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Administrativo II Prof. Paulo Otero Inês Godinho
Administrativo II Prof. Paulo Otero Inês Godinho
Direito Administrativo II
Professor Paulo Otero
2º Semestre
2º Ano
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Procedimento Administrativo (Artigo 1º/1 CPA): Via/caminho pelo qual se chega a uma decisão
administrativa. Conjunto sucessivo de atos e formalidades.
Forma de limitar o arbítrio, visto que para decidir a administração tem de respeitar a
forma;
Legitima democraticamente a decisão, pois quem fixa os termos desse procedimento é
a lei- expressão da vontade do povo;
É uma forma de garantia dos particulares, assegurando a previsibilidade e segurança
jurídica, visto que pode impugnar a decisão se a administração se desviar desse
procedimento, bastando um ponto não ser seguido;
Palco predileto das ponderações administrativas, sendo o lugar onde se deve ouvir
todos os interesses- o procedimento é o elemento nuclear do exercício da atividade
ponderativa da administração.
Artigo 2º/5 CPA: as regras do CPA (procedimento comum) são subsidiarias das regras dos
procedimentos especiais, com a ressalva de que se as disposições reconhecerem garantias
apepinas poderão ser aplicáveis se aumentarem essas garantias e não comportarem uma
redução face às garantias que já decorrem das regras de procedimento especiais.
Tipologia de Procedimentos:
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Constituição;
Direito Internacional e Direito da União Europeia;
Lei geral (CPA) e leis especiais;
Normas informais: usos, precedentes e costumes;
Através do artigo 57º/1 CPA a margem de discricionariedade procedimental;
Normas de natureza extrajurídica: técnicas, científicas, éticas e de trato-social.
Princípio da proibição do formalismo excessivo (8º, 108º/2 CPA): impedir que uma
determinada conduta tenha associados efeitos graves ou manifestamente
desproporcionados sem uma justificação razoável.
Princípio Pró-ação: deve dar-se prevalência à decisão sobre o mérito face às questões
de forma ou formalidades (108º e 109º);
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Natureza das normas processuais: Nem todas as normas do CPA são injuntivas (50º/56º?).
Mesmo dentro das normas injuntivas, há normas mais injuntivas que outas, visto que nem todas
têm a mesma força jurídica. O desvalor jurídico das normas é diverso, podendo esse ser a
inexistência, nulidade e anulabilidade (regra).
O artigo 163º/5 CPA apresenta que existem atos cujo valor jurídico é a anulabilidade, mas que
não causam a anulação, passando a ser meras irregularidades. Assim, poderá discutir-se se a
norma violada é mesmo injuntiva ou se a norma ao afastar o efeito anulatório permite que a
Administração escolha se cumpre ou não a norma. Portanto, importa questionar se o artigo
163º/5 habilita o incumprimento de normas injuntivas.
Que matérias estão reguladas pelo CPA (2º): não há uma aplicação igual para toda a atuação
administrativa, isto é, o CPA não é igualmente aplicável a toda a administração. Mas há duas
matérias em que é aplicado a toda (incluindo aplicação técnica e aplicação privada- quando
aplica direito privado2): princípios gerais da atividade administrativa e as normas do CPA que
concretizam preceitos da Constituição/ princípios constitucionais. Há normas do CPA que só se
aplicam ao órgãos da administração pública: 20º a 52º. Por outro lado, o CPA aplica-se
subsidiariamente aos procedimentos especiais (2º/5). E se no funcionamento das regras do CPA
existir uma lacuna? Como é regulada/integrada? A regra no direito português quanto ao
funcionamento dos órgãos colegiais: na falta de norma especial podemos recorrer ao regimento
da Assembleia da República (aplicação subsidiária). Ex: é possível ao titular de um órgão colegial
enviar o seu voto por via de correspondência? O regimento da Assembleia responde que não.
Aplicação temporal do CPA (8º/1 do Decreto de Lei 4/2015 7 de Janeiro- aprovou o CPA): não
há nesse diploma qualquer norma transitória o que pode levantar dúvidas sobre a
inconstitucionalidade de se mandar aplicar a lei nova a situações que decorreram ao abrigo da
lei antiga. Há normas do CPA de 1991 que hoje ainda se encontram em vigor.
1 Se cidadão violar normas procedimentais imperativas: (1) preclusão ou preempção do exercício de uma posição
jurídica de vantagem ou de um ónus do particular; (2) pode habilitar um poder de livre apreciação da conduta em
causa pela Administração ou, justificar, a rejeição liminar do requerimento, ou o seu indeferimento limiar, o paralisar
do procedimento ou a sua extinção, incluindo fundamentar a ausência de dever d e resposta; (3) poderá ainda
consubstanciar efeitos sancionatórios de natureza pecuniária.
22 O direito privado que a administração aplica nunca é igual ao direito privado aplicado pelos privados.
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Aplicação espacial do CPA: qual a lei a aplicar a nível transnacional? O CPA não responde a este
problema, apenas o artigo 116º/4 tem um afloramento afirmando que a lei que rege em
questões de prova a validade de documentos é o Estado onde se emitiu o documento. Sempre
que está em causa uma questão de forma é face à lei administrativa do Estado de onde se emite
o documento que se apresenta a validade desse.
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166º da CRP. Se for violado o princípio no seu núcleo essencial será nula a
conduta administrativa, para além de poder gerar responsabilidade civil.
➢ Princípio da adequação procedimental (56º): devemos flexibilizar/adequar
as normas do procedimento: adequar os meios aos fins. Poder
discricionário à administração para essa escolher o melhor caminho para
um certo fim, com respeito pelo princípio da economicidade, participação
e celeridade. Este princípio está também associado ao princípio da
adequação procedimental, presente vagamente no artigo 56º do CPA, que
determina que cada decisão deve sempre encontrar um modelo estrutural
de procedimento que se mostre adaptável e flexibilizável aos propósitos
visados, para que realmente possa existir procedimento equitativo. Este
proíbe a utilização de um procedimento diferente daquele que legalmente
deveria ser utilizado. Ocorre desvio de procedimento quando ocorre
substituição de procedimentos (utilização de um procedimento visando
obter um fim que a lei associa a outro procedimento), visando iludir as
normas legais sore o procedimento adequado, a competência ou a
garantia de eficiência. Há sempre situações de erro ou desvio de poder
(utiliza-se um procedimento cujo fim é proibido).
➢ Princípio do inquisitório (58º): a Administração não está à espera de que
as questões lhe sejam colocadas ou factos apresentados. Tem um papel
ativo, o que permite distinguir esta função da judicial. Pode decidir
independente do que lhe seja pedido e sem que lhe seja pedido. Nem
sempre é claro se a administração tem poder inquisitório (ex. concursos
públicos- os candidatos têm de escolher 5 obras, nem escolhem as
melhores ou até escolhem as menos más, o júri pode escolher outras que
não escolheu para avaliar?). É possível decidir algo de diferente (para mais
ou para menos) do que aquilo que se pede. Há um efeito dominó/ frutos
envenenados na árvore: o princípio inquisitório tem especial importância
no âmbito da recolha da prova. Assim, um vício na recolha da prova vai
implicar tudo o que a administração faça após, podendo contagiar a
decisão final. O tema da prova é essencial porque qualquer decisão
administrativa baseia-se no quadro factual. A prova tem como função
demonstrar a realidade factual e gerar no decisor uma convicção sobre os
fatos habilitando a decisão. Demonstrar a realidade factual significa: tenho
o direito à produção da prova e à sua contradição. Artigo 115º CPA: o
propósito é a descoberta da verdade material e todos os bens de prova
são relevantes, podendo a administração solicitar aos interessados meios
de prova (117º). A lei/administração pode ficar ónus de prova (116º),
apresentando que se não adotar certa conduta decorre daí certa prova.
Compete ao decisor com base nos elementos de prova decidir: liberdade
ponderativa com livre apreciação probatória- o decisor administrativo não
tem de ter certeza absoluta e inquestionável da decisão, bastando um grau
de probabilidade bastante elevado, tendo contudo que fundamentar a sua
decisão. Poderá ocorrer distinção entre a Verdade procedimental e
Vontade Real: pode acontecer que a vontade rela não é aquela que foi
apresentada na parte procedimental (Ex. prova oral pode acontecer que
por uma questão de nervosismo não seja capaz de demonstrar os factos).
Em matéria de decisão interessa a verdade procedimental. Por vezes a
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evitando que o interessado veja dispersa no tempo e no espaço a intervenção de uma pluralidade de órgãos sobre o
mesmo procedimento.
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A atividade administrativa traduz, em princípio, sempre uma conduta voluntária, da qual emerge
efeitos ou consequências jurídicas ou então cria, modifica ou extingue situações jurídicas.
