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Esposa Contratada para O Natal - Catiele Oliveira
Esposa Contratada para O Natal - Catiele Oliveira
O Natal
CATIELE OLIVEIRA
Copyright © 2021
Copyright © 2021 por Catiele Oliveira.
Título original: Esposa Contratada Para O Natal
Primeira Edição 2021
Rio de Janeiro, Brasil
Catiele Oliveira
Sinopse
Quando Octor recebeu o convite de casamento de sua ex-namorada,
ficou tentado em aceitar, mas como comparecer ao evento na noite de Natal
para presenciar o casamento da única mulher que pensou ter amado,
justamente com àquele que devia ser seu melhor amigo?
Sofia estava desesperadamente precisando de dinheiro quando seu
chefe fez uma proposta irrecusável: um milhão de dólares em troca de ser sua
esposa por duas semanas.
O que eles não contavam, no entanto, era com a magia que o Natal
tinha. O acordo era benéfico para ambos e se apaixonar não estava incluído,
mas como Sofia e Octor lidariam com a crescente atração entre eles?!
Capítulo 1
Octor
Passando a mão pelo cabelo de modo impaciente, me perguntei se
esse dia horrível não teria fim. Quando me levantei nessa manhã, a última
coisa que veio em minha cabeça foi que uma notícia pudesse foder o bom
desempenho de uma semana inteira.
Filha da puta, rosno para mim mesmo.
O pensamento que ela fez de propósito não passa despercebido.
Encaro o envelope elegante na minha mesa, com a caligrafia lustrosa
que eu conhecia bem. Meu nome estava escrito em letras douradas,
caprichosas e o ‘R’ no final foi alongado, do jeito que ela sempre escrevia,
mas antes emendava um coração na borda da letra e agora há apenas um
ponto final, como se debochadamente ela murmurasse: você me perdeu.
Uma batida na porta afasta minha mente do fato horrível, liberei a
entrada e minha secretária eficiente anunciou a chegada de Dominic. Como
se ele precisasse ser apresentado como se fosse membro da realeza.
O desgraçado paquerador sorriu galante para a garota que corou,
saindo quase correndo e fechando a porta com ela.
— Gostei dessa, ela parece crua.
Levei o comentário a sério por alguns segundos, fazendo uma rápida
análise sobre Sofia durante esses três meses que estamos trabalhando juntos.
Ela é ágil, inteligente, quieta e faz seu trabalho com perfeição. O que mais me
atrai nela é forma que consegue escapar das piores situações com uma
resiliência invejável, afinal, ela sobrevive a mim diariamente. Apesar de já tê-
la visto chorar quietinha duas vezes porque fui estúpido e gritei com ela.
Nesses momentos sentia falta de Audrey quase imediatamente, mas minha
assistente principal estava cumprindo sua licença maternidade e Sofia foi a
escolhida para ocupar seu lugar durante o período.
— Foda-se, tire o olho da minha assistente — ignoro os últimos
pensamentos e encaro Dominic[i]. O homem que parece viver eternamente
nos seus vinte e poucos anos age de forma sorrateira, enchendo um copo com
uísque e se sentando na cadeira livre em frente à minha mesa. — O que veio
fazer aqui?
— Passar o tempo, bater papo, reclamar da vida...
— Está parecendo minha ex.
Só a menção o faz sorrir e então percebo o motivo dele ter vindo.
Inclino meu rosto em direção ao convite ainda lacrado sob minha
mesa, rio de lado amargamente e os olhos do meu amigo seguem o
movimento da minha cabeça. A feição dele é quase de desdém ao fitar o
envelope cor de creme, cruzando às pernas em seguida e bebendo seu uísque.
Talvez eu precisasse de uma dose ou duas, também.
— Recebi o meu há duas horas atrás. Ela vai casar mesmo.
— É o que parece — bufo.
A única mulher que possivelmente já amei nessa vida está de
casamento marcado.
Deixo uma risada sarcástica soar, porque isso é muito fodido. Estico a
mão para pegar o envelope, abro e leio os dizeres do convite.
Minha risada se torna mais longa, quase prazerosa.
— Puta merda, inacreditável.
— Não é? — Dominic questiona no mesmo tom. — Eles vão se casar
no Natal. Tem como ser mais romântico que isso?
Rio tão amargo, tendo a certeza agora que ela gostaria de me punir.
Esses não eram os nossos planos de adolescência?
Incrível como esse passado parece ter séculos quando, na verdade, faz
pouco mais de três anos. Incrível como fazemos planos em um dia e no outro
a pessoa com quem você jura passar o resto da vida diz que não te ama mais.
— Parece que não tem. — Dividido entre rasgar o convite ou
queimar, deixo jogado na mesa e inspiro com força, me sentindo sufocado
pra cacete.
Essa não é a primeira vez que ela arruma um jeito de esfregar sua
felicidade em mim, como se estivesse me punindo.
Deus, quando essa sensação de fracasso vai passar?
— Você irá? — Dominic está tentando fingir que isso não é nada
demais e fico grato.
De jeito nenhum irei, não quero olhar na cara de todos que
conviveram conosco e sabiam de cada detalhe dos planos ambiciosos que
minha ex tinha sobre nos casarmos, e então, pensarem que estou lá
esperançoso para que ela o deixe e se lembre das promessas que um dia fez a
mim.
Cidade pequena era uma merda, mas a cidade que eu nasci e cresci
conseguia superar qualquer porcaria clichê de filme. Eles eram mais que
fofoqueiros, eram invasivos, apareciam sem chamar e entravam como se
fossem de casa. Não havia um maldito morador daquela cidade que não
soubesse detalhes da vida do outro.
E é lá que ela quer se casar, penso.
A ironia desse fato é que ela sempre odiou a vida simples de cidade
pequena. Foi ela quem disse pela primeira vez que precisávamos fazer
dinheiro e partir daquele lugar. Talvez devesse agradecê-la, afinal, graças a
minha determinação em lhe dar o mundo, consegui conquistar o inalcançável.
— Você irá? — Inverto a pergunta, esperando sua resposta.
— Só se você for.
— Sabe que pode ir, não ficarei ofendido por isso. Você também é
amigo dele.
— Não o vejo há mais de um ano, isso não é amizade.
Não rebato, aqui está um amigo leal. Dominic é displicente com a
maioria das pessoas que conhece, até com seus familiares, mas há algo sobre
lealdade cega em Dominic Connigham com àqueles a quem ele se afeiçoa.
Nós nos conhecemos há tantos anos que às vezes esqueço que não nos
gostávamos, até que um salvou a vida do outro tantas vezes, que começamos
a nos chamar de irmãos.
Somos irmãos, determino. Principalmente quando àqueles que têm o
nosso sangue são os mais traidores.
— Ainda assim, sabe que se não for será pior. Vão comentar sobre
isso. Já comentam sobre isso e você detesta.
A dor de cabeça que comecei a sentir no momento que recebi o
convite aumenta gradativamente.
Eles vão comentar de qualquer forma, mas se eu não for... Os
comentários serão piores. Serei aquele que foi derrotado pelo irmão mais
novo, tão humilhante que me faz querer desaparecer até a virada do ano.
Como Nicole foi capaz de fazer algo assim comigo?
Eu pensava nela como alguém que nunca seria capaz de me
machucar, mas descobrir que a mulher que eu amava e meu irmão mais novo
estavam namorando apenas dois meses depois que ela me deixou causou um
monte de dúvidas que me corroem numa desconfiança terrível.
Eles eram amigos, se nomeavam melhores amigos... Como isso
aconteceu?
— Se eu for, não posso ir sozinho e você sabe que não tenho nenhuma
companhia decente para levar. Vai beirar a desespero.
— Não fale assim, qual era o nome daquela bonita que você estava
namorando? — Dominic provoca.
Reviro meus olhos porque ele sabe que não estava namorando
ninguém, assim como todos que já foram traídos, criei um muro enorme em
distanciamento social. Vivo a minha vida semelhante à dele: companhias
pagas para noites únicas. Nenhuma das mulheres com quem saio teria a
leveza em interpretar uma paixão tórrida por mim, elas sequer sentem algo
além de tesão pelo meu dinheiro.
— Foda-se, não enche.
— Tenho telefone de uma agência que pode conseguir a garota que
você quiser. Alguma gostosa, com corpo de modelo, bonita o suficiente para
deixar sua ex com ciúmes bem no dia do casamento dela. Deus sabe como
àquela mulher odeia ser ofuscada.
Soltei a primeira risada do dia, concordando com ele. Nicole
provavelmente morreria se um dos convidados usasse branco, se a
maquiagem ou penteado de alguém estivesse mais perfeito que o seu.
Ainda assim, não a afetaria se a mulher estivesse comigo. Ela
provavelmente riria sabendo que àquela companhia foi paga.
— Não pode ser alguém mais bonita que ela, Nicole não é burra.
Saberia na hora que estaria tentando provocá-la. Para atingi-la deve ser o
oposto. Bonita, mas simples. Alguém que não se importe de ficar sem
maquiagem, que não passe horas arrumando o cabelo, que coma pizza com a
mão e não se importe excessivamente com a aparência.
A risada do meu amigo se torna leve, por alguns segundos vejo que
seu pensamento passeia distante, então pigarreio e Dominic volta seus olhos
para mim, mudando a postura na cadeira.
— Conhece essa pessoa? — Questiono.
— Poderia conhecer, mas nunca a apresentaria para você. — Seu
sorriso idiota me diz que ele conhece. — Precisa encontrar sua própria
Sienna, parceiro.
— Sienna?
Ele não responde porque Sofia está batendo na porta de novo. Grito
para que entre e percebo o momento que o rosto fica vermelha quando o
idiota a encara fixamente. Quando os olhos de ônix tornam para mim, sei
exatamente o que ele está pensando.
Nem fodendo.
Não ouço o que Sofia diz, porque Dominic está assentindo
efusivamente. Concordo com ela, mesmo sem entender uma palavra e Sofia
pede licença e sai.
— Nem fodendo — repito dessa vez em voz alta — você é um
pervertido. Ela ainda é uma criança.
— Criança? Sério? Porra, ela tem quantos anos?
— Sei lá, vinte? Vinte um? Não sei, nunca perguntei porque nunca
olhei para ela desse modo. Pelo amor de Deus, você mesmo disse que a
garota é crua.
— Exatamente. Perfeita, do jeito que acabou de descrever. Nem a
conheço e sei que vive em um apartamento mediano, deve dividi-lo com uma
amiga. Com certeza se pendura em corda bamba para pagar às contas e os
empréstimos estudantis. Deve ter um currículo exemplar, certinha, nada
divertida. Quando sai daqui, fica louca para se livrar dos saltos e deve jantar
fast food porque está cansada demais para cozinhar.
— Para o caralho, você criou um conceito inteiro só de olhá-la?
— Sim, porque ela é comum. Ninguém que seja ético quer foder com
a secretária, e você, meu amigo, é ético pra caralho. Mas essa garota aí fora
deve estar louca por uma grana extra para desafundar no poço sem fundo de
dividas. Vai por mim.
Só pode ser louco.
— Esqueça, não vou levar minha assistente para casa, no casamento
da minha ex com meu irmão. Além do mais, vai ser Natal porra. Ela deve ter
uma família esperando por ela.
— Me escute, tenho um pressentimento sobre isso. E sabe de uma
coisa? Ainda faltam dois meses para o casamento, tempo suficiente para
planejar. Tempo até de se casar.
Rindo, Dominic se inclinou em minha direção como se tivesse
borbulhando de ideias. Me sentindo esquisito para caralho, apenas me
afundei e fiquei quieto, ouvindo às dezenas de baboseiras que ele falava.
Porra, de onde havíamos ido para chegar na hipótese de casamento
por contrato com a minha assistente somente para não parecer tão fracassado
no casamento da minha ex?
Capítulo 2
Sofia
Meus pés estavam me matando, passei o dia inteiro louca para chegar
em casa, esticar meus dedinhos esmagados pelo scarpin e poder andar
descalça. Amava andar descalça, sentir o chão gelado sob meus pés ou o
conforto do tapete felpudo da sala da Esther. Era uma sensação gostosa e
libertadora.
Apreciei o silêncio no apartamento minúsculo, sentindo falta do meu
papagaio humano. Ultimamente chegava e ela já estava apagada, quase
sempre desmaiada pelo cansaço. Esther dizia que ela brincava até seus
neurônios explodirem.
Andei com calma até o quartinho pequeno que dividíamos e abri a
porta com delicadeza, mirando o corpo miúdo na cama, aberto como uma
estrela do mar. O sorriso foi involuntário, a imagem da menininha
pequenininha e indefesa aqueceu meu coração.
Seria capaz de qualquer coisa por ela, toda vez que a via tão
vulnerável o medo de perdê-la crescia tão depressa que enchia meus olhos
com lágrimas. Ela era minha filha, mesmo que não tivesse nascido de mim.
— Oi, você chegou — a voz de Esther me acordou. Sorri, lhe
encarando e fechei a porta, com medo de acordar a Emma. Ela ficava irritada
e não dormiria nem tão cedo se fosse acordada, o tanto que queria abraçá-la
teria que ficar para amanhã. Estava exausta e precisava descansar um pouco.
Caminhei com minha amiga para a cozinha e aceitei o chá que ela me
ofereceu.
Era tão grata por Esther nos deixar ficar em seu apartamento, mas
sabia que estava abusando, principalmente quando Tyson surgiu na cozinha e
soltou seu tradicional bufo de incômodo. Toda vez que ele me via, fazia
questão de deixar bem claro como ele estava de saco cheio de me ter aqui.
Esther encolheu os ombros, ficando quieta e me senti duas vezes pior.
