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Mudancas e desafios da extensao rural no Brasil ee eno mundo ‘Marcus Peixoto Capitulo baseado na tese de doutorado defendida pelo autor em 2009 e em outras fontes. (Cimon Capitulo 4 Nudoncasedesfios do extenso rural no Bros no mundo 193 Introducao Os servicos de assisténcia técnica e extensao rural (Ater) no Brasil voltados para a agricultura familiar vém recebendo atengao crescente por parte do governo federal, tendo havido, desde 2010, um aumento significativo dos recursos do orcamento da Unido desti- nados a provisao desses servicos, a instituicao de uma Lei Geral de Ater e a criagéo de uma agéncia de fomento. Tais acées resultaram de pressdes politicas sobre 0 governo, iniciadas ha mais de 20 anos e exercidas sobretudo por movimentos e organizacées vinculados 8 agricultura familiar e por entidades estaduais integrantes do sistema publico de servicos de Ater. As reivindicagoes para as ages de reestruturagaio do sistema puiblico de Ater se ba- seiam na constatacao de que tais servicos sao e sempre foram insuficientes ou inexistentes para a grande maioria dos agricultores familiares, que nao dependem apenas de acesso a crédito para aquisicéo de insumos, para investimento em benfeitorias e equipamentos e para comercializacao, mas também de acesso a conhecimento sobre como implementar as inovagées tecnolégicas e como gerir suas atividades. Embora tais reivindicacées sociais sejam legitimas e as ages governamentais louvaveis, sdo incontestaveis a lentidao e a incapacidade financeira e gerencial do Estado brasileiro para a promocao, a curto prazo, da 394 ( mundo rutl no Brasil do séclo 21. Parte 6 universalizagao do acesso a servicos de Ater aos produtores rurais, sejam familiares ou de médio porte, que ainda dependem de alguma forma de apoio do Estado. Ademais, as mudangas em implantacao pouco levam em consideracao 0 conjunto de transformacées por que passou o setor rural brasileiro, sobretudo nos tltimos 30 anos, com a emergéncia de diferentes atores privados que passaram a prestar servicos de Ater a um numero significativo de produtores, inclusive agricultores familiares. Argumenta-se, neste capitulo, que as aces atualmente promovidas pelo Estado bra- sileiro devem ser complementadas por outras que promovam o financiamento ptiblico da contratagao direta de servicos privados de Ater como forma de acelerar a universalizagao do acesso a tais servisos a agricultores familiares e produtores rurais de médio porte que apresentem melhores condigées de insercao no mercado. Essa responsabilidade do Estado, no entanto, nao colide com o papel e a importancia crescentes do setor privado na oferta e no financiamento de servicos de Ater. Assim, neste capitulo, procura-se, na segunda secao, mostrar as mudancas que ocorreram nos sistemas de provisao de servicos de Ater no mundo nos uiltimos 25 anos, similarmente ao ocorrido no Brasil, com destaque para os processos de descentralizacao, privatizacao e desenvolvimento para sistemas pluralistas. Na terceira seco, so abordados 05 modelos de financiamento de servicos de Ater, enquanto, na quarta seco, apresentam- -se aspectos do debate atual sobre os rumos dos servicos de extensao rural no mundo. Na quinta secao, o destaque é para a evolucao e os desafios recentes dos servigos de Ater no Brasil, e, na sexta seco, so apresentadas as consideragées finais. Mudangas nos servicos de extensao rural no mundo © processo de transferéncia de informacao entre produtores rurais caracteriza-se tradicionalmente por uma troca de informagao cooperativa, livre e interpessoal. Os produ- tores obtém a maior parte das informagoes de fontes variadas: familia, amigos, produtores vizinhos, grupos informais de produtores, associagdes comunitarias, sindicatos e coopera- tivas de produtores. Entretanto, a informacao também é adquirida por meio de servicos de Ater (piblicos ou privados). Assim, por geracées, a difusao de tecnologias