Contudo, nem todos os efeitos jurídicos causados envolvendo a administração assentam em
condutas voluntárias: meros factos jurídicos, que sendo acontecimentos independentes da
vontade, podem produzir efeitos jurídicos; factos jurídicos objetivos, visto que a conduta
administrativa pode ter na sua origem factos involuntários; a atuação administrativa pode ser
desencadeada por uma pluralidade de factos jurídicos.
A atividade da Administração consiste sempre num conjunto de opções e decisões que, são
tomadas por uma estrutura orgânica e que levam a um ato, podendo esse traduzir uma conduta
por ação ou por omissão, sendo certo que é exteriorização da vontade que permite dar
relevância à vontade (sendo por vezes essa relevância vontade exteriorizada dependente da
intenção).
Atos Simples e Atos Complexos: os primeiros traduzem a expressão da vontade de uma única
estrutura decisória (vontade de um titular singular ou vontade de uma pluralidade de titulares-
órgão colegial), enquanto que os segundos conjugam a intervenção participativa decisória de
duas ou mais estruturas orgânicas (podendo isso fazer-se em posição de igualdade ou posição
de desigualdade).
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Ato Não Normativo e Ato Normativo: no primeiro, as decisões administrativas têm como
destinatário uma ou várias pessoas determinadas ou determináveis, tendo eficácia interpartes,
e no segundo, as decisões têm como destinatários uma pluralidade indeterminável de sujeitos,
tendo eficácia erga omnes. Pode ainda acontecer que o ato seja misto: sejam determinados ou
determináveis uns sujeitos e simultaneamente outros destinatários sejam indeterminados.
Nem sempre a vontade administrativa é suficiente para produzir os efeitos desejados, não se
bastando a atuação administrativa com uma declaração de vontade, quando é precisa a
colaboração de outras pessoas- contrato administrativo. Por outro lado, certos atos da
administração exigem para produção de efeitos a aceitação por parte do destinatário (ex. atos
de nomeação) e se esta não se verificar o recorrer aos tribunais. Ou a produção de efeitos
jurídicos pode nem sequer depender da vontade, exigindo uma atuação física ou material, não
bastando a intenção, ordem ou ato.
Envolvem a prática de atos jurídicos e que não envolvem a prática de atos jurídicos
(atuação material);
Atos jurídicos regidos pelo direito público e atos jurídicos regidos pelo direito privado;
O silêncio/omissão/inércia tem um significado procedimental sendo possível de
produzir efeitos: responsabilidade civil
Importância das condutas administrativas de facto que podem ter relevância jurídica:
comportamentos factuais concludentes; precedentes; expectativa.
Existem condutas que são juridicamente irrelevantes, como por exemplo, as palavras de
circunstância de um ato oficial, não se podendo tomar como uma verdadeira declaração
de vontade.
Estamos perante atos jurídicos, que, quanto ao âmbito de eficácia dos efeitos, podem ser
internos, se esgotam os efeitos dentro da Administração, não tendo como propósito modificar
a esfera jurídicas dos cidadãos, ou externos, se ultrapassam a fronteira da Administração,
colocando a Administração e os cidadãos em contacto. Noutro sentido, quanto ao alcance da
vontade administrativa, os atos poderão ser simples ou não negociais, se os efeitos são pré-
determinados na lei, não há margem de discricionariedade, e intencionais ou negociais se há
liberdade de celebração e de estipulação- grande margem de discricionariedade.
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4Os sinais de trânsito são regulamentos de operatividade imediata. A determinação de que o sinal será colocado
naquele local é um ato administrativo. Discricionariedade ou arbitro no estabelecimento de limites de velocidade?
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➢ Atos Jurídicos Simples: situações em que há vontade da ação e atuação, mas não há
relevância da vontade de estipulação.
➢ Negócios Jurídicos Unilaterais (ex. denúncia de um contrato, aceitação de uma herança
por um município).
➢ Negócios Jurídicos Plurilaterais: contratos de direito privado que a administração
celebra. A sua diferença com os contratos administrativos não está nem nos sujeitos
porque são sujeitos públicos que podem intervir. Se a prestação em causa nestes
contratos estiver sujeita à concorrência, o contrato rege-se materialmente pelo Direito
privado, mas o procedimento da feitura do contrato é regido pelo CCP ou por lei especial
(mesmo que não estejam submetidos, mas que atribuam vantagens). Contratos públicos
são mesmo aqueles que possam ser materialmente regidos pelo Direito privado, sendo
a natureza pública conferida pelo respeito do procedimento público. 202º/2 Código do
Procedimento Administrativo.
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entidade pública, sendo essa que responde (seu património) em caso de dano ou é uma
conduta imputável ao funcionário que agiu indevidamente, sendo o património deste
que responde.
➢ Atuação Informal: traduz a flexibilidade/consenso/negociação do agir administrativo.
Exclui processos autoritários. Não envolve a emissão de atos jurídicos formais, mas
forma normas que vinculam a atuação. Atuação marginal às normas procedimentais (ex.
aulas através de vídeo). Os conselhos, recomendações, advertências, tolerância face a
situações de facto. Pode ser praeter legem ou, em alguns casos, ser contra a lei,
podendo devido à prática, levar a uma convicção de obrigatoriedade, que leva a uma
normatividade não oficial. Não tem uma regulação jurídica, mas a esta aplicam-se as
regras do 2º/3 do CPA- vinculação às normas que concretizam preceitos da CRP e aos
princípios do 266º CRP. Esta atuação pode gerar responsabilidade civil da
Administração, pois pode criar-se expectativas face à atuação informal.
➢ Atuação Política: pode no seu agir praticar atos com cunho de natureza política, pois
não é alheia à política (Ex. linhas programáticas, opções políticas, resoluções Conselho
de Ministros que é órgão político e administrativo). Podem ser unilaterais ou bilaterais
(pacto municipal). Podem existir puros atos políticos, como um ato de geminação de
cidades. Podem existir atos políticos mistos (ex. destituição de um Reitor).
Conformidade ao CCP e Direito Administrativo.
Omissão Administrativa: a Administração Pública pode não agir quando deveria. O silêncio da
administração pode ter relevância jurídica. Nem sempre o agir da administração é a expressão
de um pedido de um particular, podendo acontecer que a Administração passe um prazo para
decidir. Pode existir uma inércia jurídica ou declarativa: não pratica um ato jurídico, podendo
este ato ter duas origens: de base pretensiva (formulação de uma pretensão) ou sem base
pretensiva (ex. não emitir um regulamento no prazo de x por determinação da lei) ou inércia
factual: não adota uma conduta factual, podendo ser uma omissão de autotutela executiva
(recusa por inércia de executar uma decisão judicial) ou em termos prestacionais (greve).
Regime: ao incumprimento de um dever legal de decidir, a inércia é ilegal, mas nem sempre há
tutela jurisdicional efetiva (os tribunais não se podem substituir à administração). A inércia pode
gerar danos e existir responsabilidade civil. A inércia pode ser fonte de expectativa dos
particulares, por tolerância ou então através de supressão de posições jurídicas. A omissão pode
ser de formalidades na feitura de regulamentos. A omissão pode ser de natureza contratual ou
respeitante a convénios interorgânicos. O particular formula uma pretensão à Administração e
esta não responde no prazo previsto. Como se interpreta o silêncio? 129º CPA determina que a
regra é que a inércia corresponde a indeferimento da pretensão, adquirindo o particular a
possibilidade de utilização das garantias administrativas e tutela jurisdicional (66º CPTA). Mas
há casos em que o silêncio da administração equivale a deferimento (130º CPA). Comunicação
prévia (134º). Silêncio como meio de declaração no âmbito do direito civil (218º).
Competência: tem a ver com a habilitação para agir. Há diversos níveis de competência:
(1º) separa o hemisfério público do hemisfério privado- se as entidades públicas
ultrapassam a fronteira há violação de direitos fundamentais, praticando atos nulos; (2º)
no hemisfério público podemos diferenciar à luz da separação de poderes diferentes
poderes, e quando uma entidade de uma função invade outra função existe usurpação
de poderes (162º/2 a) CPA- nulos); (3º) dentro da função administrativa, há repartição
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quando há intenção do próprio ou produzido por terceiro. O erro pode incidir sobre a
competência, destinatário, identidade ou qualidades do objeto, pressupostos de facto,
base do negócio ou sobre pressupostos de direito, causa, fim forma ou formalidades. O
CPA é omisso sobre a matéria do erro, devendo aplicar-se o Código Civil. 168º/1 CPA
pode extrair-se que gera anulabilidade do ato. O erro é uma fonte autónoma de
invalidade.
