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§ Sil A contradigao, de todos os lados, que exprime este dever-ser multiforme — 0 ser absoluto, que contudo ao mesmo tempo nao € —contém a mais abstrata andlise do espirito nele mesmo, seu mais profundo adentrar-se cm si das determinagées contraditérias € apenas a certeza abstrata de si mesmo, e, para essa infinitude da subjetividade, a vontade universal, 0 bem, direito ¢ dever tanto so como nio sao; é ela que se sabe como o que escolhe e 0 que decide. Essa pura certeza de si mesmo, que se coloca em seu ‘ipice, aparece nas duas formas que passam imediatamente uma para a outra: a forma da consciéucia [moral] ¢ a do mal. A primeira € a vontade do dem, a qual, no entanto, nessa subjctividade pura € 0 ndo-objetivo, 0 nio-universal, 0 indizivel; € sobre cla que 0 sujeito se sabe decidindo em sua singularidade. Mas 0 mal é esse mesmo saber de sua singularidade como o que decide, na medida ‘em que nio fica nessa abstrago, porém se dé, em contraste com © bem, 0 contetido de um interesse subjetivo. § 512 Esse dpice supremo do fexdmeno da vontade, que se evaporou na mais absoluta vaidade — um “ser-bom” néo-objetivo, mas so- mente certo de si mesmo, € uma certeza de si mesmo na nulidade do universal —, desmorona imediatamente em si. O mal, enquanto € a mais intima reflexdo sobre si da subjetividade em contraste com 0 objetivo € universal, que para ela € aparéncia apenas, é 0 mesmo que 0 dom sentimento do bem abstrato, que reserva para a subjetividade a determinagio desse bem — 0 parecer totalmente abstrato, o imediato perverter aniquilar de si mesmo. O resulta- do, a verdade desse parecer, 6, segundo 0 seu lado negativo, a absoluca nulidade desse querer, que & para si em contraste com 0 bem, como € também a absoluta nulidade desse bem, que deve ser apenas abstrato; segundo o lado afirmativo no conccito, esse pare- cer, que colapsa em si mesmo, é a mesma universalidade simples do querer, que é o Bem. A subjetividade, nessa idensidade sua com © bem, é somente a forma infinita, sua ativagio e desenvolvimento: assim se abandona o ponto de vista da simples relagda reciproca dos dois momentos, ¢ do dever-ser, e se passa a eticidade, Nee oA Paw Equiprint 1CH pe | TG Prof. ao A Peixoto Quant.| 9 & A ETICIDADE § 513 A eticidade € a plena realizagio do espirito objetivo, a verdade do espirito subjetivo ¢ do espirito objetivo mesmos. A unilaterali- dade do espirito objetivo é, por uma parte, ter sua liberdade ime- diatamente na realidade, portanto no exterior, na Coisa; por outra parte, no bem, enquanco é um universal abstrato. A unilateralidade do espirico subjetivo € ser autodeterminando-se em sua singulari- dade interior, de maneira igualmente abstrata, em oposigéo 20 universal. Ao serem suprassumidas essas unilateralidades, entao a Liberdade subjctiva é como vontade racional universal em si e para si, que tem na consciéncia da subjetividade singular seu saber sobre si mesma e a disposigdo, assim como tem ao mesmo tempo sua ativagio e sferividade imediata universal, como costume [ethos]: [é] a liberdade consciente-de-si, que se tornou naturesa. § 514 A substancia que se sabe livre, em que 0 dever-ser absoluto € igualmente ser, tem efetividade como espirito de um povo. A divi- so abstrata desse espirito é a singularizacio em pessoas, de cuja gar auconomia é ele a poténcia ¢ a necessidade [Notw.] interiores. Mas a pessoa sabe, enquanto inteligéncia pensante, aquela substincia como sua propria esséncia, € nessa disposigdo deixa de ser acidente dela: tem intuiggo dela como seu fim tiltimo na efetividade, mas também como aquém atingide, assim como 0 produs por sua ativida- de, porém como algo que, pelo contrério, é pura e simplesmente. Assim leva a termo, sem @ reflexio que escolhe, seu dever como 0 sew, € como 0 essente, € nessa necessidade [Notw.] a pessoa tem a si mesma, a sua liberdade efetiva. § 515 Porque a substincia é a unidade absoluta da singularidade ¢ da universalidade da liberdade, é assim a getividade © a atividade de todo 0 Singular, [que consiste] em ser e cuidar para si, {0 que] ests condicionado tanto pelo Todo pressuposto em cuja conexio, so- mente, existe; quanto também por uma passagem para um produto universal. A disposigdo dos individuos é 0 saber da substincia e da identidade de todos os seus interesses com o todo, € [o fato de] que os outros Singulares nao se sabem reciprocamente s6 nessa identidade © sto efetivos, é a confianga — a disposigio interior verdadeira, ética. § 516 Os relacionamentos do Singular nas relagdes em que a substan- cia se particulariza constituem os deveres éticos. A personalidade ética, isto €, a subjetividade que é penetrada pela vida substancial, 6a virtude, Em relagio a imediatez. exterior, a um destino, a virtude € um relacionar-se com o ser como algo nao negativo, ¢ assim re- pousar tranqiilamente em si mesmo; em relagio & objetividade substancial — 0 todo da efetividade ética — a virtude é, enquanto confianga, agir intencional para com a mesma, ¢ capacidade de sacrificar-se por ela. Em relagdo & contingéncia das relagées para com 05 outros, a virtude & primeiro justiga © depois inclinagao benévola; nessa esfera, assim como em relagao a sua propria exis- téncia e corporeidade, a individualidade exprime seu carter, seu temperamento ete., como virtudes. § 517 A substancia ética é: a) enquanto espirito imediato ou natural — a familia; b) a totalidade relativa das relagdes relativas dos individuos uns com 0s outros, enquanto pessoas auténomas em uma universalidade formal — a sociedade civil; ©) a substancia consciente-de-si, enquanto espirito desenvolvido em uma efetividade orginica — a constituigao do Estado. a—A familia § 518 O espirito ético, enquanto em sua imediates, contém o momen- to natural de que 0 individuo tem, em sua universalidade natural, no género, seu scr-at substancial — a relago dos sexos, mas elevada a uma determinagio espiriual; — a unio do amor e da disposigio da confianga; — 0 espirito, enquanto familia, € espirito que-senie. § 519 1) A diferenga dos sexos naturais aparece igualmente, 20 mes mo tempo, como uma diferenca da determinagio intclectual e ca, Aqui as personalidades se unem, segundo sua singularidade exclusiva, em ama s6 pessoa: 2 intimidade subjetiva, determinada em unidade substancial, faz dessa uniio uma relagio étiaa — 0 matrimonio. A intimidade substancial faz. do matriménio um vincu- lo indiviso de pessoas — um matriménio monogdmico —; a unio corporal € conseqiiéncia do vinculo estabelecido eticamente. A conseqiiéncia ulterior é a comunidade dos interesses pessoais © particulares, § 520 2) A propriedade a familia como uma s6 pessoa — ¢ assim também a aquisigao, 0 trabalho © @ previdéncia — recebem um interesse éico, por meio da comunidade, em relagio a qual estao igualmente os diversos individuos que constituem a familia. § 521 A eticidade — ligada com a procriagao natural dos filhos, posta inicialmente como originéria (§ 519) na conclusdo do matriménio — realiza-se no segundo nascimento dos filhos: na educagao que faz deles pessoas anrénomas. § 522 3) Por essa autonomia, as criangas saem da vitalidade conereta da familia a que originariamence pertencem; vieram a ser para si, porém destinadas a fundar uma nova familia efetiva como essa. O matriménio vai essencialmente & dissolugdo, pelo momento natu- ral que esté contido nele, pela morte dos esposos; mas também a intimidade, como substancialidade que apenas sente, esté subme- tida, em si, a0 acaso € A caducidade. Segundo essa contingéncia, encontram-se os membros da fam{lia, uns para com os outros, na relagdo de pessoas; ¢ s6 assim as determinagdes juridicas — 0 que € em si alheio a esse lago — entram nela. b — A sociedade civil § 523 A substincia, enquanto espirito, particulariza-se abstratamente em muitas pessoas (a familia é uma pessoa somente), em familias ou em Singulares, que em uma liberdade auténoma, € enquanto par- ticulares, so para si; cla perde, primeiro, sua determinagio ética enquanto esas pessoas, como tais, no tém em sua consciéncia e por [sua] meta a unidade absoluta, mas sua prépria particularidade € seu ser-para-si: [é] 0 sistema da atomistica. Dessa mancira, a substiincia vem a ser apenas uma conexio universal, mediatizante, de extremos autOnomos ¢ de seus interesses particulares; a totali- dade, desenvolvida em si mesma, dessa conexio € o Estado en- quanto sociedade civil, ou enquanto Estado exterior. 1°) O sistema das necessidades (Beditrfnisse] § 524 1 —A particularidade das pessoas compreende antes de tudo ‘om si mesma suas necessidades. A possibilidade da satisfagao delas poe-se aqui na conexio social que € a rigqueza universal, da qual todos obtém sua satisfagio. A apropriacao imediata (§ 488) de ob- jetos externos, como de meio para isso, no encontra lugar, ou quase no encontra, na situag#o em que esse ponto de vista da mediagdo esta realizado: os objetos sto propriedade. Sua aquisigao € condicionada ¢ mediatizada, de um lado, pela vontade dos pos- suidores, que, como vontade particular, tem por fim, condiciona e intermedeia a satisfagdo das necessidades [Bediirfnisse] diversa- mente determinadas, assim como, de outro lado, pela sempre reno- vada produgio, através do préprio trabalho, dos meios que se tro- cam: essa mediagio da satisfagio pelo trabalho de todos constitu a riqueza universal. $ 525 2—Na particularidade das necessidades [Bedtirfnisse], a uni- versalidade aparece antes de tudo, de modo que 0 entendimento [as] diferencia nelas ¢ assim reproduz a elas mesmas, como tam- bém os meios para essas diferengas, e torna uns ¢ outros sempre mais abstratos; essa singularizago do contetido pela abstragao dé a divisao do trabalho. O habito dessa abstragao no gozo, conhecimen- to, saber ¢ conduta, constitui a cu/tura nessa esfera: a cultura formal, de modo geral, § 526 trabalho, que por isso € a0 mesmo tempo mais abstrato, ‘conduz de um lado, por sua uniformidade, & facilitagéo do trabalho ¢ a0 aumento da produgao; de outro lado, 8 limitago a uma habi- lidade tnica, ¢ assim a dependéncia mais incondicionada em rela- 40 & conexio social. A habilidade mesma torna-se, dessa mancira, mecinica ¢ recebe a capacidade de deixar a miquina tomar o lugar do trabalho humeno. § 527 3. — Mas [o que] faz @ diferenga dos estamentos (é] a divisio concreta da riqueza universal (que é também uma tarefa universal) entre as massas particulares determinadas segundo os momentos do conceito, as quais possuem uma base peculiar de subsisténcia; ¢, em conexo com isso, so 0s modos correspondentes do trabalho, de necessidades ¢ de meios para sua satisfagio, além disso, de fins ¢ interesses, como também da cultura ¢ habito do espirito. Nesses estamentos se repartem os individuos conforme o talento natural, 4 habilidade, arbitri, acaso ete. Pertencendo @ tal esfera fixa, de- terminada, cém eles sua existéncia efetiva, que como existéncia € essencialmente particular, e nela tém sua eficidade enquanto reti- dao, seu ser-reconhecido ¢ sua honra. Onde esté presente sociedade civil, ¢ por isso Estado, apare- cem os estamentos em sua diferenga, pois a substéncia uni- versal s6 existe como viva na medida em que se particulariza organicamente: a histéria das Constituigdes € a historia do desenvolvimento desses escamentos das relagées juridicas dos individuos para com eles, € desses estamentos uns para com 0s outros, € para com o seu centro. § 528 O [primeiro] estamento, substancial, natural, tem no solo e cdo fértil uma riqueza natural e fixa; sua atividade recebe sua diregdo € seu contetido mediante as determinagées naturais, ¢ sua cticidade se funda sobre a f& € a confianga. O segundo estamento, 0 (que é] rifletido, € assignado A riqueza da socicdade, a0 clemento colocado na mediagao, na representagdo ¢ em um conjunto de contingénci as; ¢ 0 individuo assignado A sua habilidade, talento, entendi- mento, e zelo subjetivos. O serceiro estamento, o [que é] pensante, tem por tarefa sua of interesses universais; como 0 segundo estado, tem uma subsisténcia mediatizada pela habilidade propria, ¢ como 0 primeiro, porém, uma subsisténcia garantida pelo todo da sociedade. 