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Rui Jacinto (coordenação)


Colecção

1. Iberismo e Cooperação – Passado e Futuro da Península Ibérica


2. O Direito e a Cooperação Ibérica
3. O Outro Lado da Lua – Inéditos de Eduardo Lourenço
Centro de Estudos Ibéricos
4. Entre Margens e Fronteiras – Para uma Geografia das Ausências
e das Identidades Raianas
5. Territórios e Culturas Ibéricas O Centro de Estudos Ibéricos é uma asso-
6. Saúde sem Fronteiras
7. O Direito e a Cooperação Ibérica II
ciação transfronteiriça sem fins lucrativos,
8. O Interior Raiano do Centro de Portugal – Outras Fronteiras, Novos constituído pela Câmara Municipal da
Intercâmbios
9. Um Cruzamento de Fronteiras – O Discurso dos Concelhos da Guarda
Guarda, Universidade de Coimbra, Universi-
em Cortes dade de Salamanca e Instituto Politécnico
10. Territórios e Culturas lbéricas II
11. União Europeia, Fronteira e Território
da Guarda.
12. Existência e Filosofia – O Ensaísmo de Eduardo Lourenço

DINÂ MICAS
13. Abandono do Espaço Agrícola na “Beira Transmontana”
A ideia partiu do ensaísta Eduardo Lourenço
14. Educação – Reconfiguração e Limites das Suas Fronteiras
15. Escola – Problemas e Desafios na sessão solene comemorativa do Oitavo
16. As Novas Geografias dos Países de Língua Portuguesa – Centenário do Foral da Guarda, em 1999,
Paisagens, Territórios, Políticas no Brasil e em Portugal

SOCIO ECONÓMICAS
17. Interioridade / Insularidade – Despovoamento / Desertificação tendo em vista a criação de um Centro de
18. Efeito Barreira e Cooperação Transfronteiriça na Raia Ibérica Estudos que contribuísse para um renovado
19. Patrimónios, Territórios e Turismo Cultural
20. A Cidade e os Novos Desafios Urbanos conhecimento das diversas culturas da
21. Vida Partilhada – Eduardo Lourenço, o CEI e a Cooperação Península e para o estudo da Civilização
Cultural
22. Falar Sempre de Outra Coisa – Ensaios Sobre Eduardo Lourenço EM DIFERENTES CONTEXTOS TERRITORIAIS Ibérica como um todo.
23. Metafísica da Revolução – Poética e Política no Ensaísmo de
Eduardo Lourenço
24. Paisagens, Patrimónios e Turismo Cultural Criado formalmente em Maio de 2001, o
25. Condições de Vida, Coesão Social e Cooperação Territorial CEI tem vindo a afirmar-se como pólo privi-
26. Paisagens e Dinâmicas Territoriais em Portugal e no Brasil –
As Novas Geografias dos Países de Língua Portuguesa COORDENAÇÃO DE legiado de encontro, reflexão, estudo e
27. Espaços de Fronteira, Territórios de Esperança – Das RUI JACINTO divulgação de temas comuns e afins a
Vulnerabilidades às Dinâmicas de Desenvolvimento
28. Paisagens, Patrimónios, Turismos Portugal e Espanha, com especial incidência
29. Educação e Cultura Mediática – Análise de Implicações na região transfronteiriça.
Deseducativas
30. Espaços de Fronteira, Territórios de Esperança – Paisagens e
Patrimónios, Permanências e Mobilidades
31. Diálogos (Trans)fronteiriços – Patrimónios, Territórios, Culturas
32. Outras Fronteiras, Novas Geografias - Intercâmbios e Diálogos
Territoriais
33. Lugares e Territórios – Património, Turismo Sustentável, Coesão
Territorial
34. Andanças e Reflexões Transfronteiriças – Roteiro Miguel de
Unamuno – Eduardo Lourenço
35. Novas Fronteiras, Outros Diálogos – Paisagens, Patrimónios, Cultura
36. Novas Fronteiras, Outros diálogos: Cooperação e
Desenvolvimento Territorial
37. Pontes entre Agricultura Familiar e Agricultura Biológica
38. As Novas Geografias dos Países de Língua Portuguesa:
Cooperação e Desenvolvimento
39. Geografias e Poéticas da Fronteira - Leituras do Território

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IBEROGRAFIAS
DINÂMICAS SOCIOECONÓMICAS EM
DIFERENTES CONTEXTOS TERRITORIAIS

Coordenação:
Rui Jacinto

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IBEROGRAFIAS
Coleção Iberografias
Volume 40

Título: Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


Coordenação: Rui Jacinto
Apoio à edição: Ana Margarida Proença
Autores: Aline Pascoalino; Ana Clara Ribeiro de Sousa; Ana Júlia França Monteiro; Ana Lúcia Cunha Duarte; Ana Paula Novais
Pires Koga; André Luiz Garrido Barbosa; Antonio Nivaldo Hespanhol; Bartolomeu Israel de Souza; Claudinei da Silva Pereira;
Débora Santana de Oliveira; Diogo Laércio Gonçalves; Dirce Maria Antunes Suertegaray; Fernando A. B. Pereira; Francisco José
Araújo; Giampietro Mazza; Helena Santana; Hellen Caroline de Jesus Braga; Igor Breno Barbosa de Sousa; Inocêncio de Oliveira
Borges Neto; Ivaldo Lima; Jânio Gomes do Carmo; Jéssica Neves Mendes; Joana Capela de Campos; João Lucas Grassi; José Aldemir
de Oliveira (em Memória); José Borzacchiello da Silva; José Sampaio de Mattos Junior; Juan Diego Lourenço de Mendonça; Karinne
Wendy Santos de Menezes; Leila de Oliveira Lima Araújo; Lucas Ferreira Rodrigues; Lukas Barbosa Veiga de Melo; Marcos Leonardo
Ferreira dos Santos; Messias Modesto dos Passos; Nadja Fonsêca da Silva; Nicola Fresu; Nilson Cesar Fraga; Norberto Santos; Paola
Verri de Santana; Pedro Manuel Tavares; Renata Maria Ribeiro; Ronaldo Barros Sodré; Rosangela Aparecida de Medeiros Hespanhol;
Rosário Santana; Rui Jacinto; Thaís de Oliveira Queiroz

