You are on page 1of 11
we ats Ri KS i, Vy, Profesorattuler do Dsparameto de Unga da Rontlla Unvorada Cutlce de S86 Paulo NO MUNDO DA ESCRITA Uma perspectiva, psicolinguistica ea 10 COMO APRENDENOS AHR B A BSCREVER? Teorias da aquisi¢go e a aprendizagem da eserita A preccupagio do homem com a lingua humana vem desde , se a lingua seria rogida pela Para a primeira concepeao, -mente; se tegida por convencio, deveria ser culturalmente adquirida. Na lingiistica moderna, pergunta-se igualmente se a’lingua’é inata no homem ou se ela é adquirida culturalmente, Se. 6 apren- ‘Qual & a natureza dessa aprendizagem’ comprometimento com 0 problema de sua aquisicao natur tanto, no objetivam: explicitamente 0 estudo da a es Nesta secdo, temtaremos fazer um breve balango das teorias da aquisicao existentes e analisar até que ponto tais propostas podem ser relevantes para 0 estudo da aprendizagem de escrita. Atese ista A proposta inatista de Chomsky Na posicio inatista radical de Chomsky, acredita-se que uma faculdade de linguagem geneticamente determinada especifique uma certa classe de ‘graméticas humanamente acessiveis”. Em outras palavras, o ser humano vem programado biologicamente para desen- volver determinados tipos de gramética, A faculdade:delinguagem pode esquema formal abstrato — ou gramati qualquer gramética particular. Cada 1 aqui entendida como um versal —, que subjaz qua seria apenas uma TTEORIAS DA AQUISICKO E A AFRENDIZAGEN... 101 realizago conereta desse esquema, constitulda de regras preditivas ‘que possibilitariam ao falante compreender e produzir frases nunca antes ouvidas ow produzidas. Uma das evidéncias mais fortes levantadas por Chomsk; sustentar a hip6tese inatista 6 0 fato de a erianga atingi perfeitas quando, segundo ele, o estiimulo ambiental 6 fragmentado, Chomsky smo COMPETENCIA para designar 0 conheci- ‘mento: que o falante tem da gramética de sua lingua, © 0 termo DESEMPENHO para designar 0 uso que o falante faz desse co- nhecimento, Segundo esse autor, a crianca, ao adquirir sua lingua, desen- volve também “sistemas de desempenho”” também seriam. determinadas.geneticamente. Em resumo, para Chomsky, tanto. o conhecimento. quanto. 9 0 seriam geneticamente determinados. Em principio, a tese inatista no tem relevancia alguma para a aprendizagem da escrita, pois esta ndo pode ser, postulada como inata ao homem, uma vez que hé culturas Agrafas no mundo. ©. que postemos dizer, a partir dessa tese, & que, se as linguas itadas e previstas pelo mesmo esquema, Ao lado SS? U2ut chad Wd asbedbdates Hat Geral Uils cUblekids © boa-formagao, a0 contrario dos da fala, que S80 quase sempre falhos ¢ fragmentados. Assim sendo, a questo que surge é: Por que @ criana atinge ‘Ho facilmente a gramética da lingua oral, mas sua aprendizagem da eserita é to penosa? A viséo blolégica de Lenneberg* Lenneberg, em seu estudo clissico “The eapacity for language argamenta também a favor da tese inatista. teresse de set trabalho esté no fato de sua argumentacto se basear na comparagéo entre & aquisiggo da fala, de um lado, TLBANENERO, E, The eapicity for language aequisitidn, Th Fopon, 1. A. & Kara, 1/45, ones. The structure of language. New Jersey, Prentice Hall, 1964 102_COMO APRENDEMOS A LER E A ESCREVER? € a aquisicfo de duas outras atividades, de outro: o andar — que, segundo ele, é inquestionavelmente uma atividade geneticamente herdada — e 0 escrever — que para ele 6 inequivocamente uma atividade culturalmente aprendida. A preocupacdo We Lenneberg com a escrita 6, portanto, indi- eta: Sua -natureza é postulada como uma premissa, € nfo como ‘uma cortelusdo. No entanto, como esse é um dos primeiros estudos em que tal comparagdo é feita de forma sistemética © légica, é importante verificar 08 critérios nos quais‘ele se’ baseia para tirar conclusbes, Um desses critérios € a existéncia da hist6ria dentro da’espécie. ‘Segundo Lenneberg, nfo possfvel tragar uma hist6ria’ do andar — desde