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CULTURA E RACISMO

BRENO FABIANO ALVES VILELA


ILLGNER DENNER SILVA SANTOS
MAELY OLIVEIRA SOBRINHO BARATELI
VITÓRIA OLIVEIRA SANTOS
Resumo
Este trabalho discute não somente o conceito antropológico de cultura, o determinismo
biológico e geográfico, mas também a capacidade do ser humano de influenciar e ser
influenciado pela sociedade. O presente artigo sobretudo tem um foco no racismo e na
relação dele com o preconceito de saberes entre outras culturas, presentes em ideais
evolucionistas que acreditam na ideia de que há culturas com pensamentos lógicos e
pré-lógicos. Por tanto, busca-se discutir o então racismo estrutural em algumas
roupagens, como por exemplo o determinismo biológico que, no mais, é em suma algo
de caráter racista, pois advém de pensamentos ignorantes acerca de ideias já refutadas
desde o século passado. Desta forma os fatores contribuintes ao determinismo
biológico e o próprio racismo estrutural são de suma importância serem discutidos e
analisados, para que assim haja um conhecimento acerca dele e, posteriormente, se
torne um arsenal de maneiras de combatê-lo.
Palavras-chave: determinismo, sociedade, cultural, estrutural, racismo.

This work discusses not only the anthropological concept of culture, biological and geographical
determinism, but also the human being's ability to influence and be influenced by society. This
article mainly focuses on racism and its relationship with the prejudice of knowledge among other
cultures, present in evolutionary ideals that believe in the idea that there are cultures with logical
and pre-logical thoughts. Therefore, it seeks to discuss the structural racism in some guises, such as
biological determinism, which, in the main, is something of a racist character, because it comes
from ignorant thoughts about ideas that have been refuted since the last century. In this way, the
contributing factors to biological determinism and structural racism itself are of paramount
importance to be discussed and analyzed, so that there is knowledge about it and, later on, it
becomes an arsenal of ways to combat it.

Keyword: determinism, society, cultural, structural, racism.

Introdução

Neste trabalho abordaremos os vários fatores que constituem o racismo estrutural


e geográfico da nossa sociedade, fatores estes que determinam o comportamento
social, podendo ou não serem determinadas previamente. Desde os primórdios até os
tempos atuais as mudanças acontecem em um ritmo considerado lento, se comparado à
evolução industrial, por exemplo. As ações que constantemente nos surpreendem, por
serem retrógradas, que deveriam ser repudiadas, e no entanto, vemos por uma parte da
sociedade, compreensão e até mesmo apoio a essas ações. Revolta, de uma minoria,
que não tem recebido crédito, nem mesmo têm tido suas vozes ouvidas pelo poder
público. Discussões, mobilizações e leis, não conseguiram extinguir, nem mesmo
conscientizar as sociedades, pois casos de intolerância etnica-racial e preconceitos de
todas as formas acontecem não só no nosso país, mas por todo mundo. Este trabalho
procura, de certa forma, apresentar a problemática do determinismo biológico e
geográfico e o papel cultural que cada sociedade tem no mesmo. Com intuito de trazer
esclarecimento e conscientizar a quem procura entender, como podemos contribuir
para uma mudança no rumo que a nossa sociedade tem tomado em relação ao racismo
e ao preconceito.

Determinismo biológico
Um dos vários atos racistas existentes é considerar que os nórdicos são mais
inteligentes que os negros, que a etnia favorece ou não o intelecto de alguém, mas não
somente no intelecto, há a falsa crença de que o comportamento humano é controlado
diretamente pelos genes de um indivíduo ou algum componente de sua fisiologia,
geralmente às custas do papel do meio ambiente, seja no desenvolvimento
embrionário ou no aprendizado. Por exemplo, muita gente acredita que alemães têm
grande habilidade mecânica, os judeus são negociantes inatos, que os
norte-americanos são empreendedores, que os portugueses são trabalhadores e que os
brasileiros são cheios de luxúria, ou até que os brasileiros herdaram o pior de cada
etnia.
Sendo assim, o determinismo biológico é basicamente um senso comum, um
dos vários fragmentos que compõem o racismo estrutural. Os antropólogos são
totalmente contrários à ideia de que diferenças genéticas são determinantes das
diferenças culturais. Se trazermos uma criança de outro país para o sertão do Brasil,
logo após seu nascimento, ela crescerá como brasileira e não haverá diferenças
mentais dela com seus irmãos de criação. Assim como, se retirarmos uma criança
xinguana de seu meio e educarmos ela em uma família de alta classe média, o mesmo
acontecerá, ela terá a mesma capacidade mental de seus irmãos de criação.
Segundo Laraia (1986, p.10), diversos antropólogos físicos e culturais,
biólogos, geneticistas e outros especialistas dizem que a ciência não confirma o
determinismo biológico, que inclusive as pesquisas científicas mostram que os níveis
das aptidões mentais é o mesmo em todos os grupos étnicos. A vista do exposto, é de
suma importância o entendimento de que os genes não interferem no comportamento
e capacidade intelectual, mas sim a forma como são criados e educados que de fato
contribui ou não no comportamento e intelectualidade de tal indivíduo.
Estudiosos afirmam que diferenças no genótipo não determinam diferenças
culturais. E de acordo com Felix Keesing, "não existe correlação significativa entre a
distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais”.
A cultura de uma criança depende de onde ela for criada logo após o seu nascimento.
( KEESING, apud LARAIA, 1986)
Nós, seres humanos somos diferenciados no físico e na anatomia, mas essa
afirmação não legitima a falácia de que os homens e mulheres agem diferentemente
em função do seu sexo.