2°) A administragto da justiga $529 © prinefpio da particularidade contingente, desenvolvido até [ser] um sistema mediatizado pela necessidade natural ¢ pelo livre~ -arbitrio, até [ser] relagdes universais desse sistema, ¢ um curso de necessidade [Notw.] exterior, tem nele — enquanto é a determi- nagao, fixa para si mesma, da liberdade — em primeiro lugar 0 direito formal. 1) A efetivagao que compete ao direito, nessa esfera da consciéncia do entendimento, € que ele seja, enquanto univer- sal fixo, levado a consciéncia, sabido e posto em sua determinidade, como 0 que tem vigéncia: [é] a ki. O positive das leis concerne somente @ sua forma de serem como vigentes e sabidas, em geral; com isso dé-se a possibili- dade, a0 mesmo tempo, de que sejam sabidas por fodes da maneira exterior costumcira. O contetido pode ser, no caso, racional em si; ou entéo irracional, e por isso injusto, Mas enquanto 0 direito, como compreendido no ser-ai determina- do, € um dircito desenvolvido e o seu contetido se analisa para ganhar determinidade, essa andlise recai, por causa da finitude do material, no progresso da ma infinitude: a determinidade conclusiva que € absobutamente essencial ¢ interrompe esse progresso da inefetividade s6 pode ser obti- da, nessa esfera do finito, de uma maneira ligada com contin- géncia ¢ arbitrio: se o justo seriam 3 anos, 10 téleres etc., ou somente 2 anos ¢ meio, ou 2 ou 248 etc., © assim por diante, até 0 infinito, nao se deixa decidir de maneira alguma pelo conceito, ¢, de fato, o mais importante é que se decida, Assim, © positivo entra em cena no direito como contingéncia arbitrariedade, por si mesmo, mas 36 no fermo do determinar, no lado do ser-af exterior. E 0 que acontece, ¢ 0 que de si mesmo aconteceu desde sempre em todas as legislagdes; 86 € preciso ter ali uma consciéncia determinada contra o fim Suposto € 0 falatério, conforme os quais, segundo fodos os aspectos, a lei pode © deve ser determinada pela razio ou entendimento juridico, por motivos meramente racionais ou do cntendimento. E a idéia vazia de perfeigdo, criar tal expec- tativa ou exigéncia na esfera do finito. AAs pessoas para as quais as Icis so na verdade um mal e uma impiedade, e que tém como estado-de-coisas auténtico o governar ¢ 0 ser-governado por amor natural, pela divindade ou pela nobreza hereditétias, mediante a f€ c 2 confianga; mas [que tém] o dominio das leis por um estado-de-coisas Perverso ¢ injusto, [ que] desconhecem o fato de que a constelagZo como a manada so governadas, e na verdade bem governadas, conforme leis. Porém tais leis, nesses obje- t03, so apenas interiores, nao pare si mesmas, nao sao leis como leis posias [Gesetze gesetze]. Ao contrario, 0 homem é isto: saber sua leis ¢ por isso 86 pode obedecer verdadcira- mente uma lei tal que é sabida; assim como sua Ici, s6 en- quanto € sabida, pode ser uma lei justa, embora jé segundo © contetido essencial deva ser contingéncia e arbitrio; ou, a0 menos, mesclada ou polufda por eles. A mesma exigéncia da perfeigao vazia é utilizada para o con- trério do acima [exposto}, a saber, para [sustentar] a opinizo da impossibilidade ou inexeqilibilidade de um e6digo de Icis. Aj entra em cena mais um erro de pensamento, [que é] pér em uma sé classe tanto as determinagées essenciais e univer- sais, como o pormenor particular, O material finito é detcrmin4vel progressivamente no mau infinito; mas essa progressao nao é, como se representa por exemplo no espaco, um engendrar de determinagGes espaciais, da mesma quali- dade que os precedentes, ¢ sim um ir em frente cm algo mais especial ¢ cada vez mais especial, mediante a penetra- 0 do entendimento analitico que descobre novas diferen- ciagdes, que fazem necessérias novas decisies, Se as deter- minagdes dessa espécie recebem igualmente o nome de 1o- vas decisdes ou de novas /eis, entdo, relativamente ao avangar desse desenvolvimento, decresce 0 interesse e 0 contelido des- sas determinagdes, Blas recaem no interior de leis j4 subsistentes, substanciais, universais, como melhorias em um chao, nas portas etc., no interior da casa, ¢, ainda que sejam algo novo, néo sé0_ uma casa. Se a legislacio de um estado inculto comegou por determinagGes singulares as aumentou sempre, segundo a sua natureza, ento'no aumento progres- sivo dessa multiddo nasce, a0 contririo, a necessidade (Bedirfnis] de. um cédigo mais simples, isto é da reuniao daquela multidao de singulari universais, [sintese] que convém ao entendimento e a cultura de um povo encontrar e saber exprimir: como na Inglaterra essa apreensio de singularidades em formas universais — que em realidade merecem unicamente’o nome de leis — foi comegada ha pouco, segundo alguns aspectos, pelo minis- tro Peel*, que por isso ganhou o agradecimento © mesmo a admiragao de seus concidadios. § 530 2) A forma positiva das leis, de serem expressas e promulgadas como leis, € condigo da obrigatoriedade exterior em relagao a elas, enquanto como Icis do direito estrito s6 dizem respeito a vontade abstrata (isto é, cla mesma, cm si, exterior), nfo a vontade moral ou ética. A subjetividade 4 qual tem direito essa vontade segundo este lado, é aqui somente o ser notério fessas leis]. Esse ser-af subjetivo, como ser-ai do esscntc-em-si-e-para-si nessa esfera, do direito, é a0 mesmo tempo um ser-af exteriormente objetivo, como validez ¢ necessidade [Notw.] universal. juridico da propriedade, e das agdes-privadas sobre ela, recebe, segundo a determinagio que o juridico seja algo posto, reconhecido ¢ por isso vilido, mediante as formalidades, sua garantia universal. § 531 3) A necessidade [Notw.] A qual se determina o scr-af objetivo, obtém-na 0 juridico na administragdo da justica. O dircito-em-si tom de apresentar-se ao sribunal — ao direito individualizado — como demonstrado; ¢ ai 0 direito-em-si pode ser diferente do demonstré- vel. O tribunal conhece ¢ age no interesse do direito como tal, retira-the da exist@ncia sua contingéncia, ¢, especialmente, muda essa exist@ncia, tal qual ela € enquanto vinganga, em pena (§ 500). A comparacio das duas espécies, ou melhor, momentos, da convicedo do juiz a respeito do corpo-de-delito de uma acao em relagao a0 réu, por meio das simples circunstincias ¢ dos testemunhos de outros, unicamente; ou a partir da anexacio, ida além disso, da confissao do réu, constitui o principal na questdo sobre o assim chamado sribunal do juri. Ee uma determinagio essencial que as duas partes constitutivas de * Sir Robert Pee, Ministro do Interior (de 1821 a 1827), procedeu a reforma da lei penal inglesa. uma instrugio judicidria — 0 juizo sobre 0 corpo ae delito © 0 juizo como aplicagao da lei 0 mesmo — por serem em si lados diversos sejam também exercidas por funjles diversas. Pela ins- tituigdo mencionada, s4o até mesmo repartidas a colégios qua- lificados diversamente, um dos quais, expressamente, nao deve consistir em individuos que pertencam ao ramo dos juizes ofi- ciais. Conduzir essa diversidade de fungbes até a essa separagao nos tribunais, repousa mais em consideragées extra-essenciais: © principal permanece somente 0 exercicio separado desses lados, em si diversos. O mais importante é se, da confissao do réu de um crime, se ha de fazer, ou no, a condigao de uma sentenca penal. A instituigo do tribunal do juiri abstrai dessa condigao. O que importa € que a certeza nesse campo € totalmente inseparivel da verdade. a confissfo, no entanto, deve ser vista como ponto mais alto do comencimento, que segundo sua natureza € subjetivo; por isso a decisto ultima dele depende; esse ponto tem, pois, 0 acusado um direito absoluto a que a Prova seja conclusiva ¢ que convenea os juizes. Incompleto & esse momento por ser unt momento apenas; mais incompleto ainda € 0 outro momento, tomado também abstratamente, de estabelecer provas a partir de meras circunstncias ¢ indicios; e 0s jurados so essencialmente juizes, e pronunciam um julga- mento. Enquanto sdo remetidos [os jurados] a tais provas obje- tivas — mas ao mesmo tempo admite-se a certeza incompleta, na medida em que esté somente neles —, 0 tribunal do jri comporta a mistura e a confusio (pertencentes a tempos pro- Priamente barbaros) de provas objetivas e de uma convicgio subjetiva, assim chamada, “moral”. fécil declarar [as] penas extraordindrias como um contra-senso, ¢ melhor, é demasiado superficial ficar chocado com seu simples nome. Segundo a Coisa, essa determinagdo contém a diferenga do aduzir a prova objetiva, com 0 momento ou sem o momento daquele conven- cimento absoluto, que reside na confissio [do réu). § 532 A administragio da justiga tem a determinagio de ativar em necessidade [Notw.] somente o lado abstrato da liberdade da pes- ae soa na socicdade civil. Mas essa ativagio repousa, antes de tudo, na subjetividade particular do juiz, nao estando ainda presente aqui a unidade necessdria dessa mesma subjetividade com o dircito-em- -si. Inversamente, a necessidade [Notw.] cega do sistema das ne cessidades [Bediirfnisse] nao se elevou ainda a consciéncia da uni- versal, nem se ativou ainda a partir dela. SYA policia e a corporagdo § 533 A administragio da justiga exclui dela mesma o que nas ages € interesses s6 pertence particularidade, e abandona a contingén- cia tanto a ocorréncia de crimes como a consideragio do bem-estar. Na sociedade civil, a meta € a satisfagio da necessidade [Bedtirfnis}, € na verdade, ao mesmo tempo, tratando-se de necessidade huma- na, satisfazé-la de uma maneira universal segura; isto €, a garantia dessa satisfagdo. Mas na mecinica da necessidade [Notw.] da so- ciedade est presente, da maneira mais multiforme, a contingéncia dessa satisfagdo, tanto a respeito da variabilidade das necessidades mesmas [Bedtirfnissc], em que a opiniio ¢ 0 capricho subjerivo tém grande parte, quanto por meio das localidades, das conexdes de um povo com outro, por erros € ilusdes que se podem introduzir nas partes singulares do mecanismo todo, e so capazes de leva-lo A desordem, como também particularmente pela capacidade condi cionada do Singular, de tirar proveito para si dessa riqueza univer- sal. O curso dessa necessidade [Notw.] abandona as