uma forma mais primitiva até uma forma mais complexa — da mesma maneira que podemos récuperar @ histéria da escrita — fal até sua origem € sua difusdo. jo do autor é que © andar nao apresenta variacio intra-espécie, enquanto a escrita, pelo contrério, apresenta varios sistemas diferentes. © terceiro critério é a predisposi¢do herdada. Nao se ensina andar: a crianga aprende sozinha. Quiinto a let ¢ escrever, é através do treinamento formal que a crianga adquire essas habili- elas nio significa i myito parecido com 0 lade definida para comegar a ler € desses critérios, Lenneberg conclui que falar é uma ita © que escrever/ler nao 0 sho. Seu posicionamento 6 extremamente categstico, mai ainda do que 0 do proprio Chomsky, para quem a Nao exige nenhuma 108 considerar a capa- 1m dos argumentos para considerar a ca é que essa capacidade nfo apresenta variagio ‘Sabemos, porém, que as linguas variam den- to de umn espago permitido pelo esquema (ou gramética universal). ‘A esctita, como vimos, também varia dentro de certos: principios. TTEORIAS DA AQUISICAO EA APRENDIZAGEM.:, 109 Se ambas as modalidades admitem certa variacto — ¢, para Lenne- berg, a existéncia de variagio é indicativa de fenémeno cultural- mente adguirido —, a fala seria, como a escrita, um fendmeno cultural. Outro argumento de Lemneberg ¢ a inexisténcia de para capacidades inatas. Veremos na préxima seco, poréi visio da lingua que justamente acredita em uma evolugio © apresenta dados empfticos para essa tese. A teorla evolucionista de Bickerton ® espécifica um liinite inferior © outro superior para a capacidade Tingtistica. , mas, de qualquer forma, 0 qué determing 6 para Bickerton, a propriedade de ser aprendivel que gua possui Segundo ele, a lingua culturaimente adquirida ndo pode distan- Giarse de forma’ imprevisivel da lingua , bioprogramada. A preocupacao da grai gerativa de Chomsky, ainda se- gundo, esse. autor, é,definir,as propriedades do limite superior, através de seus universais formais; a dele, Bickerton, é estabelecer © trajeto do, bioprograma ico, da gramétiea minima, ‘Ao contrério de Lenneberg, Bickerton admite uma evolugio ) em formas s altamente complexas. Ia com a tese de que a filo- ginese se reflete na ontogénese, isto é, de que'a mesma evotugao Yetificada no desenvolvimento de uma dada lingua observa-se na gramética da crianga, ThiexentoN, D. Roots of language. Ann Arbor, Karoma Publishers, 1981. 104_CONO“APRENDEMOS A LER BA BSCREVER? Podemos dizer que algo semelhante acontece com a escrita, Os estudos de Ferreiro e Teberosky * sobre a aprendizagem da excri= ta por criangas mexicanas ¢ argentinas mostram uma evolugio muito parecida com o relato apresentado por Gelb sobre a evolugio’ da escrita na hist6ria, No Brasil, 0 estudo de Contini* também mostra Jaramente essa. relagdo. Esse estudo revela que, inicialmente, a ianca concebe a escrita,unicamente em sua forma motora, resul- tando dessa concepgéo apenas gratismos ou rabiscos primitivos, Em seguida, ela conieca a produzir algo como os piclogramas, 20s quais % attibui o valor de escrita. O passo seguinte é usar um simbolo para um conceito. Fregilentemente. esses. simbolos j4 so letras do_alfa- beto, que ela enconira em seu ambiente. $6 que, agora, a cr momento, uma determinada crianga usa a letra A para representar ‘casa’, ¢ a letra D para representar "boneca’; a seguir, ela demonstra | conceber a escrita como represent { & usar simbolos com x ‘com dois s{mbolos, ‘bolita’ com irés, ‘magico’ com trés, ‘trabalho? com trfs e ‘ito’ com dois. Daf para a concep¢io alfabética é || apenas um pulo. A crianga estépronta para-ser alfabetizada, —~ “Na fase aries aEibeee Raa fasil, encontram evidéncias de uma fase a que chamam “fase de € que se caracteriza por uma, repréventagio™ i ictogréfiea, mas que sinda procura uma cetta aprox | SHWE Tse oben Seefeld AN Ashe 9s agdteaea— Vermos a palavras casa © casinha perguntérmos a tina crlanga que ja nessa fase qual das dias representa ‘casa’, ela apontard para palavra mais comprida, acontecendo 0s mandarmos que Ja/aponte a palavra que representa ‘casinha’ ‘A comparagio entre 0 que ocotre na hist6ria eo’ que ocome com a crianga leva-nos a especular se 0 camninho da. descoberta cognitiva da nao estaria, de certa’ forma, programada no ‘honiem, suposigio”e65a que subverteria a colocagao de Lenneberg e-enlossaria, a de Bickerton. 