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Sinopse:
Cultivar sua ampla fazenda no Wyoming é tudo que especialista em segurança J. C.
Calhoun quer. Sua terra é a única coisa em que o fazendeiro traído pode contar depois de
descobrir que sua noiva estava grávida de outro homem. Mas todo o estimado controle de
J.C. fica comprometido quando uma menininha perdida o leva a Colie Jackson, a mulher que
destruiu sua vida.
Colie não se detém ante nada para proteger as pessoas que ama. Anos atrás, ela
deixou J.C para o próprio bem dele. Agora, pelo bem de sua filha, ela deve depender de um
homem de coração duro que não a perdoará. Enquanto um grupo de criminosos implacáveis
rastreia todos os seus movimentos através do inverno gelado do Wyoming, Colie e J.C serão
forçados a confrontar as mentiras que os separaram e a verdade surpreendente que os ligará
para sempre...

DIANA PALMER

Wyoming Winter

Série Homens do Wyoming 07

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01
Colie Thompson estava ligeiramente em pânico. Seu irmão, Rodney, estava trazendo
o amigo J.C. Calhoun. J.C tinha trinta e dois anos, quase na idade limite para ser desligado
do serviço na Reserva do Exército. Ele e Rodney se conheceram no Iraque, quase quatro
anos atrás. Ambos os homens estavam na mesma unidade do Exército. Rodney estava no seu
primeiro ano de serviço. A unidade da Reserva do Exército de J.C. tinha sido chamada para
um trabalho temporário, e ele foi designado para a mesma área que Rodney estava. Em uma
dessas loucas coincidências, eles começaram a conversar e descobriram que moravam na
mesma cidade no Wyoming, J.C. estava agora trabalhando com outro residente de Catelow,
Ren Colter, a quem conheceu durante seu primeiro período de serviço. Rodney admirava
J.C., que era um pouco mais velho. O homem mais velho tinha sido policial antes de entrar
para o exército, quase doze anos antes.
Rodney deixou o exército antes de seu período oficial estar encerrado, ele nunca
disse o por quê. Ele ficou em casa por vários meses. Depois que J.C. terminou seu período
no exterior, ele veio ver Rod em casa algumas vezes, embora eles tivessem se afastado desde
que Rodney começou em um novo emprego. Eles ainda andavam juntos, mas não com a
mesma frequência. Uma visita marcante à casa dos Thompson foi no aniversário de Colie,
quando J.C., inesperadamente tinha dado a ela um gato. Foi o ponto alto de sua vida
recentemente. Ela chamou o enorme gato Siamês de Big Tom e ele dormia em sua cama
todas as noites.
Embora ele não viesse tanto para casa com Rodney, Colie frequentemente via J.C.
por Catelow, que era uma cidade pequena e muito unida. Havia apenas dois restaurantes, e
Colie, cujo verdadeiro nome era Colleen, trabalhava como recepcionista e digitadora para
um escritório de advocacia no centro da cidade. Inevitavelmente, ela via J.C. de vez em
quando, ocasionalmente com seu irmão. E como ele era solteiro, bonito, e principalmente
evitava as mulheres, era objeto de muitas fofocas.
Todas as vezes que ele via Colie sempre parava para conversar. Ele era educado,
provocador, amigável. Ele a aquecia por dentro. Uma vez, quando ele trouxe Rod para casa
depois que o carro dele falhou, J.C. a ajudou a colocar o casaco quando ela ia sair para
buscar a correspondência. Só o toque de suas mãos foi uma explosão de prazer. Quanto mais
o via, mais ela o desejava.
Rodney convidou J.C. para jantar algumas vezes, mas ele sempre dava uma desculpa.
Desta vez, ele aceitou. Foi logo depois de Colie ter começado a voltar para o escritório
caminhando, na neve, e J.C. parar e lhe dar uma carona pelo resto do caminho. Sentada com
ele, no aconchegante calor do grande SUV preto que ele dirigia, ela tinha hesitado em sair de
novo. Eles conversaram sobre as próximas eleições presidenciais, o estado do país, a beleza
de Catelow com a neve. Ele a provocou por usar sapatos de salto alto para trabalhar em vez
de botas apropriadas, por causa da neve já acumulada, e ela respondeu que as botas
dificilmente combinariam com o lindo conjunto que ela estava usando.
Ele franziu os lábios e olhou para ela, longa e intensamente, e disse que Colie ficaria
bem em qualquer coisa. Ela entrou no escritório de advocacia, relutantemente, corada e
radiante após o prazer inesperado da companhia dele.
J.C. trabalhava em tempo integral em um rancho na localidade, mas voltava
periodicamente ao exterior para treinar tropas no Iraque em operações policiais.

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Provavelmente voltaria para lá em alguns meses para treinar um novo grupo. J.C. trabalhava
como chefe de segurança para Ren Colter, que tinha uma enorme fazenda de gado, Skyhorn,
fora de Catelow, Wyoming. Ren era ex-militar também, e ele tinha alguém para substituir
J.C. enquanto ele ia para o exterior treinar os novos recrutas.
Dar ordens era algo em que J.C era muito bom. Ele também era lindo. Tinha cabelos
negros, curtos e olhos tão claros que cintilavam como prata. Era alto e musculoso, mas não
como um fisiculturista. Tinha o físico de um vaqueiro de rodeio, esbelto e poderoso. Colie
gostava de se sentar e olhar para ele quando tinha a oportunidade. Ela nunca conheceu
ninguém como ele. Ele tinha um passado sobre o qual raramente falava. Rodney havia dito a
ela que o pai de J.C. era um membro da nação Blackfoot no Canadá. Sua mãe era uma
pequena irlandesa ruiva. Uma união incomum, mas produziu um filho bonito. J.C nunca
falava sobre seu pai, acrescentou Rodney.
Colie queria uma família própria, desesperadamente. Ela e Rodney perderam a mãe
dois anos atrás para um câncer ósseo. Levou muito tempo para morrer, mas ainda assim, ela
tinha sido alegre e animada com seus filhos e seu marido. O pai de Colie era um pastor
metodista, um pilar da comunidade. Todo mundo o amava, não apenas a sua própria
congregação. Eles também adoravam a mãe de Colie. A pequena mulher, de nome Beth
Louise, mas chamada Ludie, sempre era a primeira a chegar se houvesse uma pessoa doente
que precisasse de cuidados ou uma criança que precisava de um lar temporário. Ela até
mesmo criava cães que eram recolhidos pelo abrigo de animais local enquanto esperavam
por uma família adotiva.
Todos tinham passado por tudo o que aconteceu junto com ela. A casa ficou de
repente vazia. Jared Thompson, o pai de Colie, ficou um pouco depressivo após a morte de
sua esposa, mas sua fé o consolou. Era porque, ele disse a Colie, que não tinha razão em
chorar por alguém que teve uma vida tão plena e tinha ido para um lugar mais feliz e
maravilhoso. A morte não era o fim para as pessoas de fé. Elas simplesmente tinham que
aceitar que as pessoas morriam por razões que talvez, não fossem bem claras para aquelas
que ficavam para trás.
Colie e Rodney também tinham sofrido. Rodney estava no exterior há quase quatro
anos, visitando-os ocasionalente. Ele não podia voltar para o funeral de sua mãe, embora ele
tenha falado com seu pai e irmã após o culto. Ele era um rapaz doce e obediente até entrar
para o exército. Quando voltou para casa, estava... diferente. Colie não conseguia descobrir
o porquê. Ele ficou obcecado por carros de luxo e roupas de grife, nenhum dos quais se
encaixa em seu pequeno orçamento. Ele conseguiu um trabalho na loja de ferragens local
quando voltou para casa, porque era de propriedade de um amigo do reverendo Thompson.
Rodney parecia ser um vendedor nato. Mas reclamava o tempo todo de receber o salário
mínimo. Ele queria mais. Ele nunca ficava satisfeito com nada por muito tempo.
Uma coisa incomodava Colie, seu irmão não parecia muito lúcido a maior parte do
tempo. Ele tinha olhos vermelhos e às vezes cambaleava. Ela estava preocupada com o fato
de ele ter sido ferido no exterior e não ter dito a eles. E sabia que não era álcool, porque
Rodney quase nunca bebia. Era intrigante.
Durante o tempo de serviço de Rodney no Oriente Médio, J.C. e ele saíam juntos
quando Rodney estava de folga. Rod não escrevia muitas vezes, mas quando o fazia,
mencionava coisas que ele e J.C faziam no exterior durante o tempo que J.C. estava lá. Eles
saíam pela cidade quando Rodney estava de folga. O curioso sobre J.C., Rodney havia
comentado é que ele nunca tomava bebidas fortes. Bebia uma cerveja ocasionalmente, mas
nada forte. Como Rodney. Mas o irmão que a provocava, trazia flores silvestres e assistia
televisão com ela parecia ter desaparecido. O homem que voltou do exterior era outra
pessoa. Alguém com uma escuridão interna, um desejo por coisas, por coisas materiais.

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Ele era eloquente sobre as coisas velhas na casa onde ele morava com sua irmã e pai.
Era rudimentar, ele zombava.
Colie não achava isso. A casa parecia acolhedora. A pequena casa estava imaculada,
pensou Colie enquanto olhava para o ambiente. O sofá tinha uma nova capa em um bonito
padrão vinho floral, e a poltrona acolchoada de seu pai tinha uma grossa capa vinho. Os
pisos de madeira impecáveis tinham tapetes, que eram limpos por Colie regularmente. Não
havia teias de aranha em qualquer lugar. A mesa de café coberta por um tampo de mármore
que seu pai havia encontrado em uma loja de antiguidades adornava a sala de estar, onde
uma lareira acesa crepitava com chamas laranja e o cheiro de carvalho queimado.
Colie não se achava também muito ruim, ela refletiu, olhando no espelho do corredor
para seus cabelos castanho-escuros e ondulados. Nunca precisava enrolá-los. Eram
naturalmente ondulados. Ela tinha um rosto oval, doce e agradável, mas não bonito. Seus
olhos eram grandes e verde-escuros sob espessos cílios. Sua boca formava um arco perfeito.
Ela tinha um corpo ampulheta1, com longas pernas sempre vestidas com jeans. Ela tinha
apenas alguns vestidos e um par de bons conjuntinhos, que ela usava para ir a igreja e
trabalhar no escritório do advogado local, onde era recepcionista e digitadora. Perto de casa,
ela usava jeans, botas e suéteres. Este, que estava usando, era num tom meio verde, de
mangas compridas e decote V. Ele revelava os seios pequenos e firmes de Colie de uma
forma agradável que a favorecia. Ela nunca usava decotes baixos nem vestidos indecentes.
Afinal, seu pai era pastor. Ela não queria fazer nada que o embaraçasse na frente de sua
congregação. Ela nem sequer xingava.
Rodney fazia. Ela estava constantemente repreendendo-o por isso.
Assim que pensou nele, ele entrou pela porta, batendo a neve de suas botas grandes
na varanda da frente enquanto deixava a porta aberta, deixando entrar um vento forte gelado.
Ele fechou rapidamente a porta atrás dele.
─ Porra, está frio! - Ele praguejou. ─ Neve filha da...
Ela o interrompeu.
─ Você vai parar com isso? Papai é um pastor. - Ela lamentou. ─ Rodney, você é tão
irritante!
Ele tinha os mesmos olhos verde-escuros que ela, mas seu cabelo era liso, cheio e um
tom mais claro do que o dela. Ele era alto, com dentes perfeitos e um sorriso despreocupado.
Rodney não era nenhum anjinho, ele sempre teve problemas durante o ensino médio.
Provavelmente, ele havia se comportado melhor nas forças armadas, uma vez que ele foi
dispensado cedo.
─ Papai sabe xingar. - Ele retrucou. ─ Você não o ouviu?
─ Sim, Rodney, ele diz " droga! ". É assim que ele xinga. - Ela olhou para ele. ─ Isso
não é o que você diz quando perde a paciência. E ele também a perdia muito ultimamente.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu tenho problemas. - Ele disse simplesmente. ─ Eu estou trabalhando nisso. Você
tem que lembrar que eu convivi com soldados e em combate por vários anos.
─ Eu tento levar isso em conta. - Disse ela. ─ Mas você não poderia mudar seu jeito
de falar, apenas um pouquinho? Em consideração a papai?
Ele fez uma careta para ela.
─ Deus, é difícil atender as suas expectativas, você sabe disso? - Ele suspirou,
exasperado. ─ Você nunca passou dos limites. Nunca teve uma multa por estacionar em
local proibido, nunca teve uma multa por excesso de velocidade, nem mesmo atravessou a
rua fora da faixa! Como tentar atender as espectativas de um modelo de perfeição!

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1- Corpo ampulheta - Considerado o corpo ideal,pois a forma já é harmônica, com ombros e quadris com
tamanhos iguais ou parecidos e cintura bem marcada.

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Ela fez uma careta.
─ Eu simplesmente me comporto como a mãe me ensinou. - O pensamento a deixou
triste. ─ Você não sente a falta dela?
Ele assentiu.
─ Ela era a mulher mais gentil que já conheci. Bem, além de você. - Ele riu e a
abraçou, e por um minuto, ele era o irmão mais velho que adorava. ─ Você é apenas a
melhor, maninha.
Ela retribuiu o abraço.
─ Eu também te amo. - Ela sentiu o cheiro e seu nariz enrugou enquanto recuava. ─
Rodney, o que é esse cheiro? - Ela perguntou, franzindo o cenho enquanto ela o cheirava de
novo. ─ É como o tabaco, mas não é.
Ele a afastou e desviou os olhos.
─ Apenas a fumaça do cigarro. Algumas coisas
importadas. Eu tenho um amigo que as recebe.
─ Não J.C. Ele não fuma. - Disse ela, intrigada.
─ Não J.C. - Ele concordou. ─ É um cara que eu conheço
de Jackson Hole. Eu e meu amigo nos encontramos às
vezes.
─ Oh. - Ela sorriu. ─ Desculpa. Achei que era maconha.
Ele levantou ambas as sobrancelhas.
─ Se eu fumasse maconha nesta casa, papai chamaria o xerife Cody Banks e faria
com que ele me levasse para o centro de detenção do condado em um piscar de olhos! Você
sabe disso!
─ Bem, sim, eu sei. - Ela não acrescentou que muitos rapazes fumavam aquelas
coisas horríveis e conseguiam evitar que seus pais desconfiassem. Ela tinha uma amiga no
ensino médio que se gabava disso.
Colie nunca usou drogas de qualquer tipo, especialmente nenhum tipo que tivesse
que ser fumada. Ela tinha pulmões fracos. Ela não fumava, ponto.
─ Você não disse que J.C. estava vindo para jantar? - Perguntou depois de um
minuto, tentando não parecer tão excitada quanto se sentia.
─ Ele está. - Disse Rodney, franzindo os lábios ao ver a emoção que ela estava
tentando tão fortemente esconder. Ela era um livro aberto, especialmente sobre seu melhor
amigo. ─ Ele estará aqui em alguns minutos. Ele teve que realizar algumas tarefas para Ren.
─ Oh. OK. Eu ainda tenho as peras restantes do Dia de Ação de Graças que temos
que comer, e purê de batatas e uma salada verde, com torta de maçã para a sobremesa. Ele
gosta de peru, não é? - Ela acrescentou com preocupação.
─ Ele não é exigente sobre comida. - Ele disse, sorrindo para ela. ─ Na verdade, ele
disse que cobra não era ruim se você tivesse pimenta suficiente...
─ Eca! - Ela explodiu.
─ Ele era das operações especiais, de apoio quando estava no Exército. - Ele riu. ─
Esses caras podem comer qualquer coisa e têm que comer, quando estão em missão. Insetos,
cobras, tudo o que eles puderem pegar. Houve um cara ligado à unidade dele e da Ren no
exterior, anos atrás, que preparou um gato velho para eles quando não conseguiram
encontrar algo mais para comer.
─ Oh, isso é cruel. - Disse ela, estremecendo.
─ Era um gato muito velho. - Ele respondeu. ─ Eles estavam famintos. - Ele hesitou.
─ Ele disse que tinha um sabor horrível, e eles ficaram doentes.
─ Bom! - Ela devolveu com entusiasmo.
Ele riu e abraçou-a novamente.

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─ Você é uma "manteiga derretida." - Ele falou. ─ Você é como a mamãe. Ela amava
seus gatos. - Ele franziu a testa, olhando ao redor. ─ Onde está o Big Tom?
─ Lá atrás, perseguindo coelhos. - Disse ela. O grande gato Siamês seal point2
adorava ficar do lado de fora. Ele ficava durante a noite dentro de casa, porque havia
predadores ao redor, incluindo ursos, raposas e lobos. A casa dos Thompsons estava fora de
Catelow, junto a uma floresta de pinheiros lodgepole, sem vizinhos muito próximos, exceto
Ren Colter. A fazenda de Ren fazia divisa com a propriedade de Thompson, mas ele não
levava o gado perto o suficiente para preocupar-se com os moradores.
─ Engraçado. - Comentou Rodney, pensando em Big Tom.
─ O que é engraçado?
─ J.C. dando-lhe um gato. - Observou.
Colie tinha ficado comovida com aquele presente incomum de J.C. Foi um presente
de aniversário, ele encontrou o gato rodeando sua cabana. E tinha feito o veterinário banhá-
lo e vaciná-lo, para depois trazê-lo para Colie, que era uma boba com os animais
abandonados. Big Tom acabou por ser domesticado e nunca usou suas garras nos móveis.
Ele era uma grande companhia para Colie enquanto seu pai visitava sua congregação, o que
ele fazia com frequência. Rodney estava fora do exército, então havia apenas Colie na
pequena casa. Bem, Colie e Big Tom.
─ Ele é um gato muito bom. - Ela observou.
Rodney riu.
─ J.C. não é bom com animais, embora ele goste deles. Ele é bom com gado. Até o
lobo de Willis o deixa acariciá-lo. Isso é uma proeza, acredite em mim. - Ele acrescentou
com irritação. ─ A porra da coisa quase arrancou a minha mão quando eu tentei...
─ Rodney!
Ele rangeu os dentes.
─ Oh merda.
─ Rodney!
Ele soltou um suspiro.
─ Arranje uma jarra. - Disse ele com resignação. ─ Eu colocarei uma moeda nela
sempre que esquecer que não devo xingar.
─ Se eu fizer isso, nós poderemos tirar férias no Tahiti em um mês. - Ela protestou.
Ele riu.
─ Não é legal.
─ Vou encontrar uma jarra grande. - Ela argumentou. ─ E você vai colocar vinte e
cinco centavos. Toda vez.
Ele respirou fundo e apenas sorriu.
─ Ok, Joana D'Arc.
Ela riu e voltou para a cozinha para verificar a torta de maçã no forno.

***
J.C. parecia incrívelmente belo em um casaco de pastor3, jeans e botas, com uma fina
camada de neve em seus cabelos grossos, pretos e descobertos.

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Seal point - Espécie de gato siamês que tem a cara, as patas e o rabo marrom escuro e o corpo creme.

3
shepherd coats

8
─ Você nunca usa um chapéu. - Murmurou Colie, tentando não deixar suas mãos
tremerem enquanto pegava o casaco para pendurar para ele. Ele era tão alto que tinha que
ficar na ponta dos pés para retirá-lo de seus ombros.
─ Eu odeio chapéus. - Ele comentou. Ele olhou para ela enquanto colocava o casaco
no cabide no corredor, seus olhos cinza e pálidos se estreitaram e observaram o corpo
esbelto e sexy. Ela se vestia de maneira comportada, mas sabia tudo sobre as mulheres que
fingiam um comportamento exemplar quando tinham companhia. Ela tinha terminado a
escola, estava na faculdade, ele estava certo disso, ela tinha que ter no mínimo vinte e dois
ou vinte e três anos. Catelow tinha milhares de pessoas, e J.C. não se misturava com elas.
Ele só sabia o que Rodney lhe falava sobre sua irmã. E isso não era muito.
─ Eu percebi. - Disse Colie quando se virou, sorrindo.
Seus olhos observaram os seios dela e ele lutou contra uma furiosa excitação que não
sentia há muito tempo. Ele tinha mulheres, mas isso o atingiu de uma maneira diferente. Ele
não podia explicar como, exatamente. Isso o irritou e ele franziu o cenho.
─ Não foi uma reclamação. - Acrescentou Colie rapidamente, sem entender a
expessão no rosto dele.
Ele encolheu os ombros.
─ Sem problema. O que vamos comer?
─ Sobras de peru com molho de cranberry, purê de batatas, salada e torta de maçã. -
Ela hesitou, insegura. ─ Tudo bem?
Ele sorriu, seus dentes brancos perfeitos visíveis sob lábios cinzelados e sensuais.
─ Está ótimo. Eu adoro peru. - Ele riu. ─ Eu também gosto de frango, embora eu
geralmente consiga o meu em um balde.
Seus olhos se arregalaram.
─ Você coloca em um balde, como faz com o leite tirado da vaca? - Ela perguntou,
chocada.
Ele olhou para ela.
─ Tem uma lanchonete chamada Chicken Place4.4 Eles vendem frango, biscoitos e
costelas...
Ela ficou vermelha como fogo.
─ Oh, Deus, desculpe, não sei no que estava pensando. - Ela balbuciou. ─ Vamos
entrar! Papai já está na mesa.
Rodney foi na frente, mas J.C. deslizou um dedo longo dentro da parte de trás do
suéter de Colie e gentilmente a deteve. Ele se aproximou, por isso ela pode sentir o calor e a
energia dele em suas costas de uma maneira que fez seu coração acelerar e seus joelhos
tremerem.
─ Eu estava provocando. - Ele sussurrou, seus lábios roçando a orelha dela.
A respiração dela era audível. E seu corpo inteiro estava trêmulo.
As grandes mãos dele seguraram os ombros dela e a mantiveram no lugar enquanto
os lábios dele desciam por sua garganta em uma carícia suave que a fez derreter por dentro.
─ Você gosta de filmes? - Ele sussurrou.

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Balde do chicken place

9
─ Bem, sim...
─ Sábado vai estrear uma nova comédia no cinema. Venha comigo. Nós podemos
jantar no Fish Place no caminho.
Ela se virou, chocada.
─ Você... quer sair comigo? - Ela perguntou, seus olhos verdes muito abertos e
cheios de alegria.
Ele sorriu devagar.
─ Sim. Quero sair com você.
─ Sábado?
Ele assentiu.
─ Que horas?
─ Vamos marcar por volta das cinco.
─ Isso seria adorável. - Ela disse, afogando-se em seus olhos, eufórica com a alegria
que ele acabava de acender nela com o convite inesperado.
─ Adorável. - Ele murmurou, mas estava olhando para sua boca.
─ Colie? jantar? - A divertida voz do pai flutuou da sala de jantar.
─ Jantar. - Ela ficou aturdida. ─ Oh. Jantar! Sim! Chegando!
J.C. seguiu atrás dela, seu sorriso tão presunçoso e arrogante quanto o olhar em seu
rosto. Colie o queria. Ele sabia disso sem que fosse precido dizer uma palavra.

***
Ele puxou a cadeira para Colie sentar, para espanto dela, e então puxou uma cadeira
para si mesmo.
─ É bom ter você conosco, J.C. - Disse o reverendo com delicadeza. ─ De graças,
Colie, por favor. - Acrescentou.
J.C sentiu-se atordoado quando os outros inclinaram a cabeça e Colie murmurou uma
oração.
Ele não era muito religioso, mas curvou sua cabeça. Quando em Roma...

***
Foi uma refeição agradável. O Reverendo Thompson pareceu surpreso com o
conhecimento de J.C. sobre a história bíblica, quando ele mencionou uma escavação recente
em Israel que havia encontrado novas relíquias da antiguidade, J.C. comentou sobre isso
com alguma autoridade.
─ Minha mãe era do sul da Irlanda. Católica. - Ele acrescentou calmamente. ─ Ela
estava sempre pedindo ao sacerdote local que lhe emprestasse livros sobre arqueologia. Era
uma paixão dela.
─ Ela não conseguia tirá-los pela internet? - Perguntou Rodney.
J.C. riu.
─ Nós moramos no Yukon5, Rod. - Ele disse com alguma diversão. ─ Nós não
tínhamos televisão nem internet.
─ Sem TV? - Exclamou Rodney. ─ O que você fazia para se divertir?

5
Yukon - É o mais ocidental e o menor dos três territórios federais do Canadá. O território é limitado no oeste
pelo Alasca, a leste pelos Territórios do Noroeste e ao sul pela Colúmbia Britânica. O território tem a menor
população de qualquer província ou território no Canadá.

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─ Caçava, pescava, ajudava a cortar lenha, aprendia línguas estrangeiras com os
meus vizinhos. Lia. - Acrescentou. ─ Ainda não vejo televisão. Eu não tenho uma.
─ Você ouviu isso? - Reverendo Thompson interveio, apontando para J.C. ─ Assim é
como as pessoas se tornam inteligentes, não assistindo outras pessoas tirando suas roupas e
usando linguagem vulgar na televisão!
─ Esse é o seu discurso. - Disse Rodney complacentemente. ─ Ele só me permite ter
TV por assinatura porque eu o ajudo a pagar por isso.
─ O mundo é perverso. - Dizia o reverendo. ─ Tanta imoralidade. É como lutar
contra um tsunami.
─ Calma, papai, você faz a sua parte para impedir isso. - Disse Colie gentilmente, e
sorriu.
Ele sorriu de volta.
─ Você é meu legado, querida. - Disse ele. ─ Você é tão parecida com sua mãe. Ela
era uma mulher gentil. Ela nunca foi com a multidão.
─ Eu odeio multidões. - Disse Colie.
─ Eu também. - Acrescentou Rodney.
J.C apenas olhou para o espaço.
─ Eu odeio pessoas. A melhor delas irá se voltar contra você, se tiver a
oportunidade.
─ Filho, essa é uma atitude muito severa. - Disse o reverendo suavemente.
J.C. terminou seu peru e tomou um café preto.
─ Desculpa. Nós somos produtos do nosso ambiente, tanto quanto da nossa genética.
- Ele olhou para o homem mais velho com olhos tristes. ─ Eu fui traído pelas pessoas que
mais amei. Isso não incentiva a confiança.
─ Você deve considerar que todos nós temos um propósito. - Disse o reverendo
solenemente. ─ Ouvi dizer que as pessoas entram em nossas vidas, quando o fazem, por um
motivo. Algumas fazem aflorar boas qualidades em nós, outras reforçam o mal. A vida é
uma prova.
─ Se for assim, eu tenho certeza que já estou reprovado. - Rodney suspirou. E
balançou a cabeça em direção a Colie. ─ Ela tem uma jarra grande. Toda vez que eu xingo,
tenho que colocar uma moeda de vinte e cinco centavos. Vou falir em alguns dias! - Ele
gemeu.
O Reverendo Thompson riu com vontade.
─ Agora, isso é pensamento criativo, minha menina!
─ Eu faria uma reverência, mas a torta ficaria fria. - Ela provocou, enquanto servia.
Ela notou que J.C. parecia adorar isso. Ele olhou para ela, a viu observá-lo e sorriu. Ela
corou e se atrapalhou com seu garfo.
O reverendo observou o jogo com diversão e preocupação. Colie era inocente. Ele
percebeu coisas sobre J.C., que tornava evidente sua aversão pela vida familiar e por filhos.
Colie queria casamento e filhos. J.C. não. Era um desajuste que poderia levar à tragédia a
sua filha. Ele via o perigo à frente e desejava poder detê-lo.
Eles tinham parentes em Comanche Wells, Texas, uma pequena cidade no condado
de Jacobsville.
Ele poderia enviar Colie para lá. E ela ficaria longe de J.C...
Assim que pensou nisso, percebeu o quão impraticável era essa ideia. Colie tinha um
bom emprego. Ela amava Catelow. E se o seu suspiro contínuo sobre J.C. Calhoun fosse
uma indicação, ela já estava apaixonada. Ela nunca teve muitos encontros, exceto por um
encontro duplo ocasional com uma amiga mais velha que mais tarde se casou e se mudou
para Billings. Ela não saía por estes dias. Ela trabalhava, cozinhava, limpava e lia livros.

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Mesmo o reverendo percebia que não era uma vida adequada para uma jovem mulher, que
deveria estar aprendendo sobre a vida.
Era apenas que ela iria aprender coisas que ele reprovava. Ele olhou para J.C., viu o
modo como o homem estava observando Colie, e algo dentro dele apertou como uma corda
ao redor de sua garganta. Ele desviou os olhos. Não sabia o que fazer. Ele só sabia que Colie
estava caminhando para o desastre.

***
Colie acompanhou J.C. até a varanda, onde uma pequena luz brilhava sobre a cabeça.
A neve estava caindo suavemente.
─ Eles dizem que teremos 15 cm de neve. - Ela observou com um longo suspiro.
Ele sorriu.
─ Posso dirigir com 1 metro de neve. - Ele murmurou. ─ Se o cinema estiver aberto,
iremos lá. Se não estiver, você pode voltar para casa comigo e eu vou ensinar-lhe como
jogar xadrez.
Seus lábios se abriram em uma onda de excitação. Ele realmente queria estar com
ela. Ele não estava provocando. Ela levantou o rosto para os olhos prateados, pequenos e
pálidos e não queria mais nada no mundo do que estar em seus braços.
Ele viu o olhar. Isso o divertiu. Ela estava representando com calma. Fazendo a
inocente, mostrando todo o tipo de excitação no ponto certo para uma mulher em seu
primeiro caso de amor. Ele não acreditava no que estava vendo. Havia tido muita
experiência com mulheres que fingiam uma suposta inocência, apenas para se tornarem
gatas selvagens na cama. Era uma questão de confiança, ele supôs. Ele não confiava nas
mulheres. E tinha boas razões para não fazê-lo.
Mas ele estava disposto a entrar no jogo. Na verdade, ele conhecia truques que Colie
talvez não conhecesse. Ele se aproximou, segurando-a gentilmente pela cintura e afastou-a
dele um pouco.
─ Você sentirá frio. - Ele sussurrou, inclinando a cabeça para que sua boca estivesse
acima da dela, sem tocar, apenas provocando.
─ Não está tão frio. - Ela sussurrou em resposta, sua voz instável enquanto ela olhava
para a boca de J.C., focava nela com toda o desejo reprimido que ela estava guardando para
o homem certo, na hora certa, no lugar certo.
─ Não está? - Sua voz era profunda e aveludada. Ele roçou o nariz contra o dela,
enquanto suas mãos grandes subiam e desciam por sua caixa torácica, quase tocando seus
seios tensos, mas não tocavam.
Seus lábios se separaram. Sentia-os inchados. Ela se sentia inchada por toda parte. E
não conhecia o suficiente sobre os homens para entender o que ele estava fazendo com ela.
Era um jogo. Um jogo muito antigo. Instigar e recuar, para exitar uma mulher ainda mais.
─ Eu tenho que ir. - Ele sussurrou, sua respiração misturada com a dela, ele estava
tão perto.
─ Você tem? - Ela estava na ponta dos pés agora, quase implorando pela boca dura
cinzelada tão perto da dela. Ela quase podia provar o café nela.
─ Eu tenho. - Ele roçou o nariz contra o dela novamente, provocou sua boca sem
tocá-la, e de repente a afastou. ─ Não fique aqui fora. Você ficará com frio.
─ O... Ok. - Disse ela. E ficou desapontada, frustrada.
Ele percebeu isso. Isso o deleitou. Ele sorriu para ela.
─ Eu vou ver você sábado. Cinco em ponto.
Ela assentiu.

12
─ Cinco em ponto.
─ Boa noite, Colie.
Ele desceu os degraus antes dela poder responder e voltou ao seu SUV preto. Entrou,
deu partida no motor, deu ré e afastou-se. Ele não olhou para trás. Nem uma vez.

***

Colie voltou para dentro, frustrada e gelada. Por que ele não a beijou? Ela sabia que
ele queria. Seus olhos mostravam o desejo enquanto olhavam para seus lábios abertos. Mas
ele a afastou. Por quê?
Ela desejava ter, realmente, uma amiga muito próxima, alguém em quem pudesse
confiar, conversar sobre homens e suas reações. Bem, havia Lucy, no trabalho, a coisa mais
próxima que ela tinha de uma amiga. Mas ficaria muito envergonhada para perguntar a
Lucy, que era casada, sobre homens e métodos sensuais. Lucy saberia por que ela queria
saber, e ela provocaria Colie, que era muito tímida para chamar a atenção. Até agora, ela se
perguntava por que J.C estava tão hesitante em beijá-la, quando sabia que ele queria. As
fofocas sussurradas, os filmes e os programas de televisão explícitos na verdade não a
tinham ensinado sobre como os homens se sentiam e por que se comportaram de maneiras
estranhas.
Ela começou a limpar a mesa da sala de jantar.
─ J.C. partiu bem? - Perguntou seu pai.
Ela assentiu e sorriu.
─ Está nevando novamente.
─ Eu percebi. - Ele ainda estava sentado à mesa, com sua segunda xícara de café
preto. E respirou fundo. ─ Colie, eu sei como você se sente a respeito de J.C. - Ele disse
inesperadamente. ─ Mas você deve lembrar que ele não é um homem que se casa.
Ela parou o que estava fazendo e olhou para ele. Sua expressão o fez estremecer.
─ Você nunca teve contato com ninguém como ele. - Seu pai continuou calmamente.
─ A maioria dos meninos que você namorou era como você, inocente e contrário ao mundo
moderno. J.C. viu o elefante6, como costumavam dizer os antigos cowboys. Ele é viajado e
viveu entre homens violentos...
─ Eu sei tudo isso, papai. - Disse ela suavemente. ─ É só... - Ela mordeu o lábio
inferior. ─ Eu nunca me senti assim.
─ Você só tem dezenove anos. - Ele respondeu. ─ Esses sentimentos são naturais.
Mas você também deve lembrar que, apesar do que você vê nas mídias sociais, pessoas de fé
vivem de acordo com certas regras. A nossa fé prega que nos casamos, então temos filhos.
Não incentiva a intimidade fora do casamento.
─ Eu lembro.
─ É natural sentir essas coisas. Nós somos humanos, afinal. Mas apenas porque
muitas pessoas fazem algo imoral, isso não o torna certo. Qualquer homem que realmente te
ame, vai querer se casar com você, Colie, ter filhos com você, ir à igreja com você. Se você
se relaciona com um homem que não tem fé, corre o risco de cair na mesma armadilha que
muitas mulheres jovens caem. Eu vi o resultado de relacionamentos rompidos onde crianças
ilegítimas estavam envolvidas. Não é algo que eu quero que minha filha experimente.

6
A frase Viu o elefante é um americanismo que se refere a ganhar experiência do mundo a um custo
significativo. Foi uma expressão popular do meio do final do século 19 em todo os Estados Unidos.

13
Ela queria mencionar que havia o controle de natalidade, mas mordeu o lábio. Seu
pai, como muitos de sua congregação, via as coisas sob um prisma diferente do resto do
mundo. Ele estava fora de contato com o que era natural para jovens mulheres hoje.
Ela queria J.C. Por que era tão errado dormir com alguém que amava? Era tão natural
como respirar. Pelo menos, ela imaginava que era. Ela nunca tinha estado intimamente com
ninguém. Um encontro a tinha apalpado por baixo da blusa, mas seus esforços para despi-la
tinham sido interrompidos e Colie não lamentou isso. Ela estava curiosa, mas o menino não
a excitou com seus beijos.
J.C., por outro lado, a fez enlouquecer por algo que nunca teve. Ela o queria. Seu
corpo ardia, pela primeira vez. Ele sentia o mesmo por ela, ela tinha certeza disso. Exceto
que ela não entendia por que ele se afastara tão de repente, por que ele não a tinha beijado.
Era perturbador.
─ Pense em sua mãe. - Acrescentou o reverendo, quando viu que seus argumentos
não surtiram efeito.
Ela ergueu os olhos.
─ Mamãe?
─ Ela era o ser humano mais decente que já conheci. - Disse ele. ─ Ela esperou o
casamento. Eu também, Colie . - Ele acrescentou surpreendentemente. ─ Eu a amava quase
além do suportável. - Ele baixou os olhos. ─ A vida sem ela ficaria vazia, se não fosse pela
minha fé e meu trabalho. Eu continuo, porque isso é o que ela ia querer que eu fizesse. - Ele
olhou para cima. ─ Ela esperaria que você vivesse uma vida decente.
Sim, Colie concordou em silêncio. Mas talvez sua mãe não estivesse tão excitada
quanto Colie, tão apaixonada. Seus pais estiveram juntos em um momento diferente, quando
as coisas eram menos permissivas em cidades pequenas. Por Deus, metade dos jovens da
cidade estavam em relacionamentos. Poucos deles eram casados.
─ Se você viver com alguém, vai conhece-lo e descobrir se é a pessoa certa o
suficiente para se casar. - Ela arriscou sem olhar para ele.
Ele respirou devagar e tomou um gole de café.
─ É a sua vida, Colie. - Ele disse gentilmente. ─ Você é uma mulher adulta. Não
posso te dizer como viver. Só posso dizer-lhe que muitas pessoas que vivem em um
relacionamento aberto não se casam. Não existe um verdadeiro compromisso. Não é como
em um casamento, onde você traz filhos para o mundo e os cria. J.C. não quer filhos.
─ Ele poderia mudar de ideia. - Disse ela.
─ Ele poderia. Mas eu duvido que o faça. Ele tem quantos anos, trinta e dois? Se ele
ainda se sente desse jeito, na idade dele, é improvável que mude. Há mais uma coisa. - Ele
acrescentou calmamente. ─ Você não pode se envolver com alguém pensando que pode
mudar as coisas sobre ele que você não gosta. As pessoas não mudam. Os maus hábitos só
pioram.
─ Ele não gosta de crianças. - Ela começou, movendo os talheres em um prato vazio.
─ Mas, isso pode mudar, se ele tivesse um filho.
Ele fechou os olhos e estremeceu.
Colie viu isso. Isso a feriu.
─ Papai, eu não posso evitar como me sinto. - Afirmou ela. ─ Estou louca por ele!
Ele respirou fundo.
─ Eu sei. - Ele olhou para ela e viu sua determinação teimosa. Ele terminou o café e
ficou de pé. Ele beijou sua bochecha. ─ Eu sempre estarei aqui para você. Sempre. Não
importa o que você faça. Eu sou seu pai. Eu vou sempre amar você.
Lágrimas surgiram em seus olhos. Ela largou os pratos e o abraçou, lágrimas
desceram pelos olhos dela.

14
Ele acariciou suas costas e beijou seus cabelos, como fazia quando era muito
pequena, se machucava, e corria para ele procurando conforto. Sempre foi assim. Ela amava
muito a mãe, mas ela era a menina do papai.
─ Tudo vai dar certo. - Disse ele, tentando tranquilizá-los.
─ Claro que sim. - Ela respondeu, lutando contra as lágrimas.

15
02
Colie estava vestida e pronta para ir às três horas do sábado, e tão nervosa que
dificilmente podia se sentar em qualquer lugar. J.C tinha dito que comeriam no Fish Place,
mas não sabia se ele gostaria que ela usasse um lindo vestido ou jeans ou o que. Ela nunca o
tinha visto com um terno ou mesmo com uma jaqueta convencional, então ela assumiu que
ele usaria jeans, como sempre fazia.
Ela usava jeans lavado, com inserções de renda no lado da bainha até o joelho, com
uma bonita blusa branca, também com inserções de renda. Em contraste com os cabelos
escuros e a pele azeitonada clara7,7 ela parecia exótica. A excitação fazia com que seus olhos
verdes brilhassem. Ela parecia quase linda, mesmo sem um pingo de maquiagem, o que ela
detestava. Ela tinha uma tez naturalmente suave, que realçou com apenas um pouco de pó e
um batom brilhante. Não podia suportar máscara para cílios. Na verdade, era alérgica à
maioria delas. Mas ela tinha cílios grossos e negros que parecia usá-la.
Seu cabelo era naturalmente ondulado. Tudo o que ela fez foi lavá-lo e penteá-lo. Ela
sorriu para sua imagem no espelho. Não estava nada mau, pensou. Talvez J.C a beijasse. Ela
conteve a respiração pelo prazer antecipado. J.C era experiente. Ele sabia como beijar.
Felizmente, ele a ensinaria, porque ela não tinha ideia.
─ Se arrumando? - Rodney provocou quando se juntou a ela no corredor. ─ Você
parece linda, maninha.
Ela riu.
─ Obrigada.
─ Você sabe, J.C. não quer uma família. - Ele disse inesperadamente. ─ Ele não tem
nenhuma restante. Sua mãe está morta, e ele e o pai não se falam. Não tenho certeza se ele
sabe onde está seu velho.
Ela se virou e olhou para ele.
─ Por quê?
─ Ele não fala sobre isso. - Disse ele. ─ Ele deixou escapar algo, apenas uma vez,
sobre uma família que o adotou quando tinha dez anos. Um homem e sua esposa, no Yukon.
Ela era uma professora. Assim como a mãe dele, então talvez eles se conhecessem ou algo
assim. Enfim, ele morou com eles por um tempo. Uma tragédia aconteceu, houve um
incêndio. Ambos morreram. J.C. tem estado sozinho há muito tempo.
─ Ele tem você. - Disse ela.
─ Nós não somos tão próximos. - Ele respondeu. ─ Você não consegue se aproximar
dele. Ele não confia nas pessoas. Ele não compartilha nada. - Ele franziu a testa. ─ Eu sei
como você se sente. Talvez isso possa mudar. - Ele acrescentou quando viu a expressão
dolorida dela. ─ Somente não o deixe machucá-la, ok?
─ O que você quer dizer?
─ Ele teve essa experiência realmente ruim com uma mulher. Ele não me contou.
Ouvi isso de uns caras que estavam com ele no exterior, que estavam no treinamento básico
com ele. Ela era uma prostituta. Ele não sabia. Naquela época, ele tinha muito pouca

7
Pele azeitona(oliva) clara

16
experiência com as mulheres e era ingênuo. Ele se apaixonou perdidamente por ela. Então
ele a ouviu falar sobre ele para outro homem, rindo de como ele tinha comprado-lhe tantas
coisas sofisticadas e ele achava que ela era inocente. Ela disse que tinha aperfeiçoado aquela
pose há anos, porque muitos de seus clientes gostavam. J.C ficou fora de controle. Eles
disseram que ele destruiu um bar e colocou outro homem no hospital depois. Quando ele
saiu do exército, o cara disse que ele estava tão diferente que quase não o conhecia mais. -
Ele acrescentou calmamente. ─ Ele teve alguns golpes.
─ Pobre cara. - Ela disse suavemente.
─ Então é melhor prevenir do que remediar. - Acrescentou. ─ A atitude do J.C. em
relação às mulheres mudou depois disso. Ele não é um playboy, mas ele tem mulheres.
Ela trincou os dentes. Ela suspeitava disso, mas estava aprendendo coisas sobre J.C
que eram muito perturbadoras.
─ Muitos homens são assim. Não são? Eles ainda se casam e formam famílias...
─ Não conte com isso. - Ele rebateu. ─ J.C. faz um trabalho que convida a violência,
você não notou? Ele dirige a segurança para o rancho de Ren, e ele vai ao exterior o tempo
todo para ajudar a treinar policiais, em áreas onde a insurgência é alta. Ele gosta do risco.
Isso não combina com escolas primárias e festas de aniversário, docinho.
Ela estava se sentindo pior a cada minuto.
Rodney viu isso e estremeceu.
─ Eu sei como você se sente sobre ele. - Ele disse em um tom mais gentil. ─ É por
isso que estou dizendo essas coisas. Você já sabe que o papai não acompanha a evolução.
Ele vive em um mundo de fantasia, um mundo de felizes para sempre, porque ele e mamãe
tiveram isso. Não funciona assim para a maioria das pessoas. Nós aproveitamos o que
podemos conseguir e partimos pra outra.
─ Você quer dizer que nós devemos desfrutar do que temos e não devemos olhar
para o futuro. - Ela disse em um tom cínico.
─ Algo assim. - Ele respirou fundo. ─ Colie, não estou tentando magoá-la. Eu só
quero que você saiba o que vai enfrentar. J.C. é meu amigo. Mas você é minha irmã. Ele não
respeita as mulheres. Não mais.
Ela moveu o ombro impacientemente.
─ Você acha que eu não deveria sair com ele.
Ele hesitou. Havia razões pelas quais ele queria mantê-la afastada de seu melhor
amigo que não tinham nada a ver com seu bem-estar. J.C. era um defensor da lei e da ordem.
Rodney estava envolvido em coisas muito ruins. J.C sabia que ele usava drogas, e era
por isso que eles não passavam tanto tempo juntos como tinham feito no exterior. Ele sabia
outras coisas sobre Rodney que ele não queria que seu pai descobrisse também. J.C não o
delataria porque ele não sabia o que realmente estava acontecendo. Mas sua irmãzinha o
faria, se suspeitase de alguma coisa. Ele precisava evitar que ela se aproximasse do seu
amigo.
Por outro lado, ele se preocupava com ela, a sua maneira.
─ Querida, faça o que achar melhor. - Disse ele depois de um minuto. ─ Eu vou estar
do seu lado. Qualquer que seja a sua decisão. Ok?
Ela o abraçou impulsivamente, sua bochecha descansando em seu peito de modo que
ela não viu o olhar angustiado no rosto dele.
─ Obrigada, Rod. - Ela recuou. ─ Papai disse que sempre estaria aqui para mim,
aconteça o que acontecer. - Ela olhou para cima. ─ Ele acha que não posso resistir a J.C.
─ Nenhuma mulher pode resistir a ele, se ele a quiser. - Disse ele. Se conteve e
apertou os dentes.

17
─ Está tudo bem. - Ela disse, forçando um sorriso. ─ Ele gosta de variedade, todos
dizem.
─ Ele é assim, agora. - Ele respondeu. ─ Antes, aquele cara me disse, ele era o
Sr.Convencional. Isso mudou depois que aquela prostituta o enganou.
─ Alguém deveria dar a ela um pouco do seu próprio veneno.
─ Mulheres assim não sentem nada, querida. - Disse Rodney. ─ Elas são frias como
gelo por dentro. Uma mulher que se prostitui geralmente faz isso porque é dinheiro fácil.
Talvez seja uma questão de controle. Isso dá à mulher um poder sobre um homem, quando
ela vende um serviço.
Ela apenas assentiu. Era um mundo que ela nunca tinha visto.
─ Talvez você consiga trazer de volta o antigo J.C. - Ele disse gentilmente. ─ Quem
sabe?
Ela sorriu.
─ Certo. Quem sabe?
Ela o cheirou.
─ Honestamente, Rod, parece que você fumou!
─ Meu amigo de Jackson Hole veio me visitar. Ele está hospedado em um motel
local. Tenho que ir vê-lo esta noite, então vou chegar tarde. Muito tarde. Estamos falando
com outro homem que ele conhece, da Costa Oeste.
Ela franziu a testa. Isso parecia estranho.
─ Equipamentos para a loja de ferragens. - Disse ele rapidamente. ─ São amostras de
ferramentas.
─ Oh! Eu entendo. - Ela riu e se virou. E não viu o olhar de culpa que Rodney
rapidamente fez desaparecer.

***
J.C., como ela supôs, estava usando calças jeans com botas feitas à mão, uma camisa
xadrez azul de mangas compridas e um casaco de pastor. Ele sorriu quando viu sua roupa
bonita, mas casual.
─ Eu esperava que você percebesse que esse não é um encontro formal. - Ele riu. ─
Eu deveria ter dito isso.
─ Oh, tudo bem. - Ela assegurou. ─ Eu leio mentes.
Suas sobrancelhas escuras arquearam.
─ Verdade. - Ela disse, seus olhos verdes brilhando.
─ Se você está dizendo. - Ele retrucou. ─ Pronta para ir?
─ Oh, sim.
Seu pai saiu para corredor, olhou para J.C e sorriu. Ele tinha um livro em suas mãos.
─ Diverta-se. Não chegue tarde demais, Colie, por favor?
─ Eu não vou papai. - Ela o beijou. Embora ele sorrisse, havia preocupação em todo
o seu olhar enquanto ele voltava para o seu escritório. Ele não disse uma palavra a J.C.
─ Papai não fica à vontade com as pessoas. - Colie o defendeu quando estavam
instalados no grande SUV preto de J.C. indo para a cidade. ─ É engraçado, para um
ministro, porque ele tem que estar disponível para sua congregação quando eles precisam de
aconselhamento ou conforto.
─ Percebi.
─ Não é que ele não gosta de você. - Ela estava tentando bravamente explicar algo
que não era realmente explicável.
Ele olhou para ela e sorriu.

18
─ Tudo bem. - Ele disse suavemente. ─ Não se preocupe.
Ela sorriu.
─ OK.
─ Você gosta de peixe?
─ Oh, sim. Frito, ensopado, grelhado, de qualquer maneira. E você?
Ele riu.
─ Eu cresci no Yukon. Há lagos e rios em todos os lugares. Meu avô me ensinou a
pescar quando tinha cerca de quatro anos de idade.
Ela notou que ele não falava do pai, e ela lembrou o que Rodney lhe havia dito.
─ Meus avós estavam mortos quando nasci. - Disse ela. ─ Eu só tinha uma avó viva,
e ela morreu quando estava na escola primária.
─ Isso é triste. Eu tive meu avô até minha mãe morrer. Ele era um grande
companheiro velho. Blackfoot8. - Ele acrescentou com um sorriso. ─ Sua família veio de
Calgary. - Ele notou seu olhar perplexo. É em Alberta. Oeste do Canadá. Alguma vez você
ouviu falar do Calgary Stampede?9 É um rodeio que eles fazem todos os anos. Meu avô
cavalgou nele.
─ Poxa! Sim, já ouvi falar disso.
─ Meu pai não se importava muito com o rodeio, mas ele estava no bulldogging10
com o meu avô quando viu uma pequena linda mulher irlandesa nas arquibancadas,
animando-o. Ele a encontrou após o evento e começou a conversar com ela. Ele estava
fascinado com o tom da pele dela. Ela era estudante de antropologia, e era fascinada pelas
pessoas da Primeira Nação11, como meu pai. Eles namoraram por uma semana e se casaram.
─ Me impressiona que você teve uma mãe ruiva. - Disse ela, olhando para ele. Seu
cabelo era preto como o carvão, seus olhos eram estranhos, lindos tom de prata pálida.
Ele riu.
─ Não parece, não é?
─ Na verdade não.
─ Eu herdei meus olhos dela. Eles eram cinza pálido, como os meus.
─ Você a amava.
Ele olhou para a estrada coberta de neve.
─ Muito. Ela sempre esteve lá para mim. Ela correu terríveis riscos para me proteger.
- Ele respirou fundo. Ele nunca falou sobre essas coisas, nem mesmo para Rodney. Havia
algo em Colie que atraía sua confiança. ─ Eu a perdi quando tinha dez anos. Eu fui viver
com uma família adotiva. - Ele forçou um sorriso. ─ Eles eram pessoas boas e gentis. Eles
não tinham filhos próprios, então eu fui muito mimado. - Seu rosto endureceu. ─ Eles
morreram em um incêndio. Eu estava chegando em casa da escola. Cheguei um pouco antes
das ambulâncias e dos caminhões dos bombeiros. - Ele evitou seus olhos. A memória ainda
era dolorosa. ─ Eu não consegui tirá-los. Toda a estrutura estava comprometida até então.
─ Sinto muito. - Ela disse gentilmente.
A simpatia mexeu com algo dentro dele, algo que ele havia escondido há anos.

8
O Blackfeet Piegan, Pikuni em Blackfoot, são uma tribo de nativos americanos, muitos dos quais vivem
atualmente na nação Blackfeet, no noroeste de Montana com a população centrada no Browning.
9
O Calgary Stampede é um rodeo, conhecido como o maior do mundo, que ocorre todos os anos, de 4 a 14
de Julho na cidade de Calgary, Alberta, Canadá. O evento reúne peões de diferentes países em competições
de montaria e laço
10
Bulldogging - É uma modalidade cronometrada de Rodeio, onde o cowboy pega o "boi a unha".Praticada
por dois competidores:um cavaleiro cerca o garrote, enquanto o outro trata de agarrar seus chifres e virá-lo
para derrubá-lo.
11
- Primeira nação - Povos indígenas, predominantes no Canadá.

19
─ Não consegui passar pelas chamas da porta da frente. - Ele trincou os dentes. ─ Eu
tentei. Um vizinho me puxou de volta e sentou-se comigo enquanto os bombeiros tentavam
apagar o fogo. Eles eram boas pessoas.
O rosto dela se contraiu. Ela só podia imaginar ficar impotente enquanto as pessoas
que amava morriam.
Ele olhou para ela, viu a simpatia que não era fingida.
─ Você não pressiona, não é? - Perguntou depois de alguns segundos, sua atenção
voltando para a estrada. ─ Você simplesmente deixa as pessoas falarem quando quiserem.
Ela sorriu com tristeza.
─ Não sou interessante. - Disse ela. ─ Eu escuto mais do que falo.
─ Eu notei isso sobre você, quando a conheci, que você ouve mais do que a maioria
das pessoas fazem. Rod costumava falar sobre sua irmãzinha que se sentava, sonhava
acordada e tocava violão. Você ainda toca?
─ Não frequentemente. Eu não pratico tanto quanto eu costumava. Tenho um
emprego em tempo integral e estou fazendo cursos noturnos em negócios dois dias por
semana.
─ Você trabalha para Wentworth e Tartaglia, não é? - Ele perguntou, nomeando um
bem conhecido escritório de advocacia em Catelow.
─ Sim. Eu fui trabalhar para eles quando terminei o ensino médio.
─ Isso foi há um tempo atrás, eu suponho. - Ele riu.
Isso foi há seis meses, mas ele não sabia sua idade real, aparentemente. Rod não deve
ter mencionado isso. Ela também não iria. Se ele soubesse que tinha apenas dezenove anos,
talvez não a convidasse para sair. Ele tinha trinta e dois anos, Rod lhe disse. Assim era
melhor deixá-lo pensar que ela era mais madura do que era. Ela não podia suportar pensar
que ele não gostaria de continuar saindo com ela.
─ Eu acho. - Ela respondeu com um sorriso.
Ele se acalmou. Ele nunca perguntou a Rod quantos anos tinha sua irmãzinha. Ele
sabia que havia alguns anos entre eles, mas não quantos. Não importava. Ele não queria nada
sério. Ele só queria alguém meigo e receptivo com quem passar o tempo. Ela não parecia ser
a espécie de mulher que se apegaria, e isso lhe servia muito bem.

***
O Fish Place estava lotado, mas J.C encontrou uma mesa para eles que estava sendo
desocupada e a segurou antes de outro jovem casal. Eles riram quando ele sorriu para eles.
─ Uau. - Murmurou Colie, deixando-o ajudá-la a sentar. ─ Essa foi uma boa
aquisição.
─ Obrigado. Eu também posso fazê-lo com posições inimigas. - Ele riu.
Ela inclinou a cabeça e riu.
─ Você realmente tem um instinto para isso.
─ Estou com fome e o lugar está lotado. O que você vê que você quer?
Ela queria dizer "você ", mas era muito tímida para flertar abertamente. Ela abriu o
menu e fez suas escolhas.

***
Eles comeram em um confortável silêncio.
─ Você pesca? - Perguntou ele.
Ela parou com o garfo no ar.

20
─ Bem, sim. - Disse ela. ─ Eu costumava ir com o papai. Nós nos sentávamos na
doca por horas esperando que algo mordesse. Não pegávamos muita coisa.
─ Na primavera, eu vou levar você para pescar.
Seu coração saltou. Esse era um convite de longo prazo. Ela estava tocada.
─ Eu adoraria isso. - Disse ela, com o coração nos olhos que deslizavam sobre o
rosto dele como se o explorasse com as mãos.
─ Eu também. - Ele disse suavemente.
Ele prendeu seu olhar por tanto tempo que seu coração bateu acelerado e seus dedos
tremeram. Ela deixou cair o garfo em seu prato com um estrondo que a atordoou. Ela
desviou o olhar por isso, ruborizando.
Ele riu. Sua reação impetuosa a ele era deliciosa. Ele não conseguia se lembrar de um
momento em que uma mulher o atraíra tanto de uma maneira além de puramente física. Ele
odiava a lembrança da prostituta que destruiu seu orgulho e seu ego. Mas isso foi antes de se
tornar experiente e sofisticado. Isso foi antes de virar o jogo, e fazer as mulheres
implorarem por ele e depois se afastar delas.
Seus olhos cinzas pálidos observaram o rosto de Colie. Ele poderia fazer isso com
ela? Fazê-la implorar, obrigá-la a fazer o que quisesse, e depois ir embora? O pensamento de
desistir dela era inquietante, mesmo nesta fase muito precoce do seu relacionamento. Melhor
não pensar nisso. Viver o momento.
Ele sorriu para ela.
─ Como está o peixe? - Ele perguntou, para relaxar a tensão.
─ Está ótimo. - Disse ela. ─ Eu também adoro as batatas fritas. Eles fazem de batatas
frescas. Não há coisas congeladas aqui.
─ Percebi. Eu sou apreciador de uma boa batata frita.
─ Eu faço para o papai às vezes. Ele gosta de peixe e batatas fritas.
─ Seu pai não gosta de mim.
─ Não é isso. - Ela teve dificuldade para encontrar as palavras. ─ Ele é protetor
comigo. Ele sempre foi. Eu vou a escola dominical e a igreja aos domingos, canto no coro,
dou aulas para as crianças na escola dominical. - Ela mordeu o lábio inferior. ─ Eu acho que
isso parece dolorosamente conservador para alguém como você, viajado e sofisticado. Mas
por aqui, é mais ou menos o normal. Não que todos sejam conservadores. - Confessou. ─
Temos pessoas em nossa congregação que vivem juntas e não são casadas, temos pessoas
que usam drogas, temos pessoas que têm bebês fora do casamento, coisas assim. Papai
nunca julga, ele apenas tenta ajudar.
Os olhos dele baixaram até o seu prato. Ele não estava no mercado para uma esposa.
Ela sabia?
─ Eu sei que você não é o tipo que se assenta, J.C. - Ela disse do nada. ─ Mas eu
gosto de sair com você.
Os olhos dele se ergueram. Ele riu rapidamente.
─ Você realmente lê a mente, não é?
Ela sorriu, os olhos verdes brilhando.
─ Eu também vejo o futuro, mas não quando papai pode me ouvir. - Ela sussurrou. ─
Ele acha que é bruxaria!
Ele sorriu de volta.
─ A minha avó paterna podia ver o que ia acontecer. - Disse ele. ─ Ela tinha visões.
Suponho que um médico poderia dizer que tinha uma aura de enxaqueca e estava
alucinando, mas suas visões eram bem precisas. Ela via o futuro.
─ Ela alguma vez falou o seu?

21
Ele assentiu. E franziu o cenho quando terminou a refeição e levantou a xícara com o
café preto frio até os lábios cinzelados e sensuais.
─ Sim, mas não fez nenhum sentido real.
─ O que ela disse?
Ele abaixou a xícara.
─ Ela disse que um dia eu gostaria de algo fora do meu alcance, que eu tomaria
decisões ruins e causaria uma tragédia que me machucaria tanto quanto machucaria a outra
pessoa. Ela disse que uma terceira pessoa sofreria muito por isso. - Ele fez uma pausa e
depois riu da expressão intrigada dela. ─ Às vezes, ela era vaga. Eu também era muito
jovem na época. Ela disse que eu era muito jovem para entender o que ela estava me
dizendo. - Seu rosto se endureceu. ─ Eu a perdi ao mesmo tempo que perdi minha mãe. E
perdi contato com meu avô. Quando eu tinha idade suficiente para procurá-lo, ele estava há
muito tempo morto.
─ Realmente sinto muito. - Disse ela calmamente. ─ Eu sei o que é perder pessoas
que você ama. Pelo menos, ainda tenho o papai e Rod.
Ele entendeu o que ela não estava dizendo. Ela estava dizendo que J.C. não tinha
ninguém.
Ela estava certa.
Sua mão grande alcançou a dela e fechou-se sobre ela.
─ Você tem a habilidade para me fazer contar minhas memórias dolorosas. - Ele
disse calmamente. ─ Eu não tenho certeza de que gosto disso.
Ela sentiu seu coração disparar com o toque da mão dele na sua. Era como pequenos
choques elétricos passando por ela. Ela adorava a forma como se sentia de mãos dadas.
─ Você não deixa as pessoas se aproximarem. Eu sou assim também. - Ela confessou
hesitante. ─ Mas nós somos diferentes, porque eu confio nas pessoas e você não. Eu sou
tímida, então eu me preservo.
Com o polegar ele acariciou a palma da mão macia e úmida dela. Ele a estudou
calmamente. ─ Eu gosto da minha própria companhia.
Ela assentiu.
─ Eu também.
─ Mas eu também gosto da sua.
Ela sorriu.
─ Verdade?
─ Verdade. - Seus dedos apertaram. ─ Teremos que fazer isso de novo.
─ Isso seria legal.
─ Sobremesa?
─ Eu realmente não gosto de doces. - Ela confessou.
Ele riu.
─ Algo mais em comum. OK. Filme em seguida. - Ele pagou a conta, a ajudou a
levantar da cadeira e partiram.

***
O filme era engraçado. Colie pensou que provavelmente teria gostado, mas todo o
seu corpo estava envolvido com a sensação do braço de J.C. em torno dela no fundo do
cinema, em uma das poltronas de casal. Os dedos dele acariciavam lentamente a sua
garganta, seu ombro, até seu tórax, em carícias leves e sutis que faziam seu coração acelerar,
seu corpo se sentir inchado e excitado.

22
A bochecha dele descansava em seus cabelos escuros enquanto observavam a tela. O
cinema não estava lotado, apesar das excelentes críticas que o filme havia tido. Um
lanterninha passou. Ele subiu e desceu os corredores e saiu.
─ Sozinhos finalmente. - J. C provocou a sua orelha e os lábios dele percorreram seu
pescoço até chegar a junção com o pescoço, debaixo da blusa de renda.
Ela sentiu apenas a ponta da língua ele ali e estremeceu. Ela nunca teve uma reação
física tão grande a qualquer homem que já conhecesse. Os meninos em seu círculo de
amigos eram exatamente isso: meninos. Este era um homem experiente, e sabia que se
alguma vez as coisas esquentassem, não haveria como resistir a ele.
J.C sabia disso também. Isso deveria ter lhe agradado. Não agradou. Ela não era o
tipo de mulher com quem ele estava acostumado. Ela era como sua avó. Sua mãe. Elas
também eram conservadoras. Nenhuma delas foi infiel a seus companheiros. Sua mãe falou
que era tão ingênua que quase não sabia como beijar quando se casou com seu pai. Eram
mulheres de fé, embora sua mãe fosse católica e sua avó uma praticante da religião nativa.
Eles eram o tipo de mulheres que amavam seus homens e formavam famílias com eles. J.C.
não queria nada disso.
Mas ele adorava a sensação do corpo suave de Colie ao lado dele. Ele a queria,
desesperadamente. Havia tantos motivos por que ele deveria simplesmente se afastar,
interromper isso agora, enquanto ainda havia tempo.
Sua bochecha movia-se contra seus cabelos. Ele quase podia sentir seu coração
batendo. Sua respiração era superficial e rápida. Ela estava tremendo.
Ele tinha que lutar contra a crescente necessidade de deitá-la no chão e tê-la ali
mesmo. Era a primeira vez em sua vida que ele havia desejado alguém tanto assim.
Porque isso o abalava, ele se afastou um pouco. Ele tinha que desacelerar as coisas.
Ele precisava de tempo para pensar.
Ela parecia perdida quando ele se afastou. Ele pegou sua mão na dele e segurou-a
apertado.
Ela relaxou. Era como se ele estivesse tranquilizando-a, esfriando as coisas. Ela
agradecia por isso, porque sentiu a necessidade dele. Talvez ele estivesse sozinho por muito
tempo, pensou, e estava excitado. Isso a perturbou. Ela não podia fazer o que ele queria, não
sem algum tipo de compromisso. Ela não podia envergonhar o pai em uma cidade tão
pequena que as fofocas corriam desenfreadas.
Ela forçou um sorriso e tentou se concentrar no filme.

***
J.C. a levou para casa, ainda segurando sua mão. Ele gostava muito dela, mas estava
ficando com receio. Isso seria um erro se ele deixasse continuar. Ele deveria tê-la deixado
em paz. Ela estava envolvida emocionalmente e ele não podia se permitir isso. Ele gostava
muito da sua liberdade.
Ele a acompanhou até a porta.
─ Foi um filme muito bom.
─ Sim, foi. - Ela concordou, pensando particularmente que não conseguia se lembrar
de uma única cena.
Ele a virou para ele e se mostrou solene na luz da varanda.
─ Não é prudente começar coisas que não se pode terminar. - Disse ele depois de um
minuto.
Seu coração contraiu, mas ela entendeu. Ele não queria se envolver. Ela sabia disso.
Ainda assim doía.

23
Ela forçou um sorriso.
─ Entretanto, isso foi legal. Peixe e um filme.
Ele assentiu. E parecia preocupado. Sua mão grande tocou a bochecha dela, sentiu
seu calor, seus contornos suaves.
─ Você vive em uma família conservadora. - Ele começou. ─ Você tem um trabalho
convencional. Eu não. Gosto de aventura...
Ela estendeu a mão e tocou os lábios dele com a ponta dos dedos.
─ Você não precisa dizer isso, J.C. - Ela disse suavemente. ─ Eu compreendo.
Ele segurou os dedos dela e os beijou com avidez. Então ele se afastou.
─ Você é uma mulher legal. - Disse ele depois de um minuto.
─ Obrigada.
─ Não foi um elogio. - Ele disse sarcasticamente.
Ela riu.
Ele respirou fundo e sacudiu a cabeça. Ela era um enígma.
Ele enfiou as mãos nos bolsos do casaco, para não fazer o que queria com elas.
Inclinou a cabeça e a estudou através de olhos semicerrados.
─ O que eu estou pensando?
─ Que você gostaria de me dar um beijo de boa noite, mas você acha que eu posso
me tornar dependente, então você vai correr para o seu caminhão e ir para casa. - Disse ela
simplesmente.
As sobrancelhas dele arquearam. Isso era tão próximo da verdade que o deixou
desconfortável.
Ela riu.
─ Agora você está pensando que eu sou uma bruxa. - Ela murmurou.
A respiração dele saía acelerada como as águas em um rio caudaloso.
─ E agora você está chocado. - Ela continuou. ─ Está tudo bem. Estou acostumada
com isso. Um dos meninos Kirk se casou com uma vidente. Eu não estou nem perto de sua
categoria, mas ela disse que as pessoas nem entravam no escritório onde ela trabalhava
porque tinham medo dela.
─ Não tenho medo dos videntes. - Ele respondeu.
─ Você está apenas incomodado, porque é uma dessas coisas arrepiantes que as
pessoas mantêm ocultas. - Disse ela.
Ele desatou a rir e balançou a cabeça.
─ Meu Deus.
─ Não costumo falar sobre isso com as pessoas. Eu não gostaria que meus chefes me
despedissem porque os clientes fugiram para as colinas.
─ É um dom raro. - Disse ele depois de um minuto.
─ Pode ser. - Disse ela, mas seu rosto se tornou sombrio.
Os olhos dele se estreitaram.
─ Você vê coisas que não queria ver.
Ela assentiu.
─ Eu sei quando coisas ruins vão acontecer com as pessoas que eu amo. - Disse ela
com tristeza. ─ Eu sabia quando minha avó ia morrer. Ela também tinha o dom.
─ O que ela contou sobre você?
Ela moveu sua bolsa em suas mãos.
─ Ela disse que minha vida seria difícil. - Ela respondeu. ─ Que eu tomaria uma
decisão muito ruim e pagaria um preço alto por isso. Ela disse que eu me casaria, mas não
por amor, e essa tragédia me perseguiria como uma fera por vários anos. Mas que eu teria
uma vida feliz e plena depois.

24
Ele ficou surpreso com eram parecidas as previsões que sua avó e a dela haviam feito
para ambos.
─ É estranho, não é? - Ela perguntou, como se ela tivesse lido o pensamento em sua
mente. ─ Quero dizer, que a sua avó lhe disse quase o que o mesmo que a minha.
─ Estranho. - Ele concordou.
─ Por outro lado, talvez ambas estivessem simplesmente divagando. - Disse ela, e
sorriu. ─ As previsões são exatamente isso. Previsões. Não leio o futuro. Eu só tenho uma
sensação de frio e vazio quando algo ruim está para acontecer.. Principalmente quando diz
respeito a papai.
─ Eu nunca senti isso.
─ Sorte sua. - Disse ela. E examinou o rosto magro dele. ─ Você teve uma vida
difícil, J.C. Eu nem tenho que conhecer você. Nota-se. Tanta dor...
─ Pare agora mesmo. - Ele interrompeu, seu maxilar retesado.
─ Ultrapassei os limites, não é? - Ela perguntou, e sorriu. ─ Desculpa. É só eu abrir a
boca e troco os pés pelas mãos, o tempo todo.
Isso o divertiu e ele riu.
─ Foi uma noite agradável. Obrigada. - Disse ela.
Ele deu de ombros.
─ Foi legal. - Ele concordou. ─ Mas nós não vamos fazer isso novamente.
─ Claro que não. - Ela concordou, escondendo a dor.
─ Eu não estou no mercado para uma cerca de piquete 12, não importa o quão atraente
seja o acessório.
Demorou um minuto, mas ela entendeu. E riu.
─ Ok.
─ Você é rápida.
─ Não tanto. - Ela suspirou. ─ Foi divertido.
─ Sim, foi divertido. Boa noite.
─ Boa noite.
─ Diga a Rod que eu ainda estou no jogo de poker, se ele estiver. Ele vai entender. -
Ele acrescentou quando se virou para sair.
─ Eu vou dizer a ele.
Ele se forçou a caminhar até o SUV, abrir a porta, entrar e dar a partida. Ele não
olhou para ela. Se ele tivesse olhado, sabia que não poderia partir.