Resumindo, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de


um processo que chamamos de endoculturação. Um menino e uma menina
agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência
de uma educação diferenciada (LARAIA 1986 , p. 19 ).

Determinismo geográfico
O determinismo geográfico determina que o espaço físico é o que define a
cultura do povo que ali vive. Essas teorias são da antiguidade, e foram criadas por
geógrafos do século XIX. Os antropólogos Boas, Wissler e Kroeber acreditam que o
espaço tem uma certa limitação no ponto cultural e que é possível uma diversificação
cultural dentro de um mesmo ambiente físico.
Um exemplo dessa diversificação são os esquimós que montam suas casas com
blocos de gelo e dentro dela e forrada com pele de animais, juntamente com o auxílio
do fogo consegue manter o local aquecido. Diferentemente os lapões viviam em
tendas de pele. Sendo que diante de uma mudança de local de moradia, há um grande
trabalho no desmonte das tendas, na secagem das peles e no transporte de todo o
material para o novo local de moradia. Porém os lapões são grandes criadores de
renas enquanto esquimós se limitam a caça (LARAIA, 1986)
Assim pode-se perceber que as limitações de grupos no mesmo espaço não são
determinadas de fato pelo ambiente.

A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias


limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou
toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas,
dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. (
LARAIA 1986 , p.24).