particularida- des pelas quais é produzido, ao mesmo tempo também nao conteem para si o fim afirmativo da garantia da satisfagio dos Singulares, mas Pode, em vista dessa satisfacdo, tanto lhe ser conforme como nao, € 6s Singulares aqui sdo para si mesmos o fim moralmente justificado. § 534 A consciéncia do fim essencial, 0 conhecimento do modo de ago das poténcias e dos ingredientes varidveis, de que se compe aquela necessidade [Notw.], ea fixagio daquele fim, nela ¢ contra cla, tém, de wma part, com o concreto da sociedade civil, a rclagao de uma universalidade exterior; essa ordem enquanto poténcia ati va, € 0 Estado exterior, que enquanto se enrafza no que hé de superior, no Estado substancial, aparece como polfcia-do-Estado. Por outro lado, 0 fim da universalidade substancial de sua ativagao fica limitado nessa esfera da particularidade a tarefa de ramos inreresses particulares: [6] a conporagzo em que 0 cidadao particular encontra, como homem privado, a garantia de suas riquezas, assim como sai de seu interesse privado singular, ¢ tem uma atividade consciente para um fim relativamente universal, assim como tem sua eticidade nos deveres juridicos ¢ estamentais. C — O estado § 535 ética consciente-de-si, a unio dos prin- cfpios da familia c da sociedade civil; a mesma unidade que na familia esta como sentimento do amor é sua esséncia; mas que, a0 mesmo tempo, mediante 0 segundo principio, do querer que-sabe € por si mesmo atua, recebe a forma de universalidade [que é] sabida; esta, como suas determinagdes que se desenvolvem no sa- ber, tem, para 0 contetido e fim absoluto, a suBjetividade que-sabe, isto é, quer para si mesma esse racional, § 536 O Estado € 1) primeiro, sua, configuragao interior enquanto desenvolvimento que sc refere a si mesmo: 0 Direite politico inter- no, ou a Constituigao. 2) & {um} individuo particular, e assim em relagdo com outros individuos particulares, 0 direito politico externo: 3) mas esses espiritos particulares sio apenas momentos no de- senvolvimento da idéia universal do espirio em sua efetividade: [6] a Aist6ria mundial. 1’) — Direito politico interno § 537 A esséncia do estado é 0 universal em si ¢ para si, 0 racional da vontade; mas enquanto € sabendo-se ¢ atuando € pura e simples mente subjetividade, e enquanto efetividade 6 wm s6 individuo. Sua obra em geral consiste, em relagio ao extremo da singularids- de, enquanto é a massa dos individuos, na dupla [tarefal: [a] de unta parte, conservi-los como pessoas, € assim fazer do direito uma efetividade necessdria ¢, cm scguida, promover o scu dem, do qual cada um toma, primeiro, cuidado por si mesmo, mas que tem um lado absolutamente universal, de proteger a familia e a sociedade ivil. (b] Mas, de ousra parte, reconduzir os dois [direito © bem pr6- prio dos individuos] — assim como toda a disposigao e atividade do singular enquanto se esforga por ser um centro para si mesmo — a vida da substincia universal, € nesse sentido, como livre potén- cia, causar prejuizo a essas esferas subordinadas a ela, ¢ conservé- -las em imanéncia substancial. § 538 As leis exprimem as determinagies-de-contetido da liberdade objetiva. 1) Primeiro, elas so limices para o sujeito imediato, [para] seu arbitrio auténomo c interesse particular. 2) Segundo: elas sio, porém, fim iltimo absoluto e a obra universal. Assim, sto produzi das por meio das fungies dos diversos estamentos — que a partir de sua particularizagao geral se singularizam ainda mais — ¢ por meio de toda a atividade e preocupagao privada dos Singulares. 3) Ter- ceiro, as leis so a substancia de seu querer, que af é livre, e de sua disposigao; € assim so expostas como costumes [ethos] vigentes. § 539 © Estado, como espirito vivo, absolutamente sé € como um todo organizado, distinto em atividades particulares, que, proce- dendo do conceito snico (embora nao sabido como coneeito) da vontade racional, produzem continuamente esse todo como scu resultado. A Coustituigdo & essa articulagto da poténcia do Estado, Contém as determinagées da maneira como a vontade racional, ‘enquanto nos individuos € somente emt sia vontade universal, pode, por um lado, chegar & consciéncia e & inteligéncia de si mesma, e ser enconirada, ¢ por outro lado, pela eficiéncia do governo e de seus ramos particulares, pode ser posta em efetividade e af preser- vada e protegida; tanto contra sua subjetividade contingente como contra a dos Singulares. E a justiga existente, enquanto € a efetividade da diberdade no desenvolvimento de todas as suas de- terminagdes racionais. Liberdade e igualdade sto as categorias simples nas quais com freqiiéncia se resumiu o que deveria constituir a determina- io fundamental, o fim tiltimo e o resultado da Constituigio. ‘Tanto isso é verdade, tanto mais hé 0 defeito de serem essas determinagées, antes de tudo, totalmente abstratas: fixadas nessa forma da abstragio, so clas que nao deixam realizar -se ou que estorvam 0 conereto, isto é uma Constiruigdo ou governo em geral. Com o Estado, entra em cena [a] desigual- dade: a diferenga entre poderes governantes € 0s governa- dos, as autoridades, magistraturas, presidéncias etc. O princi pio conseqiiente da igualdade rejeita todas as diferengas, € assim nfo deixa subsistir nenhuma espécie de ordenamento estatal. Essas determinagGes, sem diivida, so as bases dessa esfera; mas, enquanto sio as mais abstratas, so também as mais superficiais, c justamente por isso, facilmente, as deter minagées mais correntes: interessa, pois, considerd-las ainda um pouco mais de perto. Antes de tudo, no que toca a igual- dade, a proposigao corrente de que “Zodos os homens so iguais por natureza” encerra o mal-entendido de eonfundit o natural com 0 conceito; deve-se dizer que por naturexa os homens sfo, antes, somente desiguais. Mas 0 conceito da liberdade — como inicialmente, sem outra determinagio ou desenvolvi- mento, existe enquanto tal — € a subjetividade abstrata, como ‘pessoa que € capaz. de propricdade (§ 488); essa tinica deter- minagdo abstrata da personalidade constitui a igualdade efe- tiva dos homens. Mas que essa igualdade esteja presente, que seja 0 homem — e nao somente alguns homens como na Grécia, Roma ete. —, que se reconhega como pessoa, ¢ faga valer legalmente, cis algo que € tio pouco de naturexa, que antes é s6 produto ¢ resultado da consciéncia do mais pro- fundo principio do espirito, © da universalidade € avango culcural dessa consciéncia. Que os cidadios “sdo iguais peran- 22a lei” isto] encerra uma alta verdade; mas que, assim ex- pressa, € uma tautologia; pois por cla s6 sc exprime o estado legal em geral: que as leis imperam. Mas, no que diz. respeito a0 concreto, os cidadaos, fora da personalidade, s6 so iguais diante da lei no que, aliés, s40 iguais fora da lei. Somente a jigualdade, presente alids casualmente, de qualquer maneira que seja, da riqueza, da idade, da forga fisica, do talento, da ha bilidade evc., ou ainda dos crimes etc., pode € deve, no con- creto, fazer capaz de um igual tratamento perante a lei, com referencia aos impostos, deveres militares, acesso aos empre- g08 ptiblicos etc., & sangio penal etc. As leis mesmas, exceto no que concere aquele estreito circulo da personalidade, pressupdem situagdes desiguais, e determinam as competén- cias © os direitos desiguais que dai resultam. No que toca & liberdade, cla é tomada mais precisamente, de um lado, no sentido negatioo em oposigao a0 arbitrio alheio © a0 tratamento fora-de-lei; de outro lado, no sentido afirmati- vo da liberdade subjetiva. Mas é dada uma grande latitude a essa liberdade, tanto para 0 préprio arbitrio ¢ atividade em vista a seus fins particulares, quanto no que se refere & rei- vindicagao do discernimento préprio, e da operosidade e participago nos negécios universais. Outrora, os direitos le- galmente determinados, tanto privados como piiblicos, de uma nagfo, cidade etc., chamayam-se “suas liberdades”. De fato, toda lei verdadeira € uma liberdade, pois ela contém uma determinagio racional do espirito objetivo; portanto, um contetido da liberdade. Ao contrario, nada se tornou mais corrente do que a representagio de que cada um deveria Jimitar sua liberdade em relagio a liberdade dos outros; € de que Estado seria a condigao dessa limitagao reciproca, ¢ as Ieis seriam as limitagdes. Em tais representagdes, a liberdade 36 € apreendida como bel-prazer e arbitrio contingentes. Foi também dito que os povos modernos sé eram capazes da igualdade, ou que eram mais capazes dela que da liberdade, € isso, na verdade, por nenhuma outra raziio a no ser por- que, tratando-se de uma determinagao admitida da liberdade (principalmente da participagao de todos nos negécios ¢ ages do Estado), nfo se poderia contudo consegui-la na efetividade, enquanto ela € mais racional e ao mesmo tempo mais pode- rosa que as pressuposicdcs abstratas. F. preciso dizer, a0 con- trério, que justamente 0 mais alto desenvolvimento e apri moramento dos Estados modernos produz na efetividade a suprema desigualdade concreta dos individuos; e, em contra- partida, por meio da racionalidade mais profunda das leis ¢ da consolidacdo da legalidade, realiza uma liberdade tanto maior ¢ mais fundamentada, ¢ pode permiti-la ¢ toleréla. Jé 2 diferenciacio superficial que reside nas palavras “liberda- de” ¢ “igualdade” sugere que a primeira tende & desigualda- de; mas, inversamente, os conceitos correntes da liberdade contudo s6 reconduzem a igualdade. Porém, quanto mais ganha firmeza a liberdade, como seguranga da propriedade, ‘como possibilidade de desenvolver e de fazer valer seus ta- lentos ¢ boas qualidades pessoais ete., tanto mais ela aparece como algo que se entende por si mesmo; a consciéncia ¢ a apre- ciagao da liberdade voltam-se entao, sobretudo, para 0 seu sentido suéjetivo. No entanto, a liberdade da atividade que se tenta por todos os lados, que se distribui a seu bel-prazer entre interesses espirituais universais e pessoais, a indepen- déncia da particularidade individual e também a liberdade interior em que 0 sujeito tem princfpios, discernimento © convicedo préprios, e por isso obtém autonomia moral — essa mesma liberdade encerra, de um lado para si, 0 extremo aprimoramento da particularidade daquilo em que os homens sio desiguais, e se tornam mais desiguais ainda por essa for- magio; por outra parte, [essa liberdade subjetiva] somente cresce sob a condigao daquela liberdade objetiva e 36 existe ¢ pode crescer até essa altura nos Estados modernos. Se com esse aprimoramento da particularidade, a multidao das ne- cessidades © a dificuldade de satisfazé-las, 0 raciocinar ¢ 0 saber-mais © sua vaidade insatisfeita, crescem de modo indefinivel, isso pertence & particularidade abandonada [a si mesma], ¢ fica a seu critério engendrar em sua esfera todas as combinagées possiveis ¢ acomodar-se com elas. Na verdade, essa esfera entio, ao mesmo tempo, o campo das limitagdes, porque a liberdade esté presa na naturalidade, no bel-prazer no arbitrio, € assim tem de se limitar; e isso também segundo a naturalidade, o bel-prazer € 0 arbitrio dos outros, mas, princi- palmente e essencialmente, segundo a liberdade racional. Mas no que