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Esposa Contratada Para

O Natal
CATIELE OLIVEIRA
Copyright © 2021
Copyright © 2021 por Catiele Oliveira.
Título original: Esposa Contratada Para O Natal
Primeira Edição 2021
Rio de Janeiro, Brasil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode


ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos
ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito desta autora, exceto no
caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos
não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios,
eventos e incidentes são ou os produtos da imaginação do autor ou usados de
forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou
eventos reais é mera coincidência.

Autor: Catiele Oliveira

ESTA AUTORA NÃO PERMITE A DISTRIBUIÇÃO


DESTA OBRA EM PDF, SUJEITO A SER
PENALIZADO LEGALMENTE.
Para os apaixonados por romances de Natal.
Sumário
Copyright © 2021
Nota da Autora:
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Bônus
Obras da Autora
Nota da Autora:
Primeiramente, quero agradecê-lo por sua presença. Espero que goste
desse livro.
Esse é o primeiro livro da Série Magnatas de Seattle, que contará a
história de um grupo de amigos e aliados poderosos que comandam uma
cidade inteira e o seu submundo.
A Esposa Contratada Para O Natal narra a história de
Octor e Sofia, duas almas opostas que aceitam um casamento de
conveniência para o Natal. Octor está desesperado após receber o convite
para o casamento de sua ex, do outro lado, Sofia encontra-se com um
problema financeiro gigantesco, assim surge o acordo de duas semanas que
mudará suas vidas para sempre.
Todos os livros da série são independes, podendo serem lidos
separadamente. Há menções sobre personagens dos livros anteriores e talvez
spoilers.
Esse livro faz uso de palavras de baixo calão e
cenas inapropriadas para menores de 18 anos.
Espero que se divirtam lendo, assim como me diverti escrevendo.
Vejo vocês no final, um beijo e boa leitura.

Catiele Oliveira
Sinopse
Quando Octor recebeu o convite de casamento de sua ex-namorada,
ficou tentado em aceitar, mas como comparecer ao evento na noite de Natal
para presenciar o casamento da única mulher que pensou ter amado,
justamente com àquele que devia ser seu melhor amigo?
Sofia estava desesperadamente precisando de dinheiro quando seu
chefe fez uma proposta irrecusável: um milhão de dólares em troca de ser sua
esposa por duas semanas.
O que eles não contavam, no entanto, era com a magia que o Natal
tinha. O acordo era benéfico para ambos e se apaixonar não estava incluído,
mas como Sofia e Octor lidariam com a crescente atração entre eles?!
Capítulo 1
Octor
Passando a mão pelo cabelo de modo impaciente, me perguntei se
esse dia horrível não teria fim. Quando me levantei nessa manhã, a última
coisa que veio em minha cabeça foi que uma notícia pudesse foder o bom
desempenho de uma semana inteira.
Filha da puta, rosno para mim mesmo.
O pensamento que ela fez de propósito não passa despercebido.
Encaro o envelope elegante na minha mesa, com a caligrafia lustrosa
que eu conhecia bem. Meu nome estava escrito em letras douradas,
caprichosas e o ‘R’ no final foi alongado, do jeito que ela sempre escrevia,
mas antes emendava um coração na borda da letra e agora há apenas um
ponto final, como se debochadamente ela murmurasse: você me perdeu.
Uma batida na porta afasta minha mente do fato horrível, liberei a
entrada e minha secretária eficiente anunciou a chegada de Dominic. Como
se ele precisasse ser apresentado como se fosse membro da realeza.
O desgraçado paquerador sorriu galante para a garota que corou,
saindo quase correndo e fechando a porta com ela.
— Gostei dessa, ela parece crua.
Levei o comentário a sério por alguns segundos, fazendo uma rápida
análise sobre Sofia durante esses três meses que estamos trabalhando juntos.
Ela é ágil, inteligente, quieta e faz seu trabalho com perfeição. O que mais me
atrai nela é forma que consegue escapar das piores situações com uma
resiliência invejável, afinal, ela sobrevive a mim diariamente. Apesar de já tê-
la visto chorar quietinha duas vezes porque fui estúpido e gritei com ela.
Nesses momentos sentia falta de Audrey quase imediatamente, mas minha
assistente principal estava cumprindo sua licença maternidade e Sofia foi a
escolhida para ocupar seu lugar durante o período.
— Foda-se, tire o olho da minha assistente — ignoro os últimos
pensamentos e encaro Dominic[i]. O homem que parece viver eternamente
nos seus vinte e poucos anos age de forma sorrateira, enchendo um copo com
uísque e se sentando na cadeira livre em frente à minha mesa. — O que veio
fazer aqui?
— Passar o tempo, bater papo, reclamar da vida...
— Está parecendo minha ex.
Só a menção o faz sorrir e então percebo o motivo dele ter vindo.
Inclino meu rosto em direção ao convite ainda lacrado sob minha
mesa, rio de lado amargamente e os olhos do meu amigo seguem o
movimento da minha cabeça. A feição dele é quase de desdém ao fitar o
envelope cor de creme, cruzando às pernas em seguida e bebendo seu uísque.
Talvez eu precisasse de uma dose ou duas, também.
— Recebi o meu há duas horas atrás. Ela vai casar mesmo.
— É o que parece — bufo.
A única mulher que possivelmente já amei nessa vida está de
casamento marcado.
Deixo uma risada sarcástica soar, porque isso é muito fodido. Estico a
mão para pegar o envelope, abro e leio os dizeres do convite.
Minha risada se torna mais longa, quase prazerosa.
— Puta merda, inacreditável.
— Não é? — Dominic questiona no mesmo tom. — Eles vão se casar
no Natal. Tem como ser mais romântico que isso?
Rio tão amargo, tendo a certeza agora que ela gostaria de me punir.
Esses não eram os nossos planos de adolescência?
Incrível como esse passado parece ter séculos quando, na verdade, faz
pouco mais de três anos. Incrível como fazemos planos em um dia e no outro
a pessoa com quem você jura passar o resto da vida diz que não te ama mais.
— Parece que não tem. — Dividido entre rasgar o convite ou
queimar, deixo jogado na mesa e inspiro com força, me sentindo sufocado
pra cacete.
Essa não é a primeira vez que ela arruma um jeito de esfregar sua
felicidade em mim, como se estivesse me punindo.
Deus, quando essa sensação de fracasso vai passar?
— Você irá? — Dominic está tentando fingir que isso não é nada
demais e fico grato.
De jeito nenhum irei, não quero olhar na cara de todos que
conviveram conosco e sabiam de cada detalhe dos planos ambiciosos que
minha ex tinha sobre nos casarmos, e então, pensarem que estou lá
esperançoso para que ela o deixe e se lembre das promessas que um dia fez a
mim.
Cidade pequena era uma merda, mas a cidade que eu nasci e cresci
conseguia superar qualquer porcaria clichê de filme. Eles eram mais que
fofoqueiros, eram invasivos, apareciam sem chamar e entravam como se
fossem de casa. Não havia um maldito morador daquela cidade que não
soubesse detalhes da vida do outro.
E é lá que ela quer se casar, penso.
A ironia desse fato é que ela sempre odiou a vida simples de cidade
pequena. Foi ela quem disse pela primeira vez que precisávamos fazer
dinheiro e partir daquele lugar. Talvez devesse agradecê-la, afinal, graças a
minha determinação em lhe dar o mundo, consegui conquistar o inalcançável.
— Você irá? — Inverto a pergunta, esperando sua resposta.
— Só se você for.
— Sabe que pode ir, não ficarei ofendido por isso. Você também é
amigo dele.
— Não o vejo há mais de um ano, isso não é amizade.
Não rebato, aqui está um amigo leal. Dominic é displicente com a
maioria das pessoas que conhece, até com seus familiares, mas há algo sobre
lealdade cega em Dominic Connigham com àqueles a quem ele se afeiçoa.
Nós nos conhecemos há tantos anos que às vezes esqueço que não nos
gostávamos, até que um salvou a vida do outro tantas vezes, que começamos
a nos chamar de irmãos.
Somos irmãos, determino. Principalmente quando àqueles que têm o
nosso sangue são os mais traidores.
— Ainda assim, sabe que se não for será pior. Vão comentar sobre
isso. Já comentam sobre isso e você detesta.
A dor de cabeça que comecei a sentir no momento que recebi o
convite aumenta gradativamente.
Eles vão comentar de qualquer forma, mas se eu não for... Os
comentários serão piores. Serei aquele que foi derrotado pelo irmão mais
novo, tão humilhante que me faz querer desaparecer até a virada do ano.
Como Nicole foi capaz de fazer algo assim comigo?
Eu pensava nela como alguém que nunca seria capaz de me
machucar, mas descobrir que a mulher que eu amava e meu irmão mais novo
estavam namorando apenas dois meses depois que ela me deixou causou um
monte de dúvidas que me corroem numa desconfiança terrível.
Eles eram amigos, se nomeavam melhores amigos... Como isso
aconteceu?
— Se eu for, não posso ir sozinho e você sabe que não tenho nenhuma
companhia decente para levar. Vai beirar a desespero.
— Não fale assim, qual era o nome daquela bonita que você estava
namorando? — Dominic provoca.
Reviro meus olhos porque ele sabe que não estava namorando
ninguém, assim como todos que já foram traídos, criei um muro enorme em
distanciamento social. Vivo a minha vida semelhante à dele: companhias
pagas para noites únicas. Nenhuma das mulheres com quem saio teria a
leveza em interpretar uma paixão tórrida por mim, elas sequer sentem algo
além de tesão pelo meu dinheiro.
— Foda-se, não enche.
— Tenho telefone de uma agência que pode conseguir a garota que
você quiser. Alguma gostosa, com corpo de modelo, bonita o suficiente para
deixar sua ex com ciúmes bem no dia do casamento dela. Deus sabe como
àquela mulher odeia ser ofuscada.
Soltei a primeira risada do dia, concordando com ele. Nicole
provavelmente morreria se um dos convidados usasse branco, se a
maquiagem ou penteado de alguém estivesse mais perfeito que o seu.
Ainda assim, não a afetaria se a mulher estivesse comigo. Ela
provavelmente riria sabendo que àquela companhia foi paga.
— Não pode ser alguém mais bonita que ela, Nicole não é burra.
Saberia na hora que estaria tentando provocá-la. Para atingi-la deve ser o
oposto. Bonita, mas simples. Alguém que não se importe de ficar sem
maquiagem, que não passe horas arrumando o cabelo, que coma pizza com a
mão e não se importe excessivamente com a aparência.
A risada do meu amigo se torna leve, por alguns segundos vejo que
seu pensamento passeia distante, então pigarreio e Dominic volta seus olhos
para mim, mudando a postura na cadeira.
— Conhece essa pessoa? — Questiono.
— Poderia conhecer, mas nunca a apresentaria para você. — Seu
sorriso idiota me diz que ele conhece. — Precisa encontrar sua própria
Sienna, parceiro.
— Sienna?
Ele não responde porque Sofia está batendo na porta de novo. Grito
para que entre e percebo o momento que o rosto fica vermelha quando o
idiota a encara fixamente. Quando os olhos de ônix tornam para mim, sei
exatamente o que ele está pensando.
Nem fodendo.
Não ouço o que Sofia diz, porque Dominic está assentindo
efusivamente. Concordo com ela, mesmo sem entender uma palavra e Sofia
pede licença e sai.
— Nem fodendo — repito dessa vez em voz alta — você é um
pervertido. Ela ainda é uma criança.
— Criança? Sério? Porra, ela tem quantos anos?
— Sei lá, vinte? Vinte um? Não sei, nunca perguntei porque nunca
olhei para ela desse modo. Pelo amor de Deus, você mesmo disse que a
garota é crua.
— Exatamente. Perfeita, do jeito que acabou de descrever. Nem a
conheço e sei que vive em um apartamento mediano, deve dividi-lo com uma
amiga. Com certeza se pendura em corda bamba para pagar às contas e os
empréstimos estudantis. Deve ter um currículo exemplar, certinha, nada
divertida. Quando sai daqui, fica louca para se livrar dos saltos e deve jantar
fast food porque está cansada demais para cozinhar.
— Para o caralho, você criou um conceito inteiro só de olhá-la?
— Sim, porque ela é comum. Ninguém que seja ético quer foder com
a secretária, e você, meu amigo, é ético pra caralho. Mas essa garota aí fora
deve estar louca por uma grana extra para desafundar no poço sem fundo de
dividas. Vai por mim.
Só pode ser louco.
— Esqueça, não vou levar minha assistente para casa, no casamento
da minha ex com meu irmão. Além do mais, vai ser Natal porra. Ela deve ter
uma família esperando por ela.
— Me escute, tenho um pressentimento sobre isso. E sabe de uma
coisa? Ainda faltam dois meses para o casamento, tempo suficiente para
planejar. Tempo até de se casar.
Rindo, Dominic se inclinou em minha direção como se tivesse
borbulhando de ideias. Me sentindo esquisito para caralho, apenas me
afundei e fiquei quieto, ouvindo às dezenas de baboseiras que ele falava.
Porra, de onde havíamos ido para chegar na hipótese de casamento
por contrato com a minha assistente somente para não parecer tão fracassado
no casamento da minha ex?
Capítulo 2
Sofia
Meus pés estavam me matando, passei o dia inteiro louca para chegar
em casa, esticar meus dedinhos esmagados pelo scarpin e poder andar
descalça. Amava andar descalça, sentir o chão gelado sob meus pés ou o
conforto do tapete felpudo da sala da Esther. Era uma sensação gostosa e
libertadora.
Apreciei o silêncio no apartamento minúsculo, sentindo falta do meu
papagaio humano. Ultimamente chegava e ela já estava apagada, quase
sempre desmaiada pelo cansaço. Esther dizia que ela brincava até seus
neurônios explodirem.
Andei com calma até o quartinho pequeno que dividíamos e abri a
porta com delicadeza, mirando o corpo miúdo na cama, aberto como uma
estrela do mar. O sorriso foi involuntário, a imagem da menininha
pequenininha e indefesa aqueceu meu coração.
Seria capaz de qualquer coisa por ela, toda vez que a via tão
vulnerável o medo de perdê-la crescia tão depressa que enchia meus olhos
com lágrimas. Ela era minha filha, mesmo que não tivesse nascido de mim.
— Oi, você chegou — a voz de Esther me acordou. Sorri, lhe
encarando e fechei a porta, com medo de acordar a Emma. Ela ficava irritada
e não dormiria nem tão cedo se fosse acordada, o tanto que queria abraçá-la
teria que ficar para amanhã. Estava exausta e precisava descansar um pouco.
Caminhei com minha amiga para a cozinha e aceitei o chá que ela me
ofereceu.
Era tão grata por Esther nos deixar ficar em seu apartamento, mas
sabia que estava abusando, principalmente quando Tyson surgiu na cozinha e
soltou seu tradicional bufo de incômodo. Toda vez que ele me via, fazia
questão de deixar bem claro como ele estava de saco cheio de me ter aqui.
Esther encolheu os ombros, ficando quieta e me senti duas vezes pior.
Não queria que ela entrasse em outra briga com seu namorado, afinal, ele
estava certo. A casa também era dele, ele pagava a metade das contas e eu
apenas dividia a comida com eles. Toda vez que eu tentava juntar dinheiro,
um imprevisto acontecia e o último foi a geladeira de Esther que queimou.
Tente sustentar uma criança de dois anos que gasta rios de dinheiro
em fraldas, lenços e uma fórmula especial. Além disso, some rios de dívidas
deixados por sua mãe antes que ela fugisse com todas às suas economias
deixando-a com sua irmãzinha de poucos meses de idade.
Engoli a vergonha e quando Tyson saiu da cozinha, Esther meneou a
cabeça numa negativa e me estendeu a xicara com o chá pronto.
— Maracujá, o seu preferido.
— Obrigada, estava precisando. — Suspirei, bebericando. Estava
quente, mas não me importei de queimar a língua. — Como foi seu dia?
— Foi ótimo, nós brincamos no parquinho e foi muito divertido.
Minha amiga fazia parecer que era incrível ser babá, eu a pagava por
isso, é claro. Podia trabalhar tranquila e voltar para casa, esperançosa que
meu emprego novo pudesse nos dar mais conforto. A cada dia que passava
parecia ser apenas uma ilusão, principalmente quando o banco me cobrava os
empréstimos que minha mãe fez no meu nome antes de fugir.
— Sinto muito por estar atrapalhando vocês, Esther. Juro que vai ser
só mais um mês. Acho que dá pra pagar o calção e um mês de aluguel com o
próximo salário.
— Então... — Aquele tom, não gostava dele.
Encolhi meus ombros, sentindo meus olhos esquentarem quando
Esther suspirou, parecendo mais envergonhada que antes.
— Liguei para meu pai e perguntei a ele sobre a possibilidade de te
alugar um quarto e... — Ela sequer foi capaz de continuar.
Talvez meu olhar estivesse muito chocado.
Seu pai? Aquele que ela não falava há meses e acusava de ser um
escroto que abusava das inquilinas?
Porra, Esther.
Meus ombros tremem e me sinto tão cansada. Como poderia ir para
um lugar perigoso com Emma?
— Acho que podemos segurar mais um mês. — Ela muda de ideia,
me encarando.
Suspiro em desespero e às lágrimas caem sem que eu possa controlar.
— Estarei fora no final do mês, fique tranquila. — Não sei se o
dinheiro que eu tenho é suficiente, mas prometo que sairei.
Minha amiga não me encara, mira a própria xicara e eu deixo o chá de
lado. Cansada demais e pensando em tomar um banho e apagar, desejo boa
noite e caminho rápido para longe.
Às lágrimas descem rápido uma atrás da outra e me sinto um fracasso.
Quando entro no quarto, tranco a porta atrás de mim e encaro minha criança
dormindo na mesma posição.
Será que sou uma pessoa horrível? É por isso que minha vida sempre
foi uma merda? É por isso que minha mãe sempre me tratou como se fosse
um fardo? É por isso que ela nos deixou para trás e fugiu, fodendo com meu
psicológico?
Desisto de tomar banho com medo de encontrar Tyson no caminho do
banheiro ou Esther mudar de ideia e dizer que preciso sair agora.

Acordei em cima do horário só para ter certeza que Tyson já teria


saído para o trabalho, isso fez com que Emma despertasse depois de mim, o
que resultou em nós duas tomando banho juntas, choro e muita pirraça
porque ela não queria que eu fosse trabalhar. Meu coração partiu em ter que
deixá-la chorando.
Durante todo caminho me sentia um desastre. Sabia que não podia
chorar ou borraria a maquiagem, que apesar de não ser um pedido verbal,
minha recrutadora me aconselhou a usá-la. Os saltos eram quase uma
imposição, já que todas às mulheres na empresa usavam. Me perguntei se
para trabalhar para o gênio da tecnologia precisava parecer como uma mulher
revolucionária, àquelas que estão sempre lindas em séries futurísticas.
Ri com o sarcasmo brincando na minha mente. Se o futuro for tão
machista quanto agora, às mulheres precisam de uma nova rebelião.
Cheguei atrasada e senti o pânico me preencher quando vi Octor
Luxton sentado na borda da minha mesa. Seus olhos curiosos dançaram até a
mim com o rosto sério, me encarando como se tentasse desvendar algum
segredo.
Meu estômago gelou e procurei a frase que ensaiei durante todo o
caminho, mas ela pareceu fugir. Esse homem me intimidava quando crispava
suas ordens em um tom sério, mas quase nunca gritava e quando o fazia, não
era comigo. Aliás, nunca o vi alterar seu tom de voz para berrar suas ordens.
Me sentia tremer quando ele me dava um desses olhares questionadores e
pedia por um relatório, como se tivesse testando minha capacidade de atendê-
lo.
— Bom dia senhor Luxton, peço desculpas pelo atraso. — Não
invento nenhuma desculpa porque a forma como ele me olha é tão intensa
que tenho medo de descobrir que estou mentindo. — Isso não irá se repetir.
— Não tem problema. — Apesar do seu rosto sério, Octor solta a
frase de maneira suave, o que acaba me surpreendendo.
Vejo-o corrigir sua postura para sua pose altiva, ficando de pé ao lado
da minha mesa e me dando passagem.
Minha pequena sala fica antes da sua, como um hall de recepção.
Tenho uma mesa grande com um computador ótimo, um gaveteiro pequeno e
em frente minha mesa, há alguns metros de distância, fica um sofá
confortável onde clientes especiais esperam para serem atendidos.
— Posso ajudá-lo com alguma coisa?
— Duas, até. Preciso da conta do projeto de Tianjin e preciso saber se
você está solteira.
Ele perguntou se estou solteira?
Preocupada se entendi errado, inclino minha cabeça em sua direção
depois de ligar o computador e Octor Luxton me encara como se fosse o
dono do mundo. Seus olhos verdes brilham em minha direção, ele cruza seus
braços na altura do peito e estufa parecendo uma estátua viva.
— Desculpa, não entendi direito. O senhor pode repetir?
— Você. É. Solteira? — A pergunta soa pausada, deixando óbvio seu
interesse.
Por que meu chefe que nunca foi nada além de profissional quer saber
disso?
Aquele seu amigo que apareceu ontem, só pode ser por isso. Ele me
deixou constrangida com seu assédio descarado, sabia que eu não era uma
mulher feia, mas Deus sabe que não faço o tipo de homens como esses.
De jeito nenhum seria o brinquedo de um algum magnata, podre de
rico e entediado.
Tinha tantos problemas...
— Não — murmuro, vendo algo como decepção cruzar seus olhos.
Por alguns segundos a postura altiva se desfaz, parecendo abalado com o que
houve — sou casada com meu trabalho. — Completo, mesmo sem intenção
porque algo no olhar dele me deixou incomodada por estar mentindo.
O senhor Luxton franze a testa por alguns segundos e depois sorri.
Poxa, é a primeira vez que eu o vejo sorrir.
Sento na cadeira somente para abrir o arquivo que ele precisa e clico
para imprimir.
— Casada com o trabalho significa que não faz nada da vida além de
trabalhar? — Ele quer saber.
Quase me vejo falando sobre Emma, mas depois o olho sob a tela do
computador e penso que sequer o conheço. Não sei nada sobre Octor Luxton,
ele é um enigma que nunca fiz questão de desvendar. Nas revistas, ele
aparece como um bilionário misterioso. A mídia não liga muito para ele e
imagino que seja porque não dê motivos, não está envolvido em escândalos e
algo me diz que ele os odeia.
Tudo que sei sobre o homem é como construiu seu império usando
sua inteligência. Hoje sua empresa se tornou uma potência multinacional
poderosa, disputando com grandes nomes. Suas patentes valem bilhões e o
nome Luxton está espalhado pelo mundo em aparelhos tecnológicos, desde
simples câmeras de segurança para uma casa no subúrbio, até programas
gerados e programados para defenderem remotamente lugares como a Casa
Branca.
— Nos finais de semana que não estou trabalhando aqui, faço tarefas
comuns em casa — tento fazer uma piada.
Minha vida nada interessante.
Octor Luxton continua me olhando daquele jeito intenso e me
pergunto sobre o que ele faz no seu tempo livre. Com certeza não passa o dia
lavando, passando, limpando e fazendo contas, economizando cada centavo
porque não sabe quando sua filha pode ter uma gripe ou ficar doente,
precisando ir numa consulta médica que pode me render em até vinte mil ou
mais em dívidas hospitalares.
Meu seguro de saúde da empresa é realmente bom, mas não posso
incluir Emma. Ela não é legalmente minha filha, além disso, não tenho sua
guarda. Isso me leva a outro problema, esse, ao menos, está aguardando para
ser resolvido na justiça.
— Você mora sozinha? — Pergunta.
Junto os papéis recém impressos e vejo se estão organizados
certinhos.
Por que ele está tão interessado na minha vida? Assim tão de repente?
— Não — é tudo que digo.
Parecendo perceber que não darei mais detalhes, Octor aceita os
documentos e força um sorriso que dessa vez sai como uma carranca. Ele
nitidamente não é muito de sorrisos, sei disso porque nos últimos três meses
que estou na posição de sua principal assistente, nunca o vi sorrir.
Posso respirar aliviada quando ele volta para sua sala sem despedida.
Espero que esse interrogatório não seja para me demitir,
automaticamente me arrependo por não ter dito nada sobre Emma. Quem
sabe assim ele não se sensibilizaria se soubesse que tenho um bebê pequeno
para cuidar sozinha?
Rio amarga, homens como Octor não estão preocupados com os
problemas do proletariado. Eles só querem fazer dinheiro.
Capítulo 3
Octor
Passo o dia inteiro a observando como mosca de padaria, odiando a
cada segundo Dominic por ter colocado ideias na minha cabeça.
Sofia parece alheia a mim, sei disso porque ela passou o dia inteiro
focada em sua tarefa no computador. Respondeu minhas solicitações por e-
mail com a mesma agilidade de sempre, sem fazer perguntas ou
questionamentos.
Consegui capturar poucas coisas sobre sua vida. Sei que está solteira e
por alguns segundos, quando murmurou que não era, me senti desapontado.
Foi nesse momento que percebi que criava expectativas sobre um plano
infantil.
O convite de casamento estava posicionado ao lado do monitor, para
que eu o visse toda vez que olhasse para a tela e percebesse como às pessoas
são ruins. Parte disso, o deixei a vista para saber que quando estivesse
sozinho no Natal, eles estariam se casando. Era justo que eu vivesse afastado
da minha família enquanto meu irmão tinha tudo?
Voltei a encarar Sofia pelo vidro que separava nossa sala. A parte de
fora era escura o suficiente para que ninguém visse o que estava dentro, por
isso nunca a via olhar em minha direção.
Durante o almoço, ela comeu uma salada sentada, ainda atenta e
trabalhando. Gostava disso nela, sua concentração e dedicação com o
trabalho. Provavelmente tentando provar sua utilidade, sabendo que uma hora
a licença de Audrey terminaria.
Desviei o olhar, pensando na minha conversa da tarde anterior,
quando meu amigo me convencia que um casamento de mentirinha era o que
eu precisava para calar a boca da vizinhança fofoqueira, o lugar maldito de
onde eu venho.
Uma cidadezinha no fim do mundo, há boas horas de avião, e onde o
tempo é malditamente frio no Natal. Por que estou pensando com tanto afinco
em voltar? Àquelas pessoas não merecem meu esforço, com certeza o traidor
do meu irmão não merece meu esforço, tampouco a mulher que um dia eu
pensei que me casaria. Nenhum deles merece nada de mim, então por que
tudo que eu consigo pensar é em provar que estou melhor que eles? Que sou
melhor que todos?
Arrogância nunca foi meu forte, talvez orgulho estivesse ganhando
nessa disputa. Acontece que quando você conquista um patrimônio, fica
difícil não se lembrar de quem te desprezou quando você não era ninguém.
Naquela cidade muita gente me desprezou, ainda assim, eu já tinha dinheiro
pra caralho quando Nicole me deixou.
Mais de dez anos... Jogados no lixo. É natural o ressentimento,
dediquei minha vida a essa mulher e então... De repente, não sou mais o alvo
da sua afeição.
Consumido pelo despeito, envenenado pelo rancor, tiro meu telefone
do gancho e disco o ramal da mesa de Sofia.
— Pode vir aqui, por favor? — Passei o dia inteiro adoçando a voz
com ela.
Sei que nunca me viu tão solicito ou gentil.
Sofia diz que virá e desliga.
Aprumo minha postura, de olho na porta e quando ela faz o caminho
para mim, permito-me a fazer o que nunca fiz antes: a observo por inteira. Ela
é bonita, mas jovem demais. Tem um rosto quase infantil, arredondado, com
um nariz pequeno. Não é muito alta, mas não é baixa e em seus saltos médios
fica numa altura perfeita onde o topo de sua cabeça deve bater abaixo do meu
queixo. Ela tem curvas, seria um hipócrita se dissesse que não reparei em
seus seios marcados no vestido justo ou que nunca reparei na bunda redonda,
toda vez que ela se vira para sair da minha sala. Só nunca aprofundei esses
olhares, tenho muitas pessoas para foder e às que trabalham comigo nunca
entraram nessa lista.
— Algo errado, senhor? — Mal percebo que ela está na sala.
Sofia parece ansiosa, posicionando-se em frente minha mesa.
Observo melhor seu rosto, os olhos castanhos e a maquiagem de
sempre. Ela é discreta, seu uniforme é um vestido cinza sem graça, mas que
fica bonito no seu corpo. Mas a cor não a favorece, a deixa meio pálida.
— Sente-se, por favor — observo-a se sentar, meio hesitante.
Céus.
Só agora percebo como pareço patético.
Rio internamente, pensando em como ela reagirá quando ouvir os
apelos infantis de seu chefe, tentando convencê-la a fingir ser sua esposa,
somente para não enfrentar sozinho o casamento que já disse a mim mesmo
que colocará para sempre uma pedra na minha história com Nicole.
— Fiz algo errado, senhor? Posso consertar, eu...
— Não fez nada errado, Sofia. Estou satisfeito com seu serviço — me
sinto péssimo.
Ela precisa desse emprego, olhando-a tão de perto, posso sentir seu
desespero.
Dominic tinha razão, ela é comum. Pessoas comuns estão sempre
afundadas em problemas, loucas por um bote salva-vidas. Nesse momento,
tenho meu próprio dilema para lidar e se o ditado for coerente: uma mão
lavará a outra.
— Quero te fazer uma proposta. Não precisa ficar ofendida, é uma
proposta de trabalho. Preciso de uma esposa durante duas semanas no mês de
dezembro, para as festas de fim de ano. Tenho razões suficientes para
acreditar que você seria a escolha ideal para interpretar esse papel, em troca,
estou disposto a lhe recompensar financeiramente muito bem por isso. — O
rosto de Sofia parece tão chocado quanto achei que ficaria. Estendo o papel
que estive segurando antes de chamá-la, posso ver de longe a quantidade de
zeros. Para mim, essa quantia não faz cócegas. Recupero em duas horas de
trabalho sem nenhum esforço, mas sei que mudaria sua vida.
Sofia tosse e o rosto fica vermelho tão rápido. Vejo a coloração
ardente tomar seu colo, descendo pelos braços pálidos. Num instante ela está
completamente vermelha, parecendo furiosa.
Seus olhos castanhos piscam em pura confusão. Endireito minha
postura no assento, limpando a garganta e resolvo lhe dar mais um incentivo:
— Sexo não está incluso neste acordo, fique tranquila — por alguns
segundos vejo sua feição amenizar, mas logo a confusão retorna — óbvio que
em público devemos agir como um casal comum agiria: afeto, respeito,
compreensão. Nada extravagante como beijos o tempo inteiro, abraços ou
grude. Não quero nada artificial, quero uma esposa real. Um casamento real.
— Isso é sério? — Sua voz soa baixinha, mas ela está apontando o
papel com o valor anotado — você vai me pagar um milhão de dólares se eu
fingir se ser esposa por duas semanas?
Sofia abre e fecha a boca, recostando no assento.
Acho incrível que ela não esteja surtando até agora. Qualquer outra
pareceria extasiada ou ultrajada. Não sou arrogante a ponto de dizer que sou
o melhor partido do país, mas porra, sei que sou um cara atraente. Às
mulheres costumam se jogar sem pudor, parte disso se deve ao dinheiro que
possuo. Poder e status é um chamarisco para gente interesseira.
Minhas companhias são compradas por pouco, leve uma mulher que
quer atenção para tomar um champanhe caro em um restaurante cinco
estrelas, presenteie com uma pulseira de brilhantes, deixe-a dar uma volta em
seu carro caro e no final do dia ela dirá até que te ama. Isso não é afeto, isso é
uma troca de favores.
No entanto, não é isso que quero que vejam quando voltar para casa.
Inferno, não quero que ninguém ache que me casei com uma interesseira, já
basta sua idade a feição de adolescente em seu rosto. Aliás, o que me remete
a um fato importante:
— Quantos anos você tem?
Parecendo voltar a si, Sofia pisca e respira fundo.
— Vinte e três.
Ainda muito jovem.
Quinze anos nos separam. No auge dos meus trinta e oito anos, nunca
pensei que teria que pagar alguém para fingir que gosta de mim de verdade,
pelo o que eu sou e não pelos presentes que posso lhe comprar.
Que seja, há três anos atrás aprendi que não existe esse tipo de amor
que pensei existir. Não existe ninguém que te esperará em casa com um
sorriso grande, que vai ter lhe feito um jantar gostoso e ouvirá feliz sobre seu
dia. Ninguém vai te assar seus biscoitos preferidos ou cuidar de você quando
tiver doente, essas coisas algumas mães fazem quando somos crianças,
depois... Temos que nos virar sozinhos, aprender do modo difícil que a vida
não é sobre contos de fadas, histórias de amor com finais felizes não existem.
— Por que eu? — Sofia faz a pergunta que eu esperava.
Por que uma garota comum como ela seria a sortuda escolhida para
ganhar um milhão de dólares tão fácil?
— Você assinou um termo de confidencialidade para trabalhar nesta
empresa, isso quer dizer que está familiarizada em guardar segredos. Já é um
motivo grande.
— Quantas pessoas saberão sobre esse casamento falso?
— A partir do momento que disser sim, todos saberão. É um
casamento real a partir de então, quando acabar, você terá seu dinheiro.
— E ficarei sem meu emprego? — Solto uma risada.
Porra, por que ela iria querer um emprego se terá um milhão para
investir no que quiser? Por que ficar presa como assistente de alguém?
— Ninguém com um milhão de dólares em conta trabalha como
assistente, Sofia. Se for inteligente, aplicará o dinheiro. Se precisar, te
ajudarei a investir de forma segura.
— Faria isso? — Por que ela parece tão surpresa? Sou um chefe tão
ruim assim?
Assinto.
— Sim, mas não é sobre isso. Não estamos falando do que importa,
Sofia. Por que você não está preocupada com nosso casamento, hein? Em
saber mais sobre o papel que terá que desempenhar?
Ela engole a saliva e assente, se mexendo no assento.
— O que você espera de uma esposa?
O que eu esperava?
Porra... Faz tanto tempo que não penso nisso.
— Não a quero perto do meu irmão, para começar. Seria bom se não
ficasse sozinha com homens. — Respiro fundo, sabendo que não tem como
esconder o principal — estaremos indo para o casamento do meu irmão...
Com a mulher com quem estive comprometido por quase treze anos.
Como se algo se iluminasse em sua mente, Sofia finalmente assente,
entendendo perfeitamente do que isso se trata.
Me sinto envergonhado por alguns segundos, mas logo passa. Estou
pagando um milhão para ela, não quero a porra do seu olhar julgador.
Dispenso.
Capítulo 4
Sofia
Octor afrouxa o nó da gravata, parecendo sufocado pelo assunto. O
que ele me diz me abala mais que o esperado.
Puxa, ele ficou com alguém por todo esse tempo... Como ninguém
comenta sobre isso? Então eu penso... O gênio da tecnologia saberia abafar
escândalos como esse.
Como uma mulher fica todo esse tempo com um homem e então vai
casar com o irmão dele?
Me sinto mal por ele, mas disfarço. A última coisa que ele precisa é
da minha pena, já deve ser constrangedor suficiente pagar para alguém fingir
que o ama.
— Se eu aceitasse, nós teríamos que... Dormir no mesmo... Lugar? —
Cama, quero dizer.
Um sorriso quase sádico brinca nos lábios dele.
— Não. Tenho minha própria casa em South Later[ii]. Teremos
privacidade, seremos um casal quando estivermos em público ou caso
tenhamos visitas. — Assinto, quase aliviada — Devo dizer, porém, que a
cidade é um ovo. Todos se conhecem e às pessoas aparecem sem serem
convidadas.
Quem eu queria enganar?
Estava tão desesperada, passei a noite inteira pedindo para que Deus
me enviasse uma solução, implorando para que Esther não me pedisse para
sair antes do fim do mês e agora... Simplesmente recebo uma proposta que
me renderia tanto dinheiro, que salvaria minha vida e daria fim às contas
intermináveis. Eu poderia voltar para a faculdade...
Acelerada com tantas possibilidades, acabo atordoada. Octor percebe
exatamente como me sinto, porque não diz nada, apenas me observando
como um felino traiçoeiro.
— Não quero me aproveitar de você, Sofia. Te respeito, aprecio seu
trabalho e se sua resposta for não, você ainda o terá. Nós nunca mais
falaremos desse assunto.
— E se for sim? — Questiono tão baixo.
Um sorriso se abre no rosto dele, o segundo hoje.
Octor se inclina em minha direção, parecendo preguiçoso e me lança
um olhar longínquo.
— Então teremos que prepará-la para dezembro, isso significa que
você terá que sair do trabalho, não posso ser casado com uma funcionária.
Fique tranquila, continuará com seu salário e terá um adiantamento. — Ele
diz como se isso não fosse nada demais. Meu coração está batendo tão forte
que tenho medo de desmaiar. — É imprescindível que todos acreditem que
estamos juntos, então jantaremos em público algumas vezes até dezembro,
apenas para criarmos um... Vínculo, termos uma história para contar quando
perguntarem como nos conhecemos e casamos. Acredite, eles vão querer
saber de tudo. Cada detalhe.
— Não gosto de falar da minha vida para estranhos. — Ele ri,
parecendo divertido.
— Concordo, então podemos deixar nossa intimidade reservada.
Exceto para minha família, infelizmente deles não poderemos esconder o
tanto que estamos apaixonados.
Claro... Sua ex precisa saber o que perdeu, entendo.
Assinto.
— E se... Descobrirem?
— Essa hipótese não existe. Não trabalho com fracassos, Sofia.
Somente nós dois sabemos dessa história, quero que fique entre nós.
Ninguém, nem sua mãe, melhor amiga, sequer ouse escrever no seu diário.
Absolutamente ninguém deve ser que não é real. Entendeu?
Aperto meus olhos com força, ele está usando aquele tom que me fez
chorar da primeira vez que ouvi. O homem consegue ser extremamente
apavorante e eu não sei se poderei lidar com algo do tipo se ele gritar comigo
na frente de sua família.
Se eu vou ser a esposa desse homem, então é melhor que eu me
imponha desde já.
— Não use esse tom para falar comigo nunca mais. Não é assim que
se trata uma funcionária e com certeza não é assim que se trata uma esposa
— vejo a surpresa no rosto de Octor e automaticamente me arrependo.
Porra, ainda não fechei o acordo.
E se ele... Me demitir?
Pânico me preenche e Emma vem à minha cabeça automaticamente.
Vejo o homem prender a respiração e menear a cabeça em
concordância.
— Você tem razão, Sofia. Me desculpe, não irá se repetir. — Por
alguns segundos ficamos em silêncio, com nossos olhares penetrando a alma
do outro. —Então a resposta é sim, você será minha esposa?
O risinho inocente de Emma vem à minha cabeça, assim como a voz
de Esther me dizendo que tenho que sair. Não existe nenhuma dúvida da
resposta para ele.
— Sim, Octor. Serei sua esposa.