5 Funnuino, E..d& Tenstosey, A. Bl sistema de fa eseritura en el desarollo del nino. Cidade do. México, ied por eriancas em idade 98S. Distertagdo de mesttado, ®Reoo, L. B. Aprendcndo a Jer: uma conquista da crianga ou o resultado dde um treinamento. Tn: SEMINARIO DO INSTITUTO NACIONAL! ESTUBOS PepiaSaicos. Aprendizagem da lingua materna, Brasilia, 1982. TEORIAS DA AQUISIOO EA APRENDIZAGEN... 105 A tese funcionalista Autoras como Laberge e Sankoff* © Brown foealizam o papel dos fatores culturais funcionais no desenvolvimento da lin ung i inyariantes do desenvolvim: Pidgins ¢ ctioulos, como so acrescentacas quando Halliday *, estudando a aqui mente que a ampliacdo de funcoes ocasiona mudangas formais. Esses estudos. pretendem mi jue a forma da gramética, no limite superior da capacidade linglistica, nfo é gencticamente pro- granada, mas culturalmente determinada, Patece-nos que a visio de Bickerton comporta essa explicacio, sem perder 0 compromisso com o inatismo. Os. inatistas nao, estao interessados em saber como e por que o ser humano desenvolve maximamente sta capacidade lingiiistica, mas sim em caracterizar qual € essa capacidade. interesse dessa visio funcionalista reside no fate dé qve as formas novas qué aparecem sio adas em fungto das neces sidades’ comunicacionais, o que permite examinar a relagao entre forma e fungio. Na verdade, segundo Vigotsky * e Slobin , uma fungio nova € primeiro preenchida por uma forma yelha e s6 depois é que se desfaz a multifuncionalidade através da busca de tima forma nova. , uma funeo nova se adquire atrayés de uma forma © uma forma nova se adquite através de uma fungao conhecida. Se essa concepedo apreserita, evidéncias empiticas para a fala, podemos esperar que ela deva ter também implicagdes para a aquisicao'da escrita, $e assim for, a prética usual de nosis escolas de ensinar novas formas no funcionalmente motivadas esta fadada *Lisenon, § & Suvkorr, G. Anything you can dd. Tn: GIv6N, T ore, Syntax. 106 _CONO APRENDEWOS A LER E A ESCREVERI a0 fracasso. B preciso, nesse caso, criar situagdes que levem 0 proprio aluno a buscar novas formas em fungao daquilo que ele yuer comunicar. Luria # relata um interessantissimo experimento, com um gru- po de criancas ngo-alfabetizadas, cujo objetivo era fazé-las sentir a necessidade da escrita. O pesquisador pediv-thes pata lembrarem lum conjunto mais ou menos extenso de seniencas ngo-estruturadas em forma de texto, sugetindo-thes que usassem uma folha de papel para escrever algo que as ajudasse a se lembrar das sentencas. No inicio, as criangas alegaram nio saber escrever, mas aos poucos cada uma comecou a inventar simbolos e convengies proprias ‘como fecuitsos mneménicos. A propésito, lembremos que um dos ‘usos mais freqilentes da escrita pelas sociedades letradas, revelado na pesquisa de Grif © memoranda, form das propulsoras da Na historia do homem, vimos a forma escrita dissertativa, sut slo necessidades reais funcionais que levam 0 homem a escrever © @ procurar novas formas dentro dessa modalidade. A tese cognitivistafuncionalista de Bever Para Chomsky, 0 limite da eapacidade definido em termos estritamente estruturais, formais. Para Sankoff © outros ele 6 determinado por _necessidades de-comuntengao. O ‘kerton, por outro lado, abre a fem termos de restrigoes de desempenh. isso que faz bilidade. Em outras palavras, 0 que ndo podemos compreender ou Lue, A. R. The development of wit orgs 0p. cit » Bevan, T. G. The co JR, org, Cognition and: & Sons, 1970, fn the child. In: Maxtesw, M. guises structures. In; Haves, evelopment of language. New York, John Wiley TEORIAS DA AQUISICKO E A APRENDIZAGED... 