Resumo do tema: Psicofisiologia dos afetos e transtornos mentais
Aluno: João Gabriel Oliveira Rosa
*Morfofisiologia do sistema límbico
De acordo palavras de alguns autores, a emoção seria uma espécie de estado
funcional do cérebro que explicaria um comportamento consequente, pois tal mudança no estado funcional faz com que o indivíduo perceba o ambiente de forma diferente e responda-o de forma distinta. Pelos escritos de Paul Ekman (2011), um eminente psicólogo das emoções, há alguns fatores que definem o que é uma emoção, e tais fatores seriam: 1° - Sinal característico e observável. 2° - É acionado automaticamente, em menos de ¼ de segundo. 3° - O nível de consciência é reduzido. Pois, quando estamos sob o efeito de uma determinada emoção muito forte, mudamos nosso comportamento de diferentes maneiras, contudo, só tomamos consciência disso quando alguém nos chama atenção para o fato. 4° - Caráter fugaz da emoção, que, tão rápido quanto surgiu, também desaparece, pois emoções não costumam durar mais do que segundos/minutos. Por mais coerente que sejam essas explicações, é de importância ímpar deixar claro que o debate ainda está aberto, principalmente no que se diz respeito à objetividade da sinalização da emoção. Dito isso, agora chegou a hora de diferenciar “emoção” de “sentimento”: Emoção – São explícitas e ocorrem importantes variações na atividade muscular que acabam sinalizando aos demais o estado emocional do indivíduo. Sentimento – São subjetivos, em que fazemos uma interpretação subjetivadas mudanças corporais geradas pelas nossas emoções. De acordo o neurocientista Antônio Damásio (2004), eminente pesquisador na área de neurociência social/emocional, os sentimentos têm sua origem na leitura que fazemos de um determinado estado corporal afetado pelas emoções, que induzem a comportamentos dos mais variáveis. Apenas no escopo das emoções ditas “básicas”, temos o modelo de Paul Ekman, por exemplo, que defende a existência de sete emoções básicas, no entanto, há outros autores que propõem a existência de mais de vinte emoções básicas. A definição de “emoções básicas” é: emoções que estão presentes desde sempre na história, fazendo parte da nossa origem filogenética. Além das emoções básicas, também há aquelas que são dependentes da cultura, ou seja, não são expressas universalmente e tampouco são compreendidas de forma universal. O medo é uma emoção básica, reconhecida pela grande maioria dos autores da área. Isso significa que é expresso e interpretado por todos da mesma forma. Somado a isso, vale salientar que o medo também é uma das emoções mais facilmente contaminantes, pois, diante da percepção de que alguém está amedrontado, tendemos a compartilhar aquela resposta de medo. Existem medos que são ancestrais e aqueles que são aprendidos. Medos ancestrais dizem respeito à resposta emocional diante de situações ou contextos que sempre representaram ameaças, não apenas para nós, humanos, inclusive. Já os medos aprendidos são aqueles que são adquiridos por conta de situações específicas e/ou estímulos específicos, como, por exemplo: uma pessoa que tem medo de dirigir por conta de um acidente de carro que sofreu em quanto dirigia. Outra diferença importante a ser feita é entre os significados de medo e ansiedade. Pois, apesar de parecerem sinônimos, não são processos idênticos. Ansiedade é a emoção que surge em decorrência de uma ameaça ambígua ou incerta, que pode ser impedida, ao mesmo tempo em que se mantém em alta após a resolução da situação desagradável. Já o medo tende a ser engatilhado por uma ameaça específica, iminente e que não pode ser evitada, enquanto tende a desaparecer logo após o conflito ser resolvido. Vale lembrar que há dois tipos se ansiedade, a ansiedade de estado (é aquela que sentimos normalmente, antes de fazer uma apresentação de trabalho, encontrar alguém que gostamos, etc.) e a ansiedade de traço (é quase um traço de personalidade, isto é, diz respeito à tendência a se sentir ansiosa em muitos momentos da vida). A raiva, assim como o medo, é uma emoção básica. Como tal, também apresenta um padrão característico de expressão facial identificável por todos. O dicionário de psicologia da Associação de Psicologia Americana (APA) conceitua “agressividade” como uma tendência à dominância social, a comportamentos ameaçadores, ou hostilidade, podendo ser em resposta a algum evento específico do ambiente ou consequência de um traço pessoal. Isso significa que, a princípio, a capacidade de agir de forma agressiva está presente em cada um de nós, porém algumas pessoas apresentam uma tendência maior a nutrir esse espírito mais hostil. James Papez foi um neurologista americano que propôs a existência de um sistema emocional no cérebro responsável por conectar o córtex cerebral ao hipotálamo. Papez considerava que o córtex cerebral era responsável por dar o aspecto “colorido" à experiência emocional cotidiana, essa ideia se mantém até os dias de hoje. No seu modelo, que ficou conhecido como Circuito de Papez, a experiência emocional iniciava-se no córtex cingulado, que fica logo acima do corpo caloso. Esse córtex cingulado enviava informações ao hipocampo, que retransmitia ao hipotálamo. Para Papez, o hipotálamo tinha um papel fundamental em todo esse processo, pois as mudanças fisiológicas que ele produzia no organismo como um todo eram responsáveis pela expressão comportamental da emoção e também eram informadas aos núcleos anteriores do tálamo, que levavam a informação de volta ao córtex cingulado. Por sua vez, o córtex cingulado apresentava intensa conectividade com várias estruturas do neocórtex, que produziam a sensação emocional mais intensa. Apesar de muito interessante o modelo de Papez, algumas estruturas que ele incluiu em sua análise foram arbitrárias.