foi uma importante fonte de mudan- a econémica. Conforme Rivera e Cary (1997), embora a extensdo rural “moderna” tenha surgido jé no século 19 nas universidades inglesas, a maioria dos paises iniciou tais ser- vigos nos anos 1950 e/ou 1960. O sistema cooperativo, implantado nos Estados Unidos desde fins do século 19 pelas Land Grant Colleges, nao péde ser reproduzido nos paises em Capitulo 4 Nudoncasedesfios do extenso rural no Bros no mundo 195 desenvolvimento, porque, ainda nos anos 1950, suas universidades rurais eram frageis ou inexistentes. Por essa razdo, muitos servicos de extensdo rural’ comecaram suas atividades atrelados aos ministérios da agricultura, mas pouco coordenados com a pesquisa agricola. Desde os anos 1960, a percepgao da informacao agricola como um bem piiblico e sujeito a falhas de mercado foi o principal argumento para a continuidade da oferta de servicos ptiblicos de extensao. Todavia, a industrializagao crescente da agricultura, com um consequente aumento no potencial para a proviséo comercial desses servicas, levou a0 questionamento da natureza de bem piiblico de grande parte da informagao agricola (MARSH; PANNELL, 2000). Embora, desde meados dos anos 1970, jé comegassem a emergir os servicos consul- tivos de mercado (primeiramente nos Estados Unidos), foi nos anos 1980 que a extenséo publica foi mais severamente atacada por nao ter relevancia ou impacto suficiente, por nao ser adequadamente eficaz e, 8s vezes, por nao levar a cabo os programas que visavam promover a equidade (RIVERA; CARY, 1997). Havia ainda um sentimento geral de que a extensao publica estendeu-se além dos limites da sua capacidade de acao. Ademais, a es- cassez de recursos financeiros para a extensdo, a falta, em alguns casos, de mao de obra ha- bilitada e a deficiéncia da capacidade organizacional conduziram a mudangas importantes nas perspectivas ideolégica, econémica e técnica dos servigos de extensao rural (BANCO MUNDIAL, 1981 citado por RIVERA; QAMAR, 2003). Aomesmo tempo, a ideologia da extensao afastou-se do“modelo linear” de transferén- cia de tecnologia e da abordagem “de cima para baixo" (top down), caracterizados pelo fluxo de informagées geradas e determinadas pela ciéncia (science push) e direcionadas aos produ- tores rurais. O novo paradigma passou, entao, a ser voltado para os métodos da extensao® que enfatizam fluxos de informacao de baixo para cima, determinados pela demanda (demand driven), por principios de educagao de adultos e por participacao das partes interessadas (stakeholders). © trabalho crescente da extensao rural com as organizacées dos produtores rurais e com o uso de métodos grupais foi outra mudanca importante associada a esse novo paradigma (MARSH; PANNELL, 2000). Sob esse novo viés, os produtores rurais devem ter mais controle sobre a informacao de que efetivamente precisam ou desejam e sobre como a infor- macao Ihes é fornecida, Na década de 1980, ganharam énfase as abordagens participativas, "Neste capitulo, nao ha preccupagao em apresentar uma delimitagao conceitual precisa do termo “extenséo rural", sendo ele utiizado 2m dliversos sentidos possiveis, tals como. assessoria rural, assisténcia técnica agricola, processo de educagdo rural informal, transferéncia de tecnologia agropecuaria, comunicago rural 2 Ametodologia de extensdo rural trata dos processos pedagégicos destinados a proporcionar asmelhores condigdes de aprendizado ¢ a adogdo de inovacdes pelos produtores rurais. Os métodos de extensdo tradicionalmente s40 agrupados segundo seu alcance (individuals, ofupais ou de massa) ¢ aplicados conforme as caracteristicas da tecnologia e as estratégias de sua comunicagao para adogdo e inovacao, 396 ( mundo rutl no Brasil do séclo 21. Parte 6 a preocupagdo com a produtividade das mulheres e a preservacao dos ecossistemas, junto com estratégias de recuperacao de custos (cost recovery) e de privatizacao (FEDER et al, 1999). No entanto, para Schwartz (2003), a