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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo | Universidade de São Paulo

AUH0154 | História e Teorias da Arquitetura III


Resenha 1
Julia Nariçawa | N°USP 12505454

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ARGAN, Giulio C. Art Nouveau. In A Arte Moderna 1770-1990. São Paulo:


Companhia das Letras,1992, pp.199-207.

Giulio Carlo Argan (1909-1992), nascido em Roma, na Itália, foi um dos mais
produtivos historiadores e ensaístas de arte de sua geração, sendo também professor
da Universidade de Roma e da Universidade de Palermo. Foi aluno de importantes
críticos de arte como Adolfo e Lionello Venturi, que preconizava a procura do sentido
da arte na História. Nesse sentido, Argan foi representante de uma tradição crítica que
corresponde historicamente a movimentos modernos da arte. E ainda, durante sua
vida, foi prefeito de Roma e Senador pelo Partido Comunista Italiano.

O texto analisado faz parte do livro escrito por Argan intitulado A Arte Moderna
(1970) e tem como pano de fundo o cenário da transição para o moderno, isto é, a
passagem do século XIX para o XX. Esse contexto foi marcado pelo desenvolvimento
urbano e industrial e pelo consequente fortalecimento da produção mecânica e
automatizada em contraste com o trabalho manual de artífices e artesãos. Nesse
sentido, Argan busca estabelecer relações entre a arte moderna e os processos
históricos que a formaram, procurando encontrar suas origens nas heranças artísticas
do iluminismo.
Diante desse panorama, o autor traz o conceito de Art Nouveau e apresenta ao leitor
diversas imagens de produções artísticas desse movimento, tais como mobiliários,
espaços arquitetônicos, quadros, esculturas, etc. Ademais, ao longo do texto, tece uma
crítica sociológica acerca desse fenômeno tão proeminente na transição do século XIX
para o XX.

No texto, Argan faz uma contextualização e conceituação inicial do fenômeno Art


Nouveau. Caracteriza-o como um “estilo” tipicamente moderno e cosmopolita que
também acaba por se tornar um regime cultural, à medida que se propaga
uniformemente pelo globo. Nesse cenário, o autor vê esse estilo “moderno” como uma
“moda”, assumindo um papel social e econômico significativo para a nascente
sociedade industrial. Nesse sentido, assim como toda “moda”, o Art Nouveau é um
fator psicológico que desperta nos consumidores um interesse por um produto novo e
a decadência do velho. Essa renovação constante do desejo de consumo e o
consequente processo de substituição são essenciais para o giro da economia
capitalista industrial em ascensão. Sendo assim, Argan conclui que o Art Nouveau
corresponde ao que Karl Marx chamou de “fetichismo da mercadoria”, ou seja, fato
das mercadorias, dentro do sistema capitalista, ocultarem as relações sociais de
exploração do trabalho, raciocínio que será trabalhado mais adiante.
Ao mencionar alguns traços estilísticos do Art Nouveau, que remetem a temas
recorrentes da liberdade expressiva, natureza, primavera, etc, traz para a discussão a
questão da ornamentação sobre um pano de fundo de coexistência e contraposição
entre o trabalho manual e o automatizado, como visto em aula. O ornamento,
característica marcante desse estilo, deixa de ser apenas um mero enfeite de um objeto
útil, uma vez que esse passa a se adequar a aquele. Assim, a funcionalidade e o belo se
tornam um só, criando um ambiente visual que fornece à sociedade uma imagem
idealizada e otimista. Tal entusiasmo da ornamentação fica restrito às classes mais
altas da sociedade, não extrapolando para as camadas operárias, peça chave para todo
progresso tecnológico. É nesse momento que prevalece o enfoque da crítica de Argan,
visto que não há evidência alguma que o Art Nouveau tenha incutido em sua
concepção e produção uma consciência social acerca dos problemas inerentes ao
avanço do capitalismo industrial.
Debruçando-se em conceitos marxistas, Argan vê o ornamento como uma justificativa
para agregar preço aos produtos e aumentar assim a mais-valia. Nesse raciocínio, os
artistas, através de sua contribuição criativa para a produção industrial de produtos art
nouveau, tornam-se expoentes de uma burguesia excludente. Por fim, conclui que o
Art Nouveau nunca teve caráter popular e sim foi um estilo de arte restringido a uma
elite dominante.

Argan durante o texto traz conceitos da teoria marxista, tais como “mais-valia” e
“fetichismo da mercadoria” de forma a caracterizar o contexto no qual a produção da
art nouveau estava inserida. Faz referência também a ideia de Indústria Cultural,
desenvolvida pelos sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, à medida
que as obras de estilo “moderno”, produzidas majoritariamente pela indústria e
voltada para o consumo das massas, era uma forma de uniformizar e massificar todo
um regime cultural. Tanto é que a art nouveau chegou ao Brasil: a elite brasileira, na
tentativa de ser cosmopolita e se tornar mais próximas da modernidade europeia
passaram a consumir esse tipo de estilo. Exemplo disso é a própria FAU Maranhão
(Vila Penteado), um edifício art nouveau com mobiliários e adornos tipicamente desse
estilo, apresentando temática naturalista com ornamentos que remetem ao café e à
flora brasileira.
Ainda, faz menção ao poeta e teórico francês Baudelaire, o qual é considerado um dos
precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da
tradição moderna em poesia. Ademais, traz uma afirmação de um crítico de arte
britânico, John Ruskin, para refutá-la segundo a sua própria linha de pensamento. Por
fim, ele menciona William Morris, um designer têxtil, poeta, romancista, tradutor e
ativista socialista inglês, sendo um expoente do movimento Arts and Crafts,
contribuindo para reviver os métodos tradicionais de produção. Trazendo para o
cenário brasileiro, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo teve seu estabelecimento
como escola fortemente influenciado por esse movimento e posteriormente se tornou
o principal divulgador e realizador de obras no estilo Art Nouveau em São Paulo e no
país. Exemplo disso é o mobiliário da Vila Penteado já mencionado anteriormente.

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