Meu coração ainda está em solavancos quando desço do carro, puta


merda! Me despeço do motorista, o homem é gentil e me deseja um bom final
de semana.
Ele me enviou para casa no meio do expediente através do seu
motorista particular!
Todo meu corpo treme em ansiedade. Meu Deus... Ainda não acredito
no tanto que minha vida deu uma guinada digna de uma reviravolta vista
somente em novelas mexicanas.
Quando abro a porta do apartamento, minha garotinha nervosa não
parece como a bebê chorando pela manhã. Sua cabecinha ergue em direção à
porta e quando seus olhinhos cheios de expectativas me veem, vejo o sorriso
imenso enfeitar o rosto lindo do meu anjo.
Minha bebezinha de pernas rechonchudas corre em minha direção,
tropeçando em suas perninhas. Abro os braços e a recebo, puxando com
agilidade para cima, acolhendo em meu colo.
Ela está cheirando a xampu de bebê e talco.
— Fiiiiaaa!! — A vozinha embolada me chama, seus bracinhos
apertam meu pescoço e rio, emocionada.
Tudo por ela, sempre. Por ela vale a pena qualquer sacrifício, penso,
somente para em seguida pensar que não é um sacrifício tão grande assim
fingir que sou casada com Octor Luxton. O homem é tão lindo que deixa a
gente intimidado. Até hoje não me permiti olhá-lo por muito tempo por medo
de ser pega admirando, mas, em frente sua mesa, encarando sua presença
imponente precisei admitir que ele era mais do que uma pobre garota como
eu poderia conseguir um dia.
Octor era bonito sem toda a montanha de dinheiro que ostentava. No
meu mundo real, ele seria um daqueles caras que às mulheres morreriam para
querer andar de mãos dadas e fazerem inveja às outras.
Emma bateu no meu rosto, exigindo atenção e voltei meus olhos para
ela. Estava calor, então só usava fralda e havia talco por todo seu corpo, para
proteger as dobras gostosas.
— Por que chegou tão cedo? — As palavras de Octor vieram a mente,
ninguém pode saber.
Mesmo amando Esther, sendo grata pelo que fez por nós, não posso
arriscar o futuro de Emma.
— Meu chefe estava passando mal e me liberou, o expediente foi
encerrado mais cedo. Isso me dá tempo de ficar com minha coisinha gostosa.
— Murmuro, fazendo cosquinhas na Emma.
Ficar com minha irmã e procurar um apartamento. Finalmente tenho o
dinheiro para me mudar e pretendo fazer isso ainda essa semana.
Capítulo 5

Octor
Um mês depois

Novembro...

Sofia estava extremamente nervosa com a quantidade de talheres sob


à mesa. Lhe trouxe exclusivamente em um restaurante pomposo para tentar
explicá-la sobre algumas regras chatas de etiqueta, ela sabia se comportar
bem em todos os lugares. Essa era a terceira vez que saíamos juntos em
público, às outras duas foram uma experiência... Curiosa.
Dominic estava certo, ela fazia o tipo que preferia comer pizza com às
mãos.
Nos dedicávamos em nos conhecer nesses jantares, era como uma
extensa aula. Descobri quais medicamentos ela era alérgica, que gostava de
comer salada ao invés de uma refeição decente e não ingeria bebidas
alcoólicas, nenhum tipo. Tentei forçar uma taça de vinho e a resposta foi um
sonoro e agressivo não.
Descobri que ela havia mudado de casa, disse entre dentes que estava
vivendo com sua amiga, Esther e que graças ao nosso acordo, conseguiu um
lugar só para ela. A esperança em seu rosto foi algo que mexeu comigo... Ela
realmente era simples.
— É muita coisa para decorar — vi o medo em seu rosto e entendia
bem.
— Fica tranquila, disse que encontraria alguém para te ajudar com
essas coisas e vou. Será a mesma pessoa que te acompanhará durantes às
compras.
— Compras?
Prendi um sorriso com seu rosto alarmado.
O sommelier retornou enchendo minha taça outra vez e perguntando
se havia gostado do vinho que ele indicou, assenti e agradeci.
— Aqui é bonito. — Ouço seu comentário, já esquecida do assunto
compras.
O que ela pensava? Seria minha esposa, ainda queria sua
simplicidade, seu jeito inocente de ver às coisas e que agora eu tinha medo de
que se perdesse no meio do dinheiro que ela possuiria. Mas, ainda assim,
Sofia seria a esposa – mesmo que de mentirinha – de um homem importante.
Deveria se vestir como tal.
Fiquei encarando seu deslumbramento, observando o quanto ela era
mesmo crua. Jovem, bonita demais para sua própria sorte, inocente... Ainda
não havia vivido nada da vida, nem visto lugares realmente bonitos que
merecessem seus olhos brilhando de entusiasmo.
Eu aprecio bons lugares, bom atendimento, serviço e comida de
qualidade, mas se me perguntarem se prefiro vir à um lugar como esse ou
ficar em casa, prefiro jantar em casa. Ainda que sozinho, mas hoje estou em
sua companhia e ela é agradável, educada, polida e não mistura negócios e
sentimentos.
O que mais gosto em Sofia é que ela entendeu que somos negócios,
apesar disso, não age como se estivesse sendo paga para isso. Nós
conseguimos ter uma conversa, mesmo que na maioria do tempo suas
perguntas sobre tudo ocupem o roteiro da noite.
— Não irei envergonhá-lo — sussurra, de repente, atraindo minha
atenção.
— Não estou preocupado com isso. Estamos indo para South Later,
Sofia. Ninguém sabe para que serve à maioria dos utensílios à mesa. — Mas
Nicole sabe, completo mentalmente.
Olho para a garota na minha frente e me pergunto se quero
transformá-la em uma arma contra minha ex.
Nosso prato principal é servido e seu nariz franze para o polvo em seu
prato. Rio, mas discretamente. Foi ela que pediu o mesmo que o meu e agora
parece que vai vomitar.
— Não é tão ruim, prove — incentivo.
Ela me diverte um pouco, preciso admitir.
É como se tivesse fazendo tudo pela primeira vez; observo como um
expectador atento, ela experimenta o polvo e faz cara de mistério. Não prendo
a risada quando a vejo engolir e levantar o polegar, aprovando.
Bom, não teria nenhum problema se ela não tivesse gostado. Talvez o
chefe ficasse ofendido.
Nós jantamos em silêncio na maior parte do tempo, quando Sofia faz
algum comentário é para elogiar a comida ou serviço. Concordo com ela, o
atendimento é impecável.
Nós dois dispensamos a sobremesa, mas insisto que ela leve um
pedaço de torta para casa e peço em uma embalagem para a viagem.
— Falei de você para minha mãe, hoje.
Sofia estava mexendo no celular e desviou os olhos, surpresa. Vi
quando guardou o aparelho na bolsa e dedicou sua atenção para mim.
— É mesmo? Achei que fosse ser uma surpresa para todos.
— Decidi que preparar o terreno com minha mãe, a mulher tende ser
um tanto... Controladora sobre às coisas. Ela provavelmente vai ficar
decepcionada por não ter tido um casamento grande, como o do meu irmão.
— O cinismo escapa sem que eu perceba e a vejo encolher os ombros.
— Acho que toda mãe quer isso para seus filhos.
— Sua mãe quer isso para você? — Nós nunca falamos sobre sua
família. Já tentei abordar o assunto mais de uma vez e ela não cede.
Não sei se deveria admitir que a investiguei antes de propor. Que sei
exatamente sobre todas às dividas em seu nome, como sua mãe também está
na merda até o pescoço por tantos empréstimos. O pai dela morreu quando
ela era adolescente. Sofia não teve uma vida muito boa.
Ela ri, mas não tem emoção. Ao invés de responder, bebe água da sua
taça e olha em outra direção, depois volta a mim e está tão séria.
— Sei que deveria ter dito antes, mas acho que...
— Que...? Você e sua mãe não se falam? — Chuto e ela assente, mas
acho que não era sobre isso que queria falar.
Vejo Sofia suspirar.
— Ela se foi há mais de um ano, não sei onde está. Mas sei que ela
queria que eu me casasse com qualquer um para sair de casa e deixar de ser
um fardo.
No instante que ela fala isso, sei que se arrepende porque muda sua
posição na cadeira. Seu rosto está vermelho e ela está constrangida.
Odeio a mãe dela, decido isso.
Sofia disfarça, mas isso a abalou. A forma como sua mãe a moldou
para lutar suas guerras sozinha e a desamparou.
Não tive uma família perfeita, mas minha mãe sempre esteve ao meu
lado. Foi difícil para ela se dividir entre meu irmão e eu quando ele decidiu
ficar com minha ex, mas nunca faria com que ela escolhesse. Não seria justo.
Não digo nada porque sei que ela não quer mais falar disso. Já percebi
que quando ela quer mudar de assunto, desvia os olhos para longe e puxa o ar
com força, fazendo barulho para tentar disfarçar o desconforto.
Pago a conta quando o garçom traz a sobremesa dela. Andamos
juntos, bem próximo e minha mão repousa no centro de suas costas. Nós dois
já fomos flagrados juntos duas vezes, deixo que a notícia fique no ar por
duas, três horas e depois deleto os rastros.
Abro a porta do carro para ela, que sorri docemente. Fico me
perguntando se faz isso porque estamos em público ou porque ela é doce
assim mesmo.
Quando me sento ao seu lado, ela faz o que fez todas às outras vezes
que saímos juntos. Liga o som, escolhe a rádio e deixa em um volume
confortável. Gosto disso, porque a música não nos obriga a iniciar um
assunto para dissuadir o clima ruim que ficou com a conversa abandonada no
restaurante.
— Como nos conhecemos? — Pergunto para ela, após checar pelo
retrovisor se estamos sendo seguidos pelo meu segurança. Vejo a SUV
próximo da minha traseira e mantenho a velocidade baixa.
A noite está fria, mostrando como será o Natal esse ano, mas estarei
em South Later e lá é tão frio quanto Seattle ou até mais.
— Em uma festa, o som estava alto e me incomodei com o barulho.
Saí para respirar um pouco e você estava fumando na varanda. — Ela diz,
olhando pela janela à rua. — Começamos a conversar, porque odeio cigarros
e a fumaça só me deixou irritada. Você foi gentil e apagou.
— E depois? — Questiono.
Sofia suspira e vira o rosto em minha direção.
— Depois você me convidou para dançar... E o resto é história. —
Diz, da maneira que ensaiamos tantas vezes. — Isso faz um ano.
— E quando eu a pedi em casamento?
— Sete meses depois que nos conhecemos, amanheci ao seu lado e
você estava me encarando, com o anel na mão. Foi fofo e intimista, do jeito
que amamos. Chorei, pulando em você dizendo que sim. — Essa parte foi
obra dela.
Ela quis nos colocar como um casal intenso, mas que gosta da sua
privacidade e eu gostei disso. Até porque, esse sou eu. E o pedido é algo que
eu faria, combina comigo e algo me diz que faz parte do seu sonho de jovem.
— E quando nos casamos?
— Início de outubro. Eu, você e nossos padrinhos. Resolvemos
esperar para anunciar porque faríamos uma festa, mas depois não importava
mais.
— Só nós dois importamos — digo para ela, completando a frase que
esqueceu.
Sofia me encara em silêncio, sequer pisca e o clima fica denso.
Estou chegando em sua rua e reduzo ainda mais a velocidade, olhando
ao redor. É um bairro seguro, ainda não é um sonho de moradia, mas é
adequado. Sei que ela vive em um apartamento confortável de dois quartos
porque pedi para que minha nova assistente conferisse como eram às
acomodações do prédio. Hackeei a câmera de segurança e os elevadores eram
seguros, o interior do prédio estava reformado, havia segurança e porteiro
vinte e quatro horas.
— Boa noite, Octor.
Ela desceu e eu a observei ir, sem conseguir partir até vê-la entrar.
Boa noite, Sofia.
Capítulo 6
Sofia
Um mês depois
Dezembro

Havia uma infinidade de roupas em cima da cama, dobradas e


perfeitamente passadas. Separadas em combinações perfeitas, com acessórios
destacado para cada composição, assim como sapatos e bolsas. Nunca pensei
que fosse tão divertido fazer compras e organizar roupas.
Eve Cowen, o que podiam chamar de estilista particular, uma pessoa
adorável que ficou praticamente o mês inteiro designada em me tornar uma
amiga da moda. Ela me explicou sobre cores, texturas e me ensinou a achar
meu tom perfeito. Descobri que meu tipo de pele combinava mais com tons
frios, então fizemos várias combinações em tons frios com roupas de inverno
que estavam na moda.
Meus looks permitiam o uso de botas, saltos e até tênis. Os casacos,
lenços, echarpes eram um mais lindo que o outro e estava apaixonada por
cada detalhe de tudo.
— Não se preocupe com nada, se não souber compor ou ficar
confusa, basta me ligar — Eve disse, me ajudando a fechar uma das malas.
Ficaria duas semanas fora, 14 dias.
A encarei, me sentindo insegura até a raiz do cabelo.
— Estou preocupada com a roupa do casamento. Está boa mesmo? É
um casamento na neve, acho que vou ficar com frio.
— Não vai. Seu vestido é forrado por dentro, além disso tenho certeza
que farão o casamento em um lugar aquecido.
Eve tenta me acalmar, mas estou muito nervosa.
Até então era ensaio, agora é real... Em um dia serei a esposa de Octor
Luxton, serei apresentada à sua família e uma cidade inteira julgará se sou
adequada. Não quero pensar nos olhos questionadores perguntando se sou
boa o bastante ou julgando se estou sendo interesseira. Não quero ninguém
apontando nossa diferença de idade e fazendo chacota com isso.
Ouço um chorinho e meu coração salta no peito. Eve rir, já
acostumada como ajo quando Emma chora. Nós duas estamos juntas o tempo
inteiro desde que saí do emprego, então é definitivamente difícil pensar que
ficarei tantos dias sem vê-la, ainda assim, sei que é para seu bem... Nosso
bem.
A babá que ficará com ela foi contratada de uma agência cara, além
disso ela também é enfermeira. Ela tem vindo todos os dias e nos últimos três
passou a noite, para que Emma se acostume com ela dormindo.
Ela é doce demais, canta e conta histórias, Emma adora atenção e
bagunça, então às duas têm se dado bem.
Quando entro no quarto que ainda está sendo decorado, vejo Carina, a
babá, balançando-a de um lado para o outro.
— Deixa que eu faço isso, pegue a mamadeira dela. Deixei aquecida
na bancada da cozinha.
Emma sorri, mesmo com os olhinhos fechando de sono.
Foram dois meses intensos, mas esses momentos, nós duas juntinhas
têm sido especiais demais. Por um segundo me esqueço que ela não nasceu
de mim, porque apesar disso, sei que ela nasceu para mim.
— Eu te amo muito, amor. Nós duas ficaremos juntas para sempre. —
Emma sorri de lado e eu suspiro.
Beijo seus cabelos cheirosos, aproveitando nosso momento especial
juntas.
Carina retorna com a mamadeira, me sento na poltrona e alimento
meu bebê, cantando uma canção de Natal. Meus olhos ardem um pouquinho
por saber que não estarei com ela no Natal, mas é por um bom motivo,
reforço.
— No próximo Natal você estará maior e teremos nossa própria
tradição de Natal. Que tal acordar cedo para abrir os presentes e comer
cookies com gotas de chocolate e leite quente?
Minha garotinha pisca seus olhos lentamente para mim, então cede ao
sono, mas não para de sugar forte o bico da sua mamadeira.
Tenho sido mãe há dois anos, mas nenhum momento foi tão difícil
quanto este. Quanto deixá-la por tanto tempo.
— Você precisa me atender sempre que eu ligar e me ligar se algo
acontecer — murmuro para Carina que assente com rapidez — Esther virá
ficar com ela durante os primeiros dias, por algumas horas. Não queremos
que ela se sinta sozinha e abandonada. Sempre farei chamadas de vídeo.
— Ficaremos bem, Sofia. Não se preocupe — é impossível, mas sei
que ela sabe disso.
Sorrio, tentando ficar em paz, mas meu coração está despedaçado.
Escutei barulho da campainha, penso que deve ser Esther. Foi difícil
explicar para ela que estava indo viajar com meu chefe, mas então falei para
que ela apenas cuidasse de Emma por mim por uns dias, junto com a babá e
lhe ofereci um pagamento extravagante. Ela não fez mais perguntas.
Coloquei Emma no berço, adormecida e segui para sala com a
mamadeira na mão. Meu corpo paralisou quando dei de cara com os olhos
verdes e curiosos na minha direção.
Eve havia aberto a porta para Octor e vê-lo aqui era uma completa
surpresa.
Seus olhos focaram na mamadeira na minha mão e a apertei.
Em vários momentos quase falei sobre Emma, às vezes ficava na
ponta da língua e em outros, apenas preservava minha menina.
A boca do homem abriu e fechou, provavelmente pensando que
alguma coisa estava fugindo ao seu controle feroz. Eve e Carina sumiram da
sala e ficamos apenas nós dois.
— Eu tenho uma irmã. Ela tem dois anos, minha mãe a abandonou
quando sumiu. — Acho que eu o ouvi resfolegar.
Octor assente, desanuviando os olhos.
Ele pensou que fosse minha vida, penso. Mas ela é minha filha.
— Deveria ter dito, mas... Ela é minha filha, queria protegê-la. Estou
com um processo judicial para conseguir a guarda, fiz uma queixa formal de
abandono e tudo está correndo lento. Por enquanto, estou com a guarda
provisória. Mas quero a definitiva.
Acho que mudei seus planos, porque Octor se senta e parece abalado.
Entre nós dois há um rio de distância, ele fita suas mãos, segue para o chão e
depois me encara.
— Devia ter me dito.
— Nada mudou, Emma não faz parte do acordo. Estarei lá com você.
— Com uma filha. — Ele rosna. — Como que termina um casamento
com uma mulher que tem uma filha pequena? Quem faria uma coisa assim?
— Nós não somos casados de verdade e a filha não é sua, então fica
tranquilo. Não vamos trazer Emma para o jogo.
Octor rir friamente.
— Ela é minha filha — repete o que eu disse de forma sarcástica —
parece que agora Emma está no jogo sim. Uma hora ou outra descobrirão
sobre ela e eu não serei àquele que abandonou uma mulher com um bebê.
— Abandonar uma mulher sem bebê tudo bem, né? Porque era isso
que você faria antes de Emma “nascer”. Iria dizer que o casamento acabou
depois das nossas duas semanas perfeitas onde todos pensaram que éramos o
amor da vida do outro. — Cuspo de forma grosseira — Aliás, o que veio
fazer aqui?
Ele se levantou, se recuperando da surpresa e enfiou a mão no bolso.
Uma caixinha saiu dela e ele abriu.
Além de uma aliança de noivado deslumbrante que fez minhas pernas
tremerem, porque no meu sonho de adolescente eu usaria uma dessas um dia,
havia também um par de alianças em ouro branco e a minha havia pedras
brilhantes. Conhecendo-o, sabia que eram diamantes.
— Havia esquecido do detalhe mais importante, esposa.
Quando Octor deslizou sob meu dedo esquerdo a aliança de noivado e
a de casamento, me senti estranha. Minha mão pareceu pesar cinco toneladas.
Respirei fundo, tentando disfarçar e puxei a aliança dele para colocar em seu
dedo.
— Agora estamos casados, Sofia. Só precisa assinar aqui.
Arregalando os olhos, ele me empurrou uma pasta. Não podia ser...
— Octor? — Grunhi, sem entender.
— Casamento Sofia, os documentos saíram hoje. Você pensou que
seríamos apenas um casal de mentirinha? Não, querida. É de verdade, por
duas semanas, é de verdade. Assine.
Capítulo 7
Octor
Uma criança.
Isso não sai da minha cabeça, tem uma criança envolvida nisso. Foi
por isso que ela aceitou? Foi, certamente foi. Posso olhar para ela agora,
sentada a minha frente, olhando deslumbrada pela janela. É a primeira vez
que entra em um avião, primeira vez que voa. Ela ficou nervosa, mas
disfarçou bem.
Está deslumbrante e quase não a reconheci quando estacionei em
frente ao seu prédio hoje cedo e ela entrou, seu perfume inundou o carro e o
cheiro era muito bom. Foi a primeira vez que senti cheiro de perfume vindo
dela.
Será que fazia parte da sua personagem?
Minha esposa...
Literalmente minha esposa.
Com seus documentos à minha disposição, um contrato pré-nupcial
foi feito e os documentos enviados ao cartório para dar entrada na certidão de
casamento. Dinheiro move o mundo e ontem à tarde estava com nossa
certidão em mãos.
Enlouqueci.
Enviei uma foto a Dominic e ele respondeu com uma carinha rindo.
Ele viria para o casamento, mas somente dois dias antes.
Mas tem uma criança... Emma volta à minha cabeça. Penso em como
Sofia foi criada e sei que ela não quer que sua irmã – sua filha, passe pelo
mesmo.
— Temos uma suíte no fundo, caso queira dormir. A viagem será
longa — recebo o sorriso genuíno da parte dela.
— Agora não, mais tarde, talvez. Estou aproveitando a vista.
São só nuvens, penso, mas não digo nada.
Volto para meu trabalho, adianto algumas coisas porque quando
pousarmos estarei oficialmente de férias, pronto para passar um tempo de
qualidade com minha esposa. Rio com meu comentário, olhando para ela
outra vez. Minha esposa que esconde segredos de mim... O que mais
descobrirei ao seu respeito, minha doce e misteriosa Sofia?
Na hora do almoço eu opto por salmão grelhado e a repreendo quando
só pede uma salada. Sofia estreita seus olhos para mim, determinada em me
desafiar, mas volta atrás e pede o mesmo que eu.
— Já disse que mato não é alimento.
— Fale isso para as vacas — a espertinha aponta, tento me fazer de
sério, mas sorrio da sua piadinha.
— Se alimente direito e não me terá pegando no seu pé.
Ela não quer discutir e faz aquilo que costuma fazer para me evitar,
suspira e olha para o outro lado.
Duas horas após o almoço ela solta o primeiro bocejo. A levo até a
suíte, tímida me agradece e fecha à porta.
Decidido que também preciso descansar, reclino minha poltrona e
deito, puxando uma coberta para cima.
Estava voltando para o lugar que mais detestava no mundo, para
presenciar um acontecimento que me embrulhava o estômago só de pensar,
mas... Lembrar que a mulher deitada na cama da suíte do meu avião estaria
comigo faz o fardo parecer mais leve.
Horas mais tarde

Um dia inteiro de viagem era cansativo, o rosto de amassado de Sofia


dizia o quanto estava exausta. Ainda teríamos algumas horas de carro, mas a
partir de agora seríamos apenas nós dois. Nada de segurança em nosso carro,
uma equipe já havia sido designada para me acompanhar durante a estadia em
South Later e já estava instalada em minha propriedade.
Quando ganhei meu primeiro milhão, comprei o terreno antigo
próximo à casa dos meus pais, estava à venda há anos, mas o preço não cabia
no orçamento simples dos moradores de South Later. Fiz minha casa ali, uma
mansão que se destacava no bairro interiorano.
A casa principal era imensa, com seis suítes espaçosas, três salas
sendo uma delas para jogos, uma cozinha ampla com área gourmet e uma
piscina aquecida e coberta num galpão aos fundos. A área externa era de
longe a que mais me agradava, gramado extenso verde, uma cobertura com
sofás largos, mesas longas, lareira e espaço recreativo. A piscina externa era
do tipo grande com borda infinita. Há alguns metros da propriedade fica a
casa do caseiro e bem ao lado ficava uma quadra de basquete. Costumava ser
meu esporte favorito, meu e dele, meu irmão. Após nosso rompimento desfiz
a quadra e montei uma academia bem equipada.
Guardei nossa bagagem e ouvi quando ela reclamou do frio. Me
perguntei se a neve cairia mais cedo esse ano. Geralmente cai alguns dias
antes do Natal, agora parece que se antecipará.
Sofia prendeu o cinto e assoprou as mãos depois de fechar o casaco
pesado que vestia. Liguei o carro, acionando o aquecedor e a vi direcionar
sua mão pequena na saída de ar.
— Quanto tempo falta? South Later fica mesmo escondida do mundo,
você não mentiu.
— Três horas nos separa de uma cama macia. Pode descansar, te
acordarei quando chegarmos.
Sofia reclamou de algo que soou inaudível e tive certeza que
adormeceu novamente.
Dirigi em alta velocidade pela estrada vazia, estava escuro pelo
adiantar da hora e por volta das uma da manhã adentrei a garagem da minha
propriedade. O caminho de pedra sacolejou o carro, Sofia resmungou,
ficando atenta a mudança de velocidade.
— Nós chegamos. Bem-vinda ao lar, esposa.
A partir de agora e pelas duas semanas que estaríamos em South
Later, a mulher ao meu lado seria minha. Quando contornei o carro, abrindo a
porta para que ela descesse, segurei em suas mãos e de repente a sensação
persistente e agonizante que me perseguia pelos últimos três anos se calou.
Da maneira mais doentia que existia, não estaria sozinho. Pela primeira vez
em anos não estaria sozinho.
Sofia deixou-se ser abraçada por mim porque meus seguranças e
alguns funcionários nos esperavam acordados, entre trazerem bagagens para
dentro e cumprimentos, trocamos um olhar cheio de significados. As teorias
tinham acabado e chegou o momento da prática. Os olhos tímidos dela dizia
que estávamos no mesmo barco, isso também era novo para mim.
A apresentei para Pedro, o caseiro e sua esposa Amélie, um casal que
vivem juntos há mais de quarenta anos e àqueles que escolhi para cuidarem
da minha casa enquanto estive fora. Nos falamos regularmente ao menos uma
vez na semana e em todas que há algum problema na propriedade.
Sofia foi educada, sorridente, mesmo cansada deixou que Amélie lhe
apresentasse a casa, indicando onde tudo ficava e mostrasse o quarto
principal... Aquele que deveria ser o nosso quarto.
— Deixem às minhas malas no quarto de hóspedes ao lado do meu.
Minha esposa gosta de ter seu próprio espaço e isso me poupa de sua irritação
com minha bagunça — discreto, Pedro somente assentiu e seguiu
distribuindo ordens aos funcionários ainda presente.
Após às apresentações, agradeci e dispensei a todos. Precisávamos do
nosso próprio tempo, era madrugada e sabia que eles também estavam
exaustos.
Havia uma refeição quente nos esperando, todas às lareiras da casa
estavam acesas e a temperatura agradável nos permitiu livrar dos casacos
pesados.
Comemos juntos em um silêncio agradável, optamos pela sopa devido
o horário avançado.
— Eles não vão comentar vivermos em quartos separados? — Me
perguntou depois de terminar sua refeição.
— Não. Todos aqui são muito bem remunerados para cuidarem de
suas próprias vidas, no mais, não saberão que dormiremos em quartos
separados. Acordo cedo demais e você estará na suíte principal. Quando me
levantar, acharão que você ficou dormindo até tarde.
— Tudo bem... Aqui é muito bonito, deve ser ainda mais bonito na
luz do dia.
— Sim, amanhã levarei você para conhecer o restante da propriedade.
Logo estará familiarizada com tudo.
— E seus pais? Onde eles vivem?
— Algumas ruas abaixo, minha mãe fará um almoço para nos receber.
Esse será nosso primeiro evento, esposa. Preparada?
Hesitando, Sofia bebeu um pouco de água da sua taça e respirou
fundo, como se criasse coragem.
— Preciso estar, marido. Não irei desapontá-lo.
Vi quando encarou sua aliança com tanta atenção, em seus olhos
passavam vários sentimentos. Quis ler sua mente, saber aquilo que ela
pensava para estar um passo à frente.
Decididamente, Sofia era uma caixa misteriosa.
Capítulo 8
Sofia
14 Dias Para O Natal

Os vizinhos de Octor criavam galinhas! No meio da madrugada


algum galo começou a cacarejar, me despertando de um sono leve. O canto
persistiu até o que o dia finalmente amanheceu.
Céus.
Mal consegui pregar os olhos durante a noite toda e quando o fiz,
sonhos intensos me impediram de dormir e descansar. Algo como ansiedade,
medo e desespero. Nos meus sonhos Emma precisava de mim e chorava
muito, quando despertava e voltava a cochilar, me deparava em outro cenário
onde Octor e eu éramos desmascarados em nossa farsa por sua ex namorada.
Respirando fundo, puxei meu celular e enviei uma mensagem para a
babá de Emma, estava ansiosa por notícias. Carina prometeu que me enviaria
vídeos quando minha garotinha acordasse, estava ansiosa por esse momento.
Sabendo que ainda estava muito cedo, me forcei a fechar os olhos e
dormir mais um pouquinho. A cama estava quente, macia e boa demais para
não aproveitar. Aliás, tudo estava bom demais para não aproveitar.
A casa de Octor Luxton era um sonho e isso me fez ficar curiosa
sobre sua propriedade em Seattle, se for semelhante a que ele tem em South
Later, fará total sentido o motivo do homem ser tão caseiro. O lugar é
incrível, e a suíte principal, o quarto dele, é imenso e decorado em tons
pastéis, um pouco de dourado e madeira. O teto é rebaixado e um lustre
rustico despenca do céu com luzes amareladas.
Isso parecia ser um sonho, mas o medo era maior. Medo de errar, de
sermos descobertos... De envergonhar Octor... Deus sabe como preferi me
manter em profundo silêncio quando sua gentil funcionária me apresentou
cada canto da casa, a chamando de minha... Ri amargamente, me
perguntando quando uma mulher como eu teria a oportunidade de fisgar um
homem como Octor e ser a dona de uma casa como essa.
Esse era um sonho alto demais para alcançar e porra, eu não sou a
Cinderela.
Focada no dinheiro que mudaria minha vida e de Emma, apertei meus
olhos, deixando o pensamento de lado e tentando dormir.
Por volta das nove da manhã acordei de vez, um tanto recuperada da
viagem, mas morrendo de fome.
Puxei meu celular de baixo do travesseiro e deixei que um sorriso
aliviado preenchesse meu rosto. Emma estava fazendo sujeira com seu café
da manhã, às sete. Carina me enviou outro vídeo por volta das oito, minha
garotinha estava mamando sua primeira mamadeira do dia, deitada no sofá
com os olhinhos vidrados no seu desenho favorito do momento.
Respirando aliviada, recebi minha dose diária de motivação. Se
Emma estava bem, poderia executar minha tarefa bem também.
Tomei um banho demorado e quentinho, fumaça emanava da água e a
voz de Esther veio à minha cabeça com seus comentários engraçados dizendo
que cozinharia.
Após o banho, me lambuzei de hidratante e procurei uma roupa
adequada, já sabendo que almoçaríamos na casa dos pais de Octor. Uma
nuvem de insegurança tentou adentrar meu sistema, mas afastei. Se podia
evitar o nervosismo, evitaria até que fosse inevitável.
Sequei meu cabelo, modelando às pontas em cachos grossos. Eu
amava meu cabelo, eram castanhos claro e longos, alcançavam quase a minha
bunda. Mas os fios grossos só ficavam domados com uma boa escova,
geralmente não tinha tempo para isso, eles sempre viviam presos em coques...
Perguntem para uma mãe de primeira viagem se é fácil manter o cabelo
limpo e arrumado e ouça uma gargalhada sincera, talvez um tanto
desesperada.
Será que Octor esperava que eu estivesse maquiada a essa hora da
manhã? Deus sabe que eu só usava maquiagem por pura obrigação, era
impossível estar apresentável no trabalho sem uma camada de base e pó
compacto. Encarando minhas olheiras no espelho, decidi que faria algo leve.
Um pouco de blush, talvez e finalizaria com um batom nude.
A roupa me deu mais trabalho, puxei uma calça jeans forrada por
dentro porque o tempo parecia frio, uma camisa de manga cumprida de seda
e o terninho que combinava. Era uma das combinações de dia que Eve havia
montado para mim, então não podia ser tão ruim assim...
Antes de ousar descer para encontrá-lo, enviei uma foto para Eve e
perguntei se os acessórios estavam demais. Graças a Deus ela estava
acordada e quando me respondeu que o colar mesclou perfeitamente com o
look, me acalmei. Revirei os olhos porque a descarada ainda comentou que
ficou perfeito com a minha aliança.
Ela conhecia Octor, não sabia o quão bem o conhecia, mas algo me
dizia que conhecia o suficiente para saber que nosso casamento era falso.
Porém, Eve nunca comentou ou perguntou nada.
Com a bolsa no ombro, deixei o quarto e segui o corredor que daria
para a longa escada redonda que conectava os andares. Não havia sinal de
ninguém no piso principal, mas o cheiro de bolo e canela preenchiam o
ambiente.
Seguindo o caminho da noite anterior, encontrei Octor na sala de
jantar, sentado com uma xicara de café em mãos e mexendo em seu tablet.
— Bom dia, esposa.
Seu tom fez meu estômago retorcer em ansiedade. Havia quase a
sombra de um sorriso cínico em seu rosto quando me sentei, puxando a jarra
de suco de laranja para encher meu copo.
— Bom dia.
— Conseguiu descansar? — Assenti — ótimo. Minha mãe ligou para
confirmar se estávamos a caminho, parece ansiosa para conhecer sua nova
nora.
— Ela disse algo sobre mim?
Octor riu, se alimentando da minha insegurança.
Vi quando bloqueou o tablet e deixou de lado na mesa, inclinando-se
em minha direção.
— Que você é linda, para começar. — Tinha a certeza que estava
corando porque ele riu de mim — enviei a foto que tiramos no nosso último
jantar. Ela está empolgada, é a primeira mulher que levarei depois de...
Algum tempo, sendo essa mulher minha esposa. Você é importante demais,
Sofia. É a atração dessa cidade pelas próximas semanas.
— A atração não deveria ser o casamento que ocorrerá no Natal? —
A menção fez o homem enrijecer um pouco, mas então me encarou tão sério
por alguns segundos que congelei no lugar.
— Esse casamento é um escândalo. Nós dois somos... um tipo
diferente de fofoca. Quero que todos vejam minha bela esposa, como somos
felizes... Como não estou perdendo absolutamente nada porque tenho você.
Sua mão cobriu a minha, engoli o suco e jurei que às laranjas
desceram amargas. Os olhos de Octor estavam frios, quase cruéis, mas algo
me dizia que esse rancor não era direcionado a mim.
O homem foi traído pela mulher que amava e pelo seu irmão. Quem
faz esse tipo de coisa? Isso deve ter doído, porque o jeito como ele parece
pronto para destruir tudo ao seu redor me assusta um pouco.
— Eles verão, Octor. Eu prometo. — Murmuro, segurando sua mão
de volta.
Por alguns segundos estamos conectados, então Amélie entra na sala,
pigarreia parecendo constrangida e o magnetismo se vai. Octor puxa sua mão,
consertando a postura e se levanta.
— Tome seu café da manhã, preciso verificar algumas coisas na
propriedade e então sairemos. — Assenti, fiquei imóvel quando ele beijou o
topo da minha cabeça antes de se afastar.
— Sinto muito se atrapalhei algo, senhora Luxton — confusa, encarei
Amélie e demorou alguns segundos para a ficha cair que a senhora Luxton
sou eu.
Meu Deus... Não estava preparada para isso.
Me recompondo, limpei a garganta e sorri para ela.
— Não atrapalhou, estávamos conversando. Fique à vontade para me
chamar de Sofia.
Sorrindo, ela reabasteceu o cestinho de pães doces e água quente para
o chá. Quando saiu, algo me dizia que não rolaria me chamar pelo primeiro
nome.
Capítulo 9