Causa: envolve uma relação entre uma conduta administrativa e duas realidades que
são anteriores à conduta administrativa: circunstâncias de facto ou de direito que
funcionam como pressuposto objetivo da conduta administrativa e as razões que
determinam o sentido da vontade psicológica do decisor, isto é, pressupostos
subjetivos/ motivações da decisão. Será que a relação é adequada? Que os pressupostos
objetivos e subjetivos são válidos? Qual é a intenção do decisor? Como se relaciona os
motivos com a fim da competência? A causa pode gerar dois tipos de vícios: divergência
entre os pressupostos fixados na lei e os pressupostos reais que existem; divergência
entre os pressupostos que são motivos do decisor e a sua intenção real. Na base da
conduta administrativa está o princípio que exige uma coerência racional do agir
administrativo. Será que existem pressupostos objetivos? São válidos? Têm a
configuração mental que o decisor lhes deu? A conduta foi conforme aos pressupostos?
Os pressupostos de direito podem ser realidades precisas (ex. ter 5 anos de formação)
ou então sejam assentes em conceitos indeterminados (ex. personalidade de
reconhecido mérito). Os pressupostos de facto são realidades que existem no domínio
da realidade social e que são capturados pelo decisor e tomados como
fundamento/pressuposto do agir administrativo, podendo ser passados ou presentes,
ou então previsões sobre a evolução futura da realidade (juízos de prognose). Nem
sempre os pressupostos de facto resultam da lei, sendo a administração chamada pela
lei em zonas de discricionariedade para definir esses pressupostos. Pode haver um
afastamento entre os pressupostos de facto escolhidos e a conduta da decisão, sendo a
conduta inválida. Os factos têm de existir e ser adequados à conduta. A relevância da
base do negócio e a circunstância da sua evolução ser tutelada com a alteração das
circunstâncias. Quais os motivos que estão na base da formação da vontade? É difícil
entender as vontades reais. A motivações subjetivas do agir podem ser critérios
conformes à lei ou critérios podem ser alheios ao fim que a lei definiu para o exercício
daquelas competências, ocorrendo desvio de poder. Por outro lado, pode ocorrer que
haja uma pluralidade de critérios teleológicos de motivação, existindo motivações
concorrentes: qual é aquela que é principalmente determinante para a prática do ato,
visto que é só aquela que permite saber se há desvio de poder. E quando o órgão que
decidiu é incompetente? E o que acontece perante motivações dolosas e ilícitas: só tem
relevância para a responsabilidade do titular ou pode inquinar a validade da conduta
mesmo que não seja uma situação de desvio de poder? Há ou não uma graduação da
culpa? Sim! (ex. 523 livro- é possível distinguir os casos de dolo e negligencia com a
mesma graduação do direito civil, que tem efeitos em sede de responsabilidade civil da
AP, e a ilicitude da causa inquina a validade da conduta e é fonte de responsabilidade
criminal). O desvio de poder faz apelo ao motivo principalmente determinante da
conduta, mas pressupõe que a pessoa é competente para a conduta. Pode existir desvio
de poder por razões de interesse público (ex. polícia que multa para o Estado ganhar
dinheiro) ou por razões de interesse privado (ex. conceder uma licença de construção
como forma de o empreiteiro construir uma piscina na casa do titular da decisão).
161º/2 e) nulidade das decisões.
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Objeto: todo o agir da administração tem de ter um objeto, podendo ser jurídico,
imediato ou conteúdo da atuação ou como mediato (sobre o que incidem os efeitos). O
objeto pode ser natureza constitutiva (alterações na ordem jurídica) ou de natureza
declarativa (juízo de realidade, não há alteração na ordem jurídica). O objeto pode ter
zonas vinculadas ou zonas discricionárias, havendo nestas ultimas a possibilidade de se
criar outros elementos (ex. clausulas acessórias, que têm a necessidade de ser
conformes à lei, tanto no conteúdo como motivação de sua integração, ser adequadas
ao fim do ato em que se integram e tem de existir uma relação direta com o conteúdo
principal do ato, conformar-se com o principio da proporcionalidade e os demais da
atuação administrativa. Possível essencialidade das clausulas acessórias: certos atos
sejam adotados porque a administração lhes introduziu a clausula acessória, se não
existisse esta, já mais seria praticado o ato. E se houver uma invalidade na clausula
acessória nestes casos? Pode justificar a destruição do próprio ato, tendo de ver em
cada caso a essencialidade da clausula). Quais os requisitos de validade? Possibilidade
(de facto, dizendo respeito à pessoa ou ao substrato material (ex. não existe o objeto),
ou de direito, que diga respeito a uma impossibilidade de prestação.),
determinabilidade (sua compreensibilidade- se não foi, o ato é nulo 161º/2 alínea c)
CPA) e legalidade (a regra é que o objeto que é invalido é anulável ,mas em certos casos
é nulo (violação de lei): alíneas d), c), i), j) e k) do 161º/2; atos contra a ordem pública e
bons costumes; atos regidos pelo direito privado que vão contra disposições
imperativas. A ilegalidade civil no direito civil gera nulidade em regra, no direito
administrativo a regra é gera anulabilidade). A falta de objeto por impossibilidade leva
à nulidade da conduta. Há diversos efeitos que podem ser produzidos pela atividade
administrativa: efeitos de natureza positiva ou negativa; efeitos de execução
instantânea e continuada, efeitos externos ou internos. Requisitos de eficácia:
publicidade através do jornal oficial e notificação aos destinatários, isto é, sempre que
nos encontramos perante atos constitutivos de deveres ou encargos há obrigação de
serem notificados ao destinatário, ainda que tenham sido objeto de publicidade ou
mera comunicação- imperativo constitucional; disponibilizar os documentos para
consulta pública ou consulta dos interessados. E se não existir publicidade? Conduz há
ineficácia do ato quando a lei exija, nas outra situações pode gerar a não oponibilidade
a terceiros. Atos que atribui direitos, ampliam esses ou restrinjam situações jurídicas
desfavoráveis: produz efeitos qualquer que seja a via pela qual o destinatário tome
conhecimento, mesmo que não seja por publicação; aprovação em ata como requisito
de eficácia; aprovação do ato por outro órgão; visto do tribunal de contas; concordância
do destinatário como eficácia (ex. nomeação); referendo. A eficácia pode ser parada
pela colocação de clausula acessória (condições, termos). Dimensão temporal da
eficácia das decisões: em regra começa a produzir efeitos desde que foi tomada, mas
pode acontecer que seja atribuída uma eficácia retroativa dos efeitos se não forem
desfavoráveis ao sujeito. Interpretação e integração de decisões administrativas: podem
existir presunções no âmbito da interpretação ou máximas que permitam decidir o
sentido de um ato administrativo. A administração sofre influencia da tutela da
confiança. Não se pode esquecer a importância dos tribunais para a fixação da
interpretação das regras. Como se integra lacunas? Quando há uma lacuna? Se houve
uma opção consciente por parte do decisor que certa matéria não é regulada, não há
caso de lacuna. A integração da lacuna é sempre um resultado de um processo
interpretativo, devendo este ser feito com recurso ao artigo 10º CC. Em zonas de
discricionariedade convém apelar à vontade da administração ou das partes se for de
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Teoria geral da invalidade: a invalidade é a outra face da vinculação à juridicidade, visto que se
a administração desrespeitar a vinculação começa o capítulo da invalidade. A invalidade é um
juízo negativo/ de reprovação de uma conduta. Temos de ter em atenção dois tipos de
juridicidade: há casos em que a violação dessa determina uma invalidade (hard law), opondo-se
aos casos de juridicidade debilitada (soft law). A invalidade nem sempre gera efeito anulatório.
Porquê? Há clausulas que habilitam agir contra a lei, porque a própria lei faz uma ponderação
entre os bens que estão em causa e admite em certos casos que se agir contra a lei haverá mera
irregularidade ou porque há normas jurídicas que habilitam a administração agir contra a lei,
verificando-se determinado cenário- estado de necessidade administrativa e estado de exceção
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constitucional. Estas situações permitem concluir que há dois tipos de juridicidade: uma para
situações normais (típica/ de primeiro grau) e uma para situações excecionais (alternativa/ de
segundo grau). A juridicidade tem alguma elasticidade determinada pelas circunstâncias serem
normas, mas também provocada pelo decurso do tempo, por razões de segurança jurídica e
tutela da confiança, podendo consolidar-se situações que eram situações inválidas, que se
transformam em válidas pelo decurso do tempo. A ordem jurídica reconhece efeitos jurídicos a
atos que inicialmente eram inválidos. 282º/4: podem existir válvulas de escape do sistema, que
permitam o reconhecimento de efeitos a atuações jurídicas ilegais. Se atos cujos efeitos são
inconstitucionais, e a constituição permite que possam produzir efeitos, por maioria de razão
deve permitir-se que estando violada a legalidade administrativa, os atos possam produzir
efeitos jurídicos, por razão de necessidade, equidade, segurança jurídica. No Direito
Administração a regra da violação da legalidade administrativa é geradora de anulabilidade,
tendo a nulidade um estatuto excecional. Isto tem como consequência: a ordem jurídica não dá
particular importância à violação da ilegalidade administrativa, porque a anulabilidade pode
consolidar-se por decurso do tempo. Podemos separar então a juridicidade cuja resposta é
nulidade (imperatividade mais intensa) e a juridicidade cuja resposta é anulabilidade
(imperatividade é menos intensa). A administração está vinculada a aplicar normas
inconstitucionais, só podendo afastá-las a título excecional.