***
Colie o olhou enquanto partia. Ele não acenou. Não olhou para trás. Ela teve uma
sensação de perda terrível. Mas ele estava certo. Eles não tinham futuro. Suas perspectivas
eram muito diferentes. Ainda assim, ele precisava de alguém. Ele estava tão sozinho, tão
atormentado.

12
As cercas de piquete são um tipo de cerca frequentemente usado decorativamente para limites
domésticos, distinguidos por suas placas verticais uniformemente espaçadas, os piquetes , anexados a trilhos
horizontais. As cercas de piquete são particularmente populares nos Estados Unidos, como a cerca de
piquete branco que simboliza a vida suburbana da classe média ideal.

25
Ela abriu a porta e entrou. Seu pai acabava de sair de seu escritório. Seu rápido olhar
mostrava que foi um encontro comum, e que nada havia acontecido. Ele tentou esconder sua
sensação de alívio.
─ Divertiu-se? - Perguntou ele.
─ Oh, sim. - Disse ela, sorrindo. ─ Foi um ótimo filme. Jantamos no Fish Place. Eu
adoro suas batatas fritas.
─ Elas são boas. - Disse, balançando a cabeça. Ele inclinou a cabeça. ─ Vão sair de
novo?
Ela balançou a cabeça negando.
─ Ele é muito legal, mas odeia cercas de piquete. - Disse ela.
Ele se aproximou. Ela estava representando e ele sabia disso. Ela estava magoada.
─ Filha. - Ele disse gentilmente. ─ Há uma razão para tudo, um plano que está por
trás de tudo o que nos acontece. Você deve deixar a vida acontecer. Você não pode forçá-lo
a ser o que você gostaria que ele fosse.
Ela sorriu e o abraçou.
─ E não podemos nos envolver com pessoas que não são como nós. Eu sei tudo isso.
É o que ele disse também. - Ela fechou os olhos. ─ Ainda assim dói.
─ Claro que sim. Mas a dor passa. Tudo passa com o tempo.
─ Sim. Com o tempo. - Ela concordou.

***

Mas não passava. Toda vez que Rod mencionava J.C., Colie sentia como uma facada
em seu coração. Ela sabia que J.C era totalmente errado para ela. Isso não ajudava. Ela o
queria. Ela o amava. Estava faminta por ele.
Ela ia trabalhar, voltava para casa, cozinhava, limpava, lia livros, ia para a cama. Ela
se levantava no dia seguinte e fazia as mesmas coisas. Mas se sentia tão vazia como uma
bola de tênis.

***
Ela não sabia, mas J.C estava tendo o mesmo problema. Todos os dias, ele ia
trabalhar e era assombrado pelo brilho suave de um par de olhos verdes carinhosos. Ele
estava acostumado com mulheres que o queriam. Mas que o amassem... era novidade. Era
assustador.
Ele poderia tê-la e depois se afastar? Ele não a teria e poderia continuar a viver? Ele
se afligia por isso.
Seu chefe, Ren Colter, notou sua preocupação enquanto examinavam uma cerca
caída no limite da propriedade.
─ Essa árvore precisa ser derrubada. - Comentou Ren.
─ Eu direi a Willis. - Respondeu J.C. Willis era o capataz.
─ O que está acontecedo com você? - Ren perguntou de repente, valendo-se da
amizade que os dois mantinham há anos. ─ Você não é mais o mesmo.
─ Apenas algumas noites sem dormir, isso é tudo. - J.C. mentiu.
─ Umhmmm. E não teria algo a ver com Colie Thompson?
Os olhos cinza pálido de J.C. brilharam.
─ Escute, só porque a levei para ver um filme...

26
─ Ei! - Disse Ren de maneira sucinta. ─ Você esteve suspirando por aqui por uma
semana,como um fantasma tentando encontrar um lugar para assombrar. Eu ouvi dizer que
ela está fazendo o mesmo.
─ Ela está? - Perguntou J.C.
A expressão do outro homem era como uma declaração. Ren riu.
─ Você tem que seguir o caminho para ver onde ele conduz. Pergunte a si mesmo,
você está mais feliz agora?
─ Não.
─ Então, por que você não faz algo sobre isso?
J.C. apertou o queixo.
─ O pai dela é pastor e eu não quero me casar.
─ Você não precisa propor casamento apenas porque estão tendo alguns encontros. -
Foi a resposta razoável. ─ Precisa?
J.C. suspirou.
─ Isso irá complicar as coisas.
─ A vida é muito curta para evitar complicações.
J.C. o estudou. Depois de um minuto, ele riu brevemente.
─ Suponho que sim.

***
Colie estava simplesmente entrando em sua velha caminhonete no estacionamento do
escritório de advocacia onde trabalhava quando um grande SUV preto estacionou no local
ao lado dela.
Ela virou-se e J.C. estava saindo dele.
Ele parou na frente dela. Ele parecia irritado, em conflito, preocupado. Ele respirou
fundo.
─ Para o inferno com isso. - Ele disse bruscamente.
─ O quê? - Ela começou.
Ele a puxou para dentro de seus braços e inclinou a cabeça.
─ Vamos viver um dia de cada vez. - Ele sussurrou enquanto sua boca descia suave e
lentamente sobre a dela.
Ela o teria questionado, mas um choque de prazer percorreu todo o seu corpo e a
deixou tremendo. Ela estendeu a mão e o abraçou, como se sua vida dependesse disso,
enquanto ele se banqueteava com a boca macia e ansiosa.

27
03
Passou muito tempo antes de J.C. levantar a cabeça. O beijo havia preenchido um
lugar vazio dentro de si mesmo que ele nem conhecia. O rosto de Colie estava corado, sua
linda boca em forma de arco estava inchada, seus olhos verdes suaves e entorpecidos pela
emoção. Ele ficou intrigado com o fato dela não retribuir o beijo com a mesma intensidade
com que se permitia ser beijada. Talvez, pensou, seus outros namorados não se importassem
com as preliminares. Ele também estava acostumado com mulheres experientes que também
não se interessavam por isso. Elas geralmente estavam muito excitadas, muito ansiosas, e
simplesmente não se importavam com isso.
Ele teve um último pensamento suspeito sobre ela, Rod era filho de um ministro, mas
fazia coisas às escondidas, J.C. pensou que Colie provavelmente era tão sexualmente ativa
quanto o irmão, mas ela representava para o pai. Ela certamente não estava protestando
agora.
J.C a tinha tão perto que ela sentiu o quanto ele estava excitado. Nunca tinha sentido
um homem assim, mas era uma grande leitora. E sabia através de seus romances como os
corpos dos homens mudavam quando queriam uma mulher. Saber que JC a queria tanto a
deixava muito feliz.
Ela não queria desanimá-lo, mas não tinha certeza de como iria viver com o que
certamente ele iria querer dela. Ela tinha vivido uma vida decente, nunca deu um passo
errado. E mesmo assim aqui estava a tentação e o pecado, vestindo jeans e morrendo por ela.
Ela suspirou.
─ Isso foi agradável.
─ Agradável. - Ele riu, olhando ao redor enquanto dava um passo para trás. ─ Sorte
não existir muito tráfego nesta rua lateral neste momento do dia. - Ele se aproximou. ─ Eu
estava faminto.
─ Eu percebi. - Ela sussurrou, e corou.
Ele acariciou o cabelo dela.
─ Eu vou buscá-la em uma hora. É tempo suficiente para você fazer algo para seu pai
e Rod?
─ Oh, sim. - Ela mentiu. Ela arranjaria algo. Havia sobras que ela poderia reaquecer.
─ Onde vamos?
─ Para Jackson Hole. - Ele disse com um sorriso. ─ Eu vou levá-la a uma boate.
Você tem um vestido deslumbrante?
O rosto dela mostrou o desapontamento.
Droga! Ele havia esquecido. Seu pai não encorajaria esse tipo de coisa. Ela
provavelmente não possuía um vestido de noite.
─ Mudança de plano. - Ele disse abruptamente. ─ Use jeans e nós iremos a um
cassino perto de Lander. Eu vou ensinar-lhe como jogar nas máquinas. - Ele riu.
Ela sorriu.
─ Eu não tenho um vestido de noite. Eu acho que percebeu isso, hein?
─ Nós teremos que fazer algo sobre isso. - Ele começou.
─ Não, não teremos. - Ela respondeu bruscamente. ─ Eu pago as minhas coisas. Só
esclarecendo apenas no caso de você pensar em me comprar um.
As sobrancelhas dele realmente se arquearam agora.

28
─ É apenas um vestido..
─ Eu pago as minhas coisas. - Ela repetiu. Ela tinha um olhar teimoso em seu rosto.
Ele reconheceu o olhar, porque ele mesmo tinha um igual. Ele riu.
─ Ok, senhorita Independência. Nós faremos as coisas do seu jeito.
Ela sorriu.
─ Tudo bem. Estarei pronta e esperando.
Ela ainda estava corada. Ele adorava sua reação a ele. Nenhuma retirada tímida,
nenhuma provocação. Ela apenas mergulhava de cabeça quando ele a tocava. Era um bom
presságio para o futuro. Ele teve um pouco de remorso, mas passou rapidamente. Ela tinha
idade suficiente para saber como o jogo funciona, e ele estava certo de que não seria seu
primeiro homem. Por que isso o perturbava? Era estupido. Ele nunca foi o primeiro homem
de ninguém.
─ Eu a verei em uma hora. - Ele disse a ela.
─ OK.
Ela o viu ir embora. Ela entrou no seu velho e acabado caminhão que consumia
muita gasolina e olhou para si mesma no espelho retrovisor. Ela parecia... amada. Perdeu o
fôlego enquanto revivia o beijo faminto e apaixonado, o primeiro desse tipo que já havia
recebido. Ela estava apaixonada por J.C. E ele devia sentir algo por ela, porque voltou
quando disse que não voltaria.
Ela sorriu durante todo o caminho para casa. E só parou quando teve que dizer ao pai
que estava saindo com J.C e viu o desapontamento e a tristeza no rosto dele.

***

Rod ainda não havia chegado quando ela se arrumou para o encontro. Ela preparou
um parco jantar para o pai. Ela não estava com fome. A excitação a fez perder o apetite.
─ Onde você está indo? - Seu pai perguntou suavemente quando terminou a refeição
improvisada.
Ela juntou os dentes.
─ Para Lander. - Ela disse com um sorriso forçado. ─ É perto de Jackson Hole...
─ Cassinos. - Disse seu pai com um profundo suspiro. Ele estudou seu rosto culpado
calmamente. ─ É a sua vida, Colie. Não interferirei. Mas você está indo por um caminho que
eu não gostaria de você fosse. Eu acho que você já sabe que J.C. não é uma pessoa de fé.
─ Eu sei disso. As pessoas podem mudar. - Ela disse teimosamente.
─ Elas podem. Mas a maioria não faz. - Ele disse estranhamente pessimista. Ele
fechou as mãos em torno de sua xícara de café. ─ Tente não deixá-lo influenciá-la
negativamente. Você foi criada para ter princípios. Não os descarte por um homem que
nunca se casará com você.
─ Ele não é um homem mau. - Disse.
─ Eu nunca disse que ele era. Eu só estou dizendo que ele está acostumado a um
estilo de vida muito diferente do seu. - Seus olhos eram velhos e sábios quando se
encontraram com os dela. ─ Pessoas de fé são muito desafiadas no mundo moderno. É
difícil manter os ideais quando a maior parte das pessoas vive sem eles.
─ Eu sei disso, papai. Mas eu serei eu mesma, quaisquer que sejam as decisões que
tomar.
Ele sabia que outro argumento seria inútil. Ele podia ver em seus olhos que ela já
estava muito apaixonada por J.C. para negar-lhe qualquer coisa.
Ele conseguiu dar um sorriso.

29
─ Você sempre será minha filha, apesar de qualquer escolha que você fizer, e eu
sempre vou te amar. Estarei aqui quando você precisar de mim.
─ Eu sei disso. - Ela sentiu um arrependimento profundo. Ela o estava
decepcionando, mas não podia evitar. Ela queria J.C. mais do que queria continuar vivendo.
─ Eu o amo, papai. - Disse ela simplesmente.
─ Eu também sei disso.
─ Tudo vai ficar bem. - Disse ela. Ela só queria poder acreditar nisso. Ela alimentou
Big Tom, que se esfregou em torno de seus tornozelos com tanto entusiasmo que ela riu,
pegou-o no colo e o beijou antes de sair.

***
O cassino era grande e ruidoso. O lugar era dirigido pela tribo Shoshone Oriental, e
era uma grande benção para a economia do povo nativo. Localizado perto de Lander, e da
Wind River Range13, a vista devia ser espetacular. Estava escuro no momento em que J.C. e
Colie chegaram, mas o lindo e colorido brilho das luzes na frente diminuiu seu
desapontamento ao não conseguir ver a paissagem.
─ É tão... brilhante. - Ela se entusiasmou, apertando a mão de J.C. enquanto
caminhavam pela enorme sala.
─ Posso ver as rodas girando na sua cabeça. - Ele provocou. - Jogos pecaminosos!
Eu suponho que seu pai teve muito a dizer sobre essa viagem.
─ O suficiente. - Confessou. ─ Mas é a minha vida. Eu tenho que fazer minhas
próprias escolhas.
Ele olhou para ela. E sentiu uma pontada de arrependimento. Ela era tão protegida,
de tantas maneiras. Ela não vivia no mundo real, em seu mundo.
Ela levantou os olhos a tempo de ver essa expressão. E franziu o nariz.
─ Não pareça tão culpado. Você não está me desviando do bom caminho.
─ Sinto assim. - Ele disse suavemente. Procurou seus suaves olhos verdes e sentiu
um choque de prazer percorrer todo o seu corpo até os dedos dos pés. Ele sorriu
relutantemente. ─ Por outro lado, talvez você esteja me desviando. - Murmurou ele. ─ Não
gosto de anexos.
─ Eu nunca vou enviar um e-mail que tenha algum. - Prometeu.
Ele riu e apertou sua mão.
─ Tormento.
─ Eu trouxe cinco dólares. - Ela disse, olhando em volta. ─ Vamos ver quanto tempo
dura!
Ele particularmente achava que ela os perderia nos primeiros três minutos, mas ele
apenas assentiu.

***
Uma hora mais tarde, ela ainda estava jogando.
─ Isso tem que ser algum tipo de recorde. - Ele disse quando as frutas se alinharam
na tela da máquina na frente dela.
─ Eu tenho sorte. - Disse ela, distraída. Ela olhou para ele. ─ Caso contrário, eu
nunca estaria aqui com você.
─ O que você quer dizer?

13
Wind River Range - É uma cordilheira dos Estados Unidos localizada no oeste do estado do Wyoming.

30
─ Você é lindo, J.C. - Ela disse suavemente, e seus olhos refletiam isso. ─ Você
poderia ter qualquer mulher que quisesse, mas você está saindo comigo.
─ Qual é o problema com você?
─ Tudo. - Disse ela miseravelmente. ─ Eu não sou bonita.
Ele franziu o cenho.
─ É claro que você é bonita. - Disse ele com franqueza. ─ Você tem qualidades
maravilhosas. Você é gentil, doce e nunca se queixa, mesmo quando deveria.
Ela corou.
─ Quero dizer. - Ele acrescentou, traçando seu rosto. ─ Você me lembra da minha
mãe, de certa forma. Ela tinha esse incurável otimismo. - Seu rosto endureceu. ─ Ela era
quase demasiadamente gentil e tolerante.
Ela queria tanto perguntar o que tinha acontecido com a mãe dele, mas a máquina
soou e ela riu levantando as mãos.
─ Veja! Eu ganhei novamente!
Ele olhou para o relógio.
─ E eu odeio interromper isso, mas é uma longa viagem para casa. Seu pai não
apreciará se você chegar em casa às primeiras horas da manhã. Provavelmente consegui lhe
causar problemas suficientes, apenas por trazê-la aqui.
Ela levantou-se.
─ Foi minha escolha também. - Disse ela. ─ Papai não interfere. Ele aconselha, o que
é diferente.
Ele respirou fundo.
─ Nós viemos de origens muito diferentes. - Disse ele depois de um minuto.
─ Não importa.
─ Pode importar, um dia. - Ele respondeu. Seus olhos se estreitaram. ─ Eu não quero
me envolver com você.
─ Puxa, obrigada, eu gosto de você, também. - Murmurou ela.
─ Eu queria poder simplesmente me afastar. - Disse ele com voz rouca. E tocou no
rosto dela com dedos compridos e gentis. ─ Eu não posso.
O coração dela parecia querer saltar pela boca. Era a coisa mais promissora que ele
havia dito até agora.
─ Você pode desejar que eu pudesse, Colie. - Ele disse calmamente. ─ Eu falei a
verdade. Não estou interessado em cercas de piquete branco e bebês.
─ Você disse isso antes. Eu não estou tentando mudar você, J.C. Não podemos
realmente mudar as pessoas. - Acrescentou.
─ Isso é o que eu quero dizer.
Ela apenas olhou para ele fixamente, tão apaixonada que se perguntou se seus pés
estavam realmente tocando o chão quando encontrou seu olhar penetrante e sentiu que
parava de respirar no momento em que seu coração acelerou.
Ele rangeu os dentes.
─ Nós devemos ir. Vamos recolher seus ganhos e encerrar a noite.
Ela ficou encantada com sua pequena vitória. Era apenas um mês de salário, mas isso
ajudaria a equilibrar as contas e permitiria que ela colocasse mais crédito em seu celular.
Ela disse isso.
J.C., que tinha dinheiro guardado em contas fora do país, bem como em seu banco
local, franziu a testa.
Ela viu o olhar.
─ Eu ganho um bom salário, mas ele não vai muito longe. - Disse ela. ─ Eu ajudo
com as contas e pago meu celular. Não é top de linha, mas tem alguns recursos. Eu pago a

31
gasolina do meu caminhão velho que tem problemas mecânicos a cada duas semanas. Eu
pago pela internet porque eu sou a única que usa, na maioria das vezes. Rod ajuda, porque
ele joga. Ele adora jogos.
─ Ele sempre gostou de jogos. - Respondeu. Ele não disse a ela que Rodney tinha
mudado muito servindo no exterior. Isso acontecia com homens criados com sólidas crenças.
Era desafiador mantê-las quando via tanta morte e tortura em serviço.
─ No que você está pensando tanto? - Ela perguntou quando ele dirigia de volta para
casa nas estradas cobertas de neve em direção a Catelow.
─ Eu estava lembrando de quando servi no exterior com Rod. - Disse ele. ─ Não é
algo sobre o qual falo. Eu não imagino que Rod tenha compartilhado com você também.
─ Na verdade não. Ele tinha pesadelos quando voltou para casa pela primeira vez.
Ele não disse por quê. Ele e o papai falaram sobre isso, mas não na minha frente. - Ela olhou
para ele. ─ Papai lutou na primeira Guerra do Golfo. - Acrescentou. ─ Ele era capelão, mas
esteve na linha de frente.
─ Isso deve ter sido difícil para ele. - Disse ele.
─ Muito difícil. Ele disse que desafiava sua fé, ver a miséria das pessoas que ele
encontrava.
─ A vida desafiou a minha fé. - Disse ele de maneira sucinta. ─ Eu perdi a pouca que
tinha quando estava com dez anos.
Ela estava curiosa. Muito curiosa. Mas não falou.
Ele respirou fundo.
─ Meu pai trabalhava na mineração, depois que ele e minha mãe se casaram. - Ele
começou. ─ Era um trabalho duro. Não era o que ele havia planejado para si mesmo. Ele
queria ter uma fazenda. E pensou que se trabalhasse duro e economizasse seu dinheiro,
poderia comprar terra, construir uma casa, começar um rebanho de gado. Mas isso não
aconteceu. - Seus olhos estavam fixos à frente, enquanto os limpadores deslizavam
ritmicamente sobre o pára-brisa, limpando os flocos de neve. ─ Ele estava preso. Mamãe
ficou grávida de mim e, de repente, havia contas médicas e toda a dívida que vem com um
bebê. Não havia mais nada por semana. Mamãe não podia trabalhar, porque não havia
ninguém que pudesse cuidar de mim, e eles não podiam pagar ajuda.
─ Há agências governamentais. - Ela começou.
Ele riu superficialmente.
─ Meu pai era um homem orgulhoso. - Ele respondeu. ─ Ele se recusou a falar disso.
Ele tentou convencer minha mãe a entrar em contato com a família dela e pedir um
empréstimo. Ela não faria isso. - Ele olhou para ela. ─ Eles a rejeitaram quando ela se casou
com meu pai. Eles tinham profundos preconceitos.
O que ele disse, sobre as diferenças entre seus pais, de repente fez sentido.
─ Isso foi triste.
─ O preconceito não tem lugar. - Disse ele simplesmente. Então eles seguiram
adiante. Mamãe disse que ele começou a beber logo depois de eu ter nascido. Os sonhos
demoram a morrer. Ele não suportou a perda do dele. - Sua mão grande segurou o volante
com força. Sua mão livre encontrou a dela e uniu os dedos dela com os dele. Isso ajudou a
aliviar a dor. ─ Ela queria ir a uma reunião de pais na escola que eu estudava. Eu tinha dez
anos e estava assistindo um filme na televisão. Eu não queria ir. Ela disse que eu poderia
ficar em casa, não importava. Meu pai reclamou porque ele não queria ir, mas ela implorou.
Ela entrou no carro com ele. Ele esteve bebendo o dia todo.
Ela apertou os dedos nos dele.
─ Ele fez uma curva sem reduzir a velocidade e caiu no rio. Ela se afogou enquanto
nadava para a margem.

32
─ Oh, Deus! - Ela exclamou.
─ Eu não soube até que a polícia local chegou à porta. Meu pai fugiu. Ele teria sido
preso sem dúvida, nas circunstâncias. Minha mãe estava morta. Algo dentro de mim morreu
com ela. Eu não vi meu pai ou falei com ele desde então. - Ele acrescentou secamente. ─ Eu
fiquei sob custódia do estado até que fui adotado por um casal amável que não tinha filhos
próprios. Eles eram bem de vida. Eu fui mimado. Mas não compensou o que eu tinha
perdido. E eu não vivi com eles por muito tempo, apenas até eles morrerem em um incêndio.
─ E seus avós maternos? - Ela perguntou.
─ Mortos. - Ele disse friamente. ─ Eu não saberia, se não fosse o único herdeiro
legal que eles tiveram. Eu herdei sua propriedade. - Que valia alguns milhões de dólares,
mas ele não disse isso.
─ Realmente sinto muito. - Disse ela suavemente. ─ Eu só posso imaginar o quão
difícil isso foi para você. Mas pelo menos você teve alguém que o amava, J.C. Muitas
pessoas nem têm isso.
─ Eu sei.
Seus dedos apertaram os dele.
─ Você ainda está vivendo no passado. - Ela disse, com voz suave. ─ Você não pode
fazer isso. A vida não possui um botão de reiniciar.
Ele riu.
─ Conte-me sobre isso.
Ele respirou fundo.
─ Eu morava no território de Yukon no Canadá, mas nasci em Montana. Meu pessoal
estava visitando um primo que morava perto de Billings quando a minha mãe entrou em
trabalho de parto. Então eu tenho dupla cidadania. Quando eu tinha idade suficiente, juntei-
me ao Exército americano. - Acrescentou, ignorando o que aconteceu com ele no meio. ─
Eu servi no exterior, nas Forças Especiais, onde conheci Ren e seu irmão.
─ Você esteve no Exército por muito tempo? - Perguntou ela.
─ Um pouco.
Então ainda havia segredos. Ele não confiava nela o suficiente para contar tudo. Mas
ele havia contado coisas que ela tinha certeza de que não havia compartilhado com nenhuma
outra mulher. Era lisonjeiro.
─ Então houve ela. - Ele acrescentou friamente, e seus dedos a estavam machucando.
─ Ela?
─ Cecília. - Ele disse entredentes. ─ Eu tinha acabado de sair do treinamento básico.
Eu nunca estive em uma cidade maior do que Whitehorse, no Yukon. Apenas alguns
milhares de pessoas, uma comunidade isolada. - Acrescentou. ─ E eu acabo em Nova Jersey
em liberdade. Eu não fumava nem bebia, então eu sempre tinha dinheiro no bolso, mesmo
antes de herdar a herança dos meus avós. Cecília conhecia um dos rapazes da minha
unidade, e ele disse que eu estava cheio de dinheiro. Então ela veio me procurar.
─ Oh, meu Deus! - Disse ela, porque podia adivinhar aonde isso ia levar.
─ Eu não sabia disso, é claro. Eu pensei que era um encontro casual, quando um dos
meus amigos do treinamento básico me apresentou a ela. Eu não sabia que ela havia
arranjado isso. - Ele olhou diretamente para frente. ─ Ela era bonita. O ser humano mais
lindo que já vi. Ela era confiante, sofisticada, habilidosa. - Ele fez uma careta. ─ Eu pensei
que ela era perfeita. Eu me apaixonei na primeira noite. Ela poderia me virar do avesso. Ela
era como uma droga, um vício. Eu nunca conheci tanto prazer.
Ela estava com ciúmes, mas não demonstrou. Apenas ouviu.
Ele estava perdido no passado, afogando-se na infelicidade.

33
─ Nós saímos juntos por semanas. Eu a levei à ópera, ao teatro, aos concertos
sinfônicos. Até mesmo para um show de rock. Comprei roupas de grife e diamantes. Ela
realmente parecia me amar. Eu certamente a amava.
Os dedos dela estavam doendo, mas ela não se moveu, não falou.
─ Era o aniversário dela. Eu tinha comprado um colar de safira que ela tinha
admirado em uma joalharia luxuosa e fui ao apartamento dela para entregar. A porta estava
aberta. Ela estava conversando com um homem que estava com ela. Ela estava falando sobre
mim, sobre o quão estúpido e crédulo eu era, sobre como ela me enganava para me fazer
comprar todos os tipos de presentes caros para ela. Ela achava isso divertido. Eu nem era
sofisticado o suficiente para perceber que ela era uma garota de programa, que ela vendia o
corpo por dinheiro.
─ Que Ser Humano miserável. - Disse ela calmamente.
Ele riu. Tinha um som cínico.
─ Ela estava certa. Eu era ingênuo. Mas cresci de uma hora para a outra. Abri a porta
e entrei. Ela estava usando uma camisola quase transparente, e seu companheiro não vestia
nada além da cueca. Nunca esquecerei o olhar em seu rosto quando ela me viu e percebeu o
que eu ouvi. Eu não disse uma palavra. Eu me virei e saí.
─ Ela tentou ligar para você? - Perguntou.
─ Ela pediu a um dos meus amigos que me dissesse que estava arrependida e que
gostaria de recomeçar. Eu disse a ele para onde poderia ir, e com que rapidez. Nunca mais a
vi.
─ Eu realmente vivo uma vida protegida. - Observou ela depois de um minuto. ─ Eu
não sabia que havia pessoas assim no mundo. Eu realmente não entendo a ganância. Eu
nunca senti isso.
─ Eu percebi isso sobre você.
Ela sorriu.
─ Eu gosto das coisas simples. Jardins de flores. Gatinhos. Andar pela floresta.
Coisas assim. Eu nunca gostei de diamantes, joias sofisticadas, ou roupas elegantes. Essa
não sou eu.
Ele afrouxou o aperto dos seus dedos. Eles se tornaram carinhosos.
─ Você não é nada como ela.
─ Obrigada. - Ela hesitou. ─ Eu acho.
Ele riu.
─ Foi um elogio.
─ OK.
Ele olhou para ela com curiosidade.
─ Eu nunca falei sobre ela. Ou sobre meus pais.
─ Eu nunca repito nada que me dizem. Eu trabalho como assistente administrativo
legal. - Acrescentou. ─ Embora eu basicamente atenda o telefone e tome o ditado, fui
treinada para manter minha boca fechada. Eu acho que trouxe isso para minha vida privada.
─ Parece. - Ele sorriu. ─ Você é uma boa ouvinte.
─ Às vezes, as pessoas só precisam conversar. É o que o papai diz. Ele foi ver um
homem que ameaçava se suicidar. O homem largou a arma que segurava e saiu da sala com
o papai. O lugar estava cercado de policiais, até mesmo uma equipe da SWAT. Todos
ficaram admirados. Eles perguntaram a papai o que ele falou com o homem e ele disse que
não falou uma palavra. Ele apenas ouviu. Isso era tudo o que a pobre alma necessitava,
alguém para apenas escutar. Ele perdeu a esposa e filho em um naufrágio e não achou que
poderia continuar vivendo. Ele não tinha ninguém com quem falar. Então papai apenas
ouviu.

34
─ Você também escuta, Colie. É uma ajuda maior do que você entende. - Sua boca
puxou para um lado. ─ Eu não tenho mais ninguém. - Ele acrescentou calmamente.
─ Sim, você tem. - Ela disse corajosamente, e segurou os dedos dele nos seus, sem
olhar para ele.
Ele não poderia ter imaginado que alguém conseguisse prender seu coração
rapidamente, mas ela conseguiu isso. Ela se tornou a cor em sua vida, em um espaço de
apenas semanas. Para seu próprio bem, ele deveria deixá-la ir. Mas ele não podia.

***
Ele a acompanhou até a porta dela. A luz da varanda estava acesa. Ainda havia uma
luz acesa no escritório do seu pai. Ele estava trabalhando no sermão de domingo, ela sabia.
Ele passava os dias procurando as palavras certas.
─ Seu pai está esperando por você. - Ele murmurou.
Ela riu.
─ Na verdade não. Ele trabalha no seu sermão de domingo um pouco todas as noites,
até que fique do jeito que ele quer.
─ Ele cuida de você também. - Ele tocou seus cabelos curtos e ondulados. ─ Eu
aposto que ele nunca tomou uma bebida em sua vida. - Disse ele, com mais amargura do que
percebeu.
─ Não. - Ela concordou. ─ Ele não bebe nem fuma. Ele diz que os vícios são muito
perigosos. É melhor não adquiri-los.
─ Ele tem razão. - Ele curvou-se e pousou sua testa contra a dela. ─ Eu também não
bebo nem fumo. Bem, bebo uma cerveja ocasionalmente. Nunca bebidas fortes.
─ Eu não acredito que alguma vez já experimentei uma bebida. - Ela confessou.
─ Ainda bem. - Ele inclinou-se e roçou a boca suavemente sobre a dela. ─ Eu
aproveitei esta noite.
─ Eu também.
Ele se afastou rápido demais. Colocou as mãos nos ombros dela e apenas a olhou.
─ Eu vou sair da cidade por vários dias. - Sua boca puxou para um lado. ─ Ren me
inscreveu para uma convenção de dispositivos, brinquedos novos para segurança da fazenda.
Eu tenho que ir.
─ Onde?
─ Apenas Denver. - Disse ele. ─ Não muito longe. Fique longe de problemas até eu
voltar.
Ela riu. Seus olhos se iluminavam quando ela fazia isso.
─ Ok.
─ Não que você já não tenha problemas em primeiro lugar. - Ele murmurou.
─ Eu não me atreveria. - Ela disse em um sussurro dramático, indicando a casa atrás
dela.
Ele sorriu.
─ Podemos ver um filme quando eu voltar.
─ Semana que vem estreia um novo de ficção científica. - Ressaltou ela. Eles haviam
comentado sobre isso no caminho para Lander.
─ Nós iremos, então. Até logo.
─ Até logo.
Ele se afastou. Ela notou que ele nunca olhava para trás. E se perguntou por quê.
Parecia ser um hábito antigo.

35
Ela entrou e pendurou o casaco e a bolsa. Ela bateu na porta do escritório de seu pai e
a abriu.
Ele ergueu os olhos das suas anotações. E sorriu.
─ Você se divertiu?
─ Sim. Ganhei o suficiente para recuperar as contas. - Ela sorriu diante da expressão
dele. ─ Eu sei, é dinheiro sujo. Mas será muito útil para a conta de energia elétrica. - Ela fez
uma pose. ─ Se não fosse para acontecer, eu perderia cada centavo.
Ele riu.
─ Tudo bem. Não direi nada. - Ele a olhava atentamente. Depois de um minuto,
voltou a atenção para as anotações. ─ Durma bem.
─ Você também. Boa Noite.
Ela fechou a porta.
Seu pai era sábio o suficiente para perceber que ela não se entregou a nenhuma
preliminar com J.C. Tais sinais eram bastante visíveis. Isso lhe deu um pouco de esperança.
J.C poderia não ser uma influência tão ruim quanto temia.

***
A Semana se arrastou. Colie escreveu resumos, imprimiu-os, tomou ditado, agendou
os clientes, ajudou a abrir a correspondência, geralmente enterrava-se no trabalho para
manter J.C. longe do seu pensamento.
─ Você está sonhando acordada, garota. - Lucy, sua colega de trabalho provocou. ─
É aquele homem bonito do Yukon, não é?
Ela não negou isso.
─ Cidades pequenas. - Ela riu, balançando a cabeça. ─ Bem, meu primo é gerente do
posto de gasolina onde J.C. abastece e ele mencionou que ele estava indo para Lander com
um amigo. Como ele não tem nenhum amigo... - Lucy saiu.
─ Ele tem sim. Ele tem a mim.
Lucy sorriu com a expressão maliciosa de Colie.
─ De qualquer forma, achamos que ele estava levando você ao cassino. Ganhou
muito?
─ Ganhei o suficiente para pagar a conta de luz. - Disse Colie. ─ E coloquei alguns
minutos extras esse mês no meu telefone. Foi legal.
─ Eu sei o que você quer dizer. Eu tive que desistir do boliche por duas noites porque
estourou um pneu e tive que substituí-lo. - A outra mulher suspirou. ─ Ben é tão
compreensivo. Eu passei sobre um pedaço de metal na estrada. Eu não estava prestando
atenção. Ele nem sequer piscou. Ele apenas me beijou e disse que estava agradecido por eu
não ter me machucado. É o que eu chamo de um bom marido.
─ Vocês dois são ótimos juntos. - Disse Colie. ─ Você são o mesmo tipo de pessoas.
Você vêm de origens semelhantes.
─ E nos conhecemos desde o jardim de infância. - Foi a resposta divertida.
─ Você alguma vez pensou em simplesmente viver junto? - Perguntou Colie,
tentando não parecer tão curiosa quanto estava. Ela estava pensando adiante, no caso de J.C.
tocar no assunto.
─ Na verdade não. - Confessou Lucy. ─ Meu pai é farmacêutico. Seria uma sorte
tentar conseguir pílulas anticoncepcionais em Catelow sem ele descobrir. Além disso, ele é
um diácono na igreja do seu pai. As pessoas por aqui são antiquadas e não se movem com os
tempos. Talvez tenhamos casais que escapem à noite para motéis perto de Jackson Hole,
mas nós realmente não temos muitos que vivam juntos. Eles se casam e criam crianças.

36
─ Eu adoraria ter filhos. - Disse Colie suavemente. ─ Não consigo pensar em nada
no mundo que eu queira mais.
─ Como Ben e eu. - Disse Lucy. ─ Mas estamos apenas começando. Nós pensamos
em esperar uns dois anos para crescermos juntos antes de começar uma família.
─ Isso é inteligente.
─ Nós pensamos assim. - Ela inclinou a cabeça. ─ E você e J.C.? - Perguntou ela. ─
Não estou sendo curiosa.
─ Eu sei. - Ela hesitou. ─ Eu não sei, Lucy. - Ela disse honestamente. ─ Ele já disse
que não é do tipo caseiro, e ele realmente não quer filhos. - Ela mordeu o lábio inferior. ─
Você não pode mudar as pessoas. Você tem apenas que aceitá-las da maneira que elas são. -
Seu rosto estava abatido pela mágoa. ─ Eu continuo pensando, se eu tivesse me recusado a
sair com ele...
─ Não teria mudado nada. - Lucy disse com sabedoria. ─ As pessoas se apaixonam.
Eu não acho que elas tenham uma escolha sobre por quem se apaixonam.
Colie riu.
─ Não. É como os membros da sua família. Você também não consegue escolhê-los.
Lucy fez uma careta.
─ Seu pai lhe daria um momento realmente difícil se você tentasse morar com J.C.
para não falar do resto da comunidade. Há apenas mil pessoas que vivem em Catelow e seus
arredores. Você não conseguiria esconder isso.
─ Eu tenho me preocupado com isso. Gostaria de pensar que eu diria não. Mas...
─ Ele pode ser persuasivo. - Lucy arriscou. ─ Ele sabe como seu pai pensa.
─ Não importa. Não acho que J.C tenha convivido muito em um lar. - Confessou. ─
Ele era mais ou menos órfão na escola primária.
─ Isso é difícil.
─ Você não deve repetir isso. - Disse Colie.
─ Você me conhece. Eu trabalho para advogados . - Ela sussurrou, apontando para o
corredor. ─ Eles fariam churrasquinho de mim nos degraus da frente se eu contasse o que
sei!
─ O mesmo vale para mim. - Disse Colie, rindo. O sorriso desapareceu quando ela
arrastou papéis em sua mesa, em frente a Lucy. ─ Ele não sabe como é ter um lar tranquilo e
feliz. Isso pode explicar a maneira como ele é. Ele não gosta de compromisso.
─ Ele está obviamente apegado a você. - Disse sua amiga.
─ Até agora. - Colie suspirou. ─ Eu não sei quanto tempo vai durar. Somos muito
diferentes.
─ Posso fazer uma sugestão? Pare de tentar controlar sua vida e apenas viva.
Colie respirou fundo.
─ Isso é o que eu continuo me dizendo. Então eu lembro de como o papai me olhou
quando eu disse que estava saindo com J.C e me sinto culpada novamente. Ele me lembrou
que J.C. não é uma pessoa de fé. Em algumas circunstâncias, isso pode ser uma grande
desvantagem.
─ As pessoas se comprometem. - Disse Lucy. ─ Ben e eu fizemos isso. Você e J.C
encontrarão uma maneira de estar juntos que funcione para vocês dois.
─ Eu espero que sim. - Ela baixou os olhos. ─ Eu não posso desistir dele, Lucy. - Ela
sussurrou. ─ Eu já o amo demais.
─ Se você precisar conversar, estou aqui. E não julgo. - Lucy lembrou.
Colie sorriu.
─ Obrigada.

37
04
Colie havia percebido que Rodney estava agindo estranhamente. Ele ficava fora
todas as horas. Uma vez, ela estava pegando um copo de água quando ele entrou. Seu rosto
estava corado e seus olhos pareciam estranhos.
─ Você está bem? - Ela perguntou preocupada.
─ O que? Bem? Claro, estou bem. - Ele respondeu. Mas parecia confuso. ─ Eu acabo
de fazer uma longa viagem desde Jackson Hole. Estou cansado.
─ Você passa muito tempo lá ultimamente. - Ela observou.
Ele piscou.
─ Bem, sim. Existem algumas apresentações sobre novos aparelhos, dispositivos e
ferramentas. Eu tenho que me familiarizar com eles, por causa do trabalho.
Ele trabalhava na loja de ferragens local como atendente. Ela se perguntou por que
um atendente precisaria saber sobre aparelhos, mas talvez isso tivesse se tornado parte de
seus deveres. Então ela apenas sorriu e acreditou em sua palavra.
Mas no dia seguinte, ele tinha companhia. O pai de Colie foi visitar um membro da
congregação que estava no hospital. Era sábado, e Colie estava trabalhando na cozinha
quando a porta da frente se abriu.
─ Você pode nos fazer um café, irmãzinha? - Rod chamou da porta. ─ Fizemos uma
longa viagem. Este é o meu amigo, Barry Todd. - Acrescentou ele, apresentando um homem
taciturno em um terno cinza. O homem estava impecavelmente arrumado, mas havia algo
perturbador nele. Colie, que muitas vezes tinha vívidas impressões sobre as pessoas,
desconfiou dele à primeira vista.
─ Claro. - Ela disse a seu irmão.
Ele e o amigo entraram na sala de estar. Ela ouviu uma conversa abafada. Parecia
uma discussão. Rod ergueu a voz uma vez, e o outro respondeu em um tom agudo e
condescendente.
Colie encheu duas xícaras de café e começou a levá-las, mas Rod encontrou-a na
porta, agradeceu e empurrou a porta para fechar atrás dele.
Ela voltou para a cozinha, perplexa e desconfortável.

***
Mais tarde, quando o visitante partiu, Colie perguntou sobre ele, tentando não
parecer tão desconfiada quanto se sentia.
─ Barry é vendedor de uma empresa de ferramentas. - Disse Rod, mas ele evitou o
seu olhar. ─ Fazemos negócios juntos. Ele está expandindo as vendas para este território e
eu vou ser seu representante.
─ Oh, eu entendo. - Disse ela. ─ Como trabalho extra.
Ele hesitou.
─ É isso. - Ele concordou rapidamente. ─ É trabalho extra.
─ Seu chefe na loja de ferragens não se importará, não é? - Ela se preocupou.
─ Claro que não. - Ele resmungou. ─ Ele não me diz o que fazer no meu tempo livre.
─ Seu amigo se veste bem.
─ Sim. Ele está cheio de dinheiro. Você viu o carro que ele dirige? É um Mercedes! -
Ele fez uma careta. ─ Tudo o que tenho é aquele velho Ford. Parece pobre em comparação.

38
─ Ei, ele corre. - Ela apontou. ─ E é mil vezes melhor do que o meu caminhão!
─ Seu caminhão deveria ir para o ferro-velho. - Ele zombou. ─ Estou surpreso de
que tiveram o descaramento de venderem pra você.
─ Agora, eu não posso andar para o trabalho. - Ela provocou.
Ele não sorriu. No passado, Rod era feliz, brincalhão e era divertido tê-lo por perto.
Cada vez mais, ele estava mal-humorado, impaciente e rabugento.
─ Você está bem? - Ela perguntou preocupada.
─ Estou bem. - Ele puxou a gola de sua camisa polo. ─ Estou apenas com calor.
─ Está frio aqui. - Ela começou.
─ Você sempre tem frio. - Ele revidou. Virou-se. Parou e olhou para ela. ─ Você
continua saindo com J.C.?
─ Mais ou menos. - Disse ela, surpresa. ─ Nós fomos ao cassino em Lander na
semana passada.
Ele riu secamente.
─ Eu aposto que o papai adorou isso.
─ Ele não interfere.
Seus olhos se estreitaram.
─ J.C. não vai sossegar, você sabe.
─ Eu sei disso, Rod. - Ela o estudou. ─ Você e J.C. eram próximos antes de sairem
do exército. Você não passa muito tempo com ele agora.
─ Nós temos interesses diferentes, só isso.- Seu rosto se endureceu. ─ Ele é o Sr.
Certinho. - Ele murmurou. ─ Eu acho que é pelo passado dele.
─ Seu passado? - Ela sondou, sempre interessada em qualquer informação sobre J.C.
que ela não conhecesse.
─ Ele foi policial antes de entrar para as forças armadas. - Disse ele. ─ Trabalhou em
Billings por alguns anos como policial de patrulha. Eles disseram que ele era o terror dos
espancadores de mulheres. Mandou um homem para o hospital. O cara tinha espancado a
esposa grávida cruelmente e jogou seu filho da escada. Matou o menino. J.C acabou com
ele. Não houve nenhuma acusação. O cara atacou J.C. no momento em que ele entrou pela
porta com seu parceiro. Péssima ideia. Ele é muito mais forte do que parece.
─ Não consigo imaginar alguém suficientemente ruim para ferir uma criança. - Disse
Colie solenemente.
─ O cara usava drogas. - Disse ele. ─ Idiota. Você nunca usa mais do que precisa
para uma viagem. Isso é estúpido.
Ele estava usando termos que ela tinha ouvido no trabalho quando seus chefes
ditavam cartas sobre casos de drogas que eles estavam defendendo.
─ Eu não sei nada sobre drogas. - Comentou.
─ Melhor assim. - Ele disse a ela. ─ O que tem para o jantar? - Acrescentou,
mudando de assunto.
─ Bolo de carne e purê de batatas. E fiz uma torta de cereja.
Ele conseguiu dar um sorriso.
─ Parece bom.
─ Eu vou estar ocupada.
Ele a viu se afastar. Ele estava ansioso. Não ousava deixar nada escapar que ela
pudesse entender. Se ela descobrisse o que ele estava fazendo e contasse a J.C., seu amigo
iria às autoridades em um piscar de olhos, apesar de seus anos de amizade. J.C tinha sérios
preconceitos sobre pessoas que usavam drogas. Ele era ainda pior em relação aos traficantes

***

39
Colie desejou ter dado a J.C seu número de celular, ou pedido o dele. Ela poderia ter
enviado mensagens de texto para ele.
Então ela pensou consigo mesma. Ele não parecia o tipo de pessoa de muita
conversa. Ela tinha tido apenas uma conversa telefônica com ele, se pudesse chamar assim.
Ele ligou na hora em que deveria buscá-la para jantar, a primeira vez que ele a convidou
para sair. E disse que ia se atrasar alguns minutos. Ele falou apenas duas palavras com ela e
desligou. Essa era a extensão de suas conversas por telefone.
No entanto, desejava que ele telefonasse. Ela adoraria ouvir o som de sua voz,
mesmo que fosse para escutar apenas duas ou três palavras. Mas ele não ligou. E seus dois
ou três dias se transformaram em uma semana.
Ela sabia que ele ainda estava em Denver porque sua amiga Lucy tinha um primo
que trabalhava no comércio varejista, e também estava participando da convenção de
equipamentos. Ele contou a Lucy que J.C estava conversando com uma linda loira platinada
e disse que talvez essa fosse a razão pela qual ele não voltou para casa mais cedo.
Lucy contou a Colie quando ela insistiu, mas odiou fazê-lo. O rosto de Colie
entristeceu. Era o que esperava que acontecesse. Ela não era bonita ou sofisticada. J.C tinha
mencionado que a mulher por quem ele se apaixonou tinha a aparência de uma top model.
Ela estava tão deprimida. Ela teve todos os tipos de sonhos estúpidos, sobre ficar
com J.C. pelo resto de sua vida, dele mudar de ideia sobre ter um lar e uma família. Agora,
esses sonhos estavam sendo transformados em pesadelos por um cabelo loiro platinado.
Se ela pudesse ter visto J.C., a depressão teria sido eliminada. Como com a maioria
das fofocas, a pequena fofoca sobre ele e a loira tomou proporções exageradas. Ele esteve
no exterior com outro homem que treinava os policiais locais no Oriente Médio durante suas
férias, um homem Apache chamado Phillip Hunter que trabalhava em segurança privada em
Houston. A esposa de Hunter, Jennifer, era geóloga. Ela era tão linda, mesmo depois dos
trinta anos e com dois filhos, que fazia as cabeças virarem em todos os lugares que chegava.
Era com Jennifer que J.C. estava conversando enquanto Hunter falava com um dos
vendedores sobre um sistema de câmera de circuito fechado moderno para a Ritter Oil
Corporation, onde Hunter era o chefe de segurança.
Jennifer era tão conservadora quanto seu marido, e nunca teria ocorrido a ela traí-lo.
Ela estava simplesmente gostando de falar sobre seu trabalho com J.C., que conhecia algo
sobre o setor de mineração. Ele se interessava por geologia. Quando ele era muito jovem,
seu pai sempre trazia para casa rochas incomuns do trabalho. J.C odiava a lembrança de seu
pai, mas ele sempre adorou geologia.
Ele sentia saudade de Colie. E não queria sentir. Ele sabia que nunca poderia dar-lhe
as coisas que ela queria. Era triste, porque ela era o tipo de mulher que qualquer homem se
orgulharia de chamar de sua. Mas uma família, crianças... não era para ele. Ele estava
sozinho há muito tempo.
Talvez ele estivesse pensando demais. Deveria apenas viver um dia de cada vez e
não levar a vida tão a sério.
Phillip Hunter juntou-se a eles, sorrindo. Ele era mais velho do que Jennifer,
provavelmente nos seus quarenta anos por agora. Ele tinha alguns fios prateados em suas
têmporas e em seus grossos e lisos cabelos negros. Mas ele ainda era tão apto quanto
qualquer homem que J.C já tinha visto. Ele se mantinha em forma. Ele e Jennifer tinham
dois filhos, uma menina, Nikki, e um menino, Jason. Eles pareciam perfeitamente felizes
juntos, como um casal de velhinhos.
J.C., que raramente viu um bom casamento, ficou impressionado. Seus pais adotivos
tinham sido como esses dois. A morte deles foi muito mais do que uma tragédia para ele. Ele

40
tinha apenas onze anos quando os perdeu no incêndio. Isso o colocou em outras casas de
acolhimento, que não eram tão agradáveis, saudáveis ou seguras como aquela que ele tinha
tido. Ele tinha memórias dolorosas daqueles dias depois do incêndio, memórias que ele não
compartilhava com ninguém. Nem mesmo com Colie.
─ Você vai voltar depois do próximo mês? - Phillip perguntou a J.C, referindo-se ao
Iraque, onde ambos davam cursos de treinamento. Mas enquanto J.C ensinava procedimento
policial, Phillip ensinava segurança privada.
─ Eu vou. - Respondeu J.C. ─ Eu gosto do desafio.
─ Você gosta do perigo. - Jennifer repreendeu, olhando sorrindo para o marido ─
Como outra pessoa que conheço.
Phillip puxou-a contra ele e beijou seu cabelo.
─ Não posso viver sem um pouco de perigo. Você sabia disso quando se casou
comigo, garota da capa14.14 - Ele provocou.
Ela suspirou e fechou os olhos.
─ Sim eu sabia. Com defeitos e tudo, não consigo imaginar qualquer outro modo de
vida. Tem sido maravilhoso.
─ Tem. - Seu taciturno marido respondeu gentilmente. O olhar que eles
compartilharam fez J.C. se sentir desconfortável. Falava de uma intimidade que ele nunca
conheceu.
─ Eu acho que você vai ser solteiro para sempre. - Murmurou Jennifer enquanto
estudava o rosto duro de J.C.
─ Parece que sim. - Ele suspirou. E sorriu. ─ Eu não sou propenso a uma vida
familiar.
Phillip riu.
─ Vamos pegar algo para comer. Todos esses aparelhos eletrônicos me lembram de
fogões e fogões me lembram de refeições maravilhosas. - Ele acrescentou, piscando para
Jennifer.
─ Sorte sua eu finalmente ter aprendido a ferver água! - Ela riu. Era uma piada
particular. Ela sempre foi uma ótima cozinheira.
J.C ficou impressionado com a maneira como eles se davam bem. Ele tinha amantes.
Não uma mulher que ele pudesse provocar, brincar, ou simplesmente gostasse de conversar.
Então ele pensou em Colie, no quão fácil era falar com ela. Ela o fazia se sentir aquecido
por dentro, seguro. Estes eram sentimentos novos, para um homem que não cogitava a
possibilidade de uma vida familiar.
Ele estava perdendo o juízo. Não precisava se preocupar com Colie nesse momento.
Estava confiante de que ela era dele, se ele a desejasse. Ela não olharia para outros homens,
nada mais do que Jennifer Hunter. Se havia uma coisa de que ele estava seguro, era que
Colie pertencia a ele.

***
Nesse momento, Colie aceitava um encontro com um contador visitante que estava
auditando os livros de uma companhia de poupança e empréstimo que ficava na rua do
escritório de advocacia onde ela trabalhava.
O nome dele era Ted Johnson, e ele era de Nova Jersey. Era um homem agradável
apenas alguns anos mais velho do que Colie, e ele viajava ao redor do mundo. Eles se

14
Garota da capa - Na Série Amores Puros, livro 2, Deusa Proibida, a descrição de Jenny diz que ela parece
uma top model, uma garota de capa de revista.

41
encontraram na lanchonete local e começaram a conversar depois que seus pedidos foram
trocados. Eles riram sobre isso, sentaram-se juntos e encontraram muito em comum.
─ Eu não conheço a área muito bem. - Ted disse a ela. ─ Mas dizem que há um
cinema bastante bom aqui. Quer ver um filme comigo? Só vou ficar por aqui uns dois dias,
então não vou propor casamento esta noite ou qualquer coisa assim. - Ele brincou. ─ Além
disso, estou tentando convencer uma mulher do meu escritório a sair comigo. Então, isso
seria apenas como amigos.
─ Eu mesma estou tentando persuadir um homem que não quer saber de formar uma
família, a mudar de ideia. - Ela suspirou.
─ A vida é difícil. - Disse ele. E sorriu. ─ Então vamos ver um filme e afogar nossas
tristezas em refrigerantes e pipoca.
─ Me agrada!

***
Foi um encontro divertido. Sem pressão, sem atração física, apenas duas pessoas se
divertindo juntas. Quando voltaram para casa, Ted entrou com ela e desafiou seu pai a uma
partida de xadrez, depois de ver o tabuleiro na mesa lateral.
Seu pai estava encantado de ver Colie com um homem aceitável e convencional.
Quem sabia a que isso poderia levar, pensou particularmente.
Ted o derrotou. Só precisou de poucos movimentos para dar um xeque-mate no
reverendo.
─ Desculpe por isso. - Ted riu. ─ Mas eu fui campeão de xadrez da minha
fraternidade na faculdade. Provavelmente deveria ter mencionado isso antes. - Ele
acrescentou com um sorriso.
─ Provavelmente deveria ter feito isso, jovem. - O reverendo Thompson concordou
com um sorriso. ─ Você é muito bom. Eu gostei do desafio.
─ Se eu voltar para esse lado, eu vou te dar uma revanche. Eu realmente gostei disso,
Colie. - Ele acrescentou enquanto se dirigia para a porta. ─ Se eu não estivesse interessado
na garota do escritório, eu voltaria e faria todo o negócio: rosas, chocolates e serenata.
─ Obrigada pelo pensamento. - Disse ela, rindo.
Ele deu de ombros.
─ Eu sou terrivelmente convencional.
─ A convenção é o que mantém o mundo girando. - Disse o pai de Colie
calmamente. ─ Modismo e ilusões não duram.
─ Palavras verdadeiras. Bem, até logo!
─ Até logo. - Colie fechou a porta e voltou para o seu pai, que parecia desapontado.
─ Ele tem namorada? - Ele perguntou a ela.
Ela assentiu.
─ Ele está esperando que ela o aceite. Ele é um homem muito legal.
─ Sim, ele é. - Ele suspirou. ─ Bem, eu deveria voltar a trabalhar no meu sermão.
─ Eu vou limpar a cozinha e ir para a cama, eu acho. - Disse ela. ─ Vamos ter um dia
agitado amanhã no trabalho. Com clientes saindo pela porta da frente.
─ Bom para os negócios. - Ele observou.
─ Sim, muito bom. - Ela concordou com um sorriso. ─ Se eles estiverem ocupados,
eu tenho segurança no trabalho.
Ele sorriu e voltou para o escritório.

***

42
J.C. deixou a mala em sua cabana e foi até a casa principal para contar a Ren sobre a
convenção.
Merrie, a esposa de Ren, estava ninando seu filho nos braços, cantando para ele. Ela
sorriu quando JC. entrou.
─ Delsey e eu fizemos um bolo de libra. Há café, também, se você quiser algum.
Tenho que continuar cantando para Toby dormir.
─ Ele cresceu, nos poucos dias em que estive fora. - Comentou com um leve sorriso.
─ Em pouco tempo, ele estará aprendendo a dirigir e a destruir meu carro. - Ren riu
quando se juntou a eles. Ele beijou seu filho na testa e deslizou a boca sobre a bochecha de
sua esposa.
Ela enrugou o nariz para ele.
─ Eu não vou demorar.
Ren se instalou na mesa da cozinha com J.C. Lá fora, a neve estava caindo
intensamente.
─ Eu tenho os trabalhadores noturnos fazendo horas extras com este tempo. - Ren
comentou. ─ Nós estamos mandando a alimentação por caminhão para as pastagens do
norte.
─ Não há novidades lá.
─ Gostou de alguma coisa na convenção?
J.C. tirou alguns folhetos e os estudou com seu chefe.
─ Eu gosto deste novo software de reconhecimento facial. - Disse J.C., indicando as
estatísticas fornecidas no folheto. ─ Se o nosso fosse um pouco mais sofisticado,
poderíamos ter evitado muitos problemas quando esse assassino veio atrás de Merrie. - Ele
acrescentou, aludindo a um momento em que Merrie e sua irmã tinham sido alvo, por
vingança, de um assassino contratado pelo filho de uma mulher que o pai das garotas havia
assassinado.
─ Isso teria ajudado. Mas ele desativou alguns dos nossos equipamentos de
comunicação, também. - Comentou Ren.
─ Eu coloquei sistemas redundantes15, desde então. - Respondeu o jovem. ─ Não vai
acontecer de novo..
Ren assentiu. Seus olhos negros se estreitaram.
─ Qual é o custo?
J.C. disse-lhe.
─ É caro, mas pode ser atualizado e a garantia é de 10 anos, segundo o fornecedor.
─ Vantajoso. - Ren concordou. ─ OK. Peça.
─ Eu vou cuidar disso já.
─ Mais alguma coisa que pareça interessante?
─ Muitas coisas, mas principalmente robótica. Eu não sou admirador. - Ele
acrescentou calmamente. ─ O meu telefone é o meu melhor dispositivo, e não quero
substituí-lo.
─ Eu também gosto do meu. - Ren olhou para o chefe de segurança. ─ Que história é
essa que ouvimos sobre você e uma mulher loira em Denver? - Ele perguntou. ─ Nós
pensamos que você estava saindo com Colie.
Os olhos de J.C. se arregalaram.

15
Sistemas redundantes - Um sistema redundante possui um segundo dispositivo que está imediatamente
disponível para uso quando ocorre uma falha do dispositivo primário do sistema.

43
─ Uma loira? Oh! - Ele riu. ─ Eu estava conversando com a esposa de Phillip
Hunter. Ele é o chefe de segurança da Ritter Oil Corporation em Houston. Ela é estonteante.
E tem um mestrado em geologia. Eu me interesso por geologia.
─ Entendo.
─ Droga. - Murmurou J.C. ─ Se as fofocas chegarem até você, provavelmente
também chegaram até Colie. - Ele acrescentou calmamente.
─ Eu não sei sobre isso. - Ren tomou um gole de café. ─ Mas ela está namorando um
contador de Nova Jersey.
O copo saltou na mão de J.C. e o café derramou. Ele limpou com uma desculpa mal-
humorada. O tremor nessa mão firme era um leve indício.
Ren, divertido, desviou os olhos. Aparentemente J.C. ficou surpreso que sua menina
saísse com outra pessoa.
─ Eu acho que ela ouviu falar sobre a loira, então. - Disse Ren secamente.
J.C. terminou seu café.
─ É melhor eu começar a trabalhar.
─ Willis tem algo que ele quer falar com você. - Acrescentou Ren. ─ Ele acha que
precisamos de câmeras de segurança nas cabanas de linha. Tivemos uma invasão enquanto
você estava fora. Willis acredita que foi apenas um caçador fugindo da tempestade.
Aparentemente nada foi roubado. Mas há televisores nessas cabanas.
─ Eu vou verificar. - Disse J.C.
Ele estava preocupado quando saiu pela porta da frente. Colie, namorando outro
homem. Ela acreditava que ele não a estava levando a sério, quando ouviu falar sobre a
loira? Porque ele sabia que Colie estava louca por ele. Ela não teria saído com outro homem,
a menos que pensasse que não havia esperança em relação a J.C. Deve ter machucado,
mesmo que ele tivesse dito a ela que não tinham futuro e ele não estava começando nada que
ele não conseguisse terminar. A mulher loira era verdadeiramente deslumbrante, e isso
também havia sido mostrado. Colie, com sua baixa auto-estima, pensaria que J.C. a tinha
descartado porque não era suficientemente bonita para ele.
Ele hesitou quando estava dentro do seu SUV, observando a neve se acumular no
pára-brisa antes de dar partida no motor e ligar os limpadores. Era uma chance para recuar,
deixá-la pensar que ele não se importava. Era uma oportunidade que talvez não voltasse a
ter. Ele poderia ignorá-la. Poderia deixá-la acreditar que estava saindo com outras mulheres.
Mas era uma mentira. Havia apenas Colie em sua vida. Nunca houve uma mulher
com quem ele pudesse conversar, abrir seu coração. Não antes que Colie aparecesse.
Ligações breves não incentivavam a intimidade. Ele pegava o que era oferecido e procurava
pela próxima mulher. Mas Colie não seria tão descartável como as mulheres que iam e
vinham na sua vida. Ela desejaria compromisso. Ele não tinha certeza de que pudesse lhe dar
isso, mesmo que brevemente.
Por outro lado, ele não olhou para outra mulher desde que começou a sair com Colie.
Ele não conseguia imaginar uma das mulheres vulgares com quem saía no lugar dela. Ela era
gentil, atenciosa e dedicada. Ela mexia com ele de uma maneira que nenhuma outra fez.
Ele poderia parar isso agora, enquanto podia. Ele a estaria enganando se deixasse as
coisas progredirem. Inevitavelmente, ele iria acabar na cama com ela. Uma vez que isso
acontecesse, ele poderia não ser capaz de deixá-la ir. Isso o assustava. Sua pobre mãe estava
presa por seus sentimentos, amarrada a um homem que abusava dela, machucava-a. Ele
tinha visto o lado negro do amor. Ele observou a morte de sua mãe. O amor era uma ilusão
que levava à tragédia. Ele não queria fazer parte disso.
Se ele pudesse ter uma relação com ela sem que suas emoções se envolvessem,
talvez pudessem ficar juntos por um tempo. Isso causaria atrito com o pai dela, mas Colie

44
era uma mulher adulta. Ela não devia obediência a ninguém. Ele podia desfrutar do que
tinham enquanto durasse e depois seguiria em frente, como sempre fazia. Ele se certificaria
de que Colie soubesse que não era o para sempre que estava oferecendo.
No momento ele não percebia, que estava sendo consumido vivo pelos ciúmes
quando pensava em sua Colie com outro homem, ou que alguém que não estava envolvido
emocionalmente não ficaria com ciúmes em primeiro lugar.

***
Colie estava fazendo uma refeição rápida no café local quando um homem alto e
irritado puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dela.
Ela respirou audivelmente.
─ Que história é essa com o contador? - Perguntou J.C com a voz irritada. Os olhos
pálidos brilhavam como metal na luz solar.
Ela olhou para ele com a xícara de café próximo a boca. Ela colocou a xícara na
mesa e olhou para ele.
─ Ah sim? Que história é essa sobre uma mulher loira e bonita em Denver? -
Respondeu ela de volta.
Ele esperou enquanto uma garçonete anotava seu pedido para um hambúrguer,
batatas fritas e café. Então o riso se infiltrou, afogando a raiva.
─ Jennifer Hunter. - Ele disse a ela. ─ Ela é casada com Phillip Hunter, que é chefe
de segurança da Ritter Oil Corporation em Houston. Ele e eu damos treinamentos no Iraque,
embora em diferentes áreas. - Disse ele, observando suas bochechas corarem. ─ Eles têm
dois filhos.
O rubor ficou pior. Ela desviou os olhos para o prato.
─ E o contador? - Perguntou ele.
Ela deu de ombros calmamente.
─ Ele está tentando impressionar uma mulher com quem trabalha. E só queria
companhia para um filme. Ele foi muito legal. Papai gostou dele.
Ele assentiu. Sua grande mão deslizou sobre a mão livre de Colie e a segurou.
─ Eu fiquei com ciúmes. - Ele disse, surpreendendo-se, porque não queria admitir
isso. Era como mostrar fraqueza.
─ Eu também tive ciúmes, quando ouvi sobre a loira. - Ela confessou.
─ Dois idiotas com problemas de insegurança. - Ele murmurou secamente.
Ela olhou para seus olhos e todo o planeta saiu do prumo. Seu coração acelerou.
─ Eu senti sua falta. - Ele sussurrou com voz rouca, seu próprio coração tão
acelerado quanto ele tentava ocultar isso.
─ Também senti sua falta.
Ao redor deles, rostos curiosos e divertidos estavam tentando não olhar. Colie era
amada pela comunidade por suas boas ações. J.C. era um objeto de curiosidade, não era
nascido e criado no local, mas aceito na comunidade como tal. A curiosidade era bondosa,
pelo menos.

***
Terminaram a refeição. J.C. pegou as duas contas e as pagou, então ele levou Colie
porta afora e direto para o SUV.
─ Mas eu tenho que voltar para o trabalho. - Ela protestou fracamente quando ele
saiu da cidade. ─ É tão perto que eu andei até o Café...

45
─ Quanto tempo ainda falta para terminar a sua hora de almoço?
─ Dez minutos. - Disse ela, olhando para ele.
─ Então, nós só temos tempo para a sobremesa antes de voltarmos.
─ Sobremesa?
Ele dirigiu para um estacionamento deserto ao lado do rio que atravessava Catelow,
desligou o motor e agarrou Colie como se estivesse morrendo de fome.
─ Sobremesa. - Ele sussurrou com voz rouca quando sua boca cobriu a dela e a
devorou famintamente.
Colie colocou seus braços ao redor do pescoço dele e manteve-se presa como se sua
vida dependesse disso, compensando com entusiasmo o que lhe faltava em experiência.
J.C. a abraçou fortemente e a beijou até que sentiu sua boca machucada.
─ Eu odeio estar longe de você. - Ele disse contra seus lábios inchados.
─ Eu odeio isso também. - Ela conseguiu dizer, enterrando seu rosto na garganta
quente dele, na abertura de seu casaco de pastor. Ela bateu em seu peito. ─ Você nem me
ligou!
─ O que eu poderia ter dito? Estou sozinho, sinto sua falta, gostaria que você
estivesse aqui? Que diferença isso teria feito? - Ele perguntou contra sua orelha.
─ Muita. - disse ela. ─ Para começar, eu não acreditaria nas fofocas locais sobre a
loira!
Ele riu.
─ Eu não olhei para outra mulher desde que você começou a me assombrar. - Ele
disse a ela. ─ Você está em todos os lugares que eu vou, o tempo todo. Mesmo quando eu
estou fora.
Ele estreitou o abraço.
─ Você acha que poderia inventar uma dor de cabeça e ir para casa comigo agora
mesmo? - Ele perguntou em um tom entre estar falando sério e ao mesmo tempo brincando.
─ Eu adoraria. - Disse ela. ─ Mas só Lucy e eu estamos no escritório e hoje está
cheio de pessoas.
─ Você e seu senso de responsabilidade. - Ele zombou.
─ Você e o seu. - Ela revidou.
Ele ergueu a cabeça. Seus olhos eram suaves e ternos enquanto observavam seu
rosto.
─ Eu não gosto de falar ao telefone. - Disse ele. ─ É um preconceito antigo.
─ Rod disse que você foi policial em Billings antes de entrar no exército. - Disse ela.
Ele assentiu.
─ Talvez seja por isso que eu não gosto de telefones. - Disse ele. ─ Geralmente havia
uma tragédia no outro lado da linha.
Ela acariciou a linha dura na sua bochecha com os dedos.
─ Você ainda está fazendo isso.
Ele pegou a mão dela e beijou a palma.
─ Fazendo o que?
─ Cuidando das pessoas. - Disse ela simplesmente. ─ A única diferença é que agora
você está cuidando das pessoas em um rancho em vez de em uma cidade.
Ele sorriu.
─ Eu não tinha pensado, desse modo sobre isso.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Eu tenho que ir.
─ Eu sei.

46
Ele a beijou novamente, mas de forma diferente do que já havia feito antes. Seus
lábios mal tocaram os dela, roçando, estimulando... acariciando. Quando ele ergueu a
cabeça, havia uma luz nos seus olhos que ela não se lembrava de ter visto.
─ Jantar hoje à noite? - Ele perguntou quando a deixou na frente do escritório.
─ Que horas?
─ Seis. Isso lhe dará tempo para arranjar algo para Rod e seu pai.
─ Ok. Onde vamos?
Ele respirou fundo.
─ Onde quer que você queira ir, querida. - Ele disse suavemente.
Ela corou de novo. Os olhos dela brilharam.
─ Ok. - Ela fechou a porta e entrou no escritório.
Ele a observou até que ela estivesse fora de vista antes de se afastar. Ele estava
arranjando confusão, e sentiu como se caísse em um abismo. Ele não conseguia parar. Um
dia ele ia arrastá-la com ele para o fundo do poço. Isso prejudicaria ambos. Mas ele ainda
assim não conseguiu parar.
Ele dirigiu de volta ao rancho, sua mente em qualquer lugar, exceto em seu trabalho.

***
Colie pendurou seu casaco e foi até a mesa. Seus olhos brilhavam, cheios de alegria.
─ Ele voltou. - Adivinhou Lucy.
Ela riu.
─ A loira é casada com um amigo dele. E têm dois filhos.
─ Oh, Graças a Deus. - Disse Lucy. ─ Eu odiei contar o que meu primo disse. Aquilo
foi uma fofoca. Tenho vergonha de mim mesma por ter passado adiante.
─ Não tenha. Fazer as pazes é muito divertido. - Ela confessou.
Lucy riu.
─ E eu não sei disso! - Ela se sentou em sua mesa. ─ Estou feliz que tenha resolvido,
Colie.
Colie pegou as anotações que deveria digitar para o chefe. E fez uma careta.
─ Eu não tenho certeza disso, de verdade. Quero dizer, ele estava com ciúmes, mas
isso não significa que ele vai correr atrás do primeiro pastor que puder encontrar. - Ela olhou
para Lucy com os olhos tristes. ─ Eu acho que na vida, nós pegamos a felicidade que
pudermos encontrar. E então, pagamos por isso.
Lucy franziu a testa.
─ Pare de soar agourenta. - Ela a repreendeu.
Colie suspirou.
─ Minha avó tinha esses sentimentos. Ela poderia dizer quando alguém ficaria ferido,
quando coisas ruins iriam acontecer. Eu não tenho o dom do jeito que ela tinha, mas eu
realmente sinto o peso da tristeza na minha vida. - Ela olhou para cima. ─ J.C. e eu somos
muito diferentes. Não sei se haverá qualquer final feliz.
─ Se você não tentar, nunca descobrirá. - Foi a resposta.
─ Suponho que seja verdade. - Ela olhou para cima quando a porta se abriu e quatro
pessoas entraram. Ela fez uma careta. ─ E é melhor trabalharmos ou estaremos procurando
por um emprego! - Ela riu baixo enquanto se levantava para tomar os nomes dos recém-
chegados e anunciá-los ao chefe.