Octor
Ela estava linda, fiquei me perguntando se não percebi quão bonita
ela era só porque estava na função de minha funcionária ou se era como ela
se vestia. Me senti péssimo por isso, porque agora consigo visualizá-la até em
sacos de esterco tendo a certeza que ficará bonita.
Dirigindo com calma pelo caminho que pensei que nunca mais faria,
fiquei quieto acompanhando sua pequena interação na videochamada. A
garotinha do outro lado da tela soltava gritinhos animados toda vez toda vez
que Sofia fazia uma careta que estava matando-a de tanto rir. Me permiti rir
também, o cenário familiar era tão estranho que me deixava desconfortável,
meu envolvimento com crianças era um desastre. Isso me deixava com um
ponto de interrogação imenso na testa, porque Emma parecia ser
genuinamente feliz.
Não queria corromper a felicidade das duas.
— Estamos chegando... — Sussurrei, vendo a postura relaxada de
Sofia tencionar.
A garotinha não entendeu muito bem quando Sofia disse que
precisava desligar e acenou, ouvi a vozinha embolada tentar dizer “tchau” e ri
mais um pouquinho. Não entendia nada de bebês, mas sabia que eles eram
fofos.
— Ela tem sorte de ter você, não era seu dever cuidar dela e ainda
assim o fez. Você... É uma excelente mãe, Sofia. Tenho certeza.
— Eu... Obrigada, Octor. Estou me sentindo culpada por ficar longe
dela.
E eu me sentia mais culpado ainda... Em breve seria Natal e ela não
estaria com sua garotinha.
Não consegui dizer nada, meus motivos egoístas me mandaram calar
a boca. Estacionei em frente à casa dos meus pais me sentindo meio sufocado
com a avalanche de lembranças que vieram a seguir.
— Vamos falar da Emma com minha mãe. Não acho que seja o
melhor caminho esconder, provavelmente perguntará porque não a
trouxemos, então...
— Lua de mel — Sofia pontuou — não tivemos uma, então
decidimos que era o momento de termos um tempo a sós. Mas, tem certeza
que quer trazer Emma para a história? Isso quer dizer que você esteve comigo
desde que ela era um bebezinho...
Isso me torna um pai? Me perguntei, mas o rosto de Sofia virou para o
lado oposto.
Soltei a respiração pesada, por enquanto era isso.
Abri a porta para minha esposa, suas mãos trêmulas agarraram às
minhas com afinco. Cruzei nossos dedos, trocamos um olhar nada confiante.
— Estamos sendo observados — sussurrei, com a mão livre coloquei
uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Sob os ombros de Sofia conseguia
ver minha mãe nos observar da janela. — Não surte, mas não quero que a
primeira vez seja na frente de todo mundo.
Confusa, vi minha esposa piscar para mim quando segurei sua nuca
com delicadeza e trouxe seus lábios em minha direção. Não estava preparado
para esse momento, não havia sido planejado beijá-la tão cedo ou tão fundo,
mas ao sentir a maciez dos lábios de Sofia e o gosto doce da sua língua na
minha, me vi pedindo passagem e aprofundando nosso contato.
Porra.
Era uma surpresa para nós dois, meu corpo se arrepiou quando o
toque deixou de ser arredio e Sofia se entregou a mim. Suas mãos prenderam
em meu pescoço, puxando um maço de cabelos e minha esposa ficou na
ponta dos pés, afundando sua língua tentadora em minha boca, puxando meus
lábios entre seus dentes. Em segundos estava afundando em uma teia
eloquente, num beijo que me deixou fora de órbita com rapidez.
Ninguém me disse que seria uma porra insana beijá-la assim, em
plena luz do dia, em frente à casa dos meus pais. Isso não tinha a ver com o
teatro mais, eu quis beijá-la. prová-la e gostar do seu gosto me deixou
surpreso para caralho.
Quando nos separamos, respirações ofegantes preencheram o ar.
Nossas testas permaneceram unidas, com medo, não abri os olhos.
Preocupado com o que viria na íris de Sofia, puxei sua cintura contra mim e a
pressionei contra a lataria do carro.
Sofia soltou um gemido baixo e sua mão prendeu na minha que estava
agarrada em sua cintura, só assim percebi que a apertava com força. Me
afastando, finalmente encarei o rosto vermelho e o colo corado. Um sorriso
tímido brincava em sua face, enquanto ela arrumava sua roupa de volta no
lugar.
Voltando a encarar a casa, minha mãe não estava mais na janela.
— Desculpa se a machuquei... — Envergonhado pra cacete,
murmurei.
— Tudo bem, não machucou. Vamos entrar? — Essa foi a primeira
mentira que Sofia me contou.
Seus olhos faiscavam algo que sabia que imitavam os meus.
Cruzei nossos dedos, com a palma das nossas mãos queimando.
Atordoado com o que aconteceu, segui para dentro, já esquecido do
que queria lhe dizer antes de descermos do carro.
Empurrei a porta, já aberta, como sempre. Gritei pela minha mãe no
hall de entrada e ajudei Sofia com seu casaco. Deixei pendurado próximo ao
meu, sem desviar meus olhos do dela.
— Achei que não entrariam e voltariam para casa. Adorei o beijo,
mas os vizinhos podem comentar que meu filho estava transando com sua
esposa dentro do carro.
— Mamãe! — Um sorriso brincalhou estampou sua face — essa é a
Sofia, minha esposa.
— Eu sou a Amber. É um prazer finalmente conhecê-la! Imagine
minha surpresa quando meu filho disse que casou e sequer me convidou!
Ainda estou chateada porque só recebi uma foto!
Sofia revezou um olhar ao meu, sorri incentivando-a começar o
teatro. Ela trocou um abraço com minha mãe, suavizando o rosto e deixando-
se ser puxada para dentro.
— Você sabe como seu filho é, uma vez que me disse que não queria
esperar, eu sabia que não poderia dizer não. Nunca diria não a ele.
— Não o mime demais, ele já está acostumado a ter tudo quer. Não
deixe tão fácil para ele.
— Ah, ela não deixa. Então não alimente mais a determinação dessa
mulher, mãe.
As duas riram, suavizando o clima.
Alguns passos e estávamos na sala de estar, o clima ficou pesado
novamente. Queria gritar com minha mãe, porque com certeza aquele não foi
o combinado entre nós.
Sentada despretensiosamente no sofá da sala, com às pernas cruzadas
e fingindo assistir televisão, estava ela: Nicole. Foi inútil me preparar
psicologicamente para revê-la no momento que eu achasse adequado, quando
minha mãe fez seus próprios jogos.
Nicole estava exatamente como me lembrava. Os cabelos loiros como
sempre, o sorriso perfeito congelado em sua face e a altivez em seu espirito.
Sob saltos altos se colocou de pé, sem disfarçar que avaliava minuciosamente
Sofia da cabeça aos pés. Diferente da minha esposa, minha ex estava em um
vestido que provavelmente era de grife e nada usual para uma tarde de sábado
no fim do mundo.
— Sofia, essa é a Nicole, noiva de Liam, o irmão do seu marido. —
Sei que minha mãe fez aquilo de propósito e quase pude perdoá-la, porque a
feição de surpresa da minha ex me provou que ela não sabia que estava
casado.
Por alguns segundos a altivez da mulher se desfez, seus olhos
procuraram os meus e pude jurar que vi algo como indignação transpassar
deles. Sofia, que parecia tão tranquila, estendeu sua mão em direção a uma
Nicole aturdida.
— Ouvi falar de você, Nicole — ouvi seu tom quase aborrecido,
então depois Sofia soltou uma risada cordial e fingida.
Parcialmente recuperada, minha ex retribuiu o cumprimento.
— Já eu nunca ouvi de você. Quando se casaram?
Esse era o momento, nossa prova de fogo. Se Sofia não soubesse
interpretar bem, Nicole descobriria tudo. Seu olhar de cão farejador indicava
que ela não desistiria.
Depois de puxar a mão do aperto, Sofia deixou um sorriso quase
inocente brincar em seu rosto e estendi a mão para que ela voltasse a mim.
Escorada em meu peito, brinquei com minhas mãos no centro de suas costas,
acariciando de leve. Controlando as batidas aceleradas do meu coração,
tomado por tantos sentimentos que me sufocavam.
— Outubro! Acreditem quando eu digo que todos teriam sido
convidados, nosso plano era fazer uma festa em janeiro..., mas agora, nada
disso importa. — O tom era tão casual, de quem contava uma história
corriqueira. Sofia sorriu olhando para mim e inspirou, como se estivesse
realmente apaixonada. — Só nós dois importamos. E Deus sabe que nós
somos avessos a atenção.
— Ainda vou puxar muito sua orelha por não a ter visto em um
vestido de noiva, tenho certeza que ficaria linda. — Minha mãe sorriu
docemente para Sofia.
Por alguns segundos, segurando-a como meu escudo, tirei meus olhos
de Nicole e deixei que minha mente viajasse para uma Sofia vestida de noiva.
Se isso fosse real, não haveria nenhuma forma de não a querer vestida em
um.
— Acho que por Liam já teríamos nos casado também. Mas não abro
mão de usar um vestido, dizer sim diante de Deus, caso contrário sentiria que
ele quer me esconder.
Sofia tencionou com a provocação, mas forçou outro sorriso no rosto.
— Nesse caso, seria eu a escondê-lo! Afinal, optei por não ter um
grande casamento desde o início. Estava ansiosa pela vida, certos momentos
parecem obrigação e não quero nunca ser uma obrigação para Octor. Me
basta ser o amor de sua vida.
Podia jurar que Nicole enrubesceu, mesmo sob a maquiagem
excessiva que ela usava…
Felizmente, não ouvi sua réplica. O clima já pesado na sala
permaneceu péssimo quando Liam apareceu ao lado do meu pai. Ao menos,
ele era o único que parecia desconfortável com isso. Com as mãos no bolso
da calça, permaneceu a uma distância segura. Sequer parou ao lado de sua
noiva, que meio sem jeito pela clara objeção do noivo em se manter longe,
sustentou sua postura e caminhou para ele.
— Pai, essa é a Sofia. Minha esposa.
— Minha querida, seja bem-vinda a nossa casa! — Meu pai deu um
de seus abraços acolhedores — onde estão seus modos, mulher? Venha,
Sofia, vamos tomar algo quente antes que o almoço seja servido.
Aquele que sempre sabe o que fazer, papai a levou para longe de
mim. Sofia foi de boa vontade, respondendo suas perguntas de forma gentil.
Agradecendo o convite para o almoço, mamãe logo os seguiu, como se
fizesse de propósito.
Sem meu escudo, me vi a sós com meu irmão e a mulher em nosso
caminho.
Como chegamos a esse ponto? Liam costumava ser meu melhor
amigo. Temos apenas dois anos de diferença e fazíamos tudo juntos quando
criança, deveria imaginar que houvesse algo entre os dois, Liam estava
sempre conosco.
Meu irmão não sustentou o olhar em minha direção nem por um
segundo, nem mesmo quando limpou a garganta e perguntou como eu estava.
— Estou bem.
— Obrigada por ter vindo, é importante para nós tê-lo aqui para nosso
dia especial.
Como ela ousava?
Liam a olhou tão surpreso quanto eu. Nicole tinha aquele sorriso
cínico no rosto, então eu soube: ela acreditou...
Me permiti rir porque ela se julgava esperta suficiente, então
acreditou no que seus olhos viram, e estava furiosa porque eu vim
acompanhado de alguém. Como nunca percebi que ela gostava de me ver na
merda?
— Octor, eu...
— Felicidades para vocês. — Cortando Liam, direcionei um último
olhar a eles antes de caminhar em direção a minha esposa. Mesmo que fosse
falsa, sabia que estar ao lado de Sofia faria o martírio ser menos doloroso.
Não fiquei surpreso quando entrei na cozinha e vi Sofia com seus
cabelos presos em um coque alto, com as mangas da camisa elegante que
usava dobrada acima dos cotovelos, lavando um maço de folhas verdes e
sorrindo em uma conversa que parecia animada com meus pais.
Céus...
Como ela conseguia tornar tudo tão simples assim? Acho que nunca
vi Nicole em um cenário tão doméstico, quando o fazia era porque eu lhe
implorava que ajudasse com algo. Mamãe nunca pediu sua ajuda para nada
porque estava claro que minha ex não gostava de serviço doméstico,
provavelmente com Liam nada mudou.
Olhando para trás, fiquei esperando o momento que eles apareceriam,
mas não vieram.
— Octor, me ajude com a lenha! Pelo visto Liam não volta mais.
— Por quê? — Perguntei, após trocar um olhar com Sofia e seguir
meu pai para o quintal.
A casa estava ótima, meu pai fazia um excelente trabalho na
manutenção externa. Ele gostava de cuidar de tudo, havia trabalhado muitos
anos na área de construção civil e mesmo após sua aposentadoria, ainda
prestava alguns serviços pela vizinhança. Mesmo que não precisasse, já que
seu filho era rico suficiente e nada faltava a eles.
Meus pais não queriam sair de South Later, então comprei para eles a
propriedade vizinha e papai construiu uma casa anexa, dando a desculpa que
seria para quando viéssemos visita-lo, mesmo sabendo que tínhamos nossa
própria casa na cidade. Tanto eu, quanto Liam, vivíamos em Seattle há anos.
— Eles não estão muito bem, ele e Nicole — meu pai esclareceu,
entregando um machado na minha direção.
— Mas estão bem o suficiente para casar.
— As aparências sempre enganam, filho — sabia que ele não deixaria
nada esclarecido. Meu pai não era do tipo que falava da vida alheia, se
desabafou sobre algo, era porque estava preocupado.
— Liam é adulto, pai. Se algo estiver errado, deixe que ele mesmo
resolva.
— Nicole é difícil.
Ri com a frase. Se alguém sabia o quanto aquela mulher era difícil,
esse alguém era eu. Vivi treze anos da minha vida com ela, talvez o que
houvesse entre nós dois no final era hábito e costume.
— Tarde demais para descobrir isso, não acha?! — Direcionei o
machado na direção do tronco e cortei, juntando a lenha no carrinho de mão
meu lado. — Não se preocupe, no final, eles ficarão bem. Sempre ficam.
— Você parece bem com isso. Achei que nunca poderíamos
conversar sobre esse assunto novamente. Isso foi o casamento? Ela parece ser
uma mulher adequada, filho.
— Adequada? — Ri, me perguntando se essa insinuação era sobre
minha ex — Ela é mais que isso. Mais do que qualquer outra foi.
Parte disso não era mentira, com Sofia havia uma relação paga –
reciproca no mesmo ponto. Ela não precisava mentir para mim, pois não
tínhamos nada. Ainda assim, acreditava que conhecia mais dela do que
jamais conheci de Nicole. Ao menos, Sofia parecia transparente suficiente
para me deixar perguntar qualquer coisa.
— Isso significa que há uma chance de você e seu irmão voltarem a
serem irmãos?
— Este navio já zarpou, pai. Não posso perdoar Liam, apesar de hoje
ter sentido um pouco de pena dele.
— Nem se a Sofia pedisse? — Ele prendeu a risada, me provocando.
Joguei uma lasca de madeira nele, fazendo-o rir ainda mais.
— Não use minha esposa contra mim.
— Estou feliz que você veio, filho. Faz tempo que não passamos o
Natal juntos, estou ainda mais feliz que tenha superado essa história maldita.
Sei que um dia você e seu irmão voltarão ao que eram ou ao menos se falarão
sem tanta raiva envolvida nas palavras. Acho que parte disso devo agradecer
a minha nova nora. Já gostei muito dela.
Capítulo 10

Sofia

Odiava poucas coisas na vida, mas Nicole entrou na lista em primeiro


lugar disparado. A loira falsificada usou cada maldito minuto durante o
almoço para tentar atingir Octor. Era deprimente que toda a família estivesse
em uma situação muito desconfortável porque duas pessoas fizeram uma
escolha errada.
Cada cena deprimente me fez apertar a mão de Octor com mais força
por baixo da mesa, em um determinado momento ele apertou de volta, tão
forte que soltei um gemido baixo de dor.
Ele estava irado.
Sua ex estava protagonizando um papel de megera muito bem. Ela
riu, fazendo questão de ressaltar seus momentos incríveis em suas férias
passadas com Liam, como os negócios de Liam estavam indo muito bem, o
que descobri mais tarde naquele dia que havia sido financiado com o dinheiro
de Octor. O irmão dele ficou quieto durante boa parte do almoço, exceto nos
momentos que pedia para que Nicole parasse. A voz do homem era tão baixa
que mal ouvíamos seus apelos envergonhados.
Assisti enjoada quando ela ficou alimentando o noivo como se ele
tivesse cinco anos de idade, levando a sobremesa até a boca do homem que
parecia prestes a explodir a qualquer momento.
Descobri também que era a primeira vez que os irmãos se
reencontravam, foi um tanto... Deprimente assisti-lo tão vulnerável, mas não
senti pena. Ele ficou com a namorada do irmão, então merecia.
— Quando quiser ir, podemos voltar para casa — sussurrei para Octor
após o almoço. Estávamos tomando um cafezinho, sentados no quintal e
Nicole subiu no colo do noivo.
A mulher era de longe a pessoa mais detestável que já conheci.
Em resposta, meu marido de mentirinha cruzou nossos dedos e levou
o dorso da minha mão até sua boca, beijando amorosamente. Seus olhos
estavam perturbados, ainda assim, ele tentou sorrir para mim.
Octor era um homem bom. Sua mãe falava disso orgulhosamente, ele
foi o responsável pelas torres de telefonia da cidade, até alguns anos atrás não
havia sinal de celular, internet, tv a cabo e tantas outras tecnologias na cidade.
Inclusive, Octor foi aquele a financiar a construção do único hospital de
grande porte da pequena cidade. A mãe não deixava os feitos de seu filho de
lado e aquilo valia a permanência no lugar.
Octor voltou a ajudar o pai com a lenha e dessa vez Liam foi junto,
ele parecia desesperado para ficar um tempo longe da noiva e agarrou a
oportunidade com afinco.
— Se você não parar com o que está fazendo, vou pedir para que se
retire. Agradeça por não dizer isso na frente do Liam, Deus sabe que não
quero machucá-lo. Você deveria pensar o mesmo.
— Não estou fazendo nada, Amber.
Desconfortável, assisti minha sogra agir como uma leoa defendendo
seu filho. Mas o defendido não era Octor, era Liam.
— Não seja sonsa. Você sabe que gosto de você, apesar de tudo. Só
pare com isso.
Chateada, Amber se levantou e voltou para dentro de casa.
Nicole parecia furiosa quando me encarou, dividia entre rebater e se
retirar também.
— Também acha que estou provocando seu marido?
Vadia.
Meu sangue ferveu com seu descaramento. Nicole cruzou suas pernas,
pronta para iniciar uma discussão se eu a ignorasse.
— O que você quer? Que os dois saiam aos tapas por você?
— Não, nunca quis que eles brigassem. — Não sei se acreditava nela,
mas Nicole ficou temporariamente séria. — Só não amava mais o Octor, mas
sabe como ele é. Odeia ser rejeitado, tudo precisa ser como ele quer. Quanto
tempo vocês estão juntos?
— Um ano.
— Pouco tempo... Ainda não o conhece de verdade. Se quer um
conselho de alguém que passou uma vida ao lado dele, não deixe que ele a
diminua por suas vontades. Logo entenderá que os sonhos dele, as vontades
dele, os planos deles, podem ocupar um lugar muito grande da sua vida.
Quando perceber terá abandonado seus amigos, estudo, trabalho... Viverá em
função de um homem caprichoso.
Engoli a saliva, me deparando com uma Nicole diferente. O tanto de
mágoa e rancor em suas palavras me deixaram confusa.
— Foi por isso que você decidiu dormir com o irmão dele? Vingança,
por que você acredita que a carreira dele era mais importante que você?
— Talvez tenha permanecido com Liam por isso, mas inicialmente eu
me apaixonei. Liam estava disponível para mim, Octor nunca estava. Uma
mulher carente comete muitos erros.
— Agora é tarde demais para se arrepender, Nicole. Esse showzinho
que você deu aqui foi puro desespero, porque acho que já percebeu que Liam
parece meio de saco cheio de você e Octor seguiu em frente — cansada do
jogo, rebato me colocando de pé — não me interessa o que acontecerá entre
você e o seu noivo. Só fique longe do meu marido. Não sou tão fina e
elegante como você, se não quiser entrar na Igreja sem cabelo, se coloque no
seu lugar e pare de querer chamar atenção do meu marido. Fui clara?
Não esperei pela sua resposta, de longe pude ver Octor olhando na
minha direção e caminhei até ele.
Eles estavam carregando lenha, Octor enchia o carrinho com o pai e
Liam levava, três poderiam fazer o serviço mais rápido.
— Você vai se sujar toda, querida. — O pai dele disse. Era um
homem doce e carinhoso.
— Nada que água e sabão não resolvam. Fique tranquilo.
Ajudei com a lenha, rindo porque toda vez que ia pegar uma, Octor
pegava somente para que eu não o fizesse. Ele era mandão, exigente e agora
percebi que protetor também.
Liam levou o último carrinho e o pai foi atrás para ajudá-lo a
armazenar.
— Está tudo bem? — Preocupado, seus olhos me fitaram
intensamente.
Me aproximei dele, ciente que Nicole estava observando com seus
olhos de águia invejosa.
Toquei minha mão sob seu peito, em cima do suéter xadrez que ele
usava e subi até sua nuca.
— Adorei sua família.
— E eles adoraram você. — Ele murmurou, olhando na direção que
sua ex estava. — Vamos para casa.
Para minha surpresa, Octor colou sua testa na minha e suspirou
pesado antes de me beijar com carinho.
Ainda estava trêmula pelo beijo intenso que trocamos mais cedo,
agora ele simplesmente revirava meu estômago me tocando com tanta
delicadeza que me deixou aérea.
Quando voltamos em direção a casa, Nicole não estava mais na
varanda.
Capítulo 11
Octor
13 Dias Para O Natal

O som da risada de Sofia era contagiante, segui pelo caminho para


encontrar o motivo que a fazia gargalhar e tencionei no lugar assim que meus
olhos miraram a visão a minha frente. Ela estava completamente suja de
farinha, assim como a bancada da cozinha e a mesa ao seu lado. Mas, não foi
isso que fez meu maxilar travar, Pedro estava ajudando-a limpar a bagunça,
mas um dos seguranças segurava uma escada onde Sofia estava de pé em um
dos últimos degraus pegando mantimentos e entregando para Amélie.
A cena doméstica teria passado despercebida se o homem não
estivesse igualmente rindo com ela.
O que havia dito sobre ficar longe de qualquer homem?
— Atrapalho? — Meu tom desfez o som das risadas no ambiente.
Olhei diretamente para o homem segurando a escada onde minha
esposa pelos próximos dias estava de pé.
Sofia fechou a porta do armário e me encarou, provavelmente
surpresa por me ver tão cedo.
Havia ido ao centro da cidade fazer algumas compras, dar uma olhada
em um equipamento de segurança que estava sendo instalado no hospital, de
quebra comprei algo que Sofia havia comentado na noite anterior que não
tinha em casa.
— Chegou cedo, isso significa que terei mais uma mão para me
ajudar. Estou fazendo cookies de Natal — seu sorriso parecia inocente,
apesar de mirar na minha carranca irritada — testando, na verdade. Se der
certo, farei para a ceia. Como foi na cidade?
Um por um, a cozinha foi esvaziando. Quando Sofia desceu dos
degraus, o segurança pediu licença e praticamente correu para longe.
— O que estava acontecendo aqui?
— A bagunça? Um saco de farinha estourou, desequilibrei na escada
e voou da minha mão. Meu grito alertou Amélie, que trouxe Pedro e
consequentemente Alden pensou que a casa estava sendo invadida.
— Alden?
— O segurança.
Arqueei minha sobrancelha, esperando que ela chegasse na mesma
conclusão que eu sem que precisasse dizer nada.
— Seja lá o que estiver passando pela sua cabeça, não estou gostando
da sua cara. Pense bem antes de dizer algo do qual se arrependa.
Sofia voltou para o balcão bem séria. Observei enquanto media uma
quantidade de farinha e misturava em uma tigela com ovos e açúcar.
— Não quero mais Alden dentro de casa, se precisar de alguém para
segurar a merda da escada, basta me chamar.
— Você não estava em casa — rebateu de imediato, ignorando o tom
que usei para falar o nome do homem. — Além disso, haviam mais duas
pessoas na cozinha. Não faça insinuações ridículas, Octor.
— Não são insinuações ridículas, havia um homem rindo
despreocupadamente com minha esposa, porra. Sequer estava em casa.
— E? Estávamos rindo da minha bagunça, todos nós estávamos rindo
da minha bagunça. Que porra de insinuação é essa? — Nesse momento era
tarde demais para voltar atrás — Não sou a sua ex!
Agradeci mentalmente quando seu celular tocou, Sofia lavou a mão e
o alcançou na bancada, atendendo a chamada de vídeo.
Estava tão furioso, cego de raiva, que não mediria palavras em minha
resposta. Por alguns segundos pude refletir, Sofia nem de longe era Nicole e
meu surto havia sido algo completamente desproporcional... E Deus, essa não
é de fato minha esposa.
O choro de Emma do outro lado da linha alarmou nós dois.
— Ela caiu, não para de chorar e está chamando por você. Achei
melhor ligar para tentar acalmá-la, ela está bem, apesar disso. Só ralou o
joelho.
A voz da babá soou através da gritaria de Emma.
— Ei, meu amor. Estou aqui, já passou... — Algo no desespero da
menininha me deixou aflito, tanto que não pensei quando me aproximei,
inclinando-me para vê-la através da tela.
Sofia não desviou o celular da minha direção, logo nossa imagem
apareceu para a garotinha. Ela estava com o rostinho de boneca ensopado de
lágrimas, com o dedo na boca e chorando em plenos pulmões.
— Emma, onde está sua boneca bonita? Mostre para a mamãe — a
babá disse.
Sofia tremeu, então passei a mão por seu ombro.
Emma soluçou um pouco, mas aceitou a boneca que a babá lhe
estendeu.
— Que boneca linda, meu amor. Eu adorei, mostre para o Octor sua
boneca. Não é linda?
— Muito linda sua boneca, Emma — tentando distrai-la, murmurei.
A babá sorriu, porque ela ficou tímida. O choro foi reduzindo, a
menina sapeca sorriu e escondeu o rosto no braço de sua babá. Ela era tão
linda, como alguém conseguia abandonar uma coisinha pequena e indefesa
assim?
Virei para Sofia, pensando que quem assumia tantas
responsabilidades não podia ser uma traidora. Precisava ter muito caráter para
arcar com erros que não são seus.
A vi respirar tranquila quando sua menina parou de chorar e caiu no
sono, nos braços de sua babá. Outra vez me senti culpado por separá-las.
— Logo estarão juntas — sussurrei quando desligou.
Atordoado com a horda de sentimentos reprimidos, precisei me
afastar antes que dissesse algo que não deveria. Tínhamos um acordo onde
sentir algo pelo outro não estava incluído, ainda assim, me afeiçoei a Sofia.
Não foi uma escolha admirá-la, aconteceu.
— Como estão às coisas por aí? — A voz de Dominic preencheu o
outro lado da linha.
Com o copo de uísque na mão, olhei o fogo queimar na lareira da
biblioteca. Depois da minha cena de ciúmes com Sofia, decidi que
precisávamos de espaço.
— Tudo indo muito bem.
— Já reencontrou sua ex?
— Ontem, continua tão bonita e hipócrita como sempre — ri de forma
amarga — fez de tudo para que ficássemos a sós, acho que quer me falar
algo.
— Sério?
— Sim. Em um determinado momento, quando Sofia estava ajudando
minha mãe na cozinha, ela apareceu no quintal e ficou me olhando trabalhar
na lenha com meu pai. Não gostei da forma que ela me olhou o dia inteiro.
Nicole passou o dia inteiro dividida entre me tirar do sério e me
ignorar.
— Se puder te dar um conselho, não fique a sós com ela. Sabe lá o
que ela pode dizer depois disso... Não confio naquela mulher.
— Nem eu, não ficarei.
Ficando em silêncio por alguns segundos, escutei Dominic falar algo
com alguém do outro lado da linha.
— E você e Sofia?
— De vento em popa. Foi uma ótima ideia, você estava certo. Ela foi
mais que perfeita, em condições normais, provavelmente seria a esposa que
eu procurava naquela época.
— Nossa... De onde veio isso? Vinte e quatro horas brincando de
casinha e já quer tornar real? Achei que demoraria mais.
— Não comece. — Bufei — quem está aí com você?
Dominic riu e ouvi a mulher chamá-lo.
— Será que você achou sua Sienna, meu amigo? Preciso ir. Te ligo
depois.
Dominic desligou antes que pudesse responder.
Uma batida de leve na porta e então fora aberta, uma Sofia agora
limpa de toda a farinha segurava uma bandeja em suas mãos. Ela estava bem
séria quando estendeu um prato com cookies e café quente. Desaprovou o
copo de uísque na minha mão e meneou a cabeça numa negativa.
Suspirei fundo.
Os biscoitos eram com gotas de chocolate, meus preferidos quando
era criança.
— Vi que você trouxe o pinheiro... Do jeito que comentei, obrigada...
— Ontem ela havia comentado que a casa precisava de uma ornamentação de
Natal para parecer uma casa habitada por moradores.
Fiquei a noite toda pensando nisso, nunca decorei minha casa para o
Natal. Nem aqui, nem em Seattle. Nem mesmo quando estive com Nicole.
— Acho que a casa precisa da magia do Natal.
— Sim, como a casa de qualquer pessoa recém-casada construindo
uma família — ela suspirou — você vai montá-la comigo ou é pretensão
demais esperar que o CEO da Luxton Corporation montaria árvores de Natal
com sua esposa de mentirinha?
Por alguns segundos seu tom hostil não passou despercebido.
Sofia estava irritada, cruzou seus braços e aguardou minha resposta.
Se eu fosse inteligente, teria dito sim na mesma hora. Nunca fui casado, mas
conheço muitos casais casados há anos e meu pai sempre disse que “esposa
feliz, vida feliz”, mas a criança travessa dentro de mim quis ver até onde sua
irritação iria.
— Não sei decorar árvores de Natal, nunca o fiz.
— Nem quando era criança?
— Não. — Digo.
Sofia rir, virando o olhar até a lareira e demorando lá um pouco antes
de voltar para mim.
— Também se tivesse uma árvore aqui, com certeza você teria
contratado uma equipe para fazer a decoração. Pessoas ricas, vidas fáceis.
— Mas isso não é sobre pagar alguém para montar sua árvore, não é?
Há muitos rituais em famílias, tradições de Natais. Coisas que às pessoas
fazem com quem ama.
— Tem razão. Isso é sobre estar conectado com quem se ama. — Ela
suspirou, se sentando na poltrona de frente a minha mesa de escritório —
Emma e eu teremos um monte de rituais de Natal. Também não tive quando
era criança e quero que ela cresça valorizando a família.
De repente me senti sozinho, porque em duas semanas ela estará de
volta para sua filha e eu serei um homem divorciado. Literalmente
divorciado, já que fui longe demais para provar meu ponto.
Não queria ser um homem solitário, principalmente no ano novo. Os
casais estão viajando e meus amigos solteiros querem ficar bêbados em
algum lugar paradisíaco, estou velho demais para isso.
— Vamos lá montar nossa árvore, já que provavelmente nunca mais
me casarei, quero saber como é todas essas experiências que só se vive em
família.
Sofia me olhou de forma tão intensa me que senti despedido.
— Antes, me peça desculpas.
— Desculpas?
— Sim. Você sabe o porquê.
Nos encaramos por alguns minutos, meu orgulho falando mais alto
quando sabia que Sofia não cederia.
Porra...
O casamento, o bônus e o ônus da vida a dois.
— Fui um babaca, me desculpe. Isso não irá mais se repetir.
— Não vai mesmo. A próxima vez que você levantar a voz para mim,
irei embora. Foda-se o dinheiro, irei para casa e vou querer meu emprego de
volta até que encontre outro. Não vim aqui para ser maltratada, você me disse
que queria um casamento real. Me trate como uma esposa, Octor e não como
uma vadia que você trouxe para casa.
Sofia não esperou minha resposta.
Quieto estava, quieto fiquei e ainda sentindo a porra de uma vergonha
dolorosa. Ela estava completamente certa. Não era assim que se tratava uma
mulher, principalmente quando ela tem o lugar da pessoa que deveria ser
mais importante na vida de um homem. Ela era minha.
Capítulo 12
SOFIA
12 Dias Para O Natal

Octor e eu nos empolgamos a respeito da decoração natalina, o que


deveria ser um pinheiro decorado na sala, se tornou em uma decoração
completa pela casa inteira. Após decorarmos o pinheiro ontem à noite, ele
estava animado demais para parar.
Essa manhã voltou à cidade e me levou junto. Era um pequeno centro
comercial muito charmoso, haviam várias lojas e apesar de ser uma cidade
pequena, South Later não estava parada no tempo. Havia bancos, escolas,
condomínios de apartamentos de luxo, dois bares e uma boate que descobri
que um dos amigos de Octor era o dono, àquele que me deixava nervosa com
seu olhar intenso: Dominic Connigham. Descobri que ele viria para o
casamento também.
Alguns conhecidos pararam para cumprimentar Octor e fui
apresentada como sua esposa, foi inevitável respondermos perguntas sobre
como e quando nos casamos. Nos vi andando de mãos dadas e trocando
carinhos em público, dado um momento me perguntei se realmente fazíamos
àquilo porque alguém estava olhando.
Voltamos para casa com decoração para a lareira, telhado, guirlandas
para às portas, plaquinhas e meias personalizadas. Fiquei emocionada quando
entrou em uma loja de artesanatos e comprou uma boneca de pano para
Emma. Octor ficou meio sem jeito quando me estendeu o brulho e disse para
colocarmos embaixo da árvore.
Desde então estou pensativa.
Quando pendurei nossas meias na lareira: minha, a dele e de Emma,
senti uma nostalgia triste. De uma vida que nunca tive e infelizmente nunca
poderei dar a minha menina. Octor pareceu sentir o mesmo que eu, mas logo
espantei a sensação.
Ele subiu no telhado, rindo dos meus gritos para ter cuidado e limpou
a chaminé, preparando para a neve que cairia em breve e colocou o Papai
Noel enorme no suporte da chaminé, dei risadas porque Octor soltou um “ho-
ho-ho”, me fazendo rir de doer o estômago.
Alguns vizinhos encaravam de longe através de suas janelas nossa
interação, principalmente porque depois que ele desceu me abraçou e beijou
meu rosto.
Nós colocamos os pisca-pisca próximo da calha do telhado e uma
guirlanda com galhos verdes e ramos de flores vermelhas com laços de
glitter. Ficou fofo.
— Agora temos uma decoração de Natal, feliz? — Me perdi no
sorriso enorme.
O homem é lindo e o ultimamente estava sorrindo mais que em todos
os meses que trabalhei para ele. Octor parece leve sem seus ternos caros, em
roupas simples e posso apostar que é a primeira vez em anos que ele faz algo
realmente divertido.
— Muito, falta 12 dias para o Natal e a casa está preparada. O que
você acha de fazermos a ceia aqui e convidarmos sua família?
— Você está esquecendo do casamento...
O clima mudou, o peso que o casamento trazia se instalou entre nós.
Sem o sorriso bonito, ele entrou e eu o segui.
— Não estou esquecendo não. O casamento será dia 25, podemos
fazer uma ceia na virada como nas famílias mais tradicionais.
— Não os quero na minha casa, Sofia. — Seu olhar ferido mirou em
minha direção e quis abraçá-lo.
Octor não gostava de estar vulnerável e eu sabia disso.
— Tudo bem..., mas nós iremos para a casa dos seus pais?
— Por que não podemos ficar só nós dois? É o nosso primeiro Natal
juntos, eles vão entender.
Mordi o lábio inferior, encarando sua feição aborrecida e assenti. Seus
pais não entenderiam, estavam tão felizes por ele estar de volta em casa que
provavelmente estavam esperançosos de tê-lo no Natal.
Hesitante, me aproximei e segurei sua mão. Os olhos verdes se
voltaram para mim, torturados.
— Está tudo bem, só não acho justo que eles tenham tudo e você
fique à espreita. Estaremos juntos, aqui ou na casa do seus pais. É Natal e
quero que você fique com eles também. Por favor, apenas pense nisso.
Trouxe sua mão até meus lábios e beijei docemente. Esse gesto o
surpreendeu, vi quando suas pupilas dilataram. Fiquei na ponta dos pés e
deixei um beijo em sua bochecha.
— Sua mãe me ligou hoje de manhã e pediu que fosse acompanhá-la
em sua prova de vestido. Ela quer me conhecer melhor e parece que a Nicole
estará lá experimentando o vestido de noiva também. Se importa se eu for?
— Claro que não, pode ir com minha mãe. Ela gostou de você e quero
que se deem bem.
Sorri para ele, sentindo meu coração aquecendo. Octor não tirou os
olhos de mim enquanto subia para o segundo andar, consequentemente, meus
olhos também ficaram neles.