expansao passada do ntimero de funcionarios (inclusive extensionistas) dos servicos puiblicos de Ater conduziu a necessidade de grandes orcamentos para a manutencao das equipes de campo, até chegar a um ponto em que, depois que os salérios (cujos valores sempre estiveram abaixo dos oferecidos pelo setor privado) eram pagos, sobravam poucos recursos para cobrir custos de operacio essenciais, como combustivel e manutengao de vefculos para transporte. O cenério, a partir de fins dos anos 1980, era de ajustes estruturais, aumento da libe- ralizagao econémica, reducao de despesas puiblicas e realocagao de gastos, que representa- ram uma diminuicao substancial no financiamento pubblico da extensao (ALEX et al, 2002). Outros fatores que levaram a um questionamento da provisdo de servicos de extensio rural pelo setor puiblico foram a diminuicao da importancia da participagao da agricultura no crescimento econémico comparativamente aos demais setores da economia; o maior nivel de instrugéo de populagées cada vez menores ou envelhecidas de produtores rurais; € 0 uso crescente de insumos externos na propriedade rural (RIVERA; CARY, 1997), fend- menos igualmente verificados no Brasil. Ademais, no Pais, os resultados finais dos servicos de extensdo ndo eram conhecidos ou mensurados e, portanto, sequer avaliados, 0 que deixava os governantes ainda mais a vontade para impor restrigdes orcamentérias. Some-se a esses fatos o de que os agentes de extensdo do setor publico, nao raro, so generalistas, enquanto as atividades de extensao privadas frequentemente fornecem informacao especializada, mais demandada por produtores rurais que buscam moderniza- 40 € integracao as cadeias produtivas. Nesse contexto, a informacao agricola transforma-se numa fonte maior de vantagens competitivas estratégicas para o setor privado, crescen- temente integrado por organizagdes néo governamentais (ONGs), induistrias de insumos, méquinas e equipamentos agricolas, revendas agropecudrias, profissionais liberais ou suas empresas de assisténcia técnica, agroinduistrias e atacadistas que distribuem sua produgao. Esses agentes comecaram a assumir as atividades de assisténcia técnica, no passado provida majoritariamente pela extensdo rural publica (RIVERA et al, 2001; SULAIMAN V; BAN, 2003). Algumas dessas industrias s40 companhias transnacionais que aumentaram suas ca- pacidades de pesquisa e dominio tecnolégico da produgao e venda de sementes, insumos quimicos, maquinaria e outras tecnologias agricolas destinados a muitas das culturas alimen- tares importantes na América do Norte, Europa e Oceania. Agora, elas dominam os mercados de commodities e de alimentos do mundo e, de forma destacada, do Brasil. As organizacées publicas de pesquisa e extensao foram lentas em perceber que estavam sendo crescente- mente deslocadas pelo setor privado e que necessitavam identificar uma nova miso que poderia justificar a continuagao de investimentos de fundos puiblicos (SWANSON, 2006). Capitulo 4 Nudoncasedesfios do extenso rural no Bros no mundo 297 Assim, 0s governos procuraram concentrar as mudangas da extensao do setor pt- blico na criagdo de politicas e de um ambiente regulatério que catalisassem a iniciativa do setor privado e melhorassem a qualidade de servicos que somente os governos ainda podem oferecer e que nao representam um nicho de mercado atraente para os provedores privados (FAO, 2000). Entre as estratégias de mudanga estdo os processos de descentra- lizagao e privatizacao, o pluralismo, a partilha e a recuperacao de custos ¢ a participagdo das partes interessadas (stakeholders) em iniciativas do desenvolvimento e em decisées sobre a alocagio dos recursos que as afetam. Sao processos que, na maioria das vezes, tém ocorrido simultaneamente, com diferencas na sua implantacao, a seguir resumidas?. Nadescentralizacao, o governo central transfere a autoridade ea responsabilidade aos governos estaduais e municipaise, frequentemente, a