concerne 3 liberdade politica — quer dizer, no sentido de uma participagdo formal, por parte da vontade © da operosidade também daqueles individuos que fazem dos fins ¢ negécios particulares da sociedade civil sua destinagao principal, nos assuntos pablicos do Estado — tornou-se, em parte, usual nomear Constituigao somente o lado do Estado que concerne a uma tal participagio daqueles individuos nos assuntos universais, e considerar um Estado em que isso nfo ocorre formalmente, como um Estado sern Constituiggo. Quan- toa essa significagao, deve-se antes de tudo dizer somente que por Constituigao deve-se entender a determinagio dos direitos, isto €, das liberdades em geral, e a organizagio de sua efetivacio; que a liberdade politica s6 pode, em todo caso, formar uma parte dela; disso se tratard nos pardgrafos seguintes. § 540 A garantia de uma constituigdo, isto é, a necessidade [Notw.] de que as leis sejam racionais e sua efetivagio seja assegurada, reside no espirita do conjunto do povo, a saber, na determinidade segundo a qual ele tem a consciéncia-de-si de sua Tazo (a religito € essa consciéncia em sua substancialidade absoluta) e entdo, ao mesmo tempo, na organizapdo efetiva, enquanto desenvolvimento daquele principio. A constituigdo pressupde aquela consciéncia do espirito e, inversamente, o espirito pressupée a constituigio, pois o espirito efetivo mesmo tem a consciéneia determinada de seus prin- cipios somente enquanto esto presentes para cle como existentes. A questo: a quem, a que autoridade — ¢ organizada de que modo — compete fazer uma Constituigio, & a mesma que esta: quem tem de fazer o espirito de um povo. Se se separa a repre sentago de uma constituigo da do espirito, como se ele bem existisse ou tivesse existido sem possuir uma Constituigao & sua ‘medida, tal opinio prova somente a superficialidade do pensa- mento sobre a coeréncia do espirito, de sua consciéncia sobre si ¢ de sua efetividade. O que assim se chama fazer uma Cons- tituigo, em razo dessa inseparabilidade, nunca se encontrou na hist6ria, tampouco como fazer um Cédigo de leis: uma Cons- tituigio sé se desenvolvew a partir do espirito, em identidade com © seu préprio desenvolvimento; ¢, a0 mesmo tempo com ele, percorreu os graus necessdrios c transformagdes através do conccito. Eo cspirito imancnte ¢ a histéria — & na verdade a histéria © somente sta historia — por quem as Constituigdes sdo feitas e foram feitas, § 541 A totalidade viva, a conservagio, isto é a produgéo constante do Estado em geral, ¢ de sua Consticuigdo, € 0 Gaverno. A organi- zagio necesséria naturalmente é 0 nascimento da familia ¢ dos estamentos da sociedade civil. O govern € a parte universal da Constituicdo, isto é, a parte que tem por fim intencional a conser- vagio dessas partes, mas ao mesmo tempo apreende e péc em atividade os fins universais do todo, que estéo acima da determi nagio da familia ¢ da sociedade civil. A organizagio do Governo é igualmente sua diferenciago em poderes, tais como suas peculia- ridades so determinadas pelo conceito, mas que se compenetram, na subjetividade do conceito, em uma unidade ¢fetiv. Como as categorias do conceito que primeiro [se apresen- tam] séo as da universalidade ¢ da singularidade, © sua relacdo 6a da sudsungao da singularidade sob a universalidade, assim aconteceu que no Estado, poder egislarivo © poder execusivo tenham sido diferenciados mas de tal modo que o poder legislativo existisse para si como 0 absolutamente supremo, € 0 poder executivo, por sua vez, se dividisse em poder go- vernamental ow administrativo, e em poder judicidrio, confor- me a aplicagio das leis [se fizesse] em assuntos universais ou em assuntos privados. Considerou-se como relago essencial a divisio desses poderes no sentido de sua independéncia reciproca na existéncia, porém com a conexto mencionada da subsungao dos poderes do singular sob 0 poder do univer- sal. Nao se pode desconhecer, nessas determinagoes, os ele- mentos do conceito; mas eles estiio ligados pelo entendimen- to em uma relagio irracional em lugar do “concluir-se-consi- go-mesmo” do espirito vivo. Que os assuntos dos interesses universais do Estado em sua diferenga necesséria, também se organizem separados uns das outras, tal divisto € um mo- mento absoluto da profundeza ¢ da efetividade da liberdade; pois ela s6 tem profundeza na medida em que desenvolveu suas diferengas e chegon A sua existéncia. Mas fazer da fan- ‘gio legislativa (e ainda mais com a representagio de que um certo momento seriam a fazer primeiro uma Constituigao leis fundamentais, em uma situagio em que se coloca um desenvolvimento ja presente das diferengas) um poder aut6- nomo — € na verdade o primeiro poder — com a determina- 40 mais estrita de que todos parcicipem dele, ¢ fazer 0 go- verno dependente do mesmo, simplesmente executante, isso pressupée a falta do conhecimento de que idéia verdadeira, € por isso a efetividade viva e espiritual € 0 conceito conclu- indo-se consigo mesmo, ¢ assim, e a subjetividade que nela contém a universalidade como apenas um de seus momen- tos. A individualidade € a primeira ea suprema determinagao que-prevalece na organizagao do Estado. $6 pelo poder gover- namental ¢ porque em si abarca as fungées particulares, a que também pertence a fungio, que é cla mesma particular, para si abstrata, da legislacao, [€ que] 0 Estado € uno. Tao essencial quanto verdadeira, em toda a parte ¢ unicamente, € a relagao racional do légico ante a relagio exterior do en- tendimento, que s6 chega ao subsumir do singular e do par- ticular sob-o universal. O que desorganiza a unidade do 16- gico, racional, desorganiza também a efetividade. § 542 No governo como totalidade orginica, |) a subjetividade enquan- to unidade infinita dele consigo mesmo no desenvolvimento, a vontade do Estado que tudo detém, que decide, a capula suprema do Estado, como também sua unidade que tudo penetra, é o poder governamental do prfncipe. Na forma acabada do Estado, em que todos 0s momentos do conceito obtiveram sua livre existéncia, essa subjetividade nao € 0 que se chama uma pessoa moral, ou um de- cidir que provém de uma maioria — {isso sio] formas em que 4 uni- dade da vontade deciséria nao tem uma existéncia gfetioa — mas é, ‘enquanto individualidade efetiva, a vontade de um s6 individuo que decide; [¢] a monarquia. Por isso a constituicdo monarquica € a cons- tituigdo da razaio desenvolvida: todas as outras constituigées pertencem a graus inferiores do desenvolvimento ¢ da realizagio da raziio. A reunio de todos os poderes estatais concretos em uma sb existéncia como no estado patriarcal; ou, como na Constitui- 40 democritica, da participagio de todos em todos os assun- tos, contradiz, para si, o principio da aivisao dos poderes, isto é, a liberdade desenvolvida dos momentos da idéia. Mas, igualmente, a divisio dos momentos, seu aprimoramento prosseguido até a totalidade livre, devem ser reconduzidos a uma unidade ideal, isto é, & subjetividade. A diferenciagio cul- tivada, a realizagao da idéia, contém essencialmente que essa subjetividade seja desenvolvida em existéncia gfetiva como momento real, € essa efétividade & unicamente [a] individua- lidade do monarca, a subjetividade, presente em uma s6 pessoa do decidir ditimo, abstrato. A todas aquelas formas de um decidir € querer coletivo, que deve provir, e ser compu- tado da atomistica das vontades singulares, democraticamen- te ou aristocraticamente, adere a inefetividade de algo abs- trato. O que s6 importa sao as duas determinagdes — neces- sidade [Notw.] de am momento-do-Conceito ¢ a forma de sua sfetividade. Verdadeiramente, 36 a natureza do conccito especulativo pode fazer-se entender a respeito disso. Aquela subjetividade, enquanto é 0 momento do decidir abstrato em geral, de um lado avanga até a determinagao de que o nome do monarca aparega como o lago exterior € a sangao sob que em geral tudo se faz no governo; de outro lado, ja que tem nela, enquanto relagio simples a si, a determinagdo da imediates e, por isso, da naturesa, assim a determinagao dos individuos para a dignidade do poder principesco é fixada pela Aereditariedade, § 543 2) No poder governamental particular, por uma parte se evie denciam a divisdo da fungio estatal em seus ramos aliés determi- nados — 0 poder legislativo, 2 administrago da justiga ou 0 judi- ciério, © poder administrativo e de policia etc.; € com isso, a repar- tigdo desses poderes entre autoridades particulares que, destinadas nas leis para suas fungGes, para isso e por isso tanto possuem inde~ pendéncia de sua atuagio, quanto ao mesmo tempo esto sob fis- calizagio superior; por outra parte, cntra cm cena a participagio de muitos na fangéo estatal: esses, em conjunto, constituem o estamento universal (§ 528), na medida em que fazem que a determinagio essencial de sua vida particular seja uma ocupacio com os fins universais, da qual, para se poder participar individualmente, a outra condigéo € a preparagdo e a habilidade. $544 A autoridade estamental imposta em uma participagiio de todos 08 que pertencem A sociedade civil em gral, ¢ nessa medida sio pessoas privadas, no poder governamental, ¢ na verdade na legis- ago, isto é no universal dos interesses que nfo concernem a0 intervir ¢ ao atuar do Estado enquanto individuo (como a guerra € a paz) © por isso nfo pertencem exclusivamente A natureza do poder do principe. Em virtude dessa participagio, a liberdade ¢ a imaginagao subjetivas, ¢ sua opiniao universal, mostram-se em uma eficiéncia existente ¢ gozam da satisfagdo de valer alguma coisa. A classificaco das constituigdes em democracia, aristocracia, monarquia indica ainda sempre, da mancira mais determina- da, sua diferenga em relagio ao poder do Estado. Devem ao mesmo tempo ser vistas como configuragBes necessérias no curso do desenvolvimento, portanto na histéria do Estado. Por esse motivo, é superficial insensato representé-las como um objeto da escola. As formas puras de sua necessidade [Notw.] esto suspensas, enquanto sio finitas ¢ transit6rias, de um lado as formas de sua degenerescéncia, oclocracia ete.s de outra parte, as suas configuragdes anteriores transit6rias. Essas duas formas nio se devem confundir com aquelas verdadeiras configuragdes. Assim eventualmente, por causa da semethanga, de que a vontade de um s6 individuo esté na céipula do Estado, o despotismo oriental pode ser abrangido sob 0 vago nome de monarquia, como também a monarquia feudal, a que nao se pode negar mesmo 0 nome, em voga, de monarquia constitucional, A verdadeira diferenga [que hé] entre essas formas ¢ a auténtica monarquia repousa no con- tetido dos principios vigentes de direito, que tem no poder do Estado sua efetividade ¢ garantia. Esses principios sao os princfpios desenvolvidos nas esferas precedentes, da liberda- de, da propriedade, e, em todo caso, da liberdade pessoal, da sociedade civil, de sua indiistria e das Comunas, da atividade regular, dependente das leis, das autoridades particulates. A questio, que foi sobretudo discutida, é em que sentido se ha de compreender a participagio das pessoas privadas nos assuntos do Estado. Pois como pessoas