Não queria que ela entrasse em outra briga com seu namorado, afinal, ele
estava certo. A casa também era dele, ele pagava a metade das contas e eu
apenas dividia a comida com eles. Toda vez que eu tentava juntar dinheiro,
um imprevisto acontecia e o último foi a geladeira de Esther que queimou.
Tente sustentar uma criança de dois anos que gasta rios de dinheiro
em fraldas, lenços e uma fórmula especial. Além disso, some rios de dívidas
deixados por sua mãe antes que ela fugisse com todas às suas economias
deixando-a com sua irmãzinha de poucos meses de idade.
Engoli a vergonha e quando Tyson saiu da cozinha, Esther meneou a
cabeça numa negativa e me estendeu a xicara com o chá pronto.
— Maracujá, o seu preferido.
— Obrigada, estava precisando. — Suspirei, bebericando. Estava
quente, mas não me importei de queimar a língua. — Como foi seu dia?
— Foi ótimo, nós brincamos no parquinho e foi muito divertido.
Minha amiga fazia parecer que era incrível ser babá, eu a pagava por
isso, é claro. Podia trabalhar tranquila e voltar para casa, esperançosa que
meu emprego novo pudesse nos dar mais conforto. A cada dia que passava
parecia ser apenas uma ilusão, principalmente quando o banco me cobrava os
empréstimos que minha mãe fez no meu nome antes de fugir.
— Sinto muito por estar atrapalhando vocês, Esther. Juro que vai ser
só mais um mês. Acho que dá pra pagar o calção e um mês de aluguel com o
próximo salário.
— Então... — Aquele tom, não gostava dele.
Encolhi meus ombros, sentindo meus olhos esquentarem quando
Esther suspirou, parecendo mais envergonhada que antes.
— Liguei para meu pai e perguntei a ele sobre a possibilidade de te
alugar um quarto e... — Ela sequer foi capaz de continuar.
Talvez meu olhar estivesse muito chocado.
Seu pai? Aquele que ela não falava há meses e acusava de ser um
escroto que abusava das inquilinas?
Porra, Esther.
Meus ombros tremem e me sinto tão cansada. Como poderia ir para
um lugar perigoso com Emma?
— Acho que podemos segurar mais um mês. — Ela muda de ideia,
me encarando.
Suspiro em desespero e às lágrimas caem sem que eu possa controlar.
— Estarei fora no final do mês, fique tranquila. — Não sei se o
dinheiro que eu tenho é suficiente, mas prometo que sairei.
Minha amiga não me encara, mira a própria xicara e eu deixo o chá de
lado. Cansada demais e pensando em tomar um banho e apagar, desejo boa
noite e caminho rápido para longe.
Às lágrimas descem rápido uma atrás da outra e me sinto um fracasso.
Quando entro no quarto, tranco a porta atrás de mim e encaro minha criança
dormindo na mesma posição.
Será que sou uma pessoa horrível? É por isso que minha vida sempre
foi uma merda? É por isso que minha mãe sempre me tratou como se fosse
um fardo? É por isso que ela nos deixou para trás e fugiu, fodendo com meu
psicológico?
Desisto de tomar banho com medo de encontrar Tyson no caminho do
banheiro ou Esther mudar de ideia e dizer que preciso sair agora.
Octor
Um mês depois
Novembro...
Octor
Ela estava linda, fiquei me perguntando se não percebi quão bonita
ela era só porque estava na função de minha funcionária ou se era como ela
se vestia. Me senti péssimo por isso, porque agora consigo visualizá-la até em
sacos de esterco tendo a certeza que ficará bonita.
Dirigindo com calma pelo caminho que pensei que nunca mais faria,
fiquei quieto acompanhando sua pequena interação na videochamada. A
garotinha do outro lado da tela soltava gritinhos animados toda vez toda vez
que Sofia fazia uma careta que estava matando-a de tanto rir. Me permiti rir
também, o cenário familiar era tão estranho que me deixava desconfortável,
meu envolvimento com crianças era um desastre. Isso me deixava com um
ponto de interrogação imenso na testa, porque Emma parecia ser
genuinamente feliz.
Não queria corromper a felicidade das duas.
— Estamos chegando... — Sussurrei, vendo a postura relaxada de
Sofia tencionar.
A garotinha não entendeu muito bem quando Sofia disse que
precisava desligar e acenou, ouvi a vozinha embolada tentar dizer “tchau” e ri
mais um pouquinho. Não entendia nada de bebês, mas sabia que eles eram
fofos.
— Ela tem sorte de ter você, não era seu dever cuidar dela e ainda
assim o fez. Você... É uma excelente mãe, Sofia. Tenho certeza.
— Eu... Obrigada, Octor. Estou me sentindo culpada por ficar longe
dela.
E eu me sentia mais culpado ainda... Em breve seria Natal e ela não
estaria com sua garotinha.
Não consegui dizer nada, meus motivos egoístas me mandaram calar
a boca. Estacionei em frente à casa dos meus pais me sentindo meio sufocado
com a avalanche de lembranças que vieram a seguir.
— Vamos falar da Emma com minha mãe. Não acho que seja o
melhor caminho esconder, provavelmente perguntará porque não a
trouxemos, então...
— Lua de mel — Sofia pontuou — não tivemos uma, então
decidimos que era o momento de termos um tempo a sós. Mas, tem certeza
que quer trazer Emma para a história? Isso quer dizer que você esteve comigo
desde que ela era um bebezinho...
Isso me torna um pai? Me perguntei, mas o rosto de Sofia virou para o
lado oposto.
Soltei a respiração pesada, por enquanto era isso.
Abri a porta para minha esposa, suas mãos trêmulas agarraram às
minhas com afinco. Cruzei nossos dedos, trocamos um olhar nada confiante.
— Estamos sendo observados — sussurrei, com a mão livre coloquei
uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Sob os ombros de Sofia conseguia
ver minha mãe nos observar da janela. — Não surte, mas não quero que a
primeira vez seja na frente de todo mundo.
Confusa, vi minha esposa piscar para mim quando segurei sua nuca
com delicadeza e trouxe seus lábios em minha direção. Não estava preparado
para esse momento, não havia sido planejado beijá-la tão cedo ou tão fundo,
mas ao sentir a maciez dos lábios de Sofia e o gosto doce da sua língua na
minha, me vi pedindo passagem e aprofundando nosso contato.
Porra.
Era uma surpresa para nós dois, meu corpo se arrepiou quando o
toque deixou de ser arredio e Sofia se entregou a mim. Suas mãos prenderam
em meu pescoço, puxando um maço de cabelos e minha esposa ficou na
ponta dos pés, afundando sua língua tentadora em minha boca, puxando meus
lábios entre seus dentes. Em segundos estava afundando em uma teia
eloquente, num beijo que me deixou fora de órbita com rapidez.
Ninguém me disse que seria uma porra insana beijá-la assim, em
plena luz do dia, em frente à casa dos meus pais. Isso não tinha a ver com o
teatro mais, eu quis beijá-la. prová-la e gostar do seu gosto me deixou
surpreso para caralho.
Quando nos separamos, respirações ofegantes preencheram o ar.
Nossas testas permaneceram unidas, com medo, não abri os olhos.
Preocupado com o que viria na íris de Sofia, puxei sua cintura contra mim e a
pressionei contra a lataria do carro.
Sofia soltou um gemido baixo e sua mão prendeu na minha que estava
agarrada em sua cintura, só assim percebi que a apertava com força. Me
afastando, finalmente encarei o rosto vermelho e o colo corado. Um sorriso
tímido brincava em sua face, enquanto ela arrumava sua roupa de volta no
lugar.
Voltando a encarar a casa, minha mãe não estava mais na janela.
— Desculpa se a machuquei... — Envergonhado pra cacete,
murmurei.
— Tudo bem, não machucou. Vamos entrar? — Essa foi a primeira
mentira que Sofia me contou.
Seus olhos faiscavam algo que sabia que imitavam os meus.
Cruzei nossos dedos, com a palma das nossas mãos queimando.
Atordoado com o que aconteceu, segui para dentro, já esquecido do
que queria lhe dizer antes de descermos do carro.
Empurrei a porta, já aberta, como sempre. Gritei pela minha mãe no
hall de entrada e ajudei Sofia com seu casaco. Deixei pendurado próximo ao
meu, sem desviar meus olhos do dela.
— Achei que não entrariam e voltariam para casa. Adorei o beijo,
mas os vizinhos podem comentar que meu filho estava transando com sua
esposa dentro do carro.
— Mamãe! — Um sorriso brincalhou estampou sua face — essa é a
Sofia, minha esposa.
— Eu sou a Amber. É um prazer finalmente conhecê-la! Imagine
minha surpresa quando meu filho disse que casou e sequer me convidou!
Ainda estou chateada porque só recebi uma foto!
Sofia revezou um olhar ao meu, sorri incentivando-a começar o
teatro. Ela trocou um abraço com minha mãe, suavizando o rosto e deixando-
se ser puxada para dentro.
— Você sabe como seu filho é, uma vez que me disse que não queria
esperar, eu sabia que não poderia dizer não. Nunca diria não a ele.
— Não o mime demais, ele já está acostumado a ter tudo quer. Não
deixe tão fácil para ele.
— Ah, ela não deixa. Então não alimente mais a determinação dessa
mulher, mãe.
As duas riram, suavizando o clima.
Alguns passos e estávamos na sala de estar, o clima ficou pesado
novamente. Queria gritar com minha mãe, porque com certeza aquele não foi
o combinado entre nós.
Sentada despretensiosamente no sofá da sala, com às pernas cruzadas
e fingindo assistir televisão, estava ela: Nicole. Foi inútil me preparar
psicologicamente para revê-la no momento que eu achasse adequado, quando
minha mãe fez seus próprios jogos.
Nicole estava exatamente como me lembrava. Os cabelos loiros como
sempre, o sorriso perfeito congelado em sua face e a altivez em seu espirito.
Sob saltos altos se colocou de pé, sem disfarçar que avaliava minuciosamente
Sofia da cabeça aos pés. Diferente da minha esposa, minha ex estava em um
vestido que provavelmente era de grife e nada usual para uma tarde de sábado
no fim do mundo.
— Sofia, essa é a Nicole, noiva de Liam, o irmão do seu marido. —
Sei que minha mãe fez aquilo de propósito e quase pude perdoá-la, porque a
feição de surpresa da minha ex me provou que ela não sabia que estava
casado.
Por alguns segundos a altivez da mulher se desfez, seus olhos
procuraram os meus e pude jurar que vi algo como indignação transpassar
deles. Sofia, que parecia tão tranquila, estendeu sua mão em direção a uma
Nicole aturdida.
— Ouvi falar de você, Nicole — ouvi seu tom quase aborrecido,
então depois Sofia soltou uma risada cordial e fingida.
Parcialmente recuperada, minha ex retribuiu o cumprimento.
— Já eu nunca ouvi de você. Quando se casaram?
Esse era o momento, nossa prova de fogo. Se Sofia não soubesse
interpretar bem, Nicole descobriria tudo. Seu olhar de cão farejador indicava
que ela não desistiria.
Depois de puxar a mão do aperto, Sofia deixou um sorriso quase
inocente brincar em seu rosto e estendi a mão para que ela voltasse a mim.
Escorada em meu peito, brinquei com minhas mãos no centro de suas costas,
acariciando de leve. Controlando as batidas aceleradas do meu coração,
tomado por tantos sentimentos que me sufocavam.
— Outubro! Acreditem quando eu digo que todos teriam sido
convidados, nosso plano era fazer uma festa em janeiro..., mas agora, nada
disso importa. — O tom era tão casual, de quem contava uma história
corriqueira. Sofia sorriu olhando para mim e inspirou, como se estivesse
realmente apaixonada. — Só nós dois importamos. E Deus sabe que nós
somos avessos a atenção.
— Ainda vou puxar muito sua orelha por não a ter visto em um
vestido de noiva, tenho certeza que ficaria linda. — Minha mãe sorriu
docemente para Sofia.
Por alguns segundos, segurando-a como meu escudo, tirei meus olhos
de Nicole e deixei que minha mente viajasse para uma Sofia vestida de noiva.
Se isso fosse real, não haveria nenhuma forma de não a querer vestida em
um.
— Acho que por Liam já teríamos nos casado também. Mas não abro
mão de usar um vestido, dizer sim diante de Deus, caso contrário sentiria que
ele quer me esconder.
Sofia tencionou com a provocação, mas forçou outro sorriso no rosto.
— Nesse caso, seria eu a escondê-lo! Afinal, optei por não ter um
grande casamento desde o início. Estava ansiosa pela vida, certos momentos
parecem obrigação e não quero nunca ser uma obrigação para Octor. Me
basta ser o amor de sua vida.
Podia jurar que Nicole enrubesceu, mesmo sob a maquiagem
excessiva que ela usava…
Felizmente, não ouvi sua réplica. O clima já pesado na sala
permaneceu péssimo quando Liam apareceu ao lado do meu pai. Ao menos,
ele era o único que parecia desconfortável com isso. Com as mãos no bolso
da calça, permaneceu a uma distância segura. Sequer parou ao lado de sua
noiva, que meio sem jeito pela clara objeção do noivo em se manter longe,
sustentou sua postura e caminhou para ele.
— Pai, essa é a Sofia. Minha esposa.
— Minha querida, seja bem-vinda a nossa casa! — Meu pai deu um
de seus abraços acolhedores — onde estão seus modos, mulher? Venha,
Sofia, vamos tomar algo quente antes que o almoço seja servido.
Aquele que sempre sabe o que fazer, papai a levou para longe de
mim. Sofia foi de boa vontade, respondendo suas perguntas de forma gentil.
Agradecendo o convite para o almoço, mamãe logo os seguiu, como se
fizesse de propósito.
Sem meu escudo, me vi a sós com meu irmão e a mulher em nosso
caminho.