*Fisiopatologia da ansiedade e dos transtornos do humor
Homeostase é o termo utilizado para se referir a um estado em que o
organismo se encontra funcionando de forma harmônica. Entendê-la é fundamental para entender-se o conceito de estresse, tendo em vista que esse é o rompimento da própria, pois sempre que a homeostase é quebrada, por qualquer razão que seja, estamos sob uma condição de estresse. Essa alteração se aplica a qualquer fator. Pode ser uma febre, que altera a temperatura e os hábitos alimentares; pode ser uma maratona, que altera a frequência cardíaca e respiratória; ou pode ser uma preocupação com um compromisso do trabalho, que altera as faculdades mentais. Logo, todos esses exemplos são tipos diferentes de estresse, pois alteram o estado da homeostase. A visão mais clássica do estresse psicológico compreende que ele é formado por três fases distintas, sendo elas: 1° - Fase de alerta. Aumento da adrenalina consequente de um estímulo estressor forte. 2° - Fase de resistência. Na continuidade do estímulo estressor, o organismo usa toda energia para se reequilibrar, consequentemente, há a redução da liberação de adrenalina e o aumento de corticosteróides, fazendo assim com que o organismo fique mais fraco e suscetível a doenças. 3° - Fase de exaustão. Exaustão do organismo podendo acarretar distúrbios psicológicos e doenças. Embora o nosso organismo esteja bastante adaptado ao estresse agudo (estresse que surge de repente e dura pouco tempo), não é possível dizer o mesmo sobre o estresse crônico (estresse que se alarga ao longo dos dias). Na condição crônica, que ocorre sempre que o agente estressor não é resolvido rapidamente, o estresse pode precipitar várias doenças autoimunes, dermatológicas e até cardiovasculares, além de fomentar episódios de depressão. Contudo, é preciso parar de nutrir uma visão eminentemente negativa acerca do estresse, pois o estresse, principalmente o agudo, é bastante funcional, e um exemplo simplório disso é o orgasmo. O dicionário de psicologia da APA define o humor como uma tendência a responder emocionalmente às situações do cotidiano de uma determinada forma, que permanece estável ao longo de horas, dias ou semanas. Logo, ele difere do conceito de emoção, pois emoções têm gatilhos específicos. Já no caso do humor, não há gatilhos específicos, o indivíduo simplesmente está bom ou mau humor. Contudo, é fato que o humor influenciará o tipo de emoção que você sentirá ao longo do tempo. Antes de falarmos sobre os transtornos do humor, é importante esclarecer os tipos de humor, que são: Humor eutímico (ou eutimia) – É quando o humor está equilibrado (lembrando que a “linha reta" não existe); Humor depressivo (ou depressão) – É quando o humor está significativamente rebaixado; Humor maníaco (ou mania) – É quando o humor está significativamente aumentado. Quando se diz que o humor está rebaixado ou aumentado, isso não significa que a pessoa esteja sob efeito de uma tristeza ou alegria. Tristeza, alegria, medo, raiva, nojo, desprezo, surpresa, inveja, culpa, vergonha, ciúmes, orgulho... Todas essas emoções que fazem parte do nosso repertório e têm até sua função em determinados contextos. A disfunção reside numa tendência a manifestar sempre (ou quase sempre) um tipo de emoção, mesmo em contextos nos quais outras emoções seriam mais adaptativas. Dito isso, iremos ver com mais detalhes os transtornos de humor: Depressão – É um dos transtornos do humor e talvez a condição psiquiátrica mais frequente na população. Sua característica principal é o rebaixamento crônico do humor, que faz com que o indivíduo