privadas devem ser tomados os membros das assembléias estamentais, quer con- tem como individuos para si, ou como representantes de muitos, ou do povo. Costuma-se chamar povo 0 agregado das pessoas privadas, mas, enquanto tal agregado, ele € 0 vulgo, 10 0 povo [vulgus, populus}; € sob esse respeito € 0 tinico fim do Estado que um povo do chegue & existéncia, nem 20 poder, nem a agio enguanto um fal agregado. Tal situacao de um povo é uma situagio de injustiga, de aeticidade, de irracionalidade; nessa situagdo 0 povo seria somente como uma poténcia informe, brutal, cega, como o mar agitado, ele- mentar; 0 qual porém nao se destr6i a si mesmo, como 0 faria © povo enquanto elemento espiritual. Muitas vezes se pode ouvir represcntar tal situag%o como a da verdadeira liberda- de. Para que tenha um sentido entrar na questo da partici- pago das pessoas privadas nos assuntos universais, deve-se Pressupor no o irracional, mas um povo jé organizado, isto é, no qual j4 esta presente um poder governamental. Mas 0 interesse de tal participagio nao se deve colocar nem na van- tagem de um discernimento particular, em geral, que as pessoas privadas deveriam possuir mais que os funcionérios puiblicos — 0 que ocorre € necessariamente 0 contririo — nem na vantagem da boa vontade para o maior bem univer- sal — 0s membros da sociedade civil sao antes os que fazem de seu interesse particular sua determinagéo mais préxima e, como € 0 caso sobretudo no Estado feudal, do interesse de sua corporagéo privilegiada. Assim, por exemplo, na Inglater- ra, cuja constituigio é vista como a mais livre, porque as pessoas privadas tém uma participagao preponderante nos negocios do Estado, a experiéneia mostra que esse pais, em legislacdo civil ¢ penal, no direito ¢ na liberdade da proprie- dade, nas instituigdes em prol da arte € da ciéncia etc., esté no maior atraso em relagdo aos outros Estados cnirivados da Europa; € que a liberdade objetiva, isto é, 0 direito racional, ali esta, antes, sacrificado 2 liberdade formal € ao interesse privado particular (¢ isso, mesmo em instituigdes € proprie~ dades que devem ser consagradas & Religiao). O interesse da participacdo das pessoas privadas nos assuntos piblicos hé que p6rse, de um lado, no sentimento mais conereto, € por isso mais premente, de necessidades [Bediirfnisse] universais; mas, essencialmente, no direito de que 0 espfrito da comunidade atinja também a manifestagio de uma vontade exteriormente universal, em uma operosidade ordenada © expressa em favor da Coisa piiblica; ¢ que, por meio dessa satisfacdo, tanto receba uma vivificagio para si mesmo, quanto provoque tal vivificagao nas autoridades ad~ ministrativas, as quais € assim mantido na consciéncia pre- sente que, tanto como tem deveres a exigir, tem também. essencialmente direitos diante de si. Os cidadios formam no Estado a muitidao excessivamente maior — uma multidio de individuos que so reconhecidos como pessoas, Por isso a razio. querente expde neles sua exigéncia, enquanto sio uma plura- lidade de [scres} livres, ou sua universalidade-de-reflexao: sua cfetividade Ihes € proporcionada em uma participagio no poder do Bstado. Mas jd se fez notar, como momento da sociedade civil (§§ 527, 534), que os Singulares se elevam da universali- dade exterior & universalidade substancial, a saber, como géne- 10 particular. [so] os estamentos. E. nfo € na forma inorganica de singulares como tais (segundo 0 modo democritico da eleigio) ‘mas como momentos organicos, como estamentos, que acedem Aquela participagio: um poder ou atividade no Estado nunca deve aparecer ou exercer-se em figura informe, inorginica, isto é, [derivada] do prinefpio da pluralidade ¢ da multidao. As assembléias dos estamentos j4 foram erroneamente desig- nadas como o poder egislativa, considcrando como se $6 cons ttuissem um ramo desse poder, no qual as autoridades go- Yernamentais particulares tém parte essencial, c 0 poder do Principe tem a parte absoluta da decisao conclusiva. Alids, além disso, em um Estado cultivado o legislar pode ser ape- nas um elaborar continuo de leis exisrentes, ¢ podem as leis, que se dizem novas, ser s6 remates de detalhe e de particu. laridades (ver § 529, nota), cujo contetido, pela prética dos tribunais jé foi preparado ou mesmo decidido previamente. O que se chama “Ye de financas” &, na medida em que vem para 4 co-gesto dos estamentos, essencialmenve um assunto-de-gover- 1; 86 impropriamente se chama uma /ei, no sentido geral que abarca um Ambito vasto, mesmo o Ambito total dos meios ex- teriores do governo. As finangas concemem, por sua natureza, somente as necessidades [Bedirfnisse] varisveis particulares, que sempre se produzem de novo, mesmo se se referem 20 [scu] complexo. Sc a parte constitutiva principal do que se necessita considcrada como permanente — como ela, pois, também é — +a determinaglo a seu respeito teria mais a natureza de uma lei; ‘mas, para ser uma lei, deveria ser dada uma vez por todas, e no scmpre de novo cada ano ou depois de alguns anos. A parte varideel, segundo 0 tempo ¢ as circunstdnci, refere-se de fato 4 parte menor do montante, e 2 determinacio sobre ela tem tanto menos o cardter de uma lei; ¢, contudo, 56 & e $6 pode ser essa pequena parte varidvel que € disputavel, e pode ser sub- metida a uma determinagio variavel, anual, que assim leva fal- samente o nome pomposo de aprowagiio do orzamento, isto é, do todo clas finangas. Uma lei a fazer por um ano-e cada ano, evidencia-se como inadequada, mesmo para o sentido comum, enquanto esse distingue o universal cm si ¢ para si como con. tetido de uma verdadeira Ici, de uma universalidade-de-refle- x30, que retine apenas exteriommente algo miiltiplo por sua natureza. O nome de uma /ai para a fixagio anual do necessario em finangas serve apenas, na pressuposta separagio entre 0 poder legislativo e o poder governamental, para sustentar a ilu- sio de que essa separagio cfetivamente ocorre, ¢ para encobrit ue 0 poder legislativo esté ocupado com um assunto propria- mente de Governo, quando decide sobre as finangas, Mas 0 interesse que se pde na competéncia de consentir sem- pre de novo na lei orgamentéria € que a assembléia dos estamentos possui ncla um meio de pressio contra 0 governo, ¢ assim uma garantia contra a negacéo do direito € a violencia. Esse interesse, de um lado, € uma aparéncia superficial, cn- quanto a disponibilidade financeira necessésia & subsisténcia do Estado no pode estar condicionada por quaisquer outras cir- cunstancias; nem a subsisténeia do Estado pode ser posta em dtivida anualmente; como tampouco 0 Governo poderia conce- der © ordenar a organizagio da administragio da justiga, por exemplo, sempre somente por um tempo limitado, para se re- servar um meio de presso contra as pessoas privadas, na ame- aga de suspender a atividade de tal instituigzo, e no temor de tum emergentc estado-de-banditismo. Mas, de outro lado, as representagGes de uma relagdo na qual poderia ser itil e neces- sario ter em maos um meio de pressio repousam em parte na falsa representagZo de uma relago-contratual entre 0 Governo € © povo; em parte, pressupdem a possibilidade de uma tal divergéncia de espirito entre os dois, que nesse caso nao hé mais que pensar em Constituigio © governo em geral. Se se representa a possibilidade vazia de recorrer a tal meio-de-presso, como vinda a existéncia, tal recurso seria antes uma desorgani- zagao ¢ dissolugéo do Estado, no qual no se cncontratia mais Governo algum, mas s6 partidos, ¢ a que s6 remediaria a vio- lencia ¢ a opressio de um partido por outro, Representarse a organizacéo do Estado como uma simples constituigao-de-en- tendimento, isto €, como o mecanismo de um equiltbrio de poténcias exteriores umas as outras em seu interior, isso vai contra a idéia fundamental do que é um Estado. § 545 O Estado tem o lado, enfim, de ser a efetividade imediata de um povo singular © naturalmente determinado. Enquanto individuo singular, ele € exclusiva em relagio aos outros individuos da mesma espécie. No seu relacionamento, de uns com 0s outros, tem lugar 0 arbitrario e a contingéncia, porque o universal do direito, em razio da totalidade autonoma dessas pessoas, somente deve ser entre elas, iio ¢ gaivo, Essa independencia faz do conflito entre elas uma rel So de violencia, um estado de guerra, para o qual a situagdo universal se determina em vista do fim particular da conservaco da autonomia do Estado perante os outros, em um astado de bres nm § 546 He, Essa situagdo mostra a substincia do Estado, em sua individuali- a autoranis Tuiho a negatividade abstrat, como a poténeia om aie a aueonornia particular dos Singulares e a situagio de can ser- i extcrior da posse, ¢ na vida nat ! ! 2 ‘ural, Se sente como. peo nao A substnci a do Estado mediatiza 4 conservacao da substan- - universal pelo sacrificio (que ocorre em sua disposigao) desse ser- at naturale particular; (sucrifcio que consisce] em tnrnar say que é vio, 2) direito polttico externo Tronae Segundo um lado se efetua o reconhecimente cio di livres individualidades dos povas (§ 430), ¢ pelos anaes arenincet dura eternamente, fixam-se canto ease ccconhesh en dio ung ar {usmto a8 autorizagées particulates quie os porns cesuins 208 outros. O diito politico externo repousn, de uma pai nesses tratados positives, mas nessa thedida conten 46 Scie f ‘iis falta verdadeira efetividade (§ 545); de outra parte neste] Ser meagfile S& cham dircto das gents, eujo principio uninec at ey qaatlivide pressuposto dos Bstados, e portanto limita sie ce, one de one Miedo: scrim ilimiadas —~timas em rela ne outa de fora ue fique a possibilidade da paz; [diteito} que tan ue do Estado os individuos enquanto pessoas tri #5 © que de modo geral repousa nos costumes lethes) 3) A historia mundial ‘© momento de uma determinidade geogréfica ¢ climética, Ele esté 0 sempo © segundo 0 contetido tem essencialmente um principio particular, assim como tem de percorrer um desenvolvimento, por isso determinado, de sua consciéncia ¢ de sua efetividade: tem uma Aistéria no interior de si. Enquanto espirito limitado, sua au- tonomia é algo subordinado; ele passa para a Aistéria mundial ni- yersal, cujos acontecimentos so representados pela dialética dos espititos particulares dos povos, pelo zribunal do mundo. § 549 Esse movimento é a via da libertagio da substAncia espiricual, © ato pelo qual o fim diltimo absoluto do mundo nele se cumpre, [pelo qual] 0 cspirico que primeiro s6 é essente em si; se eleva & consciéncia € a consciéncia-de-si, ¢ assim a revelagao ¢ a efetividade de sua esséncia essente em si e para si, e sé tora para si mesmo, © espirito exteriormente universal, o espirito-do-mundo, Enquanto esse desenvolvimento é no tempo ¢ no ser-at, © por isso, enquanto historia, seus momentos ¢ graus singulares so os espfritos-dos- -povos; cada um, como espirito singular ¢ natural em uma determinidade qualitativa, é determinado para ocupar somente am frau, © para 86 cumprir ama tarefa do ato total. Que na histéria se faga a pressuposigao de um fim essente em i € para si, e de determinagdes que dele se desenvolvem segundo 0 conceito — é 0 que se