Como chegamos a esse ponto? Liam costumava ser meu melhor
amigo. Temos apenas dois anos de diferença e fazíamos tudo juntos quando
criança, deveria imaginar que houvesse algo entre os dois, Liam estava
sempre conosco.
Meu irmão não sustentou o olhar em minha direção nem por um
segundo, nem mesmo quando limpou a garganta e perguntou como eu estava.
— Estou bem.
— Obrigada por ter vindo, é importante para nós tê-lo aqui para nosso
dia especial.
Como ela ousava?
Liam a olhou tão surpreso quanto eu. Nicole tinha aquele sorriso
cínico no rosto, então eu soube: ela acreditou...
Me permiti rir porque ela se julgava esperta suficiente, então
acreditou no que seus olhos viram, e estava furiosa porque eu vim
acompanhado de alguém. Como nunca percebi que ela gostava de me ver na
merda?
— Octor, eu...
— Felicidades para vocês. — Cortando Liam, direcionei um último
olhar a eles antes de caminhar em direção a minha esposa. Mesmo que fosse
falsa, sabia que estar ao lado de Sofia faria o martírio ser menos doloroso.
Não fiquei surpreso quando entrei na cozinha e vi Sofia com seus
cabelos presos em um coque alto, com as mangas da camisa elegante que
usava dobrada acima dos cotovelos, lavando um maço de folhas verdes e
sorrindo em uma conversa que parecia animada com meus pais.
Céus...
Como ela conseguia tornar tudo tão simples assim? Acho que nunca
vi Nicole em um cenário tão doméstico, quando o fazia era porque eu lhe
implorava que ajudasse com algo. Mamãe nunca pediu sua ajuda para nada
porque estava claro que minha ex não gostava de serviço doméstico,
provavelmente com Liam nada mudou.
Olhando para trás, fiquei esperando o momento que eles apareceriam,
mas não vieram.
— Octor, me ajude com a lenha! Pelo visto Liam não volta mais.
— Por quê? — Perguntei, após trocar um olhar com Sofia e seguir
meu pai para o quintal.
A casa estava ótima, meu pai fazia um excelente trabalho na
manutenção externa. Ele gostava de cuidar de tudo, havia trabalhado muitos
anos na área de construção civil e mesmo após sua aposentadoria, ainda
prestava alguns serviços pela vizinhança. Mesmo que não precisasse, já que
seu filho era rico suficiente e nada faltava a eles.
Meus pais não queriam sair de South Later, então comprei para eles a
propriedade vizinha e papai construiu uma casa anexa, dando a desculpa que
seria para quando viéssemos visita-lo, mesmo sabendo que tínhamos nossa
própria casa na cidade. Tanto eu, quanto Liam, vivíamos em Seattle há anos.
— Eles não estão muito bem, ele e Nicole — meu pai esclareceu,
entregando um machado na minha direção.
— Mas estão bem o suficiente para casar.
— As aparências sempre enganam, filho — sabia que ele não deixaria
nada esclarecido. Meu pai não era do tipo que falava da vida alheia, se
desabafou sobre algo, era porque estava preocupado.
— Liam é adulto, pai. Se algo estiver errado, deixe que ele mesmo
resolva.
— Nicole é difícil.
Ri com a frase. Se alguém sabia o quanto aquela mulher era difícil,
esse alguém era eu. Vivi treze anos da minha vida com ela, talvez o que
houvesse entre nós dois no final era hábito e costume.
— Tarde demais para descobrir isso, não acha?! — Direcionei o
machado na direção do tronco e cortei, juntando a lenha no carrinho de mão
meu lado. — Não se preocupe, no final, eles ficarão bem. Sempre ficam.
— Você parece bem com isso. Achei que nunca poderíamos
conversar sobre esse assunto novamente. Isso foi o casamento? Ela parece ser
uma mulher adequada, filho.
— Adequada? — Ri, me perguntando se essa insinuação era sobre
minha ex — Ela é mais que isso. Mais do que qualquer outra foi.
Parte disso não era mentira, com Sofia havia uma relação paga –
reciproca no mesmo ponto. Ela não precisava mentir para mim, pois não
tínhamos nada. Ainda assim, acreditava que conhecia mais dela do que
jamais conheci de Nicole. Ao menos, Sofia parecia transparente suficiente
para me deixar perguntar qualquer coisa.
— Isso significa que há uma chance de você e seu irmão voltarem a
serem irmãos?
— Este navio já zarpou, pai. Não posso perdoar Liam, apesar de hoje
ter sentido um pouco de pena dele.
— Nem se a Sofia pedisse? — Ele prendeu a risada, me provocando.
Joguei uma lasca de madeira nele, fazendo-o rir ainda mais.
— Não use minha esposa contra mim.
— Estou feliz que você veio, filho. Faz tempo que não passamos o
Natal juntos, estou ainda mais feliz que tenha superado essa história maldita.
Sei que um dia você e seu irmão voltarão ao que eram ou ao menos se falarão
sem tanta raiva envolvida nas palavras. Acho que parte disso devo agradecer
a minha nova nora. Já gostei muito dela.
Capítulo 10
Sofia
— Octor disse que você tem uma irmãzinha que você cuida desde que
sua mãe se foi — engoli a saliva, me perguntando se ela havia levado o “se
foi” de Octor bem ao pé da letra.
Meu marido de mentirinha havia me deixado na casa dos seus pais há
quase uma hora, meu sogro nos trouxe para a prova do vestido e infelizmente
Nicole também estava provando. Apesar de seu vestido ser de uma estilista
famosa, às últimas provas e reparos estavam sendo feitos no único ateliê da
cidade.
Tirei meu celular da bolsa, demorando em desbloquear para que a
mãe de Octor visse nossa foto na tela de bloqueio. Sei que a cobra também
estava de olho, porque ficou em silêncio quando ouviu a menção de Emma.
Desbloqueei, mostrando uma foto da minha menina.
— Ela é tão linda, Sofia! Por que não a trouxeram? Adoraria conhecê-
la, sou louca por netos, mas nenhum dos meus filhos quiseram me dar um até
agora. Fico feliz por ter ganhado Emma, você não se importará se ela me
chamar de vovó, não é?
Tenho certeza que corei, porque quando assenti recebi um sorriso
caloroso de Amber. Mostrei alguns vídeos que Carina estava enviando da
minha menina fazendo gracinha.
— É uma viagem muito longa e com uma criança pequena não
tivemos tempo de uma lua de mel decente. Octor e eu concordamos que
teríamos essas duas semanas para curtimos, prometo trazê-la na próxima e
você pode ir nos visitar em Seattle. Vamos adorar recebê-la em nossa casa.
Como podia mentir tão descaradamente?
Amber ficou exultante com o convite, porque concordou na mesma
hora.
— Nunca pensei que Octor quisesse ter filhos. — Então Nicole surgiu
na conversa.
Bloqueei o celular para que não visse Emma, não queria os olhos
invejosos ao alcance da minha bebê.
— Mas ele quer, é ótimo com Emma. — Minha voz saiu como uma
faca afiada. Me voltei para Amber em seguida. — Nós colocamos a meia de
Emma na lareira e Octor, tão doce como ele é, comprou um presente para ela
hoje de manhã. Uma boneca de pano linda.
— Da loja de brinquedos do Joe? As bonecas são tão lindas! Quando
acabarmos aqui, vamos passar lá antes do Fred vir nos buscar. Quero comprar
um presente para Emma também, diga que foi a vovó quem deu.
Nicole não teve coragem de dizer mais nada, ficou distante com suas
amigas e sua mãe.
Elogiei o vestido da minha sogra, dando alguns palpites sobre o ajuste
e ela adorou.
Antes que Nicole encerrasse sua prova, Amber avisou que estava de
saída. Confesso que não olhei muito seu vestido, mas o pouco que vi era
bonito, como uma princesa. Pena que o vestido não combinasse com a
amargura da alma dela.
Passamos na loja de brinquedos, escolhi mais uma boneca de pano
para Emma e Amber comprou um jogo infantil indicado para a idade da
minha garotinha. Quando saímos, para nossa surpresa, quem estava a nossa
espera era Octor.
Charmoso, lindo em sua calça de alfaiataria, mocassins, uma camisa
social colada em seu corpo musculoso e óculos escuros que o deixava ainda
mais bonito.
— Já veio atrás dela? — Amber fingiu brigar, arrancando uma risada
do seu filho. O vi andar em minha direção, estendendo um braço para me
alcançar.
— Senti saudade da minha esposa bonita. — O flerte descarado
esfriou meu estômago, como se dezenas de borboletas voassem dentro.
Octor não só flertou, como inclinou sua cabeça e me roubou um beijo
breve, mas que me causou ondas de choque pelo corpo. Derretida em seus
braços, hiperventilei. A forma como ele sorriu malicioso demonstrou que
sabia como me afetava.
— Sendo assim, vamos tomar um café. — Sua mãe interrompeu nossa
bolha — Sofia me mostrou fotos e vídeos de Emma e agora estou ansiosa
para conhecê-la. Adoro a esposa do meu filho que me convida para sua casa,
algumas excluem a sogra de forma permanente.
Algo me dizia que ela falava de Nicole.
Octor me olhou, surpreso pelo o que sua mãe disse e encolhi o ombro.
Amber continuou tagarelando como estava feliz por ter uma neta e soltou
uma pergunta que fez seu filho ficar pálido: quando vocês terão outro bebê?
— Emma ainda é muito pequena, mãe.
— Eu sei, mas acreditem: vocês vão preferir criar duas crianças
juntas. Se esperarem, vão desanimar por terem que começar tudo de novo.
Eu ri.
Amber fazia tudo parecer simples e gostava disso nela.
Entramos em uma cafeteria, o cheirinho de café me enlouqueceu e
percebi que estava com fome.
Octor me olhou, observando meus olhos atentos sobre o cardápio e vi
quando se inclinou em minha direção. Seu queixo pousou em meu ombro
para que sussurrasse em meu ouvido:
— Vamos ter um bebê, amor?
A pergunta descarada veio acompanhada de uma risadinha maliciosa
que me fez arrepiar e corar.
Decidida que não seria provocada e ficaria quieta, o encarei tão séria e
depois sorri.
— Vamos fazer um bebê, amor.
Amber, que ouvia a nossa conversa – pensando ser uma conversa
comum de um casal – bateu palminhas e comemorou.
Algo me dizia que meu destino atrelado ao de Octor Luxton estava
ficando estreito.
Capítulo 13
Octor
11 Dias Para O Natal
Sofia não estava normal. Ela passeou em frente meu escritório duas
vezes, três contando com agora. Mais cedo entrou me perguntando se gostaria
de alguma coisa, percebi sua ansiedade notando seu tom.
Novamente volta, passando em frente à porta e deixo minha caneta
sobre o relatório que estava analisando. Se um dos incompetentes que
trabalham comigo não tivesse fodido meu novo projeto, certamente não
estaria trabalhando agora. Reservei esses dias para descansar e brincar de
casinha, trabalhar não estava nos meus planos.
Na quinta vez que Sofia passou pela porta, decidi chamá-la. A
descarada ainda fingiu surpresa, cruzando os braços e perguntando no que
poderia ser útil.
— Você está bem?
— Claro que sim — sua pressa em me responder dizia que não.
— Por que está andando de um lado para o outro? Precisa de algo?
Mordendo o lábio inferior, soube que não conseguiria escapar dessa
pergunta sem que eu fizesse outras.
Sofia descansou seus ombros, sentando-se na poltrona em frente
minha mesa.
— Acho que estou entediada.
— Só tédio? Tem certeza? — Algo em seus olhos brilharam em
minha direção.
Já fiquei com muitas mulheres, conhecia todos os tipos de jogos de
conquista, mas Sofia às vezes se comportava como uma incógnita. Ontem
pela manhã tinha a certeza que ela havia me procurado na piscina para dizer
algo, seus olhos estavam selvagens e não se desviaram dos meus. Percebi sua
atenção durante o almoço também, mas a noite parecia alheia fitando a tv de
modo robótico.
— Acho que nunca fiquei tanto tempo à toa — diz e eu acredito —
está trabalhando em quê?
Olhando para o papel por alguns segundos, penso no trabalho que
terei pela frente.
— Em minha nova assistente virtual. Uma IA avançada, configurada
para responder comandos de acordo com emoções humanas. Ideal para
sistemas de segurança domésticos.
— Mesmo? Já tem um nome? — Esse olhar curioso era o mesmo que
ela me lançava durante o expediente quando trabalhava em alguma coisa
empolgante.
Eu já tinha minha assistente virtual, mas era um modelo básico para
trabalhar dentro da empresa, gerenciando o sistema operacional. Esse novo
protótipo poderia ir além da funcionalidade empresarial, seria comercializado
como uma companhia remota para pessoas solitárias... Como eu. Ao menos
como eu era antes de conhecê-la.
— Ainda não... Alguma sugestão?
Ela soltou uma risadinha adorável e cruzou às pernas. Acompanhei os
movimentos como um tarado, a verdade era que a calça justa que ela usava
estava marcando suas coxas fartas e era tudo que eu conseguia reparar desde
que se sentou.
— Sofia.
Sorri com sua sugestão.
— Não sei... Acho que ficaria ciumento se todos tivessem uma Sofia
em casa.
— Por quê? Só você tem a original. — Algo em sua frase divertida
acordou o monstro possessivo que havia em mim.
Apertei meus punhos sobre a mesa, olhando-a nos olhos e descendo
com calma pelo seu pescoço e o busto cheio. Os seios estavam marcados na
blusa de manga cumprida que ela vestia, os mamilos ressaltavam no tecido
fino.
Mordi meus lábios e do outro lado da mesa, Sofia imitou meus
movimentos.
Minha respiração ficou densa e o volume crescido entre minhas
pernas ficou dolorido.
