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PEDELABORDE, P. “Introduction_a l'étude scientifique du climat". Paris, Société d'Edition d'Enseignement Supérieur, 1991, p. 3-31. Primeiro Capitulo (principais trechos) OTEMPO EO CLIMA (Problemas de Método e Bibliogratia) 1. O problema das fontes. A climatologia é um dos ramos da Geografia Fisica: ela estuda as caracteristicas da atmosfera em contato com a superficie terrestre e a distribuig&o espacial destas caracteristicas. Sua elaboragdo coloca pois 0 problema preliminar que aparece desde que se aborde qualquer compartimento da Geografia: o problema das elagdes com as outras ciéncias. Em nome da natureza dos fenémenos que ela abrange, a climatologia tira seus Tecursos essenciais da meteorologia. Certamente, ela se apoia também em outras disciplinas da Geografia Fisica (0 relevo, a natureza dos solos, a hidrografia, exercem influéncias no clima) e na Geografia Bioldgica e Geografia Humana (influéncias do meio vegetal e das cidades). Mas a esséncia mesma dos fenémenos reside na atmosfera. E uma evidéncia impossivel de nao se reconhecer. Ora, existem dois dominios principais de pesquisa no proprio seio da Meteorologia: 1) A Meteorologia Descritiva Tradicional estuda separadamente os elementos do tempo e da atmosfera: temperatura, umidade, pressdo, vento, etc. Os gedgrafos se utilizam quase exclusivamente deste método, que se pode chamar analitico ou separative. 2) A Meteorologia Dinémica, que estuda a mecdnica geral e a termodindmica da atmosfera Desenvoiveu-se particularmente depois de 1923. Ela oferece a vantagem de ser sintética, isto é, ela considera em loco os estados do meio atmosférico: 0 tempo e as massas de ar. Ela esté pois perfeitamente adaptada as necessidades dos gedgrafos, pois que estes se interessam precisamente pelas combinagdes. A Meteorologia Dinamica fomece uma descricao viva do meio atmosférico, pois ela considera o tempo que é uma realidade. Ao contrério, a Meteorologia Descritiva Tradicional, pelas exigéncias da andlise, desarticula o tempo em elementos que perdem toda significag&o concreta no momento que s&o isolados. Por exemplo, uma temperatura de + 4°C, associada a uma atmosfera seca, a uma bela insolag&o ¢ a um vento moderado de NE determina ao homem uma sensacdo vivificante de bem estar e de alegria, enquanto a mesma temperatura associada a uma atmosfera saturada de umidade, com céu cinzento e baixo, e uma calmaria, provoca uma impressao deprimente de banho gelado. A Meteorologia Dinamica permite também uma explicacao segura e clara dos fenémenos. Segura porque ela é uma ciéncia muito avangada: ela permite prever. Clara, porque suas construgSes permanecem simples nas grandes linhas. A simplicidade ¢ devida ao fato que a Meteorologia Dindmica nao perde jamais contato com a realidade enquanto a Meteorologia Tradicional deve reconstituir trabalhosamente 0 complexo vivo que ela destruiu pela analise. Entretanto, as tentativas de utilizag4o da Meteorologia Dindmica pelos gedgrafos permanecem muito limitadas, sobretudo na Franga. Os tinicos estudos sistematicos tém por objeto climas regionais e raramente ultrapassam a amplitude de um artigo de revista. Alguma metodologia detalhada e pratica no surgiu antes de 1954, ano da primeira edigao da presente obra. Por oposigdo, as criticas por vezes existentes foram formuladas pelos adeptos do método tradicional. & verdade que o emprego da Meteorologia Dingmica em Geografia apresenta sérias dificuldades. Por trés razdes: 1°) Seu progresso € recente e rapido. Ela se desenvolveu sobretudo depois de 1923 (gragas aos noruegueses) e particularmente apés a ultima guerra mundial. De onde dois inconvenientes: as séries de documentos s&o curtas; os geégrafos comegam apenas a ter contato com a nova ciénoia. 