47
05
Rodney sentou à mesa da cozinha enquanto Colie corria para fazer uma refeição para
ele e seu pai. Ele ficou quieto e sombrio.
─ Você não deve se misturar com o J.C. - Disse Rodney, inesperadamente.
Ela olhou para ele.
─ Por quê?
─ Ele é um solitário.
─ Eu também. - Ela apontou.
Sua mandíbula endureceu.
─ Ele é crítico. Se você der um passo em falso, fizer qualquer coisa que ele não
goste, então, ele vai sair da sua vida sem olhar para trás.
Ela parou enquanto amassava as batatas.
─ Foi o que aconteceu com você? - Perguntou ela.
Ele não respondeu.
─ Rod?
─ Eu apenas mencionei que um amigo meu gostava de fumar erva e eu não via nada
de errado nisso. - Disse ele. ─ Então, J.C. não sai mais comigo.
Seu coração saltou.
─ Rod, eu também acho que qualquer envolvimento com drogas é errado. - Ela disse
a ele. ─ Vejo o resultado do uso de drogas todos os dias no meu trabalho. As famílias são
destruídas por isso. Pessoas morrem. Sempre começa com uma droga leve. A maconha é a
porta de entrada.
─ Eles deveriam legalizá-la, então não causaria tantos problemas.
─ Você não ouviu uma palavra que eu disse? - Ela perguntou a ele. ─ Qualquer coisa
que distraia quando você está dirigindo, mesmo um comprimido de aspirina, pode causar um
acidente! Imagine se as drogas fossem legalizadas e as pessoas pudessem usá-las quando
quisessem. Que mundo seria. Um mundo de pesadelo.
─ Você vê os piores cenários possíveis. - Ele zombou. ─ Um pouco de droga suave
nunca prejudicou ninguém.
Ela olhou para ele.
Ele olhou para trás.
Seu pai entrou na cozinha. Ele estava visitando os membros da congregação. Ele se
sentou ao lado de Rod.
─ Algo cheira bem. - Ele observou.
─ Bife e purê de batatas. Eu estou colocando o jantar de vocês dois mais cedo porque
vou sair com J.C. - Ela olhou para o pai quando disse isso, e sua expressão rígida
acrescentou ênfase à declaração. Ela não iria discutir, estava indo e pronto.
O reverendo apenas sorriu tristemente.
─ Tudo bem. - Disse ele. ─ É bom que você cozinhe para nós. Poderíamos comer
sanduíches. Eu não me importaria.
─ Eu, tampouco. - Disse Rod tardiamente, e conseguiu dar um sorriso para sua irmã.
─ Você cuida tão bem de nós, irmãzinha. Não sei o que faríamos sem você.
─ Você se arranjaria. - Disse ela simplesmente.

48
─ Nós morreríamos de fome. - Disse Rod, olhando para o pai. ─ Não consigo ferver
água e lembro-me dolorosamente da única vez que você tentou fazer café da manhã. -
Acrescentou.
O reverendo fez uma careta.
─ Bem, eu estudei no seminário, não numa escola de gastronomia. - Ele disse
suavemente. ─ Eu posso pelo menos fazer torradas.
─ Se raspar as partes queimadas. - Disse Rod atrás de uma tosse fingida.
O Reverendo Thompson riu.
─ Eu acho que sim.
─ E aí está. - Disse Colie, colocando os pratos de comida na mesa, que já estavam
prontos. ─ Tenho que me arrumar. J.C. vem me buscar às seis. Nós vamos comer algo que
eu não tenha que cozinhar. - Ela provocou.
─ A noite de folga da cozinheira. - Disse o reverendo, balançando a cabeça enquanto
pegava um garfo. ─ Você certamente merece. Isso está delicioso, Colie.
─ Obrigada, papai. - Ela deu um beijo na cabeça dele e piscou para Rod enquanto
saía para alimentar Big Tom antes de ir ao quarto para se vestir.

***
J.C. foi pontual. Colie encontrou-o lá fora, vestiu seu casaco antes de subir no SUV
com a ajuda dele.
─ Nós estamos correndo de problemas? - Ele provocou quando entrou atrás do
volante. ─ Evitando. - Ela respondeu. E riu. ─ Rod e eu tivemos uma desavença pouco antes
que papai voltasse para casa. Honestamente, não sei o que acontece recentemente com meu
irmão. Ele está... estranho.
Ele não respondeu. Dirigiu para a estrada principal em direção ao rancho de Ren.
─ Você percebeu isso também, mas você não quer dizer nada de ruim sobre o seu
melhor amigo. - Disse com uma intuição repentina.
Ele olhou para ela com as sobrancelhas levantadas.
Ela deu de ombros.
─ Eu sei, sou estranha. Minha avó tinha visões.
─ Igual a minha. - Ele respondeu.
─ Elas se tornaram realidade?
─ A maioria sim. Uma não, pelo menos, ainda não. - Ele olhou para ela com um
sorriso. ─ Eu falei sobre isso no cassino.
Ela assentiu.
─ Eu também falei sobre a minha. - Ela riu e fingiu estremecer. ─ Nós descendemos
de pessoas estranhas, eu acho.
Ele pegou sua mão e a segurou.
─ Nós descendemos de pessoas talentosas. - Ele corrigiu com um sorriso. ─ E eu não
acho você estranha.
─ Obrigada. - Ela olhou para ele. ─ Eu simplesmente adoro ouvir você falar. - Ela
confessou. ─ Você tem uma voz aveludada, profunda J.C. É... bem, sexy.
Ele riu.
─ É a primeira vez que alguém me diz isso.
─ Oh, eu entendo, as mulheres estão muito ocupadas, percebendo o quão lindo você
é, então elas não notam sua voz.
─ Não há muito o que conversar.
Ela ficou quieta.

49
Sua mão se contraiu.
─ E isso poderia ter sido dito de outra maneira. Não queria machucá-la.
─ Eu sei que você tem mulheres.
─ Não mais. - Ele disse de repente. ─ Não desde que você apareceu. Eu estou
falando sério. Eu nunca minto.
Ela respirou devagar. A sensação dos dedos dele entrelaçados com os dela, a fazia
estremecer por toda parte.
─ Eu tento não mentir. Bem, eu não disse à Sra. Joiner que o vestido que ela estava
usando era muito apertado e muito curto para uma mulher na faixa dos quarenta, ou que se
podia ver tudo através do tecido quando ela estava contra a luz. Eu acho que estava
mentindo por omissão...
Ele riu.
─ Ela frequenta a sua igreja, acredito.
─ Ela é a pianista. - Ela respondeu, balançando a cabeça. ─ Ela não é o tipo de
pessoa atrevida, mas seu primo comprou o vestido e ela não queria magoar seus sentimentos,
então ela o usou na igreja. - Ela fez uma careta. ─ Foi muito triste. Eu não disse nada, mas o
diretor do coro disse. A Sra. Joiner foi para casa em lágrimas. Papai teve que contornar as
coisas. Ele é bom nisso.
─ Ele tem um coração amável. - Disse J.C. ─ Eu o respeito.
Colie desejou que seu pai se sentisse assim com J.C. Mas ela sabia que ele não o
fazia. Ele nunca aprovaria o relacionamento.
─ Seu pai não gosta de mim. - Ele disse, como se tivesse lido os pensamentos tão
óbvios em seu rosto.
─ Não é você. Ele sabe que você não é uma pessoa de fé, e eu sou. Ele pensa, bem,
ele acha que você está me corrompendo.
─ Deus é testemunha, estou tentando. - J.C. respondeu e sorriu para ela.
Ela riu.
─ Pelo menos você é honesto. - Ela olhou em volta para neve, na paisagem deserta.
─ Posso perguntar onde vamos jantar? Em Denver, talvez?
─ Eu estou levando você para casa para comer ensopado de veado.
Seu coração pulou.
─ Casa? Sua casa?
Ele assentiu.
─ É uma boa cabana. Dois quartos, muito espaço. Comprei a terra de Ren. Eu crio
algumas cabeças de gado de raça pura. É isolado e acolhedor. Nunca tive uma casa minha
até agora. Estou bastante orgulhoso disso.
─ E ensopado de veado?
Ele assentiu de novo.
─ Eu fui caçar e consegui um veado de 7 galhadas16. Eu mantenho a carne em um
frigorífico na cidade na empresa de processamento de cervos. - Ele sorriu. ─ Minha avó
fazia ensopado de veado, quando eu era pequeno. Ela morou com a gente em Whitehorse
durante o último inverno que minha família esteve junta. Ela me ensinou a cozinhar.
─ Eu imagino que ela pensou que seria uma habilidade útil. Ela era a única que tinha
visões?
─ Sim.
16
Seven point buck(cervo de sete galhadas)

50
─ Os seus avós ainda estão vivos?
─ Não. A maioria deles morreu relativamente jovem.
─ Os meus também. Eu sinto muito. Gostaria de ter tido tempo para conhecê-los.
Minha avó, a única que tinha pressentimentos sobre as coisas, era uma herbalista. Ela podia
nomear todas as plantas medicinais conhecidas pelo homem e sabia como processá-las. Ela
nos manteve saudáveis. Eu estava na escola primária quando ela morreu.
─ Meu avô também era um herbalista. A maioria desses velhos remédios caseiros se
introduziram nas farmácias sob diferentes nomes.
─ Sim eles fizeram. Oh, J.C., isso é lindo! - Ela exclamou quando ele entrou por um
longo caminho entre os pinheiros lodgepole. A casa tinha como pano de fundo as montanhas
distantes, e ficava no meio de uma floresta espessa. Luzes brilhavam nas janelas e fumaça
saía da chaminé. Com a neve cobrindo o chão ao redor, lembrava um cartão de Natal que
recebeu uma vez. Ela guardava o cartão pela estampa.
─ Eu também acho. - Disse J.C, sorrindo. ─ Eu reforçei as paredes e adicionei
isolamento, então é quente mesmo quando a temperatura cai muito abaixo de zero.
Parecia uma cabana de madeira de grande porte. Tinha uma varanda larga e ampla e
havia duas cadeiras de balanço nela. Havia vasos vazios. Ela se perguntou se ele colocava
flores neles, na primavera.
Dentro, as poltronas eram acolchoadas e acolhedoras, em cor terra. As cortinas eram
de um castanho profundo. Espalhados em volta estavam cobertores padronizados. Havia um
espanta-pesadelo17 contra uma parede, um arco e flecha em uma aljava de pele na outra
parede. Ao longo da cornija da lareira havia uma pintura de um homem alto de pé cercado
por lobos na neve. Quando ela se aproximou, viu que era J.C. O retrato era excepcional.
Parecia exatamente como ele, exceto que irradiava solidão e tristeza, especialmente nos
olhos de prata pálido.
─ Uau. - Era a única coisa que conseguia dizer. O retrato literalmente revelava o
homem interior.
─ Revelador, não é? - Murmurou, com as mãos nos bolsos. ─ Merrie, esposa de Ren,
pinta. Ela tem um talento raro para capturar a pessoa real. Eu também tive que me convencer
a deixá-la pintar. - Ele riu. ─ Eu não tinha certeza de estar pronto para ter minha vida
mostrada em público.
─ Não é público. - Ela apontou. E o estudou. ─ Eu imagino que muitas pessoas
nunca foram convidadas a vir aqui.
─ Ren e Merrie vieram para um ensopado de veado, antes do seu filho nascer. - Ele
observou. ─ Willis e eu jogamos pôquer de vez em quando. Ele traz o lobo, que se senta no
canto e rosna cada vez que eu me mexo. - Ele acrescentou com uma risada.
─ Willis? O capataz? - Ela perguntou, e ele assentiu. ─ Ele tem um lobo?!
─ Ele tem um lobo. - Ele respondeu. ─ O lobo só tem três pernas. Willis é um
reabilitador da vida selvagem licenciado. O lobo não poderia ser liberado de novo na

17
Filtro dos sonhos, apanhadores de sonhos, caçadores de sonhos, cata-sonhos ou ainda espanta-
pesadelos(em inglês dreamcatcher) é um amuleto da cultura indígena ojibwa (ou chippewa). Os ojíbuas
acreditam que, quando a noite cai, o ar se enche de sonhos, bons e ruins. Alguns destes sonhos, mesmo
sendo pesadelos, podem conter uma mensagem importante do Grande Espírito para nós. É justamente para
separar estes sonhos e energias ruins que existem os filtros dos sonhos.

51
natureza com uma desvantagem assim, então Willis conseguiu mantê-lo. A maldita coisa
dorme com ele. - Acrescentou. ─ Não é de admirar que ele esteja sozinho.
Ela sorriu.
─ Eu gosto de lobos. Eu nunca vi um de perto, mas eu os vi à distância. Eles são tão
grandes!
─ Muito grandes. Perigosos em matilha, quando estão caçando.
─ O lobo não gosta de você?
─ Ele tem ciúmes de Willis. Homem, mulher, qualquer um. Bem, exceto Merrie . -
Ele corrigiu, liderando o caminho para a cozinha.
─ A esposa de Ren. - Lembrou ela. ─ Aquela que pinta.
─ Sim. O lobo foi direto para ela quando ela e Ren estavam visitando a cabana de
Willis, antes de se casarem. O lobo aproximou-se dela e colocou a cabeça no seu colo. Ela
tem um jeito com os animais.
─ Eu queria poder ter mais animais de estimação. - Ela disse com um suspiro. ─
Mamãe, quando estava viva, cuidava de animais para o abrigo local. Eu adorava a variedade.
Mas papai diz que um gato grande é o suficiente.
Ele sorriu calmamente.
─ Um do tamanho do Big Tom realmente é o suficiente.
Ela sorriu de volta.
─ Fiquei tão chocada quando você apareceu em nossa casa com Big Tom. - Ela
confessou. ─ Foi inesperado.
─ Eu sei. - Ele sorriu. ─ Eu não tinha planejado isso. O gato ficava me cercando todo
o tempo. Eu não me incomodo com os gatos, mas... Enfim, Rod disse que era seu
aniversário e que você adora gatos. Parecia a solução para dois problemas.
─ Ele é um animal de estimação maravilhoso. - Ela franziu os lábios. ─ Papai gosta
dele ainda mais desde que ele pegou um rato na cozinha. - Acrescentou, rindo.
Ele também riu.
─ Seu pai se dá bem com o gato?
─ Mais ou menos. Ele não gosta muito de animais, embora ele nunca seja cruel com
eles. Ele ama as pessoas. Eu acho que é uma compensação.
─ Rod também não é um amante de animais. - Disse ele.
─ Não, ele não é. Como você sabe?
─ Algo que aconteceu quando estávamos no exterior quando seu irmão estava
terminando seu período de serviço. - Ele se fechou.
Ela se perguntou se era algo ruim. Rod tinha um temperamento limítrofe, e ele
ficava, muitas vezes, fora de controle. Ele não era assim quando mais novo. Ela sentiu um
frio por dentro de repente.
Ele olhou para ela enquanto tirava o ensopado da geladeira.
─ Eu falei demais. Eu não deveria ter dito isso. Agora você vai se preocupar até a
morte.
─ Não, eu não vou. Eu sei que Rod tem um temperamento terrível. - Acrescentou. ─
Mamãe ficou realmente brava com ele uma vez por ter feito algo com um dos cachorros que
ela estava mantendo para o abrigo de animais. Eu nunca soube o que, porque nenhum deles
me contou o que aconteceu. Mas ela morreu não muito tempo depois, e não tínhamos mais
animais em casa. Até que você me desse Big Tom, pelo menos.
─ Algumas pessoas são melhor se mantidas afastadas dos animais. - Ele disse
evasivamente. ─ Eu posso fazer pão de milho, se você quiser para acompanhar o ensopado.
─ Oh, não para mim. - Disse ela. ─ Ensopado está bom. Não gosto de comer muito
no jantar. Isso me mantém acordada.

52
Ele riu.
─ Tudo me deixa acordado. Eu fico bem se puder dormir cinco horas por noite.
Normalmente, é muito menos. Você pode me dar essa panela? - Ele acenou com a cabeça.
Ela a entregou a ele. Era antiaderente, de cor vermelha. Muito limpa.
─ Você mantém uma casa imaculada. - Observou.
─ Eu tento. A primeira coisa que você aprende nas forças armadas é manter seu
beliche limpo. - Ele riu. ─ Ninguém quer falhar na inspeção.
─ Eu aposto que coisas terríveis acontecem a quem falha.
─ Sim. Trabalho na cozinha. - Acrescentou. ─ Descascando batatas. - Ele
estremeceu.
─ Eu amo batatas.
─ Eu posso passar sem elas na maioria das vezes. Eu como batatas fritas, mas não
estou interessado em nenhum outro método de preparação.
Ela o observou aquecer o ensopado. Cheirava como o paraíso. Quando ele colocou
sobre a mesa, ela não podia esperar para provar.

***
Eles comeram em um confortável silêncio.
─ Isso está realmente bom. - Ela disse entre as mordidas. ─ Eu posso fazer ensopado
de carne, mas tenho medo do veado.
─ Por quê? - Ele perguntou com curiosidade.
─ Porque é difícil cozinhar direito. É uma carne seca.
─ Pode ser. Minha avó me ensinou como resolver isso. Mas eu também tenho um
livro de receitas que pertencia a minha avó materna. - Acrescentou. ─ Tem receitas da
virada do século XX. Deus sabe o quão longe era na família antes de parar nas mão de
minha mãe. Tem receitas para todos os tipos de caça selvagem.
─ Eu adoraria ver isso.
─ Eu vou mostrar para você. Não esta noite. - Ele acrescentou com um sorriso. ─ É
noite de luta livre.
Suas sobrancelhas arquearam.
─ Luta livre?
Ele assentiu quando terminou o ensopado.
─ WWE18.
Ela apenas olhou para ele.
─ Não tem ideia, não é? - Ele murmurou. ─ Já ouviu falar de Dwayne Johnson?
─ Oh! Ele fez a voz de Maui naquele desenho animado, Moana! Eu o amo!
─ Ele começou como The Rock na WWE.
─ Ele foi um lutador! - Exclamou.
─ Sim. Assim como o pai dele. Eu sinto falta de vê-lo no ringue, mas eu gosto tanto
dele no cinema. Ele fez um filme chamado A Montanha Enfeitiçada que eu assisto uma e
outra vez.
─ Eu gostei dele em Um espião e meio. - Ela sorriu. ─ Mas eu nunca soube que ele
tinha sido um lutador. Eu vou ter que assistir.
─ É um esporte violento. As pessoas dizem que é tudo armado. Mas os homens
ficam gravemente machucados no ringue de vez em quando. Assim como as mulheres
lutadoras.

18
WWE(World Wrestling Entertainment, Inc.) - É uma empresa americana de entretenimento com capital
aberto controlado privadamente que lida principalmente com luta profissional.

53
─ Agora estou realmente fascinada.
─ Traga seu café para a sala de estar. Está quase na hora.
Ela o observou colocar os pratos na pia e pegou seu próprio café antes de segui-lo até
o amplo e confortável sofá, com seu estofamento macio e suas almofadas igualmente
macias.
─ Você disse que não tinha uma televisão. - Ela lembrou enquanto se sentava e
colocava seu café na grande mesa de madeira.
Ele riu.
─ Eu sempre digo às pessoas que eu não tenho. Dessa forma, não tenho que ouvir as
pessoas falarem entusiasmadas sobre as competições de talentos e os reality shows.
─ Eu sei o que você quer dizer. Nós assistimos filmes e este programa de televisão
na BBC. Tem um ator que trabalhou na Trilogia O Hobbit. Bem, e outro ator que também
estava no Hobbit, ele fazia a voz do dragão19.19
Ele olhou para ela depois de ligar a televisão e colocá-la no canal de luta livre.
─ Você não quer dizer a série Sherlock, não é?
─ Sim!
Ele explodiu em risos enquanto se sentava ao lado dela.
─ É o meu programa favorito. Um dos poucos que assisto.
─ Mundo pequeno. - Comentou.
─ Muito pequeno. Aqui. Recoste-se contra mim. - Ele a atravessou no colo e a
abraçou, beijando seus cabelos.
Ela suspirou. Era como voltar para casa, depois de ter ficado separada dele por quase
uma semana. Ela encostou a bochecha em seu amplo peito e ouviu sua batida de coração.
Ele cheirava a uma colônia picante que combinava com ele.
Ele acariciou seus cabelos escuros.
─ Isso é bom. - Comentou.
─ Muito bom. - Ela suspirou. ─ Muito melhor do que sentar em um restaurante
ouvindo as pessoas discutirem.
─ O quê? - Ele perguntou.
─ Eu saí para comer com Rod e papai duas semanas atrás no Fish Place. Havia um
casal em uma discussão violenta. Foi tão ruim que o gerente realmente foi à mesa deles e
pediu para sairem ou ele ligaria para a polícia. Eles também discutiram na porta.
─ Lamentável falta de maneiras. - Murmurou. ─ Para não falar de orgulho. A
maioria das pessoas não lava sua roupa suja em público.
─ Diga isso às pessoas nas redes sociais. - Ela disse, ironicamente. ─ Honestamente,
eles falam sobre coisas que eu nem discutiria com minha mãe, Deus guarde a sua alma, se
ela ainda estivesse viva.
─ Eu não participo de redes sociais.
─ Por que não estou surpresa? - Ela perguntou, olhando para ele com um sorriso
largo.
Ele procurou seus olhos lentamente. Sentiu-a macia e quente contra ele. Ela cheirava
a rosas. Ele delineou sua boca com a ponta do dedo e ouviu a mudança na respiração dela.
─ Você está se enrolando em mim como hera. - Ele sussurrou. ─ Você está sempre
comigo, mesmo quando você não está presente.

19
Programa Sherlock e Filme O Hobbit - Os atores em questão são Martim Freeman ( Bilbo Bolseiro/Dr.
Watson) e Benedict Cumberbatch (dragão Smaug/Sherlock Holmes e para quem não está ligando o nome à
pessoa ele também foi o Dr. Estranho).

54
─ Eu sei. - Ela disse com a respiração instável. ─ É assim comigo também. - Ela
alcançou e tateou sua boca dura. ─ Eu me sinto tão fria e vazia quando você não está por
perto.
Ele se inclinou e colocou o nariz contra o dela, acariciando-o.
─ Não vou fazer promessas, Colie. - Disse ele com voz rouca. ─ Não importa o que
aconteça.
─ Eu sei.
Ele inclinou sua cabeça e colocou a boca lentamente sobre os lábios entreabertos
dela, amando sua suavidade, a resposta instantânea que ela lhe dava. Ela entrava de cabeça.
Ele não, normalmente. Mas ele tinha menos controle com ela do que tinha com qualquer
mulher desde que a prostituta virou sua vida e seu orgulho pelo avesso. Ele a quis no
momento em que a tocou.
Ele a virou para que os quadris dela se encaixassem intimamente contra os dele.
Mesmo através de duas camadas de jeans, sua excitação era rígida e perceptível. Ela deveria
ter protestado. Mas tudo o que podia pensar era como era maravilhoso estar perto dele, ser
desejada por ele. Ela nunca soube o que era o desejo antes. Agora a atormentava noite e dia.
Ela ficava acordada à noite imaginando todo tipo de coisas eróticas que queria fazer com ele.
Ela arqueou quando sentiu a mão dele deslizando sob a bainha de sua blusa. Seus
lábios se abriram em choque e ele sentiu a respiração dela em sua boca. Mas ela não estava
protestando. Na verdade, o estremecimento do corpo dela lhe dizia que ela queria muito
mais do que apenas suas mãos em suas costas.
Ele aprofundou o beijo quando seus dedos desabotoaram o sutiã de algodão simples
que ela usava. Ele sentiu sua hesitação. Mas segundos depois, quando ele acariciou seu seio
nu e provocou o mamilo até que ele endureceu, ela estremeceu e apenas deitou-se contra ele,
deixando-o fazer o que quisesse.
Suas mãos foram para os botões de pressão que seguravam a camisa no lugar. Ele
desabotoou o cinto e puxou-o para fora do jeans, levando as mãos dela para a grossa camada
de pelo que cobria o músculo quente e duro.
Ela nunca tocou um homem tão intimamente. Era intoxicante, como a sensação das
mãos grandes dele em seus seios. Ela nunca imaginou que poderia ser desinibida com
qualquer um.
E J.C., que parecia tão contido e controlado, estava rapidamente ficando sem
controle de si mesmo. Ela sentiu a respiração dele acelerar, seus batimentos cardíacos
irregulares no silêncio que só era quebrado pelo murmúrio de vozes na televisão e a
respiração ofegante que acompanhava a crescente paixão entre as duas pessoas no sofá.
Ele a colocou debaixo dele, sua boca indo de repente cobrir um seio macio e
pequeno.
Ele ficou chocado quando ela segurou sua cabeça em suas mãos e a afastou. Seus
olhos estavam arregalados e cheios de medo.
─ O que é? - Ele perguntou, olhando para baixo para apreciar a suave carne rosados
com seus bicos duros de cor malva.
─ Des...desculpe, só me surpreendeu. - Ela sussurrou.
─ Eu não vou morder você. - Ele brincou com voz rouca. ─ Eu só quero atraí-lo para
minha boca e provar você. - Ele acrescentou quando se curvou de novo. ─ Deus, isso é doce!
Ela parou de protestar. Não sabia exatamente o que esperar, mas isso era muito
diferente de suas expectativas de intimidade. Sua boca era quente, lenta e faminta. Ele sugou
seu seio e ela arqueou no sofá, arrastando-a em uma onda quente de esquecimento.
─ Oh... Deus! - Ela murmurou, arqueando e estremecendo.

55
─ Bebê. - Ele sussurrou inseguro quando se abaixou sobre ela. ─ Bebê, eu quero
você tanto! Sinta-me!
Ele estava entre suas pernas vestidas de jean e tudo o que ela conseguia fazer era
uma fraca hesitação. Ela o queria. Seu corpo queimava. Ela doía por toda parte.
Houve apenas um instante em que ela poderia ter se afastado, fazê-lo parar. Mas os
dedos dele desabotoaram o zíper na frente de seu jeans e deslizaram para dentro, sob a
calcinha de algodão, para um lugar que nenhum homem já tinha tocado.
Ela estremeceu quando ele provocou seu corpo, incitando-a a inconsequência. Em
sua paixão, ela o mordeu no ombro, forte, à medida que a necessidade explodia nela como
fogos de artifício.
─ Oh Deus!
Ele a pegou e a levou para a cama. Ele beijou todo o seu corpo, tirando a roupa
pouco a pouco, peça por peça, até que ela estava totalmente nua. Ela não se importava. O ar
em seu corpo a fazia sentir-se bem. Ela estava tão quente. Tão faminta. Ela precisava... de
mais.
Ele conseguiu se despir entre os toques íntimos. Ela estava relutante até esta noite.
Ele não lhe daria chance de recusá-lo. Ele morreria se tivesse que deixá-la ir. Seu corpo
pulsava com uma necessidade angustiante. Fazia muito tempo que ele tinha tido uma
mulher. Ele não queria ninguém da maneira que queria Colie agora.
Era um milagre que ele pudesse achar algo para usar na mesa de cabeceira. Ele não
costumava manter o item necessário lá. Ele conseguiu pegar o preservativo entre os beijos
que se tornavam mais e mais profundos a cada segundo.
Ele a sentiu hesitar, mas imaginou que estivesse indo muito rápido. Ele tentou
diminuir a velocidade, para o seu mérito. Ele beijou o interior de suas coxas, sentindo-a
arquear e chorar na intensidade do ardor erótico, ele estava revelando a ela.
Ele a tocou intimamente, sentindo sua resposta. Ela estava pronta para ele. Estranho,
quão apertada ele a sentia. Mas ele estava muito longe de se preocupar com isso. Ele sabia
que a estava apressando. Mas tudo bem.
Ele entrou nela rapidamente, contendo seu leve grito de surpresa, uma grande mão
sob seus quadris, levantando-a para o impulso de seu corpo.
─ Oh, bebê, é tão doce. - Ele murmurou contra a sua boca. ─ Nunca foi doce, nunca
com ninguém!
Ela ouviu as palavras, mas através de camadas de dor. Deveria machucar tanto? Ela
leu livros, mas eles não eram explícitos o suficiente. Ela tentou não lutar contra ele.
Certamente isso faria parar de doer. Ela o queria. Era a primeira vez. Ele sabia?
Ela queria dizer a ele, mas estava com medo. Ela sabia que ele esperava que ela fosse
experiente. Ele falou tanto em uma de suas conversas anteriores. Ele ficaria lívido se
soubesse a verdade. Ele provavelmente a tiraria da sua vida.
Então, ela respirou fundo e deixou que ele a tivesse. Ele gritou com prazer. Ela
estava feliz de que seu corpo lhe desse tanta alegria, ela só queria que ela pudesse
compartilhá-la. Mas sentiu-se rasgada e desconfortável.
Pelo menos não levou muito tempo, ela não tinha certeza de que poderia ter
conseguido não começar a chorar.
Ele se afastou dela e deitou sobre suas costas, soltando um suspiro áspero e
estremecendo.
─ Eu pensei que ia morrer, foi tão bom. - Ele sussurrou roucamente. Ele a puxou
contra ele, envolveu-a em seus braços. Beijou as pálpebras, fechando-as. ─ Obrigado. - Ele
acrescentou com voz rouca. ─ Eu sei que você não estava pronta para mim. Eu sinto muito.
Eu vou compensar você.

56
─ Está tudo bem. - Disse ela, escondendo o desconforto.
Era o paraíso para ele segurá-la assim, ser carinhoso com ela. Era como um
entorpecente. Ela fechou os olhos e se aproximou.
─ Eu adoro estar com você assim. - Ela sussurrou com voz rouca.
Seu braço se contraiu em torno dela. Ele não disse, mas se sentia assim. Havia uma
conexão entre eles que ele nunca experimentou. Suas mulheres eram sofisticadas. Exigiam,
instruíam. Colie adorou tudo o que ele fez com ela. Isso o fez se sentir um gigante.
Mas o preocupava o fato de perder o controle com ela. Ela precisava de mais tempo,
e agora ele estava exaurido. Ela provavelmente percebeu isso. Alguns homens podiam ter
relações a noite toda, mas ele não podia.
─ Da próxima vez. - Ele sussurrou. ─ Iremos devagar. Eu prometo.
Seu coração saltou. Então ele não ficou desapontado com a falta de resposta. Ela
sentiu alívio, culpa, e desapontamento, tudo ao mesmo tempo. Culpa, porque as boas garotas
não faziam o que ela acabou de fazer. Alívio por que ele ainda a queria. Decepção porque
não houve prazer, além das preliminares. Era assim com o sexo? Um acúmulo de sensações
para uma grande decepção? Ela era muito tímida para falar com ele sobre isso. E não havia
mais ninguém com quem pudesse conversar. Talvez houvesse livros...
─ Você está muito quieta. - Ele observou, beijando o topo de sua cabeça.
─ Estou feliz. - Disse ela suavemente.
Ele também. Na verdade, ele nunca se sentiu mais em paz. Ele se virou e passou a
boca pelo rosto, as pálpebras, o nariz, a boca macia e inchada.
─ Eu deveria levá-la para casa. - Ele sussurrou. ─ Você pode usar o banheiro
primeiro.
─ Obrigada.
Ela agradecia pelo quarto estar escuro. Aparentemente ele não era uma daquelas
pessoas que gostavam das luzes acesas. Ela também não era. Era embaraçoso agora que a
paixão ardente desapareceu, estar nua com ele.
Ela correu para o banheiro e fechou a porta. Havia sangue. Não muito, mas o
suficiente para que ela soubesse por que tinha sido desconfortável. Não havia uma barreira a
ser rompida a primeira vez? Era provavelmente por isso que tinha doído. Talvez da próxima
vez não doesse.
Ela se limpou e se vestiu. Quando voltou para o quarto, ele já estava vestido. As
luzes estavam acesas. Ele parecia desconfortável.
─ Eu vou levá-la para casa antes de tomar banho. - Disse ele. Ele hesitou, segurou-a
pelos dois ombros e fez uma careta. ─ Você deveria ter me contado, Colie.
Seu coração acelerou. Então ele sabia que ela era inocente!
─ Se eu soubesse que sua menstruação estava começando, eu teria esperado. -
Acrescentou. ─ Eu sinto muito.
Ela sentiu alívio e outra coisa, algo preocupante. Talvez ele não se interessasse em
ser o primeiro. Seria melhor não lhe dizer. Agora não.
Ela forçou um sorriso.
─ Eu direi a você na próxima vez. - Prometeu.
Ele se inclinou e a beijou com ternura.
─ Doce garota. - Ele sussurrou. ─ Eu nunca gostei de nada tanto quanto desta noite.
─ Eu também. - Ela mentiu, se encostando nele. Bem, ela gostou da ternura. A outra
parte é que foi desconfortável. Talvez ela pudesse se acostumar com isso.
─ Vamos.

***

57
Ele a ajudou a descer do SUV e ficou com ela por um minuto antes de falar.
─ Há um novo filme de desenho animado passando no centro da cidade. - Ele
observou. ─ Uma vez que vamos ser melhores amigos por alguns dias, podemos também ir
ao cinema. - Acrescentou com um sorriso.
Ela riu.
─ Eu gostaria muito disso.
─ Eu também. Eu vou ligar para você. - Ele deu um leve beijo em seus lábios e
voltou para o SUV. Ele foi embora sem acenar ou olhar para trás. O mesmo de sempre.
Colie hesitou antes de abrir a porta. Ela esperava que o que fez não transparecesse.
Ela sentiu-se culpada. Seu pai ficaria desapontado com ela. Isso provaria o que ele já havia
dito, que J.C a estava corrompendo.
Por outro lado, ela poderia evitar que ele percebesse. E a suposição de J.C. deu-lhe
uma defesa.
Ela entrou, ligeiramente curvada e gemendo enquanto pendurava sua bolsa ao lado
da porta.
─ Colie? - Seu pai perguntou gentilmente, aproximando-se da cozinha com uma
xícara de café preto. ─ Você está bem?
Ela fez uma careta.
─ Cólicas. - Ela disse com voz rouca. ─ Eu preciso me deitar.
─ Pobre criança. - Ele disse com simpatia. ─ Tem algo para tomar?
Ela assentiu.
─ O meu remédio habitual, sem receita. Funciona. Mas eu vou para a cama.
─ Como foi o jantar?
Ela não se virou. E riu.
─ Ele sabe cozinhar. - Disse ela. ─ Ele me levou para casa dele para comer um
ensopado de veado. Estava maravilhoso. Ele disse que sua avó o ensinou a fazê-lo.
─ Ensopado de veado. - Seu pai suspirou. ─ Eu também lembro o gosto disso.
─ Boa noite, papai.
─ Boa noite querida.
Ela chegou ao seu quarto sem que ele percebesse que sua vida havia tomado um
novo rumo. Ela pegou um pijama e uma calcinha de sua gaveta e foi direto para o chuveiro.
Ela ainda podia sentir o cheiro da colônia de J.C. nela. Pelo menos, ela conseguiu manter
distância para que seu pai não percebesse. Mas, então, ele simplesmente assumiria que ela
tinha beijado seu namorado, não que ela tinha dormido com ele.
Era a primeira das mentiras inofensivas que ela teria que inventar se continuasse
vendo J.C, e ela não podia parar. Ela estava mais apaixonada do que nunca. Aconteça o que
acontecer, ela não podia desistir dele. Nem mesmo se a sua consciência a atormentasse todas
as noites.

58
06
Colie se sentia diferente, mais madura, mais em sintonia com o mundo. Agora,
quando ela assistia filmes na televisão ou notícias e ouvia falar sobre casais que viviam
juntos, não a chocava. Na verdade, invejava-os. Ela queria estar perto de J.C. o tempo todo.
Como eles tinham ficado íntimos, era quase uma obsessão, estar com ele. Mesmo
que fosse apenas para ouvi-lo falar uma ou duas palavras ao telefone. Aparentemente ele
sentia o mesmo, porque ele a convidava para o almoço quase todos os dias e eles iam ao
cinema o tempo todo.
Então, uma semana depois de terem ficado íntimos, J.C. tornou-se insistente até que
a levou para sua casa com ele para comer carne e batatas, o único outro prato que ele sabia
fazer bem.
Colie estava nervosa com isso, porque tinha sido tão desconfortável na primeira vez.
Mas ela sabia que se ela começasse a recusá-lo, J.C a deixaria. Ela estava certa disso. Ele
gostava dela, é claro, mas mais do que isso, ele estava faminto por uma mulher. Ela não
tinha nenhuma ilusão de que ele não procuraria outra se ela o recusasse.
Então ela não o recusou.
Como prometeu, ele demorou mais com ela. Mas seu corpo, ainda se recuperando do
choque e dor da primeira vez, não estava cooperando. Ela adorava as preliminares. Ele era
muito habilidoso, e ela gostava da sensação de sua boca em sua pele nua, das suas mãos
intimamente sobre ela. Ela deu todas as indicações de que estava gostando tanto quanto ele.
Ou seja, até que ele a penetrou. Ela trincou os dentes e tentou relaxar, mas foi quase
tão desconfortável quanto a primeira vez.
J.C. não percebeu. Ele estava faminto por ela. Tinha sido uma semana de agonia,
enquanto ele tentava ocupar sua mente e mantê-la fora da deliciosa hora que passou na cama
com Colie. Agora, aqui estava ela, macia, morna e ansiosa, e ele se descontrolou quase
imediatamente. Ele tentou diminuir a velocidade. E não pode. Fazia muito tempo que ele
teve uma mulher antes de Colie. Seu corpo estava totalmente fora de controle.
Ele estremeceu e gritou, o prazer o atingiu com tanta força que ele pensou que podia
desmaiar. Ela ainda estava apertada. Ele se perguntou por quê. Ela não correspondia, nem
exigia, como suas outras mulheres faziam. Ela fazia o que ele quisesse que ela fizesse. Mas
ele sentiu-se culpado, porque sabia que ela não tinha sentido o mesmo prazer que ele quando
a tomou.
Ele se deitou ao lado dela, acalmando-se lentamente, a grande mão ternamente nos
cabelos dela enquanto ele a segurava ao seu lado.
Ela não gostava de sexo. Estava certa disso agora. Mas adorava J.C. Estar perto dele
assim, senti-lo ser terno com ela, era tão maravilhoso que aceitava o que ele quisesse fazer
com ela, só pela proximidade.
Ela lembrou de um velho ditado enquanto estava aconchegada contra ele. Os homens
davam amor para ter sexo, e as mulheres davam sexo para ter amor. Nunca pareceu tão
apropriado quanto agora.
─ Eu odeio ficar longe de você. - Ele disse do nada. ─ Mesmo à noite. Especialmente
a noite. Eu quero você aqui, o tempo todo.
Ela respirou fundo.
─ Você quer?
Seu braço se contraiu na suave escuridão do quarto.

59
─ Você não quer estar comigo o tempo todo? - Ele perguntou.
─ Claro que eu quero.
Ele respirou fundo.
─ Seu pai não vai gostar. - Ele falou bruscamente.
─ É minha vida. - Ela começou.
─ Sim. Mas as escolhas têm consequências. - Ele hesitou. ─ Colie, não estou
propondo casamento. Você entende isso, não é? Estou pedindo para você morar comigo.
Isso é tudo. E não estou prometendo nada.
Ela sentiu uma tristeza imensa, mas não fazia sentido protestar. Ela o amava tanto
que estava disposta a desistir de tudo para estar com ele. E sabia que, se a situação fosse
invertida, ele não abandonaria nada por ela. Ele não a amava.
Mas se ela morasse com ele, se ela apostasse, talvez valesse a pena. Ela ganhou nas
máquinas caça-níqueis no cassino. Se a vida fosse assim, ela poderia ter sorte. Era um sonho
impossível, mas ela queria muito J.C para recusar.
─ Eu gostaria disso. - Disse ela simplesmente.
Ele soltou a respiração que estava segurando.
─ Nos revezaremos na cozinha. - Prometeu. ─ E no caso de você se perguntar, não
haverá outras mulheres. Nunca vou enganar você.
Ela riu.
─ Eu acreditei em você, sobre a geóloga loira.
Ele riu.
─ Eu sei. Estou apenas fazendo a declaração.
─ Obrigada.
Ele beijou seu cabelo úmido.
─ Eu vou muito rápido com você, na cama. - Ele confessou. ─ Eu sinto muito. Já faz
muito tempo que estive com alguém. Vai melhorar. - Acrescentou. ─ Eu prometo que sim.
Aprenderei a diminuir a velocidade, a esperar por você. Quero que você sinta tanto prazer
quanto eu. Você me dá a lua, Colie. Nunca senti tal satisfação.
Ela sorriu.
─ Estou feliz. - Ela se aproximou. ─ Você não precisa se preocupar comigo. Adoro a
proximidade. Eu adoro ficar deitada com você assim. Seria mais do que suficiente para mim,
mesmo sem mais nada.
Essa afirmação realmente o preocupou. Ela estava admitindo que ele não a satisfazia.
Ele iria trabalhar no seu autocontrole. Ele odiava que ela não sentisse o mesmo que ele.
─ Vai melhorar. - Disse ele, novamente.
Ela simplesmente suspirou e fechou os olhos.
─ OK.
Ele acariciou suas costas nuas com a ponta dos dedos. Ele estava franzindo a testa,
embora ela não pudesse vê-lo na escuridão. Ele nunca conheceu uma mulher que dava tanto,
era indulgente, tão doce e gentil. Ela era carinhosa com ele. Toda a sua experiência com
mulheres era com vadias que não queriam preliminares, não queriam ternura, só queriam
sexo rude e carnal.
Colie era tão diferente delas. Mesmo a prostituta, quando o estava enganando,
tentando fingir inocência, era exigente e faminta na cama. Ele estava certo de que Colie não
era totalmente ingênua, mas ela dava a impressão de uma mulher que não gostava de sexo.
Ele esperava que pudesse fazê-la mudar de ideia, fazê-la sentir o que ele sentia. Apenas
levaria tempo, ele disse a si mesmo. Ele poderia aprender a diminuir a velocidade.
Ignorando seus pensamentos preocupados, Colie se aconchegou e apreciou a sensação de
intimidade que conseguia ter com ele. Ia morar com ele, estar com ele o tempo todo.

60
Seu coração se apertou. Seu pai não se enfureceria nem gritaria, nada disso. Mas ele
ficaria muito decepcionado com ela. Isso seria o mais difícil de tudo. Ela andou na linha toda
a sua vida. Ele culparia J.C por sua queda, quando foi sua decisão tanto quanto dele.

***
De fato, seu pai não disse nada. Ele sabia há algum tempo como as coisas estavam
indo.
─ Eu disse isso antes, mas vou repeti-lo. - Ele disse suavemente quando suas malas
estavam arrumadas e ela estava esperando por J.C. na varanda da frente. ─ Eu sempre vou te
amar. O que quer que aconteça, estarei aqui se precisar de mim.
Ela o abraçou.
─ Desculpe. - Ela sussurrou, lutando contra as lágrimas. ─ Eu não posso evitar. Eu o
amo tanto. Talvez ele mude.
O reverendo, que tinha ouvido muitas histórias tristes que começavam assim e
acabavam em infelicidade, apenas suspirou.
─ Nunca se sabe. - Acrescentou.
Ele voltou para dentro quando ouviu J.C. chegando.
J.C ajudou Colie a subir no SUV e colocou sua bagagem na traseira da caminhonete.
Ele entrou ao lado dela, observou os traços de lágrimas. E sentiu a culpa até o fundo de sua
alma.
─ Talvez esta não seja uma boa ideia. - Ele começou.
Ela olhou para ele.
─ Eu amo você. - Disse ela simplesmente. E toda a dor e a doçura dela estavam
refletidas no sorriso triste e resignado que ela lhe deu.
Ele a aproximou dele por um minuto. Ele tinha certeza de que nunca uma mulher lhe
disse essas palavras em toda a sua vida. Somente sua mãe. Sua doce e gentil mãe que passou
o inferno com um alcoólatra que se ressentia com ela e seu filho por acabar com seus sonhos
de ser um rancheiro.
─ Eu cuidarei de você. - Ele disse calmamente.
─ Eu vou cuidar de você, também, J.C. - Ela disse, e sentiu alegria como uma coisa
viva, fluindo pelas suas veias.
Isso também era novo. Ele riu quando ligou a caminhonete.
─ Eu realmente não preciso ser cuidado. - Ele confidenciou. ─ E nunca vou precisar!

***
Uma semana depois, queimando com febre e tão doente que não conseguia mexer a
cabeça, ele teve motivos para se lembrar da afirmação impetuosa.
Colie sentou-se com ele, banhou seu suor, deu-lhe o antibiótico e o xarope contra a
tosse que o médico receitou e ignorou seus fracos protestos de que não precisava de
enfermeira.
Ela sabia que ele estava mentindo. Ele olhou para ela como se ela fosse Florence
Nightingale, adorando-a com esses olhos prata pálidos e reluzentes quando ela se preocupou
com ele, alimentou-o com sopa quente, certificou-se de que ele tinha tudo o que precisava
para deixá-lo confortável.
Ele raramente tinha estado doente em sua vida. Ele só se lembrou de ter um vírus
uma vez, e sua mãe e pai o deixaram em casa, porque a família dependia de ambos os
salários para se manter.

61
Para ser justo, sua mãe sentou-se com ele de noite, dando-lhe pedacinhos de gelo de
modo que ele não desidratasse. Mas era diferente, Colie cuidava dele com tanta ternura que
ele não queria se apressar para ficar bem novamente.
Isso era uma fraqueza. Ele estava envergonhado de si mesmo. Não muito
envergonhado, no entanto. Parecia muito bom ter alguém que o amasse. Nenhuma mulher o
tinha amado, até Colie chegar. Ele nunca pensou em si mesmo como uma pessoa que
pudesse ser amada. Ela o fazia se sentir diferente por dentro, valorizado. Ela o edificava.
─ Eu deveria estar cuidando de mim mesmo. - Ele protestou, apenas uma vez,
enquanto ela o alimentava com a sopa.
Ela sorriu.
─ Você é tão autossuficiente, J.C. Fazer coisas por você me faz sentir bem. Mesmo
que seja raramente.
Ele conseguiu dar uma risada.
─ Hera. - Ele acusou. ─ Você está me envolvendo como hera.
─ Tenha cuidado. - Ela provocou. ─ Hera pode até derrubar grandes árvores se as
envolver muito apertado.
Ele suspirou.
─ Não é uma preocupação. Não agora, pelo menos. - Ele a estudou. ─ Você já foi à
clínica de família?
Ela corou. Eles tiveram essa discussão sobre controle de natalidade. Ele disse que o
que ele usava era arriscado. Ele não estava tranquilo sobre a injeção anticoncepcional, um
colega de trabalho no rancho de Ren disse que sua esposa tinha engordado muito quando
tomou a injeção. Mas a pílula existia há muitos anos.
─ Eu irei quando você estiver melhor. - Ela prometeu.
─ Já tivemos um descuido. - Ele lembrou. Seu preservativo havia se rompido. Isso o
preocupou, apesar dela não apresentar sintomas de gravidez. Ele sabia quais eram, porque
Merrie tinha dado à luz há alguns meses atrás. Ele e Ren eram amigos, então ele esteve
muito perto enquanto ela estava grávida.
─ Eu sei. Mas não era a época certa para engravidar. - Ela mentiu. Ela era muito
regular e estava no período fértil. O melhor momento para engravidar. Ela entendeu que ele
não queria filhos. Ela queria tanto um filho dele. Ela tinha essa esperança estúpida e
persistente de que, se engravidasse, ele poderia mudar de ideia sobre muitas coisas.
Ele leu esse pensamento em seu rosto.
─ Colie, não vou mudar de ideia. - Ele disse energicamente, pelo menos, tão
energicamente quanto um homem doente poderia soar. ─ Eu não quero me acomodar. Eu
gosto de treinar policiais no exterior. Eu posso desejar voltar às forças armadas ou participar
de um grupo de mercenários. Só vou ficar com você enquanto estiver livre para ir para onde
eu quiser. Não vou me estabelecer. De jeito nenhum, nem se você ficar grávida. Desista.
Ela respirou profundamente.
─ A esperança é a última que morre? - Ela arriscou.
─ Isso acaba aqui. - Ele disse.
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Eu irei Clínica de saúde na próxima semana. Não tem
importância. - Acrescentou. ─ Você está muito doente para fazer qualquer coisa agora, de
qualquer maneira.
Ele estava. E não gostou de admitir isso.
Ele a estudou calmamente enquanto ela o alimentava. Ela ainda não estava
conseguindo satisfação no sexo. Ela tentava fingir, mas ele sabia. Ela estava desconfortável,
apertada, tensa, todo o tempo. Ele queria que ela tomasse a pílula porque tinha a sensação de
que o problema era o preservativo. Ela se queixou de uma erupção cutânea, e ele sabia que

62
não era uma doença que ele tinha passado a ela, a menos que outro amante antes dele lhe
tivesse passado algo. Mas ele não achava que era uma doença. Ela podia ter uma alergia.
─ Colie, você já fez algum teste para alergia ao látex? - Ele perguntou em voz alta. A
colher saltou da mão dela. Felizmente, estava vazia no momento.
─ Alergia ao látex? Você quer dizer, como luvas de borracha?
─ Quero dizer, como as coisas de borracha que eu uso para evitar que engravide. -
Ele disse de forma clara.
Ela apenas olhou para ele. Isso nunca lhe ocorreu. Tinha uma erupção cutânea toda
vez que ele fazia amor com ela.
─ Eu, bem, nunca fiz teste para qualquer tipo de alergia. Eu tenho essa erupção todas
as vezes... - Ela corou.
─ Isso explicaria algumas coisas. - Ele observou. ─ Semana que vem. Com certeza.
─ Ok .
─ Você não tem um médico de família?
O rubor se intensificou.
─ J.C., ele frequenta a igreja do meu pai. Na verdade, ele canta no coro. Eu... não
poderia.
Ele realmente não considerou como viver com ele a prejudicava, e a seu pai, na
pequena comunidade. Ele viveu em cidades grandes por tanto tempo, que as atitudes
modernas tornaram-se comuns para ele. Era diferente em Catelow. E o pai dela era pastor.
Ele pregava contra o que considerava imoralidade, como duas pessoas vivendo juntas sem a
santidade do casamento. Ele odiou a súbita culpa que sentiu.
─ A clínica de família está bem. Realmente. - Disse ele.
Ela assentiu com a cabeça e lhe deu mais sopa.

***
Ela recebeu uma receita para a pílula, que deveria começar no início do próximo
período menstrual. Ela fez com que J.C. a levasse para Jackson Hole, para aviar a receita,
onde o farmacêutico não a conhecia.
─ Me desculpe. - Ela disse quando eles estavam voltando para casa.
─ Eu entendo. - Ele segurou a mão dela na dele. ─ Eu realmente entendo, Colie.
─ Eu acho que eu não compreendo tão bem quanto compreenderia se fosse mais
velha.
─ Velha. - Ele zombou. ─ Com quantos você está? Vinte e dois, vinte e três? Rod
mencionou que você se formou no ano passado. Supus que ele quis dizer faculdade...
─ Tenho dezenove anos. - Disse ela com firmeza.
Ele pisou no freio e parou no meio da estrada.
─ O quê?
─ Tenho dezenove anos. - Ela repetiu, se perguntando por que ele parecia tão
chocado. ─ Eu me formei no ensino médio no ano passado. A formatura estava nos jornais,
pensei que Rod tinha mencionado isso para você?
─ Ele disse que você se formou. - Ele estava tentando recuperar o fôlego. Não era de
admirar que seu pai fosse tão protetor com ela, tão reservado com J.C. Ela mal tinha saído
do ensino médio. Uma adolescente! Por que ele não tinha percebido?
─ Agora você vai se torturar por achar que está me roubando do berço. Ouça, vou
fazer vinte no mês que vem. - Afirmou. ─ Muitas garotas se casam aos dezoito anos. - Ela
corou. ─ Quero dizer, vivem com uma pessoa. Outras pessoas.
─ Querido Deus.

63
─ J.C. - Ela começou, preocupada por causa do olhar no rosto dele.
Ele ligou o SUV movendo-se novamente. Ele sentia tanta culpa que o sufocava. Por
que ele não soube? Bem, ele morava na fazenda e não ia muito à cidade. Ele não lia o jornal
local nem ouvia as notícias, e não ia à igreja. Ele conhecia Rod, mas eles se afastaram nos
últimos meses desde que Rod foi dispensado das forças armadas. Ele não sabia muito sobre
a irmã de Rod até que foi jantar em sua casa. Ela trabalhava em um escritório de advocacia e
mencionou ter cursos em gestão de negócios.
─ Você fez cursos em gestão de negócios. - Ele mencionou, pensando em voz alta.
─ Sim. Logo após ter conseguido o trabalho no escritório de advocacia. Fiz à noite.
Eu só precisava de cursos básicos, apenas o suficiente para me ajudar a aprender a usar o
software que eles usavam e a lidar com ditado e outras coisas.
─ Dezenove.
─ Vinte no próximo mês. - Ela repetiu. ─ Eu não entendo por que você está tão
confuso, J.C. Eu não sou criança.
─ Colie, eu tenho trinta e dois.
─ Oh, sim, e você tem cabelos grisalhos e caminha com uma bengala...
─ Estou falando sério! - Ele revidou, mais veementemente do que queria. E fez uma
careta quando viu sua expressão magoada. Ele pegou sua mão novamente e segurou-a. ─
Quase treze anos de diferença entre nós. Na sua idade, isso é muito. Eu queria ter descoberto
antes quantos anos você tinha.
─ Mas isso não aconteceu. Você não soube. Eu te amo, homem tolo. - Ela o
repreendeu. ─ O que tem isso tem a ver com a idade?
As palavras passaram por ele como uma doce alegria. Ele adorou ouvir ela dizer isso.
Mas não suavizou a culpa que sentiu.
─ Não é de admirar que seu pai não gosta de mim.
─ Papai não teria gostado de você nem se eu tivesse trinta anos. - Ela apontou. ─
Você não é uma pessoa de fé. Posso aceitar isso. Ele não pode. Ele tem uma visão diferente
da minha sobre a vida. Papai vive no passado, J.C. É um mundo novo.
─ Novo. - Ele respirou fundo. Ele olhou para ela com avidez e sabia que morreria
antes de desistir dela, independentemente da idade. ─ Vinte no próximo mês, hein?
Ela sorriu.
─ Vinte no próximo mês. Vou tentar conseguir pelo menos quatro ou cinco fios de
cabelos grisalhos, se isso ajudar a sua consciência.
Ele riu da declaração contundente.
─ OK. Vamos nos arrumar de alguma forma.
─ Esse é o espírito!

***
Ainda estavam usando o mesmo método de controle de natalidade com o qual eles
começaram. Eles ainda o estavam usando porque ela não podia começar a pílula até o início
do seu período menstrual. Ela contou a J.C.
─ Você não está desfrutando disso. - Ele apontou quando estavam deitados juntos.
Ele estava saciado. Ela não estava.
─ Eu adoro estar com você, de qualquer maneira. - Disse ela. ─ Você é o homem
mais perfeito que já existiu, e eu amo você loucamente.
─ Mas você não gosta de ter relações sexuais comigo. - Ele persistiu com
preocupação.

64
─ Quando eu começar a pílula, isso vai mudar. - Ela prometeu, esperando que não
fosse uma mentira. Era desconfortável quando ele entrava nela. E não tinha certeza de que a
ausência do preservativo fosse resolver o problema.
Os dedos dele se emaranharam nos cabelos dela.
─ Talvez eu precise ler alguns livros.
Ela gargalhou.
─ Talvez eu também precise.

***
Ela estava saindo do café após o almoço. J.C. tinha ido a Jackson Hole para buscar o
equipamento novo que ele havia encomendado, então ela estava almoçando sozinha. Ela
ficou cara a cara com a velha Sra. Meyer, uma das anciãs da igreja de seu pai.
─ Oi, Sra. Meyer. - Disse Colie com um sorriso.
A mulher não devolveu o sorriso. Ela olhou para Colie como se ela fosse indecente.
─ Você não tem orgulho? - Perguntou em voz baixa. ─ Você não tem vergonha? Seu
pai é um pastor. Ele fica no púlpito e prega a moral, enquanto a própria filha abertamente
vive com um homem nesta pequena comunidade.
Colie corou.
─ Eu o amo...
─ Eu me casei aos vinte anos. - Continuou a Sra. Meyer. ─ Ele era um homem bom e
gentil. E dizia que qualquer homem que verdadeiramente amasse uma mulher gostaria de lhe
dar seu nome, dar-lhe seus filhos, tornar-se parte da comunidade. - Seus olhos escuros se
estreitaram. ─ Seu amante não dá nada à comunidade. Ele nunca vai à igreja. Ele é um
estranho que não quer se encaixar. Você costumava ser uma pessoa de fé. O que aconteceu
com você, Colie? Sua mãe, Deus a tenha em bom lugar, ficaria envergonhada de você!
Antes que Colie pudesse pensar em uma resposta indiferente, a velha se virou e
afastou-se, inclinando-se pesadamente sobre a sua bengala.
Colie voltou ao trabalho e trabalhou mecanicamente, mas estava consumida pela
culpa. Ela sentia isso frequentemente, mas ter um membro da congregação de seu pai
falando com ela dessa maneira a fez compreender o quanto envergonhava o Reverendo
Thompson com o seu comportamento.
─ O que há de errado? - Lucy perguntou gentilmente enquanto eles estavam se
preparando para sair. ─ Você ficou inquieta toda a tarde.
─ Meu pai é pastor e estou morando com um homem. - Disse ela calmamente. ─ Eu
não percebi o quanto eu o estava envergonhando. - Ela olhou para cima. ─ Tomamos
decisões e nunca consideramos como nossas ações afetarão as pessoas que amamos.
Lucy respirou fundo.
─ Eu acho que tudo o que fazemos afeta a todos os que nos amam. - Disse ela. ─ Eu
sinto muito. Só posso imaginar o quão dividida você está.
─ Dividida. - Ela respondeu. - É uma boa palavra.

***
Mais tarde, J.C. percebeu o seu estado emocional e a questionou sobre isso.
─ Foi a Sra. Meyer. Ela é a pessoa mais idosa em nossa igreja... - Ela hesitou. Ela
não tinha ido à igreja desde que foi morar com J.C., outra falta contra ela. ─ Na igreja do
papai. - Ela corrigiu. ─ Ela disse que meu comportamento era vergonhoso, que meu pai
estava tendo que viver com o que eu estava fazendo. Ele é um pastor, pregando contra a

65
imoralidade, e sua única filha está vivendo abertamente em pecado. - Ela riu, tentando fazer
uma piada disso.
J.C fez uma careta. Ela era tão jovem. Ele pensou em seu pai, que nunca gritou com
ele ou o amaldiçoou quando certamente deveria ter sentido vontade de fazer isso. Ele era um
homem clemente, algo que J.C nunca foi. Ele era rancoroso. Alguns rancores, ele estava
carregava pela vida.
Ele a pegou em seus braços e a embalou.
─ Eu sinto muito. Nunca tive que considerar a opinião pública. Mas Catelow é uma
cidade muito pequena. Tenho certeza de que é difícil para seu pai entender que nem todo
mundo faz as coisas do modo certo.
─ Imagino que sim.
Ele a segurou mais apertada. Ele sabia que ia se arrepender disso, mas ele se
preocupava com Colie. Ele não queria que ela fosse magoada.
─ Você pode dizer às pessoas que estamos noivos. - Disse ele depois de um minuto.
Ela recuou e olhou para ele com olhos verdes suaves e adoráveis.
─ O que você disse?
─ Eu disse que você pode dizer às pessoas que estamos noivos. Isso talvez diminua a
fofoca. - Acrescentou. Seu rosto endureceu. ─ Ainda não estou interessado em casamento,
Colie. Mas se você espalhar por aí que estamos em um relacionamento sério, isso facilitará
as coisas para seu pai. Ele é um homem bom . - Ele acrescentou. ─ Eu não gosto de magoá-
lo da mesma forma que não gosto de magoar você. Mas eu sou o que sou. Nunca vi um
casamento bom. - Acrescentou ele rapidamente. ─ Eu cresci mais ou menos órfão a partir
dos onze anos. Uma lar constituído e feliz é uma ilusão para mim. Não é real.
Ela procurou seus olhos pálidos e viu tanta dor lá que fez uma careta.
─ Eu tive um feliz. - Ela disse suavemente. ─ Uma mãe que nos amou, que cuidou de
nós, que amava meu pai profundamente. Ele a amava. Tivemos pequenos desavenças de vez
em quando. Todo mundo tem. Mas nos amamos. Foi uma infância feliz.
O rosto dele endureceu ainda mais.
─ Nós viemos de mundos diferentes, diferentes origens. - Disse ele. ─ Parte da
minha ascendência vem da Primeira Nação Blackfoot. Meu pai praticou sua religião nativa
até minha mãe morrer. Ela foi enterrada sob ritos católicos, porque era católica romana.
Nunca fui uma pessoa de fé. Ela me levava a missa todos os domingos, mas a maioria das
casas de acolhimento onde eu morei não eram religiosas.
Havia algo sombrio e frio em seus olhos quando ele disse isso. Ela se perguntou se
havia uma experiência ainda pior do que a mãe morrer porque seu pai estava dirigindo
embriagado.
Ele levantou a mão quando ela abriu a boca para perguntar.
─ Eu não falo sobre minha infância. Isso é particular.
─ Particular. - Quando eles estavam vivendo juntos, dormindo juntos. Ele a estava
mantendo afastada. Ela percebeu tardiamente que ele quase nunca falava sobre seu passado,
sobre qualquer um de seus desejos ou aversões. Ela sabia tão pouco sobre ele.
─ Minha vida é um livro aberto. - Murmurou. ─ O seu é um romance de mistério.
Ele riu levemente.
─ Não é ruim.
Ela o abraçou.
─ Não importa. Nada importa, exceto que eu te amo mais do que tudo no mundo.
Ela o fez aquecer por dentro quando disse isso. Ele saboreou as palavras como mel.
A abraçou e beijou com avidez.
─ Eu tenho que ir ao Iraque na próxima semana. - Ele disse em seu ouvido.

66
─ Tão cedo? - Ela lamentou.
─ Eu sinto muito. Eu assumi o compromisso há meses. Não posso cancelar em cima
da hora. ─ Ele acariciou os cabelos dela. ─ Quando eu chegar em casa, você já estará usando
a pílula e eu me certificarei de fazer você sentir o que eu sinto quando estamos na cama.
Ficando afastados um do outro tornará o regresso a casa explosivamente apaixonado.
Ela riu.
─ Eu gosto disso. Explosivamente apaixonado. - Ele a beijou de novo.
─ Eu acho que o preservativo é o problema.
─ Nós poderíamos não usá-lo?
─ Não. - Ele a afastou. ─ Não vou correr riscos com você, Colie. Você já sabe disso.
Ela suspirou.
─ Eu sei disso.
─ Você precisa ficar com seu pai e Rod enquanto eu vou viajar. - Ele acrescentou
calmamente. Suas sobrancelhas grossas se encontraram. ─ Eu me preocuparia se você
ficasse aqui sozinha. É muito deserto. Nós recebemos todo tipo de pessoas no rancho,
trabalhadores de meio período e visitantes. Nós os investigamos, mas sempre há aquele que
consegue passar pelas brechas. - Ele segurou o rosto dela nas mãos e a estudou avidamente.
─ Eu não poderia suportar se algo acontecesse com você. Toda a cor sairá do mundo.
Era o mais próximo de uma declaração de amor que ele já havia feito e ela percebeu
isso. Ela ergueu o braço e beijou-o com tanta ternura que ele sentiu seu coração bater
acelerado. Ele a aproximou e aprofundou o beijo.
─ Eu vou ficar em casa enquanto você estiver viajando. - Prometeu.
Ele a embalou em seus braços.
─ Enquanto isso. - Ele sussurrou. - Podemos criar mais lembranças...
Preservativo e tudo, ela estava pensando, mas cedeu, como sempre fazia, temia o
desconforto, mas adorava a proximidade deliciosa. Na cama era o único lugar onde ela se
permitia ficar perto. J.C era distante, reservado, quieto quando estavam perto de outras
pessoas. Em particular, ele era apaixonado, terno e quase amoroso. Ela gostava da
intimidade, mesmo que não gostasse do sexo. Talvez ele estivesse certo, ela ponderou.
Talvez a pílula fizesse toda a diferença, mesmo que ele estivesse no exterior quando ela
começasse a usar. No entanto, ele voltaria para casa novamente.

***
Ela se preocupava. E não podia esconder. Ele arrumou a mala e ela o observou, seu
coração em seus olhos.
─ É perigoso, para onde você vai. - Ela mencionou.
Ele riu.
─ É perigoso onde eu estou. - Ele respondeu. E olhou para ela. ─ Já tentou segurar
um touro em um campo enquanto está tratando uma lesão?
─ Bem, eu sei disso. - Disse ela. ─ Mas os touros não têm armas.
Ele parou o que estava fazendo, puxou-a para si e a beijou suavemente.
─ Eu faço isso há muito tempo. Não me arrisco, e conheço as pessoas com quem
estou trabalhando. Sim, existem riscos. Mas há riscos quando você dirige um carro, sobe
uma colina. A vida não vem com garantias. Eu vivo todos os dias como se fosse o meu
último dia na Terra. É assim que eu supero isso. Ontem é uma lembrança e amanhã é uma
esperança. Tudo o que realmente temos é hoje.
Ela pensou sobre isso.
─ Eu acho que é assim. E no meu hoje, você está indo.

67
Ele beijou seu nariz.
─ Somente por algumas semanas. Quando eu voltar, teremos um longa, lenta e doce
celebração. Que tal?
Ela sorriu.
─ OK.
─ Eu vou sentir falta do Natal. - Ele disse de repente, franzindo o cenho.
─ Você pode me trazer um cacto ou algo assim, quando voltar. - Disse ela.
Ele riu.
─ Eu conseguirei algo melhor do que isso, eu prometo.
─ Apenas traga-se de volta. - Disse ela solenemente. ─ Porque não há mais nada que
eu queira para o Natal mais do que você. OK?
Ele a abraçou, sentindo como se estivesse vazio por dentro enquanto pensava nas
semanas sem ela.
─ Tudo bem. - Ele sussurrou. ─ Eu vou sentir sua falta, doce garota.
─ Não tanto quanto eu sentirei sua falta. - Ela sussurrou de volta.
Ele a beijou com o que parecia desespero. Ela o beijou de volta da mesma maneira.
Ela tinha uma horrível e fria sensação de que tudo estava prestes a mudar. E não para
melhor.

68
07
A fofoca que circulava em Catelow acabou desde que Colie contou que ela e J.C.
estavam noivos. Mesmo que fosse uma mentira, diminuiu um pouco a censura.
Seu pai a conhecia melhor. Ele aceitou o que ela lhe disse, mas seus olhos diziam
que não acreditava em nada disso.
Ele estava tão feliz por ela ter voltado para casa que não questionou nada.
─ Ficou tão solitário sem você, Colie. - Ele disse quando ela tinha arrumado suas
poucas coisas e estava passando pela cozinha. ─ Rod tem saído tanto ultimamente que é
como se eu vivesse sozinho.
─ E eu também não o visitei. - Ela respondeu. ─ Eu sinto muito. Estamos tão
envolvidos em nossas próprias vidas que simplesmente não pensamos. - Ela se virou para
ele. ─ Me desculpe por ter tornado as coisas difíceis para você em Catelow papai. -
Acrescentou. ─ Eu nem percebi o quão ruim era até a Sra. Meyer falar comigo.
─ Eu não pedi que ela fizesse isso. - Disse ele.
─ Eu sei disso. Mas ela estava certa. Não pensei em como seria para você.
─ A vida é difícil. - Ele apontou. ─ Fazemos escolhas e então temos que viver com
elas. Algumas têm mais consequências do que outras.
Ela assentiu lentamente e voltou para suas tarefas.
─ Quanto tempo ele vai ficar fora? - Perguntou seu pai.
─ Algumas semanas, ele disse. - Ela mordeu o lábio. ─ É um trabalho perigoso. Ele
ganha muito dinheiro, mas ele merece.
─ Eu conheço dois homens em nossa congregação que fizeram o mesmo, no passado.
É uma área bastante segura. - Disse ele para confortá-la. ─ Eu tenho certeza que ele vai ficar
bem.
Ela conseguiu dar um sorriso fraco.
─ Claro que ele vai.
─ Ele vai se casar com você, Colie? - Ele perguntou calmamente.
Ela respirou longa e lentamente e olhou a esponja em sua mão. Ela estava limpando
o fogão com ela.
─ Eu gostaria de pensar que sim. - Disse ela depois de um minuto. ─ Mas eu
realmente não sei. J.C. é complexo. Ele não compartilha muito.
─ Talvez você o influencie.
Ela riu.
─ Isso é um sonho, papai. Ele é o que ele é. - Ela se virou. ─ Mas eu o amo. Então eu
lido com isso. Não era assim que eu queria as coisas. É assim que elas são.
Ele assentiu. Ele ainda esperava que um dia ela pudesse ver a luz e deixar J.C. Ele
sabia que era uma possibilidade remota. Anos atrás, ele amou assim. Ele amou a mãe de
Colie. Mas ele se casou com ela, teve filhos com ela. Ele nunca viveu menos do que a vida
decente. Ele sofria pela sua filha, porque sabia melhor do que ela qual provavelmente seria o
resultado de sua ligação com J.C. Ele não era um homem que queria laços, e não iria se
acomodar. Colie provavelmente aprenderia da maneira mais difícil. Mas seu pai estaria lá
para ela, quando acontecesse. E ele faria tudo o que pudesse para ajudá-la. Esse era o sentido
da vida. Não ser intolerante, nem sequer na sua posição, e tratar de aliviar a dor da perda e
amar aqueles a quem ajudava. Era seu trabalho. Ele levava isso muito a sério.