— Sofia é um excelente nome, na verdade — tentando trazer a
racionalidade para a questão, murmurei — curto, forte e direto. Além de
bonito, doce e humano.
— Então vai usá-lo? — Focado em seus lábios, vi quando passou a
língua e umedeceu o lábio inferior.
Soltei uma lufada de ar pesado.
A cada dia estava mais difícil tornar nossa situação profissional, não
quando eu queria enfiar minha língua em todos os lugares disponíveis dentro
dela.
— Está no topo da minha lista. — Prometi.
— Ótimo. Agora preciso de um pouco de trabalho, como posso te
ajudar?
Voltando minha atenção no que realmente necessitava agora, dei a
aula algumas funções. Era mais fácil tê-la deliciosa, trabalhando a minha
frente a ficar distraído com seu rebolado em frente à minha porta.
Quebrando a cabeça, consegui refazer os códigos errados e testei a
funcionabilidade antes de reenviar o arquivo criptografado para o sistema da
Luxton.
Sem Sofia, não teria sido possível executar o serviço de forma
ordenada e ágil. Ela era boa, sentia falta de trabalhar com ela. Mesmo com o
retorno de Audrey, o rendimento durante o expediente não era o mesmo, foi
quando percebi que havia algo entre nós além de afinidade profissional.
— Somos bons juntos — comentei, recebendo um sorriso lindo em
troca — como recompensa pela sua ajuda, vá se trocar. A levarei para
conhecer um lugar.
O brilho em seus olhos me deixou um tanto sem ar, acompanhei com
um olhar quando correu como uma criança, pronta para se trocar. Segui pelo
mesmo caminho, com mais calma, mesmo que às batidas do meu coração
indicassem o contrário.
Encontrei jeans no closet, puxei botas de frio e um casaco pesado. A
chuva do dia anterior tinha cessado, mas a temperatura caiu drasticamente e o
noticiário estava prevendo neve para essa madrugada.
Esperei por ela na saída da propriedade, encostado em meu carro.
Verifiquei minhas mensagens, rindo para uma matéria que Dominic
me encaminhou. A mídia fazia tudo por cliques e um desses Instagran’s que
comentavam a vida de celebridades, questionou com que vestido Sofia se
casou.
E lá estava ela, linda em calças próprias para o frio, bem agasalhada
com touca e cachecol e botas. Abri a porta e a ajudei subir.
— Onde você vai me levar? — Animada, me perguntou assim que me
sentei ao seu lado e dei partida.
Estava gostando de passar o tempo em South Later, diferente do que
pensei. Aqui havia uma paz que fazia tempos que não experimentava, não
precisava andar rodeado por seguranças, não haviam câmeras e gente
desnecessária por todos os lados. Os vizinhos faziam a fofoca local, mas
nunca me incomodaram.
Sabia que meu nome estava na boca do povo, assim como da Sofia e
pela primeira vez em tempos quis que tudo explodisse.
— Surpresa.
Sofia agiu como sempre, ligou o som e sintonizou na rádio que quis.
Dirigi no limite da velocidade, saindo da cidade e pegando uma estrada curta
para uma outra de terra batida.
Devido à forte chuva da noite anterior, estava molhada e alguns
pontos com poças d’água.
— Eu adorei essa cidade, é uma paz que não estava familiarizada.
Emma adoraria correr por aí.
— Ela é muito levada? — Era primeira vez que me aprofundava sobre
sua menina.
Os olhinhos de Sofia brilharam e voltaram-se para mim.
— Muito. Tem uma energia infinita, desde que começou a andar nada
mais para no lugar e agora começou a falar e não para mais. Uma matraca.
— Ela te chama de mãe?
— De “Fiiiiia” — sorriu, mas seu pensamento pareceu distante por
alguns segundos — nunca a ensinei a me chamar de mãe. Mas acho que
agora está me associando a esse título. A babá me chama assim, não quis
mudar. É isso que eu sou, não é? Quando o juiz bater o martelo, será
definitivo.
— Seu advogado é eficiente? Se precisar, minha equipe jurídica está
disponível.
— Obrigada, sou muito grata por isso. — Recebi um sorriso lindo em
seguida — A genitora tornou isso fácil. Sumir e abandonar um bebê de meses
determinou tudo, mas meu advogado comentou que... Ser casada é um ponto
favorável e...
— E...?
Sofia corou um pouquinho e de imediato entendi onde queria chegar.
— Se for para ajudá-la a conseguir a guarda unilateral, podemos
manter o acordo por mais um tempo. Não me importarei.
O que eu estava dizendo?
Não pensei muito a respeito e a mulher ao meu lado parecia tão
desacreditada quanto eu.
— Sério? Não foi o que combinamos, sei que você...
— Não me importo. Não é como se tivesse alguém esperando para se
casar comigo, não é?
Ela assentiu e ficou em silêncio, parte disso devia ser pura surpresa.
Reduzi a velocidade chegando onde queria, Sofia rapidamente
percebeu o que queria mostrá-la.
Parei o carro e ela se apressou em descer, sem esperar que eu lhe
ajudasse. Sua reação era parte surpresa, parte encantamento. Estávamos em
um dos picos mais altos em South Later, podíamos ver a cidade, assim como
ter uma vista privilegiada de uma cascata que despencava do monte e se
derramava em uma cachoeira próxima a represa.
Segurando-se no parapeito, inclinou-se para observar melhor e depois
voltou para mim, sorrindo de ponta a ponta.
— Isso é tão incrível! É lindo aqui!
Seu nariz estava vermelho pelo frio, Sofia estava linda sem um pingo
de maquiagem. Sua beleza ia muito além da estética. Ela sorria muito, era
nitidamente feliz e adorava às coisas mais simples. Levá-la para qualquer
lugar e sempre ver o deslumbramento em seu rosto era muito satisfatório.
Enfiei minhas mãos dentro do bolso e apenas a admirei.
A cada minuto que passava essa mulher me dava mais motivos para
admirá-la, isso por si só já me aterrorizava.
— Vamos tirar uma foto? É bonito demais para não registrarmos.
Fiz que sim com a cabeça, sabendo que àquela altura diria sim para
qualquer coisa.
Sofia tirou o celular do bolso, abrindo na câmera frontal e peguei de
sua mão. Era mais alto e conseguiria capturar melhor a vista atrás de nós. Ela
se aninhou ao meu lado e colocou a cabeça no meu peito, sorrindo para foto.
Esse foi o primeiro registro que fizemos sem pensar em nosso
casamento de conveniência.
Capítulo 16
Sofia
08 Dias Para O Natal
Suas mãos puxaram meu cabelo, seu corpo desceu sobre o meu e sua
boca sugou meu lábio inferior. Octor estava desesperado em cima de mim,
rosnando como um animal selvagem, tocando em todos os lugares. O volume
grosso dentro da sua boxer era empurrado sob meu ventre com tanta precisão
que podia sentir seu contorno.
Octor era delicioso.
O corpo másculo colado ao meu, a lascívia em seus lábios que me
beijavam sem pudor.
— Pronta para mim, Sofia? — A rouquidão da sua voz me roubou o
ar.
— Me faça gozar, Octor... Por favor, me faça gozar. — Sua língua
desceu pelo meu pescoço, caminhando pelo meu busto. Gemi em desespero
quando seus lábios sopraram ar quente sob meu sutiã de renda. — Octor!
Não aguentava mais, se ele continuasse nesse ritmo era capaz de
gozar sem nenhum incentivo.
— Chama meu nome, implora para mim.
Seu comando era uma ordem sem exigências.
— Me faça gozar! — Gritei.
Octor riu em cima de mim, seus olhos verdes estavam escuros quando
ele meneou sua cabeça numa negativa.
— Você não merece gozar — sua acusação me desestabilizou — você
me provoca o dia inteiro andando por aí, com suas roupas justas e esse olhar
safado. Por que não me pede para te comer, Sofia?
— Eu peço, por favor, eu peço...
— Não pede, mentirosa. Venha até a mim, quero foder com você.
Seu corpo dissipou como fumaça.
Outra vez.
Com a mão sob meu seio, acordei com o coração acelerado. Estava
descoberta e ainda assim meu corpo queimava. Podia jurar que ele esteve
aqui, minha testa estava suada de tanto tesão.
Mais um sonho enlouquecedor.
Escapuli da cama, desanimada e entrei no banheiro. Minha respiração
ainda estava acelerada e meu corpo agitado com a adrenalina liberada no
sonho. Estava ficando cada vez mais intenso e real.
Precisava descarregar toda essa tensão sexual.
Entrei no banho pensando que isso dissiparia meu desejo. O jato de
água quente em contato com minha pele, lavando a lembrança tão real de tê-
lo sob mim. Sua respiração no meu pescoço, sua boca sob a minha, seus
toques pelo meu corpo.
Estava latejando por ele.
Fechei os olhos com força, tentando procurar uma distração para
minha mente fraca. Era fácil ter sido abduzida pelo poder de sedução de
Octor. Quem não ficaria? Ele era lindo, tinha uma áurea de poder e
esoterismo que me deixava intimidade e excitada ao mesmo tempo. Sua
inteligência se destacava entre os mortais comuns, o homem era responsável
por criar cada modelo tecnológico avançado entre celulares, computadores e
até lâmpadas inteligentes! Além disso, ele era absurdamente lindo de
qualquer jeito. Agora sua barba estava crescendo e Octor estava ainda mais
bonito.
Meu pobre coração estava à deriva de sentimentos que ainda não
conseguia processar, mas a cada dia que passava me atormentava a
possibilidade de não ser somente luxuria.
Fechei a ducha depois do meu longo banho. Não passaria com água
corrente, então talvez ver Emma amenizasse a loucura que estava morando
em mim.
Me vesti para mais um dia frio, a neve finalmente havia chegado.
Apesar de ainda estar caindo em pequena quantidade, até o Natal às ruas
estariam branquinhas.
Depois que eu me vesti, sentei-me e liguei por vídeo. A babá atendeu
rápido, era por volta das nove da manhã e minha pequena estava agasalhada,
deitada no sofá com uma boneca nas mãos.
— Mamãe! — Com lágrimas nos olhos ouvi a primeira vez que
alguém me chamou de mãe.
Meu coração não estava preparado para esse momento, ao fundo vi o
rosto da babá e seu sorriso.
— Oi meu amor. Mamãe está morrendo de saudades...
— Frutinha da Emma! — Orgulhosamente estendeu seu pote com
morangos para a câmera.
— Que delícia! Adoraria um morango, você me dá?
— Sim!
Emma era uma criança adorável, dividia sua refeição sempre que eu
pedia um pedaço. Geralmente estava babado, mas eu comia mesmo assim.
Era tão fofa.
— Obrigado, meu amor. Você é uma princesa.
— Octo!?
Surpresa, mirei meus olhos em direção a babá. Octor estava
acostumado a aparecer nos vídeos, ele dizia olá e fazia elogios sobre como
ela estava bonita. Emma adorava a atenção, mas estava surpresa por
perguntar por ele.
— Ela está falando de você e Octor desde que acordou.
Tudo bem... Entendia perfeitamente. Eu não era a única enlouquecida
por ele.
— Vou chamá-lo.
Desci os degraus perguntando como estavam às coisas por lá. A babá
avisou que Esther não apareceu mais, mas não estranhei. Ela vivia em um
relacionamento complicado com um homem que parecia querer escondê-la
do mundo.
Emma estava bem, fazendo todas às refeições e para minha surpresa,
em processo de desfralde. A babá informou que ela começou a pedir para
fazer xixi de forma muito natural.
Meus olhos encheram-se de lágrimas. Como podia tanta coisa
acontecer em tão pouco tempo.
Estava orgulhosa da minha garotinha e me sentindo péssima por
perder esses momentos.
Na cozinha, perguntei se Amélie viu Octor e informou que estava na
academia. Suspirei pesado e coloquei o casaco próximo a porta para
atravessar a neve.
Ele ficou surpreso quando empurrei a porta da academia. Estava
puxando um peso, olhou em minha direção e depois colocou no lugar.
— Bom dia, esposa — seu cumprimento se tornara um hábito.
Sorri de lado, tentando conter a empolgação adolescente dentro de
mim.
— Alguém quer te ver.
Bastou que a imagem bonita aparecesse na tela para que Emma
gritasse o nome dele em plenos pulmões do outro lado. Igualmente surpreso,
Octor me encarou com um brilho nos olhos diferente.
— Oi meu amor — ele murmurou, tentando colocar um tom de voz
comum.
Nada em seu tom de voz rouco e um tanto desconcertado era comum.
— Casa! — Inquiriu Emma.
— Nós estaremos em casa logo, logo, princesinha.
Emma desceu do sofá e partiu para o quarto somente para trazer
outros brinquedos e nos mostrar. Rimos com sua interação inocente,
conversamos mais um pouquinho e ao desligar, meu coração estava tomado
pela saudade.
— Uma semana e estaremos em casa... — Ele prometeu.
Octor estendeu sua mão e acariciou minha bochecha com o dorso.
Uma corrente elétrica passou entre nós, atingindo meu coração que já batia
descompassado.
Estar em contato com ele sempre seria assim? Essa sensação de que
toda vez estaria tão vulnerável, como se estivesse caindo de um precipício?
— Você é tão linda, Sofia... — Suas mãos entraram em meus cabelos
e fui suavemente puxada em sua direção — e muito cheirosa.
Octor afundou seu nariz em meu pescoço, se não tivesse me
segurando com firmeza em seu braço, teria caído ao chão.
Sua mão livre circulou minha cintura, estava tão acelerada, ansiosa
pelo nosso contato que não quis esperar. Fazia dois dias que não nos
beijávamos e estava desesperada por isso.
Guiei seu rosto em direção ao meu, selando nossos lábios. Como
sempre nosso contato não era doce, era explosivo.