Pré-impressão: Âncora Editora

Capa: Sofia Travassos | www.sofiatravassos.com


Fotografia: Mohammad Moheimani “Irão, Transversalidades fotografia sem fronteiras 2019”

Impressão e acabamento: LOCAPE – Artes Gráficas, Lda.

1.ª edição: abril de 2021


Depósito legal n.º 481056/21

ISBN: 978 972 780 759 8


ISBN: 978 989 8676 26 9

Edição n.º 41040

Centro de Estudos Ibéricos


Rua Soeiro Viegas n.º 8
6300-758 Guarda
cei@cei.pt
www.cei.pt

Âncora Editora
Avenida Infante Santo, 52 – 3.º Esq.
1350-179 Lisboa
geral@ancora-editora.pt
www.ancora-editora.pt
www.facebook.com/ancoraeditora

O Centro de Estudos Ibéricos respeita os originais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressas.
A opção ou não pelas regras do novo acordo ortográfico é da responsabilidade dos autores.

Apoios:

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conhecimento sem fronteiras: dinâmicas socioeconómicas em diferentes
contextos territoriais
Rui Jacinto 9

Patrimónios e paisagens

Toponímia, identidade e processo de colonização do Rio Grande do Sul 15


Dirce Maria Antunes Suertegaray, Rui Jacinto e Inocêncio de Oliveira Borges Neto
Os diferentes processos por trás do nome dos lugares 49
Leila de Oliveira Lima Araújo
O toque dos sinos desenhando um outro olhar sobre a paisagem 61
Helena Santana e Rosário Santana
A geografia da Amazônia na obra de Samuel Benchimol 79
Hellen Caroline de Jesus Braga, Paola Verri de Santana
e José Aldemir de Oliveira (em Memória)
Análise da paisagem na área da Microbacia Hidrográfica do Córrego Lagoa, 95
situada no Município de Ouvidor, Estado de Goiás
Lucas Ferreira Rodrigues
Políticas Ambientais na Raia Divisória São Paulo-Paraná-Mato Grosso do Sul, Brasil: 113
estudo das áreas potenciais para a criação de corredores ecológicos
Diogo Laércio Gonçalves e Messias Modesto dos Passos
Análise da paisagem e possibilidade de uso para políticas públicas ambientais 131
no semiárido brasileiro
Bartolomeu Israel de Souza, Juan Diego Lourenço de Mendonça, Marcos Leonardo
Ferreira dos Santos e Lukas Barbosa Veiga de Melo

Políticas públicas, cooperação e coesão social

A democracia encurralada: antipolítica, antilaicidade e surto do irracionalismo 159


Francisco José Araújo
Questão racial: reflexões sobre memória, narrativas hegemônicas 169
e contra-hegemônicas no contexto brasileiro do século XX
Ana Júlia França Monteiro

Resistência, persistência e sobrevivência indígena: a Aldeia da Ponte, do Povo 185


Tapeba, no município de Caucaia, Ceará – Brasil
Karinne Wendy Santos de Menezes

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A tentativa de extermínio do território do Contestado e o massacre continuado do 203
patrimônio e da população tradicional cabocla: negação, invisibilidade, silêncio
e políticas públicas antiterritoriais, em Santa Catarina, Brasil
Nilson Cesar Fraga

Geografia das prisões 223


Giampietro Mazza e Nicola Fresu
A importância dos relatos de memórias para a reinterpretação social, política e 239
econômica dos processos históricos: o caso das mulheres portuguesas que
acompanharam os seus maridos nas guerras coloniais africanas
Thaís de Oliveira Queiroz
Políticas Públicas Educacionais: quais são os desafios para o desenvolvimento e 251
transformação da realidade brasileira?
Nadja Fonsêca da Silva
Qualidade da educação e indicadores sociais do Maranhão: um diálogo necessário 265
Ana Lúcia Cunha Duarte
Ética e estética no ambiente escolar: as competências socioemocionais 279
no ensino de Geografia
Débora Santana de Oliveira

Espaço rural e agricultura

A Calha do Rio Amazonas: dos Tupaius ao agronegócio 295


Messias Modesto dos Passos
Transpondo Águas e Vidas: as Vilas Produtivas Rurais e a transposição do Rio São 321
Francisco, Brasil
Ana Paula Novais Pires Koga e Messias Modesto dos Passos
Estratégias de desenvolvimento e suas implicações no campo: uma análise das 337
últimas cinco décadas no Maranhão - Brasil
Jéssica Neves Mendes, Igor Breno Barbosa de Sousa, Ronaldo Barros Sodré
e José Sampaio de Mattos Junior
A produção de alimentos na escala local: a horticultura em Álvares Machado – SP, Brasil 353
Rosangela Aparecida de Medeiros Hespanhol e Antonio Nivaldo Hespanhol
Heterogeneidade da horticultura comercial urbana no interior 367
do Estado de São Paulo – Brasil
Antonio Nivaldo Hespanhol, Claudinei da Silva Pereira, Rosangela Aparecida de
Medeiros Hespanhol, Jânio Gomes do Carmo e João Lucas Grassi