107 produzir é inaprendivel e, portanto, agcamatical. O que determina idade nao sao regras auténomas da gramética, mas a lade de processamento e de produgdo. Veja, por , as seguintes formas: ) O fato de que Jodo esté (esteja) aqui me surpreende. }) Que o Joao esté (esteja) aqui me surpreende. aqui me surpreende, ) © (ii). s80 possivels porque hé algo na oragio inicial que avisa a0 ouvinte ou 0 que ele est recebendo é parte de uma sentence trodutor 0 {ato de que, em (ii)'€ « conjungdo que, © em (ii) 6 0 verbo todavia, nada hd que assinale para 0 leitor ‘a necessidade de suspender o fechamento sintético. Assim (O Joao esté aqui)s 6 interpretada como unidade sintétiea completa sem o resto. Dat sua agramaticalidade. ‘bém o so. As variantes abai diticuldade 4 nao apresentariam essa mesma (v) Me surpreeiide que Joao esté aqui. (vi) Me surpreende 0 Joao estar aqui, Mais tarde a crianga j4 se mune de outra estratégia — a tengo aos sinalizadores de. subordinagio, Estes, na 108 COMO APRENDEMOS A LER E A ESCREVER? verdade, so os elementos que permitem ao interpretador usar uma operagdo de anélise pela. sintese, Ao ouvir ou enxergar um qué, © receptor imediatamente antecipa uma oragio subordinada, parte de uma estrutura superordenada. ‘Além da tese de que fatores de desempenho determinam a forma da gramatica, Bever* adota a hipétese cumulativa (ou de retencdo) na aquisicdo da linguagem. Segundo essa hipétese, como Ja vimos em Ochs, as estratégi i podendo surgir de sua laténcia em situagdes de conflito © de ificuldade, Tal proposta explica por que nossos alunos, em suas redacdes, fecham precipitadamente uma estrutura em uma fase em que jé dominam bem estruturas subordinadas. Pode-se verificar que, quan- do isso acontece, 0 fragmento resultante tem os componentes sen is sujeito ++ predicado. Um caso hipotético desse fechamento ido. seria algo como: (®) Os assuntos politicos que foram tratados durante a sesso da manh de domingo. que, passando para a meméria temporétia, passa a ser retido sem © subordinador que: i) Os assuntos politicos foram, tratados durante a sesso da manha de domingo. © mesmo acontece com nossa leitura nominal como (i) a mica, Um sintagma ‘mas, a0 sentirmos tiva para rever canGnica, sentenci foi também encontrada por dentemente, ‘uma estr CTBORIAS DA AQUISICAO BA APRENDIZAGEM... 10° a user es input lingiistico. Observe-se o exemplo de Pedrosa (0 termo que aparece entre parénteses é 0 termo original): Bravo Amanhi nés __comecaremos a depositar no. cofre. (mesmo), Vejam que o que o aluno de Pedrosa recupera,é 0 padrio sujeito -} predicado, Na mesma pesquisa, Pedrosa faz, uma anélise de erfos ocorridos na. leitura oral © constata idéntica estratégia, ‘Vejam 0 exemplo.abaixo. Texto original: Uma comprida lata, acompanhada de um bilhete de minha mai Texto criado na leitura: 1a comprida lata acompanha um dilhete de-minha mie... Na escrita, a pesquisa de Souza ¢ Silva, focalizantlo a pro- dugao de oragdes adjetivas (relativas) em redagdes de-alunos de 2° grau, mostra que a freqiiéncia de cortos tipos contra a infre- qiiéncia ‘de outros pode ser explicada através das propostas do trabalho de Bever. ‘Vé-se pois que’ a tese de Bever tem grande’ relevancia para explicar problemas de compreensio € produgao da escrita micro- estrutural. A tese construtivista de Piaget de Beyer tem afinidade com a 1a de Piaget, para quem o comhecimento resulta le estruturadora por parte do sujeito. Esse conhe- Ita, segundo ele, do proprio comportamento, que gers A colocacio psicolingti “The psychogencsis of knowledge and its epistemol 4 org. Language and I © 19 Fornaio, B. 110 COMO APRENDEMOS A LER E A ESCREVER? esquemas de ago, através da interagio do sujeito com o objeto da aprendizagem. O que é inato para Piaget seria um méicleo de programas de agdo que organiza e coordena