Octor me agarrou pela cintura, suspendendo meu corpo até que
minhas pernas estivessem enganchadas em sua cintura. Presa a ele, caminhou
comigo até me posicionar contra uma parede.
Meus sonhos jamais fariam jus a nossa intensidade. Seu beijo me
deixava sem ar, devorando meus sentidos, fodendo com minha língua numa
deliciosa e tortuosa dança sexual.
Octor gemeu, mordeu meu lábio inferior com força e sugou minha
língua tão gostoso enquanto investia sua dureza contra mim. Estava firme,
seu volume esfregou contra minha intimidade, demonstrando que nessa parte
minha imaginação também tinha falhado. Era maior que imaginava, será?
Seus gemidos acompanharam os meus quando soltou meu lábio e
devorou meu pescoço, dividido entre chupar, lamber e morder minha pele
sensível. Fazendo-me delirar com sua intensidade.
— Octor! — Gemi, implorando pelo contato.
Com meu chamado, ele puxou meu cabelo com rigidez, voltando a
beijar minha boca. Nossas línguas se encontraram num beijo voraz, não
queria que terminasse nunca.
Ansiosa por alívio, comecei me movimentar contra ele com mais
rapidez. Percebendo o que estava fazendo, Octor iniciou movimentos
sincronizados, num vai em voz doloroso, roçando o membro coberto em
minha intimidade.
— Você quer gozar, Sofia? — Exatamente como em meu sonho, ele
perguntou quando interrompeu nosso beijo.
Meus olhos piscaram aturdidos, minha respiração ofegante. Incapaz
de verbalizar, assenti e recebi um olhar perigoso.
— Vem, pegue o que é seu. Goze para mim, Sofia — Seus olhos não
me abandonaram.
Octor não parou de se mover quando voltou a beijar com afinco,
puxei seus cabelos com força, rebolando. Ele esmagou minha bunda com sua
mão, pressionando cada vez mais nossos corpos em um atrito delicioso.
Meus gemidos intensificaram, ele deixou meus lábios para me olhar.
Seu olhar era tão intenso que não consegui encarar, fechando meus olhos
apoiei a cabeça na parede, não me importando se estava gemendo alto
demais.
Quando fui atingida por uma explosão quase cósmica, meu grito soou
estridente. Me agarrei em seus ombros, gemendo seu nome, acometida por
um orgasmo alucinante.
— Porra! — Ouvi seu rosnado forte. Octor investiu em mais duas
vezes e seu gemido me acompanhou. Ele estava....? — Caralho, Sofia. O que
você faz comigo?
A pergunta era retórica.
Nossos movimentos cessaram, abri meus olhos e o encarei. Os seus
flamejavam, o rosto estava vermelho e sua respiração ofegante.
— Me fez gozar na roupa como um adolescente, caralho.
Octor não me colocou no chão, algo me disse que não queria romper
nosso contato.
Atrevida e muito satisfeita, dei um sorrisinho malicioso.
— Se com roupa foi assim... — Sussurrei sugestiva.
Ele compreendeu na mesma hora.
— Só consigo imaginar quando não houver nenhuma peça entre nós
— minhas bochechas esquentaram na mesma hora — quero você, Sofia.
Com essa revelação, Octor me deixou no chão, beijou minha testa e
fez o caminho para fora da academia me deixando em completa ansiedade.
Capítulo 17
Octor
07 Dias Para O Natal
Era questão de tempo para que estivesse afundando com meu corpo
dentro dela.
Era questão de tempo para que tudo que Sofia verbalizasse fosse
sobre como era gostoso o que nós dois podíamos fazer na cama.
Era questão de tempo para me perder em seu corpo delicioso, sentir
seu sabor em meus lábios, adorar cada pedaço do seu corpo.
Era questão de tempo, mas então eu me perguntava: o que farei
depois? Quando nosso prazo junto chegar ao fim, como vou superar o que sei
que vai ser uma experiência que mudará minha vida?
Ela é sua esposa de mentirinha, minha mente aponta, mas foda-se.
Ela assinou um papel onde diz que é minha. Há uma certidão de casamento
que comprova que estamos juntos além de um acordo financeiro. Aquilo que
aconteceu entre nós não podia ser explicado de outra forma: foi tesão cru. A
forma mais sincera de querer alguém. Porra! Gozei no caralho da minha
cueca, tinha tanta porra que fiquei surpreso que não a tivesse molhado.
Não a encarei depois disso, fugi como um covarde, porque senão teria
cometido uma loucura. Minha vontade era curvá-la sob o chão emborrachado
e foder com ela, sem pensar em mais nada.
Sofia estava me enlouquecendo, deteriorando meu cérebro aos poucos
para que tudo que sobrasse fosse ela. A forma como gritou meu nome quando
gozou se esfregando em mim... Ela me queria tanto quanto eu a queria.
Talvez eu precisasse de um tempo longe dela...
Um tempo para esfriar a cabeça, mas ao mesmo tempo tudo que
queria era tê-la em meus braços novamente.
Na mesa do café da manhã, fiquei sozinho, evitei comer esperando
que ela chegaria, mas Sofia parecia tão sem jeito quanto eu.
Trabalhei um pouco e deixei propositalmente a porta aberta,
aguardando o momento que desfilaria despretensiosamente, mas não
aconteceu.
Cansado de esperar por ela e pronto para correr atrás como um
viciado, abandonei o trabalho e segui a sua procura.
Sentada no sofá da sala, mexendo no celular, Sofia não parecia como
alguém que pensava em se esconder.
— Oi, marido — e pela primeira vez, foi ela quem me provocou.
— Vamos almoçar fora, esposa.
— Com sua família? — Questionou.
— Não, só nós dois.
Preciso de você só para mim, Sofia. Tente entender, sou a merda de
um viciado entregando-se ao vício de boa vontade.
— Perfeito.
— Sairemos em uma hora.
Com seu sorriso de sempre, desligou a tv e encaminhou-se para o
segundo andar. Descaradamente segui seus movimentos, ela estava em uma
de suas calças leggings marcando sua bunda deliciosa. O tecido era tão fino
que destacava o formato da sua calcinha pequena.
Gemi baixo, ansioso para sentir mais do seu calor.
Minhas bolas estavam mais que roxas, nada de gozar nas calças
novamente. Queria ação de verdade.
Octor
Emburrada, ignorou quando parei em frente ao terreno vazio. Sequer
teve curiosidade de perguntar porque estávamos ali depois do nosso almoço
meio irritado, principalmente quando a sem noção da Sindy nos abordou
daquela forma.
— Sabe que isso é um tanto desproporcional.
— Isso o quê? — Não jogue esse jogo, Sofia.
Abri minha porta e ela nem fez menção de descer, mesmo quando abri
a sua.
— Conheço ciúmes de perto. Sou um homem ciumento, Sofia.
— Não estou com ciúmes.
— Continue se enganando... — Ela bufou, finalmente descendo — o
que acha do espaço?
Olhando ao redor, encarou o lote imenso e vazio. Ficava próximo da
estrada principal da cidade, um ótimo endereço e localização.
— Grande. É seu?
— Fiz uma oferta ontem à noite. Se tudo der certo, esse será o espaço
da nova sede da Luxton Corporation.
— Em South Later? Achei que detestasse essa cidade... — Ela estava
surpresa.
Antigamente, sim... Passei anos detestando essa cidade, mas não
porque ela me fez mal, mas sim por quem me traiu aqui... Agora tudo que
sobrava em mim era mágoa por ter perdido um irmão.
A mulher que um dia achei que amava, um dia posso até ter amado,
mas não sobrou nenhum resquício de paixão por ela. Não restava nenhuma
lembrança boa. Às vezes achava que sobrava raiva, mas então, ao vê-la
abandonada em seu jantar de noivado percebi que não sentia absolutamente
nada.
Nicole conseguiu o que jamais pensei que conseguiria: cavou seu
caminho para fora da minha vida. Talvez, antes de Sofia, nunca teria
percebido que não perdi nada com nosso término.
— Não odeio a cidade, meus pais moram aqui e quero que a cidade
cresça. Sei que a sede gerará emprego, ficará no radar de outras empresas e
aqui é um excelente lugar para fonte de energia renovável.
Sofia olhou ao seu redor, dando alguns passos para longe e então se
virou em minha direção.
— Estou pisando no solo onde a Luxton fará história... Em quanto
tempo acha que estará ponto?
— Tenho um projeto de seis meses, quando chegarmos em casa irei
mostrá-la. Gostou daqui?
Não sabia porque a opinião dela era importante, mas descobri que era
quando assentiu, finalmente me dando um sorriso.
— Bom, senhora Luxton, acho que esse é um daqueles momentos que
tiramos uma foto para registrar o momento.
A face corada a deixava ainda mais bonita.
Sofia sorriu grandiosamente, andando até a mim e ficamos na direção
oposta do carro. Abri meu celular na câmera frontal, segurando em sua
cintura. Sofia deitou sua cabeça em meu peito, como sempre fazia, mas dessa
vez ao invés de olhar para foto, olhei para ela.
O que vi na fotografia era minha feição embasbacada por essa mulher.
Estava além de encantado.
Aproveitando nosso momento a sós, sem amiga de escola sem noção
ou vizinhos fofoqueiros, guardei o celular no bolso e a segurei em meus
braços. Colei meu corpo ao dela quando lhe coloquei contra a porta do
carona.
— Admita.
— O quê?
— Que ficou com ciúmes — provoquei.
— Você é tão arrogante, Octor.
Sorrindo, a beijei com vontade. Sim, eu era arrogante, mas havia algo
que era muito mais: enlouquecido por Sofia Luxton.
Gemi quando ela correspondeu com vontade, nosso beijo era porta de
entrada para o inferno. Queria encontrar a redenção em seus braços.
— Não posso mais brincar de beijos, Sofia. Preciso de você.
— Então me leve para casa.
Casa...
Nossa casa.
Sem pensar duas vezes, me afastei abrindo a porta para que ela
entrasse. Nós iríamos para nossa casa e eu foderia minha mulher até estourar
nossos miolos.
Sentada com Amélie na cozinha, juntas fizemos uma lista de tudo que
seria necessário para a ceia perfeita no Natal. Avisei a mãe de Octor que não
era necessário que trouxesse nada, mesmo com sua insistência. Por fim, disse
que viria me ajudar e aceitei.
Como quem não queria nada, enquanto levava um café para o pai de
Octor que fazia alguns reparos na área externa do jardim, perguntei se Liam e
Nicole confirmaram presença no Natal. O homem me olhou por alguns
segundos, pareceu meio preocupado com minha reação, mas disse que sim.
Algo no seu silêncio me alarmou e meu sexto-sentido apontou que a
megera aprontaria alguma coisa.
Virei-me para Amélie, finalizando a lista com os ingredientes para às
rabanadas. Descobri que meu marido de mentirinha as amava, então faria
recheada com doce de leite para ele. Vi uma receita na internet e adorei.
— Você acha que é muita comida? — Insegura, questionei.
Amélie negou prontamente e sorri.
Nós combinamos de deixarmos a maioria das coisas pré-preparadas
na noite anterior, no dia 23, já que no dia 24 havia liberado todos os
funcionários para ficarem com suas famílias. Era véspera de Natal e quem
não fosse essencial poderia ir. Octor automaticamente concordou e liberou
alguns seguranças, deixando apenas sua equipe de confiança, homens que de
acordo com ele eram solteiros e não tinham família na cidade.
Amélie se despediu de mim com a lista, iria ao supermercado pela
manhã, então ficou liberada da função do jantar. A verdade era que queria
que essa noite fosse especial, somente Octor e eu.
Seu pai foi embora por volta das seis, mas vi em seu rosto a sensação
de dever cumprido. Ainda observei a decoração de Natal linda que eles
fizeram no quintal e agradeci prontamente.
— Estamos prontos para receber o papai Noel — com a mão suja, ele
entrou na cozinha e bati nos dedos ágeis tentando roubar algumas batatas do
refratário.
— Onde está Amélie?
— Dispensada. Hoje o jantar será por minha conta.
Em silêncio, ele me encarou por alguns segundos e depois deu um de
seus sorrisos sacanas.
— O que posso fazer para te ajudar, esposa?
— A salada? — Ele assentiu.
Diferente daquilo que eu pensava, apesar de seu privilégio de homem
rico, enquanto lavava às verduras ele me contou que sua mãe designava
tarefas domésticas da casa para ele. Cresceu sabendo se virar em tudo, tanto
ele quanto Liam. Então não foi uma surpresa quando cortou às verduras com
perfeição e ainda decorou a salada com tomates, pepinos, cenoura e picles.
— Como foi sua infância? Você e Liam aprontavam muito? — Sem
perceber onde queria chegar, Octor me deu a resposta de boa vontade.
Ele falava de seu irmão com saudade, mas provavelmente não
percebia.
Contou que dividiram o mesmo quarto por anos, compartilhavam
roupas e Liam o imitava em tudo. Descobriu cedo que era um orgulho para o
irmão, só não pensou que o mesmo fosse querer excessivamente tudo que era
dele.
Automaticamente soube que se tratava de Nicole.
— Você não pensa em perdoá-lo? — Perguntei em tom baixo.
Octor deu de ombros, deixando a salada na geladeira e voltou-se para
mim.
— Ele nunca pediu.
— Nunca pediu ou você nunca permitiu que ele pedisse?
— Não quero falar disso.
Foi assim com a história da ceia de Natal, agora ele fazia o mesmo
com o irmão.
O encarei de modo sereno e assenti, sabia que deveria ser difícil ser
traído pela própria carne. Seu sangue. Aquele que deveria te amar acima de
toda essa merda.