chama uma consideragio aprioristica da histéria; ¢ a filosofia é acusada de escrever historia a priori. Sobre isso, e sobre a escritura da hist6ria em geral, hé que fazer-sc uma observagio mais pormenorizada Que no fundamento da histéria, sem dtivida, essencial- mente, no fundamento da hist6ria mundial, haja um fim Ultimo em si ¢ para si, € que este tenha sido ¢ seja realizado cfetivamente nela — 0 plano da Providéncia —, que em geral haja rasdo na histéria, isso deve ser estabelecido para si mesmo, filosoficamente; € assim como necessério em si € para si, Censura, 36 pode merecé-la pressupor representagbes ou pensamentos arbitrarios, ¢ querer encontrar ¢ representar em conformidade com eles 03 acontecimentos ¢ os fatos. Mas, hoje em dia, fizeram-se culpadas de tal maneira aprioristica de proceder sobretudo pessoas que pretendem ser puros historiadores e ao mesmo tempo se declaram, nas horas va- a5, expressamente contra o filosofar, quer em geral, quer em histéria. Para eles, a filosofia € uma vizinha incomoda, enquanto oposta a0 arbitrério e aos palpites. Semelhante [maneira de] escrever a hist6ria @ prior’ sc propagou, as v zes, de um lado donde menos se devia esperar, principal- mente da filosofia, ¢ mais na Alemanha que na Franca e na Inglaterra, onde a historiografia se depurou em uma caracte- ristica mais firme ¢ mais madura. Fazer fiegdes, como a de um estado original ¢ do seu povo original, que se teria en- contrado na posse do verdadeiro conhecimento de Deus € de todas as ciéncias; [como a] de povos-de-sacerdotes, ¢ em es- pecial, por exemplo, de uma epopéia romana, que teria sido a fonte de informagdes historicamente vélidas sobre a mais antiga histéria de Roma etc. — é isso que entrou no lugar das invengGes pragmatistas das bases e conexdes psicol6gicas, e, 0 que parece, se considera em um vasto cfrculo como a exigéncia de uma historiografia que haure nas fontes, erudita ¢ nica de espfrito, incubar tais ocas sepresentagies, ¢ a partir de um douto entulho de circunstancias exteriores longin- quas, em que pese a histéria mais atestada, combiné-las ousadamente, Se pusermos de lado esse tratamento subjetivo da historia, a exigéncia propriamente oposta, de que a historia nao seja considerada segundo um fim objetivo, tem, ao total, o mesmo sentido que a cxigéncia, que parece ainda mais legitima, de que 0 historiador proceda com imparcialidade. Costuma-se particularmente fazer essa exigéncia a Histéria da Filosofia, enquanto nela nao se deve mostrar nenhuma inclinagdo em favor. de uma representagao © opinitio, como um juiz nfo deve ter um interesse particular por nenhuma das duas par- tes em conflito, No caso de um juiz, admite-se a0 mesmo tempo que desempenharia sua fungio de modo esttipido mau se no tivesse um interesse, e mesmo um interesse exclusivo, pelo dircito; se nao o tivesse como fim, ¢ como Unico fim, e se sg abstivesse de julgar. Essa exigéncia feita | | | a0 juiz, pode-se chamar parcialidade pelo direito, ¢ sabe-se aqui muico bem distingui-la de uma parcialidade subjetiva. Mas na imparcialidade exigida do historiador essa diferenga € apagada no falatério sisudo © presungoso, ¢ se rejcitam os dois tipos de interesses, quando se exige que o historiador no traga consigo nenhum determinado fim e parecer, se- gundo 0 qual selecionasse, dispusesse e avaliasse os aconte- cimentos, mas que os narre justamente no modo-de-ser-con- tingente como os encontrou-ai, em sua particularidade caren- te de relagao e de pensamento. No maximo, concorda-se que uma histéria deve ter um objeto, por exemplo Roma, seu destino, ou a queda da grandeza do império romano. Basta um pouco de reflexao para discernir que isso € 0 fim pressu= posto que esté no fundamento dos préprios acontecimentos, assim como do jufzo sobre quais dentre eles tem importan- cia; quer dizer, uma relagio, mais préxima ou mais discante, com o fim. Uma historia sem tal fim, e sem tal juizo, seria apenas um flanar idiota da representagao; nem mesmo um conto para criangas, pois até as criangas exigem nas narrativas um interesse, isto é, um fim pelo menos dado a pressentir, € a relagdo que os acontecimentos ¢ ages tem com cle, No ser-ai de um povo, o fim substancial é ser um Estado c, como tal, conscrvar-se; um povo sem formagao-de-Estado (uma nagdo como tal) ndo tem propriamente histéria, assim como 0s povos existiram antes de sua formagio-de-Estado, e outros que existem ainda agora como nagies selvagens. O que acon- tece a um povo, e se passa no seu interior, tem, na sua rela- ¢40 a0 Estado, sua significagao essencial; as simples particu- laridades dos individuos sto 0 mais distante que ha desse objeto que pertence a histéria. Se o espirito universal de um tempo em geral se imprime no carter dos individuos que se distinguem em um periodo; € se também suas particularida- des so os meios mais distantes ¢ mais turvos, em que 0 espirito ainda desempenha um papel em cores esbatidas; se mesmo, muitas vezes, singularidades de um pequeno acon- tecimento, de uma palavra, nfo exprimem uma particularida- de subjetiva, mas um tempo, [um] povo, [uma] cultura; de modo que escolher tais singularidades é a Coisa de um his- toriador rico de espirito; ao contrario, a massa das outras sin- gularidades € uma massa supérflua; por sua recolegao fiel, os abjetos dignos de histéria sio abafados e obscurecidos: a caracteristica essencial Jo espirito © do seu tempo esta sem- pre contida nos grandes eventos. Ha um sentido justo em relegar semelhantes descrigdes do particular, e em recolher seus tragos a0 romance (como os de Walter Scott ¢ outros); hd que ter-se como bom gosto unir 0s quadros da vicalidade particular, inessencial, com um material inessencial, tal como © romance 0 toma aos acontecimentos privados © paixdes subjetivas. Mas, no interesse do que se chama verdade, entretecer as pequenezas individuais do tempo ¢ das pessoas com a representagio dos interesses universais, ¢ nao 36 con- tra 0 juizo e 0 gosto, mas contra o conceito da verdade obje- tiva, no sentido de que s6 0 substancial € verdadciro para espirito, mas nfo a falta de contetido das existéncias exterio- res ¢ contingéncias; ¢ é perfeitamente indiferente que tais insignificancias sejam formalmente atestadas, ou, como no romance, sejam imaginadas de maneira caracteristica, e atri- bufdas a esse ou aquele nome, e circunstancia. O interesse da biografia, para mencion4-la a esse propésito, parece ser diretamente contraposto @ um fim universal; mas cla mesma tem por pano de fundo 0 mundo histérico, com 0 qual 0 individuo esta entrosado: mesmo o subjetivo-original, o hu- moristico etc., remetem Aquele contetido e realgam assim seu interesse, Contudo, o que é apenas emotivo tem um outro solo interesse que nao a historia, A exigéncia da imparvialidade [feital a historia da filosofia — € também, pode-se acrescentar, a histéria da religido em geral de um lado, e, de outro, & histéria da Igreja — costuma implicar, mais precisamente ainda, a exclusio mais expressa do pressuposto de um fim objetivo. Como acima o Estado cra designado como a Coisa 2 qual o juizo devia referir os acontecimentos na hist6ria politica, assim a verdade devia ser © objeto a que se tinham de referir os fatos e acontecimentos singulares do espirito. Mas, antes, 0 que se faz € a pressu- posigao oposta, de que tais historias 36 teriam fins subjetivos, isto é, somente opinides representagdes, no 0 objeto essente em si ¢ para si, a verdade; ¢ isso pela simples razio de que nao hd verdade alguma. Segundo essa hipétesc, 0 interesse pela verdade aparece igualmente como uma paicialidade, no sentido habitual, quer dizer, [como interesse por] por opinies € representagdes que [por serem] igualmente faltas-de-conteti- do valem, em conjunto, por indiferentes. A propria verdade hist6rica tem assim 0 sentido somente de axatidao, de exposi¢ao correta do exterior, sem [outro] julgamento a nao ser sobre sua exatiddo mesma; com 0 que s6 se admitem simplesmente juizos qualitativos ¢ quantitativos, mas no juizos [a respeito) da ne- cessidade [Notw.] ¢ do conceito (ver nota aos §§ 172 ¢ 178). De fato, porém, sc na histéria politica Roma ou o Império alemao etc. so um objeto efetivo ¢ verdadeiro, € sto o fim ao qual devem os outros fendmenos referir-se, e ser por ele apreciados, [e] assim, ainda mais na histéria universal, o espirito universal mesmo, a consciéncia [que tern] de sie de sua esséncia, é um objeto, um contetido verdadeiro e efetivo, ¢ um fim ao qual em sie porsi servem todos 0s fenémenos; de modo que unicamen- te através da relagio a ele, isto é, por meio do jufzo no qual so subsumidos sob cle, ¢ ele Ihes inere, {é que] tém seu valor e, mesmo, sua existéncia. Que na marcha do espirita (e € 0 espi- rico que no apenas paira sobre a histéria como sobre as Aguas," mas que tece [schwebt/webr] nela e € 0 tnico movente) a liber- dade, isto é, 0 desenvolvimento determinado pelo conceito do espirito, seja 0 determinante, € que s6 0 conceito do espirito seja para si mesmo o fim tiltimo, ou, em outras palavras, que haja razdo na historia — isso por uma parte vem a ser, pelo ‘menos, uma crenga plausivel, mas por outra € um conhecimen- to da filosofia. § 550 Essa libertagio do espitito, em que procede a alcangar-se a si mesmo e a efetivar sua verdade, ¢ a tarefa [de desempenhar-se] * Alusio a Génesis, 1,2. disso so 0 direito supremo ¢ absoluto. A consciéncia-de-si de um povo particular é portadora do grau de desenvolvimento desta vez [alcangado] pelo espirito universal em seu ser-af, ¢ a efetividade objetiva em que ele coloca sua vontade. Perante essa vontade absolura, a vontade dos outros espiritas-de-povos particulares e sem- -direito; aquele povo € 0 que domina o mundo; mas, igualmente, co espirito progride para além de sua propriedade de cada vez, como além de um grau particular, e 0 abandona entio & sua sorte ¢ [a0 seu} tribunal. § 551 Enquanto tal tarefa de [produzir] efetividade aparece como ago, € por isso como uma obra de Singulares, estes, em vista do contetido substancial de seu trabalho, so inséramentos, € sua sub- jetividade que é para eles {o] peculiar € a forma vazia da atividade. O que, portanto, obtiveram para si mesmos, mediante a parte in- dividual que tomaram na tarefa substancial preparada e determina- da sem depender deles, € uma universalidade formal de represen- tagdo subjetiva: a giéria, que é sua remuneragio. § 552 O espirito-do-povo encerra uma necessidade-de-natureza, ¢ esté em um ser-af exterior (§ 483); a substincia ética infinita em si é uma substincia ética particular ¢ limitada para si (§§ 549 © 550), € seu lado subjetivo € afetado de contingéncia: costume inconscien- te, consciéncia do seu contedido como de um contetido presente no tempo, € em relago contra uma natureza € um mundo exteriores. Mas, na eticidade, € 0 espirito pensante que suprassume em si mesmo a finitude que possui enquanto espirito-de-um-povo em seu Esta- do, € nos interesses temporais deste, no sistema das leis e dos costumes, € que se eleva ao saber de si em sua essencialidade — saber que no entanto tem ele mesmo a limitagdo do espitito-do- -povo. Mas o espirito pensante da hist6ria do