para a
manutenção e preservação da biodiversidade local e também do Bioma Cerrado, através da
formação de “micro- corredores” ecológicos. Os remanescentes da fisionomia de Cerradão
são encontrados principalmente sobre os LATOSSOLOS Vermelho álicos e constituem-se os
maiores e mais contínuos remanescentes em área.

As Formações Savânicas (Fisionomias de Cerrado Denso e Cerrado Ralo) vêm em


segunda posição em área ocupada, correspondendo a 13,7% da área total da Alta Bacia.
Apresentam-se bem fragmentadas e, assim como nas Formações Florestais, encontram-se em
meio à área de agropecuária intensivas. A maior contribuição em área e o de maiores
fragmentos (7.140m2 de Cerrado Denso e 2.560m2 de Cerrado Ralo) é dada pela sub-bacia rio
das Garças. Estes remanescentes são encontrados sobre NEOSSOLOS Quartzarênicos
distróficos e também sobre os ARGISSOLOS Vermelhos Amarelos distróficos.

As Formações Campestres, em terceiro lugar, como os tipos de Campo Sujo e


Campo Limpo Úmido (6,3% da área), geralmente não se constituem de áreas de proteção e
preservação das propriedades rurais, são mais suscetíveis de serem incorporadas às atividades
de pastagens, pelo pastoreio do gado, enquanto as Formações Savânicas e Florestais sofrem
com ameaças constantes dos desmatamentos. Encontrados principalmente, sobre os
NEOSSOLOS Quartzarênicos distróficos.

A apresentação dos remanescentes por sub-bacias permitiu constatar que o


processo de ocupação não foi homogêneo em toda a Alta Bacia bem como a identificação de
áreas críticas quanto a ausência e a insuficiência de vegetação. Em todas as sub-bacias, os
145
remanescentes encontram-se fragmentados e convivem com atividades agrícolas, mas o
estado de conservação e de conectividade é diferenciado entre elas.

A sub-bacia Cachoeira Grande apresenta processo de fragmentação intenso:


42,6% da área está ocupada por remanescentes, que se encontram distribuídos em 18.581
fragmentos, os quais predominam na zona rebaixada, ocupada por NEOSSOLOS
Quartzarênicos álicos e pastagens. O maior fragmento, com 7.130m2, enquadra-se na
formação de Cerradão, sendo que o restante distribui-se regularmente entre as principais
fisionomias. A ausência de cobertura vegetal, em uma área de fragilidade natural elevada
dominada por solos neossólicos, associada à intensa ocupação por atividades agropecuárias
foi responsável pela origem e aceleração dos processos erosivos e de assoreamento presentes
em várias áreas desta sub-bacia, como costado em pesquisas anteriores (FARIA, 2001;
MEDEIROS, 2002; BARBALHO, 2002; CASTRO, et al,. 2004, dentre outros).

Na sub-bacia rio dos Peixes, os 40.550 fragmentos encontram-se principalmente


em solos mais férteis, como os LATOSSOLOS Vermelho distróficos. Apresenta
predominância de Matas Ciliares (12,7% da área total da sub-bacia), que contribuem com
2,8% da área total da Alta Bacia. No entanto, essa fisionomia não se apresenta contínua. As
demais fisionomias apresentam-se mais concentradas na porção leste da bacia. Foi possível
observar um grande número de fragmentos das Formações Savânicas de Florestais, a maior
área com 6.624m2 pertence à fitofisionomia de Cerradão.

A sub-bacia do rio das Garças, que apresenta baixo índice de antropização,


portanto, é a que se encontra em melhor situação dentre todas, pois apresenta os
remanescentes em maior porcentagem (68,1% da área desta sub-bacia) e em manchas mais
contínuas (fisionomia como o Cerrado Denso, apresenta fragmento com até 7.140m2), o que
pode auxiliar na preservação e conservação da biodiversidade do Cerrado. As políticas
públicas de desenvolvimento que venham ser implantadas para o desenvolvimento devem
estar atentas às fragilidades naturais da área (predomínio dos NEOSSOLOS Quartzarênicos
distróficos) e propor um desenvolvimento baseado na sustentabilidade do Bioma Cerrado. É a
sub-bacia que mais contribui em área de remanescentes para a Alta Bacia.

A sub-bacia do rio Caiapó apresenta as maiores manchas de remanescentes


principalmente na porção sul. Assim como nas demais, eles se encontram “ilhados” pelas
atividades de pastagens. A maior participação entre os remanescentes, nesta sub-bacia, é da
fisionomia de Cerradão (31,4% da área total dos remanescentes da sub-bacia), que também
contribui com 2,4% na área da Alta Bacia.
146
Já na sub-bacia do rio Claro, a situação dos remanescentes é crítica, representam
apenas 5,3% da área total da Alta Bacia, restringindo-se praticamente às áreas de APP e RL.
O avanço das atividades de pastagens é uma ameaça constante aos remanescentes do “Mato
Grosso Goiano” que correspondem a 48,8% da área dos remanescentes desta sub-bacia e a
2,6% da área total da Alta Bacia. Devem ser propostas, nesta sub-bacia, políticas para o
reflorestamento do cerrado nativo e um controle ativo dos órgãos ambientais estaduais e
municipais para a suspensão de futuros desmatamentos.

O planejamento ambiental integrado da Alta Bacia pode partir da análise destas


sub-bacias (da parte para o todo). Comitês de estudos e planejamento ambiental, em escalas
mais detalhadas, podem ser formados para ampliar e manter sempre atualizados os dados
relativos especialmente de uso da terra e cobertura vegetal.

Convém ressaltar que o resultado geral da identificação dos remanescentes pode


estar superestimado, pois fatores como a extensão da área, limitações computacionais,
imagem utilizada e as confusões espectrais provocadas pela sazonalidade do bioma Cerrado
podem ter contribuído para superestimação das áreas.

A paisagem evolui com o tempo, sendo que uma classificação do uso do solo
geralmente é válida para aquela data, não sendo algo permanente. O mapeamento aqui
apresentado baseou-se em imagens LANDSAT ETM+ 7 de abril de 2003. Provavelmente o
resultado, até otimista, de 44,8% de remanescentes, já não seja o atual, pois o histórico de
expansão agropecuária da área é elevado. No entanto, a identificação e espacialização dos
remanescentes, servem para alertar sobre o elevado grau de degradação e fragmentação da
vegetação.

Como esse trabalho ateve-se a mapear os remanescentes considerando-se apenas


os aspectos fisionômicos do cerrado, relacionando-se ao processo de ocupação e de
desenvolvimento adotados na Alta Bacia do Rio Araguaia, não é possível a recomendação e
localização específica para corredores ecológicos, Ucs, nem RPPNs. A criação dessas
unidades deve considerar todos os aspectos faunistícos, floristícos, endêmicos, entre outros,
que não foram identificados nesse estudo. Mas convém indicar as alternativas para a
manutenção dos remanescentes.

Tradicionalmente, a manutenção dos remanescentes dá -se através das Unidades


de Conservação (tanto as de uso sustentável como de proteção permanente). Entretanto, a falta
de projetos e políticas que assegurem a conservação e integração de regiões mais abrangentes
de remanescentes compromete a sua manutenção, uma vez que as próprias UCs encontram-se
“ilhadas” por usos antrópicos e sofrem progressiva deterioração de seus ambientes
147
determinados pelo chamado efeito de borda e empobrecimento genético das espécies
presentes nesses remanescentes.

No entanto, na área, com exceção das UCs da Reserva Biológica de Serra


Dourada, a APA da Serra da Gales (ambos em território goiano) e do Parque Estadual da
Serra das Araras (em Mato Grosso), que não estão inseridos totalmente na área da Alta Bacia,
não existe mais nenhuma outra UC, na bacia. Os remanescentes identificados correspondem
às Áreas de Preservação Permanente (APP) ou as Reservas Legais (RL) dos estabelecimentos
rurais (isso porque são exigidas pela Lei Florestal nº4771/65), ou áreas que por algum motivo
ainda não foram incorporadas ao processo produtivo.

Os remanescentes que mantêm em entorno área de pastagens ou de cultivos


agrícolas apresentam diminuição de populações de espécies da fauna e da flora (se tornam
vulneráveis aos ataques antrópicos), além de terem sua troca genética dificultada, o que
motiva o empobrecimento das populações individualmente em suas áreas específicas.

A recomendação geral é para que sejam tomadas medidas enérgicas contra futuros
desmatamentos e que sejam adotadas providências, até mesmo para a recuperação de algumas
áreas. Essas áreas devem ser as áreas de matas ciliares, áreas com poucos remanescentes e
áreas desmatadas e não produtivas que se localizem principalmente na sub-bacia do rio Claro.
A recuperação das matas ciliares, que se interligam com as fisionomias de Cerradão e
Cerrados Denso pode auxiliar na manutenção dos corredores ecológicos Cerrado-Pantanal (a
sul da área) e do Cerrado-Bananal (a norte da área).

Estudos mais aprofundados sobre a biodiversidade dos remanescentes devem ser


realizados para a implementação de alternativas e políticas efetivas para a conservação e
manutenção dos remanescentes.

Na inviabilidade econômica imediata do Estado para a criação e manutenção de


novas Unidades de Conservação, na área, incentivos à criação de RPPNs é válida. Os
aspectos naturais (geomorfologia e vegetação, principalmente) da Alta Bacia oferecem uma
beleza cênica que favorece ao desenvolvimento de eco-turismo.