69
***
A ausência de J.C. inesperadamente tornou-se o menor dos problemas de Colie. Ela
se levantou como de costume e tomou café da manhã antes de se vestir e para ir trabalhar.
Mas logo depois de limpar a mesa e ir para o quarto dela para se vestir, ela teve que fazer
uma corrida desenfreada para o banheiro.
Ela vomitou o café da manhã e o que parecia o jantar de ontem à noite também. Era
um vírus. Tinha que ser um vírus. J.C ficaria louco se ela estivesse grávida. Ela nunca mais
o veria. Ele iria sair de sua vida. Ele insinuou isso muitas vezes.
Não poderia ser um bebê. Não quando eles se descuidaram apenas uma vez. Apenas
uma vez. Ela respirou profundamente antes de lavar a boca e escovar os dentes. Certamente,
era apenas um vírus. Havia um circulando. Ela ouviu o pai falar disso. Tudo ficaria bem. Ela
só tinha que manter a lucidez e não entrar em pânico.
Ela voltou pelo corredor, vestiu-se, escovou o cabelo, colocou a bolsa por cima do
ombro. Pegou o casaco e colocou a cabeça para dentro do escritório do seu pai.
─ Estou indo embora. Precisa de mais alguma coisa?
─ Não, obrigado. O café da manhã estava ótimo. - Ele acrescentou com uma risada.
─ Estou realmente muito cansado de torrada queimada.
─ Eu vou fazer biscoitos amanhã de manhã. Vejo você hoje à noite.
─ Dirija com cuidado. Tem muita neve esta manhã.
─ Eu vou devagar. - Ela prometeu. E poderia ter acrescentado que J.C tinha-lhe dado
lições sobre como dirigir na neve. Ela não precisava delas. As coisas estavam indo bem sem
isso.

***
Ela esperava que J.C telefonasse. Ela sabia que o telefone dele fazia ligações
internacionais. Mas ele odiava falar ao telefone. Ainda assim, ele podia sentir falta dela o
suficiente para ligar.
Ele não ligou. Os dias passaram sem uma palavra dele. Colie sentiu tanto a falta dele
que era como perder um membro. Ela comia sem saborear nada. A náusea, felizmente,
passou. Havia alguns sintomas estranhos. Ela estava cansada demais. E ia para a cama cada
vez mais cedo. Seus seios estavam sensíveis. Mas sua menstruação estava para vir, e alguns
desses sintomas faziam parte da maldição mensal. Ela tinha que pensar positivamente.
Ela colocou uma árvore de Natal e a decorou. Ela não tinha muito dinheiro para
comprar presentes, mas fez o melhor que pôde. Comprou um suéter para o pai, uma nova
carteira para Rod e parte de um chaveiro para J.C. O chaveiro era na forma de um coração,
com duas metades. A inscrição estava em francês. Dizia: Plus que hier, moins que demain.
Mais do que ontem, menos do que amanhã. Uma promessa de amor. O chaveiro era em duas
partes, uma para cada parceiro. Os pais de Colie tinham carregado um chaveiro quando
Colie e Rod eram pequenos. Talvez, ela pensou, isso poderia ter um efeito mágico no J.C.

***
Ela encontrou-se com Merrie Colter na cidade. Merrie deixou o bebê com Ren tempo
suficiente para ir às compras de Natal. Catelow estava decorado com luzes coloridas e
enfeites para as festas. Merrie estava entrando no carro dela quando viu Colie na calçada.
─ Oi. - Ela cumprimentou

70
─ Olá! - Colie sorriu de orelha a orelha. ─ Você está sem o bebê? Meu Deus! É o fim
do mundo!
Merrie riu bem humorada.
─ Ren está de babá enquanto eu faço compras e compro algo especial para cozinhar
para o jantar. É a noite de folga de Delsey. Como você está? - Ela acrescentou.
Colie fez uma careta.
─ Sentindo falta de J.C. - Ela disse honestamente. ─ Está solitário.
─ Eu conheço o sentimento. - Merrie disse. - Ren e eu tivemos um namoro difícil.
Ele ficou horrorizado quando o conheci.
─ Isso foi o que as pessoas disseram. - Ela respondeu.
Merrie inclinou a cabeça.
─ Você está se perguntando se já tivemos notícias de J.C. - Colie prendeu a
respiração. ─ Desculpe. - Merrie disse. ─ Eu recebo essas estranhas intuições de vez em
quando. Mas isso é bom senso. Sentiria a falta de Ren, se ele tivesse ido para o exterior.
─ Não seria tão ruim se ele escrevesse ou ligasse. - Confessou Colie. ─ Eu acho que
é difícil para ele encontrar tempo para fazer essas coisas.
Merrie não se atreveu a admitir que J.C já havia telefonado para casa duas vezes para
falar com Ren sobre os equipamentos que ele tinha começado a instalar no rancho.
─ Eu imagino que é. - Era tudo o que Merrie diria. ─ De qualquer forma, ele não vai
ficar fora por tanto tempo. Honestamente, o rancho desmoronaria sem ele.
Colie riu.
─ E minha vida também. - Ela confessou.
─ Homens. Você não pode viver com eles às vezes e não pode viver sem eles. Eu
acho que nós simplesmente aceitamos o bem e o mal e continuamos.
─ Às vezes é tudo o que você pode fazer. - Concordou Colie. ─ Tenho que correr. Eu
estou atrasada para voltar do almoço.
─ Até logo.
─ Até logo.

***
Colie foi depressa depois que viu Merrie. Ela sabia, de alguma forma, que J.C. tinha
conversado com Ren desde que ele viajou. Isso a fez sentir o estômago revirar. Se J.C.
realmente se importasse com ela, teria telefonado. Ele teria escrito. Ele ficaria tão
desesperado para conversar com Colie como ela estava para conversar com ele.
Mas ele era autossuficiente. Reservado. Não se envolvia com as pessoas. Ele não
confiava nelas. Ela sabia que se alguma vez lhe desse um motivo, nunca mais o veria. Ele
era rancoroso e nunca fez segredo disso. Ele não falava sobre o pai, que presumivelmente
ainda estava vivo em algum lugar. Ele não perdoava, mesmo depois de vinte e dois anos. Era
perturbador.
Ele a queria. Ela sabia disso com certeza. Mas querer não era suficiente para manter
um casal juntos por anos e anos. O desejo era uma coisa fugaz, facilmente satisfeito e depois
esquecido. Tinha medo de que J.C se cansasse dela. Ela percebia que ele não estava feliz
com a maneira dela ser na cama. Ele sabia que ela não gostava muito de dormir com ele.
Talvez ele estivesse certo sobre o preservativo. Mas era desconfortável além disso.
Talvez, se tivesse sido sincera com ele desde o início, lhe dissesse sua idade e que
era virgem, as coisas pudessem ter tomado um rumo diferente. Eles talvez não tivessem se
envolvido. Ela estava muito atraída por ele, mas uma vez que começaram a namorar, ela se
apaixonou, forte e profundamente.

71
A vida era fácil. Ela ia trabalhar, ia às aulas de gestão de negócios na escola
comunitária local durante a noite, cozinhava e limpava para o seu pai e Rod. Sua vida tinha
sido vagamente satisfatória, sem graça e aborrecida.
J.C. mudou tudo isso. Ele fazia de todos os dias uma aventura. Ela esperava ansiosa
para levantar-se pela manhã porque sabia que o veria na maioria dos dias. Não que ele
estivesse sempre perto. Ele tinha ido naquela viagem a Denver que quase os fez terminar.
Agora ele foi para o Iraque treinar policiais. Às vezes parecia que eles ficavam mais tempo
separados do que juntos.
Sentiu que J.C estava tentando afastar-se dela antes que as coisas ficassem muito
sérias. Ele se preocupava com ela. E não conseguia esconder. Ele ficou surpreso e
agradecido por ela cuidar dele enquanto esteve doente. Ele não gostava de depender de
ninguém, especialmente de uma mulher. Foi isso que o fez ficar com medo? Ou era só que
ele estava determinado a ficar solteiro, e se ressentia de Colie por querer coisas que ele não
podia dar?

***
Não estava mais perto de ter uma resposta na véspera de Natal, quando a náusea
retornou. Sua menstruação estava quase um mês atrasada. Ela era regular. Ela nunca atrasou
nem por um dia. O cansaço também estava aumentando.
Ela esperava que J.C telefonasse na véspera de Natal. Ele sabia o quanto o Natal era
especial para ela. Mas, como o pai costumava dizer, J.C. era um homem que evitava a
religião. Merrie Colter telefonou para dizer que Ren mexeu os pauzinhos e conseguiu
contato com J.C. Houve uma pane nas comunicações, então J.C. não conseguiu telefonar.
Ren, com suas conexões militares, conseguiu contato e J.C. pediu-lhe para que Merrie
ligasse e desejasse a Colie um Feliz Natal por ele e contasse a Colie que ele sentia a falta
dela e que em breve estaria em casa.
Isso salvou o dia dela. Ela sorria fazendo a refeição especial para ela e seu pai. Rod
tinha telefonado e dado uma desculpa estúpida sobre não conseguir chegar em casa devido a
problemas no carro. Mesmo isso não estragou seu humor. Ela estava radiante. J.C sentia
falta dela. Tudo bem. Todas as suas preocupações tinham sido por nada. Ela dirigiu para
uma cidade vizinha e comprou um teste de gravidez. Ela foi a um shopping local e usou o
teste no banheiro das mulheres.
Quando o pequeno papel mudou de cor, ela sentiu seu coração congelar no peito.
Podia ser um falso positivo, é claro. Mas com seus outros sintomas, ela estava certa de que
não era. Ela estava grávida.
Sua primeira reação foi de alegria esmagadora. Ela nunca se sentiu tão feliz em toda
a vida. Sua segunda reação foi ficar completamente apavorada. Ela não poderia ter uma
criança fora do casamento em Catelow, Wyoming. Destruiria o ministério de seu pai. Bem,
talvez não destruísse, mas certamente iria envergonhá-lo e humilhá-lo. Ele era um bom
homem. Isso o magoaria ainda mais do que já o havia magoado.
Haveria uma pequena chance de que J.C pudesse realmente mudar de ideia, apesar
do que ele havia dito sobre não querer se casar. Obviamente, se ele soubesse que haveria
uma criança, seu senso de responsabilidade iria aflorar. Certamente, ele faria a coisa certa!
Ela se convenceu de que era apenas uma questão de mostrar para J.C. o caminho
certo. Ela faria um jantar maravilhoso quando ele voltasse do exterior. Ela o deixaria
confortável, se aconchegaria em seus braços. E então ela contaria a ele calmamente. Ele era
um bom homem. E não a dispensaria por causa de uma gravidez não planejada.
Ela jogou o teste de gravidez na lata de lixo e foi para casa.

72
***
Manter segredo seria difícil. Seu pai conhecia como as mulheres grávidas se
comportavam. Sua mãe esteve grávida duas vezes. Ela teve o cuidado de comer apenas o
suficiente no jantar de Natal para não suscitar suspeitas, e ela deixaria a água correndo na
pia quando vomitasse, então ele não iria ouvir.
Ele acreditou quando ela disse que as cólicas a estavam deixando tão doente que ela
ia dormir cedo. Ele não a questionou. Estava feliz com o seu novo suéter. Ele deu a Colie
um roupão de banho, um lindo em chenille branco que era muito macio. Rod não havia
chegado em casa para o Natal. Ele ligou para desejar um feliz dia de natal, mas desligou
quase que imediatamente.
Ela estava agradecida de que Rod quase não ficasse em casa. Mas ele não teria
percebido que ela estava grávida, de qualquer maneira. Ele estava agindo cada vez mais de
maneira estranha. Ela estava começando a pensar que ele estava envolvido em algo muito
perigoso. Ele mal falava uma palavra com seu pai e a sua irmã à mesa do jantar nas raras
ocasiões em que comia com eles, e sempre ia para Jackson Hole nos finais de semana.
Colie e seu pai comemoraram o ano novo juntos com copos de eggnogs20. Seu pai
estava triste por que o filho nem sequer havia telefonado desta vez. Ele foi se deitar
arrastando os pés. Colie estava triste, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito de seu
irmão. Ela só se perguntou por que ele estava agindo tão estranhamente.

***
Colie voltou a frequentar a igreja com seu pai. Isso a ajudou a ser novamente aceita
pela comunidade que a estava rejeitando. As pessoas de fé eram boas em perdoar, e Colie
era amada.
Mas em janeiro numa manhã de domingo, ela estava muito doente para ir. Ela disse
que teve uma infecção estomacal durante a noite e pediu desculpas, mas seu pai apenas a
acariciou nas costas e sorriu. Ele teve três membros de sua congregação com isso. Ela ficaria
boa em pouco tempo.
Ela se despediu dele e depois voltou para a cama.

***
Ela estava cochilando quando ouviu carros parando lá fora. A porta da frente abriu e
fechou. Ela ouviu vozes.
Curiosa, ela se levantou e colocou um robe antes de entrar na sala de estar. O que viu
a chocou tanto que não conseguiu falar.
Rodney estava segurando uma mala absolutamente cheia de drogas. Havia vidros e
mais vidros de medicamentos controlados e vários pacotes do que parecia pó branco.
─ Você sabe como distribuí-la. - Seu amigo no terno elegante orientou. ─ Certifique-
se de seus contatos entregá-las gratuitamente nas escolas locais, de forma que os deixe
viciados... O que diabos ?!

20
Eggnog/Gemada - É uma tradicional bebida norte-americana, servida na ceia de Natal e muito semelhante
à gemada, mas pode conter álcool. Tradicionalmente, o eggnog é uma combinação de leite, ovo e açúcar,
servida com uma pitada de noz moscada. Bebidas alcoólicas como o conhaque ou rum podem ser adicionadas

73
Ele olhou para a porta e viu Colie ali de pé, o rosto branco e chocado. A boca de Rod
ficou aberta.
─ Você cuide disso. - Ele disse a Rod. ─ Faça isso agora mesmo! Se uma palavra
disso sair daqui, você é um homem morto, você me ouviu ?!
Ele saiu batendo a porta atrás dele. Rod olhou para Colie.
─ O que diabos você está fazendo em casa? - Ele exigiu saber. ─ Você nunca está
aqui no domingo!
─ Eu tenho uma infecção estomacal. - Disse ela. ─ Oh, Rod, o que você está
fazendo? - Ela lamentou. ─ Tráfico de drogas?
Ele pareceu culpado e doente por um minuto, então ele a encarou mais duramente.
─ Olha quem fala. - Ele revidou. ─ Vive com um homem e papai é um pastor!
─ Eu amo J.C. - Ela disse defensivamente.
─ Ele nunca se casará com você. - Ele disse friamente. E riu insensivelmente. ─
Papai não suspeita, mas eu aposto dinheiro que não é uma infecção que a está mantendo em
casa. Você está grávida.
Ela ofegou e ficou pálida.
Ele estava chutando. Aparentemente estava certo. Ele levantou o queixo.
─ Mantenha o que viu para si mesma, ou eu vou fazer você se arrepender. Estou
ganhando muito dinheiro. Estou cansado de trabalhar por uma ninharia quando posso ter
coisas boas como meu amigo. Eu vou ter o que quiser...
─ Você está envenenando crianças!
─ Se ficarem viciadas, é problema delas, não meu. - Disse ele. ─ E não são crianças,
são adolescentes.
─ As pessoas morrem por usar drogas. - Ela persistiu.
─ Não é da sua conta. - Ele repetiu.
Ele fechou a mala.
─ Mantenha sua boca fechada, ou eu vou fazer você pagar por isso. Nem pense em ir
ao xerife!
─ Eu não tenho que ir ao xerife. - Ela disse friamente. ─ Tudo o que tenho a fazer é
contar ao J.C.
Como ameaça foi magistral. Ele conhecia J.C. melhor do que Colie. E não tinha
vontade de acabar em uma prisão federal por lidar com drogas pesadas.
─ É melhor você não fazer isso, Colie. Eu falo sério.
─ Você vai parar agora? Devolva isso - Ela indicou a mala. ─ Para o filho do diabo
com o qual você está circulando!
─ De jeito nenhum. - Ele retrucou.
Ela levantou o queixo. E não disse mais nada.
Ela não precisava. Rodney sabia o que isso significava. Ele se virou. Ia ter que detê-
la. Ele não ia para a prisão ou o necrotério porque sua irmãzinha de repente desenvolveu o
senso de moral novamente. Ele sabia exatamente o que ia fazer.

***
J.C. enviou uma mensagem para Colie através de Ren, que Merrie repassou por
telefone a ela.
─ Ele pediu para lhe dizer que volta no domingo. - Merrie disse, rindo do deleite na
voz de Colie. ─ Não, ele não quer que você o encontre, ele tem o SUV no aeroporto em
Jackson Hole. Ele disse que se você quiser ir pra casa preparar um jantar para ambos, ele
ficaria encantado. Vai ser um longo vôo e ele terá fome.

74
─ Eu farei algo maravilhoso. - Disse Colie sonhadoramente.
Merrie sorriu para si mesma.
─ Eu acho que o que ele realmente quer é ver você. A comida seria legal, mas Ren
disse que J.C. falou sobre você toda vez que ligou. Ele queria ter certeza de que você estava
hospedada na casa do seu pai e que você estava bem.
─ Eu queria que ele me ligasse. - Colie suspirou.
─ Ele odeia falar ao telefone. - Disse Merrie. ─ Ele disse a Ren que ele nunca soube
o que dizer e odiava tentar colocar seus pensamentos em palavras em uma linha de longa
distância. Ele disse que os faria pessoalmente quando a visse. Ele sentiu sua falta. -
Acrescentou. ─ Ren achou engraçado, embora ele não contasse a J.C. Nenhum de nós
imaginou que veríamos J.C. Calhoun ficar louco por uma mulher.
─ Ele é? Louco por mim, quero dizer? - Perguntou Colie com voz rouca.
─ Pelo que percebemos, sim, ele certamente é. Ele já foi enganado muitas vezes para
confiar facilmente nas pessoas, Colie. Não passa disso. Ele aprenderá a confiar em você,
com o tempo.
─ Eu nunca vou decepcioná-lo. - Prometeu. ─ Oh, Deus, eu tenho que me manter
ocupada! É sabado. Ele estará em casa, amanhã! Eu ficarei louca esperando!
─ A expectativa é legal. - Merrie disse calmamente. ─ Isso leva a memórias
maravilhosas.
Colie riu.
─ Estou na expectativa. - Ela confessou. ─ Muito obrigada por ter me ligado!
─ De nada. Estaremos esperando para saber como as coisas se desenvolveram. Tenho
certeza de que teremos notícias interessantes no futuro próximo. - Ela acrescentou
secamente.
─ Espero que sim!

***
Seu pai estava sentado à mesa da cozinha, terminando o jantar. Rod estava lá,
franzindo o cenho para Colie.
─ Bem, o que a fez ficar tão alegre? - Perguntou seu pai distraído.
─ J.C. vai estar em casa amanhã! - Ela disse entusiasmada. ─ Ele está voltando para
Jackson Hole amanhã à tarde. Tenho que fazer um jantar para ele. Estou tão feliz!
Seu pai escondeu suas dúvidas rapidamente.
─ Estou feliz por você. Só nos prepare uma salada fria amanhã à noite. -
Acrescentou. ─ Poupe-se um pouco de tempo.
Ela beijou sua bochecha.
─ Obrigada, papai.
Rod não disse nada. Manteve os olhos baixos. Ele estava tendo uma ideia. E sabia
exatamente o que iria fazer agora.
Depois do jantar, ele sorriu para Colie quando entrou no quarto dele, tirou o celular e
ligou.

***
Colie fez carne assada e uma caçarola de batata e ervilhas inglesas, e uma torta de
cereja para a sobremesa. Ela comprou os ingredientes e os levou para a casa de J.C., usando
a chave que ele lhe deu quando eles foram morar juntos pela primeira vez.

75
Ela estava tão excitada que quase queimou as batatas. Não podia esperar para ver
J.C. novamente. Faziam quase dois meses, dois longos e solitários meses sem ele. Ela
colocou uma mão no seu ventre ainda plano. Era muito cedo para sentir um aumento, mas
sabia que havia um bebê. Seus sintomas eram tais que ela não poderia confundi-los, mesmo
sem o resultado positivo do teste de gravidez. Em breve, ela teria que ver um médico. Se J.C
não queria se casar com ela, ela podia ver um médico no departamento de saúde e pedir-lhe
segredo. O que ela faria para esconder sua condição era um enigma, mas ela pensaria em
algo. Certamente, haveria uma maneira.
Mas ela podia estar preocupada por nada. Uma vez que J.C. soubesse, se ele tivesse
sentido tanta a sua falta quanto Merrie disse que tinha, talvez não fosse necessário se
preocupar.

***
Ela estava impaciente à medida que a escuridão caía. A neve tinha derretido um
pouco, mas ainda estava nas áreas sombrias da propriedade, brilhando, reluzindo, à luz da
lua. Dava aos arredores da cabana uma aparência de contos de fadas. Ela esperava que seu
conto de fadas pessoal tivesse um final feliz.
Ela ajeitou as almofadas e assistiu as notícias, mas J.C não chegava. Era quase nove
horas, e ela acabava de esquentar o jantar novamente na cozinha quando finalmente ouviu o
SUV parar lá fora.
Estranho como ele bateu a porta do veículo. Ele não fazia isso normalmente. Ela
ouviu seus passos na varanda. A porta se abriu abruptamente. E lá estava ele, casaco de
pastor, botas, jeans e tudo.
Ela começou a correr para ele até ver seu rosto perto o suficiente para reconhecer a
expressão de ódio com que ele estava.
─ O-oi, J.C. - Ela começou com dificuldade.
Sua mandíbula estava apertada tão forte que parecia que seus dentes estavam em
risco de quebrar. Seus olhos cinzentos pálidos brilhavam como um sol quente no cano de
uma arma.
─ O que há de errado? - Disse ela, aproximando-se um pouco mais.
─ Diga-me você. - Ele respondeu friamente. Os olhos dele voltaram para sua barriga.
Ele sabia! Como ele sabia? Ela não contou a ninguém!
As mãos dela foram protetoramente para a barriga. Ela sentiu-se doente por toda
parte.
─ Eu não disse nada!
─ Quando você ia me contar? - Ele perguntou, levantando o rosto para cheirar o ar. ─
Depois de uma refeição caseira e algum sexo apaixonado? - Acrescentou. Ele riu friamente.
─ Você não saberia o que é paixão nem que ela sentasse sobre você, seu pedacinho de gelo.
A alegria a abandonou de uma só vez.
─ Quem lhe disse? - Perguntou com tristeza.
─ Seu irmão.
─ Rod? - Ela estava tentando pensar. Ele fez ameaças. Ele sabia sobre o bebê...
─ Quando você falou com ele? - Ela perguntou.
─ Ele me encontrou no aeroporto, com o pai da criança que você está carregando. -
Ele disse com uma voz tão fria como um túmulo.
Seus lábios se abriram em uma respiração chocada.
─ O que?

76
─ Ele trouxe seu namorado Barry com ele. Rod disse que estava absolutamente
enojado com a maneira como você se comportou. O magoou que você traísse o seu melhor
amigo duas vezes com outro homem. Doeu ainda mais por você estar disposta a deixar a
criança passar como minha, porque seu namorado não tinha tanto dinheiro quanto eu.
─ O que ... namorado! - Gritou. ─ Eu não tenho namorado!
─ Desista. - Ele revidou. ─ Você foi descoberta, Colie. - Acrescentou. ─ Eu estava
cansado de você, de qualquer maneira. - Ele disse enquanto se dirigia para o quarto. ─ Você
nunca fez nada na cama, exceto ficar lá como uma boneca de plástico. Você nunca me quis.
Você não podia sequer fingir que queria. Eu acho que seu namorado era melhor na cama,
mesmo ele sendo pobre. Rod disse que você não conseguiu tirar as mãos dele, mesmo na
frente do seu pai.
Ela seguiu atrás dele, chocada, enojada, absolutamente desprovida de palavras.
Ele tirou as coisas dela para fora das gavetas e enfiou-as na grande bolsa de lona que
ela havia deixado lá. Ele colocou suas bugigangas e a foto de sua mãe, pai e Rod na bolsa
com elas.
─ O que você está fazendo? - Ela perguntou.
─ O que parece que estou fazendo?
Ele terminou, de forma muito eficiente, e fechou a bolsa. Ele a arrastou através da
sala de estar até a varanda da frente e deslizou-a em direção aos degraus.
─ Você está com seu telefone celular? - Ele perguntou com cortesia gelada.
─ Sim. No meu bolso...
─ Bom. Você pode chamar seu pai para vir buscá-la. Adeus, Colie. Me desculpe, não
ser suficientemente ingênuo para que isso funcionasse para você.
─ Ele mentiu. - Ela conseguiu dizer através de lábios fechados e das lágrimas.
─ Claro que ele mentiu. - Ele olhou para ela de cima a baixo com ódio nos olhos. ─
Eu quase me apaixonei por isso. Doce, gentil Colie que me amou mais do que ninguém no
mundo e queria viver comigo e cuidar de mim. Que piada!
─ Eu falei sério.
Ele não se comoveu pelo rosto branco dela ou pelas lágrimas quentes que rolavam
silenciosamente por suas bochechas.
─ Só para constar, eu não teria casado com você, mesmo se essa criança fosse minha.
- Acrescentou. ─ Eu te disse. Eu amo minha liberdade.
Ela apenas olhou para ele, tão ferida que nem conseguiu se defender. Ele ainda
estava olhando para ela.
─ Talvez você tenha mais sorte com o seu novo amante.
Estava frio. Ela estava com uma jaqueta fina. Não esperava precisar de nada mais
quente. Seu caminhão não funcionou, então ela chamou um táxi para trazê-la aqui. Estava
quente dentro do táxi e ela imaginou que ficaria com J.C. uma vez que ele estava voltando
para casa. Ela não contou em ser posta para fora de casa desse jeito. Estava congelando.
─ Mulheres. - Ele terminou com veneno puro. ─ Duas prostitutas traidoras, todas
duas! Pensei que você era diferente. Eu realmente pensei. Mas você só estava pensando no
que poderia conseguir, como todas as outras.
Seu olhar caiu no alpendre. Por favor, Deus, não me deixe desmaiar nos pés dele, ela
implorou silenciosamente.
Seu silêncio o fez ficar ainda mais irritado.
─ Quanto tempo você esperou para se arrastar para a cama dele? - Ele exigiu saber.
─ Você esperou até que eu estivesse fora do país? Ou estava acontecendo antes, quando eu
estava em Denver? Você disse que namorou com outro homem, era ele mesmo e não um
contador fora da cidade?

77
─ Eu disse a verdade. - Foi tudo o que ela disse.
─ O que você sabe sobre a verdade, Colie? - Ele perguntou. ─ Você não tinha que
trincar os dentes toda vez que dormia comigo? Você nunca retribuiu nada. Eu tinha que
fazer tudo. E você me fazia sentir inadequado, sempre. Cheguei ao ponto, inclusive de odiar
até tocar em você!
Ela engoliu em seco com dificuldade. Ela poderia ter lhe dito o porquê, mas ele não
estava ouvindo.
─ Espero que seja evidente que eu nunca mais quero te ver novamente. - Disse ele.
finalmente. ─ Se eu te encontrar na cidade, vou olhar através de você. Não vou lhe dirigir a
palavra. A partir deste dia, você não existe para mim.
Ela respirou fundo. Ela estava tão mal que quase nem sentia o frio.
─ Vá para casa. - Ele disse friamente. Ele voltou para dentro da casa e bateu a porta,
enfurecido por não poder fazê-la pedir desculpas.
Ela abriu seu celular um minuto depois e chamou seu pai.
─ Você pode vir até a casa de J.C. e me pegar, papai? - Perguntou em um sussurro
assombrado.
Ele soube imediatamente que algo estava errado.
─ Eu vou te buscar, querida. - E desligou.
Ela começou a chorar. O vento a atravessou como uma faca. Ela não se importava. A
vida dela acabou.

***
O reverendo dirigiu de volta para sua casa e fez chocolate quente para ela. Então ele
simplesmente se sentou e a deixou falar. Ela disse a ele que Rodney tinha ido encontrar J.C.
e lhe contou uma mentira que os separou, mas não contou o que era.
Ele respirou fundo.
─ Rodney fez isso com você? Mas, por quê? - Ele perguntou, horrorizado.
─ Você pode perguntar a ele. - Disse ela. ─ Não sou dedo duro.
─ Não entendo por que ele mentiria para seu melhor amigo sobre algo tão
importante. - Reverendo Thompson persistiu. ─ Isso não está certo, Colie. Vou chamar J.C...
─ Não!
Ele hesitou.
Ela colocou a sua mão sobre a dele na mesa.
─ Ele estava procurando uma desculpa para se livrar de mim, papai. - Disse ela com
tristeza. ─ Ele disse isso. Ele estava cansado de mim.
Ele fez uma careta.
─ Há mais uma coisa. - Ela continuou, envergonhada e com o coração em pedaços. ─
Estou... grávida, papai.
Ele gemeu em voz alta.
As lágrimas escorriam pelo seu rosto em uma torrente silenciosa.
─ Sinto muito! - Ela soluçou. ─ Eu arruinei minha vida e a sua porque eu estava
apaixonada. Eu pensei que ele me amava. Eu pensei... - Ela engoliu a náusea. ─ Eu fui tão
tola. Sinto muito! - Ela repetiu.
Ele se levantou e puxou-a para os seus braços, embalando-a como ele fazia quando
ela era pequena e alguém a magoava.
─ Nós vamos nos arrumar. - Disse ele. ─ Não pense nisso. Nós vamos nos arrumar!
─ É tão vergonhoso. - Ela chorou.
─ É um bebê. - Ele disse suavemente. ─ Os bebês não são uma vergonha.

78
─ Ele não tem pai. - Ela o lembrou.
─ Tem uma mãe. - Ele retrucou. ─ Você será uma mãe maravilhosa. A melhor!
Isso a fez sentir pior. Ela esperava censura, raiva. Mas ele foi gentil, carinhoso e
amoroso. Da maneira que ele sempre foi. Ela percebeu que realmente não conhecia seu pai
afinal. O que ela pensou ser desaprovação era o conhecimento de como as coisas iriam
acabar, sua tristeza por ela. Ele sabia como ia acabar, e ela não. Mas ele a amava da mesma
forma. Ela lamentou.
─ Tenha uma boa noite de sono. - Ele disse a ela quando o choro parou. ─ De
manhã, vamos conversar e tomar decisões. Enquanto isso, eu vou ter uma longa conversa
com meu filho!
─ Não vai servir de nada. - Disse ela em voz baixa. ─ Ele está envolvido com
pessoas ruins, papai. Seria melhor se você não dissesse nada sobre isso.
─ Colie...
─ Prometa-me. - Disse ela. Ela sabia o que o irmão estava fazendo. Se seu pai o
pressionasse demais, descobriria o que estava acontecendo, e se colocaria em perigo. Ela não
queria isso. Rodney não era o filho que o pai conhecia. Ele era um estranho agora.
─ O que você sabe, Colie? - Ele perguntou.
─ Coisas que nunca direi. Não agora. - Era verdade. Ela teria dito a J.C., e ele teria
cuidado disso. Mas J.C nunca acreditaria nela agora. Ele acreditou na palavra de Rodney
sobre ela, mesmo sabendo que Rod não podia dizer a verdade nem se sua vida dependesse
disso. Não havia volta agora.
─ Tudo bem, então. - Respondeu o Reverendo. ─ Vou deixar como está. As coisas
geralmente se resolvem.
─ Geralmente. - Ela não acreditava nisso, mas foi mais fácil concordar. ─ Obrigada
por não estar bravo comigo.
─ Você é minha filha. Eu te amo. Eu não posso aprovar o que você fez, mas isso não
significa que eu me afastarei de você, nunca.
Ela sorriu e o abraçou novamente.
─ Obrigada, papai. Boa noite.
─ Boa noite. Tente descansar. - Ele hesitou. ─ Colie, talvez seja melhor avisar que
está doente amanhã. Nós precisaremos discutir algumas coisas.
Ela assentiu.
─ Eu farei isso.

79
08
Um novo segurança contratado deveria se encontrar com J.C para discutir suas
funções. Mas J.C não apareceu na cabana de linha onde o homem o estava esperando. Ren
estava preocupado o bastante para procurá-lo. J.C era sempre pontual.
Ele bateu na porta da cabana. Merrie disse que Colie tinha vindo ontem à noite para
fazer um jantar para J.C., então possivelmente eles tiveram um longo e apaixonado encontro
e J.C. dormiu até tarde.
Ele estava desconcertado com essa suspeita quando o outro homem finalmente
conseguia, depois de muito esforço, atender a porta da frente.
Era um J.C. que Ren nunca tinha visto antes. Suas roupas estavam amassadas, como
se ele tivesse dormido com elas. E ele tinha a barba por fazer. Seus olhos estavam vermelhos
e injetados de sangue, e ele realmente fedia a whisky. Isso, por si só era alarmante. J.C
nunca tomava bebidas fortes.
Ren estava sem palavras. Ele estava boquiaberto com seu chefe de segurança.
─ Ela está grávida e não é meu. - Disse J.C, enrolando um pouco as palavras. ─ E
essa é a única coisa que eu vou dizer sobre isso. Ela é passado. Eu não quero ouvir o nome
dela novamente ou eu vou embora.
Ren trincou os dentes. Ele sabia, como Merrie, que Colie nunca tinha olhado para
outro homem desde que estava com J.C. Ela encontrou o contador, apenas uma vez, e todos
sabiam que ele a levara para casa cedo e jogou xadrez com o pai dela. E isso só aconteceu
porque as fofocas colocaram J.C. nos braços de uma linda loira em Denver.
Só Deus sabia onde J.C. tinha ouvido que Colie o tinha traído. A gravidez era
novidade, no entanto. Ele sabia que seu chefe de segurança não queria filhos ou casamento.
Ou J.C tinha se descuidado ou realmente havia outro homem na vida de Colie. Difícil de
acreditar, porém, considerando o quão louca ela era por J.C.
─ Não posso trabalhar hoje. - Disse J.C, pedindo desculpas. ─ Desculpa. Eu tinha...
muito para beber.
─ Está tudo bem. - Disse Ren. ─ Vou colocar o novo segurança para atualizar o
software até amanhã.
─ Eu vou estar bem amanhã.
─ Claro que você vai.
─ Maldidas mulheres! - Disse J.C com frieza. ─ Malditas todas elas!
Era como olhar no espelho. Não muitos anos atrás, era Ren quem estava dizendo
isso. Ele teve sua própria experiência ruim com uma mulher e isso o tinha envenenado tanto
que quase perdeu Merrie. Aqui estava J.C., seguindo seus passos. Mas Ren não conseguiu
falar isso com ele. Ele não queria perder J.C. E encolheu os ombros.
─ A vida continua . - Disse ele filosoficamente. E sorriu. ─ Até amanhã.
─ Sim.
J.C. fechou a porta e Ren foi para casa.
Merrie ergueu os olhos quando ele entrou na sala de estar.
─ Bem?
─ Ele estava de ressaca que mal podia falar.
─ O que aconteceu? - Exclamou.

80
─ Tudo se resume ao fato de que Colie está grávida e J.C. acha que é do outro
homem.
─ Oh céus. Isso não é verdade. Colie está tão apaixonada por ele, que não poderia ter
dormido com mais ninguém.
─ Nós sabemos disso. J.C. não. Ou não quer saber.
─ Pobre Colie. - Ela gemeu. ─ E pobre do seu pai!
─ Eles passarão por isso. - Disse ele. ─ Todos nós passamos por momentos difíceis.
Nós sobrevivemos a eles. - Ele a puxou para perto e a beijou ardentemente. ─ Meu tesouro. -
Ele sussurrou contra sua boca.
Ela sorriu e correspondeu ao beijo.

***
Colie e o pai bebericavam o café. O dele era forte e preto. O dela era descafeinado.
─ Eu quero ir para Jacobsville. - Disse ela. ─ Prima Annie Mosby e seu irmão Ty
moram lá. Ela sempre disse que eu seria bem-vinda.
─ Querida, Jacobsville é maior que Catelow, mas ainda é pequena o suficiente para
que as pessoas fofoquem.
─ Eu sei disso. - Disse ela. ─ Uma mentirinha inofensiva. Apenas uma pequena. Eu
era casada, meu marido morreu, e eu estou grávida. - Ela respirou fundo. ─ Eu não quero
que pessoas estigmatizem meu filho. Eu mereço isso, mas...
─ Pare com isso. Deus perdoa tudo.
Ela sorriu com tristeza.
─ Eu estou muito agradecida por isso, mas muita gente não perdoa. Será mais fácil se
eu estiver num lugar onde todos não saibam como eu cheguei a isso. Também será mais fácil
para você, papai. - Ela acrescentou quando ele começou a protestar. ─ Eu causei danos
suficientes. Posso conseguir um emprego em Jacobsville. Existem vários escritórios de
advocacia.
─ Você tem certeza?
Ela assentiu.
─ Tenho certeza. Podemos manter contato através do Skype. Podemos conversar
quando quiser. - Acrescentou com um sorriso caloroso. ─ Você não sentirá a minha falta de
todo.
─ Exceto pela torrada queimada. - Ele disse, ironicamente.
─ Eu vou ensinar você a fazê-la antes de ir. - Prometeu.

***
Ela chamou a sua prima Annie e disse-lhe o que estava acontecendo.
─ Venha para cá ficar conosco. - Annie respondeu rapidamente. ─ Nós cuidaremos
de você. E há um trabalho no antigo escritório de advocacia de Blake Kemp, com Darby
Howland. Pobrezinho, ele tem câncer e não tem muito tempo, mas ele está determinado a
manter o escritório de advocacia funcionando. Você o amaria. Ele tem quarenta anos, mas
ele parece muito mais jovem e ele é dinâmico, ativo e bem-sucedido. Ele está procurando
por uma assistente que possa digitar, tomar ditados e receber os clientes.
─ Ele pode não me querer...
─ Vou telefonar e conversar com ele quando eu desligar. - Disse Annie.

81
─ Eu vou inventar um marido morto. - Colie acrescentou calmamente. ─ É uma
história longa e triste. Eu fiz uma coisa estúpida. Várias coisas estúpidas. Mas eu quero
muito o meu bebê.
─ Claro que você quer. Você não pode evitar que o pai seja um idiota. Agora arrume
sua bagagem. Vou enviar-lhe um bilhete eletrônico. Seu pai pode levá-la ao aeroporto em
Jackson Hole. Não há escala em San Antonio, e vamos mandar um carro para buscá-la e
trazê-la para nós. Não crie caso. - Acrescentou quando ouviu o protesto. ─ Você sabe que
somos podres de rico. Apenas acalme-se e venha viver conosco. Ty ficará feliz em ter
companhia, ele diz que eu o deixo louco. Ele nunca diz uma palavra a não ser que eu o force
a fazê-lo. Honestamente, não é de admirar que ele não se case com alguém. Ele nunca fala!
Colie riu. Lembrou-se de Ty, que era uma espécie de renascido do inferno21.20 Ele
possuía uma das maiores fazendas do Texas e criava pastores alemães de raça pura como
hobby. Ele não gostava muito das pessoas, mas amava os animais. Ele também amava
Colie. Ela gostava tanto do seu primo quanto da sua prima.
─ Tudo bem. Eu vou. E obrigada. Muito obrigada. Eu realmente tornei as coisas
difíceis para o papai na comunidade, embora ele nunca tenha dito uma palavra. Eu quero
poupá-lo disso. Uma mãe solteira, que é sua própria filha, quando ele prega a moralidade...
é mais do que eu quero colocar sobre ele.
─ Ele ama você. - Lembrou Annie. ─ Ele não se importaria.
─ Sim, mas eu faria. Vejo você em alguns dias. Meus chefes aqui estão me deixando
ir sem cumprir o aviso prévio de duas semanas. Eles foram muito gentis!
─ O Sr. Howland diz que eles são um bom grupo para trabalhar.
─ Eles são. E sentirei falta da minha amiga Lucy. Mas eu tenho o Skype dela, assim
como do papai. - Acrescentou.
─ Adorável mídia eletrônica. - Annie riu. ─ Ela nos ajuda a manter contato. Eu vou
organizar tudo e enviar-lhe os detalhes por e-mail. OK?
─ OK!

***
Colie estava de malas feitas e prontas. Rod não voltou para casa desde que Colie
tinha sido expulsa por J.C. Ela esperava que fosse porque ele estava envergonhado, mas
provavelmente ele estava muito ocupado vendendo drogas. Ela realmente queria que J.C a
tivesse ouvido. Poderia ter sido a salvação de Rod.
Por assim dizer, ela estava com muito medo por seu pai para entregar seu irmão à
polícia. Ela tinha visto algo sombrio e frio naquele amigo dele, e ela não queria que seu pai
acabasse flutuando em um rio porque ela abriu a boca. Ela esperava que Rod percebesse que
ela estava saindo da cidade para manter seu segredo.
Bem, ela estava deixando a cidade por muitas razões. Uma pequena parte dela tinha
esperado, contrariando a razão que J.C finalmente se acalmasse e a chamasse, para ouvir o
lado dela da história. Mas ele não fez isso. Não houve nenhum contato.
Ela o viu à distância na cidade no seu último dia de trabalho. Ele nem sequer virou a
cabeça em sua direção. Foi exatamente como ele havia dito. Ela não existia mais para ele.
Ela desejou com todo o coração que pudesse se sentir assim em relação a ele. Isso tornaria
sua vida muito mais fácil.
Seu pai se despediu com um abraço e ela lutou contra lágrimas enquanto se afastava
dele pelo terminal, puxando suas malas com rodízios atrás dela. Era um longo caminho para

21
Hellraiser(renascido do inferno) - É um termo que designa a pessoa que prospera no caos que cria.

82
o Texas. Mas ela realmente não tinha escolha. Ela tinha que pensar nisso como um
recomeço, começar uma nova vida, deixar a velha cheia de dor para trás.
Ficaria tudo bem. Ela teria seu bebê e todos pensariam que ele tinha um pai. Seu pai
real não o queria, mas Colie nunca diria a ele. Ela inventaria um pai que o adorava, o queria
desesperadamente, mas a tragédia havia acontecido com ele. Não faria bem para uma
criança pensar que seu próprio pai não se preocupava com ela.

***
A viagem foi longa e Colie estava enjoada a maior parte do caminho. Um motorista
estava segurando um cartaz com o nome dela. Ele a ajudou a recuperar a bagagem da esteira
e a acompanhou até a limusine.
─ Eu trouxe a limusine super comprida, só para você, senhorita. - O motorista riu
quando ela ficou olhando para o veículo que a estava esperando. ─ Seu primo disse que você
nunca andou em uma, e você precisava de alguma coisa para se animar.
─ Deus, esta é uma ótima maneira de animar alguém. - Ela riu. ─ Eu me sinto como
uma estrela do rock!
─ Entre. Jacobsville não fica longe. Apenas uns vinte minutos. Você pode até assistir
televisão, se quiser. - Acrescentou.
─ Oh, não, eu vou olhar pela janela. - Disse ela. ─ Eu nunca vi o Texas antes! - Ela
notou seu olhar curioso. ─ Meus primos sempre iam ao Wyoming para reuniões familiares,
quando minha mãe estava viva. Esta é a primeira vez que saio do Wyoming.
─ Você vai gostar daqui. É uma região bonita. Muitas fazendas. Como a do seu
primo. - Ele acrescentou com ar sério.
Ela riu.
─ Estou ansiosa para vê-la também.

***
Annie estava esperando na varanda. Ela tinha cabelos loiros e olhos castanhos. Era
alta e esbelta, muito elegante, com os cabelos arrumados em um coque, vestia um terninho
bege com saltos altos. Ao lado dela estava seu irmão, Ty.
Ele não estava bem vestido, exceto pelo Stetson colocado em seus cabelos preto
azeviche, inclinado sobre os olhos negros no rosto duro e bronzeado.
Ele tinha a constituição de um cavaleiro de rodeio, magro, mas musculoso, com
longas e poderosas pernas e mãos e pés grandes. Ele quase nunca sorria. Ao contrário de
Annie, que correu para encontrar Colie e a abraçou até quase sufocá-la.
─ Estou tão feliz por você ter vindo! - Ela disse a Colie. ─ É tão solitário aqui. - Ela
acrescentou com um olhar ao seu imperturbável irmão.
─ Eu disse que deixaria um dos cães dormir com você, se estiver se sentindo
solitária. - Seu irmão disse com sua voz lenta e profunda.
─ Eu não quero um cachorro. Eu não gosto de cães. Eu gosto de gatos!
Ele fez uma careta.
─ Coisas desagradáveis e peludas que fazem buracos em panos. - Ele murmurou. ─
O maldito terror siamês fez um estrago nas minhas cortinas que tivemos que substituí-las.
─ Elas eram velhas, e Santa é apenas um gatinho.

83
─ Santa Claus?22 - Colie perguntou.
─ Santa Claws23. - Annie riu. ─ Ele é um bebê. Perdi meu gato, Ragdoll, há um mês
atrás, ele tinha dezesseis anos. Eu precisava de algo para ajudar meu coração a se curar,
então nós temos o Santa.
A menção do gatinho fez Colie se lembrar do gato que J.C. lhe deu, Big Tom,
deixado para trás com seu pai. Ela já sentia falta dele.
─ Tudo o que precisamos é de uma nuvem de gafanhotos24 para se juntar aquele
gatinho. - Murmurou Ty. ─ É bom ter você aqui, prima. - Acrescentou. ─ Talvez ela deixe
de falar nas minhas orelhas se tiver você para se preocupar.
Ela riu e sorriu para ele. Ele não era o tipo de homem que você abraçava.
─ Vou tentar não ficar no caminho.
─ Você está grávida. - Ela disse, ele observava.
Ela corou e trincou os dentes.
─ Eu amo crianças. - Ele disse suavemente, e sorriu. O que alterou completamente o
rosto dele. Seus olhos negros brilhavam calorosamente. ─ Nós cuidaremos de você.
Ela mordeu o lábio inferior e lutou contra as lágrimas.
─ Obrigada. Muito obrigada.
Ele encolheu os ombros.
─ Nós vivemos em um maldito hotel. - Ele murmurou, indicando a enorme mansão.
─ Dois pavimentos, oito quartos, cinco banheiros... para duas pessoas! Nosso pai estava
louco quando construiu algo assim. - Ele acenou com a mão para a casa. ─ Poderia ter feito
uma grande cabana de troncos com uma lareira...
─ Ignore-o, querida. - Annie disse, pegando o braço dela. ─ Phil vai trazer suas
malas para nós, não vai, querido? - Perguntou ao motorista, que sorriu e assentiu. ─ Ele
sempre dirige para nós. Não confio em mais ninguém ao volante. Especialmente não nele. -
Ela acrescentou em um sussurro alto para as costas de seu irmão.
─ Eu sou um ótimo motorista. - Ele retrucou.
─ Você é um derby de demolição25 com um chapéu de cowboy! - Ela revidou. ─
Você destruiu dois Jags e um Lincoln nos últimos dois anos!
─ Não foi minha culpa. - Ele disse obstinadamente. ─ Eu fui atingido, as três vezes.
─ Porque você entrou na estrada sem olhar!
─ Culpa deles por não saberem que eu faria isso.- Disse ele, imperturbável. ─ Mostre
a prima Colie o quarto dela e então procure a cozinheira e veja se ela arranja alguma coisa
para comermos? Estou faminto!
─ Eu me ofereci para fazer o seu almoço. - Ela retrucou.
─ Homens de verdade não comem quiche. - Ele zombou, olhando-a com olhos
negros. ─ Isso é tudo o que você sabe cozinhar.
─ Bem! - Annie explodiu.

22
Santa Claus - É o nosso Papai Noel, mas o diálogo perderia o sentido se o nome fosse mudado, então
mantive o nome original.
23
Claws - garras, arranhão.
24
Nuvem de gafanhotos - Embora o bicho não cause doenças, o prejuízo econômico de uma nuvem de
gafanhotos pode ser enorme, pq como se sabe les destroem tudo o que encontram pela frente.
25
Derby de demolição ou corrida de demolição é um evento esportivo normalmente apresentado nos
festiváis do Condado Fair, nos Estados Unidos. Onde os concorrentes deliberadamente chocam seus veículos
uns contra os outros até que reste apenas um. O último piloto cujo veículo ainda estiver funcionando é
premiado com a vitória.

84
─ Eu gosto de bife e batatas. Se por acaso você aprender a cozinhar algo que não
comece com ovos, eu vou comê-lo. Não aconteceu em quinze anos, mas nunca se sabe. - Ele
acrescentou, murmurando para si mesmo enquanto caminhava de volta para a cozinha.
Annie riu durante todo o caminho para o andar de cima.
─ Ele não é ótimo? Eu continuo esperando que alguém finalmente perceba a
maravilha que ele é e se case com ele. Mas ele não gosta da maioria das mulheres. Ele diz
que elas são muito descaradas e ambiciosas. Ele ama as crianças.
─ Estou tão feliz. Eu pensei que ele iria dizer algo completamente diferente. - Colie
confessou quando estavam no quarto de hóspedes, decorado em tons de azul e cinza.
─ Ele não é crítico. - Disse Annie simplesmente. ─ Eu também não. - Seus olhos
brilharam. ─ Além disso, somos de uma das famílias fundadoras aqui. Ninguém, mas
ninguém mesmo, bisbilhota sobre nós ou nossos parentes. Você descobrirá quando você
estiver aqui por tempo suficiente.
Colie soltou um longo suspiro.
─ Estou tão feliz por estar aqui. Você não sabe o quão feliz. Isso foi bastante difícil,
mesmo que a culpa seja minha.
Annie colocou seus braços em volta dela.
─ Você se envolveu com um homem que não sabe o que é perdão. Isso é problema
dele, não seu. Você apenas se cura, prospera e mostra o que ele perdeu. - Ela sorriu. ─ Nós
adoraremos ter um bebê na casa! É como se fosse Natal de novo!
Como se estivesse atento, o gatinho siamês, muito branco, entrou pela porta, miando.
─ E falando no diabo, há Santa Claws. - Annie disse, mostrando o gato com a mão.
Colie riu.

***
J.C. disse a Ren que ele voltaria ao trabalho na manhã seguinte. E não voltou.
Resignado, Ren voltou a cabana e bateu na porta. Por mais que ele fosse solidário com o
homem, havia trabalho que precisava ser feito e somente J.C sabia como.
O homem que atendeu a porta era um estranho. J.C. Calhoun estava sempre
impecável. Ele sempre estava bem vestido, mesmo com jeans e camisa, suas unhas estavam
bem cuidadas, seus cabelos perfeitamente penteados.
Mas esse homem estava uma bagunça total. Ele estava vestindo as mesmas roupas da
manhã anterior. Seus cabelos se eriçavam em todas as direções. E ele ainda fedia a uísque.
Uma vez que J.C nunca ingeria bebidas fortes, isso estava totalmente fora do seu
temperamento. Especialmente dois dias seguidos.
─ O que diabos? - Ren perguntou, horrorizado.
Olhos cinzentos pálidos raiados de sangue olharam para o Ren.
─ Que dia é hoje? - Ele perguntou lentamente.
─ É terça-feira.
─ Terça-feira. - Ele disse friamente. E gemeu. ─ Eu não posso nem ficar bêbado
devidamente porra! - Ele exclamou. ─ Essa bruxa! Ela ficou grávida de outro homem, e ia
dizer que era meu, porque eu tinha mais dinheiro do que ele.
Ren apenas olhou para ele. Era um fato bem conhecido que Colie era apaixonada por
J.C. Se havia uma criança, era certo que pertencia ao homem que negava qualquer parte em
sua criação.
─ Colie ama você. - Disse Ren.
─ Claro que sim. - Ele disse, balbuciando as palavras. ─ É por isso que ela saiu com
outro cara enquanto eu estava no exterior. Que amor! Assim como com aquela prostituta,

85
que eu achei que era amor eterno quando era mais jovem. Eu a escolho dedo, não é? - Ele
retrucou.
Ren respirou fundo.
─ J.C., ela nem mesmo namorou ninguém, o tempo todo...
─ Seu próprio irmão me contou o que ela fez! - Ele explodiu. ─ Rod. Meu melhor
amigo! - Ele piscou. ─ Meu ex-melhor amigo, de qualquer maneira. - Acrescentou. ─ Ele
me encontrou no aeroporto, com o... o pai do filho de Colie. - Ele gaguejou no meio da frase.
E piscou embriagado. ─ Ela me traiu, Ren.
O outro homem não sabia o que dizer. Ele apenas olhou para o seu chefe de
segurança.
─ Eu não posso trabalhar hoje. - Gemeu J.C, segurando a cabeça. ─ Eu sinto muito.
Minhas sinceras desculpas. Eu sei que prometi que voltaria ao trabalho hoje, mas eu... eu só
preciso de um pouco mais de tempo. OK?
─ Ok. - Ren colocou uma mão em seu ombro. ─ Tire todo o tempo que você
precisar.
─ Obrigado.
Ren queria dizer alguma coisa, mas não sabia o que dizer. Ele estava abatido pela
condição de J.C. No final, ele apenas sorriu e se afastou.

***
J.C. voltou a si muito lentamente. Ele voltou ao trabalho, passava pela vida. Mas o
magoava, lembrar o que Rod lhe contou sobre Colie.
Doeu mais quando sua sanidade voltou, e ele começou a pensar racionalmente
novamente. Rod, seu melhor amigo, mentiu muitas vezes quando estavam no exterior juntos.
Ele fazia isso para fugir dos deveres dos quais não gostava, alegando doença. Ele fazia isso
para ganhar dinheiro. E ria da indignação de J.C. Uma pequena mentira não machucava
nada, ele dizia para se defender. J.C. e seu caráter exemplar. Uma vez policial, sempre
policial, ele havia dito, e não de uma forma elogiosa.
Então, Rod estava acostumado a distorcer a verdade. Colie, não tanto. Na verdade,
J.C. não conseguia se lembrar de uma única vez que ela mentiu para ele. Ela até contou a ele
sobre um encontro que teve, para se vingar dele por namorar, como pensava naquele
momento, aquela glamourosa loura em Denver que acabou por ser casada com um amigo
dele e mãe de dois filhos.
Havia outra coisa. Colie o amava. Ela cuidou dele, o alimentou. Ela se importava o
suficiente para desafiar seu pai e todos os ideais com os quais havia sido criada, para ir
morar com ele.
Quanto a ela querer alguém mais rico, Colie até se recusou a permitir que J.C. lhe
comprasse um vestido para usar em um encontro extravagante. Ela nunca permitiu que ele
comprasse qualquer coisa, exceto o almoço uma ou duas vezes. E ela pagou o almoço tanto
quanto ele. Isso era preocupante.
Havia uma criança. No começo, foi fácil pensar que era de outro homem. Mas ele
nunca tinha ouvido falar do outro homem, Barry, um que Rod havia levado com ele para o
aeroporto. Havia algo suspeito sobre tudo isso. O homem estava vestindo roupas de grife e
sapatos artesanais, não era alguém local, porque J.C. o teria reconhecido.
Rodney também estava usando roupas de grife. Engraçado como ele não percebeu
isso, até agora. As fofocas diziam que Rod também estava dirigindo um Mercedes novo. De
jeito nenhum, ele poderia pagar esse tipo de carro top de linha ou as roupas, com o que ele
ganhava como empregado na loja de ferragens local.

86
Quanto mais ele pensava, mais ficava preocupado. Colie odiava a intimidade. Ela
odiava até mesmo com J.C, a quem amava. Então, por que ela iria para a cama com outro
homem? Ele lembrou o quão nervosa ela tinha sido na primeira vez, quando ela sangrou. Ela
retribuiu o beijo, o abraçou forte, apreciou a proximidade, mesmo que ela não tivesse
gostado do verdadeiro ato sexual.
Uma respiração aguda escapou de sua garganta. Colie tinha dezenove anos, foi criada
por pais religiosos. Ia a igreja todas as semanas, exceto quando vivia com J.C. Uma mulher
criada dessa maneira realmente seria permissiva? Ele nunca tinha ouvido uma fofoca
sussurrada sobre ela até que ela foi morar com ele. Rod havia reclamado há anos sobre sua
irmã puritana e moralista.
Querido Deus, e se ela fosse virgem? Os pedaços do quebra-cabeça pareciam
encaixar. Isso explicaria muito. E J.C a tratou como uma mulher experiente, sem tolerar a
sua falta de habilidade na cama. Se ela fosse inocente, não admira que não tenha gostado da
primeira vez, nem das que se seguiram. Ele sempre estava com pressa. As mulheres em sua
vida gostavam de sexo rude e rápido. Mas se Colie fosse virgem...
Ele pegou o telefone e ligou para a casa dela. Faziam quase três semanas que ele a
colocou na varanda como um pacote indesejável, no frio.
Ela nem sequer estava vestindo um bom casaco. Ele estremeceu interiormente
quando lembrou dos olhos tristes e cheios de lágrimas. Ele não lhe deu a chance de se
defender, mesmo de esclarecer suas acusações. Ele a insultou, a xingou e ridicularizou seu
comportamento na cama.
Ela provavelmente nem sequer falaria com ele, mas ele tinha que tentar.
O telefone tocou quatro vezes antes de o Reverendo Thompson atendê-lo.
─ Alô? - Ele atendeu suavemente.
─ Reverendo, é J.C. Posso falar com Colie, por favor?
Houve um breve silêncio, depois o som do receptor sendo desligado. Ele lembrou
que o reverendo usava o telefone sem fio em casa. Ele tentou novamente, mas a secretária
eletrônica havia sido ligada.
Ele respirou fundo. Bem, ele podia ter mais sorte com Rod. Ele queria questioná-lo
sobre o seu comportamento no aeroporto, de qualquer forma.

***
Ele passou pela loja de ferragens, onde um de seus colegas de trabalho lhe disse que
Rod tinha tirado um dia de folga. Algo sobre a necessidade de ir a Jackson Hole tratar de
assuntos urgentes. Melhor assim o homem observou com raiva. Rod não fazia muito quando
estava lá, exceto conversar com mulheres quando ele deveria estar ajudando os clientes.

***
J.C. estava em pé do lado de fora em uma rajada de neve, rilhando os dentes. E
agora? Ele poderia ir à casa do reverendo e exigir ver Colie, mas isso não seria prudente. Ele
já causou bastante problemas ao pobre homem, vivendo abertamente com sua única filha.
Ele não era religioso, mas sabia como as pessoas religiosas observavam a conduta imoral.
Não deve ter sido fácil para o pastor subir no púlpito e pregar contra o sexo fora do
casamento quando sua filha vivia com um homem e todos sabiam.
Ele não conseguiu achar Rod em Jackson Hole. Ele teria que esperar até o homem
voltar casa e pegá-lo.

87
Ele estava frustrado. Precisava encontrar Colie. Onde diabos ela estava? Então se
lembrou. Ele verificou o relógio. Ela estaria na hora do almoço. Ele não havia se
aproximado da cafeteria desde que terminaram, mas entrou no SUV e dirigiu para lá.
Ele olhou ao redor do lugar lotado, mas não encontrou Colie. No entanto, sua colega
de trabalho, Lucy, estava comendo uma salada e bebendo café sozinha em uma mesa.
Ele puxou uma cadeira e sentou-se de pernas escarranchadas.
─ Onde está Colie? - Ele perguntou abruptamente.
Lucy fez uma pausa com o garfo no ar e apenas olhou para ele.
─ O pai dela não me deixa falar com ela. Não consigo achar seu irmão. - Ele estava
frustrado e irritado, e sua voz refletia isso. ─ Onde ela está?
Ela colocou o garfo no prato.
─ Eu não sei, J.C. - Ela disse, mas desviou os olhos.
─ Sim, você sabe. - Ele retrucou. ─ Você não pode mentir para mim, Lucy. Eu fui
policial por dois anos. Conheço uma mentira quando vejo uma.
Ela ergueu os olhos e respirou fundo.
─ Ela me fez prometer que não te diria. - Disse ela depois de um minuto.
─ Ela está em Catelow?
Ela não respondeu.
─ Eu preciso falar com ela. - Ele disse em breve. ─ Eu não lhe dei a chance de se
defender...
─ Sim, eu sei. - Ela disse em tom gelado. ─ Você a colocou na varanda de sua
cabana com seus pertences e fechou a porta. Você a colocou para fora como um cão que se
comportou mal.
Ele teve a gentileza de não protestar contra a acusação. Não podia. Ela estava falando
a verdade.
Ele traçou um padrão com os dedos nas costas da cadeira em que ele estava
escarranchado, seu coração pesado, sua mente sobrecarregada.
─ Eu fiz isso. - Ele confessou depois de um minuto. ─ Eu perdi a calma. Rod veio
me encontrar no aeroporto e me disse... - Ele hesitou. E olhou para cima. ─ Ela está
realmente grávida?
O rosto de Lucy se fechou.
─ Isso não é mais da sua conta. Colie foi embora , J.C. Habitue-se com isso.
─ Foi pra onde?
─ Eu te disse...
─ Pelo amor de Deus, é meu? - Ele se afastou, seus olhos cinza pálidos se prenderam
aos dela. ─ Ela está carregando meu filho?
Seu rosto ficou duro.
─ O que isso importa a você? - Ela perguntou. ─ Você disse a ela que nunca quis
uma criança. Então você não vai ter uma.
Ele parecia confuso. Seu arrependimento era evidente em seu rosto.
─ Eu cometi alguns erros.
─ Você cometeu muitos.
Ele assentiu.
─ Eu quero acertar as coisas, se eu puder. - Ele disse calmamente. ─ Eu falhei feio. -
Ele conseguiu dar um sorriso fraco. ─ Mas Colie não é rancorosa. Ela me perdoará.
Ela baixou os olhos. E não disse nada.
O silêncio era revelador. Ele sentiu algo frio o tocar, por dentro.
─ Ela está no Wyoming? - Ele perguntou calmamente.
Ela balançou a cabeça.

88
Ele respirou fundo.
─ Você perguntará a ela se você pode me dizer onde ela está? - Ele tentou outra
tática. ─ Só isso.
Ela olhou para cima. Sua expressão já não era hostil. Era triste.
─ É tarde demais, J.C. - Disse ela depois de um minuto.
─ O que você quer dizer, com é tarde demais? - Ele perguntou.
─ Nada do que você diga ou faça, a fará voltar para você. Agora não. Não importa se
eu perguntar a ela. Ela simplesmente diria não, de qualquer maneira.
─ Por que você está tão certa disso? - Ele exigiu.
─ Bem, é assim. - Ela começou, hesitando.
Ele sentiu um frio por dentro. Um vazio. Ele teve um pressentimento que foi mais
forte do que qualquer coisa que ele já experimentou.
─ Apenas me diga. - Disse ele.
─ Tudo bem. - Ela respirou fundo. ─ Ela não vai falar com você porque ela está
casada, J.C.
Ele ficou sentado lá. Seu rosto empalideceu sob sua tez oliva. Seus olhos pálidos e
prateados estavam em branco.
─ Ela está o quê?
─ Ela está casada. - Respondeu Lucy. Ela se levantou com a bandeja. ─ Eu sinto
muito. Foi o que eu quis dizer, quando disse que era tarde demais. Não se pode voltar atrás,
J.C. A vida não vem com um botão de reset.
Ela se virou e se afastou.

***
Casada. Colie estava casada. Ela estava grávida e seu filho não teria um nome. Seu
pai seria ainda mais humilhado no púlpito com uma mãe solteira, que era sua própria filha,
sentada em um banco em sua igreja.
Colie sabia disso. Ela já se sentia culpada por ter causado tanto sofrimento a ele. J.C
sabia disso, mesmo que ela nunca tivesse colocado em palavras.
Então, ela encontrou alguém e se casou, para dar um nome a seu filho. Ela se colocou
além do alcance de J.C., e ela tinha feito isso deliberadamente.
Ele se levantou como um sonâmbulo e saiu em direção ao SUV. Ele ficou no vento
gelado, com neve soprando ao redor dele e não sentia nada. Colie foi embora para sempre.
Ele a jogou fora, como um sapato usado. Ele nunca a teria em sua vida novamente. Nunca
teria essa ternura, esse aconchego que ele desejava, mesmo quando se ressentia disso.
Colie tinha desaparecido, e era culpa dele. Longe, com uma criança que podia ser seu
próprio filho, uma criança que cresceria pensando que outro homem era seu pai. Uma
criança que ele nunca conheceria.
Ele sabia o que era não ter um pai. Ele tinha sido abandonado pelo seu aos dez anos
de idade. Ele o culpou por toda a miséria dos anos subsequentes. Agora ele estava fazendo o
mesmo com uma criança que poderia ser sua.
Não totalmente. Colie tinha um marido. Esperava que ele a tratasse melhor do que
J.C. O homem sabia que estava grávida? Ele descartou esse pensamento na mesma hora.
Claro que ele sabia. Colie não mentiria, nem mesmo sobre isso.
Ele nunca julgou qualquer pessoa tão mal em toda a vida quanto julgou Colie. Ele
estava envergonhado, corroído pela culpa. Seu temperamento quente lhe custou a pessoa em
sua vida adulta que realmente o amava. Talvez ele tivesse feito isso deliberadamente,
subconscientemente. Ele esperava que as pessoas o traíssem. Ele não confiava em ninguém.

89
Ele deveria ter confiado em Colie. Ele deveria ter ido atrás dela, enquanto ainda
havia tempo para consertar as coisas.
Agora, ele ficaria sozinho pelo resto de sua vida. Quando ele entrou no SUV e
afastou-se, pensou que provavelmente merecia o que tinha conseguido. Ele provavelmente
merecia tudo isso.

90
09
J.C. dirigiu de volta para a fazenda sem ver nada ao longo do caminho. Ele bateu na
porta da frente. Delsey o deixou entrar.
─ Oi, J.C. - Ela começou.
─ Ren está? - Ele a interrompeu. Ele parecia um homem que tentava engolir uma
melancia inteira.
─ Sim, no escritório...
─ Obrigado. - Ele a interrompeu e se dirigiu ao escritório.
Ren ergueu os olhos quando seu chefe de segurança entrou e fechou a porta atrás
dele.
─ Você sabia que ela estava casada? - Perguntou logo.
As sobrancelhas grossas e escuras de Ren se arquearam em direção a sua linha de
cabelo.
─ O que?
─ Colie. Você sabia que ela estava casada?
Os lábios de Ren caíram abertos.
─ Colie está casada! - Exclamou. ─ Quando? Quem?
J.C. afundou em uma cadeira.
─ Eu não sei. Lucy me disse. Eu estava tentando encontrar Colie. O pai dela
simplesmente desligou o telefone sem responder. Rod está fora da cidade. Não havia mais
ninguém a quem perguntar... - Ele engoliu em seco, com dificuldade. ─ Casada! - Exclamou.
Sua tez azeitonada realmente havia ficado pálida.
Ren sabia o que o outro estava passando. Ele também julgou mal uma mulher, mas,
felizmente, recuperou a razão a tempo de não perder Merrie.
─ Sinto muito. - Disse ele.
Os olhos cinza pálido de J.C estavam atormentados.
─ Eu não sei por que ela faria isso!
Ren hesitou por alguns segundos. Então ele se inclinou para frente, ambas as mãos
fechadas na mesa.
─ J.C., ela está grávida. - Ele disse gentilmente. ─ Provavelmente ela sentiu que seu
pai já havia sofrido fofocas suficientes, sem ter que se levantar no púlpito tendo uma filha
grávida, mas solteira na congregação.
J.C. fechou os olhos em uma onda de cansaço. Era o que ele pensava. O reverendo já
suportou algumas fofocas dolorosas, ele sabia, e ele ajudou a causar isso. Ele causou muito
dano a um homem que apenas tentava ajudar as pessoas.
Colie estava grávida. Era seu filho? Agora ele nunca saberia. Ela se foi. Fora do
alcance para sempre. Casada! Por que ele não percebeu que era o que ela provavelmente
faria, por culpa e vergonha.
Mas com quem se casou? Ninguém localmente mencionou algo sobre um casamento.
Não, pensou ele. Ela nunca ficaria em Catelow, nem em qualquer lugar próximo. Ela teria
ido embora para algum lugar em que as pessoas não a conhecessem, não soubessem que
tinha vivido com J.C e que ele a expulsou da sua vida. Em algum lugar onde ela encontrou
alguém que se casou com ela, para dar um nome a seu filho.

91
E se fosse seu próprio filho? Nunca o veria, nunca o conheceria. E era sua própria
culpa. Ele sentiu a dor até o fundo da sua alma. Ele nunca esteve tão errado sobre um ser
humano em toda a sua vida. Ele jogou Colie fora, a ofendeu, acusou-a de mentir,
ridicularizou como ela era na cama.
─ Às vezes, cavamos nossos próprios túmulos muito antes de morrermos. - Ele disse
do nada.
Ren, que não sabia o que o outro homem pensava, apenas assentia.