associacées comunitarias e de produ- tores ou mesmo ao setor privado. Essa estratégia serve melhor as necessidades de grupos- alvo especificos, notadamente os produtores rurais mais pobres, contribuindo para a democratizacao do proceso decisério das politicas puiblicas e combinando formas mais avangadas de participacao social (MUSSOI 1998; NAGEL, 1997). Para ser eficaz, a descen- tralizagdo tem que coordenar e frequentemente integrar os demais servicos destinados a implantagao das demais politicas publicas voltadas para o desenvolvimento em ambito local (CONOLLY, 2004). A descentralizacao e delegacdo podem também ser associadas com a contratacao (outsourcing) de provedores privados de servicos de extensdo e ONGs (ANDERSON, 2007). Entretanto, a descentralizagao nao implica, necessariamente, privatiza- 40 das atividades de extensao. Se a descentralizagao ocorrer no Ambito dos municipios, ha os riscos de esses nao possulrem os recursos necessérios para implementar servicos de extensao, nao considerd- los prioritarios ou interferirem nas diretrizes do servigo, o que compromete sua eficiéncia (QAMAR, 2005). No Brasil, o sistema de Ater, oficializado em meados dos anos 1970, ja nasceu descentralizado no ambito dos estados pela constituicdo de empresas estaduais de Ater (as empresas de assisténcia técnica e extensdo rural - Ematers), embora cofinanciadas pelo governo federal, Nao obstante, as reformas liberals e as restricées fiscais implementadas no fim dos anos 1980, sob a égide da nova Constituigao, conduziram a um processo chamado de ‘municipalizacao da agricultura’, em que os municipios assumiriam muitas das tarefas antes de responsabilidade apenas dos governos federal ou estaduais. Em muitos estados, a responsabilidade pela manutengao dos escritérios locais das Ematers (aluguel, agua, energia, telefones e até combustivel para os veiculos) passou as prefeituras. O resultado foi que, em muitos casos, por falta de interesse politico de prefeitos, os escritérios locais > Destaque-se que, paralelamente aos processos citados, as tecnologias de informaeo e comunicapdo (TIC) tém evoluido rapidamente, © as midias de massa, como rd e jomnais (mais radicionais),televisdo, intemete telefonia celular ete. esto se lomando fontes de informago importantes e crescentementé utlizadas pelos provedores privados de sewigos de Ater ¢ pelos produtores (ALEX etal, 2002, GARFORTH et al, 2003) 398 ( mundo rutl no Brasil do séclo 21. Parte 6 foram fechados ou 0s técnicos foram pressionados a atender produtores que apoiavam os governantes locais, com efeitos negativos evidentes para o resultado do trabalho. Ja 0 debate filoséfico sobre a privatizacao centra-se, de um lado, na conjectura de que determinadas atividades do governo podem ser executadas mais eficientemente pelas instituigdes privadas que operam em mercados privados e, de outro lado, na possibilidade de que surjam injusticas, porque nem todos os pequenos produtores rurais tém acesso a recursos ou estao organizados para pagar pelos servicos privados (que sao cobrados por- que existem custos para chegar a reas remotas ou mesmo porque nao ha individuos ou instituigdes suficientes ou capazes de prover tais servicos). A privatizagao de instituigdes publicas pode frequentemente ser conduzida de forma relativamente répida (18.24 meses) e pode envolvera cessao da posse total ou substanciale do controle operacional pelo governo para o setor privado (CONOLLY, 2004). Entretanto, na maioria dos casos, 0s governos nao “privatizaram’ efetivamente seus servicos de extensio rural, 0 que implicaria em uma transferéncia total de propriedade (geralmente por venda) das estruturas da organizacdo governamental a uma entidade privada, que assumiria todos 05 custos e receberia todos os lucros (RIVERA; CARY, 1997). Rivera e Qamar (2003, p. 12) alertam que“o setor privado teré um papel cada vez mais importante em sistemas rurais de conhecimento, mas a privatizacao total nao é