2°) A rede meteorolégica indispensdvel para uma boa andlise dinamica é bastante densa apenas na zona temperada do hemisfério norte (Europa Ocidental e Estados Unidos da América sobretudo). Nao se pode ainda estabelecer uma climatologia dindmica sdlida das regides polares, tropicais e hemisfério sul. 3°) A assimilagdo dos conhecimentos € dificil porque o instrumento tedrico nao esté bem codificado seno para os especialistas. As publicagdes francesas existem somente sob a forma de artigos esparsos ou de obras da vulgarizacao muito condensadas. Os tratados melhores so escritos em alemao, inglés ou russo. Freqientemente estes tratados apresentam ainda, materiais no elaborados, utilizados pelos meteorologistas mas n&o pelo gedgrafo, e os desenvolvimentos matematicos desagradam muito os leitores. Em suma, 0 ge6grafo deve procurar laboriosamente sua documentacao numa multidao de trabalhos concebidos principalmente por meteorologistas destinados aos meteorologistas. E 0 método de uilizagéo das fontes permanece por construir. Quer dizer que se falha em renunciar a se servir de uma ciéncia que se mostra vigorosa, fecunda e particularmente adaptada as necessidades da Geografia? Quer dizer que se falha em se resignar as descriges tradicionais que os detratores da climatologia dinmica reconhecem eles mesmos a ineficiéncia? Estamos persuadidos que basta, para assegurar 0 estudo cientifico do clima, estabelecer um ponto entre o dominio da meteorologia dindmica e o da climatologia geografica. E este ponto é indispensével. N&o se pode com efeito abandonar a climatologia somente para os meteorologistas, pois a geografia implica em atitude de espirito que convém melhor para tratar corretamente os problemas climéticos. A Geografia se propée estudar os complexos dos fenémenos. Ora, 0 clima, resulta de reagdes combinadas de trés meios: a atmosfera, o solo, as extensées liquidas. Ela esté também estreitamente ligada ao mundo biolégico e governa uma multidéo de dominios que dependem da Geografia Humana: agricultura, transporte, urbanismo, habitat, etc. Nao se pode pedir a0 meteorologista que seja ao mesmo tempo fisico da atmosfera, gedlogo, morfélogo, oceandgrafo, botanico, ‘economist. © meteorologista estuda a atmosfera em seu conjunto € no especialmente 0 contato do ar com 0 solo e as aguas. E justo pois que 0 gedgrafo e n&o o meteorologista coordene os resultados de todas as ciéncias & convergéncia das quais se coloca a nogdo climatica. Como resultado 0 gedgrafo deve conhecer a tiltima palavra de todas estas ciéncias, se deseja elaborar uma sintese correta. O objetivo de nossas licdes € precisamente de assegurar 0 contato entre a geografia do clima e a geofisica modema. Trataremos os problemas tedricos relativos meteorologia dinamica que sao indispensaveis aos gedgrafos. Estudaremos sobretudo suas aplicagbes geograficas. Apresentaremos estas questées de maneira a tomé-las acessiveis a todo geégrafo, 0 que leva imediatamente & objecdo da "especializago excessiva". Explicaremos sobretudo a leitura e a interpretaco dos documentos didrios "sindticos” (cartas norueguesas e diagramas de sondagens em particular). Mostraremos, através de exemplos precisos desenvolvidos sob a forma de trabalhos praticos, como estes documentos esclarecem a geografia do clima e permitem uma explicagdo racional dos fendmenos. Esperamos destruir também © preconceito, ainda tenaz em certos meios de gedgrafos, que a geografia nao pode e nem deve ocupar-se das conquistas recentes da geofisica. Nosso fim seré alangado se pudermos contribuir para uma colaboracdo estreita € confiante dos meteorologistas ¢ gedgrafos. A desconfianca dos geégrafos com respeito a meteorologia dinamica ‘no se justifica aliés de nenhum modo. Quando falamos da Meteorologia Dindmica, pensamos essencialmente nas leis da atmosfera que so as mais acessiveis aos estudantes de Geografia, isto é, aquelas que constituem a Meteorologia Sindtica. Mais exatamente, a Meteorologia Dindmica, no sentido mais estrito do termo, se propée 0 estudo matematico