agdes © percepedes, que por sua vez. ajustam-se a0 contetido especifieo do contexto onde funcionam, As estratégias heuristicas de Bever podem ser equiparadas os esquemas de ago de Piaget: elas seriam apenas os esquemas de ago para compreender e produzir expressdes lingiistcas. Para Slobin'*, tanto prinefpios cognitivos gerais, como os de Piaget, quanto princfpios espectficos da linguagem, como os de Bever, esto em, jogo na construgo da lingua natural pela crianca, Comparande-se a visio pingetiana a chomskyana, verifica-se que, apesar das diferencas, “hi tambSm_algimas onvergéncias ial_da_aquisiglio_da linguagem_(S,)_néo so esquemas formais (estruturais) especificos para_a_aquisicéo de_granitieas-Se Chomsky admite”im ‘sistema de desempenho inato, podEmos perguntar se os programas de aco inatos de Piaget nio seriam o que Chomsky tem em mente. Parece-me, contudo, que essa-equiparagio nao é possivel, uma vez que para Chomsky © sistema da competéncia e do desempenho sio independentes, enquanto para Piaget o comportamento, ou a ago, 6 a base para o conhecimento, da mesma forma que para Bever o desempenho determina as’ formas geraveis pela nossa competéncia. ‘a interdgtio do orga- jent 0 objeto da-aprendizagem. ‘A pertingncia da tese de Piaget foi evidenciada poF Ferreiro ™) quando da explicagdo de fendmenos verificados pela” autora és da dissociagao, mostra que & ido da alteracio ou omissio de letras de uma'palavra que ela j4 reconhece globalmente. Pr WSvomN, D, op. Revue Suisse de TBORIAS DA AQUISIGAO HA APRENDIZAGED:., 101 ‘Tanto a abordagem de Bever quanto de Piaget sao extcema- A tese associacionista @ associacionista ita ¢ anticonstrutivista é aquela proposta por concepcées associacionistes da aprendizagem, segundo as quais quando um certo estimulo ambiental x esté presente, rovocar uma resposta y, se esta levar a um esforgo americano teve um estreito compro: a, uma variante da tese associacionista. O ato verbal, segundo essa tese, & vim comportamento social que depende de um organismo cooperative para reforco. 0s processos que 2 aprendizagem, segunid6: essa visto, so a gencralizago indutiva ¢ @ abstracdo. O reforgo de uma tes 1 para um eonjunto maior de ‘uma ctianga emite a palavra miiaw em resposta lar da classe dos gatos ¢ obtém reloreo meacdo para outros elementos doc 1 consegue responder # uma pi ago. Assim, se ela icado ‘de sentencas, 'A crianga’ aprende a 1 a elas através dos termos légicos que nelas aparecem, 2 &, todos, nenhum, algum, nao, &, ou, se, 0/, pausas de pontuagio. Ao aprender, pot exemplo, que Todo girojante é mente dos tetmos que acompanham os termos légicos. No caso, uusamos palavias inventadas, mas, na verdade, eles funcionam como varidveis. Para os. estrutur ado das sentengas & aquilo que resta do significa por variéveis — Todo x é.y?; Nenhum w Se MuLLen, G. Language and communication. New York, McGraw: (COMO APRENDEMOS A LER E A ESCREVER? porque nenhum w pode t-zar; W foi t-zado. Sio os significados a que chamamos asserefo, pergunta, negacdo, sentenga genérica, exis- tencial etc. Os termos logicos, ou palavras gramaticais, que fornecem ‘98 esquemas, ou padres, dentro dos quais ocorrem 0s itens lexicais, permitem muitas vezes que o falante-ouvinte deduza o significado deles, dado 0 contexto. Contrariamente a0 que se supde, portanto, a tcoria associa- cionista reconhece que o significado de sentengas ndo pode ser aprendido por resposta automética e, além disso, que 0 significado por deducao. u uma rejeigao asgociacionista, a um neobehavi A tese inatista de Chomsky fica cujas regras so, de natureza or outro lado, Bolinger *, um dos m: firma que, muito do. que se aprende é anilise ¢ sintese, o mesmo podendo ser dito da compreensfio.e da produgio, Bo que acontece quando aprendemos ou usamos férmu- las ¢ expressocs idiométicas, que so inanaliséveis e constituem, por 0, um desafio para a, teo i expresses. exigem muito. mais. de nossa. cap do_que, de. nosso ‘conhecimento de regras gramaticais ¢ vocabulario. Pata Fillmore * ‘baseia, no uso apropriado de congeladas — diz qu: rentes. de competéncia ca, Se.admitirmos que parte de nossa competéncia € 0 ponente de nossa competéncia. 