You are on page 1of 3

O docudrama estado-unidense "Social Media Dilema", dirigido por Jeff Orlowski, conta

sobre o lado mal da moeda virtual. Tristan Harris, ex designer ético do Google e
cofundador do Center for humane Technologies, entrevistado principal, revela que
existe um problema central que causa diversos males sociais, tais como o caos em
massa, a exploração de dados, os vícios em tecnologia, as fake News, a indignação, a
incivilidade, a solidão, a alienação, a polarização, o populismo, a distração, a
incapacidade de focar nos problemas reais e muitos outros ainda a serem descobertos.

Este problema central é gerado pela indústria da tecnologia que cria novas ferramentas
que desestabilizam e destroem o equilíbrio da sociedade contemporânea. Tristan conta
também que o nome deste problema central ainda não está definido, no entanto,
Shoshana Zuboof, acerta precisamente quando o chama de “Capitalismo de vigilância”,
nos explicando no próprio documentário, como, através de previsões prescritivas, as
plataformas digitais vendem nossa atenção para empresas/clientes.

Mark Zuckerberg também se pronuncia e, quando perguntado sobre se o Facebook


impactou o resultado das eleições de 2016 nos diz que “É difícil de responder. A
verdade é que existiam muitos fatores em jogo”. Sua resposta não nos traz detalhes, mas
abre caminho para a revelação destes “fatores em jogo”. Neste sentido, o “Social
Media dilema” nos explica que as plataformas digitais associam o engajamento e o
crescimento em suas redes ao lucro através dos anúncios que vendem a seus clientes e
que o controle destas tecnologias sobre nós está avançando exponencialmente.
Assim, os clientes alcançam mentes desejadas, usando as ferramentas que as
plataformas criaram para estar em contacto com seus consumidores e estas, apesar do
seu poder de alcance gigantesco, tem filtros limitados ou desinteressados para
reconhecer a qualidade do conteúdo digital divulgado e, acima de tudo, separar verdades
e mentiras. Aqui, empresas ou corporações, podem aplicar quase que livremente seus
propósitos, muitas vezes terríveis para usuários legítimos. John Lanier resume “é a
mudança gradual, leve e imperceptível em seu próprio comportamento e percepção que
é o produto...” É a única coisa com a qual eles podem ganhar dinheiro. Vendem
modelos de sucesso, tabelando atenção, comportamento e percepções de
usuários/consumidores. Uma de suas técnicas mais eficazes é o polarizador de tribos,
que mantém grupos unidos em torno de ideias e produtos. Estas tribos facilitam que os
negócios aconteçam. Tristan é ainda esperançoso, “É preciso incorporar design ético
sobre os produtos.” Quando fez um manifesto dentro da Google para alertar seus
colegas sobre o perigo que estavam correndo, apesar de ver suas mensagens atingir e
emocionar muitos funcionários, observou que depois disto, tudo voltou ao normal e
nada aconteceu. Novos cliques esvaziaram as conexões ao redor deste assunto tão
urgente.

Nos é revelado também uma teoria famosa no Vale do silício que diz que está sendo
criado um supercérebro global e que todos os usuários trocam informações como
neurônios, sendo que nenhuma é importante para o sistema. Rebaixam as pessoas a
meros elementos da computação que tem o seu comportamento manipulado para servir
a este cérebro gigante.

Nós não temos mais valor como humanos na indústria digital. Somos um mero
elemento da computação que não será pago, não terá vontade própria. Será apenas
programado. Mesmo que justifiquemos que as medias anteriores já utilizavam métodos
para manipular a opinião pública e encontrarmos diversos autores que comprovam isso,
descobrimos que com a internet, tais manipulações foram elevadas a um nível nunca
atingido.

Os medias já vendiam a nossa atenção para os anunciantes, mas a internet faz isso de
uma forma mais eficiente. É algo novo. Até psicólogos já estão a ser usados em
laboratórios de psicologia persuasiva para acelerar os avanços dos métodos de
manipulação humana.

Perante o cenário de que a corrida pela atenção não parece que vai diminuir, de que a
tecnologia vai se integrar cada vez mais em nossas vidas e de que os algoritmos ficarão
cada vez melhores em deduzir o que nos mantém na tela, fiz a seguinte pergunta para
uma mãe de um filho de 5 anos: Você quer que o seu filho seja manipulado por
designers da tecnologia? Ela respondeu com outra pergunta: Há opção? Em conclusão
ao assistido nesta obra, minha resposta foi sim. Apesar de muitos depoimentos trazidos
nela tentarem nos convencer que destruiremos a nossa civilização através da ignorância,
que destruiremos as democracias no mundo ou que colocaremos em xeque até mesmo
nossa sobrevivência, acredito que há luz no fim do túnel virtual. Isto ocorre quando
também é proposto a nós que a esperança de que a regulamentação e a
responsabilização das plataformas sobre as consequências sociais do seu método de
negócio, é possível e faz se iminente. Um exemplo, é quando as plataformas digitais
admitem a propaganda política, precisando assim inevitavelmente proteger as eleições.
O aumento dos estudos sobre este assunto, já é um grande ponto de partida para
viabilizarmos esta esperança.

You might also like