praticavel, mesmo para a agricultura comercial’, Entretanto, um ambiente de servicos privados de Ater apresenta tendéncias: 1) a uma reducao das ligagdes entre organizacées e entre produto- res rurais para a troca de informagao agricola; 2) ao favorecimento da empresa agricola de grande escala, em detrimento dos cultivos de escala reduzida; e 3) & diminuigao da énfase na informagdo como bem piiblico e ao avango do conhecimento como um produto vendavel. Os esforsos de reforma do setor puiblico (que incluem descentralizacao, financiamen- to € terceirizacao/delegacao) e 0 envolvimento crescente do setor privado e do terceiro setor (ONGs e organizagées de produtores) tem conduzido & emergéncia de formas plura- listicas de servigos de extensao rural (ANDERSON, 2007), conformando relagées de procura € oferta em um “mercado de servicos de extensao” que, por sua vez, é condicionado pelo ambiente institucional e pelas politicas para a inovagao, assim como pela qualidade dos servicos proporcionados (BANCO MUNDIAL, 2006). A perspectiva global sobre a extensao ja nao é a de um servico unificado do setor publico, mas de uma rede multi-institucional de sustentagao do conhecimento e da in- formacao para as populagées rurais. Para Rivera e Alex (2004), a extensdo precisa ser vista como parte de uma agenda mais ampla de desenvolvimento rural. Isso implica que os governos precisam atuar na definicdo e na execugao de uma politica coerente de extensio em diresdo a um sistema pluralista de servicos. Capitulo 4 Nudoncasedesfios do extenso rural no Bros no mundo a9 Apartir do proposto por Alex et al. (2002), é possivel organizar, conforme apresentado na Tabela 14, uma lista de sistemas ou modelos de servicos de extensao rural incluindo suas caracteristicas ou origem. A lista apresentada, todavia, nao esgota todas as possibilidades de configuragao de sistemas, sendo apenas uma proposicdo para o debate. Tabela 1. Lista de sistemas de extensio. Servico de extensao nacional geral Extensdo rural geral Treinamento e visita (T&V) Campanha de extensdo estratégica (SEC) Extensdo por instituigdes educacionais Extensdo publica contratada Servico de extensao dirigido Extensdo especializada Extensdo com foco em projetos Extensdo por grupo de cliente selecionado Servico de extensao de produtores Animagao rural (AR) Abordagem padrao dos servicos de extensdo prestados pelo setor Piiblico, incluindo assisténcia técnica provida gratuitamente para produtores por todo o Pais E a forma tradicional de extensdo, baseada em agdes ministeriais, que tem sido dominante nos titimos 80 anos ‘Comegou no final dos anos 1960 como parte de uma reforma dos ser- vigos de extensao agricola geral ineficientes E metodologia desenvolvida pela Organizacdo das Nagdes Unidas para a Alimentacao e a Agricultura (FAO) para sistematicamente incorporar a patticipacao das pessoas em um programa de extensdo nacional E adotada especialmente por universidades agricolas; pode ser a abor- dagem dominante para uma extensdo nacional ‘Sao servigos providos por firmas privadas ou ONGs mediante contratos com o governo Abordagem em que se tenta evitar os altos custos recorrentes em termos de assuntos, clientes, regido ou tempo Conduz os esforcos para a melhoria da producao de uma commodity specifica ou de algum aspecto da produgéo (por exemplo, irrigagao, uso de fertiizantes, manejo florestal, etc.) Prioriza a destinagao dos recursos da extensao a uma drea definida por um periodo de tempo especifico Da énfase a tipos especificos de produtores, normalmente grupos des- favorecidos, como pequenos agricultores, mulheres, minorias ou gru- pos étnicos Abordagem que envolve produtores no trabalho de extensao, uti- lizando seu conhecimento e seus recursos Foi introduzida na Africa francéfona, sendo uma estratégia para inter- romper 0 padréo verticalizado prevalente na maior parte dos progra- mas de desenvolvimento Continua + Para conhecer uma apresentagdo mais detida dos sistemas ¢ modelos de extensdo rural, assim como exemplos ‘adotados em diversos paises, sugere-se consultar Peixoto (2009). 