***
Colie estava nervosa nas suas duas primeiras semanas de trabalho no escritório de
advocacia de Darby Howland. Sua prima Annie assegurou-lhe que ele a queria lá e tinha
certeza de que ela iria ser um trunfo. Colie estava menos confiante.
Ela estava muito ciente de sua condição, embora a gravidez estivesse tão no começo
que ainda não se notava. Ela estava em débito com o Sr. Howland por ser tão gentil com
uma total estranha. Mas não tinha certeza de como ele reagiria quando lhe contasse sua
verdadeira condição. Ela se certificou de que Annie não falasse sobre isso a ninguém. Ela
não queria começar em Jacobsville, Texas, com todos sabendo o que tinha feito.
Mas não foi assim. O Sr. Howland era alto e esguio, com espessos cabelos pretos
salpicados de prata. Ele tinha olhos escuros, uma pele azeitonada e uma voz profunda e
arrastada. Ele nunca parecia parar de sorrir.
Ela atendia o telefone, tomava ditado, marcava reuniões, fazia tudo o que lhe era
pedido sem queixa. O escritório funcionava sem problemas. Era muito parecido com o
escritório que ela deixou em Catelow.
Ela gostava especialmente do patrão, que dirigia a firma de três advogados. O Sr.
Howland era o homem mais amável com quem ela já havia trabalhado. Mas quanto mais
demorava a lhe contar a verdade sobre sua condição, mais difícil ficava. Ela sabia que
parecia culpada. Ele parecia sentir que algo estava errado. Então, no final de sua segunda
semana em Jacobsville, ele a chamou no escritório dele, fechou a porta e desligou o celular.
─ Primeiro vamos tirar as coisas desagradáveis do caminho, de acordo? - Perguntou,
fazendo sinal para ela sentar na frente de sua enorme mesa de carvalho depois que ele
fechou a porta. ─ Você parece um fugitivo antecipando um mandado de prisão. - Ele
acrescentou com fraco humor. ─ Quer me contar sobre isso?
Colie suspirou.
─ Sr. Howland, eu deveria ter deixado Annie dizer-lhe...
Ele apenas sorriu.
─ Continue, Colie.
Ela hesitou.
─ Oh, eu entendo. - Ele sorriu enquanto se sentava, estremecendo com a ação. Ele
respirou fundo. ─ Tudo bem, vamos deixar as suas coisas desagradáveis um pouco de lado.
A principal coisa desagradável não diz respeito a você. Diz respeito a mim. - Ele cruzou as
mãos na mesa. ─ Estou morrendo.
Ela respirou fundo. Embora Annie lhe dissesse que ele tinha câncer, ela não havia
registrado que era uma sentença de morte. Alguns tipos de câncer podiam ser tratados com
sucesso nos dias de hoje.
─ Desculpa. Isso foi bastante rude - Acrescentou, sorrindo tristemente. ─ Você
entende, eu tenho um câncer muito raro. É um mieloma múltiplo. Eu tive uma dor nas costas
que não ia embora, mas pensei que era artrite. Fui diagnosticado com artrite quando tinha

92
uns vinte anos. Então eu não fui ao meu médico. Eventualmente, se eu tivesse feito exames
teria descoberto mais cedo, mas até então, era muito tarde para alguma coisa ser feita.
─ Sinto muito. - Ela disse desamparada.
Ele sorriu.
─ Eu fui casado. Ela foi a única mulher na minha vida a partir da sexta série. Nós não
podíamos ter filhos, mas nós tínhamos um ao outro. Foi um casamento tão idílico que,
depois que eu a perdi, nunca quis mais ninguém. Quando morrer, a verei de novo. É por isso
que não é tão ruim. - Ele fez uma careta. ─ Bem, a dor as vezes fica muito ruim. Mas neste
caso, não é a jornada que conta, é o destino, se você entende o que quero dizer.
─ Eu entendo. - Ela pensou em perder J.C. Isso era como uma morte. Ela o chorou.
Se ele realmente morresse, e ela tivesse que enfrentar a vida sem ele, a morte não seria tão
terrível. Mesmo que ele a tivesse magoado, o amor não morrria, aparentemente.
Ele inclinou a cabeça. Seus olhos escuros se estreitaram.
─ Você estava pensando em outro tipo de coisa desagradável. Posso saber o que é?
Ela respirou fundo.
─ Eu me envolvi com um homem onde eu morava. Eu o amava... mais do que
qualquer coisa no mundo. Então, quando ele me pediu para viver com ele, eu fui. Meu pai é
pastor e a cidade é pequena. Foi um escândalo. - Ela disse com um sorriso triste. ─ Mas o
pior ainda estava por vir. Ele não queria filhos e tivemos um acidente. Então estou grávida e
ele pensa que não é dele. Ele me expulsou de casa sem me ouvir. Eu não podia envergonhar
meu pai ainda mais, tornando-me uma mãe solteira em sua congregação. Meus primos
Annie e Ty disseram que eu poderia morar com eles e eles sabiam sobre um emprego aqui,
em seu escritório. - Ela olhou para seus pés. ─ Então, eu acho que deveria nos poupar de
mais coisas desagradáveis e simplesmente sair. Eu ia inventar um marido morto...
─ Por que você não se casa comigo?
Seus lábios caíram abertos. Ela olhou para ele entorpecida.
─ O que?
Ele encolheu os ombros.
─ Eu não quero um casamento real. Eu também não acho que você queira. Mas você
vai ter um filho e precisa de um marido. - Ele sorriu de orelha a orelha. ─ Deus, eu amo
crianças! Eu nunca pude ter um com Mary, mas posso ajudá-la com o seu, pelo tempo que
me restar.
As lágrimas escorreram por suas bochechas como chuva por uma janela.
─ Mas... você não me conhece.
─ Annie me contou tudo. - Confessou. ─ Não fique brava com ela. O pai dela e eu
fomos melhores amigos por anos. Não temos segredos. Além disso, sou advogado. Somos
treinados para não contar o que sabemos.
Ela conseguiu dar um sorriso enquanto se desfazia em lágrimas.
─ Eu também fui treinada dessa maneira. Trabalhei para uma maravilhosa firma de
advogados em Catelow.
─ Eu sei. Liguei para eles. Eles disseram que todos no escritório estavam
lamentando. Você era muito querida.
Ela corou.
─ Uau.
─ Você também será querida aqui. Conseguiremos uma licença para amanhã e um
pastor nos casará.
─ Todos pensarão que você perdeu a cabeça. - Ressaltou ela. ─ Nós nos conhecemos
há duas semanas.

93
─ Que se dane. - Ele riu. ─ Eles se alimentaram das fofocas por meses. Será uma boa
fofoca. Jacobsville é uma cidade amável, e não digo isso levianamente. Temos pessoas que
vivem aqui que cometeram todos os tipos de crimes e voltaram para a sociedade. Ninguém
os castiga por isso. Eles pagaram suas dívidas. Nós também temos uma das mais famosas
escolas de contraterrorismo da Terra, administrado por um ex-mercenário chamado Eb
Scott. Entende? Todos os tipos de pessoas interessantes vivem aqui. Eu esqueci de
mencionar que nosso chefe de polícia é um ex-assassino do governo e nosso xerife é casado
com a filha de um dos mais notórios narcotraficantes do continente.
Ela simplesmente se sentou, boquiaberta.
─ É uma cidade muito pitoresca. - Ele acrescentou com um grande sorriso. ─ Então,
um rápido casamento entre dois estranhos nem mesmo vai levantar as sobrancelhas. Não
muito, pelo menos.
─ Que lugar fascinante para se viver!
─ Isso é o que eu sempre pensei. - Ele franziu o cenho. ─ No entanto, uma coisa.
Você está certa de que o pai do seu filho não mudará de ideia e virá atrás de você?
Ela sorriu. Foi um sorriso triste e melancólico.
─ Ele disse que nunca queria me ver novamente. Disse que a criança que estou
carregando não é dele. Disse... - Ela hesitou. ─ Disse muitas coisas que não posso esquecer.
Ele é basicamente um solitário. Não quer uma família. Então... não. Não há chance de ele vir
atrás de mim. - Ela olhou para cima. ─ Estou até feliz. Eu iria rastejando de volta para ele de
joelhos sobre vidro quebrado. ─ Ela riu, mas sua voz falhou. ─ Eu o amei tanto. Eu não
tinha absolutamente nenhum orgulho.
─ Eu amei Maria assim. - Disse o homem calmamente. ─ Eu a amo ainda. Ela ecoa
através da minha vida todos os dias, a cada hora, a cada minuto. Eu a perdi três anos atrás,
mas parece que foi ontem. Eles dizem que o tempo ajuda. O diabo que faz.
Ela assentiu.
─ Uma ferida tão profunda não cicatriza, eu acho.
Ele se inclinou para a frente.
─ Então. Vai se casar comigo? Eu ronco, mas você não se importará, porque você
terá um bom quarto para si mesma. Eu tenho que fazer quimio e radioterapia
periodicamente, então eu fico muito doente. Você também teria que conviver com isso.
─ Oh, não me importo. - Disse ela gentilmente. ─ J.C. teve uma gripe muito forte e
eu cuidei dele, mesmo quando ele vomitou.
A expressão dele suavizou.
─ Você parece esse tipo de mulher. - Ele disse suavemente. ─ Aposto que completos
estranhos se sentam com você e contam seus segredos mais horríveis.
Ela riu alto.
─ Bem, sim, eles fazem. Alguns deles são realmente embaraçosos. Eu apenas escuto
e não digo nada.
─ Eu imagino que seu pai também seja assim. É melhor você ligar para ele e contar-
lhe sobre essa coisa incrivelmente impetuosa que você está prestes a fazer.
Ela assentiu.
─ Eu vou ligar para ele hoje à noite. - Ela fez uma careta. ─ Eu não tenho muitos
vestidos. Será que tem que ser um vestido de noiva?
─ Claro que não. Por mim você pode se casar de jeans que eu não vou me importar. -
Ele riu. ─ Eu vou usar um terno, mas só porque eu sempre uso um para trabalhar.
─ Isso é tão repentino. - Ela falou.
─ Não da minha parte. - Ele inclinou a cabeça. ─ No primeiro minuto que Annie
disse que sua prima grávida, solteira, iria morar aqui e precisava de um emprego, comecei a

94
pensar nisso. Eu nunca estive perto de bebês. Eu queria tanto um meu. Para mim, será a
maior aventura da minha vida, ao lado de viver com Mary e passar pelo exame da ordem dos
Advogados. - Ele acrescentou secamente.
─ É tão amável da sua parte. - Disse ela, lutando contra as lágrimas.
─ É gentileza sua. - Ele respondeu. ─ Não será fácil, Colie. Eu disse que estava
muito doente, e é verdade. Eu também não durmo bem, então eu ando pela casa e assisto
televisão quando não consigo dormir.
─ Não me importaria. - Ela respondeu. ─ Eu só quero que meu bebê tenha o melhor
começo que eu possa dar a ele ou ela. Eu não quero que meu bebê sofra preconceito por
causa do que eu fiz.
─ Vamos nos certificar disso.
─ Então, se você realmente está certo isso, eu vou me casar com você, Sr. Howland.
E cuidarei de você enquanto precisar.
Ele sorriu.
─ Darby.
─ Oh. Darby. - Ela experimentou.
Ele riu.
─ Eu recebi o nome do meu trisavô. Ele foi vice-xerife em Jacobsville.
─ Eu adoraria ouvir sobre suas histórias. Talvez em uma dessas noites, quando você
não conseguir dormir. - Acrescentou.
Ele assentiu.
─ Será bom ter companhia. Eu perdi isso.
─ Eu vou ter que ligar para o meu pai.
─ Por que não fazemos isso agora? Eu tenho Skype no computador do meu
escritório. ─ Ele ligou o computador, acessou o skipe e olhou para Colie. ─ Qual é o número
do telefone dele? Eu vou ter que enviar uma solicitação de contato...
Ela acordou.
─ Não, você não vai. Posso usar o computador? Vou fazer login na minha conta.
Ele sorriu.
─ Boa ideia. - Ele se levantou e se sentou na beira da mesa enquanto Colie mexia no
computador e ligava para o pai. Era de manhã, e ele costumava estar em casa.
O telefone tocou. Ele respondeu e, quando reconheceu o nome de Colie, ligou a
câmera. Lá estava ele, radiante para ela.
─ Oi, querida. - Disse ele. ─ Como você está?
Darby moveu-se para aparecer na tela ao lado de Colie e sorriu.
─ Olá, Reverendo. Eu sou Darby Howland e vou me casar com sua filha amanhã.
O reverendo Thompson ficou sem palavras. Ele apenas olhou para eles.
─ O bebê precisa de um nome. - Darby continuou suavemente. ─ E estou morrendo
de câncer. O bebê fará com que o tempo que me resta valha a pena viver. Perdi minha
esposa há três anos atrás. Eu não tenho nada para dar, no que diz respeito a um casamento
real, mas posso dar a Colie meu nome e o bebê terá tudo o que ele precisa.
O reverendo Thompson encontrou sua voz.
─ Sr....?
─ Howland. Darby Howland. O escritório de advocacia aqui em Jacobsville, onde
Colie está trabalhando agora é meu.
─ Sr. Howland, ambos estaremos para sempre em dívida com o Senhor. - O
reverendo se controlou. E lutou contra as lágrimas. ─ Eu estava tão preocupado com minha
filha!

95
─ Eu cuidarei dela. - Prometeu Darby. ─ Ela nunca vai precisar de nada. O bebê
também não. - Ele sorriu. ─ Maria e eu queríamos crianças mais do que qualquer coisa no
mundo, mas ela não podia engravidar. Espero ansiosamente ser pai, mesmo que seja apenas
no papel.
─ É uma coisa nobre o que você está fazendo. - Disse o pai de Colie calmamente. ─
Eu vou mencionar você em minhas orações todas as noite.
Darby sorriu tristemente.
─ Eu preciso de todas as orações que eu possa ter. Eu acredito nisso. Eu sou um bom
líder em nossa igreja. Sou metodista...
─ Nós também somos! - O Reverendo Thompson explodiu em risadas. ─ Que
coincidência!
─ Uma boa. - Disse Darby. E sorriu. ─ Temos um bom ministro aqui na nossa igreja.
Ele é um pouco excêntrico, dirige um Mustang Shelby Cobra. Mas ele é ótimo em um
púlpito ou quando alguém está com problemas.
─ Papai também é. - Disse Colie, sorrindo para o pai dela.
─ Você quer voar para a cerimônia? - Perguntou Darby. ─ Posso enviar um carro
para pegar você no aeroporto.
─ Eu realmente queria poder. - Disse o Reverendo Thompson. E suspirou. ─ Eu
tenho um membro da minha congregação indo para a cirurgia cardíaca na parte da manhã.
Eu dei a minha palavra de que estaria lá com ela.
─ Se ele der a sua palavra, ele sempre a cumpre. - Disse Colie a Darby. Ela olhou de
volta para o pai, cuja expressão era atormentada. ─ Está tudo bem. - Disse ela. ─ Vamos
tirar fotos e enviar-lhe algumas. Que tal?
Ele relaxou um pouco.
─ Isso seria muito legal, Colie. - Ele olhou para Darby. ─ Você se saiu bem, minha
garota. Cuide-se. Me ligue com frequência.
─ Eu vou fazer isso. - Ela prometeu. ─ Te amo papai.
─ Te amo também. Obrigado, Darby. - Acrescentou, ao outro homem. ─ Muito
obrigado, a ambos.
Darby sorriu.
─ Obrigado, não é necessário. Eu vou ser pai!
Colie apenas riu.

***
Ela e Darby se casaram na igreja metodista local, com apenas seus primos como
testemunhas. Não foi a rigor, embora Darby lhe tivesse comprado um buquê bonito, de
poinsétias, rosas brancas e baby breath26. Ele também comprou seus anéis. Ela protestou
contra a despesa, mas ele disse que custaram apenas alguns trocados.
─ Um anel de noivado com um diamante de 18 quilates e uma aliança com uma faixa
em toda volta com diamantes de dois quilates. Custam dois anos do meu salário. Alguns
trocados! - Colie exclamou.
─ Esqueci de te dizer. - Disse ele, saindo da igreja com Annie e Ty. ─ Eu sou rico.
26
Flor respiração de bebê( baby's breath)

96
─ Oh, querido, e eu não soube disso de antemão, para poder dizer a todos que eu
estava casando com você por seu dinheiro. - Ela brincou com um sorriso malicioso.
Ele hesitou e depois explodiu em risadas.
─ No que eu me meti! - Exclamou.
O Reverendo Jake Blair se juntou a eles fora da igreja.
─ O casamento é um negócio sério. Não uma piada.
Ele parecia tão sombrio que todo mundo olhou para ele.
Então ele sorriu.
─ Caiu nessa, não é? - Ele provocou. E riu. ─ Vocês dois terão um bom casamento.
Eu já posso dizer. - Ele apertou a mão de Darby. ─ Estou feliz em ver que você está se
interessando pela vida novamente.
─ Eu não tenho muito disso. - Disse Darby melancolicamente.
─ A vida é medida em dias felizes, não em uma antecipação do fim dela. - Disse
Jake. ─ Honestamente, ontem é uma lembrança e amanhã é uma esperança. Tudo o que
realmente temos é hoje, agora mesmo. Ninguém tem certeza de ter mais um dia. Nem
mesmo as pessoas mais jovens.
Darby o estudou.
─ Você realmente é um filósofo, Jake.
─ Ainda não, mas estou trabalhando nisso. - Ele sorriu para Colie. ─ Eu tenho uma
filha da sua idade. Ela e o marido têm um menininho. Ele é a luz da minha vida.
─ Espero ansiosamente conhecê-la. - Disse Colie. ─ Eu estou há pouco tempo aqui.
Vai demorar um pouco para conhecer as pessoas.
─ Darby conhece todos. Ele vai se certificar que você seja apresentada a todos. - Jake
assegurou-lhe. ─ É uma cidade pequena, mas não fechada ou cheia de pessoas
preconceituosas. É um dos lugares mais amáveis da Terra. Você vai adorar isso aqui.
─ Eu sei disso. - Ela concordou.
─ Eu ouvi dizer que seu pai também é pastor. - Disse Jake. ─ Eu adoraria conhecê-
lo, quando ele vier visitar você.
Ela explicou anteriormente por que seu pai não estava na cerimônia.
─ Ele leva o trabalho muito a sério.
─ Igual a mim. - Respondeu Jake. ─ Parabéns novamente.
─ Obrigada, Reverendo Blair. - Disse Colie, e Darby agradeceu também.
─ Agora. - Disse Darby. ─ Vamos para casa!

***
Ele vivia em uma extensa propriedade com um córrego passando por ela, cercada por
mesquites27, carvalhos e nogueiras.
─ É tão diferente do Wyoming. - Observou Colie. ─ Bonito. Apenas... diferente.
─ Sem pinheiros lodgepole, sem trevos de aspen, sem algodão. - Ele riu. ─ Eu sei. A
vegetação é diferente, mas as pessoas são exatamente as mesmas, onde quer que você vá.
Adoro viver aqui. É como uma grande família.

27
Mesquite(algaroba

97
─ Eu notei isso. - Ela concordou. E ofegou quando a casa apareceu. Era enorme, um
sonho de perfeição vitoriana, em gingerbread woodwork28 e tinta branca, de dois andares e
cercado por árvores de todo tipo.
─ Incrível. - Ela observou sem fôlego. ─ É tão bonita!
Ele sorriu com tristeza.
─ Eu construí isso para Mary. - Disse ele. ─ Foi o único lugar em que vivemos
juntos.
─ Só que você provavelmente se casou primeiro. - Ela disse tristemente. ─ Eu
esperava que minha vida fosse assim. Convencional. - Ela balançou a cabeça. ─ Quando eu
errei, eu errei muito.
─ Você é muito jovem, Colie. Terá tempo suficiente para arrependimentos quando
chegar à minha idade. - Ele aconselhou.
Ela suspirou.
─ Eu acho que sim. - Ela olhou para ele. ─ Você tem uma governanta?
─ Tenho, ela trabalha meio expediente, Sra. López. Ela trabalha para um dos nossos
três floristas o resto da semana. Você vai gostar dela.
─ Ela está aqui hoje?
─ Não. Ela trabalha para mim na quarta e quinta-feira. Ela deixa comidas congeladas
que eu aqueço no microondas.
─ Eu me certificarei de que você tenha comida caseira todos os dias. - Prometeu. ─
Eu posso cozinhar.
Ele sorriu.
─ Posso ver agora que tomei uma decisão muito boa. - Ele riu.
─ Estou mais agradecida do que posso expressar...
Ele levantou a mão.
─ É uma parceria. Nós dois nos beneficiaremos. - Ele parou o carro na frente da casa.
─ Lar. - Ele disse, indicando a ampla varanda da frente, que tinha um balanço de varanda e
móveis acolchoados. Havia até uma rede em um suporte em uma extremidade, perto de uma
árvore imponente.
─ Essa é uma nogueira. - Ele disse a ela, indicando a árvore enquanto caminhavam
para a varanda. ─ Mas eu ainda tenho que comprar nozes. Malditos esquilos. - Ele suspirou.
─ Eles as tiram das árvores quando as nozes ainda estão verdes. Eu vivo aqui há
trinta anos e ainda não consegui comer uma noz da minha própria árvore.
Ela riu.
─ Bem, não é como se os esquilos pudessem ir à loja comprar nozes. - Ressaltou ela.
─ Eu vejo alimentadores e casas de pássaros também. - Exclamou ela. ─ Adoro eles!
Eu só tinha alguns em casa, mas adorava encher os alimentadores todas as manhãs.
─ Eu mesmo gosto de pássaros. - Disse ele. ─ É muito cedo para eles começarem a
fazer ninho, mas teremos um assento da primeira fila para ver os filhotinhos quando a
primavera chegar.
Ela assentiu.
─ Quando a primavera vier.

28
Victorian gingerbread woodwork

98
Ela pensou em J.C., que já não estava em sua vida agora. Ele não se aproximaria dela
quando soubesse que estava casada. Fingiu que não importava. Não era verdade. Ela nunca
deixaria de amá-lo. Mas não podia deixar seu filho crescer fora do casamento, em uma
pequena cidade. Ela fez o que tinha que fazer.
Além disso, Darby era um bom homem. Ela cuidaria dele, até quando ele precisasse
dela.

***
A gravidez era uma aventura. Ela passou de seios sensíveis e enjoos matinais, a azia
quando o bebê cresceu.
─ Isso é terrível. - Ela gemeu para Darby quando eles estavam almoçando um dia.
Ela estava com seis meses e aparentava isso. A maioria das pessoas assumiu com prazer que
era filho de Darby, então a comunidade estava encantada por ele. E já adoravam Colie. Ela
nunca se sentiu tão em casa.
─ O que é terrível? - Ele provocou.
─ Azia! Eu adoro picles e tenho azia! É a combinação mais terrível. - Disse ela,
rindo.
─ Não será por muito mais tempo.
Ela respirou fundo e tocou seu estômago. E sorriu gentilmente.
─ Provavelmente deveria ter deixado que nos dissessem se era um menino ou uma
menina. A esposa do Sr. Kemp está me oferecendo um chá de bebê e todos trarão coisas
amarelas.
─ Eu gosto de amarelo. Você não?
Ela sorriu.
─ Eu gosto muito. - Ela estudou seu rosto duro. Havia novas linhas nele. Sua dor
aumentava cada vez mais. Ele passava todas as semanas por quimio e radioterapia. Ela ia
com ele. O curso do tratamento foi intensificado quando sua condição piorou. Ela esperava
que ele vivesse o suficiente para ver o bebê. Ele o esperava com tanta alegria. ─ Ainda não
vou a lugar nenhum. No caso de você estar se perguntando. - Ele acrescentou em um sorriso
suave.
─ Desculpa. Eu me preocupo.
Ele inclinou a cabeça e sorriu para ela.
─ Sou duro como unhas velhas. De jeito nenhum, estou indo antes que o bebê nasça.
Investi muito tempo esperando por ele.
Seu pai estava ansioso também. Todos eles se falavam pelo Skype quase todos os
dias.
─ Papai diz que virá quando o bebê nascer, não importa como.
─ Ele não gosta de viajar, não é?
Ela balançou a cabeça quando terminou o sanduíche.
─ Não, ele odeia isso. Ele tem medo de aviões, mas odeia andar em carros por longas
distâncias, também. Eu não acredito que ele já esteve fora de Catelow, exceto quando esteve
no Exército. Mas foi antes de eu nascer, quando ele e minha mãe se casaram.
─ Sua mãe deve ter sido uma mulher doce.
─ Ela era como papai. - Ela respondeu. ─ Amável, amorosa e gentil. - Ela olhou para
ele. ─ Eu tornei as coisas tão difíceis para ele. O amor é realmente cego. Quero dizer, você
se envolve tão profundamente que não se importa com nada além de estar com a pessoa que
ama.
─ Isso é verdade. - Ele concordou. E sorriu. ─ E, às vezes, leva a crimes horríveis.

99
─ Percebi.
Eles estavam se referindo a um caso em que um homem apaixonado por uma mulher
que não o queria realmente, a sequestrou e tentou forçá-la a se casar com ele. Estavam
defendendo-o, alegando circunstâncias atenuantes. Mas a polícia havia transferido o caso
para os federais, porque sequestro é um crime federal. Isso levaria a um trabalho legal
elaborado para conseguir uma sentença razoável para o homem.
─ Pobre cara. - Disse Colie. ─ E pobre da sua mãe. - Ela fez uma careta. A mãe do
homem ia ao escritório ou telefonava toda semana para os advogados, chorosa e aflita.

***
─ Se você quiser um emprego que não o deprima, evite a lei. - Ele disse com um
sorriso. ─ Nós só vemos as partes tristes, não vemos, querida?
─ Sim. Mas às vezes as pessoas têm sorte.
─ Não quando o governo federal está envolvido. - Ele disse com um suspiro. ─ O
promotor público que está no caso disse que não vai descansar até que nosso cliente esteja
atrás das grades pelo resto da vida.
─ Eu acho que ele nunca esteve apaixonado. - Ela murmurou.
─ Esse cara? - Ele apenas balançou a cabeça. ─ Eu duvido que ele tenha se permitido
um tempo para se envolver com alguém. Ele é estritamente pelas regras. Maldito de um bom
advogado, porém. - Admitiu. ─ Faz a tarefa de casa, tem uma voz elegante e consegue o
melhor para as vítimas.
─Eu ouvi isso.
Ele a estudou com olhos acolhedores e carinhosos.
─ Você está muito cansada esses dias. Eu sei que não ajudo. Toda vez que chego a
casa da quimioterapia, estou muito doente.
─ Eu não me importo. - Ela colocou uma mão sobre a dele. ─ Estamos meio que
cuidando um do outro. Certo?
Ele riu.
─ Eu não tinha pensado nisso assim. - Ele procurou seus olhos. ─ Três meses mais.
Ela sorriu.
─ Três meses mais.
***
O Reverend Thompson recebeu a ligação à meia-noite em uma quinta-feira quente de
agosto. Ele estava esperando, mas quase entrou em pânico quando pensou na longa viagem
de avião.
Incrivelmente, Darby tinha amigos que possuíam um jato particular, e eles o
enviaram para Catelow para levá-lo a Jacobsville. Os primos teriam oferecido, se Colie
tivesse pedido. Também, Sari Fiore. Mas isso era melhor. O amigo de Darby não tinha
conexões em Catelow, ou com J.C. Colie não queria que J.C soubesse sobre o bebê, embora
não tivesse razão lógica.
O piloto acompanhou o reverendo até o avião, acomodou-o e foi vistoriar o aparelho
para se certificar de que o avião estava em condições de voar. Um dos mecânicos no
aeroporto de Jacobsville era da congregação do reverendo. Ele viu o avião decolar e não
pode esperar para compartilhar as novidades. Era um grande problema para o reverendo
inclusive subir em um avião. Mas aparentemente ele tinha conhecidos que possuíam um
jatinho! Ele contou a sua esposa, que disse ao florista, que disse aos advogados da firma
onde Lucy ainda trabalhava. Ela contou a um amigo no restaurante durante o almoço,

100
vagamente consciente de que J.C. Calhoun estava esperando no balcão atrás dela para pegar
o seu pedido e dos seus homens.
─ É tão emocionante! - Lucy disse a sua amiga. ─ Ela não quis saber se era menino
ou menina. Eles dizem que o marido dela tem câncer. - Ela acrescentou com tristeza. ─ Ela
disse que só queria que ele vivesse o suficiente para ver o bebê. Ele está tão radiante quanto
ela sobre isso. E ele é muito rico! Colie nem precisaria trabalhar. Não que ela tenha parado. -
Ela acrescentou com uma risada. ─ Você consegue imaginar Colie ficando em casa e
servindo chás? Ela nunca se importou com o dinheiro.
J.C sentiu seu coração parar. O bebê estava a caminho. Ele trincou os dentes.
Passaram-se alguns meses desde que ele perdeu Colie. Desde que ele a tirou da sua vida, se
corrigiu amargamente. Ela estava casada. Outro homem seguraria sua mão enquanto ela
dava à luz, veria o bebê em seus braços e ajudaria a levantá-lo. Enquanto o homem que
provavelmente o gerou nunca o veria.
Ele deteve o fluxo de pensamentos dolorosos. Rod havia dito categoricamente que o
bebê não era de J.C. Ele trouxe o namorado de Colie para encontrá-lo no aeroporto, quando
J.C. voltou do exterior. Rod tinha chorado pela traição de sua irmã.
Mas Colie nunca enganou ninguém em sua jovem vida. Ela era tão honesta quanto o
dia era longo. Rod, por outro lado, não reconheceria a verdade nem se ela aparecesse e
mordesse o seu traseiro.
Só agora, meses depois de saber inesperadamente sobre a gravidez de Colie e da
solidão da vida sem ela, ele era capaz de pensar racionalmente. Toda a alegria tinha se
esvaído dele, deixando-o frio, como as neves do inverno que tinham sido tão persistentes até
maio. Era agosto agora. Tudo estava em glorioso crescimento em Catelow. Em Jacobsville,
Texas, também, pensou. O filho de Colie viria ao mundo cercado por pessoas que a
amavam, incluindo o marido. Ele se perguntou se alguma vez ela pensava nele, e inclusive
se ela o odiava. Não era mais do que merecia.
Ele esteve sozinho a maior parte de sua vida, havia sido abusado na infância de
maneiras que ele nunca tinha compartilhado com uma alma, nem mesmo com Colie. Ele
havia odiado a ideia de filhos. Agora, quando pensava no bebê de Colie, ficava triste e
deprimido. Se fosse realmente dele, havia feito a eles uma injustiça terrível.
Sim, ela se arranjou bem. Ela tinha um marido que, aparentemente, cuidava bem dela
e dava-lhe qualquer coisa que quisesse.
Colie nunca quis nada, ele lembrou. Ela nem sequer o deixava comprar uma refeição.
Ele estremeceu com a memória. Ele a acusou de ser mercenária, a última coisa que ela era.
A garçonete trouxe seu pedido para o balcão. Enquanto ele pagava, o telefone de
Lucy tocou.
─ É o marido de Colie! - Exclamou Lucy. ─ Sim. - Ela falou ao telefone. ─ Sim, o
Reverendo Thompson está a caminho... o quê? É uma menina! Colie tem uma menininha!
Houve um caos na mesa da Lucy. J.C perdeu sua concentração e teve que procurar
no bolso por mais dinheiro para adicionar à conta. Ele recolheu seu troco, pegou seu pedido
e saiu pela porta em uma névoa.
Uma garotinha. Talvez ela pareça com Colie, com os mesmos cabelos ondulados e os
olhos verdes. Uma menininha que cresceria para ser como sua mãe, doce, gentil e carinhosa.
Ele aguentou a dor. Muito provavelmente era sua filha. Sua filha. Ele parou perto do seu
SUV e fechou os olhos em uma onda de dor que o atingiu como um soco no estômagono.
Ele poderia estar no hospital com Colie, dando as boas-vindas à criança,
confortando-a, animando-a. Mas ela era casada. Ele estava sozinho e distante, como sempre
fora. Ninguém saberia que a menina que acabara de nascer não era filha de seu marido.

101
Mas ele saberia. Ele se culparia enquanto vivesse por negá-la, por não acreditar em
Colie. Por arruinar sua vida, e a dele. E a dor nunca iria parar.

102
10
Colie estava pouco consciente quando colocaram o bebê em seus braços. Tinha sido
um longo e doloroso trabalho de parto. Ela não tinha dilatado o suficiente no final de várias
horas de agonia, então o obstetra tomou a decisão de fazer uma cesariana.
─ É uma menininha, querida. - Darby sussurrou em seu ouvido. ─ Ela é tão bonita!
─ Uma menina. - Ela conseguiu dar um sorriso. Ela sentiu a dor no fundo do seu
coração. As coisas deveriam ter sido tão diferentes. Ela deveria estar casada com J.C. Ele
deveria estar aqui, olhando para a filha, segurando-a pela primeira vez, amando-a. E amando
Colie.
Em vez disso, esse bondoso homem que lhe dera seu nome, era pai pela primeira vez.
Ele estava tendo todas as experiências que pertenciam a um homem implacável que tinha
jogado fora a mulher que o amava, e sua filha, tudo de uma só vez.
As lágrimas escorreram pelo rosto dela. Ela não tinha a intenção de chorar.
─ Dói. - Ela conseguiu dizer, deixando o pobre Darby pensar que era dor física, não
dor emocional, o que provocou as lágrimas quentes.
─ Eu vou dizer a eles. - Ele sussurrou. ─ Tudo está tudo bem agora. Tudo está bem.
Não estava. Nunca estaria.

***
Ela dormiu. quando abriu os olhos, atordoada pelos analgésicos, seu pai estava
inclinado sobre ela. Havia lágrimas em seus olhos.
─ Ela é linda. - Ele sussurrou. ─ Colie, ela parece exatamente com você quando
nasceu. - Disse ele, engasgando.
Ela conseguiu dar um sorriso.
─ Nós íamos fazer Lamaze. - Ela sussurrou. ─ Parto natural. Darby e eu fomos às
aulas.
─ Você nunca pode dizer o que vai acontecer. - Respondeu o pai. ─ Apenas confie
em que Deus sabe o que está fazendo, mesmo quando nós não sabemos. - Ele riu. ─ Seu
pastor também está aqui.
─ Reverendo Blair?
Ele assentiu.
─ Ele veio para vê-la, mas todos concordamos que eu deveria entrar primeiro. - Ele
acrescentou com humor. ─ Todos nós estávamos preocupados.
─ Eu vou ficar bem. - Prometeu. ─ Apenas sonolenta. Eu quero vê-la.
─ Logo. - Prometeu.
Os olhos dela voltaram a fechar.

***
─ Ela realmente é bonita. - Colie engasgou quando colocaram a menininha em seus
braços. ─ Ela é perfeita! - Ela estava tocando os dedinhos das mãos e dos pés, o bonito
narizinho, o cabelo louro-avermelhado na cabeça da criança. ─ Papai, acho que ela vai ser
uma ruiva. - Ela riu.

103
Ele parecia preocupado. Ela sabia o porquê. Não havia ruivos em toda a sua família,
em ambos os lados.
─ Talvez algum ancestral de nossa família. - Disse ela.
─ Gens recessivos. - O reverendo Blair, o pastor da igreja metodista de Jacobsville,
comentou simplesmente, sorrindo. ─ É daí que vêm os cabelos vermelhos e os olhos claros.
Os cabelos castanhos e os olhos escuros são dominantes.
─ Homem inteligente. - Reverend Thompson comentou com um sorriso.
Jake Blair encolheu os ombros.
─ Eu fiz um curso de biologia quando estava no exército, anos antes de ir para o
seminário. Lembro-me de genética.
─ Gens recessivos. - O pai de Colie relaxou um pouco. Ambos estavam lembrando
que J.C já havia dito uma vez que sua mãe tinha cabelos vermelhos e olhos cinza. Nem ela
nem seu pai estavam confortáveis pensando que a criança poderia ser parecida com ela.
─ Eu vivo em Jacobsville, agora, papai. - Colie lembrou a seu pai quando estavam
sozinhos. ─ Mesmo que J.C. a visse, ele nunca pensaria que é dele. Rod lhe disse que outro
homem era o pai. Ele o conheceu no aeroporto quando Rod lhe contou. - Ela ainda estava
amargurada com a traição de seu irmão.
O rosto do Reverendo Thompson estava triste.
─ Ainda não entendo por que ele faria tal coisa.
─ Eu tenho certeza que ele teve seus motivos. - Ela respondeu. Ela não podia dizer a
seu pai o que Rod estava realmente fazendo com sua vida. Não queria colocá-lo em perigo.
Supostamente, Rod estava ainda mais envolvido com o tráfico de drogas do que antes dela
sair da cidade. Sua partida havia assegurado a seu irmão que ela não o entregaria. Esperava
que ele acreditasse nisso. Ela não podia suportar o pensamento de que sua filha estivesse em
perigo.
O reverendo olhou para a criança em seus braços. Ela deu ao bebê o nome de Beth
Louise, por sua mãe. Ela a chamaria de Ludie, o mesmo apelido que sua falecida mãe tinha.
Colie estava alimentando Ludie com uma mamadeira, porque ela estava se recuperando
muito devagar da cesariana e não podia cuidar dela.
─ Eu não disse a você, mas J.C. telefonou.
Seu coração saltou. Ela odiava o prazer que saber disso lhe dava, mas ela se
repreendeu, duramente.
─ Ele telefonou? - Perguntou, tentando parecer indiferente.
─ Sim. Cerca de três semanas depois de você sair da cidade. - Ele suspirou e enfiou
as mãos nos bolsos. ─ Eu não falei com ele. Liguei a secretária eletrônica. - Ele fez uma
careta. ─ Talvez eu não devesse ter feito isso, Colie. Eu sei que ele foi ver a Lucy, também,
tentando encontrá-la.
Teria ele acreditado nela, finalmente? Ele se arrependeu do que havia dito? Ele
queria partilhar as coisas?
Ela se sentiu enrijecer por dentro.
─ Eu disse a Lucy para não lhe dizer para onde eu estava indo. - Disse ela
calmamente. ─ Eu a fiz prometer. - Lucy não havia mencionado que J.C tinha falado com
ela, provavelmente para poupar Colie de mais mágoa. Ela olhou para cima. ─ Eu já tinha te
machucado o suficiente.
Ele parecia culpado.
─ Eu nunca tentei ver as coisas do seu ponto de vista. Eu realmente não acompanho a
evolução. Eu vivo em um mundo onde as pessoas são decentes, onde ser honrado e justo
realmente significava algo. Eu não posso mudar...

104
─ Eu nunca pediria isso a você. - Ela o interrompeu. ─ J.C. recusou-se a acreditar
que eu não tinha mentido para ele. Que tipo de relacionamento teria sido, papai? Se você
ama alguém, se você realmente ama alguém, acredita no que ela lhe diz. J.C nunca confiou
em mim. Ele não confia em ninguém e ele não perdoa. - Ela olhou de volta para o bebê. ─
Eu não acho que ele quis se desculpar. - Disse ela com tristeza. ─ Talvez ele só quisesse ter
certeza de que eu estava bem. - Seu peito subia e descia e ela fez uma careta, porque
qualquer movimento doía. ─ Eu não acredito que ele pense que Ludie é dele, ou que ele a
queira. Ele não é do tipo paternal, e ele disse com muita frequência que nunca quis ter filhos.
─ Eu também acho.
─ Darby quis. - Ela acrescentou, e sorriu. ─ Ele esteve comigo em cada minuto das
aulas de Lamaze, nas consultas com o obstetra, em tudo. - Ela riu. ─ Mesmo quando ele
estava se sentindo tão mal por causa da quimioterapia, ele nunca perdeu uma aula. Ele está
tão entusiasmado com Ludie quanto eu. Foi maravilhoso ter alguém tão atencioso. - Ela
olhou para cima. ─ Ele amava a esposa. E ainda está de luto por ela. Mas o bebê deu-lhe
tanta felicidade. Tenho sorte de tê-lo na minha vida, pelo tempo que lhe reste.
─ Ele é um bom homem. Rezo por ele todas as noites. E por você e Ludie. - Ele
adicionado com um sorriso.
─ Ela não é uma bonequinha? - Perguntou sem fôlego.
─ Lembro-me quando você nasceu. - Recordou ele. ─ Sua mãe e eu estávamos tão
animados. Nós gostamos de Rod, mas também queríamos uma garotinha. Eu queria um bebê
que se parecesse com Louise. - Ele respirou fundo. ─ Você é, minha querida. Você é muito
parecida com ela.
Ela olhou para cima.
─ Também sinto falta dela, papai.
─ É apenas uma pequena separação. - Ele disse filosoficamente. ─ Se acreditarmos
em uma vida após a morte, temos que acreditar que vamos ver nossos entes queridos
novamente. É o que torna a religião tão reconfortante.
─ Eu acho que é sim- . Ela alisou os cabelos encaracolados do bebê. E se perguntou
se o cabelo da mãe de J.C. tinha sido encaracolado como o de Ludie, mas ela refreou o
pensamento. ─ Eu tenho que tirar algumas fotos para enviar para Lucy...
─ Eu posso fazer isso agora. O reverendo tirou seu iPhone e começou a fotografar,
sorrindo o tempo todo.

***
Lucy estava mostrando as fotografias para seus amigos no restaurante. J.C acabara de
terminar seu bife e salada e estava saindo quando ouviu a mulher falando sobre o bebê de
Colie.
Ele parou ao lado da cadeira, hesitando, como nunca o fez antes.
─ Posso? - Perguntou solenemente.
Lucy, surpresa, levantou o telefone com a foto de Colie segurando a pequena Ludie.
Ele apertou o queixo. A criança era a imagem de sua mãe, mesmo naquela tenra idade. Ele
nunca sentiu tal dor emocional em toda a sua vida, nem mesmo durante a infância. Ele sabia,
sabia que o bebê era dele agora. Rod tinha mentido. Por que Rod mentiu?
─ Ela é muito bonita. - Ele disse em voz baixa. ─ Que nome Colie lhe deu?
─ Beth Louise. - Respondeu Lucy. ─ Mas ela e Darby vão chamá-la de Ludie. Era o
apelido da mãe dela.
Ele apenas assentiu. Olhou longamente para a foto pela última vez e devolveu o
telefone com um sorriso idiota em lábios cincelados. Ele se virou e saiu do restaurante. As

105
pessoas fofocariam sobre isso. Ele não deveria se importar. Colie se casou com outra
pessoa...
A criança era linda. Cachos vermelho-dourados e olhos claros. Havia algo de Colie
na forma de sua pequena boca. Ela tinha dedos longos. Sua mãe também os tinha, ela tocava
piano clássico.

***
Ele entrou no SUV, magoado. Se precisasse de confirmação de que a criança era sua,
ele a tinha agora. Mas foram meses muito tarde. Meses tarde demais.

***
Colie saiu do hospital na semana seguinte. O bebê lhe dava tamanha alegria que, em
grande parte, ela ignorou a dor dos pontos e da incisão, mas Darby insistiu em ter uma
enfermeira para ficar com eles.
Era também para seu benefício, argumentou, porque ele voltou a fazer químioterapia
e estava perdendo terreno. Ele tinha que fazer transfusões de plaquetas todos os dias, para
minimizar as consequências da químioterapia. Sua condição piorou. Ele estava magro e
pálido e, apesar de tentar esconder, não estava realmente bem o suficiente para ir ao
escritório.
Uma manhã, ele faltou. O hospital telefonou para perguntar onde ele estava. Ele
perdeu a marcação da transfusão. Colie não sabia. Ela se preocupou até ele chegar em casa.
Ele estava calado e sombrio. Entrou no quarto dela, parando um tempo para olhar o
bebê dormindo na cama ao lado da dela antes de parar junto a cama.
─ Eu tomei uma decisão. - Ele disse suavemente. ─ Você não vai gostar. - Ela olhou
para ele, esperando, triste.
─ Eu vou parar as transfusões. - Ele levantou uma mão. ─ Colie, há qualidade de
vida e quantidade de vida. Elas não são compatíveis. Estou doente o tempo todo, com dor o
tempo todo. Eu não posso mais trabalhar. Você e o bebê tornam a minha vida suportável,
mas o câncer está crescendo. Você deve poder ver que não posso continuar por muito mais
tempo. É apenas prolongar o inevitável. É apenas tornar o processo mais difícil.
Ela respirou dolorosamente. Ela gostava do marido.
─ Não vou fingir que concordo com você. - Disse ela. ─ Eles estão sempre
desenvolvendo novos métodos e drogas o tempo todo .
─ Nada disso chegará a tempo para mim. Falei com o oncologista ontem. Não lhe
contei. - Ele sentou-se ao lado da cama. ─ Talvez três meses, no máximo, Colie. Isso foi o
que ele disse.
Ela estava vivendo um dia de cada vez, sem pensar em quão inevitáveis realmente as
coisas eram. Seus olhos lacrimejaram.
─ Três meses?
Ele assentiu. E afastou os cabelos desgrenhados dela.
─ Eu aproveitei viver isso com você. - Acrescentou. ─ A chegada do bebê. - Ele
sorriu tristemente. ─ Maria e eu queríamos tanto crianças! Esperar por Ludie até me fez
suportar a dor. Mas está piorando. Eventualmente, eles terão que me drogar tanto para
controlar a dor que eu não vou nem mesmo saber o que está acontecendo ao meu redor..
Ela estremeceu.
─ Eu tenho o privilégio de ter você na minha vida, Colie. - Disse ele. ─ Mas tudo
acaba.

106
Ela passou a mão sobre a dele.
─ Obrigada. - Ela disse com sinceridade. - Por tornar a minha vida suportável. Por
dar um nome ao meu bebê.
Ele sorriu.
─ Foi uma alegria diária. Mas é hora de desistir.
Ela não lutou contra as lágrimas.
─ Eu vou estar com você a cada minuto. Até o fim.
─ Eu sei disso.

***
Quando Ludie tinha dois meses de idade, uma enfermeira especializada doentes
terminais teve que ser contratada para ajudar a cuidar de Darby. Ele estava cada vez mais
fraco. Pelo menos, pensou Colie, havia muito dinheiro para cuidar de qualquer coisa que
precisasse. Depois que a conta do hospital e todos os médicos fossem pagos, haveria um
enorme buraco em suas economias. Ela não se importava.
Ela sempre trabalhou para viver. Não importava se não sobrasse um centavo, desde
que ele tivesse tudo o que poderia facilitar o pouco que lhe restava de vida.
Uma chamada telefônica repentina a perturbou ainda mais. Seu pai foi levado para o
hospital para uma cirurgia de emergência. Ele estava muito mal.
Ty e Annie Mosby tinham ido a uma exposição de cães, ou ela teria pedido a sua
ajuda. Então, Colie telefonou para sua amiga Sari Grayling Fiore, que era irmã da esposa de
Ren Colter, Merrie de Catelow, e implorou um lugar no jato Grayling para chegar ao pai
com o bebê.
─ Eu posso conseguir um vôo comercial, mas Darby não pode vir comigo, ele está
tão doente...
─ Você nem pense nisso. - Interrompeu Sari. ─ Eu vou ter o avião e o piloto
esperando por você no aeroporto. Quão ruim é?
─ Eu não sei. - Disse Colie miseravelmente. ─ Eles disseram que seu apêndice tinha
supurado. Eu não sei o que isso significa, mas parece horrível!
Sari sabia. Ela não disse.
─ Você vai chegar lá o mais rápido possível. Vou ligar e providenciar um carro para
esperar você no aeroporto em Catelow para levá-la direto ao hospital.
─ Você é tão gentil. - Colie quebrou.
─ Você é tão gentil. - Foi a resposta suave. ─ Todos nós te amamos, Colie. Sinto
muito por Darby. Nós ouvimos que ele está piorando.
─ Muito rápido. - Foi a resposta chorosa. ─ Oh, eu odeio deixá-lo, mesmo por um
dia, mas eu tenho que saber sobre o papai. Ninguém pode encontrar Rod. - Ela acrescentou
friamente.
─ Seu irmão?
─ Meu irmão.
─ Talvez ele apareça. - Sari disse lentamente.
─ Eu estarei lá, de qualquer maneira. Muito obrigada. Devo-lhe essa!
─ Não, você não deve. Pegue um táxi para o aeroporto. Morales funciona vinte e
quatro horas por dia.
─ Eu sei. Vou telefonar para ele agora. E obrigada!
─ Sem problema.
***

107
Ela ligou para Jack Morales, um ex-policial de San Antonio que decidiu que dirigir
um serviço de táxi que funcionava vinte e quatro horas por dia em Jacobsville era menos
estressante do que sua antiga profissão.
─ Eu odeio acordá-lo às 2:00 da manhã. - Começou Colie.
─ É para isso que estou aqui. - Ele riu. ─ Eu estarei aí em cinco minutos.
─ Obrigada.

***
Ela beijou Darby e explicou para onde estava indo. Ele estava drogado, mas apertou
sua mão.
─ Tenha cuidado. Diga ao seu pai que eu disse olá e desejo sua melhora.
─ Eu voltarei assim que puder. Eu prometo.
─ Eu sei. Minha doce menina.
Ela lutou contra as lágrimas quando pegou Ludie, a bolsa de fraldas, e sua pequena
bolsa de mão, falou com a enfermeira e saiu pela porta.

***
O hospital de Catelow estava tranquilo nessa manhã. Colie sentou-se na sala de
espera com Ludie enquanto o cirurgião operava em seu pai.
Ela estava lá há pouco tempo quando ele saiu, sorrindo.
─ Nós conseguimos operá-lo a tempo. - Disse ele, sorrindo para o bebê. ─ Ele ficará
bem.
─ Oh, graças a Deus. - Ela murmurou, lágrimas rolando por suas bochechas. ─ Eu
estava tão assustada!
─ Ele não estava, o que causou o problema. - O cirurgião riu. ─ Ele teve uma dor
terrível no estômago, mas de repente parou. Ele tentou cancelar a ambulância que chamou,
mas quando ele lhes contou o quanto melhor estava, eles o carregaram e o trouxeram até
aqui. Do jeito que estava, eles quase não chegaram a tempo. - Ele se inclinou para a frente.
─ Eu peguei o que restava de seu apêndice com uma colher, falando figurativamente!
─ Mesmo?
Ele assentiu.
─ A ausência de dor significava que o apêndice tinha supurado. - Ele balançou a
cabeça. ─ Uma vez eu tive um paciente que morreu, porque achou que estava melhor e não
ligou para uma ambulância a tempo. Lição dolorosa sobre o apêndice e seu mau
funcionamento.
─ Suponho que sim. Papai vai ficar bem?
Ele sorriu.
─ Sim ele vai. Quando ele for para a recuperação, eu vou deixar você vê-lo. - Ele
olhou para o bebê. ─ Menino ou menina?
─ Uma menininha. - Disse ela. ─ Ela faz dois meses hoje.
─ Bonito cabelo.
─ Eu também acho. - Ela hesitou. ─ Eles vão me deixar entrar com o bebê?
─ Vamos pedir a um dos voluntários do hospital que sente e a segure para você. - Ele
prometeu. Não se preocupe.

***

108
Ele foi ver seu pai enquanto uma enfermeira aposentada que fazia trabalho voluntário
no hospital sentou na sala de espera com o bebê.
─ Você sabe que me assustou. - Ela o repreendeu enquanto o Reverendo Thompson
abria os olhos e a olhava alegremente.
Ele conseguiu dar uma risada.
─ Desculpa. Eu acho que não sabia tanto sobre apendicite quanto pensei que
soubesse.
─ Bom que os paramédicos sabiam. - Ela apontou.
─ Trouxe Ludie com você?
─ Eu trouxe. Ela está na sala de espera com uma enfermeira. Eu tive que deixar
Darby. Ele está muito mal. Realmente mal. Temos uma enfermeira agora.
─ Sua vida tem sido uma tragédia contínua, minha querida. Eu esperava algo mais
feliz para você.
Ela se curvou e beijou sua testa.
─ Fazemos coisas e depois pagamos por elas. - Disse ela simplesmente. ─ Assim é a
vida.
─ Eu suponho que sim. Mas Deus nos ama, não importa o que façamos.
Ela sorriu.
─ Isso, eu sabia. - Ela riu.
─ Você não pode ficar muito tempo. - Ele supôs.
Ela assentiu.
─ Até você sair do hospital e eu achar uma enfermeira. - Ela disse. ─ Então eu tenho
que voltar. Nós temos uma enfermeira ficando com Darby.
─ Eu sei que você odeia deixá-lo. Você poderia ir agora...
─ Depois que você estiver em casa. - Ela repetiu.
─ Eu não preciso de uma enfermeira, você sabe. É apenas uma apendicectomia.
Perguntei ao médico.
Ela queria discutir, mas a expressão dele lhe dizia que não seria bom.
─ Ok, então. - Disse ela, sorrindo para ele.
Ele suspirou.
─ Rod não veio para casa esta semana. Ele ligou e disse que ele e seu amigo tinham
negócios em Denver. Grandes negócios. Ele não disse o que era. Não tenho certeza de que
ele ainda esteja trabalhando na loja de ferragens.
─ Ele provavelmente tem outras coisas em mente para fazer. - Era tudo o que ela
diria.─ Talvez ele tenha encontrado uma nova carreira. - Ela acrescentou, e tentou evitar o
desprezo no seu tom.
─ Eu suponho que sim.
─ Eu vou voltar para a casa agora, mas vou venho ver você mais tarde. preciso
alimentar Ludie.
─ Tudo bem.
Ele fechou os olhos e voltou a dormir.

***
A casa estava exatamente como Colie se lembrava, mas empoeirada. Ela desdobrou o
bebê-conforto como uma cama de bebê e colocou os poucos potes de comida para bebê e
leite que ela trouxe na geladeira. Se ela ia ficar hospedada ali até que seu pai fosse liberado,
provavelmente dois dias, segundo o cirurgião, ela teria que fazer compras.

109
***
Ela telefonou para Lucy, que estava de folga no sábado à tarde e pediu-lhe que
cuidasse de Ludie enquanto visitava seu pai. Lucy apareceu, ansiosa por ver o bebê.
─ Deus, ela realmente é uma boneca! - Exclamou ela. ─ Olhe para esse cabelo!
Colie fez uma careta.
─ Eu acho que há uma ruiva na sua árvore genealógica, hein? - Lucy continuou,
desconhecendo o desconforto de sua amiga.
─ Em algum lugar. - Disse Colie. ─ Não vou demorar.
─ Tudo bem. Ludie e eu nos daremos bem!
─ Obrigada, Lucy.
─ Isso é o que os amigos fazem uns pelos outros. Se eu algum dia ficar grávida, e eu
espero, um dia ficar, você pode fazer o mesmo por mim, quando você estiver visitando seu
pai. - Ela disse com um sorriso.
─ Conte com isso. - Prometeu Colie, sorrindo.

***
─ Merrie diz que a sua irmã, Sari Fiore, mandou Colie até aqui no jato familiar. -
Ren observou enquanto ele e seu chefe de segurança estavam tomando café no meio da
manhã.
A mão de J.C. tremeu um pouco sobre o copo. Fora isso, ele não deu nenhum sinal
de que a notícia o afetou.
─ Ela mandou? Por quê?
─ O pai dela teve que fazer uma apendicectomia de emergência. - Respondeu Ren.
Ele olhou para cima. ─ O marido de Colie está nos estágios finais do câncer. Eles têm uma
enfermeira em casa com ele.
J. C. fez uma careta.
─ Isso deve ser difícil.
─ Minha mãe passou pelo tratamento de câncer. - Lembrou Ren. ─ Não foi há tanto
tempo assim para eu esquecer o quanto foi dificil para ela. E para nós. Mas seu prognóstico
era melhor. Ela se recuperou e o câncer não voltou.
J.C assentiu com a cabeça. Ele olhou para o copo de café.
─ Ela trouxe o bebê com ela?
─ Sim.
Ele não admitiria, não podia admitir, quão desesperadamente ele queria ver a criança.
Ele forçou a sua mente a outro assunto. Ren o obrigou a isso por não oferecer mais
informações.
Mais tarde, no mesmo dia, J.C teve que parar na mercearia para comprar pão para
Delsey, a cozinheira do rancho de Ren.
No meio do corredor, estava Colie, com o bebê em seus braços, olhando bolachas.
Ele parou, esperou até que ela o visse. Quando ela o fez, todo o seu corpo parecia pular.
Ele estava tão consumido pela culpa que estava cego à alegria involuntária que ela sentia ao
vê-lo.
Ele se aproximou, desconfiado das pessoas próximas. Mas era meio da tarde e a
maioria dos fregueses estava trabalhando. Havia poucos clientes na pequena mercearia no
momento.
─ Como está seu pai? - Ele perguntou.
Ela engoliu em seco, com dificuldade.

110
─ Ele está muito melhor. Eles vão deixá-lo voltar para casa, depois de amanhã.
─ O que aconteceu?
─ Apendicite. - Disse ela. ─ Seu apêndice supurou. Ele não percebeu até quase ser
tarde demais.
Ele assentiu. Seus olhos estavam no bebê em seus braços. Ele mal conseguia afastar
o olhar da criança. Cabelos vermelhos-dourado como os de sua mãe. Então ela abriu os
olhinhos e olhou para ele. Mesmo naquela idade, ele podia dizer que seus olhos ficariam
cinzas, como os dele. Como os de sua mãe. Seu rosto se contorceu.
─ Eu só posso ficar até amanhã. - Disse ela, odiando o rouquidão em sua voz. ─
Darby está muito mal. Temos uma enfermeira ajudando com seus cuidados, mas eu ainda
preciso estar lá. - Ela fez uma pausa. ─ Ele foi muito gentil comigo.
Ele estava respirando asperamente, tentando controlar suas próprias emoções. Ele
enfiou as mãos nos bolsos.
─ Gentil, quando eu não fui. - Ele disse bruscamente.
Ela desviou os olhos para as prateleiras e pegou uma caixa de biscoitos cream craker,
o favorito de seu pai. Ela pegaria queijo quando fosse à seção de laticínios. Seu pai adorava
seus lanchinhos à meia-noite. Ele a mandava comprar.
─ Você já viu Rod? - Perguntou ela, para ter algo para dizer.
─ Se eu tivesse, provavelmente seria na página policial nos jornais locais. - Ele
rangeu o dentes.
Ela olhou para ele, surpresa. Seus olhos procuraram os dele. Ela teve que baixá-los.
O contato estava desfeito.
─ Você já ouviu falar dele? - Ele perguntou.
─ Não. Papai disse que ele não aparece em casa há mais de uma semana. Ele disse
que ele e seu amigo tinham grandes negócios em Denver. - Ela acrescentou amargamente.
─ Ele está envolvido em algo. - Disse J.C. ─ Eu não sei o que, mas há fofocas.
Ela colocou os biscoitos no carrinho de compras. Ela tinha o bebê descansando na
parte superior dele, no seu bebê-conforto, mas Ludie tornou-se exigente, então ela a pegou
rapidamente.
─ Você sabe algo sobre Rod. - J.C. adivinhou, e com tanta precisão que ela levantou
a cabeça. A culpa estava estampada por toda parte. ─ O que você sabe?
─ Não posso te dizer. - Disse ela. E baixou os olhos. ─ Eu tinha planejado...
─ E você disse a Rod que ia me contar. - Ele adivinhou friamente. ─ Então ele
encontrou uma maneira infalível de tirá-la da minha vida.
Os olhos dela registraram seu choque.
Ele assentiu lentamente. Seu rosto estava retesado.
─ Eu finalmente entendi. Não a tempo de fazer algo de bom para nenhum de nós. -
Ele respirou fundo. ─ Eu deveria ter contado sobre minha infância, Colie, sobre as
experiências que me ensinaram a nunca confiar em ninguém.
Ela não respondeu. Ele mantinha segredos. Ela morou com ele por várias semanas, e
nunca conseguiu conhecê-lo.
Os olhos dele se estreitaram.
─ E você deveria ter me dito que era virgem. - Ele acrescentou, registrando seu rubor
escarlate. O sangue aquela primeira primeira vez, que ele achou ser o início do seu período
menstrual, a sua aversão pelo sexo, finalmente acabou fazendo sentido em sua mente. ─
Pelo amor de Deus! - Ele exclamou. ─ Eu poderia ter lido um livro, ou algo assim. Eu
poderia ter aprendido o que fazer... - Ele parou, inseguro.
Ela se perguntava se ele algum dia resolveria esse quebra-cabeça. Agora ele tinha
resolvido. Tantas revelações surgiram, em uma mercearia em Catelow, no meio de um dia

111
normal. E nada disso importava. Nada disso fazia a menor diferença em suas vidas. Ele
suspirou. ─ Maldição, Colie. - Ele disse meio em voz baixa. ─ As únicas mulheres com
quem já estive eram experientes, e gostavam de sexo rude. - Ele desviou os olhos. ─ Nós
agimos como nos ensinam.
Ela se lembrou da prostituta por quem ele tinha se apaixonado há tantos anos atrás e
raciocinou que aquela mulher provavelmente não gostava muito de sexo, mas fingia, pelo
dinheiro. Agora as coisas começavam a fazer sentido para ela.
─ Agora são águas passadas. - Disse ela calmamente. ─ Eu estou casada, J.C.
Seu rosto revelou pouco, mas sua mandíbula retesou. Ele não a olhava.
─ Eu estou contente por ele ser bom para você.
─ Ele e sua primeira esposa não podiam ter filhos. - Confessou. ─ Ele estava tão
entusiasmado com Ludie. Ele esteve comigo a cada passo, até na cesariana...
─ Cesariana! - Exclamou.
─ Algo deu errado. Eles não tem certeza do que. - Ela respondeu. ─ Foi difícil por
algumas semanas, mas estou me recuperando. Darby contratou uma enfermeira para ficar
conosco, para ajudar com Ludie enquanto eu me recuperava. Agora ela está ficando porque
ele não pode ficar sozinho. - As lágrimas ameaçavam cair. ─ É raro, pessoas como ele, no
mundo. Ele não pede nada. Ele apenas dá.
─ Meu oposto total. - Ele respondeu rapidamente. ─ Eu nunca dei nada. Assim como
meu pai, onde quer que esteja.
Ela estudou seu rosto duro.
─ Você não perdoa as pessoas, J.C. Foi uma das primeiras coisas que aprendi sobre
você. - Ela sorriu com tristeza. ─ Você não me perdoaria.
─ Eu não sabia. - Disse ele com voz rouca.
Ela apenas olhou para ele.
─ Rod nunca disse uma verdade em sua vida, e eu nunca disse uma mentira. Mas
quando chegou a hora de escolher em quem acreditar, ele foi o único em quem você
acreditou.
─ Porque eu estava... - Ele fez uma pausa. Ele queria dizer "com medo", mas era
uma fraqueza. Ele tinha aprendido em sua vida a nunca mostrar fraqueza para ninguém. ─
Eu não queria uma família. - Ele corrigiu.
─ Sorte sua. - Ela respondeu. ─ Seu desejo foi atendido.
Ele olhou para a criança, que estava olhando para ele. Era estranho, havia algo como
reconhecimento naqueles olhos cinzas. Era como se a criança o conhecesse. Ele se
repreendeu mentalmente. Agora ele estava tendo delírios.
─ Ela é uma criança bonita. - Ele observou calmamente.
─ Ela é um bom bebê. Ela quase nunca chora, e quando faz, é porque está com fome
ou precisa trocar a fralda.
─ Você sempre quis filhos.
Ela assentiu, sorrindo tristemente.
─ E você nunca quis. Nunca teria funcionado. Além de tudo isso, meu pobre pai
tinha ficado envergonhado pelo meu comportamento. Eu espero que as fofocas tenham
diminuído desde que saí da cidade. Especialmente desde que me casei.
─ Todo mundo acha que a criança é do seu marido. - Ele disse com mais amargura
do que percebeu.
─ Claro que ela é. - Ela respondeu sem olhar para ele.
Ele sentiu as palavras como um duro golpe, até que percebeu que ela não queria dizer
isso. Ela estava se comportando como uma fugitiva, recusando-se a olhar para ele enquanto
contava uma mentira.

112
Ele não podia admitir o que tinha descoberto. Ele não queria deixá-la mais
desconfortável do que já estava.
─ Eu vi o anúncio do casamento no jornal. - Disse ele. ─ Lucy recebeu fotos do bebê
quando ela nasceu. Eu estava na cafeteria. Ela mostrou para mim...
Colie olhou com tanta dor nos olhos que ele parou o que estava dizendo e apenas
olhou para ela.
─ Eu arruinei tudo. - Ele disse, meio em voz baixa enquanto olhava de Colie para o
bebê em seus braços.
─ Não importa agora. - Disse Colie calmamente. ─ Darby sempre diz que ontem é
uma lembrança e amanhã é uma esperança, que tudo o que realmente temos é agora, hoje. -
Ela sorriu. ─ Ele está certo.
Ele percebeu um homem mais velho empurrando um carrinho de compras pelo
corredor.
─ Eu tenho que ir. - Ele disse, pegando o pão que ele havia sido enviado para
comprar. ─ Delsey ficou sem pão, então ela me enviou para pegar um pão para fazer
sanduiches.
─ Sari fez o jato Grayling me trazer aqui e me levar de volta. - Observou ela. ─ Teria
sido difícil chegar sozinha com o bebê e todas as coisas dela. Bolsa de fraldas, mamadeiras,
fórmulas. - Ela acrescentou com uma risada ofegante.
─ Você não a amamenta? - Ele perguntou suavemente. Então seu rosto retesou. ─
Claro que não. Não depois de uma cesariana.
Ela estava curiosa.
─ Como você sabe sobre elas?
─ Merrie teve que fazer uma, com seu filho. - Ele respondeu. ─ Ren ficou selvagem.
Eu tive que esconder todas as garrafas de uísque.
Ela conseguiu dar um sorriso.
─ Darby disse que nunca mais estava tentado a tomar uma bebida. Ele não pode
tolerar o álcool.
Ele odiava a menção de seu marido. Ele odiava o mundo inteiro. Lá estava ela, a cor
e a luz de sua vida, com sua filha nos braços, e ele era um estranho, um espectador. Isso era
tudo o que podia ser agora.
─ A vida não tem um botão de reset. - Ele observou severamente. ─ Deus me ajude,
eu daria qualquer coisa para que tivesse. - Ele acrescentou, seus olhos em Ludie enquanto
estremecia.
Colie, consciente de que o Senhor mais velho se aproximava com seu carrinho,
apenas sorriu.
─ Diga a Sari que eu aradeço por tudo. - Disse ela. ─ E que vou para casa pela
manhã, cedo, se não houver problema. Ela está deixando seu piloto me levar de volta no
jato.
Ele assentiu.
─ Eu vou dizer a ela. - Ele voltou um passo. ─ Seja feliz, Colie. - Ele disse
suavemente. Ele tinha que tirar os olhos dela. ─ Diga ao seu pai, que eu espero que ele fique
bem.
─ Eu digo. Adeus, J.C. - Ela disse com mais sentimento do que percebeu.
Ele não podia olhar para elas. Ele estava muito destroçado por dentro, muito
machucado por seu próprio comportamento que roubara a família que Darby Howland agora
tinha.
─ Adeus, Colie. - Ele disse no que ele esperava que fosse apenas um tom agradável.
Ele assentiu educadamente para o cavalheiro mais velho, que correspondeu e sorriu em

113
retribuição. Ele saiu da mercearia, sentindo como se estivesse arrastando seu coração atrás
dele pelo chão.
Colie o viu ir, a caminho da saída. Ele não olhou para trás nem uma vez. Ela sorriu
com tristeza. Nada mudou. Nada mesmo.

114
11
Colie ficou só o tempo suficiente para ver o pai voltado para casa antes de levar
Ludie ao aeroporto e embarcarem no jato particular que as levaria de volta a Jacobsville.
Durante o longo voo, ela lembrou a conversa estranha com J.C. Ele sabia que Ludie era
dele? Ela pensou que ele devia saber. Ele não tinha sido claro ou qualquer coisa do tipo,
mas insinuou.
Ela se permitiu, por um minuto, perguntar-se o que aconteceria se ele estivesse
recuperado a lucidez mais cedo, se ele tivesse sido capaz de falar com Colie antes dela se
casar com Darby. Mas J.C tinha sido inflexível em não querer crianças. Talvez se ele
soubesse que a criança era dele, teria pedido a ela para não tê-la.
Ela olhou para a filha dormindo em seus braços e não se arrependeu de nada. Ludie
era tão preciosa. Todo o dia trazia uma nova alegria, uma nova surpresa, na vida de Colie.
Ela desejava ter vivido uma vida convencional, que não tivesse dado um mau passo. E
desejou que J.C tivesse sido mais honesto, mais aberto com ela. Algo aconteceu com ele,
algo muito ruim, que o ensinou a não confiar nas pessoas.
Ela se perguntou o que poderia ser. Ela sabia que a mãe tinha morrido quando ele
tinha dez anos, que ele foi colocado em casas de acolhimento até que terminou a escola. Foi
em uma delas que ele teve algo traumático? Isso poderia explicar o ódio pelo pai, sua recusa
em tentar entrar em contato com o homem que era seu único parente vivo. J.C. não
considerava que as pessoas tivessem motivações, razões para a forma como se comportaram.
Isso explicava muito. Ele via as coisas em preto e branco, nunca em tons de cinza.
Colie estava triste por ele. Ele estaria sozinho por toda a vida. Sua filha cresceria no
Texas, com o nome de outro homem. Tudo isso, porque J.C nunca confiou em Colie. Isso a
deixou triste.
Pensar em Darby a deixou mais triste ainda. Ele estava perdendo terreno. Não duraria
muito mais. Mas ela faria seu tempo restante tão feliz quanto podia, decidiu.
Ela olhou para a filha e sorriu. Os olhos cinzentos de Ludie estavam abertos, olhando
para ela. Ela fez um trejeito que parecia duvidosamente com um pequeno sorriso. Ela se
perguntou se os bebês podiam sorrir nessa idade. Ela teria que perguntar ao médico quando
chegasse em casa.