Cultura

Cultura vem do germânico Kultur, que era usado para caracterizar elementos
espirituais de uma comunidade e também suas realizações. Foi caracterizada por
Taylor onde abrangiam vários aspectos como: conhecimentos, crenças, arte, moral,
leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem.
Conciliar o fator biológico e a diversidade cultural da espécie humana, é
polêmico; apesar do que Confúcio disse à quatro séculos: “ A natureza dos homens é
a mesma, são os hábitos que os mantém separados” (CONFÚCIO, apud Laraia 2001,
p.09).
A visão do mundo não é igual para todos, já que cada sociedade é influenciada
pela sua cultura. Um exemplo disso é : para os índios, cada árvore em uma floresta,
serve como referência espacial, diferentemente para uma pessoa que vive em uma
metrópole e não tem o mínimo conhecimento botânico, ficaria perdido facilmente em
uma floresta, sem ajuda de um guia.
A herança cultural, através das gerações, nos condicionaram a depreciar o
comportamento de pessoas consideradas fora dos padrões aceitos pela maioria da
comunidade, e por isso são discriminados e desrespeitados. Como os homossexuais,
que até a hodiernidade, quando identificados em público, são sujeitos a sofrer
agressões, serem depreciados e seus agressores não sofrerem qualquer punição por
parte da justiça comum. A vista disso, é perceptível que isso representa um
comportamento padronizado pelo sistema cultural. Essa atitude pode variar, de acordo
com a cultura; em algumas tribos das planícies norte-americanas, os homossexuais
são vistos como mediadores entre o mundo social e o sobrenatural, e muito
respeitados.
Valores morais, comportamentos sociais e até mesmo a postura fazem parte da
herança cultural, e são, portanto, determinadas pela cultura. Basicamente, todos os
homens são iguais, do ponto de vista da anatomia, mas o uso da mesma não é
determinado pela genética, porém depende do que aprendem e basicamente
reproduzem os padrões culturais do grupo a que pertencem.
A cultura interfere no plano biológico. Ao invés de superestimar os valores da
sua própria sociedade, em algumas situações de crise os membros de uma cultura
abandonam seus valores, e perdem a motivação que os mantém vivos e unidos.
Podemos citar o caso dos Africanos, que foram tirados de forma violenta do seu
continente, do seu povo e sua cultura, e foram levados a escravidão, para uma terra
estranha, com habitantes de fenótipos, costumes e línguas diferentes; e muitas vezes
perdiam a vontade de viver, e tiravam a própria vida.
Há fatores psicossomáticos que podem ser influenciados por padrões culturais.
Um exemplo: é que para algumas pessoas, tomar leite e chupar manga, juntos, pode
gerar um grande incômodo estomacal.
A participação do indivíduo em sua cultura, é limitada, e fica basicamente
impossível, participar de todos os elementos da sua cultura. Isso pode ocorrer em
sociedades complexas tanto quanto nas simples. Em sociedades africanas, mulheres
desempenham papéis importantes na vida, no ritual e na economia, a maior parte das
sociedades humanas permitem uma maior participação na vida cultural por parte dos
homens. No Xingu, por exemplo, nos rituais as mulheres são interditadas. Em alguns
segmentos da nossa sociedade, a mulher não deve trabalhar fora de casa.
Um indivíduo participa de acordo com a sua idade, “ uma criança não está apta
para exercer certas atividades próprias de adultos, da mesma forma que um velho já
não é capaz de realizar algumas tarefas” ( Laraia 2001, p.80).
Laraia já inicia citando Edward Taylor que foi o primeiro a definir o conceito em
seu livro ​Primitive Culture (​ 1871), vale ressaltar que seu livro foi produzido nos anos
em que a Europa estava sofrendo o impacto da Origem das espécies, d​ e Charles
Darwin e que a antropologia foi dominada pela perspectiva do evolucionismo
unilinear. Taylor mostra que a cultura pode ser um objeto de um estudo sistemático,
pois se trata de um fenômeno natural que possui causas e regularidades.
Também é citado Franz Boas (1858-1949), que desenvolveu o particularismo
histórico.”Segundo, cada cultura segue seus próprios caminhos em função diferente
dos eventos históricos que enfrentou”.
Alfred Kroeber (1876-1960), em seu artigo “O superorgânico" mostra como a
cultura atua sobre o homem, “graças à cultura a humanidade distanciou-se do mundo
animal” ( LARAIA, 2001, p. 36). Kroeber diz que, para o homem se manter vivo,
independente da cultura que pertença. Tendo que fazer suas funções vitais.
[...] Como alimentação, sono, respiração, atividade sexual etc. Mas, embora
estas funções sejam comuns em toda a humanidade, a maneira de satisfazê-las
varia de uma cultura para outra. E esta grande variedade na operação é um
número tão pequeno de funções que faz com que o homem seja considerado
um ser predominante cultural (LARAIA, 2001, p. 37-38).

De acordo com Laraia (1986), uma das primeiras preocupações dos estudiosos
com relação à cultura refere-se à sua origem. Laraia (1986), cita diversos autores que
segundo eles Richard Leakey e Roger Lewin o início do desenvolvimento do cérebro
humano é uma consequência da vida arborícola ( é termo usado para descrever animais
onde a vida se dá principalmente nas árvores) de seus antepassados.
Já David Pilbeam se refere ao bipedismo como uma característica exclusiva dos
primatas entre todos os mamíferos, afirmando que quase todos os primatas vivos se
comportam como bípedes de vez em quando.
Não só esses autores, Laraia destaca o material de Kenneth P. Oakley destaca a
importância da habilidade manual, posição ereta e de proporcionar estímulos ao cérebro.
Para Kenneth a cultura seria então, o resultado de um cérebro mais volumoso e
complexo. Por outro lado, o antropólogo norte-americano Leslie White declara que a
passagem do estado animal para o homem, ocorreu quando o cérebro foi capaz de gerar
símbolos.
Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo
que transformou nossos ancestrais antropóides em homens e fê-los humanos.
Todas as civilizações se espalharam e perpetuaram somente pelo uso de
símbolos … Toda cultura depende de símbolos [...] (WHITE, 1986, p. 55)

Em suma, o desenvolvimento biológico foi fundamental para o homem,


possibilitando a criação e interpretação de símbolos, comunicação oral e conhecimento.
Laraia agora aborda sobre as teorias modernas sobre a cultura, se referindo
primeiramente a Roger Keesing, referindo às teorias que consideram a cultura como um
sistema adaptativo. Espalhada por não-evolucionista como Leslie White. E reformulada
criativamente por Sahlins, Harris, Carneiro, Rappaport, Vayda e outros que concorda:
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitido)
que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos
biológicos[...] Mudança cultural é primeiramente um processo de adaptação
equivalente à seleção natural [...] A tecnologia, a economia de subsistência e
os elementos da organização social diretamente ligada à produção constituem
o domínio mais adaptativo da cultura [...] Os componentes ideológicos dos
sistemas culturais podem ter consequências adaptativas do controle da
população, da subsistência , da manutenção do ecossistema [...] (LARAIA,
1986, p. 59-60).