21 BotmvorR, D, Meaning and memory. Forum Linguisicum, 1(1) 22 Finuwone, C. J, On fluene a ‘orgs, Individual differences in New York, Academic Press, 1979. wguage ability and Tanguage ‘TEORIAS DA AQUISICAO BA APRENDIZAGEN..._ 113 _____TBORIAS DA AQUISIGAO B A APRENDIZAGEM.-._U? io nio-analitica na aprendizagem lingtistica nfo tar a expresses idiométicas complexas. Katherine Nelson aponta, em seus estudos sobre aquisigao de conceitos, a natureza inanalisdvel dos coneitos primitives da crianga. Em outras is, a aquisigio dos conceitos nfo se dé, segundo a autora, a partir de uma operagio de anilise de tragos distintivos, mas global e funcionalmente na interagao com objetos, pessoas e eventos. B interessante notar aqui que tanto Fillmoze quanto Nelson associam a apreensio global & dependéncia’situacional, 0 que sos de um lado, entre uma ae uma visio comunicacional, funicionalista, €, a visio formalista, analitica e ndo-comunicacional. de outro, entre a, isto é, globalmente © por resp poucos a crianga tem consciéncia da analisabilidade desse input, usando jé uma operacdo que envolve dissociagao e construcao. Em trabalho anterior, proponho que a identificagio, auto- mética, sem andlise, se dé também no. adulio, quando a palayra até mesmo expressbes,fazem parte do léxico e glossirio visuais monte alguns elementos constants, convencionais, que marcam 0s limites do texto, tais como: era wna vere yiveram jelizes para ‘sempre. Também no nivel dissertativo, parece que’a apreensio inicial se d4 através de um esqueleto:formal’estrutural, cujos le- ‘mentos invariantes' sio conectivos’ sentenciais “ow de pardgrafos. ‘Un estudo interessante de De Lemos *apresonta fatos do compor~ tamento do vestibulando em redajao que’ parecem atestar essa hnipétese, Sous sujeitos sam dé conectores com uma funcio estrita- ‘mente estrutural, no sendo seu uso motivado pelas proposigoes que eles Tigam, 0 que evidenicia que houve apenias uma apreenséo global-formal do objeto a ser consttufdo. relationships in acquisition 267-85, 1974. “Algumas stra tos Chagos, 1977 114__COMO APRENDEMOS A LER EA ESCREVER? A fala egocéntrica A teoi crianga monologa na fase Segundo essa teoria, a pr6prio falante. Como’ todo falante 6 seu préprio ouvinte, é natural que sua fala seja também uma resposta para simesmo. A crianca ‘monologa enquanto esta fazendo algo, porque esté respondendo ver- balmente as suas atividades motoras. Para os associacionistas, esse ‘mondlogo desaparece com 0 passar do tempo por eausa da pressio social, embora eles acreditem que ele possa apenas se subvocalizar. interessante apontar. para a afinidade dessa visio com a teoria piagetiana sobre a fala ego 4que a fala egocéntrica acompanha modalidade de fala desaparece qua ad. © psieblogo sovistico Vigarsky * opde-se a essa visio piage- que a fala é desde o inicio uma atividade soci wolvendo-se simultaneamente em fala A primeira desenvolve-se gradu: é, na capacidade de perisar verb: surge © pensamento 16gico (também:com uma’ série de ivasie qualitativas da evolugio sua visio se assemelha & de Bickerton, iormente. funcional) Nesse_ asp. sobre: a qual jé falamos an Uma evolugdo com 0 direcionamento proposto pelos associa~ ionistas ©: por Piaget pode ser vista também. no. desenvol das redagbes de criancas. A pesquisa de que 0 primeiro género produzido pela crianca é 0 expressivo (ou emotivo), que se caracteriza pela sua necessidade egocéntrica, Os 0s transacionais, que se voltam para a segunda e¢ terceira mente. Nessa, fase i tum discurso de terceira pessoa (por exemplo a estéria de um spacer, TEORIAS DA AQUISICAO BA APRENDIZAGEM...