mundo, enquanto ao mesmo tempo despe aquelas limitages dos espiritos-dos-povos particulares, ¢ sua prépria mundanidade, apreende sua universali- dade concreta ¢ se eleva ao saber do espirito absoluto, como [saber] da verdade ctcrnamente efetiva, em que a razo que-sabe é livre para si mesma, a necessidade, a natureza € a hist6ria so s6 para servir a revelago desse espirito, ¢ vasos de sua gloria Na Introdugio a Légica (ver sobretudo § 51, nota), falou-se do [aspecto] formal da elevagio do espirito a Deus. A propé- sito do ponto de partida dessa evolugdo, Kant 0 apreendeu do modo mais correto, em geral, a0 considerar a fé em Deus como procedendo da razdo pratica. Com efeito, 0 ponto de partida contém implicitamente 0 conteido ou o material que constitui 0 contetido do conceito de Deus. Mas o verdadeiro material concreto nfo é nem o ser (como na prova cosmol6gica) nem $6 a atividade finalistica (como na prova fisico-teol6gica), € sim 0 espirito, cuja determinacio absoluta € a razio eficien- te — isto €, 0 conceito que determina c realiza a si mes- mo —, a liberdade. Que na exposigio kantiana, por sua vez, seja rebaixada a um postulado, a um simples dever-ser, ossa elevagio do espirito a Deus, a qual se opera nessa determi- nagio, {isso] € a distorgao anteriormente discutida [que con- tc em] restabelecer como verdadeira e valida a oposi¢ao da finitude, cuja suprassungdo em [diregdo a] verdade é aquela clevagio mesma [do espirito a Deus]. Sobre a mediagdo, que é uma elevagio a Deus, antes se mostrou (§ 192; ver § 204, nota) que o:momento da negagdo tem de ser considerado especialmente, enquanto por meio dele é depurado de sua finitude 0 contetido essencial do ponto de partida, ¢ assim se desprende livre. Esse momento, abstrato na forma légica, obteve agora sua mais concreta sig- nificagdo. O finito, de que se parte aqui, € consciéncia-de-si Gtica real: a negagdo pcla qual eleva seu espirito a verdade, & a depuragéo realizada efetivamente no mundo ético, de seu saber [retirando-o] da opinido subjetiva, ¢ a libertagio de sua vontade do egoismo do desejo. A verdadeira religiio © a verdadeira religiosidade s6 derivam da eticidade, ¢ sio a eticidade pensante, isto é, que se torna consciente da livre universalidade de sua esséncia conereta. $6 por ela, e a partir dela, a idéia de Deus é sabida como espirito livre; fora do espirito ético & portanto, indtil procurar verdadeira religido Mas esse resultar mesmo assume a0 mesmo tempo — como. [ocorre] em toda a parte no especulative — essa significagio de que 0 posto, de inicio, como o seqliente ¢ 0 procedente, € antes 0 primeiro [prius] absoluto daquilo por que aparece como mediatizado; © aqui no espirito € também sabido como sua verdade. Assim, é este 0 lugar de aprofundar a relagdo do Estado ¢ da réligido, ¢ de elucidar as categorias que estio em Yoga a respcito. A conseqiiéncia imediata do anterior é€ que a eticidade € 0 Estado reconduzido a seu interior substancial, que o Estado é 0 desenvolvimento e a efetivagao da eticidade; mas que a substancialidade da eticidade mesma e do Estado € a religido. Segundo essa relacio, o Estado repousa na dis- posicao ética, ¢ esta na religiosa. Sendo a religiao a conscién- cia da verdade absoluta, 0 que deve valet como direito ¢ jus- tiga, como dever ¢ lei, isto é, como verdadeiro, no mundo da vontade livre, s6 pode valer enquanto tem parte naquela verdade, esté suésumido sob ela, e resulta dela. Mas, para que © Etico verdadeiro scja conseqiiéncia da religiao, requer-se que a religido tenha 0 conteiido verdadeiro, quer dizer, que a idéia de Deus, sabida nela, seja a verdadeira. A eticidade é 0 espirito divino como habitando na consciéncia-de-si em sua presenca efetiva, enquanto presenga de um povo ¢ dos seus individuos: essa consciéncia-de-si indo de sua efetividade empirica para dentro de si, e levando sua verdade & conscién- cia, tem em sua crema © cm sua consciéncia moral somente 0 que tem na ceresa de si mesma, em sua efetividade espiri- tual. Os dois [lados] sao insepariveis: nao pode haver dupla consciéncia moral, uma religiosa, € urna ética, diferente dela pelo teor © contetido. Mas segundo a forma, isto é, para 0 pensar e saber — religio ¢ eticidade pertencem a inteligén- cia ¢ sio um pensar ¢ saber —, compete ao contetido religio- so, enquanto é a verdade pura essente para si, portanto su- prema, a sangio da eticidade que tem lugar na efetividade empirica; assim a religiao é, para a consciéncia-de-si, a base da eticidade e do Estado. f o cnorme erro de nosso tempo querer considerar esses inseparéveis como separéveis um do outro, ¢ mesmo como indiferentes um ao outro. Assim, con- siderou-se a relagéo da religido para com 0 Estado como se cote alids jé existisse para si mesmo, ¢ em virtude de qual- quer poténcia € forga; ¢ 0 religioso, como 0 subjetivo dos individuos, s6 tivesse de se acrescentar eventualmente a ele, como algo descjavel, s6 para sua consolidagdo; ou mesmo fosse indifercnte, ¢ a eticidade do Estado, isto €, direito e icuicdo racionais, estivessem firmes para si em scu pré- prio fundamento. Na inseparabilidade dos dois lados [que foi] indicada, ha interesse em fazer notar a scparacio que aparece do lado da religizo. Ela concerne primeiro & forma, isto €, a relagdo da consciéncia-de-si ao contetido da verdade. Sendo este a substncia como espirito imanente da conscién- cia-de-si cm sua efetividade, essa consciéncia-de-si tem a certeza de si mesma nesse contetido, e € livre nele. Mas a relago da nio-liberdade pode ocorrer segundo a forma, embora 0 contetido em si essente da seligiio seja 0 espi absoluto. Essa grande diferenga, para citar 0 mais determina- do, se encontra dentro da prépria religio crista, em que nfo € 0 elemento natural que forma 0 conteido de Deus; tal momento nem entra sequer como um momento em seu con- tetido, mas o contetido é Deus que é sabido em espirito e em verdade. Contudo, na religi8o catélica, esse espitito é, na efetividade, contraposto rigidamente ao espitito consciente- de-si. Primeiro, na héstia Deus é apresentado a adoracao como coisa exterior (quando, ao contrario, na Tgreja luterana a héstia como tal € consagrada e clevada a Deus presente nela, pri- meiro ¢ somente na fruigdo, isto é, no aniquilamento de sua exterioridade, © na fé, isto &, no espirito a0 mesmo tempo livre, certo de si mesmo). Dessa primeira e suprema relago de exterioridade, decorrem todas as outres relagdes exterio- res, por isso nio-livres, ndio-espirituais ¢ supersticiosas; espe- cialmente um /acaits, que recehe o saber sobre a verdade divina, como também a diregio da vontade e da consciéncia de fora, ¢ de um outro estado, que alcanga, ele mesmo, a posse daquele saber no de maneira espiricual unicamente, mas precisa essencialmente para isso de uma consagracio exte- rior. Além disso, a maneira de orar, que por um lado se faz movendo 36 0s labios para si, por outro lado é um modo de orar falto-de-espfrito, nisso que o sujeito renuncia a dirigir-se diretamente a Deus, ¢ reza a outros para que rezem [por ele]; a devogio que se dirige a imagens milagrosas, mesmo a 0ss0s [Ue relfquias], ¢ a espera de milagres por seu meio; em geral, 4 justica por obras exteriores, um mérito que deve ser adqui- rido por ages, e, mesmo, que pode ser transferido a outros etc., tudo isso prende 0 espirito sob um ser-fora-de-si pelo qual seu conccito, no mais {ntimo & desconhecido ¢ perver- tido, ¢ dircito e justiga, eticidade e consciéncia moral, res- ponsabilidade © dever sto corrompidos em sua raiz. A.al principio ¢ a esse desenvolvimento da nao-liberdade do espirito no [campo] religioso corresponde somente uma le- gislagao © constituigio da ndo-liberdade no direito na ética, € uma situagio de nao-juridicidade © no-eticidade no Esta- do efetivo. De maneira coerente foi a religiio catélica edo altamente louvada, c ainda € muitas vezes louvada, como a Yinica pela qual a solidez dos Governos € assegurada — de faro, Governos tais, ligados a instituigdes que se fundam sobre a nio-liberdade do espirito, que deve ser livre juridica eticamente; isto é, [governos ligados] a instituigdes do nao- -direito, e a um estado de corrupgao ética ¢ de barbaric. Mas esses governos nao sabem que tém no fanatismo a poténcia terrivel que nfo se apresenta hostilmente contra eles, 56 enquanto — ¢ sé com a condi¢io de — ficarem presos na escravidio do nao-direito © da imoralidade. Mas no espitito estd ainda presente uma outra poténcia: ante esse ser-fora- -de-si, ¢ [esse] ser-dilacerado, a consciéncia se recolhe em sua livre efetividade interior, no espirito dos governos ¢ dos povos, desperta a sabedoria-do-mundo, quer dizer, a sabedoria sobre 0 que é om si € para si justo ¢ racional na cfetividade. Com razdo chama-se sabedoria-do-mundo a produgao do pen sar, ¢, mais determinadamente, a filosofia, porque o pensar torna presente a verdade do espirito, introduz este no mun- do, € 0 liberta assim em sua efetividade ¢ nele mesmo. Com isso, 0 contetido assume uma figura totalmente diversa. A nio-liberdade da forma, isco é, do saber e da subjetividade, tem para 0 contetido ético a conseqiiéncia de que a conscién- cia-de-si € representada como nfo imanente a esse contetido, [ce] que esse contetido esti representado como subtraido a cla, de modo que s6 deveria ser verdadeiro como negativo em relagao & efetividade da consciéncia-de-si. Nessa nao- =verdade, 0 contetido ético chama-se algo sano. Mas, pelo introduzir-se do espirito divino na efetividade, a libertagao da efetividade em diregao dele — o que no mundo deve set a santidade — é reprimida, pela eticidade, Em lugar do voto de castidade, agora s6 vale como [sendo] 0 ético, 0 casamento, © por isso, como 0 que hé de mais alto nesse lado do homem, a familia. Em lugar do voto de pobreza (a que corresponde, enredando-se na contradigio, o mérito de doar seu haver a03 pobres, isto é, 0 enriquecimento destes), vale a afividade da auto-aquisiego pelo entendimento e zelo, ¢ a retiddo nesse comércio ¢ uso da riqueza, a eticidade na sociedade civil. Em lugar do voto de obediéncia, vale a obediéncia as leis e 3s ins- tituigdes politicas legais; obediéncia que € mesmo a verda- deira liberdade, porque o Estado é a razdo propria, a razio que se efetiva: a eticidade no Estado. S6 entio 0 direito © a moralidade podem estar presentes. Nao basta que na religido esteja prescrito: “Dai a César 0 que é de César, ¢ a Deus 0 que éde Deus”; pois se trata precisamente de determinar 0 que € de César, isto é, 0 que pertence a0 Governo secular; © é bastante not6rio tudo que Governo secular se arrogou arbi- trariamente, como por seu lado [o fez] 0 Governo espiritual. O espirito divino deve penecrar de modo imanente 0 [que é] mundano; assim a sabedoria é ali concreta e sua justificagao determinada nele mesmo. Mas aquela imanéncia concreta sio as configuracdes, j4 indicadas, da eticidade: a eticidade do casamento contra a santidade do celibato, a cticidade da riqueza ¢ de sua aquisicao contra a santidade da pobreza e de sua ociosidade, a cticidade da obediéncia consagrada ao di- reito do Estado contra a santidade da obediéncia sem dever © sem dircito, [que é] 2 escravidao da