Tipos de invalidade: há condutas que são intencionalidade inválidas e outras que são feridas de
erro, não existindo intenção de agir de forma errada (falsa representação da realidade), tendo
esta distinção, ou podendo ter, relevância em sede de responsabilidade civil. A invalidade pode
incidir sobre normas que conferem a conferência. A invalidade pode ser total ou parcial,
substantiva ou procedimental, originária/inicial ou superveniente/sucessiva, própria do
respetivo ato (direta da atuação administrativa) ou consequente/ derivada (se a lei é inválida ou
inconstitucional, e a administração está obrigada a segui-la, todos os atos praticados são
inválidos) e pode ser presente (normas hoje vigentes) ou pretérita (no passado estavam em
vigor, mas eram inválidas). Se a ordem jurídica para um determinado tipo de violação de
juridicidade sanciona com a inexistência ou nulidade, significa que essas normas têm muito mais
valor do que aquelas que a lei sanciona com a anulabilidade. Há uma diferença de valor que
também diferencia a vinculação da administração: uma ordem jurídica em que o desvalor regra
é a anulabilidade, pode suscitar sérios problemas de inconstitucionalidade, porque se estão em
causa leis que consagram valores, bens ou interesses que têm tutela constitucional, a
administração está pouco motivada a respeitar essa normatividade, por a sanção ser a
anulabilidade, o que pouco garante esses valores constitucionais.
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cumprir não é inválida? Ela afasta o efeito anulatório ou derroga o efeito imperativo da norma
que impõe a conduta? A irregularidade apresenta também que há elementos que são essenciais
para o agir administrativo, mas que há outros que não são essenciais e que, portanto, a sua
preterição é meramente irregular. O 163º/5 CPA é uma clausula geral. As situações de
irregularidade são uma reserva do legislador ou também pode ser decidido pelos tribunais,
mesmo que não exista uma lei a apresentar como consequência a irregularidade? O artigo
163º/5 é uma norma taxativa ou o elenco é meramente exemplificativo?
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o ato, o particular tem direito de resistência. O ato nulo pode produzir efeitos reflexos,
como por exemplo, responsabilidade civil da administração. A nulidade pode ser
invocada a qualquer tempo, não existindo prazos para os atos nulos serem objeto de
impugnação. A lei estabelece a distinção entre a nulidade invocada (pode ser feita por
todas as pessoas), nulidade conhecida e nulidade declarada (161º/2 segunda parte-
reserva de declaração da nulidade dos tribunais administrativos e certas autoridades
administrativas competentes). A declaração limita-se a verificar uma situação de
nulidade, tem natureza declarativa, visando dar certezas. Podem existir formas atípicas
de nulidade, por se reconhecer efeitos ou existir um prazo para invocar. 162º/3 CPA:
admite que a administração que por via do decurso do tempo e nos princípios da boa
fé, confiança e proporcionalidade, se possam reconhecer efeitos de facto a atos nulos,
isto é, por ter a aparência de ser válido, produz efeitos no plano dos factos (não
jurídicos), e a ordem jurídica pode juridificar esses efeitos. Ora, a decisão que reconhece
esses efeitos é constitutiva. Mesmo ao ato nulo, a ordem jurídica permite que se possa
reconhecer efeitos jurídicos, sendo possível uma modelação de efeitos a atos nulos,
tanto feita pelos tribunais como pela administração. Se a administração em relação ao
A (destinatário de ato nulo), a administração reconhece efeitos a um ato nulo por si
praticado, pergunta-se se em relação a B, por força da igualdade das circunstâncias, tem
de reconhecer também a B os efeitos? Sim, devido ao princípio da igualdade e da
imparcialidade. Mais uma vez pode existir direito À igualdade mesmo no âmbito de
atuações que são inválidas.
Inexistência: surge para ultrapassar a ideia de “não há nulidade sem lei”. Reconduzem-
se aos casos de absoluta falta de identificação do ato. Tem consagração constitucional,
não sendo por isso valido o argumento que no DA não há inexistência, até porque a
aplicação de uma lei inexistente só pode gerar atos inexistentes. Há, portanto, um
imperativo constitucional que obriga à existência de inexistência jurídica administrativa.
Está sujeita a um regime próprio, análogo à da nulidade, com a dúvida de saber se
quanto ao 162º/3, se poderá reconhecer-se aos atos inexistentes certos efeitos, à
semelhança do que ocorre com a nulidade? Só no caso de inexistência derivada é
possível, isto é, nos casos em que a administração aplica leis ferias de inexistência, à luz
de preceitos constitucionais.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Ratificação: em casos de incompetência relativa, o órgão incompetente pode ver o ato praticado
como validado, pelo órgão competente o validar. Pode também consistir na repetição do ato,
sem o vício de forma.
Conversão: aproveita-se a parte não viciada, praticando um novo ato válido (ex. não se permite
a nomeação definitiva, transforma-se no provimento interino.
Anulação para o futuro: o ato não é destruído retroativamente, deixa de produzir efeitos a partir
de hoje, produzindo efeitos apenas para o futuro.
Retificação: pretende fazer corresponder a vontade real à vontade declarada. Poderá ser um
erro aritmético ou de escrita. 249º CC. Podem ser erros inofensivos ou pode ser um erro
essencial (exige-se uma retificação necessária). Pode existir uma retificação de segundo grau
quando ao própria retificação tem um erro de escrita.
Intervenção dos Tribunais: podem modelar os efeitos, através da redução ou conversão (292º
e 293º CC). Podem modelar os efeitos destrutivos da anulabilidade, afirmando que só se produz
efeito anulatório a partir de certo momento (aplica-se o 282º/4 CPA). Quanto aos a
regulamentos: 76º/3 CPTA e 162º/3 e 163º/5 CPA, 283º/4 e 285º/4 CCP. O juiz deve ser procurar
assegurar a justiça material da situação concreta.
Decurso do tempo: pode fazer determinar a supressão de efeitos normais da falta de certas
formalidades (ex. falta de pareceres obrigatórios e vinculativos: 92º/5 e 6). Permite consolidação
de atos anuláveis. Pode levar que, devido à boa fé ou tutela de confiança, se modele os efeitos.
O tempo cria um efeito apagador sobre a invalidade em causa, permitindo dizer que há duas
juridicidades: típica (dentro de um determinado prazo e permite, sempre que é violada, reagir
destruindo a atuação) e atípica (resulta da consolidação na ordem jurídica de atos anulados ou
reconhecimento de efeitos de atos nulos). A juridicidade atípica pode ser invocada para moldar
as condutas da administração, à luz do princípio da igualdade.
Pode ter fontes distintas: (1) fundada na CRP; (2) fundada na lei ordinária; (3) alicerçada em
normas de base costumeira/consuetudinária.
Estruturas que têm poder regulamentar fundado na CRP: a) O Governo tem uma competência
para executar as leis (199º alínea b) CRP) e também uma competência regulamentar
independente, isto é, pode fazer regulamentos que visam implementar/ dar expressão a um
conjunto de leis (regulamento independente- 136º/3 CPA) e ainda tem competência
regulamentar independente para implementar diretamente a Constituição (199º alínea g) CRP).
A vantagem de elaborar regulamentos independentes diretamente fundados na CRP nas
matérias fora da reserva de lei é: não estar sujeito a fiscalização preventiva da
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
constitucionalidade; não pode ser objeto de apreciação parlamentar política, nos termos do
artigo 169º CRP; se for um governo de coligação, não precisa de ir a Conselho de Ministros,
sendo assinado pelo Primeiro Ministro e os Ministros competentes pela matéria. Requisitos para
a competência regulamentar independente fundada diretamente na CRP: matéria estar fora da
reserva de lei, para poder ser disciplinada validamente por regulamento e não pode ser objeto
de disciplina por ato legislativo, pois o regulamento não pode alterar a matéria; b) Regiões
Autónomas: a competência regulamentar pode ser de dois tipos (227º/1 alínea d) CRP),
podendo regulamentar as leis da república que essas não reservarem para o Governo a respetiva
regulamentação (com duas particularidades: é competência exclusiva da AL Regional e a
regulamentação da Lei da República reveste a forma de decreto legislativo regional, para
permitir que o Representante da República possa pedir a fiscalização preventiva da
constitucionalidade) e podem ainda regulamentar a própria legislação regional, sendo uma
competência exclusiva das RA (se o Governo regulamentar essa legislação, há
inconstitucionalidade). Para regulamentar as leis regionais, a competência divide-se entre o
Governo Regional e a AL Regional. O Governo Regional tem competência regulamentar exclusiva
para a sua organização e funcionamento com fundamento na CRP, tendo esse diploma de ser
assinado pelo Representante da República, e se ele vetar politicamente, será esse veto
absolutíssimo, pois nunca pode converter em proposta de lei à AL Regional; c) Autarquias Locais
(241º CRP), obedecendo a competência regulamentar a 3 ideias: só pode ser exercida se a lei
em concreto atribuir e nos termos em que a lei atribua, não podendo a AL invocar a CRP para
regulamentar, visto que a competência regulamentar tem de ser mediada; municípios têm
competência regulamentar que tanto pode ser exercida pela Assembleia como pela Câmara,
consoante as atribuições; as freguesias têm competência regulamentar que pode ser exercida
pela Assembleia e Junta, consoante as atribuições; d) Universidades Públicas (76º/2 CRP), sendo
a sua competência regulamentar uma limitação ao poder legislativo, visto que esse não pode
esgotar a competência regulamentar das universidades, pois essa competência é um direito
fundamental das Universidades Públicas; e) Associações Públicas (267º/4- implicitamente) com
a particularidade de as associações profissionais têm competência regulamentar exclusiva em
matéria deontológica, isto é, as regras de ética que dizem respeito à profissão. Se o Estado
legislar sobre isto há usurpação de poderes. A existência de competência regulamentar
diretamente fundada na CRP permite limitar o espaço da reserva de lei e do poder legislativo.