900 Tabela 1. Continuagéo. (mundo rural no Brasil do séclo 21. Parte & Cirrus Extensdo participativa Extensdo para desenvolvimento de sistemas de producdo Extensdo organizada por produtores Servico de extensao comercializado Extensdo de custo compartilhado Extensao e assisténcia comercial Extensdo no agronegécio Servico de extensao de midia de massa Midia de massa Midia de massa facilitada Tecnologias de comunicacdo Fonte: adaptado de Alex et al (2002) Aproveita as préprias capacidades dos produtores para organizar er contros grupais, identificar necessidades e prioridades planejar ativi dades de extensdo e utiliza 0 conhecimento indigena para melhorar os sistemas de producdo Requer uma parceria entre extensionistas, pesquisadores e produtores locais ou organizagdes de produtores E completamente planejada e administrada por produtores. Abordagem que se apoia em servicos de extensao comerci dos Pode ser incorporada a qualquer outra abordagem de extensdo que requeira a divisdo dos custos entre os produtores Esta se tornando mais comum 4 medida que a racionalidade do servigo publico gratuito de extensao é questionada © que produtores desco- brem que precisam de servicos mais especializados dos que os dispo- niveis pela agSncia publica de extensao Da suporte aos interesses comerciais de fornecedores de insumos ‘compradores de producdo que requerem ou se beneficiam do provi mento de servigos de extenséo sélidos para atender & administragao produgdo agricola Ago que apoia outros esforcos de extensao ou prove servicos de extensdo a uma audiéncia geral Prové servigos de informacao talhados para uma audiéncia ampla Relaciona servigos de informagdo de midia de massa com agentes de extensdo ou extensdo de produtores para facilitar a discussao e com- preensdo de temas Permitem as pessoas nas areas rurais interagirem com especialistas ou fontes especializadas de informacdo através de telefone rural ou servigos de internet, possivelmente institucionalizados em telecentros para acesso comunitario Financiamento dos servicos de extensao rural Além das formas, modelos ou sistemas de extensio, outro ponto que exige uma dis- cussao detalhada é o financiamento dos servicos. Um debate sobre a natureza da extensio privada exige uma compreensao da possibilidade de separar o financiamento ea provisio de atividades da extensdo. Capitulo 4 Nudoncasedesfios do extenso rural no Bros no mundo 01 Os custos da extensao precisam ser (mais bem) avaliados, face aos retornos econémi- Cos e sociais associados com o seu sucesso. O objetivo dos debates sobre descentralizagao € privatizacao dos servicos de extensao € fazer o investimento puiblico em extensao ser mais eficiente, e nao elimind-lo. Embora mais estudos sejam necessarios para medir o retor- no econdmico dos investimentos em servicos de extensao publica, as pesquisas realizadas indicaram, em contraste com algumas desaprovagées constatadas, que a extensdo, em muitos casos, fornece taxas de retorno elevadas e é, consequentemente, um investimento ptiblico rentavel (RIVERA; CARY, 1997). 0 investimento puiblico em extensdo ¢ justificado quando puiblico em geral se beneficia mais do que o piiblico da extensao, quando 0 governo pode prover servicos mais baratos ou melhores do que o setor privado, quando os servicos de extensao diretamente facilitam a implantacao de outros programas governamentais ou quando o setor privado nao prové os servicos necessarios (BAN, 2000 citado por ANDERSON; FEDER, 2003). Os formuladores de politicas publicas devem considerar o sistema inteiro de extensao rural ao planejar alocar fundos ou procurar arranjos de financiamento alternativos para o setor publico. Tal estratégia exige formas novas de financiamento ou cofinanciamento de servigos ¢, principalmente, exige mecanismos (formagao profissional, suporte técnico, midia de