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Faxina para pagar campanha: candidatas se revoltam

contra PEC da anistia

Rute Pina

De Universa, em São Paulo


31/05/2023 04h00

A diarista Andreia de Lima, 48, sempre participou de movimentos sociais na Favela do Parolin,
em Curitiba (PR), onde mora há 32 anos. "Levava candidatas para a comunidade. As mulheres
diziam que só votariam se fosse em mim. Mas não me sentia preparada", conta.
Em 2016, no entanto, começou a se organizar para atender à reivindicação da vizinhança.
Filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores) e, quatro anos depois, concorreu a uma vaga na
Câmara dos Vereadores em uma candidatura coletiva, a Mandata Coletiva das Pretas.
Então percebeu como é difícil para uma mulher conseguir financiamento para disputar uma
eleição.
A candidatura recebeu R$ 27 mil de recursos partidários, valor que considera insuficiente para
viabilizar uma candidatura competitiva em uma capital. "Sempre ouvíamos que não tinha verba,
que o valor do fundo já era determinado pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]", lembra.

Como o dinheiro era pouco e a despesa, muita, não pôde interromper o trabalho para se dedicar
à campanha. "Para me manter, continuei fazendo faxina até a véspera das eleições", diz.
Em entrevista a Universa, candidatas a cargos eletivos de diferentes partidos, da direita à
esquerda, relataram dificuldades para conseguir verba para as campanhas — isso apesar da
existência de regras que estabelecem uma cota mínima de 30% dos recursos do Fundo Especial
de Financiamento de Campanha e da parcela do Fundo Partidário para candidaturas femininas.

No último dia 16, os partidos que descumpriram as regras foram perdoados na CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados. A proposta de emenda constitucional
estabelecendo a maior anistia de todos os tempos aos partidos ganhou o apelido de PEC da
anistia. A PEC ainda precisa ser aprovada na Câmara e no Senado. Além da cota para mulheres,
a anistia também contempla o descumprimento da cota para negros.

"Laranja de homem branco"


A Mandata Coletiva das Pretas, candidatura coletiva da qual Andreia fez parte, recebeu 3.582
votos em 2020 e ficou na suplência. Em fevereiro deste ano, a vereadora Giorgia Xavier, 44,
titular da candidatura, assumiu o cargo de vereadora e Andreia foi designada assessora
parlamentar.
Em 2022, Andreia se candidatou a deputada estadual. Com a experiência da primeira disputa e
após participar do treinamento da Tenda das Candidatas, organização que capacita lideranças
feministas na política, ela pressionou o partido pelo repasse dos recursos. Recebeu R$ 80 mil,
mas boa parte do dinheiro só entrou na conta dela faltando dez dias para o fim da campanha.

Ela teve 5.523 mil votos e não se elegeu. Mas teve desempenho razoável em cidades onde o
partido nunca havia recebido votos. "Não cheguei até aqui para ser candidata laranja e trazer
voto para eleger homem branco", diz.

Fazendo o dinheiro render Mariana Calsa: campeã de votos entre as mulheres Imagem:
Divulgação A dificuldade em obter recursos para a campanha une candidatas de esquerda e
direita. Mariana Calsa, 33, vereadora pelo PL da cidade de Limeira (SP), venceu a primeira
eleição que disputou, em 2020, mas diz que isso aconteceu apesar do reduzido apoio do partido
— ela foi a mulher mais votada da cidade.
Mariana recebeu R$ 18 mil do fundo partidário — R$ 10 mil em outubro e R$ 8 mil em 5
novembro, dez dias antes do pleito. "Os colegas homens, por outro lado, receberam R$ 50 mil,
R$ 80 mil", afirma.

Para fazer o dinheiro render, ela investiu em comunicação digital, como aprendeu no
treinamento do Renova BR, que capacita candidatos para as eleições. "A estratégia foi gastar o
pouco que eu tinha no que era primordial", afirma.

Com a ambulante e ativista Kênia Ribeiro, 54, no entanto, a estratégia não foi bem-sucedida.
Ela se candidatou pela primeira vez à Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 2012. De lá
para cá, disputou eleições em diferentes partidos. Passou pelo PSC, DEM e, em 2022, concorreu
a uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo PSOL.

Terminou a eleição do ano passado com um estouro de R$ 2,5 mil na conta bancária. Seus
credores, como esperado, não lhe perdoaram a dívida. "A anistia aos partidos é absurda. Isso
vira uma bola de neve. Toda eleição acontece o mesmo e as mulheres se desanimam a ficar na
política", afirma.

Fonte: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2023/05/31/do-pt-ao-pl-mulheres-se-
manifestam-contra-anistia-a-partidos.htm

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