Existe também a alternativa do desenvolvimento sustentável, junto com a


comunidade local, para a recuperação da biodiversidade local, através do restabelecimento de
conexões interrompidas entre os remanescentes e o planejamento do uso e ocupação do solo
agrícola. A sobrevivência dos remanescentes depende de políticas agrícolas e ambientais
integradas as comunidades locais.
148
As ferramentas adotadas no trabalho mostraram-se válidas e confiáveis para a
escala adotada. Os resultados corroboram a necessidade da implantação de projetos de uso
sustentável do solo e de preservação e conservação dos remanescentes da Alta Bacia, para a
manutenção da biodiversidade do Bioma Cerrado. Imagens de melhor resolução deverão ser
adotadas, no entanto, para futuros diagnósticos mais detalhados de cada sub-bacia,
acompanhadas de SIGs também mais adequados a esse aprofundamento necessário, visando a
elaboração de Planos de Manejo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
150
AB´SABER, A.N. A organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. IN:
FERRI, M.G. (coord) III Simpósio sobre o cerrado. Ed.Edgard Blücher/ Ed. da Universidade
de São Paulo. 1979. p. 1-14

AB´SABER, A.N. Contribuição à Geomorfologia da área dos cerrados. IN: FERRI, M.G.
(coord) Simpósio sobre o cerrado: uso e manejo. São Paulo: EPUSP,1971.p-97-103.

AB´SABER, A.N. Os domínios da Natureza no Brasil: Potencialidades paisagísticas. São


Paulo. Ateliê Editorial, 2003. 159 p.

AGUIAR, M. C. de; FERREIRA, L. G.;FERREIRA, M.E; BORGES, R. de O.SANO, E.E;


GOMES, M .P. Mapeamento do uso do solo e da cobertura vegetal do Bioma Cerrado a partir
de dados orbitais MODIS e SRTM e dados Censitários. IN: Simpósio Brasileiro de
Sensoriamento remoto (SBSR), 12,2005. Goiânia. Anais... São José dos Campos: INPE,2005,
Artigos, p 2799-2801. CD-ROM.

ALHO, C. J.R & MARTINS, E. de S. De grão em grão o cerrado perde espaço. (Cerrado-
Impactos do Processo de Ocupação). WWF.1995. 66 p.

ALMEIDA Jr. J. M.S. G. de. Uma proposta de ecologia humana para o cerrado. IN:
NOVAES PINTO, M. Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas/ Brasília: Editora da
Universidade de Brasília,1993 – 2º edição. Cap.19 p.569-583.

ALMEIDA, F.F.M de & LIMA, M.A de Planalto Centro Ocidental e Pantanal Mato
Grossense. Guia de excursão n.1, realizada por ocasião do XVIII Congresso Internacional de
Geografia. União Geográfica Internacional. Conselho Nacional de Geografia. Rio de
Janeiro:1959

ALVES, J. S. A importância da manutenção dos remanescentes de cerrado no sudoeste


goiano: A contribuição da sub-bacia do Ribeirão Zeca Novato. 2003. Dissertação (Mestrado
em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio Ambientais, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2003.

ALVIM, P. T. Teoria sobre a formação dos Campos Cerrados. Revista Brasileira de


Geografia, Rio de Janeiro, Ano XVI, n. 4, p. 496-498, out.-dez. 1954.

ANDERSON, L.O; SHIMABOKURO,V.E; LIMA,A de; MEDEIROS,J.S.de. Mapeamento da


cobertura vegetal da terra do Estado de Mato Grosso através da utilização de dados
multitemporais do sensor MODIS. IN: Geografia. v. 30, nº2, maio/ago.2005. p. 365-380.

ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Superintendência de Estudos e Informações


hidrológicas (ANEEL/SIH). Bacia do Araguaia – Tocantins: índices hidrológicos. Brasília:
ANEEL, 1998.

APREMAVI Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí. Áreas


protegidas por lei e Unidades de Conservação.2005 Disponível em <
http://www.apremavi.com.br>. Acesso em 2 dez.2005.

ARAÚJO, M. R. e SOUZA, O. C. de. Fragmentação florestal e degradação das terras. IN:


COSTA, R.B. da (org). Fragmentação Florestal e alternativas desenvolvimento rural na
região Centro-Oeste. Campo Grande: UCDB, 2003. Cap.5. p.113-138.
151
ARIMA, L. I.DE A. et. al. Uso e Ocupação do Solo no Estado de Mato Grosso IN:
Zoneamento Ecológico Econômico de Mato Grosso.1999. Disponível em :
http://www.seplanmt.br . Acesso em 15 out.2005.

ASSAD,E.D;SANO,E,E. Sistema de informação Geográfica: aplicações na agricultura. 2 ed.


ver e ampl. Brasília: EMBRAPA - SP/ EMBRAPA - CAPC, 1998.

BARBALHO, M. G. S. Morfopedologia Aplicada ao Diagnóstico e Diretrizes para o


Controle dos Processos Erosivos Lineares na Alta Bacia do Rio Araguaia (GO/MT). 2002.
Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio - Ambientais, Universidade
Federal de Goiás, Goiânia, 2002.

BARBALHO, M. G. S., SILVA, A S., MEDEIROS, C. M., RAMOS, D. R, M., XAVIER, L.


S., CASTRO, S. S., PEREZ FILHO, A. Caracterização geo-ambiental: uso e ocupação das
terras – região do alto curso do rio Araguaia – (GO/MT). IN: IX Simpósio Brasileiro de
Geografia Física Aplicada, Recife, Anais...... 2001.p 286.

BARBOSA, A. S. Sistema biogeográfico do cerrado: alguns elementos para sua


caracterização. Goiânia, UCG.1996

BARBOSA,A.S;RIBEIRO,M.B;SHMITZ,P.I. Cultura e ambientes em áreas de Cerrado do


sudoeste de Goiás. IN: NOVAES PINTO, M. Cerrado: caracterização, ocupação e
perspectivas/ Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1993 – 2º edição. Cap. 2 p. 75-
108.
BARREIRA, C. M A. O papel de Pierre Monbeig na análise da ocupação da frente pioneira
do Centro-Oeste (1930-1940). Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, 15 (1), jan./dez. 1995.
p 89-107.

__________________. Região da Estrada de Boi – Usos e abusos da natureza. Goiânia:


Editora da UFG, 1997.

__________________. As políticas Públicas implementadas em Goiás, a partir de 1966, no


contexto dos Planos Nacionais, 2004. (mimeo)

BORGES, B. G. A economia goiana na divisão regional do trabalho (1930-1960). IN: SILVA,


L S. D. da. (org). Relações cidades-campo: Fronteiras. Ed. UFG,2000. p. 247- 272.

BORLEGAT, C. A. L. A fragmentação da Vegetação Natural e o Paradigma do


desenvolvimento rural. IN: COSTA, R.B. da (org). Fragmentação Florestal e alternativas de
desenvolvimento rural na região Centro-Oeste. Campo Grande: UCDB,2003. Cap.1. p 1-25.

BRASIL, A. E.; ALVARENGA, S. M. Relevo. In: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia


e Estatística do Brasil. Geografia do Brasil: Região Centro-Oeste. Rio de Janeiro: SERGRAF
- IBGE, 1989. p. 53 - 72.

BRASIL. Lei nº Lei Nº 4.771 de 15 de Setembro de 1965. Institui o novo Código Florestal.
Disponível em: < http://w.w.w.mma.gov.br>. Acesso em 20 de outubro de 2003.

_______. Anuário Estatístico do Brasil. 1970. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1971.
152
_______. Anuário Estatístico do Brasil. 1980. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1985.

_______. Anuário Estatístico do Brasil. 1996. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1997.

_______. Anuário Estatístico do Brasil. 2000. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,2001.

_______. Censo Agropecuário 1970. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1975.

_______. Censo Agropecuário 1980. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1985.

_______. Censo Agropecuário 1996. IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Rio de Janeiro: IBGE,1996.

_______. Programa Nacional do Meio Ambiente. Diagnóstico da gestão ambiental no Brasil -


região Centro-Oeste. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Secretaria executiva- Brasília:
MMA,2001.5v.
_______.MMA – Ministério do Meio Ambiente. Avaliação e identificação de áreas
prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da
biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília. MMA/SBF,2002. 404p

________. Ações Prioritárias para conservação da biodiversidade do Cerrado e do


Pantanal. MMA/ FUNATURA/ Conservation International/ Biodiversitas/ UnB-
Brasília,DF.1999.

________. GeoBrasil 2002 - Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Organizado por


Therezza Christina Carvalho Santos e João Batista Drummond Câmara. Brasília: Edições
IBAMA,2002.

BRITEZ, R. M. et al. Manejo do Entorno. IN: RAMBALDI, D.M.;OLIVEIRA, D.A.S. de.


(org.) Fragmentação de ecossistemas: causas, efeito sobre a biodiversidade e recomendações
de políticas públicas. Brasília: MMA/SBF. 2003. Cap. 14. p. 347-365.

BUCCI, Roberto.L.Franco et al. Legislação Ambiental. Boletim Goiano de Geografia.


Goiânia,12 (1), Jan/Dez. 1992. p. 87-96.

