You are on page 1of 2

Nome:

Professor: Disciplina: Data: ___/___

Turma: Nota:

Leia o seguinte texto, que trata das diferenças entre fala e escrita:

Talvez ainda mais digno de atenção seja o desaparecimento [na escrita] da mímica e das inflexões ou variações do tom da
voz. A sua falta tem de ser suprida por outros recursos.
É, neste sentido, que se torna altamente instrutiva a velha anedota, que nos conta a indignação de um rico fazendeiro ao
receber de seu filho um telegrama com a frase singela – “mande-me dinheiro”, que ele lia e relia emprestando-lhe um tom rude e
imperativo. O bom homem não era tão néscio quanto a anedota dá a entender: estava no direito de exigir da formulação verbal
uma qualidade que lhe fizesse sentir a atitude filial de carinho e respeito e de refugar uma frase que, sem a ajuda de gestos e
entoação adequada, soa à leitura espontaneamente como ríspida e seca.
J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.

1) Considerando-se que o verbo da frase do telegrama está no imperativo, se essa mesma frase fosse dita em uma conversa
telefônica, haveria possibilidade de o pai entendê-la de modo diferente?
Explique.

____________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________

2) Reescreva a frase do telegrama, acrescentando-lhe, no máximo, três palavras e a pontuação adequada, de modo a atender a
exigência do pai, mencionada no texto.

___________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________

3) Este texto foi extraído de um conto de Monteiro Lobato, cujo personagem principal enlouquece, quando vê seu cafezal
inteiramente destruído pela geada.

E a geada veio! Não geadinha mansa de todos os anos, mas calamitosa, geada cíclica, trazida em ondas do Sul.
O sol da tarde, mortiço, dera uma luz sem luminosidade, e raios sem calor nenhum. Sol boreal, tiritante. E a noite caíra sem
preâmbulos.
Deitei-me cedo, batendo o queixo, e na cama, apesar de enleado em dois cobertores, permaneci entanguido uma boa hora
antes que ferrasse no sono. Acordou-me o sino da fazenda, pela madrugada. Sentindo-me enregelado, com os pés a doerem, ergui-
me para um exercício violento. Fui para o terreiro.
O relento estava de cortar as carnes – mas que maravilhoso espetáculo! Brancuras por toda a parte. Chão, árvores,
gramados e pastos eram, de ponta a ponta, um só atoalhado branco. As árvores imóveis, inteiriçadas de frio, pareciam emersas dum
banho de cal. Rebrilhos de gelo pelo chão. Águas envidradas. As roupas dos varais, tesas, como endurecidas em goma forte. As
palhas do terreiro, os sabugos de ao pé do cocho, a telha dos muros, o topo dos moirões, a vara das cercas, o rebordo das tábuas –
tudo polvilhado de brancuras, lactescente, como chovido por um suco de farinha. Maravilhoso quadro! Invariável que é a nossa
paisagem, sempre nos mansos tons do ano inteiro, encantava sobremodo vê-la súbito mudar, vestir-se dum esplendoroso véu de
noiva – noiva da morte, ai!...Monteiro Lobato, O drama da geada, in Negrinha. São Paulo: Brasiliense, 1951.

4) Tendo em vista as variedades linguísticas da língua portuguesa, justifica-se o emprego, no texto, de expressões como “geadinha
mansa”, “batendo o queixo” e “ferrasse no sono”? Explique.

____________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________
Carta a Manuel Bandeira, S.Paulo, 28-III-31

Manú, bom-dia. Amanhã é domingo pé-de-cachimbo, e levarei sua carta, (isto é vou ainda rele-la pra ver si a posso levar tal como
está, ou não podendo contarei) pra Alcantara com Lolita que tambem ficarão satisfeitos de saber que você já está mais fagueirinho e
o acidente não terá consequencia nenhuma. Esse caso de você ter medo duma possivel doença comprida e chupando lentamente o
que tem de perceptivel na gente, pro lado lá da morte, é mesmo um caso serio. Deve ser danado a gente morrer com lentidão, mas
em todo caso sempre me parece inda, não mais danado, mas sem vergonhamente pueril, a gente morrer de repente. Eu jamais que
imagino na morte, creio que você sabe disso. Aboli a morte do mecanismo da minha vida e embora já esteja com meus trinteoito
anos, faço projetos pra daqui a dez anos, quinze, como si pra mim a morte não tivesse de "vim"... como todos pronunciam. A idea
da morte desfibra danadamente a atividade, dá logo vontade da gente deitar na cama e morrer, irrita. Aboli a noção de morte prá
minha vida e tenho me dado bem regularmente com êsse pragmatismo inocente. Mas levado pela sua carta, não sei, mas acho que
não me desagradava não me pôr em contacto com a morte, ver ela de perto, ter tempo pra botar os meus trabalhos do mundo em
ordem que me satisfaça e diante da infalivel vencedora, regularisar pra com Deus o que em mim sobrar de inutil pro mundo.
(MÁRIO DE ANDRADE. Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1958, p. 269-270.)

5) Envolvido, como declara mais de uma vez em suas cartas, na criação de um discurso literário próprio, culto, mas com
aproveitamentos de recursos e soluções da linguagem coloquial, Mário de Andrade apresenta nos textos de suas cartas soluções de
ortografia, pontuação, variações coloquiais de vocábulos e de regência que podem surpreender um leitor desavisado. Escreve, por
exemplo, no último período do trecho citado, "ver ela de perto", tal como se usa coloquialmente. Aponte a forma que teria essa
passagem em discurso formal, culto.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

You might also like