***
Ren notou quão preocupado J.C. estava.
─ Sua mente não está no trabalho. - Ele disse secamente.
J.C sacudiu a cabeça.
─ Ela trouxe o bebê com ela. É uma criança linda. - Acrescentou, as palavras quase
foram arrancadas dele.
─ Merrie queria vê-lo, mas nosso filho teve uma infecção no ouvido. Ela ficou muito
ocupada. - Ele riu. ─ Eu também. Nós dois nos levantamos com ele a noite, ainda, se ele
chora. Eles dizem que os dois primeiros anos são gastos principalmente nas salas de espera
do médico. Os bebês ficam doentes por todos os tipos de razões, apesar das imunizações que
eles tomam.

115
─ Merrie os fez diminuir a quantidade de vacinas por vez, não é? - Ele perguntou
distraidamente.
─ Nós dois fizemos. - Ren respondeu. ─ Eles têm que tomar as vacinas, mas não vou
deixar ninguém dar todas de uma só vez. Mesmo quando levamos o cachorrinho ao
veterinário, nós os fazemos diminuir a quantidade de vacinas por vez. Medida de segurança.
- Acrescentou. ─ Eles não conseguem prever as interações de tantas vacinas ao mesmo
tempo. Pelo menos, não estou convencido de que possam. Nós estamos pecando por excesso
de cautela.
─ Pais. - J.C. riu. Mas seus olhos estavam tristes. ─ Isso é algo sobre o qual nunca
saberei. - Ele acrescentou um pouco rigidamente.
─ Como está o pai de Colie, ela disse? - Ren perguntou, mudando de assunto.
─ Ele está indo muito bem. - Ele respondeu. E hesitou. ─ Eu estou de folga sábado.
Achei que poderia ir e visitá-lo. Se ele me deixar passar pela porta.
─ O Reverendo Thompson não é assim. - Comentou Ren, porque ele, Merrie e seu
filho frequentavam a igreja Metodista local. ─ Ele nunca guarda rancor e sua porta está
sempre aberta.
J.C pensou sobre isso.
─ Vou levar frutas frescas. Colie costumava dizer que ele adorava mais do que
qualquer coisa.
Ren sorriu.
─ Oferta de paz? Não é uma má ideia.
J.C. riu da ideia de maçãs compensando todo o constrangimento que causara ao
reverendo. Ele podia não passar pela porta. Mas ele ia tentar.
─ Delsey fez uma grande panela de sopa. - Disse Ren. ─ Leve um pouco, em vez de
frutas.
J.C sorriu.
─ OK. Obrigado.

***
Darby estava piorando rapidamente. Colie contratou outra enfermeira para cuidar do
bebê, porque Darby era agora um trabalho em tempo integral para a enfermeira que eles
tinham.
Colie não precisava dizer o quão ruins estavam as coisas. Eles tinham que dar a
Darby doses maciças de analgésicos para minimizar a dor. Ele dormia a maior parte do
tempo. Quando acordava, Colie estava sempre ao lado da cama, noite e dia.
─ Nunca vou poder te agradecer o suficiente, por tudo o que você fez por mim. - Ele
disse com um fio de voz durante um dos seus períodos lúcidos.
─ Isso funciona de ambos os lados. - Ela apertou sua mão. Estava tão magra e fria. ─
Você tornou a vida suportável para mim.
─ Me desculpe por ter que deixá-la. - Disse ele suavemente. ─ Mas eu estarei com
Mary, você sabe. - Ele sorriu. ─ Eu a vi. Ela estava aqui na noite passada, sentada junto à
cama enquanto você dormia umas duas horas. Ela sorriu para mim. - Ele fechou os olhos,
mal ciente do olhar impressionado de Colie. ─ Ela vai me levar para casa, quando for a hora.
Eu não estou com medo. Agora não...
Colie tinha ouvido toda a sua vida que a pessoa que mais te amou na vida viria
buscá-la, quando você morresse. Ela tinha estado com sua mãe quando chegou o fim, e sua
mãe viu sua própria mãe, parada na entrada, sorrindo, no dia anterior a sua morte.

116
Era um lembrete, um lembrete doce, que a vida continuava, mesmo quando parecia
que a pessoa que você amou se foi para sempre. Havia outras histórias que ela lembrava
desde a infância, de outras pessoas que tinham visto entes queridos no final. Era
reconfortante. Ela sabia o quanto Darby amava sua esposa. Fez-lhe feliz que ele estava
antecipando um encontro alegre.
Ela tirou um tempo para alimentar o bebê, enquanto a enfermeira estava sentada com
Darby. A outra enfermeira tinha ido à farmácia para comprar material que precisava para
cuidar de Darby.
Tinham passado apenas cinco minutos quando a enfermeira entrou na sala, o rosto
em linhas rígidas, os olhos vermelhos. Ela tinha se afeiçoado a Darby pelo tempo que estava
com eles, embora fosse profissional o suficiente para não demonstrar um deslize de emoção,
normalmente.
─ Sra. Howland? - Ela disse suavemente. E respirou fundo. Isso nunca era fácil. ─
Ele se foi.
Mesmo que estivesse esperando, Colie ofegou e sentiu o sangue se esvair do rosto.
─ Mas eu estava agora mesmo com ele!
─ Sinto muito. - A enfermeira acrescentou calmamente. ─ Ele apenas respirou fundo
e acabou, só assim, rapidamente. - Ela hesitou. ─ Você sabe que ele assinou um termo de
não ressussitação, que ele não queria que tentássemos trazê-lo de volta, se... -Acrescentou.
─ Sim eu sei. Está tudo bem. Segure o bebê, por favor. - Disse Colie, levantando-se.
Ela entregou a mamadeira e Ludie para a enfermeira e voltou para o quarto de Darby.
Parecia que ele estava dormindo, exceto pela estranha cor que aparecia em suas
feições. Ela se sentou ao lado dele na cama. O rosto dele, quando ela o tocou, ainda estava
quente.
─ Mary veio buscar você, não é? - Ela sussurrou enquanto as lágrimas escorriam de
seus olhos e desciam, salgadas, nos cantos de sua boca. ─ Estou feliz por você, Darby. Mas
vou sentir sua falta. Obrigada. Obrigada por tudo o que você fez por mim.
Ela se curvou e beijou sua testa. Era difícil se levantar e deixá-lo. Ela teve que
lembrar a si mesma que agora ele era apenas uma concha vazia. Darby estava em algum
lugar em um prado, pegando flores silvestres com Mary, rindo. Ela manteve essa imagem
em sua mente quando voltou para encontrar a enfermeira. Haveria muito o que fazer agora.

***
O funeral foi muito bom. Darby era um veterano de guerra, então havia uma guarda
de honra dos veteranos locais de guerras estrangeiras, e uma salva de vinte e um tiros, bem
como uma bandeira americana colocada sobre o caixão. Foi um serviço emocionante para
Colie, cujo funeral da mãe ainda estava bastante fresco em sua mente, apesar dos anos desde
que ela morreu.
Seu pai havia dito a ela uma vez que os funerais se tornaram mais difíceis à medida
que as pessoas envelheciam, porque cada um trazia lembranças de todos os antigos. Eles se
amontoavam na mente como um pesadelo, ecoando a dor das perdas passadas. Mesmo
quando você acreditava em uma vida após a morte, como ele fazia, ainda era difícil. Ele
presidiu quase todos os funeral das pessoas em sua congregação.
Ele estava sentado ao lado de Colie agora, no banco da frente, enquanto outro
ministro, Jake Blair, falava sobre Darby e sua importância para a comunidade e sua
população.
Colie estava com o bebê no colo. Ludie estava muito quieta, brincando com um
chocalho de bebê, sem fazer um som, como se entendesse naquela idade tão tenra que

117
deveria ficar quieta na igreja. Seus olhos cinzas-pálido olhavam para os verdes de sua mãe,
curiosamente, observando enquanto Colie chorava. Ela deixou cair o chocalho e levantou a
mãozinha em direção ao rosto de sua mãe, como se tentasse consolá-la.
Colie pegou a mãozinha e beijou-a. Darby amava muito Ludie. Ela devia tanto a ele e
nunca poderia pagar. Seus olhos voltaram para o caixão e ela se lembrou do homem dentro
dele com grande carinho e uma profunda sensação de perda.

***
O enterraram em uma colina no cemitério de Jacobsville, ao lado de Mary. Colie já
havia ordenado a lápide, que seria idêntica a de Mary, então elas combinariam. Lembraria de
colocar flores em ambos os túmulos, pensou, em cada feriado.
Após a cerimônia fúnebre, seu pai teve que voltar para casa. Mais uma vez, Sari
Fiore organizou o transporte para o pai de Colie, de modo que ele não teve o incômodo de
viajar em um voo comercial. O jato o esperava no aeroporto de Jacobsville, e Jack Morales
estava carregando a mala para o táxi enquanto ele se despedia de Colie e Ludie na varanda
da frente.
─ Eu odeio deixá-la sozinha. - Ele disse solenemente.
─ Eu não estou sozinha. - Disse Colie com tristeza. ─ Eu tenho Ludie. Vamos nos
visitar nas férias de verão. - Acrescentou. ─ Eu tenho meu antigo trabalho de volta no
escritório de advocacia, então as finanças não serão um problema. Darby pagou o
financiamento da casa, então é minha sem problemas. Eu só tenho que ganhar o suficiente
para mantê-la. - Disse ela com um sorriso.
─ Ele era rico. - Comentou seu pai.
─ Sim, era. - Ela respondeu com um sorriso gentil. ─ O câncer é uma doença muito
cara, e ele era muito jovem para o Medicare29. - Acrescentou. ─ A doença acabou com tudo
o que ele tinha. Não me importo, você sabe disso. Nunca me casei com ele por seu dinheiro.
─ Todo mundo sabe disso. Mas somente nós conhecemos o verdadeiro motivo. - O
reverendo acrescentou calmamente. ─ Foi uma coisa nobre e gentil que ele fez por você,
dando um nome a Ludie.
─ Uma coisa que J.C nunca teria feito. - Ela observou com tristeza.
O Reverendo Thompson não respondeu imediatamente. Ele sabia coisas sobre J.C.
agora que desejava ter sabido há um ano. Ele não podia dizer a Colie. Isso só a magoaria
mais.
─ Eu vou sentir sua falta, querida. - Ele disse e a abraçou forte.
─ Eu vou sentir sua falta também.
Ele a soltou com um suspiro.
─ Eu queria que seu irmão fosse como você.
─ Imoral? - Ela provocou.
─ Pare com isso. Quero dizer, de bom coração, gentil e responsável. - Disse ele. ─
Eu nunca o vejo. Colie, acho que ele está envolvido em algo muito ruim.

29
- Medicare - É o sistema de seguros de saúde gerido pelo governo dos EUA e destinado às pessoas de
idade igual ou maior que 65 anos ou que verifiquem certos critérios de rendimento. Em geral, as pessoas
podem receber a ajuda do Medicare se contribuírem para o sistema durante pelo menos 10 anos, tenham
mais de 65 e habitem permanentemente nos Estados Unidos.
As pessoas de menos de 65 anos podem se beneficiar da assistência do programa Medicare se forem
portadores de alguma deficiência ou estiverem com doenças renais graves.

118
─ Se ele estiver... - Ela disse repentina, e enfaticamente. - Não se envolva. Você
precisa confiar que eu sei mais do que posso contar a alguém. Basta fingir que não tem ideia
do que ele está fazendo. Por favor. Por mim, e por Ludie!
Ele se surpreendeu com a resposta dela. Ele não esperava que ela soubesse muito
sobre Rodney e seus hábitos. Então lembrou o que ela disse, sobre Rod ir ver J.C e contar
uma mentira sobre o bebê.
─ Seu irmão precisa de ajuda. - Disse ele.
─ Ele nunca vai admitir isso. - Disse ela em resposta. ─ Ele não acha que precisa.
Não podemos fazer qualquer coisa até ele perceber que tem um problema e quiser fazer algo
sobre isso. Não acho que isso aconteça, papai.
Ele procurou seus olhos verdes.
─ Milagres acontecem todos os dias.
─ Eles acontecem, para muitas pessoas.
Ele sorriu com tristeza.
─ Às vezes, a esperança é tudo o que temos. Cuide de si mesma e da minha neta.
─ Ligue quando chegar em casa, então eu vou saber que você chegou bem.
Ele riu.
─ Eu ligo. - Ele beijou a testa do bebê. ─ Cuidem-se. Vejo você em breve, espero.
─ Eu também. Tenha uma viagem segura.
Ela o observou subir no táxi de Jack e acenar. Eles se afastaram. Ela ainda estava
assistindo com lágrimas em seus olhos. Ela nunca se sentiu tão sozinha.

***
O tempo passou. Colie e seu pai conersavam pelo Skype pelo menos duas vezes por
semana. Não era tão bom quanto uma verdadeira visita, mas compensava a distância.
Enquanto isso, sem o conhecimento dela, o reverendo tinha alguém olhando por ele.
Começou inesperadamente. O reverendo Jared Thompson foi atender à porta uma
noite, logo depois de voltar para casa do hospital e encontrou J.C. Calhoun de pé lá fora,
com uma grande bolsa nas mãos.
O homem mais jovem parecia inusitadamente inseguro. Ele entregou a Jared a bolsa.
─ Merrie e Delsey fizeram sopa. Está realmente boa. Ren e Merrie acharam que você
gostaria de um pouco , enquanto está se recuperando da cirurgia.
─ Isso é muito amável da parte deles. - Disse Jared, e sorriu. ─ Obrigado por trazê-la.
─ Sem problemas. Eu estava a caminho de casa. - Ele não foi embora. Seus olhos se
fixaram em um tabuleiro de xadrez que podia ser visto pelo vão da porta. ─ Você joga? - Ele
perguntou abruptamente.
─ Eu jogo. - Disse o reverendo. ─ E você?
─ Eu fazia parte da equipe de xadrez na minha unidade, quando estava no exército.
Ainda jogo com Ren.
O reverendo sorriu.
─ Você está ocupado? - Ele perguntou. J.C parecia surpreso.
─ Bem não. Na verdade não.
─ Que tal um jogo?
O homem mais jovem retribuiu o sorriso.
─ Se quiser. Eu não gostaria de cansar você. Eu ouviu Ren falar sobre o momento
difícil que você teve, por causa da apendicite.
─ Eu estou muito melhor. E apreciaria a companhia.
J.C respirou nervoso.

119
─ Ouça, sobre tudo o que aconteceu...
─ Entre. Vou fazer um café.
J.C só hesitou por alguns segundos.
─ OK.

***
Eles empataram duas vezes no jogo.
─ Você é muito bom nisso. - Observou o reverendo.
J.C. riu suavemente.
─ Minha mãe me ensinou. Ela trabalhou para o governo na Columbia Britânica por
um tempo. Ela era da Irlanda. Ruiva e olhos cinzas. Inteligente, amável e amorosa. - Seu
rosto tensionado. ─ O exato oposto do meu pai.
O reverendo não falou. Ele apenas ouviu, o que fez o homem mais jovem relaxar.
─ Quando eu era jovem, ele a estava levando para uma reunião na minha escola. Ele
estava bebendo, como de costume, mas ela disse que ambos deveriam ir. O carro saiu da
estrada e ela morreu. Eles o levariam para a prisão, se pudessem encontrá-lo. Não puderam.
Ele fugiu. Ninguém sabia onde ele estava. - Seu rosto estava em linhas duras. ─ Eu fui
colocado em casas temporárias, casas de acolhimento.
O reverendo Thompson ainda não falou. Ele inclinou a cabeça para um lado, apenas
esperando.
J.C respirou fundo, seus olhos no tabuleiro de xadrez.
─ No segundo desses... lares. - Disse ele. ─ Minha mãe adotiva decidiu que eu
precisava de uma lição de primeira mão sobre os fatos da vida. Eu tinha doze anos. Ela era
repulsiva para mim. Mesmo que ela não tivesse... - Ele parou, engoliu. ─ Então eu fui falar
com o marido dela sobre isso. Eu esperava que ele pelo menos me ouvisse. Bem, ele ouviu. -
Seu rosto se endureceu. - Ele fechou a porta e a trancou, e disse que, se eu não gostava dela,
talvez eu gostasse dele.
O reverendo leu nas entrelinhas.
─ Querido Deus. - Ele disse suavemente. ─ Eu sinto muito.
J.C nunca tinha falado sobre isso. A simpatia era a última coisa que ele esperava
desse homem gentil, cuja vida ele tornou miserável pela maneira como tratou Colie.
─ Quando eu me afastei dele, enojado e assustado, pulei pela janela, ele me trancou,
você sabe, e eu corri até não poder correr mais. Acabei do lado de fora de um hotel. Estava
muito envergonhado para contar a alguém o que aconteceu. Mas eu era criança e estava
sozinho. Eu estava mendigando, recebendo apenas moedas suficientes para comer e evitando
a polícia. Um capataz de mineração e sua esposa estavam na cidade para uma reunião. Eles
eram gentis. Eu disse a eles que meus pais acabavam de morrer e não tinha lugar para ir.
─ E? - Jared provocou gentilmente.
─ Eles moravam no Yukon, a várias centenas de quilômetros de Whitehorse. Muito
longe, pensei que talvez as autoridades não viessem atrás de mim. Eles disseram que me
levariam. Eles não tinham filhos e acho que sentiram pena de mim. - Disse ele. ─ Eu não sei
como ele conseguiu, mas ele conseguiu documentos para mim, para que ele pudesse me tirar
do Canadá. Eu vivi com eles por quase um ano. Ele e sua esposa iriam me adotar. - Ele riu
secamente. ─ Eu estava voltando para casa da escola. Eu vi as chamas quando o ônibus
parou cerca de quatrocentos metros da casa. Lembro-me de que eu joguei a minha mochila
com os livros e corri o resto do caminho. Eu tentei tirá-los, mas o fogo era tão intenso que
não consegui chegar perto da porta da frente. Os bombeiros chegaram logo, mas já era tarde

120
demais. Um vizinho realmente se sentou em mim para evitar que eu tentasse chegar até eles.
Tudo em vão, é claro, tudo acabou, de qualquer maneira.
─ Que azar. - Disse o homem mais velho suavemente.
─ Os bombeiros disseram ao chefe deles, que fizeram algumas averiguações e
descobriram que eu fugi da minha antiga casa. Eu tentei dizer-lhes o que aconteceu lá, mas
eles disseram que eu estava exagerando porque não gostava do casal com quem eu vivia. -
Ele tocou em uma peça de xadrez. ─ Ele chamou as autoridades e enviaram alguém para me
devolver. Mas no meio do caminho, eu disse ao homem que precisava ir ao banheiro. Ele
estava colocando gasolina quando eu corri para trás e me escondi. Estava escuro. Ele não
conseguiu me encontrar, então ele foi embora, presumivelmente para avisar as autoridades.
Mas, até então, eu consegui uma carona com dois madeireiros. Eles estavam indo para
Juneau de barco. Você não pode dirigir para Juneau. - Ele acrescentou com um leve sorriso.
─ O caminho é somente por via aérea ou marítima. Então eu disse a eles que meus pais
estavam lá, que eu estava hospedado com um primo e minha família achava que eu estava
em outro barco, mas eu me perdi.
─ Então você acabou por sua conta novamente. - Disse o reverendo calmamente.
J.C assentiu com a cabeça. Era tão fácil conversar com o homem. Ele nunca contou
nada disso a ninguém.
─ Eu vivia nas ruas, lá, tentando encontrar qualquer coisa para fazer que me fizesse
ganhar um pouco de dinheiro. Eu entrei para uma gangue. - Ele acrescentou com uma risada
curta, balançando a cabeça. ─ Eles eram como eu, crianças sem-teto que haviam sido
maltratadas. Trabalhavam para um chefe de crime local. Eu me tornei um mensageiro.
Ilegal, mas não tão ruim quanto matar pessoas ou roubar, o que eu recusei fazer.
─ Pelo menos, você tinha um lugar para ficar.
─ Sim. Morei nas ruas até me formar no ensino médio. Eu consegui, apesar de
algumas provocações das outras crianças sobre o quão estúpido era ir para a escola todos os
dias. Eu tinha que estudar, eu inventei meus pais, consegui que uma das crianças mais
velhas me deixasse usar sua internet para ver os boletins escolares e para que meus "pais" se
comunicassem com meus professores. Eu sabia que sem uma educação, eu terminaria como
uma grande parte das pessoas da rua. Eu queria algo melhor do que isso. Algumas das
crianças com as quais eu andava eram duras, mas outras eram gentis. Nós tínhamos uma
rede, e eles a formaram por mim, para se certificar que a polícia não descobrisse que eu fugi
de uma casa de acolhimento. Viver nas ruas é uma maneira difícil de sobreviver. -
Acrescentou. ─ Se eu tivesse alguma ternura em mim até então, o estilo de vida a tirou de
mim. Eu tinha cidadania americana por causa da minha mãe, que era cidadã naturalizada, e
quando me formei, encontrei uma maneira de obter minha certifidão de nascimento e de
minha mãe para provar a cidadania americana. Não tinha nada contra o Yukon, mas queria
um novo começo. Acabei em Billings, onde entrei para a polícia.
Isso, o reverendo não sabia. As sobrancelhas dele subiram.
─ Passei dois anos lá. - Continuou J.C. ─ Era um trabalho difícil às vezes, mas eu
estava acostumado com violência e pessoas difíceis. Eu parecia muito adequado para o
trabalho. Mas eu queria ver o mundo, e não tinha dinheiro, então entrei para o Exército. - Ele
riu. ─ Eu parecia encaixar em um ambiente estruturado e militar. Mas não consegui me
conformar com uma unidade regular. Acabei nas operações especiais, onde me encaixei
ainda melhor. Foi lá que conheci Ren. Eu rodei o mundo por vários anos, fazendo trabalho
freelancer. Eu o encontrei novamente quando ambos estávamos trabalhando no exterior nas
reservas do exército, e ele me ofereceu um emprego. Eu era hábil na vigilância, e estudava
programação de computador. Então eu acabei trabalhando em uma fazenda no Wyoming.
─ Você não gosta de mulheres. - O reverendo disse inesperadamente.

121
J.C fez uma careta.
O reverendo apenas esperou.
─ Eu era verde como a grama no que diz respeito as mulheres. Quando eu estava na
gangue, muitos meninos tinham namoradas, mas eram coisas cruas, coisas casuais. Minha
mãe me criou para acreditar em algo mais do que isso. Depois do que aconteceu comigo, eu
estava ainda menos interessado nessa parte da vida. - Ele recostou-se. ─ Depois de me
alistar no Exército e ter conseguido um treinamento básico, conheci Cecília. Ela era
sofisticada, inteligente e bem-sucedida. Eu a conheci em uma boate, numa rara noitada fora.
Ela parecia realmente fascinada comigo. Ela conhecia um dos meus amigos. Eu não percebi
isso no momento, mas ele sabia que eu sempre tinha dinheiro e ela estava certa de tudo o
que poderia conseguir.
Ele pegou a peça de xadrez e olhou para ela com os olhos focados no passado.
─ Fiquei louco por ela. Comprei presentes caros e a levei para sair quase todas as
noites. Ela era... incrível. - Ele concluiu, não externando que ela era tudo o que um homem
poderia querer na cama. ─ O que eu não sabia era que ela era uma prostituta. - Ele
acrescentou entre os dentes cerrados. ─ Eu descobri isso da pior maneira. Eu comprei um
buquê e fui ao apartamento dela para surpreendê-la, no aniversário dela. A porta estava
entreaberta, então entrei. - Ele riu secamente. ─ Ela estava falando com um de seus clientes,
dizendo-lhe que tinha um soldado no laço que era tão estúpido que nem percebeu que ela se
vendia por dinheiro. Ele lhe comprava toda a sorte de coisas caras e estava tão apaixonado
que poderia fazê-lo fazer o que quisesse.
O reverendo estremeceu.
J.C. conseguiu dar um sorriso.
─ Eu era ingênuo. Eu não sabia nada sobre as mulheres, exceto que já havia formado
uma opinião muito ruim sobre elas. Isso quase destruiu a ideia de ter um lar e uma família. A
partir desse dia, pegava o que me era oferecido e me afastava. - Ele hesitou. ─ Até que Colie
apareceu. - Seus olhos fecharam. ─ Sua amiga Lucy disse que a vida não vem com um botão
de reset. Isso é verdade. Mas se tivesse... - Ele olhou para o reverendo com angústia no
rosto. ─ Eu acreditei em uma mentira. Eu pensei que compreendia melhor, até então. Mas
ela tinha tanto poder sobre mim, e eu já tinha sido tão traído. - Sua voz diminuiu.
─ Você nunca contou nada disso. - Murmurou o homem mais velho.
─ Não, nunca. - Concordou J.C. ─ Eu não confiei nela o suficiente.
─ Onde estava seu pai todo esse tempo? - Perguntou o outro.
─ Eu não sei. E não ligo. Ele matou minha mãe.
─ J.C.. - Disse o reverendo suavemente. ─ As pessoas sempre têm motivos para as
coisas que fazem. Algumas agem por raiva, outros por uma fraqueza de caráter, algumas
como resultado do abuso de substâncias. Mas sempre há um motivo.
─ Minha mãe disse que ele queria uma fazenda própria, mas quando eu nasci, ele
teve que trabalhar nas minas para ganhar o suficiente para nos sustentar. Ela tinha um bom
trabalho no governo, mas ela tinha pulmões fracos e estava sempre doente. Ele nunca foi o
pai amoroso que se escuta contar nas histórias. - Ele riu friamente. ─ Se eu atravessasse seu
caminho, ele me derrubava. Não posso contar o número de vezes que a polícia foi à nossa
porta porque ele batia na minha mãe. Não acho que o tenha visto alguma vez sóbrio.
O Reverendo Thompson tinha, até agora, um retrato doloroso do homem que sua
filha adorava. Ele desejou com todo seu coração que J.C. tivesse vindo até ele anos antes,
apenas para conversar. Que grande quantidade de miséria ele carregava em seus amplos
ombros.
─ Então você decidiu que não existia essa coisa de um bom casamento.
J.C. olhou para cima com um sorriso melancólico.

122
─ Ou uma boa mulher. - Acrescentou. ─ Eu apenas tenho o exemplo de minha mãe
sobre como uma mulher deveria ser. Mas os tipos que encontrei estavam muito distantes
dela
─ Meus pais eram missionários. - Disse o reverendo. ─ Eles se casaram na
adolescência e viveram juntos por quarenta anos antes de morrerem, em um tornado. Foi
melhor assim, porque não acho que um poderia ter sobrevivido sem o outro. Eu tinha o
mesmo tipo de casamento. Adorei minha esposa até o dia em que ela morreu, e ainda choro
por ela.
J.C procurou os olhos dele. Ele estava pensando que, se tivesse tido tal educação, sua
própria vida poderia ter se convertido em algo mais convencional do que era.
─ Colie o ama muito. - Disse J.C. E respirou fundo. ─ Eu queria ter feito melhores
escolhas. Nunca pensei no que viver comigo faria com ela, ou com você.
─ As ações têm consequências. - Disse o homem mais velho simplesmente. ─ A vida
toda é uma lição. Nós cometemos erros, mas aprendemos com eles. - Ele sorriu. ─ A fé nos
ensina que o maior presente é o perdão. - Ele inclinou a cabeça novamente. ─ J.C., você não
acha que é hora de se perdoar?
A mão magra de J.C. tremeu. Ele quase deixou cair a peça de xadrez. Ele a segurou e
a colocou com cuidado deliberado no tabuleiro.
─ Como assim?
─ É algo que vejo muitas vezes em crianças abusadas. - Ele notou a surpresa do
outro. ─ Oh, sim, acontece nas melhores famílias. Já vi muito disso na minha vida. Uma
coisa que as crianças têm em comum é que elas se culpam pelo que aconteceu com elas. Elas
pensam que tem algo de mal em si mesmas que causou o fato. Isso não é verdade.
J.C. não falou. Mas ele estava ouvindo, atentamente.
─ Os abusadores foram, em muitos casos, eles próprios abusados em crianças. As
prisões estão cheias deles, crianças que viviam angustiadas, escondidas, com medo de dizer
a alguém e não serem acreditadas, de piorar uma situação ruim.
─ Eu conheço o sentimento.
─ Claro que você conhece. O que você tem que entender é que está se punindo. Você
tem que deixar o passado e continuar. Olhar para trás nunca é uma boa opção.
─ Bem, a menos que você esteja sendo perseguido por alguém em um uniforme
inimigo carregando um AK-47. - J.C. disse, ironicamente.
O reverendo riu.
─ Eu estava na reserva do exército quando a operação Tempestade no deserto
começou. Fui ao exterior com minha unidade como capelão. - Seus olhos, verdes como o de
Colie, estavam cheios de tristeza. ─ Eu conheço o rosto da guerra e suas consequências.
J.C assentiu com a cabeça.
─ Eu sempre estive na linha da frente. - Confidenciou. ─ Nunca foi fácil, e todos nós
temíamos.
Reverendo Thompson riu.
─ Qualquer um que diga que não sentiu medo no combate está mentindo. - Ele
respondeu. ─ Mas a coragem não é a falta de medo, coragem é agir mesmo quando se tem
mais medo. Esse é o verdadeiro heroísmo.
J.C. brincou com a peça de xadrez novamente. Ele não olhou para cima.
─ Eu gostaria de ter falado com você antes.
─ Eu gostaria que você também tivesse, J.C. - O reverendo Thompson disse
calmamente. ─ Manter ressentimentos é como ignorar uma ferida infectada. Ela se fecha e
depois inflama.
─ Não é uma analogia ruim.

123
─ Obrigado, eu trabalhei nisso durante anos. - Foi a resposta divertida.
J.C riu.
─ No caso de você estar se perguntando, eu nunca repeti nada que me disseram em
confiança, mesmo para minha família. - Acrescentou. ─ Eu guardo as confidências.
─ Eu não teria perguntado. Mas, obrigado.
─ Não há de que. - Os olhos do homem mais velho brilharam. ─ Que tal a melhor de
quatro? - Ele acrescentou, balançando a cabeça para o tabuleiro de xadrez.
J.C riu.
─ OK. Se você tiver mais café preto. Eu estou fora.
─ Eu também estou. - Foi a resposta sorridente.

***
J.C. estava relutando em ir embora.
─ Eu não tinha certeza de que você fosse me deixar passar pela porta. - Ele
confessou enquanto estava na varanda. ─ Eu causei muito dano à sua reputação.
O homem mais velho encolheu os ombros.
─ Já passei por coisas piores. Foi Colie quem mais sofreu.
J.C fez uma careta.
─ Eu sei. - Ele enfiou as mãos nos bolsos de seu jeans. ─ Tudo deu errado em um
dia. - Acrescentou ele fortemente. ─ Eu tinha um conjunto de anéis no bolso quando cheguei
em casa. - Ele disse bruscamente. ─ Esmeraldas. Verde, como os olhos dela.
O coração do reverendo saltou.
J.C levantou os olhos, reconhecendo a surpresa do outro.
─ Eu estava pronto para dar uma chance a nós dois, mesmo ainda tendo dúvidas. -
Ele desviou o olhar. ─ Não diga a ela. - Ele pediu com voz rouca. ─ Isso só a machucaria
mais.
O reverendo perdeu a fala. Ele não sabia o que dizer. Pobre Colie! Depois de um
minuto, ele recuperou a compostura.
Ele franziu a testa.
─ Colie disse que Rod se encontrou com você no aeroporto. - Disse ele
inesperadamente.
J.C hesitou. Ele prejudicou Colie. Ele não queria ferir esse bondoso homem,
especulando sobre o que Rod estava fazendo, ou porque ele deliberadamente contou uma
mentira sobre Colie.
─ Eu entendo. - Disse o reverendo suavemente. ─ Você está tentando me proteger.
Eu sei como as pessoas se comportam quando usam drogas, J.C. Eu vejo isso o tempo todo
quando estou aconselhando jovens no centro de detenção, muitos dos quais ainda estão sob
influência delas quando me pedem para intervir.
J. C mordeu o lábio inferior.
─ Rod era meu amigo. - Disse ele.
─ Ele perdeu o rumo. - Respondeu o homem mais velho com tristeza. ─ Mas eu não
vou desistir dele. Um dia, ele perceberá que está se destruindo. Eu estarei lá, sempre para
ele. Você nunca desiste das pessoas, seja lá o que fizerem, e você sempre perdoa. - Ele
sorriu. ─ É disso que se trata a religião. Perdão. Está escasso no mundo moderno, onde a
avidez pelas coisas substituiu a fome de fé.
─ É a pura verdade. - Concordou J.C. Ele ainda hesitou.
─ Eu gosto de xadrez.
J.C sorriu.

124
─ Eu também.
─ Próxima sexta-feira à noite? Se não me chamarem. Acontece as vezes.
O coração de J.C. saltou em sua garganta.
─ Eu gostaria disso. Eu não tenho vida social.
─ Xadrez é vida social. - Ressaltou o outro. ─ Então, por volta das seis? Eu vou fazer
chili e pão de milho.
J.C riu.
─ Vou trazer um pote de buttermilk30.
─ Por Deus, como você sabe que eu adoro?
─ Colie. - J.C. corou. ─ Sinto muito, pelo que fiz a reputação de Colie e a sua. -
Disse ele. ─ Eu vivi tanto tampo nas cidades grandes que esqueci como as cidades pequenas
são unidas. Pelo menos no que diz respeito a fofocas.
─ Não guardo rancores. - Ressaltou o outro. ─ Além disso. - Ele acrescentou com um
brilho nos olhos. ─ Eu não conheço muitas pessoas que jogam xadrez.
J.C riu.
─ Nem eu.
─ Vejo você na próxima sexta-feira, então.
─ Eu estarei aqui às seis. - Ele hesitou. ─ Obrigado. - Ele vacilou, sem encontrar os
olhos do outro. Ele quis dizer, "por me ouvir", mas não conseguia expressar isso.
O reverendo entendeu, mesmo assim.
─ Não há de que.
J.C poderia ter se chutado por todos os erros que cometeu. Mas era um novo começo,
com o pai de Colie. Ele não podia desistir da esperança de que um dia, ele poderia ter um
novo começo com Colie também. E com sua pequena menina.

30
Buttermilk, leitelho ou leite de manteiga - No passado, era o soro do leite coalhado resultante do processo
de fabricação da manteiga. Muito usado nos EUA para dar maciez a pães e bolos entre outras coisas. Hoje, é
feito comercialmente pela adição de uma bactéria ao leite desnatado ou semidesnatado, que dá à mistura
uma textura um pouco mais grossa e um leve sabor ácido.

125
12
O Reverend Thompson esperava que Colie voltasse para casa depois que seu marido
morreu. Mas ela disse que gostava de viver e trabalhar em Jacobsville, que tinha família e
amigos lá. Ele sabia por que ela não queria voltar para casa. Ela não confiava em si mesma
perto de J.C. e não queria piorar as coisas para o pai. Mas ela estava sozinha. Ludie
compensava muito. A criança era a cor da sua vida agora. Ela vivia por sua filha.
J.C perguntava sobre Colie de vez em quando. O reverendo compartilhava os vídeos
que ela enviava de Ludie, enquanto ela crescia. Era uma das poucas coisas que faziam J.C
rir, ver a criança dar os primeiros passos, dizer suas primeiras palavras. No entanto no
fundo, era uma tristeza terrível. J.C nunca conheceria a criança.
O reverendo não mencionou os jogos de xadrez de sexta-feira a Colie. Ele cada vez
gostava mais de J.C., mas ela nunca falava dele. Ela continuava com seu trabalho e parecia
perfeitamente feliz onde estava. Um dia, ele raciocinou, ela poderia voltar para casa e acertar
as coisas com J.C. O homem que ele estava conhecendo tinha algumas qualidades
maravilhosas, atrás da máscara que usava.
Mas passaram dois anos desde a morte do marido, e agora o reverendo foi ao Texas
para ver sua filha e neta. Colie relutava em voltar para o Wyoming, especialmente por
Ludie, quando todos se lembravam de como as coisas aconteceram entre Colie e JC. Quando
a criança cresceu, seu cabelo se tornou um emaranhado de cachos dourados- vermelho e ela
tinha olhos cinza pálidos que eram um espelho dos de JC. Começariam as fofocas de novo,
perturbaria seu pai. E Rod ainda estava por perto com seu suposto amigo, que pensaria que
Colie estava voltando para casa para contar às pessoas o que sabia. Não podia arriscar-se.
Seu pai era precioso para ela. Ela não colocaria sua vida em risco. Ou a da filha. J.C disse
que estava arrependido, mas nunca mencionou nenhuma possibilidade de querer se casar
mesmo agora. Mesmo sem todas as complicações, ainda seria doloroso para Colie estar
próximo dele, sofrendo em silêncio cada vez que olhasse para ele. Melhor ficar em
Jacobsville, onde tinha um bom emprego, parentes e amigos.

***
─ Você está ofegante como locomotiva mal-alimentada. - Comentou J.C durante
uma de suas partidas de xadrez de sexta-feira. ─ Você deveria consultar um médico.
O reverendo fez uma careta.
─ É o pólen. - Comentou. ─ É outono. Sempre fico com falta de ar quando as flores
caem.
J.C não acreditou nisso. Ele tinha estado perto do reverendo há mais de dois anos,
agora. Ele viu Ludie enquanto crescia, nos vídeos que Colie enviava ao pai. Tinha sido uma
revelação, como ele gostava desses vislumbres simples e comoventes da criança que ele não
deveria saber ser dele.
Ele queria ir ver Colie, mas tinha medo. Ele causou-lhe muita dor. Ele não estava
certo de que ela pudesse perdoá-lo, e seu orgulho se erguia e agitava quando ele pensava em
ignorá-lo para pedir uma segunda chance a ela. J.C nunca pediu nada a ninguém em sua
vida.
Ele sabia por que Colie não voltava para casa. Era por causa de Ludie, porque as
pessoas a veriam e especulariam, sabendo que Colie tinha vivido com J.C. por várias

126
semanas. Talvez ela também pensasse que J.C ainda tinha a mesma velha mentalidade, que
ele nunca iria oferecer compromisso. Ele não podia culpá-la. Ele nunca lhe deu nenhum
motivo para pensar que ele tinha mudado. Mas ele tinha mudado.
Era o orgulho que o impedia de ir ao Texas e implorar para ela voltar para casa. Ela
ficava longe por escolha. Ele só podia assumir que era por causa dele. Ela amava o pai e o
escritório de advocacia local teria lhe devolvido o trabalho. Mas ela não queria voltar.
Talvez a possibilidade das fofocas a impedisse. Mas o mais provável, era o fato de que J.C.
conseguiu matar o amor que ela tinha por ele. Ela não se importava o suficiente para voltar.
Ainda assim, fotos e vídeos ocasionais eram melhores do que nada. Ele ria enquanto
assistia um vídeo feito há quatro meses de Ludie pegando uma colherada de sorvete na festa
do seu segundo aniversário e jogando-a sobre a mesa em um garotinho que a estava
provocando. Era um que eles haviam assistido várias vezes desde que Colie enviou para o
pai.
─ Ela tem um gênio. - O reverendo riu quando viu o vídeo com J.C.
─ Justificado, neste caso. - J.C. respondeu. Seu rosto se endureceu. ─ Eu odeio
quando a chamam de bruxa. Colie era assim, via coisas que outras pessoas não...
─ Sim, como a esposa de Tank Kirk faz. - O reverendo interrompeu. ─ Em qualquer
comunidade, há pessoas com dons que os diferenciam de outras pessoas.
J.C estudou curiosamente o homem mais velho.
─ Você não deveria se incomodar com coisas paranormais?
O reverendo apenas sorriu.
─ A maioria dos dons vem de Deus, meu filho. - Ele disse simplesmente, observando
o efeito que a última palavra teve sobre o homem que pouco conheceu seu próprio pai, e não
de maneira boa. Ele e J.C tornaram-se próximos. ─ Você olha os frutos. Se eles resultam em
coisas boas, como isso pode ser mau?
J.C. respirou fundo.
─ Eu suponho que sim. - Ele sorriu nostalgicamente. ─ Minha avó paterna tinha a
visão. O meu avô paterno era um xamã na nação Blackfoot. Suponho que tais dons são
considerados como presentes entre os povos nativos.
Ele estava insinuando que o dom de Ludie veio do seu lado da família. Ele sabia que
Ludie era dele. O reverendo há muito percebeu isso, mas não comentou.
─ Você acha que Colie vai voltar para casa? - Perguntou J.C durante o minuto em
que ele se concentrava em um movimento de xadrez.
─ Eu não sei, J.C. - Foi a resposta triste. ─ As pessoas fazem fofocas. Mesmo se ela
estivesse casada, a maioria das pessoas ao redor de Catelow sabe que ela passou a maior
parte do tempo com você... - Sua voz se apagou.
J.C. soltou um longo suspiro.
─ Ludie sofreria por isso. - Ele terminou pelo reverendo. Sua boca cinzelada se
curvou. ─ Ela é uma bela criança. - Ele olhou para cima. ─ Você não sabe o que é para mim,
vê-la através das fotos e vídeos. Ela é... - Ele procurou uma palavra depois do nó na
garganta. ─ Ela é excepcional.
─ Sim, ela é. - Ele recostou-se na cadeira. ─ Você nunca pensou em ir ao Texas e
dizer a minha filha que você sabe a verdade sobre Ludie? - Perguntou depois de um minuto,
revelando que sabia que J.C tinha calculado isso.
─ Eu pensei. Pensei muito nisso. - Ele respondeu. ─ Mas já a machuquei demais. Ela
parece muito feliz onde está. - Ele olhou para cima com os olhos prateados preocupados. ─
Eu sou um perigo. - Ele disse de repente. ─ Eu não sei o que é uma boa vida em família. Eu
venho de um lar terrivelmente destruído. Tenho problemas de confiança. - Ele olhou para
baixo. ─ Tem me ajudado conversar com você. - Ele confessou. ─ Mas as feridas são

127
profundas. Eu não estou... certo... - Ele disse finalmente. ─ De que eu não a machucaria
novamente. Eu não poderia suportar fazer isso. Não quando ela tem Ludie para cuidar.
─ Ludie está crescendo sem você. - Disse o reverendo com delicadeza.
J.C realmente estremeceu. Sim, ela estava, e isso o machucava. Sua filha tinha o
nome de outro homem. Ela não conhecia o seu pai verdadeiro. Ela poderia nunca conhecer.
─ Colie não quer que eu saiba sobre Ludie. - Ele olhou a tempo de ver um lampejo
de dor no rosto do homem mais velho. ─ Você sabe disso.
O reverendo inclinou-se para a frente. Ele estava intensamente corado. Estranho, que
ele estivesse corado quando a sala estava tão fria.
─ Há uma razão pela qual Colie não voltou para casa, e não tem nada a ver com
você. - Ele disse de repente.
J.C. estava interessado. Ele ergueu ambas as sobrancelhas escuras.
O Reverendo Thompson lutou para respirar. Parecia, como se fosse difícil respirar.
Seu peito parecia como se alguém estivesse sentado sobre ele. Ele também tinha náuseas.
Devia ser o pimentão que ele comeu no jantar, raciocinou.
─ Você já viu meu filho ultimamente? - O Reverendo Thompson perguntou de
repente. ─ Rod me evita. - Foi a resposta concisa.
─ Você provavelmente pode adivinhar o porquê. Porque você foi um policial. - Disse
o homem mais velho. ─ Você ainda tem aqueles ideais sólidos do que a lei deveria ser,
apesar dos seus problemas. É uma das coisas que eu admiro em você.
J.C. ficou tocado.
─ Obrigado.
─ Meu filho aprendeu a viver sem... escrúpulos. - Disse o outro homem severamente.
─ Eu sei que ele está envolvido em algo ilegal, J.C. Ele quase nunca vem para casa agora.
Ele só telefona nos feriados, e então é apenas uma saudação suave e nada mais. - Seus olhos
tinham um olhar distante. ─ Ele nunca se afasta daquele amigo dele de Jackson Hole. Ele
não trabalha para a loja de ferragens há muito tempo, mas as pessoas que eu conheço dizem
que ele está dirigindo um novo Jaguar e usando roupas sob medida. Nós dois sabemos que
ele não ganha essa quantidade de dinheiro vendendo ferramentas.
J.C apenas assentiu.
O reverendo colocou uma mão no peito.
─ Se alguma coisa acontecer comigo. - Ele disse rapidamente. ─ Se certifique... de
que Colie esteja segura. - Ele disse com urgência, seus olhos estavam cheios de
preocupação. ─ Que a Ludie também esteja segura.
J.C franziu a testa.
─ O que você sabe, senhor? - Ele perguntou respeitosamente.
O homem mais velho estava tentando respirar.
─ Colie mencionou um caso em que os advogados do seu escritório estão
trabalhando. Tem vínculos com um notório senhor das drogas em Jackson Hole. Eles estão
defendendo um membro de uma gangue que tem vínculos com ela, e... as evidências que
eles reuniram podem expor o homem. Seu cliente tem um amigo que vai denunciar os
revendedores e fornecedores, e virar evidência do estado, para defender o cliente que os
patrões de Colie estão representando. Já houve ameaças.
O coração de J.C. saltou.
─ E Rod está envolvido. - Foi uma declaração.
─ Eu acredito que sim. Por favor, faça o que puder para proteger minha filha e minha
neta.
─ Nunca vou deixar ninguém machucar Colie, ou a criança. - Prometeu o homem
mais novo. ─ Eu juro.

128
─ Obrigado. - O outro homem parecia pálido agora, quando tinha estado corado
antes. ─ Você é como um filho para mim, J.C. - Ele disse inesperadamente. ─ Eu queria...
Por que dói tanto? - Ele interrompeu, ofegante.
J.C tinha ficado muito hipnotizado pelo que o homem mais velho estava dizendo
para perceber os sintomas de um ataque cardíaco.
─ Querido Deus. - Ele sussurrou com voz rouca. Ele se levantou e deitou o outro
homem no chão. Ele pegou o celular e ligou para o 911.
─ Tome conta... de Colie! Diga a ela, que eu a amo... - O reverendo conseguiu dizer
antes de perder a consciência.
***
Colie estava jantando com seus primos, Annie e Ty Mosby. Ludie, em sua cadeira
alta, tinha recebido comida para bebês e estava brincando com um anel de dentição quando
de repente deixou cair o brinquedo de plástico e olhou para a mãe com os olhos cinzas.
─ Gimpa. - Disse ela. ─ Gimpa doente!
Colie perdeu a cor. Ela sentiu que algo ruim estava para acontecer, mas sem ideia do
que. Ela pegou seu telefone e pressionou o número do pai. O telefone tocou e tocou.
Era sábado à noite. Seu pai quase nunca saía de casa. Mas um membro da
congregação podia estar doente. Ou ele podia estar trabalhando em seu sermão e não
perceber que o telefone estava tocando...
Houve um clique.
─ Colie?
Essa era a voz de J.C. Não era? O que J.C. faria na casa de seu pai?
─ Eu estava ligando para o papai...
─ A ambulância acabou de chegar. Eu vou para o hospital com ele. Você precisa
chegar aqui o mais rápido possível, querida. Eu sinto muito. Eu acho que é um ataque
cardíaco.
─ Oh, querido Deus. - Ela engasgou.
─ Ele dizia que há uma razão para tudo. - Ele prosseguiu. Isso também o sufocava.
Ele amava o pai dela. ─ Ele pediu para lhe dizer que ele a ama. - Ele fez uma pausa. ─
Venha o mais rápido possível, ok? Me ligue quando tiver seu horário de chegada, eu vou
encontrá-la no aeroporto.
─ Eu vou. - Ela engasgou. E mordeu o lábio. ─ Obrigada, J.C.
─ Apresse-se. - Ele desligou.
Ela se virou para os primos, o rosto pálido.
─ É papai. J.C. está com ele. Um ataque cardíaco, ele acha... Eu tenho que ir a
Catelow!
─ Vou mandá-los preparar o jato agora mesmo. - Disse Ty, levantando-se.
─ Eu vou ajudá-la a fazer a mala. - Annie se ofereceu.
─ Eu tenho que ligar para o escritório. - Colie começou a dizer e então percebeu que
era sábado. ─ Vou telefonar para a casa do Sr. Donnally. - Ela mudou. ─ Não sei se posso
voltar até segunda-feira. Tenho dias de férias que não usei, eles podem contratar uma
temporária. - Ela divagou enquanto seguia sua prima para o quarto com Ludie em seus
braços.
Ludie levantou a mão e tocou o rosto molhado de sua mãe. Seus olhos cinzas
também estavam molhados.
─ Foi. - Ela disse em sua voz clara e suave. ─ Gimpa foi, mamãe.
Colie sentiu a dor até sua alma. Mas talvez sua filha estivesse errada. Ela contava nos
dedos todas as vezes em que ela tinha estado errada na sua jovem vida.

129
─Vamos vê-lo. - Ela assegurou a sua filha. ─ Ele ficará bem. Claro que ele vai!
─ Foi. - Ludie repetiu e explodiu em lágrimas.
Sua prima estremeceu. Ela sabia, como Colie, que a criança tinha um conhecimento
estranho de eventos futuros.
─ Vamos fazer as malas e levá-la ao jato. - Disse ela. ─ Eu posso ir com você, se
você precisar de mim.
─ J.C. vai me encontrar no aeroporto.- Disse Colie com voz rouca.
As sobrancelhas de sua prima se arquearam.
─ Ele estava com seu pai. Não pensei que eles se entendessem.
─ Eu também não. Talvez Ren tenha enviado J.C. para a casa do papai com sopa ou
algo assim. Merrie faz isso quando ele não está se sentindo bem. - Lágrimas escorreram por
suas bochechas. ─ Meu casaco. Preciso do meu casaco. É frio no Wyoming no outono.
Ludie também precisará do dela.
Sua prima a abraçou.
─ Vamos resolver tudo juntas. Tente não se preocupar.
Colie queria. Mas os olhos de sua filha estavam derramando lágrimas...

***
J.C. estava esperando por elas no terminal. Parecia mais velho, cansado. Seu rosto
estava tenso pela emoção de ver Colie pela primeira vez desde que seu pai foi submetido a
apendicectomia, há mais de dois anos atrás.
Seus olhos foram de Colie para a menina em seus braços. Ele realmente estremeceu
quando olhou para a criança. Seus cachos dourados-vermelhos pulavam quando sua mãe
andava, e seus olhos de prata pálida procuraram os dele e fixaram-se lá, como se ela o
conhecesse.
─ Como está o papai? - Colie perguntou imediatamente.
Ele tentou encontrar palavras e falhou.
─ Sinto muito. - Ele disse bruscamente.
─ Gimpa foi embora. - Disse Ludie, seu lábio inferior tremendo.
J.C realmente engasgou enquanto a olhava.
─ Ela sabia que algo aconteceu com ele antes que eu tentasse telefonar. - Disse
Colie, engolindo com força. Lágrimas caíram por suas pálidas bochechas. Ela nunca mais
veria seu pai. Tinha sido tão repentino!
Ele estendeu a mão e tocou o rosto de Colie, afastando as lágrimas. A criança pegou
seus grandes dedos nos dela e olhou para ele com olhos que eram iguais aos dele.
─ Você jogava com Gimpa. - Ela disse com sua voz clara e doce.
J.C estava chocado.
─ Sim.
─ Jogo? - Perguntou Colie.
─ Xadrez. - Ele disse sucintamente. Ele segurou a mala de rodinhas e a bagagem de
mão que continha todas as coisas que precisava para Ludie. ─ Nós devemos ir.
─ Meu irmão. - Ela conseguiu dizer.
─ Não o vi. - Ele respondeu. ─ Eu tentei telefonar, mas ele mudou o número. Liguei
para Jackson Hole e falei com o chefe de polícia. Ele o encontrará e o notificará sobre seu
pai.
─ Ele ainda está no hospital? - Perguntou enquanto caminhavam para a saída do
saguão.
J.C trincou os dentes.

130
─ Não. Eles o transportaram...
─ Ok. - Interrompeu Colie. Ela não queria ouvi-lo dizer "à casa funerária", embora
soubesse que isso aconteceria.
─ Há um homem mau, mamãe. - Disse Ludie enquanto saíam para o estacionamento.
─ Mau, um homem mau. Vindo nos ver.
J.C. trocou um olhar atordoado com Colie.
─ Que homem mau, querida? - Perguntou Colie à criança.
─ Homem mau. Tem uma arma.
Colie mordeu o lábio inferior, fortemente.
─ Ela faz isso com frequência? - Perguntou secamente.
─ O tempo todo. - Ela segurou Ludie mais perto. ─ Está tudo bem, querida. - Ela
disse suavemente, beijando a bochecha molhada. ─ Está tudo bem.
Ludie agarrou-se a ela.
─ Mamãe. - Ela lamentou.
J.C. estava perturbado pelo dom da criança. Ele não sabia que era tão desenvolvido.
Ela tinha apenas, o que, um pouco mais de dois anos? Ele se perguntou se sua avó tinha
conseguido fazer isso quando tinha dois anos.
O SUV preto familiar estava estacionado perto da entrada. Exceto que era um
modelo mais novo.
Colie conseguiu dar um sorriso.
─ Nada muda.
Ele riu.
─ Eu gosto de preto.
─ Oh, Deus, esqueci a cadeirinha de criança! - Gritou Colie. ─ Eu ia trazê-la, mas eu
estava tão perturbada... - Sua voz desapareceu quando notou a cadeirinha de criança no
carro, um modelo muito caro, já preso no banco de trás quando ele abriu a porta.
─ Eu me antecipei. - Ele observou simplesmente.
Colie ficou chocada demais para exprimir.
─ Você é legal. - Disse Ludie ao homem alto e sorriu para ele. Ela tinha covinhas.
Seus olhos prateados brilharam com algo como carinho.
─ Você também é legal, pequena. - Disse J.C com voz rouca.
Colie colocou-a no assento.
─ Nós chegaremos em casa, logo, tudo bem? - Perguntou a criança, entregando-lhe o
mordedor que ela amava.
─ Tudo bem, mamãe.
Colie fechou a porta e deixou J.C colocá-la no assento alto. Ela estava vestindo jeans
e um suéter branco com o casaco vermelho. Ludie tinha uma jaqueta branca que ela pediu na
loja infantil no Texas.
─ Pelo menos vocês duas se vestiram para enfrentar esse tempo. - J.C. observou
quando ligou o motor. Ele também usava jeans, e um novo casaco de pastor. Nenhum
chapéu. Assim como nos velhos tempos, pensou Colie com uma dor penetrante.
─ Eu lembrei do frio que fazia. - Disse ela simplesmente.

***
Eles atravessam a cidade a caminho da casa de seu pai.
Ela olhou para a nova construção.
─ O que isso vai ser? - Perguntou ela.
Ele riu.

131
─ Um novo Fish Place. O antigo queimou no ano passado.
─ Eles tinham comida boa. - Ela disse antes que pensasse. ─ Sim. Eu sinto falta
disso.
Ela olhou para ele, observando as linhas duras em seu rosto bonito.
─ Por que você estava com o papai? - Ela perguntou de repente.
Ele conseguiu um sorriso fraco.
─ Perdemos a nossa partida habitual de xadrez das noites de sexta-feira, porque ele
teve que visitar um membro da congregação que estava no hospital. Nós a adiamos até a
noite passada.
─ Partida habitual de xadrez. - Ela vacilou. Seu pai não havia contado nada disso.
Ele assentiu.
─ Às vezes ele cozinhava, às vezes eu cozinhava. - Ele parou, porque ele estava
sufocando.
Colie observou isso, fascinada. O homem que ela lembrava era quase incapaz de
sentir emoção. Pelo menos, de demonstrar qualquer coisa.
Ele dirigiu sem falar por muito tempo, até chegar ao desvio que levava à casa de seu
pai.
As folhas caíam das árvores, mas as cores gloriosas do outono estavam bastante
evidentes em toda a casa. Colie sentiu tanta dor quando viu a casa e lembrou-se de todas as
coisas boas e más que viveu nela.
J.C. parou na porta da frente e ajudou-a a colocar as malas para dentro. Ela notou que
o tabuleiro de xadrez ainda estava montado, peças fora de ordem como haviam estado
quando o ataque tinha chegado.
─ Ele disse que sentia como se alguém estivesse sentado em seu peito. Eu sabia o
que era na mesma hora. - Disse J.C, seus olhos pálidos se fixaram no tabuleiro de xadrez. ─
Eu o coloquei no chão e pedi uma ambulância. Fiz a ressucitação até eles chegarem. Mas eu
sabia antes que o colocassem na maca que era muito tarde. - Ele enfiou as mãos nos bolsos.
─ Não foi o primeiro ataque cardíaco que eu vi. - Ele acrescentou calmamente. ─ Este
pareceu ser fulminante.
─ Eles mostram coisas assim na TV. - Ela vacilou. ─ Eles fazem a ressucitação e
depois colocam stents...
Ele se virou para ela.
─ Querida, um ataque cardíaco grave mata quase todo o músculo cardíaco ao mesmo
tempo. Necrose de tecido, necrose maciça. - Ele disse suavemente. ─ Se ele estivesse
sentado na sala de emergência com uma equipe de trauma, não teria feito nenhuma
diferença. Como ele gostava de dizer, quando chegar o seu tempo, nada irá detê-lo... Colie. -
Ele sussurrou, estremecendo quando ela chorou.
Ele a puxou para dentro de seus braços, com Ludie nos dela e a abraçou, embalando-
as na proteção de seu abraço.
─ Eu sinto muito. Eu sinto muito. Ele era o homem mais amável que eu já conheci. -
Acrescentou, quase sufocando com as palavras.
Ela se embriagou com o cheiro familiar de J.C. que ela nunca tinha conseguido tirar
da sua mente. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, a proximidade era como uma droga.
Ela não conseguiu ter o suficiente dele.
Seus braços contraíram.
─ Liguei para Lucy enquanto esperava que seu avião chegasse. - Acrescentou. ─ Ela
chegará em breve.
─ Obrigada - Ela sussurrou.

132
─ Eu também liguei para o pastor da juventude31. Ele disse que irá organizar tudo.
─ A casa funerária. - Ela engasgou.
─ Ele me contou há algum tempo, exatamente o que queria. - Disse ele sobre a
cabeça dela. ─ Eu já liguei para eles. Eu vou levá-la pela manhã e você pode terminar os
arranjos.

Ela se afastou e olhou para ele com os olhos verdes molhados de lágrimas.
─ Obrigada. - Ela conseguiu dizer.
Seus dedos magros tocaram as bochechas molhadas dela.
─ Foi pouco para fazer. Ele amou vocês duas demais. Me desculpe por não poder
salvá-lo. - Ele vacilou.
Ora essa, ele amava seu pai! Ela ficou surpresa, não só com a revelação de que ele
tinha sido um visitante frequente aqui, mas que ele se importava tanto.
─ Ele foi gentil comigo. - Disse ele depois de um minuto. ─ Quando ele
provavelmente não deveria ter sido.
Ela assentiu.
─ Ele dizia que a vida era inútil a menos que perdoássemos as pessoas. É o que se
supõe que seja a fé.
Ele sorriu gentilmente.
─ A vida continua. A morte é apenas mais um passo na jornada. Ele está colhendo
flores silvestres com sua mãe agora. - Acrescentou.
Era tão próximo do que ela pensou sobre Darby e sua falecida esposa quando ele
morreu, que ela inspirou.
─ Você é que deveria ter dito isso, por sinal, não eu. - Acrescentou.
Ela procurou seus olhos pálidos.
─ Você não é o mesmo.
─ O tempo nos muda. Às vezes, realmente nos muda para melhor. Ele olhou por
cima da cabeça dela para o tabuleiro de xadrez e suspirou. ─ Vou sentir falta dele, Colie.
─ Eu também.
O telefone de J.C. tocou enquanto ele estava tentando encontrar as palavras certas
para dizer a Colie quanto o tempo o havia mudado.
Ele atendeu o telefone.
─ Calhoun. - Disse ele.
─ É o Chefe Marcus. - Respondeu uma voz profunda do outro lado da linha. ─ Eu
encontrei o Sr. Thompson e falei sobre o pai dele. Ele disse que estará lá mais tarde hoje.
─ Obrigado. - Respondeu J.C. ─ Eu devo-te uma.
─ Você sabe muito sobre ele? - Foi a pergunta em tom baixo.
─ Um pouco demais. - Disse ele.
─ Bem, ele tem um amigo que está quase entrando para a lista dos mais procurados
do FBI, se você me entende. - Disse o outro. ─ O amigo está agarrado a ele como um

31
Nas igrejas protestantes americanas, o termo "ministério" frequentemente implica o serviço de um
ministro ou pastor ordenado. No ministério de jovens, no entanto, isso nem sempre é o caso , um líder do
ministério de jovens pode ser um membro ordenado do clero, um leigo empregado ou um voluntário. Títulos
aplicados a líderes de ministérios de jovens também variam amplamente, mesmo dentro das denominações,
usando termos como "Ministro da Juventude", "Pastor da Juventude", ou simplesmente "Trabalhador da
Juventude".

133
carrapato. Algo está para acontecer, e seu amigo pode estar bem no meio disso. Suponho que
o amigo o vê como um risco de segurança32.31 Para bom entendedor...
─ Eu fui policial por dois anos. Eu ainda os treino, no Iraque. - Disse-lhe. ─ Eu sei
proteger as minhas costas.
─ Certifique-se de fazer isso. Há grande quantidade de dinheiro envolvida nisso. As
pessoas começam a ficar irritadas quando seus ganhos mal adquiridos estão ameaçados.
Temos os Federais investigando aqui. O caso do tribunal do Texas que está surgindo pode
mandar tudo pelos ares.
─ Eu estou ciente disso. Obrigado pelo alerta.
─ Apareça quando estiver na área. - Disse o outro com uma risada. ─ Nós podemos
falar sobre os velhos tempos.
─ Eu farei isso. Obrigado novamente.
Colie estava olhando para ele com olhos curiosos.
─ O chefe da polícia de Jackson Hole esteve em combate comigo. - Explicou. ─ Ele
encontrou seu irmão. Rod disse que estaria aqui no final do dia. E o amigo está vindo com
ele. - Seus olhos foram para Ludie, que agora estava sentada no sofá brincando com seu
mordedor. Ele parecia preocupado.
─ Ele não vai ficar aqui. - Disse Colie bruscamente. ─ Não o deixarei passar pela
porta da frente.
Os olhos pálidos de J.C. voltaram-se para ela.
─ Não vou deixar você aqui sozinha.- Disse ele rapidamente.
Ela começou a protestar.
Ele levantou a mão.
─ Eu resolvi com Lucy. - Ele interrompeu. ─ Ela está vindo para ficar com você até
depois do funeral.
A expressão dela foi mais eloquente do que as palavras. Ela ficou aliviada por J.C.
não dizer que ele iria ficar com ela. O magoou, mas ele escondeu.
Ele estava acostumado a esconder as mágoas.
─ Cody Banks é nosso xerife, e ele virá num piscar de olhos se ele precisar. - Ele fez
uma pausa. ─ Eu conversei com ele sobre Rod. Mas não contei a ele nada que ele não
soubesse.
─ Sobre? - Ela perguntou hesitante.
─ O escritório de advocacia para o qual você trabalha está defendendo um cliente
que tem vínculos com a operação de Rod, Colie. - Ele respondeu. ─ Não posso acreditar que
você já não sabia disso.
Ela baixou os olhos para Ludie.
─ Sim. Eu sabia. - Disse ela com tristeza.
─ Seu pai também. Ele estava preocupado com vocês duas, embora ele estivesse
esperando que um dia Rod voltasse a razão.
Ela olhou para cima.
─ Você e meu pai, jogando xadrez. - Ela disse, e seu tom era melancólico. ─ Eu mal
consigo acreditar.
─ Nem eu, a primeira vez que eu vim, foi depois de você ter vindo vê-lo por causa da
cirurgia. - Acrescentou. ─ Ele me convidou para jogar xadrez. - Ele sorriu com tristeza. ─
Foi um começo. Anos demasiado tarde, é claro.
Ela estava pensando em um poema33, sobre as palavras mais tristes serem "O que
poderia ter sido". Isso era absolutamente verdade.

32
Risco de segurança - Alguém que pode prejudicar uma organização ou pessoa, dando informação a um
inimigo ou competidor.

134
─ Como estão Merrie e Ren? - Perguntou, para ter algo para dizer.
─ Indo bem. Eles adorariam vê-la, se você ficar por alguns dias antes de voltar para
casa.
─ Não sei quanto tempo demorará, para arrumar as coisas. - Ela estava lutando
novamente com lágrimas.
─ Eu farei qualquer coisa que puder para ajudar. Ele era um bom homem. O melhor
que eu já conheci. - Acrescentou.
Ela procurou por seus olhos, aqueles cinzas-pálido que pareciam muito com os de
Ludie. Ela se perguntou se alguma vez ele suspeitou que a criança fosse dele. Ele
provavelmente não acreditaria se lhe dissesse.
─ Bem, vou voltar para casa. - Disse ele depois de um estranho silêncio. ─ Se você
precisar de algo, você pode me ligar.
─ Obrigada por nos trazer para casa. - Disse ela.
─ Não foi um problema. - Ele olhou para Ludie, que ainda estava olhando para ele
com curiosidade evidente. Olhar para ela era doloroso. Ele perdeu a maior parte de sua vida.
Colie viu a dor que ele não conseguia esconder, mas não iria admitir nada.
─ Se Rod aparecer aqui, você me liga. - Ele disse abruptamente. ─ Ou chame Cody
Banks. Não brinque com fogo.
Ela respirou fundo.
─ Ele está seguindo um caminho muito ruim. Não tenho certeza de que ele possa
sair, ou mesmo se ele quer sair. Mas eu falei sério. Não vou deixá-lo passar pela porta da
frente.
Ela não percebeu, e ele não disse a ela, que um homem determinado passaria por ela
e Lucy. Ameaças verbais seriam inúteis vindas de uma mulher.
─ Mantenha seu celular à mão.
─ Eu sempre faço isso.
Ele saiu, relutantemente. Quando ele foi embora, viu Colie, segurando Ludie, de pé
na entrada. Era uma visão pungente, a família da qual ele poderia ter sido parte. Agora, seu
único pensamento era protegê-las, para mantê-las seguras.
No caminho para casa, ele telefonou para Cody Banks.
─ Eu falei com o chefe da polícia em Jackson Hole, que disse que Rod estava
envolvido em más companhias. - Disse ele, depois de revisar o estilo de vida excessivo de
Rod. ─ Se ele voltar aqui, Colie diz que não o deixará ficar na casa. Mas o chefe de polícia
parece pensar que ele está trazendo seu amigo com ele, o fornecedor de drogas.
─ Se ele vier aqui procurando problemas, ele encontrará algum. - Disse Cody
simplesmente.
─ Colie e Ludie vão ficar sozinhas, exceto por sua amiga Lucy. - Ele respondeu. ─
Eu teria me oferecido para ficar, mas começariam as fofoca novamente. Eu não quero
manchar sua reputação mais do que eu já fiz.
─ Nobre pensamento, mas um homem na casa seria de mais ajuda do que uma dúzia
de celulares com o 911 pré-programado.
─ Eu sei disso. - Disse J.C. abruptamente.
─ Desculpe. - Houve uma pausa. ─ Não conhecemos um homem em quem ela possa
confiar para ficar com ela?
─ Ren pode ser voluntário, se eu perguntar a ele. - Disse J.C. depois de um minuto. ─
Ou mesmo Willis. Ele poderia trazer seu lobo. - Ele acrescentou com um fraco humor

33
O poema é de John Greenleaf Whittier - John Greenleaf Whittier foi um influente poeta e advogado
americano importante na abolição da escravidão nos Estados Unidos da América. Uma parte do poema diz:
De todas as palavras faladas e escritas, as mais tristes são " O que poderia ter sido".

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─ Oh, eu já estou vendo, uma menininha que gostava de sanduiches de mortadela e
um lobo de três pernas com fome de carne...
─ Pare com isso. - J.C. riu. ─ Você sabe que o lobo é manso.
─ Nenhum animal selvagem é sempre manso, e você pode me usar como exemplo.
Ou você esqueceu minha única experiência com a tentativa de criar uma raposa mansa?
─ Essa doeu. - Replicou J.C, e tentou não rir.
─ Maldita, quase tirou meu polegar, e eu a criei desdeque era um filhotinho - Ele
suspirou. ─ Eu acho que os cães são melhores, mesmo assim. Meu husky siberiano tem
cinco anos agora. Minha esposa me deu de presente de Natal, um ano antes de morrer . - Ele
acrescentou calmamente.
J.C. não respondeu. Ele conhecia a história, como a maioria das pessoas locais fazia.
A esposa de Cody, médica em um hospital próximo, havia morrido de uma doença
contagiosa alguns anos atrás. Ele a chorou e nunca se casou novamente.
─ Eu tive um husky quando era menino. - Comentou J.C. ─ Eu o levava para fazer
tobogã comigo e descíamos as colinas mais perigosas que eu podia encontrar. Ele era um
excelente amigo.
─ Eles geralmente são. Exceto que se você for roubado, o husky seguirá os ladrões
por todo lado para mostrar-lhes as melhores coisas a serem roubadas e, em seguida, ajudá-
los a levarem as coisas para o carro de fuga. - Ele acrescentou, rindo. ─ Um cão de guarda,
ele não é.
─ Verdade isso.
─ Diga a Colie que, se ela precisar de mim, pode ligar a qualquer momento. -
Acrescentou o xerife. ─ Eu não durmo muito e adoraria a chance de colocar o irmão dela
onde ele merece estar. Não diga a ela essa última parte. - Acrescentou.
─ Eu não vou. Mas eu sinto, exatamente o mesmo. Ele está confuso em uma
companhia perigosa. É apenas uma questão de tempo até que ele seja chamado para explicar
seus crimes.
─ Agora você parece um policial de novo. - Banks riu.
─ Eu acho que sim. Obrigado pelo apoio.
─ Sem problema. Colie disse se vai ficar muito tempo?
─ Ela tem um emprego no Texas. - J.C. respondeu . ─ E ela parece ser feliz lá.
─ Muito ruim, o que aconteceu com o marido.
Doeu em J.C pensar no homem que o substituiu na vida de Colie.
─ Ela disse que ele amava a menina.
─ Como ele era? - Banks perguntou de repente.
─ O marido dela? Não tenho certeza.
─ Não importa. Apenas um segundo... - Houve uma pausa e alguma estática. Banks
voltou a falar. ─ Nós temos um acidente na interestadual. Estou a caminho. Falo com você
mais tarde.
─ Certo.
Ele desligou. Pela primeira vez, ele se perguntou qual a aparência do marido de
Colie. Ele assumiu que a criança era dele. Aparentemente, também o Reverendo Thompson.
Mas como era o aspecto do homem? Ele era ruivo? Ele tinha olhos claros? Se tivesse, todas
as suposições de J.C. sobre a criança podiam estar completamente erradas.
Ele ficou surpreso com a decepção que o pensamento causou.