— Octor disse que você tem uma irmãzinha que você cuida desde que
sua mãe se foi — engoli a saliva, me perguntando se ela havia levado o “se
foi” de Octor bem ao pé da letra.
Meu marido de mentirinha havia me deixado na casa dos seus pais há
quase uma hora, meu sogro nos trouxe para a prova do vestido e infelizmente
Nicole também estava provando. Apesar de seu vestido ser de uma estilista
famosa, às últimas provas e reparos estavam sendo feitos no único ateliê da
cidade.
Tirei meu celular da bolsa, demorando em desbloquear para que a
mãe de Octor visse nossa foto na tela de bloqueio. Sei que a cobra também
estava de olho, porque ficou em silêncio quando ouviu a menção de Emma.
Desbloqueei, mostrando uma foto da minha menina.
— Ela é tão linda, Sofia! Por que não a trouxeram? Adoraria conhecê-
la, sou louca por netos, mas nenhum dos meus filhos quiseram me dar um até
agora. Fico feliz por ter ganhado Emma, você não se importará se ela me
chamar de vovó, não é?
Tenho certeza que corei, porque quando assenti recebi um sorriso
caloroso de Amber. Mostrei alguns vídeos que Carina estava enviando da
minha menina fazendo gracinha.
— É uma viagem muito longa e com uma criança pequena não
tivemos tempo de uma lua de mel decente. Octor e eu concordamos que
teríamos essas duas semanas para curtimos, prometo trazê-la na próxima e
você pode ir nos visitar em Seattle. Vamos adorar recebê-la em nossa casa.
Como podia mentir tão descaradamente?
Amber ficou exultante com o convite, porque concordou na mesma
hora.
— Nunca pensei que Octor quisesse ter filhos. — Então Nicole surgiu
na conversa.
Bloqueei o celular para que não visse Emma, não queria os olhos
invejosos ao alcance da minha bebê.
— Mas ele quer, é ótimo com Emma. — Minha voz saiu como uma
faca afiada. Me voltei para Amber em seguida. — Nós colocamos a meia de
Emma na lareira e Octor, tão doce como ele é, comprou um presente para ela
hoje de manhã. Uma boneca de pano linda.
— Da loja de brinquedos do Joe? As bonecas são tão lindas! Quando
acabarmos aqui, vamos passar lá antes do Fred vir nos buscar. Quero comprar
um presente para Emma também, diga que foi a vovó quem deu.
Nicole não teve coragem de dizer mais nada, ficou distante com suas
amigas e sua mãe.
Elogiei o vestido da minha sogra, dando alguns palpites sobre o ajuste
e ela adorou.
Antes que Nicole encerrasse sua prova, Amber avisou que estava de
saída. Confesso que não olhei muito seu vestido, mas o pouco que vi era
bonito, como uma princesa. Pena que o vestido não combinasse com a
amargura da alma dela.
Passamos na loja de brinquedos, escolhi mais uma boneca de pano
para Emma e Amber comprou um jogo infantil indicado para a idade da
minha garotinha. Quando saímos, para nossa surpresa, quem estava a nossa
espera era Octor.
Charmoso, lindo em sua calça de alfaiataria, mocassins, uma camisa
social colada em seu corpo musculoso e óculos escuros que o deixava ainda
mais bonito.
— Já veio atrás dela? — Amber fingiu brigar, arrancando uma risada
do seu filho. O vi andar em minha direção, estendendo um braço para me
alcançar.
— Senti saudade da minha esposa bonita. — O flerte descarado
esfriou meu estômago, como se dezenas de borboletas voassem dentro.
Octor não só flertou, como inclinou sua cabeça e me roubou um beijo
breve, mas que me causou ondas de choque pelo corpo. Derretida em seus
braços, hiperventilei. A forma como ele sorriu malicioso demonstrou que
sabia como me afetava.
— Sendo assim, vamos tomar um café. — Sua mãe interrompeu nossa
bolha — Sofia me mostrou fotos e vídeos de Emma e agora estou ansiosa
para conhecê-la. Adoro a esposa do meu filho que me convida para sua casa,
algumas excluem a sogra de forma permanente.
Algo me dizia que ela falava de Nicole.
Octor me olhou, surpreso pelo o que sua mãe disse e encolhi o ombro.
Amber continuou tagarelando como estava feliz por ter uma neta e soltou
uma pergunta que fez seu filho ficar pálido: quando vocês terão outro bebê?
— Emma ainda é muito pequena, mãe.
— Eu sei, mas acreditem: vocês vão preferir criar duas crianças
juntas. Se esperarem, vão desanimar por terem que começar tudo de novo.
Eu ri.
Amber fazia tudo parecer simples e gostava disso nela.
Entramos em uma cafeteria, o cheirinho de café me enlouqueceu e
percebi que estava com fome.
Octor me olhou, observando meus olhos atentos sobre o cardápio e vi
quando se inclinou em minha direção. Seu queixo pousou em meu ombro
para que sussurrasse em meu ouvido:
— Vamos ter um bebê, amor?
A pergunta descarada veio acompanhada de uma risadinha maliciosa
que me fez arrepiar e corar.
Decidida que não seria provocada e ficaria quieta, o encarei tão séria e
depois sorri.
— Vamos fazer um bebê, amor.
Amber, que ouvia a nossa conversa – pensando ser uma conversa
comum de um casal – bateu palminhas e comemorou.
Algo me dizia que meu destino atrelado ao de Octor Luxton estava
ficando estreito.
Capítulo 13
Octor
11 Dias Para O Natal

Parado na soleira da porta do quarto, fiquei observando em silêncio


Sofia cantarolar para Emma na chamada de vídeo. Encantado, não consegui
desviar meu olhar do rosto genuíno entoando versos quase sussurrados de
uma cantiga de ninar.
Do outro lado da tela deveria estar Emma, pronta para dormir. As
duas tinham uma conexão forte e mesmo com a distância, Sofia tentava estar
presente.
Parecendo perceber que estava sendo observada, inclinou o rosto em
minha direção e sorriu, caminhando para mim. Parando ao meu lado, ainda
cantarolando, mostrou Emma deitada em seu berço, lutando para manter os
olhinhos já caídos de sono abertos.
Bastou mais dois versos e ela dormiu.
— Você tem uma voz mágica, mamãe — cochichei para ela.
Rindo, despediu-se da babá e desligou.
— Está pronto?
— Sim. Podemos ir?
Ela havia sido àquela que me convenceu a ir nesse jantar de ensaio
estúpido. Disse que estávamos aqui para participar dos eventos do casamento
e se não fôssemos, ficariam falando. Odiei que estivesse certa.
Vê-la em seu vestido bonito de festa me animou um pouco. Sofia
estava deslumbrante com seu cabelo preso de forma elegante e com os
brincos novos que havia lhe dado de presente. Fazia parte do pacote de ser a
esposa de Octor Luxton.
Algum vizinho fofoqueiro dessa cidade minúscula vendeu uma foto
nossa andando de mãos dadas no centro da cidade e nessa manhã fomos
surpreendidos com nossa foto estampada na capa de uma revista digital de
quinta, com uma reportagem da tão odiada Senhorita J[iii]. Agora, Seattle e o
país inteiro sabiam que estávamos casados, precisei postar uma foto em meu
perfil pessoal para cessar os boatos.
Vi no rosto da minha esposa de mentirinha que isso a afligiu,
principalmente quando pedi que fizesse o mesmo. Suas redes sociais eram
privadas, mas sempre havia um amigo ou outro, que por dinheiro, vazava
informações para mídias sensacionalistas.
A parte boa era que quando voltássemos, outra bomba teria explodido
e ninguém faria vista grossa para nosso divórcio...
Divórcio... Estava me acostumando a essa mulher.
Quando Sofia aceitou meu braço e caminhou ao meu lado rumo ao
carro, seu cheiro impregnou no meu corpo. O perfume doce que já havia se
tornado característico e que eu sentia há metros de distância.
— Fique perto de mim, tudo bem? Não quero que se sinta à vontade,
fique com a guarda levantada. A família de Nicole e suas amigas são cobras
traiçoeiras.
Senti seus olhos fixos nos meus por alguns minutos, então se
desviaram. Entramos no carro e seguimos para o centro, o jantar seria em
uma fazenda afastada da cidade, onde aconteceria o casamento.
Por alguns minutos o clima pareceu totalmente confortável, o carro
fechado com o aquecedor ligado. Sofia murmurando a música que havia
escolhido, distraída olhando a visão noturna pela janela. Me perguntei se era
assim estar casado de verdade e foi impossível não comparar com meu antigo
relacionamento, Nicole era alguém... Excêntrico, para se dizer o mínimo.
Suas vontades deveriam estar acima de tudo e nunca me importei, ela ditava
às regras e eu seguia. Era confortável, estávamos juntos há tantos anos que
nunca pensei que tivesse motivos para dúvidas.
Sofia... Não tem nada de excêntrica. Ela é comum, imaginá-la em seu
dia-a-dia é simples como água. Não parece uma daquelas pessoas que acorda
e se arruma para viver o dia, parece alguém que aproveita seus momentos e
passa o dia de pijama cuidando da casa e de sua filha. Alguém que se doa por
inteiro a todas às experiências, dizer isso era o mínimo porque sabia que
estava fazendo por mim além do exigido. Ela tratava bem meus pais, cuidava
da casa, era simpática com os funcionários e tinha sobre mim uma
anormalidade que estava começando a gostar. Ter minha rotina bagunçada
por ela não era terrível como pensei que seria.
Estacionei em uma das vagas disponíveis e pela quantidade de carros
me perguntei se havia mais que a família e amigos íntimos nesse jantar.
— Vai ficar tudo bem, marido. Não se preocupe.
Ela esperou que abrisse a porta para ela, me sorriu como sempre fazia
e nos últimos dias me causava uma sensação esquisita na boca do estômago.
Eu a admirava.
Eu a achava linda.
Seu caráter ficava em evidência.
E eu sentia ciúmes.
Como um homem experiente, não ignorei a atração que crescia entre
nós. Me vi aproveitando com exido nosso tempo juntos em público, aqueles
que ser um casal e agir como um era o esperado. Parte de estar aproveitando
tanto me levou a buscá-la na tarde de ontem, somente para segurar em sua
mão e ser o marido que poderia ser.
Andamos juntos, de mãos dadas e foi um gesto tão familiar que
nenhum de nós dois tencionou ao cruzar os dedos. Ao adentrarmos, minha
mãe acenou para nós e grunhi.
Era a porra da mesa familiar.
Se meu irmão tivesse se casando com qualquer mulher, nesse
momento chegaria aqui orgulhoso, trazendo presentes e fazendo festa. Mas
era impossível não me ressentir toda vez que me lembrava de com quem ele
se casaria.
— Você está linda, meu amor — Sofia agradeceu ao elogiou e beijou
minha mãe no rosto, repetiu o mesmo com meu pai.
Cumprimentei os dois, puxando a cadeira para minha esposa se
sentar. Os olhares curiosos não passaram despercebidos, pelo contrário. No
meio de um grupo maior, vi minha ex olhar diretamente para mim, sorrir de
forma sádica e se voltar para suas amigas. Liam não estava por perto,
involuntariamente olhei ao redor para saber se ele tinha visto a cena.
Um garçom passou servindo mais bebidas e nós aceitamos uma taça
de vinho.
— Achei que fosse um jantar para a família — Sofia comentou.
— Nicole leva a sério fazer festas. — Meu pai resmungou.
Olhando ao redor, vi que ele também procurava por meu irmão.
— Estou aqui pela comida e bebida — mamãe brincou.
O clima ficou suave, porque minha mãe era a engraçada do grupo e
começou a comentar sobre o que estava acontecendo antes da festa começar.
Foi extremamente constrangedor quando disse que uma das tias de
Nicole chegou perguntando por mim, fingindo que não sabia que o noivo em
questão era Liam.
— Uma família de sem noções.
Em um determinado momento, Liam apareceu em meu campo de
visão. Trocamos um olhar por alguns segundos, o conhecia suficiente para
saber que estava aborrecido com algo.
Andou até nós, cumprimentando algumas pessoas no caminho e parou
em frente nossa mesa.
— Obrigado por virem. Fiquem à vontade, se precisarem de algo é só
me chamar. — Havia constrangimento em seu tom.
Nem tivemos tempo de responder porque Nicole, assim que o viu,
correu para nós.
— Estava te procurando feito louca. Conseguiu resolver?
— O prejuízo de 30 mil que você me deu às vésperas do casamento?
Ah sim, Nicole, resolvi! — Acho que poucas vezes vi meu irmão tão
nervoso.
Nós ficamos quietos, Sofia e mamãe pareciam constrangidas enquanto
meu pai pedia para Liam se acalmar.
— Não foi minha culpa, fala baixo e vamos conversar a sós.
— Definitivamente não temos porra nenhuma para conversar. Já que
você montou esse grande teatro, recepcione seus convidados. Estou cansado e
vou dormir, acho que não precisamos de ensaio para este jogo, amor.
Meu pai seguiu Liam que saiu tão determinado em ignorar sua noiva
que quase derrubou alguns convidados.
Mirei no rosto vermelho de vergonha da minha ex e Sofia me cutucou
embaixo da mesa, porque obviamente, o sorrisinho de deboche em meu rosto
enfureceu a noiva. Senti um pouco de pena do Liam, mas por ela... Não sentia
nada.
Minha mãe se levantou, a puxando para longe de nós.
Sim, o noivo e a noiva fizeram uma cena e tanto.
Ainda rindo, me virei em direção da minha esposa que estava séria me
encarando.
— Que foi? Até que a festa está divertida.
— Seu irmão não parece bem, Octor — disse.
— Se está bem, não sei. 30 mil mais pobre é um fato.
Não resistindo, ela também sorriu. Seria uma noite divertida.
Capítulo 14
Sofia
10 Dias Para O Natal

De olhos fechados, me mexo na cama macia, prestes a conferir a hora


quando sinto mãos quentes subirem pelas minhas pernas. Meu coração bate
acelerado conforme sinto o calor se espalhando por todo meu corpo.
Alerta, abro um olho e o quarto está completamente escuro.
Tudo que há aqui somos nós, sua mão depositada no meu quadril, por
baixo da minha camisola curta e se apertam em minha cintura, descendo e
brincando com a linha da calcinha. No meu ouvido, consigo sentir a
respiração pesada, como de um animal feroz prestes a atacar.
— Não consigo dormir... — Ele sussurra no meu ouvido, empurrando
contra mim. — Consegue sentir isso, esposa?
Seu volume está sendo pressionando em minha bunda, Octor se
esfrega contra mim, me puxando com suas mãos para mais perto.
Estamos fervendo.
Sei que é loucura, quero dizer a ele que temos um acordo onde se
apaixonar não está incluído, mas então eu penso: isso não é paixão, é luxuria.
Crua e desenfreada. Eu o quero, posso pedir para que pare ou posso deixá-lo
me dar exatamente o que eu preciso e eu preciso dele.
— Estou tão louco por você, Sofia... Seu cheiro me coloca em ponto
de bala — sua voz rouca me arrepia.
Estou sedenta de desejo e deixo que um gemido involuntário escape.
Antes que perceba, estou empurrando contra ele. Quero mais, mais, mais.
Octor solta uma risadinha satisfeita, quase cruel e sua mão serpenteia
dentro da minha calcinha. Meus gemidos se intensificam quando sua ereção
dura bate na minha bunda e seus dedos procuram o caminho entre minhas
pernas.
— Tão quente... Sabia que você seria quente assim, Sofia. Tão linda e
tão quente... — Seus gemidos me enlouquecem.
Octor geme alto quando roça seus dedos através da trilha de pelos
bem aparados e separa meus lábios, me acariciando. Ele desce, percebendo o
quanto estou molhada e espalha meu liquido até meu botãozinho inchado.
— Não vejo a hora de foder em você, colocar bem duro. Você quer
isso, esposa?
Murmuro que sim, mexendo a cabeça. Sou incapaz de verbalizar.
Seus toques estão me levando ao limite.
Agarro seu braço, forçando seus movimentos.
— Você quer mais, meu amor? O quanto você quer mais?
— Me faça gozar... — Imploro.
Sou uma massinha de modelar nas mãos dele. Octor ri, beija meu
pescoço, morde a pele e suga. Sei que vai deixar marcas, mas não me
importo.
Ele se move tão lentamente, seus dedos me provocam com carinho.
Está gostando de me ver desesperada, montando em seus dedos, exigindo
mais.
— Se você me quer tanto, por que não pede, Sofia? Por que não
acorda e pede?
O quê?
Ele está tirando sua mão gostosa de mim. Reclamo gemendo e quando
me viro não há nada.
Que porra foi essa?
Minha respiração está ofegante, minha testa suada e minha calcinha
encharcada.
Ainda me levanto depressa para acender a luz e só confirmo que
estive sonhando o tempo inteiro. Meu corpo ainda ferve, ainda consigo sentir
o calor do seu corpo, sua ereção batendo contra mim... A voz rouca no meu
ouvido.
Um sonho! Isso não devia estar acontecendo.
Do lado de fora, a chuva cai forte, desabando do céu e tudo que eu
penso é em gozar. Não sozinha, não com meus dedos... Tudo que meu corpo
quer e precisa é dele.
Mesmo sendo uma loucura, não penso direito quando me enrolo num
roupão, lavo meu rosto e encaro meu rosto vermelho de excitação.
Está muito frio, então enfio meus pés nas pantufas quentes e estou
preparada para ir atrás dele.
No corredor, Amélie está saindo do quarto onde ele tem dormido. Ela
me lança um sorriso de bom dia e meu estômago revira.
— Você viu meu marido? — Há um tom de satisfação em minha voz.
A mulher sorri em minha direção e assente.
— No galpão, decidiu que era um bom dia para nadar, mesmo que a
chuva lá fora esteja castigando a terra.
Tentei rir, mas saiu como uma careta retorcida.
Por impulso desci os degraus com a mente perturbada, andei aos
fundos, descendo uma pequena escada que dava para o galpão onde ficava a
piscina aquecida. Era bem iluminado, mas hoje Octor resolveu deixar às luzes
apagadas e acendeu apenas às luzes noturnas da piscina.
A água chegava a sair fumaça quando alcancei a borda da piscina.
Seus braços longos batiam de um lado para o outro, nadando em
minha direção e ao chegar na borda mergulhou e submergiu a minha frente.
— Bom dia, esposa.
Ser a sua esposa era o que tinha me colocado nessa situação, penso.
De repente, fica claro para mim que pareço uma desesperada.
Embaixo do roupão há apenas uma camisola de cetim e renda bem curta, uma
calcinha ensopada e meus seios entumecidos e doloridos. Sedentos por seu
toque.
Se eu pedisse, ele me daria?
— O que a perturba, Sofia?
Você, penso em dizer, mas fico muda.
— Não quero te atrapalhar, volte a nadar… — Octor me encara por
alguns segundos e posso jurar que ele consegue me ler.
Solta uma risadinha maliciosa como àquela que me deu durante meu
sonho, meus pés cambaleiam para trás e me sento em uma das
espreguiçadeiras.
Ele volta a nadar, de um lado para o outro, parando para me olhar
toda vez que chegava até a borda.
— Quer entrar? — Me perguntou numa dessas vezes.
Fiz que não com a cabeça, ele só riu e voltou a nadar.
Era sensual ver seus braços definidos se moverem de um lado para o
outro e quando se cansou, subiu sem precisar usar a escada. Seus braços
marcaram os músculos quando ele deu o impulso.
Estendi a toalha que estava na cadeira ao meu lado sem desviar meus
olhos do abdômen definido. Às costas largas mostravam que pertenciam a um
nadador excepcional.
Octor arqueou uma das sobrancelhas, percebendo que eu o estava
secando. Engoli a saliva, olhando em outra direção e me coloquei de pé.
Seu rosto bonito me encarou, os olhos verdes curiosos sobre minha
presença e o maxilar travado numa pergunta maliciosa.
Naquele momento eu podia ficar e arriscar nosso acordo ou
simplesmente sair. Com muita resistência fiquei com a segunda opção.
— Vista algo quente ou ficará doente. Vejo você lá em cima.
Ele nada me respondeu. Pareceu perceber que eu fugia do
magnetismo que nos puxava um para o outro.
Longe de seu encanto, consegui respirar. Nunca caminhei tão rápido
para meu quarto, fechando a porta em seguida e para constar que estaria
segura, tranquei. Mas não era do que estava fora que eu tinha medo, eu era
minha maior sabotadora e nesse momento estava louca para puxar seu cabelo
e mergulhar fundo com meu marido de mentirinha.
Sonhar com Octor abriu a caixa de Pandora dos meus desejos. Cada
movimento que ele fazia durante o dia, parecia ser os mais sexys para mim.
O movimento de levar o garfo até a boca. A forma como seus lábios
rodeavam a borda do copo. Como sua língua saboreava o vinho. O jeito que
seus olhos ficavam grudados na sobremesa.
Tudo parecia se tornar um convite despretensioso, quando na verdade
o homem sequer fazia ideia de que eu o estava comendo com meus olhos. Ou
talvez fizesse, já que ora ou outra deixava seus olhos descansando em mim,
fitando com intensidade.
Nós almoçamos juntos e o dia transcorreu de forma lenta só para me
torturar. Choveu na maior parte do tempo, isso nos limitou a ficar em casa.
Ele trabalhou um pouco no escritório, parecia estressado com algo dando
errado e eu fiquei conversando com Emma, liguei para conferir algumas
coisas com Esther e ignorei suas perguntas sobre ser casada com Octor. Não
precisava dizer nada para ela.
A noite se repetiu como o dia, nós jantamos e depois me embolei no
sofá com uma taça de vinho e coloquei um filme aleatório somente para
quebrar o silêncio. Octor, parecendo perceber que eu não estava no meu
estado normal, sentou-se no sofá oposto ao meu.
Devo estar no período fértil, pensei. Não é nesses dias que nosso
corpo quer copular com qualquer ser existente? Octor não era qualquer
homem, mas disponível para mim. E tudo nele me atraia como uma serpente
esperando para dar o bote.
Eu estava ansiosa pelo o ataque.
Capítulo 15
Octor
09 Dias Para O Natal

Sofia não estava normal. Ela passeou em frente meu escritório duas
vezes, três contando com agora. Mais cedo entrou me perguntando se gostaria
de alguma coisa, percebi sua ansiedade notando seu tom.
Novamente volta, passando em frente à porta e deixo minha caneta
sobre o relatório que estava analisando. Se um dos incompetentes que
trabalham comigo não tivesse fodido meu novo projeto, certamente não
estaria trabalhando agora. Reservei esses dias para descansar e brincar de
casinha, trabalhar não estava nos meus planos.
Na quinta vez que Sofia passou pela porta, decidi chamá-la. A
descarada ainda fingiu surpresa, cruzando os braços e perguntando no que
poderia ser útil.
— Você está bem?
— Claro que sim — sua pressa em me responder dizia que não.
— Por que está andando de um lado para o outro? Precisa de algo?
Mordendo o lábio inferior, soube que não conseguiria escapar dessa
pergunta sem que eu fizesse outras.
Sofia descansou seus ombros, sentando-se na poltrona em frente
minha mesa.
— Acho que estou entediada.
— Só tédio? Tem certeza? — Algo em seus olhos brilharam em
minha direção.
Já fiquei com muitas mulheres, conhecia todos os tipos de jogos de
conquista, mas Sofia às vezes se comportava como uma incógnita. Ontem
pela manhã tinha a certeza que ela havia me procurado na piscina para dizer
algo, seus olhos estavam selvagens e não se desviaram dos meus. Percebi sua
atenção durante o almoço também, mas a noite parecia alheia fitando a tv de
modo robótico.
— Acho que nunca fiquei tanto tempo à toa — diz e eu acredito —
está trabalhando em quê?
Olhando para o papel por alguns segundos, penso no trabalho que
terei pela frente.
— Em minha nova assistente virtual. Uma IA avançada, configurada
para responder comandos de acordo com emoções humanas. Ideal para
sistemas de segurança domésticos.
— Mesmo? Já tem um nome? — Esse olhar curioso era o mesmo que
ela me lançava durante o expediente quando trabalhava em alguma coisa
empolgante.
Eu já tinha minha assistente virtual, mas era um modelo básico para
trabalhar dentro da empresa, gerenciando o sistema operacional. Esse novo
protótipo poderia ir além da funcionalidade empresarial, seria comercializado
como uma companhia remota para pessoas solitárias... Como eu. Ao menos
como eu era antes de conhecê-la.
— Ainda não... Alguma sugestão?
Ela soltou uma risadinha adorável e cruzou às pernas. Acompanhei os
movimentos como um tarado, a verdade era que a calça justa que ela usava
estava marcando suas coxas fartas e era tudo que eu conseguia reparar desde
que se sentou.
— Sofia.
Sorri com sua sugestão.
— Não sei... Acho que ficaria ciumento se todos tivessem uma Sofia
em casa.
— Por quê? Só você tem a original. — Algo em sua frase divertida
acordou o monstro possessivo que havia em mim.
Apertei meus punhos sobre a mesa, olhando-a nos olhos e descendo
com calma pelo seu pescoço e o busto cheio. Os seios estavam marcados na
blusa de manga cumprida que ela vestia, os mamilos ressaltavam no tecido
fino.
Mordi meus lábios e do outro lado da mesa, Sofia imitou meus
movimentos.
Minha respiração ficou densa e o volume crescido entre minhas
pernas ficou dolorido.
— Sofia é um excelente nome, na verdade — tentando trazer a
racionalidade para a questão, murmurei — curto, forte e direto. Além de
bonito, doce e humano.
— Então vai usá-lo? — Focado em seus lábios, vi quando passou a
língua e umedeceu o lábio inferior.
Soltei uma lufada de ar pesado.
A cada dia estava mais difícil tornar nossa situação profissional, não
quando eu queria enfiar minha língua em todos os lugares disponíveis dentro
dela.
— Está no topo da minha lista. — Prometi.
— Ótimo. Agora preciso de um pouco de trabalho, como posso te
ajudar?
Voltando minha atenção no que realmente necessitava agora, dei a
aula algumas funções. Era mais fácil tê-la deliciosa, trabalhando a minha
frente a ficar distraído com seu rebolado em frente à minha porta.
Quebrando a cabeça, consegui refazer os códigos errados e testei a
funcionabilidade antes de reenviar o arquivo criptografado para o sistema da
Luxton.
Sem Sofia, não teria sido possível executar o serviço de forma
ordenada e ágil. Ela era boa, sentia falta de trabalhar com ela. Mesmo com o
retorno de Audrey, o rendimento durante o expediente não era o mesmo, foi
quando percebi que havia algo entre nós além de afinidade profissional.
— Somos bons juntos — comentei, recebendo um sorriso lindo em
troca — como recompensa pela sua ajuda, vá se trocar. A levarei para
conhecer um lugar.
O brilho em seus olhos me deixou um tanto sem ar, acompanhei com
um olhar quando correu como uma criança, pronta para se trocar. Segui pelo
mesmo caminho, com mais calma, mesmo que às batidas do meu coração
indicassem o contrário.
Encontrei jeans no closet, puxei botas de frio e um casaco pesado. A
chuva do dia anterior tinha cessado, mas a temperatura caiu drasticamente e o
noticiário estava prevendo neve para essa madrugada.
Esperei por ela na saída da propriedade, encostado em meu carro.
Verifiquei minhas mensagens, rindo para uma matéria que Dominic
me encaminhou. A mídia fazia tudo por cliques e um desses Instagran’s que
comentavam a vida de celebridades, questionou com que vestido Sofia se
casou.
E lá estava ela, linda em calças próprias para o frio, bem agasalhada
com touca e cachecol e botas. Abri a porta e a ajudei subir.
— Onde você vai me levar? — Animada, me perguntou assim que me
sentei ao seu lado e dei partida.
Estava gostando de passar o tempo em South Later, diferente do que
pensei. Aqui havia uma paz que fazia tempos que não experimentava, não
precisava andar rodeado por seguranças, não haviam câmeras e gente
desnecessária por todos os lados. Os vizinhos faziam a fofoca local, mas
nunca me incomodaram.
Sabia que meu nome estava na boca do povo, assim como da Sofia e
pela primeira vez em tempos quis que tudo explodisse.
— Surpresa.
Sofia agiu como sempre, ligou o som e sintonizou na rádio que quis.
Dirigi no limite da velocidade, saindo da cidade e pegando uma estrada curta
para uma outra de terra batida.
Devido à forte chuva da noite anterior, estava molhada e alguns
pontos com poças d’água.
— Eu adorei essa cidade, é uma paz que não estava familiarizada.
Emma adoraria correr por aí.
— Ela é muito levada? — Era primeira vez que me aprofundava sobre
sua menina.
Os olhinhos de Sofia brilharam e voltaram-se para mim.
— Muito. Tem uma energia infinita, desde que começou a andar nada
mais para no lugar e agora começou a falar e não para mais. Uma matraca.
— Ela te chama de mãe?
— De “Fiiiiia” — sorriu, mas seu pensamento pareceu distante por
alguns segundos — nunca a ensinei a me chamar de mãe. Mas acho que
agora está me associando a esse título. A babá me chama assim, não quis
mudar. É isso que eu sou, não é? Quando o juiz bater o martelo, será
definitivo.
— Seu advogado é eficiente? Se precisar, minha equipe jurídica está
disponível.
— Obrigada, sou muito grata por isso. — Recebi um sorriso lindo em
seguida — A genitora tornou isso fácil. Sumir e abandonar um bebê de meses
determinou tudo, mas meu advogado comentou que... Ser casada é um ponto
favorável e...
— E...?
Sofia corou um pouquinho e de imediato entendi onde queria chegar.
— Se for para ajudá-la a conseguir a guarda unilateral, podemos
manter o acordo por mais um tempo. Não me importarei.
O que eu estava dizendo?
Não pensei muito a respeito e a mulher ao meu lado parecia tão
desacreditada quanto eu.
— Sério? Não foi o que combinamos, sei que você...
— Não me importo. Não é como se tivesse alguém esperando para se
casar comigo, não é?
Ela assentiu e ficou em silêncio, parte disso devia ser pura surpresa.
Reduzi a velocidade chegando onde queria, Sofia rapidamente
percebeu o que queria mostrá-la.
Parei o carro e ela se apressou em descer, sem esperar que eu lhe
ajudasse. Sua reação era parte surpresa, parte encantamento. Estávamos em
um dos picos mais altos em South Later, podíamos ver a cidade, assim como
ter uma vista privilegiada de uma cascata que despencava do monte e se
derramava em uma cachoeira próxima a represa.
Segurando-se no parapeito, inclinou-se para observar melhor e depois
voltou para mim, sorrindo de ponta a ponta.
— Isso é tão incrível! É lindo aqui!
Seu nariz estava vermelho pelo frio, Sofia estava linda sem um pingo
de maquiagem. Sua beleza ia muito além da estética. Ela sorria muito, era
nitidamente feliz e adorava às coisas mais simples. Levá-la para qualquer
lugar e sempre ver o deslumbramento em seu rosto era muito satisfatório.
Enfiei minhas mãos dentro do bolso e apenas a admirei.
A cada minuto que passava essa mulher me dava mais motivos para
admirá-la, isso por si só já me aterrorizava.
— Vamos tirar uma foto? É bonito demais para não registrarmos.
Fiz que sim com a cabeça, sabendo que àquela altura diria sim para
qualquer coisa.
Sofia tirou o celular do bolso, abrindo na câmera frontal e peguei de
sua mão. Era mais alto e conseguiria capturar melhor a vista atrás de nós. Ela
se aninhou ao meu lado e colocou a cabeça no meu peito, sorrindo para foto.
Esse foi o primeiro registro que fizemos sem pensar em nosso
casamento de conveniência.
Capítulo 16
Sofia
08 Dias Para O Natal

Suas mãos puxaram meu cabelo, seu corpo desceu sobre o meu e sua
boca sugou meu lábio inferior. Octor estava desesperado em cima de mim,
rosnando como um animal selvagem, tocando em todos os lugares. O volume
grosso dentro da sua boxer era empurrado sob meu ventre com tanta precisão
que podia sentir seu contorno.
Octor era delicioso.
O corpo másculo colado ao meu, a lascívia em seus lábios que me
beijavam sem pudor.
— Pronta para mim, Sofia? — A rouquidão da sua voz me roubou o
ar.
— Me faça gozar, Octor... Por favor, me faça gozar. — Sua língua
desceu pelo meu pescoço, caminhando pelo meu busto. Gemi em desespero
quando seus lábios sopraram ar quente sob meu sutiã de renda. — Octor!
Não aguentava mais, se ele continuasse nesse ritmo era capaz de
gozar sem nenhum incentivo.
— Chama meu nome, implora para mim.
Seu comando era uma ordem sem exigências.
— Me faça gozar! — Gritei.
Octor riu em cima de mim, seus olhos verdes estavam escuros quando
ele meneou sua cabeça numa negativa.
— Você não merece gozar — sua acusação me desestabilizou — você
me provoca o dia inteiro andando por aí, com suas roupas justas e esse olhar
safado. Por que não me pede para te comer, Sofia?
— Eu peço, por favor, eu peço...
— Não pede, mentirosa. Venha até a mim, quero foder com você.
Seu corpo dissipou como fumaça.
Outra vez.
Com a mão sob meu seio, acordei com o coração acelerado. Estava
descoberta e ainda assim meu corpo queimava. Podia jurar que ele esteve
aqui, minha testa estava suada de tanto tesão.
Mais um sonho enlouquecedor.
Escapuli da cama, desanimada e entrei no banheiro. Minha respiração
ainda estava acelerada e meu corpo agitado com a adrenalina liberada no
sonho. Estava ficando cada vez mais intenso e real.
Precisava descarregar toda essa tensão sexual.
Entrei no banho pensando que isso dissiparia meu desejo. O jato de
água quente em contato com minha pele, lavando a lembrança tão real de tê-
lo sob mim. Sua respiração no meu pescoço, sua boca sob a minha, seus
toques pelo meu corpo.
Estava latejando por ele.
Fechei os olhos com força, tentando procurar uma distração para
minha mente fraca. Era fácil ter sido abduzida pelo poder de sedução de
Octor. Quem não ficaria? Ele era lindo, tinha uma áurea de poder e
esoterismo que me deixava intimidade e excitada ao mesmo tempo. Sua
inteligência se destacava entre os mortais comuns, o homem era responsável
por criar cada modelo tecnológico avançado entre celulares, computadores e
até lâmpadas inteligentes! Além disso, ele era absurdamente lindo de
qualquer jeito. Agora sua barba estava crescendo e Octor estava ainda mais
bonito.
Meu pobre coração estava à deriva de sentimentos que ainda não
conseguia processar, mas a cada dia que passava me atormentava a
possibilidade de não ser somente luxuria.
Fechei a ducha depois do meu longo banho. Não passaria com água
corrente, então talvez ver Emma amenizasse a loucura que estava morando
em mim.
Me vesti para mais um dia frio, a neve finalmente havia chegado.
Apesar de ainda estar caindo em pequena quantidade, até o Natal às ruas
estariam branquinhas.
Depois que eu me vesti, sentei-me e liguei por vídeo. A babá atendeu
rápido, era por volta das nove da manhã e minha pequena estava agasalhada,
deitada no sofá com uma boneca nas mãos.
— Mamãe! — Com lágrimas nos olhos ouvi a primeira vez que
alguém me chamou de mãe.
Meu coração não estava preparado para esse momento, ao fundo vi o
rosto da babá e seu sorriso.
— Oi meu amor. Mamãe está morrendo de saudades...
— Frutinha da Emma! — Orgulhosamente estendeu seu pote com
morangos para a câmera.
— Que delícia! Adoraria um morango, você me dá?
— Sim!
Emma era uma criança adorável, dividia sua refeição sempre que eu
pedia um pedaço. Geralmente estava babado, mas eu comia mesmo assim.
Era tão fofa.
— Obrigado, meu amor. Você é uma princesa.
— Octo!?
Surpresa, mirei meus olhos em direção a babá. Octor estava
acostumado a aparecer nos vídeos, ele dizia olá e fazia elogios sobre como
ela estava bonita. Emma adorava a atenção, mas estava surpresa por
perguntar por ele.
— Ela está falando de você e Octor desde que acordou.
Tudo bem... Entendia perfeitamente. Eu não era a única enlouquecida
por ele.
— Vou chamá-lo.
Desci os degraus perguntando como estavam às coisas por lá. A babá
avisou que Esther não apareceu mais, mas não estranhei. Ela vivia em um
relacionamento complicado com um homem que parecia querer escondê-la
do mundo.
Emma estava bem, fazendo todas às refeições e para minha surpresa,
em processo de desfralde. A babá informou que ela começou a pedir para
fazer xixi de forma muito natural.
Meus olhos encheram-se de lágrimas. Como podia tanta coisa
acontecer em tão pouco tempo.
Estava orgulhosa da minha garotinha e me sentindo péssima por
perder esses momentos.
Na cozinha, perguntei se Amélie viu Octor e informou que estava na
academia. Suspirei pesado e coloquei o casaco próximo a porta para
atravessar a neve.
Ele ficou surpreso quando empurrei a porta da academia. Estava
puxando um peso, olhou em minha direção e depois colocou no lugar.
— Bom dia, esposa — seu cumprimento se tornara um hábito.
Sorri de lado, tentando conter a empolgação adolescente dentro de
mim.
— Alguém quer te ver.
Bastou que a imagem bonita aparecesse na tela para que Emma
gritasse o nome dele em plenos pulmões do outro lado. Igualmente surpreso,
Octor me encarou com um brilho nos olhos diferente.
— Oi meu amor — ele murmurou, tentando colocar um tom de voz
comum.
Nada em seu tom de voz rouco e um tanto desconcertado era comum.
— Casa! — Inquiriu Emma.
— Nós estaremos em casa logo, logo, princesinha.
Emma desceu do sofá e partiu para o quarto somente para trazer
outros brinquedos e nos mostrar. Rimos com sua interação inocente,
conversamos mais um pouquinho e ao desligar, meu coração estava tomado
pela saudade.
— Uma semana e estaremos em casa... — Ele prometeu.
Octor estendeu sua mão e acariciou minha bochecha com o dorso.
Uma corrente elétrica passou entre nós, atingindo meu coração que já batia
descompassado.
Estar em contato com ele sempre seria assim? Essa sensação de que
toda vez estaria tão vulnerável, como se estivesse caindo de um precipício?
— Você é tão linda, Sofia... — Suas mãos entraram em meus cabelos
e fui suavemente puxada em sua direção — e muito cheirosa.
Octor afundou seu nariz em meu pescoço, se não tivesse me
segurando com firmeza em seu braço, teria caído ao chão.
Sua mão livre circulou minha cintura, estava tão acelerada, ansiosa
pelo nosso contato que não quis esperar. Fazia dois dias que não nos
beijávamos e estava desesperada por isso.
Guiei seu rosto em direção ao meu, selando nossos lábios. Como
sempre nosso contato não era doce, era explosivo.
Octor me agarrou pela cintura, suspendendo meu corpo até que
minhas pernas estivessem enganchadas em sua cintura. Presa a ele, caminhou
comigo até me posicionar contra uma parede.
Meus sonhos jamais fariam jus a nossa intensidade. Seu beijo me
deixava sem ar, devorando meus sentidos, fodendo com minha língua numa
deliciosa e tortuosa dança sexual.
Octor gemeu, mordeu meu lábio inferior com força e sugou minha
língua tão gostoso enquanto investia sua dureza contra mim. Estava firme,
seu volume esfregou contra minha intimidade, demonstrando que nessa parte
minha imaginação também tinha falhado. Era maior que imaginava, será?
Seus gemidos acompanharam os meus quando soltou meu lábio e
devorou meu pescoço, dividido entre chupar, lamber e morder minha pele
sensível. Fazendo-me delirar com sua intensidade.
— Octor! — Gemi, implorando pelo contato.
Com meu chamado, ele puxou meu cabelo com rigidez, voltando a
beijar minha boca. Nossas línguas se encontraram num beijo voraz, não
queria que terminasse nunca.
Ansiosa por alívio, comecei me movimentar contra ele com mais
rapidez. Percebendo o que estava fazendo, Octor iniciou movimentos
sincronizados, num vai em voz doloroso, roçando o membro coberto em
minha intimidade.
— Você quer gozar, Sofia? — Exatamente como em meu sonho, ele
perguntou quando interrompeu nosso beijo.
Meus olhos piscaram aturdidos, minha respiração ofegante. Incapaz
de verbalizar, assenti e recebi um olhar perigoso.
— Vem, pegue o que é seu. Goze para mim, Sofia — Seus olhos não
me abandonaram.
Octor não parou de se mover quando voltou a beijar com afinco,
puxei seus cabelos com força, rebolando. Ele esmagou minha bunda com sua
mão, pressionando cada vez mais nossos corpos em um atrito delicioso.
Meus gemidos intensificaram, ele deixou meus lábios para me olhar.
Seu olhar era tão intenso que não consegui encarar, fechando meus olhos
apoiei a cabeça na parede, não me importando se estava gemendo alto
demais.
Quando fui atingida por uma explosão quase cósmica, meu grito soou
estridente. Me agarrei em seus ombros, gemendo seu nome, acometida por
um orgasmo alucinante.
— Porra! — Ouvi seu rosnado forte. Octor investiu em mais duas
vezes e seu gemido me acompanhou. Ele estava....? — Caralho, Sofia. O que
você faz comigo?
A pergunta era retórica.
Nossos movimentos cessaram, abri meus olhos e o encarei. Os seus
flamejavam, o rosto estava vermelho e sua respiração ofegante.
— Me fez gozar na roupa como um adolescente, caralho.
Octor não me colocou no chão, algo me disse que não queria romper
nosso contato.
Atrevida e muito satisfeita, dei um sorrisinho malicioso.
— Se com roupa foi assim... — Sussurrei sugestiva.
Ele compreendeu na mesma hora.
— Só consigo imaginar quando não houver nenhuma peça entre nós
— minhas bochechas esquentaram na mesma hora — quero você, Sofia.
Com essa revelação, Octor me deixou no chão, beijou minha testa e
fez o caminho para fora da academia me deixando em completa ansiedade.
Capítulo 17
Octor
07 Dias Para O Natal