Cidade e património urbano

O discurso da paisagem urbana: entre a estética da periferia e a ética territorial 385


Ivaldo Lima
Da necessidade de um Observatório para o Património Mundial Português 405
Joana Capela de Campos e Norberto Santos

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As transformações do espaço público no entorno do Museu do Amanhã e sua 419
contribuição ao turismo urbano
Renata Maria Ribeiro e Ana Clara Ribeiro de Sousa
A Princesa de Portugal Joana de Áustria; da Outra Corte à criação do Mosteiro das 433
Descalças Reais, como centro espiritual e político das Mulheres Habsburgo, durante
a União Ibérica
Pedro Manuel Tavares e Fernando A. B. Pereira

Defesa e Religião no período colonial em Cabo Frio: memória, patrimônio histórico 455
e história local
André Luiz Garrido Barbosa
Políticas públicas e a gestão de cidades climaticamente sustentáveis no contexto 473
das mudanças ambientais globais: considerações sobre as cidades brasileiras
Aline Pascoalino
Cidade, arte e literatura: fragmentos sobre Fortaleza 495
José Borzacchiello da Silva

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Estratégias de desenvolvimento
e suas implicações no campo:
uma análise das últimas cinco
décadas no Maranhão - Brasil

Jéssica Neves Mendes1


Igor Breno Barbosa de Sousa2
Ronaldo Barros Sodré3
José Sampaio de Mattos Junior4

Introdução

O presente artigo evidencia a dinâmica no campo maranhense por meio das estratégias
de desenvolvimento a partir da década de 1970. Neste período, o processo de formação
territorial do Maranhão é resultado da implantação de grandes projetos. Desde 1990, a
soja passa a ser o principal produto da agricultura exportadora, ganhando cada vez mais
destaque no campo maranhense com a difusão da noção de agronegócio, na perspectiva de
reestabelecer a agricultura comercial exportadora após a crise da década de 1980. Diante
dessa contextualização, centramos o principal objetivo do artigo em analisar a dinâmica
rural maranhense, levando em consideração as estratégias do Estado para o avanço da soji-

337 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


cultura e a consolidação do processo agroexportador. Tendo isso em vista, novas estruturas

1
Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional da Universidade
Estadual do Maranhão e integrante do Grupo de Estudos de Dinâmicas Territoriais (GEDITE).
2
Professor do curso de Geografia no Núcleo de Tecnologias para Educação (UEMAnet) da Universidade Estadual
do Maranhão e do Centro de Referência em Formação e Educação a Distância no curso de Especialização em
Geoprocessamento Aplicado no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG- Diamantina). Mestre
em Desenvolvimento Socioespacial e Regional e Graduado em Geografia, ambos pela Universidade Estadual
do Maranhão, e integrante do Grupo de Estudos de Dinâmicas Territoriais (GEDITE).
3
Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão e Doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
4
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) e em Desenvolvimento Socioespacial e
Regional (PPDSR), ambos da Universidade Estadual do Maranhão, e coordenador do Grupo de Estudos de
Dinâmicas Territoriais (GEDITE).

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passaram a configurar a economia maranhense numa ótica globalizada mediante a dialética
entre as ordens global e local. Assim, como consequência, nota-se que, diante das estratégias
de desenvolvimento do Maranhão, os arranjos institucionais priorizaram uma pequena
parcela da população maranhense, resultando em inúmeras implicações no território.

O processo de ocupação das terras que viriam conformar o estado brasileiro do


Maranhão, teve seu início pelo litoral, aonde os colonizadores franceses iniciaram a prática
de escambo com os indígenas que ocupavam a Grande Ilha e onde também, iniciaram os
primeiros cultivos de especiarias e cana-de-açúcar. Nesse ritmo, seguindo uma abordagem
socioeconômica, um marco para o desenvolvimento do capitalismo no estado será a cria-
ção da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão (CGCGPM) em 1775,
quando o estado torna-se um importante centro de exportação (algodão e arroz), sendo o
algodão um dos produtos mais prósperos, modificando o desenvolvimento do estado. No
sentido dessa transformação do viés de desenvolvimento, o modelo agroexportador entra
em crise e cria-se uma perspectiva de uma nova transformação, basicamente, do capital em
indústria (MEIRELES, 2001).
Com a crise do algodão, o extrativismo do babaçu se torna a principal atividade e, assim,
a pequena produção familiar também assume grande importância diante da crise agrícola.
Com o passar do tempo, a busca por novas estratégias trouxe modificações na estrutura so-
cioeconômica do Maranhão na década de 1960, uma vez que a total intervenção do Estado
no processo de expansão do capitalismo no país possibilitou projetos de colonização, venda
de terras, exploração e modernização agropecuária. Já no final da década de 1970, outros
grandes projetos são implantados diante das Superintendências de Desenvolvimento, estas
que culminaram no crescimento exponencial da população, sobretudo, nas áreas urbanas.
Além disso, decorrente dos direcionamentos e da expansão do capitalismo no campo
por meio das políticas de desenvolvimento nos anos 1970 e 1980, a agricultura exportado-
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