Avisei que ele podia ir para o banho que terminaria nosso jantar. Ele
aproveitou a oportunidade de fugir do assunto, agarrou com forças e saiu da
cozinha quase correndo.
Deixei as sobrecoxas dourando, desliguei o fogo do arroz com
brócolis e apreciei minhas batatas assadas. Tudo estava cheirando muito bem.
Escolhi um vinho para acompanhar e coloquei a mesa para nosso
jantar. Ansiosa pelo o que viria, desliguei o forno antes de seguir para o
banho.
Sofia estava olhando pela janela, mas voltou-se a mim num instante.
Meu sorriso idiota despontou sem que controlasse, vi os olhos estreitos sobre
mim, minha adorável e um tanto irritada esposa era ciumenta.
Nossa crescente intimidade a havia tornado mais segura, o que me fez
pensar em como ela seria em um relacionamento normal, algo me dizia que
sua paciência era algo que andava em corda bamba.
Nós dois éramos possessivos e ao meu ver, isso não me incomodava.
Essa era mais uma certeza de que estava apaixonado, a dominância de Sofia
sobre mim, além de me deixar envaidecido, me deixava satisfeito e feliz pra
caralho. Somente uma mente doente e carente como a minha entenderia o
sentimento de pertencer a alguém.
— Não vale a pena perder a paciência com ela, suas atitudes são
infantis e desesperadas. Você é tão superior, Sofia. Nada em você poderia ser
comparado a um fio de cabelo dela.
Com os olhos brilhando, se inclinou em minha direção segurando meu
rosto com delicadeza e plantou um beijo cálido em meus lábios.
— Sou seu, esposa. Lembre-se disso quando entrarmos.
Meu – ouvi seu sussurro, como se fosse uma confirmação a si mesma.
Esperei que Sofia se recuperasse para descer e abrir sua porta. Suas
mãos estavam um tanto geladas, trouxe uma delas até meus lábios, acolhendo
entre minhas mãos e assoprando.
— Esqueci minhas luvas...
— A partir de agora não pode mais esquecer, esfriou muito. A neve
vai cair firme a qualquer momento, não a quero desprotegida. Vamos para
dentro.
Caminhamos tão rápido e agradeci mentalmente quando mamãe abriu
a porta, sorrindo amplamente e nos puxou para dentro.
— Eles chegaram! — Ela gritou, avisando ao restante da família. —
Vem querida, vamos encontrar uma bebida quente para você.
— Oi mãe. — Ainda tentei chamar sua atenção, mas fui ignorado.
Sorrindo, acompanhei o caminho que às duas fizeram.
Minha mãe ria facilmente com Sofia, perguntando algo sobre a ceia
de Natal. Ambas fizeram o caminho para cozinha após cumprimentarem meu
pai e Liam, sentados no sofá da sala, assistindo um programa esportivo.
— Achei que não viriam mais.
— Emma demorou a dormir, Sofia precisou cantar três canções
diferentes e ela só sossegou quando ouviu a preferida do momento.
O sorriso encantado no rosto do meu pai devia ser semelhante ao meu.
Aceitei o copo com uísque que ele me ofereceu, dando duas longas
goladas e me sentando no sofá oposto ao meu irmão. Por alguns segundos
meus olhos se encontraram aos de Liam e não desviei, o que vi ali me deixou
angustiado. Além das olheiras visíveis, Liam estava com suas pálpebras
inchadas nítidas em um choro recente.
— E qual seria essa canção favorita? — Meu pai perguntou,
quebrando nosso contato visual.
— Uma da da Bela e a Fera — meu sorriso cresceu ao lembrar de
Sofia cantando. — Minha esposa é uma discografia ambulante da Disney.
— Filhos... Eles nos fazem apreciar cada coisa... Você já aprendeu
alguma?
Àquela altura estava familiarizado com às canções de ninar de Emma,
mas não me via como àquele que as cantaria. Deus sabe que minha dicção
para canções são um desastre...
— Prefiro ficar com às histórias, não sou um bom cantor.
— Mas tenho certeza que será um excelente pai. — Com a mão no
meu ombro, meu pai incentivou — estou orgulhoso de você, filho.
E essa foi a primeira vez em que me arrependi por estar mentindo
para minha família.
Incomodado, virei meus olhos para meus sapatos recém-ilustrados,
pensando no quanto meus pais ficariam chateados quando noticiasse o
divórcio. Eles haviam realmente gostado de Sofia, e como não gostariam? Ela
é perfeita.
Não foi minha intenção ficar tão próximo, mas era impossível prever
que nos daríamos tão bem. Todos nós juntos quase sendo a família de antes...
Exceto pela minha relação arruinada com meu irmão.
Meus olhos procuraram os dele, Liam me olhou e o vazio pré-
existentes nos seus olhos me deixou angustiado.
— Está tudo bem? — Não consegui evitar a surpresa.
Meu irmão tremeu de susto, tão desacreditado quanto meu pai ao meu
lado.
— Não, mas vai ficar...
Não consegui responder, mas queria.
O barulho de salto clicando no assoalho me distraiu, os homens na
sala seguiram o som e vimos Nicole descendo os degraus da escada que
levava para o segundo andar, onde ficavam os quartos.
Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo bem feito, com os
fios tão repuxados que em perguntei se não lhe causariam dor de cabeça. O
tom perolado do seu vestido contrastava com a pele dourada em um
bronzeado artificial. Nicole estava muito bonita, mas era superficial. Nada
que a deixava bonita permaneceria após um banho.
— Oi, Octor. Como vai? — E como se fôssemos velhos estranhos, ela
andou até a mim, determinada a me cumprimentar.
Por que ela fazia isso?
Nós já fomos felizes?
Ela já me amou?
Sem conseguir evitar o constrangimento para nenhum de nós, me
levantei e deixei que ela beijasse minha bochecha. Queria ao menos que
nossa noite fosse o mais normal possível, mesmo que a noiva do meu irmão
estivesse determinada a provar algum ponto a todos nós.
Seus olhos territorialistas me encararam demoradamente, depois
sorriu e se sentou ao lado de Liam. Não passou despercebido que eles sequer
se tocaram, parte disso partiu de Nicole, que fez questão de manter uma certa
distância.
— Vai ficar para o ano novo? — Ela perguntou novamente, como
quem não queria nada.
— Parto dia 26.
— Pretende viajar no réveillon?
Pareceu que estávamos em um episódio macabro de Black Mirror,
pigarreei desconfortável, consertando a postura no sofá e cruzando a perna.
— Só se Sofia quiser.
Trazer minha esposa para o assunto não lhe abalou, pelo contrário.
Um sorriso quase masoquista surgiu em seus lábios e ela dividiu um olhar
com o Liam.
— Está vendo? Seu irmão está mimando a esposa. Você deveria
aprender algumas coisas com ele.
Liam a olhou horrorizado, sua nítida surpresa lhe fez arquear a
sobrancelha e entreabrir os lábios.
O clima ficou tão pesado que uma fina linha de suor se acumulou na
testa do meu pai.
Determinado a deixar aquilo passar, meu irmão meneou sua cabeça
numa negativa, trocando um olhar tão longo com sua noiva e depois suspirou.
— Você tem razão, Nicole. Precisarei de um workshop para entender
como ele conseguiu ficar quase treze anos com você.
Após isso, Liam apenas se levantou parecendo tão magoado que me
abalou. Ele era meu irmão, havia me traído, mas há muito tempo nós fomos
melhores amigos. Vê-lo arrastar-se numa relação que nitidamente não o fazia
mais feliz era tão deprimente que me causou náusea.
Constrangida, Nicole encarou a direção que meu irmão seguiu. Por
alguns segundos sua pose de perfeição se desfez, vi seus olhos claros
piscarem em pânico e quando se voltaram a mim, estavam cheios de
lágrimas.
Ela era cheia de nuances de merda.
Um gatilho disparou em meu cérebro calejado, como se fizessem uma
piada de mal gosto. Muitas vezes brigávamos, eu tinha a certeza que estava
certo, então ela fazia uma feição como essa e me convencia de que estava
errado. Era tão pesado que me sentia péssimo, pedia desculpas e fazia
promessas de não a magoar mais assim.
Me senti usado quando suas lágrimas caíram e ela seguiu meu irmão.
— Eles vão se destruir — meu pai murmurou ao ver sua nora se
afastar.
Era tão nítido que não respondi, não havia nada que eu pudesse fazer.
Capítulo 23
Sofia
Dois dias depois
Andando de um lado para o outro, meu coração batia tão forte que
fiquei com medo de passar mal.
Aquela mulher... Eu a mataria, se descesse e ela ainda estivesse na
sala, a arrancaria para fora pelos cabelos.
Como ela podia fazer algo daquele tipo?
A insegurança me corroeu porque ele... Me trouxe para atingi-la, não
importa quanto nossa relação tenha evoluído, ele ainda me trouxe para atingi-
la. E se não a tivesse esquecido?
Minhas mãos formigaram quando ouvi sua voz me chamar.
Decidida a não abrir a porta, pedi que ele fosse embora. Quando tudo
ficou em silêncio, pensei que tivesse ido, então Octor voltou a pedir para
abrir a porta.
Vê-lo do outro lado me apertou o coração. Seus olhos confusos que
me encararam meio desnorteado quando entrou e me puxou para seus braços
num abraço apertado.
— Não aconteceu nada, acredite em mim.
Fiquei quieta, sentindo-o me apertar.
— Não sei o que deu nela, quando me encontrou na confeitaria...
— Espera, vocês se encontraram mais cedo?
Me soltei de seus braços, encarando seu rosto.
Os ombros de Octor encolheram e ele assentiu.
Merda, por que não me contou?
Andei para longe, tentando recuperar o ar e pensando onde foi que eu
errei aqui, achava que tínhamos ao menos uma relação de confiança um com
o outro.
— Não te contei porque não significou nada para mim...
— Nada? Você ficou o dia inteiro mal humorado. Foi por isso, não
foi?
— Não foi por ela. — Determinou — é o Liam. Ele é meu irmão,
fiquei puto pelo o que ela me disse, porque estava fazendo-o de bobo. Ela é
uma ex, mas ele sempre será meu irmão.
Analisei sua feição me perguntando se deveria confiar.
Octor andou e se sentou na cama, bufando e colocando a mão entre o
rosto.
— Essas coisas acontecendo entre nós dois... Não deveria ter
acontecido. Isso ainda mexe muito com você e esse lugar te deixa confuso.
Nosso casamento é de mentira e...
— Não Sofia, não fala isso... Por favor.
— Estou encarando a realidade. Se não houver casamento, podemos
voltar para casa amanhã de manhã. — Determinei, vendo o choque em sua
face. — É melhor voltarmos a nossa realidade, Octor. Eu sou só a assistente
comum que você trouxe para provocar sua ex, nós dois deixamos isso ir
longe demais.
— Não fale assim de si mesma.
— Assim como? — Bufei — sem esse banho de loja que você me
deu, sou apenas uma garota comum que nem tinha onde morar, com uma
irmã pequena, desesperada por um milagre de Natal até que você me fez uma
proposta irrecusável. Não sou quem você pensa, sou quem você criou para se
moldar ao papel de sua esposa. Você não vai me querer como eu sou.
— Não finja que estava atuando, principalmente quando estivemos
juntos nessa cama. Não faça isso conosco, Sofia. Não nos resuma a nada
porque está com medo.
— Medo? Estou apavorada, Octor! Tenho uma criança para criar e
não posso me dar ao luxo de me preocupar com coração quebrado! Não posso
viver um sonho de Natal com um bilionário. A realidade da vida é outra.
Ele me olhou por longos segundos, se colocando de pé. Octor não
desviou os olhos de mim quando se aproximou, tocando meu rosto com às
pontas dos dedos.
— Não nos resuma a dinheiro, Sofia... Não faça isso comigo.
— Não estou nos resumindo a nada. É o melhor para nós dois,
sabíamos que seria assim. Duas semanas e acabou, lembra?
— E o processo de adoção da Emma? — Ele jogou rápido demais.
Por alguns segundos me lembrei das palavras do advogado e prendi a
respiração. Ser casada com ele era uma garantia que teria Emma de modo
definitivo. Que poderia colocar meu nome em sua certidão, ser de fato sua
mãe.
Respirei fundo me afastando do seu toque, precisava pensar.
— Preciso ver como vai ficar com meu advogado...
— Já falei com o meu. Ele me assegurou que até janeiro tudo estaria
resolvido, desde que estejamos juntos. — Ele jogou.
Surpresa.
Havia surpresa no meu corpo inteiro quando tremi com o prazo.
Octor procurou um advogado para falar de Emma?
Saber que ele se importava a esse ponto me fez querer chorar ainda
mais.
Meus olhos esquentaram e olhei em outra direção.
— Mais algumas semanas, pela Emma… então você estará livre.
O sorriso no seu rosto... O brilho que retornou aos seus olhos... podia
jurar que ele até suspirou de alívio.
— Algumas semanas é tudo que eu preciso, Sofia — determinou. —
Agora vamos, é Natal, amor. Não é dia de divórcio.
Passei por ele sem deixá-lo me tocar, precisava ficar longe da
tentação. Antes de descermos, olhei bem em seus olhos. Octor fez uma
promessa velada que se comportaria e assenti.
— Com uma condição. — Antes de descer, murmurei. Ele me olhou
ansioso pelo o que falaria. — Já que estava preocupado com seu irmão, vai
perdoá-lo e se esforçar para reconstruir o que os dois tinham.
Os olhos de Octor se estreitaram no meu, levou alguns segundos, mas
ele assentiu.
— Qualquer coisa que você quiser, Sofia.
Na sala, a música de antes estava mais baixa, os pais de Octor
conversavam em voz baixa e Sienna estava sentada sozinha.
— Ei, onde está Dominic? — Murmurei cutucando seu ombro. —
Vamos comer um doce, eu preciso.