da atmosfera pelas equagdes exatas da Mec&nica dos Fluidos e da Termodinamica. No interior desta disciplina, é todavia desenvolvido um ramo mais empirico baseado na experiéncia: a Meteorologia Sindtica. Esta titima traga as cartas @ os cortes verticais dos elementos atmosféricos no interior de um espago limitado em trés dimensdes (espaco sinético cobrindo, por exemplo, o Atlantico e a Europa, em uma espessura de 30 km) & em horas precisas ditas horas sinéticas: 0, 8, 12 e 18 horas TU ("tempo universal’ - a hora do meridiano de Greenwich, antigo TMG, “tempo médio de Greenwich"), por exemplo. Da evoluco dos fenémenos durante periodos mais ou menos fongos, tiram-se as leis. O leilor constatard, lendo nosso livro, que eslas leis fisicas Permanecem sempre ao alcance de um bom geégrafo. Il As definic5es de tempo e de clima ‘Tempo e clima representam combinagbes realizadas na almosfera por certos valores respectivos da temperatura, da umidade, da pressdo, do vento, da carga elétrica, etc. Sdo os estados da atmosfera. Mas 0 tempo no 6 sen&o uma combinacdo passageira, acidental, enquanto 0 clima é um conjunto de tendéncias estiveis que resultam de condiobes permanentes durante um longo periodo (30 anos ao menos, por defini¢&o). E 0 clima que interessa ao gedgrafo pois que os estados duraveis suscetiveis de criar um meio tém sozinhos um valor geogréfico. Veremos todavia que no se pode atingir seguramente a nogo de cima sengo partindo daquela de tempo. Se bem que o clima represente o fim de nosso estudo, o tempo deve ser definido com cuidado pois que ele & indispensavel & analise e explicagao. ‘A’- A definicao de tempo - "O tempo, no sentido preciso e perfeitamente definido que os meteorologistas atribuem a esta palavra, & 0 conjunto de valores que, em um momento dado e em um lugar determinado, caracterizam 0 estado atmosférico”. Tal & a definicao proposta por Albert Baldit. Seriam os valores obtidos em determinado lugar, em altitude x, no dia tal, a hora tal, dos elementos: temperatura do ar, presso atmosférica, tenso do vapor d’égua, umidade relativa, radiago solar total, vermelha e infravermelha, campo elétrico, corrente elétrica vertical, ions positivos e negatives, nebulosidade, visibilidade horizontal, poeira e mesmo diregdo e velocidade do vento. Trés idéias podem ser obtidas da definicao de Baldi: 4) Trata-se de um conjunto de valores. Isto significa que os elementos agem nao isoladamente mas em combinagao. A sensacdo fisiolégica resulta da natureza desta combinag&o. 2) A combinacdo é efémera, instantanea. Ela existe em um "momento dado”, mas ela € jé diferente no minuto que segue. HA tantos elementos, e eles so to varidveis, que uma combinagdo precisa é tinica. "A arvore do meu jardim no floriré jamais duas vezes nas mesmas condigées de temperatura, de luminosidade, de estado higrométrico" escreveu SORRE. 3) A.combinacdo ocorre em um lugar determinado, isto 6, num ponto preciso da superficie da terra. Todas estas condicdes restritivas tomam singularmente estreitas a nocdo de tempo. Nos estendemas um pouco o tempo (tempo = durac&o) para comodidade do estudo. Fala-se facilmente de "tempo de um dia” ou mesmo de “tempo de um periodo de alguns dias", se os elementos constitutivos permanecem sensiveimente idénticos. Em Paris, por exemplo, a duracdo média de um periodo homogéneo é de trés dias. Esta noco ampla e aproximada pode somente interessar ao geégrafo, pois a considéragdo de tempo em um instante preciso conduziria a uma infinidade de combinacdes, que tomaria evidentemente a informacao impossivel. Uma nogo ainda mais ampla 6 aquela de tipo de tempo. Quando uma combinag&o reaparece freqiientemente (nao exatamente, € verdade, mas com os constituintes muito préximos @ produzindo efeitos praticamente semelhantes), ela constitui um tipo de tempo. Exemplo: 0 tempo de chuvas stibitas (aguaceiros) que se observa freqiientemente em Paris no més de