__ 11S tomate), a crianga envolve-se em um discurso expressivo, em que ela 6 0 principal. sujeito. E possivel, poréin, que essa vinculagio da ficesio com a reali- dade através da primeira pessoa seja para a criang tfeahente nasi ead echogar gum Gna sist Bip tities, dissociado do aqui, do agora e do eu. © papel da comunicagéo'e da interagéo social ade Chomsky a comunicagio & apenas wma fungao secundaria da lingua, a0 contrario da visdo estruturalista, na qual a lingua € considerada basicamente instrumento de, com cagio, Assim, para Saussure, como sabemos, a lingua é um obj endo mal natura | arbitrria ¢ convencionsl. retorno que observamos, na ftea da aquisiglio, & concepsite’| da lingua como rumento de comunicagao deve-se principalmente | & influéncia de Vigotsky. Mais recentemente, Briner,influenciado por Vigoisy, dia que: “a fala funciona primeiro de modo, a edfatizar os cados ja estabelecidos em termos de tima Para cle, @ litigua & wma extensio especializada & convenciona- ligada da ago cooperativa: sua aquisig@o € uma transformagao dios modos de assegurar uma eooperaeio que é anterior & ‘Vemos nessa afirmagao’ um ica pré-chomskyana, Porém, ambém a de’ Vigotsky — nao € apenas com 08 asp palmente com seus ‘Como conseqiiéncia desse novo enfoque, a atenclo dos pesqui sadores, que até ento se concentrava na compréenséo e producio da crianga, se volta também para a fala do adul interage com aquela, A’ importincia desses fornecer dados concretos sobre 0 esté exposta © sobre © papel do terlocutor mais velho nessa Bo BaoNes, J. The ontogenesit of spesch acts. Joumal of Child Language, 21-19, 1975. 116 _CONO APRENDEMOS A LER A ESCREVER? Clark © Clark descrevem quatro tipos de atividades entre adult simula a parte da eri desenvolve 0 t6pico iniciado pel dade em que ele complementa e corrige a fala da crianga. Ci de ondem lingiifstico-formal, segundo os autores, praticamente sendo ¢las muito mais motivadas por fatores de ordem funcional ", A importincia dessa abordagem esté no fato de que ela se coaduna com a nossa concepcdo de leitura e esctitura como atos de comunicacio, Importam-nos ainda os tipos de interagio entre 0 adulto ¢ a erianga, em especial as de complementagdo ¢ correcéo, dado 0 tipo de interagéio que se espera em uma situagio de. ensino © aprendizagem, Comparando-se as duas situagées, observa-se que as corregdes na fala sAo motivadas principalmente pela necessidade de aumentar a eficécia comunicaci escolar, a énfase € sobre a boa consisténcia de registro como parte da, coeréncia textual, Isso signi fica que, se vamos usar algumas regras normativas, teremos que usé-las de forma consistente. Porém, é preciso enfatizar também a ficdcia comunicativa do texto, que resulta parao ‘leitor em sua melhor legibilidade. © papel. do jogo ¢ da estéria ‘Tanto Piaget quanto Bruner e Vigotsky enfatizam © papel do jogo e do faz-de-conta na aquisigaé da linguagem. 80 Cuans, H. H. & Clark, B. V., orgs, op. cit, 81Ver ainda o estudo interessantissimo’ de De Leos, C. G. La specular come processo. cont L, org. La teoria TTEORIAS DA AQUISICAO E A APRENDIZAGEM:/._119 Para o primeiro, 0 pensamento I6gico e a fala socializada de- ‘vem ser necessariamente precedidos da capacidade Iidica e imagi- nativa da crianga, Para Bruner #, a ago cooperativa entre os pais ¢ a crianca i estabelecem rotinas lado, mostra que’a ctianga'é capaz de f um objeto representér outro, apenas simulando 08 gestos do ot reptesentado; por exemplo, um lépis se movimentando representa ‘uma pessoa andando. Mostra ainda que, fora.da brincadeira e jé dissociado dos gestos, 0 lépis pode continuar a representar uma fituindo, nesse caso, um'simbolismo de segunda ordem. Como a aprendizagem da escrita envolve esse tipo de capaci dade, pode-se pergumtar se um dos fatores que levam & dificuldade de alfabetizagio nao seria a falta ‘de estimulacdo’ para ‘0 jogo © 4 brincadeira, anterior & fase da alfabetizacio, ei TOR que ashns dle; SATNG ARETE: BIB das pessoas ¢ lugates sem ter de se. preocupar em sepatar, de forma absoluta, 0 real do. imaginério, Embora aceite bem “0 non-sense total; a crianga se-vé muitas vezes confusa entre o-que € real © 6 que é inventado, mas, & medida que amadurece, passa a ver a est6ria nfo como um retrato do°mundo. como ele é, mas como poderia, ser, um-mundo que ¢ antes.a postulagao de uma possi- Dilidade do.que de uma certeza. in ficcional que-a crianga desenvolve a capa- 10 6 de afastamento do:contexto imediato 32 Brower, J., op. cit . 