CAMPOS, A. B. et.al. Análise do compartimento espacial e temporal das temperaturas e


pluviosidades no Estado de Goiás. IN: ALMEIDA,M.G de (org). Abordagens geográficas de
Goiás : natural e social na contemporaneidade. Goiânia : IESA/ 2002. p- 91-118.

CAMPOS, A. B.; MATIAS, J.O.; CASTRO, S.S.; MEDEIROS, C.M. Análise da evolução do
uso do solo e de suas conseqüências ambientais na alta bacia do rio Araguaia. VIII Simpósio
de Geografia Física Aplicada. Belo Horizonte. Anais... 1999. p.88-89.

CAMPOS, A. C.. Degradação ambiental em unidades de conservação estaduais: o Caso de


Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco e seu entorno.2004. Dissertação (Mestrado em
Geografia) - Instituto de Estudos Sócio- Ambientais, Universidade Federal de Goiás.Goiânia,
2004.
153
CASTRO S.S.; XAVIER, L S.; BARBALHO, M.S. G, Atlas Geoambiental das nascentes dos
rios Araguaia e Araguainha: condicionantes dos processos erosivos lineares. Instituto de
Estudos Sócio - Ambientais, Universidade Federal de Goiás, SEMARH-GO, 2004. 76p.

CASTRO, S. S. e XAVIER, L.S. Plano de Controle de erosão linear nas nascentes dos Rios
Araguaia e Araguainha.. 2004. no prelo.

CASTRO, S.S. et al. Condicionantes geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de uso e


manejo dos solos na circulação hídrica e processos de voçorocamento na alta bacia do Rio
Araguia (GO/MT). In: COUTO, E.G.; BUENO, J.F. (Orgs). Os (dês) caminhos do uso na
agricultura brasileira. Cuiabá: UFMT, SBCS, 2004.

CERQUEIRA, R. et.al. Fragmentação do ambiente.IN: RAMBALDI, D.M.;OLIVEIRA,


D.A.S. de. (org.) Fragmentação de ecossistemas: causas, efeito sobre a biodiversidade e
recomendações de políticas públicas. Brasília: MMA/SBF. 2003. p. 24-40.

CHAUL, N. F. Marcha para o Oeste. IN: SILVA, L S. D. da. (org). Relações cidades-campo:
Fronteiras. Ed. UFG, 2000.p 113-125.

CI – Conservation International. Cerrado com os dias contados. Disponível em


<http://www.conservation.org.br/ > . Acesso em 12 fev. 2005.

CONTI, J. B e FURLAN, S. A. Geoecologia: o Clima, os Solos e a Biota. In: ROSS, J. L. S.


Geografia do Brasil. 4º ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. Didática.
67-208 p.

COUTINHO, L. M. Aspectos do Cerrado. Disponível em <


http://www.eco.ib.usp.br/cerrado>. Acesso em 26 de março de 2005.

COUTINHO, M L.M.O O cerrado e a ecologia do fogo. Revista Ciência Hoje, Rio de


Janeiro, vol. esp., maio 1992. p 131-138

CPRM - Relatório-síntese do trabalho de Regionalização de Vazões da Sub-bacia 24.2004.


28p.

CUNHA, A. S. Uma avaliação da sustentabilidade da agricultura nos cerrados. Brasília:


IPEA, 1994. 256p.

DEL’ARCO, I. O.; BEZERRA, P.E. L. Geologia . IN: Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística do Brasil. Geografia do Brasil: Região Centro–Oeste. Rio de Janeiro:
IBGE, 1989. P-35-90.

DIAS, B.F. de S. Conservação da natureza no cerrado brasileiro. IN: NOVAES PINTO, M.


(org.) Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas/ Brasília: Editora da Universidade
de Brasília, 1993 – 2º edição. Cap.21 p. 607-621.

DUARTE, L.M.G. Desenvolvimento sustentável: um olhar sobre os cerrados brasileiros. IN:


DUARTE, L.M.G. ; THEODORO, S. H (org).Dilemas do Cerrado. Entre o ecologicamente
(in)correto e o socialmente (in) justo.Rio de Janeiro: Garamound, 2002.
154
DUARTE, L.M.G. Globalização, agricultura e Meio ambiente: O paradoxo do
desenvolvimento dos Cerrados. IN: DUARTE, L.M.G.; BRAGA, M.L. de S. (org) Tristes
Cerrados: Sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo 15, 1998.300p.
EITEN, G. The Cerrado vegetation of Brazil. The Botanical Review, New York, v. 38, n. 2, p.
201-341, 1972.
EITEN, G. Vegetação do Cerrado. IN: NOVAES PINTO, M. Cerrado: caracterização,
ocupação e perspectivas/ Brasília: Editora da Universidade de Brasília,1993 – 2º edição.
Cap.1. p 17-73.

EMBRAPA CERRADOS. II Plano Diretor Embrapa Cerrados. 2000-2003. Embrapa


Cerrados – Planaltina, 2000. 32p.
EMBRAPA CERRADOS. III Plano Diretor Embrapa Cerrados.2004-2007. Embrapa
Cerrados – Planaltina, 2005. 68p.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solo. Sistema brasileiro de classificação de
solo: 4a aproximação / Centro Nacional de Pesquisa do Solo – Rio de Janeiro, 1999. 169p.

EMBRAPA. Cerrado. Disponível em < http://www.ewmbrapa.br >. Acesso em 30 out.2004.


ESTEVAM.L.. O tempo da transformação – Estrutura e dinâmica da formação econômica de
Goiás. Edição Especial. 1998.

FAISSOL, S. O “Mato Grosso de Goiás”. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio


de Janeiro, 1958.140p.

FARIA, K.M.S. de. Caracterização dos remanescentes de Cerrado na Alta Bacia do Rio
Araguaia e sua relações com o uso e ocupação das terras na Alta Bacia do Rio Araguaia.
2005. Relatório de Qualificação. Instituto de Estudos Sócio - Ambientais, Universidade
Federal de Goiás, Goiânia, 2001.

FARIA A.R.de. Uso do solo na bacia do Alto Araguaia Estados de Goiás de Mato Grosso:
Revisão sobre a importância do mapeamento atual. 2001. Monografia (Bacharelado em
Geografia) - Instituto de Estudos Sócio - Ambientais, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2001.
FARIA, M. E. Agricultura moderna, cerrados e meio ambiente. IN: DUARTE, L.M;
BRAGA,M.L.S (org.). Tristes Cerrados. Sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo
15,1998. Cap.5. p 149-168.

FELFILI,J.M. Fragmentos de Florestas Estacionais do Brasil Central: Diagnostico de


Proposta de Corredores Ecológicos. IN: COSTA, R.B. da (org). Fragmentação Florestal e
alternativas de desenvolvimento rural na região Centro-Oeste. Campo Grande: UCDB, 2003.
Cap.6. p. 139-160.

FEMA. Unidades de Conservação de Mato Grosso - Compromisso com a proteção da


biodiversidade. FEMA. Governo de Mato Grosso. Cuiabá. Mato Grosso. Brasil. 2002.
FERREIRA, M. E. Análise do Modelo Linear de Mistura Espectral na Discriminação de
Fitofisionomia do Parque Nacional de Brasília (Bioma Cerrado). 2003. Dissertação
(Mestrado em Geologia) - Instituto de Geociências, Universidade de Brasília, DF. 2003.
FERREIRA, M. E.; PECCININI, A. A.; FERREIRA, L. G.; HUETE, A. Análise da
sazonalidade de paisagens antrópicas e nativas do bioma Cerrado através dos produtos
MODIS índices de vegetação, área foliar e atividade fotossintética. IN: Simpósio Brasileiro
155
de Sensoriamento Remoto (SBSR), 12,2005. Goiânia. Anais....... São José dos Campos:
INPE, 2005, Artigos, p. CD-rom.

FERREIRA, M.T.(Org). Documentação Básica sobre o SIAD-Goiás (DBS). Disponível em:


www.ufg.br/lapig. Acesso em 07de abril 2006.

FERREIRA, I.M. Bioma Cerrado. Aula ministrada.2006.

FERRI, M.G. A vegetação de cerrados Brasileiros. IN: WARMING, E. 1841-1924. Lagoa


Santa. Belo Horizonte. Itatiaia; São Paulo, ED. da Universidade de São Paulo, 1973. p. 286-
362.

FERRI, M.G. Plantas do Brasil: espécies do Cerrado. São Paulo: Edgard Bleicher,1969.239
p.

FRANCO, J.L.A. Natureza no Brasil: idéias, políticas, fronteiras (1930-1992). IN: SILVA, L
S. D. da . (org). Relações cidades-campo: Fronteiras. Ed. UFG,2000. p.71-111.

FRANCO, S.M. O grande vale do oeste: Transformações da Bacia do ARAGUAIA em Goiás.


2003. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio Ambientais,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2003.

GEOGOIÁS: Agência Ambiental de Goiás. Fundação Cebrac. PNUMA: SEMARH,2003.


272p.

GOMES, H. & TEIXEIRA NETO, A. Geografia de Goiás/Tocantins. Centro Editorial e


Gráfico. Goiânia, UFG,1993.