apresente uma redução na volição ou vontade para realizar atividades cotidianas (anedonia), redução no nível de prazer decorrente de atividades outrora prazerosas e desesperança em relação ao presente e futuro. Ainda, a depressão está relacionada a determinadas alterações neuropsicológicas que, por vezes, explicam a manutenção dos sintomas. A saber, a severidade do quadro depressivo correlaciona-se com déficits mais acentuados em várias funções cognitivas, mas sobretudo na memória episódica, nas funções executivas e na velocidade de processamento. Além disso, alterações na cognição social também já foram descritas em pacientes depressivos. Devido ao comprometimento nesse processo, é possível que pacientes com depressão apresentem dificuldades de compreender o mundo social. Transtorno afetivo bipolar (TAB) – É outro transtorno de humor, mas bem menos frequente na população. Sua característica principal é a oscilação entre estados de mania e de depressão, com durações variáveis. Ainda, apresenta dois tipos de manifestação. Uma delas é o transtorno bipolar tipo I, em que o paciente cicla do episódio depressivo para um episódio e mania bem caracterizada. Já o transtorno bipolar tipo II, apesar de apresentar a fase depressiva em comum, não possui mania extrema, o paciente atinge um nível mais brando de mania (hipomania). Vale salientar que, devido à própria natureza clínica da doença, há momentos em que o paciente passa pela zona de eutimia. Esse transtorno também apresenta, em todas as fases do ciclo, alguns comprometimentos cognitivos que merecem destaque. As funções executivas são as faculdades mentais mais comprometidas no transtorno, seguidas pela cognição. O déficit em funções executivas, principalmente no controle inibitório, pode explicar a impulsividade característica da doença, principalmente durante a fase maníaca. Além disso, a alteração em cognição social, principalmente na teoria da mente afetiva e positiva, ajuda a explicar o viés de hostilidade, que é tão característico do transtorno. Entrando nos transtornos da ansiedade, a raiz da própria é um pensamento catastrófico, que pode ter como base algo da realidade objetiva, como também pode ser uma fantasia criada pela mente humana. Vale ressaltar que a ansiedade pura e simples não é, necessariamente, a vilã da história. Os transtornos da ansiedade surgem quando há uma desregulação no circuito da ansiedade, fazendo com que ela ocorra com frequência ou de formas desproporcionais. Em decorrência disso, o indivíduo acaba tendo prejuízos no seu funcionamento diário. Iremos ver dois tipos de transtornos psiquiátricos que envolvem a ansiedade: Transtorno do pânico – Nesse transtorno o sintoma principal é a ocorrência dos ditos ataques de pânico, seguida pelo medo de ter um novo ataque de pânico ou de enlouquecer, pois o ataque de pânico é um fenômeno muito abrupto, no qual o indivíduo apresenta um conjunto de sinais e sintomas que simulam condições clínicas graves, contudo, caso a pessoa vá a um hospital e faça os exames necessários, o resultado, provavelmente, acusará negativo para qualquer doença grave. Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) – Muitas vezes é considerada a doença do “e-se", pois o paciente fica o tempo inteiro preocupado com uma possível catástrofe futura. Lembrando que esse tipo de preocupação é normal, principalmente diante de novidades. No entanto, no caso do TAG, a preocupação é tão frequente e intensa que faz com que o paciente desista de fazer certas coisas (até mesmo coisas necessárias), gerando inúmeros prejuízos na vida pessoal ou profissional do indivíduo.