massa, monitoramento e avaliacao) que aumentem a qualidade dos servicos proporcionados pelas diversas instituicées. Varios paises caminharam na direcao da diminuigao ou da recuperagao dos custos associados & proviso da extensao puiblica, particularmente transferindo ao setor privado a proviso de informacao quando considerada um "bem privado’. Quando 0s produtores rurais so confrontados com a decisao de pagar taxas compa- raveis pela consultoria da agéncia publica ou da iniciativa privada, tipicamente favorecem © setor privado, que veern como sendo mais tecnicamente competente e competitive (MURRAY, 1999). Para Anderson e Feder (2003), a racionalidade econémica de produtores para pagar por servicos de extensao é geralmente clara, e a tendéncia em diregao ao pa- gamento pelo usuario esta bem estabelecida em paises-membros da Organizacéo para a Cooperacao e Desenvolvimento Econémico (OCDE). J em paises em desenvolvimento, muitos produtores sao incapazes ou nao desejam pagar por servicos, pois eles ndo veem exemplos de uma extensao efetiva e responsiva. Outra limitagao da extensdo privada paga 6 que, nesses muitos paises, frequentemente hd poucos provedores de servicos fora do se- tor publico. Ademais, poucas instituigées publicas tem incentivos e arranjos institucionais para encorajar programas pagos. Alguns autores (ALEX et al,, 2002; RIVERA et al, 2001) ja propuseram esquemas de representagao da relacao entre fontes de financiamento e provedores de servicos de extensao. Porém, Anderson (2007) propés uma melhor organizacao dessas informacées (Tabela 2), em que nao sao consideradas necessariamente as fontes primarias dos recursos. Parte 6 (mundo rarl no Brasil do séclo 21 902 (2002) vostepuy aves igo op ou 9p opSeyoedeo ¢ opnon 9 seoIpu's suo s¢ sieuDyed "se1g ou ein! oBSUORXG op offs op ojdul8x9 wog Wing (eU9S)jeIMy WieBeZPUDIAy 9 [2UOREN obw9g © “SeIOpELD no se.ojnpaid ep SEoSeOSEE Se o (seIOPEYPEGER 9p © SeUOREK) soyEDIpU SO ‘e}SAYeLEd009 eUDYSS OP se OF-wWEPUE zaue610, Jo soiquiew snes soe soyMelh Sy e OpeyeUOD salojnpoid ap sodjalas wasaaid ogsuaixs ap sepeiqoa oes sexe] aoesuaxa ap —sod1 alas eyseud ‘sepeyesuoa syo 1od (ao) sient oudoid yes ap ered yes sopejsaud euoynsuoo Su eed squsweotgnd seoseziue Bio Wajen@sSyQ — WeIOUBUY SONO ap sodialas, ‘SOpeIOUBUY SO}EsIUCD 10)88 o112018] soynes6 so5t Alas 12080} sepeyenuos eied o1U98} Je SQNO ep opsusyxs sp SQNo sod sopeysaid oudoid nas ep oslusayyejs WeyeNuos 8 Salo\npoud sojad SONO eJed ajusweayjgnd sono WojeA eS SON sepeniidseiyueduog ——-soBed sodialag sopejoueuy sojesiueg ——uojes ooo) |e somnpoid 2 ap ojuewesseaoid a sopeaudsodiaes sopeaudsodimes no sojwawedinbs 2 = ap seiopenoid ep Selopanoid —_—_solunsu ap epu@n sepenid seiyuedwoo sopeAlid sodiares ep a ap 091u98)4e5 ap os1u98) ye e Woo oeSeUiojul 10d sopinoide sobed —sesopenoid eved eyueweolignd seseidus [E WEJENUCISYO —«WEJEMUGDSONO —« Waenoud ses@idWy oesus}xe ap sodiAlag, ‘soperoueuy soyes]u0D. ‘ope aud 10185 ogsueye ogsuaixe ap soaqnd ap soayqnd —ogsueyxe ap soayqnd ogdeziiequeasep sofinlas seyseid sod alas seyseid —so5|ns@s Jeyseud e1ed soognd — ep snes6 sequaleylp we ajo ua, eied clus yes ered osluae1yeR ooluaa1yeIs We}eNUOD solp|sqns woo ‘SExe} ap eSUEIGO9 Was. 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No caso das cooperativas agrope- cudrias, em geral, o custo desses servicos esté embutido nas taxas cobradas pelos demais servigos prestados ou nas mensalidades pagas pelos cooperados, mas ha cooperativas que cobram pelo servico. Ban (2000, p. 8, traducao nossa) ponderou que as fontes dos recursos para financia- mento de organizacées da extensdo podem ser: 1) Governo mediante imposto pago por contribuintes. 2) Governo mediante cobranga de taxas sobre determinados produtos agricolas. 3) Companhia comercial que vende insumos aos produtores rurais e/ou que com- pra seus produtos e que, em seu relacionamento com seus clientes, igualmente usa a extensio, 4) Associagao de produtores rurais que paga os servicos de extensdo com fundos arrecadados pela cobranga de suas taxas de mensalidade. 