Estruturas que têm competência fundamental fundadas na lei ordinária: todas as estruturas
decisórias da administração indireta e autónoma que não sejam nem autarquias locais, nem
universidades públicas nem associações públicas. Não há entidades públicas sem competência
regulamentar.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
leis, será válida? Inconstitucional, visto que o artigo 199º alínea b) CRP atribui ao Governo o
poder de proceder à boa execução das leis por via regulamentar, só podendo essa competência
ser exercida pelas AL Regionais se a lei em causa não reservou para o Governo o respetivo poder
regulamentar. Ou seja, não é possível que as autoridades administrativas independentes
possam diretamente regulamentar a lei. O Governo pode ser emanar um regulamento em que
permita depois que a entidade administrativa independente possa regulamentar.
142º/1 CPA: há um paralelismo no âmbito da competência regulamentar que significa que quem
tem competência para emanar um regulamento, tem também competência para o interpretar,
modificar e suspender, devendo estas ser feitas por regulamento- princípio do paralelismo da
competência.
Forma que pode revestir o regulamento: a) Do Governo: decreto regulamentar, sendo a forma
mais solene porque trata as matérias mais importantes e porque são objeto de promulgação
pelo PR, atribuindo-lhe solenidade semelhante aos decretos-leis; decreto simples; resolução do
Conselho de Ministros, sendo que nem sempre estas são regulamentos, podendo ser de
natureza política; portaria; despacho normativo; despacho simples se tiver conteúdo de
natureza normativa; b) RA: decreto legislativo regional; decretos regulamentares que não
regulamentam leis da república; c) Municípios: posturas municipais; d) Universidades Públicas:
estatutos universitários; e) regimentos de órgãos colegiais; f) circulares/instruções.
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Atos Primários: introdução de uma primeira disciplina jurídica sobre certa matéria.
o Atos Impositivos:
▪ Ablativos: podem incidir sobre direitos reais (ablações reais) ou direitos
que não dizem respeito as coisas (ablações não reais). Nas ablações
reais podemos ter atos ablativos que extinguem um direito real (ex.
expropriação (envolve o pagamento de uma indemnização), confisco
(não há indemnização- é ilícito porque viola o direito fundamental da
garantia da propriedade privada), pela destruição do bem por utilidade
pública) ou então que modifiquem o conteúdo do direito real (ex.
requisição- determina o aproveitamento do bem requisitado para uma
causa de utilidade pública; servidões- oneração real de um determinado
imóvel).
▪ Obrigacionais: pode ser imposta uma obrigação de facere (adotar uma
determinada conduta), obrigação de não facere (proibição de não
adotar certa conduta), obrigação de dare (prestação de uma quantia
pecuniária- ex. ato tributário; ou prestação de uma coisa não
pecuniária- ex. uma pintura de relevo cultural, em que fico limitado na
alienação).
▪ Sancionatórios: aplica uma sanção que pode ser pecuniária (ex. multa)
ou não pecuniária (ex. médico que comete falta de natureza ética, pode
ter como consequência a suspensão da atividade; sanções
disciplinares), na sequência de alguém ter adotado uma conduta ilegal.
Estes atos têm um procedimento administrativo especialmente
importante, porque todo ele é dominado pela ideia de devido processo
legal/procedimento equitativo, designadamente o direito ao
contraditório (isto não pode ser afastado). A declaração de
inconstitucionalidade com força obrigatória geral não tem efeitos
retroativos, exceto se o ato administrativo tiver efeitos sancionatórios
para o particular.
o Atos Permissivos: permitem que o destinatário possa adotar uma conduta por ação
ou uma omissão de um comportamento, que na falta dessa permissão, não seria
possível. Esse ato é tendencialmente favorável ao seu destinatário principal. Isto
não significa que o ato não possa produzir efeitos colaterais negativos a terceiro
(ex. permissões de contruir está ou não englobada dentro do direito de
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Atos Declarativos: não introduzem qualquer alteração na ordem jurídica, visto que se limitam a
verificar, a emitir um juízo de valor ou a transmitir o conteúdo de outros atos. Não traduzem
inovações.
Atos de Verificação
o Atos de Comprovação
▪ Registo
▪ Inscrição
▪ Atas (34º CPA)
▪ Reconhecimentos judiciais
o Atos de Certificação
▪ Certidões (83º/4 e 84º CPA)
▪ Declarações
▪ Autenticação
▪ Visto
o Atos de Aclaração
o Atos de Verificação Constitutiva
Atos de Valorização
o Juízos Qualificativos
o Pareceres (91º e 92º CPA): no direito português os pareceres são obrigatórios,
mas não são vinculativos. Mesmo sendo não vinculativo, o decisor que não
segue o parecer obrigatório tem de fundamentar o porquê de não o seguir. No
caso de o parecer ser vinculativo, o decisor final sob pena de ilegalidade, está
vinculado a seguir o parecer, desde que este seja válido (se for nulo não é
vinculativo, não estando o decisor obrigado a segui-lo, fundamentando o
porquê de ser nulo). Se ele decide acolhendo um parecer nulo, a decisão é nula
também. Quando não há um prazo específico para emitir o parecer, o artigo
92º/3 fixa o prazo de 30 dias. O órgão decisor não pode estar eternamente à
espera de um parecer, que sendo obrigatório nunca mais é emitido, podendo
decidir sem o parecer dentro de certas condições.
o Informações
o Relatórios
Atos de Transmissão: são atos que se limitam a comunicar um ato, sendo apenas o ato
que é comunicado que produz efeitos jurídicos na ordem jurídica. Um vício num ato ade
transmissão não inquina o ato praticado em momento anterior, tornando apenas
inoponível a atuação administrativa.
o Publicação (139º, 158º e 159º CPA)
o Notificação (110º-114º e 160º CPA)
o Intimação
o Comunicação
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Notas:
- Situações em que o ato declarativo não é declarativo, sendo inovador: nos atos certificativos
ou comprovativos ou juízos qualificativos pode existir um erro, mas se esse erro não for objeto
de retificação durante um certo período, pode ou não reconhecer-se efeitos jurídicos a esse
erro? É ou não verdade que o erro se consolida na ordem jurídica, passando de ato declarativo
a constitutivo. Temos que atender aos princípios da segurança jurídica e tutela da confiança e
até a circunstancia de o caso julgado que aplica lei inconstitucional (282º/3) se mantem por ser
mais favorável ao titular, por razões de segurança, seria injusto que nestes casos, em que não
há inconstitucionalidade, não fosse aceitável que se mantivesse na ordem jurídica.
Tipos de revogação:
a) Quanto à iniciativa
a. Oficiosa: iniciativa da administração, podendo ser desencadeada pelo órgão
autor do ato (retratação) ou por outro órgão que não o autor (ex. superior
hierárquico).
b. A requerimento dos interessados (169º/1): pode requerer a anulação
diretamente ao autor do ato (reclamação- 191º e 192º-impugnação do ato
perante o seu próprio autor) ou perante quem exerce poderes de supremacia
sobre o autor do ato (recurso administrativo- 193º a 199º), como superior
hierárquico, órgão delegante ou entidade tutelar.
b) Quanto ao conteúdo
a. Simples: propósito de extinguir os efeitos do anterior ato- tem apenas efeito
negativo ou resolutivo.
b. Substitutiva: extinguem-se os efeitos do anterior ato, mas emana-se outra
disciplina sobre a mesma matéria, substituindo-se a regulação jurídica- tem um
efeito positivo.
c) Quanto aos efeitos
a. Ab-rogatória: tem eficácia ex nunc, isto é, apenas para o futuro, sem atingir o
passado. É a regra geral (171º/1).
b. Retroativa: tem eficácia ex tunc, isto é, desde que a regulação sobre a matéria
foi emitida, sendo retroativa à data de início da produção de efeitos desse ato-
revogação tem efeito apagador dos efeitos do ato revogado.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Competência revogatória
I. Tem competência para revogar o ato quem o praticou, desde que mantenha a
titularidade da respetiva competência (169º/2). Por exemplo, o delegado pode
revogar atos que praticou se a delegação de poderes não foi revogada ou caducou
(169º/4).