abril, com temperaturas relativamente baixas, golpes de ventos bruscos € uma altemancia de aguaceiros brutais e de tempo bom onde o sol britha em um oéu azul perfeitamente limpo. Se esta nogdo de tipo de tempo ¢ bastanie ampla (bifurcagées razoaveis de diversos valores), concebe-se faciimente que ela se aplica a uma regido toda e no mais a um Gnico lugar. Como estabelecer os sinais de um tempo ou de um tipo de tempo? Visto que a nogo esta na escala do homem e que cada um a pode sentir ¢ falar dela, ela esta naturalmente deformada. O homem da rua, 0 agricultor, 0 marinheiro, 0 esportista falam de “tempo quente”, "tempo umido”, "tempo de ventania’. Tem-se assim tendéncia em definir a combinagao pelo elemento que parece predominar. Comete-se ento um erro, pois que se negligencia a inter-reacdo dos elementos. Bem preferiveis so as denominagSes sintéticas de "tempo fresco", “tempo indolente”, "tempo pesado”, "tempo insalubre”, "bom tempo", ainda que elas ndo sejam muito precisas. E preciso citar todos os fatores? Estamos seguros que estes que medimos comumente determinam bem as caracteristicas especificas da combinacao? Um exemplo parece bastante inquietante. A descoberta recente de um alétropo de ozona, chamado “aran™, transfere talvez para o tltimo plano todos os fatores que parecem biologicamente essenciais até o momento. Para outros, ao contrario, no & 0 teor em aran que importa, mas nuimero de ions positives e negatives. O doutor HANSELL (americano) cré que séo os ions negativos (e nao 0 que criam a impresséo de alegria, de leveza, de ar puro. Inquietante também, os escripulos de um geofisico eminente: "E nosso conhecimento imperfeito de todos os elementos da atmosfera que levou Ch. MAURAIN a usar, no seu estudo do clima parisiense, os constituintes tradicionais: temperatura, vento, umidade e precipitacdio". Procuramos pois um modo as vezes cémodo ¢ exato para definir 0 tempo. Precisamente, o método sindtico de_massas de_ar_permite a considerac4o direta e genética do complexo sem que seja necessério enumerar as doze caracteristicas de BALDIT. Assim 0 tempo de aguaceiro de Paris e de toda a Franca do Norte esté ligado a invasdo de massas de ar articas circulando muito rapido segundo uma trajetoria N-S e animadas de um dinamismo vertical que estudaremos com preciso. A massa caracterizada por sua origem, sua trajetoria e suas propriedades dindmicas permite neste caso uma definicdo global do tempo. Ela inlui mesmo a explicagdo. Ela realiza em conseqiiéncia duas das condigdes essenciais do estudo geografico. Ao completar a descric&o geofisica do tempo por uma série de qualificativos que lembram os tragos pitorescos essenciais do complexo atmosférico, teremos sendo restituido a realidade, pelo menos nos aproximado desta realidade bastante de perto. E assim que determinamos 0 tempo de aguaceiro: tempo cicidnico do Norte, de primavera, frio, ventos com rajadas, com alternéncia de pancadas de chuvas fortes e de céu limpo muito ensolarado, B - As definicdes do cima - O tempo 6 uma combinago efémera (um instante ou alguns dias, conforme as aproximagdes), mas concreta. E uma realidade na escala do homem e a observacdo direta pode percebé-la muito rapido. © clima, ao contrario, ndo se mostra sendo apés o estudo paciente e metddico de um longo perfodo: os 30 anos, 1931-1960, quando se trata de clima atual, segundo uma deciséo da OMM (Crganizagéo Meteorolégica Mundial). O clima, como 0 tempo, resulta de uma combinacdo de elementos. Mas é a combinaco das tendéncias dominantes e permanentes (isto 6, dos elementos mais gerais) da atmosfera sobre um lugar. Assim diz-se: o tempo deste invemo foi frio e seco em Paris (combinacdo acidental) mas o clima de Paris se caracteriza por invernos brandos @ imidos (combinacao habitual durante diversos séculos, e resultante da repeticao de influéncias maritimas dominantes que regem o tempo entre nés). Do mesmo modo o clima