ra do estado nos anos de 1990 foi direcionada para o cultivo de soja, ganhando de forma
crescente mais destaque na economia maranhense. Diante dessas prospecções de contex-
tualização estadual e nacional, centramos o principal objetivo do artigo em analisar a
dinâmica maranhense por intermédio das implicações das estratégias de desenvolvimento.
Para confecção do artigo, partimos inicialmente do método Materialismo Histórico
e Dialético para analisar as dinâmicas do espaço maranhense, permeadas de contradições
advinda do capitalismo e que incidem diretamente na estrutura agrícola dedicada pelo
Estado. Assim, foi realizado o levantamento bibliográfico para embasamento teórico da
pesquisa, evidenciando autores que discutem a realidade do Maranhão, como: Mesquita
(2017), Andrade (1984), Almeida (2017), Ferreira (2017), além de políticas de desenvol-
vimento no Brasil e no Maranhão.
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Posteriormente, para a aquisição dos dados secundários da pesquisa, coletamos in-
formações do Plano de Dados Abertos do Governo Federal fornecidos pela Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB) referente ao Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA). Além dos órgãos estaduais responsáveis pela aplicação do programa no estado, foi
também necessária a pesquisa no plano de dados das séries históricas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), no que tange à dinâmica populacional e agropecuária
do Maranhão. Com as informações obtidas, realizamos a sistematização dos dados e as re-
presentações cartográficas. Dessa forma, a partir das interpretações e descrições, tornou-se
possível a construção de análises críticas que serviram para construção do artigo.

A realidade maranhense: uma breve análise das transformações


socioeconômicas

O processo de formação territorial no estado do Maranhão iniciou com a ocupação


francesa onde mais tarde em 1612 seria fundada a capital, São Luís. Entretanto, após três
anos de ocupação francesa, os portugueses expulsaram os franceses e sob o comando de
Jerônimo de Albuquerque, iniciou-se a expedição marítima no sentido oeste, penetrando
pelos rios e ocupando territórios antes territorializados pelos índios.
Em 1756, com a criação da CGCGPM, ganha-se um novo incentivo para exportação
dos produtos do Maranhão com a finalidade de organizar a produção local, tendo em vista
que os principais produtos moldadores da economia do estado eram os cultivos de arroz,
algodão e a venda do couro. Conforme Andrade (1984), para organizar a economia mara-
nhense, a Companhia tomou uma série de medidas a fim de obter aumento quantitativo
e qualitativo da produção, como: introdução de africanos escravizados e de sementes de
arroz e algodão. A partir dessas medidas, a Europa começa a interessar-se na aquisição do

339 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


algodão e, então, é nesse período em que o Maranhão se consolida como principal expor-
tador de matéria-prima, sobretudo com a Revolução Industrial Inglesa.
A produção de arroz, que esteve em ascensão na segunda metade do século XVIII,
decresce e, depois, chega a estagnar nas duas primeiras décadas do século XIX. Entretanto,
o algodão continuava a crescer até o período da independência. De acordo com Furtado
(2005), um conjunto de fatores circunstanciais deu à colônia, no começo do sécu-
lo XIX, uma aparência de prosperidade, três desses acontecimentos foram: a Guerra de
Independência dos EUA, a Revolução Francesa e, por último, as guerras napoleônicas,
resultando na desarticulação do império espanhol da América.
Contudo, essa fase denominada por Celso Furtado de falsa euforia era precária
e, superada essa etapa, o Brasil encontraria sérias dificuldades a partir do processo de

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independência. Isto posto, a proclamação da Independência por Dom Pedro I não agradou
aos portugueses, estes que controlavam o comércio do Maranhão. Dessa forma, Andrade
(1984) destaca que:

A luta armada, o egoísmo desenfreado dos altos comerciantes e grandes proprie-


tários e a ignorância generalizada, fizeram decair também aquela prosperidade parcial
de que o Maranhão gozara a partir da segunda metade do século XVIII. O algodão e
o arroz continuaram a ser cultivados por processos antiquados, a ser industrializados
em péssimas condições e a exigir cada vez mais terras de matas virgens e braços negros.
O latifúndio e a escravidão continuaram a ser uma constante na economia agrícola do
Maranhão e ao grande proprietário interessava apenas uma grande produção e não uma
elevada produtividade para manter elevadas as suas rendas (ANDRADE, 1984. p. 49).

Apesar dos entrepasses da produção, as atividades agrícolas não desapareceram das


atividades econômicas, tendo em vista a instalação de novas indústrias de algodão, sobre-
tudo, em São Luís e Caxias. Segundo Furtado (2005), a produção de algodão se constituiu
como um grande negócio para algumas regiões do Brasil, principalmente no Maranhão.
Contudo, com o início da produção em grande escala nos EUA e com o algodão transfor-
mando-se na principal matéria-prima do comércio mundial, os preços declinaram.
Com isso, na segunda década do século XX, segundo Sousa et al. (2020), as alterações
no formato de organização da produção colocaram o babaçu como produto principal do
Maranhão, devido à desarticulação das grandes propriedades fornecedoras de cana-de-
-açúcar e algodão. Entretanto, Andrade (1984) enfatiza que o ciclo do babaçu não teve sua
fase áurea, à exceção do mercado consumidor na Alemanha e da atração de algumas em-
presas estrangeiras da Noruega, Bélgica e França no período da pós Primeira Guerra. Em
suma, o babaçu agregava pouco valor ao produto, o que não elevava o preço (PACHECO
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

FILHO; GALVES; ALMEIDA, 2015).