II. Tem competência revogatória o superior hierárquico relativamente aos atos
praticados pelo seu subalterno, visto que é responsável pela totalidade da função,
prestando contas sobre o exercício dessa função, podendo fiscalizar esse exercício
e até revogar os atos praticados por eles. Na hierarquia há poderes de supervisão e
esse, habilita o superior hierárquico a revogar os atos praticados pelo subalterno.
Quem tem o poder de revogar tem sempre o poder de suspender (“quem pode o
mais pode o menos”). Nega-se ao superior hierárquico o poder de revogar os atos
praticados ao abrigo da competência exclusiva do subalterno. PO tem dúvidas sobre
a constitucionalidade desta solução, devido à responsabilidade política do superior
hierárquico, na medida em que como é que alguém como ser responsável perante
aquilo que não pode controlar por estar dentro da competência exclusiva. Por outro
lado, os particulares podem instaurar um recurso hierárquico mesmo quanto a
competências exclusivas do subalterno, mas que relevância tem se o superior
hierárquico quanto a essa matéria não pode revogar o ato. Mas o superior
hierárquico tem sempre a faculdade de emanar ordens para que o subalterno
revogue o ato, que advém do poder de supervisão e, portanto, a competência do
subalterno nunca é verdadeiramente exclusiva. O superior hierárquico tanto pode
revogar o ato por iniciativa do particular (recurso administrativo) como por iniciativa
própria, através da avocação.
III. Tem competência revogatória o órgão delegante em relação aos atos praticados
pelo delegado (169º/4), o que se fundamenta na própria delegação de poderes,
visto que se o delegante pode a todo o tempo revogar a delegação (fonte dos
poderes do exercício dos atos do delegado), então por identidade de razão pode
revogar também os atos praticados pelo delegado praticado ao abrigo dessa
delegação. Por outro lado, os atos do delegado valem como se tivessem sido
praticados como o delegante (44º CPA), faz sentido que possa revogar os atos.
IV. Têm competência revogatória os órgãos de superintendência e tutelar (169º/5)
apenas nos casos expressamente pela lei. PO considera que podem fora desses
casos, pois se os particulares têm direito de petição constitucionalmente
consagrado com aplicação direta, estes podem interpor um recurso administrativo
para essas entidades, estando a atribuir um poder revogatório a essas. Portanto,
sempre que o titular desencadear esse recurso administrativo está a conferir poder
revogatório À entidade de superintendência e tutelar. Fora destes casos, estas
entidades só podem revogar, por iniciativa própria, os atos praticados pela entidade
menor nos casos expressamente fixados na lei.
V. Tem competência revogatória o órgão competente preterido, isto é, nos casos de
incompetência relativa, o órgão que foi alvo dessa ilegalidade tem na mesma
competência para revogar o ato, na medida em que mantém a competência
dispositiva (169º/6). Caso contrário, estar-se-ia a premiar uma ilegalidade, impedido
o órgão competente preterido de agir contra essa ilegalidade. Pode discutir-se se
esse artigo não é a prova de que não é correto a distinção entre a anulação e a
revogação, na medida em que saber se a questão do órgão competente preterido
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
a) Existem atos de revogação impossível, isto é, que nunca podem ser objeto de revogação
por não existirem efeitos a cessar (166º/1 CPA), como os atos nulos, atos anulados
contenciosamente (o tribunal declara que os efeitos são anulados) e os atos já
anteriormente revogados com eficácia retroativa (todos os efeitos foram cessados). Em
qualquer caso a revogação desses atos é uma revogação com objeto impossível, sendo
nula.
b) Os atos válidos são livremente revogáveis com fundamento em razões de mérito, sendo
este princípio geral resultante do artigo 167º a contrário. Mas há exceções, isto é, casos
em que o ato válido não pode ser livremente revogado por razões de mérito: a) atos que
resultam de vinculação legal, porque a lei impõe a existência dos atos (167º/1); b) atos
que criam obrigações legais ou direitos irrenunciáveis para a administração (167º/1); c)
atos constitutivos de direitos.
c) Os atos constitutivos de direitos têm um regime especial de revogação. O que é um ato
constitutivo de direitos? O artigo 167º/3 define-os e, podemos dizer que é um ato
constitutivo de direito quando atribui situações jurídica de vantagem ao particular,
quando liberta o particular de uma vinculação, ónus ou obrigação, e quando amplia uma
situação jurídica ativa do particular. São atos que investem o particular de uma
vantagem. Ato precário: é aquele que investe o particular numa posição jurídica ativa,
mas de forma não definitiva, podendo cessar a qualquer momento por decisão
administrativa (ex. sujeito a condição resolutiva), seguindo o regime dos atos não
constitutivos de direitos (não confere segurança plena ao destinatário). Atos
verificativos: não são estruturalmente constitutivos de direitos, limitando-se a verificar
determinada situação/facto (ato meramente declarativo), não atribuindo posições de
vantagem, no entanto, seguem o regime dos atos constitutivos de direitos.
Estando em causa atos constitutivos de direitos válidos, o princípio geral é o da proibição
da revogação (167º/2). Contudo, o artigo 167º/2 determina casos em que atos
constitutivos de direitos podem ser revogados: a) parte que seja desfavorável aos
interesses do beneficiário; b) quando todos os beneficiários manifestem a sua
concordância e não estejam em causa direitos indisponíveis; c) com fundamento na
superveniência de conhecimentos técnico científicos ou alteração das circunstâncias de
facto, mas estas questões só podem ser fundamento de revogação se o ato a revogar
naquele momento (com conhecimento e alteração) não poderia ter sido pratico-
167º/4. Se o beneficiário estava de boa fé, à luz do artigo 167º/6, a revogação exige a
indemnização desse beneficiário (responsabilidade da administração por facto lícito); d)
situação de ato precário, por existir uma reserva de revogação.
d) Forma: em regra, o ato de revogação deve seguir a forma do ato revogado (170º/1 CPA).
Contudo, o artigo 170º/2 determina que assim não será se a lei não estabelece forma
para o ato revogado ou se esse tem excesso de forma.
e) Formalidades: o ato de revogação deve seguir as mesmas formalidades que o ato
revogado seguiu, em regra (170º/3), com exceção nos casos expressamente previstos
na lei em sentido contrário.
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Nota: a revogação pode não ser tão simples, na medida em que o mesmo ato pode ser um ato
constitutivo de direitos e para outros não. Existem atos simultaneamente constitutivos de
direitos, sendo favorável a um particular, e não constitutivos de direitos por ser desfavorável a
outros particulares.
A anulação pode ser oficiosa, sendo a administração (autor do ato ou superior hierárquico) que
resolve anular um ato, ou pode surgir de um requerimento de particular, por reclamação (191º
e 192º) ou por recursos administrativo. A anulação tem, em regra, efeitos retroativos (173º/2 e
171º/3 primeira parte). Mas há casos em que a anulação é atípica, sendo reconhecidos certos
efeitos do ato em causa anulado: quando a anulação só produz efeitos para o futuro (168º/4
alínea b) e 171º/3 segunda parte); quando a anulação envolve a possibilidade de serem
modelados os efeitos (163º/5); quando envolve o dever de indemnizar os destinatários (168º/5).
Quem tem competência para anular? A regra é que as soluções para a revogação se aplicam
também à anulação administrativa. No entanto existem exceções/especialidades: a) o órgão
incompetente (relativa) tem competência para anular o ato que praticou, visto que existe um
princípio de autocontrolo da legalidade que justifica a competência anulatória (169º/3); b) o
superior hierárquico pode anular qualquer ato praticado pelo subalterno ainda que seja da
competência exclusiva (169º/3); c) quem exerce funções de superintendência e tutela pode na
sequencia de pedido formulado pelo interessado anular os atos praticados pelas entidades
tuteladas e superintendidas.
Regime
Existem atos de anulação administrativa impossível (166º/1): atos nulos, atos que já
foram objeto de anulação judicial e atos revogados com eficácia retroativa.