de Marselha se caracteriza por verdes secos e quentes, mas pode acontecer que certos dias do verao conhecam um tempo fresco e timido (combinago acidental), Examinaremos duas definioSes de cima. Isto é muito importante, pois uma definic&o, se aceita sem reservas, implica evidenterente numa orientacdo de método. ‘A definic4o de Julius Hann - O clima é "o conjunto dos fendmenos meteorol6gicos que caracterizam 0 estado médio da almosfera em um ponto da superficie terrestre”. Esta definicdo incompleta foi aceita durante longo tempo pelos gedgrafos. Ela parece com efeito fiel aos principios de nossa disciplina, pois que recomenda 0 estudo do conjunto dos fendmenos e estes fendmenos s4o considerados em contato com a superficie terrestre. Mas 6 impossivel de se contentar com essa definicao se a Climatologia quer ensinar as realidades das quais depende 0 mundo vivo. Ela apresenta com efeito dois defeitos que SORRE assinalou (um dos primeiros na Franca): 1) "Ela corresponde a uma média, quer dizer a uma abstracdo, toda ela desprovida da realidade e conduz a um abuso das médias aritméticas para caracterizar 0 clima"; 2) "Ela apresenta um cardter estético, artificial, Porque ela nao menciona o desenrolar dos fendmenos no tempo. Ora, 9 ritmo ¢ um dos aspectos essenciais do lima’. ‘A definioso de Max. Sorre, contraria ao verdadeiro pensamento de Hann, esté de acordo com as construgdes que se apoiam sobre a meteorologia dinémica. "Chama-se clima a série de estados da atmosfera sobre um lugar, em sua sucessao habitual”. Esta definico implica em trés observagdes: 1) Ela considera os estados da atmosfera, isto 6, 0s complexos verdadeiros realizados pela natureza (0s tipos de tempo, em outras palavras) e no 0 estédio médio; 2) Ela abrange toda a "série" destes estados, isto ¢, ela no esquece os tipos excepcionais cuja importancia é capital em Biologia e que as médias mascaram inteiramente; 3) Ela leva em conta a "sucesso" dos tipos, isto 6, seu ritmo e sua duracdo, fatores essenciais ao mesmo tempo do quadro da atmosfera e da ago sobre os seres vivos. Nao seria demais insistir sobre esta nooo de ritmo e de duragao. Por exemplo: Paris e Marselha recebem quase que a mesma quantidade anual média de chuvas (respectivamente 598 e575 mm). Mas a quantidade total de Paris se reparte por 159 dias, enquanto a de Marselha se realiza em 62 dias somente. Sobretudo Marselha conhece um verao praticamente seco, a0 passo que as precipitages de Paris se estendem regularmente sobre todas as estacbes. Estes dois climas diferem portanto totalmente tanto para o turista como para 0 agricultor, a despeito da semelhanca das médias de precipitagdo anual. Da mesma forma, a intensidade do frio (expressa, por exempio, pela temperatura média do inverno) no suficiente para caracterizar um clima. E preciso saber se as geadas sao espacadas, alternando-se com periodos tépidos ou se elas séo todas agrupadas em um longo perfodo homogéneo. Certas plantas suporiam com efeito 4 ou 5 dias de gelo, mas morrem apés 0 sexto dia. As duragées verdadeiras dos diferentes tipos de tempo so, portanto, t4o importantes quanto suas freqiéncias anuais e suas duragbes médias. Lembraremos também, para terminar, uma atitude de espirito téo indispensével em climatologia quanto em qualquer outro setor da geografia: 0 cuidado (preocupacdo) com a explicacao, A Geografia é uma ciéncia e n&o uma reportagem; a explicacéo dos fenémenos 6, portanto, indispensavel. E, alias, a impossibilidade de remontar as causas claras e Idgicas que toma 4rdua e to enfadonha a leitura das construgées tradicionais da Climatologia. Mas @ noco de explicagdo est4 perfeitamente implicita na definico de Sorre. Com efeito, ‘a série de estados da atmosfera" no significa sno a série de tipos de tempo. Ora, nds veremos que 0 estudo das sucessdes de tipos de tempo permite explicar de maneira simples os mecanismos do cima, Il. Climatologia Separativa ¢ Climatologia Sintética, Resulta do que jé foi dito anteriormente que uma analise do cima fiel aos principios da Geografia (preocupacéio com complexos verdadeiros, preocupacao com a explicago), deveria emanar naturalmente do ‘estudo do tempo. E porém por outros meios que se procede muito freqientemente. A) Descricao do método separativo: 4) Os elementos do tempo que os gedgrafos utilizam séo: a temperatura do ar, a pressfo atmostérica, a umidade e as precipitacdes, o vento, a insolacdo e a nebulosidade. Cada elemento € considerado por si mesmo, ‘completamente isolado dos outros. Os postos meteorolégicos efetuam geraimente oito observagées diarias (cada trés horas) dos principais elementos. Com estes dados, calculam-se as médias diarias, anuais, para periodos de 5, 10, 30, 50, 100 ou 150 anos, segundo a riqueza das séries. Chama-se normal uma média estabelecida em 30 anos. A temperatura @ a pressaio so muito freqientemente reduzidas ao nivel do mar, a fim de facilitar a ‘comparacdo entre estacdes de altitudes diferentes. As médias obtidas permitem elaborar carlas e diagramas. Juntamos algumas vezes outros valores a estas médias para tentar restabelecer mais fieimente as variagées de cada elemento. Assim BALDIT propés quatro séries de dados para o estudo completo de um elemento, Por exempio, para a temperatura 1 - 0 valor médio. Ex.: Pode-se também caicular a média de 7 de abril ou 21 de juiho. - média anual de Paris (1851-1900): 10,060C = média de janeiro: 2,30C 2- 0s valores limite ou extremos. Ex. em Paris, por ano, durante 0 periodo (1851-1900): - maximo absoluto: 38,4°C = minimo absoluto: -25,6°C - média das maximas absolutas de cada ano: 33,8°C - média das minimas absolutas de cada ano: -11.3°C 3 - a variabilidade durante um periodo dado. E a soma das variagGes entre 2 dias consecutivos, sem se considerar © sinal positivo ou negativo, dividida pelo nimero de intervalos. Ex.: 2,09°C em Paris, em janeiro, apés 15 anos. 4- a freqiiéncia durante um periodo dado. Ela se exprime por uma curva de freqiéncia. Tem-se, assim, uma idéia da posigao da média em relagao a todos os valores verdadeiros (figura 1). Gperepaian oe | SL \ Sti oe eT setts Ye Trequence wet Fig B- Critica a0 método separative - O método que acabamos de descrever convém aos meteorologistas que néo tém pretenséo de estudar os complexos. Ele dé, muitas vezes, uma idéia apreciével do clima. Ele permite, por exemplo, comparar diversas estagbes. Ele é mesmo excelente quando um elemento toma-se tiranico: a temperatura nas regides polares, a chuva nos paises de mongbes. O gedgrafo deve conhecer os resultados essenciais que ele permite obter, pois que contribuem para definir 0 clima. De outra parte, a geografia geral pode estudar isoladamente os elementos do clima, do mesmo modo que a morfologia geral estuda isoladamente a resisténcia erosao do granito, do calcario, dos quartzos. Mas 0 estudo separativo deve obrigatoriamente ser completado pela andlise dindmica, pois que ele apresenta trés graves lacunes do ponto de vista geografico: 1) Ele perde contato com 2 realidade, pois que ele ndo leva em conta a interconexao verdadeira dos elementos. Meteorologistas € gedgrafos sentiram bem esta insuficiéncia, e procuraram estabelecer valores sintéticos. Os indices de aridez, por exemplo, combinam as médias de temperatura e de precipitagdes. Mas estes valores sintéticos no representam senao abstragbes. Eles nao sdo obtidos diretamente: destréi-se depressa a sintese natural (0 tempo), estabelecem-se médias, depois combina-se artificiaimente e empiricamiente estas médias. Péguy criou uma expresso original para caracterizar estas tentativas: ele fala do "método sintético extemo”. Na verdade, pode-se mesmo suprimir a palavra "sintético". Uma comparagao permite apreciar a importancia dos indices. Imagine uma casa. Para conhecé-la, basta visité-la. Pode-se também demoli-la antes de tudo e isolar