Apesar das dificuldades econômicas vivenciadas no Brasil pós-independência, o café tor-
nou-se o produto principal das exportações brasileiras e, com isto, trouxe modificações na
estrutura econômica e agrícola do país. Assim, conforme Mesquita (2011), com o núcleo dinâ-
mico tendo por base a cafeicultura, cede-se lugar a um padrão urbano-industrial que privilegia
a industrialização e os núcleos econômicos como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
As transformações industriais ocorridas nestes locais, como a modernização de plantas
industriais, refletem nas áreas mais antigas como o caso do Maranhão, onde a indústria
têxtil se encontrava defasada tecnologicamente, além da produção permanecer com os
mesmos processos da época colonial e por consequência desencadeou na extinção do setor
têxtil até os anos 1960. Assim Oliveira (2006) destaca que:
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Neste sentido, a “região” do café vai reorganizando as economias regionais como
produtoras de matérias-primas para a “locomotiva”, guardando, ainda, fortes e dire-
tos laços, pelas exportações, com os mercados dos países centrais. Durante um bom
espaço de tempo, os interesses oligárquicos regionais coincidiram com uma política
econômica – na verdade com sua ausência – cujo único instrumento era a taxa
de câmbio, visto que as exportações eram o motor das várias economias regionais
(OLIVEIRA, 2006. p. 39).

É neste contexto que emerge a Questão Regional na forma da disparidade nas várias
regiões, sobretudo, nas duas principais regiões do país, no qual começam a aparecer
conflitos entre estas, tendo em vista uma estar em processo de crescimento e outra
em estagnação. A partir disso, são adotadas políticas de planejamento na perspecti-
va de uma da atividade econômica, baseada na indústria. Em seguida, são criadas as
Superintendências de Desenvolvimento (Nordeste e Norte) com políticas que ampa-
raram a migração de capital produtivo do Sudeste para as periferias regionais, como o
Norte e o Nordeste do país.
Assim, Gonçalves Neto (1997) destacou que é nesse contexto, no início dos anos de
1960 que o Estado se apresenta como um dos maiores “sócios” da economia brasileira,
tendo em vista a necessidade de investimentos em infraestrutura, financiamento às empre-
sas, produção de matérias-primas e insumos, além da coordenação dos conjuntos de inves-
timentos. Como resultado, tem-se a construção dos complexos industriais no Nordeste, a
exemplo do Maranhão a construção do polo siderúrgico a partir do Projeto Grande Carajás.
Nessa discussão em torno do desenvolvimento do Brasil, considerando o viés da con-
tinuidade do processo de industrialização, em razão do esgotamento do modelo de expor-
tação, colocava-se a necessidade de alterações no meio rural. Delgado (2005) compreende
que o pensamento econômico dos economistas da época estava calcado nas chamadas

341 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


cinco funções da agricultura, estas eram: liberar mão-de-obra para a indústria; gerar ofer-
ta adequada de alimentos; suprir matérias-primas para indústrias; elevar as exportações
agrícolas; e transferir renda real para o setor urbano. Gonçalves Neto (1997) analisa essas
alterações a partir do pensamento que:

O argumento central era que a arcaica estrutura agrária brasileira, centrada


no latifúndio, não permitia à agricultura responder à demanda urbano/industrial:
como produção calcada no monopólio da propriedade da terra, em mãos dos lati-
fundiários, e nas relações de produção antiquadas vigentes, não se conseguiam ga-
nhos de produtividade que respondessem às necessidades da indústria em expansão
(GONÇALVES NETO, 1997. p. 53).

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Com esse argumento, Delgado (2005) aponta que, com este processo de modificações,
ocorre a integração técnica da indústria com a agricultura, nas décadas de 1960 e 1970,
ainda que produção da agricultura paulista (anos cinquenta) tivesse antecedido. Assim, a
modernização técnica da agricultura e de integração com a indústria é caracterizada pela
presença crescente de insumos industriais (fertilizantes, defensivos, corretivos do solo, se-
mentes melhoradas e combustíveis líquidos) e de máquinas industriais (tratores, colhedei-
ras, implementos, equipamentos de irrigação, entre outros).
Cavalcante e Fernandes (2008. p. 21) abordam que “o campo brasileiro, na década de
1970, foi marcado pela Revolução Verde e pelo processo de ocupação capitalista do cerrado
e da Amazônia através da distribuição e venda de terras a empresas para a colonização e
projetos agrominerais”. No Maranhão, Almeida (2017) compreende que, neste período,
os “industrialistas” sentenciavam que seria impossível o estado atingir um crescimento
econômico sem a concretização de um parque industrial.
Tendo isso em vista, o setor primário passa a ser entendido como introdução na área
rural de projetos agropecuários. Assim, com a adoção do setor primário como prioritário
nas atividades econômicas do estado, o governo do Maranhão adotou medidas para tornar
este setor mais eficiente, embora o principal obstáculo fosse a grande disponibilidade de
terras na região noroeste do Maranhão. Desse modo, Almeida (2017) aponta:

As iniciativas do governo estadual se voltaram então para o que foi denominado


de ocupação racional e ordenada das terras disponíveis. A referida ocupação, segundo
foi planejada, permitiria solucionar inúmeros impasses que estrangulavam a estrutu-
ra agrária maranhense, política, jurídica e economicamente. Assim, ao mesmo tempo
em que se promoveria uma “ordenação”, disciplinando o espontaneísmo da fronteira
agrícola, que avança na presente década sobre a Pré-Amazônia Maranhense, tendo
já praticamente realizado a ocupação da região noroeste do Maranhão (Dornas, H.,
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

1974), se efetuaria uma modernização do “setor primário” através da introdução de


uma pecuária de base empresarial e se procederia à abertura das terras disponíveis
a projetos de colonização, que fossem capazes de absorver as famílias camponesas
provenientes das áreas de “tensão social” do estado (ALMEIDA, 2017. p. 79).