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Colie chorou nos braços de Lucy. A outra mulher apenas a embalou, falando palavras
suaves.
─ Sinto muito, Colie. - Ela disse gentilmente. ─ Sinto muito. Eu sei o quanto você
amava seu pai.
─ Ele quase nunca ficava doente. Ele fez a apendicectomia, mas além disso... - Ela
sufocou um soluço e se afastou para limpar os olhos. ─ Ainda não posso acreditar que ele e
J.C jogavam xadrez juntos todas as semanas.
─ Eles eram próximos. - Disse Lucy, para sua surpresa. ─ J.C. cuidava do seu pai.
Ele estava sempre por perto, sempre que era necessário. O reverendo colocou-o para
trabalhar distribuindo doações de mantimentos para famílias pobres. Ele disse que J.C. era
um voluntário nato para o trabalho.
─ As coisas que não sabemos. - Disse Colie com tristeza. Ela fez uma pausa para
espreitar seu quarto antigo, onde Ludie estava tirando uma soneca. Ela voltou para a sala de
estar. ─ Ela está cansada. Ela me disse que meu pai estava doente. - Acrescentou. ─ E disse
que ele havia ido antes de chegarmos ao aeroporto e que J.C. me contasse.
─ Um dom verdadeiramente incrível. - Disse Lucy. As sobrancelhas levantadas. ─
J.C. foi buscar você no aeroporto?
─ Sim. Com um assento de carro no banco de trás de seu SUV para Ludie. - Ela
sorriu e balançou a cabeça. ─ O antigo J.C nunca teria feito tal coisa.
─ Ou talvez ele tivesse, e você simplesmente não sabia.
─ Isso é possível.
─ Seu pai disse que J.C se divertia assistindo os vídeos de Ludie que você enviou
para casa. - Ela mordeu o lábio inferior pela expressão de Colie. ─ Oops. Desculpa. Isso
escapou.
─ Está bem. Eu sei que J.C suspeita da verdade. Mas eu nunca confessei. A menos
que meu pai lhe dissesse...
─ Se ele tivesse, acho que todos saberíamos. - Disse Lucy, fazendo uma careta. ─ Eu
sinto muito!
─ Eu não fazia ideia de que ele e meu pai estivessem tão próximos...
─ Que teias enredadas nós tecemos. - Lucy disse calmamente.
─ De fato.
─ Seu irmão está vindo para o funeral?
─ Sim. Mas ele não vai ficar aqui. - Disse Colie bruscamente. ─ Eu não vou tê-lo na
casa. Se ele aparecer com seu amigo, a única coisa em que ele se interessará é o quanto vai
receber do testamento e se eu fiquei de boca fechada ou não.
Lucy fez uma careta.
─ Por isso você foi embora.
─ Sim. Eu nem sequer podia contar ao meu pai. Tinha medo de dizer algo e Rod e
seu amigo causarem problemas para papai. Eu me torturei sobre isso. Eu queria estar aqui.
Mas havia muitas razões pelas quais eu não podia voltar para casa.
─ J.C. está no topo da lista.
Colie assentiu enquanto ia para a cozinha fazer café.

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─ Eu não queria sujeitar o papai a mais fofocas maliciosas. Causei-lhe tanta mágoa. -
As lágrimas ameaçaram cair de novo. ─ Se eu pudesse voltar e mudar essa parte da minha
vida!
─ E se você pudesse fazer isso, você não teria Ludie. - Foi a resposta.
Colie virou-se, olhando para a amiga através de olhos vermelhos e úmidos.
─ Não. Eu acho que não.
─ Você não acha que seu irmão realmente prejudicaria você, não é?
Colie hesitou. Ela virou para a cafeteira e pegou uma caixa branca de filtros de papel.
─ Eu não sei. - Ela disse depois que encheu e ligou a cafeteira. ─ Eu realmente não sei. O
irmão mais velho que eu amei era um homem diferente quando saiu do exército. Ele se
transformou em alguém que eu não conheço, em alguém que eu prefiro não conhecer.
─ As drogas fazem isso.
─ É um desperdício. - Ela disse enquanto se sentava pesadamente na mesa. Na sala
de jantar, ela podia ver o tabuleiro de xadrez, em que seu pai e J.C. tinham jogado. Ela
forçou seus olhos de volta para Lucy. ─ Ele era um bom homem. Ele é apenas fraco. Ele faz
o que qualquer um lhe pede, ruim ou bom. Ele é um seguidor.
─ Eles geralmente terminam mal. - Respondeu Lucy. ─ Nós duas vimos os
resultados desse traço de personalidade em clientes que passaram pelo escritório de
advocacia.
─ Sim. Era triste.
─ Espero que meu filho tenha coragem de defender o que é certo, não o que a
multidão quer. - Disse Lucy com um suspiro. ─ Ele tem apenas um ano de idade agora, mas
vamos fazer o nosso melhor com ele.
─ Eu também, com Ludie. - Concordou Colie. E sorriu. ─ Você sabe... - Ela parou
porque a porta da frente se abriu de repente.
Seu irmão, Rodney, entrou com o amigo, Barry, de Jackson Hole.
─ Irmãzinha. - Disse Rodney hesitante quando viu Lucy na mesa com sua irmã. ─
Eu sinto muito!
Colie levantou-se. Ela não era mais a garota tímida e desamparada que já havia sido.
Ela tirou um telefone celular e mostrou para o irmão.
─ Você pode sair por sua conta, ou eu posso chamar Cody Banks para escoltá-lo.
─ Esta é a sua casa, também, agora. - Disse o narcotraficante com altivez, usando um
terno que custava mais do que Colie ganhava em dois anos.
─ Não até a abertura do testamento. Você conhece a lei, eu presumo? - Colie
acrescentou friamente, e ela não recuou um centímetro.
O homem lhe deu um olhar furioso. Claro que ele conhecia a lei. Ele tinha fugido
dela a maior parte de sua vida.
Rod corou, olhando de um para o outro.
─ Irmãzinha, não tenho outro lugar para ficar. - Ele começou em um tom de queixa.
─ Penhore seu novo Jaguar e alugue um quarto de motel. - Foi a resposta de Colie.
O rubor tornou-se mais intenso.
─ É apenas um modelo de demonstração34. - Ele protestou. Enfiou as mãos no bolso
e deu ao amigo um olhar muito nervoso. Algum tipo de comunicação se passou entre eles. ─
Olha, precisamos conversar.

34
Demo car ou carro de demonstração(modelo de demonstração) - São carros novos que foram usados pela
equipe da concessionária ou como veículos de test-drive por clientes interessados. Muitas vezes eles são
usados como veículo pessoal por um vendedor e podem ter muitos quilômetros rodados e são então
vendidos muito abaixo do preço de mercado.

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─ Não agora. - Disse ela sem rodeios. ─ Tenho um funeral para organizar, e minha
filha está dormindo.
─ Oh. Você trouxe a menina? - Rodney parecia desconcertado. Ele lançou outro
olhar nervoso para o companheiro. ─ Eu pensei que ela ficaria com seu marido no Texas...
─ Meu marido está morto.
─ Oh. - Ele se moveu inquieto. ─ Ah eu entendo. Desculpe.
─ Ele tinha câncer, Rod. Ele estava pronto para ir.
Ele fez uma careta.
─ Eu acho que você teve um momento difícil. - Admitiu.
─ Um momento difícil. - Lucy zombou. Seus olhos olharam para ele. ─ Como você
saberia o que é um momento difícil, Rodney Thompson!
Ele desviou os olhos.
─ Vamos lá. - Disse o amigo a Rodney, olhando para as mulheres. ─ Nós podemos
voltar mais tarde e conversar com sua irmã. Quando ela estiver sozinha. - Ele acrescentou
em um tom baixo e levemente ameaçador.
─ J.C. sabe que estou aqui . - Disse ela a Rodney, observando sua reação. ─ Na
verdade, ele me encontrou no aeroporto. Foi muito diferente, dessa vez, já que você não
estava lá para encher sua cabeça de mentiras. - Enfatizou.
─ Não fique muito arrogante. - Disse o amigo bruscamente. ─ J.C. Calhoun não é
uma ameaça, como você parece pensar.
─ Cody Banks será. - Ela revidou. ─ E eu te prometo, ele saberá no minuto em que
você sair por aquela porta. - Ela indicou o celular.
─ Irmãzinha... - Rodney começou com preocupação. O amigo o levou pelo braço e o
arrastou para fora, batendo a porta atrás dele.
─ Chame Cody agora mesmo. - Lucy disse a sua melhor amiga. ─ Esse homem fez
ameaças.
─ Ele certamente fez. - Ela chamou o xerife e disse-lhe o que acabava de acontecer.
─ Se eu tivesse um homem que eu pudesse enviar, eu faria. - O xerife respondeu
sucintamente. ─ Ligue se precisar de mim. A central pode me encontrar, onde quer que eu
esteja. J.C sabe que Rodney voltou?
─ Ainda não. - Disse ela.
─ Vou telefonar e dizer a ele. - Disse o xerife. ─ Ele e seu pai eram próximos. Ele
nos ajudará a manter um olho nas coisas.
Ela sentiu uma pontada de preocupação.
─ Não... não diga a ele. - Ela pediu suavemente. ─ Vou telefonar e informá-lo. OK?
Ele riu.
─ Ok. - Ele hesitou. ─ Eles disseram que seu marido teve câncer.
─ Mieloma múltiplo. - Admitiu Colie. ─ Foi difícil de assistir. - Ela hesitou. ─ J.C.
jogou xadrez com o papai todas as semanas. - Ela acrescentou com uma risada. ─ Falando
sobre choque!
─ As pessoas mudam, Colie. - Ele disse calmamente. ─ Você pode não acreditar que
é possível, mas eu trabalho na aplicação da lei. Eu vejo essas mudanças todos os dias, em
algumas pessoas de quem o mundo inteiro desistiu.
Ela sorriu.
─ Eu suponho que você saiba.
─ Eu certamente sei. Sinto muito pelo seu marido. Mas a vida continua. Eu pensei
que fosse morrer com a minha esposa. Eu segui em frente. Eu ainda estou seguindo. Isso fica
mais fácil. E você tem uma linda garotinha para se lembrar dele.
Isso teve quase o tom de uma pergunta.

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─ Eu certamente tenho. - Disse ela. ─ Ele estava muito orgulhoso de Ludie.
─ Ludie. - Ele disse suavemente. ─ Ela tem o nome nome de sua mãe, não é? O
nome dela era Louise, mas todos a chamavam de Ludie.
─ Sim. Sinto falta da minha mãe. Mas é um pouco reconfortante saber que o papai
está com ela agora. - Acrescentou. Ela estava sufocando. ─ É difícil falar sobre isso.
─ Descanse. - Ele disse calmamente. ─ E se você precisar de mim, ligue. E também
ligue para J.C. OK?
─ Ok, xerife. E obrigado.
Ela desligou. E se virou para Lucy.
─ Ele ia contar a J.C. Mas você ouviu o que o homem disse. Se eu disser a J.C., se eu
o envolver e eles souberem disso, ele poderia acabar morto.
─ Querida, você poderia acabar morta. - Enfatizou Lucy. ─ J.C. treina policiais. Ele
era um policial, pelo amor de Deus. Ele costumava lidar com pessoas violentas. Você tem
uma situação real aqui. Você não consegue lidar com isso sozinha!
Ainda assim, Colie hesitou. Certamente seu próprio irmão não a machucaria. Ele
também não deixaria aquele homem furioso machucá-la.
─ Você está pensando que Rod não vai machucá-la. - Disse Lucy, interpretando a
expressão de sua amiga muito bem devido ao longo tempo de amizade, balançando a cabeça
quando Colie ia começar a falar. ─ Mas o amigo dele o faria. E Rod não é corajoso. Ele vai
correr ao primeiro sinal de problemas. Você nunca soube o que aconteceu com ele no
exterior, não é? - Ela acrescentou de repente.
─ Aconteceu algo com Rod? - Perguntou Colie.
─ Sim. Aconteceu algo com Rod. - Os dentes de Lucy trincaram. ─ Ninguém teve
coragem para contar ao seu pai, ou a você, para que você não dissesse a ele. Mas o
esquadrão de Rod enfrentou um grupo insurgente. E jogou o rifle fora, fugiu e se escondeu.
Dois membros de sua equipe foram mortos. Eles permitiram que ele fizesse uma baixa
desonrosa antes que seu tempo de serviço acabasse, ao invés de enfrentar a corte marcial,
porque seu oficial comandante conhecia seu pai e lutou com ele.
─ Querido Deus! - Exclamou Colie, horrorizada. ─ Ele nunca disse uma palavra
sobre isso!
─ Não me admira. - Ela suspirou. ─ J.C. sabe. Ele não virou às costas a Rod, como
fizeram os outros ex-militares. Ele é leal demais. Mas depois que Rod se envolveu na venda
de drogas, J.C. se afastou dele.
Colie sentou-se, pesadamente.
─ Os golpes apenas seguem aparecendo. - Disse ela.
Lucy fez mais café e serviu antes de sentar-se também.
─ Você tem que manter as portas trancadas e o seu celular a mão. Por que não chama
J.C. e deixa ele vir e passar a noite?
─ E começar as fofocas de novo? - Colie interrompeu com um sorriso triste. ─ Se
fosse só eu, eu poderia fazer isso. Mas eu tenho uma garotinha que sofrerá por minhas
indiscreções. Além disso, há a congregação de papai. - Ela lutou contra as lágrimas e engoliu
o bolo em sua garganta. ─ Eu vou lidar com isso. Eu posso chamar o xerife Banks se alguma
coisa acontecer. Rod não tem uma chave da porta. A única razão pela qual ele conseguiu
entrar há alguns minutos atrás foi por que a porta não está trancada.
─ Coloque as travas na porta também. Eu não deixaria que nenhum deles arrombasse
a fechadura. - Lucy aconselhou.
─ Rod quer que as pessoas pensem que ele veio por causa do papai, mas ele,
realmente, está aqui com seu amigo porque meus patrões têm um cliente cujo amigo está
virando evidência de estado em um enorme caso de distribuição de drogas que tem vínculos

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com Jackson Hole. - Ela respondeu. ─ Se o fizer, os federais terão um dia cheio invocando
os estatutos da RICO35 e muitos senhores da droga, presumivelmente incluindo o amigo de
Rod, estarão correndo para a fronteira, sem dinheiro.
─ Como isso envolve você?
Colie olhou para a amiga. Ela não podia admitir que realmente tinha visto Rod
receber uma mala cheia de narcóticos do amigo que o acompanhava hoje, que a razão pela
qual ela teve que deixar Catelow em primeiro lugar foi proteger seu pai, para provar que ela
não ia contar a ninguém o que ela tinha visto. Era a única maneira de manter seu pai vivo e
proteger a si mesma e o bebê que ela estava carregando.
─ Não posso te dizer. - Disse ela gentilmente. ─ Eu também não a colocarei na mira.
Basta acreditar em mim quando digo que há uma ameaça real. Amanhã, vou chamar meus
chefes no Texas e pedir ajuda. Eles têm um investigador de alto nível. Se eu pedir, eles o
enviarão aqui. Ele é um antiga boina verde.
─ Então faça isso. A primeira hora da manhã - Disse Lucy com firmeza.
Colie a abraçou.
─ Obrigada por ser minha amiga.
Lucy sorriu contra o ombro dela.
─ Lembra-se daquele velho ditado? Quando o problema é grande você precisa se
esforçar mais ainda?
─ Essa sou eu. - Colie suspirou, se afastando. ─ Problema. - E ela sorriu.

***
Foi uma noite longa. Ludie, que geralmente tagarelava no horário do banho e na hora
de dormir, estava estranhamente silenciosa. Ela continuou olhando sua mãe de uma maneira
preocupada. Tão jovem, mas ela era muito mais sábia do que seus anos.
─ Homem mau. - Disse Ludie antes de ir dormir. ─ Homem mau, mamãe. Ele
machuca as pessoas.
─ Ele não vai nos machucar. Vamos ter ajuda - Assegurou Colie com um sorriso e
um beijo terno.
─ Eu quero meu papai. - Disse Ludie, seus olhos cinzentos repletos de lágrimas.
Colie fez uma careta, inclinando-se para acariciar os cachos dourados-vermelho para longe
das pequenas bochechas molhadas de lágrimas.
─ Ludie, seu pai está morto. - Ela começou.
─ Não é meu verdadeiro papai. - Disse a criança com uma voz suave. ─ Eu quero
meu papai de verdade. - Colie ficou sentada lá, procurando pelas palavras.
─ Ele veio conosco. Ele me trouxe para a casa.
Colie sabia que o sangue estava se esvaindo das suas bochechas. J.C. A criança
estava dizendo-lhe que J.C. era o pai dela. Ela não podia saber! Não era possível. Colie tinha
tido muito cuidado em não dizer nada sobre J.C. ou seu passado com ele perto da criança,
que era excepcionalmente precoce.

35
RICO - Racketeer Influenced and Corrupt Organizations act - A Lei de Organizações Influenciadas e
Corruptas de Racketeer, comumente chamada de Lei RICO ou simplesmente RICO , é uma lei federal dos
Estados Unidos que prevê penas criminais maiores e uma causa cívil de ação por atos realizados como parte
de uma organização criminosa. A Lei RICO concentra-se especificamente na extorsão e permite que os líderes
de uma organização sejam julgados como mandantes pelos crimes que eles ordenaram que outros fizessem
ou os ajudaram a fazer , fechando uma lacuna que permitia que uma pessoa que mandou alguém, por
exemplo, matar uma pessoa, pudesse ser liberado do julgamento porque ele realmente não cometeu o crime
pessoalmente.

141
─ Ludie. - Ela começou, sem saber o que dizer a ela.
─ Ele amava Gimpa. - Acrescentou, usando o nome pelo qual ela sempre chamou o
avô.
─ Todos nós o amamos. - Conseguiu dizer Colie.
─ Meu verdadeiro papai fará com que o homem mau nos deixe em paz. - Seus olhos
se fecharam. ─ Eu gosto do meu verdadeiro papai...
Sua voz se apagou.
Colie estava sentada com ela, os dedos tocavam o cobertor que cobria sua filha, com
o peso do mundo sobre seus ombros.

***
Na manhã seguinte, ela tomou café e alimentou Ludie, que ainda estava muito quieta.
Assim que terminassem, e ela limpasse a cozinha do pai, ela telefonaria para o escritório de
advocacia onde trabalhava e pediria que enviassem o investigador.
Ela nunca fez a ligação. Antes que pudesse guardar os pratos do café da manhã, ela
ouviu o som de uma chave sendo inserida na porta da frente que estava trancada. A trava de
corrente estava presa a porta, mas um ombro forte a rompeu. Colie mal teve tempo de gritar
antes que dois homens encurralassem ela e Ludie, na cozinha...

***
A neve estava caindo intensamente em Skyhorn, o rancho de Ren Colter no
Wyoming. J.C. Calhoun dirigia por ele sem piscar um olho. Lembrou-se de dias selvagens
no Território do Yukon, quando era criança. Ele não era do Wyoming, mas um antepassado
era de Montana que ficava nas proximidades. Ele pensou sobre o antepassado com um
sorriso. Ele teria que contar a Ludie sobre ele um dia, sobre o guerreiro Blackfoot que
cavalgou com Crazy Horse, um Oglala Lakota, na Batalha do Rosebud em Montana.
Ludie. Sua filha. Ele suspirou. Ele se perguntou se Colie algum dia lhe contaria a
verdade. Ele suspeitava, mas não tinha certeza. Ele esperava que Lucy ainda estivesse com
ela, e que Rod não tivesse aparecido com seu amigo. Mais tarde, ele passaria por lá para ter
certeza.
Ele viu uma grande mancha branca perto da estrada do rancho, ao lado de uma cerca
quebrada por uma árvore caída. Provavelmente o peso da neve e do gelo derrubou o Pinheiro
lodgepole. Ele virou o caminhão para o lado da estrada e saiu. A neve salpiava seu cabelo
curto e preto. Ele odiava chapéus. Ren estava sempre falando com ele sobre isso. Mas J.C.
cresceu no território do Yukon, filho único de um pai Blackfoot e uma mãe irlandesa ruiva.
Ele era um rebelde. Ele nunca quis sossegar. Não até agora.

***
Ainda machucava J.C. recordar a pobre Colie, quando ele a confrontou há três anos
com o que Rodney disse que ela tinha feito. Ela não havia dito uma palavra. Ela apenas
suspirou e olhou para ele com aqueles comoventes olhos verdes que podiam dizer tanto em
silêncio. Ela não era uma mulher forte. Talvez fosse por isso que ele se envolveu com ela em
primeiro lugar. Ela simplesmente aceitou o pouco afeto que ele era capaz de dar, sem desejar
mais. Ela queria casamento, mas um noivado era tudo o que ele estava disposto a dar a ela.
Foram seus termos, todo o tempo.

142
Desde a infância, foi assim. Sua adorável pequena mãe irlandesa o protegeu da fúria
de seu pai. Ela amava seu pai, alcoólatra contumaz e tudo. É triste ver um educador, um
homem brilhante, acabar tão viciado em whisky que ele nem poderia desenvolver seu papel
no mundo. Ele abandonou o ensino pela mineração, porque conseguiria mais dinheiro nela.
E o dinheiro e uma criança, J.C., mataram seus sonhos de uma fazenda própria. Não importa
o quão ruim fosse, e era ruim, sua mãe não o deixaria. Você não abandona as pessoas que
ama, ela disse a ele uma vez. Você fica com elas, não importava o que fosse, e nunca
desistia de tentar salvá-los.
J.C tinha sobrevivido a uma infância de horror. Ele cresceu e tentou se adaptar ao
exército, mas era muito rebelde para o exército regular. Então, acabou nas operações
especiais. Ele estava trabalhando no Iraque quando conheceu Ren Colter, um oficial, depois
de uma devastadora incursão contra militantes. Eles se tornaram amigos. Ren lhe ofereceu
um emprego, que ele aceitou.
Ele gostava de Ren. O homem era tão rebelde quanto ele mesmo era. É claro, Ren se
casou, então as brigas ocasionais em bares agora se tornaram uma coisa do passado. Ele
gostava da esposa de Ren. Ela tinha uma afinidade natural com os animais. Como Colie.
Seu rosto se retesou quando ele se lembrou de Colie, chorando sem fazer um som, as
lágrimas rolando de seus olhos verdes como córregos silenciosos enquanto ele jogava sua
raiva sobre ela. Colie, seu cabelo ondulado, castanho escuro, macio à luz de sua cabana, seu
rosto pálido em decorrência do enjoo matinal. Ele finalmente ficou sem palavras para
insultá-la. Ela não disse uma palavra. Nem quando ele a colocou na varanda, na neve e
fechou a porta.
Ele estremeceu mentalmente. Relembrar o passado, não adiantava nada. Só o deixava
mais triste. Ele não olhou para uma mulher desde Colie. Provavelmente nunca mais o faria.
Ele podia se imaginar daqui a alguns anos, grisalho, vivendo sozinho, em guerra com o
mundo e com ele mesmo. Era uma vida solitária, mas lhe convinha. Ele tinha uma pequena
cabana com algumas centenas de hectares de terra adjacente a propriedade de Ren, e uma
pequena criação de gado da raça negra Black Angus. Ren pagava-lhe um salário principesco
para dirigir a segurança do rancho, mas ele tinha um trabalho extra. Duas vezes por ano ele
ainda ia para o exterior treinar policiais em algumas das áreas mais perigosas do Oriente
Médio. O que ganhava, ele investia. E estava bastante confortável agora. Mas ele mantinha o
emprego, porque o desafiava. Era a única coisa na vida de que ainda gostava.
Ele saiu do caminhão e caiu de joelho perto de uma vaca. Ela era uma das novilhas
grávidas, uma mãe pela primeira vez. Ele fez uma careta. Ela estava emaranhada no arame.
─ Apenas fique quieta, Bessie, eu vou te tirar daí. - Ele disse, sua voz suave e
profunda. Ele acariciou-a suavemente na cabeça. E voltou para o caminhão para passar sua
posição no GPS e obter um par de alicates de corte.
─ Melhor enviar o trenó. - Ele disse a Willis, o capataz. ─ Ela parece bem, exceto
pelos cortes, mas é melhor prevenir do que lamentar com puro-sangue.
─ Eu ouvi isso. - Willis riu. ─ Eu vou enviar Grandy.
─ Eu vou esperar por ele.
Ele soltou a novilha do arame e colocou-a de pé. Ela estava bamba. Ele a examinou
para ver se encontrava alguma fratura nas pernas, mas não encontrou nenhuma. Ela estava
muito grávida. Ele franziu o cenho. Odiava a memória de fêmeas grávidas. Isso trazia tanta
dor.
Ele não pensou que se importasse tanto. Não até que fosse tarde demais. Ele respirou
profundamente, sentindo os dedos gelados quando os colocou na garganta.
─ Você ficará bem. - Ele disse a novilha com uma voz suave. ─ Fique parada...

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Ele parou abruptamente. Ele ouviu um som. Era um som estranho. Como uma
criança choramingando. Ele balançou a cabeça. Ele estava ouvindo coisas. Talvez Ren
estivesse certo, e ele passava muito tempo sozinho.
Ele guardou os alicates. Foi quando ele viu. Marcas de pneus. E franziu a testa. Por
que haveria marcas de pneus aqui, na estrada do rancho, quando ele sabia que ninguém
havia vindo aqui o dia todo? Elas não estavam cobertas de neve, o que significava que eram
recentes.
Ele desceu sobre um joelho e as estudou. Pneus de carro. Ele sabia a diferença. Ele
havia trabalhado como policial antes de entrar nas forças armadas. Um dos seus deveres
tinha sido a investigação de acidentes. Ele franziu o cenho enquanto viu outra coisa. Sangue!
Ele olhou em volta, alerta agora. Ele voltou para o caminhão e abriu o porta-luvas,
retirando a Magnum .44, que sempre carregava nas redondezas do rancho. Colocou o coldre
em seu cinto e a pistola dentro dele. Seus curiosos olhos prata-pálidos se estreitaram em seu
rosto azeitonado enquanto olhava em busca de sinais.
Havia rastros, levando à estrada, perto de onde a vaca se enroscou na cerca caída.
Ele os seguiu. Rastros estranhos. Muito pequenos, como os de uma criança. Que
diabos uma criança estaria fazendo aqui, em uma estrada de fazenda no meio de uma
tempestade de neve? Ele estava ficando fantasioso. Provavelmente era um animal pequeno.
Ainda assim, havia os traços do sangue...
Ouviu novamente. Apenas um sussurro de som, um gemido.
Seus ouvidos estavam tão interessados quanto seus olhos. Sua cabeça virou. Ele
fechou os olhos, de modo que toda a sua atenção estava focada no que ele ouvia. Lá. Para a
esquerda.
Havia um pequeno grupo de pinheiros lodgepole e neve cobrindo um arbusto.
Debaixo do arbusto, viu um casaco branco com capuz, fofo, como aquele feito com penas de
ganso que ele tinha visto na pequena menina de Colie. Era o montinho que ele pensava ser
uma camada de neve caída.
Ele se aproximou e se ajoelhou. Estendeu a mão e tocou ligeiramente o ombro da
jaqueta manchada de sangue. Olhos de um cinza-pálido como a cor do céu no inverno
olhavam para os seus, emoldurados por cabelos encaracolados dourados-avermelhado, em
um rosto pálido com bochechas vermelhas e uma boca rosada que parecia um pequeno arco.
Lágrimas escorriam pelas bochechas.
─ Ludie! - Exclamou. ─ Querido Deus, o que aconteceu? O que você está fazendo
aqui, querida? - Ele perguntou com voz rouca.
Ela mordeu o lábio inferior. Tinha olhos que não deveriam ter lugar no rosto de uma
pequena criança. Eles continham o mesmo horror que ele tinha visto nos olhos dos veteranos
de combate.
─ Você pode me dizer? - Ele notou a frente da jaqueta, onde estava manchado de
sangue. - Ele franziu o cenho. ─ Você está machucada?
─ N-não. - Ela sussurrou. E estremeceu.
Ele sentiu um frio repentino.
─ Onde está sua mãe? - Ele perguntou de repente.
─ Eu não sei. - As lágrimas voltaram, calorosas e copiosas. Ela as afastou com um
punho minúsculo. ─ Mamãe me colocou para fora do carro e me disse para correr e me
esconder. Isso foi antes.
─ Antes do que?
Ela soluçou.
─ Antes que ele... atirasse nela.
A respiração dele ficou suspensa.

144
─ Quem atirou nela? - Ela não respondeu. E estremeceu. ─ Quem atirou nela,
querida? - Ele repetiu suavemente.
Ela parecia estar com choque.
─ Ele atirou em minha mamãe. Eu corri e corri. Ele matou a minha mamãe!
─ Querido Deus. - Havia vestígios de evidências sobre ela. Ele não se importava.
Nenhum humano com meio coração poderia deixá-la sentada na neve. Ele a puxou para
cima em seus braços e a embalou, beijando seus cachos dourado-vermelho. ─ Está tudo
bem, querida. - Ele sussurrou. ─ Está tudo bem, você está a salvo.
Ele pegou seu telefone e chamou o xerife do condado, Cody Banks.
─ Bom Deus! - Cody explodiu quando J.C. lhe contou o que encontrou. ─ Eu vou
para aí. Estou a menos de três quilômetros da sua posição. Graças a Deus, você tem GPS.
Não toque em nada. Eu mandarei Davis nos encontrar aí. - Davis era seu investigador.
─ Ela disse que alguém atirou em sua mãe. - Acrescentou. ─ Você deve encontrar
Colie!
─ Vamos tratar disso. A criança está bem? Devo enviar uma ambulância?
─ Sim, por favor.
─ Estamos a caminho.
J.C desligou. Ele acariciou o cabelo da criança enquanto seu coração sentia como se
tivesse se transformado em pedra quando pensou sobre o que ela havia dito, sobre Colie.
─ Você vai ficar bem. Ninguém vai te machucar. Eu prometo.
Ela ainda estava mordendo o lábio inferior e as lágrimas não paravam.
─ Eu quero a minha mamãe. - Ela soluçou.
─ Nós a encontraremos, Ludie. - Ele disse com um tom suave e profundo. ─ Eu
prometo, nós a encontraremos. - Ela olhou para ele com olhos identicos aos seus. ─ Tio Rod
ajudou o homem mau.
Ele mandou o tio Rod para o diabo. Haveria vingança. Deus ajudasse Rod se Colie
estivesse morta.
J.C. levantou-se com a criança em seus braços, olhando em volta cautelosamente. Ele
viu a direção das marcas dos pneus, em direção a casa dos Thompson. Como diabos a
criança acabou aqui e onde estava Colie? A criança disse que ela foi baleada.
E se ela estivesse morta? Seus olhos fecharam. Ele sentiu um estremecimento passar
por ele. A criança parecia sentir sua dor. Sua pequena mão tocou sua magra, tensa bochecha.
Os olhos cinza-pálido, os olhos dele, olhavam para ele.
─ Ah. - Disse ela. E hesitou. ─ Tudo bem. - Ela assentiu, balançando os longos
cachos dourado-vermelho. Ela lembrava muito das bonecas de Shirley Temple que ele tinha
visto. Ela era uma bela criança. ─ OK. Mamãe está bem.
Ele lembrou do aeroporto quando Colie e a criança voltaram para o funeral do
Reverendo Thompson. Ludie estava chorando. Ela havia dito a sua mãe que seu avô estava
morto antes mesmo de chegar e J.C. teve que dizer isso para ela.
─ Você sabe coisas, não é? - Ele perguntou muito suavemente.
Ela assentiu de novo. Sua pequena mão ainda estava em sua bochecha.
─ Você é meu papai. - Ela disse em sua voz clara e bonita.
Seu suspiro foi audível. Ela inclinou a cabeça e olhou para ele.
─ O homem mau machucou minha mamãe. - Disse ela. ─ Ela está em casa. A casa
onde vivia Gimpa.
O coração de J.C. saltou. Ele pegou o telefone e chamou Banks.
─ Você pode verificar a casa do Reverendo Thompson e ver se Colie está lá? - Ele
perguntou. ─ Não importa como eu sei. - Ele acrescentou, olhando para Ludie, que estava

145
agarrada a ele. ─ Apenas cheque. - Ele suspirou. ─ Certo. Obrigado. - Ele desligou
novamente.
─ Eu quero minha mamãe. - Sua pequena voz falhou.
Ele a aproximou, segurou-a, embalou-a, beijou os cachos úmidos dourado-vermelho
e lutou contra uma névoa em seus olhos pálidos. Por favor, deus, deixe Colie estar bem,
pensou ele. Por favor!
Os pequenos braços rodearam seu pescoço e ela se segurou nele com unhas e dentes.
─ Estou com medo. - Ela sussurrou. ─ Ele machucou minha mamãe. Ele disse que também
me machucaria...
Seus braços a apertaram.
─ Ninguém vai machucar você. Não enquanto eu estiver vivo. Eu juro isto!
Ele sentiu-a relaxar, apenas um pouco, mas ainda estava soluçando.
As sirenes explodiram como bombas no silêncio amortecido pela neve, os pinheiros
altos e as montanhas distantes.
O xerife Cody Banks desceu do seu carro patrulha, seguido de perto por seu
investigador, Matt Davis, em um segundo carro.
Cody fez uma careta quando viu J.C segurando a criança.
─ Não diga uma palavra. - Murmurou J.C, parando com a criança ainda mais
próximo. ─ Há vestígios de sangue pela estrada, no lugar onde ela estava deitada, e em sua
jaqueta. Mais do que suficiente como evidências, apesar do fato de eu movê-la de seu
esconderijo. Ela diz que um homem atirou na mãe dela. Ela estava chorando. - Ele engoliu
em seco. Com dificuldade.
─ Eu não ia dizer nada. - Respondeu Cody suavemente, estremecendo quando a
criança ergueu o rosto e ele viu as lágrimas, os olhos pálidos inchados e gelados. ─ Os
paramédicos estão bem atrás de mim.
Enquanto ele falava, a ambulância parou com as luzes piscando e dois homens
uniformizados saíram do veículo com uma maleta.
Eles examinaram Ludie enquanto o investigador do xerife reunia evidências e tirava
fotos da cena, incluindo as marcas dos pneus e evidências de que a criança tinha descido de
um carro lá.
─ Ela parece bem. - Disse um dos paramédicos, sorrindo para a criança. ─ Mas seria
uma boa ideia levá-la para a sala de emergência, para verificar...
─ Não! - Ludie agarrou-se a J.C. quando o paramédico tentou pegá-la.
J.C se sentiu possessivo quando ela fez isso. Ele, que nunca quis crianças, queria essa
com todo o coração.
─ Vou levá-la lá. - Disse J.C.
─ Nós podemos colocá-la em uma casa temporária. - Cody tentou novamente.
─ Não! - Ela lamentou, e começou a soluçar e a se agarrar ainda mais a J.C.
J.C. respirou fundo.
─ A mãe dela e eu fomos noivos uma vez. - Disse ele a Cody. ─ Eu sou família, tão
próximo quanto. Ela pode ficar comigo por enquanto.
Os braços da criança se apertaram.
─ Nós resolveremos isso com o tribunal. - Disse Cody, rindo suavemente quando
notou a interação entre a criança e o homem que odiava crianças. ─ Nós também precisamos
levá-la a um psicólogo o mais rápido possível. Ela está traumatizada. Davis, vamos
trabalhar.
─ Você já verificou na casa do Reverendo Thompson? - Perguntou J.C.
─ Meu vice foi para lá quando eu cheguei aqui. - Disse o xerife. ─ Nós saberemos
algo em breve.

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J.C apenas assentiu. Ele sentia-se totalmente doente. Ele não conseguiu imaginar um
mundo sem Colie. Ele não queria imaginar.

***
Eles encontraram suficientes evidências para o laboratório criminal começar. No
momento em que foi recolhida, Cody tinha o modelo e a marca do carro em que Colie
Thompson Howland estava. Uma câmera de vigilância colocada perto da rodovia, no rancho
de Ren, havia gravado a parada do carro, e a criança fugindo. O carro pertencia a Rodney
Thompson, o melhor amigo de J.C.
Desde que ele e Rodney se separaram, ele tinha ouvido muitas fofocas sobre o
homem. O ex-militar havia passado de um vendedor responsável na loja de ferragens local
para um vagabundo sem valor, um homem que distribuía drogas e tinha várias prisões por
posse de drogas. J.C. o amou como se ele fosse seu próprio irmão quando eles se tornaram
amigos. Muito rapidamente, essa proximidade havia desaparecido.
Quem atirou em Colie? A criança não havia dito isso, mas era dolorosamente óbvio.
Ela saiu do carro de seu tio. Presumivelmente, sua mãe ainda estava ali, em algum lugar,
morta. Rodney disparou contra sua própria irmã? Seu rosto se endureceu. Ele queria o
homem trancado pelo o resto da vida. Ele não percebeu que falou em voz alta, ou com tanta
paixão, até que Cody lhe respondeu.
─ Essa é, exatamente, minha ideia, se pudermos provar isso. Tenho um homem
dirigindo até sua casa agora mesmo. - Disse Cody calmamente. ─ Eu quero apreender o
carro antes que ele tenha tempo para remover qualquer evidência. E ainda há a questão de
encontrar... - Ele parou quando notou a criança olhando para ele. Ele não queria dizer... o
corpo da mulher, na frente de Ludie.
─ Vou levar Ludie para a sala de emergência. - Disse J. C. Secamente. Ele queria
desesperadamente ir até a casa, para ver se Colie estava lá. Mas ela pode não estar, e Ludie
tinha que vir primeiro. ─ Eu sei que não posso ter qualquer parte na investigação, mas a mãe
dela e eu fomos noivos. - Ele segurou as emoções enquanto as palavras saíam. ─ Eu joguei
xadrez com o pai dela todas as sexta-feira por quase dois anos. Primeiro ele, agora ela...
Deus, é demais! - Ele aconchegou Ludie e olhou por cima da cabeça dela para Banks. ─
Você pode me ligar, assim que souber alguma coisa?
─ Eu farei isso. - Prometeu Cody gentilmente. ─ Eu sinto muito. - Ele acrescentou,
estremecendo enquanto olhava para o rosto manchado de lágrimas da criança.
J.C estava tentando controlar seu próprio medo e não era fácil.
─ Vamos para o hospital.

147
14
Colie havia feito café da manhã quando ouviu uma chave na fechadura da porta da
frente.
Ludie olhou para a mãe e estremeceu.
─ Homem mau, mamãe, homem mau! - Ela disse com urgência.
Antes de Colie ter tido tempo de reagir, Rodney e seu amigo Barry entraram pela
porta. A expressão de Rodney era de arrependimento e desculpas. Seu amigo, estava
segurando uma pistola na mão arrogantemente.
─ Colie, você precisa chamar seus chefes e dizer-lhes para não continuar com esse
caso das drogas. - Disse Rodney rapidamente. E lançou um olhar para Barry. ─ Ela vai fazer
isso, eu sei que ela vai. - Acrescentou. ─ Você não precisa da arma!
─ Ela nunca vai fazer isso. - Disse Barry, compreendendo com precisão o olhar no
rosto de Colie. ─ Ela não se importa se você for para a prisão.
─ Isso não é verdade... - Colie começou, tentando ganhar mais tempo para pensar, e
para conseguir fazer algo. Deixaria ele atirar nela, se precisasse, mas deveria salvar Ludie.
Se ao menos tivesse pedido a J.C. que ficasse com elas. Tarde demais agora.
─ Mas. - Protestou Rodney, e parecia que realmente importava para ele que sua irmã
não fosse prejudicada. Por uma vez, seus olhos não estavam vermelhos. Parecia o irmão que
ele costumava ser, quando não estava sob a influência das drogas.
─ Cala a boca, Rod. - Disse Barry. ─ É tarde demais. Pegue a garota. Você vem
comigo. - Disse ele a Colie.
─ Não. - Ela disse, e pegou uma faca de açougueiro no balcão.
Barry simplesmente apontou a pistola .45 automática para a cabeça de Ludie.
─ Você escolhe. - Ele disse.
Agora, Colie estava aterrorizada. O homem não parecia estar blefando. Se o processo
judicial fosse adiante, ele iria para a prisão federal em algum momento, e ele sabia disso. Ele
estava desesperado o suficiente para fazer qualquer coisa, até mesmo atirar em uma criança
desamparada.
─ Tudo bem. - Disse Colie rapidamente, abaixando a faca. ─ Tudo bem, vou fazer o
que você quiser. Apenas não machuque Ludie.
─ Homem mau. - Disse Ludie, olhando para Barry. ─ Homem mau.
─ Mau o suficiente. - Disse Barry com um sorriso arrogante. ─ Vamos. - Ele apontou
a arma para Colie. ─ Pegue a garota e venha.
─ Onde você a está levando? - Rodney perguntou, preocupado.
─ Apenas para um passeio, e uma conversinha. Você fica aqui e espera até eu voltar.
- Ele instruiu. ─ Me dê as chaves do seu carro.
Rodney assim fez, preparado para fazer qualquer coisa que este homem mandasse,
porque ele estava com a corda no pescoço e ele sabia que Barry não hesitaria em matá-lo
também. Mas ele, honestamente, não percebeu por minutos preciosos o que o homem havia
dito. "Até eu voltar." Barry quis dizer que ele voltaria sozinho.

***

148
─ Faça tudo o que você quiser comigo, apenas não machuque minha filha. - Colie
implorou quando Barry dirigia pela estrada até um trecho deserto que passava ao lado do
rancho de Ren Colter.
─ Você contou o que viu há três anos, não foi? - Perguntou Barry enquanto dirigia. ─
Você disse que me viu trazer uma mala de drogas para Rod. Você é a única testemunha que
pode ter falado sobre isso.
Ela respirou fundo. Então, isso era do que se tratava, não o caso judicial.
─ Eu nunca disse uma palavra sobre isso. - Protestou ela.
─ Claro, você não disse. - Ele disse duramente. ─ Mas você não vai testemunhar.
─ Não. Eu não vou. Eu prometo. - Disse ela, negociando sua liberdade. Ela abraçou
Ludie. Não havia cadeirinha de bebê no carro, então Ludie estava no seu colo.
─ Tarde demais para isso. - Ele parou o carro e pegou a arma. ─ Este é um bom local
e isolado. Nenhuma testemunha.
Colie teve segundos para agir. Ela abriu a porta e colocou Ludie no chão coberto de
neve.
─ Corra! - Ela disse à criança. ─ Corra como o... vento! - Sua voz falhou quando o
homem ao lado dela puxou o gatilho. O sangue espirrou por toda parte, salpicando até a
jaqueta branca de Ludie.
Ludie gritou quando ouviu o tiro. Ela tentou olhar para trás, mas sua mãe gritou.
─ Corra! - Uma última vez.
Ela correu em direção à cerca, encontrou uma abertura embaixo dela onde algum
animal grande tinha cavado uma entrada através da neve e rastejou por ela. Com as lágrimas
escorrendo por suas bochechas, ela correu o mais rápido que pôde para o abrigo da floresta.
─ Você não vai machucar... minha filha! - Colie disse, lutando com o homem. Ela
não era grande, mas era forte. Mesmo com a adrenalina bombeando pelo seu corpo, a ferida
a estava enfraquecendo. Ela mal conseguia respirar e tinha a cabeça aérea. Ela sentiu a vida
escorrendo dela através do buraco em seu peito. ─ Você... não vai!
─ Ela vai congelar até a morte em pouco tempo. - Disse Barry duramente. ─ E ela
não seria testemunha de qualquer maneira.
─ Testemunha... - Ele estava perdendo os sentidos. A ferida no tórax estava fazendo
sons estranhos. Ela lutava para conseguir respirar.
Ela tinha sentido como um soco no peito, mas agora a dor estava começando. Se
Ludie conseguisse chegar à segurança! Ela devia tentar manter a consciência...
Ela deu um último suspiro e desmaiou. Barry pensou em jogá-la para fora, mas isso
podia levar alguém até a criança, se eles descobrissem as pequenas pegadas na neve. Ele não
queria que a criança fosse encontrada. A mulher moribunda ao lado dele não poderia dizer
onde ela estava, de qualquer forma.
Ele dirigiu o carro de volta para a casa de Rodney.

***
Rod estava esperando na varanda da frente, andando de um lado para o outro. Ele
correu em direção a Barry.
─ O que você fez... Irmãzinha! - Ele explodiu quando a viu.
─ Fiz apenas o que era necessário. - Disse Barry com indiferença. ─ Agora, não
haverá testemunha contra mim pelo negócio das drogas, mesmo que seu escritório de
advocacia puxe o tapete do traficante. Posso vencer essa acusação. Mas uma testemunha
ocular de distribuição de drogas poderia me colocar na prisão federal. Eu não poderia
arriscar.

149
─ Minha irmã. - Rod ergueu-a gentilmente do carro, lágrimas escorrendo pelo rosto.
─ Minha irmã!
─ Seu carro, sangue dela, adivinhe quem vai assumir esse assassinato? - Barry falou
lentamente.
Rodney não estava ouvindo. Ele colocou Colie suavemente no chão da varanda.
─ Você matou minha irmã! - Ele olhou para a porta aberta do passageiro e seu
sangue correu mais rápido. ─ Onde está Ludie?
Barry simplesmente encolheu os ombros.
─ Perdida na floresta. É melhor pensar sobre o que você vai fazer. - Disse ele
tranquilamente. ─ Eu estou voltando para Jackson Hole. Posso ir a Aruba. Você está por sua
conta. Você era um péssimo traficante, Rod. Melhor, assim eu não tenho que ficar de olho
em você para ver o que a sua irmã está fazendo. - Ele olhou para a mulher moribunda. ─ Ela
não vai mais ser um problema.
─ Assassino! - Rod enfureceu-se, e correu para ele.
Barry facilmente o derrubou no chão, ajustou seu terno caro e caminhou até seu
próprio carro de luxo. Ele entrou e foi embora. Mesmo que Rodney ligasse para a polícia,
Barry estaria livre. Não havia testemunhas, o sangue e o corpo podiam ser rastreados até o
carro de Rod. Não era Barry quem iria para a cadeia por assassinato. Quanto a isso, ele podia
relaxar. Não havia testemunhas do que ele havia feito. E quem sabe, com a neve caindo tão
forte, eles podiam não encontrar o corpo da criança por um longo tempo.

***
Rodney chamou 911 de um dos seus telefones descartáveis. Ele não se atrevia a ficar.
Barry estava certo. Ele seria acusado de assassinato, se Colie morresse. Sua irmã. Ele a
deixou sozinha, estava relutante em deixar Barry e o dinheiro fácil, traiu sua própria carne e
sangue. Seu pai estava morto. Sua irmã estava morrendo. E Ludie. E quanto a Ludie? Ele
não tinha ideia de onde ela poderia estar. Barry não tinha ido longe, mas era uma grande
área. Ele nunca conseguiria encontrar a pobre criança, mesmo que ele tivesse tempo de
procurá-la.
Ele acariciou o cabelo de Colie. Ela tinha uma ferida no peito. Isso a mataria logo se
não conseguisse ajuda. Ele deu a localização da casa ao 911, mas desligou quase
imediatamente. Ele entrou na casa e pegou uma grande sacola plástica na cozinha. Ele
colocou-a na ferida e envolveu um cobertor apertado em torno dela para mantê-la no lugar.
Durante seu tempo de exército, ele viu tratamentos improvisados para todos os tipos de
ferimentos. Graças a Deus, ele se lembrou disso.
Mas ela ainda estava em mau estado e ele não se atrevia a ficar. Ele queria deixar
uma bilhete, denunciar Barry, dizer a Colie que ele estava arrependido por ter causado isso a
ela e sua filha. A filha dela! Seu sangue corria gelado. Era filha de J.C. Ele sabia. A maioria
das pessoas sabia que Colie só teve um amante, e era J.C. Ele estava certo de que nenhum
outro homem tinha gerado aquela garotinha, e ele só podia imaginar o que J.C. faria quando
ela fosse encontrada morta. Ou quando Colie fosse encontrada morta, se não sobrevivesse.
O lugar mais seguro seria um fora do país. Rod tinha dinheiro. Ele podia fugir. Mas
apenas se agisse rapidamente.
Ele entrou no carro, estremecendo ao ver o sangue no banco do passageiro e disparou
pela estrada. Ele poderia parar em um posto de gasolina e pegar algumas toalhas de papel
para limpar a bagunça. Encontraria um campo, em uma estrada menos movimentada, para
fazer isso. Enquanto isso, ele fez uma oração silenciosa para que Colie fosse encontrada a
tempo, mesmo se ela vivesse para testemunhar e colocá-lo na prisão. Ele era responsável por

150
tudo isso. Seu pai o criou para ser um bom menino, mas ele havia sido fraco e facilmente
manipulável e os resultados foram trágicos. Seu pai ficaria envergonhado dele. Ele estava
envergonhado de si mesmo. Mas continuou dirigindo, mesmo assim.

***
O vice-xerife encontrou Colie na varanda e chamou os paramédicos por rádio.
Estavam a menos de um minuto de distância, tinham acabado de atender Ludie na estrada
onde J.C. a encontrou.
─ Olhe para isso. - Um paramédico disse ao outro enquanto estabilizavam Colie,
observando a atadura improvisada. ─ Alguém tentou ajudá-la.
─ Talvez a pessoa que atirou nela. - Disse o companheiro. ─ Nós temos algo melhor
do que isso, graças a Deus. Vou avisar a central e prepará-la para o transporte.
─ Já me adiantei. - Disse a mulher, voltando para a ambulância para pegar os
materiais.

***
J.C. tinha apenas terminado com Ludie na sala de emergência. Exceto por algum
trauma emocional, o residente disse a ele, a criança ficaria bem. Ela estava ilesa, apesar da
neve em que ela havia sido encontrada. Sorte, o homem acrescentou, porque as queimaduras
teriam sido um problema se ela tivesse ficado no frio por muito tempo.
J.C. agradeceu o homem e aconchegou Ludie quando saíram do cubículo.
─ Mamãe lá. - Disse Ludie, apontando.
J.C olhou e depois sorriu.
─ Não, querida, ela não está. Eles a estão procurando... - Ele não tinha muita
esperança de que ela fosse encontrada viva. Era como um ácido, corroendo seu coração,
saber disso. Ele tinha que ficar calmo, por amor a Ludie.
─ Mamãe. - Insistiu a criança.
J.C olhou de novo, e os paramédicos estavam correndo com uma mulher em uma
maca.
─ Colie! - J.C. explodiu. Ele correu para a maca com Ludie em seus braços. ─ Esta é
a filha dela. - Disse ele enquanto seguia a maca. ─ Ela vai viver?
─ É um GSW36 - Disse um paramédico, significava um ferimento por arma de fogo.
─ É uma ferida no peito. - Acrescentou a paramédica, sem diminuir os passos no
caminho para as portas giratórias do centro cirúrgico. ─ Ela está em mau estado. O médico
terá que avaliá-la e dar-lhe um prognóstico. Você é um parente?
─ Seu noivo. - Disse ele.
─ Essa é minha mamãe. - Ludie disse a eles, chorando de novo. ─ Mamãe, vai ficar
boa? - Perguntou ela.
─ Faremos todo o que pudermos. - Assegurou o homem.
─ Este é meu papai. - Acrescentou Ludie, acariciando o rosto de J.C.
O paramédico que é do local, apenas sorriu para J.C., que olhou para a criança com
um misto de orgulho e prazer.
─ Vamos aguardar aqui. - Disse J.C.
Eles levaram Colie para a sala de emergência.

36
- GSW - Gunshot wound ou ferimento por arma de fogo.

151
***

Passou muito tempo antes que um homem em traje cirúrgico veio falar com eles,
puxando a máscara enquanto caminhava.
J.C ficou de pé imediatamente, com Ludie em seus braços.
─ Como ela está? - Ele perguntou rapidamente.
─ Ela vai viver. - Disse o homem, observando o terror que havia sido contido nos
dois pares de olhos que eram idênticos, um cinza pálido e cintilante.
─ Graças a Deus. - Disse J.C fortemente. Ludie apenas sorriu para o cirurgião, que
sorriu para ela.
─ Houve algum dano no lóbulo inferior do pulmão. A bala ricocheteou e cortou seu
cólon. E se alojou em suas costas, num lugar onde seria mais perigoso removê-la do que
deixá-la. - Ele acrescentou calmamente. ─ O corpo reagirá ao construir um escudo carnoso
em torno dela. Ela não saberá que está lá.
─ Eu tenho um em mim em algum lugar. - J.C. respondeu. ─ Combate no Oriente
Médio. Não é uma lembrança que eu realmente queria, mas meu cirurgião de combate me
disse o mesmo que você acabou de dizer sobre Colie.
─ Eu tive algumas batalhas reais com policiais sobre a remoção de balas para provas.
Fui ao tribunal uma vez para ter certeza de que não seria pressionado a fazer algo que eu
considerava um risco desnecessário. O policial teve que procurar outras provas. Ele achou,
no caso de você se perguntar.
─ Podemos ver Colie? - Ele perguntou roucamente.
O cirurgião estava relutante até olhar nos olhos de Ludie. Ele, então, cedeu.
─ OK. Por um minuto, no entanto. Ela ainda não saiu da anestesia.
Eles o seguiram de volta à sala de recuperação, onde uma enfermeira estava
supervisionando dois pacientes pós-cirúrgicos.
─ A filha dela. - O cirurgião contou a enfermeira que olhou o rosto cheio de lágrima
de Ludie e não pôde evitar sorrir.
─ Mamãe! - Exclamou Ludie.
J.C. se aproximou da forma imóvel, pálida sob o lençol.
─ Querido Deus, nunca orei tanto na minha vida. - Disse ele em voz baixa.
─ Foi por pouco. - Afirmou o cirurgião. ─ Se ela tivesse sido encontrada um pouco
mais tarde, e se alguém não tivesse improvisado um tampão para a ferida...
─ Um o que? - Exclamou J.C.
─ Alguém a tratou antes que os paramédicos chegassem. - Disse ele. ─ Havia uma
atadura improvisada, de plástico, sobre a ferida no peito. Muito efetivo. Provavelmente
salvou sua vida.
─ Sim. - J.C. aconchegou Ludie para poder tocar o rosto branco de Colie. Ele
acariciou seu cabelo espesso e suave com ternura. ─ Colie. - Ele sussurrou com voz rouca.
Os olhos dela se abriram. Ela olhou para eles através do embotamento mental
provocado pela anestesia. Ela piscou. E estremeceu.
─ Mamãe! - Chamou Ludie.
Ela olhou para a criança e conseguiu sorrir através da dor que estava lentamente
retornando.
─ Ludie. Meu bebê. - Ela sussurrou.
─ Quem atirou em você? - Perguntou J.C rapidamente.
─ Barry. Ele ia matar... nós duas. Coloquei Ludie fora. Disse-lhe... para correr. -
Lágrimas ameaçavam cair. ─ Eu estava com medo... ela poderia ter morrido congelada!

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─ Ela está bem. Vou levá-la para casa comigo. - J.C. disse gentilmente. ─ Você vai
ficar bem, querida. Muito bem.
Ela olhou para ele com olhos verdes cheios de dor.
─ Obrigada... J.C. - Ela conseguiu dizer.
A mão grande dele acariciou seus cabelos.
─Nós voltaremos para vê-la amanhã. OK?
Ela conseguiu um dar um sorriso.
─ Eu te amo, Ludie. - Ela sussurrou.
─ Eu te amo, mamãe. - Respondeu a menina. ─ Homem mau fugiu! - Ela
acrescentou. ─ Ele não vai chegar longe. - Disse J. C. secamente. ─ A metade da lei do
Wyoming o tem na mira.
─ Eu quero cinco... minutos sozinha com ele. - Sussurrou Colie. ─ Com uma barra
de ferro... - Ela tentou rir e adormeceu em vez disso.
─ Ela vai dormir agora. - Assegurou o cirurgião. ─ Você tem que sair. Eu também.
Eu tenho outro caso esperando.
─ Obrigado por nos deixar entrar. - Disse J.C triste e com um olhar aliviado para
Colie. ─ Nós estávamos morrendo de medo.
─ Mamãe está bem agora, papai. - Disse Ludie, aconchegando-se mais a ele.
Ele sorriu por cima da cabeça dela para o cirurgião e saiu para o SUV.

***
Ele chamou o xerife Banks de seu telefone celular quando ele e Ludie voltavam para
Skyhorn, mas o xerife estava ocupado demais para responder. Ele deixou um número de
retorno. Banks precisava saber o que Colie lhe havia dito.
Ele deixou Ludie com a esposa de Ren, Merrie, pedindo a ela para banhar a criança e
lavar suas roupas enquanto ele voltava à cidade para comprar roupas e um brinquedo ou dois
para a menina, que iria ficar na cabana com ele. Merrie assegurou-lhe que cuidaria da
criança. Ver o vínculo muito real que se formou entre pai e filha a divertiu.
Banks telefonou quando ele acabava de chegar em frente a uma boutique de roupas
infantis, no centro de Catelow.
─ Falei com Colie na sala de emergência. - Disse ele a Banks. ─ Ela disse que Barry
Todd atirou nela. Ele também mataria Ludie, mas ela empurrou Ludie para fora do carro e
disse para ela correr.
─ Eu imaginei isso. Ela deve saber algo sobre Barry Todd, para ele ter tentado matá-
la e a criança também.
─ Algo que ela nunca contou a ninguém. - Concordou J.C. ─ Eu pensei que era por
causa do processo judicial no Texas. Eles têm um informante que está pronto para detonar a
rede de distribuição de drogas e, aparentemente, envolve o próprio Barry.
─ Então, talvez ele tenha dois motivos.
─ Alguém tratou a ferida. Alguém que sabia como. Era uma ferida no peito. O
cirurgião disse que isso salvou a vida dela.
Banks soltou um suspiro.
─ Graças a Deus pelas pequenas bençãos. Todd não teria feito isso. - Acrescentou.
─ Eu sei. Tenho certeza de que foi Rod. Ele esteve em combate. Eu sei que ele teria
uma ideia do que fazer com uma ferida.
─ Sim. Eu tenho um mandado para ele, e para Todd. Se pudermos encontrá-los, Todd
vai responder por tentativa de assassinato. E como ele sequestrou Colie e a filha de sua casa,

153
eu posso trazer os federais para ajudar. Sequestro é um crime federal. Todd selou seu
próprio caixão.
─ Nós podemos esperar que sim. - Disse J.C com frieza. ─ Eu deixei Ludie com
Merrie enquanto compro algumas roupas para ela e pego uma refeição de criança no fast
food. Eu posso cozinhar, mas não estou com humor para isso agora. Foi um maldito longo
dia.
─ Me conte sobre isso. - Banks riu. ─ Eu estava atrás de um ladrão de banco,
acredite ou não. Ele roubou, a mão armada, várias centenas de dólares de uma loja de
especiarias e fugiu. Nós o encurralamos na casa da avó dele, mas ele estava ameaçando
matá-la se nós não recuássemos. É por isso que não fui ao hospital para interrogar Colie. Ela
vai ficar bem, então?
─ É o que o médico diz. Ele teve que deixar a bala.
─ Ei, eu também tenho uma dessas. - Disse Banks.
J.C. riu.
─ Eu também. Talvez nós possamos formar um clube ou algo assim.
─ Eu tenho que voltar para meus homens. Eu aviso você se o irmão de Colie ou Todd
aparecerem.
─ Obrigado, Cody.
─ Sem problemas.
J.C desligou. E entrou na loja para crianças. A funcionária, que o conhecia através de
Lucy, que comprava roupas para o filho lá, olhou-o com surpresa.
─ Preciso de algumas coisas para minha filha. - Disse ele, e as palavras passaram por
ele com alegria borbulhante.
A mulher sorriu.
─ Me diga o que você quer.

***
Era uma aventura, comprar para uma garotinha que era pouco mais do que um bebê.
Ele não tinha ideia do tamanho das coisas para comprar, então ele apenas adivinhou. Se
algumas das coisas não servissem, a vendedora assegurou-lhe, ele poderia trazê-los de volta
e devolvê-los. Ele pegou pijama, um par de calças e duas camisas, mais algumas roupas de
baixo e uma jaqueta nova com capuz. Ele não gostava da ideia de sua filha usando uma
roupa manchada de sangue.
Ele deu à vendedora o seu cartão de crédito e agradeceu quando ela empacotou tudo.
Ele levou as compras para o seu grande SUV preto.
Havia uma mulher cheia de lágrimas ali de pé, olhando para ele com medo e
esperança.
─ Colie. - Disse Lucy com voz rouca. ─ Como ela está? Ludie está bem?
─ Ambas vão ficar bem. - Ele assegurou a ela. ─ Colie foi ferida no peito. Ludie
estava apenas traumatizada. Ela escapou a tempo.
─ Quem fez isso? - Lucy perguntou friamente. ─ Foi aquele amigo nojento do
Rodney, não foi? O tal Barry Todd!
─ Colie identificou-o como a pessoa que atirou nela. Ainda não sei se ele a atacou,
apenas porque seu escritório de advocacia estava envolvido no julgamento dos casos sobre
drogas.
─ Nem eu. - Lucy concordou. ─ Colie disse que havia algo mais, um segredo que ela
manteve por um longo tempo. Ela não me contou, porque ela disse que isso iria me colocar
em risco. Mas tenho certeza que é por isso que ela ficou no Texas toda esse tempo. Você

154
sabe que ela ficaria aqui com o pai, se não houvesse uma boa razão para ela se afastar de
Catelow.
Ele suspirou.
─ Eu acho que é por isso que Rodney e o amigo Barry me encontraram no aeroporto
e me disseram que Colie me enganou. - Seu rosto se fechou. ─ Eu deveria ter colocado
ambos no chão e confiado em Colie em vez disso. Eu tinha problemas - Acrescentou,
evitando seus olhos.
─ Às vezes, temos segundas chances . - Lucy respondeu.
Ele conseguiudar um sorriso.
─ Às vezes, esperamos não arruinarmos essa também. Só estou grato de que ambas
estão vivas. Foi por pouco.
─ Se Colie precisar de mim para ajudá-la com Ludie, ficarei feliz por ficar com ela. -
Lucy ofereceu.
─ Obrigado. Eu digo a ela. Por enquanto, Ludie fica comigo no Skyhorn. No caso de
aquele senhor da droga perturbado descobrir que ela está viva e decidir tentar novamente. -
Seu rosto endureceu. ─ Eu vou pedir a Banks para colocar um homem no hospital também,
para garantir que Colie seja mantido a salvo. - Ambos sabiam que, como o crime havia
ocorrido fora dos limites da cidade, Banks teria jurisdição. Para não mencionar que o
hospital também estava localizado fora dos limites da cidade.
─ Boa ideia. Vou voltar para casa. - Disse Lucy. ─ Eu ouvi sobre o tiro no rádio e eu
vi seu caminhão quando ia para o hospital. Achei que você saberia o que aconteceu.
─ Eu sei. Colie está na terapia intensiva. - Acrescentou. ─ Eu duvido que eles vão te
deixar entrar. Mas o cirurgião disse que eles poderiam transferi-la para um quarto amanhã.
Ela voltou da anestesia enquanto Ludie e eu estávamos na sala de recuperação com ela. O
cirurgião abriu uma exceção para nós.
─ Estou tão feliz por ela estar bem. - Disse Lucy com voz rouca. ─ Eu não faço
amigos facilmente. Senti saudades de Colie desde que ela foi morar no Texas.
─ Muita gente sentiu saudades. - Disse ele. E olhou no seu relógio. ─ É melhor eu
voltar ao rancho. Merrie está dando banho para mim. - Ele riu suavemente. ─ Eu imagino
que vou ter um curso intensivo de criação de filhos esta noite.
Lucy o estudou baixinho.
─ Ela é uma menina preciosa. Ela tem algumas habilidades muito incomuns, para
uma pessoa tão jovem.
─ Ela vê as coisas. - Respondeu J.C. ─ Minha avó tinha o mesmo dom. É bastante
raro.
─ Isso me espanta. Ela me espanta. Ela é muito madura para uma criança com pouco
mais de dois anos de idade.
Ele assentiu.
─ Colie contou que Ludie disse a ela no aeroporto que o pai dela tinha ido, antes que
eu as encontrasse no aeroporto.
─ Uma criança excepcional. - Disse Lucy.
─ E muito doce, como Colie. - Ele respondeu. E suspirou. ─ Eu tenho tanto para
compensar que quase não sei por onde começar.
─ Um dia de cada vez. - Ela aconselhou.
Ele apenas assentiu.

***

155
Ludie ficou encantada com o brinquedo que J.C. tinha comprado na pequena loja da
cidade. Era um urso de pelúcia que repetia tudo o que a criança dizia.
─ Ele é tão fofo! - Ludie disse entusiasmada. Ela correu para J.C. para ser levantada
em seus braços, com urso e tudo. Ele beijou uma bochecha rosada. ─ Obrigada, papai. - Ela
disse com os olhos brilhando.
Ele ainda estava acostumando com aquela palavra. O enchia de prazer, toda vez que
ela dizia isso. Ele estava sorrindo de orelha a orelha quando notou o olhar que estava
recebendo de Ren, Merrie e Delsey.
Ele fez uma careta.
─ Suponho que seja um segredo público, certo? - Ele perguntou com resignação.
─ Não há muita o que conjecturar, você sabe. - Comentou Merrie. ─ Todos sabiam
que Colie nunca teria deixado que outro homem a tocasse. Ela estava tão louca por você.
Suas bochechas coraram. Isso o fazia lembrar que ele não acreditou em Colie. Ele
preferiu a mentira de Rod à verdade. Ainda era difícil viver com isso.
─ E Colie? - Ren perguntou. ─ Barry Todd ainda está solto. Se ele sabe que ela
sobreviveu ao tiro...
─ Banks colocou um homem vigiando dentro do hospital, perto da UTI, onde ela está
passando a noite. - Revelou J.C. ─ Falei com ele há apenas alguns minutos. Ele também
estava preocupado.
─ Espero que eles possam pregar Barry Todd e Rodney Thompson em uma parede
grande e dura. - Murmurou Merrie.
─ Pelas orelhas. - Seu marido concordou com um sorriso frio.
─ Bárbaros. - J.C. zombou.
─ Papai, o que é um bar... bar... essa coisa? - Ludie perguntou a ele.
Os outros sorriram para ela.
─ Bárbaro. - Respondeu J.C. ─ E você precisa crescer um pouco antes de me pedir
essa resposta. OK?
Ela assentiu solenemente.
─ Ok, papai. - Ela prometeu.
Ele a ajeitou em seus braços.
─ É melhor levá-la para a cama. Foi um longo dia. - Ele hesitou. ─ Obrigado por dar
banho e alimentá-la. - Acrescentou. ─ Eu não tinha ideia do que comprar.
─ Você tem sorte dela estar na mesma fase de comida que o nosso filho, e que eu
sempre tenho potes extras. - Merrie riu. ─ Mas não há de que.
─ Nós iremos ver Colie quando ela estiver melhor. - Ren prometeu. ─ Mas, no
momento, nossa única precaução é observar sua respiração.
─ Amém. - Acrescentou J.C.

***
Colie estava respirando muito melhor quando J.C. foi visitá-la no hospital na manhã
seguinte. Eles a transferiram para um quarto semiparticular, ela estava recostada na cama em
um dessas batas hospitalares de aparência estranha. Ela tinha um olhar exausto em seu rosto
pálido. Seu cabelo estava desgrenhado e ela estava enfaixada no lado esquerdo do peito,
onde a bala havia entrado.
─ Ludy está bem? - Perguntou rapidamente.
─ Ela está bem. - Ele disse suavemente. ─ Eu peguei emprestada uma cama de armar
de um dos cowboys casados e a mantive junto da minha cama a noite toda. Ela só acordou
uma vez.