seus elementos, pedras, forros de madeira, encanamentos, etc. Depois, pelo estudo separado destes elementos, pode-se calcular laboriosamente as dimensdes, 0 niimero e a disposic&o dos compartimentos, 0 conforto, etc. Um calculador engenhoso aproximar-se-é talvez da realidade. Pode-se afirmar com certeza que estes célculos nao the permitirao jamais imaginar o edificio tao fieimente quanto apés uma visita direta, 2) Uma outra insuficiéncia 6 a impossibilidade de atingir, pelas médias indiretas, 0 conhecimento das causas. E mesmo evidente. Como encontrar a esséncia profunda dos fendmenos que se desarticulam no comego da informaco? Assim os matemdticos tm analisado as curvas de freqiiéncias de temperatura estabelecidas por BALDIT. Estas curvas representam, as somas das curvas de GAUSS das quais cada uma poderia corresponder a um tipo de tempo. Isto € verdadeiramente certo? E um tipo de tempo pode ser definido somente pela temperatura? Nao seria mais simples catalogar diretamente os tipos de tempo? Qualquer que seja o poder de andlise dos mateméticos a observacdio dos fatos da natureza deve permanecer 0 fundamento das ciéncias fisicas e humanas, Os matematicos tém por objetivo essencial, logo que eles se introduzem nestes dominios, de trabalhar sobre as aquisig&es da experiéncia ¢ ndo de se substituir a experiéncia 3) © método separativo € estético - Quer dizer que ele no demonstra o dinamismo dos fendmenos, as sucessbes verdadeiras de estados, das quais ja se ressaltou a importdncia capital C - O método sintético das massas de ar e dos tipos de tempo - No lugar de separar os elementos do tempo como ponto de partida, o método sintético tem por principio essencial os tipos de tempo. Certamente, cada tipo serd analisado em seus elementos constitutivos (temperatura, nebulosidade, etc.). Mas nao se extraira estes elementos para os fazer entrar nos cAlculos onde seriam isolados dos outros componentes. O que importa aqui, € © modo como o complexo se manifesta, 0 quadro que ele realiza e a acdo fisiolégica que ele exerce. O que importa também, so as condigSes que determinam este complexo: de onde provém a massa de ar, quanto tempo ela demorou sobre a Bacia Artica, sobre 0 norte do Atlantico, nas paragens dos Acores ou sobre as estepes russas, qual trajetéria ela seguiu, de que mecanismos fisioos ¢ ela 0 centro, que transformagées ela sofreu antes de atingir o ponto de observacao. Enfim, a duracéo sera considerada bem como os fendmenos que determinam esta duracio e que poem fim a0 tipo. Um tal estudo, na condig&o que ele abranja a totalidade dos tipos, que calcule sua frequéncia e 0 modo como eles se sucedem no decorrer de um longo periodo, restituiré o ambiente verdadeiro do qual fala SORRE. Ele abrangeré a realidade do tempo e a complexidade viva do clima. Ele sozinho fomeceré uma concepgao genética que se juntard aos dados preciosos mas incompletos do estudo separativo. Ele possuiré, pois, um valor indiscutivel do ponto de vista da geografia fisica pura. De outra parte, ele sozinho podera nos colocar na dirego da sintese total que € 0 sonho de todo ge6grafo, pois que as reagées do meio vivo no tem grande coisa a ver com as médias, mas dependem das condicdes verdadeiras do tempo, de sua duragao e de sua sucessao. Tal € 0 programa de um estudo de climatologia sintética. Para realizé-lo, € indispensavel conhecer as leis fundamentais da meteorologia dinamica. Alcangar este conhecimento & o objetivo de nosso livro. & evidente que 0 estudo separativo dos elementos tradicionais nao sera negligenciado: para melhor compreender o todo, € preciso saber a natureza exata de seus componentes. Mas nossos capitulos analiticos serviréo fundamentalmente para preparar a descrico completa e racional do complexo de fenmenos que constitui 0 tempo, isto €, a realidade climatica em aco. IV. Orientacdo Biblioaréfica

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