GOODLAND, R.A. Historia dos Trabalhos no Cerrado até 1968. IN: GOODLAND, R.A.;
FERRI, M.G. Ecologia do Cerrado. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo. 1979.
IBAMA.2004. disponível em < http//www.ibama.gov.br> acesso em 21 de julho de 2004.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - Manual Técnico


Da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro, IBGE, 1992. 92p.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diagnóstico Brasil:


a ocupação do território e o meio ambiente. Rio de Janeiro. IBGE. 1990.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Mapa de Biomas e
de Vegetação: IBGE lança o Mapa de Biomas do Brasil e o Mapa de Vegetação do Brasil, em
comemoração ao Dia Mundial da Biodiversidade. Comunicação Social. Disponível em:
<http// www.ibge.gov.br.> Acesso de 25 maio de 2004.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.. Documentação
territorial do Brasil. Disponível em: < http//:www.ibge.gov.br>. Acesso 27 out de 2005.
IPT- INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Investigação, caracterização da fenomenologia e diretrizes para ao controle corretivo e
preventivo de novas feições erosivas lineraes e respectivas bacias de contribuição. Bacia
hidrográfica do Alto Araaguaia, GO/MT. Relatório Técnico. IPT.1998.

LACERDA FILHO. et.al. Geologia de recursos minerais do Estado de Goiás e do Distrito


Federal. 2ª ed. Goiânia: CPRM/ METAGO/UnB, 2000. CD-ROM
156
LATRUBESSE, E. & STEVAUX, J. C. (2002). Geomorphology and Environmental
Aspectsof Araguaia Fluvial Basin, Brazil. In: Z. Geomorphologie. Berlim: Suppl.-Bd. 129,.
109-127.

LEPSCH, I. F. Formação e conservação do solo. São Paulo: Oficina de Texto, 2002.

MACEDO, J. Os solos da região os cerrados. IN: O solo nos grandes domínios


morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentável. Viçosa/ MG. 1996. p.135-155..

MACHADO, R.B; RAMOS NETO, M.B; PEREIRA, P.G.P; CALDAS,E.F;


GONÇALVES,D.A.; SANTOS, N.S.; TABOR,K e STEININGER,M. Estimativas de perda
da área do cerrado brasileiro. Relatório técnico não publicado. Conservação Internacional,
Brasília,DF,2004.

MALHEIROS, R. A rodovia e os corredores da fauna dos cerrados. Dissertação (Mestrado


em Geografia). 1997 Instituto de Estudos Sócio Ambientais -Universidade Federal de Goiás.
Goiânia.1997.

MAMEDE L. et al. Geomorfologia. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha SE - 22 Goiânia.


R.J., 1983. Levantamento de Recursos Naturais, volume 31.

MARINHO, G. V. M.. Caracterização Físico-Hídrica e Suscetibilidade Erosiva Linear na


Sub-Bacia do Córrego Queixada, na Alta Bacia do Rio Araguaia-GO. (Mestrado em
Geografia) - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais. Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
2003.

MARTINS, José de Souza. Fronteira: A degradação do outro nos confins do humano. São
Paulo: Hucitec,1997.

MATIAS, J. O. Evolução do uso do solo entre a década de 70 e 90 e suas implicações com o


processo de ocupação e com a degradação ambiental na bacia do Alto Rio Araguaia. 1999.
Monografia (Bacharelado em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio Ambientais,
Universidade Federal de Goiás. Goiânia. 1999.

MEDEIROS, C. M. Análise da Estrutura Fundiária e o Uso e Manejo das Terras nas Sub-
bacias Críticas de Erosão Linear do Alto Rio Araguaia. 2002. Monografia (Bacharelado em
Geografia) – Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
2002

MENDONÇA, M. R. E THOMAZ JÚNIOR, A. A modernização da agricultura nas áreas de


Cerrado em Goiás (Brasil) e os impactos sobre o trabalho IN: Investigaciones Geográficas,
Boletín del Instituto de Geografía, UNAM /ISSN 0188-4611, Núm. 55, 2004, p.97-121

MESQUITA, O.V. Agricultura. IN: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Geografia do Brasil: Região Centro-Oeste. Rio de Janeiro: SERGRAF: IBGE, 1989. p.149-
170.

MESQUITA JUNIOR, H.N.de. Análise temporal com sensor orbital de unidades


fisionômicas de cerrado na gleba Grande Pé de Gigante (Parque Estadual de Vassunga-
SP).1998 Dissertação (Mestrado em Ecologia dos Ecossistemas terrestres e aquáticos) -
Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. São Paulo. 1998.
157
MILLER, K.R. Em busca de um novo equilíbrio:diretrizes para aumentar as oportunidades
de conservação da biodiversidade por meio do manejo biorregional. Brasília: IBAMA,1997.
94p.

MITTERMEIR, R. A.; et al. Megadiversity: Earth’s biologically wealthiest nations. CEMEX,


Conservation International, Agrupacion Sierra Madre, Cuidad Mexico,1997.501p.

MIRANDA, E. E. de; (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por


Satélite, 2005. Disponível em: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/>. Acesso em: 01
ago. 2005.

MIZIARA, F. Condições estruturais e opção individual na formulação do conceito de


“Fronteira Agrícola”. In: SILVA, L. S. D. da (org.) Relações cidade-campo: Fronteiras.
Goiânia: Ed.UFG, 2000.p 272-289.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Áreas Protegidas do Brasil. 2004. Disponível em <
http://www.mma.br/areasprotegidas/ >. Acesso em 25 agost. 2005.

MONTEIRO, J. M. G. Fluxo de CO2 em um Cerrado sensu stricto. 1995. Dissertação


(Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília. 1995.
MONTOVANI, J.E. & PEREIRA, A. Estimativas da Integridade da cobertura vegetal de
cerrado. Através de dados TM/Landsat. 1998. Disponível em <http://www.inpe.br>. Acesso
em 25 de jan. 2005.

MOREIRA, M. A. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de aplicação/ 2ª


ed. Viçosa: UFV, 2003.307p.

MOREIRA, M.L.C. (Coord). Geomorfologia. IN: Zoneamento Ecológico Econômico de Mato


Grosso. Disponível em:<http.www.seplan.mt.br>. Acesso 15 out.2005.

NASCIMENTO, M. A. S. do. Geomorfologia do Estado de Goiás. Boletim Goiano de


Geografia,Goiânia. 12(1) Jan/Dez.1992. p.1-22.

NASCIMENTO, M.A. L.S.do. O meio físico do cerrado: Revisando conceitos. IN:


Almeida,M.G de (org). Abordagens geográficas de Goiás: natural e social na
contemporaneidade. Goiânia: IESA/ 2002. p- 47-89.

NIMER, E. Clima. IN: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Geografia do


Brasil: Região Centro-Oeste. Rio de Janeiro: SERGRAF: IBGE, 1977. p.35-58

NOVAES A . S. S.; et al. Pedologia. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha SE - 22, Goiânia,
R.J., 1983. Levantamento de Recursos Naturais, volume 31.

NOVAES PINTO, M. Caracterização geomorfológica IN:______ Cerrado: caracterização,


ocupação e perspectivas/ Brasília: Editora da Universidade de Brasília,1993 – 2º edição. Cap.
9. p 285-320

NOVO, E. M. L. de M. Sensoriamento remoto: princípios e aplicações. São Paulo: Edgard


Blücher,1993.308p.
158
OLIVEIRA, I.J. de., Solo Pobre, Terra Rica. Paisagens do Cerrado e Agropecuária
Modernizada em Jataí, Goiás. 2002 Dissertação (Mestrado em Geografia)- Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. 2002

OLIVEIRA, J. B. de, Pedologia Aplicada. Jaboticabal : Funep, 2001. 414 p.

OLIVEIRA, S. de F. Unidades de Conservação (UCs): contexto histórico e a realidade do


Estado de Goiás. IN: IN: ALMEIDA,M.G de (org). Abordagens geográficas de Goiás :
natural e social na contemporaneidade. Goiânia: IESA. 2002. p- 47-89.

OLIVEIRA, V.C. de; CASTRO, S. S. Susceptibility and risck to water erosion in the upper
Araguaia river basin (GO/MT), Brazil. Revista Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. espec.
p.607-615. 2005.

PARA RAIOS, A. Capricho da Natureza. IN: Unb Revista. Ed. Especial. Julho,2000.

PIRES, O.M. Desenvolvimento e sustentabilidade: um estudo sobre o programa de


cooperação Técnica Nipo-brasileira dos Cerrados (PRODECER). 1996. Dissertação
(Mestrado) Universidade de Brasília, DF. 1996.

PONZONI, F.J. Comportamento espectral da Vegetação. IN: MENESES, P.R.; MADEIRA


NETTO, J. S. Sensoriamento remoto: refletância dos alvos naturais. Brasília: Ed. da
Universidade de Brasília; Planaltina: Embrapa Cerrados, 2001. Cap.5 p 157-199.

PROENÇA, C. Flores e Frutos do Cerrado. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2000.


226p.

RAMOS, D. R de M. Análise da distribuição temporal das precipitações na alta bacia do Rio


Araguaia e suas relações com os processos erosivos lineares (GO/MT). 2003. Monografia
(Graduação em Geografia) - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2003.

RANZINI, G. Solos do cerrado. IN: FERRI, M.G. III Simpósio sobre o cerrado. Ed. Edgard
Blücher/ Universidade de São Paulo. São Paulo. 1971. p. 26-43.