Era questão de tempo para que estivesse afundando com meu corpo
dentro dela.
Era questão de tempo para que tudo que Sofia verbalizasse fosse
sobre como era gostoso o que nós dois podíamos fazer na cama.
Era questão de tempo para me perder em seu corpo delicioso, sentir
seu sabor em meus lábios, adorar cada pedaço do seu corpo.
Era questão de tempo, mas então eu me perguntava: o que farei
depois? Quando nosso prazo junto chegar ao fim, como vou superar o que sei
que vai ser uma experiência que mudará minha vida?
Ela é sua esposa de mentirinha, minha mente aponta, mas foda-se.
Ela assinou um papel onde diz que é minha. Há uma certidão de casamento
que comprova que estamos juntos além de um acordo financeiro. Aquilo que
aconteceu entre nós não podia ser explicado de outra forma: foi tesão cru. A
forma mais sincera de querer alguém. Porra! Gozei no caralho da minha
cueca, tinha tanta porra que fiquei surpreso que não a tivesse molhado.
Não a encarei depois disso, fugi como um covarde, porque senão teria
cometido uma loucura. Minha vontade era curvá-la sob o chão emborrachado
e foder com ela, sem pensar em mais nada.
Sofia estava me enlouquecendo, deteriorando meu cérebro aos poucos
para que tudo que sobrasse fosse ela. A forma como gritou meu nome quando
gozou se esfregando em mim... Ela me queria tanto quanto eu a queria.
Talvez eu precisasse de um tempo longe dela...
Um tempo para esfriar a cabeça, mas ao mesmo tempo tudo que
queria era tê-la em meus braços novamente.
Na mesa do café da manhã, fiquei sozinho, evitei comer esperando
que ela chegaria, mas Sofia parecia tão sem jeito quanto eu.
Trabalhei um pouco e deixei propositalmente a porta aberta,
aguardando o momento que desfilaria despretensiosamente, mas não
aconteceu.
Cansado de esperar por ela e pronto para correr atrás como um
viciado, abandonei o trabalho e segui a sua procura.
Sentada no sofá da sala, mexendo no celular, Sofia não parecia como
alguém que pensava em se esconder.
— Oi, marido — e pela primeira vez, foi ela quem me provocou.
— Vamos almoçar fora, esposa.
— Com sua família? — Questionou.
— Não, só nós dois.
Preciso de você só para mim, Sofia. Tente entender, sou a merda de
um viciado entregando-se ao vício de boa vontade.
— Perfeito.
— Sairemos em uma hora.
Com seu sorriso de sempre, desligou a tv e encaminhou-se para o
segundo andar. Descaradamente segui seus movimentos, ela estava em uma
de suas calças leggings marcando sua bunda deliciosa. O tecido era tão fino
que destacava o formato da sua calcinha pequena.
Gemi baixo, ansioso para sentir mais do seu calor.
Minhas bolas estavam mais que roxas, nada de gozar nas calças
novamente. Queria ação de verdade.

Por volta de meio dia ambos estávamos prontos, Sofia provavelmente


com alguma intenção de me enlouquecer. O conjunto de vestido em tom rose,
justo em seu corpo, com as botas de cano longo e o sobretudo preto era uma
junção perfeita do pecado.
Ela estava tão gostosa que meu pau contraiu dentro das calças.
Seus cabelos estavam soltos, modelados em cachos. Ela geralmente
deixava liso ou natural, mas hoje estava definitivamente espetacular.
Porra...
Nem mesmo se eu tivesse procurado uma esposa de verdade teria tido
a sorte de encontrar uma tão linda, gostosa e cheirosa como ela estava.
Preso num espaço pequeno, confinado com o seu cheiro que me
enlouquecia, não me fiz de rogado. Enquanto dirigia, deixei que minha mão
pousasse no lado externo da sua coxa, Sofia me encarou surpresa, mas não a
retirou.
Sua pele queimava sob meu toque, nós dois exalando excitação.
Chegamos na cidade com rapidez e encontrei uma vaga em frente ao
restaurante que a levaria. Era italiano, com a arquitetura semelhante a um
autêntico restaurante italiano.
Abri a porta e minha linda, adorável e sexy esposa logo estava fora do
carro e em meus braços.
Agora não adiantava fingir que só nos tocávamos porque estávamos
em público, ficou claro que era uma necessidade maior que eu.
Gostava de ter tudo ao meu controle, cada grama do meu sucesso foi
obtido porque sempre controlei tudo ao meu redor, mas essa mulher... Não
era algo que eu pudesse controlar.
Seus olhos castanhos me fitaram com tesão, Sofia era fogo e eu, o
combustível que a alimentava. Como não percebi antes que nós
combinávamos? Sem querer encontrei àquilo que sequer sabia procurar.
— O que está passando na sua cabeça, marido? — Ela sussurrou
quando pressionei seu corpo contra a lateria. Suas mãos acariciaram meu
rosto e um sorriso tímido brincou em seus lábios.
— O tanto que eu quero você.
— Eu quero você também. — Ela confessou de volta.
— Isso não estava previsto... Não quero que se sinta obrigada a nada.
Queria lhe dar uma chance, somente uma para que se agarrasse e
mantivesse distância, mas Sofia sorriu e se inclinou, me dando um beijo doce.
Não queria um beijo doce, ainda assim, aprofundei nosso beijo para
que ao menos tivesse língua. Nada como a volúpia de quando estávamos a
sós, mas um beijo de verdade. Um beijo que um marido espera receber de sua
esposa.
— Octor?! — Uma voz nos alertou que não estávamos mais a sós.
Saí de cima do corpo de Sofia, ela soltou uma risada envergonhada e
olhei para a dona da voz que me chamava. Demorou, mas logo reconheci
Sindy Allen, nós estudamos juntos.
Fazia séculos que não a via, nunca fomos amigos, mas a forma como
a mulher se inclinou para beijar meu rosto demonstrou que ela não se
lembrava dessa parte.
— Essa é a minha esposa, Sofia. — Mas não fez o mesmo com Sofia.
Estranhamente, Sofia não deu um de seus sorrisos corteses ou
ofereceu sua mão. Pelo contrário, agarrou-se mais a mim, praticamente
ficando entre Sindy e eu.
— Nossa, quanto tempo! Você não mudou nada. Como você vai?
— Bem e você? — Estava usando toda a educação que tinha.
— Ótima. Você veio para o casamento do seu irmão?
Meu Deus, onde estava o senso dessa mulher?
— Sim.
— Você vai almoçar aqui? Também vou, podemos sentar juntos e
colocar o papo em dia!
Sofia iria explodir ao meu lado, o aperto em minha mão indicou isso.
— Sindy, né? Meu marido e eu gostaríamos de privacidade. Quem
sabe outro dia, hein? Foi um prazer conhecê-la. — Sindy visivelmente não
esperava por esse corte e sinceramente, nem eu — vamos querido? Estou
faminta! Ainda mais ansiosa pela massagem que me prometeu quando
chegarmos em casa.
Não me despedi, algo me dizia que se abrisse a boca e trocasse outra
palavra com Sindy novamente, Sofia me mataria.
Capítulo 18

Octor
Emburrada, ignorou quando parei em frente ao terreno vazio. Sequer
teve curiosidade de perguntar porque estávamos ali depois do nosso almoço
meio irritado, principalmente quando a sem noção da Sindy nos abordou
daquela forma.
— Sabe que isso é um tanto desproporcional.
— Isso o quê? — Não jogue esse jogo, Sofia.
Abri minha porta e ela nem fez menção de descer, mesmo quando abri
a sua.
— Conheço ciúmes de perto. Sou um homem ciumento, Sofia.
— Não estou com ciúmes.
— Continue se enganando... — Ela bufou, finalmente descendo — o
que acha do espaço?
Olhando ao redor, encarou o lote imenso e vazio. Ficava próximo da
estrada principal da cidade, um ótimo endereço e localização.
— Grande. É seu?
— Fiz uma oferta ontem à noite. Se tudo der certo, esse será o espaço
da nova sede da Luxton Corporation.
— Em South Later? Achei que detestasse essa cidade... — Ela estava
surpresa.
Antigamente, sim... Passei anos detestando essa cidade, mas não
porque ela me fez mal, mas sim por quem me traiu aqui... Agora tudo que
sobrava em mim era mágoa por ter perdido um irmão.
A mulher que um dia achei que amava, um dia posso até ter amado,
mas não sobrou nenhum resquício de paixão por ela. Não restava nenhuma
lembrança boa. Às vezes achava que sobrava raiva, mas então, ao vê-la
abandonada em seu jantar de noivado percebi que não sentia absolutamente
nada.
Nicole conseguiu o que jamais pensei que conseguiria: cavou seu
caminho para fora da minha vida. Talvez, antes de Sofia, nunca teria
percebido que não perdi nada com nosso término.
— Não odeio a cidade, meus pais moram aqui e quero que a cidade
cresça. Sei que a sede gerará emprego, ficará no radar de outras empresas e
aqui é um excelente lugar para fonte de energia renovável.
Sofia olhou ao seu redor, dando alguns passos para longe e então se
virou em minha direção.
— Estou pisando no solo onde a Luxton fará história... Em quanto
tempo acha que estará ponto?
— Tenho um projeto de seis meses, quando chegarmos em casa irei
mostrá-la. Gostou daqui?
Não sabia porque a opinião dela era importante, mas descobri que era
quando assentiu, finalmente me dando um sorriso.
— Bom, senhora Luxton, acho que esse é um daqueles momentos que
tiramos uma foto para registrar o momento.
A face corada a deixava ainda mais bonita.
Sofia sorriu grandiosamente, andando até a mim e ficamos na direção
oposta do carro. Abri meu celular na câmera frontal, segurando em sua
cintura. Sofia deitou sua cabeça em meu peito, como sempre fazia, mas dessa
vez ao invés de olhar para foto, olhei para ela.
O que vi na fotografia era minha feição embasbacada por essa mulher.
Estava além de encantado.
Aproveitando nosso momento a sós, sem amiga de escola sem noção
ou vizinhos fofoqueiros, guardei o celular no bolso e a segurei em meus
braços. Colei meu corpo ao dela quando lhe coloquei contra a porta do
carona.
— Admita.
— O quê?
— Que ficou com ciúmes — provoquei.
— Você é tão arrogante, Octor.
Sorrindo, a beijei com vontade. Sim, eu era arrogante, mas havia algo
que era muito mais: enlouquecido por Sofia Luxton.
Gemi quando ela correspondeu com vontade, nosso beijo era porta de
entrada para o inferno. Queria encontrar a redenção em seus braços.
— Não posso mais brincar de beijos, Sofia. Preciso de você.
— Então me leve para casa.
Casa...
Nossa casa.
Sem pensar duas vezes, me afastei abrindo a porta para que ela
entrasse. Nós iríamos para nossa casa e eu foderia minha mulher até estourar
nossos miolos.

O carro na minha garagem me brochou completamente.


Sofia, percebendo minha reação, começou a rir.
— Puta que pariu — bati com a cabeça no volante, ainda ouvindo sua
risada.
— Não seja bobo, nós moramos juntos. Teremos tempo. Vamos lá
falar com seus pais.
Minhas bolas explodiriam, tinha certeza.
Desci do carro para segui-la, respirando fundo. Assim que entramos
meus pais vieram ao nosso encontro trocando abraços efusivos.
— Acabamos de chegar! Estávamos prestes a ir, mas Amélie nos
ofereceu um cafezinho.
Se eu tivesse chegado dez minutos mais tarde...
Automaticamente me arrependi, porque o sorriso de expectativa da
minha mãe em nos ver era imenso.
— Que bom que esperou. Como a senhora está?
— Bem. Nós fomos à cidade e passamos aqui antes de irmos para
casa — ela soprou em minha direção — seu pai que está maníaco, reparando
em tudo e já listou dezenas de coisas que precisam de reparos.
— Sua calha está caindo, você viu?
Meu pai era a pessoa que não conseguia ficar parado, era parte de
quem ele era. Tão solicito e prestativo, meu irmão puxou a ele. Liam quando
era criança queria ajudar todos que conhecíamos, recolhia animais em
situação de rua e por um momento pensei que seria engenheiro civil, como
nosso pai.
— Não reparei, pai.
— Temos que consertar ou não vai sobreviver a nevasca de Natal.
Você limpou a chaminé da lareira?
— Isso ele fez! — Sofia sorriu, contando nossa aventura para decorar
a frente da casa.
Meus pais estavam à vontade e percebi como Sofia ficava bem no
papel de anfitriã, assim que chegamos ela seguiu para a cozinha e quando
voltou, Amélie trouxe os cafés com uma bandeja diversas em biscoitos e
pãezinhos de canela que meu pai amava.
Ela sorriu observando-o comer, não sei qual foi o momento que
descobriu que ele era fã de pães, mas automaticamente o ganhou quando
disse que àqueles foi ela quem fez.
Mamãe trocou um olhar intenso comigo, porque Deus sabe que cada
gesto diferente de Sofia era um enorme contraste com a noiva do meu irmão.
— Nós estávamos pensando em fazer a ceia de Natal aqui em casa,
esse ano — tive os olhos da minha esposa em minha direção.
Dias atrás ela tinha me pedido para pensar a respeito, queria dizer a
ela que parte em aceitar dava-se exclusivamente pelo seu pedido. Queria
agradá-la, assim como decorar a casa, levá-la para sair, lhe dar presentes...
Esse era meu modo de dizer que me importava com sua opinião, que
valorizava seu esforço, que estava admirado com seu companheirismo.
Minha mãe ficou emocionada e assentiu rapidamente.
— Todos estão convidados.
E todos resumia-se em meu irmão e sua noiva também. Meus pais
entenderam e minha mãe agradeceu entre lágrimas.
Nos despedimos prometendo que jantaríamos juntos ainda essa
semana. Deixei que Sofia combinasse a data e meu pai avisou que voltaria de
manhã para me ajudar nos reparos.
A verdade é que seus olhos clínicos viram defeitos em detalhes, mas
não o contrariaria.
— O que te fez mudar de ideia? — Quando se voltou para mim, Sofia
passou seus braços em volta do meu pescoço, me surpreendendo com seu
toque.
— Você.
E que ficasse claro que meu passado não tinha mais importância.
Capítulo 19
Sofia
06 Dias Para O Natal

Sentada com Amélie na cozinha, juntas fizemos uma lista de tudo que
seria necessário para a ceia perfeita no Natal. Avisei a mãe de Octor que não
era necessário que trouxesse nada, mesmo com sua insistência. Por fim, disse
que viria me ajudar e aceitei.
Como quem não queria nada, enquanto levava um café para o pai de
Octor que fazia alguns reparos na área externa do jardim, perguntei se Liam e
Nicole confirmaram presença no Natal. O homem me olhou por alguns
segundos, pareceu meio preocupado com minha reação, mas disse que sim.
Algo no seu silêncio me alarmou e meu sexto-sentido apontou que a
megera aprontaria alguma coisa.
Virei-me para Amélie, finalizando a lista com os ingredientes para às
rabanadas. Descobri que meu marido de mentirinha as amava, então faria
recheada com doce de leite para ele. Vi uma receita na internet e adorei.
— Você acha que é muita comida? — Insegura, questionei.
Amélie negou prontamente e sorri.
Nós combinamos de deixarmos a maioria das coisas pré-preparadas
na noite anterior, no dia 23, já que no dia 24 havia liberado todos os
funcionários para ficarem com suas famílias. Era véspera de Natal e quem
não fosse essencial poderia ir. Octor automaticamente concordou e liberou
alguns seguranças, deixando apenas sua equipe de confiança, homens que de
acordo com ele eram solteiros e não tinham família na cidade.
Amélie se despediu de mim com a lista, iria ao supermercado pela
manhã, então ficou liberada da função do jantar. A verdade era que queria
que essa noite fosse especial, somente Octor e eu.
Seu pai foi embora por volta das seis, mas vi em seu rosto a sensação
de dever cumprido. Ainda observei a decoração de Natal linda que eles
fizeram no quintal e agradeci prontamente.
— Estamos prontos para receber o papai Noel — com a mão suja, ele
entrou na cozinha e bati nos dedos ágeis tentando roubar algumas batatas do
refratário.
— Onde está Amélie?
— Dispensada. Hoje o jantar será por minha conta.
Em silêncio, ele me encarou por alguns segundos e depois deu um de
seus sorrisos sacanas.
— O que posso fazer para te ajudar, esposa?
— A salada? — Ele assentiu.
Diferente daquilo que eu pensava, apesar de seu privilégio de homem
rico, enquanto lavava às verduras ele me contou que sua mãe designava
tarefas domésticas da casa para ele. Cresceu sabendo se virar em tudo, tanto
ele quanto Liam. Então não foi uma surpresa quando cortou às verduras com
perfeição e ainda decorou a salada com tomates, pepinos, cenoura e picles.
— Como foi sua infância? Você e Liam aprontavam muito? — Sem
perceber onde queria chegar, Octor me deu a resposta de boa vontade.
Ele falava de seu irmão com saudade, mas provavelmente não
percebia.
Contou que dividiram o mesmo quarto por anos, compartilhavam
roupas e Liam o imitava em tudo. Descobriu cedo que era um orgulho para o
irmão, só não pensou que o mesmo fosse querer excessivamente tudo que era
dele.
Automaticamente soube que se tratava de Nicole.
— Você não pensa em perdoá-lo? — Perguntei em tom baixo.
Octor deu de ombros, deixando a salada na geladeira e voltou-se para
mim.
— Ele nunca pediu.
— Nunca pediu ou você nunca permitiu que ele pedisse?
— Não quero falar disso.
Foi assim com a história da ceia de Natal, agora ele fazia o mesmo
com o irmão.
O encarei de modo sereno e assenti, sabia que deveria ser difícil ser
traído pela própria carne. Seu sangue. Aquele que deveria te amar acima de
toda essa merda.
Avisei que ele podia ir para o banho que terminaria nosso jantar. Ele
aproveitou a oportunidade de fugir do assunto, agarrou com forças e saiu da
cozinha quase correndo.
Deixei as sobrecoxas dourando, desliguei o fogo do arroz com
brócolis e apreciei minhas batatas assadas. Tudo estava cheirando muito bem.
Escolhi um vinho para acompanhar e coloquei a mesa para nosso
jantar. Ansiosa pelo o que viria, desliguei o forno antes de seguir para o
banho.

Eve havia separado minhas roupas por cores, ocasiões e temperatura.


Não fiquei surpresa que minhas roupas intimas estivessem separadas por
categoriais também, mas meu rosto esquentou quando uma delas era
etiquetada como “noites quentes” e um bonequinho com chifres!
Mataria Eve!
Retirei a lingerie bonita com direito à cinta-liga e pensei se seria
demais. Era linda, azul bebê com pedras que brilhavam nos detalhes do sutiã.
Ao mesmo tempo que parecia pura, o tamanho da calcinha mostrava que fora
criada com outro propósito.
Deixei sob a cama como uma opção, decidi que resolveria após o
banho. Lavei meus cabelos, apliquei uma máscara enquanto fazia uma breve
depilação.
Meu estômago revirava de ansiedade quando deixei o banheiro
enrolada no meu roupão, escolhendo quais cremes usaria essa noite. Separei
meu perfume preferido do momento e escolhi um hidrante com cheiro doce.
Amava perfumes doces, outras pessoas ficavam enjoadas, eu amava
tudo que tinha cheiro de chiclete e flor.
Sequei meus cabelos, domando os fios e eles estavam muito
cheirosos. Com coragem, optei pela lingerie azul bebê. Me enfiei em um
vestido simples, mas bem bonito de cor clara. Era quase bege misturado com
marfim, estava com a etiqueta de off-white.
Sem maquiagem e com uma segurança que desconhecia, desci os
degraus. Para minha surpresa, havia música soando baixinha na sala. Era um
R&B contemporâneo, meu estilo preferido.
Octor me direcionou uma taça de vinho assim que o alcancei. Não
gostava de álcool por tantos motivos, mas ultimamente me permiti beber ao
menos uma pequena taça e às vezes eram somente poucos goles.
Antes que pudesse me afastar, suas mãos me puxaram para perto e seu
nariz se enfiou no meu pescoço.
— Eu amo seu cheiro. — Plantou um beijo atrás da minha orelha e
outro em meus lábios.
— E eu amo o seu. — Murmurei de volta.
Ele cheirava muito bem, seu perfume era amadeirado, com àqueles
cheiros que às mulheres costumam classificar como “cheiro de homem”. O
perfume se adaptava bem à sua pele e eu ficava doida com o cheiro.
— Isso significa que essa noite eu deveria dormir em sua cama, assim
poderíamos nos cheirar mutuamente.
— Essa é uma excelente ideia — ele sorriu quando concordei.
Octor me puxou para me sentar no sofá.
— Quero namorar você um pouquinho, e então iremos comer a
comida deliciosa que você fez.
E então você vai poder me comer?
Suspirei com ansiedade, deixando minha taça sobre a mesinha e me
inclinando para beijá-lo.
Adoraria às preliminares, mas algo me dizia que preliminares com
Octor iriam me fazer explodir.
Quando percebi, estava montada em seu colo, com meu vestido
suspenso e minha bunda de fora. Octor gemia em minha boca, apertando
minha bunda contra sua ereção.
— Vamos pular o jantar, preciso de você. Preciso tanto de você, baby
— seu sussurro atuou como gasolina no meu sistema.
Incendiei em suas mãos, Octor se levantou comigo em seu colo, me
levando para o andar de cima. Não desgrudei meus lábios dos seus, sem
querendo quebrar nosso encanto.
— Deixe-me vê-la, amor. Você é tão bonita...
Me afastando, ele empurrou a porta da suíte – a sua suíte – onde eu
estava dormindo.
Acendeu a luz se deparando com meu rosto vermelho, o busto da
mesma cor e minha respiração acelerada. Desci o zíper lateral do meu
vestido, amando seus olhos em mim. Ele não desviou nem por um segundo e
quando a peça caiu ao chão, ouvi-o resfolegar.
Octor prendeu a mão em seu membro, soltando um gemido rouco e eu
estava pronta.
Seria dele, finalmente seria dele.
Capítulo 20
Octor
Sofia é perfeita.
O corpo moldando por Deus vestido em uma lingerie azul bebê feita
para me enlouquecer, observei os detalhes em rendas e pedrinhas que
brilhavam. Ela estava perfeita pra caralho, ali, linda e cheirosa para mim.
Me senti abençoado nesse momento.
Eu só queria uma esposa contratada para o Natal e o que ganhei havia
ido muito além, era como se finalmente estivesse sendo recompensado por
bom comportamento. O papai Noel me trouxe o melhor presente e agora, não
precisava ser mais um bom menino.
Eu a tinha.
Avancei para ela, odiando nossa distância. Sofia gemeu nos meus
braços quando agarrei sua nuca e beijei a boca gostosa. Ela era gostosa por
inteiro, os seios médios e a bunda grande divididos por uma cintura fina que
moldava minha mão com perfeição.
— Você é perfeita, amor. Linda pra caralho.
Sofia gemeu na minha boca.
Passei a mão pela bunda macia, brincando com a barra da sua
calcinha. Ela tinha se vestido tão linda para mim, não iria estragar nossa
diversão tão cedo.
Conduzi Sofia para a cama, deitada no centro, observou em ofegos
quando me desfiz da camisa que usava, abrindo o botão da calça e descendo o
zíper. Agora estava apenas com a boxer branca.
Olhando-a, fitei seu corpo outra vez, passando a mão pela minha
extensão. Estava duro, dolorido e ansioso por ela.
— Vem. Quero você. — Ansiosa, exigiu.
Não deixei de adorar seu corpo no caminho, beijei seus pés, subindo
pelas panturrilhas. Sofia gemia quando minha língua amava sua perna,
subindo entre suas coxas. Beijei sua virilha com carinho, lambendo a linha da
calcinha e beijando-a em seu centro sob o tecido rendado.
Ela cheirava deliciosamente bem, o cheiro de mulher que invadiu meu
sistema, tomando minha razão.
Sofia gemeu quando a mordisquei sob o tecido. Agarrou meus cabelos
desesperada pelo nosso contato.
Subi para beijá-la, eu a queria tanto que doía.
— Você me quer, amor? — Precisava da sua resposta verbal. Seus
assentimentos não seriam mais aceitos.
— Quero você. Quero muito você.
— Então eu sou seu, minha Sofia.
Havia tanta verdade em minha voz, os olhos de Sofia brilharam em
lágrimas, mas ela não chorou.
Com delicadeza puxei a alça de seu sutiã para baixo, deixando-a
acompanhar tudo. Quando seu seio esquerdo estava descoberto, me deparei
com a coisinha linda. Aureolas rosadas e o bico entumecido, mas
pequenininho. Sofia gemeu quando lambi minimamente e assoprei. Repeti o
movimento duas vezes antes de chupar.
Seus gemidos causaram uma compressão direto no meu pau. Sofia
tremeu embaixo de mim, enlouquecida pelo meu toque. Suguei a pontinha
dura, querendo mais e assim ela o fazia, arqueava seu corpo se oferecendo.
Me deixando mamar o quanto quisesse.
Era uma delícia, todas às suas reações desnudas de qualquer
preocupação. Estampando seu puro desejo por mim, desesperada por meus
toques.
Desci a outra alça, tomando o outro seio negligenciado. Prendi o
mamilo entre meu polegar e o indicador, apertando um pouquinho.
Mesclando dor e prazer, Sofia gemeu mais alto.
Ela adorava isso, era sensível demais ao ponto de ter certeza de que
conseguiria fazê-la gozar só chupando seu peito.
Domado pelo meu próprio tesão, soltei o seio beijando sua boca com
fome. Suas mãos arranharam minhas costas quando desci pelo seu busto,
arrastando uma trilha de beijos até sua barriga.
— Quero chupar você, eu posso?
Sofia assentiu, gemendo.
Sorri para sua reação, ela estava tão entregue e não tirava seus olhos
dos meus movimentos.
Não tirei sua calcinha bonita, queria foder olhando para ela. Então
afastei para o lado, abrindo seus lábios e dando de cara com sua excitação.
— Porra, amor, você está tão molhada para mim — Sofia mexeu suas
pernas, desesperada por contato.
— Octor... — Gemeu meu nome, seus olhos bonitos estavam
escurecidos pelo seu prazer.
Beijei de leve, introduzindo minha língua. O gosto almiscarado entrou
no meu sistema, causando combustão.
Porra...
Ela iria me matar.
Estava tão molhada e tão gostosa que me perguntei quem estava mais
excitado com isso.
Chupei seu monte inchado, Sofia gritou apertando suas mãos em
meus cabelos. Desci a língua pela sua extensão, enfiando fundo em sua gruta
apertada.
— Já chega, por favor... Quero você em mim, Octor... — Implorou,
puxando minha cabeça. — Preciso de você. Há dias preciso de você, não
posso esperar mais.
Ela estava se desnudando para mim, não era sobre fica nua na minha
cama, era sobre confessar suas fragilidades.
Incapaz de negar qualquer coisa que ela me pedisse, me afastei para
tirar a cueca e alcançar o preservativo no bolso da calça. Ela acompanhou
meu movimento, enquanto nos protegíamos e quando voltei a cobrir seu
corpo, sabia que nos pertencíamos.
Não havia nenhuma parte de mim da qual Sofia não era dona
absoluta, mas queria a mesma coisa dela. Queria me sentir no controle
novamente.
— Você é minha, baby? — Murmurei quando posicionei a cabeça na
sua entrada.
Com dificuldade, empurrei um pouquinho.
— Eu sou sua!
Sem nenhuma dúvida entre nós, iniciei minha derrocada ao inferno.
Enquanto deslizava para dentro de Sofia, nossos olhos estavam conectados,
nossos corpos em sintonia e nossas almas fundindo.
Ao alcançar seu interior por completo, havia duas coisas que tinha
certeza: a primeira era que Sofia era virgem e a segunda era que eu estava
completamente apaixonado pela minha esposa.
Nada disso foi planejado.
Quando seu rosto suavizou, me movi provando a nós dois que
podíamos ser tudo que queríamos. Talvez, se fôssemos perfeitos no sexo
também, ela quisesse ficar comigo após tudo isso.
Sofia gemeu embaixo de mim, com suas pernas cruzadas em minha
cintura. Delirando no mesmo sentido que eu, nos beijamos, intensificando
nosso contato. Nossos corpos se procuravam num prazer infinito. Ela era
apertada demais, me comprimindo em suas paredes.
— Octor... Eu vou...
— Vem para mim, Sofia. Eu sou seu.
Sua boca me procurou, um beijo gemido e desesperado. Senti quando
seu corpo tremeu embaixo do meu e sua boceta me apertou, tornando
impossível que não me levasse junto em sua dança.
Olhando em seus olhos, gozei em jatos longos, intensos e fortes.
Mordi seu ombro com força dominado pelo prazer e ela gritou, me
acompanhando. Explodimos em um delicioso orgasmo juntos, mas estava
longe de estar saciado.
Queria mais dela e agora que tinha provado, não conseguiria parar.
Capítulo 21
Sofia
05 Dias Para O Natal

Octor foi meu chefe.


Octor se tornou meu marido.
Octor virou minha obsessão.
Agora Octor se tornou meu vício.
De onde estava deitada, às costas dele ficavam mais atraentes. Ele
estava cochilando depois da nossa terceira rodada de sexo. Parece que romper
o lacre era tudo que faltava para que me tornasse uma devassa. Com a cereja
estourada, tudo que ele podia me dar ainda era pouco.
Fui contratada para ser sua esposa de Natal, havia um acordo onde se
apaixonar não estava incluído... Agora, além de sexo delicioso pela manhã,
sexo enlouquecedor no chuveiro, sexo devastador após o almoço, estava
desesperada pelo o que viria.
Sem conseguir controlar o latejar pulsante entre minhas pernas,
serpenteei pela cama. Ele estava de ponta cabeça, com os as mãos para fora e
a respiração suave.
Minhas mãos acariciaram suas costas, ele não tremeu com o contato,
como se tivesse o esperando.
— Estou pagando o preço de ser quinze anos mais velho que minha
esposa — murmurou me fazendo soltar uma risada.
— Não finja que não aguenta mais, na noite passada eu fui àquela que
precisou pedir para parar.
Nós fizemos amor, não foi sexo... Foi amor, carinhoso, gentil e
delicioso. Doeu, sangrou e me fez gozar. Nós jantamos depois de ficar de
preguiça na cama, então fui seduzida novamente. Na segunda Octor fez tão
lento que eu quis chorar com tantas emoções que me invadiram.
Não fui capaz de uma terceira, era muito para mim.
Agora... Estava louca pela quarta do dia. Mesmo sentindo dor, eu o
queria mais.
Se virando na minha direção, os olhos verdes piscaram divertidos para
mim.
Octor estava lindo, com a barba por fazer e o cabelo sem corte, grande
e enrolando nas pontas.
— Não me olhe assim...
— Assim como? — Me fiz de bobo.
— Com essa carinha de quem vai foder a minha vida. — Ri da sua
gracinha e ele me puxou, invertendo nossas posições na cama — você é
muito gostosa e me deixa louco, sabia?
— Juro que não é minha intenção — beijei os dedos numa promessa.
Ele rolou os olhos, sabendo que minhas promessas não valiam de
nada. Eu adorava toda vez que ele me chamava de linda, me cobria de elogios
e dizia que eu o tirava do eixo.
Estávamos juntos nesse barco.
Octor me beijou, não com a luxuria de sempre, havia um gosto
diferente nesse beijo, como se quisesse me afundar em alto mar. Como se
estivesse pronto para me deixar louca.
Intenso e capaz de penetrar no meu coração.
Em nossa posição, ele encaixou-se entre minhas pernas, deixando-se
deslizar. Não havia nada entre nós. Nenhum preservativo, nós dois havíamos
conversado sobre isso mais cedo. Estávamos limpos e eu usava pílula, queria
senti-lo, mas essa foi a primeira vez que ele deixou ir sem o preservativo.
Sentir sem nada entre nós foi mágico.
Octor rosnou na minha boca, se movendo dentro de mim. Deslizando
com tanto cuidado que ficou impossível não empurrar de volta. Estava tão
gostoso que o queria sentir mais perto, mais fundo, mais forte.
— Shhhh... Se acalme, só sinta... Veja como pode ser incrível de
qualquer jeito. Somos nós dois, Sofia. Mais ninguém.
Seus olhos diziam tanto... Mais que suas palavras.
Nossas mãos se cruzaram e nossos olhos não desviaram, nossos
corpos colados e podíamos sentir como nossos corações batia rápido.
A dança sensual de Octor me levando ao oásis de prazer. Era
indescritível como me sentia, estava sendo mais gostoso de que todas às
vezes, me provando que era possível ficar ainda mais viciada e dependente
dele.
— Você é minha, amor? — Ele sussurrou entre meus lábios.
Choraminguei de tanto prazer.
— Eu sou sua, Octor...
Nunca mais serei a mesma sem você.
Não foi difícil chegar ao êxtase, deixar vir uma onda alucinante que
me fez gemer, meu interior tremeu e não reconheci a sensação que perdurou
mais que àqueles segundos intensos de prazer, então soube que fui acometida
por outro orgasmo, dessa vez mais forte. Mais poderoso.
— Isso, amor. Goze para mim, você fica linda gozando, Sofia.
Gemi seu nome, deixando-me estremecer.
Octor soltou minhas mãos e permitiu que eu o abraçasse. Me apertou
com tanta força, quando prendi minhas pernas ao redor da sua cintura, ele
conseguiu ir mais fundo. Nós dois estávamos gemendo, aproveitando cada
segundo.
Seu rosto afundado no meu pescoço, beijando e cheirando. Sua
investida lenta, profunda e deliciosa.
Ele tentou sair, mas não afrouxei nosso contato. Estava possuída por
algo que ia além do tesão, Octor suavemente acariciou minha cintura,
respirando no meu ouvido.
— Preciso sair ou vou gozar dentro de você, amor... — Despertando
para a realidade, soltei sua cintura.
Ele me olhou profundamente, estocando lento e fundo mais uma vez,
antes de sair. Observei atenta quando bombeou seu membro algumas vezes
até se derramar em minha barriga. Os jatos fortes foram até meu pescoço,
cobrindo parte dos meus seios.
Ele sorriu para sua obra de arte, muito satisfeito.
— Agora eu deveria limpá-la, não?
Sorri, sabendo que a brincadeira continuaria no banho.