*Bases biológicas dos transtornos mentais e das afasias
A partir da década de 90, as tecnologias permitiram gerar imagens bem
definidas do cérebro em funcionamento, assim, atingindo um pico de efetividade e aplicabilidade. Inclusive, foi nesse período que muitos dos estudos mais estruturantes da neurociência foram desenvolvidos. Consequentemente, isso foi muito importante para os profissionais da saúde mental como um todo. Afinal, diferentemente de outras áreas da Medicina que são mais palpáveis, no caso do estudo das doenças mentais, não havia um concretude significativa. Esse grande avanço na compreensão das bases biológicas dos transtornos mentais levou alguns psiquiatras expoentes a questionar a validade da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), pois a obra contempla pouco ou quase nada desses achados laboratoriais sobre os transtornos, o que, consequentemente, faz carecer da comprovação mais física. E tal fato dá-se por conta da veracidade de que, por mais que a neurociência avance, o aspecto humanizado do atendimento, com a valorização da queixa subjetiva do paciente e o contato olho no olho, jamais se tornará obsoleto. Trocando em miúdos, a neurobiologia dos transtornos mentais foi extremamente importante para a saúde mental, pois a própria não invalida os aspectos humanos do tratamento de um paciente. O Dicionário de Psicologia da APA (2021) define o termo linguagem como “um sistema para expressar ou comunicar pensamentos e sentimentos através da fala e de símbolos”. Esse conceito já torna claro que a função primária da linguagem é a comunicação e a imortalização. Comunicação pois você deixa claro aos demais o que se passa na sua cabeça e, dessa forma, fica muito mais simples coordenar uma atividade coletiva, por exemplo. Imortalização porque, a partir do momento em que você expande suas ideias para a mente dos demais, você passa a viver nessas outras pessoas, em termos de ideias e pensamentos. A linguagem em si é instintiva. Ou seja, não aprendemos a linguagem, o que aprendemos é a falar o idioma da sociedade em que nascemos. Quando se estuda o desenvolvimento humano como um todo, compreende-se que os primeiros anos de vida são fundamentais para “n" questões. No caso da linguagem não é diferente. Assume-se que, ao final do 24° mês de vida, a criança tenha domínio significativo do vocabulário, sendo que esse fator irá predizer o sucesso dela em várias outras áreas da vida. Uma das descobertas mais fascinantes de Paul Broca derivou do estudo de pacientes que haviam perdido parte do lobo frontal. Ele identificou que um dos pacientes com uma grande lesão frontal apresentava a redução na capacidade de se expressar verbalmente, ou seja, conseguia pensar, estruturar a frase, mas na hora de falar travava. A essa condição ele deu o nome de afasia motora. Basicamente, essa incapacidade de se expressar verbalmente era consequência da lesão no córtex frontal inferior posterior esquerdo. Essa história, apesar de inspiradora por tratar de um diagnóstico neurológico raiz, feito à base da correlação entre estrutura e função, não necessariamente representa o paradigma atual das neurociências. À época de Broca, reinava o paradigma localizacionista, em que o objetivo do neurocientista era mapear as diferentes regiões cerebrais e atribuir a elas uma função específica, de forma que, quando elas sofressem alguma lesão, seria possível antecipar o déficit que o paciente poderia ter e já iniciar um tratamento. Entretanto, apesar de estudo localizacionistas acontecerem até os dias atuais, eles não representam mais o “padrão-ouro" da pesquisa neurocientífica atual. Hoje em dia, os neurocientistas estão muito mais preocupados em compreender o padrão de conectividade entre as diferentes estruturas cerebrais e a forma como esse padrão determina comportamentos distintos. Esse novo paradigma, que recebe o nome de conexionismo, nos ajuda a entender, inclusive, a razão de vários pacientes neurológicos com destruição parcial ou completa da área de Broca (córtex frontal inferior posterior esquerdo) não manifestarem afasia motora (afasia de Broca). É importante compreendermos esses indícios e entendermos que talvez a dita área de Broca não seja necessariamente “a grande" área motora da fala. Inegavelmente ela faz parte do circuito cerebral da linguagem falada, mas não dá para restringir todo o processo motor da fala a ela, senão as evidências de lesões nela sem ocorrência de afasia motora seriam impossíveis. Assim como a afasia de Broca, existem também outras afasias que merecem destaque, como: Afasia de compreensão – Identificou-se que pacientes com lesões temporais, principalmente na porção mais posterior e do hemisfério esquerdo, começavam a apresentar uma fala incompreensível, apesar da fluência ser intacta. De fato, o que ocorria é que esse tipo de lesão extirpava a chamada área da compreensão da linguagem, de forma que os pacientes não conseguiam compreender o que lhes era dito, nem mesmo estruturam uma frase que fizesse sentido. Inclusive, tudo isso vinha atrelado a uma anosognosia, que é a negação do próprio déficit. Afasia de condução – É uma lesão no fascículo arqueado (faz a conexão entre a área de Broca e a área de Wernicke). Nesse caso, como a área de Broca e a de Wernicke estão preservadas, a fluência verbal e a compreensão estão funcionando bem, mas a condução da informação está interrompida. Portanto, esses pacientes acabam cometendo muitos erros no uso de sílabas e outras letras para expressar aos outros seus sentimentos. Existem outros tipos de afasia, mas essas são as mais comuns e relevantes para o domínio dos futuros profissionais.