RAWITSCHER, F.K Algumas Noções sobre a transpiração e o balanço d’água de plantas


brasileiras. Anais da Academia Brasileira de Ciências v. 14 p.7-36

REZENDE, M; et.al. Pedologia: base para distinção de ambientes. 4ª ed. Viçosa: Neput,
2002. 338 p.

RIBEIRO, J. F.; WALTER, B., T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. IN: SANO, S.M;
ALMEIDA, S.P. Cerrado:ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA - CPAC. 1998. Cap.3 p.
88-166.

ROSA, R. Introdução ao Sensoriamento remoto. 2ºed.ED. Edefu, Uberlândia-MG.1992.

SALIM, C.A. As análises econômicas e tecnológicas para desenvolvimento agrário das áreas
de cerrados no Brasil: Avaliação e perspectivas. Cad. Dif. Tecnol. Brasília: [S, n], V3, nº 2.
1986. p.297-340.
159
SANCHES, R. O. Zoneamento Agroecológico do Estado de Mato Grosso: Ordenamento
Ecológico - Paisagístico do Meio rural e Natural. Cuiabá. Mato Grosso: Fundação de
Pesquisas Cândido Rondon. 1992.

SANO, E.E. FERREIRA, A.G. Monitoramento semi-detalhado(escala de 1:250.000) de


ocupação dos solos do cerrado; considerações e proposta metodológica. IN: Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto (SBSR), 12,2005. Goiânia. Anais....... São José dos
Campos: INPE,2005, Artigos, p 915-922 CD-rom
SANTANA, N.M.P. de. Chuva e erosão na Alta Bacia do Rio Araguaia. IN: 10º Seminário
Interno do Mestrado em Geografia - UFG - Trajetória de uma década de Produção
Cartográfica. Caderno de resumos. 2006. p. 32 -33.

SANTOS, L.B. dos; INNOCÊNCIO, N.R; GUIMARÃES, M.R da S. Vegetação. IN:


Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do
Brasil – Região Centro – Oeste. Rio de Janeiro, SERGRAF – IBGE, 1977.

SANTOS, M. 1992: A Redescoberta da Natureza. Aula Inaugural em 10 de março de 1992.


Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. 1992.

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO


PARANÁ - SEMA-PR. Coletânea de termos usuais em educação ambiental. Curitiba:
IAP/GTZ,1997.30p.

SEMA/MT. Secretaria do Estado do Meio Ambiente e recursos hídricos de Mato Grosso.


Mato Grosso Reduz área desmatada em 2005. Disponível em: < http// www.semamt.br.>
Acesso em 2005
SEPLAM/GO. Secretaria de Planejamento do Estado de Goias.- Anuário Estatístico de Goiás,
2001. Disponível em: <http// www.seplango.br.>.
SILVA, A. P. Estudo das relações entre o sistema viário, a rede de drenagem e as
ocorrências erosivas lineares na bacia do alto rio Araguaia. Monografia (bacharelado em
Geografia) - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás. Goiânia,
2000.
SILVA, L. L. O papel do Estado no processo de ocupação das áreas de cerrado entre as
décadas de 60 e 80. Revista on-line Caminhos da Geografia. UFU. (1) 2. dez. 2000. p. 24-36.

SILVA. M.C de. Dinâmica populacional do território goiano:representações, crescimento e


migração - 1970-2004. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Estudos
Sócio - Ambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2006.

SOUSA JÚNIOR, J.J. et al. Geologia. In: Projeto RADAMBRASIL, Folha SE.22, Goiânia .
Rio de Janeiro: 1983 (Levantamento de Recursos Naturais, 31).

THEODORO, S.H; LEONARDOS,H.O e DUARTE, L.M.G. Cerrado: o celeiro saqueado. IN:


DUARTE, L.M. G. et. al. Dilemas do cerrado: entre o ecologicamente (in) correto e o
socialmente (in) justo. Rio de Janeiro: Garamound, 2002. p.145-176.

VALENTE, R. de O.A. Análise da estrutura da paisagem na bacia do rio Corumbataí, SP.


2001. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz, Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2001.
160
VIANA, V. M.; TABANEZ, A., A., J. & MARTINEZ, J. L. A. Restauração e manejo de
fragmentos florestais.. In: II Congresso Nacional sobre Essências Nativas. Instituto Florestal
de São Paulo, São Paulo. 1992. v.4. p. 400-407.

WAIBEL, L. Capítulos de Geografia tropical e do Brasil. IBGE. Biblioteca Central. 1979.

WARMING, E. 1841-1924. Lagoa Santa. Belo Horizonte. Itatiaia; São Paulo, ED. da
Universidade de São Paulo, 1973. p. 8-282

WWF Brasil. Bioma Cerrado Disponível em: <http//www.wwf.org.br>. Acesso em 04 set. de


2005.

WWF/IMAGEM. Definição de Áreas Prioritárias para Conservação do Estado de Goiás,


Brasil. 2004.
ANEXOS
162
ANEXO I - Lei Nº 4.771/65.

Lei nº 4.771 de 15 de Setembro de 1965


(D.O.U. DE 16/09/95)
Institui o novo Código Florestal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
Faço saber que o congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º. - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas
de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente
esta lei estabelecem.
Parágrafo único - As ações ou omissões contrárias às disposições deste
Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso nocivo
da propriedade.

Art. 2º. - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais
formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja
largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;
2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de
largura;
3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de
largura;
4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 500 (quinhentos)
metros de largura;
5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos)
metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a sua
situação topográfica, num raios mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas com declive superior a 45o., equivalente a 100 por cento na linha de
maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.
i) REVOGADA
Parágrafo Único - No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros
urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o
território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo,
respeitados os princípios e limites que se refere este artigo.

Art. 3º. - Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do
Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas:
a) a atenuar a erosão das terras:
b) a fixar as dunas;
c) a formar as faixas de proteção ao longo das rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçadas de extinção;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas
h) a assegurar condições de bem estar público.
163
Parágrafo 1o. - A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida
com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras,
planos, atividade e projetos de utilidade pública ou interesse social.
Parágrafo 2o. - As florestas que integram o Patrimônio indígena ficam sujeitas ao regime de
preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.

Art. 4º. - Consideram-se de interesse público:


a) a limitação e o controle do pastoreio em determinadas áreas. visando à adequada conservação e
propagação da vegetação florestal;
b) as medidas com o fim de prevenir ou erradicar pragas e doenças que afetam a vegetação florestal;
c) a difusão e adoção de métodos tecnológicos que visem a aumentar economicamente a vida útil da
madeira e o seu maior aproveitamento em todas as fases de manipulação e transformação.

Art. 5º. - O Poder Público criará:


a) Parques Nacionais, Estaduais e Municipais e Reservas Biológicas, com a finalidade de resguardar
atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas
naturais, com a utilização para objetivos educacionais recreativos e científicos;
b) Florestas Nacionais, Estaduais e municipais, com fins econômicos, técnicos ou sociais, inclusive
reservando áreas não florestadas e destinas a atingir aquele fim.
Parágrafo único - Ressalvada a cobrança de ingresso a visitantes, cuja receita será destinada em pelo
menos 50% (cinqüenta por cento) ao custeio da manutenção e fiscalização, bem como de obras de
melhoramento em cada unidade, é proibida qualquer forma de exploração dos recursos naturais nos
parques e reservas biológicas criados pelo poder público na forma deste artigo.

Art. 6º. - O proprietário da floresta não preservada, nos termos dessa


Lei, poderá gravá-la com perpetuidade, desde que verificada a existência de interesse público pela
autoridade florestal. O vínculo constará de termo assinado perante a autoridade florestal e será
averbado à margem da inscrição no registro Público.

Art. 7º. - Qualquer árvore poderá ser declarada imune de corte, mediante ato do Poder Público, por
motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes.

Art. 8º. - Na distribuição de lotes destinados á agricultura, em planos de colonização e de reforma


agrária, não devem ser incluídas as áreas florestadas de preservação permanente de que trata esta
Lei, nem as florestas necessárias ao abastecimento local ou nacional de madeiras e de outros
produtos florestais.

Art. 9º. - As florestas de propriedade particular, enquanto indivisas com outras, sujeitas a regime
especial, ficam subordinadas às disposições que vigorarem para estas.

Art. 10º - Não é permitida a derrubada de florestas situadas em áreas de inclinação entre 25 a 45
graus, só sendo nelas toleradas a extração de toros quando em regime de utilização racional, que vise
rendimentos permanentes.

Art. 11º - O emprego de produtos florestais ou hulha como combustível obriga o uso de dispositivo
que impeça difusão de fagulhas suscetíveis de provocar incêndios nas florestas e demais formas de
vegetação marginal.

Art. 12º - Nas florestas plantadas, não consideradas de preservação permanente, é livre a extração
de lenha e demais produtos florestais ou a fabricação de carvão. Nas demais florestas, dependerá de
norma estabelecida em ato do Poder Federal ou Estadual, em obediência a prescrições ditadas pela
técnica e às peculiaridades locais.