Enrolados no sofá com um cobertor, observávamos a lenha queimar


na lareira. Octor havia me alimentado após nossa deliciosa tarde fazendo
nada além de sexo. Nós dois estávamos mais conectados que nunca, talvez
esse fosse o motivo para que não desviássemos o olhar do outro e quando nos
encarávamos, sorríamos com dois bobos apaixonados.
Se fosse um sonho, não queria acordar. Me sentia culpada por sentir
saudade da Emma, mas em partes, queria que os últimos dias ao seu lado
durassem para sempre.
Octor puxou meu pé para ele, iniciando uma massagem que me fez
fechar os olhos de tão boa.
— Existe um marido mais dedicado que o seu? — Ele brincou.
Quando abri meus olhos, os seus verdes estavam me encarando.
— Dedicado, obstinado e resistente. Seis vezes e contando.
— Seis vezes e contando, é? — Esse foi o número de vezes que ele
me fez gozar hoje.
O sorriso presunçoso no seu rosto não me abalou, ele merecia um
prêmio pelo melhor oral do mundo, pelo dom de me fazer querer gozar pela
melhor chupada nos seios e a última vez que esteve dentro de mim foi
definitivamente amostra grátis do paraíso.
— Você também não vai encontrar uma esposa melhor que eu. — Ri
de lado, o encarando de volta.
— Você é perfeita, baby. Linda, inteligente, cheirosa e fode tão
gostoso... Além disso, sua comida é divina. Não existe esposa melhor nesse
mundo. Eu ganhei na loteria.
— Bom, eu ainda não usei minha boca em você... Tem certeza que
quer me tombar como patrimônio histórico na sua lista de mulheres antes de
gozar para mim? — Puxei meu pé e engatinhei para ele, sentando no seu
colo.
— Porra... Olha só como você me deixa.
Octor levou minha mão sobe a ereção evidente por cima da sua calça.
Convencida, sorri rebolando no seu pau.
Desci do sofá, me ajoelhando na sua frente. Ele me ajudou a puxar
sua calça, estava nu embaixo dela.
O sorriso arrogante brincando em seus lábios quando se acomodou no
encosto do sofá, apoiando seus braços na lateral. Octor me olhou como quem
desafiava alguém.
Não tinha muita experiência nisso, mas não era virgem em tudo e
Esther sempre me enchia de detalhes sobre sua vida sexual.
Segurei na extremidade, me inclinado e lambendo o pré-gozo na
cabeça inchada e rosada. Octor gemeu apenas nesse gesto, quebrando metade
da sua prepotência.
Testei passar minha língua, como se fosse um gatinho lambendo,
somente para provocá-lo antes de colocar tudo na boca. De leve, ia testando
meus limites, molhando meus lábios, deslizando para dentro. Era grosso,
longo e não ia até minha garganta. Forcei uma, duas vezes e percebi que isso
aumentou seus gemidos.
Segurando na base, testei bombear enquanto sugava. Lambi da
extensão até o topo, fazendo um barulho estalado na sucção. Octor se
contorceu, não aguentando ficar parado e trouxe uma das mãos para minha
cabeça.
— Porra, baby. Você faz isso tão bem...
Animada com o elogio, aumentei o ritmo.
Octor não empurrou minha cabeça como imaginei que ele faria,
deixou que levasse meu tempo, ditasse meu ritmo e apenas segurou meus
cabelos ou acariciou meu rosto, em determinado momento seus gemidos se
tornaram rosnados, enlouquecido sua mão apertou em meu couro cabeludo,
mas não doeu.
Chupei mais forte, mais rápido e ritmado, sentindo-me ensopar a
minha calcinha. Era uma delícia tê-lo em minha boca, observar suas reações,
ouvir seus gemidos.
Octor apertou os olhos com força, contorcendo o rosto.
— Caralho! Para amor, vou gozar...
— Goza para mim. — Murmurei com ele entre meus lábios.
Os olhos verdes voltaram-se para minha direção, Octor gritou e eu o
senti na ponta da minha língua. Os jatos vieram um atrás do outro, quente,
inundando minha garganta. Diminui o ritmo, engolindo até que eles pararam.
Era amargo, espesso e grudento. Mas limpei tudinho, sorrindo no
final. Um sorriso malicioso.
— Porra, cinco minutos e eu vou te foder — murmurou quase sem
voz, me puxando para seu colo. Seus lábios coloram nos meus em um beijo
gostoso — você foi tombada como patrimônio histórico. Oficialmente minha
primeira, deliciosa e única esposa.
Capítulo 22
Octor
04 Dias Para O Natal

— Oi? — Murmurei levando o celular ao ouvido.


Saí da cama na ponta do pé com medo de acordar Sofia. Ela estava
apagada como pedra e algo nisso me deu uma satisfação, afinal, eu estava
levando uma volta da minha esposa cheia de disposição.
Estava difícil acompanhar seu ritmo, mas era um marido dedicado em
aproveitas às delícias do casamento e proporcionar a minha esposa os
melhores orgasmos que ela merecia.
E como Sofia gozava bem... Era uma delícia ver seu rosto colorir em
multifacetas, quando ela deixava a máscara do pudor ir para outra dimensão.
— Você sumiu, meu caro. Como estão às coisas em seu ninho de
amor?
— Melhores impossíveis e por aí? — Dominic riu do outro lado da
linha.
No andar de baixo senti o cheiro de café e caminhei em direção a
cozinha. Não passava das sete da manhã e hoje tinha pretendido ficar até
tarde com ela na cama, a vida de casado tinha me tornado alguém diferente.
— Alguém transou?
— Cuida da sua vida — murmurei.
— Caralho, transou! Porra, vou ligar para o Settimo e exigir meu
dinheiro!
— Vocês estão apostando sobre minha vida pessoal? — Cochichei,
olhando ao redor — para o inferno vocês dois! O que você quer às sete da
manhã?
— Só comunicar que estou chegando para a véspera de Natal. Por
volta da madrugada do dia 23 estarei aí e não vou estar sozinho.
Fiquei quieto me servindo com café e empurrei um cubo de açúcar.
— Sienna? — A mulher misteriosa que ora ou outra era mencionada.
— Sim. Avise sua esposa.
O tom de deboche me fez revirar os olhos.
— Lembre-se que estará acompanhado, se não quiser passar vergonha
na frente da sua Sienna, controle a porra da sua boca perto da minha mulher.
— Nossa... A que ponto chegamos, amigo? Quem te viu, quem te vê.
— Tchau Dominic, até sua chegada.
Desliguei na sua cara, mas não a tempo de não ouvir sua gargalhada
no fundo.
Ele me irritava, mas era um dos meus melhores amigos.
Enviei uma mensagem para Settimo em seguida, que diabos ele
pensava que tinha moral para tripudiar sobre minha situação quando estava
envolvido em seu próprio dilema? Sua resposta me fez rir, principalmente
porque mandou foto da transferência bancária que fez para Dominic.

“Vocês apostaram cinquenta mil? Dois doentes!”

Dois doentes com dinheiro para gastar, pensei.


Pela primeira vez, após anos, lá estava minha mente borbulhando em
dezenas de pensamentos. Meus olhos não desviavam dos seus movimentos.
Desde que a acordei com café da manhã na cama, recebi todos os seus
sorrisos e guardei no meu peito. Nós fizemos amor no banho, nada como o
desespero que nos consumia desde a última noite. Foi lento, gostoso e me
deixou viajar em um mundo onde ela seria minha todos os dias.
Não passou despercebido que ambos evitávamos falar do fim. Faltava
quatro dias para o Natal e cada segundo que corria parecia uma sentença lenta
de que a perderia uma hora ou outra.
Mas se pudéssemos ficar juntos, ela me escolheria?
Prendi a respiração observando seu desfilar apressado pelo quarto. Já
havia trocado sua roupa duas vezes e na terceira, seus olhos inseguros
encontraram os meus, buscando aprovação.
— Você fica linda em qualquer roupa — uma verdade inegável.
Não me cansava de elogiá-la, porque era simplesmente a verdade.
Seu sorriso bonito foi agradecimento suficiente.
Em um vestido elegante preto, com sandálias de salto e suas joias que
ressaltavam sua beleza, dispensava qualquer maquiagem, ainda assim Sofia
se sentou na cadeira da penteadeira e ressaltou seu rosto bonito se
maquiando.
Antes de descermos, ela me permitiu participar do ritual para colocar
Emma na cama. Meu coração batia forte quando minha esposa deitou no meu
peito, com os olhos lacrimejados e cantou uma canção de ninar que embargou
minha voz.
Aquele cenário familiar era algo que no íntimo, estava sonhando.
Uma família. Estar em uma casa bonita onde uma criança alegre me recebe
feliz, com seus braços gordinhos apertando meu pescoço me chamando de
papai.
— Que houve?
Tentei disfarçar a emoção que sentia, deixando meus pensamentos
enterrados no fundo da minha mente. Esse não era o momento de falar disso,
tudo ainda era muito recente e frágil.
Beijei sua testa, sorrindo quando desligou a chamada de vídeo após se
despedir da babá de Emma.
— Vamos jantar, esposa.
Mesmo desconfiada, Sofia aceitou.

— Se ela fizer a mesma coisa que fez naquele almoço, perderei a


paciência — estávamos estacionando em frente à casa dos meus pais quando
sua voz me alertou.

Sofia estava olhando pela janela, mas voltou-se a mim num instante.
Meu sorriso idiota despontou sem que controlasse, vi os olhos estreitos sobre
mim, minha adorável e um tanto irritada esposa era ciumenta.
Nossa crescente intimidade a havia tornado mais segura, o que me fez
pensar em como ela seria em um relacionamento normal, algo me dizia que
sua paciência era algo que andava em corda bamba.
Nós dois éramos possessivos e ao meu ver, isso não me incomodava.
Essa era mais uma certeza de que estava apaixonado, a dominância de Sofia
sobre mim, além de me deixar envaidecido, me deixava satisfeito e feliz pra
caralho. Somente uma mente doente e carente como a minha entenderia o
sentimento de pertencer a alguém.
— Não vale a pena perder a paciência com ela, suas atitudes são
infantis e desesperadas. Você é tão superior, Sofia. Nada em você poderia ser
comparado a um fio de cabelo dela.
Com os olhos brilhando, se inclinou em minha direção segurando meu
rosto com delicadeza e plantou um beijo cálido em meus lábios.
— Sou seu, esposa. Lembre-se disso quando entrarmos.
Meu – ouvi seu sussurro, como se fosse uma confirmação a si mesma.
Esperei que Sofia se recuperasse para descer e abrir sua porta. Suas
mãos estavam um tanto geladas, trouxe uma delas até meus lábios, acolhendo
entre minhas mãos e assoprando.
— Esqueci minhas luvas...
— A partir de agora não pode mais esquecer, esfriou muito. A neve
vai cair firme a qualquer momento, não a quero desprotegida. Vamos para
dentro.
Caminhamos tão rápido e agradeci mentalmente quando mamãe abriu
a porta, sorrindo amplamente e nos puxou para dentro.
— Eles chegaram! — Ela gritou, avisando ao restante da família. —
Vem querida, vamos encontrar uma bebida quente para você.
— Oi mãe. — Ainda tentei chamar sua atenção, mas fui ignorado.
Sorrindo, acompanhei o caminho que às duas fizeram.
Minha mãe ria facilmente com Sofia, perguntando algo sobre a ceia
de Natal. Ambas fizeram o caminho para cozinha após cumprimentarem meu
pai e Liam, sentados no sofá da sala, assistindo um programa esportivo.
— Achei que não viriam mais.
— Emma demorou a dormir, Sofia precisou cantar três canções
diferentes e ela só sossegou quando ouviu a preferida do momento.
O sorriso encantado no rosto do meu pai devia ser semelhante ao meu.
Aceitei o copo com uísque que ele me ofereceu, dando duas longas
goladas e me sentando no sofá oposto ao meu irmão. Por alguns segundos
meus olhos se encontraram aos de Liam e não desviei, o que vi ali me deixou
angustiado. Além das olheiras visíveis, Liam estava com suas pálpebras
inchadas nítidas em um choro recente.
— E qual seria essa canção favorita? — Meu pai perguntou,
quebrando nosso contato visual.
— Uma da da Bela e a Fera — meu sorriso cresceu ao lembrar de
Sofia cantando. — Minha esposa é uma discografia ambulante da Disney.
— Filhos... Eles nos fazem apreciar cada coisa... Você já aprendeu
alguma?
Àquela altura estava familiarizado com às canções de ninar de Emma,
mas não me via como àquele que as cantaria. Deus sabe que minha dicção
para canções são um desastre...
— Prefiro ficar com às histórias, não sou um bom cantor.
— Mas tenho certeza que será um excelente pai. — Com a mão no
meu ombro, meu pai incentivou — estou orgulhoso de você, filho.
E essa foi a primeira vez em que me arrependi por estar mentindo
para minha família.
Incomodado, virei meus olhos para meus sapatos recém-ilustrados,
pensando no quanto meus pais ficariam chateados quando noticiasse o
divórcio. Eles haviam realmente gostado de Sofia, e como não gostariam? Ela
é perfeita.
Não foi minha intenção ficar tão próximo, mas era impossível prever
que nos daríamos tão bem. Todos nós juntos quase sendo a família de antes...
Exceto pela minha relação arruinada com meu irmão.
Meus olhos procuraram os dele, Liam me olhou e o vazio pré-
existentes nos seus olhos me deixou angustiado.
— Está tudo bem? — Não consegui evitar a surpresa.
Meu irmão tremeu de susto, tão desacreditado quanto meu pai ao meu
lado.
— Não, mas vai ficar...
Não consegui responder, mas queria.
O barulho de salto clicando no assoalho me distraiu, os homens na
sala seguiram o som e vimos Nicole descendo os degraus da escada que
levava para o segundo andar, onde ficavam os quartos.
Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo bem feito, com os
fios tão repuxados que em perguntei se não lhe causariam dor de cabeça. O
tom perolado do seu vestido contrastava com a pele dourada em um
bronzeado artificial. Nicole estava muito bonita, mas era superficial. Nada
que a deixava bonita permaneceria após um banho.
— Oi, Octor. Como vai? — E como se fôssemos velhos estranhos, ela
andou até a mim, determinada a me cumprimentar.
Por que ela fazia isso?
Nós já fomos felizes?
Ela já me amou?
Sem conseguir evitar o constrangimento para nenhum de nós, me
levantei e deixei que ela beijasse minha bochecha. Queria ao menos que
nossa noite fosse o mais normal possível, mesmo que a noiva do meu irmão
estivesse determinada a provar algum ponto a todos nós.
Seus olhos territorialistas me encararam demoradamente, depois
sorriu e se sentou ao lado de Liam. Não passou despercebido que eles sequer
se tocaram, parte disso partiu de Nicole, que fez questão de manter uma certa
distância.
— Vai ficar para o ano novo? — Ela perguntou novamente, como
quem não queria nada.
— Parto dia 26.
— Pretende viajar no réveillon?
Pareceu que estávamos em um episódio macabro de Black Mirror,
pigarreei desconfortável, consertando a postura no sofá e cruzando a perna.
— Só se Sofia quiser.
Trazer minha esposa para o assunto não lhe abalou, pelo contrário.
Um sorriso quase masoquista surgiu em seus lábios e ela dividiu um olhar
com o Liam.
— Está vendo? Seu irmão está mimando a esposa. Você deveria
aprender algumas coisas com ele.
Liam a olhou horrorizado, sua nítida surpresa lhe fez arquear a
sobrancelha e entreabrir os lábios.
O clima ficou tão pesado que uma fina linha de suor se acumulou na
testa do meu pai.
Determinado a deixar aquilo passar, meu irmão meneou sua cabeça
numa negativa, trocando um olhar tão longo com sua noiva e depois suspirou.
— Você tem razão, Nicole. Precisarei de um workshop para entender
como ele conseguiu ficar quase treze anos com você.
Após isso, Liam apenas se levantou parecendo tão magoado que me
abalou. Ele era meu irmão, havia me traído, mas há muito tempo nós fomos
melhores amigos. Vê-lo arrastar-se numa relação que nitidamente não o fazia
mais feliz era tão deprimente que me causou náusea.
Constrangida, Nicole encarou a direção que meu irmão seguiu. Por
alguns segundos sua pose de perfeição se desfez, vi seus olhos claros
piscarem em pânico e quando se voltaram a mim, estavam cheios de
lágrimas.
Ela era cheia de nuances de merda.
Um gatilho disparou em meu cérebro calejado, como se fizessem uma
piada de mal gosto. Muitas vezes brigávamos, eu tinha a certeza que estava
certo, então ela fazia uma feição como essa e me convencia de que estava
errado. Era tão pesado que me sentia péssimo, pedia desculpas e fazia
promessas de não a magoar mais assim.
Me senti usado quando suas lágrimas caíram e ela seguiu meu irmão.
— Eles vão se destruir — meu pai murmurou ao ver sua nora se
afastar.
Era tão nítido que não respondi, não havia nada que eu pudesse fazer.
Capítulo 23
Sofia
Dois dias depois

02 Dias Para O Natal

A confusão de alimentos sendo preparados, entre doces e salgados,


causou um resfriamento no meu estômago. Além disso, estávamos
aguardando visitas. O amigo de Octor e sua namorada estavam a caminho,
ficariam hospedados conosco para o Natal e todos iríamos juntos para o
casamento.
Amélie, percebendo minha ansiedade me tranquilizou que daria certo.
Ela estava preparando um café da manhã delicioso, enquanto eu juntava os
temperos para deixar nossa ave marinando para a ceia.
— Sua sogra virá mesmo ajudá-la com as sobremesas? — Amélie era
um amor de pessoa e não queria me deixar sobrecarregada.
Minha vida de faz de contas era meu sonho, não imaginei que poderia
gostar tanto de ser casada e cuidar da minha própria casa. Toda vez que
Amélie me olhava ansiosa pela próxima ordem, me sentia importante e
querida. Alguém se importava comigo.
Eu cresci em um lar onde natais não eram comemorados, não havia
presentes no fim da noite, nem uma ceia especial. Uma mãe que preferia estar
em qualquer companhia masculina ao me dar a devida atenção. Comecei a
trabalhar cedo, sabia que precisava cuidar de mim mesma e quando Emma
chegou, soube também que deveria cuidar dela.
Sempre fomos nós duas e agora... Iria passar o Natal com uma família
de verdade, família com problemas, mas que se amavam... Tirando Nicole,
mas nesse caso, não podia expulsar a noiva do meu cunhado.
Nosso jantar com os pais de Octor foi desastroso, tinha certeza que o
Liam estava chorando e sua noiva também chorou. O clima estava tão pesado
que quis que alguém desse alguma notícia ruim para que cada um pudesse ir
para sua casa. Quando Octor reclamou que estava cansado, agarrei a
oportunidade com às duas mãos.
Se pudesse, evitaria qualquer encontro com sua ex até o casamento.
— Ela virá, fique tranquila! — Amélie sorriu docemente, voltando a
levar os alimentos para a mesa da sala de jantar.
Lavei minhas mãos após guardar o peru na geladeira e cobrir com
papel filme.
Ouvi vozes na direção da sala e me senti aflita. Essa seria minha
primeira simulação para alguém que nos conhece fora da farsa, o amigo de
Octor me intimidava até o último fio de cabelo e ainda viria acompanhado. Se
sua companheira fosse uma versão semelhante a Nicole? Linda, refinada e
detestável?
Homens ricos andavam sempre cercados por modelos belíssimas, foi
impossível não me sentir inapropriada. Certamente Dominic havia trazido sua
própria beleza exuberante para que a minha ficasse ainda mais destoante.
Encarei minha roupa depois de tirar o avental e soltei meus cabelos
que estavam cobertos por uma touca higiênica.
— Nada disso, eu levo tudo. Vá receber seus convidados! — Sorri
para Amélie e ela bateu na minha mão quando tentei pegar a bandeja com
pães de doce com canela.
Seria impossível fugir do centro das atenções.
Mirei meus pés para minhas sandálias de salto baixo, pensando em
quem diabos se arruma às nove da manhã, em casa, mesmo que vá receber
visitas...
As pessoas ricas, Sofia.
— Aqui está ela, venha conhecer a Sienna, amor. — Octor me levava
ao céu com poucas palavras.
Seu sorriso amplo gelou meu estômago, aumentando minha
ansiedade. Foi impossível não baixar meus olhos sob o olhar dominante de
Dominic e seu famoso sorrisinho de deboche.
Ela era linda, mas diferente de tudo que imaginei.
Pernas longas, cabelos soltos e ondulados, com a pele naturalmente
bronzeada. Sienna tinha as bochechas coradas, mas nenhum resquício de
maquiagem. Os lábios cheios sorriram de forma acolhedora e um tanto
tímida.
Ela era uma beleza estonteante sim, mas nem de longe parecia esnobe
e altiva.
Nós trocamos um breve abraço e dois beijos e a senti tremer.
Meu Deus, ela parecia um anjo e me perguntei o que estava fazendo
vivendo com o próprio demônio, então eu vi... Eles se olharam e acho que
nunca vi um par que combinava tanto, Dominic desfez sua feição de cinismo,
colocando um sorriso sincero no rosto e a puxando para seus braços, beijando
a testa de sua namorada.
Ele estava apaixonado... Isso me surpreendeu pra caramba.
Octor me puxou também, com o mesmo sorriso bobo que fez minhas
pernas tremerem.
Será que havia uma chance a mais para nós dois?

Amélie anunciou que o café estava servido e nossa pequena bolha


desmanchou. Dominic e Octor partiram na frente, em uma irmandade que nos
deixou deslocadas.
Eles eram amigos há anos, faziam piadas internas, emendavam
assuntos sobre trabalho e trouxeram outros amigos para a questão. Falaram
de Settimo[iv] Fiorentinni, era impossível não o conhecer porque sempre
estava nas colunas de fofoca. Um mulherengo que acabou de descobrir que
será pai e irá se casar. Também citaram Yan Artemiev[v], sua fama não era tão
boa, mas quem sou eu para julgar?
Eles eram um grupo de amigos enorme, envolvidos nos mesmos
negócios, como em uma grande sociedade. Onde o negócio de um começava,
terminava o do outro e estavam sempre entrelaçados. A maioria deles viriam
para o casamento, descobri que Liam costumava fazer parte desse grupo, mas
com o rompimento entre o irmão, os amigos ficaram divididos, o que esfriou
a amizade entre alguns deles com os irmãos Luxton.
Sienna e eu estávamos apenas admirando o entrosamento entre os
dois e em alguns momentos nos olhávamos, sorrindo ou revirando os olhos
para alguma criancice dita.
Dado um tempo após o café da manhã, me virei para Sienna e
murmurei:
— Parece um longo encontro entre namorados que ficaram duas
semanas separados. Quer conhecer a casa enquanto eles fofocam?
Octor e Dominic sequer perceberam quando ela timidamente disse
sim, nos levantamos juntas, finalmente atraindo atenção.
— Está tudo bem? — Os olhos preocupados do meu marido me
tomaram de assalto, estremecendo meu coração.
— Sim, vou mostrar a casa e quarto de Sienna.
Tranquilo, acenou com um sorriso e voltou sua atenção para Dominic
que fazia o mesmo com Sienna.
Andamos juntas, meio em silêncio, então quando a levei para o andar
de cima ela soltou um longo suspiro.
— Deve estar cansada, é uma viagem muito longa. Fique à vontade
para tomar um banho e descansar, caso queira... — Ofereci.
— Vim dormindo o caminho todo, gostaria de esticar as pernas um
pouco e ser útil. Não tenho feito nada além de acompanhar Dominic em
festas e ser mimada. Às vezes me cansa ser um bibelô.
Seu tom era uma lamúria, mas ela forçou um sorriso.
— Por que se sente como um? Ele parece tão apaixonado, os olhos
não mentem.
— Eu o amo. Muito. Não quero ser mal agradecida, Dominic me
salvou de uma vida ruim, mas às vezes me sinto mal. Confesso que vim aqui
esperando encontrar uma dondoca esnobe, quando Octor disse que você
estava preparando nosso café da manhã com sua funcionária, fiquei
surpresa...
Segurei sua mão e parei de andar. Ela parecia angustiada com alguma
coisa, massageei de leve seu pulso, tentando sorrir para acalmá-la.
— Acredite em mim, não faço nada além de tarefas domésticas que se
resumem a cozinhar. Não tenho um emprego além de ser esposa. Acho que
nós duas somos bibelôs, bonitos e caros.
Ela sorriu parecendo mais tranquila.
Voltamos a caminhar pelo corredor e abri uma das portas, o quarto
que arrumamos para os dois na noite passada. É uma linda suíte, com um
closet e banheiro enormes.
Os olhos admirados de Sienna correram pelo quarto e voltaram a
mim.
— Sua casa é muito bonita, Sofia.
Me perguntei se ela sabia a natureza do meu casamento, a verdade era
que Dominic sabia. Estava estampado em seu rosto curioso e zombeteiro.
— Obrigada. Espero que se sinta à vontade aqui, pode fazer o que
quiser. Temos uma piscina aquecida, hidromassagem...
— Quero ajuda-la na cozinha — me interrompendo, Sienna falou.
Fiquei surpresa, estava prestes a recusar quando vi que ela era como
eu: queria se sentir útil.
Sorrindo, disse que sim.
Dominic me intimidava, mas sua adorável namorada causou uma
senhora boa impressão. Não sei porque, mas senti que seríamos boas amigas.
Capítulo 24
Octor
Véspera de Natal

Sofia escreveu o último item na lista que estava escrevendo com a


ajuda da minha mãe e uma Sienna que não imaginava. Quando chegou em
minha casa, a namorada do meu amigo estava quieta, parecendo até um
pouco melancólica e bastou alguns minutos a sós com Sofia para que se
tornasse uma mulher risonha, leve e divertida. As duas estavam entrosadas
em assuntos, preparam o nosso jantar na noite passada e agora estavam
dedicadas em terminar o que faltava para a ceia com a ajuda da minha mãe.
Era engraçado ver meu amigo apaixonado, Dominic nem de longe era
o homem que pensei que um dia veria domado por uma mulher, mas então
ele estava solicito, paciente e atencioso a cada um dos desejos de sua
namorada.
O clima mágico do Natal pareceu se tornar completo quando minha
família se reuniu, meu pai nos ajudou com às lenhas no quintal, abastecemos
os freezers com bebidas, instalamos caixas de som na parte coberta do quintal
e auxiliamos com a decoração das mesas.
Perguntei por Liam duas vezes, meu pai desconversou na primeira e
na segunda disse que ele estava resolvendo os últimos detalhes do casamento
com a Nicole, mas sabia que aquilo era mentira. Ele não viera provavelmente
porque não se sentiria confortável, foi quando perguntei se ele viria para a
ceia. Meu pai respirou fundo e disse que não sabia.
Voltei minha mente para a lista, lendo os itens um a um e sorrindo
com o último.
Chocolates.
Sofia passou a noite inteira reclamando que queria um doce específico
da confeitaria de Jose, mesmo que tivesse dito que iria buscar para ela,
reclamou que não queria deixar nossos convidados sozinhos. Agora,
sutilmente, colocou chocolates na lista e me encarou com seus olhinhos
pidões.
— Trarei seu doce, esposa — digo, puxando-a para meus braços —
com uma condição.
— Qual?
— Um beijo agora e... — Segurei seu rosto, apoiando meu queixo no
seu ombro para sussurrar no seu ouvido: — fazer amor a noite toda, com a
neve caindo lá fora.
Suas bochechas enrubesceram, mas ficando na ponta dos pés se
inclinou e me beijou sem se importar com nossa plateia na cozinha.
Dominic assoviou e levou um cutucão da namorada, mamãe riu
achando graça da nossa cena.
— Eu amo ser casado com você... — Deixei escapar em voz baixa.
Seus olhos bonitos piscaram para mim e vi um brilho de lágrimas,
mas Sofia nada disse.
— Vamos, idiota.
Dominic beijou a namorada para depois me seguir.
Enquanto saía da cozinha, deixava meu coração com ela... Minha
esposa de mentirinha.
O caminho pela estrada até a cidade foi feito com o dobro do tempo.
A neve estava mais forte e o chão já coberto por uma camada de gelo que
costumava causar acidentes horríveis nessa época do ano.
Dominic estava gritando ao som de uma música do AC/DC e ri do seu
jeito despreocupado.
Estacionando em frente ao mercado, agradeci por ainda estar aberto.
— Adiante às compras, vou dar um pulo na confeitaria e te encontro
em alguns minutos — entreguei a lista e ele revirou os olhos.
— Capado. Está nascendo uma boceta no meio da sua testa.
Rindo, me distanciei.
— Então chupa, otário — antes que ele entrasse no mercado, gritei.
Dominic me atirou o dedo do meio, atraindo atenção dos moradores
ao nosso redor. Nós dois rimos da nossa palhaçada e seguimos por lados
opostos.
Cumprimentei alguns morados, atravessando a rua e prestes a subir os
degraus para a confeitaria de Jose, a vi.
Nicole estava vestida em roupas de neve nada atraentes, com o rosto
lavado e nariz vermelho. Ficou surpresa por me ver porque não conseguiu
colocar sua máscara de indiferença com rapidez no lugar.
Quase pude reconhecê-la... Ali dentro, meio perdida entre tantas
futilidades, a menina que comecei a namorar quando era adolescente. Aquela
que tinha sonhos ambiciosos, mas nesse sonho não estava envolvido passar
por cima de ninguém.
Essa era a primeira vez que ficávamos a sós. Ainda procurei por Liam
atrás dela, esperei que ele saísse da confeitaria para segui-la, mas Nicole
estava sozinha.
— Octor... Eu... — Nervosa, ajeitou o cabelo e puxou o capuz do
casaco, tentando se esconder.
Eu convivi com ela minha vida inteira. Éramos amigos de infância,
namoramos desde que éramos pirralhos com sonhos infantis, a vi dormir e
acordar tantas vezes... Agora éramos dois estranhos.
— Oi Nicole — disposto apenas a seguir meu caminho e comprar o
doce de Sofia, terminei os degraus, mas sua mão se fechou em volta do meu
braço, me impedindo de andar.
— Nós podemos conversar?
Sua voz não passava de um murmúrio fraco.
Olhei ao redor, me perguntando quantos fofoqueiros seriam
telespectadores da nossa interação pública. Quantas pessoas fofocariam que
às vésperas do casamento, minha ex e eu tínhamos um “confronto” em
público?
— Não acho que aqui seja o ideal, Nicole. Vão comentar e você se
casará amanhã.
— Desde quando a gente liga para o que esse povo fofoqueiro fala,
Octor?
Nenhum de nós ligávamos, mas Liam costumava ligar. Ele era
apegado as pessoas daqui, sempre aparecia com frequência e tinha uma boa
relação com todos. Independentemente do que ele tinha feito comigo, não
desejava o mesmo para ele.
— Não temos nada para falar.
— Estou muito cansada para discutir Octor, queria muito que
tivéssemos essa conversa para encerrarmos de vez esse ciclo.
— O que quer falar?
Nicole olhou ao redor e puxou o ar com força, mirando sua cabeça
para uma das mesas vazias na varanda da confeitaria. Decidido a encerrar
aquele ciclo de uma vez, assenti e caminhei com ela.
Jose me olhou de cara feia do balcão quando andou até nós dois
perguntando se desejávamos alguma coisa.
— Um café expresso e dois pedaços daquela sua torta de chocolate
belga. Sofia me perturbou a noite inteira querendo seu doce.
Meio satisfeita, a senhora sorriu. Ela era uma boa amiga da minha
mãe e uma das únicas que falou na minha cara o que pensava sobre minha ex
ter terminado comigo para ficar com meu irmão.
— Sua esposa é uma princesa, Octor. Vou trazer seu café e separar a
torta.
Nicole nem se mexeu ou olhou para a mulher quando pediu somente
uma água com gás.
Seus olhos pareciam tão perdidos para alguém que deveria estar
exultante com o casamento.
— Você é feliz, Octor?
Sua pergunta me pegou de surpresa.
Até duas semanas a resposta seria não. Vivi no inferno desde que ela
me apunhalou pelas costas, mas agora...
Sofia me faz sentir vivo, acho que nunca me senti assim. Nem mesmo
com ela.
— Sim. — E isso não era mais um fingimento para afetá-la, era um
fato.
— Acho que eu nunca vou ser feliz — suspirando pesado, ficou
quieta porque Jose trouxe meu café e sua água num copo com gelo e limão,
do jeito que ela gostava. — Obrigada, Jose.
Fiquei quieto.
Não sei onde Nicole queria chegar com aquela conversa, mas não
gostei do rumo que estava levando. Principalmente quando seu rosto me
encarou por algum tempo e ela sorriu brevemente.
— Mas fui feliz com você. Minha primeira paixão, meu primeiro
tudo. Acho que você sempre vai ser o amor da minha vida, Octor.
— Então por que está se casando com meu irmão?
Talvez, para ela, essa pergunta tenha soado da forma errada porque
quando seus olhos brilharam para mim, tenho certeza que Nicole entendeu
minha pergunta como uma confissão de ciúme ao invés de uma indignação
por ela estar fazendo outro homem de bobo. Esse homem que é o meu irmão.
— Porque não sabia como voltar para você.
— Nós dois nunca vamos voltar. Nunca. — O choque no seu rosto foi
como um tombo para ela. — Minha pergunta se deve ao fato de que se não
ama meu irmão, deve deixá-lo. Ele já cometeu muitos erros, mas Liam é um
bom homem, Nicole. Ele nunca trairia você, não faça o mesmo com ele.
— Nunca o traí.
— Então o que essa conversa significa?
— Nunca traí você também, Octor. — Determinou. — O acontecido
entre mim e Liam surgiu depois que terminamos. Não foi proposital como
você pensa. Realmente aconteceu... Depois foi como se tivéssemos obrigados
a ficar juntos porque já tínhamos sacrificado nossa relação com você...
Acontece que eu cometi um erro e não sei voltar atrás.
— Não existe voltar atrás. Agora você arca com as consequências
disso e segue em frente.
Talvez essa pudesse ser a primeira vez que Nicole estava sendo
sincera comigo.
Seus olhos procuraram sua mão sobre a mesa e a vi se controlar para
não desmoronar.
— Você não enxerga seus próprios erros, também? Não é justo
colocar a culpa toda em mim. Você mal me enxergava nos últimos anos, só
queria saber do seu trabalho. — Ressentida, acusou. Seu rosto inteiro estava
vermelho e sua voz embargou. — Nos últimos meses você mal me tocava.
Queria você e parecia que eu não importava. Me senti desprezada inúmeras
vezes e agora você me encara do alto da sua superioridade, como se fosse
santo. Você colocou outra pessoa na casa que construiu para mim, você se
casou, Octor... Você...
Suas lágrimas desciam uma a uma, com sua voz embargada pelo
choro e o rosto vermelho.
Enquanto Nicole desabafava, deixei que falasse... Podia simplesmente
me levantar e ir embora, porque não era mais minha obrigação ouvir. Fazia
anos e eu não me importava mais.
Partes daquilo era verdades, outras pareciam ter sido distorcidas pelo
seu egoísmo em querer justificar o injustificável.
— Eu me fiz para você, lembra que tudo que queria era sair dessa
cidade? Te tirei daqui e te tratei como uma rainha. Você esquece que o
apartamento luxuoso onde vocês moram em Seattle foi comprado por mim?
A empresa do seu noivo foi financiada por mim. Sua faculdade? Bancada por
mim. Seus luxos e contas intermináveis, ainda após nosso término? Pagas por
mim! Dei tudo o que eu tinha para você, inclusive meus defeitos e você
desprezou. Depois de treze anos juntos você jogou tudo no lixo, lembra o que
disse quando terminou comigo?
Virei o restante do café na minha xicara em uma golada, tirando uma
nota de cem da carteira.
Nicole estava secando suas lágrimas e não disse nada, provavelmente
lembrando das suas palavras cruéis quando disse que não me amava mais.
— Não abra a sua boca para dizer que eu coloquei outra pessoa na
casa que construí para você, porque você não a quis. Nem me acuse de me
casar como se tivesse traindo você. Céus, você vai se casar no Natal! Com os
planos que fez comigo, como você consegue ser tão cruel, Nicole? Você me
mandou um convite, porra!
— Queria que você viesse sozinho! — Exclamou em um grito
contido.
— Nunca mais estarei sozinho. Eu amo a minha esposa. Sofia me
salvou do abismo que você me jogou, não me envergonho em dizer que você
puxou meu tapete e me afundou em um poço de amargura porque agora estou
livre, Nicole. Ela é a luz da minha vida, não abra a boca para falar dela. —
Disse, me colocando de pé. — E se vier hoje, saiba que não estará na porra da
sua casa. Então se comporte como a mulher do meu irmão e a visita numa
casa que nunca foi sua. Entendeu?
Ela não me respondeu nada, mas a tristeza que tinha em seu rosto se
dissipou dando lugar a um olhar de fúria.
Virei às costas, cansado para caralho daquela porra e sentindo que
finalmente tinha uma pedra nesse assunto.
Jose me olhou parecendo orgulhosa e me estendeu a sacola com o
doce de Sofia. Quando deixei a confeitaria, um peso gigantesco saiu das
minhas costas.
Dominic estava me esperando escorado no carro, olhou para direção
da confeitaria e soube assim que viu Nicole. Meu amigo não perguntou
absolutamente nada, apenas pediu a chave e disse que dirigiria.
Quando entrei no carro, liguei a música num volume alto e me
afundei no banco esquecendo dos últimos vinte minutos. Nicole nunca mais
voltaria para minha vida.
Capítulo 25
Sofia
Véspera de Natal

A carinha redonda cheia de leite em pó na boca era a cena mais fofa


que iria ver no meu dia.
Carina vacilou por dois segundos e Emma fugiu, abrindo a dispensa e
conseguindo alcançar uma das suas latas de leite e encher a boca com a
mistura das suas mamadeiras. O vídeo ficou tão engraçado, porque toda vez
que Carina perguntava se ela estava comendo leite em pó, minha menina ria
de boca cheia e dizia que não.
Octor chegou extremamente mal humorado da rua. O espirito natalino
tinha ido passear, mas sabia que a cena o alegraria, aguardei o dia inteiro até
que ele voltasse ao normal, mas não voltou.
Antes de subir para me arrumar, depois de deixar tudo preparado,
enviei o vídeo para seu celular. Estava indo encontrá-lo na sala quando o vi
gargalhando, mostrando para Dominic.
Era assim que queria vê-lo: feliz e não com cara de bunda.
— Essa é das minhas! Terrorista! Vocês estão ferrados! — Dominic
gargalhou trocando um olhar conosco.
Ainda sorrindo, Octor olhou para mim de forma tão intensa que eu o
quis. Queria nos reconectar, porque ele voltou do mercado e parecia mil anos
luz de distância emocional de mim.
Pensar em nós dois dividindo a criação de Emma me fez sentir
estranha, era demais sonhar com isso... Mesmo que os olhos dele brilhassem
toda vez que a via gritar “Octoooo”, não era a mesma coisa que ser o pai dela
efetivamente.
Deixei-os revendo o vídeo e subi.
Precisava de um banho, descansar um pouco e quem sabe assim
aliviar o aperto no meu coração.