A invalidade só fundamenta a anulação administrativa dentro de certo prazo: ato
anulável para puder ser destruído só o pode ser dentro de certo prazo, sob pena de se
consolidar na ordem jurídica. Regras gerais em matérias de prazo: a) anulação só pode
ocorrer dentro dos 5 anos subsequentes à prática do ato ilegal; b) se o órgão
competente para anular tinha conhecimento da causa da invalidade só tem 6 meses
para praticar a anulação a contar da data que toma conhecimento; c) situação de erro
do decisor (ato inválido por erro), conta-se os 6 meses do momento em que cessou o
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
erro, ainda que esteja dentro dos 5 anos; d) todos os prazos podem ser encurtados se o
ato inválido foi objeto de impugnação junto de um tribunal, só podendo a anulação
ocorrer até ao momento do encerramento da discussão no tribunal (168º/4): e) a
impugnação judicial do ato, significa que o ato só pode ser anulado oficiosamente. Se o
ato foi constitutivo de direitos o prazo regra não são de 5 anos, é menor. Se a anulação
ocorrer fora de um prazo legal, passa a ser ilegal a anulação, visto que o órgão
competente passou a ser incompetente por ter passado o prazo em que a lei lhe confere
essa faculdade.
Atos constitutivos de direitos têm um regime especial no que toca à anulação
administrativa: só podem ser anulados pela administração dentro do prazo de 1 ano,
em regra, a contar da emissão do ato (168º/2). Contudo, o prazo pode ser encurtado se
o ato foi impugnado judicialmente. Há atos constitutivos de direitos que podem ser
anulados no prazo de 5 anos, quando ocorram os casos do 168º/4. Os atos constitutivos
de direitos podem ainda ser anulados sem prazo, a qualquer momento, se estiver em
causa uma diferente interpretação do direito da união europeia. O PO considera que é
inconstitucional esta disposição por violar a garantia da intangibilidade do caso julgado
(282º/3 CRP), da segurança jurídica e confiança jurídica e a separação de poderes
(habilita órgão administrativo a anular uma decisão objeto de confirmação por um
tribunal). Em atos constitutivos do direito, nos casos em que não há culpa do
beneficiário, se ele auferiu vantagens tem direito a receber indemnização pelos danos
anormais advenientes da anulação (168º/6).
Consolidada a invalidade pelo decurso do tempo, o ato passa a estar sujeito ao regime
de revogação de atos válidos, pois se um ato válido pode ser revogado, um ato inválido
consolidado pode ser também revogado. Caso contrário dava-se maior proteção ao ato
inválido consolidado que ao ato válido. Não é admissível que um ato inválido esteja
imune às normas da revogação.
O regime do código de 2015 suscita sérias dúvidas de constitucionalidade:
o 168º/7
o A segurança jurídica e a tutela da confiança saem lesadas por não existir
nenhuma norma transitória que impeça que este regime menos favorável
quanto a atos constitutivos de direitos (prazos mais amplos para anulação-
possível 5 anos) entre em vigor e se aplique a situações que se constituam antes
deste regime entrar em vigor.
Quantas às formalidades e forma aplicam-se o regime da revogação.
Efeitos Temporais: em regra a anulação tem efeitos retroativos (171º/3), com exceções: a) ato
constitutivo de direitos e envolvia prestações periódicas no âmbito de relações periódicas no
âmbito de uma relação continuada (168º/4 alínea b); b) se por decisão discricionária do autor
do ato, o ato anulado e tenha tornado inimpugnável (171º/3 segunda parte); c) discussão sobre
a aplicação do sentido do 282º/4 ao controlo da legalidade da atividade administrativa, na
medida em que se permite modelar efeitos de atos inconstitucionais e quem pode o mais pode
o menos. Normalmente, a anulação de um ato revogatório envolve a repristinação do ato
revogado (171º/4).
Efeitos Materiais:
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Inês Godinho Turma A 2019/2020
objeto de sanção disciplinar de expulsão não concluindo o 4 ano por não se inscrever
nesse ano. A administração apercebe-se que o ato é inválido, decidindo anular o ato de
expulsão. É concebível que lhe concedam a licenciatura? PO diz que não é possível
reconstruir a situação hipotética, então considera dever haver responsabilidade civil da
administração). Nas situações em que é possível reconstruir a situação atual hipotética,
a Administração deve praticar atos retroativos, salvo se destes resultarem em situações
desfavoráveis para o destinatário (172º/2). Não há prazo para anular, reformar ou
substituir os atos consequentes do ato anulado (172º/2). Sem dependência de prazo a
administração deve alterar as situações de facto que se mostrem incompatíveis com o
ato anulado (172º/2).
• Os destinatários dos atos consequentes do ato anulado, desde que estejam de boa fé,
podem ser investidos de uma especial proteção (172º/3): se forem beneficiários de
vantagens têm de ser indemnizados; se danos forem de difícil ou impossível reparação
e se desproporcionada a anulação a situação jurídica nem sequer pode ser posta em
causa (172º/3); 172º/4.
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177º/2); c) o destinatário tem de ser notificado de que tem de executar, sendo fixado
um prazo para o cumprimento do ato. O particular pode impugnar o ato exequendo e a
decisão de proceder à execução (182º); d) se notificado, o particular não cumprir, a
administração não pode recorrer à forma, devendo ir a tribunal primeiro para adquirir
um título executivo (176º): e) existência de um título executivo judicial, que habilita a
administração a executar o ato, tal como sucede nas relações entre particulares
(Administração paritária). O artigo 8º/2 DL que aprova o novo CPA determina que o
regime do artigo 176º está dependente de uma lei que o legislador deve fazer no prazo
de 60 dias da entrada em vigor do novo CPA. Só que essa lei não surgiu e, portanto, o
regime novo não entrou em vigor, não existindo um regime que mete termo ao princípio
geral da autotutela executiva. O que vigora? Regime transitório no artigo 6 do DL
4/2015, que envolve duas ideias: mantém-se em vigor o artigo 149º/2 CPA de 1991, isto
é, mantém-se em vigor o regime antigo, não se aplicando o 176º do CPA novo; portanto,
o privilégio de execução prévia continua a vigorar. Problema: a solução transitória (6º e
8º/2 DL) não tem cobertura da lei autorização legislativa que autorizada o DL, o que
determina a inconstitucionalidade de manter em vigor o artigo 148º/2 CPA antigo.
Como há um problema de separação de poderes (administração não pode fazer o que é
reservado para o tribunal), a execução coerciva consubstancia usurpação de poderes,
sendo o ato nulo, não existindo o dever de obediência, mas sim o direito de resistência.
O regime transitório é inconstitucional e o regime novo (176º) é inaplicável porque falta
a lei que lhe permite a vigência. Transferir a execução para os tribunais irá bloquear a
atuação dos tribunais, não existindo interesse em que essa lei seja publicada: tribunal
não quer ficar bloqueado e a administração não quer perder a autotutela executiva.
Procedimento Contratual
Situações de vínculo contratual que estão reguladas material e processualmente pelo direito
administrativo. O Código dos Contratos Públicos (CCP) foi objeto de alteração de 2017 e é objeto
de sucessivas derrogações por regimes especiais.
1.1. Princípio da parametrização reguladora multinível: não existem apenas normas que
resultam do CCP, sendo outras fontes de direito chamadas a regular a matéria.
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1.2. Princípio da não plenitude da subordinação dos contratos públicos ao regime do CCP: nem
todos os contratos públicos estão sujeitos ao regime do CCP. São contratos públicos excluídos
os dos artigos 4º a 6º-B e seu regime no 5º-B. Por outro lado, podem ser excluídos os que estão
abrangidos por legislação especial.
a. Os tipos de procedimento
Ajuste direto: permite maior celeridade e eficiência, mas é menos transparente.
112º, nº 2 + 113º a 129º;
Consulta prévia: 112º, nº 1 + 113º a 129º;
Concurso público: permite a maior difusão e transparência na contratação pública.
Funções e sentido 130º a 161º;
Concurso limitado por prévia qualificação: 162º a 192º - 163º;
Procedimento de negociação: 193º a 203º - 194º;
Diálogo concorrencial: 204º a 218º - 205º;
Parceria para a inovação: 218º-A a 218º-D – 218º-A, nº 1
b. Escolha do procedimento
Adequação do procedimento: critério do valor do contrato (17º a 22º); critério
assente nas matérias (23º a 30º-A); critério do tipo de contrato (31º), critério em
função da entidade adjudicante (33º). Estes critérios são vias através dos quais a
administração está vinculada a escolher determinado procedimento para escolher
o cocontratante.
As formas de escolha está sempre ligada a um dilema ligado à boa administração:
entre a celeridade/eficácia- ajuste direto é o melhor; e a
transparência/concorrência- concurso público é o melhor.
Preferência pelo concurso público e flexibilidade procedimental. Mesmo quando
o sistema se considera flexível, o Governo tem sempre a possibilidade de celebrar
o DL que sendo lei especial, possa derrogar a aplicação dos CCP.
