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Tribunal de Justiça
Comarca da Capital 394
Cartório da 17ª Vara Cível
Av Erasmo Braga, 115 Corr C/SALA 210CEP: 20020-903 - Castelo - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 31332375 e-mail:
cap17vciv@tjrj.jus.br
Fls.
Processo: 0436250-03.2016.8.19.0001
Processo Eletrônico
___________________________________________________________
Em 14/09/2017
Sentença
Cuida-se de ação proposta por JULIANA FARIAS SARTO em face de JANETTE JOSEPHINA
PARAVATTI, na qual alega que em setembro de 2012 firmou contrato de instrumento particular de
sinal e princípio de pagamento com a ré, visando a aquisição do imóvel localizado na rua João
Alfredo 26, apto. 201, Freguesia, sendo acordado o preço de R$470.000,00, sendo pago à
mesma, através de cheques, os valores de R$21.800,00 e de R$28.200,00, este endossado para
a imobiliária a título de comissão de corretagem. Narra que o restante do valor seria pago por meio
de financiamento bancário, mas que, visando obter o financiamento do valor integral acordou com
a ré que alterariam o valor do imóvel no formulário a ser entregue ao Banco Bradesco para que
constasse R$540.000,00. Sustenta que, apesar da avença das partes, ao comparecerem na data
aprazada para a assinatura do instrumento particular de financiamento para aquisição do imóvel,
venda e compra e alienação fiduciária, a ré se recusou a firmá-lo, sob o argumento de que o valor
constante do financiamento seria superior àquele recebido a título de sinal, tendo deixado o local
em posse das três vias do contrato de financiamento. Aduz que, no momento da assinatura ainda
foi oportunizado à ré a alteração do valor, mas a mesma se mostrou intransigente, sendo desfeito
o negócio sem a devolução do valor adiantado pela autora. Alega que, em razão da retenção das
vias do financiamento pela ré, as parcelas do financiamento vêm sendo descontadas na folha de
pagamento da autora. Ante o alegado, postula a autora a devolução em dobro das arras, o custeio
do valor adiantado a título de ITBI e a indenização pelso danos morais sofridos. A Inicial foi
instruída com os documentos de fls. 29/221.
Proferido despacho liminar positivo às fls. 224 com designação de audiência preliminar.
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Instadas a se manifestar em provas e em réplica, a parte ré postulou provas (fls. 307/308) tendo a
autora apresentado réplica às fls. 346/355.
É O RELATÓRIO. DECIDO.
As arras ou sinal, regra geral, representa um valor pago em dinheiro ou um bem dado
antecipadamente a título de adiantamento com o objetivo de confirmar um contrato. Nesta
modalidade, que é a mais comum, este sinal é também conhecido como arras confirmatórias.
Para Sílvio Rodrigues, as arras "constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um
contratante ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de firmar a presunção
de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de
assegurar, para cada um dos contratantes, o direito de arrependimento" (Direito Civil. Vol. 2, 30ª
ed, São Paulo: Saraiva. 2002, p. 279).
Nesse sentido, é sabido que, se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão
devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do
pagamento.
É o que diz o Código Civil, no artigo 417 in verbis: Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma
parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de
execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.
"(...) 'Tratando-se de contrato que não prevê direito de arrependimento, as arras são
confirmatórias.' (REsp 1056704 / MA. Relator(a): Ministro Massami Uyeda (1129). Órgão Julgador:
T3 - Terceira Turma). 4.1. Em se tratando de arras confirmatórias, não é de se admitir a retenção
total do sinal dado ao promitente-vendedor, em ordem ao princípio consubstanciado na vedação
do enriquecimento ilícito, descrito no art. 53 do Código de Defesa do Consumidor e em
consonância com o artigo 418 do Código Civil. 4.2. Ainda que a culpa pela rescisão contratual seja
do autor, há de se proceder a devolução do sinal, sob pena de caracterizar enriquecimento sem
causa".
...) Não tendo sido convencionado o direito de arrependimento a qualquer das partes, tem-se que
os valores (...), repassados pelos embargantes a título de sinal e início de pagamento (...),
caracterizam-se como arras meramente confirmatórias, eis que se destinaram, apenas, a ratificar
as compras ajustadas.
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Por conseguinte, não é possível reconhecer o direito da ré de retenção dos valores recebidos a
título de sinal pelo imóvel negociado, uma vez que, em que pese nas relações contratuais regidas
pelo Código Civil, em sua maioria, vigore a autonomia da vontade, tendo a ré possibilidade de
rechaçar os termos do contrato de alienação fiduciária, a retenção indevida de tal contrato,
configura ato ilícito, gerando prejuízos à autora (fl. 28 e 360/361).
Outrossim, o item IV do contrato de sinal (fl. 42), estabelece que o valor de R$ 28.200,00 (vinte e
oito mil e duzentos reais) a ser pago a título de remuneração pelos serviços prestados na
intermediação de venda do imóvel, deve ser pago pela outorgante, ora ré, bem como, no item VIII,
do mesmo contrato, há previsão acerca de hipótese do arrependimento das partes:
No caso em análise, observa-se que a autora depreendeu esforços a fim de dar cumprimento ao
negócio jurídico firmado entre as partes, enquanto a ré, após o pagamento do arras, dificultou o
cumprimento deste, considerando-se assim, a desídia da mesma em tentar qualquer solução para
ambas as partes.
Entretanto, ainda que defeituosa a relação jurídica travada entre as partes, sendo, inclusive,
capaz de ocasionar danos materiais e aborrecimentos, não se pode banalizar a previsão
constitucional da indenização por danos morais, pretendendo condenar qualquer ato que cause o
mínimo de aborrecimento, formando-se uma verdadeira indústria do dano moral.
O princípio da dignidade da pessoa humana, evidentemente aplicável ao caso, não pode ser
ilimitadamente posto em cena, para justificar toda e qualquer situação que não atinja os traços
previamente designados pelas partes. Em razão disso, há entendimento consolidado no sentido
de que não ocasionam dano extrapatrimonial aquelas situações que, não obstante desagradáveis,
fazem parte do cotidiano da sociedade contemporânea e constituem tão-somente mero
aborrecimento.
Há, inclusive, verbete sumular nº 75 do TJRJ nessa linha. Veja-se: O simples descumprimento de
dever legal ou contratual, por caracterizar mero aborrecimento, em princípio, não configura dano
moral, salvo se da infração advém circunstância que atenta contra a dignidade da parte.
Ante o exposto, nos termos do art. 487 I do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTE, EM
PARTE, o pedido para: a) declarar rescindido o contrato entabulado entre as partes (fls. 41/43),
determinando que elas retornem ao seu estado jurídico anterior. b) condenar a ré a restituir, em
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dobro, à autora, a quantia paga a título de cumprimento da avença objeto do feito, corrigida
monetariamente a contar do desembolso e com juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação.
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