Beijos molhados arrastavam em uma trilha pela minha panturrilha,


subindo, espalhando uma sensação arrepiante pela minha pele. Abri meus
olhos tentando adaptar meu olhar para luz baixa e amarelada do quarto.
Os beijos de Octor não diminuíram, percebendo que estava desperta,
seus lábios sorriram para mim daquele modo malicioso que eu adorava.
Prendi a respiração quando seus dedos ágeis desfizeram o laço do
meu roupão felpudo, expondo minha nudez por baixo dele. Havia saído do
banho e resolvi que descansaria só um pouquinho, mas pelo visto caí no sono.
— Você está tão cheirosa, sou viciado no seu cheiro, Sofia. Viciado
em você.
— Vamos procurar uma reabilitação — sussurrei, brincando e
delirando com seus toques.
— Não. Quero continuar louco por você.
Com gentileza, nós trocamos um olhar breve quando abriu minhas
pernas e beijou minhas coxas e mordeu de leve minha virilha.
Octor gostava de me admirar, tudo era um processo lento onde ele
aproveitava cada estágio. Separando meus lábios, olhou cada detalhe da
minha intimidade passando a língua lentamente, molhando-me com cuidado.
— Amo seu cheiro, amo seu gosto, amo...
Alerta, fiquei esperando que ele completasse, mas Octor me olhou por
um tempo e então me chupou. Minhas costas arquearam na cama e levei a
mão até meus lábios para conter meu grito.
Octor não se importou se alguém poderia ouvir, porque o que ele
estava fazendo com a boca, ninguém nunca havia feito. Sua língua ágil
mamava meu pontinho inchado, dolorido e descia pelos lábios, afundando
dentro de mim. Me comendo com sua língua.
Agarrei seus cabelos quando a sensação tomou conta do meu corpo.
Estava fervendo com seus lábios me bebendo, levando minha sanidade.
— Octor... Eu...
— Quero beber você, meu amor. Todos os dias, você é o melhor
alimento que existe.
No limite, gemi seu nome quando deixei me levar na onda prazerosa
dos seus lábios me provocando um orgasmo alucinante.
Octor me bebeu inteira como prometeu, então se afastou para colar
seus lábios nos meus. O beijo era a coisa mais gostosa que existia, urgente e
veloz, me deixando sem ar muito rápido.
Ajudei-o se livrar da calça que vestia, empurrando a boxer junto.
Precisava senti-lo em mim com urgência.
— Você é minha, Sofia? — Ele fez a pergunta que sempre me
deixava com frio na barriga.
Se posicionando entre minhas pernas, pacientemente aguardou minha
resposta para me invadir.
— Só sua, Octor.
Para sempre.
Nossos olhos não desviaram um do outro quando ele me invadiu
lentamente, abrindo minhas paredes para recebê-lo, sentindo-o se apertar no
espaço mal dilatado.
Nunca conseguiria descrever a sensação do que tínhamos juntos, era
surreal demais.
— Então diga. — Ordenou.
— Eu sou sua.
— De novo, mais alto.
Comandou botando com mais força.
Nossas investidas ritmadas, assim como nossas respirações. Seus
olhos me encarando com tantas emoções passando por eles.
Segurei seu rosto, capturando seus lábios num beijo forte.
— Eu sou sua. Eu amo ser sua.
— Eu amo que seja minha, Sofia.
Me puxando sobre ele, Octor sentou-se na cama e me deixou
comandar. Era uma das minhas posições favoritas, onde podia senti-lo mais
duro dentro de mim, como se tivesse me rasgando.
Gemi seu nome, beijando sua boca e apertando sua nuca. Nossos
corpos nus grudados, quentes e dançando na mesma sincronia.
Era a perfeição.
— Tão bom... Tão bom... Você faz isso tão bom, linda.
— Mais, preciso de mais... Mais de você.
— Eu sou seu — ele prometeu, segurando na minha cintura e me
ajudando a ir mais rápido.
Isso não é só sexo, não pode ser só sexo... Porque se for, meu coração
estará destruído no final.
Percebendo que minha mente voou para longe, Octor capturou meus
lábios e mordeu com força.
— Fique comigo, goze para mim de novo.
Seu comando foi o suficiente para explodir uma nova onda de
excitação. Era incrível o que podíamos fazer juntos.
Seus rosnados, os beijos no meu pescoço, suas mãos apertando meus
seios. Tudo aquilo estava me descontrolando.
Montando com mais força, cavalguei forte sob seu pau, ouvindo seus
gemidos.
— Porra, vou gozar... Caralho, Sofia...
— Goza comigo.
Nós nos olhamos, a sanidade fugindo de nós.
Octor colou sua testa na minha, sem se importar com mais nada
quando minhas paredes o apertaram ainda mais e meu corpo colapsou em
tremores intensos. Gritei de prazer, gozando ao seu redor, sentindo-o explodir
junto comigo. Essa era a primeira vez que Octor gozava dentro de mim e
podia sentir seus jatos quentes me inundando. Seus urros que me deixavam
cada vez mais no limite.
Somente nossas respirações permaneceram no final, assim como o
aperto em minha cintura.
— Deita, quero ver minha porra escorrendo de você — sua voz era
rouca, excitada. Octor me colocou na cama com delicadeza, saindo de dentro
de mim e abrindo minhas pernas. O que vi em seus olhos era possessividade
crua. Suas mãos fincaram em minhas coxas com força, seus olhos iam da
minha boceta molhada até meu rosto corado — você é tão minha, Sofia. Me
dê sua mão, sente minha porra em você.
Deixei que levasse minha mão, meus dedos tocaram o liquido
espesso, quente, vazando de dentro de mim.
— Tá vendo como você é minha, baby? Sou eu aqui dentro de você,
somente eu estarei dentro de você.
Com um rosnado, Octor voltou para cima de mim, tomando meus
lábios com num beijo devastador e para minha surpresa, completamente duro
me preenchendo novamente.
Agora, aqui, só existia nós dois.
Orgulhosamente, eu pertenço a ele.
Capítulo 26
Octor
Véspera de Natal

Minha mulher estava deslumbrante em um vestido vermelho com os


cabelos longos soltos e um sorriso lindo no rosto; não conseguia desviar
meus olhos dela, como um tarado acompanhava cada movimento seu. Ela
queria se certificar que seus convidados estavam confortáveis, que eles
tinham todo o vinho que pudessem ter, que seus aperitivos estivessem ao seu
alcance e sempre perguntando se podia fazer mais por eles.
Ela era perfeita demais.
Eu tinha uma puta sorte em tê-la. Porra, onde encontraria alguém mais
perfeita que ela?
Nem mesmo a chegada da minha ex com meu irmão pôde aplacar
meu sentimento de paixão e contentamento puro ao olhar minha mulher. Se
havia alguém pelo qual eu lutaria a minha vida inteira igual um condenado,
era por ela.
Sofia era minha, não sairia da minha vida quando isso aqui acabasse.
Essa determinação não me pegou de surpresa, a verdade era que já
sabia que não abriria mão dela, nem agora e nem nunca.
Dominic parou ao meu lado com um copo de uísque entre os dedos e
olhou para a mesma direção que a minha.
— Elas se deram bem, fico feliz pra caralho por isso. Você encontrou
sua Sienna.
— Não. — Olhei para meu amigo — encontrei minha Sofia, só agora
entendo sobre o que você falava. Obrigado, amigo. Sem você... Não a teria.
— Você está tão fodido, cara...
— Olha quem fala.
Rimos juntos e atraímos atenção até de quem eu não queria.
Liam olhou para nós, estava numa distância considerável e Nicole,
sentada ao lado dele, não tinha direcionado os olhos para mim. Ela mal falou
quando chegou e destratou Sienna quando Sofia a apresentou.
Dominic estava puto para caralho e considerou não ir ao casamento,
estava tentando acalmá-lo.
— Ele que está fodido, na verdade. Estou com pena.
Nós dois conversamos rasamente sobre o acontecido entre Nicole e
eu, na cafeteria e eu me perguntava se Liam já sabia.
A cidade inteira já sabia, sei disso porque quando minha mãe chegou,
já arrumada, me lançou um olhar reprovador e não me dirigiu a palavra.
Porra, que culpa eu tinha?
— O único que pode salvá-lo é ele mesmo. Que tal você ir lá e dar
uma força? — Eles mal tinham conversado.
Dominic me olhou por algum tempo, provavelmente surpreso e
depois assentiu.
Deixei que ele seguisse o caminho, vi quando chamou o Liam e meu
irmão se levantou para segui-lo para outro canto isolado na sala.
Sozinha, Nicole me encarou e sustentou o olhar até que eu desviasse,
atendendo um chamado da minha mãe.
— O vinho acabou, você pode pegar mais?
— Claro, mãe. Já volto.
Precisando andar, caminhei para os fundos onde tínhamos deixado às
bebidas separadas e selecionei o vinho branco que minha mãe estava bebendo
e uma garrafa de rose, o único que Sofia se permitia beber uma taça.
Estava há um passo para me virar quando senti o perfume adocicado
que ela usava desde que era criança.
Nicole estava parada bem a minha frente, com os braços cruzados e o
rosto sério, me encarando.
— Você reformou a casa.
Sim, tudo.
Nada mais era igual quando estávamos juntos. Nenhum móvel sequer.
— Volte para sala, Nicole. Porra, vai causar cena até no Natal?
— Nós não terminamos a conversa na confeitaria. Você latiu o que
queria e fugiu — determinou. — Quero você de volta. Foram treze anos
juntos, então não finja que me esqueceu por causa daquela...
— Daquela o quê? Abra a sua boca para falar da minha esposa e vou
te colocar para fora, foda-se se vai casar com meu irmão.
— Eu te conheço, se está irritado é porque te atingi com a verdade...
Deixei os vinhos sob o balcão da cozinha, voltando para encará-la.
Ela não podia ser real.
Quem em sã consciência faria esse tipo de proposta ao ex?
— Verdade? Você é louca. Não sinto absolutamente nada por você.
Escute bem: Eu. Amo. Minha. Esposa. Fui claro? Volte para sala ou saia da
minha casa.
— Não ama. — Disse, dando um passo para mim. — Acha que ama,
sabemos que nós dois temos algo além da cama, Octor... Podemos recuperar
isso, apenas me deixe...
Suas mãos tocaram meu peito sob a camisa azul marinho.
Estava chocado demais para acreditar naquela merda.
Nicole inclinou-se sob seus pés para me beijar e eu a empurrei, sem
medir a força. Ela desequilibrou, esbarrando em uma garrafa e o vidro
explodiu ao chão, espalhando o líquido transparente por todos os lados.
— Que porra é essa, Nicole? — A voz de Liam soou bem atrás dela.
Vi o rosto vermelho do meu irmão, sua respiração acelerada quando
olhou para mim e levantei a mão automaticamente, me afastando dela.
Sofia apareceu bem atrás dele.
Sei exatamente o que pareceu, principalmente porque a dissimulada
levou a mão até o peito, fingindo-se de rogada.
— Liam, nós...
— Não aconteceu absolutamente nada aqui — rebati rapidamente,
cortando-a.
Meus olhos buscaram os da minha esposa só para ver que nossa
família apareceu atrás deles. Sei o que àquela cena parecia e aquilo me
deixou muito fodido porque Sofia apenas meneou a cabeça numa negativa e
saiu da cozinha.
Tentei passar por todo o vidro, mas Nicole estava no caminho, parada,
imóvel olhando o próprio noivo.
— Você fez isso em pleno Natal, é sério? — Ele murmurou em voz
baixo, olhando para ela — nós vamos nos casar amanhã. Fiz tudo do jeito que
você quis, ainda assim, você não está feliz? Tem tornado às últimas semanas
infernais para mim. Desconfortáveis para meu irmão e para a esposa dele.
Agora cavou essa cena ridícula.
— Nós... — Ela balbuciou e Liam levantou uma mão para
interrompe-la.
— Nós o quê, Nicole? Vai dizer que meu irmão te agarrou? Que ele te
quer de volta? Por favor, tenha respeito por si mesma. Ele te detesta, te tolera
pela minha mãe e pela esposa dele, que foi um anjo por nos convidar para o
Natal. Olha o que você fez.
— Não aconteceu nada entre nós, Liam. Foi um acidente com a
garrafa de vinho, eu estava somente ajudando. — Por fim, resolveu mudar
sua tática.
Ia abrir a boca para dizer a verdade, mas Dominic fez que não.
Liam me olhou e depois olhou para ela e cruzou os braços.
— Eu ouvi tudo, Nicole. Seu apelo arrependido e apaixonado... —
Um riso mórbido ecoou da garganta dele.
Nunca vi meu irmão tão... Sombrio.
Liam era alguém que você podia chamar de iluminado, ele era feliz e
agora parecia drenado.
— Bom, família. Está nítido que não haverá mais casamento. Então
você pode ir embora e deixar que ao menos, eu fique em paz com minha
família no Natal. Saia.
— Você não está fazendo isso, Liam...
A explosão de raiva na voz dela.
Aquilo era demais até para mim.
Meus pais horrorizados, assim como Dominic e Sienna. Sequer havia
sinal de Sofia na cozinha.
Sabendo que precisava ir atrás dela, sabendo que precisava explicar
que aquela merda não era o que ela estava pensando, tirei Nicole do meu
caminho e deixei que meu irmão lidasse com seus próprios problemas.
Ainda o ouvi dizer que acabou e mandando-a sair. Quanto mais ela
rebatia, mas dizia que não haveria casamento.
Que merda de véspera de Natal.
Sofia não estava na sala.
Com o coração batendo a mil, subi os degraus de dois em dois, para
lidar com a porta do nosso quarto fechado.
— Sofia, sou eu. Abra.
— Vá embora, Octor.
— Não, abra. Por favor, abra.
Tudo ficou em silêncio.
Capítulo 27
Sofia
Noite de Natal

Andando de um lado para o outro, meu coração batia tão forte que
fiquei com medo de passar mal.
Aquela mulher... Eu a mataria, se descesse e ela ainda estivesse na
sala, a arrancaria para fora pelos cabelos.
Como ela podia fazer algo daquele tipo?
A insegurança me corroeu porque ele... Me trouxe para atingi-la, não
importa quanto nossa relação tenha evoluído, ele ainda me trouxe para atingi-
la. E se não a tivesse esquecido?
Minhas mãos formigaram quando ouvi sua voz me chamar.
Decidida a não abrir a porta, pedi que ele fosse embora. Quando tudo
ficou em silêncio, pensei que tivesse ido, então Octor voltou a pedir para
abrir a porta.
Vê-lo do outro lado me apertou o coração. Seus olhos confusos que
me encararam meio desnorteado quando entrou e me puxou para seus braços
num abraço apertado.
— Não aconteceu nada, acredite em mim.
Fiquei quieta, sentindo-o me apertar.
— Não sei o que deu nela, quando me encontrou na confeitaria...
— Espera, vocês se encontraram mais cedo?
Me soltei de seus braços, encarando seu rosto.
Os ombros de Octor encolheram e ele assentiu.
Merda, por que não me contou?
Andei para longe, tentando recuperar o ar e pensando onde foi que eu
errei aqui, achava que tínhamos ao menos uma relação de confiança um com
o outro.
— Não te contei porque não significou nada para mim...
— Nada? Você ficou o dia inteiro mal humorado. Foi por isso, não
foi?
— Não foi por ela. — Determinou — é o Liam. Ele é meu irmão,
fiquei puto pelo o que ela me disse, porque estava fazendo-o de bobo. Ela é
uma ex, mas ele sempre será meu irmão.
Analisei sua feição me perguntando se deveria confiar.
Octor andou e se sentou na cama, bufando e colocando a mão entre o
rosto.
— Essas coisas acontecendo entre nós dois... Não deveria ter
acontecido. Isso ainda mexe muito com você e esse lugar te deixa confuso.
Nosso casamento é de mentira e...
— Não Sofia, não fala isso... Por favor.
— Estou encarando a realidade. Se não houver casamento, podemos
voltar para casa amanhã de manhã. — Determinei, vendo o choque em sua
face. — É melhor voltarmos a nossa realidade, Octor. Eu sou só a assistente
comum que você trouxe para provocar sua ex, nós dois deixamos isso ir
longe demais.
— Não fale assim de si mesma.
— Assim como? — Bufei — sem esse banho de loja que você me
deu, sou apenas uma garota comum que nem tinha onde morar, com uma
irmã pequena, desesperada por um milagre de Natal até que você me fez uma
proposta irrecusável. Não sou quem você pensa, sou quem você criou para se
moldar ao papel de sua esposa. Você não vai me querer como eu sou.
— Não finja que estava atuando, principalmente quando estivemos
juntos nessa cama. Não faça isso conosco, Sofia. Não nos resuma a nada
porque está com medo.
— Medo? Estou apavorada, Octor! Tenho uma criança para criar e
não posso me dar ao luxo de me preocupar com coração quebrado! Não posso
viver um sonho de Natal com um bilionário. A realidade da vida é outra.
Ele me olhou por longos segundos, se colocando de pé. Octor não
desviou os olhos de mim quando se aproximou, tocando meu rosto com às
pontas dos dedos.
— Não nos resuma a dinheiro, Sofia... Não faça isso comigo.
— Não estou nos resumindo a nada. É o melhor para nós dois,
sabíamos que seria assim. Duas semanas e acabou, lembra?
— E o processo de adoção da Emma? — Ele jogou rápido demais.
Por alguns segundos me lembrei das palavras do advogado e prendi a
respiração. Ser casada com ele era uma garantia que teria Emma de modo
definitivo. Que poderia colocar meu nome em sua certidão, ser de fato sua
mãe.
Respirei fundo me afastando do seu toque, precisava pensar.
— Preciso ver como vai ficar com meu advogado...
— Já falei com o meu. Ele me assegurou que até janeiro tudo estaria
resolvido, desde que estejamos juntos. — Ele jogou.
Surpresa.
Havia surpresa no meu corpo inteiro quando tremi com o prazo.
Octor procurou um advogado para falar de Emma?
Saber que ele se importava a esse ponto me fez querer chorar ainda
mais.
Meus olhos esquentaram e olhei em outra direção.
— Mais algumas semanas, pela Emma… então você estará livre.
O sorriso no seu rosto... O brilho que retornou aos seus olhos... podia
jurar que ele até suspirou de alívio.
— Algumas semanas é tudo que eu preciso, Sofia — determinou. —
Agora vamos, é Natal, amor. Não é dia de divórcio.
Passei por ele sem deixá-lo me tocar, precisava ficar longe da
tentação. Antes de descermos, olhei bem em seus olhos. Octor fez uma
promessa velada que se comportaria e assenti.
— Com uma condição. — Antes de descer, murmurei. Ele me olhou
ansioso pelo o que falaria. — Já que estava preocupado com seu irmão, vai
perdoá-lo e se esforçar para reconstruir o que os dois tinham.
Os olhos de Octor se estreitaram no meu, levou alguns segundos, mas
ele assentiu.
— Qualquer coisa que você quiser, Sofia.
Na sala, a música de antes estava mais baixa, os pais de Octor
conversavam em voz baixa e Sienna estava sentada sozinha.
— Ei, onde está Dominic? — Murmurei cutucando seu ombro. —
Vamos comer um doce, eu preciso.
— Você está bem, Sofia? — Minha sogra perguntou.
Ela parecia tão chateada que caminhei até ela e lhe dei um abraço.
— Liam está lá fora conversando com o Dominic. Ele cancelou o
casamento, Sofia. Terminaram. — Murmurou em voz baixa.
Olhei ao redor e Octor não estava mais na sala.
O pai dele foi atrás.
— Que natal, hein? — Murmurei para as duas — nós duas sabemos
que Liam não seria feliz nesse casamento. Tudo acontece do jeito que precisa
acontecer.
Nós nos abraçamos novamente e puxei às duas pelas mãos rumo a
cozinha. Já estava tudo limpo, abria a geladeira pegando às tortas que Octor
comprou e três colheres.
Doce antes do jantar, pelo menos hoje seria permitido.
Uma boa exceção.
Capítulo 28
Octor
Natal

Meu irmão não parecia abalado quando cheguei, pelo contrário.


Estava apenas assentindo para o que Dominic dizia, nosso amigo tinha a mão
sob a nuca dele e falava seriamente.
Os dois pouco se importavam para a neve fodida que caia.
Estavam sentados no banco exposto a área descoberta, ao lado de
onde nossa ceia intocada nos aguardava, quando entrei no campo de visão
deles, Liam se levantou meio alarmado.
Levou alguns segundos para que ouvisse a voz do meu pai atrás de
mim.
— Se você quiser eu vou embora, não vim para te atrapalhar. Sinto
muito pelo o que a Nicole fez, espero que a Sofia não tenha ficado chateada
com você.
— Ela não ficou — menti. — E você não vai embora, é Natal. Nós
estamos longe da nossa menina e não quero que minha esposa tenha
sacrificado o Natal com a filha por causa de nada. Vamos ficar em família.
Você não vai casar e que bom, nós dois sabemos que você não queria essa
merda de casamento, não com ela.
Liam me olhou por alguns segundos e assentiu.
— Sinto muito, Octor. Não tem um dia que não me arrependa disso.
Provavelmente nós dois. Espero que um dia você possa me perdoar.
— Vem aqui, Liam. — Depois de três anos abracei meu irmão
novamente.
Minha esposa era a responsável por isso.
Tentei disfarçar, mas nós dois choramos. Liam havia sido punido pela
vida, Deus e eu sabemos como é infernal ter uma mulher disposta a tudo para
fazê-lo padecer no inferno só por dez minutos no paraíso.
Dominic desanuviou o clima com piadas.
Antes da meia noite estávamos todos – exceto Nicole – sentados em
torno da mesa, finalmente confraternizando em família. Até dando algumas
risadas.
Sofia e Sienna decidiram que podiam relaxar e começaram a beber
vinho de verdade e minha mãe às acompanhou. Ela ficava tão leve sem
nenhuma preocupação.
Estávamos sentados um em frente ao outro e quando nossos olhos se
encontravam eu podia ver uma luz irradiar deles, então ela disfarçava e
olhava em outra direção.
Nunca a deixaria ir. Fiquei tão desesperado quando disse que queria
voltar para casa e acabar com nosso acordo... Me agarrei ao que tinha, mesmo
que Emma tivesse que ser o elo que nos uniria.
Não iria permitir que ela fosse embora sem lutar por ela.
Comemos sobremesas no sofá da sala, acolhidos pela lareira.
Todos falando juntos, um atropelando a fala do outro e relaxei quando
vi que meu irmão finalmente tinha relaxado também. Ele estava meio
embriagado, rindo com meu pai e Dominic, porque Sofia e Sienna eram uma
péssima dupla na mimica.
Eu podia me acostumar com isso...
Podia me acostumar com minha família reunida em todos os Natais.
Só faltava a Emma, no próximo, prometi a mim mesmo que estaríamos todos
juntos.
Ninguém foi embora, já passava das três da manhã quando meus pais
foram para o quarto e Liam disfarçou um pouco antes de se retirar também.
Os dois casais restantes guardaram a bagunça, Sofia brigou porque Sienna
queria lavar a louça e eu pedi para que Dominic a levasse para o quarto.
Encarando minha esposa, pensei no quanto duas semanas podiam
mudar a vida de alguém..., mas se eu fosse sincero, minha mudança já havia
começado antes disso. Em nossos jantares já me sentia completamente
atraído pelo seu jeitinho que me cativou desde o início.
Sofia me olhou bem séria, ainda chateada pelo episódio de mais cedo.
Quando apagamos as luzes, deixei que ela fizesse o caminho na frente e a
segui em silêncio.
Foi um martírio vê-la se trocar tão displicente, ignorando meus
olhares. Se afundando em sua calça de pijama e colocando uma camisa de
manga cumprida. Quando se deitou, ignorou meu pedido para conversar
dizendo que estava muito cansada.

O dia 25 de dezembro amanheceu branco. O céu desabava em neve e


meu pai desobstruía a entrada da garagem para que meu irmão saísse com seu
carro. De acordo com nossa mãe, ele estava indo pessoalmente comunicar aos
pais de Nicole que não teria casamento. Me perguntei se àquela família
manipuladora poderiam fazê-lo mudar de ideia, mas nosso pai disse que ele
saiu determinado.
Passamos o dia em família, almoçamos juntos às sobras da ceia. Era
um pecado chamar de sobra, já que havia comida para alimentar um batalhão.
Tudo estava delicioso e o tempero do peru estava magnífico. Sofia corou
quando elogiei, principalmente às sobremesas.
Nós assistimos a filmes de Natal na sala como uma grande família
unida e depois das seis da tarde, quando nossos pais estavam prestes a se
despedirem, Liam chegou.
Seu rosto era de puro desanimo, entre dentes disse que conseguiu
avisar a todos os convidados a tempo e quem veio de longe, ele se certificou
de ressarcir. Alguns convidados, os mais próximos, negaram, mas outros
aceitaram e achei um absurdo.
Meus pais resolveram ficar para o jantar a pedido de Sofia porque
meu irmão parecia ter passado o dia inteiro de jejum. O garoto mal tocou na
comida, me senti mal por vê-lo assim, mas eram os frutos de sua escolha e
ninguém poderia fazer nada no momento.
Quando chegou a hora da despedida, fiquei surpreso quando minha
mãe me puxou para um canto isolado, pedindo para falar comigo a sós.
— Queria pedir a você para ficar uns dias na sua casa, em Seattle.
Não quero perder Liam de vista e ele me proibiu de acompanhá-lo. Sofia se
incomodaria?
Minha mente passeou por minha casa, minha casa vazia e solitária
que me esperava... meus olhos desviaram para Sofia, que parecia curiosa com
nossa conversa, enquanto conectava o pedido da minha mãe a presença da
mulher que eu queria comigo em definitivo.
— Adoraríamos recebê-la em nossa casa, mãe.
E essa providência podia jurar que vinha direto do céu.
Ao menos, enquanto minha mãe ficasse em minha casa, Sofia
continuaria sendo minha esposa de mentirinha... Por pouco tempo, pois tinha
planos de torna-la minha para sempre.
Capítulo 29
Sofia
27 de dezembro
SEATTLE

Meus dedos estavam doloridos de tanto que foram repuxados,


esticados, estalados para controlar meu nervosismo. Estávamos há poucos
metros da casa de Octor, em Seattle. Ainda podia olhá-lo com seu sorriso
presunçoso pendurado no rosto e me lembrar da sua voz despretensiosa ao
me comunicar que sua mãe pediu para ficar hospedada em nossa casa.
Nunca havia pisado em sua casa e saber que faria isso pela primeira
vez ao lado da mãe dele não me tranquilizava em nada.
Furtivamente, sorri sem jeito quando minha sogra arqueou às
sobrancelhas em expectativa. Parecia animada por estar fora de South Later,
mesmo que visivelmente preocupada com Liam.
— Estou ansiosa para conhecer Emma! — Amber murmurou
quebrando o silêncio no carro.
Octor, no banco da frente, me encarou pelo retrovisor e sorriu
calmamente.
Como ele conseguia ser tão frio?
Minha cabeça ainda doía pelas horas intermináveis de viagem, os
pensamentos que Emma estaria passando por outra mudança e adaptação não
ficaram despercebidos.
Na noite de Natal, Octor encomendou praticamente uma força tarefa:
sua arquiteta deveria decorar um dos quartos de hóspedes – ao lado do dele –
para Emma. Ele ainda me perguntou que tipo de decoração eu queria, quando
sequer pensava nisso...
Octor também pediu para que sua equipe de segurança ajudasse no
transporte da babá, com Emma e nossos pertences, às quais precisei listar
para que a menina não se esquecesse de nada. Desde àquela noite, Carina e
Emma estavam na mansão do meu marido.
Eve foi convocada também, precisava organizar o closet de Octor
com espaço para minhas coisas – coisas essas que a própria comprou e
organizou. Além de tudo, para que o teatro parecesse perfeito, porta-retratos
nossos foram espalhados por todo o primeiro andar. Muitos deles eram com
fotos de Emma.
Por que tudo àquilo?
O homem ia longe demais em uma mentira e aquilo me angustiava.
— Nós chegamos! — Amber praticamente saltou de alegria ao meu
lado, distraindo-me dos meus pensamentos.
Não deixei que meu marido viesse ao meu encontro, me sentindo
muito sufocada, abri a porta e olhei ao meu redor. Era um condomínio
luxuoso afastado do centro, com casas bem espaçadas.
A fachada era branca, com detalhes em vidro, janelas amplas e
simplesmente de tirar o fôlego. Meio sem jeito, tentei fingir que não era a
primeira vez que conhecia a propriedade, quando na verdade tremia de medo
e ansiedade.
— Finalmente estamos em casa, querida... — Os olhos de fênix
penetraram aos meus e assenti sem dizer uma palavra.
Deixei que a mãe de Octor fosse na frente, animada em rever quem
quer que fosse, se familiarizar novamente com a casa e seus funcionários.
Com os pés afundando em neve e tremendo um pouco de frio, fui
guiada pelos braços acolhedores. Estava tarde da noite, mesmo com às luzes
fluorescentes iluminando tudo ao redor, sabia que de dia a vista seria de tirar
o fôlego.
— Não se preocupe com nada. Apenas minha governanta está
acordada e ela sabe que a senhora da casa está vindo comigo.
— Isso é um pouco demais — sussurrei.
Passamos pelo hall de entrada e Octor não disse nada.
Fui apresentada em voz baixa a uma senhora simpática com uma
bandeja de chá saindo fumacinhas. Precisei sorrir, porque era exatamente o
que precisava nesse momento.
Abigail, ou Abby, como a mesma disse, tinha um sorriso acolher no
rosto e se demonstrou muito receptiva.
— A menina Emma dormiu cedo depois de correr pela sala e cansar o
Sr. Buddy. Posso dizer que viraram melhores amigos assim que se viram.
Encarando Octor, vi seu sorriso e arqueei a sobrancelha querendo
saber quem diabos era o senhor Buddy.
— Meu labrador. Ele já está velhinho, vai fazer doze anos. É um
preguiçoso que não corre mais atrás de nenhum galho, então deve mesmo ter
gostado de Emma...
— Sei que ela não deve ter dado um minuto de descanso ao pobre
senhor Buddy — Abby riu, assentindo.
Dei duas grandes goladas no chá, colocando de volta na bandeja. Por
mais que tivesse uma delícia, estava exausta e antes mesmo de um banho,
precisava ver minha garotinha dormindo. Mesmo que só pudesse olhá-la.
Agradeci a Abigail, e Octor, percebendo o que eu precisava me
conduziu pelo mesmo caminho que a mãe fez assim que chegamos. Os
longos degraus de vidro da escada giratória ao centro da sala nos levaram por
um outro hall de entrada que antecedia uma sala de jogos, dando caminho
para um extenso corredor e outra longa escada.
Paramos em frente a uma porta branca com um quadro pendurado, era
uma bonequinha de pano segurando uma plaquinha com o nome de EMMA.
Meus olhos arderam e revezei um olhar emocionado com o homem
responsável por aquilo. Pela primeira vez o vi encolher seus ombros e
praticamente corar, tímido.
Sorri e segurei em sua mão, quando girei a porta, Carina acordou
assustada e relaxou quando sussurrei que era eu.
O quarto estava iluminado por uma luz amarelada saindo de uma
pequena luminária em cima de uma cômoda branca, que parecia ser aqueles
conjuntos com trocadores.
Emma estava deitada em seu berço e por um milagre, estava coberta
até o pescoço. Me inclinei para olhá-la mais pertinho, sentindo seu cheirinho
de bebê gostoso e não pude impedir que minhas lágrimas rolassem.
Ela havia crescido!
Como, em duas semanas, podia ter mudado tanto?
Podia jurar que suas bochechinhas estavam mais cheias também,
através da luz iluminada vi quando ela se moveu, seus lábios formaram um
biquinho lindo, mas não acordou.
Octor e eu dividimos um olhar intenso, me perguntei se ele pensava
ou sentia o mesmo que eu, porque seus olhos também estavam úmidos.
Sem querer atrapalhar Carina, saímos e desejei um boa noite. A garota
voltou a deitar na cama que fora instalada ali justamente para ela e fechei a
porta atrás de nós.
Fui direcionada ao quarto que ficaria – o quarto dele. O nosso quarto.
Com o estômago gelado, Octor me mostrou o closet e o banheiro
gigantesco com a enorme banheira de hidromassagem que facilmente
caberiam umas seis pessoas. Troquei um olhar com ele, pensando em quantas
mulheres já estiveram dentro da banheira ostentosa e franzi o cenho.
— O que está passando por essa cabecinha, Sofia? — Ele murmurou,
quase lendo meus pensamentos.
Bruxo.
Fiz que não e saí de perto.
Tudo que não precisava agora era dos seus encantos.
Foquei em Emma, em sua guarda unilateral, na mãe de Octor em
algum quarto nesse andar e pensei até em mim mesma, no meu pobre coração
e no conselho sensível que Sienna nos deu quando nos despedimos há
algumas horas: “cuidado, homens poderosos como Dominic e Octor podem
destruir meninas como nós duas”. Suas palavras espertas fizeram eco em
meu cérebro apaixonado.
— Quer que eu prepare um banho para você?
Suas palavras pareciam mel, seus toques eram doces e mesmo que
tentasse resistir, sua gentileza me cativava tanto quanto sua ambiguidade por
posse.
— Não, está muito tarde. Uma ducha rápida é o suficiente.
— Posso te fazer uma massagem...? — Com a língua? Pensei.
— Octor...
— Como parceiros de crime, apenas... Ouvi que você reclamou de dor
na nuca com a minha mãe. Vai ser só massagem, uma massagem inocente
para você relaxar e dormir.
Suspirando, assenti.
Eu nunca conseguiria dizer não aos seus olhos verdes apelativos, a
voz rouca e a sua cara de sonso. Nunca seria só massagem com ele, mas já
estava difícil suficiente resistir a sua respiração quente, quando dormindo
seus braços se enrolavam em mim e seu rosto afundava no vão do meu
pescoço, sua respiração pesada arrepiava minha pele e me perguntava se
Octor imaginava como seu subconsciente me procurava quando ele estava
vulnerável demais para controlar.
Tomei um banho tão rápido, cansada demais para curtir a água
quente. Estava muito frio e o roupão aquecido depois de me secar foi muito
bem-vindo. Quando retornei ao quarto, Octor já estava deitado e o quarto
cheirava ao seu cheiro tradicional. O sabonete líquido que ele adorava que
tinha um toque de erva doce e mental.
Seus cabelos estavam molhados, então conclui que tomou banho em
outro lugar, mesmo que seu box tivesse dois chuveiros... Ele me respeitou.
Uma ida rápida ao closet, quando voltei estava usando um pijama
quente e comportado dentro da diversidade de peças intimas e reveladoras
que Eve comprou para mim.
Meu lugar na cama estava vago, Octor que mexia no celular,
abandonou rapidamente na mesinha de cabeceira e puxou a coberta para mim.
Sua cama era imensa, maior que a de South Later, o que me fez pensar que
foi encomendada sob medida. Era tão confortável quanto a de lá.
Me afundei nos lençóis macios, com a coberta quente e senti o cheiro
dele mais de perto. Aquele cheiro que me enlouquecia.
— Vem aqui, fica de bruços e vamos relaxar suas costas...
— Sem maldade, se comporta.
Rindo, ele concordou.
E essa noite Octor só cuidou de mim e nunca me senti tão querida
antes disso.
Capítulo 30
Octor
Abby não mentiu quando disse que Buddy, meu velho ranzinza,
estava encantado com Emma. Do alto da escada podia ver sua animação em
ser perseguido pela garotinha, o rabugento nem reclamou quando ela o puxou
pelo rabo e ele voltou dando alguns lambeijos.
Sofia riu ao meu lado, percebendo que sua menininha estava entretida
demais para nos reparar. Ambos acordamos tarde, eu bem mais tarde para
meu fuso horário normal, os dias em South Later afrouxaram minha rotina.
Com um alerta de Carina, Emma seguiu na direção indicava e seus
olhinhos castanhos brilharam quando ela gritou “MAMÃE!” tão estridente,
que Abby e Amber correram para assistirem a cena.
Sofia desceu os últimos degraus que faltavam e acolheu sua filha em
seus braços. Buddy, olhando a cena familiar, ficou ainda mais eufórico,
querendo participar do abraço.
— Ei, garoto. — Me percebendo, fui recepcionado pelo seu pulo
tradicional, além de empolgação com seu rabo acenando e soltando uns
ganidos eufóricos. — Oi, garoto. Sentiu minha falta? Eu senti a sua.
Seus latidos intensificaram, quase estourando a bolha de Sofia e
Emma, que passaram a observar o reencontro entre pai e filho também.
— Octooo!! — E para minha grande surpresa, a garotinha se jogou
em meus braços.
Sofia pareceu incrédula quando Emma veio de boa vontade de cruzou
seus bracinhos em um abraço apertado. Meu rosto esquentou com uma
emoção que eu nunca senti antes. Era a primeira criança que me abraçava tão
efusivamente, certamente a primeira que eu criava um vínculo.
A abracei de volta, acariciando suas costinhas pequena e sussurrando
que estava feliz em vê-la.
Os olhos lindos da minha esposa acompanhavam a cena tão atentos,
depois brilharam em lágrimas que disfarçou ao fazer carinho no Sr. Buddy.
— Tão lindos! Eu filmei e te mandei por mensagem, Sofia! —
Mamãe disse, atraindo nossa atenção. — Estou enviando para seu pai
também.
— Obrigado, mãe. Mande para mim também.
Ela sorriu, assentindo.
Emma desgrudou do meu pescoço e me olhou com um sorriso agora
tímido, brincando com os fios do meu cabelo e Sofia, um tanto ciumenta, se
aproximou querendo atenção também.
— Você está enorme, mocinha. Tão linda...
— Presente! — Emma gritou.
Só assim acompanhamos a confusão de brinquedos espalhados pela
sala, inclusive a boneca de pano que havia comprado para ela. Encarei minha
mãe, que encolheu seus ombros num gesto claro de culpa.
Meu Deus, não fazia vinte e quatro horas que ela estava brincando de
vovó e simplesmente entregou dezenas de presente para a menina.
— Que lindo seus presentes, Emma. Mostre para a mamãe. —
Colocando-a no chão, fiquei ainda mais surpreso quando suas mãos
pequeninas agarraram tanto às minhas quanto as de Sofia e nos arrastou para
o tapete felpudo.
Fomos apresentados para suas bonecas novas, um aparelho de chá
completo e dezenas de blocos de montar, livros de colorir e giz de cera.
— Pintar, Fiiia! — Rindo, ofereceu um giz de cera para cada um,
inclusive a babá que assistia a cena de longe.
— E o café da manhã? Vamos para o café da manhã com a mamãe.
— Moranguinhos? — Ela perguntou, ficando interessada.
Sorrindo, assenti.
— Sim, Emma; você vai comer moranguinhos.
Eu estava apaixonado pela mãe, mas a filha roubou meu coração de
supetão. Olhando para às duas, às segui com o coração aos pulos. Essa era a
minha família, elas eram minhas e lutaria por elas.