8 Viootsxy, L. S. Mind in society, Cambridge, Mass,, Hervard University 4 corgs., op. cit 110_COMO APRENDEMOS A LER E A ESCREVER? TE_SOMOARRESDEMDS.AVLA MamecRVERD © papel da consciéncta B comum acreditar-se que, para a escola behaviorista, a apren- dizagem bem-sucedida é caracterizada pela internalizacdo incons- ciente de hébitos, motivo por que, nos procedimentos.pedagdgicos que derivam dessa escola, proscreve-se 0 uso de regras explicitas, Contudlo, Miller *, ao descrever os pressupostos da abordagem associacior mostra que 0 adulto, ao falar, ou antes miesmo de. falar, faz. ajustes ma sua producio, suprimindo, acrescentando ou modi ‘ago, Podemos supor, pois que, para passar da fase automética para a fase reguladora, o falante deve fazer uso de sua consciéncia, Na visio inatista chomskyana, a conscincia tem um papel importante na testagem da competéncia, isto é, do conhecimento linguistico, © julgamento da gramaticalidade de se ‘@ nogdo de competéncia se apéi lum ato consciente sobre o pro © estudo de Gleitman et alii, que focaliza a violagio da ordem de constituintes, mostra que a crianga idade, consegue classificar sequéncias and €.ndo apenas gramaticais. ‘Um fato que-observei em minh: ilha, aos trés anos de idade, ga nessa idade jé 6 sensivel a Quando: sua av6 japonesa, io de portugués, Ihe disse: “A. vov6. vou comer imediatamente a corrigiu, dizendo: “A. vov6 vai comer que a crianga vai se tornando grai de sua gramética, j Para Piaget a consciéncia tem um papel fundamental no desen- volvimento cognitivo. Ter conscigneia de uma operacao mental é saber transferir algo do plano de aco para o plano da linguagem. amente consciente de ‘partes 5 MitLER, G, op. cit. 88.Guemvan, ot ali. The emergence of the child as grammatian. Cognition, 1137-64, 1972, TPORIAS DA AQUISICAO E A AVRENDIZAGEM... 119 Quando decresce 0 uso da fala egocéntrica a crianga dé-um salto ualitativo em seu desenvolvimento cognitivo, através da consciéncic, igotsky liga 0 conceito de conseiéncia & nogao de controle — de atos ou do saber — e afirma que esse tipo de consciénoia surge no estégio avangado do desenvolvimento de uma fungio, isto 6, depois que esta tenha sido pratica: Karmilotf-Smith ® apresenta evidéncias dessa consciéncia em ides, atrayés do qual confirma sua hipdtese de que a inicialmente trabatha no mapeamento entre a representacdo realidade exterior e, na medida em que uma, cate- ela se toma 0 objeto de sua atengio nnsciéncia se manifesta, por exemplo, em nga efetua em seu proprio discurso, reparos © manipulagio. Tal ccertos reparos que em nada prejudicaria “a ‘comunicagao da mensagem Esses reparos so, portanto, indicios de uma consci que leva a criaiiga a monitorar seus atos, a manipular por si propria. a linguagem, Em vista do que'foi discutido, parece-nos clato que a aquisigao lingiifstica ‘atravessa um perfodo inconsciente, em que a fala é um co-produto da aco, e um outro, em que ela se torna um objeto de cognicdo para a crianca. Parece-nos ainda que o despertar da consciéncia nto. é um processo abrupto, mas desenvolve-se gradativamente,.a partir dos ‘és anos de idade. passa’a perceber que a es a eseritura do adulto, quando j metacognitivo das agdes. A pes: meficionada, mostra-nos que a cria presents 10 de controle na A diferenga entfe ela ¢ 0 adulto reside no nivel em que o controle © a monitoragio atuam, BT Kansaore Summ, A. Language as a formal problem-space for children. 1979, Trabalho apresentado ‘no Congresso-MPG/NIAS “sobre “Alem da escriggo

You might also like