Art. 13º- O comércio de plantas vivas oriundas de florestas, dependerá de licença de autoridade
competente.
164
Art. 14º - Além dos preceitos gerais a que está sujeita a utilização das florestas, o Poder Público
Federal ou Estadual poderá:
a) preservar outras normas que atendam às peculiaridades locais;
b) proibir ou limitar o corte das espécies vegetais consideradas em via de extinção, delimitando as
áreas compreendidas, no ato, fazendo depender nessas áreas, de licença prévia, o corte de outras
espécies;
c) ampliar o registro de pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à extração, indústria e comércio
de produtos ou subprodutos florestais.

Art. 15º - Fica proibida a exploração sob forma empírica das florestas primitivas da bacia amazônica
que só poderão ser utilizadas em observância a planos técnicos de condução e manejo a serem
estabelecidos por ato do Poder Público, a ser baixado dentro do prazo de um ano.

Art. 16 - As florestas de domínio privado, não sujeitas ao regime de utilização limitadas e ressalvadas
as de preservação permanente, previstas nos artigos 2o e 3o desta Lei, são suscetíveis de exploração,
obedecidas as seguintes restrições:
a) nas regiões Leste Meridional, Sul e Centro-Oeste, está na parte sul, as derrubadas de florestas
nativas, primitivas ou regeneradas, só serão permitidas desde que seja em qualquer caso, respeitado
o limite mínimo de 20% da área de cada propriedade com cobertura arbórea localizada, a critério de
autoridade competente;
b) nas regiões citadas na letra anterior, nas áreas já desbravadas e previamente delimitadas pela
autoridade competente, ficam proibidas as derrubadas de florestas primitivas, quando feitas para
ocupação do solo como cultura e pastagens, permitindo-se nesses casos, apenas a extração de árvores
para produção de madeira. Nas áreas ainda incultas, sujeitas a formas de desbravamento, as
derrubadas de florestas primitivas, nos trabalhos de instalação de novas propriedades agrícolas, só
serão toleradas o máximo de 50% da área da propriedade;
c) na região Sul, as áreas atualmente revestidas de formações florestais em que ocorre o pinheiro
brasileiro Araucária angustifolia (Bert-O.Kitze), não poderão ser desflorestadas de forma a provocar
a eliminação permanente das florestas, tolerando-se somente, a exploração racional destas,
observadas as prescrições ditadas pela a técnica, com a garantia de permanência dos maciços em
boas condições de desenvolvimento e produção;
d) nas regiões Nordeste e Leste Setentrional, inclusive nos Estados do Maranhão e Piauí, o corte de
árvores e a exploração de florestas só serão permitidas com observância de normas técnicas a serem
estabelecidas por ato do poder Público na forma do Art. 15.
Parágrafo 1o - Nas propriedades rurais, compreendidas na alínea a deste artigo, com área entre 20
(vinte) e 50 (cinqüenta) hectares, computarse-ão, para efeito de fixação do limite percentual, além da
cobertura florestal de qualquer natureza, os maciços de porte arbóreo, sejam frutíferos, ornamentais
ou industriais.
Parágrafo 2o - A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, 20% (vinte por cento) de cada
propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser averbada à margem da inscrição de
matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação,
nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento da área.
Parágrafo 3o. - Aplica-se às áreas de cerrado a reserva legal de 20% (vinte por cento) para todos os
efeitos legais.

Art. 17 - Nos loteamentos de propriedades rurais, a área destinada a complementar o limite


percentual fixado na letra a do artigo antecedente, poderá ser agrupada numa só porção em
condomínio entre os adquirentes.

Art. 18 - Nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o florestamento ou o


reflorestamento de preservação permanente, o Poder Público Federal poderá fazê-lo sem
desapropriá-la, se não o fizer o proprietário.
Parágrafo 1o. Se tais áreas estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor deverá ser
indenizado o proprietário;
Parágrafo 2o. As áreas assim utilizadas pelo Poder Público Federal ficam isentas de tributação.
165
Art. 19 - A exploração de florestas de formações sucessoras, tanto de domínio público como de
domínio privado, dependerá de aprovação prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, bem como da adoção de técnicas de condução, exploração,
reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a cobertura
arbórea forme.
Parágrafo único - No caso de reposição florestal, deverão ser priorizados projetos que contemplem a
utilização de espécies nativas.

Art. 20 - As empresas industriais que, por sua natureza, consumirem grandes quantidades de
matéria-prima florestal, serão obrigadas a manter, dentro de um raio em que a exploração e o
transporte sejam julgados econômicos, um serviço organizado, que assegure o plantio de novas áreas,
em terras próprias ou pertencentes a terceiros, cuja produção, sob exploração racional, seja
equivalente ao consumido para o seu abastecimento.
Parágrafo único - O não cumprimento do dispositivo neste artigo, além das penalidades previstas
neste Código, obriga os infratores ao pagamento de multa equivalente a 10% (dez por cento) do valor
comercial da matéria-prima florestal nativa consumida além da produção da qual participe.

Art. 21 - As empresas siderúrgicas, de transporte e outras, à base de


carvão vegetal, lenha ou outra matéria-prima vegetal, são obrigadas a manter
florestas próprias para exploração racional ou formar, diretamente ou por
intermédio de empreendimentos dos quais participem, florestas destinadas ao
seu suprimento.
Parágrafo único - A autoridade competente fixará para cada empresa o prazo que lhe é facultado
para atender ao dispositivo neste artigo, dento dos limites de 5 a 10 anos.

Art. 22 - A União, diretamente, através do órgão executivo específico, ou em convênio com os


Estados e Municípios, fiscalizará a aplicação de normas deste Código, podendo, para tanto, criar os
serviços indispensáveis.
Parágrafo Único - Nas áreas urbanas, a que se refere o parágrafo único do Art. 2o. desta Lei, a
fiscalização é da competência dos municípios, atuando a União supletivamente.

Art. 23 - A fiscalização e a guarda das florestas pelos serviços especializados não excluem a ação da
autoridade policial por iniciativa própria.

Art. 24 - Os funcionários florestais, no exercício de suas funções, são equiparados aos agentes de
segurança pública, sendo-lhes assegurado o porte de armas.

Art. 25 - Em caso de incêndio rural, que não se possa extinguir com os recursos ordinários, compete
não só ao funcionário florestal como a qualquer outra autoridade pública requisitar os meios
materiais e convocar os homens em condições de prestar auxílio.

Art. 26 - Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de prisão simples ou
multa de uma a cem vezes o salário mínimo mensal do lugar e da data de infração ou ambas as penas
cumulativamente:
a) destruir ou danificar a floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação
ou utilizá-la com infrigência das normas estabelecidas ou previstas nesta Lei;
b) cortar árvores em florestas de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente;
c) penetrar em florestas de preservação permanente conduzindo armas, substâncias ou instrumentos
próprios para caça proibida ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem estar
munido de licença da autoridade competente;
d) causar danos aos Parques Nacionais, Estaduais ou Municipais, bem como às Reservas Biológicas;
e) Fazer fogo, por qualquer modo, em florestas e demais formas de vegetação, sem tomar precauções
adequadas;
f) fabricar, vender, transportar e soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais
formas de vegetação;
g) impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação;
166
h) receber madeira, lenha, carvão e outros produtos procedentes de floresta, sem exigir a exibição de
licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente e sem munir-se da via que deverá
acompanhar o produto, até final beneficiamento;
i) transportar ou guardar madeiras, lenha e carvão e outros produtos procedentes de florestas, sem
licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade
competente;
j) deixar de restituir à autoridade licenças extintas pelo decurso do prazo ou pela entrega ao
consumidor dos produtos procedentes de florestas;
l) empregar, como combustível, produtos florestais ou hulha, sem uso de dispositivos que impeçam a
difusão de fagulhas, suscetíveis de provocar incêndios nas florestas;
m) soltar animais ou não tomar precauções necessárias, para que o animal de sua propriedade não
penetre em florestas sujeitas a regime especial;
n) matar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros
públicos ou em propriedade privada alheia ou árvore imune de corte;
o) extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia
autorização: pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais;
p) VETADO
q) transformar madeiras de lei em carvão, inclusive para qualquer efeito industrial, sem licença da
autoridade competente;

Art. 27 - É proibido o uso de fogo nas florestas e demais formas de vegetação;


Parágrafo único - Se peculiaridades locais ou regionais justificarem o emprego do fogo em práticas
agro-pastoris ou florestais a permissão será estabelecida em ato do Poder Público, circunscrevendo
as áreas e estabelecendo normas de precaução.

Art. 28 - Além das contravenções estabelecidas no artigo procedente, subsistem os dispositivos sobre
contravenções e crimes previstos no Código Penal e nas demais leis, com as penalidades nele
cominadas.

Art. 29 - As penalidades incidirão sobre os autores, sejam eles:


a) diretos;
b) arrendatários, parceiros, posseiros, gerentes, administradores, diretores, promitentes compradores
ou proprietários das áreas florestais, desde que praticadas por prepostos ou subordinados e no
interesse dos preponentes ou dos superiores hierárquicos;
c) autoridades que se omitirem ou facilitarem, por consentimento ilegal, na prática do ato.

Art. 30 - Aplicam-se às contravenções previstas neste Código as regras gerais do Código Penal e da
Lei das Contravenções Penais, sempre que a presente Lei não disponha de modo diverso.