Sofia dispensou Carina após o café da manhã, mesmo que eu quisesse


acertar o pagamento com a garota, fui desautorizado a participar de qualquer
acordo financeiro.
Sei que nesse momento ela só queria ficar perto de sua menina, mas
pretendia conversar com ela para ter ajuda fixa. Carina havia feito um bom
trabalho com Emma e a menina estava apegada, seria bom mantê-la como
babá da pequena, mas era um assunto para outro momento.
Nós brincamos juntos boa parte da manhã, almoçamos e Emma pulou
a soneca da tarde porque estava eufórica demais, querendo colo e atenção de
sua mãe.
Por volta das cinco pedi licença a todos e fui para o escritório, mesmo
que minhas férias durassem até a virada do ano, precisava responder dezenas
de e-mails, supervisionar o projeto da obra da sede em South Later, além de
outros projetos que a Luxton estava desenvolvendo.
Voltei a me encontrar com às minhas meninas após o jantar de Emma.
A essa altura a menina já estava sonolenta e iniciou um choro por nada.
Preocupado com o que estava acontecendo, Buddy ficou seguindo-as pela
sala enquanto Sofia ninava Emma, que se recusava a dormir.
— Ei, garoto. Ela está bem, só está cansada. — Buddy me encarou
sério, mas ignorou o que disse.
Continuou andando atrás de Sofia e quando minha esposa se sentou
no sofá com uma Emma quase adormecida em seus braços, o fiel escudeiro
da nossa menininha se deitou aos pés da minha mulher e ficou ali, vigiando
às duas.
— Você é um bom garoto, Buddy... — Sofia murmurou, acariciando
a cabeça do cão.
— Quer que eu a leve para cama? Deve estar cansada de segurá-la.
— Ela engordou — Sofia riu — o tempo passou tão rápido. Carina
disse que ela está pedindo para fazer xixi, mas ainda se atrapalha com o
número dois.
— Ela é muito esperta, e linda como você.
— Sabe usar bem suas palavras, marido...
— É mais que palavras, é a verdade. Você é linda, Sofia. Tão linda
que não consigo parar de olhar...
O rosto bonito corou em minha direção.
Meu ego ficava satisfeito com sua entrega.
Querendo disfarçar, aceitou que levasse Emma para o quarto. A
garotinha se aconchegou no meu braço, me agarrando pela gola da camisa
como se dissesse que não iria para lugar nenhum sem mim.
Acariciei o rostinho de anjo e beijei seus cabelos cheirosos, ela
lembrava sua mãe. Com a mesma tonalidade nos cabelos, o rostinho redondo,
nariz arrebitado e os olhinhos amendoados. Uma mini versão de Sofia.
De repente, quis que fosse verdade... Que minha mãe tivesse razão
quando fez todas às sugestões para que Emma me chamasse de papai, mesmo
que eu a pedisse para não a incentivar e visse o olhar preocupado em Sofia.
Queria dizer que não estava aqui para enganá-la, tampouco confundir a
cabecinha de sua bebê.
Minha esposa abriu a porta do quarto com tema de borboletas
coloridas. Em tons de rosa, azul bebê, violeta e um amarelinho claro. Ficou
tão meigo, combinou perfeitamente com a bebê dócil que Emma era.
A coloquei em seu bercinho, sentindo sua mãozinha presa na minha
gola e com delicadeza, abri seus dedinhos e ela se aninhou no conforto da sua
cama. Puxei a coberta para cobrir seu corpo, já vestida em seu pijama e com
meias que ela tentou tirar enquanto resistia em dormir.
— Acho que ela roubou meu coração. — Sussurrei, observando a
menininha dormir.
Sofia riu ao meu lado, colocando sua mão sob a minha. Trocamos um
olhar intenso, como àqueles que dávamos antes de finalmente cedermos a
paixão irresistível que nasceu entre nós.
— Quero tentar de verdade, Sofia... — digo. Seus dedos tremem sob
os meus.
— Você não sabe o que está dizendo.
Soltando-me, vai caminhando para a saída e eu a sigo depois de ligar
a babá eletrônica e trazer comigo. Sofia parece surpresa quando vê que me
lembrei, mas o sistema instalado pertence a Luxton e jamais esqueceria de
algo importante assim.
— Quero ser seu marido de verdade e mais que isso, quero te ajudar a
cuidar da princesinha dormindo no quarto de borboletas.
Agora estamos em nosso próprio quarto.
Sofia abraça seus ombros, mas fica de costas para mim e para em
direção a janela, lá fora está escuro. A neve deu um tempo, mas continua bem
feio. Nem tão cedo veremos o sol novamente.
— “Viva sua mentira até que ela seja a sua verdade”.
Seu timbre era doloroso.
Puxando-a com delicadeza, virei seu rosto em minha direção,
segurando-a entre minhas mãos.
— Eu me apaixonei por você. Não foi nada programado, mas foi
impossível resistir. Conhecer você... Viver com você... Ter você. Isso é bem
mais que esperava e estou ainda surpreso, mas quero você Sofia, sou um
homem determinado a conquistar a mulher que me conquistou. Demore o
tempo que for, não vou desistir nem por um segundo, me recuso a ser àquele
que vai jogar a família que ganhei fora. Quero você e quero Emma, quero ser
o pai dela, se você me permitir...
— Octor...
Com medo de ouvir sua resposta, fiz somente o que minha mente
egoísta ordenou, colei nossos lábios em busca do nosso contato íntimo. Quis
provar para Sofia o quanto éramos bons juntos, como nosso corpo se
procurava, combinava e retribuía na mesma emoção. Mostrar nossa
capacidade de encaixarmos tão bem, que era mais que foder, era fazer amor
com quem se ama.
Sofia me cedeu seus beijos de boa vontade, a boca gostosa mostrando
que sentiu falta da minha. Seus gemidos nada contidos mostrando que
estavam afoitos pelos meus. Suas mãos que enroscaram em meus cabelos.
Puxando pelas ancas, caminhei meio trôpego até a cama, me sentindo
flutuando. Sabia exatamente o que precisava.
— Quero fazer amor com a minha esposa. Você é minha, baby?
Com os olhos brilharam de tesão, Sofia mordeu os lábios, puxando-
me pelo colarinho. Raspou seus lábios nos meus, seus olhos fixados em me
encarar.
— Eu sou sua, mas você também é meu, Octor Luxton.
— Para sempre, Sofia Luxton.
E então, ela me beijou.
Capítulo 31
Sofia
Dias Depois
Noite de Ano Novo

Com uma taça de vinho entre os dedos, roupas quentes e nada bonitas
para uma noite de virada do ano, observo a cena atípica a minha frente.
Esse deveria ser um momento nosso, mas quando o relógio soou meia
noite e a queima de fogos do lado de fora iniciou, Emma acordou assustada e
chorando muito. Nós estávamos jantando juntos – Octor e eu, já que sua mãe
havia retornado ontem à tarde para South Later, queria virar o ano ao lado do
marido e Liam não aceitou ficar conosco. Então, meu lindo marido
simplesmente informou que iria buscá-la.
Fiquei surpresa porque antes de ir, a mãe de Octor me olhou nos olhos
e disse algo que me deixou pensativa: “estou feliz que vocês finalmente
ficaram bem”, olhando para Octor, quis perguntar se contou a sua mãe que
não éramos um casal real e agora tentávamos ser, mas não quis dizer nada...
Nossa bolha mágica permaneceria intacta.
Caminhei para sala com meu vinho para aguardá-los, minha chorona
grudou no pescoço de Octor, ainda muito assustada, mas logo ficou
deslumbrada quando ele a levou até a janela e mostrou o motivo do barulho.
Buddy, que estava muito assustado também, permaneceu ao meu lado
e acariciei seus pelos, tentando acalmá-lo.
Em alguns estados a lei de fogos de artifício sem som já haviam sido
aprovadas, por que às pessoas não podiam ter o senso de coletividade?
Haviam bebês pequenos na vizinhança, assim como gestantes, idosos,
autistas, bichinhos de estimação, crianças sensíveis a explosões noturnas. Um
extenso grupo que deveria estar sofrendo como o senhor Buddy e minha
garotinha.
Octor foi doce, acariciou seus cabelos, secou suas lágrimas e beijou
sua têmpora. Emma deitou a cabecinha em seu peito, mas ficou olhando
atenta o brilho no céu. Eram bonitos, mas barulhentos e eu os detestava
demais para ir assistir, além de não querer atrapalhar o momento fofo entre
eles.
Sentei no sofá e Buddy sentou aos meus pés, me senti importante por
ele buscar conforto em mim ao invés de seguir atrás de Octor e sua melhor
amiga, a senhorita Emma.
Por volta da meia noite e meia os fogos diminuíram gradativamente,
sendo apenas um ou outro em espaço de tempo longo. Octor voltou para o
sofá, sorrindo em minha direção e perguntou se Emma queria montar legos
com ele.
Sim! Meia noite e lá vai fumaça e os dois estavam criando um castelo
de legos!
Ele a mimava tanto! Passou os dias a conhecendo, aprendendo a
preparar sua mamadeira, conhecendo seus horários e pela primeira vez,
ontem à noite, Emma teve uma história antes de dormir ao invés das suas
canções. Ela não deu muita bola para o livro, mas adorou às imitações que
Octor fazia para às vozes dos personagens.
Eu estava tão apaixonada que me perguntava se era possível amá-lo
ainda mais. Ele não era só incrível comigo, gentil, amoroso e um excelente
amante na cama. Ele adorava Emma, simplesmente dedicava seu tempo a ela
e não somente para me agradar.
Eu disse que iria pensar sobre sua proposta..., mas o que tinha para
pensar? Nunca encontraria alguém mais devotado que ele, mais entregue e
disposto a me aceitar com uma filha... Disposto a ser um pai para ela. Seria
egoísmo tirar dela a oportunidade de ser amada e protegida, porque era assim
que me sentia ao lado dele, querida, amada, protegida, admirada...
Seus olhos voltaram-se para mim, capturando meu momento de
admiração para os dois. Octor não sabia, mas estava se tornando um bom pai.
Ele tinha o instinto, a coragem e o bom coração.
— Quer vir montar os blocos, mamãe? — Ele sorriu com o convite.
Fiz que não com a cabeça, sorrindo de volta.
Era o momento deles e eu preferia assistir.
Buddy dormiu aos meus pés e Emma bocejou.
Era por volta das uma e vinte quando ela engatinhou no chão, subiu
no colo de Octor e deitou em seu peito. Sorrindo, meu lindo marido olhou
para mim e ficou envaidecido por ser a escolha do colinho para dormir.
— Não a critico, também escolheria você. Poderia me colocar para
dormir também, papai? — Ele riu. Suas bochechas ficaram vermelhas, mas
assentiu.
Caminhei com ele para cima, Buddy ficou dormindo no tapete
quentinho da sala. Emma estava em seu berço, protegida e aquecida. A babá
eletrônica ligada, com a câmera direcionada ao seu berço. Era avançada e
Octor colocou outras câmeras em ponto estratégico no quarto.
Ele era obcecado por segurança.
Havia dezenas deles do lado de fora, já fui alertada que se quisesse
sair, precisaria de um motorista e no mínimo dois seguranças me
acompanhariam. Se Emma estivesse junto, seria uma pequena força tarefa
com quatro seguranças. Questionei se aquilo era realmente necessário e Octor
disse um sim de forma firme, que não dava margem para contestar.
— Mais vinho ou dormir? — Perguntou quando saímos do quarto da
nossa menina.
— Fazer amor...
O sorriso malicioso que recebi me provou que essa era a melhor ideia.
Quando nos trancamos em nosso quarto, sua boca cobriu a minha com
rapidez em um beijo dominador. Octor nunca me dava muito espaço para
respirar ou pensar, ele me queria e provava isso com ímpeto. Meu querer por
ele era quase doloroso.
Sua ereção volumosa empurrou contra meu abdômen, quando me
suspendeu pela bunda e me jogou na cama, puxando minha calça para fora
com agilidade. Seus olhos não me abandonavam jamais.
Sua boca cobriu a pele nua da minha perna, beijando, mordendo e
lambendo cada pronto até minha lingerie branca. O sorriso comedor em seu
rosto mostrou que ele aprovou a peça pequena e safada dessa noite.
Diferente dos outros dias, ele não rasgou ou retirou, decidiu que me
comeria com ela. Me chupou por cima do tecido fino e transparente e eu
estava molhada para ele.
— Cheirosa e minha — suas promessas me deixavam enlouquecida.
Não queria esperar e puxei sua boca para a minha quando ameaçou
lamber meus peitos.
— Quero você agora, por favor.
— Você me tem, amor.
Doce e forte.
Adorava suas nuances.
Octor se livrou das roupas, se posicionou entre minhas pernas e ao
afastar minha calcinha, me deliciou com uma morte lenta. Penetrando aos
poucos, sentindo cada espaço seu preenchendo meu interior, adaptando-se as
minhas paredes molhadas que se apertavam em seu membro grosso.
— Você é tão gostosa, baby. Amo foder você.
— Então me fode forte! — Seu sorriso malicioso aprovou meu
pedido.
Octor começou a bombear contra mim num ritmo que me
enlouquecia, preenchendo cada canto, rebolando seus quadris para atingir o
colo do útero, causando um formigamento delicioso.
— Tão linda... Tão minha... Eu amo você, Sofia.
Seus olhos grudaram nos meus, não desviaram.
Meu coração batendo tão rápido, tão forte...
Era a primeira vez que ele dizia que me amava.
Meus olhos lacrimejaram e eu vi quando minha primeira lágrima caiu
junto a dele. Não era só pela emoção, o prazer era como uma morte lenta que
mexia com minhas emoções, juntamente com sua frase cheia de amor que me
penetrou a alma.
Envolvi seu rosto em minhas mãos, puxando-o em um beijo
apaixonado.
Octor aumentou o ritmo, gemendo em meus lábios, me abraçando
pela cintura enquanto eu o arranhava nas costas. Arfei em sua boca,
murmurando que queria gozar e ele fodeu com mais força.
Não nos desgrudamos, senti meu corpo explodir em particular
infinitas de prazer, meu corpo arqueou com força em sua direção e seus
lábios sugaram os meus em um beijo de tirar o fôlego.
Octor veio logo em seguida, senti quando seu pau inchou dentro de
mim, pulsando forte e liberando jatos precisos, longos e quentes.
Porra, isso era incrível. Ele fazia de um jeito incrível.
— Eu te amo — sussurrei quando sua testa colou na minha — e
aceito ser sua esposa para sempre.
O sorriso dele foi tão lindo que me fez chorar mais um pouquinho.
Octor encheu meu rosto com seus beijos, suas promessas de amor, sua
felicidade que me tirava de órbita. Meu coração acelerado batendo em meu
peito, a sensação de paz e pertencimento.
Não havia nenhum arrependimento.
Octor era meu, o lindo presente que recebi no Natal. O marido por
contrato que me amou sem que eu percebesse e que roubou o ar dos meus
pulmões, me condicionando a sua presença viciante.
Não havia escolhas para nós dois, já éramos um do outro antes de
percebermos.
Epílogo
Octor
1 Ano Depois

— Papai! A estrela!
Toda vez que ela me chamava assim meu coração errava uma batida.
Emma estava linda em seu vestido vermelho com pompons branco
aplicados na ponta e um gorro verde. Hoje ela é a secretária do Papai Noel e
do papai também. Passou o dia inteiro fiscalizando a decoração de Natal,
porque de acordo com seu perfeccionismo no auge de seus três anos de vida,
tudo precisa estar lindo ou o Papai Noel não viria.
Minha mini adulta estende seus bracinhos exigentes e eu a ergo,
contendo um sorriso divertido. Sei que Sofia está nos olhando de longe,
porque quando estico meus braços para que Emma conserte a estrela no topo
da nossa árvore de Natal, uma risada gostosa preenche nossa sala em South
Later.
— Agora tá lindo! — Minha garotinha dispara.
— Agora ficou perfeito, amor. Muito obrigado, o que eu faria sem sua
ajuda, filha?
Ela adora elogios.
Meu peito enche de orgulho quando seus bracinhos pequenos rodeiam
meu pescoço num abraço apertado e ouço a frase que faz tudo valer a pena.
— Te amo, papai! — Um beijo estalado é depositado na minha
bochecha e recebo um daqueles sorrisos lindos que renovam meu dia.
— Também te amo, princesa. Agora vai brincar.
Ela sai correndo em disparada para seus brinquedos e penso que é
assim que quero conservá-la, nada me deixa mais feliz quando vejo minha
filha brincando com brinquedos reais. Adoro a forma como Sofia a criou sem
precisar mantê-la vidrada em tecnologia, deixando que Emma fosse uma
criança livre em contato com a natureza e é assim que continuaremos a cria-
la, agora juntos.
Ter o prazer de dividir a vida com a senhora Luxton não tem preço.
Nunca poderia dizer a ela o quanto sou grato pela família que recebi. Ano
passado, nessa mesma época, queria uma esposa de mentirinha para que não
pensassem que eu era um fracassado que ainda estava apaixonado pela ex.
Nunca esperei receber amor, confiança e companheirismo de volta. Nunca
pensei que pudesse ser tão feliz ao ter uma família, alguém para voltar e
dividir todos os momentos.
— Eu também te amo, papai! — Minha esposa brinca, caminhando
para meus braços.
Tê-la tão perto de mim me torna a porra do homem mais sortudo do
planeta. Não há nada nessa mulher que eu não ame com loucura, não sei
como é possível que todo dia eu me apaixone ainda mais por seu cheiro, ame
sua boca, a queira como um viciado que nunca se recuperará.
Em meus braços, beijo seus lábios e seguro em suas mãos para beijar
onde minha aliança enfeita seu dedo anelar. Não aquela aliança de
mentirinha, uma nova, ainda mais bonita e brilhante, para combinar com seus
olhos. Minha esposa merecia o mundo e eu me esforçava para dá-lo a ela
todos os dias.
— SOFIA, toque Best Part[vi]. — Comandei, ouvindo a melodia
iniciar nos aparelhos de som integrados ao sistema inteligente da casa —
dança comigo, esposa?
— Ainda não acredito que você deu mesmo meu nome para a
inteligência artificial...
— Tudo pelo seu sorriso lindo, esposa... E também pelas vendas,
óbvio... Todos querem comprar a esposa de Octor Luxton.
— Não revira os olhos, você deu meu nome a ela.
Impossível não rir.
Dar o nome de Sofia para minha nova criação causou um caos
midiático que não estava prevendo, a revelação do nosso casamento explodiu
em grandes proporções tornando SOFIA o produto mais vendido pela Luxton
Corporation em questão de minutos após sua estreia no mercado tecnológico,
o índice de vendas se manteve devido a eficiência do produto, mas é bom
frisar que minha equipe de estratégia e marketing não teve trabalho para
vender o produto, SOFIA vendia sozinha, pela sua eficiência e porque a
interface inicial era do rosto bonito que dormia ao meu lado.
— Me desculpe por ser um bastardo ciumento, baby. É mais forte que
eu.
— Perdoado, sempre.
Nós dançamos lentamente bem juntinhos nossa música favorita, com
nossa plateia favorita que aplaudiu quando se encerrou. Emma correu
querendo entrar na dança e minha esposa pediu que SOFIA tocasse canções
natalinas.
Eu amava minha família mais que tudo.
Com Emma em meus braços, dançamos os três até que nossa bolha
fosse explodida com a chegada do nosso primeiro convidado.
— Tio Liam! — E nossa garotinha espoleta correu para meu irmão.
Nossa relação estava progredindo, mas ainda estava longe de ser
como antes. Meu irmão passou por meses difíceis após a separação com...
você sabe bem quem, então decidiu que voltaria a viver em South Later,
desde então parece bem melhor, apesar de haver uma angustia profunda que
paira em seus olhos toda vez que me encara.
— Trouxe presentes, coelhinha! Venha ver.
Sufocado com os abraços e curiosidades de Emma, Liam apenas
acenou e lançou um sorriso animado. Distantes, observamos a festa da minha
garotinha pelos seus presentes de Natal.
— Aproveitando que ela está entretida com Liam, você pode me
acompanhar até o quarto? Queria te dar seu presente de Natal...
— Tão cedo, esposa? Você é uma insaciável...
— Pare com isso! — Gargalhei com sua reação a minha
brincadeirinha.
Sofia estapeou meus braços enquanto subíamos os degraus, me
repreendendo por sempre deixá-la embaraçada em público, mesmo que
ninguém ouvisse minhas provocações. Suas bochechas coradas eram sempre
um indicativo que seu marido estava sendo um provocador com palavras
inapropriadas para menores de dezoito.
Sofia estava ainda mais gostosa nas últimas semanas, com os seios
cheios e a bunda redonda que estava me enlouquecendo ultimamente. Ela
adorava minhas provocações, principalmente na cama, quando me dedicava
em explorar seu corpo inteiro, louco para me afundar em lugares ainda
inexplorados.
Como o viciado que eu era, assim que nós fechamos em nosso quarto
minha boca já estava na sua. Ávida, correspondeu meu beijo eloquente. Cobri
sua língua macia na minha, chupando gostoso e minha esposa gemeu na
minha boca, puxando meus cabelos recém-cortados sem nenhuma gentileza.
Nós fodemos de manhã no chuveiro e fizemos amor na cama, nunca
parecia o suficiente, mesmo que passasse o dia inteiro dentro do seu corpo.
Ter filhos significa que os horários são diversificados, além de privacidade
ser algo em extinção. A porta sempre ficava aberta, mamãe e papai sempre
dormiam de roupa, porque nossa filha mimada aparecia quando menos
esperávamos e se enfiava em nossas cobertas, chorando por um pesadelo ou
apenas querendo colo.
— Pare com isso, nossa família está chegando... — Seu pedido não
era bem um pedido, porque Sofia estava agarrada em meu pescoço, gemendo
abertamente quando minha língua sugava a pele gostosa de seu pescoço e
bebia seu perfume cheiroso.
— Preciso de você agora... Você me quer, baby?
— Quero você o tempo inteiro.
Adorava suas respostas sinceras.
— Então por que colocou uma roupa tão fechada? Porra amor, quero
chupar seus peitos.
Rolando na cama, minha esposa ficou de costas e desci o zíper do seu
vestido. Era bonito pra caralho, mas ela ficava ainda mais bonita sem ele.
O corpo lindo ficou exposto para mim.
— Vamos começar por essas costas lindas. Eu amo seu corpo, você é
tão gostosa, amor.
Cobri sua pele de beijos, querendo que sentisse todo meu amor. Seu
corpo merecia ser adorado como a deusa que ela é.
Sofia me entregava seus gemidos sôfregos, apertando o lençol da
cama, arfando sem controle.
— Eu amo tudo que você faz, mas só preciso de você dentro de mim.
Me fode, Octor. Não quero esperar.
Rindo, a virei de frente para mim.
Os olhos da minha esposa pegavam fogo quando suas mãos agarraram
minha nuca e nossos lábios se tocaram em um beijo selvagem.
Com pressa, sua mãozinha perigosa serpenteou pelo meu abdômen até
desafivelar meu cinto e abrir o botão da calça.
— Quero lamber você inteira.
— Não! Agora só quero você, depois você me lambe inteira.
Desfiz as calças com pressa, empurrando a boxer pela perna e
apressada em seu tesão, Sofia direcionou meu pau até a boceta encharcada.
Ela estava mesmo pronta para mim.
Nossa conexão era surreal.
Não havia ninguém no mundo como ela, para mim.
Dançamos juntos, no mesmo ritmo, desesperados pela sensação finita
de prazer que compartilhávamos. Nossas bocas se beijando sem pausa, suas
pernas enroscadas, presas com firmeza em minhas costas me dando a
liberdade de entrar sem reservas, arremetendo seus gemidos, roubando seu
prazer.
Sofia era meu ar, tudo de mim, mas adorava quando ela dizia que eu
também era o tudo dela.
— Eu te amo infinitamente... Vou gozar para você, amor... — Sua
entrega acelerava a minha.
— Porra, você é maravilhosa. Amo você, amor. Para sempre.
Nós gozamos juntos, em gritos contidos pelo beijo voraz que
trocamos. A onda de prazer que se perpetuava quando a boceta apertada
contraia, me prendendo dentro dela.
Exausto, rolei para seu lado e a puxei para meus braços. Amava nosso
sexo, mas os pós eram incríveis. Segurá-la em mim, sentir sua respiração
ofegante, beijar seus cabelos e jurar meu amor… tê-la era tudo para mim.
— O seu presente... — Ela lembrou dando uma risada.
— Você é meu presente de Natal, linda. Você e a Emma.
— Mas você nem sabe o que é...
Com um sorrisinho misterioso, ela se levantou do meu braço e correu
para o closet, coloquei os braços atrás da cabeça para admirar minha mulher
linda pra caralho desfilando nua pelo nosso quarto.
Sofia voltou com uma caixa pequena nas mãos e um sorriso lindo de
ansiedade.
Sentei-me, a recebendo em meus braços e segurando seu presente.
Beijei sua boca agradecendo, ela sempre me surpreendia com os presentes
mais inusitados que me emocionavam.
— Tenho certeza que vou amar — adiantei antes mesmo de abrir.
Mas nada me preparou para o que veria dentro da caixinha quadrada.
Bem acima, havia uma foto pequena de um ultrassom. Olhei para minha
esposa sentada ao meu lado, buscando confirmação para aquilo que eu
pensava e então os olhos dela bateram de volta na caixa.
Um par de sapatinhos miúdos e vermelhos estavam ao lado de um
teste de gravidez.
— Caralho, nós vamos ter outro bebê, amor? — Assentindo, minha
esposa derramou lágrimas quando a puxei para meus braços. — Vou ser pai
de novo! Porra... Baby, não pensei que pudesse ser mais feliz que já sou. Eu
amo tanto você, Sofia. Tanto! Nunca pensei que pudesse existir um amor
assim, nunca achei que fosse possível amar assim... Já sou feliz para caralho
sendo o pai da Emma e não acredito que teremos outro filho.
Sofia chorou um pouco mais, mesmo sorrindo e sequei suas lágrimas
com beijos. Odiava vê-la chorar, ainda que fosse de felicidade.
— Não existe no mundo um homem tão generoso como você, Octor...
É por isso que você é o amor da minha vida. Imaginei que ficaria feliz, mas
nunca pensei que fosse adicionar e não subtrair. Não sei porque achei que
você diria “serei pai” e não “serei pai outra vez”, como sou boba...
— Não é boba... Não fale assim, você sabe o quanto amo a Emma e
sou grato por me permitir ser o pai dela, por ter me permitido ocupar o
espaço na certidão de nascimento. Isso é muito importante para mim. —
Beijei seu rosto e segurei suas mãos. — Não estou acreditando que vamos ter
um bebê, amor. Você foi ao médico? Quantas semanas? Quero ir na próxima
consulta com você, meu Deus...
— Se acalma, vou contar tudo a você. Agora temos que descer, nossa
família está nos esperando.
Ainda rindo, a puxei para meus braços e deitei na cama. Estava feliz
demais, eles que esperassem um pouquinho até que eu soubesse de tudo e
assim desceríamos para compartilhar nossa felicidade.
No ano passado, estava sozinho, pensando que nunca teria uma
família. Sequer queria me envolver com alguém, tão amargo pelos danos
causados por terceiros... Agora eu tinha uma esposa linda, cheirosa e incrível,
que me deu uma filhinha que roubou meu coração e agora nós teríamos um
bebê juntos. Fruto do nosso amor.
Admirando os olhinhos apaixonados da minha esposa contando tudo
sobre como descobriu a gravidez e a consulta que teve há dois dias com seu
médico, pensei que nada mais pudesse me fazer feliz e logo descartei essa
hipótese, com Sofia essas possibilidades eram infinitas.
Definitivamente o Natal sempre seria uma data especial para nós dois.
FIM
Bônus
(Trilogia Irmãos Darrell – Livro 3)

AIDAN
— Você é lindo, todo cheio de tatuagens... — Ouvi o sussurro
embaixo de mim.
Essa era a hora que ela perguntaria o significado de cada uma, como
se toda tatuagem precisasse de um. Odiava essa pergunta, simplesmente
porque algumas não precisam ter significado e outras são pessoais demais
para serem traduzidas para a transa da noite.
— Quem é Rose? — Murmurou, dedilhando seu dedo na caligrafia
elegante marcada sob meu peito.
Por reflexo, olhei exatamente o ponto que contornou e pensei que
estava na hora de um retoque. Essa foi minha primeira tatuagem, fiz
escondido dos meus avós quando ainda tinha dezesseis. Passei meses de
camisa e sem entrar na piscina, mas nas férias de verão daquele ano fui
descoberto pelo meu irmão mais velho.
Não era uma das minhas lembranças preferidas, por isso não gostava
de falar sobre os significados das minhas tatuagens.
Segurei os dedos nervosos e encarei minha foda da noite. Susie?
Sunny? Sunset? Foda-se seu nome, o jeito atrevido me mostrou que esse seria
nosso primeiro e último encontro.
— E quanto à Liv? — Sorriu, puxando os dedos e apontando para o
nome desenhado na minha costela.
Franzi o cenho para o atrevimento, mas gentil o bastante para apenas
retirá-la do meu colo e sentar-me.
Porra, se não queria falar sobre Rose... De jeito nenhum falaria sobre
Liv. Aquela era minha aquisição mais recente e ainda estava dividido entre
arrependimento e tristeza toda vez que encarava o apelido marcado em minha
pele.
— Você faz muitas perguntas.
— E você não responde nenhuma. — Ela riu, imitando meus
movimentos também ficou de pé e apontou para frase no meu pescoço. —
Ame. Lute. Vença. Dessa eu gostei.
— Não as fiz para agradar a ninguém.
— Desculpa se fui indiscreta, adoro tatuagens e às suas me fascinam.
Você já vai?
Já deveria ter ido antes, penso.
Geralmente fico até de manhã e às vezes até repito, mas algo no olhar
dessa mulher me deixou enjoado quando questionou com quase deboche
sobre os nomes femininos marcados em minha pele. O que ela pensou?
Ninguém tatua o nome de alguém que não seja importante, de alguém que
não vá amar para sempre. Ao menos é assim que vejo.
Assinto, porque apesar disso não quero ser desagradável. Ela me
ofereceu um sexo mediano, mas não podia negar que era empenhada em fazer
da minha noite especial ou marcante.
Todas fazem, suspiro.
— Você vai me ligar?
Faço que sim com a cabeça, só não quero que esse momento seja mais
constrangedor que o necessário.
Amarro o cadarço do meu tênis, enfiando a camisa de qualquer jeito
pelos braços, buscando pelo meu celular, carteira e chaves do carro.
— Adorei nossa noite. Você tem meu telefone e sabe onde moro,
pode aparecer quando quiser.
— Obrigado. Também gostei.
Ela me acompanha até a porta e continua falando sobre como nós dois
fomos bons juntos e outras coisas que ignoro no caminho. Quando abre a
porta para mim, deixo que se debruce em meu peito e me dê um beijo
molhado.
Céus, ela não vai desgrudar.
— Preciso ir.
— Até breve.
Não espero que feche à porta, ignoro o elevador e sigo pelas escadas,
ansioso para fugir do seu campo de visão. Na descida, tiro meu celular do
bolso e bloqueio seu número. Geralmente aguardo uns dias para isso, mas
hoje definitivamente tenho certeza de que nunca mais quero vê-la.
Do lado de fora, consigo respirar de novo. Parecia que eu estava com
uma espada no pescoço, sendo interrogado pela máfia russa, quando na
verdade era só uma mulher que não conseguia conter sua curiosidade.
Abraçando minha costela, penso nela... Minha Liv. Essa noite quis
muito vê-la, talvez essa seja a justificativa de ter acabado na cama antes da
meia noite, com a primeira mulher semelhante a ela que encontrei. Quando vi
a aparência dos cabelos negros volumosos, a boca cheia e os olhos pequenos
repuxados que tanto lembravam a minha Liv, não resisti. Mas sua
personalidade intrometida nada tinha a ver com ela. Por vários momentos só
queria que a mulher fechasse a boca por alguns minutos e me deixasse
fantasiar em paz.
Eu era um bosta, sabia disso muito bem, mas há anos sei que essa é a
única forma de tê-la porque, de alguma maneira, consegui fazer com que a
morena dos meus sonhos me odiasse.
Cansado da procura incessante de alguém ou alguma coisa que me
fizesse esquecê-la, desisti de perambular pela noite e decidi ir para casa.
Amanhã inventaria alguma desculpa para ir até a Darrell somente para vê-la.
Dentro de mim a necessidade de ter seu rosto lindo sob minha visão crescia a
cada segundo junto com a certeza de que jamais haveria uma substituta
dentro do meu coração para Olívia Shelby.
Obras da Autora

(O homem de Ouro – Trilogia Irmãos Darrell – Livro 1)


(O herdeiro do Bilionário – Trilogia Irmãos Darrell – Livro 2)
(À Sua Mercê – Série Reflexo – Livro 1)
Esposa Contratada Para O Natal – Série Magnatas de Seattle –
Livro 1
(Livro 3 Irmãos Darrell: janeiro/2022)
[i]
Um dos melhores amigos do Octor, Dominic aparece nos livros da Trilogia Irmãos
Darrell e em breve terá seu próprio livro.
[ii]
Cidade fictícia criada especialmente para dar vida a este livro.
[iii]
Jornalista de tabloide, citada em outros livros.
[iv]
Esse personagem foi nomeado pela primeira vez no livro O herdeiro do Bilionário, e
terá seu próprio livro em breve.
[v]
Um dos amigos pessoais de Octor, um russo prepotente que sempre está disposto a tudo
pelo o que deseja.
[vi]
Canção de Daniel Caesar feat H.E.R.

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