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c. Procedimento eletrónico: v.g., 62º-A; 115º, nº 1, g); 128º, nº 1; 133º; 138º; 140º a
145º; 219º-B, nº 4; 241º-C; 465º a 469º; 475º
d. Fases procedimentais
(i) Fase anterior à abertura do procedimento de formação: fase de preparação,
estudo e elaboração (34º a 35º-A);
(ii) Decisão de contratar (36º): contratar e autorização da despesa + escolha do
procedimento (38º) + elaborar as peças do procedimento;
(iii) Anúncio do procedimento: publicação (130º, 131º, 157º, 167º, nºs 1 e 2, 197º,
208º) e envio (113º, nº 1)
(iv) Esclarecimentos, erros, omissões e retificações: 50º
(v) Intervenção dos candidatos e sua qualificação ou exclusão: 164º, nº 1, n); 168º
a 178º; 183º a 188º
(vi) Entrega de propostas: passam a ser concorrentes, tendo de apresentar
propostas – 56º a 66º; 135º a 138º; 158º, 189º a 192
(vii) Análise e avaliação das propostas: a administração tem de ver se cumprem a
legalidade (do CCP e das peças do procedimento) avalia o mérito das propostas
(avalia as propostas, hierarquizando-as/pontuando-as)- 70º a 72º; 139º;
(viii) Relatório preliminar (122º e 146º) + audiência prévia dos concorrentes-
podem valorizar a sua proposta e desvalorizar as restantes- (123º e 147º) =
relatório final (148º): a administração pondera as observações que os
particulares apresentaram e indique as razões pelas quais acolhe (podendo
levar a uma reherquização das propostas) ou rejeita as observações.;
(ix) Idem: adjudicação: consequência do relatório final (73º a 80º e 81º a 93º; 124º,
nº 4; 148º, nº 4);
(x) Celebração do contrato (94º a 106º)
(xi) Eficácia do contrato celebrado: 127º e 287º
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(xii) Idem: a fiscalização prévia pelo Tribunal de Contas – LOPTC, artigos 44º e 45º.
A produção de efeitos normalmente depende da emissão de visto pelo
Tribunal.
2.1. Princípio do cumprimento das vinculações contratuais e legais: o contrato deve ser
cumprido, quer nos termos que o contrato consagra quer nos termos que a lei determina.
a. Formulação do princípio geral da estabilidade (286º): tem uma tripla incidência: regime
+ prestações + partes (288º). Deverá manter-se tanto o regime, objeto (prestação) e
das partes. Assim, a modificação assume um caráter excecional.
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a. Princípio geral: quando os concorrentes apresentam uma proposta, essa tem uma ideia
de equação entre uma prestação a que se propõem obrigar e a previsão de uma certa
contrapartida- 282º. O equilíbrio entre aquilo que estou disposto a dar e o que quero
receber traduz-se no equilíbrio financeiro. O equilíbrio pode ter diversas razões:
modificações objetivas; alteração das circunstâncias ou previsão; modificação
unilateral por parte da Administração.
b. Equilíbrio e modificações objetivas: 313º, nº 1, e), + 314º
c. Idem: equilíbrio e alteração das circunstâncias ou imprevisão;
d. Idem: equilíbrio e modificação unilateral;
e. Limites – 282º, nº 6: (i) proibição do enriquecimento sem causa; (ii) perdas já existentes
do equilíbrio- se já tinha perdas não posso invocar o desequilíbrio contratual; (iii) risco
contratual.
f. Parcerias público-privadas: partilha de benefícios a favor do contraente público – 341º
a. Poderes do contraente público: a entidade pública têm poderes unilaterais que não
cabem, normalmente, às entidades privadas- 302º.
b. Idem: (i) o poder de direção da execução das prestações: pode definir como quer que
as prestações do cocontratante seja realizadas, através de ordens e instruções. Isto já
acontece em alguns contratos de negócios privados, como na empreitada – 303º +
304º;
c. Idem: (ii) o poder de fiscalizar a execução do contrato – 303º º 305º;
d. Idem: (iii) o poder de modificar unilateralmente: pode modificar de forma unilateral a
prestação do contratante – v. supra, nº. 2.2. c)
e. Idem: (iv) o poder sancionatório (329º): pode aplicar sanções aos termos como o
contratante está a executar ou não o contrato: (i) multas (329º): incumprimento
pontual, as multas sancionam e impedem a extensão da mora; (ii) resolução (329º e
333º); (iii) cessão de posição contratual (318º-A);
f. Idem: (v) o poder de resolução unilateral: pode fazer cessar unilateralmente o contrato
(i) sancionatório (333º): o contratante não cumpriu o contrato, de tal forma grave, que
a solução tem de ser a resolução. Não há dever de a administração indemnizar, mas
poderá existir dever de indemnizar por parte do particular; (ii) razões de interesse
público (334º): o particular não tem responsabilidade nenhuma, tendo a administração
o dever de indemnizar o particular, visto que se lesa o direito de conteúdo patrimonial
do privado- lesão análoga à da expropriação (CRP obriga a indemnização);
g. Idem: (vi) o poder de ordenar a cessão da posição contratual: o particular deve
transferir a posição contratual para outro cocontratante.
h. Poder de substituir a execução das prestações omitidas pelo cocontratante em mora:
se o particular não cumpre, outra pessoa pode executar a prestação omitida- 325º, nºs
2 e 3.
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2.5. Princípio da relativização dos poderes de ius imperii do contraente público: não obstante
os poderes exorbitantes, estes são relativizados em certos domínios.
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iii. E, mesmo nesta última hipótese (de ser adequada e suficiente), o efeito
anulatório pode ser afastado, por via de ponderação judicial ou arbitral, nos
termos previstos pelo 283º nº 4, pela ponderação dos danos da anulação.
b. A invalidade de todos os contratos pode ser objeto de redução e conversão: 285º, nº 3
c. Se não for possível a redução ou a conversão, o efeito anulatório pode ser afastado,
por decisão judicial ou arbitral, nos termos do 285º, nº 4.
5.1. Tribunais do Estado e Tribunais Arbitrais: tribunais competentes para conhecer a validade,
interpretação e execução do contrato administrativo- 476º; CPTA, 180º a 185º-B; Lei da
Arbitragem Voluntária (as partes podem determinar que os litígios são resolvidos nos tribunais
arbitrais)
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a) Ausência de autonomia da vontade privada das entidades públicas: o que estas têm é
competência.
b) Vinculações principiológicas mesmo quando utiliza formas de contrato de direito
privado: 1º-A + 5º-B CCP; 2º, nº 3; 202º, nº 2 CPA- “direito privado administrativizado”.
c) Tutela jurisdicional: artigo 4º, nº 1, e) ETAF.
Garantias
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praticados atos administrativos por forma de decretos de lei, estes estão sujeitos ao
controlo dos tribunais administrativos e do Tribunal Constitucional); c) tribunais
arbitrais: são uma forma de exercício privado da função jurisdicional, sendo substituídos
os tribunais do Estado por um tribunal arbitral. Está sujeito ao regime: convenção de
arbitragem/clausula arbitrária; Lei da Arbitragem Voluntária e CPTA; e Regulamentos
aprovados por centros de arbitragem e pelo Tribunal Arbitral. As decisões destes
tribunais podem ser sujeitos a recurso para tribunais do Estado se a lei o determinar ou
se as partes o convencionaram. Mas a regra é não existir recurso para os tribunais do
Estado.
Controlo Político: é a expressão da responsabilidade política da administração. Esta
pode ser concentrada (num único órgão): atuação fiscalizadora da atuação
Governamental- vigilância da juridicidade dos atos do Governo e Administração, através
de recomendações ou juízos, mas não pode substituir-se ao Governo na prática de atos
administrativos; mecanismos de controlo parlamentar, como apreciação do Programa
de Governo e apreciação a Lei OE, perguntas ao Governo, inquéritos, apreciação das
Contas do Estado, moção de censura; responsabilidade parlamentar dos Governos
Regionais perante Assembleias Regionais e responsabilidade da Camara Municipal e
Junta de Freguesia perante Assembleia Municipal ou de Freguesia. Ou pode ser difusa
(diversas entidades): responsabilidade da administração perante a opinião pública,
meios de comunicação social e redes sociais. Garantias políticas dos cidadãos: a) direito
de sufrágio: com as eleições que significam uma aprovação ou rejeição da administração
e com referendos; b) direito de petição: direito de formular pretensões junto de
estruturas da administração (individualmente ou coletivamente), podendo este ter 3
propósitos: pedido de primeira decisão, pedido de anulação ou revogação de anterior
decisão ou omissão, ou apresentação de uma queixa por atuação ou omissão (ex. queixa
aso Provedor de Justiça); c) direito de resistência: é o que resta a cada um de nós quando
não existem outros meios para responder a atuações ilegais da administração. O direito
de resistência é o direito que temos para de forma pacifica não acatar/opor-se a uma
atuação que é violadora de direitos fundamentais. É uma forma de travar a autotutela
executiva.
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