— Você está bem, Sofia? — Minha sogra perguntou.
Ela parecia tão chateada que caminhei até ela e lhe dei um abraço.
— Liam está lá fora conversando com o Dominic. Ele cancelou o
casamento, Sofia. Terminaram. — Murmurou em voz baixa.
Olhei ao redor e Octor não estava mais na sala.
O pai dele foi atrás.
— Que natal, hein? — Murmurei para as duas — nós duas sabemos
que Liam não seria feliz nesse casamento. Tudo acontece do jeito que precisa
acontecer.
Nós nos abraçamos novamente e puxei às duas pelas mãos rumo a
cozinha. Já estava tudo limpo, abria a geladeira pegando às tortas que Octor
comprou e três colheres.
Doce antes do jantar, pelo menos hoje seria permitido.
Uma boa exceção.
Capítulo 28
Octor
Natal
Com uma taça de vinho entre os dedos, roupas quentes e nada bonitas
para uma noite de virada do ano, observo a cena atípica a minha frente.
Esse deveria ser um momento nosso, mas quando o relógio soou meia
noite e a queima de fogos do lado de fora iniciou, Emma acordou assustada e
chorando muito. Nós estávamos jantando juntos – Octor e eu, já que sua mãe
havia retornado ontem à tarde para South Later, queria virar o ano ao lado do
marido e Liam não aceitou ficar conosco. Então, meu lindo marido
simplesmente informou que iria buscá-la.
Fiquei surpresa porque antes de ir, a mãe de Octor me olhou nos olhos
e disse algo que me deixou pensativa: “estou feliz que vocês finalmente
ficaram bem”, olhando para Octor, quis perguntar se contou a sua mãe que
não éramos um casal real e agora tentávamos ser, mas não quis dizer nada...
Nossa bolha mágica permaneceria intacta.
Caminhei para sala com meu vinho para aguardá-los, minha chorona
grudou no pescoço de Octor, ainda muito assustada, mas logo ficou
deslumbrada quando ele a levou até a janela e mostrou o motivo do barulho.
Buddy, que estava muito assustado também, permaneceu ao meu lado
e acariciei seus pelos, tentando acalmá-lo.
Em alguns estados a lei de fogos de artifício sem som já haviam sido
aprovadas, por que às pessoas não podiam ter o senso de coletividade?
Haviam bebês pequenos na vizinhança, assim como gestantes, idosos,
autistas, bichinhos de estimação, crianças sensíveis a explosões noturnas. Um
extenso grupo que deveria estar sofrendo como o senhor Buddy e minha
garotinha.
Octor foi doce, acariciou seus cabelos, secou suas lágrimas e beijou
sua têmpora. Emma deitou a cabecinha em seu peito, mas ficou olhando
atenta o brilho no céu. Eram bonitos, mas barulhentos e eu os detestava
demais para ir assistir, além de não querer atrapalhar o momento fofo entre
eles.
Sentei no sofá e Buddy sentou aos meus pés, me senti importante por
ele buscar conforto em mim ao invés de seguir atrás de Octor e sua melhor
amiga, a senhorita Emma.
Por volta da meia noite e meia os fogos diminuíram gradativamente,
sendo apenas um ou outro em espaço de tempo longo. Octor voltou para o
sofá, sorrindo em minha direção e perguntou se Emma queria montar legos
com ele.
Sim! Meia noite e lá vai fumaça e os dois estavam criando um castelo
de legos!
Ele a mimava tanto! Passou os dias a conhecendo, aprendendo a
preparar sua mamadeira, conhecendo seus horários e pela primeira vez,
ontem à noite, Emma teve uma história antes de dormir ao invés das suas
canções. Ela não deu muita bola para o livro, mas adorou às imitações que
Octor fazia para às vozes dos personagens.
Eu estava tão apaixonada que me perguntava se era possível amá-lo
ainda mais. Ele não era só incrível comigo, gentil, amoroso e um excelente
amante na cama. Ele adorava Emma, simplesmente dedicava seu tempo a ela
e não somente para me agradar.
Eu disse que iria pensar sobre sua proposta..., mas o que tinha para
pensar? Nunca encontraria alguém mais devotado que ele, mais entregue e
disposto a me aceitar com uma filha... Disposto a ser um pai para ela. Seria
egoísmo tirar dela a oportunidade de ser amada e protegida, porque era assim
que me sentia ao lado dele, querida, amada, protegida, admirada...
Seus olhos voltaram-se para mim, capturando meu momento de
admiração para os dois. Octor não sabia, mas estava se tornando um bom pai.
Ele tinha o instinto, a coragem e o bom coração.
— Quer vir montar os blocos, mamãe? — Ele sorriu com o convite.
Fiz que não com a cabeça, sorrindo de volta.
Era o momento deles e eu preferia assistir.
Buddy dormiu aos meus pés e Emma bocejou.
Era por volta das uma e vinte quando ela engatinhou no chão, subiu
no colo de Octor e deitou em seu peito. Sorrindo, meu lindo marido olhou
para mim e ficou envaidecido por ser a escolha do colinho para dormir.
— Não a critico, também escolheria você. Poderia me colocar para
dormir também, papai? — Ele riu. Suas bochechas ficaram vermelhas, mas
assentiu.
Caminhei com ele para cima, Buddy ficou dormindo no tapete
quentinho da sala. Emma estava em seu berço, protegida e aquecida. A babá
eletrônica ligada, com a câmera direcionada ao seu berço. Era avançada e
Octor colocou outras câmeras em ponto estratégico no quarto.
Ele era obcecado por segurança.
Havia dezenas deles do lado de fora, já fui alertada que se quisesse
sair, precisaria de um motorista e no mínimo dois seguranças me
acompanhariam. Se Emma estivesse junto, seria uma pequena força tarefa
com quatro seguranças. Questionei se aquilo era realmente necessário e Octor
disse um sim de forma firme, que não dava margem para contestar.
— Mais vinho ou dormir? — Perguntou quando saímos do quarto da
nossa menina.
— Fazer amor...
O sorriso malicioso que recebi me provou que essa era a melhor ideia.
Quando nos trancamos em nosso quarto, sua boca cobriu a minha com
rapidez em um beijo dominador. Octor nunca me dava muito espaço para
respirar ou pensar, ele me queria e provava isso com ímpeto. Meu querer por
ele era quase doloroso.
Sua ereção volumosa empurrou contra meu abdômen, quando me
suspendeu pela bunda e me jogou na cama, puxando minha calça para fora
com agilidade. Seus olhos não me abandonavam jamais.
Sua boca cobriu a pele nua da minha perna, beijando, mordendo e
lambendo cada pronto até minha lingerie branca. O sorriso comedor em seu
rosto mostrou que ele aprovou a peça pequena e safada dessa noite.
Diferente dos outros dias, ele não rasgou ou retirou, decidiu que me
comeria com ela. Me chupou por cima do tecido fino e transparente e eu
estava molhada para ele.
— Cheirosa e minha — suas promessas me deixavam enlouquecida.
Não queria esperar e puxei sua boca para a minha quando ameaçou
lamber meus peitos.
— Quero você agora, por favor.
— Você me tem, amor.
Doce e forte.
Adorava suas nuances.
Octor se livrou das roupas, se posicionou entre minhas pernas e ao
afastar minha calcinha, me deliciou com uma morte lenta. Penetrando aos
poucos, sentindo cada espaço seu preenchendo meu interior, adaptando-se as
minhas paredes molhadas que se apertavam em seu membro grosso.
— Você é tão gostosa, baby. Amo foder você.
— Então me fode forte! — Seu sorriso malicioso aprovou meu
pedido.
Octor começou a bombear contra mim num ritmo que me
enlouquecia, preenchendo cada canto, rebolando seus quadris para atingir o
colo do útero, causando um formigamento delicioso.
— Tão linda... Tão minha... Eu amo você, Sofia.
Seus olhos grudaram nos meus, não desviaram.
Meu coração batendo tão rápido, tão forte...
Era a primeira vez que ele dizia que me amava.
Meus olhos lacrimejaram e eu vi quando minha primeira lágrima caiu
junto a dele. Não era só pela emoção, o prazer era como uma morte lenta que
mexia com minhas emoções, juntamente com sua frase cheia de amor que me
penetrou a alma.
Envolvi seu rosto em minhas mãos, puxando-o em um beijo
apaixonado.
Octor aumentou o ritmo, gemendo em meus lábios, me abraçando
pela cintura enquanto eu o arranhava nas costas. Arfei em sua boca,
murmurando que queria gozar e ele fodeu com mais força.
Não nos desgrudamos, senti meu corpo explodir em particular
infinitas de prazer, meu corpo arqueou com força em sua direção e seus
lábios sugaram os meus em um beijo de tirar o fôlego.
Octor veio logo em seguida, senti quando seu pau inchou dentro de
mim, pulsando forte e liberando jatos precisos, longos e quentes.
Porra, isso era incrível. Ele fazia de um jeito incrível.
— Eu te amo — sussurrei quando sua testa colou na minha — e
aceito ser sua esposa para sempre.
O sorriso dele foi tão lindo que me fez chorar mais um pouquinho.
Octor encheu meu rosto com seus beijos, suas promessas de amor, sua
felicidade que me tirava de órbita. Meu coração acelerado batendo em meu
peito, a sensação de paz e pertencimento.
Não havia nenhum arrependimento.
Octor era meu, o lindo presente que recebi no Natal. O marido por
contrato que me amou sem que eu percebesse e que roubou o ar dos meus
pulmões, me condicionando a sua presença viciante.
Não havia escolhas para nós dois, já éramos um do outro antes de
percebermos.
Epílogo
Octor
1 Ano Depois
— Papai! A estrela!
Toda vez que ela me chamava assim meu coração errava uma batida.
Emma estava linda em seu vestido vermelho com pompons branco
aplicados na ponta e um gorro verde. Hoje ela é a secretária do Papai Noel e
do papai também. Passou o dia inteiro fiscalizando a decoração de Natal,
porque de acordo com seu perfeccionismo no auge de seus três anos de vida,
tudo precisa estar lindo ou o Papai Noel não viria.
Minha mini adulta estende seus bracinhos exigentes e eu a ergo,
contendo um sorriso divertido. Sei que Sofia está nos olhando de longe,
porque quando estico meus braços para que Emma conserte a estrela no topo
da nossa árvore de Natal, uma risada gostosa preenche nossa sala em South
Later.
— Agora tá lindo! — Minha garotinha dispara.
— Agora ficou perfeito, amor. Muito obrigado, o que eu faria sem sua
ajuda, filha?
Ela adora elogios.
Meu peito enche de orgulho quando seus bracinhos pequenos rodeiam
meu pescoço num abraço apertado e ouço a frase que faz tudo valer a pena.
— Te amo, papai! — Um beijo estalado é depositado na minha
bochecha e recebo um daqueles sorrisos lindos que renovam meu dia.
— Também te amo, princesa. Agora vai brincar.
Ela sai correndo em disparada para seus brinquedos e penso que é
assim que quero conservá-la, nada me deixa mais feliz quando vejo minha
filha brincando com brinquedos reais. Adoro a forma como Sofia a criou sem
precisar mantê-la vidrada em tecnologia, deixando que Emma fosse uma
criança livre em contato com a natureza e é assim que continuaremos a cria-
la, agora juntos.
Ter o prazer de dividir a vida com a senhora Luxton não tem preço.
Nunca poderia dizer a ela o quanto sou grato pela família que recebi. Ano
passado, nessa mesma época, queria uma esposa de mentirinha para que não
pensassem que eu era um fracassado que ainda estava apaixonado pela ex.
Nunca esperei receber amor, confiança e companheirismo de volta. Nunca
pensei que pudesse ser tão feliz ao ter uma família, alguém para voltar e
dividir todos os momentos.
— Eu também te amo, papai! — Minha esposa brinca, caminhando
para meus braços.
Tê-la tão perto de mim me torna a porra do homem mais sortudo do
planeta. Não há nada nessa mulher que eu não ame com loucura, não sei
como é possível que todo dia eu me apaixone ainda mais por seu cheiro, ame
sua boca, a queira como um viciado que nunca se recuperará.
Em meus braços, beijo seus lábios e seguro em suas mãos para beijar
onde minha aliança enfeita seu dedo anelar. Não aquela aliança de
mentirinha, uma nova, ainda mais bonita e brilhante, para combinar com seus
olhos. Minha esposa merecia o mundo e eu me esforçava para dá-lo a ela
todos os dias.
— SOFIA, toque Best Part[vi]. — Comandei, ouvindo a melodia
iniciar nos aparelhos de som integrados ao sistema inteligente da casa —
dança comigo, esposa?
— Ainda não acredito que você deu mesmo meu nome para a
inteligência artificial...
— Tudo pelo seu sorriso lindo, esposa... E também pelas vendas,
óbvio... Todos querem comprar a esposa de Octor Luxton.
— Não revira os olhos, você deu meu nome a ela.
Impossível não rir.
Dar o nome de Sofia para minha nova criação causou um caos
midiático que não estava prevendo, a revelação do nosso casamento explodiu
em grandes proporções tornando SOFIA o produto mais vendido pela Luxton
Corporation em questão de minutos após sua estreia no mercado tecnológico,
o índice de vendas se manteve devido a eficiência do produto, mas é bom
frisar que minha equipe de estratégia e marketing não teve trabalho para
vender o produto, SOFIA vendia sozinha, pela sua eficiência e porque a
interface inicial era do rosto bonito que dormia ao meu lado.
— Me desculpe por ser um bastardo ciumento, baby. É mais forte que
eu.
— Perdoado, sempre.
Nós dançamos lentamente bem juntinhos nossa música favorita, com
nossa plateia favorita que aplaudiu quando se encerrou. Emma correu
querendo entrar na dança e minha esposa pediu que SOFIA tocasse canções
natalinas.