Roger Keesing também se refere nas teorias idealista de cultura, e subdividindo


ela em três partes; a primeira delas sendo considera cultura como sistema cognitivo; a
segunda abordagem sendo considerada cultura como sistema estruturais; a terceira sendo
abordada entre as teorias idealista, que a considera cultura como sistema simbólico.“Os
antropólogos sabem de fato o que é cultura, mas divergem na maneira de exteriorizar
este conhecimento” (Murdock, 1932, p. 63).
É bem comum ver preconceito em relação a outras culturas que não têm ciência
propriamente dita em sua base, que normalmente se baseiam em pensamentos mágicos.
Segundo Lévy-Bruhl (1922), em seu livro A mentalidade primitiva, a humanidade podia
ser dividida entre os que possuíam um pensamento lógico e os que possuíam um
pensamento pré-lógico, ou seja, que ainda estavam em fase de evolução para assim
transcender os pensamentos mágicos e entrar na lógica científica. O que não teve
nenhuma confirmação empírica por parte dos pesquisadores de campo. Essa afirmação
de que o mundo é dividido entre os que possuem um pensamento lógico e pré-lógico é
com certeza errônea, o ser humano tende a ignorar a forma de pensamento dos outros e
atribuir a sua própria como correta e livre de erros. Um mal hábito que inclusive acaba
ocasionando não somente preconceitos em relação a outras culturas e formas de
pensamento, mas também a uma certa cegueira aos próprios erros, assim limitando o
processo de evolução do próprio ser humano no sentido dos pensamentos e da lógica.
Segundo Claude Lévi-Strauss(1972) em seu livro O pensamento selvagem, ao
contrário do que o pensamento evolucionista acredita, o pensamento mágico não seria
um começo ou um esboço de algo que viria a ser científico, mas sim um sistema a parte
independente da ciência. O que demonstra com clareza que os pensamentos de outras
culturas “menos desenvolvidas” não são de fato culturas menos desenvolvidas
propriamente ditas, mas sim culturas com lógicas e pensamentos independentes, que têm
seus próprios meios de pensar sobre o mundo a sua volta. Em torno desses apontamentos
é perceptível a possibilidade de uma associação ao racismo, que nada mais é que uma
grande aversão histórica não somente ao afrodescendente, mas toda a sua cultura, que
ainda por sua vez usa-se de desculpas esfarrapadas para legitimar o racismo com a “falta
de desenvolvimento” da África ao todo. Uma grande falácia, até porque esse argumento
é quebrado apenas ao citar o Egito antigo, que na antiguidade era uma das civilizações
mais importantes e desenvolvidas em praticamente quase todos os aspectos. Tendo em
vista esses apontamentos, a cultura em si tem uma lógica própria.

Considerações finais

Conclui-se que, a sociedade está impregnada de racismo, ela é constituída por


inúmeros tipos de intolerâncias em sua base, como os diversos exemplos presentes no
trabalho: racismo, machismo, preconceito cultural(etnocentrismo e xenofobia) e a
homofobia. Estes são exemplos diferentes de aversão ao dissemelhante, mas que têm
uma certa relação entre si já que são todas atribuídas ao diferente, ao que não está
padronizado. A vista do que foi exposto no texto, é de suma importância entender que os
genes e o fator geográfico não mudam o comportamento ou a capacidade intelectual,
mas sim a forma como as pessoas são criadas, é o que determina de fato como as
pessoas são. Portanto, o grande influenciador do preconceito e racismo, é o fator
cultural. Entendendo isso, podemos dizer que mudanças importantes precisam ser
tomadas com relação a disseminação da cultura, tudo o que hoje é transmitido para as
crianças, por exemplo, vai ser por elas passados, de geração em geração. Então para
haver mudança no futuro, precisamos começar agora, não só educar as crianças de
maneira que faça elas entenderem a importância do respeito a todo ser vivo, mas
também entender e estudar o porque de fato o racismo acontece e as relações que tem
com ideias baseadas em uma ciência falsa e que já está refutada. Só com o estudo e o ato
de informar a população sobre os resultados desses estudos que será possível esclarecer
o quanto o racismo estrutural está impregnado na nossa sociedade e o quanto a
população está cega perante o mesmo.

REFERÊNCIAS

CULTURA UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO. ​Roque de Barros Laraia.


Coleção Antropologia Social. 1986.

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