156
─ Obrigada. - Disse ela.
─ Estou gostando. - Ele respondeu. ─ Não é o que eu esperava. Ter uma criança ao
redor, quero dizer. - Ele acrescentou enquanto estava ao lado da cama. ─ Eu sempre pensei
em crianças como um incômodo.
─ É diferente quando elas são... quando você as conhece. - Ela modificou.
Ele sabia que ela queria dizer "quando elas são suas", mas ela ainda não estava
admitindo isso. Não podia culpá-la. Ele não fez nada para ganhar a confiança dela. Esperava
poder lidar com isso a tempo de evitar que ela voltasse para o Texas quando a situação se
resolvesse.
─ Lucy estava a caminho do hospital quando me viu na loja de roupas infantis
ontem. - Acrescentou. ─ Eu disse a ela como você estava. Ela estava preocupada. Ela virá
hoje.
─ Ela é a única amiga verdadeira que tenho. - Confessou Colie. Ainda era difícil
conversar. A ferida ainda a estava afetando. Ela estremeceu quando se mexeu. ─ Não doeu
tanto... ontem.
─ Você estava atordoada e em estado de choque ontem. - Disse ele. ─ Os primeiros
dias depois de um ferimento são bastante ruins. Mas você vai superar isso. Tome seus
medicamentos e faça o que eles lhe disserem.
─ Há um homem de uniforme lá fora. - Observou. ─ Eu consegui... um vislumbre
dele quando as enfermeiras entraram.
─ É um dos homens de Banks. - Ele respondeu. ─ Não podemos nos arrisca que o
amigo de Rod, Barry, tente novamente.
─ Ele provavelmente está do outro lado do mundo agora. - Disse ela fortemente.
─ Há um mandado de prisão para ele. - Disse J.C. ─ E um para o seu irmão, também.
Apesar dele ser a razão pela qual provavelmente você ainda está viva.
─ O quê?
─ Ele fez uma atadura improvisada. - Explicou. ─ Você tinha uma ferida no peito.
Poderia ter te matado muito rápido se não tivesse sido tratada rapidamente.
─ Talvez papai estivesse certo. - Disse Colie. ─ Talvez Rod ainda tenha um pouco de
bondade nele.
─ Eu li sobre um assassino em série que carregou as compras de uma idosa até a casa
dela e consertou os degraus da varanda para um deficiente físico. - Comentou.
Ela apenas olhou para ele.
─ Uma coisa não exclui a outra, o que é pior. - Disse ele simplesmente. ─ Alguém
pode fazer uma boa ação, sair e cometer assassinato. Isso é difícil para as pessoas
entenderem. É por isso que alguns assassinos estão livres.
Ela franziu a testa.
─ Entendo.
─ Falei com o cirurgião no caminho para cá. - Disse ele. ─ Ele acredita que você vai
se recuperar bem. Isso levará tempo. - Acrescentou com firmeza. ─ Isso significa que você
não vai pular e retornar ao Texas dentro de alguns dias.
─ Eu percebi isso. Meu trabalho. - Disse ela, e estremeceu. ─ Eu vou deixá-los na
mão.
─ Peça a Lucy que ligue para eles por você e explique o que aconteceu.
─ Eu posso fazer isso.
─ Enquanto isso, eu vou cuidar de Ludie.
─ Como você vai trabalhar? - Ela se preocupou.
Ele riu suavemente.

157
─ A maior parte do que eu faço é em torno do rancho. Vou levá-la comigo. Ela ficará
fascinada pelos cavalos, vacas e cães.
─ Ela ama os animais.
─ Você sempre amou, também. - Ele respondeu. ─ Seu pai temia contar quando Big
Tom morreu. - Acrescentou. ─ Ele disse que você sofreu muito.
─ Eu o amava. - Disse ela simplesmente.
─ Eu lembro.
Ela respirou dolorosamente.
─ A dor está voltando. - Ela apertou um botão e um analgésico foi automaticamente
introduzido no soro. ─ A tecnologia moderna é incrível.
─ É mesmo.
Ela olhou para ele.
─ E se Barry voltar para terminar o trabalho? - Ela se preocupou.
─ Quando você sair daqui, vai para Skyhorn. - Disse ele simplesmente. ─ Merrie diz
que eles têm dois quartos de hóspedes. Você e Ludie podem ter um até que seja seguro para
você ir para casa.
─ Oh, isso é tão gentil da parte dela! - Disse Colie, lutando contra as lágrimas.
─ Eu teria convidado você para ficar comigo, mas eu dei a Catelow razão suficiente
para fofocar sobre você e Ludie. Nunca mais vou fazer isso.
Ela procurou seus olhos pálidos, iguais aos de Ludie.
─ Eu fiz uma bagunça de nossas vidas. - Ele fez uma pausa. ─ Você lembra há muito
tempo, quando comparamos as previsões que fizeram sobre nós?
Ela relembrou.
─ Sim.
─ Em retrospectiva, acho que poderia dizer que elas foram muito precisas.
─ Até demais.
Ele se abaixou e acariciou os cabelos desgrenhados.
─ A sua tinha algo sobre alegria após a tristeza, não era?
─ Eu acredito que sim.
─ A minha, também. - Ele se inclinou mais e pousou sua boca com ternura sobre a
dela. ─ Então, quando você sair daqui, podemos considerar ir em busca de um pouco disso.
Alegria, quero dizer.
─ Alegria. - Ela estava olhando para ele com o coração nos olhos.
Os lábios dele provocaram os dela suavemente no longo silêncio.
─ Nunca acreditei em milagres. Antes.
─ Você não acreditava? - Ela estava tentando aproximar-se daquela boca dura e
sensual. Já fazia tanto tempo! Mesmo através de camadas de dor e analgésicos, ela estava
morrendo por ele, de novo.
─ Eu não acreditava. - Ele sussurrou enquanto seus lábios se separavam. ─ Mas
agora...
A porta se abriu e ele levantou, na verdade corando enquanto a enfermeira entrava
para verificar os sinais vitais de Colie.
─ Você está corado. É melhor verificar sua temperatura. - Disse a enfermeira
suavemente.
O olhar de Colie passou dela para J.C. e eles trocaram sorrisos desamparadamente
divertidos. Colie realmente sentiu a alegria pulsando através de suas veias. Os olhos de J.C
prometiam o céu.

158
15
Na hora em que a enfermeira terminou, Lucy entrou pela porta. J.C tocou a
bochecha de Colie com a ponta dos dedos.
─ Faça o que o médico diz. Vou trazer Ludie para vê-la mais tarde, ok?
─ Ok, J.C. - Ela disse com um sorriso sonolento.
─ Vou telefonar para você se ela tentar fugir. - Lucy prometeu a ele.
Ele riu quando saiu. Mas desta vez, ele se virou para a porta e olhou de volta para
Colie, com seus olhos de prata pálidos vívidos com prazer.
─ Isso é uma primeira vez. - Observou Colie quando ele se foi.
─ O que? - Lucy perguntou, colocando a bolsa e o casaco na segunda das duas
cadeiras ao lado da cama.
─ Ele costumava nunca olhar para trás. - Explicou.
Lucy sorriu.
─ Ele não é o mesmo homem que costumava ser, Colie. De modo nenhum. Imagine
o antigo J.C. em um shopping na boutique infantil!
─ Eu não posso.
─ Honestamente, eu também não posso. - Ela se aproximou da cama. ─ Como você
está? Eu quase tive um ataque cardíaco quando ouvi sobre o tiro no noticiário. Eu estava
correndo para o hospital quando vi J.C. fora da loja e parei. Achei que ele saberia mais do
que o noticiário sobre o que aconteceu.
─ Ele sempre fez. - Lembrou Colie com um sorriso pálido.
─ O que aconteceu? Foi o amigo de Rod, não foi? - Perguntou a outra mulher
beligerantemente.
─ Exatamente. - Ela respondeu com um curto suspiro. ─ Eu vi algo há três anos que
colocou ele e Rod em pânico. Rod e seu amigo Barry tinham uma mala cheia de drogas. Eu
fui embora em parte para mostrar a Barry que eu não ia contar o que vi. Mas ele acha que
vou fazê-lo, agora que o escritório de advocacia onde eu trabalho está indo atrás de uma rede
de distribuição de drogas. Ele disse que poderia se livrar daquela acusação, mas o que eu
sabia poderia colocá-lo em prisão federal por conspiração para distribuição de drogas
ilegais. Eu era dispensável. Assim a minha filha. - Seus olhos fecharam e ela estremeceu. ─
Ele mataria nós duas. Ele nos colocou no carro de Rod a arma em punho e nos conduziu até
uma estrada isolada. Abri a porta, soltei Ludie e disse-lhe para correr, no momento em que
ele puxou o gatilho. Deus a abençoe, ela fez exatamente o que eu disse, ou provavelmente
não estaria viva agora. Se não fosse por Rod, eu imagino que eu também estaria morta.
─ O que você quer dizer?
─ J.C. disse que alguém colocou uma atadura de emergência no ferimento, o que
salvou a minha vida. Barry não se importaria, mas Rod sim, e ele esteve em combate. Ele
sabia como tratar ferimentos.
─ Ele fugiu e deixou você na varanda. - Lucy disse friamente. ─ Eu ouvi isso do meu
colega de trabalho, cujo primo é um dos paramédicos que foram até sua casa depois que
você foi baleada. Eles disseram que você estava pouco coerente, mas sabia que estava no
carro de Rod e, depois, ele desapareceu. Eles somaram dois mais dois.
─ Como eles souberam que eu estava lá? - Perguntou.

159
Lucy hesitou.
─ Eu acho que Rod os chamou. Caso contrário, eles não saberiam até que fosse tarde
demais.
─ Isso é o que eu estava pensando.
─ Rod pode ter pontos positivos, mas não há como ele evitar o tempo de prisão se for
capturado, você sabe. - Lucy disse suavemente quando sentou em uma cadeira. ─ Ao menos,
eles o pegarão por conspiração para distribuição de drogas. Será uma dura condenação.
─ Eu sei. - Colie fechou os olhos. ─ Rod sempre foi tão facilmente manipulado. Ele
nunca aprende.
─ Isso é uma vergonha. - Disse Lucy. ─ Ele é o último parente vivo que você tem.
Colie concordou.
─ Nós não podemos escolher nossos parentes.
Os lábios de Lucy franziram.
─ Pena.
Colie conseguiu rir.

***
J.C. tinha que ajudar os homens a levar as novilhas grávidas para os pastos perto da
casa. Poderia ser um trabalho perigoso, mas ele levou Ludie com ele, advertindo-a para ficar
no SUV até que ele viesse buscá-la. Ela podia assistir pela janela.
Willis aproximou-se com seu alazão e parou perto do SUV.
─ Eu vejo você tem ajuda hoje. - Ele disse com uma risada.
─ Lobo! - Exclamou Ludie, abrindo a janela. ─ Lobo do homem. Posso ver o lobo?
Oh, por favor?
Os dois homens olharam para a criança com expressões alteradas.
─ Você disse a ela? - Willis perguntou.
J.C sacudiu a cabeça.
─ Não.
Willis assobiou entredentes.
─ Você terá que contar a esposa de Tank sobre isso. - Disse ele.
J.C sorriu.
─ Eu vou, assim que eles voltarem daquela conferência que foram.
─ Sim, mocinha, você pode ver o lobo. J.C. você pode levá-la até minha cabana? Ela
pode olhar para ele através da tela da porta. Eles são uma espécie imprevisível. - Ele
acrescentou cautelosamente. ─ Eu vou estar com você.
─ Nós iremos agora. - Ele telefonou para Ren, explicou o pedido de Ludie e teve
uma risada afirmativa para a viagem.

***
A cabana de Willis ficava na floresta, como a de J.C. Todo o enorme rancho de Ren
fazia fronteira com à Floresta Nacional de Wapiti, então era longe de Catelow.
J.C. parou na porta da frente e levantou uma excitada Ludie.
─ Você não pode entrar. - Ele advertiu.
Ela olhou para ele com olhos que eram iguais aos deles.
─ Por favor, papai? - Pediu ela.
Ele sentiu as palavras até os dedos dos pés. Willis subiu até a varanda depois de
amarrar sua montaria em um dos postes.

160
─ Ela tem coragem. - Willis riu. ─ Deixe-me entrar e ver se ele está sociável hoje.
O homem e a criança esperaram na varanda. Um minuto depois, o lobo veio da parte
de trás da casa para ficar em suas três pernas perto da tela da porta. Ele cheirou Ludie e
gemeu.
─ Por favor? - Ludie persistiu.
─ Querida, não é seguro...
─ Por favor?!
─ Colie vai me matar. - J.C murmurou em voz baixa, mas abriu a porta de tela.
Ludie correu e passou os braços ao redor do pescoço do lobo e o abraçou e o
abraçou. O lobo ergueu a cabeça do ombro dela, a cheirou e choramingou suavemente. Ele
não fez nenhum tipo de movimento agressivo na direção dela.
─ Garoto bonito. - Ludie ronronou. ─ Lobo doce.
O lobo gemeu um pouco mais. Seus olhos cinzentos estavam fechados e ele estava
quase ronronando.
─ Ele não fez isso desde que Merrie veio aqui, eu nunca o vi tão dócil com outra
pessoa exceto eu. - Willis disse, balançando a cabeça.
─ Ela tem... dons. - Disse finalmente J.C.
─ Oh, sim. - Willis concordou.

***
Mais tarde, J.C. levou Ludie ao hospital para ver a mãe. Colie tinha terminado de
almoçar. Seus olhos verdes brilharam de alegria quando a filha correu para o lado da cama.
─ Cuidado, querida. - Advertiu J.C. ─ Mamãe está com dor.
─ Eu sei, papai. - Disse ela, sorrindo para ele. ─ Mamãe, eu abracei o lobo! Ele
gostou de mim! - Exclamou.
J. C. fez uma careta e esperou pela tempestade.
Mas Colie não pulou em cima dele. Ela apenas sorriu.
─ Ela encontrou um cachorro na beira da estrada perto de Jacobsville, onde
moramos. - Explicou. ─ Era grande e conhecido por ser perigoso. Tentei detê-la, mas ela
correu direto para ele, sentou-se ao lado dele e começou a falar. O cão se esticou,
choramingando com dor e nem sequer mostrou os dentes. Primo Ty nos ajudou a levá-lo ao
veterinário, e nós o adotamos. O veterinário disse que ela tinha um dom. Ouvi dizer que a
esposa de Tank Kirk também tem um. Ela pegou uma cascavel e levou-a a um reabilitador
de vida selvagem. - Ela riu.
J.C. soltou um suspiro de alívio.
─ Como você se sente, querida? - Ele perguntou a Colie, sua voz profunda era macia
e atenciosa.
─ Ainda dói. - Disse ela. ─ Mas estou melhorando. O xerife já disse alguma coisa?
─ Ainda não. Deixei uma mensagem com a central... - O telefone tocou. Ele fez uma
pausa para responder. Com certeza, era Banks. Ele colocou no viva-voz para que Colie
também pudesse ouvir.
─ Chamamos os federais e eles rastrearam Barry Todd até o aeroporto em Atlanta. -
Ele disse a J.C. ─ Ele estava aparentemente a caminho da América do Sul. Eles enviaram os
agentes federais para trazê-lo de volta a Denver para o julgamento. Nós ouvimos que os
chefes de Colie em Jacobsville têm o suficiente para prendê-lo.
─ Eu tenho algo para ajudar a prendê-lo. - Disse Colie. ─ Oi, xerife.
─ Oi, Colie. Melhorando?

161
─ Muito. - Ela respirou fundo, consciente da grande mão de J.C. segurando a dela na
cama. ─ Eu vi Barry dar a meu irmão uma mala cheia de drogas e eu o ouvi instruir Rod
como distribuir.
─ Bom Deus! - Banks explodiu. ─ Você realmente viu isso?
─ Sim. - Disse ela, observando a expressão furiosa de J.C. ─ Eu fui embora para que
Barry pensasse que eu ficaria de boca fechada. Eu fiquei longe, para proteger meu pai e
minha filha.
─ Eu queria que você viesse até mim. - Disse Banks. ─ Eu teria conseguido proteção
para você.
─ Eu estava com medo. - Disse ela. E baixou os olhos. ─ Além disso, eu tinha tido
uma experiência pessoal traumática. Eu estava atordoada por isso, e na verdade não pensava
claramente. Eu apenas fugi.
Os olhos de J.C estavam fechados. Ele sabia o que ela queria dizer. Ele a expulsou de
sua vida acreditando na palavra de um ladrão e de um narcotraficante. Ele teria que viver
com a memória de sua traição toda a sua vida.
─ Eu posso entender isso. - Disse Banks. ─ Você estaria disposta a testemunhar isso
no tribunal? - Acrescentou. ─ Posso garantir sua segurança.
Colie sabia que eram palavras ao vento, que ninguém poderia salvá-la se Barry
quisesse se vingar. Mas ela estava certa de que J.C. manteria Ludie segura, o que quer que
acontecesse. E era hora de parar de fugir.
─ Sim. - Disse ela. ─ Eu vou testemunhar.
─ Eu direi aos federais. - Ele respondeu. ─ Você também terá que testemunhar sobre
o tiro. Você entende?
─ Sim, senhor. - Ela disse respeitosamente. ─ Desculpe-me pelo fato de meu irmão
ter se envolvido nisso. Ele foi encontrado?
─ Não. - Disse Banks, sua voz soando rude. ─ Mas nós o estamos seguindo. Nós
temos um investigador que segue um suspeito todo o caminho até o inferno para buscá-lo.
Seu irmão não escapará. Me desculpe, Colie, mas se infringimos a lei, temos que pagar o
preço.
─ Eu sei disso. - Disse ela. ─ É só que ele é o meu único parente vivo. Além de
Ludie.
─ Eu tive um primo que foi preso por assassinato. - Respondeu Banks. ─ Me
machucou, porque éramos melhores amigos. Mas a lei é a lei.
─ Sim. Trabalho para advogados há vários anos. - Lembrou ela. ─ Você tem uma
boa imagem do sistema de justiça criminal.
─ Certamente, sim. Estarei em contato quando souber mais. - Prometeu Banks.
Eles agradeceram a ele. J.C. guardou o telefone celular.
Ludie estava olhando de um dos pais para o outro com olhos suaves e carinhosos.
─ Vai ficar tudo bem. - Disse ela suavemente. ─ O homem mau não vai nos
machucar nunca mais.
Colie olhou para J.C.
─ Oh, espero que você esteja certa, Ludie. - Disse. Ela estendeu o braço e Ludie se
aproximou o mais que pode.
─ Eu te amo mamãe.
─ Eu também te amo, querida. - Colie estava lutando contra as lágrimas. A dor ainda
era forte, e ela também estava lutando contra as náuseas.
─ Nós devemos ir e deixar a mamãe descansar, ok? - Perguntou, curvando-se para
levantar a criança com os cachos de morango em seus braços. Ele beijou sua pequena
bochecha. ─ Minha própria boneca viva da Shirley Temple. - Ele provocou.

162
─ Quem é Shirley Temple? - Ludie quis saber.
─ Eu vou encontrar um filme no YouTube e você pode assistir e ver. - Prometeu.
─ J.C., obrigada. Por tudo. - Disse Colie.
Ele se curvou e a beijou suavemente.
─Eu tenho que cuidar dos meus. - Ele disse com um sussurro rouco. Seus olhos
diziam mais do que as palavras.
Colie ergueu a mão, fazendo uma careta quando a ação repuxou o ferimento e tocou
seu rosto tenso.
─ Tantos anos. - Disse ela.
─ Depois da tempestade vem a bonança. - Ele respondeu. E sorriu com ternura. ─
Pense nisso. - Ela entendeu. A vida ensinava lições dolorosas, mas quase sempre eram
seguidas de períodos de grande alegria. Ela tinha a sensação de que estava caminhando para
um.
─ Eu tenho que te contar outra coisa. - Acrescentou J.C com os olhos cinza
brilhando. ─ Eu tenho lido livros!
─ Livros. - Ela parou, olhou para ele, percebeu o que ele estava falando e corou.
─ Bons livros. - Ele acrescentou, e mostrou os dentes brancos perfeitos enquanto
sorria para ela. ─ Nós podemos conversar sobre isso quando você estiver melhor.
─ Bem... - Ela fez uma careta. ─ Meus chefes! - Exclamou. ─ Eles não sabem o que
está acontecendo!
─ Vou telefonar para eles hoje e explicar. Preciso do número e do nome de alguém
com quem eu possa conversar. - Acrescentou.
─ Está no meu celular, na gaveta, na minha bolsa. - Ela indicou a cômoda ao lado da
cama.
Ele tirou o telefone da bolsa e o entregou a ela.
─ É esse. - Disse ela, indicando um contato. ─ Esse é o Sr. Copeland. Ele é o chefe
do escritório de advocacia, agora que... agora que Darby se foi. - Ainda era difícil lembrar
Darby sem lágrimas. Ele tinha sido tão gentil.
─ Eu vou explicar tudo. - Prometeu J.C, copiando a informação e colocando seu
telefone e bolsa de volta na gaveta.
─ Você seja boazinha para J.C. - Colie recomendou a sua menina com um sorriso
caloroso.
─ Eu vou ficar bem, mamãe. Aquela linda senhora nos desenhou. - Ela acrescentou
de repente.
─ Nos desenhou? - Perguntou Colie.
─ Merrie fez um esboço de nós quando eu levei Ludie lá a primeira vez. - Ele
respondeu. ─ Ela tem um toque excepcional. Ela está fazendo uma pintura. Será uma
revelação, eu prometo. Ela salvou sua própria vida pintando um mafioso do leste. - Ele
acrescentou, rindo. ─ Ele realmente a abandonou quando ela se casou com Ren.
─ Eu gosto de Merrie. - Disse Colie. ─ Ela sempre foi gentil comigo.
─ Eles prepararam um quarto para quando você puder voltar para casa. - J.C.
assegurou-lhe. ─ Vou trazer Ludie amanhã. Estamos esperando outra tempestade, então
todas as mãos estão trabalhando contra o relógio para transferir as novilhas grávidas e as
vacas para perto do celeiro.
─ Você tenha cuidado. - Disse ela.
Ele sorriu.
─ Sim, senhora. - Ele respondeu.

163
Ela se sentiu nascer de novo quando olhou para ele. Era diferente de antes. Havia
uma atração física menos violenta, e um afeto mais profundo e terno. Ela não podia esperar
para ver como as coisas aconteceriam.
Então ela se lembrou de seu irmão e sua expressão mudou.
─ Tio Rod voltou. - Disse Ludie. ─ Vai contar sobre o homem mau, mamãe.
Colie olhou para J.C. Se Ludie tivesse razão desta vez, as coisas poderiam funcionar
bem. Pelo menos, Rodney podia fazer um acordo por uma sentença menor. Só o tempo diria.
─ Melhore. - Disse-lhe. ─ Eu cuidarei de Ludie.
Ela sorriu suavemente.
─ Eu sei disso.
─ Tchau, mamãe. - Ludie falou da entrada da porta.
Colie estava dormindo antes deles chegarem ao elevador.

***
Colie estava bem o suficiente para sair do hospital três dias depois. J.C. e Ludie
foram buscá-la.
─ Eles foram bons para mim, mas estou feliz em voltar ao normal. - Disse Colie
enquanto caminhavam. Ludie estava na cadeirinha no banco de trás do carro, enquanto Colie
estava amarrada no assento do passageiro ao lado de J.C.
─ Ainda está se sentindo bem? - Ele perguntou enquanto eles saíam.
─ Um pouco dolorida. - Disse ela. ─ O médico disse que era normal. - Ela estava
segurando um maço de papéis em uma pasta no colo.
─ Vamos parar na farmácia e dar essas prescrições ao farmacêutico no caminho de
casa. - Disse ele a Colie. ─ Eu volto depois para pegá-los quando estiverem prontos.
─ Medicamentos são tão caros. - Começou.
─ Querida, eu posso comprar quase tudo o que você quiser. - Ele disse gentilmente.
E sorriu para ela enquanto olhava em sua direção quando pararam em um semáforo. ─
Quase tudo.
─ Você pode me comprar uma vida pacífica sem que nenhum narcotraficante de
olhos selvagens circule por aí? - Perguntou.
Ele riu.
─ O sistema de justiça criminal cuidará disso.
─ Nem sempre funciona. - Ela respondeu. ─ O Júri absolve as pessoas às vezes.
─ Se você faz algo ruim, algo ruim acontece com você. - Disse J.C simplesmente.
Ele encolheu os ombros. ─ Seu pai me ensinouou. - Ele acrescentou calmamente.
Ela lutou contra as lágrimas. Era tanta coisa. A morte de seu pai, a angústia sobre
Rodney, o tiro... Ela sentiu a mão grande de J.C. estreitar a sua.
─ Outra coisa que ele me ensinou. Você tem que ter fé, Colie. - Ele disse
suavemente. Ela quase podia ouvir seu pai dizer o mesmo. Ela correspondeu a suave pressão
de sua mão.
─ Tudo bem. - Disse ela simplesmente.

***
Ela ficou surpresa quando J.C. parou em sua própria cabana em vez da casa grande
de Ren.
─ Mas... - Ela começou.
Ele colocou uma caixa de veludo suavemente nas mãos dela.

164
─ A notícia já está nos jornais. Espero que quando você verificar o seu telefone
celular, tenha muitas mensagens. - Ele fez uma careta. ─ Provavelmente a primeira será de
Lucy, a chamando de Caim porque você não contou a ela primeiro.
─ Lucy?
Ela tirou o celular da bolsa enquanto J.C. estava colocando a bagagem na sua cabana.
Havia uma mensagem de Lucy. "Parabéns! E por que razão você não me disse ?!"
Ela olhou para cima enquanto J.C estava retirando Ludie do banco de trás.
─ Por que não contei a Lucy o quê? - Perguntou ela.
─ Abra a caixa. - Ele disse simplesmente.
Ela o fez. No interior havia um anel de noivado de diamantes e esmeraldas e uma
aliança de ouro e esmeralda que formavam um par. As pedras eram incrustadas. Era um
conjunto muito caro.
Ele colocou Ludie dentro da cabana e voltou para buscar Colie. Ela apenas olhou
para ele.
─ Eu os comprei há três anos atrás. - Ele disse calmamente. ─ Eles estavam no meu
bolso quando seu irmão e o amigo dele me encontraram no aeroporto.
Ela mordeu o lábio inferior. J.C nunca fez nenhuma declaração de amor, ou deu
qualquer indício do que ele tinha em mente para o futuro. Isso foi uma revelação. E se.... E
se.... E se!
As lágrimas escorreram pelo rosto dela.
Ele a pegou suavemente em seus braços.
─ Eu estraguei tudo, Colie. - Ele disse suavemente. ─ Eu estava com medo. Eu
queria você, mas minha própria vida em casa era o padrão pelo qual eu julgava o mundo. Eu
não tive uma infância normal. A minha foi violenta e trágica. - Ele respirou fundo enquanto
a levava para a cabana. ─ Eu me puni mentalmente uma dúzia de vezes por ter escutando
Rod em primeiro lugar. Mas não podemos voltar, querida. Temos de tentar ir em frente.
Ele a colocou dentro da cabana e olhou para seus suaves olhos verdes.
─ Você pode perdoar tanta dor? - Ele perguntou. ─ Você pode esquecer o que eu fiz
com você?
Ela respirou fundo. As lágrimas ainda estavam ameaçando cair.
─ Eu posso. - Disse ela.
─ Você nunca terá motivos para desconfiar de mim novamente. - Prometeu.
─ Papai, quero queijo. - Disse Ludie, olhando para ele com olhos cinza pálido que
eram os mesmos dele.
Ele riu.
─ Fanática por queijo. - Ele murmurou. ─ Minha geladeira está cheia disso, de todo
tipo existente na face da Terra. Ela descobriu e agora é queijo em todas as refeições.
─ Eu também gosto disso. - Observou Colie, movendo-se lentamente em direção à
cozinha. ─ Honestamente, estou tão cansada de gelatina!
J.C. riu alto.
─ Eu estive no hospital uma ou duas vezes. Sei exatamente o que você quer dizer.
Ele pegou os pratos e começou a fatiar o queijo. Ele colocou biscoitos de todos os
tipos com eles, encheu um copo de leite para Ludie e refrigerantes para ele e Colie. Ele
lembrou da ginger ale que ela gostava.
Ela sorriu enquanto a tomava.
─ Este é o meu refrigerante favorito.
─ Eu sei. - Ele respondeu. E se recostou na cadeira, seus olhos em sua filha. ─ Ela é
muito esperta. - Ele observou.

165
─ Quase esperta demais. - Colie riu. ─ Ela assusta as pessoas às vezes com aquelas
coisas que ela deixa escapar.
─ Ela ficaria em casa aqui em Catelow, com a esposa de Tank Kirk não muito longe.
─ A clarividente. - Lembrou Colie. ─ Eu adoraria conhecê-la.
─ Vou fazer questão de apresentá-la. Ren comprou algum gado dele recentemente.
Tank é um cara legal. Ele foi patrulheiro na fronteira alguns anos atrás. Ele foi ferido e ficou
muito mal. Mas se recuperou. E seu irmão, Mallory, é casado com a filha de King Brannt, do
Texas.
─ Deus, eu sei sobre ela pela prima Annie. - Disse Colie. ─ Ela conhece todos no sul
do Texas. Ou às vezes parece ser assim.
Ele inclinou a cabeça e a estudou.
─ Você poderia morar aqui, Colie? - Perguntou ele.
Ela parou com seu refrigerante a meio caminho de sua boca. Era uma profunda
questão. Ela estava com o conjunto de anéis apertado firmemente em sua mão livre. Ela
olhou para o único homem que já amou e sentiu a velha excitação queimando
profundamente dentro dela. Exceto que desta vez, não era a paixão bruta. Era mais profundo.
Mais doce. Ele estava lhe oferecendo uma nova vida. Se ela tivesse a vontade de aceitá-la.
─ Sim. - Ela disse finalmente, e viu o rosto dele se iluminar com as palavras. ─ Sim,
eu poderia morar aqui, J.C.
─ John Calvin. - Corrigiu Ludie enquanto comia o queijo.
As bochechas de J.C. coraram.
─ Você disse a ela? - Perguntou Colie.
─ Não. - Ele disse sem rodeios. ─ Eu nunca disse a ninguém. Minha mãe era
irlandesa, mas seus pais eram da Escócia. Eles eram presbiterianos convictos que
reverenciavam João Calvino, um dos fundadores da fé protestante. Eu recebi o nome em
homenagem a ele. Minha mãe se converteu ao catolicismo romano quando se casou com
meu pai.
─ É um modo nobre de escolher um nome para alguém. - Ela observou. ─ E o meu
nome é em homenagem a Colleen Mary, uma tia-avó que foi a primeira jornalista mulher no
Wyoming.
─ Eu nunca soube o seu verdadeiro nome. - Ele comentou com um sorriso.
─ Nós não conversamos muito. Não na verdade. - Disse ela.
─ Nós temos todo o tempo no mundo para conversarmos agora. - Disse ele. ─ Mas
primeiro. - Acrescentou ele. ─ Há um triste dever a realizar, para nós dois. Falei com o
ministro assistente e ele concordou que o sábado seria um bom dia para o funeral. Ele
pensou que lhe daria tempo suficiente para sair do hospital e descansar por um dia ou mais.
Ela assentiu.
─ Ele é um bom homem. Papai o amava. - Ela olhou para cima. ─ Ele e sua esposa
vieram me ver na noite passada, depois que você saiu. Eles formam um bonito casal.
─ Ela joga tênis. - Disse ele. E riu. ─ Vence o marido a cada partida.
─ Eu sei. Ele acha incrível.
Ele suspirou.
─ Mas você sempre deve deixar o homem ganhar, você sabe. - Ele disse com os
lábios franzidos. ─ Isso alimenta seu ego e o faz se sentir importante.
─ Conversa fiada.
Os olhos dele brilhavam.
─ Tudo bem, sem mais propaganda. Você ainda gosta da nova série Sherlock? -
Perguntou.
─ Ah, sim! - Exclamou.

166
─ Nesse caso, quando a pequenininha dormir, vou colocar o vídeo para você.
─ Eu adoraria.
─ Quem é pequenininha, papai? - Ludie quis saber.
Ele se curvou e beijou o nariz dela.
─ É você, pedacinho.
Ela riu.
─ Oh, você é engraçado, papai!
─ Estou feliz. - Disse ele. E tocou seus cachos de morango. ─ Minha doce menina.
Menininha do papai. - Acrescentou com orgulho.
Ela passou seus pequenos braços ao redor do pescoço dele e segurou apertado.
─ Amo você, papai.
─ Eu também te amo. Daqui a pouquinho é hora de dormir.
─ Eu vou colocar meu pijaminha. - Disse ela, descendo da cadeira.
─ Eu não sabia que uma criança da idade dela pudesse vestir-se sozinha, até que ela
veio ficar comigo. - J.C. observou.
─ Ela é precoce. - Colie riu. ─ Ela constantemente me espanta. Ela já conhece o
alfabeto, as cores e os números. Ela está no pré-jardim no Texas... - Sua voz se apagou.
Havia tantas conexões lá.
─ Eles têm uma pré-escola presbiteriana muito boa aqui em Catelow. - Ele apontou.
─ E você pode usar o Skype para falar com seus primos.
─ Sim. Eu posso fazer isso.
Ele pegou sua mão na dele e beijou a palma famintamente.
─ Eu nunca vou deixar você de novo, Colie. - Ele disse com voz rouca. ─ Eu
prometo a você isso!
Ela tocou a bochecha magra dele com as pontas de seus dedos.
─ Faz tanto tempo, J.C. - Ela disse com tristeza.
─ Demasiado tempo. - Ele concordou. ─ Seu pai também sentia sua falta. Ele pensou
que eu era a razão pela qual você não iria voltar, no início. Mas então, ele prestou mais
atenção a Rodney e ao que ele estava fazendo, e ele vislumbrou outro cenário. Ele pensou
que você tinha sido ameaçada, e por isso não voltava para casa.
─ Ele estava certo. Eu não poderia dizer a ele. - Ela disse, seus olhos tristes. ─ Isso o
colocaria diretamente na linha de tiro. Eu teria dito a você, se as coisas tivessem sido
diferentes. Foi o que eu planejei fazer, mas Rodney se certificou de que não pudesse fazer
isso.
Os olhos prateados de J.C. brilharam.
─ Eu finalmente percebi que você nunca teria me traído assim. - Ele estremeceu. ─
Mas, quando recuperei a razão, você já estava casada. Se não fosse por seu pai, acho que
teria ficado louco.
─ Você jogando xadrez com o papai. - disse ela, e riu. ─ Eu não acreditei nisso, no
início.
─ Ele achou que eu não era uma causa perdida completa, e ele começou a trabalhar
comigo. - Ele sacudiu a cabeça. ─ Eu nunca conheci ninguém como ele. Ele foi o mais
próximo de um pai que já conheci. Eu teria feito qualquer coisa por ele. Qualquer coisa no
mundo.
─ Ele era muito especial. - Ela concordou.
Houve um breve silêncio de sofrimento compartilhado. Ele a puxou para cima em
seus braços e a segurou tão perto quanto ousou. Ele não queria torná-la mais desconfortável
do que o ferimento já fazia.

167
─ Nós começamos de novo, aqui mesmo. - Disse J.C, suavemente. ─ E de agora em
diante, se você me disser que o céu é verde com flores de cerejeira nele, acredito em você
sem provas.
Ela sorriu.
─ OK.
Ele inclinou a cabeça e tocou os lábios macios dela com os seus rígidos.
─ E eu vou te amar. - Ele sussurrou em sua boca. ─ Até as estrelas se apagarem. E
para sempre, Colie.
As lágrimas caíram pelo rosto dela.
─ Eu nunca deixei de te amar. - Ela sussurrou de volta. ─ Eu não poderia. Foi só
você. Só você, minha vida inteira!
Sua boca interrompeu as palavras. Ele segurou o rosto dela entre suas mãos quentes e
a beijou até que sua boca estivesse dolorida e seu rosto corado.
Ele ergueu a cabeça e olhou nos olhos dela, a tensão tão doce e espessa que era quase
tangível.
E no meio dessa troca de almas, uma pequena voz chamou do quarto ao lado.
─ Mamãe, eu deixei cair minha meia no vaso!
─ Então agora você sabe tudo sobre a paternidade. - Colie o provocou.
Ele encolheu os ombros.
─ É apenas uma meia. Podemos comprar muitas outras novas.
─ Na semana passada, ela deixou cair duas toalhinhas no vaso, ela o informou. ─
Levou quinze minutos para que o encanador fizesse o banheiro funcionar novamente.
─ Curiosidade científica. - Disse ele, defendendo a filha. ─ Ela gosta de
experimentar.
Ela sorriu.
─ Nesse caso, uma vez que você está no modo ninho, suponho que vamos para o
Tribunal de manhã conseguir uma licença?
─ Eu adoraria isso. - Disse ele.
Ela suspirou, pressionando-se contra ele.
─ Eu também. Mas antes que possamos nos casar, temos que ir a um funeral. E em
algum lugar lá fora está meu irmão, fugindo da lei. Há também um narcotraficante que pode
ter um alcance muito longo, mesmo na prisão.
─ Se preocupe com o amanhã, amanhã. - Ele aconselhou, beijando sua testa. ─ Hoje
à noite, temos uma meia no vaso para lidar.
─ Você primeiro. - Ela concedeu.
Ele riu e foi pescar o objeto ofensivo. Por dentro, ele se sentia como um homem que
ganhou na loteria. Ele nunca esperou que ela se sentisse da mesma maneira que ele, muito
menos que ela concordaria em lhe dar uma segunda chance. Ele nunca mais ia falhar com
ela, não importava o que!

168
16
O funeral foi silencioso e respeitoso, assim como o próprio Jared Thompson tinha
sido. O ministro assistente da Igreja Metodista liderou o serviço. Ele falou sobre a bondade
de Jared, seu amor pela congregação, seu amor pela igreja.
Havia músicas, as que Jared mais amava. Quando o coro cantou "Amazing Grace",
Colie explodiu em lágrimas. J.C deslizou um braço em volta dos ombros dela e a aproximou
dele. Ludie, do outro lado, também foi abraçada. Era a coisa mais próxima de uma família
que J.C já conheceu. Ele perdeu o pai dela. Ele transformou a vida de J.C. com seus calmos
e pacientes ensinamentos. Agora, olhando para trás, J.C daria qualquer coisa para poder
recomeçar com Colie, voltar ao início de sua turbulenta relação, quando ele foi jantar na
casa de Thompson e a convidou para sair pela primeira vez. Mas isso não era possível. Ele
tinha que seguir em frente e fazer tudo o que podia para cuidar dela e de sua filha.
Colie parecia sentir aquele arrependimento nele. Ela olhou para ele e sorriu
calmamente através das lágrimas. Ele retribuiu o sorriso.
Seu pai tinha sido um veterano militar, então havia uma guarda de honra e uma
bandeira, que foi reverentemente dobrada quando retirada do caixão. O oficial entregou a
bandeira a ela com suas condolências.

***
Eles enterraram Jared em uma colina com vista para os picos distantes, nevados e
bonitos das montanhas Teton.
A pequena Ludie nem sequer se inquietou durante o serviço funerário. Ela sentou-se
entre a mãe e o pai e escutou calmamente as breves orações.
O novo ministro, o ex-pastor assistente, Marvin Compton, fez uma pausa ao lado de
Colie para oferecer suas condolências.
─ Ele era um homem maravilhoso. - Ele disse a ela. ─ Foi um privilégio conviver
com ele.
─ Foi para mim também. - Disse Colie com um sorriso triste.
─ Gimpa no céu. - Disse Ludie. Ela também sorriu para o ministro. ─ Gimpa com a
vovó.
─ Isso é o que eu penso, mocinha. - Ele sorriu de volta. ─ Vocês estão planejando vir
ao culto no domingo?
─ Eu venho. - Disse Colie. ─ Eu não sei sobre... - Ela olhou para J.C.
cautelosamente.
─ Eu quis dizer você e Ludie. - O ministro riu. ─ J.C. está no banco da frente todos
os domingos. - Ele acrescentou, surpreendendo Colie, que apenas olhou para ele.
─ Segunda fila. - Corrigiu J.C. ─ Seus filhos ocupam a maior parte do banco da
frente. - Ele provocou.
Marvin riu.
─ Bem, eles, minha esposa, minha mãe e minha sogra. - Ele concordou. ─ Nós
acreditamos que é uma grande igreja.

169
─ Papai também. - Respondeu Colie. ─ E, sim, Ludie e eu iremos com J.C. a partir
de agora. Entrei na igreja quando tinha apenas quinze anos. - Acrescentou.
─ Seu pai me disse. - Disse o ministro. ─ J.C. se juntou há dois anos.
Era novidade. Novidade ligeiramente chocante. Ela olhou para o homem ao lado dela
com a surpresa estampada no rosto.
Ele encolheu os ombros.
─ Seu pai foi muito persuasivo. - Disse ele simplesmente.
Ela sorriu.
Havia um ligeiro rubor em suas maçãs do rosto, mas ele sorriu também.
─ Então, nós vamos ver você domingo. E novamente, sinto muito, Colie. - Marvin
repetiu.
─ Obrigada, Reverendo.
A família saiu primeiro, mas eles não foram longe. Havia amigos e vizinhos que
queriam expressar suas próprias condolências. Entre eles estavam o chefe de J.C., Ren
Colter, sua esposa, Merrie, e seu garotinho, caminhando agora.
─ Ele era um bom homem, Colie. - Disse Ren gentilmente. ─ Todos nós sabemos
para onde ele foi.
─ Sim, nós sabemos. - Merrie concordou. Sorriu para Ludie e enrugou o nariz. ─ Eu
estou pintando você. - Disse ela. ─ Com seu pai.
─ Eu sei! É tão bonito. - Acrescentou Ludie à mãe. ─ Ela desenha muito bem!
─ Eu já sabia disso. - Disse Colie à criança. ─ Não posso esperar para vê-lo. - Disse
ela a Merrie. ─ É muito gentil de sua parte. O que você fez de J.C. é simplesmente
fantástico.
─ Ele era um tema fascinante. - Disse Merrie.
─ Não está no nível do gangster da Costa Leste, no entanto. - Disse Ren, com ironia.
─ Salvou sua vida, pintando aquele.
─ Eu lembro. - Disse J.C. ─ Aqueles foram tempos difíceis.
─ Então, seremos convidados para o casamento? - Ren provocou.
─ Você sabe que sim. Este domingo, às 2:00 da tarde na igreja.
─ Sim. - Marvin disse, batendo no ombro de Ren. ─ Eu vou celebrar.
─ Esperamos que metade de Catelow apareça. - Acrescentou Ren. ─ Ninguém pode
acreditar que ele realmente vai se casar. - Ele disse, balançando a cabeça em direção a J.C.
J.C pegou a mão de Colie na dele.
─ Família instantânea, apenas acrescente os anéis. - Ele riu, olhando para sua filha,
que estava sorrindo para ele.
─ De onde ela conseguiu aquele cabelo vermelho? - Marvin perguntou.
─ De minha mãe. - J.C. respondeu. ─ Ela era de Dublin. E tinha cabelos
encaracolados vermelhos, como os de Ludie e os olhos cinza pálido. Eu herdei os olhos.
─ Seu pai tinha cabelos escuros, eu presumo? - Marvin perguntou inocentemente.
Colie se preparou sua resposta. J.C não falava do pai.
Mas J.C não estourou com o homem.
─ Ele era Blackfoot. - Ele disse ao homem. E hesitou. ─ Eu o culpei por tudo o que
deu errado na minha vida. O pai de Colie me ensinou que a vingança é um beco sem saída,
que o ressentimento é uma ferida que envenena. - Ele encolheu os ombros. ─ Eu coloquei
um detetive particular procurando por ele. - Ele confessou. ─ Eu gostaria de fazer as pazes,
antes que ele morra, se ele ainda não o fez.
─ Meu outro gimpa conseguiu gola para fazer as pazes. - Interrompeu Ludie. ─ Tem
uma gola. - Ela bocejou. J.C sacudiu a cabeça. A criança estava cansada e não fazia sentido.
─ É melhor irmos. Alguém precisa de uma soneca.

170
─ Eu percebi. - Marvin apertou a mão deles. Também Ren. Merrie abraçou todos.
─ Nós vamos vê-lo domingo na igreja. - Merrie disse. - E nós ficaremos para o
casamento. - Ela acrescentou com um riso suave.
─ Nós estaremos lá. - Prometeu Colie. ─ Todos nós. - Ela acrescentou, olhando para
J.C. com olhos apaixonados.
***
O casamento não foi apenas muito concorrido, havia um repórter de jornal e um
fotógrafo lá para registrar a cerimônia.
Colie, com um elegante conjunto branco e um chapéu com um véu, ficou surpresa
com a cobertura. Ela viu Ren Colter sorrindo e imaginou que ele tinha algo a ver com isso.
Mas ela estava muito feliz para se preocupar com qualquer publicidade. Afinal, eles viviam
em Catelow. Era natural que a comunidade desejasse saber que eles iam se casar.
Lucy, e a esposa de Ren, e Merrie, foram as damas de honra e Ludie foi a menina das
flores, linda em um vestido branco de renda carregando uma cesta de pétalas de rosas
brancas. Enquanto Colie estava de pé ao lado de J.C., resplandecente em um terno escuro,
ela pensou nos últimos anos de sua vida e na tristeza que tinham sido. Ela lembrou a
profecia que a sua avó lhe havia feito, profecia essa que se entrelaçava tão perfeitamente
com que a avó de J.C tinha feito para ele anos atrás. Uma longa tristeza, seguida de grande
alegria. Ela olhou para ele e sentiu a alegria, como um manto sedoso em torno de seu corpo.
Isso se refletiu nos seus olhos verdes que encontraram os carinhosos olhos cinzas de J.C.
O ministro os declarou marido e mulher. J.C. curvou-se e ergueu o véu. Ele olhou
nos olhos dela por um longo momento antes de se inclinar e beijá-la reverentemente, uma
grande mão acariciando sua bochecha rosada.
Seus dedos roçaram os dele. Ela sorriu com todo o coração.
Os acordes da "Marcha Nupcial" começaram novamente, o sinal para que eles
deixassem a igreja, percorrendo o corredor, onde um grupo de pessoas estava esperando para
felicitá-los. Colie não poderia ter parado de sorrir nem para salvar sua própria vida.
─ Feliz? - J.C perguntou no caminho para o salão onde a recepção estava sendo
realizada.
─ Muito feliz. - Disse ela suavemente. ─ Foi uma longa, longa estrada até aqui, J.C.
Ele assentiu.
─ Mas um doce descanso no final disso. - Ele olhou para sua filha, sorriu e ergueu-a
em seus braços. ─ Família instantânea, basta adicionar os anéis. - Ele riu, ecoando o que ele
havia dito antes.
─ Meu papai. - Ludie suspirou e descansou sua pequena bochecha no ombro largo de
J.C.
J.C. a abraçou.
─ Meu anjo. - Ele respondeu, beijando seus cachos dourados-vermelho. Observando-
os juntos, Colie dificilmente podia acreditar na expressão no rosto de um homem que jurou
que não queria nada com crianças.
─ Parabéns, a vocês dois. - Disse Lucy com um sorriso. Ela tinha seu filho nos
braços. Seu marido, Ben, ao lado dela, estava sorrindo enquanto fazia eco a seus
sentimentos.
─Obrigada por tudo, Lucy. - Disse Colie suavemente.
─ De nada. Espero... - Ela parou e olhou para além deles para uma figura que se
aproximava. Cody Banks estava no seu uniforme de xerife. E parecia sombrio.
─ Oh Deus. - Murmurou Lucy.

171
Colie virou-se e rilhou os dentes. Ela procurou a mão livre do J.C. e manteve-a
apertada.
─ Desculpe. - Disse Cody gentilmente enquanto se aproximava deles. ─ É uma
ocasião feliz e eu não quero estragar isso, mas prefiro que você ouça isso de mim antes de
ver no Facebook, ou no Twitter. - Acrescentou.
─ Diga. - Disse Colie, enrijecendo.
─ Nós estamos com o seu irmão sob custódia.
Ela fez uma careta.
─ Não é tão ruim quanto parece. - Ele acrescentou rapidamente. ─ Ele realmente se
entregou, e está se transformando em evidência do estado contra Barry Todd.
─ Rod? - Exclamou Colie.
─ Esse é o Rod que eu conheci no exterior. - Disse J.C em voz baixa. ─ Ele se
perdeu. Mas parece que encontrou o caminho novamente.
─ Sim, ele encontrou. - O xerife concordou. E sorriu para Colie. ─ Ele ainda terá que
cumprir sua pena. - Ele disse a ela. ─ Mas ele tem certeza de conseguir uma redução de
pena. Isso nos ajudará a tirar Todd das ruas para sempre.
─ Que pensamento adorável. - Colie suspirou. Ela sorriu para Banks. ─ E eu não te
dei nada. - Ela provocou.
─ Eu adoro bolo de chocolate.- Ele sugeriu.
─ Essa será a primeira coisa na minha lista depois da minha entrevista de trabalho
amanhã. - Prometeu.
─ Qual entrevista de emprego? - Perguntou J.C.
─ Os chefes de Lucy vão tentar conseguir meu antigo trabalho de volta. - Ela
explicou, enquanto Lucy assentia com entusiasmo. ─ O outro assistente administrativo tem
uma mãe idosa em Montana e quer ir cuidar dela. Isso deixará um emprego disponível.
J.C sorriu.
─ Você pode ficar em casa, se quiser. - Ele disse a ela. ─ Não provocaria
dificuldades no orçamento familiar.
─ Você é doce, mas eu sempre trabalhei. - Ela apontou. ─ Isso me faz sentir útil,
fazer um trabalho como o que eu faço. As pessoas que entram em escritórios de advocacia
geralmente estão assustadas, com raiva ou tristes. Eu gosto de ajudá-las a superar o
processo.
─ Ela é muito boa para consolar pessoas aterrorizadas. - Disse Lucy.
─ O que quer que você queira fazer, querida. - Disse J. C. gentilmente, sorrindo para
ela. ─ Eu vou apoiar você em tudo.
Ela se inclinou contra ele e apoiou a cabeça em seu amplo peito.
─ Isso vale em dobro para mim. - Ela respondeu.
─ Quero bolo, mamãe. - Disse Ludie. ─ Por favor?
Todos riram.
─ Ok, mocinha, vamos ver o que eles têm. - J.C. concordou, liderando o caminho
para o salão comunitário.

***
Foi uma recepção barulhenta e alegre, mesmo com a triste notícia sobre o irmão de
Colie.
─ Pelo menos ele finalmente está fazendo algo certo. - Colie mencionou a J.C.
quando eles estavam bebendo champanhe para tirar fotografias.

172
─ Eu gosto da ideia de Todd ir embora por cem anos ou mais. - Disse J. C
raivosamente.
─ Eu também, mas provavelmente será mais como dez anos. - Colie suspirou.
─ Eu gostaria que pudéssemos voltar e começar de novo, querida. - Disse J.C com
emoção sincera. ─ Eu daria qualquer coisa para recomeçar com você.
Ela tocou o queixo dele com o dedo indicador.
─ Estamos recomeçando agora mesmo. - Ela apontou. ─ Um dia de cada vez.
Ele suspirou e aproximou-se dela.
─ Eu gostaria que tivéssemos tempo para uma lua de mel...
─ Todos os dias será uma lua de mel, durante os próximos quarenta anos ou mais. -
Ela interrompeu. E sorriu para ele. ─ Sério.
Ele riu.
─ Está bem então.

***
Estava tarde quando voltaram para casa. A neve estava caindo levemente. Ludie
estava adormecida no banco de trás e teve que ser levada para dentro. Ela acordou apenas
brevemente, quando Colie vestiu o pijama antes de colocar a filha sonolenta debaixo das
cobertas.
─ Gimpa conseguiu gola. - Ludie repetiu sonolenta.
Colie não tinha ideia do que ela queria dizer. Apenas sorriu e beijou as bochechas
rosadas.
─ Durma bem, meu bebê.
Ludie sorriu e voltou a dormir.

***
Quatro semanas depois da cirurgia provocada pelo ferimento a bala, quando foi
liberada pelo seu médico, Colie estava se preparando para enfrentar o que ia acontecer na
sequência.
Apesar dos beijos ternos e das carícias que aconteceram durante seu processo de
cura, ela ainda estava um pouco apreensiva quando as luzes se apagassem no quarto de J.C.
Ela amava J.C., mas essa tinha sido uma parte desagradável de seu relacionamento, de
qualquer maneira.
─ Está tudo bem. - Ele disse suavemente quando sua boca encontrou a dela. ─ Você
precisa confiar em mim, desta vez.
Sentiu-se rígida e inerte, mas obrigou seu corpo rígido a relaxar.
─ Não vai doer? - Ela disse sem pensar.
Ele riu suavemente.
─ Eu disse a você. Eu tenho lido livros...
Ela ofegou quando ele a tocou de uma maneira nova.
─ Apenas relaxe. - Ele sussurrou. ─ Vamos, agora, querida. Relaxe, assim.
As coisas que ele estava fazendo com ela faziam seu corpo cantar. Ela nunca tinha
lido sobre algumas delas em seus romances. Claro, os livros que ela gosta não eram os
picantes com detalhes gráficos. Ela gostava de romances florzinha!
Seu corpo arqueou na cama e ela fez um som que nunca tinha ouvido sair de sua
própria garganta. Ela se contorceu sob as carícias lentas e profundas. Durante todo o tempo,
a boca de J.C. provocava, seduzia a dela, penetrava-a em impulsos lentos e profundos.

173
Ele compartilhava o que seu corpo já estava fazendo com o dela. Ela sentiu o ar
fresco do quarto contra a sua pele nua. Mais perto, sentiu o calor e o poder do corpo dele,
quente e musculoso, onde a pele roçava a dela, áspero, onde o pelo grosso do peito e do
estômago esfregavam contra ela.
No momento em que ele finalmente entrou nela, ela se contorceu nos lençóis,
arqueando-se para ele, implorando silenciosamente para o fim do lento e doce tormento de
tensão que de repente se converteu em ardor.
Ela sentiu uma mão grande e quente pegar a parte superior da sua coxa e posicioná-
la. Mas ele estava provocando mais do que tomando nos segundos apaixonados que se
seguiram.
─ Oh... por favor. - Ela implorou em um sussurro rouco. ─ Por favor!
─ Sim. - Ele se moveu contra ela, lentamente penetrando-a. Ele era mais formidável
do que ela lembrava, mas não mais apressado ou impaciente. Ele se certificou de que ela
estivesse com ele a cada passo do caminho, sentindo-a estremecer e agarrá-lo enquanto
intensificava o poder dos seus impulsos.
Lágrimas estavam rolando por suas bochechas enquanto ela arqueava para encontrar
cada movimento descendente dos quadris dele. Suas unhas cravaram em seus quadris. Ela
soluçou, finalmente, quando o ardor a dominou e a fez estremecer toda vez que ele entrava
em seu corpo.
E então, de repente, não havia mais tempo. Ela estava agonizando. Ela não
sobreviveria se a tensão durasse muito mais tempo. Ela implorou a ele, contorceu-se para
ele, mordeu seu ombro na agonia da paixão.
Ele a satisfez então, seu corpo pressionando-a no colchão enquanto o ritmo e o
ardor os apanhavam em um turbilhão de êxtase e os levava ao infinito por um átimo de
segundo maravilhosos e angustiantes que rapidamente desapareceram.

***
Ela estava molhada de suor. E com dificuldade para respirar. Ela deitou contra o
corpo úmido dele, estremendo na sequência. Sentiu um estremecimento passar por ele e seus
braços o puxaram para perto.
─ Melhor? - Ele perguntou em sua orelha.
─ Oh... Deus! - Ela exclamou. E estremeceu novamente. ─ Eu nunca soube!
─ Nem eu, querida. - Ele disse calmamente. E alisou os cabelos escuros dela. ─ Eu
apenas conhecia um jeito, você entende. As mulheres que eu tive eram muito experientes,
selvagens na cama. Elas não queriam ternura, então eu nunca aprendi a ser terno. - Ele
puxou uma respiração longa e satisfeita. ─ Mas eu acho que estou aprendendo isso agora. -
Ele acrescentou com uma risada.
─ Eu que o diga! - Exclamou.
Ele beijou seu cabelo úmido.
─ Não falamos sobre controle de natalidade. - Disse ele depois de um minuto.
─ Eu gosto de menininhos. - Ela disse simplesmente. ─ Nós devemos ter pelo menos
um, enquanto ainda somos jovens, você não acha?
Ele riu suavemente, encantado.
─ Vamos ter o que pudermos. Mas, eu concordo. Um menino seria legal. - Ele beijou
suas pálpebras fechadas. ─ Sinto muito por Rod. - Ele acrescentou com ternura. ─ Nós
vamos conseguir um bom advogado e fazer o que pudermos por ele.
─ Sim. Eu lamento também. Mas estou tão orgulhosa dele. - Ela sussurrou, e sua voz
falhou.

174
─ Eu também. - Disse ele.
Ele a manteve próxima, no calor silencioso do quarto escuro. Do lado de fora, a neve
estava ficando mais intensa.

***
Eles foram ver Rodney no centro de detenção do condado. Ele ficou quieto, contrito.
Dessa vez, ele parecia o irmão que Colie lembrava de sua infância.
─ Sinto muito, irmãzinha. - Ele disse enquanto falavam em telefones de cada lado do
vidro que os separava.
─ Sinto muito por você. - Ela respondeu. ─ Estou tão orgulhosa de você!
Ele corou um pouco.
─ Um pouco tarde demais. Eu fiz tanto mal...
─ Você é meu irmão. - Disse Colie. ─ Eu te amo. Não importa o que você tenha
feito. Eu só quero ajudá-lo, de qualquer forma que eu puder. Você salvou minha vida, Rod.
Ele fez uma careta.
─ Eu deveria ter ficado. Eu simplesmente fugi. - Ele fez uma careta. ─ É o que eu
faço de melhor.. fugir. Mas vou tentar mudar a minha vida. Papai desejaria isso. - Ele lutou
contra as lágrimas. ─ Eu sinto muito. Ele ficaria envergonhado de mim!
─ Ele entenderia, Rod. - Ela respondeu. ─ Você sabe como ele era. Ele nunca
desprezava as pessoas, não importa o que fizessem.
Ele assentiu.
─ Ele foi único.
─ Sim.
Eles compartilharam o sofrimento pela perda de seus pais. Depois de um minuto,
Rod olhou para trás para J.C.
─ Desculpe-me pelas mentiras que eu também falei, J.C. - Disse ele. ─ Se não fosse
por mim, você estaria na vida da sua filha o tempo todo.
J.C colocou as mãos nos ombros de Colie.
─ Seu pai mudou a minha vida. - Disse ele. ─ Ele tinha essa extraordinária visão de
que tudo acontece por um motivo. Ele diria que as coisas aconteceram do jeito que deveriam
acontecer.
─ Ele diria. - Concordou Rod. Ele conseguiu dar um sorriso. ─ Pelo menos Barry
não se alegrará. - Acrescentou. ─ Eles o colocaram na solitária. Ele agrediu o guarda.
─ Péssima jogada. - Observou J.C.
─ Muito ruim. - Concordou Rod. ─ Esse é apenas o começo dos problemas dele. Ele
estava roubando os lucros. Por essa altura, alguém certamente notou. Mesmo na prisão, ele
não estará a salvo da vingança.
─ Eu li sobre esse tipo de coisa. - Respondeu Colie. ─ Ele pode até não chegar a ser
julgado.
─ Nunca se sabe. - Respondeu Rodney.

***
Na verdade, Barry Todd foi encontrado morto em sua cela três dias depois por uma
aparente overdose de drogas, apesar de ser um fato conhecido ele nunca usar as drogas que
distribuía. Acredita-se que ele tenha entrado em conflito com algumas pessoas muito
perigosas na organização que pertencia. Mas ninguém sentiria a falta dele.

175
Colie conseguiu seu emprego no escritório de advocacia, compartilhando tarefas
administrativas com Lucy. Ela e J.C se revezavam deixando Ludie no maternal e buscando
depois das aulas. Colie estava tão feliz que irradiava alegria. O casamento era adequado para
ela.
Parecia também ser adequado para J.C, porque ele nunca parava de sorrir. Ele
gostava de mostrar sua pequena família, em toda parte, da igreja ao supermercado. Mesmo
as pessoas que o haviam criticado anos antes agora encontravam coisas nele para admirar.
Ele era um trabalhador incansável na cozinha comunitária na distribuição de sopa e no
abrigo para os sem-teto. Assim como Colie. Eles continuaram o trabalho que o pai dela tinha
iniciado.
A história do casamento estava no jornal local, mas foi uma semana fraca de notícias
e ela foi reproduzida por um dos maiores diários de Montana uma semana ou mais depois.
Onde seria eventualmente visto por um leitor inesperado.
Um sábado a tarde duas semanas antes do Natal, um sedan chegou ao pátio dianteiro
de J.C. e parou justamente quando J.C. e Colie levavam Ludie para casa depois de uma
viagem de compras de Natal ao Walmart nas proximidades.
Desconfiado, J.C. fez um gesto para Colie ficar com Ludie na varanda. Ele esperou
enquanto um homem alto, de cabelos brancos, com a pele azeitonada escura, saía do carro.
Ele estava usando um sobretudo preto. Ele parecia digno e solene.
─ Posso ajudá-lo? - Perguntou J.C, de pé discretamente entre sua família e o
visitante.
O velho inclinou a cabeça e olhou para J.C. por um longo tempo. Ele conseguiu dar
um sorriso discreto.
─ Você não me conhece.
J.C franziu a testa. A voz era estranhamente familiar, mas não conseguia lembrar de
onde.
─ Não. - Ele disse tenso.
O velho se aproximou um pouco mais. Seus olhos foram para a varanda e ele sorriu
de repente.
─ Eu li sobre o casamento em um jornal velho de Montana que um paroquiano
trouxe. Tinha uma história sobre um missionário. Mas também havia uma história sobre
você e sua nova esposa. É aí que vivo, em Billings. Você seria Colleen, suponho? - Ele disse
para Colie. ─ E essa seria Beth Louise. Ludie?
─ Gimpa! - Gritou Ludie, rindo. ─ Gimpa pegou gola!
J.C sentiu o sangue se esvair do seu do rosto. Esse era o seu pai? Depois de todos os
longos anos de negligência, de angústia, de puro inferno em casas de acolhimento!
Ele começou a falar, mas antes que pudesse, seu pai desabotoou seu sobretudo.
Estava lá. A gola37. A marca de um sacerdote católico romano.
O maxilar do J.C. realmente caiu.
Colie aproximou-se segurando a mão de Ludie.
─ Ela disse que você tinha uma gola, semanas atrás. - Ela disse ao velho, quase
atordoado.
O homem olhou para a linda garotinha.

37
Gola ou colarinho clerical - O colarinho clerical simboliza que quem o usa é um servo, pois este colarinho
estava ao redor do pescoço dos escravos no mundo antigo. As pessoas que o usam servem como Ministros da
Palavra de Deus. O colarinho branco sobre fundo preto envolvendo a garganta é simbolo da Palavra de Deus
proclamada. Foi desenvolvido para ser usado no trabalho cotidiano por ser mais prático que a batina. E é
usado em diversas denominações cristãs, não só por padres católicos.

176
─ Você parece com minha esposa. - Ele disse suavemente. ─ Ela tinha cabelos
encaracolados e olhos cinzentos. E era bonita.
─ Gimpa! - Ludie exclamou e se afastou da mãe, para levantar seus braços para o
recém-chegado.
Ele a pegou e a abraçou, lutando contra as lágrimas.
─ Filha linda. - Ele sussurrou com força.
J.C ainda estava de pé, sem fala, lutando contra o ódio, o rancor e a curiosidade, tudo
de uma só vez.
Donald Seis árvores olhou para ele com olhos escuros serenos.
─ Eu tenho tanto para dizer. - Ele começou. ─ Eu quase não sei por onde começar.
Eu sinto que devo me desculpar por dez minutos antes mesmo de tentar explicar os erros que
cometi com você.
J.C. estava rígido, mas não ordenou que o velho se retirasse. Ele apenas olhou para
ele.
─ Seu pai era pastor, não é? - Ele perguntou a Colie.
─ Sim. - Ela disse com um sorriso triste. ─ Eu o perdi, nós o perdemos. - Corrigiu
ela. ─ Algumas semanas atrás.
─ Ouvi muito sobre ele, de um amigo comum, um ministro metodista que vive em
Billings. Sinto muito por sua perda.
─ Você gostaria de um café? - Colie ofereceu com um olhar cauteloso para J.C.
─ Eu gostaria. - Disse o velho. ─ Se estiver tudo bem para você. - Ele acrescentou,
olhando para os olhos turbulentos de J.C.
─ Lembre-se do que meu pai disse. - Colie falou ao marido.
Ele respirou fundo.
─ Eu lembro. - Disse ele depois de um minuto. E desviou os olhos. ─ Eu também
poderia tomar uma xícara de café.
─ Entre. - Convidou Colie, e e sorriu.
O velho, ainda segurando Ludie, seguiu-a e a J.C. para dentro da cabana.

***
─ Meu sogro dizia que as pessoas têm motivações para cada ação. - Disse J.C
quando eles estavam tomando café na mesa da cozinha.
─ Algumas são mais dolorosas do que outras. - Seu pai retrucou. Ele colocou a
xícara na mesa. ─ Havia um motivo para eu estar bebendo, quando destruí o carro e sua mãe
morreu. - Ele disse com veemência. ─ Eu estava trabalhando nas minas com meu irmão. Eu
acionei uma carga muito cedo. Houve um desmoronamento, e ele morreu. - Seu rosto estava
contraído. ─ Eu já bebia antes disso. Mas eu realmente exagerei depois de ver o corpo do
meu irmão. Sua esposa estava colapsada sobre o corpo dele. Ela olhou para mim e me
chamou de assassino. - Ele fez uma careta. ─ Não era mais do que o que eu estava me
chamando, mas as palavras têm poder. Eu deixei o trabalho e comecei a beber em um bar
local. Eu estava embriagado quando cheguei em casa. Para sua mãe as reuniões escolares
eram muito importantes. Eu não queria ir, mas ela insistiu. Eu disse a ela que eu estava
muito bêbado, mas ela disse que era apenas um pouco mais de um quilômetro, não
importava. Ela tinha torcido o tornozelo dois dias antes, e não podia dirigir. - Seus olhos
fecharam. ─ Eu estava muito bêbado para raciocinar. Me coloquei atrás do volante e
comecei a dirigir. Perdi o controle do carro na curva e caí da ponte. - Ele balançou a cabeça.
─ Eu fugi. Eu fugi e fugi e fugi um pouco mais. Eu sabia que ela estava morta no local e que
eu iria para a prisão se eles me pegassem. - Ele olhou para o filho com agonia no rosto. ─

177
Fugir nunca resolve um problema. Isso só piora. Eu levei anos para enfrentar o que fiz, para
admitir a culpa. Eu não só matei sua mãe, eu o abandonei num momento em que você mais
precisava de mim. Fui procurá-lo, depois que fiquei sóbrio, mas eles disseram que já o
haviam colocado em uma bom lar...
─ Bom lar. - J.C. disse as palavras com frio desprezo. ─ Certo.
O velho viu mais do que J.C. se deu conta.
─ Eu fui para o leste. Trabalhei como operário durante muito tempo, até que fui
levado por um padre beneditino. Ele me trouxe de volta à igreja, me ensinou que eu tinha
que me perdoar antes de ser útil para qualquer outra pessoa. Ele me fez perceber que durante
toda a minha vida tinha sido eu, o que eu queria, o que eu precisava. Eu nunca coloquei
ninguém em primeiro lugar. - Ele fez uma careta. ─ Desnecessário dizer, foi uma mudança
dolorosa. Mas a fiz. Eu me formei padre e comecei a trabalhar na paróquia com o padre que
me salvou. Ele morreu no ano passado e assumi suas funções. Mas eu nunca parei de
procurar você. - Ele acrescentou, seus olhos escuros se fixaram no rosto tenso de J.C. ─ Eu
havia desistido quando vi uma foto de vocês dois no jornal, no anúncio do casamento. Eu
sabia que era você. - Ele encolheu os ombros. ─ Você se parece comigo quando eu tinha a
sua idade. Sua mãe escolheu seu nome, John Calvin, e o pai da sua mãe era Calhoun. O
jornal disse que você morava no território do Yukon quando criança. - Ele sorriu com
tristeza. ─ Não foi preciso muita adivinhação para descobrir, depois disso.
J.C. começou a falar, parou, tentou novamente.
─ Você tem que fazer as pazes, papai. - Disse Ludie, apoiada contra as longas pernas
do pai. ─ Gimpa é meu único gimpa, agora.
─ Ela tem razão. - Disse Colie suavemente, sorrindo para ele.
Ele pareceu dividido. Mas depois de um minuto, ele passou a mão sobre a cabeça
encaracolada da filha.
─ Ela tem razão. - Ele concordou finalmente. ─ O ódio não serve para nada, exceto
para propagar-se. - Acrescentou.
O velho sorriu.
─ E o perdão é divino. - Acrescentou.
─ Divino -. J.C. olhou para o homem que ele passou sua vida odiando e percebeu que
a única pessoa que sofreu foi ele mesmo. Como dizia Jared Thompson, todos tinham
motivos para a forma como se comportavam, pelas coisas prejudiciais que faziam. ─ Bem,
já é um começo. - Ele disse distraidamente.
─ A jornada mais longa começa com um único passo. - Respondeu o velho. E
hesitou. ─ Vou tentar, se você quiser.
J.C pensou sobre isso por um minuto. Finalmente, ele assentiu.
─ Eu quero. - Os olhos escuros do velho iluminaram-se, como fogos em uma noite
fria.
Levou tempo, mas J.C. e seu pai finalmente chegaram a um acordo. Como disse
Ludie, ela só tinha um avô. O velho não era a mesma pessoa atormentada que recordava de
sua infância. Era óbvio que este padre havia encontrado a redenção e que ele amava seu
filho. J.C concordou com Colie que o perdão era mais importante do que a vingança. O
velho, como J.C., pagou um preço elevado por seu passado. Era hora de deixar o passado
para trás.

***
Algumas semanas depois deles se casarem, uma noite quando J.C chegou em casa
Colie foi recebê-lo na porta e com entusiasmo colocou a mão dele em seu ventre plano.

178
Ela não disse uma única palavra, mas J.C soube, imediatamente o que aconteceu.
Ele deu um grito e a girou, e girou antes de parar e beijá-la até que sua boca estivesse
dolorida.
─ Vou ter um irmãozinho! - Ludie falou próximo. E sorriu de orelha a orelha.
─ Provavelmente será outra garota. - Provocou J.C. ─ Eu amo as meninas.
Ludie sacudiu a cabeça.
─ Será um menino! - Ela disse, e riu.

***
Oito meses depois, J.B. e Colie Calhoun anunciaram o nascimento de um novo
membro da família: um menino, a quem chamaram Jared Rodney Thompson Calhoun.
Ludie nem se gabou.

FIM

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