Eu amava minha família mais que tudo.
Com Emma em meus braços, dançamos os três até que nossa bolha
fosse explodida com a chegada do nosso primeiro convidado.
— Tio Liam! — E nossa garotinha espoleta correu para meu irmão.
Nossa relação estava progredindo, mas ainda estava longe de ser
como antes. Meu irmão passou por meses difíceis após a separação com...
você sabe bem quem, então decidiu que voltaria a viver em South Later,
desde então parece bem melhor, apesar de haver uma angustia profunda que
paira em seus olhos toda vez que me encara.
— Trouxe presentes, coelhinha! Venha ver.
Sufocado com os abraços e curiosidades de Emma, Liam apenas
acenou e lançou um sorriso animado. Distantes, observamos a festa da minha
garotinha pelos seus presentes de Natal.
— Aproveitando que ela está entretida com Liam, você pode me
acompanhar até o quarto? Queria te dar seu presente de Natal...
— Tão cedo, esposa? Você é uma insaciável...
— Pare com isso! — Gargalhei com sua reação a minha
brincadeirinha.
Sofia estapeou meus braços enquanto subíamos os degraus, me
repreendendo por sempre deixá-la embaraçada em público, mesmo que
ninguém ouvisse minhas provocações. Suas bochechas coradas eram sempre
um indicativo que seu marido estava sendo um provocador com palavras
inapropriadas para menores de dezoito.
Sofia estava ainda mais gostosa nas últimas semanas, com os seios
cheios e a bunda redonda que estava me enlouquecendo ultimamente. Ela
adorava minhas provocações, principalmente na cama, quando me dedicava
em explorar seu corpo inteiro, louco para me afundar em lugares ainda
inexplorados.
Como o viciado que eu era, assim que nós fechamos em nosso quarto
minha boca já estava na sua. Ávida, correspondeu meu beijo eloquente. Cobri
sua língua macia na minha, chupando gostoso e minha esposa gemeu na
minha boca, puxando meus cabelos recém-cortados sem nenhuma gentileza.
Nós fodemos de manhã no chuveiro e fizemos amor na cama, nunca
parecia o suficiente, mesmo que passasse o dia inteiro dentro do seu corpo.
Ter filhos significa que os horários são diversificados, além de privacidade
ser algo em extinção. A porta sempre ficava aberta, mamãe e papai sempre
dormiam de roupa, porque nossa filha mimada aparecia quando menos
esperávamos e se enfiava em nossas cobertas, chorando por um pesadelo ou
apenas querendo colo.
— Pare com isso, nossa família está chegando... — Seu pedido não
era bem um pedido, porque Sofia estava agarrada em meu pescoço, gemendo
abertamente quando minha língua sugava a pele gostosa de seu pescoço e
bebia seu perfume cheiroso.
— Preciso de você agora... Você me quer, baby?
— Quero você o tempo inteiro.
Adorava suas respostas sinceras.
— Então por que colocou uma roupa tão fechada? Porra amor, quero
chupar seus peitos.
Rolando na cama, minha esposa ficou de costas e desci o zíper do seu
vestido. Era bonito pra caralho, mas ela ficava ainda mais bonita sem ele.
O corpo lindo ficou exposto para mim.
— Vamos começar por essas costas lindas. Eu amo seu corpo, você é
tão gostosa, amor.
Cobri sua pele de beijos, querendo que sentisse todo meu amor. Seu
corpo merecia ser adorado como a deusa que ela é.
Sofia me entregava seus gemidos sôfregos, apertando o lençol da
cama, arfando sem controle.
— Eu amo tudo que você faz, mas só preciso de você dentro de mim.
Me fode, Octor. Não quero esperar.
Rindo, a virei de frente para mim.
Os olhos da minha esposa pegavam fogo quando suas mãos agarraram
minha nuca e nossos lábios se tocaram em um beijo selvagem.
Com pressa, sua mãozinha perigosa serpenteou pelo meu abdômen até
desafivelar meu cinto e abrir o botão da calça.
— Quero lamber você inteira.
— Não! Agora só quero você, depois você me lambe inteira.
Desfiz as calças com pressa, empurrando a boxer pela perna e
apressada em seu tesão, Sofia direcionou meu pau até a boceta encharcada.
Ela estava mesmo pronta para mim.
Nossa conexão era surreal.
Não havia ninguém no mundo como ela, para mim.
Dançamos juntos, no mesmo ritmo, desesperados pela sensação finita
de prazer que compartilhávamos. Nossas bocas se beijando sem pausa, suas
pernas enroscadas, presas com firmeza em minhas costas me dando a
liberdade de entrar sem reservas, arremetendo seus gemidos, roubando seu
prazer.
Sofia era meu ar, tudo de mim, mas adorava quando ela dizia que eu
também era o tudo dela.
— Eu te amo infinitamente... Vou gozar para você, amor... — Sua
entrega acelerava a minha.
— Porra, você é maravilhosa. Amo você, amor. Para sempre.
Nós gozamos juntos, em gritos contidos pelo beijo voraz que
trocamos. A onda de prazer que se perpetuava quando a boceta apertada
contraia, me prendendo dentro dela.
Exausto, rolei para seu lado e a puxei para meus braços. Amava nosso
sexo, mas os pós eram incríveis. Segurá-la em mim, sentir sua respiração
ofegante, beijar seus cabelos e jurar meu amor… tê-la era tudo para mim.
— O seu presente... — Ela lembrou dando uma risada.
— Você é meu presente de Natal, linda. Você e a Emma.
— Mas você nem sabe o que é...
Com um sorrisinho misterioso, ela se levantou do meu braço e correu
para o closet, coloquei os braços atrás da cabeça para admirar minha mulher
linda pra caralho desfilando nua pelo nosso quarto.
Sofia voltou com uma caixa pequena nas mãos e um sorriso lindo de
ansiedade.
Sentei-me, a recebendo em meus braços e segurando seu presente.
Beijei sua boca agradecendo, ela sempre me surpreendia com os presentes
mais inusitados que me emocionavam.
— Tenho certeza que vou amar — adiantei antes mesmo de abrir.
Mas nada me preparou para o que veria dentro da caixinha quadrada.
Bem acima, havia uma foto pequena de um ultrassom. Olhei para minha
esposa sentada ao meu lado, buscando confirmação para aquilo que eu
pensava e então os olhos dela bateram de volta na caixa.
Um par de sapatinhos miúdos e vermelhos estavam ao lado de um
teste de gravidez.
— Caralho, nós vamos ter outro bebê, amor? — Assentindo, minha
esposa derramou lágrimas quando a puxei para meus braços. — Vou ser pai
de novo! Porra... Baby, não pensei que pudesse ser mais feliz que já sou. Eu
amo tanto você, Sofia. Tanto! Nunca pensei que pudesse existir um amor
assim, nunca achei que fosse possível amar assim... Já sou feliz para caralho
sendo o pai da Emma e não acredito que teremos outro filho.
Sofia chorou um pouco mais, mesmo sorrindo e sequei suas lágrimas
com beijos. Odiava vê-la chorar, ainda que fosse de felicidade.
— Não existe no mundo um homem tão generoso como você, Octor...
É por isso que você é o amor da minha vida. Imaginei que ficaria feliz, mas
nunca pensei que fosse adicionar e não subtrair. Não sei porque achei que
você diria “serei pai” e não “serei pai outra vez”, como sou boba...
— Não é boba... Não fale assim, você sabe o quanto amo a Emma e
sou grato por me permitir ser o pai dela, por ter me permitido ocupar o
espaço na certidão de nascimento. Isso é muito importante para mim. —
Beijei seu rosto e segurei suas mãos. — Não estou acreditando que vamos ter
um bebê, amor. Você foi ao médico? Quantas semanas? Quero ir na próxima
consulta com você, meu Deus...
— Se acalma, vou contar tudo a você. Agora temos que descer, nossa
família está nos esperando.
Ainda rindo, a puxei para meus braços e deitei na cama. Estava feliz
demais, eles que esperassem um pouquinho até que eu soubesse de tudo e
assim desceríamos para compartilhar nossa felicidade.
No ano passado, estava sozinho, pensando que nunca teria uma
família. Sequer queria me envolver com alguém, tão amargo pelos danos
causados por terceiros... Agora eu tinha uma esposa linda, cheirosa e incrível,
que me deu uma filhinha que roubou meu coração e agora nós teríamos um
bebê juntos. Fruto do nosso amor.
Admirando os olhinhos apaixonados da minha esposa contando tudo
sobre como descobriu a gravidez e a consulta que teve há dois dias com seu
médico, pensei que nada mais pudesse me fazer feliz e logo descartei essa
hipótese, com Sofia essas possibilidades eram infinitas.
Definitivamente o Natal sempre seria uma data especial para nós dois.
FIM
Bônus
(Trilogia Irmãos Darrell – Livro 3)
AIDAN
— Você é lindo, todo cheio de tatuagens... — Ouvi o sussurro
embaixo de mim.
Essa era a hora que ela perguntaria o significado de cada uma, como
se toda tatuagem precisasse de um. Odiava essa pergunta, simplesmente
porque algumas não precisam ter significado e outras são pessoais demais
para serem traduzidas para a transa da noite.
— Quem é Rose? — Murmurou, dedilhando seu dedo na caligrafia
elegante marcada sob meu peito.
Por reflexo, olhei exatamente o ponto que contornou e pensei que
estava na hora de um retoque. Essa foi minha primeira tatuagem, fiz
escondido dos meus avós quando ainda tinha dezesseis. Passei meses de
camisa e sem entrar na piscina, mas nas férias de verão daquele ano fui
descoberto pelo meu irmão mais velho.
Não era uma das minhas lembranças preferidas, por isso não gostava
de falar sobre os significados das minhas tatuagens.
Segurei os dedos nervosos e encarei minha foda da noite. Susie?
Sunny? Sunset? Foda-se seu nome, o jeito atrevido me mostrou que esse seria
nosso primeiro e último encontro.
— E quanto à Liv? — Sorriu, puxando os dedos e apontando para o
nome desenhado na minha costela.
Franzi o cenho para o atrevimento, mas gentil o bastante para apenas
retirá-la do meu colo e sentar-me.
Porra, se não queria falar sobre Rose... De jeito nenhum falaria sobre
Liv. Aquela era minha aquisição mais recente e ainda estava dividido entre
arrependimento e tristeza toda vez que encarava o apelido marcado em minha
pele.
— Você faz muitas perguntas.
— E você não responde nenhuma. — Ela riu, imitando meus
movimentos também ficou de pé e apontou para frase no meu pescoço. —
Ame. Lute. Vença. Dessa eu gostei.
— Não as fiz para agradar a ninguém.
— Desculpa se fui indiscreta, adoro tatuagens e às suas me fascinam.
Você já vai?
Já deveria ter ido antes, penso.
Geralmente fico até de manhã e às vezes até repito, mas algo no olhar
dessa mulher me deixou enjoado quando questionou com quase deboche
sobre os nomes femininos marcados em minha pele. O que ela pensou?
Ninguém tatua o nome de alguém que não seja importante, de alguém que
não vá amar para sempre. Ao menos é assim que vejo.
Assinto, porque apesar disso não quero ser desagradável. Ela me
ofereceu um sexo mediano, mas não podia negar que era empenhada em fazer
da minha noite especial ou marcante.
Todas fazem, suspiro.
— Você vai me ligar?
Faço que sim com a cabeça, só não quero que esse momento seja mais
constrangedor que o necessário.
Amarro o cadarço do meu tênis, enfiando a camisa de qualquer jeito
pelos braços, buscando pelo meu celular, carteira e chaves do carro.
— Adorei nossa noite. Você tem meu telefone e sabe onde moro,
pode aparecer quando quiser.
— Obrigado. Também gostei.
Ela me acompanha até a porta e continua falando sobre como nós dois
fomos bons juntos e outras coisas que ignoro no caminho. Quando abre a
porta para mim, deixo que se debruce em meu peito e me dê um beijo
molhado.
Céus, ela não vai desgrudar.
— Preciso ir.
— Até breve.
Não espero que feche à porta, ignoro o elevador e sigo pelas escadas,
ansioso para fugir do seu campo de visão. Na descida, tiro meu celular do
bolso e bloqueio seu número. Geralmente aguardo uns dias para isso, mas
hoje definitivamente tenho certeza de que nunca mais quero vê-la.
Do lado de fora, consigo respirar de novo. Parecia que eu estava com
uma espada no pescoço, sendo interrogado pela máfia russa, quando na
verdade era só uma mulher que não conseguia conter sua curiosidade.
Abraçando minha costela, penso nela... Minha Liv. Essa noite quis
muito vê-la, talvez essa seja a justificativa de ter acabado na cama antes da
meia noite, com a primeira mulher semelhante a ela que encontrei. Quando vi
a aparência dos cabelos negros volumosos, a boca cheia e os olhos pequenos
repuxados que tanto lembravam a minha Liv, não resisti. Mas sua
personalidade intrometida nada tinha a ver com ela. Por vários momentos só
queria que a mulher fechasse a boca por alguns minutos e me deixasse
fantasiar em paz.
Eu era um bosta, sabia disso muito bem, mas há anos sei que essa é a
única forma de tê-la porque, de alguma maneira, consegui fazer com que a
morena dos meus sonhos me odiasse.
Cansado da procura incessante de alguém ou alguma coisa que me
fizesse esquecê-la, desisti de perambular pela noite e decidi ir para casa.
Amanhã inventaria alguma desculpa para ir até a Darrell somente para vê-la.
Dentro de mim a necessidade de ter seu rosto lindo sob minha visão crescia a
cada segundo junto com a certeza de que jamais haveria uma substituta
dentro do meu coração para Olívia Shelby.
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