Art. 31 - São circunstâncias que agravam a pena, além das previstas no Código Penal e na Lei de
Contravenções Penais:
a) cometer a infração no período de queda das sementes ou de formação das vegetações prejudicadas,
durante a noite, em domingos ou dias feriados, em época de seca ou inundações;
b) cometer a infração contra a floresta de preservação permanente ou material dela provido.

Art. 32 - A ação penal independe de queixa, mesmo em se tratando de lesão em propriedade privada,
quando os bens atingidos são florestas e demais formas de vegetação, instrumentos de trabalho,
documentos e atos relacionados com a proteção florestal disciplinada nesta Lei.

Art. 33 - São autoridades competentes para instaurar, presidir e proceder a inquéritos policiais,
lavrar autos de prisão em flagrante e intentar a ação penal, nos casos de crimes ou contravenções,
previstos nesta Lei ou em outras leis e que tenham por objeto florestas e demais formas de vegetação,
instrumentos de trabalho, documentos e produtos dessas procedentes:
a) as indicadas no Código de Processo Penal;
b) os funcionários da repartição florestal e de autarquias, com atribuições correlatas, designados
para as atividades de fiscalização.
167
Parágrafo Único - Em caso de ações penais simultâneas, pelo mesmo fato, iniciadas por várias
autoridades, o Juiz reunirá os processos nas jurisdições em que se firmou a competência.

Art. 34 - As autoridades referidas no item b do artigo anterior, ratificada a denúncia pelo Ministério
Público, terão ainda competência igual a deste, na qualidade de assistente, perante a Justiça comum,
nos feitos de que trata a Lei.

Art. 35 - A autoridade apreenderá os produtos e os instrumentos utilizados na infração e, se não


puderem acompanhar o inquérito, por seu volume e natureza, serão entregues ao depositário público
local, se houver e, na sua falta, ao que for nomeado pelo Juiz, para devolução ao prejudicado. Se
pertencerem ao agente ativo da infração serão vendidos em hasta pública.

Art. 36 - O processo das contravenções obedecerá ao rito sumário da Lei nº 1.508, de 19 de


dezembro de 1951, no que couber.

Art. 37 - Não serão transcritos ou averbados no Registro Geral de Imóveis os atos de transmissão
inter-vivos ou causa mortis, bem como a constituição de ônus reais, sobre imóveis da zona rural, sem
a apresentação de certidão negativa de dívidas referentes a multas previstas nesta Lei ou nas Leis
estaduais supletivas, por decisão transitada em julgado.
Art. 38 - REVOGADO

Art. 39 - REVOGADO

Art. 40 - VETADO

Art. 41 - Os estabelecimentos oficiais de crédito concederão prioridades aos projetos de


florestamento, reflorestamento ou aquisição de equipamentos mecânicos necessários aos serviços,
obedecidas as escalas anteriormente fixadas em Lei.
Parágrafo Único - Ao CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, dentro de suas atribuições legais,
como órgão disciplinador do crédito e das operações creditícias em todas as suas modalidades e
formas, cabe estabelecer as normas para os financiamentos florestais, como juros e prazos
compatíveis, relacionados com os planos de florestamento e reflorestamento aprovados pelo
CONSELHO FLORESTAL FEDERAL.

Art. 42 - Dois anos depois da promulgação desta Lei, nenhuma autoridade poderá permitir a adoção
de livros escolares de leitura que não contenhas textos de educação florestal, previamente aprovados
pelo Conselho Federal de Educação, ouvido o órgão florestal competente.
Parágrafo primeiro - As estações de rádio e televisão incluirão, obrigatoriamente, em suas
programações, texto e dispositivos de interesse florestal, aprovados pelo órgão competente no limite
mínimo de cinco (5) minutos semanais distribuídos ou não em diferentes dias.
Parágrafo segundo - Nos mapas e cartas oficiais serão obrigatoriamente assinalados os Parques e
Florestas Públicas.
Parágrafo terceiro - A União e os Estados promoverão a criação e o desenvolvimento de escolas para
o ensino florestal, em seus diferentes níveis.

Art. 43 - Fica instituída a SEMANA FLORESTAL, em datas fixadas para as diversas regiões do País,
por Decreto Federal. Será a mesma comemorada, obrigatoriamente, nas escolas e estabelecimentos
públicos ou subvencionados através de programas objetivos em que se ressalte o valor das florestas,
face aos seus produtos e utilidades, bem como sobre a forma correta de conduzí-las e perpetuá-las.
Parágrafo Único - Para a Semana Florestal serão programadas reuniões, conferências, jornadas de
reflorestamento e outras solenidades e festividades, com o objetivo de identificar as florestas como
recurso natural renovável de elevado valor social e econômico.

Art. 44 - Na Região Norte e na parte Norte da Região Centro-Oeste, enquanto não for estabelecido o
decreto de que trata o artigo 15, a exploração a corte raso só é permissível desde que permaneça com
a cobertura arbórea, pelo menos 50% da área de cada propriedade.
168
Parágrafo Único - A RESERVA LEGAL, assim entendida a área de, no mínimo, 50% (cinqüenta por
cento) de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser averbada à margem da
inscrição da matrícula do imóvel, no Registro de Imóveis competente, sendo vedada a alteração de
sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento da área.

Art. 45 - Ficam obrigados ao registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA os estabelecimentos comerciais responsáveis pela comercialização de
moto-serras, bem como aqueles que adquirirem este equipamento.
Parágrafo 1º. - A licença par o porte e uso de moto-serras será revogada a cada 2 (dois) anos perante
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
Parágrafo 2o. - Os fabricantes de moto-serras ficam obrigados, a partir de 180 (cento e oitenta dias)
da publicação desta Lei, a imprimir, em local visível deste equipamento, numeração cuja seqüência
será encaminhada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA e constará das correspondentes notas fiscais.
Parágrafo 3o. - A comercialização ou utilização de moto-serras sem a licença a que se refere este
artigo constitui crime contra o meio ambiente, sujeito à pena de detenção de 1 (um) a 3 (três) meses e
multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos de referência e apreensão da moto-serra, sem prejuízo da
responsabilidade pela reparação dos danos causados.

Art. 46 - No caso de florestas plantadas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, zelará para que seja preservada, em cada município, área destinada à
produção de alimentos básicos e pastagens, visando ao abastecimento local.

Art. 47 - O Poder Executivo promoverá no prazo de 180 dias, a revisão de todos os contratos,
convênios, acordos e concessões relacionados com a exploração florestal em geral, a fim de ajustá-
las às normas adotadas por esta lei.

Art. 48 - Fica mantido o Conselho Florestal, com sede em Brasília, como órgão consultivo e
normativo da política florestal brasileira.
Parágrafo Único - A composição e atribuições do Conselho Florestal Federal, integrado, no máximo,
por 12 (doze) membros, serão estabelecidas por decreto do Poder Executivo.

Art. 49 - O Poder Executivo regulamentará a presente Lei, no que for julgado necessário à sua
execução.

Art. 50 - Esta Lei entrará em vigor 120 (cento e vinte) dias após a data de sua publicação revogados
o Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934 (Código Florestal), e demais disposições em contrário.

Brasília, 15 de setembro de 1965;


144o. da Independência e 77o. da República.
H. CASTELO BRANCO
169
ANEXO 02-Unidade de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral em Goiás, 2002.

UNIDADES (CATEGORIAS DE ÁREA (HÁ) BIOMA


MANEJO)
Parque Nacional das Emas 131.686,50 Cerrado
Parque Nacional das Chapadas dos 65.514,75 Cerrado
Veadeiros
Proteção Integral
Conservação de

Parque Estadual da Serra de Caldas 13.315,00 Cerrado


Unidades de

Parque Estadual de Terra Ronca 57.000,00 Cerrado


Parque Ecológico de Preservação Ambiental 3.183,00 Cerrado
e Florestal Altamiro de Moura Pacheco
Parque Estadual Telma Ortega 165 Cerrado
Parque Ecológico da Serra de Jaraguá ND Cerrado
Parque Estadual de Paraúna 3.250,00 Cerrado
Reserva Biológica da Serra da Mesa ND Cerrado
Parque Municipal do Itiquira 50.0000 Cerrado
Parque Ecológico Mata da Bica 26,7 Cerrado
Parque Municipal dos Lavapés 339 Cerrado
Área de Relevante Interesse Ecológico 2.649,00 Cerrado
Águas de São João
Área de Proteção Ambiental da Serra da 21.751 Cerrado
Jibóia
Área de Proteção Ambiental Serra dos 22.800 Cerrado
Pirineus
Área de Proteção Ambiental Serra Dourada 16.851 Cerrado
Área de Proteção Ambiental Serra Geral 60.000,00 Cerrado
Área de Proteção Ambiental Pouso Alto 872.000 Cerrado
Área de Proteção Ambiental Meandros do 357.126 Cerrado
Araguaia
Área de Proteção Ambiental das Nascentes 176.159 Cerrado
do rio Vermelho
USO SUSTENTÁVEL
CONSERVAÇÃO DE