consciéncia. Com a necessidade (Bediirfnis] do direito ¢ da eticidade, ¢ do dis cernimento da natureza livre do espirito, aparece a desaven- ga deles contra a religiio da nfo-liberdade. De nada servi que as leis a ordem péblica fossem transformadas em uma organizagio racional do direito, se principio da nao-liberda- de ndo for abandonado na religido. Os dois so incompativeis entre eles: é uma representagao tola querer assinalar a ordem piblica ¢ & religido um dominio separado, na suposi¢ao de que sua diversidade se comportaria tranqiiilamente, na rela- do de um termo para com 0 outro, € nfo rebentaria em contradigao ¢ luca. Os principios da liberdade juridica podem ser somente abstratos € superficiais, ¢ as instituigdes politicas derivadas deles devem ser para si insustentaveis, quando a sabedoria daqueles princfpios desconhece a religido a ponto de nao saber que os princfpios da razdo da efetividade tém sua confirmagio tltima e suprema na consciéncia religiosa, na subsungio da verdade absoluta pela consciéncia. Se, de qualquer mado que isso ocorra — digamos, a priori —, sur- gisse uma legislagio que tivesse por sua base os principios da azo, mas em contradi¢ao com a religit do pais, bascada nos principios da nio-liberdade espiritual, entio a vigéncia da legislacio reside nos indiofduos do governo como tal, em toda a administragdo que se ramifica através de todas as clas- ses; € somente uma representagio abstrata, vazia, simular como possivel que os individuos sé atuem conforme o sen- tido ou a letra da legislagao, € no segundo 0 espirito de sua religido, em que residem sua consciéneia mais intima, ¢ sua obrigagdo suprema. As leis aparecem, nessa oposicao contra 0 que € declarado santo pela religiéo, como algo feito pelos homens; mesmo se fossem sancionadas ¢ exteriormente es- tabelecidas, no poderiam oferecer resistencia duravel 4 con- tradigo € aos ataques do espirico religioso contra elas. Fra- cassariam assim tais leis, mesmo que seu contetido fosse verdadviro, na consciéncia cujo espirito difere do espirito das leis e no as sanciona, Deve-se julgar uma insensatez dos tempos modernos mudar o sistema de uma eticidade corrom- pida, sua constituigio ¢ legislagao, sem a mudanga da reli- gio; ter feito uma revolugio, sem uma reforma; imaginar que, com a velha religido © suas santidades, uma Constitui- Go politica a ela oposta poderia ter em si tranqliilidade e harmonia; e que por garantias externas, por exemplo pelas assim-chamadas Camaras € pelo poder dado a elas, de de- terminar a lei orgamentaria (ver § 544 nota) etc., poder-se-ia proporcionar eatabilidade as leis. Hé que considerar-se como simples cxpediente querer separar da rcligiao os direitos © Icis, na impoténcia em que se esté de descer as profundezas do espirito religioso € de elevé-lo — a ele mesmo — & sua verdade. Aquelas garantias so esteios apodrecidos diante da consciéncia dos sujeitos que devern aplicar as leis, e inclusive as garantias mesmas; é antes a contradi¢ao suprema, a mais impia, querer ligar € sujeitar a essa legislagao a consciéneia religiosa, para a qual a legislagao secular € algo impio . Em Platéo, tinha surgido, da mancira mais determinada, 0 conhecimento da cisdo aparecida em seu tempo entre a reli- gido existente e a Consticuigio politica, de uma parte; e, de outra parte, as exigéncias mais profundas que a liberdade, ao tornar-se entdo consciente de sua interioridade, fazia & reli- gido € & situagdo politica. Plato formula o pensamento de que a verdadeira Constituigio e vida politica seriam funda- das mais profundamente na idéia, sobre os principios em si € por si universais ¢ verdadeiros da justiga eterna, Saber conhecer esses princfpios é, decerto, destinagio ¢ tarefa da filosofia. & partir desse ponto de vista, Platio aduziu aquela passagem* famosa — ou mal-afamada — em que faz. afirmar por Sécrates este tema de que filasofia © poder do Estado deve coincidir; que a idéia seja a governante, se € que o inforcinio dos povos tem de ver um fim. Platao teve aqui a representacao determinada de que a idéia — que certamente em si é 0 pen- samento livre que se determina — também s6 na forma do pensamento podia chegar 4 consciéncia; como um contetido que, para ser verdadeiro, deve evidenciar-se rumo & universali- dade, e, em sua forma mais abstrata, ser levado & consciéncia, Para comparar a posigo platénica, de maneira mais determi- nada, com 0 ponto de vista em que o Estado € considerado * Plerto, Republica, V, 473 ee. aqui em relagao com a religiao, € preciso recordar as diferen- ‘gas conceituais que neste ponto sio essencialmente relevan- tes. Consiste a primeira em que nas coisas naturais a substin- cia delas, o género, € distinta de sua existéncia em que a substincia € como sujeito; mas essa existéncia subjetiva do género é além disso, distinta da que recebe 0 género — ou © universal cm geral, desprendido como fal para si mesmo — naquele que representa, naquele que pensa. Essa individualida- de mais avangada, o solo da existéncia /ivre da substincia universal, é 0 Si do espirito pensante. O contetido das coisas naturais nio obtém por si mesmo a forma da universalidade ¢ essencialidade, € sua individualidade nfo é, ela mesma, a Jorma, que somente o pensar subjetivo para si, ¢ que na filosofia, da existéncia para si aquele contetido universal. O conteido humano, a0 conttario, € livre espirito mesmo, ¢ acede a existéncia em sua consciéncia-de-si. Esse contetido absolu- to, 0 espirito concreto em si mesmo, consiste justamente em tet por scu contetido a forma, o pensar, Aristételes se elevou a altura da consciéncia pensante dessa decerminagio, em seu coneeito da enteléquia do pensar, que € vonats tii vorjoews*, acima da idéia platonica (0 género, 0 substancial), Mas o pensar em geral contém (e na verdade por causa da mesma determinagio indicada) tanto 0 ser-para-si imediato da subjetividade como universalidade; ¢ a verdadcira idéia do espitito, em si conereto, esta tio essencialmente em uma de suas determinagdes — [na] da consciéncia subjetiva — como esta na outra, [na] da universalidade; ¢, em uma como na outra, € 0 mesmo contexido substancial. Mas dguela forma pertencem sentimento, intuigao, representagao; e é, antes, necessario que a consciéncia da idéia absoluta seja, quanto ao tempo, apreendida primeiro nessa figura e que em sua efetividade imediata exista primeiro como religigo do que como filosofia. Por sua vez, a filosofia s6 se desenvolve sobre a base da religifo, assim como a filosofia groga veio mais tarde que a religiéo grega, ¢ justamente sé atingiu ali s * Arise6ccles, Aeaafsice, XII, 9, 1074 b, 34 plena realizagdo ao aprender e a0 conceber, em sua essencialidade total deverminada, prinefpio do espirito que se manifesta primeiro na religido. Mas a filosofia grega s6 podia estabelecer-se em oposicao a sua religido; ¢ a unidade do pensamento, e a’substancialidade da idéia 36 podiam comportar-se hostilmente contra 0 politeismo da fantasia, as jocosidades graciosas ¢ frivolas dessas fiegies poéticas. A for- ‘ma em sua verdade infinita, a subjetividade do espitito, s6 se produziu primeiro como livre pensar subjetivo, que nto era ainda idéntico a sudstancialidade mesma, ¢ por isso nao era ainda apreendido como espirito absoluto, Assim, a rel somente pode aparccer purificada pelo pensamento puro, essente para si: pela filosofia; mas a forma imanente ao subs- tancial, que foi combatida por ela, era aquela fantasia poética. Estado, que se desenvolve igualmente — porém mais cedo do que a filosofia — a partir da religido, mostra na efetividade como corrupgao, a unilateralidade que a idéia, em si verdadei- ra, tem ncla, Platdo que, em comum com todos os pensado- Tes contemporineos seus, reconhecia essa corrupgao da de- mocracia, ¢ a falha mesma de seu principio, pds em evidén- cia 0 substancial, mas nao configurou na sua idéia de Estado a forma infinita da subjetividade, que ainda estava oculta para 0 seu espirito; por isso seu Estado é, nele mesmo, scm a liberdade subjetiva [$ 503, nota; §§ 513ss.]. A verdade, que devia habitar 0 Estado, constitui-lo ¢ dominé-lo, Plato, por ssc motivo, s6 a apreendeu sob a forma da verdade pensada, da filosofia, ¢ assim formulou aquela sentenga que, enquanto 0s filésofos no governarem nos Estados, ou 08 que no pre- sente se chamam reis € soberanos nio filosofarem de manei- ra profunda ¢ abrangente, ndo haveria para os Estados liber- tagio de seus males nem tampouco para o géncro humano, enquanto a idéia de sua Constituigio politica nio pudesse prosperar em [sua] possibilidade, e ver a luz do sol. Nao foi permitido a Platio poder avangar a ponto de dizer que, en- quanto a verdadeira religido nao surgisse no mundo ¢ nio se tornasse dominante nos Estados, 0 principio verdadeiro do Estado nao chegaria & efetividade. Mas, enquanto esse princt- pio no péde chegar ao pensamento, nao podia a idéia ver- dadeira do Estado scr apreendida pelo pensamento — a idéia da eticidade substancial, com a qual é idéntica a liberdade da consciéncia de si, essente para si. S6 no princfpio do espitito sabedor de sua esséncia, do espitito em si absolutamente vic, € tendo sua efetividade na atividade de sua libertacio, é que esti presente a absoluta possibilidade ¢ necessidade de que coincidam em um s6, 0 poder do Estado, religito ¢ os Principios da filosofia, ¢ de que se cumpra a reconciliagio da efetividade, em geral, com o espirito; do Estado com a cons- ciéncia religiosa e, igualmente, com o saber filoséfico. En- quanto a subjetividade essente para si é absolutamente idén- tica com a universalidade substancial, a religifo como tal, assim como o Estado como tal, enquanto formas em que existe 0 principio, contém neles a verdade absoluta de modo que esta, enquanto é como filosofia, esté ela mesma somente €m uma de suas formas. Mas enquanto a religido, também no desenvolvimento dela mesma, desenvolve as diferencas con- tidas na idéia, (§ 5668s.) entio o ser-ai pode — © mesmo deve — aparecer em seu primeiro modo imediato, isto é, cle mesmo unilateral, ¢ a existéncia da religiio ser corrompida em exterioridade sensivel ¢ portanto, além disso, em opres- sto da liberdade do espitito ¢ subversio da vida politica. Mas © principio contém a clasticidade infinita da forma absoluta, [que consiste em] vencer a corrupgao de suas determinagdes de forma, ¢, através dela, do contetido, ¢ efetuar a recon liagdo do espirito nele mesmo, Assim finalmente 0 principio da consciéncia religiosa © o da consciéncia ética se tornam uum s6 € 0 mesmo principio na consciéncia protestante — 0 espitito livre que se sabe em sua racionalidade e verdade. A constitui¢ao © a legislagdo, assim como suas aplicagdes, tem Por contetido o principio € 0 desenvolvimento da eticidade, que procede e s6 pode proceder da verdade da religiao, ver. dade instituida como seu principio [da eticidade], ¢ assim somente efetiva enquanto tal. A eticidade do Estado ¢ a espiritualidade religiosa do Estado sto, desse modo, para si as firmes garantias reciprocas. i boréfies Terceira Secao da Filosofia do Espirito in O ESPIRITO ABSOLUTO : Ss Coo 1118. (Hl.

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