Dessa forma, os projetos de colonização5 foram criados, tanto na esfera federal quanto
na regional e na estadual, com ações complementares de controle no deslocamento das
5
A Companhia Maranhense de Colonização (COMARCO), foi criada em dezembro de 1971, com o obje-
tivo de orientar a implantação dos projetos agropecuários, mas também de assentar 10.000 famílias cam-
ponesas na região Centro-Oeste do estado. Já a Companhia de Colonização do Nordeste (COLONE), sob
a coordenação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), foi criada em maio de
1972 (ALMEIDA, 2017).
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famílias oriundas da Baixada Maranhense, Vale do Itapecuru e Mearim em conjunto com
as famílias migrantes de outros estados do Nordeste no acesso aos recursos básicos, atrela-
dos aos grandes projetos agropecuários e de mineração, cujas iniciativas estavam fundadas
na apropriação de terras públicas. Entretanto, para subsidiar essa política de “ocupação”,
foi firmada, num arcabouço jurídico no dia 17 de julho de 1969, a instituição da Lei
estadual nº 2.979 sobre as terras públicas do Estado do Maranhão, conhecida como “Lei
Sarney de Terras”, a qual foi uma ação do Estado, visando a privatização das terras públicas
com garantias e facilidades de compra e venda de terras (ALMEIDA, 2017).
Posteriormente, a partir da década de 1990, iniciam-se novas estruturas agroexporta-
dores que passam a configurar a economia do Brasil, afinal, segundo Sousa et al. (2020), a
agroexportação não deixa de ser exclusivamente atual, tendo em vista que apenas mudam-
-se os produtos e a modernização, assim, emerge a noção de agronegócio6 com o objetivo
de reestabelecer a agricultura comercial exportadora após a crise da década de 1980, dian-
te dos grandes projetos de desenvolvimento concretizados nas décadas de 1960 e 1970.
Como aborda Almeida, Sodré e Mattos Junior (2019), o agronegócio globalizado se realiza
totalmente, mediante a uma dialética entre as ordens global e local. Portanto, tem-se como
exemplo a produção de soja, principal cultura agrícola das exportações brasileiras.
Nesse contexto inicial, a produção de soja na região sul do país foi direcionada expan-
sivamente para as áreas de cerrado da região centro-oeste, tornando-a a principal produ-
tora nacional e, em seguida, segue para as regiões Norte e Nordeste, sendo cultivada nos
estados do Maranhão Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA). Almeida, Sodré e Mattos
Junior (2019) ainda ressaltam que o Maranhão é o segundo do ranking em produção
de soja no MATOPIBA, com área de produção concentrada na microrregião Gerais de
Balsas. Esse processo de expansão da produção de soja no Maranhão se inicia na década de
1990, estimulado em grande medida por políticas públicas como Programa Corredor de
Exportação Norte e PRODECER III.

343 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


A partir dos anos 2000, houve a expansão o cultivo de soja em direção outras regiões
do estado, por exemplo: a microrregião de Chapadinha, região que apresenta maior proxi-
midade geográfica do Porto do Itaqui, onde a soja é exportada. Nessa perspectiva, a partir
dessas configurações do estado do Maranhão apresentadas desde o seu processo de forma-
ção socioeconômica, podemos compreender os efeitos dessas transformações no território
maranhense, sobretudo, no meio rural.

6
O agronegócio é uma expressão do capitalismo neoliberal no campo, iniciada nos governos Collor/Itamar
por meio da forte atuação de agências de regulação financeiras internacionais no país. (CALVANTE;
FERNANDES, 2008).

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Os arranjos institucionais e as implicações no campo maranhense

Desde o processo de colonização no estado do Maranhão, São Luís possui papel fun-
damental na dinâmica socioeconômica e socioespacial do estado. Segundo Sousa (2020), a
capital concentrou grande parte das relações comerciais, de serviços e de transportes, além
de ser poderio de decisões políticas e econômicas para o restante do estado. Dessa forma,
Ferreira (2017) destaca que em 1821, a província do Maranhão possuía uma população
estimada em 152.283 habitantes e que, em relação à estrutura espacial, concentravam-se
na única cidade: São Luís.
Até a década de 1950, este quadro de concentração espacial vigorou, tendo em vista as
poucas ações realizadas pelo Estado, uma vez que as políticas territoriais oscilavam entre a
economia do mercado externo, o que implicava o avanço do povoamento. Somente com
as políticas de colonização, construção da Estrada de Ferro de Carajás, além da construção
da ferrovia São Luís-Teresina e com a implantação de rodovias que cortam o Maranhão,
alguns municípios se fortaleceram economicamente e transformaram seus núcleos urbanos
em centros regionais e estaduais de relevância política e econômica; enfraquecendo assim
o papel de São Luís. Embora, de acordo com Ferreira (2017), São Luís ainda permaneça
como definidora da organização espacial haja vista sua condição industrial e portuária7,
função política e concentração da prestação de bens e serviços.
Segundo o IPEA (2001), São Luís destaca-se pela alta taxa média de crescimento anual
entre 1991 e 1996 (13,9%), comparada com a média regional do Nordeste (3,0%) e das
regiões metropolitanas (1,58%), cujos fatores não estão associados à função comercial re-
gional, mas à dinâmica decorrente da extração e do processamento do minério de Carajás.
Com isto, ao longo da ferrovia que liga Carajás ao porto de Itaqui em São Luís, a região
sofreu grandes transformações, diversas unidades de transformação do minério foram sur-
gindo, dando origem a um processo de urbanização acelerada e de qualidade questionável,
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

tanto em termos ambientais quanto na infraestrutura das cidades.


Atrelado a estes fatores, a partir do Gráfico 1, identifica-se no Maranhão o crescimen-
to da população residente na zona urbana em detrimento da zona rural, o que revela esse
processo de urbanização é a centralidade dos pontos de crescimento no estado, em que a
capital São Luís exerce grande influência.

