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Resenha Tema 03 - DATA: 29/03/2022

DISCIPLINA: A cidade como questão (PPGPC-UFG) – turma 2022/1

DOCENTES: Prof.ª Dra. Adriana Mara Vaz de Oliveira, Prof.º Dr. Fernando
Antônio Oliveira Mello

DISCENTE: Igor de Araujo e Silva

Texto:

JACQUES, Paola B. Pensar por montagens. In: JACQUES, Paola B., PEREIRA,
Margareth da Silva (Orgs.). Nebulosas do pensamento urbanístico. Tomo I. Modos de
pensar. Salvador: EdUFBA, 2018, p.208-231.

O título do livro Nebulosas do pensamento urbanístico, instigante e


autoexplicativo, indica que a confusão, vista de longe, nos leva do caos (confusão) ao
cosmos (entendimento). Em seu capítulo, escrito em 2018, Jacques apresenta que
“Pensar por montagens” nos oferece uma visão ampliada, diversificada e criativa do
processo historiográfico tradicional. Artifício utilizado por Levebvre (1999, p. 29) que,
ao observar a “fase crítica” da cidade pós-industrial, lança a ideia de confrontações
históricas no tempo e espaço. Processo que propiciou, posteriormente, o
entendimento de transformações das formas, das funções e das estruturas urbanas de
forma contínua (processos globais) e descontinua (conhecimentos particulares e
específicos).

Jacques (2018, p.210), ainda, reflete sobre o “testemunho metodológico”,


aplicado na história da arte, de Abraham Warburg - um processo não linear,
anacrônico, heterogêneo - que se desfoca com um olhar sobre os detalhes
intercambiáveis e correlatos1 para investigar como se pode criar e recriar a história de
diversos assuntos. A contribuição de Warburg ainda empregou o intercâmbio entre
áreas do conhecimento, transpondo os limites pré-estabelecidos. Segundo Jacques
(2018, p. 211) o método poderia recriar o imemorável ou o inconsciente (freudiano),
sustentando o entendimento do todo e elaborando fatos não vistos ou registrados,
quando, este, se concentrava mais no intervalo das imagens do que nas próprias
imagens. A “iconologia do intervalo” (2018, p. 212), de Warburg, se mostrava ainda
mais complexa, pois buscava a concepção da história nas suas descontinuidades,
lacunas, anacronismos, deslocamentos, inversões, rupturas e sobrevivências.
1
Tal feito, de Warburg, era concretizado através de diversos painéis, cambiáveis, onde eram aplicadas
imagens que se correlacionavam, criando conexões e leituras, que após mudadas, geravam outros
nexos, pensamentos e correspondências.
Para entender as cidades e suas transformações radicais, Jacques (2018, p.
213) utiliza o conceito de “Montagem” de Walter Benjamin. Onde recortar resíduos,
fragmentos dos tempos – minúsculos e espaciais – com clareza e precisão, busca
compreender os “intervalos” temporais e espaciais, formando e escrevendo uma outra
teoria dessa história. Um processo de mistura das narrativas e narradores, através do
tempo, criando uma justaposição de fragmentos distintos e suas diferenças. Jacques
ainda cita que o termo constelações foi utilizado por Benjamin para definir seus
processos de montagem, forças do passado que ressurgem no presente, indicando
um possível futuro. Benjamin pretendia mostrar não sua unidade, mas a própria
complexidade, como no Atlas de Warburg. Ambos, buscavam compreender as
mudanças bruscas, através do esquecido, modificado, detalhando e sobreposto na
cidade moderna com um entendimento fora da história linear ou industrial.

Aspectos pelos quais o anacronismo, na forma de suscitar a complexidade


entre os tempos, pode ser usado, segundo Jacques (2018, p.221) para levantar o
termo “heterocronia”, que trata de quebrar uma linearidade do tempo entendendo o
passado no presente projetando o futuro. Futuro que pode ser atualizado no presente,
uma construção que não cessa. Quando a autora coloca o questionamento “o que é
contemporaneidade?” a ideia fica mais clara, a partir do entendimento do que se trata
uma percepção-condição que não coincide com o seu tempo e busca inovar. Jacques
(2018, p.222) reforça que “ao seguir Agemben e Rancière, pode-se afirmar que para
ser verdadeiramente contemporâneo, é preciso ser anacrônico [...] ou ainda
intempestivo”. Conclui que a cidade é, portanto, materialidades sobrepostas, uma luta
não linear sem vencedores, coexistências complementares no entendimento do agora
gerando o após. Ao “pensar por montagens” Jacques (2018, p.223), conclui que
tensionando as diferentes narrativas urbanas, seria ainda, utilizar suas partes
temporais para aprender “heterocronias urbanas” que caracterizam e reinventam as
cidades.

Referências:

LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p. 15-32 e
p. 51-108.
JACQUES, Paola B. Pensar por montagens. In: JACQUES, Paola B., PEREIRA,
Margareth da Silva (Orgs.). Nebulosas do pensamento urbanístico. Tomo I. Modos de
pensar. Salvador: EdUFBA, 2018, p.208-231.

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