5) Associacao de produtores rurais que ¢ subvencionada pelo governo. 6) ONG financiada por doagées de dentro ou fora do Pais e/ou por companhias comerciais para finalidades de responsabilidade social. 7) ONG financiada por subsidios ou por contratos com 0 governo (nacional ou um patrocinador governamental). 8) Empresa de consultoria que cobra uma taxa dos produtores rurais, que sao seus clientes. 9) Empresa de publicacao que vende jornais agricolas ou outras publicacées aos produtores rurais. 10) Combinacées diferentes das acima. Diversas combinagées de financiamento séo possiveis. Por exemplo, um governo pode pagar os salarios dos técnicos, ea maioria das despesas operacionais pode ser coberta pela associagao de produtores rurais ou por uma cooperativa (comercialmente orientada), ou uma companhia fornecedora de insumos pode distribuir um jornal rural a seus clientes. 904 ( mundo rutl no Brasil do séclo 21. Parte 6 Estratégias de contratacao de servicos de extensio demandam muitas abordagens para a diviséo de responsabilidades de financiamento, obtencao e entrega dos servicos, embora a maioria das reformas dos servicos de extensao envolva o financiamento puiblico para o fornecimento de servicos privados. O financiamento publico para contratago da extensdo promove o desenvolvimento de um mercado pluralista para o sistema de servicos de extensdo, a responsabilidade dos clientes e a eficiéncia nas operagées. Como vantagem adicional, a contratasao feita diretamente por produtores rurais introduz mudangas funda- mentais nos relacionamentos com os prestadores dos servicos (BANCO MUNDIAL, 2006) No caso brasileiro, sempre se admitiu que o pequeno produtor contratasse opera- ées de crédito rural para aquisicao de insumos e equipamentos e para a comercializagéo da produgao. No entanto, a maioria das pessoas defende que a aquisicéo do conhecimento necessario a aplicacdo correta dessas tecnologias tem de se dar via assisténcia técnica gra- tuita - com 0 argumento de que é garantida na Lei n® 8.171, de 1991 (Lei Agricola), sendo, portanto, uma obrigacao do Estado ~ e que os pequenos produtores (os agricultores fami- liares) ja tm muitos encargos com o pagamento dos demais fatores de produsao (inclusive a mao de obra), ndo podendo assumir mais um: a Ater paga. A realidade tem demonstrado que o tabu da Ater paga sentencia o pequeno produtor & espera de um servico puiblico de Ater que nunca chega para todos e compromete as contas do Estado com um financiamen- to que ele nao tem condigées de assumir. O debate atual sobre os rumos dos servicos de extensao rural Nos anos 1990 e 2000, a comunidade cientifica e os formuladores de politicas puibli- cas em pouco ou nada participaram dos debates internacionais sobre a reestruturacao dos servicos de Ater no mundo. Apesar da singularidade das caracteristicas do meio rural e da agropecuaria brasileiros, ha um conjunto significativamente rico de experiéncias em siste- mas e métodos de Ater desenvolvidas em diversos paises. O conhecimento das trajetorias desses servicos é tao importante quanto o dos resultados das experiéncias internas para a discussao de estratégias e politicas de fomento aos servicos de Ater no Brasil. Como poder ser visto mais detalhadamente na préxima seco, as mudancas recentes se apoiam em uma lei federal que regula a Ater para agricultores familiares e na rectiacao de uma entidade de carter nacional, com atribuig6es de repasse de recursos do oramento federal, mas pouca ou nenhuma discussao sobre as experiéncias externas foi feita. O debate sobre os rumos dos sistemas de extensdo rural no mundo é um tanto re- cente e tem se concentrado no ambito do Férum Global para Servicos de Assessoria Rural (Global Forum for Rural Advisory Services - GFRAS). Criado em janeiro de 2010, o GFRAS

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