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O antropólogo Roberto Damatta nos demonstra como na sociedade brasileira há uma

distinção entre individuo e pessoa que se atualiza cotidianamente mediante a


explicação de desigualdades sociais. A expressão que ritualiza o lugar paradoxal da
igualdade na sociedade brasileira é “Você sabe com quem está falando?”. Nesse
sentido, discuta como o “dilema brasileiro” orienta a estrutura social desta
sociedade.
Segundo Roberto Damatta, a citada expressão é característica de sociedades marcadas
predominantemente por uma ética de tipo vertical com características sociais fortemente
hierarquizados, como no Brasil. Outro traço dessas sociedades reside na pessoalização
das relações humanas, onde é comum a utilização de expressões do tipo “Você sabe com
quem está falando?” como um mecanismo de superação da igualdade formal, a fim de se
obter facilidades privilegiadas em esferas públicas ou privadas, vindo tal mecanismo a
desigualar o que formalmente deveria ser igual, como previsto no Artigo 5º da Constituição
onde diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.  Esse ritual
remete à tradição nobiliárquica dos tempos do feudalismo, sendo mais que um exemplo da
faceta autoritária e hierárquica brasileira, a frase "Você sabe com quem está falando?", à
qual se refere o antropólogo Roberto DaMatta, na verdade expressa um sistema que se
recusa a se democratizar, a se abrir e a mudar de verdade.

A violência é uma categoria acionada para qualificar uma grande quantidade de


situações da vida social, o que torna a tarefa de compreendê-la sempre complexa.
Tomando a violência como uma categoria nativa, ou seja, palavras que as pessoas
utilizam para denominarem certas situações significativas para si próprias, vimos
que ela comporta três dimensões: seu caráter local, relacional e contextual (ou
situacional). Explique em que consiste cada uma destas três dimensões da violência
pensada como categoria nativa.

Caráter local: Os sentidos particulares que ela adquire, dependem de contextos locais,
enlaçados, por sua vez, com processos históricos, particulares que são os que dão forma,
também local a instituições, práticas, memórias e atores. Essa dimensão local do sentido
da violência, nos leva também a afirmar seu caráter diverso. Neste contexto é correto
afirmar que, certos fenômenos dados como violentos para uns, a outros não o é. Os
fenômenos, os limites da violência tolerada, as condutas e as situações, variam de acordo
com cada sociedade ou grupo social, ou seja, com cada contexto local. Exemplo a
eutanásia, considerada violenta em certos grupos e aceita em certas sociedades.
Caráter relacional: como caráter relacional, queremos enfatizar que, quando um
comportamento (situação ou pessoa) é classificado como violento, não é o é, em termos
absolutos, mas sempre em relação a um comparativo de comportamento (situação ou
pessoa), não classificado como tal. Por exemplo: como não violento ou pacifico. Ou seja,
essa classificação é definida em termos contrastivos, sempre em relação a outros. Desse
caráter relacional e contrastivo, deriva também a idéia de a violência, enquanto categoria
nativa, ser uma categoria de acusação, isto é, expressando a idéia de que violentos são
sempre os outros. Dessa forma o próprio comportamento não é visto e definido como
violento, diferentemente, costumamos definir o comportamento ou reação dos outros como
violento, como forma de rejeitar, criticar e enfim, distinguir esse comportamento do nosso.
Em definitivo, violência é utilizada como uma categoria de acusação dos outros, onde o
violento e sempre o outro.
Caráter situacional ou contextual: Ao caráter contextual e situacional da violência, vale
reforçar a fato de os sentidos atribuídos à violência emergirem em contextos e situações
especificas de contato. Tais sentidos não estão relacionados a traços fixos e inerentes a
pessoas ou grupos, como se eles fossem natural, inata ou biologicamente violentas, pelo
contrario, insistimos no fato de a violência ser uma categoria social e culturalmente
definida. Isso, alias, define seu caráter variado, situacional e relativo: ora um ato é
considerado violento, ora não. As variáveis, que podem definir um ato ou pessoa como
violento ou não, dependem dos contextos nos quais se desenvolvem os acontecimentos,
dos atores envolvidos e dos valores morais próprios do grupo. Pensemos, por exemplo, no
caso do uso da força por parte das instituições policiais.

A partir da analise das categorias “esculacho” e “derrame” no contexto dos trens da


Central do Brasil, podemos acessar um conjunto especifico de regras sociais, de
sociabilidade e convivência entre camelos e vigilantes. Com base nesta analise
etnográfica, descreve de forma sucinta e analítica um contexto social onde regras
não escritas se articulam sem moralidades vigentes. Nesta descrição você deverá
apresentar uma situação na qual essas regras são transgredidas e suas eventuais
conseqüências.
Entre algumas regras estabelecidas pelos ambulantes há outra que é fundamental: o
domínio de uma performance que evita ou contorna atritos com os vigilantes responsáveis
pelo controle dos ramais. E considerado desrespeito seguir anunciando o pregão, sabendo-
se que parte da atividade do vigilante consiste em coibir o comercio que não está
autorizado formalmente. Na descrição do antropólogo, ganha destaque o procedimento
padrão dos ambulantes que, durante as viagens, procuram vender suas mercadorias
quando os trens estão em movimento. Quando os trens param, eles costumam guardá-las
em bolsas escuras e dissimulam sua intenção no interior dos trens. De acordo com Pires
há duas consequências quando essas regras que foram estabelecidas através do convívio
entre ambas as partes, o derrame e o esculacho. Segundo Pires o derrame caracterizava-
se pela tomada de mercadorias dos comerciantes ambulantes dos trens por parte dos
vigilantes, e embora o derrame acarretava prejuízos materiais significativos, era
classificado como do jogo pelos ambulantes, visto como um acontecimento previsível. A
questão e que derivado dessa situação poderia resultar o esculacho, onde o mesmo
representa um limite que não poderia ou deveria ser ultrapassado por ensejar uma forma
de violência que não e só física, mas sobretudo moral. O esculacho e uma forma intolerável
de desrespeito, desconsideração e negação do outro e extrapola a regra do jogo.

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