Em relação aos serviços da indústria, destacam-se: o Porto do Itaqui com movimentação de carga em 1988,
7

Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale), Consórcio Alumínio do Maranhão (ALUMAR) (FERREIRA, 2017).
344 //

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Gráfico 1

Fonte: IBGE, 2016.


Elaborado pelos autores.

A partir dessa configuração espacial, Santos (2014) explica que no Brasil revela-se uma
nova tendência de aglomeração da urbanização em outro nível, ou seja, seria a desmetro-
polização, fenômeno paralelo à metropolização. Além disso, o autor aponta que a urbani-
zação também aumenta devido ao crescimento do quantitativo de agricultores residentes
na cidade. Isto posto, Santos e Silveira (2014) argumentam que:

A cidade torna-se o locus da regulação do que se faz no campo. É ela que as-
segura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, porque

345 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


obriga a se aperfeiçoar às exigências do campo, respondendo às suas demandas cada
vez mais prementes e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas. O campo se
torna extremamente diferenciado, pois pelo fato de os respectivos objetos técnicos
terem um conteúdo informacional cada vez mais distinto, dá-se uma nova divisão
social do trabalho ampliada, que leva a uma divisão territorial do trabalho ampliada
(SANTOS; SILVEIRA, 2014. p. 209).

Conforme Burnett (2014), em paralelo ao processo de urbanização e com a conse-


quente criação de núcleos urbanos no entorno das rodovias, mantiveram-se as condições
de vida da população maranhense, sendo estas estabelecidas a partir das relações com o
sistema econômico dominante, o qual é sediado em São Luís. Embora a proposta da Lei

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de Terras de 1969 seja modernizar a produção agropecuária pela venda facilitada de terras
para grandes empreendimentos, esta conseguiu transformar as relações produtivas do esta-
do, contribuindo para a concentração fundiária, para os conflitos sociais e para as correntes
migratórias internas.
Com este facilitador, tem-se a chegada de empresários agrícolas do agronegócio (mi-
grantes sulistas, principalmente gaúchos) que exploram a cultura da soja para fins de ex-
portação. Já os camponeses formam a base da mão-de-obra agrícola familiar que produzem
alimentos para o seu sustento e venda do excedente nas feiras (MESQUITA, 2017). A
partir disso, apontamos a produção dos principais produtos cultivados no Maranhão a
partir da década de 1990 no Gráfico 2 a seguir:

Gráfico 2
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

Fonte: IBGE, 2017.


Elaborado pelos autores.

A partir da análise do Gráfico 2, visto acima, nota-se certa estagnação da produção do


feijão e milho, além do decréscimo da produção de arroz e mandioca. Porém, é notório o
crescimento da produção de soja e cana-de-açúcar. Mesquita (2017) compreende que esta
queda da participação do arroz, feijão e milho é decorrente da crise agrícola e agrária que
permeia desde a década de 1960, calcificada na concentração fundiária e no abandono de
pequenos produtores pela política dos diferentes governos deste período, diferentemente
da soja e da cana, estas fazem parte de uma agricultura empresarial.
346 //

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Nesse contexto, diante de um Estado Neoliberal na década de 1990, tem-se como
ações os processos de abertura comercial e financeira, redução das capacidades estatais,
privatização do patrimônio público e a internacionalização do parque produtivo nacional.
Com isso, ocorreu no Brasil o processo de reespecialização e remercantilização de recursos
minerais, florestais, energéticos, agrícolas e pecuários, petróleo e petroquímica, celulose
e papel, alimentos industrializados (grãos, suco de laranja, carne, entre outros) e têxteis
padronizados. Além disso, ocorreu um processo de desindustrialização (região Sudeste),
expansão do agronegócio, juntamente com a ocupação e urbanização acelerada do Centro-
Oeste e desmatamento Amazônia (BRANDÃO, 2019).
Essas ações resultaram em consequências no campo, em que se aprofundam a distância
econômica e social entre a agricultura familiar e o agronegócio. Outro fator preponderante
sobre o campo, segundo Matteo et al. (2019), está no fato de que embora a tendência de
urbanização das sociedades esteja em curso, a questão rural ainda se apresenta cada vez
mais complexa, diante dos conflitos agrários, permeados por demanda por terra. Assim,
Delgado (2005) compreende que:

Conquanto a estratégia do agronegócio detenha uma soma desproporcional de


recursos de poder para promover seus interesses, seu projeto de expansão, inserido
no “ajuste constrangido” do qual ganha poder de impulsão, é por isto mesmo incom-
patível com um projeto de desenvolvimento nacional. É também impotente para a
geração de produção e do emprego potenciais no setor rural, capazes de enfrentar os
dilemas atuais da questão agrária e da crise do desemprego no conjunto da economia
(DELGADO, 2005. p. 80).

Diante disso, no primeiro mandato do governo Lula, foram implantadas ações priori-
tárias de combate à fome, apoiadas por uma estrutura de um sistema nacional de segurança

347 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


alimentar, haja vista que a expansão da demanda interna de alimentos, como o Programa
Fome Zero (PFZ), o qual seria a única via institucional para a construção de programa de
garantia de compras à agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária.
Dentre estas ações do âmbito do PFZ, foi instituído o PAA em 2003. Apesar de cria-
do em 2003, o PAA iniciou sua execução no Maranhão em 2011 pela extinta Secretaria
de Estado e Desenvolvimento Agrário (SEDAGRO), atualmente Secretaria de Estado e
Desenvolvimento Social (SEDES), na qual o programa permaneceu entre os anos de 2012
e 2014, sendo transferido para a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SAF).
Conforme a SAF (2019), no estado do Maranhão e nos anos de 2015 e 2016,
o PAA atendeu 38 municípios e 958 agricultores. No que tange aos anos de 2017 e
2018, atendeu 70 municípios e 1.853 agricultores. De acordo com dados da CONAB

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(2019), o Maranhão em 2015 obteve somente duas propostas do PAA executadas nos
municípios de Vargem Grande e Apicum-Açu. Já no ano de 2016, foram 21 propostas
executas e em 2017 ampliaram-se para 31. Em 2018, declinaram-se para 19. Vejamos
o Cartograma 1:

Cartograma 1

Fonte: CONAB, 2019.


Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

Haja vista que o Maranhão apresentar 217 municípios, nota-se que a execução das
propostas não abrange metade dos municípios, o que demonstra um descompasso de po-
líticas agrícolas voltadas para o pequeno produtor, em detrimento de políticas neoliberais
em favor da grande produção de commodities, desfavorável à agricultura familiar e desarti-
culando a pequena produção familiar.
Em contrapartida, verifica-se o crescimento de estabelecimentos agropecuários acima
de dez hectares no Maranhão, priorizados com as políticas governamentais desde o pro-
cesso de colonização a partir do modelo primário-exportador vigente até os dias atuais, já
em relação a agricultura familiar, este setor só foi incluído nas políticas do Estado somente
meados da década de 1990, como demonstrado no Gráfico 3:
348 //

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Gráfico 3

Fonte: IBGE, 2007.


Elaborado pelos autores.

Diante da expansão imposta pelo capital, Delgado (2012) realça o papel do Estado

349 // Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais


como estimulador e garantidor do funcionamento do mercado de terras, instrumentaliza-
do pela arrecadação de terras devolutas, desapropriação por interesse social, manipulação
do imposto territorial rural, apoio à colonização privada, concessão de incentivos fiscais,
entre outros. Esses empreendimentos se distribuem nas várias regiões do Maranhão,
relacionadas, principalmente, à modernização e à expansão da produção agropecuária,
por exemplo: a produção de soja nas regiões sul e central do Estado, também no Baixo
Parnaíba; de cana-de-açúcar nas Mesorregiões Centro, Leste, Oeste, Sul; e da pecuária,
somando-se também a mineração, exploração de ouro, agregados para construção civil e
exploração de gesso.
Santos (2017) analisa que os atores mais poderosos se apropriam dos melhores peda-
ços do território e os territórios tendem a uma compartimentação generalizada, na qual se

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associam e se chocam o movimento geral da sociedade planetária e o movimento particular
de cada fração, seja regional ou local da sociedade nacional. A agricultura moderna é um bom
exemplo, uma vez que se constitui na compartimentação e na fragmentação do território.
Diante de todas as mudanças institucionais permeadas desde o processo de coloni-
zação no Maranhão, relaciona-se com o processo de modernização do estado diante de
projetos que beneficiam os grandes empreendimentos, estes se apropriam de extensas áreas
de terras, enquanto o pequeno agricultor é exposto às várias políticas globais do Estado.

Considerações Finais

O Maranhão no seu processo de formação socioeconômica, construiu suas atividades


econômicas por meio do autoabastecimento e, posteriormente, da exportação de bens
primários, como as produções da cana-de-açúcar, arroz, cultivo de fumo, babaçu, extra-
ção de madeira, além do cultivo que desenvolveu a indústria têxtil no estado, chegando
a se tornar uma das mais prósperas da América Portuguesa. Entretanto, esse modelo
primário-exportador ainda é vigente, sendo representado por grandes empreendimentos
que, por sua vez, levam à expulsão do pequeno produtor, resultando em migrações para os
centros urbanos, sobretudo, na capital São Luís, a qual diante da implantação do parque
industrial e desencadeando na instalação dos complexos industriais e portuários, atraiu
possibilidades de emprego.
Haja vista o pós-período colonial e de decadência econômica diante da não-moderni-
zação industrial no ciclo do algodão, o Maranhão volta a ser inserido nas ações do governo
somente na década 1970 diante dos projetos de colonização e desenvolvimento, impli-
cando na efetivação da modernização do setor primário e pecuário, bem como na década
de 1980 com os grandes projetos de empreendimentos nos setores minero-metalúrgico,
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais

agropecuário e polos industriais. Dentre esses arranjos institucionais, a agricultura familiar


acaba sendo esquecida diante dessas políticas governamentais, sendo de fato inserida nas
atividades econômicas na década de 1990 com financiamento agrícola e, recentemente,
com as políticas de combate à fome, as quais têm sua continuidade colocada em questão,
tendo em vista o declínio de projetos para execução dessa política.
Dessa forma, propõe-se a aproximação do quantitativo de recursos e apoio institucio-
nal entre os grandes empreendimentos e a agricultura familiar, tendo em vista a adequação
dos programas à realidade da agricultura familiar em cada localidade do estado. Visando,
assim, a diminuição dos entraves institucionais, para que se possa permitir o acesso dos
agricultores na perspectiva de comercialização dos produtos cultivados pela agricultura
familiar. Como resultado, reduziria o abismo entre a agricultura familiar e a patronal, em
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que as políticas destinadas ao pequeno produtor ficam relegadas em segunda instância,
configurando-se em políticas compensatórias.
Portanto, nota-se, diante das estratégias de desenvolvimento do Maranhão, os arranjos
institucionais que priorizaram uma pequena parcela da população maranhense, resultando
em inúmeras implicações no território, como conflitos no campo, degradação ambiental
diante do desmatamento de grandes extensões de terras e declínio da oferta de alimentos
básicos essenciais para a segurança alimentar.

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