Área de Proteção Ambiental do Planalto 504.608 Cerrado


UNIDADES DE

Central
Área de Proteção Ambiental da Bacia do 35.588 Cerrado
Rio Descoberto
Área de Proteção Ambiental das Serras das 30.000 Cerrado
Gáleas e da Portaria
Área de Proteção Ambiental Serra de ND Cerrado
Jaraguá
Floresta Nacional de Silvânia 466.55 Cerrado
Fazenda Boca da Mata 1.058,191 Cerrado
Bacia do Ribeirão Cocal 48,98 Cerrado
Fazenda Vereda de Gato 143 Cerrado
Fazenda Cachoeirinha 80 Cerrado
Vale Encantando da Cachoeira dos Cristais 600 Cerrado
Fazenda Pindorama 636 Cerrado
Fazenda Cachoeira da Boa Vista 108,25 Cerrado
Fazenda Jaquanês 269 Cerrado
Fazenda Santa Branca 36,36 Cerrado
Flor das Águas 43 Cerrado
Reserva Pousada das Araras 175 Cerrado
Fazenda Linda Serra dos Topázios 469,14 Cerrado
Continuação: Unidade de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral em Goiás,
2002.
170
FAZENDA CONCEIÇÃO OU COLÔNIA 50 CERRADO
Fazenda Palmeiras 2.178 Cerrado
Reserva Ecológica Serra Dourada 136,54 Cerrado
Reserva Ecológica Cachoeira das 29,04 Cerrado
Andorinhas
Fazenda Gleba Vargem Grande I 390 Cerrado
Fazenda Vaga Fogo 17 Cerrado
Fazenda João de Barro 2,90 Cerrado
Fazenda Arruda 800 Cerrado
Fazenda Mata Funda 110 Cerrado
Fazenda Campo Alegre 7.500,82 Cerrado
USO SUSTENTÁVEL (CONT.)

Fazenda Brancas Terra dos Anões 612 Cerrado


CONSERVAÇÃO DE

Fazenda Cara Preta 975 Cerrado


UNIDADES DE

Escarpas do Paraíso 82,71 Cerrado


Vale dos Sonhos 60,16 Cerrado
Terra de Segredos 40 Cerrado
Fazenda Santa Mônica 215,03 Cerrado
Reserva Ambiental e Educação e Pesquisa 13,221 Cerrado
Banana-Menina
Cachoeira do Profeta 100,19 Cerrado
APA da Lagoa Cerrado
Fazenda Santa Luzia 7,20 Cerrado
Santuário Gabriel 65,20 Cerrado
Chácara da Mangueira 5 Cerrado
Fazenda Itapuã 74,94 Cerrado
Fazenda Bom Sucesso 14,11 Cerrado
Sitio Estrela Dalva 5,04 Cerrado
Santuário da Vida 43,31 Cerrado
Santa Maria/Mata do Gaúcho 96,80 Cerrado
Vila Parque 23,26 Cerrado
Sobrado 1,22 Cerrado
Pontal do Jaburu 2.904,0 Cerrado
Fonte: Agência Ambiental de Goiás, 2002.

ANEXO 03 - Unidade de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral em Goiás,


2002.

UNIDADES Área (ha) BIOMA


Parque Nacional de Chapada dos
33.000,00 Cerrado
O
A
Ç
Ã

D
E
P

Guimarães
171
Parque Nacional do Pantanal Mato-
135.000,00 Pantanal
grossense
Transição entre
Parque Estadual de Santa Bárbara 120.092,19
Mata e Cerrado
Parque Estadual Serra do Ricardo Franco 158.620,85 Cerrado
Parque Estadual do Araguaia 230.000 Cerrado
Parque Estadual Mãe Bonifácio 771.609 Cerrado
Parque Estadual Massairo Okamura 53.75 Cerrado
Parque Estadual da Saúde 663.965 Cerrado
APA Meandros do Rio Araguaia 357.126,00 Cerrado
Estação Ecológica de Ique Juruena 200.000,00 Cerrado
Estação Ecológica Taiamã 11.200,00 Cerrado
Estação Ecológica Serra das Araras I 24.790,00 Cerrado
Estação Ecológica Serra das Araras II 3.910,00 Cerrado
Floresta
Parque Estadual do Xingu 134.463
Amazônica
Floresta
RE Apiacás 100.000
Amazônica
RE Culuene 3.900 Cerrado
Floresta
Colniza 13.682
Amazônica
Floresta
EE do Rio Rosselvet 8.915
Amazônica
Floresta
EE do Rio Ronuro 131.795
Amazônica
CONSERVAÇÃO DE
USO SUSTENTÁVEL

Floresta
Cristalino 66.900
UNIDADES DE

Amazônica
Gruta da Lagoa Azul 12.512 Cerrado
Serra Azul 11.002 Cerrado
APA Cabeceiras do Rio Cuiabá 251.847,94 Cerrado
APA Pé da Serra Azul 7.980 Cerrado
Águas Quentes 1.487 Cerrado
Refúgio Quelônios do Araguaia 60.000 Cerrado
Refúgio da Corixão da Mata Azul 40.000 Cerrado
Floresta
RE Guariba Roosevelt 57.630
Amazônica
147 Km na
MT - 100
Estrada Parque Transpantaneira entre Pantanal
Poconé e
Porto Jofre
15 Km do
trecho da MT
Estrada Parque Chapada dos Guimarães - 251 entre Cerrado
Chapada e
Mirante
Entre Santo
Estrada Parque Santo Antônio Antônio e Pantanal
Porto Rosa

Continuação: Unidade de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral em Mato


Grosso, 2004.

Estrada Parque Poconé Porto Cercado MT 370, Transição entre


trecho Cerrado e
Poconé e Pantanal
172
Porto
Cercado
BR-
364/MT-457
Estrada Parque Cachoeira da Fumaça Cerrado
até entrada
da MT-373
RPPN Reserva Ecológica América
4.943,00 Pantanal
Amazônia
RPPN Reserva Ecológica da Mata Fria 9,95 Cerrado
RPPN José Gimenes Soares 200 Pantanal
RPPN Reserva Ecológica Lourdes Félix
800 Pantanal
Soares
RPPN Reserva Ecológica Verde
10.650,67 Pantanal
Amazônia
RPPN Gleba Cristalino 670 Amazônica
RPPN Estância Dorochê 26.531,00 Pantanal
RPPN Parque Ecológico João Basso 3.624,57 Pantanal
RPPN São Luís 200 Cerrado
RPPN Reserva Jubran 35.531,00 Pantanal
RPPN Fazenda Terra Nova 1.698,52 Pantanal
RPPN Estância Ecológica SESC Pantanal 87.871,44 Pantanal
Fonte: FEMA. Divisão de Unidades de Conservação, 2004.
162
163
164
ANEXO 05 - Municípios inseridos no todo ou parcialmente na Alta Bacia: Inicio do Povoamento e
atividades motivadoras.
Inicio do
Município Estado Atividades
Povoamento
Alto Araguaia MT 1909 Garimpo de Diamantes
Alto Garças MT 1915 Garimpo de Diamantes
Alto Taquari MT 1938 Agropecuária
Amorinopólis GO 1951 Garimpo de Diamantes
Aragarças GO 1872 Garimpo de Diamantes
Araguaiana MT 1736 Estrada para ligar Cuiabá a Goiás
Araguainha MT 1935 Garimpo de Diamantes
Arenapólis GO 1958 Garimpo de Ouro
Aurilândia GO NI Garimpo de Ouro
Baliza GO 1924 Garimpo de Diamantes
Barra do Garças GO - -
Bom Jardim de Goiás GO 1912 Garimpo de Diamantes
Buriti de Goiás GO NI NI
Cachoeira de Goiás GO 1892 Atividades religiosas
Caiapônia GO Fim Séc. XVIII Garimpo e Pastagens
Córrego do Ouro GO 1934 Garimpo de Ouro
Diorama GO 1946 Doação para formação de Patrimônio
Doverlândia GO 1949 Pastagens
Fazenda Nova GO 1945 Doação para formação de Patrimônio
Firminopólis GO 1940 Doação para formação de Patrimônio
General Carneiro MT 1950 Garimpo de Diamantes
Guiratinga MT 1890 Agropecuária
Goiás GO 1727 Garimpo de Ouro
Iporá GO 1722 Garimpo de Diamantes
Israelândia GO NI Garimpo de Diamantes
Ivolândia GO 1939 Garimpo de Diamantes
Jaupaci GO 1951 Garimpo
Jussara GO NI NI
Mineiros GO 1873 Garimpo de Diamantes
Moiporá GO 1930 Agricultura
Montes Claros de Goiás GO 1955/56 Pastagem/ Agropecuária
Mossâmades GO 1755 Aldeamento de índios
Novo Brasil GO 1949 Agricultura
Palestina GO NI NI
Paraúna GO 1900 Atividades religiosas
Piranhas GO 1945 NI
Pontal do Araguaia MT Inicio. Séc. XX Garimpo de ouro e diamantes
Ponte Branca MT 1794
Portelândia GO NI Poso de Tropeiros
Poxóreu MT NI NI
Ribeirão MT NI NI
Sancrerlândia GO NI Pouso de Tropeiros
Santa Rita do Araguaia GO NI Doação para formação de Patrimônio
Santa Fé de Goiás GO NI NI
São João da Paraúna GO 1949 Doação para formação de Patrimônio
São Luis dos Montes
GO 1857 Doação para formação de Patrimônio
Belos
Tesouro MT 1897 Garimpo de Diamantes
Torixóreu MT 1931 Pastagens
ND- Não identificada
Fonte: Documentação Territorial do Brasil, IBGE, 2005.
165

You might also like